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CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL
NATAL – RN
2019
SÍLVIA BARACHO ROSADO
NATAL – RN
2019
SÍLVIA BARACHO ROSADO
____________________________________________________
Prof. Dr. Venerando Eustáquio Amaro
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Orientador
____________________________________________________
Dra. Maria de Fátima Alves de Matos
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Membro da Banca
____________________________________________________
Profa. Dra. Ada Cristina Scudelari
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Membro da Banca
____________________________________________________
Prof. Msc. Paulo Victor do Nascimento Araújo
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte
Membro da Banca
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
No litoral sul do Estado do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil, está localizado a Laguna
de Guaraíras. Esta laguna, nas últimas décadas, tem mostrado mudanças significativas em seu
comportamento morfodinâmico e hidrodinâmico. Fatores como alterações no escoamento
superficial, assoreamento e erosão das margens da desembocadura, já são evidentes e
comprometem o funcionamento de todo o sistema. Alinhado a estes fatores, na região ao
entorno da laguna há forte presença da atividade de carcinicultura, representando 9% da
produção nacional, gerando assim, grande relevância para a economia local e regional. Nesse
contexto, o presente estudo tem como objetivo analisar o comportamento morfodinâmico da
embocadura da Laguna de Guaraíras, a partir da aplicação de técnicas de geoprocessamento
para quantificar a taxa de erosão e deposição da área de estudo. Para os procedimentos
metodológicos o trabalho contou com a análise multitemporal das variações da linha de praia,
por meio de imagens de satélite da série LANDSAT, entre os anos de 1984 e 2018, e
aplicação de análises geoestatísticas (End Point Rate - EPR, Linear Regression Rate - LRR e
Net Shoreline Movement - NSM) para quantificação da taxa de erosão/deposição das
alterações que ocorreram neste período de análise (1984 - 2018). Com base nos resultados
obtidos pelo valor do EPR, ocorreu uma intensa taxa de erosão de 6,4 m/ano e 0,34 m/ano de
deposição da margem esquerda da desembocadura da laguna de Guaraíras. A margem à
direita da desembocadura apresentou uma variação de 1 m/ano de erosão e uma taxa de 1,34
m/ano de deposição. Na faixa de praia ao sul da embocadura houve 1,5 m/ano de erosão e um
1 m/ano de deposição e na porção norte da embocadura uma taxa de 3 m/ano de erosão com
1,57 m/ano de deposição. Considerando os resultados obtidos verificou-se uma forte
tendência erosiva na desembocadura da laguna de Guaraíras, totalizando um recuo na margem
esquerda de -217,82 m em relação a 11,67 m de deposição. Na margem direita a tendência foi
deposicional, significando 45,6 m de acreção em relação a -31 m de erosão.
Palavras-chave: DSAS, Dinâmica Costeira, Erosão costeira, Sensoriamento remoto,
Geoprocessamento;
ABSTRACT
In the south coast of state of Rio Grande do Norte, northeast of Brazil, is situated the
Guaraíras Lagoon. This lagoon has shown significant changes in its morphodynamic and
hydrodynamic behavior in the last decades. Factors such as changes in superficial runoff,
silting and erosion of embankment margins are already evident and compromise whole
functioning system. Added to thesefactors, there is a strong presence of shrimp farming in the
area around the lagoon, representing 9% of national production, thus generating great
relevance for the local and regional economy. In this context, the present study aims to
analyze the morphodynamic behavior of the mouth of the Guaraíras Lagoon, based on the
application of geoprocessing techniques to quantify the rate of erosion and deposition of the
study area. For the methodological procedures the work counted on the multitemporal
analysis of variations of beach line, using satellite images of the LANDSAT series, between
1984 and 2018, and the application of geostatistical analyzes (End Point Rate - EPR, Linear
Regression Rate - LRR e Net Shoreline Movement - NSM) for quantification of the
erosion/deposition rate of the changes that occurred during this period of analysis (1984 -
2018). Based on the results obtained by the EPR, an intense erosion rate of 6.4 m/year and
0.34 m/year of deposition of the left embankment margins of Guaraíras Lagoon occurred. The
margin to the right of the embouchure presented a variation of 1 m/year of erosion and a rate
of 1.34 m/year of deposition. In the beach strip south of the embouchure there was 1.5 m/year
of erosion and 1 m/year of deposition and in the northern portion of the mouth a rate of 3
m/year of erosion with 1.57 m/year of deposition. Considering the results obtained, there was
a morphological instability at the mouth of the Guaraíras Lagoon, with a strong erosive
tendency in the left margin, resulting a decrease of -217.82 m in relation to 11.67 m of
deposition; and on the right bank the trend was depositional, corresponding to 45.6 m increase
in relation to -31 m of erosion. Thus, through the geoprocessing techniques applied, it was
possible to quantify the rate of erosion/deposition at the mouth of the Guaraíras Lagoon
during the period studied (1984 - 2018).
