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PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA
2013
Natal – RN
Brasil
AVALIAÇÃO DO RISCO OCUPACIONAL DE
TRABALHADORES EXPOSTOS A AGROTÓXICOS NO
MUNICÍPIO DE TOUROS/RIO GRANDE DO NORTE
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR
SUSTENTÁVEL
2013
Natal – RN
Brasil
Ana Flávia De Santana Resende Nagem
2013
Natal – RN
Brasil
ANA FLÁVIA DE SANTANA RESENDE NAGEM
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________
Prof(a). Dr(a). Viviane Souza do Amaral
ORIENTADOR
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)
______________________________________________
Prof(a). Dr(a). Marialva Sinigaglia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGBM/UFRGS)
_______________________________________________
Prof(a). Dr(a). Francisca de Souza Miller
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)
“Da realidade do campo para o laboratório.”
Dedico a todos os agricultores que participaram desta pesquisa, que debaixo do sol, enfrentam
a dura realidade do homem do campo.
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte pela oportunidade de realizar o mestrado.
Ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente –
PRODEMA que a cada ano luta para a construção de mestrandos que sejam capazes de
contribuir para o equacionamento dos problemas socioambientais em prol do
Desenvolvimento Sustentável da Região Nordeste.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES pelo apoio
financeiro.
Ao Departamento de Biologia Celular e Genética pelo apoio para o transporte até a área de
estudo, assim como da utilização de laboratórios para testes e análises.
Em especial a orientadora Dra. Viviane Souza do Amaral que mesmo sabendo da minha
ausência acadêmica depois de 6 anos de formada, aceitou a orientação e deu seu crédito de
confiança. Dra. Viviane, professora e pesquisadora na qual tenho muito respeito e admiração.
Agradeço muito por tudo que aprendi! Muito Obrigada!
Ao Professor Dr Francisco Pepino De Macedo que desde o inicio disponibilizou toda a sua
boa vontade e conhecimento, sempre pronto a ajudar.
A Professora Dra. Sílvia Regina Batistuzzo de Medeiros pela atenção e por disponibilizar o
laboratório para os testes.
Ao professor Dr. Marcos Antônio de Andrade Medeiros por fazer da ciência algo tão
sensível, com suas palavras na construção do cordel.
Em especial a colega Nilmara de Oliveira Alves que dedicou parte do seu tempo e seu
conhecimento nas análises estatísticas, agradeço muito!!!
A todos os colegas de pesquisa que participaram de todas as etapas para a conclusão desta
pesquisa nas visitas a campo, coletas, testes de laboratório e análise: Giveldna Maria Costa
Pereira, Luiz Cláudio Cardoso Chaves, e Tamires e a todos que contribuíram com seus
conhecimentos e ajuda.
Aos grandes exemplos da minha vida: meus pais, Marlene e Renato que sempre apoiaram
todas as minhas decisões, sempre acreditando; aos meus sogros Lelena e Ronaldo, biólogos
de formação, pesquisadores e educadores de paixão; ao Danilo meu esposo, pesquisador e
professor de vocação, no qual apoiou a minha decisão.
Valentia, força de vontade e querer foram os três elementos que nortearam o meu retorno
na vida acadêmica. Após seis anos de formada decidi dedicar uma parte da minha vida aos
novos conhecimentos que surgirão! Desbravar este caminho sozinha não seria capaz, assim
contei com a colaboração de todas essas pessoas. Muito obrigado!
RESUMO
O uso de agrotóxicos esta sendo usado de maneira intensiva com graves consequências para
os agricultores expostos. O presente estudo teve como objetivo descrever os perfis de saúde e
socioeconômico de 60 agricultores no Município de Touros/RN através do questionário
recomendado por: (International Commission for Protection against Environmental Mutagens
and Carcinogens (ICPEMC). As análises desses dados permitiu comprovar a importância do
conhecimento do perfil socioeconômico e de saúde de agricultores rurais como forma de
entender a realidade dessa população, que pela falta de conhecimentos e condições
encontram-se vulneráveis a exposição de agrotóxicos. Com objetivo de analisar a frequência
de micronúcleos (MN) e outras anormalidade nucleares em células da mucosa oral de 54
agricultores que trabalham no Município de Touros/RN aplicou-se o Teste de micronúcleo
(MN) em mucosa bucal. Os nossos resultados mostraram uma frequência aumentada de MN e
outras anormalidades nucleares relacionados com a exposição e efeitos dos defensivos
agrícolas na saúde. A partir dos resultados obtidos, fica notório que os agricultores estão
aplicando os agrotóxicos de maneira errônea e comprometendo a sua saúde. Como estratégia
socioeducativas foi desenvolvido um Cordel baseado no texto e nos resultados encontrados no
presente estudo. Desta forma este estudo alerta para a necessidade de profundas mudanças
sociais, culturais e no âmbito da saúde para diminuir os riscos a saúde tanto para as pessoas
quanto para o ambiente.
PALAVRAS-CHAVE
Agrotóxicos, micronúcleo (MN), risco ocupacional, Touros, Rio Grande do Norte.
ABSTRACT
The use of pesticides is being used intensively with severe consequences for exposed farmers.
This study aimed to describe the socioeconomic and health profiles of 60 farmers in the city
of Touros / RN through the questionnaire recommended by: (International Commission for
Protection against Environmental Mutagens and Carcinogens (ICPEMC). The analysis of
these data allowed to prove the importance of knowledge about the socioeconomic and health
profile of rural farmers as a way to understand the reality of this population, that is vulnerable
to exposure due to the lack of knowledge and conditions. Aiming to analyze the frequency of
micronucleus (MN) and other nuclear abnormalities in oral mucosa cells of 54 farmers that
work in the city of Touros / RN it was applied the micronucleus test (MN) in oral mucosa.
Our results showed an increased frequency of MN and other nuclear abnormalities related to
the exposure and effects of pesticides on health. Based on the results, it is clear that farmers
are using pesticide in the wrong way and compromising their health. A Cordel has been
developed as a method to taking the results to the people affected by the pesticides.
Therefore this study alerts to the need for profound changes in the social, cultural and health
context to reduce health risks for both people and for the environment.
INTRODUÇÃO GERAL 15
2.4 População 30
Resumo 43
Abstract 45
Introdução 46
Material e Método 47
Área de Estudo 47
Procedimento Metodológico 48
Resultados 49
Discussão 58
Conclusões 62
Colaboradores 63
Agradecimentos 63
Referências 63
CAPÍTULO 2 -ALTERAÇÕES GENÉTICAS EM TRABALHADORES RURAIS NO
NORDESTE BRASILEIRO: INVESTIGAÇÃO DO POTENCIAL MUTAGÊNICO
ASSOCIADO À EXPOSIÇÃO POR AGROTÓXICOS 66
Resumo 67
1. Introdução 68
2. Materiais e Métodos 69
Amostras 69
3. Procedimento Metodológico 70
Caracterização da Amostra 70
Preparações Citológicas 71
Análise Estatística 72
4. Resultados 72
5. Discussão 75
6. Referências 79
CONCLUSÕES GERAIS 82
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 83
APENCIDE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO GRUPO
CONTROLE 87
APENCIDE C - CORDEL 90
ANEXO A – Agrotóxicos FORMULADOS ESPECÍFICOS PARA CULTURA DE
ABACAXI. 93
ANEXO B - GRUPOS QUÍMICOS E MODO DE AÇÃO NOS QUAIS PERTENCEM OS
AGROTÓXICOS. 97
ANEXO C - MAPA DO PROJETO BOQUEIRÃO 100
ANEXO D – PARECER DE APROVAÇÃO DA PESQUISA NO COMITÊ DE ÉTICA DA
UFRN. 102
ANEXO E - QUESTIONÁRIO DE SAÚDE PESSOAL 105
ANEXO F - DADOS DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR – NEOPLASIAS 114
ANEXO G - NORMAS DA REVISTA PARA PUBLICAÇÃO DO CAPÍTULO 1 121
ANEXO H - NORMAS DA REVISTA PARA PUBLICAÇÃO DO CAPÍTULO 2 126
15
INTRODUÇÃO GERAL
Desde os primórdios da colonização até o século XXI a agricultura passou por várias etapas
de modificações tanto políticas, sociais e culturais. Inicialmente produtora de cana-de-açúcar
e café, e, posteriormente, evoluindo para extensas monoculturas. De acordo com Ministério
da Agricultura - MAPA (2012), o Brasil é um dos líderes mundiais na produção e exportação
de vários produtos agropecuários. É o primeiro produtor e exportador de café, açúcar, etanol
de cana-de-açúcar e suco de laranja e lidera o ranking das vendas externas do complexo soja
(farelo, óleo e grãos). Além disso, o crescimento da produção agrícola no Brasil deve
continuar acontecendo com base na produtividade. As projeções indicam que tanto a
produção de grãos e a área de cultivo deverão expandir-se em 9,5% em 2020-21. A área
plantada em 2011/12 é estimada em 51,05 milhões de hectares, sendo 2,4 % maior que a
cultivada em 2010/11, passando de 49,87 milhões para 51,05 milhões de hectares Companhia
Nacional de Abastecimento - CONAB (2012).
De fato, o setor de fruticultura dispõe de linhas de crédito com o objetivo de apoiar a
comercialização de várias culturas, incentivando a agroindustrialização no setor e facilitando
novos mercados (MAPA, 2012). Neste setor, podemos destacar o abacaxi. No que tange a esta
cultura, no Brasil o desempenho em relação ao rendimento (frutos/ha) e a área de colheita (ha)
do abacaxi vêm crescendo desde 1970, segundo dados do IBGE, 2010. De acordo com a
Embrapa (2006) a produção desta fruta in natura cresceu 250% entre 1973 e 2003, e o Brasil
produziu em 2008 aproximadamente 1.4 mil toneladas do fruto, tornando-se o 6º produtor de
abacaxi do mundo, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária- EMBRAPA
(2009). Adicionalmente, no Brasil os dados mostram que em cada Hectar (ha, 10.000m2) há
uma variação na produção de abacaxis entre 17 mil a 27 mil unidades. Em 2009 o Nordeste
foi a região com maior produção desta fruta comparado com outras regiões, atingindo uma
média de 2,7 abacaxis por m2 e a região Sul foi a de menor produção sendo colhido 1,7
abacaxis por m2 (Tabela 1). De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário 2011, a
produção de abacaxi bate recorde no município de Touros - Rio Grande do Norte. Os Estados
do Sudeste, como São Paulo e Rio de Janeiro são os maiores compradores e a produção tem
comércio garantido para os estados nordestinos como o Ceará, Pernambuco e o próprio Rio
Grande Norte.
16
aumentando sua utilização a uma velocidade duas vezes superior a dos demais países. No
país, as vendas de agrotóxicos, acumuladas até outubro de 2011, apresentaram um
crescimento estimado de 10% em comparação com o mesmo período de 2010, impulsionadas
principalmente pelas culturas de soja, cana, milho, algodão, café e pastagem. Depois da soja,
o algodão é o produto que tem maior participação nas vendas de agrotóxicos no mercado
nacional, com 13% do total, a cana-de-açúcar e o milho vêm a seguir, com 12% e 9%,
respectivamente (SINDAG, 2011). As estimativas de faturamento do mercado de agrotóxicos
no Brasil de uso geral entre Janeiro a Outubro de 2010 foi de 9.278 milhões de Reais e entre
Janeiro a Outubro de 2011 foi de 10.199 milhões de Reais. Dentre os principais tipos de
agrotóxicos empregados podemos destacar os inseticidas e os herbicidas que lideraram as
vendas de 2011 (Tabela 2).
Outro ponto importante neste cenário de vendas de agrotóxicos está relacionado com o fato de
que as indústrias químicas a cada ano investem no mercado e lançam novas formulações para
atender a grande demanda existente no país gerando grande faturamento de vendas.
