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PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Natal - RN
2019
ANA CECÍLIA FEITOSA DE VASCONCELOS
2019
Natal - RN
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Rodolfo Helinski - Escola Agrícola de Jundiaí - EAJ
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Profª Drª Gesinaldo Ataíde Cândido (Co-Orientador)
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
__________________________________________________
Profº. Drº. Sérgio Murilo Santos de Araújo
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
_______________________________________________
Profª. Drª. Mônica Maria Souto Maior
Instituto Federal da Paraíba (IFPB)
______________________________________________
Profª Drª Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
______________________________________________
Profº. Drº. Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DDMA/ UFRN)
DEDICATÓRIA
(Bráulio Bessa)
APRESENTAÇÃO
Páginas: 127
ABSTRACT
Pages: 127
LISTA DE FIGURAS
1 INTRODUÇÃO GERAL
concentra, mas ela implica, muitas vezes também, aquela de seus poderes, de sua imagem
e de sua dimensão”.
Em um de seus trabalhos, Cutter (2011) se refere à necessidade de uma abordagem
integradora e interdisciplinar para o estudo da vulnerabilidade social e/ou socioambiental
e essa necessidade decorre, sobretudo, da complexidade das interações entre os sistemas
naturais, sociais, econômicos e culturais em jogo. A autora elege também, como princípio
fundamental o que chama a "ciência da vulnerabilidade", o "requisito do conhecimento
geoespacial da investigação, com base nos locais" (CUTTER, 2011, p. 61), relacionando
ao conjunto das profundas transformações sociais, econômicas e ambientais que afetam,
pelo mundo inteiro, as pessoas ou grupos de pessoas (KOWARICK, 2009).
Além desta, outra discussão se destaca como um dos principais desafios à análise
da vulnerabilidade: a criação de instrumentos de mensuração que sejam capazes de
retratar uma realidade vivida por muitos e percebida por poucos. Em uma análise mais
específica, verifica-se, inicialmente, nos indicadores uma oportunidade de mensurar
variáveis de grande representatividade para o contexto contemporâneo. Ademais, a sua
utilização possibilita traçar diagnósticos acerca das reais circunstâncias nas quais as
variáveis se apresentam.
Alguns autores (FERREIRA, 2000; 2004; BRAGA ET AL. 2006; EVANS ET
AL. 2009; MORAN, 2009; 2011; BUARQUE ET AL. 2014) apontam para a necessidade
cada vez mais urgente de se desenvolver abordagens interdisciplinares e que ofereçam
métodos de integração, análise e monitoramento dos processos de mudanças em sistemas
ecológicos e sociais (CLARK, 1985; TURNER II et al., 1990; ROTMANS e
ROTHMAN, 2003; MEA, 2003; 2006; VANWEY et al., 2009; MORAN, 2011).
De acordo com o documento final da Conferência Mundial para a Redução de
Desastres em Kobe (UN, 2005) é latente a necessidade de se desenvolver sistemas de
indicadores de risco e vulnerabilidade nos níveis nacional e subnacional como forma de
permitir aos tomadores de decisão um melhor diagnóstico das situações de risco e
vulnerabilidade.
O sistema de indicadores que analise a vulnerabilidade socioambiental deve ser
absolutamente transparente, de fácil entendimento, capaz de gerar comunicação na
sociedade e fornecer informações adequadas para a tomada de decisão. Deve servir de
suporte aos interesses do poder público, avaliando a eficiência das políticas adotadas e
servindo aos interesses dos cidadãos.
19
INTRODUÇÃO GERAL
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Indicadores de Vulnerabilidade
Urbanização no Brasil Vulnerabilidade Socioambiental
Socioambiental
ARTIGO 01
ARTIGO 02
ARTIGO 03
Análise de correlação entre as regiões administrativas de Natal (RN) baseada em indicadores de
vulnerabilidade socioambiental
CONSIDERAÇÕES FINAIS
23
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
urbana que seja do interesse público, à segurança e bem estar dos cidadãos e o equilíbrio
ambiental.
A instituição do Estatuto da Cidade, gera a expectativa de que haja uma mudança
no cenário dicotômico e excludente que permeiam as cidades, muito embora se saiba que
a lei, por si só, não resolverá nenhum dos problemas existentes. No entanto, constitui uma
importante ferramenta de ação para o direcionamento das políticas urbanas que podem
viabilizar ações para minimizar os graves problemas existentes nas cidades brasileiras e
que coloca a população em um quadro de agravamento de exclusão social e,
consequentemente, de vulnerabilidade socioambiental.
Isso posto, a busca pelo equacionamento dos problemas nas cidades brasileiras,
demanda a elaboração do planejamento urbano e a implementação de ações capazes de
entender as especificidades de cada cidade, de cada bairro, proporcionando melhores
condições de vida e a minimização dos aspectos que os colocam em um cenário de riscos
e de vulnerabilidade socioambiental.
industrialização e urbanização que fez emergir nos anos de 1980, uma abordagem teórico-
metodológica que enfocou os desastres para além dos fatores desencadeantes, mas
considerando, sobretudo, as populações atingidas. Foi a inclusão da análise social dentro
da problemática ambiental, que surge o conceito de vulnerabilidade (ALMEIDA, 2012).
Desse modo, conclui-se que a discussão sobre vulnerabilidade passou a despertar
o interesse de pesquisadores e instituições de pesquisa, em decorrência dos crescentes
índices de desigualdades sociais, da segregação socioespacial e do processo de
urbanização desordenado das cidades.
D’Ercole (1994), Blaikie et al. (1994) e Acserald (2006) estabelecem uma relação
de causa e efeito gerada entre natureza e sociedade, reconhecendo que os fatores de risco
estão associados a um certo grau de exposição a uma situação crítica, natural ou social,
que gera vulnerabilidade em determinados grupos. Sendo assim, a noção de
vulnerabilidade passa a ser um produto de determinados contextos espaciais,
socioeconômicos, demográficos, culturais e institucionais, sensível às condições locais e
à dimensão temporal (KUHLICKE et al. 2011).
Para Cutter (2001) vulnerabilidade corresponde ao “potencial para a perda”. Para
esta autora, a vulnerabilidade inclui tanto os “elementos de exposição ao risco” como os
“fatores de propensão às circunstâncias que aumentam ou reduzem as capacidades da
população, das infraestruturas ou dos sistemas físicos para responder e se recuperar de
ameaças ambientais” (CUTTER; 2011, p. 60).
É nesse sentido que os problemas advindos da poluição e degradação do meio, da
crise dos recursos naturais, das mudanças climáticas que atingem todo o planeta, se
tornam mais impactantes em áreas periféricas, que além de acometidos pela pobreza,
sequer tem os seus direitos civis atendidos. São nessas áreas periféricas que o poder
público, em geral, está ausente e onde existe uma deficiência de estrutura capaz de
oferecer à população oportunidades dignas de serviços, trabalho e lazer.
Estudar a vulnerabilidade envolve uma discussão ampla e relevante por ter caráter
multidisciplinar. Além disso, indica que a suscetibilidade das pessoas a problemas e danos
está relacionada, principalmente, ao conjunto das profundas transformações sociais,
econômicas e ambientais (KOWARICK, 2009). Um conceito viável para analisar essas
relações é o de ‘vulnerabilidade socioambiental’, que pode ser definido como a
coexistência, cumulatividade ou sobreposição espacial de situações de pobreza/privação
social e de situações de exposição a risco e/ou degradação ambiental. Assim, é justamente
29
a combinação dessas duas dimensões – social e ambiental – que está sendo considerada
situação de vulnerabilidade socioambiental (ALVES, 2006).
A compreensão de vulnerabilidade envolve também aspectos relacionados à
gestão urbana, pois, como apresentam Dubois-Maury e Chaline (2002, p. 10), “a
vulnerabilidade da cidade concerne evidentemente aquela dos homens e dos bens que ela
concentra, mas ela implica, muitas vezes também, aquela de seus poderes, de sua imagem
e de sua dimensão”.
Nesse sentido, Mendonça (2010) defende que a vulnerabilidade socioambiental
urbana evidencia a heterogeneidade dos impactos advindos dos riscos que se abatem
sobre uma dada população, constituindo ambos (risco e vulnerabilidade socioambiental
urbana), uma seara de alta complexidade para a compreensão e gestão urbana.
Segundo Jacobi (2006), a dinâmica urbana excludente e segregadora determina
uma paisagem cada vez mais vulnerável, marcada pela prevalência da estratégia de
sobrevivência que privilegia práticas de deterioração do ambiente urbano e exposição ao
risco. Neste sentido, Kowarick (2009) afirma que o quadro de risco de desastres é
decorrente do processo de favelização urbana no Brasil e das precárias condições de vida
das populações pobres aglomeradas em territórios abandonados e excluídos de todos os
direitos.
Nesta perspectiva, a contribuição nos estudos de vulnerabilidade e pobreza tem
focado os aspectos estruturais e subjetivos das famílias, levando em consideração o
contexto em que estão inseridas: pobreza, exclusão/inclusão, periferização, segregação,
dependência e elevado risco (HOGAN; MARANDOLA JR., 2005). Por isso que se
entende que não é apenas a relação natureza e sociedade que gera a vulnerabilidade, mas
existe muita vulnerabilidade em relação a direitos básicos, na medida em que não só os
sistemas públicos de proteção social foram sempre restritos e precários, como também,
em anos recentes, houve desmonte de serviços e novas regulamentações que se traduziram
em perda de direitos adquiridos (KOWARICK, 2000).
Como defende Maior (2014), a experiência desse processo de vulnerabilidade, e
o que fazer com ela, está associado à condição socioambiental da população e sinaliza a
preparação dos indivíduos em busca de seus direitos e também na geração de ativos para
amenização dos problemas, que, no caso das cidades, estão ligados ao processo de
expansão urbana. Assim, os processos de urbanização podem amenizar os efeitos para o
meio ambiente. Deste modo, torna-se necessário induzir ou deduzir quais as
30
A palavra indicador é originário do latim indicare e refere-se a algo que serve para
apontar, indicar, estimar, mostrar algo através de sinais ou indícios (HAMMOND et al.
1995). Pode-se considerar que são variáveis que são escolhidas para medir um conceito
abstrato com o intuito de orientar decisões sobre determinado fenômeno de interesse.
Para Van Bellen (2005) os indicadores devem ser entendidos como variáveis, ou
seja, a representação operacional de um atributo (qualidade, característica, propriedade)
de um sistema, cujo objetivo principal consiste em agregar e quantificar informações
ressaltando sua significância, visando melhorar o processo de comunicação e
entendimento dos fenômenos complexos.
A utilização dos indicadores tem sido basilar na formulação de políticas públicas,
pois possibilitam uma análise atual, conhecendo verdadeiramente a situação que se almeja
modificar, como também o monitoramento temporal, permitindo um melhor
acompanhamento das variáveis analisadas, uma melhor avaliação dos processos e
planejamento de ações e, por conseguinte melhor utilização dos recursos investidos.
Para o IBGE (2010, p. 33),
Modelos de Mensuração da
Abordagem
Vulnerabilidade Socioambiental
Refere-se a uma metodologia de cunho participativo para
cálculo e análise do nível de vulnerabilidade socioambiental
Indicadores de Vulnerabilidade
da população na cidade de João Pessoa. Para tanto, fez uso da
(Maior, 2014)
análise de percepção dos citadinos em relação a sua situação
de vulnerabilidade.
Este trabalho apresenta uma análise multidimensional da
Indicador e avaliação da
vulnerabilidade do município de São Paulo frente a processos
vulnerabilidade socioambiental no
relacionados a eventos extremos de precipitação, sobretudo
32
município de São Paulo (Gamba e escorregamentos de vertentes. Ele indica a estreita relação
Ribeiro, 2012) entre vulnerabilidade social e infraestrutural com áreas mais
suscetíveis a este tipo de fenômeno, situação que caracteriza a
segregação urbana.
