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DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
Programa Produtor de Água
Treinamento em Elaboração de
Projetos de Revitalização de
Bacias Hidrográficas
AULAS 1 e 2
Noções sobre
hidrologia e
revitalização de
bacias
TREINAMENTO EM ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE
REALIZAÇÃO
JUNHO 2021
NOÇÕES SOBRE HIDROLOGIA E REVITALIZAÇÃO
DE BACIAS
FICHA TÉCNICA
Editor-chefe
Edwaldo Luiz de Oliveira
Autores
Pilar Carolina Villar
Maria Luiza Machado Granziera
Maria Raquel Finkler
Revisores Técnicos
Simone Frederigi Benassi
Caroline Henn
Anderson Braga Mendes
Paulo Abrantes
Hudson C. Lissoni Leonardo
Revisão da 2. edição
Antonio Castilho Martins
Flávio Hermínio de Carvalho - ANA
Frederico Salmi Pereira
Maria Angélica Valério - ANA
Soraya Despina Santos Voigtel
Revisão Científica
Prof. Dr. Walter de P. Lima - Depto. de Ciências Florestais/ESALQ/USP
Prof. Dr. Ricardo R. Rodrigues - Depto. de Ciências Biológicas/ESALQ/USP
Apresentação
O Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) é o organismo
especializado em agricultura do Sistema Interamericano que apoia os esforços dos
Estados membros em sua busca pelo desenvolvimento agrícola e pelo bem-estar rural.
Oferecemos cooperação mediante trabalho próximo e permanente com nossos 34
Estados membros, a cujas necessidades atendemos oportunamente.
Sem dúvida alguma, nosso ativo mais valioso é a estreita relação que mantemos com os
beneficiários de nosso trabalho. Temos ampla experiência em temas como tecnologia e
inovação para a agricultura, sanidade agropecuária e inocuidade dos alimentos,
comércio agropecuário internacional, agricultura familiar, desenvolvimento rural, gestão
dos recursos naturais e bioeconomia.
Missão
Incentivar, promover e apoiar os esforços dos Estados membros para conseguirem seu
desenvolvimento agrícola e bem-estar rural por meio de cooperação técnica
internacional de excelência.
Visão
Ser uma instituição moderna e eficiente apoiada em uma plataforma de recursos
humanos e processos capazes de mobilizar os conhecimentos disponíveis na região e
no mundo para alcançar uma agricultura competitiva, inclusiva e sustentável, que
aproveite as oportunidades para contribuir para o crescimento econômico e o
desenvolvimento e que promova um maior bem-estar rural e uma gestão sustentável de
seu capital natural.
Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA
Tem como missão “Promover a cooperação entre comunidades e instituições para que
venham garantir a realização de seu pleno direito ao desenvolvimento econômico,
humano, natural e socialmente sustentável “.
Sumário
3.4 Interceptação...................................................................................................... 68
1.1 Contextualização
A quantidade e a qualidade da água e do solo, assim como de qualquer recurso natural, são
fortemente influenciadas pela maneira como esses recursos são utilizados. A forma de preparo
e manejo, tanto das culturas quanto do solo, está intimamente relacionada à conservação desses
recursos, que poderá afetar a manutenção e a elevação da produtividade, a estabilidade
econômica dos proprietários e, consequentemente, a qualidade de vida nas propriedades rurais
(HERNANI; FABRÍCIO, 1999).
O uso e o manejo inadequado das propriedades rurais podem trazer como principal
consequência a intensificação do processo erosivo. Esse processo se deve, principalmente, ao
desmatamento de encostas e margens de rios, às queimadas, ao uso inadequado de maquinário
e implementos agrícolas, além da ausência de práticas conservacionistas. Como resultado, tem-
se a perda de nutrientes do solo, além da redução da qualidade e alteração do volume das águas
que escoam nos rios, devido aos processos de sedimentação e assoreamento, como mostram
as Figuras 1 e 2. Esses sedimentos podem chegar a reservatórios e reduzir seu volume útil,
afetando o abastecimento público e/ou a geração de energia hidrelétrica. Além disso, decorrem
dos processos erosivos impactos sociais oriundos do êxodo rural; impactos econômicos
relacionados ao aumento do custo do tratamento da água distribuída e o aumento dos custos
para o exercício da atividade agrícola; e os impactos à saúde da população em decorrência das
doenças de veiculação hídrica.
Estima-se que a erosão seja responsável por gerar prejuízos da ordem de R$ 13,3 bilhões
anuais, somando os efeitos da erosão na depreciação da terra (LANDERS et al., 2001), custo de
tratamento de água para consumo humano (BASSI, 1999), custo de manutenção das estradas
(BRAGAGNOLO et al., 1997) e na reposição de reservatórios, decorrente da perda anual da
capacidade de armazenamento hídrico (CARVALHO et al., 2000).
Fonte:
https://imgsapp.em.com.br/app/noticia_127983242361/2014/09/24/572183/20140924070416657999o.
jpg
No Brasil, apesar de programas exitosos de conservação do solo terem sido implementados nos
últimos anos (ROLOFF; BRAGAGNOLO, 1997), eles foram concebidos sem considerar, de forma
explícita, os benefícios ambientais e econômicos fora da propriedade (BOERMA, 2000).
Ainda que, na legislação brasileira de recursos hídricos não haja um tratamento específico para
a poluição difusa rural (MARTINI; LANNA, 2003), os aspectos de descentralização da gestão e
de articulação da gestão dos recursos de solo e água, contidos na Lei 9.433/97, permitem que
acordos sejam realizados entre usuários de água e produtores, visando sua mitigação.
Considerando esses aspectos, a Agência Nacional de Águas (ANA) desenvolveu um programa
voltado à conservação de mananciais estratégicos, em que os benefícios ambientais
proporcionados por produtores participantes são devidamente certificados e compensados
financeiramente, de forma proporcional ao abatimento da sedimentação na bacia. Esse
programa, intitulado “Produtor de Água”, foi desenvolvido seguindo as tendências atuais de
programas agroambientais, ou seja, de aplicação voluntária, flexível e descentralizada (CHAVES
et al., 2004a).
Desde que a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) foi implantada em 1997, por meio
da Lei Federal 9.433, grandes esforços têm sido realizados no sentido de aprimorar a prática da
gestão dos recursos hídricos, por meio do desenvolvimento de uma série de programas e
projetos, os quais visam à conservação, recuperação e o uso eficiente e racional da água,
priorizando a manutenção da quantidade e qualidade desse recurso. Nesse contexto, a Agência
Nacional de Águas (ANA) possui um papel primordial, uma vez que esta é a entidade responsável
pela implementação da PNRH e integra o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos.
A partir do ano de 2001, quando iniciaram as discussões sobre a implementação da cobrança
pelo uso da água, vislumbrou-se na ANA a necessidade de desenvolver programas de aplicação
dos recursos financeiros oriundos da cobrança, os quais, além de facilitar a utilização dos
recursos, pudessem melhorar o entendimento dos usuários sobre o embasamento do
instrumento em aplicação.
pagamento pelo esgoto tratado, aos Prestadores de Serviço de Saneamento que investem na
implantação e operação de Estações de Tratamento de Esgotos (ETE) (ANA, 2012).
Para evitar prejuízos decorrentes de obras inacabadas, no PRODES 1, a liberação dos recursos
ocorre somente após a conclusão da obra e início de operação da ETE, em parcelas vinculadas
ao cumprimento de metas de abatimento de cargas poluidoras e demais compromissos
contratuais (ANA, 2012).
Essa iniciativa inovadora, de grande sucesso, estimulou a Agência a buscar alternativas de
aplicação dos recursos da cobrança em outros setores que causam impactos significativos na
qualidade e quantidade de água das bacias hidrográficas.
O processo de cobrança é embasado pelo princípio "usuário-pagador", o qual traz a dimensão
de que a utilização de um recurso, como a água de uma bacia hidrográfica, provoca um prejuízo
social, pois ao fazê-lo, reduz-se a sua disponibilidade para os demais usuários, seja em termos
de quantidade ou qualidade. A água utilizada por esse usuário lhe gera renda, sendo, portanto,
justo que ele destine parte dessa renda para ser utilizado pela sociedade na mitigação do
prejuízo causado pelo seu uso.
Nesse caso, o Comitê de Bacia é a instituição que melhor representa a sociedade em questão,
e tem a prerrogativa de estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos,
bem como definir a aplicação do recurso em ações que possam reduzir o prejuízo social causado
pelo uso da água (ANA, 2012).
De forma semelhante, podemos usar esse raciocínio do "usuário-pagador” que prevê a
necessidade da cobrança daquele que utiliza o recurso, porém aplicado àquele que contribui
com a manutenção ou melhoria da disponibilidade de água.
Desse modo, surge o princípio do “provedor–recebedor” (ou "protetor-recebedor"), o qual
estabelece que quem contribui para melhorar um serviço ambiental, protegendo um bem natural
e adotando práticas sustentáveis que trazem benefício
para a comunidade, deve receber uma compensação financeira como incentivo pelo serviço
prestado (RIBEIRO, 2005).
Toda vez que um ou mais produtores rurais adotam práticas sustentáveis, é gerado benefícios
sociais, na medida em que os usuários da bacia hidrográfica passam a dispor de água em
qualidade e quantidade mais adequadas as suas demandas (ANA, 2012). Nesse caso, a
1 Para saber mais: Para conhecer o PRODES e seus resultados visite: http://www.ana.gov.br/prodes/default.asp
Convém salientar que o setor rural apresenta uma enorme capacidade de contribuir para a
gestão dos recursos hídricos.
No entanto, encontra-se disperso, com inúmeros atores e muitas vezes de difícil acesso, e os
instrumentos tradicionais não se mostraram eficientes para motivá-los a serem os grandes
parceiros nesse objetivo (SANTOS; MELO; CARVALHO, 2012).
Iniciativas como o Produtor de Água vêm em contraposição a esta dificuldade, tornando-se uma
ferramenta essencial para direcionar, orientar e fortalecer o processo de gestão das águas.
Figura 4 – Localização dos projetos do Programa Produtor de Água no Brasil. Situação atual.
Fonte: ANA.
Esse programa tem adesão voluntária, baseado no princípio provedor-recebedor, no qual são
beneficiados produtores rurais que, por meio de práticas mecânicas, vegetativas e manejos
conservacionistas em suas propriedades, venham a contribuir para a conservação do solo e da
água. Com essas atividades, propicia-se o abatimento efetivo da erosão e da sedimentação, o
que contribui com o aumento da infiltração de água e, por consequência, aumento da vazão dos
rios (ANA, 2012).
O Programa proporciona condições adequadas à implementação das práticas conservacionistas,
tornando a atividade, além de ambientalmente sustentável, economicamente atrativa e
financeiramente exequível.
