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Meio Ambiente,

Sociedade e
Cidadania
Yara Maria Gasbelotto

E-book 3
E-book Os Desafios do
3 Ambiente Urbano

Neste E-book:
INTRODUÇÃO���������������������������������������������� 3
MOVIMENTOS SOCIAIS E A
QUESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL������ 4
Inserção da agenda ambiental no Brasil����������������5

PRINCIPAIS DESAFIOS DAS


GRANDES CIDADES����������������������������������13
Resíduos Sólidos�������������������������������������������������� 16
Saneamento básico���������������������������������������������� 23
Qualidade do ar e mobilidade urbana������������������ 27
Áreas verdes e biodiversidade����������������������������� 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS���������������������� 37
SÍNTESE�������������������������������������������������������38

2
INTRODUÇÃO
Saudações!

Daremos continuidade aos nossos estudos sobre


Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania. Neste mó-
dulo, vamos conhecer como a temática ambiental
inseriu-se na agenda do governo brasileiro e da nos-
sa sociedade, resgatando como linha condutora as
conferências temáticas da Organização das Nações
Unidas (ONU). Na sequência, entenderemos como as
necessidades de manutenção do ambiente urbano
exercem pressão sobre nossos recursos naturais
e quais são os principais desafios socioambien-
tais que os grandes centros urbanos enfrentam na
contemporaneidade.

3
MOVIMENTOS
SOCIAIS E A QUESTÃO
AMBIENTAL NO BRASIL
Vamos retomar um pouco do que já estudamos nos
módulos anteriores?

No Módulo 1, observamos que a partir das décadas


de 1950 e 1960 a temática ambiental começa a ga-
nhar relevância em diversos países devido a dois
aspectos principais: acidentes associando poluição
ambiental com danos à saúde humana e estudos
publicados que vinculavam atividades humanas a
danos ambientais e ao possível comprometimento
da sobrevivência de nossa própria espécie no plane-
ta. Também que esses aspectos e seus desdobra-
mentos resultaram na realização da Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em
Estocolmo em 1972, primeira conferência da ONU
sobre o assunto.

No Módulo 2, estudamos sobre a formação de nossa


sociedade e a construção de nossa cidadania; há
uma relação de barganha entre o interesse público
e o privado, bem como uma sociedade civil pouco
atuante, que de maneira geral busca soluções indivi-
duais para problemas públicos por meio do famoso
“jeitinho brasileiro”. Ainda, que na década de 1970 o
país vivia o “milagre econômico”, período de intenso
crescimento. Importante ressaltar que nessa década,

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politicamente, vivíamos sob um governo autoritário
que censurava os meios de comunicação de massa
e que os movimentos sociais mais relevantes centra-
vam atuação no combate à ditadura. Apenas como
curiosidade, em 1970 o Brasil foi tricampeão na Copa
do Mundo de futebol, acontecimento bastante utiliza-
do pelo governo para gerar um ambiente de otimismo
e euforia junto à população.

Diante desse cenário, como você imagina a partici-


pação de nossos representantes na Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano? E
como você imagina a repercussão dessa Conferência
aqui no país?

Reflita um pouco antes de iniciarmos nossos estudos


no próximo item.

Inserção da agenda ambiental


no Brasil
A realização da primeira conferência da ONU é um
marco histórico para a consolidação de uma agen-
da internacional voltada a questões ambientais. Ela
influenciou diretamente todos os países-membro
da Organização, incluindo o Brasil, que é membro-
-fundador da Organização das Nações Unidas, tendo
ingressado na ONU em 1945.

Ao abordar a necessidade de influenciar e conduzir


os povos do mundo para a preservação e a melhoria
do ambiente humano, a declaração final do encontro

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estabeleceu as bases para a nova agenda ambiental
do Sistema das Nações Unidas.

O crescimento econômico vivido pelo Brasil e outros


diversos países em desenvolvimento naquela época
baseava-se na extração e uso intensivo de recursos
naturais, especialmente petróleo e minérios. Apesar
de a comunidade internacional demonstrar cada vez
mais interesse nas questões ambientais, esse tema
não tinha espaço nas agendas institucionais destes
países.

O posicionamento do Brasil foi claro: restringir o uso


dos recursos naturais significaria restringir o cres-
cimento e o desenvolvimento do país, o que era ina-
ceitável. A proteção ao patrimônio natural era vista
como obstáculo ao crescimento do país.

E qual foi a repercussão desta posição junto à so-


ciedade? Praticamente nenhuma. Primeiro, porque
a sociedade brasileira não tinha interesse no assun-
to como tem atualmente. Como consequência, os
meios de comunicação não divulgaram a Conferência
de maneira ostensiva. Segundo, porque a prioridade
dos movimentos sociais existentes à época era o en-
frentamento ao governo e o combate à desigualdade
social, não proteger florestas ou animais silvestres.

Lembre-se, o meio ambiente do ponto de vista das


ciências sociais é uma representação social e, por-
tanto, adquire significados diferentes em épocas e
sociedades diferentes.

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Se, por um lado, a Conferência da ONU não repercu-
tiu em nossa sociedade, por outro, ela influenciou
algumas mudanças institucionais, afinal, o Brasil
comprometeu-se com as decisões estabelecidas
na Conferência.