Foi desenvolvido no contexto urbano do Litoral Paulista,
contendo 16 cidades, para identificar áreas com alta
vulnerabilidade às mudanças climáticas, permitindo, assim, a
Modelo de Mensuração da construção de indicadores em escala desagregada, que
Vulnerabilidade de Alves (2010) representem as dimensões da vulnerabilidade –
susceptibilidade e exposição ao risco ambiental – com a
integração de dados socioeconômicos, demográficos e
ambientais.
Refere-se a sua pesquisa de tese, na qual estudou as
vulnerabilidades socioambientais de rios urbanos na Região
Metropolitana de Fortaleza-CE e teve como objetivo analisar
os riscos e as vulnerabilidades socioambientais de rios urbanos
Modelo de Mensuração de Almeida
no Brasil, tendo a bacia hidrográfica do rio Maranguapinho,
(2010)
localizada na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF),
como área de estudo de caso para compreensão das inter-
relações das vulnerabilidades sociais e exposição aos riscos
naturais, principalmente os riscos de inundações.
Índice de vulnerabilidade
Tem como objetivo um indicador composto para predição de
socioambiental para a vigilância e
vulnerabilidade na ocorrência de desastres naturais. O índice
gestão de desastres naturais no RJ –
foi aplicado nos municípios do estado do Rio de Janeiro e
IVSA
comparado aos números oficiais da Defesa Civil.
(Guimarães et al. 2005)
É uma avaliação quantitativa das características que
influenciam a vulnerabilidade social aos riscos
(pré-acontecimentos) e facilita a comparação entre unidades
geográficas (distritos, secções censitárias) em termos dos seus
Social Vulnerability Index (SoVI)
níveis relativos de vulnerabilidade social. Os perfis
(Cutter et al. 2003)
socioeconómicos são gerados a partir da informação dos
censos e submetidos a um procedimento estatístico para
reduzir o número de variáveis a um conjunto menor de fatores
que descrevem a vulnerabilidade.
Fonte: Elaboração própria (2019)
Gehl (2015), Rogers (2015), Rolnik (2015), Roggero (2015), Martins e Cândido (2015),
Pereira e Vieira (2016), Gomes e Gomes (2017).
Após a análise dos estudos desenvolvidos por esses autores, constatou-se que as
variáveis apresentadas circundam em torno de alguns aspectos que se repetem. Desse
modo, foi possível listar uma série de variáveis que são imprescindíveis ao estudo da
vulnerabilidade socioambiental nas cidades, sobretudo, as cidades brasileiras, uma vez
que a maioria dos estudos empíricos objetivaram a análise destas como cenário.
O Quadro 2 lista os temas abordados pelos autores citados, possibilitando a
identificação de quais aspectos são mais enfatizados nos estudos.
Infraestrutura
Educação e
Trabalho e
Segurança
Ambiental
Moradia
Cultura
Política
urbana
Justiça
Renda
Saúde
Social
Autores
Herculano (2000)
Sposati (2000)
Braga, Freitas e Duarte
(2002)
Nahas (2002)
Rossetto (2003)
Machado (2004)
Braga (2006)
Morato (2008)
Figueiredo (2008)
Ribeiro (2008)
Souza (2009)
Roggero (2009)
Kowarick (2009)
Florissi (2009)
Veiga (2010)
Jacobs (2011)
Pessoa (2012)
Araújo e Cândido (2014)
Maricato (2014)
Maior (2014)
Roggero (2015)
Rogers (2015)
Gehl (2015)
Rolnik (2015)
Martins e Cândido (2015)
34
A cidade escolhida para a realização deste estudo foi Natal (Figura 2), capital do
estado do Rio Grande do Norte, na região Nordeste do Brasil. Segundo o IBGE (2010) a
referida cidade possui uma área territorial de 167,264 km2 e sua população está estimada
em 885.173 habitantes.
35
alta renda e as classes de baixa renda. Assim, observa-se que mesmo não sendo áreas
homogêneas, pode-se afirmar que nas áreas Norte e Oeste da cidade estabeleceram-se a
população mais pobre da cidade, colocando-as em situações de maior vulnerabilidade
socioambiental, e as áreas Sul e Leste foram ocupadas pela população mais rica. Desse
modo, a cidade possui segregação social e espacial e que não é sua característica
exclusiva, mas uma característica das cidades brasileiras.
Segundo Costa (2000), os investimentos habitacionais e as políticas públicas de
Estado e de Governo em Natal também foram estabelecidas segregando espacialmente a
cidade. Ao passo que as habitações para a população de alta renda eram realizadas na
Zona Sul da cidade, pelo Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais do Rio
Grande do Norte, (INOCOOP-RN) e que tinha uma parceria de financiamento com a
Caixa Econômica Federal; as habitações para a população mais pobre eram construídas
na Zona Norte da cidade pelo Estado através do Plano Habitacional Popular, por meio da
Companhia de Habitação Popular do Rio Grande do Norte (COHAB-RN) e que tinha
como financiador o Banco Nacional de Habitação.
Atualmente, a cidade de Natal apresenta crescimento vertical, em decorrência de
sua região metropolitana se apresentar conurbada, o que impossibilita que se cresça
horizontalmente. A espacialização da cidade de Natal pode ser observada no Figura 3 e
que segundo dados do IBGE (2010), hoje é composta por 36 bairros subdivididos em
quatro regiões administrativas.
37
atlântica. De acordo com Nunes (2000), quanto a sua morfologia, Natal apresenta
terrenos com suaves ondulações que tem sua continuidade interrompida pelo
aparecimento de verdadeiros cordões de dunas.
Ainda de acordo com Nunes (2000), os recursos hídricos na cidade apresenta-se
de forma abundante e com qualidade, pois dispõe de águas subterrâneas dos aquíferos
Dunas e Barreiras. Ademais, o supracitado autor ainda faz menção as águas superficiais
(bacias dos rios Ceará-Mirim, Doce, Potengi, Jundiaí, Pitimbu e Pium) e de lagoas
naturais.
Com base na descrição que aqui foi realizada, desperta o interesse de desenvolver
a pesquisa na referida cidade, exatamente para se analisar o nível de vulnerabilidade
socioambiental urbano e oferecer subsídios para que um melhor planejamento ocorra e
possa minimizar os impactos ocasionados pelo processo de urbanização.
Após a explanação da cidade de Natal, área de estudo, o tópico seguinte trata da
metodologia geral do estudo, bem como de cada um dos artigos elaborados para o alcance
do objetivo estabelecido.
4 METODOLOGIA GERAL
Este estudo tem como objetivo propor um modelo para análise da vulnerabilidade
socioambiental de cidades brasileiras, a partir da proposição de um conjunto de
indicadores sociais e ambientais que considerem questões sociais e urbanas. Para tanto,
caracteriza-se quanto ao método, como dedutivo, por estabelecer uma nova relação a
partir da teoria estudada: considerando o processo de expansão urbana e suas implicações,
os espaços territoriais que serão menos afetados por problemas de ordem social e que
possuirão menores níveis de vulnerabilidade social e ambiental serão os que detém a
população com maior poder aquisitivo.
No que se refere a forma de abordagem, classifica-se como pesquisa qualitativa
e quantitativa, dada a revisão teórica inicialmente realizada para a proposição de um
arcabouço teórico composto de temas e respectivos indicadores capazes de, ao serem
aplicados, traduzir o nível de vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras e,
considerando o levantamento de dados quantitativos necessários à aplicação do sistema
de indicadores proposto na cidade de Natal-RN.
39
Quanto aos objetivos da pesquisa, pode ser caracterizado como sendo uma
pesquisa exploratória e descritiva, por se tratar de um tema atual, recente e que abre
várias possibilidades de investigação, oferecendo subsídios para ampliar o debate e
propiciando significativas contribuições científicas e práticas. Ademais, por meio da sua
aplicação na cidade de Natal-RN, descreve uma realidade de forma clara e objetiva por
meio do conjunto de indicadores propostos.
Inicialmente, esta tese propõe um framework que permite analisar a
vulnerabilidade socioambiental em cidades brasileiras. A figura 04 apresenta as
dimensões da vulnerabilidade (social e ambiental) e seu respectivo conjunto de temas e
indicadores capazes de analisar a vulnerabilidade socioambiental urbana.
40
CAPÍTULO 01
43
Este artigo foi aceito para publicação na Revista Gaia Scientia, QUALIS CAPES B1 para
Ciências Ambientais e, portanto, está formatado de acordo com as recomendações desta
revista http://www.periodicos.ufpb.br
Ana Cecília Feitosa de Vasconcelos*.1 Eliza Maria Xavier Freire.2 Gesinaldo Ataíde
Cândido.3
1
Professora do curso de Administração da Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG). Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN). ORCID: 0000-0002-7848-4602
2
Professora Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professora
permanente nos programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). ORCID: 0000-0001-9486-6347
3
Professor Titular da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Professor
permanente dos Programas de Pós-Graduação em Administração da Universidade
Federal da Paraíba e da Universidade Federal de Campina Grande. ORCID: 0000-0002-
3112-0254
Resumo:
Este artigo tem como objetivo propor um arcabouço teórico composto de temas e
respectivos indicadores capazes de, ao serem aplicados, traduzir o nível de
vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras. Este estudo utilizou a revisão
sistemática da literatura, por meio de consulta nas bases de dados Scientific Eletronic
Library Online (SciELO) e Web of Science publicados entre os anos 2000 e 2018. Foram
analisados 20 artigos e 06 livros. Os resultados apresentam um conjunto de oito temas e
133 indicadores que viabilizam uma nova perspectiva para a análise da vulnerabilidade
socioambiental, constituindo uma ferramenta que visa colaborar para os estudos sobre o
tema e para o planejamento e a definição de ações de políticas públicas que visem melhor
estruturar as cidades, tornando-as vivas, com qualidade de vida e capazes de serem
sustentáveis para os seus citadinos.
Resumen:
Este artículo tiene como objetivo proponer una estructura teórica compuesta de temas y
respectivos indicadores capaces de, al ser aplicados, traducir el nivel de vulnerabilidad
socioambiental en las ciudades brasileñas. Este estudio utilizó la revisión sistemática de
la literatura, por medio de consulta en las bases de datos Scientific Eletronic Library
Online (SciELO) y Web of Science publicados entre los años 2000 y 2018. Se analizaron
20 artículos y 06 libros. Los resultados presentan un conjunto de ocho temas y 133
indicadores que viabilizan una nueva perspectiva para el análisis de la vulnerabilidad
socioambiental, constituyendo una herramienta que pretende colaborar para los estudios
sobre el tema y para la planificación y la definición de acciones de políticas públicas que
objetiven mejor estructurar las ciudades, haciéndolas vivas, con calidad de vida y capaces
de ser sostenibles para sus ciudadanos.
Abstract:
This article aims to propose a theoretical framework consists of themes and related
indicators that, when applied, translate the level of environmental vulnerability in
Brazilian cities. The results present a set of eight themes and 133 indicators that make
possible a new perspective for the socio-environmental vulnerability analysis,
constituting a tool that aims to collaborate for studies on the theme and for the planning
and definition of public policy actions that aiming at better structuring of the cities,
making alive, with quality of life and capable of being sustainable for their citizen.
Introdução
Nesse sentido, tomando como referência a premissa citada, este estudo tem como
objetivo propor um arcabouço teórico composto de temas e respectivos indicadores
capazes de, ao serem aplicados, traduzir o nível de vulnerabilidade socioambiental nas
cidades brasileiras. Para tanto, se tomou como base os estudos relacionados à
vulnerabilidade socioambiental no Brasil, bem como aos estudos desenvolvidos no
contexto urbano.
Este estudo caracteriza-se como exploratório, utilizando como técnica de pesquisa
a revisão sistemática da literatura, por meio de artigos consultados nas bases de dados
Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Web of Science publicados entre os anos
2000 e 2018. Também foram incluídas consultas a seis livros considerados fundamentais
à compreensão sobre questões urbanas, seguindo critérios de seleção, os quais estão
delimitados no item dos aspectos metodológicos.
Em termos estruturais, este artigo apresenta, além destas considerações iniciais
que contextualiza a problemática do estudo, os fundamentos teóricos que embasaram o
artigo, seguidos pelos aspectos metodológicos do estudo, resultados e as considerações
finais.
