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CURSO DE REVITALIZAÇÃO

DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
Programa Produtor de Água

Treinamento em Elaboração de
Projetos de Revitalização de
Bacias Hidrográficas

AULAS 1 e 2
Noções sobre
hidrologia e
revitalização de
bacias
TREINAMENTO EM ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE

REVITALIZAÇÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS

PROGRAMA PRODUTOR DE ÁGUA

LONDRINA/PR • GOIÂNIA/GO • POÇOS DE CALDAS/MG • MONTES CLAROS/MG

NOÇÕES SOBRE HIDROLOGIA E REVITALIZAÇÃO DE BACIAS

REALIZAÇÃO

ASSOCIAÇÃO TERCEIRA VIA

JUNHO 2021
NOÇÕES SOBRE HIDROLOGIA E REVITALIZAÇÃO
DE BACIAS

ASSOCIAÇÃO TERCEIRA VIA (OSCIP). Noções sobre hidrologia e revitalização de


bacias. Projetos de Revitalização de Bacias Hidrográficas - Programa Produtor de
Água. Joanópolis: Associação Terceira Via, 2021.

FICHA TÉCNICA
Editor-chefe
Edwaldo Luiz de Oliveira

Projeto gráfico e diagramação


Núbia Faria de Oliveira
Yasmin Nayara Candido Barbosa

Autores
Pilar Carolina Villar
Maria Luiza Machado Granziera
Maria Raquel Finkler

Revisores Técnicos
Simone Frederigi Benassi
Caroline Henn
Anderson Braga Mendes
Paulo Abrantes
Hudson C. Lissoni Leonardo

Revisão da 2. edição
Antonio Castilho Martins
Flávio Hermínio de Carvalho - ANA
Frederico Salmi Pereira
Maria Angélica Valério - ANA
Soraya Despina Santos Voigtel

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NOÇÕES SOBRE HIDROLOGIA E REVITALIZAÇÃO
DE BACIAS

Comitê Editorial Científico - Associação Terceira Via


Antonio Castilho Martins
Frederico Salmi Pereira
Soraya Despina Santos Voigtel

Elaboração do Item 3.11 – Conservação de nascentes


Redação
Rinaldo de Oliveira Calheiros - CPDEB / IAC / APTA
Fernando César Vitti Tabai - Consórcio Intermunicipal das Bacias dos
Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí
Sebastião Vainer Bosquilia - DAEE
Márcia Calamari – DEPRN

Revisão Científica
Prof. Dr. Walter de P. Lima - Depto. de Ciências Florestais/ESALQ/USP
Prof. Dr. Ricardo R. Rodrigues - Depto. de Ciências Biológicas/ESALQ/USP

Revisão Técnica, Adaptação e Autorização


Câmara Técnica de Conservação e Proteção aos Recursos Naturais
Comitê das Bacias Hidrográfi cas dos Rios Piracicaba, Capivarí e Jundiaí

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Apresentação
O Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) é o organismo
especializado em agricultura do Sistema Interamericano que apoia os esforços dos
Estados membros em sua busca pelo desenvolvimento agrícola e pelo bem-estar rural.
Oferecemos cooperação mediante trabalho próximo e permanente com nossos 34
Estados membros, a cujas necessidades atendemos oportunamente.
Sem dúvida alguma, nosso ativo mais valioso é a estreita relação que mantemos com os
beneficiários de nosso trabalho. Temos ampla experiência em temas como tecnologia e
inovação para a agricultura, sanidade agropecuária e inocuidade dos alimentos,
comércio agropecuário internacional, agricultura familiar, desenvolvimento rural, gestão
dos recursos naturais e bioeconomia.
Missão
Incentivar, promover e apoiar os esforços dos Estados membros para conseguirem seu
desenvolvimento agrícola e bem-estar rural por meio de cooperação técnica
internacional de excelência.
Visão
Ser uma instituição moderna e eficiente apoiada em uma plataforma de recursos
humanos e processos capazes de mobilizar os conhecimentos disponíveis na região e
no mundo para alcançar uma agricultura competitiva, inclusiva e sustentável, que
aproveite as oportunidades para contribuir para o crescimento econômico e o
desenvolvimento e que promova um maior bem-estar rural e uma gestão sustentável de
seu capital natural.
Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico - ANA - é a responsável, na esfera


federal, por implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; por regular o uso de
recursos hídricos; pela prestação dos serviços públicos de irrigação e adução de água
bruta; pela segurança de barragens; e pela instituição de normas de referência para a
regulação dos serviços públicos de saneamento básico.
A Agência é uma autarquia sob regime especial, com autonomia administrativa e
financeira, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, conduzida por uma
Diretoria Colegiada composta por cinco membros: um diretor-presidente e quatro

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diretores, todos nomeados pelo Presidente da República, com mandatos não


coincidentes de quatro anos.
À ANA cabe disciplinar a implementação, a operacionalização, o controle e a avaliação
dos instrumentos de gestão criados pela Política Nacional de Recursos Hídricos. Dessa
forma, seu espectro de regulação ultrapassa os limites das bacias hidrográficas com rios
de domínio da União, pois alcança aspectos institucionais relacionados à regulação dos
recursos hídricos no âmbito nacional. Compete à ANA criar condições técnicas para
implementar a Lei das Águas, promover a gestão descentralizada e participativa, em
sintonia com os órgãos e entidades que integram o Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos, implantar os instrumentos de gestão previstos na Lei 9.433/97,
dentre eles, a outorga preventiva e de direito de uso de recursos hídricos, a cobrança
pelo uso da água e a fiscalização desses usos, e ainda, buscar soluções adequadas para
dois graves problemas do país: as secas prolongadas e a poluição dos rios.
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico - ANA

A ASSOCIAÇÃO TERCEIRA VIA é uma Organização Social de Interesse Público


(OSCIP), fundada em fevereiro de 2003, para propor soluções às questões sociais e
ambientais com foco central no desenvolvimento local, sustentabilidade e combate à
pobreza.

Temos expertise na busca de soluções voltadas à segurança climática e ambiental


relativas a conservação da biodiversidade, à gestão de recursos hídricos e da segurança
alimentar e nutricional ao alcance de todos, baseada em uma agricultura sustentável e
competitiva e do fortalecimento da sociedade civil na construção de uma sociedade justa
e solidária.

Tem como missão “Promover a cooperação entre comunidades e instituições para que
venham garantir a realização de seu pleno direito ao desenvolvimento econômico,
humano, natural e socialmente sustentável “.

Ao longo dos anos temos atendidos os agricultores e empreendimentos da agricultura


familiar, comunidades locais e populações originárias para promoção do
desenvolvimento sustentável em várias regiões do Brasil, com vistas à segurança

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alimentar e a preservação e conservação da biodiversidade e dos recursos naturais


(água, solo e clima).

Realizamos projetos de Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER, Mobilização e


Educação Socioambiental, Elaboração de instrumentos de Políticas Públicas para o
desenvolvimento sustentável (Inclusão Socioprodutiva, Apoio à Juventude e
Pagamentos por Serviços Ambientais) a busca de modelos produtivos atrativos na
propriedade rural (agroecologia e biodiversidade) e produção de alimentos orgânicos
certificados.

Em nosso Portfólio contemplamos projetos realizados em arranjos territoriais e setoriais


envolvendo órgãos públicos, empresas e instituições que beneficiaram várias
comunidades e povos tradicionais, assim como aprimoramento de metodologias em
restauração e manejo agroflorestal e inovação técnica que favoreceram agricultores na
conservação ambiental em propriedade rurais em importantes áreas de Unidades de
Conservação – UC.

Associação Terceira Via

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Sumário

O PROGRAMA PRODUTOR DE ÁGUA .................................................................. 10

1.1 Contextualização ................................................................................................ 10

1.2 Antecedentes do Programa Produtor de Água ................................................. 12

1.3 Descrição, Objetivos e Metas do Programa ..................................................... 15

1.3.1 O que é o Programa Produtor de Água ....................................................... 15

1.3.2 Objetivos ....................................................................................................... 18

PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS – PSA............................................ 19

2.1 Serviços Ecossistêmicos e Serviços Ambientais.............................................. 19

2.2 Importância dos Serviços Ambientais para o Planejamento do Desenvolvimento


22

2.3 A Valoração dos Serviços Ecossistêmicos ....................................................... 23

2.4 Etapas da Implantação dos Projetos de PSA ................................................... 24

NOÇÕES DE HIDROLOGIA ..................................................................................... 27

3.1 Ciclo Hidrológico ................................................................................................ 27

3.2 Bacia hidrográfica .............................................................................................. 29

3.2.1 Divisores ....................................................................................................... 33

3.2.2 Classificação dos cursos d’água.................................................................. 35

3.2.3 Características físicas de uma bacia hidrográfica....................................... 35

3.2.4 Características geológicas da bacia ............................................................ 39

3.2.5 Características agroclimáticas da bacia ...................................................... 39

3.2.6 Área de drenagem ........................................................................................ 39

3.2.7 Forma da Bacia Hidrográfica ....................................................................... 39

3.2.8 Ordem da Bacia ............................................................................................ 41

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3.2.9 Tempo de concentração............................................................................... 42

3.2.10 Planejamento territorial e gestão ambiental; ............................................ 43

3.3 Precipitação ........................................................................................................ 64

3.3.1 Tipos de precipitação ................................................................................... 65

3.4 Interceptação...................................................................................................... 68

3.4.1 Interceptação vegetal ................................................................................... 69

3.4.2 Armazenamento nas depressões ................................................................ 70

3.5 Infiltração ............................................................................................................ 71

3.5.1 Grandezas características ........................................................................... 72

3.5.2 Fatores intervenientes .................................................................................. 72

3.5.3 Determinação da capacidade de infiltração ................................................ 74

3.6 Evaporação ........................................................................................................ 74

3.6.1 Métodos para Determinar a Evaporação..................................................... 74

3.7 Escoamento superficial ...................................................................................... 77

3.7.1 Escoamento superficial (deflúvio) ................................................................. 77

3.8 Regime dos cursos d’água ................................................................................ 86

3.9 As Águas Subterrâneas e os Aquíferos Brasileiros: Características e


Importância .................................................................................................................... 87

3.9.1 O domínio das águas subterrâneas ............................................................. 95

3.10 Transporte de sedimentos ................................................................................. 99

3.10.1 Ciclo hidrossedimentológico ................................................................... 100

3.11 Conservação de nascentes ............................................................................. 104

3.11.1 Cuidados primários essenciais em relação à área adjacente às nascentes


105

3.12 Coleta de dados de qualidade da água .......................................................... 113

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3.13 Balanço hídrico ................................................................................................ 118

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 120

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O PROGRAMA PRODUTOR DE ÁGUA

1.1 Contextualização

A quantidade e a qualidade da água e do solo, assim como de qualquer recurso natural, são
fortemente influenciadas pela maneira como esses recursos são utilizados. A forma de preparo
e manejo, tanto das culturas quanto do solo, está intimamente relacionada à conservação desses
recursos, que poderá afetar a manutenção e a elevação da produtividade, a estabilidade
econômica dos proprietários e, consequentemente, a qualidade de vida nas propriedades rurais
(HERNANI; FABRÍCIO, 1999).
O uso e o manejo inadequado das propriedades rurais podem trazer como principal
consequência a intensificação do processo erosivo. Esse processo se deve, principalmente, ao
desmatamento de encostas e margens de rios, às queimadas, ao uso inadequado de maquinário
e implementos agrícolas, além da ausência de práticas conservacionistas. Como resultado, tem-
se a perda de nutrientes do solo, além da redução da qualidade e alteração do volume das águas
que escoam nos rios, devido aos processos de sedimentação e assoreamento, como mostram
as Figuras 1 e 2. Esses sedimentos podem chegar a reservatórios e reduzir seu volume útil,
afetando o abastecimento público e/ou a geração de energia hidrelétrica. Além disso, decorrem
dos processos erosivos impactos sociais oriundos do êxodo rural; impactos econômicos
relacionados ao aumento do custo do tratamento da água distribuída e o aumento dos custos
para o exercício da atividade agrícola; e os impactos à saúde da população em decorrência das
doenças de veiculação hídrica.
Estima-se que a erosão seja responsável por gerar prejuízos da ordem de R$ 13,3 bilhões
anuais, somando os efeitos da erosão na depreciação da terra (LANDERS et al., 2001), custo de
tratamento de água para consumo humano (BASSI, 1999), custo de manutenção das estradas
(BRAGAGNOLO et al., 1997) e na reposição de reservatórios, decorrente da perda anual da
capacidade de armazenamento hídrico (CARVALHO et al., 2000).

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Figura 1 - Assoreamento no Rio São Francisco.

Fonte:
https://imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2014/09/24/572183/20140924070416657999o.
jpg

Figura 2 - Assoreamento no Rio Parnaíba.

Fonte: https://piauihoje.com/noticias/municipios/codevasf-e-ifpi-desenvolvem- projeto-piloto-de-


recuperacao-das-nascentes-do-rio-parnaiba-43397.html

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No Brasil, apesar de programas exitosos de conservação do solo terem sido implementados nos
últimos anos (ROLOFF; BRAGAGNOLO, 1997), eles foram concebidos sem considerar, de forma
explícita, os benefícios ambientais e econômicos fora da propriedade (BOERMA, 2000).
Ainda que, na legislação brasileira de recursos hídricos não haja um tratamento específico para
a poluição difusa rural (MARTINI; LANNA, 2003), os aspectos de descentralização da gestão e
de articulação da gestão dos recursos de solo e água, contidos na Lei 9.433/97, permitem que
acordos sejam realizados entre usuários de água e produtores, visando sua mitigação.
Considerando esses aspectos, a Agência Nacional de Águas (ANA) desenvolveu um programa
voltado à conservação de mananciais estratégicos, em que os benefícios ambientais
proporcionados por produtores participantes são devidamente certificados e compensados
financeiramente, de forma proporcional ao abatimento da sedimentação na bacia. Esse
programa, intitulado “Produtor de Água”, foi desenvolvido seguindo as tendências atuais de
programas agroambientais, ou seja, de aplicação voluntária, flexível e descentralizada (CHAVES
et al., 2004a).

1.2 Antecedentes do Programa Produtor de Água

Desde que a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) foi implantada em 1997, por meio
da Lei Federal 9.433, grandes esforços têm sido realizados no sentido de aprimorar a prática da
gestão dos recursos hídricos, por meio do desenvolvimento de uma série de programas e
projetos, os quais visam à conservação, recuperação e o uso eficiente e racional da água,
priorizando a manutenção da quantidade e qualidade desse recurso. Nesse contexto, a Agência
Nacional de Águas (ANA) possui um papel primordial, uma vez que esta é a entidade responsável
pela implementação da PNRH e integra o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos.
A partir do ano de 2001, quando iniciaram as discussões sobre a implementação da cobrança
pelo uso da água, vislumbrou-se na ANA a necessidade de desenvolver programas de aplicação
dos recursos financeiros oriundos da cobrança, os quais, além de facilitar a utilização dos
recursos, pudessem melhorar o entendimento dos usuários sobre o embasamento do
instrumento em aplicação.

A primeira iniciativa, nesse sentido, foi o desenvolvimento do Programa de Despoluição de


Bacias Hidrográficas (PRODES), também conhecido como "Programa de Compra do Esgoto
Tratado", o qual consiste na concessão de estímulo financeiro, pela União, na forma de

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pagamento pelo esgoto tratado, aos Prestadores de Serviço de Saneamento que investem na
implantação e operação de Estações de Tratamento de Esgotos (ETE) (ANA, 2012).
Para evitar prejuízos decorrentes de obras inacabadas, no PRODES 1, a liberação dos recursos
ocorre somente após a conclusão da obra e início de operação da ETE, em parcelas vinculadas
ao cumprimento de metas de abatimento de cargas poluidoras e demais compromissos
contratuais (ANA, 2012).
Essa iniciativa inovadora, de grande sucesso, estimulou a Agência a buscar alternativas de
aplicação dos recursos da cobrança em outros setores que causam impactos significativos na
qualidade e quantidade de água das bacias hidrográficas.
O processo de cobrança é embasado pelo princípio "usuário-pagador", o qual traz a dimensão
de que a utilização de um recurso, como a água de uma bacia hidrográfica, provoca um prejuízo
social, pois ao fazê-lo, reduz-se a sua disponibilidade para os demais usuários, seja em termos
de quantidade ou qualidade. A água utilizada por esse usuário lhe gera renda, sendo, portanto,
justo que ele destine parte dessa renda para ser utilizado pela sociedade na mitigação do
prejuízo causado pelo seu uso.
Nesse caso, o Comitê de Bacia é a instituição que melhor representa a sociedade em questão,
e tem a prerrogativa de estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos,
bem como definir a aplicação do recurso em ações que possam reduzir o prejuízo social causado
pelo uso da água (ANA, 2012).
De forma semelhante, podemos usar esse raciocínio do "usuário-pagador” que prevê a
necessidade da cobrança daquele que utiliza o recurso, porém aplicado àquele que contribui
com a manutenção ou melhoria da disponibilidade de água.
Desse modo, surge o princípio do “provedor–recebedor” (ou "protetor-recebedor"), o qual
estabelece que quem contribui para melhorar um serviço ambiental, protegendo um bem natural
e adotando práticas sustentáveis que trazem benefício

para a comunidade, deve receber uma compensação financeira como incentivo pelo serviço
prestado (RIBEIRO, 2005).
Toda vez que um ou mais produtores rurais adotam práticas sustentáveis, é gerado benefícios
sociais, na medida em que os usuários da bacia hidrográfica passam a dispor de água em
qualidade e quantidade mais adequadas as suas demandas (ANA, 2012). Nesse caso, a

1 Para saber mais: Para conhecer o PRODES e seus resultados visite: http://www.ana.gov.br/prodes/default.asp

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remuneração ao produtor se torna um incentivo para continuidade do serviço ambiental prestado


por ele.
Os dois princípios são apresentados de forma esquematizada na Figura 3.

Figura 3 - Usuário - pagador x Provedor – recebedor.

Fonte: ANA - Agência Nacional de Águas.

Buscando estimular a adoção e fortalecimento de práticas sustentáveis que contribuíssem com


a garantia da qualidade e da quantidade de água em várias bacias hidrográficas brasileiras, a
ANA desenvolveu o Programa Produtor de Água, que está amparado pelo princípio do provedor-
recebedor.

Convém salientar que o setor rural apresenta uma enorme capacidade de contribuir para a
gestão dos recursos hídricos.

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No entanto, encontra-se disperso, com inúmeros atores e muitas vezes de difícil acesso, e os
instrumentos tradicionais não se mostraram eficientes para motivá-los a serem os grandes
parceiros nesse objetivo (SANTOS; MELO; CARVALHO, 2012).
Iniciativas como o Produtor de Água vêm em contraposição a esta dificuldade, tornando-se uma
ferramenta essencial para direcionar, orientar e fortalecer o processo de gestão das águas.

1.3 Descrição, Objetivos e Metas do Programa

1.3.1 O que é o Programa Produtor de Água

O Programa Produtor de Água é uma ação da ANA destinada a promover a conservação de


recursos hídricos no meio rural, visando segurança hídrica”.
Atualmente, no território brasileiro, há mais de 40 projetos cadastrados como Produtores de Água
(Figura 4) que, dessa forma, recebem apoio da ANA.

Figura 4 – Localização dos projetos do Programa Produtor de Água no Brasil. Situação atual.

Fonte: ANA.

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Esse programa tem adesão voluntária, baseado no princípio provedor-recebedor, no qual são
beneficiados produtores rurais que, por meio de práticas mecânicas, vegetativas e manejos
conservacionistas em suas propriedades, venham a contribuir para a conservação do solo e da
água. Com essas atividades, propicia-se o abatimento efetivo da erosão e da sedimentação, o
que contribui com o aumento da infiltração de água e, por consequência, aumento da vazão dos
rios (ANA, 2012).
O Programa proporciona condições adequadas à implementação das práticas conservacionistas,
tornando a atividade, além de ambientalmente sustentável, economicamente atrativa e
financeiramente exequível.

As Figuras 5 e 6 apresentam as principais práticas conservacionistas apoiadas pelo programa,


as quais se dividem em práticas vegetativas e mecânicas:

Figura 5 - Práticas Conservacionistas de caráter vegetativo.

Fonte: ANA (2014)

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Figura 6 - Práticas Conservacionistas de caráter mecânico.

Fonte: (ANA, 2014)

Os projetos podem ser desenvolvidos por arranjos organizacionais compostos por estados,
municípios, comitês de bacia, companhias de abastecimento e geração de energia, dentre outras
instituições públicas ou privadas (ANA, 2012).
O Programa prevê que os projetos contemplem pagamentos aos produtores que adotem práticas
que favoreçam os serviços ecossistêmicos, gerando externalidades positivas à sociedade. Os
pagamentos são feitos por entidades integrantes do arranjo organizacional, durante ou após a
implantação de cada Projeto Individual da Propriedade (PIP) (ANA, 2012).
Convém destacar que os valores pagos são definidos com base em estudos econômicos
desenvolvidos para a região e na eficácia do abatimento da erosão. Chaves et al. (2004b)
apontam que os valores financeiros de compensação aos agricultores devem atender aos
seguintes critérios:

– Serem suficientes para atingir a meta de abatimento de erosão e sedimentação


pretendida;
– Serem suficientes para atrair produtores para adesão ao Programa;

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– Serem iguais ou inferiores ao custo de implantação e operação do manejo e/ou prática


conservacionista proposta, de forma a não caracterizar um subsídio ou bolsa agrícola,
uma vez que os pagamentos devem ser proporcionais ao desempenho ambiental.

Observação: Produtores que já adotam práticas conservacionistas comprovadamente


efetivas na bacia selecionada são incentivados a continuar com elas. Esses bons atores
também recebem pagamentos por serviços ambientais, em percentual, a ser estipulado
pelos agentes participantes.

1.3.2 Objetivos

O Programa Produtor de Água, ainda que possa gerar algum benefício individual, tem como
principal objetivo a execução de ações que alterem a qualidade, a quantidade e o regime de
vazão das bacias hidrográficas, de modo considerado benéfico à coletividade. Dessa forma, o
objetivo geral do Programa está centrado no apoio a projetos de pagamentos por serviços
ambientais de proteção hídrica que visem promover a melhoria da qualidade da água, a
ampliação de sua oferta e a regularização da vazão dos corpos hídricos.

Dentre os objetivos específicos do programa (ANA, 2012), destacam-se:

1. Integrar a gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental e com a de uso do solo.
2. Apoiar a revitalização de bacias hidrográficas.
3. Induzir o desenvolvimento de projetos de conservação de recursos hídricos no meio rural.
4. Promover práticas de conservação de água, solo, vegetação e saneamento rural.
5. Contribuir para a adequação de propriedades rurais, conciliando produção agrícola e
preservação ambiental.
6. Estimular a adoção de pagamentos por serviços ambientais no Brasil.

