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MEIO AMBIENTE E

SUSTENTABILIDADE
AULA 1

Prof.ª Mariana Andreotti Dias


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, vamos conversar sobre o seguinte tema: “A História e a


consolidação da temática ambiental”. Nela iremos contemplar e introduzir a
temática ambiental. Faremos isso com o intuito de angariar subsídios para as
questões básicas que permeiam o assunto.
Almejamos como objetivo geral nesta aula: posicionar, expor, incitar a
questão ambiental, buscando evidenciar a importância de sua discussão crítica.
Especificamente, vamos evidenciar e discutir sobre:

 Os conceitos - meio ambiente, natureza e ambiente;


 A abordagem ambiental e as diferenças e semelhanças existentes para o
pensamento ambiental;
 A necessidade de uma posição crítica para a temática ambiental – a
questão ambiental;
 Os principais desastres ambientais sofridos pela humanidade,
posicionando a conversa no tempo histórico e cultural.

TEMA 1 - A INTERPRETAÇÃO CIENTÍFICA DA TEMÁTICA AMBIENTAL

O conhecimento humano é o grande propulsor para o desenvolvimento de


qualquer sociedade, e foi ele que moldou e ainda molda as sociedades humanas.
Com o passar do tempo e amadurecimento das ciências – consequentemente,
do conhecimento – aconteceu a estruturação das diversas temáticas, tratadas
de acordo com as expertises e necessidades da sociedade que a clamam. A
temática ambiental é uma delas, e provém da necessidade e da urgência da vida
humana na Terra e em sociedade. Na Antiguidade, pudemos colher subsídios
que alicerçaram o diálogo entre os seres humanos e em suas sociabilidades,
culturas, economias e políticas, eixos fundantes da sociedade.
A discussão científica só o é pela grande diversidade entre os discursos
e falas, ora consensual, ora divergente, permitindo a riqueza do diálogo. O
cenário ideal para o desenvolvimento do discurso e da não estagnação da
ciência é que haja um equilíbrio, e no caso, equilíbrio entre o discurso ambiental
e social. Não é possível empreendermos algo se estamos em constante disputa
hegemônica, em escolha entre um e outro; ambos só são grandes se juntos,
ambos só são completos e complexos se pensados de forma integrada. O

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discurso ambiental e social, ou de forma mais adequada, socioambiental será
explicitado a seguir.
Para discutir sobre a temática ambiental, é de suma importância a
compreensão e assimilação do que sejam os conceitos de natureza, ambiente e
meio ambiente, tratados de forma polissêmica:
 Natureza: na Antiguidade estava associado ao cristianismo e à ideia de
divindade, sendo lugar de criação sacra. Fora dividido, na Idade Média,
em dois mundos, o mundo do bem e o mundo do mal. O cristianismo
propõe essa percepção em que o homem estaria moldado à
personificação de Deus, que viveria em uma natureza paradisíaca. Com
o advento da ciência, das ideias iluministas e dos grandes filósofos,
chega-se à conceituação de que natureza é uma abstração, mas que
possui elementos que podemos tocar, sentir e vivenciar. Esses elementos
são isolados (uma árvore, um lobo, uma rocha etc.), combinados (floresta,
alcateia, montanhas etc.) e complexos (vegetação, biosfera, ecossistema,
habitat etc.).
 Ambiente: Está dentro da compreensão de natureza, mas aqui não se
trata de elementos isolados, e sim de um complexo. Por exemplo, um
peixe não é um ambiente, mas o rio que tem o peixe em seu sistema é
um ambiente. O ambiente é o sistema, é o complexo, é o todo.
 Meio ambiente: são as relações entre os elementos constituintes.
Diferencia-se da natureza e de ambiente por não considerar elementos
isolados, mas sim os elementos que estão relacionados e se relacionam
por complexos, estando estes implicados em um contexto e em um
momento histórico e cultural. O meio que acompanha o ambiente está
imbuído de relações entre os seres humanos, relações com a natureza e
a sociedade. Seria o conceito que agrega a natureza e o ambiente sob
uma perspectiva social e relacional.