Fundamentação Teórica
Vulnerabilidade Socioambiental
A discussão sobre vulnerabilidade passou a despertar o interesse de pesquisadores
e instituições de pesquisa, em decorrência dos crescentes índices de desigualdades
sociais, da segregação socioespacial e do processo de urbanização desordenado das
cidades.
Para se compreender o conceito de vulnerabilidade é preciso compreender o
conceito de risco, uma vez que estão interligados. Segundo o relatório sobre Redução de
Risco de Desastres do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP),
risco é “o número de mortes em um evento perigoso em relação à população total exposta
a tal evento” (UNDP 2004; p.98). Dessa forma, parte-se do pressuposto comum de que é
a vulnerabilidade que explica o porquê dos diferentes níveis de risco que diferentes grupos
experienciam ao serem submetidos a perigos naturais de mesma intensidade (BRAGA et
al, 2006).
D’Ercole (1994), Blaikie et al. (1994) e Acserald (2006) estabelecem uma relação
de causa e efeito entre natureza e sociedade, reconhecendo que os fatores de risco estão
associados a um certo grau de exposição a uma situação crítica, natural ou social, que
48
de indicadores que possam estar interligados e que agreguem informações que possam
retratar fielmente uma realidade.
formas de informação dentro do contexto que se está sendo estudado, que definirá a sua
importância no direcionamento do planejamento e de ações. Assim, não basta ser apenas
significativo para os tomadores de decisão, é preciso antes de tudo, que revele a realidade
da sociedade, devendo ser, portanto, importante para o público em geral.
Um bom indicador é aquele que é capaz de revelar um realidade, simplificando as
informações relevantes, comunicando-as e esclarecendo suas facetas. Para Van Bellen
(2002), os indicadores são de fato um modelo da realidade, mas não podem ser
considerados como a própria realidade, entretanto devem ser analiticamente legítimos e
construídos dentro de uma metodologia coerente de mensuração.
Para a análise de problemas complexos como é o caso da vulnerabilidade
socioambiental, se deve pensar na utilização de indicadores que possam estar interligados
e que agreguem várias informações que possam retratar o mais próximo possível uma
realidade.
Com base nesta compreensão, e por entender que a vulnerabilidade
socioambiental é um tema abrangente, complexo e multifacetado, diversos enfoques tem
sido dado nos estudos realizados por instituições e pesquisadores, com o objetivo de se
obter uma forma mais adequada de sintetizá-la e mensurá-la. Vários são os sistemas de
indicadores de vulnerabilidade socioambiental existentes na literatura, dentre os quais,
alguns estão destacados no Quadro 1.
Quadro 1: Sistemas de Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental
Modelos de Mensuração
da Vulnerabilidade Abordagem
Socioambiental
Refere-se a uma metodologia de cunho participativo para cálculo e análise
Indicadores de
do nível de vulnerabilidade socioambiental da população na cidade de
Vulnerabilidade (MAIOR
João Pessoa. Para tanto, fez uso da análise de percepção dos citadinos em
2014)
relação a sua situação de vulnerabilidade.
Indicador e avaliação da Este trabalho apresenta uma análise multidimensional da vulnerabilidade
vulnerabilidade do município de São Paulo frente a processos relacionados a eventos
socioambiental no extremos de precipitação, sobretudo escorregamentos de vertentes. Ele
município de São Paulo indica a estreita relação entre vulnerabilidade social e infraestrutural com
(GAMBA E RIBEIRO áreas mais suscetíveis a este tipo de fenômeno, situação que caracteriza a
2012) segregação urbana.
Foi desenvolvido no contexto urbano do Litoral Paulista, contendo 16
cidades, para identificar áreas com alta vulnerabilidade às mudanças
Modelo de Mensuração da
climáticas, permitindo, assim, a construção de indicadores em escala
Vulnerabilidade de Alves
desagregada, que representem as dimensões da vulnerabilidade –
(2010)
susceptibilidade e exposição ao risco ambiental – com a integração de
dados socioeconômicos, demográficos e ambientais.
Refere-se a sua pesquisa de tese, na qual estudou as vulnerabilidades
socioambientais de rios urbanos na Região Metropolitana de Fortaleza-CE
Modelo de Mensuração de
e teve como objetivo analisar os riscos e as vulnerabilidades
Almeida (2010)
socioambientais de rios urbanos no Brasil, tendo a bacia hidrográfica do
rio Maranguapinho, localizada na Região Metropolitana de Fortaleza
51
Aspectos Metodológicos
Técnica de pesquisa
Bases de Dados
Descritores Utilizados
Vulnerabilidade socioambiental, Vulnerabilidade urbana, Vulnerabilidade socioambiental urbana,
Índices de vulnerabilidade socioambiental urbano, Indicadores de vulnerabilidade socioambiental
urbano, sistema de indicadores de de vulnerabilidade socioambiental urbano.
Espaço Temporal
Artigos publicados nos últimos 08 anos e de acesso livre, coletados no período de agosto de 2017 a
maio de 2018. Foram identificados 187 publicações.
Triagem
Excluídos: a) os artigos que se repetiam em mais de uma das plataformas analisadas; b) os artigos que
não apresentaram nominalmente “sistemas de indicadores”, “indicadores” ou “índices” no corpo do
texto; c) os artigos que faziam apenas uma reaplicação de sistemas (ou indicadores, ou índices) em
outro lócus de estudo diferente do proposto pelo trabalho original que já houvesse sido analisado.
Quadro 02: Quadro de frequência dos temas tratados nas publicações analisadas
Temas
e
Segurança (10)
Infraestrutura
Ambiental (4)
Moradia (5)
Cultura (2)
Política (6)
Autores
urbana (9)
Justiça (7)
Renda (3)
Educação
Saúde (8)
Trabalho
Social (1)
Herculano (2000)
Sposati (2000)
Braga, Freitas e Duarte
(2002)
Nahas (2002)
Rossetto (2003)
Machado (2004)
Braga (2006)
Morato (2008)
Figueiredo (2008)
Ribeiro (2008)
Souza (2009)
Roggero (2009)
Kowarick (2009)
Florissi (2009)
Veiga (2010)
Jacobs (2011)
Pessoa (2012)
Araújo e Cândido (2014)
Maricato (2014)
Maior (2014)
Roggero (2015)
Rogers (2015)
Gehl (2015)
57
Rolnik (2015)
Martins e Cândido (2015)
Pereira; Vieira (2016)
Gomes e Gomes (2017)
Frequência absoluta 27 21 22 21 25 8 12 17 17 13
Frequência relativa 100% 78% 81% 78% 93% 30% 44% 63% 63% 48%
100%
93%
81%
78% 78%
63% 63%
48%
44%
30%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Como pode ser observado no quadro 02 e no gráfico 01, a análise das publicações
permitiu a identificação de 10 temas importantes para a temática deste artigo. O tema 1
(Social) foi o único a ser unanimidade entre todos os autores, o que denota a sua
relevância quando se trata das questões a serem resolvidas ao se estudar as cidades. Em
seguida se apresentam os temas 5, 3, 2, 4 (Moradia, Trabalho e Renda, Educação e Cultura
e Ambiental), respectivamente, foram os que se apresentaram com maior frequência, com
mais de 70% nos estudos analisados. Tal constatação evidencia a importância das
58
1
São consideradas duas dimensões para a análise da vulnerabilidade socioambiental, pois conforme define
Alves (2006) é a coexistência ou sobreposição espacial entre grupos populacionais muito pobres e com alta
privação (vulnerabilidade social) e áreas de risco ou degradação ambiental (vulnerabilidade ambiental).
Portanto, para a análise do fenômenos, tomou-se com ponto de partida a necessidade de análise das
condições sócias e ambientais das cidades brasileiras.
59
2) o tema ambiental foi renomeado por ser homônimo a uma das Dimensões e
por ser amplo e englobar outros temas. Assim sendo, o Ambiental passou a ser
a Dimensão, e o tema denominado de Meio Ambiente.
3) os temas Política e Justiça foram fundidos em um só tema, denominado
Governança, por se entender que tais temas são complementares e são
constituídos por indicadores que se assemelham.
Após a definição dos temas, foram selecionados indicadores que pudessem
retratar o tema em que está contido. Para tanto, além de utilizar os indicadores
apresentados pelos autores que compuseram o quadro 02, buscou-se identificar junto ao
IBGE, de modo específico nas publicações do Censo, dos Indicadores Sociais e Perfil dos
Municípios, outros indicadores que pudessem analisar os temas aqui propostos.
Deste modo, com base na revisão realizada de modo sistematizado, propõe-se
neste estudo um conjunto de indicadores de vulnerabilidade socioambiental constituído
por duas dimensões (Social e Ambiental), oito temas (Saúde, Educação e Cultura,
Trabalho e Renda, Moradia, Segurança, Infraestrutura Urbana, Governança e Meio
Ambiente) e 133 indicadores conforme os Quadros 03 e 04.
Quadro 03: Dimensão Social para análise da Vulnerabilidade Socioambiental em Cidades
Brasileiras
Indicadores Indicadores
Dimensão Temas Indicadores
existentes propostos
Oferta de serviços básicos de saúde; Profissionais de
Saúde; Taxa de estabelecimentos de saúde; Taxa de
leitos hospitalares/SUS por 1000 habitantes; Unidades de
média complexidade; Taxa de unidades de atenção básica;
Atendimento odontológicos do SUS; Imunização contra
Saúde 07 9
doenças infecciosas infantis; Taxa de mortalidade infantil;
Esperança de vida ao nascer; Taxa de fertilidade; Taxa de
adolescentes grávidas; Taxa de abortos; Taxa de casos
de dengue; Taxa de casos de zika; Taxa de casos de
chicungunya.
Taxa de Alfabetização; Taxa de Escolarização; Taxa de
escolarização líquida no Ensino Médio; Taxa de
escolarização líquida no Ensino Fundamental; Proporção
Social de jovens de 15 a 17 anos sem ensino fundamental
completo; Taxa de escolas de ensino fundamental e médio
na proximidade; Taxa de matrículas escolares; Pessoas
Educação consideradas potencialmente ativa (15-59 anos) que não
15 02
e Cultura sabem ler e escrever; População em idade escolar;
Percentual de professores secundários; Taxa de distorção
idade-série; Acesso a computador em casa; Acesso
público à internet; Taxa de museu na proximidade; Taxa de
biblioteca na proximidade; Taxa de teatro na proximidade;
Número de estádios e ginásios poliesportivos (ou
equipamentos desportivos).
Índice de Gini; Razão rendimento masculino/feminino;
Trabalho e
Rendimento mensal domiciliar per capita urbano; 14 06
renda
Rendimento familiar per capita (% até 1/2 SM); % de
60
Quadro 04: Dimensão Ambiental para análise da Vulnerabilidade Socioambiental em Cidades Brasileiras
Indicadores Indicadores
Dimensão Temas Indicadores
existentes propostos
Taxa de urbanização; Taxa de crescimento da população;
Densidade demográfica urbana; Taxa de espaço público
para caminhada; Taxa de espaços públicos de
permanência; Taxa de praças e/ou parques;
Infraestrutura
Equipamentos públicos; Taxa de ciclovias; Sistema 03 29
Urbana
Integrado de Transporte Coletivo; Média de ônibus
por linhas; Abrangência do sistema de transporte
coletivo; Qualidade da Frota de ônibus; Taxa de
automóveis; Taxa de Acidentes no trânsito.
Conselho Municipal de segurança pública; Conselho
Municipal do Patrimônio Cultural; Conselho
Ambiental
Municipal de Transporte; Legislação urbanística e
ambiental; Legislação municipal de preservação do
patrimônio histórico e cultural; Normas para
construção e edificações; Normas para urbanização e
Governança regulamentação fundiária; Plano Diretor 0 18
participativo; Despesas com melhoria e ampliação do
sistema de transporte; Despesas com direito à
cidadania; Despesas com patrimônio cultural e
difusão da cultura; Despesas com gestão ambiental;
Despesas com Saneamento Básico Urbano; Despesas
com Habitação Urbana; Despesas com Infraestrutura
62
5 Considerações Finais
Isso decorre da diversidade de estudos com foco nos aspectos sociais, bem como da
quantidade de indicadores disponíveis nas diversas bases de dados, dentre elas o IBGE.
