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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE DIREITO

EVELLINE GISELLE DA SILVA COSME

FASHION UPCYCLING: DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A


SUSTENTABILIDADE NA INDÚSTRIA DA MODA SOB A PERSPECTIVA DO
DIREITO BRASILEIRO

NATAL/RN
2023
EVELLINE GISELLE DA SILVA COSME

FASHION UPCYCLING: DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A


SUSTENTABILIDADE NA INDÚSTRIA DA MODA SOB A PERSPECTIVA DO
DIREITO BRASILEIRO

Monografia apresentada ao curso de


graduação em Direito, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Orientadora: Prof(a). Me(a). Lidianne


Araújo Aleixo de Carvalho

NATAL/RN
2023

Esta obra está licenciada com uma licença Creative Commons Atribuição 4.0
Internacional. Permite que outros distribuam, remixem, adaptem e desenvolvam seu
trabalho, mesmo comercialmente, desde que creditem a você pela criação original.
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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Cosme, Evelline Giselle da Silva.


Fashion upcycling: desafios e oportunidades para a
sustentabilidade na indústria da moda sob a perspectiva do
direito brasileiro / Evelline Giselle da Silva Cosme. - Natal,
2023.
76f.: il.

Monografia (Graduação em Direito) - Universidade Federal do


Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Curso
de Direito. Natal, RN, 2023.
Orientadora: Profa. Me. Lidianne Araújo Aleixo de Carvalho.

1. Fashion upcycling - Monografia. 2. Indústria da moda -


Monografia. 3. Resíduos sólidos - Monografia. 4.
Sustentabilidade - Monografia. 5. Direito ambiental -
Monografia. I. Carvalho, Lidianne Araújo Aleixo de. II. Título.

RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 349.6

Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355


EVELLINE GISELLE DA SILVA COSME

FASHION UPCYCLING: DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A


SUSTENTABILIDADE NA INDÚSTRIA DA MODA SOB A PERSPECTIVA DO
DIREITO BRASILEIRO

Monografia apresentada ao curso de


graduação em Direito, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Aprovada em: 14/07/2023

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Me(a). Lidianne Araújo Aleixo de Carvalho


Orientador(a)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Prof(a). Dr(a). Ana Carolina Guilherme Coêlho


Membro interno
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Prof(a). Dr(a). Brenda Camilli Alves Fernandes


Membro externo
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO
GRANDE DO NORTE
Aos meus pais, Edmilson e Rosalir.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, que sempre guiou os meus passos e me


abençoou em cada etapa alcançada. Sem a presença d’Ele em minha vida, nenhuma
conquista seria possível e sou grata pelas lições aprendidas, por ter me direcionado
no caminho certo e por ter me sustentado com seu amor infinito.
Agradeço aos meus pais, Edmilson e Rosalir, que incentivaram
incondicionalmente a minha educação ao longo de toda a minha vida, torcendo e me
apoiando em cada etapa, sendo conforto em cada dúvida e me auxiliando nos meios
para alcançar cada sonho. Meus pais acreditaram em mim até quando eu duvidava
do que seria capaz, me encorajando a ter persistência e muita paciência, essa
confiança foi miraculosa nos momentos mais desafiadores.
A todos os meus familiares, aqui representados por Tia Rosilene, Tia
Francinete, Tia Rosy, Abidã, Albaniza e meus avôs, os quais sempre me apoiaram
durante a graduação, demonstrando um grande interesse a cada pequena etapa e
celebrando cada conquista como se fosse sua. Também sou grata a todos os amigos
da família, os quais, mesmo de longe, sempre se empolgaram junto comigo e com a
graduação.
Não poderia deixar de agradecer ao meu primo-irmão José Vitor, o qual,
apesar de ser uma criança e não compreender muito bem a jornada da graduação, foi
uma fonte de alegria e motivação, e transformou muitas das minhas perspectivas
somente com a sua existência. Tenho certeza que o seu futuro será brilhante!
Agradeço à Matheus e Alex, que estiveram junto comigo desde antes da
aprovação e sempre se disponibilizaram a me ajudar em todos os passos, sendo
exemplo de companheirismo, leveza, apoio, cumplicidade e afeto. Com certeza,
enquanto o sol brilhar, nossa amizade brilhará com ele. Ao meu grupo de amigos do
IFRN, o qual, apesar de todas as mudanças, se manteve unido e em contato, sendo
diversão e alegria em nossos encontros. É uma felicidade sem tamanho poder
acompanhar o crescimento de cada um ao longo desses quase 10 anos de amizade.
Ao meu grupo de amigas da faculdade, em especial, Thaís, Maria Laura, Maria
Júlia, Isabelle e Fernanda, agradeço por serem permanência e por tornarem essa
trajetória mais leve e cheia de memórias que levarei durante toda a vida. Sem vocês
a minha vivência universitária não seria a mesma. Ainda sobre as amizades da
faculdade, sou grata àquelas que foram incentivo inesperado ao longo do caminho,
que trouxeram proximidade, mesmo quando houve distanciamento do convívio
universitário. O tempo que nossos caminhos se cruzaram pode ter sido pontual, mas
a gratidão que sinto é permanente.
Agradeço ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Norte, que me proporcionou uma educação transformadora, modificou
minhas perspectivas, me introduziu à pesquisa acadêmica, proporcionou vivências
únicas que se transformaram em lições de vida e moldou o meu interesse pela área
jurídica, em especial a ambiental. O meu IF sempre foi muito mais que uma simples
instituição, e foi uma bênção poder estudar em um local que tanto valoriza o acesso à
educação de qualidade, comprometido com a justiça e igualdade, e que, para além do
excelente ensino regular, é um verdadeiro meio de transformação.
À UFRN, professores e servidores, o meu mais verdadeiro agradecimento. É
um privilégio, e a realização de um sonho, estudar em uma instituição tão renomada,
com um ensino de excelência. A vivência universitária, no geral, foi marcada por um
grande enriquecimento, tanto no meio profissional, quanto no pessoal, e levo com
carinho todos os ensinamentos e memórias adquiridos ao longo desses 05 anos na
UFRN.
Agradeço às equipes dos lugares pelos quais estagiei, que me ajudaram a
moldar a profissional que me tornei. À Assessoria Jurídica da SEMURB/SGA, por ter
me ensinado tanto sobre o direito ambiental e por ter revivido em mim o interesse por
essa área tão importante. À 3ª DP, por toda compreensão e flexibilidade, que me
permitiu passar pela fase mais desafiadora do curso com tranquilidade. E ao
NDJ/ASJUR, meu último estágio, por ser um ambiente incrivelmente acolhedor nesta
fase final, por todos os ensinamentos e motivações, as quais contribuíram
grandemente para o meu crescimento pessoal e profissional.
À minha orientadora, profa. Lidianne Aleixo, agradeço por todo apoio,
paciência e disponibilidade. Obrigada, professora, com toda certeza a senhora foi
imprescindível na motivação e inspiração que fizeram esse trabalho acontecer.
Por fim, sempre carrego comigo o pensamento de que a felicidade só é
genuína quando compartilhada e, graças a Deus, sempre tive muitas pessoas
dispostas a compartilhá-la comigo. Depois desses cinco anos, o sentimento que
prevalece é a gratidão por tudo que vivi, com a certeza que sempre terei pessoas
dispostas a me acompanhar em cada etapa do futuro que me espera.
“Por mais vãs que pareçam, as roupas têm, dizem eles, funções
mais importantes do que apenas nos manter aquecidos. Eles
mudam nossa visão do mundo e a visão do mundo sobre nós.”

Virgínia Woolf
RESUMO

A preocupação com a proteção ambiental e a sustentabilidade tem se tornado uma


pauta central nas discussões globais sobre o manejo dos recursos naturais e o futuro
do planeta. Seguindo essa tendência mundial, no Brasil, a Constituição Federal de
1988 consagrou a proteção ambiental como um dos princípios fundamentais do país.
Além disso, o país é signatário dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
estabelecidos pela ONU, com destaque para o objetivo número 12, que visa assegurar
padrões de produção e consumo sustentáveis. Consoante a isso, a moda se faz
presente em todos os lugares, principalmente nos itens de vestuário que utilizamos
diariamente. Diante disso, a indústria da moda tem sido reconhecida como uma das
mais impactantes para o meio ambiente, devido ao seu modelo de produção linear e
à geração de grandes quantidades de resíduos. No entanto, nos últimos anos,
surgiram iniciativas de sustentabilidade na moda, buscando reduzir esse impacto e
promover uma abordagem mais consciente e responsável. Nesse contexto, o fashion
upcycling desponta como uma alternativa promissora. Dessarte, o objetivo deste
trabalho é analisar de que forma o fashion upcycling responde ao requisito de
sustentabilidade aplicado à indústria da moda dentro do ordenamento jurídico
brasileiro. Para isso, foi realizada pesquisa bibliográfica e documental de artigos,
livros, publicações de instituições públicas e privadas, matérias jornalísticas e
pesquisas de setores, bem como a análise dos instrumentos jurídicos brasileiros, com
ênfase na Política Nacional de Resíduos Sólidos. A partir dessa exposição, percebe-
se que não há regulação específica para a indústria em comento, contudo encontram-
se muitos pontos de toque entre as iniciativas de sustentabilidade na moda, e as
formas de gerenciamento dos resíduos sólidos presentes nos diplomas legais, com
ênfase na logística reversa. Por fim, conclui-se que a adoção e promoção do fashion
upcycling pode contribuir para a construção de uma indústria da moda mais
consciente, responsável e alinhada aos princípios de proteção ambiental.

Palavras-chave: Fashion upcycling; Resíduos sólidos; Moda; Sustentabilidade; Meio


ambiente.
ABSTRACT

The concern for environmental protection and sustainability has become a central
issue in global discussions on natural resource management and the future of the
planet. Following this global trend, in Brazil, the Federal Constitution of 1988
established environmental protection as one of the country's fundamental principles.
Moreover, the country is a signatory to the United Nations' Sustainable Development
Goals (SDGs), with particular emphasis on Goal 12, which aims to ensure sustainable
consumption and production patterns. In line with this, fashion is present everywhere,
especially in the clothing we wear daily. In this context, the fashion industry has been
recognized as one of the most impactful on the environment, due to its linear
production model and the generation of large amounts of waste. However, in recent
years, sustainability initiatives in fashion have emerged, seeking to reduce this impact
and promote a more conscious and responsible approach. In this context, fashion
upcycling stands out as a promising alternative. Therefore, the objective of this work is
to analyze how fashion upcycling addresses the requirement of sustainability applied
to the fashion industry within the Brazilian legal framework. To achieve this, a
bibliographic and documentary research was conducted, including articles, books,
publications from public and private institutions, journalistic materials, and sector
surveys, as well as the analysis of Brazilian legal instruments, with emphasis on the
National Solid Waste Policy. From this exposition, it is evident that there is no specific
regulation for the industry in question, however, there are many points of connection
between sustainability initiatives in fashion and the management of solid waste found
in legal frameworks, with emphasis on reverse logistics. Finally, it is concluded that the
adoption and promotion of fashion upcycling can contribute to the construction of a
more conscious, responsible, and environmentally aligned fashion industry.

Keywords: Fashion Upcycling; Solid Waste; Fashion; Sustainability; Environment.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Propostas da Economia Circular................................................... 37


Figura 2 – Ciclo de logística reversa.............................................................. 53
LISTA DE SIGLAS

ABIT Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção


CNUAD Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o
Desenvolvimento
CRFB Constituição da República Federativa Brasileira
ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ONU Organização das Nações Unidas
PGRS Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
PIB Produto Interno Bruto
PNMA Política Nacional do Meio Ambiente
PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos
SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
2 PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PROTEÇÃO AMBIENTAL ........................... 16
2.1 Do Estado de Direito ao Estado de Direito Ambiental .................................... 16
2.2 Proteção Internacional do Meio Ambiente após a Segunda Guerra Mundial . 18
2.3 Evolução do Direito Ambiental no Brasil ........................................................ 20
2.4 Sustentabilidade e proteção ambiental .......................................................... 23
3 INICIATIVAS DE SUSTENTABILIDADE NA MODA ............................................. 26
3.1 Surgimento da Sustentabilidade na Moda ..................................................... 26
3.2 Movimento de Slow Fashion .......................................................................... 28
3.3 Moda Circular ................................................................................................. 32
3.4 Fashion Upcycling .......................................................................................... 35
4 ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E SUSTENTABILIDADE ................. 39
4.1 Instrumentos jurídicos brasileiros para promoção da sustentabilidade .......... 41
4.1.1 PNMA e a proteção do meio ambiente .................................................. 42
4.1.2 Lei n.º 12.305/2010 e a gestão de resíduos sólidos .............................. 44
4.2 Responsabilidade Socioambiental ................................................................. 50
5 DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO DO FASHION UPCYCLING NO
BRASIL ..................................................................................................................... 53
5.1 Impactos positivos do fashion upcycling frente a indústria têxtil e de
confecções ........................................................................................................... 56
5.2 Formas de incorporação do fashion upcycling na cadeia de produção da
moda .................................................................................................................... 60
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 66
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 69
13

1 INTRODUÇÃO

A preocupação com a proteção ambiental e a sustentabilidade tem se tornado


uma pauta central nas discussões sobre o manejo dos recursos naturais e o futuro do
planeta. Consoante a isso, a preocupação com a preservação do meio ambiente, a
mitigação de impactos ambientais e a busca por um desenvolvimento sustentável têm
sido cada vez mais presentes nas agendas governamentais e empresariais ao redor
do mundo.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 consagrou a proteção ambiental
como um dos princípios fundamentais do país, reconhecendo a importância da
preservação dos recursos naturais e da promoção do equilíbrio ecológico. Ademais,
trata-se de uma verdadeira “Constituição Verde”, a qual dispõe acerca da proteção
dos recursos naturais e ultrapassa a tutela do meio ambiente abordando também
outras dimensões próprias. A Carta Magna foi um importante ponto de partida no
desenvolvimento de diversas legislações, que aprofundaram a dimensão da proteção
ambiental no país.
Nessa continuidade, pautando-se na importância de alcançar o
desenvolvimento sustentável e na busca pelo equilíbrio entre os meios social,
ambiental e econômico, foram estabelecidos os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável (ODS), os quais abrangem as mais diversas áreas, sempre promovendo
a sustentabilidade como o seu ponto de partida. São 17 ODS, que interconectados,
representam um esforço global para enfrentar os desafios ambientais. Destaca-se o
ODS número 12, o qual visa assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis.
Diante desse contexto, a indústria da moda tem sido reconhecida como uma
das mais impactantes para o meio ambiente, devido ao seu modelo de produção
linear, que envolve o consumo excessivo de recursos naturais e a geração de grandes
quantidades de resíduos. No entanto, nos últimos anos, tem-se observado uma
crescente preocupação com a sustentabilidade nesse setor, impulsionando o
surgimento de práticas mais conscientes e responsáveis.
Todavia, apesar do progresso da perspectiva ambiental, bem como da
expansão do aparato de princípios e regras ambientais que se verifica no presente,
ainda existem muitos óbices ao equilíbrio entre a proteção ambiental e os impactos
negativos gerados pela indústria têxtil e de confecções. Isso ocorre, pois o modelo em
voga está profundamente arraigado ao seu funcionamento, tendo se desenvolvido
14

com base na exploração da matéria-prima, até ter o seu ciclo finalizado com o descarte
dos resíduos no meio ambiente.
Assim, são incontáveis os impactos negativos gerados ao longo da cadeia
produtiva, com ênfase na geração de resíduos sólidos, pois este é um problema
ocasionado tanto pelo meio industrial quanto pelo indivíduo em si. Nesse contexto,
exsurge a discussão acerca de meios alternativos de gerenciamento dos resíduos
sólidos provenientes dos insumos da moda, tendo em vista se trata de produtos
amplamente consumidos por praticamente toda a sociedade.
Nessa conjuntura, dentre as iniciativas de sustentabilidade na moda, o
movimento do fashion upcycling desponta como uma alternativa promissora, a qual
busca reduzir o impacto ambiental da moda através da reutilização criativa de
materiais descartados. A partir dessa premissa, o presente trabalho busca avaliar de
que forma o referido movimento se alia ao requisito de sustentabilidade aplicado à
indústria da moda dentro do ordenamento jurídico brasileiro.
Dessarte, o objetivo da pesquisa é analisar a inserção do fashion upcycling
nos ciclos produtivos da indústria têxtil e de confecção brasileira, tomando como ponto
de partida o princípio basilar da sustentabilidade. Outrossim, conforme definição de
Antônio Carlos Gil (2002), emprega-se nesta pesquisa, com base em seu objetivo, a
metodologia exploratória, utilizando-se do método hipotético-dedutivo, através da
análise bibliográfica de artigos científicos, monografias, dissertações, bem como da
ampla legislação nacional.
A fim de se alcançar o objetivo geral, estuda-se, inicialmente, a evolução do
conceito de estado de direito ambiental, bem como a progressão dos sistemas de
proteção ambiental tanto a nível global, quanto ao nível nacional, compreendendo-se
os motivos que levaram à proposição de um desenvolvimento sustentável.
Após a compreensão da importância da preservação e da necessidade de
alcançar um equilíbrio entre os meios econômico, social e ambiental, busca-se
analisar o surgimento da sustentabilidade na moda, destacando-se as suas iniciativas,
com ênfase no movimento de slow fashion, o qual se contrapõe ao modelo atual de
consumo irrefletido, e propõe uma abordagem mais consciente, ética e sustentável.
Nesse ínterim, partindo-se do conceito e objetivos do fashion upcycling, o qual
se enquadra nas iniciativas de sustentabilidade na moda, tem-se que este movimento
busca o repensar e reinventar dos produtos, utilizando-se das mais diversas técnicas
para transformá-los em novas criações. Essa prática visa prolongar a vida útil dos
15

itens de moda, reduzindo o descarte desnecessário e o impacto ambiental associado


