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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA

ANÁLISE DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL DO


MUNICÍPIO DE GALINHOS, RN, BRASIL
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR
SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR


SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA
FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA

DYEGO FREITAS ROCHA

2019
Natal – RN
Brasil
Dyego Freitas Rocha

ANÁLISE DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL DO


MUNICÍPIO DE GALINHOS, RN, BRASIL
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR
SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR


SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA
FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA
Dissertação apresentada ao Programa Regional de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa

Co-Orientador: Prof. Dr. Lutiane Queiroz de Almeida

2019
Natal – RN
Brasil
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Rocha, Dyego Freitas.


Análise da vulnerabilidade ambiental do Município de Galinhos,
RN, Brasil / Dyego Freitas Rocha. - 2019.
158f.: il.

Dissertação (Mestrado)-Universidade Federal do Rio Grande do


Norte, Centro de Biociências, Programa Regional de Pós-Graduação
em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Natal, 2019.
Orientador: Dr. Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa.
Coorientador: Dr. Lutiane Queiroz de Almeida.

1. Sistemas Ambientais - Dissertação. 2. Vulnerabilidade


Ambiental - Dissertação. 3. Sistemas de Informação Geográfica -
Dissertação. 4. Galinhos - Dissertação. I. Aloufa, Magdi Ahmed
Ibrahim. II. Almeida, Lutiane Queiroz de. III. Título.

RN/UF/BCZM CDU 502(813.2)

Elaborado por Raimundo Muniz de Oliveira - CRB-15/429


DYEGO FREITAS ROCHA

Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio


Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como
requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Aprovado em: ___/___/___


BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________
Prof(a). Dr(a). Lutiane Queiroz de Almeida
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGE/UFRN)

______________________________________________
Prof(a). Dr(a). Fernando Moreira da Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)

_______________________________________________
Prof(a). Dr(a). Marysol Dantas de Medeiros
Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN)
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço aos meus pais, o senhor José Aderson da Rocha e a senhora
Joana Maria de Freitas Bandeira pelo incentivo e apoio dado nos estudos durante os anos em
que convivi com eles até a minha partida para uma jornada um tanto quanto tortuosa em 2012.
Agradeço aos meus irmãos pelo apoio indireto, mesmo que curto e distante.
Agradeço aos meus familiares pela acolhida, apoio e horas de conversa jogadas fora
quando necessário, considerando o meu afastamento constante e isolamento ao contato humano.
Agradeço ao amigo e orientador Prof. Dr. Lutiane Queiroz de Almeida pelos
apontamentos certeiros e esclarecedores, que no momento certo nortearam precisamente o
desenvolvimento dessa pesquisa, mesmo na condição de co-orientador esteve constantemente
ativo e solicito às dúvidas e questionamentos, contribuindo sobremaneira ao meu avanço
enquanto pesquisador.
Agradeço aos professores do Programa Regional de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente pelas contribuições necessárias ocorridas no cumprimento
das disciplinas do curso de mestrado.
Agradeço aos colegas da turma do mestrado e aos que ficaram mais próximos Débora,
Silenildo e Marcos pelos momentos de descontração e ajuda para superar os desafios da pós-
graduação.
Agradeço ao Laboratório de Geografia Física do Departamento de Geografia da UFRN,
coordenado à época de início da escrita desse manuscrito pelo Prof. Dr. Marcelo dos Santos
Chaves, por ceder o espaço para estudo e desenvolvimento da parte técnica desta pesquisa, além
de ser o ponto de apoio para o Grupo de Pesquisa Georisco.
Aos colegas do LABGEOFIS: Joyce Clara, Cleanto Carlos, Diogo Felipe, Anderson
Gondim, Jaqueline Martins, Moacir Paulo, Antônia Vilaneide e todos os outros alunos e
pesquisadores que compõem o laboratório.
Aos alunos da turma do Bacharelado em Geografia (2015), pelo acolhimento e recepção
enquanto estagiário docente da disciplina de Planejamento Ambiental.
Ao Grupo de Pesquisa em Dinâmicas Ambientais, Riscos e Ordenamento do Território
– GEORISCO, em especial aos colegas: Leila Oliveira, Edimara Soares, Francicélio Mendonça,
Jhonatan Lima, Erick Jordan, Vinnicius Dionízio, Caroline Sales; pelo incentivo, desabafos,
troca de ideias, momentos de descontração acompanhados da boa e velha cerveja gelada.
À Professora Doutora Francisca Leiliane Sousa de Oliveira pelos apontamentos e apoio
nas campanhas de campo realizadas em conjunto com a nossa amiga Edimara Soares no
desenvolvimento de nossas pesquisas.
Aos colegas do Doutorado em Ecologia da UFRN: Andressa Meireles, Paulo Henrique,
Felipe Marinho pelas resenhas extra universidade, conversas no bom e velho Restaurante
Universitário e pelos momentos em que trocávamos ideias sobre ciência e a vida.
À Andressa Meireles deixo o meu agradecimento especial, acompanhando ao longo de
um pouco mais de dois anos essa longa jornada ao mestrado, além de vários momentos de
conversa em que a distração e a tranquilidade se faziam como elementos essenciais para
recomeçar os próximos dias no gás para continuar a pesquisa.
Aos amigos Daniel Nunes e Aniely Márcia pelo apoio incondicional e incentivo nos
momentos necessários, em especial quando as energias estavam se esgotando frente aos
desafios que iam além do curso de mestrado, aqui fica o meu singelo obrigado!
Às Professoras Doutoras Raquel Franco de Souza, Juliana Felipe Farias e Eliane
Marinho Soriano pelos apontamentos dados à época da qualificação desta dissertação de
mestrado, os quais permitiram um grande avanço na conclusão da pesquisa.
Ao Prof. Dr. Lutiane Queiroz de Almeida, Prof. Dr. Fernando Moreira da Silva e à Prof.
Dr. Marysol Dantas de Medeiros pela participação na banca de defesa de mestrado e às
orientações pertinentes para ajustes e arredondamento da etapa final desta pesquisa, meus
sinceros agradecimentos.
À Prof. Dr. Cláudia Maria Sabóia de Aquino pelas parcerias nos trabalhos realizados
nos últimos anos e pela conversa motivadora na minha última estadia na Universidade Federal
do Piauí (minha alma mater).
Ao Jonh Lennon, amigo de longa data e tempos obscuros da UFPI, pelos apontamentos,
indicações de referências acadêmicas e musicais que acompanharam o desenvolvimento desta
pesquisa e de outros trabalhos ao longo de dez anos de parceria.
Aos amigos e mais próximos que não me recordei no momento de escrita desses
agradecimentos, sintam-se agraciados pela participação direta ou indireta nesse árduo processo.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES que
financiou através do processo de Nº 1695263, o desenvolvimento desta dissertação de mestrado
deixando contribuições à sociedade brasileira, principalmente aos cidadãos do município de
Galinhos.
Ainda que num cenário político profundamente obscuro, incerto e desolador no que se
refere ao investimento em ciência no país, mesmo que digam que não se faz pesquisas em
universidades públicas no Brasil, esta e tantas outras pesquisas contrariam esse pensamento
obscurantista e por demais superficial. Forças aos cientistas brasileiros que todos os dias
batalham por um mundo melhor através de suas contribuições!
Dedico a presente pesquisa aos meus
pais e irmãos, como exemplo de quem
é incentivado a estudar, alcança
grandes resultados! Obrigado por
acreditar em mim desde quando fui
embora de casa.

Dedico esse manuscrito à minha


família ROCHA, como uma rocha na
literatura geológica, resistimos às
intempéries do tempo! In memoriam
dos que já partiram, mas deixaram
seus legados, em especial a Dona
Noêmia, minha avó.
Aqui estamos, agora prostrados e
sobrecarregados. Próximos do fim da
estrada! Insatisfeitos, ainda gloriosos
de alguma forma.

(End of The Road – Sentenced)


ROCHA, Dyego Freitas. Análise da vulnerabilidade ambiental do município de Galinhos,
RN, Brasil. 2019. 159 f. Dissertação (Mestrado) - Programa Regional de Pós-graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente - Prodema, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, 2019

RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo geral avaliar a vulnerabilidade ambiental do município
de Galinhos em detrimento das suas características geoambientais e socioeconômicas, no que
tange os padrões de uso e ocupação do solo, seus sistemas ambientais, as potencialidades e
limitações de uso e as suas implicações na modificação do espaço. Para alcançar o objetivo
proposto, foram escolhidas as bases teórico-metodológicas da abordagem geossistêmica, a
teoria ecodinâmica, os conceitos de paisagem, geossistemas e estabilidade dos sistemas
ambientais; os conceitos de risco e vulnerabilidade são apresentados de modo a diminuir a
confusão na compreensão desses conceitos. Os procedimentos técnicos e metodológicos para o
desenvolvimento da pesquisa têm como suporte teórico-metodológico para o mapeamento dos
sistemas ambientais, os pressupostos de Bertrand (2004), Sotchava (1977), Tricart (1977),
Monteiro (2000), Souza (2000) entre outros; e a geração dos produtos cartográficos com o
suporte dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e o uso de Aeronave Remotamente
Pilotada (ARP). A análise da vulnerabilidade ambiental será viabilizada pela adaptação da
metodologia apresentada por Crepani et. al. (2001), Grigio (2003), Tagliani (2003), Costa et.
al. (2006), Oliveira e Mattos (2014), com base em Tricart (1977). Foram realizadas incursões
de campo para validação da geração do mapa de Uso e Ocupação do Solo, obtido a partir do
uso de ferramentas de sensoriamento remoto e fotointerpretação. A etapa de mapeamento de
sistemas ambientais identificou as seguintes classes: Geossistemas (ou Geocomplexos): Duna;
Manguezal e apicum; Praia marinha; Tabuleiro semiárido costeiro, Tabuleiro semiárido interior
e Vale lacustre; Geofácies: Estuário Galinhos-Guamaré; Lagoas interdunares; Tanque de
Carcinicultura-Salinas, Agricultura permanente em tabuleiro semiárido costeiro e tabuleiro
semiárido interior; Agricultura temporária em tabuleiro semiárido costeiro e tabuleiro
semiárido interior; Dunas móveis e Dunas semifixas; Manguezal; Planície Hipersalina e Parque
Eólico. A determinação dos graus de vulnerabilidade foi gerada a partir de equações algébricas
para o cruzamento dos dados em ambiente SIG, utilizando a ferramenta “raster calculator”. Os
resultados obtidos identificaram as seguintes categorias e percentual de ocupação de área:
vulnerabilidade natural: a) muito baixa (5,28%), b) baixa (70,03%), c) moderada (3,07%), d)
alta (7,65%), e) muito alta (13,96%) e vulnerabilidade ambiental: a) muito baixa (1,94%), b)
baixa (46,20%), c) moderada (26,42%), d) alta (14,28%) e e) muito alta (11,16%). A análise da
vulnerabilidade ambiental e a identificação dos sistemas ambientais são importantes subsídios
ao ordenamento/planejamento ambiental com vistas ao desenvolvimento sustentável da área de
estudo.

Palavras-chave: Sistemas ambientais, Vulnerabilidade Ambiental, Sistemas de Informação


Geográfica, Galinhos.
ABSTRACT

The present research has as general objective to evaluate the environmental vulnerability of the
municipality of Galinhos to the detriment of its geoenvironmental and socioeconomic
characteristics, regarding the land use and occupation patterns, its environmental systems, the
potentialities and limitations of use and their implications in the modification of space. In order
to reach the proposed objective, the theoretical-methodological bases of the geosystemic
approach, the ecodynamic theory, the concepts of landscape, geosystems and stability of the
environmental systems were chosen; the concepts of risk and vulnerability are presented in
order to reduce confusion in understanding these concepts. The technical and methodological
procedures for the development of the research have as theoretical and methodological support
for the mapping of environmental systems, the assumptions of Bertrand (2004), Sotchava
(1977), Tricart (1977), Monteiro (2000), Souza among others; and the generation of
cartographic products with the support of Geographic Information Systems (GIS) and the use
of Remotely Piloted Aircraft (ARP). The analysis of environmental vulnerability will be made
possible by the adaptation of the methodology presented by Crepani et. al. (2001), Grigio
(2003), Tagliani (2003), Costa et. al. (2006), Oliveira and Mattos (2014), based on Tricart
(1977). Field incursions were carried out to validate the generation of the Land Use and
Occupancy map, obtained from the use of remote sensing and photointerpretation tools. The
mapping of environmental systems identified the following classes: Geosystems (or
Geocomplexes): Dune; Mangrove and apicum; Beach; Semi-arid coastal board, semi-arid
interior board and lacustrine valley; Environmental Systems: Estuary Galinhos-Guamaré;
Interdunary ponds; Tank of Shrimp farming-Saline, permanent agriculture in semi-arid coastal
board and semi-arid interior tray; Temporary agriculture in semi-arid coastal board and semi-
arid interior tray; Mobile dunes and fixed dunes; Mangrove; Hypersaline Plain and Wind Farm.
The determination of the degrees of vulnerability was generated from algebraic equations to
cross the data in a GIS environment, using the raster calculator tool. The results obtained
identified the following categories and percentage of occupation of area: natural vulnerability:
a) very low (5.28%), b) low (70.03%), c) moderate, d) high (7.65%), e) very high (13.96%)
and environmental vulnerability: a) very low (1.94%), b) low (46.20%), c) moderate (26.42%),
d) high (14.28%) and e) very high (11.16%). The analysis of the environmental vulnerability
and the identification of the environmental systems are important subsidies to the
environmental planning / planning with a view to the sustainable development of the study area.

Keywords: Environmental Systems; Environmental Vulnerability; Geographic Information


Systems; Galinhos.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa de Localização do Município de Galinhos/RN ----------------------------- 20


Figura 2 – Organização espacial dos sistemas ambientais ------------------------------------ 27
Figura 3 – Representação do Método GTP ----------------------------------------------------- 28
Figura 4 – Representação da vulnerabilidade natural e ambiental --------------------------- 43
Figura 5 – Modelo Pressure and Release (PAR) ----------------------------------------------- 47
Figura 6 – Modelo Pressure and Release, conforme Turner et. al. (2003) ----------------- 48
Figura 7 – Quadro conceitual de vulnerabilidade proposto por Turner et. al. (2003) ----- 49
Figura 8 – Pirâmide de dados --------------------------------------------------------------------- 50
Figura 9 – Indicadores, dados e objetivos ------------------------------------------------------ 50
Figura 10 – Processo de desenvolvimento de indicadores de vulnerabilidade ------------- 51
Figura 11 – Sistematização dos procedimentos metodológicos ------------------------------ 53
Figura 12 – Temperatura média máxima anual para a estação meteorológica de Macau
entre 1997 e 2017 ---------------------------------------------------------------------------------- 59
Figura 13 – Temperatura média mínima anual para a estação meteorológica de Macau
entre 1997 e 2017 ---------------------------------------------------------------------------------- 59
Figura 14 – Umidade relativa do ar média anual para a estação meteorológica de Macau
entre 1997 e 2017 ---------------------------------------------------------------------------------- 60
Figura 15 – Precipitação total anual na estação meteorológica de Macau entre 1997 e 2017
-------------------------------------------------------------------------------------------------------- 61
Figura 16 – Velocidade dos ventos média anual na estação meteorológica de Macau entre
1997 e 2017 ----------------------------------------------------------------------------------------- 62
Figura 17 – Contexto geológico regional par a área de estudo ------------------------------- 65
Figura 18 – Visualização da área de estirâncio situada nas proximidades da sede
municipal de Galinhos ----------------------------------------------------------------------------- 70
Figura 19 – Visualização de planície de deflação situada na zona costeira de Galinhos - 71
Figura 20 – Visualização de campos de dunas à leste da sede municipal de Galinhos --- 71
Figura 21 – Visualização de campos de dunas fixas a partir do Morro do André --------- 72
Figura 22 – Visualização da planície de inundação nas proximidades do porto de Pratagil
-------------------------------------------------------------------------------------------------------- 73
Figura 23 – Planície de inundação e estuário --------------------------------------------------- 73
Figura 24 – Relevo do tipo tabuleiro em um dos acessos vicinais do município ---------- 74
Figura 25 – Vista de Neossolos Quartzarênicos que compõem os campos de dunas ----- 80
Figura 26 – Neossolos Quartzarênicos em campos de dunas com parque eólico ao
horizonte -------------------------------------------------------------------------------------------- 80
Figura 27 – Presença de Argissolos Vermelho – Amarelo nas proximidades da RN-120 81
Figura 28 – Solos do tipo Gleissolos Sálicos em via de acesso ------------------------------- 83
Figura 29 - Vegetação nativa de caatinga ------------------------------------------------------- 88
Figura 30 – Vegetação de mangue presente no estuário Galinhos-Guamaré, vista do porto
do Pratagil ------------------------------------------------------------------------------------------- 88
Figura 31 – Vista aérea de laboratório de cultivo de crustáceos em Galinhos ------------- 91
Figura 32 - Vista aérea de fazenda de cultivo de camarão em área de mangue em Galinhos
-------------------------------------------------------------------------------------------------------- 91
Figura 33 – Vista aérea da salina existente em Galinhos/RN --------------------------------- 92
Figura 34 – Vista aérea da salina em Galinhos/RN -------------------------------------------- 93
Figura 35 – Vista aérea de parque eólico situado em Galinhos/RN -------------------------- 95
Figura 36 – Parque eólico situado em Galinhos/RN ------------------------------------------- 95
Figura 37 – Percentual de uso e ocupação da terra no município de Galinhos ------------- 98
Capítulo 1
Figura 1 – Localização da área de estudo ------------------------------------------------------- 112
Figura 2 – Fluxograma dos procedimentos técnicos e metodológicos para o mapeamento
dos sistemas ambientais do município de Galinhos/RN --------------------------------------- 114
Figura 3 – Mapa dos Geossistemas do município de Galinhos ------------------------------ 119
Figura 4 – Mapa dos Geofácies do município de Galinhos ----------------------------------- 119
Figura 5 – Sistema ambiental de Tabuleiro Semiárido Interior ------------------------------ 120
Figura 6 – Sistema ambiental de Tabuleiro Semiárido Costeiro ----------------------------- 121
Figura 7 – Sistema ambiental Praia Marinha --------------------------------------------------- 122
Figura 8 – Sistema ambiental de Dunas – Sede municipal de Galinhos --------------------- 123
Figura 9 – Sistema ambiental de Dunas, detalhe para o parque eólico e salina ao horizonte
da imagem ------------------------------------------------------------------------------------------ 124
Figura 10 – Sistema ambiental de Manguezais e Apicuns ------------------------------------ 126
Figura 11 – Sistema ambiental Vale Fluvial ---------------------------------------------------- 127
Capítulo 2
Figura 1 – Foto aérea da área de estudo com vista de vegetação conservada -------------- 147
Figura 2 – Foto aérea da área de estudo com vista de atividade agrícola ------------------- 148
Figura 3 – Corpo d’água próximo à estrada vicinal que dá acesso ao município de
Galinhos --------------------------------------------------------------------------------------------- 148
Figura 4 – Áreas de ocorrência das principais atividades econômicas do município de
Galinhos --------------------------------------------------------------------------------------------- 149

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – Mapa de Geologia ---------------------------------------------------------------------- 68


Mapa 2 – Modelo Digital de Elevação (MDE) ------------------------------------------------- 75
Mapa 3 – Mapa de Geomorfologia --------------------------------------------------------------- 76
Mapa 4 – Mapa de Declividade ------------------------------------------------------------------ 78
Mapa 5 – Mapa de Associação de Solos -------------------------------------------------------- 82
Mapa 6 – Mapa da Faixa Litorânea Norte de Escoamento Difuso -------------------------- 84
Mapa 7 – Mapa Hidrografia ---------------------------------------------------------------------- 86
Mapa 8 – Mapa de Cobertura Vegetal ----------------------------------------------------------- 89
Mapa 9 – Mapa de Uso e Ocupação do Município de Galinhos ----------------------------- 97
Capitulo 2
Mapa 1 – Mapa localização da área de estudo ------------------------------------------------- 137
Mapa 2 – Vulnerabilidade natural da área de estudo ------------------------------------------ 144
Mapa 3 – Vulnerabilidade ambiental da área de estudo -------------------------------------- 146
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Etapas de formação da Ciência da Paisagem ------------------------------------- 24


Quadro 2 – Classificação dos diversos tipos de riscos ---------------------------------------- 37
Quadro 3 – Definições de vulnerabilidade de acordo com Cutter (1996) ------------------ 39
Quadro 4 – Tipos de vulnerabilidade aplicado aos estudos de fenômenos naturais -------- 42
Quadro 5 – Unidades ecodinâmicas elaboradas por Tricart (1977) ------------------------- 45
Quadro 6 – Quadro-síntese da proposta metodológica de Souza (2000) ------------------- 46
Quadro 8 – Quadro-síntese dos grupos e formações geológicas da Bacia Potiguar ------- 63
Quadro 9 – Quadro-síntese das formações vegetais ------------------------------------------- 87
Capítulo 1
Quadro 1 – Unidades taxonômicas da paisagem de acordo com (1) Bertrand; (2) Cailleux
e Tricart (1956); (3) Diniz et. al. (2015) e (4) autores ----------------------------------------- 116
Quadro 2 – Sistemas e subsistemas ambientais do município de Galinhos ----------------- 118
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Geração de energia eólica no estado do Rio Grande do Norte e Galinhos ....... 94
Tabela 2 - Classificação e quantificação do uso e ocupação da terra no município de
Galinhos .............................................................................................................................. 96
Capítulo 2
Tabela 1 – Categorias morfodinâmicas e valores de estabilidade das unidades da paisagem
............................................................................................................................................. 139
Tabela 2 – Graus de vulnerabilidade para os mapas temáticos .......................................... 140
Tabela 3 – Pesos atribuídos a cada tema na análise da vulnerabilidade ambiental ............ 141
Tabela 4 – Classes e graus de vulnerabilidade ambiental obtidos no cruzamento dos dados
temáticos ............................................................................................................................. 142
Tabela 5 – Distribuição da vulnerabilidade natural do município de Galinhos por
categoria, área e percentual de ocupação ............................................................................ 144
Tabela 6 – Distribuição da vulnerabilidade ambiental do município de Galinhos por
categoria, área e percentual de ocupação ............................................................................ 147
LISTA DE ABREVIATURAS

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica


ARP – Aeronave Remotamente Pilotada
CERNE – Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia
CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMPARN – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte
EPE – Empresa de Pesquisas Energéticas
GPS – Global Positioning System
GTP – Geossistema-Território-Paisagem
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Estado do Rio Grande
do Norte
INSA – Instituto Nacional do Semiárido
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INMET – Instituto Nacional de Meteorologia
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
INSA – Instituto Nacional do Semiárido
IVA – Índice de Vulnerabilidade Ambiental
LANDSAT – Land Remote Sensing Satellite
MDE – Modelo Digital de Elevação
MDT – Modelo Digital do Terreno
MMA – Ministério do Meio Ambiente
NEB – Nordeste Brasileiro
OLI – Operational Land Imager
PAR – Pressure and Release
PNOT – Plano Nacional de Ordenamento do Território
RADAMBRASIL – Projeto Radar da Amazônia/Brasil
SEMARH – Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Rio Grande do
Norte
SERHID – Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Rio Grande do Norte
SiBCS – Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos
SIG – Sistema de Informações Geográficas
SIRGAS 2000 – Sistema de Referência Geodésica para a América do Sul – 2000
SRTM – Shuttle Radar Topography Mission
TGS – Teoria Geral dos Sistemas
UTB – Unidade Territorial Básica
UTM – Universal Transversa de Mercator
VANT – Veículo Aéreo Não Tripulado
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL ................................................................................................. 19


FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 23
ANÁLISE INTEGRADA DA PAISAGEM E ABORDAGEM GEOSSISTÊMICA ... 23
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NOS ESTUDOS INTEGRADOS DA
PAISAGEM ................................................................................................................... 29
AS DEFINIÇÕES DE RISCO: CONTRIBUIÇÕES AOS ESTUDOS
GEOGRÁFICOS ........................................................................................................... 33
OPERACIONALIZANDO O CONCEITO DE VULNERABILIDADE ..................... 38
VULNERABILIDADE AMBIENTAL E ECODINÂMICA ........................................ 42
MENSURAÇÃO DA VULNERABILIDADE: ASPECTOS TEÓRICOS-
CONCEITUAIS .............................................................................................................. 47
METODOLOGIA GERAL ............................................................................................. 52
PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E METODOLÓGICOS .......................................... 52
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO ........................................... 57
ASPECTOS FÍSICOS E BIÓTICOS ............................................................................. 57
CLIMA ................................................................................................................... 57
GEOLOGIA ............................................................................................................ 62
GEOMORFOLOGIA ............................................................................................. 69
SOLOS .................................................................................................................... 79
RECURSOS HÍDRICOS ........................................................................................ 83
COBERTURA VEGETAL ..................................................................................... 87
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS ............................................................................ 90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GERAIS ........................................................... 100
CAPÍTULO 1: MAPEAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS
AMBIENTAIS DO MUNICÍPIO DE GALINHOS/RN ................................................ 109
RESUMO ....................................................................................................................... 109
ABSTRACT ................................................................................................................... 109
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 109
MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................................... 112
RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 115
CONCLUSÕES ............................................................................................................. 128
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 129
CAPÍTULO 2: IDENTIFICAÇÃO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL DO
MUNICÍPIO DE GALINHOS/RN ................................................................................. 132
RESUMO ....................................................................................................................... 132
ABSTRACT ................................................................................................................... 132
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 133
METODOLOGIA .......................................................................................................... 136
RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 142
CONCLUSÕES ............................................................................................................. 149
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 150
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 152
ANEXOS ........................................................................................................................... 155
INTRODUÇÃO GERAL

As relações da interface sociedade-natureza são importantes objetos de estudo para a


Geografia, tendo importância que transcende unicamente a produção de conhecimento, partindo
do pressuposto que a produção de conhecimento seja necessária como um bem da humanidade.
Conforme as ideias de Porto-Gonçalves (1995), a Geografia tem suas contribuições nos
estudos que versam sobre a questão ambiental e, quando se toma por base o território brasileiro,
é mister considerar os processos socioespaciais de uma determinada área, compreendendo
como tais processos denotam os graves problemas ambientais que surgem nessa área, sendo
esta uma das ideias norteadoras desta pesquisa.
Desse modo, os ambientes são modificados pelas ações humanas, mediante a
implementação de variadas formas de uso e ocupação do solo, incorrendo em modificações do
espaço geográfico e gerando novas configurações territoriais que permitem o surgimento e a
instalação de complexos empreendimentos econômicos e expansão urbana. Tais ações geram
transformações na dinâmica ambiental e consequentemente criam espaços risco, ou de
vulnerabilidade ambiental, ou vulnerabilidade físico-natural.
A vulnerabilidade dos ambientes naturais a partir das ações antrópicas possui ordens de
grandeza de acordo com suas características preponderantes. Conforme Ross (2009, p. 50):
“[...] os ambientes mostravam-se em estado de equilíbrio dinâmico até o momento em que as
sociedades humanas passaram a intervir cada vez mais intensamente na exploração dos recursos
naturais para gerar riquezas, conforto, prazer e lazer”. Compreende-se então que as ações
antrópicas traçam profundas transformações no meio ambiente com fins de um complexo
desenvolvimento socioeconômico, científico e tecnológico.
É notório compreender que os problemas ambientais, originados de práticas vorazes e
predatórias dos recursos naturais, conferem implicações das ações à longo prazo para a
sociedade, mediante a degradação e redução da qualidade ambiental, sendo necessária a
realização de estudos que subsidiem o planejamento físico-territorial com fins de abranger tanto
as dimensões sociais quanto ambientais.
Nesse contexto, a região costeira brasileira, em especial a nordestina, tem a sua
ocupação desde os primórdios da colonização brasileira, onde inicialmente foram
desenvolvidas a economia da cana-de-açúcar, do algodão, da pecuária e posteriormente foram
integradas novas formas de exploração econômica, como a carcinicultura, exploração de sal
marinho e o turismo. Nos últimos dez anos, a zona costeira do Nordeste, principalmente nos
estados do Ceará e Rio Grande do Norte, a geração de energia eólica surge como uma nova

19
forma de uso e ocupação do solo. As atividades citadas, contribuem sobremaneira para um
agravamento, ou de certa forma, a aceleração da degradação ambiental das áreas onde se
desenvolvem.
A partir desses aspectos gerais, se insere a realidade de Galinhos/RN, município objeto
de estudo da presente pesquisa; que está situado na Mesorregião Central Potiguar e
Microrregião de Macau, no litoral norte do estado do Rio Grande do Norte, cerca de 170 Km
de distância da capital Natal. Sendo suas coordenadas geográficas 5° 5'33.58"S de latitude e
36°16'27.00"O de longitude, suas principais vias de acesso a BR-406, sentido Natal-Macau e a
RN-402. Limita-se à leste com o município de Caiçara do Norte, à oeste com o município de
Macau, à sul com os municípios de Jandaíra e Pedro Avelino e à norte com o Oceano Atlântico
(Figura 1).
Fundado em 26 de março de 1963, pela Lei Nº 2.838, desmembrado do município de
São Bento do Norte (IDEMA, 2008). Segundo dados do Censo Demográfico de 2010 do IBGE
o município possui 2.159 habitantes e com previsão de crescimento em 2018 para 2.726
habitantes, uma densidade demográfica de 6.31 habitantes/km² (IBGE, 2018).

Figura 1: Mapa de Localização do Município de Galinhos/RN

Fonte: IBGE (2015), elaboração cartográfica pelo autor (2018).

