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Desenvolvimento

Sustentável
Cynthia Roncaglio
Nadja Janke

2009
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por
escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

R769 Roncaglio, Cynthia. Janke, Nadja/ Desenvolvimento Sustentável.


/ Cynthia Roncaglio. Nadja Janke — Curitiba : IESDE
Brasil S.A. , 2008.
92 p.

ISBN: 978-85-7638-840-1

1. Desenvolvimento Sustentável. 2. Desenvolvimento Econô-


mico – Aspectos Ambientais. 3. Meio Ambiente – Problemas.
4. Educação Ambiental. I. Título.

CDD 363.7

Capa: IESDE Brasil S.A.


Imagem da capa: Constock Complete

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Batel – Curitiba – PR
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Cynthia Roncanglio
Mestre em História Social e Pós-Graduada em
História do Brasil pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR). Graduada em História pela
UFPR.

Nadja Janke
Mestra em Educação pela Unesp-Bauru.
sumário
sumário Desenvolvimento sustentável
11 | Desenvolvimento e ambiente
11

14 | Compreendendo conceitos: ecologia, meio ambiente, ecodesenvolvimento


e desenvolvimento sustentável
18 | Nosso Futuro Comum e os princípios de sustentabilidade
25
Gestão participativa e ambiente
26 | Sustentabilidade: conciliando participação social e cuidado com o ambiente
29 | Agenda 21: uma proposta de gestão
31 | Gestão de unidades de conservação: o papel dos atores sociais

Educação Ambiental como 43


instrumento de superação da insustentabilidade
43 | Conceituando Educação Ambiental
48 | Educação Ambiental no âmbito escolar
50 | Educação Ambiental em espaços informais
52 | Educação Ambiental e cidadania
57
Estado e ambiente no Brasil
57 | A emergência da questão ambiental no Brasil
60 | Evolução das políticas públicas ambientais
64 | Posicionamentos do Estado brasileiro em face à questão ambiental
mário
73
Sociedade e ambiente no Brasil
73 | A força do ambientalismo na sociedade contemporânea
78 | A criação de organizações não-governamentais ambientalistas
81 | Movimentos sociais e ambientalismo no Brasil
87
Referências
91
Anotações
Introdução
Com este material faremos uma viagem por um

Desenvolvimento Sustentável
tema complexo e fascinante: a perspectiva do
desenvolvimento sustentável.
Para compreender os problemas sociais e am-
bientais contemporâneos, precisamos fazer
uma travessia que inclua algumas paradas em
lugares e tempos estratégicos, onde e quando
transformações históricas importantes anuncia-
ram mudanças no modo de compreender e de
nos relacionar com a natureza.
A partir disso, poderemos compreender melhor
por que a questão ambiental se colocou como
um dos principais problemas – senão o princi-
pal e mais abrangente –, no decorrer do século
XX e no início do XXI. A análise de conceitos
como desenvolvimento sustentável, ecodesen-
volvimento e sustentabilidade, utilizados com
freqüência por políticos, cientistas e cidadãos
em geral, será apresentada aqui com o intuito
de estimular a sua reflexão sobre um tema que
desperta muitas polêmicas e ações diversas no
âmbito do governo, das empresas privadas e
das organizações sociais.
As experiências globais e locais na área ambien-
tal, que ocorrem no campo ou na cidade, repre-
sentam uma ponte entre a teoria e a prática,
entre a sociedade e a natureza, entre os interes-
ses individuais e os coletivos, entre a destruição
e a preservação. O aluno terá oportunidade, em
vários momentos de leitura e reflexão, assim
como no decorrer das atividades propostas, de
fazer essa ligação entre os conteúdos.
Não poderíamos deixar de salientar também
a importância da Educação Ambiental para a
formação de cidadãos mais sensíveis e atentos

Desenvolvimento Sustentável
aos problemas ambientais, e o fato de ela poder
estar presente em todas as instâncias da vida
social, na educação formal e na informal.
Certamente, quando chegarmos ao fim da nossa
viagem, o aluno perceberá que o assunto trata-
do é vasto e profundo, e que o nosso objetivo
aqui é tão-somente despertar – por meio dos
conteúdos abordados, da indicação de leituras,
de filmes e de atividades – o desenvolvimento
da consciência crítica e a curiosidade para se
continuar os estudos neste campo, explorando
e desvendando o mundo social e natural em
toda a sua diversidade.

Cynthia Roncaglio
Desenvolvimento sustentável

Desenvolvimento e ambiente
A idéia de desenvolvimento e o agravamento – ou a percepção do agra-
vamento – dos problemas ambientais ganhou força e expressão principal-
mente após a Segunda Guerra Mundial, quando emergiu no cenário inter-
nacional o confronto entre duas superpotências: Estados Unidos da América
(EUA) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Embora a história
mundial desse período não fosse homogênea e facilmente compreensível,
pode-se dizer, genericamente, que a Guerra Fria entre esses dois blocos he-
gemônicos e antagônicos dividiu o globo em duas partes: uma controlada
pela URSS, que abrangia os territórios ocupados pelo Exército Vermelho e as
forças armadas comunistas ao fim da guerra; e a outra, com os EUA domi-
nando o resto do mundo capitalista. Ambas propunham ao Terceiro Mundo
o seu modelo de desenvolvimento.

Embora sob ameaça constante de uma guerra nuclear, que se acreditava


ser possível resultante do confronto entre as superpotências, as atividades
econômicas prosperaram em muitas partes do mundo entre os anos 1950
e 1970, renovando as esperanças de progresso e prosperidade da humani-
dade, seja pelo viés da ideologia comunista ou da capitalista. No então de-
nominado Terceiro Mundo, a idéia de desenvolvimento parecia embutir a
idéia de um futuro liberto dos piores entraves que pesam sobre a condição
humana, como a pobreza e o desemprego.

Contudo, já no início da década de 1970, o sistema político e econômico


internacional entrou em colapso, e as disparidades entre os países desen-
volvidos e subdesenvolvidos demonstraram a esgotabilidade de um futuro
grandioso e pleno de alternativas diante dos resultados da revolução socia-
lista na URSS, na China, no Vietnã e até mesmo em Cuba (considerada por
muitos a revolução que deu certo), e das fases depressivas das economias
ocidentais. As crises do desenvolvimento no Terceiro Mundo refletiam-se na
estagnação econômica, na fome e nas guerras civis.

Sob a ótica do ambiente, desde que os EUA lançaram bombas atômicas


sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, constatou-se que o ser
Desenvolvimento Sustentável

humano podia intervir radicalmente no curso da natureza, a ponto de modi-


ficar ou colocar em risco a existência do planeta. Algumas iniciativas, como
a criação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN),
em 1948, apontavam para os problemas ambientais que a crise político-
econômica (dissociada de outras instâncias) e um forte antropocentrismo
impediam, e ainda impedem, de considerar relevante. O reconhecimento do
agravamento se dá progressivamente com o anúncio da morte do oceano
pelo biólogo Paul Ehrlich, em 1969, e a divulgação do relatório Limites do
1
O Clube de Roma, funda- Crescimento, encomendado pelo Clube de Roma1, em 1972. Também conhe-
do em 1968, consistia em
uma associação de cientistas,
polí­ticos e empresários preo-
cido como Relatório Meadows, por ter sido o estudo coordenado pelo pro-
cupados com a governabili-
dade dos problemas globais.
fessor Dennis Meadows, esse documento apontava o problema do aumento
Essa agremiação encomen-
dou um ambicioso plano
do consumo mundial em relação à capacidade do ecossistema global. Utili-
de trabalho ao Massachus-
sets Institute of Technology
zando um modelo de análise sistêmico, o estudo assinalava a preocupação
(MIT), baseado no método
da dinâmica de sistemas de com as principais tendências do ecossistema mundial, baseado em cinco
Jay Forrester, que permitiu
o processamento de gran- parâmetros: industrialização acelerada, forte crescimento populacional, in-
des quantidades de variá-
veis por meio da utilização de suficiência crescente da produção de alimentos, esgotamento dos recursos
computadores.
naturais não-renováveis e degradação irreversível do meio ambiente.

Em síntese, o relatório, fortemente marcado por uma visão catastrófica


e neomalthusiana, previa que, se fosse mantido o ritmo de crescimento, os
alimentos e a produção industrial iriam declinar até 2010, sendo inevitáveis
o esgotamento dos recursos naturais, a poluição industrial e a diminuição da
população. A divulgação de Limites do Crescimento teve repercussão mun-
dial, sobretudo pela radicalidade da sua tese, favorável à limitação do cres-
cimento da população e da economia, e pela previsão alarmante quanto à
mortandade da população por volta de 2050, provocada pelo esgotamento
dos recursos naturais.

As análises do Clube de Roma foram bem recebidas entre os ambienta-


listas radicais ou reformistas nos países do Norte (países capitalistas avan-
çados), mas, por outro lado nos países do Sul (países em desenvolvimen-
to), a tese do limite do crescimento suscitou severas críticas e desconfiança
quanto ao que realmente se pretendia apontando os problemas ambien-
tais do crescimento. Para muitos países do Sul, tratava-se de uma estratégia
dos países do Norte para impedir o seu rápido desenvolvimento. Também
não faltaram reações contrárias à tese do crescimento zero, como a dos
chamados tecnocentristas extremados, que minimizavam as previsões do
Relatório Meadows, assegurando que o livre funcionamento do mercado,
conjugado à inovação tecnológica, evitaria a escassez dos recursos naturais
a longo prazo.
12
Desenvolvimento sustentável

Entre 1969 e 1972, proliferaram discursos apocalípticos, como o do Clube 2


Em dezembro de 1984, 40
toneladas de gases letais
de Roma, sobre os desastres ecológicos mundiais e a possibilidade de des- vazaram da fábrica de agro-
tóxicos da Union Carbide
truição do planeta caso não se tomassem medidas drásticas para salvar a na- Corporation, em Bhopal,
Índia. Estima-se que cerca de
tureza e conter o crescimento populacional. Tais manifestações, embora exa- oito mil pessoas morreram
devido à exposição direta
geradas e fundamentadas apenas nos limites naturais (sem levar em conta aos gases. Hoje, estima-se
que cerca de 150 000 sobre-
que os problemas ecológicos não podiam ser dissociados dos problemas po- viventes adquiriram doen-
ças crônicas e necessitam
líticos e sociais) foram importantes porque incluíram a questão ambiental no de cuidados médicos e uma
segunda geração de crianças
debate global sobre o desenvolvimento social e econômico, tornando-se um continua a sofrer os efeitos
da herança tóxica deixada
pela indústria. Foi considera-
desafio ao qual teriam que reagir pensadores sociais, políticos e economistas do o maior desastre químico
da história.
nas décadas seguintes. 3
Acidentes nos reatores
nucleares em Three Mile
Os movimentos ambientalistas radicais e a crescente preocupação das Island, na Pensilvânia, EUA,
em 1979, e em Chernobyl,
autoridades oficiais e dos cientistas não impediram, entretanto, que se mul- na Ucrânia, em 1986, parte
da União Soviética. Na usina
tiplicassem os desastres e degradações ambientais dos oceanos, dos lagos, de Chernobyl, a quantidade
de radiação foi equivalente
dos rios, das florestas e campos e dos aglomerados urbanos. Nos anos 1980, a dez vezes a bomba de Hi-
roshima e Nagasaki. A poeira
radioativa se espalhou pela
novos alertas foram dados por catástrofes locais com conseqüências que às Europa Oriental e, pela cir-
culação atmosférica normal,
vezes extrapolavam as fronteiras nacionais: Edgar Morin (1995), entre outros chegou poucos dias depois
à Groenlândia. O número
autores, lembra Bhopal2, Three Mile Island e Chernobyl3, a secagem do Mar oficial de mortos foi de 31
pessoas, entre funcionários
de Aral4, a poluição do Lago Baikal5, altos índices de poluição atmosférica em da usina e bombeiro, afe-
tados pela explosão ou por
cidades como Atenas e México. doenças derivadas da expo-
sição à radiação. Estima-se,
porém, extraoficialmente,
Esses eventos e suas conseqüências para os diversos ecossistemas, in- valores entre cinco mil e
dez mil mortes. Entre 1986 e
clusive para o ser humano, remetem a outros problemas mais gerais que já 1994, houve um crescimento
de câncer de tireóide, sobre-
vinham ocorrendo nos países industrializados e não-industrializados. Nos tudo em crianças, nas três re-
giões mais afetadas: Rússia,
primeiros, evidencia-se a contaminação das águas superficiais e subterrâne- Bielo-Rússia e Ucrânia.
4
O Mar de Aral situa-se entre
as, o envenenamento dos solos por pesticidas e fertilizantes, a urbanização o Uzbequistão e o Cazaquis-
tão, e constituía o quarto
maciça das zonas costeiras, a proliferação de dejetos industriais. Nos países maior mar interior da Terra,
com cerca de 66 mil qui-
não-industrializados, aumenta a desertificação, o desmatamento, a erosão lômetros quadrados. Suas
águas eram renovadas e
dos solos, as inundações e o aumento da emissão de gases tóxicos com o alimentadas pelos Rios Amu
Daria e Sir Daria. O desvio da
desenvolvimento das megalópoles. Globalmente, a antropização6 dos meios água desses dois rios para
os projetos de irrigação das
naturais reflete-se no aumento do efeito estufa, que altera os ciclos vitais, a plantações de algodão, reali-
zados pelo governo da URSS,
decomposição gradativa da camada de ozônio estratosférica, o buraco de consumiram e secaram 90%
da água que chegava ao Aral,
ozônio na Antártida, o excesso de ozônio na troposfera (camada mais baixa sendo considerado um dos
piores desastres ambientais
da atmosfera). do século XX.
5
Localizado na Sibéria, com
636 quilômetros de compri-
A (re)incidência desses eventos, cada vez mais salientes e perceptíveis, faz mento, é um dos lagos com
águas mais profundas, sendo
com que a consciência ecológica torne-se, como diz Morin (1995), “a tomada responsável por 20% da água
doce do planeta. No proces-
de consciência do problema global e do perigo global que ameaçam o plane- so de industrialização da
URSS, foi contaminado e teve
ta”. Se, a princípio, as reações diante desses problemas eram locais e técnicas, uma redução massiva de sua
extensão.
ao longo do tempo, com a intensificação e a universalização dos problemas, 6
Antropização: processo
de transformação por ação
humana.

13
Desenvolvimento Sustentável

surgiram associações, partidos ecológicos e instituições governamentais na-


cionais e internacionais criadas especificamente para gerenciar os problemas
referentes ao ambiente. Ministérios do Meio Ambiente, por exemplo, foram
criados em 70 países. Vários programas internacionais foram estabelecidos a
fim de realizar pesquisas e definir ações que pudessem conter ou retardar os
efeitos da degradação ambiental.

Ao mesmo tempo em que a dinâmica econômica do pós-guerra renova-


va as esperanças de se construir um mundo mais justo e menos desigual, a
noção de desenvolvimento parecia se tornar, acentuadamente ao longo das
décadas de 1960 e 1970, incapaz de dar conta da complexidade do mundo.
Outras noções, outros termos e outras propostas de desenvolvimento preci-
sariam surgir para ser possível compreender o ponto em que havia chegado
a relação entre sociedade e natureza.

Compreendendo conceitos: ecologia,


meio ambiente, ecodesenvolvimento e
desenvolvimento sustentável
A noção de desenvolvimento é muito valiosa para todos aqueles que
estão imbuídos da vontade de melhorar, promover mudanças, aperfeiçoar
e crescer. No entanto, usada inadvertidamente por governantes, políticos e
intelectuais durante séculos, tornou-se uma expressão desgastada e amiúde
controvertida. Como diz Morin (1995, p. 83),
de um lado é um mito global no qual as sociedades industrializadas atingem o bem-
estar, reduzem suas desigualdades e dispensam aos indivíduos o máximo de felicidade
que uma sociedade pode dispensar. De outro, é uma concepção redutora, em que o
crescimento econômico é o motor necessário e suficiente de todos os desenvolvimentos
sociais, psíquicos e morais. Essa concepção tecnoeconômica ignora os problemas
humanos da identidade, da comunidade, da solidariedade, da cultura. Assim, a
noção de desenvolvimento se apresenta gravemente subdesenvolvida. A noção de
subdesenvolvimento é um produto pobre e abstrato da noção pobre e abstrata de
desenvolvimento.

Assim, buscando ampliar o sentido restrito do termo ao longo das últimas


duas décadas do século XX, conceitos antigos como o de ecologia foram re-
formulados ou ampliados, e outros passaram a ser adotados para exprimir e
dar conta da complexidade que envolve o desenvolvimento das sociedades
humanas e a preservação da natureza. Tratar-se-á aqui de algumas defini-
ções: tanto as expressões ecologia, meio ambiente e ambiente quanto as ex-
pressões desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, por exemplo, usadas
14
Desenvolvimento sustentável

ora como sinônimas, ora com diferentes acepções por políticos, cientistas e
filósofos. Cabe ao leitor identificar nos discursos, caso não sejam evidentes
as utilizações conceituais, as filiações ideológicas ou políticas dos autores, e
os sentidos e significados implícitos.

Conceito de ecologia
O termo ecologia deriva de oikos (“casa”) + logos (“estudo”) e significa
“estudo da casa”. O termo foi cunhado pelo biólogo Ernst Haeckel, em 1870,
para criar uma disciplina científica que se tornaria um ramo da Biologia. Essa
disciplina serviria para investigar as relações totais dos animais, tanto com
seu ambiente inorgânico quanto com o orgânico.

O conceito passou a ser reconhecido e utilizado entre o final do século


XIX e o início do século XX. Com algumas variações, o conceito de ecologia
foi sinteticamente definido na década de 1960 pelo ecólogo norte-america-
no Eugene Odum como “o estudo da estrutura e função dos ecossistemas”
(ODUM apud KORMONDY, 2002, p. 29). Os ecossistemas, para Odum (1988),
abrangem todos os organismos que funcionam em conjunto em uma de-
terminada área, as interações biológicas que eles estabelecem e todos os
processos físico-químicos que sobre eles se refletem.

Porém, a importância dessa disciplina das ciências naturais, em decor-


rência do estudo de sistemas complexos e da sua necessária relação com
a Geologia, a Física, a Química e a Matemática, foi a de transpor fronteiras
disciplinares. Com isso, foi ampliando-se a noção de ecologia na medida em
que se pode estabelecer, inclusive, interfaces com as sociedades humanas
em vários aspectos (Sociologia, Economia, Ética, Política etc.). Dessa forma,
a ecologia pode significar desde um estudo de espécies individualizadas
quanto a totalidade dos ambientes do planeta Terra (KORMONDY, 2002, p.
28). Daí derivaram especializações e expressões como ecologia humana, eco-
logia cultural, ecologia sociológica. Na área das Ciências Sociais, da Filosofia e
da História, há uma tendência a usar as expressões ecologia, meio ambiente
ou ambiente como sinônimas, e entendidas genericamente como as intera-
ções que se estabelecem entre a sociedade e a natureza.

Há controvérsias sobre os limites e a abrangência da ecologia. Para alguns


estudiosos, a ecologia é uma ciência aplicada que se dedica ao estudo de uma
enorme e difusa variedade de problemas ambientais. Dispõe de princípios e
métodos de investigação, que podem servir para a solução de problemas

15
Desenvolvimento Sustentável

práticos ou para ajudar a sociedade a escolher entre ações alternativas. Para


outros, como a ecologia se situa na perspectiva do sistema global – porque
analisa as interações dos sistemas vivos (nos quais se incluem os seres hu-
manos) com o ambiente –, ela constitui uma abordagem ampla, múltipla e
restabelece o diálogo e a confrontação entre homens e natureza.

Conceito de meio ambiente


Como demonstram Marcel Jollivet e Alain Pavé (1995), a definição do
que é meio ambiente, ou a sua definição enquanto objeto científico, é uma
operação complicada. A noção de meio ambiente está relacionada a um
objeto central, e esse objeto difere segundo as disciplinas científicas; ou
seja, a noção de ambiente ou meio ambiente pressupõe a necessidade de
um sujeito ou referencial central que percebe ou interage com o entorno.
Esse sujeito pode ser uma população humana, animal ou vegetal, um indiví-
duo, um ecossistema. Esse sujeito interage com o meio de maneira mais ou
menos intensa, e pode perturbá-lo ou ser influenciado por ele. Ambiente ou
meio ambiente, portanto, é aquilo que está em volta, mas necessariamente
de algo ou alguém.