à produção de roupas novas, além de ser uma forma de reduzir o desperdício e
promover a sustentabilidade, também permite a expressão individual e a valorização
da originalidade.
Em seguida, investiga-se como ocorre a proteção do meio ambiente no
ordenamento jurídico brasileiro, desde a ampla proteção constitucional até às
legislações infraconstitucionais, com ênfase na Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), a qual trata de ações individuais e coletivas a serem tomadas no
gerenciamento de resíduos sólidos. Também é abordada a logística reversa, como
uma alternativa passível de adoção pela indústria da moda, na busca por uma
produção mais sustentável e centrada na economia circular.
Ademais, considerando-se o impacto e a relevância da indústria têxtil e de
confecções no Brasil, a qual conta com um alto volume de produção, com cerca de
8,1 bilhões de peças produzidas, as quais, quando descartadas, representam uma
densa quantidade de resíduos sólidos despejados diretamente no meio natural. A
partir disso, acredita-se que o fashion upcycling pode contribuir com a minimização
desses impactos, fator que demonstra a relevância da presente pesquisa frente ao
cenário nacional.
Diante desse panorama, o referido movimento torna-se um instrumento de
valorização das peças, quando aplicado à etapa final, como também pode-se tornar
uma forma de maximização do lucro, quando aplicado às etapas iniciais do ciclo
produtivo. Todavia, faz-se importante a ponderação que a sua aplicação, apesar de
benéfica, não está imune a dificuldades e controvérsias.
Nesse diapasão, a hipótese que se apresenta é a de que a incorporação do
fashion upcycling na cadeia de produção da moda, desde a etapa de design até a
comercialização de produtos, bem como a sua utilização pelo próprio consumidor final,
pode ser considerada um instrumento essencial para a concretização da PNRS
aplicada ao setor têxtil. De tal modo, haveria a contribuição para construção de uma
indústria mais sustentável e ética, pautando-se na responsabilidade ambiental.
16

2 PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DA PROTEÇÃO AMBIENTAL

O direito, ciência com características sociológicas, tem como peculiaridade a


sua transformação mediante momentos históricos, políticos e culturais que ocorrem
em uma determinada sociedade. Isto posto, para a atual e completa compreensão do
modo em que o direito ao meio ambiente se insere no panorama brasileiro, bem como
a sua forma de inserção no horizonte da indústria da moda e suas relações de
consumo, faz-se imprescindível a análise da sua história e dos desafios que o
moldaram até o presente (MIRANDA, 2022).

2.1 Do Estado de Direito ao Estado de Direito Ambiental

De antemão, é primordial a compreensão de como ocorreu a modificação do


Estado de Direito para o Estado de Direito Ambiental, a partir da transição entre o
começo da proteção aos direitos fundamentais juntamente com a pluralidade de
transformações político-sociais até chegar-se na percepção ambiental de abordar os
recursos naturais como bens estatais merecedores de proteção.
Tal cognição possibilita o entendimento de como ocorreram as primeiras
discussões sobre a tutela do meio ambiente, promovendo assim, uma melhor
compreensão dos fatores que levaram ao contexto atual de proteção ambiental.
São inúmeras as divergências acerca do surgimento e da origem do Estado.
Todavia, conforme explicita Dalmo de Abreu Dallari (2003), é possível reduzir a três
concepções as diversas teorias, as quais são concebidas mediante perspectivas
antropológicas, filosóficas e jurídicas. A primeira considera que o Estado
corresponderia a uma organização social, que estaria investida com a autoridade de
determinar o comportamento de todo o grupo.
De acordo com a segunda teoria, a sociedade humana prescinde do Estado,
e este teria sua constituição de forma gradual, à medida que emergiram as
necessidades dos grupos sociais. A terceira concepção traz o Estado na forma de
uma sociedade política, revestida de características bem definidas e com a prática da
soberania (SILVA, 2005).
Assim, depreende-se que o conceito de um Estado moderno pode ser
abordado como uma ordem jurídica, guarnecida de soberania, cujo objeto seria o bem
comum de uma população em um determinado território. Destarte, o povo figura como
17

um elemento central na construção do Estado, pois é o fator humano que traz o vínculo
jurídico com o meio estatal, bem como são as necessidades individuais a base para
as mudanças na organização estatal (CASTRO, 2007).
Em vista disso, considerando a sua comunicação com os demais sistemas
sociais, durante um longo período, o Estado Nacional foi considerado a melhor forma
de organização política, tendo como marcos a centralidade estatal e a racionalidade
jurídica, com pouca interferência nas liberdades individuais (ROCHA; CARVALHO,
2006). Contudo, as evoluções históricas suscitaram a premência de alterações quanto
ao posicionamento do Estado frente ao sistema político global (CANOTILHO, 2006).
Nesse ínterim, com o advento das revoluções burguesas do século XVIII, as
quais, em oposição ao absolutismo, eram produto da vontade geral da nação e
buscavam o respeito às liberdades fundamentais do indivíduo, surgiu a necessidade
de reinvenção do Estado. Logo, houve a introdução do Estado de Direito na
sociedade, sendo este caracterizado pela limitação do poder estatal e o respeito aos
direitos fundamentais do ser humano, de modo que se viabilizou uma integração mais
firme entre direito, política e indivíduo (SILVA, 2005).
O Estado de Direito, apesar de ter estabelecido uma comunicação mais
harmônica entre os sistemas sociais, possuía limitações, as quais eram reguladas por
normas jurídicas gerais. Destarte, considerando a pluralidade de transformações
político-sociais que perpassam o mundo contemporâneo, as quais redimensionam e
trazem novas perspectivas às demandas já existentes, percebe-se que esse modelo,
per se, encontra dificuldades em sua manutenção (MIRANDA, 2022).
Ademais, em face das tendências de urbanização e industrialização,
impulsionadas pela Revolução Industrial, a partir de 1779, o ser humano foi
apresentado a uma nova visão em relação à ideia de progresso, com a redução do
meio natural a um mero reservatório de matéria prima para os fins industriais
(SCHULTE, 2018).
Todavia, em virtude de tais modificações, especialmente no meio
socioeconômico, restou um conflito entre a expansão da produção e os riscos
socioambientais derivados desta, os quais foram agravados com reivindicações
acerca de melhorias na qualidade de vida da população e a promoção de meios mais
saudáveis de existência (MIRANDA, 2022).
Consequentemente, por efeito da complexidade e dicotomia trazidos com
esse conflito, surgiu a necessidade de uma nova abordagem no meio jurídico-social.
18

Em decorrência disso, o Estado precisou se dividir em qualidades, quais sejam: o


Estado de Direito, o Estado Constitucional, o Estado Democrático, o Estado Social e
o Estado Ambiental (CANOTILHO, 1999).
Destaca-se que cada uma das qualidades do Estado atende a exigências
específicas concernentes ao Estado de Direito, contudo, faz-se mister uma análise
mais restritiva do Estado de Direito Ambiental. Preliminarmente, pode-se estabelecer
que o seu objetivo compreende a gestão de riscos ambientais, de modo a promover a
proteção ambiental, garantindo assim que a destinação do direito ultrapasse a figura
do indivíduo, direcionando-se também ao espaço no qual está inserido (MIRANDA,
2022).
Vale ressaltar que um dos fatores determinantes do contexto social do qual
surgiu a proposta de um Estado de Direito Ambiental, foi o contexto pós-Guerra
Mundial vivenciado a partir da segunda metade do Século XX, o qual relaciona-se
intrinsecamente ao surgimento de sociedades mais complexas e reflexivas.
Estas sociedades buscaram enfatizar a defesa de direitos considerados
novos, sendo imprescindível a edificação do referido Estado, tomando por base a
necessidade de incorporar os riscos existenciais provenientes de alterações do
ambiente e da sua constitucionalização, de forma que a tutela do meio ambiente
natural exsurge como um elemento a ser levado em consideração frente a tomada de
decisões, tanto no que diz respeito à atuação da população quanto no poder estatal
(LIMA; MAGALHÃES, 2020).
Portanto, percebe-se que a essência do Estado de Direito Ambiental concerne
à proteção da incolumidade do meio ambiente, e isso ocorre a partir da figura central
do Estado, o qual deverá prezar pela qualidade dos recursos naturais para as atuais
e futuras gerações (PEREIRA; BERGER, 2018).

2.2 Proteção Internacional do Meio Ambiente após a Segunda Guerra Mundial

A partir do conceito do Estado de Direito Ambiental, faz-se mister


compreender que, apesar de serem restritas, as ações efetuadas em um local do
planeta são capazes de influenciá-lo na totalidade, motivo pelo qual a legislação deve
ser homogênea, pois os danos ambientais não se restringem a fronteiras políticas e
cartográficas estabelecidas pelo ser humano (SOARES, 2001).
19

De tal modo, a compreensão do contexto da proteção internacional ao meio


ambiente é necessária tanto do ponto de vista das problemáticas internacionais,
quanto da perspectiva que os assuntos discutidos a nível global, sempre repercutem
no contexto local de cada nação, reverberando na tomada de medidas que adequem
o ordenamento jurídico e o seu posicionamento político aos padrões estabelecidos
internacionalmente.
Isto posto, tomando como marco o contexto após a Segunda Guerra Mundial,
no qual havia a preocupação central em retomar o crescimento econômico mundial,
e, para isso, houve o incentivo à produção e à livre circulação de bens. Assim, com a
consolidação do consumo em massa na década de 1960, foi projetado o conceito da
obsolescência programada, segundo este, o produto já nasceria com o tempo de vida
útil preestabelecido, e, uma vez que o atingisse, seria substituído por uma nova versão
mais atualizada, estabelecendo-se uma cultura onde o formato do bem ultrapassa a
sua finalidade (SCHULTE, 2018).
Contudo, com o retro mencionado incentivo à exploração econômica, também
emergiu uma preocupação com o meio ambiente, de modo que se fez necessário a
regularização de ações prejudiciais aos recursos naturais. Como resultado de tal
receio global, em 1972 ocorreu em Estocolmo a Conferência das Nações Unidas para
o Meio Ambiente Humano. A partir disso, a Conferência de Estocolmo foi um marco
concretizador da discussão acerca do desenvolvimento do direito ambiental ao nível
internacional, assegurando-o como um direito fundamental (ARAÚJO, 2021).
Nesse seguimento, em continuidade às questões ambientais suscitadas, no
ano de 1987, o Relatório Brundtland trouxe à baila a discussão a respeito do
desenvolvimento sustentável, o qual se apresenta como uma forma de
desenvolvimento capaz de satisfazer as necessidades atuais, porém balanceando-as
com o compromisso de manutenção das gerações futuras (BRUNDTLAND, 1987).
A partir da perspectiva do desenvolvimento sustentável, surge a ideia de
novos critérios de produção e consumo, elaborados com o intuito de gerar o menor
impacto ambiental possível, doravante o atendimento das demandas econômicas e
industriais (MIRANDA, 2022). Deduz-se, então, que se trata de desenvolvimento, pois
ultrapassa a ideia de um crescimento quantitativo, abordando as relações humanas
com o ambiente natural, bem como é sustentável porquanto busca a igualdade e o
uso consciente dos recursos naturais (ARAÚJO, 2021).
20

Neste diapasão, em 1992, no Rio de Janeiro, foi realizada a Conferência das


Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento (CNUAD), na qual se elaborou
um documento no intuito de orientar as ações de governos, da sociedade civil e de
organizações internacionais. Vale mencionar que, em 2015, com a Agenda 30, foram
estabelecidos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), os quais buscam
alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais (MAIA, 2021).
Pode-se afirmar que o tema-base para a efetivação dos ODS é uma mudança
no comportamento humano relacionado à produção e ao consumo, devendo estes
sempre estarem aliados a um ideal de sustentabilidade, conforme será explanado
mais profundamente no tópico seguinte (ONU, 2023).

2.3 Evolução do Direito Ambiental no Brasil

O direito ambiental, corresponde ao resultado das reivindicações de cunho


social, as quais buscaram a salvaguarda do meio ambiente, com foco na sua proteção
e preservação, e, para isso, abrangeu elementos jurídicos, sociais e políticos na busca
do equilíbrio entre os ecossistemas. Destarte, considerando as supramencionadas
reivindicações, depreende-se que estas ultrapassam a figura do indivíduo, atingindo
também o espaço no qual se insere (LEITE, 2008).
No Brasil, essa preocupação com a proteção ambiental tomou maiores
proporções a partir da década de 1980, com a promulgação da Política Nacional do
Meio Ambiente (PNMA), a Lei n.º 6.938/1981, a qual tornou-se um marco nacional na
defesa do meio ambiente, tendo em vista que abordou princípios, objetivos e conceitos
até então esquecidos pelo legislador brasileiro, bem como instituiu o Sistema Nacional
de Meio Ambiente (SISNAMA) (BRASIL, 1981).
Nesta seara, destaca-se também a Lei n.º 7.347/85, que disciplina a Ação Civil
Pública. O referido diploma legal emergiu como um instrumento processual de defesa
do meio ambiente, como também trouxe uma judicialização das problemáticas
ambientais (BRASIL, 1985).
Como consequência dessa crescente preocupação com a proteção do meio
ambiente, em 1988, através da Constituição da República Federativa Brasileira
(CRFB/88), houve a constitucionalização do Direito Ambiental. Através da Carta
Magna, em seu Capítulo VI, foram tutelados os recursos ambientais, como também,
em seu art. 225, foi estabelecido o direito ao meio ambiente ecologicamente
21

equilibrado, cabendo tanto ao poder público quanto à coletividade a sua defesa e


preservação para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).
De acordo com Sarlet e Fensterseifer (2019), com base na supracitada
previsão constitucional, o legislador optou por atribuir uma dupla funcionalidade à
proteção ambiental, pois o Estado tem o dever de encará-la como tarefa e objeto e,
por outro lado, o indivíduo também possui o dever de percebê-la como direito e dever
concomitantemente. Assim, verifica-se que a CRFB/88 elevou a pauta ambiental a
uma posição de destaque em seu texto, trabalhando os seus princípios
intrinsecamente em todos os ramos do ordenamento jurídico.
Seguindo o raciocínio exposto, para que o equilíbrio ecológico seja
possibilitado, é necessária a colaboração de todas as esferas sociais, juntamente ao
Poder Público, formando uma união multilateral de forças minimizadoras de impactos
ambientais negativos. Contudo, a concretização da harmonia entre o Estado e os
atores sociais encontra um óbice quando do conflito com os interesses
socioeconômicos, pois a própria Carta Constitucional também traz o amparo ao
desenvolvimento econômico nacional (MIRANDA, 2022).
Faz-se mister destacar, ainda, que a Lei Maior sintetiza a ideia de que é
preciso aprender a conviver harmonicamente com a natureza, motivo pelo qual é
considerada uma “Constituição Verde”. Ademais, a proteção dos recursos naturais
ultrapassa a tutela do meio ambiente presente no Capítulo VI, abordando também
outras dimensões próprias, em outros regramentos inseridos ao longo do texto, fato
decorrente do conteúdo multidisciplinar da matéria (MILARÉ, 2015).
O art. 3º da CRFB/881 traz a previsão expressa do desenvolvimento nacional
como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. Similarmente,
em sede do art. 1702, do referido dispositivo, são elencados os princípios gerais da

1Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir


uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a
pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação.
2 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III
- função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa
do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das
desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido
22

atividade econômica, a partir dos quais exsurge a defesa do meio ambiente, a qual
busca atribuir uma maior responsabilidade dos agentes econômicos, de forma que
estes devem sempre buscar a adoção de ações com vistas à preservação da
qualidade ambiental e a minimização de danos ao meio ambiente (BRASIL, 1988).
Neste seguimento, tratando-se de dispositivos pós-constitucionais, em 1998,
foi promulgada a Lei de Crimes Ambientais, Lei n.º 9.605/1998, a qual traz disposições
acerca das sanções penais e administrativas aplicáveis às condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente.
O referido diploma legal trouxe como inovações marcantes a não utilização do
encarceramento como norma geral para as pessoas físicas, a valorização da
intervenção da Administração Pública, por meio de autorizações, licenças e
permissões e a responsabilização penal da pessoa jurídica frente aos danos
ambientais causados por ela (BRASIL, 1998).
Em agosto de 2010, foi elaborada a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), Lei n.º 12.305/2010, a qual foi elaborada tendo como fundamento o
art. 24, VI e VIII da CRFB/88, que trata da proteção do meio ambiente e controle da
poluição e da responsabilidade por dano ao meio ambiente e ao consumidor.
A PNRS trouxe a previsão da prevenção e redução na geração de resíduos
através da prática de hábitos de consumo sustentável e do uso de instrumentos que
propiciem o aumento da reciclagem, da reutilização de resíduos e da sua destinação
ambientalmente adequada, todos esses fatores possibilitados pela instituição de uma
responsabilidade compartilhada entre os maiores geradores de resíduos (MMA,
2023).
No que concerne aos objetivos da lei de resíduos sólidos, são elencados 15
objetivos norteadores, dentre os quais destaca-se o objetivo caracterizador do diploma
legal, qual seja, a não geração de resíduos. Há uma ordem de prioridade a ser
observada na gestão dos resíduos sólidos, partindo da não geração, para a redução,
a reutilização, a reciclagem, o tratamento e, em último caso, a disposição final, a qual
será discutida em tópico posterior. Dito isso, não é admissível que o indivíduo seja
livre para produzir o resíduo sólido da forma que desejar, sendo necessária uma

para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua
sede e administração no País.
23

gestão integrada de tais resíduos, observando também a ordem de prioridade


(MACHADO, 2016).
Diante disso, segundo Edis Milaré (2015), é imprescindível que haja um
trabalho integrado entre os indivíduos e o Poder Público para que as regras alhures
mencionadas possam ter uma efetiva existência aplicada à realidade. Tem-se nesse
fator a principal dificuldade para a legislação ambiental brasileira, pois caso não se
alcance o patamar das ações concretas em favor do ambiente e da vida, só restará
uma mera “poluição regulamentar”.
Por fim, há também o desafio da promoção de um desenvolvimento
econômico que supra as demandas sociais, sem olvidar dos recursos naturais por ele
utilizados, o qual se insere diretamente na discussão acerca de um desenvolvimento
sustentável (MILARÉ, 2015).

2.4 Sustentabilidade e proteção ambiental

A priori, evidencia-se a necessidade do estudo acerca da sustentabilidade e


dos conceitos perpassados através desta, considerando-se a ampla menção feita
pelos dispositivos do ordenamento jurídico brasileiro, abordando-a como um princípio
basilar do direito ambiental nacional. Ademais, a sua aplicabilidade nos mais diversos
contextos faz com que as suas premissas sejam ainda mais valorizadas, o que
evidencia o seu apelo global.
Nesse contexto, tem-se a concepção de que o desenvolvimento foi atrelado
às noções de crescimento econômico. Segundo a teoria desenvolvida por Walt
Whitman Rostow (1990), assim como a natureza, a sociedade também encontraria
seu desenvolvimento numa progressão dos estágios inferiores aos superiores, de
modo que esta sairia de um estado rudimentar e partiria para uma realidade
industrializada. Contudo, em resultado da adoção desse modelo, ocorreu o
acirramento das injustiças sociais e o esfacelamento das culturas tradicionais.
Tal forma de desenvolvimento encontra novos rumos quando contraposta à
perspectiva ambiental, pois tal capacidade de produção será extremamente afetada
quando o planeta não for capaz de gerar os recursos naturais utilizados na expansão
das atividades econômicas, além de ser um fator comprometedor da capacidade
individual do ser humano exercer a sua liberdade (MIRANDA, 2022).
24

Em vista disso, a proteção ambiental deve ser preexistente ao


desenvolvimento, de modo que este não pode existir sem a preservação e reparação
dos recursos naturais. Por esse motivo, qualquer medida que uma empresa adote em
prol da sustentabilidade, também deverá ser economicamente viável, sempre
buscando o equilíbrio entre esses aspectos (BONATTI; MARTÍN, 2017).
Assim, pode-se estabelecer que a sustentabilidade é revestida por três
pilares: o ambiente, a sociedade e a economia. Isto posto, diante dessa tríade,
qualquer ação sustentável tomada por uma empresa ou indústria, deverá ser também
economicamente viável, propiciando o desenvolvimento econômico tanto da empresa,
quanto da economia, de forma geral (BAZHUNI, 2017).
Partindo em uma análise de cada um dos pilares, na dimensão ambiental
existe a concepção de preservação de todos os recursos naturais. De igual modo,
deverá ocorrer a boa gerência desses bens da natureza, com a consciência de sua
capacidade de renovação e da sua fundamentalidade para a manutenção da vida nos
ecossistemas (MAIA, 2021).
Assim, consoante Manzini e Vezzoli (2002), para que as atitudes humanas
sejam consideradas sustentáveis seguindo o pilar ambiental, estas devem atender os
seguintes requisitos: serem suportadas por recursos renováveis, reduzindo o uso de
recursos não renováveis; não acumular quantidades de lixo que não sejam passíveis
de reutilização ou de reciclagem; garantir que as comunidades possam usufruir dos
espaços ambientais aos quais potencialmente têm direito, assegurando condições de
vida dignas aos espaços que ocupam.
No que concerne à dimensão da sociedade, percebe-se que esta é pautada
no respeito pela condição humana e suas tradições. De tal modo, esse pilar aborda a
necessidade de garantia de uma vida digna, a qual avalize a satisfação das
necessidades básicas de forma digna e segura, atingindo todos os direitos
fundamentais (MAIA, 2021).
Neste seguimento, tratando-se da dimensão da economia, esta corresponde
à dimensão que traz a garantia de uma sociedade que gere valor e riqueza. Destarte,
são as atividades extrativistas e de serviços, mantidas por empresas e organizações,
que geram as atividades econômicas, as quais obtêm a sua riqueza mediante receitas,
do pagamento de salários, da aquisição dos próprios bens e serviços de outras
empresas, bem como através do pagamento de impostos, que corresponde a um dos
25

insumos que o Estado pode se valer quando da criação de condições facilitadoras do


desenvolvimento (MANZINI, VEZZOLI, 2002).
Em suma, é imprescindível o equilíbrio entre os supramencionados pilares,
tendo em vista que estes se fortalecem entre si. Logo, percebe-se que para que o
sucesso econômico pleno ocorra, é necessário buscar bons desempenhos nos meios
social e ambiental, visto que ambos são amplamente influentes no mercado,
especialmente no tocante à consciência do público alvo, o qual passa a reprovar
produtos que não coadunem com o preconizado nesses meios (BAZHUNI, 2017).
Isto posto, percebe-se que o conceito de sustentabilidade possui
aplicabilidade nas mais diversas áreas industriais, visando o balanceamento entre as
características econômicas com as sociais e ambientais. Em face disso, por se tratar
de uma indústria de grande relevância global e nacional, a área têxtil e de confecções
obteria grandes vantagens com a aplicação dos preceitos de sustentabilidade.
Por fim, ressalta-se que é iminente a necessidade de modificação de suas
características amplamente poluentes. Nesse meio, a sustentabilidade na moda
prioriza o respeito aos recursos naturais, valorizando a todos os processos e
indivíduos integrantes da produção, e almejando a redução do desperdício de
insumos. Diante de tais constatações, é imprescindível o estudo de iniciativas de
sustentabilidade na moda, tratando-se, na realidade, de um verdadeiro exercício de
responsabilidade com o meio ambiente.
26

3 INICIATIVAS DE SUSTENTABILIDADE NA MODA

Na moda, o desenvolvimento sustentável busca um formato de produção


minimizador de impactos sociais e ambientais, rechaçando um modelo linear,
caracterizado pelo ciclo da extração de matérias-primas, fabricação, distribuição, uso
e descarte. Por consequência, prioriza-se o estilo circular de produção, o qual
considera, desde as fases iniciais do ciclo produtivo, estratégias que propiciem o
retorno do produto ao ciclo, como insumo, uma vez que este atinja o fim de sua vida
útil (SALGUEIRO; LIMA, 2021).
À vista disso, o sistema linear de moda, marcado pelo incentivo ao consumo
desenfreado e à efemeridade no uso das peças, acarreta consequências negativas
para o meio ambiente. O abuso de recursos naturais, principalmente o uso excessivo
de água, a poluição por meio de componentes químicos, o uso de fibras sintéticas,
que demoram centenas de anos para se degradar e a grande emissão de gases de
efeito estufa são exemplos dos impactos ambientais negativos acarretados por essa
indústria (ARAÚJO et al., 2014).
Não obstante, o surgimento de contracorrentes na área, como o slow fashion,
bem como inseridos nestes, a moda circular e o fashion upcycling, demonstram a
viabilidade em alinhar a moda à sustentabilidade. Contudo, para compreender a
importância de tais contracorrentes, faz-se necessário assimilar, inicialmente, os
fatores que conduziram à sua proposição.

3.1 Surgimento da Sustentabilidade na Moda

A história da moda está intrinsecamente ligada à vida em sociedade, o que


torna praticamente impossível determinar com precisão a data de seu surgimento.
Verifica-se que a vestimenta nem sempre esteve presente em todas as culturas
humanas, mas foi disseminada em grande escala desde o processo de colonização
pelas grandes expedições (BAZHUNI, 2017).
Destarte, pode-se estabelecer que as relações humanas ocorrem numa
sociedade marcada pelo consumo, na qual a moda desempenha um papel central,
considerando que, dentre os bens consumidos, as roupas e acessórios são uma
constante durante a existência do indivíduo. Nessa esteira, para além do uso das
27

peças por pudor e/ou proteção, a vestimenta se relaciona com o adorno, de modo a
proporcionar um senso de identidade e comunicação (BERLIM, 2014).
Isto posto, com essa concepção da moda como uma constante expressão
cultural que atinge a todos os indivíduos durante todos os momentos de suas vidas,
tem-se um fortalecimento da sua indústria, a qual traz a ideia de efemeridade baseada
em tendências. Esse fator acarreta num ciclo de vida programado, o qual impõe o
descarte rápido e precoce dos produtos, independentemente de seu estado de
conservação (ARAÚJO et al., 2014).
Durante as primeiras décadas do século XX, a indústria têxtil e de confecções
foi submetida a um grande crescimento, com a consequente criação dos meios para
o aumento da produção. Até mesmo no contexto da Segunda Guerra Mundial, o
consumo de bens e vestuário teve um crescimento de 10 a 15%, expansão essa que
foi continuada e mantida até os dias atuais. Assim, esse setor tornou-se dependente
da comercialização repetitiva de novos produtos e do descarte de produtos lançados
em coleções anteriores, como uma forma de sempre manter as tendências, e o
consumo, renovados (ARAÚJO et al., 2014).
Partindo de uma perspectiva mundial atualizada, a indústria da moda tem sido
considerada a terceira atividade econômica que mais gera renda e movimenta o
mercado financeiro. Todavia, juntamente com essa posição, vem a necessidade de
alinhamento da moda com a responsabilidade ambiental, tendo em vista que o
costume vigente do consumo exagerado, bem como a lógica do fast fashion, são
fatores que reduzem a validade dos produtos, e torna supérflua a relação entre eles e
o indivíduo (LUCIETTI et al., 2018).
Para Berlim (2012), a ligação entre moda e a sustentabilidade pode ser
considerada contraditória no que tange ao aspecto econômico dessa relação, posto
que a posição econômica da moda no cenário global depende, sobretudo, do consumo
em massa dos produtos do setor, o qual obtém suporte pela lépida obsolescência dos
produtos. Tais fatores geram imensuráveis impactos tanto na seara ambiental quanto
na social, porquanto o fluxo de mercadorias em baixos preços encontra sua
manutenção em uma produção de baixo custo, com baixos salários e condições de
trabalho precárias.
Em congruência com Fletcher et al. (2011), são três os setores com impacto
mais expressivo sobre o planeta e a sustentabilidade: a energia, a alimentação e a
moda. Entretanto, os dois primeiros setores possuem mais visibilidade, na medida em
28

que recebem maior enfoque nos estudos científicos. Contrariamente a isso, apesar de
possuir menos estudos, a moda possui uma maior suscetibilidade, no sentido de que
pequenas mudanças em sua cadeia produtiva levam a grandes alterações e
resultados.
Noutro giro, sob uma ótica quantitativa, no Brasil a indústria têxtil e de
confecção figura como a segunda maior empregadora da indústria de transformação,
e corresponde ao quarto maior parque produtivo de confecção e quinto maior produtor
têxtil do mundo, o que torna a indústria da moda brasileira a maior cadeia têxtil
completa do Ocidente (ABIT, 2023).
Diante desses elementos, é crescente a importância da inserção dos modelos
econômicos sustentáveis nas etapas de produção, principalmente, frente à produção
exorbitante encontrada, foram 8,1 bilhões de peças confeccionadas em 2021 (ABIT,
2023). Com uma confecção expressiva, é acarretado também um descarte
significativo, fator que endossa a necessidade de práticas sustentáveis em toda a
cadeia da moda (BAZHUNI, 2017).
De mais a mais, a moda sustentável, a despeito de não possuir uma
conceituação formal e bem estabelecida, pode ser abordada como a vertente da moda
que traz um pensamento sistêmico inserido em todas as fases do ciclo do vestuário,
que reduz os impactos negativos aos recursos naturais e idealiza a geração de
impactos sociais, econômicos e ambientais positivos (SALGUEIRO; LIMA, 2021).
Em suma, constata-se que as roupas e os modos de vestir mudam com muita
frequência, principalmente devido à pouca durabilidade do material com que são
produzidas. Dessa forma, a moda possui como base alguns grupos de produtores, os
quais buscam a antecipação e renovação do vestuário, sempre com o foco na
produção em massa (LUCIETTI et al., 2018).
Em contrapartida, exsurge um novo ponto de vista partindo dos consumidores
e produtores com uma maior consciência ambiental. Estes não consideram apenas a
quantidade e o preço reduzido, mas também buscam a presença dos preceitos da
sustentabilidade dentro de cada peça adquirida, correspondendo ao movimento de
slow fashion (LUCIETTI et al., 2018).
29

