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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

INDICADORES DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: proposição de


framework e aplicação na cidade de Natal - RN

ANA CECÍLIA FEITOSA DE VASCONCELOS

Natal - RN
2019
ANA CECÍLIA FEITOSA DE VASCONCELOS

INDICADORES DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: proposição de


framework e aplicação na cidade de Natal - RN

Tese apresentada ao Curso de Doutorado


em Desenvolvimento e Meio Ambiente,
associação ampla em Rede, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Doutor.

Orientadora: Profª. Drª. Eliza Maria Xavier Freire.


Co-orientador: Prof. Dr. Gesinaldo Ataíde Cândido.

2019
Natal - RN
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Rodolfo Helinski - Escola Agrícola de Jundiaí - EAJ

Vasconcelos, Ana Cecília Feitosa de.


Indicadores de vulnerabilidade Socioambiental: proposição de
framework e aplicação na cidade de Natal - RN / Ana Cecília
Feitosa de Vasconcelos. - 2019.
127 f.: il.

Tese (doutorado) - Programa de Pós-Graduação em


Desenvolvimento e Meio Ambiente, Centro de Biociências,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2019.
Orientador: Profa. Dra. Eliza Maria Xavier Freire.
Coorientador: Prof. Dr. Gesinaldo Ataíde Cândido.

1. Vulnerabilidade Socioambiental - Indicadores - Tese. 2.


Indicadores Socioambientais - Natal (RN) - Tese. 3. Meio
ambiente - Tese. 4. Sociedade -Tese. I. Freire, Eliza Maria
Xavier. II. Cândido, Gesinaldo Ataíde. III. Título.

RN/UF/BCZM CDU 502.1(813.2)

Elaborado por SARA SUNARIA DE ALMEIDA SILVA XAVIER - CRB-15/572


ANA CECÍLIA FEITOSA DE VASCONCELOS

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente,


associação ampla em Rede, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor.

Aprovado em: 08 de março de 2019.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________
Profª Drª Gesinaldo Ataíde Cândido (Co-Orientador)
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

__________________________________________________
Profº. Drº. Sérgio Murilo Santos de Araújo
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

_______________________________________________
Profª. Drª. Mônica Maria Souto Maior
Instituto Federal da Paraíba (IFPB)

______________________________________________
Profª Drª Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

______________________________________________
Profº. Drº. Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DDMA/ UFRN)
DEDICATÓRIA

Pela certeza que tenho na vida após a vida,


dedico esta tese àquela que trilhou esse
caminho junto comigo sem medir esforços
para que esse momento se concretizasse. À
minha mãe, Elsa Feitosa, a minha gratidão
pela vida!
AGRADECIMENTOS

A conclusão de um curso de doutoramento é um objetivo de vida alcançado e


sonhado em conjunto com muitas pessoas da minha vida. Escrever os agradecimentos é
um momento muito especial por me fazer recordar de muitos momentos sublimes, nem
sempre fáceis, mas decisivos para o cumprimento dessa jornada.
Difícil é elencar todos os atores que, de alguma forma, estiveram presentes na
minha vida ao longo desses quatro anos. Mesmo correndo o risco de omitir ou deixar de
lado alguém e, sem a intenção de cometer alguma injustiça, gostaria de agradecer a
contribuição de algumas pessoas em particular.
Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES, pelo suporte financeiro por meio do Edital Nº55/2013 Pro-Integração/CAPES.
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e ao Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela oportunidade de cursar
uma pós-graduação em uma universidade pública e de forma gratuita.
Aos Professores do Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, pelos
ensinamentos compartilhados e que muito contribuíram para o enriquecimento dos meus
conhecimentos.
À David e Érica pela disponibilidade e presteza de quem sempre estavam
dispostos a nos ajudar.
À Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e aos colegas da
Unidade Acadêmica de Administração e Contabilidade (UAAC), por terem concedido
minha liberação para que esse projeto pessoal e profissional pudesse ser concretizado.
À Professora Dra. Eliza Freire, minha querida e admirada orientadora, pelo
exemplo de pesquisadora e profissional e pela referência que se tornou na minha vida.
Obrigada por todo o seu apoio, incentivo, pelo exemplo de força e coragem ao longo
desses quatro anos.
Ao Professor Dr. Gesinaldo Ataíde Cândido, co-orientador e amigo, por confiar
no meu trabalho. Obrigada por seu apoio, incentivo, amizade e paciência despendidas ao
longo desses anos e que tanto contribuíram para o meu crescimento profissional e pessoal.
Aos Professores Dr. Sérgio Murilo Santos de Araújo, Dra. Mônica Maria Souto
Maior, Dra. Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo e Dr. Magdi Aloufa, por se
disporem a participar da banca examinadora e pelas importantes contribuições a este
trabalho.
Ao LabHerpeto pelo compartilhamento de conhecimento e pelos cafés de fim de
tarde que renovavam nossas forças.
Às meninas do GEGIT pela parceria, pelos cafés diários e pela companhia nos
momentos difíceis. A presença de vocês contribuiu para que o caminho fosse mais leve e
mais divertido.
Aos meus colegas de turma Douglisnilson, Ilton, Josimar, Luciana, Luziana,
Mikaelle e Thiago pela amizade construída e pelo conhecimento compartilhado.
À Mikaelle Kaline, presente que o doutorado me deu. Gratidão por sua amizade
e por todo o apoio e incentivo em todos os momentos.
Aos meus queridos amigos da SEJA, pelo apoio incondicional, pelo colo sempre
disponível e pela força quando as minhas faltaram.
Aos meus pais, à minha família, em especial aos meus irmãos Arrinho,
Viviane, Eduardo e Stephanie, e meus cunhados Rodolfo e Luana. Obrigada por
cuidarem de mim e pelo apoio concedido em todas as decisões que tomei na minha vida.
Obrigada por acreditarem!
À Maria Eduarda, minha amada sobrinha, a “ratinha de titia”, que me ensina e
me inspira todos os dias a ser uma pessoa melhor.
À Paulo Ribeiro, meu esposo amado, por sua presença constante, por ser força
quando eu quis sucumbir, por ser colo quando precisei chorar, por ser pleno em amor.
Gratidão por sua presença em minha vida e por toda ajuda no desenvolvimento desse
trabalho. Sem você, eu não teria conseguido!
Sobretudo, agradeço à Deus, por renovar a cada dia o dom de minha vida, ser luz
no meu caminho, ser força quando sou fraca e ser a perene e mais presente companhia
nos momentos de imprescindível solidão.
Por fim, sou grata a tantas outras pessoas que, de forma direta ou indireta, também
partilharam comigo desta conquista.
Meus sinceros agradecimentos a todos vocês!
“Acredite e não se explique
pois poucos vão entender:
só se compreende um sonho
se o sonhador for você.
Há quem possa lhe animar,
há quem possa duvidar,
há quem lhe faça seguir.
Mas não descuide um segundo
pois muita gente no mundo
quer lhe fazer desistir.

Acredite, pense e faça,


use sua intuição,
transforme sonho em suor,
pensamento em ação.
Enfrente cada batalha
sabendo que a gente falha
e que isso é natural,
cair pra se levantar,
aprender para ensinar
que o bem é maior que o mal.”

(Bráulio Bessa)
APRESENTAÇÃO

A Tese tem como título “INDICADORES DE VULNERABILIDADE


SOCIOAMBIENTAL: proposição de framework e aplicação na cidade de Natal -
RN” e, conforme padronização aprovada pelo colegiado do Doutorado em
Desenvolvimento e Meio Ambiente (DDMA) local, se encontra composta por uma
Introdução geral (embasamento teórico e revisão bibliográfica do conjunto da temática
abordada, incluindo a identificação do problema da Tese), uma Caracterização geral da
Área de estudo, Metodologia geral empregada para o conjunto da obra e por três Capítulos
que correspondem a artigos científicos. O Capítulo 1, intitulado de “Vulnerabilidade
Socioambiental: proposição de temas e indicadores para cidades brasileiras”, submetido
e aprovado pela Revista Gaia Scientia. O capítulo 2, intitulado “Vulnerabilidade
Socioambiental: uma análise dos indicadores na cidade de Natal (RN)”, submetido e
aprovado pela Revista RICCA e o capítulo 3, intitulado “Análise hierárquica e de
correlação entre as regiões administrativas de Natal (RN) baseada em indicadores de
vulnerabilidade socioambiental” que foi submetido à Revista Urbe. Os 03 artigos estão
no formato do periódico aos quais foram aceitos e as informações referentes a cada
periódico consta no rodapé da página inicial de cada artigo. Ainda compõe o presente
trabalho o item de Considerações Finais, as Referências Gerais e os Anexos.
RESUMO

INDICADORES DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: proposição de


framework e aplicação na cidade de Natal - RN

A definição de vulnerabilidade socioambiental envolve uma percepção mais integrada


das condições de vida de uma dada população. Deve-se olhar e perceber que os impactos
advindos dos desastres naturais reconfiguram os cenários urbanos e impactam a forma e
condição de vida das pessoas, mas também, que o contexto de construção da sociedade e
do processo de expansão urbana nas cidades brasileiras, faz com que uma parte da
população desconheça seus direitos e experimentem de forma intensa uma sobreposição
de desigualdades sociais: pobreza, segregação espacial, ausência de conforto urbano e,
principalmente, os direitos à cidadania. Nesse contexto, esta tese tem como objetivo
propor um modelo para análise da vulnerabilidade socioambiental de cidades brasileiras,
a partir da proposição de um conjunto de indicadores sociais e ambientais que considerem
questões sociais e urbanas. Para tanto, caracteriza-se quanto ao método como dedutivo,
classificando-se como pesquisa qualitativa e quantitativa. Quanto aos objetivos se
caracteriza como sendo uma pesquisa exploratória e descritiva, por se tratar de um tema
atual, recente e que abre várias possibilidades de investigação, oferecendo subsídios para
ampliar o debate e propiciando significativas contribuições científicas e práticas. Os
resultados apresentam um conjunto de oito temas e 133 indicadores que viabilizam uma
nova perspectiva para a análise da vulnerabilidade socioambiental, os quais foram
aplicados na cidade de Natal (RN) e apontaram que o nível de vulnerabilidade socioambiental
foi de 0,4709, classificado como ‘Alto’. Esse resultado é considerado insatisfatório e preocupante,
pois coloca a cidade frente a muitas problemáticas que demandam urgência na sua resolução,
como forma de garantir condições mínimas de qualidade de vida aos seus citadinos. No entanto,
é importante salientar a importância de analisar a cidade com um olhar mais direcionado para
cada tema e cada indicador analisado e identificar quais deles necessitam de mais atenção para
sanar as problemáticas que os envolvem. Ademais, foi possível identificar que a região Norte
foi a que apresentou o nível de vulnerabilidade classificado como ‘Alto’. Essa também é
a região mais pobre de Natal e, por conseguinte, a que apresenta os problemas mais
latentes nas questões referentes aos temas analisados, sobretudo, Saúde, Trabalho e renda,
Infraestrutura Urbana, Educação e cultura. Tal fato o coloca em um nível de correlação
linear fraca e de disparidade frente as regiões mais abastadas da cidade: região Leste e
região Sul. Desse modo, o estudo apresentado representa um conjunto de informações da
cidade de Natal (RN) de fácil entendimento e capaz de gerar comunicação na sociedade
e fornecer informações adequadas para a tomada de decisão. Portanto, poderá servir de
suporte aos interesses do poder público, pois poderá avaliar e monitorar os indicadores
em dado espaço temporal, garantindo eficiência das políticas adotadas e, por conseguinte,
melhorando a cidade para os cidadãos.

Palavras-chave: Indicadores. Vulnerabilidade Socioambiental. Social. Ambiental.


Cidades.

Páginas: 127
ABSTRACT

SOCIOENVIRONMENTAL VULNERABILITY INDICATORS: proposal of


framework and application in the city of Natal - RN

The definition of socio-environmental vulnerability involves a more integrated perception


of the living conditions of a given population. It should be noted that the impacts of
natural disasters reconfigure urban scenarios and impact the form and condition of
people's lives, but also, that context of society construction and the process of urban
expansion in Brazilian cities, makes a part of the population does not know their rights
and intensely undergo an overlapping of social inequalities: poverty, spatial segregation,
lack of urban comfort and, above all, the rights to citizenship. In this context, this thesis
aims to propose a model for the analysis of socio-environmental vulnerability of Brazilian
cities, based on the proposal of a set of social and environmental indicators that consider
social and urban issues. For this, it is characterized concerning the method as deductive,
being classified as qualitative and quantitative research. Regarding the objectives, it is
characterized as an exploratory and descriptive research, because it is a current and recent
theme that opens up several possibilities for investigation, offering subsidies to broaden
the debate and providing significant scientific and practical contributions. The results
present a set of eight themes and 133 indicators that make possible a new perspective for
the socio-environmental vulnerability analysis, which were applied in the city of Natal
(RN) and indicated that the level of socio-environmental vulnerability was 0.4709,
classified as 'High'. This result is considered unsatisfactory and worrying, because it
places the city in front of many problems that demand urgency in its resolution, as a way
of guaranteeing minimal quality of life conditions for its citizens. However, it is important
to stress the importance of analyzing the city with a more targeted look at each theme and
each indicator analyzed and identifying which ones need more attention to address the
issues that surround them. In addition, it was possible to identify that the North region
was the one that presented the level of vulnerability classified as 'High'. This is also the
poorest region of Natal and, therefore, the one that presents the most latent problems in
the issues related to the topics analyzed, especially Health, Work and Income, Urban
Infrastructure, Education and Culture. This fact places it in a level of weak linear
correlation and disparity against the richest regions of the city: East region and South
region. Thus, the presented study represents a set of information of the city of Natal (RN)
of easy understanding and capable of generating communication in society and providing
adequate information for decision making. Therefore, it can support the interests of public
power, since it can evaluate and monitor the indicators in a given time space, guaranteeing
efficiency of the adopted policies and, consequently, improving the city for the citizens.

Keywords: Indicators. Socio-environmental vulnerability. Social. Environmental. Cities.

Pages: 127
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Estrutura da Tese ............................................................................................. 22


Figura 2: Mapa de localização da cidade de Natal – RN................................................ 35
Figura 3: Mapa das regiões administrativas e bairros da cidade de Natal – RN ............ 37
Figura 4: Framework proposto para análise da vulnerabilidade socioambiental em
cidades brasileiras ........................................................................................................... 40
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Sistemas de Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental ....................... 31


Quadro 2: Aspectos tratados pelos autores para estudar as problemáticas urbanas ....... 33
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO GERAL ............................................................................................ 15


1.1 Caracterização do problema ......................................................................... 15
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ....................................................................... 20
1.2.1 Objetivo Geral .............................................................................................. 20
1.2.3 Objetivos Específicos.................................................................................... 20
1.3 Estrutura do trabalho ......................................................................................... 20
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................... 24
2.1 Urbanização no Brasil ........................................................................................ 24
2.2 Vulnerabilidade Socioambiental ....................................................................... 27
2.3 Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental ............................................. 30
3 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO ......................................... 34
4 METODOLOGIA GERAL ......................................................................................... 38
4.1 Caracterização da pesquisa................................................................................ 38
CAPÍTULO 01 ............................................................................................................... 42
CAPÍTULO 02 ............................................................................................................... 69
CAPÍTULO 03 ............................................................................................................... 94
CONSIDERAÇÕES FINAIS DA TESE ...................................................................... 119
REFERÊNCIAS DO CONTEÚDO INTRODUTÓRIO DA TESE ............................. 122
ANEXOS ...................................................................................................................... 126
ANEXO I – Aceite e submissões dos artigos ......................................................... 127
15

1 INTRODUÇÃO GERAL

1.1 Caracterização do problema

A intensidade com que o processo de urbanização ocorreu no Brasil no século XX foi


uma das principais causas que fomentaram as problemáticas sociais que envolveram e
ainda envolvem o país até os dias atuais. Ao passo que a urbanização impulsionou o
crescimento econômico, favoreceu um cenário de injustiças e desigualdades. Uma das
principais características do processo de urbanização era ter, na construção das cidades,
um meio de dominação no qual explorar e enriquecer eram prioridades maiores que cuidar
e planejar o seu surgimento adequado.
Conforme expõe Maricato (2001), o surgimento dos primeiros centros urbanos se
deu com os espaços de financiamento de comercialização dos bens primários. Esses
espaços surgiram em função da produção, em meados do século XVI em função da
produção do açúcar; nos séculos XVII e XVIII com a descoberta do ouro; e no século
XIX com a produção de café como necessidade de um ambiente de comercialização
desses produtos que atendessem ao mercado europeu.
Observa-se, desse modo, que a história da urbanização brasileira tem sua raiz no
período colonial. Neste período, já havia no Brasil cidades de grande porte; entretanto, só
a partir da virada do século XIX que o processo de urbanização da sociedade brasileira
começa realmente a se consolidar. Conforme reitera Maricato (2001), essa urbanização
foi impulsionada por vários fatores, dentre eles: a libertação dos escravos em 1888,
Proclamação da República 1889 e a expansão da indústria, que, ainda incipiente, se
desenrolava na esteira das atividades ligadas à cafeicultura e às necessidades básicas do
mercado interno.
Com o passar dos anos, com o início do processo de industrialização, da
concentração fundiária e da mecanização do campo, o país começa a apresentar as
condições favoráveis para o aumento do êxodo rural que está diretamente ligado ao
excedente de mão-de-obra no campo, favorecendo a mudança do modelo agrário-
exportador para um modelo predominantemente urbano-industrial. É nesse contexto que
o fenômeno da urbanização começa a se consolidar e demonstrar suas características, de
forma mais intensa, na paisagem urbana das cidades e metrópoles brasileiras.
A partir da década de 1930 foi que o Estado passou, de fato, a investir em uma
melhor infraestrutura nas cidades, permitindo com que houvessem melhores condições
16

para o desenvolvimento industrial, como forma de atender, principalmente, a substituição


de importações, delineando-se assim, um contexto em que a burguesia industrial assume
a dominação política do país. No entanto, esse período é caracterizado pelo fortalecimento
da economia interna e das forças de produção e modernização da sociedade
(MARICATO, 2001). Assim, esse processo de industrialização deve ser compreendido
em seu sentido mais amplo, não só como promotora de atividades industriais nas cidades,
mas também, como processo social complexo e propulsor da urbanização no país. Dessa
forma, a urbanização, segundo Castells (2006), deve ser entendida como um processo que
se refere à criação de formas espaciais em função da concentração de atividades e pessoas
em um único espaço, ao mesmo tempo que se tem a presença e a cultura constituída por
hábitos da vida urbana.
Neste contexto, o processo de urbanização passa a ter um papel preponderante na
estruturação da moderna sociedade, pois assim como o território, a própria sociedade
impulsiona o seu processo de urbanização, não só com o foco nas atividades econômicas,
mas, sobretudo, como incentivadora de novos padrões de relações sociais, como as de
produção e de estilo de vida (LEFEBVRE, 2008).
No âmbito brasileiro, observa-se que o processo de urbanização caracteriza-se
como acelerado, desigual e concentrador, bem como diversificado e completo em virtude
de ter acontecido de forma heterogênea nos variados territórios do país (SANTOS, 2013).
O intenso e desordenado processo de urbanização, derivado da falta de um melhor
planejamento urbano, ocasionou uma série de impactos e consequências para as cidades,
dentre as quais pode-se citar a favelização, o aumento da violência nas cidades, os níveis
de poluição, maior incidência de enchentes e aumento do número de subempregos.
É fato que o crescimento urbano é um processo diferenciado de região para região
e entre os países, sobretudo, nos países em desenvolvimento, onde coexistem
significativas desigualdades sociais, grandes injustiças ambientais atreladas à ausência e
à privação de liberdades substantivas (SEN, 2000). Essa disparidade torna-se mais
premente à medida que se observam as dificuldades históricas de expansão de direitos, e
que, na atualidade, está diretamente interligada com restrições e processos de destituição
de direitos civis e sociais.
É importante salientar que o aumento da riqueza no mundo é muito superior ao
aumento da população, mas também cresce na mesma proporção o grau de pobreza e o
número de pobres (ROGERS, 2015). Assim, muitos destes pobres passam a viver em
17

lugares desfavoráveis, expostos a níveis de pobreza social e ambiental, em um processo


de retroalimentação de destruição e poluição.
Na maioria das cidades brasileiras é bastante visível a segmentação socioespacial,
onde a parte mais periférica, constituída pela parte mais pobre da população, encontra-se
desprovida de serviços e até mesmo de espaços adequados de convivência social. Isto
demonstra que uma parte da população fica à margem da vida das cidades, que para
Kaztmam (2005), forma um processo de segregação e “isolamento social” resultante da
precariedade e instabilidade do mercado de trabalho e segmentação dos serviços que não
são oferecidos a esta parte da população. Conclui-se, desse modo, que a pobreza é
resultante não só do modelo socioeconômico vigente, mas também da forma como se
apresenta a estrutura espacial da cidade que faz com que determinadas regiões estejam
mais suscetíveis a um processo de vulnerabilidade.
A vulnerabilidade possui diversos significados e diversas percepções de análise.
No entanto, pode ter pelo menos duas linhas de interpretações bem definidas:
a) enfoque em aspectos biofísicos em que consideram que as pessoas mais
vulneráveis são os que vivem em ambientes físicos precários ou em ambientes que terão
os efeitos físicos, ocasionados pelas mudanças climáticas, mais intensos (LIVERMAN,
2001; TOMINAGA et al. 2009);
b) entendimento de que existem múltiplos fatores e processos (ambientais, sociais,
econômicos, políticos e culturais) que influenciam a vulnerabilidade dos indivíduos e sua
capacidade de resposta frente aos efeitos das mudanças climáticas. (BLAIKIE et al. 1994;
CUTTER, 1996; CUTTER et al. 2003; O’BRIEN et al. 2004; 2013; WISNER et al. 2004;
ALEXANDER, 2011; ADGER et al. 2009; 2013).
Não é só a relação natureza e sociedade que gera a vulnerabilidade, mas existe
vulnerabilidade em relação a direitos básicos, na medida em que não só os sistemas
públicos de proteção social foram sempre restritos e precários, como também, em anos
recentes, houve desmonte de serviços e novas regulamentações que se traduziram em
perda de direitos adquiridos (KOWARICK, 2000). Desse modo, se reconhece que o
estudo da vulnerabilidade socioambiental envolve uma discussão ampla, por ter caráter
multi e interdisciplinar.
A compreensão de vulnerabilidade envolve também aspectos relacionados à
gestão urbana, pois, como apresentam Dubois-Maury e Chaline (2002, p. 10), “a
vulnerabilidade da cidade concerne evidentemente aquela dos homens e dos bens que ela
18

concentra, mas ela implica, muitas vezes também, aquela de seus poderes, de sua imagem
e de sua dimensão”.
Em um de seus trabalhos, Cutter (2011) se refere à necessidade de uma abordagem
integradora e interdisciplinar para o estudo da vulnerabilidade social e/ou socioambiental
e essa necessidade decorre, sobretudo, da complexidade das interações entre os sistemas
naturais, sociais, econômicos e culturais em jogo. A autora elege também, como princípio
fundamental o que chama a "ciência da vulnerabilidade", o "requisito do conhecimento
geoespacial da investigação, com base nos locais" (CUTTER, 2011, p. 61), relacionando
ao conjunto das profundas transformações sociais, econômicas e ambientais que afetam,
pelo mundo inteiro, as pessoas ou grupos de pessoas (KOWARICK, 2009).
Além desta, outra discussão se destaca como um dos principais desafios à análise
da vulnerabilidade: a criação de instrumentos de mensuração que sejam capazes de
retratar uma realidade vivida por muitos e percebida por poucos. Em uma análise mais
específica, verifica-se, inicialmente, nos indicadores uma oportunidade de mensurar
variáveis de grande representatividade para o contexto contemporâneo. Ademais, a sua
utilização possibilita traçar diagnósticos acerca das reais circunstâncias nas quais as
variáveis se apresentam.
Alguns autores (FERREIRA, 2000; 2004; BRAGA ET AL. 2006; EVANS ET
AL. 2009; MORAN, 2009; 2011; BUARQUE ET AL. 2014) apontam para a necessidade
cada vez mais urgente de se desenvolver abordagens interdisciplinares e que ofereçam
métodos de integração, análise e monitoramento dos processos de mudanças em sistemas
ecológicos e sociais (CLARK, 1985; TURNER II et al., 1990; ROTMANS e
ROTHMAN, 2003; MEA, 2003; 2006; VANWEY et al., 2009; MORAN, 2011).
De acordo com o documento final da Conferência Mundial para a Redução de
Desastres em Kobe (UN, 2005) é latente a necessidade de se desenvolver sistemas de
indicadores de risco e vulnerabilidade nos níveis nacional e subnacional como forma de
permitir aos tomadores de decisão um melhor diagnóstico das situações de risco e
vulnerabilidade.
O sistema de indicadores que analise a vulnerabilidade socioambiental deve ser
absolutamente transparente, de fácil entendimento, capaz de gerar comunicação na
sociedade e fornecer informações adequadas para a tomada de decisão. Deve servir de
suporte aos interesses do poder público, avaliando a eficiência das políticas adotadas e
servindo aos interesses dos cidadãos.
19

Ademais, é preciso compreender que a definição de vulnerabilidade


socioambiental deve envolver uma percepção mais integrada das condições de vida de
uma dada população. Deve-se olhar e perceber que os impactos advindos dos desastres
naturais reconfiguram os cenários urbanos e impactam a forma e condição de vida das
pessoas, mas também, que o contexto de construção da sociedade e do processo de
expansão urbana nas cidades brasileiras, faz com que uma parte da população desconheça
seus direitos e experimentem de forma intensa uma sobreposição de desigualdades
sociais: pobreza, segregação espacial, ausência de conforto urbano e, principalmente, os
direitos à cidadania.
É importante destacar que o Brasil, por se caracterizar como um país tropical e
está no centro de uma placa tectônica, não sofre com grandes catástrofes causadas por
fenômenos naturais, tais quais terremotos, vulcões e furacões, os quais caracterizam o
cerne dos estudos sobre vulnerabilidade socioambiental. Conforme expõe Almeida
(2012), diante dessas condições geoambientais, os perigos naturais mais recorrentes no
Brasil e que são mais perceptíveis nas cidades, têm relação com modificações substanciais
no ciclo hidrológico natural, nas mudanças nas formas de uso e ocupação nas cidades. A
impermeabilização do solo, a retilinização de canais fluviais são exemplos de causas que
podem incrementar as inundações e que se tornam potencialmente mais perigosas
(ALMEIDA, 2012).
Nesse contexto, é premente que os estudos que analisem a vulnerabilidade
socioambiental no Brasil, estejam pautados sob a ótica das questões de urbanização, do
crescimento e desenvolvimento das cidades, dos processos de conurbação e periferização.
Por esses motivos, torna-se particularmente importante analisar estas questões nas
capitais brasileiras, dado o processo de adensamento populacional que colaboram para
compor um quadro de vulnerabilidade socioambiental.
Tomando como base todas as discussões até aqui apresentadas, o presente estudo
adota como recorte espacial a cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, em razão
da sua diversidade ambiental e das características sociais da sua população. A referida
capital tem sido alvo de muitos investimentos, sobretudo em torno das atividades
turísticas e do setor imobiliário, tanto no âmbito público quanto no privado, ao passo que
percebe-se outras áreas que, em decorrência do crescimento desordenado, exigem uma
maior demanda por serviços de infraestrutura e moradia. Deste modo, a escolha de Natal
está relacionada ao seu processo de expansão urbana, bem como por sua importância
econômica e política que possui, por ser capital do estado.
20

Nesse contexto, a premissa estabelecida para este estudo é, considerando o


processo de expansão urbana e suas implicações, os espaços territoriais que serão
menos afetados por problemas de ordem social e que possuirão menores níveis de
vulnerabilidade social e ambiental serão os que detém a população com maior poder
aquisitivo.
A partir dessa premissa, pode-se definir o problema da pesquisa como sendo:
Como analisar a vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras
considerando o processo de expansão urbana e suas implicações sociais?

1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

1.2.1 Objetivo Geral

Propor um modelo para análise da vulnerabilidade socioambiental de cidades


brasileiras, a partir da proposição de um conjunto de indicadores sociais e ambientais que
considerem questões sociais e urbanas.

