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FORTALEZA
2013
2
Fortaleza-Ceará
2013
3
CDD: 320.6
4
5
6
Senhor,
AGRADECIMENTOS
A Deus, a mais infinita gratidão e por estar presente em todos os meus momentos.
A meus pais, Zaqueu (in memoriam) e Liana, principalmente a minha querida mãe, símbolo
de força, coragem, determinação e sabedoria. Essa vitória não teria sido possível se não
trouxesse comigo tudo o que aprendi com você. Obrigada por me incentivar e nunca
desistir de nada nessa vida. Essa conquista é nossa.
Aos meus queridos irmãos, Zaqueu Filho e David que, mesmo com alguns
desentendimentos (afinal, não fugimos à regra dos irmãos), são motivos de muito orgulho
para mim.
Ao meu querido e amado noivo, Gabriel. Você é e sempre será a peça chave desta
dissertação. O seu amor transcende todas as barreiras, e com você aprendo todos os dias a
difícil arte de amar e de ser amada. Obrigada por tudo: pelo seu amor, pela paciência
quando eu trocava os passeios para escrever a dissertação, pelas “caronas” para deixar as
cópias da dissertação, pela ajuda nas descrições auditivas das entrevistas, enfim, pela nossa
maravilhosa vivência. Uma simples palavra descreve o que eu sinto por você: AMO-TE
MUITO!
Aos meus avós maternos (in memoriam), Raimundo e Alzira, que cuidaram de seus filhos
com muita sabedoria. Queridos vovô e vovó, onde estiverem estarão muito orgulhosos de
sua neta.
Ao professor Geovani Jacó por ter aceitado o convite para participar da banca de avaliação
e por suas contribuições na banca de qualificação, suas dicas foram essenciais na
construção dessa pesquisa.
Ao professor Luiz Fabio, mesmo sem me conhecer, aceitou o convite para participar da
banca de avaliação. Obrigada pela disponibilidade e compromisso mesmo na última hora.
Agradeço pelas boas-vindas e amizade carinhosa a qual fui recebida pela equipe do Núcleo
6 (Adriana, Fabiana, Rafaela, Silvelir, Karina, Dna. Socorro, Maria da Paz, Rejane e
Valéria). Obrigada por tudo e pela ajuda que cada um empreendeu na construção dessa
pesquisa. Agradeço pela amizade de vocês.
Aos colegas do Mestrado, nessa caminhada árdua na busca pela titulação. Hoje vencemos
mais uma etapa de nossa vida, com a certeza de que continuaremos zelando pela nossa
amizade. Em especial à Karina, Eniana, Andra, Irlena, Sarah, Monalisa, Lara e Ana. Aos
amigos de hoje e eternos: Rafaela, Suzany, Jéssica, Ana Joyce, Nara, Iarley, Julio César,
Alessandro e o Levi.
A todos os meus amigos antigos e recentes, que, de alguma forma, contribuíram para minha
formação humana e profissional.
A Pedrita (a cachorra da família) que nos momentos de angústia e cansaço era quem me
dava carinho e acalento, mesmo quebrando a casa toda e comendo o que não devia, ficando
sempre sentadinha ao meu lado enquanto eu passava as madrugadas digitando esta
dissertação.
10
RESUMO
O presente estudo busca apontar os limites e possibilidades das ações desenvolvidas por
profissionais que executam as políticas públicas de atendimento a crianças e adolescentes, mais
especificamente, as medidas socioeducativas em meio aberto, do Programa de Atendimento
Socioeducativo, mediante suas percepções e criação de sentidos sobre o próprio trabalho fazendo
um contraponto com as orientações do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
(SINASE). A pesquisa, de cunho qualitativo e com metodologia baseada em entrevistas
semiestruturadas com os sujeitos operadores do sistema socioeducativo, buscou fundamentação
em documentos do Programa de Atendimento Socioeducativo e em revisão bibliográfica em
obras pertinentes ao tema. O estudo apresenta uma breve incursão teórica sobre os conceitos de
infância e juventude e referentes às práticas e políticas voltadas a este segmento no Brasil,
especificamente, os adolescentes autores de atos infracionais. Explana-se o cenário atual da
política de atendimento voltada a esses sujeitos, abordando as medidas socioeducativas e os
princípios e diretrizes do SINASE. Os dados e informações da pesquisa foram coletados por
meio de entrevista com 17 profissionais das mais diversas áreas do saber, que lidam, de forma
direta, na execução das medidas socioeducativas. Ao término da investigação, concluiu-se que,
apesar dos 6 anos de execução no processo de municipalização em Fortaleza, tal processo,
apresenta fragilidades que, se não diagnosticadas em tempo hábil, podem refletir em práticas
que ferem os princípios que norteiam os serviços prestados pelos trabalhadores aos adolescentes
em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto.
RÉSUMÉ
Cette étude vise à identifier les limites et les possibilités d'actions développés par des
professionnels qui exécutent les politiques de soins pour les enfants et les adolescents, plus
particulièrement, les mesures éducatives en milieu ouvert, Programme d'Assistance Socio-
éducatif sur leurs perceptions et la création de significations sur le travail lui-même un
contrepoint aux orientations des services socio-éducatifs nationaux (SINASE). La recherche, une
méthodologie qualitative et basée sur des entretiens semi-structurés avec les sujets gestionnaires
de réseau de garde d'enfants, ont cherché justification documents présence Socio du programme
et revue de la littérature sur les travaux pertinents sur le sujet. L'étude présente un bref aperçu sur
les concepts théoriques de l'enfance et de la jeunesse et sur les pratiques et les politiques dans ce
segment au Brésil, plus précisément, les adolescents qui ont des infractions. Explique le scénario
actuel de soins de santé axé sur ces sujets, aborder les mesures éducatives et les principes et
lignes directrices de Sinase. Les données et les informations de l'enquête ont été recueillies au
moyen d'entrevues avec 17 professionnels de diverses disciplines, qui traitent directement dans la
mise en œuvre de mesures éducatives. A la fin de l'enquête, il a été conclu que, malgré six années
d'exécution dans le processus de municipalisation à Fortaleza, ce processus présente des
faiblesses qui, si elle n'est pas diagnostiquée à temps, pourrait refléter les pratiques qui violent les
principes qui guident les services offerts travailleurs adolescents en exécution des mesures
éducatives en milieu ouvert.
Mots-clés: Sinase. Les mesures éducatives. Les politiques publiques. Services socio-éducatifs.
12
LA – Liberdade Assistida
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................................14
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................103
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................110
APÊNDICES...............................................................................................................................115
14
INTRODUÇÃO
1
A cidade de Fortaleza é dividida em Regiões Administrativas que totalizam 6 (seis) regionais, das quais foram
criadas com o intuito de descentralizar os serviços da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
15
Esta dissertação tem profunda relação com a minha profissão, o que justifica e
impulsiona boa parte da redação deste texto. Minha trajetória profissional iniciou-se no ano de
2003, como estagiária de Serviço Social, trabalhando com crianças e adolescentes que residiam
nas ruas de Fortaleza, através da instituição Albergue da Juventude – Polo Central de
Atendimento, que teve seu funcionamento até o ano de 2004, onde realizava atendimento social
com o objetivo de encaminhá-los para a rede socioassistencial e retorno para suas respectivas
residências. No mesmo ano, também estagiava no Projeto Mãos Dadas (hoje, se chama Projeto
Transformando Vidas), no qual trabalhava acompanhando adolescentes em conflito com a lei, na
área social, no oferecimento de cursos profissionalizantes com o objetivo de incluí-los
socialmente.
Nos anos de 2004 a 2005, também atuei no trabalho com adolescentes em estado de
vulnerabilidade social por meio da instituição Casa do Menino Trabalhador; oferecendo-lhes
cursos profissionalizantes na área da alimentação e encaminhamento para o mercado de trabalho
através de estágios. Diante dessas experiências, passei a gostar dessa área e, após a formatura em
Serviço Social, busquei outras instituições que trabalhassem com esses públicos. A atuação como
Assistente Social teve início com o primeiro emprego, trabalhando com crianças e adolescentes
vítimas de abuso e exploração sexual no Projeto Sentinela2, trabalho que foi uma grande fonte de
aprendizagem, mas não satisfazia o lado profissional, daí porque busquei outro emprego, voltado
para a área da adolescência. Essa oportunidade veio no ano de 2006, quando passei a trabalhar no
Programa Municipal de Atendimento Socioeducativo, durante seis anos de atuação na área do
Serviço Social.
Diante dessas experiências, optei por realizar os estudos que fundamentaram esta
dissertação, sendo impulsionada pela atuação como assistente social, no acompanhamento a
adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa no Núcleo de Liberdade Assistida
Municipalizada (LAM) da Regional III, um dos órgãos responsáveis pela execução da referida
medida. Mas, ao realizar a pesquisa, fiquei temerosa de como iria construí-la, pelo fato de fazer
parte da instituição. A questão desafiadora era como separar a profissional da pesquisadora, tendo
sido esse um exercício difícil, mas que acredito, ter sido possível mediante a construção de uma
2
O Projeto Sentinela é um projeto que atua no acompanhamento psicossocial humanizado no atendimento de
crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual e exploração sexual.
16
interação privilegiada da teoria com a prática institucional, no sentido de repensar o caminho até
aqui percorrido, em busca de maior conhecimento e compreensão do caráter político e
pedagógico que orienta a política pública, voltada para adolescentes em conflito com a lei.
Percebo como a definição dos sujeitos dessa pesquisa encontra-se numa tensão entre
dois mundos: o das instituições de atendimento e o mundo acadêmico. Em primeiro
mundo, o institucional, em decorrência das tipologias classificadas para a execução de
políticas públicas, utiliza demarcações temporais (relativas ao tempo de permanência nas
ruas) e etárias (orientadas pelo ECA, que define a infância e a adolescência a partir da
idade). Já o mundo acadêmico considera dimensões relacionadas às experiências
subjetivas e às formas de interações sociais, na perspectiva de constituir uma definição
ou um conceito. Em virtude de sua singularidade, deparo-me como uma tarefa
desafiadora, que pode fragilizar a contemplação desses dois mundos [...] (HOLANDA,
p.23-24, 2012).
Referida autora citada ajudou-me a perceber que é possível transitar nos dois mundos,
no sentido de observar o que se vivencia no campo do trabalho e da pesquisa, auxiliando a
narrativa dissertativa, mas com cuidado metodológico adquirido na academia, para o devido
estranhamento do que é muito familiar. Para Holanda (idem), trata-se de realizar um tipo de
‘observação vivencial’ dada a inserção nos dois campos.
Tendo em vista essas questões, optei por realizar uma pesquisa qualitativa baseada
nos aspectos da observação direta, no contato e envolvimento do pesquisador com o fenômeno
observado, para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios
contextos. A escolha também ocorreu pelo fato de pertencer ao quadro de funcionários do
Programa Municipal de Atendimento Socioeducativa e vivenciar, junto com outros profissionais
antigos, os limites e as possibilidades no acompanhamento de adolescentes em conflito com a lei,
durante os seis anos de execução do referido Programa.
Na realização das visitas, após contato prévio, elaborarei perguntas para compor o
roteiro de entrevistas semiestruturadas, a serem realizadas utilizando um aparelho gravador como
ferramenta (antes de iniciar cada entrevista, solicitava a autorização para o uso do gravador, em
respeito à privacidade do entrevistado). Através das leituras sobre essa temática, observou-se que
as entrevistas semiestruturadas têm sua forma de aplicação apontadas por Boni e Quaresma
(2005, p. 75):
dos resultados, possibilitando, assim, outros olhares. Também foram entrevistados profissionais
da medida socioeducativa em meio aberto, de Prestação de Serviços à Comunidade.
