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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO:
GEOLOGIA AMBIENTAL, HIDROGEOLOGIA E RECURSOS HÍDRICOS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

HIDROLOGIA E ISÓTOPOS AMBIENTAIS APLICADOS AO

ESTUDO DO PANTANAL DOS MARIMBUS, CHAPADA

DIAMANTINA, BRASIL

JOAQUIM RAMOS LESSA FILHO

SALVADOR
2017
HIDROLOGIA E ISÓTOPOS AMBIENTAIS APLICADOS AO

ESTUDO DO PANTANAL DOS MARIMBUS, CHAPADA

DIAMANTINA, BRASIL

Joaquim Ramos Lessa Filho

Orientador: Prof. Dr. Luiz Rogério Bastos Leal

Coorientador: Prof. Dr. Geraldo Marcelo Pereira Lima

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-Graduação em Geologia do
Instituto de Geociências da Universidade
Federal da Bahia como requisito parcial à
obtenção do Título de Mestre em Geologia,
Área de Concentração: Geologia Ambiental,
Hidrogeologia e Recursos Hídricos.

SALVADOR
2017
JOAQUIM RAMOS LESSA FILHO

HIDROLOGIA E ISÓTOPOS AMBIENTAIS APLICADOS AO

ESTUDO DO PANTANAL DOS MARIMBUS, CHAPADA

DIAMANTINA, BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Geologia da
Universidade Federal da Bahia, como
requisito para a obtenção do Grau de
Mestre em Geologia na área de
concentração em Geologia Ambiental,
Hidrogeologia e Recursos Hídricos em
14/09/2017.

DISSERTAÇÃO APROVADA PELA BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________________
Dr. Luiz Rogério Bastos Leal
Orientador – PPGG/UFBA

Dr. Alexandre Barreto Costa


Examinador Externo – LFNA/UFBA

Dr. Sérgio Augusto de Morais Nascimento


Examinador Interno – PPPGG/UFBA

Salvador – BA
2017
Ninguém conhece uma área úmida tão exuberante
e resiliente como o Marimbus e permanece o
mesmo. Seja um observador de aves, seja um
cientista, seja um pescador de piranhas, seja um
amante da natureza humana, as mudanças são
constantes. (O Autor).
.

Dedico este trabalho aos garimpeiros,


desbravadores das serras.
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Universo pelo “Milagre da Vida”, pela sabedoria e pelas condições físicas,
mentais e sociais que possibilitaram a conclusão desse trabalho. Gratidão!

Ao Curso de Pós-Graduação em Geologia Ambiental, Hidrogeologia e Recursos Hídricos


e, seu corpo de docentes, em particular, a Coordenadora Simone Cruz. Ao professor Geraldo
Marcelo Lima, pela amizade, orientação e logística para realização do trabalho. Ao professor Dr.
Luiz Rogério pela orientação e ajuda no final do trabalho.

Aos secretários da pós-graduação, Nilton Silva e Diana pelo apoio nos procedimentos
administrativos. Aos demais professores, pela participação direta ou indireta na minha formação
acadêmica, tais como Alexandre Barreto Costa, Luís Rogério, José Maria Landim, Manoel
Jerônimo Cruz, Débora Rios. Além dos professores Félix Farias (IGEO), Roberto e Tárcio
(LFNA) pela contribuição nas análises dos dados isotópicos e granulométricos presentes nessa
dissertação.

Ao CNPq pelo fomento ao projeto de dissertação, a CAPES, pela concessão da bolsa de


pesquisa e aos órgãos governamentais como: CPRM, CBPM, ANA pela disponibilidade dos
dados utilizados na dissertação e consulta bibliográfica.

Agradeço aos meus irmãos e irmãs de sangue, de espírito e de ideais. Ao meu bem!

Aos companheiros destes anos de trabalho e dedicação à pesquisa acadêmica. Aos grandes
amigos que se perpetuaram desde a graduação, aos novos amigos da pós-graduação e aos amigos
de longas datas, obrigado pela companhia nessa caminhada. Por fim, agradeço aos companheiros
de trabalho da equipe de gestão de atendimento à emergência ambiental com hidrocarbonetos dos
Centros de Defesa Ambiental da Bahia, Sergipe e Pernambuco pelo aprendizado.
RESUMO

O Pantanal dos Marimbus representa um sistema de áreas úmidas continentais que cumprem
importantes funções ecossistêmicas. A compreensão das interações entre os elementos desses
sistemas dependem diretamente dos fatores climáticos, hidrológicos, geomorfológicos e humanos
que regem sua origem e evolução. A exploração de diamantes na Chapada Diamantina, a partir
do século XVIII, tornou a carga de sedimentos bastante elevada nos rios da região, e a sua
concentração em zonas aplainadas à jusante dos rios contribuiu diretamente para diversas
modificações geomorfológicas e ampliou a área úmida. Assim, os métodos isotópicos foram
13
utilizados no entendimento sobre a história de deposição dos sedimentos com os isótopos Ce
15 18
N. Além da origem das águas superficiais através da hidrologia isotópica O/16O e 2H/1H. Os
resultados desse trabalho se deram através de várias maneiras. As imagens do levantamento
aerofotogramétrico, realizado em 1974, e as imagens de satélite atuais mostraram que os leques
aluviais de grande magnitude foram depositados antes do período analisado. As descargas anuais
de cota e a vazão da estação Fertém, no Rio Santo Antônio, apresentaram influência direta da
precipitação, bem demarcado em período seco e úmido, típico de rios tropicais. A análise da série
histórica de vazões mostrou maiores valores nas décadas de 50 a 80, com um declínio a partir do
ano 2000. Em períodos de chuva, o Rio Paraguaçu, com maior declividade, enche mais rápido do
que o Santo Antônio e desce com muita força, invadindo a porção sul dos Marimbus, e
provocando um aumento significativo da cota. As águas superficiais que compõem o sistema de
áreas úmidas apresentaram uma composição isotópica predominante de águas pluviais,
principalmente nos pontos coletados no sul da área de estudo. As águas coletadas no setor norte e
central apresentaram características de corpos d’agua que sofrem muita evaporação e não
recebem contribuição de águas subterrânea. O garimpo mecanizado remobilizou os leitos dos
Rios São José e Santo Antônio durante a década de 70 e favoreceu o aumento de matéria orgânica
no sistema, em que seus picos ocorreram de forma semelhante ao aumento do teor de lama. A
relação C/N do perfil de sedimento indicou que a matéria orgânica tem origem terrestre.
Pesquisas adicionais são necessárias para determinar as características geomorfológicas
correlacionadas com as ações antropogênica na região e o funcionamento das contribuições das
águas fluviais e subterrâneas que abastecem os Marimbus.

Palavras-chave: Hidrologia, Isótopos Estáveis, Área úmida continental, Sedimentação, Garimpo.


ABSTRACT

Marimbus Pantanal represents a system of continental wetlands that fulfills important ecosystem
functions. The understanding of the interactions between the elements of these systems depends
directly on the climatic, hydrological, geomorphological and human factors that conduct its
origin and evolution. Diamond mining in the Chapada Diamantina from the 18th century onwards
made the sediment load quite high in the region's rivers, and its concentration in flattened areas
downstream of the rivers contributed directly to various geomorphological changes and increased
the wet area. Thus, the isotopic methods were used to understand the sediment deposition history
13 15
with the C and N isotopes. In addition to the origin of surface water through isotope
18 16
hydrology O/ O and 2H / 1H. The results of this work have come about in several ways.
Images from the aerial photogrammetric survey, carried out in 1974, and the current satellite
images showed that alluvial fans of great magnitude were deposited before the analyzed period.
Annual discharge of quotas and discharge of the Fertém Station, in the Santo Antônio River,
showed a direct influence of precipitation, well demarcated in a dry and humid period, typical of
tropical rivers. The analysis of the historical series of water flows showed higher rates in the
decades of 50 to 80, with a decline from the year 2000. In periods of rain, the Paraguaçu River,
with greater declivity, fills faster than the Santo Antônio and descends with great force, invading
the southern portion of the Marimbus, and causing a significant increase in the quota. The surface
waters that compose the wetlands system presented a predominant isotopic composition of
rainwater, mainly at the points collected in the southern part of the study area. The collected
waters in the north and central sectors presented characteristics of bodies of water that suffer
much evaporation and do not receive contribution of groundwater. The mechanized “garimpo”,
diamond digging, remobilized the beds of the São José and Santo Antônio Rivers during the
1970s and favored the increase of organic matter in the system, in which its peaks occurred
similarly to the increase of the mud content. The C / N ratio of the sediment profile indicated that
the organic matter has terrestrial origin. Isotopic disturbances occurred only in the superficial
layers of the testimony due to recent impacts. Further research is needed to determine the
geomorphological characteristics correlated with the anthropogenic actions in the region and the
functioning of the river and groundwater contributions that supply the Marimbus.

Keywords: Hydrology, Stable Isotopes, Continental Wetlands, Sedimentation, Diamond Digging.


LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Área de drenagem da Bacia do Paraguaçu com destaque para os sistemas de
represamento de água no alto curso do rio, a barragem do apertado, represa as águas provenientes
das nascentes do Paraguaçu, e o Pantanal dos Marimbus que represa as águas da porção norte do
alto curso. FONTE: O autor (2015)................................................................................................14

Figura 2.2 - Localização da área de estudo, indicando os principais rios do sistema, incluindo os
rios que descem da Serra do Sincorá, os limites municipais, as cotas altimétricas e a área dos
Marimbus. FONTE: O autor (2015)...............................................................................................16

Figura 2.3 - Localização e área de drenagem do Rio Paraguaçu, com destaque para o alto curso
em roxo. O ponto do exutório (Fotografia 2.1) recebe as águas das nascentes do Paraguaçu e as
águas represadas no Pantanal dos Marimbus. FONTE: O autor (2015)...............................................17

Figura 2.4 - Mapa da região oriental do Brasil mostrando a área de afloramento do Supergrupo
Espinhaço e a sua divisão em domínios (Pedreira et al.,1989). Modificado de Pedreira, 1994. Em
vermelho, a área de estudo está localizada entre as rochas do Grupo Chapada Diamantina e do
Grupo Una......................................................................................................................................18

Figura 2.5 - Cronoestratigrafia dos Supergrupos Espinhaço e São Francisco, com destaque para
as formações aflorantes na área de estudo. Adaptada de Guimarães et al. (2008).........................20

Figura 2.6 - Mapa Geológico da área de estudo, mostrando as principais feições aflorantes no
seu entorno. As linhas em azul indicam os sistemas de drenagem que abastecem o Pantanal dos
Marimbus. FONTE: O autor (2015)..............................................................................................22

Figura 2.7 – Croqui esquemático ilustrando o contexto geológico e geomorfológico do Pantanal


dos Marimbus. (modificado de Pereira, 2010)...............................................................................24

Figura 2.8 – Perfil genérico de elevação Serra do Sincorá – Pantanal dos Marimbus. O nível de
base dos Marimbus é 320 m em relação ao nível do mar, referente a estação fluviométrica
instalada no Pantanal. Em destaque, a) Vista da serra do Sincorá para o Marimbus, b) Vista da
área úmida para a Serra do Sincorá em período chuvoso e c) Foto aérea da porção sul do
Marimbus, em período de estiagem. FONTE: O autor (2015).......................................................25

Figura 2.9 - Modelo Digital do Terreno indicando os pontos de coleta nas áreas mais rebaixadas
correspondente a área do Marimbus, em amarelo, e as principais drenagens que descem da Serra
do Sincorá, em azul. FONTE: O autor (2015)...............................................................................26

Figura 2.10 – Localização da área úmida no estado da Bahia, a área de drenagem da Bacia do
Paraguaçu e da microbacia correspondente ao Pantanal dos Marimbus (Rio Santo Antônio).
FONTE: O autor (2015).................................................................................................................28
.
Figura 3.1 - Mapa de Amostragem de água superficial e o testemunho de sedimento; a) Norte, b)
Central e c) Sul. Em azul os rios que compõem o sistema de áreas úmidas. O ponto em vermelho
indica o local de coleta do testemunho. FONTE: O autor (2015).......................................................37
Figura 4.1 – Mosaico de imagens do levantamento aerofotogramétrico da área de estudo em
1974. Inventário dos recobrimentos aerofotogrametricos; Coordenação de produção mineral
(BAHIA, 1985). Em destaque os pontos de deposição excessiva de sedimento, indicando que a
formação dos leques aluviais no trecho sul e central do Pantanal ocorreu bem antes do
levantamento aerofotogrametrico. FONTE: Duarte (1985).............................................................42

Figura 4.2 Imagem de Satélite Landsat 7com bandamendo RGB 342 no período chuvoso (12/12/
2000). FONTE: O autor (2015), extraído de United States Geological Survey (USGS)...............43

Figura 4.3 Imagem de Satélite Landsat 7 com bandamento RGB 321, no período seco
(28/08/2008). FONTE: O autor (2015), extraído de United States Geological Survey (USGS)....44

Figura 4.4. Mapa da Bacia do Paraguaçu e área de drenagem do Pantanal dos Marimbus.
FONTE: O autor (2015)..................................................................................................................48
.
Figura 4.5. Hidrograma das vazões médias mensais da Estação do Fertém e as médias de chuva
mensal da estação pluviométrica a montante dos Marimbus..........................................................49

Figura 4.6 – Vazão Máxima Mensal e Vazão Média Mensal da estação fluviometrica do Rio
Santo Antônio entre os anos de 1950 e 2016..................................................................................50

Figura 4.7 – Dados de Chuva Média Mensal da estação pluviométrica à montante da estação
fluviometrica do Rio Santo Antônio entre os anos de 1950 e 1985. Esse período é carcaterizado
pelo aumento das chuvas médias mensais e semelhantes aos picos de vazão apresentados na
Figura 4.6.......................................................................................................................................50

Figura 4.8 – Descarga Média Anual da estação fluviométrica do Rio Santo Antônio entre os anos
de 1950 e 2016. ..............................................................................................................................51

Figura 4.9 – Hidrograma das cotas médias mensais da Estação do Fertém e as médias de chuva
mensal da estação pluviométrica a montante dos Marimbus..........................................................52

Figura 4.10 – Descarga Máxima Mensal e Descarga Média Mensal da estação fluviométrica do
Rio Santo Antônio entre os anos de 1950 e 2016. .........................................................................53

Figura 4.11 - Descarga Média Anual da estação fluviométrica do Rio Santo Antônio entre os
anos de 1950 e 2016.......................................................................................................................53

Figura 4.12 – Cota média mensal para o ano de 2012 em comparação á mpedia global do periodo
analisado.........................................................................................................................................54

Figura 4.13 - Correlação entre as cotas e as vazões obtidas através da estação fluviométrica
Fertém – 51190000........................................................................................................................ 54

Figura 4.14 - Correlação entre as cotas e as vazões obtidas através estação fluviométrica Fertém,
dividido entre os anos de 1950-2000 e 2000-2014.........................................................................55
Figura 4.15 – Relação dos sedimentos em suspensão e a Vazão líquida na entrada do Pantanal -
Estação Fertén (1991-2016). ..........................................................................................................55

Figura 4.16 – Relação os sedimentos em suspensão e o Nível da Cota na entrada do Pantanal -


Estação Fertén (1991-2016)............................................................................................................56

Figura 4.17 Intervalo de vazões diárias com influência nas concentrações de sedimento em
suspensão, em que não foram verificadas grandes vazões para justificar o pico de material em
suspensão........................................................................................................................................57

Figura 4.18 – Descarga Máxima Mensal e Descarga Média Mensal da estação fluviométrica do
Rio Paraguaçu entre os anos de 1950 e 2016. ...............................................................................58

Figura 4.19 – Dados de Chuva Média Mensal da estação pluviométrica à montante da estação
fluviometrica do Rio Paraguaçu entre os anos de 1950 e 2016. ....................................................58

Figura 4.20 – Cota Máxima Mensal e Cota Média Mensal da estação fluviométrica do Rio
Paraguaçu, entre os anos de 1950 e 2016. .....................................................................................59

Figura 4.21 - Cotas diárias dos Marimbus (51190000) entre os anos de 1950 e 2016, com
destaque em vermelho para os picos de cota observados. .............................................................60

Figura 4.22 - Cotas diárias entre os Rios Santo Antônio e Paraguaçu entre os dias 07/03/57 até
21/03/57, com destaque em vermelho para a influencia do Paraguaçu na cota máxima do
Marimbus. ......................................................................................................................................61

Figura 4.23 - Cotas diárias entre os Rios Santo Antônio e Paraguaçu entre os dias 22/01/64 até
04/02/64, com destaque em vermelho para a influencia do Paraguaçu na cota máxima do
Marimbus. ......................................................................................................................................61

Figura 4.24 - Cotas diárias entre os Rios Santo Antônio e Paraguaçu entre os dias 30/03/78 até
12/04/78, com destaque em vermelho para a influência do Paraguaçu na cota máxima do
Marimbus. ......................................................................................................................................62

Figura 4.25 - Cotas diárias entre os Rios Santo Antônio e Paraguaçu entre os dias 01/02/92 até
15/02/92, com destaque em vermelho para a influência do Paraguaçu na cota máxima do
Marimbus. ......................................................................................................................................62

Figura 4.26 - Cotas diárias entre os Rios Santo Antônio e Paraguaçu entre os dias 17/12/13 até
31/12/13, com destaque em vermelho para a influência do Paraguaçu na cota máxima do
Marimbus........................................................................................................................................63

Figura 4.27 – Pontos de amostragem de água superficial nos diferentes setores dos Marimbus.
FONTE: O autor (2015)..................................................................................................................65

Figura 4.28 – Relação das medidas isotópicas de δD x δO18 das águas analisadas em comparação
com reta meteorica global (GMWL - Rozanski et al., 1993). .......................................................66
Figura 4.29- Diagrama esquemático dos processos climáticos que afetam a composição isotópica
do oxigênio e hidrogênio na água em comparação com a Linha Meteórica Global. (Fonte:
http://www.sahra.arizona.edu, adaptado por Silva (2007)). ..........................................................67

Figura 4.30 – Representação dos dados isotópicos das amostras MB1 a MB6 (LEL) em
comparação a LMG........................................................................................................................68

Figura 4.31 – Representação dos dados isotópicos das amostras MB7 a MB20 em comparação
com a LGM.....................................................................................................................................69

Figura 4.32 - Representação dos dados isotópicos das amostras MB7 a MB20 em comparação
com a LMG, com destaque para LML referente aos pontos MB9, MB19 e
MB20..............................................................................................................................................69

Figura 4.33 – Excesso de deutério nas águas superficiais do Pantanal dos Marimbus, com
composição distintas.......................................................................................................................71

Figura 4.34 - Gráfico comparando os dados isotópicos das águas subterrâneas em Iraquara
(Salles, 2017 – em azul) com as amostras superficiais analisadas no Pantanal dos Marimbus – em
verde. A linha vermelha represa a reta meteórica global LMG. ....................................................72

Figura 4.35 – Região sul do Marimbus e início do médio Paraguaçu que estão sob influência do
aquífero que regula os fluxos no sistema. A seta branca indica o fluxo normal do sistema. A seta
pontilhada indica fluxos periódicos do Rio Paraguaçu invertendo o fluxo. Seguindo o médio
curso do rio encontra-se o poço azul e o poço encantado no mesmo
sistema............................................................................................................................................74

Figura 4.36 – Interação de fluxo entre as águas do sul do Marimbus, sob influencia da rede de
drenagem do Rio Santo Antônio, contribuições subterrâneas (olhos d’agua) e do Rio Paraguaçu
nos períodos de cheia. ....................................................................................................................74

Figura 4.37 – Granulometria do testemunho de sedimento com os respectivos anos de deposição


de acordo com as taxas médias de sedimentação em áreas úmidas continentais. A linha vermelha
indica o ano de criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina e a proibição do garimpo.
........................................................................................................................................................76