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PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS – PSA

2.1 Serviços Ecossistêmicos e Serviços Ambientais

Para entendermos o significado de serviços ecossistêmicos e serviços ambientais precisamos


conhecer o significado de ecossistema. A Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade
Biológica (CDB) define ecossistema como um “complexo dinâmico de comunidades vegetais,
animais e de microrganismos e o seu meio inorgânico que interagem como uma unidade
funcional” (MMA, 2000).
Em outras palavras, pode ser considerado o local em que ocorre complexas interações entre os
componentes bióticos (seres vivos) e abióticos (componentes físicos e químicos) por meio das
forças de matéria e energia.
Basicamente, existem dois tipos de ecossistemas: marinhos, como oceanos abertos e costas; e
terrestres como florestas, campos, manguezais, lagos e rios, desertos, áreas de cultivo, tundras,
ambientes rochosos e glaciares.
Os processos de interação entre os ecossistemas permitem a sobrevivência das espécies no
planeta, garantindo bens e serviços que satisfazem as necessidades humanas de forma direta
ou indiretamente. Essas constantes interações existentes entre os elementos estruturais de um
ecossistema, incluindo transferência de energia, ciclagem de nutrientes, regulação de gás,
regulação climática e do ciclo da água podem ser definidas como funções dos ecossistemas
(DALY; FARLEY, 2004).
O conceito de funções ecossistêmicas é relevante no sentido de que por meio delas se dá a
geração dos chamados serviços ecossistêmicos, que são os benefícios diretos e indiretos obtidos
pelo homem a partir dos ecossistemas.
Dentre eles podemos citar a provisão de alimentos, a regulação climática, a formação do solo
etc.
Existem diferentes tipos de serviços ecossistêmicos que são divididos, segundo a Avaliação
Ecossistêmica do Milênio (MA), em quatro categorias:
Serviços de provisão, Serviços reguladores, Serviços culturais e Serviços de suporte (MA, 2005)
(Tabela 1).

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Tabela 1 - Tipos de serviços ecossistêmicos.

Fonte: (MA, 2005)

Os principais serviços ecossistêmicos são listados a seguir, elencados no estudo "A economia
dos ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB em inglês)".

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NOÇÕES SOBRE HIDROLOGIA E REVITALIZAÇÃO
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Fonte: TEEB (2010)

Há inúmeras definições para serviços ecossistêmicos e serviços ambientais. O termo "serviços


ambientais" é definido de diversas formas na literatura especializada, podendo também ser
identificado como serviços ecossistêmicos ou serviços ecológicos. Alguns autores, no entanto,
apontam diferenças entre essas definições. Os serviços ambientais estariam mais focados nos
benefícios percebidos pelo homem, enquanto os serviços ecossistêmicos estariam mais focados
nos processos que os produzem (RUDOLF, 2002). Para o Programa Produtor de Água, serviços
ambientais são os resultados alcançados pelas ações humanas desenvolvidas com vista a
recuperar, manter ou melhorar a produção de serviços ecossistêmicos.

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Simplificando, os serviços ambientais estariam condicionados às atividades e benefícios


humanos, enquanto os serviços ecossistêmicos representariam os processos pelos quais o meio
ambiente produz recursos que usualmente tomamos como presentes, tais como água limpa,
madeira, hábitat para peixes e polinização de plantas nativas ou agrícolas.
Há, ainda, quem entenda que o termo “serviços ambientais” se refira a um dos muitos serviços
prestados pelos ecossistemas, enquanto o termo “serviços ecossistêmicos” seria utilizado por
aqueles que alegam que não é possível separar em partes esses diversos serviços, os quais
deveriam, portanto, serem vistos de forma integrada. Embora existam diferenças conceituais, os
três termos mencionados são normalmente utilizados para designar os mesmos processos.
Neste material, optou-se por utilizar a terminologia de serviços ambientais, considerando que
esses englobam tanto os serviços proporcionados ao ser humano por ecossistemas naturais (os
serviços ecossistêmicos), quanto os providos por ecossistemas manejados ativamente pelo
homem. Este pode influenciar positivamente, por exemplo, a oferta de serviços ambientais a
partir da sua escolha em adotar práticas agrícolas diversificadas e sustentáveis em uma área
(Sistemas Agroflorestais, SAFs; agricultura orgânica etc.) em detrimento de atividades
potencialmente degradantes (como pecuária mal manejada ou agricultura comercial com alto
emprego de pesticidas) (MURADIAN et al., 2010).

2.2 Importância dos Serviços Ambientais para o Planejamento do


Desenvolvimento

"Utilizar os recursos de forma a satisfazer as necessidades da geração presente, sem


comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades". Esta
é a máxima do desenvolvimento sustentável. Um dos objetivos do desenvolvimento sustentável
que deveriam ser implementados pelos países desde 2015, é “assegurar serviços ambientais,
biodiversidade e bom gerenciamento dos recursos naturais do planeta”.
A manutenção ecossistêmica está diretamente ligada ao planejamento do desenvolvimento
sustentável, pois diante de uma crise ambiental que se agrava a cada dia, se faz necessário
abordar, no planejamento das atividades do

desenvolvimento econômico, a segurança da manutenção dos ecossistemas. Conciliar a


preservação ambiental com o desenvolvimento econômico e social devem ser metas a serem
alcançadas em cada região. O desenvolvimento da sociedade e a manutenção de qualidade de

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vida estão baseadas nos serviços ecossistêmicos que a natureza nos propicia. Planejar o futuro
de uma cidade sem considerar critérios ambientais é ir contra uma política de desenvolvimento
sustentável, uma vez que é da natureza que retiramos nosso sustento.

2.3 A Valoração dos Serviços Ecossistêmicos

Uma estratégia de convencimento para a implementação de medidas conservacionistas é


estabelecer o custo ambiental da degradação ou valorar os serviços ecossistêmicos. Por
exemplo, partindo-se da hipótese de que a cobertura florestal é o principal responsável por
manter a quantidade e a qualidade da água e do solo na bacia e que existem áreas com
diferentes tipos de uso e cobertura vegetal, pode-se estabelecer uma relação de causa-efeito
entre uso e qualidade da água e do solo, e dessa forma, valorar o serviço ambiental das áreas
de florestas e/ou custo de oportunidade (FERNANDES, 2009).
Nas situações em que é fácil identificar os beneficiários diretos desses serviços, surge o potencial
de se estabelecer um sistema de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA): os beneficiários
(demandantes) pagam para os fornecedores (ofertantes) o custo de oportunidade dos serviços,
sendo estes agentes que atuam na conservação ambiental (GELUDA E YOUNG, 2005).
A base teórica de esquemas de Pagamentos por Serviços Ambientais - PSA não é recente,
sendo que os conceitos chave de externalidades e bens públicos datam, pelo menos, do início
do século XX. No entanto, somente nas últimas décadas o PSA vem ganhando espaço em
publicações em todo mundo, assim como têm servido de base para diversas experiências
práticas de políticas públicas.
Esquemas de PSA são derivados do Teorema de Coase, criado em 1960, o qual afirma que por
meio de negociações os agentes internalizam as externalidades e atingem eficiência,
independentemente da dotação inicial dos direitos de propriedade e na ausência de custos de
transação (KOSOY et al, 2006). As externalidades ocorrem quando uma pessoa age provocando
efeitos a outras pessoas, sem o consentimento destas, podendo o efeito ser benéfico
(externalidade positiva) ou prejudicial (externalidade negativa).

Os sistemas de PSA têm princípio básico no reconhecimento de que o meio ambiente fornece
gratuitamente uma gama de bens e serviços que são de interesse direto ou indireto do ser
humano, permitindo sua sobrevivência e seu bem-estar. A adoção do PSA é, portanto, justificável
por ser o modelo socioeconômico vigente predominantemente degradante ao meio ambiente,
enfraquecendo o potencial da natureza de oferecer esses serviços (ANA, 2012).

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Desmatamentos causados por conversão do solo para agricultura e pecuária, extração


predatória de madeira, caça ilegal, poluição do ar e da água, disposição inadequada de resíduos
sólidos e outras formas de uso não sustentáveis de recursos naturais estão entre os fatores
antrópicos que vêm contribuindo para essa degradação. A deficiente gestão do patrimônio
natural e a carência de incentivos econômicos relacionados com a conservação ambiental são
as causas determinantes para essa realidade (PAGIOLA E PLATAIS, 2003).
O desafio recente está na busca por soluções inovadoras para esse problema, e entre elas temos
os sistemas de pagamento por serviços ambientais como uma das principais opções.
O esquema de PSA que aqui se apresenta considera que aqueles que se beneficiam de algum
serviço ambiental gerado por certa área devem realizar pagamentos para o proprietário ou gestor
da área em questão. Ou seja, o beneficiário faz uma contrapartida visando o fluxo contínuo e a
melhoria do serviço demandado.
Os pagamentos podem ser vistos como uma fonte adicional de renda, sendo uma forma de
ressarcir os custos encarados pelas práticas conservacionistas do solo que permitem o
fornecimento dos serviços ecossistêmicos. Esse modelo se coaduna – e, de certa forma,
complementa – , com o consagrado princípio do “usuário-pagador”, dando foco ao fornecimento
do serviço: é o princípio do “provedor-recebedor”, em que o usuário paga e o conservacionista
recebe.

CONCEITO DE PAGAMENTOS POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

“Uma transação voluntária, na qual, um serviço ambiental bem definido ou um uso da terra
que possa assegurar este serviço é comprado por, pelo menos, um comprador de, pelo
menos, um provedor, sob a condição de que o provedor garanta a provisão deste serviço
(condicionalidade)”. (WUNDER, 2005)

2.4 Etapas da Implantação dos Projetos de PSA

Ao buscar a realização de um projeto de PSA Hídrico dentro do âmbito do Programa é necessário


que sejam seguidas as seguintes etapas (ANA,2009). Como vimos anteriormente, não é
obrigatório seguir as etapas em ordem cronológica, podendo alguns, inclusive, acontecer
simultaneamente ao longo da implementação do projeto.

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A. Definição da bacia e de áreas prioritárias (sub-bacias)

Uma das etapas é a definição da bacia e áreas prioritárias para proteção e conservação.
Em muitas regiões são escolhidas sub-bacias que apresentam características de boa
produção de água e, ao mesmo tempo, sejam identificados elevados níveis de
degradação. É importante ressaltarmos que essa escolha deverá estar baseada em
estudos técnicos. Uma boa fonte de dados são os Planos de Recursos Hídricos, quando
estes existirem.

B. Identificação dos atores

Os programas e projetos a serem implementados devem ser identificados. Nesse caso é


importante definir o principal beneficiário dos serviços ambientais; o responsável pela
celebração dos contratos com os produtores; os possíveis provedores de serviços
ambientais e os demais órgãos ou entidades públicas e/ou privadas, além de outras
organizações dispostas a participar do projeto.

C. Arranjo institucional

Após a manifestação de interesse de órgãos e instituições na participação do projeto,


deverá ser formado um grupo de trabalho que atuará no gerenciamento e fiscalização,
constituindo assim a Unidade de Gestão do Projeto (UGP), com definição clara dos
papéis e formas de financiamento das
ações.

D. Avaliação dos principais danos ambientais

Nesta etapa, deve ser elaborado um estudo identificando os déficits de cobertura vegetal
e as regiões com maior incidência de erosão. Por meio de
imagens de satélite e trabalhos de campo, é possível especificar esses déficits
por cada propriedade rural, possibilitando assim uma avaliação prévia dos custos de
recuperação geral e por propriedade.

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E. Mobilização

Esta é uma etapa relevante do processo, pois a UGP deverá realizar trabalhos de
extensão rural e assistência técnica no âmbito da sub-bacia selecionada, buscando a
mobilização dos diversos atores, e ao mesmo tempo nivelar conhecimentos sobre
serviços ambientais e boas práticas capazes de maximizar a produção desses serviços.

F. Lançamento do edital de seleção dos projetos

A elaboração e lançamento de um edital, com regras pré-estabelecidas e orientações ao


produtor rural disciplinará o processo e auxiliará na seleção dos projetos que aportem
maiores benefícios ambientais à bacia.

G. PIP (Projeto Individual da Propriedade)

Deve ser apresentado o PIP, que corresponde a um documento no qual constam o


diagnóstico completo da propriedade rural, e os projetos de reflorestamento e
conservação de solo e água recomendados para a propriedade. No PIP deverá ser
estimada a remuneração e o percentual de abatimento da erosão a ser obtido caso o
projeto seja executado.

H. Seleção e execução
Após selecionados os projetos, os contratos são assinados com os produtores. A etapa
seguinte é a execução das obras, cercamentos e plantio de mudas.

I. Vistorias e pagamento

Em datas estabelecidas no contrato, técnicos da UGP fiscalizarão a execução das obras


para que os pagamentos possam ser liberados, os quais serão sempre proporcionais ao
cumprimento das metas estabelecidas.

J. Pagamento dos incentivos

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Nesta etapa os produtores rurais recebem mensalmente os valores acordados em


contrato para proteção das áreas incluídas no projeto.

NOÇÕES DE HIDROLOGIA

3.1 Ciclo Hidrológico

Denomina-se ciclo hidrológico o processo natural de evaporação, condensação, precipitação,


detenção e escoamento superficial, infiltração, percolação da água no solo e nos aquíferos,
escoamentos fluviais e interações entre esses componentes (Righetto, 1998).
Para entender melhor, o ciclo pode-se visualizá-lo como tendo início com a evaporação da água
dos oceanos. O vapor resultante é transportado pelo movimento das massas de ar. Sob
determinadas condições, o vapor é condensado, formando as nuvens que por sua vez podem
resultar em precipitação. Esta precipitação que ocorre sobre a terra pode ser dispersa de várias
formas. A maior parte fica retida temporariamente no solo próximo onde caiu, que por sua vez,
retorna à atmosfera através da evaporação e transpiração das plantas. Uma parte da água que
sobra escoa sobre a superfície do solo ou para os rios, enquanto a outra parte penetra
profundamente no solo, abastecendo o lençol d’ água subterrâneo. A Figura 7 demonstra melhor
como ocorrem essas relações entre as fases.

As principais variáveis hidrológicas consideradas no ciclo hidrológico são:

o E: evaporação (mm/d);
q: umidade específica do ar em gramas de vapor d’ água por quilo de ar, ou g/kg;
o P: precipitação (mm);
o i: intensidade de chuva (mm/h);
o Q: deflúvio superficial ou vazão (m³/s);
o f: taxa de infiltração (mm/h);
o ET: evapotranspiração (mm/d).

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Figura 7 – Ciclo Hidrológico.


Fonte: USGS - - United States Geological Survey.

Embora o ciclo hidrológico possa parecer um ciclo contínuo, com a água se movendo de uma
forma permanente e com uma taxa constante, é na realidade bastante diferente, pois o
movimento que a água faz em cada uma das fases do ciclo ocorre de forma bastante aleatória,
variando tanto no espaço como no tempo.

Em determinadas circunstâncias, a natureza parece trabalhar com os excessos. Ora


provoca chuvas torrenciais que ultrapassam a capacidade de suporte dos cursos d’
água, acarretando inundações, ora parece que todo o ciclo hidrológico parou completamente.

Esses extremos de enchente e seca são os que mais interessam para os engenheiros, pois
muitos dos projetos de Engenharia Hidráulica são feitos com a finalidade de proteção contra
estes mesmos extremos, e quando não previsto podem acarretar danos.
Quando trabalhamos com projetos, necessariamente devemos definir nosso domínio, seja ele
local ou regional. A definição do domínio implica na seleção dos componentes mais relevantes.

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DE BACIAS

Do ciclo hidrológico, por exemplo, para o balanço hídrico, são considerados a evapotranspiração,
a precipitação, o escoamento superficial, a infiltração e a percolação profunda. Já nos estudos
de drenagem é necessário conhecer as distribuições espaço-temporais da precipitação, da
infiltração e das vazões nas seções de interesse.
Para cada trabalho que irá realizar, uma análise hidrológica deve ser feita, seja para
saber se a precipitação irá interferir no processo, ou se a drenagem é adequada para o tipo de
empreendimento.

3.2 Bacia hidrográfica

O Ciclo Hidrológico, como descrito anteriormente, tem um aspecto geral e pode ser visto como
um sistema hidrológico fechado, já que a quantidade de água disponível para a terra é finita e
indestrutível. Entretanto, os subsistemas abertos são abundantes, e estes são normalmente os
tipos analisados pelos hidrologistas.
Dentre as regiões de importância prática para os hidrologistas destacam-se as Bacias
Hidrográficas (BH) ou Bacias de Drenagem, por causa da simplicidade que oferecem na
aplicação do balanço de água, os quais podem ser desenvolvidos para avaliar as componentes
do ciclo hidrológico para uma região hidrologicamente determinada, conforme Figura 8.

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Figura 8 – Esquema de bacias hidrográficas.


Fonte: Apostila sobre Hidrologia - Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista
da Silva (UFRJ).

A bacia hidrográfica é composta basicamente de um conjunto de superfícies vertentes de uma


rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar um leito único no
exutório. Bacia hidrográfica é, portanto, uma área definida topograficamente, drenada por um
curso d’água ou por um sistema conectado de cursos d’água, de forma tal que toda a vazão
efluente seja descarregada por uma simples saída. Pode ser considerada um sistema físico onde
a entrada é o volume de água precipitado e a saída é o volume de água escoado pelo exutório
(Figura 9), considerando-se como perdas intermediárias os volumes evaporados e transpirados
e os infiltrados profundamente.

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Figura 9 – Bacia Hidrográfica.

Fonte: Pedrazzi, 2003.

A resposta hidrológica de uma bacia hidrográfica é transformar uma entrada de volume


concentrada no tempo (precipitação) em uma saída de água (escoamento) de forma mais
distribuída no tempo (Figura 10).

Figura 10 – Resposta hidrológica de uma bacia hidrográfica.

Fonte: Apostila sobre Hidrologia - Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista
da Silva (UFRJ).

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A formação da bacia hidrográfica dá-se através dos desníveis dos terrenos que direcionam os
cursos da água, sempre das áreas mais altas para as mais baixas. É uma área geográfica e,
como tal, mede-se em km².

A bacia hidrográfica é o elemento fundamental de análise no ciclo hidrológico, principalmente na


sua fase terrestre, que engloba a infiltração e o escoamento superficial (SILVEIRA, 1993). Ela
pode ser definida como uma área limitada por um divisor de águas (Figura 11), que a separa das
bacias adjacentes e que serve de captação natural da água de precipitação através de
superfícies vertentes.

Figura 11 – Divisor de águas

Fonte: Mendiondo, 2004.

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos, de acordo com a Resolução no 32 de 15 de outubro


de 2003, divide o Brasil em 12 regiões hidrográficas. São regiões hidrográficas: bacias, grupo de
bacias ou sub-bacias hidrográficas próximas, com características naturais, socais e econômicas
similares. Diferentemente das bacias hidrográficas, que podem ultrapassar as fronteiras
nacionais, as regiões hidrográficas estão restritas ao espaço territorial pertencente ao Brasil,
como mostra a Figura 12.

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Figura 12 – Regiões Hidrográficas do Brasil

Fonte: Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH).


Disponível em – http://www2.ana.gov.br/Paginas/default.aspx

3.2.1 Divisores

Divisores de água: divisor superficial (topográfico) e o divisor freático (subterrâneo).


Conforme a Figura 13, o divisor subterrâneo é mais difícil de ser localizado e varia com o tempo.
À medida que o lençol freático (LF) sobe, ele tende ao divisor superficial. O subterrâneo só é
utilizado em estudos mais complexos de hidrologia subterrânea e estabelece, portanto, os limites
dos reservatórios de água subterrânea de onde é derivado o deflúvio básico da bacia. Na prática,
assume-se por facilidade que o superficial também é o subterrâneo.

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Figura 13 - Corte transversal de bacias hidrográficas.

Fonte: Apostila sobre Hidrologia - Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte
Batista da Silva (UFRJ).

A Figura 14 apresenta um exemplo de delimitação de uma bacia hidrográfica utilizando o divisor


topográfico. Nesta Figura está individualizada a bacia do córrego da Serrinha. Note que o divisor
de águas (linha tracejada) acompanha os pontos com maior altitude (curvas de nível de maior
valor).

Figura 14 – Delimitação de uma bacia hidrográfica (linha tracejada).

Fonte: Apostila sobre Hidrologia - Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte
Batista da Silva (UFRJ).

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3.2.2 Classificação dos cursos d’água

De grande importância no estudo das BH é o conhecimento do sistema de drenagem, ou seja,


que tipo de curso d’água está drenando a região. Uma maneira utilizada para classificar os cursos
d’água é a de tomar como base a constância do escoamento com o que se determinam três
tipos:

a. Perenes: contém água durante todo o tempo. O lençol freático mantém uma alimentação
contínua e não desce nunca abaixo do leito do curso d’água, mesmo durante as secas mais
severas.
b. Intermitentes: em geral, escoam durante as estações de chuvas e secam nas de estiagem.
Durante as estações chuvosas, transportam todos os tipos de deflúvio, pois o lençol d’água
subterrâneo conserva-se acima do leito fluvial e alimentando o curso d’água, o que não
ocorre na época de estiagem, quando o lençol freático se encontra em um nível inferior ao
do leito.
c. Efêmeros: existem apenas durante ou imediatamente após os períodos de precipitação e
só transportam escoamento superficial. A superfície freática se encontra sempre a um nível
inferior ao do leito fluvial, não havendo a possibilidade de escoamento de deflúvio
subterrâneo.

3.2.3 Características físicas de uma bacia hidrográfica

Estas características são importantes para se transferir dados de uma bacia monitorada para
uma outra qualitativamente semelhante onde faltam dados ou não é possível a instalação de
postos hidrométricos (fluviométricos e pluviométricos).
É um estudo particularmente importante nas ciências ambientais, pois no Brasil, a densidade de
postos fluviométricos é baixa e a maioria deles encontram-se nos grandes cursos d’água, devido
a prioridade do governo para a geração de energia hidroelétrica.

3.2.3.1 Área de drenagem

É a área plana (projeção horizontal) inclusa entre seus divisores topográficos. A área é o
elemento básico para o cálculo das outras características físicas.

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A área de uma bacia hidrográfica é geralmente expressa em km². Na prática, determina-se a


área de drenagem com o uso de um aparelho denominado planímetro, porém pode-se obter a
área com uma boa precisão, utilizando-se o “método dos quadradinhos”.