Os projetos podem ser desenvolvidos por arranjos organizacionais compostos por estados,
municípios, comitês de bacia, companhias de abastecimento e geração de energia, dentre outras
instituições públicas ou privadas (ANA, 2012).
O Programa prevê que os projetos contemplem pagamentos aos produtores que adotem práticas
que favoreçam os serviços ecossistêmicos, gerando externalidades positivas à sociedade. Os
pagamentos são feitos por entidades integrantes do arranjo organizacional, durante ou após a
implantação de cada Projeto Individual da Propriedade (PIP) (ANA, 2012).
Convém destacar que os valores pagos são definidos com base em estudos econômicos
desenvolvidos para a região e na eficácia do abatimento da erosão. Chaves et al. (2004b)
apontam que os valores financeiros de compensação aos agricultores devem atender aos
seguintes critérios:
1.3.2 Objetivos
O Programa Produtor de Água, ainda que possa gerar algum benefício individual, tem como
principal objetivo a execução de ações que alterem a qualidade, a quantidade e o regime de
vazão das bacias hidrográficas, de modo considerado benéfico à coletividade. Dessa forma, o
objetivo geral do Programa está centrado no apoio a projetos de pagamentos por serviços
ambientais de proteção hídrica que visem promover a melhoria da qualidade da água, a
ampliação de sua oferta e a regularização da vazão dos corpos hídricos.
1. Integrar a gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental e com a de uso do solo.
2. Apoiar a revitalização de bacias hidrográficas.
3. Induzir o desenvolvimento de projetos de conservação de recursos hídricos no meio rural.
4. Promover práticas de conservação de água, solo, vegetação e saneamento rural.
5. Contribuir para a adequação de propriedades rurais, conciliando produção agrícola e
preservação ambiental.
6. Estimular a adoção de pagamentos por serviços ambientais no Brasil.
Os principais serviços ecossistêmicos são listados a seguir, elencados no estudo "A economia
dos ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB em inglês)".
vida estão baseadas nos serviços ecossistêmicos que a natureza nos propicia. Planejar o futuro
de uma cidade sem considerar critérios ambientais é ir contra uma política de desenvolvimento
sustentável, uma vez que é da natureza que retiramos nosso sustento.
Os sistemas de PSA têm princípio básico no reconhecimento de que o meio ambiente fornece
gratuitamente uma gama de bens e serviços que são de interesse direto ou indireto do ser
humano, permitindo sua sobrevivência e seu bem-estar. A adoção do PSA é, portanto, justificável
por ser o modelo socioeconômico vigente predominantemente degradante ao meio ambiente,
enfraquecendo o potencial da natureza de oferecer esses serviços (ANA, 2012).
“Uma transação voluntária, na qual, um serviço ambiental bem definido ou um uso da terra
que possa assegurar este serviço é comprado por, pelo menos, um comprador de, pelo
menos, um provedor, sob a condição de que o provedor garanta a provisão deste serviço
(condicionalidade)”. (WUNDER, 2005)
Uma das etapas é a definição da bacia e áreas prioritárias para proteção e conservação.
Em muitas regiões são escolhidas sub-bacias que apresentam características de boa
produção de água e, ao mesmo tempo, sejam identificados elevados níveis de
degradação. É importante ressaltarmos que essa escolha deverá estar baseada em
estudos técnicos. Uma boa fonte de dados são os Planos de Recursos Hídricos, quando
estes existirem.
C. Arranjo institucional
Nesta etapa, deve ser elaborado um estudo identificando os déficits de cobertura vegetal
e as regiões com maior incidência de erosão. Por meio de
imagens de satélite e trabalhos de campo, é possível especificar esses déficits
por cada propriedade rural, possibilitando assim uma avaliação prévia dos custos de
recuperação geral e por propriedade.
E. Mobilização
Esta é uma etapa relevante do processo, pois a UGP deverá realizar trabalhos de
extensão rural e assistência técnica no âmbito da sub-bacia selecionada, buscando a
mobilização dos diversos atores, e ao mesmo tempo nivelar conhecimentos sobre
serviços ambientais e boas práticas capazes de maximizar a produção desses serviços.
H. Seleção e execução
Após selecionados os projetos, os contratos são assinados com os produtores. A etapa
seguinte é a execução das obras, cercamentos e plantio de mudas.
I. Vistorias e pagamento
NOÇÕES DE HIDROLOGIA
o E: evaporação (mm/d);
q: umidade específica do ar em gramas de vapor d’ água por quilo de ar, ou g/kg;
o P: precipitação (mm);
o i: intensidade de chuva (mm/h);
o Q: deflúvio superficial ou vazão (m³/s);
o f: taxa de infiltração (mm/h);
o ET: evapotranspiração (mm/d).
Embora o ciclo hidrológico possa parecer um ciclo contínuo, com a água se movendo de uma
forma permanente e com uma taxa constante, é na realidade bastante diferente, pois o
movimento que a água faz em cada uma das fases do ciclo ocorre de forma bastante aleatória,
variando tanto no espaço como no tempo.
Esses extremos de enchente e seca são os que mais interessam para os engenheiros, pois
muitos dos projetos de Engenharia Hidráulica são feitos com a finalidade de proteção contra
estes mesmos extremos, e quando não previsto podem acarretar danos.
Quando trabalhamos com projetos, necessariamente devemos definir nosso domínio, seja ele
local ou regional. A definição do domínio implica na seleção dos componentes mais relevantes.
Do ciclo hidrológico, por exemplo, para o balanço hídrico, são considerados a evapotranspiração,
a precipitação, o escoamento superficial, a infiltração e a percolação profunda. Já nos estudos
de drenagem é necessário conhecer as distribuições espaço-temporais da precipitação, da
infiltração e das vazões nas seções de interesse.
Para cada trabalho que irá realizar, uma análise hidrológica deve ser feita, seja para
saber se a precipitação irá interferir no processo, ou se a drenagem é adequada para o tipo de
empreendimento.
O Ciclo Hidrológico, como descrito anteriormente, tem um aspecto geral e pode ser visto como
um sistema hidrológico fechado, já que a quantidade de água disponível para a terra é finita e
indestrutível. Entretanto, os subsistemas abertos são abundantes, e estes são normalmente os
tipos analisados pelos hidrologistas.
Dentre as regiões de importância prática para os hidrologistas destacam-se as Bacias
Hidrográficas (BH) ou Bacias de Drenagem, por causa da simplicidade que oferecem na
aplicação do balanço de água, os quais podem ser desenvolvidos para avaliar as componentes
do ciclo hidrológico para uma região hidrologicamente determinada, conforme Figura 8.
Fonte: Apostila sobre Hidrologia - Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte Batista
da Silva (UFRJ).
A formação da bacia hidrográfica dá-se através dos desníveis dos terrenos que direcionam os
cursos da água, sempre das áreas mais altas para as mais baixas. É uma área geográfica e,
como tal, mede-se em km².
3.2.1 Divisores
Fonte: Apostila sobre Hidrologia - Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte
Batista da Silva (UFRJ).
Fonte: Apostila sobre Hidrologia - Prof. Daniel Fonseca de Carvalho e Prof. Leonardo Duarte
Batista da Silva (UFRJ).
a. Perenes: contém água durante todo o tempo. O lençol freático mantém uma alimentação
contínua e não desce nunca abaixo do leito do curso d’água, mesmo durante as secas mais
severas.
b. Intermitentes: em geral, escoam durante as estações de chuvas e secam nas de estiagem.
Durante as estações chuvosas, transportam todos os tipos de deflúvio, pois o lençol d’água
subterrâneo conserva-se acima do leito fluvial e alimentando o curso d’água, o que não
ocorre na época de estiagem, quando o lençol freático se encontra em um nível inferior ao
do leito.
c. Efêmeros: existem apenas durante ou imediatamente após os períodos de precipitação e
só transportam escoamento superficial. A superfície freática se encontra sempre a um nível
inferior ao do leito fluvial, não havendo a possibilidade de escoamento de deflúvio
subterrâneo.
Estas características são importantes para se transferir dados de uma bacia monitorada para
uma outra qualitativamente semelhante onde faltam dados ou não é possível a instalação de
postos hidrométricos (fluviométricos e pluviométricos).
É um estudo particularmente importante nas ciências ambientais, pois no Brasil, a densidade de
postos fluviométricos é baixa e a maioria deles encontram-se nos grandes cursos d’água, devido
a prioridade do governo para a geração de energia hidroelétrica.
É a área plana (projeção horizontal) inclusa entre seus divisores topográficos. A área é o
elemento básico para o cálculo das outras características físicas.
É uma das características da bacia mais difíceis de serem expressas em termos quantitativos.
Ela tem efeito sobre o comportamento hidrológico da bacia, como por exemplo, no tempo de
concentração (Tc). Tc é definido como sendo o tempo, a partir do início da precipitação,
necessário para que toda a bacia contribua com a vazão na seção de controle.
A forma da bacia influencia o escoamento superficial e, consequentemente, o hidrograma 2
resultante de uma determinada chuva.
Existem vários índices utilizados para se determinar a forma das bacias, procurando relacioná-
las com formas geométricas conhecidas.
O Kc é sempre um valor > 1 (se fosse 1 a bacia seria um círculo perfeito). Quanto menor o Kc
(mais próximo da unidade), mais circular é a bacia, menor o Tc e maior a tendência de haver
picos de enchente.
2HIDROGRAMA - Denomina-se hidrograma a representação gráfica da vazão que passa por uma seção,
ou ponto de controle, em função do tempo. A caracterização de um hidrograma é feita a partir de
observações e registros das variações de vazão no decorrer do tempo.
É a razão entre a largura média da bacia (L ) e o comprimento do eixo da bacia (L) (da foz ao
ponto mais longínquo da área)
Quanto menor o Kf, mais comprida é a bacia e, portanto, menos sujeita a picos de enchente, pois
o Tc é maior e, além disso, fica difícil uma mesma chuva intensa abranger toda a bacia.
O sistema de drenagem de uma bacia é constituído pelo rio principal e seus tributários; o estudo
das ramificações e do desenvolvimento do sistema é importante, pois ele indica a maior ou menor
velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica. O padrão de drenagem de uma bacia
depende da estrutura geológica do local, tipo de solo, topografia e clima. Esse padrão também
influencia no comportamento hidrológico da bacia.
O relevo de uma bacia hidrográfica tem grande influência sobre os fatores meteorológicos e
hidrológicos, pois a velocidade do escoamento superficial é determinada pela declividade do
terreno, enquanto a temperatura, a precipitação e a evaporação são funções da altitude da bacia.
a) declividade da bacia
b) curva hipsométrica:
É definida como sendo a representação gráfica do relevo médio de uma bacia. Representa o
estudo da variação da elevação dos vários terrenos da bacia com referência ao nível médio do
mar. Essa variação pode ser indicada por meio de um gráfico que mostra a percentagem da área
de drenagem que existe acima ou abaixo das várias elevações. Pode também ser determinadas
por meio das quadrículas associadas a um vetor ou planimetrando-se as áreas entre as curvas
de nível.