Figura 4.38 – Comparação entre a granulometria do testemunho de sedimento com os dados de


vazão máxima mensal e média anual entre os anos de 1950 a 2016, correspondente ao perfil de
sedimento. ......................................................................................................................................78

Figura 4.39 – Perfil de Carbono Orgânico Total (COT) e perfil de %N.......................................79

Figura 4.40 – Correlação linear entre os dados COT (%) e N (%) do testemunho coletado e a
relação C/N com a profundidade, a linha pontilhada indica a divisão entre as fontes de matéria
orgânica depositadas em ambientes lacustres.................................................................................79

Figura 4.41 – Composição isotópica C e N do testemunho de sedimento, mostrando dois perfis


estratigráficos bem demarcados pelas assinaturas isotópicas.........................................................81
LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 2.1 - Exutório correspondente à área de captação do alto curso do Rio Paraguaçu.
Nesse ponto ocorre o encontro das águas provenientes das nascentes do rio (seta azul) com as
águas represadas no Marimbus (seta branca). FONTE: Geraldo Marcelo Lima (2014)................17

Fotografia 2.2 - Garimpo manual no Rio Preto, Mucugê – Ba. a) Desvio do curso do rio para
desmanche dos cascalhos. b) Diamantes e carbonado extraídos. Fonte: O autor (2015)...............32

Fotografia 4.1 - Sedimentos de variados tamanhos depositados na calha de um dos rios que
deságua no Pantanal. FONTE: Geraldo Marcelo Lima (2014)......................................................40

Fotografia 4.2 - Área do encontro do Pantanal dos Marimbus, área úmida meandrante, com o
Rio Paraguaçu, na parte superior da foto. O Pantanal é topograficamente mais rebaixado do que o
Paraguaçu. FONTE: Geraldo Marcelo Lima (2014)......................................................................45

Fotografia 4.3 - Dezenas de árvores mortas devido ao aumento da área de inundação no trecho
Sul dos Marimbus, ocasionado pelo aumento da sedimentação nesse trecho. FONTE: Geraldo
Marcelo Lima (2014)......................................................................................................................45
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Características litológicas e interpretação sedimentológica das formações


componentes do Grupo Chapada Diamantina (Guimarães & Pedreira, 1990; Bomfm & Pedreira,
1990; Pedreira & Margalho, 1990).................................................................................................21

Tabela 2.2 - Características litológicas e interpretação sedimentológica das formações


componentes do Grupo Una, de acordo com Bomfm & Pedreira, 1990; Pedreira & Margalho,
1990................................................................................................................................................23

Tabela 3.1 - Distribuição dos pontos de amostragem em água superficial....................................35

Tabela 4.1 - Informações das estações fluviométrica realizada nas análises.................................48

Tabela 4.2 - Abundância (%), razão isotópica e padrão utilizado em estudos ambientais............64

Tabela 4.3 - Taxas de sedimentação em áreas úmidas continentais de grande relevância


ambiental, utilizando-se radionuclídeos de 210Pb e 137Cs...............................................................77
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS


1.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................11
1.2 JUSTIFICATIVA.....................................................................................................................12
1.3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA...........................................................................12
1.4 OBJETIVOS.............................................................................................................................13
CAPÍTULO 2 – DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.........................................................14
2.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................14
2.2 GEOLOGIA..............................................................................................................................18
2.4.1 Supergrupo Espinhaço........................................................................................................19
2.4.1.1 Domínio Oriental do Grupo Chapada Diamantina........................................................... 19
2.4.2 Supergrupo São Francisco................................................................................................. 21
2.3 GEOMORFOLOGIA.............................................................................................................. 24
2.4 HIDROLOGIA........................................................................................................................ 27
2.5 GARIMPO DE DIAMANTES NA BAHIA – OCUPAÇÃO DO HOMEM NA CHAPADA
DIAMANTINA..............................................................................................................................29
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................32
3.1 SENSORIAMENTO REMOTO...............................................................................................33
3.2 HIDROLOGIA.........................................................................................................................33
3.3 CARACTERIZAÇÃO DOS COMPARTIMENTOS AMBIENTAIS.....................................34
3.3.1 Amostragem de água superficial e testemunho.................................................................34
3.3.2 Determinação de isótopos 2H/18O em águas superficiais..................................................38
3.3.3 Determinação de isótopos 13C/15N dos sedimentos do testemunho..................................38
3.3.4 Granulometria do testemunho............................................................................................39
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................40
4.1 INTERFERÊNCIAS ANTROPOGÊNICAS NO PANTANAL DOS MARIMBUS................40
4.2 HIDROLOGIA.........................................................................................................................46
4.3 COMPOSIÇÃO ISOTÓPICA DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS...............................................63
4 4 MODELO TEÓRICO DA DINÂMICA DE FLUXO..............................................................72
4.5 GRANULOMETRIA E TAXA DE SEDIMENTAÇÃO.........................................................75
4.6 COMPOSIÇÃO ISOTÓPICA DA CARGA SEDIMENTAR DEPOSITADA.......................78
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................81
5.1 INDICAÇÃO DE TRABALHOS FUTUROS.........................................................................84
REFERÊNCIAS............................................................................................................................85
APÊNDICE A - Tabela com dados isotópicos das águas superficiais..........................................91
APÊNDICE B - Tabela com dados isotópicos das do testemunho de sedimento e origem da
matéria orgânica..............................................................................................................................92
APÊNDICE C - Relação entre carga de material em suspensão, cota e vazão líquida para cada
dia medido – Estação Fertém..........................................................................................................93
APÊNDICE D - Tabela com dados granulométricos (%) acumulado...........................................95
APÊNDICE E - Vazões médias no Rio Santo Antônio................................................................96
APÊNDICE F - Gráficos de cotas (cm) médias mensais entre os anos de 1948-2015, comparada
com a média histórica da série.......................................................................................................98
ANEXOS A - Planilha de avaliação granulométrica utilizada para o testemunho......................104
11

CAPÍTULO 1
CONSIDERAÇÕES GERAIS

1.1 INTRODUÇÃO
O Rio Paraguaçu drena uma área de aproximadamente 54.727 km² na região centro-
leste da Bahia. Constitui a terceira maior bacia hidrográfica do estado, sendo responsável pelo
abastecimento de 60% da população residente em Salvador e região metropolitana (INEMA,
2015). O rio nasce na Serra do Sincorá, mais precisamente em Barra da Estiva na Chapada
Diamantina, e segue no sentido sul-norte passando pelos municípios de Ibicoara e Mucugê, até
encontrar o Pantanal dos Marimbus nas proximidades da cidade de Andaraí, quando muda o
sentido para leste, até a sua foz.
O Pantanal dos Marimbus é uma grande planície de inundação tropical com uma rede
de lagoas conectadas devido à influência das águas superficiais e subterrâneas. Esse ambiente de
águas tranquilas, topograficamente mais rebaixado, é alimentado pelos Rios Santo Antônio,
Utinga e São José, bem como recebe o aporte de águas superficiais que descem da borda oriental
da Serra do Sincorá (LIMA e NOLASCO, 1997; FUNCH, 2002). Essa confluência entre águas
superficiais e subterrâneas, sazonalmente inundadas por águas pluviais, se enquadra como um
sistema de áreas úmidas (wetland) (RAMSAR, 1971).
Wetlands podem receber quase todo o seu abastecimento de água através da
precipitação atmosférica, sendo mais vulneráveis às mudanças climáticas, ou a partir de
aquíferos, mais estáveis devido ao sistema de fluxo de águas subterrâneas (WINTER, 2000).
Nesse sentido, a variação dos isótopos de hidrogênio e oxigênio na água vem sendo amplamente
utilizados em áreas úmidas naturais como traçadores dos processos hidrológicos, a fim de ajudar
a compreender as fontes de água, as perdas por evaporação, as zonas de mistura com bacias
hidrográficas e os outros corpos hídricos (LADOUCHE e WENG, 2005; JIN et al, 2012; TIMSIC
e PATTERSON, 2014).
Áreas úmidas continentais são ambientes de extrema importância, uma vez que
fornecem serviços ecológicos fundamentais para a existência da vida e funcionam como
receptores de água e resíduos a jusante dos corpos hídricos, o que permite estabilizar o
abastecimento de água e controlar inundações durante grandes vazões (MITSCH, 2007). No
Pantanal dos Marimbus, poucas pesquisas têm sido realizadas para avaliar a sua evolução natural
12

e as interferências humanas na sua área de influência. Existe uma deficiência de informações


sobre o comportamento hidrológico, modelagem hidrogeológica e a evolução geomorfológica dos
Marimbus. Os trabalhos de relevância sobre o Pantanal estão relacionados com a biologia,
geoconservação e etnoecologia (RAMOS et al, 2015; PEREIRA, 2010; MOURA, 2007).
A própria existência de uma área úmida localizada no semiárido brasileiro representa
um aparente paradoxo. Nesse sentido, essa dissertação visa caracterizar a contribuição
hidrológica das fontes que compõem o sistema, descrever a evolução do ambiente, bem como
avaliar as interferências antropogênicas nos processos naturais de sedimentação. O entendimento
de como o sistema de áreas úmidas dos Marimbus se comporta é base para a preservação e o
manejo sustentável da região.

1.2 JUSTIFICATIVA
A formação de áreas úmidas está associada ao balanço hídrico a partir de diferentes
compartimentos ambientais e as variações no suprimento de sedimentos e matéria orgânica. Para
o Pantanal dos Marimbus, sistema úmido natural de alta relevância ambiental e cênica, há pouca
compreensão dos processos hidrológicos, hidrogeológicos e geomorfológico em relação à origem
e evolução da área. A composição isotópica dos sedimentos e das águas superficiais associados à
análise das variações de cota e vazão da bacia hidrográfica representa um desenvolvimento em
direção à compreensão da sua evolução e funcionamento. Essas informações ajudarão na gestão
da unidade de conservação presente na área e servirão para fortalecer o turismo sustentável.

1.3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA


A identificação correta dos fatores que contribuíram para a formação da área de
estudo e a caracterização dos processos hidrológicos e sedimentológicos que regem seu
desenvolvimento são fundamentais para a elaboração de diretrizes de manejo sustentável para
manter a sua integridade sistêmica. A compreensão da interação entre os elementos que compõe o
Pantanal depende diretamente de fatores naturais e antropogênicos inerentes à região. As
perguntas que permeiam esse trabalho consistem em determinar se a atividade garimpeira
provocou mudanças na sedimentação e geomorfologia do Pantanal dos Marimbus, e se essas
modificações estão relacionadas com os aspectos hidrológicos dos últimos 60 anos? Qual a
origem das águas superficiais que compõem o sistema? Qual a origem da carga sedimentar e a
sua relação com a granulometria?
13

1.4 OBJETIVOS
O objetivo geral desse trabalho consiste em compreender o comportamento
hidrológico e evolução do Pantanal dos Marimbus (Chapada Diamantina, Brasil).
Os objetivos específicos consistem em:

i) investigar as interferências antrópicas na evolução do Pantanal dos Marimbus através das


mudanças geomorfológicas nos padrões de drenagem registrados em imagens de satélite,
levantamento aerofotogramétrico e séries históricas de vazão.

ii) avaliar as variações hidrológicas da bacia hidrográfica do Rio Santo Antônio (1950-2016) que
compõe os dados de cota e vazão do sistema, cota mínima de 320 m.

iii) determinar a composição isotópica (2H, 18


O) das águas superficiais para compreender sua
origem e comportamento no Pantanal dos Marimbus;

iv) determinar a origem e composição da carga sedimentar depositada na área úmida através da
relação C/N, dados isotópicos de 13C e 15N e granulometria.
14

CAPÍTULO 2
DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1 INTRODUÇÃO
O alto curso do Paraguaçu tem uma área de aproximadamente 12.829 km²,
compreende a região de nascentes de domínio climático úmido e semiúmido, que favorece a
manutenção das vazões na calha do rio. Esse trecho é o menos populoso e urbanizado do estado.
Em Mucugê, a densidade demográfica é de 4,3 hab/km² (IBGE, 2010). Esse vazio populacional
proporcionou a construção da barragem do Apertado (1998) com o objetivo de disponibilizar
água durante todo o ano para a agricultura irrigada, e secundariamente, para o consumo humano
(BRASIL, 2004). Em direção à foz, ocorre o primeiro barramento antrópico de grande magnitude
que favoreceu o crescimento do polo agrícola Mucugê/Ibicoara e comprometeu a regularidade
natural das vazões, interferindo diretamente na bacia hidrográfica mais importante do Parque
Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) (Figura 2.1).

Figura 2.1 – Área de drenagem da Bacia do Paraguaçu com destaque para os sistemas de represamento de água no
alto curso do rio, a barragem do apertado, represa as águas provenientes das nascentes do Paraguaçu, e o Pantanal
dos Marimbus que represa as águas da porção norte do alto curso. FONTE: O autor (2015).
15

Após a barragem, o rio atravessa a Serra do Sincorá desde a localidade de Comércio


de Fora, a oeste de Mucugê até a Cachoeira da Donana, em Andaraí (PEDREIRA, 2002). Ao
deixar a serra, o Rio Paraguaçu segue para nordeste até encontrar um dos seus principais
afluentes, o Rio Santo Antônio, que compõe um complexo sistema de área úmida tropical que
sofreu influência direta da ocupação humana.
O Pantanal dos Marimbus é uma grande planície de inundação tropical sazonalmente
inundada por chuvas e, possivelmente sustentada por águas subterrâneas. Essa área alagada está
localizada na região central da Bahia, semiárido brasileiro, entre coordenadas UTM X=240000,
260000, e Y = 8615000, 8585000 (Figura 2.2). Ele possui, aproximadamente, uma extensão de
32 km, localizado entre os municípios de Lençóis e Andaraí, limitado pelo Rio Paraguaçu ao sul
e pela BR-242 ao norte. O clima regional oscila de subúmido a seco, com uma temperatura média
anual de 22,4 ºC e uma precipitação média anual de 1049 mm (BAHIA, 2016). Os fluxos
máximos de água estão associados aos períodos chuvosos, de novembro a março, e as menores
taxas de fluxo ocorrem de maio a setembro, período seco (ANA, 2016).
O Pantanal é caracterizado por trechos de pedimentos localizados na borda leste da
Chapada Diamantina, abriga vales de rios com baixos gradientes que dificulta a drenagem livre
das águas superficiais. A Serra do Sincorá, a oeste dos Marimbus, com desnível de mais de 1000
m de altitude, favorece o carreamento e deposição de sedimentos devido à acentuada inclinação
em direção às zonas mais baixas, e modifica as configurações hidrogeomorfológicas locais de
forma natural. Assim, essa área úmida continental funciona como uma barreira que aprisiona a
drenagem de uma área com mais de 10000 km², pertencente à bacia hidrográfica do Rio
Paraguaçu que representa 1,8% da área territorial do Estado da Bahia (Figura 2.3).
Segundo Funch (2002), o assoreamento ocorreu em alguns trechos do Pantanal
devido ao aporte de sedimentos oriundos da Serra do Sincorá na época do garimpo, que ampliou
a área alagada e abriga serviços ecossistêmicos de grande relevância. O Pantanal dos Marimbus
atua como uma grande represa natural das águas da Chapada Diamantina que abriga processos
ecológicos específicos e funciona como sumidouro para os sedimentos e possíveis elementos
químicos produzidos naturalmente no ambiente ou por atividade antrópica (HARTER e MITSH,
2003).
16

Figura 2.2 - Localização da área de estudo, indicando os principais rios do sistema, incluindo os rios que descem da
Serra do Sincorá, os limites municipais, as cotas altimétricas e a área dos Marimbus, que representa a foz do Rio
Santo Antônio. FONTE: O autor (2015).
17

Figura 2.3 - Localização e área de drenagem do Rio Paraguaçu, com destaque para o alto curso em roxo. O ponto do
exutório (Fotografia 2.1) recebe as águas das nascentes do Paraguaçu e as águas represadas no Pantanal dos
Marimbus. FONTE: O autor (2015).

Fotografia 2.1 – O exutório correspondente à área de captação do alto curso do Rio Paraguaçu. Nesse ponto ocorre o
encontro das águas provenientes das nascentes do rio Paraguaçu (seta azul) com as águas represadas no Marimbus
(seta branca), foz do rio Santo Antônio. FONTE: Geraldo Marcelo Lima (2014).
18

2.2 GEOLOGIA
No contexto regional, a área de estudo está inserida no setor oriental da Chapada
Diamantina entre as rochas do Grupo Una e do Grupo Chapada Diamantina, pertencentes aos
Supergrupos São Francisco e Espinhaço, respectivamente. O Cráton do São Francisco, como
definido por Almeida (1977), consiste na unidade tectônica mais exposta da Plataforma Sul
Americana, localizado entre os Estados da Bahia e Minas Gerais. As unidades estruturais do
Cráton do São Francisco na Bahia estão associadas ao Embasamento Arqueano a
Paleoproterozóico – no final do Paleoproterozóico, colisões de segmentos crustais promoveram
mecanismos tectônicos que colocaram, lado a lado, rochas arqueanas com rochas formadas no
início do Paleoproterozóico. No Mesoproterozóico, o cráton foi truncado por um rift abortado,
orientado N-S, onde as rochas do Supergrupo Espinhaço foram depositadas. Sobre estas rochas e
as do embasamento Arqueano-Paleoproterozoico acumularam-se sedimentos glaciais e pelítico-
carbonáticos, compondo as coberturas Neoproterozóicas do Supergrupo São Francisco
(BARBOSA et al, 2003) (Figura 2.4).

Figura 2.4 - Mapa da região oriental do Brasil mostrando a área de afloramento do Supergrupo Espinhaço e a sua
divisão em domínios (Pedreira et al.,1989). Modificado de Pedreira, 1994. Em vermelho, a área de estudo está
localizada entre as rochas do Grupo Chapada Diamantina e do Grupo Una.
19

2.2.1 Supergrupo Espinhaço


O Supergrupo Espinhaço é dividido em quatro províncias geológicas, o espinhaço
meridional, o espinhaço setentrional, o platô do Rio Pardo e o domínio da Chapada Diamantina
que foi separada em oriental e ocidental pelo lineamento Barra do Mendes-João Correia
(PEDREIRA, 1994). Na Bahia, o sistema de riftes Espinhaço compreende duas bacias
intracratônicas diacrônicas, a Bacia do Espinhaço, do tipo rift sag, que compõe os Grupos Rio
dos Remédios e Paraguaçu, e outra do tipo sinéclise designada Bacia da Chapada Diamantina que
compõe o grupo de mesmo nome (GUIMARÃES et al 2008).

2.2.1.1 Domínio Oriental do Grupo Chapada Diamantina


No domínio fisiográfico da Chapada Diamantina, o Supergrupo é subdividido, da
base para o topo, nos Grupos Rios dos Remédios, Paraguaçu e Chapada Diamantina, este último
aflorante na área de estudo. Os dois primeiros grupos possuem a idade de 1,75 Ga que compõe
uma sequência deposicional de 1ª ordem e o Grupo Chapada Diamantina compõe uma segunda
sequência com a idade de 1,5 Ga (SCHOBBENHAUS, 1996; ALKMIN E MARTINS-NETO,
2011). Dominguez (1993) reuniu os Grupos Paraguaçu e Rio dos Remédios em uma mega-
sequência deposicional denominada de mega-sequência Paraguaçu-Rio dos Remédios e
reconheceu duas sequências deposicionais no Grupo Chapada Diamantina, a sequência
deposicional Tombador-Caboclo (BRANNER, 1910b) e a sequência deposicional Morro do
Chapéu (BRITO NEVES, 1967). Assim, no topo do Supergrupo afloram a Formação Tombador
que apresenta os conglomerados diamantíferos responsáveis pela corrida do garimpo no século
XIX, sotoposta às Formações Caboclo e Morro do Chapéu (Figura 2.5) (Tabela 2.1).
20

Figura 2.5 - Cronoestratigrafia dos Supergrupos Espinhaço e São Francisco, com destaque para as formações
aflorantes na área de estudo. Adaptada de Guimarães et al. (2008).
21

Tabela 2.1 - Características litológicas e interpretação sedimentológica das formações do Grupo Chapada
Diamantina (Guimarães & Pedreira, 1990; Bomfm & Pedreira, 1990; Pedreira & Margalho, 1990).

