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PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA
2020
Natal – RN
Brasil
Ana Beatriz Gomes Ferreira
2020
Natal – RN
Brasil
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________
Profa. Dra. Eliane Marinho Soriano
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)
______________________________________________
Profa. Dra. Marcella Araújo do Amaral Carneiro
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)
_______________________________________________
Prof. Dr. José Garcia Júnior
Instituto Federal do Rio Grande do Norte
AGRADECIMENTOS
Acima de tudo, agradeço ao altíssimo Senhor Deus pelo dom da vida, por me guiar e
me ajudar a superar as situações mais difíceis. Ele que tem me sustentado em todos os
momentos.
Agradeço à minha família, em especial à minha mãe, Celita, que sempre me
incentivou e nunca mediu esforços para que eu chegasse até essa etapa da minha vida.
As minhas irmãs Rafaela, Daniele e Gisele.
A minha orientadora Dra. Eliane Marinho Soriano. Muito obrigada por toda a
paciência, valiosos ensinamentos, conversas motivadoras e pelo tempo dedicado que tornaram
possível a conclusão desse trabalho.
Agradeço a todos os meus amigos do laboratório de macroalgas bentônicas e
algocultura DOL/UFRN, Marcella do Amaral, Julia Resende, Marcelle Barbosa, Felipe de
Oliveira e Henrique Borburema. Obrigada por sempre estarem dispostos a contribuir uns com
os outros e por me acompanharem de perto nesse caminho e compartilharem comigo as
aflições e alegrias vividas. Esta conquista também é de vocês!
A todos os Funcionários do Departamento de Oceanografia e Limnologia -
DOL/UFRN que atenciosamente, me acolheram ao longo desses dois anos.
Agradeço aos professores do PRODEMA-UFRN pelas contribuições necessárias
ocorridas no cumprimento das disciplinas do curso de mestrado.
Aos meus colegas de mestrado e doutorado, pelos momentos de descontração, risadas,
alegrias e dificuldades enfrentadas. Certamente crescemos juntos nesta trajetória.
Agradeço aos professores da UFRN em especial à Profa. Dra. Sueli Aparecida Moreira
por ter despertado em mim o interesse pela pesquisa científica e ter me iniciado nela.
A todos da comunidade de Rio do Fogo, em especial os extrativistas e os cultivadores
de algas marinhas da Associação de Maricultoras de algas de Rio do Fogo (AMAR) pela
participação, apoio e amizade durante toda a pesquisa.
A todos os meus amigos pelo apoio incondicional e incentivo nos momentos
necessários, em especial quando as energias estavam se esgotando frente aos desafios que iam
além do curso de mestrado, aqui fica o meu singelo agradecimento!
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES que
financiou o desenvolvimento desta dissertação de mestrado deixando contribuições à
sociedade brasileira, principalmente aos cidadãos do município de Rio do Fogo.
A todos que fizeram deste momento uma vitória.
RESUMO
Seaweeds have played an important role in coastal communities for centuries owing to their
wide applicability. Currently most of the commercialized seaweed biomass in the world
comes from extractive activities and family farms carried out by traditional peoples around
the world, valuing traditional knowledge. Besides that, seaweeds are considered as a valuable
source of ecosystem services, encompassing environmental, social and economic aspects.
This study aimed to investigate traditional knowledge and practices in extractive activities
(harvest and farming) of seaweeds at Rio do Fogo beach, Rio Grande do Norte State, and to
identify ecosystem services provided by seaweeds and their importance for the coastal
communities. This work is divided into two chapters. The first one identified the traditional
techniques and abilities applied in extractive activities of harvest and farming of seaweed
Gracilaria birdiae. In this chapter, it was shown how traditional knowledge on extractive
activities covers knowledge about the ecology of the harvested seaweed and its life cycle.
Besides that, traditional knowledge and practices in extractive activities and farming influence
positively on conserving natural resources, and its rational use is of great relevance for
perpetuating knowledge of these traditional peoples. In the second chapter, this study
analyzed ecosystem services due to significance of seaweeds in the environmental, social and
economic spheres, supplying a qualitative evaluation of observations found in the literature
about ecosystem services provided by seaweeds. The services provided by seaweed farming
of G. birdiae in Rio do Fogo were also identified. To achieve that, a bibliographical survey on
ecosystem services linked to seaweeds was carried out. A total of 1.428 papers were selected
for analysis, but only 163 reported some type of ecosystem service. Of all the papers
analyzed, regulating services was the most mentioned in the literature (30.1%), followed by
provisioning (28.4%), supporting (28.0%) and cultural services (13.5%). In the seaweed
farming at Rio do Fogo beach, twelve ecosystem services were identified, which the local
community directly and indirectly benefits from. Hence, both seaweed beds and seaweed
farming supply several ecosystem services, contributing to environmental valuation and
positively impacting on environmental preservation and conservation, and human wellbeing.
INTRODUÇÃO GERAL
Figura 1. Localização da Praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil................... 17
Figura 2A. Colheita comercial da macroalga marinha G. birdiae dos bancos naturais
realizada na zona intertidal................................................................................................... 18
Figura 2B. Estrutura de cultivo comercial da macroalga marinha G. birdiae instalada na
praia de em Rio do Fogo...................................................................................................... 18
CAPÍTULO 1
Figura 1. Localização geográfica da praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil. 28
Figura 2A. Primeiro contato com a colheita de alga dos bancos naturais........................... 30
Figura 2B. Forma de aprendizado da atividade extrativista................................................ 30
Figura 3A. Colheita manual da macroalga G. birdiae realizada na zona intertidal............ 33
Figura 3B. Estrutura de cultivo instalada no mar................................................................ 33
Figura 3C. Preparação do sistema de cultivo e preparação das mudas............................... 33
Figura 3D. Mousse, cocada e gelatina à base de algas produzidas pela associação
AMAR, praia de Rio do Fogo, RN, Brasil........................................................................... 33
CAPÍTULO 2
Figura 1. Localização da Praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil................... 41
Figura 2. Distribuição geográfica das pesquisas desenvolvidas a respeito dos serviços
ecossistêmicos associados às macroalgas marinhas............................................................. 42
Figura 3: Nuvem de palavras gerada a partir dos principais serviços ecossistêmicos
associados as macroalgas marinhas mencioandos na literatura........................................... 46
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 2
Tabela 1. Serviços ecossistêmicos associados às macroalgas marinhas identificados nos
trabalhos da revisão da literatura.......................................................................................... 43
Tabela 2 - Identificação e classificação dos serviços ecossistêmicos identificados no
cultivo da macroalga marinha Gracilaria birdiae na praia de Rio do Fogo, RN, Brasil..... 47
SUMÁRIO
1. Introdução Geral............................................................................................................ 10
1.1 Saberes e práticas tradicionais..................................................................................... 10
1.2 Breve histórico sobre colheita e cultivo de macroalgas marinhas............................... 11
1.3 Serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas................................. 13
1.3.1 Regulação............................................................................................................... 14
1.3.2 Provisão.................................................................................................................. 15
1.3.3 Suporte.................................................................................................................... 15
1.3.4 Cultural................................................................................................................... 16
2. Caracterização da área de estudo................................................................................. 17
2.1 Localização da área de estudo...................................................................................... 17
3. Metodologia Geral.......................................................................................................... 18
3.1 Coleta e análise de dados / Saberes e práticas tradicionais.......................................... 18
3.2 Serviços ecossistêmicos................................................................................................ 19
Referências........................................................................................................................... 21
Capítulo 1 - Saberes e práticas tradicionais da colheita e cultivo de macroalgas
marinhas............................................................................................................................... 25
Resumo................................................................................................................................. 25
Abstract…………………………………………………………………………………… 25
1. Introdução........................................................................................................................ 26
2. Material e Método........................................................................................................... 27
2.1 Local do estudo............................................................................................................. 27
2.2 Coleta e análise de dados.............................................................................................. 28
3. Resultados........................................................................................................................ 29
3.1 Perfil dos participantes da pesquisa.............................................................................. 29
3.2 Conhecimentos tradicionais.......................................................................................... 30
3.3 Técnicas de colheitas.................................................................................................... 31
3.4 Técnicas aplicadas ao sistema de cultivo...................................................................... 31
3.5 Comercialização........................................................................................................... 32
4. Discussão.......................................................................................................................... 33
5. Conclusão......................................................................................................................... 35
6. Agradecimentos............................................................................................................... 36
Referências........................................................................................................................... 36
Capítulo 2 – Serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas: um
estudo de caso em Rio do Fogo, RN, Brasil....................................................................... 38
Resumo................................................................................................................................. 38
1. Introdução........................................................................................................................ 39
2. Material e Método........................................................................................................... 40
2.1 Procedimentos metodológicos e localização da área de estudo.................................... 40
3. Resultados e Discussão.................................................................................................... 41
3.1 Serviços ecossistêmicos associados à macroalgas marinhas........................................ 41
3.2 Serviços ecossistêmicos fornecidos pelo cultivo da macroalga marinha Gracilaria
birdiae na Praia de Rio do Fogo......................................................................................... 46
4. Conclusão......................................................................................................................... 49
5. Agradecimentos............................................................................................................... 50
Referências........................................................................................................................... 50
Considerações finais............................................................................................................ 56
Apêndices............................................................................................................................. 58
Anexos.................................................................................................................................. 65
10
1. INTRODUÇÃO GERAL
FERNANDES 2015). Deste modo, o conceito de saber tradicional é um saber que emana do
povo, que envolve:
[...] grupos humanos culturalmente diferenciados que historicamente reproduzem
seu modo de vida, de forma mais ou menos isolada, com base em modos de
cooperação social e formas específicas de relações com a natureza, caracterizados
tradicionalmente pelo manejo sustentado do meio ambiente (DIEGUES et al., 1999,
p. 22).
