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CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMÁTICA E EVOLUÇÃO
NATAL/RN
2018
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB
Aprovada em 08/03/2018.
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________________________________________
Dr. Iuri Goulart Baseia
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(Orientador)
__________________________________________________________________
Dr. Paulo Sérgio Marinho Lúcio
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
__________________________________________________________________
Dr. Rhudson Henrique Santos Ferreira da Cruz
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Aos meus pais, Heleno e Edleusa, aos meus irmãos, Erinaldo, Andreia,
Andreza e Adriano, aos meus sobrinhos, Mel, César Miguel, Eloah e
Dan, aos meus avós, José, Maria e Nazaré (in memorian), e a minha
tia (segunda mãe), Edicleide, meus inestimáveis alicerces. Agradeço e
dedico.
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, agradeço ao Professor Dr. Iuri Goulart Baseia, por ter me concedido a
oportunidade de trabalhar com o que gosto. Grato pela orientação, paciência em todos os
momentos, principalmente nos mais difíceis, pelos conselhos, palavras de incentivo,
ensinamentos, além da credibilidade e suporte para que conseguisse meus objetivos.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (CAPES) pela
concessão da bolsa de mestrado e ao Programa de Pós-Graduação pelos auxílios financeiros,
imprescindíveis ao desenvolvimento desse estudo. Ao Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio) e ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente
(IDEMA), pela autorização para a realização de coletas nas Unidades de Conservação.
Aos Doutores Bruno Tomio Goto, Bruno Cavalcante Bellini, Paulo Sérgio Marinho
Lúcio, Rhudson Henrique Santos Ferreira da Cruz e Tiara Sousa Cabral por aceitarem o convite
para participar das minhas bancas examinadoras, assim também pelas críticas e sugestões
valiosas que vieram a enriquecer ainda mais esse estudo.
Aos meus colegas do Laboratório de Biologia de Fungos: Thiago Accioly, pelos
ensinamentos nas análises moleculares, Ana Clarissa Rodrigues, Bianca Silva, Donis Alfredo,
Freitas Neto, Gleyce Medeiros, Jefferson Góis, Julieth Sousa, Miguel Dorcino, Nathália
Mendonça, Rafaela Gurgel e Rhudson Cruz, que sempre se mostraram disponíveis quanto à
resolução de dúvidas ou identificação do material, além de proporcionar vários momentos de
descontração. Um agradecimento especial a Gislaine Melanda, amiga de turma, com quem
dividi minhas dúvidas e aflições enquanto pós-graduando, e a Renato Ferreira que sempre me
apoiou e me motivou a seguir em frente (não é à toa que ele é “O homem que Deus guarda”).
Agradeço também a Renan Lima pela confiabilidade e a Ana Paula Brito por auxiliar no tombo
do material. À Anileide Leite por ter me apresentado os fungos gasteroides, sendo a primeira
propulsora desta caminhada.
Agradeço imensamente aos meus pais Heleno e Edleusa, por sempre me motivarem na
busca dos meus objetivos, e sempre me apoiarem, seja como companhia nas coletas, ou no
empréstimo do carro, mesmo que tenha custado uma lataria amassada (desculpas pai! Não foi
de propósito), além de suportarem o odor fétido dos Phallales dentro de casa. Às minhas irmãs
Andreia e Andreza pelo apoio e carinho. Aos irmãos Erinaldo e Adriano por me darem suporte
sempre quando necessário. À minha vó Maria Alves por sempre está assistindo os noticiários e
me deixar informado quanto aos perigos que os biólogos correm nas florestas. Aos meus
sobrinhos Mel, César Miguel, Eloah e Dan por me proporciar momentos de alegria em meio a
tantas adversidades. Agradeço também a Edicleide e Geraldo por embarcarem juntos comigo
nesta jornada.
Quero agradecer ao meu primo Diogo Oliveira e a Juliano Almeida pela companhia nas
coletas. À Ana Paula Costa, Nielson Félix e Ricardo Pontes pelas caronas. Aos amigos, Abraão
Rodrigues, Bruno Santos, Josenildo Lisboa, Lucian Barros, Natan Barbosa, Rafael Pontes e
Thiago Rodrigues pelas palavras motivadoras.
Às amigas de graduação, Kele Patrícia, Ketânia Fernandes, Janny Kelly Campelo,
Natália Rodrigues, Márcia Tavares e Emanuella Tavares, assim também aos amigos de pós-
graduação, embora que em caminhos distintos, compartilhamos vários momentos, sejam eles
maus ou bons, mas que foram fundamentais na construção do que somos hoje.
Um agradecimento especial à Gabriela Dionizio, por me auxiliar na “contabilidade” das
espécies e tentar buscar achar um ponto de equilíbrio nessa loucura denominada de “vida de
pós-graduando”, além de me ajudar na leitura e correção do texto.
Por fim agradeço a todos familiares pela compreensão da minha ausência, mas que
sempre apoiaram, e aos que não citei, mas que contribuíram direta ou indiretamente para essa
conquista. Gratidão!
“Todo grande progresso da ciência resultou de
uma nova audácia da imaginação”.
(John Dewey)
RESUMO
The gasteroid fungi comprise a group of organisms with great morphological diversity,
represented by several distinct lineages of basidiomycetes which, although not sharing the same
ancestors, have common characteristics such as the angiocarpic development of the basidiomata
and the passive basidiospores dispersion. Besides having influence on the ecology of the most
varied ecosystems, its importance has also been demonstrated in several areas such as
biotechnology, medicine, forestry and gastronomy. The Atlantic rainforest fragments, the focus
of this research, harbor important richness and diversity of gasteroid fungi. However, these sites
are increasingly present in anthropic action and are at risk of destruction. During the last years,
the efforts of the brazilian mycologists have contributed to the expansion of the knowledge
about gasteroid fungi in the country mainly through the discovery of new species. The Rio
Grande do Norte state has areas of extreme biological importance with great species richness,
but the studies already carried out are concentrated in a few areas. Thus, this study aimed to
determine the diversity of gasteroid fungi in two still unexplored remains of Atlantic rainforest
in the state of Rio Grande do Norte and, thereby, to fill gaps in taxonomic knowledge about the
richness of species of these organisms in that region. For that, fourteen field trips were carried
out from May to September 2016 and March to July 2017. The herborization and analysis of
the specimens followed the methodology traditionally adopted in studies of gasteroid fungi.
The identification of the specimens was carried out based on the specialized literature.
Additionally, scanning electron microscopy (SEM) of potentially new or critical species was
realized. Twenty species were identified, distributed in 7 genera [Abrachium (1 sp.), Clathrus
(1 sp.), Cyathus (3 spp.), Geastrum (12 spp.), Phallus (1 sp.), Scleroderma (1 sp.), and
Tulostoma (1 sp.)]. Of these, four are new species to science, 5 constitute new records for Brazil
and 7 for Rio Grande do Norte. With these results, there was an increase of about 14.6% in the
list of gasteroid fungi for the state of the Rio Grande do Norte, 4.1% for the Northeast, 1.5%
for Brazil and 2.2% for the Atlantic rainforest. The Piquiri-Una Environmental Protection Area
and Mata da Pipa State Park, were shown to be favorable for the development of gasteroid
fungi, including the discovery of new species. Therefore, inventories in areas of the Atlantic
rainforest are still extremely essential and urgent mainly in unexplored areas.
% - por cento
< - menor que
= - igual
> - maior que
± - mais ou menos
ºC - grau celsius
cm - centímetro
fx - função
km - quilômetro
km² - quilômetro quadrado
KOH - Hidróxido de Potássio
mm - milímetro
n - número de basidiosporos analisados
Qm - Quociente entre largura e altura média dos basidiosporos
SJ - Índice de similaridade de Jaccard
x - média
α - Número total de espécies aa APA Piquiri-Una
β - Número total de espécies no Parque Estadual Mata da Pipa
γ - Número total de espécies comuns as áreas Piquiri-Una e Mata da Pipa
µm - micrômetro
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 17
2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................. 19
2.1 FUNGOS GASTEROIDES ............................................................................................ 19
2.1.1 Macromorfologia...................................................................................................... 20
2.1.2 Micromorfologia ...................................................................................................... 23
2.2 SISTEMÁTICA DOS FUNGOS GASTEROIDES ........................................................ 25
2.3 IMPORTÂNCIA DOS FUNGOS GASTEROIDES ...................................................... 27
2.4 FUNGOS GASTEROIDES NO BRASIL ...................................................................... 30
2.5 A MATA ATLÂNTICA ................................................................................................. 37
3 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 43
3.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 43
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.......................................................................................... 43
1 INTRODUÇÃO
TABARELLI, 2010). Portanto, faz-se necessário conhecer a diversidade local de cada grupo
de organismos para definir estratégias de preservação.