Embora a expressão meio ambiente seja complexa, polissêmica, mutável


no tempo e no espaço, envolvendo fenômenos de características científicas
e técnicas difíceis de precisar, em geral tem sido usada como tudo aquilo que
circunscreve os seres vivos, as coisas, a percepção e a intervenção do homem
sobre o meio natural. Para Jollivet e Pavé (1995, p. 7), meio ambiente é o “[...]
conjunto de meios naturais ou artificializados da ecosfera onde o homem se
instalou, que explora e administra, e os conjuntos dos meios não antropiza-
dos necessários à sua sobrevivência”.

Em outros termos, o economista francês Ignacy Sachs (1986, p. 12) define


ambiente ou meio ambiente como a articulação entre três subconjuntos: o
meio natural, as tecnoestruturas criadas pelo homem e o meio social. Am-
biente, portanto, abrange o equilíbrio dos recursos naturais e a qualidade do
ambiente, e implica o reconhecimento das inter-relações dos processos na-
turais com os processos sociais. A partir do reconhecimento dessas inter-re-
lações, Sachs defende que o ambiente é uma dimensão do desenvolvimento
e que, por meio das técnicas disponíveis, o homem transforma os recursos
em produtos apropriados ao consumo e à reprodução social.

16
Desenvolvimento sustentável

Conceito de ecodesenvolvimento
No ano seguinte à primeira Conferência sobre o Meio Ambiente em Esto-
colmo, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), o termo eco-
desenvolvimento foi lançado pelo canadense Maurice Strong7, em reunião 7
Diretor executivo do Pro-
grama das Nações Unidas
realizada em Genebra em junho de 1973. Mas o conceito, com princípios re- para o Ambiente.

formulados, foi consolidado e disseminado pelo economista francês Ignacy


Sachs.

A origem do conceito se deve a uma polêmica entre duas correntes


teóricas com ideais extremos: os partidários do crescimento selvagem, que
o defendem como meio para corrigir os seus próprios males, e os zeristas,
que defendem o crescimento zero com a finalidade de preservar a natureza.
Colocando-se entre essas duas linhas extremas, o ecodesenvolvimento, ao
invés de postular o não-crescimento, defende novas modalidades de cresci-
mento, baseadas tanto na revisão de suas finalidades como nos seus instru-
mentais, procurando aproveitar as contribuições culturais das populações e
os recursos do seu meio.

Em síntese, ecodesenvolvimento é
um estilo de desenvolvimento que, em cada ecorregião, insiste nas soluções específicas
de seus problemas particulares, levando em conta os dados ecológicos da mesma forma
que os culturais, as necessidades imediatas como também aquelas a longo prazo. (SACHS,
1986, p. 15).

Conceito de desenvolvimento sustentável


A expressão tem sua origem nos debates sobre o ecodesenvolvimento.
Sachs (1986) utiliza esse conceito no contexto de uma dura crítica ao modelo
de desenvolvimento forjado pelas sociedades industriais, e às condições de
desenvolvimento das regiões subdesenvolvidas. Segundo o autor, para as
sociedades alcançarem o desenvolvimento de modo ecologicamente satis-
fatório, é necessário levar em consideração seis aspectos:

a satisfação das necessidades básicas das pessoas;

a solidariedade com as gerações futuras;

a participação da população envolvida nas decisões;

a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente;

17
Desenvolvimento Sustentável

a elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança


social e respeito à diversidade cultural;

o estabelecimento de programas de educação.

Ainda nos anos 1970, a Declaração de Cocoyok, das Nações Unidas, intro-
8
A pobreza “é o nível de duziu a análise da pobreza8 como causa da explosão demográfica e principal
renda abaixo do qual uma
pessoa ou uma família não indutora da rápida deterioração dos recursos naturais. O modelo de consumo
é capaz de atender regular­
mente às necessidades da
vida” (COMISSÃO mundial
dos países industrializados também foi apontado como fator de agravamento
sobre meio ambiente e de-
senvolvimento, 1991, p. 54).
desse quadro, podendo-se, portanto, falar em limites máximos e mínimos de
crescimento. Em 1975, outro relatório internacional, o da Fundação Dag-Ham-
marskjold, com a participação de políticos e pesquisadores de 48 países, com-
plementou as recomendações de mudanças nas estruturas de propriedade
rural e o repúdio às posturas governamentais dos países industrializados.

Esse panorama preparou terreno fértil para que, em 1987, com a intensi-
ficação da preocupação mundial sobre as questões ambientais, o conceito
de desenvolvimento sustentável ganhasse contornos mais definidos, porém
ainda genéricos. No relatório Nosso Futuro Comum, conhecido como Rela-
9
O Relatório Brundtland tório Brundtland9, a Comissão Mundial da onu10 sobre o Meio Ambiente e
recebeu esse nome em re-
ferência à primeira-ministra
da Noruega, Gro Harlem
Desenvolvimento (Unced), ao examinar a ligação entre desenvolvimento
Brundtland, que presidiu a
Comissão.
econômico e proteção ambiental, afirma: “desenvolvimento sustentável é
aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a pos-
10
A Organização das Nações sibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”.
Unidas (ONU) tem como ob-
jetivos manter a paz, defen- Essa definição contém dois conceitos-chave:
der os direitos humanos e
as liberdades funda­mentais,
bem como promover o de- o conceito de necessidades, sobretudo as essenciais dos pobres do
senvolvimento dos países
em escala mundial. mundo, que devem receber a máxima prioridade;

a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização


social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessi-
dades presentes e futuras (COMISSÃO, 1991, p. 46).

Nosso Futuro Comum e os princípios


de sustentabilidade
A partir da definição de desenvolvimento sustentável pelo relatório Nosso
Futuro Comum, entendeu-se que, ao se definirem os objetivos do desenvol-
vimento econômico e social, faz-se necessário levar em conta a sua susten-
tabilidade em todos os países – desenvolvidos ou em desenvolvimento, com

18
Desenvolvimento sustentável

economia de mercado ou de planejamento central (1991):

Dentre os princípios básicos de sustentabilidade apontados pelo relató-


rio, estão os que apresentamos abaixo.

Que todos devem ter atendidas as suas necessidades básicas e devem


ter oportunidades de concretizar suas aspirações a uma vida melhor.
Essas necessidades são determinadas social e culturalmente, e o de-
senvolvimento sustentável requer a promoção de valores que man-
tenham os padrões de consumo dentro do limite das possibilidades
ecológicas a que todos podem aspirar;

Que haja crescimento econômico em regiões em que as necessidades


básicas não estão sendo atendidas. Onde estas já são atendidas, o de-
senvolvimento sustentável é compatível com o crescimento econômi-
co, desde que ele reflita os princípios amplos da sustentabilidade e da
não-exploração dos outros. Mas o simples desenvolvimento econômi-
co não basta: o desenvolvimento sustentável exige que as sociedades
atendam às necessidades humanas, tanto aumentando o potencial
de produção quanto assegurando a todos as mesmas oportunidades.
Aponta-se que muitos problemas derivam de desigualdades de acesso
aos recursos, como por exemplo uma estrutura não eqüitativa de pro-
priedade da terra, que pode levar à exploração excessiva dos recursos
das propriedades menores, com efeitos danosos para o meio ambien-
te e para o desenvolvimento. Destaca-se que “quando um sistema se
aproxima de seus limites ecológicos, as desigualdades se acentuam”;

Que, no mínimo, não sejam colocados em risco os sistemas naturais


que sustentam a vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os se-
res vivos. O desenvolvimento sustentável exige que o índice de des-
truição dos recursos não-renováveis mantenha o máximo de opções
futuras possíveis. É preciso que se minimizem os impactos adversos
sobre a qualidade do ar, da água e de outros elementos naturais, a fim
de manter a integridade global do ecossistema, ou seja, a Terra não
deve ser deteriorada além de um limite razoável de recuperação;

Que o desenvolvimento tecnológico seja orientado para as premissas


anteriores.

Em síntese, o relatório Nosso Futuro Comum aponta que o desenvolvi-


mento sustentável

19
Desenvolvimento Sustentável

[...] é um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos


investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional
se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades
e aspirações humanas (1991, p. 49).

Ou seja, para a Comissão, o desenvolvimento sustentável não é um estado


permanente de harmonia, mas um processo de mudança, que depende do
empenho político. A Comissão certamente avançou na reflexão e no diagnós-
tico sobre a questão econômico-ambiental ao destacar a interdependência
global das manifestações físicas e econômicas, tais como a relação entre os
efeitos globais da poluição e os preços dos produtos agrícolas em uma eco-
nomia internacionalizada. Por isso defende, além do fortalecimento político
e comunitário local e regional, a cooperação internacional.

A principal contribuição desse relatório, conforme Leis (1999, p. 150), não


são as formulações técnicas sobre o que deve ser o desenvolvimento sus-
tentável e as recomendações de ações para os governos – até porque havia
diferenças de critérios entre os membros dos países participantes –, mas o
seu posicionamento ético. Leis lembra que, em geral, os princípios éticos são
lembrados em grandes documentos como a Declaração Universal dos Direi-
tos Humanos, após o fim da Segunda Guerra Mundial, mas não em textos
técnicos voltados para instrumentalizar ações políticas e econômicas de ins-
tituições governamentais.

Ao afirmar os princípios do desenvolvimento sustentável, entendendo


que o desenvolvimento deve atender às necessidades presentes sem pre-
judicar as possibilidades de atender às das gerações futuras, o relatório vai
além do reconhecimento da complexidade e interdependência dos países e
dos fenômenos naturais e sociais: os homens têm responsabilidade frente à
natureza, e o ser humano não é a medida de todas as coisas.

20
Desenvolvimento sustentável

Ampliando seus conhecimentos

Estratégias de transição para o século XXI


(SACHS, 1994. Adaptado)

Do conceito à ação
Na prática, a imaginação ecológica deve guiar a reflexão sobre o de-
senvolvimento. O objetivo é o de melhorar o destino de mais de um
bilhão de indivíduos que vivem abaixo do limiar da pobreza, começando
por assegurar-lhes “meios viáveis de existência” (CHAMBERS), qualquer
que seja o contexto ambiental ou cultural em que vivam [...].

Os cinco aspectos do ecodesenvolvimento


Qualquer planificação do desenvolvimento deve tomar em conside-
ração simultaneamente os seguintes cinco aspectos de viabilidade.

1. A viabilidade social, considerada como a instauração de um processo


de desenvolvimento apoiando-se sobre um “outro” crescimento e inspi-
rando-se em uma nova concepção sobre o que deveria ser uma sociedade
melhor. O objetivo é o de construir uma civilização caracterizada por uma
maior justiça na repartição das riquezas e das rendas, tendo como objetivo
a redução da distância no nível de vida entre providos e deserdados.

2. A viabilidade econômica, tornada possível pela repartição e pela


gestão mais eficiente dos recursos, e por um fluxo regular de investimen-
tos públicos e privados. É essencial superar as configurações externas

21
Desenvolvimento Sustentável

negativas criadas pelo peso da dívida e as saídas líquidas dos recursos


financeiros do Sul para o Norte, assim como pelos termos de troca desfa-
voráveis, as barreiras protecionistas ainda em voga no Norte e as restri-
ções de acesso à ciência e à tecnologia. A eficiência econômica deveria
ser avaliada de preferência em função de critérios macrossociais e não no
micronível do benefício das empresas.

3. A viabilidade ecológica, que poderia ser melhorada com as seguin-


tes medidas:

aumentar a capacidade de carga da nave Terra, procurando os


meios de intensificar a exploração do potencial dos recursos dos
diversos ecossistemas, causando os menores danos possíveis aos
sistemas de manutenção da vida;

limitar o consumo de combustíveis fósseis e outros recursos e pro-


dutos em via de esgotamento, ou cuja utilização seja nefasta ao
meio ambiente, substituindo-os por recursos ou produtos renová-
veis e/ou abundantes, utilizados de modo a respeitar o meio am-
biente, reduzir o volume dos resíduos e o nível de poluição, econo-
mizando e reciclando energia e recursos;

incitar os ricos, em escala nacional e individual, a limitar volunta-


riamente o consumo de bens materiais;

intensificar a pesquisa de tecnologias que produzam poucos resí-


duos e que assegurem um bom rendimento dos recursos para o
desenvolvimento urbano, rural e industrial;

definir as regras para uma adequada proteção do meio ambiente,


elaborar os mecanismos institucionais e escolher a combinação de
instrumentos econômicos, jurídicos e administrativos necessários
à sua aplicação.

4. A viabilidade espacial, que deverá ter como objetivo obter um


melhor equilíbrio entre cidade e campo, e uma melhor repartição po-
pulacional e da atividade econômica sob o conjunto do território, enfati-
zando os seguintes pontos:

reduzir a alta densidade nas zonas metropolitanas;

22
Desenvolvimento sustentável

cessar a destruição pela colonização incontrolada dos ecossiste-


mas frágeis cuja importância é vital;

promover o emprego de métodos modernos de agricultura e de


agroflorestamento regenerativos pelos pequenos exploradores,
fornecendo particularmente módulos técnicos apropriados e pos-
sibilidades de crédito e de acesso aos mercados;

explorar as possibilidades de industrialização descentralizada


oferecidas pelas tecnologias de nova geração, em se tratando
particularmente de indústrias utilizando a biomassa, que podem
contribuir à criação de empregos rurais não-agrícolas – M. S. Swa-
minathan estima que uma nova forma de civilização baseada na
utilização ecologicamente viável de recursos renováveis é não so-
mente possível como indispensável (MCNEELY);

criar uma rede de reservas naturais da biosfera a fim de preservar a


biodiversidade.

5. A viabilidade cultural, que implica a pesquisa das raízes endóge-


nas dos modelos de modernização e dos sistemas agrícolas integrados,
assim como dos processos que buscam mudança na continuidade cul-
tural, e tradução dos conceitos normativos de ecodesenvolvimento em
uma pluralidade de soluções locais específicas para cada ecossistema,
cada cultura e cada situação.

Atividades de aplicação
1. Analise os conceitos de ecologia, meio ambiente, ecodesenvolvimen-
to e desenvolvimento sustentável e estabeleça suas semelhanças e
diferenças.

Dicas de estudo
FOLADORI, Guillermo. Los Límites del Desarollo Sustentable. Montevideo: Edi-
ciones de La Banda Oriental, 1999.

RESENDE, Paulo-Edgar Almeida (Org.). Ecologia, Sociedade e Estado. São Paulo:


Educ/PUC-SP, 1995.

23
Gestão participativa e ambiente

Segundo Libâneo (2003), cada vez mais percebemos a necessidade de


um grande investimento na preparação para a vida social e comunitária, já
que as novas possibilidades de vivência humana estão localizadas primor-
dialmente em movimentos comunitários, no engajamento em pequenos
grupos, comunidades tradicionais, associações civis, ONGs, entre outros.
A própria questão da sustentabilidade é discutida, em grande parte, sob o
ponto de vista da participação. Isso fica claro funcionalmente, uma vez que
as políticas públicas voltadas para a gestão ambiental devem contar com a
participação comunitária para que sejam implementadas.

Para Leff (2001), a sustentabilidade põe em voga, novamente, a questão


da luta de classes, incorporando-a ao cenário social. Porém, não mais pela
apropriação dos meios de produção industrial, como acostumamos ouvir.
Agora, a luta está voltada para a reapropriação da natureza, não apenas por
meio de elementos tecnológicos, mas na busca por alternativas para o uso
de recursos baseados tanto em tecnologia como em elementos ecológicos,
culturais e sociais.
Diante do esbulho e marginalização de grupos majoritários da população, da ineficácia
do Estado e da lógica do mercado para prover os bens e serviços básicos, a sociedade se
levanta reclamando seu direito de participar na tomada de decisões das políticas públicas
e na autogestão dos recursos produtivos que afetam suas condições de existência. (LEFF,
2001, p. 79)

Nesse sentido, a reivindicação é por uma autonomia local e regional, en-


tendida como o direito ao controle compartilhado na autogestão dos pro-
cessos de acesso e aproveitamento dos recursos. Para os ambientes naturais,
esse processo determina novas formas de sustentabilidade, relacionadas
não mais aos interesses de grandes empresas e multinacionais, mas sim às
potencialidades e necessidades do próprio ambiente e da comunidade resi-
dente no local. Isso ressignifica o papel da cultura no âmbito da relação entre
o homem e o ambiente, dando maior autonomia aos grupos populares de
gerirem, por força de suas tradições, de seus conceitos, de suas experiências
e de maneira sustentável, seus próprios recursos.
Desenvolvimento Sustentável

Sustentabilidade: conciliando
participação social e cuidado com o ambiente
Observemos outro trecho de Leff (2001, p. 57):
A gestão ambiental do desenvolvimento sustentável exige novos conhecimentos
interdisciplinares e o planejamento intersetorial do desenvolvimento; mas é sobretudo
um convite à ação dos cidadãos para participar na produção de suas condições de
existência e em seus projetos de vida. O desenvolvimento sustentável é um projeto social
e político que aponta para o ordenamento ecológico e a descentralização territorial da
produção, assim como para a diversificação dos tipos de desenvolvimento e dos modos
de vida das populações que habitam o planeta. Neste sentido, oferece novos princípios
aos processos de democratização da sociedade que induzem à participação direta das
comunidades na apropriação e transformação de seus recursos ambientais.

É claro que esse tipo de participação social não é de fácil instituição. Para
que seja definitivamente efetivado, ainda se deve percorrer um longo cami-
nho. A participação é um compromisso importante não somente na manu-
tenção dos recursos naturais mas também em todos os âmbitos da experi-
ência comunitária, como nas cidades, nas paisagens rurais e nas aldeias, por
meio da busca por um ambiente mais saudável e com mais qualidade de
vida.

Em geral, o discurso da participação se mostra muito conveniente, e por


isso tornou-se um instrumento muito usado ideologicamente. Mas devemos
entender o real propósito desse discurso, pois, como nos diz Loureiro (2004),
não podemos acreditar inocentemente que o sentido de participação que
sugere o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou o Banco Mundial seja o
mesmo promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) ou pelo Fórum Social Mundial (FSM). Segundo esse autor, muitos dos
discursos participativos têm como pano de fundo a cooptação, o assistencia-
lismo e o paternalismo como formas de manter a dominação política.

A participação, pensada sob o ponto de vista da emancipação política, é


um ato de conquista, e por isso a dificuldade de sua implantação. Devemos
entender que a participação legítima se faz como processo, a ser conquista-
do com o outro, infinitamente, sempre se fazendo (DEMO, 2001). Demo de-
fende a idéia de que o desenvolvimento comunitário, sendo essencial para
a política social de forma geral e também para as políticas públicas, tem na
identificação cultural a motivação para a participação. No caso das questões
ambientais, a participação tem como motivador cultural essencial a ligação
do sujeito com o seu ambiente, com o seu espaço, com o que conhece dele

26
Gestão participativa e ambiente

e nele produz. A cultura que o torna pertencente ao meio capacita-o para


estar naquele ambiente.

Demo (2001) identifica, então, a participação como um ato de fé na po-


tencialidade do outro e ainda na capacidade criativa e de autogestão de um
grupo social. Além disso, a participação sugere a possibilidade do encontro
com a realidade da qual o próprio sujeito é agente, colocando-o em posi-
ção de assumir sua responsabilidade e sua própria luta em favor da parti-
cipação e, por conseqüência, das melhorias ambientais. Para esse autor, a
participação é, portanto, a promoção da autonomia, do reconhecimento da
cidadania, das regras democráticas, do controle do poder, da burocracia e do
entendimento do papel de negociação. Assim, participação não se ganha,
mas se constrói, conquista-se:
A participação possui característica de ser meio e fim, porquanto é instrumento de
autopromoção, mas é igualmente a própria autopromoção. Prevalece, porém, a conotação
instrumental, no sentido de que é vista como caminho para se alcançarem objetivos [...]
Se usássemos outra linguagem, diríamos que participação é metodologia. (DEMO, 2001,
p. 66)

Na questão da sustentabilidade, esse reconhecimento é fundamental. Em


primeiro lugar, quanto à questão da participação como método, a busca por
uma qualidade ambiental como principal objetivo orienta a ação por uma
gestão ou um planejamento participativos, na abertura de um diálogo para
a problematização e o enfrentamento dos problemas. Toda a comunidade,
nesse momento, deve conquistar seu direito participante, de forma indivi-
dual e coletiva, no levantamento dos problemas ambientais, no estudo e na
escolha por melhores formas de atuação.