Pelo fato da velocidade de escoamento de um rio depender da declividade dos canais fluviais,
conhecer a declividade de um curso d’água constitui um parâmetro de importância no estudo de
escoamento (quanto maior a declividade maior será a velocidade).
1o) Declividade baseada nos extremos (S1): obtida dividindo-se a diferença total de elevação do
leito pela extensão horizontal do curso d’água entre esses dois pontos. Este valor
superestima a declividade média do curso d’água e, consequentemente, o pico de cheia.
Essa superestimativa será tanto maior quanto maior o número de quedas do rio.
2o) Declividade ponderada (S2): um valor mais representativo que o primeiro consiste em traçar
no gráfico uma linha, tal que a área, compreendida entre ela e a abcissa, seja igual à
compreendida entre a curva do perfil e a abcissa.
3o) Declividade equivalente constante (S3): leva em consideração o tempo de percurso da água
ao longo da extensão do perfil longitudinal, considerando se este perfil tivesse uma
declividade constante igual à uma declividade equivalente.
4o) Declividade 15 – 85 (S4): obtida de acordo com o método da declividade baseada nos
extremos, porém descartando-se 15% dos trechos inicial e final do curso d’água. Isto se
deve, pois a maioria dos cursos d’água têm alta declividade próximo da nascente e torna-se
praticamente plano próximo de sua barra.
Tem relação direta com a infiltração, armazenamento da água no solo e com a suscetibilidade
de erosão dos solos.
É a área plana (projeção horizontal) incluída entre seus divisores topográficos. A superfície ou
área é o elemento básico para o cálculo de outras características físicas. A área de superfície de
uma bacia hidrográfica é geralmente expressa no km². Na prática, a superfície de drenagem é
determinada pelo uso de um dispositivo chamado planímetro, embora seja possível obtê-lo com
boa precisão usando o "método dos quadrados”.
É uma das características da bacia mais difíceis de serem expressas em termos quantitativos.
Ela tem efeito sobre o comportamento hidrológico da bacia, como por exemplo, no tempo de
concentração (Tc). Tc é definido como sendo o tempo, a partir do início da precipitação,
necessário para que toda a bacia contribua com a vazão na seção de controle.
Existem vários índices utilizados para se determinar a forma das bacias, procurando
relacioná-las com formas geométricas conhecidas. Dois índices são mais usados para
caracterizar a bacia:
• Índice de compacidade;
• Índice de conformação.
Onde:
P = perímetro da bacia (m);
A = área da bacia (km2).
O Kc é sempre um valor > 1 (se fosse 1 a bacia seria um círculo perfeito). Caso não existam
fatores que interfiram, os menores valores de kc indicam maior potencialidade de produção de
picos de enchentes elevados.
É a relação entre a área da bacia e o quadrado de seu comprimento axial medido ao longo do
curso d’água desde a desembocadura até a cabeceira mais distante do divisor de água (Equação
2).
Onde:
A = área da bacia (km2);
L = comprimento axial (m).
Quanto menor o Kf , mais comprida é a bacia e, portanto, menos sujeita a picos de enchente,
pois o Tc é maior e, além disso, fica difícil uma mesma chuva intensa abranger toda a bacia.
O sistema de drenagem de uma bacia é constituído pelo rio principal e seus tributários. A
classificação dos rios quanto à ordem reflete o grau de ramificação ou bifurcação dentro de uma
bacia. Os cursos d´água maiores possuem seus tributários, que por sua vez possuem outros até
que chegue aos minúsculos cursos d´água da extremidade. Normalmente, quanto maior o
número de ramificações maior serão os cursos d´água. Dessa forma, podem-se classificar os
cursos d´água de acordo com o número de bifurcações (PEDRAZZI, 2003).
amarração nos dígitos da relação topológica entre as bacias hidrográficas, são as características
marcantes do método de Otto Pfafstetter. A técnica desenvolvida por Otto Pfafstetter, conhecida
pelo nome de “Ottobacias”, caracteriza-se por sua racionalidade.
Utilizando pequena quantidade de dígitos em um código específico para uma dada bacia, o
método permite inferir através desse código quais as bacias hidrográficas que se localizam a
montante e a jusante daquela em estudo. Cada vez que for citada uma determinada numeração,
sabe-se exatamente a identificação da bacia hidrográfica, seu rio principal e seu relacionamento
com as demais bacias da mesma região hidrográfica, até o nível continental (SILVA, 1999 apud
GALVÃO & MENESES, 2005).
O primeiro princípio dessa forma de classificação é que o rio principal de uma bacia é sempre o
que tem a maior área de contribuição a montante. Isto contraria, em muitos casos, a atribuição
de nomes feita tradicionalmente na bacia, mas é um critério que certamente tem uma base
hidrológica mais sólida. A partir da identificação do rio principal, classificam-se suas bacias
afluentes por área de drenagem. As quatro maiores recebem números pares, sendo a mais a
jusante a de número 2, a logo mais a montante a 4, a outra a 6 e a mais a montante de todas a
8. As bacias incrementais recebem números ímpares, sendo a da foz a número 1, a incremental
entre as bacias 2 e 4 a 3, e assim por diante até a bacia de montante, que recebe o número 9.
Desta forma está terminada uma fase da classificação. Cada uma das bacias determinadas pode
ser novamente classificada, sendo então
atribuído um algarismo adicional. As bacias pares são classificadas como uma nova
bacia integral, sendo o rio principal o que na fase anterior foi um afluente. As bacias
incrementais, ímpares, são classificadas considerando-se o mesmo rio principal da fase anterior,
restrito ao trecho incremental considerado. O processo pode ser repetido enquanto houver
afluentes na rede hidrográfica. A classificação de Pfafstetter tem como objetivo as bacias, mas
nada impede que seja adaptada, como foi feito, para a classificação dos rios. Basta para isso
que o rio receba o número da bacia principal ao qual é associado. Desta maneira os códigos dos
rios sempre terão sua terminação em um algarismo par. (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS,
2002).
O tempo de concentração é aquele necessário para que toda a água precipitada na bacia
hidrográfica passe a contribuir na seção considerada. Este tempo pode ser
Fórmula de Kirpich
Onde:
Ieq = declividade equivalente em m/km
L = comprimento do curso d´água em km.
Fórmula de Picking
Onde:
L = comprimento do talvegue em km;
Ieq = declividade equivalente em m/m.
A política de desenvolvimento urbano deve ser executada pelo poder público, conforme diretrizes
gerais fixadas em lei, e tendo como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes (MOTA, 2011, p.290).
Entre as ferramentas para organização e disciplinamento das bacias hidrográficas urbanas
podemos destacar: planos diretores municipais, geração de recursos para
as ações de manutenção dos sistemas de controle de drenagem urbana e as ações
Nas última décadas a população mundial tem crescido rapidamente, se concentrando nas áreas
urbanas. Até 1960, era maior o percentual de população rural, situação que se inverteu na
década seguinte a esse ano, observando-se que
em 1970 a população urbana já alcançava 55,9% do total (MOTA, 2011).
Hoje há altas concentrações urbanas e municípios com uma porcentagem pequena de habitantes
na zona rural. Em geral a mancha urbana dessas grandes metrópoles está unida a cidades
satélites, criando grandes maciços urbanos.
A infraestrutura das cidades deveria acompanhar o crescimento da população propiciando
condições mínimas de vida, porém em geral o crescimento ocorre descontroladamente, tendo
como a principal variável o êxodo de populações rurais
para a área urbana em busca de trabalho. Em decorrência disso, ocorre o processo
de ocupação de áreas sem a devida implantação da estrutura necessária, que se desenvolvem
sem avaliação da capacidade suporte do meio ambiente (MOTA, 2011).
O plano diretor deve conter as diretrizes para o crescimento econômico e social justo e
ecologicamente equilibrado (MOTA, 2011, p.297). Para tanto, deve se constituir em um
documento produzido por meio de um processo canalizador de propostas, que direcionem o
desenvolvimento da cidade, incorporando suas dimensões políticas, social, econômica, cultural,
físico-territorial e ambiental. A Figura 15 a seguir apresenta as etapas a serem observadas na
elaboração de um plano diretor.
O plano diretor não deve espelhar um plano de governo, nem intenções da atual administração.
Deve ser realizado com critérios técnicos, uma vez que sua vigência vai além da duração de um
mandato governamental. O plano diretor deve ser um plano da cidade, abordando seus
problemas de forma abrangente: a cidade informal, os processos expansivos espontâneos, as
irregularidades urbanísticas, edílicas e seus reflexos econômicos e sociais (MOREIRA, 2008).
Ainda segundo Moreira (2008) o plano diretor deve atingir os seguintes objetivos:
o Propor formas alternativas ao transporte público oficial para circulação das pessoas
(ciclovias, transporte coletivo de empregados de empresas etc.);
O plano diretor deve representar o ordenamento atual e futuro do território municipal, utilizando
como ferramenta o zoneamento, este, por sua vez, obtido da avaliação dos atributos de
desenvolvimento de cada setor da cidade e sua dinâmica de desenvolvimento.
A geração dos recursos para a operação de ações de recuperação e proteção ambiental deve
advir, por um lado, da penalização de agentes e atividades geradoras de impacto sobre o meio
ambiente e os sistemas de infraestrutura críticos
e, por outro, do pagamento dos custos desses sistemas por parte dos beneficiários das obras e
da operação. Deve também levar em conta a capacidade contributiva
dos beneficiários e dos geradores de impacto.
São formas de obtenção de recursos para as compensações ambientais: o pagamento de
royalties do setor elétrico, a cobrança pelo uso da água e o rateio do custo das obras de controle
de cheias, entre os beneficiários.
O estabelecimento de cobrança por impermeabilização (impermeabilizador-pagador) é uma
ferramenta interessante para dar sustentabilidade aos programas de controle de drenagem
urbana, captando recursos que poderão ser aplicados na manutenção dos sistemas de
drenagem (PORTO, 2003). O princípio do impermeabilizador-pagador considera que os agentes
responsáveis pela alteração no regime hidrológico de uma área, em decorrência da
impermeabilização do solo, deverão pagar pelos custos de mitigação dos danos/modificações
causados.
O princípio do rateio do custo de obras de defesa contra as cheias deve ser incorporado como
instrumento regulador do uso e ocupação do solo, no interesse regional. O conceito de
beneficiário da obra deve ser estendido tanto à vítima potencial de enchente a jusante da obra
quanto ao impermeabilizador, a montante
(PORTO, 2003).
c) Saneamento
A Lei n˚ 11.445 (BRASIL, 2007) constitui um marco na história do saneamento no Brasil. Esta lei
define diretrizes para o saneamento básico e a elaboração dos planos de saneamento por parte
da federação, estados e municípios.
