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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA-UFPB

CENTRO DE CIENCIAS EXATAS E DA NATUREZA-CCEN


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – PPGG

ALTEMAR AMARAL ROCHA

ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO VERRUGA


E OS PROCESSOS DA URBANIZAÇÃO DE VITÓRIA DA
CONQUISTA – BA

João Pessoa
Outubro de 2008.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA-UFPB
CENTRO DE CIENCIAS EXATAS E DA NATUREZA-CCEN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – PPGG

ALTEMAR AMARAL ROCHA

ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO VERRUGA E OS


PROCESSOS DA URBANIZAÇÃO DE VITÓRIA DA CONQUISTA – BA

Dissertação apresentada ao Curso do


Programa de Pós-Graduação em Geografia-
PPGG-CCEN da Universidade Federal da
Paraíba-UFPB, como requisito para a obtenção
do titulo de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Viana de Lima.

João Pessoa
Outubro de 2008.
R672a Rocha, Altemar Amaral.
Análise socioambiental da bacia do Rio
Verruga e os processos de urbanização de Vitória
da Conquista-BA / Altemar Amaral Rocha. – João
Pessoa, 2008.
179p. : il.
Dissertação (mestrado) – UFPB/CCEN
Orientador: Eduardo Viana de Lima
1. Urbanização – Vitória da Conquista(BA). 2.
Bacia do Rio Verruga – Análise socioambiental. 3.
Meio Ambiente – Sociedade.

UFPB/BC CDU: 711.4(043)


ALTEMAR AMARAL ROCHA

ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO VERRUGA E OS


PROCESSOS DA URBANIZAÇÃO DE VITÓRIA DA CONQUISTA – BA

BANCA EXAMINADORA
Dissertação para obtenção de grau de Mestre em Geografia

________________________________________________________

Dr. Eduardo Viana de Lima.


Universidade Federal da Paraíba-UFPB

________________________________________________________

Dr. Pedro Costa Guedes Viana.


Universidade Federal da Paraíba-UFPB

________________________________________________________
Dr. Elias Nunes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN

João Pessoa
Outubro de 2008.
Dedico aos meus pais, minha família e amigos.
AGRADECIMENTOS

Ao prof. Dr. Eduardo Viana de Lima, por ter me aceitado como orientando e pela
confiança na minha produção.

A minha família pela confiança e compreensão, principalmente nos períodos de


aulas com as longas viagens entre Vitória da Conquista e João Pessoa.

Ao Prof. Dr. Pedro Costa Guedes Vianna, pela colaboração teórica e metodológica
para o desenvolvimento da dissertação.

Aos professores que contribuíram com os conteúdos nos programas das disciplinas
ministradas. Profª. Drª Emilia de Rodat, Profª. Drª Fátima Rodrigues, Profª. Drª
Alexandrina Luz, Profª. Drª Doralice Satiro Maia, Profª. Drª Dirce M. Suertegaray,
prof. Dr. Roberto Verdum.

Aos colegas do grupo de estudo do mestrado que compartilharam o conhecimento e


o cotidiano do curso.
ROCHA, Altemar Amaral. Análise socioambiental da bacia do Rio Verruga e os
processos de urbanização de Vitória da Conquista-Ba, nesse contexto. 2008. 173 f.
Dissertação (Mestrado em Geografia) Centro de Ciências Exatas e da Natureza-
CCEN, Universidade Federal da Paraíba-UFPB, João Pessoa, 2008.

RESUMO

Nesta pesquisa, realizou-se a análise socioambiental da bacia hidrográfica do Rio


Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista-BA, com o objetivo
de diagnosticar os fatores que atuam na degradação ambiental e provocam
desequilíbrios na paisagem da área estudada. A metodologia da pesquisa baseou-
se na articulação da epistemologia materialista e do pensamento critico com a
questão ambiental, que conduz ao estudo das relações de interdependência
existentes entre os componentes do meio natural e da sociedade, associando-se o
método cartográfico com base em técnicas de geoprocessamento que possibilitou
um detalhamento das análises diagnosticadas. Foi trabalhado o conceito de espaço
geográfico do ponto de vista da epistemologia e da ontologia, pautados no
conhecimento do território na gestão dos recursos hídricos. Alem disso, realizou-se
uma reflexão sobre o espaço urbano e a urbanização. A discussão dos conceitos e
idéias está permeada pela lógica da contradição contida na relação sociedade-
natureza. Um conceito chave adotado foi o de produção do espaço e sua
sistematização no pensamento geográfico, para compreender as formações sócio-
espaciais advindas do processo de urbanização e sua classificação como categoria
essencial na compreensão da dinâmica dos processos de apropriação e uso da
natureza alocada na bacia hidrográfica. Os resultados dessa pesquisa evidenciam
uma problemática ambiental na bacia do Rio Verruga, com uma diversidade de fatos
no contexto da degradação. Percebe-se que os corpos d’água da bacia, funcionam
como receptáculos de águas residuárias, perdendo a sua capacidade de
potabilidade em boa parte dos trechos da bacia, principalmente na área urbana de
Vitória da Conquista-Ba, outra questão é o desmatamento da cobertura vegetal
natural com cerca de 93% do total da área da bacia desmatado, dando lugar a
grandes áreas de pastagens extensiva e agricultura. Com base no mapeamento de
uso do solo, constatou-se que há uma ocupação concentrada nas áreas próximas às
principais nascentes da bacia, sobretudo pela expansão urbana de Vitória da
Conquista. O mapeamento do estado geoambiental da bacia, revelou que existe
áreas de preservação implantadas, mas é necessário ampliar essas áreas com a
incorporação de pontos frágeis da bacia ao grupo das áreas preservadas. As
conclusões desse estudo, revela que é preciso intensificar as políticas publicas para
a preservação ambiental da bacia e melhoria da qualidade das águas pela
diminuição dos poluentes nos corpos d’água. Aponta a necessidade de ampliar os
esforços de mediação da relação sociedade-natureza para diminuição dos
problemas ambientais identificados.

Palavras-chave: Sociedade-Natureza; Produção do Espaço; Ambiente


urbano; Bacias hidrográficas; Rio Verruga; Vitória da Conquista.
ROCHA, Altemar Amaral. Analysis partner-environmental of River Verruga basin
and the processes of urbanization of Vitória of the Conquista-BA, in that context.
2008. 173 f. Dissertation (Master's degree in Geography) Center of exact sciences
and of the Nature-CCEN, Federal University of the Paraíba-UFPB, João Pessoa,
2008.

ABSTRACT

In this research, took place the analysis partner-environmental of River Wart's basin
hydrographic and the processes of the urbanization of Vitória of the Conquista-BA,
with the objective of diagnosing the factors that act in the environmental degradation
and they provoke unbalances in the landscape of the studied area. The methodology
of the research based on the articulation of the materialistic epystemology and of the
thought I criticize with the environmental subject, that leads to the study of the
existent interdependence relationships among the components of the natural way
and of the society, associating the cartographic method with base in techniques of
GIS that made possible a detailment of the diagnosed analyses. It was worked the
concept of geographical space of the point of view of the epystemology and of the
ontology, ruled in the knowledge of the territory in the management of the resources
hydrics. Besides, took place a reflection about the urban space and the urbanization.
The discussion of the concepts and ideas are permeated by the logic of the
contradiction contained in the relationship society-nature. An adopted key concept
was the one of production of the space and your systematized in the geographical
thought, to understand the formations partner-space comings of the urbanization
process and your classification as essential category in the understanding of the
dynamics of the appropriation processes and use of the nature allocated in the basin
hydrographic. The results of that research evidence an environmental problem in Rio
Wart's basin, with a diversity of facts in the context of the degradation. It is noticed
that the bodies of water of the basin, work as receivers of waters residuárias, losing
your potabilidade capacity in good part of the spaces of the basin, mainly in the
urban area of Vitória of the Conquista-BA, other subject is the deforestation of the
natural vegetable covering with about 93% of the total of the area of the basin
deforested, giving place to great areas of pastures extensive and agriculture. With
base in the mapped of use of the soil, it was verified that there is a concentrated
occupation in the close areas to the principal East of the basin, above all for the
urban expansion of Vitória of the Conquista. The mapped of the state geoambiental
of the basin, revealed that exists preservation areas implanted, but it is necessary to
enlarge those areas with the incorporation of fragile points of the basin to the group
of the preserved areas. The conclusions of that study, he/she reveals that is
necessary to intensify the politics you publish for the environmental preservation of
the basin and improvement of the quality of the waters for the decrease of the
pollutant ones in the bodies of water. it Points the need to enlarge the efforts of
mediation of the relationship society-nature for decrease of the identified
environmental problems.

Word-key: Society-nature; Production of the Space; Adapt urban; Basins


hydrographic; River Verruga; Vitória da Conquista.
LISTA DE FIGURAS

01 Mapa da Vila Imperial Victória de 1840..................................................... 44

02 Mapa da origem e evolução territorial de Vitória da Conquista ................ 46


03 Mapa da Expansão urbana no entorno do Rio Verruga entre 1840 e
1940........................................................................................................... 48
04 Mapa de retilinização do Rio Verruga entre 1940 a 2000.......................... 48
05 Mapa de uso e ocupação do solo urbano de Vitória da Conquista- 54
BA.............................................................................................................
06 Esquema interpretativo do Planejamento Ambiental e Geoplanejamento
urbano em bacias hidrográficas................................................................. 77
07 Carta Imagem da bacia hidrográfica do Rio Verruga e Seu 82
Posicionamento de drenagem ..................................................................
08 Mapa dos limites intermunicipais da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga. 83
09 Mapa de Geologia da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga................................... 85
10 Perfil longitudinal e esboço geológico-geomorfologico do Rio Verruga 89
11 Mapa do relevo sombreado por imagem................................................... 90
12 Mapa geomorfológico da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga.................... 91
13 Mapa de Solos da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga.............................. 92
14 Mapa da tipologia climática da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga........... 93
15 Balanço hídrico e armazenamento d’água da Bacia Hidrográfica do Rio
Verruga trecho do Planalto da Conquista.................................................. 94
16 Gráficos do percentual de cobertura vegetal e do desmatamento............ 95
17 Mapa de Vegetação Nativa da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga. ......... 96
18 Mapa do estágio atual da cobertura vegetal na Bacia Hidrográfica do
Rio Verruga................................................................................................ 96
19 Mapa de uso do Solo e Cobertura Vegetal na Bacia Hidrográfica do rio
Verruga...................................................................................................... 100
20 Percentual por tipo de uso e ocupação do solo na bacia.......................... 101
21 Mapa da cobertura Vegetal urbana no Alto Rio Verruga........................... 103
22 Mapa de uso e ocupação urbana no Alto Rio Verruga. ............................ 105
23 Mapa de uso e ocupação na nascente do rio Verruga – Reserva do
Poço Escuro............................................................................................... 106
24 Carta imagem da transposição de águas interbacias 109
25 Ilustração do sistema de transferência de águas entre a bacia do riacho 110
Água fria e a bacia do Rio Verruga
26 Perfil longitudinal do sistema de transposição de águas para o 111
abastecimento humano em Vitória da Conquista-BA
27 Carta imagem com os pontos de coleta de água para análise 114
28 Análise físico-química das águas da Bacia do Rio Verruga 116
29 Análise bacteriológica das águas da Bacia do Rio Verruga 118
30 Principais tipos de uso da água na bacia do Rio Verruga 119
31 Fotos com múltiplos usos da água: lavagem de roupas e utensílios 123
domésticos, nascente do rio verruga área urbana de Vitória da
Conquista – BA
32 Fotos da problemática ambiental decorrente dos processos de uso e 127
ocupação na bacia do Rio Verruga
33 Mapa de unidades ecodinâmicas e grau de fragilidade da Bacia do Rio 129
Verruga
34 Mapa de unidades ecodinâmicas e grau de fragilidade do Alto Rio 131
Verruga
35 Fotos de processos erosivos nas margens do anel rodoviário, espaço 133
urbano de Vitória da Conquista-BA
36 Fotos da macrodrenagem urbana de Vitória da Conquista-BA com 135
canalização aberta revestida em pedra, convergindo para o Rio
Verruga.
37 Fotos com acumulo de lixo na nascente do Rio Verruga-Reserva do 136
Poço Escuro e despejo de esgoto in-natura na Lagoa das Bateias
38 Mapa de uso e ocupação do entorno da estação de tratamento de 137
esgoto da embasa e sua estrutura de funcionamento
39 Fotos da estação de tratamento da Embasa margem esquerda do Rio 138
Verruga; ao fundo barreira com eucaliptos contra o odor dos efluentes.
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍGLAS
ANA - Agência Nacional de Água
BA - Bahia
CAD - Computed Aided Design
CAM - Computed Aided Manufactured
CAR - Companhia de Ação Regional
CEEIBH - Comitê Especial de Estudos Integrados De Bacias Hidrográficas
CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente
CRA - Centro de Recursos Ambientais da Bahia
CPT - Comissão Pastoral da Terra
DBO - Demanda Bioquímica de oxigênio
DQO - Demanda Química de Oxigênio
Embasa - Empresa Baiana de Saneamento e Abastecimento
ETE - Estação de Tratamento de Esgoto
GPS - Global Position Sistems
Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INMET - Instituto Nacional de Meteorologia
LAMC - Lagoa aerada de mistura completa
LAF - Lagoa aerada facultativa
LCA - Laboratório de Controle e Qualidade de Água
LM - Lagoa de Maturação
MMA - Ministério do Meio Ambiente
MNT - Modelo Numérico de Terreno
MS - Ministério da Saúde
ONU - Organização das Nações Unidas
NPM - Número mais provável
PDU - Plano Diretor Urbano
PNUD - Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento
SIG - Sistema de Informação Geográfica
SRH - Secretaria de Recursos Hídricos
UESB - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Unesco - Organização Educacional, Social e Cultural das Nações Unidas.
UTM - Universal Transversa de Mercator
VMP - Valor máximo permitido
WWC - Conselho Mundial da Água
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 16

PARTE I: OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA ANÁLISE


SOCIOAMBIENTAL.............................................................................................
22

2. SOCIEDADE E NATUREZA: DE E CONTRADIÇÃO DAS RELAÇÕES 23


2.1. A articulação das ciências na relação sociedade natureza. ................ 23
2.2. Unidade e contradição das relações sócioambientais e a produção
do espaço geográfico. ............................................................................. 31
2.3. A produção do espaço, a produção e a diversificação da natureza e
do território. ........................................................................... 35

3. A DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL NO URBANO. ...................................... 38


3.1. Pressupostos do diagnóstico sócioambiental em área urbana.............. 39
3.2. A produção do espaço e paisagem no mundo rural e urbano............... 41
3.3. A Formação sócio-espacial de Vitória da Conquista no contexto da
urbanização.................................................................................................. 43
3.4. Uso e ocupação do solo urbano em bacias hidrográficas ...................... 50

4. A DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS ......... 56


4.1. A bacia hidrográfica como unidade de gestão da água........................... 56
4.2. A contigüidade territorial da bacia hidrográfica e seu desempenho
como unidade integradora.......................................................................... 57
4.3. O embate das questões sociais e ambientais em bacias hidrográficas 58
4.4. A gestão da água: uma questão de democracia e de
solidariedade................................................................................................ 64

PARTE II – O GEOPROCESSAMENTO NA ANALISE SOCIOAMBIENTAL.....