FORMAÇÃO LITOLOGIA INTERPRETAÇÃO


 Arenitos em lobos de geometria  Frente deltaica ou arenitos de fácies
sigmoidal eólicas
Morro do Chapéu
 Argilitos
250 m  Arenito  Planície de maré inferior
Brito Neves (1967)  Conglomerados polimíticos  Barras longitudinais de sistema
 Arenitos fluvial e dunas eólicas
 Pelitos  Planície de maré média a superior
 Diamictitos
Caboclo
 Calcários  Planície de maré
45-350 m  Arenitos
 Conglomerados
 Arenitos  Plataforma progradante dominada
Branner (1910a)  Pelitos por tempestades
 Diamictitos
 Arenitos de granulometria  Dunas eólicas
bimodal
Tombador
 Conglomerados polimíticos  Leque aluvial
90 – 400 m  Arenitos feldspáticos
Branner (1910a)  Arenitos  Barras longitudinais transversais e
 Pelitos depósitos de topo de barra em rios
 Conglomerados oligomíticos entrelaçados

2.2.2 Supergrupo São Francisco


O Supergrupo São Francisco é representado pelo Grupo Una, que aflora na Bacia
Una-Utinga nas proximidades da área de estudo. Constituído pelas formações Bebedouro
composta por material terrígeno (diamictitos, arenitos e argilitos) e Formação Salitre, constituídas
por litofáceis carbonáticas depositadas em ambiente marinho raso (DOMINGUEZ, 1993). Na
Bacia Una-Utinga, a Formação Bebedouro aflora em uma faixa de largura variável, no flanco
oriental da bacia, onde a formação está em não conformidade sobre o embasamento cristalino. No
lado ocidental, ela é discordante sobre as Formações Tombador, Caboclo e Morro do Chapéu
(PEDREIRA, 1994). Pedreira et al (1987), dividiu a Formação Salitre em diversas unidades, em
que as mais representativas para a área de estudo correspondem à Formação Gabriel e Nova
América (Figura 2.6) (Tabela 2.2).
22

Figura 2.6 - Mapa geológico da área de estudo, mostrando as principais formações e feições aflorantes no seu
entorno. As linhas pontilhadas em azul indicam os sistemas de drenagem que abastecem o Pantanal dos Marimbus. A
área dos Marimbus (em verde) representa a foz do Rio Santo Antônio. FONTE: O autor (2015).
23

Tabela 2.2 - Características litológicas e interpretação sedimentológica das formações componentes do


Grupo Una, de acordo com Bomfm & Pedreira, 1990; Pedreira & Margalho, 1990.

FORMAÇÃO Unidade LITOLOGIA INTERPRETAÇÃO


 Calcilutito/Calcarenito  Talude proximal e distal.
 Marga Sedimentação em ponds e
 Arenito/Siltito lagunas.
Irecê  Sílex
 Calcirrudito  Sub-maré e localmente inter-
 Calcarenito intraclástico maré a supra-maré.
 Calcissiltito/Calcilutito
Salitre Jussara  Arenito/Siltito
(100-240 m)  Calcarenito intraclástico  Intermaré e sub-maré sujeito
 Calcissiltito a tempestades.
Gabriel
 Calcilutito
 Lamitos algais  Intermaré e sub-maré com
Branner  Dolomitos exposição subaérea periódica
Nova América
 Argilitos (supra-maré).
(1910b)  Sílex
 Diamictitos  Deposição deltaica e
 Arenitos marinha glaciogênicas
Bebedouro (200-350 m)
 Siltitos
 Folhelhos
 Boulder beds

No contexto geológico, a área úmida formou-se na zona de contato entre as rochas da


Formação Tombador do Grupo Chapada Diamantina com as rochas do Grupo Una. O corpo
d’água que caracteriza a área de estudo se acumula sobre depósitos colúvio-aluvionares. Que
consiste no material detrítico proveniente das áreas mais elevadas da Formação Tombador, onde
se extraíam diamantes e carbonados que foram transportados pelo escoamento superficial e
depositados do sopé da Serra do Sincorá. Neste local, eles foram retrabalhados por processos
fluviais, e espalhados na foz do rio Santo Antônio. O Pantanal se insere na categoria temática das
coberturas Neoproterozóicas sobre os depósitos colúvios-aluvionares. Sob estes terrenos recentes
estão rochas carbonáticas com cor cinzenta da Formação Salitre, cobertas por manto de alteração
avermelhados. E os diamictitos glaciais, constituídos por margas e pelitos, com seixos pingados
da Formação Bebedouro completam o arcabouço geológico no entorno dos Marimbus
(PEREIRA, 2010) (Figura 2.7).
24

Figura 2.7 – Croqui esquemático ilustrando o contexto geológico e geomorfológico do Pantanal dos Marimbus.
Modificado de Pereira (2010).

2.3 GEOMORFOLOGIA
A Chapada Diamantina representa a unidade de relevo mais proeminente do Nordeste
brasileiro, com elevações que ultrapassam 2000 m de altitude, tendo participação na transição
regional dos biomas caatinga e cerrado. Principal divisor hidrográfico do estado, a Chapada
Diamantina drena as águas da Bacia do São Francisco, de sul para norte, e todas as demais bacias
da porção centro-oriental para o oceano pelo sistema de serras Sincorá-Bastião, no qual se
encontra instalado o alto curso do Rio Paraguaçu. Nesse trecho da bacia, a geomorfologia é
caracterizada pelos anticlinais e pediplano cimeiro da Chapada Diamantina e planalto cárstico. As
elevações médias variam entre 320 m, na Bacia Una-Utinga, até cerca de 1600 metros, na Serra
do Sincorá, a configuração que favoreceu a deposição de pedimentos sobre os relevos mais
planos (Figura 2.8). As diferenças de altitude e o contraste do relevo existentes na região
propiciam a perda acentuada de energia nos rios e um aumento natural na deposição dos
sedimentos nas áreas mais baixas (Figura 2.9). As rochas que afloram na Serra do Sincorá
pertencem à Formação Tombador que está depositada sobre a Formação Guiné, do grupo
Paraguaçu, unidades estratigráficas da Bacia do Espinhaço Oriental, de idades Mesoproterozóica
e Paleoproterozóica, com registros de sedimentação de ambiente transicional a marinho raso
(PEDREIRA, 1994; ALKMIM E MARTINS-NETO, 2011).
O Pantanal dos Marimbus está inserido entre as rochas do Grupo Chapada
Diamantina e do Grupo Una. O Grupo Una representa as coberturas sedimentares pertencentes ao
Supergrupo São Francisco que correspondem às deposições carbonáticas em ambiente marinho
25

(GUIMARÃES et al, 2008; MISI e SILVA, 1996). Os carbonatos da Bacia Una-Utinga ocupam
uma faixa ao leste do município de Andaraí, e constituem um sistema aquífero desenvolvido em
terrenos de predominância de rochas calcárias magnesianas e dolomitas, que tem como
característica principal, a constante presença de formas de dissolução cárstica. Fraturas e outras
superfícies alargadas por processos de dissolução pela água propiciam ao sistema porosidade e
permeabilidade secundária que permitem a acumulação de água em volumes consideráveis neste
Pantanal. A elevada entrada de sedimentos favoreceu a formação de meandros abandonados e
ampliou a área de inundação em alguns pontos do Pantanal, onde é possível verificar a presença
de árvores de grande porte mortas.

Figura 2.8 – Perfil de elevação da Serra do Sincorá para o Pantanal dos Marimbus. O nível de base dos Marimbus é
320 m em relação ao nível do mar, referente à estação fluviométrica instalada no Pantanal. Em destaque, a) Vista da
Serra do Sincora para os Marimbus, b) Vista da área úmida para a Serra do Sincorá em período chuvoso e c)
Fotografia aérea da porção sul dos Marimbus, em período de estiagem. FONTE: O autor (2015).
26

Figura 2.9 - Modelo Digital do Terreno correspondente à área dos Marimbus, hachurada, e as principais
drenagens que descem da Serra do Sincorá, em azul. FONTE: O autor (2015).
27

2.4 HIDROLOGIA
O Pantanal dos Marimbus, gerado pela confluência entre os Rios Santo Antônio,
Utinga e São José, é hidrologicamente alimentado pelas drenagens que descem a Serra do Sincorá
e está localizado sobre a planície de inundação do Rio Santo Antônio.
Os principais afluentes do Rio Santo Antonio são os Rios Preto, Coxó e Pratinha. Assim como o
exutório do aquífero cárstico da Bacia de Irecê que apresentou uma evolução hidrogeoquímica de
águas cloretada sódica cálcica para águas de composição bicarbonatada cálcica (SALLES, 2017).
Essa área úmida foi formada ao longo dos trechos médio e baixo do Rio Santo Antônio, onde
encontramos depósitos aluvionares com extensão de até 1800 m. No trecho médio, o rio passa por
um canal bem encaixado nas bordas de um leque aluvial de grande magnitude, esses aluviões são
praticamente estéreis em termo de diamantes (SAMPAIO, 1994). O Baixo curso do Rio Santo
Antônio começa onde deságua o Rio São José, e termina na confluência com o Rio Paraguaçu.
Os depósitos aluvionares nessa porção propiciaram o acúmulo de água na região mais ao sul dos
Marimbus, evidenciando uma morfologia de áreas úmidas na planície de inundação do Rio Santo
Antônio.
O Rio São José, que corre de norte a sul, é acessível a partir do município de Lençóis
e deságua no Rio Santo Antônio. Ele possui um leito bem encaixado entre as rochas do Grupo
Chapada Diamantina, suas águas circulam entre a Serra do Tombador, do lado oeste, e o divisor
que o separa do médio Rio Santo Antônio, do lado leste. Durante o seu percurso, recebe
contribuições das drenagens que descem a serra, como os Rios Lençóis, Ribeirão, Caldeirão,
Capivara e Roncador, de onde foi extraída grande parte dos conglomerados diamantíferos da
Formação Tombador. O Rio São José é um dos maiores depositários dos cascalhos resultantes da
erosão provocada pelo garimpo. O cascalho foi transportado pelos rios e riachos transversais até o
corpo receptor mais baixo, o Pantanal dos Marimbus.
O Rio Paraguaçu nasce no município de Barra da Estiva, fora dos limites do Parque
Nacional da Chapada Diamantina (PNCD). Ao penetrar no PNCD, próximo à cidade Mucugê, os
fluxos hidrológicos seguem em regimes torrenciais nos sentido nordeste, até receber seu principal
afluente na região. O Rio Santo Antônio drena a porção norte do parque no sentido Norte-Sul, e
antes de se juntar ao Paraguaçu, forma o “Pantanal da Chapada”. Após essa área úmida, o Rio
Paraguaçu segue mais baixo e aplainado, com as planícies aluvionares entulhadas de resíduos
oriundos do garimpo no século XIX (Figura 2.10).
28

Figura 2.10 – Localização da área úmida no Estado da Bahia, a área de drenagem da Bacia do Paraguaçu e da
microbacia correspondente ao Pantanal dos Marimbus (Rio Santo Antônio). FONTE: O autor (2015).
29

Esse ambiente integra o alto curso do Rio Paraguaçu, com topografia acentuada, vales
profundos e estreitos escavados pelos rios. Os Marimbus represam quase 80% das águas da bacia
do alto curso, o que propicia elevada biodiversidade em um ecossistema tão complexo e
dinâmico. Em junho de 1993, foi criada a Área de Proteção Ambiental (APA) estadual
Marimbus-Iraquara, com o objetivo de desenvolver a sustentabilidade e proteger atrativos
naturais para promover o turismo na região. O plano de manejo e zoneamento foram aprovados
em junho de 1997, em que incluiu o Pantanal como uma Zona de Proteção da Vida Silvestre
(ZPVS), áreas onde se deverá reconstituir e manter a diversidade genética da flora e da fauna.

2.5 GARIMPO DE DIAMANTES NA BAHIA – OCUPAÇÃO DO HOMEM NA CHAPADA


DIAMANTINA
Sabe-se que o processo de ocupação socioeconômica do homem na Chapada
Diamantina ocorreu no início do século XVIII, reforçada com a descoberta do ouro nas cidades
de Jacobina e Rio de Contas e, pouco depois, pela exploração diamantífera (BRITO, 2004). O
primeiro período representa o momento de colonização da região. Nesse cenário houve a atuação
de bandeirantes, caçadores, criadores de gado e garimpeiros de ouro, resultando em uma
estimativa populacional de 9000 pessoas (SPIX E MATIUS, 1981; NOLASCO, 2002). Após a
escassez de ouro nos aluviões, a região sofreu um declínio financeiro e populacional que foi
superado pela descoberta de grandes depósitos de diamantes na primeira metade do século XIX.
Essa fase próspera renovou a realidade econômica e social da região e resultou na segunda fase
de colonização da Chapada (NOLASCO, 2002). Grandes contingentes populacionais seguiram
para as lavras diamantinas alguns meses após a descoberta dessas jazidas, e a região recebeu
cerca de 50.000 pessoas entre 1844 e 1848 (PEREIRA, 1907). Assim, o garimpo representa uma
tradição secular que propiciou o ápice e a decadência da Chapada Diamantina. Com isso, a
formação de sua gente está ligada à situação econômica, social e ambiental decorrentes da
extração mineral, Isto representa um patrimônio histórico e cultural único no Estado da Bahia
(MATTA, 2006).
O início da descoberta e da exploração dos diamantes na Bahia é controverso. A
descoberta foi precedida aos relatos de dois naturalistas que estiveram na região em 1818, eles
identificaram semelhanças entre as serras da Chapada Diamantina com as serras encontradas em
Minas Gerais, onde já se extraiam diamantes (SPIX E MATIUS, 1981). Segundo Sampaio
(1905), é possível que já se soubesse da existência de diamantes nas cabeceiras do Rio de Contas
30

desde o século XVIII. Porém, o registro mais antigo sobre o primeiro diamante na região ocorreu
entre os anos 1817 e 1818, na Serra do Gagau, conhecida hoje como Serra do Bastião, paralela à
Serra do Sincorá, onde surgiu a Vila de Santa Isabel do Paraguaçu, atual Mucugê.
A exploração de diamantes na Bahia teve seu início marcado pelo fim do monopólio
da Coroa Portuguesa, em 1832, associado a diversas descobertas em vastas regiões da chapada,
entre 1838 e 1842 (PEREIRA, 1910). A história oficial é baseada na descoberta das jazidas da
Serra do Sincorá em 1844, na região de Mucugê, por José Pereira do Prado que estava
acompanhado do afilhado Cristiano Pereira do Nascimento, quem encontrou o diamante
(TEIXEIRA E LINSKER, 2005). Ele tentou vender a pedra, mas foi acusado de roubo, e para se
livrar da acusação, revelou o segredo da nova riqueza. Após isso, a notícia foi espalhada e a
região foi invadida por garimpeiros e viajantes de todo o país, iniciando a exploração clandestina.
Em pouco tempo, a região atingiu um número recorde de pessoas aglomeradas em grutas,
barracas e povoados. A exploração das lavras diamantinas desencadeou a formação de
assentamentos na Serra do Sincorá que propiciou a criação de quatro vilas: Vila de Santa Isabel
do Paraguaçu, Vila dos Lençóis, Vila de Andaraí e Vila das Palmeiras.
Em 1845, foram descobertos depósitos diamantíferos nos Rios São José e Lençóis,
fato que levou o distrito de Lençóis à categoria de cidade em 1864. O inspetor geral dos terrenos
da Província da Bahia, Benedicto Acauã, informou ao governo imperial sobre as riquezas
minerais e a exploração clandestina que já ocorria na região em 1847. A cidade de Lençóis
terminou adquirindo o papel de capital do diamante graças à quantidade de diamantes lá
encontrada e à sua facilidade de acesso, características não encontradas em Mucugê, onde o
garimpo começou (MATTA, 2006). Entre os anos de 1850 e 1878, o diamante era um dos
principais produtos de exportação da Bahia, em 1855, chegou a contribuir com 15,2% da
exportação estadual de bens e consumos (FALCÓN E DUTRA, 1978). Neste período, o Brasil
era o maior produtor de diamantes do mundo, mas a fase de prosperidade durou apenas 25 anos.
Isto se deveu as elevadas produções na África do Sul que fez cair o preço no mercado mundial,
causando decadência no comércio local (FALCÓN & DUTRA, 1978; PEREIRA, 1937).
A partir de 1883, a utilização do carbonado em perfurações de rochas e abertura de
canais, tal como o Canal do Panamá, desencadeou um novo ciclo de diamantes. O diamante
negro, até então exclusivo da Chapada, conseguiu elevar os preços devido a sua baixa produção
associada à alta demanda dos mercados mundiais (ALMEIDA, 1977). Em 1900, a produção
declinou muito e o carbonato foi substituído por produtos industrializados com resistência
31

parecida. Logo, a mineração voltou a declinar. Contudo, o diamante continuou sendo o principal
produto da região até o início do século XX (1900 - 1920). Depois de 1920, iniciou-se outra etapa
de decadência para as Lavras Diamantinas. Os preços internacionais haviam diminuído
expressivamente, devido às oscilações do mercado causadas por vários conflitos de guerra no
mundo, e pela exaustão das reservas de extração mais fáceis que ocorriam principalmente nas
regiões serranas da Chapada (BRASIL, 1991). Além disso, os métodos rudimentares de extração
na Chapada tornaram-se inadequados para a manutenção da atividade extrativista, com o passar
dos anos a exploração manual entrou em colapso (PEREIRA, 1910; MATTA, 2006).
Uma das soluções encontradas para a exaustão dos diamantes das serras foram as
reservas dos aluviões. Na década de 1980, a área mais favorável à exploração diamantífera
encontrava-se nos Rios São José e Santo Antônio, na década de 1970 foi criada a PARADISA
(Diamantes Paraguaçu S.A), destinada a exploração das aluviões diamantíferos dos Rios Santo
Antônio e Paraguaçu (GANEM E VIANA, 2006; INDA, 1979).
No entanto, esses depósitos só poderiam ser extraídos através da lavra mecanizada e,
a partir daí, o método mecanizado por draga foi implantado no leito dos rios. Assim, a região foi
submetida a uma larga aplicação de dragas para extrair os diamantes aluvionares. Isso provocou
desmatamento, erosão e assoreamento dos rios. O uso desses equipamentos resultou em uma
intensa danificação do meio natural, apesar de registrar uma maior produção. A chegada das
dragas se deu no final dos anos 70, período que coincidiu com o início das atividades turísticas,
indicando o melhor caminho para alavancar a economia na região (TEIXEIRA E LINSKER,
2005).
Pouco tempo depois, as primeiras reações ecológicas surgiram no Brasil devido aos
impactos ambientais gerados pelas ações antrópicas. Com isso, o Parque Nacional da Chapada
Diamantina foi criado pelo Decreto Federal n° 91.655/85. Este visa, sobretudo, proteger a região
das ações antrópicas degradantes. A extração de diamantes dentro do parque foi definitivamente
proibida, porém muitas dragas continuavam funcionando nos aluviões da região. Por fim, o
garimpo mecanizado foi definitivamente proibido dez anos depois, em 1996, pela União e pelo
governo estadual, devido aos impactos ambientais que gerava (TEIXEIRA & LINSKER, 2005).
Mesmo após 150 anos de exploração, ainda existe garimpagem manual, embora em ritmo mais
lento, devido à exaustão e decadência das lavras (Fotografia 2.2).
Durante as décadas de 20 e 50, a Chapada Diamantina sofreu um período de intensa
exploração de madeira que causou danos irreversíveis ao ambiente, com extinção das espécies
32

mais nobres da mata (BRITO 2004). A construção de uma estrada de ferro para conectar os
municípios da Chapada Diamantina com o Recôncavo, planejada no auge do garimpo e finalizada
na queda da economia mineral, desempenhou um papel estratégico na derrubada da mata das
serras e do entorno do Pantanal dos Marimbus. Essa ação foi colocada em prática pelos donos de
terras e dos garimpos, possuidores de imensas extensões de matas até então intocadas. Durante
trinta anos, as serrarias de Salvador recebiam peças de árvores como ipê, peroba e cedro.
Segundo (BRITO, 2014), essa curta e intensa atividade provocou perturbações ambientais e
climáticas locais, como a falta de chuva. Além dos caminhões que transportavam as madeiras,
quando o Rio Paraguaçu estava cheio, ele era usado como meio de transporte, seus troncos eram
guiados por canoa até a cidade de Itaitê, onde eram transportados por ferrovia até Salvador.

a) b)

Fotografia 2.2 Garimpo manual no Rio Preto, Mucugê – Ba. a) Desvio do curso do rio para desmanche dos
cascalhos. b) Diamantes e carbonados extraídos. FONTE: O autor (2015).

