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PRODUÇÃO DE Pleurotus ostreatus EM RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS

BIOCONVERSÃO DE RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS EM PROTEÍNA


COMESTÍVEL POR Pleurotus ostreatus (Jacq. ex Fr) Kummer

Márlia Campos e Barros1


Biotecnologista, Universidade Federal da Paraíba, Campus I,
Centro de Biotecnologia

Dr. Kristerson Reinaldo de Luna Freire2


Docente da Universidade Federal da Paraíba, Campus I,
Centro de Biotecnologia

Drª. Adna Cristina Barbosa de Sousa3


Docente da Universidade Federal da Paraíba, Campus I,
Centro de Biotecnologia

JOÃO PESSOA – PARAÍBA

2023
Dedico este trabalho a Aécio Luís de Barros.
Você foi e sempre será a minha maior fonte de inspiração!
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a quem me permitiu ser quem eu sou hoje: meus pais
Francisca e Aécio (in memoriam). Se hoje eu sou realizada no caminho que estou seguindo,
eu devo isso a vocês! Agradeço muito a meu pai por ter despertado em mim desde cedo o
interesse pela ciência, pela tecnologia, pela vida e pelas formas de se resolver os problemas do
mundo. Com certeza foram passos iniciais muito importantes para eu me tornar
Biotecnologista. Obrigada especialmente à minha mãe, que sempre foi carinho e acolhimento,
e que mesmo depois das coisas terem ficado mais difíceis sem meu pai, nunca desistiu de
fazer o impossível para realizar os meus sonhos! Agradeço a minha irmã Cibelle, você sempre
foi uma extensão de quem eu sou, você é o Edward do meu Alphonse; às minhas tias Mercês
e Jardane, por terem sido os principais suportes durante todos esses anos longe de casa. A
Marina e Simone, que também foram um grande suporte, muito obrigada pela tranquilidade
de morar com gente de bom coração e por fazerem parte de uma das minhas maiores
felicidades: a adoção de Mischa! Obrigada, enfim, a toda a minha família! Aos tios Maria,
Derico, Rosinha, Sonsom, Ted, Marta, Expedita, Emília, Netinha e Mury; aos que não estão
mais aqui, mas continuam sempre comigo: Cruzinha, Fogoió e Luís. Amo vocês; e a meus
primos, que se eu fosse agradecer um a um não ia caber tanto aqui, mas a gente sabe o quanto
sempre fomos presentes na vida uns dos outros.

Aos meus amigos, toda a minha gratidão. Vocês são parte essencial de mim!
Obrigada Teresa, Amanda, Eduarda, Nininha e Zé, por me acompanharem até hoje, somando
mais de 15 anos de amizade; Joãozinho, Marina, Marcondes, Emerson e tantos outros
picoenses dos quais me aproximei recentemente, por tanto em tão pouco tempo; Cecília,
Mirna, Lígia, Luciana, Manu, Bia e Camila, por poder contar com vocês para tudo. Lucas,
Laura, Brena, Raquel, Natália, Carlos, Júlio, Daniel, Pablo, Arthur e Biu, por se fazerem
sempre presentes, mesmo sem os nossos encontros semanais de RPG; Obrigada ainda aos
amigos de turma que fizeram parte dessa jornada desde o começo do curso: Cristian, Matheus,
Bellini, João Marcos, Guilherme e Vic, vocês têm um lugar especial nessa conquista; e aos
amigos Louise, Carolis, Amandinha, Tork, Mambinha e Dedei, pelos conselhos sobre
experiências acadêmicas que contribuíram muito no meu crescimento dentro da universidade.
Aos meus companheiros de todos os dias: Edu, Sofia, Bandeirinha, Daniel, Doni,
Sara, Leo e Luquinhas, obrigado por serem apoio nos momentos mais cansativos. Encontrar
vocês nos corredores da UFPB sempre teve o poder de restaurar minhas energias. Obrigada
também aos meus queridos amigos do Vôlei do Castelo, nossos momentos de jogos e
descontração foram essenciais para manter minha saúde mental e física. Eu gostaria também
de agradecer especialmente aos que estiveram mais presentes nessa reta final: meus melhores
amigos Rita e Fernando. Sem vocês eu não conseguiria a força que eu precisava para vencer o
cansaço desse fim de curso. Obrigada pelo seu suporte incondicional.

E meu último e mais importante agradecimento deve ser direcionado à equipe do


Laboratório de Genética Molecular e Biotecnologia Vegetal do Cbiotec. Obrigada à
Professora Adna Cristina B. de Sousa, que sempre foi minha bússola acadêmica, capaz de
fazer eu me reencontrar quando estava perdida no caminho, agradeço não somente pela sua
grande orientação dentro da universidade, mas também pela atenção, pelo carinho, pela
compreensão, pelo acolhimento e por tantas outras características que me fazem sentir em
casa; ao Professor Kristerson Reinaldo de L. Freire, que também participou na orientação
desse projeto e realizou papéis fundamentais para viabilização dessa pesquisa. Obrigada ainda
aos demais membros do laboratório, que me ajudaram na realização de grande parte dos
experimentos: Brendo, Vitória e Victor. Esse trabalho é nosso!
“A recuperação do planeta ou daquilo que nos sobre dele implica na denúncia da
impunidade do dinheiro e da liberdade humana. A ecologia neutra, que mais se parece com
a jardinagem, torna-se cúmplice da injustiça de um mundo, onde a comida sadia, a água
limpa, o ar puro e o silêncio não são direitos de todos – mas, sim, privilégios dos poucos
que podem pagar por eles.”.

- Eduardo Galeano.
RESUMO

Pleurotus ostreatus (Shimeji preto) tem atraído o interesse crescente de agricultores, não
apenas pelas suas características sensoriais e nutricionais desejáveis, mas principalmente por
suas características de cultivo menos exigentes em relação a outras espécies. Dessa forma,
surge uma busca por substratos alternativos capazes de baratear a produção e aumentar a
produtividade do cultivo regional. Esse estudo teve como objetivo avaliar a viabilidade de
aproveitamento de resíduos regionais na formulação de substratos para cultivo do cogumelo
comestível P. ostreatus, averiguar a influência da luz e da temperatura no desenvolvimento do
micélio e a utilização do coco verde reciclado como recipiente de produção, fornecendo
arcabouço científico para a futura introdução da fungicultura no estado da Paraíba. A
influência da luz e da temperatura foram avaliadas a partir da inoculação do fungo em duas
formulações: TL1 [Bagaço de malte (98%) + gesso agrícola (2%)] e TL2 [Milho de pipoca
(100%)]. Os tratamentos foram mantidos no claro, escuro e fotoperíodo de 12h claro/12h
escuro, e numa faixa de temperatura de 20°C, 25°C e 30°C, respectivamente. O crescimento
micelial foi avaliado durante 15 dias de cultivo. Para os ensaios de produção, os resíduos sem
tratamento prévio utilizados foram: coco verde descartado como recipiente, bagaço de malte,
vagem de feijão verde sem o grão, fibra da cana-de-açúcar, borra do café e gesso agrícola
como suplemento. Foram testadas 18 formulações e 10 foram selecionadas para os ensaios de
produção baseado no vigor e densidade do micélio. Não foi comprovada influência da luz no
crescimento vegetativo de P. ostreatus. A influência da temperatura foi clara, evidenciando
melhor crescimento na temperatura de 25°C. A formulação T3 [Bagaço de malte (98%) +
borra do café (2%)] apresentou o melhor Rendimento (67,74%); A melhor Eficiência
Biológica (20,83%) foi observada na formulação T14 [Vagem do feijão (50%) + Bagaço de
malte (50%)]; T15 [Vagem do feijão (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%)] obteve maior
Produtividade (0,36 g/dia); T13 [Vagem do feijão (100%)] proporcionou a maior Perda de
Matéria Orgânica (46,66%) e o maior Consumo de Composto (85,71%) foi obtido na
formulação T16 [Vagem do feijão (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%)]. Dentre as
formulações testadas para produção dos cogumelos, T3, T4, T7, T14 e T15 se sobressaíram,
apresentando bons aspectos biológicos (tempo de colonização do substrato, período de
emissão de primórdios e tempo de formação dos basidiomas), além de valores satisfatórios
para os parâmetros produtivos. O endocarpo do coco verde reciclado se mostrou adequado
como recipiente para produção. As demais formulações de substratos testadas se mostraram
promissoras e necessitam de ajustes para que a produção seja aumentada.

Palavras-chave: Cogumelos; resíduos lignocelulósicos; Cultivo axênico; Basidiomycota.


ABSTRACT

Pleurotus ostreatus (Black Shimeji) has attracted growing interest from farmers, not only
because of its desirable sensory and nutritional characteristics, but mainly because of its less
demanding cultivation characteristics compared to other species. Thus, there is a search for
alternative substrates capable of making production cheaper and increasing the productivity of
regional cultivation. This study aimed to evaluate the feasibility of using regional residues in
the formulation of substrates for the cultivation of the edible mushroom P. ostreatus, to
investigate the influence of light and temperature on the development of the mycelium and the
use of recycled green coconut as a production container, providing a scientific framework for
the future introduction of fungiculture in the state of Paraíba. The influence of light and
temperature were evaluated from the inoculation of the fungus in two formulations: TL1
[Malt bagasse (98%) + agricultural gypsum (2%)] and TL2 [Popcorn corn (100%)]. The
treatments were carried out in light, dark and photoperiod of 12h light/12h dark, and in a
temperature range of 20°C, 25°C and 30°C, respectively. The mycelial growth was evaluated
during 15 days of cultivation. For the production tests, residues without previous treatment
were used: discarded green coconut as a container, malt bagasse, green bean pods without the
grain, sugarcane fiber, coffee grounds and agricultural gypsum as a supplement. Eighteen
formulations were tested and 10 were selected for production trials based on mycelium vigor
and density. The influence of light on the vegetative growth of P. ostreatus has not been
proven. The influence of temperature was clear, showing better growth at 25°C. Formulation
T3 [Malt bagasse (98%) + coffee grounds (2%)] showed the best Yield (67.74%); The best
Biological Efficiency (20.83%) was observed in the T14 formulation [Bean pod (50%) + Malt
bagasse (50%)]; T15 [Bean pod (95%) + sugarcane bagasse (5%)] obtained the highest
productivity (0.36 g/day); T13 [Bean pod (100%)] was obtained in the T16 [Bean pod (85%)
+ sugarcane bagasse (15%)] formulation. Among the formulations tested for mushroom
production, T3, T4, T7, T14 and T15 stood out, showing good biological aspects (substrate
colonization time, period of emission of primordia and time of formation of basidiomata), in
addition to natural values for the productive parameters. The endocarp of recycled green
coconut proved to be suitable as a container for production. The other substrate formulations
tested proved to be promising and underwent adjustments so that production could be
increased.

Keywords: Mushrooms; lignocellulosic wastes; Axenic cultivation; Basidiomycota.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Descrição taxonômica de Pleurotus ostreatus. ......................................................... 20


Figura 2: Diversidade de espécies comercialmente importantes do gênero Pleurotus. ........... 21
Figura 3: Morfologia dos cogumelos. ....................................................................................... 22
Figura 4: Formação de grampo de conexão no micélio do basidiomiceto. .............................. 23
Figura 5: Ciclo reprodutivo dos cogumelos. ............................................................................ 24
Figura 6: Esquema simplificado das principais etapas da fungicultura. ................................... 26
Figura 7: Técnica de produção de cogumelos “Jun-Cao” modificada. .................................... 27
Figura 8: Cultivo do cogumelo Pleurotus ostreatus. ................................................................ 30
Figura 9: Bagaço de malte. ....................................................................................................... 33
Figura 10: Bagaço de cana-de-açúcar. ...................................................................................... 34
Figura 11: Vagem do feijão verde (Phaseolus vulgaris L.) ..................................................... 36
Figura 12: Estrutura morfológica do coco verde. ..................................................................... 37
Figura 13: Borra de café, resíduo urbano. ................................................................................ 39
Figura 14: Substratos e suplementos destinados às formulações para testar a produção da
semente e frutificação do Pleurotus ostreatus. ......................................................................... 41
Figura 15: Vagem do feijão verde sem grão, após processamento. ......................................... 43
Figura 16: Semente de Pleurotus ostreatus no grão de milho de pipoca. ................................ 46
Figura 17: Substratos acondicionados em sacos para o teste de produção da semente do
Pleurotus ostreatus. .................................................................................................................. 48
Figura 18: Tratamento do coco verde reciclado usado como recipiente para produção do
Pleurotus ostreatus. .................................................................................................................. 49
Figura 19: Aspectos morfológicos do micélio primário de Pleurotus ostreatus. ..................... 52
Figura 20: Corpo de frutificação de Pleurotus ostreatus evidenciando auréola/chapéu (A1),
himênio do tipo lamelar (A2), estipe/pé (A3) e esporos sexuais (B). ...................................... 53
Figura 21: Variação no crescimento micelial de Pleurotus ostreatus nas condições de
iluminação. ............................................................................................................................... 54
Figura 22: Crescimento micelial de Pleurotus ostreatus: claro (A), escuro (B) e fotoperíodo
(C). ............................................................................................................................................ 55
Figura 23: Variação no crescimento micelial de Pleurotus ostreatus nas diferentes
temperaturas.............................................................................................................................. 55
Figura 24: Crescimento micelial de Pleurotus ostreatus nas diferentes temperaturas: 20 °C
(A), 25 °C (B) e 30 °C (C). ....................................................................................................... 56
Figura 25: Avaliação do crescimento, vigor e densidade micelial de Pleurotus ostreatus nas
diferentes formulações/tratamentos. ......................................................................................... 58
Figura 26: Classificação do vigor e densidade micelial de Pleurotus ostreatus. ..................... 58
Figura 27: Aspecto macroscópico da colonização e corrida micelial de Pleurotus ostreatus
nos diferentes tratamentos, 15 dias após a inoculação. ............................................................ 60
Figura 28: Média do crescimento micelial (cm) em sacos no período de 15 dias após
inoculação de Pleurotus ostreatus. ........................................................................................... 61
Figura 29: Endocarpo do coco verde reciclado colonizado pelo micélio primário de Pleurotus
ostreatus após 15 dias de crescimento no escuro, após abertura dos sacos.............................. 65
Figura 30: Primórdios do basidioma de Pleurotus ostreatus no endocarpo do coco verde
reciclado. Tratamento T15 [Vagem (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%)]. ...................... 66
Figura 31: Frutificação de Pleurotus ostreatus no endocarpo do coco verde reciclado como
recipiente para cultivo. ............................................................................................................. 67
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Origens dos substratos e suplementos. ..................................................................... 42