Um plano de saneamento não é apenas um documento técnico-científico, também deve envolver
o contexto social, político e econômico para que seus objetivos e metas possam, de fato, ser
concretizados.
Segundo a Lei n˚ 11.445 (BRASIL, 2007), um plano de saneamento básico deve abranger, no
mínimo, os seguintes itens:
Significativo percentual das áreas das bacias hidrográficas é constituído por espaço rural, pois
as atividades agropecuárias são aquelas que ocupam maiores extensões de espaço geográfico.
Os impactos gerados por essas atividades são de natureza tipicamente difusa, mas a utilização
de uma bacia hidrográfica como unidade de estudo permite a pontualização desses problemas,
tornando mais fácil a identificação de focos de degradação ambiental instalados e o grau de
comprometimento da produção sustentada (SANTANA, 2003).
As bacias localizadas em áreas rurais diferem por: a) não apresentarem áreas urbanizadas e b)
suas pressões ambientais, em geral, estarem relacionadas à alteração da sua cobertura vegetal
e a fontes de poluição difusa, enquanto as fontes pontuais são menos representativas, estando
geralmente associadas ao confinamento de animais.
Os impactos mais visíveis estão associados à forma de manejo do solo e a erosão hídrica, que
ao degradar o solo causa dificuldades produtivas como perda de rendimentos as populações
rurais (ATTANASIO, 2004).
No planejamento de bacias rurais, os produtores são considerados elementos chave para
preservação e recuperação ambiental, uma vez que o poder de decisão sobre a adoção de
práticas sustentáveis de cultivo e gerenciamento da propriedade rural
cabe a eles. Sendo assim, para antes de iniciar o planejamento, é fundamental a delimitação das
bacias hidrográficas e suas subdivisões e indicação de uso dos recursos naturais. Um
Em geral as formas de uso e ocupação de solos são identificadas por classe de uso,
espacializadas e caracterizadas (pela intensidade de uso e indícios de manejo) e quantificadas
(percentual de área ocupada pela classe). Essas informações podem
descrever não só o uso atual, mas as mudanças recentes e o histórico de ocupação
da bacia hidrográfica.
Os mapas de uso do solo que expressam a distribuição das atividades no espaço podem ser
elaborados a partir da classificação de imagens de satélite trabalhados em um SIG (Sistemas de
Informação Geográfica) (SANTOS, 2004, p. 98).
A avaliação do uso e ocupação do solo fornece informações importantes para podermos realizar
a modelagem hidrológica de disponibilidade hídrica, a de determinação das populações
vulneráveis a inundações, entre outras informações.
As condições de uso e cobertura do solo afetam a qualidade e quantidade da água
dentro da bacia. Por isso, é importante que no estabelecimento de programas de gestão dos
recursos hídricos de uma bacia hidrográfica sejam adotadas medidas visando à proteção da
vegetação e das características do solo (MOTA, 2008).
A proteção da vegetação em determinadas áreas é importante para a garantia do
equilíbrio natural entre escoamento e infiltração da água. Por outro lado, a presença de
vegetação protege o solo contra o processo de erosão e suas consequências sobre os recursos
hídricos, como aumento da concentração de sólidos, turbidez e o
assoreamento das calhas (MOTA, 2008).
Todo o programa de conservação de solo deve basear-se no uso de cada terreno de acordo com
sua capacidade, e em um tratamento conforme sua necessidade (BERTONI e LOMBARDI
NETO, 2005, p. 213).
(SANTOS, 2004, p. 84). A capacidade de uso indica o grau de intensidade de cultivo que se pode
aplicar em um terreno sem que o solo sofra redução de sua produtividade por efeito da erosão
(BERTONI e LOMBARDI NETO, 2005, p. 213).
A classificação de uso do solo tem por objetivo estabelecer bases para seu melhor
aproveitamento e envolve a avaliação das necessidades para os vários usos que possam ser
dados a determinada gleba (BERTONI e LOMBARDI NETO, 2005, p. 241).
Segundo BERTONI e LOMBARDI NETO (2005, p.243) as classes de capacidade de uso deverão
ser utilizadas com base nos fatores econômicos e sociais dentro de determinada área.
Após o levantamento dos fatores físicos de maior influência sobre o uso da terra (a natureza do
solo, a declividade, a erosão e o uso atual); deverá ser realizada a interpretação de cada fator e
determinação das suas interações com as classes de
capacidade de uso do solo. Para a realização da classificação do potencial de uso
das terras dentro da bacia hidrográfica deverão ser adotados os seguintes critérios (BERTONI e
LOMBARDI NETO, 2005, p.241):
– Terras cultiváveis
I. Terras cultiváveis sem problemas especiais de conservação (verde Claro);
II. Terras cultiváveis com problemas simples de conservação (amarelo);
III. Terras cultiváveis com problemas complexos de conservação (vermelho);
IV. Terras cultiváveis apenas ocasionalmente ou em extensão limitada com sérios problemas
de conservação (azul).
– Terras impróprias para vegetação produtiva e próprias para proteção da fauna silvestre,
para recreação ou para armazenamento de água.
VIII. Terras impróprias para cultura, pastagem ou reflorestamento, podendo servir apenas
como abrigo para fauna silvestre, como ambiente para recreação, ou para fins de
armazenamento de água (roxo).
O produto é um mapa no qual as classes de uso são mostradas em diferentes cores, indicando
de maneira sumária a capacidade de uso das glebas localizadas na bacia hidrográfica, podendo
conter informações sobre a natureza da limitação da casse.
Esta ferramenta é importante para a gestão de bacias hidrográficas em áreas rurais para
avaliação da geração de sedimentos, priorização ou estabelecimento de programas de controle
de perda de solo. Podem subsidiar grande parte das decisões e ações do ponto de vista da
As atividades agrícolas nos processos de preparo do solo podem causar desestruturação do solo
em função à realização excessiva de aragens e/ou gradagens superficiais. Este processo é
caracterizado pelo surgimento de duas camadas distintas dentro do perfil: uma superficial
pulverizada e outra subsuperficial
compactada (EMBRAPA,2005). Esse processo aumenta as perdas de solo por erosão, reduz a
taxa de infiltração de água no solo e, consequentemente, incrementa a enxurrada e eleva os
riscos de erosão hídrica.
Por outro lado, este processo prejudica o desenvolvimento radicular de plantas e afeta o potencial
de produtividade do sistema agrícola.
Inicialmente, o processo erosivo se manifesta no solo – particularmente nas áreas sem proteção
vegetal – através da água da chuva, desagregando suas partículas, onde os filetes de água têm
força suficiente para arrastar as partículas soltas.
Os filetes de água ao escorrerem encosta abaixo podem provocar simplesmente a
lavagem da superfície do solo, dos terrenos arados ou provocar a remoção de camadas delgadas
do solo. Esse processo é designado escoamento laminar ou erosão laminar. Quando as chuvas
são mais intensas e são favorecidos por parâmetro de natureza natural e antrópica, a erosão
pode se desenvolver para o escoamento concentrado ou linear formando sulcos na superfície do
terreno. Esses sulcos originais podem evoluir para ravinas e atingir a conformação de boçorocas,
as quais representam a forma mais grave de erosão em sulcos (PAIVA e PAIVA,2001, p.288).
As práticas conservacionistas de produção agrícola têm por objetivo o aumento da
resistência do solo ou a redução da força dos processos erosivos de modo a reduzir
e controlar o esgotamento dos solos. Estas práticas podem ser divididas em vegetativas, edáficas
e mecânicas (BERTONI e LOMBARDI NETO, 2005, p.95, 109, 114).
uma região, município ou um distrito. Esta área é admitida como a menor unidade territorial capaz
de enfocar as variáveis ambientais de forma sistêmica (SILVA, 1994).
Quanto ao tamanho ou área de drenagem de uma microbacia identifica-se que não há consenso
na literatura. Uma série de conceitos é aplicada na definição de microbacias, podendo ser
adotados critérios como unidades de medida, hidrológicos e ecológicos.
Para Faustino (1996), as sub-bacias possuem áreas maiores que 100 km² e menores que 700
km². Para Rocha (1997, apud MARTINS et al., 2005), são áreas entre 20.000 ha e 30.000 ha
(200 km2 a 300 km2). Para Santana (2003), bacias podem ser desmembradas em um número
Cada bacia hidrográfica interliga-se com outra de ordem hierárquica superior, constituindo, em
relação à última, uma sub-bacia.
Apesar das diferentes definições e nomenclaturas, o consenso é que a bacia hidrográfica é a
unidade ótima para o estudo e planejamento de recursos naturais.
Todas as matérias, como solo, água e nutrientes, são coordenadas dentro dos contornos da
bacia (KOBIYAMA, 2008).
As políticas públicas que determinam as microbacias ou bacias hidrográficas como unidade de
planejamento partem da perspectiva do desenvolvimento sustentável e
pressupõem uma racionalização do uso dos recursos naturais.
A elaboração de um plano de microbacia hidrográfica inicia com a identificação das microbacias
existentes no município, diagnóstico de sua situação, perfil socioeconômico do município e de
sua comunidade, seleção das microbacias a serem trabalhadas (BERTONI e LOMBARDI NETO,
2005, p.334).
Diagnóstico
1. dados gerais do município;
2. seleção da microbacias;
3. dados da microbacia: caracterização socioeconômica, fisiográfica, dados de
manejo, práticas utilizadas, uso e cobertura do solo, identificação dos problemas da
comunidade.
– Revisão do plano: com base nos resultados obtidos durante o monitoramento dos
resultados das intervenções executadas deverão ser traçadas novas metas. As falhas
que porventura forem detectadas deverão ser corrigidas na revisão do plano. Também
poderão ser introduzidas novas tecnologias, dando um caráter dinâmico necessário ao
manejo da microbacia.
O processo de tomada de decisão deve ser realizado de forma participativa e garantir o acesso
dos grupos diretamente atingidos pelo efetivo gerenciamento da
bacia. Segundo Silva (1994), ao tratar do desenvolvimento rural, é preciso considerar que a
abordagem de manejo por microbacias possui limites metodológicos na compreensão da
realidade social. O manejo por microbacias apresenta aptidão para tratar as questões ambientais
locais, porém não garante uma solução para o
desenvolvimento econômico como um todo (Silva,1994).
Assim, ao invés de se definir a microbacia hidrográfica como unidade ideal de planejamento,
deve-se concebê-la como unidade estratégica de planejamento.