CAPÍTULO 3
MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização do estudo foram utilizados dados de descargas fluviais, níveis de


água e análises isotópicas para avaliar o comportamento hidrológico e geomorfológico do
Pantanal dos Marimbus. Para iniciar a compreensão dos processos de formação e as possíveis
interferências antropogênicas desse complexo sistema paludal foram utilizados dados isotópicos
coletados na matriz sedimento. Os dados isotópicos de 13C e 15N foram usados para determinar a
33
18
origem da matéria orgânica no testemunho de sedimento, e os dados isotópicos de O e 2H
coletados nas águas superficiais foram usados para determinar a origem das águas que compõe o
sistema. O testemunho de sedimento foi coletado na região mais ao sul dos Marimbus, que
devido ao excesso da carga sedimentar propiciou o aumento da planície de inundação, matou as
árvores que bordejavam o Rio Santo Antônio nesse ponto e aprisionou a matéria orgânica, onde
abordaremos sua origem ao longo do perfil coletado. As águas superficiais foram coletadas em
toda extensão alagada do Pantanal e nos principais rios que compõem o sistema para representar
a origem das águas e facilitar a sua gestão. A coleta das águas ocorreu no final do período
chuvoso, em fevereiro de 2014. A combinação de diferentes métodos foi utilizada para
comprovar as interferências diretas e indiretas da ocupação humana e dos processos naturais,
referente ao aprisionamento de matéria orgânica e ao comportamento isotópico das águas
superficiais de acordo com sua origem e conformação geomorfológica atual.

3.1 SENSORIAMENTO REMOTO


Os aspectos morfológicos da área de estudo foram caracterizados com imagens de
satélite LANDSAT 7 correspondentes ás órbitas 217/069, obtidas através do site do United
States Geological Survey (USGS-NASA). Algumas imagens foram selecionadas para representar
bem a região úmida em épocas específicas. Para esta atividade, foi empregado o software ENVI
4.2 para fazer a composição das bandas RGB (453; 321) que representam as diferenças entre
água e terra, para identificar as possíveis modificações deposicionais, geomorfológicas e
hidrológicas. Com o ARCGIS 9.2 foi determinada a área do Pantanal, reforçada com a checagem
de campo. A ferramenta Hydrology foi utilizada para determinar a área de captação e a rede de
drenagem com base no modelo digital de elevação. Além disso, as imagens de um levantamento
aerofotogramétrico realizado na época do garimpo (1974) foram utilizadas para verificar
mudanças geomorfológicas nos padrões de drenagem e na carga sedimentar da área estudada.

3.2 HIDROLOGIA
A aquisição dos dados hidrológicos foi feita através do Sistema de Informações
Hidrológicas (SIH), da Agência Nacional de Águas (ANA), em que foram utilizados dados de
descarga fluvial e níveis de água registrados de 1950 a 2016. As séries históricas de vazões são
constituídas de valores discretos médios diários, obtidos pelos registros de descargas mínimas e
máximas realizados às 7:00 horas e às 17:00 horas. O software HIDROWEB foi utilizado para a
34

análise de consistência dos dados e para determinar as séries históricas de vazão e cota. Dessa
forma, foram obtidas as médias e máximas dos dados mensais de vazão e cota, a fim de
caracterizar o comportamento hidrológico do Pantanal. Os dados de entrada de água na porção do
Pantanal dos Marimbus são referentes à Estação Fertém (51190000 – ANA/CPRM) que está
localizada no Rio Santo Antônio, com altimetria de 320 m e área de drenagem de 9670 km².

3.3 CARACTERIZAÇÃO DOS COMPARTIMENTOS AMBIENTAIS

3.3.1 Amostragem de água superficial e testemunho de sedimento


A área de estudo foi dividida em três regiões para facilitar o entendimento dos
processos hidrológicos através do estudo isotópico das águas superficiais. A região localizada na
porção Norte é caracterizada por ser mais seca, onde as águas seguem pelos Rios Santo Antônio e
Utinga sem represar. Nesse setor, um lago com uma área de 800 m² permanece com água o ano
inteiro, onde três amostras foram coletadas.
A região Central é caracterizada por um conjunto de áreas alagadas formadas pela
deposição de sedimentos e pelas variações do nível freático nesse ponto. Esses lagos apresentam
tamanhos e profundidades diversos, que propicia o acúmulo de água de maneira intermitente, as
águas superficiais foram coletadas em três lagos. Esse trecho possui uma divisão definida pelos
moradores locais, levando em consideração os aspectos sociais e culturais das comunidades que
ocupam a região (FRANÇA et al, 2010). i) Os Marimbus do Remanso, mesmo nome da
Comunidade Quilombola residente nas suas proximidades, contempla a confluência do Rio Santo
Antônio e o Rio São José; ii) Os Marimbus da Fazenda Velha, uma drenagem secundária do Rio
São José se junta ao Rio Roncador e deságua no Rio Santo Antônio e, iii) Os Marimbus do
Ferreira, mais ao sul, recebe o aporte fluvial do Rio Garapa que é caracterizado por um leque
aluvial continental de grande magnitude.
Por fim, separados pela ponte do Rio Ferten, onde uma estação hidrológica é mantida
pela Agência Nacional de Águas (ANA) e operada pela Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais (CPRM), encontra-se a porção Sul do Pantanal dos Marimbus. Esse trecho é
permanentemente inundado, constituído por meandros abandonados e controlados pela
sazonalidade hidrológica regional. Esse corpo d’agua é conhecido como Marimbus do baiano, ele
possui uma infinidade de lagoas permanentes e temporárias, tais como a Lagoa do Baiano, da
Isca, dos Paus, Sucuiú e Lagoa Nova. Elas represam a água e possuem uma infinidade de funções
35

ecológicas que permitem a sobrevivência de inúmeras espécies de peixes, répteis, aves e anfíbios.
Por fim, os Marimbus encontram-se com o Paraguaçu que segue até o oceano Atlântico. As
coletas foram feitas de acordo com a disponibilidade de água na área alagada e a importância
deposicional de cada subárea. Isto visando compreender toda área do Pantanal. Assim, a
amostragem foi feita nos domínios Norte, Central e Sul da área úmida abrangendo os corpos
d’água com características geomorfológicas distintas. Além do curso principal onde está inserido
o Pantanal, houve coleta no Rio Garapa, na ponte do Fertém, onde está instalada uma estação
fluviométrica, e no Rio Paraguaçu.
A amostragem para análise isotópica foi feita nas águas superficiais a partir de 20
amostras distribuídas nas três áreas de acordo com a tabela 3.1. As amostras foram
acondicionadas e armazenadas em frascos de vidro âmbar com batoques e tampas, com volumes
iguais a 50 mL. Durante a coleta, os frascos foram completamente preenchidos para evitar o
fracionamento isotópico. Cada frasco foi identificado e recoberto por filme plástico transparente,
e mantido sob refrigeração até a análise (Tabela 3.1).

Tabela 3.1 - Distribuição dos pontos de amostragem em água superficial.


Pontos de
Sub-região UTM (X) UTM (Y) Descrição dos pontos
Amostragem
Entrada da Lagoa
#MB1 247603,7884 8605917,755
Encantada
Dentro da Lagoa
Norte (a) #MB2 248599,2143 8604149,311
Encantada
Dentro da Lagoa
#MB3 249076,1314 8603821,496
Encantada
Lago grande com lama
#MB4 246982,0047 8594068,445
calcária

#MB5 246566,2000 8593954,967 Lago com lama calcária


Central (b)
#MB6 246095,9782 8594019,612 Lago raso

Encontro dos Rios S.


#MB7 245854,7155 8594165,321
José e S. Antônio
Ponte Ponte do Fertém, saída
#MB8 247160,6657 8588615,258
Fertém do Rio Garapa

Rio Garapa #MB9 245281,3853 8589734,608 Foz do Rio Garapa


36

#MB10 249217,4589 8587806,667 Canais meandrantes


#MB11 249507,1939 8588716,47 Canais meandrantes
#MB12 250558,6853 8588903,805 Canais meandrantes
#MB13 250850,5603 8588793,563 Canais meandrantes
#MB14 251530,2186 8588748,843 Canais meandrantes
Sul (c)
#MB15 251665,3402 8587730,307 Canais meandrantes
#MB16 251531,693 8587283,053 Lago inundado
#MB17 252277,3411 8587072,896 Lago inundado
Encontro do Pantanal
#MB18 252854,3432 8586892,597
com o Rio Paraguaçu
Após a contribuição das
#MB19 252855,8987 8586543,993
Rio águas represadas
Paraguaçu Antes do Marimbus,
#MB20 248019,0798 8579387,664
cachoeira da Donana

Um testemunho foi retirado manualmente em um ambiente de baixa energia com


predominância de sedimentos lamosos, utilizando um tubo de alumínio com diâmetro de 50 mm e
comprimento de 35 cm. Logo após a coleta, o testemunho foi vedado com tampa de polietileno
de alta densidade e transportado verticalmente envolto em gelo. Em laboratório, o testemunho foi
aberto com o auxílio de uma serra mármore, onde dois cortes foram feitos na direção longitudinal
do tubo. Posteriormente, o testemunho foi dividido em discos de 1 cm de espessura, totalizando
35 amostras (Figura 3.1).
37

a)

b)

Testemunho

c) o

Figura 3.1 - Mapa de amostragem de água superficial e o testemunho de sedimento; a) Norte, b) Central e
c) Sul. Em azul, os rios que compõem o sistema de áreas úmidas. Os pontos em branco indicam as
amostragens das águas superficiais. O ponto em vermelho indica o local de coleta do testemunho. No
ponto de coleta 8 está a estação fluviométrica do Fertém. FONTE: O autor (2015).
38

3.3.2 Determinação de δ18O e δ2H das águas superficiais


A análise elementar de razão isotópica é usada para determinar a composição química
de uma amostra com base no percentual de seus constituintes em relação à massa total. As
18
medidas de O e 2H foram determinadas por Espectrômetro de Massa (Finningan MAT Delta
Plus) e reator automático H-Device Thermo Quest Finningan, no Laboratório de Física Nuclear
Aplicada (LFNA) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O erro das medidas para o
hidrogênio é de ± 1 ‰ e de ± 0,1‰ para o oxigênio.
O método apresentado por Brand et al. (2000) foi utilizado para determinar a razão
deutério-hidrogênio (D/H). Ele propôs a transformação da água em hidrogênio através da redução
da água a centenas de graus Celsius com Cromo metálico. Nesse caso, alíquotas de
aproximadamente 1,0 µl de cada amostra de água são injetadas em um reator automático, onde
ocorre a reação de oxidação do cromo a 850ºC, com a consequente liberação do H2. O H2
liberado entra no espectrômetro de massas onde é analisado. A técnica utilizada para determinar
os valores de δ18O na água consiste no equilíbrio isotópico entre o gás carbônico e a água em uma
temperatura controlada, geralmente a 25ºC, por pelo menos 18 horas.

3.3.3 Determinação isotópica dos sedimentos do testemunho (13C/15N)


Como pré-tratamento para as análises isotópicas, as amostras de sedimento foram lavadas
com água deionizada para retirar contaminantes solúveis e depois secadas em estufa a
temperaturas de 40°C. Posteriormente, cerca de 0,5 g de cada amostra foi tratada com 10 mL de
ácido clorídrico (HCl 1molL-1) para a remoção de carbonatos. As amostras foram centrifugadas
por 5 minutos a 3000 rpm para retirar o sobrenadante, e novamente foi adicionado 10 ml de HCl
para garantir a retirada de todo material solúvel. O procedimento foi repetido até que todo o
carbonato fosse consumido. Em seguida, o ácido foi retirado e as amostras foram lavadas com
água deionizada e centrifugadas três vezes, e secas em estufa a temperaturas de 40°C.
Após o pré-tratamento, aproximadamente 15 miligramas de amostra seca foram
pesados em cápsulas de estanho para fazer a análise utilizando um Analisador Elementar da
marca Costech acoplado a um Espectrômetro de Massa (Thermo Finnigan Delta Plus). As
amostras foram colocadas em um amostrador automático, sendo introduzida em um forno
operando com uma temperatura de 1020°C na oxidação e 650°C na redução. O gás carbônico
(CO2), o nitrogênio (N2), resultantes do reator, foram separados, analisados e quantificados. A
calibração de massa é feita com acetamilida e os padrões de referência certificado pelo NIST
39

(National Institute os Standards and Technology), que sofreu o mesmo processo de tratamento
que as amostras.
Os valores isotópicos foram referenciados em relação a duas amostras certificadas
pela United States Geological Survey USGS-40 e USGS-41. Estes materiais de referência
destinam-se à calibração de medidas estáveis de carbono (δ13C) e nitrogênio (δ15N) de
substâncias desconhecidas com carbono e nitrogênio, usando um analisador elementar e um
espectrômetro de massa de razão isotópica. A composição isotópica de carbono estável é
expressa como valores ‰ em relação à PDB (Pee Dee Belemnite) em uma escala normatizada.
Os isótopos de nitrogênio estáveis são expressos em relação ao nitrogênio atmosférico, que é
isotopicamente homogêneo. As composições isotópicas de carbono estável e nitrogênio no
material de referência USGC-41 são: δ13CPDB = +37.63 ± 0.05 ‰ e δ15NAR = +47.57 ± 0.11 ‰. O
material de referência USGS-40 apresenta as seguintes composições isotópicas: δ13CPDB = –26.39
± 0.04 ‰ e δ15NAIR = –4.52 ± 0.06 ‰. O resultado final é reportado com 13C relativo ao PDB e
o 15N em relação ao nitrogênio atmosférico. Os padrões foram analisados durante as medidas e a
precisão para o processo analítico de preparação e medida foram da ordem de 5% e exatidão de
3%. Os erros associados à determinação da massa foram aproximadamente 5%, enquanto que
para os valores isotópicos do δ13C e δ15N, foram de ±0, 3‰.

3.3.4 Granulometria do testemunho de sedimento


As análises granulométricas do sedimento foram realizadas no Laboratório de
Estudos Costeiros (LEC) – UFBA. Essas análises foram aplicadas em cada cm do testemunho
para resultar em uma avaliação mais robusta do processo de deposição dentro da área úmida. O
preparo da amostra consistiu na lavagem das amostras com água destilada, seguida da secagem
por 48 horas em estufa a 90°C. Por fim, o método de peneiramento a seco foi aplicado. Com o
sistema de peneiramento montado, as amostras foram submetidas à vibração mecânica por 10
minutos com velocidade constante. Após a agitação das peneiras, a fração retida em cada fração
granulométrica foi registrada em uma planilha de dados e representada em porcentagem gráfica e
classificação granulométrica (Apêndice D) (Anexo A).
40

CAPÍTULO 4
RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 INTERFERÊNCIAS ANTROPOGÊNICAS NO PANTANAL DOS MARIMBUS


A ação antrópica durante o período do garimpo (1842-1996) afetou o processo de
sedimentação e a geomorfologia nessa área mais aplainada. A atuação artesanal de milhares de
exploradores nos rios e encostas da Chapada, no auge da sua descoberta, foi a maior responsável
pelas modificações ambientais devido à quantidade de garimpeiros em regiões de elevada
sensibilidade ambiental, tais como nascentes e planícies de inundação. Segundo Matta (2006), o
garimpo afetou diretamente muitos aquíferos que alimentavam a rede de nascentes do alto
Paraguaçu. O rejeito desse processo é facilmente visto em áreas deposicionais rebaixadas e nas
calhas dos rios pela presença de material sedimentar de tamanhos e formas diversas (NOLASCO,
2002; PEDREIRA, 2002) (Figura 4.1).

Fotografia 4.1 – Sedimentos de variados tamanhos depositados na calha de um dos rios que deságua no Pantanal.
FONTE: Geraldo Marcelo Lima (2014).

O garimpo na Chapada Diamantina durou cerca de 150 anos e concentrou-se nos


depósitos fluviais, nas encostas e blocos da Formação Tombador. Ele gerou milhões de toneladas
41

de sedimentos fluviais depositados nos sopés das serras e em áreas de baixa energia. Desse modo,
imagens que retratam as variações de deposição do leito dos rios foram utilizadas para avaliar
essas possíveis modificações geomorfológicas. Elas são resultado do levantamento
aerofotogramétrico, realizado em janeiro de 1974, e do satélite Landsat 7, registrada no ano 2000
e 2008, uma no período chuvoso e outra no período seco, respectivamente.
As imagens de 1974 representam o garimpo atuante, onde os canais dos rios estão
preenchidos de sedimentos e os leques aluviais que descem a Serra do Sincorá apresentam
grandes extensões de areia (Figura 4.1). Nesse período, as configurações dos leques aluviais já
formados na foz do Rio Garapa e na foz do Rio Santo Antônio indicam que o processo de
sedimentação extremo favoreceu a sua formação durante o auge do garimpo manual, no século
XIX. O período entre 1844 e 1871 apresenta o ápice e primeiro declínio na produção de
diamantes na Chapada. Esse declínio se deve aos métodos rudimentares impeditivos à exploração
de depósitos de médios e baixos teores e à perda de competitividade para as minas da África.
Porém, a súbita valorização do carbonado proporcionou novamente uma intensa corrida à
exploração em 1880 e a produção entrou em colapso no inicio do século XX (BRITO, 2004).
Todo o material nos vales e zonas rebaixadas é resultado da ação do garimpo nas
serras da Formação Tombador, a deposição diminuiu com a criação do Parque Nacional da
Chapada Diamantina em 1985. As imagens dos anos 2000 e 2008 mostram uma diminuição da
oferta de sedimentos nos leques aluviais que permitiu o avanço gradativo da vegetação sobre
essas deposições (Figuras 4.2 e 4.3). Na parte Central dos Marimbus, o leque do Rio Garapa
representa bem esse avanço, após a proibição do garimpo. A maior parte desse material
antropogênico foi depositada na região Sul dos Marimbus, onde a alternância entre os períodos de
inundação e recessão das águas resultaram em grandes variações geomorfológicas. Os meandros
abandonados presentes nesse setor proporcionaram o aumento na planície de inundação do Rio
Santo Antônio, que ocasionou a morte de dezenas de árvores terrestres (Fotografia 4.2 e 4.3).
Nas imagens da área de estudo verifica-se uma variação do nível freático que está
representado pela cor preta. Ela está em consonância com os períodos chuvoso e seco e modifica
o comportamento hidrogeomorfológico local. As feições alagadas do setor Norte apresentam uma
conexão com o Rio Santo Antônio e são mais vulneráveis as variações climáticas sazonais. No
Sul dos Marimbus, as dolinas estão soterradas por sedimentos e submersas quase o ano inteiro
sob a influência das águas superficiais, do aquífero nas bordas e do seu potencial de represamento
nesse trecho.
42

Figura 4.1 Mosaico de imagens do levantamento aerofotogramétrico da área de estudo em 1974. Inventário dos
recobrimentos aerofotogramétricos (DUARTE, 1985). Em destaque, os pontos de deposição excessiva de sedimento
indicam que a formação dos leques aluviais no trecho Sul e Central do Pantanal ocorreu bem antes do levantamento
aerofotogramétrico. FONTE: Duarte (1985).
43

Figura 4.2 Imagem de Satélite Landsat 7com bandamendo RGB 342 no período chuvoso (12/12/ 2000).
FONTE: O autor (2015), extraído de United States Geological Survey (USGS).
44

Figura 4.3 Imagem de Satélite Landsat 7 com bandamento RGB 321 no período seco (28/08/2008).
FONTE: O autor (2015), extraído de United States Geological Survey (USGS).
45

Fotografia 4.2 – Área do encontro do Pantanal dos Marimbus, área úmida meandrante, com o Rio Paraguaçu, na
parte superior da foto. O Pantanal é topograficamente mais rebaixado do que o Paraguaçu. FONTE: Geraldo Marcelo
Lima (2014).