Se queremos produzir práticas sociais que tenham a dimensão do coletivo, temos que
dialogar com saberes múltiplos, temos que pesquisar com qualidade. O dado numérico
em si nos instrumentaliza, mas não nos equipa para trabalharmos o real em movimento,
na plenitude que buscamos [...] (MARTINELLI, 1994, p.21).
[...] a experiência é uma partilha, uma revelação, uma transmissão de uma vivência que
revela o sentido de sua própria existência. É algo particular, relativo e subjetivo, pois
duas pessoas, por mais que tenham compartilhado o mesmo acontecimento, não
possuem a mesma experiência (BENJAMIM citado por HOLANDA, p.23, 2012).
É importante lembrar que o pesquisador não está imune às limitações impostas pela
vida cotidiana, grande parte afetada pela própria dinamicidade da realidade que a circunda.
Mediante essa configuração, busquei, portanto, adequar-se às diversas situações (por exemplo, a
disponibilidade do profissional para aceitar a participação na entrevista, entre outros pontos) e
locais visitados (Núcleos de Liberdade Assistida e Prestação de Serviço à Comunidade) para
entrevistar os profissionais que prestam serviços no Programa Municipal de Atendimento
Socioeducativo.
A cada entrevista, conheci o trabalho realizado por esses profissionais, bem como a
cada visita nos Núcleos de Liberdade Assistida e a Coordenação do Programa Municipal de
Atendimento Socioeducativo e Prestação de Serviços à Comunidade (foram visitados quatro
núcleos onde se encontravam localizados os profissionais participantes da pesquisa –
correspondentes ao I, II, III e VI). Assim, conheci a realidade em que se encontram tais locais
depois de seis anos de execução e ali se realizaram atividades como conversas e observações, que
ajudaram a desmitificar, ou seja, a ver o outro lado de maneira mais crítica, e entender o trabalho
21
realizado pelos trabalhadores desses locais. Para ilustrar esse comentário, cito o pensamento de
Behring (2011, p. 42):
profissional tem um hora que precisa dizer basta e procurar novas condições, ser
respeitado, se fazer presente. (Relato dado em 10/10/ 2009).
Menciono que a presente pesquisa não foi fácil, pois me despedir do papel de
profissional integrante do Programa e me tornar uma pesquisadora entrevistando os colegas,
gerou dificuldades, em alguns momentos, assim como ajudou em outros. No primeiro aspecto, a
dificuldade foi encontrada pelo fato de uma parte dos colegas entrevistados não me encararem
como pesquisadora, mas como a colega que está ali trabalhando todos os dias e que está fazendo
algumas perguntas sobre o seu próprio trabalho, que realiza dentro do Programa e com o qual já
tem bastante intimidade o que, suponho, levou alguns participantes da pesquisa a se sentiram
intimidados. Ilustro esse comentário com a seguinte fala de um dos entrevistados:
É engraçado mulher, te ver como pesquisadora, eu trabalho contigo todos os dias, somos
colegas, é difícil ver você sendo as duas coisas ao mesmo tempo (risos). Eu estou até
meio tímida para falar, mas vamos lá, quero colaborar. (Assistente Social, entrevista
realizada no dia 17/07/12).
Olha só, estou me sentindo orgulhosa em contribuir com sua pesquisa e por ser sua
amiga de tombamento (se referindo ao tempo de trabalho), dar informações de que
precisa. Sua pesquisa é interessante porque esta nos levando a uma reflexão sobre nosso
trabalho e do Programa. Agradeço pela oportunidade. (Profissional 6, entrevista
realizada no dia 06/08/12).
23
Portanto, uma pesquisa dissertativa não tem como intenção principal encontrar
respostas definitivas acerca do objeto pesquisado, mas tem o intuito de por em movimento as
reflexões acerca do tema abordado, levar ao eterno movimento “do devir” (HEGEL, 1992). Cito
que, apesar de não possuir o objetivo de dar respostas definitivas, até porque novas pesquisas
surgiram ao longo do tempo nesse campo, e consequentemente virão novas respostas, novas
indagações, dentre outros aspectos, sempre irão surgir. Busquei, na medida do possível, expor
considerações sobre o objeto pesquisado, dentro do que a realidade da pesquisa se apresentava.
Por fim, registro, ainda, que todos os 17 sujeitos pesquisados foram esclarecidos
quanto aos objetivos da pesquisa e sobre os recursos que seriam utilizados, tendo a garantia da
preservação de sua identidade, conforme explicado no Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
26
Para melhor situar o leitor e mostrar a formação e construção desse Programa, tomei,
como base documental histórica existente, projetos de intervenção, ofícios, dados institucionais e
outros. A criação e execução do Programa Municipal de Atendimento Socioeducativo vinculam-
se à antiga Fundação da Criança e Família Cidadã (FUNCI). Desde 2005, início de gestão da
prefeita de Fortaleza Luiziane Lins, essas medidas socioeducativas para crianças e adolescentes
foram implantadas.
Referidas equipes técnicas dos dois equipamentos citados são responsáveis pela
recepção dos socioeducandos sentenciados para que se faça cumprir a medida socioeducativa em
meio aberto (LA e PSC). Além disso, outra função de tais equipes é preencher instrumentais com
dados processuais e subjetivos que servem de subsídios para as equipes técnicas da LAM e
28
3
A 5 ª Vara do J.I.J é responsável pelas audiências e encaminhar os socioeducandos sentenciados a cumprirem
medidas socioeducativas em meio aberto na Liberdade Assistida Municipalizada de acordo com regional mais
próxima que esse reside (I, II, III, IV, V e VI) ou na Prestação de Serviços à Comunidade Municipalizada.
4
Existem adolescentes ameaçados pelo fato de terem sido envolvidos com gangues de bairros que não podem
circular em determinados bairros pelo risco de morte.
5
Espaços condizentes com os parâmetros das Regionais que são bairros e divisões de Fortaleza através de
subprefeituras na capital do estado do Ceará. Fortaleza está dividida em 116 bairros e em cinco distritos que
historicamente eram vilas isoladas ou mesmo municípios antigos. A administração executiva da prefeitura está
dividida em Secretarias Executivas Regionais (as SERs) que são ao todo 7 (SER I, SER II, SER III, SER IV, SER
V, SER VI e a regional do Centro).
6
A proposta do Projeto Político Pedagógico desde o ano de 2007, ainda está em construção e tem possibilidade de se
efetivar no final do ano de 2012, que corresponde ao final da gestão municipal, para que no ano de 2013, todos os
profissionais possam seguir os parâmetros desse documento no acompanhamento de adolescente em cumprimento
de medida socioeducativa em meio aberto.
29
Em virtude disso, os adolescentes atendidos nessa regional foram distribuídos dentro dos cinco
Núcleos de Atendimento das Liberdades Assistidas Municipalizadas.
7
A experiência desenvolvida pela Prefeitura de Fortaleza com Medidas Socioeducativas em Meio Aberto foi vista
como referência no País, através da premiação com menção honrosa da 3ª Edição do Prêmio Socioeducando em
2008, promovido pelo Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do
Delinquente – ILANUD, Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República – SEDH-PR,
Agência de Notícias dos Direitos da Infância – ANDI e Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF.
8
Em respeito às hierarquias governamentais no País no que tange à construção de planos, projetos, etc., o Plano
municipal de Atendimento Socioeducativo, não está aprovado em virtude do Governo Federal não ter criado o
Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo, que se encontra em planejamento. Portanto, ao ser criado o
PNAS, o PMAS terá duas opções: ser incluído no primeiro, ou ter que se adequar aos parâmetros deste.
30
Por fim, percebo uma trajetória de mudanças durante os seis anos do Programa
Municipal de Atendimento Socioeducativo no que diz respeito à execução das medidas
9
Texto retirado do site: www.obscriançaeadolecente.gov.br.
31
O que falta é uma estrutura mais adequada, que afinal de contas de 2006 para cá, nós
estamos em 2012, era para ter melhorado, naquela que se pensou em um formato ideal,
sabendo que nós não temos esse formato ideal, de estrutura, de atendimento, etc
(Profissional 2, entrevista realizada no dia 17/07/12).
Do ponto de vista das obrigações profissionais, observo que lhes são exigidas
habilidades e competências voltadas para as capacidades de análise crítica da singularidade dos
adolescentes, e de intervenção rápida através das mediações sociais em suas particularidades. De
tais profissionais são exigidas competência e postura ética, na medida em que atuam na
elaboração das propostas pedagógicas, considerando aqui todas as medidas socioeducativas e a
33
Outra autora que se destaca, por discutir as políticas públicas, é Cristina Nobre
(1999), que ressalta a orientação neoliberal quanto à execução destas. De maneira critica, ela
aborda que as políticas têm como pressuposto a questão da sociabilidade constituída pela lógica
do mercado, sendo vista como naturalmente harmônica, minimizando a mediação do Estado,
sobretudo, em alguns segmentos sociais. Sendo assim:
Dessa forma, a análise da questão social no Brasil foi construída, algumas vezes, no
sentido de apresentar o seu agravamento no âmbito da vulnerabilidade do trabalho, marcado pelo
desemprego, precarização das relações de trabalho, pobreza, exclusão, crise de mobilidade social,
resultando em amplos segmentos da população brasileira sem condições de ter acesso ao mercado
de trabalho formal e, ainda, apresentando como resultado a ideia de se constituir um contingente
em que alguns absorvem a violência como forma de sociabilidade.
34
Entretanto, a atenção se redobra neste item para o cuidado de não cair nas categorias
binárias de exclusão do trabalho e crime, pobreza e violência. Primeiro, tem-se em vista que, nos
espaços das cidades brasileiras, como afirma Telles (2010), muitos trabalhadores que atuam no
campo formal acabam tendo que transitar, também, em campos de trabalho informal e ilícito.
Assim, nas fronteiras do legal e ilegal, apresentam-se tais misturas que escapam à análise das
associações binárias, que não dão conta da compreensão da complexa questão social, em relação
à cidade, ao trabalho e à pobreza:
de Misse (2008, p. 23): “amplia-se a sujeição criminal como uma potencialidade de todos os
indivíduos que possuam atributos próximos ou afins ao tipo social acusado”.
É nesse campo que este trabalho se estrutura, voltado para a realização da educação
pelos profissionais que atendem aos adolescentes em cumprimento das medidas socioeducativas e
como estes sujeitos trabalham, enfrentando possibilidades, limites e dificuldades no rol de
atendimento conforme dispõem essas medidas socioeducativas. No entanto, antes de adentrar na
análise do trabalho dos profissionais, considero fundamental, neste capítulo, compreender as
referidas medidas, seu processo e caminhos, enfim, sua constituição e execução em Fortaleza, de
acordo com a legislação apropriada, o ECA.
36
Saliento que a proposta central da política nacional, que deve atender a adolescentes
em conflito com a Lei, é reintegrar os adolescentes infratores (que possuem conduta descrita
como crime ou contravenção penal), conforme o artigo 103 do ECA. Diante disso, há a
necessidade do Estado investir, efetivamente, na integração dos adolescentes em conflito com a
Lei no sistema educacional e no mercado de trabalho, cuja inserção marginal é produzida pelo
sistema dominante.
A busca dos aspectos históricos sobre a trajetória das práticas assistenciais voltadas às
crianças e adolescentes no Brasil tornou-se objeto de estudo de inúmeros pesquisadores10 (ver
FREITAS, 1999). Esses estudos revelam que o percurso da assistência voltada a esse segmento
populacional surgiu no século XVII, datado em 1726, com a denominada ‘Roda dos Expostos’,
ou ‘Roda dos Enjeitados’11, que era vinculada à Santa Casa de Misericórdia, tendo como
finalidade a caridade cristã. Tal instituição recebia crianças abandonadas e era sustentada por um
subsídio anual da Câmara Municipal, por ações da Igreja Católica e através de doações da
população.