Tabela 2 - Estimativas do Mercado de Defensivos no Brasil acumulado de Janeiro – Outubro 2010 vs 2011
(Milhões R$)
MERCADO (ESTIMATIVA)
Segmentos 2010 2011 % VAR
Herbicidas 3.205 3.455 8%
Fungicidas 2.679 2.750 3%
Inseticidas 2.899 3.512 21%
Acaricidas 127 147 16%
Outros 369 334 -9%
Total 9.278 10.199 10%
Fonte: Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG, 2011).
<http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/camaras_tematicas/Insumos_agropecuarios/57RO/App_Defensiv
os.pdf
Em função disto, os defensivos agrícolas apresentam uma complexidade química, que impõe
sérios riscos a saúde ambiental e humana.
Várias agências de controle ambiental e de saúde vêm demonstrando o potencial destes
compostos como agentes poluidores do ambiente e consequentemente, nocivos à vida, em
particular, à saúde humana. Segundo a OMS (2010), os agrotóxicos estão entre os mais
18
A busca pelo crescimento com base na produtividade aponta para um quadro preocupante no
meio rural. Os agravos à saúde dos trabalhadores decorrentes da utilização de agrotóxicos
podem ser visto como um dos maiores problemas de saúde pública, principalmente nos países
em desenvolvimento (MS, 2010; MALASPINA, 2011). O elevado e indiscriminado uso de
agrotóxicos no Brasil tem contribuído para a contaminação ambiental e para o aumento dos
casos de intoxicações, principalmente as de origem ocupacional (PIGNATI et al.,2007.,
JACOBSON et al, 2009). Soma-se a isto, (i) a falta de orientação técnica, (ii) o
desconhecimento dos riscos associados ao uso, (iii) instruções no rótulo de difícil
compreensão, (iv) manipulação e aplicação sem os devidos equipamentos de proteção
individual (EPI), (v) o não conhecimento das normas de descarte de embalagens, e (vi) o
baixo nível de escolaridade. Todos estes fatores potencializam os riscos de intoxicações pelos
trabalhadores do meio rural (RADIS/FIOCRUZ, 2010).
Em função de todos os tipos de intoxicações, o Ministério da Saúde constituiu o Sistema
Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) em 1980. Este sistema tem
como principal atribuição coordenar a coleta, a compilação, a análise e a divulgação dos casos
de intoxicação e envenenamento notificados no País. Os registros são realizados pela Rede
Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (RENACIAT), criada em
2005 pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 19 da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA). É composta por 35 unidades, localizadas em 19 estados brasileiros, e
tem como função fornecer informação e orientação sobre o diagnóstico, prognóstico,
tratamento e prevenção das intoxicações e envenenamentos, assim como sobre a toxicidade
das substâncias químicas e biológicas e os riscos que elas ocasionam à saúde. Atende tanto o
público em geral quanto os profissionais de saúde, e os resultados do trabalho são divulgados
anualmente. Os registros das intoxicações são realizados de acordo com os agentes tóxicos:
medicamentos, animais peçonhentos e agrotóxicos. No que se refere às intoxicações por
20
resultado de suicídio, sendo que um número significativo dessas mortes são por uso de
produtos químicos. Estima-se que a ingestão deliberada de pesticidas provoca 370.000 mortes
por ano. O número destas mortes pode ser reduzido através das notificações de óbito, da
limitação da disponibilidade e do acesso aos agrotóxicos altamente tóxicos.
De fato, a exposição aos agrotóxicos pelos agricultores pode ser por via oral, inalatória e/ou
dérmica, resultando em quadros sintomatológicos que podem ser confundidos com outras
doenças comuns do dia a dia, levando a dificuldades e erros de diagnósticos além de
tratamentos equivocados (ABRASCO, 2012; OPAS/OMS 1996). Esta exposição aos venenos
agrícolas pode gerar as intoxicações, evidenciadas nos trabalhadores, sendo classificadas em:
aguda, subaguda e crônica. Segundo o Manual de Vigilância a Saúde de Populações Expostas
a Agrotóxicos, criados pela OPAS/OMS, 1996, na intoxicação aguda os sintomas surgem
rapidamente, algumas horas após a exposição excessiva, por curto período, a produtos
extremamente e altamente tóxicos. Pode ocorrer de forma leve, moderada ou grave, a
depender da quantidade de veneno absorvido. A intoxicação subaguda ocorre por exposição
moderada ou pequena a produtos altamente tóxicos ou mediamente tóxicos e tem
aparecimento mais lento. Os sintomas são subjetivos e vagos, tais como dor de cabeça,
fraqueza, mal-estar, dor de estomago e sonolência, entre outros. A intoxicação crônica
caracteriza-se por surgimento tardio, após meses ou anos, por exposição pequena ou
moderada a produtos tóxicos ou a múltiplos produtos, acarretando danos irreversíveis, do tipo
paralisias e neoplasias.
Considerando a intoxicação aguda, um estudo realizado por Thundiyil et al. (2008),
demonstrou que estas intoxicações são causa de morbidade e mortalidade a nível mundial. Por
outro lado, a intoxicação crônica pode gerar mutações no DNA, que contribuem para o
surgimento de doenças, entre elas o câncer, as malformações congênitas e o envelhecimento
(KUMAR e DAS, 2009). Adicionalmente, mesmo as mulheres que não trabalham na
agricultura não estão isentas do contato direto com agrotóxicos, uma vez que as roupas dos
maridos, usadas durante a pulverização, são lavadas nas suas próprias casas, desta forma, toda
a família do agricultor está sujeita a estes riscos de contaminação e consequentemente, o
desenvolvimento de doenças (RANGEL et al., 2011). Dentro desta perspectiva, está a
exposição materna aos agrotóxicos. Vários trabalhos já demonstraram que o contato com
estes venenos durante o período gestacional constitui riscos para a saúde do feto, aumentando
a taxa de abortos espontâneos, a taxa de mortalidade por baixo peso ao nascer e o nascimento
22
de bebês prematuros (ZHANG et al., 1992; TAHA & GRAY, 1993; LONGNECKER et
al.,2001).
Outro aspecto crucial relacionado com a toxicidade crônica, como já foi mencionado
anteriormente, são os riscos dos trabalhadores desenvolverem o câncer em virtude das
mutações no material genético induzidas por estes agentes químicos. Cabe salientar que os
riscos de câncer em agricultores em contato com os agrotóxicos são aproximadamente de 1,5
a 3 vezes maiores do que outras atividades ocupacionais não expostas a este fator (MATOS,
VILENSKY & BOFFETTA, 1998; PERES & MOREIRA, 2003; STOPPELLI, 2005;
ALGRANTI., et al 2010). KUMAR & DAS, (2009) publicou uma análise sobre os fatores
ambientais que estão diretamente ou indiretamente associados com o câncer, e relatou uma
evidente associação entre linfoma e o grupo de agrotóxicos caracterizados quimicamente
como organoclorados, como o 1,3 dicloropropeno, e o herbicida 2,4 ácido
diclorofenoxiacético, portanto o risco de exposição a esses químicos parece ser maior para os
tumores sólidos. O 2,4 ácido diclorofenoxiacético (glicolatos) é o herbicida mais usado no
mundo e o terceiro mais usado na América do Norte. A Agência Internacional para Pesquisa
sobre o Câncer (IARC, 1987) classifica esse agrotóxico como um agente cancerígeno classe
2B- possivelmente indutor de câncer em seres humanos.
Especialmente os agrotóxicos que pertencem a classe organoclorados, carbamatos e os grupos
carbanóis são classificados como prováveis ou possíveis cancerígenos de acordo com a
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos - US EPA e de acordo com a
classificação da IARC, 1991, vários agrotóxicos são reconhecidos como carcinógenos em
seres humanos. Considerando os tipos de agrotóxicos e a exposição de agricultores
WEICHENTHAL et al (2010) identificou em uma revisão bibliográfica 12 tipos de
agrotóxicos entre eles carbamatos, organofosforados, piretróide, cloroacetanilida,
dinitroanilinas, imidazolinone com relações entre exposição e incidência de câncer como, por
exemplo: de cólon, reto, melanoma , pulmão, leucemia, pâncreas, bexiga, mieloma, linfo-
hematopoéticas.
Diante deste panorama, vários métodos são aplicados para mensurar o potencial dos
defensivos agrícolas em induzir danos genéticos no DNA. Um considerável número de
23
estudos tem sido conduzido usando biomarcadores para avaliar a genotoxicidade em células
de trabalhadores expostos a agrotóxicos.
Holland et al. (2008) consideram que a causa mais importante do desenvolvimento de
doenças degenerativas é, provavelmente , o dano genômico. Segundo esses autores, as lesões
no material genético são devidas a exposição ambiental a genotoxinas (radiação e produtos
químicos). Além disso, fatores como a deficiência de micronutrientes (folato), estilo de vida
(álcool, fumo, drogas, e estresse), e fatores genéticos, tais como defeitos hereditários no
metabolismo e/ou reparo DNA também contribuem na indução de danos genéticos.
Segundo Stich & Rosin, (1984), um dos principais métodos para o monitoramento de lesões
genéticas em populações humanas é o Teste de Micronúcleos. Este método é minimamente
invasivo e tem sido usado desde a década de 80 até os dias atuais. Esta metodologia está
baseada na análise de células esfoliadas que podem ser obtidas a partir de vários tecidos,
incluindo mucosa bucal, (raspagens de células bucais), brônquios (muco), bexiga e ureter
(centrifugação da urina), colo do útero (manchas) e esófago (por biópsias). Para Thomas et al
(2009), o Teste de Micronúcleos utilizando células da Mucosa Bucal vem sendo cada vez
mais empregado em diversos estudos para mensurar danos no DNA, instabilidade
cromossômica, morte celular e o potencial regenerativo de tecidos de mucosa bucal em
humanos. Destaca-se também estudos em epidemiologia molecular para investigar os
impactos da nutrição, hábito de fumar, consumo de álcool, incluindo a exposição a
agrotóxicos nas pesquisas de Fan et al. (2006), Thomas, et al. (2009) e Holland et al. (2008).
A importância de se analisar as células da mucosa oral, segundo Chen et al. (2006) e Holland
et al.(2008), está centrada no fato de que estão em constante contato com os contaminantes
ambientais, constituindo, assim, um tecido de extrema importância para avaliação dos danos
induzidos através de ingestão ou inalação de substâncias com potenciais carcinogênicos.
Cairns 1975 afirma que aproximadamente 90% dos cânceres humanos são originados em
células epiteliais.
Muitos estudos utilizaram o Teste de Micronúcleos em células da mucosa bucal para detectar
e quantificar a ação genotóxica de carcinogênicos e mutagênicos por meio da análise da
frequência de micronúcleos (MN) e outras alterações celulares em populações
ocupacionalmente expostas a determinados agentes genotóxicos. Dentre eles podemos
destacar os estudos de Bonassi et al. (2011), Bortoli et al. (2009), Thomas et al. (2009),
Holland et al.(2008), Heuser et al. (2007), Martino-Roth et al. (2003), Basu et al. (2004),
Tolbert et al. (1992).
24
Figura 1– (a) Imagem da célula da mucosa bucal com micronúcleo de indivíduo do grupo exposto; (b)
citoplasma, núcleo principal e micronúcleo em destaque; (c) detalhe do núcleo principal e do micronúcleo
em evidência. Identificado com objetiva de 100 X.
Sua forma pode ser redonda ou oval e seu diâmetro deve variar de 1/3 a 1/6 do tamanho do
núcleo principal. O MN tem que ter a mesma intensidade de coloração e textura do núcleo
principal e deve estar localizado no citoplasma das células sendo marcados apenas em células
diferenciadas com núcleos uniformemente corados (Figura 1-(a)). A frequência de células
micronucleadas em mucosa bucal varia, geralmente, entre 0.5 – 2.5 Mni/1.000 células
(Thomas et al. 2009).
25
A figura 2 representa uma imagem da célula da mucosa bucal sem a presença de MNi.