Tais conceitos são os disparadores para a temática ambiental, e há de se


atentar para o seu uso, seja esse em conversas informais, textos ou diálogos
científicos. O esclarecimento do que é temática ambiental também se faz
necessário, tendo em vista que este se difere de outra perspectiva importante, a
questão ambiental:

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 Temática Ambiental: “o campo aberto e geral de assuntos e interesses
que se referem à relação estabelecida entre sociedade e natureza”
(Mendonça; Dias, 2019, p. 25).

TEMA 2 – A QUESTÃO AMBIENTAL

Possui em sua abordagem o discurso que problematiza, que evoca


alertas, entraves e possibilidades que movimentem e convocam à ação.
Mas para que servem tais conceitos? Em que podem contribuir para a
sociedade?
De acordo com o que dissemos: a necessidade de tratar natureza e
ambiente juntamente com o meio!
Tais conceitos servem à sociedade e ao momento histórico e cultural que
construímos. Eles provêm da ciência acadêmica, de autores e estudiosos que
se debruçam sobre e para a sociedade, a fim de resolver ou pelo menos
compreender fenômenos que geram a produção do espaço social. Tanto é que
podemos até mesmo exemplificar entraves na sociedade que necessitaram de
um discurso e olhar cuidadoso (política, impactos ambientais, pobreza etc.), e a
possibilidade e o estabelecimento dos diálogos apaziguaram entraves
conflituosos.
Para ilustrar isso, retomemos ao passado, não tão longínquo: é o caso do
movimento ambientalista do fim da década de 1960 e início dos anos 1970. A
crise e o infortúnio estavam postos na sociedade que se via aplacada pelos
modelos capitalistas opressivos. A contracultura (Figura 1 e Figura 2) chega e
incita à conscientização pública e à defesa dos complexos naturais, do meio
ambiente e da liberdade de expressão.

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Figura 1 – Manifestantes da contracultura

Crédito: Newsday LLC/Guetty Images.

Figura 2 – Música como forma de denúncia e resistência no Brasil

Crédito: Arquivo/Agência O Globo.

Outro exemplo são as guerras assistidas por uma sociedade que não
estava preparada para o embate, nunca estamos preparados para algo tão
sórdido, mas há possibilidades de compreensão e perspectivas que direcionam
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às mudanças. É o caso da Guerra do Vietnã, que impulsou protestos,
movimentos sociais, movimentos culturais e concepções sobre o ser e existir.
O ambientalismo também deve ser compreendido em seu contexto
histórico, em que, dentro de uma vertente naturalista, buscava-se a proteção dos
ecossistemas, e na atual pós-modernidade alheia-se a compreensão dos graves
problemas suscitados pela interação do ser humano com o ambiente natural.
Exemplos: queimadas e desmatamento na Amazônia; a não demarcação de
terras indígenas e a violência no campo.
O posicionamento e a defesa da concepção assertiva de cada conceito
se fazem pelo esforço de não sucumbir ao senso comum que prejudica a análise
dessas perspectivas constituintes da temática ambiental e da questão ambiental.
Como exemplo, consultorias ambientais e consultores do meio ambiente que
ajuízam análises equivocadas em seus instrumentos, em que a gravidade
desses exercícios reverberará na sociedade e nos sujeitos.
Os conceitos estão postos na sociedade e em sua conjuntura vigente.
Eles não são estáticos, e carecem sempre de reformulações e adequações
quando falamos de lugares específicos, de ciências específicas, de sociedades
específicas. Os moldes são construídos conforme a lente e o leito que os
utilizam.
Considera-se, assim, o que Geraldino (2014, citado por Mendonça; Dias,
2019, p. 31) expõe: “todos aqueles envolvidos com a temática ambiental devem
ter minimamente uma referência conceitual clara para seus termos-chave”. E o
que Milton Santos sempre evidenciou e foi como geógrafo e professor: o dever
de sermos estudiosos incansáveis e ininterruptos das sociedades, das relações
e dos territórios.
Com toda essa discussão podemos fomentar o debate sobre as
polissemias que envolvem os conceitos, evidenciando questões que conduziram
a ideia de tratá-los como sinônimos, nos livrando do senso comum que prejudica
a análise assertiva dos fatos e fenômenos da sociedade.