3.2 Movimento de Slow Fashion

Conforme explicitado anteriormente, a ideia de valorização da efemeridade


das peças deu origem ao fast fashion, em tradução livre, moda rápida, que se trata de
um modelo através do qual são produzidas roupas baratas, com baixa qualidade e
curta durabilidade.
Tal ideia surgiu a partir da Revolução Industrial, quando a indústria têxtil e de
confecção foi beneficiada com avanços tecnológicos que proporcionaram a produção
de mais tecidos em menos tempo. Concomitante a isso, as mudanças econômicas e
sociais que a acompanharam foram originadoras da explosão do comércio e da
indústria, criando, assim, uma classe média com mais dinheiro para investir em itens
não considerados essenciais, tais como as roupas (SALGUEIRO; LIMA, 2021).
Nessa esteira, a moda passou a ser vista como um símbolo de status e forma
visual de demonstrar riqueza. Em razão dessa nova perspectiva, e com o aumento de
pessoas vivendo nas cidades, os trabalhadores dessa área passaram a abrir lojas
onde vendiam seus produtos já prontos, causando assim uma disseminação dos
varejos. Por volta da década de 1960, em Paris, foi impulsionado o modelo pret-a-
porter, o qual, conforme a tradução do nome sugere, trazia peças prontas para o uso,
transformando o mercado de alta costura num meio com itens mais acessíveis, com
preços também mais razoáveis (BAZHUNI, 2017).
Desde então, segundo Zélia Luís Bastos de Oliveira Pinto Maia (2021), cada
avanço tecnológico surgido, foi com o intuito de incrementar a alta capacidade de
produção, aliada ao baixo custo, gerando cada vez maiores lucros. Nesse segmento,
a partir da década 1990, a qualidade das peças foi cada vez mais desconsiderada,
buscando-se apenas a inovação nos padrões de design estabelecidos a cada curto
período.
Esse sistema fugaz, nomeado como fast fashion, é baseado na ideia de que
a peça de roupa adquirida por um baixo custo, a qual segue a tendência vigente, teria
uma curta vida útil, pois logo em seguida surgiria uma nova tendência que substituiria
completamente a primeira, estabelecendo um ritmo de superação programada que
ocasiona no descarte precoce de produtos em ótima condição (MAIA, 2021).
Toda essa produção em massa, ocasiona também um descarte em larga
escala, fator gerador de grandes impactos ambientais negativos, dentre os quais
pode-se elencar: a extensa quantidade de energia utilizada em todos os processos,
30

ocasionada pela queima de combustíveis fósseis, causando grande poluição


atmosférica; o uso de produtos químicos e tóxicos tanto nas áreas de tinturaria e
tecelagem, quanto nos procedimentos da agricultura que providenciam a matéria-
prima; e o gigantesco volume de resíduos sólidos, que parte das etapas de tecelagem
e corte, bem como dos consumidores finais, fator contributivo para a disseminação de
lixões irregulares (LUCIETTI et al., 2018).
Outrossim, em contrapartida a essa realidade de impactos negativos e
descarte inadequado de resíduos sólidos, surge o slow fashion, movimento que busca
romper com os valores da moda rápida, trazendo uma nova forma de ver o mundo,
através da redução da velocidade de produção.
Isto posto, o movimento da moda mais lenta e reflexiva, procura reconhecer
as microtendências de comportamento, de modo a incentivar o reconhecimento de
que os impactos das escolhas, especialmente no que concerne aos hábitos de
consumo, afetam o ambiente e os indivíduos, bem como, as decisões dos
fornecedores de bens também são interligadas ao sistema ambiental e social (SAFFI,
2015).
Vale salientar que o supramencionado movimento de slow fashion foi fundado
pela pesquisadora e designer Kate Fletcher, em 2008, e, segundo ela, tal processo
constrói uma visão reabilitada da moda, na qual a importância da moda para a cultura
é reafirmada e atrela-se à urgência da agenda da sustentabilidade, fator que
ultrapassa uma mera contraposição ao fast fashion.
Nesta seara, esse processo de uma moda mais lenta tem seu foco na
originalidade, nos processos, nos materiais e na exclusividade, cuja ideia é
reconhecer o consumo de moda e torná-lo mais consciente. Desta forma, há um
enfoque na produção individual de cada peça, com produções de baixa escala,
promovendo, de tal maneira, uma maior compreensão do modo como o consumidor
opta pelo seu vestuário, afetando tanto a consciência por parte da procura, como da
oferta (MENDES, 2022).
As propostas do slow fashion giram em torno de um conjunto de valores que
descaracterizariam a produção industrial, uma vez que esse setor é caracterizado pela
dinâmica da velocidade e da maximização dos lucros. A partir disso, o movimento traz
duas formas de críticas sociais, a ética, que é oriunda da indignação em relação à
desigualdade, ao oportunismo e egoísmo, e se associa à precarização do trabalho
nesse meio. A segunda crítica é a estética, a qual se origina da indignação quanto à
31

opressão, o desencanto e a inautenticidade, relacionando-se aos impactos culturais


gerados pelo segmento (BERLIM, 2012).
Na concepção de Fletcher e Grose (2011), um dos principais aspectos do slow
fashion é o ciclo de vida do produto, o qual tem início no processo criativo do designer,
respeitando todas as cadeias em que é submetido, até ser produzido, consumido e
descartado de volta para o meio ambiente.
O referido processo deve ser criteriosamente analisado e pensado no intuito
de resguardar a qualidade e as características inerentes a um produto fabricado nos
moldes da moda lenta. Assim, as peças criadas neste sistema são feitas com vistas a
sua durabilidade e atemporalidade, utilizando-se de tecidos ecológicos de maior
qualidade.
Destarte, a moda lenta funciona com base em três pilares, o primeiro deles
corresponde ao design e produção local, exigindo a utilização de materiais, recursos
e competências locais dotados de diversidade. O segundo diz respeito à criação de
sistemas de produção transparente, com menos intermediação entre produtores e
consumidores. O terceiro e último pilar trata da redução da taxa de mudança da moda
através da produção de produtos sustentáveis, criando roupas que proporcionam
experiências significativas, com uma vida útil mais longa, tornando-as mais valorosas
que os demais produtos oferecidos no mercado (MAIA, 2021).
No que tange ao ponto de vista do consumidor, ao adquirir um produto com
as qualidades do movimento em tela, estes partem de um conhecimento prévio,
agregando os seus próprios valores individuais, estéticos e éticos aos preceitos
imbuídos nos bens. Portanto, é perceptível que o consumo desses produtos, muitas
vezes, ultrapassa as questões de classe e elitismo associadas ao gosto típico das
peças dessa indústria (BERLIM, 2012).
Noutro giro, a moda consiste numa ferramenta de mudanças, a qual está
intrinsecamente atrelada aos contextos históricos e à aparência que o ser humano
deseja transparecer ao próximo, assim, nas palavras de Lipovetsky (2005), o vestuário
e a forma de vestir-se correspondem ao tópico mais relevante do sistema de moda.
Logo, abordando-se a mudança e inovação para o sistema de moda e
consumo que o slow fashion estabelece e proporciona, tratando-se de uma forma
inovadora de consumir e produzir, tendo o seu enfoque no ecológico, na preservação
ambiental, na manutenção da cultura e no incentivo à produção artesanal, é possível
estabelecer que a perspectiva desse movimento não é atingir o mercado rapidamente,
32

mas sim de oferecer produtos de maior qualidade, com desperdícios reduzidos e


objetivando aumentar o valor do vestuário (MORI, 2016).
Ademais, a partir da promoção da sustentabilidade e do empoderamento
político na indústria têxtil e de confecção, também surgiram os modelos de moda
circular e fashion upcycling. Os referidos modelos se aliam ao criar um novo foco na
redução da exploração dos recursos naturais no início da cadeia produtiva e na
desaceleração do ritmo de descarte de resíduos sólidos no fim desta (MAIA, 2021).

3.3 Moda Circular

Conforme o anteriormente exposto, a indústria da moda, mediante técnicas


de publicidade e obsolescência programada, incentiva cada vez mais o consumo
irrefletido dos bens que oferta, fator que contribui para o descarte precoce de roupas
e acessórios. Em vista disso, para alcançar um desenvolvimento sustentável, no qual
a economia se encontra em equilíbrio com a natureza, foram pensados modelos que
buscam modificar os sistemas de produção, minimizando os danos ao meio ambiente
causados por seu funcionamento, dentre tais meios se insere a moda circular
(ARAÚJO, 2021).
Partindo da perspectiva de construção de uma moda sustentável, inicialmente
a discussão girou em torno da adesão a novos tecidos, feitos a partir de fontes
renováveis, reciclados ou de processos ecologicamente viáveis. Todavia, apesar do
resultado positivo alcançado pelas técnicas desenvolvidas, fez-se necessário que
novas possibilidades fossem elaboradas, de modo a conseguir o rompimento com o
circuito fechado de produção (MIRANDA, 2022).
Nesta seara, como solução, foi pensada a ideia de economia circular, mais
especificamente aplicada ao tema em tela, denominada moda circular. A economia
circular, de forma generalizada, consiste em um modelo econômico cuja premissa é a
separação entre o crescimento e desenvolvimento da extração, produção e consumo
de recursos finitos (MODEFICA, 2020).
De acordo com a Ellen MacArthur Foundation (2017), trata-se de uma
economia restaurativa e regenerativa por princípio, o que significa a redução do
desperdício de materiais, da poluição e de resíduos tóxicos, bem como o aumento do
tempo de uso de produtos e materiais. Destaca-se, ainda, que tal conceito vem sendo
33

aplicado desde os anos 1970 em processos industriais, negócios e pesquisas


acadêmicas.
Neste seguimento, de modo diverso ao modelo linear atualmente em uso, o
qual segue a linha pré-estabelecida de extração, produção e descarte, o sistema
circular propõe que os materiais e produtos já utilizados retornem para a cadeia
produtiva, de modo que estes não se tornem resíduos e mantenham seu valor de
mercadoria duradouramente (ARAÚJO, 2021).
De mais a mais, consoante o relatório Fios da Moda (2020), as propostas da
Economia Circular podem ser distinguidas em seis principais, quais sejam: entender
a vida útil dos materiais e produtos ao longo de vários ciclos de uso; recuperar
materiais e garantir que os materiais biológicos que retornam ao solo sejam benignos;
reter inputs de processo por tanto tempo quanto possível; adotar métodos de
pensamento sistêmico no desenvolvimento de soluções; regenerar ou minimamente
preservar a natureza e os sistemas vivos; promover políticas públicas para acelerar a
mudança.

Figura 01 - Propostas da Economia Circular

Fonte: Relatório Fios da Moda, 2020.

Destarte, é necessário destacar que há uma preocupação crescente no setor


têxtil e de confecção com os impactos gerados por seu funcionamento. Em detrimento
disso, no ano de 2018, 94 empresas assinaram o Compromisso para Sistema de Moda
Circular 2020, o qual busca acelerar a transição da indústria da moda para um sistema
de moda circular (GLOBAL FASHION AGENDA, 2018).
34

Isto posto, o grupo de empresas signatárias consiste em 12,5% do mercado


global da moda, que são responsáveis por um grande número de transações e
vendas, bem como influenciam em grande escala o modo como se produz e se usa a
moda (DE PAULA et. al., 2021).
Outrossim, muitos são os mecanismos de promoção da moda circular, dentre
os quais pode-se citar, a nível individualizado, o empréstimo e doações de roupas
entre amigos e familiares, brechós e bazares, customização, e a nível empresarial, a
logística reversa de tecidos e os demais meios que gerem o maior aproveitamento de
produtos têxteis. Tais exemplos citados demonstram formas de oferecer maior
exclusividade e identidade ao vestuário e, ao mesmo tempo, abrandam os impactos
gerados pela moda no meio ambiente com o descarte excessivo (MIRANDA, 2022).
Além disso, as exemplificações alhures estão de acordo com os princípios da
moda circular, quais sejam: o foco na longevidade dos produtos; biodegradabilidade
e reciclabilidade; origem e produções locais, sem toxicidade; reuso, reciclagem e
compostagem de todos os resíduos; cuidado no uso, lavagem e conserto das peças;
e aposta nas trocas, uso de segunda mão ou (re)design (TOLIPAN, 2022).
No Brasil, a circularidade da moda já está presente na realidade individual de
muitos brasileiros, porém o impacto positivo de tais atitudes se mostra quase
inexpressivo em face do alto número de resíduos sólidos descartados pela indústria
da moda. Assim, embora a importância de tais práticas individualizadas seja
inquestionável, faz-se necessária a implementação de políticas corporativas e
governamentais que visem regular o tratamento adequado para estes resíduos
(MIRANDA, 2022).
Em suma, a ideia perpassada pela moda circular é a de que nenhum resíduo
deverá ser perdido ou descartado, mas transformado em insumo para outro. Dentre
algumas formas de se ativar a moda circular tem-se a compostagem, a reciclagem e
o upcycling. A compostagem é mais viável para resíduos biológicos, ou seja, produtos
feitos em sua totalidade com material orgânico, que serão transformados em adubo;
a reciclagem poderá ser aplicada para fibras sintéticas, pois destrói completamente o
produto-base, utilizando-se de diversos processos específicos, para transformá-lo em
um novo insumo (BONATTI; MARTÍN, 2017).
Por fim, o upcycling, objeto escolhido para este estudo, insere a peça
descartada novamente no processo de construção, para enfim transformá-la, de modo
que o bem reaproveitado é a própria matéria-prima para construir novos itens. Por não
35

ser submetido a nenhum processo modificativo de suas características naturais, o


upcycling se revela como um método mais simplificado de reaproveitamento dos
resíduos, fator que evidencia a necessidade de estudá-lo e de expandi-lo, conforme
será aprofundado no tópico seguinte (BONATTI; MARTÍN, 2017).

3.4 Fashion Upcycling

Alinhado com o slow fashion, com a moda circular e com a preservação dos
recursos naturais e viabilizando o desenvolvimento sustentável, o fashion upcycling
vem conquistando cada vez mais espaço no mercado da moda. Diante disso, é
crescente a preocupação das empresas com formas de minimizar os problemas
ambientais causados pelo acúmulo de roupas descartadas e a poluição causada pela
cadeia têxtil, de modo que estas se voltam cada vez mais às iniciativas sustentáveis
como um meio reparador.
Nesse contexto, o upcycling exsurge como um processo de recuperação, o
qual se utiliza de produtos que seriam descartados, transformando-os em novos
produtos, com qualidade superior e valor ambiental agregado, sem ter submetido a
matéria-prima a qualquer tipo de processo químico (LUCIETTI et al., 2018).
Nessa perspectiva mais voltada ao meio industrial, com o consumo
desenfreado, há o descarte diário de inúmeros produtos, de modo que, quando ocorre
um descarte, isso significa que o ciclo da vida útil do produto foi finalizado, este, então,
não desempenha a função para a qual foi constituído.
Dos materiais descartados, alguns como papel, vidro, plástico e metal já são
separados para serem reciclados, porém, materiais como tecidos, aviamentos,
borrachas, madeiras e afins não possuem um destino certo, e, quando destinados
indevidamente, levam centenas de anos para se decompor (MORELLI; ENDER,
2018).
Outrossim, para melhor compreensão da expressão em análise, é
imprescindível uma digressão às suas origens. O termo upcycling foi usado pela
primeira vez em 1994, onde em uma entrevista de Reiner Pilz, executivo da empresa
Pilz GmbH, o empresário fez um trocadilho com a palavra downcycling, que associou
ao modelo de utilização de matéria-prima pela construção civil e afirmou que havia a
necessidade do upcycling, no qual os produtos antigos seriam mais valorados
(SALGUEIRO; LIMA, 2021).
36