Abastecimento da água
Todas as reações nos seres vivos necessitam de um veículo que as facilite e que sirva para
regular a temperatura em virtude do grande desprendimento de calorias resultante da oxidação
da matéria orgânica. A água, que é fundamental à vida, satisfaz completamente estas exigências
e se encontra presente em proporções elevadas na constituição de todos os seres vivos,
inclusive no homem, onde atinge 75% de seu peso.
O homem sempre se preocupou com o problema da obtenção da qualidade da água e em
quantidade suficiente ao seu consumo e desde muito cedo, embora sem
grandes conhecimentos, soube distinguir uma água limpa, sem cor e odor, de outra
que não possuísse estas propriedades atrativas.
3.3 Precipitação
O regime hidrológico de uma região é determinado por suas características físicas, geológicas e
topográficas, e por seu clima. Os fatores climáticos mais importantes são a precipitação, principal
“input” do balanço hidrológico de uma região, sua distribuição e modos de ocorrência, e a
evaporação, responsável direta pela redução do escoamento superficial.
A precipitação é entendida em hidrologia como toda a água proveniente do meio atmosférico que
atinge a superfície terrestre. Neblina, chuva, granizo (ou saraiva), orvalho, geada e neve são
formas diferentes de precipitações. A diferença entre essas precipitações é o estado em que a
água se encontra (BERTONI & TUCCI, 1993).
A disponibilidade de precipitação numa bacia durante o ano é um fator determinante para
quantificar, entre outros, a necessidade de irrigação de culturas e o abastecimento de água
doméstico e industrial.
A determinação da intensidade de precipitação é importante para o controle de inundação e da
erosão do solo. Por sua capacidade para produzir escoamento, a chuva é o tipo de precipitação
mais importante para a hidrologia (BERTONI & TUCCI, 1993).
Nesse movimento de queda, as gotas maiores caem com maior velocidade do que os menores,
o que faz com que as gotas menores sejam alcançadas e incorporadas às maiores aumentando,
portanto, seu tamanho.
O processo de difusão do vapor é aquele no qual o ar, após o nível de condensação,
continua evoluindo, provocando difusão do vapor supersaturado e sua consequente
condensação em torno das partículas que aumenta de tamanho.
As precipitações convectivas são típicas das regiões tropicais. Quando ocorre um aquecimento
desigual da superfície terrestre, acaba surgindo o aparecimento de camadas de ar com
densidades diferentes, o que gera uma estratificação térmica da atmosfera em equilíbrio estável.
Caso esse equilíbrio, por qualquer motivo (vento, superaquecimento) for quebrado,
provocará uma ascensão brusca e violenta do ar menos denso, que é capaz de atingir grandes
altitudes. Essas precipitações costumam ser de grande intensidade e curta duração,
concentradas em pequenas áreas. A Figura 19 demonstra como esse
fenômeno acontece.
3.4 Interceptação
Esse tipo de interceptação pode depender de algumas variáveis, dentre elas: características da
precipitação e condições climáticas, tipo e densidade da vegetação e período do ano. As
características principais da precipitação são a intensidade, o volume precipitado e a chuva
antecedente.
A intensidade do vento é o fator climático mais significativo na interceptação, aumentando a
mesma para uma cheia longa e diminuindo para cheias menores (WIGHAM, 1970 apud TUCCI,
1993). O tipo de vegetação caracteriza a quantidade de gotas que cada folha pode reter e a
densidade dela indica o volume retido numa superfície de bacia. As folhas geralmente
interceptam a maior parte da precipitação, mas a disposição dos troncos contribui
significativamente. Em regiões em que ocorre uma maior variação climática, ou seja, em latitudes
mais elevadas, a vegetação apresenta uma significativa variação da folhagem ao longo do ano,
que interfere diretamente com a interceptação. A época do ano também pode caracterizar alguns
tipos de cultivos que apresentam as diferentes fases de crescimento e colheita.
Si=P-T-C
Onde:
Si = precipitação interceptada;
P = precipitação;
T = precipitação que atravessa a vegetação;
C = parcela que escoa pelo tronco das árvores.
De acordo com Tucci (1993), Horton (1919) foi um dos primeiros a descrever e apresentar
resultados e equações para descrever o comportamento da interceptação vegetal. O referido
autor relacionou o volume interceptado durante uma enchente com a capacidade de
interceptação da vegetação e a taxa de evaporação.
Si = Sv + ( Av/A ) . E . tr
Onde:
Sv = capacidade de armazenamento da vegetação para a área;
Av = área de vegetação;
A = área total;
E = evaporação da superfície de evaporação;
tr = duração da precipitação.
O volume de água retido nessas áreas somente diminui por evaporação e por infiltração.
Como o lençol freático fica alto, logo após a enchente, a saída de água dá-se principalmente pela
evaporação, reduzindo a vazão média da bacia. Isso é mais grave em solos que se
impermeabilizam com a umidade, como o argiloso (TUCCI, 1993).
Em bacias urbanas, podem ser criadas artificialmente áreas com retenção do escoamento em
função de aterros, pontes e construções. O somatório destas perdas se reflete na redução da
vazão média e no abatimento dos picos de enchentes. Linsley et al. (1949) utilizou a seguinte
expressão empírica para retratar o volume retido pelas depressões do solo após o início da
precipitação (TUCCI, 1993).
1−e−kPe
Vd = Sd
Onde:
Vd = volume retido;
Sd = capacidade máxima;
Pe = precipitação efetiva;
K = coeficiente equivalente a 1/Sd
No uso desta equação, admite-se que no início da precipitação as depressões estão vazias e
para gerar escoamento superficial é necessário que as depressões estejam
preenchidas. São aproximações do comportamento real, já que o escoamento superficial ocorre
sem que as depressões sejam todas preenchidas, devido à variabilidade espacial da capacidade
de retenção delas.
3.5 Infiltração
A água de chuva precipitada sobre terreno permeável é geralmente seccionada totalmente pelo
solo até o instante em que se inicia a formação de um espelho d’água na superfície e, por
conseguinte, a ocorrência de deflúvio superficial. Esse fato pode ser observado por qualquer
pessoa, porém é regido por leis físicas complexas, cuja quantificação é supostamente
conseguida por meio de experimentos, leis empíricas e solução de equações diferenciais que
governam o movimento da água no solo (RIGHETTO, 2008).
A infiltração pode ser dividida em três fases essenciais, sendo elas a fase de intercâmbio, de
descida e de circulação. Na fase de intercâmbio, a água está próxima à superfície do terreno,
sujeita a retornar a atmosfera por uma aspiração capilar, provocada pela ação da evaporação ou
absorvida pelas raízes das plantas e em seguida transpirada pelo vegetal.
Quando o deslocamento vertical da água ocasionado pela ação de seu próprio peso supera a
adesão e a capilaridade, chamamos de fase de descida. Esse movimento se efetua até atingir
uma camada-suporte de solo impermeável.
A fase de circulação ocorre quando há acúmulo de água, onde são constituídos os
lençóis subterrâneos, cujo movimento se deve também a ação da gravidade, obedecendo às leis
de escoamento subterrâneo.
É a quantidade máxima de água que um solo, sob uma dada condição, pode absorver na unidade
de tempo por unidade de área horizontal. A penetração da água no solo, na razão de sua
capacidade de infiltração, verifica-se somente quando a intensidade da precipitação excede a
capacidade do solo em absorver a água, isto é, quando a precipitação é excedente. A capacidade
de infiltração pode ser expressa por milímetros por hora (mm/h), milímetros por dia (mm/dia),
metros cúbicos por metro quadrado (m³/m²) ou metros cúbicos por dia (m³/dia).
3.5.1.3 Porosidade
área do material do solo e o tempo. Pode ser expressa por metros por segundo (m/s), metros
por dia (m/dia), metros cúbicos por metro quadrado (m³/m²) ou metros cúbicos por dia (m³/dia).
Os principais fatores intervenientes também são explicados por Martins (1976), apresentados
nos itens a seguir.
As águas das chuvas quando se chocam com o solo promovem a compactação da sua
superfície, diminuindo a capacidade de infiltração, transportam os materiais finos que, pela sua
sedimentação posterior, tenderão a diminuir a porosidade da superfície, umedecem a superfície
do solo, saturando as camadas próximas, aumentando a resistência à penetração da água; e
atuam sobre as partículas de substâncias coloidais que, ao intumescerem, reduzem as
dimensões dos espaços intergranulares.
3.5.2.4 Percolação
Este método indica que a precipitação seja medida por diversos aparelhos por toda a bacia, e
um deles deve ser necessariamente um pluviógrafo.
3.6 Evaporação
Evaporação é o conjunto dos fenômenos de natureza física que transformam a água líquida ou
sólida em vapor de água da superfície do solo e transferida, neste estado,
para a atmosfera.
Esse processo somente poderá ocorrer naturalmente se houver ingresso de energia no sistema,
proveniente do sol, da atmosfera ou de ambos e será controlado pela taxa de energia, na forma
de vapor de água que se propaga na superfície da Terra (TUCCI & BELTRAME, 1993). A
evaporação pode ocorrer em corpos d’água, lagos reservatórios de acumulação, águas retidas
na camada superficial do solo e mares e é influenciada também pela temperatura e umidade
relativa do ar, vento e pressão de vapor.
vapor de água para a atmosfera por processo de difusão turbulenta. Esses métodos dão
resultados satisfatórios em muitos casos e alguns exemplos são os métodos de
Gangopadhyaya et al.1966, Houman & Linsley et al., (1949). (MEKONNEN & HOEKSTRA,
2011).
Apesar de não ser operacionalmente perfeito e correto, ele é considerado, por muitos, como
modelo padrão, ou seja, é a melhor opção para estimar a ETP (Evapotranspiração
Potencial), (TUCCI & BELTRAME, 2000).
De acordo com Bernardo, (2002), o método de Penman apresenta boa precisão, porém
exige a determinação de grande número de dados meteorológicos e o seu cálculo é bastante
trabalhoso. Linacre (1993) propôs uma equação simplificada da fórmula de Penman (1948)
que utiliza dados de temperatura, radiação e velocidade do vento, para a estimativa da
evaporação de água em superfície livre, em lagos, rios e grandes represas.
É a parcela da água precipitada que percorre superficialmente até atingir os cursos d’água. O
volume escoado, somado as contribuições subterrâneas e subsuperficiais, resulta no deflúvio.
O escoamento superficial ou descarga é a quantidade de água que passa em uma
determinada seção de rio, normalmente expressa em metros cúbicos por segundo (m³/s) ou litros
por segundo (L/s) (VILLELA e MATTOS, 1975, p. 103). O escoamento superficial é gerado a
partir da interação dos diversos processos de armazenamento
e transporte do ciclo hidrológico.
O escoamento superficial talvez seja a fase mais importante do ciclo hidrológico, pois é a etapa
que estuda o deslocamento das águas na superfície da Terra e está diretamente ligada ao
aproveitamento da água superficial e à proteção contra os efeitos causados pelo seu
deslocamento (erosão do solo, inundações etc.).