20
O município está inserido em uma área que lhe confere uma considerável complexidade;
suas condicionantes ambientais permitiram diversas formas de uso e ocupação do solo,
permitindo a instalação e implementação de variadas atividades econômicas, como os
empreendimentos de produção de sal e de carcinicultura na planície flúvio-marinha e áreas de
manguezal, de agroindústria no cultivo de melão nas áreas de tabuleiros e parques eólicos nos
campos de dunas.
Os ambientes mencionados compõem diferentes sistemas ambientais (Dunas, Mangue,
tabuleiros costeiros e tabuleiros interiores, estuário) e subsistemas ambientais (Dunas móveis,
dunas fixas, áreas urbanas, lagoas interdunares, mangue, apicum, tabuleiros com vegetação
nativa); os referidos sistemas ambientais são delimitados e caracterizados de acordo com seus
componentes ambientais (geologia, geomorfologia, solos, vegetação, hidrografia, clima). Nesse
contexto, tais ambientes possuem intenso a moderado uso e ocupação do solo, permitindo a
perturbação da dinâmica ambiental natural a partir das ações antrópicas.
A área de estudo engloba uma situação entre os conflitos ambientais, mediante as formas
de exploração dos recursos naturais, especialmente por atividades econômicas de grande porte
e complexidade, perpassando alguns interesses acerca da apropriação do território.
A proposição desta pesquisa ocorreu mediante alguns pressupostos e afirmações
norteadoras que estão relacionadas às formas de uso e ocupação do solo e os problemas e
impactos ambientais gerados pela exploração dos sistemas ambientais, posteriormente, foram
indicadas suas limitações e potencialidades, considerando os componentes ambientais. A
segunda etapa desta pesquisa culminou na geração do mapa de uso e ocupação do solo em
escala de detalhe e a definição dos graus de vulnerabilidade ambiental.
Nesse interim, as seguintes questões norteadoras foram lançadas para nortear o
desenvolvimento da pesquisa: Estão as áreas de maior vulnerabilidade ambiental situadas onde
há ocupação pelos principais empreendimentos econômicos do município de Galinhos e suas
aglomerações urbanas? As formas de uso e ocupação do solo a partir desses empreendimentos
econômicos e seus impactos ambientais estão ligados às unidades territoriais de maior ou menor
vulnerabilidade ambiental às ações antrópicas?
Para a consolidação desses pressupostos, a viabilização da análise da problemática da
área de estudo parte da compreensão das formas de uso e ocupação do solo de modo qualitativo
e os componentes ambientais e sociais (geologia; geomorfologia; vegetação; hidrografia, uso e
ocupação do solo e cobertura vegetal), com vistas a integrar tais variáveis da área de estudo em
tela.

21
Dito isto, o objetivo geral desta pesquisa é avaliar a vulnerabilidade ambiental do
município de Galinhos levando-se em consideração as suas características geoambientais e
socioeconômicas, no que tange os padrões de uso e ocupação do solo, seus sistemas ambientais,
as potencialidades e limitações de uso e as suas implicações na modificação do espaço.
Para consolidar e alcançar o objetivo geral, foram definidos os seguintes objetivos
específicos: a) Caracterizar as principais variáveis geoambientais e antrópicas (geomorfologia,
geologia, solos, vegetação, hidrografia, clima e uso e ocupação dos solos), inter-relacionando
essas variáveis; b) Identificar os sistemas ambientais da área de estudo, indicando suas
limitações e potencialidades; c) Elencar as principais formas de uso e ocupação do solo da área
de estudo; d) Apresentar os indicadores de vulnerabilidade ambiental da área de estudo; e)
Averiguar a relação das áreas de maior ou menor vulnerabilidade ambiental e as áreas em que
estão inseridas as principais atividades econômicas da área de estudo.

22
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

ANÁLISE INTEGRADA DA PAISAGEM E ABORDAGEM GEOSSISTÊMICA

Segundo Schier (2003), a discussão do conceito de paisagem é um tema antigo na


ciência geográfica, datado do século XIX, abrangendo discussões que abarcam as perspectivas
das relações da sociedade e da natureza em um dado espaço geográfico. Nas ideias apresentadas
pelo autor, é afirmado que a interpretação do conceito de paisagem é diversificada de acordo
com as várias abordagens geográficas e concepções de outras disciplinas.
Em seus primórdios, em detrimento de sua conotação estética, o conceito de paisagem
era relacionado ao paisagismo e as artes de jardins e somente no século XIX passou a ser tratada
como um objeto a ser investigado pelas pesquisas de naturalistas e de geógrafos
(CHRISTOFOLETTI, 1999).
Christofoletti (1999, p. 38), aponta que: “em decorrência das raízes naturalistas tornava-
se compreensível a valorização maior para focalizar as ‘paisagens’ morfológicas e da cobertura
vegetal, surgindo a adjetivação para estabelecer distinções entre as paisagens naturais e as
paisagens culturais”. Nesse contexto, a paisagem natural é conferida pela união de elementos
como os solos, vegetação, aspectos geomorfológicos e geológicos e hidrografia, enquanto a
paisagem cultural se refere às ações modificadoras do homem no espaço geográfico.
Os estudos da paisagem exigem que seja utilizada uma abordagem, em que haja uma
análise dos elementos incluídos, a definição de escala de análise, bem como a questão do tempo.
Schier (2003, p. 80), considera que os estudos da paisagem se “tratam da apresentação do objeto
em seu contexto geográfico e histórico, levando em conta a configuração social e os processos
naturais e humanos”.
Não obstante a esse pensamento, Bertrand (2004, p. 141), define que:

“A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É, em


uma determinada porção do espaço, o resultado de uma combinação dinâmica,
portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo
dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e
indissociável, em perpétua evolução”.

Considerando o pensamento de Bertrand, é observado que o mesmo não toma partido


de uma dimensão específica da paisagem, nem a natural e tampouco a humana, o autor observa
a paisagem como uma unidade homogênea, fazendo uma análise da relação sociedade e
natureza, como uma única entidade que compõe um mesmo espaço geográfico.
A paisagem, através de uma perspectiva geoecológica, é base essencial para o
planejamento ecológico de um determinado território, permitindo uma avaliação das

23
potencialidades dos recursos naturais e dessa forma, as estratégias de uso e conservação de tais
recursos num dado período de tempo e no espaço (RODRIGUEZ et. al. 2017).
Na concepção de Rougerie e Beroutchavili (1991 citado por RODRIGUEZ et. al.,
2017), a Ciência da Paisagem como disciplina científica, percorreu algumas etapas (Quadro 1):
Quadro 1: Etapas de formação da Ciência da Paisagem

Fase Definição
Gênese (1850-1920) Onde surgem as primeiras ideias físico-geográficas sobre
a interação dos fenômenos naturais e as primeiras
formulações da paisagem como noção científica.
Desenvolvimento Por influência das outras ciências, são desenvolvidas as
biogeomorfológico (1920-1930) noções de interação entre os componentes da paisagem
Estabelecimento da concepção Quando são desenvolvidos os conceitos sobre a
físico-geográfica (1930-1955) diferenciação em pequena escala das paisagens
(zonalidade, regionalização)
Análise estrutural-morfológica Quando a atenção volta-se para a análise dos problemas
(1955-1970) de nível regional e local (taxonomia, classificação e
cartografia)
Análise funcional (1970- Onde são introduzidos os métodos sistêmicos e
atualidade) quantitativos e desenvolvida a Ecologia da Paisagem
Integração geoecológica (1985- A atenção principal volta-se para a interrelação dos
atualidade) aspectos estrutural-espacial e dinâmico-funcional das
paisagens e a integração em uma mesma direção
científica (Geoecologia ou Ecogeografia) das concepções
biológicas e geográficas sobre as paisagens.
Fonte: Rodriguez et. al. (2017, p. 13-14), organizado pelo autor.

Acerca da perspectiva Geoecológica, Rodriguez e Silva (2013) apontam que a


Geocologia enquanto disciplina, realiza um exame das paisagens naturais e antropo-naturais,
com vistas a permitir uma compreensão da relação sociedade-natureza. Além disso, a disciplina
tem o objetivo de solucionar os problemas de uso dos recursos naturais, assim como, a geração
de princípios e métodos sustentáveis de uso dos recursos, elementos necessários ao
Desenvolvimento Sustentável (RODRIGUEZ e SILVA, 2013).
O viés ecológico, através do conceito de ecossistema proposto por Tansley (1935),
objetiva a definição de uma unidade básica que resulta da interação de todos os seres vivos que
estão inseridos em uma determinada área e contendo condições físicas ou ambientais que
determinam suas características.
O ecossistema é então definido por Christofoletti (1999, p. 35) como uma “área
relativamente homogênea de organismos interagindo com o seu ambiente. A comunidade dos

24
seres vivos constitui o componente principal, que se interliga com os elementos abióticos do
habitat”. Tal abordagem apresenta uma configuração mais holística, evidenciado a maior
interação entre os componentes em detrimento da perspectiva individualizada
(CHRISTOFOLETTI, 1999).
De acordo com Reis Júnior (2006), o conceito ecológico de ecossistema foi integrado
facilmente à linguagem dos geógrafos em busca de uma visão mais sistêmica da relação
sociedade-natureza. Conforme Reis Júnior (2006, p. 03) o “homem visto como
participante/habitante dos ecossistemas, os altera tanto quanto deles sofre condicionamentos,
as respostas dos mesmos obrigam adaptações intensa e permanentemente”.
Nesse contexto, o conhecimento dos componentes da paisagem e a compreensão dos
fluxos de matéria, permitem planejar ações que possuam eficácia para um uso racional dos
recursos naturais. Desse modo, a quantificação como elemento irrecusável, trará à tona os fatos
a serem interpretados e integrados às esferas de decisão (REIS JÚNIOR, 2006).
Ainda na concepção de Reis Júnior (2006, p. 04):

“[...] as abordagens ecossistêmicas em Geografia (compondo uma miríade de estudos


simplesmente não reducionistas, holísticos em grande medida e relativamente
recentes) vão tentando se converter em geossistemas a partir do momento em que as
parcelas investigadas do espaço passam a ser tomadas pela lente dos modelos teóricos
que afluem das ciências naturais quando do estabelecimento da escola teorética-
quantitativa”.

A vertente Teorética-Quantitativa da Geografia destaca-se, preconizando os seguintes


objetivos: (a) preocupação com o desenvolvimento de teorias mais sofisticadas; (b) elaboração
de modelos explicativos mais abrangentes; (c) uso das análises quantitativas e (d) recorrência à
abordagem sistêmica (REIS JÚNIOR, 2007).
Frente a esses objetivos, como forma de obter um melhor aporte teórico-metodológico
para os estudos referentes à relação sociedade-natureza em uma análise integrada, os geógrafos
começaram a utilizar o ideário conceitual da Teoria Geral dos Sistemas (TGS), preconizada por
Ludwig von Bertalanffy (GREGORY, 1992). Desse modo, Christofoletti (1980) define sistema
como um conjunto de elementos que apresentam atributos específicos e que se relacionam entre
si.
Nesse contexto, as abordagens geossistêmica e ecodinâmica enquadram-se nos
desdobramentos teórico-metodológicos citados por Christofoletti (1999), sendo ambas
abordagens fundamentadas pelos pressupostos da Teoria Geral dos Sistemas (TGS).
A abordagem geossistêmica foi preconizada e sistematizada pelo estudioso soviético
Viktor Sotchava (MENDONÇA, 1989). Entre as décadas de 1960 e 1970, além das

25
considerações de Sotchava (1977), os geossistemas foram concebidos como sistemas abertos,
hierarquicamente organizados, apresentando unidade dinâmica e integridade funcional, numa
interdependência no cerne da organização e estruturação dos sistemas ambientais e
socioeconômicos. A partir desse aporte teórico, a geografia enquanto ciência conseguiria
alcançar o entendimento do grau de complexidade dos sistemas ambientais, focalizando o
aproveitamento sustentável dos recursos naturais e ofertando uma análise mais profunda das
intervenções antrópicas (SOTCHAVA, 1977).
No cerne da Teoria Geral dos Sistemas, Tricart (1977) sistematizou a análise
ecodinâmica, outra abordagem para os estudos integrados dos sistemas ambientais. Baseado na
seguinte tríplice conceitual: biocenose/morfogênese/pedogênese, o autor propôs a classificação
morfodinâmica dos sistemas ambientais em três tipos: meios estáveis, meios de transição ou
intergrades e meios instáveis.
Tal classificação morfodinâmica dos sistemas ambientais concebida por Tricart (1977)
tornou-se o construto teórico-metodológico para os estudos de vulnerabilidade e/ou fragilidade
ambiental, contendo consideráveis contribuições para uma análise integrada para o
esclarecimento dos problemas do meio físico.
No contexto das abordagens integradas, Christofoletti (1990; 1999) considera os
sistemas ambientais físicos como um sistema natural relacionado a um território, contendo
características específicas de morfologia, funcionamento e comportamento. Ao integrar as
influências das ações antrópicas na dinâmica ambiental, Christofoletti (2008) enfatiza a
importância da abordagem geossistêmica e da geomorfologia aplicada aos estudos de
ordenamento territorial e planejamento ambiental.
Para Monteiro (2000) a abordagem geossistêmica concebe quatro etapas para as
pesquisas geográficas: (a) análise (levantamento das variáveis naturais e antrópicas do
ambiente), (b) integração (união das variáveis levantadas, considerando os problemas
diagnosticados); (c) síntese (análise da fusão as variáveis, considerando os elementos
homogêneos) e (d) aplicação (explanação da dinâmica ambiental).
Na concepção de Souza (2000) a análise geoambiental está fundamentada nos seguintes
procedimentos: (a) diagnóstico integrado dos componentes geoambientais; (b) execução de
trabalhos de sensoriamento remoto como fim de produção geocartográfica; (c) inventário das
potencialidades e limitações dos sistemas ambientais; (d) elaboração de zoneamentos
ambientais em escalas distintas (macro, meso e microescalas).
Desse modo, Bertrand (2004; 2007), analisa as diversas maneiras para a aplicação do
método geossistêmico às pesquisas geográficas. No que tange o método geossistêmico proposto

26
por Bertrand (2004), a paisagem é analisada considerando seis níveis têmporo-espaciais,
diferenciados pelas escalas abordadas: zona, domínio, região natural, geossistema, geofácies e
geótopo.
A unidade superior de 1ª grandeza ou zona está relacionada à escala global, delimitada
pelo clima e biomas associados. A unidade superior de 2ª grandeza ou domínio é definida pela
compartimentação regional do relevo. Em consonância às primeiras unidades, a unidade
superior de 3ª grandeza ou região natural é marcada pela caracterização individual das feições
do relevo, e por uma influência mais considerável com o clima e a vegetação (BERTRAND,
2004).
No âmbito do geossistema ou unidade inferior de 4ª e 5ª grandezas, “a unidade da
paisagem se torna incontestável” (BERTRAND, 2004, p. 146). Na escala do geossistema, o
relevo surge como o suporte da paisagem, cenário das combinações de instabilidade entre os
fatores climáticos, hidrológicos, pedológicos, biogeográficos e socioeconômicos, tais
combinações conferem um ritmo equacionado para a evolução da paisagem.
O geofácies (unidade inferior de 6ª grandeza) é correspondente à individualidade das
unidades de paisagem, tendo sua dinâmica coordenada pelo potencial biológico. Por
conseguinte, a escala de microformas está configurada pelo geótopo, considerada “a menor
unidade geográfica homogênea diretamente discernível no terreno” (BERTRAND, 2004, p.
148). A figura 2 representa o modelo de Bertrand (2004), considerando a ação antrópica como
elemento crucial na estruturação dos sistemas ambientais.

Figura 2: Organização espacial dos sistemas ambientais

Fonte: Bertrand (2004).

27
Diante de sua progressão teórica, Bertrand & Bertrand (2007) encaminharam outra
proposta metodológica visando os estudos integrados, denominado assim o método GTP
(Geossistema-Território-Paisagem).
Conforme Passos (2016, p. 37) o paradigma ou método GTP é uma construção de
pensamento sistêmico “destinada a demonstrar a complexidade do meio ambiente geográfico,
respeitando, tanto quanto possível, a sua diversidade e sua interatividade”.
O método GTP oferece três vias de entrada para o estudo integrado das relações
sociedade-natureza: (i) a entrada naturalista, representada pelo geossistema; (ii) a entrada dos
processos socioeconômicos, representada pelo território e (iii) a entrada sociocultural, sendo
acessada por meio da paisagem. A estruturação do método GTP pode ser interpretada pela
Figura 3.
Figura 3: Representação do Método GTP

Fonte: Bertrand & Bertrand (2007).


Sucintamente Passos (2011, p. 13-14) apresenta o sistema metodológico elaborado por
Bertrand, considerando três conceitos espaço-temporais:

a) O geossistema representando o espaço-tempo da natureza antropizada. É a “fonte” (source)


jamais captada, tal ela escorre da vertente, mas que pode ser já poluída;

b) O território, fundado sobre a apropriação e o “limitar/cercar”, representa o espaço-tempo das


sociedades, aquele da organização política, jurídica, administrativa e aquela da exploração
econômica. É o “recurso” (ressource) no tempo curto e instável do mercado;

c) A paisagem representa o espaço-tempo da cultura, da arte, da estética, do simbólico e do


místico. Ela é o ressourcement de tempo longo, patrimonial e identitário.

28
A noção de geossistema se diferencia do ecossistema, frente ao processo de
territorialização e de antropização que existentes nele. Para Passos (2011) o geossistema é um
conceito que além de espacializado é territorializado, contém um arcabouço da evolução
histórica da humanidade.

Por meio do método GTP, Bertrand & Bertrand (2007) procuram revalorizar o suporte
natural (geossistema) sobre o qual a se situa a sociedade, ao passo que discute e reassegura a
paisagem enquanto suporte e ponto de partida para o desenvolvimento territorial, histórico e
cultural dos povos (PASSOS, 2011).

Os estudos geossistêmicos, por meio da Teoria Geral dos Sistemas, não são
centralizados apenas no conhecimento das partes, mas sim de todos os elementos que se
integram e compõem um sistema (potencial ecológico, exploração biológica e ação antrópica).

Segundo Aquino et. al. (2017, p.19) “O homem atua nos geossistemas com uma
infinidade de fatores que conduzem a rupturas do equilíbrio ambiental, promovendo, assim,
condições de instabilidade”.

De um modo geral, a concepção dos geossistemas tem seu enfoque nas relações
existentes na paisagem, traduzidas pela dinâmica das relações que permitem a compreensão do
espaço geográfico como um todo.

ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO NOS ESTUDOS INTEGRADOS DA PAISAGEM

Segundo Hasbaert (2006), definir “Ordenamento Territorial” não é considerada uma


tarefa de grande facilidade, sendo necessário entender e ter clareza acerca de dois conceitos
importantes, sob os quais a concepção teórica é construída.

O autor define que a “ordem” está sempre acompanhada de seu par: a “desordem”, e
que esta não deve ser tratada em contrariedade, de modo que ela possa ser uma manifestação
de uma nova ordem ou mesmo de um novo ordenamento (HASBAERT, 2006). De acordo com
Hasbaert (2006) o território pode ser entendido como uma relação de apropriação/domínio da
sociedade sobre o espaço, perpassando o entendimento de fixidez e estabilidade, incorporando
uma perspectiva de fluidez, isto é, inserindo o movimento como elemento constituinte do
território, transformando-o assim em um “território-rede”.

Conforme Hasbaert (2006), deve-se compreender que o espaço geográfico é moldado


paralelamente conforme quatro forças: econômicas, políticas, culturais ou simbólicas e

29
“naturais”, que se manifestam de diferentes modos em cada local. Em suma Hasbaert (2006, p.
121), define os processos da seguinte forma:

• A dinâmica econômica, moldada, sobretudo, na forma de territórios-rede, como


os territórios das grandes empresas transnacionais e que, portanto, se apropria
reticularmente do espaço, ou seja, privilegiando pontos e linhas e não o “espaço
de todos” no seu conjunto;
• A dinâmica política que, apesar de também funcionar cada vez mais em termos
de redes políticas (Lima, 2002), continua privilegiando a gestão em termos de
territórios-zona, superfícies ou áreas com limites claramente estabelecidos,
ainda que estes não tenham mais uma escala privilegiada, mas resultem da
imbricação de vários níveis inter-relacionados;
• A dinâmica “social” em sentido mais estrito, que, com as crescentes
desigualdades, relega cada vez mais uma parcela crescente da população à
condição de exclusão socioespacial ou inclusão precária;
• A dinâmica cultural que cada vez mais foge da associação nítida entre um
território e uma identidade específica para projetar-se igualmente na forma de
identidades híbridas e de redes;
• A dinâmica “natural”, cada vez menos restrita a ambientes zonais locais e cada
vez mais mergulhada na complexidade das relações sociedade natureza de
caráter global.

Já Melo (2010, p. 221) considera que: “o ordenamento territorial apresenta-se como um


elemento decisivo na gestão dos riscos, visto que possibilita a prevenção, mitigação e correção
dos dados e prejuízos causados pelos desastres”, sendo, portanto, uma ferramenta para o
desenvolvimento local, configurando um instrumento institucional e processual de aplicação
das políticas de sustentabilidade.

Ainda no pensamento de Melo (2010) a cartografia surge como importante elemento


nos estudos de ordenamento territorial, potencializados pelos Sistemas de Informação
Geográficas (SIG’s) e ferramentas de Sensoriamento Remoto, necessitando de uma análise
geográfica mais apurada sobre a aplicação do ordenamento.

Nesse contexto, o entendimento da definição de território pelo Plano Nacional de


Ordenamento Territorial do Brasil (2004) é como um espaço de prática, de apropriação efetiva

30
ou simbólica do espaço, manifestada pela intenção de poder sobre uma porção do espaço e
também como um produto usado e vivido pelos atores sociais.

A Política Nacional de Ordenamento Territorial – PNOT é caracterizada como


instrumento de planejamento, elemento de organização e de ampliação da racionalização
espacial das ações executadas pelo Estado, visando uma articulação da política de ordenamento
com a política de desenvolvimento regional, considerando a vastidão territorial e as questões
de desconcentração de riqueza e de população.

Nesse contexto, a PNOT concentra objetivos necessários para um ordenamento


territorial coeso com a realidade social: a) diminuir as desigualdades sociais socioespaciais e o
correspondente grau de exclusão socioeconômica da população; b) aumentar o nível de
democratização e representatividade dos espaços políticos a partir da descentralização espacial
do poder; c) fomentar o comprometimento público com as iniciativas a serem executadas e d)
integrar múltiplas escalas.

Desse modo, Melo (2010) entende que o território é “fundamentalmente, um espaço


definido e delimitado também por e a partir de relações de poder, mas a questão principal, além
das características geoecológicas e os recursos naturais de uma certa área, o que se produz ou
quem produz em um dado espaço, incorpora ainda quais as ligações afetivas e de identidade
entre um grupo social e seu espaço”. No que tange a evolução do território, não há uma evolução
natural do espaço sem que haja intervenções. No pensamento da autora, todo sistema territorial
tem sua evolução dada a partir de algum tipo de ordenamento, tendo em vista que há agentes
atuantes sobre o meio e as suas tomadas de decisões acarretam em transformações.

Conforme Almeida (2007), para refletir sobre a instrumentalização do processo de


gestão ambiental, do plano de desempenho ambiental, do sistema de gestão territorial e do
sistema da qualidade ambiental, é perceptível que o ordenamento territorial desempenha uma
importância relevante, no que cerne às contribuições para que o gestor tenha plenitude no que
se refere à gestão ambiental.

Ainda segundo Almeida (2007), são variadas as metodologias que se aplicam ao


ordenamento territorial com fins da gestão ambiental, sendo um fator em comum entre todas
essas metodologias a representação do território por meio da cartografia temática; os mapas
servirão de aporte para as avaliações e tomadas de decisões. Tais mapas são conhecidos por
várias denominações como: mapas de ordenamento do território, mapas geológico-ambientais,
mapas geocientíficos, mapas geoambientais, mapas geotécnicos, mapas de zoneamento

31
geográfico das unidades ambientais e mapas de zoneamento ecológico econômico (ALMEIDA,
2007).

O ordenamento territorial é definido por Almeida (2007) como um dos quatro


instrumentos de gestão ambiental, citados anteriormente, que consiste em equacionar as formas
de uso e ocupação do solo com a capacidade de suporte do território ocupado.

O autor define que para se compreender a capacidade de suporte do território é


necessária a utilização de técnicas e métodos de avaliação preconizados pela Geografia Física,
através de um levantamento detalhado do meio físico de determinada área de estudo. Almeida
(2007, p. 348) conclui que: “sem o conhecimento do meio físico, cometemos o desordenamento
territorial”.

Vicens (2012) explica que o “ordenamento ambiental” abrange um nível de


planejamento com o objetivo de organizar o uso de um determinado recorte espacial, levando
em conta as potencialidades e a capacidade de suporte inerentes a cada sistema ambiental desse
espaço.

O alcance de uma forma ordenada da utilização do espaço à luz do planejamento,


garantindo a integridade ambiental, a manutenção dos serviços ambientais, a reprodução de
seus recursos e a manutenção de uma maneira mais “estável”, é o anseio pela sustentabilidade
no uso do espaço (VICENS, 2012). Para Vicens (2012), o objetivo principal do planejamento
da paisagem é permitir o uso racional e sustentável dos recursos disponíveis, enfatizando suas
principais funções, que os definem como prestadores de serviços ambientais à sociedade.

No que se refere ainda ao ordenamento territorial, Melo (2010) entende a partir das
considerações de Ascelrad (2001) que para a efetivação total do diálogo entre ordenamento
territorial e sustentabilidade, se faz necessário que a questão ambiental seja vista como uma luta
social e política, perpassando os discursos que permeiam a questão ecológica. E no pensamento
de Porto-Gonçalves (1998) as lutas sociais se fazem como um único caminho para a superação
das desigualdades, da exploração dos recursos naturais e das características preconizadas pelo
modelo capitalista.

Melo (2010, p. 227) considera que: “para o efetivo diálogo entre o ordenamento
territorial e a sustentabilidade, existe a necessidade de junção de esforços do Estado, da
sociedade civil e das instituições, embasado no envolvimento de todas as áreas do
conhecimento, através de uma proposta inter e transdisciplinar, na tentativa de construção de
uma proposta que entenda a realidade em sua totalidade, superando os reducionismos,

32
fragmentações e valores imediatistas, que já comprovaram não ser capazes de promover uma
relação harmônica entre sociedade-natureza”.

AS DEFINIÇÕES DE RISCO: CONTRIBUIÇÕES AOS ESTUDOS GEOGRÁFICOS

Os estudos e discussões acerca da sociedade de risco surgem como uma das principais
vertentes da sociologia ambiental, tendo grande influência na obra de Ulrich Beck (1992; 2011),
se desdobrando em aplicações em diversas áreas do conhecimento, como a Economia, Ciência
Política, Ciências da Saúde; a Geografia se inclui no rol de ciências que estudam a temática, no
entanto, de forma distinta (MARANDOLA JR., 2004).
Segundo Veyret (2007) mediante as análises do sociólogo alemão Ulrich Beck, o risco
surge como um conceito bastante evidente no século XX, sendo um elemento estruturante das
sociedades ditas desenvolvidas.
Conforme mencionado, Beck (2011) em sua obra “A sociedade do Risco” tem uma
importante contribuição no que cerne a forma teórica e conceitual nos estudos sobre os riscos.
De acordo com o pensamento do autor, a sociedade vivencia uma dimensão de constante risco
da modernidade, ocasionando em uma dupla diferenciação dos riscos na sociedade: a
modernidade dos riscos e a modernidade-reflexiva, tendo suas causas e efeitos no meio
ambiente.
De acordo com Beck (2011), vivemos em tempos de modificação de uma sociedade
industrial clássica, que tem como características mais visíveis a produção e distribuição de
riquezas, em uma sociedade (industrial) dos riscos, na qual os riscos são produzidos de acordo
com a lógica de produção dos bens.
No cerne do modo de produção dos riscos, estes são considerados como democráticos
e globais; dessa maneira, os riscos não distinguem as classes sociais, tanto pobres quanto ricos,
estão sujeitos às ameaças oriundas e agravadas pelo que se considera progresso (BECK, 2011).
A partir das discussões preconizadas por Beck (1992), Marandola Jr. (2004, p. 318)
enfatiza que:

“Os chamados riscos ambientais têm tido cada vez mais atenção de pesquisadores de
várias áreas do conhecimento, encarados principalmente em dois níveis: na própria
estrutura da sociedade contemporânea, sendo uma questão epistemológica do
paradigma societal, produzindo reflexos em vários campos da vida humana
(modernização reflexiva, custos sociais da modernização, processo de urbanização)
na faixa intermediária entre objetivismo e subjetivismo, em vários níveis, e nos
resultados das ações e interações humanas em ambientes em escalas locais ou
regionais (riscos de desmoronamentos, de erosão, de enchente e riscos em locais de
trabalho) e até em escala global (mudanças ambientais globais)”.