keywords: DSAS, Coastal Dynamics, Coastal Erosion, Geoprocessing;
LISTA DE FIGURAS
Figura 2 – Mapa Geológico da Laguna de Guaraíras. Fonte: Base de dados IBGE ................ 16
Figura 3 – Mapa Geomorfológico da Laguna de Guaraíras. Fonte: Base de dados IBGE ...... 17
Figura 18 - Classificação das cores quanto aos intervalos dos parâmetros analisados............ 35
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... ii
EPÍGRAFE (OPCIONAL) ....................................................................................................... iii
RESUMO ...................................................................................................................................... iv
ABSTRACT .................................................................................................................................. v
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................. vi
LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. vii
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .............................................................. 13
2.1 Contexto Geológico-Geomorfológico .................................................................................. 15
2.2 Cobertura e uso do terra ......................................................................................................... 17
2.3 Caracterização Hidrodinâmica da Área de Estudo .............................................................. 20
2.4 Aspectos Climatológicos ....................................................................................................... 20
2.5 Aspectos Socioeconômicos ................................................................................................... 21
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 21
3.1 Seleção de Imagens ................................................................................................................ 22
3.2 Pré-Processamento Digital de Imagens ................................................................................ 23
3.3 Correção Radiométrica .......................................................................................................... 24
3.4 Correção Atmosférica ............................................................................................................ 27
3.5 Correção Geométrica ............................................................................................................. 30
3.6 Processamento Digital de Imagens ....................................................................................... 30
3.7 Extração das Linhas de Praias ............................................................................................... 32
3.8 Cálculo Geoestatístico das Linhas de Praia .......................................................................... 32
3.9 Agrupamento e Classificação dos Dados ............................................................................. 34
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................................ 36
4.1 Análise Evolutiva e Taxa de Variação da Linha de Praia entre os Anos de 1984 a 2018 . 36
4.2 Análise Evolutiva e Mobilidade da Linha de Praia no período Interdecadal ..................... 37
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 40
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 42
1. INTRODUÇÃO
12
As condições de estabilidade nas embocaduras dependem predominantemente das
marés, do clima de ondas, do transporte litorâneo ao longo da praia adjacente, da descarga
fluvial e das características morfológicas e do clima na região. Estes fatores são responsáveis
por processos erosivos complexos, que provocam alterações no canal da embocadura a partir
de vários tipos de movimentos de massas nas encostas (AMARAL et al., 2003).
No entanto, a quantificação de tendências no comportamento do sistema costeiro é
apenas uma parte do problema. É essencial realizar uma análise dos dados históricos
disponíveis para melhor compreensão da problemática. Nesse contexto, com interesse pelo
balanço sedimentar relacionado aos processos costeiros, este trabalho foi desenvolvido
buscando o entendimento da dinâmica sedimentar estuarina conectada ao ambiente costeiro
adjacente e analisar o comportamento morfodinâmico da embocadura da Laguna de
Guaraíras, a partir da aplicação de técnicas de geoprocessamento para quantificar a taxa de
erosão e deposição da área de estudo. O conhecimento das taxas de erosão e deposição irá
fornecer importantes informações sobre a largura efetiva e o grau de perda da embocadura da
laguna.