Apesar dos esforços dos micologistas nos últimos anos, a maior parte dos estudos estão
concentrados em poucas áreas. A carência de inventários sobre a diversidade de fungos em
áreas inexploradas, aliada com a rápida degradação dos habitats do Nordeste, especialmente no
Rio Grande do Norte, onde abrigam grande diversidade desses organismos, demonstra a
relevância de estudos de fungos gasteroides nessas áreas, favorecendo o aumento do
conhecimento da micobiota dessa região.
19
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
2 REVISÃO DE LITERATURA
gasteroides hipógeas, como Mesophellia Berk. e Castoreum Cooke & Massee, os esporos
podem ser dispersos por mamíferos atraídos pelo seu odor ou através da decomposição total do
basidioma no subsolo (CUNNINGHAM, 1944).
2.1.1 Macromorfologia
2.1.2 Micromorfologia
24
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
Fonte: Elaborado pelo autor (c, d, h). Extraído de: Sousa, 2015 (a); Rodrigues e Baseia, 2013 (b); Baseia et al.,
2007 (e); Alfredo et al., 2017 (f, l); Trierveiler-Pereira et al., 2010 (g); Cortez e Alves, 2012 (i); Rodrigues, 2014
(j); Gurgel et al., 2017 (k); Cortez et al., 2009 (m); Alfredo, 2017 (n).
Alguns séculos atrás, dominou a ideia de que Gasteromycetes seria um macro táxon de
basidiomicetos com base em duas características: a formação de esporos em corpos de
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LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
SORENG, 2014). Muitas espécies de Calvatia e Lycoperdon são usadas como alimentos,
quando imaturas, momento em que a gleba é branca (CALONGE, 1998).
Na área medicinal, os gasteromicetos vem sendo bastante estudados e utilizados.
Pisolithus arhizus (Scop.) Rauschert é utilizado com propósitos medicinais, aplicados na pele
para aliviar queimaduras, comichão e curar infecções cutâneas menores, após ser misturado
com o óleo de coco (DUTTA & ACHARYA, 2014). Os esporos de Pisolithus tinctorius (Pers.)
Coker & Couch podem servir como potencial fonte de compostos com propriedades
anticancerígenas (ALVES et al., 2015).
Astraeus hygrometricus (Pers.) Morg. e Calvatia gigantea (Batsch) Lloyd também
possui importância farmacológica no tratamento de várias doenças (BADSHAH et al., 2015).
O extrato etanólico de Astraeus hygrometricus possui boa atividade hipoglicêmica (BISWAS
& ACHARYA, 2013). Compostos de Astraeus odoratus Phosri, Watling, M.P. Martín &
Whalley possuem atividades antibacterianas. Enquanto um composto de Astraeus asiaticus
Phosri, M.P. Martín & Watling possui atividade antimalárica contra Plasmodium falciparum
Welch (ISAKA et al., 2017). Srisurichan et al. (2017) testaram a citotoxicidade dos compostos
isolados de Astraeus odoratus contra seis linhas celulares de câncer humano. Mallick et al.
(2015; 2016) evidenciaram que moléculas ativas derivadas de A. hygrometricus podem ser
exploradas como alvo específico para terapia antileishmanial.
Os gêneros Calvatia e Lycoperdon, estão entre os gêneros de cogumelos medicinais com
maior uso ao longo do planeta, sempre usado para o mesmo objetivo cicatrizante (GUZMÁN
1994, SHRESTHA & KROPP, 2009). Um antibiótico antitumoral é produzido através de
metabólitos dos fungos Calvatia craniiformis (Schwein.) Fr., Calvatia lilacina (Mont. & Berk.)
Henn. e Lycoperdon pyriforme Willd. O ácido calvático, extraído desses fungos, também
mostraram atividade antibacteriana, citotóxica e carcinostática (DEMBITSKY et al., 2017). Lee
et al. (2017) sugeriram que o cogumelo raro Calvatia nipponica Kawam. pode ser benéfico na
terapia antiangiogênica para o tratamento do câncer.
O uso medicinal de Phallus indusiatus Vent. foi observado pela primeira vez durante a
dinastia Tang. Extratos desse fungo podem promover atividades anti-inflamatórias (SONI &
SONI, 2017) e propriedades antioxidantes (WANG & XU, 2014). Enquanto o Mutinus elegans
(Mont.) E. Fisch. e o Mutinus caninus (Huds.) Fr. possuem propriedades antimicrobianas
(SHEN et al., 2017). A atividade antiviral dos fungos gasteroides também vem sendo
investigada. De acordo com alguns autores, Phallus impudicus L. pode servir como ferramenta
preventiva das epidemias de gripe e pode causar 100% de efeito de proteção no caso de
resfriados (BABAYANTS et al., 2006).
29
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
FIGURA 5 - Sumário de atividades dos fungos gasteroides: importância para o meio ambiente
e seres humanos.
O estudo de fungos gasteroides no Brasil teve início no século XIX através do registro
de um espécime de Clathrus Micheli ex Pers. coletado por Willian John Burchell em 1826, no
estado de São Paulo (FIDALGO, 1974). Berkeley (1842) faz citação de Nidularia plicata Fr.
(=Cyathus poeppigii Tul & C. Tul.) para o estado Rio de Janeiro. Berkeley & Cooke (1876) na
lista de fungos do Brasil, citam dez espécies de fungos gasteroides (Cyathus montagnei Tul. &
C. Tul, C. microsporus Tul. & C. Tul., C. limbatus Tul. & C. Tul., C. poeppigii, Lycoperdon
astrocaryi Berk. & Cooke, Scleroderma stellatum Berk., Geastrum fimbriatum Fr.,
Hippoperdon crucibulum Mont. e Cycloderma weddellii Mont.). Entretanto, a maior
contribuição para o estudo de fungos gasteroides no Brasil ocorreu através do trabalho de
Möller (1895), realizado no estado de Santa Catarina, no qual foi descrito quatro novos gêneros
(Aporophallus, Blumenavia, Itajahya e Protubera), assim também como oito novas espécies de
Phallales (Aporophallus subtilis Möller, Blumenavia rhacodes Möller, Clathrus
crhysomycelinus Möller, Colus garciae Möller, Dictyophora callichroa Möller, Itajahya
galericulata Möller, Ithyphallus glutinolens Möller e Protubera maracuja Möller).
Durante o século XX diversos autores contribuíram para o estudo de fungos gasteroides
no Brasil. Hennings (1902, 1904a, 1904b, 1904c) registrou espécies para os estados do
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LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
Amazonas (7 espécies), São Paulo (4 espécies) e Santa Catarina (1 espécie). Patouillard (1907)
registrou a ocorrência de Calvatia lachnoderma Pat. para o estado de São Paulo. Sydow &
Sydow (1907) registraram espécies para o estado de São Paulo (9 espécies) e Minas Gerais (4
espécies). Lloyd (1906a, 1906b, 1906c, 1906d, 1907a, 1907b, 1907c,) em seus trabalhos, faz
muitas referências a fungos gasteroides no Brasil. Rick (1961) registrou 123 espécies,
destacando-se seis espécies novas para o estado do Rio Grande do Sul, tornando o estado com
a micobiota gasteroide mais conhecida no país.
Em meados do século XX, cientistas brasileiros começaram a contribuir para o
conhecimento de fungos gasteroides no Brasil, principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste
do país (VIÉGAS, 1945; BATISTA, 1950; BATISTA & VITAL, 1955, 1957; BATISTA &
BEZERRA, 1960; BONONI et al., 1981; BONONI, 1984; BONONI et al., 1984; CAPELARI
& MAZIERO, 1988; KIMBROUGH et al., 1994/1995; BASEIA & MILANEZ, 2000).
