Você está na página 1de 63

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

CAMPUS BAIXADA SANTISTA


PPG EM BIODIVERSIDADE E ECOLOGIA MARINHA E COSTEIRA

JOÃO SOARES DA COSTA VIEIRA

Plásticos biodegradáveis: análise de falsas alegações e das normas

técnicas de biodegradabilidade frente aos parâmetros

biogeoquímicos de ambientes marinhos

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e


Ecologia Marinha e Costeira da Universidade Federal de São Paulo para a
obtenção do Grau de Mestre em Ciências
Orientador: Prof. Dr. Ítalo Braga de Castro

Santos
2021
João Soares da Costa Vieira

Plásticos biodegradáveis: análise de falsas alegações e de normas técnicas de


biodegradabilidade frente a parâmetros biogeoquímicos de ambientes marinhos

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de “Mestre” e aprovada em sua forma final pelo
Programa Pós-Graduação em Biodiversidade e Ecologia Marinha e Costeira.

Santos, 15 de janeiro de 2021.

________________________
Prof. Dr. Ítalo Braga de Castro
Coordenador do Curso

Banca Examinadora:

______________________________________
Prof.ª Dr.ª Monica Ferreira da Costa
Universidade Federal do Pernambuco

________________________
Prof.ª Dr.ª Paula Christine Jimenez
Universidade Federal de São Paulo

________________________
Prof.ª Dr.ª Mônica Regina da Costa Marques
Universidade do Estado do Rio de Janeiro

________________________
Prof. Dr. Ítalo Braga de Castro
Universidade Federal de São Paulo
(Orientador)
Este trabalho é dedicado à minha família, pelo apoio
incondicional e ao Prof. Dr. Ítalo Braga de Castro, cuja
orientação e dedicação foram fundamentais em todas as etapas
da pesquisa.
RESUMO

Com o aumento do crescimento populacional, tem aumentado também a geração de resíduos


sólidos, com previsão de atingir 6 bilhões de toneladas/dia, em 2025. Considerando que
grande parte desses resíduos são descartados no ambiente, os efeitos negativos sobre a
biodiversidade são sentidos em todo planeta. Uma parte significativa dos resíduos domésticos
é composta por plástico. Nesse sentido, até o ano de 2015, aproximadamente 6,3 bilhões de
toneladas de polímeros plásticos foram produzidos e projeções realizadas pelo Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (United Nations Environment Programme) sugerem
que até o ano de 2050 haverá cerca de 12 bilhões de toneladas de resíduo de plástico no
planeta. Os oceanos são o destino de boa parte destes resíduos que afetam negativamente
diversas espécies marinhas. Essa profusão de ameaças ambientais resultantes do descarte de
plástico no ambiente desencadeou a implementação de várias medidas visando enfrentar esse
grave problema ambiental. Entre as medidas colocada em vigor, a substituição do plástico
comum por plásticos biodegradáveis vem se destacando mundialmente. Nesse sentido,
normas técnicas de biodegradabilidade foram desenvolvidas a fim de regular a correta
rotulagem desses produtos. Mais além, a falta de ordenamento jurídico sobre essas normas
tem também favorecido falsas alegações de biodegradabilidade (greenwashing), que
consistem em estratégias publicitárias baseadas em enganar consumidores e influenciar as
decisões de compra quanto aos benefícios ambientais que um produto ou serviço pode
oferecer. Considerando o exposto, o presente estudo avaliou a incidência de falsas alegações
de biodegradabilidade em produtos plásticos (canudos) comercializados e verificou se as
normas técnicas internacionais desenvolvidas para atestar biodegradabilidade contemplam os
parâmetros ambientais verificados nos diversos ambientes marinhos. Para tanto, amostras de
canudos plásticos comercializados no mercado brasileiro e americano foram analisadas
individualmente, usando a espectroscopia de infravermelho, com transformada de Fourier. O
resultado confirmou que os materiais foram fabricados com polímeros oxibiodegradáveis e
Polipropileno (PP) puro os quais não são biodegradáveis em condições ambientais, nem
mesmo quando associados a aditivos químicos. Por sua vez, foram revisadas 35 normas
técnicas de biodegradabilidade de polímeros quanto aos parâmetros físico-químicos
(temperatura, pH, presença ou não de luz e inóculo) e aos aspectos operacionais (período do
teste e a taxa de biodegradação). Essas informações foram comparadas e discutidas à luz dos
parâmetros biogeoquímicos que caracterizam majoritariamente os ambientes marinhos e
costeiros do mundo. Os resultados indicaram que as normas e padrões atualmente em uso
contemplam apenas uma fração da diversidade de ambientes onde os resíduos plásticos
podem chegar após descarte e desconsideram largamente o mar profundo. Esses ambientes
apresentam faixas específicas de atividade microbiana, pH, temperatura, salinidade e pressão
não abrangidas em sua integralidade por nenhuma norma técnica. Portanto, as normas ideais
para atestar degradação deveriam considerar as condições mais desafiadoras do mar profundo
as quais poderiam conferir uma proteção efetiva a esses ecossistemas.

Palavras-chave: Resíduo plástico; polímeros biodegradáveis; greenwashing; normas técnicas


de biodegradabilidade e parâmetros físico-químicos da água do mar.
ABSTRACT

Due to global population growth, the generation of solid waste has also increased, presenting
estimate to reach 6 billion tons / day by 2025. Considering that majority part of this waste is
discarded in the environment, the negative effects on biodiversity have been evident. A
significant part of domestic waste is made up by plastic. In this sense, by 2015, approximately
6.3 billion tons of plastic polymers were produced and projections made by the United
Nations Environment Program (United Nations Environment Program) suggest that by the
2050 there will be about 12 billion of tons of plastic waste on the planet. The oceans are the
destination of a expressive part of this waste. These environmental threats resulting from the
disposal of plastic in the environment triggered the implementation of several measures aimed
at tackling this serious environmental problem. Among the measures put in place, the
replacement of ordinary plastic with biodegradable polymers has been standing out
worldwide. In this sense, technical standards for biodegradability have been developed
seeking to regulate the correct labeling of such products. Furthermore, the lack of legal
framework on these standards has also favored false claims of biodegradability
(greenwashing), which consist in advertising strategies based on deceiving consumers and
influencing purchasing decisions regarding the environmental benefits that a product or
service can offer. Considering the above, the present study assessed qualitatively the
incidence of false claims of biodegradability by commercialized plastic (straws) products. In
addition, the international technical standards developed to attest biodegradability were
verified with regard environmental parameters observed in the different marine environments.
For that, samples of plastic straws sold in the Brazilian and USA markets were analyzed
individually, using infrared spectroscopy, with Fourier transform. The result confirmed that
the materials were manufactured with oxy-biodegradable polymers and pure Polypropylene
(PP) which are not biodegradable under environmental conditions, even when associated with
chemical additives. In turn, 35 technical standards for polymer biodegradability were revised
in terms of physical-chemical parameters (temperature, pH, presence or absence of light and
inoculum) and operational aspects (test period and biodegradation rate). This information was
compared and discussed in the light of the biogeochemical parameters that mostly
characterize the marine and coastal environments of the world. The results indicated that the
norms and standards currently in use contemplate only a fraction of the diversity of
environments where plastic waste can reach after disposal and largely disregard the deep sea.
These environments have specific ranges of microbial activity, pH, temperature, salinity and
pressure that are not fully covered by any technical standard. Therefore, ideal standards for
attesting degradation should consider the most challenging conditions in the deep sea which
could provide effective protection for these ecosystems.

Keywords: Plastic waste; biodegradable polymers; greenwashing; technical standards of


biodegradability and physicochemical parameters of sea water.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Países entre as 50 maiores economias do mundo que atualmente praticam proibição
total ou parcial de canudos de plásticos descartáveis. .............................................................. 26
Figura 2 - Espectros de FTIR obtidos para as amostras estudadas de plástico que alegaram
biodegradabilidade (S1 a S8) e para um pellet comercial de PP. ............................................. 29
Figura 3 - Visão geral das origens e da ciclagem de resíduos plásticos em ambientes marinhos
e costeiros. ................................................................................................................................ 35
Figura 4 - Média semanal da temperatura global da superfície dos oceanos (jan-jul 2019).
Fonte: Adaptado de NOAA CoastWatch / OceanWatch,
https://psl.noaa.gov/map/clim/sst.shtml, acessado em 03 de abril de 2020. ............................ 47
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Canudos de plástico selecionados e informações fornecidas pelo fabricante. ....... 30


Tabela 2 - Organizações certificadoras de materiais à base de polímeros biodegradáveis. .... 36
Tabela 3 - Lista de normas técnicas utilizadas para avaliação da biodegradabilidade de
polímeros plásticos. .................................................................................................................. 39
Tabela 4 - Principais parâmetros para biodegradabilidade de materiais plásticos, de acordo
com a organização responsável pela publicação da norma. ..................................................... 41
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABA Associação de Bioplásticos Australiana


ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
AFNOR Associação Francesa de Normalização da França
AS Normas Australianas
ASTM Sociedade Americana de Métodos e Materiais
ATM Atmosfera
ATR Attenuated total reflectance
BPI Instituto de Produtos Biodegradáveis
BSI British Standards Institution
CEN Comitê Europeu de Padronização
CO2 Dióxido de carbono
COD Carbono orgânico dissolvido
DBO Demanda bioquímica de oxigênio
DIN Deutsches Institut für Normung
DTO Demanda teórica de oxigênio
EUA Estados Unidos da América
FTIR Fourier-transform infrared spectroscopy
ISO Organização Internacional de Padrões
JSA Associação Japonesa de Padrões
KH2PO4 Fosfato monopotássico
km2 Quilômetro quadrado
Mt Milhões de toneladas
N Nitrogênio
NC Não consta
NH4Cl Cloreto de amônia
NOAA National Oceanic and Atmospheric Administration
OECD Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
P Fósforo
PBAT Poli-adipato-co-tereftalato de butileno
PBS Succinato de polibutileno
PBSeT Polibutileno sebacato-co-tereftalato
PCL Poli-caprolactona
PE Polietileno
pH Potencial hidrogeniônico
PHA Poli-hidroxialcanoato
PHB Poli-hidroxibutirato
PLA Poliácido Láctico
PP Polipropileno
PVC Cloreto de polivinil
P3HB Poli-3-hidroxibutirato
UE União Europeia
UNEP United Nations Environment Programme
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO GERAL .........................................................................................................................15


2 OBJETIVO GERAL .................................................................................................................................21
CAPÍTULO 1.................................................................................................................................................23
AVALIAÇÃO QUALITATIVA DA PRÁTICA DE GREENWASHING COM BASE EM PRODUTOS
COMERCIAIS ...............................................................................................................................................23
3 AVALIAÇÃO QUALITATIVA DA PRÁTICA DE GREENWASHING COM BASE EM PRODUTOS
COMERCIAIS ...............................................................................................................................................24
3.1 Introdução ................................................................................................................................................24
3.2 Materiais e Métodos.................................................................................................................................27
3.3 Resultados e Discussões ..........................................................................................................................28
CAPÍTULO 2..................................................................................................................................................33
AVALIAÇÃO DE NORMAS TÉCNICAS DE BIODEGRADABILIDADE DE PRODUTOS PLÁSTICOS
FRENTE ÀS CONDIÇÕES NATURAIS DOS AMBIENTES MARINHOS. .............................................33
4 AVALIAÇÃO DE NORMAS TÉCNICAS DE BIODEGRADABILIDADE DE PRODUTOS
PLÁSTICOS FRENTE ÀS CONDIÇÕES NATURAIS DOS AMBIENTES MARINHOS ........................34
4.1 Introdução ................................................................................................................................................34
4.2 Materiais e métodos .................................................................................................................................37
4.3 Resultados ................................................................................................................................................40
4.3.1 Biodegradabilidade de polímeros plásticos em condições de compostagem...................... ..................42
4.3.2 Biodegradabilidade dos polímeros plásticos nos solos..........................................................................43
4.3.3 Biodegradabilidade de polímeros plásticos em meios aquosos.................................. ...........................44
4.3.4 Biodegradabilidade de polímeros plásticos em ambientes marinhos....................................................44
4.4. Discussão ................................................................................................................................................46
4.5. Considerações finais ...............................................................................................................................52
5. CONCLUSÃO GERAL .............................................................................................................................54
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................................55
15

1 INTRODUÇÃO GERAL

Em 1950, a população mundial era estimada em 2,6 bilhões de pessoas. Em apenas


37 anos, essa população ultrapassou 5 bilhões. Estimativas mais recentes, sugerem que a
população global tenha passado a cifra dos 7 bilhões em 2011 (UNEP, 2018) e projeções para
o ano 2050 dão conta que a população global atingirá quase 10 bilhões de pessoas (McNabb,
2019). Nesse sentido, as pressões ambientais geradas pelos adensamentos humanos incluem
mudanças climáticas, sobre-exploração de recursos, veiculação de espécies invasoras,
modificação de habitats e a poluição. Em conjunto, esses fatores têm sido os principais
responsáveis pela perda de biodiversidade em diferentes ecossistemas (Young et al., 2016).
Nesse aspecto, as taxas de extinção parecem ter acelerado o declínio da diversidade biológica
mundial entre mil e dez mil vezes desde a pré-história (Pimm et al., 1995)
A contaminação pode se apresentar sob vários aspectos, em geral, afetando o solo, as
águas dos rios, lagos, aquíferos e os oceanos, além da poluição atmosférica. É grande a
variedade de resíduos resultantes das atividades humanas que podem gerar poluição. Insumos
utilizados na agricultura e silvicultura, efluentes de atividades industriais, incluindo a
indústria petroquímica, esgoto doméstico, lixiviação de tintas anti-incrustantes navais e
resíduos sólidos urbanos representam as fontes mais frequentes de contaminação para o
ambiente na atualidade (Zaborska et al., 2019). Esses processos geram substâncias químicas e
resíduos perigosos os quais são majoritariamente carreados por bacias de drenagem atingindo
rios e mares da Terra e mais além, muitas atividades baseadas no mar como a navegação
comercial, embarcações de pesca comercial e recreativa, exploração de petróleo, atividade de
aquicultura, mineração marinha e o turismo podem lançar contaminantes diretamente nesses
ecossistemas.

A geração de resíduos sólidos e o seu descarte sem controle no ambiente tem


despertado a preocupação de gestores e da comunidade científica internacional recentemente.
No século passado, a produção de resíduos sólidos aumentou dez vezes. Segundo Hoornweg
et al., (2013), em 1900, o mundo tinha 220 milhões de residentes urbanos (13% da população)
e produzia menos de 300 mil toneladas de resíduos sólidos por dia. Em 2000, os 2,9 bilhões
de pessoas que viviam nas cidades (49% da população mundial) estavam gerando mais de 3
milhões de toneladas de resíduos sólidos por dia. Em 2025, esse número deve duplicar
atingindo mais de 6 milhões de toneladas diariamente. Estimativas apontam que entre 60 a
16

80% de todo o lixo produzido pela comunidade global são compostos por polímeros plásticos
(Derraik, 2002). A história do plástico passa pelos antigos povos mesoamericanos. Há
notícias do uso do plástico por estes povos desde 1.600 anos antes de Cristo quando
processavam o látex colhido da planta Castilla elastica, produzindo a borracha natural com a
qual construíam bolas, estatuetas e outros artefatos de borracha (Hosler et al., 1999). Em
1839, a Goodyear desenvolveu a borracha vulcanizada e Eduard Simon, um farmacêutico
alemão, sintetizou o poliestireno, um plástico forte criado a partir de etileno e benzeno
(Andrady, et al., 2009). Posteriormente, em 1862, surgiu um dos primeiros plásticos artificiais
chamado Parkesine (um material orgânico derivado da celulose) criado por Alexander Parkes.
Depois desta descoberta, em 1897 foi criado um produto a base de proteína de leite misturado
com formaldeído. Já em 1907, Leo Hendrik Baekeland desenvolveu a primeira resina sintética
(o primeiro plástico moderno), o baquelite. Com a invenção da baquelite, o aumento crescente
do conhecimento sobre técnicas de baixo custo revolucionaram a forma de produzir esses
polímeros (Alimba, et al., 2019).

O desenvolvimento de plásticos modernos expandiu-se na primeira metade do


século XX, com a busca por materiais duráveis e de baixo custo que pudessem ser utilizados
em uma grande variedade de aplicações (Franquetti, et al., 2006). A partir de então, várias
novas classes de polímeros foram sintetizadas e incorporadas maciçamente em produtos
comerciais que vão desde simples embalagens até complexos componentes de engenharia
(Philp et al., 2013a). Entretanto, a grande durabilidade dos polímeros plásticos associada à
alta versatilidade contibuíram para o seu uso disseminado. Portanto, ao que tudo indica, no
futuro, os plásticos terão um papel ainda mais significativo nas vidas das pessoas servindo a
inúmeros propósitos incluindo a substitução e reparação de tecidos e órgãos humanos,
materiais-chaves usados na construção de carros e aeronaves, isolamento térmico e acústico
de residências, tecnologia fotovoltaica entre outras utilidades (Andrady, et al., 2009). Como
demonstrado, o mundo tem experimentado o uso crescente destes materiais visto que a
produção média global passou de 250 milhões de toneladas (Mt) em 2009 para 335 Mt em
2016 (Alimba, 2019). Somadas as essas preocupantes estatísticas, projeções realizadas pelo
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (United Nations Environment
Programme) sugerem que em 2050 haverá cerca de 12 bilhões de toneladas de resíduo de
plástico em aterros ou lançadas inadequadamente no ambiente (UNEP 2018).

