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Adriana Ortega Clímaco

Raquel da Silva Ortega


Isis Milreu
(Orgs.)

Campina Grande - PB
2018
© dos autores e organizadores
Todos os direitos desta edição reservados à EDUFCG
Comitê Científico
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFCG
EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - EDUFCG

Adriana Ortega Clímaco (IFSP/Jacareí)


Amarino Oliveira de Queiroz (UFRN)
Ana Cristina dos Santos (UERJ)
Antonio Roberto Esteves (UNESP/Assis)
Cláudia Paulino de Lanis Patrício (UFES)

EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - EDUFCG


Cláudia Heloísa Impellizieri Luna Ferreira (UFRJ)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – UFCG
editora@ufcg.edu.br Diana Araújo Pereira (UNILA)
Prof. Dr. Vicemário Simões Elda Firmo Braga (UERJ)
Reitor

Prof. Dr. Camilo Allyson Simões de Farias Elena Cristina Palmero González (UFRJ)
Vice-Reitor
Isis Milreu (UFCG)
Prof. Dr. José Helder Pinheiro Alves
Diretor Administrativo da Editora da UFCG
Magnólia Brasil Barbosa do Nascimento (UFF)
Simone Cunha / Isis Milreu
Revisão Raquel da Silva Ortega (UESC)
Yasmine Lima
Editoração Eletrônica
Rita de Cássia Miranda Diogo (UERJ)
CONSELHO EDITORIAL Silvia Inés Cárcamo de Arcuri (UFRJ)
Anubes Pereira de Castro (CFP)
Benedito Antônio Luciano (CEEI)
Erivaldo Moreira Barbosa (CCJS)
Janiro da Costa Rego (CTRN)
Marisa de Oliveira Apolinário (CES)
Marcelo Bezerra Grilo (CCT)
Naelza de Araújo Wanderley (CSTR)
Railene Hérica Carlos Rocha (CCTA)
Rogério Humberto Zeferino (CH)
Valéria Andrade (CDSA)
Dedicamos este livro à Professora
Magnólia Brasil Barbosa do
Nascimento.
Sumário

Prólogo............................................................................. 15

Apresentação ..................................................................... 19

Homenagens
En torno al sentido de la enseñanza de las literaturas
de lengua española en la universidad brasileña........... 31
Mario M. González

É possível trabalhar literatura nas aulas de espanhol


língua estrangeira? – Problemas, propostas e desafios da
prática do texto literário no processo de ensino/apren-
dizagem de E/LE ou uma leitura crítica de Literatura y
enseñanza (2008), de Magnólia Brasil Barbosa do Nasci-
mento e André Luiz Gonçalves Trouche ...................... 47
Isis Milreu

Reflexões sobre o ensino de


literatura hispânica
O ensino de literaturas hispânicas na contemporaneida-
de: desafios e perspectivas............................................... 83
Isis Milreu
Literatura é arte: dimensão estética ocultada no Me llamo Rigoberta Menchú y así me nació la conciencia
ensino ............................................................................. 113 e ensino de literatura hispânica:
Adriana Ortega Clímaco
caminhos e direções....................................................... 271
Raquel da Silva Ortega
Sandra Leite dos Santos
Fernando Zolin-Vesz
Formación de lectores de ficción en la formación de
profesores de español ................................................... 133
Juan Pablo Chiappara Práticas literárias e mobilidades culturais:
o papel das cartografias estéticas no ensino
Literatura e ensino de espanhol/LE: de literaturas nas Américas.......................................... 285
algumas reflexões.......................................................... 165 Maria Josele Bucco Coelho
Fernanda Ap. Ribeiro
Kátia R. M. Miranda
Literaturas e culturas hispano-americanas em materiais
Más que un adorno: el retorno a la literatura ........ 181 didáticos de Espanhol/LE............................................. 313
Begoña Sáez Martínez Antonio Roberto Esteves
Augusto Moretti de Barros
O papel da literatura na formação docente: reflexões
sobre a construção de um pensamento estético-literário Antonio Gamoneda: la poesía como medio de
para as aulas de LE......................................................... 207 adquisición de conocimientos ..................................... 339
Daniele Ap. Pereira Zaratin
Saturnino Valladares
Rodrigo de Freitas Faqueri

Desde a linha do deserto até a linha do Equador: A competência lecto-literária nas aulas de E/LE:
horizontes possíveis para as literaturas africanas uma reflexão a partir do gênero conto ...................... 353
de língua espanhola....................................................... 231 Ana Cristina dos Santos
Amarino Oliveira de Queiroz Elen Fernandes dos Santos
Giovanna Silva Fernandes de Oliveira
El arte y la literatura en el mundo de las emociones: as
africanidades no ensino de língua e literaturas em lín- Sendas entre o texto literário, a atividade de leitura e
gua espanhola ................................................................ 251
o livro didático de ELE................................................. 385
Renan Fagundes de Souza
Raquel de Castro dos Santos
Letramento digital e literatura na cibercultura: fanfics Leer y escuchar poesía en la clase de español para ex-
como recurso didático.................................................. 431 tranjeros: “Lluvia”, de Raúl González Tuñón ........... 579
Marcelo de Miranda Lacerda María de los Ángeles Mascioto