67
5. APLICAÇÃO DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS NA 68
ANÁLISE SÓCIO AMBIENTAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS........
5.1 O Geoprocessamento no estudo geoambiental....................................... 68
5.2 Geoprocessamento e planejamento ambiental em bacias
hidrográficas ............................................................................................... 75
5.3 Procedimentos metodológicos da pesquisa e os requisitos para o
mapeamento temático da bacia 78

6. MAPEAMENTO DA ESTRUTURA GEOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO


VERRUGA...................................................................................................... 82
6.1. Apresentando a bacia do rio Verruga........................................................ 82
6.2. Caracterização geoambiental da Bacia do Rio Verruga. ......................... 84
6.3. Cobertura vegetal na área da Bacia do rio Verruga. ................................ 95

PARTE III – ANALISE SOCIOAMBIENTAL NA BACIA DO RIO VERRUGA


97
7. A PROBEMÁTICA AMBIENTAL NA BACIA DO RIO VERRUGA ............... 99
7.1. Uso do solo na bacia do rio Verruga uma base para o prognóstico
geoambiental................................................................................................ 99
7.2. Mapeamento da Ocupação urbana, áreas de preservação e diferenças
sócio-espaciais na Bacia do Rio Verruga.................................................. 102
7.3. A transposição de águas interbacias para o abastecimento humano
em Vitória da Conquista-BA 108
7.4. Os múltiplos usos e a qualidade da água na bacia do rio
Verruga.......................................................................................................... 112

8. AVALIAÇÃO SOCIO-ESPACIAL DA BACIA DO RIO VERRUGA................ 122


8.1. Contradições sócio-espaciais e ocupação humana nas áreas de
nascentes, vales e fundos de vale da bacia do Rio Verruga................... 122
8.2. Condições da ocupação territorial e geoambiental na bacia do Rio
Verruga.......................................................................................................... 129
8.3. Emergência de uma nova perspectiva sócioambiental para a Bacia do
Rio Verruga................................................................................................... 140
9. CONCLUSÕES .................. ........................................................................... 145

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 149

11. GLOSSÁRIO .................................................................................................. 156

12. APÊNDICE..................................................................................................... 175

13. ANEXOS ........................................................................................................ 177


Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

1. INTRODUÇÃO

A ciência é um diálogo com a natureza. [...] A realidade


do devir é a condição sine qua non de nosso diálogo com
a natureza. (PRIGOGINE, 1996).

Nos últimos anos os recursos hídricos vêm sendo atingidos pelos impactos
ambientais causados, principalmente, pela interferência humana nas áreas das
bacias hidrográficas. A água é o elemento mais vital para o ser humano. Por existir
em grande quantidade, não é encarada com a importância que merecia. Sendo
assim, faz-se necessário destacar que os recursos hídricos são importantes para a
sobrevivência, não apenas do homem, mas também das espécies vegetais e
animais do planeta. A forma irracional como vem sendo utilizado este recurso, está
levando cada vez mais a se projetar sua escassez periódica ou até mesmo
permanente.
A partir dessa problemática tão evidente, procura-se realizar um estudo
referente à utilização dos recursos hídricos, com uma análise integrada da bacia,
buscando diagnosticar a degradação, os possíveis desequilíbrios ambientais na
bacia do Rio Verruga em Vitória da Conquista e a interferência urbana nas
nascentes e mananciais da bacia. Percebe-se assim que as contradições
sócioambientais “não se manifestam apenas no campo, mas principalmente no
ambiente urbano e como conseqüência direta da industrialização” (QUAINI, 2002).
Muitos tem sido o ponto de partida para a abordagem dos fatos físicos,
ecológicos e sociais, (Ab Saber, 2006), referentes aos problemas sócioambientais e
áreas urbanas e principalmente em bacias hidrográficas. Neste caso, o diagnóstico
Socioambiental, fundamentado nos processos interativos existentes na superfície
terrestre com a sociedade, abre um largo horizonte de possibilidades de pesquisa,
principalmente aquelas relacionadas com a identificação de parâmetros internos de
influência indireta, bem como, através do sequenciamento de padrões temporais e
espaciais.
Durante muito tempo, houve a pecha de monotoneidade e extensividade de
condições paisagísticas para o conjunto do espaço geográfico brasileiro (Ab’ Sáber,

16
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

2005). Principalmente pelas sutilidades, diferencialidades e fragilidades ambientais


apresentadas no território, especificamente, ambientes de bacias hidrográficas.
Neste sentido, esta pesquisa desponta como importante instrumento para análise do
quadro geoambiental e social, oferecendo subsídio, em escala local para o
planejamento urbano e rural, a curto, médio e longo prazo, relacionando-se com a
definição de estratégias de intervenção em problemas do meio físico e humano e em
programas de desenvolvimento local.
Nos últimos anos, o homem tem participado como agente acelerador dos
processos de desequilíbrios da paisagem, principalmente pelas atividades produtivas
diretamente desenvolvidas nas bacias hidrográficas. A escassez dos recursos
naturais e, especificamente dos recursos hídricos, gera problemas de ordem
econômica, política e social daí, a necessidade de um plano de desenvolvimento
sustentável e de gestão ambiental.
Por ser a água elemento fundamental nas formas de vida, tanto vegetal como
animal, abre-se espaço para discussão e denúncias de agressão ao meio ambiente
dando enfoque maior no que se refere aos recursos hídricos, pois, sendo um
“recurso” natural e renovável é apontado como um problema maior para gerações
futuras.
A pesquisa tem como objetivo geral analisar a problemática socioambiental da
bacia do Rio Verruga, diagnosticar os fatores que atuam na degradação ambiental e
provocam desequilíbrios na paisagem da área estudada analisando processos de
urbanização e os níveis da degradação ambiental da bacia pelo processo de
urbanização de Vitória da Conquista-BA.
Os objetivos específicos são: Caracterizar ambientalmente a área, levando
em consideração os fatores bióticos, abióticos e sociais; Identificar e Correlacionar
as atividades humanas que influenciam na degradação ambiental da bacia;
identificar os processos de urbanização que alteraram a dinâmica natural da bacia;
Mapear a área da bacia, os aspectos sócioambientais e os processos de
urbanização para o estudo integrado. Analisar o controle dos recursos hídricos e a
atuação do poder público na conservação dos fatores geoambientais no município
de Vitória da Conquista; Propor alternativas de solução aos problemas identificados
na pesquisa com a previsão de cenários ambientais da bacia.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

O diagnóstico ambiental do Rio Verruga em Vitória da Conquista - BA prevê


uma análise das características geoambientais tais como: uso do solo, cobertura
vegetal, estrutura geomorfológica e potencial hídrico; dos desequilíbrios da
degradação provocada pela ação humana.
Busca-se também analisar a qualidade da água principalmente nos
mananciais que abastece a cidade de Vitória da Conquista cuja população é de
308,485hab. (IBGE 2007) e encontra-se na porção central do Planalto de Conquista,
localizado à 14º 30’ S e, 41º ’ W. Vitória da Conquista está situada no divisor de
águas entre duas bacias leste do Brasil. Na porção Sul-Sudeste do município, a
drenagem é voltada para o Rio Pardo. Já na porção Norte-Nordeste, a drenagem
destina-se ao Rio de Contas. O Rio Verruga é afluente do Rio Pardo sendo que sua
bacia encontra-se quase totalmente no município de Vitória da Conquista-Ba.
Atualmente, o desmatamento, a poluição das águas com os despejos
sanitários, e industriais, faz com que acelere os impactos e desequilíbrios ambientais
do Rio. Neste caso, o estudo, seguiu-se de um diagnóstico das condições sócio-
ambientais da área, cujas medidas propostas são de caráter preventivo para o
controle da poluição das águas, da diminuição do desmatamento, principalmente
das matas ciliares e da cobertura vegetal dos mananciais.
A metodologia da pesquisa baseou-se na articulação da epistemologia
materialista e do pensamento critico com a questão ambiental, que conduz ao
estudo das relações de interdependência existentes entre os componentes do meio
natural e da sociedade, para se chegar ao conhecimento do seu funcionamento,
associando-se o método cartográfico com base em técnicas de geoprocessamento
que possibilitou um detalhamento das análises diagnosticadas.
Inicialmente, parte-se de uma reflexão sobre a realidade observada na Bacia
do Rio Verruga, buscando situar de forma adequada o tema a ser pesquisado. Num
segundo momento, foi realizada uma série de leituras de autores, que trabalham
com o conceito de espaço geográfico do ponto de vista da epistemologia e da
ontologia, autores que falam sobre a gestão do território e dos recursos hídricos e
autores que refletem sobrem o espaço urbano e a urbanização.
A discussão dos conceitos e idéias foi permeada pela lógica da contradição
contida na relação sociedade-natureza de modo que pudesse dar suporte à

18
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

pesquisa e alargar os horizontes de reflexão da análise socioambiental. Um conceito


chave adotado foi o de produção do espaço e sua sistematização no pensamento
geográfico. Foi trabalhado também autores para compreender as formações sócio-
espaciais advindas do processo de urbanização e sua classificação como categoria
essencial na compreensão da dinâmica dos processos de apropriação e uso da
natureza alocada em um dado território, especificamente numa bacia hidrográfica.
Paralelamente, foi feito uma busca acerca do processo de formação territorial
de Vitória da Conquista a partir das transformações sócio-espaciais ocorridas, para
desvendar o que aconteceu nas terras da Bacia do Rio Verruga e entender a atual
configuração espacial que compõe o seu território, principalmente transformações
que incidiram diretamente nos corpos d’água e no curso do rio principal da bacia
como é o caso da urbanização no alto rio Verruga. Foi feito também um
levantamento de dados e informações sobre os aspectos geoambientais da bacia,
com consultas em diversas fontes como textos, documentos e relatórios, dentre
outras.
Foi realizado leituras sobre a dimensão ambiental em bacias hidrográficas e
em áreas urbanas, procurando perceber o atual estágio de debate sobre o assunto.
Igualmente, um estudo da legislação ambiental brasileira e das Políticas de Gestão
dos Recursos Hídricos e do meio ambiente em escala local e nacional, pois sua
compreensão colocou-se como condição “sine qua non” para refletir sobre a
temática do trabalho.
Após essa base teórica e da coleta de informações em órgãos de gestão
ambiental tais como Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio
Ambiente (SRH/MMA), Agência Nacional de Águas (ANA), Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA), Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista (PMVC) e
órgãos de saneamento na Bacia do Rio Verruga dentre outros, foram intensificadas
as visitas a campo para checagem de informações, bem como a realização de
entrevistas, com roteiros previamente estruturados. Foram realizadas análises
bacteriológicas e físico-químicas dos corpos d’água para testar a qualidade e o grau
de poluição das águas da bacia. Foram igualmente consultados documentos e
relatórios capazes de trazer informações sobre o uso do solo e qualidade das águas
na Bacia do Rio Verruga. Posteriormente, consolidaram-se as análises sobre o tema

19
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

pesquisado com uma avaliação geoambiental da bacia e conclusões apresentadas.


Finalmente a dissertação do texto final da pesquisa e sua formatação, segundo as
normas de apresentação de trabalhos científicos vigentes.
A dissertação compreende três partes: a primeira parte refere-se aos
pressupostos teórico-metodólogicos da análise sócioambiental, com três capítulos;
no primeiro capitulo, discute-se a articulação da sociedade e natureza e as
contradições dessa relação, versando sobre essa articulação no pensamento
geográfico e sobre a produção do espaço geográfico e a diversificação da natureza
no território. O segundo capitulo, aborda a dimensão socioambiental no urbano com
base nos pressupostos teóricos da urbanização e da produção e reprodução
espacial, aborda a formação territorial de Vitória da Conquista do ponto de vista da
urbanização, seguindo para a análise da atual configuração territorial urbana com o
mapeamento do uso do solo urbano. No terceiro capitulo, foi abordada a dimensão
socioambiental em bacias hidrográficas, levando em consideração os aspectos de
unidade e gestão territorial e de gestão da água numa bacia.
Na segunda parte da dissertação, fundamenta-se teoricamente o
geoprocessamento na análise geoambiental, por meio da aplicação do sistema de
informações geográficas no estudo de bacias hidrográficas, associando-se com o
planejamento ambiental e com os procedimentos metodológicos aplicados no
mapeamento desenvolvido para a pesquisa. No quinto capitulo, apresenta-se o
mapeamento da estrutura geoambiental da bacia do Rio Verruga, com uma
caracterização fisiográfica e uma análise da cobertura vegetal e seu estágio atual.
Já na terceira parte, realiza-se uma análise socioambiental da bacia,
discutindo toda a problemática ambiental da área pelas condições de uso e
ocupação, mapeando as diferenças sócioespaciais urbanas que aparecem em
detrimento dos usos, apresenta as áreas de preservação e o estado geoambiental
da bacia. Analisa-se também a transposição de águas para o abastecimento
humano em Vitória da Conquista, os múltiplos usos e a qualidade das águas na
bacia. No último capítulo, foi realizada uma avaliação sócio-espacial da bacia,
apontando as contradições da ocupação humana principalmente em áreas próximas
às nascentes e mananciais seguidas por uma análise das condições territoriais e
ambientais resultantes da ocupação humana. Finalizando, foi traçado um quadro

20
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

teórico com perspectivas sócioambientais na aplicação de cenários das condições


ambientais em etapas distintas, em seguida são feitas as considerações sobre o
tema pesquisado e reflexões e recomendações para pesquisas posteriores.

