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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁ VEL: UM DESAFIO INTERGERACIONAL

Jaci Lara Silveira de Oliveira1

Resumo
No presente artigo serã o apresentadas as discussões acerca do desenvolvimento sustentável
relacionando os principais eventos mundiais que enfocaram esse debate nos ú ltimos anos. També m serã o
apresentados os principais temas que englobam a questã o da sustentabilidade como o desenvolvimento local, a
pobreza, a biodiversidade, os recursos hídricos, entre outros. Alé m de comentar alguns documentos produzidos
como resultado desses encontros.

Palavras chaves: desenvolvimento sustentável, desenvolvimento local, meio ambiente, relaç ões sociais.
Key- words: sustainable development, local development, environment, social relations.
Abstract:
This article presents discussions about the sustainable development related the main worlds events
focused on this debate on the last years. It will be also presented the main themes that involves the question of
the sustainability as local development, biodiversity, poverty, water resources, etc, besides, it comments some
documents produced as a result of these meetings.

INTRODUÇ Ã O
O desenvolvimento sustentável atualmente transformou-se em premissa no planejamento político-
empresarial, principalmente por sugerir um novo rumo às relaç ões humanas e ambientais, alé m de propor um
novo modelo de integraç ã o e auto sustentabilidade baseado na participaç ã o das comunidades locais, visando o
desenvolvimento local que se associe ao desenvolvimento sustentável.

É importante contextualizar o conceito desde sua formaç ã o à sua aplicaç ã o atual atravé s de propostas
e documentos de aç ã o mundial, nos quais estã o colocadas variáveis importantes da questã o ambiental hoje
priorizados devido ao apelo social, por mudanç as substanciais, ao ponto que situa o Brasil e o estado da Bahia
dentro desse movimento gerado pela assimilaç ã o do conceito nas suas propostas demonstrando algumas
tentativas para atingi-lo.

ENTENDENDO O CONCEITO

O conceito de desenvolvimento sustentável foi apresentado em 1987 como resultado da Assemblé ia


Geral das Naç ões Unidas no relatório “Our common future” Nosso futuro Comum, conhecido como Relatório
Brundtland devido ao fato do encontro ter sido presidido por Gro Harlem Brundtland, primeira ministra da
Noruega. Nesse mesmo encontro foi criado a UNCED –Comissã o Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. O relatório Brundtland traduziu algumas preocupaç ões com o meio ambiente que já se

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Mestranda do curso de Análise Regional da UNIFACS, professora de Turismo e Educaç ã o Ambiental SENAC-
BAHIA..
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instalava na sociedade e definiu novos paradigmas que passaram a nortear as relaç ões humanas a partir daquele
momento. Nele foi expresso pela primeira vez o conceito de “desenvolvimento sustentá vel” utilizado até os dias
atuais e definido como àquele que “atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das
geraç ões futuras atenderem as suas” , atravé s da sustentabilidade do desenvolvimento que compreende uma
mudanç a nas relaç ões econômicas, político-sociais, culturais e ecológicas. Desse modo a natureza passa a ser
vista como parte integrante de um sistema que originalmente deveria ser cíclico, excluindo o comportamento
predador do modelo desenvolvimentista predominante.

As discussões geradas no âmbito social entre no final da dé cada de 60 e início dos anos 70 apontaram
a insustentabilidade desse modelo e denunciaram a nevrálgica situaç ã o ambiental que a partir desse momento
passou a ser questionada e discutida. Para atender a esse movimento social, e conscientizador ambiental,
paulatinamente foram pressionando a incorporaç ã o da questã o ambiental a programas de governo nacionais, ao
sistema político-partidário e à agenda dos organismos internacionais.

Para atender aos clamores sociais motivados por acidentes ambientais, aumento da poluiç ã o do solo,
água, ar e mudanç as no contexto sócio político mundial foram realizadas uma sé rie de aç ões voltadas para a
criaç ã o de alternativas para a melhoria da a situaç ã o ambiental, que já naquele momento demonstrava sua
gravidade. Essas preocupaç ões permearam as relaç ões da é poca gerando dificuldades na aceitaç ã o do modelo
econômico e no entendimento da vulnerabilidade ambiental. A principal aç ã o foi a realizaç ã o da Conferência da
Biosfera em Paris, em 1968, que deu origem ao encontro de Estolcomo.
As Naç ões unidas promoveu a 1ªConferência Internacional para o Meio Ambiente Humano em 1972
na cidade Estolcomo na Sué cia. Esse encontro foi importante, sobretudo para marcar a variável ambiental como
parte integrante das relaç ões políticas, econômicas e sociais. A partir daí haveráuma seqüência de eventos e
iniciativas nacionais e internacionais para tratar do tema meio ambiente. Na mesma conferência foi criado o
PNUMA - Programa das Naç ões Unidas para o Meio Ambiente, e diversos outros programas com preocupaç ã o
ecológica.
Ainda em 1972 o Clube de Roma, associaç ã o internacional formada por intelectuais, cientistas e
empresários, fundada em 1968 pelo italiano Auré lio Peccei, divulgou o Relatório os Limites do Crescimento,
també m conhecido como Relatório Meadows encomendado a té cnicos e cientistas do Massachutts Institute of
Technology- EUA. Esse documento avaliou as condiç ões da degradaç ã o ambiental planetária e estabeleceu as
previsões para o futuro. Os resultados publicados foram pessimistas e apontaram para duas possibilidades: ou a
mudanç a dos padrões de crescimento econômico ou o colapso ecológico nos próximos 100 anos. Tido como
catastrófico, o Relatório Meadows levantou ampla discussã o e uma divisã o nas opiniões a respeito de suas
afirmaç ões.
Em 1973, surge o conceito de ecodesenvolvimento, que coloca a variável das relaç ões sociais atravé s
da satisfaç ã o das necessidades básicas e propõe a elaboraç ã o de um sistema social que garanta emprego,
seguranç a social, respeito à diversidade cultural e ressalta a importância a programas de educaç ã o. As discussões
promovidas dentro desse conceito originaria a elaboraç ã o do conceito de desenvolvimento sustentável
apresentado no Relatório Brundtland. Para a construç ã o desse conceito foram considerados os cinco elementos
indicados na Conferência de Ottawa em 1986: integraç ã o da conservaç ã o e do desenvolvimento, a satisfaç ã o das
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necessidades humanas básicas, alcance da equidade e da justiç a social, provisã o da autodeterminaç ã o social e da
diversidade cultural e manutenç ã o da integridade ecológica.