A socialização do direito à participação não significa, no entanto, supera-


ção ou eliminação do poder: é apenas outra forma de poder. Ou seja, o dis-
curso é o da negociação, do debate aberto, criando novas possibilidades po-
líticas de descentralização desse poder, que não fica mais retido na figura do
Estado, mas sim em instâncias menores de deliberação, que contam com os
próprios agentes comunitários, ou mesmo intelectuais. Isso determina que
as decisões não são obtidas de maneira hierárquica, e nem devem ser aceitas
como uma imposição, que muitas vezes está completamente alheia às neces-
sidades de sustentabilidade da própria comunidade ou às suas característi-
cas ambientais. As deliberações, nesse caso, refletem inevitavelmente aquilo
que se observa na prática desse ambiente. Segundo Demo (2001, p 21):
O planejamento participativo não impede, por exemplo, que se busque convencer
a comunidade da necessidade de determinada ação, desde que o processo de

27
Desenvolvimento Sustentável

convencimento se faça dentro de um espaço conquistado de participação, ou seja,


partindo-se dos interesses da comunidade, levando em conta sua contribuição e sua
potencialidade, deixando-se também convencer do contrário.

Nesse caso, sendo o papel das comunidades lutar por sua participação e
reivindicar por melhores condições ambientais, o papel do Estado consiste
na implementação de políticas públicas que garantam o acesso dessas pes-
soas às condições necessárias para o manejo ambiental. Nesse sentido, fica
claro que a reivindicação popular e o dever do Estado vão além do direito
de participar. Muitas vezes, para assumir uma postura sustentável frente ao
ambiente, as comunidades têm que lutar também por incentivos financei-
ros, técnicos, sociais, uma vez que nem todos os grupos estão capacitados
para trabalhar pela manutenção do seu ambiente. Aí se configura, portanto,
o papel do Estado, das universidades, de instituições não-governamentais
etc.

O melhor caminho para a sustentabilidade está em aliar os conhecimen-


tos tradicionais, culturalmente adquiridos, aos novos conhecimentos tec-
nocientíficos produzidos. A complexidade das formas de atuação aumenta
muito quando da possibilidade de gestão ambiental baseada na incorpora-
ção de todas as formas de saberes. Essa aliança traz à tona um novo conheci-
mento, contextualizado, fruto da experiência e do conhecimento locais e da
inserção de novas e modernas tecnologias.

Um caminho para esse encontro está na criação de grupos multidiscipli-


nares de estudo, dispostos a criar um conhecimento transdisciplinar sobre
o ambiente em que pesem todos os saberes. Esse talvez seja um primeiro
passo para a capacitação dos sujeitos comunitários na valorização de seus
próprios conhecimentos e na incorporação de novos saberes, pela busca de
ações efetivas em prol da sustentabilidade. Brandão (2002, p. 117) sinaliza
essa possibilidade ao analisar que, num trabalho coletivo, todo grupo
[...] cria, possui, elabora e transforma um saber múltiplo e diferenciado. Todos ou quase
todos os seus integrantes de um modo ou de outro contribuem para criar o saber do
grupo. E cada um dos seus integrantes, interagindo com este saber, integra em si o seu
modo pessoal de saber com/através do grupo.

É nesse sentido que a participação comunitária se torna imprescindí-


vel para o caráter de sustentabilidade de qualquer projeto relacionado ao
ambiente. Não basta criar áreas de manejo sustentável e impor um tipo de
atuação para a comunidade associada: é preciso criar, com essas pessoas, as
diretrizes da sustentabilidade como a melhor forma, tanto de capacitá-los
para o agir como para criar uma consciência de dever, de responsabilidade,

28
Gestão participativa e ambiente

mas também de desejo, de direito, pelo cuidado com o ambiente, com as


gerações futuras e com as demais formas de vida.

Agenda 21: uma proposta de gestão


A Agenda 21 é um programa de ação baseado num documento de 40
capítulos que discute em escala planetária um novo padrão de desenvolvi-
mento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiên-
cia econômica.

Trata-se de um documento consensual para o qual contribuíram governos


e instituições da sociedade civil de 179 países, em um processo preparatório
que durou dois anos e culminou com a realização da Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad), em 1992, no
Rio de Janeiro, também conhecida como ECO-92.

Sobre a gestão ambiental, a Agenda 21 traduz o conceito de sustenta-


bilidade em um plano de ações que devem ser entendidas como diretrizes
para a tomada de decisões governamentais, institucionais e da sociedade
civil. Esse documento tem como objetivo estabelecer princípios para a cons-
trução das Agendas 21 dos países, regiões, estados e cidades, de modo que
a adoção da sustentabilidade por todos os cidadãos do mundo possa facili-
tar mudanças no tipo de crescimento econômico global, ambientalmente
predatório e socialmente excludente. Dessa maneira, apontam-se as condi-
ções para uma nova ordem mundial, pela viabilização da sustentabilidade.
Para Gadotti (2000), a Agenda 21 possibilitou a promoção de um tipo de de-
senvolvimento que alia proteção ambiental à eqüidade social e à eficiência
econômica.

O tom do discurso da Agenda não é compulsório, mas facultativo; ou seja,


não obriga os países signatários a colocarem em prática seus princípios e di-
retrizes, tratando-se, portanto, de um acordo político sem obrigação jurídica,
e de um compromisso ético, de vontade política dos governantes.

Em suas características processuais, a Agenda 21 coloca de forma clara


a questão da participação como sendo fundamental à possibilidade de ca-
minhar rumo a sociedades sustentáveis. Esse documento é, acima de tudo,
um convite ao planejamento participativo, engajando toda a sociedade na
discussão sobre o futuro do seu patrimônio ambiental e a possibilidade de
maior justiça social: “Criar ou melhorar mecanismos que facilitem a participa-

29
Desenvolvimento Sustentável

ção, em todos os níveis do processo de tomada de decisões, dos indivíduos,


grupos e organizações interessados.” (Brasil, 2005, cap. 8).

Ainda sobre os objetivos da Agenda 21 para o desenvolvimento susten-


tável, podemos observar a abrangência das metas a serem alcançadas por
meio do planejamento participativo, como enunciado no site do Ministério
do Meio Ambiente (BRASIL, 2005):
O enfoque desse processo de planejamento apresentado com o nome de Agenda 21 não
é restrito às questões ligadas à preservação e conservação da natureza, mas sim a uma
proposta que rompe com o desenvolvimento dominante, onde predomina o econômico,
dando lugar à sustentabilidade ampliada, que une a Agenda ambiental e a Agenda social,
ao enunciar a indissociabilidade entre os fatores sociais e ambientais e a necessidade de
que a degradação do meio ambiente seja enfrentada juntamente com o problema mundial
da pobreza. Enfim, a Agenda 21 considera, dentre outras, questões estratégicas ligadas
à geração de emprego e renda, à diminuição das disparidades regionais e interpessoais
de renda, às mudanças nos padrões de produção e consumo, à construção de cidades
sustentáveis e à adoção de novos modelos e instrumentos de gestão.

Portanto, a Agenda 21 não pode ser considerada apenas um documento


ambiental, mas sim uma agenda para a sustentabilidade, tendo como obje-
tivos, nesse sentido:

promover padrões de consumo e produção que reduzam as pressões


ambientais e atendam às necessidades básicas da humanidade;

desenvolver uma melhor compreensão do papel do consumo e da for-


ma de se implementar padrões de consumo mais sustentáveis. A idéia
que se consagrou foi “pensar globalmente e agir localmente” (BRASIL,
2005, cap. 4).

Segundo Sato (2003), o procedimento pautado pela Agenda não é o de


escolher entre desenvolvimento e conservação, entre tecnologia e ambien-
te natural, mas sim encontrar um equilíbrio em prol de um desenvolvimen-
to “sensível” em relação ao ambiente natural, levando em consideração as
questões locais em sua dimensão ambiental e cultural.

Enfim, sob o ponto de vista teórico, a Agenda 21 propõe a sustentabi-


lidade baseada na participação social e em políticas públicas locais para a
superação da crise ambiental.

30
Gestão participativa e ambiente

Gestão de unidades
de conservação: o papel dos atores sociais
A questão primeira que se coloca, quando se pensa na a possibilidade de
criação de uma área ou unidade de conservação, é quanto à permanência ou
não da população local nesse ambiente. Ou seja, se essas unidades devem
contar com um sistema de planejamento sustentável ou se devem ter carac-
terísticas de áreas de preservação integral.

De qualquer forma, na maioria das vezes as unidades de conservação


encontram-se afastadas dos grandes centros de decisão e carecem de uma
fiscalização eficaz para a manutenção desses ambientes. Assim, o envolvi-
mento das comunidades locais torna-se elemento crucial no manejo dos re-
cursos, facilitando a criação dessas áreas. Além disso, o incentivo à inclusão
da comunidade pode trazer para esses indivíduos novos valores, novas con-
dutas cidadãs, encadeados pelo processo participativo, ajudando a transfor-
mar essas áreas em símbolo de orgulho e, portanto, aumentando o envolvi-
mento na conservação do ambiente.

Aliás, no que diz respeito a populações tradicionais, retirá-las da região


poderia representar uma perda de etnodiversidade, pois muitas dessas co-
munidades possuem relações intrínsecas com o ambiente em que vivem.
Tais comunidades, como os índios, caiçaras, pantaneiros, entre outros, resu-
mem séculos de vivência, de cultura e conhecimento sobre esses ambientes
naturais. Nesse caso, a natureza e o homem são fruto de uma co-evolução
(FOSTER, 2005), ou seja, as características ambientais, ecológicas, culturais e
sociais são resultado da própria relação do homem com a natureza. Tais co-
nhecimentos podem ser representados, por exemplo, pela utilização da bio-
diversidade para a elaboração de remédios e produtos naturais, pelo uso sus-
tentável do ecossistema, do solo, da água, entre outros, atitudes que muitas
vezes ajudam na manutenção da própria biodiversidade do ambiente. Tudo
isso seria perdido, e uma grande diversidade cultural e biológica poderia ser
extinta, caso essas populações fossem impedidas de habitar em seu lugar de
origem. Até mesmo em termos de sustentabilidade, idéias tradicionais de
manejo, eficientes em seus ambientes, poderiam ser perdidas.

Segundo Ferreira (2004), para alguns estudiosos do assunto essa linha


de pensamento enfrenta oposições que afirmam que essa abordagem, de
certa forma, naturaliza o sujeito e não contabiliza suas características sociais

31
Desenvolvimento Sustentável

e políticas. Acredita-se, ainda, que essa abordagem pode restringir as áreas a


grupos preestabelecidos, numa situação politicamente excludente.

Em suma, em primeiro lugar é preciso saber se essas populações realmen-


te possuem características culturais que as capacitem a trabalhar em favor
do manejo sustentável. Interessante também é saber se essas populações
têm interesse em participar de um plano de gestão ambiental. Para Ferreira
(2004), o problema maior a ser debatido e compreendido no escopo dessas
discussões é justamente saber se esses grupos se qualificam ou se poderiam
ser responsabilizados por essa atuação.

É claro que é preciso retomar a questão da participação e entender que,


caso permanecessem no local, essas populações precisariam receber in-
centivos e ter suas necessidades mínimas, inclusive territoriais, atendidas
pelo Estado. Além disso, teriam que ser capacitadas, com a introdução de
novos saberes tecnológicos ambientais, para assim tornarem-se respon-
sáveis também pela implantação e pela fiscalização em uma unidade de
conservação.

Nas diretrizes da Agenda 21, em vários capítulos, encontramos ressalta-


da a importância da participação das comunidades tradicionais no manejo
de ambientes naturais. Em todos os casos, o que o documento enfatiza é
que essas comunidades devem ser mantidas no ambiente de origem, com
seus direitos assegurados. Mas em qualquer caso, com ou sem a interven-
ção humana, o papel do Estado é garantir a manutenção da biodiversidade
(BRASIL, 2005):
A despeito dos esforços crescentes envidados ao longo dos últimos 20 anos, a perda
da diversidade biológica no mundo – decorrente sobretudo da destruição de habitats,
da colheita excessiva, da poluição e da introdução inadequada de plantas e animais
exógenos – prosseguiu. Os recursos biológicos constituem um capital com grande
potencial de produção de benefícios sustentáveis. Urge que se adotem medidas decisivas
para conservar e manter os genes, as espécies e os ecossistemas, com vistas ao manejo
e uso sustentável dos recursos biológicos. A capacidade de aferir, estudar e observar
sistematicamente e avaliar a diversidade biológica precisa ser reforçada no plano nacional
e no plano internacional. É preciso que se adotem ações nacionais eficazes e que se
estabeleça a cooperação internacional para a proteção in situ dos ecossistemas, para a
conservação ex situ dos recursos biológicos e genéticos e para a melhoria das funções dos
ecossistemas. A participação e o apoio das comunidades locais são elementos essenciais
para o sucesso de tal abordagem. Os progressos realizados recentemente no campo da
biotecnologia apontam o provável potencial do material genético contido nas plantas,
nos animais e nos microrganismos para a agricultura, a saúde, o bem-estar e para fins
ambientais. Ao mesmo tempo, é particularmente importante nesse contexto sublinhar
que os Estados têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos biológicos
de acordo com suas políticas ambientais, bem como a responsabilidade de conservar
sua diversidade biológica, de usar seus recursos biológicos de forma sustentável e de
assegurar que as atividades empreendidas no âmbito de sua jurisdição ou controle não

32
Gestão participativa e ambiente

causem dano à diversidade biológica de outros Estados ou de áreas além dos limites de
jurisdição nacional.

De qualquer forma, embora a Agenda 21 seja um documento universal,


os limites e possibilidades de sua implantação estão relacionados às realida-
des locais. Esse e outros documentos oficiais internacionais vêem a questão
sob um ponto de vista único, homogeneizado. O contexto do “pensar global-
mente, agir localmente” também deve ser complementado por seu corolário
– “pensar localmente, agir globalmente” – porque nesse exercício as particu-
laridades de cada nação, em todas as suas diferenças culturais, serão levadas
em consideração. Por esse motivo, cada nação, cada Estado deve encontrar
sua própria maneira de lidar com esses dilemas. O fato é que a participação
popular – seja das comunidades tradicionais, seja da população local – não
deve ser esquecida nem negligenciada. Ela deve ser permanentemente dis-
cutida e implementada, pois nada que se refira à questão ambiental pode ser
feito de forma isolada. Para isso, as políticas públicas locais devem auxiliar e
favorecer a participação do cidadão no processo. E a promoção da Educação
Ambiental é um bom caminho para essa implementação.

Ampliando seus conhecimentos

Planejamento participativo
(DEMO, 2001)

Poderá se estranhar que consideremos o planejamento como ins-


trumento de participação. Entretanto, assim o cremos, não somente no
sentido de pelo menos não estorvar processos participativos mas igual-
mente no sentido de colaborar em sua participação.

A possível estranheza tem muita razão de ser. O planejamento, so-


bretudo quando entendido como função do Estado, possui tendência
clássica de impor-se à população, principalmente em sua face tecnocrá-
tica. Possui natural propensão tecnocrática, sistêmica e impositiva.

A propensão tecnocrática manifesta-se na posição do poder do téc-


nico, às vezes maior, às vezes menor, no sentido de influenciar fluxos
de recursos, construções de planos e programas, formas de avaliação e
acompanhamento, em nome de um Estado que pode ser mais ou menos

33
Desenvolvimento Sustentável

autoritário. Ao mesmo tempo, o planejamento estereotipa um modo pró-


prio de conceber e realizar políticas sociais, tendo prevalecido de longe
configurações ligadas ao assistencialismo, ao residualismo, ao controle
social, e assim por diante.

A tendência tecnocrática se prende, ademais, à distinção entre os


trabalhos intelectual e manual. Este é marcado pela execução braçal, de
gosto servil. Aquele é nobre, e se restringe a supervisionar e a avaliar,
coordenar, programar etc. Para fazer isso, é mister hoje pelo menos for-
mação – dita não por acaso – superior, quando não o domínio sofisticado
de técnicas quantitativas de teor sumamente formal e acadêmico. O que
virou em nossa sociedade uma fonte de poder, ainda que de um poder
bem menos forte que o poder oriundo da posse dos grandes meios de
produção ou do comando político estatal. A própria sofisticação de lin-
guagem faz parte do rito desta corte, com vistas a obter certa reverên-
cia a partir da ignorância popular. No mínimo, conseguiu-se entronizar
no Estado a função quase intocável do planejamento, por mais que a
finalidade primeira de um plano não seja resolver problemas sociais,
mas justificar uma gestão. Aqui temos um exemplo claro de que saber
é poder, sobretudo numa sociedade ainda impregnada de analfabetos e
semi-analfabetos.

A propensão sistêmica significa a tendência natural de o planeja-


mento não supor a superação do sistema em questão. Sequer é neces-
sariamente um defeito, porque nenhum governo planejaria sua própria
superação. Mesmo na maior crise, qualquer sistema imagina encontrar
uma saída e luta para sobreviver. Propõem-se mudanças dentro do siste-
ma, mas não do sistema.

A tendência reformista será mais característica, no sentido de buscar


superar conflitos internos, sem conduzir à transformação do sistema. A
busca de transformação do sistema, se for o caso, não poderá ser coloca-
do dentro de um planejamento comprometido com determinado siste-
ma e será quase sempre uma farsa imaginar-se revolucionário no plane-
jamento governamental. Nem por isso precisa ser reacionário, como se
sua sina fosse somente colaborar na ruína dos marginalizados.

Trata-se de divergências ideológicas que é preferível enfrentar a ca-


muflar. Uma ideologia reformista pode ser justificada, seja porque não
haveria outra opção mais viável para o momento, ou porque uma opção

34
Gestão participativa e ambiente

mais forte provavelmente produziria efeito contrário, ou porque se pre-


fere um acúmulo de reformas capazes de conduzir ao amadurecimento
histórico da situação, ou porque se assume abertamente a postura pe-
queno-burguesa, e assim por diante. Não deve, porém, ser vendida como
se fora revolucionária, nem deve desconhecer as chances de se tornar
mera justificação do poder, oportunismo e conivência.

No espaço de um governo que nunca é monolítico, há lugar para ini-


ciativas reais de participação, como é, por exemplo, a luta pela universali-
zação do primeiro grau [Ensino Fundamental]: embora seja proposta sistê-
mica, é absolutamente descente e dignifica qualquer planejador. Enfim, é
uma espécie de prática, entre outras práticas. Tem seus méritos, seus de-
feitos, seus riscos.

A propensão impositiva aparece naturalmente na vontade de fazer


acontecer. “Quem sabe faz a hora. Não espera acontecer.” Precisamente
acredita-se que a história pode ser feita sob influência planejada, lan-
çando mão de expedientes ditos racionais, a começar pela contribuição
científica. Assim, planejar sempre significa intervenção na realidade, tra-
duzindo a expectativa de que a podemos manipular em nosso favor.

Não pode o planejamento participativo significar a desistência de


intervenção na realidade, mas certamente outro modo de intervenção,
que esperamos que seja alternativo.

Essa colocação inicial tem por finalidade preparar o terreno crítico


para não fazermos do planejamento participativo apenas a próxima farsa
do poder. Não vale a pena camuflar essa realidade. Antes, é mister partir
dela. Somente pode ser participativo o planejador que tenha coragem
autocrítica de perceber que sua tendência é a contrária. Nem isso deve
ser o problema, mas sempre o ponto de partida, crítico e realista.

Ademais, não há porque fugirmos da condição de participantes de


determinado governo ou instituição. Qualquer poder não aprecia ser
contestado. Mesmo o planejamento participativo pode tornar-se mera
legitimação do poder, à medida que reproduzir apenas uma farsa partici-
pativa. Pode-se até aventar que a maioria das propostas de planejamento
participativo é feita como expediente esperto para se evitar a participa-
ção efetiva das bases, no sentido de uma estratégia de desmobilização.