usadas em uma infinidade de aplicações devido à expansão global das indústrias baseadas em
hidrocoloides, cosméticos e suplementos alimentares (FORSTER; RADULOVICH, 2015;
FAO, 2018). Atualmente, a biomassa algal comercializada no mundo é proveniente de
cultivos e atividades extrativistas familiares realizados pelas populações tradicionais ao redor
do mundo (BEZERRA; MARINHO-SORIANO, 2010; REBOURS et al., 2014;
O’CONNELL-MILNE; HEPBURN, 2015; MARINHO-SORIANO, 2017).
No Brasil a ocorrência de algas marinhas é bastante frequente ao longo de toda a costa.
No entanto, ela é mais diversificada e abundante na região Nordeste, onde a colheita e
comercialização têm sido realizadas ao longo de décadas e tem contribuído com a renda de
diversas famílias de pescadores (BEZERRA; MARINHO-SORIANO, 2010). Nessa região as
principais espécies exploradas comercialmente pertencem ao gênero Gracilaria (G. birdiae,
G. caudata, G. domingensis, G. cervicornis). Essas espécies são encontradas principalmente
fixadas em rochas que são expostas na maré baixa. A colheita é executada manualmente no
periodo de maré baixa (sizigia e quadratura) durante todo o ano (MARINHO-SORIANO,
2017).
Historicamente a indústria de algas no Brasil baseia-se na colheita de algas dos bancos
naturais. Desde a década de 1960, diversas espécies de macroalgas vem sendo coletadas na
zona intertidal do litoral do Rio Grande do Norte para extração de ágar e carragenana. A
produção máxima foi alcançada em 1973-1974, um período em que o país exportou em torno
de 2000t anualmente (peso seco) (MARINHO-SORIANO, 2017). No entanto, devido a
exploração excessiva e a ameaça ao esgotamento dos bancos naturais em meados da década
de 1990, a extração de macroalgas diminuiu drasticamente e em algumas áreas a atividade foi
abandonada devido à destruição completa desses recursos (MARINHO-SORIANO, 2017).
Diante dessa situação, projetos pilotos de cultivo de algas foram implantados em
alguns Estados do Nordeste (CE-RN-PB) (REBOURS et al., 2014). Em 2006, o governo
brasileiro e a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – sigla
em inglês Food and Agriculture Organization), implantaram o projeto “Desenvolvimento das
Comunidades Costeiras” (UTF/BRA/066/BRA), destinado a consolidar e expandir o cultivo
da macroalga Gracilaria birdiae (FREDDI; AGUILAR, 2003; MARINHO-SORIANO,
2017), uma espécie produtora de ágar, polissacarídeo usado em diversas indústrias
(alimentícia, cosmética, farmacêutica) o qual é amplamente explorada devido à sua grande
importância econômica (TORRES et al., 2019).
O conhecimento adquirido durante a execução desse projeto possibilitou a formação
de uma associação (Associação das Maricultoras de Algas de Rio do Fogo - AMAR), a qual
13
desenvolve suas atividades de cultivo no mar até os dias de hoje. No Rio Grande do Norte,
essas mulheres “maricultoras” têm contribuído para a consolidação do cultivo de algas,
através de sua dedicação e tenacidade face aos problemas da atividade. O papel das mulheres
nessa atividade é complexo. Ele inclui a prática de atividades de colheita das algas, a
preparação das estruturas de cultivo, bem como, em menor escala, a elaboração de produtos
de valor agregado (alimento, sobremesas, yogurtes, saladas, etc) com base no processamento
da biomassa das algas cultivadas. Atualmente o cultivo de macroalgas tem mostrado um
grande potencial em relação ao desenvolvimento da comunidade e passou a ser considerado
uma alternativa viável para garantir a sustentabilidade da atividade na região. Além disso, as
macroalgas marinhas são consideradas uma fonte valiosa, de importante valor ecológico e
econômico, e em função disso, promotora de múltiplos serviços ecossistêmicos (CHOPIN,
2012; BARBIER, 2013; CABRAL et al., 2016; HASSELSTRÖM et al., 2018).
1.3.1 Regulação
Os serviços de regulação referem-se à capacidade que os ecossistemas naturais e
seminaturais têm de regular os processos e sistemas de apoio à vida, através dos ciclos
biogeoquímicos e outros processos biológicos. Além de manter a saúde do ecossistema e da
biosfera, os serviços de regulação fornecem benefícios diretos e indiretos para os seres
humanos, desempenhando um papel essencial na regulação e manutenção dos processos
ecológicos (GROOT et al., 2002; ALCAMO et al., 2003; BRYHN et al., 2015;
HASSELSTRÖM et al., 2018).
As macroalgas marinhas geram diversos serviços de regulação, os quais incluem,
ciclagem de nutrientes, biorremediação, sequestro de carbono, retenção de sedimento,
regulação do clima, além de proteger a costa da erosão (HASSELSTRÖM et al., 2018). Como
biorremediadoras, as macroalgas têm um grande potencial como filtro biológico. Elas agem
como verdadeiras esponjas, removendo nutrientes e contaminantes da água, prevenindo
processos de eutrofização e poluição (MARINHO-SORIANO 2006; NARDELLI et al.,
2019). As macroalgas também desempenham um papel essencial na remoção da atmosfera de
um dos principais gases do efeito estufa, o dióxido de carbono (CO2). O sequestro de carbono
fornece importante serviço econômico em termos de regulação do clima e ao mesmo tempo,
contribui para o bem-estar humano, evitando riscos com a saúde humana, perda da
biodiversidade, entre outros (HASSELSTRÖM et al., 2018).