Figura 2- (a) Imagem da célula da mucosa bucal normal de indivíduo do grupo exposto ; (b) citoplasma e
núcleo em destaque; (c) detalhe do núcleo em evidência.
Figura 3 - (a) Imagem da célula da mucosa bucal com núcleo binucleado de indivíduo do grupo exposto;
(b) citoplasma e núcleo binucleado em destaque; (c) detalhe do núcleo binucleado em evidência.
26
Cromatina condensada
Figura 4 - (a) Imagem da célula da mucosa bucal com cromatina condensada de indivíduo do grupo
exposto; (b) citoplasma e núcleo com cromatina condensada em destaque; (c) detalhe do núcleo com
cromatina condensada em evidência.
Cariólise
Figura 5 - (a) Imagem da célula da mucosa bucal em cariólise de indivíduo do grupo exposto; (b)
citoplasma e núcleo em cariólise em destaque; (c) detalhe do núcleo em cariólise em evidência.
Picnose
Figura 6 - (a) Imagem da célula da mucosa bucal em picnose de indivíduo do grupo exposto; (b)
citoplasma e núcleo em picnose em destaque; (c) detalhe do núcleo em picnose em evidência.
27
Cariorrexe
Figura 7 - (a) Imagem da célula da mucosa bucal em cariorrexe de indivíduo do grupo exposto; (b)
citoplasma e núcleo em cariorrexe em destaque; (c) detalhe do núcleo em cariorrexe em evidência.
Todas as imagens das células da mucosa bucal do grupo exposto foram tiradas com objetiva
de 100X.
28
Figura 8 - Mapa do Estado do Rio Grande do Norte indicando o Município de Touros, localidade da área
de estudo sobre a avaliação do risco ocupacional de trabalhadores expostos a agrotóxicos.
Fonte:
obtido em http://pt.wiktionary.org/wiki/Ap%C3%AAndice:Munic%C3%ADpios_do_estado_do_Rio_Grande_do_Norte em
2012, adaptado.
sendo banhado pelas sub-bacias dos rios Maxaranguape, das Piranhas e Punaú (MINISTÉRIO
DE MINAS E ENERGIA SECRETARIA DE GEOLOGIA, MINERAÇÃO E
TRANSFORMAÇÃO MINERAL, 2005).
Apresenta clima tropical chuvoso com verão seco, período chuvoso de março a junho. Os
solos são predominantemente constituídos pelos sedimentos da formação Jandaíra, do grupo
Barreiras (ENb), dos depósitos Colúvio- eluviais (NQc) , de Dunas Inativas (Qd) e dos
depósitos Litorâneos (Q2l) e aluvionares (Q2a) (Figura 3).
2.4 População
A escolha da área de estudo foi feita por meio de informações pelo Instituto de assistência
Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte - EMATER, sendo escolhido o Projeto do
Boqueirão (Figura 4) situado na área rural do Município de Touros. Esse projeto foi criado e
implementado pelo governador estadual José Cortez Pereira de Araújo no período de 1971-
1975 e posteriormente, reconhecido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária – INCRA como projeto de assentamento. Foram concedidos lotes para as famílias
com o objetivo de proporcionar ao homem do campo uma possibilidade de trabalhar a terra de
forma livre e independente.
Figura 10- Mapa do Estado do Rio Grande do Norte- Brasil indicando o Município de Touros em
vermelho e a área em verde, que corresponde ao Projeto do Boqueirão local da área de estudo sobre a
avaliação do risco ocupacional de trabalhadores expostos a agrotóxicos no Município de Touros/Rio
Grande do Norte. 2012
Fonte:
obtido em http://pt.wiktionary.org/wiki/Ap%C3%AAndice:Munic%C3%ADpios_do_estado_do_Rio_Grande_do_Norte em
2012, adaptado.
31
Figura 11 - Área em vermelho que corresponde ao Projeto do Boqueirão local da área de estudo sobre a
avaliação do risco ocupacional de trabalhadores expostos a agrotóxicos no Município de Touros/Rio
Grande do Norte. 2012
Fonte: Imagem obtida pelo Google Maps em julho de 2012, acrescida pela imagem fornecida pela Secretaria de
Estado de Assuntos Fundiários e de Apoio à Reforma Agrária (SEARA) em julho de 2012.
O objetivo da escolha dessa área rural dentro do Município de Touros está baseado no fato de
possuir vários produtores rurais em atividade na qual se destacam as culturas de abóbora,
mandioca, milho e fruticultura com a manga, coco da baia e principalmente cultura do abacaxi
Instituto De Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte -
IDEMA, 2008. (Figura 6).
32
(a) (b)
Figura 12 – (a) Foto da cultura de abacaxi da área de estudo localizada no Projeto do Boqueirão,
Município de Touros- Rio Grande do Norte – Brasil. (b) Foto da cultura de abacaxi e milho da área de
estudo sobre a avaliação do risco ocupacional de trabalhadores expostos a agrotóxicos no Município de
Touros/Rio Grande do Norte. 2012.
Fonte: Arquivo pessoal 2012.
Desta forma, o município de Touros/RN, especificamente na área rural onde está localizado o
Projeto do Boqueirão, constitui um cenário importante para pesquisas atuais e futuras, já que
nesta região há poucos estudos da comunidade que reside e trabalha neste projeto,
principalmente referentes a saúde dos trabalhadores rurais.
33
METODOLOGIA GERAL
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – UFRN e aprovado dia
06/12/2011, conforme resolução a RESOLUÇÃO Nº 196, de 10 de outubro de 1996,
Protocolo número 178/11-P, CAAE – 0203.0.051.000-11 (Anexo D). Toda coleta de dados
para análises e da mucosa bucal ocorreu com o conhecimento e consentimento do indivíduo,
que assinou o termo de consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), (Apêndice A e B) no qual
constam todos os esclarecimentos sobre a pesquisa, os objetivos, informações sobre
confidencialidade e sigilo dos dados coletados de forma anônima na qual os indivíduos são
identificados apenas por um número. Foi respeitada a autonomia dos indivíduos que podem
optar livremente, em qualquer momento, pela participação ou não da pesquisa, de forma
espontânea.
Após a assinatura os voluntários responderam ao questionário de Saúde Pessoal (Anexo E) de
acordo com o modelo recomendado por: (International Commission for Protection against
Environmental Mutagens and Carcinogens (ICPEMC) Mutation Research, 204:379-406, 1988
com adaptações). Esse questionário é reconhecido internacionalmente e utilizado por várias
pesquisas dessa natureza.
As coletas de dados foram realizado em campo em horário laboral, com a ajuda do GPS e
através do mapa detalhado por números de lotes e por Vilas, fornecido pela Secretaria do
Estado de Assuntos Fundiários e de Apoio à Reforma Agrária (SEARA). As coletas iniciaram
em 16/02/2011 com periodicidade mensal até setembro de 2012 sendo aplicados 54
questionários para o grupo exposto a agrotóxico e 19 para o grupo controle. A amostra no
meio rural foi escolhida por conveniência.
34
O primeiro contato foi realizado com o produtor ou com o responsável pelo lote, com o
objetivo de explicar a pesquisa, assim como a confidencialidade e o sigilo das informações
por eles fornecidas. Após, o deferimento do produtor e dos trabalhadores que optaram em
participar da pesquisa, foi aplicado o questionário individualmente (Figura 7)
(a) (b)
Figura 13 (a) e (b) – Foto da coleta de dados e assinatura do TCLE através dos questionários sobre a
avaliação do risco ocupacional de trabalhadores expostos a agrotóxicos no Município de Touros/Rio
Grande do Norte. 2012.
Fonte: Arquivo pessoal 2012.
Trabalhar no campo, sexo masculino, ter idade acima de 18 anos, aceitar participar
voluntariamente da pesquisa e assinar o TCLE.
Os critérios de inclusão do grupo controle sem contato com produtos tóxicos e/ou defensivos
agrícolas foi residir na área urbana, sexo masculino, ter idade acima de 18 anos, aceitar
participar da pesquisa e assinar o TCLE. Os critérios de exclusão são: sexo feminino, menor
de 18 anos e ter contato com produtos tóxicos e/ou a agrotóxicos.
O teste foi realizado junto com a coleta dos dados dos questionários sendo um total de 73
indivíduos divididos em dois grupos. O grupo caso foi composto de 54 trabalhadores rurais
expostos a defensivos agrícolas utilizados na região. O grupo controle consistiu de 19
indivíduos do sexo masculino, que trabalham nas áreas administrativas em área urbana
especificamente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN sem histórico de
exposição ocupacional a defensivos agrícolas ou a qualquer agente tóxico.
O teste de micronúcleo por meio das células esfoliadas da mucosa oral foi proposto por
STICH et al .,1982 e atualmente tem sido utilizado para monitorar populações humanas
expostas a uma variedade de agentes físicos e químicos com potencial mutagênico e
carcinogênico (HOLLAND et al ,2008). Além de ser relativamente fácil de realizar,
fornecendo resultados com forte suporte estatístico (FENECH et al .,1999) é um método
minimamente invasivo (HOLLAND et al., 2008).
36
As coletas das células da mucosa bucal do grupo exposto totalizando 54 indivíduos foram
realizadas em campo em horário laboral, (Figura 8) sem exposição dos dados dos voluntários
que são identificados por um número e de forma anônima. As coletas do grupo controle,
totalizando 19 indivíduos foram realizadas na Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
com os funcionários das áreas administrativas, sem exposição a produtos químicos.
Figura 14– Foto da coleta de dados e células da mucosa bucal do grupo exposto em horário laboral no
campo sobre a avaliação do risco ocupacional de trabalhadores expostos a agrotóxicos no Município de
Touros/Rio Grande do Norte. 2012.
Fonte: Arquivo pessoal 2012.
Para a coleta das células da mucosa bucal utilizou-se uma escova estéril especifica de material
biológico (endobrush). As células são retiradas com leves movimentos de raspagens do
epitélio da mucosa bucal e são transferidas e emersas em tubos falcon contendo solução
fisiológica (Figura 9). As amostras são armazenadas em caixas de isopor com gelo para
preservar as características celulares e, logo após as coletas, esses materiais são transportados
para o laboratório de Mutagênese Ambiental (LAMA) – UFRN onde foram realizados testes e
análises.
37
(a) (b)
Figura 15 (a) - Foto da coleta de células da mucosa bucal em horário laboral no campo (b) -
armazenamento das amostras sobre a avaliação do risco ocupacional de trabalhadores expostos a
agrotóxicos no Município de Touros/Rio Grande do Norte. 2012.
Fonte: Arquivo pessoal 2012.
No laboratório o material é centrifugado por três vezes a 1500 RPM por 8 min e a cada ciclo
de centrifugação retira-se o sobrenadante e troca a solução fisiológica no primeiro e no
segundo ciclo, para eliminar os restos de alimentos. No terceiro ciclo adiciona o fixador
metanol a 80%. Após a última centrifugação podemos observar as células depositadas no
fundo do tubo falcon. Com uma pipeta essas células são ressuspendidas a 500 ml com o
fixador, são feitas 5 lâminas por indivíduo. As lâminas contendo as amostras ficam expostas
a temperatura ambiente para secar por 48 horas, após esse período, as lâminas são
hidrolisadas em HCL (1 N) a 60º C aquecidos em banho-maria por 10 min, lavadas com água
destilada e secas a temperatura ambiente por alguns minutos. Depois dessa etapa, as lâminas
estão prontas para a coloração com corante reativo de Schiff por 3 a 4 horas no escuro, pois
este corante é fotossensível. Após coradas as lâminas são lavadas em água destiladas para
retirar o excesso do corante. Depois de secas, as lâminas estão prontas e são contra-coradas
com o corante Fast Green (HEUSER et al., 2007, com adaptações).
Após essa etapa de coloração, as lâminas estão prontas para serem analisadas em microscópio
em objetiva de 100 X. Para a contagem de micronúcleos foram analisadas 2000 células para
cada indivíduo, sendo contadas 1000 células por lâminas seguindo o critério de contagem
descrito por (Tolbert et al.,1992 e THOMAS et al.,2009).