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PARTE I

PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODÓLOGICOS DA ANÁLISE


SÓCIOAMBIENTAL

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2. SOCIEDADE E NATUREZA: UNIDADE E CONTRADIÇÃO DAS RELAÇÕES

Considerando a proposição dialética como base para interpretação da


realidade sócioambiental, cuja reflexão é o espaço geográfico, eis que a contradição
da cotidianidade aparece e revela a totalidade conflitiva da relação sociedade-
natureza.
A unidade dos contrários possui uma dubiedade que recai sobre a analise
espaço-tempo, dada pela historicidade e pelo materialismo histórico, pois, “a
contradição dialética não é apenas contradição externa, mas unidade das
contradições, identidade” (LEFEBVRE, 1995. p 192.). Essa dinâmica possui uma
polarização interna que é a base da contradição. Assim, ao falar de produção do
espaço inevitavelmente evidencia-se a contradição dos processos e foi essa a
premissa principal do ponto de partida para elucidar as questões que envolvem a
sociedade e a natureza.

2.1. A articulação sociedade natureza no pensamento geográfico

A relação sociedade natureza bem como todo saber e todo conhecimento


sobre o mundo e sobre as coisas há muito tempo tem estado condicionado pelo
contexto geográfico e ao mesmo tempo, associado ao ecológico e cultural em que
produz e reproduz as variações da formação social. Leff (2002). Afirma que as
práticas produtivas, dependentes do meio ambiente e da estrutura social das
diferentes culturas, geraram formas de percepção e técnicas específicas para a
apropriação social da natureza e da transformação da natureza.

Na relação sociedade-natureza, diversas são as formas de leitura da


realidade, desde a Grécia antiga, passando pela concepção cartesiana de natureza
e da racionalidade do pensamento, até uma visão determinista do século XIX. Eis

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que surge uma nova configuração do pensamento contemporâneo segundo a qual a


nova concepção de natureza fica assim, configurada em suas linhas gerais:

Tudo aquilo que se considerava rígido, se havia tornado flexível; tudo


quanto era fixo, foi posto em movimento; tudo quanto era tido por eterno,
tornou-se transitório; ficava comprovado que toda a natureza se movia num
eterno fluxo e permanente circulação. (ENGELS,1991p.23.).

Assim, o homem enquanto ser social domina e ao mesmo tempo produzem a


natureza que, de acordo com Engels (1991,), os homens fazem, eles mesmos a sua
história na medida em que evoluem enquanto espécie. Mas, nessa produção
histórica, mesmo nas sociedades atuais, verificaremos que predominam os efeitos
não previstos; que as forças não controladas são muito mais poderosas do que as
postas em movimento de acordo com o plano estabelecido. E não pode ser diferente
na produção para as necessidades de sua vida, isto é hoje em dia a produção social.
Já para LEFEBVRE, (1995. p 228.) ‘O homem, em sua atividade prática, tem
diante de si a natureza. Entre ele a natureza, durante sua ação, o homem inventa
meios, intermediários: os objetos que ele cria e, notadamente os instrumentos’.
Nessa concepção, os instrumentos não são exteriores à natureza; embora agindo
sobre ela , fazem parte dela objetivamente. É no conjunto dos meios que se realiza o
poder humano sobre a natureza.
Para Santos (2002), a principal forma de relação entre o homem e a natureza,
ou melhor, entre o homem e o meio, é dada pela técnica. Que significa o conjunto
dos meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e,
ao mesmo tempo cria espaço. Na verdade estas relações entre o conhecimento
teórico e os saberes práticos aceleraram com o capitalismo e com isso,
intensificaram as técnicas paralelas ao desenvolvimento dessa tecnologia,
desenvolveu-se a ciência moderna e sua racionalidade tanto científica quanto
econômica.
“Com o modo de produção capitalista produz-se, a articulação efetiva entre o
conhecimento científico e a produção de mercadorias por meio da tecnologia” Leff
(2002), apropriando se cada vez mais do ambiente. No principio tudo eram coisas,
dádivas da natureza, quando utilizadas pelos homens a partir de um conjunto de
intenções sociais, passam também, a ser objetos. Santos (2004, P.65), diz que

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assim a natureza se transforma em um verdadeiro sistema de objetos e não mais as


coisas e, ironicamente, é o próprio movimento ecológico que completa o processo de
desnaturalização da natureza, dando a esta última um valor. Para Engels:

Somente a organização consciente da produção social, de acordo com a


qual, produza e se distribua obedecendo a um plano, pode elevar os
homens, também sob o ponto de vista social, sobre o resto do mundo
animal, assim como a produção, em termos gerais, conseguiu realizá-lo
para o homem considerado como espécie. A partir daí, iniciar-se-á uma
nova época histórica, em que os homens como tais, (e com eles, todos os
ramos de suas atividades, especialmente as ciências naturais) darão à
sociedade um impulso que deixará na sombra tudo quanto foi realizado até
agora. (ENGELS, 1991p26 e 27.)

Essa concepção demonstra que Unicamente o homem conseguiu imprimir


seu selo sobre a natureza, não só trasladando plantas e animais, mas também
modificando plantas e animais em tão elevado grau que as conseqüências de sua
atividade só poderão desaparecer com a morte da esfera terrestre. Engels
argumenta ainda que: Sendo assim, temos uma nova concepção entre as relações
do homem com a natureza. Decorrente disso, o que obtemos é uma dialética entre
sujeito e objeto, numa relação intensa a qual corresponde a uma objetivação e
modificação das forças naturais, tanto as que o homem encontra em si mesmo
quanto as que ele vê ao seu redor.
Milton Santos, (2004), demonstra uma teoria do espaço mediante a analise
do sistema de objetos e sistemas de ação, associada a uma epistemologia pautada
em categorias essenciais para a ciência geográfica tais como a paisagem, o
território, a configuração territorial, o lugar, a região e o espaço. Nessa base
epistemológica, a produção das formas e conteúdos é precedida da noção de
totalidade para a afirmação do discurso filosófico e do discurso geográfico.
A noção de totalidade como categoria analítica, capaz de ajudar a construir
uma teoria e uma epistemologia do espaço geográfico deve estar imbuída de uma
unidade, “a unidade dos contrários”. Para Milton Santos (2004), segundo essa idéia,
todas as coisas presentes no Universo formam uma unidade. Cada coisa nada mais
é que a parte da unidade, o todo, mas a “Totalidade” não é uma simples soma das
partes. As partes que formam a “Totalidade” não explicam a realidade, mas ao
contrário, é a “Totalidade” que explica as partes. Outra forma de explicar a unidade
dos contrários é pela relação dada a compreensão da atualidade que é a unidade do

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universal e do particular. Assim, tem-se que o particular se origina no universal e


dele depende.
Há que considerar que o conhecimento na atualidade tenta romper com um
paradigma dominante, que, é pautado numa racionalidade teórica perceptível nos
vários níveis de conhecimento como é o caso da racionalidade ambiental ou
racionalidade ecológica que define as regras do pensamento ambiental e a forma
como a sociedade atua sobre a natureza. Para Boaventura dos Santos (1993),
existe um paradigma emergente o qual tende a suprimir o conhecimento dominante
que, promoveu a hiperdisciplinarização do saber científico, e toda a problemática
existente no tocante ao conhecimento científico. Santos M. (2004:76), diz que “no
paradigma emergente, o conhecimento é total, tem como horizonte a totalidade
universal’... mas sendo total é também local. Constitui-se em redor de temas que em
dado momento, são adotados por grupos sociais concretos”.
Nessa mesma perspectiva de análise, Boa Ventura dos Santos (1993), define
o paradigma emergente como o conhecimento pós-moderno já que ao mesmo
tempo em que ele é local é também total porque constitui projetos cognitivos locais,
cuja ação é dada pela analogia e pela tradução dos conceitos noutros espaços
atualmente produzidos e consumados socialmente. Santos (2004), afirma que, “o
conhecimento emergente sendo total não é determinístico, sendo local, não é
descritivista. É um conhecimento sobre as condições de possibilidades da ação
humana projetada no mundo a partir de um espaço-tempo local”.
Essa concepção de ciência nos conduz para uma articulação entre as
ciências na analise da relação sociedade natureza na forma holística, tal como
define Milton Santos (2008:96), “na sua relação com a natureza, o homem não tem
uma atitude de repetição, mas sim de invenção”. A relação entre o homem e o seu
entorno é um processo sempre renovado que tanto modifica o homem quanto a
natureza. Neste sentido, não dá para a geografia ser apenas determinista e ou
descritivista como afirma Boaventura dos Santos (1996) acerca do conhecimento.
No pensamento de Milton Santos (1978, 79, 94, 96, 97 e 2004), encontra-se
uma analise sobre a relação sociedade natureza bem distribuída em toda a sua
teoria sobre o espaço geográfico. Destacam-se aí, alguns tópicos, tais como: a
aplicação do trabalho sobre a natureza em “o homem e a produção”; a ação humana

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e a geografização do espaço; A natureza e suas próteses e o novo sistema da


Natureza que aborda diversos tipos de atuação do homem sobre a natureza e abre
caminho para mais tarde implementar o tema “a diversificação da Natureza com
base no dialogo da noção de totalidade, da unidade dos contrários do universal e do
particular, permeada pela discussão sobre a divisão do trabalho”.
Trata-se de questões pautadas numa dialética espacial. Para Santos (2004,
p.63), “espaço é um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de
ações”. É com base nessa idéia e nas noções de técnica e de tempo, de razão e de
emoção, que é proposta a construção de um sistema de pensamento que busca
entender o espaço geográfico na passagem do século e, paralelamente, alicerçar a
crença em um futuro melhor para todos os homens. Contrapondo-se à realidade de
um mundo movido por forças poderosas e cegas, impõe-se a “força do lugar”, capaz
de antepor-se, pela densidade humana, ao processo da globalização atual que
intensifica as relações sociedade-natureza.
As questões ontológicas moldam a relação do homem com a natureza e
inauguram o discurso geográfico na medida em que se constitui no elo que torna
indivisível a dimensão do ser e do pensamento, responsável pela construção do
conhecimento. A discussão ontológica (Silva, 1992) é o embrião do pensamento
geográfico, moldado pelo conhecimento filosófico.
O conhecimento filosófico (Prigogine, 1996) caracteriza-se por ser um
conhecimento inclusivo. O conhecimento popular, artístico, técnico, mítico/religioso e
metafísico se fundem na perspectiva filosófica. Este caráter inclusivo transformou o
conhecimento filosófico em uma forma de conhecimento mais próxima da sociedade,
uma forma mais humana de conhecimento.
Na filosofia, a relação metodológica do sujeito e objeto na produção do
conhecimento, é, diretamente, a própria relação entre a sociedade e a natureza.
Promissora em relação ao método científico que a ciência clássica inauguraria a
partir do século XVI, porém, dual, na medida em que estabelece a polaridade
homem/meio como condição de produção do conhecimento.
O caráter atemporal da Geografia pode ser explicado por meio do discurso
ontológico. Assim, o discurso ontológico pode ser visto enquanto a primeira
manifestação do pensamento geográfico. Em conseqüência, o conhecimento

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filosófico deriva da evolução das formas primitivas do fazer geográfico. O


produto/significado, desse fazer geográfico primitivo num espaço geográfico criado
pela consciência evoluída do homo sapiens foi o primeiro objeto de
inquietação/discussão do homem, enquanto ser empírico dotado de uma
possibilidade projecional metempírica/metafísica.
O fazer geográfico necessariamente proposital, nos primórdios, relacionava-
se com a condição biológico-genética de sobrevivência da espécie, frente às
adversidades naturais. Organizar o espaço geográfico desde então passou a ser um
atributo humano. Um atributo existencial necessário à consolidação da sua presença
num Planeta, que passaria, então, a ser seu. Até que ponto pode-se afirmar que
conhecimento filosófico é uma fase do conhecimento geográfico? Quais as
implicações disso no pensamento geográfico moderno? Não há dúvida de que a
pertinência destas relações é o dispositivo que coloca a Geografia, na atualidade,
como ciência capaz de romper com os grilhões que, inclusive, a aprisionaram na
camisa de força das formas pré-moldadas do reducionismo cartesiano, e que
representa a própria crise atual da ciência clássica, com a possibilidade de largar na
linha de frente do processo de construção de um novo paradigma para as ciências.
O processo que, de certa forma, já se iniciou encontra dificuldade em responder a
estas perguntas, na medida em que ainda depende da formalização de um discurso
homogêneo, por meio de uma linguagem independente.
O fazer geográfico é, por força da lógica, anterior ao pensar geográfico. Este,
por sua vez, quando surge, revela-se elaborado em um discurso. Pode-se dizer que
as origens do pensar geográfico estão vinculadas ao desenvolvimento dos
processos de linguagem. Dessa forma, possivelmente, ambos surgiram
concomitantemente. As etapas de sistematização deste discurso equivalem ao
desenrolar da história filosófica do homem. Pode-se afirmar que a filiação recíproca
entre conhecimento filosófico e conhecimento geográfico respondem pela própria
natureza e constituição do homem epistêmico. Assim, a presença da filosofia na
história do pensamento geográfico é tão forte que o objeto metodológico de sua
pesquisa poderia ser (e, de certa forma é) a própria ética na relação homem/homem
e homem/meio, ou seja, na relação sociedade/natureza, no espaço-tempo.