Na mesma leva outros cientistas como Anthony Giddens e outros sociólogos

33
contemporâneos, o entendimento de risco se tornou mais amplo e complexo, introduzindo uma
discussão sobre a modernização reflexiva, mecanismos globais de produção e distribuição dos
riscos (D’ANTONA e MARANDOLA JR., 2014).
Acerca da modernização reflexiva, Beck (2011) a define como uma modernização da
modernização ou segunda modernidade que é componente da sociedade de risco. É válido
ressaltar que o termo também é mencionado e discutido na obra “Modernização reflexiva:
política, tradição e estética na ordem social moderna”, elaborado por Giddens e Lash (1997),
compreendendo a modernização reflexiva como um processo oriundo de uma radicalização da
modernização, perpassando as previsões da vida social. Esta obra, também tem a participação
do próprio Ulrich Beck, e que se refere à globalização e os avanços tecnológicos como
características proeminentes da nova modernidade, sendo um tema e um problema passível de
discussões.
No prisma do tema, Blakie et. al. (2003), entendem que Beck a partir de seus estudos,
sustenta a ideia de que o mundo considerado mais desenvolvido está inserido em um estado de
transição entre a sociedade industrial e a sociedade de risco, com um desenvolvimento mais
complexo e tecnologicamente induzido pela sociedade, surgem novas ameaças.
Segundo Blakie et. al. (2003, p. 17)1:

Beck considera as formas como as pessoas em sociedades altamente desenvolvidas


envolvem-se em "modernidade reflexiva", uma atividade institucionalizada e estado
de espírito envolvendo constante monitoramento e reflexão sobre o (de acordo com
Jacobs 1998) confronto com estes riscos - sejam eles existentes objetivamente ou não.
Em particular, a modernização reflexiva do risco pode envolver a consideração de
riscos a nível global, uma consciência que é um grande incentivo à cooperação e
prática internacional, e leva à globalização do significado de risco.

Nesse contexto durante o século XX o conceito de risco é expandido e se associa ao


pensamento de crise, relacionada a aspectos ecológicos como poluição, degradações
provocadas pela industrialização e crescimento demográfico, além de aspectos econômicos
como o preço do petróleo, desemprego (VEYRET, 2007).
Segundo Yvette Veyret (2007, p. 16) o risco: “é em grande medida fruto de concepções
de ecologistas que denunciam o impacto das sociedades sobre a natureza, deploram um
crescimento demográfico muito intenso e se inquietam com a industrialização e urbanização”.

1
Traduzido de Blakie et. al. (2003, p. 17): “Beck considers the ways in which people in highly developed societies
involve themselves in ‘reflexive modernity’, an institutionalised activity and state of mind involving constant
monitoring and reflection upon and (according to Jacobs 1998) confrontation with these risks – whether they
objectively exist or not. In particular, reflexive modernisation of risk can involve consideration of risks at the
global level, an awareness that is a major incentive for international co-operation and practice and leads to the
globalisation of the meaning of risk”.

34
Os estudos dos riscos têm seu destaque evidenciado de modo mais incisivo a partir dos
anos 1980, baseados nas análises provenientes da reprodução social no espaço, no que tange a
operacionalização da interrelação da dimensão espacial, possuindo três enfoques
metodológicos: ambiental, social e cultural e a dimensão existencial, baseada na
fenomenologia, contendo diferentes escalas de análises (MARANDOLA JR; HOGAN, 2004).
De acordo com Silva (2013) o desenvolvimento dos estudos dos riscos tanto naturais
quanto ambientais no âmbito da Geografia está relacionado com as interações entre os danos
ambientais e as ações antrópicas em um dado território. Ainda segundo Silva (2013, p. 37) “os
acontecimentos ou eventos, em relação à materialização e danos socioeconômicos e ambientais
aos grupos sociais, são resultantes da justaposição dos fatores físicos e sociais”.
O conceito de risco é utilizado em termos conceituais e metodológicos por várias
ciências, no que tange a probabilidade de ocorrência de eventos esperados, relacionados aos
termos de vulnerabilidade, sensibilidade, susceptibilidade, atribuídos ao perigo, desastre e o
impacto (DAGNINO e CARPI JÚNIOR, 2007).
Conforme Veyret (2007, p. 25) o risco é descrito como “a palavra designa, do mesmo
tempo, tanto um perigo potencial quanto sua percepção e indica uma situação percebida como
perigosa na qual se está ou cujos efeitos podem ser sentidos”. Para Santos e Souza (2014, p.217)
“risco é um termo genérico que pode ser definido em diversas categorias, indo do risco
econômico ao ambiental”.
Nesse contexto, Almeida (2011, p. 85) considera que:

A noção de risco permeia diversas nuanças da sociedade, desde a academia até o


âmbito empresarial. É objeto de uso na economia (análise de risco-país, risco de queda
nas bolsas de valores), na engenharia (avaliação de riscos de acidades em construções,
na segurança do trabalho), nos seguros na saúde, ou seja, é um conceito
consideravelmente difundido, por ser, entre outros motivos, o risco como um
componente recorrente da sociedade moderna.

Na visão de Almeida (2011) o risco pode ser considerado como uma categoria de análise
que está relacionada ao entendimento de incerteza, exposição ao perigo, perdas e prejuízos
materiais e humanos, vinculados não apenas a questões naturais, assim como processos
originados das ações antrópicas.
Rebelo (2010) considera que o risco é correspondente a um sistema complexo no qual
sua modificação é suscetível à prejuízos diretos ou indiretos para uma comunidade. De acordo
com Smith (2001) o risco é considerado uma probabilidade ou ocorrência de um perigo, que
ocasiona prejuízos sociais e ambientais.

35
Nesse âmbito, o perigo é considerado por Almeida (2010, p. 99) como “a possibilidade
ou ocorrência de um evento causador de prejuízo”, o que caracteriza uma ameaça à sociedade,
em suas perspectivas individuais e coletivas.
De modo sucinto a definição de risco é dada pela probabilidade de ocorrência de um
evento com altíssimo potencial de danos, envolvendo a percepção dos atores envolvidos bem
como as vulnerabilidades em relação ao iminente perigo (MEDEIROS, 2014).
Segundo Santos e Souza (2014, p. 220):

O estabelecimento das relações entre impactos, riscos, e processo de uso e ocupação


do espaço associado às condições socioeconômicas das populações, permite
identificar a maior ou menor vulnerabilidade à incidência de riscos ambientais,
conforme as respostas do sistema a essas alterações.

Para Medeiros (2014) o risco é tratado como uma percepção humana, onde um indivíduo
ou um grupo de indivíduos estão em uma situação de vulnerabilidade à ocorrência de um evento
com potencial geração de danos, tanto relacionados à integridade humana, quanto aos bens
materiais. Nesse contexto, segundo Rebelo (2010, p. 32) “para haver risco, diz-se que é preciso
que haja vulnerabilidade”.
Almeida (2011) corrobora com a ideia de que o entendimento de risco é uma construção
social, sendo definido pela percepção de um indivíduo ou um grupo de indivíduos da
possibilidade de ocorrência de um evento com potencial ao perigo e geração de danos, cujas
consequências estão relacionadas com a vulnerabilidade inerente ao indivíduo ou ao grupo.
O entendimento de Souza e Zanella (2010) é que a definição conceitual sobre os riscos
abrange as relações de dois importantes elementos: a ameaça e a vulnerabilidade. A ameaça é
definida quanto as condições físico-ambientais ou à ocupação de determinadas áreas e a
vulnerabilidade é definida pelos prováveis danos socioambientais que se relacionam com a
ameaça no território (SILVA, 2013).
No cerne das discussões conceituais da definição de risco, Veyret (2007), elenca os tipos
de riscos, conforme o quadro abaixo:

36
Quadro 2: Classificação dos diversos tipos de riscos
TIPOS DE RISCOS DEFINIÇÕES, CARACTERÍSTICAS E EXEMPLOS
Riscos pressentidos, percebidos e suportados por um grupo social
ou um indivíduo sujeito à ação possível de um processo físico
natural; podem ser de origem litosférica (terremotos,
RISCOS desmoronamentos de solo, erupções vulcânicas) e hidroclimática
NATURAIS (ciclones, tempestades, chuvas fortes, inundações, nevascas,
RISCOS chuvas de granizo, secas); apresentam causam físicas que escapam
AMBIENTAIS largamente à intervenção humana e são de difícil previsão.
RISCOS
Resultado de um perigo natural cujo impacto é ampliado pelas
NATURAIS
atividades humanas e pela ocupação do território: erosão,
AGRAVADOS
desertificação, incêndios, poluição, inundações.
PELO
HOMEM
Distinguem-se em poluição crônica (fenômeno perigoso que
RISCOS TECNOLÓGICOS ocorre de forma recorrente, às vezes lenta e difusa) e poluição
acidental (explosões, vazamentos de produtos, tóxicos, incêndios).
Riscos atrelados à divisão e ao acesso a determinados recursos
(renováveis ou não), que podem se traduzir em conflitos latentes
ou abertos (caso das reservas de petróleo e água). Podem ter ainda
origem nas relações econômicas na agricultura (insegurança
RISCOS ECONÔMICOS, alimentar), causas da globalização (crises econômicas),
GEOPOLÍTICOS E SOCIAIS insegurança e violência em virtude da segregação socioespacial
urbana, riscos à saúde (epidemias, fome, poluição, consumo de
drogas).
A compreensão do risco depende da escala de análise; o risco
maior é assim considerado quando o custo de recuperação e o
número de perdas humanas são relevantemente elevados para os
OUTROS TIPOS EX: RISCOS poderes públicos e segurados. Os riscos maiores correspondem a
DE RISCOS MAIORES eventos de baixa frequência e grande magnitude e consequências
(Ex: Chernobyl, Seveso, Bhopal, Katrina, etc.). Há ainda exemplos
da "territorialização" dos riscos, como é o caso específico dos
riscos urbanos, em razão da complexidade e da
multidimensionalidade de atores e variáveis das cidades.
Fonte: Adaptado de Almeida (2012, p. 27), a partir de Veyret (2007).

Conforme Macedo (2015, p. 35), a partir das concepções teóricas sobre riscos, o risco
socioambiental é definido pela seguinte equação:

R (f) = P x V onde:
R = Risco; P = Perigo e V = Vulnerabilidade.

Segundo Barcellos e Oliveira (2008) o risco ambiental e a vulnerabilidade social não


possuem distribuição aleatória no espaço geográfico, são configurados a partir de uma
organização de desigualdades sociais, nas quais as populações menos favorecidas habitam áreas
com maiores índices de vulnerabilidade ambiental.
A operacionalização dos riscos ambientais tem sua relação com as atividades humanas
no meio ambiente, consistindo de acordo com Veyret (2007) na interação entre os riscos
naturais e as ações do homem no meio ambiente, no que tange o uso e ocupação do território.

37
Desse modo, Torres (2000) considera que as áreas de riscos ambientais são ambientes que
possibilitam uma facilidade na ocupação do espaço por residências de famílias com baixo poder
aquisitivo e com insuficiente infraestrutura e condições de sobrevivência.
Nesse cerne, Silva (2013) considera que: “na análise dos riscos ambientais são de
extrema importância as estimativas dos danos ambientais e a vulnerabilidade no território,
buscando a forma de identificar os territórios de riscos ou os lugares (Silva, 2013, p. 41)”.
Em muito o termo perigo, é equivocadamente confundido com o risco. Perígo é um
fenômeno causador de danos ou prejuízos (MEDEIROS, 2014). Segundo Veyret (2007, p. 24)
“esse termo é, às vezes, empregado também para definir as consequências de uma àlea2 sobre
um indivíduo, um grupo de indivíduos, sobre a organização do território ou sobre o meio
ambiente”.

OPERACIONALIZANDO O CONCEITO DE VULNERABILIDADE

Na avaliação dos riscos de desastres, segundo Blakie et. al. (2003), a construção social
da vulnerabilidade deve ser considerada de acordo com a mesma importância destinada a
entender os desastres naturais. Para os autores o risco é entendido como uma combinação de
vulnerabilidade e perigo.
O perigo nas palavras de Blakie et. al. (2003) está relacionado aos eventos naturais que
afetam diferentes lugares de um modo singular ou em combinação e em diferentes tempos,
variando nos graus de intensidade e gravidade. A vulnerabilidade se relaciona ao potencial de
uma causalidade, destruição, dano e outras formas de perdas, na concepção dos autores o risco
é combinado com a probabilidade de perda a partir de uma magnitude previsível.
Ainda nas ideias apresentadas por Blakie et. al. (2003, p. 50), concluem que

“Um desastre ocorre quando um número significativo de pessoas vulneráveis


experimenta um perigo e sofre graves danos e / ou interrupção do seu sistema de
subsistência de forma a recuperação é improvável sem ajuda externa. Por
"recuperação", queremos dizer a recuperação psicológica e física das vítimas e a
substituição dos recursos físicos e das relações sociais necessárias para usá-las.”3

Os autores Marandola Jr. e Hogan (2009) enfatizam que os termos riscos, perigos e
vulnerabilidade tem grande relevância no que se refere as relações entre a sociedade e a
natureza, objetivando entender as situações de riscos e a aplicação das abordagens teóricas e

2
O termo é definido por Veyret (2007, p. 24) como “um acontecimento possível; pode ser um processo natural,
tecnológico, social, econômico e sua probabilidade de realização.
3
Tradução nossa, a partir do seguinte trecho: “A disaster occurs when a significant number of vulnerable people
experience a hazard and suffer severe damage and/or disruption of their livelihood system in such a way to
recovery is unlikely without external aid. By "recovery" we mean the psychologial and physical recovery of
victims, and the replacement of physical resources and the social relations required to use them (Blakie et. al.,
2003, p. 50).

38
metodológicas, analisando a progressão ou regressão das vulnerabilidades impostas a
determinados grupos sociais. Diante disso, é importante a compreensão do conceito de
vulnerabilidade nas análises espaciais.
Silva (2013) entende que:

A construção do conceito de vulnerabilidade integra os aspectos ambientais e sociais


na sua forma de análise do espaço geográfico. A vulnerabilidade é constituída por
aspectos sociais e ambientais nos estudos da dinâmica física que são atribuídos aos
fatores ambientais relacionados com o uso e ocupação do solo e com os impactos
ambientais (Silva, 2013, p. 42).

De acordo com Medeiros (2014) a vulnerabilidade existirá na iminência de um perigo


em um determinado contexto geográfico e social, considerando lugares com maiores
probabilidades de ocorrência de fenômenos com potencial danoso em relação a outros lugares,
assim como fatores de resistência ao perigo de alguns indivíduos frente aos outros.
Seguindo o pensamento da autora, do mesmo modo que o conceito de risco, o
entendimento do conceito de vulnerabilidade é abarcado por outras áreas do conhecimento,
perpassando as ciências humanas até as ciências naturais. No entanto surgem dificuldades no
que se refere à definição de vulnerabilidade, suscitada por questões epistemológicas dentro das
várias áreas do conhecimento, bem como a dificuldade de compreender a complexidade
dimensional da realidade analisada, o que interfere na operacionalização do conceito
(ALMEIDA, 2010).
Cutter (1996) elenca uma variedade de definições sobre o conceito de vulnerabilidade
nas décadas de 1980 e 1990, conforme Quadro 3. Nota-se que as definições para o conceito
evoluíram ao longo dos anos, partindo de uma definição de ameaça de ocorrência para uma
abordagem mais complexa que envolve as condições de vida dos grupos de indivíduos expostos
e sua capacidade de resposta para lidar com o fenômeno (MEDEIROS, 2014).

Quadro 3: Definições de vulnerabilidade de acordo com Cutter (1996)


A vulnerabilidade é a ameaça (de materiais perigosos) à qual as pessoas estão
Gabor & Griffith (1980) expostas (incluindo agentes químicos e a situação ecológica das
comunidades e seu nível de preparação para emergências). Vulnerabilidade
é o contexto de risco.
Vulnerabilidade é o grau em que um sistema atua negativamente para a
Timmerman (1981) ocorrência de um evento perigoso. O grau e a qualidade da reação adversa
são condicionados por resiliência de um sistema (uma medida da capacidade
do sistema para absorver e se recuperar do evento).
Vulnerabilidade é o grau de perda para um determinado elemento ou
Undro (1982) conjunto de elementos em risco resultante da ocorrência de um fenômeno
natural de determinada magnitude
Susman et. al. (1984) A vulnerabilidade é o grau em que as diferentes classes da sociedade estão
diferencialmente em risco.
Kates (1985) Vulnerabilidade é a “capacidade de sofrer danos e reagir negativamente”.

39
Vulnerabilidade é a ameaça ou a interação entre risco e preparação. É o grau
em que materiais perigosos ameaçam uma determinada população (risco) e
Pijawka & Radwan (1985) a capacidade da comunidade para reduzir o risco ou as consequências
adversas de lançamentos de materiais perigosos.
Vulnerabilidade é operacionalmente definida como a incapacidade de tomar
medidas eficazes diante dos prejuízos. Quando aplicadas a indivíduos, a
Bogard (1989) vulnerabilidade é uma consequência da impossibilidade ou improbabilidade
de mitigação eficaz e é uma função da nossa capacidade de selecionar os
perigos.
Mitchell (1989) Vulnerabilidade é o potencial de perda.
Distingue entre a vulnerabilidade como condição biofísica e vulnerabilidade
como definido pelas condições políticas, sociais e econômicas da sociedade.
Liverman (1990) Ela defende a vulnerabilidade no espaço geográfico (onde as pessoas
vulneráveis e lugares estão localizados) e da vulnerabilidade no espaço social
(que naquele lugar é vulnerável);
Vulnerabilidade tem três conotações: refere-se a uma consequência (por
Downing (1991) exemplo, a fome) em vez de uma causa (por exemplo, são vulneráveis à
fome), e é um termo relativo que diferencia entre os grupos socioeconômicos
ou regiões, em vez de uma medida absoluta de privação.
Vulnerabilidade é a capacidade diferencial de grupos e indivíduos para lidar
Dow (1992) com os riscos, com base em suas posições em relação aos riscos, com base
em suas posições dentro dos mundos físico e social.
Risco de um perigo específico varia ao longo do tempo e de acordo com
Smith (1992) mudanças na exposição, quer (ou ambas) vulnerabilidade física ou humana
(a amplitude de tolerância social e econômica disponível no mesmo local).

Alexander (1993) Vulnerabilidade humana é uma função dos custos e benefícios de habitar
áreas de risco de desastres naturais.
A vulnerabilidade é a probabilidade de que um indivíduo ou um grupo
Cutter (1993) estarão expostos e afetados por um perigo. É a interação dos perigos do lugar
(e mitigação do risco) com o perfil social das comunidades.
A vulnerabilidade é definida em termos de capacidade de exposição e
potencialidade. Consequentemente, a resposta prescritiva e normativa para a
Watts & Bohle (1993) vulnerabilidade é reduzir exposição, aumentar a capacidade de
enfrentamento, reforçar o potencial de recuperação e reforçar o controle de
danos (ou seja, minimizar as consequências destrutivas) através de meios
públicos e privados.
Por vulnerabilidade entendemos a capacidade de uma pessoa ou grupo de
antecipar, lidar com, resistir e se recuperar do impacto de um perigo natural.
Blakie et. al. (1994) Trata-se de uma combinação de fatores que determinam o grau em que a vida
de alguém e meios de subsistência estão em risco por um evento discreto e
que pode ser identificado na natureza ou na sociedade.
Vulnerabilidade é bem mais definida como uma medida agregada do bem-
estar-humano que integra a exposição ambiental, social, econômica e política
Bohle et. al. (1994) a uma gama de potenciais perturbações prejudiciais. Vulnerabilidade é um
espaço de múltiplas camadas sociais e multidimensionais, definida pela
capacidade política, econômica e institucional de pessoas em locais e em
tempos específicos.
Vulnerabilidade é a susceptibilidade diferencial de circunstâncias que
contribuem para a vulnerabilidade. Fatores biofísicos, demográficos,
Dow & Downing (1995) econômicos, sociais e tecnológicos, tais como idade das populações,
dependência econômica, racismo e idade de infraestrutura são alguns fatores
examinados em associação com os desastres naturais
Fonte: Cutter (1996, p. 531-532), traduzido pelo autor.

A definição de vulnerabilidade abrange uma integração de diversos elementos sociais e


ambientais na sociedade, grupos sociais e grupos de indivíduos, já as ameaças e alterações no
meio ambiente estão relacionadas com diversos temas socioambientais. Nesse âmbito a noção

40
de vulnerabilidade atinge um patamar multidimensional que abarca os indivíduos, grupos
sociais, comunidade e que afeta tais grupos de diversas maneiras e intensidades (SILVA, 2013).
No que tange a análise da vulnerabilidade de determinadas áreas, Santos e Souza (2014,
p. 220) expressam que a análise: “permite identificar os principais riscos que podem ser
desencadeados e elaborar estratégias de gerenciamento no intuito de minimizar os prejuízos,
materiais e sociais, que podem ocorrer”. Para viabilizar tal análise, se faz necessário a
identificação e conhecimento das condições geoambientais das áreas estudadas, o que permite
um diagnóstico norteador que orienta a compreensão das causas e efeitos dos riscos, sendo este
produto um subsídio ao planejamento e redução dos riscos (SANTOS e SOUZA, 2014).
Acselrad (2006, p. 3) afirma que “A vulnerabilidade é uma relativa – está normalmente
associada à exposição aos riscos e designa a maior ou menor susceptibilidade de pessoas,
lugares, infraestruturas ou ecossistemas sofrerem algum tipo particular de agravo”. No que se
refere a essa ideia, a noção de vulnerabilidade está imbuída em três componentes: (i) exposição
ao risco; (ii) incapacidade de reação dos fatores ocorridos e (iii) capacidade de adaptação frente
as dificuldades de sua materialização (MOSER, 1998).
Desse modo, Medeiros (2014, p. 34) compreende que “A vulnerabilidade existirá a
partir de um perigo em um dado contexto geográfico e social, pois há lugares mais propensos à
ocorrência de fenômenos danosos do que os outros.
Macedo (2015) entende que a vulnerabilidade é inerente aos grupos de indivíduos e sua
locação não pode ser observada separadamente, em três linhas de pensamento: (i) o ambiente
de vivência; (ii) o Lugar de Risco ou (iii) o Lugar de Perigo. Para este autor “a vulnerabilidade
é inerente à população que ocupa e territorializa o ambiente (2015, p. 39)”. Dito isto, é
interessante que as condições socioeconômicas tenham sua relevância nas análises e
identificação da vulnerabilidade ambiental de determinados lugares.
Cutter (1994) apresenta a definição de vulnerabilidade como uma interação de riscos
determinantes e as características do local no que cerne a exposição da população que ali reside.
No mesmo raciocínio Cutter (1996) afirma que as pesquisas sobre vulnerabilidades estão
representadas em três perspectivas, a primeira ligada às bases conceituais (definição do conceito
e sua discussão); a segunda ligada aos diferentes modelos metodológicos de mensuração das
vulnerabilidades e a terceira representada por fatores que se referem à vulnerabilidade dos
indivíduos a determinados fenômenos.
Nesse contexto Almeida (2012, p. 38) a partir das ideias de Dauphné (2005), considera
que a vulnerabilidade “se apresenta como a segunda vertente do conceito de risco”. Dadas as
várias definições para o conceito de vulnerabilidade, o autor propõe o agrupamento das

41
definições em duas categorias, uma analítica e outra sintética.
Segundo Almeida (2012, p. 37) “a definição analítica considera a vulnerabilidade, num
sentido amplo, como a expressão do nível de consequências previsíveis de um fenômeno natural
sobre os recursos ameaçados, estes representados pelo homem e o ambiente em que vive”.
Considerando a perspectiva restritiva dessa definição de vulnerabilidade em oposição ao
entendimento de vulnerabilidade como resposta às crises ou fenômenos em potencial
(ALMEIDA, 2012).
No entendimento de Almeida (2012, p. 38) a concepção sintética de vulnerabilidade é
definida como “a tradução da fragilidade de um sistema no seu conjunto e, de forma indireta,
demonstrar a sua capacidade de superar a crise provocada por um perigo potencial”.
Dadas as várias definições de risco, há também um leque de definições para
vulnerabilidade, conforme o quadro a seguir:

Quadro 4: Tipos de vulnerabilidade aplicado aos estudos dos fenômenos naturais


Tipo de vulnerabilidade Características
Vulnerabilidade física Concentram-se na análise das construções, das redes de infraestrutura e do
(ou estrutural, ou potencial de perdas humanas
corporal)
Avalia os retornos da experiência sobre as capacidades de resposta, adaptações,
Vulnerabilidade humana comportamentos e suas consequências socioeconômicas e territoriais.
ou social Acrescenta-se ainda a percepção das ameaças ou da memória do risco, o
conhecimento dos meios de proteção, os tipos de comportamentos potenciais
Vulnerabilidade Trata da capacidade de resposta das instituições diante da crise; funciona como
Institucional fator indireto da vulnerabilidade social.
Vulnerabilidade Analisa os danos sobre os componentes ambientais – vegetação, solos, recursos
ambiental e patrimonial hídricos, fauna, e aspectos culturais provocados por fenômenos naturais
Vulnerabilidade Avalia as disfunções no que tange às atividades econômicas, rupturas nas redes
funcional e econômica de comunicação e transporte, entre outros.
Fonte: Adaptado de Almeida (2012, p. 40), a partir de Leone & Vinet (2006).

A análise da vulnerabilidade possibilita a identificação de ameaças ocorrentes no


território nas mais variadas escalas geográficas e abordagens a análise das mudanças espaciais.
Sendo o conceito de vulnerabilidade ambiental um interessante aporte para contribuições
teóricas-metodológicas para as análises no que tange os efeitos causados por prováveis ameaças
em um dado ambiente (SILVA, 2013).

VULNERABILIDADE AMBIENTAL E ECODINÂMICA

A vulnerabilidade ambiental pode ser definida como a maior ou menor capacidade de


um sistema natural de lidar com um impacto provocado por uma ação antrópica, ou ainda de
sistemas frágeis que possuem baixa resiliência. Em suma é a capacidade do meio ambiente de
retornar ao seu estado natural, após os efeitos de uma situação crítica (AQUINO et. al., 2017).
Corroborando a esta ideia, Tagliani (2003) define a vulnerabilidade ambiental como o

42
maior ou menor susceptibilidade de um ambiente a um determinado impacto provocado por
uma ação antrópica qualquer. Sobre o termo susceptibilidade, de acordo com Grigio (2003), é
referido à possibilidade de se modificar ou adquirir características diferentes das que tinha
inicialmente.
De acordo com Silva (2013), o conceito de vulnerabilidade ambiental permite grandes
contribuições teóricas, conceituais e metodológicas para as análises, no que tange aos efeitos
oriundos das possíveis ameaças em um determinado ambiente.
Para Oliveira & Mattos (2014) os conceitos de vulnerabilidade ambiental e
vulnerabilidade natural coincidem, sendo diferenciados quando se inserem as ações antrópicas
como parte de seus processos (Figura 4).
Figura 4: Representação da vulnerabilidade natural e ambiental

Fonte: Elaborado pelo autor.


Acerca disso, Oliveira & Mattos (2014, p. 161) acenam que:

As relações dos fatores físicos, como as condições geológicas, geomorfológicas,


pedológicas e de cobertura vegetal natural indicam, pela sua própria classificação, a
vulnerabilidade natural, pois desconsidera até aí, uma influência do homem como
condicionante das vulnerabilidades. A inserção de uma avaliação de uso e ocupação
do solo no sistema, atribui um peso considerável na ponderação das vulnerabilidades,
indicando aí um processo de análise “ambiental e não somente “natural”.

No que tange a definição de vulnerabilidade ambiental Santos e Souza (2014, p. 220)


entendem o conceito “como o grau de exposição a diferentes fatores que podem acarretar efeitos
adversos, tais como impactos e riscos, derivados ou não das atividades socioeconômicas”.
Olímpio e Zanella (2012) apontam que a vulnerabilidade ambiental é o indicativo de
suscetibilidade aos fenômenos de riscos naturais e de potencial degradação ambiental, partindo
da análise da dinâmica natural dos sistemas ambientais e também pela utilização dos recursos

43
naturais, prevendo a maneira como as ações antrópicas interferirão nas trocas de matéria e
energia no meio.
No prisma da identificação da vulnerabilidade ambiental Villa e MacLeod (2002),
apontam que sua compreensão parte dos processos ambientais de um determinado sistema,
considerando o estado de conservação dos ecossistemas e da resiliência de seu equilíbrio,
abrangendo os impactos e danos ambientais com as ações antrópicas e a exposição no meio
ambiente.
Nesse contexto, Ross (1994) afirma que os estudos integrados do território
proporcionam o conhecimento das dinâmicas de um determinado ambiente, sejam incluídas as
ações antrópicas ou as forças da própria natureza. Os estudos aos quais o autor se refere,
permitem o levantamento e obtenção do diagnóstico das fragilidades de determinados
ambientes e que ocasionam ao mapa de fragilidade/vulnerabilidade ambiental.
Segundo Ross (1994, p. 65):

O conhecimento das potencialidades dos recursos naturais passa pelos levantamentos


dos solos, relevo, rochas e minerais, das águas, do clima, da flora e fauna, enfim de
todas as componentes do estrado geográfico que dão suporte a vida animal e do
homem. Para análise da fragilidade, entretanto exige-se que esses conhecimentos
setorizados sejam avaliados de forma integrada, calcada sempre no princípio de que a
natureza apresenta funcionalidade intrínseca entre as suas componentes físicas e
bióticas.

Spörl (2007, p. 18) corrobora com as ideias de Ross (1994), no sentido em que:

Os estudos relativos à fragilidade dos ambientes são de significativa importância para


o planejamento ambiental, pois se trata de um instrumento cuja finalidade é identificar
e analisar os ambientes em função de seus diferentes níveis de susceptibilidade.
Proporcionando assim, uma melhor definição das diretrizes e ações a serem
implementadas no espaço físico-territorial, servindo de base para o zoneamento e
fornecendo subsídios à gestão do território.