TEMA 3 – O CONTEXTO HISTÓRICO DA TEMÁTICA AMBIENTAL

Agora que tivemos um primeiro contato com os conceitos e as temáticas


que cercam a perspectiva socioambiental, vamos compreender o contexto
histórico dela.

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A ciência e a tecnologia se esforçam há muitas décadas para amenizar o
senso comum e os achismos na sociedade, mas não o senso comum que
beneficia e desperta para a informação – esse é beneficiador de algo. E sim, o
senso comum que está posto nos meios de comunicação, ou sobretudo pelas
mídias, que possuem papéis fundamentais para a sociedade e a relação que
esta constrói com o meio ambiente.
Diante do retrato de sujeitos que não se importam com temáticas
ambientais, sociais, culturais e/ou políticas e sujeitos que fazem esforços para
compreender e configurar um retrato oposto ao anterior, prefere-se esse último
grupo. Mas a propulsão é viabilizada pelas mídias que sumariamente precisam
da notícia avassaladora, catastrófica e alarmante. Exemplos são os impactos
ambientais e sociais, as grandes crises mundiais, as guerras, a fome, a
desigualdade social etc. Ora, temos aí um terreno fértil para a sensibilização, por
mais que ela seja noticiada de forma equivocada aos olhos das ciências e dos
estudiosos.
Assim, é perceptível a importância dos meios de comunicação, pois é por
meio deles que podemos contextualizar a temática ambiental que se transformou
em questão ambiental, pelo engajamento dos sujeitos (indivíduo) e sociedade
(coletivo). Infelizmente, viu-se um planeta tomado por desastres ambientais e
sociais, em que as expertises dos estudiosos não foram suficientes para conter
a ganância dos indivíduos serviçais de uma sociedade capitalista industrial.
Aqui inicia-se uma primeira percepção do que seja o conceito de
sustentabilidade, pois ele aparece em nossa sociedade imbuído do senso
comum. Está caminhando com a ideia de lucro, de desenvolvimento, de
financiamento de uma natureza e ecossistemas ao bel-prazer. Esse discurso não
é ingênuo, ele está construído e preconizado nas entranhas do projeto e modelo
capitalista.
Exemplo disso são os desastres ecológicos recorrentes em nossa
sociedade e história: envenenamento por mercúrio em Minamata (Japão, 1954);
vazamento de dioxina em Seveso (Itália, 1976); incêndio na Vila Socó (Brasil,
1984); vazamento de gás industrial em Bhopal (Índia, 1984 – Figura 4); acidente
nucelar em Chernobyl (Ucrânia, 1986 – Figura 3); Exxon Valdez (EUA, 1989);
golfo do México (México, 2010); rompimento de barragem em Mariana (Brasil,
2015 – Figura 6); rompimento de barragem em Brumadinho (Brasil, 2019). Além

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dos impactos causados todos os dias: mineração (Figura 5) e queimadas na
Amazônia (Figura 7, Figura 8).

Figura 3 – Desastre em Chernobyl

Crédito: Teacherkarla/Shutterstock.

Figura 4 – Consequências de Desastre em Bhopal/Índia.

Crédito: Arindambanerjee/Shutterstock.

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Figura 5 – Mineração em áreas da floresta amazônica

Crédito: Tarcisio Schnaider/Shutterstock.

