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Iniciativas de Produção Mais Limpa na Indústria de

Petróleo e Gás
a,* b.
ZAMPOLLO, D. M. , NEDER, L. T. C.
a. Petróleo Brasileiro S.A., Rio de Janeiro
b. Petróleo Brasileiro S.A., Rio de Janeiro
*Corresponding author, daniellamz@petrobras.com.br

Resumo

Diante do cenário mundial em que se encontram as questões voltadas para a gestão e a proteção ao meio
ambiente, alem das iniciativas introduzidas por meio dos avanços na legislação ambiental aplicável na área de
exploração e produção de petróleo e gás, a Petrobras vem trabalhando, desde 2011, na implementação de
projetos baseados na metodologia de Produção Mais Limpa, no âmbito de um programa corporativo de E&P.

A Área de E&P (Exploração e Produção) da Petrobras é composta por mais de uma dezena de unidades
operacionais, as quais atuam distribuídas em diversas localidades do território brasileiro, executando uma grande
quantidade de atividades terrestres e marítimas, perfazendo a cadeia completa de exploração e produção, o que,
de certa forma, caracteriza um desafio grandioso de concretização, na medida em que a metodologia prevê a
seleção e implementação de ações em processos produtivos ou até mesmo administrativos, podendo estes serem
compostos por diversas eta pas.

O início da implementação lenta (visto o universo considerado) de projetos de Produção Mais Limpa foi precedida
pela disponibilização de um treinamento do pessoal de SMS (Segurança, Meio Ambiente e Saúde) das Unidades,
ministrado por instituição de comprovada experiência no tema. O treinamento, programado em formato escolar,
contribuiu na construção e solidificação do conhecimento das etapas da metodologia. Na seqüência, foi sugerido
que as Unidades trabalhassem na elaboração e execução de um projeto piloto, exemplificativo da metodologia,
mas de fácil e rápida implementação. Surgiram, portanto, varias ideias de processos sujeitos à minimização da
geração de resíduos e efluentes, deixando clara a possibilidade de se estudar e tratar um universo vasto de
situações.

No decorrer da implementação de cada um dos projetos piloto, associados à geração de resíduos/efluentes em


processos produtivos diferentes, foram surgindo, além de ideias interessantes, que puderam gerar abrangência
entre as Unidades, dificuldades operacionais e organizacionais que, algumas vezes, contribuíram nas discussões
acerca de soluções conjuntas, favorecendo o acúmulo de experiências.

Palavras-chave: indústria de petróleo e gás, Produção Mais Limpa, E&P.

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1. Introdução

No sentido de se implementar ações que visem à prevenção da geração de poluição no meio ambiente,
mais especificamente, por meio dos resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas,
tornou-se imprescindível que a indústria inserisse, em seus métodos de produção, alguma metodologia
capaz de gerar resultados palpáveis e mensuráveis.

Uma das metodologias mais procuradas, principalmente pela indústria manufatureira, são a Produção
Limpa ou a Produção Mais Limpa (PMaisL), criada a partir desta primeira. O grande foco da
metodologia em questão é a prevenção da geração de resíduos, efluentes e emissões, contrariamente
à visão anterior: tratamento ao final da produção, ou tratamento de “fim de tubo”.

A prevenção da geração é importante, pois, além de visar à otimização do processo, devido à utilização
da menor quantidade possível de matéria-prima e insumos, objetiva garantir a geração de nenhum ou
pouco resíduo (aqui, leia-se resíduo como o conjunto resíduo sólido, efluente líquido ou emissão
atmosférica), evitando, portanto, a necessidade de implementação de ações para seu manuseio,
estocagem, transporte, tratamento e disposição final, a qual, muitas vezes, feita em aterros sanitários
ou industriais, de forma menos qualificada possível. CEBDS, 2012.

Com o crescimento populacional no planeta, cada vez mais insumos e matérias-primas são
empregados, tanto para o fornecimento de energia quanto para a fabricação de produtos de consumo.
Pensando em um grande balanço de massa para caracterizar o funcionamento da Terra, a equação
“entradas” e “saídas” mostra o quanto se usa, o quanto se produz e o quanto se rejeita. São estes
rejeitos que a metodologia Produção Mais Limpa foca minimizar.