A avaliação das vulnerabilidades ambientais toma forma como um recurso importante


na aplicação e operacionalização do planejamento territorial e ambiental, conforme mencionado
anteriormente nas concepções apresentadas. Tal perspectiva, permite a inclusão nos estudos
ambientais com a referida temática, os preceitos da abordagem ecodinâmica de Tricart (1977).
Aquino et. al. (2017, p. 15) aponta que Tricart “define um sistema como um conjunto
de fenômenos que se processam mediante fluxos de matéria e energia. Esses fluxos originam
relações de dependência mútua entre os fenômenos, originando uma entidade global nova, mais
dinâmica”.
Diante do exposto, Tricart (1977), baseado na noção de unidades/entidades dinâmicas,
propõe a seguinte categorização: a) meios estáveis; b) meios de transição ou intergrades e c)
44
meios fortemente instáveis; conforme quadro abaixo.

Quadro 5: Unidades ecodinâmicas elaboradas por Tricart (1977)


A estabilidade está relacionada ao modelado, na interface litosfera-
atmosfera. Evolui lentamente e de difícil percepção. Os processos
Meios estáveis mecânicos ocorrem de forma tênue e com lentidão. As condições
aproximam-se daquelas que os fitoecólogos designam como estado de
clímax
São correspondentes a áreas de transição entre meios estáveis e instáveis.
Meios de Essa passagem do estável para o instável ou vice-versa é apresentada
transição ou porque na natureza não há um corte abrupto de uma situação para outra.
intergrades O que caracteriza esses meios é a interferência permanente da
morfogênese-pedogênese (processo de formação dos solos), exercendo-
se de maneira concorrente em um mesmo espaço.
São os meios nos quais a morfogênese (processo de modelagem do
relevo) é o elemento predominante na dinâmica natural e fator
determinante do sistema natural, ao qual outros elementos estão
Meios subordinados. [...] A cobertura vegetal também intervém, ao introduzir
fortemente influência climática, produzindo instabilidades onde as condições
instáveis climáticas são mais instáveis. As intervenções humanas também
promovem a brusca ativação morfodinâmica e contribuem para o
desencadeamento de processos erosivos agressivos com a rápida
degradação dos solos.
Fonte: Elaborado a partir de Ross (2009, p. 42-43, grifo nosso), organizado pelo autor.

A teoria ecodinâmica preconizada por Tricart (1997) e o conceito geosssitêmico,


baseados nos aspectos geomorfológicos, tornaram-se os constructos de um aporte teórico-
metodológico para a elaboração dos estudos de vulnerabilidade ambiental, corroborando e
contribuindo sobremaneira para uma análise integrada dos problemas do meio físico.
Alguns dos importantes estudos realizados no Brasil são baseados na proposta
ecodinâmica de Tricart (1977), como os seguintes exemplos: a análise empírica da fragilidade
dos ambientais naturais e antropizados, por meio da carta-síntese de fragilidade ambiental
proposta por Ross (1994) e a metodologia de geração de cartas de vulnerabilidade de perda de
solos à erosão elaborada por Crepani et. al. (1996, 2001).
Outro estudo baseado nos princípios ecodinâmicos de Tricart (1977) para análise da
vulnerabilidade ambiental, bem como nos princípios geossistêmicos, fora elaborado por Souza
(2000), denominado de Bases naturais e esboço do zoneamento geoambiental do Estado do
Ceará.
Souza (2000) relaciona as categorias ecodinâmicas propostas por Tricart, às condições
de sustentabilidade do ambiente (numa perspectiva qualitativa) e também aos graus de
vulnerabilidade a que estão expostos determinados ambientes (Quadro 6), gerando uma
proposta metodológica bastante difundida nos estudos geoambientais.

45
Quadro 6: Quadro-Síntese da proposta metodológica de Souza (2000)

Ecodinâmica Sustentabilidade Vulnerabilidade


1. Ambientes Estáveis: 1. Sustentabilidade muito 1. Vulnerabilidade alta:
Estabilidade morfogenética baixa: Áreas cujas condições de
em função do pouco potencial Ambientes em que a sustentabilidade se
erosivo, a relação capacidade produtiva dos enquadram nas categorias de
pedogênese/morfogênese é recursos naturais é muito sustentabilidade baixa e
favorável, a cobertura vegetal baixa e a degradação muito baixa.
é pouco alterada ou em ambiental atinge patamares
recuperação, há equilíbrio praticamente irreversíveis,
entre o potencial ecológico e em função da degradação de
a exploração biológica. seus componentes
ambientais.
2. Ambientes de transição: 2. Sustentabilidade baixa: 2. Vulnerabilidade
Ocorre a preponderância de Ambientes com sérios Moderada:
processos morfogenéticous problemas na capacidade Áreas que apresentam
ou pedogenéticos; quando do produtiva dos recursos características contidas nos
domínio da pedogênese, naturais renováveis: pequeno ambientes com
passa-se aos meios estáveis, potencial hídrico, sustentabilidade moderada.
quando do predomínio da irregularidade das condições
morfogênese, passa-se aos climáticas, balanço hídrico
ambientes instáveis; deficitário, frequência de
afloramentos rochosos e
baixa fertilidade natural.
3. Ambientes fortemente 3. Sustentabilidade 3. Vulnerabilidade baixa:
instáveis: moderada: Áreas com Áreas que apresentam
Potencial erosivo intenso e razoável capacidade características contidas nos
com potencial degradação produtiva dos recursos setores de sustentabilidade
ambiental e da capacidade naturais, considerando as alta.
produtiva dos recursos condições satisfatórias de
naturais; comprometendo as potencial hídrico, condições
reservas paisagísticas, as climáticas moderadas, solos
rupturas do equilíbrio moderadamente profundos, e
ecodinâmico pressupõem o regularidade de chuvas,
comprometimento da média a alta fertilidade
manutenção do solo. natural e considerável
cobertura vegetal
4. Sustentabilidade alta:
Ambientes que possuem boa
capacidade produtiva dos
recursos naturais, contendo
algumas limitações que
podem ser mitigadas,
consideram-se as condições
de potencial hídrico,
condições climáticas
favoráveis, solos
moderadamente profundos
com média a alta fertilidade
natural e baixa
susceptibilidade a processos
erosivos em função da
conservação da cobertura
vegetal.
Fonte: Souza (2000, p. 12), organizado pelo autor.
46
MENSURAÇÃO DA VULNERABILIDADE: ASPECTOS TEÓRICOS-CONCEITUAIS

Um dos modos de compreensão dos riscos a partir da análise da vulnerabilidade é o


modelo Pressão-Estado-Resposta, do inglês “Pressure and Release” (PAR), tendo como base
o entendimento de que o desastre é uma interseção de duas forças opostas: os processos que
geram vulnerabilidade e os eventos de ocorrência de desastres naturais (BLAKIE et. al., 2003).
O modelo apresentado por Blakie et. al. (2003) é compreendido conforme a Figura 5.

Figura 5: Modelo Pressure and Release (PAR)

Fonte: Blakie et. al. (2003, p. 51).

É válido ressaltar no que tange a compreensão dos modelos PAR, o estudo de Turner et.
al. (2003) possui grande relevância. Os autores concebem o reconhecimento do modelo PAR
definindo o risco em função de uma perturbação, estresse ou a vulnerabilidade de uma unidade.
O modelo é usado principalmente para abranger grupos sociais que enfrentam ou enfrentaram
eventos de desastres, a aplicabilidade do modelo enfatiza diferentes níveis de vulnerabilidade a
partir de diferentes formas de exposição (classe, etnia, sexo, renda, educação e etc.) (TURNER
et. al., 2003). O modelo elaborado por Turner et. al. (2003) está representado pela Figura 6.

47
Figura 6: Modelo Pressure and Relase, conforme Turner et. al. (2003).

Fonte: Turner et. al. (2003, p. 8075).

Turner et. al. (2003) entendem a vulnerabilidade como uma expressão de três elementos:
a exposição, a sensibilidade e a resiliência, com interações de aspectos biofísicos e sociais. Os
autores reconhecem a dimensão central da vulnerabilidade decorrente das desigualdades sociais
agravadas por processos econômicos e políticas públicas que desprezam o cuidado para com as
populações mais impactadas.
No sentido do alcance da sustentabilidade, na concepção de Turner et. al. (2003, p.
8075), elencam alguns elementos a serem incluídos nas análises da vulnerabilidade:

I) Múltiplas perturbações interagindo e tensores/tensões e a sequência de todos;


II) Exposição além da presença de uma perturbação e um tensor/tensão, incluindo a maneira
pela qual o sistema experimenta os riscos;
III) Sensibilidade do sistema integrada à exposição;
IV) A capacidade do sistema para lidar ou responder (resiliência), incluindo as consequências
e riscos associados à lenta recuperação;
V) A reestruturação do sistema após as respostas tomadas (ajustes ou adaptações);
VI) Escalas associadas e a dinâmica escalar dos perigos, associada aos sistemas e suas respostas.

Turner et. al. (2003) apresentam um quadro conceitual de vulnerabilidade (Figura 7),
contendo a seguinte arquitetura: a) ligações das relações humanas e as condições biofísicas
(ambientais) e os processos atuando no sistema integrado; b) perturbações e tensores/tensões
que são oriundos das condições e processos impostos aos sistemas; c) o sistema
sociedade/natureza em que reside a vulnerabilidade, incluindo a exposição e as respostas.
Segundo os autores, o quadro representa a complexidade e as interações que abrangem a análise
da vulnerabilidade.

48
Figura 7: Quadro conceitual de vulnerabilidade proposto por Turner et. al. (2003).

Fonte: Turner et. al. (2003).

Ao que se refere aos critérios e seleção de indicadores para a mensuração da


vulnerabilidade, Jörn Birkman (2006) em sua obra intitulada: “Measuring vulnerability to
natural hazards: towards disaster resilient societies” elenca alguns elementos importantes para
a geração de indicadores e índices:
a) critério de qualidade para o desenvolvimento de um indicador;
b) entendimento da relação entre os indicadores;
c) objetivos e dados e
d) diferentes fases de desenvolvimento de indicadores.
Para a mensuração da vulnerabilidade, se faz mister o entendimento sobre a definição
de indicador dada por Birkmann (2006, p. 57): “Uma variável que é uma representação
operacional da característica ou qualidade de um sistema capaz de fornecer informações sobre
a susceptibilidade, a capacidade de enfrentamento e a resiliência de um sistema ao impacto de
um evento, embora bem definido, ligado a um perigo de origem natural.”4
Segundo Birkmann (2006) o processo de desenvolvimento de indicadores deve estar

4
Em suma entende-se o trecho traduzido por: “A variable which is an operational representation of characteristic
or quality of a system able to provide information regarding the susceptibility, coping capacity and resilience of a
system to an impact of an albeit ill-defined event linked with a hazard of natural origin”.

49
relacionado à objetivos definidos (explicitamente ou implicitamente), servindo de base para
definir um estado ou uma característica de interesse. As definições dos objetivos, segundo o
autor, servirão de ponto inicial para a determinação de indicadores relevantes aos estudos e ele
entende que os indicadores devem ser organizados a partir de um grupo de dados que
representam um sistema ou um processo a partir da agregação das informações (ver figura 8).

Figura 8: Pirâmide de dados

Fonte: Birkmann (2006).


Quanto ao desenvolvimento é notória a inter-relação entre os indicadores, dados e
objetivos, demonstrando que se deve coletar as informações necessárias, formular os objetivos
de acordo com os interesses e objetivos definidos (Figura 9).
Figura 9: Indicadores, dados e objetivos

Fonte: Birkmann (2006).

De acordo com Birkmann (2006) a seleção de questões relevantes e dados para o

50
desenvolvimento de indicadores, assim como a avaliação destes indicadores, requer a definição
de objetivos, a exemplo dos indicadores de vulnerabilidade, o autor, considera que alguns
objetivos gerais podem incluir a redução da vulnerabilidade de uma comunidade à desastres de
origem natural, ou simplesmente, a redução de perdas humanas.
No cerne do desenvolvimento de indicadores para a avaliação da vulnerabilidade, as
funções dos indicadores devem auxiliar nas tomadas de decisão, para prevenir e/ou reduzir os
riscos de desastres. Para tanto, na concepção de Birkmann (2006), faz-se mister considerar
algumas importantes funções para os indicadores: a) definição de prioridades; b) fundo para
ação; c) sensibilização; d) análise de tendências e e) empoderamento.
Para o desenvolvimento de indicadores/índices, segundo Birkmann (2006) se
consideram algumas fases ideais: 1) processo de escopo; 2) objetivos e funções; 3) quadro
conceitual; 4) critérios de seleção; 5) identificação de indicadores potenciais e 6) banco de
dados (biblioteca de informações) (Figura 10).

Figura 10: Processo de desenvolvimento de indicadores de vulnerabilidade

Fonte: Birkmann (2006).

Em suma, a fase de escopo é definida pela identificação do grupo de interesse,


relacionada aos indicadores que serão utilizados com os objetivos e funções, além da
delimitação de escala temporal e espacial. A fase de elaboração do quadro conceitual refere-se
aos temas potenciais e aos indicadores, seguido da quarta fase que são os critérios de seleção
dos indicadores potenciais; observando a qualidade dos dados, disponibilidade, validação
científica e estatística. A identificação dos indicadores em potencial, é considerada por
Birkmann (2006) como um passo chave para a mensuração da vulnerabilidade e o banco de
dados comprova a aplicabilidade da abordagem.

51
METODOLOGIA GERAL
PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E METODOLÓGICOS

Segundo Ross (2009) as pesquisas que assumem ou possuem caráter geográfico, como
por exemplo a caracterização de uma unidade territorial ou uma determinada área de estudo, no
caso desta pesquisa o município de Galinhos, é necessária a execução de quatro abordagens que
são equivalentes às etapas do trabalho de pesquisa. Tais etapas possuem características de
interligação e interrelação de seus componentes.
As etapas a que Ross (2009) se refere, são de acordo com Libault (1971), as categorias
de análise geográfica são divididas da seguinte forma:
a) compilatório;
b) correlatório;
c) semântico/interpretativo e
d) normativo.
O nível de análise compilatório corresponde à fase de levantamento e seleção das
informações sobre as características do meio físico (Geologia, Geomorfologia, Pedologia,
Climatologia e Hidrografia); do meio biótico (fauna e vegetação) e do meio socioeconômico
(uso e ocupação da terra, demografia, atividades econômicas), considerando os objetivos da
pesquisa previamente selecionados. É a fase em que são levantadas as informações básicas,
extraídas de bibliografia (livros, artigos, dissertações e teses), cartas temáticas, imagens de
satélite ou de dados obtidos em campo.
O nível correlatório é a categoria em que são desenvolvidas atividades de interrelação
técnico-científica das informações obtidas na categoria compilatória. Os documentos
representam uma síntese inicial do desenvolvimento da pesquisa e são produzidos para
estabelecer a correlação das informações. Tais dados podem ser analisados em ambiente de
Sistema de Informação Geográfica (SIG).
A categoria de análise semântico/interpretativo corresponde à consolidação do
diagnóstico ambiental realizado na fase anterior, onde são estabelecidas as interpretações gerais
e finais das informações coletadas anteriormente. Esta etapa, em consolidação dos objetivos
propostos para a pesquisa, inclui o mapeamento e caracterização dos sistemas ambientais do
município de Galinhos, o mapeamento de uso e ocupação do solo e a análise da vulnerabilidade
ambiental.

52
Por fim, a categoria de análise normativa é representada pelo estabelecimento de
diretrizes gerais de uso e ocupação da terra, mediante os interesses e objetivos de
desenvolvimento, conservação e preservação legal da área de estudo (Figura 11).

Figura 11: Sistematização dos Procedimentos Metodológicos

Fonte: Organizado pelo autor (2018).

Como procedimento metodológico foram realizados os levantamentos da área de estudo


pretendida para a pesquisa, de acordo com os seguintes passos:
• Análise documental por meio de coleta de artigos, dissertações, teses, notícias de jornais
e etc.

53
• Levantamentos de literaturas específicas para consolidação do embasamento teórico,
conceitual e metodológico, através dos métodos de análise integrada e da abordagem
geossistêmica.
• Cartas do projeto RADAMBRASIL, divididas nas Folhas SB. 24 e 25 Jaguaribe/Natal
em escala cartográfica de 1:250.000 para os temas de geologia, geomorfologia,
pedologia, vegetação e recursos hídricos, atualizadas pelo IBGE em 2017.
• Para a produção e elaboração dos mapas temáticos foram utilizadas imagens do satélite
Quickbird, IKONOS, GeoEYE de resolução espacial 0,6 m disponíveis gratuitamente
no software Google Earth PRO, foram analisadas, organizadas e georreferenciadas no
software ArcGIS 10.6 (versão de avaliação) e finalizadas no software livre QuantumGIS
2.18 contendo a suíte de aplicativos, plugins e ferramentas OSGeo4W. Além disso, a
obtenção de imagens do Satélite Landsat 8 TM, sensor OLI para a área de estudo com
atualizações recentes a cada 15 dias, com download gratuito a partir do site Earth
Explorer da NASA, com resolução espacial de 30 metros; utilização de aparelho GPS
Garmin modelo GPS Map 62S e aplicativo para dispositivos móveis de sistema
operacional Android 5.x: Locus Map PRO.
• A etapa de levantamento de campo consistiu na coleta de dados georreferenciados,
análise da paisagem, conferência de dados levantados na etapa do pré-campo, tomada
de fotografias para armazenamento no banco de dados do projeto. Desse modo, ocorreu
a criação de um banco de dados de arquivos vetoriais e matriciais georreferenciados que
subsidiaram a pesquisa, obtidos através de download dos dados geoespaciais (arquivos
vetoriais) elaborados por vários órgãos públicos, como o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), EPE (Empresa Brasileira de Pesquisa Energética), MMA
(Ministério do Meio Ambiente), INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária), CPRM (Serviço Geológico do Brasil), EMBRAPA (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária), INSA (Instituto Nacional do Semiárido), ANEEL (Agência
Nacional de Energia Elétrica) e IDEMA (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e
Meio Ambiente do Rio Grande do Norte).

Em termos analíticos foram abordados os aspectos físicos constituintes da área de estudo


através da elaboração de mapas temáticos contendo as informações de pedologia, geologia,
geomorfologia, recursos hídricos, vegetação e uso e ocupação da terra.
Para caracterizar a geologia da área de estudo, foram utilizados dados do Serviço
Geológico do Brasil (CPRM, 2015), com escala de 1:100.000 referentes às folhas Jandaíra e
Macau, trabalhados no software ArcGIS 10.6 (versão de avaliação).

54
No que se refere a caracterização geomorfológica da área de estudo, foram utilizadas
imagens Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) geradas pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) com resolução espacial de 30 metros, também trabalhadas no
software ArcGIS 10.6, além de dados disponíveis no IBGE, com escala de 1:250.000, das quais
serão gerados subprodutos como o Modelo Digital de Elevação (MDE), Mapa de Declividade,
Mapa Hipsométrico, para servir de subsídio aos procedimentos de análise espacial.
A caracterização hidrográfica foi realizada a partir do recorte de dados para o município
de Galinhos, além das visitas de campo. Os dados que servirão de base para a caracterização
dos recursos hídricos serão provenientes da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Rio
Grande do Norte (SERHID) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em
escala cartográfica de 1:100.000, sendo manipulados nos softwares ArcGIS 10.6 ou
QuantumGIS 2.18.9.
A caracterização dos solos do município de Galinhos foi baseada a partir dos
levantamentos realizados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) em
1983 e pelo IBGE em 2015, considerando o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos
(SiBCS) datado de 2006 e os procedimentos técnicos para representação cartográfica do Manual
Técnico de Pedologia do IBGE.
A caracterização do uso e cobertura da terra e da vegetação foi realizada com base em
mapeamento in loco, bem como a partir dos dados disponíveis no IBGE e através da
interpretação de imagens de satélite Landsat 8 com resolução espacial de 30 metros e de órbita
ponto 215/63 e 215/64, disponíveis de forma gratuita no sítio Earth Explorer
(https://earthexplorer.usgs.gov/) do Serviço Geológico dos Estados Unidos da América, além
das imagens de satélite disponíveis para georreferenciamento no software Google Earth PRO.
A caracterização climática ocorreu por meio dos dados disponíveis no Instituto Nacional
de Meteorologia (INMET), no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), considerando
as normais climatológicas do período de 30 anos e/ou os dados das séries históricas nos postos
pluviométricos disponíveis no estado do Rio Grande do Norte.
A caracterização dos aspectos socioeconômicos do município de Galinhos/RN foi
desenvolvida a partir dos dados disponíveis do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) e dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Além dos procedimentos citados acima, foram utilizados os seguintes equipamentos e
veículos:

55
• Notebook modelo Dell Inspiron 3437 A40 com as especificações: Processador
Core I5 4200U 1.6Ghz ~ 2.5 Ghz, 8 Gb de memória RAM, 1 Gb de placa de
vídeo e HD interno de 1 Tb, Sistema Operacional Microsoft Windows 7;
• HD externo de 1 Tb de memória;
• Armazenamento na nuvem Google Drive (1 Tb);
• Aeronave Remotamente Pilotada (ARP) DJI Phantom 3 PRO;
• Motocicleta Honda CG 160 Titan;
• Smartphone com Sistema Operacional Android;
• Aplicativo de Smartphone Locus Map PRO;
• GPS Outdoor Garmin Etrex 20x.

56
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO
ASPECTOS FÍSICOS E BIÓTICOS
CLIMA
De acordo Ayoade (2004), o tipo de clima predominante da área de Galinhos é definido
como semiárido (BSW’h) na classificação de Köppen, que possui um período seco entre sete e
oito meses, influenciado diretamente pelos sistemas sinóticos, ocasionando as chuvas na região
Nordeste.
No Rio Grande do Norte, os sistemas sinóticos de maior influência são os seguintes:
Anticiclone do Atlântico Sul (ASA), Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e Vórtice
Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), relacionados às instabilidades e chuvas (SILVA, 2006).
A Zona de Convergência Intertropical representa um sistema sinótico que se origina,
segundo Silva (2006), da confluência de sistemas convectivos dos ventos alísios decorrente das
zonas de alta pressão do Hemisfério Norte (HN), assim como os do Hemisfério Sul (HS)
geográficos.
Os VCANs apresentam-se como sistemas caracterizados por centros de pressão que se
originam na alta troposfera e se estendem até os níveis médios latitudinais, dependendo da
instabilidade da atmosfera (CAVALCANTI et. al., 2009). Quase estacionários, deslocam-se
paulatinamente tanto para leste como para o oeste. Apresentam um tempo de vida de vários dias
ocasionando em determinados momentos no NEB, tanto chuvas anômalas, como estiagem.
Segundo Cavalcanti et al. (2009) verifica-se que os VCANs apresentam um centro
relativamente frio, convergência de massa, movimentos verticais subsidentes no seu centro e
ascendente na periferia, além de nebulosidade mais intensa, principalmente na direção de seu
deslocamento.
As Linhas de Instabilidade (LI’s) caracterizam-se por nuvens em forma de linha do tipo
cumulus, cuja ação proporciona eventos de precipitação sobre as áreas de ocorrência. Conforme
Ferreira e Mello (2005), a formação das LI’s ocorre devido à grande quantidade de radiação
solar incidente sobre a região tropical, o que faz com que ocorra o desenvolvimento das nuvens
cumulus. Tais nuvens atingem um número maior à tarde e início da noite, quando a convecção
é máxima, com consequentes chuvas. Considerando-se o fato de que outra situação contribui
para o incremento das LI’s, estas ocorrem, principalmente, nos meses de Fevereiro e Março,
devido à proximidade da ZCIT (FERREIRA; MELLO, 2005), momento em que ocorrem
máximas convecções, o que auxilia na precipitação no interior Nordestino, tal como no Sertão
norte-rio-grandense.

57
É válido mencionar que nos limites municipais não há uma estação meteorológica,
sendo a mais próxima localizada no município de Macau e que tem seus dados fornecidos pelo
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). A estação meteorológica de código Nº 81836 e
denominada Estação Macau A-317, fica aproximadamente a 50 quilômetros do município de
Galinhos, sendo suas coordenadas UTM (Universal Transversa de Mercator) Latitude (X)
726242.294 m e Longitude (Y) 9419014.090 m e altitude de 17 m.
A estação meteorológica do INMET tem como raio de atuação um raio de 150 Km, a
partir do ponto central (as coordenadas de instalação da estação). Essa distância entre o ponto
de coleta da estação meteorológica e o município de Galinhos não apresenta uma variação
brusca no relevo.
Para uma análise dos parâmetros climatológicos do local estudado são consideradas as
médias históricas que compreendem um período de 20 anos, no caso, referentes ao período de
1997 a 2017, considerando que há algumas falhas nos dados disponibilizados pelo INMET. Os
parâmetros selecionados são os seguintes: precipitação, umidade relativa do ar, temperatura
média do ar e velocidade dos ventos.

Temperatura do ar

Por ser uma localidade em zona costeira, as temperaturas de Galinhos têm uma média
de 26º C à 27º C, que podem ser consideradas elevadas, e as temperaturas médias das mínimas
não ultrapassam o patamar de 21º C. A temperatura média das máximas anual de maior elevação
é de 33,9º C para o ano de 2016 e a de menor temperatura corresponde ao valor de 29, 8º C,
ocorre no ano de 2000, conforme a Figura 12.

58
Figura 12: Temperatura média máxima anual para a estação meteorológica de Macau entre
1997 e 2017
35,0
33,9
34,0 33,5 33,4 33,3 33,3
33,1 33,2
32,7 32,7 32,8 32,8
33,0 32,6
32,2 32,2 32,3 32,1 32,1
32,0
31,0 31,0 31,0
31,0
29,8
30,0

29,0

28,0

27,0

Temperatura Média Máxima (ºC)

Fonte: INMET (2018), organizado pelo autor (2018).

Em relação às temperaturas médias mínimas para o período de 20 anos na estação


meteorológica de Macau, constata-se que as médias de temperatura estão no patamar de 22º C
a 25° C, atingindo a marca de 22,3º C para o ano de 2012, conforme pode ser observado na
Figura 13 abaixo, com base nos dados do INMET.
Figura 13: Temperatura média mínima anual para a estação meteorológica de Macau entre
1997 e 2017
26,0 25,5 25,4
25,3
24,9 24,7
25,0 24,5
24,1 24,0 24,1 24,0 24,2 24,0 24,1 24,1 23,9
24,0 23,6 23,5 23,5
23,4 23,2
23,0
22,3
22,0

21,0

20,0

Temperatura Mínima Média (ºc)

Fonte: INMET (2018), organizado pelo autor (2018).

59
Umidade Relativa do Ar

Devido à influência marinha, Galinhos possui uma média mensal de umidade relativa
de 70%, com mínimas ocorrendo no ano de 2017 devido ao período de seca, contabilizando o
percentual de 63,5 % e variando conforme os períodos chuvosos, conforme a Figura 14.

Figura 14: Umidade relativa do ar anual média para a estação meteorológica de Macau entre
1997 e 2017.
90,0
77,9 79,6
80,0 75,4 72,8
69,6 68,4 68,1 71,1 73,7 70,6 72,3 70,9 70,3 68,9 70,7
70,0 66,0 66,0 65,7 67,1 64,7 63,5

60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0

Umidade Relativa do Ar Média (%)

Fonte: INMET (2018), organizado pelo autor (2018).

Precipitação
Considerando os dados de precipitação totais para o período selecionado, é observado
que os anos de maior concentração das precipitações são 2000, 2006, 2009 e 2011,
concentrando respectivamente 852 mm, 747,2 mm, 1014,4 mm e 772,1 mm; e o ano de menor
precipitação é 1998, contabilizando apenas 201,3 mm (Figura 15). Observa-se que a variação
anual de precipitação está diretamente ligada às condições de temperatura.

60
Figura 15: Precipitação total anual na estação meteorológica de Macau entre 1997 e 2017.
1200,0

1014,4
1000,0
852,0
747,2 772,1
800,0
680,7
627,2
600,0 541,8
452,1
388,6
400,0 310,8 314,3329,6
279,8294,3 296,2 271,8
241,8 240,7 257,1
201,3 202,4
200,0

0,0

Precipitação Total Anual (mm)

Fonte: INMET (2018), organizado pelo autor (2018).

Velocidade dos ventos


A velocidade dos ventos no período analisado varia consideravelmente entre os anos
mais quentes, com média de 4,8 m/s de velocidade, sendo os anos de 2005, 2010 e 2011os de
maiores velocidades dos ventos, atingindo médias anuais na faixa de 6,2 a 6,7 m/s de velocidade
respectivamente e os anos de 1998, 2001 e 2006 os de menores velocidades, atingindo
respectivamente os valores de 3,4 m/s, 2,8 m/s e 3,1 m/s; conforme a Figura 16.

61
Figura 16: Velocidade dos ventos média anual na estação meteorológica de Macau entre 1997
e 2017.
8,0

7,0 6,7
6,5
6,2
6,0 5,3
4,7 4,9 5,1 4,8 4,8 4,9 5,1 5,1
5,0 4,6 4,5
4,3 4,1
4,0 3,4 3,4 3,4
2,8 3,1
3,0

2,0

1,0

0,0

Velocidade média dos ventos (m/s)

Fonte: INMET (2018), organizado pelo autor (2018).

