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Instituto de Biociências
Rio de Janeiro – RJ
2017
Rayane Romão Saad Abude
Rio de Janeiro
2017
Abude, Rayane
Aprovada em
____________________________________________________
Dr. Ricardo Silva Cardoso
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
____________________________________________________
Dr. Tatiana Medeiros Barbosa Cabrini
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
____________________________________________________
Dr. Daniel Fonseca de Andrade
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
____________________________________________________
Me. Suzana Muniz Ramineli
Projeto Cavalos do Mar
Versão corrigida
Resumo
Rio de Janeiro sandy beaches, whose beauty is known worldwide, are natural
resources intensely explored as tourist and recreational attractions. They are dynamic
ecosystems very prone to diverse environmental impacts, and the accumulation of solid
wastes is one of the most immediate and perceptible impact aspects. The environmental
degradation of beaches was the reason for the execution of this project, action and research
in Environmental Education. Through the diffusion of ecological knowledge on sandy
beaches and their historical and cultural appeal that these beaches represent, students of
municipal schools of Rio de Janeiro city were promoted by concepts of sustainability,
encouraging the formation of ecological subjects. The change in the environmental
perception of students before and after the project was investigated. In three municipal
schools, eight classes with five meetings each, at different times, were the targets of the
actions. In each class, at the first meeting, students were asked to draw a sandy beach as
best they could. The objective of the following meetings was to undo the impression that
beaches are a biological deserts and to point out the main impacts to which they are prone,
in order to encourage environmental critical sense. Transfer of ecological knowledge,
experiments, debates, solid waste reuse workshops and field trips were carried out in the
following meetings. In the last meeting, students were again asked to draw a beach. The
content analysis made it possible to verify the environmental perception of the students
expressed in the drawings in these two moments. Each beach represented was allocated
among urbanized, conserved, preserved, impacted, generalist or reductionist categories. The
difference between the drawings of the two periods was verified and it was identified that
natural elements were more present in the final class, as well as elements and benthic
organisms that were present at the field. Conserved and preserved beaches were also more
present in the last class. Urbanized beaches were more frequent in the first class. Negative
aspects of human presence, rares in the drawings of the first period, has increased in the
second. It could be verified that the scientific and ecological knowledge about sandy beaches
was enriched after the actions, debates and discussions of PraiAmar Project. The
environmental perceptions about sandy beaches were positively changed. Therefore, it is
evident that scientific knowledge is a key element for environmental awareness and
conservation of ecosystems.
Dedico esta conquista aos meus amados
pais e padrinhos (in memoriam) pela
capacidade de acreditar e investir em mim.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha mãe, Nely Romão, e ao meu pai, Mauro Abude, por todo zelo,
cuidado e amor durante toda minha vida! Agradeço a minha irmã Rayssa por sempre
incentivar e provocar meu lado cientista e confiar nas minhas informações sobre praias
arenosas.
Ao meu orientador, Ricardo Silva Cardoso, pela alegria de sempre e por ter confiado
em mim durante os principais processos da minha graduação (Iniciação Científica e
Extensão Universitária). Sem sua confiança, criatividade, amizade e incentivo este trabalho
não seria possível.
A toda família ECOMAR, novos e antigos, por toda amizade, reuniões, risadas,
revezamento de micro-ondas e toda coletividade que é fundamental no trabalho com praias
arenosas, na teórica e prática. Com destaque, carinho e estima à Tatiana Cabrini por todo o
conhecimento ecológico, transparência, eficiência e pela linda função de co-orientadora pra
vida; ao Henrique Egues pela parceria e entusiasmo no Projeto PraiAmar; ao Michel
Almeida por toda paciência nas dicas de Excel; ao Gabriel Frota por sempre compartilhar
suas novas descobertas sobre o mundo; e à Tatiana Maria por ter dado um importante
encaminhamento a este projeto e à minha formação.
Um agradecimento especial aos meus familiares (avós, tios(as), primos(as) e
afilhada) por serem a base de todos os meus sonhos e alicerce para minha confiança em
mim.
Ao departamento de pesquisa e ao departamento de extensão da UNIRIO pela
institucionalização do presente projeto e de projetos de pesquisa que atuei durante minha
graduação; ao CNPq pelas bolsas de iniciação científica concedidas; à FAPERJ pelo apoio
a este projeto.
Aos mestres e doutores do curso de Ciências Ambientais da UNIRIO por todo
conhecimento e incentivo à ciência.
Aos amigos que a UNIRIO me deu e que vou levar por toda a vida, com destaque
para Tainá e Natália, pela parceria e companheirismo em seminários, devaneios, viagens e
momentos tão especiais; Roberta, Arthur, Caio e Thiago por todas as risadas e ideias
compartilhadas em prol de um mundo melhor; e João Marcelo, por ter sido a primeira
pessoa que me sorriu nesta Universidade e me abriu diversos sorrisos através do seu.
Por fim, agradeço a Deus, à vida, à natureza, ao sopro universal, por todos os
passos que me trouxeram até este momento e por alimentar a minha inabalável fé na
certeza de um mundo melhor.
