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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA

MACROALGAS MARINHAS: CONHECIMENTOS


TRADICIONAIS E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS

ANA BEATRIZ GOMES FERREIRA

2020
Natal – RN
Brasil
Ana Beatriz Gomes Ferreira

Dissertação apresentada ao Programa Regional de


Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre
em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Orientadora: Profa. Dra. Eliane Marinho Soriano

2020
Natal – RN
Brasil
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB

Ferreira, Ana Beatriz Gomes.


Macroalgas marinhas: conhecimentos tradicionais e serviços
ecossistêmicos / Ana Beatriz Gomes Ferreira. - Natal, 2020.
66 f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do


Norte. Centro de Biociências. Programa Regional de Pós-Graduação
em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA.
Orientadora: Profa. Dra. Eliane Marinho Soriano.

1. Macroalgas - Dissertação. 2. Atividades tradicionais -


Dissertação. 3. Bens e serviços - Dissertação. 4. Cultivo de
algas - Dissertação. I. Soriano, Eliane Marinho. II. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSCB CDU 582.26/.27

Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351


ANA BEATRIZ GOMES FERREIRA

Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e


Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN),
como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente .

Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________
Profa. Dra. Eliane Marinho Soriano
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)

______________________________________________
Profa. Dra. Marcella Araújo do Amaral Carneiro
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)

_______________________________________________
Prof. Dr. José Garcia Júnior
Instituto Federal do Rio Grande do Norte
AGRADECIMENTOS

Acima de tudo, agradeço ao altíssimo Senhor Deus pelo dom da vida, por me guiar e
me ajudar a superar as situações mais difíceis. Ele que tem me sustentado em todos os
momentos.
Agradeço à minha família, em especial à minha mãe, Celita, que sempre me
incentivou e nunca mediu esforços para que eu chegasse até essa etapa da minha vida.
As minhas irmãs Rafaela, Daniele e Gisele.
A minha orientadora Dra. Eliane Marinho Soriano. Muito obrigada por toda a
paciência, valiosos ensinamentos, conversas motivadoras e pelo tempo dedicado que tornaram
possível a conclusão desse trabalho.
Agradeço a todos os meus amigos do laboratório de macroalgas bentônicas e
algocultura DOL/UFRN, Marcella do Amaral, Julia Resende, Marcelle Barbosa, Felipe de
Oliveira e Henrique Borburema. Obrigada por sempre estarem dispostos a contribuir uns com
os outros e por me acompanharem de perto nesse caminho e compartilharem comigo as
aflições e alegrias vividas. Esta conquista também é de vocês!
A todos os Funcionários do Departamento de Oceanografia e Limnologia -
DOL/UFRN que atenciosamente, me acolheram ao longo desses dois anos.
Agradeço aos professores do PRODEMA-UFRN pelas contribuições necessárias
ocorridas no cumprimento das disciplinas do curso de mestrado.
Aos meus colegas de mestrado e doutorado, pelos momentos de descontração, risadas,
alegrias e dificuldades enfrentadas. Certamente crescemos juntos nesta trajetória.
Agradeço aos professores da UFRN em especial à Profa. Dra. Sueli Aparecida Moreira
por ter despertado em mim o interesse pela pesquisa científica e ter me iniciado nela.
A todos da comunidade de Rio do Fogo, em especial os extrativistas e os cultivadores
de algas marinhas da Associação de Maricultoras de algas de Rio do Fogo (AMAR) pela
participação, apoio e amizade durante toda a pesquisa.
A todos os meus amigos pelo apoio incondicional e incentivo nos momentos
necessários, em especial quando as energias estavam se esgotando frente aos desafios que iam
além do curso de mestrado, aqui fica o meu singelo agradecimento!
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES que
financiou o desenvolvimento desta dissertação de mestrado deixando contribuições à
sociedade brasileira, principalmente aos cidadãos do município de Rio do Fogo.
A todos que fizeram deste momento uma vitória.
RESUMO

Macroalgas marinhas: conhecimentos tradicionais e serviços ecossistêmicos

As macroalgas marinhas têm desempenhado um papel importante nas comunidades costeiras


durante séculos devido às suas diversas aplicabilidades. Atualmente, uma grande parte da
biomassa algal comercializada no mundo é proveniente de atividades extrativistas e de
cultivos familiares realizados pelas populações tradicionais ao redor do mundo, valorizando o
conhecimento tradicional. Além disso, as macroalgas marinhas são consideradas uma fonte
valiosa de uma série de serviços ecossistêmicos, que abrangem as esferas ambientais, sociais e
econômicas. Este estudo teve como objetivo investigar os saberes e práticas tradicionais,
presentes nas atividades de extrativismo (colheita e cultivo) de macroalgas marinhas da praia
de Rio do Fogo, RN, assim como identificar os serviços ecossistêmicos fornecidos pelas
macroalgas marinhas e sua importância para as comunidades costeiras. A pesquisa foi
dividida em dois capítulos. O primeiro capítulo identificou as técnicas e habilidades
tradicionais aplicadas nas atividades extrativistas de colheita e cultivo da macroalga
Gracilaria birdiae. Nesse capítulo, foi demonstrado como os saberes tradicionais da atividade
extrativista abrange o conhecimento sobre a ecologia da macroalga coletada e seu ciclo de
vida. Foi possível verificar que os saberes e práticas tradicionais, presentes nas atividades de
extrativismo e cultivo, influenciam de forma positiva na conservação dos recursos naturais, e
que o seu uso de forma racional possui grande importância para a perpetuação dos saberes
dessas populações tradicionais. No segundo capítulo, dada a importância das esferas
ambientais, sociais e econômicas das macroalgas marinhas, o estudo teve como enfoque a
análise dos serviços ecossistêmicos, proporcionando uma avaliação qualitativa dos registros
encontrados na literatura sobre serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas,
além da identificação dos serviços ofertados pelo cultivo da macroalga G. birdiae, localizado
no munícipio de Rio do Fogo. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica que
abordavam serviços ecossistêmicos associados às macroalgas marinhas. De um total de 1.428
artigos analisados, 163 relatavam claramente algum tipo de serviço ecossistêmico. A maioria
dos trabalhos examinados foi classificada como serviços de regulação (30,1%), seguido pelos
serviços de provisão (28,4), suporte (28,0%) e cultural (13,5%). No cultivo de macroalgas na
praia de Rio do Fogo, doze serviços ecossistêmicos foram identificados, dos quais a
população local se beneficia direta e indiretamente. Com base nessa análise, ficou
evidenciado que os bancos naturais, assim como, os sistemas de cultivo oferecem inúmeros
serviços ecossistêmicos, contribuindo dessa forma para a valorização ambiental e
influenciando de forma positiva na preservação e conservação ambiental e no bem-estar
humano.

PALAVRAS-CHAVE: Macroalgas; Atividades tradicionais; Bens e serviços; Cultivo de algas.


ABSTRACT

Seaweeds: traditional knowledge and ecosystem services

Seaweeds have played an important role in coastal communities for centuries owing to their
wide applicability. Currently most of the commercialized seaweed biomass in the world
comes from extractive activities and family farms carried out by traditional peoples around
the world, valuing traditional knowledge. Besides that, seaweeds are considered as a valuable
source of ecosystem services, encompassing environmental, social and economic aspects.
This study aimed to investigate traditional knowledge and practices in extractive activities
(harvest and farming) of seaweeds at Rio do Fogo beach, Rio Grande do Norte State, and to
identify ecosystem services provided by seaweeds and their importance for the coastal
communities. This work is divided into two chapters. The first one identified the traditional
techniques and abilities applied in extractive activities of harvest and farming of seaweed
Gracilaria birdiae. In this chapter, it was shown how traditional knowledge on extractive
activities covers knowledge about the ecology of the harvested seaweed and its life cycle.
Besides that, traditional knowledge and practices in extractive activities and farming influence
positively on conserving natural resources, and its rational use is of great relevance for
perpetuating knowledge of these traditional peoples. In the second chapter, this study
analyzed ecosystem services due to significance of seaweeds in the environmental, social and
economic spheres, supplying a qualitative evaluation of observations found in the literature
about ecosystem services provided by seaweeds. The services provided by seaweed farming
of G. birdiae in Rio do Fogo were also identified. To achieve that, a bibliographical survey on
ecosystem services linked to seaweeds was carried out. A total of 1.428 papers were selected
for analysis, but only 163 reported some type of ecosystem service. Of all the papers
analyzed, regulating services was the most mentioned in the literature (30.1%), followed by
provisioning (28.4%), supporting (28.0%) and cultural services (13.5%). In the seaweed
farming at Rio do Fogo beach, twelve ecosystem services were identified, which the local
community directly and indirectly benefits from. Hence, both seaweed beds and seaweed
farming supply several ecosystem services, contributing to environmental valuation and
positively impacting on environmental preservation and conservation, and human wellbeing.

KEYWORDS: Seaweeds; Traditional activities; Goods and services; Seaweed farming.


LISTA DE FIGURAS

INTRODUÇÃO GERAL
Figura 1. Localização da Praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil................... 17
Figura 2A. Colheita comercial da macroalga marinha G. birdiae dos bancos naturais
realizada na zona intertidal................................................................................................... 18
Figura 2B. Estrutura de cultivo comercial da macroalga marinha G. birdiae instalada na
praia de em Rio do Fogo...................................................................................................... 18

CAPÍTULO 1
Figura 1. Localização geográfica da praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil. 28
Figura 2A. Primeiro contato com a colheita de alga dos bancos naturais........................... 30
Figura 2B. Forma de aprendizado da atividade extrativista................................................ 30
Figura 3A. Colheita manual da macroalga G. birdiae realizada na zona intertidal............ 33
Figura 3B. Estrutura de cultivo instalada no mar................................................................ 33
Figura 3C. Preparação do sistema de cultivo e preparação das mudas............................... 33
Figura 3D. Mousse, cocada e gelatina à base de algas produzidas pela associação
AMAR, praia de Rio do Fogo, RN, Brasil........................................................................... 33

CAPÍTULO 2
Figura 1. Localização da Praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil................... 41
Figura 2. Distribuição geográfica das pesquisas desenvolvidas a respeito dos serviços
ecossistêmicos associados às macroalgas marinhas............................................................. 42
Figura 3: Nuvem de palavras gerada a partir dos principais serviços ecossistêmicos
associados as macroalgas marinhas mencioandos na literatura........................................... 46
LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2
Tabela 1. Serviços ecossistêmicos associados às macroalgas marinhas identificados nos
trabalhos da revisão da literatura.......................................................................................... 43
Tabela 2 - Identificação e classificação dos serviços ecossistêmicos identificados no
cultivo da macroalga marinha Gracilaria birdiae na praia de Rio do Fogo, RN, Brasil..... 47
SUMÁRIO

1. Introdução Geral............................................................................................................ 10
1.1 Saberes e práticas tradicionais..................................................................................... 10
1.2 Breve histórico sobre colheita e cultivo de macroalgas marinhas............................... 11
1.3 Serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas................................. 13
1.3.1 Regulação............................................................................................................... 14
1.3.2 Provisão.................................................................................................................. 15
1.3.3 Suporte.................................................................................................................... 15
1.3.4 Cultural................................................................................................................... 16
2. Caracterização da área de estudo................................................................................. 17
2.1 Localização da área de estudo...................................................................................... 17
3. Metodologia Geral.......................................................................................................... 18
3.1 Coleta e análise de dados / Saberes e práticas tradicionais.......................................... 18
3.2 Serviços ecossistêmicos................................................................................................ 19
Referências........................................................................................................................... 21
Capítulo 1 - Saberes e práticas tradicionais da colheita e cultivo de macroalgas
marinhas............................................................................................................................... 25
Resumo................................................................................................................................. 25
Abstract…………………………………………………………………………………… 25
1. Introdução........................................................................................................................ 26
2. Material e Método........................................................................................................... 27
2.1 Local do estudo............................................................................................................. 27
2.2 Coleta e análise de dados.............................................................................................. 28
3. Resultados........................................................................................................................ 29
3.1 Perfil dos participantes da pesquisa.............................................................................. 29
3.2 Conhecimentos tradicionais.......................................................................................... 30
3.3 Técnicas de colheitas.................................................................................................... 31
3.4 Técnicas aplicadas ao sistema de cultivo...................................................................... 31
3.5 Comercialização........................................................................................................... 32
4. Discussão.......................................................................................................................... 33
5. Conclusão......................................................................................................................... 35
6. Agradecimentos............................................................................................................... 36
Referências........................................................................................................................... 36
Capítulo 2 – Serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas: um
estudo de caso em Rio do Fogo, RN, Brasil....................................................................... 38
Resumo................................................................................................................................. 38
1. Introdução........................................................................................................................ 39
2. Material e Método........................................................................................................... 40
2.1 Procedimentos metodológicos e localização da área de estudo.................................... 40
3. Resultados e Discussão.................................................................................................... 41
3.1 Serviços ecossistêmicos associados à macroalgas marinhas........................................ 41
3.2 Serviços ecossistêmicos fornecidos pelo cultivo da macroalga marinha Gracilaria
birdiae na Praia de Rio do Fogo......................................................................................... 46
4. Conclusão......................................................................................................................... 49
5. Agradecimentos............................................................................................................... 50
Referências........................................................................................................................... 50
Considerações finais............................................................................................................ 56
Apêndices............................................................................................................................. 58
Anexos.................................................................................................................................. 65
10