1.2.3 Objetivos Específicos

1. Propor um framework de indicadores que permita avaliar a vulnerabilidade


socioambiental em cidades brasileiras;
2. Definir o percurso metodológico para cálculo do índice de vulnerabilidade
socioambiental;
3. Calcular o índice de vulnerabilidade socioambiental da cidade de Natal;
4. Apresentar como a vulnerabilidade socioambiental dos bairros de Natal se
apresentam hierarquicamente;
5. Analisar as correlações lineares existentes entres as regiões de Natal.

1.3 Estrutura do trabalho

Este trabalho está estrutura atendendo a padronização estabelecida pelo Programa


de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, associação ampla em Rede, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Portanto, é composto da Introdução Geral,
Caracterização geral da área de estudo, Metodologia Geral (utilizada para o conjunto do
trabalho) e as metodologias específicas utilizadas para a realização de cada capítulo. Por
21

fim, apresenta-se 3 capítulos que correspondem a artigos científicos submetidos à


publicação.
O Capítulo 1, intitulado de “Vulnerabilidade Socioambiental: proposição de temas
e indicadores para cidades brasileiras”, submetido e aprovado pela Revista Gaia Scientia.
O capítulo 2, intitulado “Vulnerabilidade Socioambiental: uma análise dos indicadores na
cidade de Natal (RN)”, submetido e aprovado pela Revista RICCA e o capítulo 3,
intitulado “Análise de correlação entre as regiões administrativas de Natal (RN) baseada
em indicadores de vulnerabilidade socioambiental” foi submetido à Revista URBE.
Ainda compõe o presente trabalho o item de Considerações Finais, as Referências Gerais,
os Apêndices e Anexos.
Na Figura 1 é possível observar a estrutura esquemática do trabalho.
22

Figura 1: Estrutura da Tese

INTRODUÇÃO GERAL

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Indicadores de Vulnerabilidade
Urbanização no Brasil Vulnerabilidade Socioambiental
Socioambiental

CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

METODOLOGIA GERAL DA TESE

ARTIGO 01

Vulnerabilidade Socioambiental: proposição de temas e indicadores para cidades brasileiras

ARTIGO 02

Vulnerabilidade Socioambiental: uma análise dos indicadores na cidade de Natal (RN)

ARTIGO 03
Análise de correlação entre as regiões administrativas de Natal (RN) baseada em indicadores de
vulnerabilidade socioambiental

CONSIDERAÇÕES FINAIS
23

É importante considerar que este trabalho é parte integrante dos resultados


alcançados com o Projeto financiado pela CAPES por meio do Edital Nº55/2013 Pro-
Integração/CAPES sob o projeto intitulado “Vulnerabilidade Socioambiental como
decorrência do transbordamento urbano: estudos longitudinais em regiões metropolitanas
no Nordeste brasileiro.” Este projeto aconteceu em integração da Universidade Federal
de Campina Grande (UFCG) por meio do Programa de Pós-graduação em Recursos
Naturais (PPGRN), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFCG) por meio do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente e do Programa de Pós-graduação em Geografia.
24

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Urbanização no Brasil

O processo de urbanização e industrialização no Brasil, especialmente, a partir da


década de 1950 foi fruto de políticas desenvolvimentistas de Estado que trouxe, como
consequência, o acúmulo de população em algumas regiões privilegiadas do país. É nesta
referida década que o processo de industrialização do país está em ascensão e passa a
exigir mão de obra nas cidades. Assim, as regiões mais industrializadas eram as que
detinham o maior poder atrativo, pois revelavam a expectativa de oferecer melhores
condições de vida, representadas na maioria dos casos pelas capitais dos estados
(MARICATO, 2002).
A precariedade da vida no campo levaram grandes fluxos migratórios às cidades,
que vislumbravam nessa ação a possibilidade de obterem melhor qualidade de vida,
melhores oportunidades de trabalho e facilidade de acesso aos serviços básicos de saúde
e educação. Porém, estas expectativas não se concretizaram para a maioria da população
e gradualmente surgiram fenômenos negativos, constituindo-se em graves problemas
urbanos apresentados até hoje, dentre os quais pode-se destacar: invasões, loteamentos
ilegais, favelas e cortiços.
Fatalmente, as desigualdades sociais aumentam exponencialmente e esses grupos
que vivem na margem das cidades, vão sendo cada vez mais empurrados para os vazios
urbanos, comumente constituídos por áreas ambientalmente vulneráveis e com a ausência
de serviços básicos para a sua sobrevivência (esgotamento sanitário, acesso à agua, coleta
de lixo, etc.) Desse modo, o papel do Estado é fundamental, principalmente, porque o
investimento que coloca no tecido urbano é um fator de intensa valorização da terra,
aparecendo como ator importante no processo de especulação imobiliária e segregação
social (KOWARICK, 2000).
O comportamento especulativo do capital imobiliário aliado a uma gestão urbana
omissa, favorece o cenário de vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras, pois
levam os pobres, tidos como a força de trabalho barata e que é excluída do mercado
formal, a buscarem a criação de uma cidade ilegal (MARICATO, 2002).
Nesse sentido, é com esse entendimento que Santos (2013, p.10) apresenta que:
O processo brasileiro de urbanização revela uma crescente associação com a
da pobreza, cujo locus passa a ser, cada vez mais, a cidade, sobretudo a grande
cidade. O campo brasileiro moderno repele os pobres, e os trabalhadores da
agricultura capitalizada vivem cada vez mais nos espaços urbanos. A indústria
25

se desenvolve com a criação de pequeno número de empregos e o terciário


associa formas modernas a formas primitivas que remuneram mal e não
garantem a ocupação.

É neste cenário de contradições que a desigualdade nas cidades se instala, dado


que uma minoria da população rica e com infraestrutura, consegue ter acesso a melhores
condições de trabalho, de renda e de moradia e, por que não dizer, urbanísticas. Por outro
lado, a maioria da população que é pobre fica a margem da cidade, em uma situação de
exclusão, em trabalhos precários, em condições arriscadas de moradia e sem ter acesso a
vida da cidade.
Neste cerne, Kowarick (2000) chama a atenção ao pontuar que os principais
investimentos públicos são comumente realizados em áreas onde vivem e trabalham os
grupos com renda média e alta, uma vez que os investimentos públicos em bens de
consumo coletivo, têm sido, tradicionalmente, realizados com prejuízo para a grande
massa de trabalhadores. São nestas ações por parte do Estado que privilegiam uma parcela
da população e segrega a outra parcela que tem o seu direito à cidade negado.
O termo “direito à cidade” foi inicialmente posto por Henri Lefebvre em sua obra
“O direito à cidade” que teve sua primeira publicação em 1968, cujo título original é Le
Droit à la ville. De um modo geral, o direito à cidade defendido por este autor, se entrelaça
com o próprio direito à vida. Seria o “direito à vida urbana, à centralidade renovada, aos
locais de encontro e de trocas, aos ritmos de vida e empregos do tempo que permitem o
uso pleno e inteiro desses momentos e locais” (LEFEBVRE, 2008, p. 143). É importante
destacar que a vida urbana, para o autor Lefebvre (2008, p. 15), implicaria “encontros,
confrontos das diferenças, conhecimentos e reconhecimentos recíprocos (inclusive no
confronto ideológico e político) dos modos de viver”.
De forma prática, Maricato (2002) exprime que no Brasil, a população
trabalhadora não consegue ter acesso a cidade formal que muitas vezes constroem com
as próprias mãos. Esta fatia da população está restrita na periferia, excluída, sem acesso
a transporte público de qualidade, sem escolas, sem universidades, sem saneamento, sem
iluminação pública, sem vida. É esta parcela da população que tem o seu direito à cidade
negado.
Conforme explicita Harvey (2014), o direito a cidade é muito mais do que a
liberdade individual para acessar recursos urbanos, mas constitui também o direito de
mudar a si por mudar a cidade. Ademais, envolve um direito coletivo, uma vez que exige
o envolvimento da coletividade para dar nova forma ao processo de urbanização.
26

Quando se conjectura sobre o direito à cidade, inevitavelmente, se reflete sobre os


aspectos que são fundamentais à vida urbana: o direito à moradia digna e que fomente as
relações sociais, espaços urbanos que estimulem a participação das pessoas nas ruas, nas
praças, nos calçadões, proporcionando maior convivência entre as pessoas e um
sentimento de pertencimento à vida da cidade. É na cidade e no uso que se faz dela, que
as pessoas socializam, se comunicam, se transformam e as mantem viva, ou seja, é uma
via de mão dupla: as pessoas precisam dos espaços das cidades para viver e as cidades
existem porque existem pessoas que a fazem estruturalmente e dinamicamente.
Nesse sentido, vale lembrar o que disse Swyngedouw (2001, p. 84) sobre a relação
sociedade-natureza na cidade:
[...] a cidade e o processo urbano são uma rede de processos entrelaçados a um
só tempo humanos e naturais, reais e ficcionais, mecânicos e orgânicos. Não
há nada “puramente” social ou natural na cidade, e ainda menos antissocial ou
antinatural; a cidade é, ao mesmo tempo, natural e social, real e fictícia. Na
cidade, sociedade e natureza, representação e ser são inseparáveis, mutuamente
integradas, infinitamente ligadas e simultâneas; essa “coisa” híbrida
socionatural chamada cidade é cheia de contradições, tensões e conflitos.

Compreender essas múltiplas faces que envolve o cenário urbano é desafiador,


principalmente, na tentativa de resolver as problemáticas que o circundam. É fato que
ações foram e continuam sendo implementadas, no entanto, não são suficientes para
diminuir ou resolver os problemas que envolvem a maioria da população que é pobre e
vive à margem e de forma precária nas cidades.
A concentração da população nas áreas urbanas tem transformado as cidades em
lugar oposto à sua proposta, que é de ser um lugar para se viver bem (RATTNER, 2009).
Assim, as populações, sobretudo, as de baixa renda esperam do Estado uma resposta que
visem a melhor organização do território, mitigando os problemas urbanos e
proporcionando a todos acesso à cidade.
Nesse sentido, Rogers (2008), expõe que as cidades cresceram e transformaram-
se em estrutura tão complexas e difíceis de administrar que raramente são lembradas
como um espaço para satisfação das necessidades humanas e sociais da população. Por
esse motivo, o planejamento urbano tem a função de ordenamento, na tentativa de
reestabelecer o crescimento desordenado das cidades e torná-las capazes de oferecer
qualidade de vida para os cidadãos.
A Lei nº 10.257 de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade, 2001) regulamenta
os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1998 e constitui o capítulo relativo à
Política Urbana. Com esta Lei, o Brasil reúne normas relativas ao uso da propriedade
27

urbana que seja do interesse público, à segurança e bem estar dos cidadãos e o equilíbrio
ambiental.
A instituição do Estatuto da Cidade, gera a expectativa de que haja uma mudança
no cenário dicotômico e excludente que permeiam as cidades, muito embora se saiba que
a lei, por si só, não resolverá nenhum dos problemas existentes. No entanto, constitui uma
importante ferramenta de ação para o direcionamento das políticas urbanas que podem
viabilizar ações para minimizar os graves problemas existentes nas cidades brasileiras e
que coloca a população em um quadro de agravamento de exclusão social e,
consequentemente, de vulnerabilidade socioambiental.
Isso posto, a busca pelo equacionamento dos problemas nas cidades brasileiras,
demanda a elaboração do planejamento urbano e a implementação de ações capazes de
entender as especificidades de cada cidade, de cada bairro, proporcionando melhores
condições de vida e a minimização dos aspectos que os colocam em um cenário de riscos
e de vulnerabilidade socioambiental.

2.2 Vulnerabilidade Socioambiental

O conceito de vulnerabilidade auxilia no entendimento da desigual exposição aos


fatores ameaçantes. Para tanto, para se compreender o conceito de vulnerabilidade é
preciso compreender o conceito de risco, uma vez que estão interligados.
De uma forma ampla, o risco “refere-se à probabilidade de ocorrência de
processos no tempo e no espaço, não constantes e não determinados, e à maneira como
estes processos afetam (direta ou indiretamente) a vida humana” (CASTRO et al. 2005,
p. 12). Segundo o relatório sobre Redução de Risco de Desastres do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), risco é “o número de mortes em um evento
perigoso em relação à população total exposta a tal evento” (UNDP, 2004; p. 98).
Para Almeida (2012), o risco é um constructo eminentemente social, ou seja, é a
percepção de como um indivíduo enxerga a probabilidade de um perigo acontecer, em
que as consequências decorrem da vulnerabilidade inerente desse indivíduo. Dessa forma,
parte-se do pressuposto comum de que é a vulnerabilidade que explica o porquê dos
diferentes níveis de risco e que diferentes grupos experienciam ao serem submetidos a
perigos naturais de mesma intensidade (BRAGA et al. 2006).
O aumento das desigualdades sociais, da pobreza da segregação socioespacial
correlacionados com a degradação do ambiente são resultantes dos processos de
28

industrialização e urbanização que fez emergir nos anos de 1980, uma abordagem teórico-
metodológica que enfocou os desastres para além dos fatores desencadeantes, mas
considerando, sobretudo, as populações atingidas. Foi a inclusão da análise social dentro
da problemática ambiental, que surge o conceito de vulnerabilidade (ALMEIDA, 2012).
Desse modo, conclui-se que a discussão sobre vulnerabilidade passou a despertar
o interesse de pesquisadores e instituições de pesquisa, em decorrência dos crescentes
índices de desigualdades sociais, da segregação socioespacial e do processo de
urbanização desordenado das cidades.
D’Ercole (1994), Blaikie et al. (1994) e Acserald (2006) estabelecem uma relação
de causa e efeito gerada entre natureza e sociedade, reconhecendo que os fatores de risco
estão associados a um certo grau de exposição a uma situação crítica, natural ou social,
que gera vulnerabilidade em determinados grupos. Sendo assim, a noção de
vulnerabilidade passa a ser um produto de determinados contextos espaciais,
socioeconômicos, demográficos, culturais e institucionais, sensível às condições locais e
à dimensão temporal (KUHLICKE et al. 2011).
Para Cutter (2001) vulnerabilidade corresponde ao “potencial para a perda”. Para
esta autora, a vulnerabilidade inclui tanto os “elementos de exposição ao risco” como os
“fatores de propensão às circunstâncias que aumentam ou reduzem as capacidades da
população, das infraestruturas ou dos sistemas físicos para responder e se recuperar de
ameaças ambientais” (CUTTER; 2011, p. 60).
É nesse sentido que os problemas advindos da poluição e degradação do meio, da
crise dos recursos naturais, das mudanças climáticas que atingem todo o planeta, se
tornam mais impactantes em áreas periféricas, que além de acometidos pela pobreza,
sequer tem os seus direitos civis atendidos. São nessas áreas periféricas que o poder
público, em geral, está ausente e onde existe uma deficiência de estrutura capaz de
oferecer à população oportunidades dignas de serviços, trabalho e lazer.
Estudar a vulnerabilidade envolve uma discussão ampla e relevante por ter caráter
multidisciplinar. Além disso, indica que a suscetibilidade das pessoas a problemas e danos
está relacionada, principalmente, ao conjunto das profundas transformações sociais,
econômicas e ambientais (KOWARICK, 2009). Um conceito viável para analisar essas
relações é o de ‘vulnerabilidade socioambiental’, que pode ser definido como a
coexistência, cumulatividade ou sobreposição espacial de situações de pobreza/privação
social e de situações de exposição a risco e/ou degradação ambiental. Assim, é justamente
29

a combinação dessas duas dimensões – social e ambiental – que está sendo considerada
situação de vulnerabilidade socioambiental (ALVES, 2006).
A compreensão de vulnerabilidade envolve também aspectos relacionados à
gestão urbana, pois, como apresentam Dubois-Maury e Chaline (2002, p. 10), “a
vulnerabilidade da cidade concerne evidentemente aquela dos homens e dos bens que ela
concentra, mas ela implica, muitas vezes também, aquela de seus poderes, de sua imagem
e de sua dimensão”.
Nesse sentido, Mendonça (2010) defende que a vulnerabilidade socioambiental
urbana evidencia a heterogeneidade dos impactos advindos dos riscos que se abatem
sobre uma dada população, constituindo ambos (risco e vulnerabilidade socioambiental
urbana), uma seara de alta complexidade para a compreensão e gestão urbana.
Segundo Jacobi (2006), a dinâmica urbana excludente e segregadora determina
uma paisagem cada vez mais vulnerável, marcada pela prevalência da estratégia de
sobrevivência que privilegia práticas de deterioração do ambiente urbano e exposição ao
risco. Neste sentido, Kowarick (2009) afirma que o quadro de risco de desastres é
decorrente do processo de favelização urbana no Brasil e das precárias condições de vida
das populações pobres aglomeradas em territórios abandonados e excluídos de todos os
direitos.
Nesta perspectiva, a contribuição nos estudos de vulnerabilidade e pobreza tem
focado os aspectos estruturais e subjetivos das famílias, levando em consideração o
contexto em que estão inseridas: pobreza, exclusão/inclusão, periferização, segregação,
dependência e elevado risco (HOGAN; MARANDOLA JR., 2005). Por isso que se
entende que não é apenas a relação natureza e sociedade que gera a vulnerabilidade, mas
existe muita vulnerabilidade em relação a direitos básicos, na medida em que não só os
sistemas públicos de proteção social foram sempre restritos e precários, como também,
em anos recentes, houve desmonte de serviços e novas regulamentações que se traduziram
em perda de direitos adquiridos (KOWARICK, 2000).
Como defende Maior (2014), a experiência desse processo de vulnerabilidade, e
o que fazer com ela, está associado à condição socioambiental da população e sinaliza a
preparação dos indivíduos em busca de seus direitos e também na geração de ativos para
amenização dos problemas, que, no caso das cidades, estão ligados ao processo de
expansão urbana. Assim, os processos de urbanização podem amenizar os efeitos para o
meio ambiente. Deste modo, torna-se necessário induzir ou deduzir quais as
30

consequências e causas de fatores ambientais, sociais e econômicos que geram


vulnerabilidade e, dessa forma, poder intervir.
Com base em todas as discussões até aqui realizadas, é fato que o fenômeno da
vulnerabilidade socioambiental nas cidades envolve também as questões sociais de uma
população que vai ficando cada vez mais à margem das decisões e encaminhamentos do
planejamento urbano. Isso posto, é com esse entendimento que se defende que, para a
análise de problemas complexos como é o caso da vulnerabilidade socioambiental, se
deve pensar na utilização de indicadores que possam estar interligados e que agreguem
informações que possam retratar fielmente uma realidade, bem como para realizar seu
monitoramento e direcionar ações.

2.3 Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental

A palavra indicador é originário do latim indicare e refere-se a algo que serve para
apontar, indicar, estimar, mostrar algo através de sinais ou indícios (HAMMOND et al.
1995). Pode-se considerar que são variáveis que são escolhidas para medir um conceito
abstrato com o intuito de orientar decisões sobre determinado fenômeno de interesse.
Para Van Bellen (2005) os indicadores devem ser entendidos como variáveis, ou
seja, a representação operacional de um atributo (qualidade, característica, propriedade)
de um sistema, cujo objetivo principal consiste em agregar e quantificar informações
ressaltando sua significância, visando melhorar o processo de comunicação e
entendimento dos fenômenos complexos.
A utilização dos indicadores tem sido basilar na formulação de políticas públicas,
pois possibilitam uma análise atual, conhecendo verdadeiramente a situação que se almeja
modificar, como também o monitoramento temporal, permitindo um melhor
acompanhamento das variáveis analisadas, uma melhor avaliação dos processos e
planejamento de ações e, por conseguinte melhor utilização dos recursos investidos.
Para o IBGE (2010, p. 33),

Indicadores são ferramentas constituídas por uma ou mais variáveis que


associadas através de diversas formas, revelam significados mais amplos sobre
os fenômenos a que se referem. Entretanto, a complexidade desse conceito com
suas múltiplas dimensões e abordagens tem dificultado a utilização mais
consciente e adequada destas ferramentas.

Vale destacar que a função dos indicadores é o de mensurar uma realidade


complexa e que é constituída por uma variedade de partes que se complementam e estão
31

em constante relação de interdependência. Nessa perspectiva, torna-se preponderante


identificar as interligações existentes entre os diversos aspectos relacionados ao conceito
do fenômeno que se está estudando, aqui de forma específica, a vulnerabilidade
socioambiental, para se obter soluções também interligadas para os problemas existentes
e potenciais.
Desse modo, qualquer indicador, quer seja ele descritivo ou normativo, se
apresenta com uma significância própria. Ou seja, quando comparado com os outras
formas de informação dentro do contexto que se está sendo estudado, que definirá a sua
importância no direcionamento do planejamento e de ações. Assim, não basta ser apenas
significativo para os tomadores de decisão, é preciso antes de tudo, que revele a realidade
da sociedade, devendo ser, portanto, importante para o público em geral.
Um bom indicador é aquele que é capaz de revelar um realidade, simplificando as
informações relevantes, comunicando-as e esclarecendo suas facetas. Para Van Bellen
(2002), os indicadores são de fato um modelo da realidade, mas não podem ser
considerados como a própria realidade, entretanto devem ser analiticamente legítimos e
construídos dentro de uma metodologia coerente de mensuração.
Para a análise de problemas complexos como é o caso da vulnerabilidade
socioambiental, se deve pensar na utilização de indicadores que possam estar interligados
e que agreguem várias informações que possam retratar o mais próximo possível uma
realidade.
Com base nesta compreensão, e por entender que a vulnerabilidade
socioambiental é um tema abrangente, complexo e multifacetado, diversos enfoques tem
sido dado nos estudos realizados por instituições e pesquisadores, com o objetivo de se
obter uma forma mais adequada de sintetizá-la e mensurá-la. Vários são os sistemas de
indicadores de vulnerabilidade socioambiental existentes na literatura, dentre os quais,
alguns estão destacados no Quadro 1.

Quadro 1: Sistemas de Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental

Modelos de Mensuração da
Abordagem
Vulnerabilidade Socioambiental
Refere-se a uma metodologia de cunho participativo para
cálculo e análise do nível de vulnerabilidade socioambiental
Indicadores de Vulnerabilidade
da população na cidade de João Pessoa. Para tanto, fez uso da
(Maior, 2014)
análise de percepção dos citadinos em relação a sua situação
de vulnerabilidade.
Este trabalho apresenta uma análise multidimensional da
Indicador e avaliação da
vulnerabilidade do município de São Paulo frente a processos
vulnerabilidade socioambiental no
relacionados a eventos extremos de precipitação, sobretudo
32

município de São Paulo (Gamba e escorregamentos de vertentes. Ele indica a estreita relação
Ribeiro, 2012) entre vulnerabilidade social e infraestrutural com áreas mais
suscetíveis a este tipo de fenômeno, situação que caracteriza a
segregação urbana.
Foi desenvolvido no contexto urbano do Litoral Paulista,
contendo 16 cidades, para identificar áreas com alta
vulnerabilidade às mudanças climáticas, permitindo, assim, a
Modelo de Mensuração da construção de indicadores em escala desagregada, que
Vulnerabilidade de Alves (2010) representem as dimensões da vulnerabilidade –
susceptibilidade e exposição ao risco ambiental – com a
integração de dados socioeconômicos, demográficos e
ambientais.
Refere-se a sua pesquisa de tese, na qual estudou as
vulnerabilidades socioambientais de rios urbanos na Região
Metropolitana de Fortaleza-CE e teve como objetivo analisar
os riscos e as vulnerabilidades socioambientais de rios urbanos
Modelo de Mensuração de Almeida
no Brasil, tendo a bacia hidrográfica do rio Maranguapinho,
(2010)
localizada na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF),
como área de estudo de caso para compreensão das inter-
relações das vulnerabilidades sociais e exposição aos riscos
naturais, principalmente os riscos de inundações.
Índice de vulnerabilidade
Tem como objetivo um indicador composto para predição de
socioambiental para a vigilância e
vulnerabilidade na ocorrência de desastres naturais. O índice
gestão de desastres naturais no RJ –
foi aplicado nos municípios do estado do Rio de Janeiro e
IVSA
comparado aos números oficiais da Defesa Civil.
(Guimarães et al. 2005)
É uma avaliação quantitativa das características que
influenciam a vulnerabilidade social aos riscos
(pré-acontecimentos) e facilita a comparação entre unidades
geográficas (distritos, secções censitárias) em termos dos seus
Social Vulnerability Index (SoVI)
níveis relativos de vulnerabilidade social. Os perfis
(Cutter et al. 2003)
socioeconómicos são gerados a partir da informação dos
censos e submetidos a um procedimento estatístico para
reduzir o número de variáveis a um conjunto menor de fatores
que descrevem a vulnerabilidade.
Fonte: Elaboração própria (2019)

A partir da identificação e da análise dos diversos sistemas de indicadores


existentes, percebe-se que ainda existem lacunas na literatura para se estudar as cidades
brasileiras. É possível atentar para outras variáveis imprescindíveis no estudo da
vulnerabilidade socioambiental, como por exemplo, as questões que envolvem o processo
de expansão urbana nas cidades. Como identificar essas variáveis?
Para tanto, alguns estudos desenvolvidos no contexto urbano enfatizam as
problemáticas que acometem as cidades. Dentre eles, destacam-se os autores: Herculano
(2000), Sposati (2000), Braga, Freitas e Duarte (2002), Nahas (2002), Rossetto (2003),
Machado (2004), Braga (2006), Alves (2006), Morato (2008), Figueiredo (2008), Ribeiro
(2008), Roggero (2009), Florissi (2009), Kowarick (2009), Souza (2009), Veiga (2010),
Jacobs (2011), Pessoa (2012), Araújo e Cândido (2014), Maior (2014), Maricato (2014),
33

Gehl (2015), Rogers (2015), Rolnik (2015), Roggero (2015), Martins e Cândido (2015),
Pereira e Vieira (2016), Gomes e Gomes (2017).
Após a análise dos estudos desenvolvidos por esses autores, constatou-se que as
variáveis apresentadas circundam em torno de alguns aspectos que se repetem. Desse
modo, foi possível listar uma série de variáveis que são imprescindíveis ao estudo da
vulnerabilidade socioambiental nas cidades, sobretudo, as cidades brasileiras, uma vez
que a maioria dos estudos empíricos objetivaram a análise destas como cenário.
O Quadro 2 lista os temas abordados pelos autores citados, possibilitando a
identificação de quais aspectos são mais enfatizados nos estudos.

Quadro 2: Aspectos tratados pelos autores para estudar as problemáticas urbanas

Aspectos analisados pelos autores

Infraestrutura
Educação e

Trabalho e

Segurança
Ambiental

Moradia
Cultura

Política

urbana
Justiça
Renda

Saúde
Social

Autores

Herculano (2000)
Sposati (2000)
Braga, Freitas e Duarte
(2002)
Nahas (2002)
Rossetto (2003)
Machado (2004)
Braga (2006)
Morato (2008)
Figueiredo (2008)
Ribeiro (2008)
Souza (2009)
Roggero (2009)
Kowarick (2009)
Florissi (2009)
Veiga (2010)
Jacobs (2011)
Pessoa (2012)
Araújo e Cândido (2014)
Maricato (2014)
Maior (2014)
Roggero (2015)
Rogers (2015)
Gehl (2015)
Rolnik (2015)
Martins e Cândido (2015)
34

Pereira; Vieira (2016)


Gomes e Gomes (2017)
Fonte: Elaboração própria (2019)

A elaboração desse Quadro 2 foi importante, na medida em que permite identificar


os aspectos analisados por cada autor ao desenvolverem seus estudos sobre a
vulnerabilidade socioambiental e sobre as questões urbanas.
Desse modo, torna-se premente tomar como base tais autores para que se consiga
propor um arcabouço de indicadores que permita avaliar e a vulnerabilidade
socioambiental em cidades brasileiras. Tal embasamento, proporcionará a análise do
fenômeno da vulnerabilidade socioambiental, de forma complexa e envolvendo variáveis
que abrangem vários aspectos das cidades brasileiras.
Embasada em todas as discussões até aqui realizadas, o tópico seguinte explicitará
área de estudo que será aplicada o sistema de indicadores proposto neste estudo.