35
Desenvolvimento Sustentável

O planejamento participativo busca ser uma forma de antiplaneja-


mento, pois aposta em mudanças, mesmo que reformistas. Entretanto,
é mister entender ainda que a participação não significa mecanicamen-
te vontade de transformar. Em si, o conservador não precisa participar
menos, quando se envolve de corpo e alma em prol do sistema que ima-
gina dever preservar. Dentro dos partidos esta realidade é bem visível,
até porque predomina a tendência a planejar como não mudar. Na ver-
dade, sabemos muito melhor como não mudar do que como mudar.

Em nosso contexto, aqui interessa ressaltar a característica de anti-


planejamento em busca de mudanças favoráveis aos desiguais. Mesmo
que as ações preconizadas sejam, em si, reformistas, procura-se sustentar
um processo histórico de amadurecimento do sistema, já que nenhum
sistema se transforma sem amadurecer. Qualquer instituição reage à par-
ticipação, se esta colocar em risco a ordem vigente, o que revela a marca
típica sistêmica. Não é, pois, uma questão exclusiva do Estado. Isso leva
pelo menos à conclusão de que vale a pena suspeitar de todo projeto
participativo institucional.

Três são os componentes básicos do planejamento participativo.

O processo inicial de formação de consciência crítica e autocrítica


na comunidade, através do qual se elabora o conhecimento ade-
quado dos problemas que afetam o grupo, mas sobretudo a visão
de que pobreza é injustiça. Trata-se de saber interpretar, entender,
postar diante de si e diante do mundo; muitos chamam essa fase
de autodiagnóstico, através do qual a comunidade formula, com
seu saber, e em consórcio com o saber técnico, um posicionamen-
to crítico diante da realidade. O saber de fora, por vezes sofisticado,
não é secundário, mas só se torna parte desse tipo de planejamen-
to se conseguir transformar-se em autodiagnóstico, desfazendo a
relação comum entre sujeito e objeto;

Tendo tomado consciência crítica e autocrítica, segue a necessida-


de de formulação de uma estratégia concreta de enfrentamento
dos problemas, que saiba destacar prioridades, caminhos alterna-
tivos, propostas de negociação etc. Quer dizer, do nível do reco-
nhecimento teórico, parte-se para a ação, dentro de um contexto
planejado;

36
Gestão participativa e ambiente

Consumando o terceiro ponto, aparece a necessidade de se organi-


zar, como estratégia fundamental para os dois passos anteriores. A
competência se demonstra sobretudo na capacidade de organiza-
ção, que é um teste fundamental dos compromissos democráticos
do grupo, aliado ao desafio de fazer acontecer. O desigual sozinho
não pode nada, mas organizado é capaz de emergir, de ocupar a
cena, de influenciar e, a partir daí, de revestir-se da capacidade de
mudar em seu favor.

Assim concebido, o planejamento participativo pode conter elemen-


tos alternativos reais e mesmo produzir iniciativas radicais a nível locali-
zado. Mas, para tanto, é mister olhar com cuidado a problemática tanto
do lado do técnico, quanto do lado da comunidade.

Da parte do técnico pode provir de fato uma proposta alternativa de


política social, mais crítica e autocrítica, comprometida com a redistri-
buição da renda e do poder, avessa a assistencialismos e a manipulações,
desde que ele consiga elaborar suficiente consciência crítica e autocríti-
ca, o que não é um fenômeno simples. De modo geral, terá mais chances
de manipular do que de ser manipulado, valendo isso também para pro-
fessores, pesquisadores, intelectuais etc. Participação não funciona por
atacado, nem por decreto. É ao mesmo tempo marca e problema o fato
de que processos participativos qualitativos tendem a ser tópicos, locali-
zados, federativos. Quantidade não é signo, porque é no âmago proces-
so, não produto.

É preciso discutir acuradamente o trajeto de formação acadêmica,


marcada pela qualidade formal apenas, que prima por métodos, instru-
mentos e quantidades. De modo geral, coloca-se muito mal a dimensão
da qualidade, definida apenas por exclusão e tratada de modo amador.
Na própria formação dita científica embute-se a resistência à qualidade
política, dedicada aos fins, às práticas, aos compromissos ideológicos,
inevitáveis para quem quer fazer acontecer. Como tem mostrado o es-
forço de metodologias alternativas, o tratamento do fenômeno partici-
pativo, por ser o próprio cerne do que chamamos qualidade na realidade
social, exige revisão acerba em plano teórico e metodológico, em muitos
sentidos: supressão da relação verticalizada entre sujeito e objeto; união
dialética entre teoria e prática; pelo menos convivência com o fenômeno
participativo, ou, melhor ainda, vivência, e, no estágio mais alto, identi-

37
Desenvolvimento Sustentável

ficação ideológica prática; atitude equilibrada diante dos métodos clás-


sicos, que também são importantes, embora restritos a uma face da re-
alidade, buscando impulsionar os avanços na dimensão qualitativa com
profissionalismo e seriedade ainda maiores.

Ademais, é mister superar alienações naturais do técnico. Partindo do


fato de que não é pobre, de que é formado na universidade, tendo pois
educação dita superior, de que trabalha no governo, de que é pequeno-
burguês etc. Conclui-se cristalinamente que é um ser tendencialmente
alienado, frente aos interessados na política social. Tudo isso, no entan-
to, não é obstáculo cabal. Porque é antes o ponto de partida. São nossas
formas normais de alienação. Se não as levarmos em conta, teremos os
efeitos negativos conhecidos: não sabemos aprender da comunidade; não
acreditamos em suas potencialidades; planejamos em nossos gabinetes e
dispensamos o teste da prática que não pode ser apenas teste, mas parte
integrante, nem maior, nem menor, do processo; desconfiamos da capaci-
dade comunitária de assumir seu destino; pelo menos em parte; refletimos
nas propostas muito mais nossas inquietações, como se fossem dos inte-
ressados, e assim por diante.

Querer ser condutor das políticas, enquanto deveria assumir a posi-


ção de agente motivador, mobilizador, assessor. Requer isto dose de mo-
déstia, que incomoda a muitos técnicos acostumados a pontificar sobre
as necessidades alheias. Entretanto, não há, por outra, nenhuma necessi-
dade de negar sua identidade. Para trabalhar com comunidades é mister
identificar-se com elas, ideologicamente, na prática, mas não faz sentido
comer do lixo, morar debaixo da ponte, ou andar sujo. Identificar-se ide-
ologicamente na prática não é fantasiar-se de proletário.

Na postura da comunidade pode ser alternativa a co-participação


nas propostas de política social, desde a concepção até a execução,
em graus e modos muito diversos, dependendo das circunstâncias
históricas, e sobretudo do teor organizativo dela. Muda-se a postura
de recebimento de favores para aquela de reivindicação de direitos e
de soluções próprias dos problemas. Não é certamente alternativa a
postura que apenas vê direitos, porque esconde outra forma de assis-
tencialismo. Mas é alternativa a postura que se apresenta como parte

38
Gestão participativa e ambiente

integrante das soluções possíveis, incluindo a cooperação através dos


mais variados recursos.

Existem também as formas próprias de alienação comunitária,


porque a comunidade está exposta – por vezes com extrema violência
– aos efeitos-demonstração, aos meios de comunicação, à manipulação
das ideologias etc. Não é, assim, que sua palavra seja bíblica, ao contrário,
poderá ser mais da novela que passa na televisão em horário nobre do
que uma real necessidade básica. Mas vale a máxima: quem mais sabe
das necessidades é o necessitado.

A postura alternativa estaria, sobretudo na mudança de população-


objeto, de alvo, de cliente, de paciente, para sujeito principal das políti-
cas, como autênticos interessados. Porquanto, não é concebível tratar da
pobreza sem o pobre.

É mister fugir de purismos e de populismos. De purismos, no sentido


de colocar condições esotéricas de contato com a comunidade, como se o
técnico fosse algo sujo, por definição impositivo e manipulador. De populis-
mos, no sentido de não superestimar o saber popular e a própria condição
comunitária, como se passasse de repente a ser o centro do universo. Cada
lado tem seu espaço próprio, sem imitações e reducionismos. Assim, o téc-
nico pode questionar uma proposta comunitária como também pode ser
questionado pela comunidade. Alienação não é privilégio exclusivo de um
outro ou de outro lado.

O técnico não deve camuflar que, por mais que se identifique com a
comunidade, pratique uma forma de intervenção, ainda que considerada
alternativa. Sua função pode ser importante, em muitos sentidos, a co-
meçar pela postura certamente gasta e, muitas vezes, farsante do intelec-
tual orgânico. A autocrítica não deve levar a apagar-se. Ao contrário, deve
levar a ocupar seu lugar adequado no processo, que é nos bastidores,
não no centro da cena.

Ao lado disso, é importante ressaltar a tentação das promessas ex-


cessivas que o planejamento facilmente dissemina. Não há quem resol-
va todos os problemas. Nenhuma instituição pode apresentar-se como
capaz de atacar todos os problemas da comunidade. Além de ser uma

39
Desenvolvimento Sustentável

postura demagógica, invade o terreno de outras instituições, podendo


armar outra farsa: desmobilizar a comunidade no sentido de que lhe
basta confiar no tutor.

Planejamento participativo é possível. Nenhum Estado é tão mono-


lítico que a participação seja de todo inevitável. Uma visão tão monolítica
não é histórica, porque é facílimo mostrar que todos pereceram, sobre-
tudo aqueles que se queriam perenes. Ao mesmo tempo, é uma postura
contraditória defender a impossibilidade total de participação dentro do
Estado, porque retira o próprio tapete do crítico, se um dia chegar ao
poder. Uma vez no poder, terá de reconhecer, ademais, que nem todo
processo participativo é necessariamente revolucionário. O fenômeno,
em si, admite qualquer coloração ideológica, porque o reacionário atu-
ante não precisa “participar” menos. A insistência obsessiva sobre pro-
cessos participativos absolutamente avessos ao poder do Estado recai
quase sempre na banalização típica de se imaginar um poder que não
seja poder.

Atividades de aplicação
1. Para todo o grupo: existe um plano de Agenda 21 em sua cidade?

Dicas de estudo
DEMO, Pedro. Política social e participação. In: ______. Participação É Conquista.
São Paulo: Cortez, 2001.

40
Educação Ambiental como
instrumento de superação
da insustentabilidade

Conceituando Educação Ambiental


Educação Ambiental talvez não seja a expressão mais correta, pois não
deve haver apenas um único conceito para um ato tão amplo como educar.
Dizemos educar porque parece óbvio que Educação Ambiental e Educação
representam, em síntese, epistemologicamente, a mesma ação: educar.

Aliás, quando falamos em Educação Ambiental, temos a nítida impressão


de que estamos lidando com uma expressão redundante... Afinal, é possível
educar fora de um ambiente, de um espaço, de uma cultura? A impossibili-
dade é visível, mas a expressão Educação Ambiental se justifica, afinal, pelo
simples fato de que serve para destacar dimensões esquecidas pelo fazer
educativo, no que se refere ao entendimento da vida e da natureza, em suas
dimensões físicas, históricas, políticas, culturais etc.

Portanto, para entendermos Educação Ambiental, nosso primeiro olhar


deve estar voltado para a Educação. Afinal, qual o papel da Educação? Savia-
ni (1997) explica que o homem de hoje é resultado daquilo que criou como
espécie, mas, sobretudo, como ser histórico. Ou seja, ao transformar a natu-
reza para criar a civilização em si, o homem construiu uma série de manifes-
tações, de conhecimentos e técnicas cuja apropriação tornou-se imprescin-
dível à adequação dos indivíduos no conjunto da sociedade, para sobreviver
no ambiente. Podemos entender essa apropriação, essa transmissão de co-
nhecimentos de geração a geração, como um ato educativo.

Assim, a Educação tem como objetivo a identificação da cultura que deve


ser apropriada para que nos tornemos humanos. O fato de transcendermos
as possibilidades de cada época, de modo que novos conhecimentos e ati-
tudes sejam criados e repassados a outros indivíduos, faz com que nossa
capacidade de transformação seja intensa e constante, demonstrando nossa
dependência do ato educacional. Ademais, do ponto de vista sociopolítico,
todos têm direito à apropriação desses conhecimentos, fruto do trabalho
histórico, para que se desenvolvam e estejam seguros quanto aos constran-
Desenvolvimento Sustentável

gimentos e discriminações que a falta desses mesmos instrumentos pode


ocasionar. Daí a importância e o valor da Educação.

Em suma, a Educação corresponde aos processos de transmissão e assi-


milação de conhecimentos, valores, condutas e práticas produzidos histori-
camente, necessários à compreensão das estruturas individuais e coletivas,
sem as quais o ser humano não se constituiria como tal. Educar é possibili-
tar a apreensão fundamental para a construção histórica humana em cada
indivíduo.

Onde fica o ambiente nesse contexto? O ambiente sempre existiu, do


ponto de vista educacional. Afinal, o próprio saber/fazer humano só existe
em conseqüência da transformação/construção/entendimento desse am-
biente. Ambiente é o lugar onde vivemos, sua dimensão natural, tanto
quanto a construída pelo ser humano, individual e coletivamente, expressa
física, cultural e simbolicamente, em termos de relações.

A Educação nos ajudou, de certa forma, a construir nossa atual relação


com o ambiente. Afinal, do ponto de vista histórico, podemos observar a
existência de uma relação direta entre Educação e ambiente, o que torna
possível um melhor entendimento dos problemas ambientais com que hoje
nos deparamos. Isso porque, se construímos ao longo dos anos uma relação
de exploração com o ambiente, a Educação repassou esse tipo de relação,
construída historicamente, até os dias de hoje.

Saviani (1997) nos explica melhor essa relação, ao abordar o conceito de


trabalho. Para esse autor, o homem, diferentemente dos outros animais, ne-
cessita produzir continuamente sua existência para garantir a continuidade
de sua espécie. Para tanto, ele transforma a natureza, adaptando-a à sua re-
alidade, e o faz por meio do trabalho. Constrói assim atividades de ação in-
tencional, transformando a natureza de forma a criar um ambiente humano,
o ambiente da cultura. Completa a ocupação humana do espaço, em que o
ambiente não é mais o natural e sim aquele construído pelos homens, para
os homens. Danosa ou não, essa ocupação humana do espaço é transmitida
de geração a geração, pela necessidade de manutenção do modo de vida
construído historicamente. Visto dessa forma, fica claro como a evolução his-
tórica desse conceito de trabalho, e a própria organização do trabalho em
nossa sociedade, transformou a natureza a ponto de colocar em risco o pla-
neta e todos os seres que nele habitam.

44
Educação Ambiental como instrumento de superação da insustentabilidade

Porém, se é possível reconhecermos a fonte desse problema em nossa


cultura e nos princípios educacionais que nos fazem repassar continuamen-
te essa forma de atuação que nos tem causado tantos problemas, é possível
também encontrarmos parâmetros para as mudanças desses paradigmas e a
consolidação de uma forma de atuação mais respeitosa para com o ambien-
te. É nesse sentido que a Educação Ambiental tornou-se uma necessidade
indiscutível, uma das principais formas participativas de incentivo às novas
gerações para que estejam cientes e atuem criticamente na manutenção dos
ambientes, possibilitando uma melhoria na qualidade de vida.

No processo educacional, em função da situação do ambiental atual, a


emergência de novas idéias e valores tornaram necessário o desenvolvi-
mento de uma Educação Ambiental que se comprometa em formar indiví-
duos ambientalmente mais conscientes. No entanto, não se pode dizer que
a ação da Educação Ambiental esteja ligada à questão educacional unica-
mente como uma forma de transmissão de conhecimentos, sem qualquer
atuação prática. É preciso lembrar que os problemas ambientais não são re-
sultado apenas da nossa “falta de conhecimentos”, mas também decorrem
do tipo de interação, exploração e ocupação que o homem faz do ambiente
e que tem reduzido as possibilidades de reconstrução desse ambiente.

Segundo Rousset (2000), a origem da crise ecológica contemporânea


está no produtivismo e, portanto, as soluções devem se basear na modifica-
ção do funcionamento ou produção das sociedades humanas, responsável
pela poluição, contaminação das águas, escassez de matérias-primas e re-
cursos, destruição de ecossistemas naturais, além dos fatores sociais e políti-
cos, todos intimamente ligados à desigualdade social, responsável por outra
série de repercussões nas relações sociais e ambientais do nosso modo de
vida.

Nesse contexto, é preciso que a Educação forneça algo mais do que a


formação da individualidade, sendo importante, dessa maneira, reformular
parâmetros para uma Educação cidadã. Segundo Porto-Gonçalves (1990),
o modo como conhecemos e identificamos a natureza reflete-se nas rela-
ções sociais e na cultura de nossa sociedade, servindo de suporte ao nosso
modo de vida e de produção. Assim, a solução para os problemas ecológicos
atuais está contida essencialmente na reformulação de nossos parâmetros
de sociabilidade. Assim, não faz sentido separar a problemática ecológica da
social.

45
Desenvolvimento Sustentável

A Educação Ambiental surge como uma necessidade quase inquestionável pelo simples
fato de que não existe ambiente na Educação moderna. Tudo se passa como se fôssemos
educados e educássemos fora de um ambiente. (Grün, 1996, p. 21)

O próprio movimento ambientalista surgiu a partir de um questionamen-


to sobre uma série de valores da sociedade capitalista. O consumismo exa-
gerado, as guerras e a destruição da natureza fizeram com que os homens se
questionassem sobre a relação intrínseca entre conservar e sobreviver.

É preciso entender, no entanto, que a ação frente aos problemas ambien-


tais demorou a se estruturar, por depender, intrinsecamente, da concepção
da relação entre homem e natureza, fator determinante para o tipo de inte-
ração que o ser humano manteve com o ambiente ao longo dos anos. Lem-
bremos que a organização da sociedade moderna, inclusive na política, nas
ciências e nas artes, foi marcada pelo cartesianismo, o dualismo entre homem
e natureza. Nesse contexto, a natureza era vista apenas como um objeto de
estudo, já que o homem era o único “sujeito” em relação ao conhecimento.
Essa característica representa um dos princípios do antropocentrismo, do
humanismo, pelo qual o homem se configura como o centro de todas as
relações. O homem era o sujeito do estudo ambiental e contemplava o am-
biente como algo externo a si.

No entanto, a preocupação com a conservação do ambiente foi se tor-


nando forte demais. Atrelada a ela, vinha a necessidade de se abandonar
esse modelo maniqueísta, que distanciava o homem do ambiente, nas ciên-
cias e na sociedade de uma forma geral. Ao final dos anos 1980 e início dos
anos 1990, a preocupação da Educação Ambiental era trabalhar em integra-
ção com a natureza. O homem é parte do ambiente, e por isso reproduz em
si toda a historicidade e a cultura em que está inserido. A busca da contextu-
alização histórica faz com que o indivíduo se compreenda dentro da relação
com o ambiente, comprometendo-se com uma ética de respeito às gerações
passadas e futuras.

Todas as transformações de parâmetros éticos sobre a relação entre


homem e natureza, e a preocupação com as formas de implantação desse
pensamento no decorrer das últimas décadas, foram fortemente influen-
ciadas por manifestações que reclamavam mudanças, incluindo as várias
conferências, congressos, textos e debates vinculados ao tema ambiental.
E é no contexto dos documentos produzidos por esses eventos que encon-
tramos a Educação Ambiental, vista como fundamental para o alcance da
sustentabilidade.

46
Educação Ambiental como instrumento de superação da insustentabilidade

A Educação Ambiental surgiu como estratégia de ação, pela primeira vez,


em junho de 1972, na Suécia, na primeira Conferência Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento. Em um documento intitulado Declaração de
Estocolmo, que propunha princípios básicos para a utilização racional dos
recursos ambientais, relacionando-os ao aumento da população e a todas
as implicações sociais, econômicas e ambientais advindas desse processo,
encontramos a recomendação de um programa internacional de Educação
Ambiental, com o fim de educar o cidadão comum para o importante papel
do manejo e do controle do meio ambiente (DIAS, 2000). Posteriormente,
organizada pela Organização da Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Tecnologia (Unesco), a Conferência Intergovernamental de Educação
Ambiental, em Tbilisi (capital da Geórgia, na ex-União Soviética), no ano de
1977, foi de grande importância para o desenvolvimento da Educação Am-
biental no mundo. Foram definidos objetivos e características da Educação
Ambiental:
[...] ainda que seja óbvio que os aspectos biológicos e físicos constituem a base natural do
meio humano, as dimensões socioculturais e econômicas, e os valores éticos definem, por
sua parte, as orientações e os instrumentos com os quais o homem poderá compreender
e utilizar melhor os recursos da natureza com o objetivo de satisfazer as suas necessidades
(COMUNIDADE, 2001).