Tal fato endossa a relevância dos estudos que envolvem as problemáticas sociais no Brasil
e o quanto demandam novos estudos que visem o diagnóstico, o monitoramento e o
direcionamento de ações para mitiga-las.
Por outro lado, a Dimensão Ambiental se apresentou com menor quantitativo de
variáveis. Tal fato direcionou para que, neste estudo, fosse realizada a proposição de um
número maior de novos indicadores para esta dimensão, apontando para a necessidade do
desenvolvimento de estudos que busquem estabelecer formas de mensuração e de
métricas e que tornem estes indicadores quantificáveis, promovendo assim, mais avanços
nos estudos sobre a vulnerabilidade socioambiental em contextos urbanos.
Estas questões, quando analisadas, proporcionam novos entendimentos sobre o
fenômeno, por estar pautada nas especificidades do Brasil, fomentando o planejamento e
a gestão, a partir de uma perspectiva integradora e sistêmica. Ademais, podem contribuir
para um plano de avaliação de políticas e programas específicos para atender cada região
ou cada bairro, respondendo mais prontamente às demandas mais pujantes.
Desse modo, este estudo, ultrapassa os ditames acadêmicos e revela-se como um
importante instrumento de apoio para os gestores públicos, contribuindo para o
direcionamento de políticas que visem o bem-estar da cidade e da sociedade. No entanto,
não se apresenta aqui a intenção de exaurir a discussão sobre os indicadores que visem a
análise da vulnerabilidade socioambiental para as cidades brasileiras, mas, sobretudo,
contribuir com os estudos sobre a temática dada a sua complexidade de entendimento e
análise.
6 Referências
Acserald H, 2006. Vulnerabilidade ambiental, processos e relações. Comunicação ao II
Encontro Nacional de Produtores e Usuários de Informações Sociais, Econômicas e
Territoriais, FIBGE, Rio de Janeiro.
Alves H P F. 2006. Vulnerabilidade socioambiental na metrópole paulistana: uma análise
sociodemográfica das situações de sobreposição espacial de problemas e riscos sociais e
ambientais. Revista Brasileira de Estudos de População. vol.23; nº 01; São
Paulo Janeiro/Junho 2006.
Alves H P F, Alves C D, Pereira M N, Monteiro A M V. 2010. Dinâmicas de urbanização
na hiperperiferia da metrópole de São Paulo: análise dos processos de expansão urbana e
das situações de vulnerabilidade socioambiental em escala intraurbana. Rev. bras. estud.
popul., v. 27, n.1, p.141-159.
65
Thorpe R., Holt R., Macpherson A., Pittaway, L. 2005. Using knowledge within small
and medium-sized firms: a systematic review of the evidence. International Journal of
Management Reviews, 7(4), 257-281. doi: 10.1111/j.1468-2370.2005.00116.x
UNDP (2004). Reducing desaster risk: a challenge for development, a global report.
UNDP Bureau for Crisis Prevention and Recovery. New York: UNDP. 2004.
Veiga A J P. 2010. Sustentabilidade urbana, avaliação e indicadores: um estudo de caso
sobre Vitória da Conquista – BA. Tese. Universidade Federal da Bahia, Faculdade de
Arquitetura, 2010.
69
CAPÍTULO 02
70
Ana Cecília Feitosa de Vasconcelos, Eliza Maria Xavier Freire, Gesinaldo Ataíde Cândido.
Resumo
Indicadores podem ser compreendidos como uma medida que busca sintetizar informações
relevantes de um dado fenômeno, analisando seu comportamento ao longo de um espaço
temporal. Quando utilizados para análise da vulnerabilidade socioambiental o uso dessa
ferramenta se torna fundamental, pois permite a identificação de bairros vulneráveis e facilita
seu monitoramento temporal, viabilizando o acompanhamento das variáveis analisadas. Neste
sentido, este artigo tem como objetivo analisar a vulnerabilidade socioambiental da cidade de
Natal- RN, a partir de um conjunto de indicadores que enfatizam as questões sociais e
ambientais e que caracterizam o cenário urbano brasileiro. Para tanto, realizou-se um estudo
exploratório e descritivo, por meio da pesquisa bibliográfica e documental. Os resultados
apontam que o nível de vulnerabilidade socioambiental para a cidade de Natal foi de 0,4709,
classificado como ‘Alto’. Esse resultado é considerado insatisfatório e preocupante, pois coloca
a cidade frente a muitas problemáticas que demandam urgência na sua resolução, como forma
de garantir condições mínimas de qualidade de vida aos seus citadinos. No entanto, é
importante salientar a importância de analisar a cidade com um olhar mais direcionado para
cada tema e cada indicador analisado e identificar quais deles necessitam de mais atenção para
sanar as problemáticas que os envolvem.
Abstract
Indicators can be understood as a measure that seeks to synthesize relevant information from
a given phenomenon, analyzing its behavior over a temporal space. When used to analyze socio-
environmental vulnerability, the use of this tool becomes fundamental, since it allows the
identification of vulnerable neighborhoods and facilitates their temporal monitoring, making
possible the monitoring of the analyzed variables. In this sense, this article aims to analyze the
socio-environmental vulnerability of the city of Natal-RN, based on a set of indicators that
emphasize social and environmental issues and characterize the Brazilian urban scenario. For
that, an exploratory and descriptive study was carried out, through bibliographical and
documentary research. The results indicate that the level of socio-environmental vulnerability
for the city of Natal was 0.4709, classified as 'High'. This result is considered unsatisfactory and
worrying because it puts the city facing many problems that require urgency in its resolution, in
order to guarantee minimum conditions of quality of life for its citizens. However, it is important
to stress the importance of analyzing the city with a more targeted look at each theme and each
71
indicator analyzed and identifying which ones need more attention to mitigate the issues that
involve them.
Introdução
Indicadores podem ser compreendidos como uma medida que busca sintetizar
informações relevantes de um dado fenômeno, analisando seu comportamento ao longo de um
intervalo temporal. Por serem percebidos como uma ferramenta importante no debate que
envolve as questões de interesse público, quando bem elaborados, sua utilização pode
proporcionar conclusões analíticas ou políticas de forma mais simples. É neste contexto que se
entende que para a utilização de indicadores, é necessário o embasamento teórico acerca do
fenômeno estudado, neste caso específico, a vulnerabilidade socioambiental, bem como o
conhecimento de técnicas que viabilizem a sua execução e da contribuição para uma melhor
compreensão do fenômeno que o sistema de indicadores envolve.
Para este estudo, a vulnerabilidade socioambiental é o elemento a ser analisado e,
portanto, é preciso compreender sua definição. Para Cutter (2011) vulnerabilidade corresponde
ao “potencial para a perda”. Para esta autora, a vulnerabilidade inclui tanto os “elementos de
exposição ao risco” como os “fatores de propensão às circunstâncias que aumentam ou
reduzem as capacidades da população, das infraestruturas ou dos sistemas físicos para
responder e se recuperar de ameaças ambientais” (CUTTER 2011, p.60).
É nesse sentido que os problemas advindos da poluição e degradação do meio, da crise
dos recursos naturais energéticos e alimentares, das mudanças climáticas que atingem todo o
planeta, se tornam mais impactantes em áreas periféricas, que além de acometidos pela
pobreza, sequer tem os seus direitos civis atendidos. São nessas áreas periféricas que o poder
público, em geral, está ausente e onde existe uma deficiência de estrutura capaz de oferecer à
população oportunidades dignas de serviços, trabalho e lazer.
Nesta perspectiva, Kowarick (2000) expõe que não só a relação natureza e sociedade
gera a vulnerabilidade, mas afirma que existe muita vulnerabilidade em relação a direitos
básicos, na medida em que não só os sistemas públicos de proteção social foram sempre
restritos e precários, como também, em anos recentes, houve desmonte de serviços e novas
regulamentações que se traduziram em perda de direitos adquiridos.
Embasada nesse entendimento é que se reconhece que o estudo da vulnerabilidade
envolve uma discussão ampla e relevante por ter um caráter multidisciplinar e indica que a
suscetibilidade das pessoas a problemas e perdas estão, principalmente, relacionadas ao
72
conjunto das profundas transformações sociais, econômicas e ambientais que afetam, pelo
mundo inteiro, as pessoas ou grupos de pessoas (KOWARICK 2009).
Ademais, é preciso a compreensão de que a definição de vulnerabilidade socioambiental
deve envolver uma percepção mais integrada das condições de vida de uma dada população.
Deve-se olhar e perceber que os impactos advindos dos desastres naturais reconfiguram os
cenários urbanos e impactam a forma e condição de vida das pessoas, mas também, que o
contexto de construção da sociedade e do processo de expansão urbana nas cidades brasileiras,
faz com que uma parte da população desconheça seus direitos e experimentem de forma
intensa uma sobreposição de desigualdades sociais: pobreza, segregação espacial, ausência de
conforto urbano e, principalmente, os direitos à cidadania.
De acordo com o documento final da Conferência Mundial para a Redução de Desastres
em Kobe (UN, 2005) é latente a necessidade de se desenvolver indicadores de risco e
vulnerabilidade nos níveis nacional e subnacional como forma de permitir aos tomadores de
decisão um melhor diagnóstico das situações de risco e vulnerabilidade.
É nesse sentido que nas pesquisas sobre a vulnerabilidade socioambiental no Brasil,
destaca-se a importância de estudar as cidades com um olhar mais direcionado para os
problemas sociais, que explicitam um nível mais baixo de qualidade de vida, decorrente, em
geral, dos fenômenos de conurbação e periferização, advindos do processo de adensamento
populacional. Tais fenômenos levam uma parcela da população a ocuparem novas áreas,
modificando o uso do solo, se tornando invisíveis aos olhos do poder público e,
consequentemente, compondo um quadro de vulnerabilidade socioambiental.
Estudar a vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras exige uma perspectiva
mais ampla. É preciso compreender que o processo de vulnerabilidade no Brasil não decorre dos
desastres naturais, mas das questões sociais que acometem as pessoas que vivem nos centros
urbanos. Por esta compreensão é preciso que se tome como base as questões que envolvem o
processo histórico e cultural de expansão urbana nas cidades e se compreenda todas as
dificuldades sociais e econômicas a que muitas pessoas são submetidas nas cidades. Nesse
sentido, neste estudo optou-se por seguir alguns autores que enfatizam em seus estudos as
problemáticas que acometem as cidades brasileiras. Dentre eles, pode-se citar: Herculano
(2000), Sposati (2000), Alves (2006), Kowarick (2009), Souza (2009), Maricato (2014), Gehl
(2015), Rogers (2015), Rolnik (2015), e outros autores que estudam as problemáticas urbanas
como suporte a estes autores: Braga, Freitas e Duarte (2002), Nahas (2002), Rossetto (2003),
Machado (2004), Braga (2006), Morato (2008), Figueiredo (2008), Ribeiro (2008), Roggero
(2009), Florissi (2009), Veiga (2010), Jacobs (2011), Pessoa (2012), Araújo e Cândido (2014),
73
Maior (2014), Roggero (2015), Martins e Cândido (2015), Pereira e Vieira (2016), Gomes e
Gomes (2017).
Com base nos apontamentos até aqui realizados, o presente estudo adota como recorte
espacial a cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, uma vez que possui uma dinâmica
socioambiental urbana complexa, decorrente das suas características naturais. A referida capital
tem sido alvo de muitos investimentos, tanto no âmbito público quanto no privado, ao passo
que percebe-se outras áreas que, em decorrência do crescimento desordenado, exigem uma
maior demanda por serviços de infraestrutura e moradia. Deste modo, a escolha de Natal está
relacionada ao seu processo de expansão urbana, bem como por sua importância econômica e
política que possui, por ser capital do estado.
A partir destas considerações, este artigo tem como objetivo analisar a vulnerabilidade
socioambiental da cidade de Natal- RN, a partir de um conjunto de indicadores que enfatiza as
questões sociais e ambientais que caracterizam o cenário urbano brasileiro.