De acordo dos mapas históricos das incursões holandesas no século XVII, a então
laguna de Guaraíras, não havia registro de comunicação direta com o mar. A influência
marinha na mesma, se dava por intermédio do rio Trairí, através das lagoas de Nísia Floresta e
Papeba. Nessa época, o rio Trairí tinha sua foz na barra do Camurupim, porção NE da área. Já
neste século, o DNOS publicou um mapa onde se mantinham, praticamente, os mesmos
aspectos anteriores, porém a laguna de Guaraíras já apresentava um in let de comunicação
com o mar, embora com pouca dimensão. O que permitia que o fluxo das águas fosse mantido
no sentido norte, com a desembocadura do complexo ainda na barra do Camurupim (MELO,
2000).
Foi provavelmente uma enchente ocorrida no de 1974, a responsável pelo alargamento
do canal de ligação da laguna de Guaraíras com o mar, e um dos fatores desencadeantes do
processo de colmatagem da foz do rio Trairí, que aliados aos ventos alísios de SE,
remobilizando os sedimentos das dunas móveis atuais, terminaram por fechar completamente
a antiga foz do referido rio. Com isso, o fluxo das águas no complexo lagunar sofreu inversão,
passando a desembocar, definitivamente, na laguna de Guaraíras, hoje com ampla
comunicação com o mar (MELO, 2000).
13
A Laguna de Guaraíras (Figura 1) se conecta ao mar no litoral oriental do estado do
Rio Grande do Norte, a cerca de 42km ao sul de Natal entre os municípios de Tibau do Sul
(no limite Sul) e Georgino Avelino (no limite Norte). Sua embocadura se situa nas
coordenadas 6°10’48”Sul e 35°5’32”Oeste e corresponde a um trecho da Faixa Litorânea
Leste de Escoamento Difuso, segundo o plano estadual de recursos hídricos da SERHID/RN
de 1998.
Figura 1 - Mapa de Localização da área de estudo, a .Laguna de Guaraíras no litoral oriental do Estado do Rio
Grande do Norte (RN).
14
de drenagens, encaixadas em uma depressão esculpida nos sedimentos da Formação Barreiras
(MELO, 200)
Na margem sul existe falésias de até 7,0 m de altura, com evidentes traços de erosão
em sua base devido à ação das correntes, das ondas e da oscilação da maré, acarretando o
solapamento da base do talude. Concomitantemente à ação hidrodinâmica na base, as chuvas
geram infiltração e escoamento superficial no topo das falésias, acelerando mais ainda o
processo erosivo e o recuo da encosta (AMARAL et al., 2003) (SCUDELARI et al. 2001).
A área de estudo está inserida na Área de Proteção Ambiental Bonfim-Guarairas foi
criada através do Decreto Estadual N° 14.369 de 22 de Março de 1999, com o objetivo de
proteger os ecossistemas de dunas, mata atlântica, manguezais, praias, rios e lagoas, além de
espécies vegetais e animais presentes nos municípios de Tibau do Sul, Goianinha, Arês,
Senador Georgino Avelino, Nísia Floresta e São José de Mipibu, no litoral oriental do estado.
Com uma área superior a 42 mil hectares (ver mapa), a APA Bonfim-Guarairas configura-se
como a maior Unidade Estadual de Conservação em área emersa do estado, assegurando a
preservação ambiental de uma extensa área de tabuleiros, dunas, dezenas de lagoas, bem
como o importante Complexo Lagunar de Bonfim e Papeba-Guarairas, região com intensa
atividade turística e presença do cultivo de camarão (IDEMA, 2017).
BENTES (2006) estudou os sedimentos de fundo do Sistema Lagunar de Guaraíras,
comparando as características granulométricas de sedimentos coletados nos anos de 2000 e de
2005, com estudos desenvolvidos por CARVALHO (1978), SILVEIRA (1981) e
CARVALHO (1982). A autora constatou diferentes padrões deposicionais em cada momento
analisado, indicando que o sistema vem sofrendo alterações na sua hidrodinâmica.
De forma geral, destaca-se uma redução da competência de transporte de sedimentos
ao longo do tempo, evidenciada pelo aumento de frações de sedimentos finos. Seguindo a
classificação proposta pela EMBRAPA (1997), verificou-se que na Laguna de Guaraíras,
principalmente nas proximidades da desembocadura, predominam frações de areias, ao passo
que no interior, próximo às cabeceiras do estuário e às áreas de manguezal, estão presentes
também frações expressivas de siltes (ROVERSI, 2018).