3.2.3.2 Forma da Bacia Hidrográfica

É uma das características da bacia mais difíceis de serem expressas em termos quantitativos.
Ela tem efeito sobre o comportamento hidrológico da bacia, como por exemplo, no tempo de
concentração (Tc). Tc é definido como sendo o tempo, a partir do início da precipitação,
necessário para que toda a bacia contribua com a vazão na seção de controle.
A forma da bacia influencia o escoamento superficial e, consequentemente, o hidrograma 2
resultante de uma determinada chuva.
Existem vários índices utilizados para se determinar a forma das bacias, procurando relacioná-
las com formas geométricas conhecidas.

a) coeficiente de compacidade (Kc)


É a relação entre o perímetro da bacia e o perímetro de um círculo de mesma área que a
bacia.

O Kc é sempre um valor > 1 (se fosse 1 a bacia seria um círculo perfeito). Quanto menor o Kc
(mais próximo da unidade), mais circular é a bacia, menor o Tc e maior a tendência de haver
picos de enchente.

2HIDROGRAMA - Denomina-se hidrograma a representação gráfica da vazão que passa por uma seção,
ou ponto de controle, em função do tempo. A caracterização de um hidrograma é feita a partir de
observações e registros das variações de vazão no decorrer do tempo.

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NOÇÕES SOBRE HIDROLOGIA E REVITALIZAÇÃO
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b) fator de forma (Kf):

É a razão entre a largura média da bacia (L ) e o comprimento do eixo da bacia (L) (da foz ao
ponto mais longínquo da área)

Quanto menor o Kf, mais comprida é a bacia e, portanto, menos sujeita a picos de enchente, pois
o Tc é maior e, além disso, fica difícil uma mesma chuva intensa abranger toda a bacia.

3.2.3.3 Sistema de drenagem

O sistema de drenagem de uma bacia é constituído pelo rio principal e seus tributários; o estudo
das ramificações e do desenvolvimento do sistema é importante, pois ele indica a maior ou menor
velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica. O padrão de drenagem de uma bacia
depende da estrutura geológica do local, tipo de solo, topografia e clima. Esse padrão também
influencia no comportamento hidrológico da bacia.

3.2.3.4 Características do relevo da bacia

O relevo de uma bacia hidrográfica tem grande influência sobre os fatores meteorológicos e
hidrológicos, pois a velocidade do escoamento superficial é determinada pela declividade do
terreno, enquanto a temperatura, a precipitação e a evaporação são funções da altitude da bacia.

a) declividade da bacia

Quanto maior a declividade de um terreno, maior a velocidade de escoamento, menor Tc e maior


as perspectivas de picos de enchentes.

A magnitude desses picos de enchente e a infiltração da água, trazendo como consequência,


maior ou menor grau de erosão, dependem da declividade média da bacia (determina a maior

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ou menor velocidade do escoamento superficial), associada à cobertura vegetal, tipo de solo e


tipo de uso da terra.
Dentre os métodos utilizados na determinação, o mais completo denomina-se método das
quadrículas associadas a um vetor e consiste em traçar quadrículas sobre o mapa da BH, cujo
tamanho dependerá da escala do desenho e da precisão desejada;

b) curva hipsométrica:

É definida como sendo a representação gráfica do relevo médio de uma bacia. Representa o
estudo da variação da elevação dos vários terrenos da bacia com referência ao nível médio do
mar. Essa variação pode ser indicada por meio de um gráfico que mostra a percentagem da área
de drenagem que existe acima ou abaixo das várias elevações. Pode também ser determinadas
por meio das quadrículas associadas a um vetor ou planimetrando-se as áreas entre as curvas
de nível.

c) Perfil longitudinal do curso d água

Pelo fato da velocidade de escoamento de um rio depender da declividade dos canais fluviais,
conhecer a declividade de um curso d’água constitui um parâmetro de importância no estudo de
escoamento (quanto maior a declividade maior será a velocidade).

Existem 4 procedimentos para se determinar a declividade média do curso d’água:

1o) Declividade baseada nos extremos (S1): obtida dividindo-se a diferença total de elevação do
leito pela extensão horizontal do curso d’água entre esses dois pontos. Este valor
superestima a declividade média do curso d’água e, consequentemente, o pico de cheia.
Essa superestimativa será tanto maior quanto maior o número de quedas do rio.

2o) Declividade ponderada (S2): um valor mais representativo que o primeiro consiste em traçar
no gráfico uma linha, tal que a área, compreendida entre ela e a abcissa, seja igual à
compreendida entre a curva do perfil e a abcissa.

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NOÇÕES SOBRE HIDROLOGIA E REVITALIZAÇÃO
DE BACIAS

3o) Declividade equivalente constante (S3): leva em consideração o tempo de percurso da água
ao longo da extensão do perfil longitudinal, considerando se este perfil tivesse uma
declividade constante igual à uma declividade equivalente.

4o) Declividade 15 – 85 (S4): obtida de acordo com o método da declividade baseada nos
extremos, porém descartando-se 15% dos trechos inicial e final do curso d’água. Isto se
deve, pois a maioria dos cursos d’água têm alta declividade próximo da nascente e torna-se
praticamente plano próximo de sua barra.

3.2.4 Características geológicas da bacia

Tem relação direta com a infiltração, armazenamento da água no solo e com a suscetibilidade
de erosão dos solos.

3.2.5 Características agroclimáticas da bacia

São caracterizadas principalmente pelo tipo de precipitação e pela cobertura vegetal.

3.2.6 Área de drenagem

É a área plana (projeção horizontal) incluída entre seus divisores topográficos. A superfície ou
área é o elemento básico para o cálculo de outras características físicas. A área de superfície de
uma bacia hidrográfica é geralmente expressa no km². Na prática, a superfície de drenagem é
determinada pelo uso de um dispositivo chamado planímetro, embora seja possível obtê-lo com
boa precisão usando o "método dos quadrados”.

3.2.7 Forma da Bacia Hidrográfica

É uma das características da bacia mais difíceis de serem expressas em termos quantitativos.
Ela tem efeito sobre o comportamento hidrológico da bacia, como por exemplo, no tempo de
concentração (Tc). Tc é definido como sendo o tempo, a partir do início da precipitação,
necessário para que toda a bacia contribua com a vazão na seção de controle.

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NOÇÕES SOBRE HIDROLOGIA E REVITALIZAÇÃO
DE BACIAS

A forma da bacia influencia o escoamento superficial e, consequentemente, o hidrograma


resultante de uma determinada chuva.

Existem vários índices utilizados para se determinar a forma das bacias, procurando
relacioná-las com formas geométricas conhecidas. Dois índices são mais usados para
caracterizar a bacia:

• Índice de compacidade;
• Índice de conformação.

Índice de Compacidade (kc)

Este índice relaciona o perímetro da bacia e a circunferência de um círculo de área igual à da


bacia. A equação 1 demonstra essa relação.

Equação 1 – Índice de compacidade

Onde:
P = perímetro da bacia (m);
A = área da bacia (km2).

O Kc é sempre um valor > 1 (se fosse 1 a bacia seria um círculo perfeito). Caso não existam
fatores que interfiram, os menores valores de kc indicam maior potencialidade de produção de
picos de enchentes elevados.

Índice de Conformação (Fator de forma)

É a relação entre a área da bacia e o quadrado de seu comprimento axial medido ao longo do
curso d’água desde a desembocadura até a cabeceira mais distante do divisor de água (Equação
2).

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Equação 2 – Índice de conformação

Onde:
A = área da bacia (km2);
L = comprimento axial (m).

Quanto menor o Kf , mais comprida é a bacia e, portanto, menos sujeita a picos de enchente,
pois o Tc é maior e, além disso, fica difícil uma mesma chuva intensa abranger toda a bacia.

3.2.8 Ordem da Bacia

O sistema de drenagem de uma bacia é constituído pelo rio principal e seus tributários. A
classificação dos rios quanto à ordem reflete o grau de ramificação ou bifurcação dentro de uma
bacia. Os cursos d´água maiores possuem seus tributários, que por sua vez possuem outros até
que chegue aos minúsculos cursos d´água da extremidade. Normalmente, quanto maior o
número de ramificações maior serão os cursos d´água. Dessa forma, podem-se classificar os
cursos d´água de acordo com o número de bifurcações (PEDRAZZI, 2003).

O estudo das ramificações e do desenvolvimento do sistema é importante, pois ele


indica a maior ou menor velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica. O
padrão de drenagem de uma bacia depende da estrutura geológica do local, tipo de solo,
topografia e clima. Esse padrão também influencia no comportamento hidrológico da bacia.
Dessa forma, o Engenheiro brasileiro Otto Pfafstetter, do extinto Departamento Nacional de
Obras de Saneamento (DNOS), desenvolveu um eficiente e engenhoso método de subdivisão e
codificação de bacias hidrográficas, utilizando dez algarismos, diretamente relacionado com a
área de drenagem dos cursos d’água (PFAFSTETTER, 1989 apud GALVÃO & MENESES,
2005).
De acordo com Galvão e Meneses (2005), esse método é considerado natural, hierárquico,
baseado na topografia da área drenada e na topologia (conectividade e direção) da rede de
drenagem. Sua aplicabilidade em escala global, com o emprego de poucos dígitos, além da

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amarração nos dígitos da relação topológica entre as bacias hidrográficas, são as características
marcantes do método de Otto Pfafstetter. A técnica desenvolvida por Otto Pfafstetter, conhecida
pelo nome de “Ottobacias”, caracteriza-se por sua racionalidade.
Utilizando pequena quantidade de dígitos em um código específico para uma dada bacia, o
método permite inferir através desse código quais as bacias hidrográficas que se localizam a
montante e a jusante daquela em estudo. Cada vez que for citada uma determinada numeração,
sabe-se exatamente a identificação da bacia hidrográfica, seu rio principal e seu relacionamento
com as demais bacias da mesma região hidrográfica, até o nível continental (SILVA, 1999 apud
GALVÃO & MENESES, 2005).
O primeiro princípio dessa forma de classificação é que o rio principal de uma bacia é sempre o
que tem a maior área de contribuição a montante. Isto contraria, em muitos casos, a atribuição
de nomes feita tradicionalmente na bacia, mas é um critério que certamente tem uma base
hidrológica mais sólida. A partir da identificação do rio principal, classificam-se suas bacias
afluentes por área de drenagem. As quatro maiores recebem números pares, sendo a mais a
jusante a de número 2, a logo mais a montante a 4, a outra a 6 e a mais a montante de todas a
8. As bacias incrementais recebem números ímpares, sendo a da foz a número 1, a incremental
entre as bacias 2 e 4 a 3, e assim por diante até a bacia de montante, que recebe o número 9.

Desta forma está terminada uma fase da classificação. Cada uma das bacias determinadas pode
ser novamente classificada, sendo então
atribuído um algarismo adicional. As bacias pares são classificadas como uma nova
bacia integral, sendo o rio principal o que na fase anterior foi um afluente. As bacias
incrementais, ímpares, são classificadas considerando-se o mesmo rio principal da fase anterior,
restrito ao trecho incremental considerado. O processo pode ser repetido enquanto houver
afluentes na rede hidrográfica. A classificação de Pfafstetter tem como objetivo as bacias, mas
nada impede que seja adaptada, como foi feito, para a classificação dos rios. Basta para isso
que o rio receba o número da bacia principal ao qual é associado. Desta maneira os códigos dos
rios sempre terão sua terminação em um algarismo par. (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS,
2002).

3.2.9 Tempo de concentração

O tempo de concentração é aquele necessário para que toda a água precipitada na bacia
hidrográfica passe a contribuir na seção considerada. Este tempo pode ser

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calculado através de dois métodos, apresentados a seguir.

Fórmula de Kirpich

 Equação – Tempo de concentração

tc=57( L2/ I eq )0,385

Onde:
Ieq = declividade equivalente em m/km
L = comprimento do curso d´água em km.

Fórmula de Picking

 Equação – Tempo de concentração

tc = 5,3( L2/Ieq )1/3

Onde:
L = comprimento do talvegue em km;
Ieq = declividade equivalente em m/m.

3.2.10 Planejamento territorial e gestão ambiental;

I. Planejamento de bacias hidrográficas urbanas a partir da gestão de seus


componentes e processos físicos, ecológicos e hidrológicos

A política de desenvolvimento urbano deve ser executada pelo poder público, conforme diretrizes
gerais fixadas em lei, e tendo como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes (MOTA, 2011, p.290).
Entre as ferramentas para organização e disciplinamento das bacias hidrográficas urbanas
podemos destacar: planos diretores municipais, geração de recursos para
as ações de manutenção dos sistemas de controle de drenagem urbana e as ações

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em saneamento. Esses tópicos serão abordados na sequência.

a) Planos Diretores Municipais

Nas última décadas a população mundial tem crescido rapidamente, se concentrando nas áreas
urbanas. Até 1960, era maior o percentual de população rural, situação que se inverteu na
década seguinte a esse ano, observando-se que
em 1970 a população urbana já alcançava 55,9% do total (MOTA, 2011).
Hoje há altas concentrações urbanas e municípios com uma porcentagem pequena de habitantes
na zona rural. Em geral a mancha urbana dessas grandes metrópoles está unida a cidades
satélites, criando grandes maciços urbanos.
A infraestrutura das cidades deveria acompanhar o crescimento da população propiciando
condições mínimas de vida, porém em geral o crescimento ocorre descontroladamente, tendo
como a principal variável o êxodo de populações rurais
para a área urbana em busca de trabalho. Em decorrência disso, ocorre o processo
de ocupação de áreas sem a devida implantação da estrutura necessária, que se desenvolvem
sem avaliação da capacidade suporte do meio ambiente (MOTA, 2011).

O processo de metropolização, em termos gerais, tem gerado um déficit de crescimento dos


serviços públicos, conduzido à degradação da qualidade de vida da população, à pressão social,
ao aumento do custo ecológico e aos elevados preços dos insumos do desenvolvimento.
Insumos de desenvolvimento incluem não só as infraestruturas físicas, como estradas, linhas
férreas, sistemas de drenagem, eletricidade, entre outros; e os mecanismos institucionais, legais
e sociais.
Na atualidade, o planejamento busca sanar os problemas dos assentamentos já estabelecidos
nos meios urbanos, desenvolvendo assim ações mais corretivas que diretivas, no que tange ao
desenvolvimento dos espaços.
Em 1930, o urbanista francês Alfred Agache elaborou o conhecido Plano Agache, concebido
para a cidade do Rio de Janeiro, que propiciou surgir no Brasil, pela primeira vez, a palavra “plan
directeur”. A partir daí, a ideia do plano diretor (PD) passou a ser prestigiada e adotada,
principalmente por arquitetos, engenheiros e geólogos ligados às questões urbanas. Consagrada
esta necessidade, o Estatuto da Cidade demarcou adequadamente o papel do Plano Diretor
como instrumento de planejamento e norteador da política de desenvolvimento e expansão
urbana (MOREIRA, 2008).

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O plano diretor deve conter as diretrizes para o crescimento econômico e social justo e
ecologicamente equilibrado (MOTA, 2011, p.297). Para tanto, deve se constituir em um
documento produzido por meio de um processo canalizador de propostas, que direcionem o
desenvolvimento da cidade, incorporando suas dimensões políticas, social, econômica, cultural,
físico-territorial e ambiental. A Figura 15 a seguir apresenta as etapas a serem observadas na
elaboração de um plano diretor.

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Figura 15 – Etapas a serem observadas na elaboração de um plano diretor

Fonte: MOTA, 2010.

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O plano diretor não deve espelhar um plano de governo, nem intenções da atual administração.
Deve ser realizado com critérios técnicos, uma vez que sua vigência vai além da duração de um
mandato governamental. O plano diretor deve ser um plano da cidade, abordando seus
problemas de forma abrangente: a cidade informal, os processos expansivos espontâneos, as
irregularidades urbanísticas, edílicas e seus reflexos econômicos e sociais (MOREIRA, 2008).

Ainda segundo Moreira (2008) o plano diretor deve atingir os seguintes objetivos:

o Estabelecer-se como o principal instrumento orientador da política de desenvolvimento


do município. Como instrumento legal deve garantir o cumprimento da premissa
constitucional de garantia da função social da cidade e da propriedade urbana;

o Para estar em concordância com o Estatuto da Cidade, deverá abranger a área do


território municipal como um todo, definindo diretrizes tanto no âmbito urbano como no
rural;

o Deve considerar em seu conteúdo elementos referentes à Política de Desenvolvimento


Urbano e Regional Estadual e Local, e o previsto nas legislações federal, estadual e
municipal pertinentes;

o Montagem do Plano de Ação e Investimentos Municipal, destinado principalmente, ao


estabelecimento de uma programação de investimentos em obras e projetos municipais
no âmbito local;

o Delimitar as áreas urbanas onde poderão ser aplicados o parcelamento, a edificação ou


a utilização compulsórios, considerando a existência de infraestrutura e de demanda para
utilização, na forma do art. 5º da Lei Federal nº 10.257 (BRASIL, 2001);

o Definir o zoneamento de todo o território municipal com vistas ao desenvolvimento


sustentado, em concordância com os demais mecanismos de planejamento, plano
ambiental municipal, plano de saneamento, plano de resíduos sólidos e planos de bacia;

1. o saneamento ambiental integrado ou a utilização dos serviços de forma integrada deve


ser uma diretriz do PD;

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2. a capacidade de expansão e de adensamento das áreas urbanas é orientada com base


na capacidade da infraestrutura instalada e dos recursos naturais. O saneamento é,
portanto, elemento orientador na leitura da cidade, na definição dos vetores de
crescimento e na proposta de zoneamento;

o Apresentar diretrizes para implantação e organização da infraestrutura e dos serviços


públicos;

o o Incluir no Anteprojeto de Lei do Plano Diretor Municipal – PDM a possibilidade de o


Município adotar, a partir de leis municipais específicas, os instrumentos mencionados
nos artigos 25, 28, 29, 32 e 35 da Lei Federal nº 10.257 (BRASIL, 2001) – Estatuto da
Cidade;

o Propor os mecanismos e instrumentos que possibilitem a implementação pelo município


de um sistema de atualização, acompanhamento, controle e avaliação constantes do
processo de planejamento;

o Propor formas alternativas ao transporte público oficial para circulação das pessoas
(ciclovias, transporte coletivo de empregados de empresas etc.);

o Considerar em todas as fases da execução dos serviços as recomendações de órgãos e


instituições como: Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural, Coordenação
Estadual de Defesa Civil, Companhias de Saneamento, Energia, Conselhos Regionais,
Comitês de bacias hidrográficas e quaisquer demais órgãos e instituições federais,
estaduais e municipais que tenham atuação no território municipal.

O plano diretor deve representar o ordenamento atual e futuro do território municipal, utilizando
como ferramenta o zoneamento, este, por sua vez, obtido da avaliação dos atributos de
desenvolvimento de cada setor da cidade e sua dinâmica de desenvolvimento.

As zonas representam uma área homogênea destinada ao desenvolvimento de um


tipo específico de ocupação: industrial, comercial, residencial, proteção de mananciais, parques
urbanos, entre outros. No planejamento urbano, as zonas costumam expressar potencialidades,
vocações, fragilidade, suscetibilidades, acertos e conflitos de uso (SANTOS, 2004).

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O zoneamento serve como ferramenta de controle do desenvolvimento urbano, a partir do


momento que restringe o estabelecimento de atividades em desacordo com a finalidade da zona.
O zoneamento deve estar estabelecido no Plano Diretor e deve estar integrado aos mecanismos
de controle, tais como: código de obras, licenciamento ambiental e vigilância sanitária.

b) Geração de recursos para as ações de manutenção dos sistemas de controle de


drenagem urbana

A geração dos recursos para a operação de ações de recuperação e proteção ambiental deve
advir, por um lado, da penalização de agentes e atividades geradoras de impacto sobre o meio
ambiente e os sistemas de infraestrutura críticos
e, por outro, do pagamento dos custos desses sistemas por parte dos beneficiários das obras e
da operação. Deve também levar em conta a capacidade contributiva
dos beneficiários e dos geradores de impacto.
São formas de obtenção de recursos para as compensações ambientais: o pagamento de
royalties do setor elétrico, a cobrança pelo uso da água e o rateio do custo das obras de controle
de cheias, entre os beneficiários.
O estabelecimento de cobrança por impermeabilização (impermeabilizador-pagador) é uma
ferramenta interessante para dar sustentabilidade aos programas de controle de drenagem
urbana, captando recursos que poderão ser aplicados na manutenção dos sistemas de
drenagem (PORTO, 2003). O princípio do impermeabilizador-pagador considera que os agentes
responsáveis pela alteração no regime hidrológico de uma área, em decorrência da
impermeabilização do solo, deverão pagar pelos custos de mitigação dos danos/modificações
causados.
O princípio do rateio do custo de obras de defesa contra as cheias deve ser incorporado como
instrumento regulador do uso e ocupação do solo, no interesse regional. O conceito de
beneficiário da obra deve ser estendido tanto à vítima potencial de enchente a jusante da obra
quanto ao impermeabilizador, a montante
(PORTO, 2003).

Acrescenta ainda a imposição de encargos sobre empreendimentos imobiliários na forma de


obrigação de execução de obras ou da cobrança em dinheiro que impliquem em mudança de
uso ou de faixa de renda em áreas residenciais, na proporção do impacto produzido.

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c) Saneamento

Saneamento é conceituado pela Organização Mundial de Saúde como o controle de todos os


fatores do meio físico do homem que exercem ou podem exercer efeito
deletério sobre sua saúde. O saneamento básico inclui as temáticas de abastecimento da água
e tratamento de esgotos. Alguns autores incluem, ainda, a
temática de resíduos sólidos.
Já na Lei n˚ 11.445 (BRASIL, 2007) saneamento básico é conceituado como o conjunto de
serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de
água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem
e manejo das águas pluviais urbanas.

Muitos autores, além do termo saneamento, utilizam a terminologia saneamento ambiental. A


FUNASA (2007, p.14) conceitua saneamento ambiental como:

“conjunto de ações socioeconômicas que têm por objetivo


alcançar a salubridade ambiental, por meio de abastecimento
de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos
sólidos, líquidos e gasosos, promoção da disciplina sanitária
de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças
transmissíveis e demais serviços e obras especializados,
com a finalidade de proteger e melhorar as condições de vida
urbana e rural”.

Considerando a Lei n˚ 11.445 (BRASIL, 2007) e o exposto pela FUNASA, os serviços de


saneamento referem-se às seguintes atividades e infraestruturas:

o Abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infraestruturas e


instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até
as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição;

o Esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações


operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos
sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente;

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o Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades, infraestruturas e


instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do
lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas;
o Drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: conjunto de atividades, infraestruturas
e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte,
detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e
disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas.

A Lei n˚ 11.445 (BRASIL, 2007) constitui um marco na história do saneamento no Brasil. Esta lei
define diretrizes para o saneamento básico e a elaboração dos planos de saneamento por parte
da federação, estados e municípios.
Um plano de saneamento não é apenas um documento técnico-científico, também deve envolver
o contexto social, político e econômico para que seus objetivos e metas possam, de fato, ser
concretizados.