Estimativas sugerem quede 4,8 a 12,7 milhões de toneladas de resíduos plásticos


foram parar nos oceanos somente em 2010 (Wessel et al., 2019). Nesse aspecto, avaliações
17

globais têm mostrado que a abundância de detritos varia de 4 a 48 mil itens por quilômetro de
linha costeira sendo que 16% a 99% desses intens são resíduos compostos por polímeros
plásticos. Mais além, a concentração de fragmentos de plástico atinge frequentemente 500 mil
peças por quilômetro quadrado (Cartraud et al., 2019). Como consequência da disposição
inadequada desses resíduos, diversos efeitos deletérios à biodiversidade global têm sido
descritos na literatura científica especializada (Koelmans, 2019). Há relatos de mais de 700
espécies afetadas pela exposição a detritos marinhos, incluindo 50% de todas as espécies de
aves marinhas, 66% de todas as espécies de mamíferos marinhos e 100% de todas as espécies
de tartarugas marinhas (Rochman et al., 2016).

Embora a maioria dos plásticos sejam resistentes à biodegradação, eles podem sofrer
quebra e fragmentação com o resultado do intemperismo ambiental e/ou resultado da
interação com organismo vivos causando danos ambientais a diversos grupos de organismos
(Thompson et al., 2004). Nesse aspecto o microplástico e os nanoplásticos vêm sendo
amplamente encontrados em matrizes ambientais como águas naturais, sedimentos e mesmo
em tecidos de organismos marinhos. Por exemplo, estudos realizados com tecidos obtidos de
espécies de moluscos bivalves, Mytilus edulis do mar do Norte, e Crassostrea gigas do
Oceano Atlântico, detectaram concentrações de microplásticos de 0,36 e 0,47 µg g-1,
respectivamente. Considerando que pesquisas recentes têm demonstrado a transferência
trófica de micropartículas plásticas através das cadeias alimentares, esses resíduos passaram
também ser encarados com um potencial problema de saúde pública devido a possibilidade de
sua ingestão pelo homem (Wang et al., 2019). Nesse sentido, estima-se que os consumidores
europeus de marisco podem ingerir até 11 mil micropartículas plásticas por ano
(Cauwenberghe, et al., 2014).

Além dos potenciais riscos ambientais e à saúde humana, o descarte de resíduos


plásticos nos oceanos traz prejuízos econômicos. O impacto global dos danos aos
ecossistemas marinhos causados pelo plástico foi estimado em pelo menos US$ 13 bilhões
anuais. A maior parte dessa estimativa inclui receitas perdidas do turismo devido a impactos
adversos na recreação e atividades ligadas à navegação (Schnurr et al., 2018). Em razão a
todos os impactos ligados ao plástico, esforços vêm sendo realizados por diversos países para
construção de estratégias socioambientais para tratamento adequado do plástico, como o
incentivo à coleta seletiva, à incineração controlada e à reciclagem para minimizar os efeitos
negativos destes resíduos no ambiente. Em grande parte, as políticas públicas neste sentido
passam pela redução, proibição, taxação e a substituição de produtos plásticos, especialmente
18

os de uso único. Durante a conferência de Honolulu, em 2015, surgiram duas estratégias


relevantes: a primeira centrada em taxar sacolas plásticas para minimizar a formação de
resíduos e a segunda foi a criação de políticas, regulamentos e legislação focados na
preservação de ambientes marinhos, com a imposição de proibições de microesferas e a
produção de materiais plásticos descartáveis (Xanthos et al., 2017). Outro exemplo
importante, foi a decisão do Parlamento Europeu, em 2019, na qual todos os 28 Estados-
membros deverão tomar medidas necessárias para redução significativa do consumo de
plásticos descartáveis, proibir a venda de objetos de plásticos como talheres, pratos e canudos
e realizar a coleta seletiva de certos produtos plásticos, até 2025. Além disso, essa
regulamentação visa a atingir uma meta de 65% de reciclagem de resíduos urbanos, até 2030
e 55% dos resíduos de embalagens plásticas, até 2030 (União Européia, 2019).

Além das várias estratégias que estão sendo implementadas pelos países para
diminuição dos resíduos plásticos, a substituição do plástico comum por plásticos
biodegradáveis vem se destacando mundialmente. Parte desse destaque é resultado das
recentes proibições impostas aos produtos descartáveis de uso único (Schnurr et al., 2018). De
fato, existe consenso na comunidade científica internacional que os plásticos devem ser
evitados na medida do possível. Entretanto, o entendimento de que será difícil substituir os
plásticos convencionais em muitas das aplicações contemporâneas ressalta a importância do
desenvolvimento e da adoção de materiais com propriedades melhoradas em termos de
degradação biológica (Open-Bio, 2015). A biodegradação ambiental é a degradação completa
de um polímero, como resultado da atividade microbiana, convertendo a matriz polimérica em
CO2, H2O, metano e biomassa em certas condições e escalas de tempo razoáveis (UNEP,
2015). Esse processo pode variar muito de acordo com as condições e características do
ambiente onde o material será descartado (Open-Bio, 2015). Sendo assim, a produção de
polímeros biodegradáveis tem crescentemente ganhado atenção, existindo atualmente uma
variedade desses materiais já em utilização pela indústria. Nesse sentido, polímeros, cuja base
biológica foi sintetizada a partir de biomassa de recursos renováveis, tais como Poli (ácido
láctico) (PLA) e e poli-hidroxialcanoato (PHA) ou plásticos produzidos a partir de matéria
prima petroquímica, incluindo plásticos alifáticos como succinato de polibutileno (PBS), tem
recebido grande atenção (Emadian et al., 2017). Além desses, o poli(hidroxibutirato) (PHB), a
poli (caprolactona) (PCL), o Ecoflex® (PBAT – poli (adipato-co-tereftalato de butileno), o
EcobrasTM (combinação do Ecoflex® com amido de milho) e o Ecovio® (combinação do
Ecoflex® com PLA) tem sido também largamente estudados. Muitos desses novos materiais
19

vêm sendo usados na fabricação de sacolas plásticas, produtos cosméticos além de


embalagens de alimentos e bebidas (Cooper, 2013).

Tendo em vista a importância dos polímeros biodegradáveis na eventual substituição


dos plásticos convencionais (em algumas aplicações), normas técnicas de biodegradabilidade
foram desenvolvidas a fim de regular a correta rotulagem desses produtos (Philp et al.,
2013a). Os métodos atualmente disponíveis para avaliar biodegradabilidade de materiais
poliméricos são normalmente baseados na medida indireta de degradação, como o consumo
de oxigênio ou na geração de biogás, porém há outras técnicas também indicativas de
degradação como: variações da massa molecular, perda de massa, modificações químicas,
morfológicas e alterações nas propriedades mecânicas (Massardier-Nageotte et al., 2006).
Nesse sentido, a maioria de testes de biodegradação normatizados são realizados em
ambientes simulados incluindo meios compostados, solos, água doce e água do mar.
Entretanto, parecem existir grandes desafios a serem superados para que os testes realizados
em condições de laboratório sejam de fato representativos das reais condições de descarte
desses materiais no ambiente. Entre esses dasafios, o estabelecimento do meio adequado de
degradação assim como dos parâmetros fisico-químicos a serem adotados, são os mais
controvertidos (Philp et al., 2013a).

Entretanto, a profusão de normas técnicas desenvolvidas para atestar


biodegradabilidade costumam ser específicas para determinados tipos de ambiente, enquanto
que, os resíduos plásticos podem ter como destino final tanto ambientes continentais (aterros
sanitários e o solo) como ecossistemas aquáticos, incluindo águas interiores, costeiras e
marinhas (Mendenhall, 2018). No caso particular de ambientes marinhos, os resíduos
poliméricos, após descarte, apresentam elevada mobilidade estando sujeitos a parâmetros
altamente variáveis, como pressão, exposição a luz, potencial hidrogeniônico (pH),
temperatura e microbiota (Tosin et al., 2012). Nesse contexto cabe ressaltar que um mesmo
material pode ser biodegradável em determinadas condições ambientais, mas não sofrer
alterações relevantes em outra.

Apesar dos esforços e dificuldades globalmente enfrentadas para redução dos danos
ambientais relacionados ao descarte inadequado de artefatos de plástico, as corporações
resistem em adotar medidas efetivas para combater o problema, ao contrário, na prática, a
adoção de estratégias de marketing verde, rotulando produtos com alegações de
biodegradabilidade e/ou sustentabilidade têm se tornado cada vez mais comum nos últimos
anos. Com base nessas práticas, as empresas têm buscado cada vez mais influenciar as
20

decisões de compra de consumidores dispostos a pagar mais por produtos ambientalmente


amigáveis (Dangelico et al., 2017). Nesse sentido, o uso de estratégias publicitárias baseadas
em enganar consumidores quanto às práticas ambientais de uma empresa ou os benefícios
ambientais que um produto ou serviço pode oferecer tem ganhado força (Schnurr et al., 2018).
Essa prática, conhecida como “greenwashing”, tem sido usada para atrair consumidores
conscientes e comprometidos com práticas sustentáveis e influenciar decisões de compra. Sob
a perspectiva dos polímeros biodegradáveis, um estudo experimental avaliando sacolas
plásticas e copos comercializados sob alegação de serem biodegradáveis no Brasil, Estados
Unidos da América (EUA) e Canadá mostrou que a maioria dos produtos não apresentou
evidências de degradação após 180 dias de imersão em água do mar (Nazareth et al., 2019).
De fato, alegações falsas ou imprecisas têm sido recentemente atribuídas a vários produtos
comerciais em estudos publicados na literatura científica especializada (Musioł et al., 2017).

Do outro lado das investigações técnico-acadêmicas em torno da normatização


internacional dos polímeros biodegradáveis está o consumidor, o qual vem impulsionando a
utilização de bioplásticos, em todos os segmentos de mercado, devido à conscientização da
necessidade de reduzir a dependência dos recursos fósseis (European Bioplastic, 2017). Nesse
aspecto, estimativas apontam para um aumento na produção, de 1,7 milhões de toneladas em
2014 para até 7,8 milhões de toneladas em 2019 (Lettner et al., 2017). Este mercado
específico vem crescendo como resultado da percepção positiva da sociedade em relação a
produtos sustentáveis, como o plástico biodegradável. As empresas estão acompanhando esta
perpesctiva e buscando maior credibilidade na divulgação dos seus produtos com rotulagem
ambientalmente amigável.

Em uma pesquisa recente, 63% dos consumidores concordaram que fariam compras
mais sustentáveis se tivessem uma compreensão mais clara do que torna um produto
ambiental ou socialmente responsável (Kareiva et al., 2015). Por outro lado, a percepção dos
consumidores pode variar, por exemplo, entre países. Uma pesquisa sobre embalagens
ecologicamente corretas, conduzida na Alemanha, França e Estaduos Unidos, concluiu que
materiais renováveis, bem como biodegradáveis são preferidos pelos consumidores em
comparação com materiais não renováveis (Herbes et al., 2018). Similarmente, um estudo
realizado pela The UN Global Compact no Brasil, China, Alemanha, Índia, Estados Unidos e
Reino Unido revelou que os consumidores de países emergentes estavam significativamente
mais sensíveis para comprar produtos que beneficiem o ambiente e a sociedade em
comparação aos países desenvolvidos (82% e 49%, respectivamente). Esse estudo também
21

demonstrou que nos países emergentes o consumidor está disposto a pagar mais por produtos
sustentáveis em comparação aos consumidores dos países desenvolvidos (60% a 26%,
respectivamente) (Gassler et al., 2016). No Brasil, um estudo recente realizado pelo Instituto
de Defesa do Consumidor (IDEC) conduziu pesquisa sobre Greenwashing. Os resultados
mostraram que 42% dos consumidores brasileiros estão mudando seus hábitos de consumo
para reduzir seu impacto ambiental e 30% dos entrevistados estão atentos à composição dos
produtos, bem como 71% dos consumidores davam preferência a produtos de marcas
comprometidas com ações ambientais e sociais (IDEC, 2019).

2 OBJETIVO GERAL

Considerando o exposto, o presente estudo visa a avaliar a incidência de falsas


alegações de biodegradabilidade em produtos plásticos comercializados e verificar se as
normas técnicas internacionais desenvolvidas para atestar biodegradabilidade contemplam os
parâmetros ambientais verificados nos diversos ambientes marinhos.
23

CAPÍTULO 1

AVALIAÇÃO QUALITATIVA DA PRÁTICA DE GREENWASHING COM BASE EM


PRODUTOS COMERCIAIS

O presente capítulo teve como objetivo qualitativamente avaliar a incidência de


greenwashing com base em produtos comerciais disponíveis para venda no Brasil e Estados
Unidos da América (EUA). Uma versão em língua inglesa desse capítulo foi publicada no
periódico Environmental Science & Policy sob o título “On replacing single-use plastic with
so-called biodegradable ones: The case with straws”(
http://dx.doi.org/10.1016/j.envsci.2020.02.007).
24

3 AVALIAÇÃO QUALITATIVA DA PRÁTICA DE GREENWASHING COM BASE


EM PRODUTOS COMERCIAIS

3.1 Introdução

Polímeros plásticos convencionais como polietileno (PE), polipropileno (PP) e


cloreto de polivinil (PVC) são materiais econômicos, duráveis e versáteis, que são
amplamente utilizados na produção de diversos produtos comerciais. No entanto, a maioria
desses itens apresenta uma vida útil muito curta e são descartados logo após o uso. Após o
descarte, esses materiais, à base de petróleo, não são degradados considerando-se condições
ambientais e escalas de tempo mensuráveis (Landon et al., 2018). De fato, estimativas
sugerem que, embora a produção global de plástico atualmente ultrapasse 400 Mt por ano
(Geyer et al., 2017), entre 60 e 80% dos resíduos do mundo são compostos por detritos
plásticos (Derraik et al., 2002). Esses estudos também mostraram que, até 2015, cerca de 6,3
bilhões de Mt de polímeros plásticos haviam sido produzidos e descartados ao longo da
história humana, dos quais apenas 9% foram reciclados e 12% foram incinerados. Os 79%
restantes foram acumulados em aterros sanitários ou em ambientes continentais, enquanto
aproximadamente 10% disso acaba em ambientes marinhos e costeiros (Mendenhall et al.,
2018). Além disso, previsões recentes apontaram que a quantidade de resíduos plásticos mal
gerenciados, que atingem os oceanos, como resultado de atividades humanas terrestres pode
chegar a um número entre 100 e 250 milhões de Mt até 2025 (Jambeck et al., 2015).

Após a liberação em sistemas aquáticos, os detritos plásticos podem originar


partículas micro e nanoplásticas, que podem atuar como materiais perigosos ou vetores de
substâncias tóxicas, despertando assim grande preocupação ambiental (Galloway and Lewis,
2016); Koelmans et al., 2019). Esses pequenos fragmentos são conhecidos por prejudicar o
equilíbrio energético nutricional e desencadear efeitos não direcionados sobre a fecundidade e
o crescimento da vida selvagem (Galloway et al., 2017), juntamente com uma longa lista de
danos ambientais, sociais e econômicos (Beaumont et al., 2019). Tais impactos negativos, que
podem comprometer a aptidão individual principalmente de organismos aquáticos, surgiram
como uma grave ameaça ao ambiente marinho, levando a problemas críticos para as gerações
atuais e futuras (Germanov et al., 2018).

A poluição por plásticos se tornou uma questão ambiental relevante para a


comunidade científica, gestores públicos, políticos e sociedade civil em todo o mundo
25

(Rambonnet et al., 2019). Os esforços globais apoiados por esses atores contribuíram para a
conscientização do público por meio de programas de limpeza (Zielinski et al., 2019) e outras
ações. De fato, essas iniciativas tiveram um papel importante no fornecimento de informações
quantitativas e qualitativas sobre o lixo marinho, que são armazenadas em bancos de dados
abrangentes e podem ser usadas para orientar os programas de gerenciamento. De acordo com
o Ocean Conservancy Report (2018), durante o último evento internacional de limpeza
realizado em 2017, os canudos de plástico estavam entre os dez itens mais comuns
encontrados nas zonas costeiras, representando cerca de 5 a 7,5% de todos os materiais
coletados. No entanto, esses resíduos foram menos prevalentes que bitucas de cigarro,
embalagens de alimentos, garrafas, tampas de garrafas, bolsas e outros itens de plástico.
Portanto, os canudos não podem ser considerados uma importante fonte de contaminação no
contexto do lixo plástico global, mas eles definitivamente são um dispositivo altamente
visível e bastante evitável (Wagner and Toews, 2018). Além disso, um vídeo lançado em 2015
com mais de 37 milhões de visualizações, atualmente
(https://www.youtube.com/watch?v=4wH878t78bw&t=2s, acessado em 04 de setembro de
2020) mostrando a agonizante remoção de um canudo de plástico descartável da narina
esquerda de uma tartaruga marinha criou ainda mais comoção global (Figgener, 2018). Nesse
cenário, foram desencadeados movimentos mundiais impulsionados pelas redes sociais,
levando agências ambientais e governos ao redor do mundo a propor ações que proibissem os
canudos de plástico de uso único (Schnurr et al., 2018).

Nesse sentido, cabe ressaltar que, em 35 das 50 maiores economias mundiais


atualmente, existem regulamentos que proíbem o uso do utensílio. Dentre estas, 26 são
proibições cobrindo a totalidade dos territórios nacionais. Os outros países têm legislações
emitidas por parlamentos municipais ou estaduais que compreendem apenas algumas de suas
cidades ou províncias (Figura 1). As medidas adotadas parecem ser particularmente
importantes, considerando que, juntos, esses países geram aproximadamente 87% do lixo
plástico no mundo (Kaza et al., 2018).
26

Figura 1 - Países entre as 50 maiores economias do mundo que atualmente praticam proibição total ou parcial de
canudos de plásticos descartáveis.