15
de paleodunas (N34elp) e de Dunas Móveis (N4lpd) (CPRM, 2005), que formam solos
altamente permeáveis e lixiviados, como pode ser observado na Figura 2.
16
ultrapassando os 150 metros de altitude. Esses platôs compreendem superfícies de
aplainamento, correspondentes ao domínio dos sedimentos da Formação Barreiras.
Limita-se a oeste com o embasamento cristalino e a leste estendem-se até a costa, por
vezes, são interrompidas abruptamente formando falésias. No geral, são superfícies planas e
suavemente onduladas com declives entre 0 e 5%, exceto próximo as linhas de drenagens
onde estes são consideravelmente mais acentuados; o outro domínio corresponde a área
litorânea, envolvendo principalmente os mangues, os cordões de dunas e as praias (MELO,
2000).
17
altamente susceptível a ser acentuada. No caso das áreas urbanas, construções sob a falésia
são em sua maioria irregulares o que aumenta a probabilidade de incidentes resultantes da
erosão, pelos mais variados fatores (GOMES, 2016).
De acordo com o Mapa de Uso e Ocupação do Solo elaborado pelo IDEMA (2014),
apresentado na Figura 4, atualmente a área total de viveiros de camarão instalados ao redor do
Sistema Lagunar de Guaraíras é de 1.477,86 ha. Esse valor é equivalente a 85% do espelho
d’água do sistema (que contabiliza 1.738,5 ha, considerando as lagoas e canais principais que
as conectam), e a 98% da área ocupada por manguezais. Estima-se ainda que o volume total
de água armazenado pelas fazendas seja equivalente a 70% do prisma de maré local.
18
Alterações em processos sedimentológicos e morfodinâmicos; e iii) Mudanças em padrões de
qualidade de água (ROVERSI, 2018).
Além da carcinicultura, as áreas urbanas – 2.018 ha em 2011 – e as áreas agrícolas –
9.217 ha em 2011 – existentes ao redor do Sistema Lagunar de Guaraíras representam também
expressivas fontes de poluição hídrica (IDEMA, 2014).
A vegetação da área prevalece sendo do tipo manguezal (Figura 5) - sistema ecológico
costeiro tropical dominado por espécies vegetais - mangues e animais típicos, aos quais se
associam outras plantas e animais, adaptadas a um solo periodicamente inundado pelas marés,
com grande variação de salinidade. E também pela Formação Tabuleiros Litorâneos –
vegetação encontrada cobrindo os Tabuleiros Costeiros, geralmente são áreas onde ocorreu
intervenção humana (IDEMA, 2008).
A cobertura vegetal presente na região pode ser dividida nas seguintes variedades:
costeira, composta por vegetação fixadora de dunas, árvores de pequeno porte e gramíneas;
mata de manguezais, matas de várzeas, onde ocorrem plantas que circundam as drenagens,
como gramíneas e ciperáceas; além de porções de mata atlântica, nas quais ocorrem árvores
de médio porte, associadas à vegetação rasteira, como mostra a Figura 6 (AMARAL, 2003).
19
Figura 6 – Cobertura vegetal no entorno da Laguna de Guaraíras.
20
novembro. A estação chuvosa tem início em março e se prolonga até julho, com precipitações
máximas de abril a junho (Figura 7).
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
21
extração das linhas de praia e aplicação no DSAS. Abaixo segue fluxograma metodológico
(Figura 8).
22
disponibilidade das cenas para a região, foram selecionados sete períodos de tempo com
intervalos de 4 a 6 anos conforme são apresentados na Tabela 1.
