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Sustentável
Cynthia Roncaglio
Nadja Janke
2009
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por
escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
ISBN: 978-85-7638-840-1
CDD 363.7
Nadja Janke
Mestra em Educação pela Unesp-Bauru.
sumário
sumário Desenvolvimento sustentável
11 | Desenvolvimento e ambiente
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Desenvolvimento Sustentável
tema complexo e fascinante: a perspectiva do
desenvolvimento sustentável.
Para compreender os problemas sociais e am-
bientais contemporâneos, precisamos fazer
uma travessia que inclua algumas paradas em
lugares e tempos estratégicos, onde e quando
transformações históricas importantes anuncia-
ram mudanças no modo de compreender e de
nos relacionar com a natureza.
A partir disso, poderemos compreender melhor
por que a questão ambiental se colocou como
um dos principais problemas – senão o princi-
pal e mais abrangente –, no decorrer do século
XX e no início do XXI. A análise de conceitos
como desenvolvimento sustentável, ecodesen-
volvimento e sustentabilidade, utilizados com
freqüência por políticos, cientistas e cidadãos
em geral, será apresentada aqui com o intuito
de estimular a sua reflexão sobre um tema que
desperta muitas polêmicas e ações diversas no
âmbito do governo, das empresas privadas e
das organizações sociais.
As experiências globais e locais na área ambien-
tal, que ocorrem no campo ou na cidade, repre-
sentam uma ponte entre a teoria e a prática,
entre a sociedade e a natureza, entre os interes-
ses individuais e os coletivos, entre a destruição
e a preservação. O aluno terá oportunidade, em
vários momentos de leitura e reflexão, assim
como no decorrer das atividades propostas, de
fazer essa ligação entre os conteúdos.
Não poderíamos deixar de salientar também
a importância da Educação Ambiental para a
formação de cidadãos mais sensíveis e atentos
Desenvolvimento Sustentável
aos problemas ambientais, e o fato de ela poder
estar presente em todas as instâncias da vida
social, na educação formal e na informal.
Certamente, quando chegarmos ao fim da nossa
viagem, o aluno perceberá que o assunto trata-
do é vasto e profundo, e que o nosso objetivo
aqui é tão-somente despertar – por meio dos
conteúdos abordados, da indicação de leituras,
de filmes e de atividades – o desenvolvimento
da consciência crítica e a curiosidade para se
continuar os estudos neste campo, explorando
e desvendando o mundo social e natural em
toda a sua diversidade.
Cynthia Roncaglio
Desenvolvimento sustentável
Desenvolvimento e ambiente
A idéia de desenvolvimento e o agravamento – ou a percepção do agra-
vamento – dos problemas ambientais ganhou força e expressão principal-
mente após a Segunda Guerra Mundial, quando emergiu no cenário inter-
nacional o confronto entre duas superpotências: Estados Unidos da América
(EUA) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Embora a história
mundial desse período não fosse homogênea e facilmente compreensível,
pode-se dizer, genericamente, que a Guerra Fria entre esses dois blocos he-
gemônicos e antagônicos dividiu o globo em duas partes: uma controlada
pela URSS, que abrangia os territórios ocupados pelo Exército Vermelho e as
forças armadas comunistas ao fim da guerra; e a outra, com os EUA domi-
nando o resto do mundo capitalista. Ambas propunham ao Terceiro Mundo
o seu modelo de desenvolvimento.
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Desenvolvimento Sustentável
ora como sinônimas, ora com diferentes acepções por políticos, cientistas e
filósofos. Cabe ao leitor identificar nos discursos, caso não sejam evidentes
as utilizações conceituais, as filiações ideológicas ou políticas dos autores, e
os sentidos e significados implícitos.
Conceito de ecologia
O termo ecologia deriva de oikos (“casa”) + logos (“estudo”) e significa
“estudo da casa”. O termo foi cunhado pelo biólogo Ernst Haeckel, em 1870,
para criar uma disciplina científica que se tornaria um ramo da Biologia. Essa
disciplina serviria para investigar as relações totais dos animais, tanto com
seu ambiente inorgânico quanto com o orgânico.