Na Conferência das Naç ões Unidas sobre comé rcio e Desenvolvimento – UNCTAD, em 1974, foi
realizada uma reuniã o do Programa de Meio Ambiente para as Naç ões Unidas _ UNEP e foi elaborada a
Declaraç ã o de Cocoyoc, onde se avanç a no modelo sugerido de ecodesenvolvimento, colocando em pauta a
explosã o demográfica mundial, a pobreza, a degradaç ã o ambiental e a responsabilidade dos países desenvolvidos
em relaç ã o a esses problemas, devido a seu alto nível de consumo, desperdício e poluiç ã o. Os argumentos de
Cocoyoc foram reforç ados no Relatório Que Faire apresentado pela fundaç ã o Dag- Hammarskjold com a
participaç ã o de 48 países e contribuiç ões da UNEP e outras organizaç ões da ONU, abordando a interferência que
os países desenvolvidos exercem sobre os países em desenvolvimento, sobretudo em se tratando de preservaç ã o
ambiental, sugerindo como possibilidade de mudanç a a promoç ã o da autoconfianç a e a autonomia dos países
pobres. Esse relatório enfrentou rejeiç ões políticas e da classe científica sendo combatido por seu radicalismo
nas propostas.

Dez anos após a reuniã o de Estolcomo, em 1982, foi feita uma avaliaç ã o do período em um encontro
promovido pelo PNUMA, em Nairobi, onde foi sugerido a formaç ã o de uma Comissã o Mundial de Meio
Ambiente e Desenvolvimento – UNCED, criada pela Assemblé ia das Naç ões Unidas em 1983, objetivando
analisar os problemas ambientais e do desenvolvimento. Foi essa comissã o que elaborou o relatório Brundtland,
que após a sua publicaç ã o influenciou a Assemblé ia Geral das Naç ões Unidas a realizar em 1990 a Conferência
das Naç ões Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que aconteceu em 1992 no Rio de Janeiro. Essa
conferência ficou conhecida como Conferência da Terra, Conferência do Rio e como Rio- 92.

Importantes documentos foram elaborados na Rio-92, que apontaram um comportamento mais


responsável de toda sociedade:
o Agenda 21- programa de aç ã o global, em 40 capítulos,
o Declaraç ã o do Rio, em um conjunto de 27 princípios pelos quais deve ser conduzida a
interaç ã o dos humanos com o Planeta.
o Declaraç ã o de princípios sobre Florestas;
o Convenç ã o sobre diversidade biológica;
o Convenç ã o - quadro sobre Mudanç as climáticas - que culminou no Protocolo de Kyoto em
1997;

A Agenda 21 e a Declaraç ã o do Rio definiram políticas essenciais para alcanç ar um modelo de


desenvolvimento sustentável que atendesse as necessidades dos pobres e reconhecesse os limites do
desenvolvimento, de forma a atender às necessidades globais. A necessidades foram definidas nã o só levando em
conta os interesses econômicos, mas incorporando as necessidades de um sistema global que inclui tanto a
dimensã o ambiental quanto a humana. A Agenda 21 é um programa de aç ã o adotado por 182 governos. É o
primeiro documento do gênero a alcanç ar consenso internacional, que fornece um plano para assegurar o futuro
sustentável do planeta lanç ando questões sobre o desenvolvimento e o meio ambiente, que conduzirã o a uma
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catástrofe econômica e ecológica se nã o forem apresentadas estraté gias de transiç ã o, ressaltando també m a
importância de aç ões imediatas para garantir práticas de desenvolvimento mais sustentáveis. A proposta é um
modelo participativo de mudanç a de atitudes em relaç ã o ao meio ambiente que surgiu da necessidade se
transformar compromissos abstratos em aç ões de nível nacional e local. Cada país deve colocar em pauta as
discussões sobre as propostas de sua própria Agenda 21 de forma que sejam respeitadas suas necessidades sócio-
econômicas, ambientais e culturais. Para isso devem contar com a participaç ã o popular das instâncias do poder
local, governos, prefeituras e conselhos comunitários. O envolvimento dos atores sociais nas discussões devem
incluir a participaç ã o dos “excluídos” como, por exemplo, as mulheres que, em algumas sociedades, sã o vistas
como classe inferior ou que, pelo machismo predominante, nã o possuem o direito de se pronunciar diante da
sociedade, povos indígenas, crianç as, comunidades primitivas como as tribos africanas e os aborígenes asiáticos
e populaç ões mais pobres nas quais o nível de escolaridade é baixo, mas que conhecem suas próprias
necessidades e os problemas que lhes afetam. Todos devem discutir e aprovar a agenda 21 local, esta por sua vez
deve aliar-se a outros documentos de conquistas sociais e ambientais em atividade no mundo.

DESENVOLVIMENTO LOCAL: UM CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL

Há um movimento crescente para criar cidades e comunidades sustentáveis, com muitos centros
urbanos adotando versões locais da agenda 21(FRENCH, 2002). Para que a governanç a global do
desenvolvimento sustentável seja eficaz, deveráestar fundamentada numa sólida governanç a nacional e local. O
conceito de desenvolvimento auto sustendado é constantemente atrelado ao de desenvolvimento endógeno ou
local, entendido como “processo endógeno de mobilizaç ã o das energias sociais em espaç os de pequena escala
(municípios, localidades, microrregiões) que implementam mudanç as capazes de elevar as oportunidades sociais,
a viabilidade econômica e as condiç ões de vida da populaç ã o (MELO et al, 2002). Pode ainda ser definido
como:“a capacidade que a comunidade local tem de utilizar o potencial de desenvolvimento e de liderar o
processo de mudanç a estrutural” . (SPÌNOLA, 2003).