GEOLOGIA
Contextualização geológica regional

De acordo com Lima (2004), o município de Galinhos está situado no contexto


geológico da Bacia Potiguar, que abrange o extremo Nordeste do Brasil, entre os estados do
Ceará e Rio Grande do Norte. A área da Bacia Potiguar tem uma abrangência de 119.300 km²,
divididos em 33.200 km² em terra e 86.100 km² submersos até a isóbata de cota -200 m (ANP,
2015).
Geologicamente a área está inserida na Província Borborema, delimitada pelos crátons
do São Francisco e São Luís. A Província Borborema é subdivida em três bacias sedimentares:
a) Sergipe-Alagoas; b) Pernambuco-Paraíba e c) Potiguar (ARARIPE & FEIJÓ, 1994).
Segundo Lima (2004) a Bacia Potiguar é limitada à oeste pela Bacia do Ceará, a partir
do Alto de Fortaleza, à leste, com a Bacia Costeira Oriental do Estado do Rio Grande do Norte
pelo Alto de Touros e à sul, o limite é dado pela discordância com o embasamento cristalino.
No geral o município de Galinhos tem um predomínio da unidade geológica do Grupo
Barreiras, assim como rochas da Formação Jandaíra, além de depósitos holocênicos praiais,
eólicos e flúvio-lagunares, compostas por rochas sedimentares quarternárias.
Segundo Araripe & Feijó (1994), a Bacia Potiguar é caracterizada pela presença de
quatro grupos: Embasamento Cristalino, Grupo Areia Branca, Grupo Apodi e Grupo Agulha.

62
O Grupo Areia Branca é composto pelas formações Pendência, Pescada e Alagamar; o
Grupo Apodi é composto pelas formações Açú, Ponta do Mel, Quebradas e Jandaíra e o Grupo
Agulha abrange as formações Guamaré, Ubarana, Tibau e Barreiras (ARARIPE & FEIJÓ,
1994), conforme quadro 7 a seguir.

Quadro 7: Quadro síntese de grupos e formações geológicas da Bacia Potiguar


Grupo Formação
Formação Pendência – é caracterizada pela presença de
arenito do tipo fino, médio e grosso, coloração cinza-
esbranquiçada, intercalada por folhelho e siltito cinzento.
Formação Pescada – o nome da formação está relacionado
ao segmento da plataforma continental onde está situado “o
Campo de Pescada”. A formação é caracterizada pela
presença de arenito médio branco e arenito fino de coloração
Grupo Areia Branca cinza, intercalados por folhelhos e siltito cinzento.
Formação Alagamar – É designada pela seção areno-
carbonática sotoposta em discordância em relação à
Formação Açu. É caracterizada pela discordância em relação
às Formações Pescada e Pendências, constituída pela
separação de membros a partir de uma seção pelítica,
denominada Camadas Ponta do Tubarão.
Formação Açu – Essa formação é representada por arenitos
finos e grossos que recobrem os afloramentos, além disso,
esta formação é caracterizada por camadas espessas de arenito
médio a grosso esbranquiçado, com intercalações de folhelho
e argilito verde claro e siltito castanho-avermelhado. Seu
contato interior apresenta discordância à Formação
Alagamar.
Formação Ponta do Mel – De acordo com Araripe & Feijó
(1994), esta formação possui a presença de calcarenito
oolítico creme, doloespatito castanho-claro e calciculito
Grupo Apodi branco, com intercalações de folhelho verde-claro. Essa
formação, recobre em concordância a Formação Açu e é
recoberta em discordância pela Formação Quebradas.
Formação Quebradas – É constituída de arenito fino de cor
cinza-claro e siltito cinza-esverdeado, abrangendo uma área
intermediária entre os arenitos da Formação Açu e dos pelitos
da Formação Ubarana, tendo contato inferior discordante com
a Formação Ponta do Mel e superior concordante com a
Formação Jandaíra.
Formação Jandaíra – Tem como composição essencial o
calcarenito bioclástico e foramiliníferos bentônicos, ocorre
também calciculito, dismicrito e gretas de contração.

63
Formação Ubarana – É caracterizada por uma seção de
folhelho e argilito, permeada por camadas de arenito grosso e
arenito fino, siltito cinza-acastanhado e calcarenito fino. Suas
rochas se defrontam lateralmente com as rochas da Formação
Guamaré e do Grupo Apodi.
Grupo Agulha Formação Guamaré – Essa formação é caracterizada pela
presença de rochas do tipo calcarenito bioclástico e
calcifulito, seus depósitos são em plataformas e taludes
carbonáticos.
Formação Tibau – Tem como característica a presença de
arenito grosso, interliga-se com as formações Guamaré e
Barreiras, tem como ambiente deposicional os leques
costeiros.
Fonte: Organizado pelo autor com base em Araripe & Feijó (1994).

Conforme Lima (2004), na área de estudo são evidenciadas algumas das unidades
apresentadas no quadro acima, como a Formação Alagamar (Grupo Areia Branca), Formações
Açu e Jandaíra (Grupo Apodi) e Formações Guamaré e Tibau (Grupo Agulha). Logo abaixo
está um mapa das Unidades Geológicas do Estado do Rio Grande do Norte, conforme dados
vetoriais5 e levantamentos de campo disponibilizados pelo Serviço Geológico do Brasil
(CPRM), com destaque para a área de estudo.

5
Arquivo Shapefile que representa as Unidades Geológicas, assim como, as informações atinentes à caracterização
realizada pelo CPRM. Este formato de arquivo pode ser visualizado em qualquer Sistema de Informação
Geográfica (SIG).

64
Figura 17: Contexto geológico regional para a área de estudo.

Fonte: IBGE (2017), CPRM (2015), elaboração cartográfica pelo autor (2018).

65
Contexto geológico local

Em escala local, a geologia do município de Galinhos possui os seguintes componentes:


depósitos eólicos litorâneos, representado pelos beach-rocks, depósitos de praia, planície de
deflação, depósitos eólicos representados pelas dunas fixas e dunas móveis e depósitos flúvio
lagunares. Os detalhes do contexto geológico local estão apresentados no Mapa de Geologia do
Município de Galinhos (Mapa 1).

Beach-rocks
Os beach-rocks estão situados na zona de estirâncio, constituindo uma plataforma de
abrasão que tem a função de reduzir a ação das marés sobre a linha de costa. São caracterizados
pela presença de sedimentos consolidados, inseridos em depósitos praiais, o que indica períodos
de regressão marinha. O mineral essencial na composição dos sedimentos é o quartzo e
sedimentos de bioclastos consolidados por carbonatos de cálcio (CAMPOS & SILVA et. al.,
1971).

Sedimentos da Planície de deflação

Os sedimentos depositados na planície de deflação, apresentam no geral uma


característica homogênea e coloração esbranquiçada compostas predominantemente por
quartzo, possui textura arenosa, granulometria fina a média. Nas áreas expostas à ação das
marés de sizígia se concentram as deposições de fragmentos de conchas marinhas (IDEMA,
2003).

Depósitos litorâneos praiais

Os sedimentos de praia são também compostos predominantemente por quartzo, possui


textura arenosa e granulometria média a grossa. De acordo com Lima (2004) é uma área que
está submetida à uma ação integrada das ondas, correntes e marés, o que lhe confere uma
característica dinâmica que varia de acordo com os perfis praiais.

Depósitos eólicos

Os depósitos eólicos são representados pelas dunas fixas e móveis que possuem grande
destaque no município de Galinhos, especialmente pelo seu potencial paisagístico (IDEMA,
2003). Possui altimetria entre 5 e 10 m acima do nível do mar. Os sedimentos predominantes

66
desse tipo de depósito é o quartzo, conferindo uma característica homogênea às dunas, com
textura arenosa e granulometria fina a média.

Depósitos flúvio-lacustrinos

Estes depósitos são encontrados nas planícies de maré-estuarina e nos depósitos de


mangue situados à sul da sede municipal de Galinhos, apresentam uma coloração acinzentada
nas áreas com influência constante da maré (indicando influência da deposição de matéria
orgânica) e coloração mais clara em áreas inundadas em determinados períodos pelas marés de
sizígia. Tais depósitos são compostos basicamente por quartzo, possuindo uma textura arenosa
e granulometria fina a média (Mapa 1).

67
Mapa 1: Mapa de geologia área de estudo.

Fonte: IBGE (2017), CPRM (2017), elaboração cartográfica pelo autor (2018).

68
GEOMORFOLOGIA

O relevo resulta da interação dos processos de troca de energia e matéria (litosfera,


atmosfera, hidrosfera e biosfera) que se manifestam no tempo e no espaço, cuja origem e
transformação ocorrem a partir de dois tipos de agentes: endógenos, oriundos do interior da
terra (tectonismos) e os exógenos, provenientes a grosso modo do clima da região e da ação do
intemperismo, o qual é responsável pela fragmentação de rochas e minerais, que criam ou
modificam o relevo mediante o processo erosivo, esculpindo o relevo (NUNES, 2006).
A análise do relevo é de suma importância não só para a própria Geomorfologia (ciência
que estuda as formas de relevo, sua gênese, composição e os processos que neles atuam), mas
também para as outras ciências da terra que estudam os componentes da superfície terrestre
(rochas, solos, vegetação e águas), bem como na definição da fragilidade/vulnerabilidade do
meio ambiente e no estabelecimento de legislação para a sua ocupação e proteção
(FLORENZANO, 2008).
A geomorfologia do Nordeste brasileiro (NEB) é caracterizada por estruturas
deformacionais dúcteis e rúpteis impressas no embasamento cristalino pré-cambriano. Essas
estruturas são representadas por um conjunto de morfologias desenvolvidas em zonas de falhas
herdadas da estruturação pré-cambriana (MABESOONE, 1978).
Segundo Mabesoone (1978), o Nordeste pode ser analisado a partir da divisão em três
regiões: a) Região Costeira, b) Região do Cristalino e c) Região Sedimentar do Meio Norte.
Nesse âmbito, cada região possuirá características peculiares relacionadas ao clima dominante.
Na concepção do autor a região costeira possui predomínio da presença dos sedimentos da
Formação Barreiras.
Considerando esses aspectos, o município de Galinhos está inserido na região costeira,
caracterizado por um clima do tipo semiárido. No entendimento de Mabesoone (1978) a faixa
costeira nessa área possui pouca largura, tendo forte influência dos ventos e da deposição das
dunas móveis, acarretando em um baixo escoamento das águas e propiciando a formação de
lagoas nas regiões interioranas. A característica evidente é a presença de uma área litorânea
seca e as áreas sublitorâneas verdes e úmidas.
Lima (2004) traça detalhadamente as feições geomorfológicas existentes na região
costeira município de Galinhos, a saber: i) recifes praiais, ii) zonas de estirâncio, iii) planície
de deflação, iv) campos de dunas móveis, v) campos de dunas fixas, vi) planície de inundação,
vii) mangues e para as áreas pré-litorâneas ou interiores do município, são verificados os
tabuleiros pré-litorâneos e tabuleiros interiores (CESTARO et. al., 2007). (Figura 12).

69
Recifes Praiais

São definidos pelas áreas que acompanham paralelamente o eixo da linha de costa,
considerados como importantes feições geomorfológicas, tendo função importante na
dissipação da energia das ondas, deposição de sedimentos e alterações advindas da dinâmica
costeira (LIMA, 2004).

Estirâncio
A zona de estirâncio ou praia, está situada entre os níveis de maré alta e maré baixa,
sofrendo as ações das marés; sua morfologia varia de acordo com a força das ondas, amplitude
de maré e do tamanho dos sedimentos (LIMA, 2004) (Figura 18).

Figura 18: Visualização de área de estirâncio situada nas proximidades da sede municipal de
Galinhos.

Estirâncio

Fonte: Autor (2017).

Planície de Deflação

De acordo com Lima (2004), as planícies de deflação existentes em Galinhos


correspondem às faixas situadas acima da linha de preamar, atingidas em casos excepcionais
pelas marés altas e em situações de tempestades. Ainda segundo a autora, ocorrem nas áreas
das planícies de deflação as escarpas de bermas e dunas embrionárias (Figura 19).

70
Figura 19: Visualização de planície de deflação situada na zona costeira de Galinhos.

Planície de deflação
(escarpa da berma)

Fonte: Autor (2017).

Dunas

Na área de estudo são encontradas dunas dos tipos móveis e fixas. As dunas fixas são
no geral cobertas por vegetação, apresentando um relevo ondulado e originárias das condições
climáticas e variações do nível do mar. Considera-se também que as dunas fixas surgiram a
partir de períodos de regressão do nível do mar e em condições climáticas do tipo árido a
semiárido, sendo as superfícies de areia modeladas e mobilizadas pelos ventos em direção ao
continente (GRIGIO, 2003) (Figura 20).
Figura 20: Visualização de campos de dunas móveis à leste da sede municipal de Galinhos.

Fonte: Autor (2017).

71
As dunas fixas sobrepõem-se ao Grupo Barreiras e são compostas por areias bem
selecionadas, de granulação fina a media, quartzosas e/ou quartzofeldspáticas, apresentando
tons amarelados, alaranjados e acinzentados além do teor de matéria orgânica considerável
devido à presença da vegetação e da fauna (Figura 21).
Figura 21: Visualização de campos de dunas fixas a partir do Morro do André.

Dunas Móveis

Dunas Fixas

Fonte: Autor (2017).

As dunas móveis são definidas por depósitos de área fina a muito fina, com sedimentos
inconsolidados, no geral apresentando coloração branca e sem cobertura vegetal,
proporcionando uma maior disseminação e mobilização dos sedimentos em detrimento da ação
eólica e são classificadas como tipo barcana (GRIGIO, 2003; LIMA, 2004).
Segundo o Congresso Brasileiro de Geologia (1982), os campos de dunas tiveram o seu
desenvolvimento motivado por condições morfogenéticas próprias onde se incluem:

a) estoque considerável de areias móveis em função da exposição da plataforma durante a


regressão eustática pré-flandriana;
b) ausência quase total de cobertura vegetal de modo a viabilizar o trânsito livre de areias,
continente adentro;
c) climas secos e semiáridos, onde a diferença dos gradientes de pressão, sendo maiores,
imprimiu maior capacidade energética às correntes aéreas;
d) ocorrência de obstáculos que serviram para reter a areia transportada, intensificando o
efeito de acumulação; e,
e) retrabalhamento de sedimentos arenosos de fácies continental que compõem as
sequências superficiais do Grupo Barreiras.

72
Planícies de inundação

As planícies de inundação se referem às áreas sujeitas aos efeitos das marés, sendo
propícias aos processos de sedimentação flúvio-marinhas, bem como, possuem solos com alta
salinidade e águas salobras, estando diretamente relacionadas aos fluxos das marés (LIMA,
2004; CESTARO et. al., 2007).
No que cerne a característica tocante às planícies de inundação, é necessário mencionar
que compreendem as áreas dos canais de maré, formadas pelos rios Porto do Capim,
Camurupim, Galinhos, Pisa Sal, Pratagil e Tomás, tais cursos formam, como mencionado
anteriormente, ambientes hipersalinos (SANTIAGO, 2004) (Figuras 22 e 23).

Figura 22: Visualização da planície de inundação nas proximidades do porto de Pratagil

Fonte: Autor (2017).

Figura 23: Planície de inundação e estuário

Fonte: Autor (2017).

73
Tabuleiros costeiros e tabuleiros interiores

São representados por um relevo plano a suavemente ondulado, cujas cotas altimétricas
são de aproximadamente 15 m à 60 m (Mapa 2), sendo menores à medida que se aproximam
do litoral. A feição geomorfológica dos Tabuleiros Costeiros está associada às sequências do
Grupo Barreiras e às coberturas arenosas de espraiamento, as quais são caracterizadas por
inconformidades erosivas (Mapa 3).
Em geral a drenagem apresenta um fluxo muito lento, limitando a capacidade de incisão
linear. Disso resulta a amplitude altimétrica baixa, não superior a 50 m entre o topo dos
tabuleiros e o fundo dos vales. As encostas que têm caimento para as planícies fluviais possuem
feições retilíneas, expondo, eventualmente, material laterítico (Figuras 24).

Figura 24: Relevo do tipo tabuleiro em um dos acessos vicinais do município.

Fonte: Autor (2018).

74
Mapa 2: Modelo Digital de Elevação (MDE) do Município de Galinhos.

Fonte: Miranda (2005), elaboração cartográfica do autor (2018).

75
Mapa 3: Geomorfologia do Município de Galinhos.

Fonte: IBGE (2017), Cestaro et. al. (2007), elaboração cartográfica do autor (2018).

76
As condições favoráveis à percolação da água imprimem uma drenagem interna
excessiva que acentua os efeitos de lixiviação e limita o trabalho erosivo da pluviação. O
desgaste superficial só chega a intensificar-se na medida em que os sedimentos argilosos
superficiais afloram, permitindo a circulação do escoamento difuso (CAMPOS E SILVA et.
al., 1971).
A morfodinâmica observada na área de estudo em tela pode ser definida de acordo com
a classificação ecodinâmica de Tricart (1977), dividindo o ambiente em três categorias: a) meios
estáveis; b) meios intergrades e c) meios instáveis. A classificação morfodinâmica tem sua
atuação na declividade enquanto elemento do mapeamento geomorfológico e está classificada
com bases no Manual Técnico de Geomorfologia do IBGE (2009) em: a) Muito Fraca (Mfa) –
correspondendo aos relevos planos contendo de 0 a 3% de declividade; b) Fraca (Fa) –
correspondendo aos relevos de declividade entre 3% e 8%; c) Moderada (Mo) – relacionada
aos relevos de 8% a 20% de declividade; d) Forte (Fo) – corresponde aos relevos com
declividade de 20 a 45% e e) Muito Forte (Mfo) – indicando relevos com declividades
superiores a 45%.
No caso de Galinhos, observa-se que as declividades são baixas e estão relacionadas
diretamente com as feições geomorfológicas de tabuleiros ou superfícies aplainadas, nas áreas
em que se apresentam as declividades moderadas, há a ocorrência dos campos de dunas e faixas
de transição dos tabuleiros costeiros com as planícies flúvio-marinhas, conforme Mapa 4.

77
Mapa 4: Declividade do Município de Galinhos.

Fonte: IBGE (2009), Miranda (2005), elaboração cartográfica do autor (2018).

78
SOLOS

De acordo com Lima (2004), baseado nos estudos da Sudene (1971) e classificação do
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – SiBCS da Embrapa (2006), os tipos de solos que
podem ser observados em Galinhos são os Neossolos Quartzarênicos, Argissolos Vermelho-
Amarelo (associados às áreas de ocorrência de Neossolos Quartzarênicos) e Gleissolos Sálicos,
conforme Mapa 3.

Neossolos Quartzarênicos

O Neossolo Quartzarênico constitui-se como uma classe de solos profundos ou muito


profundos, com grãos simples, sem reserva de minerais primários, excessivamente drenados,
com baixos teores de argila (menos de 15%), possuem baixa soma de bases e muito baixa
saturação de bases.
São solos que não apresentam alterações expressivas em relação ao material originário
devido à baixa intensidade de atuação dos processos pedogenéticos, ou seja, são pouco
desenvolvidos, em detrimento das características dos materiais de origem, ou maior resistência
ao intemperismo ou por influência dos fatores de formação (clima, relevo e tempo).
Estão associados a terrenos de dunas fixas e móveis e os terrenos de planície fluvial,
com vegetação, que apresentam horizonte muito pouco desenvolvido com desenvolvimento de
horizonte A muito fraco. São solos ou tipos de terreno areno-quartzosos, profundos ou muito
profundos, excessivamente drenados, distróficos, ácidos e de fertilidade natural baixa, não
cultivado. Em alguns trechos estão sujeitos ao afloramento do aquífero freático. Ocorrem sob
vegetação de floresta arbóreo-arbustiva (Figuras 25 e 26).

79
Figura 25: Vista de Neossolos Quartzarênicos que compõem os campos de dunas.

Fonte: Autor (2018).

Figura 26: Neossolos Quartzarênicos em campos de dunas com parque eólico ao horizonte

Fonte: Autor (2018).

Argissolos Vermelho-Amarelo

Segundo a Silva & Neto (2011) os Argissolos Vemelho-Amarelos (PVA) são solos que
podem ser desenvolvidos a partir da unidade geológica do Grupo Barreiras ou por sua
influência. Este tipo de solo apresenta um horizonte com acumulação de argila, horizonte B
textural de cores vermelho-amarelas, caracterizam-se também por serem solos pouco profundos
a muito profundos, com boas estruturas e boa drenagem, predominando o horizonte A do tipo
moderado a proeminente. Apresentam textura média e argilosa, englobando também a baixa
fertilidade natural, sendo solos ácidos (Figura 27).
80
Figura 27: Presença de Argissolos Vermelho-Amarelos nas proximidades da RN-120.

Fonte: Autor (2018).

Gleissolos Sálicos

Estes tipos de solos têm sua ocorrência em áreas de relevo plano relacionado à presença
de mangues, bem como os baixos cursos dos rios (Mapa 5). É um tipo de solo que não apresenta
potencial agrícola, pois a concentração de sais é alta, tendo potencial para preservação
ambiental (SANTOS; ZARONI e ALMEIDA, 2018).

81
Mapa 5: Solos do Município de Galinhos.

Fonte: IBGE (2007; 2017), elaboração cartográfica do autor (2018).

82
Os Gleissolos são permanentemente ou esporadicamente saturados por água, definidos
pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2006) como solos
hidromórficos, tendo em sua constituição materiais minerais, oriundos de horizonte do tipo glei
(cores cinzas até pretas). Segundo Santos, Zaroni e Almeida (2018), são solos que ocorrem nas
proximidades de cursos d’água, desenvolvidos através de sedimentos mais recentes e em áreas
de materiais colúvio-aluviais sob condições de influência da água (Figuras 28).

Figura 28: Solos do tipo Gleissolos Sálicos às margens de via de acesso.

Fonte: Autor (2018).

HIDROGRAFIA

Em termos de bacias hidrográficas, o município de Galinhos está incluído no domínio


da Faixa Litorânea Norte de Escoamento Difuso, denominada pela Secretaria de Meio
Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado do Rio Grande do Norte (SEMARH) como sub-
bacia hidrográfica 15-4, tendo seus limites à Sul com a bacia hidrográfica do Rio Piranhas-Açú
e com as bacias dos rios Ceará-Mirim e Maxaranguape (Mapa 6).
A sub-bacia hidrográfica 15-4 compreende as unidades geomorfológicas de dunas
móveis e planícies flúvio-marinhas em seu trecho litorâneo, para as demais áreas abrangem os
tabuleiros costeiros e tabuleiros interiores.

83
Mapa 6: Mapa da Sub-bacia hidrográfica 15-4 (Faixa Litorânea Norte de Escoamento Difuso)

Fonte: SEMARH (2018).

84
Os rios de maior expressão presentes no município de Galinhos são os rios Camurupim,
Catanduba, Galinhos, Pisa Sal, Pratagil, Tomás e riacho Tubibau têm seu escoamento
direcionado à noroeste do município, desembocando e recebendo contribuição das águas do
Oceano Atlântico, desse modo formando o sistema estuarino compreendido entre os municípios
de Galinhos e Guamaré (Mapa 7). O estuário Galinhos-Guamaré recebe influência integral das
ações das marés, controlando a sua hidrografia com variações de preamar e baixa-mar (IDEMA,
2003).

85
Mapa 7: Hidrografia do Município de Galinhos.

Fonte: IBGE (2017), elaboração cartográfica do autor (2018).

86
COBERTURA VEGETAL

De acordo com o relatório da ECOPLAM (1990 citado por Lima, 2004, p. 18-19) as
formações vegetais do município de Galinhos estão divididas em três ambientes: a) ambientes
de vegetação de dunas; b) ambientes de vegetação de mangue e c) ambiente de vegetação de
caatinga, conforme o Quadro 8 a seguir e Mapa 8 e Figuras 29 e 30.

Quadro 8: Quadro síntese das formações vegetais

Ambiente Características gerais Vegetação


Ambiente de Presença de formações Salsa-de-praia (Ipoema
Vegetação de Dunas vegetais de porte arbustivo pescaprae); Capim praturá
(fixas e móveis) nos campos de dunas, arbóreo (Pspalum vaginatum), Flor-
e arbustivo-arbóreo nas áreas de-seda (Calotropis
de menor influência da ação procera), Pinhão branco
eólica (Jatrophaurens muelli);
Mandacaru (Prosopis
juliflora) e Algarobeira
(Prosopis juliflora).
Ambiente de Compreende as áreas de Mangue-vermelho
Vegetação de Mangue mangue com influência das (Rizophora mangle), Sereíba
ações da maré e alto nível de (Avicennia germinans),
salinidade, apresentando Mangue-branco
vegetação resistente à essas (Laguncularia racemosa) e
condições naturais. Conocarpus erectus.
Ambiente de Compreende uma área de Catingueira (Caesalpinia
Vegetação de Caatinga transição entre o manguezal e pyramidalistul); Marmeleiro
os campos de dunas, (Croton blanchetianus
apresentando características Baill); Pereiro
típicas de regiões semiáridas (Aspidosperma pyrifolium);
com espécies do tipo Jurema preta (Mimosa
arbustivo-arbórea aberta, hostilis) e etc.
arbustiva-arbórea fechada e
arbórea fechada.
Fonte: Adaptado de Lima (2004), organizado pelo autor (2018).

87
Figura 29: Vegetação nativa de caatinga.

Fonte: Autor (2018).

Figura 30: Vegetação de mangue presente no estuário Galinhos-Guamaré, vista do porto do

Pratagil.

Fonte: Autor (2018).

88
Mapa 8: Cobertura Vegetal do Município de Galinhos

Fonte: IBGE (2017), Levantamento de Campo (2018), organização cartográfica do autor (2018).

89
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS

Segundo dados do Censo Demográfico de 2010 do IBGE o município possui 2.159


habitantes e com previsão de crescimento em 2017 para 2.715 habitantes, uma densidade
demográfica de 6.31 habitantes/km² (IBGE, 2017).
Para o ano de 2015 os dados fornecidos pelo IBGE (2018), o salário médio mensal da
população de Galinhos era de 1,9 salários mínimos, contendo 509 pessoas ocupadas em relação
ao total de habitantes do município, dado que representa 19.7% da população empregada.
No quesito economia, o PIB per capita no ano de 2015 foi de R$ 27.161,10 e índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0.564 em 2010 (IBGE, 2018). De acordo com
o IDEMA (2008), em Galinhos são produzidos os seguintes produtos agrícolas: feijão, coco-
da-baia, milho, castanha de caju, melão e tomate. Os insumos de origem animal são
principalmente leite e ovos de galinha, no município ocorre também a produção de pescado,
bem como a criação de rebanhos de bovinos, suínos, equinos, asininos, ovinos e caprinos
(IDEMA, 2008).
Entre as atividades econômicas, pode-se citar as principais que se destacam no
município: carcinicultura (cultivo de crustáceos), produção de sal (para exportação) e mais
recentemente geração de energia eólica.

Carcinicultura

Segundo Tavares (2017), o circuito produtivo do camarão no Rio Grande do Norte tem
uma grande aplicação tecnológica e voltada aos laboratórios de maturação e de produção de
larvas, principais fornecedores do insumo. De acordo com o autor o estado possui cerca de 400
unidades de engorda, com distribuição entre os vários municípios do Rio Grande do Norte,
principalmente os localizados no litoral.
Tais áreas contabilizam cerca de 7 mil hectares e uma capacidade para produzir um
patamar de 17 mil toneladas, das quais serão distribuídas para a rede estadual e o mercado dos
estados vizinhos. Esse potencial de produção no geral é detido por grandes empresas com
massivo potencial de investimento (TAVARES, 2017).
Nesse contexto apresentado por Tavares (2017), se insere o município de Galinhos, além
de ter um favorecimento pelas suas condicionantes ambientais, possui capacidade de produção
de 500 até toneladas de camarão por ano (Figuras 31 e 32).

90
Figura 31: Vista aérea de laboratório de cultivo de crustáceos (carcinicultura) em Galinhos

Fonte: Autor (2018).

Figura 32: Vista aérea de fazenda de cultivo de camarão em área de mangue em Galinhos.

Fonte: Autor (2018).


Atividade Salineira

De acordo com Diniz (2013), Galinhos a partir de suas características ambientais


(citadas anteriormente), assim como estar inserida em uma planície de maré, onde a
proximidade com o oceano permite condições de salinidade que a caracterizam como uma das
áreas produtoras de sal no Rio Grande do Norte (Figura 33 e 34).

91
Para Diniz & Vasconcelos (2017, p. 15): “a planície de maré Galinhos/Guamaré é outra
área de grande potencial para a produção de sal marinho, a terceira mais importante do Brasil.
As únicas limitações à atividade salineira são o tamanho da área em relação às planícies do
Mossoró e do Açu [...]”.
Em relação à produção de sal marinho no ano de 2011, o município de Galinhos
produziu 274 mil toneladas, cerca de 6% da produção estadual, que tem como produtores:
Mossoró (1,5 milhões de toneladas/33%), Macau (1,4 milhões de toneladas/31%), Areia Branca
(578 mil toneladas/13%), Porto do Mangue (411 mil toneladas/9%), Grossos (302 mil
toneladas/7%) e Guamaré (25 mil toneladas/1%) (DNPM, 2012)6.

