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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SÓCIAS APLICADAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
CURSO DE DOUTORADO EM ECONOMIA

LUÍS FLÁVIO MAIA LIMA

INFORMALIDADE EMPRESARIAL, MOSTRA A TUA CARA!


Estudo exploratório e parametrização.

BELÉM/PARÁ
2019
LUÍS FLÁVIO MAIA LIMA

INFORMALIDADE EMPRESARIAL, MOSTRA A TUA CARA!


Estudo exploratório e parametrização.

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Economia,


do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade
Federal do Pará como parte dos requisitos para obtenção do
título de Doutor em Economia.

Orientador: Prof. Dr. Danilo Araújo Fernandes.


Coorientadora: Prof. Dra. Jurandir Santos de Novais.

BELÉM
2019
LUÍS FLÁVIO MAIA LIMA

INFORMALIDADE EMPRESARIAL, MOSTRA A TUA CARA!


Estudo exploratório e parametrização.

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Economia, Instituto de Ciências Sociais Aplicadas,
Universidade Federal do Pará, como um requisito para obtenção
do título de Doutor em Economia.

Orientador: Prof. Dr. Danilo Araújo Fernandes.


Coorientadora: Prof. Dra. Jurandir Santos de Novais.

Data de avaliação__________________
Conceito: _________________________

BANCA EXAMINADORA:

____________________________________
Prof. Dr. Danilo Araújo Fernandes
(FACECON/ICSA/UFPA – Orientador)

_____________________________________
Profa. Dra. Jurandir Novaes
(FACECON/ICSA/UFPA – Coorientador)

_____________________________________
Prof. Dr. Cláudio Alberto Castelo Branco Puty
(FACECON/ICSA/UFPA – Membro)

_____________________________________
Prof. Dr. José Raimundo Barreto Trindade
(FACECON/ICSA/UFPA – Membro)

_____________________________________
Profa. Dra. Andréa Bittencourt Pires Chaves
(FACS/IFCH/UFPA – Membro)

_____________________________________
Membro
Para Orlanda Maia Lima, minha mãe,
por tudo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos trabalhadores invisíveis, que estão nas ruas ou nos seus pequenos
estabelecimentos e buscam, todo dia, sob o sol ou a chuva, sobreviver com dignidade e
respeito, na fronteira que o capital permite. Meu muito obrigado pela acolhida e
solidariedade, pois sem essa atitude o presente trabalho não teria passado de um sonho.
Meu respeito a vocês, visíveis aos meus olhos e alcançáveis pelas minhas mãos.
Agradeço ao professor Dr. Danilo Araújo Fernandes, pela oportunidade e pela
orientação. Também sou grato à professora Dra. Jurandir Novaes, pela coorientação,
sugestões e indicações, que contribuíram com o presente trabalho.
Ao professor Dr. Ricardo Bruno, meu agradecimento pela ajuda e paciência.
Aos demais professores do Programa Márcia Diniz, Marcelo Diniz, José Raimundo
Trindade, Waldemar Sampaio e Gilberto Marques agradeço pela convivência, pelos
ensinamentos e solidariedade nos momentos necessários.
Agradeço à professora Dra. Andrea Chaves e ao professor Dr. Carlos Puty, que
compuseram a banca de qualificação, pelas leituras atentas e contribuições.
Meu muito obrigado a Carlos Azevedo, secretário da Pós-Graduação, pela
atenção e diversos S.O.S.
Meus agradecimentos a Carlos Alexandre Abati, que permitiu, através do seu
esforço pessoal, minha liberação para as atividades do Doutorado. Obrigado amigo, sem
esse apoio não teria sido possível cursar e escrever este trabalho.
Agradeço a Álvaro Brito, Diretor da Arcon que, remando contra a maré,
permitiu a minha liberação para o Doutorado. Meu agradecimento e respeito.
À Rosana Gam, que coordenou o trabalho de campo na região metropolitana, a
Janildo Costa, Márcia Silva, Iziones dos Santos, Aldenor de Souza, Jorge, Suellen,
Remison Ramos e Suany Furtado Vinagre, que colaboraram na pesquisa de campo.
Aos funcionários do Credcidadão, especialmente à Tetê Santos, Rogério Pinto e
Pedro Paz.
Agradeço a Jorge Antunes, do Banpará, que com muito boa vontade abriu os
canais de contato com vistas ao fornecimento de informações.
Obrigado Akemin Arakawa, que ao longo dos anos cuidou da minha qualidade
de vida, com suas agulhas, ventosas e mãos, permitindo às minhas costas sobreviverem
ao Doutorado.
Agradeço a Túlio Gonçalves pelo auxílio com as TDIC e os ajustes finais deste
documento da tese.
Aos meus amigos e mestres, Adriano Velloso, Aluízio Lins Leal, Glênio Bruck
Andrade e Renato Pinheiro Condurú Jr., que compartilharam seus conhecimentos ao
longo dos anos, ensinando-me e abrindo portas, meu eterno reconhecimento e gratidão.
Aos meus irmãos Emmanuel Augusto, Luís Fernando e Paulo Vitor agradeço
pela energia e amor, que contribuíram para esta jornada. Este trabalho concretiza esse
esforço e as lutas passadas, que estão na memória e no coração.
Obrigado, meus colegas de turma, que dividiram as angústias, os medos, as
alegrias e compartilharam seu tempo e esforço. Grato a Carlos, Márcia, Adjard, Djalma,
Marília, Ellen, Leônidas e Carol.
À Mônica Oliveira e Adilson pela colaboração e apoio em Bragança, meu muito
obrigado.
Agradeço à Carminha, minha colega do antigo Idesp, excelente pesquisadora,
pela amizade e solidariedade na cidade de Bragança.
Ao Fundo Ver o Sol, especialmente a Olinto Cei, Celso e Cadmiel, obrigado
pela atenção e fornecimento do cadastro. Estendo os agradecimentos à Rosicléa Garcia
de Oliveira Garcia, da SECON, que permitiu acesso a espaço estratégico para realização
de algumas fotos.
Aos colegas da Arcon, solícitos, compreensivos e apoiadores, especialmente ao
Frederico e ao Marcelo, que me ajudaram no decorrer do Doutorado.
Meus agradecimentos à Adelaide Silveira e Sheldon Austin pela cessão de
tempo e atenção na realização das fotografias internacionais.
Ao Fabrício Santa Brígida, grato pela ajuda e apoio na faculdade durante esta
jornada.
A minha outra família, que alicerçou também esta jornada dando carinho,
proteção, apoio e amor. Meu reconhecimento e agradecimento a Calcilda Barbosa,
Adilson Freitas e Joecy Freitas, Juraci Barbosa, Helyelson Carmo, Mariano Carmo,
Joana, Larissse e Tatiane Torres.
Muito obrigado a essa força universal, Deus, pela fé, energia, pela presença em
minha vida, que é luz.
Aos amigos, que construí ao longo do curso de Economia agradeço pelo apoio,
preocupação e força. Aos que me apoiaram ao longo dessa jornada e que estão sempre
na torcida, muito obrigado. Grato por nossos bons encontros e que possamos nos manter
juntos na nossa juventude, através dos nossos risos. A cada um, meu fraterno abraço.
À Guaciara Freitas, que através do seu cuidado, pelo debate sobre a evolução da
tese, a troca de ideias e, principalmente pelo seu amor, foi fundamental para superar as
dificuldades e avançar com tranquilidade esta jornada. Este trabalho lhe pertence. Muito
obrigado pelo seu amor.
A minha tia Therezinha de Jesus, que cuidou, e ainda cuida de mim, meu
obrigado pelo seu amor e carinho. Este trabalho também é fruto disso.
Aos meus mais pais, Orlanda Maia Lima e Messilindo Texeira Lima, que
durante esta jornada do Doutorado, partiram. Não tenho palavras que signifiquem a
dimensão do quanto lhes sou grato. Este trabalho representa a pequena e justa
homenagem que lhes faço, pois é o resultado dos seus esforços, sem os quais, não
haveria nem eu, nem esta tese. Meu amor aos dois mestres economistas da minha vida.
Carta para Josefa, minha avó
Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a
mais bela rapariga do teu tempo — e eu acredito. Não sabes ler.
Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados.
Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de
água.

Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se


faria um banquete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os
bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los.
Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas
questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume
da tua lareira — sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.

Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de


economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião.
Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário
elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às
catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de
princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios
por motivos de que já perdeste lembrança, grandes dedicações
que assentam em coisa nenhuma. Vives. Para ti, a palavra
Vietname é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu
círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já
viste uma bandeira negra içada na torre da igreja. (Contaste-mo
tu, ou terei sonhado que o contavas?)

Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no


entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um
foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém. Estou diante de
ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não
entendo. Vieste a este mundo e não curaste de saber o que é o
mundo. Chegas ao fim da vida, e o mundo ainda é, para ti, o que
era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível,
uma coisa que não faz parte da tua herança: quinhentas palavras,
um quintal a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de
telha-vã e chão de barro. Aperto a tua mão calosa, passo a minha
mão pela tua face enrugada e pelos teus cabelos brancos,
partidos pelo peso dos carregos — e continuo a não entender.
Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Por que foi
então que te roubaram o mundo? Quem to roubou? Mas disto
talvez entenda eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se
soubesse escolher das minhas inumeráveis palavras as que tu
pudesses compreender. Já não vale a pena. O mundo continuará
sem ti — e sem mim. Não teremos dito um ao outro o que mais
importava. Não teremos, realmente? Eu não te terei dado,
porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era
devido. Fico com esta culpa de que me não acusas — e isso
ainda é pior. Mas porquê, avó, por que te sentas tu na soleira da
tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de
que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos
campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila
serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência
nunca perdida: «O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de
morrer!»É isto que eu não entendo — mas a culpa não é tua.

José Saramago, crônica para sua avó publicada no Jornal “A


Capital”, em 14 de março de 1968, Lisboa.
RESUMO

A proposição da tese examina a presença de uma categoria informal, denominada


informalidade empresarial, a qual é nomeada por outros autores, conforme identificado
no processo de levantamento bibliográfico, sem, no entanto, converter-se em objeto de
categorização ou caracterização, resultante de um processo de aproximação que não
focalize o indivíduo, como o trabalhador autônomo ou "conta própria". No presente
trabalho, para compreender o funcionamento da informalidade empresarial na
Economia, considerou-se sua inserção na lógica do mercado, ou seja, vinculada a
empreendimentos não capitalistas, com seus circuitos próprios de comercialização e
semiautônomos, em interação com o capital. Observa-se que esse movimento de
valorização se desenvolve no ambiente de circulação de mercadorias (MARX, 2014) e
captura de excedentes, através da conexão entre o circuito inferior (SANTOS, 2003),
onde estão localizados esses empreendimentos informais, e o circuito superior,
estruturado pelo grande capital. Analisado este processo de inserção e valorização, esta
tese sistematiza as principais características dos estabelecimentos informais
empresariais. Para isso efetuou-se um arranjo metodológico, com pesquisa
bibliográfica, pesquisa documental e pesquisa de levantamento, em cuja amostra
estatística foi definida a partir da técnica da amostra finita (LUCHESA, 2011) e para a
qual foi desenvolvido formulário próprio, que também permitiu análises qualitativas. A
pesquisa, contribuiu para reunir os principais pontos que dão sentido à informalidade
empresarial, segundo um viés distinto, que buscou captar e interpretar a atividade pela
dinâmica do estabelecimento físico fixo. Desse modo, em caráter preliminar, o presente
trabalho apresenta uma contribuição inovadora, evocando a informalidade empresarial
em suas principais características econômica e social, enquanto categoria de análise
produtiva e, com isso, trazendo mais elementos ao debate da Economia do Trabalho.
São apontadas, a partir das análises, algumas tendências, como a bancarização, o uso da
mídia digital, a reduzida participação da política de microcrédito como elemento de
alavancagem, além do caráter permanente do fenômeno, entre outros aspectos.

Palavras-chave: Informalidade. Estabelecimentos Informais Empresariais.


Organizações Não Capitalistas. Informalidade Empresarial.
ABSTRACT

The thesis proposal examines the presence of an informal category, called business
informality, which is named by other authors as identified in the bibliographic survey
process, without becoming the object of categorization or characterization, resulting
from a process of approach that does not focus on the individual, such as the "self-
employed". In this work, for the operation of business informality in the economy, its
application is considered in the logic of the market linked to non-capitalist enterprises,
with their own market wheels and semi-autonomous, in interaction with capital. It is
observed that this movement of valorization takes place in the environment of goods
circulation (MARX, 2014) and capture of surpluses, through the connection between the
lower circuit (SANTOS, 2003), where these informal enterprises are located, and the
upper circuit structured by the great capital. Analyzed this insertion and valorization
process, this thesis systematizes the main characteristics of informal business
establishments. For this, a methodological arrangement was made, with bibliographical
research, documentary research and survey research, in whose statistical sample was
defined from the finite population sampling (LUCHESA, 2011) and for which a form
was developed, that also allowed qualitative analyzes. The research contributed to
gather what give meaning to business informality, according to a distinct bias, which
sought to capture and interpret the activity by the dynamics of the fixed physical
establishment. Thus, the present paper presents a new contribution by presents the
business informality in its economic and social characteristics, as a category of
productive analysis, bringing more elements to the debate of the Labor Economy. Some
trends, such as banking practice, the use of digital media, low participation of
microcredit policy as an element of start and the permanent nature of the phenomenon,
among other aspects, are pointed out from the analysis.

Key words: Informality. Informal Business Establishments. Non-Capitalist


Organizations. Business Informality.
LISTA DE FIGURAS*

Figura 1 - Ícone de voz. Imagem utilizada para fiz ilustrativos ...................................... 44

Figura 2- Camelô em Nova Iorque.................................................................................. 92

Figura 3 - Camelô na Avenue des Ternes. Paris 17 Arrondissement.............................. 93

Figura 4 - Diagrama Relação entre unidades formais e informais. ............................... 114

Figura 5 - Diagrama Relação Informalidade - Capital Estrutural Indireto ................... 127

Figura 6 - Ponto comercial no âmbito da informalidade empresarial. Rua dos 48 –


Belém (PA).................................................................................................................... 131

Figura 7 - Ponto comercial no âmbito da informalidade empresarial. Estrada da Baída


do Sol, Distrito de Mosqueiro, Belém (PA). ................................................................. 133

Figura 8 - Estrutura das relações de trabalho nos estabelecimentos informais ............. 155

Figura 9 - Modelo simplificado das relações econômicas dos estabelecimentos


informais ....................................................................................................................... 157

__________________________________

*Todas as imagens que ilustam a capa e as intercapas constituem o acervo da pesquisa.


São de autoria de Guaciara Freitas e Tulio Gonçalves
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Atividade e quantidade de estabelecimentos do Cadastro Fundo Ver o Sol –


2017. ................................................................................................................................ 34

Quadro 2 - Atividades atendidas pelo Programa Credcidadão - 2017. ........................... 35

Quadro 3 - Parâmetros para obtenção da amostra da pesquisa. ...................................... 36

Quadro 4 - Peso percentual da redistribuição da amostra e municípios de coleta. ......... 38

Quadro 5 - Mês e semana de referência da pesquisa de campo (1) – 2018. ................... 39

Quadro 6 - Estabelecimentos pesquisados por estrutura jurídica regulada – 2018. ........ 40

Quadro 7 - Tipos de trabalhadores livres na Cidade de Salvador no século XIX ........... 60

Quadro 8 - Estrutura do mercado formal e não formal – categorização proposta em


1970. ................................................................................................................................ 62

Quadro 9 - Expressões de informalidade. ....................................................................... 65

Quadro 10 - Renda média das categorias de trabalhadores informais e proporção do


salário mínimo (1) jan.-mar./2017. ................................................................................. 90

Quadro 11 - Modalidades de Crédito, Carteiras e Juros vigentes no Credcidadão. ...... 111

Quadro 12 - Operações e Valores dos Empréstimos liberados pelo Credcidadão. ....... 111

Quadro 13 - Matriz de Características da Informalidade Empresarial. ......................... 120

Quadro 14 - Configuração da Informalidade Empresarial. ........................................... 132

Quadro 15 - Número total de microempresas sem registros no Brasil e no Pará – 1985.


....................................................................................................................................... 142

Quadro 16 - Empresas do setor informal por conta própria – 1997 e 2003 .................. 143

Quadro 17 – Marco conceitual do emprego informal ................................................... 149

Quadro 18 – Local de funcionamento do empreendimento informal. .......................... 153

Quadro 19 – Número de pessoas ocupadas nos estabelecimentos informais – Out/Nov


2018 e 2003. .................................................................................................................. 154

Quadro 20 – Empreendimentos informais por gênero do proprietário – Out/Nov 2018.


....................................................................................................................................... 162

Quadro 21 - Imigração dos proprietários informais – Out/Nov 2018. .......................... 163

Quadro 22 – Menor tempo de residência, tempo médio e maior tempo de moradia do


imigrante – Out/Nov 2018. ........................................................................................... 164
Quadro 23– Grau de instrução dos proprietários informais – Out/Nov 2018. .............. 165

Quadro 24 – Estado civil dos informais – Out/Nov 2018. ............................................ 165

Quadro 25– Total de filhos e média de filho por proprietário informal – Out/Nov 2018.
....................................................................................................................................... 165

Quadro 26 – Posição no domicílio por ocupante – Out/Nov 2018. .............................. 166

Quadro 27 – Posição no domicílio do(a) chefe(a) por gênero – Out/Nov 2018. .......... 166

Quadro 28– Condição de propriedade dos domicílios – Out/Nov 2018. ...................... 167

Quadro 29 – Número de moradores total nos domicílios vinculados aos


estabelecimentos informais – Out/Nov 2018. ............................................................... 167

Quadro 30 - Forma de abastecimento de água nos domicílios dos proprietários informais


‒ Out/Nov 2018. ............................................................................................................ 167

Quadro 31 - Pavimentação das ruas nos domicílios dos proprietários informais –


Out/Nov 2018 ................................................................................................................ 168

Quadro 32 - Proprietários informais com outra renda – Out/Nov 2018. ...................... 168

Quadro 33 - Tipo de outra forma de renda dos proprietários informais – Out/Nov 2018.
....................................................................................................................................... 169

Quadro 34 – Idade média quando começou a trabalhar. ............................................... 169

Quadro 35 – Principal motivo para estabelecer um empreendimento informal (1) –


Out/Nov 2018. ............................................................................................................... 170

Quadro 36 - Opção da informalidade para complementar renda (por gênero) – Out/Nov


2018. .............................................................................................................................. 170

Quadro 37 - Renda (1) líquida média dos proprietários dos estabelecimentos informais –
Out/Nov 2018 ................................................................................................................ 171

Quadro 38 - Renda (1) líquida média dos proprietários dos estabelecimentos informais
por gênero – Out/Nov 2018........................................................................................... 171

Quadro 39 - Proprietários informais que recolhem previdência social – Out/Nov 2018.


....................................................................................................................................... 172

Quadro 40 - Proprietários informais que participam de associações e sindicatos –


Out/Nov 2018. ............................................................................................................... 173

Quadro 41– Tempo na atividade informal empresarial – Out/Nov 2018...................... 174

Quadro 42 – Qual o setor econômico (1) do estabelecimento informal – Out/Nov 2018.


....................................................................................................................................... 174
Quadro 43 – Tempo da atividade no setor econômico (1) do estabelecimento informal –
Out/Nov 2018. ............................................................................................................... 175

Quadro 44 - Período de instalação (1) do estabelecimento informal – Out/Nov 2018. 176

Quadro 45– Origem do capital para iniciar o empreendimento informal (1) – Out/Nov
2018. .............................................................................................................................. 177

Quadro 46 – Investimento total (1) e por atividade dos empreendimentos informais (2) –
Out/Nov 2018. ............................................................................................................... 178

Quadro 47 – Origem do capital e investimento total (1) dos empreendimentos informais


(2) – Out/Nov 2018. ...................................................................................................... 179

Quadro 48 –Motivo para estruturar o empreendimento informal (1) – Out/Nov 2018. 180

Quadro 49 – Obteve apoio na estruturação do empreendimento informal (1) – Out/Nov


2018. .............................................................................................................................. 181

Quadro 50 – Estabelecimentos com sócio, se são parentes e se trabalham no


empreendimento – Out/Nov 2018. ................................................................................ 182

Quadro 51 – Média de dias trabalhados e média de horas semanais trabalhadas no


empreendimento informal (1) – Out/Nov 2018. ........................................................... 182

Quadro 52 – Média de dias trabalhados e horas semanais média trabalhadas no


empreendimento informal (1) – Out/Nov 2018. ........................................................... 183

Quadro 53 – Proprietários com conta corrente e uso no movimento do estabelecimento


(1) – Out/Nov 2018. ...................................................................................................... 184

Quadro 54 – Proprietários com cartão de crédito e uso no movimento do


estabelecimento (1) – Out/Nov 2018. ........................................................................... 185

Quadro 55 – Total de pessoas ocupadas nos estabelecimentos informais – Out/Nov


2018. .............................................................................................................................. 185

Quadro 56 – Estabelecimentos informais com e sem funcionários – Out/Nov 2018 ... 186

Quadro 57– Estabelecimentos informais com funcionário e relação familiar – Out/Nov


2018 ............................................................................................................................... 186

Quadro 58 – Estabelecimentos informais com funcionários que não possuem carteira de


trabalho assinada – Out/Nov 2018. ............................................................................... 187

Quadro 59 – Remuneração média dos funcionários ocupados (1) nos estabelecimentos


informais – Out/Nov 2018. ........................................................................................... 187

Quadro 60 – Total de pessoas ocupadas com vínculo e sem vínculo familiar e


remuneração média declarada (1) nos estabelecimentos informais – Out/Nov 2018. .. 188
Quadro 61 – Estabelecimentos informais que utilizam qualquer forma de propaganda e
o grau de informação da sua atividade – Out/Nov 2018. .............................................. 190

Quadro 62– Tipos de propaganda utilizadas pelos estabelecimentos informais (1) –


Out/Nov 2018. ............................................................................................................... 190

Quadro 63 – Algumas características dos informais empresariais (1) que utilizam


plataforma digital como meio de divulgação – Out/Nov 2018 ..................................... 191

Quadro 64 – Formas de uso das plataformas digitais pelos estabelecimentos informais –


Out/Nov 2018. ............................................................................................................... 192

Quadro 65 – Redes sociais utilizadas pelos estabelecimentos informais como


instrumento de propaganda – Out/Nov 2018 ................................................................ 193

Quadro 66 – Tempo de utilização das redes sociais pelos estabelecimentos informais


como instrumento de propaganda – Out/Nov 2018. ..................................................... 194

Quadro 67– Destino dos produtos comercializados pelos empreendimentos informais


por destino de consumo (1) – Out/Nov 2018. ............................................................... 194

Quadro 68– Área de atuação (1) dos Estabelecimentos Informais (2) – Out/Nov 2018
....................................................................................................................................... 195

Quadro 69 – Área de atuação (1) dos Estabelecimentos Informais (2) – Out/Nov 2018
....................................................................................................................................... 195

Quadro 70– Forma de recebimento pelos produtos e serviços comercializados pelos


estabelecimentos informais (1) – Out/Nov 2018. ......................................................... 196

Quadro 71 – Estabelecimentos informais que trabalham por encomenda ou subcontrato


– Out/Nov 2018 ............................................................................................................. 196

Quadro 72 – Segmento onde os estabelecimentos informais adquirem


mercadorias/serviços – Out/Nov 2018. ......................................................................... 197

Quadro 73 – Origem das mercadorias e serviços por tipo de fornecedores (1) – Out/Nov
2018. .............................................................................................................................. 198

Quadro 74 – Compras em distribuidoras que emitem nota/cupom fiscal (1) – Out/Nov


2018. .............................................................................................................................. 198

Quadro 75 – Período de abastecimentos dos estabelecimentos informais (1) – Out/Nov


2018. .............................................................................................................................. 199

Quadro 76 – Forma de pagamento das aquisições efetuadas pelos estabelecimentos


informais (1) – Out/Nov 2018. ...................................................................................... 200

Quadro 77 – Local de origem dos fornecedores de mercadorias e serviços adquiridos


pelos estabelecimentos informais (1) – Out/Nov 2018. ................................................ 201
Quadro 78 – Indicação de origem das mercadorias e serviços adquiridos pelos
estabelecimentos informais (1) – Out/Nov 2018 .......................................................... 202

Quadro 79 – Local de origem dos fornecedores de mercadorias e serviços adquiridos


pelos estabelecimentos informais (1) – Out/Nov 2018. ................................................ 202

Quadro 80 – Barreiras para formação da rede fornecedores de mercadorias e serviços


pelos estabelecimentos informais (1) – Out/Nov 2018. ................................................ 202

Quadro 81– Faturamento dos estabelecimentos informais em 2017 – Out/Nov 2018. 203

Quadro 82 – Faturamento médio mensal por hora dos estabelecimentos informais em


2017– Out/Nov 2018. .................................................................................................... 204

Quadro 83 – Número de estabelecimentos que realizaram investimentos em 2017/2018


– Out/Nov 2018. ............................................................................................................ 204

Quadro 84 – Faturamento dos estabelecimentos informais em 2017 (1) – Out/Nov 2018.


....................................................................................................................................... 205

Quadro 85– Investimento médio inicial, investimento médio 2017/2018 e faturamento


bruto médio anual dos estabelecimentos informais em 2017– Out/Nov 2018.............. 205

Quadro 86 – Lucro médio (1) dos estabelecimentos informais por segmento no mês de
outubro de 2018............................................................................................................. 206

Quadro 87– Quantidade de estabelecimentos informais que procuram empréstimos até


outubro de 2018............................................................................................................. 207

Quadro 88 – Fonte de empréstimos realizados pelos estabelecimentos informais que


procuram empréstimos até outubro de 2018. ................................................................ 208

Quadro 89 – Como exerce o controle administrativo do estabelecimento informal –


Out/Nov 2018. ............................................................................................................... 209

Quadro 90 – Como fixa o preço das mercadorias e serviços ofertados (1) – Out/Nov
2018. .............................................................................................................................. 210

Quadro 91 – Principais dificuldades elencadas pelos gestores na administração dos


estabelecimentos informais (1) – Out/Nov 2018. ......................................................... 211

Quadro 92 – Quais as expectativas para sua atividade informais (1) – Out/Nov 2018. 212
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Taxa de informalidade e taxa média do período........................................... 80

Gráfico 2 - Brasil - número de empregos formais (em mil pessoas), 1985 – 2015 ........ 81

Gráfico 3 - Número de microempreendedor individual formalizado (2010-2016)......... 83

Gráfico 4 - Taxa média anual de informalidade (2013/2017.1). ..................................... 84


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Taxa de informalidade e taxa média do período no Brasil (1992 – 2014)..... 81

Tabela 2 - Número de microempreendimentos individuais formalizados e taxa de


variação relativa e absoluta (2010 – 2016). .................................................................... 82
LISTA DE SIGLAS

BANPARA S/A Banco do Estado do Pará S/A


BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
CEPAL Comissão de Estudos Econômicos da América Latina
CISE Classificação Internacional da Situação do Emprego
CGAP Consultative Group to Assist the Poor
CREDCIDADÃO Programa de Microcrédito do Estado do Pará
ECINF Pesquisa Economia Informal Urbana
FPM Fundo de Participação do Município
FUNPROGER Fundo de Aval para Geração de Emprego e Renda
IFC International Finance Corporation
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano
MEI Microempreendedor Individual
MF Mercado formal de emprego
MNF Mercado não formalizado de emprego
NGPM Núcleo de Gerenciamento de Microcrédito
OIT Organização Internacional do Trabalho
ONG Organização Não Governamental
OSCIP Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
PIB Produto Interno Bruto
PNAD Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios
PREALC Programa Regional del Emprego para a América Latina y el
Caribe
PROGER Programa de Geração de Emprego e Renda
PNMPO Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado
RAIS Relação Anual de Informações Sociais
RMB Região Metropolitana de Belém
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SEDEME Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração
e Energia
SM Salário Mínimo
TDIC Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação
VER-O-SOL Fundo Municipal de Solidariedade para Geração de Emprego e
Renda Ver-o-Sol
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 26
1.1 Minha visada sobre a informalidade .................................................................... 26

1.2 A estruturação da pesquisa .................................................................................... 29

1.2.1 Das limitações às delimitações ............................................................................ 31

1.2.2 Do universo à amostra ......................................................................................... 36

1.2.3 A construção do formulário................................................................................. 38

1.2.4 O campo .............................................................................................................. 39

1.3 A organização da tese .............................................................................................. 41

2 MODOS DE (NÃO) VER A INFORMALIDADE ......................................... 44


2.1 Um olhar histórico para esta "senhora" informalidade ................................... 44

2.2 Um mosaico de interpretações ............................................................................... 68

2.3 O fenômeno no bojo do sistema ............................................................................. 73

2.4 Sobrevoando os números da informalidade ........................................................ 80

2.5 Informalidade complexa e (in)visível.................................................................... 84

2.6 O objeto pelos caminhos da informalidade ......................................................... 88

3 CRÉDITO AO INFORMAL .......................................................................... 100


3.1 As limitações do capital no processo de circulação.......................................... 100

3.2 Microfinanças .......................................................................................................... 103

3.2.1 A institucionalização das microfinanças no Brasil............................................ 107

3.2.2 Microfinanças e o Credcidadão ......................................................................... 109

4 CAPITAL, CIRCULARIDADE E INFORMALIDADE ............................. 114


4.1 Uma transição sem fim .......................................................................................... 114

4.2 Do circuito à valorização ....................................................................................... 121

4.3 O caráter semiautonômo ....................................................................................... 125

4.4 Evidências empíricas da informalidade empresarial ...................................... 128


5 INFORMALIDADE EMPRESARIAL: dando forma a uma feição .......... 141
5.1 Um jogo de luz e sombra ....................................................................................... 141

6 ORGANIZAÇÕES NÃO CAPITALISTAS E a informalidade empresarial ..


........................................................................................................................... 161
6.1 Um retrato dos atributos sociodemográficos do informal empresarial ....... 161

6.2 Por dentro do estabelecimento informal ............................................................ 173

6.3 O dia a dia do estabelecimento informal ........................................................... 189

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 215


REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 223
APÊNDICES ................................................................................................................ 233
APÊNDICE A – FORMULÁRIO DA PESQUISA .................................................. 233
25
26

1 INTRODUÇÃO

1.1 Minha visada sobre a informalidade

Em 30 anos de ofício como economista, na maior parte dos meus1 afazeres


profissionais, incluindo diversas pesquisas de mercado e minha pesquisa acadêmica de
Mestrado, foi a economia do setor industrial que, frequentemente, esteve sob meu foco
de atuação. Nessas circunstâncias, as leituras e questões relativas ao mundo do trabalho
se faziam presentes de forma transversal, complementar. Foi assim até 2010, quando o
fui demandado a realizar uma análise sobre a informalidade, no município de Rondon
do Pará e Dom Eliseu.
Para atender à demanda que se apresentava, o caminho natural rumo às
informações necessárias levou ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
que já realizara, à época, duas pesquisas no campo da informalidade (IBGE,1997; IBGE
& Sebrae, 2003) e que atualmente, dispõe de informações a respeito do assunto também
na Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio Contínua (PNAD Contínua).
Ao lidar com os dados disponíveis, observei que as pesquisas se desenvolviam
em uma perspectiva “demográfica/populacional”, ou seja, o núcleo central era (e ainda
é) pessoal/individual, focado no contexto das relações sociais e do trabalho,
representado por papéis como o do “autônomo”, do “conta própria”, do
“ambulante/camelô” ou mesmo dos trabalhadores precarizados ‒ que de lá para cá,
abriram uma nova e já tão expressiva frente, conectada com a internet e os aplicativos
de mensagem instantânea, voltada aos serviços de transporte e de entrega, por exemplo
‒ estes relacionados a uma ambiência de legalidade.
Perante às informações fornecidas pelo IBGE percebi a relevância da
informalidade no mundo do trabalho no Brasil, mensurada pela efetividade na ocupação
dos trabalhadores: em 1993 a taxa de participação dos informais era de 59,7%, de
acordo com a PNAD antiga, percentual expressivo da representatividade social e
econômica do fenômeno, cuja necessidade de análise, tanto no setor privado, como no
âmbito institucional, saltou-me aos olhos, sobretudo quando acessei um outro banco de
dados, referente ao consumo de energia elétrica no estado do Pará, e verifiquei um
volume significativo de empreendimentos de pequeno porte, cadastrados como "pontos
comerciais", os quais, no entanto, não possuíam registros legais, com esse atributo

1
Na presente sessão e na abertura do primeiro tópico da sessão 2, o texto é escrito na primeira pessoa do
singular, em razão da natureza das informações e do tom que optei atribuir à narrativa.
27

formal. Diante dessa empiria, ocorreram-me duas abstrações: 1) com base no cadastro
do consumo de energia elétrica dos pontos comerciais não legalizados como tais,
desenvolver um indicador, que seria capaz de apontar um tipo específico de
informalidade, vinculada a estabelecimentos fixos. Tendo ainda a possibilidade de
capturá-la no fluxo, não apenas em períodos estanques, como nas pesquisas acima
citadas, realizadas pelo IBGE; 2) aprofundar os estudos sobre informalidade, a fim de
compreendê-la nessa vinculação com um ponto fixo, o estabelecimento.
Movido por essas ideias iniciais, cheguei a desenvolver a fórmula do indicador,
que, por razões de escolhas de ordem operacional, teve de ser suprimido do presente
trabalho. Por outro lado, em paralelo às análises dos dados disponibilizados pelo
Instituto, iniciei um estudo mais aprofundado sobre a informalidade, a fim de realizar
uma pesquisa da pesquisa2, o que evidenciou para mim, que a informalidade é um
fenômeno complexo e heterogêneo, em torno do qual resiste ainda um olhar
marginalizador, motivado, pressuponho, pela associação das atividades informais com
aspectos relacionados à ilegalidade. Apesar disso, há uma volumosa produção em áreas
como Economia, Sociologia e Antropologia, sobre o tema (SANTOS, 2003; PEREIRA;
ROCHELLAS, 2004; SANTIAGO; VASCONCELOS, 2017; CACCIAMALI, 1982;
CARDOSO, 2014; DUARTE, 2017; FILGUEIRAS; DRUCK; AMARAL, 2017;
KREIN; PRONI, 2010; MALAGUTI, 2000; ALTAVATER; MAHNPOPF, 2008;
ANTUNES, 2013; MEIRELLES; ATHAYDE, 2014).
Apesar do volume expressivo e crescente, no bojo dessa produção há lacunas.
Dentre elas destaco a escassez de trabalhos voltados a um tipo de informalidade que não
está visível nas ruas, nas figuras dos trabalhadores informais que vendem produtos ou
oferecem serviços, ou seja, um tipo de informalidade invisível como tal, como se
estivesse camuflada por condições distintas àquelas que identificam seus atores mais
evidenciados. Tal contexto justifica a realização de pesquisa que aperfeiçoe e/ou
construa instrumentos e visadas analíticas e de acompanhamento, que ajudem a captar
atualizações do fenômeno, para avançar o debate sobre o tema.
Em meio à diversidade e à complexidade que formam o conjunto de agentes da
informalidade, é possível vislumbrar a ascensão dos estabelecimentos informais. Em

2
Jiani Bonin (2006, p. 31) designa como pesquisa da pesquisa, “o revisitar, interessado e reflexivo, das
pesquisas já realizadas sobre o tema/problema a ser investigado ou próximo a ele”. Trata-se de um
movimento semelhante ao que muitos autores identificam como pesquisa bibliográfica, no entanto, com
uma pequena distinção, porque está mais distante da pretensão de alcançar e expressar o estado da arte
sobre determinado tema em toda sua amplitude, e mais intencionado em deter-se em estudos cujo objeto
e/ou problema aproximem-se daquele que se pretende investigar.
28

2003, a pesquisa IBGE & Sebrae apontava que o Brasil tinha mais de nove milhões
deles (9.186.103), número capaz de expressar a importância de tais empreendimentos na
dinâmica do fenômeno e na realidade socioeconômica do país. Ainda assim, na
produção acadêmica e nos levantamentos realizados sobre informalidade, o
estabelecimento, mesmo sendo reconhecido em sua existência, não é tomado como um
aspecto relevante nas análises, porque costuma-se categorizar ou classificar o
indivíduo, deixando-se de lado o capital investido, o espaço, a rede de fornecedores, seu
mercado, o bairro etc., que fazem parte de um conjunto, o qual, de acordo com minha
percepção, não deve ser dissociado do objeto, pois há relações sociais e produtivas
ocorrendo nesse todo, engatilhadas pelo funcionamento do estabelecimento.
Assim, ao se abandonar esse movimento interno, que também é responsável pelo
estímulo à informalidade, perde-se variáveis importantes, as quais importam para
ampliar a compreensão das várias camadas que a constituem. Conforme observo, a
palavra “estabelecimento” agrega um contexto maior, gera elos e efeitos em todos os
níveis, além da circulação de bens e recursos: emprego/ocupação, serviços diretos e
indiretos, rede de fornecedores, distribuição de renda, os quais, quando se apresentam
referidos como trabalhador autônomo ou "conta própria”, induzem a uma espécie de
invisibilidade, que contribui para limitar a compreensão da informalidade para além de
suas representações mais comuns.
Por essa razão, e também por outros motivos decorrentes de concepções mais
teóricas e análises discutidas ao longo do trabalho, a visada pela qual construo o objeto
de conhecimento3 desta tese, pressupõe que o estabelecimento informal participa como
elemento central na configuração de uma nova forma de informalidade, bem como de
um tipo próprio de agente social no seu interior, que não é o trabalhador autônomo ou
"conta própria", embora costume ser identificado dessa forma. Assumindo esse
pressuposto, sigo com a hipótese de que no âmago de tal configuração há
especificidades que distinguem esse informal dos demais atores, o que requer categorias
de análise, instrumentos e técnicas de pesquisa, que favoreçam a captura do
delineamento econômico e social da informalidade dinamizada pela existência do
estabelecimento.

3
Embora o texto procure deixar isso claro, explico que o emprego o termo "objeto de conhecimento", faz
a distinção em relação ao objeto empírico, ou seja, explicitando o movimento de construção do objeto a
partir da realidade no qual se encontra, porém, problematizando-o. Para denominar o objeto de uma
produção científica, frequentemente utiliza-se também as designações "objeto de estudo" ou "objeto de
pesquisa", mas daqui em diante, para significar esse construto da tese, utilizarei apenas a palavra "objeto".
29

Assim sendo, o objeto desta pesquisa é a informalidade, segundo uma visada que
considera a existência de um estabelecimento e de todas as implicações e elementos
dele decorrentes. O problema desta investigação questiona: como o estabelecimento
participa da configuração do empreendimento informal e, consequentemente, aciona
uma lógica de concepção de um tipo específico de informalidade, bem como de um
agente a ela vinculado?
O objetivo geral do presente trabalho é propor parâmetros para caracterizar a
informalidade decorrente do funcionamento de estabelecimentos informais, e distinguir
o agente que emerge dessa organização.
Para alcançar o objetivo mencionado acima, foram definidos os seguintes
objetivos específicos:
• Desenvolver instrumentos e técnicas de pesquisa voltados aos
estabelecimentos informais e suas dinâmicas de funcionamento;
• Realizar levantamento de dados sobre estabelecimentos informais, por
meio de pesquisa de campo específica para este trabalho;
• Sistematizar informações sobre estabelecimentos informais a partir da
amostragem pesquisada;
• Analisar, a partir da sistematização e cruzamento de dados, à luz dos do
referenciais teóricos adotados, como a informalidade se desenvolve, na
amostra.

1.2 A estruturação da pesquisa

No processo inicial desta tese, empreendi um movimento de pesquisa


bibliográfica e pesquisa documental, para conhecer sobre o tema do estudo. No dizer de
Yin (2016, p.25),

(...) saber sobre seu tema de estudo exige que você saiba sobre os resultados
de pesquisa anterior, sobre o assunto, não apenas o ambiente de campo e os
participantes previstos.
Ter conhecimento suficiente exige que você vá em busca desses outros
estudos e aprenda sobre eles, incluindo suas metodologias. Seu objetivo é
evitar repetição ou reinvenção inadvertida. Você pode até ficar sabendo sobre
algum procedimento de pesquisa que vale a pena imitar em seu próprio
estudo. Da mesma forma, revelações de estudos anteriores também ajudarão
a reduzir a possibilidade de você interpretar erroneamente seus próprios
dados.
30

Em complementação aos aspectos abordados na citação do autor, afirmo ainda


que em etapas distintas do desenvolvimento do trabalho, as pesquisas bibliográfica e
documental foram importantes para alavancar a construção do objeto, a elaboração do
problema da pesquisa, o estabelecimento dos objetivos e dos arranjos metodológicos
mais adequados/viáveis às necessidades da investigação. Nesse sentido, as orientações
metodológicas basearam-se, principalmente nas reflexões sobre métodos discutidas por
autores como Wendy Oslen (2007, 2010, 2015) e Robert K. Yin (2003, 2016), cujas
produções guardam maior proximidade com a natureza do objeto aqui trabalhado.
Também a partir da pesquisa bibliográfica, realizei um estudo histórico e conceitual a
cerca da informalidade, bem como retomei matrizes teóricas da Economia, Sociologia e
Geografia Humana, que aportam as análises dos dados coletados.
Para alcançar os objetivos estabelecidos, esta investigação assumiu os contornos
de uma pesquisa de levantamento, na qual foram realizadas coletas de "dados duros",
principalmente, e "dados macios", complementarmente, a partir de pesquisa de campo
específica para esse estudo.

As pessoas costumam chamar de duros os tipos de dados de questionários


altamente estruturados. A dureza provém de as respostas serem
rigorosamente colocadas em categorias (...) Essas categorias são definidas
para terem o mesmo significado em toda a amostra. (...) Assim presume-se
uma espécie de universalismo de significado dentro da população nos
chamados "dados duros".
Os "dados macios" da entrevista são organizados sequencialmente por um
delicado ato de equilíbrio (...). Todas as entrevistas variam em conteúdo, e
não se presume que as palavras tenham um significado específico
(estipulado) (...).
(...) Em uma pesquisa de levantamento, a "condução" é feita na instituição da
etapa de preparação do questionário. Essa "condução" geralmente é
administrada por meio de pilotos (i.e., entrevistas) em torno de blocos de
perguntas de rascunho . Quando o questionário é impresso, as perguntas e o
fluxo que afastam de certos temas são fixos para todos os entrevistados (...)
(OLSEN, 2015, pp.21, 22).

Para encaminhar a pesquisa de levantamento, tomei o crédito como ponto de


partida. Neste caso, o crédito específico é moldado aos estabelecimentos informais, ou
seja, empréstimos via microfinanças, na modalidade de microcrédito, posto que, esses
empreendimentos, assentados em pequenos capitais, apresentam momentos de
dificuldades, nos quais a ausência de capital de giro ou de investimentos limitam suas
operações.
Enfatizo aqui (o que será abordado em capítulo próprio), que as microfinanças
foram, ao final dos anos 1990, normatizadas ao mesmo tempo em que o Estado
31

começou a desenvolver, gradativamente, políticas públicas para disponibilizar recursos


aos micro e pequenos formais, bem como aos informais, como estratégia de combate à
pobreza e à desigualdade. As grandes instituições financeiras, mesmo estimuladas, não
têm interesse neste tipo de operação, portanto, as informações sobre os tomadores de
crédito enquanto empreendimentos informais estão sob o domínio do poder público nos
três níveis.
Assim, os dados para o desenvolvimento desta pesquisa foram fornecidos por
duas instituições públicas, que operam o microcrédito para micros e pequenos
estabelecimentos formais e informais: Programa de Microcrédito do Governo do Estado
do Pará (Credcidadão) e Fundo Municipal de Solidariedade para Geração de Emprego e
Renda Ver-o-Sol (Ver-o-Sol), da Prefeitura Municipal de Belém, ambos para o ano de
2017. Para a definição da amostra considerei como universo, o número de operações de
microcrédito realizadas pelo Credcidadão em 2017, na ordem de 3.274
(empreendimentos formais e informais). A escolha justifica-se pela quantidade de
operações e pela abrangência territorial do programa, em razão da sua capilaridade
municipal. Para a obtenção do número de entrevistas, segui a “técnica da amostra finita”
(LUCHESA,2011), que me permitiu alcançar confiabilidade e qualidade de dos dados,
mesmo tendo de lidar com limitações orçamentárias, conforme detalho a seguir, a
respeito dos procedimentos metodológicos.

1.2.1 Das limitações às delimitações

As restrições orçamentárias para o desenvolvimento da pesquisa também


representam um aspecto a ser considerado, tendo em vista não haver nenhum tipo de
financiamento, além de meus próprios recursos de pesquisador/doutorando. Essa
condição requereu conciliar o rigor técnico com a disponibilidade financeira, para
execução do campo, sobretudo defronte de dois outros fatores: a dimensão territorial do
Estado e a dispersão da informalidade pelo território.
Além dos fatores citados, referentes a situações de ordem prática4, que poderiam
acarretar problemas na pesquisa, havia uma limitação de outra ordem a superar, mais

4
Evidentemente compreendo que problemas de ordem operacional, não devem interferir no problema da
pesquisa, mas a realidade, com suas restrições de ordem financeira, principalmente, muitas vezes se
impõe até mesmo a grandes pesquisas, realizadas por órgãos que gozam de credibilidade e tradição, como
foi o caso, este ano, do corte estimado em 25% para a realização do Censo 2020. O levantamento,
realizado no Brasil desde 1872, apresentou em suas últimas edições, 150 perguntas. Esse número já se
encontra reduzido no formulário que está em preparação para a pesquisa do ano que vem. De acordo com
32

relacionada ao problema da pesquisa, que era como e a partir de onde obter a


informação-base: o “estabelecimento informal”, ponto de partida para a pesquisa
evoluir. Ou seja, trata-se aqui do tipo de situação de pesquisa na qual gera-se um
conjunto de dados como um subgrupo de informações existentes, em bases de dados
governamentais, por exemplo.
Inicialmente tentei obter dados junto ao IBGE. Mas, para acessá-los em nível
cadastral, que era o que eu necessitava para montar o subgrupo cadastral específico de
minha pesquisa, as tratativas exigiram contatos diretamente na sede do Instituto,
localizada no Rio de Janeiro, além do pagamento pelas informações, caso a liberação
fosse autorizadas. Por outro lado, a pesquisa do IBGE sobre informalidade, ao realizar
uma “classificação” do fenômeno informal ou a informação na qual se baseia, tem como
referência o dado demográfico/populacional, isto é, a pessoa, o que considerei um risco
de viés para esta pesquisa, dada a diferença em relação à visada do objeto da tese.
Assim, a obtenção de cadastros seguiu em direção a instituições que operam o
microcrédito, pelo fato de tratar-se de uma política pública focada no estímulo a micro
ou pequeno empreendimento, visando a geração de renda e de trabalho, e por sua linha
de atuação contemplar tanto estabelecimentos formais, quanto informais, bem como o
autônomo e/ou conta própria. A atratividade da política é o financiamento com juros
baixos e o prazo maior de carência quando comparado às linhas praticadas pelos bancos
privados.
Além da definição de critérios sobre o tipo de cadastro, outro aspecto prioritário
na determinação preliminar para configuração da pesquisa de levantamento referiu-se a
escolha do ano base do cadastro das instituições que operam o microcrédito, que foi
2017, a fim de realizar a pesquisa de campo em 2018, a partir de informações as mais
atualizadas possíveis.
Definidos esses parâmetros iniciais, a procura por alternativas para o
desenvolvimento da pesquisa com base estabelecimento informal conduziu-me às

o ministro da fazenda do Brasil, Paulo Guedes, o censo precisa ser "simplificado" para se tornar menos
oneroso aos cofres públicos. Assim sendo, o tradicional e respeitado levantamento será realizado dentro
dessas condições. Ou seja, se esse é um fator presente numa realidade institucional, tanto mais se
manifesta quando da realização de pesquisas individuais, levadas a cabo com recursos pessoais. Contudo,
acredito ser mais digno adequar os procedimentos metodológicos às condições existentes, do que me
render às limitações. Desse modo, as pesquisas podem ir complementando-se umas às outras, uma
seguindo do ponto onde outra não pode chegar. Com o cenário que se desenha, somente assim poderemos
seguir nesse militância em prol da produção do conhecimento. Para mais informações sobre o Censo
2020, conferir: IDOETA, Paula Ramos. Para que serve o Censo, que corre risco de encolher por corte de
verba. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48007855. Acesso: 30 abr., 2019.
33

instituições oficiais que operam com o microcrédito no Pará, precisamente, em Belém, e


que atendem tanto operadores formais, como informais, incluindo, os que desenvolvem
suas atividades em um estabelecimento físico fixo.
A primeira instituição buscada foi o Banco da Amazônia S/A, que possui em seu
portfólio operações de microcrédito. Na primeira tentativa, junto à assessoria técnica da
presidência foi negado o acesso ao cadastro da instituição, sob alegação de que as
informações são sigilosas ‒ ressalto, com base em meu conhecimento sobre o assunto,
que o cadastro não é sigiloso. Sigilosas são as operações financeiras e os dados
bancários. Num segundo esforço de negociação, com a gerência superior, apesar dos
avanços, após três reuniões no decorrer de 2017, a unidade responsável pelo
microcrédito impôs um conjunto de restrições que dificultavam a obtenção das
informações e inviabilizavam a pesquisa.
Então parti para outras opções: os cadastros do Programa Estadual do
Microcrédito do Estado do Pará, Credcidadão, e do Fundo Ver o Sol, da Prefeitura
Municipal de Belém. Após algumas reuniões, que solicitei com o propósito de conhecer
a dimensão das operações, as atividades contempladas e o universo do cadastro, os
gestores do Fundo Ver o Sol optaram em não disponibilizar as informações. Ante a
insistência deste pesquisador, optaram em ceder, inicialmente, apenas dez (10) cadastros
de empreendimentos e seus respectivos gestores.
Em nova rodada de negociações, demonstrei que a quantidade cedida impedia a
realização da pesquisa com qualidade, bem como dificultava a avaliação do segmento,
devido à possibilidade de recusa quando da realização das entrevistas5. Assim, a direção
do Fundo cedeu vinte (20) cadastros de empreendimentos/responsáveis. Durante esta
fase foi possível escolher, junto ao Fundo, quais as atividades seriam disponibilizadas
quando da cessão do cadastro de estabelecimentos a serem pesquisados, entre os
atendidos pela instituição, como camelôs, ambulantes, armarinho, mercearia e moto-
taxista etc. Desse modo, excluí do rol de informantes, as atividades exercidas na rua,
concentrando a atenção nos empreendimentos com espaço fixo.
No quadro 1, abaixo, constam os setores de atividades dos estabelecimentos,
conforme informações repassadas pelo Fundo Ver o Sol.

5
Aqui o uso do termo "entrevista" se refere à entrevista estruturada, como fazendo parte de uma pesquisa
de levantamento, que exige a extração de uma amostra representativa de entrevistados. Cf.: YIN, Robert.
Pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre: Penso, 2016.
34

Quadro 1 - Atividade e quantidade de estabelecimentos do Cadastro Fundo Ver o Sol – 2017.

Atividade Número de Estabelecimentos


Revenda de Confecção 7
Mercearia 2
Gêneros Alimentícios 2
Revendedora Cosméticos/Esmalte/Perfumes 1
Produção e Costura de Confecções 2
Lanchonete 2
Armarinho 1
Material de Construção 2
Produção de bombons regionais 1
Fonte: Fundo Ver o Sol.

Em relação ao Credcidadão, do Estado do Pará, as conversações foram


semelhantes às travadas com o Fundo Ver o Sol, isto é, marcadas por diversas reuniões,
em que pese o respaldo institucional da Universidade Federal do Pará e do Programa de
Doutorado em Economia, que contribuíram para minimizar o receio ao acesso de
cadastro.
Um ponto importante foi o fato de o Credcidadão disponibilizar a informação a
respeito do total de atendimentos efetuados pela instituição em 2017, na ordem de 3.424
operações, englobando estabelecimentos formais, informais e pessoas físicas (camelô,
ambulante, conta própria). E depois de alguns meses de negociação, a direção
concordou em fornecer alguns cadastrados de suas operações em 2017, limitados
inicialmente a cinquenta (50) estabelecimentos. Insisti um pouco mais visando ampliar
o número total de estabelecimentos disponibilizados, posto que, considerando que como
a taxa de recusa e a inconsistência de endereços são elevadas neste tipo de pesquisa, há
um risco. Demonstrei a necessidade de se manter um “cadastro de reserva de
informantes para substituição”, para o sucesso da pesquisa.
Além desse fator, um outro aspecto destacado foi a necessidade de distribuir
e/ou desconcentrar a pesquisa no território, ou seja, distribuí-la por outros municípios,
fato que impõem um mínimo necessário de estabelecimentos a serem pesquisados. Em
que pese as limitações orçamentárias, já citadas, a diluição do levantamento de campo
para municípios próximos a Belém (Ananindeua, Benevides e Marituba) enriquece a
pesquisa, permite um olhar mais qualificado sobre o problema, fato que aprimora a
análise e, consequentemente, o resultado.
Superado este novo impasse, a direção do Credcidadão liberou cento e vinte
(120) cadastros, distribuídos aleatoriamente entre estabelecimentos formais e informais,
pelas cidades de Belém, Ananindeua, Benevides e Marituba.
35

De outro modo, também foi possível selecionar, previamente, as atividades


desenvolvidas pelos informantes com base no escopo da pesquisa, fato esse que
contribuiu para direcionar melhor os esforços de campo. O quadro 2 lista as atividades
financiadas pelo Credcidadão e quais foram as selecionadas para compor o banco de
dados da pesquisa.

Quadro 2 - Atividades atendidas pelo Programa Credcidadão - 2017.

Atividade Selecionada
Revenda de Confecção Selecionada
Mercearia Selecionada
Gêneros Alimentícios Selecionada
Revendedora Cosméticos/Esmalte/Perfumes Não selecionada
Produção e Costura de Confecções Selecionada
Lanchonete Selecionada
Armarinho Selecionada
Material de Construção Selecionada
Produção de bombons regionais Selecionada
Produção de Sorvetes Selecionada
Mototaxista Não selecionada
Batedor de Açaí Selecionada
Oficina mecânica Selecionada
Descartáveis Selecionada
Açougue Selecionada
Manutenção de Computadores Selecionada
Depósito de Água Mineral/Bebidas/ Selecionada
Feirante peixe Não selecionada
Feirante Hortifrúti Não selecionada
Oficina de bicicletas Selecionada
Salão de beleza Selecionada
Serviço reprográfico Selecionada
Lan House Selecionada
Artesanto Selecionada
Camelo – diversos (bombons, doces, alimento, vestuário) Não selecionada
Ambulante – diversos (bombons, doces, lanches, tapioca) Não selecionada
Produção de hortaliça Não selecionada
Assistência de celular Selecionada
Egressos Não selecionada
Transporte – Frete Não selecionada
Fabricante de embutido Selecionada
Feirante – frutas Não selecionada
Feirante – venda de farinha Não selecionada
Restaurante Selecionada
Fonte: Credcidadão.

A seleção prévia da atividade para compor o cadastro não significa que a mesma
integrou a relação dos estabelecimentos disponibilizados pela direção do Credcidadão,
pois essa decisão coube à instituição, que disponibilizou as informações gratuitamente,
o que permitiu reduzir os custos e concentrar os recursos financeiros na execução da
pesquisa de campo da tese.
36

Por fim, e não menos importante, observei tanto no âmbito do Fundo Ver o Sol
quanto no Credcidadão, que é político-partidária a gestão do conjunto de beneficiários,
pois a entrada, sob o manto de uma política pública é, em grande parte, vinculada à
indicação de vereadores e deputados estaduais, embora haja uma parte independente,
que procura as instituições. Essa observação explica as restrições e dificuldades
impostas ao acesso do cadastro, bem como a demais informações, que contribuíram para
melhor dimensionar o universo.