“Quando o homem aprender a respeitar
até o menor ser da criação, seja animal
ou vegetal, ninguém precisará ensiná-
lo a amar seus semelhantes.”
Albert Schweitzer
Índice de figuras
1. Introdução……………………………………...............................................................13
2. Objetivos....................................................................................................................22
3. Material e Métodos....................................................................................................23
3.1 Área de Estudo.....................................................................................................23
3.2 Metodologia..........................................................................................................24
4. Resultados e Discussão............................................................................................32
4.1 Resultados obtidos em cada etapa......................................................................32
4.2 Alteração na percepção ambiental – análise dos desenhos................................36
4.3 Educação ambiental crítica e a formação de sujeitos ecológicos........................43
5. Conclusão..................................................................................................................45
6. Referências Bibliográficas.........................................................................................47
7. ANEXO: Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global...............................................................................................54
ANEXO 1 – Princípios...............................................................................................53
ANEXO 2 – Plano de Ação........................................................................................55
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1. INTRODUÇÃO
Deste modo, reconhecer as praias como ambientes poluídos pode gerar um ciclo vicioso de
acúmulo de resíduos sólidos, com ausência de um pensamento crítico sobre o assunto,
principalmente naquelas crianças e adolescentes que não recebem exemplos sustentáveis
de seus educadores.
Há também descartes ocasionados simplesmente pela falta de pertencimento ao meio
e o descuidado com o patrimônio natural. E uma outra possível razão para o lançamento de
resíduos em praias é a negligencia proposital justificada pela crença na limpeza pública ser
eficiente e eficaz, ou, ainda, pelo indivíduo equivocadamente acreditar que jogar lixo é uma
forma de garantir o emprego dos garis. A exemplo deste pensamento equivocado, no estado
do Tocantins, uma campanha iniciada em 2017 com o intuito e reduzir a degradação de uma
praia de beira de rio, tinha como lema a seguinte mensagem: “Se você joga lixo na praia
para garantir o emprego do gari, então por que não morre para garantir o emprego do
coveiro?” (G1, 2017). Esta campanha, através de uma abordagem humorística, é um bom
exemplo do descaso da população local quanto ao descarte de resíduos na praia, o que se
manifesta de Norte a Sul do Brasil, incluindo o Rio de Janeiro.
A falsa percepção de que praias arenosas são um deserto biológico e a ausência de
noções sobre os impactos provocados por resíduos sólidos aos ecossistemas marinhos e
costeiros favorece o ciclo do descarte irresponsável. No entanto, ao se propor uma nova
maneira de enxergar este quadro e ajustar as lentes, de forma que evidencie suas
consequências e o interprete como uma problemática socioambiental passível de resolução,
as traduções das praias da cidade do Rio de Janeiro e posteriores ações podem ser
positivamente alteradas.
Nas metrópoles e áreas urbanas, como a cidade do Rio de Janeiro, há um
distanciamento diário entre humanidade e natureza. O cotidiano não favorece esta conexão
e a rotina casa-trabalho gera alienações na vida de um cidadão comum, afastando de seus
pensamentos questões ambientais e uma tentativa por melhoria da qualidade de vida.
Segundo Campos (2002), o trabalho numa cidade grande pode ter um aspecto de dimensão
abstrata, tornando-se, alienador e sem propósito. A partir deste cenário, fica evidente o
porquê de problemas ecológicos serem negligenciados ou colocados em segundo plano por
grande parte da população do Rio de Janeiro. Falta o sentimento de pertencimento e tempo
disponível para em questões ambientais. Crianças e adolescentes, sem encorajamento,
podem facilmente tornarem-se reprodutores do atual padrão de degradação de naturais,
uma que vez que estão afastadas de hábitos sustentáveis e, de uma forma geral, falta-lhes
o incentivo a um pensamento crítico sobre estes impactos.
O sentimento de pertencimento ao meio é fator essencial na conservação natural e
cultural de qualquer ambiente. Pieper e colaboradores (2014) consideram que somente pelo
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Nas praias, alguns fatores já citados podem ser os responsáveis pela sua eminente
degradação por resíduos sólidos e aporte de afluentes, mas a Educação Ambiental é
solução para muitos deles. O conhecimento transmitido através de ações em Educação
Ambiental, que agrega sensibilização e conscientização, é peça chave na conservação de
ecossistemas. A conscientização da população através de trabalhos de Educação Ambiental
foi apontada como solução para praias degradadas pelo lixo pela maioria dos
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frequentadores destes ambientes (SILVA et. al., 2003; MUNAY, 2005). Diversos programas,
projetos e ações de Educação Ambiental em praias e áreas costeiras têm ocorrido no Brasil,
sobretudo nas duas últimas décadas. Entre eles, podemos destacar o Projeto Tamar,
Projeto Bandeia Azul, Projeto Limpeza Na Praia (Instituto Ecológico Aqualung), Projeto
Verão Praia Limpa, Projeto EdamPra, Ação Limpeza na Praia Vermelha (UNIRIO), entre
outros. Mundialmente a Educação Ambiental costeira também tem recebido bastante
atenção. Movimentos como o International Coast Cleanup promovem dias mundiais para a
limpeza de praias ao redor do globo. Os eventos promovidos por estes projetos visam,
sobretudo, despertar a consciência da população para a degradação de ambientes costeiros
e marinhos e envolvê-la na conservação destas áreas. Nomeadamente ou não como EA,
estes projetos a põe em prática.