Além disso, a expansão de programas de reciclagem e a implementação de legislação,


que proíbe o uso de polímeros convencionais utilizados em alguns produtos, são ações que
vêm sendo realizadas recentemente (EU, 2018; Saudi Arabia, 2017). Entre as estratégias
empregadas para minimizar a poluição plástica global, incluindo os novos regulamentos
emitidos sobre os canudos de plástico, a substituição de polímeros comuns por materiais
biodegradáveis se tornou frequente (Kolybaba et al., 2006). De acordo com diferentes padrões
técnicos usados para atestar a biodegradabilidade, o produto analisado deve se desintegrar
satisfatoriamente nas operações de compostagem comercial dentro de 180 dias (Philp et al.,
2013). Por exemplo, o método de teste padrão para determinar a biodegradação aeróbica de
materiais plásticos em ambientes marinhos afirma que 70% do carbono orgânico deve ser
convertido em Dióxido de carbono (CO2) em até 90 dias (ASTM D6691, 2017). No entanto,
mesmo contribuindo para a redução de impactos ambientais, a produção e aplicação de
artefatos produzidos por polímeros biodegradáveis ainda é restrita devido aos altos custos de
produção, baixa resistência e propriedades mecânicas às vezes inadequadas para diversos fins
(Martin et al., 2014). Portanto, investigações que buscam polímeros degradáveis com bom
desempenho industrial e baixos custos levaram ao desenvolvimento de materiais
oxibiodegradáveis e hidro-biodegradáveis. Polímeros oxibiodegradáveis são geralmente
misturas de plásticos convencionais, como PE ou PP, adicionados com pró-oxidantes ou
agentes pró-degradantes que aceleram os passos iniciais de degradação (Ojeda et al., 2009).
Por sua vez, os plásticos hidro-biodegradáveis são suscetíveis à biodegradação hidrolítica e
27

geralmente incluem celulose e ou amido adicionado a poliésteres como poli-hidroxialcanoatos


(Ojeda et al., 2009). Embora os resíduos compostos por materiais oxibiodegradáveis exibam
taxas de fragmentação mais rápidas que os polímeros à base de petróleo, não há evidências
científicas de que sua degradação completa sofra em ambientes naturais dentro da escala de
tempo padronizada (ASTM D6691, 2017). Portanto, estes não podem ser considerados
plásticos biodegradáveis, pois na verdade apresentam desempenho de degradabilidade
comparável ao observado para plásticos comuns e, além disso, geralmente são mais caros. De
fato, evidências sugerem que materiais oxo-biodegradáveis podem acelerar a formação de
microplásticos (Eyheraguibel et al., 2018; Markowicz et al., 2019). Além disso, os polímeros
oxibiodegradáveis podem prejudicar os programas de reciclagem e compostagem, uma vez
que não são compatíveis com as tecnologias atuais (Napper and Thompson, 2019).
Consequentemente, uma recente resolução emitida pelo Parlamento Europeu determinou que
os materiais oxibiodegradáveis não devem ser rotulados como biodegradáveis e que foram
iniciadas restrições ao seu uso em todos os 28 estados membros da União Europeia (UE,
2018).

Por outro lado, no estabelecimento das restrições legais impostas ao plástico


(incluindo canudos), a maioria dos países analisados não estabeleceu os critérios de
biodegradabilidade para a rotulagem de produtos plásticos substitutos. A resolução da Arábia
Saudita (2017) afirma que os produtos plásticos devem ser feitos de um material oxo-
biodegradável aprovado, uma declaração contrastante quando consideradas as decisões
tomadas na Europa. Além disso, a maior parte da legislação em vigor nos países em
desenvolvimento não estabelece diretrizes específicas para o uso de polímeros
oxibiodegradáveis em produtos comerciais. Nesse sentido, regulamentações harmonizadas
serão mais eficazes, considerando que a poluição do plástico é compartilhada globalmente por
parâmetros oceanográficos, incluindo correntes costeiras e oceânicas, descargas de rios,
eventos atmosféricos, ondas, ventos, circulação termohalina e até salinidade (Choy et al.,
2019; Isobe et al., 2019).

3.2 Materiais e Métodos

Devido a medidas restritivas sobre canudos de plástico descartáveis, lojas, pubs,


restaurantes e lanchonetes começaram a oferecer as chamadas alternativas biodegradáveis em
todo o mundo. Isso é facilmente reconhecível em lojas de varejo global (amazon.com e
28

ebay.com) que fornecem bens de consumo em praticamente todos os países do mundo.


Através de uma pesquisa usando "canudo biodegradável" como argumento, esses sites
retornaram centenas de produtos fabricados em plásticos supostamente biodegradáveis. Com
base nessas informações, selecionamos aleatoriamente 8 marcas diferentes de canudos de
plástico que reivindicam estatus biodegradável vendidos ou oferecidos no mercado brasileiro
(7 amostras) e nos EUA (1 amostra). Embora tenha havido um esforço para incluir todas as
marcas comercializadas no Brasil, é preciso mencionar que ainda não estão disponíveis
informações estatísticas sobre o uso de determinadas marcas de canudo. A amostra dos EUA
foi escolhida por alegar ser à base de poli ácido láctico e compostável, ainda não
comercializados no Brasil. Esses itens foram obtidos em supermercados, restaurantes e lojas
virtuais e amostras em triplicata (obtidas de diferentes embalagens) foram preparadas
cortando pedaçoes de 1 x 1 cm de cada canudo (Nazareth et al., 2019). Além disso, foram
coletadas informações sobre as alegações ambientais e composição (quando disponíveis)
fornecidas nos rótulos dos produtos ou nos sites dos fabricantes. Essas amostras foram
analisadas individualmente, a fim de identificar sua composição polimérica usando a
espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (Perkin Elmer, modelo FT-IR /
FIR Spectrometer - Frontier) acoplado a um módulo de refletância total atenuada (ATR). As
medições em triplicado foram realizadas para as amostras e as áreas foram determinadas
usando o software Perkin Elmer® Spectrum (Versão: 10.03.02.0077). Os espectros de cada
amostra foram coletados no modo de transmissão a 4000 - 600 cm−1 em resolução de 4 cm − 1
e variação de leitura de ± 50 cm −1. Os resultados foram comparados com espectros obtidos de
padrões de polipropileno (Braskem, RP 347) disponíveis na literatura científica e em pellets
comerciais de PP (Oliveira et al., 2017).

3.3 Resultados e Discussões

Como demonstrado, a figura 2 apresenta a caracterização por FTIR obtida para S1 a


S8 e um pellet comercial de Polipropileno. A partir da análise do pellet foram obtidas as
seguintes bandas: 2.952 cm-1 e 2.917 cm-1 (trecho CH), 1.457 cm-1 (vibrações da deformação
angular do CH2), 1.376 cm-1 (deformação simétrica do CH3), 998 cm-1 (flexão do CH) foram
detectados (Oliveira et al., 2017). Nas amostras S1 a S7 todas as bandas detectadas são
consistentes com o espectro observado nos pellets de PP. Uma pequena faixa em torno de
1.700 cm-1 (C = O) foi detectada em S2 e S7 e pode ser causada pela oxidação de PP durante
a extrusão por fusão dos canundos ou pela presença de aditivos. Para S8, as seguintes bandas
29

foram identificadas no espectro: 1.750cm-1 (vibração do grupo C = O), 1.452 cm-1 (vibração
assimétrica do grupo CH3), 870 cm-1 (vibração do O-CH2- Grupo CH3), 1.265 cm-1 (vibração
de alongamento de OC = OC) e alongamento de CCO (1.083 cm-1, 1183 cm-1). Todas essas
bandas são geralmente detectadas em amostras de PLA (Janczak et al., 2018).

Figura 2 - Espectros de FTIR obtidos para as amostras estudadas de plástico que alegaram biodegradabilidade
(S1 a S8) e para um pellet comercial de PP.

Ao comparar esses resultados de FTIR com as alegações verificadas nos rótulos de


cada produto e nos relatórios técnicos obtidos dos fabricantes, foi confiramado que S1, S2, S3
e S4 foram fabricados em materiais oxibiodegradáveis à base de PP. Similarmente, para S5,
S6 e S7 foi verificado que o PP puro é o único ingrediente (Tabela 1). Esses produtos, por sua
vez, careciam de qualquer tipo de informação sobre sua composição. Contudo, produtos à
base de PP não são biodegradáveis em condições ambientais, nem mesmo quando associados
a aditivos químicos (Bockhorn et al., 1999; Oliveira et al., 2017). De fato, um estudo
avaliando parâmetros de degradação de uma sacola oxibiodegradável submetida a condições
de compostagem industrial não indicou evidências de degradação tendo apresentado uma taxa
de fragmentação muito baixa após 365 dias (Musioł et al., 2017). Da mesma forma, um
estudo recente realizado com diferentes sacolas alegando biodegradabilidade comercializadas
30

no Reino Unido não mostrou degradação substancial, mesmo após três anos de exposição ao
ar livre, enterradas no solo ou submersas na água do mar (Napper et al., 2019).

Tabela 1 - Canudos de plástico selecionados e informações fornecidas pelo fabricante.


Amostra Alegação* País Composição* FTIR Aditivo* Norma*

S1 Biodegradável em 2,5 anos Brasil PP + additivo PP Green p life ASTM D6954-4

S2 Biodegradável Brasil PP + additivo PP eco-one ASTM D5511-12

S3 Biodegradável Brasil additivo PP D2W na

S4 Biodegradável Brasil additivo PP D2W na

S5 Biodegradável Brasil na PP na na

S6 Biodegradável Brasil na PP na na

S7 Biodegradável Brasil na PP na na

S8 Compostável EUA na PLA na na

* Informações obtidas a partir dos rótulos; PP = polietileno; PLA = Poli ácido láctico; na = informação não
fornecida

O canudo plástico obtido nos EUA, única amostra não composta por PP, demonstrou
ser feito de ácido polilático (PLA), um polímero considerado biodegradável para o qual
existem resultados conflitantes sobre sua capacidade de degradação na água do mar (Castro-
Aguirre et al., 2017; Martin et al., 2014; Nazareth et al., 2019). Adicionalmente, o rótulo deste
produto alega que o mesmo é compostável (degradável depois de integrado aos sistemas de
compostagem, usando altas temperaturas e consórcios de micro-organismos), afastando-se do
termo "biodegradável" por exemplo, degradável em condições ambientais naturais.

Portanto, práticas de lavagem verde (Greenwashing) foram confirmadas, pelo menos


pelas empresas fabricantes dos canudos amostrados e vendidos no Brasil. A lavagem verde
consiste em enganar os consumidores com relação às condutas ambientais de uma empresa ou
aos benefícios ambientais que um produto ou serviço pode oferecer. Tais práticas têm sido
usadas para atrair consumidores conscientes e comprometidos com ações sustentáveis,
influenciando indevidamente suas decisões de compra (Schmuck et al., 2018). Nesse sentido,
uma agência de publicidade americana (TerraChoice) desenvolveu e aplicou uma metodologia
para avaliar a lavagem verde com base em sete condutas comuns (ou pecados, por suas
próprias palavras) no mercado de produtos sustentáveis. Este estudo mostrou que 95% dos
5.296 produtos avaliados em lojas dos EUA e Canadá cometeram pelo menos um dos pecados
que caracterizam a lavagem verde (TerraChoice, 2010, n.d.). Além disso, nosso grupo de
31

pesquisas investigou sacos plásticos e copos comerciais comercializados sob alegações de


biodegradáveis no Brasil, EUA e Canadá e revelou que a maioria dos produtos não apresenta
evidências de degradação após 180 dias imersos em água do mar (Nazareth et al., 2019).

A rotulagem inadequada de produtos buscando influenciar as escolhas dos


consumidores ou burlar a legislação parece ser uma prática recorrente, pelo menos entre as
maiores economias do continente americano. Isso é ainda mais relevante, considerando o
número crescente de consumidores dispostos a pagar mais por produtos ambientalmente
amigáveis (Dangelico et al., 2017). Esses achados, são exemplos notáveis da resistência
global empreendida pela indústria do plástico visando minimizar custos a despeito dos
impactos produzidos. Nesse sentido é importante enfatizar que essa questão vai muito além
dos canudos, estendendo-se a vários produtos plásticos descartáveis comercializados em todo
o mundo. De fato, vários casos de lavagem verde foram detectados nos últimos anos, levando
os compradores a fazer julgamentos errôneos sobre a biodegradação de plástico (EU, 2018).
Além disso, essas reivindicações podem induzir o público a descartar inadequadamente
produtos plásticos biodegradáveis de uso único, falsamente declarados, no meio ambiente
(Nazareth et al., 2019).

Embora ainda não seja possível estimar o quanto a lavagem verde contribui para a
poluição plástica global, níveis crescentes dessas práticas podem representar uma parcela
relevante nessa questão ambiental contemporânea. Atualmente, existem padrões técnicos que
estabelecem critérios de biodegradabilidade e compostabilidade para produtos comerciais, que
foram desenvolvidos para supostamente evitar controvérsias decorrentes do uso indevido
acidental ou intencional dos termos (Philp et al., 2013). No entanto, ao verificar os relatórios
de biodegradabilidade disponíveis nos sites dos fabricantes de canudos, verificou-se dois
problemas diferentes relacionados à lavagem verde que podem ter sérias implicações
ambientais: não há evidências sobre a aplicação dos padrões de certificação (S3, S4, S5, S6 ,
S7 e S8) e o uso de padrões inadequados para avaliar a degradabilidade (S1, S2). Essas
descobertas revelam que a indústria do plástico tem dificultado aplicação de novas
regulamentações que podem afetar seu desempenho financeiro, como já foi apontado por
Dauvergne (2018). Assim, apesar dos esforços globais para evitar a poluição do plástico
proibindo produtos plásticos de uso único, a falta de regulamentação nacional, especialmente
nos países em desenvolvimento, pode levar essas iniciativas ao amplo fracasso.

Esse tipo de atitude também é muito importante quando ponderado sob uma
perspectiva existencial, considerando que o consumo de produtos ambietalmente amigáveis é
32

usado como um ativo simbólico na construção da identidade do consumidor (Cherrier, 2006).


Assim, enquanto os governos gastam recursos públicos para a educação de cidadãos
ambientalmente conscientes, as práticas incontestáveis de lavagem verde podem causar mais
danos à confiança, já abalada, do consumidor em produtos biodegradáveis. Nesse sentido, a
rotulagem inadequada, como vista no presente estudo é cada vez mais relatada na literatura e
está no contrafluxo de movimentos globais com o objetivo de reduzir a poluição por plásticos.

Uma recente conferência de partes durante a Convenção de Basileia, sobre o controle


de movimentos transfronteiriços de resíduos perigosos e sua eliminação, estabeleceu um
grupo de trabalho na Parceria da Convenção de Basileia sobre resíduos plásticos
(UNEP/CHW, 2019). Este grupo desenvolveu um termo de referência e um plano de trabalho
buscando melhorar e promover estratégias de gerenciamento de resíduos plásticos em escala
global, nacional e regional. O objetivo proposto foi reduzir significativamente e, a longo
prazo, eliminar a descarga de resíduos plásticos e microplásticos no meio ambiente,
principalmente nos oceanos (UNEP/CHW, 2019). Entre as tarefas definidas para atingir esse
objetivo, duas delas merecem destaque: identificar lacunas e barreiras que interferem no
gerenciamento adequado e incentivar a elaboração de políticas regulatórias e estratégias para
minimizar e prevenir de resíduos de plástico, particularmente em relação aos plásticos de uso
único. Embora este termo de referência pretenda empreender projetos-piloto para apoiar a
implementação de outras atividades globais, pouco foi divulgado sobre as regras para o uso e
a rotulagem de produtos baseados em bioplásticos. Portanto, considerando que a elaboração
desse termo de referência ainda está em andamento, é oportuno incluir questões específicas
que contemplem uma revisão minuciosa das normas técnicas de biodegradabilidade de
produtos plásticos em ambientes marinhos. Finalmente, apesar das ações locais e globais que
proíbem produtos plásticos de uso único, a falta de fiscalização e as estratégias adotadoas pela
industria do plástico para burlar as legislações são ainda difíceis de serem superadas. Nesse
cenário, a adoção e multiplas estratégias de gerenciamento focadas em educar as pessoas para
realizarem decisões de compra tecnicamente embasadas em uma rotulagem correta e a
instrução quanto ao descarte adequado de resíduos são possivelmente nossas melhores
chances de gerar uma mudança ambiental globalmente positiva.
33

CAPÍTULO 2

AVALIAÇÃO DE NORMAS TÉCNICAS DE BIODEGRADABILIDADE DE


PRODUTOS PLÁSTICOS FRENTE ÀS CONDIÇÕES NATURAIS DOS AMBIENTES
MARINHOS.

Como demonstrado no Capítulo 1, o greenwashing é uma prática comum entre


empresas que atuam no seguimento dos utensílios plásticos. Em muitos casos, os produtos
apresentam rotulagem com informações falsas ou em desacordo com os padrões de
certificação. Por outro lado, as normas e padrões técnicos que estabelecem critérios de
biodegradabilidade ainda não foram sistematicamente avaliados visando verificar se as
condições operacionais em que esses testes são realizados são adequados para estimar a
biodegradação na diversidade dos ambientes marinhos existentes. Desta forma, este capítulo
realizou esta avaliação, comparando os parâmetros operaconais das principais normas técnicas
com parâmetros abióticos e bióticos frequentemente observados nos ambientes marinhos.
34

4 AVALIAÇÃO DE NORMAS TÉCNICAS DE BIODEGRADABILIDADE DE


PRODUTOS PLÁSTICOS FRENTE ÀS CONDIÇÕES NATURAIS DOS AMBIENTES
MARINHOS

4.1 Introdução

A quantidade de detritos plásticos nos mares e zonas costeiras tem aumentado


vertiginosamente devido ao crescimento da produção e impulsionada pela demanda por esses
materiais. Estudos indicam que no Giro do Pacífico Central Norte existam mais de 334 mil
fragmentos plásticos por quilômetro quadrado na superfície da coluna d’água (LI et al., 2016).
Adicionalmente, estimativas apontam para existência de 71,5 a 116 bilhões de detritos
plásticos grandes no assoalho oceânico. Essa avaliação desconsidera os microplásticos que
são também amplamente distribuídos nos sedimentos, visto que até 50% dos detritos
plásticos despejados nos oceanos atingem o mar profundo (Galgani, 2015). Mais além,
detritos plásticos têm sido encontrados a mais de 1.000 Km da costa, (Chiba et al., 2018) e
microplásticos são abundantes nos sedimentos hadais da Fossa das Marianas, variando de 200
a 2200 partículas por litro (Peng et al., 2018). Essas observações indicam que o plástico
sintético contaminou os lugares mais remotos e profundos do planeta. Nesse contexto, os
processos de incrustação superficial sofridos pelos plásticos flutuantes permitem o seu
afundamento, direcionando boa parte desses materiais a regiões bentônicas. Após essa etapa
de sedimentação, o plástico depositado nos fundos oceânicos pode ainda ser resuspenso por
processos mecânicos, permitindo seu retorno à superfície. Portanto, durante esse ciclo, os
resíduos plásticos percorrem ambientes marinhos com diferentes características físicas e
químicas (Andrady, 2011). Segundo Tosin et al., (2012), evidências apontam que os diversos
tipos de plásticos produzidos circulam pelos vários ambientes marinhos e costeiros em
decorrência de processos oceanográficos tais como marés, correntes, além da ação do vento
(Figura 3). Portanto, considerando que 80% desses resíduos tem origem continental (Kaza et
al., 2018), os mecanismos de transformação e biodegradabilidade de plásticos nos oceanos são
provavelmente controlados por uma multiplicidade de parâmetros de natureza física, química
e biológica (Emadian et al., 2017). Mais além, muitos desses fatores são também responsáveis
pelo transporte e distribuição global desses resíduos.
35

Figura 3 - Visão geral das origens e da ciclagem de resíduos plásticos em ambientes marinhos e
costeiros.