Tabela 2: Formulações para análise da influência da luz e da temperatura na corrida micelial
do Pleurotus ostreatus. ............................................................................................................. 44
Tabela 3: Formulações para produção da semente e basidioma do Pleurotus ostreatus.......... 44
Tabela 4: Avaliação de diferentes substratos no desenvolvimento da semente de Pleurotus
ostreatus.................................................................................................................................... 64
Tabela 5: Parâmetros biológicos de Pleurotus ostreatus cultivado em diferentes formulações
em um fluxo produtivo. ............................................................................................................ 66
Tabela 6: Parâmetros produtivos de Pleurotus ostreatus cultivado em diferentes formulações
em um fluxo produtivo. ............................................................................................................ 70
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO _______________________________________________________ 15
2 OBJETIVOS _________________________________________________________ 17
2.1 OBJETIVO GERAL _____________________________________________________ 17
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ______________________________________________ 17
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ________________________________________ 18
3.1 PRODUÇÃO E CONSUMO DE COGUMELOS NO BRASIL _____________________________ 18
3.2 ASPECTOS BIOLÓGICOS E NUTRICIONAIS DO GÊNERO PLEUROTUS ___________________ 20
3.3 CULTIVO AXÊNICO DE PLEUROTUS SPP. _______________________________________ 25
3.3.1 Pleurotus ostreatus ____________________________________________________ 29
3.4 RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS NO CULTIVO DE COGUMELOS COMESTÍVEIS _____________ 30
3.4.1 Bagaço de malte ______________________________________________________ 32
3.4.2 Bagaço da cana-de-açúcar ______________________________________________ 33
3.4.3 Vagem do feijão verde sem a casca ________________________________________ 35
3.4.4 Coco verde descartado _________________________________________________ 36
3.4.5 Borra do café _________________________________________________________ 38
4 MATERIAL E MÉTODOS _____________________________________________ 40
4.1 LOCAL DE REALIZAÇÃO DO TRABALHO _______________________________________ 40
4.2 ORIGEM DO COGUMELO ___________________________________________________ 40
4.3 EXAME MACRO E MICROSCÓPICO DAS ESTRUTURAS ______________________________ 40
4.4 TÉCNICA DA FITA ADESIVA PARA CAPTURA DOS ESPOROS _________________________ 41
4.5 TIPOS E ORIGENS DOS SUBSTRATOS __________________________________________ 41
4.6 PROCESSAMENTO DOS SUBSTRATOS__________________________________________ 42
4.7 DETERMINAÇÃO DO CONTEÚDO DE UMIDADE E MASSA SECA DOS SUBSTRATOS _________ 45
4.8 PRODUÇÃO DA SEMENTE __________________________________________________ 45
4.9. AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA LUZ NO CRESCIMENTO MICELIAL __________________ 46
4.10 AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NO CRESCIMENTO MICELIAL _________ 46
4.11 SELEÇÃO DOS SUBSTRATOS POR MEIO DA AVALIAÇÃO DO VIGOR, DENSIDADE E
CRESCIMENTO MICELIAL PARA PRODUÇÃO DA SEMENTE E BASIDIOMA DO PLEUROTUS OSTREATUS
________________________________________________________________________ 47
4.12 EFEITO DOS SUBSTRATOS NO TEMPO DE CRESCIMENTO PARA PRODUÇÃO DA SEMENTE DO
PLEUROTUS OSTREATUS ____________________________________________________ 47
4.13 ENSAIO DE PRODUÇÃO DO PLEUROTUS OSTREATUS _______________________________ 48
4.14 AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS BIOLÓGICOS __________________________________ 48
4.15 AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS PRODUTIVOS __________________________________ 49
Umidade do cogumelo ______________________________________________________ 49
Rendimento _______________________________________________________________ 49
Eficiência biológica ________________________________________________________ 49
Produtividade: ____________________________________________________________ 50
Perda de matéria orgânica (PMO %) __________________________________________ 50
Percentagens de consumo de composto (CC %) __________________________________ 50
4.16 ANÁLISE ESTATÍSTICA ___________________________________________________ 50
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO _________________________________________ 52
5.1 ANÁLISE MACRO E MICROSCÓPICA DE PLEUROTUS OSTREATUS _______________________ 52
5.2 INFLUÊNCIA DA LUZ E DA TEMPERATURA NO DESENVOLVIMENTO MICELIAL DO PLEUROTUS
OSTREATUS ________________________________________________________________ 53
5.2.1 Influência da luz no desenvolvimento micelial _______________________________ 53
5.2.2 Influência da temperatura no desenvolvimento micelial ________________________ 55
5.3 AVALIAÇÃO QUALITATIVA DO VIGOR E DENSIDADE MICELIAL DE PLEUROTUS OSTREATUS NAS
DIFERENTES FORMULAÇÕES DE SUBSTRATOS A PARTIR DOS RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS ____ 57
5.4 EFEITO DOS SUBSTRATOS NO DESENVOLVIMENTO MICELIAL DO PLEUROTUS OSTREATUS PARA
PRODUÇÃO DA SEMENTE _____________________________________________________ 60
5.5 ANÁLISE DOS PARÂMETROS PRODUTIVOS _____________________________________ 65
6 CONCLUSÕES _______________________________________________________ 71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS_________________________________________72

GLOSSÁRIO_____________________________________________________________78
15

1 INTRODUÇÃO

O Shimeji Preto (Pleurotus ostreatus) é uma das espécies de cogumelos comestíveis


mais consumidas no mundo, representando cerca de 22,1% do consumo mundial de
cogumelos (RODRIGUES; OKURA, 2022). Além de ser uma espécie de sabor e textura
apreciados na culinária, características como sua alta habilidade de colonização em diferentes
substratos e sua riqueza nutricional agregam qualidades que aumentam o interesse dos
agricultores no seu cultivo. São fontes nutricionais de proteínas, carboidratos, fibras,
vitaminas, aminoácidos essenciais e não essenciais, além de minerais como cálcio, potássio,
iodo e fósforo. Os seus níveis de proteínas são maiores até do que os de alguns legumes e
vegetais. Essa composição depende do tipo de substrato, das metodologias de cultivo e das
espécies cultivadas (PISKOV et al., 2020).

Apesar do consumo de cogumelos ser bastante presente mundo afora, esse consumo
não é representativo na dieta do brasileiro, em decorrência da baixa produção nacional e do
seu elevado custo. Segundo a Associação Nacional de Produtores de Cogumelos (ANPC), no
Brasil, a maioria dos 300 produtores de cogumelos são micro e pequenos agricultores, sendo
uma importante complementação de renda para esses pequenos produtores da agricultura
familiar. A produção é pequena, principalmente quando comparada à de outros países, e
encontra-se restrita às regiões Sul e Sudeste, tornando o país dependente de importações.

Por pertencer a um gênero que cresce em uma ampla variedade de substratos,


incluindo resíduos agroflorestais e agroindustriais, sem a necessidade de uma fermentação
prévia, o Shimeji Preto se destaca como uma ótima alternativa para a expansão da produção
nacional de cogumelos, abrangendo regiões em que ainda não se tem uma alta taxa de
produção, como a região Nordeste (CORRÊA et al., 2016). Também segundo a ANPC, em
2018, a produtividade de cogumelos no país era de aproximadamente 12.000 toneladas in
natura por ano, distribuídas majoritariamente entre 4 tipos de cogumelos: Agaricus bisporus
(Champignon de Paris) com estimativa de produção de 8.000 toneladas por ano; Pleurotus
spp., com 2.000 toneladas por ano; Lentinula edodes (Shiitake), com 1.500 toneladas por ano
e Agaricus blazei Murrill, com 500 toneladas por ano.

A produção de cogumelos em resíduos agroindustriais é uma forma econômica de


cultivo, por ser feita em substratos que seriam descartados e que podem ser obtidos por um
baixo valor. Além disso, é importante para a redução da poluição do setor agroindustrial, o
que torna o produto final uma alternativa barata e sustentável.
16

A eficiência do cultivo depende não só da espécie e da composição do substrato, mas


também do teor de água, pH e de condições ambientais, como temperatura e luz, pois são
fatores que interferem no desenvolvimento e na capacidade do micélio em transformar o
substrato em matéria orgânica comestível. Neste contexto, o intuito do trabalho foi
desenvolver um protocolo de cultivo para o Shimeji Preto em diferentes substratos
alternativos, tendo como base para as formulações resíduos agroindustriais de relevância na
região paraibana, como o bagaço de cana-de-açúcar, o bagaço de malte e a vagem de feijão
verde, suplementados com borra de café e/ou gesso agrícola. Para o protocolo, avaliou-se
ainda a influência da luz e da temperatura sobre o crescimento vegetativo da espécie e a sua
produção em coco verde descartado como recipiente, visando assim uma maior eficiência na
bioconversão dos resíduos sólidos, que seriam descartados, em um produto alimentício
nutritivo e com valor agregado.
17

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar a possibilidade de aproveitamento de resíduos regionais para a formulação de


substratos de cultivo do cogumelo comestível Shimeji Preto, a fim de contribuir no
desenvolvimento da fungicultura no estado da Paraíba.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

9 Avaliar o potencial de utilização do bagaço de malte, bagaço de cana-de-açúcar e vagem


do feijão sem o grão com e sem suplementação, na formulação de um substrato para
produção da semente e de cogumelos;

9 Avaliar a influência da luz e das temperaturas de 20°C, 25°C e 30°C no desenvolvimento


do micélio;

9 Avaliar o potencial dos substratos para a produção da semente;

9 Avaliar se o coco verde reciclado é um recipiente adequado para fungicultura;

9 Avaliar aspectos de produção: rendimento, eficiência biológica, produtividade, consumo


do composto e perda da matéria orgânica de P. ostreatus, quando cultivados nos diferentes
tratamentos;

9 Avaliar aspectos biológicos: tempo de colonização do substrato, período de emissão de


primórdios e tempo de formação dos basidiomas nos diferentes tratamentos;

9 Classificar dentre os substratos utilizados, qual a melhor formulação para produção da


semente e frutificação do P. ostreatus.
18

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Produção e consumo de cogumelos no Brasil

Mundialmente, o mercado de cogumelos comestíveis movimenta aproximadamente


US$ 35 bilhões por ano, tendo a China como líder de produção, seguida pela Itália, Estados
Unidos e Holanda (LACERDA, 2021). A produção mundial de cogumelos comestíveis
cultivados aumentou mais de 30 vezes desde 1978, de cerca de 1 bilhão de kg em 1978 para
34 bilhões de kg em 2013. O consumo per capita de cogumelos aumentou de forma
relativamente rápida, especialmente desde 1997, e excedeu a taxa de 4,7 kg por ano em 2013
(ROYSE; BAARS; TAN, 2017).

No entanto, o consumo de cogumelos no Brasil é consideravelmente baixo, quando


comparado a outros países. Em média, o brasileiro consome apenas 288 g/ano enquanto
países como a Itália, França, Alemanha e China consomem 1,3 kg/ano, 2,0 kg/ano, 4,0 kg/ano
e 8,0 kg/ano, respectivamente. Mesmo que esse consumo venha aumentando com os anos, os
cogumelos ainda não fazem parte da dieta do brasileiro, seja devido ao preço encontrado no
mercado, às dificuldades enfrentadas durante seu cultivo ou ainda à falta de conhecimento
acerca de seus benefícios. Apesar do baixo consumo, a demanda ainda é muito maior que a
oferta, e o país ainda depende de importações para abastecer o mercado. Somente em 2017, o
Brasil importou 10 mil toneladas de Champignon de Paris em conserva (RODRIGUES;
OKURA, 2022).

A produção nacional não tem ampla representatividade em todas as regiões, sendo


limitada às regiões Sul e Sudeste, e tendo o estado de São Paulo como maior produtor e
consumidor. Segundo a Associação Nacional de Produtores de Cogumelos (ANPC), no
Brasil, a maioria dos 300 produtores de cogumelos são micro e pequenos agricultores, sendo
uma importante complementação de renda para esses pequenos produtores da agricultura
familiar. Também segundo a ANPC, em 2018, a produtividade de cogumelos no país era de
aproximadamente 12.000 toneladas in natura por ano, distribuídas majoritariamente entre 4
tipos de cogumelos: Agaricus bisporus (Champignon de Paris) com estimativa de produção de
8.000 toneladas por ano; Pleurotus spp., com 2.000 toneladas por ano; Lentinula edodes
(Shiitake), com 1.500 toneladas por ano e Agaricus blazei Murrill, com 500 toneladas por
ano.
19

Existem diversos pontos favoráveis para o investimento no setor de produção de


cogumelos no país. Capra e Tonin (2019) apontam fatores como: balança comercial deficitária
(demanda maior que a oferta); mercado brasileiro promissor (“boom” de restaurantes
japoneses e veganismo); vantagem de ser um alimento funcional, pois apresenta propriedades
nutracêuticas e um produto de alto valor agregado, com possibilidade de processamento;
incentivo da EMBRAPA e associações do setor (cursos, workshops, seminários); alta difusão
de informações sobre os benefícios de consumir cogumelos (TV, Internet, jornais, revistas);
baixa oferta (pouca concorrência); produção nacional centralizada (São Paulo) e baixo
impacto ambiental (sustentabilidade) como sendo extremamente relevantes para a ascensão do
investimento no cultivo de cogumelos no Brasil.

Em contrapartida, ainda existem entraves para implementar uma ampla produção no


território brasileiro, como por exemplo a sensibilidade dos cogumelos a fatores ambientais,
que exige uma tecnificação do setor. Fatores como a falta de equipamentos no mercado
brasileiro são desafios nessa perspectiva. A perecibilidade do produto comercializado in
natura é outro entrave que torna o cultivo altamente dependente de uma logística de
distribuição eficiente.

Ainda que exista desafios para a comercialização in natura, ela é uma opção mais
viável e atrativa, apesar do prazo de validade sob refrigeração ser de apenas 7 a 10 dias. O
tratamento de branqueamento do Champignon em conserva, por exemplo, pode ser prejudicial
à saúde e alterar o verdadeiro sabor do cogumelo. Além disso, são necessários 2 kg do
cogumelo in natura para que se obtenha 1 kg em conserva, dobrando assim o custo de
produção. Já as espécies de Pleurotus (Hiratake e Shimeji) e Shiitake são mais adaptáveis às
condições de cultivo brasileiras e possuem, consequentemente um custo de produção menor,
sendo menos suscetíveis a doenças e necessitando de pouco ou nenhum uso de agroquímicos
na produção (ALBUQUERQUE; SOUSA, 2021).
20

3.2 Aspectos biológicos e nutricionais do gênero Pleurotus

O reino Fungi é composto pelos fungos, organismos eucariotos, heterótrofos, que


podem ser unicelulares ou multicelulares. São seres vivos que fazem parte do grupo de
organismos decompositores, desempenhando um papel ecológico importante. Os cogumelos
são macrofungos que possuem esporos e uma corpo de frutificação carnoso, pertencentes ao
filo Basidiomycota. Podem ser encontrados em uma grande diversidade de formas, cores e
tamanhos. Algumas espécies são comestíveis, porém outras espécies apresentam efeitos
tóxicos e alucinógenos (LESA et al., 2022). Existem mais de 14.000 tipos de cogumelos, dos
quais, cerca de 3.000 espécies foram relatadas como comestíveis; quase 700 são de
importância medicinal, e aproximadamente 1.400 são identificadas como tóxicas (PAZZA et
al., 2019). Os cogumelos do gênero Pleurotus, popularmente conhecidos como “cogumelos
ostra”, são pertencentes à família Pleurotaceae, da ordem Agaricales, classe dos
Agaricomicetos e filo Basidiomycota (Figura 1). São considerados saprófitos e extraem seus
nutrientes do substrato através de seu micélio, obtendo substâncias necessárias ao seu
desenvolvimento, como carbono, nitrogênio, vitaminas e minerais. Esses fungos pertencem a
um grupo conhecido como “fungos de podridão branca”, pois produzem um micélio branco e
são geralmente cultivados em substratos lignocelulósicos não compostados (gramas, madeira
e resíduos agrícolas), nos quais várias espécies de Pleurotus são cultivados comercialmente
com valor considerável (BELLETTINI et al., 2016).
21

Figura 1: Descrição taxonômica de Pleurotus ostreatus.