Acolhendo identidades no ensino de espanhol


como língua estrangeira através da Relatos de experiência
Tertúlia Literária Dialógica ....................................... 463
Suellen Mayara Magalhães Ensinar a ensinar literatura hispânica:
um relato de experiência .............................................. 603
Raquel da Silva Ortega
Propostas didáticas
O ensino de literatura em língua estrangeira:
A literatura e o ensino de espanhol para quebrando paradigmas................................................... 619
pré-adolescentes: proposta didático-pedagógica Maria Luiza Teixeira Batista
a partir da obra Manolito Gafotas, de Elvita
Lindo, no livro didático Cercanía ............................... 491 Zoo Loco, de María Elena Walsh: explorando a
Ludmila Scarano Barros Coimbra literatura infantil latino-americana na aula
Luíza Santana Chaves de espanhol para crianças............................................. 639
Elizabeth Guzzo de Almeida
O eu e o outro na leitura: um olhar dialógico sobre a Luíza Santana Chaves
literatura no livro didático de ELE............................ 517
Aliana Georgia Carvalho Cerqueira Reinventando El Quijote............................................... 665
Ester Myriam Rojas Osorio Maria Fernanda Lacerda de Oliveira

La literatura infantil y juvenil y el discurso pedagógico O ensino de literatura hispânica na educação básica:
en las clases de español como lengua extranjera. Refle- o relato de uma experiência entre literatura e música
xiones en torno a la práctica docente........................ 551 como recurso para a aprendizagem.............................. 683
Carolina Tosi Elaine Teixeira da Silva
Dom Quixote de la Mancha: um leitor por excelência na
formação de leitores contemporâneos........................ 695
Prólogo
Valéria da Silva Moraes

Desde a época clássica, os gêneros literários foram uti-


Literatura hispânica e letramento literário lizados como material de ensino. A literatura era considera-
no ensino médio............................................................. 729 da como um instrumento de saber e de conhecimento. Nos
Regina Kohlrausch primórdios do ensino de línguas, os gêneros literários eram o
Alice Canal único material utilizado e foram considerados como amostras
perfeitas no uso da língua. Foi o período de apogeu do uso da
La literatura hispanoamericana como proceso en la literatura no ensino de línguas. Porém, logo depois, foram rele-
enseñanza literario-cultural y lingüístico-discursiva gados a um segundo plano, até a sua total eliminação da lista de
de lenguas modernas..................................................... 749 gêneros textuais trabalhados nas aulas de línguas. Foram con-
David Alonso Bueno Baena siderados textos complexos, inacessíveis e pouco eficazes para
o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno e
A literatura no ensino de língua espanhola ficaram relegados apenas às aulas de Literatura e Cultura como
para Turismo.................................................................... 781 “objetos de estudo”.
Isabela Roque Loureiro
Essa ausência do gênero literário nas aulas de línguas se
contrapõe à ideia defendida por Barthes, em Aula (1977), de
Diálogo barroco: literatura e arquitetura no e
que a literatura é um monumento cultural, capaz de abranger
nsino superior ............................................................... 801
todas as áreas do saber humano e, portanto, relaciona-se com os
Samuel Anderson de Oliveira Lima
demais discursos de modo que promove e possibilita a comuni-
cação entre eles. Sob essa perspectiva barthesiana, o ensino de
literatura torna-se, portanto, um instrumento eficaz para o de-
Sobre as organizadoras \ autores (as)............................ 821
senvolvimento, tanto da competência linguística quanto da com-
petência literária do aluno, além de tornar possível a transmissão
de conhecimentos socioculturais, interculturais e culturais.
Concepções como a de Barthes contribuíram para uma
recuperação da literatura na sala de aula. A partir da compreen-
são de que a literatura ocupa um lugar único em relação à lin-