A Educação Ambiental objetiva minimizar a deterioração ambiental com apoio da
sociedade, sendo utilizada como uma ferramenta de conscientização para incentivar o não
desperdício de recursos naturais, o consumo e descarte conscientes e incentivar o
estabelecimento de um desenvolvimento sustentável a longo prazo. Com menos de trinta
anos de institucionalização no Brasil, a EA surgiu da preocupação da sociedade com o
futuro da vida e com a qualidade da existência das presentes e futuras gerações, sendo
uma das alternativas que visam construir novas maneiras de os grupos sociais se
relacionarem com o meio ambiente. É concebida inicialmente como preocupação dos
movimentos ecológicos com uma prática de conscientização capaz de chamar a atenção
para a finitude e a má distribuição no acesso aos recursos naturais e envolver os cidadãos
em ações sociais ambientalmente apropriadas (CARVALHO, 2012). Seu marco referencial
se deu com o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global (Anexo 1), criado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro em 1992, a Rio-92. O quinto princípio deste
tratado dispõe sobre a EA envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o
ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar. Desta forma, ações de
conscientização que envolvam vivências em campo e experiências, bem como abordem
assuntos cotidianos sob o aspecto ambiental, tornam-se eficazes ao propor um olhar crítico
sobre problemas ambientais e sociais. Apoiando-se sobre o quarto tópico do plano de ação
do mesmo tratado, que dispõe sobre a EA ser trabalhada “a partir das realidades locais,
estabelecendo as devidas conexões com a realidade planetária, objetivando a
conscientização para a transformação” (Anexo 2), as praias arenosas caracterizam-se como
um excelente ambiente para ações de Educação Ambiental na cidade do Rio de Janeiro,
uma vez que se configuram como ambiente natural bastante comum e com forte apelo
cultural no município. A partir das praias cariocas, conhecimentos ecológicos podem ser
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2. OBJETIVO
Este trabalho teve como objetivo a pesquisa participante, que envolve a realização
concomitante da pesquisa e da ação e a participação conjunta entre pesquisador e
pesquisados, com objetivo de mudança ou transformação social (HAGUETE, 2003). Sob a
ótica das praias arenosas, em escolas municipais do Rio de Janeiro, buscou-se desmitificar
a praia como um deserto biológico e expandir na população-alvo o interesse por questões
ambientais, incentivando a formação de sujeitos ecológicos. A alteração na percepção de
praias arenosas pela população-alvo também foi objeto de estudo.
Como objetivos específicos para este trabalho, temos:
• Divulgar dados sobre resíduos sólidos e esgoto lançados nas praias do Rio de
Janeiro para o público-alvo das ações;
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.2 Metodologia
Por ser uma pesquisa participante e de ênfase qualitativa, o fim deste trabalho está no
processo e não somente nos resultados, de forma que as ações dos sujeitos envolvidos
devem ser observadas e compreendidas para que se levante o seu significado (ANDRÉ,
1995). Segundo Paulo Freire (1996), todo projeto de educação que pretende ser libertador
deve ser coerente com sua metodologia, o que implica considerar o diálogo como uma
ferramenta primordial desse processo de libertação. Por isto, as etapas deste projeto
buscaram estabelecer o diálogo entre educadores e educandos.
A equipe do Projeto PraiAmar foi formada por alunos de graduação dos cursos de
Ciências Ambientais, Ciências da Natureza e Ciências Biológicas (UNIRIO), alunos de
mestrado do programa de pós-graduação em biodiversidade neotropical (UNIRIO), e uma
aluna de doutorado no programa de pós-graduação em ecologia (UFRJ); foi
coordenada/orientada por professores do Departamento de Ecologia e Recursos Marinhos
da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
Em cada escola, as turmas do sexto ou sétimo ano do ensino fundamental foram o
público-alvo das atividades. No total, alunos de oito turmas, que variavam de 18 a 30 alunos,
foram os focos deste projeto. Na Escola I, trabalhamos com a turma A e X (esta turma teve
as atividades suspensas) do sexto ano; na Escola II, turmas B, C, D e E, também do sexto
ano; e na escola III, turmas F e G, sétimo ano.
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i. Primeiro encontro
presta e se joga fora; coisa ou coisas inúteis, velhas, sem valor; resíduos que resultam de
atividades domésticas, industriais, comerciais”, foi-se discutido se realmente o que deixamos
e encontramos nas areias das praias é lixo ou se é algo passível de reutilização,
reaproveitamento e reciclagem. Neste ponto, buscou-se desconstruir o conceito de lixo
aproximá-los da ideia de prolongamento da vida útil dos resíduos sólidos de atividades
humanas.