Diante do problema mundial da poluição por plásticos, tanto a indústria quanto a


comunidade científica vêm trabalhando no aperfeiçoamento de materiais biodegradáveis
como uma estratégia para substituição do plástico tradicional. De modo geral, tem sido
desenvolvidos materiais que sofram rápida degradação em condições ambientais, sem gerar
efeitos tóxicos (Zheng e Suh, 2019). Para tanto, normas e padrões técnicos de
biodegradabilidade foram desenvovidos para certificação dessas propriedades. Além disso, a
padronização pode ser crítica na determinação do sucesso de uma tecnologia e muitas vezes
desempenha um papel vital no apoio às principais tendências tecnológicas, aprimorando o
comércio internacional, reduzindo custos e barreiras comerciais (Wiegmann et al., 2017). O
organismo de padronização reconhecido internacionalmente é a Organização Internacional de
Padrões (ISO), enquanto a Sociedade Americana de Métodos e Materiais (ASTM), o Comitê
Europeu de Padronização (CEN) e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OECD), atuam no nível regional. Além destes, existem várias outras instituições
nacionais como: Normas Australianas (AS), o Deutsches Institut für Normung, da Alemanha
(DIN), a Associação Francesa de Normalização da França (AFNOR), a Associação Japonesa
de Padrões (JSA), British Standards Institution (BSI) e a Associação Brasileira de Normas
Técnicas – ABNT (ICS-UNIDO, 2007), cujas normas servem de base para certificação dos
36

produtos plásticos comerciais (Tabela 2). Embora a maioria destes institutos trabalhem
voluntariamente com a iniciativa da indústria, frequentemente as normas produzidas passam a
integrar o arcabouço jurídico de governos, como acontece na União Europeia (UNE, 2017).

Tabela 2 - Organizações certificadoras de materiais à base de polímeros biodegradáveis.


País Organização Padrões Etiqueta Página na Internet

Instituto de
Produtos ASTM D6400 e
EUA https://bpiworld.org/
Biodegradáveis D6868
(BPI)

Sociedade de ISO 14851 e


Japão Plásticos seguintes, OECD http://www.jbpaweb.net/english/english.htm
Biodegradáveis 301C e JIS K 6950

Bélgica TUV Austria ASTM D6691 https://www.tuv-at.be/green-marks/s

EN 13432 https://www.tuv-at.be/green-
Bélgica TUV Austria
EN 14995 marks/certifications/ok-biodegradable/

Associação de
Bioplásticos
Austrália https://bioplastics.org.au/certification/
Australiana
AS 4736
(ABA)

https://www.dincertco.de/din-certco/en/main-
Alemanha DIN Geprüft navigation/products-and-services/certification-
DIN EN 17033
of-products/overview-product-certification/

No caso de ambientes marinhos e costeiros, esforços internacionais vêm sendo


empreendidos, haja vista a inclusão do tema na meta 14 da agenda 2030, proposta pelas
Nações Unidas (ONU, 2017). Apesar disso, o conhecimento sobre biodegradação de plásticos
nos ambientes marinhos é limitado, existindo ainda várias lacunas a serem preenchidas. Sendo
assim, testes e métodos analíticos precisam ser adaptados e otimizados antes de serem capazes
de produzir resultados válidos e robustos (Eubeler et al., 2010). Adicionalmente, a
investigação dos padrões de biodegradabilidade de polímeros em ambientes marinhos é
severamente prejudicada pela falta de pesquisas primárias em cenários de exposição que
envolvam baixas temperaturas, poucos nutrientes e condições anaeróbicas (Harrison et al.,
37

2018). Como resultado, poucas normas técnicas foram desenvolvidas visando avaliar a
degradação nesses ambientes e as existentes empregam condições experimentais que tentam
simular ambientes de água doce, solo e condições de compostagem, extrapolando as
condições de degradabilidade para ambientes reais (Haider et al., 2019).
Os testes empregados para analisar a biodegradabilidade de polímeros em condições
controladas de laboratório frequentemente avaliam, em uma determinada escala de tempo, a
ação de microrganismos (ASTMD6400, 2019) que convertem o material em dióxido de
carbono, água e biomassa (EN 13432, 2000; EN 14046, 2003). Assim, as especificações das
normas e padrões técnicos estabelecem requisitos mínimos, medindo as emissões de CO2 ou
são baseadas em evidências visuais de degradação e perda de massa do polímero (Chinaglia et
al., 2018). Durantes esses experimentos, corpos de prova são expostos a um meio inoculado
artificialmente, que pode ser enriquecido com nutrientes, em uma faixa de temperatura e
potencial hidrogeniônico (pH) específicos. Dessa forma, as condições são projetadas para
avaliar a biodegradabilidade em condições ótimas ou próximas do ideal, embora o objetivo
seja, na realidade, a simulação das condições em ambientes naturais (Krzan et al., 2006).
Considerando a variedade de ambientes naturais experimentados, sazonal e geograficamente,
por materiais poliméricos após o descarte irregular no ambiente, a cinética da degradação
dependerá de uma complexa combinação de fatores bióticos e abióticos sobre os quais
persistem dúvidas se os testes estabelecidos pelas normas são capazes de reproduzir (Harrison
et al., 2018; Laycock et al., 2017a). Tal situação é preocupante visto que, com base nas
certificações obtidas, os produtos comerciais recebem rotulagens que sugerem uma
biodegradabilidade em condições reais (Philp et al., 2013). Nesse contexto, não existem
normas técnicas que estabeleçam a quais testes de degradabilidade um determinado produto
plástico comercial deve se submeter em função do seu destino provável no ambiente (Open-
Bio, 2015). Com base nesses cenários, o presente estudo visou avaliar qualitativamente se as
normas técnicas de biodegradabilidade estão em conformidade com parâmetros ambientais
majoritariamente observados em ecossistemas marinhos e costeiros do mundo.

4.2 Materiais e métodos

Para realização do presente estudo, normas técnicas para biodegradabilidade de


produtos plásticos foram obtidas junto aos principais organismos publicadores do mundo,
conforme indicado na Tabela 3. Posteriormente, cada norma foi criteriosamente revisada, e
agrupada de acordo com os tipos de ambiente a que os testes se destinam, incluindo
38

compostagem industrial e doméstica, ambiente aquoso, solo e ambientes marinhos. Os


intervalos dos parâmetros físico-químicos (temperatura, pH, presença ou não de luz e inóculo)
e os aspecto operacionais (período do teste e a taxa de biodegradação) descritos em cada
norma, foram tabulados. Finalmente, os valores obtidos foram comparados aos parâmetros
biogeoquímicos que caracterizam majoritariamente os ambientes marinhos e costeiros do
mundo.
39

Tabela 3 - Lista de normas técnicas utilizadas para avaliação da biodegradabilidade de polímeros plásticos.
Norma Técnica Descrição
ASTM D5511-18 Método de teste padrão para determinar a biodegradação anaeróbia de materiais plásticos sob condições de digestão anaeróbia de alto teor de sólidos
ASTM D5338-98 Métodos de teste-padrão para determinar a biodegração aeróbica de materias plásticos sob condições controladas de compostagem
ASTM D5526-94 Métodos de teste-padrão para determinar a biodegração aeróbica de materias plásticos em condições de aterro acelerado
ASTM D5988-03 Método de teste-padrão para determinar a biodegradação aeróbica no solo de materiais plásticos ou material plástico residual após a compostagem
ASTM D6400-19 Especificações-padrão para plásticos compostáveis
ASTM D6691-17 Método de teste padrão para determinação da biodegradação aeróbica de materiais plásticos no ambiente marinho por um consórcio microbiano definido ou inóculo natural de água do mar
ASTM D6868-19 Especificação padrão para rotulagem de itens finais que incorporam plásticos e polímeros projetados para serem compostos aerobicamente em instalações municipais ou industriais
ASTM D6954-04 Guia-padrão para exposição e teste de plásticos que se degradam no ambiente por uma combinação de oxidação e biodegradação
ASTM D7473/12 Método de teste padrão para atrito de peso de materiais plásticos no ambiente marinho por incubações de aquário de sistema aberto
ASTM D7475-20 Método de teste padrão para determinar a degradação aeróbia e a biodegradação anaeróbia de materiais plásticos em condições de aterro de biorreator acelerado
ASTM D7991-15 Método de teste padrão para determinação da biodegradação aeróbica de plásticos enterrados em sedimentos marinhos arenosos em condições laboratoriais controladas
AS 5810 2010 Plásticos biodegradáveis adequados para compostagem domiciliar.
AS 4736-2006 Plásticos biodegradáveis adequado para compostagem e outros tratamentos microbianos
EN 13432:2000 Requisitos para embalagens recuperáveis através de compostagem e biodegradação – esquema de teste e critérios de avaliação para aceitação final da embalagem
EN 14045:2003 Embalagem – avaliação da desintegração de materiais de embalagem em testes orientados práticos sob condições de compostagem definidas
EN 14046:2003 Embalagem – avaliação da biodegradabilidade aeróbica final dos materiais de embalagem sob condições controladas de compostagem – método por análise de dióxido de carbono liberado
EN 14047:2002 Embalagem – determinação da biodegradabilidade aeróbica final dos materiais de embalagem em meio aquoso – método pela análise do dióxido de carbono
EN 14048:2002 Embalagem – determinação do método de biodegradabilidade aeróbica final de materiais de embalagem em meio aquoso – medindo a demanda de oxigênio em um respirômetro fechado
EN 14806:2005 Embalagem - avaliação preliminar da desintegração de materiais de embalagem sob condições simuladas de compostagem em teste de escala laboratorial
EN 17033:2018 Plásticos - Películas de cobertura morta biodegradáveis para uso na agricultura e horticultura - Requisitos e métodos de teste
ISO 13975:2019 Plásticos - Determinação da biodegradação anaeróbica final de materiais plásticos em sistemas de digestão de lama controlada - Método por medição da produção de biogás
ISO 14851:1999 Determinação da biodegradabilidade aeróbica final de materiais plásticos em meio aquoso – método através da medição da demanda de oxigênio em um respirômetro fechado
ISO 14852:2018 Determinação da biodegradabilidade aeróbia final de materiais plásticos em meio aquoso – método por análise de dióxido de carbono
ISO 14853:2016 Plásticos - Determinação da biodegradação anaeróbica final de materiais plásticos em um sistema aquoso - Método por medição da produção de biogás
ISO 14855:1999 Determinação da biodegradabilidade aeróbica final e desintegração de materiais plásticos sob condições controladas de compostagem – método por análise de dióxido de carbono
ISO 16929:2002 Plásticos – determinação do grau de desintegração de materiais plásticos sob condições de compostagem definidas em um teste em escala piloto
ISO 17556:2003 Pláticos – determinação do grau de desintegração de materiais sob condições de compostagem em um teste de escala piloto
ISO 17088:2008 Especificações para plásticos compostáveis
ISO 16221:2001 Qualidade da água – orientação para determinação da biodegradabilidade no ambiente marinho
ISO 18830: 2016 Determinação da biodegradação aeróbica de materiais plásticos não flutuantes em uma interface água do mar / sedimentos arenosos
ISO 19679: 2020 Determinação da biodegradação aeróbica de materiais plásticos não flutuantes em uma interface água do mar / sedimentos - Método por análise de dióxido de carbono evoluído
ISO 22404:2019 Plásticos - Determinação da biodegradação aeróbica de materiais não flutuantes expostos a sedimentos marinhos - Método por análise de dióxido de carbono evoluído
AFNOR NF U52-001 Materiais biodegradáveis
OCDE 306 Biodegradabilidade em água do mar
ABNT BR15448-1 2008 Embalagens plásticas degradáveis e/ou de fontes renováveis - Parte 1: Terminologia
ABNT BR15448-2 2008 Embalagens plásticas degradáveis e/ou de fontes renováveis Parte 2: Biodegradação e compostagem - Requisitos e métodos de ensaio
40

4.3 Resultados

Existem diversas normas, publicadas por diferentes organizações para avaliar a


biodegradabilidade de polímeros, baseadas em diferentes parâmetros escolhidos para
quantificar a extensão da degradação (Jayasekara et al., 2005). No presente estudo, foram
analisadas um total de 36 normas técnicas emitidas pela ASTM, AS, ISO, CEN, ABNT e
OCDE (Tabela 4). Até onde podemos verificar, esse conjunto representa a quase totalidade
das orientações técnicas desenvolvidas mundialmente para avaliar a biodegradabilidade de
materiais plásticos (Ammala et al., 2011; Philp et al., 2013a). Considerando os agrupamentos
por categoria, foram avaliadas 18 normas para compostagem, 4 para solo, 6 para meio aquoso
e 8 para ambientes marinhos.
41

Tabela 4 - Principais parâmetros para biodegradabilidade de materiais plásticos, de acordo com a organização responsável pela publicação da norma.

%
Meio Órgão Norma pH Dur. Teste Inóculo Medição Temperatura
Biodegradação
D6954-04, D5338-98, D5526-94,
ASTM D6400-99, D7475-20, D6868-19, 7 a 8,5 1 a 6 meses Solo e lodo conversão de CO em CO2 20 - 70ºC 70 a 90%
D5511-18
Compostagem

AS 4736-2006, 5810-2010 N/C 3 a 24 meses N/C conversão de CO em CO2 até 30ºC 90%
13432:00, 14045:03 14046:03, 12 semanas a 6 Composto aerado/resíduo
EN 5a9 consumo de O2 e produção de CO2 20 - 60ºC 70 a 90%
14806:05 meses sólido
12 semanas a 6 Composto aerado/resíduo razão: CO2 produzido e a quantidade teórica
5 40 - 75ºC 70%
ISO 14855:99, 16929:02. 17088:08 meses sólido urbano máxima de CO2 que pode ser produzido

Composto aerado/resíduo
ABNT 15448-1 e 15448-2/08 5a9 6 meses consumo de oxigênio e produção de CO2 58ºC 90%
sólido
evolução teórica do CO2 e perda de peso e
ASTM D5988-18 4,5 a 8 2 semanas-4meses Bactéria/fungos/solo 20 - 37ºC 70%
resistência
Solo

ISO 17556:03 6a8 6 a 24 meses Solo de campos/florestas consumo de O2 e produção de CO2 20 - 28ºC 60%
AFNOR NF U52-001 6a8 12 meses N/C evolução do dióxido de carbono 28ºC 60%
EN 17033-12 N/C 24 meses Solo de campos/florestas evolução do dióxido de carbono 20–28 ° C 90%
20 - 58ºC
Aquoso

EN 14047:02, 14048:02 77 45 a 55 dias Mineral inoculado demanda de O2 e CO2 evoluído 70%

14851-99, 14852-99, 13975-12 6a8 3 a 6 meses Lodo/solo/adubo comparação DBO com DTO* 20 - 25º C 60 a 70%,
ISO
14853-16
7a8 3 meses a 2 anos Sedimentos/água do mar conversão de CO em CO2 /perda de peso 15 - 30ºC 60 a 70%
ASTM D6691-17, D7991-15, D7473-12
Marinho

18830:16, 19679:01, 16221:01, 7 a 8,5 60 dias a 24 meses Sedimentos/água do mar demanda de O2 e CO2 15–28º C 60 a 70%
ISO
22404:19
>70% remoção do
N/C 60 dias Água do mar tratada carbônico orgânico dissolvido - COD 15-20°C
OCDE 306:92 COD e >60% DTO**

*DBO (demanda bioquímica de oxigênio) com a DTO (demanda teórica de oxigênio)


** COD (carbono orgânico dissolvido)
N/C Não consta
42

4.3.1 Biodegradabilidade de polímeros plásticos em condições de compostagem.

A compostagem é um processo gerenciado que controla a decomposição biológica e


a transformação de materiais biodegradáveis através de mecanismos aeróbicos e anaeróbicos
(ASTM D6400-19; ISO 17088). O material resultante (húmus) é frequentemente utilizado na
agricultura quando o processo de degradação é lentamente completado, liberando nutrientes
essenciais e melhorando as características do solo (Dilkes-Hoffman et al., 2019). Portanto,
para serem qualificados como compostáveis, os materiais devem sofrer perda substancial de
massa (geralmente 90%) e não gerar resíduos tóxicos (ASTMD6400, 2019). Os sistemas de
compostagem podem ser industriais ou domésticos e requerem tratamentos prévios incluindo
seleção dos materiais, redução do tamanho das partículas e adição de umidade (Avella et al.,
2001). Além disso, o processo é aprimorado pela ação de microrganismos ou aditivos que
estimulam os mecanismos de biodegradação. Nesse aspecto, a eficiência da degradação
abiótica é afetada fundamentalmente pelas altas temperaturas e pelo tempo de exposição.
Similarmente, a degradação biológica sofre a influência da presença de microrganismos
termofílicos que mediam as transformações bioquímicas através de vias enzimáticas
(Quecholac-Piña et al., 2017). Para que a compostagem seja uma alternativa viável de
tratamento pós consumo, é necessário a identificação, a separação e coleta dos materiais
plásticos biodegradáveis antes de chegarem aos pontos de compostagem (Körner et al., 2005;
Song et al., 2009). Caso contrário o destino poderá ser aterros, rios e os oceanos, ambientes
em que a biodegradação não terá a mesma eficácia de ambientes gerenciados (Kale et al.,
2007).