Figura 33: Vista área da Salina existente em Galinhos/RN

Fonte: Autor (2018)

6
Os dados disponibilizados pelo DNPM demonstram a produção de sal marinho para o município de Galinhos
até o ano de 2012

92
Figura 34: Vista área da área da Salina em Galinhos/RN.

Fonte: Autor (2018)

Geração de energia eólica

No cerne de geração de energia por meio de fontes renováveis, a energia eólica no Rio
Grande do Norte tem ganhado destaque nacional, especialmente entre os anos de 2009 e 2013,
quando ocorreram as licitações em leilões de energia de projetos de construção de parques
eólicos e linhas de transmissão (CERNE, 2014).
De acordo com a cartilha eólica do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e
Energia, o Rio Grande do Norte possui grande potencial de matriz formada por energia eólica,
totalizando um valor acima dos 4,5 GW (Gigawatts) de energia. (CERNE, 2018).
Segundo dados do Boletim Mensal e Anual de Geração de Energia Eólica da Associação
Brasileira de Energia Eólica – ABEEólica, o Rio Grande do Norte gerou no ano de 2017 os
valores descritos na Tabela 1, juntamente com a geração mensal para o município de Galinhos
no ano de 2018. Os dados da ANEEL (2018) acenam que o estado possui 220 projetos para
geração de energia eólica em cinco estágios e valores:
a) Construção com outorga – 16;
b) Construção não iniciada – 17;
c) Operação – 138;
d) Despacho de Requerimento de Outorga (DRO) – 22 e
e) Vencedor de Leilão – 27.

93
Tabela 1 – Geração de Energia Eólica no Estado do Rio Grande do Norte e Galinhos
Geração em Megawatts Geração em Megawatts
Mês (MW) para o RN (2017) (MW) para Galinhos (2018)
Janeiro 1.430,2 36,1
Fevereiro 1.196,5 21,4
Março 852,5 21,2
Abril 1.047,4 15,0
Maio 1.067,7 22,0
Junho 1.458,3 33,6
Julho 1.855,6 41,8
Agosto 2.003,4 44,3
Setembro 2.227,7 48,3
Outubro 1.918,3 44,3
Novembro 1.612,1 44,2
Dezembro 1.450,6 35,9
Fonte: ABEEólica (2017; 2018)

Nesse contexto, o município de Galinhos possui um parque eólico em operação e


contém cerca de 71 aerogeradores (ANEEL, 2018), sendo uma atividade considerada limpa,
ainda que acarrete em alguns impactos ambientais, como a poluição sonora e visual (Figuras
35 e 36). Além disso, a realização de trabalhos técnicos e pesquisas acadêmicas visam contribuir
para um levantamento de dados detalhados e a mitigação dos vários impactos que são inerentes
aos grandes empreendimentos.

94
Figura 35: Vista aérea de Parque Eólico situado em Galinhos/RN.

Fonte: Autor (2018).

Figura 36: Parque Eólico situado em Galinhos/RN.

Fonte: Autor (2018).

95
Uso e ocupação da terra

O uso e ocupação da terra se refere ao que pode ou não ser construído em uma
determinada área, assim como os tipos de atividades, tamanhos de empreendimentos, relação
com a quantidade de habitantes, de uma determinada área ou um município como um todo
(TAKEDA, 2013).
O levantamento do uso e ocupação da terra deve ser apreendido como um dispositivo
de ordenamento territorial, que concerne ao processo de edificação e parcelamento do solo,
além de ser um elemento de garantia da sustentabilidade em relação às questões ambientais,
sociais e econômicas (IBGE, 2013).
Nesse contexto, a pesquisa de campo serviu de detecção e validação do modelo gerado
pela fotointerpretação de imagens de satélite e imagens de alta resolução para a área de estudo
em tela, conforme os preceitos técnicos e metodológicos do Manual Técnico de Uso e Ocupação
da Terra (IBGE, 2013). O levantamento de campo permitiu a definição das seguintes classes de
uso e ocupação (Tabela 2) e a representação do uso no Mapa 9:

Tabela 2: Classificação e Quantificação do Uso e Ocupação da Terra no Município de


Galinhos
Uso do Solo Área em hectares (ha)
Agricultura Permanente 1.600,05
Agricultura Temporária 4.528,36
Áreas Urbanizadas (Sede Municipal/Assentamento) 63,43
Corpos d’água (Estuário/Lagoas Interdunares/Lagos 2.159,00
naturais)
Dunas (Dunas Fixas e Móveis) 1.737,69
Manguezal (Mangues, salgados e apicuns) 2.293,56
Parque Eólico 67,21
Rodovias e acessos vicinais 210,28
Solo Exposto (Áreas desmatadas, pastagens) 460,60
Tanques de Carcinicultura/Salinas 2.830,59
Vegetação Nativa (Vegetação de caatinga 18.249,11
primária/secundária)
TOTAL 34.199,88
Fonte: Organizado pelo autor.

96
Mapa 9: Uso e Ocupação da Terra do Município de Galinhos

Fonte: IBGE (2013; 2017), Levantamento de Campo (2017; 2018), organização cartográfica do autor (2018).

97
A partir dos dados analisados, nota-se que o município de Galinhos ainda é recoberto
em grande parte por uma vegetação de caatinga mais adensada, considerando o total de
34.199,88 hectares, o que corresponde à 53,4% do território municipal. As áreas que
correspondem à classe de corpos d’água recobrem cerca de 6,3%, sendo a zona estuarina a de
maior uso pela atividade econômica salineira. No que tange aos principais cultivos agrícolas as
áreas de agricultura permanente e temporária abrangem respectivamente 4,7% e 13% da área
total mapeada (Figura 37).
Figura 37: Percentual do Uso e Ocupação da Terra do Município de Galinhos.
Agricultura
Permanente
5%

Agricultura
Temporária Áreas Urbanas
13% 0%
Corpos
d'água
6%
Dunas
Vegetação nativa
5%
54%
Manguezal
7%
Tanque de
Carcinicultura -
Salina
8%
Parque
Rodovias e Eólico
Acessos 0%
1%

Solo Exposto
1%

Fonte: Organizado pelo autor.

A classe Dunas corresponde aos campos de dunas fixas e móveis que recobrem cerca
de 5.1% do território, sendo uma área de transição de unidades geoambientais e que é utilizada
economicamente pelo turismo e pela atividade de geração e energia eólica, que ocupa um
percentual de 0,2% em relação à área em hectares levantada.
Outra classe relevante são os tanques de carcinicultura/salina abarcando 8,3% do
território de Galinhos e abrange duas das principais atividades econômicas desenvolvidas no
município, por conseguinte, no geral ocupam as áreas de manguezal (6,7%) e se utilizam dos
recursos hídricos para viabilizar seu funcionamento.
As demais classes definidas a partir dos dados de fotointerpretação e campanhas de
campo são as rodovias e acessos vicinais e áreas de solo exposto. As primeiras correspondem
às principais infraestruturas viárias de interligação ao município e à zona rural, já a segunda

98
área correspondem aos pastos, áreas desmatadas para limpeza do terreno e posterior plantio e
áreas onde houve retirada de solo para outros tipos de uso, como construção civil ou aterros e
aberturas de vias de acesso.
As áreas urbanas se referem à sede municipal e à sede do assentamento situado na zona
rural do município de Galinhos, as quais totalizam o percentual de 0,2% de uso e ocupação da
terra.
O uso e ocupação do solo tem como finalidade elementar organizar o território
potencializando as capacidades, as compatibilidades, as contiguidades e as complementaridades
de atividades urbanas e rurais, controlar a densidade populacional e a ocupação do solo pelas
construções, a fim de otimizar os deslocamentos e melhorar a mobilidade urbana e rural,
evitando possíveis incompatibilidades entre funções urbanas e rurais, além de eliminar
possibilidades de desastres ambientais e preservar o meio-ambiente e a qualidade de vida no
município, corroborando para o desenvolvimento sustentável.

99
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107
CAPÍTULO 1: MAPEAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS
AMBIENTAIS DO MUNICÍPIO DE GALINHOS/RN
(Formatado de acordo com as recomendações da Revista GEOSUL-UFSC de QUALIS B1 em
Ciências Ambientais e Geografia/Manuscrito submetido para publicação após o exame de
Qualificação em estágio de AVALIAÇÃO)

108
MAPEAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS AMBIENTAIS DO
MUNICÍPIO DE GALINHOS/RN
Dyego Freitas Rocha1
Lutiane Queiroz de Almeida²
Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa³

Resumo: O presente artigo objetivou elaborar o mapeamento e a caracterização dos sistemas ambientais do
município de Galinhos/RN, a partir dos pressupostos teóricos-metodológicos da abordagem geossistêmica e
análise integrada da paisagem, indicando as suas limitações e potencialidades. Para alcançar o objetivo proposto,
foram utilizadas as ferramentas e técnicas de Geoprocessamento, Sensoriamento Remoto e trabalhos de campo
para a elaboração dos mapas dos sistemas ambientais e a integração dos componentes ambientais. Os resultados
permitiram analisar de modo integrado e sistêmico da natureza em detrimento das ações antrópicas, além disso,
proporcionaram a identificação dos seguintes sistemas ambientais: a) Tabuleiro Semiárido Costeiro; b) Tabuleiro
Semiárido Interior; c) Praia Marinha; d) Duna; e) Manguezal e Apicum e f) Vale Fluvial.
Palavras-chave: Galinhos. Sistemas ambientais. Sistemas de Informação Geográfica. ARP

MAPPING AND CHARACTERIZATION OF THE ENVIRONMENTAL SYSTEMS


OF THE MUNICIPALITY OF GALINHOS/RN

Abstract: The present article aimed to elaborate the mapping and characterization of the environmental systems
of the county of Galinhos/RN, based on the theoretical and methodological assumptions of the geosystemic
approach and integrated landscape analysis, indicating its limitations and potentialities. In order to reach the
proposed objective, the tools and techniques of Geoprocessing, Remote Sensing and fieldwork were used to
elaborate maps of environmental systems and the integration of environmental components. The results allowed
to analyze in an integrated and systemic way in the nature to the detriment of the anthropic actions, in addition,
provided the identification of the following environmental systems: a) Coastal Semiarid Plain; b) Interior Semiarid
Plain; c) Marine Beach; d) Dune; e) Mangrove and Apicum and f) Fluvial Valley.
Keywords: Galinhos. Environmental Systems. Geographic Information Systems. RPA

MAPEO Y CARACTERIZACIÓN DE LOS SISTEMAS AMBIENTALES DEL


MUNICIPIO DE GALINHOS/RN

Resumen: El presente artículo objetivó elaborar el mapeo y la caracterización de los sistemas ambientales del
municipio de Galinhos/RN, a partir de los presupuestos teóricos-metodológicos del abordaje geosistémico y
análisis integrado del paisaje, indicando sus limitaciones y potencialidades. Para alcanzar el objetivo propuesto,
se utilizaron las herramientas y técnicas de Geoprocesamiento, Percepción Remota y trabajos de campo para la
elaboración de los mapas de los sistemas ambientales y la integración de los componentes ambientales. Los
resultados permitieron analizar de modo integrado y sistémico de la naturaleza en detrimento de las acciones
antrópicas, además, proporcionaron la identificación de los siguientes sistemas ambientales: a) Tablero Semiárido
Costero; b) Tablero semiárido interior; c) Playa Marina; d) Duna; e) Manguezal y Apicum y f) Valle Fluvial.
Palabras clave: Galinhos. Sistemas ambientales. Sistemas de Información Geográfica. ARP.

INTRODUÇÃO

O atual modo de vida emplacado pelas sociedades demanda uma grande utilização dos
recursos naturais para as mais variadas atividades econômicas, ocasionando diversas mudanças
no espaço geográfico, assim como alterações consideráveis no meio ambiente em detrimento
das ações do homem. Tais mudanças se tratam de pressões do sistema econômico que

1
Mestrando PRODEMA/UFRN, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, dyegofreitasrocha@gmail.com;
² Prof. Dr., PPGE/UFRN, Departamento de Geografia, UFRN, lutianealmeida@hotmail.com;
³ Prof. Dr., PRODEMA/UFRN, Centro de Biociências, UFRN, magdialoufal@gmail.com.
109
corroboram com o aumento da degradação do meio ambiente, através de um uso inadequado
dos solos, desmatamentos e poluição, desconsiderando as limitações e potencialidades do meio.
Essas questões, são denominadas por Leff (2010, p. 59) de problemática ambiental, que
“gerou mudanças globais em sistemas socioambientais complexos que afetam as condições de
sustentabilidade do planeta”. Nesse contexto, compreende-se que os fatores de produção
capitalista, dependem das condições do meio ambiente e das estruturas sociais, permitindo a
ocorrência de diversas formas de perceber o ambiente e as técnicas empregadas para uma
apropriação social do meio e a consequente transformação da natureza (LEFF, 2010).
A preocupação com as questões e problemas ambientais ficaram em voga a partir da
década de 1970, tendo como marcos importantes as Conferências de Estocolmo e a Conferência
Internacional sobre Meio Ambiente, conhecida como “Conferência do Rio-92” ou
simplesmente ECO-92. Segundo Ross (2009), as conferências supracitadas difundiram o
conceito de “desenvolvimento sustentável” e redefiniram as visões das abordagens ambientais,
partindo do entendimento biológico/ecológico e preservacionista para uma visão mais
humanista, onde a humanidade é parte importante do meio ambiente.
Essas conferências, demonstraram que o conhecimento interdisciplinar se tornou
deveras importante, acerca disso, Souza e Oliveira (2011, p.43) a partir dos pensamentos de
Leff, acenam que o processo interdisciplinar é pautado em cinco paradigmas, a saber: a)
dialético, por meio das contradições de integração entre os setores do conhecimento; b)
sistêmico, porque requer análises sistêmicas e integradoras dos conhecimentos ou saberes; c)
seletivo, pois para cada problema, buscam-se categorias profundas de análise; d) interativo, pela
ênfase que se dá a um processo de interações sucessivas; e) aberto, por que preconiza um
aperfeiçoamento mútuo entre os setores do conhecimento.
Sobre o pensamento sistêmico que influenciou as ciências, Capra (1996, p.46) elenca
alguns critérios: i) mudança das partes para o todo, onde os sistemas vivos são totalidades
integradas cujas propriedades não podem ser reduzidas às de partes menores e suas
propriedades essenciais, ou “sistêmicas” são propriedades do todo, que nenhuma das partes
possui; ii) capacidade de deslocar a própria atenção de um lado para o outro entre níveis
sistêmicos e iii) as propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser
entendidas dentro do contexto do todo maior. [...] também podemos dizer que todo pensamento
sistêmico é pensamento ambientalista.
Diante dessa perspectiva, a Teoria Geral dos Sistemas (TGS) elaborada por Bertalanffy
e suas concepções de sistemas abertos, baseados nos princípios da termodinâmica e de alguns
conceitos da biologia, consolidaram o pensamento sistêmico como um movimento científico
(CAPRA, 1996).
110
Na Geografia, os pressupostos da TGS serviram de aporte teórico-metodológico para a
elaboração do conceito de geossistema, elaborado inicialmente pelo autor soviético Viktor B.
Sotchava e incluída na Geografia como Teoria Geossistêmica (CHRISTOFOLETTI, 1999).
Sotchava (1977) define os geossistemas como fenômenos naturais, ainda que, são
considerados os fatores econômicos e sociais que influenciam as suas estruturas e dimensões
espaciais. Para o autor, as ações antrópicas se referem aos numerosos componentes naturais dos
geossistemas (solos, vegetação, litologia e etc.).
Os geossistemas, de acordo com Sotchava (1978), citado por Ross (2009, p. 24), “são
uma classe peculiar de sistemas dinâmicos abertos e hierarquicamente organizados”. A
hierarquização dos geossistemas se insere como um elemento de suma importância para o
entendimento das unidades dinâmicas no espaço geográfico.
Segundo Berutchachvili e Bertrand (2007) o geossistema é o desígnio de um sistema
geográfico natural de características homogêneas e que está inserido no território. A definição
de geossistema nas idéias de Berutchachvili e Bertrand (2007, p. 51) “é um conceito territorial,
uma unidade espacial bem delimitada e analisada a uma dada escala; o geossistema é muito
mais amplo que o ecossistema, ao qual cabe, deste modo, uma parte do sistema geográfico
natural.
A Teoria Geossistêmica é um dos constructos teóricos metodológicos utilizados pela
Geografia para análise e estudos da superfície terrestre, além de contribuir sobremaneira ao
planejamento territorial e ambiental, estudos de degradação do meio ambiente, visando uma
abordagem que integre os elementos naturais, fatores sociais e econômicos e ambientais.
A área de estudo do presente artigo, o município de Galinhos está situada na
Mesorregião Central Potiguar e Microrregião de Macau, no litoral norte do estado do Rio
Grande do Norte, cerca de 166 Km de distância da capital Natal. O município engloba uma
situação que indica os conflitos ambientais, mediante as formas de exploração dos recursos
naturais, especialmente por atividades econômicas de grande porte e complexidade,
perpassando alguns interesses acerca da apropriação do território.
Diante do exposto, o objetivo deste artigo é elaborar o mapeamento e a caracterização
dos sistemas ambientais do município de Galinhos/RN, a partir dos pressupostos teóricos-
metodológicos da abordagem geossistêmica e análise integrada da paisagem, indicando as suas
limitações e potencialidades.
Por fim, o mapeamento dos sistemas ambientais é viabilizado por meio do uso dos
Sistemas de Informações Geográficas (SIG) e Aeronave Remotamente Pilotada (ARP),
comumente denominado de “drone”, essas ferramentas permitem a espacialização das
informações e o entendimento das relações complexas do meio ambiente.
111
MATERIAIS E MÉTODOS
Localização da área de estudo e aspectos fisiográficos

A área de estudo do trabalho em tela é o município de Galinhos, situada na Mesorregião


Central Potiguar e Microrregião de Macau, no litoral norte do estado do Rio Grande do Norte,
cerca de 166 Km de distância da capital Natal, entre as coordenadas geográficas 5º 5’ 32.51”
de latitude S e 36º16’26.26” de longitude O. Sendo suas principais vias de acesso a BR-406,
sentido Natal-Macau e a RN-402. Limita-se à leste com o município de Caiçara do Norte, à
oeste com o município de Macau, à sul com os municípios de Jandaíra e Pedro Avelino e à
norte com o Oceano Atlântico (Figura 1).

Figura 1: Localização da área de estudo. Fonte: IBGE (2017). Elaboração cartográfica dos autores,
2018.

O município de Galinhos foi fundado em 26 de março de 1963, pela Lei Nº 2.838,


desmembrado do município de São Bento do Norte (IBGE, 2018). Segundo dados do Censo
Demográfico de 2010 do IBGE o município possui 2.159 habitantes e com previsão de
crescimento em 2018 para 2.715 habitantes, uma densidade demográfica de 6.31
habitantes/km².

O clima da área em tela é considerado um tipo muito quente e semiárido, com período
chuvoso de março a junho e de temperatura média de 26,8º C. A formação vegetal é
predominantemente de caatinga hiperxerófila, áreas de manguezais e vegetação de restinga. Em
112
relação aos solos, há o predomínio de Neossolos Quartzarênicos com associações de Argissolo
Vermelho Amarelo e Gleissolos Sálicos.
A geomorfologia é caracterizada por um relevo de baixa altitude e que contém as
seguintes unidades: tabuleiros costeiros, tabuleiros interiores, campos de dunas, planície flúvio-
marinha, praia marinha e vale lacustre. No que cerne à caracterização geólogica são encontradas
as seguintes unidades: Grupo Barreiras, Formação Jandaíra, Depósitos aluvionares, Depósitos
de mangue, Depósitos eólicos litorâneos vegetados e não vegetados e Depósitos flúvio-
marinhos (LIMA, 2004). Quanto aos recursos hídricos, o município está inserido na Faixa
Litorânea Norte de Escoamento Difuso, sendo banhado e drenado pelos rios Camurupim, do
Tomás, Catanduba, Volta do Sertão e Galinhos, pelos riachos do Mutuca, Tubibau, do Boi, do
Cabelo e Santa Maria (IDEMA, 2008).

Procedimentos metodológicos

Os materiais e métodos utilizados para o desenvolvimento do presente manuscrito são


os seguintes: a) levantamento documental de acervo bibliográfico acerca da temática analisada
e definição da metodologia a ser aplicada à área de estudo; b) levantamento, análise e
organização de base cartográfica existente; c) adequação ao recorte da escala cartográfica e
escala de análise da pesquisa por meio de Sistema de Informação Geográfica; d) Interpretação
da base cartográfica integrando os componentes ambientais; e) Utilização de Aeronave
Remotamente Pilotada – ARP, para tomada de fotografias aéreas da área de estudo; f)
levantamentos de campo e aplicação de ficha técnica e g) Delimitação dos sistemas ambientais,
indicando as suas potencialidades e limitações, além de considerar o potencial ecológico,
exploração biológica e a ação antrópica.
O material cartográfico utilizado para a execução dos mapas foram: imagens
WorldView 2 disponíveis nos mapas base do software ArcMap 10.6 (Versão de avaliação) e
mosaico de imagens do Google Earth, datadas de junho de 2016; Dados altimétricos do radar
SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), disponíveis em http://www.dsr.inpe.br/topodata/,
cena 05S375RS e EMBRAPA Relevo (MIRANDA, 2005), folha SB-24-X-D com escala de
1:250.000 e que se referem ao Modelo Digital de Elevação (MDE) para a área de estudo;
Limites municipais do estdo do Rio Grande do Norte em escala de 1:100.000 disponíveis no
sítio do IBGE (2017); Mapa geológico folhas Macau e Jandaíra em escala de 1:100.000
elaborada pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM); Dados digitais dos mapas de
Geomorfologia, Solos, Vegetação e Hidrografia em escala de 1:250.000 disponíveis no sítio do
IBGE (2017); Fotografias aéras utilizando Aeronave Remotamente Pilotada (ARP),
113
popularmente denominado de drone, modelo DJI Phantom 3 PRO e Ficha técnica de campo
para caracterização ambiental (geomorfologia, geologia, solos, hidrografia, vegetação),
macrozoneamento geoambiental, processos morfogenéticos e pedogenéticos, vulnerabilidade
ambiental e identificação dos sistemas ambientais (Figura 2).

Figura 2: Fluxograma dos procedimentos técnicos e metodológico para o mapeamento dos sistemas
ambientais do município de Galinhos/RN. Fonte: Elaborado por ROCHA, 2018.

A síntese do material cartográfico através dos Sistemas de Informação Cartográfica


(SIG) permitiu uma análise prévia das condições da área de estudo e consequentemente uma
análise integrada dos componentes, permitindo a identificação dos sistemas ambientais
(geocomplexos) e subsistemas ambientais (geofácies).
O mapeamento dos sistemas ambientais (geossistemas) foi realizado com base em
Cestaro et. al. (2007) e dos subsistemas ambientais (geofácies) através dos levantamentos de
campo e organização de material cartográfico em escala compatível de 1:10.000, a partir de
imagens de alta resolução e organização de material fotográfico para o acervo da pesquisa.
A classificação taxonômica e identificação dos sistemas ambientais foi realizada com
base nos pressupostos teórico-metodológicos de Bertrand (2004; 2007), Tricart (1977),
Sotchava (1977), Christofoletti (1999), Monteiro (2000), Ross (2006), Souza (2000; 2015),
Silva (2018) e Cestaro et. al. (2007).

114
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Aspectos conceituais acerca dos sistemas ambientais

Acerca da Teoria Geossistêmica, Christofoletti (1999) acena que a Geografia Física, tem
como um dos seus escopos a compreensão dos sistemas ambientais físicos, ou geossistemas.
De acordo com Christofoletti (1999, p. 41):

Como a expressão concreta na superfície terrestre constitui a relevância espacial para


a análise geográfica, torna-se necessário que os componentes do geossistema surjam
ocupando terroitórios, que sejam visualizados em documentos tais como fotos aéreas,
imagens de radar e de satélites e outros documentos, sendo sensíveis à observação
visual.

Nesse sentido, os elementos ambientais, preenchem os requisitos de identificação e


caracterização do geossistema, por meio da topografia, da vegetação, dos solos, da hidrografia
e do clima, mesmo sendo um componente que não é visível, mas é materializado na superfície
terrestre (CHRISTOFOLETTI, 1999).
Souza (2000) considera que, o estudo dos geossistemas, a partir do pensamento
sistêmico, contribuem com uma série de informações para uma análise integrada do meio
ambiente, corroborando com a identificação dos elementos que compõem tais sistemas, seus
atributos e suas potencialidades e limitações.
Já Monteiro (2001), compreende o geossistema como um sistema singular e complexo,
onde há a interação dos elementos humanos, físicos, químicos e biológicos, incluindo também
os sistemas socioeconômicos. Os sistemas socioeconômicos, de acordo com Christofoletti
(1999, p. 43) “entram como inputs e interferem nos processos e fluxos de matéria e energia,
repercurtindo inclusive nas respostas da estruturação espacial geossistêmica”.
Notório apontar as contribuições de Tricart (1977), a partir da concepção ecodinâmica,
que permite a análise da estabilidade dos sistemas ambientais através de três categorias, a saber:
a) ambientes estáveis; b) ambientes intergrades ou de transição e c) ambientes fortemente
instáveis.
De acordo com Souza (2000, p.7), “através dos meios estáveis, de transição e fortemente
instáveis, viabiliza-se a possibilidade de avaliar as condições de sustentabilidade dos
geossistemas”. A teoria ecodinâmica de Tricart (1977), contribuiu consideravelmente para os
estudos de vulnerabilidade ambiental dos sistemas ambientais, baseado nas limitações e
potencialidades de uso dos recursos naturais.
No cerne da definição de sistema ambiental, Christofoletti (1999, p. 42), considera que:

115
Os sistemas ambientais físicos representam a organização espacial resultante da
interação dos elementos componentes físicos da natureza (clima, topografia, rochas,
águas, vegetação, animais, solos) possuindo uma organização (sistema) composta por
elementos, funcionando através dos fluxos de energia e matéria, dominante numa
interação areal.

Segundo Tricart (1977), os estudos e análises dos sistemas ambientais não são isoladas,
consideram as partes como um todo, dessa forma, os sistemas ambientais caracterizam
organizações que visam as interações da natureza como um todo.
Os sistemas ambientais, são entendidos para Rodriguez e Silva (2013) como sendo as
categorias do ecossistema humano, possuindo vários níveis organizacionais e com diversos
graus de complexidade, abrangendo as relações entre os fenômenos naturais e os sociais.
No prisma das definições de sistemas ambientais a partir da perspectiva sistêmica, Souza
(2015) entende que os sistemas ambientais são integrados por diversos componentes inter-
relacionados, permanentemente propensos às trocas de matéria e de energia. Os componentes a
que o autor se refere, são caracterizados como suporte (litotipos, geoformas e águas
subterrâneas), envoltório (clima e águas superficiais) e cobertura (solos e biodiversidade).
Diante das ideias expostas, é observado que há uma consonância na definição dos
sistemas ambientais, onde é preconizada uma análise integrada dos componentes ambientais e
sociais, a troca de energia e máteria no sistema, bem como um entendimento da complexidade
da análise.
Para evidenciar a compreensão os sistemas ambientais, Christofoletti (1999) acena que
a hierarquização das unidades de paisagem, configura um elemento crucial em detrimento da
necessidade da definição da escala análise, seja do lugar até a escala do globo terrestre.
A escola francesa dos geossistemas, preconizada por Bertrand (2004) definiu os
geossistemas considerando os elementos socioeconômicos e biogeográficos de acordo com a
sua escala de análise e o tempo, desse modo, há uma hierarquização das unidades de paisagem,
a saber: zona, domínio, região natural, geossistema, geofácies e geótopo.
No que tange ao processo de hierarquização da paisagem, Bertrand (2004; 2007), com
base nas ordens de grandeza de A. Cailleux e Jean Tricart delimitou as unidades de paisagens
descritas no Quadro 1.

Quadro 1: Unidades taxonômicas da paisagem de acordo com (1) Bertrand, (2) Cailleux e Tricart (1956),
(3) Diniz et. al. (2015) e (4) Autores.

Unidades da Escala Cartografia da Paisagem³ Exemplo de unidade de paisagem em


Paisagem¹ temporo- Galinhos4
espacial²

116
Zona G. I Acima de 1/10.000.000 Intertropical

Domínio G. II Entre 1/10.000.000 e Domínio das Depressões Interplanálticas e


1/1.000.000 Intermontanas Semiáridas

Região Natural G. III Entre 1/1.000.000 e Planícies Costeira


1/250.000

Geossistema* G. IV-V Entre 1/250.000 e Tabuleiro costeiro


1/50.000

Geofácies G. VI Entre 1/50.000 e 1/10.000 Mangue

Geótopo G.VII Maior que 1/5.000 Lagoas interdunares (campos de dunas)

* A noção de geocomplexo fora proposta como uma atualização conceitual do termo geossistema por
Bertrand (2007), para uma apropriação efetiva da classificação taxonômica de paisagens.
Fonte: Organizado pelos autores, 2018.

Caracterização dos sistemas ambientais

A delimitação dos sistemas e subsistemas ambientais considerou o critério


geomorfológico como elemento fundamental, tendo em vista que a identificação das feições
geomorfológicas é realizada a partir de seus limites.

Conforme Souza (2015), para a delimitação dos sistemas ambientais toma-se por base
o critério geomorfológico como elemento integrador do contexto geoambiental, como
referência à compartimentação topográfica e às feições morfoesculturais. No entendimento de
Souza (2015, p. 162) “a denominação dos sistemas deve ser feita com base em topônimos do
relevo ou da literatura geomorfológicas”.

A caracterização dos sistemas ambientais sob a égide da análise integrada e sistêmica,


se configura como um dos métodos de compreensão do espaço geográfico, corroborada pelas
contribuições proporcionadas pelos estudos dos geossistemas, no que cerne à compreensão do
funcionamento da natureza e aos subsídios do planejamento ordenado e racional dos recursos
naturais dentro de suas limitações e potencialidades, de acordo com os preceitos do
desenvolvimento sustentável.