38
Os programas utilizados foram Statistical Package for the Social Science (SPSS) 15.0,
BioEstat versão 5.0 e GraphPad Prism versão 5.0. Para os resultados dos questionários em
relação às associações entre duas variáveis foram analisadas por correlação de Spearman.
Inicialmente utilizou-se o teste de normalidade de Komogorov-Smirnov para verificar se as
variáveis estão normalmente distribuídas e os dados obtidos são paramétricos. O teste t-
Student foi usado para comparar a faixa etária entre o grupo exposto e não exposto. O teste do
Qui-Quadrado foi utilizado para comparar as frequências entre os grupos. Realizou-se uma
análise de variância (ANOVA) dos resultados de danos genéticos e a comparação entre as
médias para verificar o nível de significância foram feitas utilizando os testes Dunnett e
Tukey. A análise é significativa com p < 0,05.
39
REFERENCIAS
Ana Flávia De Santana Resende Nagem1, Nilmara de Oliveira Alves 2, Giveldna Maria Costa
Pereira 3, Luiz Cláudio Cardoso Chaves 4, Viviane Souza do Amaral1,2
1
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio ambiente, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil
2
Programa de Pós-Graduação em Bioquímica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, RN, Brasil
3
Graduação em Biomedicina, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, RN, Brasil
4
Graduação em Ciências Biológicas, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal, RN, Brasil
Resumo
Abstract
The present study describes the socioeconomic and health profiles of sixty farmers from
Touros county/RN. According to the analysis of questionnaires it was possible to identify that
91% of the workers earn up to 3 minimum salaries and that most of them work 40 hours per
week. Concerning to their health, the farmers frequently presented cases of infection, besides
suffering from kidney and cardiovascular diseases. The frequency of abortion was lower than
20% in women and approximately 30% of the interviewed reported cases of hereditary
diseases. Furthermore, it was possible to observe that farmers are not used to look for medical
support neither to do routine exams, affecting directly on diagnostics related to chronic and
acute poisoning. Therefore, there are difficulties associating symptoms related to poisoning
and occupational origin, reflecting a concern in the public health/epidemiology. Finally, these
results show the need of socio-educational measures that has the proposal of improvement of
health and work conditions for these farmers from Touros County - RN.
Key words: Pineapple Culture, Pesticides, Occupational Risk, farmers,Touros – RN.
46
Introdução
Desde os primórdios da colonização até o século XXI, a agricultura tem passado por várias
etapas de modificações tanto políticas, sociais e culturais, inicialmente na produção da cana-
de-açúcar e do café, e, posteriormente, evoluindo para extensas monoculturas. O Brasil é um
dos líderes mundiais na produção e exportação de vários produtos agropecuários. É o primeiro
produtor e exportador de café, açúcar, etanol de cana-de-açúcar e suco de laranja; liderando o
ranking das vendas externas do complexo soja (farelo,óleo e grãos). Além disso, o
crescimento da produção agrícola no Brasil deve continuar acontecendo com base na
produtividade. As projeções indicam que tanto a produção de grãos e a área de cultivo
deverão expandir-se em 9,5% em 2020-21 de acordo com o Ministério da Agricultura -
MAPA (2011)1 , Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB (2012)2.
De fato, o setor de fruticultura dispõe de linhas de crédito com o objetivo de apoiar a
comercialização de várias culturas, incentivando a agroindustrialização no setor e facilitando
novos mercados (MAPA, 2011)1. No Brasil, o desempenho em relação ao rendimento
(frutos/ha) e a área da colheita (ha) do abacaxi vêm crescendo desde 1970 EMBRAPA
(2009)3. Além disso, os dados mostram que em cada Hectar (ha, 10.000m2) há uma variação
na produção de abacaxis entre 17 a 27 mil unidades. Em 2009, o Nordeste foi a região com
maior produção desta fruta comparado com outras regiões, atingindo uma média de 2,7
abacaxis por m2. Em contrapartida, a região Sul foi a de menor produção, sendo colhido 1,7
abacaxis por m2 Ministério do Desenvolvimento Agrário (2011)4. Consequentemente, esta
intensa demanda agrícola no país reflete na necessidade de utilização de defensivos agrícolas.
Considerando, em especial, a cultura do abacaxi, há um amplo uso de insumos químicos para
que haja produtividade e rendimento. Associada as potencialidades dos agrotóxicos, com seus
diferentes mecanismos de ação e a intensa prática agrícola no país, é crescente a
comercialização destes defensivos agrícolas. Em 2009, de acordo com a Fundação Oswaldo
Cruz – FIOCRUZ5, foram consumidos mais de um bilhão de litros de agrotóxicos. É
importante destacar que, nos últimos três anos, o Brasil vem ocupando o lugar de maior
consumidor de agrotóxicos no mundo de acordo com a Associação Brasileira de Saúde
Coletiva – ABRASCO (2012)6.
Outro ponto importante relacionado ao comércio de agrotóxicos está no fato de que as
indústrias químicas a cada ano investem no mercado e lançam novas formulações para atender
a grande demanda existente no país. Em função disto, os defensivos agrícolas apresentam uma
complexidade química, que impõe sérios riscos a saúde ambiental e humana. Várias agências
de controle ambiental e de saúde vêm demonstrando o potencial destes compostos como
47
Material e Método
Área de Estudo
O presente estudo foi realizado na cidade de Touros - Rio Grande do Norte, Brasil,
especificamente no Projeto Boqueirão reconhecido pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária – INCRA como projeto de assentamento. O município de Touros situa-se na
mesorregião Leste Potiguar e na microrregião Litoral Nordeste, cerca de 87 km da capital . As
principais atividades são a agropecuária, a pesca, a extração vegetal e a silvicultura.
Destacam-se as culturas abóbora, mandioca e fruticultura com manga, coco da baia, banana e
principalmente abacaxi Instituto De Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio
Grande do Norte - IDEMA (2008)9.
48
Procedimento Metodológico
Para a coleta de dados foi utilizado o questionário de Saúde Pessoal de acordo com o modelo
recomendado por: International Commission for Protection against Environmental Mutagens
and Carcinogens (ICPEMC) Mutation Research, 1988 com adaptações. Esse estudo foi
submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) - Universidade Federal do
Rio Grande do Norte conforme o Protocolo número 178/11-P, CAAE – 0203.0.051.000-11.
49
Toda coleta de dados para análises ocorreu com o conhecimento do indivíduo, que assinou o
termo de consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As coletas de dados foram realizadas
em campo em horário laboral no período de fevereiro a setembro de 2012. Com ajuda do GPS
e através de um mapa (fornecido pela Secretaria do Estado de Assuntos Fundiários e de Apoio
à Reforma Agrária – SEARA) os lotes foram identificados para a realização das coletas. O
questionário foi aplicado somente com os trabalhadores agrícolas que aceitaram participar da
presente pesquisa. Devido à dificuldade de encontrar agricultores no dia das visitas no Projeto
do Boqueirão a amostra foi escolhida por conveniência.
Os critérios de inclusão da amostra foram: trabalhadores rurais, sexo masculino, ter idade
acima de 18 anos, aceitar participar voluntariamente da pesquisa e assinar o TCLE. Após a
assinatura do termo, os 60 indivíduos responderam o questionário que se apresenta em
perguntas divididas em 7 módulos: história pessoal, história ocupacional, exposição, história
de fumo, medicamentos e doenças, dietas e história genética.
Para a análise e interpretação dos dados foi usado o programa SPSS Statistics 15.0
(Statistical Package for the Social Science) e BioEstat versão 5.0. Técnicas estatísticas
descritivas foram utilizadas, tais como a distribuição de freqüência e a tabulação cruzada (ou
crosstabs). Além disso, para avaliar a correlação entre os resultados encontrados foi utilizado
o teste de Coeficiência Contingência C (Quiquadrado), com significância p<0.05.
Resultados
O projeto do Boqueirão foi criado e implementado entre 1971 a 1975, sendo concedidos lotes
para as famílias com o objetivo de proporcionar ao homem do campo uma possibilidade de
trabalhar a terra de forma livre e independente. Em relação à população entrevistada no
Projeto do Boqueirão a maioria dos agricultores trabalha em diferentes lotes dependendo da
época do ano. A Tabela1 apresenta as características socioeconômicas dos entrevistados tais
como: gênero, idade, etnia, estado civil, números de filhos, renda familiar e carga horária de
trabalho. As faixas etárias estão distribuídas de acordo com o SINITOX . Do total de 60
entrevistados a média de idade foi de 37,4 sendo que apenas 1,7% dos entrevistados
encontram-se na faixa etária entre 60 a 69 anos. Em relação ao estado civil, mais da metade
dos entrevistados são casados legalmente ou constituem relações estáveis, na qual (31,7%)
tem 4 ou mais filhos. A principal fonte de renda familiar é o trabalho na agricultura sendo que
45,0% das famílias ganham menos de 1 salário mínimo e outros 46,7% ganham entre 1 e 3
salários mínimos, sendo que os ganhos salariais dependem dos dias trabalhados, sendo em
torno de R$120,00 semanais.
50
Em relação ao tempo de trabalho no mesmo local 40,0% trabalham há menos de 1 ano, 41,7%
de 1 a 5 ano e a maioria trabalha 40 horas por semana.
Etnia
Sem resposta 2 3,3
Caucasiano 24 40
pardo 21 35
negro 13 21,7
Total 60 100
Estado Civil
solteiro 23 38,3
convivente 13 21,7
casado 21 35
separado 3 5
Total 60 100
Números de filhos
nenhum 6 10
1 filho 18 30
2 filhos 10 16,7
3 filhos 7 11,7
4 ou mais filhos 19 31,7
Total 60 100
Renda Familiar
menos de 1 salário 27 45
entre 1 e 3 salários 28 46,7
51
Tipo de exposição
Sem reposta 10 16,7
Agrotóxicos 49 81,7
Soda caustica 1 1,7
Total 60 100,0
*valores aproximados
Não 41 68,3
Total 60 100,0
Consumo semanal de vinho
Nenhum 42 70,0
1 a 4 copos 12 20,0
5 a 8 copos 5 8,3
Acima de 16 copos 1 1,7
Total 60 100,0
Consumo de outras bebidas alcoólicas
Sim 30 50,0
Não 30 50,0
Total 60 100,0
Com qual frequência você come carne?
Não come 2 3,3
1 a 2 dias 32 53,3
3 a 4 dias 19 31,7
5 a 6 dias 3 5,0
todos os dias 4 6,7
Total 60 100,0
Com qual frequência você come peixe?
Não come 7 11,7
1 a 2 dias 22 36,7
3 a 4 dias 14 23,3
5 a 6 dias 9 15,0
Todos os dias 8 13,3
Total 60 100,0
Tem tomado algum remédio prescrito pelo medico?
Sim 15 25,0
Não 45 75,0
Total 60 100,0
Não 27 45,0
Total 60 100,0
Você teve ou tem algum dessas doenças?
Infecção bacteriana ou viral
Sim 34 56,7
Não 26 43,3
Total 60 100,0
Doença cardiovascular
Sim 2 3,3
Não 58 96,7
Total 60 100,0
Doença Renal
Sim 5 8,3
Não 55 91,7
Total 60 100,0
Outras doenças
Sim 13 21,7
Não 47 78,3
Total 60 100,0
Você tomou algum vacina nos últimos 12 meses?
Sim 16 26,7
Não 32 53,3
Não lembra 12 20,0
Total 60 100,0
Você tem conhecimento de algum defeito de nascimento ou outra desordem genética ou
doença hereditária que tenha afetado seus pais, irmãs ou seus filhos?
Sim 18 30,0
Não 42 70,0
Total 60 100,0
Você ou sua esposa teve ou tem dificuldade reprodutiva?