3 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

A cidade escolhida para a realização deste estudo foi Natal (Figura 2), capital do
estado do Rio Grande do Norte, na região Nordeste do Brasil. Segundo o IBGE (2010) a
referida cidade possui uma área territorial de 167,264 km2 e sua população está estimada
em 885.173 habitantes.
35

Figura 2: Mapa de localização da cidade de Natal – RN

Criada já com caráter de cidade, Natal foi fundada em 25 de dezembro de 1599


(IBGE, 2010). Sua urbanização teve início por meio da colonização portuguesa e o
aumento populacional ocorreu de forma lenta. No final do século XIX a cidade possuía
apenas 16.050 habitantes (IBGE, 2010).
Nas décadas finais do século XX, o desenvolvimento da cidade atraiu substancial
migração para a denominada Região Metropolitana de Natal, cuja população, a partir de
2000, ultrapassou um milhão de habitantes. A cidade de Natal tem como cidades
limítrofes Parnamirim, São Gonçalo e Extremoz e juntos, segundo o IBGE (2010),
concentra 42,64% da população do estado (1.361.445 habitantes).
O investimento de infraestrutura tornou-se mais intenso a partir da década de
1980, onde diversas ações de políticas públicas foram colocadas em prática, como por
exemplo, a habitação popular, o investimento na área industrial e investimento no
turismo, atividade que se tornou a principal atividade econômica da cidade.
Conforme Costa (2000) o crescimento urbano da cidade, mesmo com as
intervenções e os planos urbanísticos, ocorreu segregando o espaço entre as classes de
36

alta renda e as classes de baixa renda. Assim, observa-se que mesmo não sendo áreas
homogêneas, pode-se afirmar que nas áreas Norte e Oeste da cidade estabeleceram-se a
população mais pobre da cidade, colocando-as em situações de maior vulnerabilidade
socioambiental, e as áreas Sul e Leste foram ocupadas pela população mais rica. Desse
modo, a cidade possui segregação social e espacial e que não é sua característica
exclusiva, mas uma característica das cidades brasileiras.
Segundo Costa (2000), os investimentos habitacionais e as políticas públicas de
Estado e de Governo em Natal também foram estabelecidas segregando espacialmente a
cidade. Ao passo que as habitações para a população de alta renda eram realizadas na
Zona Sul da cidade, pelo Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais do Rio
Grande do Norte, (INOCOOP-RN) e que tinha uma parceria de financiamento com a
Caixa Econômica Federal; as habitações para a população mais pobre eram construídas
na Zona Norte da cidade pelo Estado através do Plano Habitacional Popular, por meio da
Companhia de Habitação Popular do Rio Grande do Norte (COHAB-RN) e que tinha
como financiador o Banco Nacional de Habitação.
Atualmente, a cidade de Natal apresenta crescimento vertical, em decorrência de
sua região metropolitana se apresentar conurbada, o que impossibilita que se cresça
horizontalmente. A espacialização da cidade de Natal pode ser observada no Figura 3 e
que segundo dados do IBGE (2010), hoje é composta por 36 bairros subdivididos em
quatro regiões administrativas.
37

Figura 3: Mapa das regiões administrativas e bairros da cidade de Natal – RN

A região administrativa Norte é composta por 07 bairros (Lagoa Azul, Nossa


Senhora da Apresentação, Igapó, Potengi, Pajuçara, Redinha e Salinas) e abriga 303.543
habitantes, segundo dados do IBGE (2010), sendo considerada a maior tanto em área
territorial, quanto em número de habitantes dentre as quatro regiões.
A região administrativa sul é composta por 07 bairros (Lagoa Nova, Nova
Descoberta, Candelária, Capim Macio, Pitimbu, Neópolis, Ponta Negra) e abriga 166.491
habitantes (IBGE, 2010).
A região administrativa Leste é composta pelos primeiros bairros da cidade, e no
total, compreende uma área composta por 12 bairros (Santos Reis, Rocas, Ribeira, Praia
do Meio, Cidade Alta, Petrópolis, Areia Preta, Alecrim, Barro Vermelho, Lagoa Seca,
Tirol, Mãe Luiza) e contam com 115.300 habitantes (IBGE, 2010).
A região administrativa Oeste compreende 10 bairros (Nordeste, Quintas, Bom
Pastor, Dix-Sept Rosado, Nossa Senhora de Nazaré, Felipe Camarão, Cidade da
Esperança, Guarapes, Cidade Nova, Planalto) e abriga um total de 218.405 habitantes,
segundo o IBGE (2010).
É importante também destacar as característica naturais da cidade em questão.
Natal apresenta uma diversidade de ecossistemas, dentre os quais destaca-se os estuários,
planícies de mangue, praias, terraços e vales fluviais, campos dunares, restingas e mata
38

atlântica. De acordo com Nunes (2000), quanto a sua morfologia, Natal apresenta
terrenos com suaves ondulações que tem sua continuidade interrompida pelo
aparecimento de verdadeiros cordões de dunas.
Ainda de acordo com Nunes (2000), os recursos hídricos na cidade apresenta-se
de forma abundante e com qualidade, pois dispõe de águas subterrâneas dos aquíferos
Dunas e Barreiras. Ademais, o supracitado autor ainda faz menção as águas superficiais
(bacias dos rios Ceará-Mirim, Doce, Potengi, Jundiaí, Pitimbu e Pium) e de lagoas
naturais.
Com base na descrição que aqui foi realizada, desperta o interesse de desenvolver
a pesquisa na referida cidade, exatamente para se analisar o nível de vulnerabilidade
socioambiental urbano e oferecer subsídios para que um melhor planejamento ocorra e
possa minimizar os impactos ocasionados pelo processo de urbanização.
Após a explanação da cidade de Natal, área de estudo, o tópico seguinte trata da
metodologia geral do estudo, bem como de cada um dos artigos elaborados para o alcance
do objetivo estabelecido.

4 METODOLOGIA GERAL

4.1 Caracterização da pesquisa

Este estudo tem como objetivo propor um modelo para análise da vulnerabilidade
socioambiental de cidades brasileiras, a partir da proposição de um conjunto de
indicadores sociais e ambientais que considerem questões sociais e urbanas. Para tanto,
caracteriza-se quanto ao método, como dedutivo, por estabelecer uma nova relação a
partir da teoria estudada: considerando o processo de expansão urbana e suas implicações,
os espaços territoriais que serão menos afetados por problemas de ordem social e que
possuirão menores níveis de vulnerabilidade social e ambiental serão os que detém a
população com maior poder aquisitivo.
No que se refere a forma de abordagem, classifica-se como pesquisa qualitativa
e quantitativa, dada a revisão teórica inicialmente realizada para a proposição de um
arcabouço teórico composto de temas e respectivos indicadores capazes de, ao serem
aplicados, traduzir o nível de vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras e,
considerando o levantamento de dados quantitativos necessários à aplicação do sistema
de indicadores proposto na cidade de Natal-RN.
39

Quanto aos objetivos da pesquisa, pode ser caracterizado como sendo uma
pesquisa exploratória e descritiva, por se tratar de um tema atual, recente e que abre
várias possibilidades de investigação, oferecendo subsídios para ampliar o debate e
propiciando significativas contribuições científicas e práticas. Ademais, por meio da sua
aplicação na cidade de Natal-RN, descreve uma realidade de forma clara e objetiva por
meio do conjunto de indicadores propostos.
Inicialmente, esta tese propõe um framework que permite analisar a
vulnerabilidade socioambiental em cidades brasileiras. A figura 04 apresenta as
dimensões da vulnerabilidade (social e ambiental) e seu respectivo conjunto de temas e
indicadores capazes de analisar a vulnerabilidade socioambiental urbana.
40

Figura 4: Framework proposto para análise da vulnerabilidade socioambiental em cidades brasileiras

Fonte: Elaboração própria (2019)


Legenda: Negrito: indicadores propostos nesta tese para análise da vulnerabilidade socioambiental; Sem
negrito: indicadores existentes e utilizados em outros trabalhos para análise da vulnerabilidade
socioambiental
41

1. Dimensão Social: Esta dimensão está relacionada com as questões de saúde,


educação e cultura, trabalho e renda, moradia e segurança, condições que são
fundamentais à sobrevivência humana de forma digna. Para esta dimensão, foram
elencados cinco temas e por 84 indicadores.
2. Dimensão Ambiental: Esta dimensão está relacionada com as questões relativas
ao saneamento, água, energia, uso da terra, evidenciando a garantia dos recursos
naturais, a degradação do ambiente, a igualdade de uso de serviços básicos, e a
infraestrutura urbana. Para esta dimensão, quanto melhores se apresentarem os
indicadores, menor será o seu nível de vulnerabilidade ambiental. É composta por
dois temas (infraestrutura urbana e infraestrutura sanitária) e por 49 indicadores.

Foram identificados 72 indicadores nas diversas pesquisas analisadas e foram


propostos nesta pesquisa 61 indicadores, totalizando 133 indicadores para análise de
vulnerabilidade socioambiental, conforme pode ser visualizado no framework da figura
04.
Com base na revisão teórica apresentada e após a explicitação da metodologia
geral desta tese, os capítulos seguintes referem-se aos artigos que explicitam a construção
do framework proposto e da aplicação na cidade de Natal – RN.
42

CAPÍTULO 01
43

Vulnerabilidade Socioambiental: proposição de temas e indicadores para cidades


brasileiras

Este artigo foi aceito para publicação na Revista Gaia Scientia, QUALIS CAPES B1 para
Ciências Ambientais e, portanto, está formatado de acordo com as recomendações desta
revista http://www.periodicos.ufpb.br

Ana Cecília Feitosa de Vasconcelos*.1 Eliza Maria Xavier Freire.2 Gesinaldo Ataíde
Cândido.3

1
Professora do curso de Administração da Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG). Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN). ORCID: 0000-0002-7848-4602

2
Professora Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professora
permanente nos programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). ORCID: 0000-0001-9486-6347

3
Professor Titular da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Professor
permanente dos Programas de Pós-Graduação em Administração da Universidade
Federal da Paraíba e da Universidade Federal de Campina Grande. ORCID: 0000-0002-
3112-0254

*Autora para correspondência: acvasconcelos@gmail.com

Agradecimentos: ao apoio financeiro concedido pela CAPES por meio do Edital


Nº55/2013 Pro-Integração/CAPES sob o projeto intitulado “Vulnerabilidade
Socioambiental como decorrência do transbordamento urbano: estudos longitudinais em
regiões metropolitanas no Nordeste brasileiro.”
44

Vulnerabilidade Socioambiental: proposição de temas e indicadores para cidades


brasileiras

Resumo:
Este artigo tem como objetivo propor um arcabouço teórico composto de temas e
respectivos indicadores capazes de, ao serem aplicados, traduzir o nível de
vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras. Este estudo utilizou a revisão
sistemática da literatura, por meio de consulta nas bases de dados Scientific Eletronic
Library Online (SciELO) e Web of Science publicados entre os anos 2000 e 2018. Foram
analisados 20 artigos e 06 livros. Os resultados apresentam um conjunto de oito temas e
133 indicadores que viabilizam uma nova perspectiva para a análise da vulnerabilidade
socioambiental, constituindo uma ferramenta que visa colaborar para os estudos sobre o
tema e para o planejamento e a definição de ações de políticas públicas que visem melhor
estruturar as cidades, tornando-as vivas, com qualidade de vida e capazes de serem
sustentáveis para os seus citadinos.

Palavras-chave: vulnerabilidade socioambiental, urbano, indicadores, cidades.

Vulnerabilidad Socioambiental: proposición de temas e indicadores para ciudades


brasileñas

Resumen:
Este artículo tiene como objetivo proponer una estructura teórica compuesta de temas y
respectivos indicadores capaces de, al ser aplicados, traducir el nivel de vulnerabilidad
socioambiental en las ciudades brasileñas. Este estudio utilizó la revisión sistemática de
la literatura, por medio de consulta en las bases de datos Scientific Eletronic Library
Online (SciELO) y Web of Science publicados entre los años 2000 y 2018. Se analizaron
20 artículos y 06 libros. Los resultados presentan un conjunto de ocho temas y 133
indicadores que viabilizan una nueva perspectiva para el análisis de la vulnerabilidad
socioambiental, constituyendo una herramienta que pretende colaborar para los estudios
sobre el tema y para la planificación y la definición de acciones de políticas públicas que
objetiven mejor estructurar las ciudades, haciéndolas vivas, con calidad de vida y capaces
de ser sostenibles para sus ciudadanos.

Palabras clave: vulnerabilidad socioambiental, urbana, indicadores, ciudades.

Socio-environmental vulnerability: proposition of themes and indicators for


Brazilian cities

Abstract:
This article aims to propose a theoretical framework consists of themes and related
indicators that, when applied, translate the level of environmental vulnerability in
Brazilian cities. The results present a set of eight themes and 133 indicators that make
possible a new perspective for the socio-environmental vulnerability analysis,
constituting a tool that aims to collaborate for studies on the theme and for the planning
and definition of public policy actions that aiming at better structuring of the cities,
making alive, with quality of life and capable of being sustainable for their citizen.

Keywords: socio-environmental vulnerability, urban, indicators, cities.


45

Introdução

A intensidade com que o processo de urbanização ocorreu no Brasil no século XX


foi uma das principais causas que fomentaram as problemáticas sociais que envolveram
e ainda envolvem o país até os dias atuais. Ao passo que a urbanização impulsionou o
crescimento econômico favoreceu um cenário de injustiças e desigualdades. Uma das
principais características do processo de urbanização era ter, na construção das cidades,
um meio de dominação no qual explorar e enriquecer, eram prioridades maiores que
cuidar e planejar o surgimento adequado das cidades.
Conforme expõe Maricato (2001), o surgimento dos primeiros centros urbanos se
deu com os espaços de financiamento de comercialização dos bens primários. Esses
espaços surgiram em função da produção, em meados do século XVI em função da
produção do açúcar; nos séculos XVII e XVIII com a descoberta do ouro; e no século
XIX com a produção de café como necessidade de um ambiente de comercialização
desses produtos que atendessem ao mercado europeu.
Neste contexto, o processo de urbanização passa a ter um papel preponderante na
estruturação da moderna sociedade, pois, assim como o território, a própria sociedade
impulsiona o seu processo, não só com o foco nas atividades econômicas, mas, sobretudo,
como incentivadora de novos padrões de relações sociais, como as de produção e de estilo
de vida (LEFEBVRE 2008).
Neste período, constata-se que o processo de urbanização caracteriza-se como
acelerado, desigual e concentrador, bem como diversificado e completo em virtude de ter
acontecido de forma heterogênea nos variados territórios do país (SANTOS 2013). É
nesse contexto que a urbanização brasileira se consolida e a expansão demográfica e o
processo de terceirização da economia se tornam evidentes. No entanto, só a partir da
década de 1940 que se verifica uma inversão da população rural em urbana. Segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE - (2016), em 1940 a taxa
de urbanização do Brasil era de 31,24% e em 2010, ano do último Censo Demográfico,
esta taxa alcança 84,36%. Ou seja, em 70 anos houve uma inversão quanto ao lugar de
residência predominante da população brasileira.
Esse intenso e desordenado processo de urbanização, derivado da falta de um
melhor planejamento urbano, trouxe uma série de impactos e consequências para as
cidades, dentre as quais se podem citar a favelização, o aumento da violência nas cidades,
46

os níveis de poluição, maior incidência de enchentes e aumento do número de


subempregos.
Na maioria das cidades brasileiras é bastante visível a segmentação socioespacial,
onde a porção mais periférica, constituída pela parte mais pobre da população, encontra-
se desprovida de serviços e até mesmo de espaços adequados de convivência social.
Conforme Lemos e Higuchi (2011), morar em lugares que não possuem condições
mínimas de habitabilidade acarreta em sofrimento diário e impedimento de uma
apropriação do ambiente como espaço de moradia digna. Isto demonstra que uma parte
da população fica à margem da vida das cidades o que, para Kaztmam (2005), forma um
processo de segregação e “isolamento social” resultante do binômio precariedade e
instabilidade do mercado de trabalho e dos serviços que não são oferecidos a esta parte
da população. Conclui-se, desse modo, que a pobreza é resultante não só do modelo
socioeconômico vigente, mas também da forma como se apresenta a estrutura espacial da
cidade que faz com que determinadas regiões estejam mais suscetíveis a um processo de
vulnerabilidade.
O entendimento de vulnerabilidade socioambiental seguido neste artigo é o
apresentado por Alves el al 2010, que o apresenta como sendo “a sobreposição ou
cumulatividade de problemas e riscos sociais e ambientais que se concentram em
determinadas áreas, espalhadas por toda a metrópole.” Nesse sentido, a análise da
vulnerabilidade socioambiental deve envolver um entendimento integrado das condições
de vida de uma população, compreendendo que os impactos advindos dos desastres
naturais reconfiguram os cenários urbanos e impactam a forma e condição de vida das
pessoas, mas também, que o contexto de construção da sociedade e do processo de
expansão urbana nas cidades brasileiras faz com que uma parte da população desconheça
seus direitos à cidadania e experimente de forma intensa uma sobreposição de
desigualdades sociais, dentre as quais: pobreza, segregação espacial e ausência de
conforto urbano.
Em face do exposto, a premissa estabelecida neste estudo é de que a
vulnerabilidade socioambiental no Brasil decorre, preponderantemente, do processo de
expansão urbana das cidades e das questões sociais advindas desse processo. Para tanto,
torna-se necessário o desenvolvimento de instrumentos de avaliação para a
vulnerabilidade socioambiental que permitam um entendimento mais coerente com a
realidade brasileira.
47

Nesse sentido, tomando como referência a premissa citada, este estudo tem como
objetivo propor um arcabouço teórico composto de temas e respectivos indicadores
capazes de, ao serem aplicados, traduzir o nível de vulnerabilidade socioambiental nas
cidades brasileiras. Para tanto, se tomou como base os estudos relacionados à
vulnerabilidade socioambiental no Brasil, bem como aos estudos desenvolvidos no
contexto urbano.
Este estudo caracteriza-se como exploratório, utilizando como técnica de pesquisa
a revisão sistemática da literatura, por meio de artigos consultados nas bases de dados
Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Web of Science publicados entre os anos
2000 e 2018. Também foram incluídas consultas a seis livros considerados fundamentais
à compreensão sobre questões urbanas, seguindo critérios de seleção, os quais estão
delimitados no item dos aspectos metodológicos.
Em termos estruturais, este artigo apresenta, além destas considerações iniciais
que contextualiza a problemática do estudo, os fundamentos teóricos que embasaram o
artigo, seguidos pelos aspectos metodológicos do estudo, resultados e as considerações
finais.

Fundamentação Teórica
Vulnerabilidade Socioambiental
A discussão sobre vulnerabilidade passou a despertar o interesse de pesquisadores
e instituições de pesquisa, em decorrência dos crescentes índices de desigualdades
sociais, da segregação socioespacial e do processo de urbanização desordenado das
cidades.
Para se compreender o conceito de vulnerabilidade é preciso compreender o
conceito de risco, uma vez que estão interligados. Segundo o relatório sobre Redução de
Risco de Desastres do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP),
risco é “o número de mortes em um evento perigoso em relação à população total exposta
a tal evento” (UNDP 2004; p.98). Dessa forma, parte-se do pressuposto comum de que é
a vulnerabilidade que explica o porquê dos diferentes níveis de risco que diferentes grupos
experienciam ao serem submetidos a perigos naturais de mesma intensidade (BRAGA et
al, 2006).
D’Ercole (1994), Blaikie et al. (1994) e Acserald (2006) estabelecem uma relação
de causa e efeito entre natureza e sociedade, reconhecendo que os fatores de risco estão
associados a um certo grau de exposição a uma situação crítica, natural ou social, que
48

gera vulnerabilidade em determinados grupos. Sendo assim, a noção de vulnerabilidade


passa a ser um produto de determinados contextos espaciais, socioeconômicos,
demográficos, culturais e institucionais, sensível às condições locais e à dimensão
temporal (KUHLICKE et al 2011).
Para Cutter (2001), vulnerabilidade corresponde ao “potencial para a perda”. Para
a autora, a vulnerabilidade inclui tanto os “elementos de exposição ao risco” como os
“fatores de propensão às circunstâncias que aumentam ou reduzem as capacidades da
população, das infraestruturas ou dos sistemas físicos para responder e se recuperar de
ameaças ambientais” (CUTTER 2011, p.60).
Não é apenas a relação natureza e sociedade gera a vulnerabilidade, mas existe
muita vulnerabilidade em relação a direitos básicos, na medida em que não só os sistemas
públicos de proteção social foram sempre restritos e precários, como também, em anos
recentes, houve desmonte de serviços e novas regulamentações que se traduziram em
perda de direitos adquiridos (KOWARICK 2000).
Estudar a vulnerabilidade envolve uma discussão ampla e relevante por ter caráter
multidisciplinar. Além disso, indica que a suscetibilidade das pessoas a problemas e danos
está relacionada, principalmente, ao conjunto das profundas transformações sociais,
econômicas e ambientais (KOWARICK 2009). Um conceito viável para analisar essas
relações é o de ‘vulnerabilidade socioambiental’, que pode ser definido como a
coexistência, cumulatividade ou sobreposição espacial de situações de pobreza/privação
social e de situações de exposição a risco e/ou degradação ambiental. Assim, é justamente
a combinação dessas duas dimensões – social e ambiental – que está sendo considerada
situação de vulnerabilidade socioambiental (ALVES 2006).
A compreensão de vulnerabilidade envolve também aspectos relacionados à
gestão urbana, pois, como apresentam Dubois-Maury e Chaline (2002, p. 10), “a
vulnerabilidade da cidade concerne evidentemente aquela dos homens e dos bens que ela
concentra, mas ela implica, muitas vezes também, aquela de seus poderes, de sua imagem
e de sua dimensão”.
Nesse sentido, Mendonça (2010) defende que a vulnerabilidade socioambiental
urbana evidencia a heterogeneidade dos impactos advindos dos riscos que se abatem
sobre uma dada população, constituindo ambos (risco e vulnerabilidade socioambiental
urbana), uma seara de alta complexidade para a compreensão e gestão urbana.
É com base nesse entendimento que se defende que, para a análise de problemas
complexos como é o caso da vulnerabilidade socioambiental, se deve pensar na utilização
49

de indicadores que possam estar interligados e que agreguem informações que possam
retratar fielmente uma realidade.

Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental


A palavra indicador é originário do latim indicare e refere-se a algo que serve para
apontar, indicar, estimar, mostrar algo através de sinais ou indícios (Hammond et al,
1995). Pode-se considerar que são variáveis que são escolhidas para medir um conceito
abstrato com o intuito de orientar decisões sobre determinado fenômeno de interesse.
Para Van Bellen (2005) os indicadores devem ser entendidos como variáveis, ou
seja, a representação operacional de um atributo (qualidade, característica, propriedade)
de um sistema, cujo objetivo principal consiste em agregar e quantificar informações
ressaltando sua significância, visando melhorar o processo de comunicação e
entendimento dos fenômenos complexos.
A utilização dos indicadores tem sido basilar na formulação de políticas públicas,
pois possibilitam uma análise atual, conhecendo verdadeiramente a situação que se almeja
modificar, como também o monitoramento temporal, permitindo um melhor
acompanhamento das variáveis analisadas, uma melhor avaliação dos processos e
planejamento de ações e, por conseguinte melhor utilização dos recursos investidos.
Para o IBGE (2010, p. 33),
Indicadores são ferramentas constituídas por uma ou mais
variáveis que associadas através de diversas formas, revelam
significados mais amplos sobre os fenômenos a que se referem.
Entretanto, a complexidade desse conceito com suas múltiplas
dimensões e abordagens tem dificultado a utilização mais
consciente e adequada destas ferramentas.
Vale destacar que a função dos indicadores é o de mensurar uma realidade
complexa e que é constituída por uma variedade de partes que se complementam e estão
em constante relação de interdependência. Nessa perspectiva, torna-se preponderante
identificar as interligações existentes entre os diversos aspectos relacionados ao conceito
do fenômeno que se está estudando, aqui de forma específica, a vulnerabilidade
socioambiental, para se obter soluções também interligadas para os problemas existentes
e potenciais.
Desse modo, qualquer indicador, quer seja ele descritivo ou normativo, se
apresenta com uma significância própria. Ou seja, quando comparado com os outras
50

formas de informação dentro do contexto que se está sendo estudado, que definirá a sua
importância no direcionamento do planejamento e de ações. Assim, não basta ser apenas
significativo para os tomadores de decisão, é preciso antes de tudo, que revele a realidade
da sociedade, devendo ser, portanto, importante para o público em geral.
Um bom indicador é aquele que é capaz de revelar um realidade, simplificando as
informações relevantes, comunicando-as e esclarecendo suas facetas. Para Van Bellen
(2002), os indicadores são de fato um modelo da realidade, mas não podem ser
considerados como a própria realidade, entretanto devem ser analiticamente legítimos e
construídos dentro de uma metodologia coerente de mensuração.
Para a análise de problemas complexos como é o caso da vulnerabilidade
socioambiental, se deve pensar na utilização de indicadores que possam estar interligados
e que agreguem várias informações que possam retratar o mais próximo possível uma
realidade.
Com base nesta compreensão, e por entender que a vulnerabilidade
socioambiental é um tema abrangente, complexo e multifacetado, diversos enfoques tem
sido dado nos estudos realizados por instituições e pesquisadores, com o objetivo de se
obter uma forma mais adequada de sintetizá-la e mensurá-la. Vários são os sistemas de
indicadores de vulnerabilidade socioambiental existentes na literatura, dentre os quais,
alguns estão destacados no Quadro 1.
Quadro 1: Sistemas de Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental
Modelos de Mensuração
da Vulnerabilidade Abordagem
Socioambiental
Refere-se a uma metodologia de cunho participativo para cálculo e análise
Indicadores de
do nível de vulnerabilidade socioambiental da população na cidade de
Vulnerabilidade (MAIOR
João Pessoa. Para tanto, fez uso da análise de percepção dos citadinos em
2014)
relação a sua situação de vulnerabilidade.
Indicador e avaliação da Este trabalho apresenta uma análise multidimensional da vulnerabilidade
vulnerabilidade do município de São Paulo frente a processos relacionados a eventos
socioambiental no extremos de precipitação, sobretudo escorregamentos de vertentes. Ele
município de São Paulo indica a estreita relação entre vulnerabilidade social e infraestrutural com
(GAMBA E RIBEIRO áreas mais suscetíveis a este tipo de fenômeno, situação que caracteriza a
2012) segregação urbana.
Foi desenvolvido no contexto urbano do Litoral Paulista, contendo 16
cidades, para identificar áreas com alta vulnerabilidade às mudanças
Modelo de Mensuração da
climáticas, permitindo, assim, a construção de indicadores em escala
Vulnerabilidade de Alves
desagregada, que representem as dimensões da vulnerabilidade –
(2010)
susceptibilidade e exposição ao risco ambiental – com a integração de
dados socioeconômicos, demográficos e ambientais.
Refere-se a sua pesquisa de tese, na qual estudou as vulnerabilidades
socioambientais de rios urbanos na Região Metropolitana de Fortaleza-CE
Modelo de Mensuração de
e teve como objetivo analisar os riscos e as vulnerabilidades
Almeida (2010)
socioambientais de rios urbanos no Brasil, tendo a bacia hidrográfica do
rio Maranguapinho, localizada na Região Metropolitana de Fortaleza
51

(RMF), como área de estudo de caso para compreensão das inter-relações


das vulnerabilidades sociais e exposição aos riscos naturais,
principalmente os riscos de inundações.
Índice de vulnerabilidade
socioambiental para a
Tem como objetivo um indicador composto para predição de
vigilância e gestão de
vulnerabilidade na ocorrência de desastres naturais. O índice foi aplicado
desastres naturais no RJ –
nos municípios do estado do Rio de Janeiro e comparado aos números
IVSA
oficiais da Defesa Civil.
(GUIMARÃES et. al.
2005)
É uma avaliação quantitativa das características que influenciam a
vulnerabilidade social aos riscos (pré-acontecimentos) e facilita a
comparação entre unidades geográficas (distritos, secções censitárias) em
Social Vulnerability Index
termos dos seus níveis relativos de vulnerabilidade social. Os perfis
(SoVI) (CUTTER et. al.
socioeconómicos são gerados a partir da informação dos censos e
2003)
submetidos a um procedimento estatístico para reduzir o número de
variáveis a um conjunto menor de fatores que descrevem a
vulnerabilidade.
Fonte: Elaboração própria (2017)

A partir da identificação e da análise dos diversos sistemas de indicadores


existentes, percebe-se que ainda existem lacunas na literatura, dentre as quais a ausência
de variáveis ao estudo da vulnerabilidade socioambiental específico para o contexto
urbano, sobretudo para as cidades brasileiras, como as questões sociais que caracterizam
o surgimento e desenvolvimento das cidades Segundo Jacobi (2006), a dinâmica urbana
excludente e segregadora determina uma paisagem cada vez mais vulnerável, marcada
pela prevalência da estratégia de sobrevivência que privilegia práticas de deterioração do
ambiente urbano e exposição ao risco. Neste sentido, Kowarick (2009) afirma que o
quadro de risco de desastres é decorrente do processo de favelização urbana no Brasil e
das precárias condições de vida das populações pobres aglomeradas em territórios
abandonados e excluídos de todos os direitos (KOWARICK 2000).
Embasada em todas as discussões até aqui realizadas, o tópico seguinte explicitará
os procedimentos metodológicos para a o alcance do objetivo proposto, explicitando um
conjunto de indicadores capazes de analisar a vulnerabilidade de cidades brasileiras.