1.2.2 Do universo à amostra

A técnica adotada para definir o número de informantes para pesquisa,


considerando as características do universo, o ano de referência e os critérios
estabelecidos, foi a “técnica de amostragem da população finita” (LUCHESA, 2011),
que permitiu a operacionalidade da pesquisa, um menor custo, uma representação do
universo e maior agilidade no tempo de resposta. Por outro lado, a técnica admite o grau
de confiança na pesquisa, o máximo erro possível, que limita as possíveis incorreções,
aliado à variabilidade, garantindo um grau de segurança na execução da pesquisa.
A fórmula da técnica amostral da população finita é:

N= Z2 x P x Q x N__________
e2 x (N – 1) + Z2 x P x Q

Para obtenção da amostra a ser pesquisada, adotei os seguintes parâmetros,


contidos no quadro 3, a saber:

Quadro 3 - Parâmetros para obtenção da amostra da pesquisa.

Parâmetros Objetivo Indicador


Z Nível de Confiança 90
P Quantidade de acerto esperado (%) 90
Q Quantidade de erro esperado (%) 10
N População total - 2017 3.424
E Nível de precisão (%) 7
Amostra 49
Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados do Credcidadão.

Portanto, com base no universo e nos parâmetros estatísticos adotados o número


total da amostra investigada seria de quarenta e nove (49) estabelecimentos. As
restrições existentes, associadas à complexidade, à heterogeneidade e à natureza do
informante levaram-me a ampliar o grau do nível de confiança de 5% para 10% e do
nível de precisão, de 5% para 7%, números esses que não alteram o rigor da técnica, e,
37

no caso, favorecem a elasticidade em possíveis erros, sem distorcer o resultado da


pesquisa.
Delimitado o tamanho amostral da pesquisa, foi importante considerar sua
distribuição pelo território, tendo em vista que a informalidade é um fenômeno de
caráter universal, presente em todos os espaços. Conciliadas as necessidades da
pesquisa, com as limitações orçamentárias, optei por aplicar os formulários nos
municípios de Ananindeua, Belém, Benevides e Marituba, adotando a técnica de
redistribuição de pesos, objetivando que os demais municípios estivessem representados
na quantidade de formulários aplicados nessas cidades.
A variável adotada para o cálculo da redistribuição foi a População
Economicamente Ativa, pois considerou as pessoas em condições aptas de emprego e
ocupação para o mercado de trabalho e o ano de corte foi 2010, em razão dos dados do
Censo Populacional realizado pelo IBGE neste ano. Outro elemento que concorreu para
a escolha dessa variável foi sua abrangência territorial, pois não identifiquei na pesquisa
da pesquisa, nenhum indicador de informalidade com um grau de abrangência
municipal, o que valoriza tal abordagem.

Ao mesmo tempo, os estudos podem ter duas ou mais instâncias das unidades
no nível mais amplo. Se escolhidas para serem instâncias constantes, observe
como os resultados de um estudo em dois locais podem gerar maior
confiança do que os de um estudo em um único local, por que os dados de
um local devem contrastar de maneiras previsíveis com os dados do outro
local (...)
Se escolhido para refletir a presença de eventos semelhantes em múltiplos
locais, mas com condições sociais e econômicas diversas, a confiança pode
ser maior do que se apenas um único local tivesse sido estudado; qualquer
uniformidade nos resultados de todos os locais, a despeito de suas condições
sociais e econômicas diferentes, poderia aumentar o apoio para as principais
afirmações do estudo (YIN, 2016, p.80)

A participação de cada município na pesquisa está contida no quadro 4, bem como a


distribuição dos formulários de coleta.
38

Quadro 4 - Peso percentual da redistribuição da amostra e municípios de coleta.

Municípios Pea - 2010 Peso % Peso % Redistribuído Qtd. de Formulários


Ananindeua 171.970 7,13 22,01 10
Belém 568.521 23,57 72,77 36
Benevides 13.345 0,55 1,71 1
Marituba 27.428 1,14 3,51 2
Sub-Total 781.263 32,39 100,00 49
Demais Municípios 1.630.798 67,61 - -
Total 2.412.061 100,00 - 49
Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados do Censo Populacional (IBGE, 2010).

Desse modo, a redistribuição percentual dos pesos nos municípios, selecionados


para a execução da pesquisa de levantamento, visa captar a representatividade dos
demais municípios, para além da capital do estado, no intuito de ampliar o entendimento
da realidade investigada.

1.2.3 A construção do formulário

O parâmetro da pesquisa é o estabelecimento, qualificado como estabelecimento


informal. Nesse sentido, o formulário foi construído com objetivo de capturar algumas
características do gestor, bem como de sua "base operacional", com o propósito de
retratar algumas características de ambos.
O formulário (Apêndice 1) inicia com algumas características populacionais,
como: bens, local de nascimento, grau de instrução e o número de familiares, com
objetivo de delimitar o alcance e indicadores sociais dos mesmos no seu espaço, a fim
de inferir sobre aspectos da qualidade de vida6.
A segunda parte do formulário buscou identificar se o entrevistado sempre foi
informal ou se exercia uma outra atividade produtiva, a origem do capital para o
desenvolvimento inicial do empreendimento, buscando capturar as algumas
características do estabelecimento; o número de pessoas ocupadas e a jornada de
trabalho, para que, com isso, fosse possível construir um quadro do funcionamento geral
e da forma de sua inserção na atividade e na economia.
Por fim, a terceira parte do formulário foi construída com objetivo de identificar
os elementos de gestão e produção, como propaganda, administração, custo, rotação de

6
Esclareço que as interpretações a esse respeito não foram realizadas com a profundidade de pesquisas
eminentemente qualitativas, portanto, não me apropriei das diversas referências que discutem a qualidade
de vida. As inferências realizadas basearam-se em discussões realizadas por Bourdieu, sobre a economia
das práticas, condições de classe e condicionamentos sociais, considerando algumas variáveis e sistemas
de variáveis abordadas pelo autor. Cf. : BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento.
Porto Alegre: Zouk, 2011.
39

mercadorias e conjuntura, intencionando, a partir dessas variáveis, ter um desenho da


dinâmica econômica do estabelecimento, da estrutura no seu mercado e perspectiva
futura.
O somatório das três partes possibilitou uma análise segmentada e, ao mesmo
tempo, de conjunto, permitindo identificar características sobre um tipo específico de
informal, o qual denomino, nesta tese, como "informal empresarial". Nesse movimento
de pesquisa fiz inferências sobre a atuação desse agente no interior da informalidade,
seu papel na sociedade e seu fluxo na economia, efetuando, de forma experimental, sua
categorização e afirmação no contexto sócio-produtivo, enquanto um ator que,
importante no seu espaço ainda é invisível, por ausência de parâmetros de análise.

1.2.4 O campo

O trabalho de campo ocorre em ambientes da vida real, com pessoas em seus


papéis da vida real. Os ambientes podem ser os lares das pessoas, locais de
trabalho em empresas, ruas e outros espaços públicos, ou serviços como
escolas ou clínicas de saúde. O trabalho de campo pode focar em grupos de
pessoas, independente de qualquer ambiente físico em particular (...)
Uma vez que o campo é um ambiente da vida real com pessoas realizando
suas rotinas, uma advertência muito importante é que você estará entrando no
espaço, no tempo e nas relações sociais delas. (YIN, 2016, p. 98)

Para o desenvolvimento desta tese, o trabalho de campo consistiu uma pesquisa


de levantamento, intitulada "Importância do Pequeno Empreendimento na Economia",
realizada nos meses de outubro e novembro de 2018, nos municípios de Ananindeua,
Belém, Benevides e Marituba, conforme o quadro 5, abaixo:

Quadro 5 - Mês e semana de referência da pesquisa de campo (1) – 2018.

Mês Formulários Semana de referência


Outubro 4 22 – 28
Outubro 5 29 – 31
Novembro 14 01 – 03
Novembro 44 05 – 11
Novembro 40 12 – 18
Total 107
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov2018.
Nota: 1 – Refere-se apenas aos estabelecimentos informais.

Os cadastros-base fornecidos pelas instituições não discriminavam quais eram


empreendimentos formais ou informais, o que demandou, como estratégia de pesquisa,
para alcançar o limite amostral, o levantamento de todos os informantes. Portanto, o
campo foi estruturado para ser executado na totalidade do cadastro, o que ensejou mais
40

tempo e mais custo. As entrevistas começaram pelos municípios de Benevides,


Marituba e Ananindeua. Belém ficou por último, em razão do maior número de
entrevistados previstos e do tempo necessário ao deslocamento pela cidade.
Como a pesquisa foi dirigida, isto é, no endereço do informante, a execução da
mesma demandou mais tempo para aplicação do formulário, aliando-se ao fato de
tratar-se de um formulário extenso, cujo tempo de resposta era elevado. Também o
tempo de deslocamento, devido a dispersão entre os informantes no espaço e a
dimensão do cadastro foram fatores que contribuíram com o prolongamento da
execução. Em toda investigação com tais contornos, é necessário ainda ter domínio do
formulário, habilidade que decorre da prática e acelera ou retarda o andamento da
pesquisa, assim como o número de pesquisadores em campo, o que proporciona maior
ou menor agilidade na realização.
De outro modo, foi realizado treinamento – (oito horas dividido em dois dias) –
com a equipe de pesquisadores de campo visando reduzir possível direcionamento da
resposta pelos mesmo quando da entrevista. Tal medida é para reduzir o direcionamento
que afeta a qualidade da pesquisa enviesando a mesma.
Por fim, em relação à resposta do campo, em termos de sucesso da pesquisa, foi
registrada uma recusa de oito (8) entrevistados – equivale a 5,71% do total de
informantes – e dos demais informantes a composição captada foi cerca de 107, que são
estabelecimentos informais e 25 formais. O resultado da pesquisa para os informais
supera o número mínimo da amostra – quarenta e oito empreendimentos, optando-se por
se trabalhar com o total de empreendimentos informais, objetivando uma maior
qualidade na análise e interpretação.

Quadro 6 - Estabelecimentos pesquisados por estrutura jurídica regulada – 2018.


Estabelecimentos Formulários %
Formais 25 17,86
Informais 107 76,43
Recusa 8 5,71
Total 140 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov2018.

A quantidade de estabelecimentos informais, captados no campo, cuja base do


cadastro é o microcrédito, reforça a percepção de que a presença da informalidade nesta
modalidade, é real e tangível na economia brasileira atual, seja do ponto de vista
produtivo, social ou de mecanismo de integração entre o capital e parte da sociedade, à
margem do grande consumo, o que reforça a importância de incorporar nas pesquisas e
41

nas instituições, de maneira regular, inquéritos voltados a este fenômeno e seu


movimento.

1.3 A organização da tese

A tese foi organizada em seis sessões, com suas respectivas subdivisões. Nesta
primeira sessão, Introdução, relato sobre como cheguei ao tema que me motivou a
realizar este trabalho. Discorro sobre o objeto da pesquisa, exponho o problema da
investigação, seus objetivos e contexto justificativo, além de detalhar os procedimentos
metodológicos arquitetados para desenvolver a investigação científica.
Na segunda sessão, intitulada Modos de (não) ver a informalidade, aprofundo
a contextualização do objeto, evocando aspectos da história econômica brasileira sobre
trabalhadores, cujas características se assemelham ao trabalhador informal, na
contemporaneidade. Evidencio a representatividade da informalidade no mundo do
trabalho e na sociedade, apresentando os diversos caminhos que percorre, os distintos
olhares (e não olhares) sobre a complexidade do fenômeno.
A terceira sessão, intitulada Crédito ao informal discute o papel das
microfinanças como política pública e instrumento de intercessão entre o Estado e os
estabelecimentos informais, sendo a concessão de crédito aos mesmos tomada como
referência à obtenção de informações necessárias para pesquisa realizada.
Capital, circularidade e informalidade é a quarta sessão, constituída pelo
arcabouço teórico da tese, onde as discussões são concentradas no processo de
circulação e rotatividade das mercadorias e serviços, os quais funcionam na lógica dos
circuitos, compreendida a partir da conceituação de Marx (2014) e Milton Santos
(2003). No último tópico deste capítulo também inicio um movimento de caracterização
da informalidade empresarial, tomando por base, a análise dos dados levantados na
pesquisa de campo e nas entrevistas.
A quinta sessão, Informalidade empresarial: dando forma a uma feição,
evoca a interpretação da informalidade pelo parâmetro do estabelecimento informal,
propondo bases a uma parametrização
Na sexta sessão, Organizações não capitalistas e a informalidade
empresarial, analiso os resultados da pesquisa de campo, sistematizando algumas
características dos estabelecimentos, bem como de seus agentes e de sua dinâmica no
interior da informalidade e na vida social em sentido mais amplo.
42

Por fim, na sétima sessão, Considerações finais, enfatizo a necessidade de


adoção da “organização não capitalista” como um elemento protagonista da
informalidade, dando crédito a sua importância e relevância. Argumento a tendência de
que essa atividade informal seja irreversível no cenário socioeconômico, sinalizando
maior crescimento e participação. Afirmo que a tese, contribui para agregar uma nova
concepção aos estudos sobre o tema, e principalmente, pontua um avanço na
parametrização desse agente empresarial informal, permitindo estruturar entendimentos
que o reconheçam em sua representatividade social e peso econômico, o que atualmente
ainda é considerado de forma parcial.
43
44

2 MODOS DE (NÃO) VER A INFORMALIDADE


2.1 Um olhar histórico para esta "senhora" informalidade
7

"Ooolha o peixe, oooolha o camarão!..."

Trago na memória da minha infância, uma voz que entoava, sempre bem
Figura 1
- Ícone
cedinho, um bordão longo, que anunciava seu "marketing", como uma espécie de
de voz.
narração: "Ooolha o peeiiixe.... Ooolha o camarão.... O camarão já vai acabaaaarrrr!...”.
Imagem
utilizada
Com
para fiz o passar do tempo, a figura do peixeiro vendedor-andarilho foi rareando. Mas, no
ilustrativ
os fim da tarde, passou a irromper o Cury da Tapioca, seguindo o mesmo estilo de venda e
de anúncio: "Tapioooca!!! Olha a tapioca", pelos bairros de Batista Campos, Campina e
Jurunas. Atualmente ela chega pelas bandas da minha casa de noitinha, com a tapioca
seca e molhada, da qual tornei-me freguês.
A lembrança desses vendedores, tão comuns nas ruas de Belém na virada dos
anos de 1960 para 70, retornou quando iniciei os estudos sobre o tema da informalidade,
pois esses pregoieros8, naquele período, representavam um “informal” que certamente
estava distantes dos olhares e investigações acadêmicas. Assim, eles passaram um tanto
despercebidos por uma visão de apartheid na sociedade urbana.
Essa espécie de marginalidade ainda resiste no modo de ver o informal, como é
possível perceber em texto publicado no Jornal Valor Econômico, de 04 de agosto de
2017, no caderno Fim de Semana, pelo sociólogo José de Souza Martins no artigo
“Desemprego na economia dual”:

Cresce o número dos que estão ocupados, mas não cresce significativamente
o número dos que têm emprego estável. Desempregados estão reentrando na
economia por meio de ocupações precárias e provisórias. O cenário indica
que cresce a importância numérica do trabalhador descartável.
No limite, a desvalorização e a marginalização do trabalho estão relacionadas
com a tendência à sobre exploração do trabalhador e à busca do trabalho
puro, o trabalho sem trabalhador. (MARTINS, 2017, p.3).

Independentemente de qualquer teoria, existe um fato social e econômico, a


informalidade, cuja abordagem, principalmente no campo da história econômica
brasileira, é rarefeita. Em duas obras referenciais da área (FURTADO, 1985; PRADO

7
Ícone de voz. Imagem utilizada para fins ilustrativos. Fonte: Google Imagens, habilitado para imagens
"etiquetadas para reutilização". Disponível em: http://www.jemome.com/p-poeple-talking-icon-125779/.
Acessado em: 20 abril de 2019.
8
Dada a forma como divulgavam suas mercadorias, esses trabalhadores receberam essa denominação.
45

JÚNIOR, 1985), por exemplo, prevalece uma visão que se tornou hegemônica ‒ focada
quase exclusivamente nos grandes ciclos exportadores ‒, deixando à margem questões
que não foram devidamente tratadas ‒ contribuindo com a existência de um vácuo ‒, as
quais mais recentemente passaram ser objeto de estudos, como as questões da economia
de subsistência, o papel das cidades sob ponto de vista social e produtivo, onde se
insere, a informalidade, entre outros. Sendo realizadas com mais vulto, tais pesquisas
denotam tratar-se, a informalidade, de atividade que representou e representa cada vez
mais, uma corrente importante na lógica social e produtiva da sociedade e da economia
brasileira.
Assim, neste tópico da presente sessão efetua-se um breve cotejo histórico da
informalidade, a partir de alguns autores que a distinguem em sua importância, e,
simultaneamente, contrapõem concepções predominantes em obras referenciais,
procurando instar um entendimento que considera a informalidade, desde sempre, como
um lugar de inclusão social e produtiva e, ao mesmo tempo, de resistência ante a lógica
econômica prevalecente.

Da forma como entendemos, a informalidade é uma dimensão atemporal da


sociedade do capital. Sempre presente, mas ao mesmo tempo fugidia. Uma
face obscura da modernidade, de difícil percepção, gelatinosa e escorregadia.
(MALAGUTI, 2000, p.13).

Logo, o primeiro ponto é admitir a "informalidade" como uma atividade


histórica e atemporal na economia e, no caso do Brasil, identificar, nas relações sociais
e econômicas, suas inegáveis raízes.
É importante assinalar que a "informalidade" não era entendida conceitualmente,
como é hoje. Assim, historicamente, ela existia enquanto fenômeno e se apresentava de
acordo com o espírito de cada época, sem ser apreendida como tal. Inclusive “os
homens livres” não eram capacitados ao trabalho ou eram considerados vagabundos
e/ou vadios quando no exercício de tais atividades.

Mesmo com o fim do Pacto Colonial, a proclamação da Independência e a


introdução do café, mercadoria de enorme potencialidade quanto à criação de
excedente, a sociedade brasileira do século XIX iria reproduzir o trabalho
escravo como forma essencial de levar a diante o processo produtivo.
Formou-se, aos poucos, um sistema econômico mais diversificado e
dinâmico que, ao contrário do período anterior, internalizava crescentes
parcelas de excedente, mas que continua estruturado no binômio senhorial-
escravocrata. Nesse quadro, a massa de livres e libertos continuaria à
margem dos processos produtivos essenciais à sociedade. (KOWARICK.,
1994, p. 28-29 [grifo nosso]).
46

Além de ser enquadrada sob angulação um tanto marginalizada, recaiu sobre


essa “informalidade” a concepção, já presente no campo socioeconômico, de tratar-se
de algo “transitório”, correspondente a formas arcaicas e/ou atrasadas, fadadas a
sucumbir à modernidade do capital, o que não ocorreu.

Uma das características ressaltada pelas análises sobre o trabalho informal


nos anos 60 e 70 é o seu caráter “transitório”, ou seja, ele é descrito como um
conjunto de atividades de baixa capitalização, não tipicamente capitalistas,
com uso da força de trabalho familiar e que, com o processo de
desenvolvimento e industrialização do país, iria progressivamente
desaparecer, se integrando ao mercado de trabalho formalizado e protegido
socialmente. (DRUCK, OLIVEIRA, 2008, p.1).

A transitoriedade observada por Druck e Oliveira (2008) certamente não se


evidencia na contemporaneidade, pois o trabalho informal transpassou o tempo e
assumiu um caráter permanente, no Brasil e pelo mundo globalizado a fora. Nesse
sentido, nota-se como uma forte característica da informalidade, o fato de adaptar-se de
acordo com as transformações do capital, num movimento complexo e contraditório de
dissonância e harmonia, justificando suas conformações diversas em tempos distintos.
É importante salientar que reportamo-nos aqui à informalidade/trabalho presente
e constante, em que pese alguns autores afirmarem que, tanto na economia colonial,
como na economia imperial não havia mercado de trabalho devido à escravidão, não
havia assalariamento e/ou uma outra forma de ocupação, com um padrão mínimo de
salários. Concordamos com a tese da ausência do mercado de trabalho (oferta e
demanda), porém é digna de atenção a presença do trabalho em uma outra dimensão.
As evidências apontam que, mesmo considerando o trabalho compulsório como
algo dado, registra-se, principalmente nas cidades, o que se denomina como
"trabalhadores livres", os quais exerciam funções e/ou ocupações próximas ao modo
como se configura o trabalho informal, assim denominado atualmente. Se o trabalhador
não era servidor público civil ou militar ou exercia seu labor na manufatura ou no
campo comercial com salários mensais, portanto, assalariados, a pergunta que fica é:
excetuando-se os escravos, como enquadrar as demais categorias? A alcunha
"trabalhador livre" parece não dar conta de explicar se era livre por opção; por falta de
oportunidade ou ausência de geração de postos de trabalho.
Para algumas categorias, principalmente as que exerciam suas atividades na rua
e cuja renda auferida era diária e variável de acordo com as vendas do dia, a
47

conformação e o modus operandi afiguram-se aos do camelô ou ambulante atual. Então,


a questão reside no enquadramento dado aos vendeiros, artesãos, trabalhadores
autônomos dos portos, mestres de ofício, entre outros que não eram incluídos como
empregados públicos ou privados. Por conseguinte, a informalidade não é um fato
contemporâneo, senão histórico, com sua trajetória socioeconômica marcada
principalmente no espaço urbana, desde do tempo colonial.
Pela importância que possui, o debate se enriquece por observações que
atravessam as fronteiras nacionais. Soto (1987), ao analisar a informalidade na
economia peruana, afirma que sua origem antecede a identificação contemporânea,
pois, ao longo da história socioeconômica do Peru as atividades informais sempre
estiveram presentes na dinâmica econômica urbana.

O termo “comércio ambulante” evoca duas atividades definidas: a do


vendedor que perambula pela cidade oferecendo produtos ou serviços sem
um lugar fixo para se estabelecer, e a do comerciante que exibe mercadorias
ou presta serviços a partir de um ponto fixo na via pública.
Essa distinção não é recente, pois já nos tempos da colônia chamava-se o
primeiro de “retalhistas”, por sua função varejista e por sua habilidade em
negociar contratos, e o segundo de “mercador de caixote”, por causa de suas
instalações de madeira na via pública. (SOTO, 1987, p. 104).

Segue esta mesma linha de reflexão, o pesquisador argentino Panettieri (1990).


Em seu estudo sobre a crise do final do século XIX e seu impacto no desemprego e na
renda, o autor destaca como questões que se agravam na Argentina agroexportadora
neste período, o subemprego e os diversos trabalhadores ocupados na categoria “conta
própria” – entenda-se informal –, que representavam um número expressivo na
socioeconomia argentina.

Ahora bien, la elección de la Argentina agroexportadora como marco de


referencia para estudiar este fenómeno obedece razones de peso, ya que,
dadas las características de la estrutura económica, y la composición del
mercado de trabajo em aquel tempo, el paro se agravaba aún más em um
contexto general de inseguridad obrera. Tales características daban lugar al
subempleo, sistema de jornadas reducidas u a otros aspectos relacionados
com esta temática incidiendo profundamente em las condiciones de vida de
los trabajadores.
Tampoco deben dejarse de lado ciertas características del trabajo urbano,
consistentes em la gran cantidad de trabajadores por cuenta propia, como ser
vendedores ambulantes y changadores, de quienes resulta sumamente
dificultoso determinar cuánto ganaban por su trabajo. (PANETTIERI, 1990,
p.11).
48

No Brasil há diversos trabalhos que buscam traçar a partir de documentos


históricos, a dinâmica do trabalho e a sua organização, donde emergem diversos relatos
não somente sobre a ocorrência do trabalho informal – ou similar ao trabalho livre –
como também de seu papel em termos de absorção de trabalhadores, ocupação, renda e
gênero, além de resistência à ordem vigente.
Nessa vertente, Figueiredo e Malgadi (1985), por exemplo, analisam o papel das
mulheres trabalhadoras no Brasil colonial, especificamente na área urbana, onde
desenvolviam suas funções na rua com vendas de tabuleiros ‒ camelôs ‒ ou em
pequenos estabelecimentos, e como elas desafiavam a administração do poder vigente
ou representavam um risco político, por transgredirem a ordem social. Devido à
aglomeração em torno de suas vendas, elas também davam lugar para a concentração de
focos de resistência à dominação da época. Para os autores, a importância do trabalho
feminino e de rua está relacionada às necessidades de abastecimento das cidades e de
emprego/ocupação de suas populações.

Desde os primórdios da formação social brasileira, nos inúmeros centros


urbanos da América de colonização portuguesa o comércio varejista foi a
ocupação exercida essencialmente por mulheres. Já no XVI encontraríamos
nestas atividades mulheres das mais variadas condições – livres, forras ou
escravas – como vendedoras ambulantes circulando por São Paulo, Belém,
Salvador, Rio de Janeiro e Recife.
(...) as autoridades pareciam perceber a existência de escassas ocupações em
atividades produtivas paras mulheres brancas e pobres, o que fazia do
pequeno comércio um dos poucos canais de trabalho socialmente legitimados
para tal grupo social.
De acordo com a legislação acerca da mulher comerciante na sociedade
portuguesa era legalmente assegurada a exclusividade feminina no comércio
das praças e ruas. Vendia-se de tudo por meio das regateiras: doces, bolos,
afeloa, frutos, melaço, hortaliças, queijo, leite, marisco, alho, pomada,
polvilhos, hóstias, obreias, mexas, agulhas, alfinetes, fatos velhos e usados.
(FIGUEIREDO, MALGADI, 1985, p. 52).

Ainda a propósito do pequeno comércio e do trabalho de rua, cujo ponto de


encontro era a praça da cidade, Mott (1976) sinaliza que as trocas/vendas realizadas
contribuíram para o processo de organização da sociedade e das cidades brasileiras ao
prover as mesmas de alimentos e serviços, por meio da reunião de pessoas para a venda
ambulante, como centro catalisador dos fluxos de negócios e de ocupações. Nessa
direção, observa como se estruturou, à época, o trabalho livre e remunerado.

Em outros termos, de um lado, o comércio estabelecido das lojas dos


mercadores, de outro, a venda ao ar livre na praça. Os primeiros manipulando
mercadorias importadas, coisas mais caras e nobres, o segundo,
49

especializando-se nos frutos da terra. Subsidiário a este, havia ainda o


comércio ambulante das chamadas "negras de taboleiro", referidas desde
1591 e que ocuparão no século XVIII, lugar de destaque na vida das cidades
e vilas coloniais. Pelo visto, esta divisão étnica entre comércio estabelecido,
privilégio dos portugueses e luso-brasileiros e o comércio ambulante,
manipulado por gentes de cor, foi um padrão que se desenvolveu nas cidades
de norte a sul do país. (MOTT, 1976, p. 87).

Além de ser ocupação das mulheres brancas, em razão da necessidade de


sobrevivência, o trabalho ambulante também era exercido por escravas, o que ensejava
conflitos entre brancas e negras por reserva de mercado. Em alguns casos, tais
circunstâncias levaram à intervenção da administração, para regular o processo de
comercialização na rua por partes das trabalhadoras, chegando inclusive a proibir o
comércio ambulante de “cor”, o que na prática não funcionou, porque o (a) trabalhador
(a) ambulante negro (a) tinha – como os demais – um papel primordial nesta atividade
fundamental para o abastecimento dos domicílios e das famílias.

Nas cidades, no entanto, havia muito maior tolerância em relação ao


comércio ambulante das gentes de cor. Mais do que isso, podemos afirmar
que sem as negras vendedeiras das ruas, seria praticamente inviável viver no
Rio de Janeiro, Salvador e Recife, especialmente durante os séculos XVIII e
XIX. Eis um inventário incompleto de alguns produtos que os negros e
negras vendiam na cidade do Rio de Janeiro na primeira metade do século
passado: flores, refrescos, cestos, aves, palmito, milho, capim, leite, cavalos,
cabras, frutas, bolos, angú, peixe, carvão, cebola, alho, tripas, linguiça, aluã,
manuê, sonhos, ataçaça, café torrado, etc. (MOTT, 1976, p. 100-101).

Recuperando a origem do termo quitandeira9, Lifschitz e Bonomo (2015), em


diversas passagens de suas pesquisas remontam ao papel exercidos pelas quitandeiras ‒
que ofertavam nas ruas e praças das cidades produtos alimentares, inclusive doces e
bolos. De acordo com os autores, como a produção dessas iguarias, essas mulheres
deixaram heranças que se entranharam à cultura gastronômica das cidades/estados
brasileiros, acabaram por compor uma memória afetiva.

Em todos esses centros urbanos a cena se repetia: transportavam cestos,


gamelas e tabuleiros sobre a cabeça, trajando turbantes e túnicas, vendiam
peixes, carnes, farinha, frutas, hortaliças, doces, aguardentes, tecidos,
charutos, velas, amuletos, carvão, lenha e outros produtos domésticos de uso
local. Agachadas fritando peixes e bolinhos de feijão, preparando petiscos de
carne seca ou carne de porco, enquanto uma pequena multidão de fregueses
se congregava no entorno. (LIFSCHITZ e BONOMO, 2015. p. 194).

9
O termo quitanda seria um derivativo de kitanda, que, na língua quimbundo, falada no noroeste de
Angola, significa tabuleiro, onde se expõem gêneros alimentícios nas feiras, e também designa as próprias
feiras e mercados livres, muito difundidos em toda África
50

Eles também ratificam que esse mercado era constituído por trabalhadoras
ambulantes, que exerciam seu ofício na rua ou nas praças, porém não de maneira ilegal
ou clandestina, tendo em vista o controle e a tributação (taxas municipais) do poder
público.

Contudo, esses territórios de circulação eram bem demarcados. O “lugar” das


quitandeiras eram as feiras, mercados ou ruas dedicadas a esse tipo de
comércio, e essas localizações eram estritamente delimitadas pelas Câmaras
Municipais, que visavam ao controle da atividade e à cobrança de taxações
sobre os produtos comercializados. (Idem).

A organização da espacialidade urbana foi uma medida administrativa


implantada pela Coroa portuguesa, para o controle do fluxo demográfico, social e
econômico, numa transição do rural para o urbano. Ainda sobre o trabalho livre inserido
na dinâmica econômica da cidade, Mattoso (1978) faz diversas referências ao trabalho
informal e como este estava imbricado em seu cotidiano.

Assim, a mesma identifica as diversas categorias de trabalhadores que


exercem suas funções na lógica do trabalho livre e, entre estas, estão algumas
que podem ser classificadas como “trabalho informal” na formação de
Salvador, Bahia.
As atividades que se desenvolvem em vários níveis e que permitem, ainda
que sob forma incipiente, a existência de algumas categorias intermediárias,
cujo estatuto social não está ainda perfeitamente firmado. Estruturada dentro
do esquema de sociedade escravocrata, que legalmente separa os indivíduos
em dois grupos, a sociedade de Salvador aparece como sendo composta por
três grupos. (...)
O segundo grupo é composto por uma população bastante rala de gente livre.
MATTOSO, 1978, p.159-160).

E segue a alusão à importância social, produtiva e de renda proveniente das


funções exercidas por esses trabalhadores e sua atuação na ordem social, contribuindo
com o funcionamento econômico da cidade, no tocante à origem dos produtos, ao
abastecimento e aos preços dos bens (o que afetava a renda familiar devido a carestia).

Essa nova orientação, desabrocha sobre uma política de urbanização, que


deve ser entendida como um esforço contínuo para controlar e influir sobre o
espaço dominado. Controlar e influir sobre as transformações que ocorrem
por causa da centralização econômica, do desenvolvimento de uma
agricultura de subsistência e de um setor artesanal que vêm atender as
crescentes necessidades de uma população urbana no sistema em via de
formulação. (MATTOSO, 1978. p. 109).
51

Assim, o papel do trabalhador informal na distribuição e comercialização


assume um caráter relevante no ambiente micro, posto que, parte da estrutura e da
economia da cidade estão voltados para atender o mercado externo, notadamente a
exportação de cana de açúcar, fumo e, posteriormente, do cacau.

O mercado de varejo também, com suas mil e umas lojinhas e tabernas,


farmácias, livrarias, botequins e tendas onde se vendiam artigos de joalheira,
roupas, sapatos, alimentos e bebidas, remédios para sanar o corpo e a mente e
onde se ofereciam os mais variados serviços à população residente como para
a de passagem: ali tinham seu ponto os alfaiates, os barbeiros, os tanoeiros,
os serralheiros e funileiros, os fabricantes também de rapé (...)
Quanto aos vendedores ambulantes, estes vendiam tudo que o dinheiro podia
comprar, iniciando assim naquelas paragens uma intensa atividade durante o
dia. (...) Nos espaços que deixam livre, ao longo da parede, estão os
vendedores de fruta, de salsichas, de chouriços e de peixe frito, de azeite e
doces. (...)
(...) Praças, largos e campos onde a população cruzava diariamente, quer seja
em simples passeios, ou por necessidade de comprar ou vender mercadorias.
Pois além de simples pontos de reunião, vários desses logradouros eram
pontos de mercado.
Isto para o comércio ambulante e móvel. (MATTOSO, 1978, pp. 172-173;
185-186)

Caracterizado a função exercida pelo trabalho informal na cidade colonial e


imperial, emerge a questão da renda do trabalhador e da família, auferida através da
venda de bens e de serviços, como uma atividade expressiva no ambiente micro das
cidades, porém, certamente invisível ao grande fluxo proveniente do mercado
exportador-primário, embora essencial na dinâmica urbana dessa sociedade.

A esta primeira categorias de comerciantes retalhistas devemos ainda


acrescentar o número infinito dos feirantes e vendedores ambulantes de toda
espécie que levam aos bairros residenciais e até à porta das casas dos
fregueses, as iguarias comestíveis e os bens mais duráveis.
Todas essas atividades ambulantes retalhistas eram atividades modestas pelos
diminutos capitais que necessitavam, mas permitiam a manutenção e a
sobrevivência de uma parte da população que vivia numa cidade onde, como
veremos mais adiante, o mercado de trabalho oferecia poucas oportunidades.
(MATTOSO, 1978, p. 252-253).

Com o objetivo de identificar as forças e a forma como foi o processo de


constituição do mercado de trabalho brasileiro entre o período da economia colonial e a
segunda metade da imperial, Barbosa (2003) desenvolve sua tese a partir de um olhar
histórico, revisitando autores e fatos econômicos e, ao mesmo tempo, constrói
indicadores que dão a dimensão dos atores envolvidos, bem como a da participação
deles no mundo do trabalho naquele Brasil.
52

Assim, considera que não havia no Brasil colonial ‒ nem em parte do período
imperial‒, um mercado de trabalho, ao contrário, o que havia era um “não mercado de
trabalho” devido à escravidão.

O mercado de trabalho estava, portanto, ausente, não cumprindo as suas


funções básicas ‒ de reservatório de mão-de-obra sempre excedente para o
capital, comprimindo os custos do trabalho, segundo a interpretação marxista,
ou de poder de compra revigorado com a elevação da renda real gerada pela
maior produtividade, segundo a abordagem smithiana ‒ que somente se
podem manifestar, ao menos teoricamente, no quadro de uma economia
capitalista onde a força de trabalho se transformou em mercadoria, a partir da
generalização do trabalho assalariado. (BARBOSA. 2003, p. 41).

Por outro lado, identifica, inicialmente, a participação dos “trabalhadores livres”


na ordem de 6,5% na época da colônia, número esse que, ao crescer gradativamente,
demonstra um grau de participação digno de consideração sobre esta categoria, na
economia brasileira, onde, uma parcela é vinculada trabalho informal.
O cerne central para Barbosa (2003) reside no fato de que a escravidão, o “não
mercado de trabalho” e o reduzido nível de assalariamento são as regras que
determinam que nesse período não existam bases para afirmar que o sistema produtivo
no Brasil era capitalista, consequentemente, não havia condições de existir um
“mercado de trabalho”.
A economia assentada no modelo primário-exportador e alicerçada na
escravidão implica na existência de dependência das demais atividade em relação ao
comércio externo e, nesta se inclui o trabalho livre, posto que os outros segmentos são
residuais, sendo precária a produção de bens e de serviços.
As transformações processadas socioeconomia brasileira no decorrer do século
XIX determinam o crescimento produtivo e, concomitantemente, a lenta transição para
a constituição de um mercado de trabalho no Brasil, através do fim da escravidão, da
imigração, do avanço da industrialização e de uma dinâmica mais intensa nos centros
urbanos, onde o assalariamento apresenta crescimento.
No que tange ao trabalho informal, contido no “trabalho livre”, Barbosa (2003),
afirma haver crescimento de sua participação na força de trabalho, porém com
limitações para desenvolver suas atividades, seja pela dificuldade do assalariamento
como práxis no Brasil da época – geração de excedente de renda ‒ ou devido à
dependência da atividade em relação às exportações, que não transbordavam para os
demais segmentos. O autor pondera ainda sobre a participação dessas categorias,
53

marcadas pelo estigma da vadiagem, como restrita a uma lógica de subordinação social
– que reproduzia a pobreza – e com baixos níveis de remuneração ou um assalariamento
incompleto. Apesar desse quadro, identifica que ao final da economia imperial cerca de
30% da força de trabalho era de trabalhadores informais, fato esse que não se pode
interpretar como algo residual.

O resto era o povo mecânico, a ralé, compondo um todo incoerente e


heterogêneo, onde o estigma de cor estava sempre a obstar a ascensão social.
Viviam de jornais e diárias e se misturavam com os negros de ganho. Este
segmento compunha uma população marginal, parcialmente inativa,
concentrada nas cidades, sem classificação ou papel definido na reprodução
do sistema colonial, destacando-se pela fragilidade dos seus vínculos sociais.
Representavam 30% da população livre ativa, composta de operários diaristas
e prestadores de serviços de todo tipo (Tabela lA)10. Simbolizavam o outro
lado do ócio honorífico, já que a primazia deste como veículo de reputação
encontra-se geralmente ancorada na condenação do trabalho produtivo.
(BARBOSA, 2003, p. 72).

O fato de reconhecer a existência de uma outra forma de trabalho – uma via que
não o trabalho escravo – é algo significativo. A questão é atribuir-lhe uma dimensão
numérica, apontando uma estatística que permita inferir que, apesar do fluxo de renda
gerado pelas exportações primárias ficar concentrado na classe dominante, a quantidade
de trabalhadores livres, sendo uma parte vinculada ao trabalho informal, não deve ser
desprezada em sua participação na economia brasileira, principalmente diante da
formação do mercado de trabalho na virada da república, pois, mesmo à margem ‒ e
sendo uma parte do trabalhadores livres não atuante nesse ramo ‒ essa atividade
atravessa tal processo e consolida-se como um fato social ao permitir, em paralelo ao
assalariamento, a ocupação de parte da sociedade, o desdobra-se nos anos de 1970
naquilo que passa a ser definido como “informalidade”.
As transformações no mundo do trabalho entre o final do império e o início da
república com o fim da escravidão e a entrada do trabalho assalariado assentado em
grande parte nas imigrações – mesmo com as limitações advindas dos contratos de
trabalho dos imigrantes – contribui para preservar essa outra forma de trabalho,
justamente porque a opção pela mão de obra imigrante inibiu ainda mais a absorção dos
trabalhadores livres e dos escravos libertos. É bom lembrar que a elite brasileira tinha a

10
É necessário fazer uma ressalva ao texto do autor. A tabela citada, construída com base Censo de 1872,
portanto, não abrange o sistema colonial, e sim o período da economia imperial brasileira. De outro
modo, Barbosa (2003) baseia seu trabalho em Celso Furtado.
54

leitura de que os chamados "trabalhadores livres” eram indolentes, marginais e


vagabundos, o que justificava a opção pelo imigrante.

É o que vai acontecer com abolição da escravatura, com lançamento sobre o


mercado de trabalho de um forte contingente de população trabalhadora livre
que vai disputar seu lugar ao sol, na luta diária para seu sustento, num
momento em que as forças tradicionais produtoras definham. (MATTOSO,
1978, p.154).

Assim, a contratação do imigrante contribui para haver um excedente de


trabalhadores com dificuldades de acesso ao mercado de trabalho, os quais, sem ter
opção, fazem do trabalho informal, sua alternativa. Então passa a existir uma massa de
trabalhadores não inclusos que compõem uma superpopulação relativa, em parte
ocasionada pelo crescimento vegetativo da população.
Toma forma desde então, um mercado de trabalho de base capitalista com o
assalariamento do trabalhador, privado e com regulação coletiva, esculpido segundo um
processo heterogêneo, o qual não abarcou a totalidade da força de trabalho no Brasil.
Por efeito, não destruiu outras formas de trabalho, as quais poderiam ser tidas como
antagônicas ‒ e anacrônicas ‒, ao sistema.

A superexploração da força de trabalho, este exemplarmente presente no


processo de constituição do mercado de trabalho livre no Brasil. Contudo,
como já foi apontado, pelo menos num primeiro instante, esse processo não
se operou sob a forma clássica de destruição de uma campesinato e artesanato
prévios. (KOWARICK, 1994, p. 82).

A persistência na manutenção de outras formas de produção não abarcadas pelo


capitalismo no seu processo de consolidação no Brasil por meio da industrialização em
curso e, em paralelo, a fase monopolista do capital nos países centrais é discutida por
Leonardi e Harmdman (1991):

Instituições como a antiga comunidade camponesa indígena permaneceram,


sob formas cada vez mais petrificadas, desagregando-se lentamente, mas sem
desmoronar. Em ambos setores da economia continuaram em funcionamento
antigas formas sociais, apesar de o imperialismo ter gerado uma centralização
do trabalho excedente em seu benefício. (LEONARDI; HARMDMAN, 1991,
p. 76).

Essa visitação a uma perspectiva de caráter mais histórico não somente informa
sobre a estruturação do trabalho no Brasil, como sinaliza que parte dela se reproduziu
independentemente das transformações políticas, sociais e produtivas, as quais
55

conformaram o mercado de trabalho e a efetiva consolidação do capitalismo enquanto


sistema, no Brasil. Contudo, o entendimento sobre a dinâmica do trabalho atrela-se ao
desenvolvimento do capital no país, a partir de então.
Devido esse atrelamento, percebe-se que uma parcela significativa dos
estudiosos da economia brasileira acompanha os grandes movimentos, como os ciclos
do café, da industrialização, da borracha etc. Talvez em razão da facilidade de
apreensão de tais movimentos, seja por informações qualitativas, seja por estatísticas
disponíveis. Então, a preponderância de interpretações segundo esses vieses, contribui
com a imperceptibilidade do que se desenrola, e vai ganhando volume, às margens.
Essa é a direção seguida por Caio Prado Junior (1985) ao traçar a evolução da
economia brasileira centrada nos grandes movimentos e nos impactos gerados por eles
na estrutura e nas transformações da sociedade, inclusive na formação do mercado de
trabalho nacional em bases capitalistas.
Em sua obra clássica, perpassa pelos diversos ciclos da economia brasileira, cuja
periodização se inicia a partir da ocupação e da lenta estruturação, que desemboca no
período colonial, até o processo de industrialização. Ao longo de cada momento
identifica os atores e as respectivas dinâmicas socioprodutivas envolvidas.
Neste aspecto, observa-se que não há no referido estudo questões relativas ao
trabalho informal diretamente, possivelmente por não aprofundar observações sobre a
realidade urbana e a formação das cidades. O que registra são referências ao trabalho
livre, especialmente sobre à má qualidade da mão de obra brasileira, que no caso, é
depreciada, além de ser mencionada como um problema em termos de quantum e,
qualificada como desajustada aos interesses econômicos.

A decadência da escravidão representada concretamente pela interrupta


redução da massa escrava e a crise crônica de mão-de-obra, pinha o país
constantemente na iminência do colapso de seu sistema produtivo.
Numa economia agrária e escravista como a nossa, e onde a grande lavoura
teve um papel absorvente e monopolizador das atividades rurais, a grande
massa dos homens livres fica à margem. É o que se verifica efetivamente, e
sintoma disto será a desocupação e a vadiagem que representaram sempre o
estado normal de uma grande parte da população da colônia. (PRADO
JUNIOR, 1985, p.201; 259).

Considerando-se que autor centra sua análise nos ciclos e com isso não
desenvolve pontos específicos sobre a formação das cidades no Brasil observa-se um
contrassenso, posto que, as outros estudos apontam a existência de um grau de ocupação
56

em diversas atividades pelos trabalhadores livres, alguns profissionalizados e outros


para os quais o caminho foi o trabalho informal.
Mesmo com as dificuldades de existência de mercado nacional integrado, as
cidades, principalmente as portuárias com fluxo exportador, registram na sua dinâmica
tanto atividades relacionadas ao comércio exterior como ao atendimento de bens e
serviços à população, onde, como já citado, a atividade informal se destaca. Nesse
sentido, para Leonardi e Hardman (1991) é no espaço urbano que se cria as condições
para o capital promover as transformações na economia brasileira, desde a formação do
mercado de trabalho e de centros de consumo até a industrialização. Ou seja, o salto
para outro patamar produtivo, na área urbana, configurando-se o proletariado, que em
parte advém do "informal" da época.
De outro modo, em algumas passagens do seu texto, Prado Júnior (1985) afirma
que a pequena economia não tinha significado econômico, o que talvez justifique a
ausência ou não desenvolvimento de pontos relativos a uma economia menor, na visão
do autor. Próximo a isso, e, entendendo como uma ação acessória – inclusive
canalizando a produção para as cidades, o que é contraditório11 – está a agricultura e a
pecuária de subsistência, ou “a economia de subsistência”, que na sua visão era
subsidiária à lavoura exportadora, de autoconsumo e majoritariamente de valor de uso
sem aspiração a tornar-se um canal de comercialização importante.
Também em trabalho referencial no campo da história econômica brasileira,
Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado (1985) faz um trajeto próximo ao de
Prado Junior, traçando as diversas fases pelas quais passou a economia do Brasil,
centrada nos grandes ciclos, pontuando as dificuldades entre as diversas etapas. Não
desenvolve uma leitura que inclua a realidade do trabalho livre. Tal como Prado Júnior,
aponta que a mão de obra existente era um problema, fosse a de origem escrava ou a
livre. Além disso, expõe a questão da qualidade da mesma, no que tange à capacidade e
à produtividade, como elemento negativo ao desenvolvimento pessoal e produtivo da
economia.
Para bem captar esse aspecto da questão é necessário ter em conta alguns
traços mais amplos da escravidão. O homem formado dentro desse sistema
social está totalmente desaparelhado para responder estímulos econômicos.
Quase não possuindo hábitos da vida familiar, a idéia de acumulação de
riqueza é praticamente estranha. Demais, seu rudimentar desenvolvimento
mental limita extremamente suas “necessidades.” (FURTADO, 1985, p. 140).

11
Contraditório porque não considera a possibilidade de uma economia nas cidades, embora o envio de
produtos gere a possibilidade de vendas e consequente consumo.
57

Em uma passagem sobre a subsistência rural, Furtado (1985) comenta que a


questão da dispersão territorial e da ausência de técnicas agrícolas, para alavancar a
produtividade, determina a inviabilidade da atividade e, consequentemente, sua
estagnação, fato que segundo Furtado (1985, p.120), não contribui para a economia,
porque "mesmo que dispusesse de técnicas agrícolas muito mais avançadas, o homem
da economia de subsistência teria que abandoná-las, pois o produto de seu trabalho não
teria valor econômico".
Há, no entanto, no clássico de Celso Furtado, capítulo específico sobre o setor de
subsistência, no qual são identificadas duas vertentes, que em parte são vinculados à
grande lavoura exportadora, portanto, rural e dependente dessa dinâmica. Assim, o autor
afirma que a renda circulante no segmento é o transbordamento das exportações, porém,
como exceção aponta para existência de um grau de autonomia presente na atividade
exercida no sul do Brasil, em razão da estrutura fundiária assentada em pequenos lotes
agrícolas, que produzem no campo da subsistência, sob responsabilidade dos
imigrantes.
Ainda no que diz respeito ao setor de subsistência a obra chega até o período
imperial, tendo em vista que na transição para a república e ao longo do processo de
industrialização do Brasil, esse ramo mesmo deixa de ser objeto da análise, levando a
crer – o que não é o caso – que desapareceu da história e da economia.
Sobre a subsistência urbana, há passagens, porém sem constância ou robustez
suficiente. Ainda sem considerá-la representativa na economia imperial, Celso Furtado
avança relativamente, ao considerar a necessidade de criação de massa de consumo e
integração de mercado para dar suporte à industrialização. Por considerar a existência
de uma economia urbana dependente dos empreendimentos maiores, não trabalha a
possibilidade de existência de atividade informal. O autor sinaliza: "também nas zonas
urbanas se havia acumulado uma massa de população que dificilmente encontrava
ocupação permanente" (FURTADO, 1985, p. 122), evidenciando a desocupação como
regra e que não havia oportunidades de ocupação em diversas atividades, significando
um grau ociosidade expressivo da população.
Por meio desse movimento de pesquisa bibliográfica, a revisitação a dois
clássicos, que estruturam a visão sobre a trajetória histórica da economia brasileira,
revela não haver em tais referências, apontamentos relevantes sobre a possibilidade de
existência de canal econômico fora dos ciclos exportadores e da emergente
industrialização. Apesar de admitirem a existência do setor de subsistência,
58

majoritariamente dependente dos ciclos exportadores, no entendimento de ambos, com a


industrialização há uma ausência de trato da questão.
Na visada dos demais autores aqui evocada, entretanto, constata-se existir uma
outra via, talvez não tão abundante, mas vivaz, a qual permitia ocupação de parte da
população urbana livre, apreendendo renda, promovendo circulação e incentivando
novas formas produtivas, principalmente a partir do Império, quando a formação do
Estado e a construção de infraestrutura, gradativamente dá novo sentido à economia
brasileira.
Por outro lado, a concentração de uma massa de trabalhadores livres favoreceu,
apesar da pobreza, a lenta consolidação de massa de consumo que viria a dar
sustentabilidade à industrialização. Ademais, a libertação dos escravos, que foram
excluídos do trabalho assalariado, determinou a emigração para as cidades, o que
contribui para formar o emergente mercado de trabalho e, dado o excesso de
trabalhadores – superpopulação relativa –, os níveis de salários que viriam a ser
praticados em bases assalariadas.
Portanto, se o “informal” nos tempos da economia colonial e imperial era algo
menor – do ponto de vista da economia dos ciclos – a atividade assumia, desde então,
um crescimento constante e volumoso – paradoxalmente invisibilizado. Dessa forma,
uma massa de trabalhadores pobres e excluídos, assumiria função no que se identifica
como informalidade, no contemporâneo12. Fazer esse resgate parece necessário para se
entender que a dinâmica atual tem raízes plantadas em outros tempos.
A revisão da literatura sobre a formação da economia brasileira indicou diversas
situações onde a informalidade surgia como uma atividade, principal ou acessória, de
acordo com o contexto. Mesmo sob esse olhar retrospectivo é notável o papel relevante,
em suas alternadas ambiências, seja pelas ocupações e a renda derivada, seja pela
sobrevivência e inclusão – mesmo marginalizada – na sociedade.
Nesse quadro de relegação, couberam ao trabalhador nacional das zonas
urbanas de São Paulo os serviços mais aviltados, como o emprego doméstico
e outras atividades classificadas como mal definidas ou “não declaradas”, nas
quais, certamente, estavam incluídos o trabalho pesado e ocasional que
tarefeiros de todo tipo praticavam na cidade nos primórdios da
industrialização. (KOWARICK.1994, p.108).

12
A estrutura das cidades é fruto desse processo em razão da lógica política e econômica que norteou a
construção da formação social brasileira em bases excludentes, o que explica, face ao movimento que
conduziu os escravos libertos para o ambiente urbano, a formação de favelas e baixadas no Brasil.
59

Em síntese, o trabalho informal se apresenta como o meio necessário de uma


parcela considerável da população que, excluída do grande circuito produtivo, necessita
de meios para sua reprodução, processo que ao invés de reduzir ou desaparecer com a
estruturação do capitalismo no Brasil, manteve-se e se ampliou como única opção de
trabalho e renda, mesmo num contexto de transformações que modernizaram –
parcialmente – as relações produtivas ao longo da república brasileira.

Em outras palavras, busca, de um lado, compreender os fatores que


condicionam a não absorção de parte da mão de obra disponível em
economias caracterizadas pela heterogeneidade estrutural, nos setores
produtivos tipicamente capitalistas, e, de outro, como essa fração da
população se articula, produtiva e socialmente, para garantir suas condições
de reprodução, (...) em que o desenvolvimento industrial, dada a sua
incompletude e a convivência com setores de baixa composição orgânica do
capital e de baixa produtividade, limita a capacidade de integração da massa
trabalhadora aos setores dinâmicos, de modo que esta, para garantir sua
condição de reprodução, se vincula a formas de trabalho marginais ‒
caracterizados especialmente pelas elevadas intensidade e jornada do
trabalho, pela instabilidade e pelos baixos níveis de remuneração ‒, que
orbitam e se submetem à dinâmica própria dos setores hegemônicos da
economia. (DUARTE, 2017, p. 218).

O excedente populacional foi gestado não somente como elemento-controle dos


níveis de salários, como também da força de trabalho disponível ao capital que, num
cenário de desigualdade e pobreza reforçou o informal como alternativa.

Implantado dessa maneira o trabalho livre, o Estado criou também condições


para que se consolidasse a existência de um excedente estrutural de
trabalhadores, aqueles que serão germe do que se chama hoje “setor
informal” (THEODORO.2004, p. 94).

Na virada para o século XX a informalidade surgia, enquanto objeto de análise


nos trabalhos e/ou na sociedade brasileira, com o nome de subemprego ou desemprego,
por ausência de categorização e de nomenclatura entre os analistas, mormente na
Economia e no Estado, gestor das políticas públicas.

O uso corrente dos termos desemprego e subemprego data dos fins do século
XIX e é, assim, relativamente recente na terminologia econômica.
Na verdade, na maioria dos países subdesenvolvidos, desemprego (mesmo
com as novas qualificações de estrutural ou não-emprego [sic]) não é um
conceito útil para dar conta do que ocorre – e o mesmo se aplica ao Brasil.
Mesmo quando incapaz de obter trabalho assalariado regular no setor
moderno da economia, a maior parte da população em idade de trabalhar
encontra alguma forma de ganhar a vida nas diversas formas possíveis de
auto-emprego [sic], sobretudo no setor serviços. A variedade das atividades
abrangidas é enorme: o pequeno comércio ambulante ou das férias, diversos
tipos de intermediação miúda, toda a gama de serviços pessoais, legais ou
60

ilegais, quer rituais de magia e macumba, ou a prostituição, quer o transporte


no carrinho de mão ou o jogo, quer a lavadeira e o engraxate, ou o
contrabandista. Grande parte dessas atividades são de caráter intermitente ou
exercidas em tempo parcial e, por outro lado, muitas vezes se caracterizam
por baixa produtividade e remuneração menor ainda. Assim, ao invés do
desemprego, o subemprego passou a ser considerado como fenômeno
relevante nos países subdesenvolvidos. (HOFFMANN, 1980, p.58; 61).

Se naquele momento, havia dificuldade em identificar esses atores, camuflados


sob o manto do desemprego ou do subemprego, isso não impediu que fossem se
atualizando frentes às transformações contínuas do capitalismo. A fragmentação da
produção, por exemplo, também força a modernização no interior do trabalho informal,
seja na forma, seja na aquisição de conhecimento, inclusive de ordem tecnológica,
conforme trata-se ao longo desta tese.
Mattoso (1978), que analisa a dinâmica social e produtiva da cidade de Salvador
no século XIX, identifica alguns atores que compõem a força de trabalho naquele
período, constituída por escravos, homens livres, nobres e servidores públicos. Neste
caso, é entre os homens livres que se encontra o “trabalho informal”, remunerado por
tarefa ou diária e, com esses, algumas formas de trabalho ou tipos de trabalhadores na
atividade – algumas bem atuais, a saber:

Quadro 7 - Tipos de trabalhadores livres na Cidade de Salvador no século XIX

TRABALHADORES
Estivadores Ourives
Artista da construção civil Bordadeiras
Carpinteiros Doceira
Pintores Costureira
Barbeiros Quitandeiras
Ferreiros Vendedor ambulante
Relojeiro Ganhadeira
Fonte: Elaboração do autor, a partir de Mattoso (1978, p.283-285).