15
guagem e que seu ensino conduz o domínio da palavra a partir no que tange ao tema. A publicação apresenta uma série de
dela mesma, houve, nos meios acadêmicos, uma maior reflexão reflexões teóricas sobre o ensino da literatura, além de propostas
teórico-didática sobre o ensino de literatura. Como consequên- didáticas e relatos de experiências que promovem o trabalho
cia, esses estudos resgataram a importância da disciplina na for- com o texto literário e objetivam mostrar que o uso da litera-
mação humanística do aluno e observaram que o letramento tura em sala de aula é possível e necessário. A divisão da obra
feito com textos literários proporciona um modo privilegiado em partes teórica e prática brinda o leitor com a oportunidade
de inserção no mundo da escrita. Essas reflexões se estenderam de ver exemplificadas, nas propostas didáticas, as abordagens
ao ensino de línguas estrangeiras. teóricas discutidas na primeira parte. Outrossim, propicia um
Cada vez mais, há um consenso entre teóricos e profes- rol de atividades que o professor pode utilizar em sua práxis do-
sores sobre a importância de desenvolver o letramento literário cente. As discussões fomentadas pelos textos de pesquisadores
dos alunos também nas aulas de língua estrangeira. Dessa for- nacionais e internacionais abordam os gêneros literários desde
ma, a literatura configura-se como um canal a mais no contato uma tripla perspectiva: como objeto de estudo, como recurso
do aprendiz com a diversidade que está no âmago da própria para o ensino e como ferramenta na formação de leitores. Es-
língua. A literatura, com todas as suas infinitas possibilidades sas perspectivas defendem a formação de leitores capazes de se
de manifestações, aflora na sala de aula como uma oportuni- inserirem em uma comunidade, de manipularem seus instru-
dade de desvelamento da língua em suas múltiplas facetas lin- mentos culturais e de construírem um sentido para si e para o
guísticas, organizacionais e culturais, conforme fomentam os mundo em que vivem.
documentos oficiais de ensino de língua estrangeira no Brasil. Ao abordar estudos ainda embrionários em nosso país,
Contudo, as publicações sobre a didática de ensino de a obra contribui para a assimilação da didática de ensino de li-
literatura estrangeira, ainda escassas no Brasil, relatam que os teratura estrangeira e certamente servirá como ponto de partida
avanços teóricos na área não coadunam com a recuperação efe- para futuras pesquisas na área. Ademais, os textos apresentados
tiva da literatura como gênero utilizado em sala de aula a fim de colaboram, sobremaneira, para que os estudiosos encontrem
desenvolver o letramento literário, visto que o aproveitamento uma ampla e atualizada lista de referências sobre o tema.
didático da literatura ainda ocorre de maneira incipiente, tanto Espero que as reflexões suscitadas pela leitura dos textos
nos materiais elaborados para o ensino quanto em sala de aula, apresentados sejam proveitosamente discutidas e que contri-
seja pela pouca prática que o professor possui em construir ati- buam para abrir novos caminhos, cheios de descobertas e possí-
vidades com esse gênero; seja pela crença de que são textos difí- veis inquietações, para a prática docente, a pesquisa e o estudo
ceis e desinteressantes para os alunos. do tema. Desfrutem da leitura, prazerosa, deste livro.
Ensino de literaturas hispânicas: reflexões, propostas e re-
latos colabora para preencher a lacuna de publicações no Brasil Professora Dra. Ana Cristina dos Santos (UERJ)

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Apresentação
A ideia deste livro surgiu da constatação de que há pou-
cas publicações sobre as questões didáticas do ensino de litera-
turas de língua espanhola no Brasil. Também verificamos que
muitos professores de espanhol que atuam na educação básica e
nos cursos de idiomas alegam não trabalhar o texto literário em
suas aulas porque não tiveram orientações metodológicas du-
rante suas graduações. Além disso, percebemos que a literatura
hispânica vem perdendo espaço em alguns currículos de cursos
de Letras que formam professores de língua espanhola. Por es-
sas razões, sentimos a necessidade de provocar essa discussão
e compartilhamos esse desafio com os colegas que trabalham
com as literaturas hispânicas, convidando-os a refletir sobre os
múltiplos aspectos dessa problemática.
O resultado dessa provocação foi a presente publicação
que reúne trinta e dois trabalhos em português e espanhol, ela-
borados por docentes e pesquisadores de todas as regiões bra-
sileiras e por colaboradores estrangeiros. São estudos que dis-
cutem o ensino de literaturas de língua espanhola de distintas
perspectivas, diagnosticando-se como o tema vem sendo abor-
dado atualmente e indicando a necessidade de aprofundá-lo.
Desejamos que este livro dê início a várias reflexões e ao estabe-
lecimento de bases para o desenvolvimento de uma didática do
ensino de literatura hispânica em nosso país.
Apresentamos, em primeiro lugar, dois trabalhos que
consideramos fundamentais para a discussão do tema desta
publicação. O primeiro foi escrito pelo Professor Mário M.
González, intitulado “En torno al sentido de la enseñanza de las