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A priori, o conhecimento surge enquanto conhecimento de mundo, e surge a


partir do momento em que o homem epistêmico se desprende do homem empírico.
Neste momento o homem se vê no mundo. Essa metafísica permitiu-lhe refletir
sobre a condição de sua existência no mundo, por meio do desenvolvimento de uma
linguagem própria diferenciada dos demais seres vivos. Esta linguagem surge na
forma de discurso que materializa a realidade empírica, dando condição de
existência real ao homem, nas práticas sociais em grupo. Piaget (1978) dedicou
especial atenção ao homem enquanto ser epistêmico. Para este autor “o estudo dos
processos de pensamento presentes desde a infância inicial até a idade adulta.
Interessou-se basicamente pela necessidade de conhecimento típico do homem,
que o define como espécie ‘homo sapiens’”. (RAPPAPORT in FIORI e DAVIS, 1981,
p.51). Em contraposição, Vigotsky, (1997), define o homem enquanto ser epistêmico,
mas segundo o autor, é pela cognição que o pensamento se estrutura e em
conseqüência disso, o conhecimento. Vigotsky, (1998, p.45), afirma que “o
surgimento do pensamento verbal e da linguagem como sistema de signos é um
momento crucial no desenvolvimento da espécie humana”, [..] momento da
passagem do ser biológico para o ser sócio-histórico, pela mediação simbólica.
Neste sentido, discurso geográfico revela a dimensão simbólica e ideológica
que surge como conseqüência da presença e ação do homem no mundo. Neste
sentido este discurso deve ser ontológico, para que garanta a busca da essência da
realidade dentro da totalidade complexa, holística e dialógica do ser no mundo.
As origens do poder vinculam-se às próprias origens do homem enquanto ser
social, por meio do surgimento de hierarquias locais. Sabendo-se que o substrato
terrestre, permeado por seres humanos, é o objeto máximo de estudo da geografia
e, sendo este substrato correspondente ao que hoje conhecemos como ambiente
terrestre, incluindo todas as demais formas de vida, tem-se caracterizada a
complexidade do mundo vivido e do mundo pensado pelo homem. Leff (2002)
classifica essa complexidade como um saber sobre as formas de apropriação do
mundo e da natureza através das relações de poder que se inscreveram nas formas
dominantes do conhecimento.
Este desprendimento metafísico em relação à natureza fez surgir um homem
epistêmico. Tal mecanismo permitiu aos seres humanos construir se próprio mundo,

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um mundo idealizado/planejado, graças ao livre-arbítrio característico da essência


subjetiva da espécie humana.
Pode-se dizer que a origem do homo sapiens promoveu a ruptura entre um
espaço natural pretérito concebido/idealizado como uma espécie de primeira
natureza (SANTOS, 1996), para um espaço artificial/virtual, imagem projetada do
mundo empírico, desenvolvida especialmente, e intencionalmente, para um homem
epistêmico.
Assim a teoria geográfica explica que “na história humana, todo saber, todo
conhecimento sobre o mundo e sobre as coisas tem estado condicionado pelo
contexto geográfico, ecológico e cultural em que produz e se reproduz determinada
formação social”. (Leff, 2002, p.21). A reação contrária aos desígnios de uma
natureza consciente e misteriosa forçaria o homem a assumir uma posição
defensiva, acreditando poder, por meio do conhecimento sistematizado, estabelecer
as leis para, posteriormente, controlar os fenômenos naturais que, de certa forma,
determinavam a condição da presença humana nos diversos espaços terrestres.
Bachelard ensaiando uma crítica sobre o projeto de ciência racionalista,
inspirada na alienação do homem, do espaço natural, considera que:

[...] o espírito científico deve formar-se contra a Natureza, contra o que é,


em nós e fora de nós, o impulso e a informação da Natureza, contra o
arrebatamento natural, contra o fato colorido e corriqueiro. O espírito
científico deve formar-se enquanto se reforma. Só pode aprender com a
Natureza se purificar as substâncias naturais e puser em ordem os
fenômenos baralhados [...] BACHELARD (1996, p.29). (grifo do autor)

Essa ausência da percepção de pertencimento e a insatisfação frente a


indiferença do mundo levou o ser humano a construir mundos paralelos. Espaços
perfeitos em sua representação matemática. Novo éden abstrato de leis frias, em
tudo previsível e, em tudo, controlável. Irreal e ilusório. Novo mundo reduzido em
escala. Miniaturizado através de técnicas geométricas. O mundo das cartas passa a
ser o mundo dos geógrafos. E, na condição de deuses desses novos mundos, o
transportam em suas bolsas e, às vezes, em seu bolso.
Esse é o mundo que os geógrafos construíram para si através da ciência
cartográfica. Nele, eles apontam com o dedo e localizam precisamente as suas

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pequenas casas quadradas e retangulares. Ensinam a todas as pessoas que elas


também moram ali. Dentro daquelas linhas. Na superfície de uma folha de papel.
Nesse mundo racional as questões ontológicas foram subtraídas. A ação do
homem é representada de forma absoluta, na alteração de um determinado trecho
de uma curva de nível. No desenho de novas linhas paralelas ou perpendiculares,
ou, ainda, formando ângulos intermediários. O geógrafo contemporâneo preso no
próprio espaço que construiu, e que, ao invés de espaço-prisão, chamou de espaço
geográfico, deve almejar libertar-se desses velhos sistemas interpretativos de
inspiração iluminista que construiu reencontrar-se com o mundo empírico e
reconstruir seus vínculos de pertinência com a natureza.

2.2. Unidade e contradição das relações sócioambientais e a produção do


espaço geográfico.

“A menos que o espaço seja conceituado como realidade completamente


separada da natureza, a produção do espaço é um resultado da produção da
natureza” Smith, (1988, p.109). Essa produção da natureza é dada pela totalidade
das relações humanas e pelas contradições existentes nelas, incluindo toda a
produção dos bens materiais, “porque as coisas, do ponto de vista material não
estão no espaço. As coisas, os objetos são espacialmente estendidos”. Einstein,
(2003).
Quando se fala em contradição, refere-se ao seu caráter conflituoso,
dicotômico e antagônico, mas no sentido da unidade de contrários. “Não existe
dialeticamente a ‘contradição’ em geral; existem contradições, cada qual com seu
conteúdo concreto com seu movimento próprio, que deve ser penetrado em suas
conexões, em suas diferenças e semelhanças.” (LEFEBVRE, 1995. p 238.). É
nesse sentido que recai a análise da produção do espaço.
Do ponto de vista geográfico a compreensão do espaço passa pela
interpretação da dimensão geométrica que é o lugar.

O lugar, [que é] assim a identidade posta do espaço e do tempo, é


primeiramente por igual a contradição posta que é o espaço e o tempo,

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cada um em si mesmo. O lugar é a singularidade espacial, e também


indiferente, e é isto somente como agora espacial, como tempo, de modo
que o lugar é imediatamente indiferente ante si, como este exterior a si, a
negação de si e um outro lugar. Este desaparecer e regenerar-se do
espaço no tempo e do tempo no espaço, de modo que o tempo para si é
posto espacialmente como lugar, mas esta espacialidade indiferente do
mesmo modo e de imediato e posta temporalmente – é o movimento. Este
vir-a-ser é porém ele mesmo igualmente o colapsar sobre si [interno] de sua
contradição, a unidade imediatamente idêntica aí-essente de ambos, a
matéria. (HEGEL, 1997, p.47,53-54). (grifos do autor).

Assim, pode-se dizer que a unidade espaço-tempo para análise geográfica é,


sem dúvida, o lugar. Nele, a sensação/percepção empírica de simultaneidade, dada
pela imagem, confunde-se, para o interesse tipicamente geográfico, com a essência
dialética da realidade. Os limites e o conteúdo do lugar formam uma unidade que
evolui no espaço-tempo de forma independente, mesmo quando considerados os
fatores externos, como os de ordem política e econômica.

Hegel, ao tecer considerações sobre a natureza do espaço e do tempo, revela


que o termo espaço é a determinação dada pela natureza sobre o ser, ao tempo que
o conceito de espaço é abstrato, o ser o vê como se estivesse fora dele. A abstração
entra na analise espacial sem levar em consideração a categoria tempo. O tempo
para Hegel refere-se à negatividade presente como um ponto no espaço, isto é, o
tempo permite que as determinações, ou seja, as ações que definem o conceito de
espaço sejam materializadas. Mas também o conceito de tempo é abstrato, pois o
que o ser consegue definir sobre o tempo são as suas dimensões tais como
presente, passado e futuro, isto na visão de Hegel corresponde ao vir a ser e como
tal nasce daí os conceitos tempo-espaço.

O espaço [...] A determinação primeira ou imediata da natureza é a abstrata


universalidade de seu ser-fora-de-si, a equivalência dele sem mediação, o
espaço. Ele é o totalmente ideal ao lado-um-do-outro, porque é o ser-fora-
de-si e simplesmente contínuo, porque este fora-um-do-outro ainda é
totalmente abstrato e não tem em si nenhuma diferença determinada. [...] O
tempo: A negatividade, que se refere como ponto ao espaço e nele
desenvolve suas determinações como linha e superfície, são, contudo na
esfera do ser-fora-de-si, igualmente também para si e suas determinações
ai, mas simultaneamente como pondo na esfera do ser-fora-de-si, nesta
ocasião aparecendo como indiferente ao quieto ao lado-um-do-outro.
Assim posta para si, é ela [negatividade] o tempo.” (HEGEL, 1997, p.47,53-
54). (grifos nossos) e (grifos do autor).

Ainda segundo Hegel:

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O espaço é em si mesmo a contradição do indiferente ser-fora-um-do-outro


e da continuidade sem diferenças, a pura negatividade de si mesmo e a
passagem no começo para o tempo. Igualmente é o tempo – porque seus
momentos opostos conservados juntos se suprassumem imediatamente – o
imediato cair juntamente na indiferença, no indiferenciado fora-um-do-outro
ou no espaço. Assim neste a determinação negativa, o ponto excludente
não é mais somente em si segundo o conceito, mas posto e em si concreto
por meio da total negatividade, que é o tempo; o ponto assim concreto é o
lugar. (HEGEL, 1997, p.61) (grifos do autor).

Essa perspectiva de análise demonstra importantes insights sobre a natureza


da realidade. Revela uma realidade formada por um tecido espaço-temporal
fraturado. Essas observações ao serem transpostas para o cenário da discussão
geográfica, mostra a tetradimensionalidade que mantém o espaço e o tempo unidos,
formando um todo contraditório: indissociável na essência e aparentando serem
duas categorias em suas projeções empírica.

[...] as relações espaço-tempo saturam a sociedade em todos os níveis. A


espacialidade, em particular, é parte das forças de produção, das relações
de produção e da maneira pela qual interagem os níveis ou estruturas da
sociedade. As contradições entre esses níveis se multiplicam e se
complicam ainda mais quando interagem dentro da matriz espaço-tempo da
organização social. (GOTTDIENER, 1997, p.160)

O homem ao planejar suas ações constrói modelos abstratos cada vez mais
próximos aos que serão erguidos, a posteriori, no mundo concreto. O seu caminhar
interdependente no espaço/tempo geográfico, produzido pelo seu trabalho social, o
tem conduzido, na maioria das vezes, a um patamar superior na proporção em que
transforma as duas categorias (física e social) numa única natureza é a natureza
transformada (Gomes, 1991) ou segunda natureza (santos2008).

Para Baudrillard (1994, 16), uma visão linear e absoluta da história da


sociedade, como a parametrizada pela ciência clássica, nada mais é do que um
modelo de simulação, um tipo de hiper-realidade que não só descaracteriza como
suprime o espaço-tempo dos fatos. De igual forma.

O que pensamos de espaço jamais poderá ser compreendido sem que se


reflita sobre o próprio movimento que cria, recria, nega e, pela superação,
redefine a espacialidade dos próprios homens. Espaço e tempo,
considerados aqui como as categorias básicas da ciência moderna, são, na
verdade, redimensionados na medida em que as sociedades se
redimensionam. (SANTOS, D. 2002, p.23).

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A identidade dos lugares é apagada e uma nova singularidade técnica passa


a representar estrategicamente o lugar. Nesse contexto, a modernidade globalizante
fundiu a identidade sócio-cultural dos lugares, ao tempo em que construiu uma
singularidade artificial a partir do movimento do capital.

[...] cada lugar é marcado por uma combinação técnica diferente e por uma
combinação diferente dos componentes do capital, o que atribui a cada qual
uma estrutura técnica própria, específica, e uma estrutura de capital própria,
específica, às quais corresponde uma estrutura própria, específica, do
trabalho. [...] Isso resulta do fato de que cada lugar é uma combinação de
técnicas qualitativamente diferentes, individualmente dotadas de um tempo
específico – daí as diferenças entre lugares. (SANTOS, 1997, p.12,13)

A imagem de mundo moderno, abstrato, discutida por Santos (op. cit.), bem
como a sensação de vazio existencial, resulta da perda do vínculo da tríade
ontológica que une o homem a sua condição espaço-tempo. Pode-se dizer que, o
espaço das cidades deve ser, hoje, mais do que nunca, o alvo por excelência da
pesquisa geográfica. A mancha urbana é a imagem refletida de um todo complexo
formado por realidades diametralmente opostas. O gênero de vida urbano aglutina
na imagem uma constelação de lugares singulares que, por mais distantes espaço-
temporalmente que estejam, parecem coexistir na imagem.
O estudo das cidades permite compreender, em escala local, a natureza
complexa do mundo moderno. O urbano é a síntese do global. Equivale a um
espelho e uma projeção de uma realidade mundial homogeneizada pela produção e
pelo consumo e, materializada no espaço da cidade por meio dos fluxos. Essa
circulação conecta a cidade com o mundo. Permite estabelecer um elo dentro de
uma rede virtual, fazendo surgir deste processo a metrópole e, evoluindo o citadino à
condição de cosmopolita.
A imagem da cidade precisa ser decifrada pelo geógrafo, mas não somente
isso. Pois por natureza, a geografia tende a ser metodologicamente heterogênea.
Neste sentido, seu caráter pode mudar, para George (1979), dependendo de ser ela
considerada como um processo descendente ou, em outras palavras, como uma
culminância das relações naturais numa “paisagem natural”, que define uma
“ecologia do homem”, ou então como um processo ascendente e conquistador, a
partir da “ação do homem”, cujo ponto de partida é o estabelecimento humano e o
campo de aplicação, seu meio circundante no sentido mais apropriado a cada caso.