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Desenvolvimento sustentável
Conceito de ecodesenvolvimento
No ano seguinte à primeira Conferência sobre o Meio Ambiente em Esto-
colmo, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), o termo eco-
desenvolvimento foi lançado pelo canadense Maurice Strong7, em reunião 7
Diretor executivo do Pro-
grama das Nações Unidas
realizada em Genebra em junho de 1973. Mas o conceito, com princípios re- para o Ambiente.
Em síntese, ecodesenvolvimento é
um estilo de desenvolvimento que, em cada ecorregião, insiste nas soluções específicas
de seus problemas particulares, levando em conta os dados ecológicos da mesma forma
que os culturais, as necessidades imediatas como também aquelas a longo prazo. (SACHS,
1986, p. 15).
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Desenvolvimento Sustentável
Ainda nos anos 1970, a Declaração de Cocoyok, das Nações Unidas, intro-
8
A pobreza “é o nível de duziu a análise da pobreza8 como causa da explosão demográfica e principal
renda abaixo do qual uma
pessoa ou uma família não indutora da rápida deterioração dos recursos naturais. O modelo de consumo
é capaz de atender regular
mente às necessidades da
vida” (COMISSÃO mundial
dos países industrializados também foi apontado como fator de agravamento
sobre meio ambiente e de-
senvolvimento, 1991, p. 54).
desse quadro, podendo-se, portanto, falar em limites máximos e mínimos de
crescimento. Em 1975, outro relatório internacional, o da Fundação Dag-Ham-
marskjold, com a participação de políticos e pesquisadores de 48 países, com-
plementou as recomendações de mudanças nas estruturas de propriedade
rural e o repúdio às posturas governamentais dos países industrializados.
Esse panorama preparou terreno fértil para que, em 1987, com a intensi-
ficação da preocupação mundial sobre as questões ambientais, o conceito
de desenvolvimento sustentável ganhasse contornos mais definidos, porém
ainda genéricos. No relatório Nosso Futuro Comum, conhecido como Rela-
9
O Relatório Brundtland tório Brundtland9, a Comissão Mundial da onu10 sobre o Meio Ambiente e
recebeu esse nome em re-
ferência à primeira-ministra
da Noruega, Gro Harlem
Desenvolvimento (Unced), ao examinar a ligação entre desenvolvimento
Brundtland, que presidiu a
Comissão.
econômico e proteção ambiental, afirma: “desenvolvimento sustentável é
aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a pos-
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A Organização das Nações sibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”.
Unidas (ONU) tem como ob-
jetivos manter a paz, defen- Essa definição contém dois conceitos-chave:
der os direitos humanos e
as liberdades fundamentais,
bem como promover o de- o conceito de necessidades, sobretudo as essenciais dos pobres do
senvolvimento dos países
em escala mundial. mundo, que devem receber a máxima prioridade;
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Desenvolvimento sustentável
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Desenvolvimento sustentável
Do conceito à ação
Na prática, a imaginação ecológica deve guiar a reflexão sobre o de-
senvolvimento. O objetivo é o de melhorar o destino de mais de um
bilhão de indivíduos que vivem abaixo do limiar da pobreza, começando
por assegurar-lhes “meios viáveis de existência” (CHAMBERS), qualquer
que seja o contexto ambiental ou cultural em que vivam [...].
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Desenvolvimento sustentável
Atividades de aplicação
1. Analise os conceitos de ecologia, meio ambiente, ecodesenvolvimen-
to e desenvolvimento sustentável e estabeleça suas semelhanças e
diferenças.
Dicas de estudo
FOLADORI, Guillermo. Los Límites del Desarollo Sustentable. Montevideo: Edi-
ciones de La Banda Oriental, 1999.
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Gestão participativa e ambiente
Sustentabilidade: conciliando
participação social e cuidado com o ambiente
Observemos outro trecho de Leff (2001, p. 57):
A gestão ambiental do desenvolvimento sustentável exige novos conhecimentos
interdisciplinares e o planejamento intersetorial do desenvolvimento; mas é sobretudo
um convite à ação dos cidadãos para participar na produção de suas condições de
existência e em seus projetos de vida. O desenvolvimento sustentável é um projeto social
e político que aponta para o ordenamento ecológico e a descentralização territorial da
produção, assim como para a diversificação dos tipos de desenvolvimento e dos modos
de vida das populações que habitam o planeta. Neste sentido, oferece novos princípios
aos processos de democratização da sociedade que induzem à participação direta das
comunidades na apropriação e transformação de seus recursos ambientais.