Figura 6 – Desastre na cidade de Mariana/MG

Crédito: A. M. Teixeira/Shutterstock.

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Figura 7 – Queimadas na floresta amazônica

Crédito: Pedarilhosbr/Shutterstock.

Figura 8 – Queimadas na floresta amazônica

Crédito: Gerard Bottino/Shutterstock.

Incoerente é a sucessão dos desastres em um tempo em que a tecnologia


e a informação estão dispostas para auxiliar o ser humano. Exemplo de tal
descaso são os desastres nos municípios de Mariana e Brumadinho, no estado
de Minas Gerais, ambos causados pelo despreparo dos planejadores ambientais

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e pelo abuso da relação entre meio ambiente e ser humano. A ganância e a
busca do lucro levam ao impacto irreparável da natureza e assola a humanidade.
A criação da Organização das Nações Unidas (ONU) se deu em razão da
ferocidade da 2ª Guerra Mundial. Compromissos foram firmados e a
responsabilidade dos países agora estavam voltados à humanidade, ao coletivo,
e não mais individualmente. Alguns marcos importantes fazem-nos lembrar dos
compromissos para o meio ambiente e sociedade. A Carta da ONU é um desses.
Elaborada por representantes de 50 países em 1945, é o documento mais
importante da organização, e sua justificativa e objetivo se fundam no seguinte:

No caso de conflito entre as obrigações dos membros das nações


unidas, em virtude da presente carta e as obrigações resultantes de
qualquer outro acordo internacional, prevalecerão as obrigações
assumidas em virtude da presente carta [...].
[...] a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por
duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à
humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem,
na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos
homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas,
e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às
obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito
internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e
melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla.
E para tais fins [...] praticar a tolerância e viver em paz, uns com os
outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz
e a segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios
e a instituição dos métodos, que a força armada não será usada a não
ser no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para
promover o progresso econômico e social de todos os povos.
Resolvemos conjugar nossos esforços para a consecução desses
objetivos [...] Em vista disso, nossos respectivos Governos, por
intermédio de representantes reunidos na cidade de São Francisco,
depois de exibirem seus plenos poderes, que foram achados em boa e
devida forma, concordaram com a presente Carta das Nações Unidas
e estabelecem, por meio dela, uma organização internacional que será
conhecida pelo nome de Nações Unidas. (ONU, 1945)

A intenção era a de impedir outros conflitos, respeitar e preservar o direito


dos cidadãos e cidadãs pela liberdade ampla, pela justiça e tolerância ao próximo
e à diversidade, livrando a humanidade de armas e processos bélicos que
cessam a dignidade e a vida humana. Mas difícil é olhar o presente e não
questionar o não cumprimento dos princípios firmados em 1945.
Observam-se pequenas guerras mundiais – sim, pequenas, pois não
estão nos noticiários mais importantes, não estão sendo visibilizadas, e isso não
quer dizer que não acontecem. Há sim conflitos cotidianos na África Negra, nas
matas usurpadas dos povos nativos da Amazônia brasileira, na produção
incessante de armas e drogas que sustentam a violência das favelas urbanas
das grandes metrópoles etc.
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Com base nessas discussões, foi possível explicitar os processos
passados que culminaram na situação atual da temática ambiental. É de suma
importância a análise temporal, pois ela nos coloca no estado da arte dos
processos, sendo possível com isso a clarividência sobre os processos e
fenômenos da sociedade.