Fotografia 4.3 - Dezenas de árvores mortas devido ao aumento da área de inundação no trecho Sul dos Marimbus,
ocasionado pelo aumento da sedimentação nesse trecho. FONTE: Geraldo Marcelo Lima (2014).
46

Brito (2014), em sua obra “Os ecos contraditórios do turismo na Chapada


Diamantina”, retrata a intensiva exploração de madeiras de lei nas serras ainda intocadas, após o
declínio do garimpo. Essa matéria-prima abasteceu as madeireiras de Salvador entre os anos 1920
e 1950. Nesse processo, o Pantanal dos Marimbus e o Rio Paraguaçu eram utilizados como via de
transporte dos troncos de madeira durante suas cheias. Nesse processo, as madeiras mais densas
afundavam pelo caminho e acelerou o aumento da planície de inundação do Rio Santo Antônio.
Até hoje, nos trechos mais profundos do Pantanal podem ser vistas várias árvores centenárias.
Estudos recentes indicam que o aumento populacional tem provocado contaminação
nas águas subterrâneas por lixo e esgoto. Os aquíferos que abastecem o Rio Santo Antônio e o
Rio Lençóis apresentaram níveis de contaminação nas proximidades das cidades de Iraquara e
Lençóis (SALLES, 2017, MATTOS, 2017). Comunidades tradicionais instaladas no entorno do
Pantanal são prováveis poluidoras devido à falta de saneamento básico.
O Pantanal dos Marimbus representa as características dinâmicas do ambiente, onde
as suas configurações refletem as impressões antigas e atuais dos processos de sedimentação, e
atua como uma grande represa natural das águas da Chapada Diamantina. Essa área úmida é uma
referência de produção de serviços ecossistêmicos. Essa abriga processos ecológicos específicos
e funciona como sumidouro para os sedimentos e os possíveis elementos químicos produzidos
naturalmente no ambiente ou por atividade antrópica (HARTER e MITSCH, 2003 HUMPHRIES
et al, 2010).
Esse contexto evidencia o mais novo e intenso agente geológico na transformação do
planeta, o homem, que fundamenta o estudo do Tecnógeno (TER-STEPANIAN, 1988) e do
Antropoceno (CRUTZEN & STOERMER, 2000). Além de representar a ação antropogênica
desde a revolução agrícola (10000 anos AP) e industrial (150 anos AP), respectivamente. As
principais consequências dos processos tecnogênicos estão associadas à modificação do relevo,
alterações na dinâmica geomorfológica e sedimentar e na criação de depósitos correlativos
(PELLOGIA, 1997). Segundo Nolasco 2002, os depósitos tecnogênicos podem ser classificados
como diretos, os gerados pela mineração, e indiretos, os resultantes da ação do homem com
outros agentes e sem intencionalidade.

4.2 HIDROLOGIA
Com a análise das drenagens superficiais a partir do modelo de elevação de terreno
constatou-se a importância do represamento das águas para o balanço hidrológico no Rio
47

Paraguaçu. Da área de drenagem total estimada para o alto curso do Rio Paraguaçu,
aproximadamente 79% corresponde à área de drenagem do Pantanal dos Marimbus. O
represamento natural recebe contribuições de uma área de 10111 km², localizada na porção norte
do alto curso que compreende o Rio Santo Antônio e os afluentes da borda oriental da Chapada
Diamantina (Figura 4.4). O ambiente de estudo é responsável por represar e disponibilizar água
em volumes consideráveis para o abastecimento humano, os serviços ecológicos e para o controle
de vazões, em épocas de cheia, para o Rio Paraguaçu.
A área correspondente à nascente compreende os munícios de Barra da Estiva,
Ibicoara, Mucugê e Andaraí. Além de representar 21% da área de drenagem do alto curso, cujas
características montanhosas diminuem o tempo de permanência da água nesse setor da Bacia
(Figura 2.3). Em Mucugê, a Barragem do Apertado tem a função de controlar as cheias nesse
trecho, responde pelo abastecimento humano gratuito e fornecimento de água para irrigação do
polo agrícola Mucugê/Ibicoara.
Com isso, o balanço hidrológico no alto curso do Rio Paraguaçu depende da
contribuição das águas provenientes do Pantanal, topograficamente mais rebaixado, e do ramo
principal da nascente do Paraguaçu, com área de drenagem igual 2718 km². No contexto
hidrológico, duas estações fluviométricas registram dados de cota e vazão à jusante das
respectivas áreas de drenagem. A Estação do Fertém, localizada próximo à foz do Rio Santo
Antônio, corresponde à drenagem do Pantanal dos Marimbus, e a Estação Andaraí, drena as
águas correspondentes as nascentes do Rio Paraguaçu.
A hidrologia investiga os fenômenos que determinam a distribuição da água em nosso
planeta. Mas também, geralmente apresenta uma marcante variabilidade ao longo do tempo e do
espaço, em decorrência de aspectos meteorológicos, climáticos, geomorfológicos, e das
interações com as ações antrópicas locais (TUCCI, 2000).
As variações temporais hidrológicas podem ser quantificadas por meio de
observações e medições que resultam em séries temporais. As séries históricas podem ser
completas ou reduzidas. A série completa é composta por todas as vazões e/ou cotas médias
diárias de uma estação fluviométrica. A série reduzida tem os dados organizados em vazões
médias anuais, de acordo com a ordem cronológica das ocorrências.
48

Figura 4.4. Mapa da Bacia do Paraguaçu e área de drenagem do Pantanal dos Marimbus. FONTE: O autor (2015).

4.2.1 Estação Fertém (51190000) – Rio Santo Antônio

4.2.1.1 Vazão fluvial


O sistema de áreas úmidas dos Marimbus recebe contribuições de uma rede de
drenagem com 12829 km2 de área localizada dentro da Bacia hidrográfica do Paraguaçu. A maior
contribuição vem dos Rios Utinga, São José e Santo Antônio que compõe uma área de drenagem
com mais de 10000 km2. Essa área mais rebaixada represa a água e os sedimentos que descem
das serras. Uma estação fluviométrica instalada no Rio Santo Antônio (51190000) mede os
sedimentos em suspensão, vazões e cotas ao longo dos anos. Na região sul, o Rio Paraguaçu
abastece o Pantanal em épocas de cheia, essa parte da bacia representa mais de 2000 km² de
drenagem e seus fluxos e níveis são monitorados pela Estação fluviométrica do Paraguaçu
(51120000) (Tabela 4.1).

Tabela 4.1- Informações das estações fluviométricas realizadas nas análises.


Código da
Nome Rio Estado Município Responsável Operadora
Estação
51120000 ANDARAÍ PARAGUAÇÚ BAHIA ANDARAÍ ANA CPRM
51190000 FERTÉM SANTO ANTÔNIO BAHIA ANDARAÍ ANA CPRM
49

A descarga fluvial que abastece o Pantanal corresponde a um padrão associado ao


clima semiárido que apresenta duas fases, um período de cheia e outro seco bem demarcado.
Sendo assim, a distribuição das máximas apresentou característica bimodal nos meses de março e
dezembro. As vazões acompanham os resultados médios da pluviosidade para a região, ambos
apresentam médias máximas de novembro a abril, e valores mais baixos de maio a outubro
(Figura 4.5). As vazões registradas na estação fluviométrica, localizada na entrada da porção sul
do Pantanal, sofre influência direta do regime de chuvas (Figuras 4.6 e 4.7). Para estabelecer a
separação de um período “mais úmido” de outro “mais seco” foram utilizados hidrogramas de
vazões médias mensais para caracterizar os meses com vazões mais altas e mais baixas
(ESPINOZA et al., 2012).

Figura 4.5 – Hidrograma das vazões médias mensais da Estação do Fertém e as médias de chuva mensal da estação
pluviométrica à montante do Marimbus.
50

Máxima = 878 m³s-1

Figura 4.6 – Vazão máxima mensal e vazão média mensal da Estação fluviométrica do Rio Santo Antônio entre os
anos de 1950 e 2016.

SEM DADOS DISPONÍVEIS

Figura 4.7 – Dados de Chuva Média Mensal da estação pluviométrica à montante da estação fluviométrica do Rio
Santo Antônio entre os anos de 1950 e 1985. Esse período é caracterizado pelo aumento das chuvas médias mensais
e semelhante aos picos de vazão apresentados na Figura 4.6.

As vazões máximas mensais e as médias mensais dos dados de vazão utilizados neste
trabalho foram transformadas em médias anuais e dispostas na forma de séries temporais, que
51

apresentaram ciclos bem demarcados de 1950 até 2000 (Figura 4.8). Após esse período, os picos
de vazão se tornaram cada vez menos intensos. O ano de 2012 apresentou o ano mais crítico,
quando a vazão média anual registrou um valor cinco vezes menor do que a média das vazões ao
longo dos 60 anos de dados disponíveis (Apêndice E).

Figura 4.8 – Descarga Média Anual da estação fluviométrica do Rio Santo Antônio entre os anos de 1950 e 2016.

4.2.1.2 Nível dos Marimbus (Cota)


Assim como para as vazões também existe uma relação dos níveis de cota com a
pluviosidade na área de drenagem do Pantanal. Devido ao elevado número de afluentes, as águas
que compõe os Marimbus são precipitadas em uma área com mais de 10000 km². Comparando as
médias mensais da Estação Fertém com as médias de chuva de uma estação pluviométrica à
montante da área de estudo, ficou evidente que os gráficos não apresentaram a mesma amplitude
de variação. Isto porque o corpo receptor das águas sobre influência dessa extensa área de
captação (Figura 4.9).
O nível de cota máximo registrado no Pantanal foi de 6 m, indicando uma grande
capacidade de represamento (Figura 4.10). As cotas máximas mensais e as médias mensais dos
foram transformadas em médias anuais e dispostas na forma de séries temporais, que apresentou
ciclos bem demarcados de 1950 até o ano 2000 (Figura 4.11). Após esse período, houve um leve
declínio das médias anuais e dos picos de cota, chegando aos níveis mais baixos em 2012. Todas
52

as médias mensais do ano de 2012 apresentaram valores menores do que as taxas médias globais
ao longo dos anos de dados disponíveis (Figura 4.12). Segundo Gonçalves (2014), o estudo
hidrológico na Bacia do Paraguaçu mostra que a seca teve início em 2006, com a redução das
vazões máximas e das vazões mínimas e um forte déficit hídrico. Desde então não foi mais
registrado nenhum ano com excedente hídrico.

Figura 4.9 – Hidrograma das cotas médias mensais da Estação do Fertém e as médias de chuva mensal da estação
pluviométrica à montante dos Marimbus.
53

Figura 4.10 – Descarga máxima mensal e descarga média mensal da Estação fluviométrica do Rio Santo Antônio
entre os anos de 1950 e 2016.

Figura 4.11 – Descarga Média Anual da estação fluviométrica do Rio Santo Antônio entre os anos de 1950 e 2016.
54

Figura 4.12 – Cota média mensal para o ano de 2012 em comparação à média global do período analisado.

4.2.1.4 Curva-Chave
A curva chave relacionou a altura média da lamina d’água (cota) com as vazões
médias mensais medidas ao longo dos últimos 60 anos, associando cada valor de cota a um único
valor de vazão. Sendo assim, o gráfico resultante mostrou uma curva-chave calibrada (Figura
4.13).

Figura 4.13 - Correlação entre as cotas e as vazões obtidas através da Estação fluviométrica Fertém - 51190000.
55

Devido às diferenças nos valores de cota e vazão até o ano 2000 e após o ano 2000, a
curva chave foi segregada para esses períodos (Figura 4.14). O aumento da correlação entre os
dados separados confirmam essa observação e a semelhança entre os dados (R² = 0,9815).

Figura 4.14 - Correlação entre as cotas e as vazões obtidas através da Estação fluviométrica Fertém, dividido entre
os anos de 1950-2000 e 2000-2014.

4.2.1.3 Sedimentos em Suspensão


A relação entre a concentração de sedimentos em suspensão (CSS), em mg/L e a
vazão líquida, em m³/s, para o mesmo período de medição. Os valores mais elevados de CSS não
coincidiram com os valores máximos de vazão líquida para o dia da medida. Os dias 05/12/2000
e 03/08/2012 apresentaram os maiores valores de CSS com concentrações médias de 126,51
mg/L e 116mg/L, que relacionaram-se com vazões relativamente baixa de 9,26 m³/s e 3,47 m³/s,
respectivamente (Apêndice C). Nessa primeira análise, os valores mais elevados da concentração
de material em suspensão não mostrou uma correlação com os picos de vazão e as cotas diárias
comparadas. (Figuras 4.15 e 4.16).

05/12/2000
03/08/2012
08/03/2013
31/10/2003 05/10/2013
56
Figura 4.15 – Relação dos sedimentos em suspensão com a vazão líquida na entrada do Pantanal - Estação Fertém
(1991-2016).

Figura 4.16 – Relação dos sedimentos em suspensão com o nível da cota na entrada do Pantanal - Estação Fertém
(1991-2016).

Como a comparação pontual entre o dia de coleta do dado de CCS (mg/L) e o dado da
vazão diária (m³/s) pode não representar as características reais da sedimentação local. Então, a
análise dos dados de vazão foi ampliada para duas semanas, considerando sete dias antes e sete
dias depois da vazão pontual. Assim, não foi possível observar a interação das vazões diárias em
um intervalo de 15 dias com o pico de sedimentação (Figura 4.17).
57

Legenda
Gráfico I 05/12/2000
Gráfico II 31/10/2003
Gráfico III 03/08/2012
Gráfico IV 08/03/2013
Gráfico V 05/10/2013

Figura 4.17 - Intervalo de vazões diárias com influência nas concentrações de sedimentos em suspensão, em que
não foram verificadas grandes vazões para justificar o pico de material em suspensão.

4.2.2 Estação Andaraí (51120000) – Rio Paraguaçu

4.2.2.1 Vazão fluvial


As vazões médias para a série histórica na Estação Andaraí, no Rio Paraguaçu variou
entre 0,15 e 158 m³/s (Figura 4.18). Segundo Valério e Mamedio (2013), no estudo das vazões
de dez estações fluviométricas ao longo do Paraguaçu foram encontradas vazões médias
regionalizadas entre 2 e 110 m³/s. Gonçalves (2014) avaliou 15 estações fluviométricas, incluindo
o Rio Jacuípe, as vazões médias ficaram entre 0,05 e 158 m³/s. Após a construção da Barragem
do Apertado não houve mais anos hidrológicos excedentes na Bacia Hidrográfica do Rio
58

Paraguaçu (GONÇALVES, 2014). Na série histórica, as vazões e cotas acompanham o índice


pluviométrico (Figuras 4.19 e 4.20).

Máximo = 990 m³/s

Figura 4.18 – Descarga máxima mensal e descarga média mensal da Estação fluviométrica do Rio Paraguaçu entre
os anos de 1950 e 2016.

Figura 4.19 – Dados de chuva média mensal da estação pluviométrica à montante da Estação fluviométrica do Rio
Paraguaçu entre os anos de 1950 e 2016.
59

4.3.2.2 Nível do Paraguaçu (Cota)

Figura 4.20 – Cota máxima mensal e cota média mensal da Estação fluviométrica do Rio Paraguaçu, entre os anos
de 1950 e 2016.

4.2.3 Balanço Hídrico entre as cotas do Marimbus e do Paraguaçu.


Levando em consideração os picos de cotas dos Marimbus, representados pelo
gráficos acima, vamos compará-los com os dados diários de cota referente à estação
fluviométrica de Andaraí - 51120000 que representa o Rio Paraguaçu (Figura 4.20). Ao longo da
série histórica do Rio Paraguaçu é evidente uma infinidade de picos de cotas acima de 5 m,
indicando que seu curso principal possui uma grande potencialidade de níveis e fluxos extremos.
Isso se deve à alta variabilidade climática local e as grandes diferenças de altitudes que favorece
esse processo. Os dados referentes à Estação Fertém-51190000 apresentaram apenas alguns
valores acima de 5 metros (Figura 4.21). Com isso, cinco picos de dados foram selecionados e
comparados com as cotas relativas às duas estações. Para fazer uma abordagem robusta das
relações entre os níveis dos corpos d’agua foram avaliados os picos de cota em um intervalo de
duas semanas, incluindo não só a data pontual do pico, mas também assumindo os valores, uma
semana antes e uma semana depois.
60

Figura 4.21 - Cotas diárias dos Marimbus (51190000) entre os anos de 1950 e 2016, com destaque em vermelho
para os picos de cota observados.

As figuras seguintes (Figuras 4.22 a 4.26) mostram que nos períodos de cheia do
Paraguaçu acontece um represamento das águas que seguem no Pantanal, ocasionando em picos
de cheia na Estação do Fertém. Devido as diferenças de declividade e nível de base do Rio Santo
Antônio e do Rio Paraguaçu, os fluxos das águas apresentam comportamentos distintos. No
período chuvoso, o Rio Santo Antônio abastece várias lagoas e áreas alagadas, por isso demora
mais tempo do que o Paraguaçu para se tornar um rio caudaloso. As elevadas inclinações na
região das nascentes do Paraguaçu promovem uma descida rápida das águas que invadem o Sul
dos Marimbus e ocasiona correnteza oposta nesse trecho.
61

Figura 4.22 - Cotas diárias entre os Rios Santo Antônio e Paraguaçu entre os dias 07/03/57 e 21/03/57, com
destaque em vermelho para a influência do Paraguaçu na cota máxima dos Marimbus.

Figura 4.23 - Cotas diárias entre os Rios Santo Antônio e Paraguaçu entre os dias 22/01/64 e 04/02/64, com
destaque em vermelho para a influência do Paraguaçu na cota máxima dos Marimbus.
62

Figura 4.24 - Cotas diárias entre os Rios Santo Antônio e Paraguaçu entre os dias 30/03/78 e 12/04/78, com
destaque em vermelho para a influência do Paraguaçu na cota máxima dos Marimbus.

Figura 4.25 - Cotas diárias entre os Rios Santo Antônio e Paraguaçu entre os dias 01/02/92 e 15/02/92, com
destaque em vermelho para a influência do Paraguaçu na cota máxima dos Marimbus.
63

Figura 4.26 - Cotas diárias entre os Rios Santo Antônio e Paraguaçu entre os dias 17/12/13 e 31/12/13, com
destaque em vermelho para a influência do Paraguaçu na cota máxima nos Marimbus.