Esse tipo de escoamento é presenciado fundamentalmente na ocorrência de precipitações e
considera desde o movimento da água de uma pequena chuva que, caindo sobre um solo
saturado de umidade, escoa pela sua superfície, formando as enxurradas ou torrentes, córregos,
ribeirões, rios e lagos ou reservatórios de acumulação.
De acordo com Martins (1976), parte da água das chuvas é absorvida pela vegetação e outros
obstáculos, a qual é evaporada posteriormente. Da quantidade de água que atinge o solo, parte
é retida em depressões do terreno e parte é infiltrada. Após o solo alcançar sua capacidade de
absorver a água, ou seja, quando os espaços nas superfícies retentoras tiverem sido
preenchidos, ocorre o escoamento superficial da água restante.
No início do escoamento superficial é formada uma película laminar que aumenta de espessura,
à medida que a precipitação prossegue, até atingir um estado de equilíbrio.
O coeficiente de escoamento superficial ou coeficiente de “run off”, é definido como a razão entre
o volume de água escoado superficialmente e o volume de água precipitado.
Este coeficiente pode ser relativo a uma chuva isolada ou relativo a um intervalo de tempo em
que várias chuvas ocorreram (VILLELA E MATTOS, 1975). A equação a seguir demonstra o
coeficiente de “run off”.
Sabe-se que conhecendo o coeficiente de “run off” para uma determinada chuva intensa de uma
certa duração, pode-se determinar o escoamento superficial de outras precipitações de
intensidades diferentes, desde que a duração seja a mesma.
Esse coeficiente é muito utilizado para se prever a vazão de uma enchente provocada por uma
chuva intensa.
De posse das alturas pode-se estimar a vazão em uma determinada seção do curso d’água por
meio de uma curva chave. Esta curva relaciona uma altura do nível do curso d’água a uma vazão.
É o método mais preciso e requer vários postos fluviométricos.
É possível observar quatro trechos diferentes na Figura 20, aonde o primeiro vai até o
ponto A. Neste primeiro trecho o escoamento ocorre devido exclusivamente à contribuição do
lençol freático, fazendo com que a vazão decresça. Entre os pontos A e B acontece a contribuição
simultânea dos escoamentos superficial e da base, formando escoamento superficial direto, o
qual promove aumento da vazão à medida que aumenta a área de contribuição para o
escoamento.
Quando a chuva durar tempo suficiente para que toda a área da bacia hidrográfica
contribua para a vazão na seção de controle, atinge-se o ponto B, onde ocorre a vazão de pico,
ou seja, o valor máximo para a vazão resultante da precipitação sob análise.
De qualquer forma o ponto B é um máximo da hidrógrafa, mesmo que toda a área da bacia não
contribua para a vazão, porém não representando a condição crítica.
Caso a chuva tenha duração superior ao tempo de concentração da bacia, a hidrógrafa tenderá
a um patamar com flutuações da intensidade de precipitação.
As contribuições dos escoamentos superficiais e de base acontecem no trecho entre os pontos
A e B, chamado também de trecho de ascensão do escoamento superficial direto.
Quando a chuva houver terminado, a área de contribuição do escoamento superficial é reduzida
gradualmente, como mostra o trecho BC. Este trecho é denominado trecho de depleção do
escoamento superficial direto, o qual se encerra no ponto C. Quando é observada apenas a
contribuição do escoamento básico, chamamos de curva de depleção de escoamento de base,
fase apresentada após o término do trecho C.
O volume escoado superficialmente (VESD) corresponde à área compreendida entre o trecho de
reta AC e a hidrógrafa.
Para avaliá-la deve-se utilizar qualquer processo de aproximação como o é a integração
numérica, com base, por exemplo, na regra dos trapézios, cuja aplicação resulta:
Desde que Δt seja constante. Deve-se utilizar para Δt a mesma unidade de tempo da vazão.
O valor encontrado para VESD pode ser transformado em lâmina escoada ou precipitação efetiva
(Pe) por meio de:
Onde:
Pe = precipitação efetiva;
VESD = volume escoado superficialmente direto;
ABH = área da bacia hidrográfica.
– Método Racional
O método Racional é utilizado para o dimensionamento das redes de drenagem urbana dada
sua simplicidade, uma vez que engloba todos os processos em apenas um coeficiente
“Coeficiente de Escoamento (C)”. No entanto, não devem ser aplicados em bacias com área
superior a 2 km².
Q = 0,27 .C . i . A
Onde:
Q = vazão máxima (m³/s);
0,027 = correção quando usando a área da bacia em km²;
C: coeficiente de escoamento, também conhecido como run-off ou deflúvio;
• Solo;
• Cobertura;
• Tipo de ocupação;
• Tempo de retorno;
• Intensidade da precipitação.
Este método deve ser utilizado para áreas maiores que 80 ha até 200 ha. A equação
seguinte representa o método.
Onde:
D = 1 – 0,009.L/2 (L = comprimento axial da bacia, km).
– Método de I – Pai – Wu
Método desenvolvido em 1963 sendo aplicado a áreas maiores que 200 ha até 20.000 ha.
Sendo que:
Onde:
F = fator de ajuste relacionado com a forma da bacia;
L = comprimento axial da bacia;
A = área da bacia;
K = coeficiente de distribuição espacial da chuva.
d) Fórmulas Empíricas
A estimativa por meio de fórmulas empíricas deve ser utilizada somente na impossibilidade do
emprego de outra metodologia. A utilização das fórmulas empíricas é principalmente alvo de
estudos de previsão de enchentes.
Segundo Carvalho e Silva (2006), uma maneira utilizada para classificar os cursos d’água é a de
tomar como base a constância do escoamento com o que se determinam três tipos:
a) Perenes
Contém água durante todo o tempo. O lençol freático mantém uma alimentação contínua
e não desce nunca abaixo do leito do curso d’água, mesmo durante as secas mais severas.
b) Intermitentes
c) Efêmeros
Os rios proporcionam a forma mais visível de escoamento da água fazendo parte integrante do
ciclo hidrológico e alimentado a partir das águas superficiais e subterrâneas (CHRISTOFOLETTI,
19834 apud DESTEFANI, 2005). A vazão é uma das principais variáveis que caracteriza um rio,
constituindo-se da quantidade de água que passa por uma sessão num determinado período.
As vazões que escoam em um curso d’água são consideradas estocásticas (TUCCI, 2002) sendo
variáveis no tempo e no espaço.
Essa variabilidade representada pela subida e descida das águas consideradas no decorrer de
um ano civil (janeiro a dezembro) ou um ano hidrológico (ciclo de vazante-cheia-vazante)
corresponde ao regime fluvial ou regime de cursos d’água ou hidrológico (DESTEFANI, 2005).
Tucci (1993) cita que a variabilidade do regime hidrológico é controlada por alguns elementos
que formam a bacia hidrográfica ou fatores que nela ocorrem.
5No Brasil, apenas o Rio Solimões-Amazonas tem esse regime, pois uma pequena quantidade de suas águas
provém do derretimento de neve da Cordilheira dos Andes, no Peru, onde se localiza sua nascente.
a) porosos ou sedimentares;
b) fissurais ou fraturados; e
c) cársticos.
a) livres;
b) confinados; ou
c) semiconfinados.
Fonte: http://carlosrabello.org/geografia/geologia/rochas-e-minerais/arenito/
Figura 27: Gruta do Lago Azul em Bonito (MS) que é um exemplo de aquífero cárstico
Desses, 11 são aquíferos transfronteiriços, isto é, são compartilhados com outros países. Há 151
aquíferos sedimentares, os quais representam as maiores potências de
exploração. Pertencem a esse grupo: o Guarani, o Bauru-Caiuá, o Barreiras, o Urucaia/Areado,
o Solimões, o Alter do Chão, o Açu, o Barreiras e o Beberibe. O domínio cárstico é formado por
26 aquíferos, dos quais se destaca o Bambuí e o Jandaíra.
O domínio fraturado possui potencial hídrico reduzido e foi aglutinado em quatro grandes blocos:
Sistema Aquífero Fraturado Semiárido, Sistema Aquífero Fraturado Norte, Sistema Aquífero
Fraturado Centro-Sul e o Aquífero Serra Geral (ANA, 2013, pp. 54-56).
O uso dos aquíferos se intensificou a partir da década de setenta e segue crescendo por diversos
fatores: a) avanços da hidrogeologia e das técnicas de perfuração de poços; b) redução dos
custos de extração; c) menor suscetibilidade climática; d) a
qualidade das águas subterrâneas; e) o aumento da demanda; e f) a degradação das águas
superficiais, (REBOUÇAS, 2006; VILLAR, 2016).
As reservas subterrâneas brasileiras se encontram em avaliação. Sua disponibilidade estimada
é de 14.600 m³/s (reserva explotável) (ANA, 2017), número inferior à disponibilidade superficial
de 91.300 m³/s (ANA, 2015, p.29). Elas representam uma importante fonte para o abastecimento
Se o nível do aquífero for mais baixo que o do rio, este doará água ao aquífero. A
superexploração de um aquífero pode justamente interferir nesse sistema de contribuição e
impactar a disponibilidade hídrica superficial.
Dessa forma, as águas subterrâneas pertencem aos estados. A União reservou-se o domínio
sobre os recursos superficiais (lagos, rios e quaisquer correntes de águas) que banhem mais de
um estado ou sejam compartilhadas com outros países, contudo não fez qualquer menção às
águas subterrâneas que ultrapassem os limites estaduais. No mesmo sentido, a redação do
artigo 26 não impõe qualquer restrição ao domínio estadual dos recursos hídricos subterrâneos.
O Superior Tribunal de Justiça em algumas ações sobre a viabilidade da manutenção de poços
como fonte alternativa de abastecimento em áreas servidas por rede pública de água, tratou do
tema da dominialidade das águas subterrâneas de forma indireta e com entendimento distinto
da doutrina especializada (Camargo e Ribeiro, 2009; Pompeu, 2006; Granziera, 2003; Villar,
2008).
Alguns acórdãos do STJ têm mencionado a existência de águas subterrâneas federais, contudo
essa tese não foi construída em uma ação que visava questionar seu domínio pelos estados.
Esse posicionamento surgiu em ações cujo foco era discutir a legalidade ou ilegalidade de atos
do poder público que amparados por decretos estaduais ou pelo artigo 45 da Política Nacional
de Saneamento (Lei Federal nº 11.445/2007) visavam coibir o uso de poços como fonte
alternativa de água em áreas dotadas de rede de abastecimento.
Inclusive, na decisão de mérito, sempre se dizia que o poço objeto da disputa explorava águas
subterrâneas de domínio estadual.