Aspectos Metodológicos

Este estudo caracteriza-se como exploratório, utilizando-se como técnica de


pesquisa a revisão sistemática da literatura com o objetivo de propor um arcabouço
teórico composto de temas e respectivos indicadores capazes de, ao serem aplicados,
traduzir o nível de vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras. Para tanto, se
52

tomou como base os estudos relacionados à vulnerabilidade socioambiental no Brasil,


bem como aos estudos desenvolvidos no contexto urbano.
Para revisão sistemática da literatura esse estudo seguiu o proposto por Denyer e
Tranfield 2009; De Medeiros et al. 2014; Garza-Reyes 2015: formulação da questão,
localização dos estudos, avaliação e seleção dos estudos, análise e síntese, relatar e usar
os resultados.
Este estudo caracteriza-se como exploratório, utilizando-se como técnica de
pesquisa a revisão sistemática da literatura com o objetivo de identificar estudos
desenvolvidos no Brasil, relativos ao estudo sobre a temática ‘Urbano’. Foram
consultados no período de agosto de 2017 a maio de 2018, artigos publicados entre os
anos 2000 e 2018, de acesso livre e indexados nas bases de dados SciELO e Web of
Science. Para tanto, foram utilizadas palavras-chave, como também o sinal de asterisco
no final das palavras para recuperar as variações dos sufixos: As palavras-chave utilizadas
foram: “vulnerabilidade socioambiental”, vulnerabilidade urbana, vulnerabilidade
socioambiental urbana, índices de vulnerabilidade socioambiental urbano, indicadores de
vulnerabilidade socioambiental urbano e sistema de indicadores de vulnerabilidade
socioambiental urbano, no idioma português e inglês, os quais possibilitaram encontrar
187 publicações.
Inicialmente, foi realizada uma triagem para identificação dos artigos que se
repetiam nas plataformas analisadas. Em seguida, fez-se a exclusão dos artigos que não
apresentaram nominalmente “sistemas de indicadores”, “indicadores” ou “índices” no
corpus do texto do artigo. Ou seja, que faziam apenas uma citação de uma das palavras-
chave em seu título ou resumo. Foram excluídos os artigos que utilizavam autores em sua
metodologia que já havia sido utilizado por outros autores. No final, obteve-se como
resultado 61 publicações do tipo estudo de caso que foram lidos e analisados de forma
sistemática, buscando: a) identificar os indicadores aplicados; b) identificar possíveis
temas.
No segundo momento foram analisados cada um dos artigos para se estudar os
sistemas de indicadores propostos e verificar os indicadores apresentados. Ademais, nos
artigos que não apresentavam um sistema de indicadores de forma explícita, buscou-se
identificar os temas analisados por eles. Após a análise e seleção destes textos, o resultado
foi de 20 referências que embasaram a proposição de temas e indicadores.
Como complemento às análises dos artigos, foram incluídas seis livros
considerados fundamentais à compreensão sobre questões urbanas. Para a escolha destas
53

obras foram definidos os seguintes critérios: a) estudos empíricos que descreveram a


realidade urbana em cidades brasileiras, ao passo que evidenciaram variáveis importantes
de serem analisadas em qualquer outra cidade; b) estudos que traziam no seu cerne
abordagem teóricas e metodológicas relacionadas ao fenômeno da urbanização e as suas
implicações com a vulnerabilidade socioambiental. Estes critérios se pautaram na
necessidade de identificar variáveis que ao serem analisadas, possibilitassem retratar o
cenário de vulnerabilidade das cidades brasileiras para além dos desastres naturais. Desta
feita, os autores escolhidos foram Kowarick (2009), Souza (2009); Jacobs (2011), Rogers
(2015), Gehl (2015), Rolnik (2015).
Após concluída a leitura e revisão de todos os textos, foi elaborado um quadro
para se realizar um comparativo entre todos os autores e verificar a frequência com que
os temas se apresentavam nos estudos, de modo que quanto maior fosse a frequência com
que os temas se apresentassem, mais relevantes eram para compor o conjunto de
indicadores para análise da vulnerabilidade socioambiental para cidades brasileiras.
Como forma de visualizar esquematicamente a descrição do procedimento de
buscas dos artigos, a Figura 01 representa o delineamento metodológico utilizado.
54

Figura 01: Delineamento metodológico da pesquisa

Técnica de pesquisa

Revisão Sistemática da Literatura

Bases de Dados

SciElo e Web of Science

Descritores Utilizados
Vulnerabilidade socioambiental, Vulnerabilidade urbana, Vulnerabilidade socioambiental urbana,
Índices de vulnerabilidade socioambiental urbano, Indicadores de vulnerabilidade socioambiental
urbano, sistema de indicadores de de vulnerabilidade socioambiental urbano.

Espaço Temporal
Artigos publicados nos últimos 08 anos e de acesso livre, coletados no período de agosto de 2017 a
maio de 2018. Foram identificados 187 publicações.

Triagem
Excluídos: a) os artigos que se repetiam em mais de uma das plataformas analisadas; b) os artigos que
não apresentaram nominalmente “sistemas de indicadores”, “indicadores” ou “índices” no corpo do
texto; c) os artigos que faziam apenas uma reaplicação de sistemas (ou indicadores, ou índices) em
outro lócus de estudo diferente do proposto pelo trabalho original que já houvesse sido analisado.

Critérios para escolha das referências bibliográficas


Foram escolhidos seis livros com base nos seguintes critérios: a) estudos empíricos que descreveram
a realidade urbana em cidades brasileiras, ao passo que evidenciaram variáveis importantes de serem
analisadas em qualquer outra cidade; b) estudos que traziam no seu cerne abordagem teóricas e
metodológicas relacionadas ao fenômeno da urbanização e as suas implicações com a vulnerabilidade
socioambiental urbana. Desta feita, os autores escolhidos foram Kowarick (2009), Souza (2009);
Jacobs (2011), Rogers (2015), Gehl (2015), Rolnik (2015).

Identificação de temas e respectivos indicadores

Após o delineamento do percurso metodológico seguido, o tópico seguinte


explicita a sua operacionalização.
55

Apresentação e Análise dos Resultados

Os resultados apontam que há poucos estudos que tratam diretamente a temática


específica desta pesquisa. Dos 26 estudos levantados, 17 tratam do conceito de
vulnerabilidade socioambiental com o enfoque nos desastres naturais, nove fazem uma
relação dos conceitos da vulnerabilidade socioambiental com as questões urbanas,
delineando sua implicação no direcionamento de políticas públicas.
Foram analisados 20 artigos e 06 livros. A análise de todos esses estudos permitiu
a identificação dos temas fundamentais para o estudo sobre o Urbano, possibilitando a
seleção dos respectivos ‘Indicadores’ que comporão o conjunto proposto para a análise
da vulnerabilidade socioambiental para cidades brasileiras.
Após a análise de todos os estudos constatou-se que as variáveis apresentadas
circundam em torno de alguns aspectos que se repetem. Para identificar quais os temas
serão propostos para analisar a vulnerabilidade socioambiental em cidades brasileiras, foi
gerada, inicialmente, uma nuvem de palavras a partir dos textos analisados para que se
pudesse observar a frequência com que determinados aspectos se apresentavam nos
diversos estudos.

Figura 02: Nuvem de palavras dos temas que serão propostos

Fonte: Elaboração própria (2019)


56

Como se pode observar na nuvem de palavras, algumas variáveis se sobrepõem a


outras: Social, Educação, Saúde, Moradia, Ambiental e Renda. Tal fato evidencia a
presença e a frequência com que estes aspectos foram apresentados e reiterados pelos
diversos estudos que foram analisados. Assim sendo, tais variáveis são definidas como
temas e serão o eixo norteador para se analisar a vulnerabilidade socioambiental nas
cidades brasileiras.
Com base na identificação dos temas foi elaborada um quadro para analisar a
frequência com que os temas se apresentam nas publicações. É importante ressaltar que
alguns temas apresentados serão tratados como sinônimos de outros, por se entender que
existe apenas uma diferença de nomenclatura e não de significado.

Quadro 02: Quadro de frequência dos temas tratados nas publicações analisadas

Temas
e

Segurança (10)
Infraestrutura
Ambiental (4)

Moradia (5)
Cultura (2)

Política (6)
Autores

urbana (9)
Justiça (7)
Renda (3)
Educação

Saúde (8)
Trabalho
Social (1)

Herculano (2000)
Sposati (2000)
Braga, Freitas e Duarte
(2002)
Nahas (2002)
Rossetto (2003)
Machado (2004)
Braga (2006)
Morato (2008)
Figueiredo (2008)
Ribeiro (2008)
Souza (2009)
Roggero (2009)
Kowarick (2009)
Florissi (2009)
Veiga (2010)
Jacobs (2011)
Pessoa (2012)
Araújo e Cândido (2014)
Maricato (2014)
Maior (2014)
Roggero (2015)
Rogers (2015)
Gehl (2015)
57

Rolnik (2015)
Martins e Cândido (2015)
Pereira; Vieira (2016)
Gomes e Gomes (2017)
Frequência absoluta 27 21 22 21 25 8 12 17 17 13

Frequência relativa 100% 78% 81% 78% 93% 30% 44% 63% 63% 48%

A elaboração desse quadro 02 foi importante, pois permitiu identificar os temas


analisados por cada autor ao desenvolverem seus estudos sobre a vulnerabilidade e sobre
as questões urbanas, consolidando um conjunto de temas que possuem uma relação direta
com o fenômeno da vulnerabilidade socioambiental, sobretudo no cenário urbano. Com
base no Quadro 02, foi elaborado um gráfico com a frequência relativa dos temas nos
estudos analisados, a fim de observar quais são fundamentais na proposição de um
sistema de indicadores para análise da vulnerabilidade socioambiental.

Gráfico 01: Frequência relativa dos temas do quadro 02.

100%
93%

81%
78% 78%

63% 63%

48%
44%

30%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Como pode ser observado no quadro 02 e no gráfico 01, a análise das publicações
permitiu a identificação de 10 temas importantes para a temática deste artigo. O tema 1
(Social) foi o único a ser unanimidade entre todos os autores, o que denota a sua
relevância quando se trata das questões a serem resolvidas ao se estudar as cidades. Em
seguida se apresentam os temas 5, 3, 2, 4 (Moradia, Trabalho e Renda, Educação e Cultura
e Ambiental), respectivamente, foram os que se apresentaram com maior frequência, com
mais de 70% nos estudos analisados. Tal constatação evidencia a importância das
58

condições de moradia, relacionadas com as questões de trabalho e renda que pode


proporcionar melhor condições de vida e dignidade, bem como do nível educacional da
população e as opções de cultura oferecidas. As questões ambientais se apresentaram com
o mesmo percentual que o tema Educação e Cultura, com 78%. Assim sendo, estes temas
são fatores condicionantes para se analisar de forma mais aprofundada os entraves sociais
existentes nas cidades brasileiras, permitindo uma melhor compreensão sobre o que afeta
mais diretamente a vulnerabilidade socioambiental e, de um modo geral, viabilizando o
planejamento e a definição de soluções possíveis.
Em seguida se apresentam os temas 8 e 9 (Saúde e Infraestrutura urbana) ambos
com 63%, denotando que são variáveis relevantes para os estudos que envolvem as
cidades. O tema 10 (Segurança) e o tema 7 (Justiça), apesar de serem uma das grandes
preocupações a serem sanadas nas cidades brasileiras, foram os que se apresentaram com
frequência mediana, com 48% e 44%, respectivamente. O tema 6 (Política) apresentou-
se com 30%, a menor frequência dentre os estudos analisados. Tal fato pode ser
justificado pela ausência de indicadores mensuráveis disponíveis nas bases de dados
oficiais do país que estejam diretamente ligados com estas questões.
O quadro 02 permitiu definir um marco teórico e ordenador para construção de
um sistema de indicadores para análise da vulnerabilidade socioambiental para cidades
brasileiras, em que tem-se o ponto de partida pautado nos 10 temas identificados. Para
cada uma das duas dimensões1 da vulnerabilidade socioambiental, a social e a ambiental,
organizaram-se os temas apresentados na matriz e para cada um deles, foram alocados os
respectivos indicadores, de modo a se obter um conjunto capaz de permitir a mensuração
da vulnerabilidade socioambiental para a realidade das cidades brasileiras.
Nesse processo, os 10 temas apresentados anteriormente foram reduzidos a 08,
considerando que:
1) o tema social foi excluído por ser homônimo a uma das Dimensões e por se
compreender que ele engloba os temas saúde, educação e cultura, trabalho e
renda, moradia e segurança; e poderia ser analisado por meio destes.

1
São consideradas duas dimensões para a análise da vulnerabilidade socioambiental, pois conforme define
Alves (2006) é a coexistência ou sobreposição espacial entre grupos populacionais muito pobres e com alta
privação (vulnerabilidade social) e áreas de risco ou degradação ambiental (vulnerabilidade ambiental).
Portanto, para a análise do fenômenos, tomou-se com ponto de partida a necessidade de análise das
condições sócias e ambientais das cidades brasileiras.
59

2) o tema ambiental foi renomeado por ser homônimo a uma das Dimensões e
por ser amplo e englobar outros temas. Assim sendo, o Ambiental passou a ser
a Dimensão, e o tema denominado de Meio Ambiente.
3) os temas Política e Justiça foram fundidos em um só tema, denominado
Governança, por se entender que tais temas são complementares e são
constituídos por indicadores que se assemelham.
Após a definição dos temas, foram selecionados indicadores que pudessem
retratar o tema em que está contido. Para tanto, além de utilizar os indicadores
apresentados pelos autores que compuseram o quadro 02, buscou-se identificar junto ao
IBGE, de modo específico nas publicações do Censo, dos Indicadores Sociais e Perfil dos
Municípios, outros indicadores que pudessem analisar os temas aqui propostos.
Deste modo, com base na revisão realizada de modo sistematizado, propõe-se
neste estudo um conjunto de indicadores de vulnerabilidade socioambiental constituído
por duas dimensões (Social e Ambiental), oito temas (Saúde, Educação e Cultura,
Trabalho e Renda, Moradia, Segurança, Infraestrutura Urbana, Governança e Meio
Ambiente) e 133 indicadores conforme os Quadros 03 e 04.
Quadro 03: Dimensão Social para análise da Vulnerabilidade Socioambiental em Cidades
Brasileiras
Indicadores Indicadores
Dimensão Temas Indicadores
existentes propostos
Oferta de serviços básicos de saúde; Profissionais de
Saúde; Taxa de estabelecimentos de saúde; Taxa de
leitos hospitalares/SUS por 1000 habitantes; Unidades de
média complexidade; Taxa de unidades de atenção básica;
Atendimento odontológicos do SUS; Imunização contra
Saúde 07 9
doenças infecciosas infantis; Taxa de mortalidade infantil;
Esperança de vida ao nascer; Taxa de fertilidade; Taxa de
adolescentes grávidas; Taxa de abortos; Taxa de casos
de dengue; Taxa de casos de zika; Taxa de casos de
chicungunya.
Taxa de Alfabetização; Taxa de Escolarização; Taxa de
escolarização líquida no Ensino Médio; Taxa de
escolarização líquida no Ensino Fundamental; Proporção
Social de jovens de 15 a 17 anos sem ensino fundamental
completo; Taxa de escolas de ensino fundamental e médio
na proximidade; Taxa de matrículas escolares; Pessoas
Educação consideradas potencialmente ativa (15-59 anos) que não
15 02
e Cultura sabem ler e escrever; População em idade escolar;
Percentual de professores secundários; Taxa de distorção
idade-série; Acesso a computador em casa; Acesso
público à internet; Taxa de museu na proximidade; Taxa de
biblioteca na proximidade; Taxa de teatro na proximidade;
Número de estádios e ginásios poliesportivos (ou
equipamentos desportivos).
Índice de Gini; Razão rendimento masculino/feminino;
Trabalho e
Rendimento mensal domiciliar per capita urbano; 14 06
renda
Rendimento familiar per capita (% até 1/2 SM); % de
60

famílias com rendimento de 10 a 20 SM; % de responsáveis


por domicílio particular permanente com rendimento
mensal de até 2SM; % de famílias chefiadas por pessoas
jovens; % de famílias chefiadas por pessoas idosas;
População (urbana) com rendimento mensal domiciliar per
capita nominal de até 1/4 salário mínimo; Famílias
atendidas por transferências de benefícios sociais; % de
mulheres jovens responsáveis pelo domicílio; % de
mulheres idosas responsáveis pelo domicílio; Taxa de
famílias monoparentais com chefia feminina (“mães
solteiras”); Taxa de pessoas ocupadas nas empresas do
setor informal; Taxa de Ocupação; Taxa de desemprego;
Taxa de Formalidade da Ocupação; Taxa de indústrias
na cidade; Taxa de empresas com incentivos fiscais;
População urbana em extrema pobreza.
Adequação de moradia; Taxa de pessoas que moram em
casa própria; Taxa de assentamentos subnormais na
cidade; População em aglomerados subnormais; Taxa
de casas localizadas próximas à córregos e/ou em
ambientes sujeitos à inundação; Taxa de casas
localizadas em áreas de acentuada declividade;
Domicílio com banheiro - esgotamento sanitário - rede
geral; Percentual de domicílios servidos por rede de
esgotamento sanitário; Acesso a esgotamento sanitário; %
de domicílios particulares permanentes inadequados; % de
domicílios particulares permanentes sem banheiro; % de
Moradia domicílios particulares permanentes com dois ou mais 15 07
banheiros; Densidade média de moradores por dormitório;
Acesso ao sistema de abastecimento de água; Percentual de
domicílios servidos por rede de água; Domicílios com
abastecimento de água - Rede geral, com banheiro; Acesso
a serviço de coleta de lixo doméstico; Percentual de
domicílios servidos com algum tipo de coleta de lixo;
Densidade média de moradores de rua; Domicílios com
acesso a rede elétrica; População atendida com
frequência de 2 ou 3 vezes por semana pelo serviço de
coleta de resíduos; Taxa de conjunto habitacional de
interesse social
Acesso à justiça; Prevenção de delinquência juvenil;
Taxa de assaltos; Pessoas (adultos e adolescentes)
dependentes químicos (álcool, drogas); Taxa de
violência nas escolas públicas; Taxa de empresas ou
Segurança 04 05
profissionais de segurança privada; Profissionais de
segurança pública por mil habitantes; Taxa de vítimas de
acidentes de trânsito; Taxa de mortalidade por
homicídios.
Total de indicadores 55 29
Legenda: Os indicadores propostos estão destacados em negrito.

A Dimensão Social está composta pelos Temas Saúde, Educação e cultura,


Trabalho e renda, Moradia e Segurança e por um total de 85 indicadores. O tema saúde é
composto por 17 indicadores; o tema Educação e Cultura por 17 indicadores; o tema
trabalho e renda por 20 indicadores; o tema moradia por 22 indicadores e o tema
segurança por 9 indicadores. Dos 85 indicadores que compõem a Dimensão Social 30 são
novos indicadores propostos neste trabalho para análise das cidades brasileiras.
61

As variáveis sociais foram apontadas com mais frequência pelos estudos


analisados na revisão sistemática. Tal fato se deve a dois motivos: 1) a facilidade com
que estes indicadores são mensurados e a sua disponibilidade nas bases de dados; 2) as
questões sociais são preponderantes para se analisar a vulnerabilidade socioambiental nas
cidades brasileiras.
Os indicadores da Dimensão Social estão direcionados à análise de alguns
aspectos sociais que influenciam na qualidade de vida das pessoas e no acesso de forma
igualitária aos serviços oferecidos à população. Ademais, revelam questões sociais de
quem vive em condições de pobreza nas cidades e que, por ocuparem zonas mais
periféricas, não dispõem de condições mínimas de habitação, saneamento básico, acesso
à saúde, dentre outros. Este cenário, além de promover baixa qualidade de vida para a
população e promover um nível de insustentabilidade na cidade, a coloca à margem da
vida das cidades e sem o sentimento de pertencimento e inclusão na própria cidade em
que vivem.
A Dimensão Ambiental é composta pelos temas Infraestrutura urbana,
Governança e Meio ambiente, e por um total de 49 indicadores. O tema Infraestrutura
urbana é composto por 14 indicadores; o tema Governança por 18 indicadores e o tema
Meio Ambiente por 17 indicadores.

Quadro 04: Dimensão Ambiental para análise da Vulnerabilidade Socioambiental em Cidades Brasileiras
Indicadores Indicadores
Dimensão Temas Indicadores
existentes propostos
Taxa de urbanização; Taxa de crescimento da população;
Densidade demográfica urbana; Taxa de espaço público
para caminhada; Taxa de espaços públicos de
permanência; Taxa de praças e/ou parques;
Infraestrutura
Equipamentos públicos; Taxa de ciclovias; Sistema 03 29
Urbana
Integrado de Transporte Coletivo; Média de ônibus
por linhas; Abrangência do sistema de transporte
coletivo; Qualidade da Frota de ônibus; Taxa de
automóveis; Taxa de Acidentes no trânsito.
Conselho Municipal de segurança pública; Conselho
Municipal do Patrimônio Cultural; Conselho
Ambiental
Municipal de Transporte; Legislação urbanística e
ambiental; Legislação municipal de preservação do
patrimônio histórico e cultural; Normas para
construção e edificações; Normas para urbanização e
Governança regulamentação fundiária; Plano Diretor 0 18
participativo; Despesas com melhoria e ampliação do
sistema de transporte; Despesas com direito à
cidadania; Despesas com patrimônio cultural e
difusão da cultura; Despesas com gestão ambiental;
Despesas com Saneamento Básico Urbano; Despesas
com Habitação Urbana; Despesas com Infraestrutura
62

Urbana; Despesas com planejamento e orçamento;


Secretaria municipal de planejamento urbano;
Órgãos de defesa do consumidor.
Consumo médio de energia elétrica urbana; Iluminação
pública; Empresas de produção de energias alternativas;
Consumo per capita de água(m3/hab); Aferição do cloro
residual na água; Amostras de cloro residual dentro do
padrão de qualidade; Aferição de turbidez na água;
Meio Amostras de turbidez dentro do padrão de qualidade;
14 03
Ambiente Aferição de coliformes totais na água; Amostras de
coliformes totais dentro do padrão de qualidade; Esgoto
tratado em relação ao coletado; Destino do lixo; Coleta
seletiva do lixo; Resíduos sólidos urbanos per capita;
Serviços de limpeza urbana; Áreas de proteção
ambiental; Taxa de árvores per capita
Total de indicadores 17 32
Legenda: Os indicadores propostos estão destacados em negrito.

É importante observar que os estudos analisados na revisão sistemática apontaram


as questões de meio ambiente e infraestrutura urbana como temas frequentes com 77% e
62%, respectivamente. No entanto, dos 49 indicadores que compõem a Dimensão
Ambiental apenas 17 indicadores eram analisados nestes estudos e que em sua maioria se
concentrava no Tema Meio Ambiente. Assim sendo, 32 novos indicadores são propostos
neste estudo por se entender a necessidade de uma análise mais aprofundada sobre as
questões ambientais nas cidades brasileiras.
O tema Governança engloba os temas política e justiça e apresentaram 31% e 46%
dos estudos, respectivamente. Mesmo apresentando-se com um percentual que os
colocam em destaque, não foi identificado explicitamente muitos indicadores possíveis
de analisá-los. Desse modo, partiu-se para as diversas bases de dados com o intuito de
identificar indicadores capaz de traduzir o tema Governança. Foram definidos 18
indicadores capazes de verificar como as cidades possibilitam uma cenário mais
equitativo e igualmente regimentado para todas as pessoas. Os indicadores que compõem
o tema Governança são categóricos, sendo portanto, analisados de forma binária e
medidos pela sua presença/ausência nas cidades. Além disso, diz respeito a análise para
cidade e não para bairros como os demais indicadores, pois analisam os órgãos,
documentos e regimentos existentes nas cidades.
A proposição de um número maior de indicadores visa suprir a lacuna da ausência
de indicadores para análise das questões ambientais e possibilitar o conhecimento sobre
um quantitativo maior de variáveis possíveis e que consigam retratar o seu respectivo
tema e, por conseguinte, compor de forma mais abrangente a compreensão sobre a
vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras.
63

Os indicadores propostos para a Dimensão Ambiental traçam um perfil da cidade,


analisando questões que envolvem o bem estar, qualidade de vida, questões ambientais,
instrumentos públicos, de gestão pública e participação ativa da população, bem como de
infraestrutura urbana que a cidade disponibiliza para a população, permitindo identificar
a relação da população com a cidade, através de variáveis que analisam o envolvimento
dos citadinos e o uso que fazem dos ambientes públicos.
O arcabouço de 133 indicadores apresentados, dos quais 62 indicadores são novas
proposições para a análise da vulnerabilidade urbana em cidades brasileiras, constitui uma
ferramenta que visa colaborar para a análise de tal fenômeno, permitindo assim, o
planejamento e a definição de ações de políticas públicas que visem melhor estruturar as
cidades, tornando-as vivas, com qualidade de vida e capazes de serem sustentáveis para
os seus citadinos.
Desse modo, o conjunto de indicadores propostos permite maior flexibilidade para
sua aplicação, uma vez que o pesquisador pode fazer a escolha dos indicadores que irão
compor sua análise, buscando aqueles que tenham maior facilidade de acesso, ou ainda
os que tenham os dados mais atualizados para a cidade que será analisada, não
condicionando assim, a análise de um tema e da respectiva dimensão a um indicador
específico.

5 Considerações Finais

Analisar a vulnerabilidade socioambiental das cidades brasileiras, ultrapassando


os limites de compreensão para além dos desastres naturais, constitui-se um importante
avanço nos estudos acerca da temática, permitindo outros olhares e a inserção de outros
construtos teóricos para facilitar o seu entendimento.
O marco metodológico proposto neste estudo permite a consolidação de um
conjunto de indicadores para, quando da sua aplicação, possibilitar a análise da
vulnerabilidade socioambiental em cidades brasileiras, contribuindo para uma análise
mais profícua e alinhada com a realidade brasileira, principalmente por não estar
embasada unicamente na ótica dos desastres naturais, mas englobando a perspectiva das
questões sociais, de justiça social, de cidadania e que visam o bem estar da cidade,
variáveis estas, que são mais latentes e reais no contexto brasileiro.
Fatalmente a Dimensão Social dispõe de um maior quantitativo de temas e
indicadores que conseguem traduzi-la e analisa-la sob um quantitativo maior de aspectos.
64

Isso decorre da diversidade de estudos com foco nos aspectos sociais, bem como da
quantidade de indicadores disponíveis nas diversas bases de dados, dentre elas o IBGE.
Tal fato endossa a relevância dos estudos que envolvem as problemáticas sociais no Brasil
e o quanto demandam novos estudos que visem o diagnóstico, o monitoramento e o
direcionamento de ações para mitiga-las.
Por outro lado, a Dimensão Ambiental se apresentou com menor quantitativo de
variáveis. Tal fato direcionou para que, neste estudo, fosse realizada a proposição de um
número maior de novos indicadores para esta dimensão, apontando para a necessidade do
desenvolvimento de estudos que busquem estabelecer formas de mensuração e de
métricas e que tornem estes indicadores quantificáveis, promovendo assim, mais avanços
nos estudos sobre a vulnerabilidade socioambiental em contextos urbanos.
Estas questões, quando analisadas, proporcionam novos entendimentos sobre o
fenômeno, por estar pautada nas especificidades do Brasil, fomentando o planejamento e
a gestão, a partir de uma perspectiva integradora e sistêmica. Ademais, podem contribuir
para um plano de avaliação de políticas e programas específicos para atender cada região
ou cada bairro, respondendo mais prontamente às demandas mais pujantes.
Desse modo, este estudo, ultrapassa os ditames acadêmicos e revela-se como um
importante instrumento de apoio para os gestores públicos, contribuindo para o
direcionamento de políticas que visem o bem-estar da cidade e da sociedade. No entanto,
não se apresenta aqui a intenção de exaurir a discussão sobre os indicadores que visem a
análise da vulnerabilidade socioambiental para as cidades brasileiras, mas, sobretudo,
contribuir com os estudos sobre a temática dada a sua complexidade de entendimento e
análise.