Em 1973, o governo federal criou a Secretaria


Especial de Meio Ambiente (Sema), vinculada à
Presidência da República. Entre suas principais atri-
buições, estavam o controle da poluição, o uso racio-
nal dos recursos naturais e a educação ambiental.
No mesmo ano, diversos órgãos estaduais de meio
ambiente foram criados, como a Fundação Estadual
de Engenharia do Meio Ambiente (Feema), no Rio de
Janeiro, e a Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo (Cetesb), em São Paulo.

Com a promulgação da Lei 6.938, de 31 de agosto


de 1981, estabelece-se que a Política Nacional de
Meio Ambiente tenha o objetivo de preservar, me-
lhorar e recuperar a qualidade ambiental propícia
à vida, visando a assegurar, no país, condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses
da segurança nacional e à proteção da dignidade
da vida humana.

Conforme abordado no módulo anterior, a


Constituição Federal de 1988 trouxe um capítulo in-
teiro dedicado ao tema, inserindo o meio ambiente
equilibrado no conjunto de direitos a que todo cida-
dão brasileiro faz jus.

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SAIBA MAIS
Conheça a Política Nacional de Meio Ambiente
na íntegra.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-


vil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 14 mai. 2019.

No Módulo 2, abordamos que os movimentos sociais


voltados às questões de meio ambiente ganharam
mais força a partir das décadas de 1980 e 1990, com
os chamados “novos movimentos sociais”. Sobre
esse período histórico, temos que

Durante a década de 1970, o movimento am-


bientalista gerou um baixo impacto sobe a
opinião pública brasileira. Contudo, a partir de
1981, quando o país deixou de ser o campeão
mundial do crescimento econômico, o impac-
to sobre a sociedade e sobre a produção de
ideias foi grande, marcando o crescimento da
consciência ambiental e do ambientalismo no
Brasil. [...] O ambientalismo brasileiro deixou
de ser restrito a pequenos grupos da socieda-
de civil e dos órgãos estatais, para tornar-se
multissetorializado, passando a impregnar
outros movimentos sociais, organizações
não governamentais (ONGs), universidades,
a mídia, as agências governamentais não
especificamente ambientais e as empresas
(PELICIONI, 2014, p. 433).

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SAIBA MAIS
Algumas das mais atuantes organizações da so-
ciedade civil voltadas ao meio ambiente foram
fundadas ou iniciaram suas atividades no país
entre os anos 1970 e 1990. Conheça a trajetória
de algumas delas!

SOS Mata Atlântica. Disponível em: https://www.


sosma.org.br/quem-somos/historia/.

WWF Brasil. Disponível em: https://www.wwf.org.


br/wwf_brasil/historia_wwf_brasil/.

Greenpeace. Disponível em: https://www.gre-


enpeace.org/brasil/quem-somos/nossa-historia/.

Acessos em: 14 mai. 2019.

Ainda na década de 1980, a ONU estabelece uma


Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento cujo relatório final, intitulado Nosso
Futuro Comum, traz o conceito de desenvolvimento
sustentável para o vocabulário internacional:

O desenvolvimento sustentável é o desenvolvi-


mento que atende as necessidades atuais sem
comprometer a habilidade das futuras gera-
ções de atender suas próprias necessidades.

No Brasil, as mudanças observadas tanto na socie-


dade civil quanto no governo culminaram na candi-

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datura do país para sediar a segunda conferência da
ONU sobre meio ambiente.

O Brasil, que demonstrava em 1972 o seu não


envolvimento com as questões ambientais,
passou a adotar um posicionamento mais fa-
vorável, a ponto de ser candidato para sediar
uma das maiores conferências internacionais
na área, desempenhando um papel de desta-
que que merece ser amplamente discutido, no
debate criado e fomentado internacionalmen-
te em torno do desenvolvimento sustentável.

Ao sediar a Rio-92, o Brasil buscava demons-


trar que seria possível preservar a ‘soberania
sobre os recursos nacionais, principalmente
os amazônicos’ além de aproximar as posi-
ções dos países desenvolvidos e atuar de ma-
neira decisiva nas negociações sobre menção
ao desenvolvimento social e econômico em
bases sustentáveis (ALMEIDA; RODRIGUES;
SANTANA, 2014, p. 187).

Realizada entre 3 e 14 de junho de 1992, a


Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento (CNUMAD) reuniu mais de 170
chefes de estado na cidade do Rio de Janeiro, e é

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o grande marco histórico para a consolidação da
agenda ambiental em nosso país.

Também chamada de Eco-92, Cúpula da Terra ou


Rio-92, o encontro reconheceu a relação de interde-
pendência entre meio ambiente e desenvolvimento e
necessidade de um modelo de desenvolvimento hu-
mano com base sustentável. O principal documento
gerado, a Agenda 21, ultrapassou as questões am-
bientais ao abordar os padrões de desenvolvimento
que impactam o meio ambiente.

Em 2002, a ONU promoveu a Cúpula Mundial


sobre Desenvolvimento Sustentável na ci-
dade de Johanesburgo (África do Sul) e, em
2012, a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, novamente na cidade
do Rio de Janeiro.

Conhecida como Rio+20, o objetivo da Conferência


foi a renovação do compromisso político com o de-
senvolvimento sustentável, por meio da avaliação do
progresso e das lacunas na implementação das de-
cisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o as-
sunto e do tratamento de temas novos e emergentes.