Sim 8 13,3
Não 52 86,7
Total 60 100,0
56
Referente ao uso de agrotóxicos no Projeto do Boqueirão, foram relatados 9 tipos: dentre eles
com finalidades de herbicidas, inseticidas, fungicidas, Tabela 4.
57
Discussão
O presente estudo apresenta o perfil da saúde e o perfil socioeconômico de agricultores rurais
que trabalham na área rural Município de Touros/RN/Brasil especificamente nos lotes
inseridos no Projeto Boqueirão. Os dados socioeconômicos dessa população em estudo
mostraram que a população economicamente ativa está na faixa etária entre 20 a 59 anos. O
fato da maioria dos entrevistados serem casados implica que os mesmos tem uma grande
responsabilidade para o sustento da família e encontram na agricultura o meio de
sobrevivência, mesmo que as condições de trabalho não sejam ideais para a saúde e ainda,
com um salário relativamente baixo. As observações de campo relacionado a escolaridade nos
mostraram que a maior parte dos entrevistados teve pouco tempo de estudo, alguns eram
analfabetos sendo incapazes de assinar o TCLE, dessa forma a coleta da impressão digital se
fez necessária. Os dados relacionados ao analfabetismo de pessoas que vivem no Nordeste
segundo o IBGE, 2010, correspondem a 52,2 % da população. Contudo vale ressaltar que em
outros estudos realizados no Brasil, mostram que a baixa renda e a baixa escolaridade têm
sido predominante nas comunidades rurais (RANGEL, et al., 201111, FARIA, et al., 200912,
JACOBSON et al., 20098). Em relação ao hábito de fumar, constatou-se que a metade da
população entrevistada já fumou alguma vez na vida e consomem bebidas alcoólicas
destiladas com frequência. Como foi observado o consumo de álcool no meio rural esta
relacionado ao absenteísmo (falta no trabalho) o que pode prejudicar a produtividade
econômica e consequentemente as relações sociais, familiares e até mesmo psicológicas dos
entrevistados. Adicionalmente o teste de correlação não foi significativo para o consumo de
álcool e fumo quando correlacionados a doenças cardiovasculares, bebês prematuros e defeito
genético ou doença hereditária.
O combate para eliminar pragas e doenças é uma preocupação comum no meio rural entre os
agricultores nos diferentes lotes. Logo, foi relatado o uso de 9 tipos de agrotóxicos, sendo:
(a) 2 são classe I- extremamente tóxicos; (b) 5 são agrotóxicos de classe III – medianamente
tóxicos; e (c) 2 são de classe IV – Pouco tóxicos. Em relação ao Potencial de periculosidade
ambiental (PPA) esses produtos representam risco: I – altamente perigoso ao meio ambiente;
II - muito perigoso; III - perigoso, com efeitos de alta persistência no meio ambiente,
altamente móvel, apresentando características desde alto potencial de deslocamento no solo
podendo atingir principalmente as águas subterrâneas. Além disso, são altamente
bioconcentráveis em peixes e tóxicos para microcrustáceos. Nota-se que diferentes classes
toxicológicas são utilizadas e mesmo o produto químico pouco tóxico, está envolvido com
algum tipo de periculosidade e pode contaminar o ambiente, aumentando os casos de
59
relacionados aos agravos de saúde semelhantes a intoxicações subagudas que ocorrem por
exposição moderada ou pequena a produtos altamente tóxicos, como os agrotóxicos.
Esses quadros sintomatológicos podem ser confundidos com outras doenças comuns do dia a
dia, levando a dificuldades e erros de diagnósticos além de tratamentos equivocados
(OPAS/OMS 1996)14. Considerando a intoxicação aguda, um estudo realizado por
THUNDIYIL et al (2008)15, demonstrou que estas intoxicações são causa de morbidade e
mortalidade a nível mundial.
Por outro lado, a intoxicação crônica pode gerar danos no DNA que quando não reparado
podem surgir mutações, contribuindo assim para o surgimento de doenças, entre elas o câncer,
malformações congênitas e envelhecimento (KUMAR & DAS, 2009)16. Cabe salientar que os
riscos de câncer em agricultores em contato com agrotóxicos são aproximadamente de 1,5 a 3
vezes maior do que outras atividades ocupacionais não expostas a este fator (MATOS,
VILENSKY & BOFFETTA, 199817; PERES & MOREIRA, 200318; STOPPELLI, 2005)19.
Neoplasias malignas têm sido associadas com a exposição a fatores de risco ocupacionais e
ambientais, assim como algumas doenças neuropsiquiátricas como Parkinson, e doenças
pulmonares obstrutiva crônica tem sido associadas à exposição a químicos (OMS, 2006)20.
Embora entre os 60 entrevistados nenhum deles relatasse quadro de câncer, diabetes, herpes,
AIDS, observa-se que os trabalhadores não têm o hábito de procurar os postos de atendimento
médico para fazer diagnósticos de rotina o que pode ter uma relação com a ausência desses
dados. Os diagnósticos referentes a intoxicações crônicas são uma preocupação em âmbito da
saúde coletiva /epidemiológica, pois são difíceis de serem estabelecidos, os registros oficiais
sobre intoxicações são limitados para os casos agudos e quase inexistentes para as
intoxicações crônicas por FARIA (2009)12 e há uma dificuldade na associação com as
intoxicações de origem ocupacionais, suas causas/efeitos, principalmente quando há
exposição a múltiplos produtos, situação muito comum na agricultura brasileira OPAN/OMS,
199614; GRISOLIA, 200521; SILVA, 200522; SOLOMON, 2000 23 .
Embora não tenha sido significante, um quadro preocupante nas implicações a saúde dos
trabalhadores expostos a agrotóxicos foi observado em relação à história genética relacionada
a relatos de dificuldades reprodutivas, abortos e filhos prematuros.
Vários trabalhos já demonstraram que o contato com venenos durante o período gestacional
constitui riscos para a saúde do feto, aumentando a taxa de abortos espontâneos, a taxa de
mortalidade por baixo peso ao nascer e o nascimento de bebês prematuros (ZHANG, et
al.,199224; TAHA & GRAY, 199325; LONGNECKER et al.,2001)26.
61
Quanto ao uso de alguma proteção no presente estudo, mais da metade dos entrevistados
responderam que usam alguma proteção. Porém, os tipos de proteção citados não são
eficientes na proteção contra os agrotóxicos, por exemplo, uso de bermudas, boné, blusa de
manga curta. Em campo pode-se observar que para as práticas agrícolas como preparo da
calda e pulverização os trabalhadores utilizam roupas do uso comum do dia a dia, colocando-
os em alto grau de exposição. É interessante destacar que alguns familiares como as esposas
estão expostas aos produtos químicos pelo contato físico e pelo manuseio das roupas dos
maridos usadas durante a pulverização, que são lavadas nas suas próprias residências
(RANGEL et al., 2011)11. Além disso, o uso adequado dos equipamentos de pulverização
associados com precauções necessárias pode contribuir para reduzir a exposição aos
agrotóxicos e a efeitos adversos à saúde humana e ao meio ambiente (DAMALAS &
ELEFTHEROHORINOS, 2011)27. É considerado Equipamento de Uso Individual – EPI -
próprio para uso e manipulação de agentes tóxicos: luvas; proteção respiratória como
máscaras; proteção ocular e facial como óculos e viseiras; proteção de cabeça; roupas
impermeáveis e bota.
Segundo as estatísticas oficiais do MS, utilizando o Sistema Nacional de Informações Tóxico
Farmacológicas28 é possível verificar 149.171 casos de intoxicações por agrotóxicos em geral
no Brasil no período de 1999 a 2009, portanto não há estimativas confiáveis quanto ao
número de pessoas que padece por efeitos na saúde relacionados ao uso destes venenos e a
taxa de incidência de intoxicação não é clara e é subestimada (THUNDIYIL, et al., 2008)15.
Dada à magnitude dessa utilização e os agravos à saúde a Associação Brasileira de Saúde
Coletiva - ABRASCO no relatório divulgado dia 16/06/2012 na Cúpula dos Povos que é um
evento paralelo a Rio +20 alerta: O Brasil é o maior consumidor de pesticidas do mundo e
aumenta sua utilização a uma velocidade duas vezes superior a dos demais países. Se o
cenário atual já é suficientemente preocupante, do ponto de vista da saúde pública, deve-se
levar em conta que as perspectivas são de agravamento dos problemas nos próximos anos
(ABRASCO, 2012)6.
Buscando relacionar a literatura de cordel e a história desses indivíduos buscou-se
desenvolver uma estratégia socioeducativas, como o cordel (Apêndice C). Foi desenvolvido
baseado no texto e nos resultados encontrados no presente estudo. Espera-se que esta
estratégia possa contribuir de forma lúdica como meio de divulgar e promover conhecimentos
e medidas que possam minimizar os efeitos adversos sobre a saúde humana e ao meio
ambiente no município de Touros, assim como em outras regiões que utilizam agrotóxicos de
forma intensa. Espera-se que este cordel em forma de folheto possa ser divulgado de forma
62
Conclusões
Diante dos resultados e discussão apresentados a principal contribuição desse estudo foi abrir
espaço para uma série de questões que extrapolam a realidade em números.
Esse estudo comprova a importância do conhecimento do perfil socioeconômico e de saúde de
agricultores rurais como forma de entender a realidade dessa população, que pela falta de
conhecimentos e condições encontram-se vulneráveis a exposição. Dar-se a importância do
Estado e de políticas que apoiem e contribuam para uma melhor qualidade de trabalho e
consequentemente melhor qualidade de vida dos trabalhadores rurais.
Além disso, este estudo nos mostra que a proteção do meio ambiente e da saúde constituem
um desafio sendo urgente o desenvolvimento de medidas de controle de compra e utilização
dos agrotóxicos com suas devidas fiscalizações, devendo ser realizadas campanhas de
incentivo para a utilização dos EPIs, campanhas de educação, palestras, e incentivos.
Adicionalmente a esses aspectos, é necessária a implementação de ambulatórios e hospitais
especializados para ações de prevenção, triagens e acompanhamento, tanto para os
trabalhadores e suas famílias relacionados à saúde ocupacional para os casos de intoxicações
agudas e/ou crônicas. Uma vez que em Natal – RN não possui ambulatórios e centros
especializados relacionados à prevenção, tratamento e acompanhamento. Outro fator que
deverá ser avaliado está relacionado aos atendimentos em consultórios referentes a diversos
sintomas clínicos que são indicativos de exposição a agrotóxicos, mas que nem sempre são
investigados. Todavia deverá ser reforçado o modelo de integração entre os casos de
intoxicação notificados e a compilação dos dados nos sites oficiais de intoxicações atravésde
formulários eletrônicos, notificando sem gerar dados irregulares e incompletos.
Além disso, a partir da iniciativa de elaboração de um cordel, esperamos divulgar de maneira
lúdica os resultados obtidos nesta pesquisa, assim como informar sobre medidas para
minimizar o contato e o cuidado com os agrotóxicos, desta forma, diminuindo o risco à saúde
dos trabalhadores. Contudo, além dessas ações de responsabilidades governamentais, um
grande desafio será a implementação da agricultura alternativa como forma de possibilitar as
gerações presentes e futuras uma melhor condição de saúde e consequentemente melhor
qualidade de vida.
63
Colaboradores
Nagem, A. F. S. R trabalhou na concepção do estudo, redação do texto, revisão bibliográfica,
banco de dados; ALVES, N.O colaborou na análise dos dados, análise estatística; CHAVES,
L.C.C participou do trabalho de campo e colaborou na construção do banco de dados,
PEREIRA, G.M.C colaborou nas vistas a campo; este trabalho foi orientado por AMARAL,
V. S.
Agradecimentos
Ediovar Varela da Silva da Secretária do Estado do Rio Grande do Norte, Betânia Freire
Teixeira funcionária da EMATER, Amarildo SEARAS. Apoio financeiro CAPES e
Departamento de Biologia Molecular e Genética e a todos envolvidos no projeto.
Referências
1. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Projeções do Agronegócio
2010/2011 a 2020/2021, Assessoria De Gestão Estratégica Brasília, 2011.