TEMA 4 – A TEIA CIENTÍFICA DO MEIO AMBIENTE

Abordar as ciências que trabalham com o meio ambiente, seus


paradigmas, conceitos e superações epistemológicas são alguns dos temas que
iremos abordar. A ciência do século XIX (Século das Luzes) se preocupou e
reteve-se nas descrições dos lugares e das paisagens, algo que precisava ser
alterado, tendo em vista as mudanças da sociedade, principalmente em relação
às revoluções e movimentos trabalhistas. Além disso, era necessário conceder
a responsabilidade dos efeitos e danos causados à natureza pela
industrialização a alguém – o ser humano.
As ciências desse período estavam adaptadas a um modelo naturalista.
Isso significa a presença de uma forte descrição e percepção do meio apenas
como natural, sem de fato ofertar discussões sobre a ação humana. Exemplos
dessas ciências: Geografia e Biologia.
Após a evolução nas ciências e a mudança nos pressupostos da
sociedade, os conceitos de sociedade e natureza (socioambiente) e seres vivos
e o meio (meio natural) foram reformulados para as duas ciências, assim como
as perspectivas.
Mas por que a exposição de tais ciências e a gênese naturalista de
ambas? Para evidenciar que ainda encontramos em nossa sociedade resquícios
desse naturalismo. As engenharias, consultorias ambientais e cursos
especializantes colocam no mercado profissionais que concedem licenças
ambientais para projetos, sobretudo, de exploração mineral, florestal,
agrossilvipastoril etc., de uma forma nada sustentável, gerando a degradação
integral e a não recuperação de áreas ambientais.
Não há problema em tais profissões ou licenças, desde que o aspecto
social e o respeito à fauna e à flora nativas sejam pontos essenciais nos
relatórios e licenciamentos.
Abordar as ciências que trabalham com o meio ambiente, seus
paradigmas, conceitos e superações epistemológicas é necessário para
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compreendermos a temática ambiental em suas formas mais diversas. Os
discursos são construídos conforme a percepção que temos.

TEMA 5 – A TEMÁTICA AMBIENTAL – PARA QUE E PARA QUEM?

Evidenciar a importância da temática identificando seus elementos e


atores são os objetivos dessa parte da aula.
Iniciamos a exposição dialogando sobre a Educação Ambiental, esta que
tem como princípio conscientizar a sociedade para o cuidado e respeito ao meio
ambiente. Ela está em voga dentro de cursos da área ambiental, construção civil
e das pedagogias. Não é mais possível, por exemplo, abrir um negócio, ser um
empresário, sem se debruçar sobre tais temas. E isso acontece pela acelerada
transformação, alteração e degradação das paisagens pelos modos de vida e
consumo.
Para substanciar a discussão, temos autores que falam sobre uma
ecologia política, essa que seria:

O campo no qual se expressam as relações de poder para desconstruir


a racionalidade insustentável da modernidade e para mobilizar as
ações sociais no mundo globalizado para a construção de um futuro
sustentável fundado nos potenciais da natureza e da criatividade
cultural, num pensamento emancipatório e em uma ética política para
renovar o sentido e a sustentabilidade da vida. (Leff, 2015, p. 29)

Mas o que esse conceito tem a ver com educação ambiental e com a
discussão sobre o meio ambiente?
É com base nessas discussões que compreendemos a educação
ambiental, responsável por nos conscientizar, e convidamos para a percepção
sobre a qualidade de vida ofertada por um planeta saudável.
Atrelada a essa perspectiva temos outras mais, como a ideologia, que é
a “doutrina das ideias”, de acordo com a qual não podemos dissociar o discurso
socioambiental do discurso político, histórico, cultural, étnico, racial etc. Ao
pensarmos em meio ambiente e sociedade, há de pensarmos em ideologia.
Exemplo para isso: se você possui afetos à natureza e todo sistema (rios,
lagos, cachoeiras, mares, montanhas, bichos etc.) e se depara com a destruição
gradativa de tais complexos por meio de leis irrestritas, grandes
empreendimentos (ou seja, pela exploração econômica em sua face mais
capitalizada), algum sentimento de revolta, compaixão ou penar poderá ser