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69

CAPÍTULO 02
70

VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: UMA ANÁLISE DOS INDICADORES NA CIDADE DE NATAL –


RN
Este artigo está aceito para publicação no periódico Revista Ibero-Americana de Ciências
Ambientais (RICA V10 N01 2019), Qualis CAPES B1 para Ciências Ambientais, para lançamento
em 2019, da Sustenere Publishing Corporation e, portanto, está formatado de acordo com as
recomendações desta revista. http://www.sustenere.co/journals/index.php/rica

Ana Cecília Feitosa de Vasconcelos, Eliza Maria Xavier Freire, Gesinaldo Ataíde Cândido.

Resumo
Indicadores podem ser compreendidos como uma medida que busca sintetizar informações
relevantes de um dado fenômeno, analisando seu comportamento ao longo de um espaço
temporal. Quando utilizados para análise da vulnerabilidade socioambiental o uso dessa
ferramenta se torna fundamental, pois permite a identificação de bairros vulneráveis e facilita
seu monitoramento temporal, viabilizando o acompanhamento das variáveis analisadas. Neste
sentido, este artigo tem como objetivo analisar a vulnerabilidade socioambiental da cidade de
Natal- RN, a partir de um conjunto de indicadores que enfatizam as questões sociais e
ambientais e que caracterizam o cenário urbano brasileiro. Para tanto, realizou-se um estudo
exploratório e descritivo, por meio da pesquisa bibliográfica e documental. Os resultados
apontam que o nível de vulnerabilidade socioambiental para a cidade de Natal foi de 0,4709,
classificado como ‘Alto’. Esse resultado é considerado insatisfatório e preocupante, pois coloca
a cidade frente a muitas problemáticas que demandam urgência na sua resolução, como forma
de garantir condições mínimas de qualidade de vida aos seus citadinos. No entanto, é
importante salientar a importância de analisar a cidade com um olhar mais direcionado para
cada tema e cada indicador analisado e identificar quais deles necessitam de mais atenção para
sanar as problemáticas que os envolvem.

Palavras-chave: Indicadores. Vulnerabilidade. Urbano.

SOCIAL-ENVIRONMENTAL VULNERABILITY: AN ANALYSIS OF THE INDICATORS IN THE CITY OF


NATAL - RN

Abstract
Indicators can be understood as a measure that seeks to synthesize relevant information from
a given phenomenon, analyzing its behavior over a temporal space. When used to analyze socio-
environmental vulnerability, the use of this tool becomes fundamental, since it allows the
identification of vulnerable neighborhoods and facilitates their temporal monitoring, making
possible the monitoring of the analyzed variables. In this sense, this article aims to analyze the
socio-environmental vulnerability of the city of Natal-RN, based on a set of indicators that
emphasize social and environmental issues and characterize the Brazilian urban scenario. For
that, an exploratory and descriptive study was carried out, through bibliographical and
documentary research. The results indicate that the level of socio-environmental vulnerability
for the city of Natal was 0.4709, classified as 'High'. This result is considered unsatisfactory and
worrying because it puts the city facing many problems that require urgency in its resolution, in
order to guarantee minimum conditions of quality of life for its citizens. However, it is important
to stress the importance of analyzing the city with a more targeted look at each theme and each
71

indicator analyzed and identifying which ones need more attention to mitigate the issues that
involve them.

Keywords: Indicators. Vulnerability. Urban.

Introdução
Indicadores podem ser compreendidos como uma medida que busca sintetizar
informações relevantes de um dado fenômeno, analisando seu comportamento ao longo de um
intervalo temporal. Por serem percebidos como uma ferramenta importante no debate que
envolve as questões de interesse público, quando bem elaborados, sua utilização pode
proporcionar conclusões analíticas ou políticas de forma mais simples. É neste contexto que se
entende que para a utilização de indicadores, é necessário o embasamento teórico acerca do
fenômeno estudado, neste caso específico, a vulnerabilidade socioambiental, bem como o
conhecimento de técnicas que viabilizem a sua execução e da contribuição para uma melhor
compreensão do fenômeno que o sistema de indicadores envolve.
Para este estudo, a vulnerabilidade socioambiental é o elemento a ser analisado e,
portanto, é preciso compreender sua definição. Para Cutter (2011) vulnerabilidade corresponde
ao “potencial para a perda”. Para esta autora, a vulnerabilidade inclui tanto os “elementos de
exposição ao risco” como os “fatores de propensão às circunstâncias que aumentam ou
reduzem as capacidades da população, das infraestruturas ou dos sistemas físicos para
responder e se recuperar de ameaças ambientais” (CUTTER 2011, p.60).
É nesse sentido que os problemas advindos da poluição e degradação do meio, da crise
dos recursos naturais energéticos e alimentares, das mudanças climáticas que atingem todo o
planeta, se tornam mais impactantes em áreas periféricas, que além de acometidos pela
pobreza, sequer tem os seus direitos civis atendidos. São nessas áreas periféricas que o poder
público, em geral, está ausente e onde existe uma deficiência de estrutura capaz de oferecer à
população oportunidades dignas de serviços, trabalho e lazer.
Nesta perspectiva, Kowarick (2000) expõe que não só a relação natureza e sociedade
gera a vulnerabilidade, mas afirma que existe muita vulnerabilidade em relação a direitos
básicos, na medida em que não só os sistemas públicos de proteção social foram sempre
restritos e precários, como também, em anos recentes, houve desmonte de serviços e novas
regulamentações que se traduziram em perda de direitos adquiridos.
Embasada nesse entendimento é que se reconhece que o estudo da vulnerabilidade
envolve uma discussão ampla e relevante por ter um caráter multidisciplinar e indica que a
suscetibilidade das pessoas a problemas e perdas estão, principalmente, relacionadas ao
72

conjunto das profundas transformações sociais, econômicas e ambientais que afetam, pelo
mundo inteiro, as pessoas ou grupos de pessoas (KOWARICK 2009).
Ademais, é preciso a compreensão de que a definição de vulnerabilidade socioambiental
deve envolver uma percepção mais integrada das condições de vida de uma dada população.
Deve-se olhar e perceber que os impactos advindos dos desastres naturais reconfiguram os
cenários urbanos e impactam a forma e condição de vida das pessoas, mas também, que o
contexto de construção da sociedade e do processo de expansão urbana nas cidades brasileiras,
faz com que uma parte da população desconheça seus direitos e experimentem de forma
intensa uma sobreposição de desigualdades sociais: pobreza, segregação espacial, ausência de
conforto urbano e, principalmente, os direitos à cidadania.
De acordo com o documento final da Conferência Mundial para a Redução de Desastres
em Kobe (UN, 2005) é latente a necessidade de se desenvolver indicadores de risco e
vulnerabilidade nos níveis nacional e subnacional como forma de permitir aos tomadores de
decisão um melhor diagnóstico das situações de risco e vulnerabilidade.
É nesse sentido que nas pesquisas sobre a vulnerabilidade socioambiental no Brasil,
destaca-se a importância de estudar as cidades com um olhar mais direcionado para os
problemas sociais, que explicitam um nível mais baixo de qualidade de vida, decorrente, em
geral, dos fenômenos de conurbação e periferização, advindos do processo de adensamento
populacional. Tais fenômenos levam uma parcela da população a ocuparem novas áreas,
modificando o uso do solo, se tornando invisíveis aos olhos do poder público e,
consequentemente, compondo um quadro de vulnerabilidade socioambiental.
Estudar a vulnerabilidade socioambiental nas cidades brasileiras exige uma perspectiva
mais ampla. É preciso compreender que o processo de vulnerabilidade no Brasil não decorre dos
desastres naturais, mas das questões sociais que acometem as pessoas que vivem nos centros
urbanos. Por esta compreensão é preciso que se tome como base as questões que envolvem o
processo histórico e cultural de expansão urbana nas cidades e se compreenda todas as
dificuldades sociais e econômicas a que muitas pessoas são submetidas nas cidades. Nesse
sentido, neste estudo optou-se por seguir alguns autores que enfatizam em seus estudos as
problemáticas que acometem as cidades brasileiras. Dentre eles, pode-se citar: Herculano
(2000), Sposati (2000), Alves (2006), Kowarick (2009), Souza (2009), Maricato (2014), Gehl
(2015), Rogers (2015), Rolnik (2015), e outros autores que estudam as problemáticas urbanas
como suporte a estes autores: Braga, Freitas e Duarte (2002), Nahas (2002), Rossetto (2003),
Machado (2004), Braga (2006), Morato (2008), Figueiredo (2008), Ribeiro (2008), Roggero
(2009), Florissi (2009), Veiga (2010), Jacobs (2011), Pessoa (2012), Araújo e Cândido (2014),
73

Maior (2014), Roggero (2015), Martins e Cândido (2015), Pereira e Vieira (2016), Gomes e
Gomes (2017).
Com base nos apontamentos até aqui realizados, o presente estudo adota como recorte
espacial a cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, uma vez que possui uma dinâmica
socioambiental urbana complexa, decorrente das suas características naturais. A referida capital
tem sido alvo de muitos investimentos, tanto no âmbito público quanto no privado, ao passo
que percebe-se outras áreas que, em decorrência do crescimento desordenado, exigem uma
maior demanda por serviços de infraestrutura e moradia. Deste modo, a escolha de Natal está
relacionada ao seu processo de expansão urbana, bem como por sua importância econômica e
política que possui, por ser capital do estado.
A partir destas considerações, este artigo tem como objetivo analisar a vulnerabilidade
socioambiental da cidade de Natal- RN, a partir de um conjunto de indicadores que enfatiza as
questões sociais e ambientais que caracterizam o cenário urbano brasileiro.
Em termos metodológicos este estudo se classifica como sendo exploratório e
descritivo. Neste caso específico, pela necessidade de descrição de uma realidade revelada
através do cálculo do índice de vulnerabilidade socioambiental urbano da cidade de Natal – RN.
As técnicas de pesquisa adotadas foram a pesquisa bibliográfica, como forma de obter
embasamento teórico no que se refere aos conceitos e abordagens sobre as temáticas; a
pesquisa documental para levantar dados e informações necessárias da cidade, bem como os
dados referentes aos indicadores de vulnerabilidade socioambiental escolhidos para a análise
dos bairros de Natal.
Este artigo apresenta, além destas considerações iniciais que contextualizam a
problemática do estudo, a segunda seção que apresenta os procedimentos metodológicos
utilizado para o alcance do objetivo e, em seguida a apresentação e análise dos resultados e as
considerações finais.
Procedimentos Metodológicos
Dada às características da pesquisa realizada, este estudo se classifica como sendo
exploratório e descritivo. Neste caso específico, pela necessidade de descrição de uma realidade
revelada através do cálculo do índice de vulnerabilidade socioambiental urbano da cidade
brasileiras, o qual foi conduzido sob a forma de estudo de caso na cidade de Natal – RN.
As técnicas de pesquisa adotadas foram a pesquisa bibliográfica, como forma de obter
embasamento teórico no que se refere aos conceitos e abordagens sobre as temáticas; a
pesquisa documental para levantar dados e informações necessárias da cidade, bem como os
dados referentes aos indicadores de vulnerabilidade socioambiental escolhidos para a análise
dos bairros de Natal.
74

Figura 01: Delineamento esquemático da aplicação do arcabouço

Escolha dos indicadores para Natal (RN) a partir do arcabouço proposto

Coleta dos dados secundários para os indicadores escolhidos

Normalização dos indicadores

Cálculo dos índices por Tema para cada bairro

Cálculo do Índice de Vulnerabilidade Socioambiental da cidade de Natal

Fonte: Elaboração própria

A partir da explicitação do delineamento metodológico, segue abaixo a explicação e cada


uma das etapas como forma de facilitar o entendimento e a sua operacionalização para
obtenção do índice de vulnerabilidade socioambiental para a cidade de Natal - RN

Escolha dos indicadores para análise de Natal – RN


A escolha dos indicadores é realizada em função da disponibilidade dos dados no nível
de granularidade por bairros. Para tanto, diante do conjunto de 133 indicadores propostos,
serão utilizados todos os indicadores que tenham dados disponíveis para os bairros de Natal.

Quadro 02: Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental para cidade brasileiras

Dimensão Temas Indicadores


Oferta de serviços básicos de saúde; Profissionais de Saúde; Taxa de
estabelecimento de saúde; Taxa de estabelecimentos de saúde; Taxa de leitos
hospitalares/SUS por 1000 habitantes; Unidades de média complexidade; Taxa
de unidades de atenção básica; Atendimento odontológicos do SUS; Imunização
Saúde
contra doenças infecciosas infantis; Taxa de mortalidade infantil; Esperança de
vida ao nascer; Taxa de fertilidade; Quant. de adolescentes grávidas; Quant. de
abortos; Quant. de casos de dengue; Quant. de casos de zika; Quant. de casos
Social
de chicungunya.
Taxa de Alfabetização; Taxa de Escolarização; Taxa de escolarização líquida no
Ensino Médio; Taxa de escolarização líquida no Ensino Fundamental; Proporção
Educação e de jovens de 15 a 17 anos sem ensino fundamental completo; Quant. de escolas
Cultura de ensino fundamental e médio na proximidade; Quantitativo de matrículas
escolares; Pessoas consideradas potencialmente ativa (15-59 anos) que não
sabem ler e escrever; População em idade escolar; Percentual de professores
75

secundários; Taxa de distorção idade-série; Acesso a computador em casa;


Acesso público à internet; Quant. de museu na proximidade; Quant. de
biblioteca na proximidade; Quant. de teatro na proximidade; Número de
estádios e ginásios poliesportivos (ou equipamentos desportivos).
Índice de Gini; Razão rendimento masculino/feminino; Rendimento mensal
domiciliar per capita urbano; Rendimento familiar per capita (% até 1/2 SM); %
de famílias com rendimento de 10 a 20 SM; % de responsáveis por domicílio
particular permanente com rendimento mensal de até 2SM; % de famílias
chefiadas por pessoas jovens; % de famílias chefiadas por pessoas idosas;
População (urbana) com rendimento mensal domiciliar per capita nominal de
Trabalho e
até 1/4 salário mínimo; Famílias atendidas por transferências de benefícios
renda
sociais; % de mulheres jovens responsáveis pelo domicílio; % de mulheres idosas
responsáveis pelo domicílio; Quant. de famílias monoparentais com chefia
feminina (“mães solteiras”); Quant. de pessoas ocupadas nas empresas do setor
informal; Taxa de Ocupação; Taxa de desemprego; Taxa de Formalidade da
Ocupação; Quantitativo de indústrias na cidade; Quantitativo de empresas com
incentivos fiscais; População urbana em extrema pobreza.
Adequação de moradia; Quant. de pessoas que moram em casa própria; Quant.
de assentamentos subnormais na cidade; População em aglomerados
subnormais; Taxa de casas localizadas próximas à córregos e/ou em ambientes
sujeitos à inundação; Taxa de casas localizadas em áreas de acentuada
declividade; Domicílio com banheiro - esgotamento sanitário - rede geral;
Percentual de domicílios servidos por rede de esgotamento sanitário; Acesso a
esgotamento sanitário; % de domicílios particulares permanentes inadequados;
% de domicílios particulares permanentes sem banheiro; % de domicílios
Moradia particulares permanentes com dois ou mais banheiros; Densidade média de
moradores por dormitório; Acesso ao sistema de abastecimento de água;
Percentual de domicílios servidos por rede de água; Domicílios com
abastecimento de água - Rede geral, com banheiro; Acesso a serviço de coleta
de lixo doméstico; Percentual de domicílios servidos com algum tipo de coleta
de lixo; Densidade média de moradores de rua; Domicílios com acesso a rede
elétrica; População atendida com frequência de 2 ou 3 vezes por semana pelo
serviço de coleta de resíduos; Quant. de conjunto habitacional de interesse
social
Acesso à justiça; Prevenção de delinquência juvenil; Quant. de assaltos; Pessoas
(adultos e adolescentes) dependentes químicos (álcool, drogas); Taxa de
Segurança violência nas escolas públicas; Quantitativo de empresas ou profissionais de
segurança privada; Profissionais de segurança pública por mil habitantes; Taxa
de vítimas de acidentes de trânsito; Taxa de mortalidade por homicídios.
Taxa de urbanização; Taxa de crescimento da população; Densidade
demográfica urbana; Quant. de espaço público para caminhada; Quantitativo
de espaços públicos de permanência; Quant. de praças e/ou parques;
Infraestrutura
Equipamentos públicos; Quant. de ciclovias; Sistema Integrado de Transporte
Urbana
Coletivo; Média de ônibus por linhas; Abrangência do sistema de transporte
coletivo; Qualidade da Frota de ônibus; Quant. de automóveis; Quant. de
Acidentes no trânsito.
Conselho Municipal de segurança pública; Conselho Municipal do Patrimônio
Cultural; Conselho Municipal de Transporte; Legislação urbanística e ambiental;
Ambiental
Legislação municipal de preservação do patrimônio histórico e cultural; Normas
para construção e edificações; Normas para urbanização e regulamentação
fundiária; Plano Diretor participativo; Despesas com melhoria e ampliação do
Governança sistema de transporte; Despesas com direito à cidadania; Despesas com
patrimônio cultural e difusão da cultura; Despesas com gestão ambiental;
Despesas com Saneamento Básico Urbano; Despesas com Habitação Urbana;
Despesas com Infraestrutura Urbana; Despesas com planejamento e
orçamento; Secretaria municipal de planejamento urbano; Órgãos de defesa do
consumidor.
76

Consumo médio de energia elétrica urbana; Iluminação pública; Empresas de


produção de energias alternativas; Consumo per capita de água(m3/hab);
Aferição do cloro residual na água; Amostras de cloro residual dentro do padrão
de qualidade; Aferição de turbidez na água; Amostras de turbidez dentro do
Meio
padrão de qualidade; Aferição de coliformes totais na água; Amostras de
Ambiente
coliformes totais dentro do padrão de qualidade; Esgoto tratado em relação ao
coletado; Destino do lixo; Coleta seletiva do lixo (IBGE); Resíduos sólidos
urbanos per capita; Serviços de limpeza urbana; Áreas de proteção ambiental;
Quant. de árvores per capita
Fonte: Revisão teórica (2018)

É importante destacar que o Tema Governança é constituído por indicadores que são
analisados apenas para cidades de forma binária. A existência dos indicadores na cidade
analisada será considerada uma situação ideal, devendo-se ser atribuído valor 1,00 (nível de
vulnerabilidade muito baixo). A ausência dos indicadores na cidade é considerada uma situação
irregular, devendo-se ser atribuído valor 0,00 (nível de vulnerabilidade muito alto).
Para a coleta de dados e cálculo dos demais indicadores, deve-se seguir as etapas que
estão elencadas abaixo.

Coleta dos dados secundários dos indicadores escolhidos


Os dados secundários referentes a cada um dos indicadores foram catalogados a partir
da consulta nas bases de dados que disponibilizam informações referentes às cidades brasileiras,
dentre as quais o IBGE, Prefeitura Municipal de Natal (RN), Datasus, Anatel, Tribunal Regional
Eleitoral, Secretaria do Tesouro Nacional, Ministério das Cidades, Ministério da Cultura.

Normalização dos indicadores


A necessidade de harmonizar escalas de diferentes vetores de dados relativos à cada
indicador pode ser suprida pela normalização dos valores desses vetores.
Este processo corresponde, numericamente, à adaptação de escalas, mediante algum
processo de mapeamento do espaço de valores originais, para o espaço de valores desejados.
Existem diversos métodos na literatura para normalização de dados, a citar a
normalização ou escalonamento min-max, a normalização ou padronização pelo escore-z,
normalização ou escalonamento pelo comprimento do vetor, normalização pela média, entre
outras.
Para esse trabalho, será usada a normalização min-max que mapeia os dados do vetor
original X em um novo domínio, definido pelo intervalo [Lmin, Lmax], por meio de
transformações lineares, definidas pela função
𝑋−𝑋𝑚𝑖𝑛
𝑋′ = (𝐿𝑚𝑎𝑥 − 𝐿min ) + 𝐿𝑚𝑖𝑛 , [1]
𝑋𝑚𝑎𝑥 − 𝑋𝑚𝑖𝑛
77

em que 𝑋 = {(𝑥1 , 𝑥2 , 𝑥3 , … , 𝑥𝑛 ): 𝑥𝑖 ∈ ℝ, ∀𝑖 ∈ ℕ} é o vetor dos dados a ser normalizado, Xmin e


Xmax são, respectivamente, os valores mínimo e máximo do vetor X e X’ é o vetor de dados
normalizados, de mesma dimensão do vetor X.
Para a construção do índice intenciona-se mapear todos os conjuntos de dados dos
indicadores para o intervalo [0, 1]. Dessa forma, a equação [1] pode ser reescrita como

𝑋− 𝑋𝑚𝑖𝑛
𝑋′ = 𝑋𝑚𝑎𝑥 −𝑋𝑚𝑖𝑛
. [2]

A equação acima é válida para indicadores com relação positiva, isto é, variáveis cujo
aumento no valor resultará em melhoria no sistema. Nesses casos, o valor 0 será sempre
atribuído aos piores valores do indicador, 1 aos melhores.
Quando usada com indicadores com relação negativa, isto é, cujo aumento no valor
resultará na regressão do sistema avaliado, os valores mapeados terão um efeito invertido, com
o valor 0 sendo atribuído aos melhores valores do indicador, 1 aos piores.
Para corrigir isso, é necessário trabalhar com o complemento da equação [2]
𝑋− 𝑋𝑚𝑖𝑛 𝑋𝑚𝑎𝑥 − 𝑋𝑚𝑖𝑛 −𝑋+𝑋𝑚𝑖𝑛
𝑋" = 1 − = , [3]
𝑋𝑚𝑎𝑥 − 𝑋𝑚𝑖𝑛 𝑋𝑚𝑎𝑥 − 𝑋𝑚𝑖𝑛

ou ainda,
𝑋𝑚𝑎𝑥 −𝑋
𝑋" = 𝑋𝑚𝑎𝑥 − 𝑋𝑚𝑖𝑛
. [4]

Dessa forma, para garantir que, no mapeamento para o intervalo [0, 1], 0 se refira
sempre ao pior valor e 1 ao melhor, é preciso utilizar a equação (2) quando o indicador tiver
uma relação positiva, e a equação (4), quando for negativa.

Cálculo dos índices por Tema para cada bairro

O índice de cada Tema é obtido a partir da mediana dos índices dos indicadores que
compõe o tema analisado.
Assim como a média, a mediana é uma medida de posição, que indica o valor central do
conjunto de dados univariados, independente das características de sua distribuição. Isso faz da
mediana uma medida mais robusta que a média, isto é, menos sensível à presença de valores
discrepantes que, por ventura, possam existir no conjunto analisado, permitindo com que se
78

tenha um valor mais fidedigno e com menos erros de interpretação gerados por algum viés dos
dados.
De acordo com Bussab e Moretin (2013), a mediana de um vetor de dados univariados
é definida como
𝑥(𝑛+1) , se 𝑛 ímpar
2
𝑚𝑑(𝑋) = { 𝑥 𝑛 +𝑥 𝑛
( ) ( +1)
, se 𝑛 par [5]
2 2
2

em que n é o número de elementos do vetor de dados.


De modo análogo, calculou-se o índice de cada uma das duas dimensões e o Índice de
Vulnerabilidade Socioambiental da cidade de Natal.
Para garantir maior confiabilidade nos índices calculados utilizou-se também o cálculo
do desvio absoluto mediano (DAM) é uma medida robusta de variabilidade de um conjunto de
dados univariados, sendo mais insensível a presença de valores discrepantes do que
variância/desvio padrão. Além dessa robustez, o DAM é totalmente imune ao tamanho do
conjunto de dados analisados [2].
O DAM é definido como a mediana dos desvios absolutos da mediana dos dados,
𝐷𝐴𝑀 = 𝑚𝑑(|𝑋 − 𝑚𝑑(𝑋)|). [6]

Representação Gráfica
O cálculo para transformação dos indicadores em índices permite encontrar um número
que varia entre 0 e 1, onde quanto mais próximo de 1, melhor se apresenta a cidade em relação
às questões que envolvem a vulnerabilidade. Sendo assim, a escala de valores de mínimo e
máximo corresponde a 1 (baixa vulnerabilidade ou padrão ideal e 0 (alta vulnerabilidade).
Para a representação dos índices referentes a cada indicador definiu-se a representação
de cor correspondente ao nível de vulnerabilidade socioambiental urbano.

Quadro 03: Classificação e representação dos índices em níveis de vulnerabilidade socioambiental para
cidades brasileiras
Índice (0 - 1) Representação de cores Nível de Vulnerabilidade
Socioambiental Urbano
0,0000 – 0,2500 Muito alto
0,2501 – 0,5000 Alto
0,5001 – 0,7500 Baixo
0,7501 – 1,0000 Muito baixo
Fonte: Elaboração própria

A definição das cores para cada nível do índice facilitará também a elaboração
cartográfica, facilitando a visualização e a leitura dos mapas da cidade.
79

Após delimitado o percurso metodológico utilizado, a sessão seguir apresenta e discute


os índices encontrados para cada bairro da cidade de Natal, bem como o índice de
vulnerabilidade socioambiental urbano.

Apresentação e discussão dos resultados


Caracterização da Cidade
A cidade escolhida para a realização deste estudo foi Natal, capital do estado do Rio
Grande do Norte, na região Nordeste do Brasil. Segundo o IBGE (2010) a referida cidade possui
uma área territorial de 167,264 km2 e sua população é de em 803.739 habitantes, com densidade
demográfica de 4.805,24 habitantes/m2.
Criada já com caráter de cidade, Natal foi fundada em 25 de dezembro de 1599 (IBGE,
2010). Sua urbanização teve seu início por meio da colonização portuguesa e seu aumento
populacional ocorreu de forma lenta. No final do século XIX a cidade possuía apenas 16.050
habitantes (IBGE, 2010).
O investimento de infraestrutura tornou-se mais intenso a partir da década de 1980,
onde diversas ações de políticas públicas foram colocadas em prática, como por exemplo, a
habitação popular, o investimento na área industrial e investimento no turismo, atividade que
se tornou a principal atividade econômica da cidade.
Conforme Costa (2007) o crescimento urbano da cidade, mesmo com as intervenções e
os planos urbanísticos, ocorreu segregando o espaço entre as classes de alta renda e as classes
de baixa renda. Assim, observa-se que mesmo não sendo áreas homogêneas, pode-se afirmar
que nas áreas Norte e Oeste da cidade estabeleceram-se a população mais pobre da cidade,
colocando-as em situações de maior vulnerabilidade socioambiental, e as áreas Sul e Leste
foram ocupadas pela população mais rica. Desse modo, a cidade preserva uma cultura de
segregação social e espacial que não é exclusividade da cidade em questão, mas uma premissa
nas cidades brasileiras.
Atualmente, a cidade de Natal apresenta crescimento vertical, em decorrência de sua
região metropolitana se apresentar conurbada, o que impossibilita que se cresça
horizontalmente. A espacialização da cidade de Natal pode ser observada na Figura 02 e que
segundo dados do IBGE (2010), hoje é composta por 36 bairros subdivididos em quatro regiões
administrativas.
80

Figura 02: Mapa da cidade de Natal regiões

Com base na descrição que aqui foi realizada, desperta o interesse de desenvolver a
pesquisa na referida cidade, exatamente para se analisar a vulnerabilidade socioambiental da
cidade e oferecer subsídios para que um melhor planejamento ocorra e possa minimizar os
impactos ocasionados pelo processo de urbanização.

