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SUSTENTABILIDADE
AULA 1
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discurso ambiental e social, ou de forma mais adequada, socioambiental será
explicitado a seguir.
Para discutir sobre a temática ambiental, é de suma importância a
compreensão e assimilação do que sejam os conceitos de natureza, ambiente e
meio ambiente, tratados de forma polissêmica:
Natureza: na Antiguidade estava associado ao cristianismo e à ideia de
divindade, sendo lugar de criação sacra. Fora dividido, na Idade Média,
em dois mundos, o mundo do bem e o mundo do mal. O cristianismo
propõe essa percepção em que o homem estaria moldado à
personificação de Deus, que viveria em uma natureza paradisíaca. Com
o advento da ciência, das ideias iluministas e dos grandes filósofos,
chega-se à conceituação de que natureza é uma abstração, mas que
possui elementos que podemos tocar, sentir e vivenciar. Esses elementos
são isolados (uma árvore, um lobo, uma rocha etc.), combinados (floresta,
alcateia, montanhas etc.) e complexos (vegetação, biosfera, ecossistema,
habitat etc.).
Ambiente: Está dentro da compreensão de natureza, mas aqui não se
trata de elementos isolados, e sim de um complexo. Por exemplo, um
peixe não é um ambiente, mas o rio que tem o peixe em seu sistema é
um ambiente. O ambiente é o sistema, é o complexo, é o todo.
Meio ambiente: são as relações entre os elementos constituintes.
Diferencia-se da natureza e de ambiente por não considerar elementos
isolados, mas sim os elementos que estão relacionados e se relacionam
por complexos, estando estes implicados em um contexto e em um
momento histórico e cultural. O meio que acompanha o ambiente está
imbuído de relações entre os seres humanos, relações com a natureza e
a sociedade. Seria o conceito que agrega a natureza e o ambiente sob
uma perspectiva social e relacional.
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Temática Ambiental: “o campo aberto e geral de assuntos e interesses
que se referem à relação estabelecida entre sociedade e natureza”
(Mendonça; Dias, 2019, p. 25).
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Figura 1 – Manifestantes da contracultura
Outro exemplo são as guerras assistidas por uma sociedade que não
estava preparada para o embate, nunca estamos preparados para algo tão
sórdido, mas há possibilidades de compreensão e perspectivas que direcionam
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às mudanças. É o caso da Guerra do Vietnã, que impulsou protestos,
movimentos sociais, movimentos culturais e concepções sobre o ser e existir.
O ambientalismo também deve ser compreendido em seu contexto
histórico, em que, dentro de uma vertente naturalista, buscava-se a proteção dos
ecossistemas, e na atual pós-modernidade alheia-se a compreensão dos graves
problemas suscitados pela interação do ser humano com o ambiente natural.
Exemplos: queimadas e desmatamento na Amazônia; a não demarcação de
terras indígenas e a violência no campo.
O posicionamento e a defesa da concepção assertiva de cada conceito
se fazem pelo esforço de não sucumbir ao senso comum que prejudica a análise
dessas perspectivas constituintes da temática ambiental e da questão ambiental.
Como exemplo, consultorias ambientais e consultores do meio ambiente que
ajuízam análises equivocadas em seus instrumentos, em que a gravidade
desses exercícios reverberará na sociedade e nos sujeitos.
Os conceitos estão postos na sociedade e em sua conjuntura vigente.
Eles não são estáticos, e carecem sempre de reformulações e adequações
quando falamos de lugares específicos, de ciências específicas, de sociedades
específicas. Os moldes são construídos conforme a lente e o leito que os
utilizam.
Considera-se, assim, o que Geraldino (2014, citado por Mendonça; Dias,
2019, p. 31) expõe: “todos aqueles envolvidos com a temática ambiental devem
ter minimamente uma referência conceitual clara para seus termos-chave”. E o
que Milton Santos sempre evidenciou e foi como geógrafo e professor: o dever
de sermos estudiosos incansáveis e ininterruptos das sociedades, das relações
e dos territórios.
Com toda essa discussão podemos fomentar o debate sobre as
polissemias que envolvem os conceitos, evidenciando questões que conduziram
a ideia de tratá-los como sinônimos, nos livrando do senso comum que prejudica
a análise assertiva dos fatos e fenômenos da sociedade.
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A ciência e a tecnologia se esforçam há muitas décadas para amenizar o
senso comum e os achismos na sociedade, mas não o senso comum que
beneficia e desperta para a informação – esse é beneficiador de algo. E sim, o
senso comum que está posto nos meios de comunicação, ou sobretudo pelas
mídias, que possuem papéis fundamentais para a sociedade e a relação que
esta constrói com o meio ambiente.
Diante do retrato de sujeitos que não se importam com temáticas
ambientais, sociais, culturais e/ou políticas e sujeitos que fazem esforços para
compreender e configurar um retrato oposto ao anterior, prefere-se esse último
grupo. Mas a propulsão é viabilizada pelas mídias que sumariamente precisam
da notícia avassaladora, catastrófica e alarmante. Exemplos são os impactos
ambientais e sociais, as grandes crises mundiais, as guerras, a fome, a
desigualdade social etc. Ora, temos aí um terreno fértil para a sensibilização, por
mais que ela seja noticiada de forma equivocada aos olhos das ciências e dos
estudiosos.