1. INTRODUÇÃO GERAL

1.1 Saberes e práticas tradicionais

Historicamente, o ser humano interage com a natureza, mantendo com o meio


ambiente relações profundas e complexas. Assim, os recursos naturais têm sido essenciais
para a sobrevivência do homem, sendo imprescindíveis para seu conforto e desenvolvimento
de diversas atividades. No início das civilizações, os recursos (renováveis e não renováveis)
eram manejados de forma equilibrada. No entanto, com o surgimento das tecnologias
modernas, o homem passou a exercer uma forte pressão sobre esses recursos, o que tem
contribuído para o esgotamento das reservas naturais do planeta (BERGANDI, 2012). Com
efeito, a sociedade moderna tem praticado ao longo dos anos, um modelo predatório em
relação ao meio ambiente que degrada e esgota recursos indispensáveis à sobrevivência do
homem e dos demais seres vivos (SILLANPÃÃ; NCIBI, 2017).
A crise ambiental contemporânea é, portanto, o resultado da utilização indiscriminada
dos recursos naturais pelo homem, sem os devidos cuidados com a conservação do meio
ambiente e com a preservação destes recursos para as futuras gerações. De maneira oposta a
tais práticas destrutivas, destaca-se o valor das populações tradicionais na conservação dos
recursos naturais. Estes grupos possuem formas próprias de organização social, e usam os
recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e
econômica (LÉVI-STRAUSS, 1989; CALEGARE et al., 2014). Nesse sentido, o resgate dos
saberes e práticas tradicionais das comunidades, que exploram a natureza, pode auxiliar na
identificação e construção de novos parâmetros que favoreçam o desenvolvimento econômico
e social aliado ao uso racional dos recursos ambientais.
Umas das características marcantes das populações tradicionais são o uso e o manejo
dos recursos naturais e o desenvolvimento de atividades produtivas, em um processo de
dependência da natureza a partir do qual se constrói um modo de vida (PEREIRA; DIEGUES,
2010). Durante esse processo, o conhecimento empírico, relacionado aos recursos naturais,
são adquiridos através das experiências vividas e produzem o saber tradicional (GEERTZ,
1997). Tais saberes podem ser compreendidos como um conjunto de conhecimentos sobre a
vida e o meio ambiente, podendo ser externados a partir das próprias experiências, das trocas
de conhecimentos entre comunidades, das práticas religiosas e da necessidade de se
adaptarem ao ambiente onde vivem (LÉVI-STRAUSS, 1989; ARRUDA; DIEGUES, 2001;
DIEGUES, 2002; REYES-GARCÍA, 2009; CALEGARE et al., 2014; FERNANDES;
11

FERNANDES 2015). Deste modo, o conceito de saber tradicional é um saber que emana do
povo, que envolve:
[...] grupos humanos culturalmente diferenciados que historicamente reproduzem
seu modo de vida, de forma mais ou menos isolada, com base em modos de
cooperação social e formas específicas de relações com a natureza, caracterizados
tradicionalmente pelo manejo sustentado do meio ambiente (DIEGUES et al., 1999,
p. 22).

Esses saberes são transmitidos, de geração em geração, através de observações


práticas do cotidiano e das relações de aprendizado por meio da educação informal,
contribuindo para uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza (DIEGUES, 2002; DA
MOTA; PEREIRA 2008; REYES-GARCÍA, 2009; SILVA; FRAXE, 2013; HORA et al.,
2015).
A relação sociedade-natureza vivenciada pelas comunidades tradicionais é considerada
de baixo impacto ambiental e dessa forma pode contribuir para a conservação da
biodiversidade (PEREIRA; DIEGUES, 2010; SILVA; FRAXE, 2013; HORA et al., 2015).
De acordo com Diegues e colaboradores (1999), os saberes tradicionais são fundamentais para
a conservação da biodiversidade, uma vez que ela não é só um produto da natureza, mas
também um resultado da cultura e ação do homem. Dessa forma, o uso racional dos recursos
naturais configura-se como um requisito importante para a perpetuação das populações
tradicionais nos ambientes nos quais estão inseridas.
Ao redor do mundo, muitas são as comunidades tradicionais que vivem na área
costeira e que retiram o seu sustento do mar. As atividades extrativistas são, em sua maioria,
exercidas por pescadores artesanais, marisqueiras, catadores de caranguejos, recursos esses
ligados principalmente a alimentação. Dentre esses grupos culturais, encontram-se também os
coletores e cultivadores de macroalgas marinhas que desenvolvem esta atividade nas áreas
rasas do litoral em diversas regiões do mundo (REBOURS et al., 2014; O’CONNELL-
MILNE; HEPBURN, 2015; MARINHO-SORIANO, 2017).

1.2 Breve histórico sobre colheita e cultivo de macroalgas marinhas

As macroalgas marinhas têm desempenhado um papel importante nas comunidades


costeiras durante séculos devido às suas diversas aplicabilidades. O uso das algas pelo homem
remonta ao período neolítico (14.600 a.C.), como evidenciado em investigações arqueológicas
(DILLEHAY et al., 2008). No entanto, o primeiro registro escrito da sua utilização foi
encontrado no herbário chinês em 2.700 a.C. (ARASAKI & ARASAKI, 1983). Desde então,
elas são coletadas nas praias de várias regiões do mundo para usos tradicionais, além de serem
12

usadas em uma infinidade de aplicações devido à expansão global das indústrias baseadas em
hidrocoloides, cosméticos e suplementos alimentares (FORSTER; RADULOVICH, 2015;
FAO, 2018). Atualmente, a biomassa algal comercializada no mundo é proveniente de
cultivos e atividades extrativistas familiares realizados pelas populações tradicionais ao redor
do mundo (BEZERRA; MARINHO-SORIANO, 2010; REBOURS et al., 2014;
O’CONNELL-MILNE; HEPBURN, 2015; MARINHO-SORIANO, 2017).
No Brasil a ocorrência de algas marinhas é bastante frequente ao longo de toda a costa.
No entanto, ela é mais diversificada e abundante na região Nordeste, onde a colheita e
comercialização têm sido realizadas ao longo de décadas e tem contribuído com a renda de
diversas famílias de pescadores (BEZERRA; MARINHO-SORIANO, 2010). Nessa região as
principais espécies exploradas comercialmente pertencem ao gênero Gracilaria (G. birdiae,
G. caudata, G. domingensis, G. cervicornis). Essas espécies são encontradas principalmente
fixadas em rochas que são expostas na maré baixa. A colheita é executada manualmente no
periodo de maré baixa (sizigia e quadratura) durante todo o ano (MARINHO-SORIANO,
2017).
Historicamente a indústria de algas no Brasil baseia-se na colheita de algas dos bancos
naturais. Desde a década de 1960, diversas espécies de macroalgas vem sendo coletadas na
zona intertidal do litoral do Rio Grande do Norte para extração de ágar e carragenana. A
produção máxima foi alcançada em 1973-1974, um período em que o país exportou em torno
de 2000t anualmente (peso seco) (MARINHO-SORIANO, 2017). No entanto, devido a
exploração excessiva e a ameaça ao esgotamento dos bancos naturais em meados da década
de 1990, a extração de macroalgas diminuiu drasticamente e em algumas áreas a atividade foi
abandonada devido à destruição completa desses recursos (MARINHO-SORIANO, 2017).
Diante dessa situação, projetos pilotos de cultivo de algas foram implantados em
alguns Estados do Nordeste (CE-RN-PB) (REBOURS et al., 2014). Em 2006, o governo
brasileiro e a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – sigla
em inglês Food and Agriculture Organization), implantaram o projeto “Desenvolvimento das
Comunidades Costeiras” (UTF/BRA/066/BRA), destinado a consolidar e expandir o cultivo
da macroalga Gracilaria birdiae (FREDDI; AGUILAR, 2003; MARINHO-SORIANO,
2017), uma espécie produtora de ágar, polissacarídeo usado em diversas indústrias
(alimentícia, cosmética, farmacêutica) o qual é amplamente explorada devido à sua grande
importância econômica (TORRES et al., 2019).
O conhecimento adquirido durante a execução desse projeto possibilitou a formação
de uma associação (Associação das Maricultoras de Algas de Rio do Fogo - AMAR), a qual
13

desenvolve suas atividades de cultivo no mar até os dias de hoje. No Rio Grande do Norte,
essas mulheres “maricultoras” têm contribuído para a consolidação do cultivo de algas,
através de sua dedicação e tenacidade face aos problemas da atividade. O papel das mulheres
nessa atividade é complexo. Ele inclui a prática de atividades de colheita das algas, a
preparação das estruturas de cultivo, bem como, em menor escala, a elaboração de produtos
de valor agregado (alimento, sobremesas, yogurtes, saladas, etc) com base no processamento
da biomassa das algas cultivadas. Atualmente o cultivo de macroalgas tem mostrado um
grande potencial em relação ao desenvolvimento da comunidade e passou a ser considerado
uma alternativa viável para garantir a sustentabilidade da atividade na região. Além disso, as
macroalgas marinhas são consideradas uma fonte valiosa, de importante valor ecológico e
econômico, e em função disso, promotora de múltiplos serviços ecossistêmicos (CHOPIN,
2012; BARBIER, 2013; CABRAL et al., 2016; HASSELSTRÖM et al., 2018).

1.3 Serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas

O conceito de serviços ecossistêmicos foi elaborado no início da década de 1970, mais


ganhou força na literatura cientifica na década de 1990, com as publicações de Costanza e
colaboradores (1997) e Groot, Wilson e Boumans (2002). Atualmente existem diversas
definições de serviços ecossistêmicos apresentadas na literatura. No entanto, todas as
definições convergem na ideia de utilidade que os ecossistemas proporcionam aos seres
humanos. A definição pode ser ampliada como sendo as contribuições diretas e indiretas do
ecossistema para o bem-estar humano, ou seja, os bens e serviços que obtemos do ecossistema
(TEEB, 2010), e que equilibram os setores econômicos, ecológicos e sociais (RAYMOND et
at., 2013; HASSELSTRÖM et al., 2018). Ainda sobre esse conceito, podemos compilar as
informações disponíveis na literatura e definirmos serviços ecossistêmicos como sendo a
interação entre os ecossistemas e as ações do homem, onde se baseiam em informações
ecológicas para mapear, quantificar e valorizar os serviços disponibilizados pelos
ecossistemas (GROOT et al., 2002; BOUMANS et al., 2002; DALY; FARLEY, 2004; TEEB,
2010; GROOT et al., 2010; BRYHN et al., 2015; CABRAL et al., 2016; HASSELSTÕM et
al., 2018).
O conceito também tem sido utilizado para discutir as causas subjacentes da
degradação ambiental devido à ação antropogênica. Assim, as técnicas de avaliação dos
serviços ecossistêmicos podem ser a base para a tomada de decisões ambientais, vinculando
as escolhas políticas aos benefícios humanos (ARKEMA et al., 2017). Com efeito, a
14

avaliação dos serviços ecossistêmicos pode atender a múltiplos propósitos, desde a


conscientização da população até a tomada de decisões sobre questões específicas, como o
desenvolvimento costeiro. Essa nova abordagem para a gestão ambiental complementa a
conservação da biodiversidade e as políticas de desenvolvimento sustentável. Ao destacar os
benefícios que os seres humanos obtêm dos ecossistemas, ela visa aumentar as informações
sobre as pressões exercidas pelo homem ao meio ambiente, a fim de limitá-los.
Tradicionalmente os serviços ecossistêmicos são divididos em quatro categorias (regulação,
provisão, suporte e cultural), que dependendo do objetivo de análise podem se sobrepor
(MEA, 2005).

1.3.1 Regulação
Os serviços de regulação referem-se à capacidade que os ecossistemas naturais e
seminaturais têm de regular os processos e sistemas de apoio à vida, através dos ciclos
biogeoquímicos e outros processos biológicos. Além de manter a saúde do ecossistema e da
biosfera, os serviços de regulação fornecem benefícios diretos e indiretos para os seres
humanos, desempenhando um papel essencial na regulação e manutenção dos processos
ecológicos (GROOT et al., 2002; ALCAMO et al., 2003; BRYHN et al., 2015;
HASSELSTRÖM et al., 2018).
As macroalgas marinhas geram diversos serviços de regulação, os quais incluem,
ciclagem de nutrientes, biorremediação, sequestro de carbono, retenção de sedimento,
regulação do clima, além de proteger a costa da erosão (HASSELSTRÖM et al., 2018). Como
biorremediadoras, as macroalgas têm um grande potencial como filtro biológico. Elas agem
como verdadeiras esponjas, removendo nutrientes e contaminantes da água, prevenindo
processos de eutrofização e poluição (MARINHO-SORIANO 2006; NARDELLI et al.,
2019). As macroalgas também desempenham um papel essencial na remoção da atmosfera de
um dos principais gases do efeito estufa, o dióxido de carbono (CO2). O sequestro de carbono
fornece importante serviço econômico em termos de regulação do clima e ao mesmo tempo,
contribui para o bem-estar humano, evitando riscos com a saúde humana, perda da
biodiversidade, entre outros (HASSELSTRÖM et al., 2018).
A implantação de cultivos de macroalgas em larga escala pode servir como um
potencial sumidouro de carbono dos oceanos, evitando assim a acidificação dos oceanos
(CHUNG et al., 2011). Diversos estudos demonstraram que as macroalgas cultivadas, em mar
aberto (Laminaria) e em cultivos multitróficos (Gracilaria), possuem habilidade para
absorver CO2. Nesses casos, o cultivo de macroalgas pode ser considerado estoques naturais
15

de carbono (KRAUSE-JENSEN e DUARTE, 2016). Esse potencial apresenta clara


implicação no sequestro de carbono e na regulação da acidificação dos oceanos em nível local
e, consequentemente, gera benefícios na regulação climática e no controle e qualidade do ar
(CHUNG et al., 2013; HAN et al., 2013, MONGIN et al., 2016).