As imagens de satélite da série LANDSAT são uma das mais importantes fontes de
dados para o estudo da evolução de diferentes tipos de cobertura do uso do solo e aplicações
ambientais ao longo das últimas 4 décadas (Bertucini Júnior e Centeno, 2016). Embora na
última década, com o lançamento do LANDSAT OLI-8, tenha ocorrido muitas melhorias na
detecção dos aspectos biofísicos da imagem em relação as versões anteriores, favorecido pela
inserção de duas novas bandas espectrais no sensor OLI: uma banda azul costeiro (0,433 –
0,453 µm) e uma banda cirrus (1,360 – 1,390 µm) e do aumento da resolução radiométrica
para 12 bits, que permite caracterizar melhor o ambiente costeiro por exemplo (Roy et al.,
2014; Acharya et al., 2016), contudo, os sensores não estão totalmente livres das distorções
introduzidas no momento de aquisição das imagens devidas à rotação, inclinação e curvatura
da Terra e devida à instabilidade da plataforma (Meneses et al., 2012; Bertucini Júnior e
Centeno, 2016).
Estas distorções, também chamadas de distorções sistemáticas de primeiro nível, são
corrigidas pela própria agência fornecedora da imagem, antes de serem disponibilizadas ao
usuário. Todavia, as correções de primeiro nível ainda não atendem totalmente as
características das unidades físicas, como por exemplo, radiância, reflectância ou temperatura
(Chen e Herz, 1996) e os padrões cartográficos para localização espacial local (correção
geométrica) sendo necessário fazer correções adicionais (Figura 9), ou de correções segundo
nível (Meneses et al., 2012).
23
Figura 9 – Diagrama de conversão do DN da imagem de 2018 do sensor Operational Land Imager (OLI) -
LANDSAT 8
Estudos voltados, por exemplo, para os ambientes costeiros, que envolve a análise
multitemporal das alterações morfológicas, se faz necessário efetuar técnicas para suavizar
e/ou reduzir o erro geométrico (georreferenciamento) para compatibilizar as imagens com a
cartografia existente, por meio de pontos de controle, utilizando o mesmo datum e sistema de
projeção da mesma região.
Assim, para esta etapa de pré-processamento das imagens foi utilizado o software
ENVI para as correções radiométrica e atmosférica e o ArcGis 10.3 para correção geométrica.
24
O cálculo da radiação espectral no sensor é a etapa fundamental na conversão de dados
de imagem de vários sensores e plataformas em uma escala radiométrica (Chander et al.,
2009). A calibração radiométrica dos sensores TM e OLI envolve o redimensionamento dos
números digitais brutos (Q) transmitidos do satélite para os números digitais calibrados
(Qcal)6, que possuem a mesma escala radiométrica para todas as cenas processadas no solo por
um período específico.
Durante a calibração radiométrica, os valores de pixel (Q) bruto, dados de imagem não
processados, são convertidos em unidades espectral de radiância absoluta usando cálculos de
pontos flutuante de 32 bits. Os valores de radiância absoluto são então redimensionados para
8 bits (TM, Qcalmax = 255) e 16 bits (OLI, Qcalmax = 32767) números representando Q cal antes
da saída para a mídia de distribuição (Chander et al., 2009).
Conversão de Qcal em produtos de Nível 1 de volta para espectral no sensor radiância
(Lλ) requer conhecimento dos limites inferior e superior dos fatores de redimensionamento
originais. A seguinte equação é usada para executar a conversão de Qcal em Lλ para produtos
de nível 1:
(Equação 1)
onde:
25
(Equação 2)
(Equação 3)
onde
radiância espectral na abertura do sensor [W/(m2 sr )]
= valor do pixel calibrado e quantificado [DN]
= correspondente ao valor mínimo do pixel calibrado e quantificado a [DN]
= correspondente ao valor máximo do pixel calibrado e quantificado a [DN]
= radiância espectral no sensor dimensionado para [W/(m2 sr )]
= radiância espectral no sensor dimensionado para [W/(m2 sr )]
= fator de ganho de reescalonamento específico da banda [(W/(m2 sr ))/DN]
= fator de viés de redimensionamento específico da banda [W/(m 2 sr )]
(Equação 4)
26
Nesta fase, é fornecido para a imagem os dados em ponto flutuante (.dat) e um
formato BIL (Band interleaved by pixel) de gravação de saída (Figura 10C). O ENVI
determina automaticamente o fator de escala correto para obter os dados nas unidades de
radiância espectral. Uma vez aplicado o algoritmo de calibração radiométrica, a próxima etapa
é converter os valores para reflectância no top da atmosfera.