Considerando as 18 normas analisadas, as temperaturas empregadas para realização


dos testes variaram em uma faixa de 20 a 75ºC. Segundo essas normas, as taxas de
degradação devem ser aferidas através do percentual de conversão dos materiais em CO2 e
biomassa sendo considerado aceitáveis valores entre 70 e 90% no período de exposição
determinado. No caso específico, a norma (ASTMD6954, 2004) é a única que estabelece
diferenças de percentual mínimo para atestar a biodegradabilidade quando o material for
constítuído por homopolímeros, no caso 60% e 90% para os copolímeros. As faixas de pH
para execução dos experimentos variaram de 5 a 9, embora esse parâmetro não esteja descrito
nas normas (AS 4736, 2009; AS 5810, 2010; EN 13432, 2000; ISO 14855, 2012). Juntamente
com a atividade microbiana, a incidência de luz é um importante parâmetro que influencia
taxas de degradação (Girard et al., 2020). Nesse aspecto, as normas (ASTM D5511, 2018;
43

ASTM D7475, 2020; ASTMD5526, 2018; EN 14046, 2003) são as únicas que recomendam
que os testes sejam realizados sob condições de escuro ou luz difusa. Com relação ao período
de biodegradação, a maioria dos procedimentos recomenda prazos entre 30 dias a 6 meses
como aceitáveis. A norma (ABNT 15448-2, 2008) segue os padrões das normas ISO 14855,
EN 14045 e 13432. Entre as normas de compostagem, a composição dos inóculos é oriunda
de amostras de lodo ativado de estações de tratamento de esgoto, resíduos sólidos urbanos,
fração orgânica de material oriundo de plantas de compostagem a fim de conseguir suficiente
atividade microbiana.

4.3.2 Biodegradabilidade dos polímeros plásticos nos solos.

O solo é um meio heterogêneo, cujas propriedades são afetadas pela temperatura,


teor de água, composição química (compostos minerais e matéria orgânica) e pH. Esses
parâmetros, separadamente ou em combinação criam diferentes condições (Maréchal, 2003)
que exercem forte influência sobre a biodegradabilidade de polímeros (Hoshino et al., 2001).
Visando atender à demanda por alimentos, a cobertura do solo por filmes plásticos tem sido
globalmente empregada como uma estratégia eficiente para melhorar as propriedades do solo
contribuindo para o crescimento das culturas (Zhang et al., 2019). Assim, considerando os
impactos resultantes do uso dos plásticos convencionais, filmes de polímeros biodegradáveis
têm se tornado alternativas ecológicas ao polietileno. Baseado na ampla utilização para essa
finalidade, normas especificas para degradação de polímeros em solos foram desenvolvidas
(Touchaleaume et al., 2016), especialmente na União Europeia, onde os legisladores estão
proibindo ou reduzindo certas fontes de microplásticos (Šerá et al., 2020) e, por outro lado,
certificando filmes plásticos biodegradáveis para agricultura (EN 17033, 2012).
As quatro normas analisadas no presente estudo foram projetadas para determinar a
biodegradabilidade inerente dos plásticos no solo sob condições ideais e controladas tendo
sido emitidas pelas organizações ASTM, CEN, AFINOR e ISO. Essas normas preconizam
tempos de exposição variando entre 2 semanas e 12 meses, com temperaturas entre 20 a 37ºC.
Condições de pH do solo entre 4,5 e 8 são considerados pelas normas (AFNOR NF U52-002,
2005; ASTM D5247, 1992; ASTM D5988, 2018; ISO 17556, 2019). As taxas de
biodegradabilidade aeróbica consideradas aceitáveis pelas normas analisadas são medidas
através da demanda de oxigênio ou das emissões de CO2 e foram estabelecidas em valores
entre 60 e 90%. Para realização dos testes, apenas nas normas ASTM D5988-18 e ISO 17556
-19 recomendam o uso de solos de florestas e campos como inóculo, contudo nenhum dos
44

documentos analisados faz menção a níveis de exposição a luz, durante a realização dos
testes.

4.3.3 Biodegradabilidade de polímeros plásticos em meios aquosos.

Alta abundância de microplásticos tem sido reportada para ambientes de água doce e
em estuários (Fu e Wang, 2019) apesar disso, não foram estabelecidos testes específicos de
biodegradabilidade com critérios de aprovação ou reprovação para itens plásticos depositados
em ecossistemas de água doce abertos (Harrison et al., 2018). Em contraste, várias normas e
métodos de testes foram desenvolvidos para medir o grau e a taxa de biodegradação aeróbica
de materiais plásticos oriundos de águas residuais. Estes resíduos são expostos ao lodo
ativado de estação de tratamento de esgotos e em sistemas de digestão controlada de chorume,
e podem ser aplicado a todos os materiais plásticos, desde que não sejam inibidores das
bactérias. As seis normas analisadas, publicadas pelo CEN e pela ISO para o meio aquoso
apresentaram faixas de temperatura recomendadas variando entre 20 e 58ºC. Taxas de
biodegradabilidade são determinadas pela comparação das demandas bioquímicas de oxigênio
(DBO), com as demandas teóricas de oxigênio (DTO), sendo aceitáveis valores de 60% a
70%. A duração dos experimentos de avaliação variam de 45 dias a 6 meses e somente as
normas (ISO 14851, 2019; ISO 14852, 2018) indicam que o teste deve ser realizado em
ambiente escuro ou sob luz difusa. O pH indicado para os testes é entre 6 e 8. O inóculo
utilizado deve ter origem em amostras de lodo ativado de uma estação de tratamento de
esgoto doméstico ou preparado em laboratório, podendo ser ainda solo, adubo, fezes de gado
ou outros resíduos orgânicos.

4.3.4 Biodegradabilidade de polímeros plásticos em ambientes marinhos.

Os ambientes marinhos cobrem a maior parte da superfície terrestre, com grande


diversidade de ecossistemas. Um total de 7 normas publicadas pela ASTM, ISO e OCDE,
descrevendo métodos para avaliação de degradabilidade de polímeros plásticos foram
analisadas no presente estudo. Esses documentos visam estabelecer procedimentos para
testagem da biodegradabilidade aeróbica de materiais plásticos expostos a diferentes
condições marinhas. As normas (ASTM D7473, 2012; ISO18830, 2016; ISO19679, 2020)
atestam a biodegradabilidade para materiais plásticos assentados em sedimentos marinhos na
interface entre a coluna d’agua e o fundo do mar, simulando em laboratório, condições
45

semelhantes as zonas de sublitoral. A primeira norma mede a demanda de oxigênio em


respirômetro fechado, enquanto a segunda avalia a evolução do dióxido de carbono. Diferente
das demais, a norma ASTM D7473-12 é baseada em evidências visuais de biodegradação e
perda de massa do polímero (%) após exposição à água do mar em um sistema de fluxo. Este
método não é autossuficiente para estabelecer a biodegradabilidade e só é indicado para
materiais que alcançam pelo menos 30% de biodegradabilidade, quando aplicado previamente
o método descrito em ASTM D6691-09. Caso não atinja a porcentagem de mineralização, o
teste de incubação em aquário não precisa ser feito e o material deve ser considerado não
biodegradável no ambiente marinho. Por sua vez, as normas (ASTMD7991, 2015; ISO 22404,
2019) medem o nível de biodegradação simulando o ambiente encontrado em zona do entre
marés (zona eulitoral). As normas (ISO 16221, 2001; OCDE 306, 1992) são métodos para
aferir biodegradabilidade no ambiente marinho por microrganismos aeróbios em sistemas de
teste aquosos estáticos que consistem na dissolução de uma quantidade pré-determinada do
material, incubada no meio de teste. Os testes das norma (ASTM D6691, 2017) emprega
medições de evolução de CO2 sob condições controladas por um consórcio microbiano
definido, simulando a zona pelágica, sendo a amostra de plástico suspensa em uma solução
de sal marinho sintético. À exceção da nora ASTM D7473-12, em todos os casos, a
biodegradação aeróbica é aferida usando medições de oxigênio e emissões de CO2. A
temperatura prevista nos testes varia entre 15 a 30ºC, por períodos que vão de 60 dias a 2
anos, nos quais as taxas de biodegradação devem ser entre 60 e 70%. O pH deve ser ajustado
entre 7 e 8,5, enquanto a norma OCDE 306-92 não inclui este requisito.
A maioria dessas normas preveem a utilização de sedimentos e água do mar filtrada
com a presença de microrganismos naturais, podendo haver substituição por água salgada
artificial. Nesse aspecto, a norma ASTM D6691-17 especifica um inóculo contendo um
mínimo de dez organismos incluindo pelo menos as seguintes espécies: Alteromonas
haloplanktis, Xanthomonas campestri, Vibrio alginolyticus, Vibrio proteolyticus,
Actinomiceto sp., Bacillus megaterium, Bacillus sp., Zooster sp. e Pseudomonas sp. Ou o
inóculo pode ser água do mar contendo nutrientes inorgânicos como o cloreto de amônia
(NH4Cl) e o fosfato monopotássico (KH2PO4) além de ter origem em área livre de
contaminação. A norma OCDE 306-92 orienta o pré-tratamento da água natural do mar para
remover partículas grosseiras, além de adicionar nutrientes minerais como nitrogênio (N) e
fósforo (P). Nesse caso, verificou-se que o teste não simula rigorosamente o ambiente
marinho, uma vez que os nutrientes são adicionados em concentração maiores do que estaria
presente em água marinha natural. Da mesma forma, a salinidade é ajustada em 32 pela
46

adição de sal marinho, segundo as normas OCDE 306-92, ISO18830-16 e 19679-16 e em 34


pela norma ASTMD6691-17, enquanto as normas ISO 22404-19 e 16221-01 e ASTMD7991-
15 e D7473-12 não especificam salinidade em seus testes, no entanto esta última revê os
testes com ausência de luz.

4.4. Discussão.

As diferenças entre normas técnicas publicadas por diferentes instituições refletem


uma falta de uniformidade com as propriedades físico-químicas observadas em ambientes
marinhos reais. Essas, por sua vez, influenciam sobremaneira as taxas de degradação dos
bioplásticos (Balestri et al., 2017; Restrepo-Flórez et al., 2014). Os parâmetros fisico-
químicos em oceanos e zonas costerias podem variar drasticamente, tanto no tempo como no
espaço. Nesse sentido, estudos demostraram que parâmetros como pH, salinidade, oxigênio
dissolvido e temperatura podem diferir substancialmente ao longo de poucos centímetros ou
minutos (Frieder et al., 2012; Guadayol et al., 2014). Processos oceanográficos corriqueiros
com marés, correntes, descargas continentais e a circulação euriahalina são agentes
importantes dessa dinâmica. Mais além, eventos extremos como tempestades são também
importantes fatores a serem considerados quando se avaliam parâmetros fisico-quimicos das
águas e sedimetos marinhos (Castro, 2019). Portanto, fragmentos de plásticos biodegradáveis
descartados inadequadamente ou escapando de sistemas de compostagem estarão sujeitos a
uma ampla variedade de condições biogeoquímicas.
A temperatura, por exemplo, apresenta grandes variações horizontais e verticais,
sendo que a simples oscilação nos ciclos das marés pode induzir modificações da ordem de
10°C ao longo de um único dia. Variações bruscas de temperatura também são observadas em
zonas costeiras e oceânicas quando considarados processos como as ressurgências.
Ressurgências sazonais alteram a temperatura das águas superficiais no Sul da África,
promovendo um declínio de aproximadamente 20°C para menos de 17ºC (Lutjeharms e
Meeuwis, 1987). Na Costa Oeste da América do Norte, a variação registrada é de 16,5°C para
13,5°C, diminuindo para 9°C perto da costa de Oregon e da Califórnia (Rehder et al., 2002).
Além disso, variações latitudinais, com temperaturas de superfície ao redor de 28ºC, nas
zonas equatoriais e -1,9º C nos polos (Figura 3) são uma tônica natural nos oceanos e mares
da Terra (Open-Bio, 2015).
47

Figura 4 - Média semanal da temperatura global da superfície dos oceanos (jan-jul 2019). Fonte: Adaptado
de NOAA CoastWatch / OceanWatch, https://psl.noaa.gov/map/clim/sst.shtml, acessado em 03 de abril de
2020.

No que tange à estratificação dos oceanos, a camada superficial mais quente, é


separada do oceano profundo e frio por termoclinas. Abaixo dessas faixas de abruptas
variações, a coluna d’água se estende até o assoalho submarino, onde a temperatura é sempre
inferior a 5ºC, podendo chegar a 1ºC, com média de 3,5ºC (Chester e Jickells, 2012). De fato,
as regiões profundas do mar representam a maior parte do volume dos oceanos. Dos 510
milhões de km2 da superfície da Terra, 362 milhões são o fundo dos oceanos, com cerca de
90%, com profundidade média de 3.800m. Há uma grande variedade de relevos, a camada de
sedimentos inorgânicos que cobre as planícies abissais pode chegar a milhares de metros de
espessura, além de diferentes habitats que suportam comunidades microbiológicas e
faunísticas únicas (Ramirez-Llodra et al., 2010). Apesar disso, um estudo descobriu alta
concentração de microplásticos (133,3 itens por kg de peso seco de sedimento) nas três fossas
hadais mais profundas do planeta. Portanto, a poluição por microplásticos atinge todas as
profundidades dos oceanos atingindo elevadas concentrações. Nesse aspecto, a região hadal
parece ser o principal depósito e sumidouro de microplásticos (Peng et al., 2020).
No mar profundo, as características abióticas são relativamente uniformes, a maior
variável física é a pressão hidrostática, que nos sistemas hadal pode atingir 600-1100 atm. As
variações associadas à redução da temperatura e ao aumento da pressão afetam as atividades
de enzimas catalizadoras nos organismos (Gage e Tyker, 1991). Experimentos com fungos
48

isolados do mar profundo mostraram capacidade reduzida da degradação de polímeros com o


aumento da pressão hidrostática, sendo que acima de 296 atm nenhuma degradação pôde ser
observada (Gonda et al., 2000).
A temperatura é um parâmetro ambiental chave para a biodegradabilidade pois
controla a reprodução, o crescimento e a distribuição dos organismos, além de exercer
influência sobre as reações bioquímicas, acelerando-as ou inibindo, além de influenciar a
composição taxonômica e as atividades metabólicas das comunidades microbianas (Pischedda
et al., 2019). Por exemplo, um aumento de temperatura de 10ºC pode aumentar em duas vezes
a capacidade do sedimento em decompor matéria orgânica (Sanz-Lázaro et al., 2011). Por
outro lado, testes realizados com Poli-3-hidroxibutirato (P3HB), usando água do mar,
mostraram que em temperatura a 27°C as taxas de biodegradação foram quase o dobro do
observado em água a 10°C. Isso sugere que os microrganismos da água do mar atuam
fortemente na biodegradação (Nakayama et al., 2019). Nesse sentido, as faixas de
temperatura recomendadas pelas normas de compostagem (de 20 a 75ºC), ambiente aquoso
(de 20 a 58ºC), solo (de 20 a 37ºC) e ambientes marinhos (15 a 30ºC), estão muito longe da
realidade observadas nos oceanos e mares da Terra.
A salinidade é outro fator ambiental que afeta as taxas de degradação dos polímeros
por terem um papel crucial na seleção de comunidades microbianas alem de afetar sua
atividade. Portanto, esse parâmetro deve ser considerado em testes de biodegradabilidade de
polímeros (Artham e Doble, 2008). Nos extratos superficiais dos oceanos, a salinidade varia
entre 32 e 37 com valores mais altos encontrados em mares semi-fechados, onde a evaporação
excede em muito a precipitação, a exemplo do Mar Mediterrâneo (37 a 39) e do Mar
Vermelho (40 a 41) (Fiedler, 2018). Por sua vez, as águas costeiras são influenciadas pelo
escoamento superficial, provocando a diminuição na concentração de sais de superfície, (27 a
30). Em regiões estuarinas, a salinidade pode variar entre 0 e 30 (Lalli e Parsons, 1997). Por
outro lado, no oceano profundo, a salinidade tende a ser mais estável com valores médios de
34,8 (Millero, 2016) declinando para 34,6 em zonas mais profundas. Nesse quesito, apenas as
normas para ambientes marinhos mencionam 32 e 34 como ajustes necessários desse
parâmetro, visto que as demais normas analisadas são para ambientes de compostagem, solo e
meio aquoso.
O pH em ambientes aquáticos é controlado fundamentalmente pela adição ou
remoção de CO2 como resultado de processos físicos e biológicos. Esse importante parâmetro
pode sofrer modificações em até uma unidade como resultado da atividade microbiana e da
densidade de fitoplâncton. Além disso, os aumentos de pressão parcial de CO2
49