Seu documento final, intitulado O futuro que quere-


mos, reforça os compromissos estabelecidos nas
conferências anteriores, enfatizando os aspectos
sociais do desenvolvimento sustentável e a necessi-
dade do esforço conjunto para o enfrentamento dos
desafios socioambientais contemporâneos.

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SAIBA MAIS
Você pode acessar todos os documentos relati-
vos às conferências da ONU sobre meio ambiente
no site das Nações Unidas. Disponível em: https://
nacoesunidas.org/acao/meio-ambiente/. Acesso
em: 14 mai. 2019. Especificamente sobre a últi-
ma Conferência das Nações Unidas, a Rio+20, há
um site específico que vale a pena você conferir.
Disponível em: http://www.rio20.gov.br/. Acesso
em: 14 mai. 2019.

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PRINCIPAIS DESAFIOS
DAS GRANDES CIDADES
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2017), as expectativas apontam
que até 2050 a população urbana do mundo prati-
camente dobrará, tornando a urbanização uma das
tendências mais transformadoras do século 21. Mas
o que isso significa, concretamente, em termos de
meio ambiente?

Significa maior pressão sobre os recursos naturais


para fornecer água, alimento, moradia e toda a infra-
estrutura urbana necessária para atender a essa po-
pulação. Afinal, as cidades são organizações sociais
totalmente dependentes das áreas não urbanizadas.
Todos os recursos necessários para a manutenção
de uma cidade são importados: alimentos, água do
abastecimento público, rochas e minérios utilizados
na construção civil, energia elétrica etc.

Antes mesmo de avançarmos, é importante refle-


tirmos um pouco sobre o que entendemos por “ci-
dade”. Qual a diferença, por exemplo, entre cidade
e município?

Podemos definir município como uma divisão ad-


ministrativa que delimita um território com perso-
nalidade jurídica própria (a prefeitura). O município
é geralmente composto por duas zonas distintas: a
zona rural e a zona urbana, cujos limites são deter-
minado pela Prefeitura, em legislação própria.

13
De acordo com o IBGE (2017), a distinção entre rural
e urbano tem sido feita por meio do tamanho popu-
lacional ou patamar demográfico, sendo o urbano
definido pela concentração populacional, enquanto
o rural por sua dispersão.

As prefeituras usualmente delimitam o perímetro ur-


bano para fins tributários ou de planejamento urbano.
O que está dentro do perímetro urbano é chamado
de cidade ou vila, sendo chamado de rural o território
externo a esse perímetro. Portanto, ‘cidade’ é a área
urbanizada do município, e sua delimitação é feita por
lei municipal, geralmente levando em consideração
a densidade populacional. Partindo dessa metodolo-
gia, obviamente a cidade é a área mais densamente
povoada de qualquer município, tenha o município
poucas centenas de habitantes ou dezenas de mi-
lhões de habitantes.

É sempre importante ressaltar que as cidades não


são todas iguais e, logo, o estilo de vida de seus
habitantes e a dimensão dos impactos ambientais
também variam consideravelmente. Daí a importân-
cia de mencionarmos “grandes cidades” ou “grandes
centros urbanos” quando tratamos das questões am-
bientais, pois são essas que requerem maior atenção.

Dados do IBGE (2018) indicam que 57% da população


brasileira vive em municípios de grande porte, isto é,
acima de 100.000 habitantes (Figura 1).

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Figura 1: Distribuição da população e dos municípios, segundo grupos
de tamanho de municípios. Fonte: IBGE, 2018.

Observe que o IBGE denomina “grande porte” os


municípios que se enquadram em duas classes de
tamanho da população: de 110.001 até 500.000 ha-
bitantes e acima de 500.000 habitantes.
Se analisarmos somente os municípios com mais
de 500.000 habitantes, veremos que eles abarcam
mais de 30% da população do país, mas represen-
tam menos de 1% dos mais de 5.500 municípios que
compõem nosso país. E se formos levantar os mu-
nicípios com mais de 1 milhão de habitantes, essa
quantidade cai para praticamente a metade.

É importante termos esses números em mente, pois


ao tratarmos das questões ambientais urbanas, es-
tamos tratando de questões que envolvem milhões
de brasileiros, mas menos de duas dezenas de cida-
des. A maioria da população brasileira vive em áreas
urbanas, mas com dinâmicas sociais, econômicas e

15
ambientais muito diversas entre si, por essa razão,
não podemos generalizar as análises para todos os
municípios e habitantes do Brasil.

Resíduos Sólidos
O que é lixo? Tudo aquilo que não tem serventia, que
está velho, que deve ser jogado fora? Você sabia que
a palavra lixo deriva do termo latino lix, que significa
cinzas? Pois é, antigamente a única coisa que não
tinha mais serventia eram as cinzas. Como estudado
no Módulo 2, atualmente qualquer objeto que não
seja mais desejável, mesmo em pleno funcionamen-
to, pode virar lixo de uma hora para outra, bastando
apenas uma campanha publicitária bem-feita para
nos induzir às compras.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº


12.305/2010) não contempla a palavra lixo, e sim
dois outros termos:

Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou


bem descartado resultante de atividades humanas
em sociedade, a cuja destinação final se procede, se
propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos
estados sólido ou semissólido, bem como gases con-
tidos em recipientes e líquidos cujas particularidades
tornem inviável o seu lançamento na rede pública de
esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso
soluções técnica ou economicamente inviáveis em
face da melhor tecnologia disponível.