É claro que esse tipo de participação social não é de fácil instituição. Para
que seja definitivamente efetivado, ainda se deve percorrer um longo cami-
nho. A participação é um compromisso importante não somente na manu-
tenção dos recursos naturais mas também em todos os âmbitos da experi-
ência comunitária, como nas cidades, nas paisagens rurais e nas aldeias, por
meio da busca por um ambiente mais saudável e com mais qualidade de
vida.
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Gestão participativa e ambiente
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Desenvolvimento Sustentável
Nesse caso, sendo o papel das comunidades lutar por sua participação e
reivindicar por melhores condições ambientais, o papel do Estado consiste
na implementação de políticas públicas que garantam o acesso dessas pes-
soas às condições necessárias para o manejo ambiental. Nesse sentido, fica
claro que a reivindicação popular e o dever do Estado vão além do direito
de participar. Muitas vezes, para assumir uma postura sustentável frente ao
ambiente, as comunidades têm que lutar também por incentivos financei-
ros, técnicos, sociais, uma vez que nem todos os grupos estão capacitados
para trabalhar pela manutenção do seu ambiente. Aí se configura, portanto,
o papel do Estado, das universidades, de instituições não-governamentais
etc.
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Gestão participativa e ambiente
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Desenvolvimento Sustentável
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Gestão participativa e ambiente
Gestão de unidades
de conservação: o papel dos atores sociais
A questão primeira que se coloca, quando se pensa na a possibilidade de
criação de uma área ou unidade de conservação, é quanto à permanência ou
não da população local nesse ambiente. Ou seja, se essas unidades devem
contar com um sistema de planejamento sustentável ou se devem ter carac-
terísticas de áreas de preservação integral.
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Gestão participativa e ambiente
causem dano à diversidade biológica de outros Estados ou de áreas além dos limites de
jurisdição nacional.
Planejamento participativo
(DEMO, 2001)
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Gestão participativa e ambiente
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Gestão participativa e ambiente
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Gestão participativa e ambiente
O técnico não deve camuflar que, por mais que se identifique com a
comunidade, pratique uma forma de intervenção, ainda que considerada
alternativa. Sua função pode ser importante, em muitos sentidos, a co-
meçar pela postura certamente gasta e, muitas vezes, farsante do intelec-
tual orgânico. A autocrítica não deve levar a apagar-se. Ao contrário, deve
levar a ocupar seu lugar adequado no processo, que é nos bastidores,
não no centro da cena.
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Desenvolvimento Sustentável
Atividades de aplicação
1. Para todo o grupo: existe um plano de Agenda 21 em sua cidade?
Dicas de estudo
DEMO, Pedro. Política social e participação. In: ______. Participação É Conquista.
São Paulo: Cortez, 2001.
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Educação Ambiental como
instrumento de superação
da insustentabilidade
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Educação Ambiental como instrumento de superação da insustentabilidade
45
Desenvolvimento Sustentável
A Educação Ambiental surge como uma necessidade quase inquestionável pelo simples
fato de que não existe ambiente na Educação moderna. Tudo se passa como se fôssemos
educados e educássemos fora de um ambiente. (Grün, 1996, p. 21)
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Educação Ambiental como instrumento de superação da insustentabilidade
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Educação Ambiental como instrumento de superação da insustentabilidade
Além disso, é preciso dizer que os conteúdos devem ser discutidos e tra-
balhados de forma coletiva, buscando conhecimentos não somente do pro-
fessor, que também possui uma leitura individual do mundo, mas também
dos educandos, como nos sugere Meyer (1991, p. 42):
Reconhecendo que a escola não é o único local de aprendizado e que o processo
educativo não se inicia nem se esgota no espaço escolar, torna-se fundamental dialogar
com o conhecimento que as pessoas têm acerca do ambiente, aprendido informalmente e
empiricamente em sua vivência e prática social, respeitando-as, questionando-as, levando-
as a repensarem o aprendido. Enfim, possibilitando que elas formulem e expressem suas
idéias e descobertas, e elaborem os seus próprios enunciados e propostas.