No início do século XXI, os trabalhos começaram a ser publicados com mais frequência,
no qual 49 táxons novos encontrados no território do país foram descritos (TAB. 1):
57
60
50
39
40
29
30 22
20 16 16 16
12
7 5 7 7 9 5 7
10 4 4 4 4
1 1 1 2 2 1 2 1 2 1 1 3 1 2 1 1 1 1 1 3 1 2 1 1 2 2 2 1 1 2 1 1 1 2 1 2 1 1
0
Astraeus
Calvatia
Cycloderma
Pisolithus
Simblum
Clathrus
Tulostoma
Bovista
Crucibulum
Vascellum
Aseroë
Brauniella
Catastoma
Durosaccum
Gastropila
Hippoperdon
Itajahya
Lanopila
Mesophelliopsis
Protubera
Rhizopogon
Scleroderma
Battarrea
Blumenavia
Disciseda
Hymenogaster
Lycoperdon
Myriostoma
Nidularia
Pseudocolus
Laternea
Podaxis
Sclerangium
Abrachium
Geastrum
Sclerogaster
Staheliomyces
Arachnion
Hysterangium
Lycogalopsis
Montagnea
Mutinus
Radiigera
Sphaerobolus
Langermannia
Xylophallus
Calostoma
Chondrogaster
Descomyces
Cyathus
Ileodictyon
Lysurus
Morganella
Mycenastrum
Restingomyces
Gelopellis
Phallus
Fonte: Elaborado pelo autor.
200 178
180
160
140
120
100
80 67 71
56
60 45 48
35 33 37
40 20 19
13 10 6
20 1 1 3 2 4 3 4
0
FIGURA 7 - Mata Atlântica: a. Extensão do bioma Mata Atlântica conforme Lei Federal
11428/2006, Decreto 6660/2008; b. Remanescentes florestais da Mata Atlântica.
Apesar da destruição acentuada por conta da forte ação antrópica, a Mata Atlântica ainda
abriga uma parcela considerável de diversidade biológica do Brasil, com altíssimos níveis de
endemismo. Levantamentos realizados indicam uma estimativa de que existam cerca de 20.000
espécies vegetais e 2.039 espécies de animais, incluindo diversas espécies endêmicas e
ameaçadas de extinção (CAMPANILI & SCHÄFFER, 2010). Maia et al. (2015), em
levantamento sobre a micobiota do Brasil, constataram o registro de 5.719 espécies de fungos
para o país, sendo 3.017 para a Mata Atlântica, no qual representa 52,8% dos registros, tornando
o bioma mais explorado (GRAF. 3).
3500
3017
3000
2500
2000
1500
1050 999
1000 638
500 84 35
0
Mata Atlântica Amazônia Caatinga Cerrado Pampa Pantanal
Portalegre/RN), além de Reservas Particulares (RPPNs Mata Estrela e Dunas Douradas) (FIG.
8). Dentre essas áreas, três são pertencentes ao grupo de proteção integral (Parque da Cidade,
Parque das Dunas e Parque Estadual Mata da Pipa) e duas fazem parte da área piloto da Reserva
da Biosfera da Mata Atlântica (Parque das Dunas e Mata Estrela).
120
100 96
80
60
41
40
26
20 12
0
Nordeste Rio Grande do Norte
3 OBJETIVOS
4 MATERIAL E MÉTODOS
como vegetação natural a Restinga Arbórea, com duas subformações (Restinga Arbórea Alta e
Restinga Arbórea Baixa), e duas subformações de Restinga Arbustiva (Restinga Arbustiva de
Duna e Restinga Arbustiva de Baixada) (IDEMA, 2014).
Fonte: Elaborado pelo autor (a, d); Andrade, D.O. (b, c).
Com auxílio de lâmina de barbear e manipulados por pinças, foram feitos cortes à mão
livre das estruturas, sendo montadas em lâminas para microscopia com hidróxido de potássio
(KOH) à 5%. Corantes como azul de algodão, vermelho congo e reagente de Melzer foram
utilizados para a visualização de estruturas mais específicas, como cristais na rizomorfa e
grampos de conexão (MILLER & MILLER, 1988) (FIG. 13, d). Para as análises das
microestruturas foi utilizado microscópio óptico Nikon Eclipse NiR1 (FIG. 13, f).
Para a medição de cada uma das microestruturas, foram realizadas 30 medidas (para os
basidiosporos) e 20 medidas para outras microestruturas (capilícios, hifas do perídio e
rizomorfas) e anotados os valores extremos. O programa Excel foi utilizado para o cálculo de
dados estatísticos, como a média da altura e diâmetro dos basidiosporos (fx =MÉDIA), desvio
padrão (fx =DESVPAD) e Qm (média da razão entre o comprimento e a largura dos
basidiosporos). Fotos das microestruturas foram confeccionadas no microscópio óptico com
câmera fotográfica Nikon DS-Ri1 acoplada ao microcomputador, e utilizado o programa de
suporte para a captura das imagens – NIS-Elements, versão 4.13.
A identificação dos espécimes foi realizada com literatura especializada tais como:
Ponce de Leon (1968), Brodie (1975), Dring (1980), Wright (1987), Miller & Miller (1988),
Sunhede (1989), Calonge (1998), Bates (2004), Zhao et al. (2008), Bates et al. (2009), Cabral
et al. (2012; 2014), Baseia et al. (2014) e Crous et al. (2016). A terminologia micológica teve
como base a nomenclatura de Kirk et al. (2008).
Adicionalmente, para espécies potencialmente novas ou novos registros para o bioma,
foram realizadas microscopia eletrônica de varredura (MEV). A microscopia eletrônica de
varredura foi realizada no Laboratório do Centro de Tecnologia do Gás (CTGás) – Natal/RN,
para obtenção detalhada das microestruturas seguindo metodologia adotada por Cortez (2009).
As exsicatas foram incorporadas no acervo do Herbário de fungos da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN-Fungos).
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LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Total, foram coletados 234 basidiomas distribuídos em 35 amostras, das quais foram
identificadas 20 espécies distribuídas em sete gêneros: Abrachium Baseia & T.S. Cabral (1
espécie); Clathrus P. Micheli ex L (1 espécie); Cyathus Haller (3 espécies); Geastrum Pers. (12
espécies); Phallus Junius ex L. (1 espécie); Scleroderma Pers. (espécie) e Tulostoma Pers. (1
espécie).
Os registros de fungos gasteroides para a Mata Atlântica no estado do Rio Grande do
Norte estão concentrados no Parque Estadual Dunas do Natal, situado no município de Natal e
na Reserva Particular do Patrimônio Natural Mata da Estrela, situada no município de Baia
Formosa. São áreas que já vem sendo estudadas há mais de uma década, e possuem uma
extensão territorial superior a 1.000 hectares. O Parque Estadual Mata da Pipa possui uma
extensão territorial equivalente a 290,88 hectares, enquanto a APA Piquiri-Una tem uma área
aproximada de 40.707,45 hectares, contudo, vale ressaltar que esse número equivale ao limite
da área total da APA, e não das áreas de Mata Atlântica inseridas nela, sendo assim, o presente
estudo foi restrito a um fragmento de mata inferior a 300 hectares. Estas áreas não possuíam
estudos anteriores relacionados a fungos gasteroides, portanto, todas as espécies identificadas
nesse trabalho são primeiros registros para referidas áreas (GRAF. 5).
GRÁFICO 5 - Registros de fungos gasteroides para a Mata Atlântica Potiguar após o estudo.