Em termos metodológicos este estudo se classifica como sendo exploratório e
descritivo. Neste caso específico, pela necessidade de descrição de uma realidade revelada
através do cálculo do índice de vulnerabilidade socioambiental urbano da cidade de Natal – RN.
As técnicas de pesquisa adotadas foram a pesquisa bibliográfica, como forma de obter
embasamento teórico no que se refere aos conceitos e abordagens sobre as temáticas; a
pesquisa documental para levantar dados e informações necessárias da cidade, bem como os
dados referentes aos indicadores de vulnerabilidade socioambiental escolhidos para a análise
dos bairros de Natal.
Este artigo apresenta, além destas considerações iniciais que contextualizam a
problemática do estudo, a segunda seção que apresenta os procedimentos metodológicos
utilizado para o alcance do objetivo e, em seguida a apresentação e análise dos resultados e as
considerações finais.
Procedimentos Metodológicos
Dada às características da pesquisa realizada, este estudo se classifica como sendo
exploratório e descritivo. Neste caso específico, pela necessidade de descrição de uma realidade
revelada através do cálculo do índice de vulnerabilidade socioambiental urbano da cidade
brasileiras, o qual foi conduzido sob a forma de estudo de caso na cidade de Natal – RN.
As técnicas de pesquisa adotadas foram a pesquisa bibliográfica, como forma de obter
embasamento teórico no que se refere aos conceitos e abordagens sobre as temáticas; a
pesquisa documental para levantar dados e informações necessárias da cidade, bem como os
dados referentes aos indicadores de vulnerabilidade socioambiental escolhidos para a análise
dos bairros de Natal.
74
É importante destacar que o Tema Governança é constituído por indicadores que são
analisados apenas para cidades de forma binária. A existência dos indicadores na cidade
analisada será considerada uma situação ideal, devendo-se ser atribuído valor 1,00 (nível de
vulnerabilidade muito baixo). A ausência dos indicadores na cidade é considerada uma situação
irregular, devendo-se ser atribuído valor 0,00 (nível de vulnerabilidade muito alto).
Para a coleta de dados e cálculo dos demais indicadores, deve-se seguir as etapas que
estão elencadas abaixo.
𝑋− 𝑋𝑚𝑖𝑛
𝑋′ = 𝑋𝑚𝑎𝑥 −𝑋𝑚𝑖𝑛
. [2]
A equação acima é válida para indicadores com relação positiva, isto é, variáveis cujo
aumento no valor resultará em melhoria no sistema. Nesses casos, o valor 0 será sempre
atribuído aos piores valores do indicador, 1 aos melhores.
Quando usada com indicadores com relação negativa, isto é, cujo aumento no valor
resultará na regressão do sistema avaliado, os valores mapeados terão um efeito invertido, com
o valor 0 sendo atribuído aos melhores valores do indicador, 1 aos piores.
Para corrigir isso, é necessário trabalhar com o complemento da equação [2]
𝑋− 𝑋𝑚𝑖𝑛 𝑋𝑚𝑎𝑥 − 𝑋𝑚𝑖𝑛 −𝑋+𝑋𝑚𝑖𝑛
𝑋" = 1 − = , [3]
𝑋𝑚𝑎𝑥 − 𝑋𝑚𝑖𝑛 𝑋𝑚𝑎𝑥 − 𝑋𝑚𝑖𝑛
ou ainda,
𝑋𝑚𝑎𝑥 −𝑋
𝑋" = 𝑋𝑚𝑎𝑥 − 𝑋𝑚𝑖𝑛
. [4]
Dessa forma, para garantir que, no mapeamento para o intervalo [0, 1], 0 se refira
sempre ao pior valor e 1 ao melhor, é preciso utilizar a equação (2) quando o indicador tiver
uma relação positiva, e a equação (4), quando for negativa.
O índice de cada Tema é obtido a partir da mediana dos índices dos indicadores que
compõe o tema analisado.
Assim como a média, a mediana é uma medida de posição, que indica o valor central do
conjunto de dados univariados, independente das características de sua distribuição. Isso faz da
mediana uma medida mais robusta que a média, isto é, menos sensível à presença de valores
discrepantes que, por ventura, possam existir no conjunto analisado, permitindo com que se
78
tenha um valor mais fidedigno e com menos erros de interpretação gerados por algum viés dos
dados.
De acordo com Bussab e Moretin (2013), a mediana de um vetor de dados univariados
é definida como
𝑥(𝑛+1) , se 𝑛 ímpar
2
𝑚𝑑(𝑋) = { 𝑥 𝑛 +𝑥 𝑛
( ) ( +1)
, se 𝑛 par [5]
2 2
2
Representação Gráfica
O cálculo para transformação dos indicadores em índices permite encontrar um número
que varia entre 0 e 1, onde quanto mais próximo de 1, melhor se apresenta a cidade em relação
às questões que envolvem a vulnerabilidade. Sendo assim, a escala de valores de mínimo e
máximo corresponde a 1 (baixa vulnerabilidade ou padrão ideal e 0 (alta vulnerabilidade).
Para a representação dos índices referentes a cada indicador definiu-se a representação
de cor correspondente ao nível de vulnerabilidade socioambiental urbano.
Quadro 03: Classificação e representação dos índices em níveis de vulnerabilidade socioambiental para
cidades brasileiras
Índice (0 - 1) Representação de cores Nível de Vulnerabilidade
Socioambiental Urbano
0,0000 – 0,2500 Muito alto
0,2501 – 0,5000 Alto
0,5001 – 0,7500 Baixo
0,7501 – 1,0000 Muito baixo
Fonte: Elaboração própria
A definição das cores para cada nível do índice facilitará também a elaboração
cartográfica, facilitando a visualização e a leitura dos mapas da cidade.
79
Com base na descrição que aqui foi realizada, desperta o interesse de desenvolver a
pesquisa na referida cidade, exatamente para se analisar a vulnerabilidade socioambiental da
cidade e oferecer subsídios para que um melhor planejamento ocorra e possa minimizar os
impactos ocasionados pelo processo de urbanização.
Índice de
Social Ambiental
Vulnerab
Índice Índice do Índice do ilidade
Região Índice Índice do Índice do
Bairro do Tema Tema Socioam
Adm. do Tema Tema
Tema Infraestru Meio biental
Tema Educação Trabalho por
Moradi tura Ambient
Saúde e Cultura e Renda bairros
a Urbana e
Alecrim 0,3374 0,3368 0,3563 0,5355 0,4617 0,2837 0,3468
Areia Preta 0,0648 0,2609 0,9421 0,8746 0,1184 0,3496 0,3052
Barro
0,1710 0,1878 0,6944 0,9482 0,1721 0,2952 0,2415
Vermelho
Cidade Alta 0,0431 0,4922 0,5225 0,6111 0,6290 0,2217 0,5073
Lagoa Seca 0,8548 0,1769 0,6944 0,8863 0,2807 0,1883 0,4876
Mãe Luiza 0,6230 0,2829 0,5621 0,4802 0,0788 0,8359 0,5211
Leste Petrópolis 0,8217 0,4038 0,8443 0,7348 0,3196 0,0577 0,5693
Praia do
0,0603 0,2517 0,5009 0,6667 0,2787 0,3107 0,2947
Meio
Ribeira 0,4743 0,3723 0,4624 0,4394 0,4123 0,5155 0,4509
Rocas 0,4141 0,2278 0,6183 0,8484 0,4024 0,2691 0,4082
Santos Reis 0,4737 0,1946 0,4369 0,5143 0,4914 0,8795 0,4825
Tirol 0,9857 0,4674 1,0000 0,9060 0,4214 0,5189 0,7125
Igapó 0,3056 0,2688 0,3895 0,7657 0,1741 0,9730 0,3475
Lagoa Azul 0,0855 0,4537 0,2279 0,6667 0,4019 0,9116 0,4278
N. Sra da
Apresentaçã 0,2439 0,3749 0,2737 0,5385 0,1909 0,8076 0,3243
Norte o
Pajuçara 0,1352 0,3377 0,2279 0,7666 0,2796 0,9542 0,3087
Potengi 0,5635 0,6417 0,5827 0,8619 0,6044 0,9692 0,6231
Redinha 0,1554 0,1510 0,1744 0,3846 0,2444 0,9310 0,2094
Salinas 0,0000 0,0000 0,0000 0,2995 0,0000 0,7452 0,0000
Bom Pastor 0,1651 0,1348 0,3302 0,4041 0,4092 0,8584 0,3671
Oeste
Cidade Nova 0,0353 0,0744 0,2395 0,2131 0,2284 0,9025 0,2207
83
Cidade da
0,2500 0,2503 0,7705 0,9423 0,2943 0,7701 0,5322
Esperança
Dix-Sept
0,1389 0,2950 0,4989 0,6830 0,0486 0,7600 0,3970
Rosado
Felipe
0,4589 0,4180 0,4644 0,6106 0,3807 0,9225 0,4617
Camarão
Guarapes 0,1583 0,1167 0,2014 0,3077 0,2511 0,9328 0,2262
Nordeste 0,0556 0,1843 0,3648 0,6667 0,4240 0,8155 0,3944
Nossa
Senhora de 0,2588 0,2815 0,6712 0,8402 0,1716 0,8011 0,4763
Nazaré
Planalto 0,2684 0,1702 0,3044 0,5581 0,1076 0,9001 0,2864
Quintas 0,4400 0,3052 0,3473 0,8333 0,3333 0,9351 0,3937
Candelária 0,3379 0,1336 0,9226 0,5342 0,4222 0,7252 0,4782
Capim
0,1774 0,2651 0,9108 0,6923 0,4214 0,6670 0,5442
Macio
Lagoa Nova 0,1736 0,6657 0,7750 0,7594 0,5740 0,2231 0,6199
Sul Neópolis 0,3718 0,3253 0,8372 0,9022 0,6426 0,7115 0,6770
Nova
0,3472 0,2794 0,6394 0,7588 0,2916 0,8018 0,4933
Descoberta
Pitimbu 0,3335 0,3361 0,7408 0,9767 0,3659 0,7100 0,5379
Ponta Negra 0,1692 0,3433 0,5583 0,7798 0,4796 0,6140 0,5190
Índice de vulnerabilidade
0,4709
socioambiental de Natal
Os índices dos temas foram gerados a partir do cálculo da mediana dos indicadores por
bairro que é constituído cada tema. O mesmo procedimento foi utilizado para o cálculo das
dimensões e do índice de vulnerabilidade socioambiental de Natal.
Para analisar cada índice se tomará como base os intervalos numéricos do índice
(Quadro 05) e a escala de cores (Quadro 03) para classificar o nível de vulnerabilidade
socioambiental dos bairros, bem como da cidade de Natal como um todo.
A Dimensão Social está relacionada como o nível de qualidade de vida da população,
com a satisfação das necessidades humanas, à justiça social, ao nível de educação e às condições
básicas à sobrevivência humana. Ademais, evidencia o desempenho macroeconômico como
também procura expor a identidade cultural, corroborando as evidências de uma população que
tenha acesso a educação, cultura, esporte e lazer e que possa, por intermédio disso, aumentar
sua capacidade intelectual e conhecimento acerca de si próprio e do espaço que a envolve,
contribuindo para uma cidade mais justa e igualitária.
84
O Tema Saúde apresenta-se com o índice de 0,2544 e é classificado com o nível ‘Alto’
para a vulnerabilidade socioambiental. Dos 36 bairros existentes na cidade, 16 (Areia Preta,
Barro Vermelho, Cidade Alta, Praia do Meio, Lagoa Azul, Nossa Senhora da Apresentação,
Pajuçara, Redinha, Salinas, Bom Pastor, Cidade Nova, Dix-Sept Rosado, Guarapes, Capim Macio,
Lagoa Nova, Ponta Negra) se apresentaram com o nível de vulnerabilidade socioambiental
classificado como ‘Muito Alto’. Os bairros destacados contemplam as 04 regiões administrativas,
evidenciando que as questões referentes a saúde constituem um gargalo na cidade como um
todo.
Apenas três bairros (Lagoa Seca, Petrópolis, Tirol) apresentaram índices que se
classificam com ‘muito baixo’. Todos localizados na região Leste da cidade.