1.3.2 Provisão

Os serviços de provisão, são aqueles serviços relacionados com a capacidade dos


ecossistemas em prover bens para o consumo humano, seja a produção material ou energética
(TEEB, 2010). Os serviços de provisão fornecidos pelas macroalgas (bancos naturais e
cultivo) incluem bens e serviços para o consumo humano. Esses serviços incluem: matéria-
prima para extração de ficocoloides, alimentos, fertilizantes, ração para animais e compostos
bioativos para a indústria farmacêutica (FORSTER, RADULOVICH, 2015; FAO, 2018).
Mais recentemente, as macroalgas têm sido vistas também como uma fonte potencial de
biocombustíveis (FASAHATI et al., 2015).

1.3.3 Suporte

Serviços de suporte são processos ecológicos básicos que sustentam a funcionalidade


dos ecossistemas e, portanto, necessários para que os demais serviços possam existir. Nessa
categoria estão incluídos a dinâmica da cadeia trófica, habitat, resiliência e biodiversidade. Os
serviços de suporte contribuem para a conservação e manutenção da diversidade biológica,
diversidade genética e processos evolutivos, além de sustentar a produção dos demais serviços
(GROOT et al., 2002; ALCAMO et al., 2003; TEEB, 2010; BRYHN et al., 2015).
Em geral, as macroalgas consideradas como engenheiras do ecossistema acrescentam
estrutura física ao ambiente, resultando em habitat biogênico para diferentes espécies
(HASSELSTRÖM et al., 2018). Esses organismos contribuem de forma importante para o
aumento da biodiversidade nos ecossistemas costeiros. Elas fornecem abrigo e alimentação,
além de servirem de berçário e local de reprodução e desova para uma grande variedade de
organismos da fauna associada, tais como, crustáceos, moluscos, equinodermos e diversas
espécies de peixes incluindo algumas com potencial econômico (CABRAL et al., 2016
MARINHO-SORIANO, 2013).
Os bancos algais podem ser hotspots de atividade biológica que suportam o resto da
cadeia trófica através do fornecimento de habitat e através do bottom-up fornecendo
nutrientes e energia. A elevada produtividade primária das macroalgas fornece uma fonte de
16

energia importante para sustentar cadeias tróficas, locais e transitórias, sendo a principal
ligação nas cadeias alimentares, onde participam naturalmente na reciclagem de nutrientes
(CHOPIN, 2012). As macroalgas também podem ser usadas como importantes sentinelas ou
biomonitores das mudanças ambientais, revelando as condições do passado e monitorando as
mudanças futuras. Por serem organismos sésseis, elas bioacumulam substâncias, permitindo a
determinação de compostos nocivos em seus tecidos e, por isso, tem se tornado um
importante bioindicador em estudos de impacto ambiental (MARINHO-SORIANO et al.,
2009).
As macroalgas cultivadas (fazendas), tem função semelhante aos bancos naturais, pois
servem como atratores para uma miríade de espécies que utilizam as estruturas de cultivo
como habitat (KIM et al., 2017; HASSELSTRÖM et al., 2018). Essas características
permitem que as macroalgas funcionem como áreas de forrageamento para inúmeras espécies,
muitas das quais importantes comercialmente (SMALE et al. 2013). Assim, os cultivos de
macroalgas contribuem para a biodiversidade em ambientes costeiros, fornecendo áreas de
abrigo para uma variedade de organismos associados, além de influenciar a estrutura e função
do ecossistema, em uma escala regional (HASSELSTRÖM et al., 2018; GENTRY et al.,
2019).

1.3.4 Cultural

Os serviços culturais representam os benefícios não materiais que o ecossistema nos


oferece e que são essenciais para a manutenção da vida humana (ALCAMO et al., 2003;
TEEB, 2010; BRYHN et al., 2015). Os bancos de macroalgas fornecem inúmeros benefícios
culturais para as comunidades costeiras (SMALE et al., 2013). Incluídos nessa categoria,
estão a beleza cênica dos bancos algais, ciência e educação, a herança cultural das
comunidades, o valor simbólico da atividade extrativista de algas e a geração de renda.
Nas regiões costeiras a colheita de macroalgas dos bancos naturais e em sistemas de
cultivo está fortemente ligado à identidade cultural da população. Algumas famílias ainda
realizam essas atividades, repassando esse conhecimento às novas gerações, através de uma
relação de aprendizado pai-filho, garantindo a tradição e cultura local (REBOUS et al., 2014,
O’CONNELL-MILNE; HEPBURN 2015, KITOLELEI; SATO, 2016, MARINHO-
SORIANO 2017, THURSTAN et al. 2018).
Em relação à geração de renda proveniente dos cultivos de macroalgas, estudos
realizados em vários países comprovam a sua viabilidade econômica além de representar um
papel social importante na comunidade local. Em algumas regiões costeiras o cultivo de algas
17

passou a ser uma alternativa interessante para reverter o quadro de pobreza da região,
promovendo melhores condições de vida (BEZERRA; MARINHO-SORIANO, 2010;
ZUNIGA-JARA; MARIN-RIFFO, 2016).
Diante desse contexto, o presente trabalho teve como objetivo (1) analisar e
compreender os saberes e práticas dos extrativistas e maricultoras de algas marinhas da praia
de Rio do Fogo e (2) identificar os serviços ecossistêmicos fornecidos pelos macroalgas dos
bancos naturais e em sistemas de cultivos no mar.

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1 Localização da área de estudo


O município de Rio de Fogo (05°16′ 22”S-35°22′57”W) localiza-se na mesorregião do
leste Potiguar e na microrregião do litoral norte do Estado do Rio Grande do Norte (Figura 1).
O município possui um total de 151,10 km2 de área territorial, com uma população estimada
de 10.789 habitantes (IBGE, 2018). A praia de Rio do Fogo, localizada nesse município, é
uma típica vila de pescadores, caracterizada por uma grande diversidade ambiental e de
atividades, sobretudo extrativistas. Grande parte da comunidade vive exclusivamente da
exploração de organismos aquáticos, seja para o consumo próprio ou para sua
comercialização.
Figura 1: Localização da Praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil.
18

Fonte: Google Earth, 2019

A colheita de algas na praia de Rio do Fogo é uma atividade tradicional realizada pela
comunidade local. Essa atividade é realizada manualmente durante todo o ano, nas zonas do
mesolitoral e infralitoral raso (Figura 2a). Durante muitos anos, essa atividade foi uma
importante fonte de renda para inúmeras famílias de pescadores que obtinham desses
organismos sua principal renda. Nas últimas décadas, a biomassa algal diminuiu
consideravelmente, levando diversos extrativistas a retornar à atividade de pesca artesanal
(Marinho-Soriano, 2017).
Nos últimos anos, nessa praia foi implantado o cultivo da macroalga (Gracilaria
birdiae), utilizando a técnica da propagação vegetativa. O cultivo é realizado em balsas
flutuantes que se encontram situadas a 150 metros da praia. As balsas são compostas por
canos de PVC, cordas de nylon e redes tubulares (semelhante às utilizadas no cultivo de
mexilhões). As estruturas de cultivo medem aproximadamente 50 metros de comprimento e
são subdivididas em 10 módulos de 5m x 5m cada (Figura 2b). A atividade de cultivo é
realizada essencialmente por mulheres (BEZERRA, 2008).
Figura 2: A. Colheita da macroalga marinha G. birdiae dos bancos naturais realizada na zona
intertidal; B. Estrutura de cultivo da macroalga marinha G. birdiae instalada na praia de em Rio do
Fogo.

Fonte: Autores, 2019.

3. METODOLOGIA GERAL

3.1 Coleta e análise de dados / Saberes e práticas tradicionais

Os dados foram obtidos através de entrevistas semiestruturadas baseadas na


metodologia de Meksenas (2002) e Viertler (2006), na qual se reverte como uma técnica
19

flexível e informal. Esta abordagem utiliza tópicos fixos, que ao decorrer das entrevistas,
foram redefinidos, possibilitando o direcionamento do diálogo para as questões investigadas.
O público alvo da pesquisa foram os extrativistas e maricultores (cultivadores) de
algas marinhas da localidade, totalizando quatorze participantes (100% do público alvo). A
coleta de dados ocorreu nas residências dos entrevistados, entre o período de dezembro de
2018 a março de 2019, a partir da abordagem direta e seguindo como roteiro um questionário.
Esse material foi composto por indagações, relacionadas às questões sociais, história de vida,
tópicos sobre as práticas produtivas, manejo da espécie G. birdiae e conhecimentos empíricos
da comunidade local referente os ecossistemas costeiros. Além das entrevistas, foram feitas
observações durante o acompanhamento das atividades práticas da coleta de algas dos bancos
naturais e do cultivo no mar.
Todo o material etnográfico (gravações, transcrições, questionários e fotografias), foi
analisado qualitativamente, considerando-se todas as informações citadas pelos entrevistados.
Os dados obtidos foram tabulados em uma planilha eletrônica para uma melhor visualização
dos resultados.
Ressalta-se que a presente pesquisa está em consonância com os preceitos éticos. O
projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte e aprovado por meio do parecer de nº 2.825.025. Antes de cada entrevista
lia-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), onde eram explicados os
objetivos do estudo e os benefícios proporcionados, além da garantia de privacidade e sigilo
quanto aos nomes e informações por eles prestadas. Em observância a isto, os entrevistados
receberam códigos de identificação (Rio 01 a 14).

3.2 Serviços ecossistêmicos

Para identificar os serviços ecossistêmicos, foi usado o esquema de classificação


elaborado pelo The Economics of Ecosystems and Biodiversity working group (TEEB, 2010),
que disponibiliza ferramentas qualitativas e descreve a relação entre serviços ecossistêmicos e
o bem-estar humano. Também foi utilizada uma lista de classificação de serviços
ecossistêmicos proposta por Groot e colaboradores (2002).
As pesquisas bibliográficas foram realizadas usando os termos “ecosystem services” e
“seaweeds”. Essas palavras foram intencionalmente selecionadas de maneira a agrupar o
maior número de artigos relacionados às macroalgas, acessíveis nas plataformas Scielo, Portal
de Periódicos da CAPES e Google Acadêmico. Somente artigos publicados entre os anos de
2009 a 2019 foram incluídos na busca literária, abrangendo um período de dez anos.
20

Em uma segunda etapa, foram analisados os textos sobre serviços ecossistêmicos


fornecidos pelas macroalgas marinhas para criar uma nuvem de palavras, com o objetivo de
destacar os principais serviços ecossistêmicos de cada função. Os textos originais foram
analizados e separados para posteriormente serem compilados em um texto contínuo e
inseridos no gerador de nuvem de palavras on-line (http://www.wordclouds.com).
Em seguida foi elaborada uma listagem de serviços ecossistêmicos identificados no
cultivo da macroalga G. birdiae realizado na praia de Rio do Fogo. Foram analisados
qualitativamente os serviços ecossistêmicos, utilizando as informações sobre: a) quais
serviços ecossistêmicos são oferecidos pelas macroalgas marinhas? e b) como as macroalgas
afetam os serviços ecossistêmicos e o bem-estar humano.
21

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25

CAPÍTULO 1

SABERES E PRÁTICAS TRADICIONAIS DA COLHEITA E CULTIVO DE MACROALGAS MARINHAS

Ferreira A. B. G, Carneiro M. A. A, Marinho-Soriano E.

ESTE ARTIGO FOI ACEITO PARA PUBLICAÇÃO NO PERIÓDICO REVISTA IBERO-AMERICANA DE CIÊNCIAS
AMBIENTAIS, PORTANTO ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA
(http://www.sustenere.co/journals/normas.pdf).

Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Via
costeira, Mãe Luiza, S/N Natal-RN, 59014-002, Brasil.
e-mail: beatriz_biologia@hotmail.com

Resumo – Esse estudo teve como objetivo investigar os saberes e práticas tradicionais presentes nas atividades
de extrativismo dos bancos naturais e cultivo de macroalgas marinhas no Rio Grande do Norte. O estudo foi
realizado por meio de entrevistas semiestruturadas utilizando questionário composto por assuntos que
abordavam questões relacionadas as práticas produtivas, aspectos sociais, manejo das macroalgas e
conhecimentos referentes aos ecossistemas costeiros. Além das entrevistas, foi realizado o acompanhamento
das atividades produtivas desenvolvidas pelos participantes envolvidos na pesquisa. Dentre os registros
obtidos, podemos destacar os saberes tradicionais da atividade extrativista, os conhecimentos empíricos
relacionados à ecologia e ciclo de vida das macroalgas. No que se refere a produção das algas cultivadas, ficou
constatada que essas práticas contribuem para a diminuição da pressão exercida sobre os bancos naturais,
possibilitando a manutenção e a recuperação das populações naturais de macroalgas na área estudada. Além
disso, ficou evidenciado que as atividades desenvolvidas pela comunidade têm contribuído para o
desenvolvimento econômico, social e ambiental da região. Em conclusão, foi possível verificar que os saberes e
práticas tradicionais do extrativismo e cultivo de algas, influenciam de forma positiva na conservação dos
recursos naturais, e o seu uso de forma racional é extremamente importante para a perpetuação dos saberes
dessas populações tradicionais.

Palavras chaves: Colheita; Atividades extrativistas; Gracilaria birdiae; maricultura.

TRADITIONAL KNOWLEDGE AND PRACTICES IN SEAWEED HARVESTING AND FARMING

Abstract – This study aimed to investigate the traditional knowledge and practices present in the extractive
activities of natural beds and seaweed farming in Rio Grande do Norte. The study was carried out through
semistructured interviews using a questionnaire composed of subjects that addressed issues related to
productive practices, social aspects, management of seaweed and knowledge related to coastal ecosystems. In
addition to the interviews, the productive activities developed by the participants involved in the research
were monitored. Among the records obtained, we can highlight the traditional knowledge of the harvest
activity, the empirical knowledge related to the ecology and life cycle of seaweed. Regarding the production of
seaweed farmed, it was found that these practices contribute to the reduction of pressure on natural beds,
enabling the maintenance and recovery of natural populations of seaweed in the studied area. In addition, it
was evident that the activities developed by the community have contributed to the economic, social and
environmental development of the region. In conclusion, it was possible to verify that the traditional
knowledge and practices of seaweed farming and harvesting, positively influence the conservation of natural
resources, and their use in a rational way is extremely important for the perpetuation of the knowledge of
these traditional populations.