O termo foi revisitado em 2002, quando William McDonough e Michael


Braungart o empregaram em seu livro, Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make
Things. Na referida obra, os autores afirmam que o principal objetivo é evitar o
descarte desnecessário de materiais que podem, e devem, ser submetidos à
reutilização, integrando novos produtos e reduzindo o consumo de matérias-primas,
bem como os impactos negativos aos meio ambiente, os quais se associam à
produção, tratamento e beneficiamento de insumos têxteis.
Os autores, na publicação acima mencionada, trazem o sistema Cradle to
Cradle, em tradução livre, do berço ao berço, como um correspondente à economia
circular, a qual, em virtude de seu caráter cíclico, evita o descarte precoce de materiais
que ainda podem ser reutilizados. Assim, o conceito de upcycling figura como uma
ferramenta efetivadora desse sistema (MIRANDA, 2022).
Diante desses fatores, o modelo em pauta corresponde a uma alternativa
ecológica, a qual busca proporcionar um novo significado e função a um produto que
está no fim de sua vida útil em algo novo e de maior valor. Nesta seara, seu objetivo
diz respeito a evitar o desperdício de materiais potencialmente úteis, utilizando-se dos
produtos já existentes, reduzindo o consumo de novas matérias-primas para a criação
de novos produtos (BRAUNGART; MCDONOUGH, 2014).
Contudo, apesar do enfoque ser o fashion upcycling, a reutilização de
materiais não se esgota somente com este. De forma aliada, também é possível
mencionar a reciclagem e o downcycling (subciclagem), onde a primeira corresponde
na transformação da matéria-prima, com mudanças em seus estados físico, físico-
químico ou biológico, atribuindo novas características ao resíduo que o tornarão
novamente insumo ou produto. Por outro lado, na subciclagem a reutilização dos
materiais ocorre com a perda de propriedades técnicas originais, de forma a atribuir
um menor valor ao produto (FERREIRA et. al., 2016).
Consequentemente, o upcycling se diferencia da reciclagem e da
subciclagem, na medida em que, ao contrário destas, aquele não se utiliza de
processos que alteram as características da composição do produto, bem como ao
final de seu processo, atribui valor maior que o inicial ao produto.
Nessa continuidade, conforme Aus (2011), é possível estabelecer como
vantagens da aplicação do método na indústria: a facilidade de implantação dos
processos de design e na rapidez que o designer se envolve para a criação de
produtos de valor acrescentado; a possibilidade de resolução de problemas dentro da
37

indústria têxtil e de confecções, sem a necessidade de recorrer a uma gestão dos


resíduos; a minimização do uso de recursos energéticos; a redução, e até mesmo a
eliminação, da produção de resíduos; a valorização de materiais já existentes; a
criação do “novo” produto único através do “antigo”, inserido na produção em massa;
e a oportunidade de seleção do melhor processo através das perspectivas ambiental
e sócio-ética.
De forma análoga, a motivação para adotar a referida tendência encontra-se
revestida por diversos fatores, dentre os quais pode-se destacar a rentabilidade, pois
os materiais já utilizados custam menos que os de primeiro uso; o exercício de
criatividade, tendo em vista a necessidade de inventividade para transformar o
potencial dos produtos já existentes em um novo e único; e a sustentabilidade, visto
que evita o acúmulo de resíduos nos aterros sanitários e lixões, reduz o consumo de
água na produção dos artigos de vestuário, diminui o consumo de energia e a pegada
de carbono deixada nos processos (MAIA, 2021).
Partindo para a outra vertente da relação de consumo, Wilson (2016) discute
quatro tipos de benefícios que os consumidores buscam ao adquirir produtos
submetidos ao procedimento de upcycling. Pode-se elencar o apelo estético, a
poupança econômica, os benefícios ambientais e a apreciação intrínseca, estando os
dois últimos fatores interligados, na medida em que, ao comprar um produto
“upcycled”, o consumidor tem a consciência de que tal ato reverbera impactos
positivos no meio ambiente, o que gera um sentimento de felicidade e realização
pessoal.
Dentre as formas de execução do fashion upcycling, destaca-se a
desconstrução, a remodelagem e o mix de peças e materiais. A desconstrução diz
respeito a uma alteração na peça de origem, utilizando da sua confecção original para
remodelá-la, um exemplo é a calça jeans que pode ser transformada em bolsa, ou o
vestido transformado em camisa, dentre outros. No tocante à remodelagem, apesar
de ter similaridades com o processo de desconstrução, não existem tantas
modificações na peça original, são criados recortes, sobreposições, porém o produto
original segue visível e bem distinguível (TOLIPAN, 2022).
Finalmente, o mix de peças e materiais, dentre as técnicas citadas, é a mais
comum, trata-se da junção de diferentes materiais e estilos no intuito de criar uma
peça única e inovadora. Inseridos dentro dessa técnica, pode-se citar o patchwork,
38

que consiste em trabalhar com pequenos pedaços de tecidos e retalhos, unindo-os e


criando um novo tecido com uma cartela única (TOLIPAN, 2022).
Assim, resta evidente a contribuição das práticas de upcycling para a
preservação ambiental, do mesmo modo, por estar ligada ao trabalho manual e à
expressão cultural, tal prática contribui também para a justiça social, outro importante
pilar da sustentabilidade. Isto posto, distingue-se, a necessidade de regulamento,
como um meio de incentivar e projetar a sua existência, em consonância com o vasto
arcabouço legal brasileiro, conforme será amplamente discutido nos tópicos
subsequentes (SALGUEIRO; LIMA, 2021).
39

4 ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E SUSTENTABILIDADE

Conforme o conteúdo abordado anteriormente, a Constituição Federal


solidificou a perspectiva de um direito ambiental brasileiro, fixando a sua existência
não somente no plano constitucional, como também estabeleceu os critérios
fundamentais para a sua devida interpretação.
Assim, é perceptível que se trata de um produto cultural, cuja interpretação
constitucional deverá observar, também, os princípios fundamentais elencados na
CRFB/88, organizando-se como um direito e garantia fundamental a todos os
brasileiros e estrangeiros residentes no país (FIORILLO; FERREIRA, 2014).
Neste seguimento, o direito ambiental brasileiro se constitui a partir da
dignidade da pessoa humana, bem como está vinculado a diversos valores, com os
quais estabelece uma relação de causalidade. Destarte, vincula-se aos valores sociais
do trabalho e da livre iniciativa, consoante o art. 1º, IV, CRFB/88, na medida em que
a economia capitalista se faz presente nas relações jurídicas ambientais,
harmonizando, desta forma, a ordem econômica com a defesa do meio ambiente, tal
qual está disciplinado no art. 170, VI da Carta Magna.
Em continuidade, o direito ambiental possui como objetivos fundamentais,
para além daqueles estabelecidos especificamente para a sua atuação, os mesmos
objetivos estabelecidos para a República Federativa do Brasil no art. 3º, I, II, III e IV
da CRFB/88, quais sejam: a erradicação da pobreza da marginalização, a redução
das desigualdades sociais e regionais; a promoção do bem de todos sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, no
intuito de construir uma sociedade justa, livre e solidária, garantindo o
desenvolvimento nacional.
Nesta senda, os princípios gerais do direito do meio ambiente buscam formar
e orientar a sua geração e implementação. É certo que estes são inúmeros, variando
de acordo com a perspectiva de cada doutrinador, entretanto, para fins de
direcionamento mais assertivo do presente estudo, serão enfatizados os princípios do
direito ao meio ambiente equilibrado e da sustentabilidade.
O princípio do direito ao meio ambiente equilibrado é consubstanciado na
conservação das propriedades e das funções desse meio, permitindo a existência,
evolução e o desenvolvimento dos seres vivos. O referido princípio pressupõe que o
desequilíbrio ecológico não é indiferente ao direito, tendo em vista que a matéria
40

ambiental somente se concretiza em uma sociedade ecologicamente equilibrada.


Destaca-se que a Constituição brasileira o acolheu no caput do art. 2253, quando além
de afirmá-lo, incumbiu ao Poder Público a proteção dos bens naturais (MACHADO,
2016).
Tratando-se do princípio da sustentabilidade, este também pode ser
reconhecido como o princípio do desenvolvimento sustentável ou
ecodesenvolvimento, e encontra previsão implícita no caput do art. 225 combinado
com o art. 170, VI, ambos da CRFB/88. Tal princípio decorre de uma ponderação
casuística entre o direito fundamental ao desenvolvimento econômico e o direito à
preservação ambiental, com vistas ao princípio da proporcionalidade.
Nessa esteira, se faz necessário que o Poder Público realize uma análise caso
a caso, com a verificação da viabilidade ambiental da atividade a ser desenvolvida,
com o escopo de que os proveitos desta justifiquem eventuais danos que possam ser
ocasionados. Isto posto, pode-se considerar sustentável somente aquele
desenvolvimento que ocorre em observância à capacidade de suporte da poluição
pelos ecossistemas, respeitando a continuidade dos recursos naturais sem prejudicar
a potencial existência das futuras gerações (AMADO, 2014).
Em outras palavras, é possível estabelecer que a noção de sustentabilidade
encontra seu fundamento em dois critérios: o primeiro deles corresponde à análise
das ações humanas quanto à incidência de seus efeitos diante do tempo cronológico,
de modo que esses efeitos são estudados visando o presente e o futuro. Em seguida,
o segundo critério corresponde ao prognóstico realizado em relação ao futuro, de
modo que será avaliado quais efeitos serão persistentes e quais as consequências de
sua duração (MACHADO, 2016).
Outrossim, seguindo no tema da sustentabilidade, é imprescindível a menção
à Agenda 2030, pois esta objetiva a sustentabilidade no contexto jurídico brasileiro,
como um meio de adequação aos parâmetros internacionais de sustentabilidade.
Destarte, em reflexo do cumprimento dos objetivos propostos nos acordos firmados
em âmbito nacional, em 2016, foi instituída a Comissão Nacional sobre
Desenvolvimento Sustentável, a qual indicou membros representantes dos ministérios

3 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
41

e outras esferas governamentais para que políticas públicas de sustentabilidade


fossem debatidas (SANTOS; NERIS, 2021).
Ademais, na Agenda 2030 foram estabelecidos 17 Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável e 169 metas, os quais visam equilibrar as três
dimensões do desenvolvimento sustentável: a economia, a social e a ambiental.
Dentre os ODS, destaca-se o de número 12, o qual busca assegurar padrões de
produção e de consumo sustentáveis, demonstrando dessa forma a necessidade de
atenuar os impactos negativos gerados pelas produções e as demandas que as
geram, bem como o compromisso brasileiro em abordar de forma mais incisiva tais
questões (ONU BRASIL, 2023).
Nesse sentido, é perceptível uma relação direta entre o supramencionado
ODS e a indústria da moda, a qual tem em seu cerne a característica das
superproduções e o consumo em massa de itens de vestuário, o que, apesar de ser
visto positivamente pela perspectiva econômica, possui externalidades negativas do
ponto de vista ambiental e social. Em razão disso, é salutar discutir a necessidade de
inserção das premissas do ODS 12 dentro do mundo fashion.
Diante do exposto, destaca-se que, para além do dispositivo constitucional,
existem inúmeros instrumentos infraconstitucionais que visam a promoção da
sustentabilidade. Tais dispositivos legais, foram resultado tanto dos axiomas dispostos
na Carta Magna, quanto dos acordos internacionais ratificados pelo Estado brasileiro.
Por esse motivo, se faz essencial o estudo dos referidos diplomas, com a
intenção de possibilitar a compreensão da completude do panorama nacional quanto
ao fomento da sustentabilidade, para, em seguida, verificar a sua forma de abordagem
na indústria têxtil e de confecções.

4.1 Instrumentos jurídicos brasileiros para promoção da sustentabilidade

Conforme já abordado em tópicos anteriores, no Brasil, observam-se avanços


nas últimas décadas, tendo em vista que a concepção da política ambiental e o
exercício de muitos de seus instrumentos atendem a práticas democráticas e de
descentralização.
Em vista disso, existem conselhos ambientais em todos os níveis de governo,
os quais contam com a devida representação da sociedade civil. Outrossim, quanto
42

ao sistema legal, foram criados importantes instrumentos de proteção ao meio


ambiente e de incentivo a práticas sustentáveis (MOURA; BEZERRA, 2016).
Consequentemente, no centro desta reconversão jurídica do direito ambiental
está uma série de institutos inovadores, os quais reconhecidamente transformaram a
forma como ocorre a tutela ambiental no direito brasileiro, bem como trouxeram novas
perspectivas no que concerne a ações concretas de implementação de práticas
ambientalmente conscientes e sustentáveis.
Todavia, para fins de melhor adequação aos objetivos do presente estudo, os
instrumentos jurídicos a serem analisados foram restringidos a dois: a Política
Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), por se tratar de diplomas legais que abrangem profundamente o conceito
central de sustentabilidade, como também por possuírem forte aplicabilidade no ramo
da indústria têxtil e de confecções.

4.1.1 PNMA e a proteção do meio ambiente

A Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei n.º 6.938 de 31 de


agosto de 1981, corresponde a um meio inovador no que concerne à dinâmica da
realidade ambiental em face da vida pública nacional. De fato, a PNMA é reflexo das
discussões e avanços alcançados após a realização da Conferência de Estocolmo,
em 1972, e foi editada unindo as bases de um sistema de políticas ambientais
moderno e aberto, trazendo definições importantes para a aplicação das normas de
Direito ambiental, tais como meio ambiente, poluição e recursos ambientais
(LEUZINGER et al., 2021).
Em continuidade, segundo Édis Milaré (2015), a implementação da referida
Política, juntamente com seus resultados, bem como com a estabilidade e a
efetividade denotadas por ela, são fatores constitutivos de inovação e de qualidade
na vida pública brasileira. Para além disso, seus objetivos, de caráter social, e a
solidariedade que apresenta para com o planeta, a torna um instrumento legal valioso
para o país, influenciando até mesmo outras nações sul-americanas, as quais
compartilham preceitos com o Brasil.
Isto posto, em seu art. 2º, a Lei n.º 6.938/1981 define como seu objetivo central
a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,
visando assegurar, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da
43

segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. Logo, observa-se que,


nesse artigo inicial, a PNMA reforça o conceito e o compromisso com o
desenvolvimento sustentável, o qual é um elemento norteador ao longo de suas
disposições (BRASIL, 1981).
Em seguida, no mesmo dispositivo anteriormente citado, são definidos
princípios, os quais se apresentam, na realidade, como programas, metas ou
modalidades de ação, dentre os quais se destaca o princípio que compreende o
controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras. Segundo
o referido princípio, tais atividades devem ser controladas, mediante ações
preventivas e corretivas, não podendo ser exercidas em qualquer lugar, tal como
deverão sujeitar-se a leis especiais de uso e ocupação do solo, e de disposição correta
de seus resíduos e rejeitos (MILARÉ, 2015).
Através do art. 4º do mencionado diploma legal, tem-se o detalhamento dos
fatores necessários à integralização do objetivo geral, estes abordam questões já
vistas anteriormente, e as trazem como instrumento da PNMA, destacando-se: a
busca pela compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a
preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; o
estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas
ao uso e manejo dos recursos ambientais e a preservação e a restauração dos
recursos ambientais, visando a sua utilização racional e disponibilidade permanente
(BRASIL, 1981).
A partir disso, compreende-se que há uma busca incessante pela manutenção
da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico em todos os meios e
atividades desenvolvidas. Nesse contexto, a indústria têxtil se insere no referido
panorama, para além do seu evidente valor socioeconômico, quando se constata a
influência e o impacto que todas as etapas de seu ciclo produtivo produzem no
ambiente, pois desde o uso da matéria-prima nos estágios iniciais da produção têxtil,
passando pelo consumo do produto gerado pelos processos, até o seu descarte, faz-
se imprescindível o devido manejo e uso racional de recursos ambientais.
Nessa esteira, é certo que a indústria têxtil e de confecções é um setor forte
e expressivo no Brasil, o qual representa uma parte importante da economia do país.
Entretanto, há uma ausência geral de responsabilidade ambiental em se tratando dos
princípios e objetivos da PNMA, tendo em vista que, na maioria dos casos, e
especialmente vinculado ao modelo de moda rápida, há um grande enfoque na parte
44

econômica, olvidando-se dos requisitos ambientais e sociais, imprescindíveis ao


preconizado pelo desenvolvimento sustentável (ABIT, 2023).
Outrossim, a maior parte dos instrumentos da PNMA, os quais constituem as
principais ferramentas legais para a garantia da redução dos impactos ambientais
negativos nos processos produtivos, correspondem a instrumentos rígidos e
impositivos, fator que dificulta a sua aplicação em meios distintos dos quais foram
diretamente previstos no diploma legal. Em contrapartida, o inciso V do art. 9º da Lei
n.º 6.938/1981 traz uma inovação ao estimular inovações tecnológicas e gerenciais
que tragam a incorporação de práticas preventivas mais eficazes para o meio
ambiente (MILARÉ, 2015).
Dessarte, esse incentivo se estende tanto à produção e a instalação de
equipamentos não poluentes, quanto à criação ou a absorção de tecnologias voltadas
para a melhoria da qualidade ambiental. Tal previsão, encontra ambiente fértil na
indústria da moda, considerando que, de modo geral, esta carece de uma produção
mais limpa e com minimização de resíduos, conceitos-base de tal proposição.