Fonte: Adaptado de Lesa et al. (2022).


Segundo Raman et al. (2021), as diferentes espécies de Pleurotus são compostas por
cogumelos comestíveis comercialmente importantes e cultivados globalmente. Possuem
basidiocarpos em forma de concha ou ostra, com cores variadas como branco, creme, cinza,
amarelo, rosa ou marrom claro, que variam entre as espécies, a depender do tipo de substrato,
luz e temperatura fornecidos durante o cultivo (Figura 2).

Pleurotus spp. consiste em cerca de 40 espécies distribuídas e bem adaptadas nas


regiões tropicais e temperadas. Vinte e seis espécies, incluindo Pleurotus eryngii, P.
citrinopileatus, P. flabellatus, P. ostreatus, P. djamor var. roseus e P. ostreatus var. florida
são cultivadas em diferentes formulações a base de resíduos lignocelulósicos. Eles possuem
grande quantidade de nutrientes essenciais, assim, são considerados como uma das fontes
mais ricas e equilibradas para nutrição humana, sendo valiosos para a indústria nutracêutica
(MAFTOUN et al., 2015). O alto valor nutricional de P. ostreatus tornou permitido ser listado
como carne vegetal, porque tem o dobro do teor de proteína dos vegetais tradicional, também
tem um alto teor de vitaminas (tiamina (B1), riboflavina (B2), piridoxina (B6), cobalamina
(B12), ácido ascórbico (C), ácido nicotínico, ácido fólico e tocoferol, e atua como uma
importante fonte de cálcio e fósforo. Além disso, contém ácidos graxos essenciais como
oleico, palmítico e linoleico (TORRES et al., 2017).
22

Figura 2: Diversidade de espécies comercialmente importantes do gênero Pleurotus.

A: Pleurotus oestreatus (Shimeji Preto). B: Pleurotus eryngii. C: Pleurotus citrinopileatus. D:


Pleurotus oestreatoroseus. E: Pleurotus sajor-caju. F: Pleurotus ostreatus var. florida.
Fonte: Adaptado de Urben et al. (2017).

Figura 3: Morfologia dos cogumelos.

Fonte: Adaptado do desenho de Roberto Suárez em


https://museudaamazonia.org.br/pt/2020/06/21/fungos-2/
23

A morfologia dos cogumelos pertencentes a ordem Agaricales consiste em um


basidiocarpo com duas partes mais proeminentes: estipe ou pé (talo e haste) e píleo ou chapéu
(Figura 3). Além da forma variada, o píleo pode ainda apresentar variações em cor e em tipo
de superfície. Na parte inferior do píleo, fica localizado o himênio (parte fértil do cogumelo),
o qual, em Pleurotus spp., apresenta superfície lamelar. A superfície lamelar é composta de
lâminas que apresentam estruturas denominadas basídios, que ficam inseridos nos bordos das
lamelas (URBEN et al., 2017). Os filamentos do micélio fibroso são chamados hifas e
consistem em células alongadas. Essas células são separadas umas das outras por paredes
transversais porosas internas, denominadas septos, encerrados dentro de uma parede celular
tubular. O crescimento das hifas é feito através da extensão da membrana celular e da parede
celular na ponta de hifa (HANEEF et al., 2017). A hifa dicariótica possui crescimento
indefinido, ramificada, de paredes delgadas, sempre septada, com septo simples ou com ansas
(grampos de conexão). Esse tipo de hifa dá origem ao basidiocarpo.

O grampo de conexão (Figura 4) é um tipo de ligação do micélio dicariótico


constituída por um divertículo ou pequeno canal semicircular, pleurógeno e que se dirige para
baixo, encurvando-se até tocar a célula inferior da mesma hifa, à qual se une. O grampo de
conexão é uma estrutura importante na classificação de gêneros e espécies nos Agaricales e
está presente em alguns gêneros, dentre eles Pleurotus.

O ciclo reprodutivo dos cogumelos pode ser resumido nas seguintes etapas (Figura
5): dois micélios monocarióticos, de linhagens opostas, se encontram; ocorre então a fusão de
suas hifas; os núcleos migram, resultando na formação de micélio secundário dicariótico;
desse processo, surgem os primórdios da frutificação, e posteriormente há a formação do
cogumelo, que produz então mais esporos, estes vão germinar e dar origem a um novo
micélio primário. A partir disso, inicia-se um novo ciclo de reprodução (URBEN et al, 2017).

Figura 4: Formação de grampo de conexão no micélio do basidiomiceto.


24

a e b: grampos formados durante divisão celular. a’ e b’: células-filhas. Fonte: Silveira (1968).

Figura 5: Ciclo reprodutivo dos cogumelos.

Fonte: Urben et al. (2017).


25

3.3 Cultivo axênico de Pleurotus spp.

A produção de cogumelos passa por etapas essenciais, que devem ser seguidas tanto
em pequena escala, quanto em escalas industriais (Figura 6). As etapas gerais para a
fungicultura envolvem: (A) preparação do inóculo (semente ou spawn), que consiste na
inoculação do micélio primário em um grão previamente tratado para crescimento da parte
vegetativa e posterior inoculação no substrato onde o cogumelo será produzido; (B)
preparação do substrato, etapa de seleção de fontes de nutrientes para o crescimento do fungo,
de preferência materiais ricos em celulose. Essa etapa também envolve os processos
mecânicos de corte e trituração para facilitar a colonização do fungo através do aumento da
superfície de contato. Os substratos devem ser esterilizados para evitar a contaminação,
umidificados e, se necessário, corrigidos para adequação do pH. Para garantir um bom
crescimento, pode-se ainda suplementar os meios/substratos para melhorar a relação
Carbono/Nitrogênio; (C) inoculação, etapa em que o fungo é posto em contato com o
substrato, seguindo as diretrizes de biossegurança e garantindo a colonização pela espécie
almejada; (D) Incubação, que consiste no tempo necessário para que ocorra a completa
colonização do meio e (E) frutificação, que começa com o aparecimento dos primórdios e
compreende o tempo até o ponto de colheita (ALMEIDA, 2018; LACERDA, 2021).

Na produção industrial, essas etapas são acompanhadas do controle de temperatura,


exposição à luz, umidade e gases (oxigênio e gás carbônico). Esses Parâmetros são essenciais
para uma boa produtividade, além da composição do substrato. A influência desses fatores no
crescimento dos cogumelos pode variar de espécie para espécie, não havendo um protocolo
geral de cultivo que garanta a alta produtividade diante das mesmas condições para espécies
diferentes. No modo de produção caseiro, normalmente só é possível controlar a exposição à
luz.
26

Figura 6: Esquema simplificado das principais etapas da fungicultura.

Fonte: Adaptado de Zárate-Salazar et al. (2020).

A tecnologia de produção de cogumelos adotada no Brasil é “Jun-Cao” (Jun =


cogumelo e Cao = gramíneas) modificada, que permitiu unir benefícios sociais, ecológicos e
econômicos, e também estabeleceu melhor equilíbrio ecológico entre plantas, fungos e
animais (Figura 7). Ela é baseada no aproveitamento de gramíneas (Andropogon sp. (capim
andropogon), Brachiaria brizantha, B. decumens, Cynodon spp. (cost cross e tifton),
Pennisetum purpureum (capim elefante), Saccharum officinarum (cana de açúcar), Musa sp.
(bananeira/folha), Bactris gasipaes (pupunha/descasca), Pilocarpus microphyllus
(jaborandi/resíduo), Dimorphandra mollis (favas dantas/resíduos), como principal
componente, associadas a outros insumos, como farelo, gesso e outros resíduos orgânicos. O
material é esterilizado, colocado em sacos de polipropileno e inoculado com “sementes”
(spawn) de cogumelos. Os materiais são transferidos para uma sala escura com o objetivo de
iniciar o processo de desenvolvimento vegetativo do cogumelo. Suas principais vantagens
são: aproveitamento de recursos agrícolas abundantes e inexplorados; boa produtividade;
curto período de cultivo; praticidade e fácil aplicação; alta qualidade dos produtos; efeito
intenso no balanço ecológico em área de solo com erosão (recuperação de áreas degradadas);
produção em pequenas áreas e ausência do uso de agrotóxicos (URBEN et al, 2017).
27

A tecnologia também tem contribuído significativamente para a economia circular


baseada no reuso de materiais, contribuindo no desenvolvimento de outras atividades
produtivas, como horticultura, fruticultura, pecuária, cosméticos, produção de fármacos,
artesanato e bioenergia (MEYER et al., 2020; ANTUNES et al., 2021).

Em síntese, a tecnologia "Jun-Cao" modificada proporciona que as biomassas pós-


colheita dos cogumelos possam ser usadas como fertilizantes ou condicionador do solo, ração
animal, defensivos agrícolas naturais, substrato para plantas ornamentais e substrato para
mudas de hortaliças. Além disso, o resíduo exaurido pode ser utilizado na biorremediação de
compostos com hidrocarbonetos complexos transformando-os em compostos elementares que
não são tóxicos ao meio ambiente (COLLELA et al., 2019; CORRAL-BOBADILLA et al.,
2019).

Figura 7: Técnica de produção de cogumelos “Jun-Cao” modificada.

A: Preparação do inóculo. B: Preparação do substrato. C: Inoculação. D: Incubação. E: Indução dos


primórdios. F: Frutificação. Fonte: Adaptado de https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-
social/tecnologia-juncao-modificada-para-producao-de-cogumelos-comestiveis-e-medicinais
28

No cultivo de Pleurotus spp. é possível utilizar diferentes substratos resultantes de


atividades agrícolas, como palha de arroz, palha de feijão e rama de mandioca para o cultivo
de P. ostreatus var. florida; aveia preta e serragem com suplementação de farelo de soja para
P. ostreatoroseus; casca de grão de bico e talo de milho com suplementação de farelo de arroz
para P. sajor-caju; entre outros (MARTINS et al., 2018).

Pleurotus spp. é um dos gêneros de fungos de “podridão branca” mais


extensivamente estudado, pelas suas excepcionais propriedades ligninolíticas. Este gênero
realiza a clivagem de celulose, hemicelulose e a lignina da madeira, enquanto os fungos da
podridão parda apenas clivam a celulose e a hemicelulose (MACHADO et al., 2016). As
enzimas lignocelulolíticas são afetadas por muitos fatores. Os principais fatores ambientais
incluem temperatura, umidade, luminosidade e concentração de oxigênio e dióxido de
carbono do ar circundante ao substrato (BELLETTINI et al., 2016).

Entre os fatores químicos que interferem no crescimento dos cogumelos está a


concentração de nutrientes no substrato; nove elementos minerais são considerados essenciais
para os fungos, como os macronutrientes P, K, Mg e S e os micronutrientes Cu, Fe, Mn, Mo e
Zn. Ainda, minerais como Na, Mg e Ca podem atuar como estimulantes do crescimento
micelial e da frutificação. O nitrogênio, quando em equilíbrio na relação Carbono/Nitrogênio
(C/N) desempenha um papel importante no metabolismo fúngico, sendo convertido em
aminoácidos, proteínas, purinas e pirimidinas; a relação C/N é importante para o
desenvolvimento do fungo e para a formação do cogumelo. No gênero Pleurotus, a relação
ideal de C/N encontra-se na faixa de 20 a 50:1 (ALBUQUERQUE; SOUSA, 2021).
29

3.3.1 Pleurotus ostreatus (Shimeji Preto)

O cultivo de P. ostreatus (Figura 8) apresenta diversas vantagens sobre outros


cogumelos comestíveis, pois é uma espécie que já é conhecida por crescer rapidamente sob
uma ampla faixa de temperaturas e pH, secretar uma gama de enzimas capazes de degradar a
biomassa linocelulósica dos substratos, ter um alto potencial de rendimento e valor
nutricional, possuir importância medicinal, exigir pouco controle ambiental, colonizar
substratos em menor tempo, e não necessitar de compostagem para o preparo de seu substrato.
Além disso, seus corpos de frutificação são dificilmente atacados por doenças e pragas,
podendo ser cultivados de maneira simples e barata. O seu cultivo precisa apenas de
pasteurização e não requer um método mais caro como a esterilização (LESA et al., 2022).

P. ostreatus é mais valorizado do que outras espécies de Pleurotus por causa de seu
sabor delicioso, grandes quantidades de proteínas, carboidratos, minerais (cálcio, fósforo,
ferro) e vitaminas (tiamina, riboflavina e niacina) e baixo teor de gordura (ODUNMBAKU;
ADENIPEKUN, 2018). Vários materiais têm sido utilizados na preparação de o composto
para o cultivo de P. ostreatus, como serragem, palha de bananeira, casca de café e vários
resíduos celulósicos (SIQUEIRA et al., 2016).

P. ostreatus é caracterizado por alto teor de água e baixo poder calorífico, tornando-o
adequado para inclusão em dietas. Os píleos de P. ostreatus são valorizados não só pelo seu
sabor, mas também pelo seu valor nutricional, especialmente em dietas vegetarianas
(BELLETTINI et al., 2016). Essas propriedades, atualmente, tornaram P. ostreatus o mais
popular e cogumelo consumido (LESA et al., 2022).

Por ser uma espécie amplamente estudada, com produção mundial bem estabelecida
e grande possibilidade de adaptação às mais variadas condições de cultivo, P. ostreatus se
tornou uma opção altamente viável para que se construa uma produção significativa de
cogumelos comestíveis, de baixo custo, e que possa ser difundida para todo o país, incluindo
as regiões em que não se tem a fungicultura bem estabelecida.
30

Figura 8: Cultivo do cogumelo Pleurotus ostreatus.

Fonte: https://ultimate-mushroom.com/edible/5-pleurotus-ostreatus.html

3.4 Resíduos agroindustriais no cultivo de cogumelos comestíveis

O desenvolvimento econômico, ao passo que contribui para o aumento do padrão de


vida da população, também contribui para o aumento da produção de resíduos sólidos. Com
esse aumento, os sistemas de gestão desses resíduos acabam ficando sobrecarregados. Isso é
um problema que engloba tanto consequências ambientais quanto conflitos sociais, pois esses
resíduos, quando geridos de forma inadequada, além de se tornarem fontes de poluição,
acabam causando impactos no orçamento público (BUNDHOO, 2018).

Os impactos causados devido ao volume de resíduos sólidos gerados são


preocupantes, principalmente para os países em desenvolvimento. Contudo, os resíduos
orgânicos fazem parte desse arsenal de resíduos sólidos, e é possível agregar valor a esses
subprodutos a partir da recuperação, processamento e reaproveitamento apropriados (DHAR,
2017).
31

No Brasil, cerca de 50% dos resíduos urbanos coletados são orgânicos. Possui
características nutritivas ideais para compostagem e outras aplicações de recuperação de
massa orgânica. Esse potencial acaba sendo economicamente desperdiçado quando seu
destino é o descarte em aterros sanitários. Dessa forma, alternativas que busquem adequar o
gerenciamento de resíduos agroindustriais são de extrema importância. Uma alternativa com
muito potencial para a reutilização desses resíduos é a sua aplicação na formulação de
substratos para o cultivo de cogumelos comestíveis, como por exemplo, P. ostreatus
(ZÁRATE-SALAZAR et al., 2020). Os fungos, quando cultivados neste tipo de resíduo,
podem não só converter a biomassa lignocelulósica em alimento, como também gerar
produtos biomedicinais com benefícios para a saúde. A bioconversão do material
lignocelulósico em alimentos e outros produtos contribui para a gestão de resíduos agrícolas e
industriais; além disso, apresenta um dos processos de reciclagem orgânica mais econômicos
(TORRES et al., 2017).