30
25 25
25
20 20
20
15 14
10
10
0 0
0
Parque Estadual Dunas do RPPN Mata Estrela APA Piquiri-Una Parque Estadual Mata da
Natal Pipa
Ao observar a TAB 2 abaixo, entre as áreas estudadas, nota-se que o maior número de
espécies se encontra no Parque Estadual Mata da Pipa. Ao aplicar o índice de similaridade de
Jaccard (Sj), representado pela fórmula SJ = γ / α + β + γ (onde, α representa o número de
espécies coletadas na APA Piquiri-Una; β, o número de espécies coletadas no Parque Estadual
Mata da Pipa; e γ o número de espécies comuns que ocorreram nas duas áreas), as áreas
estudadas apresentaram um porcentual de similaridade de 14%. Se aplicarmos esse mesmo
índice entre fitofisionomias, a similaridade é de 11%. Estes valores já eram esperados, visto
que o esforço amostral no Parque Estadual Mata da Pipa foi maior que o da APA Piquiri-Una,
assim também como as áreas de Restinga do estado já são exploradas a mais de uma década,
enquanto esta é a primeira área de Floresta Ombrófila Densa estudada no RN.
RPPN
LISTA DE ESPÉCIES DA MATA ATLÂNTICA DO RN PEDN APAPU PEMP
ME
Abrachium floriforme (Baseia & Calonge) Baseia & T.S. Cabral ● ● ○ ●
Calvatia sculpta (Harkn.) Lloyd ● ○ ○ ○
Clathrus columnatus Bosc ○ ○ ○ ●
Cyathus apiculatus M.M.B. Barbosa & Baseia ● ○ ○ ○
Cyathus aurantogriseocarpus R. Cruz, J.S. Góis, M.P. Martín, K. Hosaka & Baseia ○ ○ ○ ○
Cyathus badius Kobayasi ● ○ ○ ○
Cyathus batistae M.M.B. Barbosa & Baseia, sp. nov. ○ ● ○ ○
Cyathus earlei Lloyd ● ○ ○ ●
Cyathus gracilis H.J. Brodie ● ○ ○ ●
Cyathus limbatus Tul. & C. Tul. ● ● ● ●
Cyathus pallidus Berk. & M.A. Curtis ○ ● ○ ○
Cyathus setosus H.J. Brodie ● ○ ○ ○
Geastrum albonigrum Calonge & M. Mata ○ ● ○ ○
Geastrum entomophilum Fazolino, Calonge & Baseia ● ○ ● ○
Geastrum fimbriatum Fr. ○ ● ○ ○
Geastrum javanicum Lév. ○ ● ○ ○
Geastrum lageniforme Vittad. ○ ● ○ ○
Geastrum lloydianum Rick ● ● ● ○
Geastrum minimum Schwein. ● ● ○ ○
Geastrum morganii Lloyd ○ ● ○ ○
Geastrum ovalisporum Calonge & Mor.-Arr. ● ○ ○ ○
Geastrum pectinatum Pers. ● ● ○ ○
Geastrum pusillipilosum J.O. Sousa, Alfredo, R.J. Ferreira, M.P. Martín & Baseia ○ ○ ○ ●
Geastrum quadrifidum Pers. ● ○ ○ ○
Geastrum rusticum Baseia, B. D. B. Silva & T. S. Cabral ○ ● ○ ●
Geastrum saccatum Fr. ● ○ ○ ○
53
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
RPPN
LISTA DE ESPÉCIES DA MATA ATLÂNTICA DO RN PEDN APAPU PEMP
ME
Geastrum schweinitzii (Berk. & M.A. Curtis) Zeller ● ○ ● ●
Geastrum setiferum Baseia ○ ● ○ ○
Geastrum triplex Jungh. ● ○ ● ○
Geastrum sp. nov. 1 ○ ○ ● ○
Geastrum sp. nov. 2 ○ ○ ● ○
Geastrum sp. nov. 3 ○ ○ ○ ●
Geastrum sp. nov. 4 ○ ○ ○ ●
Geastrum aff. hieronymi Henn. ○ ○ ○ ●
Geastrum aff. inpaense T.S. Cabral, B.D.B. Silva & Baseia ○ ○ ● ○
Ileodictyon cibarium Tul. ● ○ ○ ○
Laternea triscapa Turpin ● ○ ○ ○
Lycoperdon arenicola (Alfredo & Baseia) Baseia, Alfredo & M.P. Martín ● ○ ○ ○
Lycoperdon demoulinii Baseia, Alfredo & M.P. Martín ● ○ ○ ○
Lycoperdon fuligineum Berk. & M. Curtis ○ ● ○ ○
Mutinus caninus (Huds.) Fr. ● ○ ○ ○
Mutinus verrucosus T.S. Cabral, B.D.B. Silva, K. Hosaka, M.P. Martín & Baseia ○ ● ○ ○
Myriostoma calongei Baseia, J.O. Sousa, & M.P. Martín ○ ● ○ ○
Phallus indusiatus Schltdl. ○ ● ● ●
Restingomyces reticulatus Sulzbacher, B.T. Goto & Baseia ● ○ ○ ○
Scleroderma dunense B.D.B. Silva, Sulzbacher, Grebenc, Baseia & M.P. Martín ● ○ ● ●
Staheliomyces cinctus E. Fisch. ● ○ ○ ○
Tulostoma cyclophorum Lloyd ○ ● ○ ○
Tulostoma fimbriatum Fr. ○ ● ○ ○
Tulostoma reticulatum G. Cunn. ○ ○ ○ ●
Legenda: ● Presença de registro; ○ Ausência de registro
Fonte: Elaborado pelo autor.
Com relação a pluviosidade das áreas estudadas (GRAF. 6), exceto mês de setembro, as
coletas foram realizadas no período chuvoso. Os maiores números de fungos gasteroides
ocorreram entre os meses de maio e junho/16 e julho/17, coincidindo com os maiores picos de
chuva (Gráfico 6). Apesar do ano de 2016 apresentar menores índices de pluviosidade, foi nos
meses com maiores picos de chuva do referido ano que ocorreu um número maior de espécies.
Isto pode está relacionado a fitofisionomia da área, pelo fato do fragmento de Floresta
Ombrófila Densa da APA Piquiri-Una apresentar um clima com características típicas de um
clima tropical chuvoso (IDEMA, 2013), além de Neossolos Flúvicos, caracterizados por
apresentarem matéria orgânica com até 20 cm e presença de nutrientes orgânicos (EMBRAPA,
2006), enquanto a área de Restinga do Parque Estadual Mata da Pipa possui um clima
considerado como tropical quente e semi-úmido (IBGE, 2002) e Neossolo Quartzarênico
(EMPRAPA, 2006), com média de 2,9% de matéria orgânica, concentrada nos primeiros 10 cm
superficiais de solo (IDEMA, 2014).
54
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
Fonte: EMPARN, 2018. Notas: a. Os dados referem-se aos registros das cidades de Goianinha e Canguaterama
(cidade ajacente de Tibau do Sul, pelo fato desta não apresentar monitoramento pluviométrico); b. Ausência de
dados no período de abril e maio de 2016 para a Mata da Pipa.
visualização dos mesmos, além do que muitos basidiomas que foram encontrados já estavam
dispersados (sem peridíolos), impossibilitando a identificação.
Os demais gêneros (Abrachium Baseia & T.S. Cabral; Clathrus P. Micheli ex L.;
Phallus Junius ex L.; Scleroderma Pers. e Tulostoma Pers.) apresentaram uma espécie cada
(GRAF. 7).
70%
60%
60%
50%
40%
30%
20% 15%
10% 5% 5% 5% 5% 5%
0%
Abrachium Clathrus Cyathus Geastrum Phallus Scleroderma Tulostoma
TABELA 3 - Lista de espécies estudadas na APA Piquiri-Una e Parque Estadual Mata da Pipa.
5.1.1 Abrachium Baseia & T.S. Cabral, Mycotaxon 119: 424 (2012)
Este gênero é caracterizado por apresentar ovo subgloboso, epígeo, com rizomorfa
branca. Pseudoestipe cilíndrico, esponjoso. Receptáculo em forma de girassol, sem braços,
disco central coberto por uma gleba gelatinosa. Esporos cilíndricos para baciliformes, lisos,
hialinos (CABRAL et al., 2012)
5.1.1.1 Abrachium floriforme (Baseia & Calonge) Baseia & T.S. Cabral, Mycotaxon 119:
424 (2012)
(FIG. 14)
Basidioma imaturo não observado. Basidioma expandido fresco com 28 mm de altura.