Foram exemplificados alguns impactos de resíduos sólidos em praias arenosas.
Através da exibição de fotos, foi abordado o impacto visual e estético, degradação e
deterioração das praias, onde o acúmulo de resíduos leva à redução de seu valor intrínseco.
O alto dinamismo e fragilidade deste ecossistema, que representa um ambiente de transição
entre o meio marinho e terrestre (VELOSO et al., 2009), também foram temas conversados.
Posteriormente, foi abordado o impacto dos resíduos sólidos a organismos marinhos
(tartarugas, peixes), terrestres (aves) e organismos da macrofauna de praias arenosas,
como o tatuí (Emerita brasiliensis). Por último, foram mencionados danos à população
humana, como riscos de doença e perda de áreas em bom estado de conservação.
O paradigma de que o homem não pertence à natureza e sim está à parte dela foi
discutido e, neste aspecto, buscou-se equiparar a experiência humana como a de qualquer
outra espécie, que sofre os danos ecológicos provocados por nossas ações. Buscou-se
trazer o sentimento de empatia pelas demais formas de vida, assim como a importância da
conservação de praias arenosas. A partir da visualização de fotos do impacto ambiental
causado pelo acúmulo de resíduos sólidos no ambiente marinho, os alunos mostravam-se
mais interessados no tema abordado, sendo incentivados a refletir, opinar e sugerir soluções
para a problemática.
tampada. Em sala de aula, cada aluno recebeu uma placa devidamente marcada. Foi
pedido que os alunos rapidamente destampassem a placa e fixassem seu dedo indicador na
gelatina no lado 1 da placa por cinco segundos e, em seguida, tampassem a placa. Após
esta etapa, foi distribuído álcool gel para que os alunos limpassem os dedos e novamente o
fixassem na placa, desta vez no lado 2, também por cinco segundos. Após esta experiência,
as placas tampadas foram recolhidas e guardadas, a fim de, na aula seguinte serem
devolvidas aos alunos.
Questionou-se o que eles imaginavam como objetivo deste experimento e, após
diversas sugestões, em algumas turmas, os alunos entenderam que o objetivo era comparar
o crescimento microbiano entre os meios de cultura do dedo sujo e do dedo limpo. O foco
desta atividade foi mostrar a existência de micróbios no corpo humano e como eles
alterariam os meios de cultura, que têm nutrientes e condições favoráveis ao
desenvolvimento dos microrganismos presentes em nossa microbiota. Ao limpar as mãos
com álcool, esperou-se reduzir o número de microrganismos que cresceria nos meios de
cultura. Aludindo ao funcionamento de nosso organismo: sem as medidas básicas de
higiene, ele torna-se um excelente anfitrião para bactérias e fungos; assim como as praias e
oceanos e os coliformes termotolerantes. Nos dias seguintes, as placas foram devolvidas
aos alunos para observação do crescimento microbiano.
A degradação das praias por resíduos sólidos foi tratada como um tema passível de
solução. Para isto, falou-se sobre padrões de consumo, hábitos insustentáveis, reciclagem,
sustentabilidade e os 3R’s sustentáveis (reduzir, reutilizar, reciclar). A partir das discussões
acerca de Pegada Ecológica, hábitos de vida e padrões de consumo, abordou-se a
distribuição de recursos (naturais, financeiros e de infraestrutura) e desigualdade de renda.
O aumento na geração de resíduos no Brasil, a destinação final de resíduos no Rio de
Janeiro e o esgotamento de aterros sanitários também foram assuntos debatidos. E, a fim
de sensibilizar e incentivar os alunos à conservação de praias arenosas e zonas costeiras,
falou-se de:
Para exemplificar que nem tudo que parece lixo é, foi realizada uma oficina de
reutilização de resíduos sólidos domésticos. Em que, através de objetos com atividade
aparentemente encerrada, novos objetos foram confeccionados. Foram produzidas carteiras
e bolsinhas a partir de embalagens Tetra Pak, vasos para plantio de sementes, regadores e
outros objetos a partir da criatividade dos alunos.
alunos fizeram uma visita aos laboratórios da UNIRIO onde foram apresentados aos
organismos da macrofauna e meiofauna de praias arenosas, da mesma forma que as
turmas que foram à Praia de Fora. Em seguida, foi feita uma visita guiada à Praia Vermelha,
também na Urca, que tem forte presença humana e baixa riqueza de espécies
macrofaunais, seguindo a mesma metodologia da Praia de Fora, porém com algumas
discussões mais voltadas para impactos antrópicos, o que mais foi observado pelos alunos
na Praia Vermelha. Para os organismos que não foram observados, discutiu-se as possíveis
razões da sua ausência.
v. Encerramento
A análise de conteúdo sugerida por Bardin (1979) foi utilizada para a interpretação e
análise dos desenhos. Segundo a autora, a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas
de análise das comunicações que visa obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos, a
descrição do conteúdo das mensagens, sejam estes quantitativos ou não, que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e/ou recepção destas
mensagens. Este método busca avaliar o conteúdo manifesto nas comunicações, sejam
verbais ou não. A partir desta abordagem, a análise de conteúdo é usada quando se quer ir
além dos significados, da leitura simples do real, aplica-se a tudo que é dito em entrevistas
ou depoimentos ou escrito em jornais, livros, textos ou panfletos, como também a imagens
de filmes, desenhos, pinturas, cartazes, televisão e toda comunicação não verbal
30
(FERREIRA, 2003). Esta técnica não tem modelo pronto, ela é construída através de um vai
e vem contínuo e tem que ser reinventada a cada momento.