Em meados do século XX, a ‘Roda dos Expostos’ foi extinta para entrar em vigor o
modelo filantrópico de assistência, ressaltando-se que isso aconteceu pelo surgimento de novas
10
As fontes para as informações contidas na trajetória da assistência às crianças e aos adolescentes no Brasil, aqui por
mim consideradas estão contidas em: História social da infância no Brasil, de Marcos Cezar de Freitas (org., 1999;
Meninos de rua e instituições: tramas, disputas e desmanche, de Maria Filomena Gregori e Cátia Aida Silva).
11
O significado do nome Roda dos Expostos provém de um dispositivo onde se colocavam os bebês que queriam
abandonar. Sua forma cilíndrica dividida ao meio por uma divisória era fixada no muro ou na janela da instituição.
37
práticas, o que não causou, entretanto, o total desaparecimento imediato das anteriores, pois
várias ações caritativas funcionaram juntamente com as ações filantrópicas.
No tabuleiro inferior e em sua abertura externa , o expositor depositava a criança que enjeitava. (Marcílio, 1999,
p.55 In: FREITAS, 1999)
38
12
A legislação de etapa indiferenciada tem como critérios de avaliação, em relação ao cometimento de algum delito
por crianças ou jovem, a questão da consciência em relação ao ato infracional do discernimento.
39
sistema terciário, que informa sobre a formatação das medidas socioeducativas, aplicáveis a
adolescentes autores de atos infracionais, ou seja, quando passam à condição de vitimizadores.
Acima do que foi explicitado é que se parte para a discussão dos caminhos judiciais
que o adolescente percorre quando comete um ato infracional (crime ou contravenção penal)
acontecem da seguinte maneira: primeiro, são acionados vários órgãos de Segurança Pública e
Judiciais, que compreendem a Polícia e o Juizado da Infância e da Juventude (JIJ). O adolescente
é responsável pelos seus atos, embora não seja responsável penalmente como um adulto; ao
cometer uma infração, ele é conduzido pela polícia à delegacia especializada, obrigatoriamente à
Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), onde é ouvido pela autoridade policial que fará
um Boletim de Ocorrência (BO), ou Ato de Apreensão.
comunidade e pela sociedade em geral. Diante disso, a aplicação das medidas socioeducativas é
resultado do devido processo legal em que deve ser garantido ao adolescente o direito de defesa.
meios fechados: o regime de semiliberdade13. Trata-se de uma medida de caráter coercitivo, com
a intenção de afastar parcialmente o adolescente do convívio familiar e da comunidade, mas ao
ter a restrição de sua liberdade, não é privado, totalmente, de seu direito de ir e vir, o que ocorre
por meio da liberação nos finais de semana, para sua residência e seu retorno para a Unidade no
início da semana útil; é também uma medida socioeducativa, que possibilita acessos à escola e a
cursos profissionalizantes.
13
No Estado do Ceará, a medida socioeducativa de regime de semiliberdade é executada pelo Centro Educacional
Mátir Francisca (CEMF).
42
Ressalto que, no Brasil, ainda há a vigência de um sistema que não oferece garantias,
educação e proteção. Em especial, como se verá nos capítulos seguintes, também não há
valorização e seguimento de uma política de formação para os profissionais que atuam na área
dificultando a efetivação das medidas. A inexistência ou a oferta irregular de propostas
pedagógicas fazem com que as medidas socioeducativas resultem em um processo repressivo.
Salienta-se que há adolescentes em conflito com Lei que, em alguns casos, ainda são tratados
com maior rigor do que adultos penalmente imputáveis, ao contrário do que é previsto, como
assevera Volpi:
Nesse sentido, a norma diz que a execução das medidas socioeducativas deve assumir
o modelo de responsabilidade e de garantia do ECA, o que significa desmistificar o caráter
exclusivo de protetor das medidas, reconhecendo-lhes a índole punitiva que lhes é imanente, e
43
deve ser justa, sem caráter vexatório, constrangedor e humilhante. Mas, a norma se encontra
também mediada por práticas contrárias, ineficientes e ilegais, dadas às dificuldades de
investimento profundo nas atividades correlacionadas à execução das medidas e na formação dos
profissionais que atuam no atendimento, e dos próprios adolescentes.
Para melhor compreensão, analisarei qual sistema de atendimento tem sido o carro
chefe da legislação, nesse caso, o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE).
Ferreira (2006, p. 394) afirma que o ECA não “[...] disciplinou o processo de
execução de medida socioeducativa e seus incidentes”. Diante dessa lacuna, o Conselho Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), a Secretaria Especial dos Direitos
Humanos (SEDH), a Associação Brasileira de Magistrados e Promotores da Infância e Juventude
(ABMP) e o Fórum Nacional de Organizações Governamentais de Atendimento à Criança e ao
Adolescente (FONACRIAD) realizaram uma série de encontros envolvendo representantes do
Poder Judiciário, conselheiros de direitos e de programas de atendimento socioeducativo, para
discutir sobre uma proposta de lei de execução das medidas socioeducativas.
Por ser o SINASE, a lei que regulamenta a execução das MSEs, é o elemento formador
central do Sistema de Garantias de Direitos, por isso irá impactar na realização do
trabalho em MSEs e proporcionar mudanças para adequação à referida lei. (Assistente
Social, entrevista feita no dia 06/08/12).
que vem auxiliar as instituições e os profissionais para que atuem no atendimento socioeducativo
ao adolescente em conflito com a lei, evitando erros de interpretação do ECA, bem como a
consolidação de práticas que remetem aos Códigos de Menores já revogados, o que será visto a
seguir.
Considerando tal afirmação, convém reforçar o que traz a proposta do SINASE sobre
o princípio da incompletude institucional, que é apontado como “[...] um princípio fundamental
norteador de todo o direito da adolescência que deve permear a prática dos programas
socioeducativos e da rede de serviços” (SINASE, 2006, p.23).
vinculados aos demais programas e serviços voltados à promoção dos direitos de crianças e
adolescentes, tendo o direcionamento as políticas sociais, principalmente as de caráter universal,
no que rege aos serviços de assistência social e proteção.
O artigo 227 da Constituição, em seu parágrafo sétimo, remete ao artigo 204, que
trata das ações governamentais, citando a descentralização político-administrativa das ações
governamentais e informando a divisão de papéis das esferas federal, estadual e municipal. Com
isso, os municípios, tidos antes como entidades administrativas dentro de uma hierarquia, passam
a adquirir uma postura orientada para a autonomia. Essa descentralização, trazida para o foco das
ações referentes à criança e ao adolescente, é reforçada pelo ECA, quando dispõe, em seu artigo
86, sobre essa forma de organização referente à política de atendimento aos direitos da criança e
do adolescente.
Souza (2008) afirma que, entre os entes da Federação, os governos municipais são as
instâncias mais próximas da população alvo das políticas públicas e, devido a tal fato, os
municípios se tornam mais aptos à implementação de políticas, sendo, entretanto, necessário que
esses municípios recebam apoio técnico e financeiro da União e do Estado. No que se refere ao
atendimento socioeducativo, os municípios assumem a responsabilidade e o compromisso de
execução das medidas socioeducativas em meio aberto.
14
Na cidade de Fortaleza, o Programa Municipal de Atendimento Socioeducativo, ente responsável pela execução
das medidas em meio aberto como a Liberdade Assistida e a Prestação de Serviços à Comunidade; as duas são
executadas dentro dos equipamentos sociais da Prefeitura Municipal de Fortaleza; seguindo os parâmetros
previstos do SINASE em relação aos limites geográficos dos municípios ou dentro destes.
50
Ferreira (2006, p. 425), ao tratar das ações referentes à execução das medidas
socioeducativas desenvolvidas pelos municípios e pelas instituições a elas ligadas ressalta:
Deve-se registrar que a execução das medidas socioeducativas em meio aberto, pelo
município, não implica apenas uma nova postura administrativa ou organizacional. Há
uma vertente política traduzida pelo eixo fundante da doutrina de proteção integral, que
reordenou o trato das questões envolvendo a criança e o adolescente, a qual exige a
necessidade de profundas alterações na implementação das práticas sociais
operacionalizadas pelos profissionais e instituições envolvidas - procedimento que exige,
também uma mudança ética, cultural e técnica, portanto, política.
No ano de 2012, o SINASE tornou-se uma lei que define as competências dos entes
federativos, os planos de atendimento nas respectivas esferas de governo, os diferentes regimes
dos programas de atendimento, o acompanhamento e avaliação das medidas, a responsabilização
dos gestores e as fontes de financiamento. Na leitura do SINASE, este informa também
direcionamentos quanto à execução das medidas socioeducativas, abrangendo os procedimentos
gerais e os atendimentos individuais, a atenção integral à saúde do adolescente em atendimento15,
os regimes disciplinares e a oferta de capacitação para o trabalho.
15
Com previsão específica para casos de transtorno mental e dependência de álcool ou substância psicoativa.
51
16
Texto retirado do site: http://ezildamelo.blogspot.com.br/2012_04_01_archive.html.
52
2.1 Política de Atendimento aos adolescentes infratores e atuação dos trabalhadores sociais
Assim, procuro refletir neste capítulo acerca da questão do delito juvenil, da política
de atendimento que foram criadas ao longo da história, e da intervenção de profissionais,
qualificados nesta área, consideradas categorias essenciais para visualizar a complexidade da
questão social em que os técnicos interferem com suas práticas. Ressalto que traço um feedback
com a descrição da atuação dos profissionais que trabalham no Programa Municipal de
Atendimento Socioeducativo.
educação das crianças em relação aos planos moral e disciplinar, com o objetivo de definir e
preservar o futuro dessa clientela.
Em meados do século XIX surgiram algumas profissões específicas para lidar com
essa questão. Estes são conhecidos como trabalhadores sociais (profissionais advindos das áreas
humanas como: assistentes sociais, educadores especializados e orientadores). Tais profissionais
passaram a desenvolver o chamado trabalho social, sendo que este aparece para fazer junção com
os aparelhos já pré-existentes, como: o judiciário, o assistencial e o educativo, tendo como meta
principal à infância em perigo e a infância perigosa (DONZELOT, 1987).
[…] proceder a todos os exames médicos e observações dos menores levados a juízo, e
aos que o juiz determinar e fazer às pessoas das famílias dos menores visitas médicas
necessárias para investigações dos antecedentes hereditários e pessoais deste (FÁVERO,
2003, p.19).
Seguindo esse raciocínio, Donzelot (1986, p. 92) afirma: “Partindo de uma vontade
de reduzir o recurso ao judiciário, o trabalhador social se apoiará num saber psiquiátrico,
sociológico, psicanalítico, para antecipar a ação policial, substituindo o braço secular da lei pela
mão estendida do educador”.
interventivas, sendo uma forma de subsidiar o juiz de menores em seus pareceres técnicos quanto
à decisões referentes a eles. Assim, para subsidiar seus pareceres, duas técnicas eram utilizadas
como instrumental: a visita domiciliar, que tinha a função de conhecer a realidade do menor
infrator e de sua família, com o intuito de averiguar a situação e policiar suas atitudes; e o
inquérito social que tinha uma metodologia baseada no estudo da situação do menor infrator, o
diagnóstico dessa situação e o tratamento que caberia ao adolescente.
O uso das duas técnicas tinha, portanto, o objetivo de atingir a personalidade dos
indivíduos e isso ocorria por meio do uso de testes psicológicos, como uma busca para justificar
os motivos da atitude delituosa destes menores. O que se observava era que, com estas
intervenções, havia muita confusão, pois não existia nenhuma relação entre a prática do delito e a
totalidade social, assim como a realidade construída historicamente e o contexto onde se
observava o delito. Para Donzelot (1986, p. 93),
[...] o marginal, indivíduo cuja personalidade deformada por fatores, sejam genéricas ou
psicossociais, merece, de qualquer forma, ser isolado e afastado do convívio social. Mas
o marginal é também o morador de favelas e cortiços da periferia dos centros urbanos.