Qualquer empreendimento humano traz como conseqüência a alteração do meio onde este está
inserido. Seja por necessidade de evacuação de seres do meio biótico, devido à ocupação de espaço,
seja por geração de impactos negativos não imediatamente absorvidos, como, por exemplo, odores no
ambiente, emissões atmosféricas, ruídos, vibrações, dentre outros, mudanças são percebidas pelas
espécies ali anteriormente estabelecidas.

Os impactos podem ser positivos ou negativos, reais ou potenciais, porém, são, geralmente, de difícil
quantificação e não de todo lineares. Durante as etapas de extração de materiais do meio físico ou
biótico, seu processamento, fabricação, utilização e final de vida, os impactos ambientais gerados
podem ser de natureza diversa, assim como de tratamento mais ou menos trabalhoso.

Um empreendimento, esteja ele estabelecido ou em impla ntação, que não tenha previsto, de forma
planejada, uso de artifícios de mitigação para os efeitos de impactos ambientais, encontrará maiores
dificuldades para dar início e andamento ao tratamento de seus rejeitos de “fim de tubo”, os quais,
muitas vezes, devem estar enquadrados em limites estabelecidos por regulamentação governamental
ou técnica.

É neste contexto que a Área de E&P da Petrobras resolveu adotar medidas de Produção Mais Limpa em
seu conjunto de atividades voltadas para a Gestão Ambiental de seus empreendimentos, de forma
conjugada com as diretrizes legais, as quais preconizam a minimização da geração de resíduos,
incluindo o estabelecimento de metas temporais.

A experiência do E&P vem sendo bastante interessante, no tocante, principalmente, às dificuldades que
se impõem e nas soluções que se buscam para viabilizar a implementação de projetos, em processos
tanto de instalações marítimas quanto de terrestres. O universo de possibilidades de trabalho é
considerável, de onde advém a imprescindível necessidade de tomada de medidas de maneira
organizada e planejada, levando em conta a continuidade das ações, ou seja, a manutenção dos
projetos.

Após um início bastante promissor, com a divulgação, conscientização e disponibilização de


treinamento, foi-se verificando, com o passar do tempo, a obrigação de estabelecimento de uma
dinamização da implantação da metodologia, por meio de planos corporativos de médio e longo prazos,

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focando a percepção de gerentes e trabalhadores no sentido da importância e da inevitabilidade de sua
aplicação.

2. Justificativa

No âmbito da Gestão Ambiental da Área de E&P da Petrobras, assim como de qualquer outra empresa,
é sabido que existem dificuldades inerentes na implementação de programas de educação ambiental,
assim como de outros programas que envolvem a participação de pessoas. A escolha pela execução de
metodologias como a Produção Mais Limpa surge no sentido de complementar as ações educativas
junto aos trabalhadores, assim como de reforçar a interface entre educação e minimização de resíduos,
além de objetivar o atendimento aos requisitos legais relacionados.

Por um lado, nos dias atuais, é incontestável a importância de programas de educação ambiental
implementados nas empresas como parte inerente de sua gestão, mas ao mesmo tempo, são
conhecidas as barreiras de evolução neste sentido, quando se trata de trabalhadores caracterizados
por pessoas adultas que, na maioria das vezes, não passaram pela aprendizagem ambiental quando
crianças e não cresceram em contato com conceitos básicos a respeito da necessidade de proteção e
conservação ambiental. A mudança de hábitos e comportamentos é extremamente complexa quando
se considera este tipo de profissional.

Por outro lado, técnicas baseadas em metodologias estabelecidas e procedimentadas são,


normalmente, mais aceitas e assimiladas, já que se tratam de “receitas de bolo” que, apesar da
necessidade da disposição de tempo de aplicação, não requerem, em um primeiro momento, tanta
mudança comportamental e de raciocínio para o iníc io de sua execução. Estas mudanças tendem a
ocorrer mais a médio prazo, com as primeiras obtenções de resultados concretos, ainda bastante
preliminares, pontuais e incipientes, mas que terão um papel animador dentro da equipe de trabalho.

Desta forma, a educação ambiental, pilar indiscutível da Gestão Ambiental, ganha um grande aliado na
obtenção de resultados ambientais: a metodologia de Produção Mais Limpa, que, integrada de forma
lógica e otimizada aos programas de educação, possibilitam a construção de melhorias ambientais
mitigadoras de impactos das atividades.

Adicionalmente, a legislação ambiental prevê, além da criação e execução de programas ou projetos de


educação ambiental para os trabalhadores, por meio da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei
n° 9.795/99), a implementação de programas de controle da poluição (onde a metodologia de
Produção Mais Limpa se encaixa e pode vir a servir como exemplo), cujas diretrizes se encontram na
Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n° 12.305/10).