Nessas linhas, fica clara a intenção internacional de trazer a questão


ambiental para o contexto educacional, como princípio fundamental para
a construção de sociedades sustentáveis. Em 1992, a Conferência da Onu
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO-92 – conhecida também
como Rio-92 –, abriu importantes caminhos em prol da Educação Ambiental.
No capítulo 36 da tão conhecida Agenda 21, podemos observar as diretri-
zes gerais para a organização da Educação Ambiental. Em forma de síntese,
podemos dizer que ali encontramos a Educação Ambiental voltada para o
desenvolvimento sustentável:
[...] O ensino, inclusive o ensino formal, a consciência pública e o treinamento devem ser
reconhecidos como um processo pelo qual os seres humanos e as sociedades podem
desenvolver plenamente suas potencialidades. O ensino tem fundamental importância na
promoção do desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo para
abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento. Ainda que o ensino básico sirva
de fundamento para o ensino em matéria de ambiente e desenvolvimento, este último
deve ser incorporado como parte essencial do aprendizado. Tanto o ensino formal como
o informal são indispensáveis para modificar a atitude das pessoas, para que estas tenham
capacidade de avaliar os problemas do desenvolvimento sustentável e abordá-los. O ensino
é também fundamental para conferir consciência ambiental e ética, valores e atitudes,
técnicas e comportamentos em consonância com o desenvolvimento sustentável e que
favoreçam a participação pública efetiva nas tomadas de decisão. Para ser eficaz, o ensino
sobre meio ambiente e desenvolvimento deve abordar a dinâmica do desenvolvimento
do meio físico/biológico e do socioeconômico e do desenvolvimento humano (que pode

47
Desenvolvimento Sustentável

incluir o espiritual), deve integrar-se em todas as disciplinas e empregar métodos formais


e informais e meios efetivos de comunicação. (BRASIL, 2005).

Portanto, a Educação Ambiental para a sustentabilidade é muito mais do


que a assimilação de conceitos e conhecimentos sobre o ambiente. A Edu-
cação Ambiental será responsável por uma nova relação do eu com o outro e
com o mundo. A preocupação é formar indivíduos e cidadãos comprometi-
dos não só com as próprias necessidades e as necessidades dos outros, mas
interessados em reformular essas necessidades, em reconhecer o que de va-
lioso existe na vida e na relação com o mundo. Isso implica um conhecimen-
to interno aprofundado, filosófico, existencial, mas também um forte enga-
jamento na partilha da responsabilidade, por meio da participação radical.
Assim, a Educação Ambiental se traduz em um processo contínuo, constan-
te, em busca da prática da democracia e da participação dos indivíduos em
decisões que se traduzam, para todos nós, em qualidade de vida.

A mudança, em termos práticos, começa pela transformação do nosso olhar


sobre a Educação, tanto em espaços formais como em caráter informal.

Educação Ambiental no âmbito escolar


A Educação Ambiental vem firmando seu importante papel na formação
do indivíduo, contribuindo para o exercício de sua cidadania.

Na Conferência de Tbilisi (1975), a Educação Ambiental foi pensada no


âmbito educativo, por sua inserção no conteúdo e na prática escolar, orien-
tada para a resolução de problemas concretos do meio, com um enfoque
interdisciplinar e uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e
da coletividade (DIAS, 2000).

As questões ligadas ao meio ambiente foram introduzidas no panora-


ma da Educação no Brasil por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(BRASIL, 1991), como tema transversal a ser trabalhado permeando todas as
áreas do conhecimento escolar. Ou seja, a Educação Ambiental deve estar
inserida nos currículos de forma transdisciplinar, favorecendo assim a noção
de complexidade das questões ambientais, que têm, portanto, enfoque inter-
disciplinar e transdisciplinar. Sato (2003, p. 24) descreve que
o ambiente não pode ser considerado um objeto de cada disciplina, isolado de outros
fatores, ele deve ser abordado como uma dimensão que sustenta todas as atividades e
impulsiona os aspectos físicos, biológicos, sociais e culturais dos seres humanos.

48
Educação Ambiental como instrumento de superação da insustentabilidade

Esse é um importante princípio da Educação Ambiental, e deve ser levado


em consideração na construção dos novos currículos. Além disso, essa visão
desmistifica aquela de alguns que ainda acreditam que a Educação Ambien-
tal deve se transformar em uma disciplina escolar. Segundo Carvalho (2002),
tanto nos PCN como na Política Nacional de Educação Ambiental, a inclu-
são de uma disciplina da área é categoricamente rejeitada para os Ensinos
Fundamental e Médio, podendo ser adotada, quando necessário, apenas no
Ensino Superior. O caráter da Educação Ambiental deve ser sistêmico e inte-
grador, e não acomodado a uma disciplina.

Sato (2003) ressalta ainda outra característica ou princípio da Educação


Ambiental, no que se refere ao currículo escolar. A Educação Ambiental deve
favorecer a ludicidade, a brincadeira, o dinamismo, como método para o
favorecimento do engajamento e da participação na discussão ambiental.
Nesse sentido, a autora ressalta que a inclusão da temática ambiental nos
currículos escolares deve acontecer a partir de atividades diferenciadas, que
possam conduzir os alunos a serem agentes ativos no processo de formação
de conceitos. Sendo o professor o mediador do processo de ensino e apren-
dizagem, cabe a ele propor novas metodologias que favoreçam a implemen-
tação da Educação Ambiental.

Nessa perspectiva, o uso de materiais sobre os temas ambientais em sala


de aula no processo de ensino e aprendizagem pode servir como fonte de
informação. No entanto, não devem ser utilizados com exclusividade. A di-
versidade entre esses materiais deve ser a mais ampla possível. A utilização
de materiais diversificados como revistas, jornais, propagandas e filmes faz
com que o aluno sinta-se inserido no mundo à sua volta (BRASIL, 1991).

Além disso, é preciso dizer que os conteúdos devem ser discutidos e tra-
balhados de forma coletiva, buscando conhecimentos não somente do pro-
fessor, que também possui uma leitura individual do mundo, mas também
dos educandos, como nos sugere Meyer (1991, p. 42):
Reconhecendo que a escola não é o único local de aprendizado e que o processo
educativo não se inicia nem se esgota no espaço escolar, torna-se fundamental dialogar
com o conhecimento que as pessoas têm acerca do ambiente, aprendido informalmente e
empiricamente em sua vivência e prática social, respeitando-as, questionando-as, levando-
as a repensarem o aprendido. Enfim, possibilitando que elas formulem e expressem suas
idéias e descobertas, e elaborem os seus próprios enunciados e propostas.

Essas e outras características devem ser levadas em consideração ao


se incorporar a Educação Ambiental aos currículos escolares. No entanto,
não existe uma fórmula, um método abrangente e completo. O educador

49
Desenvolvimento Sustentável

também deve viver a experiência de construir essa possibilidade, agregando


a ela o seu próprio modo de entender a Educação. A base primeira de um
bom entendimento e treinamento está na discussão coletiva dos conteúdos,
dos métodos e das experiências para uma Educação que seja o alicerce para
um novo conceito de sociedade.

Educação Ambiental em espaços informais


Sabemos que educar não é exclusividade do ensino escolar. Todas as pes-
soas possuem uma leitura de mundo que é anterior e ulterior àquela do am-
biente escolar: as vivências práticas, do cotidiano, do mundo do trabalho e
da espiritualidade, que complementam o ser humano em todos os âmbitos
de sua vida e de sua relação com o ambiente. A Educação Ambiental, nesse
sentido, pode ser uma prática atrelada a qualquer grupo de trabalho, grupo
social, ONG, associação de moradores e sindicatos, entre outros.

Mas qual o papel da Educação Ambiental para esses grupos, como deve
ser estruturada? Quais são os princípios norteadores desse trabalho?

Obviamente que os princípios da Educação Ambiental são os mesmos


para todo o trabalho na área. No entanto, as metodologias devem ser apro-
priadas ao público-alvo, favorecendo a proximidade do tema com o grupo
que pretende estudá-lo. Por exemplo, no caso de um grupo de sindicato, as
metodologias devem ser iniciadas pelo próprio movimento de consciência
de classe, sobre as questões relativas aos direitos e deveres do trabalhador,
para então inserir outros grupos de discussão. No caso de um grupo de crian-
ças de um bairro, por exemplo, as metodologias devem ser trabalhadas de
forma lúdica, como uma brincadeira, tentando buscar nesses indivíduos os
temas mais interessantes para serem problematizados. Como esses, outros
exemplos demonstram que cada grupo merece uma atenção particular e es-
pecial, mas, de qualquer forma, o envolvimento com o conhecimento deve
nortear esses trabalhos por um novo ambiente, internalizado, do saber.
Em qualquer situação, tanto em cada pessoa, individualmente, quanto conectivamente, no
interior de pequenos grupos ou equipes dentro de uma turma de alunos, ou envolvendo
toda a turma, há um trânsito contínuo entre o-que-já-se-sabe e o-que-se-vai-saber: um
intervalo desigualmente sempre transponível entre aquilo que se reconhece como um-
saber-da-turma (de um grupo e, na sua unidade menor, de um aluno individualmente),
como algo já-aprendido, e aquilo, muito próximo, que-ainda-não-se-sabe: aquilo que
está-para-ser-aprendido, que vai-ser-aprendido. Que será aprendido como a fração
cultural do saber socialmente disponível. A fração de algum conhecimento, valor ou o
que seja, vindo da experiência vivida, vindo de algum ramo da ciência, vindo da literatura,

50
Educação Ambiental como instrumento de superação da insustentabilidade

vindo de... que o contexto das interações entre as pessoas “ali” criou. E que, então, cada um
individualmente, cada pequena unidade afetiva e relacional de uma “turma de alunos” irá
incorporar aos seus processos e às suas estruturas cognitivas de conhecimento-aprendido-
e-agora-sabido. (Brandão, 2003, p. 116-117).

Os objetivos, de uma forma geral, também são os mesmos: a Educação


Ambiental deve capacitar o indivíduo para agir individual e coletivamente,
amparado pelo olhar da sustentabilidade. Obviamente, cada grupo possui
uma dinâmica e uma busca por respostas que é interna ao mesmo, e o edu-
cador ambiental deve respeitar essas expectativas. O trabalho deve come-
çar por satisfazer as necessidades dos grupos, de forma a fazer com que os
indivíduos sintam-se interessados pelo processo educativo e compartilhem
com os outros esse momento, na internalização de novos conhecimentos
construídos coletivamente.

Muitas vezes, os temas e objetivos desses grupos estão relacionados com


seu fortalecimento interno, tanto na promoção da participação e no engaja-
mento da comunidade nas questões ambientais em que se inserem, como
na problematização e no enfrentamento das questões relacionadas à quali-
dade de vida.

Dessa maneira, os indivíduos são convidados a participar do processo


ambiental, aprendendo a dialogar com o outro na busca da compreensão
do seu ambiente. O processo é o de troca de idéias, de valores, de conheci-
mentos, na busca por um saber contextualizado, abrangente, construído sob
o ponto de vista de toda a comunidade. Não se trata, portanto, de conhecer
apenas como se estruturam as interações ecológicas, como reciclar resíduos,
ou como diminuir o consumo de água: trata-se de conhecer as reais necessi-
dades de conhecimento do grupo que está inserido na ação, buscando com
isso trabalhar pela melhoria do seu ambiente e conhecer a melhor forma de
atuação nesse ambiente. Por isso, os temas são muito variados, desde ques-
tões relacionadas aos indicadores de qualidade de vida, até o conhecimento
da história do ambiente, buscando com isso adquirir uma sensação de per-
tencimento ao lugar. Para Brandão (2003, p. 91), a relação com a realidade que
se procura estudar cresce quando a olhamos de forma coletiva e intencional,
sendo possível uma combinação entre conhecimentos e subjetividades:
Ele está situado na tomada de consciência de que quando eu convoco aquilo que
procuro estudar, a sair do lado da coisa e da estrutura formal para o lado da relação e
do acontecimento vivenciado, a minha interpretação, qualquer que ela seja e de onde
quer que venha, não pode mais ser dada através de um discurso axiomático-dedutivo e
inevitavelmente redutivo, mas em uma compreensão fundada na aventura assumida da
intersubjetividade.

51
Desenvolvimento Sustentável

De qualquer forma, grande parte desse trabalho só faz sentido se buscar


inserir a participação como metodologia. A participação é o grande pilar dos
programas informais de Educação Ambiental, principalmente com relação
aos trabalhos com adultos.

A intenção, acima de tudo, é formar indivíduos empenhados em seu papel


participativo, capazes de usar suas idéias, sua vontade e sua voz na busca de
cada vez mais espaço, de possibilidade de decisão, de luta reivindicatória.
Essa luta é pela plena e absoluta construção de cidadãos.

Educação Ambiental e cidadania


Na Educação Ambiental, há uma grande distância entre informar e formar.
Não basta transmitir inúmeras informações sobre o que se deve fazer e o
que pode melhorar o ambiente: é preciso formar cidadãos conhecedores
dessas questões, indivíduos que não só ouçam, mas que também procurem
conhecer sobre a realidade ambiental. Indivíduos que se comprometam
com as mudanças necessárias à qualidade ambiental, de forma autônoma
e responsável.

A Educação Ambiental tem, portanto, um caráter humanizador e forma-


dor, e deve favorecer a compreensão e desvelar as determinações impostas
pela realidade humana, de forma a reconstruir em si os valores de civilidade
e humanidade construídos historicamente. Ou seja, deve instrumentalizar
o indivíduo para compreender e agir de forma autônoma, por meio das re-
lações sociais, sobre sua própria realidade histórica. Deve contribuir na pro-
moção de indivíduos críticos e reflexivos, capazes de pensar e repensar sua
própria prática social.

Segundo Loureiro (2004), é na construção de uma nova ética que se tra-


balha. Uma ética que tenha como base a reflexão sobre a complexidade da
prática social para, partindo dela, construí-la sob um ponto de vista novo,
ecológico. Ecológico no sentido de que represente um
embate democrático entre idéias e projetos que buscam a hegemonia na sociedade e no
modo como esta se produz e se reproduz, problematizando valores vistos como absolutos
e universais (LOUREIRO, 2004, p. 51).

Só assim, a Educação Ambiental pode construir na base do pensar e do


agir o princípio da responsabilidade com o outro, do bom senso, da cidada-
nia e do respeito para a resolução dos problemas que são tanto individuais

52
Educação Ambiental como instrumento de superação da insustentabilidade

como coletivos, na busca por relações harmônicas entre todos, e com o am-
biente. Dessa forma, o respeito à diversidade também surge como manifes-
tação autêntica, porque não há nada mais belo do que a versatilidade dos
seres vivos, das culturas, das manifestações naturais (SATO, 2003).

É para isso, afinal, que nos serve o conhecimento: para ajudar na melhoria
de nossas vidas, na elaboração de nossas vontades e de nossos desejos. O
conhecimento apreendido a partir da experiência com o outro, buscando
nessa relação uma nova ética de compromisso, de cidadania, de expecta-
tivas comuns, possui um alto potencial modificador e ordenador da busca
pela felicidade comum. Poeticamente, Brandão (2002, p. 188) nos diz que
pouco a pouco aprendemos a relativizar a história de longos ciclos, centradas em grandes
feitos, grandes momentos e grandes heróis, para nos voltarmos às múltiplas histórias
culturais de antecedentes, contemporâneos e consócios como nós mesmos. Nós ao lado
de tantas pessoas “sem nome em placas de rua” mas de um passado remoto, os verdadeiros
heróis da “nossa história”, porque a geração de mulheres e homens são os construtores
cotidianos do que esteve e está aí como uma cultura. A nossa cultura. Habitantes de
carne e osso da criação de cotidianos que são, de uma comunidade de Belém Velho, a
Porto Alegre, ao Rio Grande do Sul, ao Brasil, a outros amplos círculos de nosso Mundo,
antes e agora, criadores de sociedades, de culturas e de histórias, tanto ou mais do que
heróis montados a cavalo. E então, poderemos descobrir, junto com as inúmeras pessoas
das muitas comunidades populares, que aqueles heróis esporadicamente aparecem em
momentos de uma história cujo dia-a-dia somos nós, as pessoas comuns, quem constrói
e quem, portanto, pode dar sentido e transformá-la.

A Educação Ambiental procura, portanto, trazer ao indivíduo a importân-


cia de problematizar suas necessidades reais, buscando no mundo muito
mais do que a aquisição material; busca sim novas relações com os outros,
novas formas de tratar a diversidade, numa crítica radical da modernidade
por meio da prática da cidadania e de uma ética ecológica em que o outro e
o ambiente não sejam esquecidos, e possam fazer parte do sonho de felici-
dade de todos nós.

Atividades de aplicação
1. Cada aluno deve criar um conceito de Educação Ambiental.

2. Depois, devem ser formados grupos em que serão discutidos esses


conceitos e recriado um novo conceito, do grupo todo.

3. Os alunos devem representar esse conceito do grupo em forma de


teatro, ou por meio de um desenho, uma frase ou um símbolo.

4. Apresentar a conclusão para os demais grupos.

53
Desenvolvimento Sustentável

Dicas de estudo
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A Pergunta a Várias Mãos: a experiência da pesqui-
sa no trabalho do educador. São Paulo: Cortez, 2003.

TOZONI-REIS, Marília Freitas de Campos. Educação Ambiental: natureza, razão e


história. Campinas: Autores Associados, 2004.

54
Estado e ambiente no Brasil

A emergência da questão ambiental no Brasil


Ao longo de sua história, durante vários séculos o Brasil experimentou um
desenvolvimento baseado no crescimento econômico temporário: estoques
de recursos naturais foram explorados à exaustão no que ficou conhecido
como ciclos econômicos (pau-brasil, açúcar, café). Tais ciclos basearam-se em
uma produção de monocultura agroexportadora, que propiciou prosperida-
de econômica às custas da devastação de grandes áreas florestais, apropria-
ção criminosa de terras públicas, exploração do trabalho escravo indígena
e africano e, posteriormente, do trabalho dos imigrantes europeus. Se nos
períodos colonial e imperial essa forma de desenvolvimento foi considera-
da inevitável, – por razões ligadas ao processo histórico de colonização e
dominação do território brasileiro –, a partir do momento em que o Brasil
se constituiu como nação, um Estado soberano, sob o sistema de governo
republicano, o desenvolvimento passou a ser imbuído dos valores positivos
de independência e de auto-realização: o tradicionalismo daria lugar à mo-
dernização, e a nação brasileira dessa forma se faria representar no concerto
das nações civilizadas.

Apesar de a exploração indiscriminada dos recursos naturais ter continu-


ado no decorrer da consolidação da República, surgiram várias instituições
oficiais e não-oficiais preocupadas em preservar a natureza ou evitar sua
total degradação. Dentre as entidades conservacionistas, destacam-se, por
exemplo, a Sociedade dos Amigos das Árvores (SP) criada em 1931; a Asso-
ciação de Defesa da Flora e da Fauna (SP), depois Associação de Defesa do
Meio Ambiente de São Paulo (Ademasp) criada em 1954; e a Fundação Bra-
sileira para a Conservação da Natureza (FBCN-RJ) criada em 1958. No âmbito
das instituições governamentais, foram criados o Serviço Florestal (1921);
o Instituto Nacional do Mate (1938); o Serviço Florestal, responsável pelos
parques nacionais (1944); o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
(IBDF, em 1967), dentre outros. No plano das normas e da legislação visando
à instauração de mecanismos de proteção e regulação do uso dos recursos
naturais, foram criados o Código Florestal Brasileiro (1934 e 1965), o Código
de Caça e de Pesca (1967), a Lei de Proteção à Fauna (1969), o Código de Mi-
neração (1968) e, somente em 1980, o Código das Águas.
Desenvolvimento Sustentável

A legislação nacional, ao longo do século XX, contribuiu para a definição


de critérios de preservação da natureza por meio da criação da floresta na-
cional, de reservas biológicas, dos parques nacionais, das estações ecológi-
cas e outras unidades de conservação como monumentos naturais, hortos
florestais, jardins botânicos e zoológicos (URBAN, 1998; FERREIRA, 1998).
1
Depleção: estado ou con-
dição de esgotamento dos
Isso não foi suficiente, no entanto, para impedir a depleção1 de recursos
recursos naturais provoca-
do por excessiva perda de
naturais considerados infinitos pelo modelo de desenvolvimento adotado
matéria.
pelo Brasil a partir da década de 1950. Esse modelo, baseado na industrializa-
ção como uma das principais metas de crescimento econômico, em sistemas
industriais poluentes e na intensa exploração de mão-de-obra barata e des-
qualificada, foi intensificado, durante a década de 1970, com a implantação
de indústrias poluentes, provenientes do Hemisfério Norte, onde o avanço
da consciência ecológica já era significativo (VIOLA, 1996, p. 39-40).