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Assim, o urbano deve ser encarado na análise geográfica enquanto sistema


ilusório de sobreposições infinitas de imagens. Essas sobreposições criam as
condições de isolamento e, ao mesmo tempo, mascaram as descontinuidades
espaço-tempo que separam as paisagens urbanas. Para o geógrafo, às vezes, um
bairro pode esconder várias células espaço-temporais. Por outro lado, uma pequena
cidade do interior pode apresentar características homogêneas suficientes para ser
caracterizado como um único bloco espaço-tempo.
Não se vê a dimensão real do problema quando se está dentro dele,
contrariando uma expressão corriqueira, mas sim, quando se está dentro e fora dele,
simultaneamente. A ilusão da tridimensionalidade perde o sentido quando se está
acima do objeto observado. Neste nível a realidade da imagem justaposta revela a
sua natureza plana e, passa-se a perceber que a profundidade é função única do
movimento. As cartas/mapas geográficos são bons exemplos. Segundo Harvey
(1992, p.224), Ptolomeu imaginava como o globo como um todo seria visto por um
olho humano que o visse de fora.

2.3. A produção do espaço, a produção e a diversificação da natureza e do


território.

Em geografia, a analise espacial nos remete a contemplação da paisagem


enquanto algo que representa o real. Mas o conhecimento do real é entendido como
processos materiais, é uma emergência epistêmica relativamente recente Leff (2002
p.25). De certa forma, os aspectos visíveis da paisagem são, a princípio, os
precursores da busca pelo conhecimento do real. Para atingir os aspectos invisíveis
depende-se de uma análise mais detalhada e, para tanto, teórica da paisagem.
A paisagem, neste contexto, é entendida como uma categoria de análise que
não deve ser confundida com o espaço, nem deve ser vista como algo que inserida
no espaço, pois o espaço é a dimensão da forma e reflete ao mesmo tempo,
paisagem, lugar e território. Einstein (2003), afirma que “objetos físicos não estão no
espaço. Estes objetos são espacialmente estendidos”. (Grifos do autor)

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Numa análise clássica, o território é dado pela configuração das ações


dimensionadas pela sociedade tais como rodovias, ruas, avenidas, portos,
aeroportos etc. Já o lugar é a métrica, o geométrico do espaço que está
representado pela singularidade e particularidade das coisas, universalizadas e
transversalisadas pelo modo mais abrangente da sociedade atual que, em última
análise, corresponde ao modo de produção capitalista. A paisagem entra aqui como
algo que ao mesmo tempo é representada pelos aspectos visíveis e concretos do
real. Mas essa concretude ocorre quando se compreende que “o concreto é concreto
porque é a síntese de múltiplas determinações” (Marx, 1965). Neste sentido, a
paisagem e o espaço, não são sinônimos, paisagem refere-se ao conjunto de
formas, que num dado momento, exprimem as heranças que representam as
sucessivas relações localizadas entre o homem e natureza. O espaço são essas
formas mais a vida que as anima. Santos (1999 p.79).
Na dinâmica que fundamenta a relação sociedade-natureza, destacam-se
diversos momentos de diversificação da natureza com padrões específicos, para
cada momento histórico. “Desde muito cedo, no decurso da evolução da
humanidade, o homem descobriu que o seu mundo variava acentuadamente de
lugar a lugar” (HARTSHORNE, 1978, p.16). Por muito tempo, a diversidade da
natureza era dada pelas forças sociais vigentes da época. Com o advento da
industrialização, acentuam-se as atividades humanas, aplicando novos meios e
instrumentos que vão diversificando ainda mais a natureza que passa a ser vista
como recurso, ou melhor, que a transforma em propriedade privada e, na base de
extração de matéria prima para a produção. Lefebvre entende que:

O homem é o ser da natureza que penetra na natureza (pelo


conhecimento) e a domina (pelos instrumentos); e se ele parece, por
causa dos meios que emprega sair da natureza, é apenas para poder
reencontrá-la de modo mais profundo, tanto entorno de si como dentro de si.
(LEFEBVRE, 1995. p 228.) (grifos do autor)

Assim, surge uma nova concepção de natureza e de mundo ao qual busca


relacionar as transformações espaciais ocorridas com o advento do capitalismo e
suas diversas etapas, que em cada momento, imprime na natureza novas formas de
“dominação”, de uso e de troca. Mas, segundo Marx (1984), a idéia de dominação da
natureza é reducionista e fragmentária, pois, começa com a natureza e a sociedade

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

sendo dois domínios separados e tenta unificá-los, e o que devemos fazer é o


procedimento oposto. Ou seja, Marx considera a relação sociedade natureza como
sendo uma unidade e qualquer separação que exista entre elas é o resultado
simultaneamente histórico e lógico.
Para Smith (1988), ao invés da dominação da natureza, devemos considerar
o complexo processo de produção da natureza, já que o argumento de dominação
da natureza pode ser unidimensional e livre de contradições.
A produção da natureza é entendida como um paradoxo, já que
tradicionalmente, a idéia de natureza transmite um conceito onde ela é vista como
algo que não pode ser produzido, é uma dádiva divina, “é a antítese da atividade
humana” (Smith, 1988). No entanto, existe uma diferenciação básica, é a
diferenciação do homem perante os animais que se faz a partir do momento em que
ele começa a produzir para viver (Engels, 1991). Essa produção não cessa, ao
contrário ela aperfeiçoa e especializa-se na medida em que homem como ser social
historicamente, transforma a si mesmo, a sociedade e a natureza.
Assim, a produção da Natureza é uma produção social, na medida em que a
sociedade passa a se articular e se estruturar mediante essa interação e uso,
transformando a natureza em recursos cada vez mais diversos. Essa ação
proporciona uma potencialidade de uso acelerada no território de cada sociedade,
que causa uma espacialidade diferenciada e com novos instrumentos acrescentados
àqueles que a própria natureza já possui, uma desses exemplos é a disseminação
de espécies vegetais e animais por diversos pontos da Terra.
Neste sentido, pode-se falar em produção e reprodução do espaço,
conjugado com essa produção da natureza. A produção espacial é entendida aqui
pela distribuição de atividades que, segundo Santos (2004), resulta na totalidade de
recursos e por sua vez na divisão territorial do trabalho. Essa divisão é materializada
na formação sócio-espacial de uma determinada sociedade.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

3. A DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL NO URBANO

O estudo da problemática ambiental urbana constitui-se uma tendência e,


ainda não está devidamente enfocada na relação entre o desenvolvimento da
produção e o processo de urbanização. Muitas são as possibilidades de análises a
serem realizadas sobre o ambiente urbano. No entanto, um estudo mais
sistematizado pode ser incorporado ao processo de compreensão da dinâmica
urbana que, cada vez mais cria a escassez, diminuindo a biodiversidade
empobrecendo o ambiente.
Uma das tendências dessa dimensão é o diagnostico dos problemas
ambientais decorrentes do processo de urbanização. É o caso do estudo
implementado na cidade de Vitória da Conquista-Ba, que analisa as conseqüências
desse processo nas nascentes e mananciais localizados no espaço urbano da
Cidade. Para esse tipo de estudo, uma das formas de esquematização
metodológica é o zoneamento das atividades e dos atores que atuam no entorno
das nascentes e mananciais, expandindo essa análise para todo o espaço urbano.
Na definição dos aspectos mais relevantes, segue-se o mapeamento das
nascentes e mananciais no perímetro urbano que evidencia a drenagem e os
problemas decorrentes, além da elaboração do mapa geoambiental e do uso do
solo. Todo esse material funciona como base para sintetizar os impactos
diagnosticados tais como: destruição dos mananciais superficiais da bacia na área
urbana; aterro de parte das margens do rio principal e seus afluentes, aterro das
lagoas que formam as nascentes, aterro das planícies de inundação, entre outros.
Segundo Sposito (2003), o espaço topográfico da cidade, deve ser visto à luz
de sua formação geológica, de conjunto de condições geomorfológicas, no contexto
da bacia ou das bacias hidrográficas que desenham a topografia. Além disso, uma
analise da estrutura topográfica do lugar, e a avaliação da capacidade de drenagem
da bacia hidrográfica, é importante na medida em que busca-se o estudo integrado
do ambiente, priorizando a bacia hidrográfica como estrutura para a integração dos
componentes da analise, os quais, são subsidiadas por mapas temáticos sobre a

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

problemática geoambiental urbana, sobre o uso do solo próximo às nascentes e


mananciais da área urbana e os limites da bacia hidrográfica.

3.1. Pressupostos da análise sócioambiental em área urbana

A sociedade atual revela-se como uma sociedade urbana, real, concreta e


virtual. Concreta e real na medida em que revela uma cotidianeidade materializada
numa geometria singular e particular, que corresponde ao lugar. Virtual porque está
permeada por um fator universalizante, mediatizada por sistemas de simbólicos da
linguagem e do modo de produção. Na visão de Sposito (2003), uma primeira
perspectiva de análise pode ser a compreensão do que seja o ambiental nas
cidades. Pois na maioria das vezes confunde-se o ambiental com o natural, sem
levar em conta o social que permeia a questão ambiental.
As paisagens urbanas escondem lugares. Os guetos e favelas desenvolvem-
se em tal grau de isolamento que podem se constituir uma unidade de contradição,
desenvolvendo um modo de vida bastante independente. Esses lugares são
paisagens urbanas indesejáveis do ponto de vista do capitalismo, mas é a condição
da contradição que sustenta o próprio modo de produção.
Em sua maioria, tais lugares são os que espacialmente falando, estão
localizados em áreas de alto grau de fragilidade ambiental quer seja nas encostas,
ou nas planícies de inundação. O fato é que a cidade, “resultado maior da
capacidade social de transformar o espaço natural, não deixa, em função disso, de
ser parte desse espaço e de estar submetida às dinâmicas e processos da natureza”
(SPOSITO, 2003, p. 295).
Pode-se dizer que, o espaço das cidades deve ser hoje, mais do que nunca, o
alvo por excelência da pesquisa geográfica e da analise sócioambiental, mas não
sob o ponto de vista apenas do ecologismo, como afirma Seabra (2003), a
sociedade mobiliza-se na atualidade muito mais conforme os impulsos e demandas
do movimento ecológico, naturalizando o processo social.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A mancha urbana (Carlos, 2004) é a imagem refletida de um todo complexo


formado por realidades diametralmente opostas, absorvendo a dimensão social e a
da natureza. O gênero de vida urbano aglutina na imagem uma constelação de
lugares singulares que, por mais distantes espaço-temporalmente estejam, parecem
coexistir na imagem.
O estudo das cidades permite compreender, em escala local, a natureza
complexa do mundo moderno. O urbano é a síntese do global. Equivale a um
espelho e uma projeção de uma realidade mundial homogeneizada pela produção e
pelo consumo e, materializada no espaço da cidade por meio dos fluxos. Essa
circulação conecta a cidade com o mundo. Permite estabelecer um elo dentro de
uma rede virtual fazendo surgir deste processo a metrópole e, evoluindo o citadino à
condição de cosmopolita. Pois, “a natureza ou naturalidade do mundo cósmico,
dádiva, entra na história humana pela sua geografia”, Seabra (2003 p. 311).
A imagem da cidade e seus aspectos geoambientais, precisam ser decifrados
pelo geógrafo. O urbano deve ser encarado na análise geográfica enquanto sistema
ilusório de sobreposições infinitas de imagens. Ilusório porque a realidade urbana
não existe como tal, existem apenas correlações. (LEFEBVRE, 2006 p. 38).
Essas sobreposições criam as condições de isolamento e, ao mesmo tempo,
mascaram as descontinuidades espaço-tempo que separam as paisagens urbanas.
Para o geógrafo, às vezes, um bairro pode esconder várias células espaço-
temporais. Por outro lado, uma pequena cidade do interior pode apresentar
características homogêneas suficientes para ser caracterizado com um único bloco
espaço-tempo. Neste sentido:

O ambiental como resultado das relações entre o natural e o social deve ser
visto como de resto tudo mais, a partir da dimensão temporal. Trata-se
neste caso, das formas como se articulam ou entram em contradição duas
escalas temporais – a da natureza e a da sociedade. (SPOSITO, 2003,
P.295).

A materialização dos eventos sociais num determinado ponto da superfície


pode ser entendida em termos de produção e de reprodução espacial, levando em
consideração a análise das relações sociais com a natureza, sendo impulsionada
pelo modo de produção vigente. Percebe-se que o ritmo de transformação da
natureza pelas causas ditas naturais, é diferenciado do ritmo de produção e

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

reprodução implementado pela sociedade, sobretudo no modo de produção


capitalista, que tem como base o estímulo à produtividade e a exploração da
natureza transformada em recursos para o desenvolvimento das forças produtivas e
da sociedade como um todo.

3.2. A produção do espaço, configuração territorial e paisagem no mundo


urbano e rural.