Desse modo, compreende-se que a análise integrada dos elementos ou componentes


ambientais (geologia, geomorfologia, solos, hidrografia, clima, vegetação), apoiado pelas
ferramentas de geotecnologias (sensoriamento remoto, SIG’s e processamento digital de
imagens), contribuem sobremaneira para a análise da degradação ambiental, assim como, para
soluções que corroboram para o planejamento do uso racional dos recursos.

117
Nesse contexto, a partir dos pressupostos da análise geoambiental de Souza (2000) e da
hierarquização dos geossistemas e dos geofácies de acordo com Bertrand (2004; 2007) e a
proposta de Cestaro et. al. (2007) e Silva (2018), Galinhos encontra-se subdividida da seguinte
forma: Geossistemas (ou Geocomplexos): Duna; Manguezal e apicum; Praia marinha;
Tabuleiro semiárido costeiro, Tabuleiro semiárido interior e Vale lacustre; Geofácies: Estuário
Galinhos-Guamaré; Lagoas interdunares; Tanque de Carcinicultura-Salinas, Agricultura
permanente em tabuleiro semiárido costeiro e tabuleiro semiárido interior; Agricultura
temporária em tabuleiro semiárido costeiro e tabuleiro semiárido interior; Dunas móveis e
Dunas semifixas; Manguezal; Planície Hipersalina e Parque Eólico (Quadro 2 e Figuras 3 e 4).

Quadro 2: Sistemas e subsistemas ambientais do município de Galinhos

Região ou Domínio Geossistemas (Sistemas Geofácies (Subsistemas ambientais)


Natural Ambientais)

Agricultura Permanente em tabuleiro semiárido


costeiro
Tabuleiro Semiárido Costeiro
Agricultura Temporária em tabuleiro semiárido
costeiro
Tabuleiro Áreas Urbanas (Assentamento humano)

Tabuleiro Semiárido Interior Agricultura Permanente em tabuleiro semiárido


interior

Agricultura Temporária em tabuleiro semiárido


interior

Praia Marinha Praia Marinha

Duna móvel

Duna semifixa

Planície Costeira Duna Lagoas interdunares

Parque eólico em campos de dunas

Áreas Urbanas em campos de dunas

Manguezal (Floresta Mangue)

Planície Flúvio- Manguezal e Apicum Planície hipersalina (apicum)


Marinha
Tanque de carcinicultura – Salina

Vale Fluvial Estuário Galinhos-Guamaré

Fonte: Organizado pelos autores, 2018.

118
Figura 3: Geossistemas (Sistemas Ambientais) do município de Galinhos. Fonte: Elaboração
cartográfica dos autores, 2018.

Figura 4: Geofácies (Subsistemas Ambientais) do município de Galinhos. Fonte: Elaboração


cartográfica dos autores, 2018.

119
Sistema ambiental Tabuleiro Semiárido Interior.

No município de Galinhos os tabuleiros são representados por um relevo plano a


suavemente ondulado, cujas cotas altimétricas não ultrapassam os 100 metros de altitude. No
contexto geológico se encontram unidades do grupo Barreiras e da Formação Jandaíra.
No que cerne aos aspectos de vegetação há o predomínio de vegetação de caatinga,
definida por Cestaro et. al. (2007) como Savana estépica florestada e arborizada. Quanto aos
tipos de solos predominantes, se encontram Latossolos e argissolos, com ocorrência de
cambissolos e chernossolos, o que conferem uma tendência à estabilidade ambiental, conforme
os preceitos de Tricart (1977). As condições favoráveis à percolação da água imprimem uma
drenagem interna excessiva que acentua os efeitos de lixiviação e limita o trabalho erosivo em
áreas vegetadas.
Nesse Geossistema, os geofácies observados são: áreas de agricultura permanente e
temporária e áreas de tabuleiro onde há a presença de vegetação nativa (Figura 5).

Tabuleiro interior com


vegetação nativa de
caatinga

Área de agricultura
permanente em Tabuleiro
Interior

Figura 5: Sistema ambiental de Tabuleiro Semiárido Interior Fonte: Acervo dos Autores, 2018.

As limitações desse sistema ambiental podem ser listadas da seguinte forma: a)


irregularidade pluviométrica; b) profundidade de águas subterrâneas. Entre as potencialidades
podem ser destacadas: a) Biodiversidade, b) potencial à agricultura irrigada, c) expansão
urbana; d) extrativismo vegetal e e) topografias favoráveis. Há também a observância de alguns
problemas ambientais como a tecnologia agrícola rudimentar, acentuamento dos processos
erosivos dos solos em áreas não vegetadas; agricultura com poucos incentivos e deficiência ou

120
inexistência de práticas de educação ambiental, pois são encontrados restos de lixos espalhados
às margens das principais vias de acesso.

Sistema ambiental Tabuleiro Semiárido Costeiro

A feição geomorfológica dos Tabuleiros Costeiros está associada às sequências do


Grupo Barreiras e às coberturas arenosas de espraiamento, as quais são caracterizadas por
inconformidades erosivas, além disso possui baixa estatura altimétrica, não ultrapassando os 50
metros de altitude. Seus terrenos são caracterizados por serem planos e suavemente ondulados,
onde há ocorrência de solos do tipo neossolos quartzarênicos e argissolos (CESTARO et. al.,
2007). A vegetação encontrada nesse sistema ambiental é do tipo savana estépica arborizada,
vegetação de caatinga nativa e densa, demonstrando a pouca ação antrópica em diversos pontos
de sua extensão.
Segundo Silva (2018) são áreas onde há pouca ação antrópica, assim como, são
considerados ambientes de transição com as áreas de planície flúvio-marinha, no que se refere
à estabilidade do ambiente proposta por Tricart (1977), tais ambientes possuem uma relação
morfogênese/pedogênese em desequilíbrio, ou seja, são ambientes de transição entre
estabilidade e instabilidade. Na área de estudo em tela não há situação de cidades de pequeno
porte nesse sistema ambiental, há apenas um projeto de assentamento do INCRA, denominado
de Assentamento Barrocão, onde habitam poucas famílias.
Os geofácies situados nesse sistema ambiental são: áreas de agricultura temporária em
tabuleiro costeiro, áreas de agricultura permanente em tabuleiro costeiro e assentamento
humano, além de áreas de vegetação de caatinga nativa (Figura 6).

Tabuleiro Costeiro com áreas


Planície flúvio- de vegetação nativa e
marinha/Tanque de lagos/corpos d’água naturais
carcinicultura-salina

Figura 6: Sistema ambiental de Tabuleiro Semiárido Costeiro, detalhe para a transição de ambientes
Fonte: Acervo dos Autores, 2018.
121
Suas potencialidades e limitações são similares aos tabuleiros semiáridos interiores,
entretanto, é necessário considerar que é um ambiente de transição e as ações antrópicas podem
potencializar alguns processos, por exemplo, os processos erosivos que já ocorrem
naturalmente em detrimento das condições climáticas do ambiente.

Sistema ambiental Praia Marinha


O sistema ambiental Praia Marinha é representado geologicamente pelos depósitos de
sedimentos praiais, o quartzo é o mineral predominante na composição dos sedimentos, com
textura arenosa e granulometria média a grossa. Os depósitos de praia, são áreas que sofrem
ações das ondas, correntes e marés, ou seja, estão inseridas em uma área de constante dinâmica
(Figura 7).

Figura 7: Sistema ambiental Praia Marinha. Fonte: Acervo dos Autores, 2018.

Os solos predominantes são os neossolos quartzarênicos e a feição geomorfológica


encontrada nessa unidade geoambiental é a planície marinha, dividida em estirâncio e berma
(CESTARO et. al, 2007). A planície marinha tem suas feições modificadas em decorrência das
forças das ondas e marés.
Na classificação ecodinâmica de Tricart (1997), o sistema ambiental em tela é um
ambiente fortemente instável, tanto pelas suas características naturais, quanto pela ocupação
humana, especialmente na área em que está situada a sede municipal da área de estudo.
Dentre as potencialidades desse sistema ambiental podemos destacar o patrimônio
paisagístico; turismo e lazer e ecoturismo; as limitações destacadas são as seguintes:
ecodinâmica desfavorável; alta suscetibilidade à erosão (principalmente erosão eólica);
restrições legais (legislação vigente) para uso e ocupação do solo.

122
Sistema ambiental Dunas

As dunas fixas e semifixas são no geral cobertas por vegetação, apresentando um relevo
ondulado e originárias das condições climáticas e variações do nível do mar. Considera-se
também que as dunas fixas surgiram a partir de períodos de regressão do nível do mar e em
condições climáticas do tipo árido a semiárido, sendo as superfícies de areia modeladas e
mobilizadas pelos ventos em direção ao continente (GRIGIO, 2003).
As dunas móveis se formam através da acumulação de sedimentos, que tem sua origem
nas praias, onde os sedimentos são depositados pela ação eólica e pela influência das marés;
são caracterizadas por não possuir cobertura vegetal, fator que facilita o deslocamento dos
sedimentos (SILVA, 2018). Quanto ao contexto geológico o sistema ambiental de dunas está
predominantemente situado em depósitos eólicos litorâneos e no grupo Barreiras.
Os campos de dunas são formados por areias incosolidadadas, refletindo o predomínio
de neossolos quartzarênicos e também presença de matéria orgânica nas áreas de lagoas
interdunares (CESTARO et. al. 2007). A vegetação que ocorre nesse sistema ambiental é do
tipo restinga arbustiva e restinga arbórea.
Nesse sistema ambiental estão situados os seguintes geofácies mapeados: áreas urbanas,
representadas pela sede municipal de Galinhos e o distrito de Galos (Figura 8); Dunas Móveis
e Dunas Semi-fixas (com cobertura total ou parcial de vegetação); Praia Marinha; Parque eólico
e Lagoas Interdunares.

Praia marinha
Dunas Fixas

Sede Municipal

Figura 8: Sistema ambiental de Dunas – Sede Municipal de Galinhos. Fonte: Acervo dos Autores,
2018.
123
No sistema ambiental de dunas está situado um parque eólico, reflexo de uma das formas
mais recentes de uso e ocupação do município, tal empreendimento dito de baixo “impacto
ambiental” tem suas intalações em áreas de dunas móveis e semifixas e lagoas interdunares, o
que requer uma atenção maior de acordo com a lei ambiental vigente (Figura 9). A instalação
de parques eólicos em campos dunares é impulsionada pelo potencial eólico existente no Rio
Grande do Norte, assim como, a noção de geração de energia “limpa e sustentável” (CERNE,
2014). Conforme mencionado anteriormente, há uma necessidade de uma maior atenção às
formas de uso dos recursos naturais, sendo nesse contexto, os estudos de sistemas ambientais
importantes recursos para o planejamento ambiental e ordenamento do território.

Tanque de
carcinicultura/Salina Lagoas interdunares

Parque Eólico
Dunas Móveis

Figura 9: Sistema ambiental de Dunas, Detalhe para o Parque eólico e Salina ao horizonte da imagem.
Fonte: Acervo dos Autores, 2018.

No que cerne à classificação ecodinâmica de Tricart (1977) e em relação dos


componentes ambientais desse sistema, ele é caracterizado por ser um ambiente fortemente
instável, especialmente as dunas móveis, o que lhe confere um grau de vulnerabilidade alta.
Dentre os problemas ambientais visualizados nesse sistema ambiental, destacam-se a
degradação da biodiversidade; potencial erosivo dos solos; desequilíbrio ecológico causado
pelo uso dos recursos; degradação do patrimônio natural, histórico e cultural, principalmente
dos campos de dunas que possuem potencial paisagístico; represamento e desvio de água
(especialmente das lagoas interdunares) dos lençóis freáticos em momento de extravasamento.

124
Destaca-se como potencialidades para o sistema ambiental em tela os seguintes
elementos: águas superficiais e subterrâneas; a biodiversidade tendo em vista os ecossistemas
encontrados no município; turismo e lazer (atividade já realizada pelos moradores do
município) e o ecoturismo, como forma de aproximação e compreensão da complexidade da
relação sociedade-natureza.
O referido sistema ambiental possui algumas limitações, com relação aos seus
componentes ambientais e da ação antrópica, considerando os preceitos do Código Florestal
Brasileiro (BRASIL, 2012); Ecodinâmica desfavorável; Solos com baixa fertilidade;
Irregularidade pluviométrica; Degradação avançada dos recursos naturais (uso e ocupação do
solo); Processos erosivos ativos (erosão eólica); Alta suscetibilidade à erosão e o Descompasso
entre a capacidade produtiva dos recursos naturais e sua recuperação ou restauração.

Sistema ambiental de manguezais e planícies hipersalinas (apicuns)

O sistema ambiental de manguezais é caracterizado pela presença de floresta de mangue


(geofácie), bancos de lama e salgados, formados por siltes e argilas inconsolidados, além de
matéria orgânica, ocorrem principalmente os solos do tipo gleissolos sálicos (CESTARO et. al.,
2007).
Além disso, ocorrem também os apicuns (planície hipersalina/geofácie), caracterizado
por um relevo aplainado denominado de terraço, sendo o seu tipo de solo predominante os
gleissolos sálicos, sua vegetação é caracterizada por ser arbustiva e podendo ter ocorrência de
carnaubais (CESTARO et. al., 2007). Ambos os ambientes estão situados no contexto
geológico de depósitos de mangue e incluídos no sistema estuarino Galinhos-Guamaré.
No que se refere à estabilidade ambiental de Tricart (1977), estes sistemas ambientais
podem ser considerados como meios intergrades e tendem à moderada vulnerabilidade do
ambiente. Os geofácies situados nesses geossistemas são: os manguezais; os tanques de
carcinicultura/salina (anteriormente formadas pelo mangue) e os apicuns (planície hipersalina)
(Figura 10).

125
Resquícios da vegetação
de mangue conservada no
Tanque de
estuário
carcinicultura/salina
Galinhos/Guamaré
em áreas de manguezal
e apicum

Figura 10: Sistema ambiental de Manguezais e Apicuns. Fonte: Acervo dos Autores, 2018.

Nas áreas de mangue e planície de maré ocorrem algumas das principais atividades
econômicas do município de Galinhos, a carcinicultura (cultivo de crustáceos) e a produção
salineira, sendo o município em tela parte da maior região de produção de sal no país. Pelo
ponto de vista ambiental, essas áreas possuem níveis de degradação consideráveis, o que
corrobora para os seus principais problemas ambientais observados em campo, elencados da
seguinte forma: degradação da biodiversidade; desequilíbrio ecológico; em alguns pontos o
desconhecimento da legislação ambiental vigente; poluição dos solos e recursos hídricos com
agentes químicos e/ou combustíveis e deficiência ou inexistência de práticas de educação
ambiental.
Dentre as potencialidades desses sistemas ambientais podemos destacar: a
biodiversidade; o patrimônio paisagístico por fazer parte da história do município; potencial
para turismo e lazer e ecoturismo. As suas limitações são: restrições legais, vide lei ambiental
vigente, por exemplo, Lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012 (Código Florestal); Ecodinâmica
desfavorável ao uso e ocupação; Solos de baixa fertilidade; Irregularidade pluviométrica, alta
suscetibilidade aos processos erosivos, poluição por agentes químicos oriundos das salinas e da
indústria de crustáceos.

Sistema ambiental Vale Fluvial

O sistema ambiental Vale Fluvial é composto pelo estuário Galinhos-Guamaré que é


integrado pelos rios Camurupim, Catanduba, Galinhos, Pisa-Sal, Pratagil, Tomás e riacho
Tubibau (Figura 11). Os rios supracitados desembocam no Oceano Atlântico, desse modo o

126
estuário tem influência das ações da maré, controlando as variações de preamar e baixa-mar
(IDEMA, 2003).

Sede municipal Sistema ambiental de Sistema Ambiental Vale


de Galinhos Manguezal e Apicum Fluvial (Estuário
Galinhos-Guamaré)

Figura 11: Sistema ambiental Vale Fluvial. Fonte: Acervo dos Autores, 2018.

Este sistema ambiental tem como unidade geológica os depósitos flúvio-lagunares,


situados nas planícies de maré e nos depósitos de mangue, compõe-se basicamente por quartzo.
Quanto às feições geomorfológicas, o sistema ambiental engloba as planícies de inundação que
são caracterizadas por áreas sujeitas às ações das marés, solos com altos níveis de salinidade
(gleissolos sálicos). As formações vegetais observadas estão às margens do sistema estuarino,
com domínio dos manguezais ao sul da sede municipal de Galinhos.
Destacam-se como potencialidades a este sistema ambiental a biodiversidade existente
nos manguezais às suas margens, o patrimônio paisagístico, o ecoturismo, o turismo e lazer,
como forma de incentivar as visitas ao município e conhecer seu patrimônio natural, histórico
e cultural. Dentre as limitações pode-se citar a ecodinâmica de Tricart (1977) desfavorável;
restrições legais em concordância com a lei vigente, por exemplo atividades em área de
preservação permamente; degradação dos recursos naturais por meio da poluição dos recursos
hídricos por produtos químicos e rejeitos oriundos das atividades salineiras e carcinicultura,
quando não tratados adequadamente.

127
CONCLUSÕES

O município de Galinhos é compreendido por uma variedade das unidades de paisagem,


permitindo um grande potencial de desenvolvimento de estudos especializados. Além disso, as
unidades de paisagem refletem as suas formas de uso e ocupação, bem como suas limitações e
potencialidades.
A partir da caracterização dos sistemas ambientais e com base nas contribuições dos
estudos de referência para o estado do Rio Grande do Norte, foi possível a compartimentação
dos sistemas ambientais de Galinhos, a saber: Geossistemas (ou Geocomplexos): Duna;
Manguezal e apicum; Praia marinha; Tabuleiro semiárido costeiro, Tabuleiro semiárido interior
e Vale Fluvial; Geofácies: Estuário Galinhos-Guamaré; Lagoas interdunares; Tanque de
Carcinicultura-Salinas, Agricultura permanente em tabuleiro semiárido costeiro e tabuleiro
semiárido interior; Agricultura temporária em tabuleiro semiárido costeiro e tabuleiro
semiárido interior; Dunas móveis e Dunas semifixas; Manguezal; Planície Hipersalina e Parque
Eólico.
Diante desses expostos, o presente manuscrito, também permitiu o entendimento da
interface da relação sociedade-natureza, no que diz respeito ao uso racional dos recursos
naturais que compõem os sistemas ambientais identificados, considerando suas limitações e
potencialidades.
É sabido que as ações antrópicas se configuram em um dos processos que atenuam a
degradação ambiental, desse modo, estudos que englobam uma perspectiva sistêmica e
integrada permitem a elaboração de propostas para um uso sustentável e planejamento
ambiental e territorial das referidas áreas de estudo, bem como estudos de vulnerabilidade
ambiental, sob a égide da teoria Ecodinâmica. Nesse contexto, as propostas de um uso racional
dos recursos em conformidade de suas potencialidades e limitações de uso e ocupação,
permitem uma redução dos processos de degradação ambiental e também uma recuperação das
áreas degradadas, em conformidade com os preceitos do desenvolvimento sustentável.
Como forma de representação espacial e elaboração de um trabalho detalhado, é mister,
apontar que o uso dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG’s) e das Aeronaves
Remotamente Pilotadas (ARP’s) permitem grandes contribuições para a compreensão e
integração dos dados, além de levantamento detalhados de dados primários por meio dos
trabalhos de campo, assim como a elaboração de mapas sistemáticos e sintéticos que integrem
as variáveis geoambientais, enfatizando os padrões de uso e ocupação e as potencialidades e
limitações dos sistemas ambientais.

128
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130
CAPÍTULO 2: IDENTIFICAÇÃO DA VULNERABULIDADE AMBIENTAL DO
MUNICÍPIO DE GALINHOS/RN

(Formatado de acordo com as recomendações da Revista Sociedade e Natureza de QUALIS

A2 em Ciências Ambientais e A1 em Geografia/Manuscrito a ser submetido após a Defesa de

Dissertação de Mestrado)

131
DOI: http://dx.doi.org/10.010101/XXXXX2017-X

IDENTIFICAÇÃO DA VULNERABILIDADE
AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE
GALINHOS/RN
Identification of environmental vulnerability in the municipality of
Galinhos/RN
Dyego Freitas Rocha1
Lutiane Queiroz de Almeida2
Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa²

Resumo
O presente artigo tem o objetivo de identificar os graus de vulnerabilidade
ambiental no município de Galinhos (RN), conhecida pelas suas belezas
naturais e exploração de sal. A partir disso, o estudo gerou os mapas
temáticos de geologia, geomorfologia, solos, vegetação e uso e ocupação do
solo como base da identificação da vulnerabilidade ambiental. A
determinação dos graus de vulnerabilidade foi gerada a partir de equações
algébricas para o cruzamento dos dados em ambiente SIG, utilizando a
ferramenta “raster calculator”. As bases conceituais se baseiam no princípio
da Ecodinâmica que define os graus de estabilidade do meio ambiente. Os
resultados obtidos pela geração dos mapas de vulnerabilidade natural e
vulnerabilidade ambiental, permitiram identificar as áreas com maior
pressão antrópica e os tipos de uso e ocupação da terra.
Palavras-chave: Vulnerabilidade Natural. Vulnerabilidade Ambiental.
Sistemas de Informação Geográfica.

Abstract
The present article aims to identify the degrees of environmental
vulnerability in the municipality of Galinhos (RN), known for its natural
beauties and salt exploitation. From this, the study generated the thematic
maps of geology, geomorphology, soils, vegetation and land use and
occupation as the basis of the identification of environmental vulnerability.
The determination of the degrees of vulnerability was generated from
algebraic equations to cross the data in a GIS environment, using the raster
calculator tool. The conceptual bases are based on the principle of
Ecodynamics that defines the degrees of stability of the environment. The
results obtained by the generation of maps of natural vulnerability and
environmental vulnerability, allowed to identify areas with greater
anthropic pressure and types of land use and occupation.
Keywords: Natural Vulnerability. Environmental Vulnerability.
Geographic Information Systems.

1Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil. dyegofreitasrocha@gmail.com


Artigo recebido em: XX/XX/XXXX. Aceito para publicação em: XX/XX/XXXX.

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Soc. Nat. | Uberlândia, MG | v.23 | n.1 | p.14-23 | jan./abr. 2017 | ISSN 1982-4513
Introdução

A partir da década de 1972 e da Conferência Internacional sobre o Meio


Ambiente, costumeiramente chamada de ECO-92, as preocupações com as
vertentes ambientalistas voltaram-se ao entendimento do conceito de
“desenvolvimento sustentável” e que o homem é um componente importante
do meio ambiente. Esta perspectiva reforçou a necessidade da compreensão
das relações sociedade-natureza, tanto pelas suas contradições quanto pelas
suas interrelações.
Desse modo as questões ambientais têm entrado no centro das
discussões nas últimas décadas, especialmente em detrimento do
agravamento dos problemas ambientais oriundos das ações do homem, seja
ele representado pela sociedade civil ou pelas instituições públicas e privadas.
Há uma demanda exponencial dos recursos naturais, desconsiderando muitas
vezes as suas limitações e potencialidades, quanto às suas características
ecológicas e dinâmicas e os estudos ambientais dão suporte a uma maior
preocupação em utilizar-se racionalmente dos recursos disponíveis na
natureza e a uma compreensão da dinâmica inerente à natureza.
As zonas costeiras, em especial a nordestina, a ocupação ocorre durante
vários séculos, sendo identificados como principais atividades econômicas
existentes a cana-de-açúcar, a carcinicultura, a pecuária e mais recentemente
as centrais geradoras eólio-elétricas, contribuindo para uma intensificação da
degradação ambiental (OLIVEIRA & MATTOS, 2014).
O termo vulnerabilidade é definido por Veyret (2007) como a magnitude
de um impacto previsível de um acontecimento possível e sua probabilidade
de ocorrência sobre determinados alvos (pessoas, estruturas físicas, sistemas
ambientais ou o meio ambiente como um todo). Segundo a autora a
vulnerabilidade pode ser dividida em humana, socioeconômica e ambiental,
sendo a última a classe norteadora desta pesquisa.

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Soc. Nat. | Uberlândia, MG | v.23 | n.1 | p.14-23 | jan./abr. 2017 | ISSN 1982-4513
A vulnerabilidade ambiental é definida por Tagliani (2003) como o
maior ou menor grau de susceptibilidade de um determinado ambiente aos
impactos ambientais oriundos de ações antrópicas. Acerca do termo
susceptibilidade, de acordo com Grigio (2003), se refere à possibilidade de se
modificar ou adquirir características diferentes das que tinha inicialmente.
Toda vulnerabilidade se refere a um perigo, que deve ser considerado
em termos tanto de suas características próprias quanto de sua probabilidade
de ocorrência. A equação envolve a relação com a capacidade de dar resposta
ao perigo, seja absorvendo seu impacto, adaptando-se, mitigando seus efeitos
ou evitando-o (MARANDOLA JR. 2009).
Nesse contexto, Veyret (2007) reitera que
[...] A capacidade de um sistema complexo (uma cidade, por exemplo)
para se restabelecer e melhorar sua reatividade após uma catástrofe
é hoje levada em conta na determinação da vulnerabilidade; é o que
se denomina resiliência, em referência à ecologia, que com esse
vocábulo define a capacidade de um sistema para se adaptar às
mudanças resultantes de uma crise e melhorar sua capacidade de
resposta tendo em vista catástrofes futuras (VEYRET, 2007, p. 42).

Assim, ser vulnerável é estar fisicamente exposto a uma álea


[acontecimento] (natural ou outra), é apresentar fragilidade diante
do sinistro (em razão por exemplo, de uma má qualidade das
construções, de um desconhecimento da álea, de elevadas
densidades humanas, [...] (VEYRET, 2007, p. 43)

Silva (2013), aponta que o conceito de vulnerabilidade ambiental


permite grandes contribuições teóricas, conceituais e metodológicas para as
análises, no que tange aos efeitos oriundos das possíveis ameaças em um
determinado ambiente.
Para a identificação da vulnerabilidade ambiental Villa e MacLeod
(2002), entendem que sua compreensão parte dos processos ambientais de um
determinado sistema, em função da conservação dos ecossistemas e da
resiliência de seu equilíbrio, abrangendo os impactos e danos ambientais com
as ações antrópicas e a exposição no meio ambiente.
Spörl (2007) explana que as alterações nos componentes naturais
interferem diretamente nos sistemas ambientais, acarretando em uma

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descaracterização da paisagem com ambientes de vulnerabilidade ambiental,
no que se refere à instabilidade.
Na concepção de Oliveira e Mattos (2014, p.161):
As relações dos fatores físicos, como as condições geológicas,
geomorfológicas, pedológicas e de cobertura vegetal natural indicam,
pela sua própria classificação, a vulnerabilidade natural, pois
desconsidera até aí, uma influência do homem como condicionante
das vulnerabilidades. A inserção de uma avaliação de uso e ocupação
do solo no sistema, atribui um peso considerável na ponderação das
vulnerabilidades, indicando aí um processo de análise “ambiental e
não somente “natural”.

As definições para o termo vulnerabilidade ambiental são múltiplas e


indicam um elemento em comum: a fragilidade de um sistema ambiental à
determinadas ações, sejam da própria natureza, quanto do homem, no cerne
do que já fora supracitado quanto as formas de uso e ocupação do solo e
utilização dos recursos naturais.
Sob o ideário da Teoria Geral dos Sistemas (TGS), Tricart (1977),
elaborou a teoria ecodinâmica, que se trata como uma das abordagens para
os estudos integrados dos sistemas ambientais, e se baseia no pensamento de
que na natureza as trocas de energia e matéria são possibilitadas através de
um equilíbrio dinâmico (ROSS, 1994).
Considerando a seguinte tríplice conceitual: biocenose, morfogênese e
pedogênese, Tricart (1997) propôs a classificação morfodinâmica dos sistemas
ambientais em três tipos: a) meios estáveis, b) meios de transição ou
intergrades e c) meios instáveis (Quadro 1).
Quadro 1. Classificação morfodinâmica dos sistemas ambientais

Preodomínio da pedogênese sobre a morfogênese com lenta


Meios estáveis evolução do modelado. A cobertura vegetal se mostra suficiente
para atenuar os processos mecânicos.

Representam uma transição gradual entre os meios estáveis e os


Meios de transição
meios instáveis, ocorrendo um equilíbrio na relação
ou integrades
morfogênese/pedogênese.
Predomínio da morfogênese na dinâmica ambiental, com
Meios instáveis características de instabilidade como resultado de causas naturais
ou da ação antrópica.
Org.: dos Autores, 2018.

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A análise da vulnerabilidade corrobora para uma identificação das
ameaças no território através de diversas escalas geográficas e em múltiplas
abordagens, compreender as mudanças espaciais.
Em Galinhos essas atividades ocupam em grande parte as faixas de
tabuleiro (fruticultura, pecuária e agricultura), assim como as grandes
extensões de manguezal (carcinicultura e salinocultura) e os campos de dunas
(sede municipal e parque eólico), permitindo um entendimento de que essas
áreas devem ser observadas em concordância com os seus diferentes graus de
vulnerabilidade.
A partir do exposto, o presente artigo tem o objetivo de identificar a
vulnerabilidade ambiental no município de Galinhos, por meio do uso de
Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e técnicas de sensoriamento remoto
e fotointerpretação. Os resultados obtidos com suporte de geoprocessamento,
através dos mapeamentos temáticos e cálculos algébricos, permitiram a
obtenção das categorias de vulnerabilidade ambiental da área de estudo em
tela.
Metodologia
Caracterização da área de estudo
A área de estudo do estudo em tela é o município de Galinhos, situada
na Mesorregião Central Potiguar e Microrregião de Macau, no litoral norte do
estado do Rio Grande do Norte, cerca de 166 Km de distância da capital Natal.
Sendo suas principais vias de acesso a BR-406, sentido Natal-Macau e a RN-
402. Limita-se à leste com o município de Caiçara do Norte, à oeste com o
município de Macau, à sul com os municípios de Jandaíra e Pedro Avelino e à
norte com o Oceano Atlântico (Mapa 1).