A Conferência de Estocolmo, realizada na Assembléia Geral das Nações


Unidas, em junho de 1972, foi a primeira reunião de governos internacio-
nais, congregando países desenvolvidos e em desenvolvimento, em que o
meio ambiente foi colocado como tema central da agenda. O assunto gerou
numerosas polêmicas e discussões entre os representantes dos 113 países
presentes, especialmente entre os dos países periféricos, como Brasil, Índia
e China, que viam na proposta dos países do Norte – discutir os problemas
ambientais sob a óptica da poluição industrial e da conservação dos recursos
naturais – uma tentativa de impedir o desenvolvimento dos países do Sul,
que só se dispunham a discutir meio ambiente para reivindicar seu direito ao
uso dos recursos naturais para obter maior crescimento econômico.

É interessante notar que a proposta inicial da Conferência de Estocolmo


era discutir o meio ambiente no sentido estrito da expressão, mas, diante
da reação extremada dos países do Sul, acabou-se ampliando a noção de
meio ambiente, abrangendo também problemas relacionados à fome e à po-
breza. Assim, ainda que com muitas desconfianças e sem propor soluções
para os problemas ambientais evidenciados nos países desenvolvidos e em
desenvolvimento, obteve-se um consenso relativo à necessidade de rever
as políticas internacionais, que a partir de então não poderiam ser guiadas
somente por interesses nacionais e ideológicos, devendo buscar-se consen-
sos globais, incluindo ações ambientalistas no cenário político dos governos
internacionais.

58
Estado e ambiente no Brasil

Outro aspecto notável, como salienta Leis (1999, p. 133), foi que
[...] nos anos 1970, enquanto os encontros para tratar das questões econômicas
faziam-se exclusivamente através de representantes dos governos, em Estocolmo
(antecipando claramente o que depois iria ser um dos traços mais notáveis da
Rio-92), a conferência oficial estava marcada pelo debate e ação ambientalista da
sociedade civil mundial. Tanto estava isto presente que os setores do ambientalismo
que já tinham emergido no cenário público internacional (principalmente cientistas
e não-governamentais) fizeram várias reuniões paralelas à conferência oficial.

Embora os princípios evocados pela Declaração de Estocolmo não fossem


mais do que uma declaração de intenções, pois não eram dispositivos legais,
obrigatórios, indicavam a necessidade de políticas estatais com enfoque
integrado e coordenado de planejamento do desenvolvimento com medi-
das de proteção ambiental e melhoria da qualidade de vida da população, e
estimulavam a criação de políticas ambientais nos países que ainda não as
tinham criado.

O Brasil, vivendo então sob o governo militar e adotando com reservas


as preocupações ambientalistas internacionais, resolveu, diante das críticas
estrangeiras ao seu posicionamento na Conferência de Estocolmo, atenuar
sua posição, instalando, em 1974, uma Secretaria Especial do Meio Ambiente
(Sema), encarregada do monitoramento e controle da poluição, assim como
a prevenção da extinção de plantas e animais, em conjunto com o Institu-
to Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Para isso, foram nomea-
dos ambientalistas comprometidos e capazes para dirigir essas instituições.
Esses órgãos dedicaram quase toda sua atenção à região amazônica, em de-
trimento da Mata Atlântica, que já parecia bastante degradada e com pouco
a proteger, sendo no máximo um lembrete do que poderia acontecer se não
fossem tomadas medidas urgentes na região Norte. A Amazônia mostrava-
se, além disso, ameaçada de imediato pelos planos agressivos de desenvol-
vimento de outros órgãos federais (DEAN, 1997, p. 319). O período que se
seguiu, como diz Urban (1998, p. 108),
[...] foram anos de ouro e de chumbo para a conservação da natureza no Brasil.
De um lado, as áreas protegidas cresceram em número, extensão e organização.
Do outro, a expansão da fronteira agrícola para a Amazônia abre um novo ciclo de
destruição, seguindo a trilha já bem conhecida da Mata Atlântica, reduzida, a ferro e
fogo, a pequenos fragmentos da sua área original.

59
Desenvolvimento Sustentável

Evolução das políticas públicas ambientais


Entre as décadas de 1970 e 1980, afora as grandes transformações mun-
diais no plano econômico, político, social e ambiental, o governo brasileiro
manteve a posição defendida em Estocolmo: considerava o argumento dos
países do Norte sobre a crise ambiental uma tentativa de ingerência nos as-
suntos internos do país, e entendia que desenvolvimento e proteção am-
biental eram incompatíveis. Tal atitude por parte da diplomacia brasileira
não impediu, entretanto, a mobilização de vários setores da sociedade na
década de 1980, para que fossem criadas instituições voltadas especialmente
para a questão ambiental e elaboradas e/ou redefinidas leis sobre o meio
ambiente.

Em 1987, ganhou destaque na mídia internacional o grave problema


do desmatamento na Amazônia e nas regiões fronteiriças do Cerrado, em
2
A queimada é uma das grande parte por causa das queimadas2; naquele ano, aproximadamente 20
mais antigas técnicas para
limpeza e preparo do solo mil quilômetros quadrados foram desmatados na Amazônia e no Cerrado.
para plantio e pastagem. É a
forma mais barata e também
a mais nociva de executar
Organizações não-governamentais (ONGs) internacionais e nacionais, de
essa tarefa. A fumaça libera-
da causa danos à saúde das
cunho ambientalista e socioambientalista, mobilizaram-se contra o projeto
pessoas que moram e/ou
trabalham nas proximidades,
Polonoroeste e a pavimentação da BR-364 (trecho Porto Velho–Rio Branco),
além de contribuir para o
aquecimento do planeta.
e chamaram a atenção da opinião pública internacional para os problemas
globais decorrentes do desmatamento da Amazônia. Por outro lado, o verão
seco e quente de 1988 nos EUA, junto com declarações alarmantes de James
3
Renomado climatologista, Hansen3 sobre alterações climáticas, despertou a preocupação da opinião
diretor do Instituto Godard,
que é o mais importante do
centro de pesquisa especia-
pública norte-americana.
lizado no tema em todo o
mundo.
Nesse contexto, o Brasil se transformou no grande vilão dos problemas
ambientais globais, ainda que se saiba desde então que as principais emis-
sões de dióxido de carbono são produzidas pelos processos industriais e de
transporte dos países ricos. Contribuiu ainda para piorar a imagem do gover-
no brasileiro, tanto no âmbito internacional como no nacional, o assassinato,
em dezembro de 1988, no Acre, do líder seringueiro Chico Mendes, que se
tornou um dos principais defensores de um modelo de extrativismo susten-
tável para a Amazônia.

Naquele mesmo ano, foi promulgada a nova Constituição Federal (CF),


que simbolizou os esforços para estabelecer o processo de redemocrati-
zação do país após 21 anos de ditadura militar, e dedicou um capítulo ao
tema do meio ambiente. A Constituição de 1988 é considerada uma das le-
gislações mais avançadas sobre o meio ambiente, embora muitos dos seus

60
Estado e ambiente no Brasil

princípios ainda não sejam cumpridos na prática. O governo brasileiro de


então, mesmo respondendo lentamente às críticas à gestão ambiental, criou,
em 1989, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), fundindo a Sema, a Superintendência da Borracha (Su-
dhevea), a Superintendência da Pesca (Sudepe), e o IBDF. A criação do Ibama
significou uma reforma organizacional e conceitual, já que pela primeira vez
se associou a proteção ambiental ao uso conservacionista de determinados
recursos naturais.

A abordagem do governo brasileiro durante a década de 1980 caracteri-


zou-se por uma visão nacionalista, ignorando qualquer relação da problemá-
tica ambiental nacional com os problemas globais. Em relação à Amazônia,
tentou-se, inclusive no governo Sarney, deslanchar uma campanha naciona-
lista na qual se enfatizava que a região era dos brasileiros e que somente eles
teriam direito a desenvolvê-la como bem quisessem. Embora essa campa-
nha tivesse uma visão estreita e limitada da problemática ambiental, apon-
tava corretamente que os culpados pela devastação das florestas brasilei-
ras foram os países do Norte, que lograram o desenvolvimento às custas da
exploração dos recursos naturais do Brasil durante séculos. Esse argumento
abriu um campo para a complexa discussão sobre quem devia pagar a conta
pela proteção da biosfera4. 4
Biosfera: conjunto de ecos-
sistemas existentes no plane-
ta Terra.
Em 1989, o governo federal criou um programa de defesa do complexo
de ecossistemas da Amazônia Legal, denominado Programa Nossa Natureza,
com a finalidade de estabelecer condições para a utilização e a preservação
do meio ambiente e dos recursos naturais renováveis na Amazônia Legal,
mediante a concentração de esforços de todos os órgãos governamentais
e a cooperação dos demais segmentos da sociedade com atuação na pre-
servação do meio ambiente. Com esse programa, tentou-se, nesse período,
criar a imagem de um governo ambientalmente responsável.

Em 1990, foi (re)criada a Secretaria do Meio Ambiente (Semam), ligada à


Presidência da República, que tinha no Ibama o órgão gerenciador da ques-
tão ambiental, responsável por formular, coordenar e executar a política na-
cional do meio ambiente e da preservação, da conservação e do uso racional,
da fiscalização, do controle e do fomento dos recursos naturais renováveis.
Dois anos depois, foi realizada no Rio de Janeiro a Conferência sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento da ONU, da qual participaram 170 países. No
final dos anos 1980, o governo já havia apoiado partidários a candidatar
o Brasil para ser a sede da conferência; esse evento ficou conhecido como

61
Desenvolvimento Sustentável

ECO-92. Sua confirmação e realização na cidade do Rio de Janeiro foram um


importante marco de projeção do Brasil no cenário internacional. No início
dos anos 1990, o ambientalismo havia aumentado sua força e expressão na
opinião pública do Hemisfério Norte, estando entre as três principais prio-
ridades na maioria dos países; além disso, as questões ambientais obtive-
ram destaque na reunião dos sete países mais industrializados do mundo, o
5
São membros do grupo: Grupo dos Sete (G7 – hoje, G8)5, realizada em Paris.
Alemanha, Canadá, Estados
Unidos, França, Grã-Breta-
nha, Itália e Japão. O G-7 tem
como objetivo coordenar a
A ECO-92 mobilizou o movimento ambientalista local e vários setores
política econômica e mone-
tária mundial. O G8 é o G7
da sociedade, no período que antecedeu a sua realização. Às vésperas do
mais a Rússia, que não parti-
cipa de todas as reuniões.
evento, o fórum brasileiro já tinha realizado sete encontros plenários nacio-
nais e contava com a filiação de 1 200 organizações (VIOLA, 1996, p. 50). A
ECO-92 teve como principais objetivos:

identificar estratégias regionais e globais para ações referentes às prin-


cipais questões ambientais;

examinar a situação ambiental do mundo e as mudanças ocorridas de-


pois da Conferência de Estocolmo;

examinar estratégias de promoção de desenvolvimento sustentado e


de eliminação da pobreza nos países em desenvolvimento.

O governo brasileiro, preocupado com a repercussão internacional das


teses discutidas na Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, determi-
nou, ainda em 1992, a criação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), com o
objetivo de estruturar a política do meio ambiente no Brasil. Além de iniciati-
vas de preservação da Floresta Amazônica, outros projetos governamentais
foram desenvolvidos, como, em parceria com bancos nacionais e internacio-
nais, os de despoluição ambiental das águas, dentre os quais se destacam:
Baía de Guanabara, Rio Tietê, Baías Norte e Sul de Florianópolis, Rio Guaíba
(Porto Alegre) e Rio Iguaçu (Curitiba). Obras de saneamento passaram a
ocupar lugar central no orçamento das políticas públicas de vários estados,
demonstrando se não a consciência ambiental por parte dos políticos, pelo
menos o reconhecimento da importância da questão ecológica para a socie-
dade brasileira. Em outros tempos, os políticos afirmavam que investimentos
em redes de esgoto e saneamento básico não valiam a pena porque eram
obras que não apareciam, ou seja, canos e tubulações não davam votos.

Outros projetos e programas vêm sendo desenvolvidos em parceria com


ONGs, como o Projeto Biodiversidade do Brasil (Probio), que estuda todos os

62
Estado e ambiente no Brasil

grandes biomas brasileiros, e o Programa Nacional de Biodiversidade (Prona-


bio), que estabelece as diretrizes nacionais para o cumprimento das metas
definidas na ECO-92 para a biodiversidade. Em 2000, foi instituído pelo De-
creto 3.420, de 20 de abril, e lançado pelo governo federal em 21 de setem-
bro, o Programa Nacional de Florestas (PNF). Seu objetivo geral era
a promoção do desenvolvimento sustentável, conciliando a exploração com a proteção
dos ecossistemas e a compatibilização da política florestal com os demais setores de modo
a promover a ampliação do mercado interno e externo e o desenvolvimento institucional
do setor. (PROGRAMA, 2008).

Envolvendo aspectos ambientais, sociais e econômicos do setor florestal


brasileiro, o PNF estipulava, dentre seus objetivos específicos:

o estímulo do uso sustentável de florestas nativas e plantadas;

o fomento das atividades de reflorestamento, notadamente em pe-


quenas propriedades rurais;

a recuperação das florestas de preservação permanente, de reserva


legal e áreas alteradas;

o apoio às iniciativas econômicas e sociais das populações que vivem


em florestas;

a repreensão de desmatamentos ilegais e da extração predatória de


produtos e subprodutos florestais, fazendo contenção de queimadas
acidentais e prevenindo incêndios florestais;

o estímulo à proteção da biodiversidade e dos ecossistemas florestais.

O documento básico do PNF afirmava que, ao longo do tempo, as ações


de governo foram implementadas cometendo-se três tipos de falhas, cau-
sadoras de um descompasso com o desenvolvimento florestal sustentável.
Essas falhas são apontadas, e as suas ações corretivas são também premissas
do Programa.

A primeira falha seria a inadequação das políticas públicas, voltadas ao


favorecimento da expansão agropecuária e ao desmatamento. Para corre-
ção, previa-se o apoio às atividades de uso sustentado da cobertura flores-
tal e a inibição das práticas de conversão das áreas florestadas para outros
fins. Instrumentos econômicos, como crédito, deveriam ser dirigidos para
o fortalecimento das iniciativas de uso sustentado das florestas nativas e
reflorestamento.

63
Desenvolvimento Sustentável

A segunda falha seriam as dificuldades de informação, ou seja, a escassez


de dados econômicos sobre custos e benefícios do manejo de florestas nati-
vas e plantadas, bem como a falta de divulgação das informações existentes,
gerando uma visão equivocada de que o manejo de florestas é economica-
mente menos atraente do que as atividades agropecuárias.

A correção desse aspecto está relacionada à disponibilização de dados


sobre estoques florestais, pela efetivação de inventários; de diretrizes e zo-
neamento ambiental; de procedimentos e técnicas de manejo florestal; de
dados econômicos, envolvendo custos e benefícios; e de oportunidades de
mercado.

A terceira falha, denominada falha de mercado, referia-se ao fato de que


os proprietários rurais não recebem compensação pelos serviços ambientais
da floresta, como a conservação dos solos e dos recursos hídricos, conser-
vação da biodiversidade, regulação do clima etc. A correção das falhas de
mercado ocorreriam pelo reconhecimento e a valorização dos serviços am-
bientais e sociais da floresta, pela instituição de mecanismos inovadores que
permitam sua remuneração.

Posicionamentos do Estado
brasileiro em face à questão ambiental
Na década de 1970, o posicionamento do Estado brasileiro diante da
questão ambiental era ao mesmo tempo nacionalista e desenvolvimentista.
Nacionalista porque, perante a política internacional e os seus respectivos
acordos de cooperação, tinha-se receio da atuação de interesses estrangei-
ros sobre as riquezas nacionais, e uma grande preocupação em manter a
soberania nacional sobre o uso dos recursos naturais. Ademais, conforme
Ferreira (1998, p. 84), os
líderes nacionais não reconhecem que a segurança da nação depende de estratégias
de desenvolvimento ecologicamente sustentáveis; ao contrário, o critério ambiental é
subordinado aos interesses da segurança nacional definidos militarmente.

E desenvolvimentista porque se baseava em um modelo de crescimento


econômico em que a alocação dos recursos naturais, considerados ilimita-
dos, era dada como parte essencial desse desenvolvimento.

No decorrer da década de 1980, persistiu no Estado brasileiro, segundo


Viola (1996, p. 48), o predomínio de um “nacionalismo-conservador”, espe-

64
Estado e ambiente no Brasil

cialmente em alguns setores fundamentais, como as Forças Armadas. So-


bretudo após o colapso do comunismo, em 1989, simbolizado pela queda
do Muro de Berlim, com a conseqüente política exterior norte-americana
favorável à menor intervenção dos militares na América Latina, as Forças Ar-
madas brasileiras perderam um dos seus principais elementos de justificati-
va histórica. Tenderam, por outro lado, a compor uma aliança com as elites
amazônicas, colocando-se contra as políticas de preservação ambiental e
desenvolvimento sustentável defendidas pelo governo Collor6, o que aponta 6
Conforme análise de Viola
(1996), embora a história
já para uma mudança do posicionamento do Estado brasileiro, denominado política de Fernando Collor
anterior a 1990 não registre
por Viola de “globalismo conservador”. Tal posição das Forças Armadas, se- nenhuma sensibilidade para
a questão ambiental, a sua
gundo o mesmo autor, ficou evidente em duas ocasiões: súbita defesa do ambientalis-
mo durante a campanha pre-
sidencial de 1989 relaciona-se
quando “vazou” um documento da Escola Superior de Guerra (ESG) no à sua necessidade de ganhar
a confiança da opinião públi-
ca do Hemisfério Norte (onde
qual movimentos indigenistas e ambientalistas eram definidos como o ambientalismo havia avan-
çado significativamente) para
agentes de forças internacionais que pretendiam minar a soberania o seu programa econômico
globalista conservador, ba-
brasileira sobre a Amazônia e seado no estímulo de novos
investimentos estrangeiros
no Brasil.
quando, um ano depois, o comandante militar da Amazônia fez críti-
cas públicas à atuação dos ambientalistas, posicionando-se em con-
vergência com um movimento cívico antiambientalista em gestação,
liderado pelo governador da Amazônia.

Segundo Ferreira (1998, p. 87), a Escola Superior de Guerra, em 1990,


[...] recomenda que se tratem as organizações não-governamentais ambientalistas como
objetivos nacionais estratégicos, a serem exterminados na celeuma que trava a respeito
da Amazônia. Nessa perspectiva, as entidades ambientalistas são tão perigosas quanto os
grupos de narcotraficantes e, como tal, devem ser convertidas em alvos de guerra.

Mesmo assim, concomitante a essas posições, começa a haver um proces-


so de reorientação das Forças Armadas quanto à questão ambiental, mais de
acordo com as posições políticas que vêm prevalecendo no sistema mun-
dial, as quais, segundo Viola, são o globalismo conservador, o nacionalismo
conservador sustentabilista e o globalismo conservador sustentabilista. Em
linhas gerais, os aspectos dessas tendências são os que seguem.

O globalismo conservador defende economias abertas ao mercado


mundial, um papel central para as corporações transnacionais, um de-
sarmamento parcial e um avanço gradual da ONU limitando parcial-
mente o poder dos Estados-nação. Os globalistas conservadores são
a força dominante no sistema mundial e representam comumente o
que se chama de neoliberalismo.