16
Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas
todas as possibilidades de tratamento e recuperação
por processos tecnológicos disponíveis e econo-
micamente viáveis, não apresentem outra possibi-
lidade que não a disposição final ambientalmente
adequada.

Observe que aquilo que rotineiramente chamamos


de “lixo”, a legislação trata como rejeito. E há uma
diferença importante nesse conceito: entendemos
como lixo aquilo que não nos serve mais; por rejeito,
devemos entender tudo aquilo que pode ser jogado
fora somente depois de esgotadas todas as possi-
bilidades de tratamento e recuperação.

Certamente se você der uma espiada no cesto de lixo


de sua casa ou do seu trabalho, encontrará objetos
que poderiam ser reutilizados ou reciclados, não é
mesmo? Isso sem mencionar o lixo da cozinha, que
basicamente tem cascas, folhas e restos de alimen-
tos que poderiam virar adubo por meio de processos
simples de compostagem. Em outras palavras, muito
do que jogamos fora todos os dias não é realmente
lixo. Nem rejeito.

Para você entender a dimensão do desafio que é o


manejo dos resíduos nas cidades, vamos primei-
ro entender quais os tipos de resíduo existentes. A
Política Nacional de Resíduos Sólidos classifica os
resíduos quanto à origem da seguinte maneira:

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a) domiciliares: os originários de atividades domés-
ticas em residências urbanas;

b) de limpeza urbana: os originários da varrição,


limpeza de logradouros e vias públicas e outros ser-
viços de limpeza urbana;

c) sólidos urbanos: os englobados nas alíneas “a”


e “b”;

d) de estabelecimentos comerciais e prestadores de


serviços: os gerados nessas atividades, excetuados
os referidos nas alíneas “b”, “e”, “g”, “h” e “j”;

e) dos serviços públicos de saneamento básico: os


gerados nessas atividades, excetuados os referidos
na alínea “c”;

f) industriais: os gerados nos processos produtivos


e instalações industriais;

g) de serviços de saúde: os gerados nos serviços


de saúde, conforme definido em regulamento ou em
normas estabelecidas pelos órgãos competentes;

h) da construção civil: os gerados nas construções,


reformas, reparos e demolições de obras de cons-
trução civil, incluídos os resultantes da preparação
e escavação de terrenos para obras civis;

i) agrossilvopastoris: os gerados nas atividades


agropecuárias e silviculturais, incluídos os relacio-
nados a insumos utilizados nessas atividades;

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j) de serviços de transportes: os originários de por-
tos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários
e ferroviários e passagens de fronteira;

k) de mineração: os gerados na atividade de pesqui-


sa, extração ou beneficiamento de minérios.

As prefeituras são responsáveis pelo manejo do


Resíduo Sólido Urbano (RSU), ou seja, a soma dos
resíduos domiciliares e dos resíduos de limpeza ur-
bana. É o nosso lixo comum, gerado ao longo de
nossas atividades cotidianas. Por isso, ao analisar a
questão do manejo de resíduos nas cidades, vamos
nos concentrar neste segmento.

A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza


Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) estima que o
Brasil gerou em 2017 mais de 78 milhões de tonela-
das de resíduos sólidos urbanos. São quase 215.000
toneladas diárias produzidas no país! Deste total,
91,2% foi coletado, o que significa que 6,9 milhões
de toneladas não foram recolhidos.

Do total coletado, apenas 59,1% foi corretamente


encaminhado para aterros sanitários. Ou seja, mais
de 29 milhões de toneladas de RSU foram parar em
lixões ou aterros controlados (estruturas que não
possuem o conjunto completo de sistemas e medi-
das protetivas ao meio ambiente). Na Figura 2, no-
tamos a disposição final desses resíduos.

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Figura 2: Disposição final dos RSU coletados no Brasil (ton/ano).
Fonte: Abrelpe (2017, p. 19).

REFLITA
A Abrelpe calcula que, em média, os municípios
gastam R$ 10,37 por habitante a cada mês para
prestar os serviços de limpeza urbana e de coleta
de lixo domiciliar. Quantos habitantes tem o mu-
nicípio em que você mora? Calcule o investimen-
to mensal da prefeitura para atender o município
e reflita se esse valor não poderia ser economiza-
do caso os habitantes reduzissem a produção de
lixo com atitudes simples como reduzir o consu-
mismo/desperdício, reutilizar e reciclar.

20
Uma iniciativa muito divulgada como sendo solução
para todos os problemas é a coleta seletiva, definida
pela Política Nacional de Resíduos Sólidos como a
“coleta de resíduos sólidos previamente segregados
conforme sua constituição ou composição”.

Para a coleta seletiva ser eficiente, é preciso antes


que a fonte geradora do resíduo separe-o corretamen-
te. Em seguida, que leve aos postos de entrega ou
coloque na rua nos dias corretos. Podemos perceber
que se a população não separa seu resíduo, no míni-
mo em dois tipos (lixo comum/orgânico e materiais
recicláveis), a coleta seletiva realizada pela prefeitura
ou pela cooperativa não surtirá efeito.

Após a coleta, é preciso haver uma cooperativa ou


uma empresa que faça a triagem adequada dos re-
cicláveis para poder comercializar. Afinal, as indús-
trias recicladoras trabalham com matérias-primas
específicas, e a comercialização é feita pelo tipo de
material reciclável: plástico, papel e papelão, vidro,
metal.