Para que o desenvolvimento sustentado se conecte ao local a gestã o pú blica deve ser
democratizada e descentralizada, buscando a participaç ã o dos atores sociais para a construç ã o de um
processo de planejamento que possibilite atuar numa perspectiva de longo prazo. (JARA,1996)

O governo local deve estar preparado tanto política como tecnicamente para processar e dar resposta
às demandas e reivindicaç ões que surgem do movimento social. Esse é um grande desafio, pois os governos em
geral, mesmo os democráticos, sã o marcados pela centralizaç ã o do poder e as decisões nã o sã o divididas com a
sociedade, que se mantêm alheia nã o exercendo sua cidadania.
Tem se discutido no mundo inteiro modelos de descentralizaç ã o caracterizados pela gestã o de grupos
que se organizam por atividades afins, se auto-gerenciam e se articulam entre eles para compartilharem juntos
experiências, informaç ões e cooperar uns com os outros. No entanto, nã o se pode desprezar as variáveis sócio-
culturais que impedem que a articulaç ã o aconteç a. Faz-se necessário contextualizar todas as tentativas de
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mudanç a da realidade dessas comunidades. Qualquer modelo político-social que seja proposto tem que levar em
conta as dificuldades que se tem de sair de um modelo de dominaç ã o onde a comunidade era excluída do setor
decisório e mesmo quando representadas politicamente, seus interesses nã o sã o priorizados. No caso dos países
em desenvolvimento, muitos sã o naç ões democráticas recentes, o que dificulta o entendimento e principalmente
a aç ã o social para participaç ã o nas decisões.Sua economia em geral é fomentada com recursos externos e a
produç ã o interna de bens e capital se concentra na elite que deté m a riqueza nesses países.

Chega-se, entã o, ao maior entrave para o estabelecimento desses nú cleos locais de desenvolvimento,
pois a divisã o de poder ainda nã o foi assimilada na dimensã o política e os embates se dã o em busca de uma
congruência de forç as para que seja estabelecido o diálogo entre os representantes políticos institucionais e os
demais atores sociais de maneira tal que a divisã o do poder faç a parte do processo de construç ã o de um sistema
governamental sustentável, no qual as decisões sã o tomadas horizontalmente, facilitando a absorç ã o e
disseminaç ã o dos resultados.

Segundo KORTEN (1996), o sistema global de economias locais, que distribuem o poder e a
responsabilidade cria lugar para as pessoas, encoraja a sustentaç ã o da vida em toda a sua diversidade e limita as
oportunidades de um grupo exteriorizar os custos sociais e ambientais de seus gastos sobre outras pessoas. O
planejamento do desenvolvimento sustentável é um processo que envolve o estado, o governo local e os
diferentes agentes sociais e precisa ser compartilhado entre eles.
“O desenvolvimento municipal sustentado obriga uma análise que interliga elementos sociais,
ambientais, institucionais, políticos e produtivos” (JARA, 1996), para isso, deve haver uma transferência
orientada do poder político institucional centralizado para um poder político descentralizado e participativo onde
os problemas e soluç ões sã o encontrados conjuntamente, visando acabar com as disparidades sociais,
constituindo-se numa tarefa interdependente, associada ao bem estar econômico e à proteç ã o ambiental.

Devido a questões como seguranç a e qualidade de vida as grandes cidades estã o deixando de ser tã o
atrativas quanto eram no passado. O desenvolvimento local com capacitaç ã o dos municípios em questões
educacionais, o crescimento econômico com o desenvolvimento de atividades agroindustriais, turismo e a
descentralizaç ã o industrial estã o atraindo ao interior uma populaç ã o mais qualificada alé m de estar contribuindo
para o qualificar sua própria comunidade. Vê-se hoje um movimento sócio- econômico de retorno ao interior. Ao
contrário do que acontecia no passado, o êxodo rural, hoje está acontecendo o fenômeno chamado de êxodo
urbano. Muitas pessoas estã o deixando os grandes centros e se estabelecendo em pequenas cidades,
incrementando a economia com pequenos negócios, melhorando o capital humano das empresas locais e,
conseqüentemente favorecendo a melhoria dos sistemas educacionais dos municípios, a absorç ã o no mercado de
trabalho e principalmente qualidade de vida da populaç ã o. Quanto ao mercado de trabalho, a migraç ã o, ao
mesmo tempo que traz benefícios com o investimento nos negócios, també m ocasiona um problema sócio
econômico, pois, por possuírem melhor qualificaç ã o profissional e know- how em áreas diversas os migrantes
acabam por preencher os melhores postos de trabalho, enquanto a populaç ã o local, em sua maioria, exerce
atividades de menor valor econômico.
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A sociedade vem paulatinamente se organizando e buscando participar mais ativamente dos assuntos
que envolvem tanto questões sociais quanto ambientais. Alguns líderes comunitários vem se destacando, criando
projetos e levando-os a discussã o na esfera política e empresarial. O aumento do nú mero de ONGS é a prova
dessa articulaç ã o e a cada dia mais as aç ões sociais caminham nessa direç ã o. Por outro lado, mudanç as políticas
nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, contribuem para essa integraç ã o entre governo e
sociedade. Atitudes políticas como a descentralizaç ã o da educaç ã o e da saú de, com o repasse de verbas
diretamente aos municípios e até mesmo a Lei de Responsabilidade Fiscal, incentivam a participaç ã o da
comunidade local, já que, sã o formados conselhos para fiscalizar e avaliar a distribuiç ã o dessas verbas,
influenciando na tomada de decisões quanto a sua aplicabilidade. Outros conselhos locais têm sido instituídos
para a discussã o de outros temas que envolvam a comunidade, como por exemplo para o turismo, cultura e meio
ambiente.

O PROTOCOLO DE KYOTO

A necessidade de se criar um instrumento de forç a jurídica que ratificasse o compromisso de reduç ã o


de emissã o de gases que afetam as mudanç as climáticas e com isso alteram o ecossistema, fizeram com que os
participantes da convenç ã o: Quadro sobre Mudanç as Climáticas, estabelecida na Rio-92, chegassem a conclusã o
de que, sem um instrumento legal nã o haveria compromisso e em 1997 foi criado o Protocolo de Kyoto, no qual
as naç ões se comprometem a reduzir a emissã o de gases poluentes em 5, 2 porcento abaixo do níveis obtidos em
1990. Essa meta deveráser atingida entre os anos de 2008 e 2012. No Protocolo de Kyoto estã o expressos vários
mecanismos que facilitam a obtenç ã o das metas estabelecidas. Entre eles o mais polêmico diz respeito à
aquisiç ã o de cré ditos de carbono. Caso os países em questã o nã o consigam atingir suas metas na reduç ã o podem
comprar os cré ditos excedentes de outro país que porventura tenha reduzido seu índice ou que tem um padrã o de
emissã o inferior à meta estabelecida. També m sã o colocadas outras medidas relacionadas a obtenç ã o de licenç a
para emissã o, substituiç ã o de maté ria que resulte em uma produç ã o limpa, buscando formas alternativas de
energia, já que combustíveis fósseis, como o petróleo, sã o os maiores causadores do efeito estufa, alé m de
colocar outros compromissos para países industrializados e em desenvolvimento que devem, por sua vez, reduzir
sua emissã o e sã o hoje grandes credores de carbono para as naç ões industrializadas.