Receptáculo 25 mm de diâmetro, laranja (Y90M60C00), aplanado, em forma de flor, sem braços,
com um disco central perfurado, 11 mm de diâmetro, rosa avermelhado (Y80M80C20), reticulado,
coberto de gleba. Pseudoestipe 23 mm de altura × 8 mm de diâmetro, rosa amarelado
(N00Y40M50), cilidrinco, esponjoso, oco. Volva 15 mm de altura × 10 de largura, branca
(N00Y00M00) a amarronzada (N30Y60M30), subglobosa, superfície lisa, papirácea. Rizomorfa até
60 mm, aderida na base da volva. Gleba verde oliva (N90C00Y99), mucilaginosa, fétida.
Basidiosporos 3,8-4,9 × 1,2-1,8 µm (x= 4,4 ± 0,3 × 1,5 ± 0,1; Qm= 3,03; n= 30), cilíndricos a
baciliformes, hialinos em KOH 5%, lisos. Receptáculo composto por hifas
pseudoparenquimatosas, 18,4-40,5 × 14,9-30,0 μm, globosas a ovoides, hialinas. Pseudoestipe
composto por hifas pseudoparenquimatosas, 16,3-41,7 × 11,0-38,9 μm, subglobosas a ovoides,
hialinas, paredes finas (< 1µm). Volva composta de hifas filamentosas, 3,2-8,3 μm, retas, com
partes infladas, subglobosas a irregulares, hialinas, paredes finas (< 1µm), ramificações e septos
frequentes, apresentando grampos de conexão. Rizomorfa composta por hifas filamentosas,
3,3-9,1 μm, hialinas, paredes finas (< 1µm), que parecem se comunicar entre os poros nas
pontas infladas, ramificações e septos raros.
Substrato: Serrapilheira.
Hábito: Solitário, em ambiente com luminosidade média.
Distribuição: Brasil – Bahia (BEZERRA et al., 2009), Ceará (LEITE et al., 2007), Espírito
Santo (MAGNAGO et al., 2013), Paraíba (TRIERVEILER-PEREIRA & BASEIA, 2011), Rio
Grande do Norte (BASEIA & CALONGE, 2005; BASEIA et al., 2006; LEITE et al., 2007).
58
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
Material analisado: Brasil. Rio Grande do Norte: Tibau do Sul, Parque Estadual Mata da
Pipa - PEMP, 6°15’39.52”S, 35°3’18.92”W, 19 m, 08/VII/2017, col. Lima, A.A.; Lima, A.A.,
AAL 48 (UFRN–Fungos 2917).
Este gênero é caracterizado por apresentar um receptáculo oco, de forma clatrada, braços
tubulares que se elevam diretamente do tecido basal dentro da volva. Gleba mucilaginosa fétida.
Esporos elipsoides e lisos (DRING, 1980; MILLER & MILLER, 1988).
(UFRN–Fungos 2912). Tibau do Sul, Parque Estadual Mata da Pipa - PEMP, 6°15’40.00”S,
35°3’18.57”W, 26 m, 08/VII/2017, col. Lima, A.A.; Lima, A.A., AAL 49 (UFRN–Fungos
2918). Tibau do Sul, Parque Estadual Mata da Pipa - PEMP, 6°15’39.16”S, 35°3’19.06”W, 24
m, 08/VII/2017, col. Lima, A.A.; Lima, A.A., AAL 50 (UFRN–Fungos 2919).
Comentários: Esta espécie é caracterizada por apresentar 3-4 colunas, esponjosa, laranja a
avermelhada, livres na base e fundidas no ápice, gleba espalhada na parte interna das colunas e
não confinada em um glebífero (MAGNAGO et al., 2013; SANDOVAL-LEIVA et al., 2014).
Pode ser confundida com Laternea triscapa, contudo esta última apresenta basidiomas menores
(até 70 mm) e a gleba confinada em um glebífero no ápice das colunas. De acordo com
Cunningham (1944) e Dring (1980), esta espécie pode apresentar uma variedade de cor, número
e forma da coluna e do receptáculo. Clathrus columnatus possui uma ampla distribuição
geográfica e é tratada na literatura sob diferentes nomes genéricos, por exemplo, Colonnaria
Rafinesque-Schmaltz, Laternea Turpin, Linderia G. Cunningham e Linderiella G.
Cunningham. Portanto neste trabalho foi seguido Dring (1980). Este é o primeiro registro para
o Rio Grande do Norte.
62
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
5.1.3 Cyathus Haller, Historia stirpium indigenarum Helvetiae inchoata: 127 (1768)
5.1.3.1 Cyathus earlei Lloyd, The Nidulariaceae or "bird's nest fungi" (7): 26 (1906)
(FIG. 16)
Perídio infundibuliforme, 6-7,5 mm de altura, 4,5-5,5 mm de diâmetro na abertura superior,
não expandido na boca, não afilando na base. Embasamento com 1,9-4,4 mm de diâmetro,
glabro, conspícuo, marrom escuro (N80Y99M80). Exoperídio lanoso, marrom claro
(N60Y99M60), com tomentos de 0,3-0,6 mm, arranjados em tufos irregulares e flexíveis, liso a
inconspicuamente plicado, com espaçamento de 0,5-0,6 mm entre as marcações. Margem da
boca finamente fimbriada, 0,4 mm de altura, contínua, marrom claro (N60Y99M60).
Endoperídio marrom claro (N60Y60M40), liso a inconspícuamente plicado, com espaçamento
de 0,4-0,6 mm entre as marcações, brilho fraco, contrastando com o exterior. Estipe de 1,2 mm,
marrom claro (N60Y60M40). Epifragma não observado. Peridíolos de 1,7-2,1 × 1,1-2 mm,
marrom enegrecido (N50Y70M40), lisos, circulares a angulares, em número de 5-6 por basidioma.
Túnica indistinta. Córtex duplo, exocórtex marrom avermelhado (N80Y99M80), mesocórtex
cinza prateado (N10Y00M00) com hifas compactadas, endocórtex negro. Basidiosporos 11,8-19
× 8,8-14,2 µm (x= 16,1 ± 1,4 × 11,4 ± 1,2; Qm= 1,43; n= 30), lisos, elipsoides, hialinos em
KOH 5%, paredes de 0,8-2,7 µm, apículo presente em alguns esporos.
Comentários: Cyathus earlei pertence ao grupo I – olla, proposto por Brodie (1975). Esta
espécie é caracterizada por apresentar perídio liso a inconspicuamente plicado, brilho
perceptível a platina, e córtex duplo. Pode ser confundido com C. gracilis, porém esta última
apresenta basidioma afilado formando um distinto pedicelo na base, cortéx duplo bem definido.
Apesar de todas as características similares, os espécimes analisados nesse trabalho e os
materiais descritos para o Brasil (CRUZ et al., 2012; 2014) apresentam uma particularidade: o
córtex é duplo e bem delimitado no material brasileiro, diferentemente da espécie tipo que
apresenta um córtex subhomogêneo simples na base e no topo, apenas duplo nas bordas.
5.1.3.2 Cyathus gracilis H.J. Brodie, Canadian Journal of Botany 51 (7): 1393 (1973)
(FIG. 17)
Perídio infundibuliforme, 6,4-8,4 mm de altura, 4,1-5,9 mm de diâmetro na abertura superior,
expandido ou não na boca, não afilando na base. Embasamento com 1,1-2,1 mm de diâmetro,
glabro, inconspícuo, marrom avermelhado (N80Y90M60 a N80Y99M60). Exoperídio hirsuto,
marrom avermelhado (N80Y90M60 a N80Y99M60), com tomentos de 0,4-0,6 mm, arranjados em
tufos irregulares e flexíveis, liso a inconspicuamente plicado, com espaçamento de 0,4-0,5 mm
entre as marcações. Margem da boca finamente fimbriada, 0,4 mm de altura, padrão contínuo,
marrom acinzentado (N70Y50M40). Endoperídio marrom acinzentado (N70Y50M40), liso a
inconspicuamente plicado, com espaçamento de 0,4-0,5 mm entre as marcações, brilho fraco,
não contrastando com o exterior. Estipe ausente. Epifragma não observado. Peridíolos de 2,1-
2,6 × 2,1-2,4 mm, enegrecidos (N99Y00M00), lisos, circulares a angulares, em número de 4-6
por basidioma. Túnica indistinta. Córtex duplo, exocórtex enegrecido (N99Y00M00),
mesocórtex cinza prateado (N10Y00M00) com hifas compactadas, endocórtex negro.