No presente movimento de pesquisa bibliográfica e cotejamento histórico,


evidencia-se um autor brasileiro, o qual se faz necessário resgatar, porque segundo
nossa compreensão, ele estrutura alguns pontos fundamentais a respeito da
informalidade, embora, na época em que escreveu ‒ fevereiro de 1971‒, não tenha
empregado os termos "informal" ou "informalidade", para designar as atividades e o
fenômeno. Em sua dissertação de mestrado, o sociólogo Luiz Antonio Machado da
Silva, dedicou-se a estudar o “trabalhador que não é formal”, mas que se faz presente na
socioeconomia brasileira. Se atualmente é difícil realizar ciência no Brasil, supõe-se as
dificuldades no final dos anos de 1960, início dos 70, para investigar esse problema
61

num país periférico, fato que explica o porquê do autor não ter obtido preponderância
mundial por seu estudo, que antecedeu ao da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), conforme trataremos um pouco à frente.
Silva (1971) foi o responsável por alinhavar alguns pontos que ainda hoje são
debatidos em estudos sobre a informalidade. Assim, o autor tem o mérito de caracterizar
o mercado de trabalho em duas subdivisões ou subsistemas: mercado formal de
emprego (MF) e mercado não formalizado (MNF), com a ressalva para o
reconhecimento de ambos como “altamente institucionalizados”. No MNF, Luiz
Machado Silva engloba um conjunto de trabalhadores que compõem o que hoje é
denominado de informalidade. Em relação ao primeiro subsistema, o emprego e a renda
estavam sob a supervisão de práticas regulatórias.

Em torno desses pólos, o mercado de trabalho organiza-se em dois


subsistemas, aqui denominados, por oposição, “mercado formal” (MF) e
“mercado não-formalizado” (MNF). Ambos os sub-sistemas são altamente
institucionalizados. (SILVA, 1971, p.13).

Nessa linha, o foco da dissertação foi observar as relações de trabalho e as redes


existentes13 no interior do mercado de trabalho não formal, que se caracteriza, entre
outros pontos por: flexibilidade da atividade, personificação e relação informal na forma
de contratação entre as partes. O autor utiliza a palavra “ocupação” para esta forma
trabalho, e não subemprego. Aqui denota-se um avanço em relação debate dos anos 60.
No decorrer do seu trabalho Silva (1971) incorpora outros elementos, como a
marginalidade, que conduz sua interpretação, aliada à questão da invisibilidade do
trabalho não formal, que ele já destacava como uma forma de trabalho presente na
realidade brasileira e que estava no contexto das relações urbanas e metropolitanas no
Brasil.
Analisadas as características gerais e a composição do MF, pode-se voltar a
atenção para o MNF. Por oposição, depreende-se que este sub-sistema é
“invisível”, no sentido de que existe à revelia do aparato jurídico-
institucional. Portanto, num contexto sem qualquer tipo de reconhecimento
oficial que as ocupações do MNF devem ser entendidas (SILVA, 1971, p.
29).

A fim de entender a dinâmica, a organização e a forma da informalidade no


mercado metropolitano da cidade do Rio de Janeiro, Machado Silva (1971) elabora um
quadro, onde sistematiza empregos e ocupações, classificando-os como formal e
13
Silva (1971) investigou trabalhadores que prestavam de serviços, não ampliou a pesquisa para demais
segmentos.
62

informal. Com isso indica um caminho interessante para desenvolver análise sobre o
fenômeno e como este se apresenta em termos de identificação, a saber:

Quadro 8 - Estrutura do mercado formal e não formal – categorização proposta em 1970.

Mercado Formal Mercado não formal


Empregadores Auto-emprego Individual
Empregos públicos Conta própria (1) Biscates
Empregos privados Empregos domésticos
Serviços domésticos (2)
Fonte: Silva (1971, p. 54)
Notas: (1) Entre outros profissionais nesta classificação estão: marceneiros, mecânico, operários da
construção civil; (2) Inclui cabeleireiros; manicure, encanador e etc.

Por outro lado, em diversos momentos, Silva (1971) utiliza a palavra “informal”,
seja para contrapor o emprego de mercado formal ou para designar o trabalho informal.
Entretanto, sua concepção não assume a visão preferencial sobre o tema em estudo, nem
no caso específico do Brasil, nem em âmbito mundial, nem neste trabalho, nem em
pesquisas posteriores.
Partindo da mesma premissa de Silva (1971), Hart (1973) considera que a
questão da informalidade é urbana, concentrada na categoria de trabalhadores não
proletários (distanciando-se do autor brasileiro nesse ponto), e resultado de um processo
imigratório que engendra o aumento da força de trabalho14, que sem contrapartida de
empregos formais, passa a atuar em paralelo a economia formalizada, para sobreviver.
O antropólogo inglês Keith Hart (1973) que detém, a partir de um estudo
encomendado pela OIT, a primazia intelectual de defender e introduzir, no cenário
mundial, o termo informalidade e seus atores como objeto de estudo, avançou ao
estabelecer critérios para a informalidade, bem como acrescentou à discussão a
concepção de que se tratavam de unidades produtivas, portanto, com um escopo maior,
pois ele considerou uma ampla gama de atividades sob o guarda-chuva da lógica
informal.
Essa gama de atividades, com suas funcionalidades, estruturas, funções, lógica e
características próprias conferem um grau de representatividade produtiva e social que,
reunidas conformam, para o autor, uma unidade que desemboca num setor econômico,
neste caso, visível enquanto objeto de estudo, dado o volume de negócios na sua

14
Uma parte do desemprego e a informalidade, na visão deste autor, é consequência dos efeitos
conjunturais da economia.
63

totalidade e os indivíduos que determinam a sua importância socioeconômica 15 no


contexto político e institucional.
Em relação a OIT, reconhece-se que a instituição também contribui para o
debate sobre a informalidade, buscando construir concepções e medidas estatísticas para
capturar o fenômeno. A OIT criou, em meados dos anos 60, no interior do seu Programa
Mundial de Emprego, o Programa Regional del Emprego para a América Latina y el
Caribe (PREALC), fato relevante a esse respeito, é que com as limitações existente,
contribui para o avanço sobre a informalidade
Os pensadores sob a égide do PREALC partiam da ideia do excedente de mão de
obra. Lembramos que Keith Hart trabalhou para OIT – e do caráter dual de uma
economia em dois setores, o formal e o informal, onde o primeiro determinava o nível
geral de emprego e renda e o segundo, determinava a taxa de salário e estoque de
emprego dado o excesso de trabalhadores ou exército industrial de reserva.

Uma grande proporção desta crescente força de trabalho não encontra


emprego nas empresas organizadas de atividades urbanas, dado o escasso
crescimento na absorção de mão-de-obra, já mencionado.
De um lado encontra-se o “setor formal”, que concentra as atividades
econômicas organizadas.
De outro lado, encontra-se o “setor informal”, que concentra os ocupados que
em geral não exercem sua atividade nas empresas organizadas e constitui o
resultado visível do excedente relativo de força de trabalho. (SOUZA, 1980,
p.129-130).

Um ponto importante dos autores que iniciaram o tratamento do tema é o


desaparecimento das atividades informais quando da plena maturação das forças
capitalistas nos países periféricos – retoma a concepção vigente nos anos 60. De outro
modo, consideraram que o interior da informalidade era constituído por diversos atores
que, com suas características próprias, organizavam-se em um subsistema com duas
divisões: o superior com um grau razoável de produtividade e o inferior, com baixa
produtividade e menor absorção de trabalhadores.
A existência de atividades informais é relacionada à presença de franjas ou
espaços mercadológicos específicos, que não foram ocupados pelo capital, dado o
reduzido retorno econômico, que não compensava a entrada ou devido às condições
(im)próprias, como uma demanda menor ou rarefeita, a qual não estimulava a
participação de empreendimentos formais na oferta de seus bens e/ou serviços.

15
A renda capturada pelos informais era de duas origens, para o autor inglês: legítima e ilegal.
64

Mas, as mudanças processadas no interior do capitalismo: fragmentação da


produção, acumulação flexível, desregulamentação e precarização das relações de
trabalho nos anos de 1970/80 solapam essa visão, determinando um novo ponto de vista
por parte da OIT, processo esse que amadurece na passagem do século XX para o XXI.
A OIT passa então compreender que a antiga visão de informalidade é “dual”
para uma interpretação em base da “economia informal”, envolvendo a heterogeneidade
de atores e atividades com suas respectivas complexidades. Desse maneira, a instituição
passa a reconhecer outras classes de agentes no campo analítico.
Por fim incorpora o impacto da precarização no emprego, bem em algumas
formas de ocupação, buscando incluir no debate sobre o trabalho, a necessidade de
parâmetros mínimos de uma política de proteção social, a fim de institucionalizar o
“trabalho decente” como uma regra estatal, que esteja presente tanto no âmbito do
emprego, quanto das relações informais de trabalho ou de ocupação.
O relatório da OIT em 1973, baseado no estudo de Hart (1973) – já comentado –
provoca avanços em termos de concepções teóricas, bem como na sistematização de
informações primárias e secundárias, por parte dos países, para se enxergar a
informalidade no mercado de trabalho. Esse processo segue adiante com objetivo de
clarificar a informalidade em todos seus sentidos, visando identificar atores,
classificações e categorizações, buscando sua representação no campo social e
produtivo na sociedade.
Com isso é possível observar, em tempos atuais, que o fenômeno se assume não
uma, mas várias expressões, que manifestam dinâmica com características próprias.
Incluem-se neste processo, as transformações em curso no mercado de trabalho mundial
e nacional, delineadas com o avanço da flexibilização das relações contratuais, a
precarização, a terceirização e a fragmentação da produção, entre outros aspectos.
Assim, Krein e Proni (2010) sistematizaram os diversos componentes que
estruturam, atualmente, a informalidade, permitindo aglutinar as características
presentes de cada ator na mesma, conforme verifica-se no quadro abaixo:
65

Quadro 9 - Expressões de informalidade.

SITUAÇÃO
DESCRIÇÃO ENQUADRAMENTO
OCUPACIONAL

Proprietários de Núcleo central da informalidade clássica, baseada em Informalidade


pequenos negócios pequenas unidades econômicas voltadas para o tradicional até 1990.
mercado, sem a utilização constante de mão de obra
assalariada. São unidades geralmente familiares e não
tipicamente capitalistas. Característica básica: não são
registradas ou não respeitam a legislação vigente. É um
segmento muito amplo e heterogêneo, que inclui os
pequenos empregadores

Trabalhador São os que têm o seu próprio domicílio como local de Informalidade
autônomo ou por trabalho ou proprietários de seus meios de produção, tradicional até 1990.
conta própria sem, no entanto, estarem assegurados pela seguridade
social. Dois grupos se destacam: os que estão na
informalidade como estratégia de sobrevivência e os
que optaram, a partir de suas particularidades, pela
atividade autônoma sem efetuar a formalização.

Produtores para Ocupados que não têm uma atividade voltada para o Informalidade
autoconsumo mercado, com ênfase na produção agrícola familiar, tradicional até 1990.
mas incluindo a autoconstrução e o trabalho doméstico
não remunerado.

Membros Atividades não remuneradas, voluntárias, voltadas para Informalidade


voluntários de ONG atividades sociais e cooperativas, que não operam no tradicional até 1990.
para 3° setor mercado de trabalho.

Trabalhadores Empregados em domicílios familiares, sem garantia de Informalidade


domésticos proteção social e acesso aos direitos básicos do tradicional até 1990
trabalho.

Trabalhadores sem Empregados em estabelecimentos que não têm o Informalidade


registro em carteira vínculo de emprego formalizado e, portanto, está à tradicional até 1990
margem do sistema público de proteção social
(aposentadoria, seguro-desemprego, auxilio doença e
acidente, FGTS, PIS etc.). Também estão incluídos,
nesta categoria, os trabalhadores sem remuneração.

PJ – Pessoa jurídica, É a pessoa que tem uma empresa, mas presta serviços Nova Informalidade
quando corresponde de forma regular e exclusiva a outrem. A relação de pós 1990.
a uma relação de trabalho não é pautada pela legislação trabalhista, mas
constitui-se em um contrato comercial, em que os
emprego disfarçada
contratados estão excluídos de todo o sistema de
direitos e de proteção social vinculado ao
assalariamento.
A regulação social e histórica do trabalho não se aplica
a esse tipo de contrato. Na prática, isso pode significar
a legalização do que passou a ser chamado de “fraude
da pejotização”, pois, nessa modalidade de contratação,
os direitos trabalhistas (tais como férias, 13º salário,
FGTS, aviso prévio, horas-extras) e
previdenciários (estabilidade do acidentado, auxilio
66

doença etc.) não existem.

Falsas cooperativas As cooperativas fraudulentas de mão-de-obra são uma Nova Informalidade


das iniciativas mais visíveis de utilização de novas pós 1990.
formas de contratação que podem, pelas características
adquiridas a partir dos anos 90, ser identificadas, em
grande parte dos casos, como uma relação de emprego
disfarçada.

Terceirização 1: A informalidade não pode ser explicada pela Nova Informalidade


trabalho informal em terceirização, mas a adoção desta técnica gerencial foi pós 1990.
domicílio um mecanismo que contribuiu para a sua expansão de
duas formas distintas. Em primeiro lugar, a
contribuição veio por meio dos incentivos
proporcionados pelas empresas para as pessoas
desenvolverem atividades de prestação de serviços sem
qualquer proteção previdenciária e trabalhista, como
foi e continua sendo o caso da construção civil, do
campo e do setor têxtil (especialmente no trabalho em
domicílio). Em segundo lugar, cresceu imensamente o
número de pequenas empresas de prestação de serviços
para a indústria e grandes empresas em geral que nem
sempre cumprem a legislação trabalhista. Inclusive,
para parte significativa delas, a competitividade ou a
sobrevivência é garantida pela sonegação do registro
profissional e de direitos trabalhista.

Terceirização 2: Um outro subproduto das transformações no mercado Nova Informalidade


relação de emprego de trabalho, facilitado pela regulação existente no pós 1990.
triangular Brasil, é a locação de mão-de-obra por meio de
empresa aluguel. O contrato temporário é prestado por
meio de empresa interposta (fornecedora de mão de
obra, geralmente via agência de emprego), que
seleciona
e remunera trabalhadores com a finalidade de prestar
serviços provisórios junto a empresas clientes.
Estabelece-se uma relação triangular, em que o local de
trabalho não tem relação direta com o empregador, mas
com a agência de emprego.

Falsos voluntários O problema é que nem sempre é nítido o caráter não Nova Informalidade
do terceiro setor lucrativo e a forma como se dá a relação de trabalho, pós 1990.
pois se admite que ela tenha algumas características
típicas de um emprego, tais como a pessoalidade, a
continuidade e, inclusive, a subordinação jurídica às
determinações da entidade pública ou privada,
condição esta que deve ser estabelecida no termo de
adesão.

Trabalho estágio O trabalho estágio (não o estágio como complemento Nova Informalidade
da formação acadêmica) se caracteriza pela pós 1990.
substituição de um profissional. Ou seja, ele exerce
uma atividade profissional como qualquer outro
empregado. Assim, constitui uma relação de emprego
disfarçada, pois não é considerado um emprego, nem
tem a ele vinculado
67

qualquer direito trabalhista e previdenciário. (Decreto


87497/82: o estágio não acarreta vínculo empregatício
de qualquer natureza).

Autônomo Trata-se de utilização do trabalho autônomo como Nova Informalidade


proletarizado parte da estratégia de empregadores, geralmente em pós 1990.
uma relação triangular, para viabilizar uma redução de
custos e permitir rápidos ajustes ao ambiente das atuais
transformações econômicas e de reestruturação da
produção de bens e serviços, o que pode ser
considerado como uma relação de emprego disfarçada.

Contratado por prazo As pessoas contratadas por prazo determinado têm Nova Informalidade
ou tempo dificuldade de acesso às políticas de proteção social, pós 1990.
determinado especialmente o seguro desemprego e a seguridade
social (tempo de contribuição).

Fonte: Krein e Proni (2010, p. 27-29).

Então Krein e Proni (2010) sistematizam os diversos atores e suas


categorizações conforme a identificação do fenômeno e a sua leitura teórica, em dois
movimentos. O primeiro compreende a estrutura da informalidade no momento de sua
conceituação nas bases da OIT e os avanços teóricos que se fizeram num cenário onde o
trabalho era centrado no paradigma do “estado de bem-estar”, ou seja, do emprego com
carteira assinada, das garantias trabalhistas, previdência e salários.
O segundo momento enquadra a informalidade a partir das transformações
advindas da revolução da microinformática, da acumulação flexível, da terceirização, da
produção em cadeia e da fragmentação, face à redução dos custos, em razão das crises
estruturais que o acompanham, impactando no mundo do trabalho, caracterizado
atualmente pela precariedade, pelo trabalho intermitente, salários por horas, perdas dos
direitos trabalhistas e previdenciários, que ocasionaram novas formas de ocupação.
Nesses termos a informalidade assume dimensão maior, a ser considerada, dado
que as condições do mundo do trabalho atual, impõem a compreensão sobre novos
atores que a ela se agregam e que modificam as relações socioeconômicas no mundo
contemporâneo, onde o trabalho informal passa a representar um circuito fundamental
dentro das forças capitalistas.
O grau das transformações e o salto que ocorreu pode ser caracterizado pelo
número de expressões que vinha sendo objeto de estudo até 1990, que totalizava cerca
de seis atores com suas características (ver quadro 9, acima). O advento e a introdução
de novos mecanismos nas relações de trabalho ampliaram o número das categorias
informais para 14 formas de informalidade, sendo que, oito resultam diretamente das
68

mudanças processadas pós 1970, cujo rebatimento dá-se no final do século XX e no


primeiro decênio do XXI.

2.2 Um mosaico de interpretações

Em tempos atuais, caracterizado pela mundialização, um dos debates


contemporâneos é sobre o futuro do emprego, as formas de inserção dos trabalhadores
no âmbito das atividades produtivas, os direitos sociais, a robotização das unidades
fabris, entre outros aspectos tratados diariamente na economia, nos lares e na imprensa.
A “economia do trabalho” ou o “mundo do trabalho” dispõem de um conjunto
de interpretações teóricas, pari passu à dinâmica capitalista, posto que, enquanto
sistema, o capitalismo se apresenta ao longo do tempo com diversas faces, dadas as
características que ele assume, em razão da conjuntura e das constantes crises que o
permeiam. Tal constatação exige que se compreenda o emprego ou a ocupação da força
de trabalho de acordo com cada momento, o que requer dos pesquisadores, distintas
visões, devido à forma como se apresenta a questão do trabalho/emprego, que em si
reflete o dinamismo e as temporalidades do capital.
Assim, registram-se várias interpretações sobre o mundo ou a economia do
trabalho, que permitem a construção de um mosaico de sentidos sobre o tema. As
análises possibilitam ainda tensionar o tema, reunindo as distintas concepções teóricas,
com objetivo de iluminar o objeto de estudo. Tal movimento, a um só tempo, facilita a
pesquisa, em razão das diversas visões disponíveis, e a dificulta, justamente pelo amplo
leque interpretativo.
As vias de interpretação sobre os agentes e suas relações no interior da economia
do trabalho são refletidas também no estudo da informalidade, um dos objetos de
análise da área. A informalidade destaca-se pelo conjunto de visões sobre si. Importante
contribuição para a compreensão da informalidade no Brasil é dada pela autora Maria
Augusta Tavares (2004). Logo na partida ela abandona o ponto de vista dual (formal e
informal) e defende que a informalidade não é uma disfunção. Neste caso, a economia
informal é produto do movimento de acumulação do capital, desenvolvendo o
entendimento do ponto de vista estrutural, inerente a lógica do capitalismo, e que por
isso não pode ser entendida como algo estanque ou exterior ao capital:

A informalidade não é exterior à produção capitalista. Ao contrário, é


inerente a esta formação social (TAVARES, 2004, p.109).
69

A contribuição da informalidade para a acumulação se dá, segundo o olhar da


autora, por uma operação invisível, posto que, a mesma aponta que a terceirização e a
deslocalização (microempreendedor individual, por exemplo) são faces da fragmentação
da produção, que disfarçam a relação articulada entre o formal e o informal, o que
determina tanto o valor, quanto a geração de mais-valia. Assim, a terceirização é o
segmento moderno da informalidade, ou a “nova informalidade”.

O processo de terceirização, ao mesmo tempo que tornou externas ao


ambiente fabril muitas ocupações que continuam interiores à produção
capitalista, também incorporou as características da informalidade, pela sua
flexibilidade, e pela possibilidade que as mesmas oferecem para mascarar a
exploração, na medida em que a relação entre capital e trabalho é substituída
por uma aparente relação entre possuidores de mercadorias que se defrontam
na esfera da circulação. (TAVARES, 2004, p. 109).

Inicialmente Cacciamali (1982), em sua tese sobre informalidade a compreende


como um setor, ou seja, mantém uma visão dual, porém constrói parâmetros que
balizam sua análise, a saber:

a) apresenta características próprias e o produtor direto é proprietário do meio


de trabalho; b) atua em um espaço específico e sua dinâmica depende da
conjuntura e da estrutura do capital; c) a atividade é flexível e permeada,
moldada à lógica capitalista (CACCIAMALI,1982, p. 25-26).

A autora considera que atividades informais ocorrem no segmento industrial e


comercial, e que o capital, percebendo oportunidade de lucro advindo do
desenvolvimento socioeconômico dessas atividades, ocupa esse espaço determinando o
deslocamento das atividades informais para outros segmentos ou áreas. Cacciamali
ressalta que o grau de desenvolvimento e a geração de emprego podem ou não absorver
parte dos trabalhadores ocupados na informalidade quando da ocupação dos espaços
pelas firmas. Finalmente, ela considera a presença do setor informal na economia de
modo subordinado à dinâmica do setor formal ou do capital, ou seja, o crescimento, o
decrescimento, uma maior ou menor participação dependem da taxa de incremento ou
de redução das atividades formais.

Este processo decorre do ritmo de expansão dos ramos que estão sendo
explorados por firmas e daqueles que estão condenados ou regados pelo
padrão de crescimento econômico, do perfil de distribuição de renda e da
impressão de níveis mínimos de produtividade social que dispõe o quadro de
70

processos produtivos. É neste sentido, portanto, que o Setor Informal guarda


subordinação ao formal, não podendo avançar no terreno produtivo explorado
pelas firmas capitalistas – espaço este, aliás, inconstante, continuadamente
redefinido – mas extinguindo-se ou expandindo-se em espaços ainda não
ocupados, abandonados, criados e recriados pela produção capitalista.
(CACCIAMALI, 1982, p. 32).

A lógica interna da estrutura informal na visão de Cacciamali (1982) admite que


parte dos trabalhadores labutam no segmento devido à necessidade de sobrevivência e
que existe precariedade em algumas formas de trabalho, onde normalmente as relações
são pessoais e familiares. No tocante à renda gerada e/ou capturada é mínima em
algumas atividades exercidas, porém, caso o trabalhador seja qualificado o padrão de
renda é igual e/ou superior ao emprego formal.
Contudo, em outro trabalho, a pesquisadora avança no seu entendimento de
informalidade abandonando a visão dual e passando a compreende-la sobre outro
enfoque (CACCIAMALI, 2000). Assim as transformações que ocorreram nos anos 70 e
80 na produção capitalista com ampliação da globalização e de seus efeitos no mundo
do trabalho contribuíram para a construção de um olhar pragmático sobre a
informalidade, face essas transformações que alteram a estrutura do emprego e das
ocupações, que imbricados pelas mudanças, vão registrar novas formas de se apresentar,
que passam a ser compreendidas como “processo de informalidade”, concepção
assentada numa perspectiva de terceirização, de flexibilidade do tempo de trabalho –
trabalho temporário, baixos salários e vulnerabilidade.
Contribuindo com uma visão da informalidade como um fenômeno histórico16,
que atravessa temporalidades enquanto atividade com um caráter próprio ao sistema
vigente, Barbosa (2009) retoma a relação do tema com a presença do
subdesenvolvimento e a dependência dos países periféricos, recuperando esse viés no
debate.

Em ambos os enfoques acima mencionados, aqui de forma não plenamente


explícita, as relações entre subdesenvolvimento e informalidade se revelam
profundas. Um não existe e não se explica sem o outro. Isto não quer dizer
que o problema esteja solucionado, antes pelo contrário, fazendo-se
necessário um maior refinamento teórico e pesquisas empíricas em várias
escalas – local, metropolitano, regional e nacional – que abram possibilidades
para estudos comparativos. (BARBOSA, 2009, p. 35).

16
O presente autor também refaz o caminho teórico construído por outros autores, cujos trabalhos, direta
ou indiretamente, permitiram calçar o caminho que avança na construção que leva à informalidade.
71

Por outro lado, Barbosa (2009) afirma que o capitalismo influencia e é


influenciado pela “economia informal17” devido as inter-relações existentes em face ao
crescimento e desenvolvimento da economia , ou seja, há um caráter dinâmico que
alimenta a questão. Ele também se contrapõe à perspectiva dualista formal- informal,
bem como às interpretações que opõem a leitura entre precarizados da informalidade e
os empregos com proteção social, o que chama de “nova dualidade”, visto que, a
complexidade e a heterogeneidade existente no interior do fenômeno se perde nesses
dois campos de observações.

Perdem-se assim totalmente de vista as características específicas – e


historicamente condicionadas – do setor informal nos países
subdesenvolvidos, jamais tendente à superação mesmo no auge da expansão
econômica destas nações. E, pior ainda, força-se a barra para ver em cada
trabalhador autônomo ou empreendimento familiar a sua vinculação
irrecusável a alguma cadeia de produção global. (BARBOSA, 2009, p.32).

Então, para Barbosa (2009) é preciso apreender que o fenômeno é de caráter


social, cujo ambiente não pode ser objeto de corte ou colocado numa redoma de vidro,
ao contrário, o dinamismo presente bem como as transformações na economia e no
mundo do trabalho reforçam a sua presença num contexto de mudança de parâmetros
sobre a relação emprego-ocupação, onde a informalidade é uma realidade constante e
projeta-se como o futuro da sociedade, o que implica que seu escopo deve ser bem
definido no que tange aos atores no seu espaço, ou seja: é preciso delimitar o informal
com suas características, sem simplesmente denominar que todos os agentes são ou
estão informais.

Em uma palavra, “seríamos todos informais agora”. Como se ao invés de se


precisar a categoria informal, os pesquisadores insistissem em ampliar o seu
nível de inespecificidade. (BARBOSA, 2009, p. 30).

Nesse sentido, o reconhecimento do fenômeno social e sua interface teórica


permitiu avanços sobre a questão e seu debate, inclusive institucional – principalmente
no campo das políticas públicas. Porém, não foi o suficiente para eliminar, perante à
sociedade e ao próprio Estado, a questão da invisibilidade, apesar do quantitativo
populacional envolvido na mesma.

17
Barbosa (2009) utiliza o termo “economia informal”, o mesmo empregado pela OIT, mas com algumas
distinções, como por exemplo não vincular ao termo o caráter legalista presente na perspectiva da OIT, o
qual o autor rejeita.
72

Em que pese o salto ocorrido a partir do aceite teórico, inclusive no que diz
respeito à profusão de interpretações, embora o tema esteja na mesa dos intelectuais e
dos gestores estatais, devido à crescente mudança no padrão de emprego e à constância
da informalidade como elemento de um circuito econômico e social, afirmamos que
certo grau de invisibilidade persiste, pois, a existência da informalidade enquanto
fenômeno, não tem uma contrapartida de estatísticas confiáveis e disponíveis, o que leva
a uma dificuldade de enxergá-la como um componente socioeconômico. Para Altvater e
Mahnpopf (2008, p. 16), "sin embargo, independentemente del modo em que se la
amida o se la estime, su importancia va em aumento y se está acentuando desde
comienzos de los ano noventa".
Tal fato se agrava quando se considera a questão da marginalidade sob o ponto
de vista da sociedade e de parte das correntes interpretativas, conforme apontam
Quijano (1974), Nun (2017), Oliveira (1987, 2012), Kowarick (1994), entre outros.
Desse debate, são abstraídos elementos capazes de contribuir com o
entendimento sobre a informalidade no seu campo, como a existência de limites para a
integração na sociedade, dado um estruturalismo histórico, determinador de disfunções
e desigualdade social, num ambiente tenso e conflituoso. Apesar disso, o processo de
modernização de parte da economia não destrói – porque não é de seu interesse devido
o baixo retorno do capital – formas arcaicas ou atrasadas, que absorvem a população
excluída, portanto, marginal ao processo-macro, porém, estabelece elos de comunicação
via circulação de produtos e apreensão de renda num único ambiente.
Seja pela visão do Estado, seja pela concepção de pesquisadores, tais
perspectivas enquadram a informalidade como um problema de ordem social ou uma
anomalia econômica (inadequação do mercado de trabalho, baixa produtividade, etc.) e
não, necessariamente, decorrente do sistema que a produz, pois, a mesma reflete tanto o
grau de desigualdade, de escassez de oportunidades e de falta de acesso, como a
gestação do desemprego estrutural ou justificada. Além disso, favorece o sistema
através da superpopulação relativa e, no interior dessa, do exército industrial de reserva.
A questão da marginalidade está no âmago dos sentidos disseminados sobre a
informalidade e no olhar que permeia o cotidiano do homem comum. Nesse caso, ela é
colocada em contraposição ao formal, qualificado como o lado correto, onde vigora a
obediência às regras legais e institucionais da economia e da sociedade, isto é, o que não
se enquadra no ambiente regulatório, constituído por relações à margem da sociedade,
cujas atividades são segregadas do rito legal da economia.
73

No reduzido mosaico aqui construído com variadas, coloridas e pequenas peças


conceituais dos autores selecionados, constatamos que diversos são aqueles (para muito
além dos que escolhemos), que agregaram elementos à questão da informalidade. Ora
construindo novas categorias e buscando refinar o entendimento sobre o fenômeno, ora
focalizando o dinamismo que o envolve, ao ser contextualizado no bojo das
transformações no âmbito do capital e nas inter-relações, essas diversas produções
asseguram a necessidade de compreender novas formas advindas das transformações,
permitindo a renovação do tema e, ao mesmo tempo, ampliando seu escopo e
complexidade, dada a gama de concepções, fato que é refletido no intenso debate sobre
o problema.
Por essa razão, é importante observar o mosaico e buscar condições de
interpretar o fenômeno como se apresenta em cada parte da composição, transformando
o objeto empírico em objeto de conhecimento, a partir de bases que permitam sua
apreensão com substância.
Nesse sentido, deixamos claro não aderirmos a interpretações nesse viés da
separação, tampouco concordamos com a qualificação marginal. Ao contrário,
entendemos que a informalidade está incluída na economia, como o outro lado da
moeda, portanto, sem separação e, nesse sentido, a reconhecemos como elemento
estrutural do capitalismo, que contribui, ao seu modo, com a acumulação.
Considerando o contexto sobre o debate da informalidade, é necessário entender
que o ritmo, o funcionamento e a forma da informalidade são diferentes, inclusive em
razão da lógica do mercado, do porte e da abrangência da atividade, quando comparada
aos empreendimentos e à economia formal.
Ressalvados esses pontos, ressaltamos que utilizamos o termo “informalidade”
ao longo do presente trabalho, por reconhecê-lo como a forma de nomeação mais
adequada ao intuito de dar fluidez à organização da pesquisa, à construção de ideias e à
leitura da mesma.

2.3 O fenômeno no bojo do sistema

A informalidade presente tanto na economia brasileira, como em outros países, 18


modela-se de acordo com as características produtivas e sociais, do território, dos

18
Na América do Sul, estudamos os casos da Argentina e do Peru, a partir de Panettieri (1990), que avalia
a questão do subemprego na Argentina no final do século XIX e nas três primeiras décadas do século XX,
74

agentes e das interfaces externas, que a seu modo, também atuam neste processo. A
despeito da distância espacial ou da forma como se organiza em distintos espaços, os
atores que protagonizam a informalidade em diferentes territórios pelo mundo,
apresentam um elo pois, o informal é seu mecanismo de inserção de trabalho.
O capitalismo tem, enquanto sistema, a capacidade de transitar entre o avançado
– enquanto força de produção – e o “atrasado”, fato que explica existência da
informalidade ou de outras formas de produção (MARX, 2014; SOUZA, 1980).
Nos últimos setenta anos observa-se, em dois momentos principais, mudanças
estruturais, que marcam o capitalismo e o trabalho. Esses marcos alteram o curso das
relações trabalhistas, representam rupturas e geram consequências ao mundo do
trabalho.
O primeiro momento corresponde ao fim da segunda guerra mundial e às
decisões da Conferência de Bretton Woods, que vão além das regras do comércio
internacional, do padrão ouro, do câmbio fixo, da emergência das agências multilaterais,
da busca do equilíbrio macroeconômico global, de modo que tais ações combinadas
favorecessem as condições basilares à pax mundial e ao pleno emprego, elementos
essenciais para impedir uma nova crise estrutural e depressão posterior à guerra.
A recuperação dos países no pós-guerra, a retomada dos investimentos em escala
mundial, o deslocamento das empresas transnacionais para os países subdesenvolvidos,
a massificação e padronização do consumo, a urbanização e metropolização das cidades
e, principalmente, a adoção da Welfare State, ou política do estado de bem estar,
estimulando o reconhecimento dos direitos sociais e trabalhistas, delineiam um contexto
favorável à expansão do emprego, inclusive no Brasil, fato que acabou arrefecendo o
debate sobre o trabalho, a desigualdade e a pobreza, que não desapareceram, mas
ficaram "dormentes" em escala de importância, frente aos números positivos daquele
período.
Porém, o crescimento econômico ocorrido após a segunda guerra mundial
enfraquece na década de 60, fato que provoca, a partir dos anos de 1970, uma crise
estrutural, bem como desencadeia, a segunda etapa de introdução de novos elementos,
que impactam diretamente na sociedade, especialmente, nos trabalhadores. Trata-se de
um movimento de reestruturação do capitalismo como medida de ajustamento à crise,

e de Soto (1987), que faz um retrospecto histórico da informalidade no Peru, além de identificar a origem
dela como resposta ao excesso de regulação estatal e a sua importância no contexto do liberalismo.
75

que determina transformações substanciais no mundo do trabalho, tanto no âmbito da


regulação, como no campo da informalidade.
A década de 70 inicia-se com a elevação do dólar e a retirada do padrão ouro por
parte dos Estados Unidos, em 1971. Logo a seguir, em 1973, eclode a primeira crise do
petróleo com a consequente elevação do preço do barril em escala mundial. Dentre as
repercussões, notadamente, uma inflação em escala mundial e a gradativa elevação dos
serviços da dívida externa, que afetaram em cheio os países subdesenvolvidos.
Uma nova crise petrolífera, em 1979/80 acirra a crise conjuntural pelo mundo.
Com a ascensão dos governos de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e Margareth
Thatcher, na Inglaterra, o neoliberalismo é adotado como elemento de gestão, o que,
juntamente com a desregulamentação financeira e o aumento dos juros nos Estados
Unidos acelera as dificuldades enfrentadas pelos diversos países subdesenvolvidos ou
mesmo na Europa: inflação ascendente, desemprego elevado, crescimento da dívida
externa e redução das atividades com fechamento de unidades produtivas, entre outros
aspectos negativos.
Nos anos 1970 foi intenso o movimento do capital para recuperar seu padrão de
acumulação e repor a hegemonia que vinha perdendo no espaço produtivo, em função
das greves e lutas sociais desencadeadas nos anos 1960, principalmente na Europa
Ocidental. A crise do capitalismo na virada para os anos 70 do século XX, levou à
adoção de novos padrões no regime de acumulação do modelo fordista ao flexível,
marcado por características como a fragmentação e a terceirização. Foi nesse contexto
de reestruturação que o capital em escala global, passou a redesenhar “novas e velhas
modalidades de trabalho – o trabalho precário” (ANTUNES, 2009, p.233). No âmbito
acadêmico, ganhou espaço a tese do fim da centralidade estrutural do trabalho.
No Brasil, passado o período de euforia do “milagre brasileiro”, na primeira
metade da década de 70, sucedem-se crises estruturais e conjunturais, que se estendem
até meados dos anos 90. Singer (1982) aponta o contexto nacional, dessa fase:
desabastecimento interno e controle das importações de matérias-primas, retorno da
inflação, correção monetária como variável inercial da inflação, elevação do dólar,
déficit no balanço de pagamentos e a contenção dos reajustes salariais que, entre outros
aspectos, contribuíram com o desenho do momento crítico da sociedade e da economia
brasileira atualmente.
Ainda que as crises afetem a todos, especialmente os empreendimentos de todos
os níveis por alterarem para menor, a acumulação de capital, observou-se a partir da
76

década de 70, principalmente no campo das empresas transnacionais, avanços com


intuito de amenizar os efeitos das mesmas no processo de acumulação.
Seguindo o mesmo impulso, na década de 80 efetivam-se as ações e os
processos institucionais de reestruturação, que interferem na transformação das relações
de trabalho, os quais ensejam não somente a redução dos postos de emprego e perdas
dos direitos sociais, mas, fundamentalmente, refletem-se na informalidade que, além de
absorver esses trabalhadores desempregados e sem direitos assegurados, torna-se porta
de entrada dos egressos em idade ativa e necessita se reinventar, com objetivo de
adaptar-se aos novos tempos. No campo do emprego, a década de 80 se inicia com uma
taxa de desemprego aberto na ordem média anual de 6,50% (Pesquisa Mensal do
Emprego – Regiões Metropolitana, IBGE) alcançando em 1984 o valor de 8,15%,
valores estes que retratam as dificuldades econômicas por que passava a economia
brasileira.
Evidentemente as repercussões das crises não se restringem às décadas de 70/80,
ao contrário, em razão do processo de mundialização e integração, registra-se um menor
espaçamento entre as crises econômicas ao longo da década de 90 e no decorrer dos
primeiros dezoito anos do século XXI, como a crise de 1987 a partir da quebra da Bolsa
de Nova York, a do México em 1994, a da Ásia (Tailândia, Malásia, Filipinas, Coreia
do Sul) em 1997 e, logo a seguir do Brasil e da Rússia (1997 e 98, respectivamente), da
Argentina, em 2001 e, novamente, a grande crise de 2007 e 2008, que começou nos
Estados Unidos e cujos impactos ainda repercutem. Com a integração financeira e
produtiva, todas elas guardam um fato em comum: seus efeitos de contaminação
tornaram-se planetários.
No cenário brasileiro, apesar da edição de diversos planos econômicos entre
1986 a 1991, com intuito de estabilizar a economia, é o Plano Real, com suas três fases
‒ cuja primeira etapa foi em julho de 1993 ‒ que consegue controlar, via instrumentos
monetários, a inflação a partir da implementação da nova moeda, em junho de 1994.
Com a retirada da inércia e do imposto inflacionário, aliados a outros meios, a economia
brasileira apresentou, a partir de 1995, um gradativo crescimento econômico.
O crescimento interno face a estabilidade da moeda não provocou, de imediato,
o aumento do emprego formal, ao contrário, só a partir de 2003 que esse indicador se
eleva com constância devido à explosão dos commodities, ao estímulo ao crédito e à
expansão dos investimentos ‒ públicos e privados – o que, em conjunto, determinou
um novo patamar produtivo na economia nacional. Com isso, ocorre a lenta redução da
77

taxa de informalidade, tendo em vista a abertura de novos postos de trabalho formais,


bem como a formalização dos microempreendedores, que alteram a curva da atividade
informal neste período.
Nos anos de 1990, o reconhecimento de um contemporâneo identificado como
sociedade da informação (Castells,1999), ajudou a fortalecer perspectivas pós-
industriais sobre a metamorfose do trabalho. Tomando como referência a trilogia A era
da informação, de Manuel Castells, Antunes (2009) critica os argumentos forjados sob o
amparo do paradigma informacional, explicando que tais visadas já não previam o fim
da centralidade do trabalho para a geração de valor ou de sociabilidade, mas
anunciavam a substituição do trabalho degradado “pelo avanço tecnocientífico – em
especial, pela internet –, pela difusão de empregos qualificados com forte autonomia no
trabalho” (ANTUNES; BRAGA, 2009, p.8).
O avanço da microeletrônica, da desregulamentação das atividades financeiras e
das tecnologias da informação, aliado ao neoliberalismo, implicou na adoção de
parâmetros produtivos que ampliaram o uso das tecnologias da informação e da
comunicação, por exemplo, fato que se rebateu de diversas formas na questão do
trabalho, seja assalariado ou não, mas que não acarretou em uma morfologia do trabalho
fundada em criatividade, autonomia e inovação científica, tampouco tornou o trabalho
complexo acessível a todos. O Brasil não ficou imune às mudanças, ao contrário,
observa-se que essas transformações o impactam intensamente, dada a desigualdade, o
nível de miséria e pobreza, fatores que, em conjunto, explicam o crescimento da
informalidade, acentuam seus efeitos e a precarização do trabalho no país, sobretudo
nos últimos trinta anos. Esse cenário de reorganização das estruturas do sistema se
traduz pela maior participação do capital em detrimento do trabalho, o que contribui
para que informalidade represente o caminho de parte considerável da mão de obra no
mercado de trabalho, seja por escassez de oportunidades, por falta de qualificação ou
pelo crescente desemprego estrutural combinado com o conjuntural.
O progresso das forças produtivas capitalistas, através da incorporação da
ciência (WALLERSTEIN, 1996), determina a expansão da tecnologia e da inovação,
como ferramentas para o processo produtivo e, com isso, ocorre a ampliação da
produtividade. Com efeito, a gradativa e constante redução do emprego – fato que
provoca uma reserva natural de trabalhadores, a qual o capital utiliza como pressão por
menores salários –, atalha o caminho para a informalidade.
78

Desse modo, no capitalismo a informalidade não deveria ser considerada uma


anomalia ou um problema, mas uma peça inerente e útil à lógica do capital, que na sua
forma orgânica nutre sua permanência, seja como forma de pressão, em termos de
salários, ou descompressão social, seja ao permitir aos trabalhadores – sem saída – uma
forma de ocupação. Nesse sentido, a informalidade pode ser captada como elemento
orgânico do capitalismo, estrutural a este, inclusive contribuindo para o processo de
acumulação do capital, via circulação de bens e serviços.
As crises, os modelos de gestão empresarial, a competição entre
empreendimentos por espaços mercadológicos, a concentração e acumulação de capital
ou a incorporação de tecnologia e inovação, entre outros aspectos inerentes ao
capitalismo, contribuem com a dimensão e a forma da informalidade 19 na realidade
socioeconômica.
Este quadro implica em vários aspectos, tais como: a liberação de trabalhadores,
a redução de postos de trabalho, a precarização das relações trabalhistas, entre outros.

O curso da crise traduz-se de fato por uma reestruturação do capital e, entre


os trabalhadores, por uma interiozação, maior ou menor, da necessidade de
aceitar novas regras do jogo e, com elas, uma nova organização do trabalho.
(SALAMA; VALIER, 1997, p. 67).

Esses movimentos ocorrem em âmbito mundial, com rebatimento em todos os


níveis e formas de inserção, onde o regional e o local não ficaram imunes às ondas.

Nessas condições, a cooperação e os sistemas de rede oferecem a única


possibilidade de dividir custos e riscos, bem como de manter-se em dia com a
informação constantemente renovada. Mas as redes também atuam como
porteiros. Dentro delas, novas oportunidades são criadas o tempo todo. Fora
das redes, a sobrevivência fica cada vez mais difícil. Com rápida
transformação tecnológica, as redes – não as empresas – tornaram a unidade
operacional real. Em outras palavras, mediante interação entre a crise
organizacional e a transformação e as novas tecnologias de informação,
surgiu uma nova forma organizacional como característica da economia
informacional/global: a empresa em rede. (CASTELS, 1999,p. 191).

A crise de 2007/2008, que se inicia nos Estados Unidos como especulação


monetária e, num efeito em rede, contamina outros países, em razão da integração
financeira dos mercados. O Brasil, apesar de haver adotado medidas contracíclicas, com

19
A informalidade apresenta-se numa dada quantidade face à dinâmica econômica, podendo avolumar-se
ou reduzir-se – mas, nunca desaparecer – em razão do comportamento conjuntural. No Brasil, por
exemplo, entre 2003 e 2014 ela teve queda, porém, com a crise pós 2014, já cresceu novamente.
(Cálculos do autor, a partir de dados do IBGE e Ipea).
79

o intuito de amenizar seus efeitos, não fica livre deles, registrando em 2009, por
exemplo, um recuo de 0,10% na taxa do Produto Interno Bruto (PIB) em relação a
2008.
Em 2010/2011 a economia brasileira reage à crise, ainda com base em estímulos
governamentais e isenções tributárias, porém, a queda dos investimentos e as
dificuldades fiscais do poder executivo federal se manifestam, juntamente com a
inflexão no boom dos commodities, afetando a gestão da economia e a capacidade de
fazer frente a crise mundial, o que provocando consequências em todas atividades
produtivas e sociais no Brasil.
Desse modo, as dificuldades pelas quais vem passando o Brasil desde 2014,
aceleraram as transformações regulatórias das relações de trabalho e provocaram, o
incremento da informalidade no país. Não se pode negar os efeitos das recentes
alterações da legislação trabalhista, com sua reforma em 2017, nem o movimento do
capital para promover mudanças com intuito de adequar o país às regras dos países
desenvolvidos, como a lei da terceirização. Nesse sentido, por exemplo, a Lei do
Microempreendedor Individual torna o prestador de serviço, uma forma de
terceirização, convertida em pessoa jurídica. Ou seja, a relação entre a empresa e o
trabalhador passa a ser regida por contrato e sob cobertura do direito civil, não mais do
direito trabalhista.
Com alterações nas legislações é nítido que o capitalismo busca um caminho
pela via da retirada dos direitos do (a) trabalhador (a) e, com isso, os fragiliza e
precariza, encurralando-os num contexto que minimiza reações para reversão desse
quadro.
Em razão do atual cenário, que reflete o caráter estrutural tanto no campo
econômico, como no social ‒ este bem mais grave ‒, a informalidade apresenta-se não
somente como uma saída e talvez como futuro dentro do capitalismo, enquanto
expediente para a geração de renda20, que não é abarcada oficialmente pelo sistema
produtivo regular. Portanto, mesma retoma sua relevância ensejando a necessidade de
acompanhamento é de análise sobre a questão, face seu impacto socioeconômico na
realidade brasileira e mundial.

20
Os esforços legais do Simples ou do Microempreendor Individual podem ser entendidos como o
caminho institucional a ser adotado como a melhor compreensão e solução parcial para a informalidade
enquanto um elemento de renda e de ocupação com dignidade, conforme a visão da OIT.
80

2.4 Sobrevoando os números da informalidade

Os dados da PNAD e PNAD-Contínua do IBGE, entre 1992 a 2016, revelam a


constância da informalidade ao longo das últimas três décadas no país, ratificando a sua
importância seja na questão do trabalho/ocupação ou como fenômeno social.
As informações analisadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), a partir das informações da PNAD, demonstram diversos momentos.
Inicialmente observa-se, depois de 2006, a ampliação do grau de formalização –
inclusive através de instrumentos regulatórios como Simples, Supersimples ou
Microempreendedor Individual – advindo do crescimento econômico registrado no
Brasil. Por outro lado, constata-se um segundo momento, iniciado ao redor de 2014, que
é marcado pelo começo da reversão da formalização diante da crise por que passa a
economia brasileira.
O gráfico 1 e a tabela 1 revelam estes dois momentos. Destaca-se que apesar da
redução da informalidade21 no período analisado, o resultado de 2016, na ordem de
46,5%, é um percentual próximo à 50% do total de trabalhadores ocupados no país.

Gráfico 1 - Taxa de informalidade e taxa média do período.

Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados do IBGE (PNAD) e do IPEA.

21
A taxa de informalidade do IPEA é construída a partir da PNAD antiga, considerando o resultado da
razão entre: empregados sem carteira + trabalhadores por conta própria + não-remunerados/ trabalhadores
protegidos + empregados sem carteira + trabalhadores por conta própria + não remunerados +
empregadores.
81

Tabela 1 - Taxa de informalidade e taxa média do período no Brasil (1992 – 2014)

Ano 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003
Taxa 59,0 59,7 59,7 59,5 59,4 59,8 60,7 58,3 58,4 57,6
Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
Taxa 56,6 59,5 54,3 53,4 50,9 50,4 47,1 46,3 45,4 46,5
Fonte: Acervo/elaboração do autor, a partir de dados do IBGE (PNAD) e do IPEA.

No campo do emprego formal há uma retomada num sentido de crescimento


consistente a partir de 2000 devido, inicialmente, ao amadurecimento do Plano Real,
fato que se avoluma no decorrer da posse do presidente Luís Inácio Lula da Silva, em
2003, por causa do crescimento das exportações dos commodities agrícolas e mineral,
da expansão do volume de investimentos e do crescimento do crédito ao consumidor
que justificam esse movimento.
Os dados do Gráfico 2 demonstram esses dois movimentos no campo do
mercado de trabalho brasileiro como resposta ao incremento econômico ao longo do
período analisado.

Gráfico 2 - Brasil - número de empregos formais (em mil pessoas), 1985 – 2015

Fonte: Elaboração do autor, a partir da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) (Dec. n.76, 900/75
MTB).

Em contrapartida, a taxa de informalidade acusa inflexão no seu comportamento,


principalmente na primeira década do século XXI, em virtude do aumento dos postos de
trabalho formais e, em menor medida, dos mecanismos que buscaram ampliar a
formalização do trabalhador ocupado, como Microempreendedor Individual ou Simples.
Aliada a esses esforços, observamos forte campanha sobre o empreendedorismo e seu
rebatimento na formalização das mini e microempresas.
82

Os dados da Tabela 2 e do Gráfico 3 (ambos abaixo), revelam a dinâmica do


processo de formalização de microempreendor individual, como um dos mecanismos
para reduzir a informalidade. Ao estimular, na lógica do capital, a formalização via
prestação de serviço sob a égide do código civil e não no campo do direito trabalhista,
um tipo de terceirização, que caracteriza uma nova informalidade, delineia-se.
Assim, entre 2010 e 2011 a taxa de incremento foi de quase 120% de
crescimento na formalização dos empreendedores que, gradativamente acusa recuos,
porém com números ainda relevantes como se observa em 2012 e 2013. De outro modo,
apesar deste movimento, os dados revelam que na virada de 2014 para 2015, o
percentual de crescimento sinaliza para uma possível parada neste movimento,
supostamente resultante da crise política e econômica pela qual passa o Brasil desde
então. Assim, em 2016 a taxa de aumento foi de apenas 17,06%, a menor desde 2010.

Tabela 2 - Número de microempreendimentos individuais formalizados e taxa de variação relativa e


absoluta (2010 – 2016).

MEI
ANO FORMALIZADAS TAXA DE VAR. ANUAL VAR. ABSOLUTA
2010 733.186 - -
2011 1.606.825 119,15 873.639
2012 2.630.608 63,71 1.023.783
2013 3.613.766 37,37 983.158
2014 4.653.080 28,75 1.039.314
2015 5.680.614 22,08 1.027.534
2016 6.649.896 17,06 969.282
Fonte: Elaboração do autor (tabulação e cálculo), a partir de dados do Portal do Empreendedor.
83

Gráfico 3 - Número de microempreendedor individual formalizado (2010-2016).

Fonte: Acervo/elaboração do autor a partir de dados do Portal do Empreendedor.

Dado o ambiente acolhedor – crescimento econômico e campanhas de


empreendedorismo, que trabalham a possibilidade de transformar um informal em
capitalista, na mesma condição de um grande capital – evidentemente espera-se redução
de taxa de informalidade, o que de fato aconteceu em termos relativos, porém, em
números absolutos registra-se estabilidade em alguns anos, aumento em outros ou, em
outro caso, um crescimento em menor escala, quando comparado ao incremento do
emprego formal. Porém, em movimento semelhante no sentindo inverso, a crise
institucional e conjuntural altera esse cenário, sinalizando para o aumento da mesma e,
confirmando que não se pode burlar a história, isto é: o desemprego e a informalidade
caminham de mãos no passeio do capitalismo.
Abaixo, as informações do Gráfico 4, que contém a taxa de média anual da
informalidade a partir da PNAD-Contínua, obtida através da metodologia do IPEA,
demonstram a dinâmica da informalidade, chamando atenção para o fato de que ela é
reduzida momentaneamente, entretanto, registra gradativamente um grau de ascensão,
sinalizando para um crescimento futuro. Trata-se de retrato que revela a informalidade
enquanto elemento estrutural e permanente ao capitalismo na sua relação com a força de
trabalho.
84

Gráfico 4 - Taxa média anual de informalidade (2013/2017.1).

Fonte: Elaboração do autor a partir de dados do IBGE (PNAD Contínua).

Por fim, o cenário previsível de redução dos direitos, a precarização na relação


entre capital e trabalho, a tendência ao aumento do desemprego e da informalidade
impõe a necessidade de não somente compreender este processo, como também atentar
para o fato de que se configura como realidade que se fará cada vez mais presente na
sociedade sem perspectivas de transformação, para uma grande parte da população, que
está e será ampliada pela entrada de novos trabalhadores.

2.5 Informalidade complexa e (in)visível

O desenvolvimento do capitalismo e das forças produtivas impõem, como um


caráter orgânico do sistema, a separação dos meios de produção e os responsáveis pela
produção, os trabalhadores. No meio dessa relação há também a ciência (tecnologia e
inovação) como um dos propulsores da acumulação22, ao mesmo tempo em que
intermedia, no interior da produção, a relação entre o capital e trabalhadores.
Sendo a ciência uma das chaves da sobrevivência do capitalismo, o constante
aperfeiçoamento das técnicas e das tecnologias – as inovações – determina de forma
continuada, a redução da absorção dos trabalhadores na produção, o que é denominado
de desemprego estrutural. Por outro lado, o crescimento vegetativo da população,
somado aos avanços civilizatórios e científicos são fatores 23 que atuam no aumento e

22
A ciência é um dos instrumentos para a realização do lucro, aliado a outros elementos.
23
A outros fatores que também explicam, como a melhoria na qualidade de vida, por exemplo.
85

disponibilidade de trabalhadores aptos ao emprego. Tais circunstâncias determinam a


existência do que Marx (2014) denomina "reserva industrial de trabalhadores".
A partir dos anos 70 a produção flexível, a integração e globalização, as cadeias
produtivas mundiais‒ que visam oportunidade de acesso a matérias primas e bens
intermediários‒, a robotização, além da mão de obra barata e da desregulamentação do
trabalho, resultam não somente numa nova arquitetura da estrutura produtiva mundial,
como na reorganização da divisão do trabalho entre países e atividades, onde alguns
recebem parte desse novo arranjo produtivo e outros perdem unidades produtivas. Este
fato implica, dada a reorganização da produção capitalista, na liberação de mão de obra
e na especialização, uns vinculados ao arranjo e outros com viés de comprador de bens e
mercadorias ou especializados em serviços.
A informalidade então se caracteriza como um elemento de saída da pressão
social do capitalismo por permitir, à guisa do caráter formal dos empreendimentos, o
desenvolvimento de atividades econômicas em outro nível, onde circulam diversos
atores sociais e produtivos numa lógica de inserção em espaços específicos, pelos quais
transitam pessoas, mercadorias, serviços e relações socioeconômicas.
Então, percebe-se que a informalidade, como atividade econômica e social, é um
universo que abarca uma infinidade de atores, com suas diversas dimensões (política,
social e produtiva) e relações. Cada tipo se apresenta com dinâmicas próprias e
inserções igualmente tipificadas, no espaço e no território, o que gera um complexo
ambiente, com leis diferenciadas e distintas, obrigando à imersão para compreender sua
heterogeneidade. Portanto, há uma complexidade na organização do processo, que
assume, perante seus atores, estruturas diferenciadas com comportamento e lógicas
próprias, as quais demandam análises específicas no seu ambiente, nas suas relações e
em sua interface no campo macro da economia e da sociedade. “Aliás, a informalização
é heterogênea. Agrupa trabalhadores autônomos e assalariados” (SALAMA; VALIER,
1997, p. 64).
Sob o guarda-chuva da informalidade encontra-se um conjunto de atores sociais
com identidade e papeis específicos nas agendas e rotinas locais ou micro, gozando de
representatividade em seu espaço, em meio à complexidade, como os ambulantes, os
contas próprias ou os precarizados formais, que são o resultado do capitalismo como
também de suas transformações.
A heterogeneidade e a complexidade dos atores transformam constantemente a
natureza da mesma, que é relacionada à lógica do capitalismo, afinal, como seguimos
86

afirmando, parte da informalidade decorre dos recuos ou expansões do sistema, bem


como de processos estruturais ou regulatórios, que, ao seu tempo, influenciam na forma,
na organização e no comportamento dos agentes informais.
Antunes (2013) identifica essa transformação como consequência de “uma nova
morfologia do trabalho”, cujo movimento não é deslocado do processo de valorização
do valor, ao contrário, as mudanças são dirigidas com o objetivo de estimular o lucro ao
promover medidas que reduzem o custo do trabalho.