O espaço rural, de certa forma, é o espaço de resistência ao projeto de


globalização da cultura. Percebe-se, no entanto, que nas últimas décadas, este meio
converte-se gradativamente em “espaço urbano potencial” (LEFEBVRE, 2006).
Destituído do elemento humano que, quando não migra para as cidades, aglutina-se
em povoados (estágios iniciais do urbano). Consolida-se na análise geográfica uma
perspectiva de futuro urbano. Esta perspectiva posiciona a discussão teórica sobre
as cidades e sobre a tensão cidade/campo dentre as temáticas mais interessantes
da atualidade.
O enfoque rural e urbano e, por decorrência, o rurbano, leva em consideração
a organização do território em subespaços articulados, tanto entre si como inseridos
numa lógica global. Para dar conta desses conceitos, propõe-se buscar distintas
matrizes teóricas que vêm tratando da análise do urbano, do rural e sobre as
relações entre ambos e as novas configurações/determinações decorrentes.
Lefebvre (2006) propõe uma abordagem política da questão urbana cujos
preceitos vão desembocar nos anos de 1980, como base teórica para estudar sobre
as contradições urbanas e os movimentos sociais urbanos. Essa abordagem
influenciou sobremaneira o pensamento dos geógrafos a partir da segunda metade
do século XX, pela forma como tratou da questão espacial, ultrapassando o plano
dos conteúdos para colocá-la na perspectiva de um entendimento que envolve a
lógica da forma e a dialética dos conteúdos.
Para Lefebvre o urbano não se constitui como um sistema por ser “sócio-
lógico”; não se define suficientemente pela função ou pela estrutura e, ao eleger a
forma como elemento de abordagem, o faz na perspectiva de que seja considerada

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

a questão da circulação e da centralidade; assim, para o autor, “a cidade atrai para si


tudo o que nasce, da natureza e do trabalho, noutros lugares: frutos e objetos,
produtos e produtores, obras e criações, atividades e situações”. Lefebvre
(1981.p.111). Trata a ruralidade, o campo, como o lugar de produção e de obras; a
vida urbana, como forma de mediação simbólica ou de representações entre cidade
e campo; e os tecidos urbanos, constituídos por diferentes malhas/redes são
possibilidades de superação da tradicional oposição cidade campo.
Em se tratando da configuração territorial, evidenciam-se diversas
abordagens. No dizer de Milton Santos (1997), a configuração territorial é o território
e mais o conjunto de objetos existentes sobre ele; seja qual for o país e o estágio do
seu desenvolvimento, há sempre nele uma configuração territorial formada.
Já Raffestin (1993), não tem dúvida de que os geógrafos vêm confundindo
território com espaço. Para ele, apenas quando os “atores” se apropriam de um
espaço é que este se torna território, ou seja, territorializam o espaço. Neste sentido,
ocorre a territorialidade que é multidimensional já que o espaço é a forma das
coisas. Assim, o território se forma a partir do espaço, pois a dimensão espacial é
anterior à territorial.
Lefebvre (2004) demonstra isso muito bem quando analisa a transformação
do espaço pelos circuitos e fluxos que instalam tais como: rodovias, canais, estradas
de ferro, circuitos comerciais e industriais etc., o território nessa perspectiva é um
espaço onde se projetou uma sociedade movida pelo trabalho. É neste contexto que
podemos analisar a dinâmica interna das formações territoriais locais ou mesmo
nacional.
A análise da configuração territorial e da dinâmica espacial exige para seu
eficiente desenvolvimento, algumas considerações teórico-conceituais, primando por
uma metodologia e a relevância estrutural do tema. Na análise da cidade de Vitória
da Conquista e o modo como ela foi se consolidando territorialmente, parte-se da
dinâmica espacial materializada, o como ela insere-se nas novas condições das
relações sociais, econômicas e políticas.
Para tanto, são abordados teoricamente, os conflitos que ocorreram na
consolidação do território e sua influência na produção e reprodução da natureza,
mediante ações humanas que remontam a origem da cidade, as funções

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

desempenhadas e as transformações sócioambientais decorrentes, os setores


produtivos, a estrutura interna da cidade e o seu significado.
Para isso, foi formulada uma abordagem do processo de formação sócio
espacial, e da estrutura regional que a cerca. Ocorre também, uma análise do
espaço produtivo e suas implicações. Trata-se da estrutura produtiva do município
com base na utilização de dados que demonstram a capacidade produtiva industrial
e na agropecuária, além, da análise do espaço de circulação dos fluxos comerciais e
de serviços e suas implicações ambientais.

3.3. A Formação sócio-espacial de Vitória da Conquista no contexto da


urbanização e suas implicações sócioambientais.

O município de Vitória da Conquista tem uma história que remonta à


colonização exploratória do território brasileiro, pertence ao processo de colonização
portuguesa do século XVIII e início do século XIX. A busca do ouro, na faixa de
terras entre o Rio Pardo e de Contas, aliado às políticas de interiorização do
Governo Português, levaram a uma ocupação efetiva das terras hoje pertencentes
ao município de Vitória da Conquista e Região.
Por volta de 1750, ocorreram as primeiras expedições portuguesas pelas
terras pertencentes hoje ao município de Vitória da Conquista. Nesse período, o
território era ocupado por tribos indígenas, principalmente os índios Camacans que
habitavam as margens do Rio Verruga e, no entorno da Serra do Periperi. Os
portugueses “conquistaram” as terras indígenas e passaram a consolidar o arraial
que deu origem à cidade.
Existem diversas versões para a gênese do povoado que se transformou na
cidade de Conquista e, de como ela era no passado. Uma delas pode ser observada
nos manuscritos de viajantes europeus por essa região:

Arraial da conquista, principal localidade do distrito, é quase tão importante


quanto qualquer vila do litoral”. Contam-se aqui, umas quarenta casas
baixas e uma igreja em construção. Os moradores são pobres, e ocupam as
margens do rio. [...], passa por aqui, produtos como o algodão e boiadas

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

que chegam a mil cabeças por semana, que vão para a baía.
(MAXIMILIANO, V. 1969:7).

O crescimento do povoado ocorre principalmente pela sua localização


estratégica, isto é, ponto de ligação entre o litoral e o sertão baiano. Passa a ter no
início do século XIX, status de Vila, cuja principal atividade econômica é o comércio,
aliado à criação de gado na bacia do atual Rio Verruga. Observe o mapa da figura 1.

Figura 1: Mapa da Vila Imperial Victória de 1840.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A configuração territorial e a espacialidade do arraial que, passou a ter o


status vila e mais tarde tornou-se Vitória da Conquista, foi constatada desde 1808,
por um Viajante da Coroa que descreve: “A Villa está edificada em terrenos
acidentados ao pé da serra do Periperi. As casas são térreas e a maior parte de
telhas. A praça é quadriculada e de ladeira, ficando no centro da Matriz. (...)..”
(AGUIAR, 1979.).

De acordo com o mapa figura 1, no lugar que se localiza a feira livre do


Século XIX e a igreja matriz ao lado da Rua Grande, é onde atualmente funciona o
centro administrativo, econômico e financeiro da cidade. Sendo que o trecho do rio
verruga visível no mapa de 1840, hoje é canalizado, passando a ter suas águas
correndo em canais subterrâneos, desde meados do século XX.
Assim, percebe-se que a estrutura espacial da sociedade conquistense,
remonta a própria origem e, os traços socioculturais presentes no convívio citadino é
resultado de toda essa formação. Outro fator a considerar é que o status de Vila
perdura por mais de 50 anos e, em 1840, ocorre sua emancipação, passando para a
categoria de cidade, embora, permanecesse com a mesma característica analisada
anteriormente que era a de centro comercial e produtor de itens oriundos da
atividade agropecuária.
Quanto à continuidade das terras, há de considerar que ela é remanescente
da Vila de Santo Antônio da Jacobina, criada em 1720, que administrava toda a
extensão de terras entre o sertão da margem direita do Rio São Francisco, o litoral
baiano e sua fronteira com Minas Gerais; cuja dimensão territorial era maior que a
Espanha (ver mapa fig. 2).
Dessa comarca, desmembrou-se em 1724, a Vila do Sacramento das Minas
do Rio de Contas, cuja dimensão territorial estava em torno de 100.000 km2. Nesse
fracionamento surge a comarca de Rio de Contas que passa então a comandar toda
essa porção territorial, inclusive as terras pertencentes ao Arraial de Sant’anna do
Caetité (1730) e do Arraial da Conquista(1750). Por volta de 1810, ocorre o
desmembramento da Vila Nova do Príncipe e Santana do Caetité, com uma
extensão territorial de cerca de 52.000 km2. Em 1840, desmembra-se o arraial da
Conquista, que passa a ter o status de Villa.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Figura 2. Mapa da Origem e evolução territorial de Vitória da Conquista-BA

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

No inicio do século XX, a estrutura sócio-econômica dessa Villa é comandada


pelo processo produtivo de pequenos produtores, nas margens dos rios e ou nas
planícies de inundação, pois, com o a abolição da escravatura em 1888, uma grande
massa humana e negra, migra para o espaço urbano. Ocupando áreas próximas de
alagados (mananciais e nascentes), ou para os povoados e distritos que
compunham o município de Vitória da Conquista, o que requer uma mudança de
comportamento tanto por parte da burguesia local, que começa a defender suas
terras de possíveis invasões, quanto por parte das autoridades governamentais que
ditam medidas para manter a “ordem” estabelecida.
Do ponto de vista econômico, Vitória da Conquista permanece com a
predominância da agropecuária e do comércio local. Estende-se daí uma influência
maior para a formação de uma rede de pequenas localidades que mais tarde
consolida-se como um pólo regional. Essa influencia firmou-se, entre as décadas de
1930 e 1940, quando inicia-se a construção de várias rodovias como é o caso da BR
116 (Rio-Bahia), da BR 415(Rodovia Conquista Ilhéus), e da BR 407, que antes era
apenas caminho de tropeiros, constituindo-se, numa malha rodoviária intensa,
ligando o centro urbano ao Centro-sul e ao Nordeste do país e o litoral baiano ao
Oeste da Bahia.
As transformações espaciais foram mais visíveis na medida em que se
intensificava a urbanização. Com a expansão urbana, percebe-se a diminuição da
cobertura vegetal. No caso de Vitória da Conquista, a malha urbana está montada
numa estrutura de drenagem que compreende diversas nascentes e mananciais da
bacia do Rio Verruga. Evidencia-se aí, uma redução drástica das matas ciliares e
como conseqüência, a diminuição do fluxo d’água natural da bacia.
Entre 1840 e 1940, período de consolidação do espaço urbano de Vitória da
Conquista-Ba, várias foram as alterações sofridas pelo Rio Verruga no trecho urbano
da cidade, nele destacamos a diminuição das matas ciliares nos diversos cursos
d’água do espaço urbano. A retilinização e terraceamento do canal principal do Rio,
passando ser receptáculo de águas residuárias e de toda a poluição produzida pela
população local. (ver mapas fig. 3 e 4).

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Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de
Vitória da Conquista – BA.

Fig.3: Mapa da Expansão urbana no entorno Fig.4: Mapa de retilinização do Rio Verruga entre
do Rio Verruga entre 1840 e 1940. 1940 a 2000.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A expansão do espaço urbano em Vitória da Conquista fez com que houvesse


uma diminuição contínua do ambiente natural no entorno das principais nascentes
do alto rio Verruga, dando lugar a problemas urbanos como o da erosão,
desmoronamentos de encostas, assoreamento dos cursos d’água, uso de áreas
para deposição de lixo, entre outros. Essa expansão é marcada essencialmente pela
inserção da cidade no processo produtivo do capitalismo. Como é o caso da
implantação na década de 1970, do distrito industrial dos Imborés às margens da BR
116, consolidado nos anos oitenta e noventa do século XX. Assim, novas
dimensões do território urbano são definidas a partir de 1980, incorporando grande
parte das áreas de produção agrícola ao perímetro urbano da cidade.
Essa expansão urbana proporcionou algumas mudanças significativas no
curso principal no alto rio Verruga. Comparando os mapas das figuras 3 e 4,
percebe-se que entre o início da urbanização, até meados do século XX, a calha do
rio Verruga sofreu um processo de retilinização, alterando o curso e o leito natural do
rio, com isso, outros processos foram sucedendo-se a este, destacando-se a
canalização de grande trecho do canal do rio, e um conseqüente aterro de áreas
inundáveis, proporcionando uma mudança completa no ambiente que antes possuía
uma extensa faixa de vegetação arbórea e, algumas áreas de planície de inundação.
No mapa da figura 4, destacam-se alguns pontos que sofreram essas mudanças,
como é o caso da extensa faixa de terras onde fica o centro urbano da cidade, a
central de abastecimento, a Avenida Bartolomeu de Gusmão e outros pontos como a
Baixa da Égua, Lagoa do Jurema e a Baixa do Sapo nestas áreas foram grandes as
alterações feitas com o aterro e ou corte de terreno, provocando um desnível terreno
e uma alteração da carga exutória da bacia neste trecho.
Neste contexto é que se define a contradição das relações de produção
desenvolvidas no âmbito da configuração do território de Vitória da Conquista, tendo
em vista a problemática ambiental e toda sua complexidade, sendo um espaço bem
sucedido na produção agrícola e ao mesmo tempo, um grande aglomerado industrial
de abrangência regional, comportando forças produtivas distintas, causando um
descompasso entre o processo de desenvolvimento social e o produtivo, em
detrimento das alterações do ritmo da natureza, ou seja, vivenciamos dois tempos
em um mesmo espaço, o da natureza e o da sociedade.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

3.4. Uso e ocupação do solo urbano em bacias hidrográficas

O processo de urbanização no Brasil veio acompanhado de enormes desafios


para as cidades. De um lado, o rápido crescimento das cidades, surgindo grandes
aglomerados urbanos como as metrópoles do sudeste do país. De outro, a
capacidade de uso e ocupação do solo urbano pelos atores que compõem o
processo de urbanização.
No Caso de Vitória da Conquista, a morfologia de ocupação do solo urbano
demonstra que a cidade se desenvolveu de forma desordenada, não respeitando
diretrizes e critérios estabelecidos. A partir do núcleo inicial, o desenvolvimento do
traçado se espalha segundo os eixos viários, deixando grandes extensões territoriais
sem ocupação são as áreas de “engorda”, que marca a configuração do espaço da
cidade. Em contraponto, as áreas periféricas desqualificadas em termos de estrutura
urbana abrigam parcelamentos populares de baixa renda. Essa ocupação urbana,
advinda desde o século XVIII, teve o seu marco às margens do rio Verruga em áreas
próximas da sua nascente e com isso, a sua expansão deu origem uma série de
transformações nos corpos d’água que compunham as nascentes e mananciais da
bacia do rio Verruga, principalmente aqueles que fazem parte do Alto rio Verruga.
A análise do desenho urbano da cidade retrata a forma como se desenvolveu
e foi parcelada, e dela se pode obter um cenário da sua ocupação. Ainda com
relação ao espaço urbano, percebe-se que o uso da cartografia torna-se uma
ferramenta importante para o planejamento. Assim, a representação do urbano pode
ser entendida como sendo uma importante ação da cartografia que remete à
geografia o desenvolvimento de ferramentas de estudo da cidade, de forma a
compreender o processo de urbanização que evoluiu até o estagio atual e, futuras
projeções das formas e dinâmicas que possivelmente desencadearam nesse
processo.
Lefebvre (2004p. 85) chama atenção que o fenômeno e o espaço urbano não
são apenas projeção das relações sociais, mas lugar e terreno onde as estratégias
se confrontam. Esse confrontamento é dado pela projeção das relações sociais no
solo, daí que vem a necessidade de mapear o uso do solo urbano, sobretudo