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literaturas de lengua española en la universidad brasileña”. Nesse pânicas na contemporaneidade: desafios e perspectivas”, de Isis
estudo, o autor reflete sobre os objetivos do ensino de literatu- Milreu. Em seu estudo, a autora discute o espaço da literatura na
ras de língua espanhola no ensino superior de nosso país, rela- sociedade contemporânea e aponta algumas dificuldades para a
tando sua rica experiência docente na área e indicando alguns abordagem do texto literário no ensino superior e na educação
caminhos para a prática da leitura literária. Desse modo, rende- básica. Também indica alternativas para a promoção da prática
mos um singelo tributo ao grande formador de formadores de da leitura literária, ressaltando o papel do professor de literatu-
professores de literaturas hispânicas. ras hispânicas como formador de leitores críticos e competentes.
O segundo é uma resenha crítica elaborada por Isis Na sequência, Adriana Ortega Clímaco e Raquel da
Milreu sobre o livro Literatura y Enseñanza (2008), de André Silva Ortega examinam como os documentos oficiais que
Trouche e Magnólia Nascimento. Esclarecemos que o objeti- orientam a educação no Brasil tratam o ensino de literatura na
vo de incluir esse texto nesta obra é homenagear a hispanista aula de língua estrangeira para o ensino básico e o médio em
Magnólia Brasil Barbosa do Nascimento, a quem este livro é “Literatura é arte: dimensão estética ocultada no ensino”. Os
dedicado. Assim, reconhecemos o seu empenho no ensino de documentos analisados nesse trabalho são: Lei de Diretrizes e
literaturas de língua espanhola, bem como divulgamos sua va- Bases (1996), Parâmetros Curriculares Nacionais (1998; 2000),
liosa publicação, realizada em conjunto com André Trouche, Parâmetros Curriculares Nacionais + Ensino Médio (2002) e
um importante pesquisador da literatura hispânica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006).
Após esses estudos, a obra se divide em três partes: 1- Juan Pablo Chiappara, em “Formación de lectores de ficción
Reflexões sobre o ensino de literatura hispânica; 2- Propostas en la formación de profesores de español”, reflete sobre o lugar que
didáticas; e 3- Relatos de experiência. No primeiro apartado, deve ocupar a literatura hispânica na formação de professores de
encontram-se os trabalhos teóricos sobre o ensino de literatura língua espanhola. Também investiga a representatividade da lite-
hispânica. A segunda seção reúne artigos que apresentam algu- ratura em documentos oficiais e apresenta algumas possibilidades
mas possibilidades de inserção do texto literário nas aulas de es- de trabalho com o texto literário no meio universitário.
panhol e, na última, há descrições de atividades e projetos reali- Em “Literatura e ensino de espanhol/LE: algumas refle-
zados com as literaturas de língua espanhola em vários âmbitos. xões”, Fernanda Ap. Ribeiro e Kátia R. M. Miranda discutem a
Cabe frisar que há textos que poderiam ser incluídos em outras importância da literatura no ensino de espanhol, considerando
partes, porém optamos por inseri-los em seus respectivos grupos o seu caráter estético e humanizador e, portanto, a sua contri-
considerando o seu tema central. A seguir, apresentamos breve- buição para a formação de cidadãos. Além dessas considerações
mente os capítulos que compõem cada segmento de nosso livro. teóricas, as autoras listam algumas ações que desenvolvem jun-
Iniciamos a primeira seção “Reflexões sobre o ensino de to aos estagiários relacionadas à prática da leitura da literatura
literatura hispânica” com o artigo “O ensino de literaturas his- hispânica em suas aulas.

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No artigo “Más que un adorno: el retorno a la literatura”, sino de literatura hispânica: caminhos e direções”, questionam a
Begoña Sáez Martínez discute a reaproximação do leitor com o restrição dos estudos de obras literárias canônicas de língua es-
texto literário. Aborda, ainda, o conceito de competência literária panhola nas graduações que formam professores de espanhol.
e o senso de responsabilidade para as funções exercidas pelo críti- Os autores propõem que esses cursos incluam a leitura de textos
co e a comunidade educativa, bem como a necessidade da forma- que apresentam vozes que foram esquecidas, tal como a da gua-
ção de leitores através da promoção da literatura sem fronteiras. temalteca Rigoberta Menchú.
Daniele Ap. Pereira Zaratin e Rodrigo de Freitas Faque- A literatura produzida em nosso continente volta a ser
ri, em “O papel da literatura na formação docente: reflexões discutida por Maria Josele Bucco Coelho em “Práticas literárias
sobre a construção de um pensamento estético-literário para as e mobilidades culturais: o papel das cartografias estéticas no en-
aulas de LE”, destacam a importância da leitura literária para sino de literaturas nas Américas”. Nesse texto, a estudiosa de-
a formação intelecto-cultural do docente de língua estrangeira. fende uma postura teórico-prática que considera as impurezas,
Também tecem algumas considerações sobre os aspectos esté- as contaminações e o hibridismo, juntamente com as pressões
ticos e ideológicos presentes na literatura que contribuem para do sistema social sobre o estatuto do objeto literário na aborda-
ampliar a formação do docente de LE. gem da literatura latino-americana.
Em “Desde a linha do deserto até a linha do Equador: Antonio Roberto Esteves e Augusto Moretti de Barros
horizontes possíveis para as literaturas africanas de língua espa- discutem o tratamento da poesia nas coleções didáticas Síntesis
nhola”, Amarino Oliveira de Queiroz problematiza a invisibilida- (2012) e Enlaces (2010), destinadas ao ensino médio, no capítu-
de dos textos literários produzidos em castelhano na África e suas lo “Literaturas e culturas hispano-americanas em materiais didá-
diásporas. Além disso, destaca autores e obras hispano-africanas, ticos de espanhol/LE”. Além disso, os autores se debruçam sobre
elaborando, ainda, uma lista de críticos que se dedicam ao tema. a representatividade da América Latina nas referidas coleções.
A literatura africana é abordada novamente em “El arte O texto poético também é o tema do artigo intitulado
y la literatura en el mundo de las emociones: as africanidades no “Antonio Gamoneda: la poesía como medio de adquisición de co-
ensino de língua e literaturas em língua espanhola”, de Renan nocimientos”, de Saturnino Valladares. Nesse estudo, Valladares
Fagundes de Souza. Nesse artigo, o estudioso apresenta um ca- propõe contemplar a literatura como um instrumento de co-
pítulo do livro Yo hablo, escribo y leo en lengua española. I asé nhecimento e de promoção do gênero humano, examinando
chitiá, kribí i y kankaniá andi lengua española, desenvolvido no alguns temas presentes na poesia de Antonio Gamoneda.
âmbito do PIBID. Em “A competência lecto-literária nas aulas de E/LE:
Sandra Leite dos Santos e Fernando Zolin-Vesz, em uma reflexão a partir do gênero conto”, Ana Cristina dos San-
“Me llamo Rigoberta Menchú y así me nació la consciencia e en- tos, Elen Fernandes dos Santos e Giovanna Silva Fernandes de

