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Culturas, ecologias e as
transformações históricas
da Mata Atlântica
Nome do Autor
XXXX Nome do Livro
2015 / Nome do Autor. – X. ed. – Curitiba : Editora Prismas, 2015. XXX p. ; 23 cm
ISBN: XXX-XX-XXXXX-XX-X
1.XXX. 2. XXX. 3. XXX. 4. XXX. 5. XXX. I. Título.
CDD xxx.xxx(xx.ed)
CDU xxx(xx)
Introdução
Mudanças na Mata........................................................................... 17
Diogo de Carvalho Cabral, Ana Goulart Bustamante
I
Emergências ecológicas e conceituais.............................................35
II
Mundos paleoindígenas.................................................................83
III
Encontros e regimes coloniais....................................................... 149
IV
Antropoceno................................................................................ 263
Metamorfoses florestais 17
ter emergido num contexto climático de aridificação, com expansão
da vegetação aberta, por volta de 2,5 milhões de anos atrás, na África.
Quanto à espécie humana propriamente dita – que começa a aparecer,
no registro fóssil, cerca de 200 mil anos atrás –, as evidências não são
conclusivas, mas é possível que povos mesolíticos tenham habitado as
florestas da África ocidental e central (Costa do Marfim, Gana, Gabão,
Camarões e República Democrático do Congo), ainda que os ecótonos
fossem preferidos, com toda a certeza. Modelos demográficos suge-
rem que, em suas rotas de expansão para fora da África, começando
entre 80 e 60 mil anos atrás, os caçadores-coletores atravessaram o sul
da Ásia de maneira relativamente rápida, alcançando o sudeste desse
continente por volta de 50 mil anos atrás. Analisando esmalte dentário
de restos humanos e de outros animais, um estudo recente mostrou
que os ecossistemas florestais do sul asiático eram sistematicamente
explorados por caçadores humanos, há pelo menos 20 mil anos. As
florestas tropicais das Américas foram as últimas a serem devassadas
pelos humanos modernos, entre 10 e 15 mil anos atrás.6
Mas essa colonização da floresta tropical nunca foi fácil. Nes-
se ecossistema, a feroz competição por luz e espaço seleciona plantas
que investem muita energia em troncos, galhos e folhas, biomassa in-
digerível pelos estômagos humanos. Os frutos e sementes dessas plan-
tas não podem ser armazenados por muito tempo, sendo imprestáveis
como estoque de comida. Geralmente, raízes e tubérculos amiláceos
não são encontrados com a densidade necessária. A sombra pervasiva
dificulta o desenvolvimento de ervas, enquanto as folhas das árvores
e arbustos são frequentemente tóxicas, desencorajando o forragea-
mento dos grandes herbívoros candidatos a presas humanas. Os ani-
mais que a floresta tropical disponibiliza são geralmente pequenos e
magros, além de terem hábitos noturnos, o que dificulta sua caça. Ao
mesmo tempo, o meio cerrado torna os humanos eles mesmos alvos
mais fáceis para os seus predadores. Os que não habitavam abrigos
rochosos precisavam abrir clareiras na floresta, geralmente, com a
ajuda do fogo – com a qual mantinham iluminados os acampamen-
tos, durante a noite. É provável que nenhuma sociedade de humanos
anatomicamente modernos tenha conseguido habitar florestas tropi-
cais com base apenas na coleta vegetal e na caça dos animais próprios
desse ecossistema; mesmo antes do advento da agricultura, ateava-se
18 Cabral & Bustamante (orgs.)
fogo na mata para produzir uma vegetação mais atraente aos animais
de áreas abertas. Os registros arqueológico, histórico e etnográfico
mostram que a maioria dos “povos da floresta”, ao longo da história
humana, foi de horticultores itinerantes ou então caçadores-coleto-
res especializados que, no entanto, viviam em intercâmbio comercial
com os horticultores.7 A mata fechada sempre foi um habitat marginal,
geralmente reputado como “bárbaro” pelos agricultores. Os antigos
indígenas da região de New York, por exemplo, evitavam a todo custo
as densas florestas e aqueles que não o faziam – ou que, por qualquer
razão, eram forçados a morar lá – eram desprezados como “comedores
de casca [de árvore].”8
Por seu turno, os ditos “civilizados” só começaram a valorizar
cultural e ambientalmente as florestas depois que suas economias já
as tinham reduzido a pequenos fragmentos domesticados, muitas ve-
zes totalmente replantados.9 Mesmo os escritores e filósofos românti-
cos do século XIX, a despeito de sua defesa da floresta selvagem, bruta,
“intocada”, não pareciam dispostos a fazer dela um lar. Em seu retorno
a Massachussets, após uma de suas viagens ao sertão do Maine, Henri
David Thoreau escreveu que
Metamorfoses florestais 23
No entanto, se é verdade que a “Mata Atlântica, tal como a co-
nhecemos hoje, evidencia, em sua composição, estrutura e funcionali-
dade, a resultante dialética da presença de seres humanos,”24 devemos
considerar que as atuais sociedades humanas são o resultado desse
processo de antropização. Estendendo-se outrora entre as latitudes 3º
e 30º S, essas florestas tropicais e subtropicais, além dos ecossistemas
periféricos associados (restingas, mangues, campos de altitude etc.),
constituíram o primeiro bioma sul-americano a ser ocupado pelos por-
tugueses, no século XVI. Foi dali que eles partiram para conquistar as
savanas, os pantanais e os campos a sul e oeste, e até as grandes selvas
amazônicas, a noroeste. Depois de comerciar pau-brasil, os coloniza-
dores estabeleceram grandes plantações de cana-de-açúcar, iniciando
um processo contínuo de transformação socioambiental.25 Sucessivos
surtos econômicos mataram, escravizaram ou desalojaram centenas
de milhares de indígenas, enquanto importavam milhões de europeus
e africanos para controlar, converter e cultivar as florestas esvazia-
das.26 Organizado sobre o tripé latifúndio, escravidão e agricultura de
plantation, o modo de produção agrário-colonial fundou uma socieda-
de aristocraticamente estratificada, economicamente dependente do
mercado externo e ecologicamente parasítica.27 Tecnologicamente in-
capaz de aumentar a produtividade, essa socioeconomia crescia ape-
nas extensivamente, devastando cada vez mais terras e trabalhadores
(depois dos escravos, os proletários rurais). O Antropoceno não mudou
esse padrão, mas o reforçou e acelerou; quando a agricultura brasileira
finalmente começou a incorporar os insumos e equipamentos moder-
nos, nos anos 1960 – o que poderia ter evitado novas derrubadas via
aumento da produtividade em terras agrícolas consolidadas –, a Mata
Atlântica já estava praticamente dilapidada.
Paradoxalmente, a Mata Atlântica só conseguiu se afirmar
como um domínio “natural”, justamente, quando já não restava qua-
se nada de seu estado “primitivo” ou “original”. Nos anos 1980, uma
insinuante sinergia de forças acadêmicas, ambientalistas e políticas le-
vantou a questão acerca da potencial extinção das florestas do Brasil
atlântico. Depois da grande aceleração econômica da década anterior
– leia-se acumulação excludente com avanço extensivo da agricultura
comercial, expulsão de camponeses, inchaço e empobrecimento ur-
banos, além de generalizada degradação ambiental –, o Brasil havia
24 Cabral & Bustamante (orgs.)
dolorosamente amadurecido como semiperiferia do capitalismo glo-
bal, tanto em sua estrutura de classes quanto em sua configuração
territorial. Inspirando-nos na teoria polanyiana,28 poderíamos dizer
que foi nos anos 1980 que emergiram os grandes “contramovimentos
de proteção” do tecido social brasileiro, ou melhor, dos seus funda-
mentos humanos e ecológicos. Por todos os lados da sociedade civil
surgiam movimentos organizados contra a exploração deletéria dos
trabalhadores e das terras, na cidade e no campo. No que concerne
aos ambientes florestais, havia uma clara diferença entre as duas gran-
des arenas de luta, largamente determinada pela geografia histórica
da ocupação eurodescendente: de um lado, as matas amazônicas ape-
nas recentemente assediadas e por isso ainda majoritariamente de pé,
embora seletivamente depauperadas de certos recursos e populações
nativas (sobretudo as humanas); de outro, as matas atlânticas, pri-
meiro habitat dos colonizadores e sustentáculo de todos os principais
surtos de crescimento da economia brasileira, quase totalmente des-
truídas. Foi a partir do rescaldo dessa antropização de longa duração e
intensidade – dos vestígios das florestas de outrora, quase sempre em
relevo acidentado, alguns já legalmente protegidos – que cientistas,
ambientalistas e legisladores construíram, de maneira retrospectiva, a
ideia do “bioma Mata Atlântica”.
Essa condição epistemológica – “conhecimento por meio
de estruturas sobreviventes”, diria John Lewis Gaddis29 – fez da cons-
trução científico-político-cultural da Mata Atlântica, nos anos 1980,
um empreendimento profundamente historiográfico, isto é, estreita-
mente imbricado nas imagens que descreviam a floresta do passado,
bem como os seus processos de transformação. Não foi por acaso
que a obra de Warren Dean, A Ferro e Fogo: a História e a Devastação
da Mata Atlântica Brasileira, foi tão bem acolhida no meio ambien-
talista nacional. Embora o livro tenha sido publicado em 1995 – em
inglês, e no ano seguinte, em português –, Dean vinha divulgando os
resultados de sua pesquisa desde o começo dos anos 1980, inclusive
no Brasil. Em um artigo de 1985, Dean já havia definido a primitiva
“Floresta Atlântica Costeira”:
Metamorfoses florestais 25
tura e precipitação, estendia-se outrora por uma faixa es-
treita, ao longo de toda a costa norte-sul, do Rio Grande do
Norte ao Rio Grande do Sul. Na região sudeste, condições
climáticas e topográficas permitiam que a floresta se interio-
rizasse de 300 a 400 km.30
_____________
1 Grande sertão: veredas, 19a ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 387.
2 DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica
brasileira. São Paulo: Cia. das Letras, 1996, p. 20.
3 BOTKIN, Daniel B. Discordant harmonies: a new ecology for the twenty-first
century. Oxford: Oxford University Press, 1990, p. 63.
4 HARRISON, Robert P. Forests: the shadow of civilization. Chicago: University of
Chicago Press, 1992.
5 DARDEL, Eric. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo:
Perspectiva, 2011, p. 37.
6 MERCADER, Julio. “Forest people: the role of African rainforests in human
evolution and dispersal”, Evolutionary Anthropology 11, 2002, pp. 117-124; ELTON,
Sarah. “The environmental context of human evolutionary history in Eurasia and
Africa”, Journal of Anatomy 212 (4), 2008, pp. 377-393; ERIKSSON, A.; BETTI, L.;
FRIEND, A.D.; LYCETT, S.J.; SINGARAYER, J.S.; CRAMON-TAUBADEL, N.; VALDES,
P.J.; BALLOUX, F.; MANICA, A. “Late Pleistocene climate change and the global
expansion of anatomically modern humans”, Proceedings of the National Academy of
Sciences of the United States of America 109 (40), 2012, pp. 16089-16094; ROBERTS,
Patrick; Perera, Nimal; WEDAGE, Oshan; DERANIYAGALA, Siran; PERERA, Jude;
EREGAMA, Saman; GLEDHILL, Andrew; PETRAGLIA, Michael D.; LEE-THORP, Julia A.
“Direct evidence for human reliance on rainforest resources in late Pleistocene Sri
Lanka”, Science 347, 2015, pp. 1246-1249.
7 BAILEY, Robert C.; HEAD, Genevieve; JENIKE, Mark; OWEN, Bruce; RECHTMAN,
Robert; ZECHENTER, Elzbieta. “Hunting and gathering in tropical rain forest: is it
possible?”, The American Anthropologist 91 (1), 1989, pp. 59-82; BAILEY, Robert C.;
HEADLAND, Thomas N. “The tropical rain forest: is it a productive environment for
human foragers?”, Human Ecology 19 (2), 1991, pp. 261-285.
Metamorfoses florestais 31
8 JONES, E. L. “Creative disruptions in American agriculture, 1620-1820”, Agricultural
History 48 (4), 1974, pp. 513-514.
9 A análise clássica sobre essa mudança cultural é a de THOMAS, Keith. Man and the
natural world: changing attitudes in England, 1500-1800. Harmondsworth: Penguin,
1983.
10 THOUREAU, Henry David. The Maine woods. New York: Thomas Y. Crowell Co.,
1966, p. 203.