Escolha dos Indicadores


Para realização deste estudo, foram escolhidos 72 indicadores para a análise da cidade
de Natal – RN, conforme quadro 04. A escolha ocorreu preponderantemente em função da
disponibilidade de dados para cada indicador, no nível de granularidade por bairros. Deste total,
45 indicadores referem-se a Dimensão Social e 28 indicadores a Dimensão Ambiental.
Duas observações são importantes para a aplicação destes indicadores em Natal:
a) Optou-se por excluir o Tema Segurança da análise na Dimensão Social em
decorrência da ausência de dados para os indicadores. Dos 09 indicadores que o
constituem, apenas o indicador ‘Taxa de vítimas de acidentes de trânsito’ tinha dados
disponíveis por bairros. Por este motivo, para não enviesar os dados, optou-se por sua
exclusão.
b) A análise do Tema Governança será realizada separadamente e não
constituirá o índice, uma vez que os indicadores são categóricos e são medidos pela sua
presença/ausência nas cidades. Além disso, diz respeito a análise para cidade e não para
81

bairros como os demais indicadores, pois analisam os órgãos, documentos e regimentos


existentes nas cidades.

Quadro 04: Indicadores escolhidos para análise da cidade Natal-RN

Dimensão Temas Indicadores


Profissionais de Saúde por 1000 Hab.; Taxa de estabelecimentos de saúde;
Saúde Taxa de unidades de atenção básica; Taxa de mortalidade infantil; Esperança
de vida ao nascer; Taxa de Fertilidade ; Quantidade de casos de dengue.
Taxa de Alfabetização; Taxa de Escolarização; Taxa de escolarização líquida no
Ensino Médio; Taxa de escolarização líquida no Ensino Fundamental;
Proporção de jovens de 15 a 17 anos sem ensino fundamental completo;
Quantidade de escolas de ensino fundamental e médio na proximidade;
Educação e Quantitativo de matrículas escolares; Pessoas consideradas potencialmente
Cultura ativa (15-59 anos) que não sabem ler e escrever; População em idade escolar;
Taxa de distorção idade-série; Quantidade de museu na proximidade;
Quantidade de biblioteca na proximidade; Quantidade de teatro na
proximidade; Número de estádios e ginásios poliesportivos (ou equipamentos
desportivos)
Índice de Gini; Rendimento mensal domiciliar per capita urbano; Rendimento
Social
familiar per capita (% até 1/2 SM); % de famílias com rendimento de 10 a 20
Trabalho e SM; População (urbana) com rendimento mensal domiciliar per capita
renda nominal de até 1/4 salário mínimo; Quantidade de pessoas ocupadas nas
empresas do setor informal; Taxa de Ocupação; Taxa de Desemprego; Taxa
de Formalidade da Ocupação; População urbana em extrema pobreza.
População em Casa Própria; Quantidade de assentamentos subnormais;
População em aglomerados subnormais; Domicílio com banheiro; Percentual
de domicílios servidos por rede de esgotamento sanitário; Densidade média
de moradores por dormitório; Acesso ao sistema de abastecimento de água;
Moradia Percentual de domicílios servidos por rede de água; Domicílios com
abastecimento de água; Acesso a serviço de coleta de lixo doméstico;
Domicílios com acesso a rede elétrica; População atendida com frequência de
2 ou 3 vezes por semana pelo serviço de coleta de resíduos; Quantidade de
conjunto habitacional de interesse social.
Taxa de crescimento da população; Densidade demográfica urbana;
Infraestrutura
Quantitativo de praças e/ou parques; Equipamentos Públicos; Sistema
Urbana
Integrado de Transporte Coletivo; Quantidade de Acidentes no trânsito.
Conselho Municipal de segurança pública; Conselho Municipal do Patrimônio
Cultural; Conselho Municipal de Transporte; Legislação urbanística e
ambiental; Legislação municipal de preservação do patrimônio histórico e
cultural; Normas para construção e edificações; Normas para urbanização e
regulamentação fundiária; Plano Diretor participativo; Despesas com
Ambiental
Governança melhoria e ampliação do sistema de transporte; Despesas com direito a
cidadania; Despesas com patrimônio cultural e difusão da cultura; Despesas
com gestão ambiental; Despesas com Saneamento Básico Urbano; Despesas
com Habitação Urbana; Despesas com Infraestrutura Urbana; Despesas com
planejamento e orçamento; Secretaria municipal de planejamento urbano;
Órgãos de defesa do consumidor.
Meio Consumo per capita de água; Resíduos sólidos urbanos per capita; Serviços de
Ambiente limpeza urbana; Áreas de proteção ambiental.
82

Análise do Índice de Vulnerabilidade Socioambiental Urbano


Conforme a descrição apresentada no tópico de aspectos metodológicos, para cada um
dos 72 indicadores foram coletadas os dados referentes a cada um deles e transformado em
índices por meio da normalização. Assim sendo, pode-se encontrar o índice de vulnerabilidade
socioambiental urbano para a cidade de Natal (RN), bem como identificar quais os bairros mais
e menos vulneráveis da cidade. Para efeito da apresentação dos dados, no Quadro 05 serão
apresentados os índices de cada tema e de cada dimensão.

Quadro 05: Índice de vulnerabilidade socioambiental Urbano de Natal - RN

Índice de vulnerabilidade socioambiental de Natal - RN

Índice de
Social Ambiental
Vulnerab
Índice Índice do Índice do ilidade
Região Índice Índice do Índice do
Bairro do Tema Tema Socioam
Adm. do Tema Tema
Tema Infraestru Meio biental
Tema Educação Trabalho por
Moradi tura Ambient
Saúde e Cultura e Renda bairros
a Urbana e
Alecrim 0,3374 0,3368 0,3563 0,5355 0,4617 0,2837 0,3468
Areia Preta 0,0648 0,2609 0,9421 0,8746 0,1184 0,3496 0,3052
Barro
0,1710 0,1878 0,6944 0,9482 0,1721 0,2952 0,2415
Vermelho
Cidade Alta 0,0431 0,4922 0,5225 0,6111 0,6290 0,2217 0,5073
Lagoa Seca 0,8548 0,1769 0,6944 0,8863 0,2807 0,1883 0,4876
Mãe Luiza 0,6230 0,2829 0,5621 0,4802 0,0788 0,8359 0,5211
Leste Petrópolis 0,8217 0,4038 0,8443 0,7348 0,3196 0,0577 0,5693
Praia do
0,0603 0,2517 0,5009 0,6667 0,2787 0,3107 0,2947
Meio
Ribeira 0,4743 0,3723 0,4624 0,4394 0,4123 0,5155 0,4509
Rocas 0,4141 0,2278 0,6183 0,8484 0,4024 0,2691 0,4082
Santos Reis 0,4737 0,1946 0,4369 0,5143 0,4914 0,8795 0,4825
Tirol 0,9857 0,4674 1,0000 0,9060 0,4214 0,5189 0,7125
Igapó 0,3056 0,2688 0,3895 0,7657 0,1741 0,9730 0,3475
Lagoa Azul 0,0855 0,4537 0,2279 0,6667 0,4019 0,9116 0,4278
N. Sra da
Apresentaçã 0,2439 0,3749 0,2737 0,5385 0,1909 0,8076 0,3243
Norte o
Pajuçara 0,1352 0,3377 0,2279 0,7666 0,2796 0,9542 0,3087
Potengi 0,5635 0,6417 0,5827 0,8619 0,6044 0,9692 0,6231
Redinha 0,1554 0,1510 0,1744 0,3846 0,2444 0,9310 0,2094
Salinas 0,0000 0,0000 0,0000 0,2995 0,0000 0,7452 0,0000
Bom Pastor 0,1651 0,1348 0,3302 0,4041 0,4092 0,8584 0,3671
Oeste
Cidade Nova 0,0353 0,0744 0,2395 0,2131 0,2284 0,9025 0,2207
83

Cidade da
0,2500 0,2503 0,7705 0,9423 0,2943 0,7701 0,5322
Esperança
Dix-Sept
0,1389 0,2950 0,4989 0,6830 0,0486 0,7600 0,3970
Rosado
Felipe
0,4589 0,4180 0,4644 0,6106 0,3807 0,9225 0,4617
Camarão
Guarapes 0,1583 0,1167 0,2014 0,3077 0,2511 0,9328 0,2262
Nordeste 0,0556 0,1843 0,3648 0,6667 0,4240 0,8155 0,3944
Nossa
Senhora de 0,2588 0,2815 0,6712 0,8402 0,1716 0,8011 0,4763
Nazaré
Planalto 0,2684 0,1702 0,3044 0,5581 0,1076 0,9001 0,2864
Quintas 0,4400 0,3052 0,3473 0,8333 0,3333 0,9351 0,3937
Candelária 0,3379 0,1336 0,9226 0,5342 0,4222 0,7252 0,4782
Capim
0,1774 0,2651 0,9108 0,6923 0,4214 0,6670 0,5442
Macio
Lagoa Nova 0,1736 0,6657 0,7750 0,7594 0,5740 0,2231 0,6199
Sul Neópolis 0,3718 0,3253 0,8372 0,9022 0,6426 0,7115 0,6770
Nova
0,3472 0,2794 0,6394 0,7588 0,2916 0,8018 0,4933
Descoberta
Pitimbu 0,3335 0,3361 0,7408 0,9767 0,3659 0,7100 0,5379
Ponta Negra 0,1692 0,3433 0,5583 0,7798 0,4796 0,6140 0,5190

Índice dos Temas 0,2544 0,2804 0,5117 0,6877 0,3264 0,7650

Índice da Dimensão 0,3961 0,5457

Índice de vulnerabilidade
0,4709
socioambiental de Natal

Os índices dos temas foram gerados a partir do cálculo da mediana dos indicadores por
bairro que é constituído cada tema. O mesmo procedimento foi utilizado para o cálculo das
dimensões e do índice de vulnerabilidade socioambiental de Natal.
Para analisar cada índice se tomará como base os intervalos numéricos do índice
(Quadro 05) e a escala de cores (Quadro 03) para classificar o nível de vulnerabilidade
socioambiental dos bairros, bem como da cidade de Natal como um todo.
A Dimensão Social está relacionada como o nível de qualidade de vida da população,
com a satisfação das necessidades humanas, à justiça social, ao nível de educação e às condições
básicas à sobrevivência humana. Ademais, evidencia o desempenho macroeconômico como
também procura expor a identidade cultural, corroborando as evidências de uma população que
tenha acesso a educação, cultura, esporte e lazer e que possa, por intermédio disso, aumentar
sua capacidade intelectual e conhecimento acerca de si próprio e do espaço que a envolve,
contribuindo para uma cidade mais justa e igualitária.
84

O Tema Saúde apresenta-se com o índice de 0,2544 e é classificado com o nível ‘Alto’
para a vulnerabilidade socioambiental. Dos 36 bairros existentes na cidade, 16 (Areia Preta,
Barro Vermelho, Cidade Alta, Praia do Meio, Lagoa Azul, Nossa Senhora da Apresentação,
Pajuçara, Redinha, Salinas, Bom Pastor, Cidade Nova, Dix-Sept Rosado, Guarapes, Capim Macio,
Lagoa Nova, Ponta Negra) se apresentaram com o nível de vulnerabilidade socioambiental
classificado como ‘Muito Alto’. Os bairros destacados contemplam as 04 regiões administrativas,
evidenciando que as questões referentes a saúde constituem um gargalo na cidade como um
todo.
Apenas três bairros (Lagoa Seca, Petrópolis, Tirol) apresentaram índices que se
classificam com ‘muito baixo’. Todos localizados na região Leste da cidade.
No que se refere aos indicadores deste tema, destacam-se os que se classificaram como
o nível ‘muito alto’ de vulnerabilidade socioambiental, quais sejam: Profissionais de Saúde por
1000 Hab.; Taxa de estabelecimentos de saúde; Taxa de unidades de atenção básica e
Quantidade de casos de dengue. Os três primeiros indicadores apontados estão diretamente
ligados à disponibilidade de atendimentos básicos de saúde à população, explicitando a sua
precariedade quanto à oferta desses serviços que estão bem aquém da necessidade da
população de cada bairro. O indicador que analisa o quantitativo de casos de dengue que
também foi classificado como ‘muito alto’, caracteriza um sério problema de saúde pública na
cidade, que além de sofrer interferência das condições do meio ambiente que favorecem a
proliferação do vetor, está também relacionado com fatores sociais, econômicos e políticos que
envolve as pessoas que habitam na cidade.
O Tema Educação e Cultura apresentou um índice de 0,2804, classificando-o como
‘Alto’. Doze bairros (Barro Vermelho, Lagoa Seca, Rocas, Santos Reis, Redinha, Salinas, Bom
Pastor, Cidade Nova, Guarapes, Nordeste, Planalto, Candelária) apresentaram índices
classificados como ‘Muito alto’, evidenciando o quão vulneráveis são os indicadores de
Educação e Cultura em Natal, sobretudo na região Oeste que apresenta 50% dos seus bairros
com um nível de vulnerabilidade socioambiental classificado como ‘Muito alto’. É importante
destacar que dos 36 bairros de Natal, nenhum apresentou um índice satisfatório que os
classificassem como ‘muito baixo’.
Os indicadores que se destacam como os que possuem um nível ‘muito alto’ de
vulnerabilidade estão: Quantidade de escolas de ensino fundamental e médio na proximidade;
Quantitativo de matrículas escolares; População em idade escolar; Quantidade de museu;
Quantidade de biblioteca; Quantidade de teatro; Número de estádios e ginásios poliesportivos.
Todos estes indicadores estão diretamente relacionados com o acesso e a qualidade do ensino
básico para crianças, adolescentes e jovens, e o direcionamento adequado para que possam ter
85

uma melhor perspectiva de futuro com melhores condições de trabalho, renda e melhor
qualidade de vida.
O Tema Trabalho e Renda apresentou o índice de 0,5177 e foi classificado com o ‘Baixo’
nível de vulnerabilidade socioambiental. Do total de bairros, apenas seis (Lagoa Azul, Pajuçara,
Redinha, Salinas, Cidade Nova, Guarapes) apresentam índices que os classificam com um nível
‘alto’ para a vulnerabilidade socioambiental e nove (Areia Preta, Petrópolis, Tirol, Cidade da
Esperança, Candelária, Lagoa Nova, Neópolis, Pitimbu) apresentam índices que os classificam
com nível ‘muito baixo’.
Os indicadores que mais se destacam com um nível ‘muito alto’ para a vulnerabilidade,
refere-se ao Percentual de famílias que tem rendimento entre 10 a 20 salários mínimos e
Rendimento mensal domiciliar per capita. Ambos indicadores podem ser considerados
diametralmente opostos e por se apresentarem com um nível tão negativo, implica dizer que há
concentração de renda na cidade de Natal, cenário este que configura a realidade brasileira.
O Tema Moradia apresentou um índice de 0,6877 sendo classificado como ‘Baixo’. É
importante observar que apenas um bairro (Cidade Nova) se classificou como ‘Muito alto’ e
cinco bairros (Salinas, Guarapes, Redinha, Bom Pastor, Mãe Luiza) se apresentaram com índice
que os classificam como ‘Alto’. Tal fato denota que em função dos indicadores analisados, a
cidade de Natal apresenta poucos bairros com problemas referentes a moradia.
Os indicadores População em Casa Própria; Acesso ao sistema de abastecimento de
água; Domicílios com abastecimento de água, foram os três indicadores que se apresentaram
com os índices mais baixos, demonstrando dessa forma que uma parcela significativa da
população natalense não possui condições de adquirir sua casa própria. Ademais, os outros dois
indicadores estão diretamente ligados com o acesso à agua de qualidade, tanto relativo ao
acesso ao abastecimento de água que envolve indústria, comércio, bem como analisa os
domicílios que tem acesso ao abastecimento de água. É importante destacar que a água é um
recurso vital ao ser humano e reflete nas condições de saúde e higiene. Assim sendo, se verifica
a urgência de se estabelecer políticas direcionadas que visem melhorar o sistema de
abastecimento de água, para que este recurso chegue de forma adequada à população, uma vez
que de acordo com a Legislação Brasileira, toda a água fornecida à população por rede de
abastecimento geral tem de ser tratada e apresentar qualidade adequada para o consumo.
O Decreto nº 5.440, de 4 de maio de 2005 estabelece definições e procedimentos sobre
o controle de qualidade da água de sistemas de abastecimento e institui mecanismos e
instrumentos para divulgação de informação ao consumidor sobre a qualidade da água para
consumo humano. Em seu Art. 3° define: “Toda água destinada ao consumo humano, distribuída
86

coletivamente por meio de sistema ou solução alternativa coletiva de abastecimento de água,


deve ser objeto de controle e vigilância da qualidade da água.”
A Dimensão Social apresentou um índice de 0,3961 que o classifica como ‘Alto’ nível de
vulnerabilidade socioambiental representando uma situação indesejável para a cidade quanto
as questões sociais analisadas. Dentre os temas que compõem esta dimensão, dois (Saúde e
Educação e Cultura) foram classificados com o nível ‘alto’ para a vulnerabilidade socioambiental,
apontando a necessidade do desenvolvimento de planejamento e de políticas públicas que
envolvam essas temáticas, de modo a modificar esse cenário e proporcionar para a população
o acesso aos serviços de saúde, a educação, a cultura, ao esporte e lazer e que possam, por
intermédio disso, aumentarem sua capacidade intelectual e o conhecimento acerca de si próprio
e do espaço que a envolve, contribuindo para uma cidade mais justa e igualitária.
A Dimensão Ambiental corresponde aos aspectos relacionados ao uso dos recursos
naturais, à degradação do ambiente, aos objetivos de preservação e conservação do meio
ambiente, aspectos considerados fundamentais para manter a qualidade de vida e ambiental
das atuais e futuras gerações.
O Tema Infraestrutura Urbana apresentou um índice de 0,3264 que o classifica com um
nível ‘Alto’ para a vulnerabilidade socioambiental. Dos 36 bairros, 11 apresentaram índices que
os classificam como ‘Muito alto’ para a vulnerabilidade socioambiental e nenhum bairro
apresentou um índice que os classificasse como ‘Baixo’ ou ‘Muito baixo’ nível de vulnerabilidade
socioambiental.
Os indicadores que mais se destacam por terem apresentados índices classificados como
‘muito alto’ e que contribuíram para que o nível desse tema fosse considerado alto foram:
Quantitativo de praças e/ou parques; Equipamentos Públicos; Sistema Integrado de Transporte
Coletivo. Estes indicadores explicitam variáveis que possibilita a população ter uma melhor
qualidade de vida na cidade que moram. As praças e parques possibilita a ida das pessoas às
ruas tornando-as vivas e mais movimentadas, os passeios em locais públicos, a integração da
população com a cidade, tornando-as pertencentes ao ambiente em que as circundam.
Os equipamentos públicos, segundo a NBR 9284 refere-se aos bens públicos ou
privados, de utilidade pública, destinados à prestação de serviços necessários ao funcionamento
da cidade. Segundo a Lei Federal 6.766/79, consideram-se, urbanos, os equipamentos públicos
de abastecimento de água, serviços de esgotos, energia elétrica, coleta de águas pluviais, rede
telefônica e gás canalizado. Para os bairros de Natal, este indicador também se apresentou com
um nível ‘muito alto’ para a vulnerabilidade socioambiental.
O indicador Sistema Integrado de Transporte Coletivo tem por definição o conjunto de
medidas de natureza físico-operacional, tarifária e institucional destinadas a articular e
87

racionalizar os serviços de transporte público. Em Natal, o sistema de transporte intramodal do


tipo ônibus – ônibus é a principal existente. Este indicador possibilita a facilidade de mobilidade
dos usuários, facilitando uma redução de despesas e de tempo para se locomover dentro de sua
cidade e entre bairro-centro (e centro-bairro). O fato de ter tido um índice considerado ‘muito
alto’ para o nível de vulnerabilidade socioambiental, reflete a necessidade de revisão nas ações
que envolvem os transportes públicos na cidade de Natal, possibilitando assim, que a
mobilidade urbana seja um fator positivo e contribua para melhores índices de infraestrutura
urbana na cidade de Natal.
O Tema Meio Ambiente apresentou o índice de 0,7650 considerado como um nível
‘Muito baixo’ para a vulnerabilidade socioambiental. Apenas quatro bairros (Cidade Alta, Lagoa
Seca, Petrópolis, Lagoa Nova) se apresentaram com índices que se classificam em um nível de
‘Muito alto’ para a vulnerabilidade socioambiental e 18 bairros apresentaram-se com um índice
que se classifica em ‘muito baixo’, demonstrando condições adequadas sob a perspectiva dos
indicadores que este tema foi analisado.
O indicador analisado mais negativamente foi Resíduos sólidos urbanos per capita que
ficou em uma zona limítrofe mais baixo do índice, demonstrando a necessidade de que as
pessoas possam rever seus hábitos de consumo e de estilo de vida, de modo a minimizar o
volume de resíduos gerados todos os dias na cidade. É importante ressaltar que na análise deste
indicador não se inclui o percentual de resíduos gerados pelo comércio e pela indústria, o que
certamente leva ao entendimento que também se apresentaria com um índice considerado
‘muito alto’ para a vulnerabilidade socioambiental.
Para o Tema Governança, conforme as explicações dadas nos aspectos metodológicos
deste artigo, a análise deste tema não compôs o índice por ser composto de indicadores
categóricos. Desse modo, identificou-se a existência dos indicadores (Quadro 04) na cidade de
Natal, apresentando-se positivamente e, para efeito de análise, se atribuiu um índice de 1,00
que o classifica como ‘Muito baixo’ para a vulnerabilidade socioambiental. Este tema envolve
indicadores que analisa a forma como o Estado gerencia seus recursos e ações legitimando os
direitos da população, garantindo a capacidade e a mobilização necessárias para a consolidação
de um ambiente saudável para todos. Ademais, também é analisado por meio da análise da
infraestrutura para alguns instrumentos necessários ao bom andamento de uma sociedade que
quando da sua existência, promovem o sentimento de pertencimento e de inclusão das pessoas
e os direciona para um desenvolvimento que seja sustentável. Para este tema foram analisados
a existência de documentos, conselhos, legislação municipal, normas e despesas utilizadas e
destinadas a resolver a questões acima mencionadas para a cidade de Natal. Por se tratar de
88

variáveis que analisam a cidade e as normas e regulamentos e se aplicarem para a cidade, não
foi possível separar a sua existência ou execução por bairros.
A Dimensão Ambiental obteve um índice de 0,5457 o que o classifica com um nível
considerado ‘baixo’ para a vulnerabilidade socioambiental. O tema Infraestrutura Urbana
apresentou-se classificado negativamente, despertando a necessidade de ações de melhorias
nos aspectos que interferem na qualidade da infraestrutura urbana. Para tanto, é preciso
verificar individualmente os indicadores que o constituem de modo que se possa estabelecer
ações que possibilitem a sua melhoria de forma contínua. O conjunto de informações produzidas
por esses índices ambientais oferece subsídios para compreender aspectos relevantes do
processo de degradação ambiental ocasionados pela falta de infraestrutura, comportamentos e
hábitos inadequados, formas de agir e pensar da população, com o objetivo de compreender e
respeitar as limitações dos recursos naturais e o tempo necessário para que o meio ambiente
possa se restabelecer.
A partir do índice e da classificação dos níveis de vulnerabilidade socioambiental por
bairro, foi possível elaborar o produto cartográfico, como forma de melhor visualizar a situação
da cidade de Natal-RN.
89

Figura 03: Mapa da vulnerabilidade socioambiental da cidade de Natal-RN por bairros

Conforme apresentado nos índices e visualizado claramente na Figura 03, foi possível
identificar o nível de vulnerabilidade socioambiental para a cidade de Natal de 0,4709,
considerada como ‘Alto’. Esse resultado é considerado preocupante, exigindo uma postura mais
ativa do poder público na resolução dos problemas que colocam a população em uma situação
de vulnerabilidade socioambiental.
Dos 36 bairros, 25 se encontram em situação que os classificam com um nível ‘Alto’ ou
‘Muito Alto’ para a vulnerabilidade socioambiental, o que explicita que a cidade apresenta
maiores fragilidades nas questões sociais, principalmente de moradia, de educação e cultura, de
emprego e renda e na disparidade existente frente as questões de infraestrutura urbana. Por
esse motivo, ressalta-se a importância de que se analise a cidade com um olhar mais direcionado
90

para cada tema e cada indicador analisado e se identifique quais deles necessitam de mais
atenção para sanar as problemáticas que os envolvem.

Considerações Finais
A importância de se analisar a vulnerabilidade socioambiental da cidade de Natal – RN
a partir do conjunto de indicadores que enfatiza as questões sociais e ambientais que
caracterizam o cenário urbano brasileiro, se consolida na compreensão das questões sociais,
econômicas e urbanísticas reveladas por meio dos indicadores analisados, ao passo que revela
uma certa invisibilidade de uma parcela da população, principalmente, quanto à negação de
seus direitos.
Natal é uma cidade de porte médio e está situada em um lugar privilegiado do Brasil a
qual se confere uma qualidade de vida superior, principalmente nas diversas formas de
divulgação da cidade para se atrair turistas e investidores. Imagem esta, revelada em
decorrência, principalmente, de seu patrimônio natural. No entanto, a Natal vivida pelos seus
citadinos revela um quadro de problemas iminentes comprometendo a sua imagem da cidade
bela e agradável para se morar.
Como observado, o nível de vulnerabilidade socioambiental para a cidade de Natal foi
de 0,4709, considerado como ‘Alto’. Esse resultado é considerado insatisfatório e preocupante,
pois coloca a cidade frente a muitas problemáticas que demandam urgência como forma de
garantir condições mínimas de qualidade de vida aos seus citadinos. Ademais, é importante
destacar a necessidade de analisar a cidade com um olhar mais direcionado para cada região e
para cada bairro, pois cada um apresentam especificidades que os colocam em divergência em
vários aspectos, mesmo quando exibem as mesmas problemáticas.
Esta percepção é endossada pela reflexão feita por Kowarick (2000) que chama atenção
ao pontuar que os principais investimentos públicos são comumente realizados em áreas onde
vivem e trabalham os grupos com renda média e alta, e que os investimentos públicos em bens
de consumo coletivo, têm sido tradicionalmente realizados com prejuízo para a grande massa
de trabalhadores. São estas ações por parte do Estado que privilegiam uma parcela da
população e segrega a outra parcela que tem o direito à cidade negado.
Os indicadores que obtiveram um nível alto ou muito alto para a vulnerabilidade, foram
identificados nos bairros mais periféricos e mais pobres, em áreas com más condições
urbanísticas e sanitárias, denotando uma concentração de indicadores avaliados negativamente
e revelando uma cidade que não é vista pelos turistas e pelos moradores das regiões mais
abastadas.
91

Com base nestas discussões, este estudo constitui importante instrumento que
estabelece uma relação entre o ambiente acadêmico e a sociedade civil, viabilizando o debate
entre tais partes e, por conseguinte, possibilitando a estruturação de planos de
desenvolvimento pautados na construção de uma sociedade justa e equitativa.

Referências
ACSERALD, Henri. Vulnerabilidade ambiental, processos e relações. Comunicação ao II Encontro
Nacional de Produtores e Usuários de Informações Sociais, Econômicas e Territoriais, FIBGE, Rio
de Janeiro, 2006.
ALMEIDA, Lutiane Queiroz de. Vulnerabilidade Socioambiental de rios urbanos. Bacia
hidrográfica do rio Maranguapinho. Região metropolitana de Fortaleza, Ceará. 2010. 278 f. Tese
de Doutorado em Geografia – Instituto de Geociência e Ciência Exatas, Unesp, Rio Claro, 2010.
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94

CAPÍTULO 03
95

Análise de correlação entre as regiões administrativas de Natal (RN) baseada em


indicadores de vulnerabilidade socioambiental2 3

Ana Cecília Feitosa de Vasconcelos. Paulo Ribeiro Lins Júnior. Eliza Maria Xavier
Freire. Gesinaldo Ataíde Cândido.

Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar as correlações lineares existentes entre
as regiões administrativas de Natal (RN) com base nos índices de vulnerabilidade
socioambiental de seus bairros. O alcance do objetivo permitirá identificar quais regiões
administrativas são mais vulneráveis sob a perspectiva do conjunto de indicadores, além
de identificar as similaridades e diferenças existentes entre elas. Em termos
metodológicos este artigo se caracteriza como exploratório e descritivo, realizado por
meio das técnicas de pesquisa documental para levantar dados e informações necessárias
da cidade, bem como os dados referentes aos indicadores de vulnerabilidade
socioambiental escolhidos para a análise dos bairros e regiões de Natal. Os resultados
apontam que a região Norte foi a região que apresentou um nível de vulnerabilidade
classificado como ‘Alto’. Essa também é a região mais pobre de Natal e, por conseguinte,
a que apresenta os problemas mais latentes nas questões referentes aos temas analisados,
sobretudo, Saúde, Trabalho e renda, Infraestrutura Urbana, Educação e cultura. Tal fato
o coloca em um nível de correlação linear fraca e de disparidade frente as regiões mais
abastadas da cidade: região Leste e região Sul.
Palavras-chave: vulnerabilidade socioambiental, indicadores, correlação linear.

Correlation analysis between the administrative regions of Natal (RN) based on


socioenvironmental vulnerability indicators

Abstract: This article aims to analyze the existing linear correlations between the
administrative regions of Natal (RN) based on the socioenvironmental vulnerability
indexes of its neighborhoods. The scope of the objective will allow identifying which
administrative regions are most vulnerable from the perspective of the set of indicators,
in addition to identifying the similarities and differences between them. In
methodological terms, this article is characterized as exploratory and descriptive, carried
out by documentary research techniques to collect data and necessary information of the
city, as well as the data referring to the indicators of social and environmental
vulnerability chosen for the analysis of the neighborhoods and regions of Natal. The
results indicate that the North region was the region that presented a level of vulnerability
classified as 'High'. This is also the poorest region of Natal and, therefore, the one that
presents the most latent problems in the issues related to the topics analyzed, especially
Health, Work and Income, Urban Infrastructure, Education and Culture. This fact places
it in a level of weak linear correlation and of disparity against the richest regions of the
city: East and South regions.
Keywords: socio-environmental vulnerability, indicators, linear correlation.

2
Agradecimentos: ao apoio financeiro concedido pela CAPES por meio do Edital Nº55/2013 Pro-
Integração/CAPES sob o projeto intitulado “Vulnerabilidade Socioambiental como decorrência do
transbordamento urbano: estudos longitudinais em regiões metropolitanas no Nordeste brasileiro.”
3
Este artigo foi submetido à Revista URBE e, portanto, está formatado de acordo com as recomendações
desta revista.
96

1 Introdução
A discussão acerca da vulnerabilidade passou a despertar o interesse de
pesquisadores e instituições de pesquisa, em decorrência dos crescentes índices de
desigualdades sociais, da segregação socioespacial e do processo de urbanização
desordenado das cidades. Nesta perspectiva, Kowarick (2000) expõe que não só a relação
natureza e sociedade gera a vulnerabilidade, mas afirma que existe muita vulnerabilidade
em relação a direitos básicos, na medida em que não só os sistemas públicos de proteção
social foram sempre restritos e precários, como também, em anos recentes, houve
desmonte de serviços e novas regulamentações que se traduziram em perda de direitos
adquiridos.
Embasada nesse entendimento é que se reconhece que o estudo da vulnerabilidade
envolve uma discussão ampla e relevante por ter um caráter multidisciplinar e indica que
a suscetibilidade das pessoas a problemas e danos estão, principalmente, relacionadas ao
conjunto das profundas transformações sociais, econômicas e ambientais que afetam, pelo
mundo inteiro, as pessoas ou grupos de pessoas (KOWARICK, 2009).
Nesse sentido, um conceito viável para analisar estas relações é o de
‘vulnerabilidade socioambiental’, que pode ser definida como a coexistência,
cumulatividade ou sobreposição espacial de situações de pobreza/privação social e de
situações de exposição a risco e/ou degradação ambiental. Assim, é justamente a
combinação dessas duas dimensões – social e ambiental – que está sendo considerada
uma situação de vulnerabilidade socioambiental (ALVES, 2006).
Nesta perspectiva, a contribuição nos estudos de vulnerabilidade e pobreza tem
focado os aspectos estruturais e subjetivos das famílias, levando em consideração o
contexto em que estão inseridas: pobreza, exclusão/inclusão, periferização, segregação,
dependência e elevado risco (HOGAN; MARANDOLA JR., 2005).
É fato que o fenômeno da vulnerabilidade socioambiental no contexto urbano
envolve também as questões sociais de uma população que vai ficando cada vez mais à
margem das decisões e encaminhamentos do planejamento urbano. Assim, os indicadores
de vulnerabilidade socioambiental tornam-se uma ferramenta fundamental para seu
monitoramento e direcionamento de ações.
Nesse contexto, este estudo tem como objetivo analisar as correlações lineares
existentes entre as regiões administrativas de Natal (RN) com base nos índices de
vulnerabilidade socioambiental de seus bairros. O alcance do objetivo permitirá
identificar quais regiões administrativas são mais vulneráveis sob a perspectiva do
97

conjunto de indicadores, além de identificar as similaridades e diferenças existentes entre


elas.
A escolha da cidade deve-se à sua diversidade ambiental e das características
sociais da sua população. A capital do Rio Grande do Norte tem sido alvo de muitos
investimentos, sobretudo em torno das atividades turísticas e do setor imobiliário, tanto
no âmbito público quanto no privado, ao passo que percebe-se outras áreas que, em
decorrência do crescimento desordenado, exigem uma maior demanda por serviços de
infraestrutura e moradia.
Em termos metodológicos este artigo se caracteriza como exploratório e
descritivo, por meio das técnicas de pesquisa documental para levantar dados e
informações necessárias da cidade, bem como os dados referentes aos indicadores de
vulnerabilidade socioambiental escolhidos para a análise dos bairros e regiões de Natal.
Este artigo, além desta parte introdutória, apresenta os aspectos metodológicos
para a concretização do objetivo proposto, os resultados obtidos e as considerações finais.

2 Fundamentação Teórica
2.1 Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental

A utilização dos indicadores tem sido basilar na formulação de políticas públicas,


pois possibilitam uma análise atual, conhecendo verdadeiramente a situação que se almeja
modificar, como também o monitoramento temporal, permitindo um melhor
acompanhamento das variáveis analisadas, uma melhor avaliação dos processos e
planejamento de ações e, por conseguinte melhor utilização dos recursos investidos.
Vale destacar que a função dos indicadores é o de mensurar uma realidade
complexa e que é constituída por uma variedade de partes que se complementam e estão
em constante relação de interdependência. Nessa perspectiva, torna-se preponderante
identificar as interligações existentes entre os diversos aspectos relacionados ao conceito
do fenômeno que se está estudando, aqui de forma específica, a vulnerabilidade
socioambiental, para se obter soluções também interligadas para os problemas existentes
e potenciais.
Desse modo, qualquer indicador, quer seja ele descritivo ou normativo, se
apresenta com uma significância própria. Ou seja, quando comparado com os outras
formas de informação dentro do contexto que se está sendo estudado, que definirá a sua
importância no direcionamento do planejamento e de ações. Assim, não basta ser apenas
98

significativo para os tomadores de decisão, é preciso antes de tudo, que revele a realidade
da sociedade, devendo ser, portanto, importante para o público em geral.
Um bom indicador é aquele que é capaz de revelar um realidade, simplificando as
informações relevantes, comunicando-as e esclarecendo suas facetas. Para Van Bellen
(2002), os indicadores são de fato um modelo da realidade, mas não podem ser
considerados como a própria realidade, entretanto devem ser analiticamente legítimos e
construídos dentro de uma metodologia coerente de mensuração.
Para a análise de problemas complexos como é o caso da vulnerabilidade
socioambiental, se deve pensar na utilização de indicadores que possam estar interligados
e que agreguem várias informações que possam retratar o mais próximo possível uma
realidade.
Para tanto, alguns estudos desenvolvidos no contexto urbano enfatizam as
problemáticas que acometem as cidades. Dentre eles, destacam-se os autores: Herculano
(2000), Sposati (2000), Braga, Freitas e Duarte (2002), Nahas (2002), Rossetto (2003),
Braga (2006), Alves (2006), Morato (2008), Figueiredo (2008), Ribeiro (2008), Roggero
(2009), Florissi (2009), Kowarick (2009), Souza (2009), Machado (2010), Veiga (2010),
Jacobs (2011), Pessoa (2012), Araújo e Cândido (2014), Maior (2014), Maricato (2014),
Gehl (2015), Rogers (2015), Rolnik (2015), Roggero (2015), Martins e Cândido (2015),
Pereira e Vieira (2016), Gomes e Gomes (2017).
Após a análise dos estudos desenvolvidos por esses autores, constatou-se que as
variáveis apresentadas circundam em torno de alguns aspectos que se repetem. Desse
modo, foi possível listar uma série de variáveis que são imprescindíveis ao estudo da
vulnerabilidade socioambiental nas cidades, sobretudo, as cidades brasileiras, uma vez
que a maioria dos estudos empíricos objetivaram a análise destas como cenário.
Desse modo, com base em tais autores compilou-se no Quadro 01, o conjunto de
08 temas e 133 indicadores capazes de analisar a vulnerabilidade socioambiental de
cidades brasileiras.
Quadro 01: Indicadores de Vulnerabilidade Socioambiental para cidade brasileiras

Dimensão Temas Indicadores


Oferta de serviços básicos de saúde; Profissionais de Saúde; Taxa de
estabelecimento de saúde; Taxa de estabelecimentos de saúde; Taxa de leitos
hospitalares/SUS por 1000 habitantes; Unidades de média complexidade; Taxa
de unidades de atenção básica; Atendimento odontológicos do SUS;
Social Saúde
Imunização contra doenças infecciosas infantis; Taxa de mortalidade infantil;
Esperança de vida ao nascer; Taxa de fertilidade; Quant. de adolescentes
grávidas; Quant. de abortos; Quant. de casos de dengue; Quant. de casos de
zika; Quant. de casos de chicungunya.
99

Taxa de Alfabetização; Taxa de Escolarização; Taxa de escolarização líquida


no Ensino Médio; Taxa de escolarização líquida no Ensino Fundamental;
Proporção de jovens de 15 a 17 anos sem ensino fundamental completo; Quant.
de escolas de ensino fundamental e médio na proximidade; Quantitativo de
Educação e matrículas escolares; Pessoas consideradas potencialmente ativa (15-59 anos)
Cultura que não sabem ler e escrever; População em idade escolar; Percentual de
professores secundários; Taxa de distorção idade-série; Acesso a computador
em casa; Acesso público à internet; Quant. de museu na proximidade; Quant.
de biblioteca na proximidade; Quant. de teatro na proximidade; Número de
estádios e ginásios poliesportivos (ou equipamentos desportivos).
Índice de Gini; Razão rendimento masculino/feminino; Rendimento mensal
domiciliar per capita urbano; Rendimento familiar per capita (% até 1/2 SM);
% de famílias com rendimento de 10 a 20 SM; % de responsáveis por domicílio
particular permanente com rendimento mensal de até 2SM; % de famílias
chefiadas por pessoas jovens; % de famílias chefiadas por pessoas idosas;
População (urbana) com rendimento mensal domiciliar per capita nominal de
Trabalho e
até 1/4 salário mínimo; Famílias atendidas por transferências de benefícios
renda
sociais; % de mulheres jovens responsáveis pelo domicílio; % de mulheres
idosas responsáveis pelo domicílio; Quant. de famílias monoparentais com
chefia feminina (“mães solteiras”); Quant. de pessoas ocupadas nas empresas
do setor informal; Taxa de Ocupação; Taxa de desemprego; Taxa de
Formalidade da Ocupação; Quantitativo de indústrias na cidade; Quantitativo
de empresas com incentivos fiscais; População urbana em extrema pobreza.
Adequação de moradia; Quant. de pessoas que moram em casa própria; Quant.
de assentamentos subnormais na cidade; População em aglomerados
subnormais; Taxa de casas localizadas próximas à córregos e/ou em ambientes
sujeitos à inundação; Taxa de casas localizadas em áreas de acentuada
declividade; Domicílio com banheiro - esgotamento sanitário - rede geral;
Percentual de domicílios servidos por rede de esgotamento sanitário; Acesso a
esgotamento sanitário; % de domicílios particulares permanentes inadequados;
% de domicílios particulares permanentes sem banheiro; % de domicílios
Moradia particulares permanentes com dois ou mais banheiros; Densidade média de
moradores por dormitório; Acesso ao sistema de abastecimento de água;
Percentual de domicílios servidos por rede de água; Domicílios com
abastecimento de água - Rede geral, com banheiro; Acesso a serviço de coleta
de lixo doméstico; Percentual de domicílios servidos com algum tipo de coleta
de lixo; Densidade média de moradores de rua; Domicílios com acesso a rede
elétrica; População atendida com frequência de 2 ou 3 vezes por semana pelo
serviço de coleta de resíduos; Quant. de conjunto habitacional de interesse
social
Acesso à justiça; Prevenção de delinquência juvenil; Quant. de assaltos; Pessoas
(adultos e adolescentes) dependentes químicos (álcool, drogas); Taxa de
Segurança violência nas escolas públicas; Quantitativo de empresas ou profissionais de
segurança privada; Profissionais de segurança pública por mil habitantes; Taxa
de vítimas de acidentes de trânsito; Taxa de mortalidade por homicídios.
Taxa de urbanização; Taxa de crescimento da população; Densidade
demográfica urbana; Quant. de espaço público para caminhada; Quantitativo de
Infraestrutura espaços públicos de permanência; Quant. de praças e/ou parques; Equipamentos
Urbana públicos; Quant. de ciclovias; Sistema Integrado de Transporte Coletivo; Média
de ônibus por linhas; Abrangência do sistema de transporte coletivo; Qualidade
da Frota de ônibus; Quant. de automóveis; Quant. de Acidentes no trânsito.
Conselho Municipal de segurança pública; Conselho Municipal do Patrimônio
Ambiental Cultural; Conselho Municipal de Transporte; Legislação urbanística e
ambiental; Legislação municipal de preservação do patrimônio histórico e
cultural; Normas para construção e edificações; Normas para urbanização e
Governança regulamentação fundiária; Plano Diretor participativo; Despesas com melhoria
e ampliação do sistema de transporte; Despesas com direito à cidadania;
Despesas com patrimônio cultural e difusão da cultura; Despesas com gestão
ambiental; Despesas com Saneamento Básico Urbano; Despesas com Habitação
Urbana; Despesas com Infraestrutura Urbana; Despesas com planejamento e
100

orçamento; Secretaria municipal de planejamento urbano; Órgãos de defesa do


consumidor.
Consumo médio de energia elétrica urbana; Iluminação pública; Empresas de
produção de energias alternativas; Consumo per capita de água(m3/hab);
Aferição do cloro residual na água; Amostras de cloro residual dentro do padrão
de qualidade; Aferição de turbidez na água; Amostras de turbidez dentro do
Meio
padrão de qualidade; Aferição de coliformes totais na água; Amostras de
Ambiente
coliformes totais dentro do padrão de qualidade; Esgoto tratado em relação ao
coletado; Destino do lixo; Coleta seletiva do lixo (IBGE); Resíduos sólidos
urbanos per capita; Serviços de limpeza urbana; Áreas de proteção ambiental;
Quant. de árvores per capita
Fonte: Elaboração própria (2019)

É importante destacar que o Tema Governança é constituído por indicadores que


são analisados apenas para cidades de forma binária. A existência dos indicadores na
cidade analisada será considerada uma situação ideal, devendo-se ser atribuído valor 1,00
(nível de vulnerabilidade muito baixo). A ausência dos indicadores na cidade é
considerada uma situação irregular, devendo-se ser atribuído valor 0,00 (nível de
vulnerabilidade muito alto).
Os temas e indicadores que apresentados no Quadro 01, proporcionará a análise
do fenômeno da vulnerabilidade socioambiental, de forma complexa e envolvendo
variáveis que abrangem vários aspectos das cidades brasileiras. Desse modo, o tópico
seguinte explicitará os aspectos metodológicos utilizados para o alcance do objetivo
proposto.

3 Aspectos Metodológicos
Este estudo se caracteriza como exploratório e descritivo, dada a necessidade de
estabelecer uma hierarquia entre os bairros e regiões de Natal, bem como analisar suas
correlações lineares existentes entre os bairros de Natal (RN) através do índice de
vulnerabilidade socioambiental de cada bairro.
As técnicas de pesquisa adotadas foram a pesquisa documental para levantar
dados e informações necessárias da cidade, bem como os dados referentes aos indicadores
de vulnerabilidade socioambiental escolhidos para a análise dos bairros de Natal.
Dos 133 indicadores apresentados na fundamentação teórica, escolheu-se 54
(Quadro 02) para análise da vulnerabilidade socioambiental da cidade de Natal. A escolha
dos indicadores foi realizada em função da disponibilidade dos dados disponíveis no nível
de granularidade por bairros.
101

Quadro 02: Indicadores para análise dos bairros da cidade Natal-RN

Dimensão Temas Indicadores


Profissionais de Saúde por 1000 Hab.; Taxa de estabelecimentos de saúde;
Saúde Taxa de unidades de atenção básica; Taxa de mortalidade infantil; Esperança
de vida ao nascer; Taxa de Fertilidade; Quantidade de casos de dengue.
Taxa de Alfabetização; Taxa de Escolarização; Taxa de escolarização líquida
no Ensino Médio; Taxa de escolarização líquida no Ensino Fundamental;
Proporção de jovens de 15 a 17 anos sem ensino fundamental completo;
Quantidade de escolas de ensino fundamental e médio na proximidade;
Educação e Quantitativo de matrículas escolares; Pessoas consideradas potencialmente
Cultura ativa (15-59 anos) que não sabem ler e escrever; População em idade escolar;
Taxa de distorção idade-série; Quantidade de museu na proximidade;
Quantidade de biblioteca na proximidade; Quantidade de teatro na
proximidade; Número de estádios e ginásios poliesportivos (ou equipamentos
desportivos)
Índice de Gini; Rendimento mensal domiciliar per capita urbano; Rendimento
Social
familiar per capita (% até 1/2 SM); % de famílias com rendimento de 10 a 20
Trabalho e SM; População (urbana) com rendimento mensal domiciliar per capita
renda nominal de até 1/4 salário mínimo; Quantidade de pessoas ocupadas nas
empresas do setor informal; Taxa de Ocupação; Taxa de Desemprego; Taxa
de Formalidade da Ocupação; População urbana em extrema pobreza.
População em Casa Própria; Quantidade de assentamentos subnormais;
População em aglomerados subnormais; Domicílio com banheiro; Percentual
de domicílios servidos por rede de esgotamento sanitário; Densidade média
de moradores por dormitório; Acesso ao sistema de abastecimento de água;
Moradia Percentual de domicílios servidos por rede de água; Domicílios com
abastecimento de água; Acesso a serviço de coleta de lixo doméstico;
Domicílios com acesso a rede elétrica; População atendida com frequência de
2 ou 3 vezes por semana pelo serviço de coleta de resíduos; Quantidade de
conjunto habitacional de interesse social.
Taxa de crescimento da população; Densidade demográfica urbana;
Infraestrutura
Quantitativo de praças e/ou parques; Equipamentos Públicos; Sistema
Urbana
Ambiental Integrado de Transporte Coletivo; Quantidade de Acidentes no trânsito.
Meio Consumo per capita de água; Resíduos sólidos urbanos per capita; Serviços
Ambiente de limpeza urbana; Áreas de proteção ambiental.
Fonte: Elaboração própria (2019)

Inicialmente, para cada um dos indicadores, foram calculados seus respectivos


índices para os bairros de Natal, a partir da mediana dos valores obtidos para cada
indicador.
Assim como a média, a mediana é uma medida de posição, que indica o valor
central do conjunto de dados univariados, independente das características de sua
distribuição. Isso faz da mediana uma medida mais robusta que a média, isto é, menos
sensível à presença de valores discrepantes que, por ventura, possam existir no conjunto
analisado, permitindo com que se tenha um valor mais fidedigno e com menos erros de
interpretação gerados por algum viés dos dados.
102

Com base nos índices calculados fez-se uso do Microsoft Excel® para estabelecer
uma análise hierárquica entre os bairros e regiões e assim, identificar quais bairros e
regiões são mais vulneráveis.
Em seguida, a partir da sua representação, foi construído o mapa de calor com as
correlações lineares existentes entre os bairros de Natal (RN), a fim de que se pudesse
identificar as similaridades e diferenças existentes entre as regiões administrativas da
cidade.

Representação
Os índices analisados variam entre 0 e 1, onde quanto mais próximo de 1, melhor
se apresenta o bairro e/ou a região em relação às questões que envolvem a
vulnerabilidade. Sendo assim, os valores de mínimo e máximo correspondem,
respectivamente, a 1 (baixa vulnerabilidade ou padrão ideal e 0 (alta vulnerabilidade).
Para a representação dos índices referentes a cada indicador definiu-se a
representação de cor correspondente ao nível de vulnerabilidade socioambiental urbano.

Quadro 03: Classificação e representação dos índices em níveis de vulnerabilidade socioambiental para
cidades brasileiras
Índice (0 - 1) Representação de cores Nível de Vulnerabilidade
Socioambiental Urbano
0,0000 – 0,2500 Muito alto
0,2501 – 0,5000 Alto
0,5001 – 0,7500 Baixo
0,7501 – 1,0000 Muito baixo
Fonte: Elaboração própria (2019)

Análise de Correlação Linear


A partir do cálculo dos índices de vulnerabilidade para cada bairro, foi utilizado o
cálculo do Coeficiente de Correlação Linear de Pearson (r) que mede o grau de correlação
linear entre duas variáveis quantitativas. É um índice adimensional com valores situados
entre -1,0 e 1,0 inclusive, e reflete a intensidade de uma relação linear entre dois conjuntos
de dados (BUSSAB, MORETTIN, 2013).
Este coeficiente, normalmente representado pela letra "r" assume apenas valores
entre -1 e 1.
 r = 1 significa uma correlação perfeita positiva entre as duas variáveis.
 r = -1 significa uma correlação negativa perfeita entre as duas variáveis, ou
seja, se uma aumenta, a outra sempre diminui.
103

 r = 0 significa que as duas variáveis não se correlacionam.


Para este artigo foi estabelecido seguinte parâmetro de análise para interpretação
dos dados:
Quadro 04: Medidas de correlação e intepretação
Valor de r Interpretação
- 0,33 ≤ r < 0,33 Correlação linear fraca
- 0,67 ≤ r < -0,33 ou 0,33 ≤ r < 0,67 Correlação linear moderada
- 1,00 ≤ r < - 0,67 ou 0,67 ≤ r ≤ 1,00 Correlação linear forte
Fonte: Elaboração própria (2019)

A escolha das medidas relacionadas no quadro 04 garante que as três


possibilidades de classificação estão associadas a intervalos de valores de r de mesmo
tamanho, garantindo, assim, a ausência de viés na análise.
Definido o percurso metodológico utilizado para alcance do objetivo deste estudo,
o tópico a seguir apresenta e analisa os resultados obtidos.

3 Apresentação e análise dos resultados


3.1 Caracterização da cidade de Natal

A cidade escolhida para a realização deste estudo foi Natal capital do estado do
Rio Grande do Norte, na região Nordeste do Brasil. Segundo o IBGE (2019) a referida
cidade possui uma área territorial de 167,264 km2 e sua população é estimada em 885.173
habitantes.
Criada já com caráter de cidade, Natal foi fundada em 25 de dezembro de 1599
(IBGE, 2010). Sua urbanização teve seu início por meio da colonização portuguesa e seu
aumento populacional ocorreu de forma lenta. No final do século XIX a cidade possuía
apenas 16.050 habitantes (IBGE, 2010).
Segundo Costa (2007), os investimentos habitacionais e as políticas públicas de
Estado e de Governo em Natal também foram estabelecidas segregando espacialmente a
cidade. Ao passo que as habitações para a população de alta renda eram realizadas na
Zona Sul da cidade, as habitações para a população mais pobre eram construídas na Zona
Norte da cidade. A região administrativa Norte é composta por 07 bairros (Lagoa Azul,
Nossa Senhora da Apresentação, Igapó, Potengi, Pajuçara, Redinha e Salinas) e abriga
360.122 habitantes, segundo estimativa do IBGE (2017), sendo considerada a maior tanto
em área territorial, quanto em número de habitantes.
104

A região administrativa Sul é composta por 07 bairros (Lagoa Nova, Nova


Descoberta, Candelária, Capim Macio, Pitimbu, Neópolis, Ponta Negra) e abriga 175.332
habitantes, segundo estimativa do IBGE (2017).
A região administrativa Leste é composta pelos primeiros bairros da cidade, e no
total, compreende uma área composta por 12 bairros (Santos Reis, Rocas, Ribeira, Praia
do Meio, Cidade Alta, Petrópolis, Areia Preta, Alecrim, Barro Vermelho, Lagoa Seca,
Tirol, Mãe Luiza) e contam com 114.649 habitantes (IBGE, 2017).
A região administrativa Oeste compreende 10 bairros (Nordeste, Quintas, Bom
Pastor, Dix-Sept Rosado, Nossa Senhora de Nazaré, Felipe Camarão, Cidade da
Esperança, Guarapes, Cidade Nova, Planalto) e abriga um total de 235.070 habitantes,
segundo o IBGE (2017).
É importante também destacar as características naturais da cidade: Natal
apresenta uma diversidade de ecossistemas, dentre os quais destaca-se os estuários,
planícies de mangue, praias, terraços e vales fluviais, campos dunares, restingas e mata
atlântica.