Note que a coleta seletiva é apenas uma parte da


cadeia de manejo dos resíduos. Infelizmente, é uma
parte na qual nem todas as prefeituras investem ain-
da. A Abrelpe estima que, em 2017, parcela significa-
tiva dos municípios das regiões Centro-oeste, Norte
e Nordeste não tinham nenhum programa de coleta
seletiva, (Figura 3).

21
Figura 3: Distribuição dos municípios com iniciativas de coleta seletiva
no Brasil. Fonte: Abrelpe (2017, p. 18).

SAIBA MAIS
A Prefeitura de São Paulo lançou, em 2019, o Re-
cicla Sampa, novo portal do programa de coleta
seletiva no município. Acesse e pesquise os dias
da coleta seletiva em seu endereço, caso você
seja morador de São Paulo.

Disponível em: https://www.reciclasampa.com.


br/. Acesso em: 14 mai. 2019.

22
Saneamento básico

A Política Nacional de Saneamento Básico (Lei nº


11.445/2007) define-o como o “conjunto de servi-
ços, infraestruturas e instalações operacionais de
abastecimento de água potável, esgotamento sani-
tário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos,
drenagem e manejo das águas pluviais”.

Tratamos da limpeza urbana e manejo de resíduos


sólidos em item separado, para analisarmos aqui
os aspectos vinculados aos recursos hídricos. Você
consegue perceber que água potável, esgoto e águas
pluviais integram um único “ciclo de vida”, que é o
ciclo hidrológico (Figura 4)?

Figura 4: O ciclo hidrológico. Fonte: Bassoi; Menegon Jr. (2014. p. 90).

23
Ao observar a Figura 4, que certamente você já co-
nhece dos tempos do ensino fundamental, constata-
mos que a água é ao mesmo tempo um recurso infi-
nito pela sua quantidade e finito pela sua qualidade.
A quantidade de água no planeta é a mesma desde
o surgimento da vida, há bilhões de anos. O que tem
se modificado significativamente é a sua qualidade,
sobretudo a partir da segunda metade do século 20.
Nesse sentido, encontramos algumas considerações
importantes sobre o ciclo hidrológico:

Tal ordem cíclica de eventos realmente ocorre,


porém não de maneira tão simplista. O ciclo
pode experimentar um curto-circuito em vários
estágios. Por exemplo, a precipitação pode
ocorrer diretamente sobre o mar, lagos ou
cursos d’água. Além disso, não há nenhuma
uniformidade no tempo em que um ciclo ocor-
re. Durante as secas pode parecer que esse
ciclo cessou de vez, durante os períodos de
cheias pode parecer que tal ciclo será contí-
nuo. Também a intensidade e a frequência do
ciclo dependem da geografia e do clima, uma
vez que ele opera como resultado da radiação
solar, a qual varia conforme a latitude e a es-
tação do ano. Finalmente, as várias partes do
ciclo podem ser de tal ordem complicadas que
o homem só tem condições de exercer algum
controle em sua última parte, quando a chuva
já caiu sobre a terra e está empreendendo seu
caminho de volta ao mar (BASSOI; MENEGON
JR., 2014, pp. 89-90).

24
Nas cidades, dependemos diretamente das águas
que caem sobre os reservatórios de abastecimento,
que geralmente se localizam distantes dos núcleos
urbanos. Essa água receberá tratamento para se tor-
nar potável, será conduzida até nossas casas, usada
nas nossas atividades cotidianas e depois descar-
tada via sistemas de coleta e tratamento. Após o
tratamento, a água é despejada no rio mais próximo,
votando ao ciclo natural. Perceba que a água potá-
vel e o esgoto são dois lados da mesma moeda, e
constituem um pequeno “desvio” feito pelo homem
dentro do ciclo hidrológico.

Já as águas que caem diretamente sobre as cida-


des, são somente conduzidas para os rios mais pró-
ximos, por meio do sistema de drenagem (bueiros
ou bocas-de-lobo que drenam essas águas para as
galerias pluviais e destas para os rios), não sendo
normalmente utilizadas para abastecimento.

Importante reforçar que as cidades brasileiras utili-


zam somente 10% de toda água doce coletada para
uso das sociedades humanas. A agricultura consome
cerca de 70% e a indústria aproximadamente 20%
(BASSOI; MENEGON Jr, 2014).

A poluição da água é definida pela alteração de suas


características físicas, químicas ou biológicas, e os
parâmetros de níveis de poluição dependem do uso
preestabelecido para aquela água captada. Conheça
os diversos usos da água em Classificação da água
e seus diversos usos.

25
Podcast 1

SAIBA MAIS
O Conselho Nacional de Meio Ambiente (Cona-
ma) classificou as águas do território brasileiro
de acordo com os usos principais, servindo de
base para estabelecer os respectivos padrões
de qualidade. Conheça a Resolução Conama nº
20/1986.

Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/


conama/res/res86/res2086.html. Acesso em: 14
mai. 2019.

Na área do saneamento básico, podemos apontar


dois desafios principais. O primeiro é reduzir as per-
das nos sistemas de abastecimento. Devido às recen-
tes crises de abastecimento (ou seja, não choveu so-
bre as represas de armazenamento), as campanhas
nos meios de comunicação intensificaram o pedido
à população de economia e uso racional.