11 WILLIAMS, Michael. Deforesting the Earth: from prehistory to global crisis.
Chicago: The University of Chicago Press, 2003, pp. 334-5.
12 Idem, ibidem.
13 STEFFEN, Will; GRINEVALD, Jacques; CRUTZEN, Paul; McNEILL, John. “The
Anthropocene: conceptual and historical perspectives”, Philosophical Transactions of
the Royal Society 369, 2011, pp. 842-867.
14 HOUGHTON, R.A.; LEFKOWITZ, D.S.; SKOLE, D.L. “Changes in the landscape of
Latin America between 1850 and 1985. I. Progressive loss of forests”, Forest Ecology
and Management 38, 1991, pp. 145-149.
15 Vale ressaltar, no entanto, que os países do bloco soviético cresceram tanto
quanto a Europa ocidental, no mesmo período. Ver MADDISON, Angus. The world
economy: a millennial perspective. Paris: OCDE, 2001, p. 262.
16 STEFFEN et al., op. cit., p. 851 e ss.
17 HOUGHTON et al., op. cit., pp. 159-163.
18 Velarde, Sandra J. Socio-economic trends and outlook in Latin America:
Implications for the forestry sector to 2020. Latin American Forestry Sector Outlook
Study Working Paper. Disponível em http://www.fao.org/docrep/006/j2459e/
j2459e00.htm
19 MALHI, Yadvinder; GARDNER, Toby A.; GOLDSMITH, Gregory R.; SILMAN, Miles
R.; ZELAZOWSKI, Przemyslaw. “Tropical forests in the Anthropocene”. Annual Review
of Environment and Resources 39, 2014, p. 126.
20 ELLIS, Erle C.; RAMANKUTTY, Navin. “Putting people in the map: anthropogenic
biomes of the world”, Frontiers in Ecology and the Environment 6 (8), 2008, pp. 439-447.
21 RIBEIRO, M.C.; METZGER, J.P.; MARTENSEN, A.C.; PONZONI, F.J.; HIROTA, M.M.
“The Brazilian Atlantic Forest: how much is left, and how is the remaining forest
distributed? Implications for conservation.” Biological Conservation 142, 2009,
pp. 1141-1153; RIBEIRO, M.C.; MARTENSEN, A.C.; METZGER, J.P.; TABARELLI, M.;
SCARANO, F.; FORTIN, M.J. “The Brazilian Atlantic Forest: A Shrinking Biodiversity
Hotspot”. In: ZACHOS, F.E.; HABEL, J.C. (Eds), Biodiversity Hotspots: Distribution and
Protection of Conservation Priority Areas. Dordrecht: Springer, 2011, pp. 405-433.
22 MITTERMEIR, R.A.; GILL, P.R.; HOFFMANN, M.; PILGRIM, J.; BROOKS, J., MITTERMEIER,
C.J.; LAMAOURUX, J.; FONSECA, G.A.B. Hotspots revisited: Earth’s biologically richest and
most endangered terrestrial ecoregions. Washington: CEMEX, 2005.
23 Ver, neste livro, o capítulo de José Maria da Silva e colaboradores, “Conservação
da Mata Atlântica brasileira: um balanço dos últimos dez anos”.
Metamorfoses florestais 33
I
Vivian Jeske-Pieruschka*,
Universidade Federal do Ceará †
Marie-Pierre Ledru†
Institut de Recherche pour le Développement
Sudeste
Que a paisagem atual da Mata Atlântica é muito diferente da-
quela que existia antes da chegada dos europeus é algo bem conhecido.
Que as florestas que Pedro Álvares Cabral e seus homens avistaram, em
abril de 1500, não tinham estado ali desde sempre, no entanto, não se
38 Cabral & Bustamante (orgs.)
trata de algo tão disseminado; mas a verdade é que aquelas florestas
eram produtos de uma longa história geológica, além, evidentemente, das
transformações ocasionadas pelos habitantes nativos. Assim, nos estados
do Espírito Santo, de São Paulo e de Minas Gerais, onde hoje viceja uma
exuberante floresta perenifólia ou semidecídua, havia uma paisagem qua-
se sem árvores em um clima frio e seco durante o último período glacial.8
Pequenas áreas de floresta com araucária sobreviveram? perto de cursos
de água nas encostas mais baixas da Serra do Espinhaço, no leste de Mi-
nas Gerais, bem como em outras áreas do Sudeste do Brasil durante esse
período.9 Uma floresta subtropical com árvores do gênero Araucaria e Po-
docarpus também esteve presente nas serras do litoral do Estado de São
Paulo, sob condições frias e úmidas, ao longo do último período glacial.10
Algumas regiões mais interiores, como o oeste do Estado de Minas Gerais,
parecem ter experimentado períodos de condições climáticas úmidas du-
rante a época glacial.11
A região Sudeste do Brasil continua a ser caracterizada por
uma extensa área de vegetação aberta no Último Máximo Glacial
(UMG),12 que culminou há cerca de 21.000 anos. Nesse período, o cli-
ma era ainda mais frio e seco. A Mata Atlântica era, provavelmente,
limitada a estreitas áreas perto do litoral e não avançava entre as ca-
deias de montanhas da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira (esta-
dos de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), embora um mosai-
co de diferentes tipos de cerrado e florestas de galeria ocorresse no
continente e existisse uma floresta com araucária em altitudes mais
elevadas nas serras do interior do Sudeste do Brasil.13
Após o UMG, que corresponde ao período glacial tardio, a ve-
getação campestre continuou a prevalecer no Morro de Itapeva (SP) e
na Serra da Bocaina (entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro), em-
bora ocorressem manchas de floresta nas altitudes menores, em condi-
ções climáticas frias e secas.14 Também durante o final do período glacial,
a Mata Atlântica começou a se desenvolver em altitudes menores no
Estado do Espírito Santo,15 atingindo até mesmo altitudes mais elevadas
na região serrana do Rio de Janeiro no final deste período,16 em razão de
mudanças do clima para condições mais úmidas e quentes.
Metamorfoses florestais 39
Figura 1 – Localização dos paleorregistros mencionados no texto para os estados de
Minas Gerais (MG), Espírito Santo (ES), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Paraná
(PR), Santa Catarina (SC) e Rio Grande do Sul (RS): 1 Catas Altas, 2 pântano Pau de
Fruta, 3 Salitre, 4 Lago do Pires e Lagoa Nova, 5 Lago Aleixo, 6 Serra do Caparaó, 7
GeoB 3229-2, 8 GeoB 3202-1, 9 Serra dos Órgãos, 10 Serra da Bocaina, 11 Morro de
Itapeva, 12 Botucatú, 13 Parque Estadual Serra do Mar – Núcleo Curucutu, 14 tur-
feira Jacareí, 15 Cratera de Colônia, 16 Serra dos Campos Gerais, 17 Serra do Araça-
tuba, 18 Serra da Boa Vista, 19 Serra do Rio do Rastro, 20 Morro da Igreja, 21 Volta
Velha, 22 Serra do Tabuleiro, 23 Parque Nacional Aparados da Serra, 24 Cambará do
Sul, 25 registro Fazenda do Pinto, 26 Alpes de São Francisco, 27 registro Rincão das
Cabritas, 28 brejo de Serra Velha, 29 Lagoa dos Patos.
Fonte cartográfica: Altimetria do Brasil [mapa]. Fonte de dados: IBGE e NASA.
Desenho: Murilo Raphael Dias Cardoso, com ligeiras modificações. (http://www.
terrasapiensgeo.com/portal/noticias/103-cartas-topografica).
Sul
A paisagem das montanhas do Sul do Brasil era formada por
uma extensa vegetação campestre antes e durante o Último Máximo
Glacial (UMG), refletindo as condições climáticas frias e secas em todo
o período glacial. Apenas pequenas populações de espécies de floresta
com araucária e floresta latifoliada sobreviveram durante esse período,
em refúgios em áreas protegidas em altitudes mais baixas e/ou nas úmi-
das encostas litorâneas da Serra Geral (cordilheira no Sul do Brasil) e da
Serra do Tabuleiro (cordilheira costeira isolada do Estado de Santa Cata-
rina).37 A proximidade da Serra do Tabuleiro do Oceano Atlântico pode
ter influenciado positivamente a migração para o sul de taxa da floresta
do norte devido às condições climáticas moderadas e mais úmidas do
litoral. Durante o último período glacial, o clima era frio e seco,38 mas
ainda mais seco e mais frio durante o UMG,39 no Sul do Brasil.
Após o UMG, uma paisagem aberta continuou a prevalecer
nas montanhas do Sul do Brasil, sugerindo períodos secos mais pro-
longados e condições climáticas frias na região a partir do fim do pe-
ríodo glacial até o início do Holoceno.40 Embora a vegetação campes-
tre tenha se mantido como ecossistema predominante na Serra Geral
(cordilheira no Sul do Brasil) e na parte superior da Serra do Tabuleiro
(cadeia de montanhas costeira no Estado de Santa Catarina), a mudan-
ça climática para condições mais quentes e úmidas favoreceu o de-
senvolvimento da floresta no início do Holoceno. O desenvolvimento
inicial dos ecossistemas florestais sobre as encostas da Serra Geral e da
Metamorfoses florestais 43
Serra do Tabuleiro foi promovido por taxas de umidade mais elevadas
a partir de então. Portanto, o desenvolvimento inicial da Mata Atlânti-
ca foi reconhecido planície costeira41 e serras litorâneas do Estado de
Santa Catarina, na Serra do Tabuleiro42 e na Serra da Boa Vista (parte
da Serra Geral),43 sob condições climáticas mais úmidas durante o final
do período glacial e o início do Holoceno. Essa mudança da vegetação,
que implica desenvolvimento/expansão da floresta, mas também re-
flete a manutenção de um mosaico de floresta e vegetação campestre
na Serra do Tabuleiro e na Serra da Boa Vista, pode ser devida a um au-
mento da precipitação na transição entre o Pleistoceno e o Holoceno.
Mais ao sul, na planície litorânea e nos vales do Rio Grande do Sul, o
desenvolvimento inicial da Mata Atlântica está documentado no início
do Holoceno,44 e sua migração gradual de leste para oeste na encosta
inferior da Serra Geral a partir do início do Holoceno45. Um primeiro
deslocamento da Mata Atlântica das encostas mais baixas para altitu-
des mais elevadas da Serra Geral pode ter sido favorecido por condi-
ções mais quentes e úmidas após o período glacial tardio.46
Reconstruções ambientais mostram que a vegetação campes-
tre dominou a paisagem nos estados do Paraná e de Santa Catarina47 e
mais ao sul, na região norte do Rio Grande do Sul,48 sob condições climá-
ticas frias e secas durante o período glacial até meados do Holoceno. A
partir do Holoceno médio, o clima moderado e úmido favoreceu a gra-
dual propagação da floresta de menores a maiores elevações na Serra
Geral. Uma mudança significativa da paisagem, de extensiva vegetação
campestre para floresta, é observada desde meados do Holoceno em
todas as serras do Sul do Brasil. A emergência de condições climáticas
mais úmidas, devido à influência das monções mais fortes nas regiões
subtropicais, favoreceu a expansão contínua da Mata Atlântica para re-
giões elevadas, simultaneamente ao desenvolvimento da floresta com
araucária. Foi observado aumento dos níveis de umidade após o Holo-
ceno médio na região serrana do Rio Grande do Sul a partir dos regis-
tros de Cambará do Sul49 e de São Francisco de Paula,50 que evidenciam
a primeira expansão da floresta com araucária durante esse tempo. O
mesmo padrão foi observado mais ao norte e na baixada litorânea do Sul
do Brasil,51 nas serras de Santa Catarina52 e do Paraná,53 juntamente com
o desenvolvimento de uma densa floresta após a regressão marinha do
Holoceno médio nas planícies de Santa Catarina54.
44 Cabral & Bustamante (orgs.)
A substituição de campos por ecossistemas florestais – flores-
tas com araucárias e latifoliadas – perdurou durante o final do Holoceno,
nas montanhas do Sul do Brasil, como reflexo de condições cada vez mais
úmidas, com período seco anual curto ou inexistente. A Mata Atlântica
se expandiu para as faixas de maior elevação, enquanto a floresta com
araucária se espalhou progressivamente nos planaltos, formando mo-
saicos de vegetação campestre e florestal. Estudos localizados em cam-
pos de altitude do Sul do Brasil sugerem que o início da expansão da
floresta com araucária ocorreu durante o final do Holoceno na Serra do
Araçatuba55 e na Serra dos Campos Gerais,56 ambas no Estado do Paraná.