Os empreendimentos e as atividades marítimas de petróleo e gás são licenciados pelo IBAMA, por meio
da Coordenação Geral de Petróleo e Gás, que também criou diretrizes norteadoras das medidas de
mitigação de impactos desta indústria: a Nota Técnica CGPEG/DILIC/IBAMA N° 01/11 (Projeto de
Controle da Poluição - PCP), que estabelece a relação direta entre educação ambiental dos
trabalhadores e o controle da poluição: “Na medida em que os trabalhadores incorporam os
ensinamentos recebidos do PEAT (Projeto de Educaç ão Ambiental dos Trabalhadores) referentes ao
controle da poluição gerada nas unidades e embarcações, a implementação do PCP (Projeto de
Controle da Poluição) se torna mais eficiente, uma vez que estes trabalhadores são agentes
fundamentais no gerenciamento de resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas a
bordo”. (IBAMA, 2011).

Assim, a grande questão vem a ser: como trabalhar, em paralelo, a educação ambiental e a
implementação de gestão de controle da poluição, de modo a se obter reais mudanças de
comportamento, hábitos e atitudes por parte de pessoas que, em sua maioria, desde sua formação
escolar, não foram apresentadas e expostas ao tema. A promoção da gestão integrada das ações de
educação ambiental e de controle da poluição, ambas obrigatórias em licenciamentos ambientais, se
torna o grande foco da execução da Produção Mais Limpa na Área de E&P da Petrobras.

3. A Gestão Ambiental na Petrobras

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A Petrobras atua nos seguintes setores da indústria de petróleo e gás: E&P, refino, comercialização e
transporte de óleo e gás natural, petroquímica, distribuição de derivados, energia elétrica,
biocombustíveis e outras fontes renováveis de energia. De modo a assegurar o cumprimento de sua
missão (“Atuar de forma segura e rentável, com responsabilidade social e ambiental, nos mercados
nacional e internacional, fornecendo produtos e serviços adequados às necessidades dos clientes e
contribuindo para o desenvolvimento do Brasil e dos países onde atua”), a companhia adota, dentre
outros, um Sistema de Gestão Integrada de SMS. Essa gestão tem como princípios a antecipação e
gestão dos riscos envolvidos em suas atividades e fundamenta-se na administração dos desvios, no
aprendizado contínuo e no foco no comportamento humano.

As Unidades de E&P estão espalhadas por todo o território nacional e as distâncias entre elas são
consideráveis. Por este motivo, e também por ser uma das maiores empresas do Brasil, a companhia
está consciente das dificuldades na implementação de qualquer tipo de programa ou projeto,
considerando seu comprometimento com o desenvolvimento das economias regionais, respeitando as
diferenças sociais e culturas locais. No mapa abaixo (Fig. 1), encontram-se algumas das regiões onde a
Petrobras atua no território brasileiro:

Fig. 1 – Mapa com operações da Petrobras no território nacional. Fonte: http://www.petrobras.com.br

Da Política de SMS da companhia, são desdobrados os objetivos, metas e planos de ação relacionados
à gestão de SMS, na qual se insere a Gestão Ambiental. Uma série de ferramentas foram criadas para
dar suporte ao Sistema de Gestão Integrado, incluindo: 15 Diretrizes de SMS, Planos de Perenização,
Processo de Avaliação de Gestão de SMS - PAG-SMS, dentre outros.

4. Os processos de E&P e a Gestão Ambiental

As diversas etapas que compõem o E&P podem ser agrupadas segundo onze processos principais: (1)
prospecções sísmicas; (2) construção de bases e acessos de locação de poços; (3) perfuração
exploratória de poços; (4) completação e cimentação de poços; (5) construção de instalações de
produção; (6) construção e manutenção de instalações para escoamento da produção; (7) instalações
para recuperação da produção; (8) construção de instalações para tratamento de fluidos; (9)
manutenção da produção; (10) atividades de apoio e (11) descomissionamento.

Uma descrição detalhada dessas atividades, seus processos e suas implicações para o meio ambiente
podem ser vistas nos documentos da Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA) “Profile of the
Oil and Gas Extraction Industry” (EPA, 2000), e nas diretrizes para gerenciamento de resíduos
“Guidelines for waste management - with special focus on areas with limited infrastructure” (OGP,
2008).