Essa nova morfologia do trabalho, ao mesmo tempo que abrange os mais


distintos modos de ser da informalidade, vem ampliando o universo do
trabalho invisibilizado e potencializando novos mecanismos geradores de
valor – ainda que sob aparência de não valor – a partir de novos e velhos
mecanismos de intensificação (quando não de autoexploração) do trabalho.
(ANTUNES, 2013, p.14).

Com isso, novos atores são agregados e novos espaços de realização como o
empreendedorismo (estímulo à ocupação), o trabalho voluntário, os trabalhadores com
contratos temporários e os infoinformais, que ofertam seu serviço e/ou produto
(artesanato, por exemplo) através de plataformas digitais em rede. Tratam-se de alguns
personagens protagonistas da precarização como elemento central nas suas relações de
trabalho, o que os desenha como novas categorias no ambiente da informalidade.
As transformações em curso impõem a emergência de novos atores no interior
da informalidade, ampliando sua dimensão, sua complexidade e sua heterogeneidade, o
que ratifica seu caráter dinâmico e reflexivo no atual estágio do capitalismo.
A compreensão e interpretação da informalidade como fato social 24 e econômico
é proeminente, pois é um fenômeno de alcance mundial, que só faz expandir-se ao
longo de tempo, devido ao fato de ser um caminho ou alternativa de ocupação e trabalho
para um segmento cada vez maior da sociedade.
No entanto, o ponto central dessa questão reside na questão de que apesar da
representatividade social e econômica, os atores da informalidade são, de certo modo,
invisíveis para a própria sociedade – onde se inclui uma parcela do poder público, das
atividades formais e organizações civis. A parte mais visível da informalidade, o
ambulante ou camelô é considerado um problema para a cidade, porque sua presença é
frequentemente associada à descaracterização e ao comprometimento da mobilidade em

24
Ao longo dos últimos vinte anos no Brasil observou-se o crescimento e a diversificação do debate sobre
a informalidade, bem como a inserção do Estado nesses debates, sobretudo através de estudos e políticas
públicas voltadas para a questão.
87

espaços organizados da urbes. Além disso, como afirmamos acima, trata-se de uma
atividade vista como marginal, por não ser formal ou pela origem ou o tipo de produto
comercializado.
Nas circunstâncias referenciadas acima, o que prevalece para grande parcela da
sociedade não é a percepção mais ampla dos atores abarcados na atividade informal,
onde se inclui, contraditoriamente, segmentos dessa própria sociedade. Em sintonia com
esse apartheid, a informalidade assume sua invisibilidade, mesmo tendo um lastro
maior, seja pelas quantidades de ocupados no interior da mesma, pela renda circulante,
pelo mercado e os produtos que circulam ou pelo consumo, permitindo, neste caso, o
acesso de uma camada da sociedade fora do padrão consumista em vigor no âmbito da
formalidade.
Em parte, essa invisibilidade decorre da forma e da estrutura de funcionamento
que se contrapõem à lógica formal e à regulação das atividades, que se caracterizam
pela ausência de controle e de informações. Isso se espelha, por exemplo, na dificuldade
de mensuração da informalidade, de sua representatividade econômica e social e dos
seus mecanismos de funcionamento e fluxo.
Apesar dos esforços empregados ao longo dos últimos tempos por organismos
de pesquisas, pelo poder público e por pesquisadores, a invisibilidade da informalidade
ainda resiste. O empenho para mensuração faz parte não só de sua compreensão, como
da busca de seu espaço na economia e na sua representação política.
Esse fato implica na necessidade de construir informações e organizá-las com
objetivo de dispor de estatísticas com vista a dar vazão à informalidade em todas suas
dimensões25 e com isso, preencher lacunas capazes de ajudar a visibilizar esse
fenômeno.
A invisibilidade obriga a pesquisa sobre a informalidade a buscar caminhos tão
alternativos quanto ela mesma, para suprir lacunas de informações. São percursos
construídos através de métodos econométricos, a partir de informações primárias que
não são direcionadas para o estudo específico da informalidade ou, quando é o caso, de
inquéritos especiais que são pontuais e de custo elevado.
Assim, parte da invisibilidade advém da falta de capacidade para se obter
informações e estatísticas de maneira contínua, aliada ao entendimento sobre a

25
Imbuídos desse propósito, pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas organizaram e lançaram um
livro, abordando a questão do trabalho informal, bem como o que denomina de informalidade
empresarial. Sobre isso, conferir: BARBOSA, Filho; ULYSSEA, Veloso. Causas e consequências da
Informalidade no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2017.
88

informalidade e seus atores, o que, em conjunto, dificulta exercícios de


dimensionalização e interpretação.

2.6 O objeto pelos caminhos da informalidade

A existência de diversas formulações sobre “informalidade”, com seus matizes


ideológicos e teóricos26, acarretam dificuldades para delimitação do objeto, inclusive em
virtude de seu dinamismo, e inter-relações. É fato que a construção da informalidade
como objeto de pesquisa apresenta inúmeras interpretações, mesmo que possa
ocasionar, num dado momento, problema de escolhas. Apesar das dificuldades advindas
dos caminhos teóricos, não se pode negar que os resultados construídos ao longo do
tempo representam avanços na busca da sua compreensão social e econômica, seja na
identificação de atores, no estabelecimento de parâmetros ou de contrapontos a serem
considerados no momento da pesquisa e apreensão da questão, o que é positivo.
Portanto, para compreender a informalidade é necessário considerar,
inicialmente, a riqueza do tema. Tal fato implica na opção de trabalhar a partir de
contribuições de diversos autores, (re)construindo e alinhavando visões em sintonia com
os atores e configurações do fenômeno na realidade do tempo presente.
No ensejo, esclarecemos que a proposta de nossa pesquisa não é construir um
conceito, tampouco uma teoria. Queremos é observar no interior da informalidade, a
presença de um ator que, segundo nossas premissas, possui uma categorização
específica e dinâmica própria, o qual merece ser investigado, sobretudo em razão da
falta de luzes irradiada sobre ele quando se aborda o problema. Desse modo,
identificamos a “informalidade empresarial”, como uma espécie de núcleo do objeto
que buscamos investigar, constituído por um agente social com características próprias,
que as distinguem dos demais informais. Porém, antes de categorizá-lo, é fundamental
encontrar ferramentas analíticas nos conceitos dos diversos autores, os quais acionamos
nesta sessão, para dar suporte as nossas interpretações.
Inicialmente consideramos que a informalidade27 não é um setor ou uma
atividade apartada da economia num ambiente capitalista. Ao contrário, em que pese a

26
Há um debate interessante sobre os diversos conceitos de informalidade e mesmo se ela comporta ou
não uma teoria que dê substância a sua interpretação. Assim Peres (2015); Cardoso (2014); Silva (2002);
Filgueiras, Druck e Amaral (2004) entre outros, desenvolvem trabalhos refletindo sobre esta questão.
27
Lembramos que usamos o termo informalidade com o objetivo de melhor trato na questão
metodológica e pedagógica. Nessa mesma linha, aqui incluiremos a palavra formal, como elemento de
didática, não como contraponto ou porque acreditemos que represente um setor da economia.
89

mesma acusar características próprias, que são inerentes aos seus atores – como é a
questão da flexibilidade, o tipo de relação de trabalho –, é necessário atentar para o fato
de que toda e qualquer atividade apresenta regras gerais de funcionamento, como é o
caso da própria economia formal, que tem, por exemplo, o contrato de trabalho entre a
empresa e o trabalhador ou o contrato de compra e venda entre empreendimentos
Assim, não é estar dentro ou fora que distingue uma atividade em acordo com as
regras ou, no caso em questão, estar regulada ou não para um padrão de existência de
atividades. Ao se determinar que o informal é o contrário do formal, afirma-se o
caminho da marginalidade e da invisibilidade, talvez natural dada a dificuldade da
economia de mercado em compreender o fenômeno e classificá-lo, configurado como
uma anomalia pelos economistas de mercado.
A troca de bens e serviços entre as duas correntes – o formal e o informal –, bem
como a renda gestada e capturada por ambos os conjuntos de atividades, aliada à
valorização e acumulação do capital proporcionado pela simbiose entre as atividades,
bem como fluxo de trabalhadores – que reduz a pressão social – determinam a
aproximação, não o distanciamento, fato que exige uma compreensão holística e não
estanque e/ou separado. Certamente, em função das características que envolvem cada
um, é necessário trabalhar cada caso. Dada a dimensão, mesmo em tempos de
conectividade, as dificuldades de acesso à informações e recursos metodológicas
exigem a construção de aparatos que permitam não somente sua análise quanto o
acompanhamento e quantificação.

Com já sugerido pioneiramente por Nun (1969) e, depois, por Oliveira


(1972), o “setor informal” não é um “colchão” ou “manancial” de força de
trabalho para o “setor formal”, e nem um conjunto de práticas econômicas e
sociais que será “revolucionado” à medida que o capitalismo se expandir no
país. Isto é, por mais que o mercado de trabalho esteja estruturado e
formalizando no Brasil (como veremos em seguida), haverá sempre uma
franja, extensa e resistente, de relações sociais e econômicas que continuarão
recebendo dos analistas o epíteto de informais. (CARDOSO, 2014, p.13).

A dimensão da informalidade pode ser mensurada pela sua participação na força


de trabalho que, de acordo com a PNAD-Contínua trimestral do período de janeiro a
março de 2017, revela que cerca de 45,58% do total de trabalhadores ocupados são
informais em suas diversas categorias ou pela renda média dos informais28 é de 57,04%
do total da renda média total dos ocupados e se considerarmos apenas os trabalhadores

28
A renda dos trabalhadores domésticos é que reduz o valor da média no âmbito dos informais.
90

por conta própria a renda média destes equivale a 73,41% da renda média total dos
ocupados.

Quadro 10 - Renda média das categorias de trabalhadores informais e proporção do salário mínimo (1)
jan.-mar./2017.

RENDA RENDA MÉDIA PART. PROPORÇÃO PROXY NA PART.%


CATEGORIAS REAL % s/ S.M (1) NA RENDA
(EM REAIS) NACIONAL
Renda Total 2.110,00 100,00 2,25 100,00
Ocupados
Trab. Privados s/ 1.251,00 59,29 1,34 6,79
Carteira
Trab. Doméstico 840,00 39,81 0,90 2,71
Conta Própria 1.549,00 73,41 1,65 18,25
Fonte: Elaboração do autor, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
(PNAD-Contínua).
Nota: (1) Valor do salário mínimo vigente em 2017 = R$ 937,00.

Os desníveis de renda observado no interior da informalidade advém do fato que


o trabalhador privado sem carteira de trabalho tem uma referência de salários praticados
pela categoria. Em relação à remuneração do conta própria, além de um valor médio no
mercado, há o valor do serviço a ser efetuado depende do tipo, do tempo, do produto e
da expertise. A respeito do trabalhador doméstico, além de ser uma categoria de entrada
no mercado de trabalho, a referência é o salário mínimo, que aliado ao fato do tipo de
serviço ser classificado de baixa qualificação, o valor acaba por ser deprimido pois, em
grande parte, é a classe média que contrata, portanto, não pode ser um valor que onere a
renda do contratante. “Outros, de menos sorte, tentam sobreviver como camelôs,
empregados domésticos, geralmente mal pagos” (SALAMA;VALIER, 1997, p. 63).
A partir da renda média por categoria estimamos, com base na pesquisa, que o
volume do rendimento apreendido no campo informal29 representa aproximadamente
28% do total nacional, um percentual expressivo, que dá a dimensão do segmento na
economia, o que reforça a tese de que não se pode apartá-la do conjunto econômico e
social. Nessa linha, a renda estimada do setor público é de quase 20%, portanto, a
expressividade contida na informalidade é algo que deve ser respeitado, tanto no
ambiente micro quanto macro, em que pese a diferença no quantum de trabalhadores.

Portanto, o que se tem é um fenômeno que se apresentada, à primeira vista, com


algumas características que lhe atribuem unicidade, porém, há distintos atores com suas
especificidades onde estas os distingue. Esses elementos permitem observar a

29
De acordo com a pesquisa Economia Informal Urbana (IBGE, 2003), a receita média mensal neste ano
das unidades informais era de R$ 1.754,00.
91

informalidade em uma parte do seu contexto, de sua dimensão e representatividade, em


que pese dificuldades de mensuração, talvez por falta de instrumentos adequados de
inferência, o que em si é uma característica que não a invalida como objeto de estudo,
pois sua relevância histórica, social e produtiva determina, em si, análise e observação
no seio da sociedade. Por exemplo, até mesmo a questão da invisibilidade estatística é
relativa, pois, quando se estuda trustes e cartéis é complexo caracterizá-los e apreendê-
los, portanto, eles também são regidos pela lógica da invisibilidade. Mas, nesses casos,
o “mercado” faz questão de esconder seus números, o que não anula seu
reconhecimento na economia.
Por outro lado, essa visão dual remete ao conceito estruturado por Hart no já
citado trabalho encomendado pela OIT, que ganhou o mundo no contexto do debate
acerca de desenvolvimento e subdesenvolvimento, centro e periferia, moderno e o
atrasado. Contudo, as transformações no capitalismo pós anos 70 determinaram a
demolição do muro que separaram e ajudaram a resistência do olhar distinto, que
contrapõe informal – formal, e com as transformações no mundo do trabalho a
informalidade é hoje mundial, ou seja, está tanto nos países subdesenvolvidos, quanto
desenvolvidos.

O desenvolvimento como meta denunciaria assim a situação inversa


vivenciada: o subdesenvolvimento. Subdesenvolvimento que, como será
observado mais adiante, esteve sempre associado à presença de um segmento
não moderno – em geral designado de setor de subsistência ou setor informal
– em convivência com um segmento moderno, percebido como capitalista ou
setor de mercado (THEODORO, 2004, p.17).

Abaixo, as figuras 2 e 3 registram cenas da informalidade em sua fisionomia


mais popular no mundo globalizado, materializada na figura do vendedor ambulante,
em duas metrópoles de países desenvolvidos: Nova York e Paris, o que ilustra a
amplitude mundial da questão e evidencia a defasagem de teses que vinculam a
informalidade ao subdesenvolvimento de países periféricos, posto que ambas cidades
representam centros econômicos mundiais de acumulação de capital, onde, portanto,
esses informais não deveriam estar botando bancas, devido o volume de negócios e de
recursos financeiros dessas economias centrais, mas não é o que se observa. Evidências
assim, demonstram que o processo é mundial e, quiçá, diante da precarização das
relações de trabalho, irreversível, tanto lá quanto cá.
92

Do lado de lá, os países desenvolvidos, observa-se que as cadeias de produção e


a fragmentação em conjunto com a globalização, o relaxamento da legislação trabalhista
com prevalência de contrato de trabalho e o processo imigratório são entre outros
fatores, determinam um contexto de redução de postos de trabalho e precariedade das
relações de trabalho determinando nesses países a presença da informalidade como
elemento de ocupação e geração de renda mudando a paisagem urbano e social. A este
respeito, Altvater e Mahnlopf apontam:

Pero, rara vez se lo tematiza como uma variante de la informalizácion del


trabajo em las sociedades industrializadas. Em la actualidad, no obstante, es
evidente que la ocupación precária está creciendo también em lós países ricos
del norte y afecta las relacionoes de trabajo tanto informales e formal
(ALTVATER, MAHNKOPF, 2008, p. 105).

Assim, o universo informal engloba os atores sociais, suas especificidades e


relações que precisam sem compreendidas não somente no seu contexto próprio como
também em base está estruturado na lógica do capital e suas interelações, o que explica
em parte sua existência tanto no âmbito subdesenvolvido como hoje no espaço
desenvolvido.

Figura 2- Camelô em Nova Iorque.

Foto: Adelaide Silveira (Agosto, 2017). No lado direito da foto uma possível compradora.
93

Figura 3 - Camelô na Avenue des Ternes. Paris 17 Arrondissement.

Foto: Sheldon Austin (Agosto, 2017).

Assim, na matriz analítica desta pesquisa a informalidade é tratada como


estrutural ao capitalismo, ou seja, elemento interior do sistema, orgânico, que dele não
pode ser apartado, pois, em última instância é reflexo da forma como o capital se
organiza, acumula e centraliza. "Assim, no interior da produção capitalista a
formalidade e a informalidade coexistem, subsidiam-se, interpenetram-se e são
indissociáveis" (MALAGUTI, 2000, p. 101).

Nesse sentido, as consequências da reestruturação produtiva do capital sobre


a população dos países em desenvolvimento são fatos secundários no
universo do crescimento econômico. Acumular continua sendo o propósito
capitalista, razão por que são necessários ajustes. Sob outra ótica, o capital
não existiria. Portanto, tendo em vista a manutenção do sistema, promovem-
se alterações na ordem, desde que a lógica permaneça. (TAVARES, 2004, p.
41).

É preciso considerar que a visão estrutural é baseada em dois pontos de vista. A


primeira afirma que a mecanização ou uso de tecnologia como elemento de produção
não gera emprego e, em segundo lugar, o caráter circular da economia – que contribui
para a valorização do capital – não pode prescindir de canais de comercialização, papel
esse que a informalidade assume.
O outro campo da análise estrutural diz respeito à circulação de valor, onde,
considerando as razões de cada agente, estes vão ao mercado com objetivo de efetuar a
troca ou circular os bens e serviços entre as atividades no interior da economia,
94

abastecendo ambos com suas necessidades. Esse movimento entre os atores, no caso,
entre o capital e o informal permite, na comercialização do primeiro para o segundo a
gestação do valor do dinheiro, contribuindo para o processo de valorização do capital.
Assim observa-se que há um fluxo produto – dinheiro oriundo da troca que é
alimentado e retroalimentado de acordo com o momento e os interesses de cada ente.

Podemos, portanto, distinguir duas formas pelas quais as organizações não


especificamente capitalistas estão subordinadas ao capital: aquelas em que o
espaço econômico é determinado pelo capital mas não existe nenhuma
extração do excedente das pequenas unidades, e aquelas em que o capital
extrai um excedente, aparentemente na esfera da circulação. (SOUZA, 1980,
p. 129).

Em que pese a informalidade não funcionar na lógica do capital, no que se refere


à mais-valia e ao lucro, é importante compreender que é no mercado que ela opera e
apreende a renda, através de suas vendas. Esse processo advém de uma etapa anterior,
que também ocorre no mercado, que é aquisição de bens e de serviços que permite, ao
capital, neste momento, circular suas mercadorias e dar continuidade, por meio dessa
circulação, a sua valorização, através da aceleração do tempo de venda das mesmas.

Nesse sentido, a organização da produção também tem diminuído o tempo de


circulação das mercadorias, como é caso de alguns bens duráveis, que são
vendidos antes mesmo de serem produzidos. ...mas imobiliza-se menos
tempo na função que realiza a mais valia, permitindo ao movimento que as
partes do capital descrevem sucessivamente realizar-se com maior
velocidade. A coincidência entre esses tempos aumenta a produtividade e a
autovalorização do capital. (Tavares, 2004, p. 76).

Este processo circular e contínuo imbrica as atividades e, com isso, ratifica a


interrelação advinda do fluxo de mercadorias, serviços e dinheiro que, ao alimentar este
canal torna a operação fundamental para a dimensão informal e para a formal. Sem
prescindir uma da outra, ambas passam a incorporar nos seus circuitos, seus efeitos e
atravessamentos mútuos. Portanto, a ausência da informalidade implica em
dificuldades, e, nesse sentido, a questão é estrutural, pois está na raiz da relação, cujo
abalo ou supressão reduz a dinâmica na e entre as dimensões.
Certamente o cerne dessa interrelação são o mercado e o espaço que cada
circuito se propõe a ocupar – desde que o capital assim o permita. Ou seja, no caso do
informal, as franjas ou lugares ocupados não são de interesse do capital, que permite a
sua ocupação até se tornar interessante e caso venha a se tornar, o capital destrói ou
captura. Assim, a destruição recria, em outro momento, outras formas de informalidade,
95

que mantém a relação entre formal–informal, que, ao ser reconstruída determina uma
nova forma de fluxo que alimenta suas atividades.
É importante destacar como se compõem e se estruturam os agentes que tomam
parte nessa dinâmica, e, no caso especifico, sobre a informalidade. Para tanto, baseamo-
nos em Souza (1980) que, a partir de uma visão marxista e estrutural identifica e
constrói no ambiente macro formas conceptuais dos atores que operam no âmbito
informal.
Souza (1980) desenvolve sua análise a partir dos estudos realizados pela
PREALC – já comentado anteriormente – considerando os empreendimentos e
trabalhadores como unidades produtoras e heterogêneas, classificando-os como
“organizações não capitalistas”, onde a forma de inserção das mesmas determina
diferentes níveis de renda apropriados pela atividade e relações informais no âmbito dos
negócios e do trabalho.
O autor então distingue dois grandes grupos no interior das “organizações não
capitalistas”, a saber:
a) unidades onde o assalariamento permanente não existe;
b) empreendimentos quase capitalistas, que se estruturam sobre o
trabalho familiar, porém com assalariamento permanente.
A partir da subdivisão de Souza (1980), destacamos30, em razão do objeto de
nossa investigação, no âmbito das organizações cujo assalariamento não é permanente,
as unidades que ele classifica como empresas familiares – incluso trabalhadores
autônomos, exceto os liberais, posto que desenvolvem suas atividades nos setores
comercial e industrial com certo grau de eficiência, tornando-se competitivos com
empreendimentos formais.
O outro empreendimento que focamos é o das “quase-empresas capitalistas”,
que apresentam algumas características muito próximas às empresas familiares, cuja
diferença primordial é a contratação do trabalhador de forma assalariada, o proprietário
exerce também a função de trabalhador e o lucro é substituído pelo rendimento do
proprietário.
A contribuição da informalidade e seus empreendimentos, na visão de Souza
(2004) dá-se tanto no campo da troca e circulação, quanto no foco do capital, que,

30
Não foram aprofundadas na presente tese, outras atividades elencadas pelo autor, mas consideramos
importante a pesquisa e o estudo, a saber: trabalhadores por conta própria subordinados; pequenos
vendedores de serviços e serviços domésticos.
96

abrindo mão desse espaço de comercialização, prefere operar e investir em áreas com
maior retorno e estratégicas.

A segunda assinala a importância destas formas de organização na produção


e distribuição de bens e serviços, o que permitiria ao núcleo verdadeiramente
capitalista da economia “concentrar seus esforços” no desenvolvimento de
setores estratégicos. (SOUZA, 2004, p.107).

Ao ocupar um espaço “autorizado”, a informalidade se encarrega, através de


seus canais de comercialização, de atender uma franja mercadológica e, com isso,
reforça não somente seu elo com a economia formal, conforme já comentado.
A questão do espaço, do incremento ou desaceleração das atividades, as formas
de negócio e de acesso ao crédito, as trocas entre as atividades e o fluxo de renda
canalizado pelo capital e apreendido no âmbito da informalidade são, entre outros,
presentes na interrelação e implicam na construção de uma lógica de subordinação do
informal ao formal, o que produz um grau de dependência.
A questão da subordinação está atrelada ao espaço, à troca e à circulação, em
decorrência da necessidade de captura de excedentes e da valorização do capital, cujo
processo de extração e de transferência dá-se via captura de renda, quando o mercado
está organizado a um dado nível ou pela troca/comercialização via preço, quando o
capital penetra no “mercado informal”.

Por outro lado, alguns autores prefeririam ressaltar a integração desigual e


subordinada do setor informal ao formal, levando uma extração de excedente
em favor do último.
Ao invés de simples consumidor de excedente do formal, o setor “informal”
– o autor não utiliza o conceito31 - esconderia um mecanismo fundamental da
acumulação, ao transferir “mais-valia síntese” às atividades dinâmicas, o que
se justifica em virtude da base capitalística razoavelmente pobre para
sustentar a expansão industrial. (BARBOSA, 2009, p.17).

O debate sobre a subordinação também inclui a questão da autonomia que


consideramos como um ponto importante na informalidade. Nesse sentido, entendemos
que existe uma autonomia relativa dos empreendimentos informais, posto que, em que
pese não funcionar na lógica do lucro/capital, eles necessitam do mercado para a
realização de sua renda e, ao mesmo tempo que sua inter-relação com o capital efetua-se
sob algumas condições, o que limita seu campo de decisão e de realização.

31
Refere-se ao economista Francisco de Oliveira, autor da “Crítica da Razão Dualista”.
97

A heterogeneidade e a complexidade que marcam a informalidade amalgamam


esse processo. Nesse aspecto, o grau de dependência e a forma como ela se apresenta
dependem da atividade, do produto e do mercado. Evidentemente, devido à realização
da circulação “no mercado” a atividade informal acusa perda relativa de autonomia,
porém, não em nível elevado. Aqui cabe perceber distintos degraus de “autonomia”,
onde essa evolui ou diminui de acordo com a relação existente entre o informal e o
formal. Nas palavras de Barbosa (2009, p.21) “o setor informal apesar de subordinado,
apresenta relações com a economia formal, mas também possui certa margem de
autonomia”.
Essa autonomia relativa advém do tipo e da forma de atuação e de como se dá a
inserção do informal na sua relação com o ambiente formal, por exemplo, sé é muito ou
pouco dependente de crédito. A construção de um grau relativo de independência
advém de certo processo de acumulação de capital/poupança, que permite a liberdade de
escolha, o que importante ao ator informal. Assim, detectamos, em nossa pesquisa
exploratória, níveis onde o informal optava por situações, de acordo com sua
conveniência e gestão do negócio, como, por exemplo, reduzir o tempo de “trabalho na
produção” de mercadorias.
Por outro lado, a opção individual em ser informal ou permanecê-la representa
um grau de resistência e também de autonomia, porém, como já comentado, a mesma é
relativa pelos fatores já observados anteriormente. “Há pessoas que escolhem a
liberdade de empreendimento, por razões diversas, e preferem operar às margens da
regulação pública da vida econômica, e às vezes o fazem por toda a vida”. (CARDOSO,
2014, p. 13).
Por fim, destacamos como característica da informalidade, a forma como se
organizam as relações internas entre seus agentes informalidade, inclusive com os
formais. A informalidade baseia-se no tripé de bom senso, confiança e sociabilidade,
que estruturado, permite que os empreendimentos possam desenvolver suas atividades.
(PERES, 2015, KREIN E PRONI, 2010 e SOUSA,1980).
Sobre esse tripé são construídas, pelos agentes informais, relações sociais que
estruturam o funcionamento da atividade em duas áreas bem definidas no campo dos
negócios e no trabalho. No primeiro, o respeito às regras “informais” (confiança e
sociabilidade) conduz à dinâmica econômica entre as partes, para o sucesso da
negociação e das vendas, permitindo que a coordenação entre as partes – incluso o
cliente – evite atrito para o bom termo do empreendimento.
98

No campo do trabalho, onde a afrouxamento das leis trabalhistas é regra, a


confiança, o bom senso e sociabilidade estão presente nas redes sociais construídas
pelos atores, que buscam nas famílias e/ou nas amizades, os colaboradores ou
trabalhadores para exercerem funções nos empreendimentos e, em razão dos laços
familiares, evitam problemas de ordem jurídica.
Desse modo, a sociabilidade é um elemento central e dinâmico no interior do
empreendimento informal, que calca seu funcionamento nas relações de trabalho e
produtivas, principalmente no que tange a evitar os conflitos sociais e jurídicos, fato
esse se torna uma característica da atividade e fundamental para a sua sobrevivência
face os riscos que envolve em todos os níveis.
Portanto, os elementos destacados acima norteiam o exercício de construção de
nosso objeto de conhecimento, ou seja: situam-se como base matricial para o
entendimento do que se denomina de “informalidade empresarial”, como uma atividade
relevante no interior da “informalidade” que merece ser registrada e estudada.
99
100

3 CRÉDITO AO INFORMAL
3.1 As limitações do capital no processo de circulação

Para driblar a escassez de registros sobre a atividade informal, adotamos o


crédito como estratégia de aproximação da informalidade empresarial, tendo em vista
que a concessão de crédito ajuda a vislumbrar os empreendimentos informais em razão
da necessidade de capital para alavancar a atividade, principalmente quando ela possui
custos fixos, decorrentes da existência de um estabelecimento também fixo. Nesse
movimento, focalizamos um tipo específico de crédito, possível de ser concedido a um
pequeno empreendedor, sem registros formais do negócio.
A alternativa encontrada em nosso processo de pesquisa, para identificar o
informal empresarial, considera a relação entre produto/mercadoria e dinheiro/capital
monetário no processo de circulação (conforme discutiremos no próximo capítulo). Em
tais condições, entende-se, inicialmente, que o dinheiro é uma representação de valor,
assumindo a função de equivalente universal, portanto, socialmente aceitável (Marx,
2014), que está na base da circulação e, em tal processo, constitui-se a raiz do capital.

Se abstrairmos do conteúdo material da circulação das mercadorias, isto é, da


troca dos diversos valores de uso, e considerarmos apenas as formas
econômicas que esse processo engendra, encontraremos, como seu produto
final, o dinheiro. Esse produto final da circulação das mercadorias é a
primeira forma de manifestação do capital (MARX, 2014,p. 223).

Ainda que o presente estudo detenha-se em organizações não capitalistas,


vinculadas à inserção para a ocupação e sobrevivência, envolvendo um processo de
captação de renda familiar, reconhecemos que esses estabelecimentos trabalham num
ambiente capitalista, portanto, envolvidos por condições inerentes à gestão do negócio
no interior do sistema vigente. Dentre essas condições destaca-se a questão do dinheiro
e do capital para iniciar da atividade ou para assegurar a continuidade das operações,
isto é, seja investimento, seja capital de giro.
Assim, retroalimentar a atividade com capital é essencial, mas é imprescindível
observar as limitações da circulação para repor o mesmo, posto que, parte da renda
capturada é destinada para o consumo familiar, não para o estabelecimento. Em que
pese, na lógica da acumulação, o dinheiro na forma de capital apresentar um acréscimo,
neste caso, representado pela taxa de lucro, expresso na forma de D’ = D + ˄D, onde
de ˄D representa o acréscimo inicial de D para conformar o capital.
101

Como parte deste resultado é subtraído do processo para o consumo da família,


pelo fato do estabelecimento ser uma unidade familiar de sobrevivência, reduz-se o
volume disponível de recursos para o funcionamento do empreendimento. Aí reside
uma restrição e distinção, pois este recurso se destina e se transforma em “valor de uso”.

Assim, o valor de uso jamais pode ser considerado como finalidade imediata
do capitalista.Tampouco pode sê-lo o lucro isolado, mas apenas o incessante
movimento do lucro (MARX, 2014, p.229).

Além deste aspecto, é mister observar que na circulação há uma ausência da


metamorfose observada por Marx (2014), em que o processo de produção (P) altera o
valor de capital acrescendo o ˄D e, este, ratifica a função de capital, pois passa por
uma transformação, que dá sentido ao “capital” no seu caráter capitalista.
Então, Marx (2014) distingue na circulação duas formas de capital, o capital da
mercadoria e o capital monetário, de modo que ambos assumem formas funcionais do
capital, sendo que como no caso em questão não ocorre a metamorfose P, há uma
interrupção do ciclo. Assim os segmentos vinculados neste aspecto apresentam
limitações, pois se encerra um ciclo em si mesmo.
Desse modo, o capital vinculado à circulação apresenta limitação, pois ocorre
apenas a reposição do mesmo e não, necessariamente, acumulação, dado haver no
mercado apenas o encontro entre vendedor e consumidor e, neste caso, apenas a troca de
valores equivalentes, o dinheiro ‒ sendo este uma representação de valor – e a
mercadoria. Assim, apesar da essencialidade do mesmo, o capital monetário em
circulação é insuficiente para contribuir para a acumulação na forma e função operadas
no campo da informalidade.

Assim, na medida em que a circulação da mercadoria opera tão somente uma


mudança formal de seu valor, ela implica, quando o fenômeno ocorre livre de
interferências, a troca de equivalentes. (MARX, 2014, p. 233)

Marx (2011) classifica este processo de “princípio de autorrenovação”, pois a


circulação não tem essa capacidade, justificando-se então, a limitação existente no
tocante à sustentabilidade da atividade informal, que está sempre no fio de navalha da
sobrevivência do empreendimento, o que se agrava pelo risco de perda do capital
investido, sem a possibilidade de seguro para a organização e seus dependentes.
102

A repetição do processo a partir de ambos os pontos, dinheiro e mercadoria,


não está posta nas condições do próprio intercâmbio. O ato só pode se
repetido até sido consumado, i.e, até que o montante do valor de troca esteja
trocado. Não pode reacender por si mesmo. É por isso que a circulação não
traz consigo mesma o princípio da autorrenovação. Os seus próprios
momentos lhe são pressuspostos, não são postos por ela mesma. (MARX,
2011, p. 196).

Este aspecto deve-se ao fato de D’ = D + ˄D representar, nas palavras de Marx


(2014), apenas o ato de “comprar para vender mais caro ” no âmbito do que se entende
por capital comercial, movimento esse que em si apresenta limitações, inclusive por não
produzir mais valor.

É no genuíno capital comercial que a forma D-M-D’, comprar para vender


mais caro, aparece de modo mais puro. Por outro lado, seu movimento
interior ocorre no interior da esfera da circulação. Mas como é impossível
explicar a transformação do dinheiro em capital – isto é, a criação de mais
valor – a partir da própria circulação, o capital comercial aparenta ser
impossível, uma vez que se baseia na troca de equivalentes, de modo que ele
só pode ter origem na dupla vantagem obtida, tanto sobre o produtor que
compra, quanto sobre o produtor que vende, pelo mercador que se interpõe
como um parasita entre um e outro (MARX, 2014, p. 239).

Portanto, no contexto da informalidade empresarial as organizações apresentam


limites na reprodução do seu capital enquanto elemento de continuidade das suas
operações, em razão dos recursos capturados no processo de circulação serem
destinados tanto para a reposição das mercadorias e giro do empreendimento, quanto
para o uso pessoal e familiar. Isso reduz a possibilidade de um saldo ou poupança que
garanta uma margem de segurança à continuidade e expansão das organizações, o que
explica o pequeno porte dos empreendimentos ao longo do tempo, normalmente
limitado ao seu microespaço de atuação.
É neste aspecto que o crédito, como elemento externo, viabiliza a continuidade
das operações dos empreendimentos em momentos de dificuldade, através das linhas de
financiamento, dispondo recursos para investimento ou capital de giro, por exemplo.
Porém, no âmbito da informalidade o crédito se apresenta de forma diferenciada
se comprado às operações de crédito empresarial, as quais normalmente são vinculadas
a empresas reguladas e operadas por instituições financeiras de grande porte, seja de
origem privada ou governamental.
Nesse sentido, o crédito ao qual as organizações não capitalistas recorrem, é o
microcrédito, que são recursos e operações de menor porte em termos de
disponibilidade de empréstimos, com garantias em níveis suportáveis para o tipo de
103

operação, taxas de juros acessíveis e, fundamental, focados para pessoas e


estabelecimentos cuja capacidade de operação é limitada, portanto, com redução dos
riscos de inadimplemento e, ao mesmo tempo, com garantia de retorno dos empréstimos
ao intermediário financeiro.
Essa reflexão introdutória do presente capítulo, explica por que foi a partir dos
estabelecimentos que recorreram ao microcrédito que construímos o cadastro de
informantes e calculamos a amostra para a pesquisa de campo realizada, o que motiva,
um breve detalhamento, feito a seguir, sobre esse tipo de financiamento.

3.2 Microfinanças

O microfinanciamento enquanto mecanismo de crédito ou de apoio aos


pequenos empreendimentos ou às pessoas apresenta um longo percurso histórico na
economia e na sociedade, cuja origem remonta à Europa.
Nos últimos quarenta anos observa-se a retomada do debate e da implementação
das microfinanças em diversos países, ganhando visibilidade como um instrumento de
política pública, adotada em tempos recentes no Brasil, associada à concepção
estratégica de combate à pobreza, ao desemprego e à desigualdade num ambiente
capitalista, visando minimizar seus efeitos.
A primeira referência histórica sobre microfinanças é na Irlanda, no século
XVII, onde Jonathan Swift criou o Irish Loan Fund System (Sistema Irlandês de Fundo
de Empréstimo) voltado para atender os pequenos agricultores, com um alcance de
atendimento de 20% dos lares irlandeses (PATINO, 2008).
Experiência mais conhecida sobre a origem das microfinanças remete ao sul da
Alemanha, em 1846, quando um inverno rigoroso impediu o curso regular das
atividades rurais, gerando crise econômica e pobreza. Tal fato provocou, a partir da
distribuição da farinha de trigo pelo Pastor Raiffeinsen, a possibilidade de produção de
pão e, com isso, capital de giro pelos produtores. Em razão do sucesso, surgiram na
Alemanha as Associações do Pão que, além de darem continuidade ao processo,
passaram a financiar novos produtores e atividades, que alcançaram em 1912, cerca de
1.002 Bancos do Povo, os quais associavam 641 mil pessoas.
Também centenária é a experiência iniciada no Canadá em 1900, com o objetivo
de apoiar os pobres através da Caisses Poulaires, que atualmente conta com 1.329
agências de atendimento e cinco milhões de associados.
104

A repercussão mundial das microfinanças é recente, quando comparada ao seu


histórico de origem. Somente nos últimos quarenta anos ocorreu a disseminação das
operações, destacando-se a experiência do professor de Economia indiano Muhammad
Yunus32, através do Grameen Bank (Banco da Aldeia), que entrou em funcionamento
em 1983, em Jobra e Bangladesh ‒ embora suas operações remontem a 1976 ‒ cujo
modelo33 é replicado em escala global, pois rompe com os parâmetros de análise de
risco e concessão de crédito adotados pelas instituições financeiras tradicionais.
Então, no decorrer do tempo as organizações, as formas, o processo e as
operações de concessão de crédito passaram por aprimoramentos e, principalmente,
houve a transformação de um caráter autônomo ou resultado de ações da sociedade civil
para a institucionalização estatal, pois o Estado passou a adotar, como política pública, a
oferta de recursos nesta modalidade, bem como criou o aparato legal garantindo a
segurança jurídica das operações, dos recursos e dos agentes.
Esse caminho de mudanças para a institucionalização e adoção de políticas
públicas foi delineado inicialmente pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)
que, em 1991, institui o Programa de Finanzas Sociales, o qual propagava que
microfinanças consistia em instrumento estratégico de combate à pobreza, à redução da
vulnerabilidade social e de estímulo ao emprego. Desse modo a OIT, através da gestão
perante diversos atores estratégicos, estimulava não somente as pesquisas sobre o
assunto, como a alocação de recursos destinados à construção e operação de programas
de microfinanças pelos governos.
Por outro lado, na mesma linha da OIT, a mudança institucional do Banco
Mundial e seu apoio às microfinanças ocorreu de forma gradual, segundo um
perspectiva em que a pobreza passou a ser um componente, dentro da visão liberal, do
desenvolvimento econômico, combinando investimento social e crescimento
econômico, fruto de debates que ocorreram nas décadas de 70 e 80 do século XX.
Apesar disso, somente nos anos de 1990 o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID) passou a preconizar que o Estado deveria ter uma gestão eficiente com menor

32
Nascido em Bangladesh (1940), Yunnus estudou Ciências Econômicas em Nova Délhi, depois ampliou
seus estudos nos Estados Unidos. Em 1972 voltou à Índia para dirigir o departamento de Economia da
Universidade de Chittagong. Foi nessa situação que percebeu o abismo existente entre as teorias que
ensinava e a realidade em que vivia. Com a criação do Grameen Bank, comprovou sua tese de que a
pobreza existe por que o pobre não tem condições de progredir. "É conseqüência da ordem social e
econômica do mundo, regida por estruturas feitas para garantir o lucro de poucos pela prática de regras
que transferem rendas dos mais pobres para os mais ricos" (SOARES; MELO SOBRINHO, 2008, pp.
18,19). Muhammad Yunus recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2006.
33
A concepção é que sem um ativo a pessoa vive um círculo vicioso.
105

intervenção na economia, a integração econômica mundial com estabilidade


macroeconômica aliada à investimento humano e estímulo ao empreendedorismo.
Esse movimento do BID justifica a criação, em 1995, do Consultative Group to
Assist the Poor (CGAP) – contempla um consórcio de trinta e três agências de
cooperação multilateral – cuja missão era disseminar a concepção do microcrédito e
promover gestão, com o intuito de fomentar recursos a serem utilizados em
empréstimos para empreendimentos nesta modalidade de financiamento.
Para tanto o BID começou a orientar os Estados a constituírem políticas públicas
focadas no empreendedorismo, no apoio às atividades informais e nas microfinanças34,
como estratégia que combina a redução da pobreza e da desigualdade de renda 35 e, ao
mesmo tempo, promove a inclusão produtiva e o crescimento econômico. Assim, por
exemplo, a instituição atua através do International Finance Corporation (IFC), seu
agente privado, que em 2001 injetou na América Latina cerca de US$ 1,6 milhões de
dólares, ressaltando-se que as primeiras experiências foram realizadas nos Estados
Unidos.
Tal contexto justifica, tanto no Brasil, quanto na América Latina como um todo,
a construção de organismos, edição de leis, estruturas de apoio, definição de recursos e
de políticas públicas com objetivo de institucionalizar as microfinanças, seja com o
objetivo de agregar segurança jurídica, seja para disponibilizar a uma camada excluída,
um caminho para a ocupação e a geração de renda.
Na América Latina uma experiência importante é da Bolívia, onde entre 1986 e
1992 um ONG estruturou operações com microfinanças, mas devido seu crescimento
nesse, teve de institucionalizar-se como banco comercial, o Banco Sol, a fim de dar
conta da expansão de suas operações junto aos pequenos empreendimentos alcance
regional (PATINO, 2008).

(...) o caso boliviano em que uma ONG de microcrédito que iniciou


operações em 1986, com projeto-piloto de vendedores urbanos, se tornou
controladora de banco privado comercial (Banco Sol), especializado no
atendimento a microempresas do setor formal e informal. Hoje, os clientes
são 75% mulheres. A média de financiamento é de U$500, com taxa de juros
a valor de mercado e prazo de financiamento que varia de dois a doze meses.
A garantia pode ser real, com avalista ou solidária (SOARES; MELO
SOBRINHO, 2008, p. 139).

34
A visão do BID ao orientar as políticas públicas é a mesma Muhammad Yunus sobre a necessidade de
ativo.
35
O BID classifica pessoas em situação de vulnerabilidade social.
106

O Brasil registra diversas experiências próximas ao que se entende como


microfinanças, inicialmente com as famosas Caixas de Assistência, que emprestavam
recursos aos associados, além de apoio no campo da saúde e previdência. À guisa de
informação, na cidade de Bragança, no Pará, há uma dessas Caixas, de origem secular e
ainda em funcionamento.
Nas cidades de Recife (PE) e Salvador (BA), há registros de uma experiência
muito próxima às operações de microfinanças, em 1973, o Projeto Uno36 (União
Nordestina de Assistência a Pequenas Organizações), cujo objetivo era prover de
recursos os pequenos empresários, além de ofertar cursos de gestão administrativa e
financeira, trabalho era realizado em conjunto com o Accion International.
Outra experiência pioneira no Brasil é o Banco de Palmas, em Fortaleza (CE),
que atua desde 1998 na concepção de uma rede solidária de produção e consumo, cuja
gestão é coletiva, com controle social, uma estrutura administrativa enxuta e sem
remuneração (MATTEI, 2003).
No âmbito municipal enquanto política pública, registra-se a experiência da
Prefeitura de Porto Alegre com o Portosol, criado em 199637, congregando instituições
públicas e da sociedade civil, com apoio de duas instituições financeiras internacionais
que aportaram recursos para seu funcionamento, ativo até o presente momento38.
No Pará a primeira experiência institucional de microfinanças foi a da Prefeitura
Municipal de Belém, que institui em 1998 o Fundo Municipal de Solidariedade para
Geração de Emprego e Renda Ver-o-Sol, inicialmente denominado de Banco do Povo,
atualmente Fundo Ver-o-Sol, que atua com recursos do Fundo de Participação do
Município (FPM) e da quota-parte do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) do município. O foco do Ver-o-Sol é o microempreendedor formal ou
informal. É importante ressaltar que atualmente o Fundo atua em parceria com o
Governo do Estado, via Credcidadão.

36
Paralisou suas atividades em 2005.
37
Experiência, anterior ao Portosol foi o Centro de Apoio aos Pequenos Empreendedores Ana Terra
(Ceape Ana Terra) que surgiu em 1987, focado nas mulheres com baixa renda. Essa experiência findou
em 2005.
38
Atualmente a Portosol se apresenta como Instituição Comunitária de Crédito, que nasceu a partir de
uma iniciativa conjunta do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Prefeitura Municipal de Porto
Alegre, FEDERASUL e AJE-POA, para conceder crédito com pouca burocracia, rapidez e taxas
acessíveis aos pequenos empresários, registrados ou não. Essa informação consta em:
http://www.portosol.com/site/
107

3.2.1 A institucionalização das microfinanças no Brasil

Como já comentado, o Banco Mundial a partir dos anos de 1990 passou a


recomendar aos países a institucionalização das microfinanças como ferramenta de
política pública, com o objetivo de combater a pobreza e a desigualdade através do
estímulo à ocupação e geração de renda, via microempreendimentos, para reduzir o grau
de vulnerabilidade social advindo da mundialização da economia e das suas
consequências.
O Brasil se insere neste contexto principalmente após o Plano Real, que
promoveu a estabilidade monetária e da inflação. Nessas circunstâncias, o país não
somente institucionalizou a opção do microcrédito, como construiu, gradativamente, um
aparato legal visando dar o arcabouço jurídico às operações, bem como às formas,
mecanismos e tipos de organizações que poderiam atuar no segmento.
A necessidade de legislação própria e acessória ao sistema monetário brasileiro
deve-se ao fato de que as operações realizadas no âmbito das microfinanças são
idênticas às realizadas pelas instituições financeiras, porém, estas são criadas e regidas
em acordo com a previsão legal, diferentemente das instituições que atuam no segmento
das microfinanças, como Organizações Não Governamentais, os órgãos estaduais e
municipais.
Inicialmente foi aprovada a criação de instituições não governamentais
especializadas em microcrédito como Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público (OSCIP), através da Lei nº. 9.790/99, bem como foi editada a Medida
Provisória 1.922, de 05 de outubro de 1999 – convertida na Lei n° 9.872/99 – que cria o
mecanismo de garantia de empréstimo denominado Fundo de Aval para Geração de
Emprego e Renda (FUNPROGER), com a intenção de reduzir riscos e assegurar os
empréstimos aos pequenos empreendimentos formais e informais sob responsabilidade
dos bancos federais, que operavam no âmbito do Programa de Geração de Emprego e
Renda (PROGER), Setor Urbano (CARVALHO, 2012; MENDES, 2009).
Em sintonia com esses propósitos foi editada a medida provisória n° 1.894-19,
de 29 de junho de 1999, que após inúmeras reedições se transformou na Lei n° 10.194,
de 14 de fevereiro de 2001, que em conjunto com a Resolução CMN 2.627, de 2 de
agosto de 1999, permitiu a instituição das sociedades de crédito ao microempreendedor
e à empresa de pequeno porte (SCM) com atuação exclusiva na oferta de crédito às
108

pessoas físicas, a microempresas e a empresas de pequeno porte. (CARVALHO, 2012;


MENDES, 2009)
Já a Lei n° 10.735/2003 estabeleceu a fonte de recursos destinados às operações
de microcrédito – funding – por parte das instituições financeiras, tanto comerciais
quanto múltiplas, fato que ampliou o montante disponível para empréstimos e aumentou
o número de operações, pois parte dos recursos poderiam ser transferidos para as
OSCIP e as sociedades de crédito ao microempreendedor, aptas a operar em nomes dos
bancos (CARVALHO, 2012).
É importante comentar que ampliação da cobertura legal permitiu avançar pouco
a pouco a oferta de crédito, porém os recursos poderiam ser destinados tanto para a
produção, quanto para consumo, indistintamente, o que impunha limitações no tocante à
questão da ocupação e da renda. O que se torna objeto de ação enquanto marco legal
para uma política pública.
Desse modo a União gesta o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo
Orientado (PNMPO) em 2004, instituído pela Medida Provisória 226, de 29 de
novembro de 2004, a qual após aprovada se converte na Lei n° 11.110/2005, que legisla
a concessão de microcrédito focado em investimento produtivo, em que a gestão dos
empréstimos e controle é de responsabilidades das cooperativas singulares de crédito,
agências de fomento estaduais, SCM e OSCIP.
Por fim, a Lei n° 13.636 de 20 de março de 2018 revoga alguns dispositivos das
Leis nos 11.110, de 25 de abril de 2005, e 10.735, de 11 de setembro de 2003, bem como
altera alguns procedimentos para a concessão de crédito. Também estrutura, através do
Decreto nº 9.161/17, o funcionamento do Conselho Consultivo do PNMPO e do Fórum
Nacional de Microcrédito.
Esse arcabouço legal contribui para o funcionamento de diversas instituições
públicas e privadas no âmbito das microfinanças pelo Brasil, ensejando a formulação de
políticas públicas em todos os níveis de poder, onde os programas de apoio aos mini
e/ou pequenos empreendimentos formais e informais, através das instituições sob a
égide do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado, são alguns dos
instrumentos que compõem a Política Nacional de Mercado de Trabalho, orientada pelo
governo federal.
Assim, além de se tornarem o caminho de acesso ao crédito por parte dos
empreendimentos informais, as microfinanças assumem o papel de uma política
109

pública, num contexto liberal, de combate ao desemprego, a desigualdade e a pobreza


no país.

3.2.2 Microfinanças e o Credcidadão

Primeiramente é importante entender o que é microfinanças e, no interior desta,


destacar o microcrédito, que é um produto contido nas microfinanças, exercendo uma
função específica.
Microfinanças representa a prestação de serviços financeiros (poupança, crédito
e seguros) ofertados por instituições bancárias ou não a indivíduos ou micro e pequenos
empreendimentos formais ou informais, que não têm acesso ao sistema financeiro
tradicional com análise de risco e avaliação apropriados à atividade fim e, dentro deste,
está a oferta de microcrédito: empréstimos para este segmento com um caráter
produtivo e não de consumo (MARTINS, 2008).
É necessário reforçar, no entanto, que o microcrédito sob objeto deste trabalho é
aquele vinculado ao campo do investimento da atividade produtiva, portanto, sob o
arcabouço do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), cujo
processo metodológico é focado no plano de negócios, sustentabilidade e
desenvolvimento do empreendimento, portanto, considera como fim o “estabelecimento
e atividade”. Isto é, a capacidade do empreendimento de prover seu funcionamento com
uma gestão apta a produzir resultado financeiro que mantenha não somente o
estabelecimento, como transborde para a sobrevivência do seu núcleo gestor, ou seja: o
proprietário, os funcionários e os familiares.
No Pará a história do microcrédito sob responsabilidade do Estado se inicia em
1996, através do Programa Crédito Produtivo, mas sem uma legislação apropriada, que
garantisse a segurança jurídica e institucional, possuía restrição de recursos próprios
para suas operações, fator aliado à ausência de um organismo com autonomia para
gerenciar as atividades.
Paralelamente, em cumprimento à Lei n° 9.872/99 – já comentada – o Banco do
Estado do Pará (Banpará S/A) passou a operar, em 2001, com o microcrédito, sob a
carteira comercial e com operações próprias dissociadas do Programa Crédito Produtivo
(MENDES, 2009). Em 2004 Programa Crédito Produtivo ganhou nova denominação
passando a ser chamado Banco Cidadão e, em 2008, CredPará, com novas linhas de
atuação, porém mantendo a origem dos recursos, que faziam parte, à época, do Fundo
de Desenvolvimento Econômico do Estado do Pará – FDE.
110

Na transição de governo entre 2010 e 2011 as operações do CredPará foram


suspensas, retomando suas atividades em 2012 com a denominação de Credcidadão,
com recursos vinculados ao FDE e com novas linhas de crédito, especificamente para
mototaxistas e os atingidos pela construção da Usina Hidroelétrica de Belo Monte, no
município de Altamira.
Para a gestão do Crecidadão foi instituído, através da Lei n° 7.774 de 23 de
dezembro de 201339, o Núcleo de Gerenciamento de Microcrédito (NGPM), que tem
por objetivo incentivar a geração de trabalho e renda entre os microempreendedores
com necessidades financeiras. Pautado em uma metodologia específica, baseada no
relacionamento direto, com orientação educativa sobre plano de negócio, gestão do
negócio para crescimento e sustentabilidade da atividade econômica e contribuindo para
qualidade de vida da família.40
O Credcidadão é vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Econômico, Mineração e Energia (SEDEME), cuja missão é estimular o crescimento e
desenvolvimento econômico através do apoio às atividades produtivas, com políticas
públicas focadas em concessão de incentivos tributários, financiamento ou apoio ao
assentamento de empreendimentos. Os recursos do Credcidadão são destacados de parte
do FDE para serem geridos pelo NGPM, tendo como agente financeiro das operações o
Banpará S/A, que ainda mantém operação própria de microcrédito em sua carteira
comercial.
Desse modo, a visão do Credcidadão é a mesma do Programa Nacional de
Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO). Nesta linha, o desenvolvimento das
atividades é focado na sustentabilidade do empreendimento, proporcionando o plano de
negócios, a inserção no mercado e a gestão, objetivando à perenidade das operações.
O Crediciddão atua de forma regionalizada, com cinco polos regionais no
estado, em parceria com diversas prefeituras, o que amplia seu alcance no território
paraense. As operações são dirigidas tanto para os estabelecimentos formais, quanto
informais e sua atuação41 é distribuída em diversos municípios ao longo dos últimos
anos, fornecendo microcrédito a diversas modalidades e atividades. O quadro 13,
abaixo, contém os tipos e as formas disponibilizadas pelo núcleo sobre suas operações,

39
Após 17 anos da instituição do programa no planejamento do Estado.
40
Texto retirado de http://www.credcidadao.pa.gov.br/historico. Acesso em: 30 jan. 2019.
41
Apesar de inúmeras solicitações, a direção do NGPM não forneceu informações detalhadas, nem
relatórios de desempenho, limitando-se a disponibilizar os cadastros de informantes para pesquisa, as
atividades atendidas e total de atendimento em 2017.
111

bem como as taxas de juros, que são bem menores quando comparada ao praticado no
mercado bancário nacional. De outro modo, os valores de empréstimos são limitados e o
acesso é condicionado a alguns procedimentos por parte dos tomadores.

Quadro 11 - Modalidades de Crédito, Carteiras e Juros vigentes no Credcidadão.

Tipo de Crédito Carteira Garantias Limites Juros


Tipo Objetivo
Giro mercadorias, matérias- Geral Aval de Iniciantes: (até 0,5% AO
primas, insumos e terceiros, aval 06 de meses de MÊS:
serviços solidário e de atividade): Até Iniciantes,
terceiros e R$2.000,00 integrantes
Fixo ferramentas, máquinas, Batedor de aval solidário Para de programas
equipamentos; Açaí de terceiros e Empreendedores sociais,
recuperação/conserto alienação com acesso ao maiores de
de máquinas/veículos e fiduciária Primeiro Crédito 65 anos e
reformas no (com mais de 6 portadores de
empreendimento. meses de necessidades
atividade): Até especiais
R$5.000,00
Misto giro e fixo Mototaxistas A partir do 2º 1% AO
simultaneamente Belo Monte Crédito: Até o MÊS:
limite de R$ Empreended
10.000,00 ores com
mais de 06
meses na
atividade
Fonte: Credcidadão. Disponível em: http://www.credcidadao.pa.gov.br/historico. Acesso em: 20 jun.
2018.