65
Desenvolvimento Sustentável

O nacionalismo conservador sustentabilista é favorável à proteção am-


biental em escala nacional, é receoso em relação à ONU e às corpora-
ções transnacionais e favorável às Forças Armadas poderosas.

O globalismo conservador sustentabilista defende uma economia aber-


ta ao mercado mundial, um papel central para as corporações trans-
nacionais, um desarmamento parcial e uma rápida construção de ins-
tituições de governabilidade global, especialmente na área ambiental,
com um caminho oligárquico tendo como eixo o princípio da capaci-
dade financeira dos países.

A década de 1990, em termos da atuação do Estado na esfera ambiental,


foi marcada pela realização da ECO-92. O fato de o Brasil ter sido o anfitrião
da maior conferência já realizada pelas Nações Unidas até aquele momento,
reunindo 178 países, com a presença de 114 chefes de Estado e centenas de
participantes e observadores de organizações governamentais e não-gover-
namentais de todo o mundo, colocou o Brasil numa posição de destaque na
política internacional e ao mesmo tempo corrigiu a imagem negativa dei-
xada pela posição do governo brasileiro na Conferência de Estocolmo, em
1972. Acima de tudo, o governo brasileiro confirmou uma posição política,
adotada no final de 1989, direcionada para uma postura responsável concer-
nente aos problemas ambientais globais, atuando como um dos países líde-
res na elaboração de duas convenções multilaterais (a Convenção-Quadro
sobre Mudanças Climáticas e a Convenção da Biodversidade), e participando
da elaboração da Agenda 21, um programa de ação para o século XXI basea-
do no desenvolvimento sustentável.

No entanto, o mesmo ano da reunião da Cúpula da Terra (1992), foi mar-


cado por uma séria crise de continuidade na política ambiental decorrente
da crise de governabilidade geral do país, em razão do impeachment de Fer-
7
Após uma série de denún- nando Collor7. A partir daí, gradativamente a questão ambiental foi sendo
cias de tráfico de influências
e irregularidades financeiras posta em segundo plano, diante de outros temas que se colocaram na arena
do governo, deflagrada pelo
próprio irmão do presidente, política: novo plano de estabilização econômica (Plano Real), reformas cons-
Pedro Collor, a Câmara dos
Deputados, em outubro de
1992, aprovou a abertura do
titucionais e outras demandas sociais, econômicas, políticas e tecnológicas
processo de impeachment e
o presidente foi afastado. Em
que, embora se inter-relacionem com a questão ambiental, nem sempre são
dezembro, Collor renunciou
antes de o Senado destituí-lo
devidamente relacionadas às políticas públicas ambientais.
das suas funções e suspen-
der seus direitos políticos por
oito anos. De modo geral, as críticas dos especialistas à atuação do Estado e do go-
verno brasileiros na área ambiental dizem respeito às características de for-
mação da sociedade brasileira, baseada no paternalismo e no autoritarismo.
O paternalismo implica a constituição de uma sociedade formalista, marcada
66
Estado e ambiente no Brasil

por leis, normas e regulamentos que são negadas pelas práticas clientelistas.
Isso se observa em relação às leis ambientais brasileiras: condizem com a
visão mais progressista sobre o ambiente, porém são solapadas na prática
pelos interesses do mercado, de elites locais e regionais e de segmentos do
governo que estabelecem pactos de atuação opostos à preservação am-
biental. O autoritarismo se manifesta na maneira concentrada e exclusivista
como é exercido o poder; há uma grande distância entre os indivíduos e o
Estado. O modo como a sociedade brasileira se faz representar pelo Estado
depende de privilégios e status social. Os grupos mais organizados, movidos
por interesses particulares, intervêm nos processos decisórios em detrimen-
to da maioria, menos articulada e organizada socialmente, enfrentando o
formalismo, a burocracia e a rigidez dos órgãos estatais para resolver seus
conflitos.

Sob o ponto de vista ambiental, os conflitos de interesse são inúmeros,


e o poder de negociação entre os atores sociais (ribeirinhos, seringueiros,
indígenas, ambientalistas, associações de moradores, operários etc.) e prota-
gonistas envolvidos (Estado, mercado e empresários) são prejudicados pelas
desigualdades de condições do controle social sobre os recursos naturais.
Nesse sentido, ainda há um longo caminho a ser percorrido, sendo necessá-
rio criar novas formas políticas de atuação e negociação dos diferentes atores
sociais envolvidos, para que os atuais padrões desejados de sustentabilidade
socioambiental possam ser alcançados.

Ampliando seus conhecimentos

Conflitos socioambientais
(INSTITUTO, 1997, p. 25-28)

Os conflitos entre interesses privados e interesses coletivos ou públicos re-


lacionados aos problemas ambientais são conflitos sociais porque envolvem
a natureza e a sociedade, mas acontecem a partir de um tipo determinado de
organização da sociedade. No exemplo dos agrotóxicos, o conflito se dá entre
os interesses do empresário em obter o maior ganho possível com a sua pro-
dução e os interesses das pessoas que trabalham na empresa – e cuja saúde
se encontra ameaçada pela manipulação dos agrotóxicos –, das que vivem

67
Desenvolvimento Sustentável

nas imediações e das que, vivendo nas cidades, compram o que foi produzido
para comer. No caso de Cubatão, estão em jogo os interesses da indústria de
transformação do petróleo contra os interesses da população pobre que mora
nas imediações e os dos próprios trabalhadores da refinaria.

O conflito surge mais claramente quando a comunidade de trabalhado-


res e/ou moradores percebe que a empresa, a fábrica etc. está ganhando, en-
quanto a qualidade de suas vidas está se deteriorando. Mas essa percepção
pode não ser direta (o caso do comprador de legumes e verduras nas cidades)
nem imediata (o caso dos moradores de Vila Socó).

Existem conflitos de interesses que não são evidentes, ou explícitos. Nesse


caso, as comunidades são agredidas por um processo de degradação ambien-
tal do qual elas não tomam consciência, ou do qual têm consciência, mas não
conseguem relacionar de maneira direta com as práticas de certos agentes
sociais. Isso porque algumas alterações do meio ambiente não aparecem ime-
diatamente, ou não são percebidas à primeira vista.

Na Grande São Paulo, 83 mil toneladas de lixo perigoso são depositados


irregularmente, por ano, nos solos ou nas águas. A população que consome
essas águas ou que vive próxima aos depósitos sofre as conseqüências sem
saber. Às vezes, ela só passa a saber quando aparecem os primeiros sintomas
de contaminação, sem que as verdadeiras causas sejam identificadas. Para
que as coisas não cheguem a esse ponto, é preciso que os órgãos públicos
de fiscalização sejam eficientes, ou que a própria população atingida exerça
vigilância direta e reclame.

Durante 45 anos, uma empresa do ramo químico, no Rio de Janeiro, usou


mercúrio em seu processo produtivo, depositando os resíduos no subsolo da
fábrica. Até que aparecessem várias vezes os mesmos sintomas de doença na
população que habitava os arredores da fábrica, ninguém percebeu que havia
riscos para a saúde naquele local.

A derrubada das matas nas bacias de rios, riachos e córregos e a implan-


tação de grandes projetos de irrigação estão esgotando as nascentes e dimi-
nuindo o nível de água dos rios do norte de Minas Gerais. A morte dos rios
está obrigando as populações ribeirinhas a alterar suas atividades econômi-
cas, quando não a mudarem-se.

Calcula-se que sejam despejados por dia, no Rio Paraíba do Sul, 47 mil to-
neladas de esgoto e de resíduos líquidos das indústrias. Cerca de 20 milhões

68
Estado e ambiente no Brasil

de pessoas consomem a água que vem desse rio. A maioria delas desconhece
as condições da água que bebe.

A derrubada de árvores de floresta provocou, nos últimos 25 anos, uma


queda no volume anual das chuvas no Pará, aumentando o intervalo entre as
chuvas. Os agricultores daquele estado,

que plantavam espécies de ciclo curto, foram obrigados a mudar suas ro-
tinas de cultivo, já que não dispõem de água de chuva em volume suficiente.
Mas esses agricultores não sabem por que isso está acontecendo.

Nesses exemplos todos, comunidades urbanas e rurais foram vítimas de


mudanças no meio ambiente que alteraram suas condições de vida e de tra-
balho. Mas, em geral, essas mudanças não são identificadas como problemas
ambientais. As pessoas por vezes não percebem as ligações entre a degrada-
ção ambiental e os efeitos que ela tem sobre suas atividades ou sua saúde.

Mas existem também conflitos explícitos e evidentes, quando a comunida-


de conhece o vínculo entre os danos causados ao meio ambiente e a ação de
certas empresas.

Os pescadores da baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro, atribuíram a mortan-


dade dos peixes aos despejos de minerais como sílica, ferro, zinco, cádmio e
sulfato de cálcio por uma indústria local e exigiram medidas que protegessem
seu direito de pescar.

Nesse caso, os responsáveis procuraram mostrar que a contaminação era


ocasional, que fora resultado de um acidente. Mas, como no caso de Vila Socó,
um acidente ambiental sempre é uma demonstração de que há um risco per-
manente. Em Igarassu, Pernambuco, a má vedação de um veículo de carga
intoxicou 108 pessoas. A empresa responsável alegou um acidente. Na verda-
de, ela já havia sido multada por lançar resíduos tóxicos nos rios e por enterrar
lixo químico de maneira inadequada.

Poderíamos, então, chamar os conflitos que têm elementos da natureza


como objeto e que expressam relações de tensão entre interesses coletivos
e interesses privados de conflitos socioambientais. Em geral, eles se dão pelo
uso ou apropriação de espaços e recursos coletivos por agentes econômicos
particulares, pondo em jogo interesses que disputam o controle dos recursos
naturais e o uso do meio ambiente comum, sejam esses conflitos implícitos
ou explícitos.

69
Desenvolvimento Sustentável

Atividades de aplicação
1. Realize uma pesquisa em sua cidade para saber quais são os projetos
ou programas de políticas ambientais adotadas pelo município. Em
grupo, discuta quais são os problemas e as soluções encontrados para
viabilizar tais projetos ou programas.

Dicas de estudo
BRASIL. Presidência da Rública. Comissão Interministerial para Preparação da Con-
ferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. O Desafio
do Desenvolvimento Sustentável. Brasília: Cima, 1991.

70
Sociedade e ambiente no Brasil

A força do ambientalismo
na sociedade contemporânea
Os movimentos ambientalistas que surgiram no último quartel do século
XX talvez sejam a maior expressão da revitalização cultural que invade os
quatro cantos do planeta, bem como a indicação de novos valores políticos,
sociais, éticos e estéticos que orientam a sociedade contemporânea e con-
vidam à criação de novas formas de interação entre sociedade, indivíduo e
natureza. No entanto, não é exclusividade do século XX a preocupação com
a preservação da natureza, o sentimento de responsabilidade em relação às
outras espécies e o anseio por uma vida mais saudável. Já no século XIX,
embora restritos às elites econômicas e culturais dos países dominantes,
surgiram movimentos preservacionistas constituídos tanto de elementos
de uma aristocracia que se via dilapidada pelo processo de industrialização,
como de grupos políticos socialistas e anarquistas que acreditavam na utopia
de uma vida comunal em harmonia com a natureza e, ainda – de grande im-
portância para a disseminação dos ideais preservacionistas –, os escritores
românticos que enalteciam o valor estético da “natureza selvagem”, lugar
da descoberta da alma humana, paraíso perdido, refúgio da intimidade, da
beleza e do sublime (CASTELLS, 1999, p. 148-153; DIEGUES, 1996, p. 23-25).

Foi sobretudo nos EUA do século XIX que surgiram correntes teóricas de-
fendendo duas posições distintas de proteção do mundo natural, as quais
influenciaram outros países e futuras gerações acerca do tema.

Uma é a corrente conservacionista, que pode ser sintetizada na pro-


posta de Gifford Pinchot, engenheiro florestal que criou o movimento
de conservação dos recursos, baseado no seu uso racional. Funda-
mentalmente, Pinchot criticava o desenvolvimento a qualquer custo
e defendia o que hoje é conhecido como desenvolvimento sustentável:
o uso racional pela geração presente, a prevenção do desperdício e
o uso adequado dos recursos naturais para benefício da maioria dos
cidadãos.

A corrente oposta, preservacionista, sintetizada na proposta de John


Muir, que criou a organização Sierra Club, em 1891, baseava-se na re-
Desenvolvimento Sustentável

verência à natureza tanto no sentido espiritual como estético. A prote-


ção da natureza se colocava contra a modernidade, a industrialização
e a urbanização.

Na história ambiental norte-americana, a diferença entre essas duas cor-


rentes é geralmente sintetizada como a diferença entre a conservação dos
recursos e a preservação pura da natureza (DIEGUES, 1996, p. 30).

A partir daí, foram criadas diversas organizações que, independentemen-


te de suas abordagens e propostas de solução para os impasses ambientais,
formaram alianças ao longo do século XX em defesa da preservação da natu-
reza em face dos rumos incertos e descontrolados da economia, da política
e das instituições contemporâneas.

Entretanto, foi somente no final dos anos 1960 que os movimentos am-
bientalistas ampliaram as suas fronteiras – antes restritas a alguns membros
das elites econômicas, das universidades e de alguns entusiastas anônimos
– para se tornarem interesse também das classes médias e populares, princi-
palmente nos Estados Unidos, e na Europa Ocidental. Nesse período, há uma
grande efervescência de idéias e acontecimentos que alimentaram diversos
tipos de movimentos sociais como o pacifismo, o feminismo e o próprio
ecologismo. A força que o ambientalismo adquiriu nas décadas seguintes,
em detrimento dos movimentos sindicais e de trabalhadores, movimentos
1
Segundo Castells (1999, de contracultura1 (como o dos hippies), relacionados à questão de gênero, à
p. 147), contracultura é toda
tentativa deliberada de viver defesa de minorias étnicas ou movimentos pela paz, não significa, como su-
segundo normas diversas e,
até certo ponto, contraditó- gerem alguns analistas, o esvaziamento ou a derrota desses movimentos po-
rias em relação às normas
institucionalmente reconhe-
cidas pela sociedade, e de se
líticos e sociais. Esse argumento revela-se apenas parcialmente verdadeiro,
opor a essas instituições com
bases em princípios e cren-
pois o que se percebe com mais freqüência não é um desmantelamento de
ças alternativas.
outros movimentos sociais, mas um entrelaçamento dos interesses desses
movimentos (ecofeminismo, indígenas, povos da floresta etc.) e a percepção
mais abrangente dos valores éticos que norteiam a relação entre sociedade
e natureza, tornando seu enfoque mais complexo e mais amplo do que os
movimentos desencadeados pela sociedade moderna. Portanto, faz-se ne-
cessário considerar que não há um movimento ambientalista, mas diversos
e multifacetados movimentos ambientalistas, que se manifestam de diferen-
tes formas e apresentam especificidades decorrentes do contexto social e
cultural em que surgem.

Alguns autores fazem inclusive uma distinção entre os movimentos eco-


logistas e ambientalistas que surgiram a partir da década de 1960, na tenta-

74
Sociedade e ambiente no Brasil

tiva de agrupar e distinguir algumas dessas especificidades. Manuel Castells


(1999, p. 143-144), por exemplo, compreende que o ambientalismo inclui
todas as formas de comportamento coletivo que, tanto em seus discursos como em
sua prática, visam corrigir formas destrutivas de relacionamento entre o homem e seu
ambiente natural, contrariando a lógica estrutural e institucional dominante.

Quanto à ecologia, sob a perspectiva sociológica, o mesmo autor entende


que é “o conjunto de crenças, teorias e projetos que contempla o gênero
humano como parte de um ecossistema mais amplo, e visa manter o equilí-
brio desse sistema em uma perspectiva dinâmica e evolucionária”.

Já Enrique Leff (2001, p. 114) faz uma distinção em termos geográficos


desses movimentos, comparando os “ecologistas do Norte” aos “ambientalis-
tas do Sul”. O ecologismo dos países industrializados surgiu
[...] como uma ética e uma estética da natureza, como uma busca de novos valores
que surgiriam das condições da “pós-materialidade” que produziria uma sociedade da
abundância, livre das necessidades básicas e da sobrevivência. São “movimentos de
consciência” que desejariam salvar o planeta do desastre ecológico, recuperar o contato
com a natureza, mas que não questionam a ordem econômica dominante.

Por sua vez, os movimentos ambientalistas dos países do Sul surgem em


virtude da destruição da natureza, em decorrência da usurpação das suas
formas de vida e de seus meios de produção. E, ainda,
[...] são movimentos desencadeados por conflitos sobre o acesso e o controle dos
recursos; são movimentos pela reapropriação social da natureza vinculados a processos
de democratização, à defesa dos seus territórios, de suas identidades étnicas, de sua
autonomia política e sua capacidade de autogerir suas formas de vida e seus estilos de
desenvolvimento. São movimentos que definem condições materiais de produção e os
valores culturais das comunidades locais.

Todos esses movimentos originaram-se e deram origem a teorias e prá-


ticas que têm se consolidado no que se pode chamar de escolas atuais do
pensamento ecológico. Segundo Diegues (1996, p. 39-51), o novo ecologis-
mo baseia-se na crítica da sociedade tecnoindustrial, cerceadora das liber-
dades individuais, homogeneizadora das culturas e, sobretudo, destruidora
da natureza. Nos Estados Unidos, ele foi inspirado por escritores como Henry
Thoreau e Gary Snyder, como também por Barry Commoner, Paul Ehrlich e
Rachel Carson. Na França, por Ivan Illich, Serge Moscovici e René Dumont.
Alguns temas, como a luta contra as centrais nucleares, uniu as diferentes
concepções de ecologismo. Porém, outros, como a proteção do mundo sel-
vagem e o crescimento populacional, provocam divergências inconciliáveis.

75
Desenvolvimento Sustentável

Há, atualmente, dois enfoques principais sobre a relação entre homem e


natureza. O primeiro, biocêntrico ou ecocêntrico, considera a natureza como
um valor em si mesma, independente do interesse humano; o ser humano é
considerado como qualquer outro ser vivo. Os ecologistas biocêntricos ad-
vogam também uma diminuição do crescimento populacional e a redução
da população em termos absolutos. Já o enfoque antropocêntrico não consi-
dera a natureza como um valor em si, mas como “recursos naturais” a serem
explorados pelos homens. Baseia-se em uma visão dicotômica de homem e
natureza, na qual o primeiro tem domínio, por meio da ciência e da técnica,
sobre a última.

Com base nesses enfoques, ainda segundo Diegues (1996), pode-se con-
siderar três principais correntes do ecologismo, surgidas a partir dos anos
1960, em contraposição à “proteção da natureza” nos moldes das instituições
e pensamento do século XIX (sociedades de proteção da natureza, da vida
selvagem, dos animais etc.). Sucintamente, essas correntes podem ser carac-
terizadas conforme abaixo.

Ecologia profunda
A expressão foi cunhada pelo filósofo Arne Naess, em 1972, com o sentido
de ampliar a noção de ecologia somente como ciência, e destacar um nível
mais profundo da consciência ecológica. É um enfoque preponderantemen-
te biocêntrico, mas influenciado por religiões orientais e ocidentais, aproxi-
mando-se freqüentemente de uma quase adoração da natureza. Adere aos
princípios dos direitos intrínsecos da natureza, dando grande importância
aos princípios éticos que devem reger as relações entre homem e natureza.
Alguns princípios da ecologia profunda são criticados pelos ecologistas so-
ciais, por serem consideradas posições neomalthusianas (defesa do decrés-
cimo da população, por exemplo), assim como o perigo do ecofascismo em-
butido na idéia de um certo biologicismo das relações sociais, que deveriam
se inspirar na natureza como modelos para a sociedade humana.

Ecologia social
O principal mentor desta corrente é Murray Bookchin, professor norte-
americano de ecologia social e conhecido ativista ambiental, que criou a ex-
pressão em 1964. Para esta corrente, a degradação ambiental é vista como

76
Sociedade e ambiente no Brasil

diretamente ligada ao capitalismo. Como os marxistas, os defensores da


ecologia social vêem na acumulação capitalista a força motriz da devasta-
ção do planeta, mas se afastam dos marxistas clássicos ao criticarem a noção
de Estado e ao proporem uma sociedade democrática, descentralizada e
baseada na propriedade comunal da produção; são considerados, por isso,
anarquistas e utópicos. Consideram os seres humanos primeiramente como
seres sociais e não uma espécie diferenciada, como o fazem os ecologistas
profundos. Sob um enfoque ecocêntrico, considera o equilíbrio e a integri-
dade da biosfera como um fim em si mesmo, e que o homem deve mostrar
respeito à natureza.