Ele participa de ambientes cujas as características criam as condições do crime.
Essa história vem sofrendo uma série de intervenções e uma delas é a aprovação e
criação do Código de M – 17943/27, com a tentativa de manter a coesão
social vigente da época, era uma Lei relacionada à assistência e proteção ao ‘menor’ no Brasil.
Sua elaboração aconteceu sob as terminologias abandonado/infrator, cuja institucionalização
ocorria caso fosse detectado uma das duas situações. O que afirmava o Código de Menores, em
seu maior objetivo, era a correção do menor, por meio de atos educacionais de caráter punitivos,
nas instituições, com o intuito de modificar seus valores sociais, seus pensamentos e suas ações.
17
Profissão a qual sou formada desde o ano de 2005 pela Universidade Estadual do Ceará – UECE.
56
Nessa acirrada discussão, cito que, no ano de 1979, por meio da Lei nº 6697/79, foi
criado o novo Código de Menores. À época, fundou-se a doutrina da situação irregular aplicada
às crianças e adolescentes, que se baseava na questão da autoria de delitos, das vítimas de maus
tratos e a privação de condições essenciais a sua subsistência (OLIVEIRA, 2001).
Queiroz (1987), em seus estudos, aborda que o procedimento para aplicação das
medidas de privação de liberdade, na época, ocorria por meio de suspeição pela autoridade
policial. Com isso, os adolescentes suspeitos, nesse período, eram apreendidos, levados ao
juizado de 'menores' e encaminhados à unidade de recepção, através da expedição de um ofício
que não determinava prazo de término de sua internação. Em síntese, não existia a prática do
procedimento judicial, eram tratados de maneira violenta e esquecidos, não havia nenhuma
atividade pedagógica, conforme os discursos que diziam o contrário, ou julgamento oficial. Os
adolescentes 'infratores' não eram vistos como pessoas como um todo, mas encarados como
objetos da letra fria da lei judicial.
Art. 5º. LIV- ninguém será privado de liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes;
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrito e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. (CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA, 1988).
Percebo uma mudança nos discursos e uma busca de melhorias na questão de crianças
e adolescentes. Saiu a ideia da criança e do adolescente como objeto judicial e tutelado pelo
Estado (visão do Código de Menores) e entrou a visão de pessoas como sujeitos de direitos
sociais preconizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Após a aprovação da
Constituição, substituiu-se progressivamente o Código de Menores e passou-se a procurar uma
política de atendimento que pudesse regulamentar o artigo citado. Isso aconteceu com a
promulgação da Lei Federal nº 8069 de 13 de julho de 1990 – o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) – uma forma diferenciada de tratar os assistidos pela antiga PNBEM.
O intuito dessa nova lei é a ampliação da responsabilidade no que tange aos diversos
atores sociais, indo além das visões de períodos históricos anteriores, que legitimavam o
problema das crianças e dos adolescentes infratores, relacionando as suas personalidades a algo
derivado de uma deformação.
Mediante o que expus, toda a discussão se volta para a explicação da atuação dos
profissionais na área social, no tempo passado da intervenção judiciária, que se fundou em atos
disciplinadores e de controle social com aspectos voltados para as intervenções nas famílias das
camadas mais pobres, cujo objetivo era evitar a desarmonia social, fruto das teorias positivistas
do período. Para tanto, a base de intervenção aos infratores constituía-se em estudos e
observações de seu passado, assim como de sua família, na busca de justificativas que fossem
responsáveis pela mudança da estrutura familiar.
59
dias; matricular-se na rede de ensino formal, bem como frequentar a escola; não reincidir na
prática de atos infracionais 18”.
18
Dados retirados do cartão de identificação dos adolescentes quando são atendidos pela Liberdade Assistida do
Judiciário e são encaminhados para comparecem aos Núcleos Municipais de Liberdade Assistida no dia marcado
de sua acolhida.
61
[...] eu senti uma pessoa muito fria, sabe, e ele realmente fez com que a gente sentisse,
mas no próprio instante que comecei a conversar com ele, eu senti que ele faltava uma
conversa, um diálogo, sabe, ele dizia que não tinha amor à vida, não gostava de natal, de
aniversário, de nada assim, que representasse alguma coisa assim, tinha ódio, dava
vontade de matar as pessoas asfixiadas, dava vontade de esganar, então a partir dali, eu
comecei a conversar com ele, e mudou totalmente, ele voltou a estudar, ele se matriculou
na escola, ele veio me mostrar que tava estudando, ele começou a seguir uma religião
evangélica, estava participando de grupos [...] (Profissional 3, entrevista realizada no dia
17/07/2012).
O terceiro princípio refere-se à horizontalidade, que é definida como uma prática que
permite ao adolescente se sentir como sujeito de direitos, exigindo que as relações dentro do
Programa ocorram de maneira horizontal, ou seja, que o adolescente, além de ser ouvido, possa
também se expressar. Na experiência profissional dos Núcleos, quando se realiza atendimentos
grupais e individuais, observei que os profissionais estavam atentos ao que eles comentavam,
criticavam, ou seja, quando dão opiniões positivas ou negativas sobre como se pode melhorar os
62
[...] então tô bem agora, não tô usando mais droga e que foi uma decisão dele parar, olha
agora tô fazendo estágio, tô gostando, acho que vou ser contratado, e outro que já
terminou o estágio e conseguiu trabalho e está feliz, quando eles ligam para dizer isso e
que eles vêm aqui dizer isso acho que não tem dinheiro no mundo que pague, porque
você vê o brilho nos olhos deles. (Profissional 4, entrevista realizada no dia 18/07/2012).
O quinto princípio refere-se ao uso do diálogo, que trabalha com a questão de que a
comunicação acontece e o diálogo se estabelece entre o profissional e o socioeducando, com a
finalidade de se criar um canal comum que permita a mútua compreensão. Esse princípio salienta
que a medida possui um sentido para o adolescente, pois a reflexão a ser feita sobre o ato
infracional se fundamenta em valores do universo do adolescente. O adolescente e o adulto
(profissional) estão em fases diferentes da vida e perceber no que isso implica é fundamental para
um trabalho em que os dois estejam em contato.
A execução deste princípio foi avaliada nas observações no campo no momento das
entrevistas, mostrando que as equipes de atendimento observam a questão do cuidado em
63
[...] então, no momento que eles têm ciência de que esse menino cumpre uma medida já
passam a tratar o menino de maneira diferenciada, já têm preconceito, que não deveria
ser o local... Acho que deveria ser o primeiro local que não deveria ter preconceito era a
escola, e hoje infelizmente tem... Boa parte desses meninos saem da escola porque foi
maltratado por um professor, porque foi um diretor, alguém que marcou de forma bem
negativa, sempre tem históricos bem negativos, e ele não se sente mais motivado a voltar
a escola. (Pedagoga, entrevista realizada no dia 18/07/2012).
socioeducativas são vistas por alguns membros da família, em especial os pais, como uma ‘tábua
de salvação’, segundo informa a maioria dos profissionais. A família é alvo de muitas queixas por
partes destes:
Elas vêm achando que a gente é solução dos problemas dos filhos dela, que eles
chegando aqui, eles vão parar de usar drogas, que aqui obramos milagres, né, na verdade
não é isso, a gente tem que ter a ajuda deles (familiares), né, sozinhos não conseguimos
nada (Assessora Comunitária, entrevista 17/07/2012).
Abramo (1997) relata que o adolescente sempre foi visto no campo histórico, como
ameaça à sociedade. Essa autora comenta que grande parte dos projetos que trabalham com essa
demanda tem foco voltado para o enfrentamento dos problemas sociais que atingem a
adolescência e que acabam por mostrar o jovem como problema em si, que necessita de
intervenção para promover a sua reintegração à ordem social. Nessa perspectiva, essa prática
intervencionista tem como objetivo a desconstrução de todas as considerações válidas de que o
adolescente deve ser percebido como membro de um grupo, em relação ao seu modo
característico, tendo expectativas e demandas específicas.
Esses nove princípios fazem parte dos documentos institucionais que foram
pesquisados por mim, na realização de visita à Coordenação do Programa. Perguntei ao
coordenador se os profissionais tinham acesso a esse documento e, segundo informação dele, esse
documento não foi disponibilizado para a leitura e compreensão dos profissionais, em virtude de
65
estar em processo de aprovação por parte dos gestores da Secretaria de Direitos Humanos.
Ressalto que indaguei aos profissionais se eles tinham conhecimento de que seus trabalhos eram
pautados por princípios, ao que a maioria respondeu que se encontram pautados nos princípios
que regem o SINASE (citado em outro capítulo) e desconhecem a existência dos princípios do
Programa, sendo um fator agravante, pois a existências deles é suma importância no
acompanhamento dos socioeducandos.
Percebo, pelos estudos realizados na interpretação dos princípios e a partir das falas
dos entrevistados, que são colocadas como exemplo do que é praticado dentro do Programa, que
os profissionais se encontram em dificuldades em colocar em prática todos os princípios, o que
decorre da falta de sensibilização dos gestores que executam o Programa de Medidas em Meio
Aberto. Para que ocorra essa mudança, é necessário que se criem instituições que não
discriminem, de forma nenhuma, os socioeducandos, passando por condições estruturais físicas
adequadas para efetivação da boa qualidade do atendimento, para que o adolescente em
acompanhamento se sinta respeitado, ouvido, dentre outros aspectos.
Segundo minhas observações, não existem salas apropriadas para o evento, sendo
67
isso motivo de muitas queixas por parte da equipe profissional e dos jovens atendidos. Vale
ressaltar que já houve momentos em que se recorreram às instâncias superiores dentro da
Secretaria de Direitos Humanos via, coordenação do Programa Municipal de Atendimento
Socioeducativo, para que fossem sanadas essas dificuldades, mas nada foi resolvido durante esses
seis anos de execução do Programa em questão.
[...] o espaço físico é isso, é muito ruim, e também eu acho, que a gente como
profissionais não temos muito autonomia, acabamos por nos conformar com isso, apesar
de reclamarmos sempre à coordenação, e então a gente precisa se virar para que o
acompanhamento com os adolescentes aconteça. (Assistente Social, entrevista realizada
no dia 17/07/12).
19
A principal função desse instrumental é garantir o registro do atendimento, de forma a possibilitar o acesso das
outras categorias ao que foi apreendido, assim como trabalhar temas que vão auxiliar no acompanhamento e que
direcionamentos a equipe irá tomar em relação aos jovens e adolescentes dessas medidas (LAM e PSCM): as
relações familiares e afetivas; perspectivas futuras relacionadas a sonhos, projetos, risco de morte,
profissionalização, dentre outras; o uso de substâncias entorpecentes; as relações de amizades; questões
relacionadas à violência; e demais demandas apresentadas pelo socioeducando. Ressalte-se que os atendimentos
individuais são marcados quinzenalmente, totalizando o período de 4 meses, e em seguida, esses são encaminhados
para os atendimentos grupais, perfazendo 2 meses restantes, finalizando os seis meses de medida de LA e/ ou PSC.
68
preenchimento, o contrato é assinado pelo adolescente e por seu familiar e é cedida uma cópia
para cada um eles. Durante cada atendimento, esse adolescente, junto com os profissionais,
conversam sobre o que foi estabelecido e o que realmente está sendo cumprindo dentro desse
contrato.