Em 2016 e 2017 as operações do Credcidadão revelam que a crise econômica


afetou a disponibilidade de recursos para empréstimos, bem como os números de
operações, posto que neste último ano observa-se recuo na quantidade de atendimento e
no volume dos empréstimos, conforme observa-se no quadro 14.

Quadro 12 - Operações e Valores dos Empréstimos liberados pelo Credcidadão.

Ano Operações (1) Valor (R$ em milhões) (2)


2016 1.539 12,0
2017 3.424 10,4
Fonte: NGPM e Mensagem Governamental a Assembleia Legislativa do Estado do Pará.
Chamada:
1- Informação fornecida pelo NGPM
2- Informação retirada da Mensagem Governamental a Assembleia Legislativa do Estado do Pará

Portanto, é a partir das operações realizadas pelo Credcidadão com


estabelecimentos e/ou empreendimentos que procuram o microcrédito para apoio as
suas atividades, que estão dentre as especificidades do informal empresarial, que a
presente pesquisa evolui para apreender as características desse agente, a fim de ter
condições para efetivar uma categorização deste, no âmbito da informalidade. Assim, as
112

informações cadastrais dos estabelecimentos, que permitiram a construção das bases da


pesquisa de campo, essencial para objetivo da tese.
113
114

4 CAPITAL, CIRCULARIDADE E INFORMALIDADE


4.1 Uma transição sem fim

O ambiente, heterogêneo e complexo da informalidade replica-se no contexto


das relações econômicos construídas no ambiente do capital, e portanto, no mercado
onde representam caminhos e ações específicas que, em determinados pontos, se
conectam, apesar de manterem suas características individuais.
O que se tem, na realidade, é a coexistência de unidades econômicas distintas,
que no mercado se entrelaçam, numa simbiose onde o fluxo entre ambas alimenta e
retroalimenta a dinâmica das mesmas, considerando a especificidade de cada uma, cuja
linha divisória – que é tênue – é o mercado. É tendo em vista esse processo, que
analisamos a estrutura do campo informal.

Figura 4 - Diagrama Relação entre unidades formais e informais.

Fonte: Elaboração do autor.

O propósito de interpretar a informalidade, sobretudo a informalidade


empresarial caracterizada em suas especificidade, em sentido complementar às
interpretações já existentes, conduz à percepção de que na informalidade, há
empreendimentos que se diferenciam da forma e do movimento do ambulante, do
comércio ambulante fixo nas ruas ou do autônomo, por exemplo.
Em algumas de suas nuances a informalidade empresarial registra uma lógica de
funcionamento próxima à de empreendimentos legais, como no que diz respeito à
gestão, mas, mantém na sua estrutura o caráter informal e familiar. Nesse sentido,
retoma-se a compreensão de Marx (2014) sobre resistirem, no processo de afirmação do
sistema produtivo capitalista, atividades com lógicas diferentes, as quais tendem a
115

desaparecer com o tempo ou a serem incorporados aos princípios capitalistas (produção


mecanizada, a tecnologia e inovação, assalariamento, o lucro etc.).
A presença da indústria domiciliar a ou da manufatura com sua divisão de
trabalho artesanal, bem como das pequenas indústrias, são exemplos dados pelo autor
(MARX,2014) sobre a coexistência do arcaico/atrasado com moderno – baseado nas
maquinarias – no que tange à emergência da produção fabril em escala capitalista e para
o mundo.

Mas essa reprodução do artesanato com base na maquinaria constitui apenas


a transição para a produção fabril, que, em regra, surge sempre que a força
motriz mecânica, vapor ou água, substitui os músculos humanos na tarefa de
movimentar da máquina. (MARX, 2014, p. 531).

No entanto, os avanços fabris gradativamente – e de acordo com os interesses do


grande capital –, passaram a ser transferidos também para modernizar as regiões
periféricas ou subdesenvolvidas em áreas específicas, nas quais o lucro e a mais-valia se
mostram relevantes, ou seja, conformam-se espaços privilegiados e selecionados no
interior do mercado, que fica em parte "descoberto" ou permite a coexistência de
atividades não assentadas nas regras capitalistas, entre as quais, a informalidade, cuja
presença remonta desde do período colonial até os dias atuais.
Assim a concepção de Marx, acima referida, não cabe para analisar a
informalidade no contexto mundial contemporâneo, pois constata-se que aquilo que
poderia se concretizar apenas como um processo de transição, para eliminar as
atividades não capitalistas, não se materializou dessa maneira, principalmente em
regiões periféricas, onde a informalidade, por estar presente de forma representativa,
retrata esse confronto, ou melhor dizendo, esse convívio, entre o avançado e o atrasado
(será?), em um mesmo espaço, sob domínio do capital.
A informalidade acompanha a transformação da economia brasileira, que passou
de uma base primária exportadora para industrial, modernizando as relações de trabalho
e a estrutura do capital. Apesar disso, a informalidade persiste, como resistência ao
capital e opção de sobrevivência. Nesse sentido, ressalta-se que ela também passa por
transformações42, como é o caso da informalidade empresarial.

42
Uma das formas de transformação no interior da informalidade é o que Antunes (2013) denomina
infoinformal, para designar trabalhadores que desenvolvem suas atividades no ambiente das tecnologias
digitais de informação e comunicação conectadas em rede mundial de computadores, a internet.
116

Compreender a atividade enquanto força social e econômica numa lógica


capitalista e, no caso, a sua resistência no seu espaço, perpassa por entender as suas
funções, especificamente, na forma do seu enquadramento.
Há um espaço econômico próprio, onde a atividade informal transita, produz e
se reproduz através do desenvolvimento de relações próprias (SOUZA, 1980). O
volume, bem como a intensidade e a maneira que os informais executam suas funções
produtivas e sociais não são de interesse do capital, porém, esse conjunto de ações no
ambiente micro tende a exprimir um grau elevado de representatividade, que se amplia
quando abordado em sua profundidade. Assim, para Souza (1980), há dois espaços que
coexistem permitindo que cada atividade desenvolva suas ações com apreensões de
lucro/mais-valia e renda, a saber:

Inicialmente devemos definir o “espaço econômico” de uma economia ou


país qualquer, como sendo o volume total de sua produção de bens e
serviços. Uma parte desta produção vai ao mercado e outra é elaborada pelas
próprias pessoas que a consumirão. A produção para o mercado é realizada
por unidades econômicas de diversas naturezas, desde empresas capitalistas
até simples trabalhadores autônomos.
Isso tudo não significa que o espaço econômico da pequena produção tenda a
desaparecer ao longo do processo de desenvolvimento capitalista de uma
economia qualquer. Ao contrário, esse espaço pode até mesmo crescer em
termos absolutos (SOUZA, 1980, p. 77-78) (grifo do autor).

É neste espaço que a informalidade se aloca, desenvolvendo suas relações. Sua


expressão na economia e na sociedade brasileira pode ser aferida pelo número de
pessoas com ela envolvidas, 42,18% da população econômica ativa 43, ou pode ser
medida por meio dos recursos econômicos capaz de movimentar. Conforme observado
no trabalho de Barbosa Filho (2013), em 2013 foi estimada uma movimentação na
ordem de R$ 730 bilhões de reais, que representou algo na ordem de 16,6% em termos
de participação no produto interno brasileiro (PIB).
Este espaço, conforme frisa Souza (1980), é vital para o desenvolvimento da
atividade informal em todos os seus níveis, pois é onde se concentra uma considerável
massa de trabalhadores, não inseridos na lógica do regime capitalista, que trabalham e
ofertam uma ampla variedade de produtos e/ou serviços à sociedade.

Isso significa que tais atividades devem apresentar um elevado “grau de


facilidade de entrada” de novos “produtores”, principalmente à luz
prevalecente no núcleo capitalista. Assim sendo, o produto médio das
atividades mercantis simples é a variável que ajusta o tamanho do espaço

43
Calculado com base na PNAD-Contínua do IBGE no trimestre encerrado em março de 2017.
117

econômico ao número de produtores que garantem sua sobrevivência atuando


nesta franja de mercado. (SOUZA, 1980, p. 92).

Registra-se nesta extensão uma gama de empreendimentos, notadamente


organizações não tipicamente capitalistas de produção, onde a informalidade, com toda
sua heterogeneidade, está presente enquanto atividade. Souza (1980) tipifica as diversas
formas de organização agrupadas no interior dessas formas de empreendimentos, como:
as empresas familiares, os trabalhadores por conta própria subordinados, os pequenos
vendedores de serviço, o serviço doméstico e as quase empresas capitalistas, nas quais,
segundo nosso entendimento, se inclui parcialmente a informalidade empresarial.
De acordo com o autor, as "quase empresas capitalistas” possuem algumas
características, como o fato de o proprietário exercer a função de trabalhador e também
de gestor. Ele também identifica um grau de assalariamento, porém com regras
informais. Afirma ainda que o funcionamento delas se assemelha à lógica das empresas
familiares e que estão presentes na economia e no território como um fenômeno a
ocupar um espaço próprio. Quanto a isso, Meirelles e Athayde (2014) observam que:

Muitos dos pequenos empreendimentos nessa área derivam das ações de


fomento dos bancos comunitários, que hoje são mais de cinquenta no Brasil.
É o caso do Banco de Palmas, fundado em 1998, no Conjunto Palmeira,
bairro de 32 mil habitantes, na periferia de Fortaleza, no Ceará. Operando sob
o princípio da economia solidária, no campo do microcrédito, a organização
estimula a produção e o consumo, gerando trabalho e renda para a
comunidade.
Centro tradicional de atividade empreendedora, a Rocinha é outra referência
para as comunidades em busca de fórmulas de desenvolvimento. Mais que
um bairro, é uma cidade, com escolas, casas de show, academias de ginástica,
lojas de fast-food e serviços de todos os tipos, que reúne de costureiras a
cabeleireiras, de técnicos em computação a dedetizadores. De acordo com o
Censo Empresarial de 2010, a Rocinha tinha 130 mil habitantes e
aproximadamente 6 mil empreendimentos, a maior parte atuando na
informalidade. Considerados os moradores que trabalham, a Rocinha é a
favela campeã em empreendedores, 10,1% contra 8,5% no Alemão.
(MEIRELLES; ATHAYDE, 2014, p. 73).

A ambiência e o movimento a que se referem Meirelles e Athayde (2014)


representa o que Santos (2003) denomina "circuito econômico", com suas
características próprias em termos de estrutura, trânsito e forma de apresentação à
sociedade.
Assim, longe de ser um problema, em razão de suas características, a
informalidade, e no caso específico, o empreendimento informal, pode representar um
nível de solução, conforme observaram os autores, que possuem a vivência da favela
118

como um lugar de exclusão, alvo de preconceitos e diversas formas de discriminação


por parte de quem se encontra fora delas. A questão, portanto, exige compreender a
dinâmica dessa informalidade no interior do circuito econômico.
Nesse sentido, Santos (2003) ao estudar a lógica das cidades e da economia
espacial, desenvolveu ferramenta teórica que se aplica a este processo, denominada de
circuito superior e circuito inferior. Para nós, essa interpretação analítica permite
iluminar a estrutura produtiva onde se assentam os empreendimentos informais.
O autor caracteriza como circuito inferior a esfera onde se desenvolve a pequena
produção – em diversas e distintas atividades –, num dado espaço, em que os
empreendimentos são integrados e com impactos no lugar, atendendo franjas de
mercado, em razão do nível de renda do público alvo. O capital investido e a tecnologia
utilizada são reduzidos, em razão do porte da atividade, que proporciona também um
baixo nível de emprego e de organização.

O circuito inferior é constituído essencialmente por formas de fabricação


não-capital intensivo, pelos serviços não-modernos fornecidos “a varejo” e
pelo comércio não-moderno e de pequena dimensão. (SANTOS, 2004, p. 40).

É importante atentar que o autor também inclui no seu conceito as micro e


pequenas unidades econômicas reguladas, mas a partir dessa matriz analítica
consideramos a informalidade como componente do circuito inferior. E, nesse âmbito,
inclui-se a informalidade empresarial, embora, a sistematização de suas características
aponte, conforme discutiremos de forma mais aprofundada no capítulo destinado à
análise dos dados oriundos da pesquisa de levantamento, que seu nível de organização
não é baixo e tende a se elevar, apesar do caráter informal.
Assim, primeiramente é necessário considerar o espaço de atuação do informal
no interior do circuito, seu papel na economia e perante seu mercado próprio, no qual as
vendas fragmentadas e/ou a crédito – na base da confiança – representam o acesso ao
consumo de bens e serviços por parte de uma população com menor nível de renda.

O papel essencial do circuito inferior é o de permitir que as classes menos


favorecidas tenham acesso, por formas especificas de comercialização, aos
produtos fabricados no circuito superior, bem como o de produzir, ele
mesmo, os bens de tipo moderno ou tradicional que comercializa através de
seu aparelho próprio. (SANTOS, 2004, p. 92).

Então, considerando-se que a economia formal e informal sejam faces de uma


mesma moeda, admite-se haver conexões estruturais entre esses segmentos. Conexões
119

que se refletem em termos de fluxo, o que significa uma interrelação entre produtos e
transferência de renda – Santos (2004) denomina de "poupança popular" – que alimenta
essa ação continuada, consolidada na informalidade num mercado coeso, onde as
atividades são desenvolvidas, ocasionando impactos relevantes no ambiente local e/ou
microespaço.

Assim, não há dualismo: os dois circuitos têm a mesma origem, o mesmo


conjunto de causas e são interligados. (SANTOS, 2004, p.56).

Contraditoriamente ao circuito superior, o inferior é bem sedimentado e goza


de relações privilegiadas com sua região. (SANTOS, 2003, p.126).

Em que pese lógicas e modos de produção distintos entre os segmentos, as


conexões existentes procuram, no espaço, encontrar para ambos, os caminhos que
permitam, a seu tempo e sua forma, a melhor estrutura para obtenção do “valor” nas
suas transações. O que de um lado se traduz em “valorização do dinheiro”, do outro
corresponde à “renda”, o que explica a linha que separa e une o formal e o informal.
A necessidade de acumulação de capital explica a conexão e o fluxo existente
por parte da economia superior. O “valor” é devido à questão de capital de giro e,
fundamentalmente, à apreensão do excedente, que se transforma, para o informal, em
renda e sobrevivência, incluso a de seu empreendimento.
A conjunção de diversos empreendimentos, num conjunto de atividades em
múltiplos campos, redunda na representatividade da informalidade no seu espaço.
Assim, o grau de influência da mesma dá-se no campo local e/ou micro, porém, no
âmbito macro, ela também é representativa, pois estima-se que detenha quase 20% do
PIB. Esse percentual é resultado do nível de ocupação dos informais sobre o total de
trabalhadores, bem como da renda, respectivamente, 46,5% e aproximadamente 28%
(PNAD Contínua – 1° trimestre/2017). Sendo que essa dimensão pode ser maior, pois,
parte dos dados são estimados em cima de informações não apropriados para apreender
o fenômeno.

Se o circuito inferior oferece à população pobre um grande número de


empregos, é graça à soma de possibilidades oferecidas pela multiplicidade de
pequenas empresas, em geral familiares ou individuais. Cada unidade de
produção, de comércio ou de serviços, entretanto, só pode oferecer um
número pequeno de empregos. (SANTOS, 2004, p. 223).
120

De outro modo, a informalidade engloba diversas atividades produtivas


distribuídas por dois setores: o industrial, em menor quantidade ‒ que é bem mais difícil
de ser capturado em sua dinâmica ‒, e o terciário, este mais perceptível em razão das
atividades comerciais, incluindo a dos ambulantes, e dos serviços de fácil acesso à
sociedade.
Assim, o quadro 11, abaixo, sistematiza as principais características que
envolvem a informalidade empresarial no interior do circuito inferior. O mesmo foi
construído a partir de contribuições teóricas de Santos (2004), bem como dos dados
oriundos da pesquisa de levantamento desta tese, que agregam significados,
especificidades e características, que embasam a lógica da informalidade empresarial.

Quadro 13 - Matriz de Características da Informalidade Empresarial.

VARIÁVEIS CARACTERÍSTICA
Entrada Desemprego, opção ou decisão familiar
Capital reduzido e atomizado
Nível de capital
Capital de giro limitado às operações
Mão de obra familiar e/ou conhecido
Emprego
Relações de trabalho informais e na base da confiança
Elevado, seja por ausência de regulação, fiscalização e/ou
Risco
não retorno do mercado
Renda auferida Variável, porém, em média igual/ou superior 5 S.M
Mercado Espaço local
Relações de negócio em bases sociais de confiança
Comercialização Venda direta; monetização e uso de ferramentas bancárias
Trabalho por encomenda
Específicos ou reduzidos
Produtos
Diversificados
Gestão familiar
Organização
Captura de renda e não de lucro
Crédito Crédito familiar; agiota ou indenização trabalhista
Mínima ou apenas a necessária para a atividade
Tecnologia
Uso da web para comercialização e propaganda
Caracterização orgânica Posse do meio de produção
Espaço de Comercialização Local fixo próprio ou alugado (maioria)
Mercadorias
Relação com o capital
Transferência de poupança popular ou excedente
Fonte: Elaboração do autor, com base em Santos (2004, p.44) e na pesquisa Importância do Pequeno
Empreendimento na Economia (2018).

As características da informalidade empresarial são abarcadas pelo conceito


formulado por Santos (2004) e, principalmente, a forma como ela se apresenta à
sociedade, em seu conjunto, ratifica seu enquadramento no circuito inferior, onde
desenvolve suas atividades.
Os meandros do processo de funcionamento da informalidade empresarial
requerem maior observação para si, de modo que suas características tornem-se
121

evidentes, posto que essa informalidade existe concretamente, funcionando segundo


uma lógica semelhante a de um estabelecimento regulado, em muitos aspectos, o que
representa uma distinção, quando comparada com o camelô e seu tabuleiro ou com o
vendedor ambulante, porta a porta etc. No contexto mundial contemporânea, dadas as
circunstancia de crise do capital, bem como do poder público, há sinais que apontam
para um momento de inflexão na atividade como um elemento aceitável no cotidiano da
sociedade, fugindo do estigma de marginalidade.

4.2 Do circuito à valorização

O espaço e as formas não capitalistas são alguns elementos para entender


informalidade não somente como um fenômeno social e estrutural do capitalismo, como
de outro modos de produção. Como diz a canção “o tempo não para” (Cazuza, 1988),
aforismo que se presta ao entendimento da interligação de algo aparentemente
contraditório, o externo e o estrutural. A relação informal ‒ capital é uma moeda com
suas duas faces e com movimento temporal, isto é, o ciclo que envolve a reprodução e a
valorização. Desse modo, o capitalismo é um motor, cujo tempo de funcionamento é
contínuo, não pode parar, e não para.
Seguindo a mesma linha, o adágio “tempo é dinheiro” ratifica, por meio da
sabedoria popular, que a variável tempo é intrinsecamente vinculada ao movimento do
capital, pois exerce influências nas perdas e ganhos. Dinheiro parado não rende, nem se
reproduz e tampouco se valoriza. O mercado monetário é a expressão máxima dessa
afirmação, pois a decisão de aplicar ou não é um hiato temporal diretamente responsável
pela realização dos ganhos ou das perdas, em fração de segundos, sobretudo depois dos
avanços no campo da microeletrônica.
Portanto, o tempo é um elemento presente nas relações de produção e de
circulação, assume, simultaneamente, uma função endógena (no interior do ato
produtivo) e exógena. Nessa última, se faz presente na comercialização – desde a oferta
até a venda final – influenciando ganhos e perdas em termos de liquidez imediata, posto
que, quanto maior o tempo na comercialização das mercadorias – capital mercadoria
parado – implica que a reprodução do capital fica comprometida e, consequentemente,
sua realização, bem como sua valorização.
A informalidade expressa outra face do caráter estrutural do capital, ao refletir
suas condições de sobrevivência, isto é, a reprodução e a valorização de forma contínua,
que determinam a existência de canais que dão vazão às mercadorias, onde o fator
122

tempo é um elemento essencial. Nesse sentido, a informalidade, enquanto mecanismo


de compra e venda, se apresenta como um meio para a realização do consumo.
É na dinâmica do circuito da circulação que se insere a informalidade e, no caso,
o tempo pode atuar como mecanismo de restrição ao processo de reprodução e
valorização. Assim sendo, abreviar o tempo para gerar maior rotatividade e
consequentemente, valorizar o capital, é essencial para a sobrevivência do sistema, no
qual o tempo não pode ficar restrito aos mecanismos formais como únicos canais de
comercialização, o que enseja a gestação de outro meio de vendas, no caso, via
informalidade.
Compreender a informalidade e a sua dimensão num contexto social e
econômico, exige apreendê-la como um movimento do capital e de seu ciclo, logo é
forçoso admitir que a mesma é um componente estrutural na lógica capitalista 44.
Ora, como já observado por Marx (2014), o movimento do capital é temporal e
se apresenta na dimensão da produção e da circulação. É nesta última que a mercadoria
(capital-mercadoria) está disponível para a comercialização e representa a
transformação do capital, fato que gera um problema ao capitalista, pois um tempo
maior de circulação ou de parada, à espera do consumo, ocasiona dificuldade no retorno
a sua função de capital-monetário45. No caso, na reprodução do capital e sua
valorização.

Se considerarmos o ciclo em sua forma mais simples, em que o valor de


capital passa inteiramente e de uma só vez de uma fase a outra, é então
palpável que o processo de produção – e, com ele, a autovalorização do
capital – é interrompido enquanto dura seu tempo de circulação e que a
duração deste último determina a velocidade da renovação do primeiro .
(MARX, 2014, p. 204).

O tempo de comercialização, neste caso, é um elemento essencial na valorização


do capital, especialmente o de curso ou de circulação, influenciando todo o ciclo do
capital. Como explicita Marx (2014), a venda da mercadoria é um ato importante na
cadeia do capital, por ser ela que realiza a transformação da mercadoria em dinheiro e
esta passagem encerra em si, a mais-valia, contida no M’ – D’. “Porém, M’– D’ é, ao

44
Como o objeto do artigo é perceber a lógica estrutural da informalidade, não daremos atenção a pontos
importantes, como o entendimento do ciclo do capital como processo (na lógica D – M – D`), a rotação
do capital, acumulação, concentração etc., como as demais categorias que compõem a análise marxista.
45
Uma parte é a mais-valia realizada e outra parte vai se transformar em mercadoria insumo, para uso no
processo de produção, no caso, capital produtivo.
123

mesmo tempo, a realização do mais valor contido em M’. O mesmo não ocorre em D-
M. Daí a venda ser mais importante do que a compra.” (MARX, 2014, p. 206).
O cerne da questão é abreviação do tempo como elemento vital de reprodução e
valorização, dado o caráter transitório da mercadoria que contém, ao mesmo tempo, o
valor de troca e o valor de uso, porém, o primeiro precisa se realizar através da venda e
no menor espaço de tempo, devido à mais-valia, que funciona como elemento para a
continuidade do ciclo e sustentabilidade do capital, o que afeta e coloca em risco este
último, quando da não realização da comercialização.

Se dentro de certo prazo elas não entram no consumo produtivo ou


individual, de acordo com sua destinação, ou dito de outro modo, se não são
vendidas em tempo determinado, elas perecem e perdem, com o valor de uso,
sua propriedade de serem portadoras de valor de troca. Perde-se tanto o valor
de capital nelas contido, quanto o mais-valor que foi a ele adicionado. Os
valores de uso só permanecem portadores do valor de capital que se pereniza
e valoriza quando se renovam e reproduzem constantemente, sendo repostos
por novos valores de uso do mesmo ou de outro tipo. Mas, a condição sempre
renovada de sua reprodução é a sua venda em sua forma-mercadoria acabada,
ou seja, sua entrada no consumo produtivo ou individual (MARX, 2014, p.
207).

Podemos afirmar que a informalidade é um elemento estrutural, presente no


tempo de circulação ou de curso, pois, a comercialização das mercadorias por este
circuito enseja a transformação do capital-mercadoria na forma de capital monetário,
portanto, contribuindo para o processo de valor do capital em paralelo à lógica formal,
exercendo um papel auxiliar e importante para a continuidade do processo de venda e
fluxo do capital.
Desse modo, o caráter informal contribui para abreviar e/ou reduzir o tempo de
permanência do capital-mercadoria na circulação, através de um canal que permite a
realização do consumo por uma parcela da sociedade que dele estaria à margem, em
razão da desigualdade do sistema, e ao mesmo tempo, permite valorização do capital,
pois a informalidade complementa as vendas. Consequentemente, há o rebatimento da
receita desse tipo de venda aos informais por parte dos formais, que são os produtores
das mercadorias comercializadas.

Suas ligações funcionais com o circuito superior da economia lhes atribuem


particularmente uma função de correia de transmissão para produtos
modernos e mais geralmente um papel de coletor da poupança popular,
reenviada para o circuito moderno nacional ou estrangeiro por intermédio dos
atacadistas e, depois, bancos.
124

Com efeito, a circulação do capital é assimétrica: para baixo ela é fraca, mas
é substituída pela circulação de bens; para o alto a circulação do capital é
importante, depois que as mercadorias revendidas a preço muito elevado
asseguram uma taxa de lucro excessiva aos intermediários. (SANTOS, 2003,
p. 99).

É preciso deixar claro que no referido contexto, a informalidade tem a missão de


acelerar o tempo de circulação da mercadoria no seu retorno ao capitalista sob a forma
de capital-monetário ou, em outras palavras, a mercadoria produzida por um
empreendimento formal é vendida ao informal, que não gera mais-valia pelo seu ato de
comercializar e, sim, abrevia o tempo de curso.
Portanto, o que importa é a realização do consumo, e este se dá no ambiente da
circulação das mercadorias onde se concretiza a transformação do bem em dinheiro.
Nesse caso, retornando ao circuito do produtor capitalista, para dar continuidade ao
processo de reprodução e valorização.

O atacadista está no topo de uma cadeia decrescente de intermediários, que


chega frequentemente ao nível do “feirante” ou do simples vendedor
ambulante. Através desses intermediários e pelo crédito, o atacadista leva um
grande número de produtos aos níveis inferiores da atividade comercial e
fabril e, assim, a uma gama extensa de consumidores. O volume global dos
negócios que realiza no circuito inferior dá a dimensão de seus negócios
bancários e também de sua participação no circuito superior. Elemento
integrante do circuito superior, o atacadista é também o cume do circuito
inferior. (SANTOS, 2004, p. 41).

Assim, é no tempo de circulação (TC) da mercadoria que o acesso a ela, bem


como seu consumo através do meio informal, contribuem para a reprodução e a
valorização do capital. Podemos descrever que a circulação se dá em dois níveis:
(1) TC = TC Formal + TC Informal.
O primeiro circuito ‒ TC Formal – ocorre no ambiente da economia formal,
com controle, regulação e produção de informações de fluxo. Em paralelo, não menos
importante, o acesso das mercadorias para posterior venda pelo informal completa o
segundo circuito, entendido por TC Informal, que disponibiliza sobre uma outra ótica
as mercadorias, em parte, para um segmento com restrições de acesso à lógica da
formalidade.
De maneira simplificada, TC Informal cumpre um papel importante que é
abreviar o tempo de rotação do capital46 contido na mercadoria. Nesse caso a

46
Podemos definir rotação como ciclo do capital, como processo contínuo que se chama de rotação de
capital. A duração da rotação é determinada pelo tempo da produção e tempo da circulação. A soma dos
tempos é o tempo da rotação.
125

disponibilização das mercadorias pela informalidade não só completa uma parte do


circuito da circulação como também acelera a rotação pela disponibilização dos
produtos ao informal. A rotação pode ser entendida como:
(2) N = R/r.
O N é o número de rotação e o R é período temporal das rotações (ano, por
exemplo), portanto fixo, e r é o tempo de rotação. Este último, o tempo de rotação do
capital, é composto pelo tempo de produção e de circulação onde contém a circulação
formal e a informal, o que significa que a informalidade está no interior do capitalismo.
Dessa maneira, compreende-se que a informalidade é parte integrante do
capitalismo e cumpre uma função importante na circulação de mercadorias,
contribuindo para a reprodução e valorização do capita. Nesse sentido ela é estrutural ao
sistema, afinal encontra-se no interior dele, no âmbito do canal de comercialização de
bens e serviços. Ao se concretizar pelas empresas formais o fornecimento das mesmas
para a informalidade, tais empresas realizam seus lucros.
Negar esse entendimento, seja pela invisibilidade ou pelo caráter marginal da
atividade, se contrapõem não somente a sua manutenção, como também, à
permissividade que o próprio capitalismo viabiliza em sua existência, enquanto canal ou
espaço, porém como uma franja específica de atuação.
Essa franja específica do sistema é permitida em razão da lógica da economia
formal, que tem em si um custo de transação, que por si só é precificado. Ao atender o
consumo informal através da oferta de um conjunto de bens, para uma parcela da
sociedade em grande parte excluída ‒ devido à renda, à inserção social e ou via preços
que juntos ou separadamente impedem que esta parcela possa ser atendida ‒, pelo canal
formal.
A informalidade, seja pela sua origem em termos de formação orgânica ou de
lógica de funcionamento enquanto canal de comercialização, é um fenômeno estrutural
do capitalismo, a apresentar diversas faces e categorias, em um universo cuja dimensão
é complexa e heterogênea, devido os inúmeros atores e relações contidas no seu interior,
com diversas interfaces.

4.3 O caráter semiautonômo

Marx (2014), Souza (1980) e Santos (2003) apontam não somente para a
existência de unidades produtivas não capitalistas, como para o fato de que a atuação
delas ocorre num circuito específico. Neste sentido, é imprescindível observar a
126

inserção de tais unidades no mercado, determinando uma maior aproximação ou um


certo grau de distanciamento. Buscando a lógica do processo que move a informalidade,
Krein e Proni (2010) num esforço de sistematização das diversas categorizações
distinguem, dentro da mesma, os diversos atores e como eles estão inseridos na relação
com o capital e o mercado.
Assim, Krein e Proni (2010) agrupam os atores em maior ou menor
aproximação com o capital, ou, especificamente, uma informalidade anterior a 1990 e
uma posterior a esta década, a saber: a) informalidade tradicional até 1990 e nova
informalidade pós 1990.
O que se percebe no cotidiano das cidades é um conjunto de unidades produtivas
que são distintas das formas capitalistas e que atuam numa dinâmica própria, apontadas
pelas observações de Marx (2014), Souza (1980) e Santos (2003), e no campo que
Krein e Proni (2010) denominam "informalidade tradicional até 1990". Isso significa
que essas atividades estão num processo paralelo à lógica do capital, porém
convergentes a ele, pois há pontos de encontro, ou seja, com uma interseção que as
garante um certo grau de autonomia, o qual não chega a ser pleno.
O diagrama abaixo ilustra o exercício do processo de inserção dos atores
"informalidade tradicional até 1990" (KREIN; PRONI, 2010). Entre eles, estão o que
denominamos de informalidade empresarial, os quais são semiautônomos e se
apresentam num caráter estrutural, em que sua inserção com capital dá-se no campo
indireto.
127

Figura 5 - Diagrama Relação Informalidade - Capital Estrutural Indireto

Fonte: Elaboração do autor, 2018.

Os atores que compõem a informalidade empresarial são os proprietários dos


seus meios de produção, fato este que lhes garantem um grau de autonomia, por isso
eles possuem um caráter semiautônomo na condução de suas atividades, seja pela forma
de gestá-las, seja pela forma do processo produtivo sob seu domínio ou por atuarem em
um circuito próprio distinto e consentido pelo capital, no caso, o circuito inferior
(SANTOS, 2003).
O fato de ser proprietário dos meios de produção e atuar em circuito próprio de
comercialização também permite distinguir o informal empresarial dos informais pós
ano 1990, que têm uma relação direta com o capital, como observa Tavares (2004) e
Krein e Proni (2010) ao apontarem, respectivamente, façionismo – sistema de trabalho
correspondente a prestação de serviços como se observa no setor têxtil – e as falsas
cooperativas. Nesses casos há uma relação direta com o capital, são formas de um tipo
128

de informal estrutural direto, pois sua atividade é vinculada à produção e produzem


mais-valia, apropriada sob forma de mercadoria.
Por outro lado, por estarem situados no campo da circulação do capital, via relação
de compra e venda de mercadorias com intuito de produzir ou comercializar bens, os
informais empresarias atuam indiretamente no campo da valorização do capital, através
da matriz monetária ou circulação da moeda, portanto, sob um outro prisma, pois a
atividade final – o produto – não é absorvida pelo capital ou vinculado a este, como a
produção terceirizada.
É através da aquisição de insumos e/ou mercadorias que o informal empresarial
estrutura sua relação com o capital intermediado pelo mercado. Nessa relação o grau de
autonomia também depende da forma e da velocidade de acesso aos serviços financeiros
– que pode limitar o raio de atuação – e à corrente de renda absorvida via excedente,
pois, se o fluxo ao capital se apresenta em maior velocidade, isso implica em redução no
movimento e na atividade.
Dessa forma, considera-se que os atores constituintes da estrutura da
informalidade empresarial encontram-se noutro patamar na sua relação com o capital,
não necessariamente livres, mas mantendo intercessões, inclusive por estar no interior
do mercado e da lógica de funcionamento do capitalismo, consequentemente sujeitos a
interferências e/ou submissões.

4.4 Evidências empíricas da informalidade empresarial

É importante perceber como a informalidade empresarial interage social e


produtivamente no seu interior e com os demais agentes informais, bem como captar
seu movimento e suas relações para abstrair a representatividade política, social e
econômica dos seus agentes na sociedade.
Inicialmente quem coloca a questão sobre a existência de um tipo de
informalidade diferenciada do já estabelecido é Santos (2003), quando do seu estudo na
cidade de Lima (1970), no Peru. De outro modo, quem também sinaliza sobre essa
forma de informalidade é o pesquisador Pedro Abramo (2001), que, num trabalho sobre
mercado imobiliário informal (preço, localização e uso do solo) nas favelas cariocas no
final dos anos de 1990, identifica este fenômeno e aborda, tangencialmente, a questão,
mas sem categorizá-la, afinal o foco de seu trabalho era outro.
129

Em pesquisa recente sobre a localização do emprego de moradores de favelas


no Rio e em São Paulo, verificou-se que um percentual importante desses
moradores trabalhava na própria favela. Assim, a favela pode também ser
vista como um local de concentração de atividades de comércio e serviços
(informais) que geram um fluxo de recursos que constituem um circuito
econômico interno na favela que alimenta o mercado imobiliário local.
(ABRAMO, 2001, p. 1567).

Na mesma direção, Rodrigues e Borges (2012) abordam as origens, o processo


de inserção e as relações dos atores e suas atuações no mercado, seja comercial, seja de
serviços. No caso, identificam atividades onde claramente há informalidade empresarial,
porém, a denominam genericamente como informal, não classificam, nem categorizam.
De outro modo, alguns autores trabalham com o conceito de firma, formal do
ponto de vista jurídico, porém atuando de maneira informal a fim de sonegar impostos e
não regularizar seus funcionários, os quais exercem seus trabalhos sem direitos,
portanto, na informalidade, possibilitando a conformação de dois ângulos da questão
informal47.
Já outros autores consideram a existência de firmas informais que desenvolvem
atividades no campo da informalidade, como é caso Ulysses, Szerman e Cabral (2017),
que estudam a presença dessas firmas informais e afirmam tratar-se de uma decisão do
gestor em permanecer na informalidade. Seus estudos foram baseados na Pesquisa
Economia Informal Urbana de 1997 e 2003 do IBGE, onde classificam essa opção de
margem extensiva.
Em que pese o importante esforço de pesquisa, a questão da categorização não
aparece em evidência nos diversos trabalhos. Em parte, porque as pesquisas e trabalhos
focam nas relações entre os atores e seus meios ou porque têm por base, informações
secundárias tratadas por modelos econométricos.
Portanto, informalidade empresarial, apesar de sua relevância ainda é um campo
aberto, carente de estudos aprofundados visando sua categorização como um ator social
no campo da informalidade, que contribuam com a avaliação de sua estrutura, dinâmica
e organização, como buscamos fazer no presente trabalho.
Então, para compreender a informalidade empresarial é preciso observar uma
parte da informalidade expressa a partir de alguns atores, que já foram tratados e
categorizados. Assim, a informalidade empresarial se caracteriza numa estrutura de
empreendimento a partir da simbiose de duas categorizações distintas entre si e que já

47
O trabalho de Meneguin e Bugarin (2008) faz um recorte das interpretações na literatura e de sua
análise, onde observam esse ponto de vista.
130

foram, ambas, objeto de análise por pesquisadores da área, a saber: os proprietários de


pequenos negócios e o trabalhador autônomo ou por conta própria.
A estrutura da informalidade empresarial se desenvolve com base em duas
características de ambas categorizações acima descrita, que são: a presença de micro ou
pequenas unidades de negócios sem registro; a propriedade dos meios de produção por
parte dos gestores. Além destas, a realização da pesquisa de levantamento Importância
do Pequeno Empreendimento na Economia, realizada para esta tese, permitiu observar
algumas situações em que o local onde se desenvolve atividade é o próprio domicílio do
responsável pelo empreendimento.
As duas primeiras características, que já foram objetos de análise por Souza
(1980), constituem a base da informalidade empresarial. Retomando a interpretação do
autor, nota-se que ele trabalha a concepção das “organizações não capitalistas”,
alicerçadas nos empreendimentos e nos trabalhadores, que funcionam como unidades
produtoras. Para tanto, chama-se aqui a atenção para o fato de que o capital empregado
para dar as condições iniciais de operação da atividade no âmbito da informalidade
empresarial é de origem familiar ou resultante do trabalho do futuro proprietário, seja
originário de indenização ou de poupança pessoal.
Assim, afirma-se aqui a informalidade empresarial como a conjunção, em maior
ou menor grau, dessas duas principais características: unidade produtora e meio de
produção, que funcionam como eixo condutor, distinguindo-a das demais situações
existentes no âmbito da informalidade. Seguindo esse raciocínio é fundamental captar
outros elementos que configuram a personalidade deste informal empresarial.
O primeiro ponto, que é comum, pois é característica principal na lógica da
informalidade, é não ter registros oficiais como empreendimento econômico, portanto,
funcionar à margem da regulação. Apesar disso, desenvolve suas atividades econômicas
atendendo a diversos públicos.
Uma segunda característica é o modo de operação que aciona uma lógica
empresarial pois, como qualquer atividade de caráter “fixo”, para operar ela necessita
de um espaço físico, onde o cliente busca a mercadoria e/ou serviço. Como foram
identificadas, na pesquisa de levantamento acima citada, algumas situações em que o
desenvolvimento da atividade ocorre no domicílio do gestor, em compartimento
separado, destaca-se esse aspecto como mais uma diferença em relação ao camelô que,
ao final da jornada, sai da área de comercialização.
131

O espaço físico dá a dimensão da informalidade empresarial, na qual o local do


"ponto" é determinante para o sucesso do empreendimento, face os custos envolvidos na
sua operação e manutenção. Em comum com o tradicional comércio ambulante está a
localização dos empreendimentos: em áreas centrais, com razoável circulação de
pessoas, portanto, de possíveis consumidores.

Figura 6 - Ponto comercial no âmbito da informalidade empresarial. Rua dos 48 – Belém (PA).

Foto: Luís Flávio Maia Lima, maio, 2016.

A predominância dos fatores elencados nos parágrafos anteriores permite


consolidar diversos elementos que, agrupados, dão sentido à informalidade empresarial
como um ator social no contexto da informalidade, permitindo distingui-la em relação
as outras formas já classificadas.
O quadro 12, a seguir, sintetiza a conformação na qual se desenvolve a
informalidade empresarial, permitindo caracterizá-la enquanto fenômeno social e
econômico, presente nas economias das cidades e, portanto, real na sua concretude em
razão das relações construídas nos seus espaços, bem como dos processos produtivos
que estão envolvidos no seu campo de atuação, isto é, dentro da informalidade e
132

também em atividades formalizadas ou situadas no circuito superior, face ao fluxo de


bens/produtos e de renda, apreendida do circuito inferior.

Quadro 14 - Configuração da Informalidade Empresarial.

Estrutura Forma
Organização não capitalista Busca independência e renda para reprodução;
Proprietário do meio de O capital e os meios pertencem ao proprietário que também é
produção gestor e produtor/trabalhador;
Espaço fixo/estabelecimento Desenvolve suas atividades em espaços próprios ou
estabelecimentos fixos.
Não formalizado Não são registrados ou não detém CNPJ;
Não é ambulante/camelô Não desenvolve suas atividades nas rua e/ou logradouros, e sim
em estabelecimentos fixos, com infraestrutura básica do negócio
igualmente fixada.
Capital próprio O capital para a atividade advém, normalmente, de esforço próprio
e/ou familiar, com exceções.
Fonte: Elaboração do autor, com base na pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na
Economia (2018), em Santos (2004) e Souza (1980).

É através dessa estrutura que se identificam as atividades relacionadas à


informalidade empresarial e a seus agentes. Por meio dessa sistematização é possível
reunir algumas características por dentro, visando à categorização da mesma. Portanto, a
partir desse quadro de estrutura e forma, busca-se observar suas interações e relações,
além de perceber como elas estão construídas no seio da sociedade, a fim de identificar
pontos relevantes da atividade no seu ambiente, em função das conexões produtivas ou
sociais que desencadeia.
Assim, a aglomeração de potenciais consumidores possibilita que a
informalidade empresarial, assim como as demais manifestações ligadas ao fenômeno
de informalidade de modo geral, concentre-se especialmente nas zonas urbanas, em
virtude da circulação de demanda e de renda, espraiando-se, desse modo pelas cidades.
É importante observar que este fenômeno não fica restrito a sedes municipais,
como também é observado em distritos e/ou localidades onde há aglomerações
populacionais nas zonas rurais. Como exemplo citamos a presença de empreendimentos
localizados num bairro – localizado a 17 km da sede do distrito – onde predomina
atividade de pescadores, no Distrito de Mosqueiro pertencente à cidade de Belém.
Como o bairro se organiza como representação de uma pequena cidade, com produção e
circulação de renda, é natural o florescimento de empreendimentos na lógica da
informalidade empresarial.
133

Figura 7 - Ponto comercial no âmbito da informalidade empresarial. Estrada da Baída do Sol, Distrito de
Mosqueiro, Belém (PA).

Foto: Luís Flávio Maia Lima, setembro, 2016.

Portanto, a informalidade empresarial tende a assumir um comportamento


territorial e com dimensão de espacialidade, obedecendo à lógica da existência de
aglomerados populacionais e produção de atividades produtivas e de renda.
Uma outra característica é a atuação no segmento comercial, de serviços e, em
alguns casos, no campo industrial48. De acordo com o levantamento feito em nossa
pesquisa de campo, destaca-se a atuação no campo do comércio, que acaba por se
apresentar como porta de entrada, oportunidade de inserção mercadológica, dada a
facilidade em desenvolver a atividade, aparentemente, com retorno do capital em menor
tempo, diferentemente do setor de serviços, que requer um grau maior de habilidade.
A necessidade de espaço físico determina um aporte de capital maior, o que
representa uma imobilização de recursos, pois alguns espaços são alugados, o que
amplia o esforço de venda. Este aspecto gera um custo de adequação e manutenção do

48
Na pesquisa de campo identificamos alguns empreendimentos que desenvolvem atividades industriais
informal, porém, com um grau menor de automação e, alguns casos, próximo à manufatura.
134

espaço, que é acrescido sobre valor das vendas, de modo que um percentual seja
recuperado no momento da comercialização.
Essa característica determina, do ponto de vista estritamente econômico, um
custo fixo ao gestor: aluguel (quando for o caso) e despesas de funcionamento, como
água, energia elétrica, Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) etc. Tais despesas
implicam na necessidade de uma geração de receita que permita o funcionamento da
atividade no estabelecimento, exigindo um esforço de vendas muito maior do que o do
camelô, por exemplo.
Então, o aporte de capital necessário imobilizar no espaço físico determina um
diferencial de capital em relação ao informal tradicional, o camelô. O capital
envolvido, muito maior na informalidade empresarial, outra característica para a
categorização do segmento.
Um ponto importante, que se repete enquanto informalidade, é o emprego de
mão de obra familiar, porém, na informalidade empresarial, isso se efetiva de modo
mais constante, por que os estabelecimentos empregam, normalmente, dois familiares
na atividade – principalmente na área comercial – e, excepcionalmente, alguém de fora
do círculo familiar. A contratação de familiares tende a diminuir a rotatividade, ampliar
a renda familiar – um dos itens que move a questão –, reduzir o risco de litígio
trabalhista, o que poderia afetar os recursos que movem o empreendimento.
Em alguns casos a empregabilidade de um ente familiar ou amigo é relacionada
ao fato do agente informal empresarial ter uma outra atividade, normalmente, no campo
formal, como em determinadas situações, nas quais o responsável pela atividade é um
servidor público – principalmente no âmbito municipal e estadual – que delega um
turno de trabalho a este familiar/amigo, assumindo, no contra-turno de sua atividade
formal, a condução do negócio.
Nesta situação acima descrita, encontra-se Rogério Pinto, servidor público
estadual, que montou um pequeno negócio no âmbito da informalidade empresarial, que
pela manhã é administrado pela esposa dele, que só assume a condução do negócio no
turno da tarde. A motivação de Rogério para desenvolver sem empreendimento informal
deveu-se "à necessidade de melhorar a renda familiar e, com isso a qualidade de vida".
Instados a responder se a estratégia deu certo, marido e mulher responderam que “o
esforço foi compensado, pois está tendo retorno sobre o investimento realizado”.
Em outro sentido, ao longo da pesquisa, observamos diversos casos em que o
responsável pelo empreendimento informal empresarial exercia, anteriormente, o papel
135

de ambulante ou camelô, optando, após um período de poupança, pela atividade


informal num espaço físico, migrando de uma forma para outra. Nesse processo, há
casos nos quais o agente principal opta por transferir a gestão cotidiana desse
empreendimento no estabelecimento fixo para um familiar, mantendo-se à frente da
atividade como camelô, ou, em outra situação, transfere para um familiar a banca de
camelô, mantendo as duas frentes de renda, sendo uma com um maior valor de
investimento/poupança.
Este é o caso de Edmilson Medeiros, que observou que parte da clientela que faz
pequenas compras de mercadorias específicas – eletrônicos – no mercado informal opta,
quando pode, por realizar a compra em um estabelecimento fixo e não de um camelo,
porque segundo afirma Edmilson, nesses casos, o estabelecimento se apresenta ao
consumidor como sinônimo de garantia e qualidade. Por essa razão ele, montou uma
pequena loja informal dentro de uma galeria popular no mesmo ramo, vendas de
eletrônicos, onde quem administra é o filho, enquanto ele próprio continuou nas
redondezas como camelô. O pequeno negócio implica na estratégia, segundo o
entrevistado, de atender público distintos, ou, nas suas palavras “é uma outra
oportunidade de vender mais num outro local, o que é bom para nós.”
As atividades, por se concentrarem no segmento comercial e de serviços exigem
um esforço de gestão empresarial muito próximo ao de um empreendimento formal,
sobretudo no comércio. Seja pelo aporte de capital imobilizado e de manutenção, seja
pela necessidade de giro para as despesas diárias, gestão do controle de estoque e das
vendas, o risco existente é maior, dada a natureza e o porte do empreendimento, em
razão da sua origem familiar e ao fato de estar relacionado, na maioria das vezes, à
sobrevivência dos sujeitos envolvidos.
Entre as unidades focadas somente na área de serviços constatamos que grande
parte delas oferece mix de serviços. Com isso ampliam a oportunidade de negócios ao
ofertar diversas atividades num único espaço ao consumidor.
A aproximação proporcionada pela pesquisa de campo em direção aos sujeitos
da investigação, levou-nos a perceber que o informal empresarial também incorporou
recursos das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) ao seu
empreendimento, para favorecer o retorno do capital investido. Assim, outra
característica levantada entre os dados da pesquisa Importância do Pequeno
Empreendimento na Economia, é o uso de redes sociais digitais conectadas em rede,
como canal de comercialização, que contribui para o funcionamento e geração de
136

receita. Há casos de captura de novos clientes e potencialização da carteira de clientes já


existente, sobretudo com o ingresso em espécies de balcões de negócios digitais online,
onde é possível fazer anúncios sem ter de pagar nenhum valor, como é o caso dos
grupos de classificados na rede social Facebbok ou de sites onde é possível anunciar
praticamente todos os tipos de produtos e serviços, como o OLX.
Se por um lado a conexão em rede e as mídias sociais ampliam a possibilidade
de vendas e de divulgação, há casos de informais empresariais que afirmaram não aderir
à exposição midiática por considerarem que quem a ela adere, torna-se um refém da
mesma, posto que é necessário “ficar ligado quase 24 horas na tela, o que é, às vezes
muito chato, pois te tira de outros afazeres e da família”, ou, “é quase uma prisão”,
como afirmou Isaac Elmescany, um dos entrevistados pela pesquisa.
Já para a entrevistada Rosa Vasconcelos, a mídia ajuda, porém, seu uso é
limitado apenas à divulgação do seu produto. O processo de comercialização só ocorre
de forma presencial ou via telefone, por que, se por um lado o uso das redes ajuda a
divulgar, também permite ao concorrente saber o seu preço, então, em suas palavras “é
preciso um pouco de cuidado, pois os colegas te vigiam e, podem dar um preço menor,
apesar da qualidade do meu produto”.
Nesse sentido, um levantamento exploratório e complementar, inspirado em
procedimentos da netnografia49 indicou que a maioria das pessoas que faz o anúncio de
seus produtos ou serviços de forma mais aberta nas redes sociais ou em sites, solicita
aos possíveis interessados que entrem em contato pessoal através do chat (quando se
trata dos grupos em Facebook) ou informam o número do telefone, para que o cliente
em potencial entre em contato no modo privado, pelo aplicativo de troca de mensagem
instantânea WhatsApp. Desse modo, a divulgação do produto/serviço é aberta, mas a
divulgação do preço, bem como as tratativas para efetivo fechamento do negócio são
mais restritas, tratadas "pessoalmente".
De outro modo, a propaganda boca a boca ainda é importante, conforme defende
o entrevistado Rogério Pinto, principalmente dependendo do tipo de produto, que no
caso dele é o segmento de bebidas: “fiz, quando abri o meu negócio, propaganda na
rádio do bairro (boca de ferro e bicicleta), distribui santinhos e no Face, porém o retorno

49
Para conhecer alguns dos resultados desse movimento exploratório, conferir o artigo Informalidade em
tempos de conectividade: facebook e whatsapp transmutando o antigo, publicado nos anais do GT 13, do
Seminário Internacional América Latina: políticas e conflitos contemporâneos (SIALAT), realizado de 27
a 29 de novembro de 2017, na Universidade Federal do Pará, Belém. Disponível em:
https://docero.com.br/doc/5518n8.
137

foi baixo. Quando passei a falar para meus conhecidos e colegas do bairro do depósito,
ocorreu o crescimento no número de compradores e o negócio começou a andar”. Nesse
sentido, a percepção sobre o meio (a forma da comunicação), o produto, o tempo, o
consumidor e o retorno é determinante para o sucesso ou insucesso do pequeno negócio,
fato que determina sua continuidade ou seu fim.
Identificamos no processo de comercialização entre compradores e vendedores
diversos níveis de relações, as quais reforçam não somente o caráter estrutural como
também a imbricação entre o formal e informal. Assim encontramos relações entre
empreendimentos informais empresariais e pessoas físicas, entre informais empresariais,
de informais empresariais e empresários formais ou de forma triangular,
compreendendo a estrutura informal – formal – informal ou vice-versa. Nas situações
em que empresário formal demanda produtos ao informal empresarial, os produtos
produzidos no campo da informalidade são comercializados sem a definição de origem,
porém num ambiente formal e regulado, inclusive com as garantias legais. Neste último
caso se enquadram também os serviços. Rosa Vasconcelos, que confecciona objetos de
decoração e uso doméstico, e Isaac Elmescany, que faz o serviço de bordados
eletrônicos, por exemplo, vendem seus produtos e serviços para lojas situadas em dois
shoppings localizados no centro de Belém, que os comercializam formal e legalmente a
seus clientes.
Outro ponto interessante diz respeito à renda auferida a qual ‒ contrariando a
literatura corrente, que geralmente aponta baixos valores obtidos no âmbito da
informalidade‒, de acordo com a análise dos dados levantados em nossa pesquisa revela
que a renda da unidade estava acima da média da PNAD-Contínua para o primeiro
trimestre de 2017, ao redor de dois (2) salários mínimos tendo, em alguns casos,
registrado valores equivalente a seis (6) salários mínimos. Em decorrência disso,
percebemos haver uma qualidade material conquistada pelo informal empresarial,
porém, a custa de uma carga de trabalho bastante elevada.
O papel da família é primordial para o início da atividade, cedendo espaço na
unidade familiar ou o capital inicial em diversos contextos sociais e econômicos, como
nos casos de desemprego ou de providenciar a primeira ocupação. No primeiro caso,
destacamos Mário Sérgio, entrevistado na cidade de Bragança (PA). No caso dele, o
desemprego e a falta de oportunidade para reinserção no mercado de trabalho formal o
levaram a migrar para atividade informal, que se tornou possível graças aos recursos
obtidos por poupança familiar para iniciar o investimento: “no início foi [sic] as pessoas
138

da minha família que me ajudaram”. No caso dele, o empréstimo familiar foi pago em
dois anos.
Diferentemente do comportamento identificado pelo termo que circula na mídia
como “geração nem-nem50”, a jovem Ingrid Maria (19), também escutada na sessão de
entrevistas qualitativas realizadas por este pesquisador na cidade de Bragança, entrou
para a informalidade devido uma gravidez inesperada, que impôs a necessidade de
ocupação. O caminho natural para exercer atividade laboral foi através uma unidade
informal, cujo aporte de recursos inicial foi concedido pela mãe da jovem, que também
cedeu o espaço à instalação dos equipamento para bater e vender açaí. A necessidade de
sobrevivência e a responsabilidade pelo sustento de sua filha, justificam a opção de
Ingrid, mas há outro motivo determinante na escolha dessa atividade: a jornada de
trabalho, que por ser corrida, permite, ao redor das 15h, fechar o estabelecimento e
cuidar da criança.
Ainda no tocante à questão de recursos para investimento, o economista Olinto
Cei, do Fundo Municipal de Solidariedade para Geração de Emprego e Renda Ver-o-
Sol, vinculado à Secretaria Municipal de Economia de Belém, responsável por
operações de crédito ao informal e microempreendedores, destaca a presença de agiotas
no financiamento das atividades, principalmente no campo do capital de giro. Ele
ressalta que há um grupo organizado e de origem estrangeira, que controla esse tipo de
operação que, além da agilidade no atendimento da solicitação, bem diferente do canal
oficial – documentação, curso, garantia, pequeno plano de negócios ou orçamento –
utiliza uma forma inovadora para processar o pagamento do empréstimo: o cliente
paga/abate semanalmente primeiro o valor do empréstimo e, depois, os juros da
operação.
Na cidade de Bragança, o contador Adailson Brito, da Casa do Empreendedor da
Prefeitura Municipal de Bragança também aponta, em menor escala e com operações
individuais, a presença de agiota que financia tanto os recursos para o início das

50
Significa que são jovens que nem trabalham e nem estudam. Porém, o estudo “Millennials na américa e
no caribe: trabalhar ou estudar?”, divulgado pelo Ipea, afirma que “embora o termo nem-nem possa
induzir à ideia de que os jovens são ociosos e improdutivos, 31% dos deles estão procurando trabalho,
principalmente os homens, e mais da metade, 64%, dedicam-se a trabalhos de cuidado doméstico e
familiar, principalmente as mulheres”. De acordo com a matéria do Ipea: 23% dos jovens brasileiros não
trabalham nem estudam. Fonte: Agência Brasil. Disponível em:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-12/ipea-23-dos-jovens-brasileiros-nao-trabalham-e-
nem-estudam. Acessado em 09 de nov de 2018.
139

operações, quanto para o capital de giro, que diferentemente do que ocorre em Belém,
não se trata de um grupo organizado. Evidentemente, em ambas as situações, há o risco
ao tomador do crédito quanto ao possível inadimplemento, tendo em vista a ilegalidade
do processo no tocante à cobrança das parcelas, fato que precisa ser considerado nas
relações e no interior da informalidade.
Ainda com base no levantamento de dados e nas entrevistas, observamos no
segmento de confecção de roupas que, além de sua em linha própria, a atividade
também trabalha por encomenda. Na linha própria, uma parte é destinada às vendas
diretas, abastecendo uma parcela de informalidade ‒ os camelôs, por exemplo ‒ bem
como algumas lojas formais, inclusive de shopping. Por outro lado, quando se trata de
encomenda em grandes quantidades, que exigem um tempo maior e focado do produtor,
configura-se um sistema de parceria, posto que, em alguns casos há repartição da
mesma encomenda entre fabricantes parceiros ou, quando há saturação de algum
produtor, ocorre a indicação e repasse integral da nova encomenda ao parceiro.
Esses e outros elementos, a serem analisados de forma mais aprofundada nos
capítulos 5 e 6, indicam algumas das características que sinalizam a conformação de
uma atividade real e em movimento, a qual necessita de uma categorização, o que
requer o desenvolvimento de instrumentos capazes de captar sua dinâmica em si
mesma, sem encobri-la pelo protagonismo do trabalhador e de sua atuação
individualizada.
140
141

5 INFORMALIDADE EMPRESARIAL: DANDO FORMA A UMA FEIÇÃO


Um dos esforços da presente sessão é no sentido de qualificar uma dimensão que
denominamos de informalidade empresarial, no bojo do fenômeno mais amplo da
informalidade. Considerando-se um contexto analítico em que há instrumentos
consagrados, entendemos que eles estejam parcialmente limitados no que se refere à
compreensão desse viés. Por essa razão buscamos construir parâmetros e ferramentas
capazes de funcionar como auxiliares interpretativos e de captura.
A informalidade empresarial descortina-se no lócus de sua atuação e destaca-se
por sua interação no espaço local, onde deixa sua maior contribuição, pois sua atividade
dinamiza o território através da ocupação de trabalhadores, da captação de renda e
sobrevivência familiar e da interação social na comunidade, perfazendo um quadro cuja
importância não pode ser mensurada apenas pelo porte do empreendimento, pois num
contexto globalizado, marcado pela precarização do trabalho e fragmentação da
produção, essa dimensão do fenômeno torna-se muito maior, seja através do trabalho,
seja pela capacidade de circulação econômica e acesso ao consumo de parte da
sociedade, excluída do grande circuito produtivo.