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

quando este espaço materializa-se em áreas de nascentes e mananciais de bacias


hidrográficas, dos quais, emanam transformações nos corpos d’água da bacia.
Assim, o primeiro aspecto que chama a atenção quando se observa a
paisagem urbana é o choque dos contrastes, das diferenças. Contrastes que vão
desde o tipo de utilização que se faz da cidade à diferença entre as mesmas
utilizações, isto é, a diversidade dos usos do solo e dentro de cada uso, a
complexidade da vida em sociedade urbana.
Tais diferenciações baseiam-se no fato de que em função da divisão social do
trabalho, a cidade é antes de qualquer coisa uma concentração de pessoas
exercendo uma série de atividades concorrentes ou complementares, o que enreda
uma disputa entre usos. Por outro lado, a produção do espaço deverá,
necessariamente, refletir tais contradições.
Em contrapartida, o espaço da reprodução da vida se manifesta no uso
residencial, incluindo o lazer e a infra-estrutura necessária: escolas, creches,
hospitais, prontos socorros, transporte e serviços em geral, todos meios de consumo
coletivo. Entretanto, o modo de utilização se articula, necessariamente, à existência
da propriedade privada da terra e, portanto, as condições de acesso ao solo urbano
serão determinadas pelo valor que, em seu movimento, redefine constantemente a
dinâmica da utilização desse solo. De acordo com Carlos (1998): “Essa dinâmica
conduz, de um lado, a redistribuição do uso de áreas já ocupadas levando a um
deslocamento de atividades e/ou dos habitantes; e de outro à incorporação de novas
áreas que importam em novas formas de valorização do espaço urbano”.
Essa realidade exposta acima já é visível no espaço urbano conquistense,
pois, ampliou-se a área do centro comercial, atingindo bairros residenciais tais como
Bairro São Vicente, Sumaré e parte do bairro Recreio. Além da expansão dessas
atividades ao longo das principais avenidas que formam o eixo viário urbano da
cidade.
Com relação à configuração do território urbano do ponto vista político-
administrativo, a atual área foi definida de acordo com a lei municipal nº. 205/80, que
estabelece o atual perímetro urbano e, a lei nº. 798/95 estabelece oficialmente os
bairros para o arranjo espacial urbano da cidade. Mais recentemente, a lei nº.
952/98, cria novos bairros e redefine as fronteiras e limites do perímetro urbano, que

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

do ponto de vista funcional, é impreciso e não contempla áreas já urbanizadas ou


em outros casos, estende demais a área urbana, incluindo muitas localidades
tipicamente rurais ao contexto urbano. Tudo isso justificado por gestores, como uma
das maneiras de aumentar a arrecadação do município. Com isso, a cidade de
Vitória da Conquista, atualmente conta com 24 bairros que englobam diversas áreas
conhecidas popularmente como bairros e na verdade são loteamentos, mas que por
motivos ainda não explicados, são anexados nessa divisão interna que de fato não
está totalmente clara para a sociedade local.
O mapeamento do uso do solo urbano constitui elemento essencial para o
conhecimento do processo de urbanização de Vitória da Conquista e dos
condicionantes antrópicos da qualidade ambiental da área urbana, particularmente
na bacia do Rio Verruga.
Demandas de áreas verdes e de infra-estrutura de saneamento ambiental,
assim como a qualidade do ar e da paisagem urbana são fatores que variam, entre
as diversas localidades, em função do tipo de uso do solo e a intensidade de
ocupação que elas apresentam. A valoração dada pelo capital especulativo do setor
imobiliário acaba influenciando no destino final do uso e ocupação do solo urbano.
A análise do uso do solo urbano em bacias hidrográficas é marcada pela
busca do entendimento e do desvendamento da forma urbana e, sua amplitude na
condição sócio-ambiental da bacia hidrográfica e do lugar. Lefebvre (2004 p.116),
afirma que a forma urbana tende, certamente, a romper os limites que busca
aprisioná-la. Seu movimento procura sua via, o caráter contraditório desse
movimento permite uma relação antagônica entre o ambiente e o processo de
produção do espaço urbano.
Nesse sentido, a análise do uso do solo evidencia áreas da cidade onde o uso
é mais intenso, ou seja, onde existe maior densidade de área construída por metro
quadrado, a tipologia (horizontal e vertical) dessa ocupação, o padrão (baixo, médio
e alto) das edificações e o tipo de uso (residencial, industrial, comércio e serviços
etc.); permitindo variadas abordagens e relações que possam subsidiar análises,
diagnósticos e prognósticos geoambientais e ou sócioambientais.
Há que se observar que a área urbanizada de Vitória da Conquista-BA,
compreende todas as quadras e imóveis (terrenos vazios e terrenos em construção)

52
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

delimitados pelo decreto municipal de 1993, que cria o novo sitio urbano de Vitória
da Conquista.
Cabe ressaltar que do total da área coberta pelo perímetro urbano, cerca de
70% dela está inserida na drenagem da bacia do Rio Verruga; o que torna de suma
importância a análise do uso do solo urbano, para o desvendamento da estrutura
sócioambiental da bacia.
A classificação de uso e ocupação foi estabelecida da seguinte maneira: 1.
Uso Residencial Horizontal – Baixo Padrão; 2. Uso Residencial Horizontal – Médio e
Baixo Padrão; 3.Uso Residencial Horizontal - Médio e Alto Padrões; 4. Uso
Residencial Vertical – Médio e Baixo Padrão; 5. Uso Residencial Vertical – Médio e
Alto Padrão; 6. Uso Comercial e Serviços; 7. Uso Industrial e Armazéns; 8. Uso
Residencial e Comercial / Serviços; 9. Uso Residencial e Industrial / Armazéns; 10.
Uso Comercial / Serviços e Industrial / Armazéns; 11. Garagens; 12. Equipamentos
de Uso Público; 13. Hospital clinica e postos de saúde; 14. Feiras Livres; 15.
Escolas; 16. Terrenos Vagos; 17. Sítios chácaras e áreas não loteadas; 18. Outros
Usos; além dos usos como a agricultura, pastagem e áreas de vegetação.
Esta classificação é a base para o mapa de uso do solo urbano de Vitória da
Conquista e, cada quadra fiscal assume uma classe de predominância. Observe o
mapa da figura 5.

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Análise Socioambiental da bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de
Vitória da Conquista – BA.

Fig. 5: Mapa de uso e ocupação do solo urbano de Vitória da Conquista -BA

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Análise Sócioespacial Urbana:
do Mapeamento ao Planejamento Ambiental na Bacia do Rio Verruga - Vitória da Conquista – BA.

Esta predominância é estabelecida quando a área construída da classe de


maior incidência encontra-se entre 40% a 60% da área construída total da quadra.
No caso das quadras não ocupadas ou minimamente ocupadas, a predominância é
de terrenos vagos.
Verifica-se uma grande quantidade de área da base cartográfica digital, que
não fazem parte da mancha urbana, mas, no entanto, estão delimitadas como área
urbana. É o caso dos bairros de Campinhos, São Pedro, Universidade, Aírton Senna
e outros, nestes, percebe-se que mais de 70% do território são ocupados com Sítios
chácaras e áreas não loteadas.
As principais considerações sobre o uso e ocupação urbana em uma área
que compreende; diversas nascentes derivadas de um terreno de cobertura detrítica
com intensidade elevada é que a pressão sobre esses mananciais é muito grande,
pois do ponto de vista geoambiental, o sitio urbano é moldurado por uma bacia de
ordem Quatro e, em toda a extensão da malha urbana, compreende cerca de cinco
microbacias que convergem para a direção sul-sudeste e, é nesta mesma direção
que concentra toda a expansão urbana que, exerce uma grande influencia no
escoamento superficial, aumentando o fluxo de águas num mesmo canal,
propiciando inundações e alagamentos em período de chuva concentrada.

55
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

4. A DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS

A análise de sistemas sócioambientais implica a necessidade e a


possibilidade de articular processos de diferentes ordens de materialidade Leff
(2002, p.166). Esta análise do complexo-concreto remete aos paradigmas teóricos
cuja função é mediar a apreensão da realidade concreta, formando um par dialético
para a formulação de conceitos teóricos e práticos.
A emergência da questão ambiental no campo da geografia e particularmente
no estudo das bacias hidrográficas, traz à tona uma perspectiva de analise onde as
relações sociedade-natureza erguem-se dos processos sócioambientais, entendidos
aqui como sistemas complexos oriundos de diferentes níveis de espacialidade e
temporalidade que se materializam num dado espaço-tempo.
As bacias hidrográficas funcionam como unidades sócioambientais na medida
em que possui, um equilíbrio dinâmico em seu sistema geomorfológico, isso por ser
um sistema aberto com variáveis independentes. Zakia&Lima (1999), estudando a
hidrologia de matas ciliares, detectam que as bacias hidrográficas e suas matas
ciliares possuem valores de uso, que variam de acordo com o ponto de vista e do
interesse de diferentes setores de uso sendo na maioria das vezes conflitantes.
Mesmo assim, a bacia hidrográfica teria uma função de unidade na gestão da água.

4.1. A bacia hidrográfica como unidade de gestão da água.

As discussões teóricas sobre a questão da água, no estudo sócioambiental,


associadas com o estudo de bacias hidrográficas em sua estrutura e, inserindo neste
contexto, a problemática ambiental é, sobretudo, uma composição holística para o
conhecimento. Uma perspectiva analítica pode ser a da compreensão do que seja
ambiental nas cidades e em bacias hidrográficas. Com muita freqüência associa-se
o ambiental apenas ao natural, quando sabemos que contempla o social, pois,
sobretudo na cidade, o ambiente não se restringe ao conjunto de dinâmicas e

56
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

processos naturais, mas das relações entre estes e a dinâmica e processos sociais.
Ora, se o ambiental é a síntese, ainda que contraditória, entre o natural e o social, o
embate seria, antes, entre o social e o político, sendo a questão ambiental, uma das
expressões mais complexas deste conflito, (Sposito, 2003).
Num certo sentido, a complexidade ambiental pode encontrar suporte de
análise para a compreensão dos problemas advindos da relação sociedade
natureza, ou melhor, entre os processos naturais e sociais na adoção do estudo
integrado das bacias hidrográficas. As bacias funcionam como unidade sócio-
ambiental e nesse sentido permite revelar as conseqüências ambientais da ação
humana bem como na proposição da formas gestoras mais condizentes com a
realidade de cada ambiente e de cada composição social nela vigente.

4.2. A bacia hidrográfica e seu desempenho como unidade integradora.

A bacia hidrográfica é tradicionalmente considerada como a unidade


fisiográfica mais conveniente para o planejamento dos recursos hídricos, por
constituir-se em sistema aberto de fluxo hídrico. Portanto, o comportamento
hidrológico da bacia hidrográfica pode ser avaliado através dos atributos fisiográficos
inerentes à sua área e aferido através dos registros fluviométricos.
Segundo Granell-Pérez (2004), a bacia hidrográfica ou bacia de drenagem é
constituída pelo conjunto de superfícies que, através de canais e tributários, drenam
água da chuva,sedimentos e substâncias dissolvidas para um canal principal.
A rede hidrográfica, responsável pela drenagem de uma bacia possui
configurações ou arranjos espaciais que refletem a estrutura geológica e a
composição morfogenética da área da bacia. Neste sentido, cada bacia ou micro-
bacia hidrográfica desempenha um papel importante nos moldes da ocupação
territorial, já que essas configurações definem diferentes padrões de drenagem e,
por conseguinte, combinações de padrões que, podem caracterizar-se numa
unidade territorial facilitadora das atividades desenvolvidas pelas sociedades locais
ou, ao contrário, combinar ações que comprometem certos tipos de ocupação.

57
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A visão integrada entre as fases de precipitação, escoamento superficial,


infiltração e armazenamento da água, associada ao processo de ocupação do
território e os diversos tipos de uso pela sociedade, fornece um arsenal de condições
a serem analisadas e interpretadas, para a compreensão do uso racional da água
em cada bacia hidrográfica.
Uma bacia hidrográfica pode ser analisada de acordo com as funções de uso
pela sociedade. Assim, podemos destacar alguns itens que merecem ser analisado
numa escala de prioridade para a gestão da água, entre elas: a drenagem da bacia,
o abastecimento humano e o saneamento, a manutenção da ictiofauna, a geração
de energia, a produção de alimentos, a navegação e outros usos diversos.
A drenagem da bacia representa ao mesmo tempo a dimensão territorial da
área e a integração dos diversos componentes de caracterização natural da bacia e
de ocupação humana. A dinâmica da drenagem ao longo do tempo geológico,
promove mudanças na topografia do terreno, aumentando ou diminuindo as
rugosidades, os aclives e declives, permitindo certa evolução do relevo. No entanto,
a ocupação desordenada do território das bacias hidrográficas, com rápidas
mudanças decorrentes das atividades humanas, acelera os desequilíbrios nos solos,
nas vertentes e encostas, nos vales fluviais e em toda a drenagem da bacia. Cunha
& Guerra (1996), destacam algumas atividades que causam degradação, entre elas
estão; o desmatamento, as práticas agrícolas, a mineração, a urbanização e outros.
O abastecimento humano, o saneamento, a produção de alimentos e a
geração de energia, representam a base para a implementação das políticas de
gestão da água nas bacias hidrográficas, pois tais atividades interferem diretamente
na disputa pelo uso da água.
O estudo da disponibilidade e do uso da água em bacias hidrográficas,
concentra esforços no intuito de manter uma base mínima para o planejamento e
implementação de políticas para a gestão de forma sustentável e integrada,
buscando oferecer aos interessados, uma visão genérica e exploratória, de forma
quantitativa e qualitativa do potencial dos recursos hídricos.