A implantação de cultivos de macroalgas em larga escala pode servir como um
potencial sumidouro de carbono dos oceanos, evitando assim a acidificação dos oceanos
(CHUNG et al., 2011). Diversos estudos demonstraram que as macroalgas cultivadas, em mar
aberto (Laminaria) e em cultivos multitróficos (Gracilaria), possuem habilidade para
absorver CO2. Nesses casos, o cultivo de macroalgas pode ser considerado estoques naturais
15
1.3.2 Provisão
1.3.3 Suporte
energia importante para sustentar cadeias tróficas, locais e transitórias, sendo a principal
ligação nas cadeias alimentares, onde participam naturalmente na reciclagem de nutrientes
(CHOPIN, 2012). As macroalgas também podem ser usadas como importantes sentinelas ou
biomonitores das mudanças ambientais, revelando as condições do passado e monitorando as
mudanças futuras. Por serem organismos sésseis, elas bioacumulam substâncias, permitindo a
determinação de compostos nocivos em seus tecidos e, por isso, tem se tornado um
importante bioindicador em estudos de impacto ambiental (MARINHO-SORIANO et al.,
2009).
As macroalgas cultivadas (fazendas), tem função semelhante aos bancos naturais, pois
servem como atratores para uma miríade de espécies que utilizam as estruturas de cultivo
como habitat (KIM et al., 2017; HASSELSTRÖM et al., 2018). Essas características
permitem que as macroalgas funcionem como áreas de forrageamento para inúmeras espécies,
muitas das quais importantes comercialmente (SMALE et al. 2013). Assim, os cultivos de
macroalgas contribuem para a biodiversidade em ambientes costeiros, fornecendo áreas de
abrigo para uma variedade de organismos associados, além de influenciar a estrutura e função
do ecossistema, em uma escala regional (HASSELSTRÖM et al., 2018; GENTRY et al.,
2019).
1.3.4 Cultural
passou a ser uma alternativa interessante para reverter o quadro de pobreza da região,
promovendo melhores condições de vida (BEZERRA; MARINHO-SORIANO, 2010;
ZUNIGA-JARA; MARIN-RIFFO, 2016).
Diante desse contexto, o presente trabalho teve como objetivo (1) analisar e
compreender os saberes e práticas dos extrativistas e maricultoras de algas marinhas da praia
de Rio do Fogo e (2) identificar os serviços ecossistêmicos fornecidos pelos macroalgas dos
bancos naturais e em sistemas de cultivos no mar.
A colheita de algas na praia de Rio do Fogo é uma atividade tradicional realizada pela
comunidade local. Essa atividade é realizada manualmente durante todo o ano, nas zonas do
mesolitoral e infralitoral raso (Figura 2a). Durante muitos anos, essa atividade foi uma
importante fonte de renda para inúmeras famílias de pescadores que obtinham desses
organismos sua principal renda. Nas últimas décadas, a biomassa algal diminuiu
consideravelmente, levando diversos extrativistas a retornar à atividade de pesca artesanal
(Marinho-Soriano, 2017).
Nos últimos anos, nessa praia foi implantado o cultivo da macroalga (Gracilaria
birdiae), utilizando a técnica da propagação vegetativa. O cultivo é realizado em balsas
flutuantes que se encontram situadas a 150 metros da praia. As balsas são compostas por
canos de PVC, cordas de nylon e redes tubulares (semelhante às utilizadas no cultivo de
mexilhões). As estruturas de cultivo medem aproximadamente 50 metros de comprimento e
são subdivididas em 10 módulos de 5m x 5m cada (Figura 2b). A atividade de cultivo é
realizada essencialmente por mulheres (BEZERRA, 2008).
Figura 2: A. Colheita da macroalga marinha G. birdiae dos bancos naturais realizada na zona
intertidal; B. Estrutura de cultivo da macroalga marinha G. birdiae instalada na praia de em Rio do
Fogo.
3. METODOLOGIA GERAL
flexível e informal. Esta abordagem utiliza tópicos fixos, que ao decorrer das entrevistas,
foram redefinidos, possibilitando o direcionamento do diálogo para as questões investigadas.
O público alvo da pesquisa foram os extrativistas e maricultores (cultivadores) de
algas marinhas da localidade, totalizando quatorze participantes (100% do público alvo). A
coleta de dados ocorreu nas residências dos entrevistados, entre o período de dezembro de
2018 a março de 2019, a partir da abordagem direta e seguindo como roteiro um questionário.
Esse material foi composto por indagações, relacionadas às questões sociais, história de vida,
tópicos sobre as práticas produtivas, manejo da espécie G. birdiae e conhecimentos empíricos
da comunidade local referente os ecossistemas costeiros. Além das entrevistas, foram feitas
observações durante o acompanhamento das atividades práticas da coleta de algas dos bancos
naturais e do cultivo no mar.
Todo o material etnográfico (gravações, transcrições, questionários e fotografias), foi
analisado qualitativamente, considerando-se todas as informações citadas pelos entrevistados.
Os dados obtidos foram tabulados em uma planilha eletrônica para uma melhor visualização
dos resultados.
Ressalta-se que a presente pesquisa está em consonância com os preceitos éticos. O
projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte e aprovado por meio do parecer de nº 2.825.025. Antes de cada entrevista
lia-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), onde eram explicados os
objetivos do estudo e os benefícios proporcionados, além da garantia de privacidade e sigilo
quanto aos nomes e informações por eles prestadas. Em observância a isto, os entrevistados
receberam códigos de identificação (Rio 01 a 14).
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24
CAPÍTULO 1
ESTE ARTIGO FOI ACEITO PARA PUBLICAÇÃO NO PERIÓDICO REVISTA IBERO-AMERICANA DE CIÊNCIAS
AMBIENTAIS, PORTANTO ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA
(http://www.sustenere.co/journals/normas.pdf).
Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Via
costeira, Mãe Luiza, S/N Natal-RN, 59014-002, Brasil.
e-mail: beatriz_biologia@hotmail.com
Resumo – Esse estudo teve como objetivo investigar os saberes e práticas tradicionais presentes nas atividades
de extrativismo dos bancos naturais e cultivo de macroalgas marinhas no Rio Grande do Norte. O estudo foi
realizado por meio de entrevistas semiestruturadas utilizando questionário composto por assuntos que
abordavam questões relacionadas as práticas produtivas, aspectos sociais, manejo das macroalgas e
conhecimentos referentes aos ecossistemas costeiros. Além das entrevistas, foi realizado o acompanhamento
das atividades produtivas desenvolvidas pelos participantes envolvidos na pesquisa. Dentre os registros
obtidos, podemos destacar os saberes tradicionais da atividade extrativista, os conhecimentos empíricos
relacionados à ecologia e ciclo de vida das macroalgas. No que se refere a produção das algas cultivadas, ficou
constatada que essas práticas contribuem para a diminuição da pressão exercida sobre os bancos naturais,
possibilitando a manutenção e a recuperação das populações naturais de macroalgas na área estudada. Além
disso, ficou evidenciado que as atividades desenvolvidas pela comunidade têm contribuído para o
desenvolvimento econômico, social e ambiental da região. Em conclusão, foi possível verificar que os saberes e
práticas tradicionais do extrativismo e cultivo de algas, influenciam de forma positiva na conservação dos
recursos naturais, e o seu uso de forma racional é extremamente importante para a perpetuação dos saberes
dessas populações tradicionais.