5.1 Um jogo de luz e sombra

Para iluminar o caminho que revela o informal empresarial tomou-se o


estabelecimento como uma espécie de lanterna, um mecanismo que traduz o agente, sua
interface socioeconômica e o fenômeno, pois, o local e o espaço físico fixo onde se
exerce a atividade, atribui a ela características que a diferenciam das demais
manifestações informais, vistas à luz do dia, nas atuações de indivíduos nas ruas.
O estabelecimento não é algo recente no campo da informalidade, porém em
razão da construção de categorias informais que se estabeleceram como parâmetros de
análise, o empreendimento ficou em segundo plano na interpretação do fenômeno
informal, mesmo porque inicialmente o entendimento maior baseia-se no ponto de vista
populacional ou no trabalhador enquanto força de trabalho.
Ainda que prevaleça a visão populacional ou da força de trabalho da pessoa, o
estabelecimento informal sempre esteve presente na informalidade. Santos (2003), em
seu trabalho de referência, realizado na cidade de Lima, no Peru, manejou com o
conceito de circuito inferior e seus agentes, apontando, em diversas passagens, o papel
do empreendimento informal, no caso, o fixo:
142

O pequeno comércio é representado por pequenos estabelecimentos mal


instalados, mal equipados e que ocupam individualmente muito pouca mão
de obra.
Sessenta e cincos por cento dos pequenos comerciantes trabalham em
instalações fixas, ou seja, em local próprio (...). (SANTOS, 2003, p. 93)

Desse modo, ao longo da pesquisa da pesquisa realizada para a elaboração desta


tese, encontramos, além de Santos (2003), diversos trabalhos sobre informalidade, os
quais pontuam a presença do estabelecimento na atividade, porém esses esses estudos
tangenciam essa feição da realidade que procuro não somente qualificar, como designar
e caracterizar enquanto “informalidade empresarial”, o que distingue esta tese e a sua
pesquisa das demais interpretações, que também são importantes no seu tempo e no
debate sobre a informalidade.
Argumentamos que a forma social pela qual o informal empresarial se apresenta
para a sociedade é o estabelecimento, em torno do qual orbitam e se desenvolvem as
relações em todos os níveis – familiar, social ou de negócios, sendo a atividade
produtiva o centro que organiza o sistema de interações.
A relevância desse aspecto e seu gradativo crescimento pode ser mensurado
inclusive pelos dados do IBGE (1985), através do Censo da Microempresa51, segundo o
qual havia no país, já naquele ano, cerca de 20,16% de estabelecimentos sem registros
oficiais (203.212) – portanto, informais. No Pará daquela época, esse percentual era
quase três vezes superior à taxa do Brasil, alcançando 56,33%. Esses números,
informados no quadro abaixo, demonstram que o fenômeno está presente de forma
representativa na realidade do país, em maior ou menor grau nos diversos momentos.

Quadro 15 - Número total de microempresas sem registros no Brasil e no Pará – 1985.

Área Total de Microempresas Sem registros Taxa de participação em %


Brasil 1.007.833 203.212 20,16
Pará 19.298 10.308 56,33
Fonte: IBGE/Censo das Microempresas, 1985.

É importante ressaltar dois pontos a partir dos dados do IBGE. O primeiro é o


reconhecimento oficial de haver na economia brasileira, um conjunto de
empreendimentos informais que funciona como atividade regular e produtiva e que se
apresenta como estabelecimento. O segundo aspecto, derivado do primeiro, é que a
análise do instituto sobre a lógica de funcionamento e comportamento desses

51
Na época, os estabelecimentos informais eram classificados como microempresas pelo IBGE.
143

estabelecimentos é, em parte, vinculada à estrutura econômica que permeia a


informalidade, a saber:

Dentro da atividade de comércio,98,1% das microempresas encontram se na


área varejista e configuram a extensa rede de armazéns, quitandas,açougues,
vendas e armarinhos que permeia,praticamente, todos os municípios
brasileiros. Beneficiando-se das vantagens de proximidade com os locais de
moradia de sua clientela e recorrendo a práticas como as do "fiado",da
"caderneta" e do "varejinho", estas unidades mercantis resistem ao avanço
dos supermercados e dos grandes estabelecimentos comerciais,
multiplicando-se pela área urbana como um todo e,em especial, junto às
concentrações de baixa renda (IBGE, 1989, p.16).

Assim, o estabelecimento informal, seja pelo seu dinamismo próprio ou


resultado do contexto econômico, se avoluma ao longo do tempo caracterizando-se
como uma manifestação perene na realidade socioeconômica e irreversível na sua
forma, moldando-se conforme sopram os ventos das atividades, do consumo e da lógica
orgânica de funcionamento do capital.
Desse modo, em duas pesquisas dirigidas ao universo informal, precisamente,
com os estabelecimentos informais em 1997 e 2003, o IBGE, em conjunto com o
Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae) ratificou a
condição de existência do empreendimento informal fixo dado seu volume, ou seja, o
estabelecimento, que superou a casa dos nove milhões de empreendimentos no último
ano.

Quadro 16 - Empresas do setor informal por conta própria – 1997 e 2003

Ano Total de Microempresas – Conta Própria Var. Absoluta Taxa de Incremento Anual
%
1997 8.190.610
995.493 1,15
2003 9.186.103
Fonte: IBGE e Sebrae - Pesquisa Economia Informal Urbana – Ecinf 1997/ 2003.

O que se percebe por esses números é a vitalidade social e econômica da


informalidade mensurada pelos estabelecimentos informais. Abramo (2001), em seu
trabalho sobre a questão imobiliária nas favelas cariocas, aborda a riqueza das
atividades econômicas articuladas nesses territórios pelos empreendimentos informais
fixos, que se constituem em um fluxo endógeno de recursos no contexto de um circuito
econômico próprio, validado no próprio local.
Neste caso, embora o foco de Abramo (2001) não seja o estabelecimento, o autor
considera importante a existência desses empreendimentos na favela, em razão de
144

permitirem consumo, interações e circulação, conjunto este que implica no que


denomina de "economia de proximidade".
O crescimento do número de estabelecimentos por si só indica a
representatividade do fenômeno. Na pesquisa de campo realizada no presente trabalho,
observou-se o volume e a permanência dos empreendimentos informais em uma certo
período de tempo, evidenciando-se uma sistematização que agrega concretude à
dimensão informal empresarial. Ou seja, há uma repetição de procedimentos e de ações
entre os agentes, na sua organização e na forma de atuação, que os qualifica numa nesta
categoria própria.
É nesse sentido que a emergência dessa fisionomia dentro do fenômeno se
confronta com as limitações das categorizações da informalidade tradicional no
universo do trabalho, posto que, nem todo mundo é/ou quer tornar-se camelô, vendedor
porta a porta, autônomo ou conta-própria. Por outro lado, a dinâmica social requer a
invenção, justificando novos agentes e formas, onde a informalidade empresarial se
insere com suas características (Ver quadro 11, no capítulo 3).
Em consequência das limitações, percebe-se então a existência de um vácuo ‒ ou
sombreamento ‒ no entendimento dos estabelecimentos informais, pois são
classificados enquanto empreendimento na essência de sua atividade, mas não são
categorizados nos parâmetros da informalidade, isto é, sua ambiência não encontra
fundamento analítico no corpo teórico que interpreta a informalidade.
Isso explica porque as instituições e os autores, que em seus trabalhos observam
este fenômeno, tangenciam a questão ao classificarem o responsável pela atividade
como o elemento de categorização, e não o estabelecimento como forma social que
representa e se apresenta à sociedade.
Assim, tanto o IBGE, como o Sebrae realizam suas interpretações sobre a
economia informal e, especificamente, sobre os empreendimentos que funcionam como
tal, segundo uma leitura contraditória, pois admitem a existência de estabelecimentos
informais, o que é positivo, porém os classificam enquanto ações individuais/pessoais
ou da força de trabalho que passam então a identificar como “conta própria”.

Por tipo de empresa, os trabalhadores por conta própria aumentaram em


11,6%, enquanto os empregadores diminuíram em 6,6%. (SEBRAE, 2005, p.
14)

A pesquisa Economia Informal Urbana - Ecinf é uma pesquisa por amostra


de domicílios, situados em áreas urbanas, onde se busca identificar os
145

trabalhadores por conta própria e empregadores com até cinco empregados


em pelo menos uma situação de trabalho. Estes indivíduos, proprietários de
unidades econômicas pertencentes ao âmbito da economia informal, devem
prestar informações detalhadas sobre as características de organização e
funcionamento de seus empreendimentos. (IBGE, 2005, p. 17)

Romper a limitação que distingue o "indivíduo" que se assume como trabalhador


informal da unidade econômica informal distinta e diferente é essencial para avançar na
compreensão do tema, como aponta Oliveira (1990):

(...) ou seja, haveria que se combinar, no corpo do questionário, perguntas


referentes não apenas ao indivíduo, mas também à firma ou ao negócio que
opera, reconhecendo a existência, na prática, de empresas individuais e
familiares e rompendo, com isso, a rigidez, por que artificial, de barreiras
entre pesquisas domiciliares e pesquisas de estabelecimento. (OLIVEIRA,
1990, p. 48)

Para Oliveira (1990) é inegável a existência do fenômeno, porém as limitações


nos parâmetros analíticos e as dificuldades para obter informações sobre as unidades
econômicas determinam o que chama de “situações de sombra”, que contribuem para
esconder certa feição da economia informal.
Em dissertação de mestrado sobre o microcrédito e a qualidade de vida dos
tomadores de empréstimos, Mendes (2009) apresenta pesquisa sob o ponto de vista da
pobreza, informalidade e qualidade de vida. No campo da informalidade a autora
assenta sua interpretação na concepção dos “conta própria”, que recorrem ao
financiamento. Mas, ao analisar os resultados ela focaliza no ramo de atuação do
empreendimento, ou seja, no plano de negócios é o estabelecimento que é analisado, em
função de seu retorno/pagamento do empréstimo.
No artigo intitulado Notas sobre a inserção socioeconômica de moradores da
favela, Oliveira et all (2003) reconhecem que o núcleo de análise é o estabelecimento ou
"unidades produtivas informais" cuja dinâmica é similar ao observado em outros micro
ou pequenos empreendimentos formais. Porém, no decorrer da interpretação da
pesquisa, os autores retomam a parametrização de “trabalhadores por conta própria”, ou
seja, consideram o estabelecimento no campo da economia, mas sem avançar no
entendimento, apesar do número expressivo de unidades levantadas, na ordem de 3.670
empreendimentos ocupando cerca de 5.942 pessoas, o que resulta em uma média de
1,62 pessoas por estabelecimentos. "Em 82% dos estabelecimentos existentes nas
favelas, os sócios/proprietários são trabalhadores por conta-própria" (OLIVEIRA et all,
2003, p.252).
146

Renato Meirelles e Celso Athayde, que não são do meio de acadêmico,


coordenaram o trabalho Radiografias das Favelas Brasileiras, realizado pelo Instituto
Data Favela52 em 2013, centrando parte de suas análises no movimento econômico a
partir dos estabelecimentos e sua interação com as comunidades, a geração dos
empregos e da renda. Seguindo esse caminho, eles afirmam que devido à invisibilidade
midiática sobre aspectos relacionados à vida real nesses lugares marcados pela exclusão,
a sociedade brasileira desconhece a riqueza movimentada pelos moradores, a
reinvenção e a inovação das atividades produtivas desencadeadas pelos empreendedores
locais, vinculadas aos diversos estabelecimentos econômicos formais ou informais.
O trabalho de Meirelles e Athayde indica, assim como outros referidos até aqui,
que parte das mudanças sociais e econômicas advém dos estabelecimentos informais
assentados nas favelas (e nas periferias de modo geral), onde parte do resultado circula e
é internalizado. Assim, para dar uma dimensão da força econômica, os autores estimam
que o PIB das favelas pesquisadas tenha sido de R$ 63 bilhões de reais em 2013, o que
equivale a 52,11% do Pará naquele mesmo ano.
Os autores também afirmam que as favelas enfrentam problemas, seja de
infraestrutura, seja de vulnerabilidade social, porém a interação entre os moradores e a
capacidade de superação estão nas raízes do dinamismo social e produtivo, fato que
explica os avanços observados tanto no campo social, quanto de sustentabilidade dos
moradores.
Em síntese, a visão predominante reconhece a existência de estabelecimentos
que funcionam como empreendimentos, os quais não são analisados como parte
importante na configuração de uma fisionomia da informalidade, por que acabam por
ser categorizados pela visão científica predominante, como trabalhadores por conta
própria. Entretanto, há autores desprendidos da visão acadêmica, interessados em
interpretar o estabelecimento informal fixo como ele se apresenta diariamente à
sociedade, como um empreendimento com interação produtiva e social.

5.2 Estabelecimento informal: proposições para uma categorização

As estatísticas demonstram a existência de estabelecimentos informais bem


como do seu papel na economia, no território e na sociabilidade. Em que pese a

52
Foram entrevistadas 2.000 pessoas em 65 favelas distribuídas em 35 cidades brasileiras.
147

importância desses fatores, que contribuem para minimizar a invisibilidade da


informalidade, é necessário observar que parte do sombreamento a que estão sujeitas as
interpretações decorre do processo de categorização dos diversos componentes do
universo informal. Isso demanda a utilização de ferramentas que agreguem, de forma
propositiva, pontos de vista capazes de ajudar a iluminar o papel dos estabelecimentos
informais e vislumbrar seus movimentos na economia e na sociedade.
É possível que o debate sobre a categorização do estabelecimento informal se
enriqueça, em parte, pelo entendimento do excedente de trabalhadores, ante à lógica do
capital. Por essa ótica, estando o trabalhador auto empregado num serviço próprio,
porém com lógica de funcionamento distinto, independente de forma, o mesmo continua
trabalhador. No entanto, outras questões emergem: será mesmo que essa faceta centrada
no estabelecimento físico fixo, sendo tão fortalecido e espraiado como se percebe, não
deve ser considerado como uma expressão da informalidade e, apenas seus agentes
devem ser categorizados como tal? E, principalmente, será que este agente se enxerga
como tal, ou seja, como trabalhador, no caso, por conta próprio ou autônomo?
Na análise dos dados levantados em nossa pesquisa, percebemos que em
resposta a uma pergunta aberta, sem resposta direcionada, quando indagado sobre sua
função ou ocupação na atividade e/ou no empreendimento, os entrevistados se
enxergam e autodenominam como proprietário, não como trabalhador. Com um
detalhe importante a ser destacado: cem por cento das respostas foram “proprietário ”,
isto é, em cento e sete (107) questionários nenhum desses agentes dá indício de perceber
a si mesmo como trabalhador por conta próprio ou autônomo.
Nesse sentido, o trabalhador está disponível ao mercado através da sua força de
trabalho para a venda, o que o caracteriza. Mas ele, por razões próprias ou pelas
condições de sobrevivência é impelido a dar um salto na sua posição, o que o leva a
estruturar um estabelecimento. Isso implica na reestruturação e construção de novas
relações sociais e econômicas, onde este sujeito assume outra função, a de protagonista
produtivo ‒ mesmo que o resultado seja direcionado para a família – e passa,
indiretamente, a um outro estágio ativo – porém frágil perante ao capital – no campo da
circulação econômica. Não na posição de produção de valor mas, notadamente, de
gestação de mais-valia.
Esse protagonista passa exercer uma nova função, a de gestor. Mais do que
gestor do estabelecimento, é, principalmente, gestor das relações advindas desta opção:
com os clientes, das novas obrigações ou da rede de fornecedores construída, o que
148

exige não somente sua manutenção, como a estruturação de graus de confiança para
alimentar o fluxo de mercadorias e/ou de serviços, acrescentando, em razão do contexto,
o risco que transpassa a simples decisão da opção, pois envolve na empreitada a família,
que corrobora essa passagem e, portanto, também está envolvida no sucesso ou fracasso
do empreendimento informal.
Nesse sentido, é preciso resgatar a matriz do entendimento da classificação que
toma por base a ocupação individual ou força de trabalho. As orientações e diretrizes
gerais para normatizar e uniformizar as informações primárias e suas tabulações pelas
instituições mundo a fora é dada pela OIT, buscando organizar os instrumentos para
parametrizar e harmonizar, visando a comparabilidade das estatísticas entre os países.
Assim, esta instituição vem desde 1923, tentando aperfeiçoar métodos e análises com
para dar conta de tais objetivos.
Assim, na Oitava Conferência Internacional de Estatísticas de Trabalho, em
1954, a OIT lançou a resolução I, na qual indica parâmetros para medição e análise do
mercado de trabalho. Em 1966 emite nova resolução, cujos indicadores vigoraram até
meados do início da década de 1980, de modo que em 1982, sob auspício da Décima
Terceira Conferência Internacional de Estatísticas de Trabalho foram consolidados os
princípios norteadores da metodologia de acompanhamento de informações do mercado
de trabalho, que são: a) abarcar todos os ramos de atividade; b) abranger todos os
setores econômicos; c) todas situações de ocupação e; d) buscar a harmonia nos
métodos e nas estatísticas para garantir a comparabilidade.
A partir das orientações da OIT emitidas em 1982, os conceitos e definições
ficam concisos, permitindo a harmonia necessária à organização e sistematização das
informações sobre o trabalho em escala mundial. Evidentemente não sem haver
questionamentos e debates. Desse modo, delimita-se os parâmetros de enquadramento
adotados por diversos países e instituições, inclusive o Brasil, tais como: população
economicamente ativa, população em idade ativa, força de trabalho, desemprego e
emprego e, neste está o que se denomina de “emprego independente”, que abrange o
trabalho informal, onde estão os conta-própria, os trabalhadores familiares não
remunerados, os trabalhadores que produzem para consumo próprio etc.
Em janeiro de 1993, como resultado da Décima Quinta Conferência
Internacional dos Estatísticos do Trabalho a OIT promoveu ajustes na Classificação
Internacional da Situação do Emprego (CISE), considerando a diversidade e evolução
do trabalho, fato que determinou a revisão e refinamento dos conceitos e definições
149

estabelecidas em 1982, onde destacam-se as categorias dos assalariados, dos


empregadores, dos trabalhadores por conta própria, dos membros de cooperativas
produtoras, dos trabalhadores familiares auxiliares e trabalhadores que não podem
classificar-se em nenhuma situação de emprego. De outro modo, a conferência mantém
a distinção entre empregos assalariados e empregos independentes onde estão os
informais, já listados.
Ainda naquele ano a OIT considerou a dualidade setor formal ‒ setor informal
como algo superado e, nesse sentido, passou a compreender a diversidade e,
principalmente, a importância da informalidade na economia e na sociedade.
Reconhecendo a informalidade como algo maior e permanente, alterou seu
entendimento e, consequentemente adotou o termo “economia informal53” para medir a
“economia não observada”, qual seja: a produção submersa, a produção ilegal e a
produção para consumo próprio efetuada nos domicílios.
Portanto, a partir destes conceitos e definições são construídas as informações,
as categorizações e estatísticas sobre o trabalho e suas diversas faces, porém em 2003 a
OIT editou uma diretriz específica sobre o emprego informal, normatizando os
parâmetros e as categorizações, o que ampliou o espaço onde se dá o emprego/ocupação
informal.
Para tanto, a instituição construiu uma matriz identificando o espaço e a forma
como o emprego informal se apresenta neste espaço, conforme se observa no quadro
abaixo, que reproduz o marco conceitual do trabalho informal.

Quadro 17 – Marco conceitual do emprego informal

Unidade Empregos informais segundo a situação do emprego


de Trabalhador por Empregadores Trabalhador Assalariados Membros de
produção conta própria familiar cooperativas de
por tipo auxiliar produtores
Infor Formal Infor Formal Informal Inform Form Infor Formal
mal mal al al mal
Empresas X X
do setor
formal
Empresas X X X X X
do setor
informal
Domicílio X X
s
Fonte: OIT, 2003, p.4.

53
A definição da OIT para economia informal compreende tanto o setor informal com suas atividades,
como o emprego informal.
150

Portanto, as orientações da OIT balizaram a produção das informações primárias


e suas sistematizações sobre o trabalho ao longo dos últimos sessenta anos e,
atualmente, justificam, em parte, a estrutura que molda a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio Continua com suas saídas, por exemplo.
Apesar das orientações da OIT, que são relevantes à compreensão da
informalidade54, as mesmas não cessaram questionamentos importantes, como a
classificação do informal em grande medida, como trabalhador por conta própria, a
venda da força de trabalho ou não, o papel do estabelecimento informal, a interseção
com o capital entre outros pontos.

Os estudos sobre a informalidade costumam relacionar indistintamente o


trabalho por conta própria com a informalidade. Diante desse cenário, o
presente artigo busca romper o paradigma de que todo trabalhador por conta
própria é informal (SANTIAGO; VASCONCELOS, 2017, p. 214).

Provavelmente isso se deve ao fato de que o principal foco de estudos sobre o


universo seja direcionado para a economia do trabalho. Ainda são esparsos os
estudos que se debruçam sobre a informalidade e tenham como objeto as
atividades econômicas per se e suas estruturas produtivas (NOGUEIRA,
ZUCOLOTO, 2017, p. 146).

A partir das orientações da OIT emergem duas questões relevantes que precisam
ser observadas no debate. A primeiro diz respeito ao termo trabalhador, pois remete à
venda de força de trabalho, entendida na relação “capital-trabalho”, onde uma parte
importante dos informais não está diretamente vinculada a uma atuação no campo
capitalista, inclusive em relação à produção de mais-valia, pois, lembra Marx (2014) o
trabalho é fonte de valor, portanto, há criação de valor.
Em segundo lugar, o informal, mesmo estando no mercado ou disponível, é livre
– condição essencial ‒ para comercializar sua força de trabalho a partir da construção de
uma relação entre as partes para proceder a comercialização, isto é, vendedor e
comprador, onde se dá a troca de mercadorias, sendo a força de trabalho o único bem do
lado do trabalhador, cujo resultado objetivado do trabalho não é de posse do trabalhador
(MARX, 2014). Mas, esta relação não procede entre todos os atores, como por
exemplo, o camelô.
Essa relação – vendedor e comprador – é resultado de uma formação histórica
que assume um papel maior no modo de produção capitalista no interior da circulação

54
De modo geral, os parâmetros estabelecidos pela OIT são os que têm sido mais frequentemente
adotados pela literatura. Cf.:NOGUEIRA; ZUCOLOTO, 2017, p. 146)
151

de mercadorias, através da divisão do trabalho e da venda da força de trabalho tanto


quanto a sobreposição do valor de troca em relação ao valor de uso em paralelo à
constituição do capital como a força-motor do desenvolvimento econômico e da
sociedade. Conforme afirma Marx (2014, p. 145), "o capital anuncia, portanto, desde
seu primeiro surgimento, uma nova época no processo social de produção” tendo por
base a força de trabalho livre e adquirida no mercado.
A emergência do capital e precificação das mercadorias determina estabelecer,
pelo lado do vendedor o valor da força de trabalho, que em tese se dá pelo tempo de
trabalho para sua reprodução, elemento que baliza a relação entre as partes sobre o
preço dessa mercadoria específica, como atenta Marx (2014). O resultado é a produção
de mercadorias e, com estas, a mais-valia e acumulação do capital.
O que se observa, a partir do entendimento do que é a força de trabalho, é que
em parte dos atores informais não há venda da força de trabalho e, consequentemente, a
produção de mercadorias a partir da divisão de trabalho num processo sob controle do
capital e, principalmente da geração de mais-valia. Em consequência, é mister observar
que os conceitos e definições da OIT não alcançam a plenitude dos agentes que estão
por trás do estabelecimento informal, que não vendem a mercadoria “força de trabalho”,
mas bens e serviços, bem como mantém relações de negócios no campo da economia
regulada, mesmo que desigual na grandeza dos envolvidos.
Portanto, com base nos fundamentos do que é trabalhador e força de trabalho a
partir da visão de Marx (2014) a categorização “trabalhador por conta própria” para
algumas situações não se aplica, como o camelô, o trabalhador doméstico e o gestor dos
estabelecimentos informais.
O segundo aspecto a ser observado volta-se ao estabelecimento informal,
inclusive entendido como unidade produtiva pela própria OIT, o qual, no entanto
encontra-se à margem como elemento da própria informalidade, da sua interface com o
segmento formal e em relação à sociedade. Em parte, este sombreamento advém da
forma como a instituição constrói sua orientação, pois, segundo Krein e Proni (2010, pp.
27-29), "o trabalhador por conta própria é o que desenvolve suas atividades no
domicílio ou são proprietários de seus meios de produção".

Constatam que, diante de oportunidades de emprego regular, cada vez mais


restritivas, a reprodução da vida de uma parcela crescente da população passa
a depender, em maior escala, de uma economia que se alimenta de inúmeras
atividades realizadas de forma individual, familiar ou associativa, envolvendo
um extenso fluxo de produção e troca de bens e serviços.
152

Até o início da década de 1990, atribuía-se pouca importância política às


iniciativas populares que se dedicavam à produção/comercialização de bens e
serviços (KRAYCHETE, p. 24)

É preciso atentar, novamente, que parte da residência é segregada como ponto de


estabelecimento, o qual funciona como espaço onde se desenvolve a atividade através
da redução do custo de entrada do empreendimento no circuito econômico, funcionando
como capital, inclusive negativo55, pois ao transformar parcialmente o domicílio permite
alavancar um recurso indireto que lhe é ausente em termos de remuneração do capital
determinado à maximização do disponível para empreender, utilizado para o giro
inicial, aquisição de bens e estrutura operacional. Assim, a orientação da OIT ao
ratificar que este ator é um trabalhador, determina, por vias indiretas, a negação do
estabelecimento como unidade produtiva.
Porém, o ator informal usa o domicílio tanto como espaço produtivo como fator
de transação de bens e serviços e, nesta posição, ele desenvolve uma atividade produtiva
sem vender como trabalhador, a sua força de trabalho, fato este que sombreia o
estabelecimento informal enquanto forma e conteúdo na informalidade.
Com isso, o domicílio ‒ ou parte do mesmo ‒ se constitui então em meio de
produção, que, em conjunto com demais elementos estruturantes da atividade permitem
a independência necessária ao desenvolvimento do estabelecimento e seu
funcionamento. O fato de possuir “meios de produção” – especificamente como meio de
trabalho ‒ os distingue, novamente, da categoria dos trabalhadores, pois é proprietário
de instrumentos que funcionam como condição objetiva, viabilizando a atividade sem
depender da interseção de outros fatores, como capital externo, por exemplo. (Marx,
2014).
Portanto, o domicílio, na maneira estruturada nesta dimensão informal
empresarial, representa uma parte do capital disponível para o desenvolvimento da
atividade, tendo em vista a sua “representação de capital” como coisa com papel
específico nesta forma, no interior do processo de produção que, ao deter seu controle e
uso, o ratifica na condição de proprietário, não de trabalhador (Marx, 2014).
Além da transformação de parte da residência em capital/meio de produção, para
a entrada em operação, o gestor informal agrega uma parcela de recursos, portanto

55
Transformar parte do domicílio em espaço de comercialização e de serviço implica um custo de
implantação negativo reduzindo riscos e o grau de descapitalização, o que favorece a alavancagem do
estabelecimento na sua fase inicial, fato que justifica a transformação de parte da residência em ponto do
estabelecimento. (Oliveira; Filho, 2009)
153

capital, em máquinas, reformas e aquisição de bens e serviços etc., fato esse que, neste
caso também o diferencia do trabalhador por conta própria, sendo, portanto, um fator de
distinção que precisa ser considerado na informalidade e na categorização dos seus
atores.
O levantamento e análise de dados coletados na pesquisa de campo desta tese
demonstram que um percentual expressivo exerce suas atividades fora da residência, em
espaços alugados para os empreendimentos. No quadro 18, os números apontam 30%
das atividades desenvolvidas em espaços alugados, número que contradiz, parcialmente,
a definição da OIT.

Quadro 18 – Local de funcionamento do empreendimento informal.

Local Quantidade %
No domicilio 74 69,16
Fora (Alugado) 31 28,97
No domicílio e fora 2 1,87
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

Ou seja, este percentual, equivalente a um terço da amostra, deve ser


considerado por que ratifica as limitações existentes nas prescrições da OIT,
evidenciando a necessidade de ampliar o escopo a ser abrangido pela informalidade e
seus diversos atores.
De outro modo, a partir do momento que se envolve “o estabelecimento” e as
obrigações que dele decorrem, o responsável assume o papel de gestor do mesmo,
determinando a necessidade do desenvolvimento de estratégia de negócios, enquanto o
trabalhador, enquanto classificação, não tem essa função. No caso da informalidade é
necessário conciliar a função de gestor com a de trabalhador. O ponto central é saber
onde começa o gestor e termina o trabalhador, e vice-versa.
Assim, nossa pesquisa identifica que setenta e um (71) empreendimentos, que
representam aproximadamente 66,5% do total dos estabelecimentos pesquisados,
acusam relações de trabalho pois, além do proprietário, há alocação de mão de obra,
seja familiar ou não. Portanto, este percentual solicita ampliar-se o entendimento da
definição de conta-própria, posto que não é somente o dono ou proprietário que exerce
uma função, por que esse indivíduo passa também a ser duplamente responsável, seja
como trabalhador, seja como gestor do estabelecimento, com seus funcionários, fato que
também impõe limites à utilização da definição trabalhador por conta própria para este
âmbito.
154

Esse padrão, como já comentado, revela a sistematização do fenômeno, que se


repete na pesquisa do IBGE/Sebrae em 2003, quando a taxa de estabelecimentos com
mais de um funcionário é de 76,4% para o Brasil, o que sinaliza um padrão de
comportamento da atividade. Tal fato reforça a necessidade de melhor enquadramento
quando da interpretação das informações sobre informalidade e, especificamente,
quanto aos estabelecimentos informais, conforme quadro abaixo.

Quadro 19 – Número de pessoas ocupadas nos estabelecimentos informais – Out/Nov 2018 e 2003.

Quantidade Pesquisa (%) Brasil (%)


1 pessoa (1) 33,64 24,6
2 pessoas ou + 66,36 76,4
Total 100,00 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018 e IBGE e Sebrae -
Pesquisa Economia Informal Urbana – Ecinf 2003
Chamada:
1 – O proprietário do estabelecimento.

Estes percentuais próximos, apesar do tempo que separa as pesquisas e da


diferença de abrangência que existe entre elas, sinalizam não somente um padrão de
organização, como também reforçam o argumento de que para se construir o
estabelecimento informal e desenvolver a atividade é necessário muito mais do que
vontade. É indispensável também gestão, incorporação de outros funcionários ou
ocupados para o funcionamento do empreendimento enquanto resposta ao mercado
onde atua.
Tal fato aponta que, o proprietário, além de trabalhar e gerenciar precisa de um
auxiliar que exerce um papel próprio no empreendimento, desencadeando um processo
social de trabalho diferenciado, no qual cada elemento exerce funções específicas na
organização.
A figura abaixo demonstra como está estruturada a relação de trabalho no
interior dos estabelecimentos informais, que empregam ou ocupam outros
trabalhadores, os quais podem ser tanto informais e normalmente familiares – por isso
que é diferenciado – quanto formais, estes em menor representatividade, porém com
relações de amizade com os proprietários. Nesse ponto é mister lembrar que o
percentual de empreendimentos com dois ou mais funcionários que exercem suas
funções é de aproximadamente 66,4% do total pesquisado.
155

Figura 8 - Estrutura das relações de trabalho nos estabelecimentos informais

Estabelecimento
Trabalhador
Informal
Informal

Empregador
Informal
Trabalhador
Formal

Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018

Entende-se que a atividade não gera mais-valia, ao contrário, porque sua


intervenção objetiva contribui com a obtenção de valor de uso, no interior da família,
pois grande parte da mão obra envolvida nos empreendimentos informais é vinculada ao
núcleo familiar, portanto parte dela não recebe rendimentos, mas há o trabalho concreto
que se reveste para a família.
Aprofundar a questão é fundamental, por que por se tratar de um
estabelecimento e não de um trabalhador vendendo a sua força de trabalho, produzindo
mais-valia, essa forma de informalidade situa-se em um outro patamar, devido à relação
com a economia regulada, pois o empreendimento informal, em razão de participar do
processo de circulação, exerce o papel de valorização da mercadoria em um outro
estágio, representando um grau de importância relevante para o capital, contribuindo
para sua valorização e acumulação.

Já o ciclo do capital-mercadoria, ao contrário, não se inicia com o valor do


capital, mas como o valor de capital aumentado em forma-mercadoria,
incluindo desde o princípio o ciclo não apenas do valor de capital existente
em forma-mercadoria, mais também do mais valor (MARX, 2014, p. 166)
(...)
Na forma III, o capital valorizado, na forma do produto-mercadoria total,
constitui o ponto de partida e possui a forma de capital que move a si mesmo,
isto é, do capital-mercadoria. É somente após sua conversão em dinheiro que
esse movimento se bifurca em movimento do capital e movimento da renda.
A distribuição do produto social inteiro, assim como a distribuição especial
do produto para cada capital-mercadoria individual, uma parte sendo
destinada ao fundo individual de consumo, outra ao fundo de reprodução,
está incluída, nesta forma, no ciclo do capital. (MARX, 2014, p. 172)
156

É este papel do estabelecimento informal que precisa ser observado, buscando


situar as interfaces tanto com o capital, quanto com a sociedade no seu espaço de
atuação, que é distinto do trabalhador no âmbito da ocupação individual ou do trabalho,
pois o estabelecimento representa o consumo de mercadorias, cuja forma de acesso se
dá através do empreendimento, que mesmo sendo informal transmuta-se como
representante do capital.
Assim, o consumo de bens e serviços é o lado iluminado, visível ao cotidiano
dessa forma de atividade informal, onde também há um lado sombreado, reforçando o
fato do estabelecimento informal estar à margem na economia e nas relações sociais.
Esse jogo de luz e sombra não deixa transparecer a interface com o capital, que precisa
vir à tona, pois esse empreendimento é um canal importante nos ambiente micro de sua
atuação, seja pela sociabilidade, ocupação, renda ou pelo estímulo a uma economia com
regras próprias e fluxo distinto, paralelo ao circuito superior. Em alguns casos o capital
se adaptada para atender este modelo, como é caso das distribuidoras de bebidas, que
adotam cadastro e formas de recebimento específicos para este tipo de empreendimento.
De maneira simplificada a figura a seguir procura demonstrar as relações macro
das relações sociais e produtivas a partir do circuito dos estabelecimentos informais.
157

Figura 9 - Modelo simplificado das relações econômicas dos estabelecimentos informais

Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018

O que se abstrai do gráfico é que o estabelecimento informal está aquém da


simples relação de trabalho-capital pela ótica que adota o trabalhador por conta própria,
pois em razão do consumo de mercadorias, o estabelecimento informal apresenta um
grau maior no nível de comercialização, em razão de sua função de meio entre uma rede
de fornecedores diversos com a demanda situada nos bairros – uma parte em área
periférica ‒, onde o empreendimento informal determina não somente a captura para a
família como também a transferência de receita/lucro advindo do pagamento de fatura.
Conectado não somente a uma rede de fornecedores como a de
clientes/consumo, há um outro aspecto relevante a ser considerado no estabelecimento
informal que é seu caráter coletivo de atuação no espaço com um grau maior de
sociabilidade, construído a partir de relações mercantis regulares e contínuas, que se
sobrepõem a da relação de cunho individual ou pessoal do trabalhador por conta
própria, que pode ou não desenvolver um trabalho, seja para o capital ou para pessoas
físicas.
O espaço onde o estabelecimento estrutura sua relação mercantil é o bairro, isto
é, se constrói em paralelo à lógica capitalista, uma economia do bairro ou, na verdade,
se retoma, com algum grau de vigor, a ideia das mercearias ou pequenos prestadores de
serviços direcionados à demanda local num outro formato de fracionamento dos
158

produtos e de uso imediato. A introdução de serviços digitais como chamariz, a


facilidade de pagamento – incluso o uso de "maquininha" ‒, a redução do custo de
mobilidade e de tempo, o direcionamento dos bens de acordo com a demanda, etc.
agregam ao empreendimento e aos atores sob seu guarda-chuva os recursos necessários
para sobrevivência familiar e do estabelecimento, mesmo com margem mínima, como é
o caso das recargas de celular.
Esse movimento, que orbita o estabelecimento informal, viabiliza nesse espaço
um grau de retroalimentação que mantém em funcionamento o estabelecimento sob
auspício de uma irrigação de recursos entre as partes: rede de fornecedores,
estabelecimento, circulação de bens e serviços pela demanda. Portanto, o
empreendimento informal é um ponto de contato e de troca, seja de captura de
excedente, seja de renda, de sobrevivência e de consumo.

Diante dos novos modos de gestão da produção e das estratégias de circu-


lação e distribuição comercial, a informalidade tende a ser cada vez mais
absorvida nos processos econômicos, de modo que a produção e a circulação
de riquezas e, portanto, a reprodução das desigualdades dependem da
interação e das diversas formas de passagem entre mercados formais,
informais; legais e ilegais (FREIRE, 2017, p. 57).

Em que pese não ser o cerne da tese, ressaltamos que não se deve relativizar essa
importância, por que esse contato expressa atualmente diversas formas de capilaridade
do grande capital (incluso o transnacional) como também um formato específico de
globalização, a globalização por baixo (FREIRE, 2017), onde essa estrutura informal
permite a circulação de mercadorias de diversas matrizes produtivas e diversos países,
através do fluxo de bens e da circulação. Essa situação contemporânea, exige
compreender-se que o estabelecimento informal assume, ao fazer parte da rede
mundializada de fornecedores, papel multifacetado, que não se restringe ao bairro ou ao
município, posto que dependendo da sua lógica, é mesmo uma ponta de lança do grande
capital, seja através da recarga de telefone celular ou da venda de aparelhos eletrônicos,
por exemplo.

A China criou um mercado transnacional de produtos populares, abastecendo


não apenas cidades do Brasil como também da África, Índia e do Oriente
Médio. (QUEIROZ, 2016, p. 1)

Nos anos de 1970 Santos (2003) já apontava esse movimento em Lima, sobre os
pequenos empreendimentos, incluso os informais, funcionando como correia de
159

transmissão com o capital, captando a renda via oferta e comercialização dos bens.
Evidentemente a forma se modifica quando se compara o movimento atual ao
observado pelo autor àquela altura, principalmente em razão dos avanços da
microeletrônica e dos canais de comunicação, mas a essência se mantém no processo de
apropriação da renda e do excedente das famílias situadas no contexto do circuito
inferior.

Suas ligações funcionais com o circuito superior da economia lhes atribui


particularmente uma função correia de transmissão para os produtos
modernos e mais geralmente um papel coletor de poupança popular,
reenviada para o circuito moderno nacional ou estrangeiro por intermédio dos
atacadistas e, depois, dos bancos (SANTOS, 2003, p. 99).

A questão maior é que ao desenvolver atividade econômica há uma ruptura na


fronteira do trabalho e da venda da força de trabalho contida na definição do trabalhador
por conta própria. Rompimento que assume a forma de estabelecimento informal, o qual
deve ser entendido, mesmo no campo da informalidade, através da definição de
“organização não capitalista”, o que de fato é, pois, um empreendimento é uma
organização com dinâmica própria e autônoma em relação a sua práxis e forma, o que
deve ser considerado em termos de parametrização.
160
161

6 ORGANIZAÇÕES NÃO CAPITALISTAS E A INFORMALIDADE


EMPRESARIAL
Para evidenciar a dinâmica da informalidade empresarial e suas relações
produtivas é necessário engendrar mecanismos próprios à captura dessa dimensão no
âmbito da informalidade como um fenômeno mais abrangente. A operacionalização da
pesquisa com instrumentos mais específicos, voltados ao objeto buscou acompanhar a
estrutura, sistematizar as características e o desenvolvimento das atividades suscitadas
nos estabelecimentos fixos de empreendimentos informais.
Conforme o exposto sucessivamente ao longo dos capítulos anteriores, as
definições sobre informalidade apresentam limitações no que tange a ratificar a
organização não capitalista como forma e fenômeno informal. E a classificação em
curso de apreensão enquanto força de trabalho não tem a capacidade de expressar todas
as relações produtivas engendradas sob a comercialização das mercadorias e bens,
tampouco do circuito econômico onde se dá esta circulação.
Por essas razões, a pesquisa de levantamento intitulada Importância do Pequeno
Empreendimento na Economia ‒ realizada na esfera de ação desta tese, em outubro e
novembro de 2018, nos municípios paraenses de Ananindeua, Belém, Benevides e
Marituba ‒, foi estruturada no sentido de captar características do empreendedor
informal, o tipo de atividade e suas diferenciações, o espaço de atuação, a gestão e
diversificação organizacional, as oportunidades de trabalho e renda, a lógica de
comercialização, sua a dinâmica de atuação, enfim, segundo um instrumento de
aproximação que não foi concebido para se aproximar dos sujeitos da pesquisa,
enquadrando-os previamente como trabalhadores por conta própria, por exemplo.
Assim, a presente sessão se concentra na análise dos dados de campo. Com
bases nas respostas buscamos explicitar não somente o perfil do agente, como do
empreendimento informal, visando dar a visibilidade que argumentamos ser necessária
(ainda que aqui de forma pontual e temporal) no tocante ao seu local e às relações
sociais e produtivas as quais envolve.

6.1 Um retrato dos atributos sociodemográficos do informal empresarial

Qual rosto está por trás do balcão ou detrás da porta de entrada do


estabelecimento informal? Os atributos sociodemográficos têm a missão de iluminar
esse perfil, dando sentido ao papel que ele representa na sociedade e na economia, ao
162

mesmo tempo relacionando-o às informações da realidade econômica brasileira,


marcada pela pobreza e pela desigualdade.
Com relação ao gênero do proprietário informal, constatamos (ver quadro 20),
que a maioria é do sexo feminino, respondendo por 55% dos estabelecimentos, o que
indica não somente a entrada das mulheres no mercado de trabalho, como também a
representação delas enquanto provedoras das residências. Este resultado pode estar
relacionado ao grau de desigualdade e de pobreza registrado no Estado e na Região
Metropolitana de Belém (RMB), posto que Mendes (2009), em sua pesquisa sobre
microcrédito e qualidade de vida nos municípios da RMB, alcança um resultado
semelhante ao de nossa pesquisa, onde as mulheres tomadoras de empréstimo
respondem por 60% e os homens por 40%.

Quadro 20 – Empreendimentos informais por gênero do proprietário – Out/Nov 2018.

Gênero Quantidade %
Feminino 59 55,14
Masculino 48 44,86
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

De outro modo, quando se compara os dados de nossa pesquisa, com os da


pesquisa do IBGE/Sebrae (2003), os resultados são inversos, pois naquele levantamento
de abrangência nacional, os homens representam cerca de 66% e as mulheres, 36%.
Ainda em relação à referida pesquisa, os dados relativos à RMB revelam a mesma
dinâmica, apenas com taxas diferentes das nacionais: 41,69% para o sexo feminino e
58,31% o masculino. Embora esses percentuais em relação aos gêneros sejam inversos
aos resultados identificados em nossa pesquisa, são próximos aos que obtivemos.
Em parte, os resultados que analisamos em relação ao gênero feminino, advém
da estrutura do mercado de trabalho e da forma de inserção por gênero num contexto de
desigualdade, que impõem restrições de acesso e de oportunidade, fato que determina
um atraso quanto à empregabilidade e explica uma presença maior das mulheres na
informalidade e, especificamente, na condução dos estabelecimentos informais.

A condição de maior pobreza tem sido um obstáculo à inclusão das mulheres


no mercado de trabalho. Dependendo da situação socioeconômica e da faixa
etária, a taxa de participação das mulheres em relação à dos homens pode
variar. Isso demonstra o quanto a condição de pobreza afeta sobretudo esse
gênero (TEIXEIRA, 2018, p. 6).
163

O processo imigratório para a RMB, manifesto nos dados da pesquisa, ajuda a


compreender parcialmente um movimento do fenômeno, em razão de uma dificuldade
maior de inserção no mercado de trabalho formal entre os que passaram a residir nas
cidades que compõem a região metropolitana e "optaram" pela informalidade. Neste
caso, cerca de 22% (13) das mulheres pesquisadas têm seu local de origem em outros
municípios paraenses e estados brasileiros. Ou seja, a imigração é um componente
importante a ser considerado enquanto padrão da ocupação informal.
Com relação ao local de nascimento dos proprietários dos estabelecimentos
observa-se que 26,17% têm sua origem em outros municípios (ver quadro 21, abaixo),
sinalizando um processo imigratório para a RMB que, por dispor de recursos e de uma
razoável estrutura, acolhe essa busca de oportunidades. Esse percentual total se divide
em 46,43% para o gênero feminino e 54,57% masculino, demonstrando um
comportamento quase idêntico, em relação ao gênero, na dinâmica desse fluxo.

Quadro 21 - Imigração dos proprietários informais – Out/Nov 2018.


Local Nascimento Quantidade %
No município 79 73,83
Fora do município 28 26,17
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

A busca de uma oportunidade, em razão da necessidade de exercer uma


atividade como fonte de renda é um dos fatores, além da presença de recursos e
estrutura, que estimula a imigração, como aponta Santos (2003), em sua reflexão sobre
esse movimento para áreas metropolitanas:

Assim, os imigrantes não vêm atraídos somente pela miragem das atividades
modernas; eles já sabem que na metrópole é possível encontrar uma atividade
qualquer. Mas, acima de tudo, eles estão conscientes de que é melhor ser
pobre em Lima do que em qualquer outra parte, não importante onde
(SANTOS, 2003, p. 92).

Com base nessa observação atentamos para o tempo de permanência do


imigrante que exerce a informalidade empresarial na RMB, o qual oscila entre nove
anos (9) e quarenta e dois (42) de moradia na região, sendo o tempo médio de
aproximadamente vinte e sete anos (27), o que representa uma geração.
164

Quadro 22 – Menor tempo de residência, tempo médio e maior tempo de moradia do imigrante –
Out/Nov 2018.

Indicador Anos
Menor tempo 9
Tempo médio 26,57
Maior tempo 42
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

Em relação ao grau de instrução dos proprietários informais, as informações


coletadas configuram três grandes blocos, conforme se verifica do quadro 23. É
importante ressaltar que a pesquisa não captou a presença de analfabeto, o que é
positivo, inclusive por facilitar a gestão do empreendimento. O primeiro grupo
compreende proprietários cuja instrução é o ensino fundamental (24,30% do total dos
entrevistados). A taxa dos que não completaram os anos de estudos é da ordem de
14,02%.
O segundo grupo, que detém a maior representatividade e, ao mesmo tempo,
sinaliza um resultado expressivo considerando a vulnerabilidade social e a desigualdade
que marca o Brasil e o Pará são os proprietários com ensino médio completo, que
responde por quase 40% do total dos proprietários informais que, acrescidos com os
incompletos, que somam cerca de 23,36% vão totalizar 62,61% dos entrevistados.
Este resultado é compatível com observado por Mendes (2009), que em 2009 captou
que cerca de 53,3% dos proprietários situavam-se na faixa do ensino médio.
Já os proprietários com curso superior completo ou incompleto totalizavam
13,08% do total –completo com 6,54% e incompleto com também 6,54%, número
compatível com Mendes (2009) e superior ao observado pelo IBGE em 2003, que
alcançava o percentual de 7,11%. O avanço na oferta de ensino superior, tanto público
quanto privado aliado a facilidade de financiamento até 2015 explicam a diferença
observado.
É importante observar, especificamente, o percentual dos atores que apresentam
anos de estudos incompletos no campo fundamental (14,02%) e médio (23,36%) que
totaliza cerca de 37,38%, um percentual elevado que aponta tanto a dificuldade de
acesso e permanência em sala de aula e a necessidade de trabalho para compor a renda
familiar, notadamente aponta para a presença de desigualdade e pobreza na sociedade
brasileira, cujo retrato dá-se também pelos anos de estudo. Neste contexto observa-se a
quase igualdade entre os gêneros, pois as mulheres respondem por 49,12% do universo
165

dos atores que não concluíram o ciclo educacional, fato que sinaliza uma uniformização
nas dificuldades e desigualdade neste caso.

Quadro 23– Grau de instrução dos proprietários informais – Out/Nov 2018.

Grau de Instrução Quantidade %


Nunca frequentou 0 0,00
Fundamental incompleto 15 14,02
Fundamental completo 11 10,28
Médio incompleto 25 23,36
Médio completo 42 39,25
Superior incompleto 7 6,54
Superior completo 7 6,54
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

Por outro lado, esses números apontam que a educação não se configura como
uma barreira para a entrada na atividade informal e, principalmente, para a gestão e
operação dos estabelecimentos informais por esses atores que, em conjunto respondem
por aproximadamente 44% da população pesquisa.
No tocante ao estado civil, percebemos que grande parte dos responsáveis pelos
estabelecimentos informais é casada ou está em união estável, aproximadamente 62%,
fato esse que implica num grau de responsabilidade maior, pois o empreendimento é a
fonte de recursos da família, ensejando a necessidade de sucesso na sua gestão e
permanência na atividade (quadros 24 e 25).

Quadro 24 – Estado civil dos informais – Out/Nov 2018.

Estado civil Quantidade %


Solteiro 29 27,10
Casado/União estável 66 61,68
Separo/Desquitado 3 2,80
Viúvo 3 2,80
Não respondeu 6 5,61
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

Quadro 25– Total de filhos e média de filho por proprietário informal – Out/Nov 2018.

Quantidade Total Média


Filhos 186 2,24
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

A média de filhos por proprietário é de 2,24, superior à taxa de fecundidade no


Brasil (IBGE), que é de 1,72, e próxima ao indicador de reposição populacional, 2,1 em
166

2015. Desse modo, a dependência do gestor na promoção de captura de renda deve ser
considerada, aliado ao fato de que a família dispõe a mão de obra para contribuir,
quando necessário, para o empreendimento, o que justifica também o número
considerável de pessoas com anos de estudos incompletos, observado na pesquisa.
Os solteiros detêm uma participação expressiva com 27,10% do total da
pesquisa (quadro 24, acima). Esse percentual pode sinalizar que a opção por um
estabelecimento informal é uma decisão decorrente da procura de oportunidade e renda,
que foi deslocada do emprego formal, tendo em vista que estes motivos foram
apontados por aproximadamente 40% dos que optaram pela informalidade como
caminho da independência, isto é, sua entrada no mercado informal se dá de forma
consciente.
A posição do responsável por estabelecimento no domicílio revela que
aproximadamente 60% são os (as) chefes (as) da família. Neste universo as mulheres
representam quase 38% (37,50%) dos responsáveis pela renda domiciliar. Este
percentual demonstra o grau de importância da atividade, a questão da dupla jornada e a
colocação das mulheres no mercado, buscando ocupação e renda familiar. Já os homens
respondem pelo percentual de 62,5% do total dessa função (ver quadros 26 e 27).

Quadro 26 – Posição no domicílio por ocupante – Out/Nov 2018.

Posição no Domicílio Quantidade %


Chefe 64 59,81
Cônjuge 29 27,10
Filho 12 11,21
Sobrinho 2 1,87
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov 2018.

Quadro 27 – Posição no domicílio do(a) chefe(a) por gênero – Out/Nov 2018.

Posição no Gênero
Domicílio Homens % Mulheres %
Chefe 40 62,50 24 37,50
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov 2018.

Os quadros 28 e 29 retratam a condição de posse dos domicílios e o número de


moradores diretamente ligados aos estabelecimentos informais. Assim, os números
apontam que 81,31% das residências são próprias e totalmente pagas e 6,54% em fase
de pagamento. Estes percentuais sinalizam que os empreendedores informais estão num
patamar superior, seja em condições de renda indireta (sem a despesas), seja de espaço e
167

de capital, o que é positivo ante aos esforços de investimento e captura de renda através
da atividade.

Quadro 28– Condição de propriedade dos domicílios – Out/Nov 2018.

Domicílio Quantidade %
Próprio e totalmente pago 87 81,31
Próprio e ainda pagando 7 6,54
Alugado 9 8,41
Cedido 3 2,80
Não respondeu 1 0,93
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

De outro modo, o número médio de moradores diretamente ligados aos


estabelecimentos informais é de quase quatro, dentro da média brasileira, sendo que a
quantidade de residentes varia de um (1) a nove (9) moradores, onde parte apresenta
uma relação de dependência do empreendimento.

Quadro 29 – Número de moradores total nos domicílios vinculados aos estabelecimentos informais –
Out/Nov 2018.

Moradores Total
Quantidade 405
Média por estabelecimento 3,78
Menor quantidade 1
Maior quantidade 9
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

No que tange à habitabilidade dos domicílios dos responsáveis pelos


estabelecimentos informais e seus familiares, a pesquisa aponta que quase 75% das
residências são atendidas por ligações diretas no fornecimento de água, o que é positivo
pois reduz a possibilidade de veiculação de doenças de origem hídrica. Por outro lado,
cerca de 25,23% das habitações têm seu abastecimento de água atendido por poço ou
outra forma, o que corresponde a uma taxa elevada, sinalizando ausência de
investimento estatal num bem essencial, aliado a um grau de desigualdade e de risco a
que está sujeita grande parte da sociedade. Ver quadro 30, abaixo.

Quadro 30 - Forma de abastecimento de água nos domicílios dos proprietários informais ‒ Out/Nov 2018.

Abastecimento de água Quantidade %


Ligado à rede geral 80 74,77
Poço ou nascente 27 25,23
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
168

No tocante à pavimentação das ruas e avenidas constata-se que grande parte das
vias é pavimentadas, respondem a quase 91% das residências dos estabelecimentos
informais, fato que melhora não somente o acesso, como as vendas das mercadorias e
serviços (ver quadro 31). A discrepância observada entre os percentuais de
pavimentação e abastecimento de água deve-se à questão eleitoral, posto que o asfalto
tornou-se moeda de troca em ações de barganha eleitoreira de alguns políticos, que
colocam no mesmo pacote, o saneamento e as promessas de melhoria de mobilidade
urbana através do transporte público.