Pela alta variedade de substratos que podem ser utilizados, o cultivo de cogumelos
oferece a possibilidade de complementação de renda para pequenos e grandes agricultores, de
maneira sustentável, o que torna esta atividade cada vez mais importante pela situação de
crise econômica e ambiental que se agrava no planeta. Além do importante papel de
bioconversão do resíduo em alimento, o substrato residual resultante do cultivo de cogumelos
comestíveis pode ainda ser utilizado como forragem para animais, condicionador de solo ou
fertilizante natural ou como alimento para animais, fechando o ciclo de aproveitamento da
matéria-prima (MARTINS et al., 2018).

Tendo em vista a importância do reaproveitamento de resíduos agroindustriais para


uma possível adaptação da fungicultura à região paraibana, os resíduos selecionados para
serem utilizados neste trabalho foram o bagaço de malte, bagaço da cana-de-açúcar, vagem do
feijão verde sem o grão, coco verde descartado e borra do café, que são de relevância na
região, além do gesso agrícola, do arroz e do milho comercializados.
32

3.4.1 Bagaço de malte

Resumidamente, as etapas para a fabricação de cerveja incluem a obtenção do malte,


a preparação do mostro, a fermentação, o processamento da cerveja e o envase. Após os
processos, subprodutos são gerados e o principal deles é o bagaço de malte, correspondendo a
85% dos resíduos produzidos. O bagaço de malte (Figura 9), constituído em formas de cascas
ou de farelo, possui alto teor de fibras proteicas e aproximadamente 80% em umidade; é
predominantemente fibroso (70% massa seca) e proteico (15 a 25% massa seca), apresentando
também em sua composição lipídeos, minerais, vitaminas, aminoácidos e compostos
fenólicos. A composição do bagaço de malte é diversa, em geral, tem-se: celulose (16,8% -
20,6%), hemiceluloses (18,4% - 28,4%), lignina (9,9% - 27,8%), proteínas (15,3% - 26,6%),
extrativos (5,2% - 5,8%) e cinzas (2,7% - 4,6%) (MASSARDI; MASSINI; SILVA, 2020).

Os resíduos gerados na produção de cerveja recebem pouca atenção e o seu descarte


acaba sendo um problema para as empresas. Vem crescendo a preocupação das cervejarias
com a poluição da água e o descarte dos resíduos, ainda que essas atividades possam ser
consideradas “limpas” em relação à importância dada a questões ambientais. Os resíduos
cervejeiros apresentam uma composição rica em compostos orgânicos e com significativo
poder nutricional, portanto, devem ser tratados antes de serem dispensados ao ambiente, para
minimizar alterações no equilíbrio ecológico local. Assim, busca-se a redução da geração
desses resíduos ou alternativas para o seu reaproveitamento em outros processos, já que estão
disponíveis o ano inteiro, em grandes quantidades e a um baixo custo de aquisição (TOMBINI
et al., 2022). Na fabricação de 100 litros de cerveja, são gerados 20 kg do bagaço do malte,
com 70% a 80% de umidade; isso equivale a uma produção média de 2,82 milhões de
toneladas do material por ano no Brasil, ou, em média, 0,71 milhões de toneladas do resíduo
seco, se for considerada a produção total de cerveja em 2016 (MASSARDI; MASSINI;
SILVA, 2020).
33

A alternativa mais utilizada para aproveitamento desse resíduo é sua aplicação na


produção de ração animal, devido seu alto valor nutricional e fácil acesso. Porém, essa
aplicação tem apresentado problemas para os produtores rurais. Com a dificuldade de um
armazenamento adequado e o alto teor de umidade no bagaço de malte, o crescimento
microbiano é facilitado, ocasionado enfermidades em bovinos e consequentemente reduzindo
o seu tempo de vida. Por outro lado, os bioprocessos industriais surgem como novas
alternativas para a obtenção de produtos de maior valor agregado e a destinação dos resíduos
gerados para fins mais nobres (LOPES et al., 2015).

Figura 9: Bagaço de malte.

Fonte: https://www.clubedomalte.com.br/blog/receitas-e-harmonizacoes/como-maturar-queijo-com-o-
bagaco-do-malte/

Diversas aplicações podem ser citadas além da alimentação e nutrição animal e


humana: produção de energia por queima direta ou por produção de biogás via fermentação
anaeróbia; produção de carvão vegetal; material adsorvente em tratamentos químicos; suporte
para imobilização celular; e o cultivo de microrganismos e obtenção de bioprodutos por
fermentação e, além disso, é considerado um resíduo promissor para a fungicultura de
cogumelos comestíveis (MATHIAS; MELLO; SERVULO, 2014).
34
3.4.2 Bagaço da cana-de-açúcar

No Brasil, a produção de cana-de-açúcar é focada na sua utilização para suprir as


necessidades do mercado interno e externo do etanol. Com o crescimento da produção de
etanol, agregado as tecnologias que potencializam o crescimento das plantações de cana-de-
açúcar, a geração de resíduos relacionados a essa atividade também aumentou. Os principais
resíduos são o bagaço e a vinhaça, que podem ser considerados subprodutos de baixo valor
agregado. A forma de aproveitamento mais empregada para esses resíduos é a produção de
energia, também sendo aplicáveis na fabricação de chapas de fibra para construções,
fabricação de massa de papel (celulose), fabricação de material plástico, como solvente na
indústria e ração animal (BONASSA et al., 2015).

A quantidade de bagaço de cana-de-açúcar seco equivale a 280 kg para cada tonelada


de cana-de-açúcar processada, sendo considerado o resíduo agroindustrial de natureza
lignocelulósica mais abundante no país. O bagaço de cana-de-açúcar (Figura 10) é em sua
maioria queimado para gerar energia para as usinas, entretanto, ainda é preocupante o
desperdício de uma parte considerável desse resíduo, tanto pela indústria energética quanto
por outras fontes, como por exemplo o bagaço proveniente do consumo do caldo de cana em
lanchonetes. Essa preocupação é crescente, pois é um resíduo considerado poluente e que
contribui para o agravamento da perda de vida útil dos aterros sanitários. O bagaço final é a
matéria fibrosa gerada na saída da última moenda, após a extração do caldo. Possui em sua
constituição a celulose, hemicelulose e lignina, material estrutural da planta, associado à
parede vegetal celular, responsável pela rigidez, impermeabilidade e resistência. In natura é
composto por 45% de fibras lignocelulósicas, 50% de umidade, 2 a 3% de sólidos insolúveis e
2 a 3% de sólidos solúveis em água. A perspectiva para o aproveitamento do bagaço de cana-
de-açúcar tem como metas a redução de custos para as usinas sucroalcooleiras e a diminuição
do impacto ambiental gerado pelo desperdício desse resíduo (SOUZA et al., 2015;
ALBUQUERQUE; SOUSA, 2021).
35
Figura 10: Bagaço de cana-de-açúcar.

Fonte: https://blog.syngentadigital.ag/como-reaproveitar-o-bagaco-da-palha-de-cana/

3.4.3 Vagem do feijão verde sem a casca

O feijão é uma cultura muito comum em todo o território brasileiro. É consumido


regularmente pelos habitantes e possui alto grau de satisfação na culinária popular.
Particurlamente, a espécie Phaseolus vulgaris L., foi domesticada há muito tempo, com três
safras durante o ano (IBGE, 2017). Uma das principais culturas agrícolas produzidas na
região Nordeste é o feijão, gerando como subproduto a casca (vagem) de feijão (Figura 11).
Geralmente, os agricultores incorporam à alimentação do gado, no entanto, essa alternativa de
reutilização acaba não sendo satisfatória, pelo baixo potencial nutricional desse resíduo para
os animais (AGUIAR et al., 2015). Por serem de matriz lignocelulósica, o feijão e sua vagem
são materiais de composição básica aplicável a outros processos, dentre eles, como fonte para
a formação de açúcares fermentescíveis para a produção de bioetanol. Apresenta em sua
composição uma média de 41% de celulose, 20,6% de hemicelulose e 5,3% de lignina. O grão
do feijão possui produção em grande escala e seus destinos são satisfatórios, contudo, ao fim
da produção forma-se uma grande quantidade de resíduos, que ainda não possuem um destino
aproveitável, mesmo apresentando potencial de reutilização por causa da sua composição
(EGÍDIO et al., 2019). Baseando-se nessas características, foi proposta a utilização da vagem
do feijão Phaseolus vulgaris L. para compor a formulação de substratos com potencial para a
produção de cogumelos comestíveis.
36

Figura 11: Vagem do feijão verde (Phaseolus vulgaris L.)

Fonte: Lima et al. (2019).


37
3.4.4 Coco verde descartado

O coco é um fruto relativamente grande, que geralmente excede 1 kg em peso fresco.


O epicarpo, mesocarpo e endocarpo do coco não são comestíveis e representam cerca de
metade do peso do fruto. A grande quantidade de coco descartado é um problema de resíduos,
principalmente nas cidades dos principais países produtores (SOARES et al., 2016). No
Brasil, a produção de coco verde em 2017 foi de foi de 1,8 bilhão de frutos, com o
crescimento de 1,5% em relação a 2016. As maiores plantações de coco estão concentradas na
região litorânea, com predomínio na região Nordeste. No mesmo ano, a Região Nordeste
respondeu por 74,5% da produção nacional (IBGE, 2017). Com o crescente consumo e
aumento da produção, o descarte de suas sobras é tido pela população como uma tendência
natural, acarretando grande problemas para as áreas urbanas. Estima-se que de 80% a 85% do
peso bruto do coco verde são consideradas lixo e cerca de 70% de todo lixo nas praias
brasileiras é gerado a partir do seu consumo e descarte impróprio. A casca do coco verde leva
mais de 8 anos para se decompor (OLIVEIRA, 2022). O descarte impróprio dessas sobras
normalmente ocorre com o seu depósito em lixões a céu aberto, vazadouros, encostas e
aterros sanitários. Além de degradarem a paisagem e produzirem mau cheiro, esses resíduos
comprometem diretamente a vida útil dos aterros, causam impactos biológicos ao solo e
favorecem proliferação de vetores, contribuindo para a transmissão de doenças. Outra
desvantagem para essas formas de descarte é que os resíduos do coco verde se transformam
em um sério problema ambiental ao encontrar condições anaeróbias para a produção de gás
metano, um dos principais gases do efeito estufa (CABRAL, 2017). A casca de coco
(mesocarpo) é composta principalmente de celulose, hemicelulose e lignina (Figura 12).

Figura 12: Estrutura morfológica do coco verde.

Fonte: Cabral (2015).


38

A alta quantidade de lignina torna o coco impróprio para a indústria de papel. Por
outro lado, a celulose e hemicelulose podem tornar os cocos um matéria-prima interessante
para a produção de bioetanol. No entanto, são necessários pré-tratamentos severos para
remover o alto teor de lignina e aumentar o teor de celulose e hemicelulose (SOARES et al.,
2016). Pensando em uma alternativa mais barata para o reaproveitamento desse resíduo, sem
a necessidade de pré-tratamentos, foi investigada a utilização do endocarpo do coco verde
descartado como recipiente para a produção de cogumelos comestíveis. O uso de um
recipiente biodegradável, como o coco verde, é ideal para acomodar o substrato e para a
produção, pois fornece nutrientes extras e retenção de umidade, considerando que o
endocarpo em conjunto com o epicarpo possui morfologia semelhante às árvores hospedeiras
dos macrofungos em seu habitat natural (SOUSA, 2020; ALBUQUERQUE; SOUSA, 2021).

3.4.5 Borra do café

O Brasil é líder mundial na produção cafeeira. Em 2016 foram produzidos mais de


152 milhões de sacas de café, sendo o país responsável por mais de 53 milhões de sacas. As
duas regiões que mais produzem café no Brasil são a Região Sudeste (87,17%) e a Região
Nordeste (7,38%). Dentro de uma perspectiva econômica, temos um cenário promissor para a
produção do café, porém, de uma perspectiva ambiental, surgem problemáticas, tendo em
vista que a geração de resíduos gerados pela indústria cafeeira é tão volumosa quanto a sua
produção. Os resíduos são gerados na mesma proporção de grãos, ou seja, para cada saca de
60 kg de café, gera-se também 60 kg de resíduos ao final do processo produtivo. Não há
políticas específicas de gerenciamento e destinação final dos resíduos gerados, o que pode
ocasionar danos ambientais (SOUZA et al., 2020).
39

Em muitos casos, os resíduos tornam-se fontes preocupantes de poluição de solos e


leitos de rios, com grande destaque para a borra de café (Figura 13), que é um resíduo sólido
orgânico urbano, subproduto final da cadeia produtiva do café, obtida após a sua extração.
São resíduos pouco explorados, porém ricos em sua composição, por conterem
polissacarídeos importantes como galactomananas e arabinomananas, taninos, lignina,
lipídeos, proteínas, carboidratos, fibras celulósicas, cafeína, ácidos e compostos fenólicos, que
são responsáveis pela forte ação antioxidante. A composição química da borra de café pode
variar com relação ao determinado tipo de café utilizado, bem como das condições de
torrefação e tipo de preparo, também com a influência da localização onde as plantas estão
inseridas, clima e condições do solo. A borra de café possui diferentes propriedades e
potenciais aplicações, algumas delas com alto valor de mercado (KARMEE, 2018; MATA;
MARTINS; CAETANO, 2018).

Figura 13: Borra de café, resíduo urbano.

Fonte: https://www.meridiano.com.br/blog/borra-de-cafe-rende-mais/

Devido ao seu impacto ambiental, riqueza nutricional e fácil obtenção, esse resíduo
foi escolhido para ser reaproveitado como suplemento teste em formulações de substratos
utilizadas no cultivo do P. ostreatus, averiguando se o seu uso pode incrementar a produção.
40

4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Local de realização do trabalho: os experimentos foram conduzidos no Laboratório de


Genética Molecular e Biotecnologia Vegetal (L G M Biotec), Centro de Biotecnologia,
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus I, João Pessoa, Paraíba.

4.2 Origem do cogumelo: A matriz do Shimeji Preto (P. ostreatus) foi isolada de corpos
frutíferos comercializado na região metropolitana de João Pessoa/PB em 2022. Para obtenção
do micélio foi realizada a Técnica de cultura de tecidos. O cogumelo foi cuidadosamente pré-
lavado em água destilada e com um bisturi esterilizado em álcool 70% previamente flambado,
foi feito corte longitudinalmente na região do himênio interno e inoculado numa placa de
Petri contendo meio sólido ágar-Sabouraud-dextrose 2 % com a seguinte composição: 5 g/L
de peptona de carne, 20 g/L de glicose, 5 g/L de peptona de caseína e 15 g/L de ágar
bacteriológico. Após o inóculo, a placa foi incubada por um período de 15 dias em
temperatura ambiente (28 ± 2°C). Após crescimento do micélio, a colônia foi purificada,
avaliada micro e macroscopicamente, e posteriormente mantida sob refrigeração a 4°C em
meio de manutenção ágar-Sabouraud-dextrose 2 %, conforme metodologia descrita por
Furlan et al. (1997).