[Acessado jul 18,2012]. Disponível: http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/Ministerio/
gestao/projecao/PROJECOES%20DO%20AGRONEGOCIO%202010-11%20a%202020-
21%20-%202_0.pdf
5. BRASIL. Fundação Oswaldo Cruz. Agrotóxicos Proteção para quem? Rio de Janeiro,
RJ Nº 95 Julho de 2010. RADIS Comunicação em Saúde. [Acessado em jul 2012].
Disponível em: http://www4.ensp.fiocruz.br/radis/95/pdf/radis_95.pdf
11. RANGEL, C.F; ROSA, A.C. S; SARCINELLI, P.N, Uso de agrotóxicos e suas
implicações na saúde ocupacional e contaminação ambiental. Cad Saúde Coletiva
2011;19(4):435-42.
21. GRISOLIA, C.K. Agrotóxicos: mutações, câncer & reprodução. Brasília: Editora
Universidade de Brasília; 2005 392p.
23. SOLOMON, G; OGUNSEITAN, O.A; KIRSCH, JAN. Pesticides and human health: a
resource for health care professionals. California, Physicians for Social Responsibility and
Californians for Pesticide Reform; 2000. p.60.
24. ZHANG, J; CAI, W.W; LEE, D.J ,Occupational hazards and pregnancy outcomes.
American Journal of Industrial Medicine 1992; 21(3):397-408.
25. TAHA, T.E e GRAY, R.H , Agricultural pesticide exposure and perinatal mortality in
central Sudan. Bulletin of the World Health Organization 1993; 71(3-4):317—21.
Ana Flávia De Santana Resende Nagem1, Nilmara de Oliveira Alves 2, Giveldna Maria Costa
Pereira 3, Luiz Cláudio Cardoso Chaves 4, Tamires Leite Costa3 , Viviane Souza do Amaral1,2
1
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio ambiente, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil
2
Programa de Pós-Graduação em Bioquímica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, RN, Brasil
3
Graduação em Biomedicina, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, RN, Brasil
4
Graduação em Ciências Biológicas, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal, RN, Brasil
Resumo
O uso de defensivos agrícolas esta sendo usado de maneira intensiva com graves
consequências para os agricultores expostos. Analisamos a frequência de micronúcleos (MN)
e outras anormalidade nucleares em células da mucosa oral de 54 agricultores expostos a
agrotóxicos e 19 indivíduos não expostos. Aplicou-se o Teste de micronúcleo (MN) em
mucosa bucal e os resultados obtidos indicaram uma diferença significativa na indução de
micronúcleos entre o grupo exposto (3.72 ± 1.82) e o grupo não exposto a agrotóxico (1.02 ±
1.00). Também foi observado um incremento significativo na frequência de células
binucleadas, cariólise e cromatina condensada em indivíduos que estão expostos aos
agrotóxicos. Os trabalhadores expostos a agrotóxicos apresentaram uma frequência muito
maior de micronúcleos (MN) e de outras anormalidades nucleares quando comparados com os
indivíduos sem esta exposição ocupacional. Com relação ao número de MCN quando
comparado com o consumo (ou não) de álcool e de fumo nos indivíduos expostos e não
expostos, não houve diferença significativa dentro dos grupos. A frequência aumentada de
MN e outras anormalidades nucleares podem ser explicadas pela exposição dos trabalhadores
rurais com os defensivos agrícolas.
Abstract
The use of pesticides is being used intensively with severe consequences for exposed farmers.
We analyzed the frequency of micronucleus (MN) and other nuclear abnormalities in oral
mucosa cells of 54 farmers exposed to pesticides and 19 unexposed individuals. The test of
micronucleus (MN) in oral mucosa was applied and the findings indicated a significant
difference on the induction of micronucleus between the exposed group (3.72 ± 1.82) and the
unexposed group (1.02 ± 1.00). Workers exposed to pesticides had a much higher frequency
of micronucleus (MN) and other nuclear abnormalities when compared with individuals
without occupational exposure. Regarding the number of MCN when comparing with the
consumption (or not) of alcohol and tobacco, of the exposed and unexposed individuals, there
was no significant difference within the groups. The higher frequency of MN and other
nuclear abnormalities can be explained by the exposition of the rural farmers to pesticides
68
1. Introdução
aproximadamente 90% dos cânceres humanos são originados em células epiteliais, Cairns
1975.
O Teste de Micronúcleos em Mucosa Bucal tem sido usado desde a década de 80 até os dias
atuais (STICH et al.,1983; HOLLAND et al.,2008; THOMAS et al.,2009). Vários estudos já
analisaram a frequência de micronúcleos em populações ocupacionalmente expostas a
determinados agentes genotóxicos, inclusive a agrotóxicos (BONASSI et al., 2011,
BORTOLI et al.,2009, THOMAS et al., 2009, HOLLAND et al., 2008, HEUSER et al.,2007,
ROTH et al .,2003, BASU et al., 2004,TOLBERT et al .,1992). Portanto, os micronúcleos são
excelentes indicadores de mutação cromossômica no material genético de indivíduos expostos
a agentes químicos, como os defensivos agrícolas.
Diante deste contexto, o objetivo deste estudo visou investigar o risco genotóxico da
exposição a agrotóxicos através da detecção e quantificação de micronúcleos (MN) e outras
alterações celulares como células binucleadas, cariólise, cromatina condensada, em células
esfoliadas da mucosa oral de agricultores que trabalham principalmente na cultura do abacaxi
no Município de Touros/RN.
2. Materiais e Métodos
Amostras
Os dados para este estudo foram coletados na área rural do município de Touros – Estado Rio
Grande do Norte, Brasil. Figura 1. O município de Touros situa-se na mesorregião Leste
Potiguar e na microrregião Litoral Nordeste, cerca de 87 km da capital na qual se destacam as
culturas de abóbora, mandioca e fruticultura com manga, coco da baia, banana e
principalmente abacaxi.
A população residente no Município de Touros é de 31.089 habitantes, sendo que uma parte
da população (7.922 hab) reside na área urbana e a outra parte (23.167 hab) reside na área
rural. A área escolhida para o presente estudo foi o projeto do Boqueirão localizado na área
rural do Município de Touros – RN, que é dividido em três vilas: Assis, Israel e Mayne onde
vivem 407 famílias, representando aproximadamente um total de 1142 pessoas residentes.
70
Figura - 1– Mapa do Estado do Rio Grande do Norte indicando o Município de Touros local da área de
estudo sobre avaliação do risco ocupacional de trabalhadores expostos a agrotóxicos no Município de
Touros/Rio Grande do Norte. 2012
Fonte: obtido em
http://pt.wiktionary.org/wiki/Ap%C3%AAndice:Munic%C3%ADpios_do_estado_do_Rio_Grande_do_Norte em 2012
adaptado
3. Procedimento Metodológico
Caracterização da Amostra
O estudo foi realizado com 73 indivíduos (expostos e não expostos). A amostra foi escolhida
por conveniência na qual todos os indivíduos eram do sexo masculino e tinham idade acima
de 18 anos. O grupo exposto foi composto de 54 trabalhadores rurais diretamente envolvidos
com as atividades do campo e com a pulverização de agrotóxicos (Tabela 1). O grupo
controle foi constituído por 19 indivíduos - que trabalham em áreas administrativas da
Universidade Federal do Estado do RN - sem histórico ocupacional de exposição a
agrotóxicos.
Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) -
Universidade Federal do Rio Grande do Norte conforme o Protocolo número 178/11-P,
CAAE – 0203.0.051.000-11. Toda coleta de dados para análises ocorreu com o conhecimento
do indivíduo, que assinou o termo de consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As coletas
71
de dados e das células da mucosa bucal do grupo exposto foram realizadas em campo em
horário laboral no período de fevereiro a setembro 2012 e as coletas do grupo controle foram
realizadas no período de novembro de 2012. Todos os participantes da pesquisa responderam
ao questionário adaptado de Saúde Pessoal (Anexo 1) de acordo com o modelo recomendado
por: (International Commission for Protection against Environmental Mutagens and
Carcinogens (ICPEMC) Mutation Research, 204:379-406, 1988.
Para a coleta das amostras das células da mucosa bucal, foram seguidas as recomendações
conforme o protocolo estabelecido por Thomas et al.(2009) com adaptações. As coletas foram
obtidas de forma anônima, sem exposição dos dados dos voluntários que são identificados por
um número. Para as coletas das células da mucosa bucal utilizou uma escova estéril especifica
de material biológico (endobrush). As células são retiradas com leves movimentos de
raspagens do epitélio da mucosa bucal e são transferidas e emersas em tubos falcon contendo
solução fisiológica, armazenados em caixas de isopor com gelo para preservar as
características celulares e, logo após as coletas, esses materiais são transportados para o
laboratório.
Preparações Citológicas
No laboratório o material é centrifugado por três vezes a 1500 RPM por 8 min e a cada ciclo
de centrifugação retira-se o sobrenadante e troca a solução fisiológica no primeiro e segundo
ciclo. No terceiro ciclo as amostras são fixadas com metanol gelado a 80%.
Após a última centrifugação podemos observar as células depositadas no fundo do tubo
falcon. Com uma pipeta essas células são ressuspendidas a 500 ml com o fixador e são
espalhadas em 5 lâminas por indivíduo. As lâminas contendo as amostras ficam expostas a
temperatura ambiente para secar por 48 horas, após esse período, as lâminas são hidrolisadas
em HCL (1 N) a 60º C aquecidos em banho-maria por 10 min. Após secar as lâminas estão
prontas para a coloração com corante Schiff por 3 a 4 horas e contra-coradas com o Fast
Green. Após esta etapa de coloração, as lâminas estão prontas para serem analisadas em
microscópio em objetiva de 100 X segundo Heuser et al., 2007 com adaptações.
72
Para cada indivíduo foram analisadas 2000 células, sendo contadas 1000 células por lâminas
sendo identificadas por código seguindo o critério de contagem descrito por (Tolbert et
al.,1992).
Análise Estatística
Os programas utilizados foram Statistical Package for the Social Science (SPSS) 15.0,
BioEstat versão 5.0 e GraphPad Prism versão 5.0. Inicialmente utilizou-se o teste de
normalidade de Komogorov-Smirnov para verificar se as variáveis estão
normalmente distribuídas e os dados obtidos são paramétricos. O teste t-Student foi usado
para comparar a faixa etária entre o grupo exposto a agrotóxicos e não exposto a agrotóxicos.
O teste do Qui-Quadrado foi utilizado para comparar as frequências entre os
grupos. Realizou-se uma análise de variância (ANOVA) dos resultados de danos genéticos e a
comparação entre as médias para verificar o nível de significância foram feitas utilizando os
testes Dunnett e Tukey. A análise é significativa com p < 0,05.
4. Resultados
O perfil dos indivíduos pesquisados foi extraído do questionário de saúde pessoal aplicado
aos dois grupos. A Tabela 1 indica a comparação feita entre os grupos, sendo um grupo de 54
indivíduos expostos e 19 não expostos.
Quanto ao perfil dos indivíduos que participaram desta pesquisa, 19 (35.2%) homens do
grupo exposto fumam e 35 (64.8%) não fumam, já no grupo controle apenas 3 (15.8%)
indivíduos tem o hábito de fumar e 16 (84.2%) não, entretanto, não houve diferença estatística
para essa variável entre os grupos estudados.
Considerando o consumo de álcool, no grupo exposto 26 (48.1%) ingerem bebida alcoólica e
28 (51.9%) não ingerem. No grupo controle 7 (36.8%) ingerem bebida alcoólica e 12 (63.2%)
não ingerem. Entretanto, tanto no grupo controle como no grupo exposto há o consumo de
álcool e fumo, porém, esse fator não é significativo, mostrando que a exposição aos
agrotóxicos que influência entre um grupo e o outro.