Mais ao sul, no Estado de Santa Catarina, a primeira expansão da flores-
ta com araucária foi observada na Serra da Boa Vista, na Serra do Rio do
Rastro57 e na Serra do Tabuleiro,58 também durante o final do Holoceno.
No Rio Grande do Sul, localizado mais ao sul de Santa Catarina, a expan-
são inicial da floresta com araucária também está documentada durante
o final do Holoceno em Cambará do Sul59 e em São Francisco de Paula60.
Todas as interpretações acima sugerem que a floresta com araucária se
expandiu a partir de refúgios de florestas de galeria ao longo dos rios e
de outras áreas úmidas após o Holoceno médio.
Condições climáticas mais úmidas permaneceram durante
os últimos 1.000 anos com um aumento na precipitação que coincide
com a máxima expansão da floresta durante esse tempo. A floresta
com araucária se expandiu cada vez mais desde o último milênio, le-
vando a uma mudança da vegetação na parte superior da Serra Geral,
perto de suas encostas, que se tornou uma zona de transição entre a
floresta latifoliada e a floresta com araucária desde então. A floresta
com araucária se tornou o principal tipo de vegetação nos planaltos
formando mosaicos de vegetação campestre e florestal. Uma marca-
da expansão da floresta com araucária é relatada para cerca de 1.500
anos atrás, no Estado do Paraná,61 e desde os últimos 1.000 anos para
as serras dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul62. As mu-
danças no balanço hídrico e na temperatura registradas por estudos
paleoecológicos para diferentes locais no Sul do Brasil estão resumidas
nas figuras 4 e 5.
Metamorfoses florestais 45
Figura 4 – Resumo da variabilidade do balanço hídrico e do impacto humano para os
paleorregistros discutidos no texto, localizados no Sul do Brasil desde o fim do UMG.
Metamorfoses florestais 47
chuvas e sem longos períodos de seca nas serras do Sul do Brasil.74 A
distribuição das chuvas parece ser o fator determinante para limitar a
expansão da floresta com araucária nos planaltos do Sul do Brasil.75
Considerando um cenário futuro de aquecimento global, es-
pécies florestais atlânticas podem provavelmente reduzir sua área de
ocorrência e se deslocar para regiões mais ao sul.76 Registros de pólen
da Serra Geral e da Serra do Tabuleiro sugerem uma substituição con-
tínua de floresta com araucária pela Mata Atlântica nos planaltos do
Sul do Brasil, na hipótese de condições mais quentes do que hoje em
dia.77 Hoje, na verdade, espécies da Mata Atlântica podem não supor-
tar a geada frequente serras durante o inverno. Assim, o clima atual
ainda é muito frio nas montanhas do Sul do Brasil para essas espécies
tropicais. Por outro lado, um aquecimento global pode induzir uma
mudança rápida na vegetação, com a expansão do ecossistema Mata
Atlântica nos planaltos e a supressão dos mosaicos de campos e flores-
tas de araucária. O mesmo padrão pode ocorrer nas outras cadeias de
montanhas do Sudeste do Brasil, onde hoje uma vegetação campes-
tre – campos de altitude – ainda prevalece. Nesse caso, a vegetação
aberta será suprimida pela migração e expansão da Mata Atlântica em
direção às maiores elevações.78 Se os períodos de seca prolongada se
tornarem mais frequentes no Sul do Brasil devido à mudança global,
a vegetação de floresta com araucária vai sofrer déficit hídrico, pois
requer altas taxas de precipitação para sobreviver. Períodos mais lon-
gos de seca também vão dificultar o desenvolvimento e a expansão da
Mata Atlântica com suas espécies tropicais adaptadas à alta umidade e
dela dependentes. Assim, mudanças climáticas futuras vão desempe-
nhar um papel crucial na dinâmica de vegetação e composição florísti-
ca das florestas do século XXI no Sul e no Sudeste do Brasil. A contínua
mudança climática observada é reforçada pelas atividades humanas
que incluem o intenso desmatamento que reduziu a Mata Atlântica a
pequenos fragmentos que impedem as fases de expansão e regressão
natural que caracterizaram a dinâmica da Mata Atlântica brasileira du-
rante os últimos 100.000 anos.79
_____________
1 BACKES, Paulo, IRGANG, Bruno. Mata Atlântica: As Árvores e a Paisagem. Porto
Alegre: Editora Paisagem do Sul, 2004.
2 HUECK, Kurt. „Distribuição e habitat natural do Pinheiro do Paraná (Araucaria
angustifolia)“, Boletim da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de
48 Cabral & Bustamante (orgs.)
São Paulo. Botânica, no. 10, 1953, pp. 1-24; HUECK, Kurt. Die Wälder Südamerikas.
Stuttgart: Gustav Fischer Verlag, 1966, p. 186.
3 KLEIN, Roberto M. “Notas sobre algumas pesquisas fitosociológicas no sul do
Brasil”, Boletim Paranaense Geologia, no. 6/7, 1962, pp. 17-28.
4 MYERS, Norman, MITTERMEIER, Russell A., MITTERMEIER, Cristina G., FONSECA,
Gustavo A.B. da, KENT, Jennifer. „Biodiversity hotspots for conservation priorities“, Nature
vol.403, 2000, pp. 853-858; TABARELLI, Marcelo, PINTO, Luiz P., SILVA, José M.C., HIROTA,
Márcia, BEDÊ, Lúcio. „Challenges and opportunities for Biodiversity Conservation in the
Brazilian Atlantic Forest“, Conservation Biology vol.19, 2005, pp. 695-700.
5 MORELLATO & HADDAD, op. cit.; RIBEIRO, Milton C., METZGER, Jean P.,
MARTENSEN, Alexandre C., PONZONI, Flávio J., HIROTA, Márcia M. „The Brazilian
Atlantic Forest: How much is left, and how is the remaining forest distributed?
Implications for conservation“, Biological Conservation vol.142, 2009, pp. 1141-1153.
MORELLATO, Leonor P.C., HADDAD, Célio F.B., 2000. „Introduction: The Brazilian
Atlantic Forest“, Biotropica vol.32, no. 4b, 2000, pp. 786-792;
6 COLOMBO, Alexandre F., JOLY, Carlos A. „Brazilian Atlantic Forest lato sensu: the
most ancient Brazilian forest, and a biodiversity hotspot, is highly threatened by
climate change“, Brazilian Journal of Biology vol.70, 2010, pp. 697-708.
7 FLANTUA, Suzette G.A., HOOGHIEMSTRA, Henry, VUILLE, Mathias, BEHLING,
Hermann, CARSON, John F., GOSLING, William D., HOYOS, Isabel, LEDRU, Marie-
Pierre, MONTOYA, Encarni, MAYLE, Francis, MALDONADO, Antonio, RULL, Valentí,
TONELLO, Marcela S., WHITNEY, Bronwen S., GONZÁLEZ-ARANGO, Catalina. „Climate
variability and human impact on the environment in South America during the last
2000 years: synthesis and perspectives“, Climate of the Past Discussions vol.11, 2015,
pp. 3475-3565.
8 BEHLING, Hermann. „Late Quaternary vegetation, climate and fire history from
the tropical mountain region of Morro de Itapeva, SE Brazil“, Palaeogeography,
Palaeoclimatology, Palaeoecology vol.129, 1997, pp. 407-422; BEHLING,
Hermann. „Late Quaternary vegetational and climatic changes in Brazil“, Review of
Palaeobotany and Palynology vol.99, 1998, pp. 143-156; BEHLING, Hermann. „South
and southeast Brazilian grasslands during Late Quaternary times: a synthesis“,
Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology vol.177, 2002, pp. 19-27;
BEHLING, Hermann, LICHTE, Martin, MIKLOS, Atila W. „Evidence of a forest free
landscape under dry and cold climatic conditions during the last glacial maximum
in the Botucatú region (São Paulo State), Southeastern Brazil“, Quaternary of South
America and Antarctic Peninsula vol.11, 1998, pp. 99-110; BEHLING, Hermann,
ARZ, Helge W., PÄTZOLD, Jürgen, WEFER, Gerold. „Late Quaternary vegetational
and climate dynamics in southeastern Brazil, inferences from marine cores GeoB
3229-2 and GeoB 3202-1“, Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology
vol.179, 2002, pp. 227-243; BEHLING, Hermann, LICHTE, Martin. „Evidence of
dry and cold climatic conditions at glacial times in tropical southeastern Brazil“,
Quaternary Research vol.48, 1997, pp. 348-358.
9 BEHLING, Hermann, ARZ, Helge W., PÄTZOLD, Jürgen, WEFER, Gerold. „Late
Quaternary vegetational and climate dynamics in southeastern Brazil, inferences from
Metamorfoses florestais 49
marine cores GeoB 3229-2 and GeoB 3202-1“, Palaeogeography, Palaeoclimatology,
Palaeoecology vol.179, 2002, pp. 227-243; BEHLING, Hermann, LICHTE, Martin.
„Evidence of dry and cold climatic conditions at glacial times in tropical southeastern
Brazil“, Quaternary Research vol.48, 1997, pp. 348-358.
10 PESSENDA, Luiz C.R., DE OLIVEIRA, Paulo E., MOFATTO, Milene, MEDEIROS,
Vanda B. de, GARCIA, Ricardo J.F., ARAVENA, Ramon, BENDASSOLI, José A., LEITE,
Acácio Z., SAAD, Antonio R., ETCHEBEHERE, Mario L. „The evolution of a tropical
rainforest/grassland mosaic in southeastern Brazil since 28,000 14C yr BP based on
carbon isotopes and pollen records“, Quaternary Research vol.71, 2009, pp. 437-452.
11 LEDRU, Marie-Pierre. „Late Quaternary environmental and climatic changes
in central Brazil“, Quaternary Research vol.39, 1993, pp. 90-98; LEDRU, Marie-
Pierre, BRAGA, Pedro I.S., SOUBIÈS, François, FOURNIER, Marc, MARTIN, Louis,
SUGUIO Kenitiro, TURCQ, Bruno. „The last 50,000 years in the Neotropics (Southern
Brazil): evolution of vegetation and climate“, Palaeogeography, Palaeoclimatology,
Palaeoecology vol.123, 1996, pp. 239-257.
12 BEHLING, 2002, op. cit.
13 BEHLING, 1997, op. cit.
14 BEHLING, 1997, op. cit.; BEHLING, Hermann. “Late Quaternary vegetation, climate
and fire history from the tropical mountain region of Morro de Itapeva, SE Brazil”,
Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology vol.129, 1997, pp. 407-422.
15 BEHLING et al., 2002, op. cit.
16 BEHLING, Hermann, SAFFORD, Hugh D. „Late-glacial and Holocene vegetation,
climate and fire dynamics in the Serra dos Órgãos, Rio de Janeiro State, southeastern
Brazil“, Global Change Biology vol.16, 2010, pp. 1661-1671.
17 LEDRU, 1993, op. cit.
18 BEHLING & SAFFORD 2010, op. cit.
19 BEHLING, 1997, op. cit.; BEHLING et al., 2007, op. cit.
20 BEHLING 1997, op. cit.;
21 BEHLING et al., 2007, op. cit.
22 VERÍSSIMO, Nuno P., SAFFORD, Hugh D., BEHLING, Hermann. „Holocene
vegetation and fire history of the Serra do Caparaó, SE Brazil“, The Holocene vol.22,
no.11, 2012, pp. 1243-1250.
23 PESSENDA et al., 2009, op. cit.
24 GARCIA, Maria J., DE OLIVEIRA, Paulo E., SIQUEIRA, Eliane de, FERNANDES,
Rosana S. „A Holocene vegetational and climatic record from the Atlantic rainforest
belt of coastal State of São Paulo, SE Brazil“, Review of Palaeobotany and Palynology
vol.131, 2004, pp. 181-199.
25 HORÁK-TERRA, Ingrid, CORTIZAS, Antonio M., LUZ, Cynthia F.P.da, LÓPEZ,
Pedro R., SILVA, Alexandre C., VIDAL-TORRADO, Pablo. „Holocene climate change
in central-eastern Brazil reconstructed using pollen and geochemical records of Pau
de Fruta mire (Serra do Espinhaço Meridional, Minas Gerais)“, Palaeogeography,
Palaeoclimatology, Palaeoecology vol.437, 2015, pp. 117-131.