4.3 COMPOSIÇÃO DE δ18O e δ2H DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS


Isótopos de hidrogênio e oxigênio podem ser utilizados para traçar a origem das
águas que abastecem determinado corpo d´água, bem como verificar se o mesmo sofre processos
de evaporação ou não. Em geral, isótopos que possuem massa atômica maior são mais raros
quando comparados aos outros. Os isótopos estáveis estão associados a um ou mais isótopos e
suas respectivas abundâncias naturais são expressas em porcentagem (%) (Tabela 4.2). O uso
dessas espécies químicas em estudos ambientais baseia-se no fato de que a composição isotópica
varia nos compartimentos de um sistema, o que permite levantar informações por espectrometria
de massa acerca das fontes dos materiais e dos processos presentes. A composição isotópica (R)
de um determinado elemento é expressa pela relação entre o isótopo raro e o mais abundante, ou
seja, a razão do isótopo mais pesado sobre o mais leve. Como as variações naturais dessa razão
são pequenas, definiu-se a notação δ que representa o desvio relativo de uma amostra em relação
à razão R de um padrão. Assim, o aumento no valor de δ corresponde a um aumento no teor de
isótopos pesados. Estes desvios são representados em parte por mil (‰), calculados pela equação:

δ yx (‰) = {[yRamostra/ yRpadrão] -1} x 1000


64

Tabela 4.2 - Abundância (%), razão isotópica e padrão utilizado em estudos ambientais.
Elemento Isótopo Abundância (%) Razão (δ) Padrão R
1
H 99.985 2
Hidrogênio 2
H/1H (δD) V-SMOWa
H (D) 0,015 0,00015576
12
C 98,89 13
Carbono 13
C/12C (δ13C) PDBb
C 1,11 0,0112372
14
N 99,63 15
Nitrogênio 15
N/14N (δ15N) N² atmosferac
N 0,37 0,0036765
16
O 99,76
17 18
V-SMOW ou
Oxigênio O 0,04 O/16O (δ18O) 0,00200052
18
PDB
O 0,20
a
O V-SMOW (Vienna - Standard Mean Ocean Water) e o padrão internacional de referência da água definido pela
Internacional Atomic Energy Agency (IAEA). bO PDB (Pee Dee Belemnite) padrão internacional de referência para
carbono. cA atmosfera é a maior fonte de nitrogênio da Terra. Ela é usada como padrão de referência em análises de
mecanismos naturais ou antrópicos.

Urey (1947) quantifica e explica os efeitos da variação isotópica em abundâncias


naturais, e estabelece que as características ambientais favorecem ao enriquecimento ou depleção
dos isótopos em relação ao padrão. Posteriormente Craig (1961) estabeleceu procedimentos
rigorosos de correção analítica e padronização dos resultados que possibilitou a sua utilização em
estudos naturais. Nas décadas seguintes houve o desenvolvimento do espectrômetro de massa de
razão isotópica (IRMS – Isotope Ratio Mass Spectrometer) e, nos anos 1980, a evolução dos
equipamentos resultou em análises de fluxo contínuo através da automação, o que aumentou
consideravelmente a capacidade analítica. Essa evolução técnica aplicada às ciências naturais tem
refletido no crescente número de trabalhos publicados na comunidade científica, utilizando
isótopos estáveis. Análise da composição isotópica da água tem sido usada frequentemente como
marcadores para determinar a proveniência da água em sistemas hídricos diversos, sob influência
de aquíferos de diversas naturezas e águas superficiais (KATZ et al., 1997; KUMAR, 2009;
KANDUC, 2014; CAMPODONICO, 2015).
Traçar o comportamento das águas superficiais, por meio de isótopos estáveis oferece
informações robustas sobre a origem e a dinâmica das águas que são regidas pelos fenômenos
físicos de evaporação e precipitação. As variações da composição isotópica de uma determinada
área inundada podem ser influenciadas por difusão de água subterrânea, evaporação, condensação
e precipitação. Essas mudanças de fase resultam em um fracionamento isotópico, em que uma
das fases fica isotopicamente mais leve e a outra mais pesada. Os constituintes isotópicos da
65

molécula de água tem um vasto campo de aplicação na interação entre as águas subterrâneas e
superficiais. Isto vale tanto em ambientes de elevada altitude sem influência antrópica, tal como a
cordilheira dos Andes, quanto em sistemas cársticos próximos a cidades, em que o fluxo
subterrâneo e a interação água-rocha dominam os processos hidrológicos (MOSQUERA et al,
2016; SALLES et al, 2017). Uma combinação de dados isotópicos em águas superficiais no
Pantanal foi apresentada para entender os processos que regem a dinâmica de fluxos e o
funcionamento do ecossistema do Pantanal dos Marimbus (Figura 4.27).

Figura 4.27 – Pontos de amostragem de água superficial nos diferentes setores dos Marimbus. Fonte: O autor
(2015).
66

As amostras apresentaram valores de δ2H (VSMOW) e δ18O (VSMOW) variando de -


21,1‰ a 9,0‰ e -3,13‰ a 3,31‰, respectivamente (Apêndice A). As amostras coletadas no sul
dos Marimbus e nos rios que deságuam no Pantanal apresentaram dados coincidentes com a linha
meteórica global (LMG – linha vermelha), elaborada por Craig (1961) que constatou uma relação
previsível entre os isótopos de δ2D e δ18O nas águas naturais mundiais. A semelhança na
informação isotópica nesses pontos se deve à influência acentuada da precipitação no escoamento
superficial e/ou à contribuição de águas subterrâneas nesse trecho que favorece o represamento
das águas (Figura 4.28). As amostras MB1, MB2, MB3, MB4, MB5 e MB6 mostraram um
comportamento diferente das demais amostras. Elas têm o excesso de deutérioIInegativo, o que
consiste em um maior enriquecimento da água em δ18O com relação ao δ2H. Logo, as amostras
coletadas em lagos e lagoas da porção Norte e Central dos Marimbus representam águas que
sofrem intenso processo de evaporação. Outra possível razão para o enriquecimento da água com
18
O seria a presença de um aquífero cárstico nesses pontos, através dos processos de interação
água-rocha, que não foi observado em campo.

18
Figura 4.28 – Relação das medidas isotópicas de δD x δO das águas analisadas em comparação com a reta
meteórica global (GMWL - Rozanski et al., 1993).

O excesso de deutério (d) representa o desvio da reta meteórica global que fornece
informações sobre os processos de não equilibrio, como a evaporação e as fontes de vapor d’água
67

(DANSGAARD, 1964). Os processos de fracionamento das águas mais importantes para o


estudo hidrológico estão relacionados com as etapas de evaporação, formação de nuvens e
precipitação. O excesso de deutério (d) é expresso pela equação:

d = δD − 8δO18(‰).

O valor médio do parâmetro d apresentado por Craig (1961) é 10 (‰), Rozanski et al.
(1993) encontrou valores próximos dele, usando a média aritmética de mais de 200 estações de
coleta, reafirmado pelo trabalho de Bowen (2003) que usou dados de 340 estações. Valores
negativos de d representam ambientes de alta evaporação, tais como águas represadas em rios,
lagos e reservatórios (Figura 4.29). Valores altamente positivos de d podem representar chuvas
que já sofreram vários episódios de precipitação ou sofre influência da contribuição adicional do
vapor d'água reciclado da evaporação da água superficial e da água transportada em grandes
fluxos durante eventos climáticos (ROZANSKI e ARAGUÁS-ARAGUÁS, 1993). As águas
coletadas nos rios e no Pantanal apresentaram valores isotópicos distintos das águas coletadas nos
lagos e lagoas, permitindo uma análise referente à sua origem e seu comportamento em diferentes
configurações geomorfológicas.
68
Figura 4.29 - Diagrama esquemático dos processos climáticos que afetam a composição isotópica do oxigênio e
hidrogênio na água em comparação com a Linha Meteórica Global. (Fonte: http://www.sahra.arizona.edu, adaptado
por Silva (2007)).

Uma linha de evaporação local (LEL – linha verde) foi elaborada para as amostras
MB1 a MB6 com o objetivo de comprovar as diferentes composições isotópicas (Figura 4.30).
Que ficou definida pela seguinte regressão linear: δ2H = 5,1δ18O – 8,8‰. Note que o coeficiente
angular da reta 5,1 é menor do que o da linha meteórica global (LMG) que caracteriza um grupo
de águas mais evaporadas. Estes valores são confirmados pelos valores negativos de excesso de
deutério representados na Figura 4.33.

Figura 4.30 – Representação dos dados isotópicos das amostras MB1 a MB6 num gráfico de (LEL) em comparação
a (LMG). As amostras MB1, MB2 e MB3 representam o setor norte. As amostras MB4, MB5 e MB6 o setor central.

As amostras coletadas entre os pontos MB7 e MB20 demostraram ter influência


significativa das águas da chuva devido aos fluxos fluviais presentes nesses pontos. Os dados
isótopicos dessas amostras estão muito próximos da linha meteórica global (Figura 4.31). Outra
evidênca da chuva na composição isotópica está registrada nos valores de excesso de deutério
que variou entre 6,1 e 16,5, com valor médio de 10,9 que é muito próximo do coeficiente linear
da LMG: δ2H = 8,13δ18O +10,8‰ (ROZANSKI et al., 1993). Dentre os valores das amostras
coletadas em fluxo, os pontos MB9, MB19 e MB20, dispostos sobre os Rios Garapa e Paraguaçu,
apresentaram um coeficiente linear maior do que a LMG, indicando um fator de enriquecimento
69

isotópico devido ao vapor d’agua atmosférico de altas latitudes e aos fluxos turbulentos que
descem da Serra do Sincorá, dados característicos de chuva local (Figura 4.32).

Figura 4.31 – Representação dos dados isotópicos das amostras MB7 a MB20 em comparação com a LGM.

Figura 4.32 - Representação dos dados isotópicos das amostras MB7 a MB20 em comparação com a LMG, com
destaque para LEL referente aos pontos MB9, MB19 e MB20, característico de chuva local.
70

Com base nos valores de excesso de deutério, os dados isotópicos das amostras MB9,
MB19 e MB20, coletadas nos Rios Garapa e Paraguaçu antes de chegar ao Pantanal,
apresentaram os maiores valores de deutério positivo, tais como 14,8; 15,3 e 16,5,
respectivamente (Figura 4.33). O que indicou um enriquecimento que pode ser ocasionado pela
precipitação associado à dinâmica intensa das cachoeiras na Serra de Sincorá. Os dados coletados
na porção Sul, pontos MB8 até MB18, indicaram valores com excesso de deutério mais próximo
do coeficiente angular da Linha Meteórica Global (LMG). Os pontos MB16 e MB17, coletados
em lagoas/dolinas no Sul dos Marimbus, representaram os menores valores de d para esse grupo
de dados, tais como 7,9 e 7,6, que apresentou variações de d entre 9,2 e 12,4. O ponto MB7,
coletado no encontro dos Rios são José e Santo Antônio, indicou o menor valor de deutério
positivo devido a sua proximidade com as lagoas da porção Central do Pantanal. O ponto MB8
registra os fluxos de todo o sistema na ponte do Fertém que apresentou características idênticas à
LMG, pois é o ponto de confluência de toda a rede de drenagem do Pantanal.
As amostras de MB1 a MB6 apresentaram o comportamento diferente das demais
amostras em que os pontos coletados nos lagos e lagoas indicaram um excesso negativo de
deutério, ou seja, evaporação maior dos isótopos de deutério em relação ao O18, o que presume
um ambiente de alta evaporação, possivelmente, com pouca ou nenhuma influência das águas
subterrâneas. Esses corpos apresentam uma conexão com os canais fluviais do Rio Santo Antônio
que modificam a composição dessas lagoas devido às variações sazonais de cota. O ponto MB1
localizado na saída da lagoa encantada apresenta um excesso de d negativo menor do que os
pontos coletados dentro da lagoa, os pontos MB2 e MB3 que apresentaram valores de -15,0 e -
17,7, indicando uma maior renovação da água no ponto MB1, devido a sua proximidade com o
rio. Dentre as amostras MB4, MB5 e MB6, representadas por lagos de variados tamanhos e
profundidades que estão localizados na porção Central dos Marimbus, o ponto MB6 que é o
corpo d’agua mais raso correspondeu ao valor mais negativo devido à elevada evaporação.
A manutenção dos níveis freáticos dessas lagoas em ambientes de clima semiárido
favorece a evaporação que resulta no enriquecimento da água em O18 em relação ao deutério.
Outro fator que pode negativar o excesso de deutério é a troca isotópica entre o oxigênio do
carbonato das rochas e o da água, pois os ambientes carbonáticos são mais enriquecidos em 18O
do que a água que os compõem. De acordo com o mapa geológico (CPRM) (Figura 2.6), a
Formação Bebedouro esta sotoposta aos pontos de água superficiais nos trechos Central e Norte
71

do Pantanal, que corrobora a não influência das águas subterrâneas, pois essa Formação apresenta
conglomerados impermeáveis.
Os dados isotópicos associados com a geomorfologia no trecho Sul dos Marimbus
mostram as áreas de influência direta das águas subterrâneas e fica evidente que a região funciona
como uma represa natural das águas de chuva, tanto que seus níveis e descargas variam em
diferentes períodos do ano. A interação entre as águas subterrâneas e fluviais mantém os níveis
mínimos no período seco e amplifica as cotas nos períodos chuvosos.
As águas superficiais do Pantanal dos Marimbus apresentaram composições
isotópicas caracterizadas por dois grupos principais. O primeiro corresponde às águas que sofrem
evaporação. O segundo tem composição isotópica semelhante à LMG e corresponde às águas
naturais que compõem o sistema de drenagem do Rio Santo Antônio. O último nasce na Bacia
carbonática de Irecê e recebe contribuições dos Rios que descem da Serra do Sincorá,
direcionando o seu fluxo até a área úmida. Os pontos coletados nos Marimbus apresentaram
informações isotópicas muito parecidas com as médias isotópicas das chuvas do mundo inteiro.
Um terceiro grupo possivelmente poderia ser formado pelas águas que descem a Serra do
Sincorá, por causa dos valores de excesso de deutério positivo (Figura 4.33).

Figura 4.33 – Excesso de deutério nas águas superficiais do Pantanal dos Marimbus, com composições distintas.

Salles (2017) propôs para as águas do aquífero cárstico que alimenta as nascentes do
Rio Santo Antônio, de águas cloretadas sódicas cálcicas para as águas de composição
bicabornatada cálcica. A composição isotópica das águas do aquífero coletadas entre os munícios
72

de Souto Soares e Iraquara apresentaram três grupos principais. O primeiro corresponde às águas
naturais. O segundo remete às águas naturais de um sistema cárstico isolado, com assinatura
isotópica distinta. O terceiro grupo é relacionado às águas contaminadas por atividades antrópicas
recentes, tais como despejo de lixo e esgoto.
No trabalho de Salles, as coletas foram realizadas no sistema aquífero do alto curso
do Rio Santo Antônio (Iraquara) e as coletas desse trabalho foram realizadas na foz, na área de
influência do Pantanal dos Marimbus. A comparação entre esses dados mostram que as águas
represadas apresentam características isotópicas de águas mais evaporadas se comparadas com as
águas confinadas nos aquíferos cársticos que estão mais próximas da LMG. Essa variação pode
ser causada pela evaporação durante o escoamento superficial e pelos fluxos das águas, ou por
variabilidade climática já que as coletas foram realizadas em períodos diferentes (Figura 4.34).

Figura 4.34 - Gráfico comparando os dados isotópicos das águas subterrâneas em Iraquara (Salles, 2017 – em azul)
com as amostras superficiais analisadas no Pantanal dos Marimbus – em verde. A linha vermelha representa a Linha
Meteórica Global (LMG).

4.4 MODELO TEÓRICO DA DINÂMICA DE FLUXOS NO SISTEMA


Este modelo teórico foi idealizado com base nos resultados da análise dos fluxos dos
Rios Santo Antônio e Paraguaçu, observações da direção do fluxo das águas superficiais,
variações do nível da área úmida e possíveis contribuições subterrâneas evidenciadas pelas
73

imagens de satélite e observações em campo. Devido sua grande extensão, não existem dados
suficientes para determinar quantitativamente a descarga de água entre o Marimbus, o aquífero e
os rios. Porém, os resultados da análise hidrográfica e das imagens de satélite indicam que grande
parte do fluxo do sistema flui para a extremidade Sul da área úmida, onde o Rio Santo Antônio
deságua no Paraguaçu após o represamento das águas. Durante a estação chuvosa, esses fluxos se
tornam significativos para o balanço e a dinâmica das águas nesse ponto, quando o Paraguaçu,
topograficamente mais alto, propicia o aumento significativo das águas nos Marimbus, com uma
variação de até 6 m registrados na série histórica. O processo acontece devido às diferenças
topográficas, como o trecho da área de drenagem das nascentes do Paraguaçu apresenta
inclinações maiores do que o Pantanal, nos picos de chuva as águas do Paraguaçu descem com
força e penetram na área úmida proporcionando fluxos inversos ao Pantanal dos Marimbus em
períodos extremos. O Rio Santo Antônio avança mais lentamente, pois segue abastecendo lagos e
lagoas presentes nas áreas mais rebaixadas do seu trecho. Os possíveis efeitos do armazenamento
de água da área úmida para o aquífero são indicados pelo aumento no nível das águas durante os
períodos de cheia.
O Pantanal dos Marimbus ocupa a planície de inundação do Rio Santo Antônio e está
em continuidade hidrológica com os sistemas de fluxo subterrâneo na porção Sul e
periodicamente com os fluxos provenientes do Paraguaçu. As funções mais relevantes da área
úmida incluem a estabilização dos fluxos, promovendo a disponibilidade de água em volumes
consideráveis em uma região do semiárido e a melhoria da qualidade da água do rio. A última é
depurada naturalmente na área de estudo antes de seguir para o Paraguaçu. Os componentes em
suspensão, sedimentos e matéria orgânica são depositados na área úmida que funciona como uma
trapa para os sólidos em suspensão e sumidouro para os contaminantes.
O Pantanal dos Marimbus represa e alimenta o Paraguaçu com água e sedimento ao
longo do ano. Ele ainda estabelece uma conectividade hidrológica entre as redes de drenagens, o
Pantanal e o aquífero no seu trecho final. Nas bordas desse trecho e seguindo o Rio Paraguaçu
existem diversos “olhos d’agua”, formados por minas d’água, de origem calcária. Na época de
seca, com as águas cristalinas é possível ver o fundo. Por outro lado, no período chuvoso, as
águas do Paraguaçu inundam as lagoas (FUNCH, 2002) (Figura 4.35). Nos Marimbus, o mais
famoso é o olho d’agua do Peri, mas na região encontra-se o olho d’agua da Piranha e da
Formosa. Seguindo o médio curso do Paraguaçu, ainda encontram-se os poços azul e encantado.
Ambos parecem fazer parte do mesmo sistema cárstico.
74

REGIÃO SUL DOS


MARIMBUS

RIO PARAGUAÇU

Figura 4.35 – A região Sul dos Marimbus e o início do médio Paraguaçu estão sob a influência do aquífero que
regula os fluxos no sistema. A seta branca cheia indica o fluxo normal do sistema. A seta branca pontilhada indica os
fluxos periódicos do Rio Paraguaçu em épocas de cheia. Seguindo o médio curso do rio encontra-se o poço azul e o
poço encantado no mesmo sistema.

As variações nas contribuições das fontes são controladas pela água subterrânea,
intensidade e duração dos períodos chuvosos. A interdependência mútua dos sistemas de áreas
úmidas, rios e águas subterrâneas exigem um uso cuidadoso e uma gestão eficiente desses
subsistemas a fim de garantir a sustentabilidade e a continuidade da existência viável do sistema
como um todo (Figura 4.36).