A primeira fase é a pré-análise ou a fase de organização. Este é o contato inicial com
material de trabalho, em que ocorre a “leitura flutuante” do material (BARDIN, 1979), que
consiste na identificação de padrões de resposta, com base na pergunta norteadora da
pesquisa. No presente trabalho, a leitura flutuante permitiu a identificação dos elementos
presentes em cada desenho e a identificação destes em naturais ou antrópicos. Itens que
são naturalmente encontrados nas praias sem que haja interferência humana, foram
considerados elementos naturais e os itens de natureza humana foram considerados
elementos antrópicos. A partir disso, foi possível perceber padrões nos desenhos, que
evidenciaram e possibilitaram a criação de categorias, definidas com base na presença,
ausência ou simultaneidade de elementos. A praia de cada desenho foi categorizada em:
urbanizada, conservada, preservada, impactada, generalista ou reducionista. Estas
categorias tornaram-se facilmente identificáveis após a definição das métricas para cada
uma. A técnica de análise ocupou-se em descrever os elementos representados nos
desenhos e a categoria em que cada um se enquadra com a finalidade de compreender a
percepção que os alunos têm sobre praia.
A categoria urbanizada foi adaptada do índice de urbanização para praias arenosas
proposto por Gonzalez e colaboradores (2014). As características deste índice consideradas
para o presente trabalho foram praias com infraestrutura (quiosque, posto, ambulantes,
sinalização etc.), construções nas areias e frequência de pessoas. No geral, praias com
mais elementos humanos do que naturais e com ausência da representação de impactos
negativos foram consideradas urbanizadas (Figura 3).
Praias conservadas foram consideradas para desenhos que apresentaram organismos
da macrofauna de praias arenosas, algas e organismos do costão rochoso que estiveram
presentes na aula prática. Esta categoria foi adaptada do índice de conservação para praias
arenosas proposto por McLachlan e colaboradores (2013). Neste estudo, além da presença
de espécies, a categoria conservada também conta com a presença de pessoas ou
elementos humanos, de forma harmoniosa e sustentável, com a ausência da representação
de impactos negativos da presença humana. O conceito de conservação que também
inspirou esta categoria está na lei que institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza – SNUC (9.985/2000). Inciso II do Art. 7º, parágrafo 2º define que
o objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da
natureza com o uso humano sustentável (BRASIL, 2000) (Figura 4).
A categoria preservada, bem como a conservada, compreende desenhos que
apresentam organismos da macrofauna de praias arenosas, algas e organismos do costão
31
rochoso que estiveram presentes na aula prática. Esta categoria também foi adaptada do
índice de conservação para praias arenosas proposto por McLachlan (2013). A diferença é
que nesta categoria as praias desenhadas não contam com a presença de pessoas ou
elementos humanos, demonstrando praias como áreas de natureza intocada. Esta categoria
foi inspirada no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC (da
Lei 9.985/2000), inciso II do Art. 7º, parágrafo 1º, que define como objetivo básico das
Unidades de Proteção Integral preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto
dos seus recursos naturais (BRASIL, 2000), o que exclui a presença humana (Figura 5).
Impactada foi a categoria utilizada para abarcar desenhos que apresentam aspectos
negativos da presença humana e a ausência de espécies ícones e emblemáticas. Segundo
a resolução CONAMA n°001 de 23 de janeiro de 1986, impacto ambiental é
“qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e
o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as
condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos
ambientais.”
Os principais elementos observados nesta categoria foram resíduos sólidos (ou a referência
à “lixo”), esgoto e cenas de arrastão (Figura 6).
Desenhos que trouxeram a representação de impactos ambientais, como resíduos
sólidos e esgoto, e, simultaneamente a presença de organismos presentes da aula prática,
foram categorizados como generalizantes, categoria adaptada do conceito de natureza
generalizante proposto por Tamaio (2002), que define a natureza de uma forma muito ampla
e abstrata, onde “tudo é natureza”. Esta categoria só apareceu uma única vez nos desenhos
da primeira aula, já na segunda aula, foi observada 14 vezes (Figura 7)
Praias representadas com poucos elementos ou com expressões mais abstratas e
românticas foram categorizados em reducionistas. Este nome não significa desenhos
pobres, mas sim pouco complexos e com ausência de características que permitisse a
alocação nos grupos anteriores. Como exemplo, temos muitos desenhos que representam o
pôr do sol (Figura 8).