No que se refere aos indicadores deste tema, destacam-se os que se classificaram como
o nível ‘muito alto’ de vulnerabilidade socioambiental, quais sejam: Profissionais de Saúde por
1000 Hab.; Taxa de estabelecimentos de saúde; Taxa de unidades de atenção básica e
Quantidade de casos de dengue. Os três primeiros indicadores apontados estão diretamente
ligados à disponibilidade de atendimentos básicos de saúde à população, explicitando a sua
precariedade quanto à oferta desses serviços que estão bem aquém da necessidade da
população de cada bairro. O indicador que analisa o quantitativo de casos de dengue que
também foi classificado como ‘muito alto’, caracteriza um sério problema de saúde pública na
cidade, que além de sofrer interferência das condições do meio ambiente que favorecem a
proliferação do vetor, está também relacionado com fatores sociais, econômicos e políticos que
envolve as pessoas que habitam na cidade.
O Tema Educação e Cultura apresentou um índice de 0,2804, classificando-o como
‘Alto’. Doze bairros (Barro Vermelho, Lagoa Seca, Rocas, Santos Reis, Redinha, Salinas, Bom
Pastor, Cidade Nova, Guarapes, Nordeste, Planalto, Candelária) apresentaram índices
classificados como ‘Muito alto’, evidenciando o quão vulneráveis são os indicadores de
Educação e Cultura em Natal, sobretudo na região Oeste que apresenta 50% dos seus bairros
com um nível de vulnerabilidade socioambiental classificado como ‘Muito alto’. É importante
destacar que dos 36 bairros de Natal, nenhum apresentou um índice satisfatório que os
classificassem como ‘muito baixo’.
Os indicadores que se destacam como os que possuem um nível ‘muito alto’ de
vulnerabilidade estão: Quantidade de escolas de ensino fundamental e médio na proximidade;
Quantitativo de matrículas escolares; População em idade escolar; Quantidade de museu;
Quantidade de biblioteca; Quantidade de teatro; Número de estádios e ginásios poliesportivos.
Todos estes indicadores estão diretamente relacionados com o acesso e a qualidade do ensino
básico para crianças, adolescentes e jovens, e o direcionamento adequado para que possam ter
85
uma melhor perspectiva de futuro com melhores condições de trabalho, renda e melhor
qualidade de vida.
O Tema Trabalho e Renda apresentou o índice de 0,5177 e foi classificado com o ‘Baixo’
nível de vulnerabilidade socioambiental. Do total de bairros, apenas seis (Lagoa Azul, Pajuçara,
Redinha, Salinas, Cidade Nova, Guarapes) apresentam índices que os classificam com um nível
‘alto’ para a vulnerabilidade socioambiental e nove (Areia Preta, Petrópolis, Tirol, Cidade da
Esperança, Candelária, Lagoa Nova, Neópolis, Pitimbu) apresentam índices que os classificam
com nível ‘muito baixo’.
Os indicadores que mais se destacam com um nível ‘muito alto’ para a vulnerabilidade,
refere-se ao Percentual de famílias que tem rendimento entre 10 a 20 salários mínimos e
Rendimento mensal domiciliar per capita. Ambos indicadores podem ser considerados
diametralmente opostos e por se apresentarem com um nível tão negativo, implica dizer que há
concentração de renda na cidade de Natal, cenário este que configura a realidade brasileira.
O Tema Moradia apresentou um índice de 0,6877 sendo classificado como ‘Baixo’. É
importante observar que apenas um bairro (Cidade Nova) se classificou como ‘Muito alto’ e
cinco bairros (Salinas, Guarapes, Redinha, Bom Pastor, Mãe Luiza) se apresentaram com índice
que os classificam como ‘Alto’. Tal fato denota que em função dos indicadores analisados, a
cidade de Natal apresenta poucos bairros com problemas referentes a moradia.
Os indicadores População em Casa Própria; Acesso ao sistema de abastecimento de
água; Domicílios com abastecimento de água, foram os três indicadores que se apresentaram
com os índices mais baixos, demonstrando dessa forma que uma parcela significativa da
população natalense não possui condições de adquirir sua casa própria. Ademais, os outros dois
indicadores estão diretamente ligados com o acesso à agua de qualidade, tanto relativo ao
acesso ao abastecimento de água que envolve indústria, comércio, bem como analisa os
domicílios que tem acesso ao abastecimento de água. É importante destacar que a água é um
recurso vital ao ser humano e reflete nas condições de saúde e higiene. Assim sendo, se verifica
a urgência de se estabelecer políticas direcionadas que visem melhorar o sistema de
abastecimento de água, para que este recurso chegue de forma adequada à população, uma vez
que de acordo com a Legislação Brasileira, toda a água fornecida à população por rede de
abastecimento geral tem de ser tratada e apresentar qualidade adequada para o consumo.
O Decreto nº 5.440, de 4 de maio de 2005 estabelece definições e procedimentos sobre
o controle de qualidade da água de sistemas de abastecimento e institui mecanismos e
instrumentos para divulgação de informação ao consumidor sobre a qualidade da água para
consumo humano. Em seu Art. 3° define: “Toda água destinada ao consumo humano, distribuída
86
variáveis que analisam a cidade e as normas e regulamentos e se aplicarem para a cidade, não
foi possível separar a sua existência ou execução por bairros.
A Dimensão Ambiental obteve um índice de 0,5457 o que o classifica com um nível
considerado ‘baixo’ para a vulnerabilidade socioambiental. O tema Infraestrutura Urbana
apresentou-se classificado negativamente, despertando a necessidade de ações de melhorias
nos aspectos que interferem na qualidade da infraestrutura urbana. Para tanto, é preciso
verificar individualmente os indicadores que o constituem de modo que se possa estabelecer
ações que possibilitem a sua melhoria de forma contínua. O conjunto de informações produzidas
por esses índices ambientais oferece subsídios para compreender aspectos relevantes do
processo de degradação ambiental ocasionados pela falta de infraestrutura, comportamentos e
hábitos inadequados, formas de agir e pensar da população, com o objetivo de compreender e
respeitar as limitações dos recursos naturais e o tempo necessário para que o meio ambiente
possa se restabelecer.
A partir do índice e da classificação dos níveis de vulnerabilidade socioambiental por
bairro, foi possível elaborar o produto cartográfico, como forma de melhor visualizar a situação
da cidade de Natal-RN.
89
Conforme apresentado nos índices e visualizado claramente na Figura 03, foi possível
identificar o nível de vulnerabilidade socioambiental para a cidade de Natal de 0,4709,
considerada como ‘Alto’. Esse resultado é considerado preocupante, exigindo uma postura mais
ativa do poder público na resolução dos problemas que colocam a população em uma situação
de vulnerabilidade socioambiental.
Dos 36 bairros, 25 se encontram em situação que os classificam com um nível ‘Alto’ ou
‘Muito Alto’ para a vulnerabilidade socioambiental, o que explicita que a cidade apresenta
maiores fragilidades nas questões sociais, principalmente de moradia, de educação e cultura, de
emprego e renda e na disparidade existente frente as questões de infraestrutura urbana. Por
esse motivo, ressalta-se a importância de que se analise a cidade com um olhar mais direcionado
90
para cada tema e cada indicador analisado e se identifique quais deles necessitam de mais
atenção para sanar as problemáticas que os envolvem.
Considerações Finais
A importância de se analisar a vulnerabilidade socioambiental da cidade de Natal – RN
a partir do conjunto de indicadores que enfatiza as questões sociais e ambientais que
caracterizam o cenário urbano brasileiro, se consolida na compreensão das questões sociais,
econômicas e urbanísticas reveladas por meio dos indicadores analisados, ao passo que revela
uma certa invisibilidade de uma parcela da população, principalmente, quanto à negação de
seus direitos.
Natal é uma cidade de porte médio e está situada em um lugar privilegiado do Brasil a
qual se confere uma qualidade de vida superior, principalmente nas diversas formas de
divulgação da cidade para se atrair turistas e investidores. Imagem esta, revelada em
decorrência, principalmente, de seu patrimônio natural. No entanto, a Natal vivida pelos seus
citadinos revela um quadro de problemas iminentes comprometendo a sua imagem da cidade
bela e agradável para se morar.
Como observado, o nível de vulnerabilidade socioambiental para a cidade de Natal foi
de 0,4709, considerado como ‘Alto’. Esse resultado é considerado insatisfatório e preocupante,
pois coloca a cidade frente a muitas problemáticas que demandam urgência como forma de
garantir condições mínimas de qualidade de vida aos seus citadinos. Ademais, é importante
destacar a necessidade de analisar a cidade com um olhar mais direcionado para cada região e
para cada bairro, pois cada um apresentam especificidades que os colocam em divergência em
vários aspectos, mesmo quando exibem as mesmas problemáticas.
Esta percepção é endossada pela reflexão feita por Kowarick (2000) que chama atenção
ao pontuar que os principais investimentos públicos são comumente realizados em áreas onde
vivem e trabalham os grupos com renda média e alta, e que os investimentos públicos em bens
de consumo coletivo, têm sido tradicionalmente realizados com prejuízo para a grande massa
de trabalhadores. São estas ações por parte do Estado que privilegiam uma parcela da
população e segrega a outra parcela que tem o direito à cidade negado.
Os indicadores que obtiveram um nível alto ou muito alto para a vulnerabilidade, foram
identificados nos bairros mais periféricos e mais pobres, em áreas com más condições
urbanísticas e sanitárias, denotando uma concentração de indicadores avaliados negativamente
e revelando uma cidade que não é vista pelos turistas e pelos moradores das regiões mais
abastadas.
91
Com base nestas discussões, este estudo constitui importante instrumento que
estabelece uma relação entre o ambiente acadêmico e a sociedade civil, viabilizando o debate
entre tais partes e, por conseguinte, possibilitando a estruturação de planos de
desenvolvimento pautados na construção de uma sociedade justa e equitativa.
Referências
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FIGUEIREDO, A. S. DE. Índice de qualidade de vida urbana de Campo Grande – MS. PLANURB,
31. P. 2008.
92
CAPÍTULO 03
95
Ana Cecília Feitosa de Vasconcelos. Paulo Ribeiro Lins Júnior. Eliza Maria Xavier
Freire. Gesinaldo Ataíde Cândido.
Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar as correlações lineares existentes entre
as regiões administrativas de Natal (RN) com base nos índices de vulnerabilidade
socioambiental de seus bairros. O alcance do objetivo permitirá identificar quais regiões
administrativas são mais vulneráveis sob a perspectiva do conjunto de indicadores, além
de identificar as similaridades e diferenças existentes entre elas. Em termos
metodológicos este artigo se caracteriza como exploratório e descritivo, realizado por
meio das técnicas de pesquisa documental para levantar dados e informações necessárias
da cidade, bem como os dados referentes aos indicadores de vulnerabilidade
socioambiental escolhidos para a análise dos bairros e regiões de Natal. Os resultados
apontam que a região Norte foi a região que apresentou um nível de vulnerabilidade
classificado como ‘Alto’. Essa também é a região mais pobre de Natal e, por conseguinte,
a que apresenta os problemas mais latentes nas questões referentes aos temas analisados,
sobretudo, Saúde, Trabalho e renda, Infraestrutura Urbana, Educação e cultura. Tal fato
o coloca em um nível de correlação linear fraca e de disparidade frente as regiões mais
abastadas da cidade: região Leste e região Sul.
Palavras-chave: vulnerabilidade socioambiental, indicadores, correlação linear.
Abstract: This article aims to analyze the existing linear correlations between the
administrative regions of Natal (RN) based on the socioenvironmental vulnerability
indexes of its neighborhoods. The scope of the objective will allow identifying which
administrative regions are most vulnerable from the perspective of the set of indicators,
in addition to identifying the similarities and differences between them. In
methodological terms, this article is characterized as exploratory and descriptive, carried
out by documentary research techniques to collect data and necessary information of the
city, as well as the data referring to the indicators of social and environmental
vulnerability chosen for the analysis of the neighborhoods and regions of Natal. The
results indicate that the North region was the region that presented a level of vulnerability
classified as 'High'. This is also the poorest region of Natal and, therefore, the one that
presents the most latent problems in the issues related to the topics analyzed, especially
Health, Work and Income, Urban Infrastructure, Education and Culture. This fact places
it in a level of weak linear correlation and of disparity against the richest regions of the
city: East and South regions.