Keywords: Harvesting; Extractive activities; Gracilaria birdiae; Seaweed farming


26

INTRODUÇÃO
As macroalgas marinhas assim como as plantas terrestres, tem sido usadas por séculos como
fonte de alimento. Existem registros do uso de algas como alimento a partir do século IV e VI no
Japão e China respectivamente (YANG et al. 2015). No entanto, escavações arqueológicas datando de
14.000 mil anos no Chile têm sugerido seu uso como alimento e medicamento (DILLEHAY et al.
2008). O uso de macroalgas para consumo humano, ração para animal e adubo também foi usado
em várias partes da Europa, Ásia e América do Sul, entretanto, o seu uso esteve principalmente
restrito ao consumo local nas áreas costeiras (CRAIGIE, 2011). Hoje, as algas são usadas em uma
infinidade de aplicações devido à expansão global das indústrias baseadas em hidrocoloides,
cosméticos e suplementos alimentares (FORSTER et al. 2015; FAO, 2017). Atualmente, uma grande
parte da biomassa algal comercializada no mundo é proveniente de cultivos familiares e de
atividades extrativistas realizadas pelas populações tradicionais que vivem nas áreas costeiras
(BEZERRA & MARINHO-SORIANO, 2010; REBOURS et al., 2014; MARINHO-SORIANO, 2017).
Uma das características marcantes das populações tradicionais, concerne o uso e o manejo
dos recursos naturais e o desenvolvimento de atividades produtivas, em um processo de
dependência da natureza a partir do qual se constrói um modo de vida (PEREIRA et al. 2010).
Durante esse processo, o conhecimento empírico, relacionado aos recursos naturais é adquirido
através das experiências vividas e produzem o saber tradicional (GEERTZ, 1997). Tais saberes podem
ser compreendidos como um conjunto de conhecimentos sobre a vida e o meio ambiente, podendo
ser externados por meio de crenças, rituais, mitos, usos e práticas de um grupo social (LÉVI-STRAUSS,
1989; ARRUDA et. Al. 2001; DIEGUES, 2002; REYES-GARCÍA, 2009, CALEGARE et al. 2014; FERNANDES
et al. 2015). Esses saberes são transmitidos, de geração em geração, através de observações práticas
do cotidiano e das relações de aprendizado por meio da educação informal, contribuindo para uma
relação harmoniosa entre o homem e a natureza (DIEGUES, 2002; DA MOTA et al. 2008; SILVA et al.
2013; HORA et al. 2015).
Historicamente as atividades de colheita manual dos bancos naturais apoiam-se no trabalho
comunitário, na tradição familiar e no contato direto com o meio ambiente (BEZERRA et al. 2010;
MARINHO-SORIANO, 2017). Até hoje, diversas comunidades ao redor do mundo ainda praticam essa
atividade, valorizando o conhecimento tradicional em torno da colheita (O’CONNELL-MILNE et al.
2015). No entanto, com a ameaça ao esgotamento dos bancos naturais, diversas comunidades tem
gerenciado seus recursos costeiros através da introdução de novas culturas (KITOLELEI et al. 2016).
Como exemplo, podemos citar o cultivo no mar de macroalgas marinhas, que tem sido
tradicionamente cultivada por decádas em vários paises (BEZERRA, 2008). Essa nova forma de
adquirir os recursos marinhos são respostas adaptativas da comunidade, que tem como base a
tradição cultural e seus conhecimentos tradicionais (KITOLELEI et al. 2016).
27

Na praia de Rio do Fogo (RN) acontece a atividade extrativista de colheita e cultivo comercial
da macroalga marinha Gracilaria birdiae, uma espécie amplamente explorada devido à sua grande
importância econômica (TORRES et al. 2019). Essas atividades envolvem saberes que são adquiridos
através de tradições locais, no contato direto com o ecossistema marinho e na obtenção direta de
conhecimentos transmitidos por seus antepassados. Esse conhecimento tem sido repassado através
de uma relação de aprendizado entre os membros da família, na tentativa de transmitir seu saber
para as gerações futuras, desempenhado um papel importante na identidade das comunidades
costeiras (BEZERRA et al. 2010; MARINHO-SORIANO, 2017).
Existe uma necessidade crescente de pesquisas sobre os conhecimentos das comunidades
tradicionais, para promover ações coletivas que garantam uma sustentabilidade no uso de recursos
naturais (KITOLELEI et al. 2016). Diante desse contexto, o resgate dos saberes e práticas tradicionais
das comunidades que exploram a natureza pode auxiliar na identificação e construção de novos
parâmetros que favoreçam o desenvolvimento econômico, social e ambiental.
Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo identificar os saberes e práticas dos
extrativistas e dos cultivadores de macroalgas marinhas da praia de Rio do Fogo (RN) e de que forma
esses saberes interferem em suas práticas sociais cotidianas.

METODOLOGIA
Local do estudo
O município de Rio de Fogo (05°16′22”S-35°22′57”W) localiza-se na mesorregião do Leste
Potiguar e na microrregião do litoral norte do Estado do Rio Grande do Norte (Figura 1). O município
possui um total de 151,10 km2 de área territorial, com uma população estimada de 10.789
habitantes (IBGE, 2018). A praia de Rio do Fogo, localizada nesse município, é uma típica vila de
pescadores, caracterizada por uma grande diversidade ambiental e de atividades, sobretudo
extrativistas. Grande parte da comunidade vive exclusivamente da exploração de organismos
aquáticos, seja para o consumo próprio ou para sua comercialização. Os principais organismos
explorados na região são lagostas, polvo, peixes e algas marinhas extraídas dos bancos naturais. Em
2006, foi implantado um projeto de cultivo da macroalga Gracilaria birdae na região. O projeto foi
financiado pelo governo brasileiro (UTF/BRA/066/BRA) e teve como objetivo consolidar e expandir o
cultivo de algas. A partir desse projeto foi formada a Associação das Maricultoras de algas de Rio do
Fogo (AMAR), que passaram a comercializar algas produzidas em sistemas de cultivos flutuantes.
28

Figura 1: Localização geográfica da praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil.
Coleta e análise de dados
Os dados foram obtidos através de entrevistas semiestruturadas baseadas na metodologia
de Meksenas (2002) e Viertler (2006), na qual se reverte como uma técnica flexível e informal. Esta
abordagem utiliza tópicos fixos, que ao decorrer das entrevistas, podem ser redefinidos,
possibilitando o direcionamento do diálogo para as questões investigadas.
O público alvo da pesquisa foram os extrativistas e maricultores (cultivadores) de algas
marinhas da localidade, totalizando quatorze participantes (100% do público alvo). A coleta de dados
ocorreu nas residências dos entrevistados, entre o período de dezembro de 2018 a março de 2019, a
partir da abordagem direta e seguindo como roteiro um questionário. Esse material foi composto por
40 indagações, relacionadas às questões sociais, história de vida, tópicos sobre as práticas
produtivas, manejo da espécie G. birdiae e conhecimentos empíricos da comunidade local referente
os ecossistemas costeiros. Além das entrevistas, foram feitas observações durante o
acompanhamento das atividades práticas da coleta de algas dos bancos naturais e do cultivo no mar.
Todo o material etnográfico (gravações, transcrições, questionários e fotografias), foi
analisado qualitativamente, considerando-se todas as informações citadas pelos entrevistados. Os
29

dados obtidos foram tabulados em uma planilha eletrônica para uma melhor visualização dos
resultados.
Ressalta-se que a presente pesquisa está em consonância com os preceitos éticos. O projeto
foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e
aprovado por meio do parecer de nº 2.825.025. Antes de cada entrevista lia-se o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), onde eram explicados os objetivos do estudo e os
benefícios proporcionados, além da garantia de privacidade e sigilo quanto aos nomes e informações
por eles prestadas. Em observância a isto, os entrevistados receberam códigos de identificação (Rio
01 a 14).

RESULTADOS

Perfil dos participantes da pesquisa

Do total de entrevistados, 71,4% eram mulheres e 25,6% homens. A idade média variou
entre 21 e 57 anos, com uma maior participação na faixa etária entre 51 e 57 anos (50% do total
entrevistado). A maioria dos entrevistados (85,7%) é natural do município de Rio do Fogo e reside na
comunidade desde seu nascimento. Quanto aos aspectos habitacionais, 100% dos entrevistados
possuem residência própria e apresentam condições básicas de moradia. Em relação à prestação de
serviços públicos, foi observada carência no saneamento básico e coleta de lixo do munícipio.
Os dados sobre a formação escolar demonstraram que 14,2% não possui instrução, 14,2%
são alfabetizados, 43,0% possuem o ensino fundamental e 28,6% o ensino médio completo. Nenhum
dos entrevistados possui nível técnico ou superior. No entanto, cerca de 54,1% expressam o desejo
de dar continuidade aos estudos, seja para concluir o ensino médio, iniciar um curso técnico ou
superior. Quando questionados sobre a participação em algum curso relacionado às macroalgas
marinhas e/ou ecologia de ambientes costeiros, 64,3% dos entrevistados afirmaram que já fizeram
minicursos ou oficinas relacionadas a algum desses temas.
Em relação à atividade produtiva relacionada as macroalgas marinhas, 14,3% disseram
exercer apenas a atividade de extrativismo nos bancos naturais, 7,1% têm como atividade produtiva,
a extração das algas exclusivamente através do cultivo desses organismos, enquanto 78,6% realizam
as duas atividades.
Atualmente todos os entrevistados fazem parte da associação cooperativista de
beneficiamento de macroalgas marinhas (AMAR) a qual desenvolve a colheita de macroalgas nos
bancos naturais, além de atividades de cultivo no mar. Os entrevistados afirmaram que os principais
benefícios em participar desse grupo é a geração de renda, acesso à serviços, além do
prazer/diversão durante as atividades produtivas.
30

Conhecimentos tradicionais

Na praia de Rio do Fogo, a mão de obra familiar é à base da atividade extrativista. Quando
questionados, 69,2% dos entrevistados mencionaram que tiveram seu primeiro contato com a
atividade de extração de macroalgas marinhas dos bancos naturais ainda na infância, entre 8 e 15
anos de idade, quando viam essa atividade sendo realizada por algum membro da família. Cerca de
15,4% dos entrevistados iniciaram a atividade quando jovens, entre 16 e 29 anos, enquanto os
demais participantes (15,4%) aprenderam a atividade após a fase adulta, motivados pela
necessidade, frente às dificuldades em encontrar emprego em outras áreas (Figura 2ª).
Cerca de 84,6% dos entrevistados mencionaram ter aprendido a atividade extrativista de
colheita das macroalgas marinhas nos bancos naturais, através da tradição familiar (Figura 2B). Os
entrevistados citaram a figura da mãe e da avó como a principal transmissora desse conhecimento:
“Aprendi com minha mãe, era uma tradição familiar (Rio 03, 47 anos). Aprendi com meus pais, que já
realizavam a atividade (Rio 14, 50 anos)”. Os outros 15,4%, afirmaram ter aprendido a atividade
através de um minicurso contemplado no projeto Desenvolvimento de Comunidades Costeiras (DCC),
realizada pela Secretária de Aquicultura e Pesca do Governo Federal. O referido projeto foi
desenvolvido na comunidade no ano de 2009 e tinha como objetivo consolidar e expandir o cultivo
de algas de forma sustentável (BEZERRA, 2008).

Figura 2. A. Primeiro contato com a atividade de colheita de alga dos bancos naturais; B. Forma de aprendizado
da atividade extrativista em Rio do Fogo-RN/Brasil

Quando indagados sobre o manejo e a ecologia da macroalga coletada (G. birdiae), cerca de
64,2% dos entrevistados responderam que possuem conhecimentos sobre a biologia das espécies
locais, nomeclatura, o processo de crescimento, habitat, formas de manejo e comportamentos de
predadores. Quando questionados se algum fenômeno natural influenciava na atividade de colheita,
20,7% dos entrevistados desconhece essa informação, 36,4% afirmaram que nenhum fenômeno
natural influencia na atividade e 42,9% argumentaram que a lua influencia o nível da maré e os
31

períodos disponíveis de acesso aos bancos naturais. “A lua influencia no nível da maré, seca o mar e
facilita a extração de algas (Rio 07, 48 anos). A lua influencia no nível da maré (Rio 14, 50 anos)”. As
fases da lua são sintetizadas pelos extrativistas a partir dos conhecimentos tradicionais adquiridos
em suas vivências e interações com o ambiente natural.
Quando questionados sobre o motivo pelo qual iniciaram a extração de macroalgas dos
bancos naturais, obtivemos como respostas mais comum: “Curiosidade sobre o mar (Rio 04, 57
anos). Curiosidade sobre o mar e a geração de renda. Além disso, essa atividade é uma terapia para
mim (Rio 13, 52 anos)”. Os coletores também manifestaram o desejo em transmitir os seus
conhecimentos para as futuras gerações. Cerca de 64,3% dos entrevistados ensinaram essa atividade
para outras pessoas, principalmente para familiares, incluindo filhos e netos, garantindo assim a
perpetuação desse conhecimento.
Técnicas de colheita

Para a colheita de algas dos bancos naturais os extrativistas utilizam apenas as mãos e/ou
uma faca para coletar as algas, em uma profundidade de 30 a 60 cm (Figura 3ª). O tempo médio
utilizado na atividade pode variar entre 3 a 4 horas e cerca de 200 a 300 kg de macroalgas são
extraídas dos bancos naturais em uma única colheita. Após a colheita as algas são transportadas em
sacos de ráfia (20 kg) até a costa, espalhadas na areia e secas ao sol de forma uniforme, para
posteriormente serem levadas para comercialização.
Em relação às dificuldades enfrentadas pelos coletores, cerca de 57,1% dos entrevistados
afirmaram que a escassez e esgotamento dos bancos naturais na praia de Rio do Fogo e regiões
vizinhas são os principais motivos que dificultam a continuidade dessa atividade. Os extrativistas
expressam receio quanto à possibilidade do desaparecimento das macroalgas marinhas na região,
pois as atividades estão enraizadas em suas rotinas.