A partir do Excel, análises quali-quantitativas foram feitas para se detectar as
diferenças e a alteração na percepção observada entre os desenhos da primeira aula e os
desenhos da última aula, através das categorias criadas. Para análise dos dados coletados,
utilizou-se o teste t- Student para amostras independentes, com o propósito de comparar as
diferenças entre os desenhos ao longo dos encontros. Foram considerados resultados
estatisticamente significativos para valores de p 0,05. As variáveis turma e local do campo
(Praia de Fora ou Praia Vermelha) também foram investigadas.
32
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No total, 182 alunos foram diretamente sensibilizados pela ação. A intenção primordial
deste projeto não se baseia somente na conscientização sobre o ambiente marinho e de
praia, mas sobretudo, no incentivo à formação de sujeitos ecológicos, através do estímulo à
reflexão e problematização ambiental, gerando curiosidades, inquietudes e fomentando nos
alunos o pensamento crítico e a coragem para propor soluções. O sujeito ecológico, em
poucas palavras, é um modo de ser relacionado à adoção de um estilo de vida
ecologicamente orientado (CARVALHO, 2012). É o conceito que dá nome a aspectos da
vida psíquica e social que são orientados por valores ecológicos. No desenvolvimento da
presente atividade extensionista, buscou-se incentivar nos alunos o gosto pelo debate e
pelas discussões sobre o que nos cerca. Assim como levá-los a questionar o senso comum
e enxergar de forma crítica seus próprios hábitos cotidianos, através da ferramenta da
Pegada Ecológica, que os permitiu visualizar comportamentos e padrões, aparentemente
não impactantes, como problemas ambientais.
Para Piaget (1974), biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, a interação entre o
indivíduo e o meio implicam um processo de construção e reconstrução permanente que
resulta no aprendizado. Assim, identificar problemas e refletir sobre eles, gera uma
aprendizagem espontânea nos indivíduos. Ao longo dos cinco encontros, a questão
ambiental – sobretudo impactos ao ambiente praial e esgotamento dos aterros sanitários –
foi exposta de forma problematizadora, colocando a população humana como a única
responsável. Paulo Freire (2002) afirma que ensinar não é um mero ato de repassar
conhecimento, mas sim a criação de possibilidades para que o aluno construa seu próprio
conhecimento. Freire também registra que “sem a curiosidade que me move, que me
inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino”. Neste sentido, a educação
deve ter um caráter “problematizador”, que amplie os horizontes do educando. Segundo o
autor, é dever do professor e da escola respeitar os saberes prévios do aluno, tanto os
histórico-culturais, quanto os construídos socialmente, e, através dessas noções, torná-los
críticos. Desta forma, nosso projeto mostra-se fortemente educador e formador de sujeitos
críticos, no sentido de incentivar a construção individual e coletiva do conhecimento através
das reflexões e debates propostos.
Indiretamente, o presente projeto se expande para além da população-alvo, uma vez
que os alunos participantes fazem papel de multiplicadores da ação no ambiente escolar,
levando, de maneira informal, o conhecimento discutido ao longo dos cinco encontros para
seus colegas de outras turmas. Em uma das escolas onde as ações ocorreram, inclusive,
existe o Clube de Ciências composto por alguns alunos do 9º ano. Estes alunos, por
vontade própria, acompanharam a atividade de campo da presente ação das turmas de 6º
33
Por isto, a busca do projeto em informar e discutir além de praias arenosas, com o
propósito de fomentar a construção de uma cultura ecológica não apenas neste ambiente,
mas de forma global e em todo o cotidiano dos alunos-alvo. As praias arenosas funcionam
como uma janela para a visualização de problemas ambientais globais. Como já
mencionado, elas representam um ambiente de apelo cultural na cidade do Rio de Janeiro e
através da sua degradação outras questões emergem e são colocadas em debate. Assim,
procurou-se sempre visualizar no ambiente marinho as consequências negativas do padrão
de consumo carioca, por exemplo. Frases como “todo esgoto vai dar no mar” foram
constantemente repetidas pelos alunos, em todas as turmas. Despertou-se, assim, uma
consciência pela redução no uso de descartáveis e pelo descarte adequado de produtos
químicos e compostos por microplástico.
Foram produzidos e analisados 353 desenhos, 177 na primeira aula e 176 na última.
Os elementos presentes em cada desenho foram contados um a um e, no total, 66
elementos diferentes foram observados considerando-se os dois períodos de confecção.
Itens físicos naturais e organismos da praia, assim como itens de natureza humana, foram
representados. Para a análise dos desenhos, desconsideramos as produções da turma que
teve as atividades do projeto suspensas.
Conforme os quadros 1 e 2, os elementos naturais mais frequentes nos desenhos
foram mar, sol e areia, enquanto os elementos humanos mais frequentes foram
propriamente as pessoas, guarda-sol e canga. Elementos naturais apareceram mais nos
segundos desenhos, no entanto a diferença não foi significativa entre os dois períodos (p-
valor>0,05). Já os elementos de natureza humana foram mais presentes nos primeiros
desenhos, também sem diferença significativa entre os dois períodos (p-valor>0,05). A
frequência de elementos presentes na aula prática (organismos bentônicos, resíduos
sólidos, costão rochoso e algas) foi maior nos desenhos da segunda aula, variando
significativamente em relação à primeira aula (p-valor<0,05).