A argumentação desses acórdãos para a existência das águas subterrâneas se foca na ideia de
que, embora o artigo 20, inciso III, da CF não as inclua expressamente, elas estariam
contempladas na medida que a lei não faz alusão de que “os rios, lagos e quaisquer correntes
de água” sejam superficiais ou subterrâneos, bastando apenas que estes se localizem em
terrenos de seu domínio, sirvam de limites com outros países ou se estendam a território
estrangeiro ou dele provenham”.
Nesse sentido se transcreve fragmento do Recurso Especial que trata sobre o tema:
Como acima se observou, as águas subterrâneas não são mencionadas, de modo explícito, no
art. 20, inciso III, da Constituição Federal, que define os bens da União. Já, no art. 26, inciso I, que
dispõe sobre os recursos hídricos estaduais, delas cuida diretamente. A diferente forma de
expressão nos dois dispositivos constitucionais levou
alguns a defenderem a tese de que as águas subterrâneas seriam – sempre e em qualquer
circunstância – de domínio dos Estados, nunca da União. Trata-se, não custa
Ora, não fez nenhuma alusão ao fato de tais rios, lagos e correntes serem superficiais ou
subterrâneos. O art. 26 tinha mesmo que mencionar as águas subterrâneas, pois, se não o fizesse,
correr-se-ia o risco de, por interpretação, afirmar que todas as águas subterrâneas seriam de
propriedade da União, conquanto quase impossível (situação que se altera, gradativamente, com
avanços tecnológicos) dizer, com precisão, onde começa e termina um aquífero. O que se
pretendeu, portanto, não foi excluir a União da dominialidade, mas assegurar que os Estados não
seriam apartados das águas subterrâneas, de modo a fazer coincidirem as mesmas hipóteses
fáticas de reconhecimento de sua dominialidade sobre águas de superfície. (STJ, Recurso
Especial nº 1.306.093 – RJ, 2ª Turma, Relator Ministro Herman Benjamin, j. 28/05/2013.).
Tal entendimento não possui legitimidade para produzir efeitos práticos na interpretação sobre o
domínio dos estados, pois não foi proferido em uma ação com o fim de discutir esse tema. Trata-
se de uma tese jurídica, lançada em uma ação cujo propósito não era discutir o domínio, tanto que
não fizeram parte do processo os estados ou a União. No âmbito do Executivo e Legislativo, esse
tema foi discutido na ocasião da proposição de um Projeto de Emenda à Constituição (PEC
43/2000) cujo objetivo era mudar a dominialidade das águas subterrâneas que ultrapassassem os
limites estaduais ou fossem compartilhadas com outros países.
A PEC 43/2000 foi arquivada, pois se reconheceu que a gestão dessas águas deve ser feita no
âmbito local em decorrência das características do fluxo subterrâneo. A Agência Nacional de
Águas e diversos Comitês de Bacia se manifestaram contra a proposta. A ideia de correntes de
água diz respeito a “massa de água escoando geralmente num canal superficial natural” e
compreende os cursos de água de volumes mais modestos tais como riachos, córregos, arroios
etc. (Pompeu, 2006, p. 81). As águas subterrâneas não podem ser equiparadas a rios, lagos ou
correntes de água, já que elas se movimentam através dos poros e fissuras das rochas, portanto
o fluxo é muito lento e heterogêneo, assumindo diversos comportamentos ao longo do aquífero.
Ao contrário das águas superficiais, as águas subterrâneas não têm os seus limites facilmente
determinados e essa identificação normalmente é cercada de incertezas. Portanto, criar um
sistema que exija determinar quais aquíferos pertencem à União e quais aos Estados geraria mais
dificuldades do que facilidades a sua gestão.
Além disso, a formação geológica do aquífero pode se estender por diversos países e estados,
porém isso não significa que o fluxo de águas será partilhado. Em muitos casos o fluxo assumirá
uma natureza local. Na seção do Aquífero Guarani esse tema será retomado, pois apesar do
aquífero se estender por diversos países, o fluxo é compartilhado apenas em uma pequena
fração do aquífero.
Sendo assim, as águas subterrâneas integram o domínio dos Estados da Federação, que devem
estabelecer políticas para a gestão de seus recursos hídricos de forma compatível com os
pressupostos da Política Nacional de Recursos Hídricos e de suas
políticas estaduais específicas para os recursos hídricos.
Os aspectos relacionados à quantidade de água são responsabilidade direta dos órgãos
estaduais integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, enquanto
os aspectos relacionados à qualidade serão avaliados pelos órgãos estaduais de meio ambiente.
Quando a água está se movimentando rumo à saída de uma bacia hidrográfica, passa sobre as
rochas e os solos que formam ou revestem as vertentes e as calhas da rede de drenagem. Os
obstáculos que a água encontra determinam os caminhos que ela vai seguir e a velocidade que
se deslocará, propiciando que partículas sejam removidas e transportadas vertente ou rio abaixo,
pelo fluxo líquido. Embora eventuais, o deslocamento dos sedimentos carregados pela água
pode ocasionar a alteração do ciclo hidrológico, e certamente afetar o uso, a conservação e a
gestão dos recursos hídricos (BORDAS & SEMMELMANN, 1993).
A composição do material do leito e as características geométricas e hidráulicas da
seção e do trecho do rio são fatores importantes que influenciam na quantidade de
sedimentos transportada. Por essa razão qualquer intervenção que altere o equilíbrio
natural do rio pode trazer sérias consequências em termos de erosão e deposição de
sedimentos.
Transporte e deposição de sedimentos em leitos de cursos d’água são ações naturais
que ocorrem de forma lenta e contínua. Porém, esse processo está sendo acelerado
pelo homem quando ocupa de forma desordenada e irresponsável as áreas próximas aos rios.
A falta de cuidados, como o corte da vegetação, o manejo inadequado do solo e a urbanização
acelerada próxima aos rios, são alguns dos fatores que trazem sérias consequências ao meio
ambiente e ao homem.
Dentre outras decorrências, podemos citar o assoreamento de reservatórios e rios e,
por conseguinte, os alagamentos, redução da qualidade da água para consumo e
irrigação, mortandade de espécies aquáticas e impossibilidade de navegação devido à
diminuição da lâmina d’água.
Os custos para a recuperação de um rio ou reservatório assoreado são extremamente altos, por
isso medidas preventivas acompanhadas de um monitoramento sedimentométrico são
recomendadas (SCAPIN, 2005).
Righetto (1998) afirma que grande parte do sedimento transportado por um rio, por
exemplo, é proveniente da erosão do solo da bacia hidrográfica, retirando significativa quantidade
de nutrientes de terras férteis para agricultura.
Esse fato pode acontecer por decorrência de chuva em solos desprotegidos, provocando a
erosão por um processo físico complexo de desprendimento e transporte de partículas de solo
pela ação do impacto das gotas da chuva e pelo arraste do escoamento superficial.
Esses processos são explicados por Bordas e Semmelmann (1993), como apresentado a seguir:
• Desagregação
mecânicas ou outros fatores naturais. Esses processos deixam uma massa de partículas
sólidas exposta à ação do escoamento superficial, que é remanejada pelo movimento das
águas. Esse estoque de material sólido é composto por elementos de vários tamanhos e
feições, distinguidos como: argila, silte, areia, cascalho, seixo e pedras, pedregulhos ou
matacão.
• Transporte
• Erosão
material mais graúdo. No primeiro caso, os sedimentos são qualificados de coesivos, no segundo
de não coesivos ou granulares.
• Transporte
O processo de transporte de material erodido pela água pode ocorrer de diversas formas. As
partículas mais pesadas deslocam-se sobre o fundo por rolamento, deslizamento ou, em alguns
casos, por saltos curtos, e constituem a chamada descarga sólida de fundo ou arraste. As mais
leves deslocam-se no seio do escoamento e constituem a descarga sólida em suspensão. Estas
podem ser
a) Materiais em solução:
A água, ao passar pelas rochas, pode dissolver diversas substâncias. Se as condições forem
favoráveis à precipitação de um soluto, formar-se-ão as respectivas rochas sedimentares de
origem química.
A água corrente possui capacidade de manter em suspensão partículas sólidas graça a sua
velocidade e, sobretudo, ao seu grau de turbulência. Quanto maior for a velocidade de um rio,
maior será sua capacidade de manter e transportar partículas em suspensão.
Graças ao movimento das águas fluviais, verifica-se uma pressão horizontal sobre o leito do rio,
que aumenta com a velocidade e com a viscosidade da água.
• Sedimentação ou Decantação
Neste processo as partículas mais finas transportadas em suspensão, tendem a chegar ao fundo
do leito sob ação da gravidade.
Pode ainda ocorrer a resistência do meio fluido, impedindo ou reduzindo a queda das partículas
para o fundo, principalmente por efeito da turbulência.
• Depósito
• Consolidação
as curvas de nível do terreno. Já nas áreas urbanas, uma das ações é a implantação de um
sistema de drenagem eficiente e sua manutenção adequada.
O transporte de sedimento pelo canal é o produto da atuação de uma série de processos que se
iniciam com a precipitação que cai sobre a bacia e ao longo de seu caminho e interage com um
conjunto de variáveis como cobertura vegetal, tipo de solo e de rocha, além do tipo de uso e
ocupação antrópica (TUCCI; COLLISCHONN, 1998).
Além dos impactos físicos, o transporte de sedimentos traz consigo a carga de poluentes
agregados ao sedimento. De acordo com Christofoletti (1995) e Kirby (1980) todos esses
problemas influem sensivelmente em impactos ambientais e sociais e o planejamento de bacias
hidrográficas deve também acompanhar a dinâmica hidrossedimentológico.
Os programas de capacitação e implementação de práticas de manejo conservacionistas dos
solos são essenciais para se garantir a qualidade dos ecossistemas fluviais, reduzindo a erosão
e a produção de sedimentos que serão carreados para as bacias hidrográficas.
Entende-se por nascente o afloramento do lençol freático que vai dar origem a uma fonte de
água de acúmulo (represa), ou cursos d’água (regatos, ribeirões e rios).
Em virtude de seu valor inestimável dentro de uma propriedade agrícola, deve ser tratada com
cuidado todo especial.
A nascente ideal é aquela que fornece água de boa qualidade, abundante e contínua, localizada
próxima do local de uso e de cota topográfica elevada, possibilitando sua distribuição por
gravidade, sem gasto de energia.
É bom ressaltar que, além da quantidade de água produzida pela nascente, é desejável que
tenha boa distribuição no tempo, ou seja, a variação da vazão situe-se dentro de um mínimo
adequado ao longo do ano. Esse fato implica que a bacia não deve funcionar como um recipiente
impermeável, escoando em curto espaço de tempo toda a água recebida durante uma
precipitação pluvial.