O grande impasse do Protocolo de Kyoto se deu em 2001 quando os EUA, já sob o comando de
George W. Bush, responsável por quase 25% da emissã o de gás estufa, abandonou as negociaç ões devido a
incompatibilidades de interesses entre os Estados Unidos e Uniã o Europé ia fazendo com que as negociaç ões do
Protocolo retrocedessem, pois para que o Protocolo vire lei é necessário que seja aprovado como lei por um
nú mero de países que representem 55% das emissões de gases. Até o momento só aderiram cerca de 38,5
porcento (GARDNER, 2002). A emissã o de gases é a principal responsável pelas mudanç as climáticas,
preocupaç ã o que mais aflige a comunidade científica,

“à medida que se amplia o conhecimento do elo entre as emissões de gases de estufa,


temperaturas globais em ascensã o, elevaç ã o do nível do mar e o aumento da freqüência e intensidade de
eventos climático externos” (GARDNER, 2002).
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Sã o també m responsáveis pela proliferaç ã o de doenç as infecciosas, fazendo ressurgir doenç as antes
dadas como extintas, inclusive nos países ricos, representando um custo muito alto para as naç ões. Segundo a
OMS o PIB africano seria de US$ 100 bilhões a mais caso a malária houvesse sido eliminada anos atrás (fonte:
GARDNER,2002).

A BIODIVERSIDADE E A SUSTENTABILIDADE

Na Rio-92 foi criada a convenç ã o sobre a diversidade biológica, que é um dos temas mais
preocupantes do debate ambiental. A diversidade biológica consiste na variabilidade de organismos vivos
incluindo os ecossistemas terrestres, marinhos, outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que
fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espé cies, entre espé cies e de ecossistemas. (Artigo 2
da Convenç ã o sobre Diversidade Biológica, fonte: MMA, 2003). Nela estã o inclusos todos os elementos vivos,
biológicos, gené ticos e todos os seus componentes, sendo fundamental para o meio ambiente, pois tem uma
funç ã o reguladora, cíclica, naturalmente sistematizada e equilibrada dos ecossistemas.

A biodiversidade é composta pelos recursos naturais necessários à vida, bem como os recursos
naturais utilizados nas atividades produtivas, pecuária, pesca, extrativismo, e insumos industriais variados
compõem a biodiversidade alé m de outros processos econômicos como o turismo e a biotecnologia que també m
se utilizam de seu potencial. A manutenç ã o das diversidades dos ecossistemas em todo o mundo é um dos
maiores desafios lanç ados, pois o modo insustentável como sã o explorados colocou em risco muitas espé cies
animais e vegetais e podem exterminar alguns ecossistemas completos.

Os impactos ambientais dos meios de produç ã o tem agravado os problemas nas florestas afetando a
vida das populaç ões que dela sobrevivem. Segundo a FAO - Organizaç ã o para Alimentos e Agricultura das
Naç ões Unidas, realizada pela WRI- World Resources Institute mais de 1,7 bilhã o de pessoas em 40 países, com
níveis baixos de cobertura florestal, dependem das florestas para a retirada de lenha ,madeira e outros bens e
serviç os. 500 milhões de pessoas vivem dentro e no entorno de florestas tropicais, 150 milhões sã o membros de
grupos indígenas que dependem da floresta e dos recursos florestais para sustentar seu meio de vida (fonte:
GARDNER, 2002). Com os desmatamentos florestais a vida dessas populaç ões é afetada, os ecossistemas
destruídos e o clima modificado jáque as florestas têm uma funç ã o reguladora do fluxo de água entre o solo e a
atmosfera, combatem a erosã o do solo e abrigam grande diversidade de espé cies nos diversos ecossistemas nela
encontrados. Sã o també m fontes de recursos utilizados nas ciências biológicas e humanas contribuindo para a
evoluç ã o do conhecimento.
“O desmatamento significa perda de vidas e de meios de vida: só em 1998, as derrubadas foram
responsáveis pela avalanche da índia que matou 238 pessoas e pela grande enchente da china que matou 3000 e
causou perdas de USS 20 bilhões. O desmatamento conturba os sistemas naturais” . (GARDNER,2002)
Outro tipo de diversidade que tem sido discutida é a diversidade cultural, na qual características
culturais que distinguem os grupos sociais e lhes identificam, precisam ser respeitadas e favorecidas criando
condiç ões para que transmitam o conhecimento às próximas geraç ões, ou seja, que encontrem mecanismos para
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promover a sustentabilidade. As discussões geradas acerca do tema, priorizam tanto a diversidade biológica
quanto a cultural por serem fundamentais no processo evolutivo ambiental no qual o homem estáinserido.

A QUESTÃ O HÍDRICA NO DESENVOLVIMENTO

A discussã o acerca dos recursos hídricos representa grande preocupaç ã o ambiental. Prevendo que:
“A escassez de água també m pode ter conseqüências desenvolvimentistas graves, atravé s do
seu impacto na oferta de alimentos, países com escassez de água se voltaram cada vez mais para duas estraté gias
de soluç ã o nos anos 90: exploraç ã o das reservas de água subterrânea, a fim de manter ou ampliar a produç ã o
agrícola e aumento das importaç ões de alimentos. (GARDNER, 2002).