Considerando os desenhos das duas aulas, a combinação mar e areia foi observada
em 68% dos desenhos. Estes dois elementos foram os que mais ocorreram
simultaneamente, seguidos de mar e sol, juntos em 47% dos desenhos. Possivelmente, a
associação de mar e areia representa os dois principais aspectos que vem em mente
quando se sugere o tema praias arenosas. São os espaços físicos de definição das praias,
em que a porção marinha é determinada pela profundidade máxima onde há o transporte
efetivo de sedimentos pela ação das ondas ou marés e a porção terrestre é delimitada pela
linha de vegetação permanente, ou pelo início de uma feição fisiográfica, como dunas ou
37
falésias (VELOSO et al., 2009). A forte representação simultânea destes elementos indica a
noção física de praias arenosas pelos autores dos desenhos.
Nos dois períodos, urbanizada (Fig.3) foi a segunda categoria mais frequente, no
entanto houve uma redução significativa desta categoria entre os dois momentos (p-
valor<0,05). A categoria conservada (Fig.4), presente apenas uma vez no primeiro período,
foi verificada 22 vezes no segundo e a preservada (Fig.5) foi observada apenas no último
período, ambas variando significativamente entre os dois períodos (p-valor<0,05). A
quantidade de vezes que praias impactadas (Fig.6) foram representadas também variou
significativamente entre os dois momentos de produção dos desenhos, assim como para
praias generalizantes (Fig.7). Praias reducionistas (Fig.8) tiveram redução do primeiro para
o segundo período, no entanto esta diferença não foi significativa. De forma geral, entre a
primeira e a última aula, os desenhos mostraram mudanças consideráveis nos elementos
representados, conforme a figura 9.
A categoria reducionista foi a mais observada nos dois momentos, o que pode ter
razões de naturezas diversas. Muitos desenhos com aspectos mais abstratos e românticos,
como representações do pôr do sol, foram alocados nesta categoria. Nestes desenhos, não
ficou clara a representação de conceitos e saberes sobre praias arenosas comentados
durante as aulas do projeto, mas eles podem refletir uma visão naturalista das praias, como
locais de beleza cênica por si só. Também podem refletir visões antropocêntricas, onde as
praias significam local de contemplação humana. Neste caso, o grupo das praias
reducionistas, apesar de ser o mais representativo, não nos traz aspectos claros sobre a
concepção de praias arenosas, o que faz com que a diminuição de sua frequência seja
bastante positiva para este estudo. Entre os primeiros e últimos desenhos, a redução de
praias urbanizadas, que representam desenhos onde observa-se funções utilitárias e
antropocêntricas para as praias, demonstra que novos conceitos foram assimilados pela
população-alvo. Isto pode ser confirmado pelo aumento na frequência das categorias
conservada, preservada, impactada e generalizante. A representação de praias
conservadas e preservadas foi uma das grandes surpresas na análise dos desenhos, uma
vez que estas categorias traduzem a representação de organismos que foram apresentados
na saída de campo, evidenciando a assimilação do conteúdo prático. Quanto às categorias
impactada e generalizante, ainda que abordem aspectos negativos da ação humana nas
praias, demonstram também a assimilação do conteúdo transmitido nas aulas práticas e
teóricas. A presença de resíduos sólidos e esgoto nos desenhos demonstra a percepção
sobre esta realidade, que foi pouco evidente nos primeiros desenhos.
Como assinar a autoria dos desenhos era opcional, não temos como saber
exatamente se alunos que desenharam praias urbanizadas tiveram suas concepções sobre
praia alteradas, mas, de forma geral, a concepção de praias arenosas da população-alvo
39
Figura 9: Frequência de cada categoria entre os dois períodos de confecção dos desenhos.
Praia de Fora, mostraram praias mais conservadas. Por não terem conhecido a macrofauna
de praias arenosas no ambiente natural, as turmas que tiveram o campo adaptado, talvez
tenham representado poucas praias conservadas, preservadas e generalizantes pelo fato de
esta não ser a realidade da Praia Vermelha e, por isto, representaram mais praias
urbanizadas e impactadas.
Utilizou-se o maior esforço possível para que as recomendações acerca dos desenhos
fossem as mesmas para todas as turmas. No entanto, em algumas turmas, a empatia criada
ao longo dos encontros entre equipe e alunos pode ter tido como consequência a confecção
de desenhos com maior presença de elementos abordados nas aulas anteriores. Ainda que
tenhamos utilizado a mesma metodologia em todas as turmas, não influenciar nas respostas
obtidas pode ser um dos grandes desafios para pesquisa participante.