As atividades de E&P de petróleo e gás geram resíduos, efluentes e emissões que precisam de

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controle, tratamento e disposição adequados. De modo geral, os resíduos mais preocupantes gerados
pelas operações e atividades da companhia são de caráter oleoso (borras de fundo de tanque e de
limpeza de separadores água–óleo, cascalhos contaminados, solos contaminados por petróleo, entre
outros). Contudo, pode haver outros contaminantes que necessitam de atenção especial, tais como
metais pesados e sais, oriundos de água produzida e do uso de aditivos químicos.

Os princípios de gestão de resíduos incluem a incorporação de uma hierarquia de práticas,


freqüentemente expressa em termos de redução, reutilização, reciclagem e, finalmente, tratamento e
eliminação. A gestão de resíduos, no entanto, começa com a prevenção: impedimento ou remoção de
resíduos, por modificação de práticas de projeto e de operação. Este princípio pode ser incorporado, na
medida do possível, em todas as fases do ciclo de vida do projeto (OGP, 2008).

A exploração tem início com a busca por formações de rochas associadas com óleo ou depósitos de gás
natural e envolve a prospecção geofísica e/ou perfuração exploratória. O desenvolvimento do poço
acontece depois que a atividade de exploração localiza um campo economicamente recuperável e
envolve desde a construção de um ou mais poços exploratórios e também seu abandono, caso não
sejam encontrados hidrocarbonetos, ou a completação e cimentação do mesmo, se forem encontrados
hidrocarbonetos em quantidades economicamente desejáveis.

A produção é o processo de extração e separação da mistura de hidrocarbonetos líquidos, gás, água e


partículas sólidas, removendo os componentes não desejáveis e recuperando hidrocarbonetos líquidos
e gás. Nos locais de produção, geralmente o óleo é extraído de mais de um poço ao mesmo tempo. O
óleo é quase sempre processado em uma refinaria; já o gás natural pode ser processado no campo ou
planta de processamento para remoção de impurezas. Finalmente, o abandono do local envolve o
fechamento do poço e restabelecimento do ambiente, no momento em que diminui o potencial para
produção.

Quando o óleo cru atinge a superfície, este pode conter uma mistura de gás natural e fluidos, tais
como : água salgada e sólidos dissolvidos ou em suspensão. Em operações em terra (e em muitas
operações marítimas), o gás natural é separado no local do poço se, nas imediações, houver meio de
transportá-lo (dutos ou outros meios de transporte), ou então o mesmo é queimado como resíduo (em
operações na terra). A água (que pode representar mais de 90% do fluido extraído em poços antigos)
é separada, assim como os sólidos. Depois de passar por um tratamento primário no local de
produção, onde são removidos aproximadamente 98% de impurezas (sólidos), o óleo cru encontra-se
preparado para ser transportado até as refinarias (SITTIG, 1978).

5. Unificação e padronização de processos e seus controles na Petrobras

A Petrobras criou, em 1966, a Comissão de Normas Técnicas, atualmente denominada Comissão de


Normalização Técnica (CONTEC), que conta com cerca de 950 Normas Técnicas (NTP), disponibilizadas
também para o público externo.

Além da Normas Técnicas, a Petrobras, visando a minimização dos impactos ambientais, bem como o
atendimento aos requisitos da Política de SMS e das legislações que disciplinam as atividades nos
países em que atua, conta com um sistema informatizado, desde 1998, para publicação de seus
procedimentos gerenciais e operacionais denominado Sistema Integrado de Padronização Eletrônica da
Petrobras - SINPEP.

A padronização adquirida com o SINPEP, juntamente com uma adequada manipulação das
informações, se traduz em uma ferramenta fundamental no auxílio à gerência na tomada de decisões e
na definição de estratégias, garantindo qualidade nas informações fornecidas aos “clientes”.

6. Metodologia / estratégia

Por realizar atividades de potencial poluidor, a Petrobras procura adotar as melhores práticas para
evitar/ minimizar seus impactos. Em suas atividades, a Petrobras consome energia e matérias primas
que passam por diversos processos, até se transformarem nos produtos desejados. Porém, como
resultado desta transformação, também são produzidos efluentes (águas contaminadas), emissões de

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gases poluentes e resíduos sólidos, que acabam por impactar o meio ambiente, caso não estejam bem
geridos.