experimentados após a revolução industrial têm também contribuído para redução gradativas
no pH de sistemas aquáticos globais (Hönisch and Ridgwell, 2012). Principalmente em zonas
costeiras, o pH está sujeito as oscilações diárias e sazonais. Assim, é frequente a observação
de valores mais altos durante o verão, devido às mudanças na temperatura da água e aumento
nas taxas de fotossíntese. Portanto, águas costeiras variam rotineiramente entre 7,5 e 8,5
(Kerrison et al., 2011), enquanto valores mais baixos são normalmente observados nos
substratos do eulitoral (5,5 a 6,8) e sublitoral (7,8 e 7,9). Em contraste, nas águas superficiais
do oceano aberto valores de pH estão geralmente entre 7,9 e 8,3 (Dickson, 1993). No oceano
profundo, os perfis verticais de pH indicam valores médios entre 7,5 e 7,6 a partir da
profundidade de 4 mil metros (Dickson, 1993). Quando comparados aos indicadores das
normas, verifica-se que são exigidos valores de pH entre 5 e 9 para ambiente de
compostagem, valores ajustados em 7 para meio aquoso, valores entre 6 e 8 para solo e 7 e 8,5
para ambientes marinhos. Sabe-se que os microrganismos de diferentes grupos demandam
condições particulares para atuar em processos de degradação, de modo que fungos costumam
tolerar faixas mais amplas de pH e temperatura em comparação às bactérias (Flemming,
1998). Estudos realizados com Poli-adipato-co-tereftalato de butileno (PBAT) e seus
biocompósitos em composto de lodo ativado e em água do mar natural (in situ) demonstraram
melhor performance de degradação em lodo. Esse estudo também mostrou que a baixa
temperatura e o pH alcalino da água do mar estimularam a atividade de bactérias
psicrotróficas, enquanto no lodo (com pH mais baixo) os fungos foram mais atuantes
(Krasowska et al., 2010). Contraditoriamente, o poliácido láctico (PLA), um conhecido
polímero biodegradável, sofre degradação mais rápida em soluções alcalinas influenciada pela
alta concentração de íons hidróxido (Karamanlioglu et al., 2017).
A penetração e distribuição da radiação luminosa nos corpos d’água é dependente da
profundidade e da turbidez. Nas regiões costeiras, onde a quantidade de material particulado
em suspensão é alta, a zona fótica, pode variar de poucos até 60 m de profundidade. Por outro
lado, em ambientes pelágicos, a disponibilidade de luz pode atingir os 200m. Abaixo desta,
as zonas disfótica e afótica apresentam um decréscimo evidente na quantidade de luz (Mitra e
Zaman, 2016). Adicionalmente, as porções mais profundas do oceano, que compreendem
90% do volume, permanecem diuturnamente na mais completa escuridão. É sabido que as
taxas de degradação de plásticos são mais intensas em ambientes superficiais (Bergmann et
al., 2015; Biber et al., 2019). A radiação luminosa exerce influência direta através de
mecanismos de fotodegradação (Laycock et al., 2017b) e a redução da luz ultravioleta pode
resultar em degradação mais lenta, pois ela pode iniciar o processo oxidativo, produzindo
50

hidroperóxidos que levam à deterioração dos plásticos (O’Brine e Thompson, 2010). Por sua
vez, a luz exerce papel essencial na distribuição vertical da diversidade microbiana (Rich e
Maier, 2015). Nesse quesito merecem destaque espécies fúngicas e bacterianas que agem
como fonte de enzimas responsáveis pela biodegradação de bioplásticos e que são direta ou
indiretamente dependentes da radiação luminosa (Emadian et al., 2017; Jacquin et al., 2019).

De fato, microrganismos como bactérias e fungos têm papel fundamental no processo


de biodegradação. Durante esse processo, as enzimas quebram polímeros complexos
produzindo moléculas menores de cadeias curtas, suficientemente pequenas para atravessar
membranas e serem utilizadas como fontes de carbono e energia (Shah et al., 2008).
Entretanto, antes dessa etapa, ocorre a colonização dos resíduos plásticos, pela formação
biofilmes microbianos (Eich et al., 2015). Nessa fase, fatores, como a razão entre a superfície
e o volume, composição e condições do meio influenciam fortemente sua suscetibilidade à
bioincrustação (Syranidou et al., 2017). Nesse sentido, foi demonstrado que a formação de
biofilmes sobre polímeros biodegradáveis e convencionais é fortemente afetada pela
intensidade de luz e forças de cisalhamento (Eich et al., 2015). Similarmente, a área de
superfície, estrutura química, massa molecular, elasticidade e estrutura cristalina também
apresentam importância crucial no processo de biodegradação (Tokiwa et al., 2009). Contudo,
mesmo em resíduos plásticos colonizados superficialmente, não há evidências de
biodegradação durante essa etapa inicial da sucessão ecológica (Lobelle and Cunliffe, 2011).
Por ouro lado, tem sido sugerido que o processo de bioincrustação pode diminuir as taxas de
biodegradação devido a efeito fotoprotetores exercidos pelo biofilme (O’Brine e Thompson,
2010).

A caracterização das comunidades microbianas é essencial para entender a


capacidade de metabolizar o plástico como fonte nutricional, permitindo selecionar
comunidades bacterianas específicas para tal finalidade (Barlaz Morton A. et al., 1989). Os
dados atualmente disponíveis dependem fortemente de abordagens baseadas em condições de
laboratório, embora as bactérias que podem ser cultivadas representem menos de 1% da
diversidade microbiana natural (Hugenholtz et al., 2009). É provável que a maioria dos
microrganismos marinhos potencialmente capazes de atuar na degradação de detritos plásticos
não tenham sido identificados ainda (Harrison et al., 2011). Embora existam listas de
microrganismos que apresentam a capacidade de degradar ou deteriorar plásticos, em
condições de laboratório, (Jacquin et al., 2019) a maioria deles não é capaz de degradar
universalmente todos os tipos de polímeros.
51

A ocorrência ambiental de microrganismos é frequentemente determinada pelas


condições ambientais. Por exemplo, quando O2 está disponível, microrganismos aeróbicos são
os principais responsáveis pela degradação de materiais complexos. Em contraste, sob
condições anóxicas, somente consórcios anaeróbicos de microrganismos atuarão na
degradação do polímero (Barlaz Morton A. et al., 1989). Mais além, outros parâmetros
ambientais, como umidade, temperatura, pH, salinidade, pressão hidrostática e condições de
cultura influenciam sobremaneira os sistemas microbianos (Kale et al., 2015). Um estudo
recente avaliou taxas de degradação do Poli-hidroxibutirato (PHB) e Polibutileno sebacato-
co-tereftalato (PBSeT) em três diferentes ambientes marinhos (zonas entre-marés, pelágicas e
bênticas). Os resultados mostraram desintegração nos três ambientes, contudo, diferenças
significativas nas taxas foram observadas. Essas variações foram atribuídas às diferentes
condições abióticas e bióticas, sendo que a microbiota exerceu maior influência (Briassoulis
et al., 2019). Outro estudo, avaliando degradação do Poli-hidroxialcanoato (PHA) em
ambiente marinhos sob zonas climáticas diferentes mostrou que o material desintegrou em um
grau variável dependendo da zona climática (Lott et al., 2020). Sendo assim, considerando
que as comunidades microbianas são moldadas pelo tipo de habitat (Li et al., 2020) inóculos
formulados dificilmente serão capazes de reproduzir as condições reais de degradação em
ambientes marinhos. Nesse aspecto, os testes previstos na norma ASTM D5247‐92, que
utiliza microrganismos específicos do solo como meio de cultura, limitam os corpos de prova
como a únicas fontes de carbono, embora nos ambientes naturais, o polímero testado pode não
ser o substrato preferido na presença de nutrientes alternativos. Mais além, as normas ISO
16221-01, ASTM D6691-17 e OCDE 306-92 que adicionam nutrientes minerais aos inóculos,
podem estimular o crescimento e a atividade microbiana de forma distinta do que ocorre em
ambientes naturais. Entretanto, estudos indicam que a adição de nutrientes afeta o processo de
degradação (Tosin et al., 2012). Além disso, os microrganismos selecionados para condução
dos testes, geralmente diferem quantitativa e qualitativamente da microbiota ambiental
(Haider et al., 2019). Por exemplo, em áreas de manguezal, a contagem microbiana pode
facilmente exceder os 79 x 104 por grama de sedimentos para bactérias heterotróficas totais e
até 55 x 102 para fungos. Nesse aspecto, um outro estudo com PLA demonstrou ampla taxa de
degradação neste ambiente (Weinstein et al., 2020) por apresentar condições adequadas de
umidade, incidência de luz solar, além da intensa atividade microbiana (Kandasamy, 2003).

Além dos aspectos apresentados, há também a possibilidade da liberação de


substâncias tóxicas durante as etapas de degradação do polímero (Degli-Innocenti et al.,
52

2001). Neste sentido, as normas técnicas devem incluir avaliações da toxicidade potencial
derivada do processo de biodegradação dos materiais testados. Entre as normas analisadas, a
certificação OK Biodegradável da TUV inclui um padrão para testes de ecotoxicidade usando
Daphnia sp. (OECD 202, 2004). O esquema de certificação recomendado por essa norma,
sugere ainda a utilização de outros organismos modelo, como algas, peixes e cianobactérias.
Entretanto, não indica a necessidade dessas análises para obtenção da certificação. Cabe
ressaltar que a toxicidade induzida durante o processo de biodegradação pode estar
relacionada à formação de microplásticos, os quais podem ser a parte mais prejudicial dos
resíduos de plástico. Devido ao tamanho reduzido (<5 mm), podem ser ingeridos e induzindo
distúrbios imunológicos e neurotóxicos em organismos de diferentes níveis tróficos (Ma et al.,
2020). Microplásticos podem ainda atuar também como vetores de substancias químicas
perigosas adsorvidas em sua superfície e ou aditivos, que podem se tornar biodisponíveis
durante a degradação (Smith et al., 2018). No entanto, até onde foi possível verificar, não
existem normas técnicas para certificação de biodegradabilidade de polímeros plásticos que
consideram a formação de microplásticos.

4.5. Considerações finais.

Biodegradabilidade é um termo amplamente mal utilizado que tem sido adulterado e


distorcido geralmente com o objetivo de conferir a um produto específico um valor agregado
“verde” que, em muitos casos, não é real (Viera et al., 2020). Pelo menos em parte, esta
questão é derivada da falta de consenso sobre o significado do termo biodegradabilidade. Na
verdade, a decomposição em condições naturais pode apresentar diferentes intervalos de
tempo dependendo das variáveis ambientais específicas. Assim, os conceitos de
biodegradabilidade devem estar sempre atrelados a um ambiente específico (Albertsson and
Hakkarainen, 2017). Os ambientes marinhos biologicamente diversos cobrem cerca de 70%
da superfície da Terra (Walag, 2017), oferecendo 300 vezes mais espaço habitável do que os
ambientes terrestres e de água doce. Além disso, essas áreas cobrem uma diversidade notável
de condições físicas e químicas (Lalli e Parsons, 1997). As normas atualmente em uso
contemplam apenas uma fração dessa diversidade e desconsideram amplamente o mar
profundo, onde 32% dos detritos acumulados são plásticos e 89% detes, utensílios de uso
único (Chiba et al., 2018). Esses ambientes possuem faixas específicas de atividade
microbiana, pH, temperatura, salinidade e pressão que não são totalmente cobertas por
53

nenhum padrão técnico. Até mesmo as normas projetadas para simular ambientes marinhos
estabeleceram condições experimentais que estão longe das condições ambientais reais.
O uso de polímeros supostamente biodegradáveis tem sido reconhecido como uma
estratégia global de combate à poluição por plásticos. Para influenciar a decisão de compra
dos consumidores, os rótulos que clamam biodegradabilidade são atualmente baseados em
testes realizados empregando norma técnicas que não são capazes de garantir a degradação
em ambientes naturais. Na verdade, de uma perspectiva estritamente científica, essas normas
se assemelham a uma enganação ambiental. Com base nos mecanismos de transporte e
ciclagem a que os resíduos plásticos são submetidos após o descarte, parcelas significativas
do plástico gerado chegam aos oceanos e mares da Terra. Portanto, os padrões técnicos ideais
para atestar degradabilidade de polímeros devem considerar as condições ambientais mais
desafiadoras possíveis, tais como as do mar fundo. Considerando o acima exposto, propomos
postos-chave que devem ser considerados pelos novos esquemas de certificação: (1) simular
as condições ambientais do mar profundo, tanto quanto possível, levando em consideração
temperaturas próximas a 0ºC e ausência de luz, entre outros fatores; (2) usar testes de
toxicidade para avaliar a toxicidade potencial do meio da degradação e (3) monitorar a
formação de microplásticos. Além disso, é importante que as normas técnicas deixem
realmente claro para os usuários o significado da certificação, fornecendo informações sobre a
escala de tempo e as taxas de degradação. Finalmente, enquanto os resíduos de plástico estão
sujeitos a movimentos transfronteiriços incontroláveis, esquemas de certificação
harmonizados entre muitos países são uma necessidade real no mundo globalizado.
54

5. CONCLUSÃO GERAL

Embora o uso de polímeros biodegradáveis venha sendo adotado como uma das
estratégias promissoras no combate a poluição global por plástico, o presente estudo revelou
três graves problemáticas que precisam ser enfrentadas antes que esses materiais sejam
universalmente aceitos como alternativas ambientalmente seguras. Do ponto de vista da
regulação e da rotulagem, a prática de greenwashing vem se estabelecendo entre produtos
comercializados no mundo. Nossos resultados demonstraram, com base em um estudo
investigando canudos de plástico (Capítulo 1), que essa prática é também amplamente
utilizada no Brasil. Nesse sentido, a adoção de regulamentações específicas em esferas locais,
regionais e idealmente globais devem ser implementadas visando coibir essa prática.
Adicionalmente, as normas técnicas utilizadas globalmente para certificar a degradabilidade
de produtos plásticos comerciais desconsideram amplamente os parâmetros ambientais sob os
quais resíduos plásticos serão expostos após descarte (Capítulo 2). Portanto, mesmo quando o
material é submetido a testes prévios de certificação, não há garantias de que ele sofra
degradação em uma vasta gama de condições vigentes nos oceanos e mares da Terra. As
discrepâncias observadas são ainda mais evidentes quando consideradas as condições do mar
profundo, onde parcela significativa desses resíduos tem destino. Mais além, entre as normas
técnicas analisadas, apenas uma considera toxicidade potencial e nenhuma avalia a formação
de microplásticos durante etapas de degradação. Considerando a disponibilidade atual de
tecnologias, é fundamental que tais protocolos sejam urgentemente revistos e passem a
contemplar os parâmetros descritos. Tais modificações são essenciais antes que a tecnologia
dos polímeros biodegradáveis possa ser encarada seriamente como uma alternativa viável.
55

REFERÊNCIAS

ABNT 15448-1, 2008. Embalagens plásticas degradáveis e/ou de fontes renováveis - Parte 1:
Terminologia.
AFNOR NF U52-001, 2005. Materiais biodegradáveis.
Albertsson, A.-C., Hakkarainen, M., 2017. Designed to degrade. Science 358, 872.
https://doi.org/10.1126/science.aap8115
Alimba, C.G., Faggio, C., 2019. Microplastics in the marine environment: Current trends in
environmental pollution and mechanisms of toxicological profile. Environmental
Toxicology and Pharmacology 68, 61–74. https://doi.org/10.1016/j.etap.2019.03.001
Ammala, A., Bateman, S., Dean, K., Petinakis, E., Sangwan, P., Wong, S., Yuan, Q., Yu, L.,
Patrick, C., Leong, K.H., 2011. An overview of degradable and biodegradable
polyolefins. Progress in Polymer Science 36, 1015–1049.
https://doi.org/10.1016/j.progpolymsci.2010.12.002
Andrady, A.L., 2011. Microplastics in the marine environment. Marine Pollution Bulletin 62,
1596–1605. https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2011.05.030
Andrady Anthony L., Neal Mike A., 2009. Applications and societal benefits of plastics.
Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences 364, 1977–
1984. https://doi.org/10.1098/rstb.2008.0304
Antranikian, G., Vorgias, C.E., Bertoldo, C., n.d. Extreme Environments as a Resource for
Microorganisms and Novel Biocatalysts. Marine Biotechnology I 219–262.
https://doi.org/10.1007/b135786
Artham, T., Doble, M., 2008. Biodegradation of Aliphatic and Aromatic Polycarbonates.
Macromolecular Bioscience 8, 14–24. https://doi.org/10.1002/mabi.200700106
AS 4736, 2009. Plásticos biodegradáveis adequados para compostagem e outros tratamentos
microbianos.
AS 5810, 2010. Plásticos biodegradáveis adequados para compostagem domiciliar.
ASTM D5247, 1992. Método de teste padrão para determinação da biodegradabilidade
aeróbica de plásticos degradáveis por microrganismos específicos .
ASTM D5511, 2018. Standard Test Method for Determining Anaerobic Biodegradation of
Plastic Materials Under High-Solids Anaerobic-Digestion Conditions.
ASTM D5988, 2018. Método de teste-padrão para determinar a biodegradação aeróbica no
solo de materiais plásticos ou material plástico residual após a compostagem.
ASTM D6691, 2017. Método de Teste Padrão para Determinação da Biodegradação Aeróbica
de Materiais Plásticos no Ambiente Marinho por um Consórcio Microbiano Definido
ou Inóculo Natural de Água do Mar.
ASTM D7473, 2012. Método de Teste Padrão para Atrito de Peso de Materiais Plásticos no
Marítimo Ambiente por Incubações em Aquários de Sistema Aberto.
ASTM D7475, 2020. Standard Test Method for Determining the Aerobic Degradation and
Anaerobic Biodegradation of Plastic Materials under Accelerated Bioreactor Landfill
Conditions.
ASTMD5526, 2018. Métodos de teste-padrão para determinar a biodegração aeróbica de
materias plásticos em condições de aterro acelerado.
ASTMD6400, 2019. Especificações-padrão para plásticos compostáveis.
ASTMD6954, 2004. Guia-padrão para exposição e teste de plásticos que se degradam no
ambiente por uma combinação de oxidação e biodegradação.
ASTMD7991, 2015. Método de teste padrão para determinação da biodegradação aeróbica de
plásticos enterrados em sedimentos marinhos arenosos em condições laboratoriais
controladas.
Avella, M., Bonadies, E., Martuscelli, E., Rimedio, R., 2001. European current
56