Keywords: socio-environmental vulnerability, indicators, linear correlation.
2
Agradecimentos: ao apoio financeiro concedido pela CAPES por meio do Edital Nº55/2013 Pro-
Integração/CAPES sob o projeto intitulado “Vulnerabilidade Socioambiental como decorrência do
transbordamento urbano: estudos longitudinais em regiões metropolitanas no Nordeste brasileiro.”
3
Este artigo foi submetido à Revista URBE e, portanto, está formatado de acordo com as recomendações
desta revista.
96
1 Introdução
A discussão acerca da vulnerabilidade passou a despertar o interesse de
pesquisadores e instituições de pesquisa, em decorrência dos crescentes índices de
desigualdades sociais, da segregação socioespacial e do processo de urbanização
desordenado das cidades. Nesta perspectiva, Kowarick (2000) expõe que não só a relação
natureza e sociedade gera a vulnerabilidade, mas afirma que existe muita vulnerabilidade
em relação a direitos básicos, na medida em que não só os sistemas públicos de proteção
social foram sempre restritos e precários, como também, em anos recentes, houve
desmonte de serviços e novas regulamentações que se traduziram em perda de direitos
adquiridos.
Embasada nesse entendimento é que se reconhece que o estudo da vulnerabilidade
envolve uma discussão ampla e relevante por ter um caráter multidisciplinar e indica que
a suscetibilidade das pessoas a problemas e danos estão, principalmente, relacionadas ao
conjunto das profundas transformações sociais, econômicas e ambientais que afetam, pelo
mundo inteiro, as pessoas ou grupos de pessoas (KOWARICK, 2009).
Nesse sentido, um conceito viável para analisar estas relações é o de
‘vulnerabilidade socioambiental’, que pode ser definida como a coexistência,
cumulatividade ou sobreposição espacial de situações de pobreza/privação social e de
situações de exposição a risco e/ou degradação ambiental. Assim, é justamente a
combinação dessas duas dimensões – social e ambiental – que está sendo considerada
uma situação de vulnerabilidade socioambiental (ALVES, 2006).
Nesta perspectiva, a contribuição nos estudos de vulnerabilidade e pobreza tem
focado os aspectos estruturais e subjetivos das famílias, levando em consideração o
contexto em que estão inseridas: pobreza, exclusão/inclusão, periferização, segregação,
dependência e elevado risco (HOGAN; MARANDOLA JR., 2005).
É fato que o fenômeno da vulnerabilidade socioambiental no contexto urbano
envolve também as questões sociais de uma população que vai ficando cada vez mais à
margem das decisões e encaminhamentos do planejamento urbano. Assim, os indicadores
de vulnerabilidade socioambiental tornam-se uma ferramenta fundamental para seu
monitoramento e direcionamento de ações.
Nesse contexto, este estudo tem como objetivo analisar as correlações lineares
existentes entre as regiões administrativas de Natal (RN) com base nos índices de
vulnerabilidade socioambiental de seus bairros. O alcance do objetivo permitirá
identificar quais regiões administrativas são mais vulneráveis sob a perspectiva do
97
2 Fundamentação Teórica
2.1 Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental
significativo para os tomadores de decisão, é preciso antes de tudo, que revele a realidade
da sociedade, devendo ser, portanto, importante para o público em geral.
Um bom indicador é aquele que é capaz de revelar um realidade, simplificando as
informações relevantes, comunicando-as e esclarecendo suas facetas. Para Van Bellen
(2002), os indicadores são de fato um modelo da realidade, mas não podem ser
considerados como a própria realidade, entretanto devem ser analiticamente legítimos e
construídos dentro de uma metodologia coerente de mensuração.
Para a análise de problemas complexos como é o caso da vulnerabilidade
socioambiental, se deve pensar na utilização de indicadores que possam estar interligados
e que agreguem várias informações que possam retratar o mais próximo possível uma
realidade.
Para tanto, alguns estudos desenvolvidos no contexto urbano enfatizam as
problemáticas que acometem as cidades. Dentre eles, destacam-se os autores: Herculano
(2000), Sposati (2000), Braga, Freitas e Duarte (2002), Nahas (2002), Rossetto (2003),
Braga (2006), Alves (2006), Morato (2008), Figueiredo (2008), Ribeiro (2008), Roggero
(2009), Florissi (2009), Kowarick (2009), Souza (2009), Machado (2010), Veiga (2010),
Jacobs (2011), Pessoa (2012), Araújo e Cândido (2014), Maior (2014), Maricato (2014),
Gehl (2015), Rogers (2015), Rolnik (2015), Roggero (2015), Martins e Cândido (2015),
Pereira e Vieira (2016), Gomes e Gomes (2017).
Após a análise dos estudos desenvolvidos por esses autores, constatou-se que as
variáveis apresentadas circundam em torno de alguns aspectos que se repetem. Desse
modo, foi possível listar uma série de variáveis que são imprescindíveis ao estudo da
vulnerabilidade socioambiental nas cidades, sobretudo, as cidades brasileiras, uma vez
que a maioria dos estudos empíricos objetivaram a análise destas como cenário.
Desse modo, com base em tais autores compilou-se no Quadro 01, o conjunto de
08 temas e 133 indicadores capazes de analisar a vulnerabilidade socioambiental de
cidades brasileiras.
Quadro 01: Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental para cidade brasileiras
3 Aspectos Metodológicos
Este estudo se caracteriza como exploratório e descritivo, dada a necessidade de
estabelecer uma hierarquia entre os bairros e regiões de Natal, bem como analisar suas
correlações lineares existentes entre os bairros de Natal (RN) através do índice de
vulnerabilidade socioambiental de cada bairro.
As técnicas de pesquisa adotadas foram a pesquisa documental para levantar
dados e informações necessárias da cidade, bem como os dados referentes aos indicadores
de vulnerabilidade socioambiental escolhidos para a análise dos bairros de Natal.
Dos 133 indicadores apresentados na fundamentação teórica, escolheu-se 54
(Quadro 02) para análise da vulnerabilidade socioambiental da cidade de Natal. A escolha
dos indicadores foi realizada em função da disponibilidade dos dados disponíveis no nível
de granularidade por bairros.
101
Com base nos índices calculados fez-se uso do Microsoft Excel® para estabelecer
uma análise hierárquica entre os bairros e regiões e assim, identificar quais bairros e
regiões são mais vulneráveis.
Em seguida, a partir da sua representação, foi construído o mapa de calor com as
correlações lineares existentes entre os bairros de Natal (RN), a fim de que se pudesse
identificar as similaridades e diferenças existentes entre as regiões administrativas da
cidade.
Representação
Os índices analisados variam entre 0 e 1, onde quanto mais próximo de 1, melhor
se apresenta o bairro e/ou a região em relação às questões que envolvem a
vulnerabilidade. Sendo assim, os valores de mínimo e máximo correspondem,
respectivamente, a 1 (baixa vulnerabilidade ou padrão ideal e 0 (alta vulnerabilidade).
Para a representação dos índices referentes a cada indicador definiu-se a
representação de cor correspondente ao nível de vulnerabilidade socioambiental urbano.
Quadro 03: Classificação e representação dos índices em níveis de vulnerabilidade socioambiental para
cidades brasileiras
Índice (0 - 1) Representação de cores Nível de Vulnerabilidade
Socioambiental Urbano
0,0000 – 0,2500 Muito alto
0,2501 – 0,5000 Alto
0,5001 – 0,7500 Baixo
0,7501 – 1,0000 Muito baixo
Fonte: Elaboração própria (2019)
A cidade escolhida para a realização deste estudo foi Natal capital do estado do
Rio Grande do Norte, na região Nordeste do Brasil. Segundo o IBGE (2019) a referida
cidade possui uma área territorial de 167,264 km2 e sua população é estimada em 885.173
habitantes.
Criada já com caráter de cidade, Natal foi fundada em 25 de dezembro de 1599
(IBGE, 2010). Sua urbanização teve seu início por meio da colonização portuguesa e seu
aumento populacional ocorreu de forma lenta. No final do século XIX a cidade possuía
apenas 16.050 habitantes (IBGE, 2010).
Segundo Costa (2007), os investimentos habitacionais e as políticas públicas de
Estado e de Governo em Natal também foram estabelecidas segregando espacialmente a
cidade. Ao passo que as habitações para a população de alta renda eram realizadas na
Zona Sul da cidade, as habitações para a população mais pobre eram construídas na Zona
Norte da cidade. A região administrativa Norte é composta por 07 bairros (Lagoa Azul,
Nossa Senhora da Apresentação, Igapó, Potengi, Pajuçara, Redinha e Salinas) e abriga
360.122 habitantes, segundo estimativa do IBGE (2017), sendo considerada a maior tanto
em área territorial, quanto em número de habitantes.
104
Social Ambiental
Índice de
Índice Vulnerabilid
Região
Bairro Índice Índice do Índice do Índice do do ade
Administrativa Índice do Socioambient
do Tema Tema Tema Tema
Tema al por bairros
Tema Educação e Trabalho Infraestrut Meio
Moradia
Saúde Cultura e Renda ura Urbana Ambien
te
Alecrim 0,3374 0,3368 0,3563 0,5355 0,4617 0,2837 0,3468
Areia
0,0648 0,2609 0,9421 0,8746 0,1184 0,3496 0,3052
Preta
Barro
Vermelh 0,1710 0,1878 0,6944 0,9482 0,1721 0,2952 0,2415
o
Cidade
0,0431 0,4922 0,5225 0,6111 0,6290 0,2217 0,5073
Alta
Lagoa
0,8548 0,1769 0,6944 0,8863 0,2807 0,1883 0,4876
Seca
Mãe
Leste 0,6230 0,2829 0,5621 0,4802 0,0788 0,8359 0,5211
Luiza
Petrópol
0,8217 0,4038 0,8443 0,7348 0,3196 0,0577 0,5693
is
Praia do
0,0603 0,2517 0,5009 0,6667 0,2787 0,3107 0,2947
Meio
Ribeira 0,4743 0,3723 0,4624 0,4394 0,4123 0,5155 0,4509
Rocas 0,4141 0,2278 0,6183 0,8484 0,4024 0,2691 0,4082
Santos
0,4737 0,1946 0,4369 0,5143 0,4914 0,8795 0,4825
Reis
Tirol 0,9857 0,4674 1,0000 0,9060 0,4214 0,5189 0,7125
Igapó 0,3056 0,2688 0,3895 0,7657 0,1741 0,9730 0,3475
Lagoa
0,0855 0,4537 0,2279 0,6667 0,4019 0,9116 0,4278
Azul
N. Sra
da
0,2439 0,3749 0,2737 0,5385 0,1909 0,8076 0,3243
Apresent
Norte
ação
Pajuçara 0,1352 0,3377 0,2279 0,7666 0,2796 0,9542 0,3087
Potengi 0,5635 0,6417 0,5827 0,8619 0,6044 0,9692 0,6231
Redinha 0,1554 0,1510 0,1744 0,3846 0,2444 0,9310 0,2094
Salinas 0,0000 0,0000 0,0000 0,2995 0,0000 0,7452 0,0000
Bom
0,1651 0,1348 0,3302 0,4041 0,4092 0,8584 0,3671
Pastor
Cidade
0,0353 0,0744 0,2395 0,2131 0,2284 0,9025 0,2207
Nova
Cidade
Oeste
da
0,2500 0,2503 0,7705 0,9423 0,2943 0,7701 0,5322
Esperan
ça
Dix-Sept
0,1389 0,2950 0,4989 0,6830 0,0486 0,7600 0,3970
Rosado
106
Felipe
Camarã 0,4589 0,4180 0,4644 0,6106 0,3807 0,9225 0,4617
o
Guarape
0,1583 0,1167 0,2014 0,3077 0,2511 0,9328 0,2262
s
Nordeste 0,0556 0,1843 0,3648 0,6667 0,4240 0,8155 0,3944
Nossa
Senhora
0,2588 0,2815 0,6712 0,8402 0,1716 0,8011 0,4763
de
Nazaré
Planalto 0,2684 0,1702 0,3044 0,5581 0,1076 0,9001 0,2864
Quintas 0,4400 0,3052 0,3473 0,8333 0,3333 0,9351 0,3937
Candelá
0,3379 0,1336 0,9226 0,5342 0,4222 0,7252 0,4782
ria
Capim
0,1774 0,2651 0,9108 0,6923 0,4214 0,6670 0,5442
Macio
Lagoa
0,1736 0,6657 0,7750 0,7594 0,5740 0,2231 0,6199
Nova
Sul Neópolis 0,3718 0,3253 0,8372 0,9022 0,6426 0,7115 0,6770
Nova
Descobe 0,3472 0,2794 0,6394 0,7588 0,2916 0,8018 0,4933
rta
Pitimbu 0,3335 0,3361 0,7408 0,9767 0,3659 0,7100 0,5379
Ponta
0,1692 0,3433 0,5583 0,7798 0,4796 0,6140 0,5190
Negra
Fonte: Elaboração própria (2019)
Com base nos dados explicitados na Figura 01, procede-se para a análise
comparativa entre as regiões, evidenciando, quando necessário, os bairros que se
destacaram com maior similaridade entre si.