Técnicas aplicadas ao sistema de cultivo

Os sistemas de cultivos desenvolvidos no local de estudo estão situados a 150 metros da


praia e as estruturas utilizadas (balsas flutuantes) possuem um total de 50 metros, sendo
subdivididas em 10 módulos de 5m x 5m cada (Figura 3B). A balsa flutuante é confeccionada pelos
próprios maricultores, geralmente homens, a partir de canos de PVC e cordas de polietileno de 6mm.
Cada módulo é produzido utilizando 2 canos vedados nas extremidades e unidos por cordas de 5
metros nas laterais. Cerca de 8 a 10 redes tubulares de 5m (semelhante às utilizadas no cultivo de
mexilhões) são distribuídas na parte interna do módulo, presas aos canos com auxílio das cordas,
com intervalos de 50cm uma da outra. Para a fixação do sistema ao fundo são utilizadas duas âncoras
(poitas) de aproximadamente 500 kg, uma em cada extremidade da balsa. As poitas são
confeccionadas com pneus e preenchida com uma massa de cimento e brita.
32

A metodologia adotada nesse cultivo utiliza a técnica de propagação vegetativa, onde são
utilizados fragmentos de algas, coletadas diretamente dos bancos naturais, para produção de mudas.
Para o processo de plantio, aproximadamente 2 Kg de algas, recém coletadas dos bancos naturais,
são inseridas no interior de cada rede tubular, com auxílio de um tubo PVC (Figura 3C).
No período de produção, que corresponde a cerca de 60 dias, ocorrem os procedimentos
quinzenais (de acordo com o ciclo da maré) de manutenção e limpeza, tanto das estruturas de
cultivo, como das macroalgas. Esse procedimento é necessário para a retirada das epífitas e de
outros organismos incrustantes. Após o período de crescimento, as macroalgas são coletadas,
colocadas em pequenas embarcações e levadas para a Associação de Maricultoras de algas de Rio do
Fogo. Nesse local, a biomassa é espalhada em mesas de telas suspensas e expostas ao sol para
secarem. A média do tempo de secagem é de até 2 dias. Durante este período, as algas são viradas
pelo menos duas vezes ao dia para assegurar uma secagem uniforme. Após esse procedimento, elas
são armazenadas em sacos de ráfia (20 kg) para posteriormente serem beneficiadas e/ou
comercializadas.

Comercialização

Todos os extrativistas e cultivadores de macroalgas marinhas afirmaram exercer a atividade


visando à geração de emprego e renda, o que contribui para o desenvolvimento social e econômico
da comunidade. Nesse sentido, 61,9% dos extrativistas e 58,3% dos cultivadores afirmaram ser o
principal responsável pelo sustento da família, evidenciando a importância econômica da atividade
para a sua subsistência.
Geralmente a comercialização, tanto referente às macroalgas dos ambientes naturais
(bancos algais), quanto dos sistemas de cultivo, é realizada pelos próprios coletores e produtores
conforme o grau de beneficiamento. Os participantes afirmaram que a venda das macroalgas in
natura não apresenta uma comercialização compensatória, uma vez que o valor gira em torno de
R$1,00 por quilo da alga seca. Nessa negociação, geralmente a biomassa é vendida para
atravessadores, que compram a produção por um valor muito abaixo do mercado e revendem com
ganhos significativos. No entanto, quando há o processamento e beneficiamento da biomassa, há um
maior retorno financeiro. Nesses casos são elaborados produtos com valor agregado mais elevado,
tais como farinha de algas (R$ 25,00), biscoitos (R$ 10,00) e doces à base de algas (e.g. mousse,
cocadas e gelatinas – R$2,00) (Figura 3D).
33

Figura 3. A. Colheita manual da macroalga G. birdiae realizada na zona intertidal; B. Estrutura de cultivo
instalada no mar; C. Preparação do sistema de cultivo e preparação das mudas; D. Mousse, cocada e gelatina à
base de algas produzidas pela associação AMAR, praia de Rio do Fogo, RN.
DISCUSSÃO

O extrativismo dos bancos naturais e o cultivo de macroalgas marinhas são considerados


tarefas domésticas, efetuada por vários membros de uma família (REBOURS et al. 2014; HART et al.
2014; MARINHO-SORIANO 2017). No entanto, o papel das mulheres tem sido fundamental nesse tipo
de atividade, pois constituem cerca de 80% da mão de obra (MARINHO-SORIANO, 2017). Aliado a
isso, sua imensa contribuição para a indústria tem sido amplamente demonstrada e avaliada em
estudos de caso de sucesso (MSUYA et al. 2017). Em Rio do Fogo, grande parte dos extrativistas
(71,4%) são mulheres que desempenham essa atividade através de sua dedicação. Para elas, que em
geral tem baixa escolaridade, a extração de algas é considerada como a principal ocupação e fonte
de renda (REBOURS et al. 2014; MARINHO-SORIANO, 2017).
Geralmente a transmissão do conhecimento sobre as práticas tradicionais da colheita é
sustentada na relação de afeto entre a mulher/mãe e seus filhos, na tentativa de passar seu saber
para as gerações futuras. As mulheres geralmente executam a atividade com base no seu
conhecimento tradicional sobre os recursos naturais locais (MARINHO-SORIANO, 2017). Esses
“saberes” são desenvolvidos a partir das próprias experiências, observações das trocas de
conhecimentos e da necessidade de se adaptarem ao ambiente onde vivem (FREITAS et al. 2012).
34

Esse conhecimento é transmitido na maioria das vezes de forma oral, tornando possível o acesso às
experiências vividas (BERKES et al. 2000; ARRUDA et al. 2001; DIEGUES, 2002; REYES-GARCIA, 2009).
Como visto anteriormente, em Rio do Fogo, a maioria dos extrativistas mencionou a figura materna
como a principal fonte da transmissão desse conhecimento, evidenciando o papel importante das
mulheres na transferência e construção desse saber. Essa transmissão de conhecimento garante que
a tradição e a cultura dessa atividade produtiva, que está diretamente ligada ao trabalho, não
desapareçam e sejam perpetuadas por gerações.
No que se refere ao manejo dos recursos naturais a maioria dos entrevistados (64,2%),
possui conhecimentos satisfatórios sobre o manejo e ecologia da macroalga coletada e cultivada (G.
birdiae). As estratégias de manejo quando associada aos conhecimentos tradicionais, contribuem
para a conservação da natureza in situ (DIEGUES, 2000; ARRUDA et al. 2001; DREW 2005; PEREIRA et
al. 2010). Dessa forma, as populações tradicionais desenvolvem seus próprios sistemas de
conservação e manejo, existindo uma relação de harmonia, gratidão, respeito e cumplicidade com a
natureza, sendo a causa direta da conservação ambiental (LÉVI-STRAUSS, 1989; MARQUES 2001).
Diversos trabalhos já foram realizados com o intuito de identificar o conhecimento e o uso
tradicional das macroalgas marinhas (REBOURS et al. 2014; O’CONNELL-MILNE et al. 2015; KITOLELEI
et al. 2016; MARINHO-SORIANO 2017; THURSTAN et al. 2018). Na Austrália foram avaliados os
conhecimentos tradicionais e a importância das macroalgas, sendo identificados o uso em diversas
atividades culturais, além da sua aplicação medicinal, na alimentação, ração, construção civil, entre
outros (THURSTAN et al. 2018). Na Nova Zelândia, estudos foram realizados para avaliar o método
tradicional de colheita do Karengo (Porphyra), sendo avaliados os métodos de colheita e como eles
afetam a capacidade de regeneração da macroalga. Os autores identificaram que o método de
colheita mais eficaz é o método tradicional (retirada manual), uma vez que resulta em uma rápida
regeneração da macroalga (O’Connell-Milne et al. 2015). No arquipélago de Fiji, os conhecimentos
tradicionais dos coletores de algas marinhas influenciaram na criação de técnicas eficientes de
manejo e comercialização desses recursos naturais, resultando na implementação de um projeto
visando o cultivo comercial (KITOLELEI et al. 2016). No Brasil, a colheita tradicional teve seu início na
década de 1960, principalmente para fins comerciais (REBOURS et al. 2014; MARINHO-SORIANO,
2017) e essa prática continua até os dias de hoje em alguns estados do Nordeste (MARINHO-
SORIANO, 2017).
A colheita de macroalgas é considerada uma das atividades extrativistas mais importantes
em ambientes costeiros, sendo uma atividade rudimentar que não precisa de processos tecnológicos
para sua execução (MONAGAIL et al. 2017; THURSTAN et al. 2018). Na praia de Rio do Fogo, a
principal espécie de macroalga explorada comercialmente é a G. birdiae (vulgarmente conhecida
como cisco), sendo encontrada principalmente fixadas à rochas, que ficam expostas durante a maré
35

baixa. A sua colheita é realizada manualmente durante todo o ano, nas zonas do mesolitoral e
infralitoral raso, em dias de maré baixa. Atualmente, é aplicado o método de colheita através do
corte usando uma faca ou torcendo a alga próximo da base (Marinho-Soriano, 2017). Esse
processo permite a regeneração mais rápida dos talos, garantindo que os bancos naturais sejam
preservados e que os serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas sejam garantidos para
as gerações futuras.
Além disso, também foram desenvolvidas nessa região ações relacionadas ao cultivo de
macroalgas marinhas com o intuito de conservar e preservar os bancos naturais. Cerca de 1
tonelada de macroalgas (1 balsa) é retirada dos sistemas de cultivo a cada ciclo (60 dias), e o valor
obtido pela alga pode variar conforme o beneficiamento. Essa atividade tem a vantagem de ser
relativamente simples e de fácil manejo, não requer elevado grau de escolaridade por parte dos
produtores e nem de grandes investimentos. O cultivo tem sido visto como uma alternativa viável
para garantir a sustentabilidade da atividade e dos recursos algais, proporcionando para a região
novos olhares e promovendo mudanças significativas nas formas de exploração desses recursos
naturais (BEZERRA et al. 2010; REBOURS et al. 2014).
Quanto à comercialização, geralmente a estrutura utilizada pelas comunidades litorâneas
apresenta-se com diferentes graus de hierarquia e formas de organização. A estratégia de
comercialização é de pagar preços baixos aos extrativistas e produtores, e progressivamente, valores
mais elevados a cada nível hierárquico da cadeia de comercialização (ALVES et al. 2003). Por esse
motivo, muitos dos extrativistas e cultivadores de macroalgas preferem comercializar a biomassa
algal processada e beneficiada, através da cooperativa, para obter ganhos mais significativos. Esse
tipo de comercialização tem sido realizado ao longo dos últimos anos e tem contribuído como fonte
de renda complementar para diversas famílias, gerando resultados econômicos satisfatórios e
garantindo uma melhor qualidade de vida para os envolvidos.

CONCLUSÃO

A colheita de macroalgas dos bancos naturais e o cultivo de algas no mar desenvolvidos pela
comunidade de Rio do Fogo apresentam características peculiares das populações tradicionais, sendo
esta, de pequena escala e realizada de maneira artesanal. Os ambientes explorados diariamente
pelos entrevistados mostram-se como um importante meio de subsistência para a comunidade, que
atualmente enfrenta desafios no gerenciamento e manejo dos bancos naturais e nos sistemas de
cultivos. Dessa forma, para alcançar a continuidade dessas atividades e gerar benefícios para a
comunidade, com bases mais sustentáveis, é essencial levar em consideração os conhecimentos e
práticas tradicionais da população local quanto ao uso e conservação desses recursos naturais.
36

AGRADECIMENTOS

À coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da


bolsa de estudos durante todo o período do mestrado. A todos da comunidade de Rio do Fogo, em
especial os extrativistas e os cultivadores de algas marinhas da Associação de Maricultoras de algas
de Rio do Fogo (AMAR) pela participação e apoio durante toda a pesquisa.

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38

CAPÍTULO 2

Serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas: um estudo de caso em


Rio do Fogo, RN, Brasil.

Ferreira A. B. G, Carneiro M. A. A, Marinho-Soriano E.

ESTE ARTIGO SERÁ SUBMETIDO AO PERIÓDICO OCEAN & COASTAL MANAGEMENT,


PORTANTO ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA
(HTTPS://WWW.ELSEVIER.COM/JOURNALS/OCEAN-AND-COASTAL-MANAGEMENT/0964-
5691/GUIDE-FOR-AUTHORS).

Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Via
costeira, Mãe Luiza, S/N Natal-RN, 59014-002, Brasil.
e-mail: beatriz_biologia@hotmail.com

Resumo
As macroalgas marinhas fornecem uma série de serviços ecossistêmicos, que abrangem as
esferas ambientais, sociais e econômicas. Sobre esse aspecto, o presente trabalho teve como
objetivo proporcionar uma avaliação qualitativa dos registros encontrados na literatura sobre
serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas. Além disso, foram
identificados os serviços fornecidos pelo cultivo da macroalga Gracilaria birdiae localizado
no Munícipio de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil. Para isso, foi realizada uma
pesquisa bibliográfica utilizando artigos acessíveis da web, publicados entre 2009 e 2019, e
que abordavam serviços ecossistêmicos associado as macroalgas marinhas. Um total de 1.428
artigos foram analisados, dos quais 163 relatavam algum tipo de serviço ecossistêmico. Do
total de artigos analisados, o serviço de regulação foi o mais mencionado na literatura
(30,1%), seguido pelos serviços de provisão (28,4), suporte (28,0%) e cultural (13,5%). Na
atividade de cultivo de macroalgas, doze serviços ecossistêmicos foram identificados, dentre
os quais, cinco pertenciam a categoria de suporte, três culturais, dois de provisão e dois de
regulação. Assim podemos concluir que as macroalgas dos bancos naturais e do cultivo
oferecem inúmeros serviços ecossistêmicos, contribuindo dessa forma para a valorização
ambiental e influenciando de forma positiva na preservação e conservação ambiental e no
bem-estar humano.

Palavras-chaves: Maricultura; Bens e Serviços; Gracilaria birdiae.


39

1. Introdução

A rápida mudança ambiental ameaça o funcionamento dos ecossistemas marinhos. O


aumento da temperatura dos oceanos, a destruição de habitats e a poluição que na maioria das
áreas costeiras tem sido degradada pela ação antropogênica, influencia a distribuição das
espécies, a estrutura das comunidades e o funcionamento dos ecossistemas (Smale et al.,
2013). Esses impactos podem comprometer a habilidade do ecossistema em fornecer
benefícios para a sociedade e que são conhecidos como serviços ecossistêmicos (Sunday et
al., 2012). A estrutura dos serviços ecossistêmicos engloba setores ecológicos, econômicos e
sociais, e se encontram divididos em quatro categorias: regulação (e.g. ciclos geoquímicos),
suporte (e.g. habitat), provisão (e.g. alimento) e cultural (e.g. geração de conhecimento)
(Groot et al., 2002).
Os ecossistemas marinhos e costeiros estão entre os mais produtivos do mundo,
fornecendo um grande número de benefícios sociais e econômicos para o homem. Em todo o
mundo, as áreas costeiras são dominadas por habitats estruturalmente complexos, formados
por bancos de algas. A formação de assembleias de algas em áreas rasas resulta em mudanças
consideráveis na estrutura e função do ecossistema, muitas das quais, com capacidade para a
geração de bens e serviços (Troell et al., 2005). Esses bancos de algas são muito produtivos e
oferecem ampla variedade de serviços ecossistêmicos (Smale et al., 2013; Soares et al., 2018),
como por exemplo, alimento, abrigo e berçário para uma variedade de espécies
ecologicamente e economicamente importantes (Thompson et al., 2002). Além disso, esses
serviços possibilitam externalidades positivas, tais como, absorção de nutrientes, sequestro de
carbono e aumento da biodiversidade (Hasselström et al., 2018).
Assim como os bancos naturais, as algas cultivadas também contribuem para o
fornecimento de serviços ecossistêmicos. Do ponto de vista econômico, a biomassa algal pode
ser usada em diversos formas, incluindo o uso como alimento, desenvolvimento de fármacos,
ingredientes para ração e biocombustíveis (Delaney et al., 2016; Buschmann et al. 2017).
Além disso, estudos tem mostrado que o cultivo contribui para a melhoria da qualidade da
água (produção de oxigênio), remoção de nutrientes (N e P) e sequestro de CO 2. No Brasil,
experimentos de cultivo de algas têm sido realizado nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul. No
entanto, apesar de sua perspectiva promissora, essa atividade ainda está em seu estágio inicial.
Atualmente, no Estado do Rio Grande do Norte está sendo desenvolvido um cultivo de
pequena escala com uma espécie nativa (Gracilaria birdiae) por uma Associação das
Maricultoras de algas de Rio do Fogo (AMAR). A instalação desse cultivo na praia de Rio do
40

Fogo, tem sido visto como uma fonte complementar de renda e consequentemente uma
melhor qualidade de vida para as mulheres que praticam essa atividade (Marinho-Soriano,
2017).
A determinação dos serviços ecossistêmicos tem sido recentemente bastante usada
para avaliar potenciais melhorias ambientais da maricultura (Gentry et al., 2019).
Considerando que a maioria das áreas costeiras tem sido degradadas pela ação antropogênica,
como por exemplo, destruição de habitats, poluição e sobrepesca, a quantificação dos serviços
ecossistêmicos, pode servir como um forte incentivo à conservação dos ecossistemas
marinhos (Halpern et al., 2012).
Diante desse contexto, o presente estudo teve como objetivo: (1) avaliar
qualitativamente os serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas (bancos
naturais e sistemas de cultivos) disponíveis em artigos acessíveis nas plataformas da web e (2)
identificar os serviços ecossistêmicos de um cultivo (G. birdiae), a partir de um estudo de
caso na praia de Rio do Fogo (RN).

2. Materiais e Métodos

2.1 Procedimentos metodológicos e localização da área de estudo

Para identificar os serviços ecossistêmicos, foi usado o esquema de classificação


elaborado pelo The Economics of Ecosystems and Biodiversity working group (TEEB, 2010),
que disponibiliza ferramentas qualitativas e descreve a relação entre serviços ecossistêmicos e
o bem-estar humano. Também foi utilizada uma lista de classificação de serviços
ecossistêmicos proposta por Groot, Wilson and Boumans, (2002).
As pesquisas bibliográficas foram realizadas usando os termos “ecosystem services” e
“seaweeds”. Essas palavras foram intencionalmente selecionadas de maneira a agrupar o
maior número de artigos relacionados às macroalgas, acessíveis nas plataformas Scielo, Portal
de Periódicos da CAPES e Google Acadêmico. Somente artigos publicados entre os anos de
2009 a 2019 foram incluídos na busca literária, abrangendo um período de 10 anos.
Em uma segunda etapa, foram analisados os textos sobre serviços ecossistêmicos
fornecidos pelas macroalgas marinhas para criar uma nuvem de palavras, com o objetivo de
destacar os principais serviços ecossistêmicos de cada função. Os textos originais foram
analizados e separados para posteriormente serem compilados em um texto contínuo e
inseridos no gerador de nuvem de palavras on-line (http://www.wordclouds.com).
41

Em seguida foi elaborada uma listagem de serviços ecossistêmicos identificados no


cultivo da macroalga G. birdiae, realizado na praia de Rio do Fogo (05°16’22”S-
35°22’57”W), litoral norte do Estado do Rio Grande do Norte (Figura 1). O cultivo se
encontra situado a 150 metros da costa em estruturas suspensas (balsas flutuantes) de 50
metros, sendo subdivididas em 10 módulos de 5m x 5m cada. Essas balsas são confeccionadas
com cano de PVC, cordas de nylon e redes tubulares similares às utilizadas para o cultivo de
mexilhões. O sistema de ancoragem é obtido por poitas de cimento de 500 kg em cada
extremidade.
Para avaliar os serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas, foram analisados
qualitativamente os serviços ecossistêmicos, utilizando as informações sobre: a) quais
serviços ecossistêmicos são oferecidos pelas macroalgas marinhas? e b) como as macroalgas
afetam os serviços ecossistêmicos?

Figura l: Localização da Praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil

3. Resultados e Discussão

3.1 Serviços ecossistêmicos associados à macroalgas marinhas.


42

As macroalgas marinhas fornecem uma variedade de serviços e uma ampla gama de


benefícios para o bem-estar humano. Com base na revisão da literatura de vários estudos
realizados ao redor do mundo, foi possível identificar, classificar e analisar os serviços
ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas em cada uma das quatro categorias
definidas pelo TEEB (2010).
Nesse estudo foram analisados 1.428 artigos, dos quais 163 relatavam algum tipo de
serviço ecossistêmico relacionado as categorias de provisão, suporte, regulação e cultural
fornecidos pelas macroalgas. Geograficamente, a maioria das pesquisas relacionadas a esse
tema foram realizadas na Europa (35,6%), seguida pela Ásia (24,5%), América do Sul
(14,7%), América do Norte (10,4%), Oceania (9,2%), África (4,9%) e América Central
(0,7%) (Figura 2).

Figura 2. Distribuição geográfica das pesquisas desenvolvidas a respeito dos serviços


ecossistêmicos associados às macroalgas marinhas.

A Tabela 1 mostra os dezesseis serviços ecossistêmicos associados às macroalgas


marinhas encontrados na revisão bibliográfica. Desse total, três serviços ecossistêmicos
estiveram relacionados à categoria de regulação, cinco de provisão, quatro de suporte e quatro
de serviços culturais. O número de associações ao tema está relacionado à quantidade de
serviços ecossistêmicos encontrados na bibliografia consultada, sendo contabilizada mesmo
que fossem identificados mais de um serviço no mesmo trabalho.
43

Tabela 1. Serviços ecossistêmicos associados às macroalgas marinhas identificados nos


trabalhos da revisão da literatura.

Categoria Serviços Ecossistêmicos Associações ao Tema


Biorremediação 42 (48,3%)
Regulação Regulação climática 39 (44,8%)
Retenção de sedimentos 06 (6,9%)
87 (100%)
Matéria-prima 24 (29,3%)
Provisão Produção de alimentos 22 (26,8%)
Bioativos para indústria farmacêutica 18 (22,0%)
Recursos energéticos 17 (20,7%)
Recursos ornamentais 01 (1,2%)
82 (100%)
Habitats 46 (56,8%)
Suporte Manutenção da diversidade biológica e genética 14 (17,3%)
Produção Primária 12 (14,8%)
Dinâmica na teia alimentar 09 (11,1%)
81 (100%)
Geração de emprego e renda 18 (46,2%)
Cultural Ciência e educação 10 (25,6%)
Patrimônio cultural 06 (15,4%)
Recreação 05 (12,8%)
39 (100%)

Dos artigos científicos consultados os serviços de regulação foram os que


apresentaram o maior número de estudos, correspondendo a 30,1% e totalizando 87
associações ao tema. Sobre esses serviços, 48,3% abordaram a capacidade de biorremediação
das macroalgas marinhas. Isto acontece devido à preocupação com o aumento da poluição
marinha, ocasionada pelos processos de eutrofização e por serem as algas excelentes
biofiltradoras, agindo como verdadeiras esponjas removendo nutrientes e contaminantes da
água (Nardelli et al., 2019). A maioria desses estudos, referem-se a cultivos integrados e
multitróficos (Marinho-Soriano et al., 2009a; 2009b; 2013; Kang et al., 2014; Roberts et al.,
2015; Augyte et al., 2017; Gao et al., 2018). Em relação a esse serviço, a pesquisa realizada
por Wu e colaboradores (2017), sobre a capacidade de biorremediação pela macroalga
Pyropia yezoensis, demostrou que essa espécie pode remover o excesso de nutrientes das
águas costeiras, podendo ser utilizada como uma ferramenta de reciclagem de nutrientes em
águas eutrofizadas.
Os estudos relacionados a regulação climática, representaram 44,8%, e abordaram o
papel das macroalgas marinhas como mitigadora das mudanças ambientais (Sondak et al.,
44

2017). Esses estudos abordavam o uso das macroalgas como sequestradoras de CO2,
principalmente em estudos relacionados às mudanças climáticas, controle e qualidade do ar e
regulação climática (Chung et al., 2017). Como exemplo, Callaway e colaboradores (2012)
avaliaram as consequências das mudanças climáticas na atividade de maricultura no Reino
Unido e na Irlanda, sugerindo que a elevação da temperatura do mar afetará negativamente o
cultivo de macroalgas nesses locais. Além disso, diversos estudos demonstraram que as
macroalgas cultivadas, em mar aberto (Laminaria) e em cultivos multitróficos (Gracilaria),
possuem grande habilidade em absorver CO2. Nesses casos, o cultivo de macroalgas é então
considerado estoques naturais de carbono (Krause-Jensen and Duarte, 2016). Esse potencial
apresenta clara implicação no sequestro de carbono e na regulação da acidificação dos
oceanos, gerando benefícios na regulação climática (Chung et al., 2011; Chung et al., 2013;
Chung et al. 2017; Han et al., 2013, Mongin et al., 2016).
Os serviços de retenção de sedimentos, discutidos em 6,9% dos trabalhos analisados,
comprovaram que os cultivos suspensos de macroalgas localizados próximo à costa podem
ser capazes de diminuir o fluxo de energia das ondas até a costa, protegendo-a de possíveis
erosões (Hasselström et al., 2018).
A segunda categoria mais discutida nos estudos foram os serviços de provisão,
correspondendo à 28,4% do total dos trabalhos consultados (82 menções ao tema). Desse
total, a maioria dos estudos analisados discutia a produção de biomassa (29,3%). Este tema
está sobretudo relacionado à obtenção de matéria-prima para indústria de ficocoloides e, em
sua maioria, são trabalhos realizados em cultivos comerciais (Stévantet al., 2017; Mantri et
al., 2017). O uso das algas para produção de alimentos e como fonte de bioativos para
indústria farmacêutica representaram 26,8% e 22,0% respectivamente. Esses estudos
mostraram que as macroalgas são ricas em proteínas, pigmentos e carboidratos, podendo ser
usadas como alimento, ração, fertilizantes e produtos nutracêuticos (Martins et al., 2016;
Asmawati et al., 2016; (Pereira et al., 2009; Gaillande et al., 2017; Kim et al., 2017).
A utilização das macroalgas como recursos energéticos foram discutidos em 20,7%
dos artigos. A maioria desses estudos afirmava que as macroalgas marinhas possuem
quantidades significativas de carboidratos (hexose), que podem ser utilizados para
fermentação e produção de etanol (Goh and Lee, 2010; Fasahati et al., 2015). Os resultados
obtidos, demonstraram que as macroalgas marinhas podem ser possíveis candidatas para
substituir os combustíveis fósseis, diminuindo a vulnerabilidade desse setor, além de fornecer
energia sustentável. O serviço de provisão menos citado foi a aplicação das algas marinhas
como recursos ornamentais, sendo discutido em apenas 1,2% dos artigos. Esse tema envolve o
45