4.1.2 Lei n.º 12.305/2010 e a gestão de resíduos sólidos

A Lei n.º 12.305 de 02 de agosto de 2010, a qual instituiu a Política Nacional


dos Resíduos Sólidos, representa um marco regulatório para a questão dos bens e
objetos descartados no Brasil. Anteriormente à referida lei, o país se encontrava em
um panorama instável, dependendo da regulamentação de leis municipais e das
resoluções do Conama para tratar do gerenciamento dos resíduos sólidos (CUNHA et
al.; 2014).
Para efeitos de melhor compreensão da discussão que será travada a seguir,
a princípio, é imprescindível a compreensão do que é considerado como resíduo
sólido. O art. 3º, XVI, do dispositivo em comento, o define como o material, substância,
objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, cuja
destinação final se procede, se propõe a proceder ou se está obrigado a proceder, no
estado sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos
ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente
inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010).
45

Nesse contexto, também se faz necessária a diferenciação entre o resíduo


sólido e o rejeito, sendo o segundo definido pelo art. 3º, XV da Lei n.º 12.305/2010,
como o produto final, após esgotadas todas as possibilidades de tratamento e
recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não
apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada
(BRASIL, 2010).
Assim, compreende-se que o rejeito é aquele material que realmente exauriu
a totalidade das formas de destinação, não restando outra alternativa que não o
descarte, enquanto o resíduo sólido é aquele bem que possui uma multitude de
possibilidades de ser reutilizado.
Em face da definição de resíduos sólidos, é possível depreender que tudo
aquilo que é descartado em decorrência das atividades sociais humanas é
considerado resíduo sólido. Por outro lado, o referido diploma legal não especifica se
há um requisito de motivação para o descarte, se este ocorre em função do
esgotamento das características e das suas propriedades originais, ou se o descarte
é promovido por meio de uma análise subjetiva do indivíduo daquilo que considera
não servir mais aos seus objetivos (MILARÉ, 2016).
Nessa esteira, conforme o art. 13 da Lei n.º 12.305/2010, a classificação dos
resíduos sólidos ocorre de duas maneiras: primeiramente quanto à sua origem, o que
compreende os resíduos domiciliares; de limpeza urbana; sólidos urbanos;
decorrentes de estabelecimentos comerciais; dos serviços públicos de saneamento
básico; industriais; de serviços de saúde; da construção civil; agrossilvopastoris; de
serviços de transportes e os resíduos de mineração (BRASIL, 2010).
A segunda forma de classificação corresponde à periculosidade dos resíduos,
existem os perigosos, que em razão de suas características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade,
teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou
à qualidade ambiental, de acordo com a disposição em lei, resolução ou norma
técnica. Em contrapartida, os resíduos considerados não perigosos correspondem a
todos os demais que não se aplicam à definição de perigosos (BRASIL, 2010).
Isto posto, pode-se conceituar a PNRS como um conjunto de preceitos
orientadores do manejo e da gestão dos resíduos sólidos no Brasil, a qual dispõe
acerca dos princípios, objetivos, instrumentos e as metas que deverão ser observados
46

pelo Poder Público, pelo setor produtivo, bem como pela sociedade, pois possuem
responsabilidade compartilhada em tal processo de gestão (CUNHA et. al.; 2014).
Destarte, em se tratando da gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, o
art. 9º preceitua que a ordem de prioridade a ser observada é a não geração, redução,
reutilização, reciclagem, tratamento de resíduos sólidos e a disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos (BRASIL, 2010).
Em face disso, Paulo Affonso Leme Machado (2016) disserta que a
priorização pela não geração vai além de uma mera escolha técnica, caracterizando-
se como uma obrigação legal, bem como coaduna que a PNRS traz uma metodologia
inclusiva dos 05 “erres” para gestão dos referidos resíduos, quais sejam: repensar,
reduzir, reutilizar, reciclar e responsabilizar.
Contudo, apesar da PNRS buscar tratar com prioridade a não geração de
resíduos dentre os seus princípios e objetivos, o referido dispositivo legal não
apresenta nenhum instrumento específico para tal. Assim, por mais que haja toda uma
preocupação quanto a adoção de padrões sustentáveis e de consumo, ao não
estabelecer indicadores e procedimentos específicos que atuem no início da cadeia
produtiva, há uma perda na capacidade de exigir padrões de produção
ecologicamente equilibrados (LACERDA, 2022).
Outrossim, de acordo com a matéria já abordada, todo o sistema jurídico
brasileiro se encontra baseado em princípios norteadores, por esse motivo
consideram-se aplicáveis à PNRS todos os princípios constitucionais em matéria
ambiental.
Entretanto, o dispositivo em comento não se limita a tais princípios, tendo
originado uma série de novos princípios específicos, dentre os quais destacam-se: a
visão sistêmica na gestão dos resíduos sólidos; a ecoeficiência e o reconhecimento
do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social,
gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania (FIORILLO, 2012).
Com o princípio da visão sistêmica, depreende-se que devem ser
consideradas as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de
saúde pública na gestão de resíduos sólidos. Resta claro que a referida gestão não
pode ser realizada de modo isolado em relação aos aspectos citados. Assim, o
entendimento sistêmico é um meio de praticar as metodologias da
interdisciplinaridade e da transversalidade, tornando-se um guia na formulação e na
implementação de todos os planos previstos pela lei (MACHADO, 2016).
47

O princípio da ecoeficiência se constitui como uma verdadeira bússola para


todo o sistema de produção e consumo de bens e serviços, pois visa a
institucionalização de uma produção mais ecológica, mediante a compatibilização
entre o fornecimento, preços competitivos, bens e serviços qualificados que
satisfaçam as necessidades humanas que proporcionem qualidade de vida, e a
redução do impacto ambiental ocasionado pelo consumo de recursos naturais, os
quais devem ser consumidos com respeito à capacidade de sustentação do planeta
(CUNHA et al.; 2014).
Tal princípio relaciona-se intimamente com o conceito de desenvolvimento
sustentável, já amplamente abordado e discutido em tópicos anteriores, na medida
em que propõe o uso racional dos recursos naturais para a produção de bens e
serviços, buscando o máximo de eficiência na produção para gerar o mínimo de
impacto à natureza (CUNHA et al.; 2014).
O princípio do reconhecimento do valor do resíduo sólido reutilizável e
reciclável traz a reutilização e a reciclagem como as principais opções da PNRS para
a sua valoração econômica e para a promoção da cidadania. Acrescenta-se, ainda,
que esse bem possui um valor social, gerador de trabalho e renda (MACHADO, 2016).
Percebe-se a existência de uma ampla intersecção entre esse princípio e o
fashion upcycling, tendo em vista que uma das proposições desse movimento é
justamente promover o reuso desse bem que se tornaria resíduo, e, a partir dos seus
processos, adiciona valor ao produto, tanto pela sua transformação de modo geral,
quanto pela questão criativa e cultural envolvida nessa construção.
Nessa continuidade, o referido princípio tem relação direta com o Plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), o qual traz em seu conteúdo mínimo
metas de redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem, dentre outras, com o
intuito de reduzir a quantidade e rejeitos encaminhados para disposição final
ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).
Relativamente a isso, ao abordar as formas de utilização dos produtos após o
fim da sua vida útil, inclui-se uma opção legislativa em romper com o ciclo de vida e
com o descarte desenfreado. Desse modo, as iniciativas de sustentabilidade na moda,
já dissecadas, são grandes exemplos de meios a serem aplicados na indústria têxtil e
de confecções, como formas de adequar-se ao PNRS e de proporcionar a
minimização dos impactos ambientais causados pelo descarte inadequado.
48

Noutro giro, um instrumento inovador trazido pela PNRS, que possui relação
intrínseca com a implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
dos produtos é a logística reversa. Conforme definição do art. 3º, XII da Lei n.º
12.305/2010, trata-se de um instrumento de desenvolvimento econômico e social, o
qual se caracteriza por um conjunto de ações, procedimento e meios destinados a
viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para
reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação
final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).
Com base nessa definição, é notável que este é um instrumento criado no
intuito de facilitar a coleta e a restituição de resíduos a quem os gerou inicialmente,
de modo que estes possam ser tratados ou reaproveitados como insumos nos
processos produtivos. Destarte, apesar do dispositivo especificar quais são as áreas
de obrigatoriedade de sua aplicação, também é feita uma flexibilização no sentido de
estender a sua aplicabilidade para produtos que, apesar de não citados, apresentam
grande impacto à saúde pública e ao meio ambiente, considerando, nesses casos, a
sua viabilidade técnica e econômica (MILARÉ, 2015).
Diante deste cenário, o ciclo de vida de um bem não se encerra quando este
é entregue aos consumidores. De fato, a logística reversa se inicia com o consumidor
individual, do qual os produtos são coletados, após, o processo encontra diversas
opções de gerenciamento, a depender das condições do produto, quais sejam, a
reciclagem, de forma a gerar mais matéria-prima, a remanufatura, para possibilitar a
revenda em segundo mercado e o reparo, com vistas à venda no mercado secundário
(SANTOS, 2022).
49

Figura 02 - Ciclo de logística reversa

Fonte: Guarnieri, 2013 apud Santos, 2022.

Ademais, o conceito de logística reversa encontra similaridades com a


definição de economia circular, tendo em vista que ambos buscam evitar a geração
de rejeitos e maximizar a criação de valor social e ambiental. Entretanto, ao passo que
a logística reversa busca o gerenciamento do resíduo após a sua geração, o modelo
circular traz essa preocupação desde a fase de idealização do produto, de modo a
tratar o aproveitamento dos materiais em conjunto com o seu ciclo (LACERDA, 2022).
Consoante o acima exposto, infere-se que a operacionalização dos resíduos
de pós-consumo, proporcionada pela logística reversa, é um fator minimizador do
problema da destinação de resíduos, na medida em que oportuniza o seu retorno ao
ciclo produtivo e de negócios, bem como otimiza o uso dos recursos naturais.
Diante do que foi apresentado, pode-se afirmar que o fashion upcycling possui
muitos pontos de contato com o preconizado pela logística reversa, tendo em vista
que também busca transformar um produto que está no fim de sua vida útil em algo
novo e de maior valor, aumentando o seu tempo de uso.
Logo, apesar de não existir menção específica a esse movimento, os seus
conceitos encontram-se abarcados pelo ordenamento jurídico brasileiro, fator
evidenciador da importância de sua aplicação e da necessidade da sua difusão em
práticas assertivas dentro do contexto da indústria da moda.
50

Dessarte, dentre os canais já expostos da logística reversa, faz-se factível a


ampliação de suas possibilidades frente às particularidades de cada negócio e dos
fatores sustentáveis que são agregados por essa ferramenta às especificidades e
possibilidades de destinação de cada produto. Isto posto, apesar da legislação não
fazer referência à indústria têxtil e de confecções, não se encontra óbice à aplicação
dessa ferramenta nos seus ciclos produtivos e de consumo (SANTOS, 2022).
Por fim, não apenas inexistem óbices à aplicação da logística reversa e do
upcycling no contexto da indústria da moda, como também existem exemplos
demonstradores de sua efetividade, tanto do ponto de vista econômico, quanto do
ambiental.

4.2 Responsabilidade Socioambiental

A princípio, é essencial estabelecer de que se trata a responsabilidade


socioambiental, antes de passar a discuti-la. Esta se interliga a ações que respeitam
o meio ambiente e a políticas que tenham como objetivo central a sustentabilidade.
Destarte, a referida responsabilidade não atinge a um setor específico, pelo contrário,
estabelece que todos são responsáveis pela preservação ambiental, ou seja, é
compartilhada pelo poder público, pelas empresas e por cada cidadão (MMA, 2023).
Apesar de ser destinada a todas as esferas, é perceptível que a perspectiva
das empresas recebe um enfoque diferenciado. A Constituição Federal em seu art.
170, VI traz como um dos princípios centrais a serem observados quanto à função
social do meio econômico, a defesa do meio ambiente, com tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração. Deste modo, a produção e a responsabilidade socioambiental são
indissociáveis, devendo ser enfatizada em cada etapa (BRASIL, 1988).
Outrossim, da perspectiva do indivíduo/consumidor, quando este adquire os
produtos e os serviços, ele também se insere no mercado de consumo, de modo a
integrar e interagir com o meio ambiente. Em razão disso, também passa a ser
responsável pelo papel que representa na grande cadeia de consumo, bem como pela
forma que se utiliza e dispõe dos bens que adquiriu (MILARÉ, 2015).
Nesse diapasão, é trazido à baila o princípio da natureza pública da proteção
ambiental, segundo o qual o meio ambiente é um valor a ser assegurado e protegido
para o uso de todos. Em outras palavras, existe apenas uma fruição comum, e, por
51

esse motivo, todo aquele que vive junto à coletividade, em algum momento deverá
arcar com os deveres de promover a solidariedade e a sustentabilidade, fator esse
que pode ser aplicado à responsabilidade pelos bens que descarta (BEGA; ARAÚJO,
2011).
Noutro norte, o conceito de responsabilidade socioambiental também invoca
a responsabilidade compartilhada prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A PNRS trouxe tal previsão em seu art. 3º, XVII, no qual a conceituou como um
conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos
de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar a sua geração,
bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade
ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos (BRASIL, 2010).
Assim, é estabelecida uma cadeia de responsabilidade, a qual envolve a todos
os que entram no ciclo de vida do produto, de forma individualizada. Ademais, o
diploma legal também estabelece sete objetivos, os quais demonstram a viabilidade e
a essencialidade da responsabilidade compartilhada, dentre os quais destacam-se: a
promoção do aproveitamento e a redução da geração de resíduos sólidos, o estímulo
ao desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de produtos derivados de
materiais reciclados e recicláveis e o incentivo às boas práticas de responsabilidade
socioambiental (MACHADO, 2016).
Em vista disso, quando se nota o panorama da indústria têxtil e de confecções,
bem como, analisa-se o contexto do consumo e descarte desenfreado dos itens de
moda, é latente a necessidade de instituir-se de forma mais incisiva tanto a
responsabilidade socioambiental quanto a compartilhada. Em ambas as situações,
comprovadamente há apenas o foco na produção e no consumo, olvidando-se
completamente dos impactos e danos ambientais ocasionados por essa busca
agressiva do patamar econômico.
Conforme relatório produzido pela ABIT (2023), em 2021 foram
confeccionadas 8,1 bilhões de peças de vestuário no Brasil. Em contrapartida a isso,
de acordo com um estudo realizado pela Ellen Macarthur Foundation (2017), a
estimativa é de que menos de 1% de todas as roupas produzidas sejam recicladas
novamente. Os dados relatados demonstram um panorama preocupante, pois há uma
discrepância entre o que é produzido, o que é descartado e o que é gerenciado, fator
52

que evidencia a necessidade de uma ação conjunta entre o poder público, as


empresas e o consumidor.
Diante do exposto, apesar de não existirem disposições legais diretamente
instituídas quanto às responsabilidades do setor têxtil e de confecção na gestão de
resíduos deste segmento, em que pese a expressividade desse setor no contexto
industrial brasileiro, faz-se urgente a adoção de iniciativas de sustentabilidade na
moda para que tais impactos possam ser atenuados pouco a pouco, e, até mesmo,
estimulem-se mudanças estruturais na cadeia da moda.
Coadunando com tais ideais, faz-se imprescindível aprofundar no estudo
acerca do fashion upcycling e da sua aplicabilidade no panorama do país, tendo em
vista que se trata de um modelo aplicável diretamente tanto ao contexto industrial,
quanto ao individual. Além disso, sua utilização é simplificada, pois existem muitas
formas de exercê-lo, as quais correspondem a processos com execução facilitada e
acessível, sem mudanças na composição física, química e biológica do produto.
53