Segundo a Lei n˚ 11.445 (BRASIL, 2007), um plano de saneamento básico deve abranger, no
mínimo, os seguintes itens:

o Diagnóstico da situação do saneamento básico do município, para verificação das


deficiências e necessidades detectadas através de indicadores;
o Estudo de comprovação técnica financeira da prestação universal;
o Designação da entidade regulatória e de fiscalização;
o Estabelecimento do prognóstico e alternativas para universalização dos serviços, com
definição de objetivos e metas de curto, médio e longo prazo;
o Definição de programas, projetos e ações para emergência e contingência;
o Mecanismos e procedimentos de avaliação sistemática. Poderá ser específico para cada
serviço.

Os objetivos da implantação de um plano de saneamento municipal são: a promoção da melhoria


da salubridade ambiental e da saúde coletiva; o abastecimento de água para consumo humano
em condições sociais, ambientais e economicamente aceitáveis; a proteção, recuperação e
melhoria das condições e usos dos recursos hídricos e do solo com atenção especial às áreas
mais vulneráveis; a proteção contra situações hidrológicas extremas e acidentes de poluição; a

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proteção da natureza; a valorização social e econômica dos recursos ambientais; o ordenamento


do território; a sustentabilidade econômico-financeira, entre outros.

Em resumo, o saneamento deve ser entendido como um tópico imprescindível no planejamento


urbano, resultando na melhoria da qualidade de vida da população.

A Lei n˚ 11.445 (BRASIL, 2007) prevê a responsabilidade do poder público na definição da


política de saneamento básico e o papel dos planos municipais de saneamento. Esta lei inova
quando trata implicitamente o saneamento básico como direito social, não apenas dos atuais
usuários, mas de todos os cidadãos.

II. Planejamento de bacias hidrográficas rurais a partir da Gestão de seus


componentes e processos físicos, ecológicos e Hidrológicos

Significativo percentual das áreas das bacias hidrográficas é constituído por espaço rural, pois
as atividades agropecuárias são aquelas que ocupam maiores extensões de espaço geográfico.
Os impactos gerados por essas atividades são de natureza tipicamente difusa, mas a utilização
de uma bacia hidrográfica como unidade de estudo permite a pontualização desses problemas,
tornando mais fácil a identificação de focos de degradação ambiental instalados e o grau de
comprometimento da produção sustentada (SANTANA, 2003).
As bacias localizadas em áreas rurais diferem por: a) não apresentarem áreas urbanizadas e b)
suas pressões ambientais, em geral, estarem relacionadas à alteração da sua cobertura vegetal
e a fontes de poluição difusa, enquanto as fontes pontuais são menos representativas, estando
geralmente associadas ao confinamento de animais.

Os impactos mais visíveis estão associados à forma de manejo do solo e a erosão hídrica, que
ao degradar o solo causa dificuldades produtivas como perda de rendimentos as populações
rurais (ATTANASIO, 2004).
No planejamento de bacias rurais, os produtores são considerados elementos chave para
preservação e recuperação ambiental, uma vez que o poder de decisão sobre a adoção de
práticas sustentáveis de cultivo e gerenciamento da propriedade rural
cabe a eles. Sendo assim, para antes de iniciar o planejamento, é fundamental a delimitação das
bacias hidrográficas e suas subdivisões e indicação de uso dos recursos naturais. Um

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embasamento criterioso é fundamental para a tomada de decisão sobre as ações e metas a


serem desenvolvidas em uma região.
Neste sentido Philippi Jr. et al. (2005, p. 632) afirma que um planejamento de uma agricultura de
subsistência deveria antecipar as necessidades de abastecimento da
comunidade durante um período (possibilidades de clima, características do solo, tecnologias)
para alcançar o equilíbrio de produção e consumo. Além disso, os autores comentam que a
utilização dos recursos naturais implica em uma apropriação do espaço, onde indivíduos e
natureza não podem mais dissociar-se.
Os produtores rurais utilizam os recursos naturais para produzir alimentos, fibras e energia para
a sociedade e são proprietários de grande parte das áreas ocupadas por remanescente de
ecossistema, assim, eles devem sentir-se cúmplices da natureza.
O planejamento das bacias rurais deve ser direcionado para compatibilização de uso do solo da
bacia com suas aptidões agrícolas.
Com base nos resultados e nas intenções dos usuários deve ser traçados planos e ações para
compatibilização de usos, melhoria da qualidade da água prática de economia, planos de
emergência para resposta em situações de escassez ou cheias.

i. USO, OCUPAÇÃO E MANEJO DO SOLO

É um tema muito importante para o planejamento das bacias hidrográficas, porque


retrata as atividades humanas que podem significar pressão e impacto sobre os elementos
naturais.
O mapeamento de uso e ocupação do solo permite que sejam determinadas e quantificadas as
áreas de cultivo, solo exposto, reflorestamento e vegetação nativa e demais usos (estradas,
edificações, corpos hídricos etc.), dentro da bacia hidrográfica.

O cruzamento do uso do solo com informações sobre a hidrografia e declividades, permite


identificar as seguintes ocorrências dentro da bacia hidrográfica (FINOTTI et.al., 2009):

– Áreas onde há conflito entre as atividades desenvolvidas e a legislação ambiental vigente;


– Áreas de interesse para conservação do ecossistema natural;
– As condições das matas ciliares;
– Áreas com maior susceptibilidade à erosão;
– Identificação de fontes de poluição hídrica;

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– Identificação de locais dentro da bacia onde há uma maior demanda hídrica.

Em geral as formas de uso e ocupação de solos são identificadas por classe de uso,
espacializadas e caracterizadas (pela intensidade de uso e indícios de manejo) e quantificadas
(percentual de área ocupada pela classe). Essas informações podem
descrever não só o uso atual, mas as mudanças recentes e o histórico de ocupação
da bacia hidrográfica.
Os mapas de uso do solo que expressam a distribuição das atividades no espaço podem ser
elaborados a partir da classificação de imagens de satélite trabalhados em um SIG (Sistemas de
Informação Geográfica) (SANTOS, 2004, p. 98).
A avaliação do uso e ocupação do solo fornece informações importantes para podermos realizar
a modelagem hidrológica de disponibilidade hídrica, a de determinação das populações
vulneráveis a inundações, entre outras informações.
As condições de uso e cobertura do solo afetam a qualidade e quantidade da água
dentro da bacia. Por isso, é importante que no estabelecimento de programas de gestão dos
recursos hídricos de uma bacia hidrográfica sejam adotadas medidas visando à proteção da
vegetação e das características do solo (MOTA, 2008).
A proteção da vegetação em determinadas áreas é importante para a garantia do
equilíbrio natural entre escoamento e infiltração da água. Por outro lado, a presença de
vegetação protege o solo contra o processo de erosão e suas consequências sobre os recursos
hídricos, como aumento da concentração de sólidos, turbidez e o
assoreamento das calhas (MOTA, 2008).

Todo o programa de conservação de solo deve basear-se no uso de cada terreno de acordo com
sua capacidade, e em um tratamento conforme sua necessidade (BERTONI e LOMBARDI
NETO, 2005, p. 213).

a) Conceito de classes de capacidade de uso e aptidão do solo

O conceito de capacidade de uso é bastante utilizado no planejamento para fornecer informações


sobre: o potencial de uso da terra (ou o uso adequado com práticas adequadas voltadas à
conservação e proteção do solo) e a ocorrência de
inadequação de uso (ou a ocorrência de conflitos envolvendo o uso atual e o uso recomendável).
Nesse segundo caso pode também indicar sobre a ocorrência de sub ou sobreutilização

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(SANTOS, 2004, p. 84). A capacidade de uso indica o grau de intensidade de cultivo que se pode
aplicar em um terreno sem que o solo sofra redução de sua produtividade por efeito da erosão
(BERTONI e LOMBARDI NETO, 2005, p. 213).
A classificação de uso do solo tem por objetivo estabelecer bases para seu melhor
aproveitamento e envolve a avaliação das necessidades para os vários usos que possam ser
dados a determinada gleba (BERTONI e LOMBARDI NETO, 2005, p. 241).
Segundo BERTONI e LOMBARDI NETO (2005, p.243) as classes de capacidade de uso deverão
ser utilizadas com base nos fatores econômicos e sociais dentro de determinada área.

Após o levantamento dos fatores físicos de maior influência sobre o uso da terra (a natureza do
solo, a declividade, a erosão e o uso atual); deverá ser realizada a interpretação de cada fator e
determinação das suas interações com as classes de
capacidade de uso do solo. Para a realização da classificação do potencial de uso
das terras dentro da bacia hidrográfica deverão ser adotados os seguintes critérios (BERTONI e
LOMBARDI NETO, 2005, p.241):

 O da estabilidade do solo, em função especialmente de sua declividade;


 O da produtividade do solo em função de sua fertilidade, da sua falta ou excesso de umidade,
acidez, alcalinidade etc.;
 O das obstruções contra o livre emprego de máquinas em função de sua pedregosidade e
profundidade, dos sulcos de erosão existentes do encharcamento etc.;

 Do ambiente ecológico em função especialmente das condições climáticas, do regime


pluviométrico;
 Legislação ambiental para áreas de preservação permanente;
 A avaliação da capacidade de uso pode ser realizada a partir da sobreposição e integração
hierarquizada de outros temas relativos ao meio físico, em um mapa com o auxílio de
programas computacionais de SIG. Dependendo do número de variáveis inseridas (solos,
declividade, hidrografia, uso e cobertura) e do tamanho da área, é possível realizar a
avaliação automatizada.

A classificação de capacidade de uso do solo convencional mais utilizada abrange


oito classes de capacidades de uso do solo definidas da seguinte forma: (BERTONI
e LOMBARDI NETO, 2005, p.242):

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DE BACIAS

– Terras cultiváveis
I. Terras cultiváveis sem problemas especiais de conservação (verde Claro);
II. Terras cultiváveis com problemas simples de conservação (amarelo);
III. Terras cultiváveis com problemas complexos de conservação (vermelho);
IV. Terras cultiváveis apenas ocasionalmente ou em extensão limitada com sérios problemas
de conservação (azul).

– Terras cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas permanentes e


adaptadas em geral para pastagens ou reflorestamento
V. Terras cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas permanentes e
adaptadas em geral para pastagens ou reflorestamento, sem necessidade de práticas
especiais de conservação (verde escuro);
VI. Terras cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas permanentes
adaptadas em geral para pastagens ou reflorestamento com problemas simples de
conservação (alaranjado);
VII. Terras cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas permanentes
adaptadas em geral para pastagens ou reflorestamento com problemas complexos de
conservação (marrom).

– Terras impróprias para vegetação produtiva e próprias para proteção da fauna silvestre,
para recreação ou para armazenamento de água.

VIII. Terras impróprias para cultura, pastagem ou reflorestamento, podendo servir apenas
como abrigo para fauna silvestre, como ambiente para recreação, ou para fins de
armazenamento de água (roxo).

O produto é um mapa no qual as classes de uso são mostradas em diferentes cores, indicando
de maneira sumária a capacidade de uso das glebas localizadas na bacia hidrográfica, podendo
conter informações sobre a natureza da limitação da casse.
Esta ferramenta é importante para a gestão de bacias hidrográficas em áreas rurais para
avaliação da geração de sedimentos, priorização ou estabelecimento de programas de controle
de perda de solo. Podem subsidiar grande parte das decisões e ações do ponto de vista da

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conservação ambiental, da vocação agropecuária, do risco de erosão, da produtividade e


controle de impactos ou da indicação de tecnologias adequadas.

Figura 16 – Levantamento de Dados e Diagnostico.

Fonte: SANTOS, 2004 apud SABESP , 1997.

b) Práticas mecânicas e culturais de conservação do solo e da água

As atividades agrícolas nos processos de preparo do solo podem causar desestruturação do solo
em função à realização excessiva de aragens e/ou gradagens superficiais. Este processo é

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caracterizado pelo surgimento de duas camadas distintas dentro do perfil: uma superficial
pulverizada e outra subsuperficial
compactada (EMBRAPA,2005). Esse processo aumenta as perdas de solo por erosão, reduz a
taxa de infiltração de água no solo e, consequentemente, incrementa a enxurrada e eleva os
riscos de erosão hídrica.

Por outro lado, este processo prejudica o desenvolvimento radicular de plantas e afeta o potencial
de produtividade do sistema agrícola.
Inicialmente, o processo erosivo se manifesta no solo – particularmente nas áreas sem proteção
vegetal – através da água da chuva, desagregando suas partículas, onde os filetes de água têm
força suficiente para arrastar as partículas soltas.
Os filetes de água ao escorrerem encosta abaixo podem provocar simplesmente a
lavagem da superfície do solo, dos terrenos arados ou provocar a remoção de camadas delgadas
do solo. Esse processo é designado escoamento laminar ou erosão laminar. Quando as chuvas
são mais intensas e são favorecidos por parâmetro de natureza natural e antrópica, a erosão
pode se desenvolver para o escoamento concentrado ou linear formando sulcos na superfície do
terreno. Esses sulcos originais podem evoluir para ravinas e atingir a conformação de boçorocas,
as quais representam a forma mais grave de erosão em sulcos (PAIVA e PAIVA,2001, p.288).
As práticas conservacionistas de produção agrícola têm por objetivo o aumento da
resistência do solo ou a redução da força dos processos erosivos de modo a reduzir
e controlar o esgotamento dos solos. Estas práticas podem ser divididas em vegetativas, edáficas
e mecânicas (BERTONI e LOMBARDI NETO, 2005, p.95, 109, 114).

c) Manejo Integrado de Bacias Hidrográficas

A microbacia hidrográfica constitui-se uma unidade básica de planejamento voltado à


compatibilização da preservação dos recursos naturais e da produção agropecuária. Em função
de suas características ecológicas, geomorfológicas e sociais, as microbacias hidrográficas
possibilitam uma abordagem holística e participativa, envolvendo estudos interdisciplinares para
o estabelecimento de formas de desenvolvimento sustentável (ATTANASIO, 2004, p.2).
O manejo integrado de microbacias hidrográficas é uma ferramenta estratégica importante para
o desenvolvimento rural, amplamente difundido em nível internacional. A microbacia hidrográfica
é uma área geográfica definida por divisores topográficos drenados por pequenos arroios, com
áreas pequenas geralmente englobadas dentro dos limites de uma unidade administrativa, como

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uma região, município ou um distrito. Esta área é admitida como a menor unidade territorial capaz
de enfocar as variáveis ambientais de forma sistêmica (SILVA, 1994).

Os trabalhos em microbacias hidrográficas pretendem integrar os interesses de todos os


segmentos da sociedade em termos de abastecimento, saneamento, habitação, lazer, proteção
e preservação do meio ambiente, produtividade, elevação da renda e do bem-estar da
comunidade. Os objetivos do manejo integrado de microbacias hidrográficas são (BERTONI e
LOMBARDI NETO, 2005, p.334):

 Manejar adequadamente os recursos naturais, principalmente o solo e a água;


 Incrementar a produção e a produtividade agro-silvo-pastoris;
 Diminuir ou mitigar os riscos de secas e inundações;
 Reduzir o processo de degradação dos solos, principalmente a erosão;
 Garantir uma maior disponibilidade e uma melhor qualidade da água;
 Estimular o planejamento, a organização da produção municipal sobretudo alimentos
básicos;
 Racionalizar os recursos materiais, financeiros e de pessoal em âmbito federal, estadual e
municipal, compatibilizando e otimizando sua utilização;
 Incentivar a organização associativa dos produtores rurais visando à solução de problemas
comuns;
 Maximizar as rendas municipais e comunitárias a partir da capacitação de pessoas para
gerenciamento e administração da produção;
 Controlar a poluição;
 Promover ações comunitárias visando a obtenção de benefícios nas áreas de produção,
comercialização, saúde, educação, transporte etc.;
 Propiciar novas alternativas de exploração econômica na comunidade rural;
 Participar do processo de fixação do homem no campo.

Quanto ao tamanho ou área de drenagem de uma microbacia identifica-se que não há consenso
na literatura. Uma série de conceitos é aplicada na definição de microbacias, podendo ser
adotados critérios como unidades de medida, hidrológicos e ecológicos.
Para Faustino (1996), as sub-bacias possuem áreas maiores que 100 km² e menores que 700
km². Para Rocha (1997, apud MARTINS et al., 2005), são áreas entre 20.000 ha e 30.000 ha
(200 km2 a 300 km2). Para Santana (2003), bacias podem ser desmembradas em um número

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qualquer de sub-bacias, dependendo do ponto de saída considerado ao longo do seu eixo-tronco


ou canal coletor.

Cada bacia hidrográfica interliga-se com outra de ordem hierárquica superior, constituindo, em
relação à última, uma sub-bacia.
Apesar das diferentes definições e nomenclaturas, o consenso é que a bacia hidrográfica é a
unidade ótima para o estudo e planejamento de recursos naturais.
Todas as matérias, como solo, água e nutrientes, são coordenadas dentro dos contornos da
bacia (KOBIYAMA, 2008).
As políticas públicas que determinam as microbacias ou bacias hidrográficas como unidade de
planejamento partem da perspectiva do desenvolvimento sustentável e
pressupõem uma racionalização do uso dos recursos naturais.
A elaboração de um plano de microbacia hidrográfica inicia com a identificação das microbacias
existentes no município, diagnóstico de sua situação, perfil socioeconômico do município e de
sua comunidade, seleção das microbacias a serem trabalhadas (BERTONI e LOMBARDI NETO,
2005, p.334).

Para seleção de microbacias hidrográficas deverão ser considerados os seguintes critérios:

 Áreas que concentrem um maior número de produtores;


 Áreas que apresentem uma significativa produção de alimentos básicos;
 Locais onde haja projetos de saneamento básico;
 Locais onde estejam sendo desenvolvidos projetos de irrigação comunitária explorados
por pequenos agricultores;
 Localidades onde há interesse e disposição em investir recursos e esforços, por parte da
administração local e dos produtores rurais;
 Áreas onde os recursos hídricos tenham importância para abastecimento urbano;
 Locais onde existem problemas de erosão ou ocorram outras formas de degradação dos
recursos ali existentes;
 Localidades que disponham de recursos humanos e materiais para implementação dos
projetos;
 Preferencialmente áreas que estiverem mais a montante.

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O plano de manejo de microbacias hidrográficas deve balancear os elementos culturais, sociais,


econômicos e ecológicos na elaboração dos "mapas" das bacias durante a fase de diagnóstico,
e a consequente priorização das ações variam de acordo com a natureza das análises feitas.
O diagnóstico orienta não só as premissas técnicas do projeto, como também o caráter
sociopolítico da intervenção e a capacitação das equipes interventoras (SANTANA, 2003).
O plano de manejo de microbacias hidrográficas deverá ser organizado de modo a
permitir que as informações nele contidas estejam dispostas de maneira clara e coerente,
sugerindo-se a seguinte organização (BERTONI e LOMBARDI NETO, 2005, p.334).

 Diagnóstico
1. dados gerais do município;
2. seleção da microbacias;
3. dados da microbacia: caracterização socioeconômica, fisiográfica, dados de
manejo, práticas utilizadas, uso e cobertura do solo, identificação dos problemas da
comunidade.

 Elaboração de projetos de acordo com as especificidades dos problemas da


microbacia

– Planejamento da microbacia: deverá ser elaborado com base nos resultados do


diagnóstico, prevendo as atividades detalhadas em termos de execução anual e de
recursos necessários, abrangendo um período de 4 anos;
– Monitoramento e avaliação: as atividades desenvolvidas na microbacia, bem como a
introdução e implantação de novas tecnologias, deverão alterar a produção e a
produtividade das culturas, as propriedades físicas, químicas e microbiológicas do solo e
a qualidade e o comportamento hidrológico dos cursos de água. Desta forma, os efeitos
mais significativos da intervenção executadas na microbacia deverão ser acompanhados
e monitorados periodicamente pelos órgãos competentes.

– Revisão do plano: com base nos resultados obtidos durante o monitoramento dos
resultados das intervenções executadas deverão ser traçadas novas metas. As falhas
que porventura forem detectadas deverão ser corrigidas na revisão do plano. Também
poderão ser introduzidas novas tecnologias, dando um caráter dinâmico necessário ao
manejo da microbacia.

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O processo de tomada de decisão deve ser realizado de forma participativa e garantir o acesso
dos grupos diretamente atingidos pelo efetivo gerenciamento da
bacia. Segundo Silva (1994), ao tratar do desenvolvimento rural, é preciso considerar que a
abordagem de manejo por microbacias possui limites metodológicos na compreensão da
realidade social. O manejo por microbacias apresenta aptidão para tratar as questões ambientais
locais, porém não garante uma solução para o
desenvolvimento econômico como um todo (Silva,1994).
Assim, ao invés de se definir a microbacia hidrográfica como unidade ideal de planejamento,
deve-se concebê-la como unidade estratégica de planejamento.

ii. AÇÕES VOLTADAS AO SANEAMENTO RURAL

O conceito de Saneamento Ambiental possui uma abrangência que historicamente


foi construída com o objetivo de alcançar níveis crescentes de salubridade ambiental,
compreendendo o abastecimento de água, o esgotamento sanitário, o
manejo de resíduos sólidos urbanos, o manejo de águas pluviais urbanas, o controle
de vetores, a disciplina de ocupação e uso do solo, a fim de promover a melhoria das condições
de vida urbana e rural.
É importante frisar que o meio rural é constituído de diversos tipos de comunidades, com
especificidades de cada região brasileira, exigindo formas particulares de intervenção em
saneamento básico, tanto no que diz respeito às questões ambientais, tecnológicas e educativas,
como de gestão e sustentabilidade das ações (FUNASA, 2012).
Assim, a proposta do Programa Nacional de Saneamento Rural leva em conta a compreensão
das características de cada tipo de população e sendo compatível com as necessidades e
realidades encontradas em cada uma dessas comunidades nas diferentes regiões brasileiras
(FUNASA, 2012).

O programa visa promover a inclusão social destes grupos, mediante a implantação


de ações de saneamento integradas com outras políticas públicas setoriais, tais como: saúde,
recursos hídricos, habitação, igualdade racial e meio ambiente (FUNASA, 2012).
A participação social e a integração de ações entre Governo Federal, Estados e Municípios são
fundamentais para a construção e implementação do Programa.