Metamorfoses florestais 53
Da província ao bioma:
Representações da Mata Atlântica*
Leonardo Castro
Escola Nacional de Saúde Pública – Fiocruz
Metamorfoses florestais 55
Para os efeitos desta Lei, consideram-se integrantes do Bio-
ma Mata Atlântica as seguintes formações florestais nativas
e ecossistemas associados, com as respectivas delimitações
estabelecidas em mapa do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística - IBGE, conforme regulamento: Floresta Ombró-
fila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada
de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta
Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, bem
como os manguezais, as vegetações de restingas, campos de
altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste.
A tradição geográfica
Matas e Campos
A definição “abrangente”
Metamorfoses florestais 63
lia, o chamado “pinheiro-do-paraná”. Com efeito, a extração da arau-
cária, assim como de outras espécies nativas, foi um dos motores prin-
cipais da ocupação dos estados do Paraná e de Santa Catarina; a sua
exploração ainda constituía um fator relevante da economia local. O
principal foco de crítica ao PL provinha do lobby das indústrias madei-
reiras e moveleiras e, não por acaso, seus principais porta-vozes eram
deputados eleitos pelo estado de Santa Catarina. Outros interesses,
ligados à indústrias de mineração e à grande produção rural, uniram-se
a esses segmentos para inviabilizar o PL da Mata Atlântica, através do
questionamento das definições geográficas adotadas, pela obstrução
do processo de tramitação no Congresso ou, ainda, por meio de ten-
tativas de descaracterização das medidas de regulação preconizadas.38
A definição de Mata Atlântica com base nas classes e tipos de
vegetação utilizados pelo IBGE surge de forma pública, pela primeira
vez, em um seminário promovido pela Fundação SOS Mata Atlântica,
em 1990, na cidade de Atibaia, estado de São Paulo, a “Reunião Na-
cional sobre a Proteção dos Ecossistemas Naturais da Mata Atlânti-
ca”, também conhecida como Workshop Mata Atlântica. Conforme os
anais do evento:
Lutas de classificação
Metamorfoses florestais 65
na esfera do Estado – sem dúvida conveniente em se tratando de me-
didas de proteção legal. É o momento de nos debruçarmos, mesmo
que rapidamente, sobre este mapa. O sistema de classificação do IBGE
foi criado por Henrique Pimenta Veloso e colaboradores, no bojo de
um grande projeto de levantamento de recursos naturais iniciado no
início da década de 1970, no período mais repressivo do regime mili-
tar: o projeto RADAM, posteriormente RADAMBRASIL44. Em sua fase
final, em meados da década seguinte e já em meio ao processo de re-
democratização, o projeto foi repassado ao IBGE, que incorporou não
somente os dados produzidos como também os quadros analíticos em
que os dados foram categorizados. O sistema de Veloso e colaborado-
res foi construído a partir de uma chave classificatória universal, ela-
borada com base em um esboço apresentado à UNESCO por Ellenberg
e Mueller-Dombois, em meados da década de 1960,45 e estaria funda-
mentado em um grande conjunto de dados florísticos e fitofisionômi-
cos, mas também geomorfológicos, climatológicos e pedológicos, ob-
tidos através de instrumentos diversos, desde a utilização de imagens
de radar até inspeção de campo.46
Deve-se observar que, ao contrário do Mapa de Vegetação
de 1988 e seus sucedâneos, os mapas de vegetação gerados pelo
RADAMBRASIL, em escala 1:250.000, não apresentam a cobertura
vegetal “primitiva”, pré-colombiana; circunscrevem também as áreas
antrópicas, classificadas segundo o tipo de uso. Como dito acima, os
mapas do RADAMBRASIL foram elaborados a partir de extensivos le-
vantamentos aerofotogramétricos e estudos de campo. Destes dados
foram deduzidas as formações da cobertura vegetacional “original”
do atual território brasileiro, que, por sua vez, informam os mapas de
vegetação do IBGE. Trata-se, portanto, de uma reconstrução.47 Para
a Amazônia, onde esses levantamentos foram iniciados ainda nos
primeiros anos da década de 1970, os resultados ainda podem ser
confrontados com a realidade existente. Com relação à Mata Atlânti-
ca, porém, trata-se de uma reconstrução que, para grande parte das
áreas, é hipotética, pois já não haveria muitos remanescentes repre-
sentativos da condição pré-colonial da vegetação nativa. Isto se apli-
ca particularmente às diversas áreas de florestas estacionais interio-
ranas, deciduais e semideciduais – que teriam ocorrido no planalto
centro-sul mineiro, por exemplo – e às matas da bacia do rio Paraná.
66 Cabral & Bustamante (orgs.)
A terminologia universal “neutra”, sem recurso a toponí-
mias, expressões regionais ou tradicionais, referida exclusivamente
a características estruturais das formações vegetais, deu margem à
reelaboração das categorias para a produção de um conceito inova-
dor de Mata Atlântica cujo artífice foi Ibsen Câmara. Entretanto, este
conceito de Mata Atlântica, nestes moldes é, na verdade, estranho
aos propósitos da classificação utilizada pelo IBGE. Aquilo que mapas
posteriores iriam delimitar como sendo o “bioma” ou o “domínio” da
Mata Atlântica tem correspondência com determinadas formações as-
sinaladas no mapa do IBGE, mas são lógicas classificatórias distintas.
Sobretudo, os biomas reintroduzem a terminologia “regionalista” que
Veloso e colaboradores, firmemente ancorados na tradição “universa-
lista”, desejavam banir.48
Sem dúvida, a classificação em biomas se impôs àquela dos
tipos de vegetação em razão dos interesses relacionados com a preser-
vação e, sobretudo, das disputas em torno da área de abrangência, du-
rante a tramitação da Lei da Mata Atlântica. Esses interesses encontra-
vam-se organizados, principalmente, nas organizações não-governa-
mentais ambientalistas, mas seus representantes ocuparam posições
estratégicas também no âmbito do Estado. Dois integrantes do grupo
inicial da Fundação SOS Mata Atlântica eram os titulares da Secreta-
ria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente em
momentos importantes deste processo: João Pedro de Oliveira Costa,
no governo Fernando Henrique Cardoso – quando da realização dos
seminários sobre conservação da biodiversidade “por bioma” – e João
Paulo Capobianco, no governo Lula, quando da publicação do Mapa de
Biomas do Brasil. A lógica classificatória dos biomas encontrou, assim,
em um primeiro momento, uma plataforma avançada na Política Na-
cional da Biodiversidade para, em seguida, através de um projeto de
cooperação entre o Ministério do Meio Ambiente e o IBGE, consolidar-
-se como classificação oficial, sancionada pelo Estado.
Paleoclimas
Metamorfoses florestais 67
Plano de Ação para a Mata Atlântica. Como foi visto, a tradição fitogeo-
gráfica, desde Martius, identificou e individualizou as matas úmidas das
cordilheiras costeiras, ainda que sob denominações diversas, enquanto
as florestas mistas de araucária tenderam a ser concebidas como uma
formação diversa. Por outro lado, os dados gerados pelo RADAMBRASIL
deram ensejo a mapas de vegetação em que constam extensas faixas
de formações florestais estacionais (decíduas e semidecíduas), distintas
das formações de savana – que, juntamente com os seus “encraves” de
mata, seriam incorporadas posteriormente ao bioma Cerrado. Ibsen Câ-
mara reuniu esses três grupos – as florestas ombrófilas densas da cor-
dilheira litorânea, as florestas ombrófilas mistas de araucária do sul e as
florestas estacionais do planalto – em uma categoria única.
Câmara não se deteve nos aspectos florísticos e fisionômicos e
buscou fundamentar a unidade da Mata Atlântica em bases geoclimatoló-
gicas, a partir de uma série de considerações sobre as variações climáticas
do Pleistoceno. É amplamente aceito pelos geocientistas que o clima da
Terra vem sofrendo alterações profundas através da história, embora as
causas das variações sejam matéria de discussão. Ao que indicam os da-
dos disponíveis, o último ciclo glacial começou a declinar há cerca de 14
mil anos, quando as geleiras que cobriram boa parte da Europa e da Amé-
rica do Norte começaram a recuar. Admite-se que a última glaciação pleis-
tocênica tenha terminado há aproximadamente dez mil anos. Não houve
geleiras no território brasileiro, mas as evidências apontam para a ocor-
rência de climas mais secos e frios; supõe-se que essas variações tenham
influenciado a forma da cobertura vegetal. É provável que as florestas de
coníferas, mais resistentes às baixas temperaturas e a climas mais secos,
tenham ocupado uma extensão maior do território em comparação com
suas distribuições atuais, enquanto as formações latifoliadas, mais afei-
tas aos climas úmidos, teriam recuado para algumas áreas restritas, em
função das temperaturas mais baixas e do declínio da umidade. Como
veremos a seguir, é possível que, atualmente – considerando-se também
o impacto do antropismo – estejamos vivendo o movimento inverso, ou
seja, a lenta sucessão das matas de coníferas por formações latifoliadas.
Embora essas questões tenham ganhado grande importância,
no Brasil dos últimos quarenta anos – sobretudo a partir dos estudos de
geomorfologia climática de João José Bigarella e Aziz Nacib Ab’ Saber49
–, elas remetem a uma tradição mais antiga: a teoria da sucessão ecoló-
68 Cabral & Bustamante (orgs.)
gica, à qual se ligam os nomes do dinamarquês Eugenius Warming e dos
norte-americanos Henry Cowles e Frederic Edward Clements50. Um mar-
co na introdução desta abordagem, no Brasil, foi o curso de biogeogra-
fia ministrado pelo já mencionado Pierre Dansereau, na Faculdade Na-
cional de Filosofia da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, em 1946.51
Dansereau dedicou uma parte considerável do curso aos problemas de
paleoecologia, revisitando diversos estudos sobre a relação entre suces-
são ecológica e variações climáticas, na América do Norte. Ele chamou
a atenção para a existência de “relíquias de flutuações pós-glaciais”, nú-
cleos de vegetação morfologicamente adaptada a condições mais secas
em meio a formações atuais predominantemente úmidas, concluindo
com a observação de que “no Brasil, na Serra do Mar e da Mantiqueira,
há numerosos elementos heterogêneos, como a araucária, que indicam
uma antiga penetração de um clima mais frio.”52 A sua ocorrência, nestas
condições, poderia ser interpretada como o resultado de uma invasão
ocorrida durante o período seco do Quaternário.
A dinâmica sucessional das florestas de coníferas foi estudada
posteriormente pelo botânico catarinense Roberto Klein – citado por Câ-
mara –, que conclui ser a araucária uma “espécie pioneira” que tende a
avançar sobre formações campestres abertas, mas que não se regenera
facilmente nas florestas, sobretudo quando o ambiente torna-se dema-
siadamente sombreado. Nesse estágio, as matas de coníferas seriam
pouco a pouco invadidas por arbustos e arvoretas, até a fase sucessional
em que ocorre invasão mais intensa de espécies ombrófilas latifoliadas,
formando florestas “mistas”. Na fase subsequente, com o desapareci-
mento das últimas coníferas idosas, formar-se-ia uma floresta ombrófila
“pura”.53 Câmara resume a discussão nos seguintes termos:
Considerações finais
Metamorfoses florestais 71
simples imagens da realidade concreta, «espelhos da natureza». Ao
contrário, eles mantém uma relação extremamente complexa com a
realidade que supostamente representam. Como foi dito, a existên-
cia “conceitual” da Mata Atlântica como unidade “natural” deve-se
ao registro de uma memória social, constituída por mapas, classi-
ficações, inventários e descrições, tanto quanto à “coisa em si”. Se
é verdade que conceitos e representações são modelados a partir
da experiência concreta e do encontro sensorial com o “objeto” –
e, no caso do discurso científico, submeter este “encontro” a uma
crítica metódica torna-se uma exigência constitutiva –, ancoram-se
também em estruturas prévias da compreensão que são, sempre e
necessariamente, o legado de alguma “tradição”. Amazônia e Mata
Atlântica são “coisas” porque são também “conceitos”. Ao mesmo
tempo, tornam-se objeto de disputa, no momento em que se coloca
o imperativo prático de regular e normatizar o seu uso.