Figura 10 – Processos de conversão de valores DN em mediadas de radiância pelo software ENVI. A) Aplicação
do método de correção radiométrica em Radiometric Calibration: B) Definição da correção para as bandas
multiespectraias do senso LANDSAT; C) parâmetros de calibração de saída do arquivo.
27
diferentes datas de aquisição de imagens (Chander et al., 2009). A refletância TOA da Terra é
calculada de acordo com a equação 5:
(Equação 5)
onde:
pʎ = reflectância TOA planetária (sem unidade)
π = constante matemática igual a ~ 3.14159 (sem unidade)
Lʎ = radiância espectral na abertura do sensor (W/(m2 sr ))
d = distância Terra-sol (unidade astronômica)
ESUNʎ = média da irradiância solar exatmosférica (W/(m2 ))
s = ângulo zênite solar (graus9)
(Equação 6)
onde:
, é a radiância no sensor,
28
é a reflectância do pixel na superfície,
é a média da reflectância da região ao entorno do pixel,
é o albedo esférico da atmosfera,
é a radiação espalhada pela atmosfera e A e B são os coeficientes que dependem da
geometria e das condições atmosféricas.
O primeiro termo da Equação 6, explica a radiação refletida pela superfície que chega
ao sensor, o segundo termo, explica a radiação refletida que é espalhada pela superfície e
chega ao sensor (Soares, 2015). Além desta equação, através da ferramenta do sistema ENVI,
Band Math, situada na opção Band Algebra, para transformar os valores de reflectância de 0 a
1, o FLAASH multiplica os valores de reflectância por 10.000 (Figura 12). O motivo dessa
multiplicação é para converter os dados de reflectância para números inteiros.
Figura 11 – Procedimentos da correção dos efeitos atmosféricos no sistema ENVI. A) Módulo de correção
FLAASH Atmospheric Correction; B) e C) Parâmetros de e varáveis
Figura 12 – Aplicação da função para corrigir os valores de reflectância de 0 a 1. A) Ferramenta Band Algebra
para inserir a função; B) Digitação da função diretamente na opção Band Math; C) Variáveis aplicado a todas as
bandas multiespectrais.
29
3.5 Correção Geométrica
As imagens dos anos de 2004, 2008, 2014 e 2018 foram corrigidas geometricamente e
ortorretificadas pelo United States Geological Survey (USGS), com precisão superior a 0,4
pixels, valor considerado aceitável para precisão espacial das imagens da série LANDSAT de
resolução espacial moderada (Acharya et al., 2016). Essas imagens serviram de suporte para o
georreferenciamento das restantes, que foram obtidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE). Assim, os erros decorrentes da correção das imagens do INPE são
incrementados aos erros das imagens do USGS.
Neste trabalho, para auxiliar na extração da linha de praia foi empregado o método de
Normalized Difference Water Index (NDWI). O NDWI tem como objetivo delinear ambientes
de águas abertas, automatizando a determinação do limiar entre a água e a terra (limite seco-
30
úmido, vegetação terrestre, solo, estruturas, construções), o que permite maximizar a
reflectância típica da água usando o comprimento de onda da luz verde (G de Green),
minimizar a baixa reflectância dos corpos d´água no infravermelho-próximo (NIR de Near
Infrared) e realçar o contraste entre a água e a superfície terrestre (McFeeters, 1996), dada
pela função básica:
(Equação 7)
Com base na equação (7), o NDWI produz o valor 1 para corpos d’água e próximo de
-1 para as demais feições. Na prática, devido aos baixos valores de brilho registrado na
imagem NIR, o valor NDWI oscila em torno de zero para corpos d’água e -1 para outras
feições morfológicas (Polidorio et al. 2004).
(Equação
8)
Figura 13 – Aplicação do índice de água NDWI nas imagens multiespectrais. A) Ferramenta Band Algebra para
inserir o índice; B) Expressão matemática do índice NDWI no sistema ENVI; C) Variáveis aplicadas
especificamente as bandas do verde (GREEN) e do Infravermelho (NIR).
31
3.7 Extração das Linhas de Praia
Segundo Amaro et al. (2012), há vários fatores que interferem na definição precisa da
linha de costa, como por exemplo, resolução do sensor remoto, extensão do trecho da zona
costeira e condições de maré.