Sabe-se que a oferta de água doce estádiminuindo e menos de um centé simo de 1 porcento da água
mundial é utilizável. (FRENCH, 2002), o que demonstra a maneira insustentável em que fora utilizada ao longo
dos anos e principalmente após o sú bito crescimento da populaç ã o mundial e de meios de produç ã o, baseados na
industria movida a combustível fóssil. Boa parte da água doce do mundo encontra-se poluída, e em países onde
háescassez hídrica é grande a probabilidade das terras tornarem-se improdutivas, pois nã o háágua renovável
suficiente. Aç ões naturais e antrópicas estã o contribuindo para acelerar o processo de desertificaç ã o de diversas
áreas do globo. Mananciais de água nã o renovável estã o secando e a água subterrânea poderáestar poluída em
muitos lugares em um curto prazo de tempo. Caso nada seja feito para garantir sua preservaç ã o.
“O estado lastimável dos mananciais mundiais e dos serviç os de distribuiç ã o é diretamente
responsável por cerca de 4 milhões de mortes anuais e a maioria das vítimas sã o crianç as menores de um ano.
Meios de vida completos estã o desaparecendo à medida que a carência de água altera paisagens e habitats”
(FRENCH, 2002).

Foi preciso chegar a quase um colapso ambiental para que fossem discutidas questões outras como a
escassez da água. Segundo dados da Population Action International a previsã o é que em 2025 entre 2,4 e 3,4
bilhões de pessoas estarã o vivendo em países com dé ficit hídrico, enquanto que hoje sã o 505 milhões.(fonte:
FRENCH, 2002) Sendo que o custo da água para as populaç ões mais pobres é muito maior devido a falta de
acesso tanto a água quanto ao seu sistema de distribuiç ã o.

“Em populaç ões classificadas pelo Banco Mundial como de baixa renda, em 1995 mais de um
terç o habitavam países que sofriam de estresse hídrico alto ou mé dio. Conseqüentemente mais de um bilhã o de
pessoas no mundo nã o dispõe de água potável e quase 3 bilhões nã o têm acesso a saneamento básico – dois
fatores que causam graves problemas para o desenvolvimento. Cerca de metade das populaç ões no mundo em
desenvolvimento sofrem de doenç as causadas por água ou alimentos contaminados. Aproximadamente 14 000 a
30 000 pessoas morrem, diariamente, de doenç as de veiculaç ã o hídrica” . (GARDNER, 2002).

Outra vertente importante é quanto a comercializaç ã o da água prevista em alguns países, ou seja, a
valorizaç ã o dos recursos hídricos pelo vié s capitalista. Em 2000 ocorreu em Cochabamba, na Bolívia, o que se
chamou da “guerra da água” devido a privatizaç ã o dos serviç os de água e esgoto, causando aumento exacerbado
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das tarifas. A reaç ã o popular foi expressiva, com muitos protestos contra o governo e, a empresa, concessionária
Bechtel até que conseguiram cancelar a contrataç ã o, numa verdadeira guerra civil, inclusive com muitas perdas
humanas. Recentemente, em 2003, líderes comunitários profetizaram uma segunda guerra da água. Caso o
governo Boliviano leve adiante o projeto de exportaç ã o de água, que prevêa comercializaç ã o da água para
empresas mineradoras do norte do Chile; a comunidade jáestáatenta e pronta para mais um combate em prol da
defesa de seus recursos hídricos.

“Querem vender as águas subterrâneas de uma das regiões mais áridas do mundo para
satisfazer às demandas das mineradoras instaladas no note chileno, sem se preocupar com a subsistência da
populaç ã o local” (COLQUE, 2003).

A mobilizaç ã o popular torna-se a principal aliada das questões ambientais, pois a perda ambiental
afetarátodos os setores produtivos dessas comunidades e mata os ecossistemas ,bem como interfere, sobretudo,
diretamente na sua organizaç ã o social. “Vender água seria vender a vida de todos os seres vivos da regiã o” ,
declarou o líder indígena Paulino Colque (em testemunho no dia 21/03/03 no Fórum Social das Águas de
Cotia,SP.)

“Historicamente oprimidos pela escassez de recursos hídricos daquele território, os agricultores


bolivianos aprenderam a construir e manejar suas fontes de água (como lagunas, represas, poç os e vertentes) nas
próprias comunidades, a partir dos usos e custumes da cultura andina e, fundamentalmente, a partir do princípio
da equidade” (FERNANDES, 2003)

Essa comunidade també m se ressalta pela mobilizaç ã o popular e aç ões como manejo sustentável da
água, prevista na Lei de Águas da sociedade civil, que estáem andamento na Bolívia. É importante salientar que
essa lei partiu da comunidade, atravé s de seus conselhos, e propõe o manejo sustentável da água, feito
localmente e administrado por “um órgã o com autoridade para a gestã o de águas, composto por representantes
do governo e da sociedade civil” .

A CAMINHO DA CÚPULA DO MILÊ NIO

Para revisar a implementaç ã o da Agenda 21, foi realizada em 1997 a Rio + 5, uma sessã o especial da
Assemblé ia Geral das Naç ões Unidas, onde foi reforç ada a necessidade de ratificaç ã o e de implementaç ã o mais
eficiente do crescente nú mero de convenç ões e acordos internacionais referentes ao meio ambiente e
desenvolvimento, reconhecendo as dificuldades de muitos países em desenvolvimento de alcanç ar a equidade
social e reduzir a pobreza devido a reduç ã o da ajuda financeira internacional e ao aumento das dívidas externas.
A comissã o de desenvolvimento sustentável da ONU (CDS), criada em 1993, teve um importante
papel nos processos discursivos das propostas da agenda 21, promovendo parcerias entre as ONGs e as Naç ões
Unidas. Em 2000 a CDS propôs a realizaç ã o de mais uma cú pula mundial para tratar do desenvolvimento
sustentável. Foi entã o realizada, em 2002, na cidade de Joanesburgo, World Summit on Sustainable
Development, conhecida como Rio + 10 ou Cú pula do Milênio, que tinha como meta a implementaç ã o da
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Agenda 21 mundial, focalizando atingir o desenvolvimento sustentável, levando em conta a explosã o
demográfica mundial e demanda de recursos ambientais e materiais para suprir as necessidades da populaç ã o
global, o que, sob a ótica capitalista, vai de encontro às conquistas e necessidades de conservaç ã o e preservaç ã o
do meio ambiente.