3.2 Índice de Vulnerabilidade Socioambiental dos bairros de Natal


O cálculo do índice de vulnerabilidade socioambiental dos bairros de Natal
permite identificar quais os bairros e regiões que se apresentam em situação de maior
vulnerabilidade, conforme pode ser visualizado no Quadro 04.
Os dados referentes a cada um dos indicadores foram catalogados a partir da
consulta nas bases de dados que disponibilizam informações referentes às cidades
brasileiras, dentre as quais o IBGE, Prefeitura Municipal de Natal (RN), Datasus, Anatel,
Tribunal Regional Eleitoral, Secretaria do Tesouro Nacional, Ministério das Cidades,
Ministério da Cultura. Os índices dos temas foram calculados a partir da mediana dos
indicadores por bairro que constituem cada tema. O mesmo procedimento foi utilizado
para o cálculo das dimensões e do índice de vulnerabilidade socioambiental de Natal.
105

Quadro 05: Índice de vulnerabilidade socioambiental Urbano de Natal - RN

Índice de vulnerabilidade socioambiental de Natal - RN

Social Ambiental
Índice de
Índice Vulnerabilid
Região
Bairro Índice Índice do Índice do Índice do do ade
Administrativa Índice do Socioambient
do Tema Tema Tema Tema
Tema al por bairros
Tema Educação e Trabalho Infraestrut Meio
Moradia
Saúde Cultura e Renda ura Urbana Ambien
te
Alecrim 0,3374 0,3368 0,3563 0,5355 0,4617 0,2837 0,3468
Areia
0,0648 0,2609 0,9421 0,8746 0,1184 0,3496 0,3052
Preta
Barro
Vermelh 0,1710 0,1878 0,6944 0,9482 0,1721 0,2952 0,2415
o
Cidade
0,0431 0,4922 0,5225 0,6111 0,6290 0,2217 0,5073
Alta
Lagoa
0,8548 0,1769 0,6944 0,8863 0,2807 0,1883 0,4876
Seca
Mãe
Leste 0,6230 0,2829 0,5621 0,4802 0,0788 0,8359 0,5211
Luiza
Petrópol
0,8217 0,4038 0,8443 0,7348 0,3196 0,0577 0,5693
is
Praia do
0,0603 0,2517 0,5009 0,6667 0,2787 0,3107 0,2947
Meio
Ribeira 0,4743 0,3723 0,4624 0,4394 0,4123 0,5155 0,4509
Rocas 0,4141 0,2278 0,6183 0,8484 0,4024 0,2691 0,4082
Santos
0,4737 0,1946 0,4369 0,5143 0,4914 0,8795 0,4825
Reis
Tirol 0,9857 0,4674 1,0000 0,9060 0,4214 0,5189 0,7125
Igapó 0,3056 0,2688 0,3895 0,7657 0,1741 0,9730 0,3475
Lagoa
0,0855 0,4537 0,2279 0,6667 0,4019 0,9116 0,4278
Azul
N. Sra
da
0,2439 0,3749 0,2737 0,5385 0,1909 0,8076 0,3243
Apresent
Norte
ação
Pajuçara 0,1352 0,3377 0,2279 0,7666 0,2796 0,9542 0,3087
Potengi 0,5635 0,6417 0,5827 0,8619 0,6044 0,9692 0,6231
Redinha 0,1554 0,1510 0,1744 0,3846 0,2444 0,9310 0,2094
Salinas 0,0000 0,0000 0,0000 0,2995 0,0000 0,7452 0,0000
Bom
0,1651 0,1348 0,3302 0,4041 0,4092 0,8584 0,3671
Pastor
Cidade
0,0353 0,0744 0,2395 0,2131 0,2284 0,9025 0,2207
Nova
Cidade
Oeste
da
0,2500 0,2503 0,7705 0,9423 0,2943 0,7701 0,5322
Esperan
ça
Dix-Sept
0,1389 0,2950 0,4989 0,6830 0,0486 0,7600 0,3970
Rosado
106

Felipe
Camarã 0,4589 0,4180 0,4644 0,6106 0,3807 0,9225 0,4617
o
Guarape
0,1583 0,1167 0,2014 0,3077 0,2511 0,9328 0,2262
s
Nordeste 0,0556 0,1843 0,3648 0,6667 0,4240 0,8155 0,3944
Nossa
Senhora
0,2588 0,2815 0,6712 0,8402 0,1716 0,8011 0,4763
de
Nazaré
Planalto 0,2684 0,1702 0,3044 0,5581 0,1076 0,9001 0,2864
Quintas 0,4400 0,3052 0,3473 0,8333 0,3333 0,9351 0,3937
Candelá
0,3379 0,1336 0,9226 0,5342 0,4222 0,7252 0,4782
ria
Capim
0,1774 0,2651 0,9108 0,6923 0,4214 0,6670 0,5442
Macio
Lagoa
0,1736 0,6657 0,7750 0,7594 0,5740 0,2231 0,6199
Nova
Sul Neópolis 0,3718 0,3253 0,8372 0,9022 0,6426 0,7115 0,6770
Nova
Descobe 0,3472 0,2794 0,6394 0,7588 0,2916 0,8018 0,4933
rta
Pitimbu 0,3335 0,3361 0,7408 0,9767 0,3659 0,7100 0,5379
Ponta
0,1692 0,3433 0,5583 0,7798 0,4796 0,6140 0,5190
Negra
Fonte: Elaboração própria (2019)

Dos 36 bairros, 25 se encontram em situação que os classificam com um nível


‘Alto’ ou ‘Muito Alto’ para a vulnerabilidade socioambiental, o que explicita que a cidade
apresenta maiores fragilidades especialmente nos temas relacionados as questões sociais,
principalmente de moradia, de educação e cultura, de emprego e renda e na disparidade
existente frente as questões de infraestrutura urbana.
Uma observação que merece destaque é que nenhum dos 36 bairros de Natal
obteve o nível ‘muito baixo’ de vulnerabilidade socioambiental, evidenciando que apesar
de alguns bairros de destacarem com alguns aspectos considerados bons, de um modo
geral, a cidade precisa criar mecanismos eficazes para que o seu desenvolvimento
aconteça de forma harmônica e equitativa, equilibrando os índices e possibilitando uma
cidade menos vulnerável, com melhores condições de vida e maior justiça social.
Com base no cálculo dos índices de vulnerabilidade socioambiental encontrado
para cada bairro da cidade de Natal (RN) e, visando aprofundar a análise, foi possível
estabelecer a análise de correlação linear entre eles, possibilitando a identificação das
similaridades existentes entre as regiões. Para tanto, foram elaborados os mapas de calor
das correlações dos índices comparativos entre as regiões, calculados por meio do
Coeficiente de Correlação Linear de Pearson.
107

Com base nos dados explicitados na Figura 01, procede-se para a análise
comparativa entre as regiões, evidenciando, quando necessário, os bairros que se
destacaram com maior similaridade entre si.
 Região Norte e Região Leste: a análise de correlação realizada entre estas duas
regiões estão representadas na figura 01.

Figura 01: Mapa de calor das correlações lineares entre as regiões Norte e Leste

Fonte: Elaboração própria (2019)

Ao se observar as correlações existentes entre estas duas regiões, é possível ver que
das 84 medidas de correlação, 66 apresentam-se com correlação linear fraca
predominante, representando 78% das medidas. 17 medidas apresentaram correlação
linear moderada, representando 20,23%, e apenas 01 medida é considerada correlação
linear forte.
Essas duas regiões são bem divergentes sob o ponto de vista econômico da cidade. A
região Norte caracteriza-se por ser uma das regiões mais pobres da cidade, enquanto a
região Leste se insere como uma das mais ricas. Além disso, a região Norte apresentou
nível classificado como ‘Muito Alto’ para a vulnerabilidade socioambiental nos temas
Saúde, Trabalho e Renda e Infraestrutura Urbana e nível ‘Alto’ para Educação e Cultura.
108

Enquanto a região Leste apresentou nível alto apenas para o tema Educação e Cultura e
os demais temas se enquadram no nível ‘Baixo’ ou ‘Muito baixo’. Esses dados revelam
a disparidade existente entre os bairros das duas regiões, endossando inclusive, que o fator
econômico da região Leste permite com que haja maior disponibilidade a serviços básicos
e de acesso a estrutura da cidade e que são escassos na região Norte.
É importante destacar que na região Norte o bairro Igapó apresentou as medidas de
correlação mais altas com os bairros da região Leste, muito embora sejam classificadas
como correlação linear moderada. Essa informação evidencia similaridade deste bairro
com a Região Leste, sobretudo com os bairros Santos Reis (correlação linear forte), Praia
do Meio, Alecrim, Rocas e Lagoa Seca (correlação linear moderada) dado que os índices
dos temas do Igapó se apresentam melhores do que os demais bairros da região em que
está localizado, colocando-o em situação semelhante dos bairros da região Leste. O bairro
de Igapó é um ponto de passagem obrigatória para as pessoas que moram na região Norte
da cidade, bem como em outros municípios que fazem divisa com Natal, convergindo,
dessa forma, fácil acesso para ônibus intermunicipal e intramunicipal. Essa característica
do bairro, faz com que haja uma série de investimentos de empreendimentos comerciais,
permitindo com que haja maior visibilidade para o bairro.
 Região Norte e Região Sul: a análise de correlação linear realizada entre estas
duas regiões estão representadas na figura 02.
Figura 02: Mapa de calor das correlações lineares entre as regiões Norte e Sul

Fonte: Elaboração própria (2019)


109

Das 49 medidas de correlação, 26 medidas classificam-se como correlação linear


fraca, representando 53,06%, 20 como correlação linear mediana, representando 40,81%
e 02 como correlação linear forte. 94% das medidas estão entre fraca e mediana,
denotando divergência entre as regiões.
A região Norte, como já explicitado anteriormente, é pobre e apresentou nível
classificado como ‘Muito Alto’ para a vulnerabilidade socioambiental nos temas Saúde,
Trabalho e Renda e Infraestrutura Urbana e nível ‘Alto’ para Educação e Cultura.
A região Sul é a região turística da cidade e, por esse motivo, atrai o olhar dos
investimentos da cidade e concentra pessoas com o maior poder aquisitivo da cidade. A
região não apresentou nenhum tema classificado como ‘Muito alto’ para a
vulnerabilidade socioambiental, classificando-se como ‘Alto’ para os temas Saúde e
Educação e Cultura e Infraestrutura urbana. Por ser uma região essencialmente turística,
a região concentra um quantitativo maior de uma estrutura voltada para atendimento ao
turista, como por exemplo: hotéis, pousadas, bares, restaurantes e lojas de artesanatos. Os
estabelecimentos de saúde, como clínicas e hospitais, bem como as escolas estão
localizadas em outras regiões da cidade. Com relação à Infraestrutura Urbana apresentou-
se com índice alto em decorrência da baixa cobertura da rede de esgotos, além das
características naturais da região: presença dos campos dunares e alto potencial de
infiltração no solo. No entanto, é importante destacar a necessidade de melhoria efetiva
nos aspectos estruturais da região que possa proporcionar melhor condições de vida para
os seus moradores.
Os bairros que apresentaram uma medida de correlação linear forte foram Ponta
Negra e Nova Descoberta (região Sul) com Igapó (região Norte), evidenciando mais uma
vez o diferencial do bairro Igapó frente a região Norte da cidade, dada a sua estrutura e
sua localização privilegiada que permite maiores investimentos particulares. Ademais,
foram nos temas Saúde, Educação e Cultura e Moradia que houve maior convergência
entres os bairros. Nos dois primeiros temas os três bairros se classificaram com nível
‘Alto’ para a vulnerabilidade, enquanto que no tema Moradia os três bairros se
classificaram com um nível ‘Muito baixo’ para a vulnerabilidade socioambiental.
 Região Leste e Região Oeste: a análise de correlação linear realizada entre estas
duas regiões estão representadas na figura 03.
110

Figura 03: Mapa de calor das correlações lineares entre as regiões Leste e Oeste

Fonte: Elaboração própria (2019)

Das 120 medidas de correlação obtidas dos 22 bairros, 43 medidas classificam-se


como correlação linear fraca, representando 35,8% das medidas, 58 como correlação
linear mediana, representando 48,4% das medidas e 19 como correlação linear forte,
representando 15,8% das medidas.
Como já foi destacado a região Leste é a região onde reside a população com maior
poder aquisitivo da cidade, diferentemente da região Oeste que é uma das regiões mais
pobres da cidade. A região Leste apresentou nível ‘Alto’ apenas para o tema Educação e
Cultura e os demais temas se enquadram no nível ‘Baixo’ ou ‘Muito baixo’. Já a região
Oeste apresenta nível ‘Muito alto’ de vulnerabilidade socioambiental para os temas
Saúde, Educação e cultura e nível ‘Alto’ para Trabalho e renda e Infraestrutura urbana. É
importante destacar que esta região Oeste compõe três ZPA: parte da ZPA-1 e ZPA-4 que
abrigam os campos dunares, e a ZPA-8 que compreende o ecossistema manguezal e
estuário do Rio Potengi/Jundiaí, favorecendo, em função da ocupação irregular riscos de
deslizamentos e enchentes.
O bairro Nossa Senhora de Nazaré (região Oeste) foi o que apresentou maior
similaridade com os bairros da região Leste, apresentando 07 medidas de um total de 12,
classificada como uma medida de correlação linear forte. Esse dado revela a similaridade
desse bairro sobretudo com os bairros Areia Preta, Barro Vermelho, Mãe Luiza, Praia do
111

Meio, Rocas e Santos Reis. Alguns desses bairros são considerados pobres da região Leste
e demandam um olhar mais atento para que haja um melhor planejamento e maior
direcionamento de recursos para melhoria desses bairros.
 Região Sul e Região Oeste: a análise de correlação linear realizada entre estas
duas regiões estão representadas na figura 04.

Figura 04: Mapa de calor das correlações lineares entre as regiões Sul e Oeste

Fonte: Elaboração própria (2019)

Das 70 medidas de correlação existentes para estas regiões, 18 medidas apresentaram-


se com correlação linear fraca, 18 com medida de correlação forte, representando 25,7%
das medidas cada e 34 com medida de correlação moderada, representando 48,6 %.
A disparidade existente entre as regiões é evidente. A região Sul é turística e apresenta
todo uma estrutura voltada para tal atividade, além de ser a região que as pessoas detém
o maior poder aquisitivo da cidade. A região Oeste é carente de infraestrutura, sobretudo
no acesso às questões básicas para a população. Como já evidenciado a região Oeste
apresenta nível ‘Muito alto’ de vulnerabilidade socioambiental para os temas Saúde,
Educação e cultura e nível ‘Alto’ para Trabalho e renda e Infraestrutura urbana. Já a
região Sul não apresentou nenhum tema classificado como ‘Muito alto’ para a
vulnerabilidade socioambiental, classificando-se como ‘Alto’ para os temas Saúde e
Educação e Cultura e Infraestrutura urbana.
112

O bairro Cidade da Esperança (região Oeste) foi o bairro que apresentou mais medidas
de correlação linear forte com os bairros da região Sul. Das 07 medidas de correlação, 06
são correlação linear forte e 01 correlação linear moderada. Esse dado reflete a
similaridade de Cidade da Esperança com os bairros Candelária, Capim Macio, Neópolis,
Nova Descoberta, Pitimbu e Ponta Negra. Apesar de localizado em uma região mais
pobre, este bairro é um dos mais tradicionais da cidade e onde foi construído inicialmente
o primeiro conjunto habitacional também denominado Cidade da Esperança, e fazia parte
de um Plano de Habitação Popular, concebido para reverter o déficit habitacional
potiguar. Dada as suas características de planejamento e desenvolvimento, é um bairro
que detém muitos comércios, supermercados, feira livre, rodoviária com linhas
intermunicipal e interestadual, acesso ao transporte público, facilitando o acesso dos
moradores para todas as outras regiões da cidade. São essas características que
posicionam o bairro em uma situação mais similar com os bairros da região Sul.
 Região Norte e Região Oeste: a análise de correlação linear realizada entre estas
duas regiões estão representadas na figura 05.

Figura 05: Mapa de calor das correlações lineares entre as regiões Norte e Oeste

Fonte: Elaboração própria (2019)


113

Das 70 medidas de correlação representadas na figura 05, 10 são medidas de


correlação linear fraca, representando 14,29%, 38 são medidas de correlação moderada,
representando 54,28% e 22 são medidas de correlação forte, representando 31,43%.
Essas regiões são as que concentram o locus de pobreza da cidade. Apesar de todas
as regiões administrativas tenham comunidades caracterizadas pela pobreza, pela falta de
estrutura que garantam as condições mínimas de moradia e qualidade de vida, são nessas
duas regiões que se apresentam os índices de vulnerabilidade socioambiental
classificados como ‘Muito alto’.
A região Norte, como já explicitado anteriormente, é um bairro pobre e apresentou
nível classificado como ‘Muito Alto’ para a vulnerabilidade socioambiental nos temas
Saúde, Trabalho e Renda e Infraestrutura Urbana e nível ‘Alto’ para Educação e Cultura.
A região Oeste apresentou nível ‘Muito alto’ de vulnerabilidade socioambiental para os
temas Saúde, Educação e cultura e nível ‘Alto’ para Trabalho e renda e Infraestrutura
urbana.
O bairro de Igapó (região Norte) foi o que apresentou mais medidas de correlação
linear forte com os bairros da região Oeste. Das 10 medidas de correlação, 07 são
correlação linear forte e 03 correlação linear moderada. Esse dado reflete que apesar de
ser um bairro bem localizado e estruturado, como já evidenciado, o bairro Igapó reflete
as dificuldades de estar inserido em uma região pobre da cidade, no qual enfrenta
dificuldades evidenciados pelos temas Saúde, Educação e cultura e Trabalho e Renda.
 Região Leste e Região Sul: a análise de correlação linear realizada entre estas
duas regiões estão representadas na figura 06.
114

Figura 06: Mapa de calor das correlações lineares entre as regiões Leste e Sul

Fonte: Elaboração própria (2019)

Das 84 medidas de correlação linear para estas regiões, 09 são medidas de correlação
linear fraca, representando 10,71%, 39 são de correlação linear moderada 46,43% e 36 de
medidas de correlação linear forte, representando 42,86%. Apesar de apresentar a
correlação linear mediana como preponderante, a correlação linear forte obteve um
percentual significativo.
As duas regiões se assemelham por serem as regiões mais ricas da cidade e
concentrarem os maiores rendimentos nominal médio mensal, com 3,31 e 3,09 salários
mínimos, respectivamente. A região Leste apresentou nível ‘Alto’ apenas para o tema
Educação e Cultura e os demais temas se enquadram no nível ‘Baixo’ ou ‘Muito baixo’.
A região Sul não apresentou nenhum tema classificado como ‘Muito alto’ para a
vulnerabilidade socioambiental, classificando-se como ‘Alto’ para os temas Saúde e
Educação e Cultura e Infraestrutura urbana.
O bairro Nova Descoberta (região Sul) foi o que mais apresentou similaridade com a
região Leste, sobretudo com os bairros Areia Preta, Barro Vermelho, Lagoa Seca, Mãe
Luiza, Praia do Meio, Rocas, Santos Reis e Tirol. É considerado um bairro com uma
infraestrutura adequada para moradia dada a proximidade à UFRN (Universidade Federal
do Rio Grande do Norte), acesso a unidades básicas de saúde, escolas particulares e
115

públicas, restaurantes e clínicas. No entanto, há dificuldades quanto ao acesso à


transporte público.
Uma observação importante a ser feita na análise das regiões que se enquadraram
na classificação de correlação linear moderada é que, apesar das diferenças absolutas
entre os índices dos bairros das regiões analisadas, a maior parte das correlações lineares
entre os bairros dessas regiões apresentaram correlação linear mediana. Esse resultado
explicita um certo grau de similaridade da distribuição dos valores dos índices dos bairros
de cada região, não indicando, porém, que as regiões em si são similares ou que existe
alguma relação direta ou causal entre eles.
Com base nos resultados apresentados foi possível verificar que não houve, entre
as regiões, correlação linear forte, apesar de haver, do modo específico, correlação forte
entra alguns bairros.
A região Norte foi a região que apresentou um nível de vulnerabilidade
classificado como ‘Alto’. Essa também é a região mais pobre de Natal e, por conseguinte,
a que apresenta os problemas mais latentes nas questões referentes aos temas analisados,
sobretudo, Saúde, Trabalho e renda, Infraestrutura Urbana, Educação e cultura. Tal fato
o coloca em um nível de correlação linear fraca e de disparidade frente as regiões mais
abastadas da cidade: região Leste e região Sul.

4 Considerações Finais
Analisar uma cidade traçando um comparativo entre seus bairros e estabelecendo
uma hierarquia para identificar quais os mais ou menos vulneráveis, configura um
importante avanço nos estudos acerca da vulnerabilidade socioambiental, pois é possível
retratar qual região e quais bairros necessitam de maiores investimentos públicos para
sanar as problemáticas sociais e ambientais que os envolvem.
Desse modo, identificar os bairros mais frágeis da cidade permite que se
estabeleça um grau de prioridade no direcionamento de políticas públicas para a
mitigação destes problemas e que visem o bem-estar da sociedade e o direcionamento
planejado de recursos.
Com base nos resultados alcançados foi possível identificar que as regiões Norte
e Oeste são as mais vulneráveis e são as que demandam maior necessidade de
planejamento que visem a implementação de ações para reverter o cenário de
vulnerabilidade socioambiental que apresentaram. As questões representadas pelos temas
Saúde, Educação e cultura, Trabalho e renda e Infraestrutura urbana, foram as mais
116

latentes, constituindo aspectos sociais fundamentais para que qualquer cidadão possa ter
garantido sua sobrevivência e sua dignidade.
As correlações lineares apresentadas permitiram a identificação das similaridades
e diferenças entre bairros e, sobretudo entre as regiões administrativas, delineando
análises mais aprofundadas e permitindo descobrir minúcias da cidade não perceptíveis
em uma primeira análise. De forma equânime, as questões relativas às problemáticas
sociais foram as que se apresentaram mais negativamente, demandando maior atenção
por parte da gestão pública e, por conseguinte, urgência no seu equacionamento.
Desse modo, verifica-se a importância de analisar a cidade com um olhar mais
direcionado para cada região e para cada bairro, pois cada um apresentaram
especificidades que os colocam em divergência em vários aspectos, mesmo quando
exibem as mesmas problemáticas. Estas observações ficam evidentes quando se
compreende o surgimento histórico de cada região, de cada bairro e seus respectivos
processos de ocupação espacial, compreendendo também, as suas necessidades mais
prementes.
Nesse sentido, torna-se urgente que se pense a cidade de modo que o seu
crescimento aconteça de forma equitativa, que os recursos possam ser direcionados
levando em conta as necessidades de cada bairro e de cada região e que todos possam
usufruir de forma igualitária da cidade em que moram.

5 Referências
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CONSIDERAÇÕES FINAIS DA TESE

Analisar a vulnerabilidade socioambiental das cidades brasileiras, com enfoque


nas questões sociais e urbanísticas, constitui uma importante contribuição nos estudos
acerca da temática, permitindo outros olhares e a inserção de outros construtos teóricos
para facilitar o seu entendimento.
A construção desta tese baseou-se no entendimento de que a definição de
vulnerabilidade socioambiental urbana deve envolver uma percepção mais integrada das
condições de vida de uma dada população e, portanto, deve-se perceber que os impactos
advindos dos desastres naturais reconfiguram os cenários urbanos e impactam a forma e
condição de vida das pessoas. Por isso, o processo de construção da sociedade e o
processo de expansão urbana nas cidades brasileiras, faz com que uma parte da população
desconheça seus direitos e experimentem de forma intensa uma sobreposição de
desigualdades sociais.
Pautada nesse entendimento se estabeleceu para esta tese o seguinte objetivo:
propor um modelo para análise da vulnerabilidade socioambiental de cidades brasileiras,
a partir da proposição de um conjunto de indicadores sociais e ambientais que considerem
questões sociais e urbanas.
O arcabouço dos indicadores de vulnerabilidade socioambiental urbana proposto,
apresentado no capítulo 01, foi embasado em autores que são considerados pilares nos
estudos que envolvem a temática vulnerabilidade socioambiental e o urbano, denotando
consolidação na proposição e, por conseguinte, atendendo à contribuição teórica da tese.
Desse modo, atendendo ao objetivo específico 01, o marco metodológico proposto
neste estudo permite a consolidação de um conjunto de indicadores para, quando da sua
aplicação, possibilita a análise da vulnerabilidade socioambiental em cidades brasileiras,
contribuindo para uma análise mais profícua e alinhada com a realidade brasileira,
principalmente por não estar embasada unicamente na ótica dos desastres naturais, mas
englobando a perspectiva das questões sociais, de justiça social, de cidadania e que visam
o bem estar da cidade, variáveis estas, que são mais latentes e reais no contexto brasileiro.
Fatalmente a Dimensão Social dispõe de um maior quantitativo de temas e
indicadores que conseguem traduzi-la e analisa-la sob um quantitativo maior de aspectos.
Isso decorre da diversidade de estudos com foco nos aspectos sociais, bem como da
quantidade de indicadores disponíveis nas diversas bases de dados, dentre elas o IBGE.
Tal fato endossa a relevância dos estudos que envolvem as problemáticas sociais no Brasil
120

e o quanto demandam novos estudos que visem o diagnóstico, o monitoramento e o


direcionamento de ações para mitiga-las.
Por outro lado, a Dimensão Ambiental se apresentou com menor quantitativo de
variáveis. Tal fato direcionou para que, neste estudo, fosse realizada a proposição de um
número maior de novos indicadores para esta dimensão, apontando para a necessidade do
desenvolvimento de estudos que busquem estabelecer formas de mensuração e de
métricas e que tornem estes indicadores quantificáveis, promovendo assim, mais avanços
nos estudos sobre a vulnerabilidade socioambiental em contextos urbanos.
Estas questões, quando analisadas, proporcionam novos entendimentos sobre o
fenômeno, por estar pautada nas especificidades do Brasil, fomentando o planejamento e
a gestão, a partir de uma perspectiva integradora e sistêmica. Ademais, podem contribuir
para um plano de avaliação de políticas e programas específicos para atender cada região
ou cada bairro, respondendo mais prontamente às demandas mais pujantes.
O delineamento metodológico para cálculo do índice de vulnerabilidade
socioambiental, apresentado do capítulo 02 e respondendo ao segundo objetivo
específico, serve como ponto de partida para a construção de sistemas de indicadores
independente do fenômeno estudado. Sendo assim, contribui substancialmente para a
elaboração de outros sistemas que utilizem indicadores como instrumento de métrica e
monitoramento.
A aplicação do arcabouço dos indicadores propostos apresentada no capítulo 02 e
03, permitiu o cálculo do índice de vulnerabilidade socioambiental da cidade de Natal,
objeto de estudo, e a classificação do seu nível. Tais resultados apresentados nesses
artigos, respondem ao 3º, 4º e 5º objetivos específicos. Ademais, também foi possível a
identificação das similaridades entre os bairros e regiões, demonstrando que o cálculo do
índice possibilita ao pesquisador várias formas de análise sob perspectivas diferenciadas,
tornando-se um importante instrumento de análise urbana de forma abrangente.
Natal é uma cidade de porte médio e está situada em um lugar privilegiado do
Brasil a qual se confere uma qualidade de vida superior, principalmente nas diversas
formas de divulgação da cidade para se atrair turistas e investidores. Imagem esta,
revelada em decorrência, principalmente, de seu patrimônio natural. No entanto, a Natal
vivida pelos seus citadinos revela um quadro de problemas iminentes comprometendo a
sua imagem da cidade bela e agradável para se morar.
Como observado, o nível de vulnerabilidade socioambiental para a cidade de Natal
foi de 0,4709, considerado como ‘Alto’. Esse resultado é considerado insatisfatório e
121

preocupante, pois coloca a cidade frente a muitas problemáticas que demandam urgência
como forma de garantir condições mínimas de qualidade de vida aos seus citadinos.
Ademais, é importante destacar a necessidade de analisar a cidade com um olhar mais
direcionado para cada região e para cada bairro, pois cada um apresentam especificidades
que os colocam em divergência em vários aspectos, mesmo quando exibem as mesmas
problemáticas.
Esta percepção é endossada pela reflexão feita por Kowarick (2000) que chama
atenção ao pontuar que os principais investimentos públicos são comumente realizados
em áreas onde vivem e trabalham os grupos com renda média e alta, e que os
investimentos públicos em bens de consumo coletivo, têm sido tradicionalmente
realizados com prejuízo para a grande massa de trabalhadores. São estas ações por parte
do Estado que privilegiam uma parcela da população e segrega a outra parcela que tem o
direito à cidade negado.
Os indicadores que obtiveram um nível alto ou muito alto para a vulnerabilidade,
foram identificados nos bairros mais periféricos e mais pobres, em áreas com más
condições urbanísticas e sanitárias, denotando uma concentração de indicadores avaliados
negativamente e revelando uma cidade que não é vista pelos turistas e pelos moradores
das regiões mais abastadas.
Desse modo, o estudo apresentado representa um conjunto de informações da
cidade de Natal (RN) de fácil entendimento e capaz de gerar comunicação na sociedade
e fornecer informações adequadas para a tomada de decisão. Portanto, poderá servir de
suporte aos interesses do poder público, pois poderá avaliar e monitorar os indicadores
em dado espaço temporal, garantindo eficiência das políticas adotadas e, por conseguinte,
melhorando a cidade para os cidadãos.
Com base as considerações apresentadas, este estudo é constituído de avanços
significativos nos estudos que envolve indicadores e vulnerabilidade socioambiental no
contexto urbano. Além disso, é um instrumento importante que estabelece uma relação
entre o ambiente acadêmico e a sociedade civil, viabilizando o debate entre tais partes e,
por conseguinte, possibilitando a estruturação de planos de desenvolvimento pautados na
construção de uma sociedade justa e equitativa.
No entanto, não se apresenta aqui a intenção de exaurir a discussão sobre os
indicadores que visem a análise da vulnerabilidade socioambiental para as cidades
brasileiras, mas, sobretudo, contribuir com os estudos sobre a temática dada a sua
complexidade de entendimento e análise.
122

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VILLAÇA, F. Reflexões sobre as cidades brasileiras. São Paulo, SP: Studio Nobel, 2012.
126

ANEXOS
127

ANEXO I – Aceite e submissões dos artigos

Comprovante de que o artigo foi aceito para publicação - Artigo que compõe o
capítulo 01:

Comprovante de que o artigo foi aceito para publicação - Artigo que compõe o
capítulo 02:
128

Comprovante de submissão referente ao artigo que compõe o capítulo 03:

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