4.3 Exame macro e microscópico das estruturas: foi utilizada a metodologia descrita por
Lopes et al. (2008), adaptada para avaliação microscópica. Inóculo do micélio foi transferido
para placas de Petri contendo meio ágar-Sabouraud-dextrose 2% e cobertos com uma
lamínula previamente flambada. As placas foram mantidas à temperatura ambiente e as
lamínulas com micélio aderido foram retiradas sucessivamente, nos períodos de 24 – 48 – 72
– 96 – 120 horas após o início do experimento, colocadas invertidas sobre uma lâmina estéril,
contendo uma gota do corante azul de lactofenol e analisadas ao microscópio óptico para
visualização das estruturas vegetativas. Para avaliação macroscópica, um disco do micélio foi
inoculado no centro da placa de Petri contendo o meio ágar-Sabouraud-dextrose 2 %. Em
seguida, a placa foi mantida em temperatura ambiente (28 ± 2oC). As observações foram
feitas durante 15 dias para caracterização do aspecto macroscópico da colônia e comprovação
da pureza e viabilidade da cultura.
41

4.4 Técnica da fita adesiva para captura dos esporos: na parte inferior do basidioma estão
dispostas as lamelas. Sobre elas pressionou-se um pedaço de fita adesiva transparente para
capturar os esporos. Em seguida a fita foi pressionada em uma lâmina contendo uma gota de
corante azul de lactofenol e posteriormente analisada ao microscópio óptico (ARANGO;
CASTAÑEDA, 1995).

4.5 Tipos e origens dos substratos: foram utilizados arroz, milho de pipoca, bagaço de
malte, vagem de feijão sem o grão, bagaço da cana-de-açúcar, coco verde (endocarpo), borra
do café e gesso agrícola (Figura 14). Todos os substratos foram adquiridos no mercado local
da região metropolitana de João Pessoa, conforme especificado na Tabela 1.

Figura 14: Substratos e suplementos destinados às formulações para testar a produção da


semente e frutificação do Pleurotus ostreatus.

A B C D

E F G H

A: vagem do feijão verde sem semente desidratada; B: coco verde tratado e autoclavado; C:
Bagaço da cana-de-açúcar cortado; D: Gesso agrícola; E: Milho de pipoca pré-cozido; F:
Bagaço de malte (resíduo cervejeiro); G: Arroz com casca e H: Borra do café após
processamento sem adição de açúcar. Fonte: Autoria própria, 2022.
42

Tabela 1: Origens dos substratos e suplementos.


Substrato Origem
Arroz com casca Produto comercializado
Bagaço de malte Cervejaria artesanal da Região Metropolitana de João Pessoa
Vagem do feijão verde sem o grão Mercado público da Região Metropolitana de João Pessoa
Milho de pipoca Produto comercializado
Bagaço da cana-de-açúcar Lanchonetes da Região Metropolitana de João Pessoa
Borra do café Lanchonetes da Região Metropolitana de João Pessoa
Gesso agrícola/Sulfato de cálcio Produto comercializado

Coco verde - endocarpo Barraca de coco da Região Metropolitana de João Pessoa


Fonte: Autoria própria, 2022.

4.6 Processamento dos substratos: todos os substratos foram tratados independentes e em


seguida misturados para formulação dos diferentes tratamentos descritos nas Tabelas 2 e 3.

Arroz com casca (Oryza sativa L.): o grão foi lavado com água corrente para retirar o
excesso do amido, pré-cozido com água destilada e gesso agrícola durante 8 min em micro-
ondas, potência alta e em seguida autoclavado a 121°C por 60 minutos (Metodologia adaptada
de SALAMI et al., 2016).

Bagaço de malte (Hordeum vulgare L.): esse resíduo foi oriundo do processamento da
cerveja e devido a umidade alta (80%) não passou por nenhum pré-tratamento. Após coleta
foi acondicionado em sacos plásticos e mantidos sob refrigeração a 4oC.

Vagem do feijão verde sem grão (Phaseolus vulgaris L.): após coleta, as vagens do feijão
verde foram colocadas em estufa de secagem com circulação de ar por um período de 72 h a
60 ± 5oC. Após secagem, elas foram submersas em água corrente por 24 h. Em seguida, a
água foi escoada e as vagens foram deixadas numa plataforma sólida para secar externamente,
por aproximadamente 2 h em temperatura ambiente (28 ± 2oC). Após isso, a vagem foi
triturada em moinho de facas e em seguida acondicionada em sacos plásticos e mantidos sob
refrigeração a 4oC (Figura 15) (ZANETTI; RANAL, 1997).
43

Figura 15: Vagem do feijão verde sem grão, após processamento.

Fonte: Autoria própria, 2022.

Milho de pipoca (Zea mays var. everta): o grão foi cozido em fogo alto em uma panela de
pressão por 90 minutos. Após a cocção, o extrato proveniente do cozimento foi drenado e o
grão foi deixado em temperatura ambiente (28 ± 2°C) para secar externamente por
aproximadamente 60 minutos. Em seguida acondicionado em sacos plásticos e mantidos sob
refrigeração a 4oC (BONATTI et al., 2004).

Bagaço da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.): esse resíduo não passou por
nenhum tratamento específico, apenas foi cortado, com o auxílio de uma tesoura, em pedaços
que variavam dos 2 a 5 cm de comprimento e em seguida acondicionado em sacos plásticos e
mantidos sob refrigeração a 4°C.

Borra do café (Coffea sp.): esse resíduo foi obtido do café coado (produto comercial) sem
adição de açúcar. Não passou por nenhum pré-tratamento, apenas foi acondicionado em sacos
plásticos e mantidos sob refrigeração a 4oC.

Gesso agrícola ((CaSO4.2H2O): foi utilizado seguindo as recomendações do fabricante sem


passar por nenhum processo de diluição. Além de reter umidade, o sulfato de cálcio fornece
Ca e S e é absorvido pelos grãos e então utilizado pelo micélio do cogumelo.

Coco verde descartado (Cocos nucifera L.): o coco verde foi aberto ao meio, lavado com
água corrente, retirado a polpa e autoclavado a 121°C por 30 minutos e em seguida mantido
sob refrigeração a 4oC até o momento do uso. O endocarpo foi utilizado como recipiente para
produção do Shimeji Preto (ALBUQUERQUE; SOUSA, 2021).
44

Tabela 2: Formulações para análise da influência da luz e da temperatura na corrida micelial


do Pleurotus ostreatus.
Tratamentos Formulações/Proporções dos substratos
TLT1 Bagaço de malte (98%) + gesso agrícola (2%)
TLT2 Milho de pipoca
Fonte: Autoria própria, 2022.

Tabela 3: Formulações para produção da semente e do basidioma de Pleurotus ostreatus.

Tratamentos Formulações/Proporções dos substratos

TC - Controle Arroz (98 %) + gesso agrícola (2%)


T1 Bagaço de malte (100%)
T2 Bagaço de malte (98%) + gesso agrícola (2%)
T3 Bagaço de malte (98%) + borra do café (2%)
T4 Bagaço de malte (96%) + borra do café (2%) + gesso agrícola (2%)
T5 Bagaço de malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%)
T6 Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%)
T7 Bagaço de malte (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%)
T8 Bagaço de malte (50%) + bagaço da cana-de-açúcar (50%)
Bagaço de malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%) + gesso
T9 agrícola (2%)
Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%) + gesso
T10 agrícola (2%)
Bagaço de malte (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%) + gesso
T11 agrícola (2%)
Bagaço de malte (50%) + bagaço da cana-de-açúcar (50%) + gesso
T12 agrícola (2%)
T13 Vagem do feijão (100%)
T14 Vagem do feijão (50%) + Bagaço de malte (50%)
T15 Vagem do feijão (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%)
T16 Vagem do feijão (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%)
T17 Vagem do feijão (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%)
T18 Vagem do feijão (50%) + bagaço da cana-de-açúcar (50%)

Fonte: Autoria própria, 2022.

Todas as formulações foram misturadas manualmente, e em seguida autoclavadas em


autoclave vertical (Prismatec – CS) a 1 atm durante 60 min. a 121 °C antes da inoculação.
45

4.7 Determinação do conteúdo de umidade e massa seca dos substratos: não foi
adicionada água após formulações com os diferentes substratos, mas o conteúdo de umidade
(U) foi determinado pelo método gravimétrico com o emprego de calor, o qual se baseia na
perda de peso do material quando submetido ao aquecimento, até atingir peso constante.
Todos os tratamentos foram mantidos em estufa de secagem a 105°C por 24 h e a
determinação do conteúdo de umidade do substrato foi determinado pela diferença da
biomassa úmida e seca conforme Equação 01 (ASSOCIATION OF OFFICIAL
ANALYTICAL CHEMISTS-AOAC, 1995).

U (%) = MI – MF
MI
Onde:
MI = Massa inicial da amostra
MF = Massa final da amostra
Eq. 01

A massa seca (MS%) foi determinada segundo a Equação 02:

MS (%) = 100 – U

Eq. 02

4.8 Produção da semente: o inóculo (semente ou “spawn”) foi preparado conforme


metodologia descrita por Bonatti et al. (2004), consistindo em grãos de milho de pipoca,
utilizados como suporte para o crescimento micelial. 50g de sementes de milho de pipoca
cozidas foram misturadas com gesso agrícola (2% p/p) e acondicionadas em frascos de vidro
(6,0 x 8,5 cm). Os frascos foram vedados com papel alumínio para facilitar a troca gasosa e
esterilizados em autoclave a 121°C, durante 60 minutos. Após a esterilização, cada frasco foi
inoculado com três discos de ágar (10 ± 1mm de diâmetro), contendo micélio fúngico e
incubado a 28° ± 2°C, no escuro até a colonização completa da superfície dos grãos pelo
micélio (Figura 16).
46

4.9 Avaliação da influência da luz no crescimento micelial: foram utilizados os tratamentos


TLT1 e TLT2. O experimento foi realizado em tubos de ensaio (2,5 x 20 cm). Após
inoculação com 2% da semente, os tubos foram mantidos no claro intermitente, escuro
intermitente e fotoperíodo 12 h claro/12 h escuro em temperatura ambiente. O experimento
foi realizado em triplicata e avaliado durante 15 dias. A medição foi realizada verticalmente
com uma régua milimetrada (cm).

Figura 16: Semente de Pleurotus ostreatus no grão de milho de pipoca.

A: Milho de pipoca pré-cozido e autoclavado e B: Milho de pipoca colonizado com o micélio


primário do Shimeji preto. Fonte: Autoria própria, 2022.

4.10 Avaliação da influência da temperatura no crescimento micelial: foram utilizados os


tratamentos TLT1 e TLT2. O experimento foi realizado em tubos de ensaio (2,5 x 20 cm).
Após inoculação com 2% da semente, os tubos foram mantidos a 20oC, 25oC e 30oC em
estufa bacteriológica, no escuro. O experimento foi realizado em triplicata e avaliado durante
15 dias. A medição foi realizada verticalmente com uma régua milimetrada (cm) (IMTIAJ et
al., 2008).
47

4.11 Seleção dos substratos por meio da avaliação do vigor, densidade e crescimento
micelial para produção da semente e basidioma do Pleurotus ostreatus: foram utilizados
os tratamentos TC a T18. Os substratos foram pesados (10 g) e misturados manualmente e
acondicionados em tubos de ensaio (2,5 x 20 cm), vedados com algodão, e posteriormente
autoclavados a 121°C por 30 minutos. Após esterilização, foi realizada a inoculação com 2 %
da semente produzido no milho de pipoca. Em seguida, os tubos foram incubados no escuro
em temperatura ambiente. A velocidade de colonização do cogumelo nas diferentes
formulações foi avaliada por meio da medição do crescimento do micélio (mm) com o auxílio
de régua milimetrada, considerando o topo do substrato como ponto 0 (zero) (PEDRA;
MARINO, 2006). Neste experimento, não foi levado em consideração à velocidade de
crescimento micelial do cogumelo em si e sim, das médias de crescimento (cm/dia) do
cogumelo em função de cada substrato. Para avaliação do vigor e densidade, o micélio foi
classificado como: micélio forte (caracterizado com alta densidade, compacto e vigor
acentuado); micélio mediano (caracterizado com média densidade, pouco compacto e menor
vigor) e micélio fraco (caracterizado com baixa densidade e escasso e sem vigor)
(BERNARDI et al., 2013). Para todas as avaliações, foi realizado um experimento em
triplicata.

4.12 Efeito dos substratos no tempo de crescimento para produção da semente do


Pleurotus ostreatus: os substratos/tratamentos selecionados a partir do vigor, densidade e
crescimento micelial foram utilizados neste ensaio. Os substratos foram pesados (60 g) e
misturados manualmente e acondicionados em sacos de polipropileno (6 cm x 25 cm),
vedados com abraçadeira de nylon e posteriormente autoclavados a 121°C por 30 minutos
(Figura 17). Após esterilização, foi realizada a inoculação com 2% da semente. Em seguida,
os sacos foram incubados no escuro em temperatura ambiente. A velocidade de colonização
do cogumelo nas diferentes formulações foi avaliada por meio da medição do crescimento do
micélio (mm) com o auxílio de régua milimetrada, considerando o topo do substrato como
ponto 0 (zero) (PEDRA; MARINO, 2006). Foi realizado um ensaio com três repetições.
48

4.13 Ensaio de produção do Pleurotus ostreatus: foi utilizada a técnica de cultivo axênico,
na qual os tratamentos/substratos são esterilizados e enriquecidos com nutrientes, permitindo
que o fungo cresça sem competição e obtenha maior produtividade (PEDRA; MARINO,
2006). A partir da caracterização do crescimento micelial, densidade e vigor, os melhores
tratamentos foram reproduzidos no coco verde reciclado. 100 g do substrato/tratamento foram
acondicionados no endocarpo do coco verde. Os cocos contendo os substratos foram
colocados dentro de sacos de polipropileno (27 cm x 41 cm), vedados com abraçadeira de
nylon e autoclavados a 121°C por 30 minutos (Figura 18). Após a etapa de esterilização, foi
realizada a inoculação com 2% da semente. Em seguida, os cocos foram incubados no escuro
em temperatura ambiente por 15 dias e em seguida aberto para frutificação. Após abertura dos
sacos, todos os tratamentos foram submetidos a um sistema de rega com água corrente por
micro aspersão, manualmente com borrifadores, diariamente. Após frutificação, os
basidiomas foram colhidos quando apresentaram o máximo desenvolvimento, verificado pelo
início do desenrolamento das margens do píleo. Para cada tratamento foi realizado um
experimento com três repetições.

4.14 Avaliação dos parâmetros biológicos: durante o período de cultivo, foram analisados
aspectos biológicos do cogumelo como: tempo de colonização do substrato, período de
emissão de primórdios e tempo de formação dos basidiomas.

Figura 17: Substratos acondicionados em sacos para o teste de produção da semente do


Pleurotus ostreatus.

A: Tratamento T1 (Bagaço de malte). B: Tratamento T2 (Bagaço de malte + gesso agrícola). C:


Tratamento T3 (Bagaço de malte + borra do café). D: Tratamento T4 (Bagaço de malte + borra do
café + gesso agrícola). Fonte: Autoria própria, 2022.
49

Figura 18: Tratamento do coco verde reciclado usado como recipiente para produção do
Pleurotus ostreatus.