Vale lembrar que conservaç ã o e preservaç ã o tem conceitos diferentes, sendo a primeira a utilizaç ã o
adequada e manutenç ã o das propriedades fundamentais dos recursos do meio ambiente, ou seja, admite a aç ã o
antrópica, desde que responsável, enquanto que a preservaç ã o diz respeito à nã o utilizaç ã o do bem natural.
(CLEMENTE et al, 2000). Coube à Cú pula de Joanesburgo avaliar os empecilhos encontrados para atingir as
metas propostas na Rio-92 e os resultados alcanç ados nesses dez anos. Foi enfatizada a participaç ã o da
sociedade, o desenvolvimento local sustentado e erradicaç ã o da pobreza como aliados do desenvolvimento
sustentável intergeracional. Fica claro que a proposta de desenvolvimento sustentável faz repensar as relaç ões do
homem com a natureza de suas relaç ões sociais e principalmente do entendimento da dicotomia entre e
crescimento e desenvolvimento econômico. O primeiro refere-se basicamente ao aumento do PIB enfatizando a
produç ã o e o consumo, o outro requer um “aumento na produç ã o dos setores primários e secundários para a
satisfaç ã o das necessidades internas (locais)” (GOTTARDO, 2002) aliado a distribuiç ã o da renda que, de forma
eficaz, levaria ao aumento do consumo e produç ã o e conseqüente crescimento econômico. O desenvolvimento
refere-se ainda a elevaç ã o do nível de qualidade de vida, que em condiç ões normais pode ser atingida pela
elevaç ã o do nível de renda da sociedade ou como coloca ,CLEMENTE et al (2000) a “outra possibilidade seria a
distribuiç ã o da riqueza com a diminuiç ã o absoluta da renda dos extratos mais ricos” . Vale salientar que, se a
elevaç ã o da renda nã o for superior ao crescimento demográfico, toda a sociedade estará empobrecendo, e,
conseqüentemente nã o se poderia considerar desenvolvimento.

No quadro abaixo podem ser observadas as características que diferem crescimento e desenvolvimento
econômico possibilitando o entendimento de suas estraté gias, que varia de acordo com a determinaç ã o dos
objetivos que se deseja alcanç ar na sociedade. No entanto, háconstantemente uma confusã o quanto ao objetivos
propostos pelos dois sistemas.

Quadro 1. Diferenç a entre crescimento e desenvolvimento econômico(políticas e turismo pg. 195)


CRESCIMENTO ECONÔMICO DESENVOLVIMENTO ECONÔNOMICO
É uma estraté gia de evoluç ã o É uma subestraté gia de desenvolvimento
Busca um aumento na produç ã o dos três setores da Busca aumentar a produç ã o dos setores primário e
economia secundário
Parte de uma orientaç ã o da produç ã o para o Parte de uma orientaç ã o da produç ã o para o mercado
mercado externo interno
Aumenta e consolida a divisã o internacional do Aumenta o princípio de auto-suficiência
trabalho
Os resultados sã o sentidos a mé dio e longo prazo Os resultados sã o sentidos em curto prazo
Fonte: MOLINA et al. Planejamento Integral do Turismo: um enfoque para a Amé rica Latina, 2001.

Segundo GOTTARDO, o desenvolvimento econômico deve ser feito atravé s de estruturas capazes de
proporcionar uma distribuiç ã o de renda mais eqüitativa, alé m de vários controles do estado sobre as diferentes
formas de uso dos recursos naturais. Rattner (1998) defende a idé ia de que com o crescimento econômico nã o há
11
reduç ã o de pobreza, sobretudo quando combina uma distribuiç ã o tã o desigual do produto social com o uso
predatório e devastador dos recursos naturais.
“A mesma idé ia foi ilustrada por DIAS (2000) onde fica claro que o modelo de “
desenvolvimento” vigente por imposiç ã o dos países ricos, atravé s de processos e instituiç ões como o
Sistema Financeiro Internacional, o FMI, o Banco mundial e outros, exercem influência e ocasionam a
grande marginalizaç ã o e exclusã o social nos países que a eles se submetem” .(GOTTARDO, 2002) e
por isso tem sido questionado nas ú ltimas dé cadas nã o se obtendo, portanto, respostas contundentes à
sua manutenç ã o alé m dos resultados econômicos e financeiros.

À luz do sé culo XX esse modelo desenvolvimentista, utilizado pelas naç ões industrializadas e
largamente copiado pelos países em desenvolvimento é “baseado em consumo e despejo em massa e orientado
principalmente para o crescimento econômico com atenç ã o insuficiente para o atendimento das necessidades dos
povos” (GARDNER,2002)

O VIÉ S SOCIAL DO DESENVOLVIMENTO SUTENTADO

O desenvolvimento auto sustentado favorece mudanç as profundas a partir das relaç ões humanas e com
o meio ambiente transportadas ao mé todo produtivo, visando a manutenç ã o das fontes de recursos que
influenciam diretamente o modus vivendi da sociedade.
“Consiste em uma sé rie de transformaç ões da sociedade que se realizam em cadeia, de forma
auto sustentada. Isto quer dizer que o processo de desenvolvimento, uma vez desencadeado,
apresentaria uma seqüência de fases, cada uma criando as condiç ões necessárias para a fase
subseqüente. De acordo com esse conceito, seria impróprio empregar o termo desenvolvimento para
situaç ões em que os indicadores típicos de desenvolvimento nã o representam um processo duradouro de
transformaç ã o da sociedade” (CLEMENTE et al, 200)

Segundo Ribeiro, a sustentabilidade apresenta várias dimensões conforme o diagrama abaixo:

Física
Humana Econômica

Ambiental DENVOLVIMENTO
Social
SUSTENTÁ VEL

Política
Cultural
Psicológica

Fonte: (RIBEIRO, 1998)

Todas a essas dimensões estã o vinculadas a um aspecto social, revelando a necessidade de haver uma
tentativa de uniformidade para que as dimensões possam se inter-relacionar e promover o desenvolvimento em
12
todos setores no objetivo de contribuir para que a sociedade també m se desenvolva. A sociedade, por sua vez,
deve estar situada sob os princípios da sustentabilidade que condicionam o uso de recursos permitindo a
renovaç ã o dos ecossistemas, substituindo materiais e meios de produç ã o por modelos renováveis, atravé s de uma
produç ã o limpa e comprometida com as reduç ões do desperdício e da poluiç ã o e principalmente o controle da
emissã o de poluentes, que nã o deve superar a mé dia de assimilaç ã o natural do ecossitema. Dessa forma, a
sociedade sustentável deve estar assentada em comunidades locais fortalecidas e ambientalmente sustentáveis.