Em 2010, a Área de E&P tomou a decisão de buscar, por meio da metodologia de Produção Mais
Limpa, uma ferramenta de implementação simplificada, mas que garantisse uma real mudança na
situação da geração de resíduos em processos produtivos ou administrativos, em apoio aos projetos de
educação ambiental e controle da poluição da companhia, no âmago de sua Gestão Ambiental.

Após a realização de licitação e contratação de empresa de fornecimento do serviço de treinamento na


metodologia (com larga experiência no tema), foram montadas duas turmas de alunos, compostas por
pessoal das áreas de Meio Ambiente das diversas Unidades marítimas e terrestres da Petrobras.

As turmas tiveram seu início espaçado de 6 meses e foram compostas por 25 alunos, em média. Já na
elaboração da proposta de especificação técnica para a contratação, a coordenação da Área de E&P
definiu um formato específico para a capacitação: em módulos, espaçados entre si, para que o
instrutor pudesse intercalar a teoria com o trabalho prático de implementação de um projeto piloto, em
cada Unidade do E&P.

Na primeira turma, de caráter experimental, foram definidos 3 módulos, cujos conteúdos são
apresentados a seguir:

• Módulo 1: introdução à Produção Mais Limpa, legislação, impactos ambientais e


aprofundamento nas etapas iniciais; orientações para realização do trabalho prático:
levantamento de informações sobre o processo a ser selecionado para implementação do
projeto piloto, elaboração do macro fluxo, fluxo intermediário e fluxo detalhado;

• Módulo 2: apresentação das Unidades do trabalho realizado, aprofundamento nas etapas de


medição inicial (antes da execução das ações de melhoria); orientações para realização do
trabalho prático: início das medições do processo selecionado;

• Módulo 3: apresentação das Unidades do trabalho realizado, aprofundamento nas etapas de


implementação de melhorias e medição final comparativa; orientações finais.

Como foi possível se depreender, no espaço de tempo entre cada um dos módulos, os alunos voltavam
para suas Unidades a fim de implementar as etapas seqüenciais da metodologia, tendo, dentre as
atividades de responsabilidade de cada Unidade, selecionado um processo específico, objeto do estudo
e foco de implementação de ações de melhoria.

O objetivo principal da capacitação inicial foi a obtenção de pessoas preparadas e aptas a executar
projetos de Produção Mais Limpa nos mais diversos setores do E&P, viabilizando, com isso, o início da
divulgação, conscientização, promoção e perpetuação da metodologia dentro da companhia. As
pessoas capacitadas foram “nomeadas” como responsáveis pela implementação de projetos de
Produção Mais Limpa em suas áreas de trabalho, recebendo, inclusive, certificado da empresa
contratada para o treinamento.

Já para a segunda turma, os coordenadores optaram pela alteração da quantidade e conteúdo dos
módulos, além de providenciar um espaçamento de tempo maior entre os mesmos (de
aproximadamente um mês e meio para três meses, em média). Estas mudanças puderam garantir
maior eficiência na capacitação e na fixação dos conhecimentos, visto que, para este segundo formato,
os alunos puderam selecionar processos e trabalhar as etapas da metodologia contando com
acompanhamentos mais freqüentes.

Os módulos foram, então, divididos em:

• Módulo 1: introdução à Produção Mais Limpa, legislação, impactos ambientais e


aprofundamento nas etapas iniciais; orientações para realização do trabalho prático:
levantamento de informações sobre o processo a ser selecionado para implementação do
projeto piloto, elaboração do macro fluxo, fluxo intermediário e fluxo detalhado;

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• Módulo 2: apresentação das Unidades do trabalho realizado, aprofundamento nas etapas de
medição inicial (antes da execução das ações de melhoria); orientações para realização do
trabalho prátic o: início das medições do processo selecionado;

• Módulo 3: apresentação das Unidades do trabalho realizado, aprofundamento nas etapas de


implementação de melhorias e medição final comparativa; orientações para realização do
trabalho prático: implementação de ações de melhoria de curto prazo, das medições finais e
análise dos resultados;

• Módulo 4: apresentação das Unidades do trabalho realizado, apontamentos e orientações finais,


visando a manutenção do projeto implementado/em implementação.

Foram visíveis as vantagens em termos de eficiência na implementação dos projetos quando das
alterações propostas para a segunda turma. O maior período de tempo entre os módulos permitiu que
os alunos se dedicassem, além de sua rotina normal de trabalho, aos seus projetos piloto com
regularidade, alcançando as etapas finais com maior freqüência do que na primeira turma.