O fato não divulgado é que os sistemas de distribui-


ção perdem, em média, mais de 38% da água tratada
(INSTITUTO TRATA BRASIL, 2019). Isso significa que,
a cada 100 litros de água captada, armazenada e tra-
tada, 38 litros se perdem antes de chegar às casas. É
preciso com urgência investir em infraestrutura para
reduzir essas perdas.

26
O segundo desafio é universalizar a coleta e o tra-
tamento do esgoto. O Instituto Trata Brasil (2019)
indica que 83,5% da nossa população é atendida com
abastecimento de água tratada, mas apenas 52,36%
da população é atendida com coleta de esgoto. Da
parcela do esgoto que é coletada, apenas 45,1% é
tratado antes de voltar aos rios, o restante é somente
afastado das residências.

SAIBA MAIS
Qual é o impacto da ausência de saneamento bá-
sico no meio ambiente?

O Instituto Trata Brasil analisa os diversos impac-


tos em um vídeo bastante explicativo, que se en-
contra disponível em: https://youtu.be/r-D4Hrkr-
tH0. Acesso em: 14 mai. 2019.

Qualidade do ar e mobilidade
urbana
A poluição do ar é um desafio que acompanha as
sociedades humanas há muito tempo. Abordou-se
anteriormente que o inverno de 1952 em Londres foi
preocupante pelo acúmulo da poluição gerada pela
queima de carvão com a neblina que naturalmente
ocorre na região. A queima de carvão, ainda hoje, é a
principal fonte de poluição do ar em diversos países,
como a China.

27
Os poluentes atmosféricos são classificados em
material particulado (poeira, fumo, fumaça e névoa)
e gases e vapores (dióxido de enxofre, monóxido de
carbono, ozônio, vapores orgânicos).

João Vicente de Assunção (2014) esclarece que


“a poluição do ar acontece quando a alteração da
composição qualitativa ou quantitativa da atmosfera
resulta em danos reais ou potenciais”.

A fim de se constatar uma alteração, deve-se ante-


riormente estabelecer padrões do que seria um “ar
limpo”, bem como níveis de referência que repre-
sentam o máximo de poluentes aceitáveis que não
resulte em efeitos indesejáveis para a saúde. Assim,
a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabele-
ceu um padrão internacional e o Conselho Nacional
de Meio Ambiente estabeleceu um padrão nacional
(Resolução Conama nº 03/1990). Este fixa os níveis
de referência para os poluentes mais comumente
encontrados (Tabela 1).

Resolução
Padrão OMS Conama Tempo de
Indicador
(mg/m3) 03/1990 exposição
(mg/m3)

Partículas 50 150 24h


inaláveis 20 50 Anual
Ozônio (O3) 12,5 160 1h

Monóxido de 30.000 40.000 1h


carbono (CO) 10.000 10.000 8h

28
Dióxido de nitro- 200 190 1h
gênio (NO2) 40 100 Anual

Dióxido de enxo- 125 100 24h


fre (SO2) 50 40 Anual

Tabela 1: Comparação entre os padrões da OMS e os padrões na-


cionais de qualidade do ar. Fonte: Adaptada de Assunção (2014, pp.
150-151).

SAIBA MAIS
Você percebeu que os padrões da OMS e da Re-
solução Conama diferenciam-se em praticamen-
te todos os poluentes? Você saberia elencar algu-
mas razões para isso?

Assista ao vídeo do médico Paulo Saldiva sobre


os impactos da poluição do ar em nossa saú-
de, e preste atenção ao que ele diz sobre essas
divergências.

Disponível em: https://youtu.be/4-AgnMWQh7M.


Acesso em: 14 mai. 2019.

No caso das cidades brasileiras, a principal fonte de


poluentes é a frota de veículos automotores. De acor-
do com Assunção (2014), na Região Metropolitana
de São Paulo, os veículos respondem por 97% de
todas as emissões de monóxido de carbono, e são
importantes contribuintes na emissão de dióxido de
enxofre e material particulado inalável.

29
Deve-se ressaltar que diversas legislações ambien-
tais têm induzido uma melhora significativa no con-
trole das emissões veiculares, o que nos permite
observar que, individualmente, os veículos novos
estão emitindo menos poluentes, como podemos
verificar na Figura 5.

Figura 5: Evolução das emissões de monóxido de carbono pelo


escapamento de veículos leves novos a gasolina e a etanol. Fonte:
Assunção (2014, p. 160).

No entanto, se lembrarmos que a cidade de São


Paulo possui uma frota de mais de 6 milhões de ve-
ículos, a emissão acumulada acaba por ser bastante
significativa.

Soluções para o desafio de se manter uma boa qua-


lidade do ar em grandes cidades passam pelas ino-
vações tecnológicas, como já mencionado, mas pas-
sam também pela diversificação nas modalidades
acessíveis à população. Os ônibus são tão poluentes
quanto os veículos particulares, porém, um ônibus
substitui diversos veículos nas ruas. A ampliação da

30
malha metroviária é essencial, mas os investimentos
estão sempre muito aquém das necessidades.

O que se tem observado mais recentemente são


os investimentos para a implantação de ciclovias,
ciclofaixas e serviços de aplicativos para uso com-
partilhado de bicicletas e patinetes, que compõem
um nicho de mobilidade urbana bastante importante.
Não se trata de substituir os veículos por bicicletas,
mas sim em oferecer uma opção mais saudável e
menos poluente àquelas pessoas que se deslocam
por pequenas e médias distâncias dentro das cidades
ou dentro de uma região metropolitana.