Abstract – This study aimed to investigate the traditional knowledge and practices present in the extractive
activities of natural beds and seaweed farming in Rio Grande do Norte. The study was carried out through
semistructured interviews using a questionnaire composed of subjects that addressed issues related to
productive practices, social aspects, management of seaweed and knowledge related to coastal ecosystems. In
addition to the interviews, the productive activities developed by the participants involved in the research
were monitored. Among the records obtained, we can highlight the traditional knowledge of the harvest
activity, the empirical knowledge related to the ecology and life cycle of seaweed. Regarding the production of
seaweed farmed, it was found that these practices contribute to the reduction of pressure on natural beds,
enabling the maintenance and recovery of natural populations of seaweed in the studied area. In addition, it
was evident that the activities developed by the community have contributed to the economic, social and
environmental development of the region. In conclusion, it was possible to verify that the traditional
knowledge and practices of seaweed farming and harvesting, positively influence the conservation of natural
resources, and their use in a rational way is extremely important for the perpetuation of the knowledge of
these traditional populations.
INTRODUÇÃO
As macroalgas marinhas assim como as plantas terrestres, tem sido usadas por séculos como
fonte de alimento. Existem registros do uso de algas como alimento a partir do século IV e VI no
Japão e China respectivamente (YANG et al. 2015). No entanto, escavações arqueológicas datando de
14.000 mil anos no Chile têm sugerido seu uso como alimento e medicamento (DILLEHAY et al.
2008). O uso de macroalgas para consumo humano, ração para animal e adubo também foi usado
em várias partes da Europa, Ásia e América do Sul, entretanto, o seu uso esteve principalmente
restrito ao consumo local nas áreas costeiras (CRAIGIE, 2011). Hoje, as algas são usadas em uma
infinidade de aplicações devido à expansão global das indústrias baseadas em hidrocoloides,
cosméticos e suplementos alimentares (FORSTER et al. 2015; FAO, 2017). Atualmente, uma grande
parte da biomassa algal comercializada no mundo é proveniente de cultivos familiares e de
atividades extrativistas realizadas pelas populações tradicionais que vivem nas áreas costeiras
(BEZERRA & MARINHO-SORIANO, 2010; REBOURS et al., 2014; MARINHO-SORIANO, 2017).
Uma das características marcantes das populações tradicionais, concerne o uso e o manejo
dos recursos naturais e o desenvolvimento de atividades produtivas, em um processo de
dependência da natureza a partir do qual se constrói um modo de vida (PEREIRA et al. 2010).
Durante esse processo, o conhecimento empírico, relacionado aos recursos naturais é adquirido
através das experiências vividas e produzem o saber tradicional (GEERTZ, 1997). Tais saberes podem
ser compreendidos como um conjunto de conhecimentos sobre a vida e o meio ambiente, podendo
ser externados por meio de crenças, rituais, mitos, usos e práticas de um grupo social (LÉVI-STRAUSS,
1989; ARRUDA et. Al. 2001; DIEGUES, 2002; REYES-GARCÍA, 2009, CALEGARE et al. 2014; FERNANDES
et al. 2015). Esses saberes são transmitidos, de geração em geração, através de observações práticas
do cotidiano e das relações de aprendizado por meio da educação informal, contribuindo para uma
relação harmoniosa entre o homem e a natureza (DIEGUES, 2002; DA MOTA et al. 2008; SILVA et al.
2013; HORA et al. 2015).
Historicamente as atividades de colheita manual dos bancos naturais apoiam-se no trabalho
comunitário, na tradição familiar e no contato direto com o meio ambiente (BEZERRA et al. 2010;
MARINHO-SORIANO, 2017). Até hoje, diversas comunidades ao redor do mundo ainda praticam essa
atividade, valorizando o conhecimento tradicional em torno da colheita (O’CONNELL-MILNE et al.
2015). No entanto, com a ameaça ao esgotamento dos bancos naturais, diversas comunidades tem
gerenciado seus recursos costeiros através da introdução de novas culturas (KITOLELEI et al. 2016).
Como exemplo, podemos citar o cultivo no mar de macroalgas marinhas, que tem sido
tradicionamente cultivada por decádas em vários paises (BEZERRA, 2008). Essa nova forma de
adquirir os recursos marinhos são respostas adaptativas da comunidade, que tem como base a
tradição cultural e seus conhecimentos tradicionais (KITOLELEI et al. 2016).
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Na praia de Rio do Fogo (RN) acontece a atividade extrativista de colheita e cultivo comercial
da macroalga marinha Gracilaria birdiae, uma espécie amplamente explorada devido à sua grande
importância econômica (TORRES et al. 2019). Essas atividades envolvem saberes que são adquiridos
através de tradições locais, no contato direto com o ecossistema marinho e na obtenção direta de
conhecimentos transmitidos por seus antepassados. Esse conhecimento tem sido repassado através
de uma relação de aprendizado entre os membros da família, na tentativa de transmitir seu saber
para as gerações futuras, desempenhado um papel importante na identidade das comunidades
costeiras (BEZERRA et al. 2010; MARINHO-SORIANO, 2017).
Existe uma necessidade crescente de pesquisas sobre os conhecimentos das comunidades
tradicionais, para promover ações coletivas que garantam uma sustentabilidade no uso de recursos
naturais (KITOLELEI et al. 2016). Diante desse contexto, o resgate dos saberes e práticas tradicionais
das comunidades que exploram a natureza pode auxiliar na identificação e construção de novos
parâmetros que favoreçam o desenvolvimento econômico, social e ambiental.
Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo identificar os saberes e práticas dos
extrativistas e dos cultivadores de macroalgas marinhas da praia de Rio do Fogo (RN) e de que forma
esses saberes interferem em suas práticas sociais cotidianas.
METODOLOGIA
Local do estudo
O município de Rio de Fogo (05°16′22”S-35°22′57”W) localiza-se na mesorregião do Leste
Potiguar e na microrregião do litoral norte do Estado do Rio Grande do Norte (Figura 1). O município
possui um total de 151,10 km2 de área territorial, com uma população estimada de 10.789
habitantes (IBGE, 2018). A praia de Rio do Fogo, localizada nesse município, é uma típica vila de
pescadores, caracterizada por uma grande diversidade ambiental e de atividades, sobretudo
extrativistas. Grande parte da comunidade vive exclusivamente da exploração de organismos
aquáticos, seja para o consumo próprio ou para sua comercialização. Os principais organismos
explorados na região são lagostas, polvo, peixes e algas marinhas extraídas dos bancos naturais. Em
2006, foi implantado um projeto de cultivo da macroalga Gracilaria birdae na região. O projeto foi
financiado pelo governo brasileiro (UTF/BRA/066/BRA) e teve como objetivo consolidar e expandir o
cultivo de algas. A partir desse projeto foi formada a Associação das Maricultoras de algas de Rio do
Fogo (AMAR), que passaram a comercializar algas produzidas em sistemas de cultivos flutuantes.
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Figura 1: Localização geográfica da praia de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil.
Coleta e análise de dados
Os dados foram obtidos através de entrevistas semiestruturadas baseadas na metodologia
de Meksenas (2002) e Viertler (2006), na qual se reverte como uma técnica flexível e informal. Esta
abordagem utiliza tópicos fixos, que ao decorrer das entrevistas, podem ser redefinidos,
possibilitando o direcionamento do diálogo para as questões investigadas.
O público alvo da pesquisa foram os extrativistas e maricultores (cultivadores) de algas
marinhas da localidade, totalizando quatorze participantes (100% do público alvo). A coleta de dados
ocorreu nas residências dos entrevistados, entre o período de dezembro de 2018 a março de 2019, a
partir da abordagem direta e seguindo como roteiro um questionário. Esse material foi composto por
40 indagações, relacionadas às questões sociais, história de vida, tópicos sobre as práticas
produtivas, manejo da espécie G. birdiae e conhecimentos empíricos da comunidade local referente
os ecossistemas costeiros. Além das entrevistas, foram feitas observações durante o
acompanhamento das atividades práticas da coleta de algas dos bancos naturais e do cultivo no mar.