Assim, é perceptível a importância dos meios de comunicação, pois é por
meio deles que podemos contextualizar a temática ambiental que se transformou
em questão ambiental, pelo engajamento dos sujeitos (indivíduo) e sociedade
(coletivo). Infelizmente, viu-se um planeta tomado por desastres ambientais e
sociais, em que as expertises dos estudiosos não foram suficientes para conter
a ganância dos indivíduos serviçais de uma sociedade capitalista industrial.
Aqui inicia-se uma primeira percepção do que seja o conceito de
sustentabilidade, pois ele aparece em nossa sociedade imbuído do senso
comum. Está caminhando com a ideia de lucro, de desenvolvimento, de
financiamento de uma natureza e ecossistemas ao bel-prazer. Esse discurso não
é ingênuo, ele está construído e preconizado nas entranhas do projeto e modelo
capitalista.
Exemplo disso são os desastres ecológicos recorrentes em nossa
sociedade e história: envenenamento por mercúrio em Minamata (Japão, 1954);
vazamento de dioxina em Seveso (Itália, 1976); incêndio na Vila Socó (Brasil,
1984); vazamento de gás industrial em Bhopal (Índia, 1984 – Figura 4); acidente
nucelar em Chernobyl (Ucrânia, 1986 – Figura 3); Exxon Valdez (EUA, 1989);
golfo do México (México, 2010); rompimento de barragem em Mariana (Brasil,
2015 – Figura 6); rompimento de barragem em Brumadinho (Brasil, 2019). Além
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dos impactos causados todos os dias: mineração (Figura 5) e queimadas na
Amazônia (Figura 7, Figura 8).
Crédito: Teacherkarla/Shutterstock.
Crédito: Arindambanerjee/Shutterstock.
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Figura 5 – Mineração em áreas da floresta amazônica
Crédito: A. M. Teixeira/Shutterstock.
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Figura 7 – Queimadas na floresta amazônica
Crédito: Pedarilhosbr/Shutterstock.
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e pelo abuso da relação entre meio ambiente e ser humano. A ganância e a
busca do lucro levam ao impacto irreparável da natureza e assola a humanidade.
A criação da Organização das Nações Unidas (ONU) se deu em razão da
ferocidade da 2ª Guerra Mundial. Compromissos foram firmados e a
responsabilidade dos países agora estavam voltados à humanidade, ao coletivo,
e não mais individualmente. Alguns marcos importantes fazem-nos lembrar dos
compromissos para o meio ambiente e sociedade. A Carta da ONU é um desses.
Elaborada por representantes de 50 países em 1945, é o documento mais
importante da organização, e sua justificativa e objetivo se fundam no seguinte:
Mas o que esse conceito tem a ver com educação ambiental e com a
discussão sobre o meio ambiente?
É com base nessas discussões que compreendemos a educação
ambiental, responsável por nos conscientizar, e convidamos para a percepção
sobre a qualidade de vida ofertada por um planeta saudável.
Atrelada a essa perspectiva temos outras mais, como a ideologia, que é
a “doutrina das ideias”, de acordo com a qual não podemos dissociar o discurso
socioambiental do discurso político, histórico, cultural, étnico, racial etc. Ao
pensarmos em meio ambiente e sociedade, há de pensarmos em ideologia.
Exemplo para isso: se você possui afetos à natureza e todo sistema (rios,
lagos, cachoeiras, mares, montanhas, bichos etc.) e se depara com a destruição
gradativa de tais complexos por meio de leis irrestritas, grandes
empreendimentos (ou seja, pela exploração econômica em sua face mais
capitalizada), algum sentimento de revolta, compaixão ou penar poderá ser
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vivenciado por você. Se isso acontece, você possui a doutrina de ideias,
direcionando-se nesse caso à ideologia da ecologia política.
Sendo assim, é imprescindível a uma sociedade consciente de seus
problemas a criticidade que impulsiona a busca de soluções. Para compreender
a criticidade que nos envolve cotidianamente, deve-se perceber os processos da
globalização.
O geógrafo Milton Santos elucidou o conceito como o movimento de fluxos
e fixos, pessoas e serviços, produtos e produções etc., em que o alimento que é
produzido do outro lado do continente chega à mão do comprador em pouco
tempo, ou ainda a informação que chega em milésimos de segundos,
independentemente da distância entre os locutores. A globalização transformou
o mundo e as relações entre as pessoas e entre a natureza.
Os países subdesenvolvidos são sedentos por esse processo, pois o
veem como uma chance para o desenvolvimento econômico e,
consequentemente, social. Mas a que preço? A que preço os países e as
sociedades, consideradas subdesenvolvidas por não serem as maiores
economias mundiais, negociam a globalização? Normalmente, o preço ofertado
são as riquezas naturais (florestas, minérios, fauna, terras) e a riqueza humana
(mão de obra barata).
Toda essa exposição é para elucidar os pontos que compõem a discussão
da temática ambiental e da questão ambiental, já vistos no início da aula. Temos
que nos questionar acerca dos receptores das discussões sobre a temática
ambiental. Para quem nos esforçamos como profissionais (saúde, natureza,
educação, ciência, exatas etc.)? Mas, principalmente, qual o grande motivo de
nos esforçarmos para compreender conceitos como meio ambiente e
sustentabilidade?
Nos esforçamos porque acreditamos na educação ambiental, na
conscientização de uma sociedade que pode ser crítica perante as injustiças e
mazelas de sociedades consideradas não desenvolvidas.
Com isso, evidenciamos a importância da temática ambiental,
identificando seus elementos e atores que a constroem.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
ONU – Organização das Nações Unidas. A carta das Nações Unidas. 1945.
Disponível em: <https://nacoesunidas.org/carta/>. Acesso em: 6 jan. 2020.
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