Perceba que nas grandes cidades, sobretudo nas


regiões metropolitanas, a questão da qualidade do
ar e a questão da mobilidade urbana estão intrinsica-
mente vinculadas, pois muitas pessoas se deslocam
a grandes distâncias, inviabilizando o uso de bici-
cletas, patinetes e outros modais não motorizados.

Estudos calculam que cerca de 1,9 milhão de pes-


soas se deslocam diariamente dentro da Região
Metropolitana de São Paulo para trabalhar ou estu-
dar. Esse movimento diário de ir-e-vir denomina-se
“movimento pendular” e você pode ter uma noção do
contingente de pessoas que se movimentam entre os
municípios da Grande São Paulo pela Figura 6. Saiba
mais sobre esse tema em O movimento pendular na
Grande São Paulo.

Podcast 2

31
Figura 6: Fluxos pendulares intrametropolitanos: Região Metropolitana
de São Paulo, 2010. Fonte: Emplasa (2016, p. 33).

SAIBA MAIS
Saiba mais sobre Mobilidade Urbana e seu
contexto histórico, acessando https://youtu.
be/6j9HXdNxO2o.

Áreas verdes e biodiversidade


O primeiro impacto ambiental de qualquer assentamen-
to humano refere-se às áreas verdes, se considerarmos
que as sociedades humanas não se estabeleceram
dentro de florestas, mas em áreas descampadas. A
princípio, as sociedades ocupavam áreas naturalmente
abertas, como capoeiras dentro das florestas, áreas

32
de savanas, campos etc. Contudo, o desenvolvimento
tecnológico possibilitou ocupar qualquer ambiente, e
a construção de uma cidade em pleno cerrado, como
é o caso de nossa capital federal, é um bom exemplo
do impacto na vegetação das sociedades humanas.

No âmbito desta disciplina, vamos entender por áre-


as verdes as praças, parques e a arborização urbana
encontrada nas vias públicas das cidades. As praças
e parques sempre tiveram um lugar de destaque no
planejamento urbano, uma vez que suas qualidades
estéticas e paisagísticas são reconhecidas há muitos
séculos. Desta forma, centros urbanos e bairros plane-
jados contam sempre com uma área verde, geralmente
equivalente a um quarteirão.

O crescimento acelerado e sem planejamento das perife-


rias urbanas não possibilitaram a reserva de áreas desta
categoria, de modo que bairros afastados do centro,
densamente ocupados, não têm praças nem parques,
à exceção de grandes áreas previamente demarcadas
antes da chegada da infraestrutura urbana.

As áreas verdes urbanas são de responsabilidade dos


municípios, enquanto as áreas verdes rurais são de res-
ponsabilidade do Estado, o qual pode atuar de maneira
suplementar nas áreas urbanas. São inúmeros os bene-
fícios que essas áreas verdes propiciam ao ambiente
urbano, dentre os quais podemos citar:

Conforto ambiental. A vegetação contribui para redu-


zir a variação térmica do ambiente, especialmente as
vias públicas, onde há alta absorção da radiação solar
pelo pavimento asfáltico. Essa alta absorção influencia

33
o efeito conhecido como “ilha de calor”. A vegetação,
portanto, contribui com o microclima local, mantendo
a qualidade ambiental dos espaços públicos. Contribui
também para o aumento da umidade atmosférica, con-
trole da poluição atmosférica, acústica e visual, interfe-
rência na direção do vento e captação do gás carbônico,
com posterior conversão em oxigênio (BARUERI, 2018).

Valorização imobiliária. À medida que as áreas verdes


urbanas se tornam mais raras e menores, pressionadas
pelo crescimento das cidades, são cada vez mais valo-
rizadas. Imóveis próximos ou com vistas para parques
e praças são para poucos privilegiados e custam mais
caro (BONONI, 2014).

Saúde mental. Graças ao bem-estar transmitido pelo


verde, que alia aspectos de um microclima mais agradá-
vel com a presença de avifauna e a beleza da paisagem
(BONONI, 2014).

Qualidade do ar. A vegetação urbana, com folhas, galhos


e troncos, possuem capacidade de remover materiais
sólidos ou líquido particulados do ar, reduzindo as chan-
ces do material depositado ser novamente carregado
pelos ventos (BARUERI, 2018).

Biodiversidade urbana. A vegetação fornece abrigo e


alimento especialmente para os pássaros, favorecen-
do a manutenção de populações de diversas espécies
dentro das cidades.

Os benefícios reconhecidos podem ser atribuídos tanto


às áreas verdes arborizadas (praças e parques) quanto
à arborização urbana, que é composta pelas árvores

34
plantadas nas calçadas e nas ilhas das vias públicas.
Porém, à medida que praças e parques têm sido valo-
rizados pela população e pelo setor imobiliário, a ar-
borização urbana tem se tornado um “problema” nas
grandes cidades.

Historicamente, os conflitos entre a cidade e a arbori-


zação iniciaram-se com a expansão de infraestrutura
urbana. O Plano de Manejo da Arborização Urbana de
Barueri aponta que

[...] com a expansão da luz elétrica, das redes


de telecomunicações, dos serviços de abasteci-
mento de água e coleta de esgoto, além de um
complexo sistema de dutos, galerias e rodovias,
que tomaram conta do ar, solo e subsolo, hou-
ve perdas dos espaços aéreos e a arborização
passou a interferir nos planos de inovação das
cidades, ficando o plantio de árvores restrito aos
jardins e praças (BARUERI, 2018, p. 06).