Figura 4.36 – Interação de fluxo entre as águas do Sul dos Marimbus, sob a influência da rede de drenagem do Rio
Santo Antônio, das contribuições subterrâneas (olhos d’agua) e do Rio Paraguaçu nos períodos de cheia.
75

Segundo o Balanço Hídrico, a principal recarga dos aquíferos da bacia hidrográfica


do Rio Paraguaçu acontece nos meses de novembro e dezembro, quando há um aumento
significativo das precipitações, após um longo período de baixa pluviométrica. Gonçalves (2014)
constatou na Bacia do Paraguaçu que no mês de outubro há um aumento significativo das
precipitações, porém não existe este reflexo nas vazões, caracterizando assim um período de
recarga dos aquíferos. A partir do mês de novembro as vazões aumentam, uma vez que os
aquíferos se encontram saturados e não consegue mais reter água precipitada, esta dinâmica
permanece no sistema até o mês de março.

4.5 - GRANULOMETRIA E TAXA DE SEDIMENTAÇÃO


A primeira investigação proposta para a área de estudo correspondia às taxas de
sedimentação com a utilização dos isótopos radiogênicos de chumbo e césio. Por isso, o
testemunho de sedimento foi coletado em um ponto de baixa energia no Sul dos Marimbus com
predominância de sedimentos finos capazes de fixar os radionuclídeos necessários à investigação
geocronológica planejada (HUMPHRIES, 2010). .
A amostra do topo do testemunho apresentou granulação fina que diminui nos
primeiros 3 cm, diminui as porcentagens de lama e mantém pequenas variações granulométricas
até 11 cm de profundidade. Os pontos MB12, MB13 e MB14 apresentaram muita matéria
orgânica com a predominância de pedaços de folhas e galhos, e uma areia mais branca com
predominância de quartzo. No ponto MB15, a areia e os vestígios de matéria orgânica
permanecem, e começa o aumento da concentração de lama. A amostra MB16 tem uma redução
da matéria orgânica e da lama. O intervalo entre as profundidades 17 cm e 27 cm representa uma
redução significativa de areia e um aumento pronunciado do teor de lama. Além disso, os
vestígios de matéria orgânica não foram encontrados nesse trecho do testemunho de sedimento. A
partir desse ponto até a profundidade de 31 cm, a lama começa a diminuir. As amostras da base
do testemunho MB32 até MB35 indicaram uma composição mais arenosa, com presença de areia
grossa e pouca matéria orgânica, resultante de um aumento do fluxo das águas. Um aumento na
sedimentação entre os pontos MB15 e MB31 foi confirmado com a análise granulométrica e se
deve ao aumento do teor de lama no perfil, indicando uma diminuição dos fluxos (Figura 4.37).
76

Figura 4.37 – Granulometria do testemunho de sedimento com os respectivos anos de deposição de acordo com as
taxas médias de sedimentação em áreas úmidas continentais (Tabela 4.3). A linha vermelha indica o ano de criação
do Parque Nacional da Chapada Diamantina e a proibição do garimpo. Cada barra horizontal indica 1 centímetro de
profundidade do testemunho.

A taxa de sedimentação média em áreas úmidas localizada em diferentes locais do


planeta foi levada em consideração para realizar uma avaliação mais criteriosa da deposição dos
sedimentos com os isótopos ambientais (Tabela 4.3). Wetlands temperadas e tropicais sob a
influência direta de processos fluviais indicaram uma taxa média de deposição de 0,5 cm por ano.
Considerando essa taxa média na área de estudo e aplicando ao testemunho de sedimento foi
verificada uma variação de 70 anos de deposição nos 35 cm de profundidade, indicando o
período final do garimpo e a sua proibição em 1985.
77

Tabela 4.3 – Taxas de sedimentação em áreas úmidas continentais de grande relevância ambiental, utilizando-se
radionuclídeos de 210Pb e 137Cs.

Categoria Taxa de Sedimentação


Ambiente Local Referência
Hidrogeomórfica (cm a-1)

Wetland Depressional, Bernal & Mitsch


EUA 0,30 – 0,62
Temperada Isolado (2012)
Wetland Lago Fluvial China 0,05 – 0,41 Xue & Yao (2011)
Área de Inundação Sabaris & Bonoto
Margem Fluvial Brasil 0,16 – 1,32
Fluvial (2011)
África do
Wetland Tropical Margem Fluvial Sul 0,25 – 0,50 Humphries (2010)
Área de Inundação
Margem Fluvial EUA 0,20 - 4,2 Hupp et al (2008)
Fluvial
Wetland Margem Fluvial Brasil 0,61 Fávaro et al (2006)
Wetland Lago Montanhoso Índia 0,48 - 1,35 Kumar et al (1999)

Por fim, comparamos o perfil de sedimentos coletado com as vazões médias da


Estação fluviométrica do Fertém. Por consequência, uma similaridade do aumento dos fluxos
com o aumento da concentração de lama no perfil foi verificada (Figura 4.38). Esse indício é
relevante, pois nos períodos com maior disponibilidade de água nos vales e nas serras, a
disponibilidade de material sedimentar devido aos processos naturais de erosão e deposição tende
a aumentar. Além disso, a chuva representava o melhor momento para a mineração de diamantes,
o que facilitava o desmanche dos cascalhos diamantíferos, disponibilizando uma quantidade
maior de material em suspensão e ocasionando um aumento na sedimentação. O aumento da taxa
de lama no perfil é relacionada com as características das vazões máximas locais que influenciam
a erosão e a deposição. Vale ressaltar que as ações antropogênicas aceleram esse processo.
Ganem e Viana (2006) afirmam que a história ambiental da Chapada Diamantina
passa por um período de atividade garimpeira nos leitos dos rios que compõem o sistema de áreas
úmidas dos Marimbus na decada de 70. Nesse período, a área mais favorável à exploração
diamantífera encontrava-se nos Rios São José e Santo Antônio. Os depósitos eram explorados
mediante lavra mecanizada que provocou grandes danos aos ecossistemas locais, pelo
desmatamento, destruição do solo e assoreamento dos rios.
78

Figura 4.38 – Comparação entre a granulometria do testemunho de sedimento com os dados de vazão máxima
mensal e média anual entre os anos de 1950 a 2016, correspondente ao perfil de sedimento.

4.6 COMPOSIÇÃO ISOTÓPICA DA CARGA SEDIMENTAR DEPOSITADA


Essas perturbações provocadas pelo garimpo mecanizado nos trechos à montante do
Pantanal representa o aumento na entrada de matéria orgânica no sistema, que fez os teores de
carbono orgânico e nitrogênio aumentarem. O perfil de Profundidade(cm) X COT(%) mostra um
crescimento acentuado do teor de COT em torno dos 30 cm de profundidade com um pico em 25
cm e depois começa a diminuir até 15 cm, posteriormente, até o topo se mantém relativamente
constante. Possivelmente as variações hidrológicas provocaram um aumento da sedimentação de
material fino, porém o excesso de entrada de matéria orgânica identificado no testemunho é
resultado da mineração recente no leito dos Rios São José e Santo Antônio na década de 70. O
gráfico de Profundidade (cm) x %N também mostra comportamento similar indicando que o
aumento nos teores de COT(%) e N (%) está correlacionado com o aumento da sedimentação que
promoveu a preservação dessas espécies químicas devido ao soterramento (Figura 4.39).
A Figura 4.40 mostra a composição da matéria orgânica nas 35 amostras do perfil
analisado e a relação C/N com a profundidade. O gráfico COT(%) X N(%) resultou em uma boa
79

correlação e indica que as proporções de contribuições das fontes nas amostras se mantiveram
constantes, ou seja, mostra que estes parâmetros variaram de maneira parecida no perfil
(RUTTENBERG e GONI, 1997).

Figura 4.39 – Perfil de Carbono Orgânico Total (COT) e perfil de %N em relação à profundidade do testemunho.

Figura 4.40 – Correlação linear entre os dados COT (%) e N (%) do testemunho coletado e a relação C/N com a
profundidade, a linha pontilhada indica a divisão entre as fontes de matéria orgânica depositados em ambientes
lacustres.
80

O valor do coeficiente angular da correlação COT(%)/N(%) indica predominância de


material de origem terrestre, e que os dois possuem a mesma fonte. Segundo Meyers (1997), a
razão C/N pode fornecer informações sobre a natureza e a origem da matéria orgânica. Os valores
da razão C/N em sedimentos lacustres entre 4 e 10 indicam a predominância de algas lacustres,
para valores entre 10 e 20, tem-se uma mistura de algas lacustres e plantas terrestres. As razões
acima de 10 encontradas entre as profundidades de 20 cm e 30 cm representa um provável evento
de desmatamento que disponibilizou matéria orgânica de árvores terrestres na pedogênese do
perfil, entre os anos de 1955 e 1975 (Figura 4.37).
Para abrir as áreas de exploração no leito dos rios, danos ambientais foram causados
pelo desmatamento, erosão e assoreamento das margens (GANEM e VIANA, 2006). Os valores
isotópicos mostraram diferença de composição nas camadas recentes do testemunho,
consequência das interferências na entrada de material no sistema (Figura 4.41). As amostras do
testemunho apresentaram valores de e δ13C e δ15N variando de -26,79‰ a -18,97‰ e 4,21‰ a
2,31‰, respectivamente. A variabilidade isotópica do testemunho é reflexo da composição
isotópica da vegetação presente na época com o fracionamento isotópico do processo de
decomposição da matéria orgânica. A variabilidade nos valores de δ13C está relacionada com o
tipo de vegetação e o ciclo fotossintético que executam. As plantas, no processo metabólico,
causam fracionamento quando fixam o CO2 atmosférico, que depende do ciclo metabólico
realizado. Os ciclos podem ser o C3 de Calvin-Benson, C4 de Hatch-Slack e CAM Metabolismo
Ácido das Crassuláceas (MOOK e VRIES, 2001). A maioria das plantas utiliza o ciclo de Calvin
(C3) produzindo valores de δ13C na faixa de -27±3‰ em relação ao padrão Pee Dee Belemnite
(PDB), O ciclo Hatch-Slack (C4) resulta num δ13C que pode variar -9 a -17‰ ocorrendo em
certos grãos, gramas e milho (MEYERS, 1994).
Os perfis de δ13C e δ15N apresentam dois eventos estratigráficos bem demarcados
(Figura 4.41). Da base do testemunho até a profundidade, 13 cm os valores de δ13C se
mantiveram em torno de -26‰ que é o valor correspondente à predominância das plantas
arbóreas que seguem o ciclo fotossintético C3. Do topo do testemunho até 12 cm de profundidade
representa outro evento estratigráfico, indicando perturbações dos dados isotópicos certamente
provocados pelas áreas de exploração no leito dos rios e os danos ambientais causados pelo
desmatamento em torno do Pantanal para a criação de pastos. As amostras coletadas em 12 cm,
13 cm e 14 cm apresentaram material vegetal em excesso, composto principalmente por folhas e
galhos, indicando o momento de transição da composição isotópica no perfil. De um modo geral,
81

as plantas C3 dominam na área de estudo, exceto as perturbações causadas pela operação do


garimpo mecanizado e a criação de áreas de pastagens, onde as plantas C4 predominam.

Figura 4.41 – Composição isotópica δ13C e δ15N do testemunho de sedimento, mostrando dois perfis estratigráficos
bem demarcados pelas assinaturas isotópicas.

CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo mostra a aplicação simultânea de dados hidrológicos com técnicas


isotópicas em diferentes compartimentos ambientais e nos fornece informações cruciais para a
identificação de processos hidrológicos e sedimentológicos em uma área alagada no Sertão da
Bahia. Esses dados são essenciais para o avanço da compreensão hidrológica e deposicional em
direção à evolução desse sistema localizado na bacia do Rio Santo Antônio. O trabalho
caracterizou o comportamento isotópico das águas superficiais e discutiu sobre a evolução e
funcionamento de uma área úmida de extrema relevância, o Pantanal da Chapada Diamantina,
sob a jurisdição da Área de Proteção Ambiental Marimbus-Iraquara, criada pelo decreto Estadual
nº 2.216/93 devido à sua importância ambiental, histórica e turística nesse território. As
informações obtidas nesse trabalho serão repassadas para os guias e turistas através dos órgãos
82

públicos estaduais e municipais, assim como aos gestores da APA. Com base em técnicas e
parâmetros nunca utilizados nessa região foi possível avaliar o comportamento superficial das
águas dos Marimbus e compreender os processos de deposição a partir da origem da matéria
orgânica depositada no Pantanal.
Através das imagens do levantamento aerofotogramétrico, realizado em 1974, e de
imagens de satélite recentes ficou claro que os leques aluviais de grande magnitude foram
depositados antes do período analisado. As imagens de satélite indicam um avanço da vegetação
sobre os leques aluviais. A Serra do Sincorá com altitude de 1600 metros, a oeste, e cerca de 320
metros de altitude na área dos Marimbus favoreceu a deposição dos sedimentos através dos
afluentes da serra. Essa deposição excessiva sobre o leito do Rio Santo Antônio favoreceu a
formação do Pantanal dos Marimbus no auge do garimpo, quando milhares de garimpeiros
exploravam as serras com métodos artesanais de maneira intensa. Após a decadência do garimpo
os recursos madeireiros foram explorados vigorosamente entre as décadas de 20 e 50, quando
entra em declínio devido à extinção das espécies mais nobres. O desmatamento, a venda da
madeira e o plantio de capim possibilitou aos proprietários de terra o desenvolvimento de
atividades agropecuárias no seu entorno. A partir de 1980, o garimpo mecanizado remobilizou os
leitos dos Rios São José e Santo Antônio que favoreceu o aumento de matéria orgânica no
sistema. Por fim, os aquíferos que abastecem os Rios Santo Antônio em Iraquara e o Rio Lençóis
apresentaram contaminação por lixo de esgoto nos pontos próximos as cidades. É necessário
levantar informações sobre as possíveis fontes de contaminação por dejetos humanos e o poder
de depuração do Pantanal dos Marimbus.
As descargas anuais de cota e a vazão da Estação Fertém, localizada no rio Santo
Antônio apresentaram influência direta da precipitação, bem demarcado em período seco e
úmido, típico de rios tropicais. A análise da série histórica de vazões anuais médias mostrou
maiores valores nas décadas de 50 a 80, com um evidente declínio a partir do ano 2000. Desde
então, as medições oficiais mostram um declínio nos valores médios de vazão, onde entre os anos
2010 a 2014, apresentaram valores bem abaixo da média (Apêndice F). O ano de 2013 mostrou
um elevado índice de variabilidade de descarga que foi caracterizado por uma seca prolongada no
mês de março, onde os registros de vazão foram os menores de todos os tempos. Os índices de
cota estão bem correlacionados com os dados de vazão, o ano de 2012 apresentou as menores
taxas de cota mensal dos últimos 60 anos, indicando um agravante para a dinâmica
hidrogeológica e hidrossedimentar local (Apêndice G).
83

O sistema hidrológico que compõe a área do Pantanal dos Marimbus sofre impactos
provocados pela sazonalidade extrema, ocorridos em alguns anos de seca severa. As épocas de
cotas e vazões muito baixas ficaram registradas. As grandes cheias não acarretam em impactos
significativos, pois a região funciona como uma represa natural em que acumula materiais sólidos
e líquidos antes de serem transportados naturalmente para o Rio Paraguaçu. Em períodos de
chuva, o Rio Paraguaçu enche mais rápido do que o Santo Antônio devido a sua alta declividade.
Nesses eventos extremos, o Rio Paraguaçu desce com muita força e invade a porção sul dos
Marimbus, provocando fluxo inverso na bacia do Rio Santo Antônio e um aumento significativo
da cota.
Levando em consideração a bacia do Rio Santo Antônio e as informações isotópicas
que compõem sua nascente, através do aquífero carbonático, e sua foz, através das águas
superficiais do Pantanal dos Marimbus, foi constatado que as águas que compõem o sistema
correspondem ás águas naturais de composições próximas da Linha Meteórica Global (LMG). Na
região da nascente, a predominância dessas águas no sistema apresentou interferências antrópicas
recentes relacionadas à contaminação por lixo e esgoto (Salles, 2017). Grande parte dos
contaminantes e materiais sólidos despejados nesse sistema de drenagem são depurados e
depositados nos Marimbus.
As águas superficiais que compõe o sistema de áreas úmidas dos Marimbus
apresentou composição isotópica predominante de águas pluviais, principalmente nos pontos
coletados no sul da área de estudo, onde ocorre o represamento do Rio Santo Antônio. Nas
bordas desse trecho e seguindo o Rio Paraguaçu existe a influência de águas subterrâneas que
mantém os níveis mínimos para o Rio Santo Antônio e o Rio Paraguaçu. A área de drenagem do
Pantanal com mais de 10000 km2 favorece a transferência das águas fluviais das serras, que
corrobora com as assinaturas isotópicas encontradas.
As águas coletadas no setor Norte e Central apresentaram características de corpos
d’agua que sofrem evaporação e não recebe contribuição de águas subterrânea como mostram os
valores de excesso de deutério negativo. Essa alta evaporação se deve á Formação Bebedouro,
sotoposta aos lagos e lagoas que apresenta em sua composição geológica conglomerados
impermeáveis. A renovação de água para essas lagoas se deve por fluxos fluviais do Rio Santo
Antônio, e por precipitação. No Sul, além do represamento de todos os fluxos fluviais, existe um
componente de água subterrânea que mantém o aspecto pantanoso em épocas de seca.
84

A granulometria apresentou trechos de incremento de material muito fino, indicando


aumento da sedimentação ocasionado pelas variações hidrológicas locais. O regime de vazão
coincidiu com os picos de deposição de lama no testemunho, que representou o aumento na
chegada de matéria orgânica associado ao garimpo mecanizado nas proximidades de onde o
testemunho de sedimento foi coletado Os picos de influência da matéria orgânica ocorreram de
forma semelhante ao aumento da sedimentação, quanto maior o teor de lama maior as
porcentagens de N e COT. A relação C/N do perfil de sedimento indicou duas prováveis fontes
de matéria orgânica, provenientes de algas lacustres e plantas terrestres.
Na base do testemunho os valores de δ13C se mantiveram em torno de -26‰, valor
correspondente à predominância de plantas arbóreas que seguem o ciclo fotossintético C 3. Do
topo do testemunho até 12 cm de profundidade representa outro evento estratigráfico, indicando
perturbações dos dados isotópicos que certamente foram provocados pelo desmatamento no
entorno do Pantanal para a extração de diamantes por lavra mecanizada e criação de pastos. De
um modo geral, as plantas C3 dominam a área de estudo, exceto nas perturbações causadas nas
camadas superficiais do testemunho.