A: Coco verde reciclado e autoclavado. B: Substrato acondicionado no endocarpo do coco verde. C:


Coco + substrato protegidos por sacos de polipropileno. Fonte: Autoria própria, 2022.

4.15 Avaliação dos parâmetros produtivos: durante o período de cultivo, foram analisados
parâmetros de produção do cogumelo em função do substrato de cultivo, como: Umidade do
cogumelo (U), Rendimento (R %), Eficiência Biológica (EB %), Produtividade (Pr g/dia-1),
Consumo do composto (CC %) e Perda da matéria orgânica (PMO %).

Umidade do cogumelo: foi determinado conforme a Equação 01.

Rendimento: para determinação do rendimento (R %) do processo, foi utilizada a relação


proposta por CHANG et al. (1981), que relaciona a massa úmida dos corpos frutíferos e a
massa de substrato seco (Equação 03).

R (%) = MCU x100


MSSI
Eq. 03

Onde:
MCU = Massa úmida dos corpos frutíferos, g
MSSI = Massa seca de substrato inicial, g

Eficiência biológica: a eficiência biológica (EB %) do processo foi determinada pela relação,
proposta por BISARIA et al. (1987), entre a massa dos corpos frutíferos secos e a massa de
substrato seco (Equação 04).

EB (%) = MCS x100


MSSI
Eq. 04
50

Onde:
MCS = Massa seca dos corpos frutíferos, g
MSSI = Massa seca de substrato inicial, g

Produtividade: a produtividade (Pr g/dia-1) do processo foi determinada segundo HOLTZ


(2008). Consiste na relação entre a massa dos corpos frutíferos secos e o tempo total de
cultivo (tempo desde a inoculação até o fluxo produtivo) (Equação 05).

Pr [g.dia-1] = MCS
TC
Eq. 05

Onde:
MCS = Massa seca dos corpos frutíferos, g
TC = Tempo total do cultivo, dias

Perda de matéria orgânica (PMO %): índice que avalia a decomposição do substrato pelo
fungo. Tal índice é baseado na perda da matéria orgânica decomposta pelo fungo que é
determinado por meio da diferença entre a massa seca do substrato inicial, e a massa seca do
substrato residual. A PMO será avaliada conforme Sturion (1994), expressa pela seguinte
fórmula (Equação 06):

PMO (%) = MSSI - MSSR x 100


MSSI
Eq. 06

Onde:
PMO= Perda de matéria orgânica, %
MSSR= Massa seca do substrato residual, g
MSSI= massa seca de substrato inicial, g

Percentagens de consumo de composto (CC %): índice foi calculado baseado na massa
seca do substrato após cultivo pela massa inicial seca do composto, conforme Equação 07.

CC (%) = CF x 100
CI
Eq. 07

Onde:
CF = Composto final de matéria seca
CI = Composto inicial de matéria seca
51

4.16 Análise estatística: os dados foram submetidos à análise de variância dos valores
médios das amostras, através do Teste de Tukey com nível de significância de 5 % de
probabilidade de erro, utilizando-se o programa estatístico SISVAR 4.2.
52

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Análise macro e microscópica de Pleurotus ostreatus

Após o período de 15 dias a partir do inóculo, a colônia do Shimeji Preto em meio


ágar-Sabouraud-dextrose apresentou micélio primário de aspecto algodonoso e esbranquiçado
na frente da colônia (Figura 19A), preenchendo toda a superfície da placa de Petri. A
coloração branca e a textura algodonosa do micélio de Pleurotus ostreatus também foram
previamente relatadas por Acosta-Urdapilleta et al. (2016) em ensaios com placas de Petri
contendo diferentes meios cultura. A análise citológica evidenciou hifas hialinas, septadas,
bem como diversas anastomoses, estruturas que proporcionam a migração dos núcleos entre
os micélios, originando hifas dicarióticas, identificadas pelos grampos de conexão (Figura
19B).

Figura 19: Aspectos morfológicos do micélio primário de Pleurotus ostreatus.

A) Cultura pura em placa de Petri contendo meio ágar-Sabouraud-dextrose 2 %, com 15 dias de crescimento
após inoculação. B) Micrografia evidenciando um grampo de conexão (1) e anastomose (2). Fonte: Autoria
própria, 2022.

Em um meio de cultura apropriado, esse dicário forma o corpo de frutificação pelo


acúmulo de hifas, resultando numa estrutura macroscópica, o basidioma (cogumelo). Na parte
inferior estão dispostas as lamelas (Figura 20A) e no seu interior estão localizados os basídios,
onde ocorre a meiose. Cada basídio produz quatro basidiósporos que são esporos sexuais de
formato sub-cilíndricos e lisos (Figura 20B). Essas estruturas são características do gênero
Pleurotus e foram relatadas em P. ostreutus var. florida nessas mesmas condições
(ALBUQUERQUE; SOUSA, 2021).
53

Figura 20: Corpo de frutificação de Pleurotus ostreatus evidenciando auréola/chapéu (A1),


himênio do tipo lamelar (A2), estipe/pé (A3) e esporos sexuais (B).

Fonte: Autoria própria, 2022.

5.2 Influência da luz e da temperatura no desenvolvimento micelial do Pleurotus


ostreatus

5.2.1 Influência da luz no desenvolvimento micelial

Os dados da análise do crescimento micelial nas condições claro, escuro e


fotoperíodo 12 h claro/12 h escuro estão compilados na Figura 21. No claro, os tratamentos
TL1 e TL2 apresentaram um crescimento longitudinal médio de 2,8 e 4,6, respectivamente.
No escuro 2,7 e 5,5 para os tratamentos TL1 e TL2, respectivamente. Já no fotoperíodo, o
crescimento foi de 3,1 e 4,6 para TL1 e TL2, respectivamente. As medições foram feitas no
nono dia após inoculação, quando o micélio do tratamento TL2 na condição de fotoperíodo
atingiu o fundo do tubo de ensaio.

O fungo apresentou crescimento mais rápido no tratamento TL2 (milho de pipoca


100%) em relação ao TL1 (Bagaço de malte 98 % + gesso agrícola 2 %), independente das
condições de iluminação. Essa diferença de valores pode estar relacionada com maior
disponibilidade de nutrientes nos grãos de milho, por terem sido utilizados grãos íntegros, ao
invés de resíduos do material, como é o caso do bagaço de malte. O bagaço de malte é gerado
após a etapa de mosturação e esgotamento dos grãos de malte moídos, quando já foram
extraídos todos os compostos solúveis de interesse para constituição do mosto doce e sua
clarificação, durante a qual o bagaço exerce importante papel como torta filtrante
(MATHIAS; MELLO; SERVULO, 2014).
54

Figura 21: Variação no crescimento micelial de Pleurotus ostreatus nas condições de


iluminação.

Influência da luz no crescimento micelial


8
5,5
Crescimento micelial (cm)

7
6 4,6 4,6
5 2,7
2,8 3,1
4 Claro
3
Fotoperíodo
2
1 Escuro
0
TL1 TL2
Tratamentos

Fonte: Autoria própria, 2022.

Tratando-se da mesma espécie em todos os ensaios, a pequena variação no


crescimento nas diferentes condições de iluminação entre os dois substratos (milho e malte),
pode estar relacionada aos nutrientes disponíveis nos dois grãos, os quais são fatores
relevantes no cultivo, já que não se pôde observar nenhum padrão conclusivo relacionado
apenas às condições de iluminação sobre o crescimento vegetativo. A sobrevivência e a
multiplicação dos cogumelos estão relacionadas a fatores, além da luminosidade, que podem
atuar individualmente ou ter efeitos interativos entre eles. A composição química, umidade,
proporção de carbono e nitrogênio, minerais, pH, temperatura, fontes de nitrogênio, tamanho
de partícula e composição do ar do substrato circundante, quantidade de inóculo, agentes
antimicrobianos e a presença de interações entre microrganismos são considerados fatores
químicos, físicos e biológicos que estão ligados à produção de cogumelos (BELLETTINI et
al., 2016).

Apesar da diferença no crescimento, o micélio apresentou vigor semelhante para as


duas formulações, independente da condição de iluminação utilizada no cultivo, porém uma
densidade mais pronunciada no tratamento TL2 (milho) (Figura 22).
55

Figura 22: Crescimento micelial de Pleurotus ostreatus: claro (A), escuro (B) e fotoperíodo
(C).

TL1 [Bagaço de malte (98 %) + gesso agrícola (2 %)] e TL2 [Milho de pipoca (100 %)]. Fonte: Autoria própria,
2022.

5.2.2 Influência da temperatura no desenvolvimento micelial

Os resultados obtidos para avaliação da influência da temperatura (20°C, 25°C e


30°C) no crescimento micelial estão compilados na Figura 23. Na temperatura de 20°C, TL1 e
TL2 apresentaram um crescimento longitudinal médio de 5,63 e 5,56 cm, respectivamente. O
crescimento em 25°C foi de 6,33 e 7,30 cm para os tratamentos TL1 e TL2, respectivamente.
Já na temperatura de 30°C, o crescimento foi de 5,96 e 7,2 cm para TL1 e TL2,
respectivamente. As medições foram feitas quando o micélio atingiu o fundo do tubo de
ensaio, em torno do décimo dia após o inóculo. Essa condição foi observada no tratamento
TL2, no qual foi observado um crescimento mais rápido.

Figura 23: Variação no crescimento micelial de Pleurotus ostreatus nas diferentes


temperaturas.
56

Influência da temperatura no crescimento micelial


10
Crescimento micelial (cm)

8 7,3 7,2
6,33 5,96 20°C
5,63 5,56
6 25°C
30°C
4

0
TL1 TL2
Tratamentos

Fonte: Autoria própria, 2022.


Evidenciou-se uma influência direta da temperatura no crescimento micelial da
espécie. O crescimento micelial foi superior na temperatura de 25 °C em ambas as
formulações, seguido pelo crescimento a 30°C.

Esse resultado está em concordância com os experimentos realizados por Rout et al.
(2015), que apontaram o crescimento micelial nas temperaturas de 25 °C e 30 °C como
primeiro e segundo melhores respostas, respectivamente, tanto para P. ostreatus quanto para
outras espécies do gênero Pleurotus.

Sardar et al. (2015) afirmam que a temperatura é um aspecto importante na seleção


de cogumelo para os trópicos, onde a alta temperatura prevalece na maior parte do tempo, e
que as espécies do gênero Pleurotus são geralmente atribuídas a uma maior taxa de
crescimento em 25 °C. Além disso, os fungos também exibiram atividade enzimática máxima
dentro desta faixa e inibição do crescimento a partir de temperaturas mais elevadas.

Um bom crescimento micelial nessas temperaturas é um resultado importante quando


se pensa em adaptar a cultura de P. ostreatus a regiões mais quentes como o Nordeste do país,
onde não se tem ainda uma produção significativa, mas que detém grande potencial para esse
cultivo. O micélio apresentou vigor semelhante para todas as formulações nas temperaturas
avaliadas, porém a densidade foi mais pronunciada no tratamento TL2 (Figura 24).

Figura 24: Crescimento micelial de Pleurotus ostreatus nas diferentes temperaturas: 20 °C


(A), 25 °C (B) e 30 °C (C).
57

TL1 [Bagaço de malte (98 %) + gesso agrícola (2 %)] e TL2 [Milho de pipoca (100 %)].
Fonte: Autoria própria, 2022.

5.3 Avaliação qualitativa do vigor e densidade micelial de Pleurotus ostreatus nas


diferentes formulações de substratos a partir dos resíduos agroindustriais

Os tubos contendo as diferentes formulações e avaliados durante 15 dias na ausência


da luz estão dispostos na Figura 25. A avaliação qualitativa foi baseada no vigor e densidade
micelial, parâmetro importante para a seleção do substrato para a formação de corpos de
frutificação. O micélio foi classificado em três categorias: micélio forte (alta densidade,
compacto e vigor acentuado); micélio mediano (média densidade, pouco compacto e menor
vigor) e micélio escasso (baixa densidade, escassos e sem vigor), como mostrado na Figura
26. Um micélio forte indica uma boa colonização pelo fungo e uma boa conversão de
nutrientes fornecida pelo substrato.

Dentro desses parâmetros, os tratamentos T1 [Bagaço de malte (100%)], T2 [Bagaço


de malte (98%) + gesso agrícola (2%)], T3 [Bagaço de malte (98%) + café (2%)], T4 [Bagaço
de malte (96%) + café (2%) + gesso agrícola (2%)], T5 [Bagaço de malte (95%) + bagaço da
cana-de-açúcar (5%)], T6 [Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%)], T7
[Bagaço de malte (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%)], T8 [Bagaço de malte (50%) +
bagaço da cana-de-açúcar (50%)], T9 [Bagaço de malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar
(5%) + gesso agrícola (2%)], T10 [Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%)
+ gesso agrícola (2%)] T13 [Vagem (100%)], T14 [Vagem (50%) + Bagaço de malte (50%)],
T15 [Vagem (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%)] e T16 [Vagem (85%) + bagaço da
cana-de-açúcar (15%)] evidenciaram vigor e densidade acima da média, o que aponta o seu
potencial para produção de corpos de frutificação.
58

Figura 25: Avaliação do crescimento, vigor e densidade micelial de Pleurotus ostreatus nas
diferentes formulações/tratamentos.

1 – TC controle [Arroz (98 %) + gesso agrícola (2%)], 2 - T1 [Bagaço de malte (100%)], 3 - T2 [Bagaço de
malte (98%) + gesso agrícola (2%)], 4 - T3 [Bagaço de malte (98%) + café (2%)], 5 - T4 [Bagaço de malte
(96%) + café (2%) + gesso agrícola (2%)], 6 - T5 [Bagaço de malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%)], 7
- T6 [Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%)], 8 - T7 [Bagaço de malte (70%) + bagaço da
cana-de-açúcar (30%)], 9 - T8 [Bagaço de malte (50%) + bagaço da cana-de-açúcar (50%)], 10 - T9 [Bagaço de
malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%) + gesso agrícola (2%)], 11 - T10 [Bagaço de malte (85%) +
bagaço da cana-de-açúcar (15%) + gesso agrícola (2%)], 12 - T11 [Bagaço de malte (70%) + bagaço da cana-de-
açúcar (30%) + gesso agrícola (2%)], 13 - T12 [Bagaço de malte (50%) + bagaço da cana-de-açúcar (50%) +
gesso agrícola (2%)], 14 - T13 [Vagem (100%)], 15 - T14 [Vagem (50%) + Bagaço de malte (50%)], 16 - T15
[Vagem (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%)], 17 - T16 [Vagem (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%)],
18 - T17 [Vagem (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%)] e 19 - T18 [Vagem (50%) + bagaço da cana-de-
açúcar (50%)]. As setas amarelas indicam os tratamentos selecionados para o ensaio de produção. Fonte: Autoria
própria, 2022.

Figura 26: Classificação do vigor e densidade micelial de Pleurotus ostreatus.

1 - Micélio forte, 2 - Micélio mediano e 3 - Micélio escasso. Fonte: Autoria própria, 2022.
59

Os tratamentos T1 a T4 são formulações que contém o bagaço do malte, material


predominantemente fibroso (70% massa seca), e proteico (15 a 25% massa seca),
apresentando também em sua composição lipídios, minerais, vitaminas, aminoácidos e
compostos fenólicos (MULLER et al., 2017).