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iii. DIFICULDADES NO SANEAMENTO RURAL

Em áreas rurais, o maior desafio está no controle da qualidade da água de abastecimento e


controle e disposição de esgotos e efluentes domésticos, uma vez
que as soluções em geral são individuais e dependem de investimentos do próprio produtor ou
da comunidade, devido ao fato da população se encontrar de forma dispersa (CISAM/ AMVAP,
2006, p. 160).
A distância entre as unidades habitacionais na grande maioria dos casos inviabiliza a
implementação de sistemas de abastecimento, esgotamento coletivo e a coleta de resíduos
sólidos domésticos com frequência adequada (CISAM/AMVAP, 2006, p.160).
Outro fator que afeta a implementação de programas de saneamento no meio rural é o fato de
as populações em áreas rurais do Brasil apresentar diferenças culturais e
de desenvolvimento superiores às encontradas no comparativo entre os centros urbanos. Por
exemplo, há uma grande diferença cultural entre uma propriedade localizada no extremo oeste
do estado e uma propriedade rural localizada na região
nordeste próxima ao centro urbano em termos de hábitos de consumo, infraestrutura e acesso à
informação.
Em virtude desses desafios, o saneamento no meio rural depende de um programa de educação
continuada com a instrução e auxílio à implementação de soluções individuais, de forma a
assegurar a saúde e a qualidade de vida dessas populações.
Esses programas devem ser elaborados em concordância com as condições sociais
do local para proporcionarem mudanças efetivas.

De acordo com Verdejo (2006, p. 6) o diagnóstico Rural Participativo (DRP) é:

um conjunto de técnicas e ferramentas que permite que as


comunidades façam o seu próprio diagnóstico e a partir daí
comecem a autogerenciar o seu planejamento e
desenvolvimento. Desta maneira, os participantes poderão
compartilhar experiências e analisar os seus conhecimentos,
a fim de melhorar as suas habilidades de planejamento e
ação. O DRP pretende desenvolver processos de pesquisa a
partir das condições e possibilidades dos participantes,

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baseando-se nos seus próprios conceitos e critérios de


explicação.

 Abastecimento da água

Todas as reações nos seres vivos necessitam de um veículo que as facilite e que sirva para
regular a temperatura em virtude do grande desprendimento de calorias resultante da oxidação
da matéria orgânica. A água, que é fundamental à vida, satisfaz completamente estas exigências
e se encontra presente em proporções elevadas na constituição de todos os seres vivos,
inclusive no homem, onde atinge 75% de seu peso.
O homem sempre se preocupou com o problema da obtenção da qualidade da água e em
quantidade suficiente ao seu consumo e desde muito cedo, embora sem
grandes conhecimentos, soube distinguir uma água limpa, sem cor e odor, de outra
que não possuísse estas propriedades atrativas.

3.3 Precipitação

O regime hidrológico de uma região é determinado por suas características físicas, geológicas e
topográficas, e por seu clima. Os fatores climáticos mais importantes são a precipitação, principal
“input” do balanço hidrológico de uma região, sua distribuição e modos de ocorrência, e a
evaporação, responsável direta pela redução do escoamento superficial.

A precipitação é entendida em hidrologia como toda a água proveniente do meio atmosférico que
atinge a superfície terrestre. Neblina, chuva, granizo (ou saraiva), orvalho, geada e neve são
formas diferentes de precipitações. A diferença entre essas precipitações é o estado em que a
água se encontra (BERTONI & TUCCI, 1993).
A disponibilidade de precipitação numa bacia durante o ano é um fator determinante para
quantificar, entre outros, a necessidade de irrigação de culturas e o abastecimento de água
doméstico e industrial.
A determinação da intensidade de precipitação é importante para o controle de inundação e da
erosão do solo. Por sua capacidade para produzir escoamento, a chuva é o tipo de precipitação
mais importante para a hidrologia (BERTONI & TUCCI, 1993).

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Outros fatores climáticos de suma importância são a temperatura, a umidade e o vento,


principalmente pela influência que exercem sobre a precipitação e a evaporação.
Os fenômenos atmosféricos de precipitação ocorrem quando existe uma condensação de vapor
d’ água formando nuvens, os ventos movimentam as partículas d’ água de maneira a ocorrer
aglutinação de gotículas, formando massas d’ água suficientes para serem precipitadas.
Os processos de crescimento das gotas mais importantes são os de coalescência e de difusão
do vapor. O processo de coalescência é aquele no qual as pequenas gotas das nuvens
aumentam seu tamanho devido ao contato com outras gotas através da colisão, provocada pelo
deslocamento das gotas, devido a movimentos turbulentos do ar, à força elétrica e ao movimento
Browniano3.
A partir do momento em que as gotas d’ água atingem tamanho suficiente para vencer a
resistência do ar, elas se deslocam em direção ao solo.

Nesse movimento de queda, as gotas maiores caem com maior velocidade do que os menores,
o que faz com que as gotas menores sejam alcançadas e incorporadas às maiores aumentando,
portanto, seu tamanho.
O processo de difusão do vapor é aquele no qual o ar, após o nível de condensação,
continua evoluindo, provocando difusão do vapor supersaturado e sua consequente
condensação em torno das partículas que aumenta de tamanho.

3.3.1 Tipos de precipitação

O esfriamento dinâmico ou adiabático é a principal causa da condensação e é o


responsável pela maioria das precipitações.
O movimento vertical das massas de ar é um requisito importante para a formação das
precipitações, que podem ser classificadas de acordo com as condições que produzem o
movimento vertical do ar.
Neste sentido, o rápido resfriamento de grandes massas de ar pode ser produzido de forma
ciclônica, orográfica e convectiva. Normalmente quando ocorre a precipitação, mais de um
desses processos são ativados.

3 O movimento Browniano é o movimento aleatório de partículas macroscópicas num fluido como


consequência dos choques das moléculas do fluido nas partículas.

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I. PRECIPITAÇÕES FRONTAIS OU CICLÔNICAS

Estão associadas com o movimento de massas de ar de regiões de alta pressão para


regiões de baixa pressão. A diferença de pressão normalmente é causada por aquecimento
desigual da superfície terrestre.
As precipitações ciclônicas podem ser classificadas como frontal ou não frontal. A frontal resulta
da ascensão do ar quente sobre o ar frio na zona de contato entre duas massas de ar de
características diferentes. Se a massa de ar frio se move de tal forma que é substituída por uma
massa de ar mais quente, a frente é conhecida como frente quente, e se o contrário acontece,
chamamos de frente fria. A ascensão frontal pode ser vista na figura 17.

Figura 17 – Precipitações ciclônicas.

Fonte: Villela & Mattos, 1975.

II. PRECIPITAÇÕES OROGRÁFICAS

Essa precipitação é resultante de ascensão mecânica, acontece quando uma corrente de ar


úmido horizontal é forçada a passar por uma barreira natural, tais como as montanhas. As
precipitações da Serra do Mar são exemplos típicos. A figura 18 demonstra como ocorre.

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Figura 18 – Precipitações orográficas

Fonte: Villela & Mattos, 1975.

III. PRECIPITAÇÕES CONVECTIVAS

As precipitações convectivas são típicas das regiões tropicais. Quando ocorre um aquecimento
desigual da superfície terrestre, acaba surgindo o aparecimento de camadas de ar com
densidades diferentes, o que gera uma estratificação térmica da atmosfera em equilíbrio estável.
Caso esse equilíbrio, por qualquer motivo (vento, superaquecimento) for quebrado,
provocará uma ascensão brusca e violenta do ar menos denso, que é capaz de atingir grandes
altitudes. Essas precipitações costumam ser de grande intensidade e curta duração,
concentradas em pequenas áreas. A Figura 19 demonstra como esse
fenômeno acontece.

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Figura 19 – Precipitações convectivas.

Fonte: Villela & Mattos, 1975.

3.4 Interceptação

A interceptação é a retenção de parte da precipitação acima da superfície do solo (Blake, 1975),


podendo ocorrer pela presença de vegetação ou outra forma de obstrução ao escoamento. O
volume retido é perdido por evaporação, retornando à atmosfera.

Este processo interfere no balanço hídrico da bacia hidrográfica, funcionando como um


reservatório que armazena uma parcela da precipitação para consumo. A tendência é de que a
interceptação reduza a variação da vazão ao longo do ano, retarde e reduza o pico das cheias
(TUCCI, 1993).
Ainda de acordo com Tucci (1993), a retenção de parte do escoamento também pode ocorrer
por depressões do solo, mas não pode ser considerada uma interceptação propriamente dita, já
que parte do volume retido retorna ao fluxo da bacia através da infiltração. Essas depressões do
solo ou a baixa capacidade de drenagem podem provocar o armazenamento de grandes volumes
de água, reduzindo a vazão média da bacia.
Como já mencionado, a interceptação pode ocorrer de duas formas: pela vegetação e por
depressões. As duas formas são explicadas a seguir.

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3.4.1 Interceptação vegetal

Esse tipo de interceptação pode depender de algumas variáveis, dentre elas: características da
precipitação e condições climáticas, tipo e densidade da vegetação e período do ano. As
características principais da precipitação são a intensidade, o volume precipitado e a chuva
antecedente.
A intensidade do vento é o fator climático mais significativo na interceptação, aumentando a
mesma para uma cheia longa e diminuindo para cheias menores (WIGHAM, 1970 apud TUCCI,
1993). O tipo de vegetação caracteriza a quantidade de gotas que cada folha pode reter e a
densidade dela indica o volume retido numa superfície de bacia. As folhas geralmente
interceptam a maior parte da precipitação, mas a disposição dos troncos contribui
significativamente. Em regiões em que ocorre uma maior variação climática, ou seja, em latitudes
mais elevadas, a vegetação apresenta uma significativa variação da folhagem ao longo do ano,
que interfere diretamente com a interceptação. A época do ano também pode caracterizar alguns
tipos de cultivos que apresentam as diferentes fases de crescimento e colheita.

A equação da continuidade do sistema de interceptação pode ser descrita por:

 Equação – Precipitação Interceptada

Si=P-T-C
Onde:
Si = precipitação interceptada;
P = precipitação;
T = precipitação que atravessa a vegetação;
C = parcela que escoa pelo tronco das árvores.

De acordo com Tucci (1993), Horton (1919) foi um dos primeiros a descrever e apresentar
resultados e equações para descrever o comportamento da interceptação vegetal. O referido
autor relacionou o volume interceptado durante uma enchente com a capacidade de
interceptação da vegetação e a taxa de evaporação.

 Equação – Interceptação Vegetal

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Si = Sv + ( Av/A ) . E . tr
Onde:
Sv = capacidade de armazenamento da vegetação para a área;
Av = área de vegetação;
A = área total;
E = evaporação da superfície de evaporação;
tr = duração da precipitação.

3.4.2 Armazenamento nas depressões

Na bacia hidrográfica existem obstruções naturais e artificiais ao escoamento, acumulando parte


do volume precipitado. Em áreas rurais isso pode ser observado
após uma enchente, quando áreas sem drenagem formam pequenas lagoas.

O volume de água retido nessas áreas somente diminui por evaporação e por infiltração.
Como o lençol freático fica alto, logo após a enchente, a saída de água dá-se principalmente pela
evaporação, reduzindo a vazão média da bacia. Isso é mais grave em solos que se
impermeabilizam com a umidade, como o argiloso (TUCCI, 1993).
Em bacias urbanas, podem ser criadas artificialmente áreas com retenção do escoamento em
função de aterros, pontes e construções. O somatório destas perdas se reflete na redução da
vazão média e no abatimento dos picos de enchentes. Linsley et al. (1949) utilizou a seguinte
expressão empírica para retratar o volume retido pelas depressões do solo após o início da
precipitação (TUCCI, 1993).

 Equação – Fórmula empírica de interceptação

1−e−kPe

Vd = Sd
Onde:
Vd = volume retido;

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NOÇÕES SOBRE HIDROLOGIA E REVITALIZAÇÃO
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Sd = capacidade máxima;
Pe = precipitação efetiva;
K = coeficiente equivalente a 1/Sd

No uso desta equação, admite-se que no início da precipitação as depressões estão vazias e
para gerar escoamento superficial é necessário que as depressões estejam
preenchidas. São aproximações do comportamento real, já que o escoamento superficial ocorre
sem que as depressões sejam todas preenchidas, devido à variabilidade espacial da capacidade
de retenção delas.

3.5 Infiltração

A infiltração e o fenômeno de penetração da água nas camadas do solo próximas a superfície


do terreno, movendo-se para baixo, através dos vazios, sob a ação da gravidade, até atingir uma
camada suporte, que a retem, formando então a água do solo (MARTINS, 1976).

A água de chuva precipitada sobre terreno permeável é geralmente seccionada totalmente pelo
solo até o instante em que se inicia a formação de um espelho d’água na superfície e, por
conseguinte, a ocorrência de deflúvio superficial. Esse fato pode ser observado por qualquer
pessoa, porém é regido por leis físicas complexas, cuja quantificação é supostamente
conseguida por meio de experimentos, leis empíricas e solução de equações diferenciais que
governam o movimento da água no solo (RIGHETTO, 2008).
A infiltração pode ser dividida em três fases essenciais, sendo elas a fase de intercâmbio, de
descida e de circulação. Na fase de intercâmbio, a água está próxima à superfície do terreno,
sujeita a retornar a atmosfera por uma aspiração capilar, provocada pela ação da evaporação ou
absorvida pelas raízes das plantas e em seguida transpirada pelo vegetal.

Quando o deslocamento vertical da água ocasionado pela ação de seu próprio peso supera a
adesão e a capilaridade, chamamos de fase de descida. Esse movimento se efetua até atingir
uma camada-suporte de solo impermeável.
A fase de circulação ocorre quando há acúmulo de água, onde são constituídos os
lençóis subterrâneos, cujo movimento se deve também a ação da gravidade, obedecendo às leis
de escoamento subterrâneo.

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NOÇÕES SOBRE HIDROLOGIA E REVITALIZAÇÃO
DE BACIAS

3.5.1 Grandezas características

As principais grandezas características são explicadas por Martins (1976), como


mostram os próximos itens.

3.5.1.1 Capacidade de infiltração

É a quantidade máxima de água que um solo, sob uma dada condição, pode absorver na unidade
de tempo por unidade de área horizontal. A penetração da água no solo, na razão de sua
capacidade de infiltração, verifica-se somente quando a intensidade da precipitação excede a
capacidade do solo em absorver a água, isto é, quando a precipitação é excedente. A capacidade
de infiltração pode ser expressa por milímetros por hora (mm/h), milímetros por dia (mm/dia),
metros cúbicos por metro quadrado (m³/m²) ou metros cúbicos por dia (m³/dia).

3.5.1.2 Distribuição granulométrica

É a distribuição das partículas constituintes do solo em função das suas dimensões.

3.5.1.3 Porosidade

É a relação entre o volume de vazios de um solo e o seu volume total, expressa


comumente em porcentagem (%).

3.5.1.4 Velocidade de infiltração

É a velocidade média de escoamento da água através de um solo saturado, determinada pela


relação entre a quantidade de água que atravessa a unidade de

área do material do solo e o tempo. Pode ser expressa por metros por segundo (m/s), metros
por dia (m/dia), metros cúbicos por metro quadrado (m³/m²) ou metros cúbicos por dia (m³/dia).

3.5.2 Fatores intervenientes

Os principais fatores intervenientes também são explicados por Martins (1976), apresentados
nos itens a seguir.

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3.5.2.1 Tipo de solo

A capacidade de infiltração varia diretamente com a porosidade, o tamanho das partículas do


solo e o estado de fissuração das rochas. As características presentes em pequena camada
superficial, com espessura da ordem de 1 cm, têm grande influência sobre a capacidade de
infiltração.

3.5.2.2 Compactação devida ao homem e aos animais

Em locais onde há tráfego constante de homem ou veículos ou em áreas de utilização intensa


por animais (pastagens), a superfície é submetida a uma compactação que a torna relativamente
impermeável.

3.5.2.3 Ação da precipitação sobre o solo

As águas das chuvas quando se chocam com o solo promovem a compactação da sua
superfície, diminuindo a capacidade de infiltração, transportam os materiais finos que, pela sua
sedimentação posterior, tenderão a diminuir a porosidade da superfície, umedecem a superfície
do solo, saturando as camadas próximas, aumentando a resistência à penetração da água; e
atuam sobre as partículas de substâncias coloidais que, ao intumescerem, reduzem as
dimensões dos espaços intergranulares.

3.5.2.4 Percolação

É o movimento subterrâneo da água no solo, em especial no solo saturado ou próximo à


saturação, já a infiltração refere-se à entrada de água no solo. A água percolada atinge a zona
saturada ou nível freático ou o aquífero confinado através das zonas de recarga. Em resumo, à
medida que os poros vão sendo preenchidos, a infiltração tende a diminuir, estando limitada pela
capacidade do solo de transferir a água para as camadas mais profundas – percolação –
(COLLISCHONN e TASSI, 2011, p. 72).

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3.5.3 Determinação da capacidade de infiltração

Para a determinação da capacidade de infiltração, podem ser utilizados equipamentos chamados


infiltrômetros, que são capazes de realizar uma medição direta. São tubos cilíndricos curtos de
chapa metálica, com diâmetros que variam entre 200 e 900 mm. São cravados verticalmente no
solo de modo a restar uma pequena altura livre sobre este.
O método de Horner e Lloyd também pode ser utilizado para conhecer a capacidade de infiltração
do solo de uma dada área, porém para pequenas bacias hidrográficas. Ele é baseado na medida
direta da precipitação e do escoamento superficial resultante, o que possibilita a determinação
da curva da capacidade de infiltração em função do tempo.
Já em bacias muito grandes, a intensidade de precipitação não é constante em toda a área e por
isso, Horton propôs um método de avaliação da capacidade média de infiltração.

Este método indica que a precipitação seja medida por diversos aparelhos por toda a bacia, e
um deles deve ser necessariamente um pluviógrafo.

3.6 Evaporação

Evaporação é o conjunto dos fenômenos de natureza física que transformam a água líquida ou
sólida em vapor de água da superfície do solo e transferida, neste estado,
para a atmosfera.

Esse processo somente poderá ocorrer naturalmente se houver ingresso de energia no sistema,
proveniente do sol, da atmosfera ou de ambos e será controlado pela taxa de energia, na forma
de vapor de água que se propaga na superfície da Terra (TUCCI & BELTRAME, 1993). A
evaporação pode ocorrer em corpos d’água, lagos reservatórios de acumulação, águas retidas
na camada superficial do solo e mares e é influenciada também pela temperatura e umidade
relativa do ar, vento e pressão de vapor.

3.6.1 Métodos para Determinar a Evaporação

Na escolha de modelos para estimativa da evaporação da águas de reservatórios devem ser


consideradas a praticidade e a precisão, visto que, apesar dos métodos teóricos e

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micrometeorológicos serem baseados em princípios físicos, eles também apresentam limitações,


sobretudo quanto à precisão instrumental, o que pode restringir a sua utilização.
Em se tratando de reservatórios de água, lagos e córregos, a estimativa da evaporação é
importante no manejo dos recursos hídricos, mas o desenvolvimento de métodos confiáveis para
estimativa da evaporação em lagos, baseados em informações climatológicas de fácil obtenção,
ainda é um desafio (Oliveira, 2009). A maioria dos métodos atualmente disponíveis estima a
evaporação a partir de observações de temperatura e umidade do ar, velocidade do vento e
radiação solar (Roque & Sansigolo, 2001).
Gangopadhyay et al. (1966), em função da diferença de pressão parcial de vapor na temperatura
da superfície líquida (eo) e a medida no ar (ea) e de um coeficiente de ajuste K, que é também
função da velocidade do vento.

Os métodos de estimativa de evaporação podem ser classificados de acordo com o processo e,


ou, instrumentos usados. Dentre as classificações estão os métodos empíricos, métodos de
balanço hídrico, métodos de balanço de energia, métodos de transferência de massa ou
baseados na equação de Dalton e métodos combinados (Leão et al, 2013).

 Métodos empíricos: Os métodos empíricos, usando análise de regressão, relacionam a


evaporação em um tanque, ou, evaporação de lago, ou medições em lisímetros a elementos
meteorológicos (MEKONNEN & HOEKSTRA, 2011).

Alguns exemplos de métodos empíricos são os métodos de Thornthwaite, Jensen-Haise,


Papadakis e Blaney-Criddle. Um problema dos métodos empíricos é que eles têm uma
limitada aplicabilidade, pois devem ser utilizados sob as mesmas condições para os quais
foram calibrados. Os métodos de balanço hídrico podem potencialmente prover estimativas
mais confiáveis da evaporação, desde que cada componente do balanço seja medido
corretamente, tarefa essa difícil de ser aplicada em condições reais de campo,
principalmente considerando a dinâmica das águas subterrâneas (LENTERS et al., 2005).

 Evaporímetros: instrumentos que possibilitam uma medida direta do poder evaporativo da


atmosfera, estando sujeitos aos efeitos de radiação, temperatura, vento e umidade. Os mais
conhecidos são os atmômetros e os tanques de evaporação;

 Transferência de massa: é baseado na primeira Lei de Dalton, que estabelece a relação


entre evaporação e pressão de vapor. Esses métodos utilizam o conceito de transporte de

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vapor de água para a atmosfera por processo de difusão turbulenta. Esses métodos dão
resultados satisfatórios em muitos casos e alguns exemplos são os métodos de
Gangopadhyaya et al.1966, Houman & Linsley et al., (1949). (MEKONNEN & HOEKSTRA,
2011).

 Balanço hídrico: possibilita a determinação da evaporação com base na equação da


continuidade do lago ou reservatório.

 Métodos combinados: Utilizam tanto o princípio de transferência de energia como o


balanço de massa em uma única equação, sendo os mais conhecidos os métodos de
Penmam, Priestley-Taylor, Morton (CRLE), deBruin, de Bruin-Keijman e Brutsaert-Stricker.
O método de Penman (1948) foi o primeiro método indireto que combinou os efeitos do
balanço de energia com o poder evaporante do ar e, é denominado por essa razão de
método combinado. Pereira et al. (1997) dizem que ele é baseado em princípios físicos
corretos.

Apesar de não ser operacionalmente perfeito e correto, ele é considerado, por muitos, como
modelo padrão, ou seja, é a melhor opção para estimar a ETP (Evapotranspiração
Potencial), (TUCCI & BELTRAME, 2000).
De acordo com Bernardo, (2002), o método de Penman apresenta boa precisão, porém
exige a determinação de grande número de dados meteorológicos e o seu cálculo é bastante
trabalhoso. Linacre (1993) propôs uma equação simplificada da fórmula de Penman (1948)
que utiliza dados de temperatura, radiação e velocidade do vento, para a estimativa da
evaporação de água em superfície livre, em lagos, rios e grandes represas.

 Balanço de energia: No método de balanço de energia, a evaporação de uma superfície


líquida é estimada como o saldo de energia no local. Métodos de balanço de energia são
considerados por alguns autores como os mais confiáveis na teoria (LENTERS et al., 2005;
SINGH & XU,1997). Entre eles encontram-se os métodos de Linacre, Kohler et al., (1955) e
Makkink. O objetivo do método do balanço de energia é o de estimar a taxa de evaporação
diária (Er em mm/dia) em função da média horária da radiação líquida em um dia (Rn em
W/m2) e da temperatura do ar (Tar em C).