Quadro 31 - Pavimentação das ruas nos domicílios dos proprietários informais – Out/Nov 2018

Trecho de rua Quantidade %


Asfaltado 97 90,65
Terra/cascalho 10 9,35
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov 2018.

Em um cenário de pobreza, desigualdade e desemprego crescente, a


informalidade tornou-se um caminho alternativo, uma opção complementar de ocupação
e de renda, fato que justifica uma parte dos proprietários informais ter também outra
fonte de rendimentos. O quadro 32 revela que 20,56% dos proprietários de informais,
informam possuir uma segunda fonte de renda suplementar à obtida na comercialização
de bens e serviços.

Quadro 32 - Proprietários informais com outra renda – Out/Nov 2018.


Outra Renda Quantidade %
Sim 22 20,56
Não 84 78,50
Não respondeu 1 0,93
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov 2018.

A segunda opção de renda, no caso, complementar, advém do grau de pobreza e


do nível dos rendimentos obtidos sob outras formas, como aposentadoria, pensão ou
trabalho assalariado, que gera a necessidade de uma outra alternativa de renda, como se
denota nos dados do quadro 33, cujas informações revelam que grande parte está ao
redor de dois salários mínimos em média, exceto a renda de aluguel, na ordem de dois
mil e duzentos reais (R$ 2.200,00).
169

Quadro 33 - Tipo de outra forma de renda dos proprietários informais – Out/Nov 2018.

Origem Quantidade % Renda Média


Aposentadoria 4 18,18 1.977,00
Pensão 4 18,18 1.332,50
Aluguel 4 18,18 2.200,00
Assalariado privado 2 9,09 715,00
Assalariado público 4 18,18 1.972,50
Outra atividade 4 18,18 1.075,00
Total 22 100,00 -
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov 2018

De outro modo, cabe atentar para dois aspectos interessantes no quadro acima. O
primeiro diz respeito à presença de servidor público nas atividades informais como
segunda opção de renda, o que demonstra as perdas salariais que a categoria vem
sofrendo ao longo do tempo, ratificando com esses dados o que hoje é algo rotineiro
neste segmento. O segundo caso é o nível de rendimentos no segmento privado, que é
inferior ao salário mínimo vigente em 2018, na ordem de novecentos e cinquenta e
quatro reais (R$ 954,00).
Já o quadro 34 demonstra que a sobrevivência, as condições de vulnerabilidade
social e a falta de oportunidade e de acesso estão na raiz da desigualdade e pobreza que
marcam a sociedade brasileira e obrigam a antecipação na entrada no mercado de
trabalho, perdendo-se a infância e a adolescência. Assim, a menor idade em que a
pessoa entrevistada começou a trabalhar foi aos nove (9) anos e a idade média foi de
quase dezessete anos (16,83), refletindo o cenário social de poucas possibilidades de
inserção.

Quadro 34 – Idade média quando começou a trabalhar.

Idade inicial de trabalho Anos


Menor idade 9
Idade média 16,83
Maior idade 29
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

Os fatores que movem a informalidade são assentados em um tripé: falta de


oportunidade, busca de independência e necessidade de complementar renda, o que
justifica esse caminho alternativo individual e/ou familiar. O primeiro eixo, o da falta de
emprego ou desemprego é um fator que obriga a adoção do trabalho informal ou a
construção de estabelecimento informal por necessidade de sobrevivência e alcança
19,40% da amostra (quadro 35, abaixo).
170

Quadro 35 – Principal motivo para estabelecer um empreendimento informal (1) – Out/Nov 2018.

Motivo Quantidade %
Não encontrou emprego 26 19,40
Oportunidade de tornar-se sócio 0 0,00
Horário flexível 5 3,73
Ser independente 53 39,55
Tradição familiar 4 2,99
Completar a renda familiar 38 28,36
Experiência no ramo 3 2,24
Negócio vantajoso 2 1,49
Atividade complementar se tornou principal 0 0,00
Outro 3 2,24
Total 134 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Múltiplas respostas

O segundo fator que move o desejo de exercer uma função no âmbito informal,
desenvolvendo ações movimentadas pelo capital social e econômico que permita a
obtenção de renda por este meio, deve-se às condições sociais e de exploração no
mundo formal. Assim aproximadamente 40% apontam a busca da independência como
sua principal motivação, o que sinaliza que atividade tem a capacidade de manter um
contínuo fluxo de renda, permitindo a sustentabilidade, tanto do empreendimento
quanto pessoal e/ou familiar, além é claro, de estar livre das relações vinculados ao
mercado de trabalho formal e capitalista.
Por fim, a necessidade de aumentar a renda familiar é o terceiro fator que
justifica a entrada na atividade informal, conforme se lê no quadro 35, sinalizando que a
pobreza, o desemprego e a desigualdade são forças-motrizes da decisão de apostar na
informalidade como o caminho para obtenção de renda, neste caso, domiciliar ou
familiar. Essa opção, em razão dos desníveis sociais que a motivam, é
predominantemente do gênero feminino, que responde por 68,43% do total das
respostas (quadro 36). Certamente a medida de ocupar-se e obter renda advém, em
parte, das dificuldades, em razão da necessidade de conduzir o lar e a família, o que
explica esse percentual.

Quadro 36 - Opção da informalidade para complementar renda (por gênero) – Out/Nov 2018.

Motivo Gênero
Homens % Mulheres %
Complementar a renda 12 31,57 26 68,43
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
171

Em relação à renda na atividade informal no mês de referência, observamos um


grau de dispersão elevado entre o menor e o maior valor auferido nos estabelecimentos,
ressaltando que já se deduziu as despesas. No extrato de renda mais baixo, que equivale
à 0,41 do salário mínimo, situa-se os que atuam no campo de complementar a renda,
com especial destaque para as mulheres. Ver quadro 37.
De outro modo, a renda líquida média obtida na atividade é da ordem de quase
dois salários mínimos. O maior rendimento é de oito mil reais, que representava,
aproximadamente, oito salários mínimos e meio em novembro de 2018. Ressaltamos
que tal valor é vinte (20) vezes superior à menor renda registrada, conforme confere-se
no quadro abaixo.

Quadro 37 - Renda (1) líquida média dos proprietários dos estabelecimentos informais – Out/Nov 2018

Renda líquida Valor Em relação S.M


Menor renda líquida 400,00 0,41
Renda líquida média 1.818,00 1,91
Maior renda líquida 8.000,00 8,39
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
Nota:
1 – Resposta espontânea.

De outro modo, quando se realiza o cruzamento entre a renda auferida na


atividade no mês de referência, por gêneros, constata-se diferentes níveis de
rendimentos e de dispersão, posto que, os valores obtidos pelos homens superam os das
mulheres, tanto na menor renda, quanto na média e no maior valor, com destaque para o
extrato inferior, onde a dispersão é na casa dos 50%, conforme os dados do quadro 38.
Uma parte dessa diferença deve-se ao tempo de trabalho, visto que as mulheres exercem
suas atividades a uma média de 8,1 horas diária e os homens, cerca de 8,9 horas.

Quadro 38 - Renda (1) líquida média dos proprietários dos estabelecimentos informais por gênero –
Out/Nov 2018.

Homens Em relação Mulheres Em relação Diferença em


Renda líquida S.M %
Valor S.M Valor
Hora média de trabalhada 8,9 h 8,1 9,88
Menor renda líquida 600,00 0,63 400,00 0,41 50,00
Renda líquida média 2.400,00 1,91 1.376,18 1,44 74,39
Maior renda líquida 8.000,00 8,39 6.000,00 6,29 33,33
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
Nota:
1 – Resposta espontânea.
172

Quando se compara a renda média líquida por gênero observa-se a taxa de


dispersão na ordem de 74,39%, próxima e ligeiramente superior à observada pela
Fundação Perseu Abramo, ratificando que a desigualdade de gênero é de caráter
nacional. Ou seja, o fenômeno do desnível de renda não é local ou metropolitano, ao
contrário, apresenta contornos nacionais conforme aponta relatório de conjuntura da
Fundação Perseu Abramo, de março de 2019:

Além da ausência de direitos trabalhalistas do trabalhador informal a renda


do trabalhador informal é menos da metade da renda de quem é registrado.
Em 2017, o conjunto dos informais recebia, em média, 48,5% dos
rendimentos dos formais. A desigualdade se mantém na comparação por
sexos e raça. Uma mulher informal recebeu, em média, 73% de um homem
na mesma condição e uma pessoa preta ou parda na informalidade recebeu
60% de um branco na mesma situação (FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO,
2019, p. 7).

No que diz respeito aos proprietários dos estabelecimentos informais


observamos que apenas uma minoria recolhe contribuição para a previdência pública56,
ao redor de 14% (ver quadro 39), o que é natural, pois eles têm de atuar em duas frentes:
a primeira é a da gestão do estabelecimento, buscando manter o equilíbrio dos recursos
para o capital de giro, e a segunda é a manutenção do fluxo de rendimentos para a
família, fato que exige adoção de medidas para reduzir a saída de renda, como no caso
do recolhimento para a seguridade social.

Quadro 39 - Proprietários informais que recolhem previdência social – Out/Nov 2018.

Recolhe Previdência Quantidade %


Sim 15 14,02
Não 92 85,98
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov2018.

Sobre a participação dos proprietários informais em movimentos ou


organizações sociais constatamos que o nível de associação é ínfimo, não alcançando
3% do universo pesquisado (quadro 40).

56
“Sugerem, a respeito, que para os mais pobres dentre eles o custo de se manter formal talvez ainda seja
muito alto, mesmo depois da redução da contribuição previdenciária à metade do valor original”
(CARDOSO, 2014, p. 24).
173

Quadro 40 - Proprietários informais que participam de associações e sindicatos – Out/Nov 2018.

Participa Quantidade %
Sim 3 2,80
Não 98 91,59
Não respondeu 6 5,61
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018

Segundo análise da Fundação Perseu Abramo, a variável acomodação57, negação


política e tempo justificam parte deste comportamento, pois, o ator informal tem uma
jornada de trabalho excessiva e focada na sua atividade, não permitindo desvio para
participar de ações de ordem política ou reuniões associativas ou de movimentos.

O cenário delineado pela Pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo


“Trajetórias da Informalidade no Brasil Contemporâneo” expõe alguns dos
obstáculos para a organização dos trabalhadores informais. Entre eles,
destaca-se, por exemplo, a ausência de tempo disponível para a organização
política, reuniões, encontros, assembleias.
Tal ausência de tempo para além do trabalho, há consciência de que se o
informal autônomo abrir mão de horas de trabalho para participar de alguma
manifestação política, ele inevitavelmente não receberá por essas horas
(FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 2019, p. 5).

6.2 Por dentro do estabelecimento informal

Para compreender o universo dos estabelecimentos informais é necessário


entender suas características, origens e os elementos que lhes dão forma. Um desses
elementos é a família, que se converte em um dos componentes a colocar em risco a
informalidade enquanto atividade, por que exige que seja feita a melhor gestão possível
dos instrumentos, de modo a garantir o funcionamento e continuidade da atividade de
forma estável, permitindo a sobrevivência do empreendimento e o sustento familiar.
Desse modo, um importante indicativo de sustentabilidade é o tempo na
atividade, o que revela, simultaneamente, que as dificuldades de inserção e de ocupação
não são recentes ou conjunturais, e sim perenes, em vista de uma economia cada vez
escassa de empregos. O quadro 41, a seguir, informa o tempo de funcionamento dos
estabelecimentos informais, refletindo a opção do ator e seu esforço para manter-se
ativo no segmento.
Com base nessas informações constatamos que a idade média na atividade
informal empresarial captada pela pesquisa foi de quase dez (10) anos, porém, merece
57
Referente ao cansaço do trabalho.
174

destaque a informação de que aproximadamente 10% dos entrevistados estão no


mercado informal a uma idade superior a trinta (30) anos, sendo que, dentre estes há
dois (2) casos que trabalham na informalidade empresarial há quarenta (40) anos, ou
seja, quase duas gerações.

Quadro 41– Tempo na atividade informal empresarial – Out/Nov 2018.

Tempo na atividade Anos/meses


Menor tempo na atividade 1,0
Tempo médio na atividade 9,7
Maior tempo na atividade 40
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

De acordo com a PCBR, existem 3.670 estabelecimentos nas favelas


pesquisas. Destes, 51% atuam, no máximo, há 3 anos e 18% há mais de 10
anos, sendo 6,4 anos seu tempo médio de funcionamento (OLIVEIRA et al,
p.251).

Quanto ao tempo em que se encontra exercendo a atividade no mercado com


o empreendimento destaca-se que 12% encontra-se de um a três anos no
mercado, 14% encontra-se exercendo suas atividades de quatro a cinco anos,
e 74% exercem sua atividade empreendedora há mais de cinco anos. Percebe-
se, portanto que a maioria dos pesquisados já estão atuando no mercado há
mais de cinco anos, o que evidencia a maturidade e sedimentação dos
negócios em que atuam (CARNEIRO, 2010, p. 92).

Percebemos que o tempo de funcionamento do estabelecimento na informalidade


é relacionado à forma de entrada, ao momento do ator, à experiência, ao custo de
entrada (capital), ao retorno da demanda para a manutenção do empreendimento. É esse
conjunto de fatores que justifica o início das atividades. Assim, conforme
sistematizamos no quadro 42, o segmento comercial abriga maior número de
empreendimentos com 64,49%, seguido pelo de serviços, que registra a taxa de 22,43%
‒ nesses casos o aporte de recursos é menor em comparação às áreas comercial e
industrial, o que funciona como oportunidade para abrir o estabelecimento.

Quadro 42 – Qual o setor econômico (1) do estabelecimento informal – Out/Nov 2018.

Segmento Quantidade %
Comércio 69 64,49
Indústria de Transformação 14 13,08
Serviço 24 22,43
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
Nota:
1 – Resposta espontânea
175

Já a atividade industrial além de requerer conhecimento, também suscita maior


experiência e aporte de capital, o que justifica um menor percentual de participação
dentre os empreendimentos, com 13,08% dos entrevistados em nossa pesquisa. Apesar
desses números menores em relação aos demais seguimentos, é importante reconhecer
que dentro da informalidade há um esforço por parte desse agente informal em dar um
passo maior – que também implica em maior risco – que é ofertar bens com maior valor
agregado e, ao mesmo tempo, construir uma rede de fornecedores e de comercialização
dos bens produzidos. Isso é mais complexo e deve ser observado de forma atenta pelos
analistas do tema.
Nesse sentido, a configuração da informalidade como caminho para a
independência guarda relação com menores barreiras à entrada no marcado, justificando
a taxa média de funcionamento que está ao redor de nove (9) anos, quando
desagregadas as informações, especificamente nos segmentos comercial e de serviços.
Surpreendentemente, o setor industrial acusa treze anos como tempo médio do
empreendimento, conforme quadro 43.

Quadro 43 – Tempo da atividade no setor econômico (1) do estabelecimento informal – Out/Nov 2018.

Tempo na atividade Comércio Indústria Serviço


Anos/meses
Quantidade de estabelecimentos 69 14 24
Menor tempo na atividade 1 1 1
Tempo médio na atividade 9,03 13 9,63
Maior tempo na atividade 40 40 26
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Resposta espontânea

Em relação ao tempo médio das atividades, especificamente nos segmentos


comercial e de serviços, é importante atentar para a conexão com a crise internacional
de 2007/2008 e seu gradativo impacto na economia brasileira durante a transição do
Governo Lula para a presidência de Dilma Roussef. O tempo médio de ambas as
atividades – 9,03 e 9,63, respectivamente – coincide com o agravamento das
dificuldades econômicas, a crise institucional de 2014/2015 e a lenta paralisação do
Estado e o avanço da recessão. Esse contexto se refletiu no aumento do desemprego, na
pauperização e na ampliação da desigualdade, justificando, parcialmente, a
informalidade, nas suas diversas formas, como caminho para a obtenção de renda.
Esse processo, movido pelos que denominamos “filhos da crise”, é perceptível
nas informações do quadro 44, que mostra o ambiente e o movimento de migração para
176

a informalidade como forma de ocupação e geração de renda. O agravamento das


condições econômicas, sociais e institucionais da economia e do Estado brasileiro entre
2009 e 2010 provocaram o salto na instalação dos estabelecimentos informais, de modo
que a partir desse período ocorreu o crescimento na operação dos empreendimentos
informais, cuja taxa de assentamento é da ordem de 12,15%.

Quadro 44 - Período de instalação (1) do estabelecimento informal – Out/Nov 2018.

Período Quantidade % Período Quantidade %


Antes de 1994 6 5,61 de 2007 a 2009 4 3,74
de 1995 a 1997 3 2,80 de 2010 a 2012 13 12,15
de 1998 a 2000 8 7,48 de 2013 a 2015 20 18,69
de 2001 a 2003 5 4,67 de 2016 a 2018 37 34,58
de 2004 a 2006 4 3,74 não respondeu 7 6,54
Total 107
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

Assim, o crescimento na instalação e funcionamento dos estabelecimentos


informais se mostra constante a partir de 2012. No período de 2013 a 2015 ingressam na
atividade 18,69% empreendimentos, entre 2016 e 2018 há um salto de quase duas vezes
mais, quando a taxa de assentamento alcança cerca de 34,58%. Esses números ratificam
que a crise econômica e institucional do Brasil impactou o trabalho formal, fazendo da
informalidade uma saída e, neste caso, as organizações não capitalistas funcionam como
porta de entrada da informalidade empresarial.
Para desenvolver a atividade informal é necessário o capital, algo inerente ao
sistema capitalista. Em linhas gerais constata-se que a base dos recursos investidos é de
origem familiar ou resultado do trabalho individual: indenização, herança e poupança
pessoal/familiar. Tais variáveis são responsáveis por quase 61% da origem dos
investimentos necessários para começar o empreendimento informal. Desagregando
esse resultado (ver quadro 45), as indenizações respondem por 16,24% do recurso e a
poupança pessoal e/ou familiar por 40,17%.
Nesse aspecto, depreendemos que o papel e o apoio da família são basilares para
o salto da informalidade, onde o que determina o sucesso ou o fracasso é uma linha
tênue, que separa o investimento e o risco, pois nesses casos, as a energia e a força
motriz são coletivas, portanto, um resultado negativo também gera impacto no coletivo
domiciliar.
177

Quadro 45– Origem do capital para iniciar o empreendimento informal (1) – Out/Nov 2018.

Origem do capital Quantidade %


Indenização recebida 19 16,24
Herança 5 4,27
Poupança pessoal e/ou familiar 47 40,17
Venda de imóveis/veículos/motos 0 0,00
Empréstimos de parentes/amigos 24 20,51
Empréstimos bancários 13 11,11
Adiantamento de fornecedores 5 4,27
Capital do sócio 1 0,85
Agiota 2 1,71
Outro 1 0,85
Total 117 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
Nota:
1 – Múltiplas respostas

Os empréstimos de parentes ou amigos representa um percentual expressivo de


20,51%. Os empréstimos bancários também apresentam uma taxa de participação
importante, ao redor de 11,11%, porém em relação as demais modalidades, significa
maior necessidade de alavancagem e também um risco maior, que pode comprometer a
sustentabilidade da família e do estabelecimento ante o esforço de pagamento dos
empréstimos.
É importante registrar a presença de agiota como elemento de financiamento
entre os estabelecimentos, com uma pequena representatividade de 1,71%. Essa prática
da agiotagem é corriqueira em feiras e entre ambulantes, seja para obter capital de giro
ou investimento inicial, conforme observamos na imersão em campo, por ocasião das
entrevistas qualitativas ao longo de 2017 e 2018, tanto em Belém como em Bragança e,
recentemente essa prática foi alvo de denúncia no município de Santarém (PA)58.

58
"O delegado geral Alberto Teixeira determinou apuração sobre a ação de agiotas colombianos no centro
de Santarém. Empréstimos ilegais são feitos na praça da Matriz, com abordagem a mototaxistas,
ambulantes e pequenos comerciantes. Diversos casos já foram denunciados, mas o bando continua com as
atividades. Os valores variam de R$ 300,00 a R$ 3 mil por pessoa tem que pagar parcelas de R$ 180,00
por dia durante 20 dias. No fim do prazo estipulado, o valor total pago chega a R$ 3.600,00". Cf. Jornal
Diário do Pará, coluna Repórter Diário, 10 de maio de 2019, página A2, caderno Política.
178

Quadro 46 – Investimento total (1) e por atividade dos empreendimentos informais (2) – Out/Nov 2018.

Comércio Indústria Serviço


Atividade
Investimento Em Em Em
Em R$ Em R$ Em R$
Em R$ relação relação relação
1,00 1,00 1,00
1,00 ao S.M ao S.M ao S.M
Menor invest. 463,00 470,00 0,49 490,00 0,51 463,00 0,48
Invest. médio 6.538,45 7.242,86 7,59 6.830,66 7,16 4.514,19 4,73
Maior invest. 98.181,69 98.181,69 102,91 17.474,06 18,31 14.727,25 15,44
Invest. Total 614.579,45 427.328,46 447,93 83.048,37 87,05 104.202,62 109,23
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Os valores inflacionados com base Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna / Dez 2018
(número índice 697,446) = 100. Do rol de empreendimentos pesquisados, cerca de seis (6) informações
foram retiradas do cálculo pois se referiam a estabelecimentos que iniciaram suas operações anteriores a
julho de 1994, mês de implantação da terceira fase do Plano Real. A medida deve-se as alterações
processadas na moeda brasileira que poderiam, em razão dos cortes de zero, afetar o cálculo por
imprecisão na resposta do informante.
2 – Respostas espontânea.

Os capitais desembolsados como investimento inicial para instalar os


estabelecimentos informais apresentam, como característica, a dispersão nos valores,
conforme se observa no quadro 46 (acima). Por exemplo, nos investimentos totais
percebe-se essa amplitude que oscila (a preços de 2018) entre quatrocentos e sessenta e
três reais (R$ 463,00) a quase cem mil reais (R$ 98.181,69) registrando, em termo
médio, um capital na ordem de seis mil e quinhentos reais (R$ 6.538,45).
Ao desagregarmos os investimentos iniciais por segmento produtivo
constatamos equidade apenas nos menores investimento entre as atividades, ao redor de
quinhentos reais. De outro modo, quando analisamos o capital médio observamos uma
aproximação entre o segmento comercial e industrial, porém no segmento de serviço o
valor é inferior, o que se justifica devido ao menor custo de entrada deste na
informalidade.
É na atividade comercial que se detecta o maior investimento realizado num
estabelecimento informal de aproximadamente cem mil reais (R$ 98.181,69), muito
superior quando comparado ao valor investido no segmento industrial e de serviços,
respectivamente, R$ 17.474,06 e R$ 14.727,25, números esses que revelam a
discrepância no interior da informalidade empresaria, como também entre seus atores.
O quadro 47 faz a conexão entre a origem, o volume do capital e o esforço
efetuado pelo agente para iniciar o empreendimento informal. Assim, em relação aos
recursos oriundos de indenizações, eles respondem por quase 19% dos investimentos
179

totais para uma taxa de participação de 16,24%, o que compreende um esforço de


poupança equivalente a 8,58 do salário mínimo vigente em 2018.
Já a poupança pessoal ou familiar registra o maior volume no aporte do capital,
totalizando cerca de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais), com valor médio de
R$ 9.271,46, que representa quase dez salários mínimos, fato que sinaliza o esforço
familiar como elemento não somente de apoio, como de investidor na empreitada. Nesta
linha destacam-se também os empréstimos de parentes e amigos, com uma taxa de
19,72% ocupando a segunda posição em termos de aplicação de capital nos
empreendimentos, delineando um tipo de risco calcado num empréstimo cuja base
contratual é a confiança.
Por outro lado, demonstrando relação com o circuito superior está tanto a opção
de empréstimos bancários, como o adiantamento dos fornecedores, este com uma
participação menor em termos de valor aportado.

Quadro 47 – Origem do capital e investimento total (1) dos empreendimentos informais (2) – Out/Nov
2018.

Empreendimentos Investimento total Invest. Médio


Origem do capital
Quant. % Valor em R$ 1,00 % Valor R$ 1,00 Em S.M
Indenização recebida 19 16,24 114.621,83 18,65 8.187,27 8,58
Herança 5 4,27 37.097,86 6,04 9.274,46 9,72
Poupança pessoal e/ou familiar 47 40,17 241.159,24 39,24 6.028,98 6,32
Empréstimos de
parentes/amigos 24 20,51 121.207,48 19,72 5.269,89 5,52
Empréstimos bancários 13 11,11 64.834,29 10,55 5.402,86 5,66
Adiantamento de fornecedores 5 4,27 15.571,24 2,53 3.114,25 3,26
Capital do sócio 1 0,85 2.175,28 0,35 2.175,28 2,28
Agiota 2 1,71 15.375,55 2,50 7.687,78 8,06
Outro (1) 1 0,85 2.536,69 0,41 2.536,69 2,66
Total 117 100 614.579,45 0,19 5.252,82 5,51
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Os valores inflacionados com base no Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna / Dez 2018
(número índice 697,446) = 100. Do rol de empreendimentos pesquisados, cerca de seis (6) informações
foram retiradas do cálculo, pois se referiam a estabelecimentos que iniciaram suas operações anteriores a
julho de 1994, mês de implantação da terceira fase do Plano Real. A medida deve-se às alterações
processadas na moeda brasileira, que poderiam em razão dos cortes de zero, afetar o cálculo por
imprecisão na resposta do informante.
2 – Respostas espontânea.
Chamada:
1 – Aluguel de imóvel.

É importante ressaltar que os investimentos dos estabelecimentos informais,


pequenos quando observados apenas pela ótica do seu montante, são relevantes ante ao
180

esforço para formação da poupança pessoal ou da família e de amigos. Assim esses


empreendimentos possuem representatividade em diversos níveis, seja pela sua
capacidade de irrigar a conexão com o circuito superior (renda e mercadorias), seja por
dinamizarem seu ambiente micro, local, por meio de ocupação ou oportunizando bens e
serviços no limite da capacidade de renda, abreviando o tempo e o custo de
deslocamento, o que é importante para a comunidade.
Diferente do trabalho do camelô ou do ambulante, que requerem um capital
inicial menor, operar o estabelecimento informal requer esforços e recursos em monta.
Portanto, é necessário levar em conta que essa vertente na informalidade advém de uma
estratégia diferenciada, com objetivo de atender um outro tipo de consumidor, fato que
explica o empreendimento informal. A estratégia do gestor pelo espaço fixo (ver quadro
48) é alinhada à questão de melhor atender o cliente, que responde por 54,49% das
respostas por esta opção entre os proprietários informais, acrescidos, em razão direta, de
melhor condição de qualidade de trabalho, com 23,08% e, em consequência, do
armazenamento das mercadorias, que totaliza cerca de 7,69%.

Quadro 48 –Motivo para estruturar o empreendimento informal (1) – Out/Nov 2018.

Motivo para estruturar o estabelecimento fixo por atividade Comércio Indústria Serviço
Qtd. % Qtd. Qtd. Qtd.
Atender melhor os clientes 85 54,49 59 9 17
Não ser incomodado pela fiscalização-prefeitura 6 3,85 3 2 1
Melhor aquisição de mercadorias para 6 - 1
fornecedores 7 4,49
Melhor condição de trabalho 36 23,08 15 8 13
Segurança 9 5,77 6 - 3
Melhor armazenamento das mercadorias 12 7,69 8 2 2
Outro 1 0,64 1 - -
Total 156 100,00 98 21 37
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Múltiplas respostas

A percepção de melhor atendimento e qualidade no desenvolvimento das tarefas


é transversal a todos os segmentos econômicos, especialmente nas atividades comercial
e de serviços. De outro modo, é importante registrar que o item segurança não é um
fator de preocupação no momento decisório de iniciar as atividades dos
estabelecimentos informais, em que pese o agravamento do nível de violência na região
metropolitana de Belém, ou seja, é uma percepção acessória é não determinante.
A dificuldade de obtenção de recursos aliada à necessidade de criar habilidade
gerencial são variáveis que se somam à falta de apoio para iniciar a atividade, posto que,
181

56% dos estabelecimentos começaram sem qualquer apoio, fato que demonstra que a
presença de políticas públicas e instituições, como Credcidadão, Fundo Ver o Sol ou
Sebrae ainda estão distantes de parte do seu público-alvo, pois apenas 10,28% dos
entrevistados (ver quadro 49) informam terem recorrido às agências públicas para
iniciarem suas atividades, o que representa um percentual baixo para o tempo de
existência das mesmas e de seus objetivos59.

O PNMPO, pois complementa o PROGER, ao abrir o universo do crédito a


microempreendedores informais de menor renda. Mas assim como o MEI e
outros mecanismos desse tipo, aparentemente não atinge os mais pobres entre
os pobres, dificultando, com isso, a penetração nos segmentos mais
resistentes da informalidade, aqueles para quem a condição informal é
resultado de trajetórias de vida vulneráveis e, no limite, extrínsecas aos
ambientes de regulação pública (CARDOSO, 2014, p. 29).

Assim o estímulo dos amigos e parentes se reveste de uma importância


fundamental para a instalação e operação inicial dos estabelecimentos informais,
alcançando o percentual de aproximadamente 32% no quesito apoio ao início dos
mesmos. Em que pese este número, observamos que grande parte dos atores começam
na atividade sem nenhum tipo de apoio. Este dado é extremamente representativo pela
taxa, na ordem de 56,07%, o que permite inferir sobre os riscos a qual estão sujeitos no
caminho adotado.

Quadro 49 – Obteve apoio na estruturação do empreendimento informal (1) – Out/Nov 2018.

Obteve apoio para iniciar a atividade Quantidade %


Postos públicos de atendimento ao trabalhador 0 0,00
Associação de classes/sindicatos 0 0,00
Agências públicas de apoio (Credcidadão/Sebrae/Sesi/Senai/Ver o Sol) 11 10,28
Amigos/parentes/conhecidos 34 31,78
Bancos privados 0 0,00
Bancos públicos (Banpará, Banco da Amazônia, Caixa Econômica, Banco
do Brasil) 1 0,93
Sem Apoio 60 56,07
Não respondeu 1 0,93
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

59
Embora a amostra da pesquisa tenha se constituído a partir de cadastro cedido por um fundo de apoio, a
questão detém-se no início do negócio. Isso significa que embora existam informações do entrevistado no
cadastro do CredCidadão, no caso, não quer dizer que ele tenha obtido apoio do mesmo para iniciar seu
empreendimento.
182

A construção diária para solidificar o estabelecimento e, ao mesmo tempo,


conseguir sustentabilidade operacional e renda familiar é uma trajetória solitária no
campo do risco, posto que, a maioria dos atores age de forma individual, ou seja, sem
sócios. A figura do sócio, captada em nossa pesquisa, é inferior a 5% no total de
empreendimentos e, dentre esses, grande parte é de parentes do gestor principal,
conforme se constata o quadro abaixo:

Quadro 50 – Estabelecimentos com sócio, se são parentes e se trabalham no empreendimento – Out/Nov


2018.

Respostas Quantidade % Trabalham


na atividade
Sim 5 4,67 5
Sócio parente 4 80,00
Sócio não parente 1 20,00
Não 101 94,39 -
Não respondeu 1 0,93 -
Total 107 200,00 5
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018

De outro modo, o que era uma suposição antes de iniciarmos a pesquisa,


confirma-se como elemento real após a análise das informações levantadas: no interior
do estabelecimento informal a jornada de trabalho é pautada pela intensidade do
trabalho, pois, a média de horas de trabalho semanal é de 56 horas, com uma carga
horária média diária de 8,34 h, sem contar que há unidades que trabalham cerca de 14
horas por dia (ver quadro 51). Tal fato revela que para se manter competitivo e também
atender os compradores, é necessário estar disponível.

Quadro 51 – Média de dias trabalhados e média de horas semanais trabalhadas no empreendimento


informal (1) – Out/Nov 2018.

Horas/Dias de semana de trabalho Dias/Horas


Média de dias por semana 6,63
Horas semanais média 56,23
Hora diária média 8,34
Menor jornada diária 4
Maior jornada diária 14
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov2018.

Portanto, a jornada prolongada é típica da informalidade por necessidade de


captura de renda

Nos relatos dos próprios trabalhadores obtidos nas entrevistas da pesquisa


verifica-se que o trabalhador informal, para conseguir dar conta de seu
183

sustento e sobrevivência material, aloca todo seu tempo em atividades


relacionas ao trabalho, com jornadas diárias de mais de dez horas
(FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 2019, p. 17).

É importante ressaltar que, além da jornada prolongada, observamos que 70%


dos estabelecimentos informais funcionam os sete dias da semana, ou seja, em
domingos e feriados (ver quadro 52, abaixo). Tal fato ratifica que o tempo de operação e
funcionamento tem uma relação direta com a renda capturada, o que implica em
dedicação total e justifica, entre outras coisas, a baixa participação em associações e/ou
organização civil, conforme discutido anteriormente.

Quadro 52 – Média de dias trabalhados e horas semanais média trabalhadas no empreendimento informal
(1) – Out/Nov 2018.

Trabalha Domingos e Feriados Quantidade %


Domingos e feriados 75 70,09
Exceto domingo e feriados 32 29,91
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

A combinação jornada prolongada e funcionamento semanal ininterrupto


provocam perdas na qualidade de vida do gestor do estabelecimento informal e de sua
família, pois limita o lazer, a convivência social e a saúde, em função das horas
trabalhadas e da dedicação necessárias.
À guisa de reflexão, a jornada de trabalho média superior a oito horas diárias
revela a transferência para a informalidade de uma carga, via circulação, de esforço que
vai além da valorização do capital, compreendendo a geração de forma indireta de mais-
valia, que o circuito superior transpassa aos estabelecimentos informais e à
informalidade como um todo, que, para fazer frente a sua necessidade de renda e
cumprir com suas obrigações, suporta uma jornada ampliada de horas, pois somente
dessa forma é possível capturar o excedente, visando transferi-lo ao grande capital.
Em que pese funcionarem como organizações não capitalistas, os
estabelecimentos informais mantêm relações produtivas e fluxo econômico com o
circuito superior, que utiliza de controle financeiros em bases digitais, fato este que
justifica a necessidade de adoção de mecanismos de suporte à gestão financeira do
empreendimento informal. Essa circunstância justifica a bancarização de parte da
atividade informal empresarial, que mantém contas individuais em instituições
financeiras. A taxa de empreendimentos/proprietários com conta bancária corresponde a
65,42% do total de unidades econômicas, sendo 38,42% os que utilizam este
184

instrumento como ferramenta para seus negócios, seja para honrar compromissos ou
para recebimentos. 27,10% dos entrevistados, mesmo tendo conta corrente não a
utilizam nas atividades dos estabelecimentos, conforme demonstrado no quadro abaixo:

Quadro 53 – Proprietários com conta corrente e uso no movimento do estabelecimento (1) – Out/Nov
2018.

Mantém conta Quantidade % Utiliza a c/corrente %


conta corrente no empreendimento
Sim 70 65,42 41 38,32
Não 37 34,58 65 60,75
Não respondeu - - 1 0,93
Total 107 100,00 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

É importante ressaltar que o avanço da "maquininha" como instrumento de


transação online se dá em todos os níveis, seja em empresas formais, nos camelôs, nos
vendedores ambulantes ou nos estabelecimentos informais, o que obriga responsáveis a
manterem conta corrente em bancos, pois é nos bancos que as instituições financeiras
depositam os valores decorrentes das negociações.
Nesse sentido, a difusão do uso da moeda eletrônica como meio de compra,
impôs a transição dos informais para esta forma de operação, obrigando-os a adaptarem-
se a essa modalidade. Consequentemente, aumenta a bancarização – que cede
automaticamente o cartão de crédito e captura os recursos que ainda estavam fora do
circuito ‒, fato que necessita ser observado, a fim de se perceber seu impacto na
economia, tanto em termos monetários, quanto tributário e fiscal.
De outro modo, 34,58% dos responsáveis pelos estabelecimentos informais não
detêm contas em bancos, portanto, distantes do sistema monetário e, ao mesmo tempo,
de alguma possibilidade de controle e de existência na lógica formal, o que pode, num
futuro, se converter em dificuldade na gestão do empreendimento, para aquisições de
mercadorias, empréstimos etc.
Na mesma linha da bancarização e da utilização das ferramentas financeiras
constatamos que aproximadamente 59% dos responsáveis pelos estabelecimentos têm
cartão de crédito (ver quadro 54, abaixo), mas, somente 31,78% o utilizam em suas
atividades, pois os encargos financeiros são elevados, fato que coloca em risco a gestão
dos empreendimentos. Em sentido contrário, há uma parcela dos atores que detém
cartão de crédito que somada aos que não registram essa ferramenta, respondem por
185

66,36% do total que não empregam o cartão de crédito na gestão dos empreendimentos
informais.

Quadro 54 – Proprietários com cartão de crédito e uso no movimento do estabelecimento (1) – Out/Nov
2018.

Tem cartão de crédito Quantidade % Usa c/crédito no empreendimento %


Sim 63 58,88 34 31,78
Não 44 41,12 71 66,36
Não respondeu - - 2 1,87
Total 107 100,00 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

Já o quadro de pessoas ocupadas nos estabelecimentos informais (proprietários e


funcionários) é expressivo, dadas as condições objetivas gerais, marcadas por
dificuldades (capital de giro, volume de vendas etc). Ainda assim, esses
empreendimentos assumem um papel relacionado à inserção da mão de obra no
mercado de trabalho, mesmo não recolhendo os direitos sociais ‒ a maioria ‒ e
remunerando abaixo do salário mínimo ‒ quando há remuneração regular. Assim, a taxa
de empregabilidade captada pela pesquisa é de aproximadamente 51%, sendo que,
destes cerca de 24,77% registram vínculo familiar, conforme se vê no quadro abaixo:

Quadro 55 – Total de pessoas ocupadas nos estabelecimentos informais – Out/Nov 2018.

Funcionários na Unidade Econômica Quantidade %


Funcionários 111 50,92
Com vínculo familiar 54 24,77
Sem vínculo familiar 57 26,15
Proprietários 107 49,08
Total de ocupados 218 100,00
Média do total de ocupados por estabelecimentos 2,04 -
Média de funcionários por estabelecimentos 1,56 -
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

Observamos também que parte dos funcionários que trabalham nos


estabelecimentos informais não têm vínculo familiar. Esse número é ligeiramente
superior aos que possuem vínculo, com uma taxa de 26,15%. É importante ressaltar a
média de ocupados por estabelecimentos, na ordem de dois funcionários por
empreendimento, o que significa que para cada unidade econômica há dois ocupados.
Porém, quando desagregamos a informação por estabelecimentos, constatamos
(ver quadro 56), que a média induz a um equívoco, posto que, nem todos os
empreendimentos têm um outro funcionário além do proprietário, visto que, apenas
186

66,36% das unidades de fato registram trabalhadores ocupados, sendo que


aproximadamente em 34% só o proprietário exerce a atividade.

Quadro 56 – Estabelecimentos informais com e sem funcionários – Out/Nov 2018

Estabelecimentos Quantidade %
Estabelecimentos c/ funcionários 71 66,36
Estabelecimentos s/ funcionários 36 33,64
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018

Dos estabelecimentos informais que acusam funcionários nas suas atividades,


aproximadamente 70% empregam familiares diretos e 4% parentes. De outro modo,
uma parte dos empreendimentos, que somam cerca de 25,35%, contratam colaboradores
fora da rede familiar (ver quadro abaixo), podendo ser amigos, indicações e etc.

Quadro 57– Estabelecimentos informais com funcionário e relação familiar – Out/Nov 2018

Estabelecimentos c/ funcionários Quantidade %


Apenas emprega familiar 49 69,01
Em parte emprega familiar 3 4,23
Emprega não familiares 18 25,35
Não respondeu 1 1,41
Total 71 100
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

Em que pese a importância das ocupações geradas no limite dos


estabelecimentos, com ligeira predominância de não familiares entre os ocupados
(voltar ao quadro 55), notamos que nenhum dos funcionários vinculados aos
empreendimentos informais possui carteira de trabalho assinada (vide quadro 58),
portanto, não são formais, fato que ratifica a condição de confiança nas relações de
trabalho, bem como o custo extra que impactaria no funcionamento do negócio, que
oficializasse esses vínculos empregatícios, o que soa como natural na estrutura que
envolve esses estabelecimentos.
A perpetuação desse processo também expõe à leitura a existência de um círculo
vicioso, visto que, estando informal o estabelecimento, e mesmo considerando os
limites da sua capacidade de recursos, este reproduz sua condição ante à sociedade nas
relações de trabalho, limitando os diretos sociais e ampliando o grau de exclusão a que
estão submetidos os trabalhadores, reproduzindo no seu cotidiano os mecanismos que
impulsionaram ao caminho da informalidade, o que reforça o quadro social e econômico
vigentes, mantendo a lógica do circuito inferior. Não advogamos aqui pela formalização
187

da atividade. Sem entrar nesse mérito, argumentamos sim sobre a necessidade de se


resguardar o acesso aos diretos sociais, cuja ausência amplia os efeitos do conjunto das
desigualdades no Brasil.
Quadro 58 – Estabelecimentos informais com funcionários que não possuem carteira de trabalho assinada
– Out/Nov 2018.

Forma do emprego Quantidade %


Com carteira assinada - -
Sem carteira assinada 64 90,14
Não respondeu 7 9,86
Total 71 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

Em relação à remuneração dos funcionários ocupados que trabalham nos


estabelecimentos informais percebemos, conforme se observa no quadro 59, a ampla
variação nos valores pagos a eles, em valores que oscilam entre R$ 300,00 – muito
inferior ao salário mínimo – a R$ 1.500,00 – como maior rendimento e tendo a média
salarial ao redor de R$ 1.089,09. É importante considerar que essa variável é sensível
em qualquer pesquisa, nesta, por exemplo, apenas vinte e dois (22) pesquisados
declararam essa informação, ante setenta e um empreendimento (71) que acusaram ter
funcionários, fato que por si só explica o grau de imprecisão na mesma.

Quadro 59 – Remuneração média dos funcionários ocupados (1) nos estabelecimentos informais –
Out/Nov 2018.

Remuneração Valor
Menor remuneração declarada 300,00
Remuneração média declarada 1.089,09
Maior remuneração declarada 1.500,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Resposta espontânea. Apenas vinte e dois (22) informantes responderam a questão.

Os dados do quadro 60 desagregam a remuneração declarada por segmento


econômico, revelando ‒ mesmo considerando as limitações das informações disponíveis
‒, que a amplitude também se faz presente entre as atividades. Assim, o segmento
comercial detém a menor remuneração média entre as atividades, com
aproximadamente R$ 950,00, ligeiramente inferior ao salário mínimo. Já o setor
serviços registra o valor médio remuneratório superior ao salário mínimo, com R$
1.116,00, e a indústria que, aparentemente, melhor remunera com cerca de um R$
1.730,00, equivalente a 1,81 salário mínimo.
188

Quadro 60 – Total de pessoas ocupadas com vínculo e sem vínculo familiar e remuneração média
declarada (1) nos estabelecimentos informais – Out/Nov 2018.

Funcionários
Total Com Sem Remuneração
Atividade Proprietários vínculo vínculo Média (1)
Comércio 69 57 37 20 (2) 946,67
Indústria de Transformação 14 21 9 12 (3) 1.733,33
Serviço 24 33 8 25 (4) 1.116,67
Remuneração média 107 111 54 57 1.089,09
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 –Resposta espontânea, sendo que apenas vinte e dois (22) informantes responderam.
Chamadas:
2 – Resultado médio obtido a partir de doze (12) informações.
3 – Resultado médio obtido a partir de três (3) informações.
4 – Resultado médio obtido a partir de sete (7) informações.

É através dessa estrutura operacional que os estabelecimentos informais se


inserem na economia, especificamente na economia do seu bairro ou arredores, onde
procuram atuar com objetivo de preencher pequenas frestas, ofertando bens e serviços a
uma demanda ajustada aos limites e às características do empreendimento: preço, forma
de atendimento, proximidade da clientela aliado a um menor tempo de deslocamento da
mesma etc. Esse conjunto dá sustentabilidade para ao funcionamento do
estabelecimento.
Os elementos sistematizados e analisados ao longo deste tópico são importantes
para consolidar os estabelecimentos informais como unidade produtiva, cujo peso e
representatividade se dá no seu ambiente, não somente vinculada ao aspecto econômico,
pois sua integração é construída através de uma rede social, que perpassa desde do
acesso a bens, do emprego, da convivência até a internalização da renda e,
principalmente, a sustentabilidade familiar/residencial. Essas organizações não
capitalistas estão calcados numa identidade local, que espraia benefícios na
comunidade, construindo elos para além da relação produtiva ou econômica, no seu
tempo e do seu tamanho.
A compreensão desse processo só efetiva por meio das características dos
estabelecimentos, da forma e dos mecanismos de interação e dos instrumentos de
atuação que deles provêm, o que também garante sua atuação frente a uma simples
matemática de custo e de retorno, que não explica, por si só, a sustentabilidade dos
empreendimentos, o que subverte a lógica racional da economia. São expressivos,
mesmo em seu caráter atomizados e são responsáveis por um fluxo contínuo, que
189

alimenta a si como também ao outros (parte da economia do circuito superior), portanto,


não devem ser desprezados, e sim incluídos, a fim de que seja viável acompanhar e
compreender seu papel no contexto socioeconômico.

6.3 O dia a dia do estabelecimento informal

A rotina do estabelecimento informal se caracteriza – há exceções – pelo tempo


intensivo no seu funcionamento, que se por um lado impõe limites ao gestor e à família
em termos de convivência social, por outro, garante a estabilidade e sustentabilidade,
reduzindo os riscos e assegurando a continuidade das operações.
A adoção de estratégias é vital, pois o mundo atual está em mutação, sendo cada
vez mais virtual e inovador, tendo como característica o surgimento de novos padrões
de consumo a cada momento, que exigem do gestor maior interação com seu público
consumidor, com as tendências do mercado e de comportamento, visando acompanhar
essas transformações.
A palavra de ordem no cotidiano do gestor, mesmo informal, é adaptação às
transformações no mercado e no seu local – em face da concorrência de iguais e, às
vezes, do grande capital – no limite de sua capacidade operacional, buscando estruturar
a governança do empreendimento.
Assim, para acompanhar a dinâmica do mercado uma parte dos estabelecimentos
utiliza, em alguma medida, ações de marketing (ver quadro 61). Cerca de 54,21% dos
empreendimentos realizam algum tipo de propaganda como elemento de gestão. De
outro modo, um percentual expressivo, de aproximadamente 46%, não usa nenhuma
propaganda como apoio à venda e à comercialização no mercado onde atua.
Dos responsáveis que utilizam a propaganda como ferramenta de
comercialização observamos que os gestores detêm um grau de informação
considerável (informado e muito informado) sobre a atividade e o negócio, posto que,
91,37% apresentam conhecimento sobre gestão, o que explica a opção pelo uso de
instrumentos de divulgação e apoio para alavancar as vendas, aderindo ao bordão de que
"a propaganda é alma do negócio”.
190

Quadro 61 – Estabelecimentos informais que utilizam qualquer forma de propaganda e o grau de


informação da sua atividade – Out/Nov 2018.

Utiliza Nada Pouco Informado Muito Não


Quantidade %
Propaganda Informado Informado Informado Respondeu
Sim 58 54,21 1 3 36 17 1
Não 49 45,79 1 13 22 13 -
Total 107 100,00 2 26 58 30 1
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
Em relação aos informais empresariais que não usam propaganda em suas
atividades observamos que a participação do "nada informado" e do "pouco informado"
é expressiva, alçando quase 29% do total. Comparativamente aos que utilizam esse
percentual é elevado, demonstrando um espaço a ser ocupado, além do
desconhecimento da ferramenta como elemento de alavancagem das vendas e
estabilização do empreendimento.
Os principais tipos de propaganda que os estabelecimentos informais utilizam
para divulgar suas atividades são intermediados pelos meios tradicionais mais
populares, como o boca a boca, com 40,54%; os panfletos, com uma taxa de 8,11%; os
cartões de visita e as faixas, respectivamente com 7,21% e 4,50%, conforme apontado
no quadro 62.

Quadro 62– Tipos de propaganda utilizadas pelos estabelecimentos informais (1) – Out/Nov 2018.

Tipo de Propaganda Quantidade %


Boca a boca 45 40,54
Panfletos 9 8,11
Cartão 8 7,21
Faixa 5 4,50
Boca de ferro 2 1,80
Rádio/Televisão 0 0,00
Telemarketing 2 1,80
Plataformas digitais 40 36,04
Total 111 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.
Nota:
1 – Múltiplas respostas

De outro modo merece destaque a introdução e o uso das plataformas digitais


e/ou rede sociais como instrumento de propaganda, utilizadas por 36,04% dos gestores
dos estabelecimentos como ferramenta de apoio à divulgação dos produtos e serviços.
Além da visibilidade e do fácil manuseio e independência, é necessário considerar o
custo e a necessidade de estar presente num mundo digital e midiático como um
191

caminho de expansão da atividade. Este é uma caminho sem volta, pois apresenta
múltiplas facetas e oportunidades ao informal, ampliando seu raio de ação, o que
importante para consolidar seu empreendimento. Conforme observam Freitas e Lima
(2017),
Além de algumas características, como o baixo capital, o reduzido nível
tecnológico, a gestão familiar, a busca pela renda e não pelo lucro como fator
de sobrevivência, ao se apropriar da comunicação digital em rede, a
informalidade transmuta-se ao tipo que denominamos “infoinformal”, que
para nós é o trabalhador com atividade não regularizada pelos organismos
oficiais, que passa a atuar também em rede mundial digital, ofertando
produtos e serviços, utilizando predominantemente seus perfis pessoais em
redes sociais de plataformas digitais (FREITAS, LIMA, 2017, p. 8).

Portanto, em tempos recentes, parte da informalidade transmuta-se,


incorporando a midiatização da atividade, passando este informal a uma outra categoria
a de “infoinformal”, onde as ferramentas digitais são utilizadas como instrumento
estratégico na atividade.
Dentre as principais características dos atores que usam a plataforma digital
observamos que aproximadamente 68% é do sexo feminino, sendo que o comércio e os
serviços concentram a maioria das atividades que utilizam os recursos desses ambientes,
respectivamente 47,40% e 32,50% do total dos estabelecimentos (ver quadro 63). Já
sobre os equipamentos de acesso às plataformas, ainda predomina o uso computador,
com 60%. Mas, é expressivo o uso de dispositivos móveis, seguindo a tendência da
sociedade brasileira, onde a maior parte acessa às tecnologias digitais de informação e
comunicação conectadas em rede, via dispositivos móveis, principalmente o celular.

Quadro 63 – Algumas características dos informais empresariais (1) que utilizam plataforma digital como
meio de divulgação – Out/Nov 2018

Totais Por gênero


Quantidade % Quantidade %
40 Homens Mulheres
19 32,5 27 67,5
Por atividade
Qtd. % Qtd. % Qtd. %
40 Comércio Indústria Serviço
19 47,50 8 20,00 13 32,50
Por acesso
Quantidade % Quantidade %
40 Computador Disp. Móvel
24 60,00 16 40,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 – A classificação por atividade é resposta espontânea.

As motivações e a maneira como os atores informais se relacionam com as


plataformas digitais como estratégia de negócio se dá sob duas maneiras. Uma parte
192

focaliza apenas na divulgação das atividades e dos produtos, conforme demonstrado no


quadro 64, abaixo. Esses respondem por 47,50% dos estabelecimentos conectados a esta
forma de propaganda. O segundo grupo de estabelecimentos trabalha tanto na oferta de
seus bens e serviços como nas tratativas de vendas, através da plataforma digital, o que
alcança cerca de 45%, que deve ser agregado aos 5% que usam a mesma como canal de
venda.
Quadro 64 – Formas de uso das plataformas digitais pelos estabelecimentos informais – Out/Nov 2018.

Utilização Quantidade %
Apenas divulgação 19 47,50
Apenas vendas 2 5,00
Divulgação e vendas 18 45,00
Não tinha dimensão da capacidade 1 2,50
Não sabe 0 0,00
Total 40 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018.

O quadro 65, abaixo, associa informações que demonstram como a comunicação


digital se assenta sobre a estrutura em uso pela sociedade. Pelo uso do aplicativo de
mensagens instantâneas Whatsapp (50,65%) inferimos sobre a existência de rede de
clientes estruturada pelo gestor, a qual opera de acordo com sua estratégia de venda, ao
mesmo tempo em que atende demandas específicas, num canal de uso direto, controlado
e semifechado, dando um certo de liberdade ao informal.
Já a segunda mídia social mais utilizada é o Facebook, com 31,17%. Aberta e
sujeita ao acompanhamento da concorrência por meio dos grupos de vendas e
classificados, principalmente, envolve maior risco para o empreendedor, seja em termos
empresariais, seja em termos legais. Nesta mesma linha encontra-se o Instagram, com
18,18% (ver quadro abaixo).
193

Quadro 65 – Redes sociais utilizadas pelos estabelecimentos informais como instrumento de propaganda
– Out/Nov 2018

Tipo/Redes-Aplicativos-Plataformas Quantidade %
Instagram 14 18,18
Whatsapp 39 50,65
Telegram 0 0,00
Twitter 0 0,00
Facebook 24 31,17
Badoo 0 0,00
Linkeldin 0 0,00
Flickr 0 0,00
Pinterest 0 0,00
Tumblr 0 0,00
Total 77 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Múltiplas respostas

Chama a atenção ausência no uso de outras mídias sociais digitais, como por
exemplo, o Telegram ou Flickr, que são menos populares, embora tenham fins
semelhantes aos do Whatsapp e Instagram, respectivamente, não integram trustes ou
holdings.
O meio digital é usado como forma de aproximação dos possíveis clientes,
porém, a efetividade da venda se dá em ambiente físico, fora da dimensão digital, até
mesmo em razão do tipo de comunicação usada.

O produto e o preço funcionam como elemento de aproximação entre o


comprador e o vendedor, mas é na forma de pagamento que se inicia, de fato,
a tratativa para o fechamento do negócio, neste caso, diretamente e fora do
contexto aberto do Facebook. A utilização do Whatsapp representa a
transferência do ambiente aberto para o fechado como estratégia de
comercialização, onde é possível, na relação comprador – vendedor, uma
alternativa que atenda ambas as partes, num jogo de mascate.
Esse movimento do fechamento negócio no fluxo Facebook – Whatsapp –
face a face adapta a venda direta e negociada do camelô e/ou vendedor porta
a porta. Uma outra inferência é que o Facebook é uma plataforma digital
importante para a publicização do produto ou serviço, mas na estratégia do
infoinformal, funciona com a complementariedade do Whatsapp. Nesse
sentido, as mídias sociais são ativadas em conjunto até a efetividade do
negócio, quando passam a ser físicos a mercadoria, o comprador e o
vendedor (FREITAS, LIMA, 2017, p. 13).

A opção de utilizar as plataformas digitais como canais de propaganda, de venda


e de relacionamento pelos informais revela a necessidade de acompanharem as
mudanças processadas nas relações com os consumidores, conforme os dados do quadro
194

66, que apontam a adoção dessa estratégia no intervalo entre menos de 1 ano a 2 anos,
englobando cerca de 85% do total de empreendimentos.
Neste caso temos um “e-commerce60” distinto, particular, de baixo custo e com
restrições no processo de venda/pagamento, visto que essa ação busca ocupar um
espaço de comercialização e também demonstrar “modernidade” ao (possível) cliente
comprador, apesar das limitações do gestor do estabelecimento informal. Trata-se,
portanto, de uma utilização sujeita aos seus limites organizacionais.

Quadro 66 – Tempo de utilização das redes sociais pelos estabelecimentos informais como instrumento
de propaganda – Out/Nov 2018.

Tempo de uso da plataforma digital Quantidade %


Menos de 1 ano 10 25,00
De 1 a 2 anos 24 60,00
De 2 a 3 anos 2 5,00
De 3 a 4 anos 2 5,00
De 4 a 5 anos 2 5,00
Mais de 5 anos 0 0,00
Total 40 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
O quadro 67 sinaliza como grande parte dos estabelecimentos comercializam
suas mercadorias e/ou serviços para os consumidores finais, no próprio bairro, vibrando
uma economia própria e ativa, estimuladora do desenvolvimento local, o que justifica a
manutenção do empreendimento e seu porte, pequeno e focado.