Trabalhos anteriores (ALBUQUERQUE; SOUSA, 2021) relataram um crescimento


lento para P. ostreatus var. florida na formulação contendo apenas bagaço de malte (100%).
Dessa forma, avaliou-se a adição de suplementos como o gesso agrícola, borra de café e a
combinação dos dois (gesso agrícola + borra de café) para compensar a baixa relação C/N
descrita em outros experimentos contendo apenas o bagaço de malte.

Neste trabalho, P. ostreatus cresceu de forma satisfatória nas formulações com


bagaço de malte, mesmo sem suplementação, apresentando pouca diferença em relação ao
vigor e densidade do micélio nos tratamentos T1, T2, T3 e T4. Esse resultado evidencia que a
adequação de um substrato ao crescimento de uma espécie de cogumelo pode mudar para as
outras espécies dependendo da exigência nutricional de cada uma.

Nos tratamentos T5 a T12, além do bagaço de malte, houve adição do bagaço da


cana-de-açúcar, substrato que é constituído basicamente de material lignocelulósico, sendo
composta por celulose, fibras e ligninas (OLIVEIRA, 2018) e que possui uma alta taxa de
C/N; nos substratos contendo uma concentração de bagaço de cana de até 15% (T5, T6, T9 e
T10), o padrão de crescimento e vigor micelial foi levemente superior aos tratamentos com o
malte suplementado, indicando que o bagaço de cana-de-açúcar complementa o substrato do
malte, aumentando a relação de C/N. Porém, ao se ultrapassar a quantidade de 15% de bagaço
de cana-de-açúcar (Tratamentos T7, T8, T11 e T12), é notável que o crescimento micelial
diminui. Isso se deve, provavelmente, aos níveis de umidade do substrato, pois a cana-de-
açúcar, é composta de um material fibroso de baixa umidade, além de apresentar uma camada
de lignina espessa, que pode prejudicar o crescimento do cogumelo (COSTA et al., 2020). É
evidente também que nos tratamentos T11 e T12 essa diminuição no crescimento, densidade e
vigor micelial é ainda mais acentuada, mesmo suplementado com gesso agrícola.
60

O forte vigor observado nos tratamentos T13, T14, T15 e T16, compostos
principalmente por vagem de feijão verde, está em concordância com os resultados obtidos
para outra espécie do gênero Pleurotus. Rettore et al. (2011) afirmaram que não há
necessidade de suplementação da palha de feijão. Ela se mostrou um excelente substrato para
o cultivo do Pleurotus sajor-caju em regiões onde a cultura do feijoeiro é abundante; ainda,
os autores descreveram esse resíduo como uma importante fonte de enriquecimento para
outros resíduos agrícolas, principalmente quando se utilizam resíduos com uma relação C/N
muito elevada.

5.4 Efeito dos substratos no desenvolvimento micelial de Pleurotus ostreatus para


produção da semente

As formulações T1 [Bagaço de malte (100%)], T2 [Bagaço de malte (98%) + gesso


agrícola (2%)], T3 [Bagaço de malte (98%) + café (2%)], T4 [Bagaço de malte (96%) + café
(2%) + gesso agrícola (2%)], T5 [Bagaço de malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%)],
T6 [Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%)], T7 [Bagaço de malte (70%)
+ bagaço da cana-de-açúcar (30%)], T8 [Bagaço de malte (50%) + bagaço da cana-de-açúcar
(50%)], T9 [Bagaço de malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%) + gesso agrícola (2%)],
T10 [Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%) + gesso agrícola (2%)] T13
[Vagem (100%)], T14 [Vagem (50%) + Bagaço de malte (50%)], T15 [Vagem (95%) +
bagaço da cana-de-açúcar (5%)], T16 [Vagem (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%)]
foram selecionadas a partir da avaliação do vigor e densidade micelial. Desconsiderou-se a
utilização das formulações que não proporcionaram o crescimento de um micélio denso e
vigoroso. A corrida micelial nos sacos foi avaliada após 15 dias do inóculo (Figura 27)
através de medições longitudinais.

Figura 27: Aspecto macroscópico da colonização e corrida micelial de Pleurotus ostreatus


nos diferentes tratamentos, 15 dias após a inoculação.
61

TC (controle): Arroz (98 %) + gesso agrícola (2%); T1: Bagaço de malte (100%); T2: Bagaço de malte (98%) +
gesso agrícola (2%); T3: Bagaço de malte (98%) + café (2%); T4: Bagaço de malte (96%) + café (2%) + gesso
agrícola (2%); T5: Bagaço de malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%); T6: Bagaço de malte (85%) +
bagaço da cana-de-açúcar (15%); T7: Bagaço de malte (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%); T8: Bagaço de
malte (50%) + bagaço da cana-de-açúcar (50%); T9: Bagaço de malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%) +
gesso agrícola (2%); T10: Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%) + gesso agrícola (2%);
T13: Vagem (100%); T14: Vagem (50%) + Bagaço de malte (50%); T15: Vagem (95%) + bagaço da cana-de-
açúcar (5%) e T16:Vagem (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%). Fonte: Autoria própria, 2022.

O tratamento controle [Arroz (98%) + gesso agrícola (2%)] foi o único ao atingir o
fundo dos sacos ao fim do décimo quinto dia, com 12,23 cm de média do crescimento
micelial. Nos demais tratamentos, as médias com os maiores valores foram obtidas nas
formulações T14 (10,70 cm), T9 (10,33 cm), T4 e T16 (9,93 cm), T13 (9,90 cm), T10 (9,76
cm) e T2 (9,33 cm), seguidas pelas médias das formulações T3 (9,30), T15 (9,05 cm), T1
(8,93 cm), T7 (8,80 cm), T8 (8,53 cm), T6 (8,46) e por último, T5 (7,73 cm), como mostrado
na Figura 28.

Figura 28: Média do crescimento micelial (cm) em sacos no período de 15 dias após
inoculação de Pleurotus ostreatus.

Avaliação do crescimento micelial nos diferentes substratos


14 12,23
Crescimento após 15 dias (cm)

12 10,33 9,76 9,9 10,7


9,93 9,93
10 8,93 9,33 9,3 8,46 8,8 8,53 9,05
7,73
8 médias
6
4
2
0
TC T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T13 T14 T15 T16
Tratamentos
62

TC (controle): Arroz (98 %) + gesso agrícola (2%); T1: Bagaço de malte (100%); T2: Bagaço de malte (98%) +
gesso agrícola (2%); T3: Bagaço de malte (98%) + café (2%); T4: Bagaço de malte (96%) + café (2%) + gesso
agrícola (2%); T5: Bagaço de malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%); T6: Bagaço de malte (85%) +
bagaço da cana-de-açúcar (15%); T7: Bagaço de malte (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%); T8: Bagaço de
malte (50%) + bagaço da cana-de-açúcar (50%); T9: Bagaço de malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%) +
gesso agrícola (2%); T10: Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%) + gesso agrícola (2%);
T13: Vagem (100%); T14: Vagem (50%) + Bagaço de malte (50%); T15: Vagem (95%) + bagaço da cana-de-
açúcar (5%) e T16:Vagem (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%). Fonte: Autoria própria, 2022.

Dentre os substratos contendo bagaço de malte suplementado (T2 e T4), foi


observada uma melhor corrida micelial na formulação com ambos os suplementos (gesso
agrícola e café), o que indica que a suplementação de fato contribui na velocidade de
crescimento dessa espécie no bagaço de malte. A velocidade de colonização de um
determinado substrato varia de acordo com a espécie do cogumelo, condições de crescimento
e tipo de substrato, a depender das variações na composição química e relação de carbono e
nitrogênio (C/N) dos substratos usados. O micélio requer nutrientes específicos para o seu
crescimento e a adição de suplementos pode, assim, aumentar a produção de cogumelos
através do fornecimento desses nutrientes específicos (GIRMAY et al., 2016).

Quando se adiciona o bagaço de cana-de-açúcar ao bagaço de malte (T6, T9 e T10),


a melhor colonização do substrato foi obtida com 5% de cana-de-açúcar (T9). Essa média
supera, inclusive, a dos demais substratos suplementados, sendo mais um indicativo de que o
bagaço da cana-de-açúcar, aliado ao bagaço de malte, funciona como complemento na oferta
de nutrientes, sem a adição de suplementos para a produção de sementes nessas formulações.
As formulações contendo vagem (T13, T14 e T16) proporcionaram médias de crescimento
altas, sendo T14 a mais promissora, pois sua média foi a maior dentre todas as formulações
testadas para P. ostreatus.
63

A partir da corrida micelial durante 15 dias, foi calculada a média de crescimento por
dia, em cada substrato durante esse período. Esses valores, juntamente com o tempo total para
o desenvolvimento do micélio (tempo que o fungo colonizasse todo o substrato nos sacos) e a
umidade dos substratos estão descritos na Tabela 4, relacionando-se esses parâmetros com as
características do micélio primário. Em relação ao tempo total para a colonização completa, o
substrato que se sobressaiu foi T14, com média de 21,3 dias, aproximando-se dos 19 dias no
experimento controle (TC). Os substratos que também apresentaram boas médias para o
tempo de colonização completa foram as formulações T4 e T10 (22 dias), T6 e T13 (23 dias),
T1 (23,5 dias) e T2 (23,6 dias). As formulações T16 (24,3 dias), T9 (24,6 dias), T15 (25,5
dias), T5 (27 dias), T8 (27,6 dias) e T3 (28 dias) demoraram 5 dias a mais para proporcionar o
desenvolvimento completo do micélio em relação ao tratamento controle, e na formulação T7
esse crescimento estacionou no 15° dia e não houve colonização completa.

Sabe-se que uma colonização rápida do micélio diminui significativamente as perdas


por contaminação e apodrecimento do substrato, reduz o tempo de incubação e o período
produtivo em um sistema de produção de cogumelos comestíveis (ZÁRATE-SALAZAR et
al., 2020). Assim, as formulações mais adaptadas para a produção da semente de P. ostreatus
são T14, T4, T10, T6, T13, T1 e T2. No entanto, apesar da rápida colonização observada nos
tratamentos T1 e T2, o vigor e a densidade do micélio nessas formulações foram mais baixos,
enquanto nos tratamentos T9, T15 e T16, o micélio demorou mais para colonizar todo o
substrato, mas cresceu forte, denso e vigoroso.

Isso pode estar relacionado com o acesso aos nutrientes, pois em T1 e T2 os


substratos possuem menor teor de lignina, proporcionando um acesso mais rápido do fungo
aos nutrientes necessários para o crescimento. Já em relação às quantidades desses nutrientes,
encontram-se mais abundantes em T9, T15 e T16, proporcionando um crescimento total mais
lento, porém, mais mantendo vigor e densidade do micélio conforme esperado.

O teor de umidade é importante para a expressão de enzimas e subsequente


degradação da lignina. Além disso, os fungos também utilizam um sistema de hidrólise para
degradação de ligações de celulose. Os níveis de umidade dos substratos foram quantificados,
e todos encontravam-se na faixa de umidade considerada ótima (50% a 80%) para o
crescimento de Pleurotus ssp. (AGHAJANI et al., 2018).
64

Porém, quando a umidade foi de 53% (T7), o micélio estacionou o crescimento no


15° dia, indicando que valores mais próximos de 50% tendem a não fornecer água suficiente
para uma boa colonização micelial nos substratos testados. Nos tratamentos com os melhores
desempenho no crescimento e as melhores características de vigor e densidade micelial foram
aferidos nos níveis de umidade mais próximos de 70% (T4, T6, T9, T10, T13, T14 e T16),
mostrando que essa faixa é mais adequada para a produção da semente.

Tabela 4: Avaliação de diferentes substratos no desenvolvimento da semente de Pleurotus


ostreatus.
Tratamentos Tempo total do desenvolvimento Crescimento U%* Características do
desenvolvimento micelial (cm) micelial micélio primário
micelial (dias) (cm/dia)
TC (controle) 19,00 g 12,23 a 0,81 a 58 alta densidade, compacto
e vigor acentuado
T1 23,50 d 8,93dc 0,59 c 70 baixa densidade, pouco
compacto e menor vigor
T2 23,60 d 9,33 cb 0,62 cb 68 média densidade, pouco
compacto e menor vigor
T3 28,00 a 9,30 cb 0,62 cb 66 alta densidade, compacto
e vigor acentuado
T4 22,00 e 9,93 cb 0,66 cb 61 alta densidade, compacto
e vigor acentuado
T5 27,00 a 7,73 d 0,51 d 70 baixa densidade, escasso
e sem vigor
T6 23,00 d 8,46 dc 0,56 dc 70 alta densidade, compacto
e vigor acentuado
T7 - 8,80 dc 0,58 dc 53 estacionou o crescimento
no 15°. dia.
T8 27,60 a 8,53 dc 0,56 dc 63 média densidade, pouco
compacto e menor vigor
T9 24,60 c 10,33 b 0,68 cb 65 alta densidade, compacto
e vigor acentuado
T10 22,00 e 9,76 cb 0,65 cb 65 alta densidade, compacto
e vigor acentuado
T13 23,00 d 9,90 cb 0,66 cb 73 alta densidade, compacto
e vigor acentuado
T14 21,30 f 10,70 b 0,71 b 71 alta densidade, compacto
e vigor acentuado
T15 25,50 b 9,05 c 0,60 c 70 alta densidade, compacto
e vigor acentuado
T16 24,30 c 9,93 cb 0,66 cb 71 alta densidade, compacto
e vigor acentuado
CV%§ 1,23 3,04 5,69
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de variação múltipla de Duncan (P<0,05). Dados
não transformados. * Umidade dos tratamentos.  Média do crescimento até o 15°. dia. § Coeficiente de variação.
TC (controle): Arroz (98 %) + gesso agrícola (2%); T1: Bagaço de malte (100%); T2: Bagaço de malte (98%)
+ gesso agrícola (2%); T3: Bagaço de malte (98%) + café (2%); T4: Bagaço de malte (96%) + café (2%) +
gesso agrícola (2%); T5: Bagaço de malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%); T6: Bagaço de malte (85%)
+ bagaço da cana-de-açúcar (15%); T7: Bagaço de malte (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%); T8: Bagaço
de malte (50%) + bagaço da cana-de-açúcar (50%); T9: Bagaço de malte (95%) + bagaço da cana-de-açúcar
(5%) + gesso agrícola (2%); T10: Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%) + gesso agrícola
(2%); T13: Vagem (100%); T14: Vagem (50%) + Bagaço de malte (50%); T15: Vagem (95%) + bagaço da
cana-de-açúcar (5%) e T16:Vagem (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%). Fonte: Autoria própria, 2022.
65

5.5 Análise dos parâmetros produtivos

Os tratamentos selecionados para os ensaios de produção no coco verde reciclado


foram T3 [Bagaço de malte (98%) + borra do café (2%)], T4 [Bagaço de malte (96%) + borra
do café (2%) + gesso agrícola (2%)], T6 [Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-açúcar
(15%)], T7 [Bagaço de malte (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%)], T9 [Bagaço de malte
(95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%) + gesso agrícola (2%)], T13 [Vagem do feijão
(100%)], T14 [Vagem do feijão (50%) + Bagaço de malte (50%)], T15 [Vagem do feijão
(95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%) e T16 [Vagem do feijão (85%) + bagaço da cana-de-
açúcar (15%)]. Para tratamento controle, utilizou-se o arroz (100 %) suplementado com gesso
agrícola (2%).