5 DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO DO FASHION UPCYCLING NO BRASIL

Conforme visto anteriormente, o universo da moda, no qual está incluída a


cadeia têxtil e seus processos produtivos e serviços, se inicia com a escolha das fibras
e se encerra no produto têxtil acabado. Diante disso, a referida indústria engloba a
economia, o mercado, o meio ambiente, pesquisas de tendências de moda,
comercialização e mídias globais, de modo a associar valores imateriais
extremamente relevantes ao produto têxtil e de moda (MENDES et al., 2022).
Por influência dessas características, o setor pode ser considerado um dos
mais produtivos do mundo, dotado de uma indústria intensa, a qual gera milhares de
empregos e é consumida por quase todas as pessoas, em todos os lugares (ELLEN
MACARTHUR FOUNDATION, 2017).
Em face dessa constatação, em uma análise qualitativa, segundo dados de
2022, o mercado global de vestuário é avaliado em aproximadamente 1,7 trilhões de
dólares, o que equivale a cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, além
disso, a sua expectativa de crescimento é de 7,6% no período entre 2023 e 2030
(GRAND VIEW RESEARCH, 2023).
Nesse diapasão, o diretor Andrew Morgan, em seu documentário “The true
cost”, o qual aborda os diversos aspectos e impactos da indústria da moda na
sociedade, traz estatísticas surpreendentes. Estima-se que 80 bilhões de peças de
vestuário são compradas a cada ano a nível global, o que representa 400% de
aumento em relação à década passada.
Ademais, o estudo “Pulse of the Fashion Industry”, realizado em 2019 pela
Boston Consulting Group, expôs que até 2030 a indústria têxtil e de confecções global
terá crescido 81%, atingindo 102 milhões de toneladas de roupas e acessórios
(LACERDA, 2022).
Isto posto, é inevitável associar que toda essa produção, para além da
sobrecarga que exerce por si só nos recursos naturais do planeta, em algum momento
será descartada, fator que evidencia a marca negativa deixada no meio ambiente.
O relatório “A Economia Têxtil: Redesenhando o Futuro da Moda”, elaborado
em 2017 pela Ellen MacArthur Foundation, torna mais visíveis tais impactos negativos
ao trazer dados sobre a destinação dos resíduos têxteis. Estima-se que 73% dos
resíduos têxteis são queimados ou enviados aos aterros sanitários, 12% são
54

reciclados e apenas 1% é destinado ao uso como matéria-prima para a confecção de


novas peças de roupa.
Consoante aos dados apresentados, a busca por uma indústria têxtil e de
confecções mais tecnológica e sustentável dimanou na criação de uma agenda
internacional global voltada para tratar apenas dessas temáticas, como a “World
Fashion Convention”, em tradução livre, a Convenção Mundial da Moda elaborada
pela Federação Internacional de Vestuário (International Apparel Federation), a qual
reúne os principais líderes do setor têxtil do mundo (ZANELLA, 2018).
Além disso, é realizado anualmente o “Youth Fashion Summit”, Encontro de
Moda Jovem, em tradução livre, que é realizado em parceria com órgãos da
Organização das Nações Unidas (ONU), e busca reunir estudantes e profissionais da
área, no intuito de gerar ideias que melhorem o setor e que proporcionem soluções
comuns aos ODS (ZANELLA, 2018).
O panorama brasileiro não difere dos dados globais, trata-se da maior cadeia
têxtil completa do ocidente, figura entre os cinco maiores produtores e consumidores
de denim no mundo e entre os quatro maiores produtores de malhas do mundo. Para
mais, é uma indústria já consolidada, tendo quase 200 anos de existência no país,
fator que corrobora com a sua expressividade na realidade do Brasil (ABIT, 2023).
Nesse segmento, abordando-se dados gerais do setor, foram arrecadados
R$190 bilhões de reais e produzidas 8,1 bilhões de peças de vestuário em 2021, cujo
volume da produção têxtil equivale a 2,16 milhões de toneladas (ABIT, 2023).
Em continuidade, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção
(ABIT) também produziu dados acerca dos resíduos têxteis gerados pela indústria da
moda, a qual produz aproximadamente 175 mil toneladas de tais resíduos ao ano, e
apenas 10% dessa quantidade é destinada corretamente onde serão separados e
introduzidos em novos processos de produção. Para além disso, vale ressaltar que
tais dados levam em conta apenas a concentração final dos resíduos, sem incluir os
dados dos resíduos que são perdidos durante as etapas de produção.
Diante do exposto, é notável a expressividade do mercado têxtil e de
confecções no Brasil, tanto da perspectiva econômica, quanto das perspectivas social
e ambiental. Todavia, a força dessa indústria também acompanha as tendências
globais no que diz respeito à destinação e ao descarte de seus resíduos sólidos. É
estimado que, somente na região do Bom Retiro, no estado de São Paulo, 12
55

toneladas de resíduos têxteis sejam descartadas diariamente (BONATTI; MARTÍN,


2017).
Destarte, de acordo com Giselle Bonatti e María José Martín (2017), os dados
acima relatados evidenciam um panorama negativo, tendo em vista que não se trata
apenas de um evidente desperdício, pois os materiais poderiam ser reaproveitados
por meio de inúmeros processos, como também, ao chegar nos aterros sanitários, à
medida que são decompostos, os resíduos liberam uma mistura tóxica de poluentes,
incluindo gases de efeito estufa. De tal modo, ao não reaproveitar um tecido, é
ocasionada a produção de um novo tecido, o qual irá gerar mais impacto ambiental
negativo e a manutenção desse ciclo.
Nessa perspectiva, Fletcher e Grose (2011) afirmam que a sustentabilidade é
a maior crítica enfrentada pelo setor da moda, considerando que o seu conceito, por
si, é conflitante com os processos de criação e de produção, bem como com os
modelos econômicos, metas, regras, sistema de crenças e valores tão característicos
da indústria têxtil e de confecção.
Em contrapartida aos padrões da indústria em comento, leis e normas
ambientais cada vez mais restritivas vêm sendo implantadas, como uma resposta ao
aumento do número de consumidores de vestuário de moda, os quais estão cada vez
mais preocupados com o meio ambiente.
Relativamente a esse fator, mercados mais competitivos foram criados, os
quais trouxeram a exigência que as empresas do setor têxtil em sua totalidade fossem
mais eficientes do ponto de vista produtivo, além de respeitar e integrar a economia,
a sociedade e o meio ambiente (MENDES et al., 2011).
No que concerne a essa preocupação crescente, com a busca pelo
desenvolvimento sustentável e a necessidade de minimização dos problemas
ambientais, exsurge a iniciativa do upcycling, como um processo de recuperação dos
produtos que seriam descartados, o qual, ao transformá-los em novos produtos, com
melhor qualidade e valor ambiental, traz um impacto considerável tanto na perspectiva
do meio ambiente ao trazer um novo uso ao resíduo, quanto do ponto de vista
econômico, ao proporcionar que este obtenha um segundo valor, distinto do qual foi
inicialmente produzido (LUCIETTI et. al., 2018).
Assim, o fashion upcycling existe como uma prática sustentável que vai além
do reformar roupas, ela também pode ser pensada para os tecidos excedentes das
fábricas, aviamento e demais matérias-primas restantes da produção. Essa forma de
56

reaproveitamento, como já afirmado anteriormente, impacta o meio ambiente ao


impedir que o resíduo seja descartado, mas também é um meio que pode reduzir
gastos nas empresas, tendo em vista que o reaproveitamento dos insumos, permite
que seja economizado na compra e na produção de novas matérias-primas, partindo-
se de uma mentalidade circular, em que os materiais podem ser reciclados
infinitamente, mas sem perda de seu valor (CAMFIELD, MAGNUS, 2022).
Nesse diapasão, percebe-se que a substituição dos materiais utilizados na
confecção da indústria da moda, pode conduzir a benefícios percebidos rapidamente,
os quais também asseveram que é viável a modificação da forma que os insumos são
utilizados no desenvolvimento dos produtos de moda, tal como a inserção de uma
nova mentalidade tanto nos designs quanto nos consumidores (FLETCHER, GROSE,
2011).
Em vista disso, resta claro que a maior parte dos produtos de moda no
mercado nacional e internacional reflete a indústria convencional na qual foram
criados, cuja produção é globalizada e há a predominância de produtos com baixa
qualidade.
Por esse motivo, é necessário que haja um investimento em qualidade,
durabilidade e design, de modo a romper com o modelo em voga, partindo para uma
noção de sustentabilidade, mais condizente com as pautas contemporâneas,
incorporando novas técnicas e tecnologias que proporcionem tanto a menor geração
de resíduos, quanto o reaproveitamento destes (SCHOTT, 2018).
Por fim, é importante estabelecer que, conforme bem preleciona Gilles
Lipovetsky (2005), a moda é uma estrutura social, a qual é centrada no presente e
ultrapassa a mera noção da roupa, relacionando-se intrinsecamente com a sociedade
do consumo.
Diante deste pensamento, a moda é percebida como uma ferramenta de
mudanças, em vista disso os movimentos originados em seu cerne já nascem com o
potencial de atingir os mais diferentes públicos. A partir disso, é firmada a necessidade
de estudar e debater movimentos de sustentabilidade associados a essa estrutura.

5.1 Impactos positivos do fashion upcycling frente a indústria têxtil e de


confecções
57

A princípio faz-se importante estabelecer que a forma do sistema produtivo


linear como o principal modelo de produção adotado não é produto de um setor
econômico específico, pelo contrário, trata-se da opção majoritária feita pela indústria
global. Frente a este cenário, a indústria da moda ocupa lugar de destaque, em razão
de sua produtividade, contudo, esta também é amplamente poluente (MIRANDA,
2022).
Esse modelo linear, aplicado à indústria da moda, se traduz com o fast
fashion, o qual condensa todo o ideal de consumo desenfreado, tão característico e
associável quando se pensa sobre esse mercado. A moda rápida gera o encurtamento
do ciclo de vida dos produtos em conjunto com o aumento da produção e distribuição
destes, apoiando-se nas demandas mercadológicas e dos consumidores (MORI,
2016).
Vale destacar também que, apesar de existirem diversos outros tipos de
produtos e indústrias que trazem impactos negativos ao meio ambiente, a indústria
têxtil e de confecções ocupa uma posição de destaque nesse panorama, pois os itens
de vestuário são globalmente consumidos.
Em face desse caráter global, também se faz muito tangível o seu impacto
negativo, tendo em vista que todos os indivíduos que possuem um mínimo contato
com os produtos, também são expostos, através das mídias, às imagens dos danos
do derramamento de corante em afluentes, das roupas descartadas em lixões, da
fumaça despejada pelas chaminés das indústrias e afins. De modo que todos esses
elementos contribuem ainda mais para a visibilidade ambientalmente negativa dessa
indústria (SLATER, 2003).
Destarte, é necessária a reflexão acerca das consequências do panorama em
análise, de modo que se faz imprescindível uma nova forma de organização influente
no processo produtivo da indústria têxtil e de confecções, com vistas ao equilíbrio da
atividade econômica com o desenvolvimento sustentável. Assim, opta-se pelas
iniciativas de sustentabilidade na moda, em especial o fashion upcycling, como um
meio a ser utilizado para atingir um ideal ecológico em tal mercado.
O fashion upcycling, por se tratar da iniciativa de sustentabilidade na moda
que mais se aproxima do ideal da economia circular, encontra grande suporte nos
movimentos do slow fashion, o qual enfatiza a produção local e mais consciente, e no
lowsumerism, ou movimento de consumo equilibrado, com enfoque central nos
58

produtos ecológicos, éticos, cuja premissa central é a do menos é mais (DE PAULA
et al., 2021).
Ante as considerações feitas, a sustentabilidade no cenário econômico possui
relevância tanto para os consumidores quanto para a indústria. Trata-se de um
negócio a ser adotado, pois uma vez que as empresas percebem que há um impacto
negativo em não agir sobre os problemas ambientais, especialmente do ponto de vista
que os consumidores estão cada vez mais atentos à procedência do que consomem,
bem como que o lucro final pode ser afetado pelas questões de responsabilidade
ambiental, estas buscam se adequar a tais exigências, com a gestão de políticas
socioambientais internas e externas (BERLIM, 2012).
Logo, com o intuito de combater os fortes impactos socioambientais
ocasionados pela indústria têxtil e de confecções, há a inevitabilidade de se alinhar
propostas educativas e de design, conscientizando ainda mais os consumidores,
através da informação e da durabilidade dos projetos desenvolvidos.
Assim, as peças devem trazer consigo a valorização dos trabalhos manuais e
a qualidade da matéria-prima, fator que pode vir a gerar a despadronização dos
produtos e uma participação mais ativa dos consumidores na observância dos bens
que adquire (TEIXEIRA, 2019).
Nesta senda, abordando-se formas práticas de efetivação do fashion
upcycling no contexto da indústria têxtil e de confecção nacional, pode-se elencar, na
seara dos resíduos têxteis provenientes dos cortes dos tecidos, a sua reutilização na
elaboração de novas propostas a partir de técnicas manuais e artesanais, com a
manipulação de retalhos, aplicação de bordados com características de design e a
exploração das aparas (SCHOTT, 2018).
Tais práticas geram produtos amplamente desejáveis pela eticidade ambiental
que comportam, pela atemporalidade das peças, pelo seu valor simbólico e também
por sua durabilidade, tendo em vista que o ciclo de vida desses produtos é prolongado
e valoriza as práticas sustentáveis desenvolvidas dentro da cadeia produtiva
(SCHOTT, 2018).
Há também, uma dimensão sócio-ética nas referidas práticas aplicadas ao
contexto da moda. Tal dimensão comporta diversas necessidades básicas de
sobrevivência moral e humana, as quais ensejam soluções sustentáveis. Destarte,
proporciona-se ao indivíduo a sensação de bem-estar e satisfação com o sistema no
qual está inserido, de modo a oportunizar-lhe uma apreciação baseada na completude
59

da realidade, tanto no contexto global, quanto no local, revelando a essencialidade na


escolha de materiais ecológicos (MAIA, 2021).
Consoante a isso, essa perspectiva social no desenvolvimento do fashion
upcycling e da gestão dos resíduos sólidos, ocorre através da participação da
sociedade, a qual é revestida de autonomia e caracterizada pela articulação dos
diversos atores sociais, de modo a propiciar a fundação de uma nova realidade
transformadora (SCHOTT, 2018).
Esse novo molde é efetivado com a redefinição das relações entre o meio
político, regulado pela PNRS, o meio econômico, representado pela indústria de
confecção do vestuário e o meio social, que pode ser traduzido tanto nos
consumidores, como nos catadores, essenciais no recolhimento dos materiais e na
ponte com o setor econômico (SCHOTT, 2018).
Destarte, a referida redefinição relacional é fundamentada com a realização
de novas práticas, as quais respeitam o meio ambiente, os valores de
sustentabilidade, e enxergam a gestão dos resíduos como parte de um processo
coletivo de corresponsabilidade.
Nesse passo, é fato que há toda uma mudança a ser realidade na estrutura
da produção de materiais e componentes, principalmente pelo fato de que estes são
resultados da extração de matéria-prima da litosfera e da biosfera, bem como são
modificativos do meio pré-existente e provocam a sua degradação irreparável (MAIA,
2021).
Posteriormente, Zélia Luís Bastos de Oliveira Pinto Maia (2021), expõe que a
transformação das matérias ocorre com o uso intensivo de energia, a qual, quase na
sua totalidade, é proveniente de combustíveis fósseis. De tal modo, é evidente que
todo o processo em si gera consideráveis quantidades de resíduos, os quais, na
maioria das vezes, são liberados no meio ambiente, causando um impacto
significativo e negativo nos recursos naturais. Por essa razão, resta comprovado que
é vital pensar a importância do desperdício, buscando a sua minimização,
proporcionada com a sua transformação em novos produtos.
Portanto, há o pressuposto de que um sistema produtivo ambientalmente
sustentável é aquele em que a quantidade de resíduos que utiliza se restringe ao
tamanho e à qualidade, de uma forma que não cause a exaustão das fontes de
matéria-prima e energia, com atenção especial àquelas provenientes dos sistemas
naturais (MANZINI; VEZZOLI, 2002).
60

Igualmente, o produto sustentável é aquele que foi elaborado, desde a


concepção à concretização seguindo os princípios do design sustentável,
considerando o ciclo de vida, com as suas fases de projeção, a escolha correta dos
recursos, a extensão da vida dos materiais e a facilitação da desmontagem do produto
na fase de fim de vida (MANZINI; VEZZOLI, 2002).
Diante do exposto, resta esclarecido que tanto o meio social, quanto o
ambiental são afetados pela cadeia de produção da indústria têxtil, motivo pelo qual
se faz indispensável a inserção de estratégias sustentáveis em cada etapa do ciclo
produtivo, de modo a minimizar o descarte de resíduos sólidos, que, infelizmente, se
encontra intrinsecamente conectado ao setor.