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Mas qual o papel da Educação Ambiental para esses grupos, como deve
ser estruturada? Quais são os princípios norteadores desse trabalho?
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Educação Ambiental como instrumento de superação da insustentabilidade
vindo de... que o contexto das interações entre as pessoas “ali” criou. E que, então, cada um
individualmente, cada pequena unidade afetiva e relacional de uma “turma de alunos” irá
incorporar aos seus processos e às suas estruturas cognitivas de conhecimento-aprendido-
e-agora-sabido. (Brandão, 2003, p. 116-117).
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Educação Ambiental como instrumento de superação da insustentabilidade
como coletivos, na busca por relações harmônicas entre todos, e com o am-
biente. Dessa forma, o respeito à diversidade também surge como manifes-
tação autêntica, porque não há nada mais belo do que a versatilidade dos
seres vivos, das culturas, das manifestações naturais (SATO, 2003).
É para isso, afinal, que nos serve o conhecimento: para ajudar na melhoria
de nossas vidas, na elaboração de nossas vontades e de nossos desejos. O
conhecimento apreendido a partir da experiência com o outro, buscando
nessa relação uma nova ética de compromisso, de cidadania, de expecta-
tivas comuns, possui um alto potencial modificador e ordenador da busca
pela felicidade comum. Poeticamente, Brandão (2002, p. 188) nos diz que
pouco a pouco aprendemos a relativizar a história de longos ciclos, centradas em grandes
feitos, grandes momentos e grandes heróis, para nos voltarmos às múltiplas histórias
culturais de antecedentes, contemporâneos e consócios como nós mesmos. Nós ao lado
de tantas pessoas “sem nome em placas de rua” mas de um passado remoto, os verdadeiros
heróis da “nossa história”, porque a geração de mulheres e homens são os construtores
cotidianos do que esteve e está aí como uma cultura. A nossa cultura. Habitantes de
carne e osso da criação de cotidianos que são, de uma comunidade de Belém Velho, a
Porto Alegre, ao Rio Grande do Sul, ao Brasil, a outros amplos círculos de nosso Mundo,
antes e agora, criadores de sociedades, de culturas e de histórias, tanto ou mais do que
heróis montados a cavalo. E então, poderemos descobrir, junto com as inúmeras pessoas
das muitas comunidades populares, que aqueles heróis esporadicamente aparecem em
momentos de uma história cujo dia-a-dia somos nós, as pessoas comuns, quem constrói
e quem, portanto, pode dar sentido e transformá-la.
Atividades de aplicação
1. Cada aluno deve criar um conceito de Educação Ambiental.
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Dicas de estudo
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A Pergunta a Várias Mãos: a experiência da pesqui-
sa no trabalho do educador. São Paulo: Cortez, 2003.
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Estado e ambiente no Brasil
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Estado e ambiente no Brasil
Outro aspecto notável, como salienta Leis (1999, p. 133), foi que
[...] nos anos 1970, enquanto os encontros para tratar das questões econômicas
faziam-se exclusivamente através de representantes dos governos, em Estocolmo
(antecipando claramente o que depois iria ser um dos traços mais notáveis da
Rio-92), a conferência oficial estava marcada pelo debate e ação ambientalista da
sociedade civil mundial. Tanto estava isto presente que os setores do ambientalismo
que já tinham emergido no cenário público internacional (principalmente cientistas
e não-governamentais) fizeram várias reuniões paralelas à conferência oficial.
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Posicionamentos do Estado
brasileiro em face à questão ambiental
Na década de 1970, o posicionamento do Estado brasileiro diante da
questão ambiental era ao mesmo tempo nacionalista e desenvolvimentista.
Nacionalista porque, perante a política internacional e os seus respectivos
acordos de cooperação, tinha-se receio da atuação de interesses estrangei-
ros sobre as riquezas nacionais, e uma grande preocupação em manter a
soberania nacional sobre o uso dos recursos naturais. Ademais, conforme
Ferreira (1998, p. 84), os
líderes nacionais não reconhecem que a segurança da nação depende de estratégias
de desenvolvimento ecologicamente sustentáveis; ao contrário, o critério ambiental é
subordinado aos interesses da segurança nacional definidos militarmente.