Região Norte e Região Leste: a análise de correlação realizada entre estas duas
regiões estão representadas na figura 01.
Figura 01: Mapa de calor das correlações lineares entre as regiões Norte e Leste
Ao se observar as correlações existentes entre estas duas regiões, é possível ver que
das 84 medidas de correlação, 66 apresentam-se com correlação linear fraca
predominante, representando 78% das medidas. 17 medidas apresentaram correlação
linear moderada, representando 20,23%, e apenas 01 medida é considerada correlação
linear forte.
Essas duas regiões são bem divergentes sob o ponto de vista econômico da cidade. A
região Norte caracteriza-se por ser uma das regiões mais pobres da cidade, enquanto a
região Leste se insere como uma das mais ricas. Além disso, a região Norte apresentou
nível classificado como ‘Muito Alto’ para a vulnerabilidade socioambiental nos temas
Saúde, Trabalho e Renda e Infraestrutura Urbana e nível ‘Alto’ para Educação e Cultura.
108
Enquanto a região Leste apresentou nível alto apenas para o tema Educação e Cultura e
os demais temas se enquadram no nível ‘Baixo’ ou ‘Muito baixo’. Esses dados revelam
a disparidade existente entre os bairros das duas regiões, endossando inclusive, que o fator
econômico da região Leste permite com que haja maior disponibilidade a serviços básicos
e de acesso a estrutura da cidade e que são escassos na região Norte.
É importante destacar que na região Norte o bairro Igapó apresentou as medidas de
correlação mais altas com os bairros da região Leste, muito embora sejam classificadas
como correlação linear moderada. Essa informação evidencia similaridade deste bairro
com a Região Leste, sobretudo com os bairros Santos Reis (correlação linear forte), Praia
do Meio, Alecrim, Rocas e Lagoa Seca (correlação linear moderada) dado que os índices
dos temas do Igapó se apresentam melhores do que os demais bairros da região em que
está localizado, colocando-o em situação semelhante dos bairros da região Leste. O bairro
de Igapó é um ponto de passagem obrigatória para as pessoas que moram na região Norte
da cidade, bem como em outros municípios que fazem divisa com Natal, convergindo,
dessa forma, fácil acesso para ônibus intermunicipal e intramunicipal. Essa característica
do bairro, faz com que haja uma série de investimentos de empreendimentos comerciais,
permitindo com que haja maior visibilidade para o bairro.
Região Norte e Região Sul: a análise de correlação linear realizada entre estas
duas regiões estão representadas na figura 02.
Figura 02: Mapa de calor das correlações lineares entre as regiões Norte e Sul
Figura 03: Mapa de calor das correlações lineares entre as regiões Leste e Oeste
Meio, Rocas e Santos Reis. Alguns desses bairros são considerados pobres da região Leste
e demandam um olhar mais atento para que haja um melhor planejamento e maior
direcionamento de recursos para melhoria desses bairros.
Região Sul e Região Oeste: a análise de correlação linear realizada entre estas
duas regiões estão representadas na figura 04.
Figura 04: Mapa de calor das correlações lineares entre as regiões Sul e Oeste
O bairro Cidade da Esperança (região Oeste) foi o bairro que apresentou mais medidas
de correlação linear forte com os bairros da região Sul. Das 07 medidas de correlação, 06
são correlação linear forte e 01 correlação linear moderada. Esse dado reflete a
similaridade de Cidade da Esperança com os bairros Candelária, Capim Macio, Neópolis,
Nova Descoberta, Pitimbu e Ponta Negra. Apesar de localizado em uma região mais
pobre, este bairro é um dos mais tradicionais da cidade e onde foi construído inicialmente
o primeiro conjunto habitacional também denominado Cidade da Esperança, e fazia parte
de um Plano de Habitação Popular, concebido para reverter o déficit habitacional
potiguar. Dada as suas características de planejamento e desenvolvimento, é um bairro
que detém muitos comércios, supermercados, feira livre, rodoviária com linhas
intermunicipal e interestadual, acesso ao transporte público, facilitando o acesso dos
moradores para todas as outras regiões da cidade. São essas características que
posicionam o bairro em uma situação mais similar com os bairros da região Sul.
Região Norte e Região Oeste: a análise de correlação linear realizada entre estas
duas regiões estão representadas na figura 05.
Figura 05: Mapa de calor das correlações lineares entre as regiões Norte e Oeste
Figura 06: Mapa de calor das correlações lineares entre as regiões Leste e Sul
Das 84 medidas de correlação linear para estas regiões, 09 são medidas de correlação
linear fraca, representando 10,71%, 39 são de correlação linear moderada 46,43% e 36 de
medidas de correlação linear forte, representando 42,86%. Apesar de apresentar a
correlação linear mediana como preponderante, a correlação linear forte obteve um
percentual significativo.
As duas regiões se assemelham por serem as regiões mais ricas da cidade e
concentrarem os maiores rendimentos nominal médio mensal, com 3,31 e 3,09 salários
mínimos, respectivamente. A região Leste apresentou nível ‘Alto’ apenas para o tema
Educação e Cultura e os demais temas se enquadram no nível ‘Baixo’ ou ‘Muito baixo’.
A região Sul não apresentou nenhum tema classificado como ‘Muito alto’ para a
vulnerabilidade socioambiental, classificando-se como ‘Alto’ para os temas Saúde e
Educação e Cultura e Infraestrutura urbana.
O bairro Nova Descoberta (região Sul) foi o que mais apresentou similaridade com a
região Leste, sobretudo com os bairros Areia Preta, Barro Vermelho, Lagoa Seca, Mãe
Luiza, Praia do Meio, Rocas, Santos Reis e Tirol. É considerado um bairro com uma
infraestrutura adequada para moradia dada a proximidade à UFRN (Universidade Federal
do Rio Grande do Norte), acesso a unidades básicas de saúde, escolas particulares e
115
4 Considerações Finais
Analisar uma cidade traçando um comparativo entre seus bairros e estabelecendo
uma hierarquia para identificar quais os mais ou menos vulneráveis, configura um
importante avanço nos estudos acerca da vulnerabilidade socioambiental, pois é possível
retratar qual região e quais bairros necessitam de maiores investimentos públicos para
sanar as problemáticas sociais e ambientais que os envolvem.
Desse modo, identificar os bairros mais frágeis da cidade permite que se
estabeleça um grau de prioridade no direcionamento de políticas públicas para a
mitigação destes problemas e que visem o bem-estar da sociedade e o direcionamento
planejado de recursos.
Com base nos resultados alcançados foi possível identificar que as regiões Norte
e Oeste são as mais vulneráveis e são as que demandam maior necessidade de
planejamento que visem a implementação de ações para reverter o cenário de
vulnerabilidade socioambiental que apresentaram. As questões representadas pelos temas
Saúde, Educação e cultura, Trabalho e renda e Infraestrutura urbana, foram as mais
116
latentes, constituindo aspectos sociais fundamentais para que qualquer cidadão possa ter
garantido sua sobrevivência e sua dignidade.
As correlações lineares apresentadas permitiram a identificação das similaridades
e diferenças entre bairros e, sobretudo entre as regiões administrativas, delineando
análises mais aprofundadas e permitindo descobrir minúcias da cidade não perceptíveis
em uma primeira análise. De forma equânime, as questões relativas às problemáticas
sociais foram as que se apresentaram mais negativamente, demandando maior atenção
por parte da gestão pública e, por conseguinte, urgência no seu equacionamento.
Desse modo, verifica-se a importância de analisar a cidade com um olhar mais
direcionado para cada região e para cada bairro, pois cada um apresentaram
especificidades que os colocam em divergência em vários aspectos, mesmo quando
exibem as mesmas problemáticas. Estas observações ficam evidentes quando se
compreende o surgimento histórico de cada região, de cada bairro e seus respectivos
processos de ocupação espacial, compreendendo também, as suas necessidades mais
prementes.
Nesse sentido, torna-se urgente que se pense a cidade de modo que o seu
crescimento aconteça de forma equitativa, que os recursos possam ser direcionados
levando em conta as necessidades de cada bairro e de cada região e que todos possam
usufruir de forma igualitária da cidade em que moram.
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119
preocupante, pois coloca a cidade frente a muitas problemáticas que demandam urgência
como forma de garantir condições mínimas de qualidade de vida aos seus citadinos.
Ademais, é importante destacar a necessidade de analisar a cidade com um olhar mais
direcionado para cada região e para cada bairro, pois cada um apresentam especificidades
que os colocam em divergência em vários aspectos, mesmo quando exibem as mesmas
problemáticas.
Esta percepção é endossada pela reflexão feita por Kowarick (2000) que chama
atenção ao pontuar que os principais investimentos públicos são comumente realizados
em áreas onde vivem e trabalham os grupos com renda média e alta, e que os
investimentos públicos em bens de consumo coletivo, têm sido tradicionalmente
realizados com prejuízo para a grande massa de trabalhadores. São estas ações por parte
do Estado que privilegiam uma parcela da população e segrega a outra parcela que tem o
direito à cidade negado.
Os indicadores que obtiveram um nível alto ou muito alto para a vulnerabilidade,
foram identificados nos bairros mais periféricos e mais pobres, em áreas com más
condições urbanísticas e sanitárias, denotando uma concentração de indicadores avaliados
negativamente e revelando uma cidade que não é vista pelos turistas e pelos moradores
das regiões mais abastadas.
Desse modo, o estudo apresentado representa um conjunto de informações da
cidade de Natal (RN) de fácil entendimento e capaz de gerar comunicação na sociedade
e fornecer informações adequadas para a tomada de decisão. Portanto, poderá servir de
suporte aos interesses do poder público, pois poderá avaliar e monitorar os indicadores
em dado espaço temporal, garantindo eficiência das políticas adotadas e, por conseguinte,
melhorando a cidade para os cidadãos.
Com base as considerações apresentadas, este estudo é constituído de avanços
significativos nos estudos que envolve indicadores e vulnerabilidade socioambiental no
contexto urbano. Além disso, é um instrumento importante que estabelece uma relação
entre o ambiente acadêmico e a sociedade civil, viabilizando o debate entre tais partes e,
por conseguinte, possibilitando a estruturação de planos de desenvolvimento pautados na
construção de uma sociedade justa e equitativa.
No entanto, não se apresenta aqui a intenção de exaurir a discussão sobre os
indicadores que visem a análise da vulnerabilidade socioambiental para as cidades
brasileiras, mas, sobretudo, contribuir com os estudos sobre a temática dada a sua
complexidade de entendimento e análise.
122
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125
ANEXOS
127
Comprovante de que o artigo foi aceito para publicação - Artigo que compõe o
capítulo 01:
Comprovante de que o artigo foi aceito para publicação - Artigo que compõe o
capítulo 02:
128