Após o período de colonização pelo micélio primário do fungo, durante 15 dias, foi
feita a abertura dos sacos para frutificação. Todos os tratamentos evidenciaram uma boa
colonização por P. ostreatus (Figura 29), incluindo os substratos que tiveram tempos de
colonização total maior nos ensaios para a produção da semente.

Figura 29: Endocarpo do coco verde reciclado colonizado pelo micélio primário de Pleurotus
ostreatus após 15 dias de crescimento no escuro, após abertura dos sacos.

TC [Arroz (98 %) + gesso agrícola (2%)], T3 [Bagaço de malte (98%) + borra do café (2%)], T4 [Bagaço de
malte (96%) + borra do café (2%) + gesso agrícola (2%)], T6 [Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-
açúcar (15%)], T7 [Bagaço de malte (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%)], T9 [Bagaço de malte (95%) +
bagaço da cana-de-açúcar (5%) + gesso agrícola (2%)], T13 [Vagem do feijão (100%)], T14 [Vagem do feijão
(50%) + Bagaço de malte (50%)], T15 [Vagem do feijão (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%) e T16 [Vagem
do feijão (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%). Fonte: Autoria própria, 2022.
66

O micélio apresentou as características desejáveis de alta densidade e alto vigor em


todas as formulações e conforme o esperado, o surgimento de primórdios foi evidenciado em
alguns dos tratamentos a partir do terceiro dia, da abertura dos sacos (Figura 30).

Figura 30: Primórdios do basidioma de Pleurotus ostreatus no endocarpo do coco verde


reciclado. Tratamento T15 [Vagem (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%)].

1 – Primeiros primórdios. Fonte: Autoria própria, 2022.

Os primórdios apareceram nos tratamentos T6, T14 e T15 no décimo oitavo dia do
ciclo de cultivo, em T3 no décimo nono dia, em T7 no vigésimo dia, em T13 no vigésimo
primeiro dia, em T4 no vigésimo terceiro dia e em TC, T9 e T16 no vigésimo quarto dia.

O ciclo produtivo foi finalizado aos 21 dias para T6, 22 dias para T14 e T15, 23 dias
para T3, 24 dias para T7, 25 dias para T13, 27 dias para T4 e 28 dias para TC, T9 e T16,
conforme explicitado na Tabela 5. Os corpos de frutificação observados ao fim do período de
cultivo de cada substrato no coco verde estão dispostos na Figura 31.

Tabela 5: Parâmetros biológicos de Pleurotus ostreatus cultivado em diferentes formulações


em um fluxo produtivo.
Tratamentos Colonização do micélio Início dos primórdios Ciclo total (dias)
primário (dias) (dias)
TC 15 24 28
T3 15 19 23
67

T4 15 23 27
T6 15 18 21
T7 15 20 24
T9 15 24 28
T13 15 21 25
T14 15 18 22
T15 15 18 22
T16 15 24 28

TC [Arroz (98 %) + gesso agrícola (2%)], T3 [Bagaço de malte (98%) + borra do café (2%)], T4 [Bagaço de
malte (96%) + borra do café (2%) + gesso agrícola (2%)], T6 [Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-
açúcar (15%)], T7 [Bagaço de malte (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%)], T9 [Bagaço de malte (95%) +
bagaço da cana-de-açúcar (5%) + gesso agrícola (2%)], T13 [Vagem do feijão (100%)], T14 [Vagem do feijão
(50%) + Bagaço de malte (50%)], T15 [Vagem do feijão (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%)] e T16
[Vagem do feijão (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%)]. Fonte: Autoria própria, 2022.

Figura 31: Frutificação de Pleurotus ostreatus no endocarpo do coco verde reciclado como
recipiente para cultivo.

TC [Arroz (98 %) + gesso agrícola (2%)], T3 [Bagaço de malte (98%) + borra do café (2%)], T4 [Bagaço de
malte (96%) + borra do café (2%) + gesso agrícola (2%)], T6 [Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-
açúcar (15%)], T7 [Bagaço de malte (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%)], T9 [Bagaço de malte (95%) +
bagaço da cana-de-açúcar (5%) + gesso agrícola (2%)], T13 [Vagem do feijão (100%)], T14 [Vagem do feijão
(50%) + Bagaço de malte (50%)], T15 [Vagem do feijão (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%) e T16 [Vagem
do feijão (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%). Fonte: Autoria própria, 2022.
68

O estudo realizado por Girmay et al. (2016) relatou que o período de cultivo geral do
Shimeji Preto, tempo decorrido entre a semeadura e a colheita, variou de 27 a 40,67 dias em
substratos contendo sementes de algodão, palha de trigo, serragem e resíduos de papel. O
menor tempo de cultivo obtido no estudo foi de 27 dias, enquanto neste trabalho, 6 das 10
formulações testadas proporcionaram ciclos produtivos de P. ostreatus menores que 27 dias, e
nas demais, não se ultrapassou o período de 28 dias de cultivo.

Segundo os autores, a variação de período de cultivo decorre da formação de


primórdios, maturação dos corpos de frutificação, tempo entre os ciclos produtivos, número
de ciclos e rendimento, que por sua vez são afetados pela natureza dos substratos e condições
de cultivo. Thongklang e Luangham (2016) relataram que a adição de resíduos agrícolas foi
mais produtiva do que os substratos tradicionalmente usados, como o sorgo ou serragem
sozinhos na produção. Melhores rendimentos de corpos de frutificação também foram
relatados. Portanto, o uso de resíduos agrícolas tem alto potencial na produção de cogumelos.

A partir dos dados coletados após a colheita dos cogumelos, foi possível calcular os
diferentes parâmetros para avaliar a produção nos respectivos substratos acomodados no coco
verde reciclado. Os valores obtidos para Umidade do basidioma (U), Rendimento (R),
Eficiência Biológica (EB), Perda de Matéria Orgânica (PMO) e Consumo do Composto (CC)
estão expressos na Tabela 6. O substrato com maior Rendimento foi o tratamento T3
(67,74%), seguido do T15 (63,33%) e T6 (58,31%). Os demais tratamentos apresentaram
rendimentos inferiores quando comparados ao TC. Porém, nos tratamentos T14, T7, T4 e T13
esses valores ainda foram satisfatórios, apresentando potencial para fungicultura. Os
tratamentos T9 e T16 apresentaram rendimentos baixos quando comparados às demais
formulações, demonstrando que essas formulações, apesar de serem capazes de gerar
basidiomas, não seriam adequadas a um nível comercial.

Em relação à EB, o melhor valor obtido foi de 20,83%, no tratamento T14. Diversos
autores utilizaram a EB como parâmetro de análise da adequação do substrato como meio de
cultivo para as espécies estudadas. Quanto maior o valor de EB, maior a adequação do
substrato para o cultivo da espécie (CUEVA; HERNÁNDEZ; NIÑO-RUIZ, 2017;
CARVALHO et al., 2021).
69

Além do T14, os tratamentos T7, T4, e T15 também apresentaram valores


considerados satisfatórios; T9 e T16, por outro lado, devido aos baixos valores de EB, não se
mostraram tão bem adequados ao cultivo de P. ostreatus. A EB e a produtividade são
variáveis que se relacionam significativamente com a biotransformação dos resíduos
lignocelulósicos em basidiocarpos frescos durante o período de produção. Portanto, a variação
de ambos sempre será influenciada pelo tipo de composição química dos substratos utilizados
(ZÁRATE-SALAZAR et al., 2020).

A melhor produtividade foi observada no tratamento T15 (0,36 g/dia), indicando que
esse substrato proporciona uma rápida bioconversão de matéria orgânica em basidiomas,
quando comparado ao TC (0,17 g/dia). Melhores valores de produtividade também foram
quantificados nos tratamentos T13, T14, T9, T6 e T14, quando comparados ao TC. No
entanto, esses valores de produtividade ainda podem ser melhorados, tendo em vista que o
estudo de Alburquerque e Sousa (2021) para a espécie P. ostreatus var. florida avaliou
substratos com produtividades superiores aos encontrados para os substratos deste trabalho.
Parâmetros como o Rendimento e a Produtividade são parâmetros importantes para avaliar se
as condições de cultivo são viáveis no contexto de comercialização e geração de valor
agregado, sendo assim, como T16 obteve apenas 0,01 de produtividade, esse substrato não é
adequado à fungicultura de P. ostreatus.

A Perda de Matéria Orgânica (PMO) é um indicativo de que uma formulação de


substrato é rica em nutrientes disponíveis para a decomposição pelo fungo. Nitrogênio,
minerais e vitaminas influenciam no crescimento micelial e os carboidratos aumentam a
velocidade de colonização e degradação do substrato resultando em menor tempo de
frutificação e maior PMO. Porém, a perda de matéria orgânica também pode ser decorrente da
perda de CO2 e H2O durante o metabolismo dos microrganismos e não somente pela remoção
de materiais para formação do basidioma (PAIVA et al., 2021). Os tratamentos com os
melhores valores de PMO foram T13 (46,66%), T7 (45,71%), T4 (43,24), T6 (41,66%), T3
(35,48%) e T15 (31,66%). Esses valores são superiores aos encontrados por Paiva et al.
(2021) em substratos diversos para a produção de P. ostreatus var. florida, que foram
substratos recomendados para o cultivo. O consumo do substrato (CC) foi maior no TC em
relação aos demais tratamentos. Porém os tratamentos T3 e T15 apresentaram um CC de
64,51 e 63,33 de rendimento. Foi constatado que o CC elevado representa maior rendimento.
70

Tabela 6: Parâmetros produtivos de Pleurotus ostreatus cultivado em diferentes formulações


em um fluxo produtivo.
Tratamentos U (%)1 R (%)2 EB (%)3 Pr (g/dia)4 PMO (%)5 CC (%)6

TC (controle) 81,0 52,94 9,80 0,17 7,84 92,15


T3 80,0 67,74 12,90 0,17 35,48 64,51
T4 61,0 35,13 13,51 0,18 43,24 56,75
T6 80,0 58,31 11,11 0,19 41,66 58,33
T7 69,0 37,14 14,28 0,16 45,71 54,28
T9 70,0 28,57 8,57 0,21 30,00 70,00
T13 68,0 31,66 10,00 0,24 46,66 53,33
T14 50,0 41,66 20,83 0,22 20,83 79,16
T15 99,0 63,33 13,33 0,36 31,66 85,00
T16 85,0 21,42 3,21 0,01 14,28 85,71
CV (%)7 - 10,8 7,76 48,15 16,8 20,6

TC [Arroz (98 %) + gesso agrícola (2%)], T3 [Bagaço de malte (98%) + borra do café (2%)], T4 [Bagaço de
malte (96%) + borra do café (2%) + gesso agrícola (2%)], T6 [Bagaço de malte (85%) + bagaço da cana-de-
açúcar (15%)], T7 [Bagaço de malte (70%) + bagaço da cana-de-açúcar (30%)], T9 [Bagaço de malte (95%) +
bagaço da cana-de-açúcar (5%) + gesso agrícola (2%)], T13 [Vagem do feijão (100%)], T14 [Vagem do feijão
(50%) + Bagaço de malte (50%)], T15 [Vagem do feijão (95%) + bagaço da cana-de-açúcar (5%) e T16 [Vagem
do feijão (85%) + bagaço da cana-de-açúcar (15%). 1U: Umidade do basidioma. 2R: Rendimento. 3EB:
Eficiência Biológica. 4Pr: Produtividade. 5PMO: Perda da matéria orgânica. 6CC: Consumo do composto.7CV:
Coeficiente de variação. Fonte: Autoria própria, 2022.

A partir dos resultados obtidos, foi possível constatar a viabilidade de reaproveitamento


de todos os resíduos testados e adicionados nas diferentes formulações; além da possibilidade
de usar o endocarpo do coco verde descartado como recipiente para o cultivo e produção do
P. ostreatus. Assim, com mais estudos para o aperfeiçoamento das técnicas apresentadas, a
bioconversão utilizando resíduos agroindustriais para produzir cogumelos comestíveis poderá
se tornar uma forma de cultivo bem difundida nas regiões em que essa produção é escassa.
71

6 CONCLUSÕES

9 A utilização do bagaço de malte, bagaço de cana-de-açúcar e vagem do feijão sem o


grão, com e sem suplementação, na formulação dos substratos foi promissora. 14 das
formulações de substratos testadas mostraram-se adequadas para a produção das
sementes, tornando-se opções para o barateamento desta etapa do cultivo; 10 das
formulações resultaram na boa produção de corpos de frutificação;

9 Não foi comprovada influência da luz no crescimento vegetativo de P. ostreatus, mas


houve um melhor crescimento do micélio primário na faixa de temperatura de 25°C a
30°C;

9 O coco verde reciclado mostrou-se um recipiente adequado para fungicultura,


proporcionando uma boa colonização dos substratos e frutificação dos cogumelos.
Desse modo, o cultivo de P. ostreatus é uma boa alternativa para o reaproveitamento
desse resíduo tão abundante.

9 Os melhores tratamentos para a produção da semente foram os substratos com as


formulações T3, T4, T6, T9, T10, T14, T15 e T16.

9 Dentre as formulações testadas para produção dos cogumelos, T3, T4, T7, T14 e T15
se sobressaíram, apresentando bons aspectos biológicos (tempo de colonização do
substrato, período de emissão de primórdios e tempo de formação dos basidiomas),
além de valores satisfatórios para os parâmetros produtivos.

9 Esses estudos são bases importantes para a confecção de um protocolo de cultivo


barato e acessível aos pequenos agricultores da região, devido à fácil obtenção dos
resíduos e à pouca necessidade de processamento prévio dos substratos.
72

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78

GLOSSÁRIO

Anastomose: ligação entre artérias, veias ou órgãos que estabelecem uma comunicação entre
si (no caso dos fungos, ligações entre as Hifas).

Bioconversão: Processo que envolve uma ou mais reações enzimáticas nas quais
microrganismos, particularmente fungos, transformam determinados compostos químicos em
produtos com estruturas semelhantes.

Cultivo Axênico: é denominado quando o substrato preparado é esterilizado e enriquecido


com nutrientes, permitindo que o fungo cresça sem competição e obtenha maior
produtividade

Dicariótica: Designação de hifas ou micélios de fungos cujas células possuem dois núcleos
haploides, os quais se dividem simultaneamente na formação de cada nova célula.

Enzimas lignocelulolíticas: Enzimas que são capazes de degradar materiais lignocelulósicos.

Hifas Hialinas: Essas estruturas também podem ser classificadas de acordo com a sua cor,
este tipo possui cor clara, quase transparente.

Hifas Septadas: Hifas divididas por septos, ou seja, pequenas paredes transversais que
atravessam a estrutura.

Inóculo: Os microrganismos de interesse quando são colocados em um meio de cultura para


iniciar o crescimento

Lignocelulósicos: Materiais constituídos por uma matriz de polissacarídeos que,


essencialmente, é formada por fibras de celulose envolvidas por hemicelulose e lignina

Nutracêutica: Ampla variedade de alimentos e componentes alimentícios com apelos


médicos ou de saúde.

Plasmogamia: É um estágio na reprodução sexual em fungos. Nele, os citoplasmas de dois


micélios próximos se fundem.
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