Em relação ao uso de equipamento de proteção, 38 (70.4%) indivíduos do grupo exposto
utilizam os EPIs e 16 (29.6%) dizem não usar. A análise estatística demonstrou que esta
diferença é altamente significativa (p 0.0043).
73
Tabela - 1 - Resultado das características do grupo exposto e não exposto sobre a avaliação do risco
ocupacional de trabalhadores expostos a agrotóxicos no Município de Touros/Rio Grande do Norte. 2012
Uso de equipamentos de
proteção (Nº)
Sim 38 (70.4%) *
Não 16 (29.6%) *
(p 0.0043)
a
Média e desvio padrão
Considerando os dados oriundos das análises dos micronúcleos nas células esfoliadas
dos indivíduos expostos e não expostos, foram obtidas as seguintes frequências de MCN
(Tabela 2):
Entre o grupo exposto (3.72 ± 1.82) e o grupo não exposto (1.02 ± 1.00) os resultados
mostram uma diferença significativa na indução de micronúcleos. Os trabalhadores expostos a
agrotóxicos apresentaram uma frequência muito maior quando comparados com os indivíduos
sem esta exposição ocupacional.
74
Tabela - 2 Resultado da frequência de micronúcleo MCN do grupo exposto e do grupo não exposto a
agrotóxico (média de MCN é para 2000 células) sobre a avaliação do risco ocupacional de trabalhadores
expostos a agrotóxicos no Município de Touros/Rio Grande do Norte. 2012
Consumo de álcool
Sim 3.11 ± 1.58 1.42 ± 1.39
Não 4.28 ± 1.88 0.75 ± 0.62
Fumantes
Sim 3.84 ± 1.89 1.66 ± 0.57
Não 3.65 ± 1.81 0.87 ± 1.02
Uso de equipamentos de
proteção
Sim 4.40 ± 1.89 *
Não 3.87 ± 1.72 *
Teste Tukey
*** p< 0.001
Entretanto, é importante averiguar variáveis de confusão como o álcool e o fumo, que podem
contribuir para a indução de danos genéticos. Desta forma, foram feitas análises que levaram
em consideração estes parâmetros. Com relação ao número de MCN quando comparado com
o consumo (ou não) de álcool e de fumo nos indivíduos expostos e não expostos, não houve
diferença significativa dentro dos grupos. Os que consumiam álcool no grupo dos expostos
apresentaram uma frequência de micronúcleos de 3.11 ± 1.58 e os que não consumiam
mostraram uma frequência de 4.28 ± 1.88. Comportamento semelhante foi observado entre os
indivíduos fumantes e não fumantes. Quando analisadas estas variáveis entre o grupo não
exposto, a mesma resposta foi observada, ou seja, tanto o álcool quanto o fumo não estavam
contribuindo no aumento da frequência de micronúcleos em todos os indivíduos analisados.
75
O teste de Micronúcleos em mucosa oral permite também que sejam feitas análises adicionais
quanto à estrutura nuclear. Os resultados provenientes destas análises são apresentados na
Tabela 3.
Tabela - 3 - Resultado da frequência das alterações genéticas em células dos indivíduos expostos e não
expostos a agrotóxicos no Município de Touros –RN (média das alterações são para 2.000 células).
5. Discussão
deslocamento no solo podendo atingir principalmente as águas subterrâneas, além disso, são
altamente bioconcentráveis em peixes e tóxicos para microcrustáceos.
Considerando a área de estudo, o Município de Touros/RN desenvolve várias atividades
agrícolas com destaque para as culturas de abóbora, mandioca, milho, manga, coco da baia e
principalmente o cultivo do abacaxi. Em 2009, o Nordeste foi a região com maior produção
de abacaxi quando comparado com outras regiões no Brasil de acordo com Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA (2009). Foi relatado pelos produtores
rurais cerca de nove tipos de pesticidas utilizados no local. Nossos achados indicam que entre
estes produtos químicos apenas 1 é classificado como altamente perigoso ao meio ambiente -
inseticida do grupo químico piretróide. É importante destacar que este tipo de composto é
considerado pouco tóxico para o ser humano, entretanto pode apresentar um potencial de
periculosidade ambiental muito alto ao meio ambiente. O piretroide é um derivado sintético
das piretrinas. O grupo das piretrinas é considerado segundo Guidelines for Carcinogen Risk
Assessment (EPA/630/P-03/001B) - EPA (2005) como apresentando um potencial
carcinogêncio. Indica-se que uma reavaliação do mesmo deve ser feita considerando a
evolução das formulações e sua avaliação de risco já que estudos que avaliam o impacto da
exposição aos pesticidas sobre a incidência e mortalidade por câncer são muito escassos
(Chrisman et al., 2009).
Dentre os nove agrotóxicos relatados pelos produtores rurais, sendo 1 piretróide classificado
como altamente perigoso ao meio ambiente; 5 agrotóxicos foram classificados como muito
perigosos ao meio ambiente: (a) herbicida do grupo químico uréia, (b) inseticida do grupo
químico metilcarbamato de oxima, (c) inseticida do grupo químico antranilamida, (d)
fungicida do grupo químico ditiocarbamatos, (e) fungicida do grupo químico triazol, e apenas
2 tipos foram considerados como perigoso ao meio ambiente: um inseticida do grupo químico
avermectinas, e 1 fungicida do grupo químico acetamida e ditiocarbamato.
Tendo ciência do risco destes produtos químicos para a saúde dos trabalhadores, foi utilizado
o Teste de Micronúcleos em células da mucosa bucal com o objetivo de detectar e quantificar
a ação genotóxica por meio da análise da frequência de micronúcleos (MN) e outras
alterações nucleares nos agricultores que trabalham no Município de Touros/RN,
especificamente na área do Projeto Boqueirão.
A aplicação desta metodologia permitiu observar a diferença significativa na frequência de
MN do grupo exposto a agrotóxicos (3.72 ± 1.82) quando comparado com o grupo controle
(1.02 ± 1.00). Além disso, a averiguação da influência das variáveis de confusão, tais como
idade, hábito de fumar e consumo de álcool, demonstraram que o aumento detectado na
77
presente estudo, assim como em outros relatados, essas variáveis não foram as responsáveis
pelo acréscimo na frequência de danos ao material genético dos indivíduos.
Um ponto importante a ser considerado, é a relação entre o aumento na frequência de MN e a
carcinogênese. Para Fenech et al. (2011), micronúcleos são biomarcadores de eventos
genotóxicos e de instabilidade cromossômica e ao longo das últimas décadas estes
biomarcadores têm sido aplicados na avaliação da exposição de agentes genotóxicos e
aumentos nas suas frequências estão relacionados a inúmeras injúrias a saúde, inclusive o
câncer (BONASSI et al.,2011). McDuffie et al.(2009), relatam que a história familiar positiva
de câncer e /ou a exposição ambiental a substâncias químicas agrícolas desempenham um
papel no desenvolvimento de câncer, e Kumar & Das (2009), esclarecem que os fatores
genéticos são responsáveis por cerca de 5% a 10% de todos os cânceres e o restante pode ser
atribuído a carcinógenos ambientais, como por exemplo, a exposição ocupacional a
agrotóxicos.
A partir dos resultados obtidos, fica notório que os agricultores estão aplicando os agrotóxicos
de maneira errônea e comprometendo a sua saúde. Apesar das respostas do questionário
mostrarem que 70.4% dos indivíduos declaram usar equipamento de proteção individual, o
uso é incorreto. Uma vez que os trabalhadores consideram como EPIs roupas de uso diário,
como calça, bermuda, camiseta, bota e boné. Esse panorama de má informação fomenta as
injúrias a saúde dos trabalhadores rurais.
Desta forma, profundas mudanças são necessárias para diminuir os riscos tanto para as
pessoas quanto para o ambiente. Tais medidas poderiam envolver a implantação de uma
vigilância epidemiológica, o acompanhamento dos agricultores que incluísse avaliações do
estado de saúde para evitar não somente toxicidades agudas, mas também a toxicidade crônica
que pode levar ao surgimento de neoplasias. Estas atitudes iriam proporcionar a melhoria das
condições de trabalho, assim como, a redução dos efeitos adversos sobre a saúde humana e o
meio ambiente, já que defensivos agrícolas vêm sendo usados de forma sistemática.
79
6. Referências
BRASIL. Fundação Oswaldo Cruz. Agrotóxicos Proteção para quem? Rio de Janeiro,
RJ Nº 95 Julho de 2010. RADIS Comunicação em Saúde. [Acessado em jul 2012].
Disponível em: http://www4.ensp.fiocruz.br/radis/95/pdf/radis_95.pdf
ZHANG, J; CAI, W.W; LEE, D.J ,Occupational hazards and pregnancy outcomes.
American Journal of Industrial Medicine 1992; 21(3):397-408.
TAHA, T.E e GRAY, R.H , Agricultural pesticide exposure and perinatal mortality in
central Sudan. Bulletin of the World Health Organization 1993; 71(3-4):317—21.
CONCLUSÕES GERAIS
ESCLARECIMENTOS
Este é um convite para você participar da pesquisa: O impacto do uso dos agrotóxicos na
saúde do trabalhador rural - RN, que é coordenada pela Professora Dra Viviane Souza do
Amaral, UFRN, e pela mestranda responsável Ana Flávia de Santana Resende Nagem.
Essa pesquisa procura analisar os impactos do uso dos agrotóxicos na saúde dos trabalhadores
rurais. Os agrotóxicos são substâncias que apresentam um maior número de fatores de riscos
para a saúde da população podendo causar intoxicações, e doenças, tais como o câncer.
não agride a sua mucosa oral, não sangra e não oferece nenhum prejuízo para a sua saúde. Os
riscos envolvidos e o incomodo da coleta são considerados mínimos. A partir do sangue
coletado as análises serão realizadas no laboratório na UFRN para detectar se há alguma
alteração sanguínea e as CÉLULAS DA MUCOSA ORAL também serão analisadas no
laboratório para ver se há algum defeito nas células.
O sangue e as células da mucosa oral, uma vez coletadas, serão transportadas logo após a
coleta com os devidos cuidados de medidas de segurança para a Universidade Federal do Rio
Grande do Norte - UFRN direto para o laboratório onde serão realizadas as análises. Dessa
forma, as medidas de segurança visam proteger o coletor e o doador de qualquer possibilidade
de contaminação.
BENEFÍCIOS: A sua participação é muito importante, pois os dados coletados através dos
questionários e dos testes ajudarão a compreender os efeitos do uso dos agrotóxicos sobre a
saúde. Pretende-se realizar uma palestra para promover uma divulgação da correta
manipulação, uso dos equipamentos de proteção individual, assim como o descarte das
embalagens. Espera-se que essa ação promova conhecimentos e informações sobre a proteção
da sua saúde, contribuindo para a melhoria nas condições de trabalho e uma melhor condição
de vida. Dessa forma, projetos futuros poderão ser implantados levando em conta as
necessidades locais analisadas através dessa pesquisa.
As amostras de material biológico (sangue) que não forem utilizadas nessa pesquisa serão
armazenados em no máximo 5 (cinco) anos na UFRN, para ser utilizadas em pesquisas futuras
na qual poderá analisar a diferença de sensibilidade como cada indivíduo se comporta em
relação a exposição aos agrotóxicos. Neste caso, assinando esse termo você também estará
autorizando a armazenagem das amostras para uso do material em futuros projetos. Essas
futuras pesquisas serão novamente aprovadas pelo CEP e, quando for o caso, pela CONEP, e
o(a) senhor(a) será consultado para dizer se permite ou não a utilização do seu sangue.
Participante da pesquisa:
Nome:
Assinatura:
Pesquisador responsável:
Nome: Ana Flávia de Santana Resende Nagem
Assinatura_______________________________________
Cidade:_________________________, Data:___________________
Endereço profissional: Campus Universitário, Av. Senador Salgado Filho, s/n, bairro: Lagoa
Nova, Natal, 59078-970 fone 9968-05 18
Comitê de ética e Pesquisa: Campus Universitário, Av. Senador Salgado Filho, s/n, bairro:
Lagoa Nova, Natal, 59078-970, e-mail cepufrn@reitoria.ufrn.br ou pelo telefone: (84) 3215-
3135.