O conceito abrangente de Mata Atlântica é produto de
uma conjuntura específica. Não apenas o Estado brasileiro vivia um
processo de redemocratização, mas também as preocupações am-
bientais ganhavam mais e mais espaço na cena política, em parte
devido à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e De-
senvolvimento Sustentável, realizada em 1992, no Rio de Janeiro. A
“Rio 92” conferiu grande visibilidade aos temas sócio-ambientais e
aos movimentos sociais voltados para as questões ambientais. Foi
um momento de afirmação de um fenômeno social recente, as cha-
madas “ONGs”61, bem como de fortalecimento da política ambien-
tal na esfera do Estado, com a criação do Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). É também o momento
de afirmação de uma agenda ambiental global, com a incorporação
das pautas ambientais pelos órgãos multilaterais e agências de co-
operação internacional.62 As ONGs desempenharam um papel cada
vez mais importante, no decorrer na década de 1990, na formula-
ção e implementação de políticas públicas. Esse processo não pode
ser compreendido adequadamente se não considerarmos o influxo
da política ambiental em escala global e a presença dos organismos
multilaterais, uma dimensão determinante no caso das políticas para
a Mata Atlântica. A presença desses atores sociais é essencial para a
72 Cabral & Bustamante (orgs.)
compreensão da história do conceito abrangente de Mata Atlântica,
que é, de fato, a história de um processo social de construção de uma
categoria técnico-política, tanto quanto científica.
____________
1 R, M.C.; METZGER, J.P.; MARTENSEN, A.C.; PONZONI, F.J.; and HIROTA, M.M. “The
Brazilian Atlantic Forest: how much is left, and how is the remaining forest distributed?
Implications for conservation”. Biological Conservation, 142, 2009, pp. 1141-
1153; RIBEIRO M.C.; MARTENSEN, A.C.; METZGER, J.P.; TABARELLI, M.; SCARANO,
F.; FORTIN, M.J. “The Brazilian Atlantic Forest: A Shrinking Biodiversity Hotspot”.
In: Zachos F.E.; Habel J.C. (.). Biodiversity Hotspots: Distribution and Protection of
Conservation Priority Areas. Dordrecht: Springer, 2011, pp. 05-433. forme se adote
a delimitação do “bioma”, estabelecida pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2004, ou a da Lei da Mata Atlântica,
de 2006, verifica-se uma variação significativa da área total da Mata Atlântica, devido
aos diferentes critérios adotados para a delimitação do “bioma”: no primeiro caso, o
Bioma Mata Atlântica seria uma grande área contínua que cobriria parte do território
brasileiro; no segundo caso, abrangeria todas as áreas “florestais” não amazônicas,
inclusive formações que ocorreriam entremeadas a formações classificadas como
“savana” e outras, em meio aos biomas Caatinga e Cerrado.
2 DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica
brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
3 DEAN, Op. cit. 1996, p. 28. O primeiro mapa do livro, “A Mata Atlântica em
1500” (p. 21), apresenta a possível delimitação da floresta pré-colombiana, em
que são distinguidas somente duas “formações” florestais: “Formações latifoliares”
e “Formações de araucária” - no original inglês respectivamente: Broad-leaved
formations e Araucaria formations (ver: DEAN, Warren. With Broadax and Firebrand:
The Destruction of the Brazilian Atlantic Forest. Berkeley and Los Angeles: University
os California Press, 1995, p. 3). As notas sobre o tema são imprecisas e citam diversas
fontes diferentes (DEAN, Op. cit., 1996, p. 381, nota 4) , mas é provável que esta carta
tenha sido elaborada com base no Atlas da Evolução dos Remanescentes Florestais
da Mata Atlântica, elaborado pela Fundação SOS Mata Atlântica e publicado em
1993 (ver: FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA. Atlas da evolução dos remanescentes
florestais e ecossistemas associados do domínio da Mata Atlântica no período 1895-
1990. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica, 1993.), assim como o mapa 11,
“A Mata Atlântica em 1990” (DEAN, Op. cit., 1996, p. 363), no qual mostram-se as
pequenas manchas de “floresta sobrevivente” por sobre os padrões que identificam
as formações latifoliadas e de araucária do mapa 1. Curiosamente, Dean ignora a
nomenclatura fitogeográfica adotada pela Fundação SOS Mata Atlântica desde pelo
menos o início da década (ver: FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA. Workshop Mata
Atlântica: problemas, diretrizes e estratégias de conservação. São Paulo: Fundação
SOS Mata Atlântica, s/ data [1991]), baseada no Mapa de Vegetação do Brasil do
IBGE de 1988 (ver adiante), em favor das categorias, um tanto anacrônicas, de
Metamorfoses florestais 73
“latifoliadas” e “de araucária” - talvez porque, sendo o livro destinado a um público
internacional, o autor tenha preferido um esquema mais simples e “cosmopolita”.
4 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/
l11428.htm.
5 GONDIM, Neide. A invenção da Amazônia. São Paulo: Marco Zero, 1994. A
passagem seguinte é significativa: “Contrariamente ao que se possa supor, a Amazônia
não foi descoberta, sequer foi construída; na realidade a invenção da Amazônia se
dá a partir da construção da Índia, fabricada pela historiografia greco-romana, pelo
relato dos peregrinos, missionários, viajantes e comerciantes” (p. 9).
6 HUECK, Kurt (1972) As florestas da América do Sul: ecologia, composição e
importância. São Paulo: Polígono; Brasília: Editora UnB, 1972.
7 A Amazônia ainda demoraria a ser descoberta pelos patrícios brasileiros. É
bastante revelador, a respeito, o diálogo travado no parlamento da corte em 1888,
resgatado e resumido por Evaldo Cabral de Mello (MELLO, Evaldo Cabral de. O norte
agrário e o império: 1871 - 1889. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999. p. 15). Conforme
diz este autor: “Para os homens públicos do Império e, em grande parte, também da
República Velha, a geografia regional do Brasil era bem simples: havia as províncias,
depois estados, do norte, do Amazonas à Bahia, e as províncias, depois estados, do
sul, do Espírito Santo ao Rio Grande. Nada de nordeste, sudeste ou centro-oeste.
Quando em 1888, um representante paraense, Mâncio Ribeiro, aludiu aos ‘vastos
horizontes da Amazônia’, causou espécie na câmara. Um colega mineiro estranhou
a expressão, indagando ‘onde é essa Amazônia de que o nobre deputado tanto
tem falado’; e Coelho Rodrigues, do Piauí mas lente da Faculdade de Direito do
Recife, veio alertar severamente a assembléia contra o fato de que ‘ultimamente
vai-se acentuando, em algumas de nossas províncias, certa tendência separatista
que traduz-se nas novas denominações de ‘pátria paulista’, ‘Amazônia’ etc., que me
fazem recear também a divisão do Brasil se mudar a forma de governo’.”
8 CLEMENT, C.R.; DENEVAN, W.M.; HECKENBERGER, M.J.; JUNQUEIRA, A.B.; NEVES,
E.G.; TEIXEIRA, W.G.; WOODS, W.I. “The domestication of Amazonia before European
conquest”. Proceedings of The Royal Society B, 282: 20150813, 2015. http://dx.doi.
org/10.1098/rspb.2015.0813. Como argumentam os autores, a Amazônia teria sido um
importante centro de domesticação de plantas, com pelo menos 83 espécies nativas
em graus variados de domesticação, o que teria ocorrido em áreas significativamente
antropizadas, em que teria havido grandes assentamentos humanos.
9 Embora não tenha pisado naquilo que viria a ser o território brasileiro, Humboldt
fez extensos trabalhos de campo, nos domínios coloniais espanhóis, na América do Sul.
10 MARTIUS, Carolus Fridericus Philippus de. Tabula geographica brasiliae et
terrarum adjacentium exhibnes itinera botanicorum et florae brasiliensis quinque
provincias. In: Flora Brasiliensis enumeratio plantarum in Brasilia hactenus
detectarum quas suis aliorunque botanicorum studiis descriptas et methodo
naturali digestas partim icone illustratas. Volumen I. Pars I. Monachii: Monachii
et Lipsiae apud R. Oldenbourg in comm. 1906. O mapa consultado pertence à
edição de 1906, completa, da Flora Brasiliensis, mas o mapa em questão foi
publicado originalmente por Martius em junho de 1858, junto ao fascículo XXI da
Metamorfoses florestais 75
é o emprego de “sistemazinhos pessoais” sem nenhuma base séria universalista e
alicerçados tão somente em impressões particulares, sempre destituídos de qualquer
fundamento aceitável. Entre outros, aqui, os geógrafos persistem nesta atitude.”
(RIZZINI, Carlos Toledo. Tratado de fitogeografia do Brasil.: aspectos ecológicos,
sociológicos e florísticos. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural Edições, 1997, pp. 319-320.)
16 GUIMARÃES, Fábio Macedo Soares. “Divisão regional do Brasil”. Revista
Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, abril-junho de 1941. As “Regiões” eram:
Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Leste. A Região Sul abrangia o estado de São
Paulo e a Bahia integrava a região Leste. Este esquema seria reformulado décadas
depois, no período da ditadura militar, com a Bahia passando a integrar a região
Nordeste e São Paulo passando a compor a atual região “Sudeste”, juntamente com
os estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
17 MORAES, Op. cit. 2002. Ver também: DAOU, Ana Maria. “Tipos e aspectos
do Brasil: imagens e imagem do Brasil por meio da iconografia de Percy Lau”. In:
ROSENDAHL, Zeny; CORREA, Roberto Lobato. Paisagem, imaginário e espaço. Rio de
Janeiro: EdUERJ, 2001.
18 Pierre Bourdieu, em inúmeros trabalhos, chama a atenção para o monopólio
exercido pelo do Estado como produtor de modos de visão e divisão “legítimas”
do mundo social - e, certamente, das construções sociais do mundo “natural”. Ver,
por exemplo: BOURDIEU, Pierre. “A identidade e a representação. Elementos para
uma reflexão crítica sobre a idéia de região”. In: ____. O poder simbólico. Lisboa:
Difel, 1989, pp. 107-132. Do mesmo autor, ver, também: ____. “Espíritos de estado:
gênese e estrutura do campo burocrático”. In: ____. Razões práticas: sobre a teoria
da ação. Campinas: Papirus, 1996, pp. 91-124. Sobre a noção de eficácia simbólica,
ver o famoso artigo de Lévi-Strauss: LÉVI-STRAUSS. Claude. “A eficácia simbólica”. In:
____. Antropologia estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996, pp. 215-236.
19 PÁDUA, José Augusto. «Um país e seis biomas: ferramenta conceitual para o
desenvolvimento sustentável e a educação ambiental». In: PÁDUA, J. A. (org.).
Desenvolvimento,justiça e meio ambiente. Belo Horizonte: Editora UFMG; São
Paulo: Editora Peirópolis, 2009, pp. 118-150. Citação à p.122.
20 MARTIUS, Op. cit., 1906.
21 MARTIUS, Carolus Fridericus Philippus de. Herbarium Florae Brasiliensis. Plantae
brasilienses exsiccatae, quas denominatas partim diagnosi aut observationibus
instructas. Monachii, 1837, pp. 51 e seguintes.
22 Idem, pp. 57 e seguintes. Na verdade - o que nem sempre tem sido lembrado
pelos pósteros - estas províncias fazem parte de uma classificação mais complexa,
na qual elas são distribuídas por três grandes “impérios” florísticos: “Império
extratropical da flora paraguaia e cisandina” (Napeia), “Império da flora cisandina
tropical brasileira” (Dríades, Oreades, Hamadríades), e o “Império da flora dos
grandes rios amazônicos e oriconenses” (Naiades). Não há espaço para esmiuçar
esta chave de classificação e é difícil rastrear as fontes utilizadas por Martius em sua
elaboração. Embora a classificação de Martius seja supostamente florística, isto é,
baseada na distribuição geográfica dos táxons botânicos, é provável que, em alguns
casos, tenha feito simplesmente coincidir as regiões botânicas com as subdivisões
Metamorfoses florestais 77
dispõe sobre a proteção da Mata Atlântica”. In: Lima, A.; Capobianco, J.P. (org.).
Mata Atlântica: avanços legais e institucionais para sua conservação. Documentos
do ISA No 4. São Paulo: Instituto Socioambiental, 1997, pp. 55-62. O histórico de
tramitação pode ser consultado em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/
fichadetramitacao?idProposicao=19408. Ver também: MERCADANTE, Maurício.
“Histórico do trâmite do Projeto de Lei da Mata Atlântica na Câmara dos Deputados”.
In: LIMA, Op. cit., 2001, pp. 255-258.
35 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d750.htm.
36 CAPOBIANCO, João Paulo; LIMA, André. “A evolução da proteção legal da Mata
Atlântica”. In: Lima, A.; Capobianco, J.P. (org.). Mata Atlântica: avanços legais e
institucionais para sua conservação. Documentos do ISA No 4. São Paulo: Instituto
Socioambiental, 1997, pp. 7-16.