5.1 INDICAÇÃO DE TRABALHOS FUTUROS


Em particular, são necessários mais estudos isotópicos e geomorfológicos para
construir uma imagem completa da formação dessa área úmida no sertão baiano e contribuir para
o desenvolvimento de práticas locais de gestão sustentável que protegerão este valioso habitat
para as gerações futuras. Pesquisas adicionais são necessárias para determinar as características
sedimentológicas e deposicionais recentes, correlacioná-las com a atividade antropogênica na
região e determinar as contribuições das águas superficiais e subterrâneas que abastecem os
Marimbus. Este documento ajudará a orientar os esforços de pesquisa futuros. Assim, os
trabalhos posteriores devem (I) Determinar as taxas de sedimentação em três testemunhos de um
210
metro, utilizando o método combinado de Pb/137Cs, e compará-los com os registros históricos da
mineração de diamantes; (II) Determinar as idades das árvores mortas em torno do Pantanal dos
14
Marimbus, utilizando C, e rionar esses eventos com a evolução desse complexo sistema de áreas
úmidas; (III) Realizar uma avaliação espaço-temporal das análises isotópicas e hidrogeoquímicas das
águas superficiais e subterrâneas que compõem o Pantanal dos Marimbus e o médio curso do Rio
Paraguaçu (Poço Azul e Poço Encantado) ; (IV) Determinar a espessura e as zonas de contato do
carbonato da formação Salitre e os diamictitos da Formação Bebedouro com as coberturas colúvio-
aluvionares superficiais com o uso do GPR (Ground Penetrating Radar).
85

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APÊNDICE A – Tabela com dados isotópicos das águas superficiais

Amostra δ2H(‰) Amostra δ18O(‰) Excesso de Deutério


MB1 -3,4 MB1 -0,32 -0,9
MB2 9,0 MB2 3,00 -15,0
MB3 8,7 MB3 3,31 -17,7
MB4 -21,1 MB4 -2,16 -3,9
MB5 -7,4 MB5 0,24 -9,4
MB6 -11,6 MB6 1,15 -20,8
MB7 -11,3 MB7 -2,17 6,1
MB8 -8,7 MB8 -2,39 10,4
MB9 -5,5 MB9 -2,53 14,8
MB10 -8,9 MB10 -2,32 9,6
MB11 -8,6 MB11 -2,22 9,2
MB12 -7,6 MB12 -2,30 10,8
MB13 -8,0 MB13 -2,19 9,6
MB14 -8,6 MB14 -2,63 12,4
MB15 -8,1 MB15 -2,35 10,7
MB16 -9,3 MB16 -2,16 7,9
MB17 -11,9 MB17 -2,44 7,6
MB18 -8,2 MB18 -2,54 12,1
MB19 -9,7 MB19 -3,13 15,3
MB20 -7,2 MB20 -2,96 16,5
92

APÊNDICE B – Tabela com dados isotópicos das do testemunho de


sedimento e origem da matéria orgânica
Profundidade
(cm) δ13C (‰) COT (%) δ15N (‰) N (%) C/N
0,5 -26,16 1,81 3,62 0,19 9,66
1,5 -26,36 1,59 4,01 0,13 12,39
2,5 -26,79 1,19 3,78 0,12 10,06
3,5 -25,26 0,61 2,88 0,10 6,17
4,5 -24,59 0,56 2,35 0,10 5,87
5,5 -24,81 0,53 2,63 0,09 5,83
6,5 -24,53 0,55 2,61 0,09 5,83
7,5 -24,14 0,52 2,55 0,09 5,71
8,5 -24,81 0,56 3,31 0,09 6,32
9,5 -18,95 0,53 3,28 0,09 5,81
10,5 -21,66 0,51 3,16 0,09 5,90
11,5 -24,25 0,59 2,31 0,09 6,33
12,5 -26,02 1,28 2,64 0,12 10,90
13,5 -25,33 1,02 3,03 0,13 7,69
14,5 -25,72 1,22 3,62 0,16 7,85
15,5 -26,57 1,47 3,70 0,17 8,68
16,5 -26,21 1,51 3,33 0,18 8,65
17,5 -26,27 1,85 3,47 0,19 9,78
18,5 -24,82 1,95 3,61 0,21 9,37
19,5 -26,37 2,29 4,02 0,22 10,45
20,5 -26,42 2,52 3,91 0,24 10,47
21,5 -26,38 2,42 4,12 0,24 10,17
22,5 -26,32 3,28 4,00 0,27 12,27
23,5 -26,39 3,66 3,92 0,29 12,80
24,5 -26,37 3,27 4,15 0,26 12,53
25,5 -26,23 3,70 4,00 0,27 13,51
26,5 -26,43 3,68 4,15 0,28 13,08
27,5 -26,15 2,94 4,21 0,23 12,91
28,5 -26,42 3,41 3,92 0,25 13,60
29,5 -26,42 2,46 4,20 0,21 11,94
30,5 -26,44 1,44 3,75 0,13 11,21
31,5 -25,89 0,73 3,41 0,09 7,89
32,5 -25,35 0,64 3,63 0,09 7,01
33,5 -26,32 1,04 3,72 0,10 10,70
34,5 -25,91 0,76 2,71 0,09 8,73
93

APÊNDICE C – Relação entre carga de material em suspensão, cota


e vazão líquida para cada dia medido – Estação Fertém
Código da Concentração Material em
Data Cota (cm) Vazão (m³/s)
Estação Suspensão (g/L)

51190000 16/12/1991 105 20,79999924 7,23


51190000 05/08/1992 106 22,89999962 7,51
51190000 18/11/1992 75 9,760000229 6,68
51190000 25/03/1993 51 3,779999971 33,17
51190000 31/08/1993 51 3,809999943 26,98
51190000 11/11/1993 43 1,970000029 24,22
51190000 18/02/1994 45 2,269999981 29,48
51190000 26/05/1994 79 12,10000038 51,83
51190000 03/08/1994 92 17,20000076 26,38
51190000 17/10/1994 46 2,430000067 66,87
51190000 12/04/1995 59 6,809999943 45,34
51190000 20/07/1995 110 25 45,84
51190000 17/10/1995 38 1,210000038 43,33
51190000 20/02/1996 41 2,5 76,01
51190000 23/04/1996 45 2,930000067 33,29
51190000 23/07/1996 49 3,5 25,99
51190000 12/10/1996 68 8,090000153 25,06
51190000 10/11/1996 47 2,779999971 22,14
51190000 19/06/1997 114 20,20000076 3,29
51190000 09/09/1997 66 4,989999771 6,08
51190000 14/11/1997 60 4,059999943 4,19
51190000 18/02/1998 129 34,5 9,79
51190000 31/08/1998 43 1,909999967 3,44
51190000 25/02/1999 118 24,10000038 10,86
51190000 29/05/1999 87 12 4,5
51190000 03/09/1999 130 31,10000038 13,47
51190000 11/07/2000 122 27,20000076 7,69
51190000 05/12/2000 76 9,470000267 126,51
51190000 25/01/2001 89 12,77999973 3,81
51190000 13/06/2001 110 20,44000053 1,96
51190000 19/09/2001 71 7,602000237 4,12
51190000 11/12/2001 115 24,33799934 6,06
94

51190000 30/01/2002 145 36 9,4


51190000 01/05/2002 82 10,90600014 3,33
51190000 06/08/2002 70 6,263999939 4,08
51190000 22/10/2002 57 3,338999987 2,87
51190000 03/02/2003 155 34,46300125 9,1
51190000 05/07/2003 80 9,809000015 5,3
51190000 31/10/2003 50 2,476999998 38,62
51190000 02/08/2004 67 6,510000229 8,99
51190000 16/10/2004 44 1,748999953 4,49
51190000 15/06/2005 160 48,90000153 8,13
51190000 17/09/2005 74 9,329999924 5,95
51190000 14/10/2006 66 5,559999943 4,84
51190000 16/07/2007 128 28,28100014 2,66
51190000 17/11/2007 48 2,003000021 19,88
51190000 01/07/2008 108 19,92700005 7,57
51190000 14/10/2008 55 2,717999935 6,15
51190000 18/05/2009 108 20,3409996 11,41
51190000 17/03/2010 58 3,930000067 2,92
51190000 21/09/2010 57 2,980000019 2,7
51190000 15/08/2011 77 7,952499866 7,79
51190000 14/11/2011 167 43,2140007 7,18
51190000 26/03/2012 39 1,44630003 6,1
51190000 03/08/2012 59 2,30979991 116,4
51190000 22/11/2012 62 5,959899902 54
51190000 08/03/2013 39 1,671900034 75,3
51190000 15/07/2013 85 10,17770004 37,1
51190000 08/10/2013 53 2,495500088 58,1
51190000 02/06/2014 82 7,837800026 2,7
51190000 15/12/2014 158,5 38,83869934 24,5
51190000 09/10/2015 43 1,577999949 2,2
51190000 18/03/2016 64 3,461999893 5,2
51190000 04/08/2016 44 1,519999981 2,2
95

APÊNDICE D – Tabela com dados granulométricos (%) acumulado

Areia grossa Areia média Areia fina Areia muito


Amostra Finos (%)
(%) (%) (%) fina (%)
MB35 5,26 37,11 55,73 77,04 100,00
MB34 4,09 31,91 52,66 72,99 100,00
MB33 11,10 54,89 69,77 79,59 100,00
MB32 8,01 45,61 63,96 72,19 100,00
MB31 2,56 23,49 43,50 55,34 100,00
MB30 0,83 6,66 18,86 34,36 100,00
MB29 0,70 6,04 13,67 27,45 100,00
MB28 0,59 4,60 14,60 26,63 100,00
MB27 1,12 4,63 11,91 21,98 100,00
MB26 0,74 5,44 13,04 23,27 100,00
MB25 0,81 11,84 19,94 31,21 100,00
MB24 0,82 6,42 16,28 29,80 100,00
MB23 0,74 6,21 24,38 40,30 100,00
MB22 0,45 7,16 26,06 43,19 100,00
MB21 0,24 3,83 23,44 43,78 100,00
MB20 0,35 14,25 36,86 48,66 100,00
MB19 0,57 20,21 46,36 58,14 100,00
MB18 0,68 10,82 46,80 67,76 100,00
MB17 1,54 12,47 57,48 77,08 100,00
MB16 0,60 28,59 66,60 80,45 100,00
MB15 0,28 10,62 60,76 84,93 100,00
MB14 0,33 25,63 70,05 87,26 100,00
MB13 0,79 45,71 75,47 90,44 100,00
MB12 0,22 36,10 83,01 95,65 100,00
MB11 0,68 49,25 87,35 95,24 100,00
MB10 1,36 47,15 85,47 96,62 100,00
MB9 2,38 41,03 88,28 98,90 100,00
MB8 2,37 55,30 89,77 97,58 100,00
MB7 2,80 47,45 89,07 95,93 100,00
MB6 3,22 42,20 85,74 94,88 100,00
MB5 3,04 44,71 87,96 94,84 100,00
MB4 4,17 48,24 83,96 89,41 100,00
MB3 0,95 26,31 41,59 48,81 100,00
MB2 1,80 15,69 32,82 43,64 100,00
MB1 3,99 20,83 36,96 48,01 100,00
96

APÊNDICE E – Vazões médias no Rio Santo Antônio

Ano Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média
Anual
1948 32,8 15,3 48,1 27,4 21,2 43,5 62,5 28,4 20,3 11,9 5,7 177,0 41,2
1949 33,9 18,6 9,2 30,6 21,7 33,9 18,3 8,6 10,4 14,0 59,4 90,0 29,1
1950 26,3 15,1 43,2 21,5 16,6 17,7 8,0 11,2 25,3 27,0 21,2
1951 43,3 37,9 47,1 10,8 7,4 4,6 3,2 22,0
1952 24,1 7,8 12,3 48,4 138,0 46,1
1953 -
1954 -
1955 22,2 40,4 19,0 17,7 32,9 25,3 10,9 9,6 83,9 80,6 34,3
1956 36,1 45,0 69,7 31,9 18,5 25,9 25,0 13,7 22,3 140,0 82,3 46,4
1957 66,4 72,9 257,0 132,0 81,1 47,3 64,9 38,4 30,0 25,9 23,1 35,9 72,9
1958 66,1 81,2 51,2 46,6 41,1 29,4 35,3 21,9 16,2 39,7 52,8 28,6 42,5
1959 61,3 23,6 24,4 16,0 11,8 14,7 32,3 16,2 10,5 9,1 25,7 10,8 21,4
1960 75,3 120,0 217,0 130,0 52,9 54,9 42,6 33,3 30,2 16,7 26,5 37,6 69,8
1961 30,5 21,8 23,1 11,1 23,5 58,5 8,0 25,2
1962 20,1 14,2 19,8 26,9 16,2 15,9 14,5 13,3 8,6 5,3 12,4 51,9 18,3
1963 31,3 13,3 17,4 31,5 7,4 8,5 11,2 4,7 3,3 25,1 47,9 18,3
1964 192,0 166,0 69,4 75,7 67,7 30,7 23,4 28,3 23,0 19,7 55,0 82,1 69,4
1965 18,3 10,7 6,6 82,2 26,1 26,3 34,2 27,1 13,4 32,9 31,2 14,8 27,0
1966 13,2 91,8 66,2 100,0 30,4 22,1 48,1 16,6 9,9 10,0 32,9 82,6 43,7
1967 22,7 13,1 14,3 35,8 19,4 19,2 21,7 9,6 12,6 16,3 76,4 109,0 30,8
1968 56,3 83,5 95,6 55,7 21,2 17,6 23,6 10,2 7,6 23,0 76,6 65,2 44,7
1969 25,1 104,0 136,0 46,6 46,9 35,8 23,5 18,3 11,2 8,7 7,5 117,0 48,4
1970 131,0 62,7 70,6 38,7 33,9 50,0 47,6 30,8 9,9 18,4 87,2 50,2 52,6
1971 11,9 8,2 5,7 14,0 7,2 13,0 41,7 12,2 13,6 12,2 73,7 15,8 19,1
1972 23,0 15,7 15,5 13,9 9,2 37,3 19,9 11,9 21,4 15,0 5,6 102,0 24,2
1973 40,2 14,5 39,1 31,3 15,0 35,0 36,1 11,0 8,1 35,8 31,9 34,4 27,7
1974 65,2 135,0 57,5 89,1 57,9 30,0 19,8 18,2 27,0 108,0 102,0 64,5
1975 61,1 57,4 41,6 89,8 24,8 15,2 36,1 27,5 21,9 15,6 31,8 30,6 37,8
1976 12,1 67,7 22,8 13,9 16,7 10,1 9,9 7,8 5,2 77,6 93,8 56,1 32,8
1977 38,1 66,1 19,9 14,8 20,9 23,4 26,7 9,2 14,0 73,5 26,1 91,1 35,3
1978 86,8 198,0 116,0 154,0 63,2 57,0 40,8 47,4 25,7 31,7 39,1 74,5 77,9
1979 114,0 133,0 57,2 32,6 33,2 22,9 19,1 13,6 9,1 13,5 22,4 31,1 41,8
1980 62,5 194,1 69,5 24,7 27,9 23,7 24,5 19,2 11,4 11,8 33,1 85,3 49,0
1981 17,9 16,2 158,9 107,6 64,9 33,4 23,3 15,0 10,0 9,6 36,7 10,3 42,0
1982 16,1 25,8 43,2 25,7 16,2 12,9 11,8 12,0 9,5 13,2 6,1 13,7 17,2
1983 20,9 84,2 17,4 33,9 23,4 10,9 12,9 7,3 4,7 11,6 21,3 38,2 23,9
1984 8,7 4,2 8,1 68,7 50,6 12,3 15,6 14,5 35,7 12,1 13,4 13,7 21,5
1985 81,7 43,7 49,4 54,9 40,2 31,4 16,3 29,6 11,3 16,0 37,4 150,9 46,9
1986 52,9 18,3 13,9 16,3 11,1 8,8 6,8 7,4 8,1 10,9 20,1 22,4 16,4
1987 9,3 8,9 48,3 52,3 34,8 8,3 7,6 4,2 3,0 2,3 7,2 21,0 17,3
1988 41,0 3,5 66,2 42,3 17,9 9,2 13,6 8,4 4,8 6,8 10,7 56,7 23,4
1989 7,3 5,9 9,9 23,9 10,2 11,9 8,6 5,8 5,8 11,4 50,4 207,9 29,9
97

1990 64,2 23,7 18,0 7,0 5,7 7,3 7,1 5,9 7,2 22,9 16,2 43,5 19,0
1991 32,5 10,0 19,9 21,7 7,9 35,3 18,8 10,8 8,1 3,4 85,8 35,9 24,2
1992 92,3 273,5 40,8 32,4 14,8 36,7 35,3 17,8 13,2 6,7 29,3 87,6 56,7
1993 42,6 13,1 4,7 3,0 3,8 5,8 5,0 4,7 10,3
1994 -
1995 3,6 1,8 10,8 45,8 15,5
1996 22,0 7,0 4,9 13,7 40,4 24,9 18,8
1997 66,4 51,4 197,4 123,3 53,7 28,9 26,1 12,1 6,6 5,7 6,7 10,6 49,1
1998 26,8 25,7 7,2 2,5 2,7 4,8 5,7 3,3 1,7 1,5 23,8 12,8 9,9
1999 8,2 10,7 8,3 19,5 11,6 19,5 18,0 18,1 55,6 77,6 24,7
2000 55,8 24,0 42,6 27,7 23,0 22,4 12,1 7,3 3,4 28,7 66,8 28,5
2001 17,6 4,5 13,5 16,5 10,5 14,6 10,5 15,9 17,6 14,9 4,4 21,3 13,5
2002 110,0 61,9 12,1 11,7 12,4 11,0 14,4 9,7 11,5 9,2 7,9 11,0 23,6
2003 24,2 21,4 21,5 13,2 14,4 28,6 10,9 15,1 11,7 3,2 12,6 2,1 14,9
2004 75,5 36,6 20,8 14,4 15,1 4,0 1,9 2,7 34,7 21,8 22,8
2005 17,4 64,3 35,5 63,2 33,0 10,6 3,2 15,8 37,7 31,2
2006 9,4 19,3 10,2 5,6 16,9 63,3 20,4 20,7
2007 57,7 19,2 12,8 13,4 10,5 4,2 10,3 18,3
2008 2,9 5,6 19,6 60,0 18,0 16,1 19,0 8,7 6,6 3,4 8,6 37,3 17,2
2009 34,8 9,8 10,4 61,3 24,6 18,2 9,9 6,2 21,3 25,2 8,6 20,9
2010 14,7 4,7 7,9 36,9 5,4 15,1 6,2 4,8 14,6 45,2 15,6
2011 22,4 20,3 47,0 28,5 32,1 10,3 10,8 12,2 4,5 8,4 43,4 20,9 21,7
2012 6,2 12,7 2,3 0,5 2,5 10,7 7,3 3,7 2,6 16,9 2,2 6,1
2013 14,6 6,1 1,8 3,7 3,8 10,7 13,6 10,2 11,1 3,8 5,9 92,1 14,8
2014 15,2 21,6 24,6 38,3 22,5 10,3 9,0 6,5 3,3 2,4 40,8 17,7
Média
Mensal
(65 41,3 48,0 49,7 42,9 27,3 22,2 23,1 14,9 11,1 15,0 35,8 53,7 31,1
anos)
98

APÊNDICE F – Gráficos de cotas (cm) médias mensais entre os anos


de 1948-2015, comparada com a média histórica da série.
99
100
101
102
103
104

ANEXO A – Planilha de avaliação granulométrica utilizada para o testemunho


UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Instituto de Geociências/Laboratório de Estudos Costeiros
Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Geofísica e Geologia
Rua Caetano Moura, 123 - Federação - CEP. 40.210-340 Salvador-Bahia

Local : N° da amostra :
Area : Profundidade :
Tempo de peneiramento : 10 Minutos P. Amostra(g) : 0,00
Analista(s) :
Requisitado por: Data:
DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA DE 1 PHI
phi Mm P, Bruto Peso Vidro Mat. Retido % Retido % Acumulada
>(-2,00) > 4,000 0,00 0,00 0,00
-1,00 4,000 - 2,000 0,00 0,00 0,00
0,00 2,000 - 1,000 0,00 0,00 0,00
1,00 1,000 - 0,500 0,00 0,00 0,00
2,00 0,500 - 0,250 0,00 0,00 0,00
3,00 0,250 - 0,125 0,00 0,00 0,00
4,00 0,125 - 0,062 0,00 0,00 0,00
<4,00 < 0,062 0,00 0,00 0,00
CLASSIFICAÇÃO DOS GRÃOS
Classes P. Bruto P. Vidro Mat. Retido % Retido % Acumulada
Cascalho 0,00 0,00 0,00
Areia muito grossa 0,00 0,00 0,00
Areia grossa 0,00 0,00 0,00
Areia média 0,00 0,00 0,00
Areia fina 0,00 0,00 0,00
Areia muito fina 0,00 0,00 0,00
Lama 0,00 0,00 0,00

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