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por leis, normas e regulamentos que são negadas pelas práticas clientelistas.
Isso se observa em relação às leis ambientais brasileiras: condizem com a
visão mais progressista sobre o ambiente, porém são solapadas na prática
pelos interesses do mercado, de elites locais e regionais e de segmentos do
governo que estabelecem pactos de atuação opostos à preservação am-
biental. O autoritarismo se manifesta na maneira concentrada e exclusivista
como é exercido o poder; há uma grande distância entre os indivíduos e o
Estado. O modo como a sociedade brasileira se faz representar pelo Estado
depende de privilégios e status social. Os grupos mais organizados, movidos
por interesses particulares, intervêm nos processos decisórios em detrimen-
to da maioria, menos articulada e organizada socialmente, enfrentando o
formalismo, a burocracia e a rigidez dos órgãos estatais para resolver seus
conflitos.
Conflitos socioambientais
(INSTITUTO, 1997, p. 25-28)
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nas imediações e das que, vivendo nas cidades, compram o que foi produzido
para comer. No caso de Cubatão, estão em jogo os interesses da indústria de
transformação do petróleo contra os interesses da população pobre que mora
nas imediações e os dos próprios trabalhadores da refinaria.
Calcula-se que sejam despejados por dia, no Rio Paraíba do Sul, 47 mil to-
neladas de esgoto e de resíduos líquidos das indústrias. Cerca de 20 milhões
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de pessoas consomem a água que vem desse rio. A maioria delas desconhece
as condições da água que bebe.
que plantavam espécies de ciclo curto, foram obrigados a mudar suas ro-
tinas de cultivo, já que não dispõem de água de chuva em volume suficiente.
Mas esses agricultores não sabem por que isso está acontecendo.
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Atividades de aplicação
1. Realize uma pesquisa em sua cidade para saber quais são os projetos
ou programas de políticas ambientais adotadas pelo município. Em
grupo, discuta quais são os problemas e as soluções encontrados para
viabilizar tais projetos ou programas.
Dicas de estudo
BRASIL. Presidência da Rública. Comissão Interministerial para Preparação da Con-
ferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. O Desafio
do Desenvolvimento Sustentável. Brasília: Cima, 1991.
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Sociedade e ambiente no Brasil
A força do ambientalismo
na sociedade contemporânea
Os movimentos ambientalistas que surgiram no último quartel do século
XX talvez sejam a maior expressão da revitalização cultural que invade os
quatro cantos do planeta, bem como a indicação de novos valores políticos,
sociais, éticos e estéticos que orientam a sociedade contemporânea e con-
vidam à criação de novas formas de interação entre sociedade, indivíduo e
natureza. No entanto, não é exclusividade do século XX a preocupação com
a preservação da natureza, o sentimento de responsabilidade em relação às
outras espécies e o anseio por uma vida mais saudável. Já no século XIX,
embora restritos às elites econômicas e culturais dos países dominantes,
surgiram movimentos preservacionistas constituídos tanto de elementos
de uma aristocracia que se via dilapidada pelo processo de industrialização,
como de grupos políticos socialistas e anarquistas que acreditavam na utopia
de uma vida comunal em harmonia com a natureza e, ainda – de grande im-
portância para a disseminação dos ideais preservacionistas –, os escritores
românticos que enalteciam o valor estético da “natureza selvagem”, lugar
da descoberta da alma humana, paraíso perdido, refúgio da intimidade, da
beleza e do sublime (CASTELLS, 1999, p. 148-153; DIEGUES, 1996, p. 23-25).
Foi sobretudo nos EUA do século XIX que surgiram correntes teóricas de-
fendendo duas posições distintas de proteção do mundo natural, as quais
influenciaram outros países e futuras gerações acerca do tema.