5. CONCLUSÃO
O impacto nas praias provocado pelo acúmulo de resíduos sólidos foi possivelmente
um dos principais aspectos que causaram inquietude e motivaram o desenvolvimento deste
projeto, mas seria uma utopia acreditar que a presente ação resolveria completamente o
problema. No entanto, a divulgação ecológica e científica sobre praias arenosas se mostrou
uma ferramenta eficiente na alteração da sua percepção pelo público-alvo desta ação.
Espera-se que, no mínimo, uma consciência ecológica esteja presente na vida dos alunos
envolvidos e que atitudes e hábitos ambientalmente orientados tornem-se rotina. O senso
crítico que a ação buscou despertar nos garante que, pelo menos, eles não estarão cegos e
ignorantes quanto às razões para a problemática ambiental (de raízes econômicas e
sociais).
A percepção sobre praias arenosas se mostrou uma importante ferramenta para o
desenvolvimento desta ação e nota-se que o conhecimento científico é um importante
instrumento na conscientização ambiental. O ambiente e abordagens propostos para
atividades de Educação Ambiental também são fundamentais para que se colha bons
resultados desta ação. A longo prazo, pequenas e grandes ações vão ganhando força e
proporção. É, de forma coloquial, um trabalho de formiguinha, onde cada indivíduo constitui
uma parte do todo. Carvalho (2008) defende que, seja no âmbito da escola formal, seja na
organização comunitária, a Educação Ambiental pretende provocar processos de mudanças
sociais e culturais que visam obter do conjunto da sociedade tanto a sensibilização à crise
ambiental e à urgência em mudar os padrões de uso dos bens ambientais quanto o
reconhecimento dessa situação e a tomada de decisões a seu respeito.
A partir de sua metodologia, o Projeto PraiAmar conscientizou ambientalmente 182
crianças e pré-adolescentes de forma direta. Este número é muito pequeno comparado à
população da cidade do Rio de Janeiro, aproximadamente 6,5 milhões de habitantes (IBGE,
2017). “Mudar é difícil, mas é possível e urgente” (FREIRE, 1977) e, apesar de parecer uma
visão muito romântica e com forte caráter esperançoso, acreditar nas transformações é o
primeiro passo para que elas ocorram. Nas condições de verdadeira aprendizagem, os
educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do
saber ensinado, ao lado do educador igualmente sujeito do processo (FREIRE, 1996).
A divulgação científica é uma grande aliada em ações de conscientização ambiental,
pois pode alterar positivamente hábitos e comportamentos. Assim, conhecer mostra-se
peça-chave para conservar.
46
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1998.
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49
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Disponível em: <http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2013/12/05/por-que-nossas-criancas-
nao-querem-ser-cientistas/>. Acesso 28 de setembro de 2017.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
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Research, 26 (6), 993-1000. 2010.
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ANEXO
ANEXO 1
Princípios da Educação para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global:
2. A educação ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer
tempo ou lugar, em seu modo formal, não-formal e informal, promovendo a transformação e
a construção da sociedade.
7. A educação ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e inter-
relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e histórico. Aspectos
primordiais relacionados ao desenvolvimento e ao meio ambiente, tais como população,
saúde, paz, direitos humanos, democracia, fome, degradação da flora e fauna, devem ser
abordados dessa maneira.
10. A educação ambiental deve estimular e potencializar o poder das diversas populações,
promovendo oportunidades para as mudanças democráticas de base que estimulem os
setores populares da sociedade. Isto implica que as comunidades devem retomar a
condução de seus próprios destinos.
12. A educação ambiental deve ser planejada para capacitar as pessoas a trabalharem
conflitos de maneira justa e humana.
15. A educação ambiental deve integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações.
Deve converter cada oportunidade em experiências educativas de sociedades sustentáveis.
16. A educação ambiental deve ajudar a desenvolver uma consciência ética sobre todas as
formas de vida com as quais compartilhamos este planeta, respeitar seus ciclos vitais e
impor limites à exploração dessas formas de vida pelos seres humanos.
ANEXO 2
Plano de Ação:
7. Estimular posturas individuais e coletivas, bem como políticas institucionais que revisem
permanentemente a coerência entre o que se diz e o que se faz, os valores de nossas
culturas, tradições história.
11. Sensibilizar as populações para que constituam Conselhos populares de Ação Ecológica
e Gestão do Ambiente visando investigar, informar, debater e decidir sobre problemas e
políticas ambientais.
12. Criar condições educativas, jurídicas, organizacionais e políticas para exigir que os
governos destinem parte significativa de seu orçamento à educação e meio ambiente.
16. Promover a compreensão das causas dos hábitos consumistas e agir para
transformação dos sistemas que os sustentam, assim como para a transformação de nossas
próprias práticas.
18. Atuar para erradicar o racismo, o sexismo e outros preconceitos; e contribuir para um
processo de reconhecimento da diversidade cultural, dos direitos territoriais e da
autodeterminação dos povos.
20. Fortalecer as organizações dos movimentos sociais como espaços privilegiados para o
exercício da cidadania e melhoria da qualidade de vida e do ambiente.