standardization for plastic packaging recoverable through composting and


biodegradation. Polymer Testing 20, 517–521. https://doi.org/10.1016/S0142-
9418(00)00068-4
Balestri, E., Menicagli, V., Vallerini, F., Lardicci, C., 2017. Biodegradable plastic bags on the
seafloor: A future threat for seagrass meadows? Science of The Total Environment
605–606, 755–763. https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2017.06.249
Barlaz Morton A., Ham Robert K., Schaefer Daniel M., 1989. Mass‐Balance Analysis of
Anaerobically Decomposed Refuse. Journal of Environmental Engineering 115, 1088–
1102. https://doi.org/10.1061/(ASCE)0733-9372(1989)115:6(1088)
Beaumont, N.J., Aanesen, M., Austen, M.C., Börger, T., Clark, J.R., Cole, M., Hooper, T.,
Lindeque, P.K., Pascoe, C., Wyles, K.J., 2019. Global ecological, social and economic
impacts of marine plastic. Marine Pollution Bulletin 142, 189–195.
https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2019.03.022
Bockhorn, H., Hornung, A., Hornung, U., Schawaller, D., 1999. Kinetic study on the thermal
degradation of polypropylene and polyethylene. Journal of Analytical and Applied
Pyrolysis 48, 93–109. https://doi.org/10.1016/S0165-2370(98)00131-4
Briassoulis, D., Pikasi, A., Briassoulis, Chr., Mistriotis, A., 2019. Disintegration behaviour of
bio-based plastics in coastal zone marine environments: A field experiment under
natural conditions. Science of The Total Environment 688, 208–223.
https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2019.06.129
Cartraud, A.E., Corre, M.L., Turquet, J., Tourmetz, J., 2019. Plastic ingestion in seabirds of
the western Indian Ocean. Marine Pollution Bulletin 140, 308–314.
https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2019.01.065
Castro, Í.B., 2019. Improper environmental sampling design bias assessments of coastal
contamination. Trends in Environmental Analytical Chemistry 24, e00068.
Castro-Aguirre, E., Auras, R., Selke, S., Rubino, M., Marsh, T., 2017. Insights on the aerobic
biodegradation of polymers by analysis of evolved carbon dioxide in simulated
composting conditions. Polymer Degradation and Stability 137, 251–271.
https://doi.org/10.1016/j.polymdegradstab.2017.01.017
Cauwenberghe, L.V., Janssen, C.R., 2014. Microplastics in bivalves cultured for human
consumption. Environmental Pollution 193, 65–70.
https://doi.org/10.1016/j.envpol.2014.06.010
Cherrier, H., 2006. Consumer identity and moral obligations in non-plastic bag consumption:
a dialectical perspective. International Journal of Consumer Studies 30, 515–523.
https://doi.org/10.1111/j.1470-6431.2006.00531.x
Chester, R., Jickells, T., 2012. Descriptive oceanography: water -column parameters., in:
Marine Geochemistry. John Wiley & Sons, Ltd, Chichester, UK, pp. 125–153.
https://doi.org/10.1002/9781118349083.ch7
Chiba, S., Saito, H., Fletcher, R., Yogi, T., Kayo, M., Miyagi, S., Ogido, M., Fujikura, K.,
2018. Human footprint in the abyss: 30 year records of deep-sea plastic debris. Marine
Policy 96, 204–212. https://doi.org/10.1016/j.marpol.2018.03.022
Chinaglia, S., Tosin, M., Degli-Innocenti, F., 2018. Biodegradation rate of biodegradable
plastics at molecular level. Polymer Degradation and Stability 147, 237–244.
Choy, C.A., Robison, B.H., Gagne, T.O., Erwin, B., Firl, E., Halden, R.U., Hamilton, J.A.,
Katija, K., Lisin, S.E., Rolsky, C., 2019. The vertical distribution and biological
transport of marine microplastics across the epipelagic and mesopelagic water column.
Scientific reports 9, 1–9.
Cooper, T.A., 2013. 5 - Developments in bioplastic materials for packaging food, beverages
and other fast-moving consumer goods, in: Farmer, N. (Ed.), Trends in Packaging of
Food, Beverages and Other Fast-Moving Consumer Goods (FMCG), Woodhead
57

Publishing Series in Food Science, Technology and Nutrition. Woodhead Publishing,


pp. 108–152. https://doi.org/10.1533/9780857098979.108
Dangelico, R.M., Pujari, D., Pontrandolfo, P., 2017. Green Product Innovation in
Manufacturing Firms: A Sustainability-Oriented Dynamic Capability Perspective.
Business Strategy and the Environment 26, 490–506. https://doi.org/10.1002/bse.1932
Dauvergne, P., 2018. Why is the global governance of plastic failing the oceans? Global
Environmental Change 51, 22–31. https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2018.05.002
Degli-Innocenti, F., Bellia, G., Tosin, M., Kapanen, A., Itävaara, M., 2001. Detection of
toxicity released by biodegradable plastics after composting in activated vermiculite.
Polymer Degradation and Stability 73, 101–106. https://doi.org/10.1016/S0141-
3910(01)00075-1
Derraik, J.G.B., 2002. The pollution of the marine environment by plastic debris: a review.
Marine Pollution Bulletin 44, 842–852. https://doi.org/10.1016/S0025-
326X(02)00220-5
Dickson, A.G., 1993. The measurement of sea water pH. Marine Chemistry 44, 131–142.
https://doi.org/10.1016/0304-4203(93)90198-W
Dilkes-Hoffman, L.S., Pratt, S., Lant, P.A., Laycock, B., 2019. 19 - The Role of
Biodegradable Plastic in Solving Plastic Solid Waste Accumulation, in: Al-Salem,
S.M. (Ed.), Plastics to Energy. William Andrew Publishing, pp. 469–505.
https://doi.org/10.1016/B978-0-12-813140-4.00019-4
Eich, A., Mildenberger, T., Laforsch, C., Weber, M., 2015. Biofilm and Diatom Succession on
Polyethylene (PE) and Biodegradable Plastic Bags in Two Marine Habitats: Early
Signs of Degradation in the Pelagic and Benthic Zone? PLOS ONE 10, e0137201.
https://doi.org/10.1371/journal.pone.0137201
Emadian, S.M., Onay, T.T., Demirel, B., 2017. Biodegradation of bioplastics in natural
environments. Waste Management 59, 526–536.
https://doi.org/10.1016/j.wasman.2016.10.006
EN 13432, 2000. Requisitos para embalagens recuperáveis através de compostagem e
biodegradação – esquema de teste e critérios de avaliação para aceitação final da
embalagem.
EN 14046, 2003. Embalagem – avaliação da biodegradabilidade aeróbica final dos materiais
de embalagem sob condições controladas de compostagem – método por análise de
dióxido de carbono liberado.
EN 17033, 2012. Plásticos - Películas de cobertura morta biodegradáveis para uso na
agricultura e horticultura - Requisitos e métodos de teste.
EU, 2018. Final Report From the Commission to the European Parliament and the Council on
the Impact of the Use of Oxo-degradable Plastic, Including Oxo-degradable Plastic
Carrier Bags, on the Environment.
Eubeler, J.P., Bernhard, M., Knepper, T.P., 2010. Environmental biodegradation of synthetic
polymers II. Biodegradation of different polymer groups. TrAC Trends in Analytical
Chemistry 29, 84–100. https://doi.org/10.1016/j.trac.2009.09.005
Eyheraguibel, B., Leremboure, M., Traikia, M., Sancelme, M., Bonhomme, S., Fromageot,
D., Lemaire, J., Lacoste, J., Delort, A.M., 2018. Environmental scenarii for the
degradation of oxo-polymers. Chemosphere 198, 182–190.
https://doi.org/10.1016/j.chemosphere.2018.01.153
Fiedler, P.C., 2018. Ocean Environments, in: Würsig, B., Thewissen, J.G.M., Kovacs, K.M.
(Eds.), Encyclopedia of Marine Mammals (Third Edition). Academic Press, pp. 649–
654. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-804327-1.00014-5
Figgener, C., 2018. What I learnt pulling a straw out of a turtle’s nose. Nature 563, 157.
Flemming, H.-C., 1998. Relevance of biofilms for the biodeterioration of surfaces of
58

polymeric materials*. Polymer Degradation and Stability 59, 309–315.


https://doi.org/10.1016/S0141-3910(97)00189-4
FRANCHETTI, Sandra Mara Martins; MARCONATO José Carlos, n.d. Biodegradable
polymers – a partial way for decreasing the amount of plastic waste.
Frieder, C.A., Nam, S.H., Martz, T.R., Levin, L.A., 2012. High temporal and spatial
variability of dissolved oxygen and pH in a nearshore California kelp forest.
Biogeosciences 9.
Gage, J.D., Tyker, P.A., 1991. The physical environment of the deep-sea, in: Deep-Sea
Biology: A Natural Histoy of Organisms at the Deep-Sea Floor. Cambridge University
Press, p. 18 a 28.
Galgani, F., 2015. Marine litter, future prospects for research. Frontiers in Marine Science 2,
87. https://doi.org/10.3389/fmars.2015.00087
Galloway, T.S., Lewis, C.N., 2016. Marine microplastics spell big problems for future
generations. Proceedings of the National Academy of Sciences 113, 2331–2333.
https://doi.org/10.1073/pnas.1600715113
Gassler, B., von Meyer-Höfer, M., Spiller, A., 2016. Exploring Consumers’ Expectations of
Sustainability in Mature and Emerging Markets. Journal of Global Marketing 29, 71–
84. https://doi.org/10.1080/08911762.2015.1133869
Germanov, E.S., Marshall, A.D., Bejder, L., Fossi, M.C., Loneragan, N.R., 2018.
Microplastics: No Small Problem for Filter-Feeding Megafauna. Trends in Ecology &
Evolution 33, 227–232. https://doi.org/10.1016/j.tree.2018.01.005
Girard, E.B., Kaliwoda, M., Schmahl, W.W., Wörheide, G., Orsi, W.D., 2020. Biodegradation
of textile waste by marine bacterial communities enhanced by light. Environmental
Microbiology Reports n/a. https://doi.org/10.1111/1758-2229.12856
Gonda, K.E., Jendrossek, D., Molitoris, H.P., 2000. Fungal degradation of the thermoplastic
polymer poly-ß-hydroxybutyric acid (PHB) under simulated deep sea pressure, in:
Liebezeit, G., Dittmann, S., Kröncke, I. (Eds.), Life at Interfaces and Under Extreme
Conditions. Springer Netherlands, Dordrecht, pp. 173–183.
Guadayol, O., Silbiger, N.J., Donahue, M.J., Thomas, F.I., 2014. Patterns in temporal
variability of temperature, oxygen and pH along an environmental gradient in a coral
reef. PloS one 9, e85213.
Haider, T.P., Völker, C., Kramm, J., Landfester, K., Wurm, F.R., 2019. Plastics of the Future?
The Impact of Biodegradable Polymers on the Environment and on Society.
Angewandte Chemie International Edition 58, 50–62.
https://doi.org/10.1002/anie.201805766
Harrison, J.P., Boardman, C., O’Callaghan, K., Delort, A.-M., Song, J., 2018.
Biodegradability standards for carrier bags and plastic films in aquatic environments: a
critical review. R Soc Open Sci 5, 171792–171792.
https://doi.org/10.1098/rsos.171792
Herbes, C., Beuthner, C., Ramme, I., 2018. Consumer attitudes towards biobased packaging –
A cross-cultural comparative study. Journal of Cleaner Production 194, 203–218.
https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2018.05.106
Hönisch, B., Ridgwell, A., 20. others, 2012. The geological record of ocean acidification:
Science 33, 5.
Hoornweg, D., Bhada-Tata, P., Kennedy, C., 2013. Environment: Waste production must peak
this century. Nature 502, 615–7. https://doi.org/10.1038/502615a
Hoshino, A., Sawada, H., Yokota, M., Tsuji, M., Fukuda, K., Kimura, M., 2001. Influence of
weather conditions and soil properties on degradation of biodegradable plastics in soil.
Soil Science and Plant Nutrition 47, 35–43.
https://doi.org/10.1080/00380768.2001.10408366
59

Hosler, D., Burkett, S.L., Tarkanian, M.J., 1999. Prehistoric Polymers: Rubber Processing in
Ancient Mesoamerica. Science 284, 1988–1991.
https://doi.org/10.1126/science.284.5422.1988
Hugenholtz, P., Hooper, S.D., Kyrpides, N.C., 2009. Focus: Synergistetes. Environmental
Microbiology 11, 1327–1329. https://doi.org/10.1111/j.1462-2920.2009.01949.x
ICS-UNIDO, 2007. EDP Environmentally Degradable Polymeric Materials and Plastics
Guidelines to Standards and Testing Practices.
IDEC, 2019. Mentira verde A prática de GREENWASHING nos produtos de higiene,
limpeza e utilidades domésticas no mercado brasileiro e suas relações com os
consumidores.
ISO 14851, 2019. Determinação da biodegradabilidade aeróbica final de materiais plásticos
em meio aquoso – método através da medição da demanda de oxigênio em um
respirômetro fechado.
ISO 14852, 2018. Determinação da biodegradabilidade aeróbia final de materiais plásticos em
meio aquoso – método por análise de dióxido de carbono.
ISO 14855, 2012. Determinação da biodegradabilidade aeróbica final e desintegração de
materiais plásticos sob condições controladas de compostagem – método por análise
de dióxido de carbono.
ISO 16221, 2001. Qualidade da água – orientação para determinação da biodegradabilidade
no ambiente marinho.
ISO 17556, 2019. Pláticos – determinação do grau de desintegração de materiais sob
condições de compostagem em um teste de escala piloto.
ISO 22404, 2019. Plásticos - Determinação da biodegradação aeróbica de materiais não
flutuantes expostos a sedimentos marinhos.
ISO18830, 2016. Determinação da biodegradação aeróbica de materiais plásticos não
flutuantes em uma interface água do mar / sedimentos arenosos - Método através da
medição da demanda de oxigênio no respirômetro fechado.
ISO19679, 2020. Determinação da biodegradação aeróbica de materiais plásticos não
flutuantes em uma interface água do mar / sedimentos - Método por análise de dióxido
de carbono evoluído.
Isobe, A., Iwasaki, S., Uchida, K., Tokai, T., 2019. Abundance of non-conservative
microplastics in the upper ocean from 1957 to 2066. Nature Communications 10, 417.
https://doi.org/10.1038/s41467-019-08316-9
Jacquin, J., Cheng, J., Odobel, C., Pandin, C., Conan, P., Pujo-Pay, M., Barbe, V.,
Meistertzheim, A.-L., Ghiglione, J.-F., 2019. Microbial Ecotoxicology of Marine
Plastic Debris: A Review on Colonization and Biodegradation by the “Plastisphere.”
Frontiers in Microbiology 10, 865. https://doi.org/10.3389/fmicb.2019.00865
Jayasekara, R., Harding, I., Bowater, I., Lonergan, G., 2005. Biodegradability of a selected
range of polymers and polymer blends and standard methods for assessment of
biodegradation. Journal of Polymers and the Environment 13, 231–251.
Kale, G., Auras, R., Singh, S.P., 2007. Comparison of the degradability of poly(lactide)
packages in composting and ambient exposure conditions. Packaging Technology and
Science 20, 49–70. https://doi.org/10.1002/pts.742
Kale, S.K., Deshmukh, A.G., Dudhare, M.S., Patil, V.B., 2015. Microbial degradation of
plastic: a review. Journal of Biochemical Technology 6, 952–961.
Kandasamy, K., 2003. Polythene and Plastics-degrading microbes from the mangrove soil.
Revista de Biología Tropical 51.
Karamanlioglu, M., Preziosi, R., Robson, G.D., 2017. Abiotic and biotic environmental
degradation of the bioplastic polymer poly(lactic acid): A review. Polymer
Degradation and Stability 137, 122–130.
60

https://doi.org/10.1016/j.polymdegradstab.2017.01.009
Kareiva, P.M., McNally, B.W., McCormick, S., Miller, T., Ruckelshaus, M., 2015. Improving
global environmental management with standard corporate reporting. Proc Natl Acad
Sci U S A 112, 7375–7382. https://doi.org/10.1073/pnas.1408120111
Kaza, S., Yao, L., Bhada-Tata, P., Van Woerden, F., 2018. What a Waste 2.0: A Global
Snapshot of Solid Waste Management to 2050.
Kerrison, P., Hall-Spencer, J.M., Suggett, D.J., Hepburn, L.J., Steinke, M., 2011. Assessment
of pH variability at a coastal CO2 vent for ocean acidification studies. Estuarine,
Coastal and Shelf Science 94, 129–137. https://doi.org/10.1016/j.ecss.2011.05.025
Koelmans, A.A., 2019. Proxies for nanoplastic. Nature Nanotechnology 14, 307–308.
https://doi.org/10.1038/s41565-019-0416-z
Kolybaba, M., Tabil, L., Panigrahi, S., Crerar, W., Powell, T., Wang, B., 2006. Biodegradable
polymers: past, present, and future. Presented at the ASABE/CSBE North Central
Intersectional Meeting, American Society of Agricultural and Biological Engineers, p.
1.
Körner, I., Redemann, K., Stegmann, R., 2005. Behaviour of biodegradable plastics in
composting facilities. Waste Management 25, 409–415.
https://doi.org/10.1016/j.wasman.2005.02.017
Krasowska, K., Brzeska, J., Rutkowska, M., Janik, H., Sreekala, M.S., Goda, K., Thomas, S.,
2010. Environmental degradation of ramie fibre reinforcedbiocomposites. Polish
Journal of Environmental Studies 937–945.
Krzan, A., Hemjinda, S., Miertus, S., Corti, A., Chiellini, E., 2006. Standardization and
certification in the area of environmentally degradable plastics. Polymer Degradation
and Stability 91, 2819–2833. https://doi.org/10.1016/j.polymdegradstab.2006.04.034
Lalli, C.M., Parsons, T.R., 1997. Biological Oceanography: An Introduction. The open
university.
Landon-Lane, M., 2018. Corporate social responsibility in marine plastic debris governance.
Marine Pollution Bulletin 127, 310–319.
https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2017.11.054
Laycock, B., Nikolic, M., Colwell, J.M., Gauthier, E., Halley, P., Bottle, S., George, G.,
2017a. Lifetime prediction of biodegradable polymers. PROGRESS IN POLYMER
SCIENCE. https://doi.org/10.1016/j.progpolymsci.2017.02.004
Laycock, B., Nikolić, M., Colwell, J.M., Gauthier, E., Halley, P., Bottle, S., George, G.,
2017b. Lifetime prediction of biodegradable polymers. Progress in Polymer Science
71, 144–189. https://doi.org/10.1016/j.progpolymsci.2017.02.004
Lettner, M., Schöggl, J.-P., Stern, T., 2017. Factors influencing the market diffusion of bio-
based plastics: Results of four comparative scenario analyses. Journal of Cleaner
Production 157, 289–298. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2017.04.077
Li, J., Huang, W., Jiang, R., Han, X., Zhang, D., Zhang, C., 2020. Are bacterial communities
associated with microplastics influenced by marine habitats? Science of The Total
Environment 733, 139400. https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2020.139400
LI, W.C., TSE, H.F., FOK, L., 2016. Plastic waste in the marine environment: A review of
sources, occurrence and effects. Science of The Total Environment 566–567, 333–349.
https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2016.05.084
Loperena, L., Soria, V., Varela, H., Lupo, S., Bergalli, A., Guigou, M., Pellegrino, A.,
Bernardo, A., Calviño, A., Rivas, F., Batista, S., 2012. Extracellular enzymes produced
by microorganisms isolated from maritime Antarctica. World Journal of Microbiology
and Biotechnology 28, 2249–2256. https://doi.org/10.1007/s11274-012-1032-3
Lott, C., Eich, A., Unger, B., Makarow, D., Battagliarin, G., Schlegel, K., Lasut, M.T., Weber,
M., 2020. Field and mesocosm methods to test biodegradable plastic film under
61

marine conditions. bioRxiv 2020.01.31.928606.