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Mapa 1 – Mapa de localização da área de estudo

Fonte: IBGE, 2017. Org.: cartográfica dos autores, 2018.

O município de Galinhos foi fundado em 26 de março de 1963, pela Lei


Nº 2.838, desmembrado do município de São Bento do Norte (IDEMA, 2008).
Segundo dados do Censo Demográfico de 2010 do IBGE o município possui
2.159 habitantes e com previsão de crescimento em 2018 para 2.715
habitantes, uma densidade demográfica de 6.31 habitantes/km² (IBGE, 2018).

O clima da área em tela é considerado um tipo muito quente e


semiárido, com período chuvoso de março a junho e de temperatura média de
26,8º C. A formação vegetal é predominantemente de caatinga hiperxerófila,
áreas de manguezais e vegetação de restinga. Em relação aos solos, há o
predomínio de Neossolos Quartzarênicos com associações de Argissolos
Vermelho-Amarelo e Gleissolos Sálicos (LIMA, 2004; Cestaro et. al., 2007).
A geomorfologia é caracterizada por um relevo de baixa altitude e que
contém as seguintes unidades: tabuleiros costeiros, tabuleiros interiores,
planície flúvio-marinha, vale lacustre, campos de dunas e praia marinha. No
que cerne à caracterização geólogica são encontradas as seguintes unidades:
Grupo Barreiras, Formação Jandaíra, Depósitos aluvionares, Depósitos de

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mangue, Depósitos eólicos litorâneos vegetados e não vegetados e Depósitos
flúvio-marinhos (CPRM, 2015; LIMA, 2004).
Quanto aos recursos hídricos, o município está inserido na Faixa
Litorânea Norte de Escoamento Difuso, sendo banhado e drenado pelos rios
Camurupim, do Tomás, Catanduba, Volta do Sertão e Galinhos, pelos riachos
do Mutuca, Tubibau, do Boi, do Cabelo e Santa Maria (IDEMA, 2008;
SEMARH, 2010).
Materiais e métodos
Os materiais e métodos utilizados para o desenvolvimento do presente
manuscrito são os seguintes: a) levantamento documental de acervo
bibliográfico acerca da temática analisada e definição da metodologia a ser
aplicada à área de estudo; b) levantamento, análise e organização de base
cartográfica existente; c) adequação ao recorte da escala cartográfica e escala
de análise da pesquisa por meio de Sistema de Informação Geográfica; d)
Interpretação da base cartográfica integrando os componentes ambientais e
antrópicos; e) Elaboração dos mapas de vulnerabilidade natural e ambiental.
O material cartográfico utilizado para a execução dos mapas foram:
imagens WorldView 2 disponíveis nos mapas base do software ArcMap 10.6
(Versão de avaliação) e mosaico de imagens do Google Earth, datadas de
junho de 2016; Limites municipais do estdo do Rio Grande do Norte em escala
de 1:100.000 disponíveis no sítio do IBGE (2017); Mapa geológico folhas
Macau e Jandaíra em escala de 1:100.000 elaborada pelo Serviço Geológico do
Brasil (CPRM); Dados digitais dos mapas de Geomorfologia, Solos, Vegetação
e Hidrografia em escala de 1:250.000 disponíveis no sítio do IBGE (2017);
Fotografias aéras utilizando Aeronave Remotamente Pilotada (ARP), modelo
DJI Phantom 3 PRO.
O mapa de Uso e Ocupação da Terra e Cobertura Vegetal foi elaborado
a partir da interpretação de imagens de satélite Sentinel 2ª e 2B, Landsat 8
Sensor OLS e mosaico de imagens georreferenciados do Google Earth PRO
fornecidas ao serviço pela Digital Globe (2018), Imagens Pleíades/CNES

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(2018), processadas em ambiente SIG e verificadas em campo para a
confirmação das classes de uso e ocupação como suporte à elaboração do mapa
de vulnerabilidade ambiental.
Para identificação e mensuração da vulnerabilidade ambiental da área
de estudo, foram utilizados os pressupostos teóricos-metodológicos de Ross
(1994), Crepani et. Al. (1996, 2001), Grigio (2003), Tagliani (2003), Costa et.
al. (2006), Silva (2013) e Oliveira e Mattos (2014).
As bases metodológicas mencionadas utilizam a noção de estabilidade
da paisagem da teoria Ecodinâmica elaborada por Tricart (1977) e dos
pressupostos operacionais elaborados por Crepani et. al. (2001), onde são
atribuídos pesos para cada categoria morfodinâmica, conforme Tabela 1.
Tabela 1. Categorias morfodinâmicas e valores de estabilidade das unidades da paisagem.

Categorias Características Consequências gerais para a Valor


conservação
Ambientes estáveis Prevalecimento da Manter uma cobertura vegetal de 1,0
pedogênese densidade equivalente à vegetação
climática para evitar degradação
Ambientes intergrades Equilíbrio entre Conservação da cobertura vegetal 2,0
pedogênese e densa ou sua melhoria
morfogênese
Ambientes instáveis Prevalecimento da Estabilização com trabalhos de 3,0
morfogênese correção, replantio da vegetação e
recuperação de áreas degradadas
Fonte.: Modificado de Tricart (1977). Modificado de Crepani et. al. (2001). Modificado de Oliveira e
Mattos (2014). Organizado pelo Autor, 2018.

A integração dos indicadores (temas) selecionados: geologia,


geomorfologia, solos, vegetação e uso e ocupação da terra, ocorreu conforme
modelos utilizados por Grigio (2003) e Costa et. al. (2006). Sendo a primeira
etapa o cruzamento dos temas geologia e geomorfologia e a segunda etapa o
cruzamento dos temas solos e cobertura vegetal e posteriormente cruzando os
produtos resultantes da primeira etapa e segunda etapa, formando o mapa de
vulnerabilidade natural. A quarta etapa consiste do cruzamento do mapa de
vulnerabilidade natural e o tema de uso e ocupação da terra. Para a
elaboração dos mapas de vulnerabilidade natural e ambiental, com base em
Grigio (2003) e Costa et. al. (2006), foi atribuída a seguinte equação:

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EQ 01: Vn = [Vg * Vgeo] + [Vs * Vveg]/2
Onde:
Vn = Mapa de Vulnerabilidade Natural
Vg = Mapa de Vulnerabilidade para o tema Geomorfologia
Vgeo = Mapa de Vulnerabilidade para o tema Geologia
Vs = Mapa de Vulnerabilidade para o tema Associação de Solos
Vveg = Mapa de Vulnerabilidade para o tema Cobertura Vegetal

Para realizar o cruzamento desses temas, foram atribuídos graus de


vulnerabilidade numa escala de 1,0 (estável) à 3,0 (instável), ver Tabela 2.
Tabela 2. Graus de vulnerabilidade para os mapas temáticos.

Indicador/Tema Grau de Vulnerabilidade


Geologia
Grupo Barreiras 2,0
Formação Jandaíra 1,5
Depósitos flúvio-lacustrinos 2,5
Depósitos litorâneos de paleodunas 2,5
Depósitos aluvionares 2,5
Depósitos eólicos litorâneos vegetados 2,0
Depósitos eólicos litorâneos não-vegetados 3,0
Depósitos de mangue 2,5
Depósitos flúvio-marinhos 3,0
Geomorfologia
Tabuleiro Costeiro/Interior 1,0
Dunas fixas 2,0
Dunas móveis 3,0
Planície de maré 3,0
Planície flúvio-marinha (Manguezal) 2,5
Vale lacustre (Estuário) 3,0
Associação de Solos
Neossolos Quartzarênicos (Rqo) 2,5
Gleissolos sálicos (GZn) 3,0
Argissolos Vermelho-Amarelos (Pva) 2,0
Cobertura Vegetal
Formações Pioneiras 1,5
Vegetação de Mangue 3,0
Vegetação de Caatinga aberta 2,5
Vegetação de Caatinga fechada 2,0
Outro tipo de vegetação (herbácea, gramínea etc.) 1,5
Uso e Ocupação da Terra
Solo exposto (sem vegetação) 3,0
Vegetação nativa 1,5
Corpos d’água 1,0
Dunas (Fixas e Móveis) 2,0
Agricultura temporária 2,5
Agricultura permanente 3,0
Tanque de Carcinicultura/Salina 3,0
Manguezal (Mangue e Apicuns) 2,0
Áreas Urbanas (Sede e Assentamento) 3,0
Fonte: Grigio (2003). Organizado pelo Autor, 2018.

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O levantamento dos dados temáticos em campo, compartimentação dos
dados e geração do banco de dados geoespacial por meio de suporte de SIG,
permitiu o cruzamento das informações através da média aritmética entre os
temas e a posterior geração dos mapas resultantes.
Tal cruzamento foi operacionalizado pela conversão dos arquivos de
formato shapefile (vetorial) para matricial (raster) através da ferramenta
“Polygon to Raster” incluída na ferramenta “Conversion Tools” e o cálculo dos
graus de vulnerabilidade pela ferramenta “Raster Calculator” pertencente à
extensão “Spatial Analyst” do “ArctoolBox” integrado ao software ArcGIS 10.6
(Versão de avaliação) (OLIVEIRA & MATTOS, 2014). De acordo com a ideia
de Oliveira & Mattos (2014, p.166) “o benefício da conversão dos dados
vetoriais em dados raster se traduz no fato da possibilidade de uma maior
gama de modelamentos geográficos e operações complexas”. Através dessa
ferramenta são atribuídos os pesos para os temas para o cruzamento dos
valores e a obtenção dos graus de vulnerabilidade ambiental.
O mapa de vulnerabilidade ambiental foi obtido através do cruzamento
do mapa de vulnerabilidade natural e do mapa de uso e cobertura da terra,
observando o critério de classificação das categorias morfodinâmicas numa
escala de 1 a 3, onde: 1,0 – há o predomínio dos processos de pedogênese, 2,0
– há uma situação de equilíbrio e 3,0 - há o predomínio dos processos de
morfogênese (CREPANI et. al., 2001).
Com base na metodologia executada por Costa et. al. (2006), foi
necessária a atribuição de pesos de importância de cada tema para a obtenção
do mapa de vulnerabilidade ambiental, conforme Tabela 3.
Tabela 3. Pesos atribuídos a cada tema na análise de vulnerabilidade ambiental.

Tema
Geologia Geomorfologia Solos Vegetação Uso e Ocupação
0,1 0,2 0,1 0,1 0,5
Fonte: Costa et. al. (2006). Organizado pelo Autor, 2018.

A etapa seguinte consiste da execução da equação para combinar os


temas e os pesos atribuídos em ordem de importância, onde:

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EQ 02: VA = [Vg*0,2] + [Vgeo*0,1] + [Vs*0,1] + [Vveg*0,1] + [Vus*0,5]

Onde:

VA = Mapa de Vulnerabilidade Ambiental


Vg = Mapa de Vulnerabilidade para o tema Geomorfologia
Vgeo = Mapa de Vulnerabilidade para o tema Geologia
Vs = Mapa de Vulnerabilidade para o tema Associação de Solos
Vveg = Mapa de Vulnerabilidade para o tema Cobertura Vegetal
Vus = Mapa de Vulnerabilidade para o tema Uso e Ocupação da Terra
O resultado obtido se enquadra na nomenclatura das classes de
vulnerabilidade ambiental do seguinte modo:
Tabela 4. Classes e graus de vulnerabilidade ambiental obtidos no cruzamento dos dados
temáticos.

Classe de Vulnerabilidade Graus de Vulnerabilidade


Muito Baixa 1,0 – 1,3
Baixa 1,4 – 1,7
Moderada 1,8 – 2,2
Alta 2,3 – 2,6
Muito alta 2,7 – 3,0
Org.: do Autor, 2018.

Resultados e Discussão

A vulnerabilidade ambiental na presente pesquisa, é considerada a


partir do conceito proposto por Tagliani (2003), como o maior ou menor grau
de susceptibilidade de um ambiente às pressões antrópicas, por meio de um
uso e ocupação qualquer.
Para Aquino et. al. (2017) a vulnerabilidade pode ter suas causas
originárias de acordo com as características naturais de cada variável
(geologia, solos, cobertura vegetal) ou por meio de pressões oriundas das
pressões antrópicas; além de sistemas frágeis de baixa resiliência, em suma é
a capacidade de resposta do meio ambiente para retornar seu estágio inicial
de equilíbrio.
Nesse contexto, o conhecimento adequado da dinâmica ambiental e
suas características intrínsecas às diversas áreas, como os solos, relevo,
vegetação, hidrografia, uso e ocupação, as questões sociais e econômicas entre

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outros, são essenciais para uma aproximação ao desenvolvimento sustentável
(ROSS, 2009).
De acordo com Ross (2009, p. 61) “para cada ambiente natural, é
possível e desejável desenvolver atividades produtivas que sejam compatíveis,
de um lado com suas potencialidades e, de outro, com fragilidades
ambientais”. Desse modo, conhecer e analisar a vulnerabilidade ambiental de
determinadas áreas, permite que sejam tomadas decisões que visem ao
ordenamento territorial e ambiental de acordo com o estágio atual das
variáveis ambientais e de uso e ocupação dos solos.
A integração e cruzamento dos dados temáticos e seus respectivos
pesos, possibilitaram a geração dos mapas de vulnerabilidade natural e
vulnerabilidade ambiental para a área de estudo em tela, por meio da
designação de parâmetros dos cálculos algébricos, mencionados nos
procedimentos metodológicos. Tal integração visa a criação de um modelo
mais próximo à realidade da área de estudo, de modo a identificar os graus de
fragilidade das suas variáveis ambientais, assim como analisar as áreas de
maior ou menor vulnerabilidade.
O Mapa de vulnerabilidade natural apresenta a distribuição espacial
das categorias de vulnerabilidade natural a partir dos cruzamentos dos temas
geologia, geomorfologia, solos e cobertura vegetal, nesse caso, considerando os
processos dinâmicos naturais sem a presença do componente antrópico (Mapa
2).

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Mapa 2 – Mapa de vulnerabilidade natural da área de estudo

Org.: cartográfica dos autores, 2018.

A partir do mapa de vulnerabilidade natural, foram quantificadas os


valores de áreas e os percentuais ocupados por cada categoria de grau de
vulnerabilidade estipulados, sendo organizados da seguinte maneira: a)
vulnerabilidade muito baixa (5,28%); b) vulnerabilidade baixa (70,03%); c)
vulnerabilidade moderada (3,07%); d) vulnerabilidade alta (7,65%) e
vulnerabilidade muito alta (13,96%), num total de 34.199,89 hectares,
correspondentes à área total de Galinhos. Observar Tabela 5.

Tabela 5. Distribuição da vulnerabilidade natural do município de Galinhos por categoria,


área e percentual de ocupação.

Categoria Área em hectares (há) Percentual (%)


Muito Baixa 1.805,479 5,28 %
Baixa 23.947,325 70,03 %
Moderada 1.050,423 3,07 %
Alta 2.616,590 7,65 %
Muito Alta 4.774,928 13,96 %
Org.: do Autor, 2018.
De um modo geral as áreas de vulnerabilidade natural baixa estão
situadas em áreas de contexto geológico do Grupo Barreiras e Formação
Jandaíra, no contexto geomorfológico se inserem em áreas de tabuleiros

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costeiros e interiores, possuindo características de relevo plano a suavemente
ondulado. Quanto aos solos, ocorrem os neossolos quartzarênicos e
associações aos argissolos vermelho-amarelos. Na extensão das áreas de
vulnerabilidade natural baixa a vegetação encontrada é do tipo arbustiva-
arbórea fechada e as áreas em que a vegetação é menos densa, ocorrem
atividades agrícolas. Essas características de vulnerabilidade natural baixa,
representam um grau de ambientes estáveis nas categorias ecodinâmicas de
Tricart (1977).
As áreas de vulnerabilidade natural moderada são encontradas em
faixas de transição do Grupo Barreiras e Formação Jandaíra e depósitos
flúvio-marinhos, num contexto geológico. A geomorfologia é representada pela
transição dos tabuleiros costeiros para as planícies flúvio marinhas, os solos
são os Gleissolos Sálicos. A vegetação predominante é a de mangue e estão
inseridas no estuário Galinhos-Guamaré. A categoria de vulnerabilidade
natural moderada, representa os ambientes intergrades na ecodinâmica de
Tricart (1977).
As áreas de vulnerabilidade natural alta, no contexto geológico incluem
os depósitos aluvionares, depósitos litorâneos de paleodunas, depósitos eólicos
não vegetados e depósitos litorâneos praiais. Na geomorfologia abrangem os
campos de dunas e praia marinha, tendo como solos predominantes os
neossolos quartzarênicos. A vegetação de restinga e formações pioneiras são
encontradas nos campos de dunas.
A interpretação do mapa de vulnerabilidade natural indica que as
áreas de vulnerabilidade muito alta são encontradas nos locais de contexto
geológico de depósito de mangue e depósitos flúvio-marinhos, na
geomorfologia são as planícies flúvio-marinha e vale lacustre (estuário). Os
solos que predominam são os Gleisolos Sálicos e a vegetação é característica
de mangue. As categorias de vulnerabilidade alta e vulnerabilidade muito
alta estão incluídas nos meios instáveis (TRICART, 1977).

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O mapa de vulnerabilidade ambiental foi obtido a partir do cruzamento
do mapa de vulnerabilidade natural (indicadores) e do mapa de uso e
cobertura da terra, este gerado a partir de fotointerpretação e incursões de
campo (Mapa 3).
Mapa 3 – Mapa de vulnerabilidade ambiental da área de estudo

Org.: cartográfica dos autores, 2018.

O mapa de vulnerabilidade ambiental está representado por um


modelo gerado considerando os graus de susceptibilidade às pressões
antrópicas em detrimento das características morfodinâmicas de Tricart
(1977) e seus valores de vulnerabilidade para cada tema.
A quantificação de áreas e percentual de ocupação na área de estudo do
mapa de vulnerabilidade ambiental gerou as seguintes categorias: a) muito
baixa (1,94 %); b) baixa (46,20%); c) moderada (26,42%); d) alta (14,28 %) e
muito alta (11,16%), conforme Tabela 6.

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Tabela 6. Distribuição da vulnerabilidade ambiental do município de Galinhos por categoria,
área e percentual de ocupação.

Categoria Área em hectares (há) Percentual (%)


Muito Baixa 663,554 1,94 %
Baixa 15.790,504 46,20 %
Moderada 9.028,852 26,42 %
Alta 4.880,373 14,28 %
Muito Alta 3.816,044 11,16 %
Org.: do Autor, 2018.

Quando à análise da vulnerabilidade ambiental, o mapa obtido


permitiu interpretar que nas áreas de tabuleiro costeiro e interior, o índice de
vulnerabilidade é baixo e, por conseguinte, em detrimento de suas
características ambientais tende a ser mais estável, os seus principais usos
são para atividades agrícolas e a cobertura vegetal ainda é bem conservada
(Figura 1).
Figura 1 – Foto aérea da área de estudo com vista de vegetação conservada.

Org.: do Autor, 2018.

Em relação às áreas de vulnerabilidade média, estas estão localizadas


em áreas de tabuleiro costeiro e nos campos de dunas, representando vários
tipos de uso, dentre os quais podemos citar as atividades agrícolas e áreas de
pastagens (Figura 2).

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Figura 2 – Foto aérea da área de estudo com vista de atividade agrícola.

Org.: do Autor, 2018.


As áreas caracterizadas por uma vulnerabilidade alta e
vulnerabilidade muito alta, estão inseridas nos locais de maior pressão
antrópica, nos campos de dunas, nas proximidades das planícies flúvio-
marinhas, estuário Galinhos-Guamaré e vias de acesso (pavimentadas e não
pavimentados) e áreas de corpos d’água com armazenamento reduzido
(Figura 3).

Figura 3 – Corpo d’água próximo à estrada vicinal que dá acesso ao município de Galinhos.

Org.: do Autor, 2018.

As áreas de vulnerabilidade muito alta estão concentradas nos


depósitos de mangues, planícies flúvio marinhas, no estuário Galinhos-

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Guamaré, áreas urbanas e vias de acesso (pavimentadas e não
pavimentadas), nos campos de dunas onde está situado um parque eólico e
nas áreas onde há exploração de sal e cultivo de camarão (Figura 4).

Figura 4 – Áreas de ocorrência das principais atividades econômicas do município de


Galinhos.

Org.: do Autor, 2018.

Conclusões

A utilização dos Sistemas de Informações Geográficas permitiu que a


metodologia utilizada, baseada em referências consolidadas, a determinação
dos graus de vulnerabilidade natural e ambiental do município de Galinhos,
além de um entendimento mais profundo da dinâmica natural e da relação-
sociedade natureza que está imbuída na área de estudo.
As equações algébricas e as ferramentas de geoprocessamento
proporcionam uma maior interrelação dos componentes a partir dos
indicadores selecionados, que correspondem à cada tema e cada unidade
possui um valor de vulnerabilidade e, por conseguinte um peso de
importância. A geração de modelos empíricos e a conferência dos dados em
campo ofereceram uma maior rapidez na obtenção dos resultados finais.
Os resultados demonstram que o município de Galinhos em grande
parte possui áreas classificadas nas categorias de vulnerabilidade baixa a

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moderada e nas classes ecodinâmicas de ambientes estáveis e instáveis, o que
permite a existência de um uso mais racional dos recursos e a execução de
ferramentas de planejamento ambiental para mitigação de processos que
contribuam para um avanço mais acentuado da degradação ambiental.
As áreas que apresentaram as classes de alta a muito alta
vulnerabilidade, necessitam de uma atenção maior, em especial as faixas que
englobam as atividades de carcinicultura, salinocultura e geração de energia
eólica, considerando as proporções de cada empreendimento, os impactos
ambientais são os mais variados possíveis, assim como, são necessárias as
execuções dos planos e programas contidos na legislação ambiental para
recuperar as áreas degradadas e mitigar os efeitos dos impactos exercidos por
essas atividades econômicas, reiterando os princípios de desenvolvimento
sustentável e preservação dos recursos naturais.
Referências
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A abordagem geossistêmica e a análise integrada dos elementos que compõem o espaço


geográfico tem importante contribuição para o ordenamento territorial e ambiental, tendo em
vista, os modos que o homem se apropria do espaço, explorando e extraindo os recursos, o que
impacta diretamente nas questões ambientais que estão intrínsecas à sociedade atual. Em um
cenário em que a degradação do meio ambiente está cada vez mais evidente em detrimento da
aceleração do uso dos recursos oferecidos, o estudo dos Geossistemas, por meio de uma análise
integrada, fornece um aporte teórico-metodológico, de um modo holístico, contribuindo
sobremaneira para uma utilização correta dos recursos naturais, bem como um planejamento
para o ordenamento do território e como um todo para os estudos geográficos.
Os riscos e vulnerabilidades são temas que estão em evidência nas diversas áreas do
conhecimento, sendo válido, mencionar os avanços dos aspectos teóricos-conceituais no país,
especialmente na Geografia enquanto ciência que de um modo geral, estuda as relações do
homem com o espaço geográfico, ainda assim, essa vertente de estudo necessita de um maior
aprofundamento.
A operacionalização dos conceitos acerca dos riscos e vulnerabilidades se apresenta de
um modo bastante complexo, dadas as várias definições elaboradas por diversos autores e em
diferentes pontos de vista. É notório saber que o entendimento e operacionalização desses
conceitos acarreta em contribuições para as tomadas de decisão por parte da sociedade como
um todo; desse modo, é pressuposto que a partir disso, sejam identificados os espaços e
comunidades que estejam mais vulneráveis ou susceptíveis aos riscos, direcionando os esforços
rumo à redução dos riscos de desastres.
O estudo acerca dos riscos e vulnerabilidades permite uma compreensão direta da
relação sociedade-natureza, tendo em vista, que o homem se utiliza do espaço geográfico para
reproduzir o seu modo de vida. Na concepção atual de uma sociedade de risco, o homem como
um todo surge como “agressor” e “vítima” de suas próprias ações, ou seja, o entendimento de
“desastres naturais” como um fenômeno unicamente “natural”, deve ser entendido como um
fenômeno induzido e potencializado.
Os primeiros resultados, fundamentados nas bases teóricas do método sistêmico e
abordagem geossistêmica, propiciaram a caracterização dos sistemas ambientais (geossistemas
ou geocomplexos) e os subsistemas ambientais (geofácies), corroborando para uma
compreensão das interrelações dos componentes ambientais e antrópicos no município de
Galinhos.

152
Além disso, destacam-se o suporte dos SIG’s e da aeronave remotamente pilotada e os
trabalhos de campo na execução dos levantamentos das características ambientais e antrópicas
do município, para a geração de dados cartográficos e sistematização e integração dos dados,
facilitando o mapeamento dos sistemas ambientais e as condições prévias de uso e ocupação do
solo, os quais subsidiarão o mapeamento e a geração do mapa de vulnerabilidade ambiental a
ser elaborado na próxima etapa, após o exame de qualificação. Esta etapa permitiu uma análise
mais apurada e detalhada dos componentes ambientais da área de estudo.
A sistematização e integração das informações proporcionou o entendimento da
interface-sociedade natureza na área de estudo, bem como um conhecimento mais aprofundado
da mesma. O mapeamento dos sistemas ambientais permitiu indicar as potencialidades e
limitações de uso, assim como alguns problemas ambientais identificados que podem ser
minimizados a partir de políticas de educação ambiental e de uso e ocupação do solo. Nesse
sentido, a presente pesquisa contribui com subsídios para a execução dessas etapas e
direcionamentos por parte do município, no que tange ao uso racional dos recursos naturais e
para a geração de bem-estar para a população, tendo em vista as condições atuais de uso e
ocupação e os tipos de atividades econômicas que se destacam na área de estudo.
A análise da vulnerabilidade demonstra que o município de Galinhos em grande parte
possui áreas classificadas nas categorias de vulnerabilidade baixa a moderada e nas classes
ecodinâmicas de ambientes estáveis e instáveis, permitindo a execução de ferramentas de
planejamento ambiental para mitigação de processos que contribuam para um avanço mais
acentuado da degradação ambiental. No entanto, a região estuarina necessita de maior atenção
quanto ao seu uso, tanto pela fragilidade dos componentes abióticos quanto bióticos,
especialmente pela existência do mangue que é um importante ecossistema.
Além disso os resultados corroboraram com os questionamentos hipotéticos,
apresentando as áreas com maior grau de vulnerabilidade ambiental coincidindo com as áreas
de ocorrências das principais atividades econômicas do município de Galinhos: a carcinicultura,
exploração de sal marinho e a geração de energia eólica. Essas atividades tão situadas em
sistemas ambientais que apresentam um certo grau de instabilidade, originário dos processos
naturais e acelerado pela inclusão dessas atividades. Menciona-se aqui também que há um
descumprimento às leis ambientais vigentes, se fazendo necessária a confirmação das licenças
ambientais solicitadas pelos empreendimentos, assim como uma análise aos estudos realizados
para permitir a operação.
Em suma, a análise da vulnerabilidade ambiental, pode meio da aplicação metodológica
e das técnicas de geoprocessamento, contribuem de modo importante para a compreensão das
ações antrópicas no meio ambiente, no que tange à tomada de decisões para a preservação e o
153
uso racional dos recursos naturais, além do gerenciamento do ambiente costeiro. Sendo
necessária a elaboração de algumas proposições com vistas ao planejamento territorial e
ambiental da área de estudo:
• Implementação e execução de políticas de educação ambiental aos moradores e turistas
que visitam o município;
• Execução de oficinas de educação ambiental em praça pública/escolas existentes no
município;
• Elaboração do plano diretor do município, como suporte ao uso e ocupação do solo;
• Elaborar e/ou implementar a política municipal de gerenciamento de resíduos sólidos;
• Elaborar e/ou implementar o plano de saneamento básico do município;
• Monitorar as intervenções em Áreas de Preservação Permanente (APP’s);
• Atualizar o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) para os estuários e seus entornos
elaborado pelo IDEMA em 2003, de acordo com as recomendações do MMA
(Ministério do Meio Ambiente) e da legislação ambiental vigente, vide a Lei nº 12.651
de 25 de maio de 2012.;
• Incentivar o ecoturismo;
• Implementar parcerias com os grandes empreendimentos para a execução e ampliação
dos Programas de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD’s) exigidos nos
procedimentos de licenciamento ambiental.

154
ANEXOS

ANEXO A - COMPROVANTE DE SUBMISSÃO DO ARTIGO REFERENTE AO


CAPÍTULO 1
ANEXO B - COMPROVANTE DE SUBMISSÃO DO ARTIGO REFERENTE AO
CAPÍTULO II

155
ANEXO A

COMPROVANTE DE SUBMISSÃO DO ARTIGO REFERENTE AO CAPÍTULO 1

156
ANEXO B

COMPROVANTE DE SUBMISSÃO DO ARTIGO REFERENTE AO CAPÍTULO II

157
“This is my solitary voyage
A tribute to the twilight sky
For eons I shall remain
(Here) on this lonely journey”

My ending quest

The master’s degree gave me a lot of knowledge, maybe it took me a lot more...

158

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