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Oliveira apresentam os resultados de uma pesquisa realizada canía”, de Ludmila Scarano Barros Coimbra e Luíza Santana
com professores de espanhol do ensino médio no Estado do Chaves. Nesse artigo, as estudiosas apresentam uma proposta
Rio de Janeiro sobre a leitura de narrativas breves. de trabalho com o texto literário para alunos do oitavo ano do
No capítulo “Sendas entre o texto literário, a atividade ensino fundamental, baseada em uma conhecida narrativa da
de leitura e o livro didático de ELE”, Raquel de Castro dos literatura infantil espanhola.
Santos analisa três coleções de livros didáticos do Ensino Mé- Na sequência, Aliana Georgia Carvalho Cerqueira e
dio de Língua Espanhola, selecionadas pelo PNLD. O objetivo Ester Myriam Rojas Osorio examinam uma unidade do livro
da pesquisa é examinar a ocorrência dos textos literários nas didático Cercanía Joven em “O eu e o outro na leitura: um olhar
atividades concernentes a leitura, a fim de verificar a existência dialógico sobre a literatura no livro didático de ELE”. As auto-
ou não de um processo de leitura interativo nas mencionadas ras ainda descrevem uma proposta didática para a abordagem
coleções. de um conto do livro Primavera con una esquina rota, do escri-
Marcelo de Miranda Lacerda, em “Letramento digital e tor uruguaio Mario Benedetti.
literatura na cibercultura: fanfics como recurso didático”, defen- Carolina Tosi, no capítulo “La literatura infantil y ju-
de a inclusão das fanfics nas aulas de língua espanhola, relacio- venil y el discurso pedagógico en las clases de español como lengua
nando-a com a necessidade de promoção do letramento digital. extranjera. Reflexiones en torno a la práctica docente”, aponta pos-
O estudioso sustenta que esse gênero pode tornar o estudo da síveis caminhos para o ensino de literatura infantil nas aulas
literatura mais atraente para os jovens leitores. de ELE a partir da estratégia do livro álbum. Também assinala
O próximo capítulo é “Acolhendo identidades no ensi- algumas características da literatura infantil argentina recente,
no de espanhol como língua estrangeira através da Tertúlia Li- entre outras questões.
terária Dialógica”, de Suellen Mayara Magalhães. Nesse traba- Em “Leer y escuchar poesía en la clase de español para
lho, a autora descreve o desenvolvimento da Tertúlia Literária extranjeros: “Lluvia”, de Raúl González Tuñón”, María de los Án-
Dialógica realizada durante um curso de espanhol como língua geles Mascioto propõe algumas atividades que podem ser desen-
estrangeira. Também reflete sobre a importância da leitura de volvidas com o texto poético. Nessa proposta, sinaliza como o
literatura para a formação identitária e aponta as vantagens da estudo da poesia pode trabalhar as competências comunicativas
promoção do diálogo sobre as obras literárias lidas. de um aprendiz de língua estrangeira, desenvolvendo suas habi-
Para iniciar a segunda seção deste livro, “Propostas di- lidades de leitura, escuta e escrita.
dáticas”, escolhemos o texto “A literatura e o ensino de espanhol A terceira seção deste livro, “Relatos de experiência”,
para pré-adolescentes: proposta didático-pedagógica a partir da inicia-se com o texto “Ensinar a ensinar literatura hispânica:
obra Manolito Gafotas, de Elvira Lindo, no livro didático Cer- um relato de experiência”, de Raquel da Silva Ortega. Nesse