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Apesar das classificações e diferentes métodos existentes, não existe na literatura um


consenso a respeito do qual é o melhor método. A escolha de um método para a estimativa da
evaporação da água em superfícies livres requer a análise dos dados edafoclimáticos e das
características da região em que se realizará o estudo (RONSEBERRY et al., 2007).
Segundo Pereira et al. (1997), no Brasil, são escassas as atividades de pesquisa e
experimentação no campo específico da evaporação em reservatórios, além da incontestável
carência de informações básicas nas diferentes regiões climáticas do País para atender a
diversos objetivos.

A estimativa da evaporação pode ser realizada pela utilização de modelos fundamentados no


balanço de energia, nos processos de transferência, balanço hídrico, métodos aerodinâmicos e
métodos combinados por meio de formulações empíricas ou semiempíricas, e pelos tanques de
evaporação (LEÃO et al., 2013).

3.7 Escoamento superficial

3.7.1 Escoamento superficial (deflúvio)

É a parcela da água precipitada que percorre superficialmente até atingir os cursos d’água. O
volume escoado, somado as contribuições subterrâneas e subsuperficiais, resulta no deflúvio.
O escoamento superficial ou descarga é a quantidade de água que passa em uma
determinada seção de rio, normalmente expressa em metros cúbicos por segundo (m³/s) ou litros
por segundo (L/s) (VILLELA e MATTOS, 1975, p. 103). O escoamento superficial é gerado a
partir da interação dos diversos processos de armazenamento
e transporte do ciclo hidrológico.

Combina os seguintes fatores (SPERLING, 2007, p.64):

 Escoamento de base: resulta da parcela de precipitação que sofreu infiltração


profunda. É a contribuição das reservas subterrâneas a partir do escoamento
subterrâneo para o escoamento superficial. Sua importância relativa é pequena
durante os períodos de precipitação intensa, mas passa a representar a totalidade
do escoamento superficial quando as outras componentes se esgotam.

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 Escoamento superficial: ocorre após de satisfeitos os processos de evaporação,


infiltração, retenção superficial da bacia, inicia sobre a forma de lâminas de
escoamento em direção às partes mais baixas do terreno. Constitui a componente
mais significativa do hidrograma durante as precipitações intensas.

 Escoamento subsuperficial: parcela da precipitação que infiltra, mas escoa a pouca


profundidade no terreno na zona não saturada, no meio poroso constituinte dos
horizontes mais superficiais do solo. Chega ao curso de água com um pequeno atraso
em relação ao escoamento direto, devido à maior resistência hidráulica do meio onde
escoa.

O escoamento superficial talvez seja a fase mais importante do ciclo hidrológico, pois é a etapa
que estuda o deslocamento das águas na superfície da Terra e está diretamente ligada ao
aproveitamento da água superficial e à proteção contra os efeitos causados pelo seu
deslocamento (erosão do solo, inundações etc.).
Esse tipo de escoamento é presenciado fundamentalmente na ocorrência de precipitações e
considera desde o movimento da água de uma pequena chuva que, caindo sobre um solo
saturado de umidade, escoa pela sua superfície, formando as enxurradas ou torrentes, córregos,
ribeirões, rios e lagos ou reservatórios de acumulação.
De acordo com Martins (1976), parte da água das chuvas é absorvida pela vegetação e outros
obstáculos, a qual é evaporada posteriormente. Da quantidade de água que atinge o solo, parte
é retida em depressões do terreno e parte é infiltrada. Após o solo alcançar sua capacidade de
absorver a água, ou seja, quando os espaços nas superfícies retentoras tiverem sido
preenchidos, ocorre o escoamento superficial da água restante.
No início do escoamento superficial é formada uma película laminar que aumenta de espessura,
à medida que a precipitação prossegue, até atingir um estado de equilíbrio.

Dentre os fatores que influenciam o escoamento superficial estão os seguintes:

 Fatores climáticos: Ligados à intensidade da chuva, duração da chuva e a chuva


antecedente;

 Fatores fisiográficos: ligados à área e forma da bacia, à permeabilidade e


capacidade de infiltração e à topografia da bacia;

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 Obras hidráulicas: ligadas à construção de barragens, canalização ou retificação e


derivação ou transposição.

3.7.1.1 Coeficiente de escoamento superficial (run off)

O coeficiente de escoamento superficial ou coeficiente de “run off”, é definido como a razão entre
o volume de água escoado superficialmente e o volume de água precipitado.

Este coeficiente pode ser relativo a uma chuva isolada ou relativo a um intervalo de tempo em
que várias chuvas ocorreram (VILLELA E MATTOS, 1975). A equação a seguir demonstra o
coeficiente de “run off”.

– Equação – Coeficiente de “run off”

Sabe-se que conhecendo o coeficiente de “run off” para uma determinada chuva intensa de uma
certa duração, pode-se determinar o escoamento superficial de outras precipitações de
intensidades diferentes, desde que a duração seja a mesma.
Esse coeficiente é muito utilizado para se prever a vazão de uma enchente provocada por uma
chuva intensa.

3.7.1.2 Métodos de Estimativa do Escoamento Superficial

De acordo com Carvalho e Silva (2006), os métodos de estimativa do escoamento


superficial podem ser divididos em quatro grupos conforme à:

a) Medição do Nível de Água

A estimativa do escoamento superficial por meio de medição do nível de água é realizada em


postos fluviométricos, onde a altura do nível de água é obtida com auxílio das réguas linimétricas
ou por meio dos linígrafos.

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De posse das alturas pode-se estimar a vazão em uma determinada seção do curso d’água por
meio de uma curva chave. Esta curva relaciona uma altura do nível do curso d’água a uma vazão.
É o método mais preciso e requer vários postos fluviométricos.

b) Modelo Chuva-Vazão Calibrados - Método do hidrograma

A área de drenagem, grau de permeabilidade, profundidade do lençol freático, porosidade do


solo e o tipo de precipitação que ocorreu sobre a bacia, são aspectos da bacia que podem refletir
em um hidrograma. O hidrograma, hidrógrafa ou fluviograma é a representação gráfica da
distribuição da vazão em função do tempo numa dada seção de um curso d’água. Essa
distribuição é interpretada como sendo a resposta da bacia hidrográfica ou área de drenagem
quando estimulada pelas chuvas que caem sobre essa área (Righetto, 1998).
A figura 20 mostra uma hidrógrafa de uma chuva isolada (ietograma) de uma precipitação que
ocorreu em uma bacia, assim como a curva de vazão correspondente registrada em uma seção
de um curso d’água.

Figura 20 - Ietograma e hidrógrada de uma chuva isolada.

Fonte: CARVALHO e SILVA, 2006.

Alguns fatores contribuíram para o escoamento na seção considerada, sendo eles:

1) Precipitação recolhida diretamente pela superfície livre das águas;

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2) Escoamento superficial direto (incluindo o escoamento subperficial);


3) Escoamento básico (contribuição do lençol de água subterrânea).

É possível observar quatro trechos diferentes na Figura 20, aonde o primeiro vai até o
ponto A. Neste primeiro trecho o escoamento ocorre devido exclusivamente à contribuição do
lençol freático, fazendo com que a vazão decresça. Entre os pontos A e B acontece a contribuição
simultânea dos escoamentos superficial e da base, formando escoamento superficial direto, o
qual promove aumento da vazão à medida que aumenta a área de contribuição para o
escoamento.
Quando a chuva durar tempo suficiente para que toda a área da bacia hidrográfica
contribua para a vazão na seção de controle, atinge-se o ponto B, onde ocorre a vazão de pico,
ou seja, o valor máximo para a vazão resultante da precipitação sob análise.
De qualquer forma o ponto B é um máximo da hidrógrafa, mesmo que toda a área da bacia não
contribua para a vazão, porém não representando a condição crítica.
Caso a chuva tenha duração superior ao tempo de concentração da bacia, a hidrógrafa tenderá
a um patamar com flutuações da intensidade de precipitação.
As contribuições dos escoamentos superficiais e de base acontecem no trecho entre os pontos
A e B, chamado também de trecho de ascensão do escoamento superficial direto.
Quando a chuva houver terminado, a área de contribuição do escoamento superficial é reduzida
gradualmente, como mostra o trecho BC. Este trecho é denominado trecho de depleção do
escoamento superficial direto, o qual se encerra no ponto C. Quando é observada apenas a
contribuição do escoamento básico, chamamos de curva de depleção de escoamento de base,
fase apresentada após o término do trecho C.
O volume escoado superficialmente (VESD) corresponde à área compreendida entre o trecho de
reta AC e a hidrógrafa.
Para avaliá-la deve-se utilizar qualquer processo de aproximação como o é a integração
numérica, com base, por exemplo, na regra dos trapézios, cuja aplicação resulta:

 Equação – Volume escoado superficialmente:

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Desde que Δt seja constante. Deve-se utilizar para Δt a mesma unidade de tempo da vazão.

O valor encontrado para VESD pode ser transformado em lâmina escoada ou precipitação efetiva
(Pe) por meio de:

 Equação – Precipitação efetiva

Onde:
Pe = precipitação efetiva;
VESD = volume escoado superficialmente direto;
ABH = área da bacia hidrográfica.

A separação do hidrograma em escoamento superficial direto e escoamento básico é muito


importante para o estudo das características hidrológicas da bacia e para alguns métodos de
previsão de enchentes.
A determinação do hidrograma de projeto de uma bacia hidrográfica depende de dois
componentes principais, a separação do volume de escoamento superficial e a propagação deste
volume para jusante. Este último componente dos modelos
hidrológicos geralmente utiliza da teoria de sistemas lineares, ou seja, o hidrograma
unitário (HU) (Tucci, 1993).
O método de HU, apresentado por Le Roy K. Sherman em 1932 e aperfeiçoado mais
tarde por Bernard e outros, baseia-se primariamente em determinadas propriedades do
hidrograma de escoamento superficial (Pinto, 1976).
O HU é o hidrograma resultante de um escoamento superficial unitário (1 mm, 1cm, 1 polegada)
gerado por uma chuva uniforme distribuída sobre a bacia hidrográfica, com intensidade constante
de certa duração, constituindo uma característica própria da bacia, refletindo as condições de
deflúvio para o desenvolvimento da onda de cheia (Carvalho e Silva, 2006).

c) Modelo Chuva-Vazão Não Calibrado

– Método Racional

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O método Racional é utilizado para o dimensionamento das redes de drenagem urbana dada
sua simplicidade, uma vez que engloba todos os processos em apenas um coeficiente
“Coeficiente de Escoamento (C)”. No entanto, não devem ser aplicados em bacias com área
superior a 2 km².

Os princípios dessa metodologia são:

i. Deve-se considerar a duração da precipitação intensa de projeto igual ao tempo de


concentração da bacia. Ao considerar esta igualdade admite-se que a bacia é
suficientemente pequena para que esta situação ocorra, pois a duração é inversamente
proporcional à intensidade. Em bacias pequenas, as condições mais críticas ocorrem
devido às precipitações convectivas que possuem pequena duração e grande
intensidade.
ii. Adotar um coeficiente único de perdas (coeficiente de escoamento), estimado com base
nas características da bacia.
iii. Não avalia o volume de cheia e a distribuição temporal das vazões. A equação do método
racional é a seguinte:

 Equação – Método Racional

Q = 0,27 .C . i . A
Onde:
Q = vazão máxima (m³/s);
0,027 = correção quando usando a área da bacia em km²;
C: coeficiente de escoamento, também conhecido como run-off ou deflúvio;

i: intensidade da precipitação (mm/h);


A: área da bacia (km²).

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A tabela abaixo apresenta alguns valores de C relativo a tipos de ocupação de solo.


Tabela 2 - Valores do coeficiente de deflúvio, C.

TIPO DE OCUPAÇÃO COEFICIENTE C


ÁREAS COM EDIFICAÇÃO; GRAU DE
ADENSAMENTO -
· MUITO GRANDE 0,70 a 0,95
· GRANDE 0,60 a 0,70
· MÉDIO 0,40 a 0,60
· PEQUENO 0,20 a 0,40
ÁREAS LIVRES: MATAS, PARQUES, 0,05 a 0,20
CAMPOS
PAVIMENTOS 0,70 a 0,95
SOLOS COM VEGETAÇÃO -
· ARENOSO 0,05 a 0,15
· ARGILOSO 0,15 a 0,35
Valores do coeficiente de deflúvio, C.
Fonte: RIGHETTO, 1998.

O coeficiente de escoamento utilizado no método racional depende das seguintes


características:

• Solo;
• Cobertura;
• Tipo de ocupação;
• Tempo de retorno;
• Intensidade da precipitação.

– Método Racional Modificado

Este método deve ser utilizado para áreas maiores que 80 ha até 200 ha. A equação
seguinte representa o método.

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 Equação - Método Racional Modificado

Onde:
D = 1 – 0,009.L/2 (L = comprimento axial da bacia, km).

– Método de I – Pai – Wu

Método desenvolvido em 1963 sendo aplicado a áreas maiores que 200 ha até 20.000 ha.

 Equação – Método de I – Pai – Wu

Sendo que:

Onde:
F = fator de ajuste relacionado com a forma da bacia;
L = comprimento axial da bacia;
A = área da bacia;
K = coeficiente de distribuição espacial da chuva.

d) Fórmulas Empíricas

A estimativa por meio de fórmulas empíricas deve ser utilizada somente na impossibilidade do
emprego de outra metodologia. A utilização das fórmulas empíricas é principalmente alvo de
estudos de previsão de enchentes.

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3.8 Regime dos cursos d’água

De grande importância no estudo das bacias hidrográficas é o conhecimento do sistema de


drenagem, ou seja, que tipo de curso d’água está drenando a região de acordo com seu regime.

Segundo Carvalho e Silva (2006), uma maneira utilizada para classificar os cursos d’água é a de
tomar como base a constância do escoamento com o que se determinam três tipos:

a) Perenes

Contém água durante todo o tempo. O lençol freático mantém uma alimentação contínua
e não desce nunca abaixo do leito do curso d’água, mesmo durante as secas mais severas.

b) Intermitentes

Em geral, escoam durante as estações de chuvas e secam nas de estiagem. Durante as


estações chuvosas, transportam todos os tipos de deflúvio, pois o lençol d’água
subterrâneo conserva-se acima do leito fluvial e alimentando o curso d’água, o que não
ocorre na época de estiagem, quando o lençol freático se encontra em um nível inferior
ao do leito.

c) Efêmeros

Existem apenas durante ou imediatamente após os períodos de precipitação e só


transportam escoamento superficial. A superfície freática se encontra sempre a um nível
inferior ao do leito fluvial, não havendo a possibilidade de escoamento de deflúvio
subterrâneo.

Os rios proporcionam a forma mais visível de escoamento da água fazendo parte integrante do
ciclo hidrológico e alimentado a partir das águas superficiais e subterrâneas (CHRISTOFOLETTI,
19834 apud DESTEFANI, 2005). A vazão é uma das principais variáveis que caracteriza um rio,
constituindo-se da quantidade de água que passa por uma sessão num determinado período.

4 CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia fluvial. São Paulo: Edgard Blucher, 1981.

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As vazões que escoam em um curso d’água são consideradas estocásticas (TUCCI, 2002) sendo
variáveis no tempo e no espaço.

Essa variabilidade representada pela subida e descida das águas consideradas no decorrer de
um ano civil (janeiro a dezembro) ou um ano hidrológico (ciclo de vazante-cheia-vazante)
corresponde ao regime fluvial ou regime de cursos d’água ou hidrológico (DESTEFANI, 2005).
Tucci (1993) cita que a variabilidade do regime hidrológico é controlada por alguns elementos
que formam a bacia hidrográfica ou fatores que nela ocorrem.

Dentre eles estão:

- as condições climáticas, como a precipitação, evapotranspiração e a radiação solar;


- a geologia; a geomorfologia;
- os tipos e uso dos solos;
- a cobertura vegetal;
- e as ações antrópicas.

O regime de um curso d’água e constitui na forma em que é alimentado, ou seja, a origem da


água que o abastece. Pode ser classificado em pluvial, nival ou misto.
O regime pluvial é caracterizado pelos rios que recebem água da chuva, já no regime nival o rio
é abastecido pelo derretimento de geleiras. Um exemplo de rio que apresenta regime misto é o
rio Amazonas5, que suas águas são oriundas de derretimento e de altos níveis pluviométricos.

3.9 As Águas Subterrâneas e os Aquíferos Brasileiros:


Características e Importância

A exploração dos aquíferos garante a segurança hídrica de milhões de pessoas ao redor do


mundo, de pequenos vilarejos a grandes centros urbanos.
As águas subterrâneas representam o principal recurso disponível para a humanidade,
principalmente nas regiões áridas e semiáridas.
A seguir se explicam esses dois conceitos relacionados, porém distintos.

5No Brasil, apenas o Rio Solimões-Amazonas tem esse regime, pois uma pequena quantidade de suas águas
provém do derretimento de neve da Cordilheira dos Andes, no Peru, onde se localiza sua nascente.

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Aquífero Águas subterrâneas “corpo hidrogeológico com capacidade de acumular


e transmitir água através dos seus poros, fissuras ou espaços resultantes da dissolução e
carreamento de materiais rochosos” (Resolução CNRH nº 15/2001, art. 1, inciso III).
“as águas que ocorrem naturalmente ou artificialmente no subsolo” (Resolução CNRH nº
15/2001, art. 1, inciso I).
Apesar das semelhanças entre esses termos, há distinções importantes: os aquíferos contêm
águas subterrâneas, mas nem toda água subterrânea corresponde a um aquífero. Além disso, o
termo água subterrânea não compreende a formação geológica que a abarca, já o conceito de
aquífero corresponde à formação geológica que possui água, sendo que essa rocha deve ter um
volume considerável de água e capacidade de transmiti-la.
Os aquíferos são classificados conforme a sua constituição geológica e a pressão a que estão
submetidos. Essas características vão influenciar na capacidade de armazenamento de água,
velocidade do fluxo, taxas de recarga e vulnerabilidade
à contaminação.

Em relação à sua constituição geológica, os aquíferos se dividem em três categorias:

a) porosos ou sedimentares;
b) fissurais ou fraturados; e
c) cársticos.

As figuras de 21 a 26 detalham cada um desses aquíferos. Eles também são classificados em


três categorias, segundo a pressão a que estão submetidos:

a) livres;
b) confinados; ou
c) semiconfinados.

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Figura 22: Esquema da estrutura dos poros em um aquífero sedimentar.

Fonte: Borghetti et al, 2011, p. 133.


Aquífero poroso ou sedimentar: formado por rochas sedimentares consolidadas, sedimentos inconsolidados ou solos
arenosos (Borghetti et al, 2011, p. 133). O armazenamento e circulação da água ocorrem nos poros das rochas. Esses
aquíferos ocupam 48% do território brasileiro e possuem grande capacidade de armazenamento (ANA, 2017).

Figura 23: Foto de exemplar de rocha arenito.

Fonte: http://carlosrabello.org/geografia/geologia/rochas-e-minerais/arenito/

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Figura 24: Esquema de fraturas nos aquíferos fraturados

Fonte: Borghetti et al, 2011, p. 133.


Aquífero fraturado ou fissural: “formado por rochas ígneas, metamórficas ou cristalinas, duras e maciças” (Borghetti et
al, 2011, p. 133). O armazenamento e circulação da água se dá por meio das fraturas da rocha.

Figura 25: – Basaltos com faturamento vertical do aquífero Serra Geral.

Fonte: Foto cedida por Luis F. Scheibe

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Figura 26: Esquema de canais de um aquífero cárstico.

Fonte: Borghetti et al, 2011, p. 133


Aquífero cárstico (Karst) é formado por rochas calcárias ou carbonáticas. A água dissolve as rochas formando fraturas,
canais e outras descontinuidades que permitem o seu armazenamento e circulação. Esses aquíferos formam rios e lagos
subterrâneos.

Figura 27: Gruta do Lago Azul em Bonito (MS) que é um exemplo de aquífero cárstico

Fonte: Pilar Carolina Villar.

A seguir se apresentam as características dos aquíferos livres, confinados ou


semiconfinados.

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Figura 28: Esquema de um Aquífero livre.

Fonte: Adaptado por Pilar Carolina Villar.


A recarga se dá de forma direta por meio da chuva ou contribuição dos corpos de água superficiais. São de fácil exploração
e possuem maior vulnerabilidade a contaminação

Figura 29: Esquema de um aquífero confinado.

Fonte: Adaptado por Pilar Carolina Villar.


Aquífero confinado: é uma formação geológica permeável, que se encontra confinada entre duas camadas impermeáveis
ou semipermeáveis. Em alguns casos, o nível da água se encontra sob pressão, o que lhe confere a propriedade de
artesianismo. A entrada de água nesses aquíferos se restringe aos eventuais pontos de recarga. Em alguns casos, o
aquífero não possui qualquer recarga, portanto sua exploração equivale a mineração da água, sendo classificado como
aquífero fóssil.
Os aquíferos confinados são naturalmente mais protegidos da contaminação, porém sua exploração exige cuidados diante
das restrições de recarga.

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Figura 30: Esquema de um Aquífero semiconfinado

Fonte: Román, s/d, p.6


Aquífero semiconfinado: formação rochosa permeável “limitada na base, no topo ou em ambos por camadas cuja
permeabilidade é menor do que a do aquífero em si” (Borghetti et al, 2011, p.135). Isso quer dizer que as camadas de
confinamento não são completamente impermeáveis e permitem a infiltração da água para o aquífero.

O potencial de águas subterrâneas brasileiro se caracteriza por 181 aquíferos e sistemas


aquíferos aflorantes, que se dividem em três domínios: fraturado, sedimentar e cárstico.