5.2 Formas de incorporação do fashion upcycling na cadeia de produção da


moda

Antes de estudar como o fashion upcycling pode ser incorporado ao longo da


cadeia produção na moda, é imprescindível a compreensão acerca do modo que o
ciclo produtivo é executado e quais os impactos de cada etapa. Somente após tal
explicação é possibilitado que formas de minimização e de reaproveitamento dos
resíduos gerados possam ser analisadas no tocante à sua aplicabilidade e relevância
frente à totalidade do processo produtivo.
Nesse ínterim, o ciclo de vida do produto se inicia com a etapa da pré-
produção, na qual são produzidos os materiais que irão integrar os produtos, o que
inclui da aquisição aos recursos, bem como o manejo no local da aquisição, o
transporte para o local da produção e também o seu uso na geração de energia (MAIA,
2021).
Na referida fase, quanto aos seus impactos, os materiais utilizados na
composição das fibras têxteis, as quais são a matéria principal da confecção dos itens
de vestuário e intrinsecamente responsáveis pela emissão de poluentes; poluição
química dos ecossistemas; geração de resíduos nocivos à saúde e aos sistemas
ecológicos e sociais, de modo geral (RUSSI et al., 2016).
Na perspectiva de Fletcher e Grose (2011) o impacto das fibras têxteis
utilizadas nos processos de confecção de vestuário associa-se aos mais diversos
danos na natureza, afetando até mesmo o consumidor, o qual muitas vezes não está
61

ciente da amplitude do processo pelo qual os seus bens passaram antes de serem
dispostos para que ele os adquirisse.
Em seguida, tem-se a produção, etapa central de todo o processo, na qual os
materiais serão transformados no produto final, com a sua montagem e acabamento.
A referida fase do processo produtivo, traz impactos variados nos mais diferentes
âmbitos, tem-se a poluição dos recursos hídricos devido a corantes reativos utilizados
na fabricação dos tecidos, sem mencionar que todos os impactos negativos presentes
na pré-produção também se fazem presentes na etapa em análise (MAIA, 2021).
Além disso, do ponto de vista dos impactos sociais, tem-se um panorama
preocupante no tocante às condições de trabalho a que os trabalhadores estão
submetidos, pois os serviços de manufaturas de roupas são frequentemente
associados a casos de exploração e escravidão. Ademais, os mesmos poluentes que
prejudicam o meio ambiente também são prejudiciais à sua saúde (RUSSI et al.,
2016).
Após a pré-produção e a produção, tem-se a etapa de distribuição, a qual,
segundo Zélia Luís Bastos de Oliveira Pinto Maia (2021), compreende a embalagem
do produto, juntamente com o seu transporte ao local apropriado, onde será
disponibilizado para o consumo. Ato contínuo, tem-se o uso, que corresponde ao
tempo em que o produto é utilizado, para enfim chegar à etapa final, qual seja, o
descarte.
A fase final do ciclo de vida do produto, conforme ampla discussão feita nos
tópicos anteriores, ocorre quando o consumidor acredita que este não possui mais
utilidade para os fins que foi adquirido. Sendo assim, este o coloca novamente em
circulação. Normalmente, essa nova disposição toma os rumos inadequados de
descarte, mas também pode ocorrer com a recuperação dos componentes do produto.
Em conjunto a essa fase de descarte, a qual, no Brasil, é regulada pela PNRS,
tem-se a problemática da decomposição dos resíduos sólidos descartados, pois se a
decomposição das fibras naturais dura em torno de 10 anos, as fibras artificiais, como
o poliéster, levam um século para decompor. Consoante a esse dado, evidencia-se
ainda mais a necessidade da aplicação da Lei n.º 12.305/2010 ao contexto da
tecelagem, associada a propostas alternativas de gerenciamento de tais resíduos
(RUSSI et al., 2016).
Com isto, surge a necessidade de preocupações a nível ambiental, incluindo-
as em cada aspecto das etapas de produção. De modo geral, o ciclo produtivo pode
62

ser realizado utilizando-se das funcionalidades do produto e de seus componentes,


quando recuperados, de modo a valorizar a sua condição, pois em cada etapa
percebe-se a geração de resíduos passíveis de reaproveitamento, mas que são
simplesmente descartados no meio ambiente, fator que gera ainda mais gastos e
ainda mais resíduos.
De acordo com o já evidenciado no tópico anterior, a reutilização dos resíduos
nas etapas de produção, além de afetar a geração de resíduos do ciclo estável,
também vai impedir que mais itens sejam criados e descartados, pois a reutilização,
de certa forma, cria uma produção circular, na qual, idealmente, não existiria o
descarte, pois os materiais sempre seriam reintroduzidos nesse meio de circularidade.
A perspectiva em ênfase, evidencia tanto os benefícios que o fashion
upcycling traria com a sua aplicabilidade no meio analisado, como também a sua
viabilidade econômica, tendo em vista que, ao reintroduzir o que foi descartado, há
uma maximização dos ganhos, pois um produto descartado não gera lucro, mas a
redução na produção da matéria prima sim.
Relativamente ao exposto, ressalta-se que, apesar de retratar-se a
aplicabilidade do fashion upcycling junto ao contexto da indústria têxtil e de
confecções, este instrumento também pode ser utilizado pelos consumidores.
Partindo da característica de que o movimento do upcycling é viabilizado sem o uso
de processos químicos e biológicos específicos, essa perspectiva viabiliza que os
consumidores possam elaborar seus próprios processos em suas residências,
conforme é explicitado no tópico 04, através da reconstrução, remodelagem e
patchwork, como exemplos.
Contudo, segundo Fletcher e Grose (2011), a responsabilidade primária de
relacionar a moda com a sustentabilidade é da indústria e dos designers,
compreendendo-se que estes são os agentes dotados dos meios e artifícios capazes
de influenciar o início da cadeia têxtil.
Dessa forma, com a interferência nas etapas primárias, pode-se optar pela
escolha de matérias primas mais sustentáveis e viáveis para o reuso, o que influencia
tanto a reprodução em larga escala na indústria, quanto o descarte gerado pelos
consumidores finais dos bens.
Isto posto, também pode-se estabelecer que há uma evidente diferença na
proporção, pois até mesmo as ações de fashion upcycling idealizadas pelas empresas
63

e designers, impactam uma quantidade maior de pessoas, do que simplesmente a


reintrodução de materiais realizada por uma pessoa em seu contexto individual.
Partindo desse cenário do engajamento da indústria e design com o upcycling
das peças de vestuário, no que concerne a casos práticos, tem-se que inúmeras
marcas de destaque mundial como Stella McCartney, Adidas, Burberry, Miu Miu, e
marcas nacionais como Renner e C&A, adotaram práticas de circularidade.
Destarte, resta demonstrado que a logística reversa de tecidos e o fashion
upcycling, de modo geral, figuram como alternativas amplamente viáveis no que tange
a redução na produção de resíduos sólidos e a adoção de condutas sustentáveis na
indústria da moda (MIRANDA, 2022).
Dentre as grandes marcas da alta costura mundial, destaca-se o caso da
Burberry, a qual, em parceria com o British Fashion Council, em tradução livre, o
Conselho de Moda Britânica, promoveu a doação dos tecidos que seriam descartados
durante a sua produção a mais de 30 escolas e universidades de moda.
Estima-se que mais de 12.000 metros de tecido foram doados, o que
evidencia a preocupação com a redução do desperdício de resíduos, bem como a
necessidade de se pensar a produção de roupas com uma perspectiva criativa de todo
o processo, não apenas do design, mas levando-se em conta a fonte dos materiais,
da produção e dos métodos operacionais (BURBERRY, 2022).
Já a Miu Miu foi um pouco além e trouxe o fashion upcycling em uma coleção
inteira, denominada “Upcycled by Miu Miu”. A mencionada coleção utilizou peças de
sua própria confecção, elaboradas entre as décadas de 1930 e 1970, e as transformou
com aplicação de bordados, brocados, cristais aplicados, todos os materiais aplicados
manualmente, peça a peça, refletindo, assim, a premissa do fashion upcycling de
transformar as peças em raridades, com modelos únicos, que são ainda mais
valorizados pelo processo artesanal envolvido (MIU MIU, 2020).
Por fim, destaca-se que no Brasil existem inúmeras marcas que já se utilizam
do fashion upcycling na produção dos itens de moda, as quais têm dentre os seus
objetivos a responsabilidade em propagar os conceitos de sustentabilidade aplicados
à essa indústria. Esse fator torna evidente que o movimento do fashion upcycling
tornou-se um instrumento efetivador das práticas sustentáveis, bem como é um aliado
no alcance dos objetivos e metas estudados na legislação ambiental do país.
Tais empresas condensam a perspectiva do reaproveitamento dos materiais,
com a criatividade no design para propor iniciativas sustentáveis, as quais contrapõem
64

o modelo vigente da produção linear e assumem a sustentabilidade como um vetor de


desenvolvimento para as economias. O referido fator coaduna com o princípio da
sustentabilidade, amplamente mencionado no ordenamento jurídico brasileiro e que
trata do equilíbrio entre o meio econômico e o ambiental.
Como exemplos de marcas que se utilizam do fashion upcycling em todos os
seus processos, pode-se citar a Recollection Lab e a Insecta Shoes. Ambas as
empresas demonstram a execução de uma moda diferenciada, a qual se distancia
das tendências padronizadas pelo grande mercado convencional. Dessarte, através
da reutilização de insumos que seriam descartados, foi encontrado um mercado fértil,
baseando-se no upcycling para transformar o consumo em uma experiência única e
consciente, aproximando-se dos preceitos da sustentabilidade (GEHRKE, 2016).
Resta evidente assim, que a própria existência de tais iniciativas já coaduna
com os princípios ambientais basilares do ordenamento jurídico brasileiro, bem como
demonstra que, apesar de não haver a previsão específica para essa área, a logística
reversa é amplamente aplicável ao contexto têxtil e de confecções, podendo vir a
exercer um papel central em suas atividades.
Ademais, pode-se exemplificar também, iniciativas de fashion upcycling em
mais duas marcas amplamente conhecidas por seu estilo de produção no fast fashion,
mas que aos poucos estão se voltando para os materiais e meios produtivos mais
sustentáveis, buscando o reaproveitamento dos insumos. O Selo Re adotado pelas
Lojas Renner e o Movimento ReCiclo adotado pela C&A, são propostas que buscam
recolher peças usadas ou avariadas, com vistas ao fornecimento de uma alternativa
sustentável na sua destinação final.
As peças são recolhidas em urnas que ficam dispostas nas lojas, em seguida,
é feita uma triagem e classificação destas, para que as peças em condições de uso
sejam destinadas a instituições sociais (C&A, 2023). Tratando-se das peças que não
possuem mais condições de uso, estas são encaminhadas a uma empresa parceira,
a qual efetiva a manufatura reversa, a qual retira os aviamentos e envia os tecidos
para a reciclagem e transformação em novos materiais (LOJAS RENNER, 2021).
Tais iniciativas relacionam-se intrinsecamente aos conceitos de consumo
consciente e economia circular, tendo em vista que a destinação correta das peças, e
a redestinação destas, traz uma representação de como os processos são ligados ao
sistema de produção e dos impactos que causam ao longo de seu ciclo de vida, além
de trazer alternativas minimizadoras dos danos ambientais (LEVANDOSKI, 2021).
65

Em face dos referidos exemplos, torna-se evidente a influência da PNRS, com


a iminente necessidade das grandes empresas se adequarem às metas estabelecidas
no dispositivo legal. Desse modo, é criada a consciência acerca da responsabilidade
para com o que é produzido, mesmo após o que se considera como etapa final no
consumo.
Assim, é demonstrada a importância dos instrumentos jurídicos brasileiros
abordarem as matérias sustentáveis e, mais ainda, de fazerem o direcionamento de
tais perspectivas, com vistas à uma aplicação mais casuística e precisa às
problemáticas de cada setor.
Por fim, percebe-se a possibilidade e a necessidade de adotar-se práticas
sustentáveis, como a logística reversa e o fashion upcycling nos processos de
produção, tanto como uma forma de exercício de consciência ambiental, que gera um
reconhecimento do público geral, como também um meio de redução na geração de
resíduos, o que traz uma maximização dos lucros e grande economia no próprio
processo produtivo.
66

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando, a evolução do Estado de Direito Ambiental e a progressão dos


sistemas de proteção do meio ambiente, constatou-se a importância de um
desenvolvimento sustentável e da necessidade de equilibrar os aspectos econômicos,
sociais e ambientais. Partindo dessa construção, restou demonstrado que a proteção
e a gestão de riscos ambientais e dos resíduos sólidos são pautas relevantes e atuais
na sociedade em geral.
Dessarte, com a consagração Constitucional da proteção ambiental no Brasil,
constatou-se uma opção do legislador em trazer a preocupação com os recursos
naturais como um direito fundamental. Para além disso, também se depositou a
responsabilidade em equilibrar o desenvolvimento econômico e a salvaguarda do
meio ambiente nas mãos de todos que se utilizam e são atingidos por este, quais
sejam, o poder público, as empresas e a sociedade.
Diante desse fator, percebe-se a necessidade de aplicação dos princípios
sustentáveis nas mais diversas áreas, fator que não seria diferente em se tratando da
indústria têxtil e de confecções. Nesse segmento, com a análise do ODS 12, é
ressaltada uma preocupação localizada às práticas comuns da indústria em análise,
e, consoante a isso, a necessidade veemente de mudanças, principalmente no que
concerne às práticas de consumo excessivo e no uso dos recursos naturais durante
os ciclos produtivos.
Assim, com o surgimento das iniciativas de sustentabilidade na moda,
trazendo uma abordagem mais consciente e ética na produção e consumo de moda,
constata-se a pluralidade de meios de gestão dos resíduos sólidos, com ênfase no
fashion upcycling.
O referido movimento demonstrou ser uma prática que contribui para
prolongar a vida útil das peças de moda, reduzir o desperdício e promover a
sustentabilidade. De tal modo, sua incorporação na cadeia de produção da moda,
desde o design até a comercialização, oferece uma oportunidade de repensar e
reinventar produtos, valorizando a originalidade e a expressão individual.
Dessarte, diante dos desafios ambientais enfrentados pela indústria da moda,
o movimento do fashion upcycling se destaca como uma alternativa promissora para
responder ao requisito de sustentabilidade dentro do ordenamento jurídico brasileiro.
A análise realizada ao longo deste trabalho permitiu compreender a relevância desse
67

movimento e sua capacidade de reduzir o impacto ambiental da indústria da moda,


por meio da reutilização criativa de materiais descartados.
Neste cenário, a análise do ordenamento jurídico revelou que todos os
instrumentos legais são regidos pelo princípio da sustentabilidade, o qual é
consagrado ao longo de todo o texto constitucional, sendo mencionado nos mais
diversos dispositivos infraconstitucionais. Diante disso, percebe-se que há uma busca
pelo equilíbrio entre a preservação ambiental e a manutenção do crescimento
econômico e industrial, sendo neste meio que o desenvolvimento sustentável exsurge
como ferramenta viabilizadora dessa dicotomia.
No que tange às problemáticas do meio industrial, destaca-se o descarte
desenfreado de resíduos sólidos, os quais possuem regulamentação específica
através da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Com a análise da PNRS, restou
demonstrada a preocupação do legislador com os efeitos do descarte de tais resíduos,
estabelecendo-se a não geração como forma ideal de cuidado, e o descarte como a
forma a ser evitada.
Nesse sentido, tem-se a logística reversa como um instrumento que incentiva
a responsabilidade das empresas para com os produtos descartados. Em que pese
não abordar a indústria têxtil e de confecções como alvos de sua proposição, é
imprescindível que sua aplicação se estenda a esse meio. Destarte, com tal
regulamentação e incentivo, vislumbra-se um ambiente fértil para a adoção do fashion
upcycling tanto da perspectiva das indústrias, quanto dos consumidores.
Nesse diapasão, fez-se imprescindível a adoção da responsabilidade
socioambiental, a qual é compartilhada entre todos os setores, o industrial, a
sociedade e o poder público. Isto posto, somente com uma atuação conjunta, voltada
para a circularidade, que de fato pode-se alcançar uma gestão efetiva de resíduos
sólidos e minimizadora de impactos ambientais negativos.
Outrossim, em análise da indústria da moda, em especial de seus meios de
produção, percebe-se a necessidade de rompimento com o modelo produtivo linear,
o qual ocasiona a produção anual de toneladas de resíduos sólidos, tanto pelas sobras
durante o ciclo produtivo, quanto pelo descarte de produtos no que se considera o fim
de suas vidas úteis.
Diante desse panorama, o estudo dos impactos positivos do fashion upcycling
e a análise de marcas atuantes no Brasil que adotaram essa prática reforçaram sua
viabilidade e contribuição para a construção de uma indústria da moda mais
68

sustentável e ética, principalmente quando se considera o impacto e a tradição que a


indústria têxtil e de confecção tem no panorama nacional.
Em suma, o fashion upcycling se mostra como uma forma efetiva de resposta
ao requisito de sustentabilidade aplicado à indústria da moda dentro do ordenamento
jurídico brasileiro. Sua adoção e promoção podem contribuir para a construção de
uma indústria da moda mais consciente, responsável e alinhada aos princípios de
proteção ambiental, contudo, constatou-se que apesar de poder ser utilizado pelos
consumidores de modo individual, há a necessidade da adoção no meio industrial para
que seja alcançado um efetivo impacto ambiental positivo.
Conclui-se que a conscientização dos consumidores, o engajamento das
empresas e o apoio das políticas públicas são essenciais para fortalecer e expandir o
movimento do fashion upcycling, o qual, apesar de ter que enfrentar questionamentos
e dificuldades, pode promover uma transformação positiva na indústria da moda
brasileira.
69

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