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capítulo, a autora descreve o trabalho realizado na disciplina de literatura hispânica na Educação Básica: o relato de uma
Didática do ensino de literaturas de língua espanhola, minis- experiência entre literatura e música como recurso para a apren-
trada durante a Especialização em Didática de Espanhol como dizagem”, realizada com alunos do ensino médio. A professora
Língua Estrangeira na Educação Básica, oferecida por uma uni- esclarece que se tratou de uma abordagem comparativista de El
versidade pública. ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha, visando aproximar
Em “O ensino de literatura em língua estrangeira: que- narrativa e música.
brando paradigmas”, Maria Luiza Teixeira Batista discute o A famosa ficção de Cervantes é novamente explorada
conceito de educação literária. A estudiosa também apresenta em “Dom Quixote de la Mancha: um leitor por excelência na
os resultados de um projeto que incentiva a leitura do texto lite- formação de leitores contemporâneos”, de Valéria da Silva Mo-
rário na aula de espanhol como língua estrangeira, descrevendo raes. Nesse estudo, a autora descreve o trabalho que desenvol-
as experiências realizadas pelos integrantes. veu com jovens leitores a partir de uma adaptação da destacada
Na sequência, encontra-se o relato “Zoo Loco, de María obra cervantina, objetivando que eles se tornassem intérpretes
Elena Walsh: explorando a literatura infantil latino-americana dessa ficção.
na aula de espanhol para crianças”, de Elizabeth Guzzo de Al- As autoras Regina Kohlrausck e Alice Canal apresentam
meida e Luíza Santana Chaves. Nesse estudo, as autoras descre- uma sequência didática de leitura de obras literárias no texto
vem o trabalho que realizaram com alunos da educação básica “Literatura hispânica e letramento literário no ensino médio”.
a partir da leitura de uma instigante obra da literatura infantil Suas sugestões destinam-se aos alunos do terceiro ano do ensino
argentina, bem como sua tradução ao português, promovendo médio e seguem a proposta de Rildo Cosson (2014). Além dis-
a interculturalidade na sala de aula de espanhol. so, discutem as concepções de leitura e de letramento literário.
Maria Fernanda Lacerda de Oliveira, em “Reinventan- Em “La literatura hispanoamericana como proceso en
do El Quijote”, relata as atividades que desenvolveu com alunos la enseñanza literario-cultural y lingüístico-discursiva de lenguas
do ensino fundamental, abordando a conhecida narrativa cer- modernas”, David Alonso Bueno Baena relata uma experiência
vantina e comparando-a com a sua versão em cordel. Oliveira com o ensino de poesia colombiana contemporânea em uma
considera que esse trabalho proporcionou a discussão de ques- universidade brasileira. Baena também discute a pertinência do
tões interculturais e ampliou a visão dos alunos sobre a relação retorno da literatura às aulas de língua estrangeira.
entre a literatura, a cultura e a língua espanhola, bem como No capítulo “A literatura no ensino de língua espanhola
entre outras artes. para Turismo”, Isabela Roque Loureiro apresenta como insere o
Outra atividade didática baseada na obra clássica de texto literário nas aulas de espanhol para futuros turismólogos.
Cervantes é descrita por Elaine Teixeira da Silva em “O ensino A autora considera que esse contato com a literatura possibilita

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o desenvolvimento da competência intercultural, contribuindo
para a formação desses profissionais.
Finalizando a coletânea, Samuel Anderson de Oliveira
Lima, em “Diálogo barroco: literatura e arquitetura no Ensino
Superior”, descreve o trabalho que desenvolveu em uma disci-
plina de Literatura Espanhola, aproximando as obras literárias
das construções arquitetônicas. O autor defende que essa ex-
periência contribuiu para a formação dos futuros professores e
desconstruiu a ideia de que literatura é apenas leitura, mostran-
do que também pode se relacionar com outras artes.
Durante a organização deste livro, o ensino de espa-
nhol no Brasil sofreu um duro golpe com a promulgação da
Lei nº 13.415/2017, que revogou a Lei nº 11.161, sancionada
em agosto de 2005, que dispunha sobre a oferta do ensino de
língua espanhola na Educação Básica. Esse fato repercute em
Homenagens
toda a comunidade de espanhol do Brasil e é preciso encontrar
formas de resistência. Acreditamos que, neste momento, é ne-
cessário discutir os caminhos a serem tomados para fortalecer
nossas convicções acadêmicas em relação à importância do en-
sino de espanhol no Brasil, tanto na Educação Básica quanto
no Ensino Superior. Nesse sentido, desejamos que este livro
também contribua de maneira significativa para esse processo
de reflexão, apresentando-se como uma defesa da importância
da literatura hispânica para a formação do indivíduo, uma con-
tribuição fundamental para a sua formação humana, seja na
escola ou na universidade.
Boa leitura!
As organizadoras.

28
ANA CRISTINA DOS SANTOS: Doutora em Letras Neolati- jos sobre literatura y enseñanza del español: “La reseña literaria
nas (UFRJ, 2002). Professora associada do mestrado em Teoria en el aula de ELE”, “Adaptaciones didácticas y traducciones
da Literatura e Literatura Comparada; do doutorado em Li- de Lope de Vega”, “Clásicos adaptados / Clásicos mutilados”,
teratura Comparada e do Departamento de Letras Neolatinas “Dejar hablar, dejar de ser hablado: las lecturas graduadas como
(Português/Espanhol) da UERJ. Professora adjunta de Letras un nuevo estereotipo”, “Texto y literatura en la enseñanza de
da Universidade Veiga de Almeida. Organizou livros, publicou ELE”, “La literatura en ELE o el día en que Cervantes renunció
capítulos de livros e diversos artigos em periódicos nacionais e a ser profesor de español en China”, etc. saezmart@gmail.com
internacionais. anacrissuerj@gmail.com