Todo o material etnográfico (gravações, transcrições, questionários e fotografias), foi
analisado qualitativamente, considerando-se todas as informações citadas pelos entrevistados. Os
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dados obtidos foram tabulados em uma planilha eletrônica para uma melhor visualização dos
resultados.
Ressalta-se que a presente pesquisa está em consonância com os preceitos éticos. O projeto
foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e
aprovado por meio do parecer de nº 2.825.025. Antes de cada entrevista lia-se o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), onde eram explicados os objetivos do estudo e os
benefícios proporcionados, além da garantia de privacidade e sigilo quanto aos nomes e informações
por eles prestadas. Em observância a isto, os entrevistados receberam códigos de identificação (Rio
01 a 14).
RESULTADOS
Do total de entrevistados, 71,4% eram mulheres e 25,6% homens. A idade média variou
entre 21 e 57 anos, com uma maior participação na faixa etária entre 51 e 57 anos (50% do total
entrevistado). A maioria dos entrevistados (85,7%) é natural do município de Rio do Fogo e reside na
comunidade desde seu nascimento. Quanto aos aspectos habitacionais, 100% dos entrevistados
possuem residência própria e apresentam condições básicas de moradia. Em relação à prestação de
serviços públicos, foi observada carência no saneamento básico e coleta de lixo do munícipio.
Os dados sobre a formação escolar demonstraram que 14,2% não possui instrução, 14,2%
são alfabetizados, 43,0% possuem o ensino fundamental e 28,6% o ensino médio completo. Nenhum
dos entrevistados possui nível técnico ou superior. No entanto, cerca de 54,1% expressam o desejo
de dar continuidade aos estudos, seja para concluir o ensino médio, iniciar um curso técnico ou
superior. Quando questionados sobre a participação em algum curso relacionado às macroalgas
marinhas e/ou ecologia de ambientes costeiros, 64,3% dos entrevistados afirmaram que já fizeram
minicursos ou oficinas relacionadas a algum desses temas.
Em relação à atividade produtiva relacionada as macroalgas marinhas, 14,3% disseram
exercer apenas a atividade de extrativismo nos bancos naturais, 7,1% têm como atividade produtiva,
a extração das algas exclusivamente através do cultivo desses organismos, enquanto 78,6% realizam
as duas atividades.
Atualmente todos os entrevistados fazem parte da associação cooperativista de
beneficiamento de macroalgas marinhas (AMAR) a qual desenvolve a colheita de macroalgas nos
bancos naturais, além de atividades de cultivo no mar. Os entrevistados afirmaram que os principais
benefícios em participar desse grupo é a geração de renda, acesso à serviços, além do
prazer/diversão durante as atividades produtivas.
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Conhecimentos tradicionais
Na praia de Rio do Fogo, a mão de obra familiar é à base da atividade extrativista. Quando
questionados, 69,2% dos entrevistados mencionaram que tiveram seu primeiro contato com a
atividade de extração de macroalgas marinhas dos bancos naturais ainda na infância, entre 8 e 15
anos de idade, quando viam essa atividade sendo realizada por algum membro da família. Cerca de
15,4% dos entrevistados iniciaram a atividade quando jovens, entre 16 e 29 anos, enquanto os
demais participantes (15,4%) aprenderam a atividade após a fase adulta, motivados pela
necessidade, frente às dificuldades em encontrar emprego em outras áreas (Figura 2ª).
Cerca de 84,6% dos entrevistados mencionaram ter aprendido a atividade extrativista de
colheita das macroalgas marinhas nos bancos naturais, através da tradição familiar (Figura 2B). Os
entrevistados citaram a figura da mãe e da avó como a principal transmissora desse conhecimento:
“Aprendi com minha mãe, era uma tradição familiar (Rio 03, 47 anos). Aprendi com meus pais, que já
realizavam a atividade (Rio 14, 50 anos)”. Os outros 15,4%, afirmaram ter aprendido a atividade
através de um minicurso contemplado no projeto Desenvolvimento de Comunidades Costeiras (DCC),
realizada pela Secretária de Aquicultura e Pesca do Governo Federal. O referido projeto foi
desenvolvido na comunidade no ano de 2009 e tinha como objetivo consolidar e expandir o cultivo
de algas de forma sustentável (BEZERRA, 2008).
Figura 2. A. Primeiro contato com a atividade de colheita de alga dos bancos naturais; B. Forma de aprendizado
da atividade extrativista em Rio do Fogo-RN/Brasil
Quando indagados sobre o manejo e a ecologia da macroalga coletada (G. birdiae), cerca de
64,2% dos entrevistados responderam que possuem conhecimentos sobre a biologia das espécies
locais, nomeclatura, o processo de crescimento, habitat, formas de manejo e comportamentos de
predadores. Quando questionados se algum fenômeno natural influenciava na atividade de colheita,
20,7% dos entrevistados desconhece essa informação, 36,4% afirmaram que nenhum fenômeno
natural influencia na atividade e 42,9% argumentaram que a lua influencia o nível da maré e os
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períodos disponíveis de acesso aos bancos naturais. “A lua influencia no nível da maré, seca o mar e
facilita a extração de algas (Rio 07, 48 anos). A lua influencia no nível da maré (Rio 14, 50 anos)”. As
fases da lua são sintetizadas pelos extrativistas a partir dos conhecimentos tradicionais adquiridos
em suas vivências e interações com o ambiente natural.
Quando questionados sobre o motivo pelo qual iniciaram a extração de macroalgas dos
bancos naturais, obtivemos como respostas mais comum: “Curiosidade sobre o mar (Rio 04, 57
anos). Curiosidade sobre o mar e a geração de renda. Além disso, essa atividade é uma terapia para
mim (Rio 13, 52 anos)”. Os coletores também manifestaram o desejo em transmitir os seus
conhecimentos para as futuras gerações. Cerca de 64,3% dos entrevistados ensinaram essa atividade
para outras pessoas, principalmente para familiares, incluindo filhos e netos, garantindo assim a
perpetuação desse conhecimento.
Técnicas de colheita
Para a colheita de algas dos bancos naturais os extrativistas utilizam apenas as mãos e/ou
uma faca para coletar as algas, em uma profundidade de 30 a 60 cm (Figura 3ª). O tempo médio
utilizado na atividade pode variar entre 3 a 4 horas e cerca de 200 a 300 kg de macroalgas são
extraídas dos bancos naturais em uma única colheita. Após a colheita as algas são transportadas em
sacos de ráfia (20 kg) até a costa, espalhadas na areia e secas ao sol de forma uniforme, para
posteriormente serem levadas para comercialização.
Em relação às dificuldades enfrentadas pelos coletores, cerca de 57,1% dos entrevistados
afirmaram que a escassez e esgotamento dos bancos naturais na praia de Rio do Fogo e regiões
vizinhas são os principais motivos que dificultam a continuidade dessa atividade. Os extrativistas
expressam receio quanto à possibilidade do desaparecimento das macroalgas marinhas na região,
pois as atividades estão enraizadas em suas rotinas.
A metodologia adotada nesse cultivo utiliza a técnica de propagação vegetativa, onde são
utilizados fragmentos de algas, coletadas diretamente dos bancos naturais, para produção de mudas.
Para o processo de plantio, aproximadamente 2 Kg de algas, recém coletadas dos bancos naturais,
são inseridas no interior de cada rede tubular, com auxílio de um tubo PVC (Figura 3C).