https://doi.org/10.1101/2020.01.31.928606
Lutjeharms, J.R.E., Meeuwis, J.M., 1987. The extent and variability of South-East Atlantic
upwelling. South African Journal of Marine Science 5, 51–62.
https://doi.org/10.2989/025776187784522621
Ma, H., Pu, S., Liu, S., Bai, Y., Mandal, S., Xing, B., 2020. Microplastics in aquatic
environments: Toxicity to trigger ecological consequences. Environmental Pollution
261, 114089. https://doi.org/10.1016/j.envpol.2020.114089
Maréchal, F., 2003. Biodegradable Plastics, in: Chiellini, E., Solaro, R. (Eds.), Biodegradable
Polymers and Plastics. Springer US, Boston, MA, pp. 67–71.
Markowicz, F., Król, G., Szymańska-Pulikowska, A., 2019. Biodegradable Package –
Innovative Purpose or Source of the Problem. J. Ecol. Eng. 20, 228–237.
https://doi.org/10.12911/22998993/94585
Martin, R.T., Camargo, L.P., Miller, S.A., 2014. Marine-degradable polylactic acid. Green
Chem. 16, 1768–1773. https://doi.org/10.1039/C3GC42604A
Massardier-Nageotte, V., Pestre, C., Cruard-Pradet, T., Bayard, R., 2006. Aerobic and
anaerobic biodegradability of polymer films and physico-chemical characterization.
Polymer Degradation and Stability 91, 620–627.
https://doi.org/10.1016/j.polymdegradstab.2005.02.029
McNabb, D.E., 2019. The Population Growth Barrier, in: Global Pathways to Water
Sustainability. Springer International Publishing, Cham, pp. 67–81.
https://doi.org/10.1007/978-3-030-04085-7_5
Mendenhall, E., 2018. Oceans of plastic: A research agenda to propel policy development.
Marine Policy 96, 291–298. https://doi.org/10.1016/j.marpol.2018.05.005
Millero, F.J., 2016. Chemical Oceanography, 4th ed. Taylor & Francis Group.
Mitra, A., Zaman, S., 2016. Basics of Marine and Estuarine Ecology. Springer New York,
índia.
Musioł, M., Rydz, J., Janeczek, H., Radecka, I., Jiang, G., Kowalczuk, M., 2017. Forensic
engineering of advanced polymeric materials Part IV: Case study of oxo-
biodegradable polyethylene commercial bag – Aging in biotic and abiotic
environment. Waste Management 64, 20–27.
https://doi.org/10.1016/j.wasman.2017.03.043
Nakayama, A., Yamano, N., Kawasaki, N., 2019. Biodegradation in seawater of aliphatic
polyesters. Polymer Degradation and Stability 166, 290–299.
https://doi.org/10.1016/j.polymdegradstab.2019.06.006
Napper, I.E., Thompson, R.C., 2019. Environmental Deterioration of Biodegradable, Oxo-
biodegradable, Compostable, and Conventional Plastic Carrier Bags in the Sea, Soil,
and Open-Air Over a 3-Year Period. Environ. Sci. Technol. 53, 4775–4783.
https://doi.org/10.1021/acs.est.8b06984
Nazareth, M., Marques, M.R.C., Leite, M.C.A., Castro, Í.B., 2019. Commercial plastics
claiming biodegradable status: Is this also accurate for marine environments? Journal
of Hazardous Materials 366, 714–722. https://doi.org/10.1016/j.jhazmat.2018.12.052
O’Brine, T., Thompson, R.C., 2010. Degradation of plastic carrier bags in the marine
environment. Mar. Pollut. Bull. 60, 2279.
OCDE 306, 1992. Biodegradabilidade em água do mar.
Ojeda, T.F.M., Dalmolin, E., Forte, M.M.C., Jacques, R.J.S., Bento, F.M., Camargo, F.A.O.,
2009. Abiotic and biotic degradation of oxo-biodegradable polyethylenes. Polymer
Degradation and Stability 94, 965–970.
https://doi.org/10.1016/j.polymdegradstab.2009.03.011
Oliveira, T.A., Oliveira, R.R., Barbosa, R., Azevedo, J.B., Alves, T.S., 2017. Effect of
62

reprocessing cycles on the degradation of PP/PBAT-thermoplastic starch blends.


Carbohydrate Polymers 168, 52–60. https://doi.org/10.1016/j.carbpol.2017.03.054
Open-Bio, 2015. Work Pachage 5 In situ, biodegradation deliverable review of curret
methods and standards relevant to marine degradation.
Pauli, N.-C., Petermann, J.S., Lott, C., Weber, M., 2017. Macrofouling communities and the
degradation of plastic bags in the sea: an in situ experiment. Royal Society Open
Science 4, 170549. https://doi.org/10.1098/rsos.170549
Peng, G., Bellerby, R., Zhang, F., Sun, X., Li, D., 2020. The ocean’s ultimate trashcan: Hadal
trenches as major depositories for plastic pollution. Water Research 168, 115121.
https://doi.org/10.1016/j.watres.2019.115121
Peng, X., Chen, M., Chen, S., Dasgupta, S., Xu, H., Ta, K., Du, M., Li, J., Guo, Z., Bai, S.,
2018. Microplastics contaminate the deepest part of the world’s ocean. Geochemical
Perspectives Letters 9, 1–5. https://doi.org/10.7185/geochemlet.1829
Philp, J.C., Bartsev, A., Ritchie, R.J., Baucher, M.-A., Guy, K., 2013a. Bioplastics science
from a policy vantage point. New Biotechnology 30, 635–646.
https://doi.org/10.1016/j.nbt.2012.11.021
Philp, J.C., Bartsev, A., Ritchie, R.J., Baucher, M.-A., Guy, K., 2013b. Bioplastics science
from a policy vantage point. New Biotechnology 30, 635–646.
https://doi.org/10.1016/j.nbt.2012.11.021
Pimm, S.L., Russell, G.J., Gittleman, J.L., Brooks, T.M., 1995. The Future of Biodiversity.
Science 269, 347. https://doi.org/10.1126/science.269.5222.347
Pischedda, A., Tosin, M., Degli-Innocenti, F., 2019. Biodegradation of plastics in soil: The
effect of temperature. Polymer Degradation and Stability 170, 109017.
https://doi.org/10.1016/j.polymdegradstab.2019.109017
Quecholac-Piña, X., García-Rivera, M.A., Espinosa-Valdemar, R.M., Vázquez-Morillas, A.,
Beltrán-Villavicencio, M., Cisneros-Ramos, A. de la L., 2017. Biodegradation of
compostable and oxodegradable plastic films by backyard composting and
bioaugmentation. Environmental Science and Pollution Research 24, 25725–25730.
https://doi.org/10.1007/s11356-016-6553-0
Rambonnet, L., Vink, S.C., Land-Zandstra, A.M., Bosker, T., 2019. Making citizen science
count: Best practices and challenges of citizen science projects on plastics in aquatic
environments. Marine Pollution Bulletin 145, 271–277.
https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2019.05.056
Ramirez-Llodra, E., Brandt, A., Danovaro, R., De Mol, B., Escobar, E., German, C.R., Levin,
L.A., Martinez Arbizu, P., Menot, L., Buhl-Mortensen, P., Narayanaswamy, B.E.,
Smith, C.R., Tittensor, D.P., Tyler, P.A., Vanreusel, A., Vecchione, M., 2010. Deep,
diverse and definitely different: unique attributes of the world’s largest ecosystem.
Biogeosciences 7, 2851–2899. https://doi.org/10.5194/bg-7-2851-2010
Rehder, G., Collier, R.W., Heeschen, K., Kosro, P.M., Barth, J., Suess, E., 2002. Enhanced
marine CH4 emissions to the atmosphere off Oregon caused by coastal upwelling.
Global Biogeochemical Cycles 16, 2–1. https://doi.org/10.1029/2000GB001391
Restrepo-Flórez, J.-M., Bassi, A., Thompson, M.R., 2014. Microbial degradation and
deterioration of polyethylene – A review. International Biodeterioration &
Biodegradation 88, 83–90. https://doi.org/10.1016/j.ibiod.2013.12.014
Rich, V.I., Maier, R.M., 2015. Chapter 6 - Aquatic Environments, in: Pepper, I.L., Gerba, C.P.,
Gentry, T.J. (Eds.), Environmental Microbiology (Third Edition). Academic Press, San
Diego, pp. 111–138. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-394626-3.00006-5
Rochman, C.M., Cook, A.-M., Koelmans, A.A., 2016. Plastic debris and policy: Using current
scientific understanding to invoke positive change. Environmental Toxicology and
Chemistry 35, 1617–1626. https://doi.org/10.1002/etc.3408
63

Sanz-Lázaro, C., Valdemarsen, T., Marin, A., Holmer, M., 2011. Effect of temperature on
biogeochemistry of marine organic‐enriched systems: Implications in a global
warming scenario. Ecological Applications 21, 2664–2677.
Saudi Arabia, 2017. Technical Regulation for the Biodegradable Plastic Products.
Schmuck, D., Matthes, J., Naderer, B., 2018. Misleading Consumers with Green Advertising?
An Affect–Reason–Involvement Account of Greenwashing Effects in Environmental
Advertising. Journal of Advertising 47, 127–145.
https://doi.org/10.1080/00913367.2018.1452652
Schnurr, R.E.J., Alboiu, V., Chaudhary, M., Corbett, R.A., Quanz, M.E., Sankar, K., Srain,
H.S., Thavarajah, V., Xanthos, D., Walker, T.R., 2018. Reducing marine pollution from
single-use plastics (SUPs): A review. Marine Pollution Bulletin 137, 157–171.
https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2018.10.001
Šerá, J., Serbruyns, L., De Wilde, B., Koutný, M., 2020. Accelerated biodegradation testing of
slowly degradable polyesters in soil. Polymer Degradation and Stability 171, 109031.
https://doi.org/10.1016/j.polymdegradstab.2019.109031
Shah, A.A., Hasan, F., Hameed, A., Ahmed, S., 2008. Biological degradation of plastics: A
comprehensive review. Biotechnology Advances 26, 246–265.
https://doi.org/10.1016/j.biotechadv.2007.12.005
Smith, M., Love, D.C., Rochman, C.M., Neff, R.A., 2018. Microplastics in Seafood and the
Implications for Human Health. Current Environmental Health Reports 5, 375–386.
https://doi.org/10.1007/s40572-018-0206-z
Song, J.H., Murphy, R.J., Narayan, R., Davies, G.B.H., 2009. Biodegradable and compostable
alternatives to conventional plastics. Philosophical Transactions of the Royal Society
B: Biological Sciences 364, 2127–2139. https://doi.org/10.1098/rstb.2008.0289
Syranidou, E., Karkanorachaki, K., Amorotti, F., Franchini, M., Repouskou, E., Kaliva, M.,
Vamvakaki, M., Kolvenbach, B., Fava, F., Corvini, P.F.-X., Kalogerakis, N., 2017.
Biodegradation of weathered polystyrene films in seawater microcosms. Scientific
Reports 7, 17991. https://doi.org/10.1038/s41598-017-18366-y
TerraChoice, 2010, n.d. Greenwashing Report | The Sins of Greenwashing: Home and Family
Edition, (n.d.).
Thompson, R., Olsen, Y., P Mitchell, R., Davis, A., Rowland, S., W G John, A., Mcgonigle,
D.F., Russell, A., 2004. Lost at Sea: Where Is All the Plastic?
https://doi.org/10.1126/science.1094559
Tosin, M., Weber, M., Siotto, M., Lott, C., Degli-Innocenti, F., 2012. Laboratory Test Methods
to Determine the Degradation of Plastics in Marine Environmental Conditions.
Frontiers in Microbiology 3, 225. https://doi.org/10.3389/fmicb.2012.00225
Touchaleaume, F., Martin-Closas, L., Angellier-Coussy, H., Chevillard, A., Cesar, G.,
Gontard, N., Gastaldi, E., 2016. Performance and environmental impact of
biodegradable polymers as agricultural mulching films. Chemosphere 144, 433–439.
https://doi.org/10.1016/j.chemosphere.2015.09.006
UNE, 2017. Report on the standardization landscape and applicable standards.
UNEP, 2018. SINGLE-USE PLASTICS: A ROADMAP FOR SUSTAINABILITY.
UNEP, 2015. Biodegradable Plastics and Marine Litter. Misconceptions, concerns and
impacts on marine environments.
UNEP/CHW, 2019. Terms of Reference for the Basel Convention Partnership on Plastic
Waste and Workplan for the Working Group of the Partnership on Plastic Waste for the
Biennium.
União Européia, 2019. Proposta de diretiva do parlamento europeu e do conselho relativa à
redução do impacto de determinados produtos de plástico no ambiente.
Viera, J.S.C., Marques, M.R.C., Nazareth, M.C., Jimenez, P.C., Castro, Í.B., 2020. On
64

replacing single-use plastic with so-called biodegradable ones: The case with straws.
Environmental Science & Policy 106, 177–181.
https://doi.org/10.1016/j.envsci.2020.02.007
Wagner, T.P., Toews, P., 2018. ASSESSING THE USE OF DEFAULT CHOICE
MODIFICATION TO REDUCE CONSUMPTION OF PLASTIC STRAWS. Detritus
113.
Wang, W., Gao, H., Jin, S., Li, R., Na, G., 2019. The ecotoxicological effects of microplastics
on aquatic food web, from primary producer to human: A review. Ecotoxicology and
Environmental Safety 173, 110–117. https://doi.org/10.1016/j.ecoenv.2019.01.113
Weinstein, J.E., Dekle, J.L., Leads, R.R., Hunter, R.A., 2020. Degradation of bio-based and
biodegradable plastics in a salt marsh habitat: Another potential source of
microplastics in coastal waters. Marine Pollution Bulletin 160, 111518.
https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2020.111518
Wessel, C., Swanson, K., Weatherall, T., Cebrian, J., 2019. Accumulation and distribution of
marine debris on barrier islands across the northern Gulf of Mexico. Marine Pollution
Bulletin 139, 14–22. https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2018.12.023
Wiegmann, P.M., de Vries, H.J., Blind, K., 2017. Multi-mode standardisation: A critical
review and a research agenda. Research Policy 46, 1370–1386.
https://doi.org/10.1016/j.respol.2017.06.002
Xanthos, D., Walker, T.R., 2017. International policies to reduce plastic marine pollution from
single-use plastics (plastic bags and microbeads): A review. Marine Pollution Bulletin
118, 17–26. https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2017.02.048
Young, H.S., McCauley, D.J., Galetti, M., Dirzo, R., 2016. Patterns, Causes, and
Consequences of Anthropocene Defaunation. Annu. Rev. Ecol. Evol. Syst. 47, 333–
358. https://doi.org/10.1146/annurev-ecolsys-112414-054142
Zaborska, A., Siedlewicz, G., Szymczycha, B., Dzierzbicka-Głowacka, L., Pazdro, K., 2019.
Legacy and emerging pollutants in the Gulf of Gdańsk (southern Baltic Sea) – loads
and distribution revisited. Marine Pollution Bulletin 139, 238–255.
https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2018.11.060
Zhang, X., You, S., Tian, Y., Li, J., 2019. Comparison of plastic film, biodegradable paper and
bio-based film mulching for summer tomato production: Soil properties, plant growth,
fruit yield and fruit quality. Scientia Horticulturae 249, 38–48.
https://doi.org/10.1016/j.scienta.2019.01.037
Zheng, J., Suh, S., 2019. Strategies to reduce the global carbon footprint of plastics. Nature
Climate Change 9, 374–378. https://doi.org/10.1038/s41558-019-0459-z
Zielinski, S., Botero, C.M., Yanes, A., 2019. To clean or not to clean? A critical review of
beach cleaning methods and impacts. Marine Pollution Bulletin 139, 390–401.
https://doi.org/10.1016/j.marpolbul.2018.12.027

Você também pode gostar