Desses, 11 são aquíferos transfronteiriços, isto é, são compartilhados com outros países. Há 151
aquíferos sedimentares, os quais representam as maiores potências de
exploração. Pertencem a esse grupo: o Guarani, o Bauru-Caiuá, o Barreiras, o Urucaia/Areado,
o Solimões, o Alter do Chão, o Açu, o Barreiras e o Beberibe. O domínio cárstico é formado por
26 aquíferos, dos quais se destaca o Bambuí e o Jandaíra.
O domínio fraturado possui potencial hídrico reduzido e foi aglutinado em quatro grandes blocos:
Sistema Aquífero Fraturado Semiárido, Sistema Aquífero Fraturado Norte, Sistema Aquífero
Fraturado Centro-Sul e o Aquífero Serra Geral (ANA, 2013, pp. 54-56).
O uso dos aquíferos se intensificou a partir da década de setenta e segue crescendo por diversos
fatores: a) avanços da hidrogeologia e das técnicas de perfuração de poços; b) redução dos
custos de extração; c) menor suscetibilidade climática; d) a
qualidade das águas subterrâneas; e) o aumento da demanda; e f) a degradação das águas
superficiais, (REBOUÇAS, 2006; VILLAR, 2016).
As reservas subterrâneas brasileiras se encontram em avaliação. Sua disponibilidade estimada
é de 14.600 m³/s (reserva explotável) (ANA, 2017), número inferior à disponibilidade superficial
de 91.300 m³/s (ANA, 2015, p.29). Elas representam uma importante fonte para o abastecimento

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público e o consumo humano, contribuindo para aproximadamente 40% da demanda do


abastecimento público, além de serem vitais para a indústria e agricultura. As águas
subterrâneas constituem a única fonte para o abastecimento em quase 40% dos municípios
brasileiros (ANA, 2010). Na área rural elas abastecem 55,3% dos domicílios particulares (IBGE,
2009). Seu uso se destaca nos municípios de pequeno porte, pois garantem uma água segura e
com baixo custo de tratamento. Porém, também são utilizadas em cidades de médio e grande
porte (ANA, 2010; Villar, 2016). Ao todo, em torno de 87.214.502 habitantes em 2.917 municípios
são beneficiados por essas águas, seja como fonte exclusiva ou pela composição dos volumes
nos sistemas mistos (ANA, 2010; Villar 2016).
Essas águas também são fundamentais para a manutenção das áreas úmidas e dos caudais de
base dos rios (i.e., a água que alimenta os rios durante o ano) funcionando como reguladoras
nos períodos secos, conforme demonstrado na figura 29. Seu aporte de água constante é o
grande responsável pela manutenção dos rios e dos ecossistemas relacionados. A água dos
aquíferos é a responsável por manter 90% dos rios brasileiros perenes nos períodos de seca
(ANA, 2017).

Se o nível do aquífero for mais baixo que o do rio, este doará água ao aquífero. A
superexploração de um aquífero pode justamente interferir nesse sistema de contribuição e
impactar a disponibilidade hídrica superficial.

Figura 30: Relação entre rios e aquíferos.

Fonte: ANA, 2017, p. 37

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A superexploração, a poluição e a impermeabilização do solo:

A superexploração se caracteriza quando a extração de água de um aquífero supera ou se


aproxima da taxa de recarga média durante vários anos seguidos. Na prática, costuma-se
considerar que há superexploração quando se observam certos resultados negativos, como a
diminuição contínua dos níveis de água, deterioração da sua qualidade, encarecimento da
extração de água, danos ecológicos, compactação do aquífero, perda de poços, redução das
águas superficiais e subsidência de terrenos (CUSTODIO, 2002).

A impermeabilização do solo impede a recarga dos aquíferos e agrava o risco de


superexploração. Segundo a literatura especializada, as principais fontes de contaminação das
águas subterrâneas são: represas de resíduos industriais; aterros e lixões; fossas sépticas;
irrigação por atomização das águas de esgoto; despejo de lodo de esgoto nas terras; poços de
despejo por injeção; fertilizantes e pesticidas agrícolas; canos subterrâneos e tanques de
armazenamento; contaminantes atmosféricos que combinados com a umidade do ar; intrusão
de águas salgadas do mar; redes e represas de esgotos municipais; despejo de águas salgadas
do mar; derramamentos acidentais; bacias de infiltração e recarga de águas pluviais urbanas
contaminadas; mineração (FOSTER; HIRATA, 1991).
A proteção dos aquíferos está diretamente relacionada ao monitoramento de sua exploração e à
instalação de usos conformes com a vulnerabilidade do aquífero. Casos de poluição das águas
subterrâneas provocados por ações humanas são corriqueiros. A urbanização, o
desenvolvimento industrial, as atividades agrícolas e a mineração são ameaças para a
integridade desses recursos. Embora sejam naturalmente menos vulneráveis à contaminação, a
despoluição de um aquífero leva muitos anos, demanda tecnologias avançadas, altos
investimentos e, em muitos casos, pode significar a perda do aquífero (UN-WWAP, 2006). Os
aquíferos são fontes de água viáveis e podem ser explorados, contudo, seu uso exige medidas
de gestão compatíveis com as suas particularidades.
Dessa forma, o direito tem um papel fundamental na proteção dos aquíferos, pois estabelece as
competências e os órgãos responsáveis pela gestão, determina o conjunto de diretrizes e
instrumentos que vão orientar sua proteção e uso, ou ainda aplica sanções para aqueles que
causem danos a essas reservas.

3.9.1 O domínio das águas subterrâneas

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A regulação expressa das águas subterrâneas se dá a partir da edição do Código de Águas


(Decreto nº 24.643/1934). O artigo 96 determinou que Art. 96 – O dono de qualquer terreno
poderá apropriar-se por meio de poços, galerias etc., das águas que existam debaixo da
superfície de seu prédio contanto que não prejudique aproveitamentos existentes nem derive ou
desvie de seu curso natural águas públicas dominicais, públicas de uso comum ou particulares.
O uso das águas subterrâneas era livre aos proprietários do terreno, posto que essas águas não
foram consideradas como públicas dominicais ou públicas de uso comum, podendo ser
enquadradas na categoria de águas particulares que pertenciam por acessão ao proprietário do
terreno, conforme previsto no artigo 526 do Código Civil de 1916. As restrições ao seu uso eram
relacionadas à obrigação de não causar prejuízos aos usos pré-existentes e às águas públicas
ou particulares. Tais prejuízos abordavam questões relacionadas à quantidade e à qualidade das
águas
(vide art. 96, parágrafo único e art. 98 do Decreto nº 24.643/1934), bem como a restrição de não
perfurar poços junto à propriedade vizinha (art. 97).

A Constituição Federal de 1988 e a Lei nº 9.433/1997 transformaram a natureza jurídica das


águas subterrâneas, na medida que se promoveu a publicização de todas as águas. A
dominialidade das águas foi dividida entre a União e os estados da Federação, extinguindo-se
as águas municipais ou particulares. Esse entendimento foi corroborado pela Política Nacional
de Recursos Hídricos (Lei Federal nº 9.433/1997) que classificou a água como um bem de
domínio público (art. 1º, I). O Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Agravo Regimental no
RECURSO ESPECIAL Nº 1.354.582 – RS (2012/0177457-3) determinou que o artigo 96 do
Código de Águas não foi recepcionado pela Constituição Federal (VILLAR, 2018).
As águas subterrâneas, assim como as águas superficiais, são classificadas como bem de
domínio público, porém não se pode esquecer que as águas pertencem à categoria dos bens
ambientais, que são considerados bens de uso comum do povo, conforme estabelecido no artigo
225 da Constituição Federal. O domínio das águas foi estabelecido nos artigos 20 e 26 da
Constituição Federal da seguinte forma:

Art. 20. São bens da União:


III – os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem
mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro
ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IX – os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:

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I − as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste


caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União.

Dessa forma, as águas subterrâneas pertencem aos estados. A União reservou-se o domínio
sobre os recursos superficiais (lagos, rios e quaisquer correntes de águas) que banhem mais de
um estado ou sejam compartilhadas com outros países, contudo não fez qualquer menção às
águas subterrâneas que ultrapassem os limites estaduais. No mesmo sentido, a redação do
artigo 26 não impõe qualquer restrição ao domínio estadual dos recursos hídricos subterrâneos.
O Superior Tribunal de Justiça em algumas ações sobre a viabilidade da manutenção de poços
como fonte alternativa de abastecimento em áreas servidas por rede pública de água, tratou do
tema da dominialidade das águas subterrâneas de forma indireta e com entendimento distinto
da doutrina especializada (Camargo e Ribeiro, 2009; Pompeu, 2006; Granziera, 2003; Villar,
2008).

Alguns acórdãos do STJ têm mencionado a existência de águas subterrâneas federais, contudo
essa tese não foi construída em uma ação que visava questionar seu domínio pelos estados.
Esse posicionamento surgiu em ações cujo foco era discutir a legalidade ou ilegalidade de atos
do poder público que amparados por decretos estaduais ou pelo artigo 45 da Política Nacional
de Saneamento (Lei Federal nº 11.445/2007) visavam coibir o uso de poços como fonte
alternativa de água em áreas dotadas de rede de abastecimento.
Inclusive, na decisão de mérito, sempre se dizia que o poço objeto da disputa explorava águas
subterrâneas de domínio estadual.
A argumentação desses acórdãos para a existência das águas subterrâneas se foca na ideia de
que, embora o artigo 20, inciso III, da CF não as inclua expressamente, elas estariam
contempladas na medida que a lei não faz alusão de que “os rios, lagos e quaisquer correntes
de água” sejam superficiais ou subterrâneos, bastando apenas que estes se localizem em
terrenos de seu domínio, sirvam de limites com outros países ou se estendam a território
estrangeiro ou dele provenham”.
Nesse sentido se transcreve fragmento do Recurso Especial que trata sobre o tema:

Como acima se observou, as águas subterrâneas não são mencionadas, de modo explícito, no
art. 20, inciso III, da Constituição Federal, que define os bens da União. Já, no art. 26, inciso I, que
dispõe sobre os recursos hídricos estaduais, delas cuida diretamente. A diferente forma de
expressão nos dois dispositivos constitucionais levou
alguns a defenderem a tese de que as águas subterrâneas seriam – sempre e em qualquer
circunstância – de domínio dos Estados, nunca da União. Trata-se, não custa

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reiterar, de interpretação equivocada do texto constitucional.


Primeiro, no plano teleológico, já que os mesmos fundamentos que materialmente justificam, nos
termos do art. 20 da Constituição Federal, a dominialidade federal das águas superficiais
(ocupação de terrenos federais, espraiamento por mais de um Estado, demarcação de fronteira
internacional, ou origem ou destino internacional)
recomendariam, com maior razão até que não se deixem águas subterrâneas sob o domínio
exclusivo dos Estados e Distrito Federal. Segundo, porque o que se tem, na comparação dos dois
artigos, não é omissão, pura e simples, das águas subterrâneas no art. 20, mas o uso de técnica
de redação que dispensa tal menção, pois o legislador limitou-se a falar em lagos, rios e quaisquer
correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de
limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham (grifei).

Ora, não fez nenhuma alusão ao fato de tais rios, lagos e correntes serem superficiais ou
subterrâneos. O art. 26 tinha mesmo que mencionar as águas subterrâneas, pois, se não o fizesse,
correr-se-ia o risco de, por interpretação, afirmar que todas as águas subterrâneas seriam de
propriedade da União, conquanto quase impossível (situação que se altera, gradativamente, com
avanços tecnológicos) dizer, com precisão, onde começa e termina um aquífero. O que se
pretendeu, portanto, não foi excluir a União da dominialidade, mas assegurar que os Estados não
seriam apartados das águas subterrâneas, de modo a fazer coincidirem as mesmas hipóteses
fáticas de reconhecimento de sua dominialidade sobre águas de superfície. (STJ, Recurso
Especial nº 1.306.093 – RJ, 2ª Turma, Relator Ministro Herman Benjamin, j. 28/05/2013.).
Tal entendimento não possui legitimidade para produzir efeitos práticos na interpretação sobre o
domínio dos estados, pois não foi proferido em uma ação com o fim de discutir esse tema. Trata-
se de uma tese jurídica, lançada em uma ação cujo propósito não era discutir o domínio, tanto que
não fizeram parte do processo os estados ou a União. No âmbito do Executivo e Legislativo, esse
tema foi discutido na ocasião da proposição de um Projeto de Emenda à Constituição (PEC
43/2000) cujo objetivo era mudar a dominialidade das águas subterrâneas que ultrapassassem os
limites estaduais ou fossem compartilhadas com outros países.
A PEC 43/2000 foi arquivada, pois se reconheceu que a gestão dessas águas deve ser feita no
âmbito local em decorrência das características do fluxo subterrâneo. A Agência Nacional de
Águas e diversos Comitês de Bacia se manifestaram contra a proposta. A ideia de correntes de
água diz respeito a “massa de água escoando geralmente num canal superficial natural” e
compreende os cursos de água de volumes mais modestos tais como riachos, córregos, arroios
etc. (Pompeu, 2006, p. 81). As águas subterrâneas não podem ser equiparadas a rios, lagos ou
correntes de água, já que elas se movimentam através dos poros e fissuras das rochas, portanto
o fluxo é muito lento e heterogêneo, assumindo diversos comportamentos ao longo do aquífero.

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Ao contrário das águas superficiais, as águas subterrâneas não têm os seus limites facilmente
determinados e essa identificação normalmente é cercada de incertezas. Portanto, criar um
sistema que exija determinar quais aquíferos pertencem à União e quais aos Estados geraria mais
dificuldades do que facilidades a sua gestão.

Além disso, a formação geológica do aquífero pode se estender por diversos países e estados,
porém isso não significa que o fluxo de águas será partilhado. Em muitos casos o fluxo assumirá
uma natureza local. Na seção do Aquífero Guarani esse tema será retomado, pois apesar do
aquífero se estender por diversos países, o fluxo é compartilhado apenas em uma pequena
fração do aquífero.

Sendo assim, as águas subterrâneas integram o domínio dos Estados da Federação, que devem
estabelecer políticas para a gestão de seus recursos hídricos de forma compatível com os
pressupostos da Política Nacional de Recursos Hídricos e de suas
políticas estaduais específicas para os recursos hídricos.
Os aspectos relacionados à quantidade de água são responsabilidade direta dos órgãos
estaduais integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, enquanto
os aspectos relacionados à qualidade serão avaliados pelos órgãos estaduais de meio ambiente.

3.10 Transporte de sedimentos

Quando a água está se movimentando rumo à saída de uma bacia hidrográfica, passa sobre as
rochas e os solos que formam ou revestem as vertentes e as calhas da rede de drenagem. Os
obstáculos que a água encontra determinam os caminhos que ela vai seguir e a velocidade que
se deslocará, propiciando que partículas sejam removidas e transportadas vertente ou rio abaixo,
pelo fluxo líquido. Embora eventuais, o deslocamento dos sedimentos carregados pela água
pode ocasionar a alteração do ciclo hidrológico, e certamente afetar o uso, a conservação e a
gestão dos recursos hídricos (BORDAS & SEMMELMANN, 1993).
A composição do material do leito e as características geométricas e hidráulicas da
seção e do trecho do rio são fatores importantes que influenciam na quantidade de
sedimentos transportada. Por essa razão qualquer intervenção que altere o equilíbrio
natural do rio pode trazer sérias consequências em termos de erosão e deposição de
sedimentos.
Transporte e deposição de sedimentos em leitos de cursos d’água são ações naturais
que ocorrem de forma lenta e contínua. Porém, esse processo está sendo acelerado

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pelo homem quando ocupa de forma desordenada e irresponsável as áreas próximas aos rios.
A falta de cuidados, como o corte da vegetação, o manejo inadequado do solo e a urbanização
acelerada próxima aos rios, são alguns dos fatores que trazem sérias consequências ao meio
ambiente e ao homem.
Dentre outras decorrências, podemos citar o assoreamento de reservatórios e rios e,
por conseguinte, os alagamentos, redução da qualidade da água para consumo e
irrigação, mortandade de espécies aquáticas e impossibilidade de navegação devido à
diminuição da lâmina d’água.

Os custos para a recuperação de um rio ou reservatório assoreado são extremamente altos, por
isso medidas preventivas acompanhadas de um monitoramento sedimentométrico são
recomendadas (SCAPIN, 2005).
Righetto (1998) afirma que grande parte do sedimento transportado por um rio, por
exemplo, é proveniente da erosão do solo da bacia hidrográfica, retirando significativa quantidade
de nutrientes de terras férteis para agricultura.
Esse fato pode acontecer por decorrência de chuva em solos desprotegidos, provocando a
erosão por um processo físico complexo de desprendimento e transporte de partículas de solo
pela ação do impacto das gotas da chuva e pelo arraste do escoamento superficial.

3.10.1 Ciclo hidrossedimentológico

Esse ciclo é paralelo, vinculado fortemente e dependente do ciclo hidrológico. É um


ciclo aberto que envolve o deslocamento, o transporte e o depósito de partículas sólidas
presentes na superfície da bacia. No entanto, ao contrário das moléculas da água, os sedimentos
não terão como voltar ao meio de onde vieram.
A gestão integrada dos recursos hídricos, os riscos de degradação dos solos, dos leitos
dos rios e dos ecossistemas fluviais e estuarinos, ou de contaminação de sedimentos
por produtos químicos, fizeram com que se fosse dada mais atenção ao ciclo
hidrossedimentológico, pois o custo dos impactos decorrentes da remoção não controlada de
sedimentos nas bacias hidrográficas é bastante elevado (BORDAS &
SEMMELMANN, 1993).

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Os principais fenômenos que compõem o ciclo hidrossedimentológico e que regem o


deslocamento de partículas sólidas são a desagregação, separação ou erosão, transporte,
decantação ou sedimentação, depósito e consolidação.

Esses processos são explicados por Bordas e Semmelmann (1993), como apresentado a seguir:

• Desagregação

É o desprendimento de partículas sólidas do meio do qual fazem parte, podendo


acontecer por reações químicas, flutuações de temperatura, ações

mecânicas ou outros fatores naturais. Esses processos deixam uma massa de partículas
sólidas exposta à ação do escoamento superficial, que é remanejada pelo movimento das
águas. Esse estoque de material sólido é composto por elementos de vários tamanhos e
feições, distinguidos como: argila, silte, areia, cascalho, seixo e pedras, pedregulhos ou
matacão.

• Transporte

O processo de transporte de material erodido pela água pode ocorrer de diversas


formas. As partículas mais pesadas deslocam-se sobre o fundo por rolamento, deslizamento ou,
em alguns casos, por saltos curtos, e constituem a chamada descarga sólida de fundo ou arraste.
As mais leves deslocam-se no seio do escoamento e constituem a descarga sólida em
suspensão. Estas podem ser provenientes da bacia vertente, ou do fundo e paredes da calha,
enquanto o arraste é exclusivamente constituído de material encontrado no fundo.

• Erosão

Erosão e o processo de deslocamento das partículas solidas de seu local de origem.


Esse deslocamento ocorre quando as forças hidrodinâmicas exercidas pelo escoamento sobre
uma partícula ultrapassam a resistência por ela oferecida.
A resistência tem sua origem, principalmente, no peso das partículas e nas focas de coesão. A
coesão constitui a força de resistência por excelência das partículas mais
finas, enquanto o peso da partícula e a principal forca resistente para as areias e o

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material mais graúdo. No primeiro caso, os sedimentos são qualificados de coesivos, no segundo
de não coesivos ou granulares.

• Transporte

O processo de transporte de material erodido pela água pode ocorrer de diversas formas. As
partículas mais pesadas deslocam-se sobre o fundo por rolamento, deslizamento ou, em alguns
casos, por saltos curtos, e constituem a chamada descarga sólida de fundo ou arraste. As mais
leves deslocam-se no seio do escoamento e constituem a descarga sólida em suspensão. Estas
podem ser

provenientes da bacia vertente, ou do fundo e paredes da calha, enquanto o arraste é


exclusivamente constituído de material encontrado no fundo.
De acordo com Garcia (2008) o transporte de sedimentos depende de suas propriedades, das
características do fundo, propriedades do fluido e do escoamento. A quantidade de sedimento
em suspensão depende muito da granulometria do material transportado.
A presença de sedimentos nos cursos d’água é consequência dos processos erosivos
nas suas bacias de drenagem, processos que podem ser intensificados pela expansão de
atividades agrícolas. Além da contribuição das vertentes, outra fonte de sedimentos é a erosão
marginal promovida pelos próprios rios.
Os sedimentos podem ser transportados de várias maneiras, sendo predominantes as
formas pelas quais os agentes são a força gravitacional, o vento e a água. A mobilização e a
remoção do sedimento a partir do local em que se encontrava depositado são chamadas de
erosão (VAN RIJN, 1993).

O transporte de sedimentos pelas águas fluviais pode ser de diversas formas:

a) Materiais em solução:

A água, ao passar pelas rochas, pode dissolver diversas substâncias. Se as condições forem
favoráveis à precipitação de um soluto, formar-se-ão as respectivas rochas sedimentares de
origem química.

b) Em suspensão mecânica e coloidal (materiais finos):

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A água corrente possui capacidade de manter em suspensão partículas sólidas graça a sua
velocidade e, sobretudo, ao seu grau de turbulência. Quanto maior for a velocidade de um rio,
maior será sua capacidade de manter e transportar partículas em suspensão.

c) Por saltação rolamento ou arrastamento (materiais mais pesados):

Graças ao movimento das águas fluviais, verifica-se uma pressão horizontal sobre o leito do rio,
que aumenta com a velocidade e com a viscosidade da água.

• Sedimentação ou Decantação

Neste processo as partículas mais finas transportadas em suspensão, tendem a chegar ao fundo
do leito sob ação da gravidade.
Pode ainda ocorrer a resistência do meio fluido, impedindo ou reduzindo a queda das partículas
para o fundo, principalmente por efeito da turbulência.

• Depósito

Entende-se por depósito a parada total da partícula em suspensão recém-decantada sobre o


fundo, ou daquela transportada por arraste. Esse processo, por algumas vezes, é confundido
com a decantação. No entanto ele se difere, pois, uma partícula recém decantada pode continuar
movimentando-se após entrar em contato com o fundo, de acordo com as forças hidrodinâmicas
existentes rentes ao fundo.

• Consolidação

A consolidação ocorre após o depósito das partículas e corresponde ao acúmulo de partículas


sobre o fundo e a compactação do depósito resultante sob efeito do próprio peso dos sedimentos,
da pressão hidrostática ou qualquer outro fenômeno que venha a aumentar a densidade dos
depósitos (efeito do esvaziamento de uma represa, por exemplo).
Algumas ações de controle podem ser consideradas para evitar as consequências da erosão e
o consequente transporte de sedimentos. Em pequenas bacias hidrográficas, por exemplo, deve
haver o correto manejo do solo na agricultura, considerando o tipo de plantação e respeitando

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as curvas de nível do terreno. Já nas áreas urbanas, uma das ações é a implantação de um
sistema de drenagem eficiente e sua manutenção adequada.
O transporte de sedimento pelo canal é o produto da atuação de uma série de processos que se
iniciam com a precipitação que cai sobre a bacia e ao longo de seu caminho e interage com um
conjunto de variáveis como cobertura vegetal, tipo de solo e de rocha, além do tipo de uso e
ocupação antrópica (TUCCI; COLLISCHONN, 1998).

Este processo de transporte e deposição de sedimento acarreta diversas implicações


tais como:

– O carreamento de poluentes agregados ou não as partículas;


– A perda de qualidade da água destinada ao consumo humano;
– O desequilíbrio dos ecossistemas em virtude da turbidez da água;
– O assoreamento de reservatórios;
– Mudanças na geometria do canal fluvial.