No período de produção, que corresponde a cerca de 60 dias, ocorrem os procedimentos
quinzenais (de acordo com o ciclo da maré) de manutenção e limpeza, tanto das estruturas de
cultivo, como das macroalgas. Esse procedimento é necessário para a retirada das epífitas e de
outros organismos incrustantes. Após o período de crescimento, as macroalgas são coletadas,
colocadas em pequenas embarcações e levadas para a Associação de Maricultoras de algas de Rio do
Fogo. Nesse local, a biomassa é espalhada em mesas de telas suspensas e expostas ao sol para
secarem. A média do tempo de secagem é de até 2 dias. Durante este período, as algas são viradas
pelo menos duas vezes ao dia para assegurar uma secagem uniforme. Após esse procedimento, elas
são armazenadas em sacos de ráfia (20 kg) para posteriormente serem beneficiadas e/ou
comercializadas.
Comercialização
Figura 3. A. Colheita manual da macroalga G. birdiae realizada na zona intertidal; B. Estrutura de cultivo
instalada no mar; C. Preparação do sistema de cultivo e preparação das mudas; D. Mousse, cocada e gelatina à
base de algas produzidas pela associação AMAR, praia de Rio do Fogo, RN.
DISCUSSÃO
Esse conhecimento é transmitido na maioria das vezes de forma oral, tornando possível o acesso às
experiências vividas (BERKES et al. 2000; ARRUDA et al. 2001; DIEGUES, 2002; REYES-GARCIA, 2009).
Como visto anteriormente, em Rio do Fogo, a maioria dos extrativistas mencionou a figura materna
como a principal fonte da transmissão desse conhecimento, evidenciando o papel importante das
mulheres na transferência e construção desse saber. Essa transmissão de conhecimento garante que
a tradição e a cultura dessa atividade produtiva, que está diretamente ligada ao trabalho, não
desapareçam e sejam perpetuadas por gerações.
No que se refere ao manejo dos recursos naturais a maioria dos entrevistados (64,2%),
possui conhecimentos satisfatórios sobre o manejo e ecologia da macroalga coletada e cultivada (G.
birdiae). As estratégias de manejo quando associada aos conhecimentos tradicionais, contribuem
para a conservação da natureza in situ (DIEGUES, 2000; ARRUDA et al. 2001; DREW 2005; PEREIRA et
al. 2010). Dessa forma, as populações tradicionais desenvolvem seus próprios sistemas de
conservação e manejo, existindo uma relação de harmonia, gratidão, respeito e cumplicidade com a
natureza, sendo a causa direta da conservação ambiental (LÉVI-STRAUSS, 1989; MARQUES 2001).
Diversos trabalhos já foram realizados com o intuito de identificar o conhecimento e o uso
tradicional das macroalgas marinhas (REBOURS et al. 2014; O’CONNELL-MILNE et al. 2015; KITOLELEI
et al. 2016; MARINHO-SORIANO 2017; THURSTAN et al. 2018). Na Austrália foram avaliados os
conhecimentos tradicionais e a importância das macroalgas, sendo identificados o uso em diversas
atividades culturais, além da sua aplicação medicinal, na alimentação, ração, construção civil, entre
outros (THURSTAN et al. 2018). Na Nova Zelândia, estudos foram realizados para avaliar o método
tradicional de colheita do Karengo (Porphyra), sendo avaliados os métodos de colheita e como eles
afetam a capacidade de regeneração da macroalga. Os autores identificaram que o método de
colheita mais eficaz é o método tradicional (retirada manual), uma vez que resulta em uma rápida
regeneração da macroalga (O’Connell-Milne et al. 2015). No arquipélago de Fiji, os conhecimentos
tradicionais dos coletores de algas marinhas influenciaram na criação de técnicas eficientes de
manejo e comercialização desses recursos naturais, resultando na implementação de um projeto
visando o cultivo comercial (KITOLELEI et al. 2016). No Brasil, a colheita tradicional teve seu início na
década de 1960, principalmente para fins comerciais (REBOURS et al. 2014; MARINHO-SORIANO,
2017) e essa prática continua até os dias de hoje em alguns estados do Nordeste (MARINHO-
SORIANO, 2017).
A colheita de macroalgas é considerada uma das atividades extrativistas mais importantes
em ambientes costeiros, sendo uma atividade rudimentar que não precisa de processos tecnológicos
para sua execução (MONAGAIL et al. 2017; THURSTAN et al. 2018). Na praia de Rio do Fogo, a
principal espécie de macroalga explorada comercialmente é a G. birdiae (vulgarmente conhecida
como cisco), sendo encontrada principalmente fixadas à rochas, que ficam expostas durante a maré
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baixa. A sua colheita é realizada manualmente durante todo o ano, nas zonas do mesolitoral e
infralitoral raso, em dias de maré baixa. Atualmente, é aplicado o método de colheita através do
corte usando uma faca ou torcendo a alga próximo da base (Marinho-Soriano, 2017). Esse
processo permite a regeneração mais rápida dos talos, garantindo que os bancos naturais sejam
preservados e que os serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas sejam garantidos para
as gerações futuras.
Além disso, também foram desenvolvidas nessa região ações relacionadas ao cultivo de
macroalgas marinhas com o intuito de conservar e preservar os bancos naturais. Cerca de 1
tonelada de macroalgas (1 balsa) é retirada dos sistemas de cultivo a cada ciclo (60 dias), e o valor
obtido pela alga pode variar conforme o beneficiamento. Essa atividade tem a vantagem de ser
relativamente simples e de fácil manejo, não requer elevado grau de escolaridade por parte dos
produtores e nem de grandes investimentos. O cultivo tem sido visto como uma alternativa viável
para garantir a sustentabilidade da atividade e dos recursos algais, proporcionando para a região
novos olhares e promovendo mudanças significativas nas formas de exploração desses recursos
naturais (BEZERRA et al. 2010; REBOURS et al. 2014).
Quanto à comercialização, geralmente a estrutura utilizada pelas comunidades litorâneas
apresenta-se com diferentes graus de hierarquia e formas de organização. A estratégia de
comercialização é de pagar preços baixos aos extrativistas e produtores, e progressivamente, valores
mais elevados a cada nível hierárquico da cadeia de comercialização (ALVES et al. 2003). Por esse
motivo, muitos dos extrativistas e cultivadores de macroalgas preferem comercializar a biomassa
algal processada e beneficiada, através da cooperativa, para obter ganhos mais significativos. Esse
tipo de comercialização tem sido realizado ao longo dos últimos anos e tem contribuído como fonte
de renda complementar para diversas famílias, gerando resultados econômicos satisfatórios e
garantindo uma melhor qualidade de vida para os envolvidos.
CONCLUSÃO
A colheita de macroalgas dos bancos naturais e o cultivo de algas no mar desenvolvidos pela
comunidade de Rio do Fogo apresentam características peculiares das populações tradicionais, sendo
esta, de pequena escala e realizada de maneira artesanal. Os ambientes explorados diariamente
pelos entrevistados mostram-se como um importante meio de subsistência para a comunidade, que
atualmente enfrenta desafios no gerenciamento e manejo dos bancos naturais e nos sistemas de
cultivos. Dessa forma, para alcançar a continuidade dessas atividades e gerar benefícios para a
comunidade, com bases mais sustentáveis, é essencial levar em consideração os conhecimentos e
práticas tradicionais da população local quanto ao uso e conservação desses recursos naturais.