A elaboração desse contrato está acontecendo de forma gradativa, pelo fato ser um
instrumental recente. Na observação em campo, vi que a maioria dos profissionais não tem o
entendimento correto e tem dúvidas em relação à função desse instrumental, assim como, não
ocorre a sua padronização de preenchimento nos Núcleos de LAMs e PSCM. Esses
procedimentos são feitos de diversas maneiras. Durante a instauração desse instrumental não
houve nenhuma capacitação informativa, portanto os profissionais o encaram da seguinte
maneira:
A Coordenação só sabe exigir que a gente faça esse instrumental porque a lei do
SINASE entrou em vigor, e vai ser uma exigência do Juizado, e etc e tal, mas para que
isso ocorra, seria interessante ela nos dar uma capacitação para adaptarmos a essa nova
mudança a partir dessa lei, isso aconteceu uma vez e eu não entendi corretamente, então
eu preencho esse instrumental de acordo com o meu entendimento acerca do que é
medida socioeducativa (Psicólogo, entrevista realizada no dia 06/08/2012).
No que se refere às atividades grupais, observei, nesta pesquisa, que nem todos os
núcleos encontram-se seguindo esses parâmetros, pois os Núcleos de Liberdade Assistida20 não
têm estrutura física para esse tipo de evento. O atendimento grupal, quando realizado, ocorre nas
20
Um exemplo disso acontece no Núcleo III; quando ocorrem atendimentos grupais pede-se emprestada outras salas
do Centro de Cidadania César Cals, local onde o núcleo funciona.
70
salas de atendimento ou em salas emprestadas que existem dentro dos órgãos, onde funcionam os
respectivos Núcleos.
Assim, tem visita que é muito arriscada para a gente. Eu me lembro uma que não vai me
sair da memória, a gente chegou a um bairro, não lembro o nome, quando chegamos
para visitar, estava tendo um tiroteio, né, era o primeiro dia de trabalho de uma colega
nossa, ela ficou apavorada, com os pêis-pêis (barulho da arma), como ela diz (risos). Por
isso, quando vamos fazer visitas, temos que ter cuidado, pois nós não recebemos
nenhum tipo de auxílio (Assessor Comunitário, entrevista realizada no dia 06/08/12).
Além da fala desse profissional, outros profissionais relatam que as visitas são
arriscadas, pelo fato de as localidades visitadas serem, muitas vezes, ocupadas por traficantes de
drogas que comandam essas áreas, com os quais muitos adolescentes já tiveram envolvimento.
Acrescento que os profissionais já foram alvo de ameaças durante o exercício de sua profissão.
Tendo em vista tais riscos, não há, sequer, um adicional por periculosidade nos respectivos
salários, o que desestimula ainda mais o trabalho, na visão dos profissionais.
Com essa gama de atividades realizadas pelas equipes técnicas das LAMs e PSCM,
podem-se incluir, também, as atividades de Encaminhamentos para o Sistema de Garantia de
Direitos que são: a escolarização (encaminha-se para escolas das redes municipais e estaduais de
ensino em todos os níveis escolares); locais que oferecem cursos de profissionalização (como por
exemplo, o Projeto Transformando Vidas, executado pelo Governo do Estado do Ceará e outros),
programas de assistência social (Família Cidadã, Cadastro único, CREAS e CRAS, Instituto de
Identificação, entre outros); auxílio comunitário (Defensoria Pública, Mediação Comunitária,
Programas de apoio à pessoas ameaçadas de morte e outros); no campo da saúde (Postos de
Saúde, Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) – Geral e Álcool e Drogas (AD), entre outras
instituições às quais as equipes técnicas direcionam os socioeducandos.
No decorrer desta análise, cito algumas diferenças entre trabalho realizado nas LAMs
e na PSC e acrescento mais uma: nas LAMs, as atividades e atendimentos ocorrem dentro dos
respectivos núcleos de atendimento; na PSC, os socioeducandos são encaminhados a cumprir a
medida em alguma instituição sem fins lucrativos numa jornada máxima de 8 horas semanais
(que corresponde a 2 vezes na semana, em dias alternados, e com duração de 4 horas), cujo
objetivo é proporcionar a expressão de interesses e desenvolvimento de habilidades, que podem
estar relacionados a atribuições administrativas (digitação, protocolação de documentos, entre
outros) até passando por atividades de cunho esportivo (futebol, capoeira, dança e outras) e
artístico (teatro, música e outras);
21
Liberação compulsória refere-se ao relatório elaborado com o intuito de liberar o socioeducando quando ocorrem
as seguintes situações: o jovem atinge a idade dos 21 anos, e quando o processo atinge mais de três anos, período
máximo de permanência nas medidas socioeducativas tanto em meio aberto quanto fechado.
22
Relatório de processo penal é efetuado quando o jovem encontra-se preso como maior de idade, que corresponde
aos 18 anos.
73
Nisso, a gente faz estudo de caso, juntamos e conversamos sobre aquele adolescente,
sobre as várias áreas da vida dele, até para se chegar a uma conclusão no caso de um
relatório ou num caso de direcionamento. (Assistente Social, entrevista realizada no dia
06/08/2012).
23
Desde o final do ano de 2011 para 2012, por determinação do Juizado da 5ª Vara da Infância e da Juventude da
cidade de Fortaleza, os adolescentes que estejam completando 18 anos durante o cumprimento das medida
socioeducativas em meios abertos e fechados, seus processos estam passando por avaliações e em alguns casos
arquivados, em virtude do Juiz da referida Vara, ter o entendimento de que ao se tornar maior de idade este é
responsável pela consequências de seus atos sejam eles bons ou ruins, ou seja, esse passa responder penalmente
como uma pessoa adulta. Há uma polêmica em torno desse posicionamento, muitos profissionais do Programa
Municipal de Atendimento Socioeducativo não concordam essa atitude, e sim, deve visto cada caso. De acordo
com o ECA, a idade de permanência, caso o adolescente tenha cometido um ato infracional antes de se tornar
maior de idade, consta entre 18 a 21 anos incompletos. (Dados cedidos pelo Coordenador do Programa Municipal
de Atendimento Socioeducativo durante uma reunião ocorrida no Núcleo III no mês de maio de 2012).
74
Quando o socioeducando não justifica a ausência aos atendimentos, o que gera uma
indignação nos entrevistados, os profissionais são obrigados a emitirem um relatório constando
esse dado. O detalhe disso é que o Juizado tem, em seu poder, essa informação de forma
antecipada, pois é ele quem julga os processos e isso resulta na falta de repasse na comunicação
para medidas socioeducativas do Programa Municipal de Atendimento Socioeducativo visto que
há outros erros cometidos pela Vara em questão.
Por fim, intercalando o que é normativo, no que diz respeito às exigências das
atividades a serem desempenhadas pelos profissionais, com o que se observou nas falas e práticas
dos atendimentos dos profissionais, percebo como se constroem as representações a respeito do
próprio trabalho, sobre como se vê o adolescente, o Programa em questão, a situação dos
adolescentes e dos profissionais, enfim sobre os temas levantados.
75
Outro autor que também ressalta o processo da adolescência é Calligaris (2000, p.73),
que trabalha com o seguinte conceito: “a adolescência é o ideal coletivo que espreita qualquer
cultura que recusa qualquer tradição e idealiza a liberdade, independência, insubordinação,”
características típicas da sociedade moderna. Em outras palavras, o autor afirma que a
adolescência é um ideal concebido por crianças e adultos.
Portanto, a adolescência não é algo concebido naturalmente, mas uma categoria social
construída a partir de condições culturais. Nesse contexto, o adolescente busca seu
reconhecimento na sociedade, na qual já passa a ter que assumir responsabilidades na passagem
ao mundo adulto. Nisso, muitos jovens participam de grupos seja de amigos, de estilo, de
76
[...] os grupos, nascidos como amparo contra a moratória, imposta pelos adultos [...] são
culturalmente exaltados pelo marketing, que tem todo interesse em apresentá-los como
coesos, [...] comercializando as senhas de reconhecimento e todos os traços do “look”
suscetíveis de circular no mercado.
24
No decorrer de sua explanação, entende-se do autor que essas possibilidades sociais consistem na abertura para
uma realidade menos “transmitida” e mais “construída”, visando a autorrealização e tendendo a uma variabilidade
e reversibilidade de escolha (MELUCCI, 1997).
77
Abramo (1997) mostra que a categoria adolescência, nos anos de 1980, é considerada
com aspectos de patologia, no que diz respeito a sua apatia, desembocando em alguns pontos
como: o individualismo, o consumismo, o conservadorismo e a indiferença aos assuntos públicos
e políticos da época. A visão geral desse período é a de que a adolescência foi caracterizada pelo
fato de não ter dado continuidade ao movimento cultural iniciado anteriormente, no período
histórico da Ditadura Militar, nas décadas de 1960 e 1070 (anos em que se vivenciou o auge da
repressão a todas as formas de expressão - que vai desde o campo político aos aspectos da
liberdade individual), sendo receptora de uma herança produzida pela sociedade dessas décadas e
não se reconhecendo como um agente de mudança.
Em relação aos anos 1990, considerou-se uma geração de poucas mudanças, mas se
percebeu uma grande quantidade de adolescentes nas ruas, com atitudes e ações de características
25
O Estatuto da Criança e do Adolescente considera como adolescente aquela pessoa que tem entre doze e dezoito
anos de idade (Art.2o, ECA).
78
Um fator que se destaca nesse período é que a ação desses adolescentes pode ser
considerada uma resposta à conjuntura econômica e social em que estavam inseridos; esses, em
grande parte, foram e ainda são vítimas até os dias atuais da omissão da família e do abandono do
Estado, que os leva também para o campo da violência.
Ressalto que outra forma de exclusão citada por Zaluar (idem) é a questão territorial,
no que se refere à localização da moradia (bairros estruturados e voltados para as camadas
pobres, de acordo com o nível econômico da população); no entanto, ao finalizar sua explanação,
afirma que o formato mais grave de exclusão é a do campo econômico, que desemboca em outros
tipos de exclusão.
Nesse contexto, Tejadas (2007, p.227) aponta que, diante desse contexto de
invisibilidade dos jovens, o desejo de pertencimento ocorre pela materialização nos atos e
atitudes violentas se constituindo um meio de aquisição de visibilidade, sendo “[...] resgate de
autopoder do indivíduo e seu exercício sobre outras pessoas, naquele momento”.
A autora em questão comenta que existem outros fatores que podem estar presentes
na vida de um jovem que comete ato infracional27: a violência no ambiente familiar, a violência
desencadeada nas comunidades; uso da droga como meio de se refugiar do sofrimento e o jovem
ser aceito em um grupo. Além desses fatores, lembro que a criminalidade não atinge, apenas, as
classes pobres da sociedade, pois, atualmente, adolescentes de classes médias a ricas, se
26
Destaco aqui, a mudança na construção das individualidades após a transição da sociedade tradicional à moderna.
Os sujeitos se tornam preocupados apenas consigo, com a dimensão do eu, de ter para ser, Assim, busca o
isolamento tornando-se indiferente ao mundo e aos outros sujeitos sendo facilmente captado pelos apelos
consumistas. Em síntese, o narcisista é uma pessoa a alheia aos outros e as emoções, ou seja, o indivíduos da
sociedade contemporânea, são facilmente captados, ludibriados pelo desejo capitalista, atendendo sem hesitações
aos apelos de consumo constantes.
27
Ato infracional: ação praticada por criança ou adolescente, parecida com ações definidas como crime ou
contravenção pena, mas não se caracteriza como delito adulto, pelo aspecto legal da inimputabilidade penal, isto é,
crianças e adolescentes não podem responder processos na formatação dos adultos e sim, medidas socioeducativas .