A explosã o demográfica mundial apresenta nú meros avultivos sendo um bilhã o em 1800, 1,6 bilhã o
em 1900, 2,5 bilhões em 1950 e 6,1 bilhões em 2000.Para a Divisã o de Populaç ã o das Naç ões Unidas, a
populaç ã o atual é de 6,2 bilhões e crescerá, até 2050, cerca de 7,9 a 10,9 bilhões de pessoas. (fonte: FRENCH,
2002). Para desenfrear esse crescimento demográfico mundial aposta-se na participaç ã o das mulheres, na
educaç ã o e em programas de saú de que visem a melhoria da qualidade de vida. “A educaç ã o aumenta a
produtividade, inovaç ã o e produç ã o - ingredientes importantes para a prosperidade econômica - e tende a reduzir
a desigualdade econômica, alé m de ser importante para a estabilizaç ã o populacional, uma vez que mulheres
educadas se casam mais tarde e têm menos filhos.” (GARDNER, 2002)

Para discutir essas questões, em 1994 foi realizada a Conferência Internacional sobre Populaç ã o e
Desenvolvimento (ICPD), no Cairo, “onde o programa de aç ã o afirmou que a saú de reprodutiva sexual é um
direito humano” (FRENCH, 2002). O Conceito de saú de reprodutiva evoluiu nos ú ltimos anos incluindo o
planejamento, a prevenç ã o à gravidez, educaç ã o sexual, acesso a preservativos, combate a doenç as sexualmente
transmissíveis, infertilidade e todas as questões relacionadas ao sistema reprodutivo. As Naç ões Unidas o
definem como uma “condiç ã o de bem estar, físico, mental e social completo” . (FRENCH, 2002). O Fundo das
Naç ões Unidas para a Populaç ã o calcula que 350 milhões de mulheres em todo o mundo nã o dispõem de
qualquer acesso a serviç os de planejamento familiar (fonte: FRENCH, 2002).

No ano de 1995, em Beijing, a IV Conferência Mundial sobre as Mulheres reafirmou os direitos


femininos e a participaç ã o eqüitativa em todas as esferas da sociedade, como pré -requisito para o
desenvolvimento humano. Esses eventos compreendem esforç os de inclusã o social participativa para que o
desenvolvimento seja atingido. “Uma populaç ã o estável, ou em declínio gradual, pode ser considerada como um
efeito colateral bené fico dos esforç os que melhoram a qualidade de vida das pessoas” (FRENCH, 2002).

“O desenvolvimento sustentável representa uma alternativa e um desafio ao estilo


predominante, claramente insutentável, quer seja pela desigualdade social e pobreza, quer seja pela
degradaç ã o ambiental “(GOTTARDO, 2002).

Seria uma resposta à insustentabilidade do sistema econômico mundial que se processa pela
exportaç ã o de um modelo de desenvolvimento ancorado no capitalismo, caracterizado pela concentraç ã o e
domínio da produç ã o, do capital e da renda. O pensamento subversivo perifé rico, que permeia as discussões
mundiais fora do eixo de dominaç ã o, tem na questã o ambiental um forte argumento para minar esse poderio.
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Aliado a isso, as questões sociais exercem grande influencia na proposta de um novo modelo de
desenvolvimento mundial.

A SUSTENTABILIDADE BRASILEIRA

No Brasil, o debate da sustentabilidade se fortaleceu com a realizaç ã o da Rio -92, favorecendo o


surgimento de ONGs e outros movimentos sociais voltados tanto para a soluç ã o de problemas ambientais quanto
sociais. A Amazônia, o Pantanal, a Mata Atlântica sã o os principais concentradores dos ecossistemas brasileiros
sã o mais afetados com as mudanç as climáticas. A aç ã o antrópica irresponsável, com a extraç ã o de recursos nã o
renováveis, uso de té cnicas para agricultura, como queimadas, desmatamento para extraç ã o de madeira e
pastagens, contrabando de espé cies raras, matanç a de animais, pesca predatória com o uso de bombas ou em
é pocas desova e crescimento, poluiç ã o de mangues, rios e afluentes pela indú stria, bem como por acidentes
ambientais, que tem sido cada vez mais freqüentes contribuem, cada vez mais, para a destruiç ã o do meio
ambiente. Mas muitas aç ões têm sido desenvolvidas em todas as regiões para que esses ecossistemas sejam
preservados, recuperando o seu potencial de renovaç ã o.

A agenda 21 brasileira foi um dos documentos mais importantes apresentados na cú pula de


Joanesburgo em 2002. Nela estã o descritos 44 princípios sobre aç ões afirmativas de combate a pobreza,
poluiç ã o, degradaç ã o ambiental visando desenvolvimento local, baseado na governanç a participativa. O processo
de consolidaç ã o da Agenda 21 brasileira se deu nos moldes do debate participativo, sendo discutido em
instâncias locais como estados e municípios e remetidas para serem acrescidas a Agenda 21 nacional. Existe um
esforç o muito grande para que as diversas regiões brasileiras aprovem suas próprias agendas baseadas nos
princípios da equidade social e ambiental.

Em 2003 foi realizado na cidade de Fortaleza o seminário sobre o turismo sustentável no qual foram
apresentadas diversas aç ões comunitárias em prol do desenvolvimento local e sustentabilidade ambiental. O
Brasil tem se destacado nos encontros internacionais acerca da discussã o sobre sustentabilidade, sendo o
primeiro país do G-77 (composto pelos países em desenvolvimento) a se pronunciar no Fórum Econômico
Mundial, realizado em 2003 na cidade de Davos, Suíç a, colocando no seu discurso o combate a pobreza no
mundo com o apoio dos credores internacionais, o G-8 (composto pelos países desenvolvidos), propondo a
destinaç ã o de parte do pagamento das dívidas desses países para diminuir as desigualdades sociais e
principalmente combater a fome.

O primeiro Fórum Social Mundial foi realizado no Brasil em 2001, na cidade de Porto Alegre, numa
tentativa de protestar contra o modelo econômico mundial, responsável pelas disparidades entre os países
desenvolvidos e em desenvolvimento. O fórum reuniu diversos representantes políticos e a sociedade civil
mundial para elaborar propostas que pudessem ser aplicadas às políticas econômicas visando diminuir a
desigualdade. O Fórum Social têm acontecido simultaneamente ao Fórum Econômico Mundial de Davos desde
2001.