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AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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38
CAPÍTULO 2
Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Via
costeira, Mãe Luiza, S/N Natal-RN, 59014-002, Brasil.
e-mail: beatriz_biologia@hotmail.com
Resumo
As macroalgas marinhas fornecem uma série de serviços ecossistêmicos, que abrangem as
esferas ambientais, sociais e econômicas. Sobre esse aspecto, o presente trabalho teve como
objetivo proporcionar uma avaliação qualitativa dos registros encontrados na literatura sobre
serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas. Além disso, foram
identificados os serviços fornecidos pelo cultivo da macroalga Gracilaria birdiae localizado
no Munícipio de Rio do Fogo, Rio Grande do Norte, Brasil. Para isso, foi realizada uma
pesquisa bibliográfica utilizando artigos acessíveis da web, publicados entre 2009 e 2019, e
que abordavam serviços ecossistêmicos associado as macroalgas marinhas. Um total de 1.428
artigos foram analisados, dos quais 163 relatavam algum tipo de serviço ecossistêmico. Do
total de artigos analisados, o serviço de regulação foi o mais mencionado na literatura
(30,1%), seguido pelos serviços de provisão (28,4), suporte (28,0%) e cultural (13,5%). Na
atividade de cultivo de macroalgas, doze serviços ecossistêmicos foram identificados, dentre
os quais, cinco pertenciam a categoria de suporte, três culturais, dois de provisão e dois de
regulação. Assim podemos concluir que as macroalgas dos bancos naturais e do cultivo
oferecem inúmeros serviços ecossistêmicos, contribuindo dessa forma para a valorização
ambiental e influenciando de forma positiva na preservação e conservação ambiental e no
bem-estar humano.
1. Introdução
Fogo, tem sido visto como uma fonte complementar de renda e consequentemente uma
melhor qualidade de vida para as mulheres que praticam essa atividade (Marinho-Soriano,
2017).
A determinação dos serviços ecossistêmicos tem sido recentemente bastante usada
para avaliar potenciais melhorias ambientais da maricultura (Gentry et al., 2019).
Considerando que a maioria das áreas costeiras tem sido degradadas pela ação antropogênica,
como por exemplo, destruição de habitats, poluição e sobrepesca, a quantificação dos serviços
ecossistêmicos, pode servir como um forte incentivo à conservação dos ecossistemas
marinhos (Halpern et al., 2012).
Diante desse contexto, o presente estudo teve como objetivo: (1) avaliar
qualitativamente os serviços ecossistêmicos fornecidos pelas macroalgas marinhas (bancos
naturais e sistemas de cultivos) disponíveis em artigos acessíveis nas plataformas da web e (2)
identificar os serviços ecossistêmicos de um cultivo (G. birdiae), a partir de um estudo de
caso na praia de Rio do Fogo (RN).
2. Materiais e Métodos
3. Resultados e Discussão
2017). Esses estudos abordavam o uso das macroalgas como sequestradoras de CO2,
principalmente em estudos relacionados às mudanças climáticas, controle e qualidade do ar e
regulação climática (Chung et al., 2017). Como exemplo, Callaway e colaboradores (2012)
avaliaram as consequências das mudanças climáticas na atividade de maricultura no Reino
Unido e na Irlanda, sugerindo que a elevação da temperatura do mar afetará negativamente o
cultivo de macroalgas nesses locais. Além disso, diversos estudos demonstraram que as
macroalgas cultivadas, em mar aberto (Laminaria) e em cultivos multitróficos (Gracilaria),
possuem grande habilidade em absorver CO2. Nesses casos, o cultivo de macroalgas é então
considerado estoques naturais de carbono (Krause-Jensen and Duarte, 2016). Esse potencial
apresenta clara implicação no sequestro de carbono e na regulação da acidificação dos
oceanos, gerando benefícios na regulação climática (Chung et al., 2011; Chung et al., 2013;
Chung et al. 2017; Han et al., 2013, Mongin et al., 2016).
Os serviços de retenção de sedimentos, discutidos em 6,9% dos trabalhos analisados,
comprovaram que os cultivos suspensos de macroalgas localizados próximo à costa podem
ser capazes de diminuir o fluxo de energia das ondas até a costa, protegendo-a de possíveis
erosões (Hasselström et al., 2018).
A segunda categoria mais discutida nos estudos foram os serviços de provisão,
correspondendo à 28,4% do total dos trabalhos consultados (82 menções ao tema). Desse
total, a maioria dos estudos analisados discutia a produção de biomassa (29,3%). Este tema
está sobretudo relacionado à obtenção de matéria-prima para indústria de ficocoloides e, em
sua maioria, são trabalhos realizados em cultivos comerciais (Stévantet al., 2017; Mantri et
al., 2017). O uso das algas para produção de alimentos e como fonte de bioativos para
indústria farmacêutica representaram 26,8% e 22,0% respectivamente. Esses estudos
mostraram que as macroalgas são ricas em proteínas, pigmentos e carboidratos, podendo ser
usadas como alimento, ração, fertilizantes e produtos nutracêuticos (Martins et al., 2016;
Asmawati et al., 2016; (Pereira et al., 2009; Gaillande et al., 2017; Kim et al., 2017).
A utilização das macroalgas como recursos energéticos foram discutidos em 20,7%
dos artigos. A maioria desses estudos afirmava que as macroalgas marinhas possuem
quantidades significativas de carboidratos (hexose), que podem ser utilizados para
fermentação e produção de etanol (Goh and Lee, 2010; Fasahati et al., 2015). Os resultados
obtidos, demonstraram que as macroalgas marinhas podem ser possíveis candidatas para
substituir os combustíveis fósseis, diminuindo a vulnerabilidade desse setor, além de fornecer
energia sustentável. O serviço de provisão menos citado foi a aplicação das algas marinhas
como recursos ornamentais, sendo discutido em apenas 1,2% dos artigos. Esse tema envolve o
45
Figura 3: Nuvem de palavras gerada a partir dos principais serviços ecossistêmicos associados as
macroalgas marinhas mencioandos na literatura.
Pelo método da nuvem de palavras, foi possível observar que as palavras mais
frequentes estavam relacionadas às macroalgas como fornecedoras de bens e serviços para o
consumo humano [matéria-prima (53), alimentos (14) e bioativos (10)] e como auxiliares na
regulação do ecossistema [biorremediação (26), absorção (19), regulação (14), sedimentos (6)
e retenção (6)]. Também foram identificadas como palavras frequentes, àquelas associadas ao
suporte que as macroalgas fornecem como habitat e realizam a manutenção da diversidade
biológica [habitat (27), biológica (19), manutenção (14) e genética (07)], além do
fornecimento de serviços relacionados ao desenvolvimento social e cultural [renda (18),
patrimônio (6), educação (6), cultural (6) e ciência (6)].
3.2 Serviços ecossistêmicos fornecidos pelo cultivo de Gracilaria birdiae na Praia de Rio
do Fogo
negócio no setor de produção que pode contribuir para o desenvolvimento econômico e social
das populações costeiras, especialmente das mulheres que tem a oportunidade de ganhar uma
renda para si e suas famílias (Marinho-Soriano, 2017). Em geral, os cultivos realizados nos
países tropicais são realizados a partir de tecnologias relativamente simples (reprodução
vegetativa), exige pouca escolaridade e não requer um grande capital inicial de investimento.
Além disso, considerando que a produção das espécies cultivadas, possibilita ciclos mais
curtos (~ 2 meses), ele pode favorecer um retorno financeiro mais rápido sobre o
investimento.
No Rio Grande do Norte o cultivo de macroalgas é realizado por uma pequena
associação composta quase exclusivamente por mulheres. O cultivo implantado na praia de
Rio do Fogo, típica vila de pescadores apresenta uma longa área recifal e várias espécies de
macroalgas. Diversas atividades extrativistas são desenvolvidas na região, incluindo a pesca
artesanal e a colheita de algas. As algas cultivadas pertencem ao gênero Gracilaria, e durante
muito tempo a colheita das algas na zona intertidal foi considerada uma importante fonte de
renda para as comunidades costeiras (Rebours et al. 2014).