Entretanto, foi somente no final dos anos 1960 que os movimentos am-
bientalistas ampliaram as suas fronteiras – antes restritas a alguns membros
das elites econômicas, das universidades e de alguns entusiastas anônimos
– para se tornarem interesse também das classes médias e populares, princi-
palmente nos Estados Unidos, e na Europa Ocidental. Nesse período, há uma
grande efervescência de idéias e acontecimentos que alimentaram diversos
tipos de movimentos sociais como o pacifismo, o feminismo e o próprio
ecologismo. A força que o ambientalismo adquiriu nas décadas seguintes,
em detrimento dos movimentos sindicais e de trabalhadores, movimentos
1
Segundo Castells (1999, de contracultura1 (como o dos hippies), relacionados à questão de gênero, à
p. 147), contracultura é toda
tentativa deliberada de viver defesa de minorias étnicas ou movimentos pela paz, não significa, como su-
segundo normas diversas e,
até certo ponto, contraditó- gerem alguns analistas, o esvaziamento ou a derrota desses movimentos po-
rias em relação às normas
institucionalmente reconhe-
cidas pela sociedade, e de se
líticos e sociais. Esse argumento revela-se apenas parcialmente verdadeiro,
opor a essas instituições com
bases em princípios e cren-
pois o que se percebe com mais freqüência não é um desmantelamento de
ças alternativas.
outros movimentos sociais, mas um entrelaçamento dos interesses desses
movimentos (ecofeminismo, indígenas, povos da floresta etc.) e a percepção
mais abrangente dos valores éticos que norteiam a relação entre sociedade
e natureza, tornando seu enfoque mais complexo e mais amplo do que os
movimentos desencadeados pela sociedade moderna. Portanto, faz-se ne-
cessário considerar que não há um movimento ambientalista, mas diversos
e multifacetados movimentos ambientalistas, que se manifestam de diferen-
tes formas e apresentam especificidades decorrentes do contexto social e
cultural em que surgem.
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Com base nesses enfoques, ainda segundo Diegues (1996), pode-se con-
siderar três principais correntes do ecologismo, surgidas a partir dos anos
1960, em contraposição à “proteção da natureza” nos moldes das instituições
e pensamento do século XIX (sociedades de proteção da natureza, da vida
selvagem, dos animais etc.). Sucintamente, essas correntes podem ser carac-
terizadas conforme abaixo.
Ecologia profunda
A expressão foi cunhada pelo filósofo Arne Naess, em 1972, com o sentido
de ampliar a noção de ecologia somente como ciência, e destacar um nível
mais profundo da consciência ecológica. É um enfoque preponderantemen-
te biocêntrico, mas influenciado por religiões orientais e ocidentais, aproxi-
mando-se freqüentemente de uma quase adoração da natureza. Adere aos
princípios dos direitos intrínsecos da natureza, dando grande importância
aos princípios éticos que devem reger as relações entre homem e natureza.
Alguns princípios da ecologia profunda são criticados pelos ecologistas so-
ciais, por serem consideradas posições neomalthusianas (defesa do decrés-
cimo da população, por exemplo), assim como o perigo do ecofascismo em-
butido na idéia de um certo biologicismo das relações sociais, que deveriam
se inspirar na natureza como modelos para a sociedade humana.
Ecologia social
O principal mentor desta corrente é Murray Bookchin, professor norte-
americano de ecologia social e conhecido ativista ambiental, que criou a ex-
pressão em 1964. Para esta corrente, a degradação ambiental é vista como
76
Sociedade e ambiente no Brasil
Ecossocialismo/ecomarxismo
Decorre da crítica interna dos marxistas ao marxismo clássico, a partir da
década de 1960, referente à concepção do mundo natural. Para os ecomar-
xistas, a visão de Marx sobre a natureza é estática, pois a considera apenas
em virtude da ação transformadora do homem, por meio do processo do
trabalho. Segundo Hobsbawm (1995), um dos que defendem tal ponto de
vista, Marx se preocupou fundamentalmente com a explicação do sistema
capitalista, no qual a natureza já era mercadoria, objeto de consumo ou meio
de produção, e marginalmente com as sociedades primitivas, nas quais o
mundo natural foi pouco modificado por causa do baixo desenvolvimento
das forças produtivas. Outros autores definem forças produtivas da natureza
(fotossíntese, cadeias tróficas, depuração de ecossistemas) para entender as
sociedades capitalistas.