Basidiosporos 15,8-18,2 × 10,1-12,9 µm (x= 17,3 ± 0,7 × 11,5 ± 0,7; Qm= 1,51; n= 30), lisos,
elipsoides a alongados, hialinos em KOH 5%, paredes de 1,5-2,3 µm, apículo ausente.
compara C. gracilis com C. intermedius, porém este último difere por apresentar córtex simples
e margem da boca setosa. Os espécimes analisados nesse trabalho apresentaram peridíolos com
até 2,4 mm de diâmetro. No entanto, Cruz et al. (2014) após revisão do gênero Cyathus nos
herbários do nordeste do Brasil, registraram materiais com peridíolos com até 2,5 mm de
diâmetro.
5.1.3.3 Cyathus limbatus Tul. & C. Tul., Annls Sci., Nat., Bot., 1: 78 (1844)
(FIG. 18)
67
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
escuro a preto, túnica ausente, córtex duplo, basidiosporos grandes e elipsoides. Pode ser
confundido com C. poeppigii, contudo esta apresenta basidiosporos maiores (>30 µm). Esta
espécie se assemelha a C. striatus, pelo fato de ambas possuírem embasamento conspícuo e
tamanho dos basidiosporos semelhantes, porém esta última difere por apresentar brilho
perceptível, túnica presente e córtex simples. Brodie (1975) descreve que os basidiosporos da
espécie tipo medem 15 × 10 µm, e que em outras coleções chegam a medir 16-22 × 10-12 µm.
Cruz (2017), em sua revisão para o gênero, descreve os basidiosporos com 12,01-17,28 × 8,37-
15,24 µm.
5.1.4.1 Geastrum entomophilum Fazolino, Calonge & Baseia, Mycotaxon 104: 450 (2008)
(FIG. 19)
Basidioma imaturo epígeo, branco a amarelado (N00Y00M00 a N00Y30M00), subgloboso, 15-19
mm de altura × 12-18 mm de largura, ápice arredondado, superfície incrustada com areia e
liteira, papirácea a cotonosa. Basidioma expandido arqueado, com 25-43 mm de altura
(incluindo peristômio) × 40-63 mm de largura. Exoperídio aberto formando 5-7 raios, planos
a arqueados, não higroscópicos. Camada micelial dupla, porção externa amarelada
(N00Y30M00), cotonosa, porção interna branca (N00Y00M00), papirácea, incrustada com
sedimentos, desprendendo-se irregularmente. Camada fibrosa branca amarelada (N00Y10M00
a N00Y40M00), superfície papirácea. Camada pseudoparenquimatosa marrom escuro
(N99Y70M70), persistente, rimosa. Endoperídio marrom acinzentado (N70Y30M20), depresso
globoso a subgloboso, 9-20 mm de altura (incluindo peristômio) × 19-23 mm de largura, séssil,
superfície com hifas protuberantes. Apófise e Pedicelo ausentes. Peristômio fibriloso a
lacerado, não delimitado, concolor com o endoperídio, cônico. Gleba cinza enegrecida
(N99Y00M00).
Basidiosporos amarronzados em KOH 5%, globosos a subglobosos, 4,3-5,2 × 3,0-5,0 µm [ x
= 4,7 ± 0,2 × 4,5 ± 0,3 µm, Qm = 1,05, n = 30], ornamentação evidente em MOP, verrucoso.
Capilício amarronzado, 2,9-6,1 µm de diâmetro, paredes finas (<1 µm), superfície incrustada,
lúmen evidente, ramificações ausentes. Camada micelial composta de hifas hialinas, com
paredes sinuosas e finas (<1 µm), 1,5-2,1 µm de diâmetro, superfície não incrustada, lúmen não
evidente, ramificações ausentes. Camada fibrosa formada por hifas amareladas, com paredes
sinuosas e finas (<1 µm), 2,3-4,0 µm de diâmetro, não incrustada, lúmen evidente. Camada
70
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
pseudoparenquimatosa formada por hifas hialinas a amareladas, com paredes finas (<1 µm),
subglobosas a alongadas, 29,3-63,8 µm de altura × 20,3-46,0 µm de diâmetro.
5.1.4.3 Geastrum pusillipilosum J.O. Sousa, Alfredo, R.J. Ferreira, M.P Martín & Baseia,
Persoonia 37: 235 (2016)
(FIG. 21)
Basidioma imaturo epígeo, amarelo loiro claro (N10Y70M30), globoso, 5-7 mm de altura × 5-6
mm de largura, ápice arredondado, superfície incrustada, hirsuta, com pelos longos e flexíveis.
Basidioma expandido saculiforme, com 2-4 mm de altura (incluindo peristômio) × 6-8 mm de
largura. Exoperídio aberto formando 5-6 raios, revolutos, não higroscópicos. Camada micelial
75
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
amarelo loiro claro (N10Y70M80), superfície incrustada, hirsuta, persistente. Camada fibrosa
amarela esbranquiçada (N00Y40M10), superfície papirácea. Camada pseudoparenquimatosa
marrom claro (N40Y40M30 a N60Y60M50), persistente. Endoperídio marrom claro (N40Y40M40),
subgloboso, 3-4 mm de altura (incluindo peristômio) × 2-4 mm de largura, séssil, superfície
glabra. Apófise e Pedicelo ausentes. Peristômio finamente fibriloso, mais claro que o
endoperídio, delimitado, mamiforme (<1 mm). Gleba marrom acinzentada (N80Y00M20).
Basidiosporos amarronzados em KOH 5%, globosos a subglobosos, 4,4-6 × 4,3-5,9 µm [ x =
5,2 ± 0,5 × 5,0 ± 0,5 µm, Qm = 1,03, n = 30], ornamentação inconspícua em MOP, verrucoso.
Capilício amarelado, 1,2-2,3 µm de diâmetro, paredes retas, finas (<1 µm), superfície
incrustada, lúmen evidente, ramificações ausentes. Camada micelial composta de hifas
hialinas a amareladas, com paredes sinuosas e finas (<1 µm), 1,3-3,4 µm de diâmetro, superfície
não incrustada, lúmen não evidente, ramificações ausentes. Camada fibrosa formada por hifas
hialinas, com paredes sinuosas e finas (<1 µm), 1,1-2,3 µm de diâmetro, não incrustada, lúmen
evidente. Camada pseudoparenquimatosa formada por hifas hialinas, com paredes finas (<1
µm), subglobosas a elipsoides, 16,7-38,7 µm de altura × 13,6-30,4 µm de diâmetro.
5.1.4.4 Geastrum rusticum Baseia, B.D.B. Silva & T.S. Cabral, Nova Hedwigia 98: 267
(2014)
(FIG. 22)
Basidioma imaturo semi-hipógeo, amarelo acinzentado (N40Y50M30), depresso globoso a
subgloboso, 10-13 mm de altura × 15-19 mm de largura, ápice arredondado, superfície
incrustada com sedimentos, papirácea, presença de subículo. Basidioma expandido
saculiforme, com 12-15 mm de altura (incluindo peristômio) × 28-37 mm de largura.
Exoperídio aberto formando 5-6 raios, revolutos, não higroscópicos. Camada micelial
amarela acinzentada (N40Y50M30), superfície incrustada, papirácea a cotonosa, persistente,
desprendendo-se em partes irregulares. Camada fibrosa amarela esbranquiçada (N00Y30M10),
superfície coriácea. Camada pseudoparenquimatosa cinza amarronzado (N10Y20M10 a
N30Y50M30), persistente. Endoperídio marrom claro acinzentado (N50Y40M20), subgloboso, 13
mm de altura (incluindo peristômio) × 14 mm de largura, séssil, superfície glabra. Apófise e
Pedicelo ausentes. Peristômio fimbriado a fibriloso, concolor com o endoperídio, não
delimitado, mamiforme (<1 mm). Gleba cinza amarronzada (N99Y10M20).