Em relação aos desafios enfrentados para a adequada


manutenção da arborização urbana,

O vandalismo é a principal causa da morte das


árvores plantadas nas calçadas e praças. De
cada cem árvores plantadas apenas trinta so-
brevivem na cidade de São Paulo, e essa taxa
cai para aproximadamente 10% quando próxi-

35
mos a campos de futebol como o Morumbi ou
o Pacaembu (BONONI, 2014, p. 295).

Na cidade de São Paulo, as palmeiras dificilmente re-


sistem ao ataque de lagartas que comem suas folhas
sistematicamente. Os cupins também atacam árvores
velhas ou que sofreram qualquer tipo de lesão, com
perigo de queda sobre veículos ou pedestres. Parte
desses problemas pode ser atribuído à uniformidade
ou falta de variedade da vegetação, à falta de cuidados
fitossanitários, à eliminação de inimigos naturais ou
mesmo à idade das árvores que não são substituídas
à medida que envelhecem.

A desvalorização da arborização urbana por parte da


população prejudica seu planejamento e, sem um pla-
nejamento de qualidade, as árvores tornam-se mais um
problema do que um benefício. É importante entender
a arborização urbana como um equipamento estraté-
gico de qualidade ambiental, caso contrário continuará
sendo desvalorizada pelas administrações públicas
das cidades.

SAIBA MAIS
A prefeitura de Campinas, município paulista com
mais de 1 milhão de habitantes, possui um vídeo
bastante interessante sobre arborização urbana,
vale a pensa assistir! Disponível em: https://youtu.
be/JfCGuFQnVsE. Acesso em: 14 mai. 2019.

36
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste módulo, estudamos o percurso da temática
ambiental dentro da agenda governamental, por meio
das quatro conferências temáticas promovidas pela
Organização das Nações Unidas: Estocolmo em
1972, Rio de Janeiro em 1992, Johanesburgo em
2002 e Rio de Janeiro em 2012. Abordamos como
a sociedade civil também incorporou a questão am-
biental em suas pautas de reivindicações. Em se-
guida, entramos no ambiente urbano, incialmente
entendendo os conceitos de município, zona urbana
e zona rural. A partir daí, analisamos os principais
desafios enfrentados atualmente pelas cidades, orga-
nizados em quatro grandes temas: resíduos sólidos,
saneamento básico, qualidade do ar e mobilidade
urbana, e áreas verdes e biodiversidade. No próximo
módulo, encerraremos nossa jornada de aprendi-
zagem e as cidades continuarão sendo o foco de
nossos estudos.

Até lá!

37
Síntese

OS DESAFIOS DO
AMBIENTE URBANO

Movimentos sociais e a
questão ambiental no Brasil

• As cidades pela perspectiva ecológica

Principais desafios das


grandes cidades

• Resíduos sólido

• Saneamento básico

• Qualidade do ar e mobilidade
urbana

• Áreas verdes e biodiversidade


Referências
ABRELPE. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS
DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS. Panorama
dos resíduos sólidos no Brasil. São Paulo: ABRELPE,
2017. Disponível em: http://abrelpe.org.br/panorama/.
Acesso em: 14 mai. 2019.

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sobre temas de meio ambiente. Revista do Direito
Público. Londrina, v. 9, n. 2, pp. 183-202, mai/ago.
2014. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/
index.php/direitopub/article/view/19519. Acesso em:
14 mai. 2019.

ASSUNÇÃO, J. V. Controle ambiental do ar. In: PHILIPPI


JR., A.; ROMÉRO, M. A.; BRUNA, G. C. (Eds.). Curso de
Gestão Ambiental. 2. ed. Barueri: Manole, 2014.
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BARUERI. SECRETARIA DE RECURSOS NATURAIS E


MEIO AMBIENTE. Plano de manejo da arborização
viária 2014-2020. Barueri: [s. n.], 2018.

BASSOI, L.; MENEGON JR., N. Controle Ambiental


da Água. In: PHILIPPI JR., A.; ROMÉRO, M. A.; BRUNA, G.
C. (Eds.). Curso de Gestão Ambiental. 2. ed. Barueri:
Manole, 2014. (Coleção Ambiental vol. 13) pp.
87-142.

BONONI, V. L. R. Controle Ambiental de Áreas Verdes.


In: PHILIPPI JR., A.; ROMÉRO, M. A.; BRUNA, G. C. (Eds.).
Curso de Gestão Ambiental. 2. ed. Barueri: Manole,
2014. (Coleção Ambiental vol. 13). pp. 257-306.

BRASIL. Lei nº 11.445, de 05 de janeiro de 2007.


Estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento
básico, cria o Comitê Interministerial de Saneamento
Básico. Brasília, DF: Presidência da República, [2007].
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
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2019.

BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010.


Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a
Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República,
[2010]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em:
14 mai. 2019.

CONAMA. CONSELHO NACIONAL DE MEIO


AMBIENTE. Resolução Nº 03, de 28 de junho de 1990.
Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/
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para a elaboração do PDUI. Região Metropolitana de
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Manole, 2014. pp. 413-444 (Coleção Ambiental, v.14).

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