80
Mediante discussão sobre o mundo volátil, em ter e querer tudo e ser reconhecido por
isso, relacionado às representações de mercado e consumo na contemporaneidade, é que muitos
jovens buscam atitudes que vão desde práticas legais às ilegais, conforme referido por Telles
(2010).
28
A título de exemplo da inserção dessas classes no cometimento de atos infracionais, o Programa Municipal de
Atendimento Socioeducativo atende a adolescentes advindos dessas classes (encontram nas faixas salariais de 3 a 5
salários mínimos – classe média e acima de 5 salários – classe rica , em número reduzido) no qual seus atos
infracionais correspondem em grande parte a: sequestros relâmpagos, pichações, furto de pequenos objetos em
lojas, uso de drogas, estelionato etc. Esses dados foram extraídos do quadro estatístico que os núcleos de L.A e a
PSC enviam mensalmente à coordenação do Programa que datam o ano de 2012.
81
baixa renda, como já explicitado no capítulo I; atinge outras classes sociais de alto poder
aquisitivo, não relacionado, portanto a questão da pobreza.
Tais representações causam vários prejuízos aos jovens e acabam por considerar a
juventude como uma etapa de estranhamento social ao invés de ser um momento de integração
social. Na perspectiva de se romper com tal estranhamento e no enfrentamento aos problemas
82
associados à juventude, são pensadas as ações e políticas públicas para esse contingente
populacional.
Outro motivo apontado pelos profissionais diz respeito à rede pública de ensino, cujas
escolas, ao invés de promoverem a inclusão social, terminam, muitas vezes, por serem
excludentes, não oferecendo qualidade necessária para que os jovens se interessem em
permanecer nelas.
inclusão, que são criadas com base nos preceitos da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS),
que afirma, no seu artigo 1º “[...] garantir o atendimento às necessidades básicas.” Muitos são
criados conforme a onda de políticas públicas direcionadas aos pobres, como afirma Abad
(2008), que funcionam menos em sua característica de trazer melhoria para a qualidade de vida
de seu ‘público-alvo’ e mais no que respeita aos elementos que objetivam investir na própria
governabilidade, servindo de ponte para a própria gestão do momento.
A exclusão, de várias maneiras, reflete no aumento de delitos por parte dos menores
que buscam, desenfreadamente, reconhecimento e autonomia. No Estado do Ceará, foram
contabilizados, até o final do ano de 2011, 3.384 casos de delitos na Unidade de Recepção Luís
Barros Montenegro29, e até o mês de setembro de 2012, o número de adolescentes atendidos
naquela instituição contava com 5057 registros. Mediante essa realidade, percebo que o número
de delitos cometidos por adolescentes está aumentando, no Ceará.
Assim, a intervenção profissional, neste contexto, muitas vezes atua com ações
imediatistas e superficiais nos programas e projetos destinados aos adolescentes, como os
apontados neste estudo. São muitas as limitações que contribuem para este tipo de atuação,
destacando-se a demanda atendida, que aumenta gradativamente, sendo desproporcional ao
número de profissionais que prestam serviços nas LAMs ou na PSC. Dessa maneira, o
desempenho profissional desses profissionais fica comprometido ao dar respostas às demandas
institucionais imediatas.
29
A instituição mencionada é responsável por receber os jovens de todos os estados do Ceará que foram apreendidos
pela DCA – Delegacia da Criança e do Adolescente, onde os adolescentes ficam detidos por um período de 24
horas até que seja apurado o caso por meio de audiência na 5ª Vara do Juizado da Infância e da Juventude – J.I.J,
dos quais serão julgados de acordo com a gravidade do ato infracional cometido a cumprirem medida
socioeducativa em meio aberto ou fechado.
84
na PSCM, diz respeito à infraestrutura do local; faltam salas para realizar trabalho de grupo e até
mesmo atendimento individual, ocasionado à interrupção do trabalho constantemente. Também,
percebe-se que as instituições empregadoras (as contratações são por via de terceirizações) pouco
investem em capacitação para seus funcionários, além destes receberem uma remuneração
incompatível com a importância do trabalho desenvolvido. Para melhor clareza da questão
acionada pelas percepções dos profissionais, ilustro esta discussão com o seguinte depoimento
apresentado:
Capacitações, cursos, trabalhar a relação humana, você tem que trabalhar com isso,
porque você trabalha com o outro, porque é difícil trabalhar com o ser humano, cada um
é um ser diferente, você tem que trazer questões estruturais, até que tivesse o mínimo,
uma sala para cada profissional. (Pedagoga, entrevista realizada no dia 06/08/12).
A pesquisa contou com roteiro de entrevista que constou de 11 perguntas abertas, que
tratavam de questões sobre: o cotidiano profissional englobando experiências marcantes da
trajetória profissional dos entrevistados, a legislação do SINASE e sua vinculação com trabalho,
vínculos advindos das relações trabalhistas, o trabalho interdisciplinar, relação dos profissionais
com os adolescentes e suas respectivas famílias atendidas, a metodologia vigente do Programa de
85
O que motivou, é porque tinha antes trabalhado, sempre gostei de trabalhar com criança
e adolescente, porque já havia trabalhado, e eu era da Agência de Cidadania, atualmente
se chama de Raízes de Cidadania e a gente realizava esse trabalho junto com o Juizado,
tipo parceria. Então aquilo ali, me chamou a atenção, eu tinha interesse em trabalhar com
aquele público especificamente, foi quando surgiu, aí me chamaram, quando passou a
ser municipalizado, passou-se realmente a trabalhar só com aquele público, os
adolescentes em conflito com a lei, pois quando era da Raiz, antes antiga Agência de
Cidadania, eu trabalhava com o público em geral e a comunidade, assim também o
público específico da Liberdade Assistida como parceria (Assistente Social, entrevista
realizada no dia 17/07/12).
[...] pois nas Raízes já atendia adolescentes que cumpria L.A, e foi na L.A, que me
encontrei, pois era diferente o tipo de atendimento, com isso identifiquei e adoro o
trabalho que eu faço (Assessora Comunitária, entrevista realizada no dia 06/08/12).
Percebo ainda, que, no decorrer das entrevistas, havia profissionais que tiveram
outros tipos de experiências de trabalho, como:
O que me motivou foi a causa do adolescente infrator. A minha experiência anterior foi
trabalhando voluntariamente no resgate de vidas em erro através de um órgão religioso
(Pedagoga, entrevista realizada no dia 06/08/12).
30
As Raízes de Cidadania configura-se de uma gestão de ações compartilhadas entre poder público municipal e
comunidades, através do intercâmbio de conhecimentos sobre direitos humanos, do fomento à participação popular e
da identificação dos potenciais criativos das comunidades. Antes, as Raízes faziam parte da Fundação da Criança e
da Família Cidadã (Funci), mas sempre tiveram vocação para atuar com direitos humanos de forma mais ampla, não
se restringindo à temática da infância e adolescência. Atualmente, a coordenação das Raízes é vinculada diretamente
ao gabinete da SDH –Secretaria de Direitos Humanos. Elas estão distribuídas em 18 bairros com menor Índice de
86
passou por uma reestruturação quanto à sua metodologia de trabalho e, como parte desta, houve o
fechamento de algumas sedes do Projeto Raízes de Cidadania e, por coincidência, as dos
profissionais participantes desta pesquisa. Diante dessa situação, a Prefeitura, para não demitir
estes e mais outros 50 profissionais, iniciou remanejamentos para outras unidades da extinta
FUNCI; atualmente a instituição mencionada mudou de configuração e se transformou em
Secretaria Municipal de Direitos Humanos desde 2010; a maior parte desses profissionais foi
remanejada para os Núcleos de Liberdade Assistida que, até 2007, período da mudança,
funcionavam apenas quatro unidades localizados nas seguintes Regionais: I, II, III e V31.
Desenvolvimento Humano (IDH) do município: Pirambu, Floresta, Mucuripe, Lagamar, Antônio Bezerra, Henrique
Jorge, Bela Vista, Quintino Cunha, Vila União, Serrinha, José Walter, Conjunto Ceará, Bom Jardim, Mondubim,
Palmeiras, João Paulo II, Lagoa Redonda e Jardim União. Cada unidade das Raízes conta com uma equipe formada
por assistente social, psicólogo, assessor jurídico e assessores comunitários. Dentre as ações realizadas pelas Raízes,
podem-se destacar: a resolução extrajudicial de conflitos (chamada de “mediação de conflitos”); o apoio às ações
comunitárias de arte e cultura; a publicação e distribuição de literaturas informativas; e o desenvolvimento de
campanhas acerca de temas diversos ligados aos direitos humanos e fundamentais. (FONTE:
http://www.fortaleza.ce.gov.br/sdh/raizes-de-cidadania).
31
Espaços condizentes com os parâmetros das Regionais que são bairros e divisões de Fortaleza através de
subprefeituras na capital do estado do Ceará. Fortaleza está dividida em 116 bairros e em cinco distritos que
historicamente eram vilas isoladas ou mesmo municípios antigos. A administração executiva da prefeitura está
dividida em Secretarias Executivas Regionais (as SERs) que são ao todo 7 (SER I, SER II, SER III, SER IV, SER V,
SER VI e a regional do Centro).
87
Mas um fato que me chamou a atenção foi a experiência profissional vindo de grupos
religiosos. Em tempos anteriores (década de 1970 e 1980), grupos religiosos participantes de
entidades assistenciais traziam consigo a carga ideológica do messianismo voltando-se para a
caridade, fruto da filantropia como assistencialismo que, no início do século XXI, ainda persiste,
reforçando, ainda mais, a desigualdade social. Observei na conversa com este profissional, a
presença de um discurso que remete a uma parte dessa discussão, principalmente, quando
informa de que trabalhava ‘no resgate de vidas em erro’. Isso deve ser cuidadosamente discutido,
pois a filosofia de trabalho das medidas socioeducativas remete à visão do adolescente infrator,
não pelo viés tutelar de períodos anteriores (cito a visão da doutrina da situação irregular, já
discutida em capitulo anterior), mas de uma pessoa em desenvolvimento emancipatório.
São medidas aplicáveis pelo Estado, aos adolescentes autores de ato infracional, cujo
cumprimento se dá em Liberdade Assistida ou Prestação de Serviços à Comunidade, ou
seja, sem privação de liberdade; são executadas através de Programas de Atendimento
em âmbito Municipal/Local, com os objetivos de responsabilizar o jovem pelo ato
cometido, como também buscar a sua integração social e garantia dos seus direitos
individuais (Assistente Social, entrevista realizada no dia 06/08/12).
[...] responsabilização mesmo, do ato que ele cometeu, e os encaminhamentos para que
eles possam ter outras oportunidades, para que eles possam perceber na realidade as
outras oportunidades, que muitas vezes eles nem percebem, nem imaginam que podem
ter essas oportunidades. (Assistente Social, entrevista realizada no dia 06/08/12).
Nessa linha de raciocínio, questionei junto com os pesquisados acerca dos impactos
do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE, Lei 12.594/12, que
anteriormente era considerado uma orientação (um projeto de lei) para a execução dos
atendimentos socioeducativos em meios abertos e fechados, na realização do trabalho dos
profissionais. Vale ressaltar. Que aproveitei o ensejo desse questionamento e pedi a opinião
desses em relação ao advento da Lei 12.594/12, que mudanças trarão nas formas atuais de
trabalho no Programa de Atendimento Socioeducativo:
Observei que os profissionais acreditam que as dificuldades possam ser sanadas pelo
fato de uma lei ter um caráter instituído, mais formal e definitivo, isto é, algo que tem de ser
cumprido, pois caso não seja, há consequências punitivas para as gestões públicas que não
executem programas de atendimento socioeducativo em meios abertos, como por exemplo: o não
repasse de mais verbas para execução do Programa, fechamento de instituições que trabalham
com adolescentes em conflito com lei, dentre outros aspectos. Em outras palavras, os
profissionais acreditam que a palavra ‘orientação’ possui um formato como o próprio nome
indica, significa orientar, dar propostas que podem ser seguidas, adequadas, aceitas ou não, por
um local. Já em relação ao significado da palavra ‘lei’, esta determina uma norma ou conjunto de
normas jurídicas criadas através dos processos próprios do ato normativo e estabelecidas pelas
autoridades competentes para o efeito.