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Desenvolvimento Sustentável
A criação de organizações
não-governamentais ambientalistas
O crescente impacto que as atividades humanas geram na natureza, e
a percepção da degradação ambiental em escala local e mundial, deram
origem não só a movimentos de conscientização ecológica, com diferen-
tes paradigmas de racionalidade ambiental, mas também a ações diversas
com o objetivo de influir na legislação, nas atitudes tomadas pelo Estado,
pelos governos e pelo mercado. Tais ações surgiram de grupos ambientalis-
tas organizados, na sociedade civil, que passaram a usar a expressão organi-
zações não-governamentais (ONGs) nos anos 1960 e 1970. Em âmbito mun-
dial, a expressão foi usada pela primeira vez pela Organização das Nações
Unidas (ONU) após a Segunda Guerra Mundial, para designar organizações
supranacionais e internacionais que não foram estabelecidas por acordos
governamentais.
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Desenvolvimento Sustentável
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Sociedade e ambiente no Brasil
Por outro lado, no início da década de 1970, sob a ditadura militar que
reprimia os movimentos sociais e todas as formas de protesto, surgiu uma
brecha para um ecologismo de denúncia no Brasil, desvinculado dos par-
tidos e movimentos políticos de esquerda, então severamente combatidos
pelo governo. Tais entidades e movimentos criticavam o modelo econômico
brasileiro, baseado na implantação de projetos governamentais e de empre-
sas privadas que causavam grandes impactos na natureza, como a instalação
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Desenvolvimento Sustentável
Em 1976, José Lutzemberger (que mais tarde seria ministro do Meio Am-
biente no governo Collor) lançou o Manifesto Ecológico Brasileiro: o fim do
futuro (1976), representando dez organizações ecologistas. Semelhante ao
discurso das entidades preservacionistas norte-americanas e européias, e
influenciado pelo relatório do Clube de Roma, esse manifesto atacava a tec-
2
Tecnocracia: sistema de nocracia2 brasileira, responsável pelos grandes projetos, – sobretudo os que
organização política e social
fundado na supremacia de começavam a ser implantados na Amazônia –, o militarismo, a sociedade
profissionais que buscam
apenas soluções técnicas ou
racionais para os problemas,
do desperdício e o consumismo. Destacava, em contraposição ao modelo
sem levar em conta aspec-
tos humanos ou sociais.
de colonização predatória, a relação entre homem e natureza estabelecida
pelas sociedades tradicionais, como as dos índios e dos camponeses. Defen-
dia, ainda, a criação de áreas naturais protegidas, e criticava o abandono em
que estavam os poucos parques nacionais brasileiros. O manifesto propunha
como solução para os males da ideologia do progresso, seja de esquerda ou
de direita, uma sociedade que se assemelhasse ao funcionamento da natu-
reza, homeostática, equilibrada e de acordo com as leis naturais.
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3
Fundador e editor do Jornal
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niões que não existiram etc. Essas falsas ONGs disputam poder de voto em
igualdade de condições com outras ONGs realmente constituídas, gerando
distorções no processo democrático e dificuldades na construção e fortale-
cimento desse segmento na sociedade, além de servirem de verdadeiros “la-
ranjas” para desvio de dinheiro público. Existem ainda empresas privadas que
criam ONGs de cartório para beneficiarem-se de isenções fiscais e agregarem
valor às suas marcas institucionais, desvirtuando e confundindo a noção de
ONGs como organizações que representam os interesses da sociedade civil.
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Sociedade e ambiente no Brasil
Atividades
1. Com base no texto principal e no texto complementar, relacione os
aspectos negativos e positivos da constituição de ONGs para a preser-
vação ambiental.
Dicas de estudo
CAPOBIANCO, João Paulo R. (Coord.) Ambientalismo no Brasil: passado, presen-
te e futuro. São Paulo: IEA/Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, 1997.
85
Referências
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX – 1914-1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação
Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.
88
Referências
MORIN, Edgar; KERN, Anne Bigitte. Terra-Pátria. Porto Alegre: Sulina, 1995.
89
Anotações