Diferentes indicadores têm sido usados para a definição do termo linha de praia,
sobretudo em zonas costeiras influenciadas por mesomarés e macromarés (Boak e Turner
2005). Nesse trabalho a linha de praia foi estabelecida como a linha que na face de praia
separa a área seca da molhada (zona saturada), compreendida como a última posição de maré
mais alta no momento do imageamento (Amaro et al., 2014).
Após a etapa de pré-processamento e processamento digital, as imagens realçadas são
inseridas em ambiente SIG com o software ArcGis 10.3 para extração das linhas de praia
sobre o qual o limite mar (água)-terra é identificado após aplicação do NDWI (Figura 14),
separando as porções úmidas (periodicamente submersas) e secas (emersas) no instante do
imageamento.
Em seguida, as linhas de praia foram compiladas como shapefiles e depois importadas
para um geodatabase. A linha molhada/seca identificada nas imagens aéreas é definida como a
linha associada a uma mudança de cor/tom entre a areia úmida e seca.
32
ArcGIS. O DSAS utiliza-se principalmente de 3 elementos (Figura 15): as linhas de costa; as
linhas de base e os transectos [THIELER et al. (2009)].
Figura 15 – Representação dos 3 elementos básicos do DSAS, linha de costa, transectos e linha de base.
As linhas de base foram feitas de maneira mais paralela possível em relação as linhas
de praia, para atender com maior precisão a variação da linha do litoral em relação ao tempo
(FRANCO et al., 2012) e os transectos, que são linhas perpendiculares as linhas de base,
tiveram seus espaçamentos arbitrados dependendo da extensão do setor estudado, variando de
50m para as seções de embocadura à 80m para as faixas de praia (Figura 16).
Figura 16 – Parâmetros estabelecidos para geração das variáveis estatísticas. 1) Parâmetros estabelecidos para a
linha de base. 2) Parâmetros estabelecidos para as linhas de praia.
Após vetorização das linhas de praia, linha de base e criação dos transectos foi gerado
as variáveis geoestatísticas (Figura 17).
33
Figura 17 – Variáveis geoestatísticas.
Na análise da mobilidade da linha de praia mais antiga para a mais recente foi
empregado o método Net Shoreline Movement (NSM). Essa abordagem requer apenas duas
faixas de praia para permitir o cálculo (THIELER, 1994). Neste estudo, as faixas de praia
disponíveis foram examinadas em pares e em ordem sequencial (1984-1988, 1988-1994,
1994-2000, 2000-2004, 2004-2008, 2008-2014, 2014-2018).
Para a taxa de variação média de erosão/deposição ao longo dos anos foi utilizado o
método End Point Rate (EPR). Foi aplicado também o método de Linear Regression Rate
(LRR) onde Y = tempo e b= espaço em metros, que fornece uma relação entre uma variável
quantitativa pode ser explicada a partir de outra (Franco et al., 2012). Os valores de LRR são
utilizados na caracterização, validação e no prognóstico.
(2)
Para melhor interpretação e discussão dos dados utilizados para caracterização da área
de estudo, foram agrupados os dados em 2 tipos de classificação. A primeira classificação
34
teve como objetivo retratar a evolução da linha de praia em termos de amplitude e mobilidade,
nessa categoria foram utilizados o SCE e NSM. Cada um desses parâmetros foi então
classificado, avaliado e correlacionado com estudos prévios sempre que possível (Prudêncio
et al., 2019).
A segunda classificação foi realizada para os dados que mostram a evolução da linha
de praia em termos de taxas anuais, no caso, diagnóstico (EPR) e prognóstico (LRR) e sua
classificação dos intervalos adaptada de Rangel-Buitrago et al. (2015).
Os resultados foram codificados por cores, sendo as cores verdes indicando acreção, a
cor amarela para estabilidade e as cores vermelha e laranja para erosão (Figura 18). Devido ao
comprimento das linhas de praia, optou-se por subdividir a área de estudo em dois setores
para que pudesse ser melhor analisado espacialmente. Sendo o Setor 1 a porção Norte e o
Setor 2 a porção Sul (Figura 19).
Figura 18 - Classificação das cores quanto aos intervalos dos parâmetros analisados.