Com relação ao conteúdo dos projetos piloto, devido à diversidade de atividades das Áreas de E&P de
uma companhia de petróleo, foram selecionados processos relacionados desde a atividade de sísmica
até a de transporte de resíduos oriundos das plataformas marítimas, passando por oficinas de
consertos e manutenção de equipamentos, refeitórios, escritórios administrativos, laboratórios
químicos, dentre outros.

Os grupos focaram, em sua grande maioria, a redução da geração de resíduos sólidos, obedecendo aos
critérios de seleção preconizados pela metodologia: resíduos sólidos/efluentes líquidos/emissões
atmosféricas controlados por legislação, grau de periculosidade e quantidade/volume gerado. A
simplicidade do processo também foi um dos fatores que contribuiu para a escolha do processo a ser
trabalhado e do resíduo/efluente/emissão a ser minimizado. Em sua maioria, buscaram-se resíduos
gerados a partir de processos específicos, pontuais, mas que, inicialmente, pudessem concentrar a
atenção dos trabalhadores e incorporá-los, mais facilmente, nas “equipes verdes”, necessárias para dar
andamento à Produção Mais Limpa.

Pode-se citar os principais resíduos sólidos focados nos projetos piloto: papel, embalagens plásticas,
embalagens de papel, estacas de madeira, caixas de madeira para transporte de material e resíduos,
talheres de plástico, resíduo químico de laboratório, embalagens tetrapack, resíduos alimentares. Um
dos grupos trabalhou com a redução do uso de água doce industrial, utilizada em plataforma marítima,
visualizando sua substituição por água do mar, por meio da viabilização de um equipamento de
dessalinização.

Devido à pesada rotina de trabalho dos alunos, grande parte das Unidades encontra-se com o projeto
piloto em andamento, ou seja, sem poder dispor de medições finais comparativas, após a execução de
ações de melhoria. Algumas Unidades chegaram a finalizar a implementação do projeto piloto e
partiram para a geração de novas idéias e levantamentos de processos para aplicação da metodologia.

7. Aplicações e discussão dos resultados

Algumas aplicações da metodologia de Produção Mais Limpa podem ser visualizadas na tabela a seguir
(Tabela 1):

Tabela 1 - Aplicaç ões da metodologia.


Processo Resíduo selecionado
Produção de petróleo e gás em plataforma Tambores e bombonas contaminados, resíduos
recicláveis, água usada, lixo comum
Manutenção de equipamentos industriais Embalagens de produtos químicos, embalagens
recicláveis
Execução de topografia de sísmica terrestre Estacas de madeira

Lavagem e preparação de alimentos Água usada

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Uso de produtos químicos em plataforma Restos de produtos químicos
marítima
Consolidação de cargas Madeira

Alimentação em refeitórios Embalagens tetrapack

7.1. Barreiras observadas na implantação de projetos de Produção Mais Limpa

No que diz respeito às dificuldades encontradas, os coordenadores as entendem como principal


produto/resultado proveniente deste início de implementação da Produção Mais Limpa no E&P, visto
que, é somente a partir de sua análise crítica que será permitida a elaboração de um plano de trabalho
futuro. Pode-se dizer que tais dificuldades surgiram desde a contratação do serviço e permearam todas
as etapas do trabalho.

Desde o início da implementação da metodologia, considerou-se importante que as fases e os passos


fossem cumpridos um a um, visando à obtenção de resultados concretos, rastreáveis e justificáveis.
Este aspecto foi bastante reforçado junto ao instrutor, inclusive a questão da não aceitação de
apresentação de outros tipos de projetos, já em andamento na companhia, como adaptáveis à
metodologia de Produção Mais Limpa.

Muitas dúvidas foram aparecendo, desde a formação da “equipe verde” até a geração das medições
finais, porém, coube ao líder da equipe não desanimar e acreditar em seus objetivos finais, estipulados
desde o início da implementação do projeto.

Verificou-se, desde o principio, a prerrogativa de que o apoio gerencial (liderança) é imprescindível em


todas as etapas da metodologia, já que é a partir deste suporte que os componentes da equipe
poderão dispor de algum tempo necessário para a realização dos passos, além de que, obviamente, no
caso da implementação de oportunidades que prevejam algum custo, é necessária a liberação de
compras para que se possa finalizar a ação de melhoria.