CAROLINA TOSI: Doctora en Lingüística, magíster en Análi-


ANTONIO R. ESTEVES: Doutor em Letras, livre docente em sis del Discurso y licenciada y profesora en Letras (Universidad
Literatura Comparada, é professor de Literaturas Espanhola e de Buenos Aires, Argentina). Además, ha realizado el Curso de
Hispano-americana no curso de graduação em Letras da Uni- Posgrado de Editores Iberoamericanos (Universidad Complu-
versidade Estadual Paulista, atuando no Programa de Pós-gra- tense, Madrid). Actualmente, se desempeña como investigado-
duação em Letras da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, ra asistente del Consejo Nacional de Investigaciones Científicas
campus de Assis. Tradutor e ensaísta, é autor de vários artigos y Técnicas, y docente en la Universidad de Buenos Aires y de
em revistas especializadas, nacionais e estrangeiras, livros e ca- diversos seminarios de posgrado en la Argentina y en el exterior.
pítulos de livros. aesteves26@uol.com.br Su tema de investigación consiste en el análisis polifónico-argu-
mentativo del discurso pedagógico y del abordaje de la literatu-
ra infantil y juvenil en vinculación con las políticas editoriales.
AUGUSTO MORETTI DE BARROS: Licenciado em Letras carolinaltosi@gmail.com
com ênfase em línguas portuguesa e espanhola e respectivas li-
teraturas, pela Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, cam-
pus de Assis, é aluno de mestrado do Programa de Pós-Gra- DANIELE APARECIDA PEREIRA ZARATIN: Doutoranda
duação em Letras da mesma faculdade, desenvolvendo projeto em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e bolsista
sobre materiais didáticos de espanhol como língua estrangeira. pela CAPES. Possui mestrado, bacharelado e licenciatura ple-
augusto.moretti@hotmail.com na em Letras (Português-Espanhol) pela mesma universidade.
Pesquisadora da área de literatura hispano-americana do século
XX, especialmente a mexicana. Tem experiência nos ensinos da
BEGOÑA SÁEZ MARTÍNEZ: Doctora en Filología Hispá- língua espanhola e da língua portuguesa e suas literaturas. da-
nica y premio Conde de Cartagena (2000) de la RAE. Traba- niele_zaratin@yahoo.com.br

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guns aspectos da literatura espanhola clássica e autores espa- tica: literatura infantil e juvenil; língua e literaturas em língua
nhóis do século XX, como Federico García Lorca e seu teatro, espanhola; literaturas afrodiaspóricas; africanidades; afrocentri-
incluindo estudos comparatistas com escritores brasileiros ou cidade; formação de professores de línguas. renanfagundessou-
hispano-americanos, além de traduções. Fundou a Associação za@gmail.com
de Professores de Espanhol do Estado de São Paulo e a Associa-
ção Brasileira de Hispanistas.
RODRIGO DE FREITAS FAQUERI: Doutorando em Le-
tras com ênfase em Literatura Guatemalteca pela Universidade
RAQUEL DE CASTRO DOS SANTOS: Licenciada em Le- Presbiteriana Mackenzie (UPM). Mestre em Letras também
tras, Português-Espanhol (UFRJ) e Português-Francês (UFRJ). pela UPM com ênfase nas Literaturas Brasileira e Argentina.
Especialista em Literaturas Hispano-americanas (UFRJ), Ensi- Licenciado em Letras (Português/Espanhol) pela mesma insti-
no de Línguas Estrangeiras (CEFET/RJ), Espanhol Instrumen- tuição. Atualmente é professor EBTT do Instituto Federal de
tal para Leitura (UERJ), Especialista em Tradução de Espanhol São Paulo (IFSP) - campus Registro. Possui experiência em es-
(UNESA), é mestre (UFRJ) e doutora (UFRJ) em Ciência da tudos sobre as literaturas brasileira e hispano-americana, assim
Literatura. quelcastro827@hotmail.com como em estudos culturais. rodrigofaqueri@ifsp.edu.br

REGINA KOHLRAUSCH: Professora titular do curso de SAMUEL ANDERSON DE OLIVEIRA LIMA: Formado em
Letras da PUCRS, com atuação na graduação e pós-gradua- Letras, fez mestrado e doutorado em Literatura Comparada na
ção. Licenciada em Letras Português / Espanhol e respectivas UFRN, investigando poetas barrocos que escreveram em língua
literaturas, mestre e doutora em Letras, Teoria da Literatura, espanhola entre os séculos XVI e XVII. É professor adjunto III
pela PUCRS. Realizou estágio pós-doutoral na Universidade de da UFRN, onde ministra as disciplinas de Literatura Espanhola
Vigo, Espanha, em 2010-2011, com bolsa CAPES-Fundación I e Sintaxe da Língua Espanhola, na graduação, e pertence ao
Carolina. regina.kohlrausch@pucrs.br quadro de professores permanentes do Programa de Pós-gra-
duação em Estudos da Linguagem da UFRN. sanderlima25@
yahoo.com.br
RENAN FAGUNDES DE SOUZA: Licenciado em Letras
– Português/Espanhol, pela Universidade Estadual de Ponta
Grossa (UEPG) e mestre em Estudos da Linguagem pela mes- SANDRA LEITE DOS SANTOS: Mestranda no Programa de
ma instituição. Atualmente é professor colaborador da disci- Pós-Graduação em Estudos de Linguagem (PPGEL) da Uni-
plina de Estágio Supervisionado em Língua e Literaturas em versidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Sua pesquisa busca
Língua Espanhola na UEPG. Suas pesquisas têm como temá- analisar a língua espanhola como dispositivo de exclusão social