37 Não é possível neste espaço descrever adequadamente os diversos campos em
que se desenrolam as lutas em torno da proteção à Mata Atlântica. Além da criação, já
mencionada, da Rede de ONGs da Mata Atlântica em 1992, são momentos relevantes
o reconhecimento pela UNESCO da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, em 1991,
a criação em 1992 da Rede de Organizações Não Governamentais da Mata Atlântica,
durante a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável das
Nações Unidas, no Rio de Janeiro, contando na ocasião com quarenta entidades, e a
criação do «Sub-Programa Mata Atlântica», criado no âmbito do Programa Piloto de
Proteção às Florestas Tropicais Brasileiras (PPG7) em 1997. O PPG7 foi proposto em
reunião do grupo das sete nações mais desenvolvidas (G7) em 1990, aprovado em
1991 pela Comunidade Européia, e criado oficialmente em 1992, com gerenciamento
do Banco Mundial e do Ministério do Meio Ambiente brasileiro, mas destinava-se
inicialmente às florestas amazônicas. Os embates mais recentes e dramáticos em
torno do novo Código Florestal Brasileiro (Lei No 12.651 de 25 de maio de 2012), em
que mais uma vez ambientalistas e ruralistas se confrontaram tendo como uma das
arenas o Congresso Nacional, precisariam ser adequadamente estudados. Para um
sumário das polêmicas e disputas travadas é útil consultar o verbete correspondente
da Wikipédia (disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Novo_C%C3%B3digo_
Florestal_Brasileiro).
38 O deputado federal Hugo Biehl, eleito pelo Partido da Frente Liberal em Santa
Catarina apresentou Projeto de Lei em 1995 (PL No 69/1995) com o único objetivo
de reduzir a área de abrangência da Mata Atlântica à Floresta Ombrófila Densa. No
mesmo ano, por interferência do deputado Paulo Bornhausen, eleito pelo mesmo
partido e mesmo estado, o PL No 3.285/1992 foi encaminhado à Comissão de Minas
e Energia (sob o argumento de que teria implicações sobre a produção de lenha e
carvão na região em questão), na qual ficou retido por cerca de dois anos. Sobre isto,
ver: CAPOBIANCO, J.P.; LIMA, Op. cit, 1997; MERCADANTE, M. Op. cit., 2001.
39 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA. Workshop Mata Atlântica: problemas,
diretrizes e estratégias de conservação. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica, s/
data [1991], p. 64 (grifos nossos).
40 CÂMARA, Ibsen de Gusmão. Plano de ação para a Mata Atlântica. São Paulo:
Fundação SOS Mata Atlântica, 1991. Para um esboço da trajetória conservacionista
e científica de Ibsen Câmara, ver a entrevista e perfil traçados em: URBAN, Teresa.
Metamorfoses florestais 79
Manual Técnico da Vegetação Brasileira: BRASIL. MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO,
ORÇAMENTO E GESTÃO. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS. COORDENAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS E
ESTUDOS AMBIENTAIS. Manual técnico da vegetação Brasileira. Rio de Janeiro:
IBGE, 2012. Disponível em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/documentos/recursos_naturais/
manuais_tecnicos/manual_tecnico_vegetacao_brasileira.pdf
46 VELOSO. Henrique Pimenta; GÓES FILHO, Luiz. “Fitogeografia brasileira: classificação
fisionômica ecológica da vegetação neotropical”. Boletim Técnico do Projeto
RADAMBRASIL, Série Vegetação, Nº 1, 1982. VELOSO, Henrique Pimenta; RANGEL FILHO,
Antonio Lourenço Rosa; LIMA, Jorge Carlos Alves. Classificação da vegetação brasileira,
adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro: Ministério da Economia, Fazenda
e Planejamento, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Diretoria de
Geociências, Departamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais, 1991.
47 URURAHY, José Cláudio Cardoso; COLLARES, José Enilcio Rocha; SANTOS,
Manoel Messias e BARRETO, Rubens Antonio Alves. (1983) “Vegetação: as regiões
fitoecológicas, sua natureza e seus recursos econômicos: estudo fitogeográfico”.
In: BRASIL. MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA, SECRETARIA GERAL. Projeto
RADAMBRASIL. Levantamento de recursos naturais volume 32 folhas SF.23/24, Rio
de Janeiro-Vitória. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1983,
pp. 553-623. Ver especialmente o item 4.4.4, “vegetação remanescente como fator
de reconstituição” (pp. 573-4).
48 “A fitogeografia deveria seguir os mesmos conceitos filosóficos das outras
ciências da natureza, como por exemplo: as classificações pragmáticas da lógica
científica, em que o sistema de chaves binárias dos conceitos prioritários prevalece
na nomenclatura geológica, pedológica, botânica e zoológica. Assim, a nomenclatura
terminológica é a mesma em todos os continentes e países. [ ... ] Mas a nomenclatura
do sistema vegetal tem variado conforme cada autor e de acordo com o país de
origem, onde se procurou sempre uma designação regionalista sem levar em conta
a prioridade da fisionomia ecológica semelhante de outras partes do planeta.”
(VELOSO et al, Op. cit., 1991, P. 13). Neste mesmo trabalho, os autores fazem críticas
severas às tentativas de classificação anteriores que utilizam termos como “caatinga”,
“cerrado” etc (idem, pp. 17-18).
49 CHRISTOFOLETTI, Antônio. “A geomorfologia no Brasil. In: FERRI, Mário
Guimarães e MOTOYAMA, Shozo (org.). História das ciências no Brasil. São Paulo:
EPU; Editora da Universidade de São Paulo, 1980, p. 231.
50 ACOT, Pascal. História da Ecologia. Rio de Janeiro: Campus, 1990. WORSTER,
Donald. Nature’ s economy: a hitory of ecological ideas. New York: Cambridge
University Press, 1994. Warming esteve no Brasil ainda muito jovem, entre 1863 e
1866 - tinha apenas vinte e um anos ao chegar - e viria a se tornar um cientista
“revolucionário”. Em 1895 publicou um trabalho que tornou-se um clássico - em
alemão, com o título Plantesamfund - e tornou-o pioneiro da teoria da sucessões
ecológicas. A passagem pelo Brasil deu origem a uma monografia extremamente
importante para as ciências brasileiras - ver: WARMING, Eugenio. Lagoa Santa:
contribuição para a geographia phytobiologica. Bello Horizonte: Editora Official do
Estado de Minas Geraes, 1908. O botânico sueco C. A. M. Lindman, citado acima,
Metamorfoses florestais 81
ambientais nos países “em desenvolvimento” - viria a desempenhar um papel
proeminente na política ambiental no Brasil, através de projetos como o Programa
Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7) e o Projeto de
Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO),
por meio do qual foram realizados os workshops referidos acima, de identificação de
áreas prioritárias para conservação no âmbito da Política Nacional de Biodiversidade.
* Este capítulo baseia-se, em grande parte, na tese defendida pelo autor junto ao
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, há alguns anos: CASTRO, Leonardo. Da biogeografia à
biodiversidade: políticas e representações da Mata Atlântica. Tese de Doutoramento.
Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, Programa
de Pós-graduação em Antropologia Social, 2003. Algumas atualizações e correções
foram introduzidas, sem acarretar alterações a de reiterar os agradecimentos ao
meu orientador, José Sergio Leite Lopes. Como é usual (e necessário!) registrar, erros,
lacunas e omissões são de responsabilidade exclusiva do autor.
Mundos paleoindígenas
Os habitantes pré-coloniais da
Mata Atlântica Nordestina
Carlos Etchevarne
Universidade Federal da Bahia
Metamorfoses florestais 97
mentos, o movimento migratório se orientou seguindo ambientes
de floresta tropical, como os de Mata Atlântica.
Astolfo G. M. Araujo
Museu de Arqueologia e Etnologia – USP
O futuro, um mistério
_____________
1 QUEIROZ, Dinah Silveira. A muralha. São Paulo: José Olympio, 1954.
2 PARENTI, F. 2001. Le Gisement Quaternaire de Pedra Furada (Piauí, Brésil)
- Stratigraphie, Chronologie, Évolution Culturelle. Éditions Recherche sur les
Civilisations. Ministére des Affaires Étrangères.
3 ARAUJO, A.G.M. 2013. Geomorfologia e paleoambientes no leste da América do
Sul: implicações arqueológicas. In: Rubin, J.C., Silva, R.T. (Orgs.) Geoarqueologia. 1ed.
Goiania: Editora da PUC Goiás, p. 135-180.
4 LEDRU, M.-P.; MOURGUIART, P.; RICCOMINI, C. 2009. Related changes in
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5 BEHLING, H., 1997. Late Quaternary vegetation, climate and fire history from
the tropical mountain region of Morro de Itapeva, SE Brazil. Palaeogeography
Palaeoclimatology Palaeoecology 129:407– 422; BISSA, W.M.; MIKLÓS, A.A.;
MEDEANIC, S.; CATHARINO, E.L.M. 2013. Palaeoclimatic and palaeoenvironmental
changes in the Serra de Botucatu (Southeast Brazil) during the Late Pleistocene and
Holocene. Journal of Earth Science & Climatic Change 4:134.
6 Idades radiocarbônicas mais antigas: 9,250 ± 50 AP e 8.860 ±60 AP, vide Figuti et
al. 2013. Idades calibradas pelo programa CalPal em 10.420 e 9.970 ±150 calAP. Ver
WENINGER B., JÖRIS O., DANZEGLOCKE U. 2012. CalPal-2007. Cologne radiocarbon
A pesquisa de campo
Prospecção
_____________
1 BEHLING, H. “Late Quaternary vegetational and climatic changes in Brazil”. Review
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2 FARIAS, D. S. E. Distribuição e padrão de assentamento – Propostas para Sítios
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Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
3 DEBLASIS P., KNEIP A., SCHEEL-YBERT R., GIANNINI P.C., GASPAR M.D. “Sambaquis
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P. Relatório de pesquisa do Sitio Galheta IV, Laguna – SC – UNISUL, 2007; FARIAS, D.
S. E.; DEBLASIS, P.; KNEIP, A. ; PERIN, E. B. Monitoramento, Salvamento, Educação
Patrimonial e Valorização dos Sítios Arqueológicos localizados na Área Diretamente
Afetada da Rodovia SC-487, Trecho Barra do Camacho. Jaguaruna – SC, 2008;
MILHEIRA, R.G. Arqueologia Guarani no litoral sul-catarinense: história e território.
Tese de doutorado. São Paulo: MAE/USP, 2010.
4 PIAZZA, W. As grutas de São Joaquim e Urubici. Florianópolis: Universidade Federal
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5 FARIAS, D. S. E. Diagnóstico arqueológico pré-histórico na área de implantação
da linha de transmissão de energia - PCH Barra do Rio Chapéu, Municípios Rio
Fortuna e Braço do Norte – SC, 2008; FARIAS, D. S. E. Levantamento Prospectivo,
Monitoramento Arqueológico e Educação Patrimonial - LT 69 kV Barra do Rio Chapéu
- Braço do Norte SC, 2008; CAMPOS, J. B. Relatório Final de Programa de Arqueologia
Preventiva na PCH Barra do Rio Chapéu. Portaria n° 124, publicada no Diário Oficial
da União no dia 11 de abril de 2007. 2011; CAMPOS, J. B. Diagnóstico Arqueológico
Interventivo e Educação Patrimonial Para a Implantação da CGH Santa Maria.
Processo IPHAN 01510.002824/2013-50. Diário Oficial da União Portaria nº 6, de 13
de fevereiro de 2014. Publicada no dia 14 de fevereiro de 2014. São Bonifácio – SC,
2014; DEMASI, M. A. N. Projeto de salvamento arqueológico – PCH Capivari – SC.
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1 SOUZA, J. B. O Pau-Brasil na História Nacional. Rio de Janeiro: Companhia Editora
Nacional, 1999 [1939], 241.
2 LIMA, H. C., et al. “Pau-Brasil: uma biografia”. In: BUENO, Eduardo. Pau-Brasil.
São Paulo: Axis Mundi Editora, 2002 (39-76), 42; BARRETO, Cristiane Gomes.
Devastação e Proteção da Mata Atlântica nordestina: formação da paisagem e
políticas ambientais. Tese de Doutorado. Centro de Desenvolvimento Sustentável.
Universidade de Brasília, 2013, 16.