35
Figura 19 - Mapa da Dinâmica Costeira na região frontal à desembocadura da Laguna de Guaraíras para o
período de 1984 a 2018.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Análise Evolutiva e Taxa de Variação da Linha de Praia entre os Anos de 1984 a
2018
Mudanças no litoral foram medidas nos 250 transectos distribuídos no Setor 1 e nos
234 transectos distribuídos no Setor 2. Analisando o período que compreendeu toda a
extensão temporal (34 anos) com a taxa LRR, notou-se que mais de 70% dos transectos
36
gerados para o Setor 1 revelou uma tendência erosiva totalizando 4,14km de extensão da área
e uma predominância de acreção relativamente baixa, com apenas 10% de sua extensão.
Para o Setor 2, foi identificada uma menor tendência erosiva, com valor de LRR
variando entre -1,51 m/ano e 1,34 m/ano, havendo assim uma dinâmica relativamente estável,
com a área que sofre o processo erosivo sobrepondo em 12,30% a área estável e com
deposicão de sedimentos.
A partir da análise das variáveis geoestatísticas geradas pelo DSAS, foi identificada
uma intensa variação da margem esquerda da embocadura da Laguna de Guaraíras. A taxa
EPR apresentou uma taxa de recessão de -6,41 m/ano, totalizando -217,94 m ao longo do
período de estudo em relação a deposição de 1,57 m/ano (Tabela 4), totalizando 53,38 m, o
que resulta num significativo recuo da margem com um balanço geral negativo de 164,56 m.
Para o Setor 1, a linha de praia respondeu com processos intercalados entre os períodos,
porém com o balanço da porcentagem de erosão sempre superior aos de deposição (Tabela 3),
havendo um saldo negativo na maior parte de seu comprimento no final do período (1984-
2018). Deve-se destacar os períodos entre 2000-2004 e 2008-2014 em que atingiram,
37
respectivamente, 97,1% e 85,5% de processo erosivo em sua extensão, totalizando uma faixa
de 5,0km e 4,19km de erosão nesses intervalos.
38
Figura 20 - Análise qualitativa da área a partir da taxa EPR nos períodos interdecadais.
39
Tabela 4 – Análise interdecadal da área de estudo a partir da taxa EPR para o Setor 1.
Tabela 5 - Análise interdecadal da área de estudo a partir da taxa EPR para o Setor 2.
40
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na margem ao norte da foz, foi onde apresentou maior evidência do processo de recuo
com os dados de EPR mostrando erosão em 93,1% da área chegando a uma mobilidade
máxima de 217,94 m de sedimentos erodidos e taxa de EPR média de -3.65 m/ano, porém em
pontos específicos da foz com média de erosão -6,64 m/ano, principalmente pela sua
composição de sedimentos dunares, fazendo com que esse trecho seja mais vulnerável ao
processo erosivo pela ação dos ventos e correntes de vazante que utilizam estoques
sedimentares das zonas de berma.
A análise a partir do LRR para evolução das faixas de praia tanto da porção norte
quanto ao da porção sul no período de 1984 a 2018, apresentou faixas relativamente estáveis
(-0,64 m/ano – norte; -0,08 m/ano – sul), exibindo na maioria dos transectos variação da linha
de praia de até três metros por ano. No entanto, a partir da observação dos módulos SCE
(média de 37,9 m para porção norte e média de 31,2 m para porção sul) e NSM (média de -
13,05 m porção norte e média de -7,25 m porção sul) foi possível observar que apesar de sua
aparente estabilidade, essa área apresentou grande amplitude e mobilidade de variação da
linha de praia nesse período. Por esse motivo foram necessárias análises interdecadais para
então se constatar que na área ocorreram tanto eventos de erosão como eventos de deposição
que alternaram entre si ao longo do tempo.
41
Por fim, as linhas de praia apresentaram um cenário de movimentos intercalados e de
modelamento do litoral caracterizado pela dinâmica costeira e identificados a partir do uso dos
módulos NSM e SCE. Estes processos juntos mantêm um equilíbrio entre a adição e a
remoção de areia, resultando numa linha de praia aparentemente estável, mas que, na
realidade, há uma permuta constante do material arenoso.
42
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