emprego de algas como objeto de decoração e sugere o fornecimento de matéria-prima para


aplicação em souvenirs, trazendo, inclusive, benefícios socioeconômicos (Hasselström et al.,
2018).
Os serviços de suporte foram discutidos em 28,0% do total de trabalhos pesquisados
(81 menções ao tema). Os serviços de habitat e manutenção da diversidade biológica e
genética corresponderam a 56,8% e 17,3% respectivamente dos serviços de suporte
identificados estando relacionados principalmente aos estudos sobre bancos naturais de
macroalgas, em especial kelps (Smale et al., 2013). Cerca de 14,8% dos trabalhos indicaram
as macroalgas como sendo os produtores primários dominantes na zona costeira (Krause-
Jensen and Duarte, 2016; Sondak et al., 2017). Quanto à dinâmica na teia alimentar, 11,1%
dos artigos consultados apresentaram como principal abordagem, a influência e importância
das macroalgas na interação com os organismos que fazem parte do ecossistema marinho
(McDermid et al., 2015; Ostman et al., 2016; Hasselström et al., 2018).
Os serviços culturais foram representados por 13,5% do total de trabalhos analisados
(39 menções ao tema). Desses serviços, a geração de emprego e renda, resultante das
atividades tradicionais, foram identificados em 46,2% dos estudos analisados. Esses estudos
ressaltaram as atividades resultantes da colheita de algas nos bancos naturais, cultivo de
pequeno porte e projetos pilotos realizados nos países em desenvolvimento (Rebours et al.,
2014; Hayashi et al., 2014; O’Connell-Milne and Hepburn; 2015; Kitolelei and Sato 2016;
Zuniga-Jara and Marin-Riffo, 2016; Marinho-Soriano, 2017).
Ciência e educação foi o segundo serviço mais discutido, com 25,6% dos trabalhos,
destacando o interesse e o crescimento científico em assuntos associados a macroalgas
marinhas (Hasselström et al. 2018). Os estudos que abordaram o serviço de patrimônio
cultural (15,4%) evidenciaram a participação das mulheres na atividade de colheita e cultivo
de macroalgas, além da importância dos conhecimentos empíricos e das habilidades de
manejo que são transmitidos de geração em geração pelas comunidades tradicionais (Rebours
et al., 2014; O’Connell-Milne and Hepburn; 2015; Kitolelei and Sato 2016; Marinho-Soriano,
2017; Thurstan et al., 2018).
Quanto aos serviços de recreação, eles representaram 12,8% dos artigos analisados.
Desses, podemos destacar os estudos realizados por Hussin et al., (2015) que analisaram o
potencial turístico baseado na visitação dos cultivos de macroalgas marinhas na Malásia e sua
contribuição para o desenvolvimento do turismo local.
Para uma melhor ilustração dos resultados, a figura 3 apresenta a nuvem de palavras
gerada com base nos resultados encontrados na pesquisa bibliográfica. Um total de 467
46

palavras foram identificadas, agrupadas e organizadas graficamente. O tamanho de cada


palavra foi determinado pela frequência das palavras mencionadas, possibilitando rápida
identificação das palavras-chaves, com destaque aos principais serviços ecossistêmicos de
cada categoria.

Figura 3: Nuvem de palavras gerada a partir dos principais serviços ecossistêmicos associados as
macroalgas marinhas mencioandos na literatura.

Pelo método da nuvem de palavras, foi possível observar que as palavras mais
frequentes estavam relacionadas às macroalgas como fornecedoras de bens e serviços para o
consumo humano [matéria-prima (53), alimentos (14) e bioativos (10)] e como auxiliares na
regulação do ecossistema [biorremediação (26), absorção (19), regulação (14), sedimentos (6)
e retenção (6)]. Também foram identificadas como palavras frequentes, àquelas associadas ao
suporte que as macroalgas fornecem como habitat e realizam a manutenção da diversidade
biológica [habitat (27), biológica (19), manutenção (14) e genética (07)], além do
fornecimento de serviços relacionados ao desenvolvimento social e cultural [renda (18),
patrimônio (6), educação (6), cultural (6) e ciência (6)].

3.2 Serviços ecossistêmicos fornecidos pelo cultivo de Gracilaria birdiae na Praia de Rio
do Fogo

A maricultura de algas do gênero Gracilaria é uma indústria que está bem


estabelecida em várias partes do mundo. Nas regiões tropicais, essa atividade é uma opção de
47

negócio no setor de produção que pode contribuir para o desenvolvimento econômico e social
das populações costeiras, especialmente das mulheres que tem a oportunidade de ganhar uma
renda para si e suas famílias (Marinho-Soriano, 2017). Em geral, os cultivos realizados nos
países tropicais são realizados a partir de tecnologias relativamente simples (reprodução
vegetativa), exige pouca escolaridade e não requer um grande capital inicial de investimento.
Além disso, considerando que a produção das espécies cultivadas, possibilita ciclos mais
curtos (~ 2 meses), ele pode favorecer um retorno financeiro mais rápido sobre o
investimento.
No Rio Grande do Norte o cultivo de macroalgas é realizado por uma pequena
associação composta quase exclusivamente por mulheres. O cultivo implantado na praia de
Rio do Fogo, típica vila de pescadores apresenta uma longa área recifal e várias espécies de
macroalgas. Diversas atividades extrativistas são desenvolvidas na região, incluindo a pesca
artesanal e a colheita de algas. As algas cultivadas pertencem ao gênero Gracilaria, e durante
muito tempo a colheita das algas na zona intertidal foi considerada uma importante fonte de
renda para as comunidades costeiras (Rebours et al. 2014).
Embora de pequeno porte (subsistência) o cultivo de Gracilaria oferece diversos
serviços ecossistêmicos. O levantamento desses serviços identificou um total de doze
serviços, dos quais, cinco pertencem a categoria de suporte (41%), três culturais (25%) dois
de provisão (17%) e dois de regulação (17%) respectivamente (Tabela 2).

Tabela 2 - Identificação e classificação dos serviços ecossistêmicos identificados no cultivo da


macroalga marinha Gracilaria birdiae na praia de Rio do Fogo, RN, Brasil.

Classificação Serviços ecossistêmicos Uso e benefícios Atores beneficiados


Biodiversidade O habitat contribui para a
Habitat conservação e manutenção da Comunidade
Suporte Manutenção da diversidade diversidade biológica, genética local e global
biológica e genética e processos evolutivos
Dinâmica na teia alimentar
Produção primária
Ciência e educação Fornece funções essenciais para Comunidade
Cultural Patrimônio cultural a manutenção da vida humana local e comércio
Geração de renda local
Matéria-prima para as Fornece bens e serviços para o Comunidade
Provisão industrias consumo humano local e global
Produção de alimentos
Apoio à vida e outros processos
Regulação Regulação Climática biológicos, manutenção e Comunidade
Biorremediação equilíbrio do ecossistema Local
marinho
48

Em relação aos serviços de suporte, as estruturas de cultivo de Gracilaria, servem


como atratores para larvas e juvenis de diversas espécies de peixes comercialmente
importantes (Mycteroperca bonaci, Epinephelus spp), assim como crustáceos, incluindo
camarão (Litopenaeus schmitti, Farfantepenaeus subtilis e Farfantepenaeus brasiliensis),
caranguejos (Callinectes sapidus) e lagosta (Panulirus argus). Além disso, espécies
transitórias são frequentes na área de cultivo, como por exemplo, tartarugas (Chelonia mydas)
e aplisia (Aplysia spp). Estes animais utilizam o cultivo como área de alimentação e/ou
abrigo. Do ponto de vista ecológico, a biodiversidade associada aos bancos e cultivo de
Gracilaria, promove interações entre espécies e aumenta o potencial alimentar de um
considerável número de vertebrados e invertebrados. Por exemplo, as epífitas e os biofilmes
que crescem sobre as macroalgas constituem uma fonte essencial de alimento para herbívoros
e detritívoros.
Devido sua complexidade estrutural, as algas proporcionam também uma superfície de
fixação e possibilitam área para numerosas espécies de epífitas e animais da epifauna. Por
outro lado, vale ressaltar a importância de G. birdiae como produtora primária, sendo um elo
importante da cadeia trófica e suporte para a biodiversidade.
Os serviços de provisão fornecidos pelos cultivos de macroalgas apresentam vários
usos potenciais em diferentes setores, tais como, alimento, ração para animais, compostos
químicos, fertilizantes, recursos ornamentais, entre outros (Chung et al. 2017; Hasselström et
al. 2018). Os serviços fornecidos pelo cultivo de Gracilaria em Rio do Fogo, estão
diretamente relacionados à produção de biomassa e seu uso para a extração de ficocoloides e
extratos para a indústria cosmética. Em uma menor escala, a associação das mariculturas
(AMAR) também utiliza a biomassa na confecção de produtos com valor agregado para uso
imediato, como bolos, biscoitos e sobremesas (mousse, gelatina, etc.).
Os benefícios promovidos pelo cultivo quanto aos serviços de regulação estão
associados com o sequestro de carbono e a remoção de nutrientes da água, em especial o
nitrogênio (N) e fósforo (P) provenientes de fontes terrígenas (lixiviação). A absorção e
assimilação de CO2 estão diretamente relacionadas com o processo da fotossíntese (Duarte et
al. 2017), a qual está estritamente ligado à produção de biomassa, que em contrapartida,
promove um impacto positivo em relação à acidificação da água do mar (Duarte et al. 2017;
Krause-Jensen and Duarte, 2016). Outro fator importante ligado à fotossíntese é a produção
de oxigênio pelas algas cultivadas e sua consequente melhoria na qualidade da água. Por outro
lado, espécies de Gracilaria são conhecidas por seu potencial como biofiltradoras (Marinho-
Soriano et al. 2009a). Assim, sua capacidade em remover N e P da água e acumular esses
49

elementos em seus tecidos, tem um papel importante para a mitigação dos problemas de
eutrofização. A biorremediação desses nutrientes apresenta um interesse especial para a área
de estudo, considerando que na praia de Rio do Fogo não existe saneamento básico. Assim
sendo, o cultivo pode minimizar os efeitos da eutrofização ocasionados pelo escoamento das
águas usadas diretamente no mar. Nesse caso, o aumento da área de cultivo, pode trazer
importantes benefícios em uma escala local para a saúde pública.
A colheita das macroalgas dos bancos naturais é uma atividade ligada à identidade das
comunidades litorâneas, principalmente na região nordeste do Brasil. A colheita desses
organismos para a indústria de ficocoloides (ágar e carragenana), é uma atividade que existe
desde a década de 1960 (Marinho-Soriano, 2017). Essa herança cultural é uma rica fonte de
saberes tradicionais populares, repassada de geração a geração (pai para filho), os quais
representam à comunidade em sua estrutura econômica, social e cultural. A importância das
macroalgas na vida de muitas pessoas ao longo do litoral reflete sua importância na vida
cultural das comunidades. Assim, a presença das espécies algais, em especial o gênero
Gracilaria, pode ser considerada como um serviço cultural ligado ao valor simbólico das
espécies patrimoniais.
O cultivo de G. birdiae é visto como uma fonte potencial de emprego e renda nas
áreas costeiras do Rio Grande do Norte. Essa atividade exige um baixo nível de tecnologia e
investimento e pode ser empreendido como uma atividade familiar. Ela apresenta pouco
impacto ambiental e é normalmente compatível com a pesca tradicional e outros usos de
subsistência do ambiente marinho costeiro (Marinho-Soriano, 2017). O cultivo também
fornece estímulo para o desenvolvimento cognitivo, incluindo a educação e pesquisa. A
atividade de pesquisa cientifica, de acordo com a literatura, se concentra principalmente em
estudos de produção de biomassa, ecofisiologia e desenvolvimento de técnicas e cultivo
(Bezerra and Marinho-Soriano, 2010; Fernandes et al. 2017), enquanto a educação está mais
relacionada ao conhecimento da espécie cultivada e tecnologias de cultivo.
Os resultados aqui apresentados mostram que o cultivo de macroalgas em Rio do Fogo
fornece diversos serviços ecossistêmicos, em adição aqueles inicialmente associados com a
produção de biomassa, como por exemplo, o suprimento de matéria-prima e os benefícios
econômicos da atividade. Na prática, o cultivo de Gracilaria tem um papel vital econômico,
ecológico e cultural, atuando como meio de subsistência e reduzindo a pobreza.

4. Conclusão
50

Com base nos resultados obtidos a partir da revisão de literatura, foi possível
identificar os serviços ecossistêmicos prestados pelos bancos naturais de macroalgas, assim
como também os benefícios associados ao cultivo desses organismos em várias regiões do
mundo. Elas foram consideradas fontes valiosas de serviços ecossistêmicos, sendo descritas
aplicações nas quatro categorias (regulação, provisão, suporte e cultural). Desses serviços,
podemos destacar como os principais, a utilização das macroalgas como biorremediadoras
agindo como filtro biológico, sendo essenciais para a manutenção e equilíbrio dos
ecossistemas. Além disso, servem como e matéria-prima para provisão de alimentos e de
diversas aplicações industriais, e proporcionam habitat para diversas espécies, garantindo a
manutenção da diversidade biológica e genética dos organismos associados. Elas também
foram reconhecidas como uma atividade responsável para a geração de emprego e renda em
regiões costeiras.
Em relação aos serviços associados às atividades de cultivo realizadas na praia de Rio
do Fogo, podemos destacar o papel das algas como provedora de benefícios culturais e
econômicos para a comunidade, valorizando essas atividades para o fortalecimento de
serviços na área costeira.