Em 2002 o Brasil sediou a Cú pula do Petróleo no Rio de Janeiro, debatendo temas como a
responsabilidade social das empresas de extraç ã o de petróleo e o impacto de suas atividades nas comunidades e
14
no meio ambiente. Participaram do 17ºcongresso Mundial do Petróleo representantes dos países produtores,
autoridades políticas mundiais e executivos das maiores empresas de petróleo mundial. Esse encontro foi
marcado pela abertura do evento à participaç ã o de organismos nã o governamentais e outros representantes da
sociedade, incentivando o diálogo entre eles, onde foi dado o primeiro passo para uma mudanç a de
comportamento que visa investir na sustentabilidade da empresas petrolíferas.(Zero Hora, 2002).

Isso demonstra que o Brasil, devido a fragilidade de seus recursos ambientais, têm estado cada vez
mais presente nas discussões sobre a sustentabilidade, tendo como base o desenvolvimento local sustentado e
ancorado na conservaç ã o e preservaç ã o dos bens naturais, incentivos ao desenvolvimento humano e social,
incluindo os povos indígenas e populaç ões mais carentes das diversas regiões e recebendo ainda o apoio da
sociedade que está, a cada dia, mais participativa, cobrando mudanç as no sistema político e econômico para que
as desigualdades sejam reduzidas e para que haja manutenç ã o da riqueza biológica contida nos ecossistemas
brasileiros. Sabe-se que ainda falta um mecanismo político mais rigoroso para garantir a sobrevivência das
espé cies, a diminuiç ã o da poluiç ã o e reduç ã o da pobreza, mas admite-se que alguns avanç os foram dados nos
ú ltimos anos e que, com a participaç ã o comunitária pró-ativa, pode-se chegar a resultados positivos.

Nesse contexto, a Bahia tenta se aproximar dos debates mundiais acrescentando ao planejamento
pú blico o conceito de sustentabilidade que prevêa

“sustentabilidade do desenvolvimento, buscando conciliar as necessidades de modernizaç ã o


tecnológica do setor produtivo com a preservaç ã o do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida nas
cidades e no campo” . (CAR, artigo quinto. lei 6.913)

A tentativa de validar o conceito de desenvolvimento sustentável no Estado da Bahia leva os


órgã os estaduais a incorporar sua dimensã o no planejamento de suas atividades. No entanto percebe-se
que:

“nã o háintegraç ã o do conceito de sustentabilidade utilizado, havendo em alguns momentos


aç ões divergentes entre os órgã os estaduais que, por sua vez, definem seu próprio conceito interpretado
de acordo como o objetivo do órgã o em questã o. Isso dificulta a absorç ã o da sustentabilidade nas
demais instâncias de atuaç ã o do Estado” . (OLIVEIRA et al, 2002).

Por outro lado, outros organismos pú blicos têm debatido a questã o da sustentabilidade na
Bahia, como é o caso da Assemblé ia Legislativa que criou um Conselho de Meio Ambiente. Alé m
disso, a sociedade civil representada tem atuado ativamente na defesa ambiental, bem como buscando
melhorias no campo social.O aumento do nú mero de ONGs, a criaç ã o de conselhos locais para discutir
as questões ambientais, sócio-econômicas e culturais demonstram o avanç o da participaç ã o comunitária.
Observa-se també m que a Bahia tem procurado descentralizar sua economia, no objetivo de desenvolver
suas regiões, atravé s do turismo, da industrializaç ã o, do agronegócio e da capacitaç ã o educacional dos
pequenos centros, promovendo assim, o desenvolvimento local.
15
As comunidades dessas regiões têm se organizado e discutido suas agendas 21 locais, realizado
debates, criando iniciativas para melhorar sua qualidade de vida e transformado os agentes degradadores em
parceiros para a manutenç ã o da biodiversidade nos municípios baianos. Alguns exemplos da articulaç ã o social
dos baianos foram reconhecidos por organismos internacionais como é o caso da ONG Pró-Mar, localizada na
Ilha de Itaparica, que, por iniciativa de um pescador local mudou os hábitos de sua comunidade, antes praticante
da pesca predatória com a utilizaç ã o de bombas e hoje parceiro ambiental. Existem inú meros exemplos em todo
o Estado, tanto na área sócio-cultural, quanto na ambiental. Vê-se que a participaç ã o comunitária é um
mecanismo fundamental para transformar a realidade, que, aliada à organizaç ã o e principalmente vontade
político-institucional podem por em prática muitas aç ões com base na sustentabilidade do meio ambiente, atravé s
das relaç ões humanas orientadas para uma vida mais saudável e em harmonia entre os seres humanos e a
natureza.

CONCLUSÃ O

Os impactos ambientais causados pelo modelo político econômico atual deram origem a diversos
encontros que proporcionaram discussões acerca do relacionamento do homem e do meio ambiente, nã o apenas
enfatizando a dimensã o ambiental, mas incorporando a ela todas as relaç ões sociais que resultam na má
utilizaç ã o dos recursos naturais, ocasionando sua fragilidade diante do crescimento econômico ancorado na
industrializaç ã o. Dentre as questões mais relevantes estã o às desigualdades sociais que sã o grandes responsáveis
pelo aumento da pobreza e da degradaç ã o ambiental, causando avultivos prejuízos ao meio ambiente. À medida
que essas questões foram sendo disseminadas, a sociedade passou a exigir aç ões mais eficientes para atenuar o
processo de transformaç ã o dos recursos naturais e dos impactos sofridos no meio social. Alguns documentos
produzidos por esses encontros ganharam destaque e aprovaç ã o de muitos países possibilitando a tomada de
aç ões para reduç ã o dos efeitos antrópicos nos ecossistemas.Os eventos sã o marcados també m por uma forte
reaç ã o dos poderes políticos institucionais, na tentativa de socializar a tomada de decisões interagindo com toda
a sociedade.

Contudo, é importante salientar que essas aç ões têm evoluído, mas ainda assim sã o insuficientes para
atender as necessidades sócio-ambientais do paradigma dos novos tempos, que se fundamenta na
sustentabilidade do desenvolvimento ambiental para o desenvolvimento humano, um desafio de todas as
geraç ões.

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