Outro tipo de barreira encontrada durante a execução dos projetos é a questão das relações humanas,
pelo fato de se estar lidando com pessoas das mais diferentes origens, culturas e com os mais diversos
tipos de nível educacional, o que eleva a dificuldade de aprendizado e de, algumas vezes, disposição
para colocar em prática a ação.

As dificuldades de implementação de programas/projetos educacionais e de controle da poluição são


enormemente visíveis, no que tange o uso de ferramentas pedagógicas adequadas, linguagem
customizada ao público que se quer atingir, tempo disponível da equipe e dos demais trabalhadores
participantes, entendimento da real necessidade de aprendizagem e implementação do projeto,
existência de diferentes culturas num mesmo espaço, dificuldades de comunicação, idade madura dos
trabalhadores (o que, algumas vezes, atrapalha uma mudança de hábitos), desprendimento da
exigência da lei e aproximação de conceitos ambientais de vanguarda, entre tantas outras.

Estas tais dificuldades foram presenciadas por várias equipes, que tentaram adequar as situações
encontradas, buscando o equacionamento complexo entre tantas variáveis e focando a obtenção de
resultados concretos, favorecendo a criação de conscientização por parte das pessoas, levando a
mudanças (mesmo pequenas) de hábitos e atitudes, podendo, inclusive, futuramente, mensurá-las e
quantificá-las. A quantificação se daria, por exemplo, pela melhoria na coleta seletiva de resíduos
(aumento de ocorrência de resíduos recicláveis e diminuição de lixo comum), melhoria na geração de
resíduos como um todo (minimização da geração e reuso de materiais), diminuição do uso de água
potável e industrial, diminuição da geração de efluente sanitário.

7.2. Vantagens observadas na implantação de projetos de Produção Mais Limpa

Inúmeros benefícios são relatados, interna e externamente, com o emprego da metodologia de


Produção Mais Limpa. Entre eles estão a redução da geração de resíduos na fonte, redução da geração
de resíduos associados, custos de operação mais baixos e aumento na rentabilidade do negócio. Estas
reduções estão relacionadas à otimização da reciclagem, tratamento e disposição de resíduos, assim

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como a redução do consumo de matérias-primas, água e energia. Além dos aspectos econômicos e
ambientais, a melhoria da eficiência operacional da companhia pode resultar em benefícios internos,
tais como melhorias na saúde do trabalhador, segurança e produtividade, resultando em maior
satisfação pessoal e menor absenteísmo. De forma resumida, os programas de Produção Mais Limpa
representam uma estratégia “ganha-ganha”, na qual a otimização do uso de recursos leva à redução
de custos e maior rentabilidade, reduzindo impactos ambientais (Lopes Silva et al., 2012).

Em resposta às regulamentações governamentais, mais e mais empresas vêm adotando a metodologia


de Produção Mais Limpa para a proteção ambiental. É interessante conhecer s e os esforços das
empresas para a Produção Mais Limpa também podem trazer-lhes vantagens competitivas. ZENG et al.
(2010) sugerem que ainda não há consenso sobre a relação entre a gestão e performance ambiental e
desempenho do negócio.

No decorrer da implementação do curso de capacitação dos técnicos do E&P na metodologia e a


inicialização do projeto na Petrobras, ficou evidente a existência de um impacto positivo global sobre
atividades/processos de baixo custo de execução em relação às atividades/processos de alto custo. A
razão é que a implementação de projetos de Produção Mais Limpa sobre atividades/processos de baixo
custo não exigem esforços financeiros significativos e podem trazer benefícios financeiros imediatos.
Agregadamente, verifica-se, por exemplo, a melhoria da percepção ambiental dos trabalhadores, que
se engaja m na descoberta de oportunidades imediatas de poupança de energia e reutilização de
produtos/materiais.

Por outro lado, tais atividades/processos são menos visíveis para as partes interessadas e, portanto,
têm um impacto menor no desempenho não financeiro, tal como reputação corporativa. A
implementação da metodologia de Produção Mais Limpa em atividades/processos de alto custo é mais
demorada e exige maior investimento. É, por conseguinte, o tipo de iniciativa de maior contribuição
para o desempenho não financeiro, em comparação com o desempenho financeiro (ZENG et al., 2010).

Na tabela abaixo (Tabela 2), encontram-se as principais barreiras e vantagens observadas durante o
início da implementação da Produção Mais Limpa no E&P :

Tabela 2 – Principais barreiras e vantagens observadas.