Basidiosporos amarelados a amarronzados em KOH 5%, globosos, 4,2-5,4 × 4,1-5,2 µm [ x =
4,9 ± 0,3 × 4,7 ± 0,3 µm, Qm = 1,03, n = 30], ornamentação inconspícua em MOP, verrucoso.
Capilícios amarelados, 1,5-3,3 µm de diâmetro, paredes retas, finas (<1 µm), superfície
incrustada, verrucosa, lúmen evidente, ramificações presentes. Camada micelial composta de
hifas hialinas a amareladas, com paredes sinuosas e finas (<1 µm), 0,6-1,6 µm de diâmetro,
superfície incrustada, lúmen não evidente, ramificações ausentes. Camada fibrosa formada
por hifas hialinas, com paredes sinuosas e finas (<1 µm), 1,1-2,5 µm de diâmetro, superfície
incrustada, lúmen evidente. Camada pseudoparenquimatosa formada por hifas hialinas, com
paredes finas (<1 µm), subglobosas a elipsoides, 24-47 µm de altura × 18,1-36 µm de diâmetro.
5.1.4.5 Geastrum schweinitzii (Berk. & M.A. Curtis) Zeller, Mycologia 40 (6): 649 (1948)
(FIG. 23)
79
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
Material analisado: Brasil. Rio Grande do Norte: Goianinha, Área de Proteção Ambiental
Piquiri-Una - APAPU, 6°21'27.04''S, 35°12'58.28''W, 54 m, 06/VI/2016, col. Lima, A.A.;
Andrade, D.O., AAL 14 (UFRN–Fungos 2894). Tibau do Sul, Parque Estadual Mata da Pipa -
PEMP, 6°15’39.40”S, 35°3’16.16”W, 49 m, 03/VII/2017, col. Lima, A.A., AAL 44 (UFRN–
Fungos 2913).
Comentários: Geastrum triplex é caracterizada por apresentar basidiomas robustos (até 150
mm), camada pseudoparenquimatosa formando um colar em torno da base do endoperídio,
peristômio fibriloso delimitado e camada micelial escamosa formada por hifas ramificadas e
com grampos de conexão (SOTO & WRIGHT, 2000). Geastrum melanocephalum também
apresenta camada micelial escamosa e colar ao redor do endoperidio, como também é
filogeneticamente próxima a G. triplex, porém difere-se por apresentar endoperídio efêmero e
pedicelo (KASUYA et al., 2012). O colar em volta do endoperidio também pode ocorrer em G.
fimbriatum e G. morganii, sendo que a primeira difere por apresentar camada micelial
incrustada e peristômio não delimitado, enquanto a segunda possui peristômio sulcado não
delimitado. G. saccatum também pode ser confundido com G. triplex, no entanto, G. saccatum
não possui colar formado pela camada pseudoparenquimatosa (SUNHEDE, 1989).
84
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
Material analisado: Brasil. Rio Grande do Norte: Goianinha, Área de Proteção Ambiental
Piquiri-Una - APAPU, 6°21'29.41''S, 35°12'58.37''W, 67 m, 06/VI/2016, col. Lima, A.A.;
Andrade, D.O., AAL 15 (UFRN–Fungos 2895).
Comentários: Esta espécie é caracterizada por apresentar camada micelial nervurada na porção
basal e hirsuta na porção apical, presença de rizomorfa, endoperídio séssil, peristômio aplanado
fibriloso, não delimitado e basidiosporos de 3,5-5,0 µm, com verrugas curtas a colunares,
arredondadas ou truncadas no ápice. G. albonigrum e G. inpaense também apresentam presença
de rizomorfa e peristômio fibriloso, porém G. albonigrum possui camada micelial densamente
hirsuta, efêmera, endoperidio e camada pseudoparenquimatosa enegrecidos (CALONGE &
MATA, 2004); G. inpaense possui camada micelial densamente hirsuta, peristômio delimitado
e basidiosporos menores (2,6 -3,8 μm) (CABRAL et al., 2014a). Pode ser confundida com G.
javanicum, porém esta difere-se por apresentar camada micelial velutina e efêmera formando
um “cup” sob o basidioma, peristômio delimitado e presença de subículo (SOUSA et al., 2014).
Este é o primeiro registro para o mundo.
90
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
5.1.4.12 Geastrum aff. inpaense T.S. Cabral, B.D.B. Silva, I.G. Baseia, Phytotaxa 183: 242
(2014)
(FIG. 30)
Basidioma imaturo epígeo, amarelado (N40Y80M30), subgloboso, 11-13 mm de altura × 12-14
mm de largura, superfície densamente hirsuta com incrustações, ápice arredondado, rizomorfa
bem desenvolvida, até 60 mm de comprimento, superfície incrustada. Basidioma expandido
saculiforme,10-18 mm de altura (incluindo peristômio) × 19-24 mm de largura, com rizomorfa
aderida na base. Exoperídio aberto formando 5-8 raios, revolutos, não higroscópicos. Camada
micelial amarelada (N40Y80M30), superfície hirsuta com incrustações, desprendendo-se em
partes irregulares. Camada fibrosa branca amarelada (N00Y10M00), superfície coriácea.
Camada pseudoparenquimatosa marrom avermelhado (N80Y80M60), rimosa, persistente.
Endoperídio marrom escuro (N90Y90M80), subgloboso, 8-15 mm de altura (incluindo
peristômio) × 7-18 mm de largura, séssil, superfície glabra. Apófise e pedicelo ausentes.
Peristômio fibriloso a lacerado, fracamente delimitado, mamiforme (< 1 mm de altura),
concolor com o endoperídio. Gleba marrom acinzentada (N90Y20M40).
Basidiosporos amarronzados em KOH 5%, globosos a subglobosos, 3,8-4,6 × 3,6-4,4 µm [ x
= 4,1 ± 0,2 × 4 ± 0,2 µm, Qm = 1,04, n = 30], ornamentação pouco evidente em MOP, verrucoso.
Capilício amarronzado, 2,5-6,0 µm de diâmetro, superfície incrustada, glabra, lúmen evidente,
ramificações e inchaços presentes. Camada micelial composta de hifas hialinas a amareladas,
com paredes sinuosas e finas (<1 µm), 1,3-4,8 µm de diâmetro, superfície não incrustada, lúmen
não evidente. Camada fibrosa formada por hifas hialinas, com paredes retas e finas (<1 µm),
1,8-4,5 µm de diâmetro, lúmen evidente. Camada pseudoparenquimatosa formada por hifas
hialinas a amareladas, com paredes finas (<1 µm), subglobosas a ovaladas, 26,6-59,8 µm de
altura x 19,9-45,7 µm de diâmetro. Rizomorfa composta por hifas hialinas, finas (<1 µm),
apresentando cristais tipo primas bipiramidais, não agrupados.
Este gênero é caracterizado por apresentar basidiomas com forma fálica que,
compreende um basidioma imaturo fechado em uma volva que rompe com a maturidade, a
partir do qual emerge uma pseudoestipe com uma gleba mucilaginosa fétida (CABRAL et al.,
2015). Além disso, pode possuir um indúsio que se estende sob o receptáculo, formando uma
rede longa e reticulada (MILLER & MILLER, 1988).
103
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
5.1.5.1 Phallus indusiatus Vent., Mém. Inst. Nat. Sci. Arts: 520 (1798)
(FIG. 31)
Basidioma imaturo não observado. Basidioma expandido fresco com 150-180 mm de altura.
Receptáculo 27-36 mm de altura × 22-34 mm de largura, branco (N00M00C00) a amarelo rosado
(Y10M10C00), campanulado, superfície reticulada, poro apical 3-6 mm de diâmetro.