3 PRADO JÚNIOR, C. História e desenvolvimento: a contribuição da historiografia
para a teoria e prática do desenvolvimento brasileiro. São Paulo: Brasiliense,
1989; FERLINI, V. L. A. “A Depredação da Natureza Começou no Descobrimento”.
Revista Pau Brasil, 8 (II): 9-13, 1985; DEAN, Warren. A ferro e fogo. A história e a
devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Cia das Letras, 1996; ROCHA,
Y. T. Ibirapitanga: história, distribuição geográfica e conservação do paubrasil
(Caesalpinia echinata Lam., Leguminosae) do descobrimento à atualidade. (Tese de
Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004; SOUZA, 39.
4 Os números de Yuri Rocha são mais modestos: entre o século XVI e XVII teriam
sido extraídas na Mata Atlântica brasileira 91.243 toneladas de pau-brasil. Isto cor-
responde a aproximadamente 6.082.967 toras de 1,30 m, tendo sido cortadas em
torno de 527.182 árvore de 15 m de altura (ROCHA, 2004); DEAN, 64-65; SOUZA.
5 GÂNDAVO, P. de M. Tratado da terra do Brasil. Rio de Janeiro: Edição do Annuário do
Metamorfoses florestais 171
Brasil, 1924; SOUSA, Gabriel S. Tratado descritivo do Brasil em 1587. São Paulo: Hedra,
2010; SALVADOR, F. V. História do Brasil. Em que se trata do descobrimento do Brasil,
costumes dos naturais, aves, peixes, animais e do mesmo Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca
Nacional, 1889 [1627]; Diálogos das grandezas do Brasil. São Paulo: Melhoramentos,
1977; FERRAZ, A. L. Pereira. Terra da Ibirapitanga. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1939; Souza, 1999; Lima et. all, 2002; Barreto, 2013: ROCHA, Y. T. “Distribuição Geográfica
e Época de Florescimento do Pau-Brasil (Caesalpinia echinata LAM. - Leguminosae)”.
Revista do Departamento de Geografia - USP, 20 (2010): 23-36, 2010.
6 Ao longo do período colonial, o território correspondente ao atual estado da
Bahia, na sua faixa litorânea, perfazia três capitanias distintas: a da Bahia, a de
Ilhéus e a de Porto Seguro. Em 1761, as duas últimas, até então donatarias privadas,
foram incorporadas ao patrimônio da Coroa, constituindo-se, a partir de então,
como comarcas da capitania da Bahia. Neste texto por vezes se usará a expressão
“capitanias do sul” para se referir ao território correspondente a estas duas últimas
capitanias ou comarcas, o qual, grosso modo, se estendia, de norte a sul, do rio
Jequiriçá, que deságua um pouco ao norte do Morro de São Paulo, ao rio São Mateus
(antigo Cricaré), atualmente no litoral norte do Espírito Santo.
7 LIMA, H. C., et al., 67-69; GUEDES, Maria L. S. et. all. “Breve incursão sobre a
biodiversidade da Mata Atlântica”. In: FRANKE, C. R.; ROCHA, P. L. B. da; KLEIN, W.;
GOMES, S. L. (orgs.). Mata Atlântica e biodiversidade. Salvador: Edufba, 2005, (39-
92), 55; ROCHA, 2010, 24.
8 LIMA, H. C., et All., 69; SAMBUICHI, Maria H. R.; MIELKE, Marcelo S; PEREIRA,
Carlos E. Nossas árvores: conservação, uso e manejo de árvores nativas no sul da
Bahia. Ilhéus: Editus, 2009, 231.
9 Uma inspiradora discussão sobre os domínios da história ambiental, tendo a Mata
Atlântica no período colonial como objeto, encontra-se em: CABRAL, Diogo de C. Na
presença da floresta: Mata Atlântica e história colonial . Rio de Janeiro: Garamond,
2014. Sobre os três níveis de investigação da história ambiental, ver: WORSTER,
Donald. “Para Fazer História Ambiental”. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol.
4, n. 8, 1991, 198-215.
10 MAGALHÃES, Joaquim R. “O reconhecimento da costa”. In: Oceanos. Lisboa:
CNCDP, n.39, jul-set 1999, p. 102-112; GUEDES, Max J. O descobrimento do Brasil.
Rio de janeiro: IHGB, s/d, 33-40 (ver o mapa n. 3); FERRAZ, 1939, p. 41 (na nota 18 o
autor aponta diferentes versões sobre a identificação do rio do Brasil); a notícia de
Anchieta é citada por SOUZA, 120; CALMON, Pedro. História do Brasil. Século XVI: as
origens (vol. I, 2ª Ed.). Rio de Janeiro: José Olympio, 1963, 122, 137; GUEDES, Max J.
“La terre du Brésil: contrabando e conquista”. In: BUENO, Eduardo. Pau-Brasil. São
Paulo: Axis Mundi Editora, 2002 (141-168), 150.
11 CALMON, 168-171, 194; FERRAZ, 83-84; SOUZA, 64; CAMPOS, João da Silva.
Crônicas da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. Ilhéus: Editus, 2006, 17-25; COELHO
FILHO, Luis W. A Capitania de São Jorge e a década do açúcar (1541-1550). Salvador:
Vila Velha, 2000, 61; TAVARES, Luis H. D. História da Bahia. Salvador: Edufba, 2001
(10ª Ed.), 90-94.
12 COELHO FILHO, 138-140; PINHO, Wanderley. Aspectos da história social de
cidade do Salvador, 1549-1650. Salvador: Prefeitura de Salvador, 1968, 205-206;
SOUSA, 2010, 62-65.
13 NÓBREGA, M. Cartas do Brasil. 1549-1560. Rio de Janeiro: Oficina Industrial
Graphica, 1931 [1551], 201.
____________
1 DIAMOND, Jared. Armas germes e aço: os destinos das sociedades humanas.
Rio de Janeiro: Record, 2008. CROSBY, Alfred. Imperialismo ecológico: A expansão
biológica da Europa 900-1900. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
2 DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica
brasileira. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
3 QUAMMEN, David. O canto do dodô: biogeografia de ilhas numa era de extinções.
São Paulo: Companhia das letras, 2008, p. 157.
4 ODUM, Eugene P. Fundamentos de Ecologia. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2004.
5 QUAMMEN, O canto do Dodô, p. 157.
6 “Gabriel Soares de Sousa, nascido em Portugal pelos anos de 1540, veio para o
Brasil pelos de 1565 a 1569. Na Bahia estabeleceu-se como colono agrícola. Ali casou
e prosperou a ponto de nos dezessete anos de estada se fazer senhor de um engenho
de açúcar, e abastado, como do seu testamento se depreende. Ganhando com a
fortuna posição, foi dos homens bons da terra e vereador da Câmara do Salvador.
Um irmão seu que, parece, o precedera no Brasil havia feito explorações no sertão de
São Francisco, onde presumira haver descoberto minas preciosas. Falecido ele, quis
Gabriel Soares prosseguir as suas explorações e descobrimentos. Com este propósito
passou à Europa em 1584, a fim de solicitar da Corte da Madri autorização e favores
para o seu empreendimento de procura e exploração de tais minas. Por justificar os
seus projetos e requerimentos, e angariar-se a boa vontade dos que podiam fazer-lhe
as graças pedidas, nomeadamente do Ministro D. Cristóvão de Moura, redigiu nos
quatro anos de 1584 a 1587 o longo memorial, como ele próprio lhe chamou, que
conservado inédito até o século passado, foi nele publicado sob títulos diferentes,
o qual constitui uma verdadeira enciclopédia do Brasil à data da sua composição.”
VERÍSSIMO, José. História da Literatura brasileira. Domínio Público, Editado pela
Fundação Bibliotec Nacional.
7 SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil. São Paulo: Brasiliana,
1971, p. 170.
Viu, aqui. Essa área de roça mesma aqui. Aqui pode em qual-
quer momento nascer um pé de dendê. Pode a qualquer mo-
mento em algum lugar que nasce um pé dendê. Pode ser que
o urubu, pode ser o bicho do mato, vem coloco um coco aí,
nasce um pé de dendê. Não precisa plantar nem adubar nada
disso, ele fica aí e nasce e cresce, coloca a cacho bonito, sem
precisar muito cultivo. Porque a terra aqui é propícia. O clima
é propício bastante para dendê mesmo.56
Conclusões
Considerações finais
___________
1 BAKEWELL, Peter. “A mineração na América espanhola colonial”. In: BETHELL,
Leslie (org.). História da América Latina: América Latina Colonial. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre Gusmão, 2008, p.109.
2 ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Pluto brasiliensis. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia;
São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1979,vol.1, p.32.
3 Rocha matriz é aquela que dá origem aos solos. Mediante sua desagregação pela
ação dos agentes do intemperismo, na zona superficial ou em pequena profundidade
da litosfera, há a formação da matéria prima que dá origem aos solos. CASTRO, Bruno
Almeida Cunha de. “Pedologia: formação e desenvolvimento dos solos”. Disponível em:
file:///C:/Documents%20and%20Settings/Owner/My%20Documents/Downloads/
Pedologia.pdf. Acesso em: 10/09/2015.
4 ESCHWEGE. Pluto brasiliensis, p.32; REIS, Flávia Maria da Mata. Entre faisqueiras,
catas e galerias: explorações do ouro, leis e cotidiano nas Minas do século XVIII
(1702-1762). Dissertação (Mestrado em História). Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2007, p.98.
Conclusão
___________
1 Termo utilizado para definir um complexo colonial situado na porção litorânea
da Capitania da Bahia compreendida, grosso modo, entre o Recôncavo e a Vila de
Ilhéus, caracterizado por estruturas administrativas relativamente presentes, um
ambiente natural extraordinariamente diversificado, territorialmente integrado por
um diversificado sistema fluvial, com localização geográfica estratégica e posição
náutica oportuna para o estabelecimento de íntimas relações no mundo atlântico e
política e economicamente oportuna à política régia para o mundo colonial.
2 CASTRO, Carlos F. de Abreu. Gestão florestal no Brasil Colônia. Tese de Doutoramento.
Brasília-DF: Universidade de Brasília, 2002.
3 SANTOS, Margaret Ferreira dos. “Manifestações pela Conservação da Natureza no
Brasil (1784-1889)”, Revista Uniara, nº 16, 2005. p. 16.
4 DEAN, Warren. “A Botânica e Política Imperial: a introdução e a domesticação de
plantas no Brasil”, Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 4, nº 8, 1991, p. 216-
228.
5 Cf. MAURO, Frédéric. “Political and Economic Structures of Empire”. In: BETHELL,
Leslie (ed.). Colonial Brazil. Cambridge: Cambridge UP, 1987, p.51.
6 LAPA, José R. do A. A Bahia e a Carreira da Índia. São Paulo: Cia Editora Nacional,
1968, p. 02.
7 DEAN, Warren. A Ferro e Fogo. A história e a devastação da Mata Atlântica brasileira.
São Paulo: Cia das Letras, 1996; MILLER, Shawn William. Fruitless Trees – Portuguese
Conservation and Brazil’s Colonial Timber. Stanford: Stanford University Press, 2000.
8 MILLER, Fruitless Trees, p. 04.
9 DIAS, Marcelo Henrique. “A Floresta Mercantil: exploração madeireira na capitania
de Ilhéus no século XVIII”, Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 30, nº 59, p.
196, 2010.
10 As feitorias consistiam em unidades de cortes abertas em locais estratégicos nas
matas, contendo uma estrutura administrativa própria e obedecendo às instruções
do inspetor das Madeiras.
11 DIAS, Marcelo Henrique. Economia, Sociedade e Paisagens da Capitania e Comarca
de Ilhéus no período Colonial.. Tese de Doutoramento. Niterói: Universidade Federal
Fluminense. 2007, Capítulo V.
12 Memória sobre os cortes de madeira de Domingos Alves Branco Muniz Barreto...
Antropoceno
Com açúcar e sem afeto:
A cana e a devastação da Mata Atlântica nordestina
___________
1. VELOSO, H. P., et al. Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema
universal. Rio de Janeiro: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
IBGE, pp.124.
2. Para justificar a pouca atenção dada em seu livro ao “extremo norte da floresta
[atlântica], acima dos treze graus,” Warren Dean, por exemplo, mencionou as “fontes
dispersas e inacessíveis”, a “multiplicidade de jurisdições políticas”, as “distâncias
imensas e restrições orçamentárias”, fatores que atrasaram ou impediram a coleta
das fontes. DEAN, Warren. A Ferro e Fogo: a História e a Devastação da Mata
Atlântica Brasileira. São Paulo: Cia das Letras, pp. 484, p. 28.