Além dos impactos físicos, o transporte de sedimentos traz consigo a carga de poluentes
agregados ao sedimento. De acordo com Christofoletti (1995) e Kirby (1980) todos esses
problemas influem sensivelmente em impactos ambientais e sociais e o planejamento de bacias
hidrográficas deve também acompanhar a dinâmica hidrossedimentológico.
Os programas de capacitação e implementação de práticas de manejo conservacionistas dos
solos são essenciais para se garantir a qualidade dos ecossistemas fluviais, reduzindo a erosão
e a produção de sedimentos que serão carreados para as bacias hidrográficas.

3.11 Conservação de nascentes6

Entende-se por nascente o afloramento do lençol freático que vai dar origem a uma fonte de
água de acúmulo (represa), ou cursos d’água (regatos, ribeirões e rios).
Em virtude de seu valor inestimável dentro de uma propriedade agrícola, deve ser tratada com
cuidado todo especial.
A nascente ideal é aquela que fornece água de boa qualidade, abundante e contínua, localizada
próxima do local de uso e de cota topográfica elevada, possibilitando sua distribuição por
gravidade, sem gasto de energia.

6 Cad. Mata Ciliar, São Paulo, no 1, 2009.

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É bom ressaltar que, além da quantidade de água produzida pela nascente, é desejável que
tenha boa distribuição no tempo, ou seja, a variação da vazão situe-se dentro de um mínimo
adequado ao longo do ano. Esse fato implica que a bacia não deve funcionar como um recipiente
impermeável, escoando em curto espaço de tempo toda a água recebida durante uma
precipitação pluvial.

Ao contrário, a bacia deve absorver boa parte dessa água através do solo, armazená-la em seu
lençol subterrâneo e cedê-la, aos poucos, aos cursos d’água através das nascentes, inclusive
mantendo a vazão, sobretudo durante os períodos de seca. Isso é fundamental tanto para o uso
econômico e social da água – bebedouros, irrigação e abastecimento público – como para a
manutenção do regime hídrico do corpo d’água principal, garantindo a disponibilidade de água
no período do ano em que mais se precisa dela.
Assim, o manejo de bacias hidrográficas deve contemplar a preservação e melhoria da água
quanto à quantidade e qualidade, além de seus interferentes em uma unidade geomorfológica
da paisagem como forma mais adequada de manipulação sistêmica dos recursos de uma região.
As nascentes, cursos d’água e represas, embora distintos entre si por várias particularidades
quanto às estratégias de preservação, apresentam como pontos básicos comuns o controle da
erosão do solo por meio de estruturas físicas e barreiras vegetais de contenção, minimização de
contaminação química e biológica e ações mitigadoras de perdas de água por evaporação e
consumo pelas plantas.
Quanto à qualidade, deve-se salientar que, além da contaminação com produtos químicos, a
poluição da água resultante de toda e qualquer ação que acarrete aumento de partículas minerais
no solo, da matéria orgânica e dos coliformes totais pode comprometer a saúde dos usuários –
pessoas ou animais.
Por fim, deve-se estar ciente de que a adequada conservação de uma nascente envolve
diferentes áreas do conhecimento, tais como hidrologia, conservação do solo, reflorestamento
etc.

3.11.1 Cuidados primários essenciais em relação à área adjacente às


nascentes

Os cuidados e o condicionamento da área da nascente podem ser ilustrados com o exemplo da


situação apresentada por Silveira (1984) na Figura 31. De acordo com a situação inicial, o
proprietário de um sítio que planta algodão, milho e pastagem, na distribuição das áreas de
cultivo, está permitindo aos animais livre acesso à água,

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com chiqueiros, fossas e estábulos localizados próximos à nascente, e com isso, provavelmente
terá a água contaminada, prejudicando o meio ambiente, os animais e a si próprio (Figura 31 A).

Assim, devem-se promover as seguintes modificações e tomar os seguintes cuidados para se


recuperar e manter a boa condição da nascente:

Figura 31. Distribuição espacial das culturas e estruturas rurais nas situações errada e corrigida em função
da nascente. Adaptado de Silveira (1984).

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I. Isolamento da área de captação e distribuição adequada dos diferentes usos


do solo

A área adjacente à nascente (APP) deve ser toda cercada a fim de evitar o acesso de animais,
pessoas, veículos etc.
Todas as medidas devem ser tomadas para favorecer seu isolamento. A posição de uma
nascente na propriedade pode determinar a melhor distribuição das diferentes atividades e da
infraestrutura do sistema produtivo.

A área imediatamente circundante à nascente, em um raio de 50 metros, é só e exclusivamente


uma área de preservação permanente. A restrição para se fazer uso dessa área existe para evitar
que, com um cultivo, por exemplo, a nascente fique sujeita à erosão e que as atividades agrícolas
de preparo do solo, adubação, plantio, cultivos, colheita e transporte dos produtos levem
trabalhadores, máquinas e animais de tração para o local, contaminando física, biológica e
quimicamente a água.
Assim, o pasto e os animais devem ser afastados ao máximo da nascente, pois, mesmo que os
animais não tenham livre acesso à água, seus dejetos contaminam o terreno e, nos períodos de
chuvas, acabam por contaminar a água. Essa contaminação pode provocar o aumento da
matéria orgânica na água, o que acarretaria o desenvolvimento exagerado de algas, bem como
sua contaminação por organismos patogênicos que infestam os animais e podem atingir o
homem. A tuberculose bovina, a brucelose, a aftosa, entre outras, são doenças que podem
contaminar o homem, tendo como veículo a água contaminada (DAKER, 1976).
Por outro lado, permitindo-se o acesso dos animais, o pisoteio torna compactada a superfície do
solo próximo às nascentes, diminui sua capacidade de infiltração, deixando-o sujeito à erosão
laminar, e consequentemente provoca não só a contaminação da água por partículas do solo,
como também a deixa turva – pode até mesmo provocar o soterramento da nascente.
Quando a água de uma nascente se turva facilmente após uma chuva, é sinal de que está
deficiente a capacidade de infiltração da água na APP ou do seu terreno
circundante.

Dentro da distribuição correta, apresentada no desenho B da Figura 31, ou seja, com os animais
distanciados, duas ações complementares são indicadas:
i. desenvolver um programa de manejo de pastoreio para se evitar a compactação
exagerada do solo da área do pasto e,
ii. providenciar bebedouros para os animais.

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ii. Figura 32. Distribuição esquemática adequada das diferentes coberturas vegetais e usos em relação
à nascente.

Por outro lado, a cultura de maior utilização de produtos químicos (adubos, inseticidas etc.) deve
ser a mais afastada, a fim de evitar que nas épocas das chuvas esses poluidores desçam com
as enxurradas para as nascentes ou se infiltrem no solo atingindo mais facilmente o lençol
freático. É bom lembrar que muitos desses produtos não são eliminados com fervura, cloração
ou filtragem.
Castro e Lopes (2001) apresentam, esquematicamente, a distribuição adequada da cobertura
vegetal e uso do solo, em áreas ou microbacias com uma nascente (Figura 32).

II. Conservação de toda a bacia de contribuição. Relação entre a área de


contribuição e a de preservação permanente

O desempenho e características da nascente são resultantes de infiltração em toda a bacia


hidrográfica – a chamada área de contribuição – e não apenas da área circundante da nascente
– área de preservação permanente – já que, hidrologicamente, por ser de pequena extensão
perante a bacia como um todo, a água que infiltra nessa área pouco contribui na vazão.

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Assim, toda a área de bacia merece atenção quanto à preservação do solo, e todas as técnicas
de conservação, objetivando tanto o combate à erosão como a melhoria das características
físicas do solo, notadamente aquelas relativas à capacidade de infiltração da água da chuva ou
da irrigação, vão determinar maior disponibilidade de água na nascente em quantidade e
estabilidade ao longo do ano, incluindo a época das secas.
Preocupados com as partes altas da bacia, CASTRO e LOPES (2001) afirmam que é
indispensável para a recuperação e conservação das nascentes a presença de árvores nos topos
dos morros e das seções convexas, estendendo-se até 1/3 das encostas.

III. Cobertura vegetal em torno das nascentes

Na recuperação da cobertura vegetal das APPs já degradadas, devem-se distinguir as


orientações quanto ao tipo de afloramento de água, ou seja, sem ou com acúmulo de água inicial,
pois o encharcamento do solo ou a submersão temporária do sistema radicular das plantas, a
profundidade do perfil e a fertilidade do solo são alguns dos fatores que devem ser considerados,
pois são seletivos para as espécies que vão conseguir se desenvolver (RODRIGUES;
SHEPHERD, 2000).
Por outro lado, deve-se também distinguir a nascente quanto ao regime de vazão, ou seja:

a) se é permanente ou temporária,
b) se varia ao longo do ano.

Deve-se também considerar a interferência da vegetação no consumo de água da própria


nascente, o qual é grandemente influenciado pela profundidade do lençol
freático no raio compreendido pela área de preservação permanente.
Diversos trabalhos apontam que o mosaico vegetacional é resultado de alteração diferenciada
da umidade ou do encharcamento do solo na seletividade das espécies na faixa ciliar e que tais
encharcamentos ocorrem tanto em função do extravasamento do leito do rio, como do
afloramento permanente ou temporário do lençol freático, caso das nascentes (RODRIGUES;
SHEPHERD, 2000).

Dentre os tipos de cobertura vegetal, a cobertura florestal (Figura 33) é a que maior efeito exerce
sobre as nascentes. Não existe a composição ideal, e sim aquela mais adequada para cada
situação específica. Assim, é importante conhecer as espécies para melhor entender sua

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contribuição hidrológica e delas fazer-se melhor uso. O planejamento e a orientação de


um técnico especializado são fundamentais.

Figura 33. Vista do interior de uma APP bem constituída.

IV. Recomposição florestal em áreas de preservação permanente

Rodrigues e Gandolfi (1993) observam que a maioria dos métodos aplicados em reflorestamento
de áreas ciliares adota uma sequência comum de etapas:

1. Escolha do sistema de reflorestamento – depende do grau de preservação das áreas,


avaliado por estudos florísticos e/ou fitossociológicos ou pela avaliação fisionômica da
vegetação ocorrente na área. Assim, o sistema de reflorestamento pode ser:

a) Implantações (ou plantio total) – em áreas bastante perturbadas que não conservam
nenhuma das características bióticas das formações florestais ciliares originais daquela
condição. Essa é uma situação típica de áreas cuja floresta original foi substituída por
alguma atividade agropastoril.

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b) Enriquecimento – em áreas com estágio intermediário de perturbações que mantêm


algumas das características bióticas e abióticas das formações ciliares típicas daquela
condição, situação de áreas cuja floresta original foi degradada pela ação antrópica,
ocupada por capoeiras, com domínio de espécies dos estágios iniciais de sucessão.

c) Recuperação natural – nas áreas pouco perturbadas que retêm a maioria das
características bióticas e abióticas das formações florestais típicas da área.
Devem ser isoladas dos possíveis fatores de perturbações para que os processos
naturais de sucessão possam atuar.

d) Nucleação – uso de qualquer elemento, biológico ou abiótico, capaz de propiciar


potencialidades para formar novas populações facilitando a criação de novos
nichos de regeneração, colonização e situações de conectividade na paisagem.

2. Escolha das espécies – baseia-se em levantamentos florísticos de formações florestais


ciliares originais remanescentes próximas à área em questão (ou mais distantes, mas
com as mesmas características abióticas). A lista de plantas poderá ainda ser acrescida
de espécies nativas frutíferas e melíferas não amostradas no levantamento, com o
objetivo de fomentar a recuperação da fauna terrestre e aquática. Se possível, deverão
ser priorizadas espécies zoocóricas (cujas sementes são dispersadas pelos animais)
nativas da vegetação regional.

3. Combinação das espécies – há vários métodos de combinação das espécies em projetos


de reflorestamento.

Diferem entre si, basicamente, em relação a: combinações que considerem os estádios


sucessivos das espécies; proporção de espécies nos vários estádios sucessivos
considerados no trabalho; espaçamento e densidade dos indivíduos no plantio, e
estratégia usada para a implantação das espécies. Outro critério é considerar os grupos
ecológicos. Deve-se procurar imitar o modo como as árvores crescem na natureza:
primeiramente, nascem as espécies que precisam de luz para germinar e que crescem
rápido, chamadas pioneiras, depois aparecem as espécies que precisam da sombra das
outras árvores para crescer, chamadas secundárias. Portanto, no plantio deve-se colocar

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uma linha com as pioneiras e uma linha de espécies secundárias, que vão crescer
devagar sob a sombra das primeiras.

4. Distribuição das espécies no campo – decide-se de acordo com as características


adaptativas e biológicas das espécies escolhidas para o projeto. Assim, as espécies
adaptadas ao encharcamento permanente ou temporário serão alocadas em área de
brejo, ou passíveis de encharcamento, ou de elevação temporária do lençol freático,
enquanto as espécies não tolerantes devem ser plantadas em áreas não sujeitas a altos
teores de umidade.

5. Plantio e manutenção – em relação a essa última etapa, Tabai (2002) aponta, os passos,
orientações gerais e cuidados na recomposição da mata nativa de uma área de
preservação permanente.

a) Preparo do terreno
b) Controle das formigas
c) Abertura e marcação dos berços
d) Adubação
e) Plantio
f) Manutenção do plantio e replantio
g) Adubação de cobertura

Figura 34. Disposição das pioneiras e secundárias na área de plantio e uma recomposição da vegetação
visando unir fragmentos de mata ciliar. Adaptado de Tabai (2002).

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3.12 Coleta de dados de qualidade da água

Para uma adequada gestão dos recursos hídricos são primordiais o monitoramento e a
avaliação da qualidade das águas superficiais e subterrâneas, permitindo assim a
caracterização e análise de tendências em bacias hidrográficas, sendo essenciais para
várias atividades de gestão, tais como: planejamento, outorga, cobrança e
enquadramento dos cursos de água.
No Brasil o monitoramento da qualidade da água é realizado por uma variedade de
órgãos estaduais de meio ambiente e recursos hídricos, companhias de saneamento e
empresas do setor elétrico.

Assim, não existem procedimentos padronizados de coleta, frequência de coleta e análise


das informações. Para permitir a comparação dos resultados e tornar possível que se
apliquem em diferentes locais as experiências adquiridas, os procedimentos de coleta e
análise dos dados devem ser uniformes.
Segundo o Programa Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas (PNQA) lançado
pela Agência Nacional de Águas, no monitoramento da qualidade das águas, são
acompanhadas as alterações nas características físicas, químicas e biológicas da água,
provenientes de atividades antrópicas e de fenômenos naturais.

Uma rede de monitoramento de qualidade de água é constituída dos seguintes


elementos:

– Pontos de coleta, denominados estações de monitoramento, definidos em função


dos objetivos da rede e identificados pelas coordenadas geográficas.
– Conjunto de instrumentos, utilizados na determinação de parâmetros em campo
e em laboratório.
– Conjunto de equipamentos utilizados na coleta: baldes, amostradores em
profundidade (garrafa de Van Dorn), corda, frascos, caixa térmica, veículos,
barcos e motores de popa.
– Protocolos para a determinação de parâmetros em campo, para a coleta e
preservação das amostras, para análise laboratorial dos parâmetros de qualidade
e para identificação das amostras.

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– Estrutura lógica de envio das amostras: locais para o envio das amostras,
disponibilidade de transporte, logística de recebimento e encaminhamento das
amostras para laboratório.

Para indicar a contaminação orgânica da água usa-se o Índice de Qualidade das Águas,
utilizados atualmente por dez unidades da Federação.
Segundo o PNQA o uso de índices de qualidade da água surge da necessidade de sintetizar a
informação sobre vários parâmetros físico-químicos, visando informar à população e orientar as
ações de planejamento e gestão da qualidade da água.
O Índice que Qualidade das Águas (IQA) foi elaborado em 1970 pelo National Sanitation
Foundation (NSF), dos Estados Unidos, a partir de uma pesquisa de opinião realizada com
especialistas em qualidade de águas.
No Brasil, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) de São Paulo o utiliza
desde 1975. Nas décadas seguintes, outros Estados brasileiros adotaram o IQA, que hoje é o
principal índice de qualidade da água utilizado no país.
Segundo o PNQA os parâmetros de qualidade que fazem parte do cálculo do IQA refletem,
principalmente, a contaminação dos corpos hídricos ocasionada pelo lançamento de esgotos
domésticos.

É importante também salientar que esse índice foi desenvolvido para avaliar a qualidade das
águas, tendo como determinante principal sua utilização para o abastecimento público,
considerando aspectos relativos ao tratamento dessas águas.
A avaliação da qualidade da água obtida pelo IQA apresenta limitações, já que este índice não
analisa vários parâmetros importantes para o abastecimento público, tais como substâncias
tóxicas, protozoários patogênicos e substâncias que interferem nas propriedades organolépticas
da água.
O IQA é composto por nove parâmetros, com seus respectivos pesos (W), que foram fixados em
função da sua importância para a conformação global da qualidade da água (Tabela 3).

Tabela 3 – Parâmetros do Índice de Qualidade das Águas (IQA) e respectivos pesos


PARÂMETROS PESOS
Oxigênio dissolvido w= 0,17
Coliformes termotolerantes w= 0,15
Potencial hidrogeniônico (pH) w= 0,12
Demanda bioquímica de oxigênio (DBO5,20) w= 0,10
Temperatura da água w= 0,10

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Nitrogênio total w= 0,10


Fósforo total w= 0,10
Turbidez w= 0,08
Resíduo total w= 0,08

Além de seu peso (w), cada parâmetro possui um valor de qualidade (q), obtido do
respectivo gráfico de qualidade em função de sua concentração ou medida (Figura
35).

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Figura 35 - Curvas Médias de Variação de Qualidade das Águas

Fonte: Cetesb, 2008.

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O cálculo do IQA é feito por meio do produtório ponderado dos nove parâmetros,
seguindo a seguinte fórmula:

Equação – Índice de qualidade de água

Onde:
IQA = Índice de Qualidade das Águas, um número entre 0 e 100;
qi = qualidade do i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 100, obtido da respectiva “curva média de variação
de qualidade”, em função de sua concentração ou medida e,
wi = peso correspondente ao i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 1, atribuído em função da sua
importância para a conformação global de qualidade, sendo que:

Equação

Onde:
n = número de variáveis que entram no cálculo do IQA.
Os valores do IQA são classificados em faixas, que variam entre os estados
brasileiros conforme o (Tabela 4).

Tabela 4 – Classificação dos valores do Índice de Qualidade das Águas

Fonte: Cetesb, 2008.

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3.13 Balanço hídrico


O balanço hídrico é a circulação da água que ocorre na atmosfera, hidrosfera e litosfera. O
balanço hídrico da bacia hidrográfica envolve a quantificação dos componentes de entrada e
saída do sistema (também chamado de “volume de controle”). Entre os modelos mais simples
em hidrologia destaca-se a equação do balanço hídrico.

A equação de balanço hídrico nada mais é do que a equação de continuidade, na qual se


colocam em evidência as variáveis hidrológicas mais importantes: precipitação,
evapotranspiração, deflúvio e armazenamento superficial e subterrâneo.

A quantidade de água em cada fase do ciclo pode ser avaliada através da equação de balanço
hídrico (Lei da Conservação da Massa), sendo (BARTH, 1987):

P – ET = D + ΔS

Onde: P = precipitação; ET = evapotranspiração, D = deflúvio (escoamento) e ΔS = variação no


armazenamento no tempo.

Nas avaliações de balanço hídrico de períodos mais longos anuais ou plurianuais de bacias
hidrográficas, a variação do armazenamento pode ser desprezada, neste caso consideram-se
apenas as entradas e saídas do sistema (BARTH, 1987).
O balanço hídrico, em macro escala, pode ser considerado o próprio ciclo da água. Em uma
escala intermediaria representada por uma microbacia, refere-se às variações na vazão da água
dos cursos hídricos. Já na microescala, o balanço hídrico é considerado através da determinação
da disponibilidade da água do solo. A avaliação da disponibilidade de água no solo pode ser
realizada a partir do método do balanço hídrico climatológico proposto por Thornthwaite e Mather
(1955), o qual permite obter informações sobre deficiência e excedente hídrico, áreas de retirada
de água do solo, reposição de água no solo e variação do armazenamento ao longo do ano
(AMORIN, 1989).

O método considera a entrada de água no sistema através da precipitação, a capacidade de


armazenamento de água no solo e a perda de água para a atmosfera por evapotranspiração,
considerando-se conceitos como de evapotranspiração potencial (ETP) e evapotranspiração real
(ETR).

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A ETP é a máxima evapotranspiração possível de uma parcela verde, a qual cobre toda a parcela
de solo, bem suprida de água. Já a ETR é a evapotranspiração que realmente ocorre no local,
em geral inferior à potencial. Quando a precipitação supera a ETP, considera-se que ETR se
iguala à ETP. Caso realmente a disponibilidade de água seja menor, considera-se a ETR igual à
disponibilidade de água.
Para determinação de balanço hídrico climatológico são necessários dados de precipitação,
evapotranspiração e capacidade de água disponível no solo (CAD).

As informações que constam no balanço hídrico climatológico permitem:


 Comparar climas de diferentes regiões;
 Caracterizar períodos úmidos e secos;
 Contribuir para o planejamento agrícola;
 Contribuir para a gestão ambiental.

No Brasil, a EMBRAPA - Monitoramento por Satélite montou o site Banco de Dados Climáticos
do Brasil, com o objetivo de disponibilizar os dados climáticos de temperatura média do ar e de
precipitação nas escalas mensal e anual de 500 localidades brasileiras, além dos elementos do
balanço hídrico climatológico para cada uma dessas localidades (EMBRAPA, 2003).

Como exemplos são apresentados três balanços hídricos extraídos do Banco de Dados
Climáticos do Brasil, relativos a regiões com climas distintos.

Figura 36 - Balanço Hídrico.

Fonte EMBRAPA.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abdon, M. M. Os impactos ambientais do meio físico - erosão e assoreamento na bacia


hidrográfica do rio Taquari, MS, em decorrência da pecuária. Tese de doutorado apresentada
pela Escola de Engenharia pela Universidade de São Paulo.
São Carlos: USP, 2004.

Amorim, M. Das. M. Balanço hídrico segundo Thornthwaite&Mather (1955). Petrolina: EMBRAPA


- CPATSA, 1989. 18 pp.

Attanasio, C.M. Planos de manejo integrado de microbacias hidrográficas com uso agrícola: uma
abordagem hidrológica na busca da sustentabilidade. Tese de doutorada apresentada na Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – USP. Piracicaba, 2004.

Barbosa, P.R. Hidrologia geral – Notas de aula. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de
Janeiro, s.d. BARTH, F.T. Modelos para gerenciamento de recursos hídricos. São Paulo: Nobel,
1987.

Brasil. Lei n˚ 12.651 de 25 de maio de 2012 – Dispõe sobre a proteção de vegetação nativa.
Brasília (DF): 2012. CENTER FOR WATERSHED PROTECTION (CWP) Impacts of impervious
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