Ecossocialismo/ecomarxismo
Decorre da crítica interna dos marxistas ao marxismo clássico, a partir da
década de 1960, referente à concepção do mundo natural. Para os ecomar-
xistas, a visão de Marx sobre a natureza é estática, pois a considera apenas
em virtude da ação transformadora do homem, por meio do processo do
trabalho. Segundo Hobsbawm (1995), um dos que defendem tal ponto de
vista, Marx se preocupou fundamentalmente com a explicação do sistema
capitalista, no qual a natureza já era mercadoria, objeto de consumo ou meio
de produção, e marginalmente com as sociedades primitivas, nas quais o
mundo natural foi pouco modificado por causa do baixo desenvolvimento
das forças produtivas. Outros autores definem forças produtivas da natureza
(fotossíntese, cadeias tróficas, depuração de ecossistemas) para entender as
sociedades capitalistas.

Um conclamado autor dessa corrente é o neomarxista Moscovici, que em


1969 escreveu La Societé contre Nature, influenciando grande parte do movi-
mento estudantil. Moscovici, na década de 1970, reaproveitou os trabalhos
de juventude de Marx para entender a relação entre homem e natureza. Ele
critica a oposição entre culturalismo e naturalismo; situa o primeiro como
uma visão ortodoxa na história das idéias ocidentais, e o segundo como
heterodoxa e minoritária no conjunto dessas idéias. Afirma, porém, que o
naturalismo está em plena mutação, deixando de ser uma negação do cultu-
ralismo, passando de uma proteção ingênua do mundo para a afirmação de
uma nova relação entre homem e natureza. Esse novo naturalismo, segundo
Moscovici, baseia-se em três idéias principais:

o homem produz o meio que o cerca, e é ao mesmo tempo seu produto;

77
Desenvolvimento Sustentável

a natureza é histórica (o problema que se coloca hoje é encontrar o


estado da natureza conforme nossa situação histórica);

a coletividade e não o indivíduo se relaciona com a natureza.

Assim, o que Moscovici propõe é uma nova utopia, segundo Diegues, na


qual é necessário não um retorno à natureza, mas uma nova relação entre
homem e natureza, baseada numa nova aliança, na qual a separação seja
substituída pela unidade.

A criação de organizações
não-governamentais ambientalistas
O crescente impacto que as atividades humanas geram na natureza, e
a percepção da degradação ambiental em escala local e mundial, deram
origem não só a movimentos de conscientização ecológica, com diferen-
tes paradigmas de racionalidade ambiental, mas também a ações diversas
com o objetivo de influir na legislação, nas atitudes tomadas pelo Estado,
pelos governos e pelo mercado. Tais ações surgiram de grupos ambientalis-
tas organizados, na sociedade civil, que passaram a usar a expressão organi-
zações não-governamentais (ONGs) nos anos 1960 e 1970. Em âmbito mun-
dial, a expressão foi usada pela primeira vez pela Organização das Nações
Unidas (ONU) após a Segunda Guerra Mundial, para designar organizações
supranacionais e internacionais que não foram estabelecidas por acordos
governamentais.

A primeira ONG ambientalista internacional, a World Wildlife Fund (WWF),


foi criada em 1961, para dar apoio a uma outra instituição ambiental científi-
ca, chamada International Union for Conservation of Nature and Natural Re-
sources (IUCN), que se encontrava em dificuldades financeiras. No entanto, a
WWF acabou por enveredar por caminhos mais autônomos, menos subordi-
nados à IUCN. Em poucos anos, já havia formado bases na Inglaterra, Áustria,
EUA, Suíça, Holanda e Alemanha; em dez anos, possuía base em 20 países
(LEIS, 1999, p. 102). A WWF é uma organização de caráter eminentemente
conservacionista, com projetos voltados para espécies individuais, áreas vir-
gens, educação ambiental etc.

Outra organização mundial importante é o Greenpeace. Fundado em


Vancouver, no Canadá, em 1971, e tendo sua sede transferida posterior-
mente para Amsterdã, na Holanda, é provavelmente a organização mundial
78
Sociedade e ambiente no Brasil

mais conhecida pelas ações espetaculares e não-violentas, orientadas pro-


positadamente para causar impacto na mídia mundial sobre os problemas
ambientais globais, bem como pressionar governos e empresas a tomarem
iniciativas cabíveis diante das denúncias ou enfrentar a publicidade negativa
em decorrência de suas ações prejudiciais ao ambiente (CASTELLS, 1999, p.
150). O Greenpeace, segundo Castells, diferencia-se da maior parte dos mo-
vimentos ambientalistas por três razões:

Noção de urgência em relação ao iminente desaparecimento da vida


no planeta, inspirada na lenda de índios norte-americanos que diziam
que
[...] quando a terra cair doente e os animais tiverem desaparecido, surgirá uma tribo
de pessoas de todos os credos, raças e culturas que acreditará em ações e não em
palavras e devolverá à Terra sua beleza perdida. A tribo se chamará Guerreiros do
Arco-Íris (EYRMAN; JANISON apud CASTELLS, 1999, p. 150).

Coloca-se como testemunha dos fatos, tanto como princípio para a


ação como estratégia de comunicação.

Adota uma atitude pragmática, do tipo empresarial. Agir é fundamen-


tal: não há tempo para discussões filosóficas.

Os “guerreiros do arco-íris”, inimigos do modelo de desenvolvimento que


ignora os seus efeitos sobre a vida no planeta, desenvolvem suas ações em
torno do princípio da sustentabilidade ambiental e possuem uma rede de
escritórios na América do Norte, na América Latina, na Europa e na região
do Pacífico.

Levantamentos realizados no início dos anos 1980 indicavam que as


ONGs haviam se espalhado pelo mundo inteiro, sendo que cerca de 80%
dessas ONGs eram atuantes nos países do Norte, e 20% nos países do Sul.
Tais estimativas evidentemente não incluem os inúmeros movimentos am-
bientalistas que atuam de maneira informal, sem registro jurídico, nos países
do Sul. De qualquer modo, além da diferença dos números das organizações,
as estratégias e ideologias dessas ONGs também diferem entre si. Conforme
Leis (1999, p. 109), nos países do Norte, predominava uma certa visão etno-
cêntrica, o que levava algumas organizações ambientalistas a considerarem
mais graves os problemas ambientais do Sul – crescimento da população
ou desaparecimento das florestas tropicais – do que os modelos de consu-
mo ou de uso intensivo de combustíveis fósseis exportados mundialmente
pelos países do Norte. Nos países do Sul, ao contrário, a percepção da crise

79
Desenvolvimento Sustentável

ecológica era relativizada diante dos problemas da pobreza e da falta de


infra-estrutura e serviços básicos. No Norte, há também uma tendência a
enfocar os problemas globais, enquanto o Sul volta-se para os problemas
domésticos.

Na década de 1980, quando o processo de globalização e do ambienta-


lismo ainda não era tão visível ou definitivo, podia-se pensar em alternativas
para esses impasses entre Norte e Sul. Hoje, no entanto,
[...] a partir da progressiva constituição de numerosas redes ambientalistas globais e
da articulação mundial de diversos setores da sociedade em defesa do meio ambiente,
não resta dúvida de que o ambientalismo é cada vez mais uma realidade global na qual
seus diversos aspectos e setores se interpenetram profundamente, alterando assim suas
identidades e visões orginais. (LEIS, 1999, p. 109)

No Brasil, entre as primeiras organizações de caráter conservacionista,


constam a Associação de Defesa do Meio Ambiente de São Paulo (Ademasp),
criada em 1954 por três jovens estudantes, e a Fundação Brasileira para a
Conservação da Natureza (FBCN), criada em 1958, no Rio de Janeiro, por um
grupo variado de pessoas, entre os quais botânicos, zoólogos, jornalistas e
“amantes da natureza”, em 1986, foi criada a SOS Mata Atlântica.

A maioria das ONGs brasileiras surgiu nas décadas de 1970 e 1980, em


geral vinculadas a outras organizações de apoio a movimentos sociais e or-
ganizações populares e de base comunitária, com o objetivo de promover
a cidadania e lutar pela democracia política e social. Os números acerca da
quantidade de ONGs ambientalistas e ativistas são vagos e imprecisos. Dean
(1997, p. 345) registra que em 1984 havia notícia de 55 organizações não-go-
vernamentias preocupadas com meio ambiente. Em 1992, durante a ECO-92,
contabilizavam-se cerca de duas mil organizações não-governamentais, das
quais a SOS Mata Atlântica era a maior, com cerca de cinco mil membros. A
média, no entanto, seria muito menor, em torno de cem membros.

As primeiras ONGs ambientalistas brasileiras, portanto, são de caráter


predominantemente preservacionista; posteriormente, emergiram outras
associadas a movimentos sociais diversos, buscando desenvolver ações am-
bientais, atuação política no campo da construção e consolidação de direi-
tos sociais e do fortalecimento da sociedade civil. Ao longo da década de
1990, surgiram novas organizações privadas sem fins lucrativos, com perfis e
perspectivas de atuação e transformação social muito diversas. A sigla ONG
passou a encampar um grande conjunto de organizações, que muitas vezes
não guardam semelhanças entre si.

80
Sociedade e ambiente no Brasil

Ainda que as ONGs tenham perdido suas características originais, de


uma espécie de contraponto às políticas públicas governamentais ou de
coadjuvante na elaboração e monitoramento de projetos e programas de
empresas e governos, não resta dúvida de que elas trouxeram uma contri-
buição original para a política mundial contemporânea, ampliando e dando
um novo significado ao papel dos indivíduos e dos grupos sociais na esfera
pública. Mas, conforme Leis (1999, p. 110-111), o papel das ONGs no plano
local, embora importante, não chega a ser tão significativo quanto no plano
mundial, porque:
O Estado ainda possui (e seguirá possuindo) legitimidade e uma capacidade relativa
(maior ou menor, dependendo dos casos) para enfrentar os problemas locais. Porém,
frente aos problemas globais socioambientais e a globalização econômica, o sistema
político internacional baseado em Estados soberanos não possui (nem possuirá) nenhuma
capacidade efetiva para abordá-los no futuro fora do plano retórico. Por essa razão, a
governabilidade dos problemas globais depende hoje mais da sociedade civil mundial
do que dos Estados.

Movimentos sociais e ambientalismo no Brasil


No Brasil, as entidades de conservação mais antigas como a FBCN, e outras
mais recentes, como Fundação Biodiversitas, a Pronatura etc., são mais liga-
das a entidades internacionais de preservação e sofreram bastante influência
da corrente preservacionista norte-americana. Em geral, seus membros são
profissionais provenientes da área das ciências naturais, para os quais qual-
quer interferência humana no curso da natureza é negativa, permanecendo
o mito da natureza intocada e intocável, que deve ser preservada a qualquer
custo. Assim, as unidades de conservação, para esses preservacionistas, não
podem proteger a diversidade biológica e a diversidade cultural ao mesmo
tempo. Tal posição tem gerado polêmicas e questionamentos em um país
como o Brasil, em que populações indígenas, ribeirinhos, seringueiros e pes-
cadores dependem dos recursos naturais para sobreviver e, simultaneamen-
te, mantêm fortes vínculos culturais com o mundo natural.

Por outro lado, no início da década de 1970, sob a ditadura militar que
reprimia os movimentos sociais e todas as formas de protesto, surgiu uma
brecha para um ecologismo de denúncia no Brasil, desvinculado dos par-
tidos e movimentos políticos de esquerda, então severamente combatidos
pelo governo. Tais entidades e movimentos criticavam o modelo econômico
brasileiro, baseado na implantação de projetos governamentais e de empre-
sas privadas que causavam grandes impactos na natureza, como a instalação

81
Desenvolvimento Sustentável

de centros químicos e petroquímicos, implantados ou ampliados nas zonas


litorâneas do país (Cubatão, Rio de Janeiro e Aratu, na Bahia). Outro alvo dos
ambientalistas era o avanço da agroindústria, que aumentou tanto o uso de
biocidas e pesticidas como a concentração de terra e renda nas zonas rurais,
com a conseqüente expulsão de milhares de trabalhadores do campo para
as cidades, gerando o aumento das favelas e a miséria nos grandes centros
urbanos.

Em 1976, José Lutzemberger (que mais tarde seria ministro do Meio Am-
biente no governo Collor) lançou o Manifesto Ecológico Brasileiro: o fim do
futuro (1976), representando dez organizações ecologistas. Semelhante ao
discurso das entidades preservacionistas norte-americanas e européias, e
influenciado pelo relatório do Clube de Roma, esse manifesto atacava a tec-
2
Tecnocracia: sistema de nocracia2 brasileira, responsável pelos grandes projetos, – sobretudo os que
organização política e social
fundado na supremacia de começavam a ser implantados na Amazônia –, o militarismo, a sociedade
profissionais que buscam
apenas soluções técnicas ou
racionais para os problemas,
do desperdício e o consumismo. Destacava, em contraposição ao modelo
sem levar em conta aspec-
tos humanos ou sociais.
de colonização predatória, a relação entre homem e natureza estabelecida
pelas sociedades tradicionais, como as dos índios e dos camponeses. Defen-
dia, ainda, a criação de áreas naturais protegidas, e criticava o abandono em
que estavam os poucos parques nacionais brasileiros. O manifesto propunha
como solução para os males da ideologia do progresso, seja de esquerda ou
de direita, uma sociedade que se assemelhasse ao funcionamento da natu-
reza, homeostática, equilibrada e de acordo com as leis naturais.

Em meados da década de 1980, com o fim da ditadura militar e com o pro-


cesso de redemocratização do país, despontou o ecologismo social (também
denominado no Brasil de ambientalismo camponês) com uma crítica ao
modelo de desenvolvimento altamente concentrador de renda e destruidor
da natureza, que teve o seu apogeu durante os anos 1970 e ficou conhecido
como “milagre econômico”. A destruição da Floresta Amazônica para a cons-
trução de barragens, a destruição dos seringais etc. propiciou a emergência
de um ecologismo entre aqueles que lutam para manter o acesso aos recur-
sos naturais dos seus territórios e valorizam o extrativismo e o sistema de
produção baseado em tecnologias alternativas. O ecologismo social é assim
representado pelo Conselho Nacional de Seringueiros, Movimento dos Atin-
gidos pelas Barragens, Movimento dos Pescadores Artesanais, movimentos
indígenas etc. Para esses movimentos de cunho social e ambientalista, é pre-
ciso repensar a função dos parques nacionais e reservas ecológicas, incluin-
do os seus moradores tradicionais (DIEGUES, 1996, p. 130).

82
Sociedade e ambiente no Brasil

Como se pode observar, o ambientalismo que emerge no Brasil é de cunho


conservacionista, voltado para proteção da natureza, não da sociedade. Em
parte, isso se deve aos vínculos e à influência, nos ambientalistas locais, dos
movimentos ambientalistas norte-americanos, mas deve-se também à pró-
pria compartimentação da ciência. Como a maioria dessas organizações é
criadas por estudantes ou cientistas, cabe (ou cabia) aos biólogos a defesa
das plantas e dos animais; aos antropólogos, a defesa dos índios; aos en-
genheiros, das bacias hidrográficas; aos urbanistas, a defesa dos ambientes
criados e assim por diante.

A complexidade da questão ambiental no Brasil começou a ser interna-


lizada pelos diversos atores sociais somente no final da década de 1990. E
o diálogo é quase sempre tenso, não só pelas diferentes abordagens ideo-
lógicas existentes sobre o tema, mas sobretudo porque do ponto de vista
econômico e político, – e apesar de todos os discursos oficiais e oficiosos
sobre sustentabilidade ambiental –, o meio ambiente ainda é visto como
uma pedra no caminho do desenvolvimento. Somente com a pressão dos di-
versos segmentos sociais, nacionais e internacionais, as empresas públicas e
privadas passaram a formalizar, no discurso e na lei, a necessidade de pensar
o desenvolvimento sustentado. Com isso, o âmbito do planejamento e do
gerenciamento do Estado e das empresas, incluindo aí a necessidade de re-
cursos materiais e humanos, há um longo e difícil caminho a ser percorrido.

Ampliando seus conhecimentos

3
Fundador e editor do Jornal

O joio e o trigo entre as ONGs do Meio Ambiente e do site


www.jornaldomeioambien-
te.com.br, considerados im-
portantes referências na de-
Vilmar Berna3 mocratização da informação
ambiental no Brasil. É autor
A sociedade civil, ao se organizar em defesa de seus direitos, cria as chama- de mais de 13 livros publi-
cados. Como ambien-talista,
das ONGs, organizações não-governamentais, que reúnem cidadãos quase fundou diversas associações
ambientalistas sem fins lu-
crativos, como os Defensores
sempre voluntários em torno de um conjunto de objetivos e princípios con- da Terra, a Univerde e o Insti-
tuto Brasileiro de Volun­tários
solidados em estatutos, assembléias, reuniões, diretorias. Entretanto, o com- Ambientais (IBVA), do qual é
o atual presidente. Em 1999,
promisso e a luta pelo bem comum não tornam os indivíduos necessariamen- no Japão, recebeu pela Orga-
nização das Nações Unidas
te melhores. As ONGs são conduzidas por seres humanos e seres humanos o Prêmio Global 500 para o
Meio Ambiente, concedido
erram. Um desses erros é a existência de “ONGs de cartório”, ou seja, institui- antes a personalidades como
Chico Mendes e Betinho. Em
ções que existem apenas em caixa postal, cujos diretores assinam atas de reu- setembro de 2003, Vilmar
recebeu também o Prêmio
Verde das Américas.

83
Desenvolvimento Sustentável

niões que não existiram etc. Essas falsas ONGs disputam poder de voto em
igualdade de condições com outras ONGs realmente constituídas, gerando
distorções no processo democrático e dificuldades na construção e fortale-
cimento desse segmento na sociedade, além de servirem de verdadeiros “la-
ranjas” para desvio de dinheiro público. Existem ainda empresas privadas que
criam ONGs de cartório para beneficiarem-se de isenções fiscais e agregarem
valor às suas marcas institucionais, desvirtuando e confundindo a noção de
ONGs como organizações que representam os interesses da sociedade civil.

Existem ainda as ONGs “de combate”, cujo objetivo principal é reivindicar


melhor qualidade de vida e ambiental, e “ONGs profissionais”, que se propõem
a irem além da simples reivindicação e buscam se capacitar para a elaboração
e a execução de projetos em parceria com governos e empresas ou usando re-
cursos públicos ou privados destinados a projetos. Nem sempre a compreen-
são entre o trabalho de uma e de outra é bem entendido e não é raro verem-se
como adversárias. As ONGs que optaram pela profissionalização argumentam
que, se elas têm a vontade de defender o meio ambiente, comprometimento
cidadão com a causa ambiental, a compreensão sobre o que é preciso para
o meio ambiente, e detêm ainda a capacitação técnica e a experiência em
execução de projetos, então por que têm de se limitar apenas a cobrar res-
ponsabilidade de governos e empresas. Por que as próprias ONGs não podem
também capacitar-se para executar projetos e serviços ambientais? Por que as
ONGs têm de se limitar apenas a dizer o que está errado? Por que não podem
também se oferecer para dar solução concreta aos problemas que as próprias
ONGs apontam?

O problema é quando, para forçar os governos ou empresas a contratarem


seus serviços, as ONGs profissionais se comportam num primeiro momento
como “de combate”, pressionando e criando dificuldades, e aliando-se a outras
organizações de combate na sociedade, para num segundo momento aban-
donarem essas alianças e negociarem suas posições em troca de um contrato
para prestação de serviços ou projetos, oferecendo aos empreendedores a
falsa ilusão de que estarão limpando sua imagem ambiental ou pacificando
suas relações com as ONGs.

Saber a diferença, separar o joio do trigo, ainda será um longo caminho.

84
Sociedade e ambiente no Brasil

Atividades
1. Com base no texto principal e no texto complementar, relacione os
aspectos negativos e positivos da constituição de ONGs para a preser-
vação ambiental.

Dicas de estudo
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89
Anotações

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