87
ESCLARECIMENTOS
Você fará parte da pesquisa apenas como GRUPO CONTROLE. Os dados obtidos
através das análises da coleta de células da mucosa oral e dos questionários serão
utilizados somente estatisticamente para a comparação com outros grupos de
indivíduos que estão em contato com a pulverização de agrotóxicos para evitar erros
estatísticos. Os dados do GRUPO CONTROLE serão utilizados para julgar os
resultados; só servem de parâmetro.
Participante da pesquisa:
Nome:
Assinatura:
Pesquisador responsável:
Nome: Ana Flávia de Santana Resende Nagem
Assinatura_______________________________________
Cidade:_________________________, Data:___________________
Endereço profissional: Campus Universitário, Av. Senador Salgado Filho, s/n, bairro:
Lagoa Nova, Natal, 59078-970 fone 9968-05 18
Comitê de ética e Pesquisa: Campus Universitário, Av. Senador Salgado Filho, s/n,
bairro: Lagoa Nova, Natal, 59078-970, e-mail cepufrn@reitoria.ufrn.br ou pelo
telefone: (84) 3215-3135.
90
APENCIDE C - CORDEL
91
700 WG
Explorer 500FMC QUÍMICA DO BRASIL LTDA -
5407 sulfentrazona (triazolona)
SC Campinas
Folicur 200
BAYER S.A. São Paulo/ SP 2895 tebuconazol (triazol)
EC
SYNGENTA PROTEÇÃO DE diurom (uréia) + Dicloreto de
Gramocil 1248498
CULTIVOS LTDA. paraquate (bipiridílio)
Herbipak MILENIA AGROCIÊNCIAS S.A. -
16208 ametrina (triazina)
WG Londrina
MILENIA AGROCIÊNCIAS S.A. -
Karmex 11989 diurom (uréia)
Londrina
MILENIA AGROCIÊNCIAS S.A. -
Karmex 800 408303 diurom (uréia)
Londrina
Kohinor 200MILENIA AGROCIÊNCIAS S.A. -
8998 imidacloprido (neonicotinóide)
SC Londrina
bromacila (uracila) + diurom
Krovar DU PONT DO BRASIL S.A. - Barueri 938900
(uréia)
ARYSTA LIFESCIENCE DO
Orthocide
BRASIL INDÚSTRIA QUÍMICA E198608 captana (dicarboximida)
500
AGROPECUÁRIA
NUFARM INDÚSTRIA QUÍMICA E
Rival 200 EC 6203 tebuconazol (triazol)
FARMACÊUTICA S.A.
Sevin 480 carbaril (metilcarbamato de
BAYER S.A. São Paulo/ SP 918600
SC naftila)
Sevin 850 carbaril (metilcarbamato de
BAYER S.A. São Paulo/ SP 158603
WP naftila)
SYNGENTA PROTEÇÃO DE
Tecto SC 8396 tiabendazol (benzimidazol)
CULTIVOS LTDA.
IHARABRAS S.A. INDÚSTRIA tiofanato-metílico (benzimidazol
TOPSIN 700 8711
QUÍMICAS (precursor de))
Triade BAYER S.A. São Paulo/ SP 2600 tebuconazol (triazol)
IHARABRAS S.A. INDÚSTRIA tiofanato-metílico (benzimidazol
Viper 700 5608
QUÍMICAS (precursor de))
Warrant BAYER S.A. São Paulo/ SP 8398 imidacloprido (neonicotinóide)
96
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check the page proofs, and arranges for any payment that may incur during the editorial
process.
• Entering the following metadata is required: (i) the manuscript title, (ii) a short running title
(max. 35 characters), (iii) the Abstract, and (iv) up to five keywords. All these items must be
exactly the same as those figuring in the first two pages of the manuscript file. Furthermore, a
cover letter addressed to the Editor is required. It must be edited by the corresponding author
inserted within the reserved data field.
• Statements are required informing that the data have not been published and are not under
consideration elsewhere, and that all authors have approved the submission of the manuscript.
Furthermore, possible conflicts of interest (e.g. due to funding, consultancies) must also be
disclosed.
• The names of all co-authors, including institutional affiliations and e-mail addresses must be
entered, as contact information for the Editorial Office.
• In the referee suggestions field, up to five reviewer names can be entered by the author(s);
valid e-mail contact addresses for these are required, in case they are selected by the editor.
These suggestions can be made separately as preferred and not-preferred reviewer(s).
• Files must be uploaded separately and identified according to file types. The main text file must
include references and, if applicaple, figure legends, which must be typed on a separate page
following the References and Internet Resources sections. Each table, figure and element
containing supplementary material must be saved and uploaded in a separate file. Formats for
text and tables are Word or RTF in Windows platform. Figures should be in TIFF or JPEG formats
(see detailed instructions in 3.1.h).
• Manuscripts including photos or any other identifiable data of human subjects must be
accompanied by a copy of the signed consent by the individual or his/her guardian.
Failure to adhere to these guidelines can delay the handling of your contribution and manuscripts may be
returned before being reviewed.
Special attention should be given to the structuring of the manuscript and correct language usage. These
are important factors in the smooth running of the editorial and peer-review process, and can result in
faster publication.
128
3. Categories of Contribution
a) The title page must contain: a concise and informative title; the authors’ names (first name at full
length); the authors’ institutional affiliation, including department, institution, city, state or province, and
country; different affiliations indicated with superscript Arabic numbers; a short running title of up to 35
characters (including spaces); up to five key words; the corresponding author’s name, full postal, and
email address.
b) The Abstract must be a single paragraph that does not exceed 200 words and summarizes the main
results and conclusions of the study. It should not contain references.
c) The text must be as succinct as possible. Text citations: articles should be referred to by authors’
surnames and date of publication; citations with two authors must include both names; in citations with
three or more authors, name the first author and use et al. List two or more references in the same
citation in chronological order, separated by semi-colons. When two or more works in a citation were
published in the same year, list them alphabetically by the first author surname. For two or more works
by the same author(s) in a citation, list them chronologically, with the years separated by commas.
(Example: Freire-Maia et al., 1966a, 1966b, 2000). Only articles that are published or in press should be
cited. In the case of personal communications or unpublished results, all contributors must be listed by
initials and last name (et al. should not be used). Numbers: In the text, numbers nine or less must be
written out except as part of a date, a fraction or decimal, a percentage, or a unit of measurement. Use
Arabic numerals for numbers larger than nine. Binomial Names: Latin names of genera, species and
infraspecific taxa must be printed in italics; names of orders and families should appear in the Title and
also when first mentioned in the text. URLs for programs, data or other sources should be listed in the
Internet Resources Section, immediately following the References Section, not in the text.
The text includes the following elements:
Introduction - Description of the background that led to the study.
Material (or Subjects) and Methods - Details relevant to the conduct of the study. Statistical methods
should be explained at the end of this section.
Results - Undue repetition in text and tables should be avoided. Statistical analyses should be presented
as complete as possible, i.e. not only P-values should be shown, but also all other test variables required
for full appreciation of the results by the reviewers and readers. Comments on relevance of results are
appropriate but broader discussion should be part of the Discussion section.
Discussion - The findings of the study should be placed in context of relevant published data. Ideas
presented in other publications should not be discussed solely to make an exhaustive presentation.
Some manuscripts may require different formats appropriate to their content.
d) The Acknowledgments must be a single paragraph that immediately follows the discussion and
includes references to grant support.
e) The References Section: References must be ordered alphabetically by the first author surname;
references with the same first author should be ordered as follows: first, as single author in chronological
129
order; next, with only one more co-author in alphabetical order by the second author; and finally
followed by references with more than two co-authors, in chronological order, independent of the second
author surnames. In references with more than 10 authors only the first ten should be listed, followed
by et al. Use standard abbreviations for journal titles as suggested by NCBI
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/journals/).
Only articles that are published or in press should be included in this section. Works submitted for
publication but not yet accepted, personal communications and unpublished data must be cited within
the text. “Personal communication” refers to information obtained from individuals other than the
authors of the manuscript being submitted; “unpublished data” refers to data produced by at least one of
the authors of the manuscript under consideration. Works of restricted circulation (e.g., theses not
available in public databases, congress abstracts not published in regular journals or public databases)
should not be listed in this section.
f) Internet Resources Section: this section should contain a list of URLs referring to data presented in
the text, as well as software programs and other Internet resources used during data processing. Date of
consultation must be stated.
Sample Internet resource citation:
Online Mendelian Inheritance in Man (OMIM), http://www.ncbi.nlm.nih.gov/OMIM (September 4, 2009)
LEM Software, http://dir.niehs.nih.gov/dirbb/weinbergfiles/hybrid_design.htm (September 4, 2009)
g) Tables: must be in Word format prepared with the table tool (do not use space bar or tabulator). A
concise title should be provided above the table. Tables must be numbered consecutively in Arabic
numerals. Each column must have a title in the box head. Footnotes typed directly below the table
should be indicated in lowercase superscript letters. Tables that are to appear in the printed version must
be saved in Word format and not as figures, so that they can later be fitted during typesetting. Each
table must be saved and uploaded as a separate file.
130
h) Figures must be numbered consecutively using Arabic numerals. Images should be in TIFF or JPEG
format. Figures in Word, PowerPoint or Excel format cannot be published. Only sequence data can be
presented in Word format. Journal quality reproduction will require grayscale resolution yielding 300 dpi,
color figures should be at 600 dpi. These resolutions refer to the output size of the file, that is the size in
which it will appear printed in the journal; if it is anticipated that images will be enlarged or reduced, the
resolutions should be adjusted accordingly. Figures composed of several elements should be sent as a
single panel, obeying the print size definitions of the journal (single or two columns width). Scanned
figures should not be submitted. Color illustrations are accepted. Each figure/panel must be saved and
uploaded as a separate file. When uploading, identify each illustration by the first author name and the
number of the respective figure.
Figure legends must be included at the end of the main text file and should be typed on a new page.
i) Nomenclature: Taxonomic names should be in accordance with current international standards. For
rules concerning gene names and gene symbols, please see separate Instruction form.
j) Sequences may appear in text or in figure. DNA, RNA and protein sequences equal to or greater than
50 units must be entered into public databases and accession numbers must be provided upon
acceptance of the article. Failure to do so will inadvertently delay publication.
k) Data access: reference should be made to availability of detailed data and materials used for
reported studies.
l) Ethical issues: Reports of experiments on live vertebrates must include a statement in the text that
the institutional review board approved the work and the protocol number must be provided. For
experiments involving human subjects, authors must also include a statement that informed consent was
obtained from all subjects. If photos or any other identifiable data are included, a copy of the signed
consent must be uploaded during manuscript submission.
m) Supplementary Material: Data that the authors consider of importance for completeness of a
study, but which are too extensive to be included in the published version, can be submitted as
Supplementary Material. At publication, this material will be made available together with the electronic
version. In case a manuscript contains such material, it should be appropriately identified within the text
file. Supplementary material in tables should be identified as Table S1, Table S2, etc., in case of figures
they should be named accordingly, Figure S1, Figure S2. In addition, a list of this material should be
presented at the end of the manuscript text file, containing the following statement:
Supplementary material - the following online material is available for this article:
Short Communications present brief observations that do not warrant full-length articles.
Theyshouldnotbeconsideredpreliminary communications;
131
• should be 15 or fewer typed pages in double spaced 12-point type, including literature
cited;
• should include an Abstract;
• but no further subdivision, with introduction, material and methods, results and
discussion; all in a single section and without headers.
• up to four items (tables and/or figures) may be submitted;
Note: The title page, abstract and reference section format is that of a full-length Research Article. For
Supplementary Material see instructions in item 3.1.m.
5. Reprints
Reprints are free of charge and will be provided as a pdf-file.