Embora de pequeno porte (subsistência) o cultivo de Gracilaria oferece diversos
serviços ecossistêmicos. O levantamento desses serviços identificou um total de doze
serviços, dos quais, cinco pertencem a categoria de suporte (41%), três culturais (25%) dois
de provisão (17%) e dois de regulação (17%) respectivamente (Tabela 2).
elementos em seus tecidos, tem um papel importante para a mitigação dos problemas de
eutrofização. A biorremediação desses nutrientes apresenta um interesse especial para a área
de estudo, considerando que na praia de Rio do Fogo não existe saneamento básico. Assim
sendo, o cultivo pode minimizar os efeitos da eutrofização ocasionados pelo escoamento das
águas usadas diretamente no mar. Nesse caso, o aumento da área de cultivo, pode trazer
importantes benefícios em uma escala local para a saúde pública.
A colheita das macroalgas dos bancos naturais é uma atividade ligada à identidade das
comunidades litorâneas, principalmente na região nordeste do Brasil. A colheita desses
organismos para a indústria de ficocoloides (ágar e carragenana), é uma atividade que existe
desde a década de 1960 (Marinho-Soriano, 2017). Essa herança cultural é uma rica fonte de
saberes tradicionais populares, repassada de geração a geração (pai para filho), os quais
representam à comunidade em sua estrutura econômica, social e cultural. A importância das
macroalgas na vida de muitas pessoas ao longo do litoral reflete sua importância na vida
cultural das comunidades. Assim, a presença das espécies algais, em especial o gênero
Gracilaria, pode ser considerada como um serviço cultural ligado ao valor simbólico das
espécies patrimoniais.
O cultivo de G. birdiae é visto como uma fonte potencial de emprego e renda nas
áreas costeiras do Rio Grande do Norte. Essa atividade exige um baixo nível de tecnologia e
investimento e pode ser empreendido como uma atividade familiar. Ela apresenta pouco
impacto ambiental e é normalmente compatível com a pesca tradicional e outros usos de
subsistência do ambiente marinho costeiro (Marinho-Soriano, 2017). O cultivo também
fornece estímulo para o desenvolvimento cognitivo, incluindo a educação e pesquisa. A
atividade de pesquisa cientifica, de acordo com a literatura, se concentra principalmente em
estudos de produção de biomassa, ecofisiologia e desenvolvimento de técnicas e cultivo
(Bezerra and Marinho-Soriano, 2010; Fernandes et al. 2017), enquanto a educação está mais
relacionada ao conhecimento da espécie cultivada e tecnologias de cultivo.
Os resultados aqui apresentados mostram que o cultivo de macroalgas em Rio do Fogo
fornece diversos serviços ecossistêmicos, em adição aqueles inicialmente associados com a
produção de biomassa, como por exemplo, o suprimento de matéria-prima e os benefícios
econômicos da atividade. Na prática, o cultivo de Gracilaria tem um papel vital econômico,
ecológico e cultural, atuando como meio de subsistência e reduzindo a pobreza.
4. Conclusão
50
Com base nos resultados obtidos a partir da revisão de literatura, foi possível
identificar os serviços ecossistêmicos prestados pelos bancos naturais de macroalgas, assim
como também os benefícios associados ao cultivo desses organismos em várias regiões do
mundo. Elas foram consideradas fontes valiosas de serviços ecossistêmicos, sendo descritas
aplicações nas quatro categorias (regulação, provisão, suporte e cultural). Desses serviços,
podemos destacar como os principais, a utilização das macroalgas como biorremediadoras
agindo como filtro biológico, sendo essenciais para a manutenção e equilíbrio dos
ecossistemas. Além disso, servem como e matéria-prima para provisão de alimentos e de
diversas aplicações industriais, e proporcionam habitat para diversas espécies, garantindo a
manutenção da diversidade biológica e genética dos organismos associados. Elas também
foram reconhecidas como uma atividade responsável para a geração de emprego e renda em
regiões costeiras.
Em relação aos serviços associados às atividades de cultivo realizadas na praia de Rio
do Fogo, podemos destacar o papel das algas como provedora de benefícios culturais e
econômicos para a comunidade, valorizando essas atividades para o fortalecimento de
serviços na área costeira.
Agradecimentos
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
APÊNDICE
59
Apêndice A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE
Esclarecimentos
Data:
___________________________________
Assinatura do participante da pesquisa
Impressão
datiloscópica do
participante
60
Apêndice B
TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGENS (FOTOS E VÍDEOS)
A presente autorização abrange, exclusivamente, o uso de minha imagem para os fins aqui
estabelecidos e deverá sempre preservar o meu anonimato. Qualquer outra forma de utilização e/ou
reprodução deverá ser por mim autorizada.
O pesquisador responsável Ana Beatriz Gomes Ferreira, assegurou-me que os dados serão
armazenados em meio de forma segura, sob sua responsabilidade, por 5 anos, e após esse período,
serão destruídas.
Assegurou-me, também, que serei livre para interromper minha participação na pesquisa a
qualquer momento e/ou solicitar a posse de minhas imagens.
Data:
__________________________________
Assinatura do participante da pesquisa
__________________________________
Ana Beatriz Gomes Ferreira
Aluna do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente – PRODEMA/UFRN
61
Apêndice C
Roteiro para a entrevista semiestruturada
Nome:_________________________________________ Identificação________
Tópico I – Identificação
2 – Idade: ________
3 – Você se declara:
a) Amarelo ( ) b) Branco ( ) c) Pardo ( ) d) Negro ( ) e) Indígena ( ) f) Outra:_________
4- Estado civil
a) Solteiro ( ) b) Casado ( ) c) Viúvo ( ) d) Divorciado ( ) e) União Estável ( )
II.1 - Moradia
1 - Sua residência é?
a) Própria ( ) b) Alugada ( ) e) Outra: ___________________________________________
2 - Quantas pessoas moram em sua casa atualmente, contando com você? ____________
II.2- Escolaridade
1 - Nível de instrução?
a) Sem instrução ( ) b) alfabetizado ( ) c) Fundamental ( ) d) Ensino Médio ( )
e) Curso Técnico ( ) f) Superior ( ) Outros:____________________________________
Tópico III – Perfil econômico dos coletores extrativistas dos bancos naturais de algas marinhas
4 - Qual é a renda média por colheita obtida através da coleta de algas dos bancos naturais?
a) Até 500,00 ( ) b) até R$ 954 ( ) c) acima de R$ 954,00 ( ) d) Não possui nenhuma
renda ( )
V. Práticas produtivas
4) Quantas horas em média você leva na atividade de colheita dos bancos naturais?
a) 1 a 2 horas ( ) b) 3 a 4 horas ( ) c) 5 a 6 horas ( ) d) Mais de 6 horas( )
11) Em qual (is) organizações/grupos você busca apoio para o desenvolvimento da atividade de
Maricultura?
a) Associação de pesca ( ) b) Grupo de maricultoras de Rio do Fogo ( ) c) Grupos de maricultura
de outras comunidades ( ) d) Universidades ( ) e) Prefeitura Municipal de Rio do Fogo ( ) f)
políticos ( ) g) Outros ( ) Especifique___________________________________
4) Na sua opinião quais estratégias podem ser construídas para melhoria das atividades de
cultivo em Rio do Fogo?
__________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
4) Quais os cuidados que se deve ter para extrair as algas dos bancos naturais?
__________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
7) Qual o critério para realizar a colheita das algas nos bancos naturais?
Especifique:___________________________________________________________________
9) Você acha que a forma que vocês coletam as algas (extração do banco/cultivo) gera algum
impacto?
Expecifique:________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________
65
ANEXOS
66