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vivenciado por você. Se isso acontece, você possui a doutrina de ideias,
direcionando-se nesse caso à ideologia da ecologia política.
Sendo assim, é imprescindível a uma sociedade consciente de seus
problemas a criticidade que impulsiona a busca de soluções. Para compreender
a criticidade que nos envolve cotidianamente, deve-se perceber os processos da
globalização.
O geógrafo Milton Santos elucidou o conceito como o movimento de fluxos
e fixos, pessoas e serviços, produtos e produções etc., em que o alimento que é
produzido do outro lado do continente chega à mão do comprador em pouco
tempo, ou ainda a informação que chega em milésimos de segundos,
independentemente da distância entre os locutores. A globalização transformou
o mundo e as relações entre as pessoas e entre a natureza.
Os países subdesenvolvidos são sedentos por esse processo, pois o
veem como uma chance para o desenvolvimento econômico e,
consequentemente, social. Mas a que preço? A que preço os países e as
sociedades, consideradas subdesenvolvidas por não serem as maiores
economias mundiais, negociam a globalização? Normalmente, o preço ofertado
são as riquezas naturais (florestas, minérios, fauna, terras) e a riqueza humana
(mão de obra barata).
Toda essa exposição é para elucidar os pontos que compõem a discussão
da temática ambiental e da questão ambiental, já vistos no início da aula. Temos
que nos questionar acerca dos receptores das discussões sobre a temática
ambiental. Para quem nos esforçamos como profissionais (saúde, natureza,
educação, ciência, exatas etc.)? Mas, principalmente, qual o grande motivo de
nos esforçarmos para compreender conceitos como meio ambiente e
sustentabilidade?
Nos esforçamos porque acreditamos na educação ambiental, na
conscientização de uma sociedade que pode ser crítica perante as injustiças e
mazelas de sociedades consideradas não desenvolvidas.
Com isso, evidenciamos a importância da temática ambiental,
identificando seus elementos e atores que a constroem.

NA PRÁTICA

Iniciamos nossa disciplina discutindo sobre a temática e a questão


ambiental. Agora, você irá consolidar sua aprendizagem assistindo um
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documentário: “O desastre de Chernobyl”, disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=bv4aoqzsfhs>. O documentário evidencia
os entraves da relação entre o ser humano e a natureza, e consequentemente o
meio ambiente. O seu olhar deve se voltar para as problemáticas sociais e
ambientais, os impactos causados e o contexto histórico em que o
acontecimento se deu. Ao concluir o documentário, você estará apto a se
posicionar, expor e incitar argumentos sobre a questão ambiental, além de
evidenciar a importância de uma discussão histórica e critica.

FINALIZANDO

Com essa aula pudemos esclarecer alguns pressupostos e conceitos que


foram, ao longo do tempo histórico, construídos para a temática ambiental. Mas
porque compreender conceitos e discutir tais construções? Para sermos sujeitos
críticos e conscientes da amplitude e complexidade a que pertencemos,
chamado de geossistema, ecossistema, socioambiental, sustentável etc.
A temática A História e a consolidação da temática ambiental nos convoca
a pensar sobre o tempo, o tempo da modernidade e pós-modernidade, que
pertence aos fluxos intensos e díspares do meio técnico científico informacional.

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REFERÊNCIAS

DISCOVERY CHANNEL. O desastre de Chernobyl. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=bv4aoqzsfhs>. Acesso em: 6 jan. 2020.

GERALDINO, C. F. G. O meio como ambiente: da emergência às críticas de um


conceito. Revista Ateliê Geográfico. Goiânia, v.8, n.2, p. 198-220, 2014.

LEFF, H. Political ecology: a latin american perspective. Revista


Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 35, p. 29-64, 2015.

MENDONÇA F.; DIAS, M. A. Meio ambiente e sustentabilidade. Editora


Intersaberes, 2019.

ONU – Organização das Nações Unidas. A carta das Nações Unidas. 1945.
Disponível em: <https://nacoesunidas.org/carta/>. Acesso em: 6 jan. 2020.

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