Na continuação da entrevista, pedi aos sujeitos pesquisados que relatassem sobre sua
metodologia de trabalho no acompanhamento aos adolescentes em conflito com a lei,
acompanhados pelo Programa de Atendimento Socioeducativo. Algumas passagens são
esclarecedoras:
[...] o entendimento do trabalho que se quer organizar (o que queremos, por quê?) os
objetivos (geral e específicos) e a organização que se vai dar para alcançar estes
objetivos, tais como modelo de gestão, assembleias, equipes e outros, o detalhamento da
rotina, o organograma, o fluxograma, o regimento interno, o regulamento disciplinar,
onde se incluem procedimentos que dizem respeito à atuação dos profissionais junto aos
adolescentes, reuniões das equipes, estudos de caso, elaboração e acompanhamento do
PIA (SINASE, 2006, p.42).
91
Portanto, pelas falas dos entrevistados, observei que há uma efetivação dos órgãos
envolvidos no atendimento socioeducativo do Programa, ao instituir o atendimento dentro de uma
rotina de trabalho que demanda uma efetiva colaboração de seus profissionais. No entanto, existe
o reconhecimento, por parte desses profissionais, de que o fluxo não está funcionando conforme
o que é proposto pelo esboço do Projeto Político Pedagógico, no que tange ao fluxograma de
atendimento; não há uma unificação das atividades, principalmente, nos Núcleos de Liberdade
Assistida, que são divididos em cinco núcleos e apenas um Núcleo de Prestação de Serviços à
Comunidade.
Para sintetizar esse questionamento, reporto aos preceitos do SINASE (2006), para
ilustrar o que é proposto, mas que, na realidade, ocorre com muitas dificuldades:
Dificuldades, às vezes, de espaço físico, né, a gente não tem uma sala disponível, é uma
sala para três profissionais à tarde, porque no nosso espaço físico de trabalho, também
existe outro Projeto que são as Raízes de Cidadania, então as salas são divididas para
dois projetos, disputando uma sala. Outra coisa também, eu acho que não temos
autonomia para determinadas coisas, eu sinto o impacto da limitação (Psicólogo,
entrevista realizada no dia 06/08/12).
As visitas, nós não recebemos nenhum tipo de auxílio, e também as redes de articulação,
que eu chamo de redes furadas, não tem onde encaminhar. (Assessora Comunitária,
entrevista realizada no dia 17/07/12).
Reforça-se ainda a necessidade de se ter real interesse e compromisso com a causa. Isso
exige sair da lógica do senso comum que vê esses adolescentes a partir do seu ato
infracional, e passar a enxergá-los como sujeitos de direitos, como frutos de uma
sociedade injusta e excludente, que somente os considera a partir dos enfrentamentos e
quebras das normas e regras sociais e morais a eles impostas. É estar pronto para se
deparar com situações limites, aprender a gerar conflitos e buscar novos conhecimentos
(PEIXOTO, 2011, p. 118).
Conforme tantas vezes enumerado, Fortaleza vem, desde o ano de 2006, com a
proposta de municipalizar as medidas socioeducativas em meio aberto, sendo a gestão desse
serviço de responsabilidade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos. O Programa
Municipal de Atendimento Socioeducativo se apresenta dentro do fluxo de atendimento como o
órgão central, uma vez que todos os adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas
estão passando por atendimento nesse órgão; diante disso, os profissionais reconhecem que o
Programa não teve sua equipe ampliada para permitir que o trabalho seja executado da forma
como é previsto. Sobre isso, apresento o seguinte recorte da fala de um dos profissionais, que
merece atenção:
Essas questões estruturais, o ambiente mesmo, a começar pela sala de atendimento, tudo
contribui para que não seja tão bom, o nosso atendimento, a forma, porque o local que
eles são acolhidos devia ser um local mais [...] outra dificuldade é quanto a questão dos
encaminhamentos, questão da rede, não tem muitas opções de cursos, tem aquele curso
X, mas o adolescente quer outro, a gente não tem uma coisa que [...] e é sempre a mesma
coisa, sempre informática, sempre uma serigrafia, nem sempre os meninos querem
aquilo, [...] outra questão são as drogas, é porque a gente não tem muitos locais de
94
O lado positivo do meu trabalho, mesmo diante das dificuldades, é porque eu trabalho no
que eu gosto, o pouco que eu trabalho com os adolescentes, é muito, chegar para mim e
dizer que mudou, dizer que depois de ter conversado comigo, eu mudei o pensamento
dele, entendeu, a família, chegar para mim, conversar comigo, e que vem agradecer,
então isso me favorece muito, por muitas dificuldades, por pouco que eu tenho, isso faz
mudar, assim, sabe a questão do trabalho, sim, eu acho que estou mais favorecendo uma
família do que a mim, porque tô vendo aquela pessoa mudar, então isso faz eu ficar mais
tempo no meu trabalho, entendeu, a cada dia querer ficar mais e porque eu gosto, eu
gosto do que eu faço (Assistente Social, entrevista realizada no dia 17/07/12).
Dentro das possibilidades, porque a gente sempre tá vendo novas portas, né, a diretriz
que a gestão dá, nem sempre condiz com a realidade, e então a gente tem que fazer
alguns ajustes, né, os ajustes não se têm como caminhar, porque existe as limitações de
estrutura, de profissionais, etc (Pedagoga, entrevista realizada no dia 17/07/12).
32
CAPS AD – Centro de Apoio Psicossocial – Álcool e Drogas é uma unidade de saúde especializada em atender os
dependentes de álcool e drogas na capital, dentro das diretrizes determinadas pelo Ministério da Saúde, que tem por
base o tratamento do paciente em liberdade, buscando sua reinserção social. Desta forma, o CAPS AD oferece
atendimento diário a pacientes que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas, permitindo o planejamento
terapêutico dentro de uma perspectiva individualizada de evolução contínua. (Texto retirado da página:
www.saude.ce.gov.br).
33
A Casa São Pio é uma instituição filantrópica em Fortaleza, mantida pelo Grupo Católico Shalom que realiza
atendimentos ambulatoriais em meio aberto através do Projeto Volta Israel e encaminhamentos para tratamento de
drogadição em meio fechado. Atende tanto adolescentes, a partir dos 16 anos, quanto maiores de 18 anos em
diante. O tratamento ocorre por meio de acompanhamento de um psicólogo, um assistente social e educadores
voluntários dos quais utilizam a metodologia baseada na religião católica.
95
No decorrer desta pesquisa abordei dois pontos: o primeiro é o que faz o profissional
permanecer no Programa Municipal de Atendimento Socioeducativo (que foi a pergunta
norteadora desta dissertação) e o segundo é observar uma experiência marcante em sua trajetória
profissional, dentro da instituição onde trabalha. No primeiro ponto, diversas foram as respostas
quanto à permanência:
Eu gosto. Eu gosto do meu trabalho, é, eu já pensei em ir para uma sala de aula, mas
quando se pensa em sala de aula, não necessariamente gostar de sala de aula, eu acho
que quando a gente faz algo que gosta, o resultado é bem melhor, né, faz com amor, faz
com prazer, e sentir que fica mais próximo das pessoas, é saber o que elas estão
passando, o que estão sentindo, o que eu posso fazer, o que vou fazer, para dar o máximo
possível para se chegar aos resultados positivos (Pedagoga, entrevista realizada no dia
17/07/12).
Amor. E tenho muito amor pela minha profissão, se não me identificasse não estaria,
então eu sempre gostei do que eu faço, me dedico muito a meu trabalho, me identifico
muito, então, eu amo de paixão, não é pelo salário, é porque eu gosto muito mesmo
(Assistente Social, entrevista realizada no dia 17/07/12).
Me motiva tentar ver o crescimento desse menino, por mais que às vezes a gente se sente
como eu falei, da impotência, com relação a muita coisa, mas quando a gente vê um
pontinho que você pode mexer que de repente desperta algo nele, a gente fica
procurando esse pontinho para despertar na vida dele. (Psicólogo, entrevista realizada no
dia 18/07/12).
Tem um adolescente, meu Deus, que era tão envolvido com drogas, nunca imaginei,
cheguei a levá-lo pessoalmente ao CAPS AD, porque ele não ia só, e também conclui o
Ensino Médio, está trabalhando, já trabalhou como garçom, está trabalhando agora numa
serigrafia, é que está mantendo a família, seus irmãos não estudavam, ele fez a matrícula
deles, aí se liga para gente para saber onde encaminha esses meninos,... é uma obrigação
nossa está sempre orientando no que a gente puder, então assim, é um número, mas
poderia ser maior, mas assim a gente...porque se for enumerar tem outros também,
outros casos que são bem sucedido (Pedagoga, entrevista realizada no dia 06/08/12).
96
Fiquei muito feliz ao saber através de uma mãe que o socioeducando depois que foi
acompanhado por nossa equipe deixou o crime (assalto à mão armada) voltou a estudar e
hoje trabalhar com a carteira assinada por conta do encaminhamento que fizemos para o
Projeto Transformando Vidas. (Pedagoga, entrevista realizada no dia 06/08/12).
Sim, marcou, é, o que me chamou muita atenção, foi um menino que realmente era
envolvido, na acolhida e esse menino, veio para mim como referência, só esse menino
tinha um rótulo que ele era, não lembro da cidade do interior, ele era uma pessoa super
perigosa, ele passou 2 anos e 9 meses no CECAL 34 , e eu comecei a conversar com ele,
e mudou totalmente, ele voltou a estudar, ele se matriculou na escola, ele veio me
mostrar que tava estudando, ele começou a seguir uma religião evangélica, estava
participando de grupos, e seis meses depois mataram ele. [...] eu acho assim, eu fiquei
muito feliz, porque mudei a vida daquela pessoa, do qual ele precisava apenas de uma
conversa, de um diálogo, mostra porque ninguém nasce errado, ninguém nasce ruim, são
as pessoas que seguem caminhos, e ela pode modificar de cima a abaixo (Assistente
Social, entrevista realizada no dia 17/07/12).
34
Centro Educacional Cardeal Aloísio Lorcheider, é uma medida socioeducativa em meio fechado que atende
adolescentes dos 17 aos 21 anos incompletos que estejam respondendo a processos penais de natureza grave
(homicídios, latrocínios, sequestro, etc.) pelo período de 03 anos, de acordo legislação do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
97
A meu ver a equipe do núcleo a qual eu trabalho, consegue manter uma interação entre
os saberes correspondentes à grande disponibilidade de cada profissional. É importante
salientar que observo entre os profissionais, um respeito à individualidade do outro, bem
como a sua área de atuação, o que facilita a convivência e o fluxo de trabalho
(Psicólogo, entrevista realizada no dia 06/08/12).
Às vezes sim, às vezes não. Às vezes falta ajuda da equipe, às vezes eu vejo um pedindo
socorro e não tem, mas em síntese, todo mundo está no mesmo barco, querendo ajudar,
quando isso acontece, isso é muito bonito (Pedagoga, entrevista realizada no dia
17/07/12).
Eu acho, eu vejo assim, está todo mundo junto ali, com um determinado fim (Assistente
Social, entrevista realizada no dia 06/08/12).