Quadro 67– Destino dos produtos comercializados pelos empreendimentos informais por destino de
consumo (1) – Out/Nov 2018.

Destino dos produtos Total de Unidade


Para consumidores finais 107
Para intermediários 4
Para informais 2
Para empresas formais 3
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Múltiplas respostas.

A área de atuação do estabelecimento advém da compreensão do informal


empresarial sobre a demanda futura, bem como sobre o mercado pretendido, ainda que
limitado pelo tamanho do capital. Nas palavras de Edimilson Piquet, “alimentação e
refrigerantes sempre têm espaço" e foi por onde ele iniciou a suas atividades, porém,

60
Uma das características do comércio eletrônico, mais conhecido como e-commerce, é o fato das
transações de compras e vendas se darem no ambiente digital online, o que não acontece no caso retrato,
em grande parte da informalidade empresarial.
195

"com perspectiva para bebidas, porém são necessários os vasilhames, cadastro na


distribuidora e capital para aquisição inicial do produto”. Assim, no quadro 68 observa-
se que grande parte dos empreendimentos concentram-se em uma única área de atuação.
Apenas 25,23% dos estabelecimentos atuam em duas áreas. A explicação para esse
comportamento advém, além das limitações do capital do agente, das dificuldade de
gestão e acesso aos bens e serviços, bem como do retorno da demanda, principalmente
deste último item, que implica na recuperação do capital de giro, que no caso é mais
imprescindível em curto prazo.

Quadro 68– Área de atuação (1) dos Estabelecimentos Informais (2) – Out/Nov 2018

Estabelecimentos/Área de 1°Área de 2°Área de 3°Área de 4°Área de Não


Atuação atuação atuação atuação atuação respondeu
Quantidade de Estabelecimentos 105 27 7 3 2
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 –Entende-se como área de atuação a principal linha de atuação do estabelecimento, p. ex., alimentação;
bebidas, restaurante e etc.
2 – Múltiplas respostas

A segunda área de atuação dos estabelecimentos é predominantemente na


atividade comercial, que responde por 33,33% dos empreendimentos, o que é incipiente
no segmento indústria, dada a própria natureza da atividade, que requer um grau de
especialização maior. Já no setor de serviços, a segunda atividade exercida, não
apresenta relevância elevada, respondendo por 12,50% empreendimentos nesta área (ver
quadro 69, abaixo).

Quadro 69 – Área de atuação (1) dos Estabelecimentos Informais (2) – Out/Nov 2018

Atividade Estabelecimentos 1° Área de 2° Área de 3° Área de 4° Área de Não


atuação atuação atuação atuação respondeu
Comércio 69 67 23 6 2 2
Indústria 14 14 1 - - -
Serviço 24 24 3 1 1 -
Total 107 105 27 7 3 2
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Entende-se como área de atuação a principal linha comercial de atuação do estabelecimento, p. ex.,
alimentação; bebidas, restaurante e etc.
2 – Múltiplas respostas

A necessidade de recuperar e manter o capital giro determina que grande parte


dos estabelecimentos opte por receber o pagamento das mercadorias e serviços
oferecidos em espécie, embora sejam 15,38% os empreendimentos que recebem através
de cartão de crédito ou débito. De outro modo, apesar da menor participação, é
196

importante registrar que 2,31% dos estabelecimentos oferecem a caderneta como


instrumento de comercialização. Antigamente conhecida como “pendura” ou "fiado",
onde os clientes antigos ou conhecidos podem "pagar depois”, essa prática não
desapareceu complemente, conforme é possível conferir no quadro 70.

Quadro 70– Forma de recebimento pelos produtos e serviços comercializados pelos estabelecimentos
informais (1) – Out/Nov 2018.

Forma Quantidade %
Dinheiro 107 82,31
Crédito/débito 20 15,38
Caderneta 3 2,31
Nota promissória 0 0,00
Cheque (inclui pré-datado) 0 0,00
Total 130 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018
Nota:
1 – Múltiplas respostas.

Na perspectiva de garantia de receita, alguns estabelecimentos informais têm


como prática o trabalho por encomenda ou subcontrato, mas essa forma ocupa, no total,
cerca de 10,28% dos empreendimentos, que exercem parcialmente sua atividade focada,
conforme se denota no quadro 71. Além da certeza de realização de vendas por parte do
informal, observa-se uma relação com o segmento formal, pois parte do serviço
encomendado é vinculado a empreendimentos formais que legalizam o “produto
informal”, através de vendas legalizadas, demonstrando, neste caso, uma conexão entre
os circuitos inferior e superior.

Quadro 71 – Estabelecimentos informais que trabalham por encomenda ou subcontrato – Out/Nov 2018

Trabalha encomenda ou subcontrato Quantidade %


Não 95 88,79
Sim, exclusivamente 0 0,00
Sim, parcialmente 10 9,35
Sim, grande parte das horas 1 0,93
Não respondeu 1 0,93
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.

Os quadros 72 e 73, a seguir, revelam, via compras e fluxo de renda, a conexão


com o circuito superior, pois 54% dos estabelecimentos informais adquirem as
mercadorias ou serviços no atacado ou, dependendo das circunstâncias, tanto no varejo
197

quanto no atacado, opção que responde por aproximadamente 31% da estratégia de


compras dos empreendimentos na atividade informal empresarial.
A conexão com o circuito superior é sedimentada e ocorre de maneira natural,
porque parte das aquisições se efetivam em distribuidoras pequenas (40,74%). As
grandes respondem por 34,81% , sendo que esses mecanismos absorvem o excedente
gerado no ambiente da informalidade. Os números ratificam então, como os
estabelecimentos informais estão parcialmente sujeitos ao regime capitalista, ou seja,
são semiautônomos. Nesta visão, a troca do excedente por mercadorias ou serviços no
campo da circulação confirmam que o segmento informal também contribui para a
continuidade e alimentação da produção, injetando capital monetário no circuito
superior e, no limite, indiretamente o lucro e, dentro deste, a mais-valia.

Quadro 72 – Segmento onde os estabelecimentos informais adquirem mercadorias/serviços – Out/Nov


2018.

Segmento onde adquire mercadorias/serviços Quantidade %


Varejo 14 13,08
Atacado 58 54,21
Varejo/atacado 33 30,84
Não respondeu 2 1,87
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.

De outro modo, é importante ressaltar o percentual de 21,48% dos


estabelecimentos informais que operam na aquisição de bens e serviços na
informalidade. Essa forma de aquisição contribui para a manutenção de parte do
emprego e da renda circulando no circuito inferior, o que é importante, por que
retroalimenta essa dimensão do fenômeno da informalidade, permitindo algum grau de
autonomia.
198

Quadro 73 – Origem das mercadorias e serviços por tipo de fornecedores (1) – Out/Nov 2018.

Tipos de Fornecedores Quantidade %


Informais 29 21,48
Distribuidoras pequenas 55 40,74
Distribuidoras grandes 47 34,81
Recebe dos clientes 1 0,74
Doação/aproveitamento 1 0,74
Coleta (produtos extrativos) 1 0,74
Importações 0 0,00
Outro 1 0,74
Total 135 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 – Múltiplas respostas

De outro modo, a conexão com o circuito superior pode ser observada através da
emissão de cupom fiscal emitido pelos distribuidores, tanto pequenos, quanto grandes.
Isso representa não somente a relação do circuito inferior com o superior, como também
aponta para a contribuição, através da aquisição de bens e serviços, com os tributos.
Ressaltando-se que esta compra não gera crédito ao estabelecimento informal, porém
esse esforço é apropriado tanto pelas empresas formais – que adquirem crédito a maior
–, quanto pelo Estado, quando do recebimento das taxas e impostos.
É importante observar (ver quadro 74), que 24,30% das empresas distribuidoras
não emitem cupom/nota fiscal. Em tais casos, a sonegação ocorre no campo formal, não
sendo a informalidade a responsável pela prática. Esse modo de ver ajuda a
reposicionar, em certa medida, o discurso frequentemente acionado para marginalizar a
informalidade, sob a alegação de que a mesma não contribui no esforço tributário. Ao
contrário disso, se for vista pelo prisma que evidenciamos, ela também gera
tributos/taxas quando da aquisição de seus materiais.

Quadro 74 – Compras em distribuidoras que emitem nota/cupom fiscal (1) – Out/Nov 2018.

Emissão de nota/cupom fiscal Quantidade % Dist. Pequenas Dist. Grandes


Sim 81 75,70 41 43
Não 26 24,30 14 4
Total 107 100,00 55 47
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 – Múltiplas respostas.
199

O conteúdo registrado no quadro 75, abaixo, demonstra o dinamismo dos


estabelecimentos informais, evidencia o quanto é necessária a gestão do
empreendimento, pois a rotatividade de mercadorias e serviços exige tanto do controle
de estoque, de custo e financeiro, como no campo da administração rotineira. Assim,
aproximadamente 17% dos entrevistados abastece o estabelecimento diariamente,
portanto, necessitam de recursos, bem como de mensurar a quantidade de bens a ser
adquirido, e, claro, de uma cadeia de fornecedores e sistema de controle.
O intervalo semanal de abastecimento ‒ compreendido entre três e sete dias ‒ é a
prática mais comum por parte dos estabelecimentos informais, respondendo por
aproximadamente 50% da aquisição de mercadorias e serviços, fato esse que não
somente alimenta a conexão entre dois circuitos, como demonstra a capacidade de
absorção da demanda e, consequentemente, ajuda a sustentabilidade do
empreendimento e explica a longevidade dos estabelecimentos.
O grupo de estabelecimentos cuja rotatividade das mercadorias e serviços ocorre
quinzenalmente ou mensalmente também apresenta resultados expressivos,
respectivamente, 14,02% e 15,89%. Tais números sinalizam que a estrutura de negócios
e de controle é distinta em relação aos outros estabelecimentos informais, ou seja, em
porte e volume de receita.

Quadro 75 – Período de abastecimentos dos estabelecimentos informais (1) – Out/Nov 2018.

Período Quantidade %
Diariamente 18 16,82
A cada três dias 7 6,54
A cada cinco dias 4 3,74
Semanalmente 42 39,25
Quinzenalmente 15 14,02
Mensalmente 17 15,89
A cada dois meses 2 1,87
Outro 2 1,87
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Em que pese o avanço do dinheiro eletrônico na comercialização constatamos o
predomínio do pagamento em dinheiro por parte dos gestores dos estabelecimentos
informais, em 78,40% dos entrevistado, conforme mostrado no quadro abaixo. Tal
comportamento reduz o risco no tange a obrigações futuras (cartão de crédito), aliado a
regras impostas pelos fornecedores em razão da situação jurídica dos empreendimentos.
O volume das aquisições limita o uso do prazo como ferramenta de dilatação da compra
200

pelo estabelecimento, o que em associação com a rotatividade determina que a captura e


retorno da moeda como meio de pagamento seja quase imediata.

Quadro 76 – Forma de pagamento das aquisições efetuadas pelos estabelecimentos informais (1) –
Out/Nov 2018.

Forma Quantidade %
Em dinheiro 98 78,40
Cartão de crédito 21 16,80
Boleto 6 4,80
Nota promissória 0 0,00
Cheque 0 0,00
Verbal/confiança 0 0,00
Cheque pré-datado 0 0,00
Total 125 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 – Múltiplas respostas.

Também importa observar que parte das compras ocorre com outros informais
(rever quadro 73, apresentado anteriormente). Esse fato explica, em parte, a opção pelo
uso do dinheiro como instrumento de compra pelo gestor do estabelecimento que
circula entre os informais. A segunda opção utilizada para aquisição de mercadorias
pelos estabelecimentos informais é o cartão de crédito, com 16,80% do total, o que
confirma o caminho da bancarização e do uso do dinheiro eletrônico como ferramenta
de administração financeira entre os informais.
A circulação dos recursos monetários administrados pelos estabelecimentos
informais se efetua, em grande parte, no estado. As compras realizadas na capital,
Belém, respondem por 31,86% das aquisições. Já as compras realizadas na RMB
representam 42,48%, ou seja, juntas, Belém e RMB acumulam o percentual de 73,34%
(ver quadro 77), o que revela a concentração nesta área, de uma rede de negócios
justificando, via mercado do circuito inferior, a concentração de atividades61 e de
tributos nessa esfera.

61
Há centralização das operações pelos distribuidores na área, dada a dimensão política, econômica e de
estrutura dessa região, fato que não significa que o resultado das vendas não seja transferido para as
matrizes das empresas para outras regiões do Brasil e para fora, como é caso do Carrefour, que opera no
atacado na RMB, porém a matriz é na França.
201

Quadro 77 – Local de origem dos fornecedores de mercadorias e serviços adquiridos pelos


estabelecimentos informais (1) – Out/Nov 2018.

Local Quantidade %
Belém 36 31,86
Região Metropolitana de Belém 48 42,48
Pará 7 6,19
Fora do Pará, mas no Brasil 20 17,70
Importado 2 1,77
Total 113 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 – Múltiplas respostas.

Não menos importante é a informação de que uma parte dos fornecedores estão
situados fora dos perímetros estaduais, respondendo por aproximadamente 18% dos
produtos e serviços comercializados pelos estabelecimentos informais. Esse percentual
demonstra o grau de abertura e integração e, ao mesmo tempo sinaliza, como o
comércio interregional abastece o mercado informal, que assim produz, fora do Estado e
da região, efeitos como a transferência de excedente e de renda.
De outro modo é interessante observar, a partir da indicação no quadro 78, a
ausência de percepção sobre a origem de mercadorias por parte de muitos dos gestores
dos estabelecimentos informais, os quais indicam ‒ exceto no caso das mercadorias
paraenses‒, que grande parte das mesmas são fabricadas no Brasil, com um percentual
de 74,59%. Em que pese a falta de percepção das origens das mercadorias, destacamos
que 4,10% dos entrevistados apontam que os produtos comercializados são importados.
Essa distorção entre percepção de origem é percebida quando se atenta para o fato de
cerca de 11,12 % dos estabelecimentos informais têm em sua área de atuação, artigos
importados como aparelhos eletrônicos e componentes eletrônicos, papelaria,
armarinho etc, que em grande parte são chineses.
202

Quadro 78 – Indicação de origem das mercadorias e serviços adquiridos pelos estabelecimentos informais
(1) – Out/Nov 2018

Origem Quantidade %
Paraenses 19 15,57
Regionais 7 5,74
Brasileiras 91 74,59
Importados 5 4,10
Total 122 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018
Nota:
1 – Múltiplas respostas

Para iniciar as atividades produtivas, bem como para acessar e construir suas
relações de negócios, 81,31% dos gestores dos empreendimentos informais afirmaram
não terem encontrado obstáculos na obtenção de mercadorias e serviços. Por outro lado,
16,82% e 1,87% dos estabelecimentos informais, respectivamente, apontam a presença
de barreiras e exigências, como pagamento adiantado e venda somente com cartão de
crédito ou pagamento à vista, como dificuldades. Ver quadro 79 e 80, a seguir:

Quadro 79 – Local de origem dos fornecedores de mercadorias e serviços adquiridos pelos


estabelecimentos informais (1) – Out/Nov 2018.

Acesso Quantidade %
Sem problemas 87 81,31
Fácil, por com pequenas barreiras 18 16,82
Difícil devido as exigências 0 0,00
Complicado devido as exigências 2 1,87
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.

Quadro 80 – Barreiras para formação da rede fornecedores de mercadorias e serviços pelos


estabelecimentos informais (1) – Out/Nov 2018.

Tipo Total Pagamento % Somente % Pagamento a %


adiantado cartão de crédito vista
Barreiras 20 2 10,00 2 10,00 16 80,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.

Já o faturamento62 dos empreendimentos informais em 2017 encontravam-se no


padrão esperado. As informações contidas no quadro 81 apontam a dispersão na receita
dos empreendimentos, pois quando comparamos a média com o maior faturamento
registrado na pesquisa, observamos um fator de 4,41, ou seja, o estabelecimento

62
Dada a natureza da pergunta é importante considerar que os valores informados tendem a ser inferiores
ao que são na realidade.
203

informal com maior venda, supera em quatro vezes a média de vendas. Vale perceber
que o faturamento bruto alcança cifras entre três e cem mil reais no total de
empreendimentos, valor que representa o faturamento de pequena ou média empresa.
Por outro lado, o faturamento médio mensal por estabelecimento sinaliza que os
empreendimentos informais não apresentam um volume expressivo à primeira vista, ao
redor de R$ 2.547,05, o que equivale a 2,71 salários mínimos de 2017. Ainda assim,
este resultado situa-se acima do praticado no mercado formal. Ou seja, visto por esse
ângulo, o retorno advindo do empreendimento compensa o esforço. Se acrescentarmos a
renda indireta advinda do domicílio, aliada à inexistência de recolhimento de imposto
sobre o faturamento como ganhos indiretos, este resultado positivo para o informal é
ampliado.
O faturamento por atividade demonstra diferentes níveis de receita, com
dispersão entre as mesmas (ver quadro 81). O segmento comercial apresenta o menor
faturamento anual por estabelecimento individual (R$ 4.500,00), porém registra, na
totalidade, o maior faturamento bruto anual entre as atividades (R$ 2.093.200,00) e
também da receita de um empreendimento (R$ 135.000,00). Em termos de receita bruta
média anual, o segmento industrial apresenta melhor performance, incluso o resultado
mensal e o setor de serviço apresenta menor faturamento tanto no médio anual quanto
mensal.

Quadro 81– Faturamento dos estabelecimentos informais em 2017 – Out/Nov 2018.

Faturamento – 2017 Valor (R$ 1,00) Comércio Indústria Serviço


Menor faturamento anual 4.500,00 (1) 4.500,00 (1) 9.500,00 7.200,00
Maior faturamento anual 135.000,00 135.000,00 100.000,00 54.000,00
Faturamento bruto total anual 3.117.600,00 2.093.200,00 496.300,00 516.100,00
Faturamento bruto médio anual 30.564,70 30.782,35 35.450,00 23.459,09
Faturamento médio mensal 2.547,05 2.565,20 2.954,16 1.954,92
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Chamada:
1 – Com apenas três meses de operação.

A opção pelo estabelecimento informal e a luta pela sua sustentabilidade estão


associadas ao retorno dessa opção quando comparada, por exemplo, ao salário mínimo
(R$ 937,00 em 2017) e o tempo despendido para obtê-lo (220 horas/mês), inclusive no
ganho por hora de trabalho (R$ 4,26). Considerando estas variáveis como custo de
oportunidade, observamos que a hora média trabalhada no estabelecimento informal
comercial é superior em 4,46% e no industrial, em 1,69%; enquanto que no segmento de
204

serviço é menor em - 3,48%, ainda assim o ganho médio por hora trabalhada é muito
superior quando comparada à hora salário mínimo (ver quadro 82, a seguir). Portanto,
só no âmbito comercial o retorno ao gestor/ator é de 161,27% (R$ 11,13/R$ 4,26), fator
esse que ajuda a explicar a opção pela informalidade.
Quadro 82 – Faturamento médio mensal por hora dos estabelecimentos informais em 2017– Out/Nov
2018.

Item Comércio Industria Serviço


Faturamento médio mensal 2017 (R$ 1,00) 2.565,20 2.954,16 1.954,92
Média Mensal de Horas Trabalhadas (horas) 230,47 223,71 212,33
Fat. Med. Mensal/Méd. Mensal H. Trabalhadas 2017 (R$ 1,00) 11,13 13,20 9,20
Salário mínimo - 2017 937,00
Horas Trabalhadas Mês 220
Valor hora – salário mínimo 2017 (R$ 1,00) 4,26
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.

Seguindo essa linha de raciocínio, quando comparamos o retorno por hora


trabalhada na indústria e no serviço notamos o mesmo comportamento, pois o ganho ao
exercer as atividade é bem superior à remuneração do salário mínimo, visto que o ganho
percentual por jornada hora é de 209,86% no segmento industrial e 115,96% no de
serviço, sendo este menor em relação as outras atividades.
O resultado na receita auferida é, em parte, retida em razão da necessidade de se
manter competitivo, fato este que determina a realização de investimentos em sintonia
com o mercado de atuação do estabelecimento informal, de seu porte e das
características do negócio. Isso explica 35,51% dos empreendimentos terem realizado
inversões entre 2017 e 2018 (vide quadro 83). Essa taxa elevada sinaliza crescimento
dos mesmos e da atividade, bem como um cenário de incremento dos negócios, o que é
positivo para os atores envolvidos, inclusive para o circuito superior.

Quadro 83 – Número de estabelecimentos que realizaram investimentos em 2017/2018 – Out/Nov 2018.

Investimento 2017/2018 Quantidade %


Sim 38 35,51
Não 68 63,55
Não respondeu 1 0,93
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.

À primeira vista os valores dos investimentos realizados podem não parecer


expressivos, pois variam entre R$ 100,00 e R$13.600,00. Além disso há um grau de
205

dispersão que caracteriza, em si, os estabelecimentos informais. Contudo, quando são


comparados os investimentos realizados no decorrer de 2017 a 2018 com o faturamento,
outras dimensões podem ser captadas (ver quadro 84). É necessário, por exemplo,
compreender o esforço realizado pelo gestor no sentido de mostra-se competitivo e o
indício de capacidade de gestão, aspectos refletidos não somente na decisão de investir
como na de poupar recursos para tal fim. Esse movimento revela governança sobre o
negócio.

Quadro 84 – Faturamento dos estabelecimentos informais em 2017 (1) – Out/Nov 2018.

Investimento 2017/2018 Valor Comércio Indústria Serviço


Menor investimento 100,00 1.000,00 400,00 100,00
Investimento médio 3.333,42 3.222,38 3.800,00 3.661,54
Maior investimento 13.600,00 11.000,00 8.000,00 13.600,00
Investimento bruto total 126.670,00 67.670,00 11.400,00 47.600,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 – Em valores correntes

A importância relativa do investimento sobre o faturamento do estabelecimento


informal, quando se constata o esforço do gestor na tomada de decisão, poupança e
execução da inversão de capital, também implica em postergar o consumo e/ou as
despesas familiares. Assim, quando comparamos o investimento médio com o
faturamento e o capital médio inicial para instalar o empreendimento, temos a dimensão
do esforço por parte do ator (ver quadro 85).

Quadro 85– Investimento médio inicial, investimento médio 2017/2018 e faturamento bruto médio anual
dos estabelecimentos informais em 2017– Out/Nov 2018

Investimento Investimento Faturamento Bruto Invest. Médio Participação %


Setor Médio Inicial Médio 2017/2018 Médio Anual Médio 2017/2018
(A) (1) (B) (.C) em S.M (2) (B/A) (B/C)
Comércio 7.242,86 3.222,38 30.782,35 3,41 44,49 10,47
Indústria 6.830,66 3.800,00 35.450,00 4,02 55,63 10,72
Serviço 4.514,19 3.661,54 23.459,09 3,87 81,11 15,61
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov2018
Chamada:
1- Os valores inflacionados com base no Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna / Dez 2018.
(número índice 697,446) = 100.
Do rol de empreendimentos pesquisados, cerca de seis informações foram retiradas do cálculo, pois se
referiam a estabelecimentos que iniciaram suas operações antes de julho de 1994, mês de implantação da
terceira fase do Plano Real. Essa medida deve-se às alterações processadas na moeda brasileira, que
poderiam, em razão dos cortes de zero, afetar o cálculo por imprecisão na resposta do informante.
2 – Salário mínimo médio de 2017 e 2018.
206

Quando comparados ao salário mínimo médio 2017/2018, os investimentos


realizados neste biênio representam entre 3,41 a 4,02 salários mínimos. Nesta linha,
confrontando-se os recursos alavancados com o investimento médio inicial realizado no
estabelecimento, percebemos a dimensão e peso do mesmo, posto que, na atividade
comercial a taxa equivale a 44,49%, na indústria cerca de 55,63% e no segmento de
serviço, 81,11% (rever quadro 85, acima)
Sob outra perspectiva, as taxas de investimento sobre o faturamento médio
demonstram o grau de comprometimento aliado ao peso do mesmo. Na atividade
comercial os valores investidos representam cerca de 10,47%, não muito distante do
segmento industrial com 10,72% e de serviço, que registra no biênio a maior
participação, com 15,61%. Atentamos para o fato de que além de permitir a
sustentabilidade dos estabelecimentos, esses investimentos, menores sob a visão do
capital e da própria economia, tem a capacidade de irrigar o espaço local e o próprio
circuito superior, que absorve parte do mesmo e, em razão do equilíbrio dos
empreendimentos, as mercadorias, fornece mercadorias, capturando assim um duplo
excedente.
A dimensão do esforço em reter e poupar renda é observada na indicação de
lucro do estabelecimento (ver quadro 86). Assim, no geral, o lucro63 varia entre
R$400,00 e R$ 8.000,00, com uma média ao redor de R$ 2.005,00. Esses valores
explicam as dificuldades dos gestores em realizar o investimentos, bem como o volume
deles (voltar ao quadro 84) e o tamanho do estabelecimento, pois é reduzido o processo
de centralização e concentração de capital. Isso talvez explique por que a maioria dos
estabelecimentos conta com apenas um ocupado além do proprietário, conforme
apresentamos anteriormente.

Quadro 86 – Lucro médio (1) dos estabelecimentos informais por segmento no mês de outubro de 2018.

Lucro Mês Atividade Comércio Indústria Serviço


Out/Nov/2017 Valor (R$1,00) Valor (R$1,00) Valor (R$1,00) Valor (R$1,00)
Menor lucro 400,00 400,00 900,00 600,00
Média lucro 2.005,85 1.992,94 2.592,86 1.721,74
Maior lucro 8.000,00 5.500,00 8.000,00 4.500,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 – Resposta espontânea.

63
Atenção para o fato de tratar-se de resposta espontânea e sensível quanto à certeza da mesma, pois,
assim como no caso da renda, os entrevistados tendem a esconder o valor real.
207

Como já comentamos, a dispersão nos valores é a característica dos


estabelecimentos informais. Assim é no segmento comercial onde se encontra o menor
lucro, enquanto a maior média e maior retorno econômico estão no setor industrial. Já o
ramo de serviços destaca-se por apresentar, entre as atividades econômicas, tanto a
menor média, quanto o maior lucro, R$ 1.721,74 e R$ 4.500,00, respectivamente.
A necessidade de otimizar os recursos e manter o equilíbrio do estabelecimento
também explica os limites no uso do crédito como ferramenta de apoio às inversões ou
como capital de giro. Nesse sentido, vê-se no quadro 87, que apenas 8,41% do total de
empreendimentos recorreu a empréstimos ao longo de 2018, uma taxa baixa, que
demonstra certo grau de aversão ao risco por parte dos informais empresariais.

Quadro 87– Quantidade de estabelecimentos informais que procuram empréstimos até outubro de 2018.

Procurou empréstimo Quantidade %


Não 96 89,72
Sim, eventualmente 9 8,41
Não respondeu 2 1,87

Total 107 100,00


Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia–Out/Nov2018

Nesta linha, Penarim (2010) no seu trabalho, citando Tasic (2005), informa que
apenas 10% dos estabelecimentos procuram o crédito:

Para Tasic (2005), apenas 10% da MPE requerem algum tipo de


financiamento por meio de bancos (privados e oficiais), sendo que a
finalidade está no pagamento de fornecedores a prazo e na utilização do
cheque pré-datado e cartão de crédito (PENARIM, 2010, p. 66).

Mendes (2006, p.76), em sua dissertação sobre os informais que obtiveram


microcrédito junto ao Banco do Estado do Pará, identificou também que parte
expressiva não buscava crédito para suas atividades: "um total de 53,3% dos clientes
pesquisados não buscava recursos em nenhuma fonte, os demais (46,7%) buscavam
recursos com amigos, financeiras, parentes e outros, inclusive, agiotas".
Outros componentes também contribuem para essa baixa taxa de acesso a
empréstimos por parte dos estabelecimentos informais, como o modelo de análise do
crédito a ser concedido (PELARIN, 2010), o cenário macroeconômico nacional
(ZAMBALDI, 2005), as dificuldades de avalista ou de aval solidário, que atuam como
fatores limitantes ao financiamento. Outros elementos que justificam o nível reduzido
de procura por crédito são: o tempo de análise, a burocracia e o retorno ao interessado.
208

Nesse contexto, a dificuldade de ausentar-se do dia a dia do estabelecimento informal


soma-se a esse conjunto de obstáculos que justificam a reduzida demanda pela busca do
crédito, para alavancar as operações do empreendimento.
Ainda na perspectiva do financiamento ao empreendimento informal, o quadro
88 mostra onde o gestor busca o crédito. Nesse demonstrativo se destacam as agências
públicas, que concedem empréstimos sob a ótica das políticas públicas de microcrédito,
normalmente ofertado nas três esferas federativas brasileira.

Quadro 88 – Fonte de empréstimos realizados pelos estabelecimentos informais que procuram


empréstimos até outubro de 2018.

Fonte do Empréstimo Quantidade %


Agência pública (Credcidadão, Ver o Sol, Sebrae) 7 77,78
Amigos 1 11,11
Agiota 1 11,11
Total 9 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.

É importante observar que o desconhecimento e a pouca divulgação em canais


de maior visibilidade sobre as políticas públicas e as agências de financiamento, bem
como a falta de oportunidade são fatores que dificultam o acesso do informal
empresarial a esses recursos, que têm como característica uma taxa de juros menor e o
alinhamento – à primeira vista – a uma visão de inclusão social e de combate a pobreza.
Apesar da referida visão inclusiva, observamos em campo, que há um controle
restritivo imposto pelos canais da política partidária no âmbito municipal e estadual
(através dos deputados que compõem a Assembleia Legislativa), que utilizam o
microcrédito como ferramenta de apoio político aos vereadores, deputados estaduais e
legendas, que controlam, parcialmente, o acesso a esse instrumento de crédito, o que
justifica parcialmente a taxa elevada de não procura de 89,72%, mostrada
anteriormente, no quadro 87. Assim, acreditamos que esse fator inibe a possibilidade de
acesso ao crédito no casos em que não há indicação política, aumentando as restrições
ao mesmo pelos seguintes motivos: a) o volume de recursos destinados à política não
alcança o universo; b) a invisibilidade do ator informal o inibe, pois este não existe
oficialmente; c) a distância física da base operacional da política em relação ao lócus de
atuação do empreendimento informal, limita o conhecimento institucional sobre a
realidade dos empreendimentos e a forma de atuação deles.
Portanto, esses elementos justificam a baixa taxa de procura e, ao mesmo tempo,
justificam a opção pelo amigo ou agiota (rever quadro 88, acima) como fonte de
209

concessão de crédito, totalizando 22,22% dos que recorrem ao empréstimo, sendo que a
agilidade na obtenção do recurso, a redução da burocracia e do tempo contribuem para
esta decisão.
A gestão do estabelecimento informal, que sob o prisma do mercado também é
um custo, na maioria dos casos é executada pelo proprietário, como um trabalho extra e
de fundamental importância para a sustentabilidade do negócio. Este percentual (ver
quadro 89), de aproximadamente 86%, ratifica o perfil do informal como multitarefas:
vendedor, comprador, gestor/controlador etc., explicando o tempo gasto na operação do
estabelecimento e a questão da intensidade do trabalho, bem como sua ausência de uma
atuação política na comunidade e setor.
O percentual dos que não realizam controle nenhum do negócio é de 11,21%
(ver quadro 89, abaixo), o que pode ser interpretado como resistência ou sorte, mas é
inerente à percepção mínima entre despesas e receita, para abrir a porta do
estabelecimento no dia seguinte.

Quadro 89 – Como exerce o controle administrativo do estabelecimento informal – Out/Nov 2018.

Registro do controle administrativo da atividade Respostas %


Não realiza 12 11,21
Registra sozinho o controle 92 85,98
Registro realizado por um parente 2 1,87
Por funcionário 0 0,00
Por contador externo 0 0,00
Outra forma 1 0,93
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.

De outro modo, como o mercado informal se configura como uma saída para
desemprego e desalento por ele causado, é esperada a concorrência entre os pares, o que
influencia também o faturamento do empreendimento, posto que é necessário encontrar
o preço de venda aceitável pelo consumidor informal. Esse aspecto influencia a receita
das vendas dos bens e serviços, justificando, em parte, o faturamento. Assim, o quadro
90, indica que aproximadamente 42% dos proprietários estimam o custo da atividade
antes de fixar o preço. Essa ação revela que um esforço de gestão, seja para evitar
prejuízo, seja para manter a sustentabilidade do estabelecimento e, principalmente, do
núcleo familiar que orbita em torno do mesmo.
Por outro lado, é expressivo que parte dos gestores informais adotem a
precificação do mercado para fixar os preços de suas mercadorias e serviços, estratégia
210

adotada por 32,47% dos entrevistados (quadro 90, abaixo), ressaltando-se que esse
percentual é superior ao observado pelo IBGE, em 2003 na RMB, que foi na ordem de
20,76%. Não menos importante, é a indicação da sugestão do fornecedor como forma de
precificar as mercadorias, 6,49%. Essa estratégia simboliza a transferência da política
adotada no campo formal para o informal como regra, algo que precisa ser observado na
dinâmica da atividade.
É relevante também o papel do cliente no momento da compra, pois a negociação direta
ainda resiste como práxis na informalidade, com um percentual de 11,69% na amostra
pesquisada. Outro estratagema é a vendas por atacado, que apesar de apresentar uma
taxa menor, ao redor de 2,60%, significa que o informal também pode atuar como
fornecedor, um dado interessante a ser observado no cotidiano dos estabelecimentos
informais.

Quadro 90 – Como fixa o preço das mercadorias e serviços ofertados (1) – Out/Nov 2018.

Fixação do preço Respostas %


Estima o custo/taxa de lucro 64 41,56
Com base no preço médio do mercado 50 32,47
Sugestão do fornecedor 10 6,49
De acordo com cliente 3 1,95
De acordo com as lojas próximas do estabelecimento 5 3,25
Negocia com o cliente 18 11,69
Pela quantidade negociada 4 2,60
Total 154 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 – Múltiplas respostas

No tocante à gestão dos estabelecimentos observamos que não há uma linha


divisória que separe as dificuldades dos empreendimentos informais das existentes nas
empresas formais. Ou seja, fatores semelhantes afetam a governança de ambos os tipos
de negócio, visto que, atuam sob os auspícios do mercado capitalista com suas
distorções. (quadro 91).
Assim, excetuando-se os que apontam a inexistência de dificuldades,
aproximadamente 16%, conforme registrado no quadro 91, foram mencionados fatores
de diversas origens, que afetam a administração do estabelecimento informal, alguns
decorrentes do mercado, outros de ordem institucional e de gestão. Por exemplo, no
que tange o mercado, os gestores informais apontam que a falta de clientes e a elevada
concorrência, respectivamente com 22,83% e 27,72% (ver quadro 91), são aspectos que
dificultam a gestão e a sobrevivência do empreendimento, colocando-o em risco. Nessa
211

mesma linha, a falta de crédito, incluso o de giro e/ou investimento, registraram os


percentuais de 7,61%, ressaltando que a existência das linhas públicas de microcrédito
deveria atenuar essas taxas (15,22%), números os quais confirmam as dificuldades de
acesso e o distanciamento da política pública e de seus agentes institucionais.

Quadro 91 – Principais dificuldades elencadas pelos gestores na administração dos estabelecimentos


informais (1) – Out/Nov 2018.

Dificuldades Quantidade %
Não teve dificuldade 29 15,76
Falta de clientes 42 22,83
Falta de crédito 14 7,61
Redução do lucro 18 9,78
Tarifas de água/luz 3 1,63
Problemas com fiscalização/regularização do negócio 1 0,54
Falta de mão de obra 3 1,63
Escassez ou má qualidade matéria-prima 4 2,17
Rotatividade de mão de obra 1 0,54
Concorrência 51 27,72
Instalações inapropriadas 2 1,09
Escassez de capital de giro 14 7,61
Dificuldade de gestão 1 0,54
Outro 1 0,54
Total 184 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.
Nota:
1 – Múltiplas respostas

A agudização da crise econômica, a pobreza, o desemprego e novos


concorrentes são fatores que impõem ajustes pelo preço para capturar a demanda,
levando, em conjunto, a uma corrida predatória, refletida no percentual de
estabelecimentos que apontam a redução de lucro, com uma taxa de quase 10%, como
uma das dificuldade que afeta os estabelecimentos informais (voltar ao quadro 91,
acima).
Em menor grau de participação foram registradas as limitações próprias da
gestão no cotidiano do empreendimento, como a rotatividade (0,54%), a falta de mão de
obra (1,63%), o custo das tarifas dos serviços públicos (1,63%) e instalações
inapropriadas (1,09%), entre outros. O que chama atenção é que essas variáveis não são
tão relevantes para o gestor, demonstrando que sua preocupação é relacionada à
sobrevivência do estabelecimento que é, neste caso, diretamente afeto ao mercado.
Registrando um percentual ínfimo está a variável fiscalização/regularização com
0,54% de indicação enquanto problema para o gestor. Esse percentual significa que,
aparentemente, o poder público sancionou informalmente a informalidade como
212

atividade produtiva e social. Cabe registrar que, em razão de ser um estabelecimento


fixo, a fiscalização tende a ser menor, afinal não está na via pública "atrapalhando o
tráfego" – como o camelô – então, o grau de aceitação pode ser maior, tanto por parte
do poder público, quanto dos empresários formais, explicando-se um pouco desse baixo
percentual.
A busca pelo equilíbrio e sustentabilidade do negócio é uma luta constante do
gestor informal. Quando vencida essa meta, eles procuram mecanismos para se
manterem no mercado, razão pela qual aproximadamente 87% dos mesmos pretende
aumentar o nível de sua atividade (ver quadro 92), o que significa que a informalidade
empresarial é viável nas condições objetivas dadas, seja pelo porte, pelo capital, pela
demanda ou pelo espaço consentido pelo circuito.
É importante considerar que essa taxa também sinaliza o caráter irreversível do
fenômeno, ou seja, a estabilidade na operação implica na sua viabilidade e continuidade,
frente à decisão do informal empresarial de prosseguir na atividade. Portanto, na
configuração desse cenário tal dimensão de informalidade é uma realidade presente e
permanente, ativa na economia, devendo ser objeto constante de observação, em
diversos sentidos. Podemos entender então que a taxa de 87% representa um sinal de
aprovação e sucesso para este ator informal.
Sob outro prisma, cerca de 7,48% dos agentes informais desejam manter-se na
atividade com o mesmo nível, significando continuidade de suas operações. É relevante
também observar que 3,74% dos gestores afirmam querer atuar na informalidade, porém
em outros ramos de negócios, conforme os dados do quadro 92.

Quadro 92 – Quais as expectativas para sua atividade informais (1) – Out/Nov 2018.

Perspectiva Quantidade %
Aumentar o negócio 93 86,92
Manter o nível da atividade 8 7,48
Mudar de atividade/se manter na atividade 4 3,74
Transferir atividade para familiares 1 0,93
Aposentar e transferir a atividade 1 0,93
Abandonar atividade e se empregar 0 0,00
Outro 0 0,00
Total 107 100,00
Fonte: Pesquisa Importância do Pequeno Empreendimento na Economia – Out/Nov 2018.

Por fim, e talvez mais importante para a sociedade e a economia, a ausência de


respostas afirmativas para o item “Abandonar atividade e se empregar” ratifica não só a
força social e produtiva do segmento, como também o delineamento da atividade como
213

uma opção econômica de cunho permanente e irreversível na sua trajetória como forma
de inserção, ante a um quadro de desigualdades e pobreza, que a informalidade tenta
contornar. Assim, ainda que vista como precária por muitos olhares externos, essa
informalidade se constrói como o caminho da qualidade mínima material e de consumo,
elementos esses que nos obrigam a vê-la como uma corrente marítima definitiva no
oceano socioeconômico, que se avoluma ou se reduz em razão das condições do
tempo,mas sempre presente nesses mares da economia.
Por conseguinte é impossível refutar que o estabelecimento informal e suas
articulações representam uma parte importante da informalidade como uma de suas
diversas faces, dentre as quais estes vêm assumindo seu protagonismo, ao mesmo tempo
em que refletem as mudanças no interior da informalidade, buscando no dia a dia
transparecer no espelho social e econômico como elemento ativo no seu ambiente de
atuação.
Assim, os indicadores analisados na presente sessão revelam não somente
informações sobre a dinâmica dos estabelecimentos informais, como demonstram o
quão importantes eles são para, principalmente como testemunhas de uma outra
economia, na qual as relações se dão em um nível onde a acumulação e a destruição não
são o norte decisório.
214
215

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mundialização da economia que avançou pós anos de 1970 reconfigurou a
forma de atuação do grande capital e o universo do trabalho ao longo das últimas cinco
décadas. O emprego e as ocupações adaptaram-se a este cenário: precarização, perdas
de direitos sociais e trabalhistas, novas formas de emprego e ocupação – o trabalho
intermitente, por exemplo – um conjunto de medidas e circunstâncias que favorece a
elevação do desemprego, reduzindo oportunidades de inserção e obrigando os
trabalhadores a encontrarem caminhos para sobreviver.
Um desses caminhos é a informalidade, na amplitude de possibilidades que a
mesma abarca, indo desde o trabalho precarizado até o ambulante, papéis aos quais a
massa de trabalhadores se amolda, procurando formas de inserção e franjas de trabalho.
Trata-se de pseudoalternativas, que contribuem para avolumar as estatísticas de pobreza
e desigualdade.
Por esses mecanismos, o que se percebe é uma transformação gradativa na forma
como a informalidade visível transparece à sociedade e à economia, pois no final dos
anos de 1970 e 1980 iniciou-se a contínua passagem do ambulante para o camelô, que
assumiu, na década de 90 o protagonismo no campo informal, obrigando, em razão da
ocupação das áreas urbanas, a intervenção do poder público, inicialmente no sentindo de
não aceitação dos mesmos nos logradouros das cidades brasileiras. Mas, a realidade se
impôs às normatizações e eles se tornaram presença forte e constante na urbes.
É neste contexto de heterogeneidade e complexidade da informalidade que
percebemos o “estabelecimento informal”, forma caracterizada como uma “organização
não capitalista”, que se apresenta à sociedade numa proposta de ofertar bens e serviços
em ambiente fixo, com atuação local e interação social, e por outro lado, capta renda
para a sobrevivência da família, pois também se trata de uma unidade produtiva
familiar.
No decorrer dos anos de 1990 e, precisamente, na primeira década do século
XXI emerge com um grau de representatividade o estabelecimento informal, apesar do
crescimento da economia brasileira, o que parece contraditório. Assim, entendemos que
esse ator é uma reinvenção no interior da informalidade, o qual, mesmo que previsto em
termos de definição, ainda não tão palpável.
Desse modo, tal forma de informalidade, nova em termos quantitativos e
expressiva na conformação social e econômica, tem protagonismo no espaço de sua
atuação, pois é descentralizada e seu foco volta-se para o âmbito local, para o bairro e
216

seus entornos. Portanto, as atividades e suas ofertas atendem as necessidades imediatas


de sua demanda.
Desse modo, dentro da heterogeneidade que caracteriza a informalidade é
necessário dar a ver essa forma de organização, que desponta entre os diversos atores
embarcados na nau informal.
Assim a informalidade migrou parcialmente e de maneira definitiva, no campo
do agente produtivo, para as “organizações não capitalistas”, que se desenvolvem de
maneiras distintas dos camelôs e ambulantes, como atividades econômicas em um
espaço próprio e com estratégias econômicas e de gestão diferenciadas. Nesta situação,
além da reinvenção, notamos que uma parcela da informalidade direcionou-se para a
forma de “empreendimentos informais”, devendo ser compreendida a partir deste ponto
de vista, dadas as interrelações socioeconômicas que dela decorrem.
O aspecto inovador no interior da informalidade em relação a essa forma recai
sobre a existência e atuação no âmbito da “organização não capitalista”, não do
indivíduo ou trabalhador por conta própria. É importante observar a distância da
categorização “trabalhador por conta própria” para a de “estabelecimento informal”,
onde este ator responsável pela condução do negócio assume um conjunto de
atribuições específicas de gestão, e que transpassa a classificação de “trabalhador”,
posto que, tais atribuições não só o distinguem no campo micro, quanto no macro, em
virtude de suas relações e responsabilidades, ratificando a necessidade de compreender
e categorizar este fenômeno na sociedade e nas análise como forma de
“estabelecimento”, permitindo um outro olhar, importante em razão das consequências
advindas desta percepção.
Esta percepção corresponde a um passo importante em direção a maior
visibilidade à informalidade em termos de representatividade, tanto na sociedade, como
na economia, pois é a partir do estabelecimento que se constrói e se extrapola as
interfaces decorrentes das relações constituídas, no alcance local ou exterior, como a
rede de fornecedores, a carteira de clientes etc.
O reconhecimento dessa dimensão visa suplantar a invisibilidade conceitual, que
impõe uma invisibilidade analítica, notada em estudos de caráter acadêmico ou
encampados por órgãos de pesquisa ao se voltarem para a informalidade, porque a
dimensão do “empreendimento informal” envolve o corpo econômico/produtivo e
social, enquanto a dimensão pessoal, do “trabalhador por conta próprio”, compreende o
social na perspectiva familiar, da pobreza e da desigualdade.
217

A conciliação das duas dimensões é fundamental para melhor percepção sobre a


informalidade, em razão da complementariedade entre ambas. O que urge é assumir,
enquanto categoria, as “organizações não capitalistas” pois é necessário avançar e
acompanhar as relações estruturadas que orbitam o “estabelecimento informal”, devido
o impacto que ele provoca tanto em nível local, como no macro, em virtude das
compras e vendas de mercadorias, as quais encontram-se situadas também no circuito
superior, face o fluxo entre os dois sistemas (produto – renda), o que demonstra o papel
e a participação desses empreendimentos na lógica do capital em outro nível, o nível das
mercadorias/bens.
Iluminar este processo é fundamental para ampliar a relevância da informalidade
no contexto do capital, principalmente no que tange à questão da acumulação, pois,
indiretamente os empreendimentos informais empresariais estão atrelados à valorização
do capital ao integrarem a cadeira de fornecedores.
Por outro lado, no ambiente local ou no seu microespaço denota-se também a
importância dos estabelecimentos informais, seja pelas relações sociais no lócus, seja no
atendimento à demanda por meio de bens e serviços, que ao oportunizar o pequeno
consumo cria, via comodidade e afeto, uma rede que transcende o econômico, ao
mesmo tempo em que estimula o desenvolvimento da própria comunidade, além de
permitir e internalizar a renda neste espaço, dinamizando-o.
Nesse sentido ao ocuparem um espaço específico, focados em mercadorias e/ou
serviços, atendendo através de uma demanda fracionada, esses estabelecimentos
constituem, em conjunto, uma rede de atendimento, que assume com essas
características, uma economia do bairro, desenvolvendo estratégias próprias, visando à
continuidade das suas operações num ambiente otimizado e com forte concorrência.
Em busca de um diferencial estratégico, com o objetivo de ampliar seu escopo
de atuação e também de vender a ideia de modernização, as organizações não
capitalistas aderiram ao uso das tecnologias digitais de informação e comunicação como
instrumento de marketing (principalmente) e de venda (em menor escala), opção que
envolve um número considerável de estabelecimentos informais e que tende, com o
tempo, a assumir um lugar central na gestão dos empreendimentos, conforme dados
analisados em nossa pesquisa de levantamento.
Essa atuação digital e local se amplia também pelo fato de que a mão de obra
vinculada ao estabelecimento informal é residente no espaço, seja do proprietário ou do
218

familiar, os quais contribuem não somente para alicerçar a atividade, como para
dinamizar a microeconomia do lugar, o que é importante.
Outro aspecto relativo à ocupação de familiares no empreendimento, refere-se à
manutenção, no ambiente familiar, da renda captada através da intermediação da
atividade, fato este que permite a sobrevivência do coletivo, no caso, a família. Nesse
sentido merece destaque a ocupação, pois essa informação só pode ser observada
quando se trabalha a categorização “organização não capitalista”, o que reforça a
necessidade da distinção da mesma em relação à categorização “trabalhador por conta
própria/autônomo”, que por ser a unidade dificulta a visibilidade dessa informação.
De outro modo, além de funcionar como válvula de escape ante a pressão social
por absorver mão de obra do exército industrial de reserva, o que é importante para o
capital, o estabelecimento informal também pode fornecer ou manter ativos, para as
empresas capitalistas, trabalhadores com experiência e qualificados, assim como o
inverso acontece quando se dá crise econômica ou o desemprego estrutural.
É necessário lembrar ainda que o grau de mundialização e a padronização do
consumo contrastam com essa lógica da economia do bairro, em que pese a conexão
existente com o circuito superior, determinado pela globalização periférica. Em parte,
esse movimento observado em torno dos estabelecimentos informais é um retorno,
revisto e atualizado, do tempo das mercearias, devidamente transvertido de
modernização, certamente. Ao mesmo tempo, entendemos que essa forma produtiva e
social representa também um grau de resistência ao sistema, pois desenvolve uma
atividade à margem e semiautônoma, conferindo uma possibilidade de não se enquadrar
em todos os aspectos à lógica do capital, ou seja, de dizer não ou de não ficar totalmente
alinhado à práxis do capital.
Ressaltamos a importância de considerar que uma faceta desse movimento de
retorno advém da necessidade de sobrevivência frente ao desemprego, à pobreza e à
desigualdade resultantes da crise mundial e brasileira ao longo dos últimos dez anos.
Assim sendo, parte dos estabelecimentos informais é fruto do que denominamos “filhos
da crise” os quais, procurando uma ocupação, adotaram a informalidade como saída e,
nesta saída ‒ que acaba por se converter em uma janela pela qual esses filhos pulam
para dentro do mercado, do consumo, de uma rede de negócios, do sustento material ‒
esses empreendimentos assumem o papel principal na obtenção de renda familiar aos
envolvidos.
219

Este contexto reforça a questão, dada a amplitude de análises decorrentes da


mesma e a importância dos inquéritos, pesquisas realizadas com vistas à parametrização
dos atores e as suas formas, pois os resultados e interpretações expressam uma maior
fidelização da realidade socioeconômica brasileira, especificamente sobre a
informalidade.
A conexão com o circuito superior, através das compras via cadeias de
distribuidoras, ratifica que as “organizações não capitalistas” são semiautônomas, o que
é esperado, pois seu funcionamento depende, parcialmente da interseção com capital
(crédito, giro, mercadorias, cadastro etc.), por conseguinte parte da governança dá-se no
mercado, o qual deve ser observado em suas regras de conduta, apesar de que no
interior da informalidade empresarial as decisões são do gestor da unidade produtiva.
Portanto, a conexão com o circuito superior e a captação de excedente por parte
do capital determinam a contribuição dos empreendimentos informais para o processo
de acumulação e centralização, especificamente em segmentos de ponta ou estratégicos
como financeiro, microeletrônicos e de serviços, sendo a unicidade do conjunto que
permite esse papel.
Assim, chama a atenção o avanço da bancarização e financerização gradual dos
empreendimentos informais através da adoção de instrumentos digitais de compra e
venda, como as famosas "maquininhas" ou os aplicativos de celular de pagamentos
digitais, que determinam a necessidade de conta corrente em instituições bancárias. Este
movimento, que tende a se ampliar e a se tornar irreversível com o tempo, também
baseia uma nova forma de subordinação e conexão com circuito superior, agora com o
capital financeiro, que passa a interagir com um fluxo de renda que estava à margem da
dinâmica monetária.
A captura do movimento financeiro tende a ter reflexos na dinâmica produtiva
dos estabelecimentos informais, sob forma de crédito, de oportunidade, de dilatação de
prazos perante a fornecedores, melhor gestão de caixa etc. Por outro lado,
independentemente da questão formal, este processo também ratifica um existir perante
o mundo dos negócios, e não perante o Estado, necessariamente, o que de fato interessa
na relação capitalista.
Não menos importante, constatamos a existência de relações de negócios dos
estabelecimentos informais entre si, num fluxo próprio, isto é, no interior do circuito
inferior. Esse fato sinaliza que parte do dinamismo da informalidade é retroalimentado
pelo processo de compras e vendas de produtos entre estabelecimentos informais, o que
220

é significativo, pois parte da sustentabilidade da atividade advém do próprio segmento,


contribuindo para reduzir a subordinação ao grande capital ou ao circuito superior,
garantindo o caráter semiautônomo das “organizações não capitalistas”, o que é
importante para preservar a própria informalidade como força propulsora da economia e
da sociedade em outros termos.
Esse processo que move a existência das “organizações não capitalistas” não é
lucro, pois grande parte visa a dupla sobrevivência: da atividade e do núcleo familiar
que nela atua e dela depende. Portanto, o motor das ações é a captura de renda, que se
transforma em consumo, alimentando tanto o circuito inferior, como o superior. Ou
seja, não se trata do lucro e da mais-valia, com fins de acumulação, o que se distingue
da empresa capitalista.
Percebemos como central a relação atividade‒geração de renda, justificando,
parcialmente, o tamanho dos estabelecimentos e a presença da poupança familiar como
capital inicial. Do mesmo observamos como atua o microcrédito enquanto ferramenta
acessória à gestão do empreendimento pelos limites imposto pelas condições externas
(concorrência predatória, o nível de renda da demanda, a precificação das mercadorias e
etc) e internas (capacidade de governança, experiência na área, tamanho físico do
estabelecimento). Tais fatores apenas ratificam que o cerne de grande parte dos agentes
é a captura de rendimentos para a unidade familiar na lógica de sobrevivência.
O que deveria contribuir para a sobrevivência, o equilíbrio e a sustentabilidade
dos estabelecimentos informais, como opção de atividade e de ocupação, seria a política
pública do microcrédito, mas observamos que ela é bastante limitada e possui reduzida
efetividade, pois além das limitações orçamentárias, há o controle partidário para
viabilizar o acesso a ela, restringido-a a grupos vinculados a partidos ou a políticos, o
que além de dificultar seu alcance, expõe de maneira comprometedora a concepção que
norteou a política pública.
A dimensão do fenômeno informal empresarial no território, em conjunto com
as dificuldades estruturais das instituições em executar a política de microcrédito,
também explica a reduzida penetração do microcrédito entre os informais, algo que
precisa de ser avaliado, para fins de reposicionamento da política pública, sobretudo em
razão da importância social e produtiva da informalidade na sociedade brasileira e
paraense.
Então, o que abstraímos foi que os estabelecimentos informais atuam, no limite
de sua capacidade, de forma sistematizada nas suas operações e relações sociais, que
221

são construídas a partir da atividade, objetivando algo a mais, além da sustentabilidade


do empreendimento, que é a reprodução familiar e da força de trabalho, porém, não
vinculado diretamente ao sistema capitalista.
Quando estabilizado, o estabelecimento informal passa do nível da expectativa e
assume um caráter perene, portanto, permanente na economia e no social, ou seja, não
se pode negar sua existência, mas é necessários dispor de instrumentos adequados a
inseri-lo como componente ativo, pois reflete um fenômeno sem volta e com um grau
de representatividade significativo, inclusive político.
Assim, entendemos que é importante trabalhar as pesquisas e as instituições com
a categorização adequada, o que reforça a questão do uso da definição de “organização
não capitalista” para classificar os estabelecimentos informais, pois a interpretação do
fenômeno e do movimento se aproxima da forma como este se apresenta na sociedade,
mas, fundamentalmente, como se dá e opera este modo distinto de produção, seu
impacto e as relações de efeitos advindos de sua operação, em contato e articulado com
o modo de produção capitalista, o que enseja novas variáveis.
Por fim, não considerar os estabelecimentos informais no conjunto de
informações sobre a informalidade na sua real forma e estado, significa ignorar uma
camada importante de sua composição, encobrindo uma parte do todo, ou seja, a
representação da questão informal na socioeconomia contemporânea não abarca todos
os agentes, impedindo ter a dimensão e complexidade que envolve, talvez, o futuro do
trabalho sob o capitalismo, pois tudo indica que a propulsão de grande parte da
sociedade advirá da informalidade.
222
223

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APÊNDICE A – FORMULÁRIO DA PESQUISA

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