Ao contrário, a bacia deve absorver boa parte dessa água através do solo, armazená-la em seu
lençol subterrâneo e cedê-la, aos poucos, aos cursos d’água através das nascentes, inclusive
mantendo a vazão, sobretudo durante os períodos de seca. Isso é fundamental tanto para o uso
econômico e social da água – bebedouros, irrigação e abastecimento público – como para a
manutenção do regime hídrico do corpo d’água principal, garantindo a disponibilidade de água
no período do ano em que mais se precisa dela.
Assim, o manejo de bacias hidrográficas deve contemplar a preservação e melhoria da água
quanto à quantidade e qualidade, além de seus interferentes em uma unidade geomorfológica
da paisagem como forma mais adequada de manipulação sistêmica dos recursos de uma região.
As nascentes, cursos d’água e represas, embora distintos entre si por várias particularidades
quanto às estratégias de preservação, apresentam como pontos básicos comuns o controle da
erosão do solo por meio de estruturas físicas e barreiras vegetais de contenção, minimização de
contaminação química e biológica e ações mitigadoras de perdas de água por evaporação e
consumo pelas plantas.
Quanto à qualidade, deve-se salientar que, além da contaminação com produtos químicos, a
poluição da água resultante de toda e qualquer ação que acarrete aumento de partículas minerais
no solo, da matéria orgânica e dos coliformes totais pode comprometer a saúde dos usuários –
pessoas ou animais.
Por fim, deve-se estar ciente de que a adequada conservação de uma nascente envolve
diferentes áreas do conhecimento, tais como hidrologia, conservação do solo, reflorestamento
etc.
com chiqueiros, fossas e estábulos localizados próximos à nascente, e com isso, provavelmente
terá a água contaminada, prejudicando o meio ambiente, os animais e a si próprio (Figura 31 A).
Figura 31. Distribuição espacial das culturas e estruturas rurais nas situações errada e corrigida em função
da nascente. Adaptado de Silveira (1984).
A área adjacente à nascente (APP) deve ser toda cercada a fim de evitar o acesso de animais,
pessoas, veículos etc.
Todas as medidas devem ser tomadas para favorecer seu isolamento. A posição de uma
nascente na propriedade pode determinar a melhor distribuição das diferentes atividades e da
infraestrutura do sistema produtivo.
Dentro da distribuição correta, apresentada no desenho B da Figura 31, ou seja, com os animais
distanciados, duas ações complementares são indicadas:
i. desenvolver um programa de manejo de pastoreio para se evitar a compactação
exagerada do solo da área do pasto e,
ii. providenciar bebedouros para os animais.
ii. Figura 32. Distribuição esquemática adequada das diferentes coberturas vegetais e usos em relação
à nascente.
Por outro lado, a cultura de maior utilização de produtos químicos (adubos, inseticidas etc.) deve
ser a mais afastada, a fim de evitar que nas épocas das chuvas esses poluidores desçam com
as enxurradas para as nascentes ou se infiltrem no solo atingindo mais facilmente o lençol
freático. É bom lembrar que muitos desses produtos não são eliminados com fervura, cloração
ou filtragem.
Castro e Lopes (2001) apresentam, esquematicamente, a distribuição adequada da cobertura
vegetal e uso do solo, em áreas ou microbacias com uma nascente (Figura 32).
Assim, toda a área de bacia merece atenção quanto à preservação do solo, e todas as técnicas
de conservação, objetivando tanto o combate à erosão como a melhoria das características
físicas do solo, notadamente aquelas relativas à capacidade de infiltração da água da chuva ou
da irrigação, vão determinar maior disponibilidade de água na nascente em quantidade e
estabilidade ao longo do ano, incluindo a época das secas.
Preocupados com as partes altas da bacia, CASTRO e LOPES (2001) afirmam que é
indispensável para a recuperação e conservação das nascentes a presença de árvores nos topos
dos morros e das seções convexas, estendendo-se até 1/3 das encostas.
a) se é permanente ou temporária,
b) se varia ao longo do ano.
Dentre os tipos de cobertura vegetal, a cobertura florestal (Figura 33) é a que maior efeito exerce
sobre as nascentes. Não existe a composição ideal, e sim aquela mais adequada para cada
situação específica. Assim, é importante conhecer as espécies para melhor entender sua
Rodrigues e Gandolfi (1993) observam que a maioria dos métodos aplicados em reflorestamento
de áreas ciliares adota uma sequência comum de etapas:
a) Implantações (ou plantio total) – em áreas bastante perturbadas que não conservam
nenhuma das características bióticas das formações florestais ciliares originais daquela
condição. Essa é uma situação típica de áreas cuja floresta original foi substituída por
alguma atividade agropastoril.
c) Recuperação natural – nas áreas pouco perturbadas que retêm a maioria das
características bióticas e abióticas das formações florestais típicas da área.
Devem ser isoladas dos possíveis fatores de perturbações para que os processos
naturais de sucessão possam atuar.
uma linha com as pioneiras e uma linha de espécies secundárias, que vão crescer
devagar sob a sombra das primeiras.
5. Plantio e manutenção – em relação a essa última etapa, Tabai (2002) aponta, os passos,
orientações gerais e cuidados na recomposição da mata nativa de uma área de
preservação permanente.
a) Preparo do terreno
b) Controle das formigas
c) Abertura e marcação dos berços
d) Adubação
e) Plantio
f) Manutenção do plantio e replantio
g) Adubação de cobertura
Figura 34. Disposição das pioneiras e secundárias na área de plantio e uma recomposição da vegetação
visando unir fragmentos de mata ciliar. Adaptado de Tabai (2002).
Para uma adequada gestão dos recursos hídricos são primordiais o monitoramento e a
avaliação da qualidade das águas superficiais e subterrâneas, permitindo assim a
caracterização e análise de tendências em bacias hidrográficas, sendo essenciais para
várias atividades de gestão, tais como: planejamento, outorga, cobrança e
enquadramento dos cursos de água.
No Brasil o monitoramento da qualidade da água é realizado por uma variedade de
órgãos estaduais de meio ambiente e recursos hídricos, companhias de saneamento e
empresas do setor elétrico.
– Estrutura lógica de envio das amostras: locais para o envio das amostras,
disponibilidade de transporte, logística de recebimento e encaminhamento das
amostras para laboratório.
Para indicar a contaminação orgânica da água usa-se o Índice de Qualidade das Águas,
utilizados atualmente por dez unidades da Federação.
Segundo o PNQA o uso de índices de qualidade da água surge da necessidade de sintetizar a
informação sobre vários parâmetros físico-químicos, visando informar à população e orientar as
ações de planejamento e gestão da qualidade da água.
O Índice que Qualidade das Águas (IQA) foi elaborado em 1970 pelo National Sanitation
Foundation (NSF), dos Estados Unidos, a partir de uma pesquisa de opinião realizada com
especialistas em qualidade de águas.
No Brasil, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) de São Paulo o utiliza
desde 1975. Nas décadas seguintes, outros Estados brasileiros adotaram o IQA, que hoje é o
principal índice de qualidade da água utilizado no país.
Segundo o PNQA os parâmetros de qualidade que fazem parte do cálculo do IQA refletem,
principalmente, a contaminação dos corpos hídricos ocasionada pelo lançamento de esgotos
domésticos.
É importante também salientar que esse índice foi desenvolvido para avaliar a qualidade das
águas, tendo como determinante principal sua utilização para o abastecimento público,
considerando aspectos relativos ao tratamento dessas águas.
A avaliação da qualidade da água obtida pelo IQA apresenta limitações, já que este índice não
analisa vários parâmetros importantes para o abastecimento público, tais como substâncias
tóxicas, protozoários patogênicos e substâncias que interferem nas propriedades organolépticas
da água.
O IQA é composto por nove parâmetros, com seus respectivos pesos (W), que foram fixados em
função da sua importância para a conformação global da qualidade da água (Tabela 3).
Além de seu peso (w), cada parâmetro possui um valor de qualidade (q), obtido do
respectivo gráfico de qualidade em função de sua concentração ou medida (Figura
35).
O cálculo do IQA é feito por meio do produtório ponderado dos nove parâmetros,
seguindo a seguinte fórmula:
Onde:
IQA = Índice de Qualidade das Águas, um número entre 0 e 100;
qi = qualidade do i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 100, obtido da respectiva “curva média de variação
de qualidade”, em função de sua concentração ou medida e,
wi = peso correspondente ao i-ésimo parâmetro, um número entre 0 e 1, atribuído em função da sua
importância para a conformação global de qualidade, sendo que:
Equação
Onde:
n = número de variáveis que entram no cálculo do IQA.
Os valores do IQA são classificados em faixas, que variam entre os estados
brasileiros conforme o (Tabela 4).
A quantidade de água em cada fase do ciclo pode ser avaliada através da equação de balanço
hídrico (Lei da Conservação da Massa), sendo (BARTH, 1987):
P – ET = D + ΔS
Nas avaliações de balanço hídrico de períodos mais longos anuais ou plurianuais de bacias
hidrográficas, a variação do armazenamento pode ser desprezada, neste caso consideram-se
apenas as entradas e saídas do sistema (BARTH, 1987).
O balanço hídrico, em macro escala, pode ser considerado o próprio ciclo da água. Em uma
escala intermediaria representada por uma microbacia, refere-se às variações na vazão da água
dos cursos hídricos. Já na microescala, o balanço hídrico é considerado através da determinação
da disponibilidade da água do solo. A avaliação da disponibilidade de água no solo pode ser
realizada a partir do método do balanço hídrico climatológico proposto por Thornthwaite e Mather
(1955), o qual permite obter informações sobre deficiência e excedente hídrico, áreas de retirada
de água do solo, reposição de água no solo e variação do armazenamento ao longo do ano
(AMORIN, 1989).
A ETP é a máxima evapotranspiração possível de uma parcela verde, a qual cobre toda a parcela
de solo, bem suprida de água. Já a ETR é a evapotranspiração que realmente ocorre no local,
em geral inferior à potencial. Quando a precipitação supera a ETP, considera-se que ETR se
iguala à ETP. Caso realmente a disponibilidade de água seja menor, considera-se a ETR igual à
disponibilidade de água.
Para determinação de balanço hídrico climatológico são necessários dados de precipitação,
evapotranspiração e capacidade de água disponível no solo (CAD).
No Brasil, a EMBRAPA - Monitoramento por Satélite montou o site Banco de Dados Climáticos
do Brasil, com o objetivo de disponibilizar os dados climáticos de temperatura média do ar e de
precipitação nas escalas mensal e anual de 500 localidades brasileiras, além dos elementos do
balanço hídrico climatológico para cada uma dessas localidades (EMBRAPA, 2003).
Como exemplos são apresentados três balanços hídricos extraídos do Banco de Dados
Climáticos do Brasil, relativos a regiões com climas distintos.
Fonte EMBRAPA.
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