Solicitei, ainda, aos pesquisados, que tecessem suas opiniões sobre os vínculos
empregatícios, visto que todos os profissionais trabalham como terceirizados ou são indicações
político-partidárias, e se esses tipos de vínculos auxiliam ou atrapalham na execução do trabalho,
98
Não. Seria se interessante se fosse feito concurso com todos que fizessem parte da
Liberdade Assistida, mas infelizmente eu sinto um trabalho, que não farei em longo
prazo. Porque é uma coisa, que é hoje, mas não é amanhã, então você não pode contar
com esse trabalho, é um trabalho que não sabe até quando, hoje pode ser, amanhã não. A
gente não tem autonomia em determinada coisa, eu não tenho autonomia, para você se
dirigir, você se direciona a terceiros, você está entendendo, eu não acho que a gente seja
valorizado (Assistente Social, entrevista realizada no 17/07/12).
a essa realidade, a Prefeitura Municipal de Fortaleza reforça sua omissão quanto à realização de
concursos públicos.
Em contraposição a tudo isso, Ferreira (2006) informa que, para a real efetivação do
SINASE, no que objetiva a realização de sua proposta socioeducativa, é necessário que os atores
sociais envolvidos nesse processo sejam devidamente qualificados para trabalhar com este
segmento. O autor cita, ainda, que o SINASE sugere que a contratação dos recursos humanos seja
realizada via concurso público, ou por um processo seletivo, envolvendo as seguintes etapas:
avaliação de currículo; prova escrita, versando sobre dos direitos das e dos jovens, métodos e
técnicas de ação socioeducativa; entrevistas; dinâmicas de grupos que favoreçam a expressão
pessoal; e exames médicos admissionais.
Segundo Iamamoto, “as terceirizações tendem cada vez mais, a precarizar as relações
de trabalho, reduzir, ou eliminar os direitos sociais, rebaixar os salários, estabelecer contratos
temporários, o que afeta profundamente as bases de defesa do trabalho conquistados no pós-
guerra.”(2000, p.116).
35
À título de informação, até o ano de 2012, para os funcionários de nível superior o salário encontra-se em torno de
R$ 1.549,00, já os de nível médio recebem o salário mínimo (R$ 622,00).
100
estabilidade empregatícia. Portanto, observo que o mundo atual encontra-se mais dinâmico e as
mudanças de emprego, durante a vida se tornam cada vez mais comuns, pois, passa-se a se pensar
cada vez mais de maneira curta, tendo período certo para sua permanência.
Mediante essa discussão estrutural que envolve problemas objetivos e subjetivos nas
conjecturas sociais e que não deixam de passar pela realização pedagógica do trabalho social,
indaguei aos pesquisados se tiveram a oportunidade da leitura do Projeto Político Pedagógico do
Programa e quais as opiniões a respeito desse projeto. Em resposta a essa indagação, alguns dos
entrevistados responderam da seguinte forma:
Já li assim por cima, né. (Assessora Comunitária, entrevista realizada no dia 17/07/12).
Li por cima. Porque realmente tem uns absurdos, ele não chamou muita atenção, porque
quando eu comecei a ler, vi que tem muitas coisas que não condiz com a realidade, ele
está no papel, mas na prática é difícil, ele realmente não estabelece nada (Assessora
Comunitária, entrevista realizada no dia 06/08/12).
O Projeto Político Pedagógico precisa de ajustes, a meu ver. Ele foi construído para uma
forma ideal, mas não para a forma real. Quando foi construído, pensou-se na forma real,
e até absurdo falar isso, mas foi construído da forma real para a forma ideal, para que
possibilitasse chegar ao real, porque se colocasse no real, quando realmente se chegasse
no real, seria um avanço. (Pedagoga, entrevista realizada no dia 17/07/12).
A experiência de Fortaleza, pelo menos nas circunscrições desta pesquisa e até o ano
de 2012, revela que, embora cada órgão possua as suas atribuições e atividades relacionadas às
suas políticas de atendimento e/ou relacionadas ao projeto pedagógico (quando existe), não há,
porém, nada de específico definido no nível municipal, o que acaba por dificultar a execução do
Programa diversos pontos como: orientação pedagógica, organização de um fluxograma que seja
padrão para a LA e PSC, dentre outros.
Por fim, indaguei aos sujeitos da pesquisa sobre a percepção que as famílias possuem
sobre o acompanhamento dos adolescentes (seus filhos), pelo Programa Municipal de
Atendimento Socioeducativo. Essa percepção é ilustrada pelas considerações de alguns dos
entrevistados que aqui vão transcritas. O que concluo é que os profissionais se ressentem da
percepção que a família tem sobre eles como substitutos das responsabilidades desses:
Vê a Liberdade Assistida? É uma coisa absurda, mas não a maioria, mas as famílias que
eu atendo, que faço atendimentos, como uma tábua de salvação, e a equipe que está
atendendo ficasse responsável pelo adolescente, dar orientações da escola,
documentação, a fazer aconselhamento, e a partir disso, todas as falhas familiares, o
caráter do adolescente, fossem sanadas, a equipe resolvesse tudo. Não é bem assim. Eu
acredito que as famílias, deveriam ser menos omissas, o resultado do acompanhamento
com o adolescente que está em Liberdade Assistida fosse mais satisfatório (Pedagoga,
entrevista realizada no dia 06/08/12).
Enfim, grande parte dos profissionais alia essa falta de responsabilização ao contexto
de pobreza, da violência e da exclusão em que esses adolescentes e suas famílias se encontram,
dificuldades referentes à escassez de alimentação, de renda, condições dignas de moradia, acesso
à saúde, educação, profissionalização, o uso de drogas (na maioria dos casos) dentre outras
102
Em síntese, essas observações apontam que o mundo atual, que vive as influências
das orientações neoliberais, reflete no comportamento dos adolescentes e nos jovens, tornando-os
violentadores, ao mesmo tempo em que são violentados, marcados pela ausência de direitos como
moradia, escola, saúde, entre outros. Por essa ausência, suas histórias de vidas são permeadas por
violências, e eles passam a ter maior visibilidade na sociedade, uma vez que isso não foi possível
pela via dos direitos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa forma, cheguei às seguintes indagações: - quem são os profissionais que atuam
com os adolescentes em conflito com a lei no Programa Municipal de Atendimento
Socioeducativo em Meio Aberto? Quais os motivos que levavam à permanência de profissionais
que se encontravam, desde o início, no ano de 2006, no Programa Municipal de Atendimento
Socioeducativo?
Isso vai culminar na relação com adolescentes em conflito com a lei, sobre a qual,
infelizmente, ainda persiste na sociedade brasileira a compreensão da responsabilidade única dos
menores infratores em relação ao ato que praticaram, não percebendo e indo além, sendo
desconsideradas as consequências trazidas pelo contexto da sociedade desigual em que estão
inseridos, quando se trata da problemática da violência.
Entendo que essa questão é merecedora de debate acrescido de uma revisão de caráter
urgente, pois o atendimento socioeducativo deve ser refletido como uma política de governo que
envolve o poder público municipal como um todo, para que os profissionais não corram o risco
de atuar de forma pragmática e distante da fundamentação legal. Mas, isso fica no plano ideal,
pois a realidade apresentada pelos trabalhadores do Programa demonstra que a atuação
profissional reside em ações tecnicistas, pontuais, fragmentadas, mesmo diante das mudanças
ocorridas no cenário do atendimento socioeducativo com o advento do SINASE. Há perigos do
discurso reducionista que ainda permanece, principalmente, na área judiciária que perpassa para o
âmbito da execução das medidas socioeducativas.
Profissionais executando várias funções ao mesmo tempo, pouca, ou nenhuma reflexão sobre o
trabalho realizado, principalmente na dificuldade de atuar nas atribuições respectivas de suas
áreas de atuação profissional que, desde a falta de uma estrutura física adequada, perpassa pelas
dificuldades nas relações interprofissionais entre estes, dentro do Programa em questão. Isso é
percebido na morosidade e indefinição da proposta de atuação pelo órgão público municipal que
tem dificultado a caminhada da municipalização do atendimento socioeducativo.
Para que haja uma saída do discurso corrente, segundo o qual o público atendido
pelos trabalhadores do Programa “é um público difícil de ser trabalhado” (acredita-se que a
dificuldade encontrada seja pelo fato deste trazer demandas imediatas - escola,
profissionalização, drogas, e outras - pois há um sentimento de impotência ao se sentirem
limitados pelos diversos espaços de encaminhamentos que não absorvem a totalidade, apenas
uma parte). Aponto como alternativa, a iniciativa de tornar público o tema dos direitos da criança
e do adolescente como uma forma de sensibilizar os diferentes segmentos da sociedade para a
garantia dos direitos desse público.
O aumento das dificuldades que esse público encontra no acesso aos seus direitos, em
muitos momentos negados ou violados, carece de um instrumento de combate ao estigma e
preconceito existentes com relação aos adolescentes que cometeram ato infracional e estão
inseridos no sistema socioeducativo.
107
o adolescente, não o percebendo como uma totalidade. Percebi, nas entrelinhas dos discursos
desses profissionais, a ideia da ajuda, do assistencialismo, do favor, dentre outros aspectos.
Isso reflete na postura observada nos profissionais, nas visitas aos locais das
entrevistas, nos comentários posteriores aos atendimentos realizados por esses profissionais, onde
percebi discurso pautado, principalmente, no conceito de ajuda, asseverando ao adolescente que,
ao ser encaminhado para a rede socioassistencial, a sua efetivação pode ocorrer de forma
positiva, acreditando-se haver um sentimento de favor e não um direito assegurado por uma
legislação específica para sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
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APÊNDICE
116
Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, de uma pesquisa de
Dissertação, do Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade (MAPPS) pela
Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Com esta pesquisa pretende-se conhecer seu ponto de vista, enquanto profissional que
compõe a equipe técnica do Programa acerca de seu trabalho realizado. Esclareço que você é
livre para decidir na participação da pesquisa e retirar seu consentimento a qualquer tempo sem
que isso afete o seu relacionamento com o Programa. Sua participação também não acarretará
risco ou desconforto e constará em responder algumas perguntas que lhe faremos por ocasião de
uma entrevista. Se você concordar irei registrar suas respostas utilizando um formulário e o
gravador.
Saliento que todos os entrevistados terão direito à privacidade quanto aos dados e
informações fornecidos, dispondo de sigilo acerca de sua identidade, sendo divulgados somente
dados diretamente relacionados aos objetivos da pesquisa; esclareço, que se você concordar,
registrarei sua entrevista utilizando-se de um gravador e/ou formulário e caso seja necessário
algum relato, isto ocorrerá preservando sua identidade. Informo também que sua participação
nesta pesquisa não arcará nenhuma despesa e qualquer pagamento ou gratificação.
Para qualquer esclarecimento você poderá obter da pesquisadora Maria Liliana Correia
dos Anjos, através do e-mail: lilianaanjos@ yahoo.com.br.
Nome _____________________________________________
Assinatura__________________________________________
Obs: o TCLE deve ser assinado em duas vias uma será entregue ao sujeito da pesquisa e a outra
fica arquivada com a pesquisadora.
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ROTEIRO DE ENTREVISTA
3. Quais os impactos do SINASE, que antes era um projeto de lei, e agora foi aprovado como
lei, na realização de seu trabalho? Acredita que essa lei trará mudanças nas formas atuais de
trabalho do Programa Municipal de Atendimento Socioeducativo?
6. Relate uma experiência que marcou na realização de seu trabalho dentro da LA e ou PSC?
8. No seu cotidiano profissional quais as dificuldades (ou limites) que você enfrenta no
acompanhamento aos adolescentes da LA e/ ou PSC?
9. Que ideias você poderia sugerir para que essas dificuldades possam ser sanadas? (essa
pergunta é feita com a intenção de saber quais as possibilidades que possam superadas que
meu tema aborda limites e possibilidades)