Pseudoestipe 125-150 mm de altura × 12-16 mm de largura, branco (N00M00C00), cilidrinco,
esponjoso, oco. Indusio em desenvolvimento com até ¾ do comprimento do pseudoestipe a
bem desenvolvido estendendo-se até o chão, branco (N00M00C00), malhas poligonais, unidas ao
ápice do pseudoestipe. Volva 26-35 mm de altura × 21-35 de largura, branca (N00M00C00), com
pigmentos rosas (N00M10C00), globosa, superfície lisa, papirácea. Rizomorfa até 150 mm,
aderida na base da volva. Gleba verde oliva (N90C00Y99), mucilaginosa, fétida.
Basidiosporos 2,8-4 × 1,1-1,8 µm (x= 3,3 ± 0,1 × 1,5 ± 0,2; Qm= 2,26; n= 30), alongados a
cilíndricos, hialinos em KOH 5%, lisos, paredes finas (<1µm). Pseudoestipe composto por
hifas pseudoparenquimatosas, 19,8-46,8 × 18,5-44,8 μm, globosas a alongadas-ovoides,
hialinas, paredes finas (<1µm). Indusio composto por hifas pseudoparenquimatosas, 20,7-38,5
× 18-31 μm, globosas a alongadas-ovoides, hialinas, paredes finas (<1µm). Volva composta
por três camadas: uma camada externa composta de hifas filamentosas, 1,7-7 μm, retas, com
partes infladas, hialinas, paredes finas (<1µm), ramificadas, com septos e grampos de conexão;
camada intermediária gelatinosa, composta de hifas finas (1,4-2,4 μm de largura), retas,
hialinas, ramificadas, com septos e grampos de conexão; camada interna composta de hifas
filamentosas, 2,3-10 μm, retas, com partes infladas, hialinas, paredes finas (<1µm), ramificadas,
com septos e grampos de conexão; Rizomorfa composta por hifas filamentosas, 7,1-16 μm,
hialinas, paredes finas (<1µm), com pontas infladas que parecem se comunicar entre os poros.
(MAGNAGO et al., 2013), São Paulo (SYDOW & SYDOW, 1907; VIÉGAS, 1945; BONONI
et al., 1981; BONONI, 1984).
Material analisado: Brasil. Rio Grande do Norte: Goianinha, Área de Proteção Ambiental
Piquiri-Una - APAPU, 6°21’18.0”S, 35°13’11.0”W, 130 m, 12/V/2016, col. Lima, A.A.; Lima,
H.P., AAL 01 (UFRN–Fungos 2887). Tibau do Sul, Parque Estadual Mata da Pipa - PEMP,
6°15’37.71”S, 35°3’20.20”W, 10 m, 03/VI/2017, col. Lima, A.A., AAL 38 (UFRN–Fungos
2911).
Comentários: Phallus indusiatus é considerada uma espécie comum nos trópicos (BASEIA et
al., 2006). É caracterizada por apresentar receptáculo reticulado, presença de indúsio,
geralmente branco, longo, atingindo a base e pigmento purpurado na base da volva e rizomorfa
(MAGNAGO et al., 2013). Assemelha-se a Phallus impudicus, mas difere pela ausência de
indúsio nesta última. Outras espécies de Phallus que apresentam indúsio são diferenciadas,
principalmente, pela coloração do indúsio e da volva, e superfície do receptáculo: Phallus
atrovolvatus apresenta indúsio branco, receptáculo ruguloso e volva preta (CALONGE et al.,
2005); Phallus cinnabarinus apresenta indúsio laranja a avermelhado e volva amarelo pálido a
marrom (CABRAL et al., 2015); Phallus duplicatus apresenta um indúsio rudimentar, branco
amarelado e volva branca avermelhada a vermelho pálido (CORTEZ et al., 2011a); Phallus
luteus apresenta indúsio amarelo e volva rosa pálido a roxo avermelhado (KASUYA, 2008);
Phallus merulinus apresenta indúsio branco, receptáculo liso e volva branca (CHEYPE, 2010);
Phallus multicolor apresenta indúsio laranja e volva branca; Phallus rubrovolvatus apresenta
volva vermelha (CHEYPE, 2010). Alguns espécimes analisados nesse trabalho apresentaram
indúsio em desenvolvimento com até ¾ do comprimento, além de receptaculo com retículos
rasos e volva escamosa.
105
LIMA, A. A. - Fungos Gasteroides (Basidiomycota) na Área de Preservação Ambiental.......
Este gênero caracteriza-se por apresentar basidioma globoso, subgloboso, com presença
ou ausência de escamas ou escâmulas. O perídio pode ser de espessura fina ou espessa. A gleba
formada por uma massa de esporos e ausência de capilícios. Quando imaturo, a gleba apresenta
textura compacta, transformando-se numa massa pulverulenta na maturidade, apresentando
coloração variada, dependendo do seu estágio de desenvolvimento (GUZMÁN, 1970; MILLER
& MILLER, 1988; ALEXOPOULOS et al., 1996).
5.1.6.1 Scleroderma dunense B.D.B. Silva, Sulzbacher, Grebenc, Baseia & M.P. Martín,
Persoonia 36: 415 (2016)
(FIG. 32)
Basidioma epígeo, depresso subgloboso a subgloboso, 6-14 mm de altura × 9-20 mm de
diâmetro, séssil, base unida ao substrato por um tufo de micélio e rizomorfas. Perídio composto
de duas camadas, fino, <1 mm de espessura, amarelo pálido (N10Y70M20 a N30Y70M40),
superfície papirácea a coriácea, parcialmente lisa na base e craquelada na parte superior, com
escamas pequenas e finas, castanho claro (N30Y70M30) a marrom escuro (N90Y50M50).
Deiscência irregular, poro apical lacerado. Gleba compacta quando jovem, tornando-se
pulverulenta na maturidade, cinza esverdeado (Y90M90C80).
Basidiosporos 7,9-11,2 × 7,9-11 µm (x= 9,5 ± 0,7 × 9,2 ± 0,8; Qm= 1,03; n= 30), globosos a
subglobosos, equinulado, marrom escuro em KOH 5%. Exoperídio composto de hifas
entrelaçadas, hialinas a amareladas, 2,5-5,3 μm de diâmetro, paredes finas (<1 μm),
ramificadas, septadas. Endoperídio composto de hifas entrelaçadas, hialinas, 3-7,4 μm de
diâmetro, paredes finas (<1 μm), septadas.
Este gênero caracteriza-se por ter um esporocarpo subgloboso sobre um estipe que se
expande logo após a maturação dos esporos. O perídio normalmente possui apenas duas
camadas (exoperídio e endoperídio), contendo a gleba formada por uma massa de pó composta
pelos esporos e capilícios. A dispersão dos esporos ocorre por meio de uma abertura apical, a
boca ou o estoma. Esta pode ser tubular, circular ou elíptica, fibrilosa ou fimbriada, e em alguns
casos pode até ser uma mera abertura rasgada (WRIGHT, 1987).
Comentários: Esta espécie é caracterizada por apresentar boca definida, mamiforme a tubular,
exoperídio hifálico ou indistinto, endoperídio membranáceo, e esporos reticulados. Por
apresentar boca definida, tubular e esporos reticulados se assemelha a T. exasperatosporum,
porém esta última difere-se por apresentar exoperídio membranoso (WRIGHT, 1987). T.
exasperatum, T. opacum e T. rickii também possuem esporos reticulados. Contudo, T.
exasperatum possui boca fimbriada-fibrilosa e exoperídio membranoso, verrucoso-espinhoso,
enquanto T. opacum e T. rickii possuem boca fibrilosa, e exoperídio membranoso sem
ornamentação. Liu (1979) descreveu outro T. reticulatum como espécie nova para a China,
sendo este nome considerado ilegítimo por não considerar o art. 53.1 do Código Internacional
de Nomenclatura para Algas, Fungos e Plantas. Em sua revisão, Wright (1987) sinonimiza T.
reticulatum B. Liu com T. innermongolicum B. Liu. T. reticulatum se assemelha com T.
innermongolicum, ambas apresentam exoperídio hifálico e endoperídio membranoso, porém a
última difere-se por possuir esporocarpos maiores (13-25 mm diam), boca fimbriada-fibrilosa
e esporos menores (5-5.4 µm diam), asperulados (TAB. 4). Esta espécie é o primeiro registro
para o Rio Grande do Norte e Mata Atlântica, e o segundo registro para o mundo.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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