Barreiras observadas Vantagens observadas
Manutenção e dinamização da “equipe verde” Melhoria da percepção e consciência ambiental
Conscientização da força de trabalho para a Percepção da necessidade de melhoria das
questão ambiental condições de trabalho, visando redução do
desperdício
Conscientização da liderança quanto à Necessidade de cumprimento rigoroso de todas as
implementação de nova metodologia em seus etapas da metodologia, conferindo uso de
processos produtivos e administrativos procedimentos
Levantamento de recursos financeiros para Aumento de investimento para a proteção
implementação de ações de melhoria que ambiental
envolvam investimentos
Organização e correto registro dos dados Descoberta de inúmeras possibilidades de
utilização de tecnologias energéticas eficientes e
limpas
Manutenção das ações de melhoria já Necessidade de aumento da reciclagem de
implementadas produtos e componentes
Coordenação do trabalho em tempo hábil Descoberta de inúmeras possibilidades de redução
do uso de embalagens
Cumprimento do cronograma proposto Descoberta de inúmeras possibilidades de
inicialmente utilização de recursos renováveis na seleção de
matérias-primas e energia
Atualização do conhecimento relacionado a novas Maior inclusão das questões ambientais nos
tecnologias processos de planejamento de inovação
tecnológica

8. Próximos passos

“INTEGRATING CLEANER PRODUCTION INTO SUSTAINABILITY STRATEGIES”


São Paulo – Brazil – May 22nd to 24th - 2013
10 4th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work
Na seqüência da execução dos projetos piloto, questões importantes surgiram a respeito de como
iniciar e manter a implementação da metodologia: ponto de partida, medição, parâmetros a serem
medidos, freqüência e período mínimo de medição, avaliação do resultado, retomada da medição,
responsável pela medição, controle e registro das medições, retomada do monitoramento, dentre
outras. A visualização de alguns resultados reais, medidos, veio a confirmar a expectativa dos
envolvidos nos primeiros projetos, dando margem e gerando energia para suplantar novos desafios.

Passado o estágio inicial de implementação, estes novos desafios se resumem à: finalização dos
projetos piloto em andamento, manutenção do projeto de treinamento junto aos trabalhadores do E&P,
planejamento de um programa de consultoria corporativa sobre a metodologia, coordenação de planos
de trabalho junto às Unidades, dentre outros.

Todas as ações já implementadas passarão por planejamento de manutenção e acompanhamento e as


ações em implementação serão finalizadas. As demais ações de melhoria, mais custosas, serão
consideradas a médio prazo, assim que as boas práticas forem executadas.

A situação atual de implementação e as ações futuras a serem desenvolvidas estão sendo monitoradas
de forma corporativa e serão objeto de um relatório específico sobre a metodologia de Produção Mais
Limpa na companhia.

9. Bibliografia

CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, 2012.Visão Brasil 2050.
http://www.cebds.org.br/media/uploads/pdf/visao_brasil_2050_-_vfinal.pdf . acessado março/2013.

EPA (2000). Profile of the Oil and Gas Extraction Industry. Notebook Project Oil and Gas Extraction.
Sector Notebook Project, EPA/310- R-99-006.

Lopes Silva, D.A., et al., (2012). Quality tools applied to Cleaner Production programs: a first approach
toward a new methodology, Journal of Cleaner Production (2012),
http://dx.doi.org/10.1016/j.jclepro.2012.10.026

OGP. Garland, E., Kerr, J., Mundy, K., Mason, M., Young, S., Pegors, S., Sedlock, E., Barrett, J.,
Campbell, J. & Eygun, C. (eds.) (2008) Guidelines for waste management - with special focus on areas
with limited infrastructure. 1.1 The International Association of Oil & Gas Producers. Report number:
413.

Sittig, M. Petroleum Transportation and Production: Oil Spill and Pollution Control, Park Ridge, NJ:
Noyes Data Corporation, 1978.

Zeng, S.X., Meng, X.H., Yin, H.T., Tam, C.M., Sun, L. (2010) Impact of cleaner production on business
performance. Journal of Cleaner Production, Volume 18, Issues 10–11, Pages 975-983.

“INTEGRATING CLEANER PRODUCTION INTO SUSTAINABILITY STRATEGIES”


São Paulo – Brazil – May 22nd to 24th - 2013

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