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O papel da literatura na formação
docente: reflexões sobre a construção
de um pensamento estético-literário
para as aulas de le

Daniele Ap. Pereira Zaratin


(Universidade Presbiteriana Mackenzie)

Rodrigo de Freitas Faqueri


(Universidade Presbiteriana Mackenzie)

O papel da literatura na formação docente

Ao tratar das atribuições do curso universitário de Le-


tras, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Supe-
rior destacam a necessidade de se formar profissionais que pri-
vilegiem a “[...] reflexão analítica e crítica sobre a linguagem
como fenômeno psicológico, educacional, social, histórico, cul-
tural, político e ideológico” (DCN, 2001, p. 30).
Em um primeiro momento, pode parecer desnecessário
e evidente ressaltar tais aspectos para professores e estudantes
do curso de Letras, no entanto, não o é, principalmente se con-
siderarmos uma vertente mais específica do estudo da lingua-
gem: a leitura, a análise de textos literários e o lugar destes nas
aulas de língua estrangeira.

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Cada vez mais cativos do imediatismo ofertado pelo mostrada e justificada a importância de se privilegiar a litera-
universo digital, os alunos, mesmo os de Letras, se sentem, em tura como meio de fruição estética e de ampliação do leque
sua maior parte, pouco atraídos pelo ritmo pausado, solitário linguístico-cultural de determinada língua, é bem provável que
e introspectivo exigido pela obra literária e, quando obrigados ele o reitere, ainda que de maneira inconsciente, durante sua
à leitura, o fazem, mas de maneira esquemática e mecânica, prática docente nos ensinos fundamental e médio.
buscando internalizar aspectos que lhes serão cobrados futura- Nesse sentido, a nossa opção pela literatura justifica-se
mente, como em provas por exemplo, conforme salienta Mi- na medida em que acreditamos ser essa arte verbal uma ferra-
guel Sanches Neto (2013, p. 92): menta fundamental para o desenvolvimento e aprofundamento
da formação crítica do graduando, já que ela, como “objeto
[...] mesmo lendo os autores consagrados,
social” (LAJOLO, 1989, p. 17), contribui para o despertar
ele [o graduando de Letras] ainda continuará
de múltiplas reflexões acerca da experiência humana nas suas
afastado da literatura, porque não vai ler os
mais diferentes vertentes da sociedade. Acreditamos ainda que
livros como literatura, com as suas especifi-
é preciso enfatizar a necessidade de abandono de determinadas
cidades formadoras, mas para atender a uma
práticas de “utilitarização” do texto literário, conforme salienta
mecânica crítica que precisa desse material
Sanches Neto (2013, p. 89), que o fazem ter sempre status se-
para se sustentar.
cundário dentro dos estudos da língua(gem).
Por esse ângulo, associada à análise do conteúdo e das
temáticas apresentadas pelo texto literário, devemos, antes, ins-
Por essa perspectiva, a leitura literária, ofuscada por sua tigar nos nossos alunos o apreço pela reflexão sobre a forma do
“utilitarização” imediata (SANCHES NETO, 2013, p. 89), texto literário, guiando-os para a compreensão do motivo e dos
perde seu encanto, o que contribui para aumentar ainda mais a efeitos de sentido provocados pelo emprego peculiar da lingua-
distância entre o leitor e a obra, ampliando, com isso, o abismo gem que fazem com que ela seja transformada e intensificada
entre a fruição estética proporcionada pela literatura e a sua e se afaste, assim, da fala cotidiana, conforme ressalta Eagleton
significação no e do mundo. Essa maneira equivocada, mas in- (2006, p. 03). Dessa forma, por meio da linguagem literária e
felizmente comum, de tratar o texto literário acaba reforçando a das múltiplas reflexões propostas por ela, se bem direcionado, o
ideia de que “[...] a literatura, como disciplina escolar e univer- aluno poderá iniciar e aprofundar argumentos e reflexões tanto
sitária, parece ameaçada a desaparecer.” (PERRONE-MOISÉS, sobre o texto em si, como sobre si mesmo e sobre a realidade
2000, p. 32). que o circunda, o que resultará num leitor mais ativo, conscien-
Tudo isso pode influenciar diretamente a prática desse te e crítico de si e do universo em que vive.
futuro professor em sala de aula, pois, uma vez que não lhe é

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