3. BARRETO, C.G. Devastação e Proteção da Mata Atlântica nordestina: formação da
paisagem e políticas ambientais. Tese de doutoramento. Centro de Desenvolvimento
Sustentável. Brasília: Universidade de Brasília, 2013.
4. TOLLENARE, L.F., “Notas Dominicaes Tomadas Durante uma Viagem em Portugal
e no Brasil em 1816, 1817 e 1818”, Revista do Instituto Archeológico e Geographico
Pernambucano, vol. 61, no. 1905 [1818], p. 19-296; KOSTER, H., Viagens ao Nordeste
do Brasil. 1942 [1816], Companhia Editora Nacional: São Paulo; ROGERS, T.D. The
Deepest Wounds. A Labor and Environmental History of Sugar in Northeast Brazil.
2010: The University of North California Press, pp. 302.
5. GRAHAM, M. Diário de Uma Viagem ao Brasil. Vol. 157. 1990, São Paulo: EDUSP,
pp. 423, p. 24.
6. RODRIGUES, J.H. “A Revolução Industrial Açucareira. Os Engenhos Centrais”, Brasil
Açucareiro, vol. 27, no. 2, 1946, p. 81-86; CARVALHO, Z.C. Doce Amargo: Produtores
de Açúcar no Processo de Mudança. Pernambuco, 1874-1941. 2001, São Paulo, SP:
Annablume; DIEGUES JR, M. “As Centrais em Pernambuco Vistas por Um Francês”,
Brasil Açucareiro, Abril, 1948, pp. 95-97.
7. DE CARLI, G. O Processo Histórico da Usina em Pernambuco. Rio de Janeiro: Irmãos
Pongetti Editores, pp. 179.
8. SETTI, J.B. Ferrovias no Brasil: um século e meio de evolução. Memória do Trem;
PERES, G. “Cem Annos de Vida Economica em Pernambuco.” Livro do Nordeste.
Comemorativo do Primeiro Centenário do Diário de Pernambuco, Officinas do
Diário de Pernambuco: Recife, pp. 98-101; FREITAS, M.P., M.E.L. FREIRE e M.S.
FARIA. Os caminhos do açúcar em Pernambuco: reflexões sobre a relação espacial e
Figura 1 – Paisagem típica da bacia do Una (Taubaté, SP). A porção plana do fundo
de vale corresponde a um baixo terraço sustentado por depósitos antropogênicos
da aloformação Rio Una. Fonte: arquivo pessoal do autor, 2014.
Depósitos antropogênicos
Depósitos
tecnogênico-
Terreno sedimentares
tecnogênico induzidos de
sedimentar aluvial tipo aluvial, ou
tecnogênico-
aluviais. Formações
antrópicas
Depósitos induzidas
Terreno tecnogênicos-
tecnogênico sedimentares
sedimentar induzidos de
Terreno tecnogênico de
tipo coluvial, ou
Formações superficiais
coluvial tecnogênico-
coluviais.
Depósitos
tecnogênicos Formações
remobilizados antropizadas;
Agradação
Depressões de
subsidência
Terreno criadas por
movimentado ou processos -
afundado induzidos
(dolinas, poços,
sumidouros,
Tecnogênico de
depressões)
Superfícies
Degradação
de escavação
(cortes de
Terreno
antropizadas;
Modificado
Horizontes sedimentos
Terreno geoquímicos
Terreno
geomecanica- de solo
secundários.
Solos
de depósito.
Tecnogênico misto
agradativos,
degradativos ou
modificadores.
O contexto geoambiental
Considerações finais
_____________
1 PELOGGIA, Alex U.G. “Camadas que falam sobre o ser humano, caso encontrem
arqueólogos e geólogos que as escutem: rumo a uma arqueogeologia interpretativa
dos depósitos antropogênicos”. In: Ortega, Any M. e Peloggia, Alex U.G. (orgs.)
Entre o arcaico e o contemporâneo: ensaios fluindo entre arqueologia, psicanálise,
antropologia e geologia. São Paulo: Iglu, 2015, pp. 189-221.
2 MONTEIRO LOBATO, José B. Cidades Mortas. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1977,
p. 5.
3 CUNHA, Euclides. “Entre as Ruínas”. In: Contrastes e Confrontos. Rio de Janeiro:
Record, 1975, p. 193.
4 Idem, p. 194.
5 PELOGGIA, Alex U.G. O significado arqueológico dos depósitos tecnogênico-
aluviais da bacia do rio Una (Taubaté, SP). Anais da II Semana de Arqueologia da
Unicamp (Revista de Arqueologia Pública, v.9, n.3(13), 2015, pp. 207-219).
6 MARQUESE, Rafael B. A paisagem da cafeicultura na crise da escravidão: as
pinturas de Nicolau Facchineti e Georg Grimm. Revista do IEB, n.44, 2007, pp. 51-76;
NOVAES, Adriano. A paisagem da fazenda cafeeira através da iconografia no século
XIX. In: Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense. Rio de Janeiro:
INEPAL; Instituto Cidade Viva; Instituto Light, 2010, pp. 399-414; LEVY, Carlos R.M.
Johann Geog Grimm e as fazendas de café. In: Inventário das Fazendas do Vale do
Paraíba Fluminense. Rio de Janeiro: INEPAL; Instituto Cidade Viva; Instituto Light,
2010, pp. 1-30.
7 NOVAES, op. cit.
8 PELOGGIA, Alex U.G.; OLIVEIRA, Antonio M.S.; OLIVEIRA Adriana A.; SILVA Erika
N. NUNES, João O.R. “Technogenic geodiversity: a proposal on the classification of
artificial ground”. Quaternary and Environmental Geosciences 5 (1), 2014, pp. 28-
40; PELOGGIA, Alex.U.G.; SILVA, Erika.C.N.; NUNES, João.O.R. (2014b). Technogenic
landforms: conceptual framework and application to geomorphologic mapping
of artificial ground and landscape as transformed by human geological action.
Quaternary and Environmental Geosciences 5 (2), 2014, pp. 67-81.
9 PELOGGIA et al., “Technogenic geodiversity”, op. cit.; JAMES, L. Allan. Legacy
sediment: definitions and processes of episodically produced anthropogenic
sediment. Anthropocene 2, 2013, pp. 16-26.
10 ERHART, Henri. La genèse des sols em tant que phenomène géologique. Paris:
______________
1 OLIVEIRA, R. R. “Mata Atlântica, paleoterritórios e história ambiental”, Ambiente
& Sociedade. vol. X, no. 2, 2007, pp. 11-23.
2 TANSLEY, A. G. “The use and abuse of vegetational concepts and terms”, Ecology
vol. 16, 1935, pp. 284-307.
Christian Brannstrom
Texas A&M University
Tradução: A. G. Bustamante
Revisão técnica: D. C. Cabral
Figura 4 – Capital das serrarias do Estado de São Paulo por município, 1935. Um
conto é equivalente a 1.000 mil-réis (1$000, ou aproximadamente $27 em 1935).
Dados sobre serrarias de São Paulo. Estatistica industrial do Estado de São Paulo,
anno de 1935. São Paulo, Typ. Siqueira, 1937. Dados de ferrovias obtidos em Saes,
F.A.M. As ferrovias de São Paulo, 1870-1940. São Paulo: Hucitec, Instituto Nacional
do Livro, 1981, e Matos, O.N. Café e ferrovias: A evolução ferroviária de São Paulo e
o desenvolvimento da cultura cafeeira. São Paulo: Alfa-Omega, 1974.
Os contratos madeireiros
Figura 6 – Trabalhadores transportam tora de madeira de lei, ca. 1930. Fonte: Geor-
ge Craig Smith, Album 5, Acervo do Museu Histórico de Londrina.
Conclusões
Média + 1 desvio
497.340 426.810 158.640 585.450
padrão (sd)
______________
1 Os temas da exploração madeireira e do comércio interno de madeira aparecem
em Dean, A ferro e fogo, pp. 265-66 com referência à “remoção seletiva de madeira”,
mas sem uma discussão sobre as relações de trabalho ou da distribuição das serrarias.
Miguel Carvalho menciona lesões sofridas por lenhadores (Miguel Mundstock Xavier
de Carvalho, “O desmatamento das florestas de araucaria e o Médio Vale do Iguaçu:
Uma história de riqueza madeireira e colonizações,” dissertação de mestrado,
Universidade Federal de Santa Catarina, 2006, pp. 141-142). Todavia, Carvalho vê a
indústria madeireira como um fator de destruição, mais do que um setor econômico
empregador de mão de obra (Carvalho, “Os fatores do desmatamento da floresta
3000
2725 2773
2500 2452
Número de serrarias
2070
2000 1920
1867
1784
1589
1500
Pinheiro
1000
Madeira de lei
500 454
355 323 Consumo local
143
0 Mistas
1947 1957 1967
1000
800
600
Pinheiro
400
200 Madeira de lei
0 Consumo local
1947 1957 1967 1947 1957 1967 1947 1957 1967 Mistas
PR SC RS
Mudanças profundas
Considerações finais
____________
1 CABRAL, Diogo de Carvalho. Na presença da floresta: Mata Atlântica e história
colonial. Rio de Janeiro: Garamond, 2014.
2 BRASIL. Lei n. 11.428/2006. Dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação
nativa do Bioma Mata Atlântica e dá outras providências. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm. Acesso em: 22
jan 2015. IBGE. Mapa da área de aplicação da Lei n. 11.428 de 2006. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 28 dez. 2014.
3 DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira.
Tradução de Cid Knipel Moreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 24.
4 VELOSO, Henrique Pimenta; RANGEL Filho, Antonio Lourenço Rosa; LIMA, Jorge
Carlos Alves. Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal.
Rio de Janeiro: IBGE, Departamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais,
1991.
5 IBGE. Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 1991. p. 21.
6 MIRANDA, Francisco Nunes de. Sobre os diferentes ervais, sua extensão, uberdade
e cultura. 1859. AHRS.
7 MEDEIROS, João de Deus et al. Floresta com Araucárias: um símbolo da Mata
Atlântica a ser salvo da extinção. Rio do Sul: APREMAVI, 2004. p. 27. Apud NODARI,
Eunice Sueli. Unidades de Conservação de Proteção Integral: solução para a
preservação? Floresta com Araucárias em Santa Catarina. Esboços, Florianópolis, vol.
18, no. 25, pp. 96-117, 2011a.
8 LINDMAN, Carl Axel Magnus; FERRI, M. G. A vegetação no Rio Grande do Sul. Belo
Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1974. pp. 221-222.
9 AGUIRRE, Juan Francisco. Diário del Capitán de Fragata. Revista de la Biblioteca
Nacional, Buenos Aires, tomo XIX, pp. 358-369, 1950. (Tradução livre). Apud
LINHARES, Temístocles. História econômica do mate. Rio de Janeiro: José Olympio
Editora. 1969. pp. 5-6.
10 Ibidem, p. 6
11 GARAVAGLIA, Juan Carlos. Mercado interno y economia colonial: tres siglos de
Desafios conceituais
____________
1 LEWIS, Simon L.; EDWARDS, David P.; GALBRAITH, David. Increasing human
dominance of tropical forests. Science, vol.349, 2015, pp. 827-832.
2 MITTERMEIER, Russell A. et al. Hotspots Revisited: Earth’s Biologically Richest and
Most Endangered Terrestrial Ecoregions. Mexico: Cemex, 2004, p. 391.
3 MYERS, Norman et al. Biodiveristy hotspots for conservation priorities. Nature,
vol.403, 2000, pp. 853-858.
4 SOS Mata Atlântica-Fundação SOS Mata Atlântica; INPE- Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais. Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica - Período
2013-2014. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica, 2015, p. 60.
5 SALA, Osvaldo E. et al. Global Biodiversity Scenarios for the Year 2100. Science,
vol.287, 2000, pp. 1770-1774.
6 PAGLIA, Adriano P.; FONSECA, Gustavo A.B.; SILVA, José M.C. A fauna brasileira
ameaçada de extinção: síntese taxonômica e geográfica. In: Machado, A.B.M.;
Drummond, G.M.; Paglia, A.P. (eds.), Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada
de Extinção. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2008, pp. 63-70; ICMBio-Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Diagnóstico da Fauna - avaliação
do estado de conservação de espécies da fauna brasileira. Brasília: ICMBio, 2015.
7 SCARANO, Fábio R. Mata Atlântica: uma história do futuro. Rio de Janeiro: Edições
de Janeiro, 2014, p. 272.