Agradecimentos

À coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela


concessão da bolsa de estudos durante todo o período do mestrado. A todos da comunidade de
Rio do Fogo, em especial os extrativistas e os cultivadores de algas marinhas da Associação
de Maricultoras de algas de Rio do Fogo (AMAR) pela participação e apoio durante toda a
pesquisa.

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56

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atividade de colheita de algas dos bancos naturais e em sistemas de cultivo é uma


atividade tradicional que tem desempenhado um importante papel na identidade das
comunidades costeiras. Ela abrange as esferas social, econômica e ambiental, além de serem
consideradas uma fonte valiosa de múltiplos serviços ecossistêmicos.
No capítulo 1 intitulado “Saberes e práticas tradicionais da colheita e cultivo de
macroalgas marinhas”, foi visto que a colheita de macroalgas dos bancos naturais e o cultivo
de macroalgas no mar desenvolvidos pela comunidade de Rio do Fogo apresentam
características peculiares das populações tradicionais, sendo esta, realizada de maneira
artesanal. Os ambientes explorados diariamente pelos entrevistados mostram-se como um
importante meio de subsistência para a comunidade, que atualmente enfrenta desafios no
gerenciamento e manejo dos bancos naturais e nos sistemas de cultivos. Dessa forma, para
alcançar a continuidade dessas atividades e gerar benefícios para a comunidade, com bases
mais sustentáveis, é essencial levar em consideração os conhecimentos e práticas tradicionais
da população local quanto ao uso e conservação desses recursos naturais. No entanto, existe
uma necessidade crescente de pesquisas sobre os conhecimentos das comunidades
tradicionais, de maneira a promover ações coletivas que garantam uma sustentabilidade no
uso de recursos naturais.
No capítulo 2 intitulado “Serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas
marinhas: um estudo de caso em Rio do Fogo, RN, Brasil”, foi possível identificar, com base
nos resultados obtidos a partir da revisão de literatura, os serviços ecossistêmicos prestados
pelos bancos naturais de macroalgas, assim como também os benefícios associados ao cultivo
desses organismos em várias regiões do mundo. As macroalgas foram consideradas fontes
valiosas de serviços ecossistêmicos, sendo descritas aplicações nas quatro categorias definidas
pelo TEEB (regulação, provisão, suporte e cultural). Desses serviços, podemos destacar como
os principais, a utilização das macroalgas como biorremediadoras de nutrientes e importante
fonte de matéria-prima para provisão de alimentos e de diversas aplicações industriais. Além
disso, sua capacidade em proporcionar habitat para diversas espécies, garante a manutenção
da diversidade biológica e genética dos organismos associados. Elas também foram
reconhecidas como uma das principais responsáveis para a geração de emprego e renda em
regiões costeiras.
Em relação aos serviços associados às atividades de cultivo realizadas na praia de Rio
do Fogo, ficou evidenciado o papel das algas como provedora de benefícios culturais e
57

econômicos para a comunidade. No entanto, a formulação de políticas públicas referente à


atividade de cultivo na região é necessária para avançar na economia local, garantir a
subsistência e melhorar a qualidade de vida da população.
58

APÊNDICE
59

Apêndice A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa: Saberes e práticas na extração e


cultivo de macroalgas marinhas, que tem como pesquisador responsável Ana Beatriz Gomes
Ferreira, sob Orientação da Prof. Dr.ª Eliane Marinho Soriano.
Esta pesquisa pretende analisar os saberes e práticas dos extrativistas e das maricultoras de
algas marinhas e sua relação com a conservação desses recursos naturais.
O motivo que nos leva a fazer este estudo é identificar os saberes que são incorporados nas
práticas de manejo e de que forma eles interferem nas suas práticas sociais cotidianas.
Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas ligando para Ana Beatriz
Gomes Ferreira, telefone para contato: (84) 98632-1547, e-mail beatriz_biologia@hotmail.com
Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase
da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.
Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e serão divulgados apenas em
congressos ou publicações científicas, sempre de forma anônima, não havendo divulgação de
nenhum dado que possa lhe identificar.
Esses dados serão guardados pelo pesquisador responsável em local seguro e por um
período de 5 anos.
Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados serão
coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que ela trará para
mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos, concordo em participar da pesquisa Saberes e
práticas na extração e cultivo de macroalgas marinhas, e AUTORIZO a divulgação das
informações por mim fornecidas em congressos e/ou publicações científicas desde que nenhum dado
possa me identificar.

Data:

___________________________________
Assinatura do participante da pesquisa
Impressão
datiloscópica do
participante
60

Apêndice B
TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGENS (FOTOS E VÍDEOS)

Eu,________________________________________, AUTORIZO a Ana Beatriz Gomes


Ferreira, e Eliane Marinho Soriano coordenadora da pesquisa intitulada: Saberes e práticas
tradicionais na extração e cultivo de macroalgas marinhas a fixar, armazenar e exibir a minha
imagem por meio de fotos ou/e vídeo com o fim específico de inseri-la nas informações que serão
geradas na pesquisa, aqui citada, e em outras publicações dela decorrentes, quais sejam: revistas
científicas, congressos e jornais.

A presente autorização abrange, exclusivamente, o uso de minha imagem para os fins aqui
estabelecidos e deverá sempre preservar o meu anonimato. Qualquer outra forma de utilização e/ou
reprodução deverá ser por mim autorizada.

O pesquisador responsável Ana Beatriz Gomes Ferreira, assegurou-me que os dados serão
armazenados em meio de forma segura, sob sua responsabilidade, por 5 anos, e após esse período,
serão destruídas.

Assegurou-me, também, que serei livre para interromper minha participação na pesquisa a
qualquer momento e/ou solicitar a posse de minhas imagens.

Data:

__________________________________
Assinatura do participante da pesquisa

__________________________________
Ana Beatriz Gomes Ferreira
Aluna do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente – PRODEMA/UFRN
61

Apêndice C
Roteiro para a entrevista semiestruturada

Nome:_________________________________________ Identificação________

Tópico I – Identificação

1 – Qual seu sexo: _________

2 – Idade: ________

3 – Você se declara:
a) Amarelo ( ) b) Branco ( ) c) Pardo ( ) d) Negro ( ) e) Indígena ( ) f) Outra:_________

4- Estado civil
a) Solteiro ( ) b) Casado ( ) c) Viúvo ( ) d) Divorciado ( ) e) União Estável ( )

5 - Você tem filhos?


a) Sim ( ) b) Não ( ) c) Quantos: __________

6- Quais as atividades que realiza?


a) Extração de algas dos bancos naturais ( ) b) extração de algas de atividade de cultivo (maricultura)
( ) c) realiza os dois tipos de colheita ( )

Tópico II – Questões Sociais (moradia e escolaridade)

II.1 - Moradia
1 - Sua residência é?
a) Própria ( ) b) Alugada ( ) e) Outra: ___________________________________________

2 - Quantas pessoas moram em sua casa atualmente, contando com você? ____________

3 - Há quanto tempo vive na comunidade? ______________________________________

II.2- Escolaridade
1 - Nível de instrução?
a) Sem instrução ( ) b) alfabetizado ( ) c) Fundamental ( ) d) Ensino Médio ( )
e) Curso Técnico ( ) f) Superior ( ) Outros:____________________________________

2- Gostaria de dar continuidade aos estudos?


a) Sim ( ) b) Não ( )

3- Já participou de algum curso relacionado a algas?


a) Sim ( ) b) Não ( ) Qual?__________________________________

Tópico III – Perfil econômico dos coletores extrativistas dos bancos naturais de algas marinhas

1 - Quem é o principal responsável pelo sustento da família?


a) A própria entrevistado ( ) b) Outro(s) ___________________________________

2 – Há quanto tempo realiza a colheita de algas dos bancos naturais? ______________


62

3 – Você complementa sua renda com outra atividade?


a) Sim ( ) b) Não ( ) Especifique____________________________________________

4 - Qual é a renda média por colheita obtida através da coleta de algas dos bancos naturais?
a) Até 500,00 ( ) b) até R$ 954 ( ) c) acima de R$ 954,00 ( ) d) Não possui nenhuma
renda ( )

Tópico IV – Perfil econômico dos coletores de macroalgas marinhas através da maricultura

1 - Quem é o principal responsável pelo sustento da família?


a) A própria entrevistado ( ) b) Outro(s) ___________________________________

2 – Há quanto tempo exerce a profissão de maricultor? ______________________

3 – Você complementa sua renda com outra atividade?


a) Sim ( ) b) Não ( ) Especifique____________________________________________

4 - Qual é a renda média por colheita obtida através do cultivo?


a) Até 500,00 ( ) b) até R$ 954 ( ) c) acima de R$ 954,00 ( ) d) Não possui nenhuma
renda ( )

V. Práticas produtivas

1) Qual o tipo de colheita é mais comum?


a) Colheita dos bancos naturais ( ) b) Colheita do cultivo ( ) c) ambas ( )

2- Qual o destino final da colheita extrativismo/cultivo?


Especifique: _____________________________________________________________

3) Quais tarefas produtivas estão envolvidas no seu cotidiano?


a) Criação de produtos alimentícios a base de algas ( ) b) Criação de cosméticos a base de algas c)
venda da algas sem nenhum tipo de processamento d) Outros ( )
Especifique: ______________________________________________________________

4) Quantas horas em média você leva na atividade de colheita dos bancos naturais?
a) 1 a 2 horas ( ) b) 3 a 4 horas ( ) c) 5 a 6 horas ( ) d) Mais de 6 horas( )

5) Quantas horas em média você leva na atividade de colheita do cultivo?


a) 1 a 2 horas ( ) b) 3 a 4 horas ( ) c) 5 a 6 horas ( ) d) Mais de 6 horas( )

6) Qual a quantidade de produto que você vende por colheita?


a) Cultivo ________________ b) Extração dos bancos naturais__________________________

7) Você já abandonou a atividade?


a) Sim ( ) b) Não ( )

8) Caso tenha respondido afirmativamente à questão acima:


a) Por que abandonou? Especifique: ______________________________________
b) Por quanto tempo? Especifique________________________________________

Tópico VI- História de vida e conhecimento tradicional

1) Local de nascimento? ______________________________________________________


63

2) Com quem aprendeu a realizar o cultivo de algas?


Especifique: _____________________________________________________________

3) Com quem aprendeu a realizar a colheita de algas dos bancos naturais?


Especifique: _____________________________________________________________

4) Que idade você iniciou a atividade de colheita de algas?


a) extração dos bancos naturais _________________ b) cultivo_____________________

5) Qual o motivo que fez você escolher essa profissão?


a) Tradição passada entre gerações ( )
b) Habilidade para a profissão ( )
c) Falta de opção ( )
d) Outros ( ) Especifique: ___________________________________________________

6) Você ensinou essa profissão para outras pessoas?


a) Sim ( ) b) Não ( )

7) Em caso positivo, quem?


Especifique: ________________________________________________________________

8) Destas pessoas que você ensinou quantas continuam na profissão?


Especifique: ________________________________________________________________

9) Selecione os principais motivos que facilitaram a sua permanência na atividade de


extração/cultivo:
a) Morar perto da praia ( ) b) Existência de compradores para as algas ( ) c) Trabalhar dentro de
casa ( ) d) Poder determinar o horário de trabalho ( )
e) Outros ( ) Especifique: ______________________________________________________

10) Selecione os principais motivos que dificultaram a sua permanência na atividade


extração/cultivo:
a) Esgotamento dos recursos ( ) b) Dificuldades de comercializar ( ) d) Falta de
equipamentos/instrumental ( ) e) Outros ( ) Especifique: _____________________________

11) Em qual (is) organizações/grupos você busca apoio para o desenvolvimento da atividade de
Maricultura?
a) Associação de pesca ( ) b) Grupo de maricultoras de Rio do Fogo ( ) c) Grupos de maricultura
de outras comunidades ( ) d) Universidades ( ) e) Prefeitura Municipal de Rio do Fogo ( ) f)
políticos ( ) g) Outros ( ) Especifique___________________________________

Tópico VII- ASSOCIAÇÃO AMAR

1)Você se sente mais estimulado a participar de grupos ou organizações cooperativistas?


a) Sim ( ) b) Não ( )

2) Qual é o maior benefício de se fazer parte deste grupo?


a) Melhoria da sua renda ( ) b) Acesso a serviços ( ) c) Beneficia a comunidade ( ) d)
Prazer/Diversão ( ) e) Outros ( ) Especifique________________________________________

3) Quais as maiores dificuldades que enfrentam atualmente no exercício da sua profissão?


__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________
64

4) Na sua opinião quais estratégias podem ser construídas para melhoria das atividades de
cultivo em Rio do Fogo?
__________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

VIII Manejo da espécie Gracilaria birdiae (extração/cultivo) e conhecimento do ecossistema


costeiros

1) Como é realizado o processo produtivo do cultivo?


__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________

2) Por que começar a cultivar algas?


Especifique:________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

3) Por que começar a realizar a extração de algas dos bancos naturais?


Especifique:________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

4) Quais os cuidados que se deve ter para extrair as algas dos bancos naturais?
__________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

5) Qual o tempo total do cultivo? Especifique_______________________________________

6) Como é realizado o processo de limpeza do cultivo?


_____________________________________________________________________________

7) Qual o critério para realizar a colheita das algas nos bancos naturais?
Especifique:___________________________________________________________________

8) Na sua opinião qual a influência da lua sobre os bancos de algas?


__________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

9) Você acha que a forma que vocês coletam as algas (extração do banco/cultivo) gera algum
impacto?
Expecifique:________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________
65

ANEXOS
66

Anexo - Comprovante de aprovação do comitê de ética

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