4.3. O embate das questões sociais e ambientais em bacias hidrográficas.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Nos últimos anos, o homem tem participado como agente acelerador dos
desequilíbrios da paisagem, principalmente pelas atividades diretamente
desenvolvidas nas bacias hidrográficas. Isso por que, a bacia hidrográfica funciona
como unidade integradora tanto das coisas da natureza quanto das atividades
humanas, percebe-se que, entre um divisor de águas e outro, há sempre uma
paisagem em transformação pela ação humana.
O diagnóstico sócio-ambiental das bacias hidrográficas em área urbana prevê
uma análise das características geoambientais tais como: uso do solo, cobertura
vegetal, estrutura geomorfológica e potencial hídrico; dos desequilíbrios e da
degradação ambiental provocada pela ação humana. Busca-se também analisar a
qualidade da água principalmente nos mananciais que abastece as populações de
cada bacia.
Atualmente, o desmatamento, a poluição das águas com os despejos
sanitários e industriais, faz com que se acelerem os impactos e desequilíbrios
ambientais nos rios. Neste caso, um estudo para este fim deve prever um
diagnóstico das condições sócio-ambientais da área que possibilitará um
planejamento sistematizado para uma possível intervenção na problemática
detectada, com medidas de caráter preventivo para o controle da poluição das
águas, da diminuição do desmatamento, principalmente das matas ciliares e da
cobertura vegetal da bacia hidrográfica.
A bacia hidrográfica enquanto estrutura natural tem início na origem na
consolidação do ciclo hidrológico da terra e, por muito tempo, manteve seu status de
funcionamento, desvinculado das atividades humanas, ocorrendo alterações
somente de causas naturais. Com o advento da sociedade, sua ambientalização e
territorialização, proporcionaram uma “tecnificação do espaço” (Moreira, 2007, p.85;
Santos, 2008, p.97), com isso, o homem apropriou-se da natureza, transformando-a
em recursos para a produção cada vez mais diversificada.
Assim, a água disponível nas bacias hidrográficas entra no contexto da
utilização, sua crescente utilização modifica a condição natural da água e da própria
bacia hidrográfica, os corpos d’água perdem qualidade tanto na composição para o
abastecimento humano quanto na manutenção da vida aquática, alterando todo o
ciclo hidrológico e o ambiente como um todo.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Nos dias atuais, a preocupação com a preservação ambiental, vem se


intensificando e repercutindo com campanhas direcionadas a essa problemática.
Diante disso, faz-se necessário desmistificar a idéia de que o ambiente seja apenas
um conjunto de plantas e animais. Na realidade, engloba amplamente um conjunto
de elementos dinâmicos, inclusive a presença humana que possui importância
fundamental nesse contexto, especialmente no que se refere à utilização dos
recursos naturais e especificamente dos recursos hídricos, uma vez que tais
recursos são vistos, muitas vezes, apenas de forma utilitarista. Assis (1995:12),
afirma que a água é um recurso natural essencial à vida em suas diversas formas.
Sobre a utilização desses recursos, de forma utilitarista, Quintão, ressalta:

Ora a relação do homem com a natureza não pode ser entendida apenas no
seu conteúdo utilitarista, dependente e dominada por ele. Embora as
qualidades e qualificações dos recursos da flora e da fauna possam ser
úteis ao homem, que em determinadas situações, pode e deve intervir sobre
eles para aperfeiçoar a sua capacidade produtiva, é preciso lembrar que o
meio natural é constituído de seres vivos, com funções próprias dentro dos
respectivos ecossistemas e que nem sempre inclui o homem no seu ciclo de
reprodução. (QUINTÃO apud Casseti 1995:35).

É notável perceber que o homem, enquanto parte da natureza, mantém com


esta uma relação de dominação em diversas escalas de abrangência espacial. Essa
relação é, sobretudo, uma relação de poder assumida pela ação das forças
produtivas materializadas nas relações de produção do modo de produção
capitalista.
A utilização do espaço natural foi com o passar do tempo, modificando e
adaptando-se conforme a necessidade de apropriação da natureza criada pelo modo
de produção capitalista, via produção industrial, onde o grau de desenvolvimento
tecnológico, em estágio mais avançado, diminuiu em parte a exploração da
natureza. Sobre essa transformação, Casseti, afirma:

“É através da transformação da primeira natureza em Segunda natureza


que o homem produz os recursos indispensáveis a sua existência, momento
em que mentaliza (a neutralização da sociedade) incorporando ao seu dia-
a-dia os recursos da natureza ao mesmo tempo em que socializa a natureza
(modificação das condições originais e primitivas)”. CASSETI (1995:12).

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Pode-se dizer que a natureza e o homem se integram e interagem o que é


percebido por MARX (1984) quando descreve que “a natureza separada da
sociedade não possui significado”.
Os problemas ambientais constituem uma das principais preocupações do
homem, visto que vários recursos naturais estão ficando cada vez mais escassos.
Sabe-se que na natureza, o homem é mentor de grandes degradações ambientais
no mundo provocados por vários fatores como: “[...] a crescente industrialização
concentrada em cidades, a mecanização da agricultura em sistema de monocultura,
a generalizada implantação de pastagens, a intensa explosão de recursos
energéticos e matérias-primas como carvão mineral, petróleo, recursos hídricos e
minerais, tem alterado, de modo irreversível, o cenário da Terra e elevando, com
freqüência os processos degenerativos profundos da natureza”. (CUNHA&GUERRA,
1996).
As conseqüências das atividades humanas que provocam mudanças no
ambiente levantam debates tanto para as ciências naturais como para as sociais.
Portanto, os efeitos ao meio ambiente provenientes do processo produtivo devem
ser analisadas a fim de verificar as causas e a intensidade para posteriormente
determinar medidas preventivas, principalmente no que se refere à poluição.
A intensa produção desordenada, voltada para o consumo, intensificou os
processos de degradação ambiental em escala local, regional e global, atingindo
níveis elevados de poluição das águas, de desmatamento, processos erosivos em
alguns casos, processo de desertificação. Sobre essa questão, Cunha descreve:

Existem regiões do planeta, em especial as áreas intertropicais onde as


sociedades mantêm a alta produtividade através de ocupação de novas
terras, à medida que a degradação ambiental avança. Em outras regiões é
possível manter a produtividade elevada devido ao uso intensivo de
fertilizantes e defensivos agrícolas. Dessa forma, poder-se-ia questionar
que, nesses casos não existiriam custos sociais nem econômicos da
degradação. Mas por outro lado caso a degradação não ocorresse as
sociedades não precisariam utilizar novos recursos naturais, abandonando
antigas terras, investir em produtos químicos, para manter os níveis de
produtividade. CUNHA&GUERRA (1996: 342).

Os desequilíbrios causados na paisagem pela degradação, quer numa bacia


hidrográfica ou em um de seus compartimentos, tais como: encostas, vales,

61
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

meandros ou nascentes e mananciais, são em alguns casos irreversíveis e,


provocam danos tanto para a natureza quanto para a sociedade centrada neste
ambiente.
A degradação ambiental e um posterior desequilíbrio na paisagem, provocado
pela intensificação das forças produtivas, sempre ocorrem dentro um conjunto de
elementos setorizados onde uma bacia hidrográfica é o agente integrador entre os
setores naturais e sociais. Segundo ROCHA (1991:33), “[...] no passado, a ocupação
de uma bacia hidrográfica foi realizada com pouco planejamento, visando o máximo
de benefício com o mínimo de custo, sem a preocupação com o ambiente”. Mas não
somente no passado, pois atualmente, constata-se cada vez mais ocupações
desordenadas. Assim, seja pelo aumento da população ou pela expansão da
produção da economia, a exploração das águas e outros recursos naturais vem
aumentando deteriorando-os cada vez mais.
Portanto, deve-se considerar que a bacia hidrográfica é integradora e precisa
ser administrada levando-se em conta essa questão, a fim de que os impactos
ambientais sejam minimizados. Barth (1987) ressalta que as alterações quantitativas
dos recursos hídricos, provocadas pelos poluentes e detritos, assim como o
assoreamento dos corpos de água em áreas rurais ou urbanas devem ser objeto de
controle pelos órgãos competentes.
No Brasil, diversas leis, decretos e portarias foram implementadas para a
regulamentação do uso dos recursos naturais e preservação do ambiente. Em
agosto de 1981, foi criada a Lei n. º 6.938, que estabelece a Política Nacional do
Meio Ambiente, cujo objetivo é a preservação, melhoria e recuperação da qualidade
ambiental, visando assegurar ao País, condições de desenvolvimento sócio-
econômico, com interesses na segurança nacional e na proteção da dignidade da
vida humana. Em janeiro de 1997, foi sancionada a Lei N° 9.433 que institui a
Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos, que regulamenta o inciso XIX do Artigo 21 da Constituição
Federal, e altera o Artigo 1º da Lei 8.001, de 13 de Março de 1990, que modificou a
Lei 7.990, de 28 de Dezembro de 1989. O objetivo principal desta lei é a prevenção
e uso racional das águas e proposição da criação dos comitês de bacias
hidrográficas.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A interferência na natureza de modo acentuado provoca alterações até certo


ponto irreversíveis ao ambiente de modo que para intervenções futuras, necessita-se
de estudos prévios que leve a um diagnóstico do quadro sócio-ambiental do lugar.
Existe atualmente, uma preocupação com a quantificação de impactos que a
exploração humana provoca nas bacias hidrográficas, para que sejam adotadas
medidas que minimizem os danos à natureza. (ROCHA, 1991:68), comenta ainda
que o planejamento de ocupação de uma bacia hidrográfica seja uma necessidade
numa sociedade com usos crescentes da água, tende a ocupar espaços com riscos
de inundações, além de danificar o meio ambiente. Percebe-se que a tendência
atual envolve o planejamento integrado da bacia hidrográfica, que implica no
aproveitamento racional dos recursos naturais com mínimos danos ao ambiente.
Dessa forma, em muitos países, tem-se utilizado a bacia hidrográfica como
unidade de planejamento e gestão, compatibilizando os diversos usos e interesses
pela água e garantindo sua qualidade e quantidade. Os planos de gerenciamento de
bacias hidrográficas devem contemplar a utilização múltipla dos recursos da água
levando em conta a qualidade do ambiente e da vida da população. (ARAÚJO N. et.
all. 1995).
No Brasil, esses planos têm privilegiado, na maioria das vezes, um único
aspecto de utilização dos recursos hídricos (irrigação, saneamento, geração de
energia), o que vem acarretando problemas de ordem sócio-econômicas, pois, esses
planos não estão diretamente relacionados com o desenvolvimento sustentável, que,
dentre outras coisas almejam a melhoria da qualidade de vida presente e futura da
população, considerando as limitações dos ecossistemas para conservar o estoque
dos recursos existentes.
A criação do Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas-
CEEIBH em 1978, fortalece o critério de gestão para bacias hidrográficas, cujos
objetivos são de: realizar estudos integrados, monitorar os usos da água, classificar
seus cursos e coordenar as diversas instituições envolvidas.
A análise Sócioambiental de bacias hidrográficas evidencia-se a necessidade
de um estudo integrado, com a definição fisiográfica das bacias e micro bacias
hidrográficas, aliado ao plano de gestão ambiental, e do diagnóstico do processo de

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

degradação ambiental, para uma avaliação consistente dos problemas ambientais


que ocorrem na bacia hidrográfica.

4.4. A gestão da água: uma questão de democracia e de solidariedade

“Sendo um recurso renovável, indispensável à vida, a água deve ser objeto de


uma gestão e de um controle muito atentos”, (Raffestin, 1993p. 231), isso porque
como qualquer outro recurso, a água é motivo para relações de poder e de conflitos.
Nos dizeres de Petrella (2004), existe um principio básico para a gestão da água na
atualidade que diz respeito ao argumento do contrato mundial, no qual define a água
como “um patrimônio global comum vital”, que está pautado no acesso básico da
água para todos os seres humanos e todas as comunidades humanas (um direito
inalienável político, econômico e social, ao mesmo tempo individual e coletivo). Além
disso, Petrella defende um gerenciamento integrado e sustentável da água, de
acordo com os princípios de solidariedade, associado à metas prioritárias para a
ocorrência dessa gestão.
Na gestão da água, o controle e/ou posse desse bem, são, sobretudo de
natureza política, pois interessam ao conjunto de uma coletividade, (Forbes, 1981 in:
Raffestin, 1993p. 231). Essa visão de gestão pode propiciar a adoção de uma
política de múltiplo uso pautada em referencias de valoração que leve em
consideração os valores fisiológicos, físicos, sociais e culturais.
Quanto ao uso das águas em bacias hidrográficas, Branco (1997) afirma que
os mananciais hídricos comportam os múltiplos usos desde que as diferentes
atividades humanas tais como: geração de energia, pesca, dessedentação de
animais, esportes, recreação, saneamento e outros; não impliquem em prejuízos
para a qualidade da água.
Neste sentido, as estratégias para a proteção da qualidade dos recursos
hídricos envolvem entre outras coisas: um diagnóstico sócio-ambiental da bacia, o
zoneamento das terras nas respectivas bacias, a definição de diretrizes para o

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

disciplinamento dos múltiplos usos. É neste contexto que insere-se o programa de


adoção do plano diretor de recursos hídricos em bacias hidrográficas.
Se analisarmos a disponibilidade de água, fica evidente uma grande distorção
entre o contingente populacional e o acesso à água potável que, segundo a ONU –
(Organização das Nações Unidas), cerca de 1/5 da população mundial não têm
acesso a este tipo de serviço ou sofre de algum tipo de restrição para a sua
obtenção. Sendo que mais de 2,3 bilhões de pessoas não tem qualquer sistema
sanitário ou de purificação da água de esgoto (PNUD, 1998, in: Petrella 2004).
Podemos destacar neste contexto, novas possibilidades de gestão da água já
que os modelos de gestão usados no passado pautado no intervencionismo, não
tem tido resultados satisfatórios e não conseguem solucionar os problemas de
escassez da água. No entanto, o modelo de desenvolvimento sustentável que está
sendo difundido por gestores e ambientalistas, mundo a fora, não garante condições
favoráveis para toda a população da Terra. Pois, para muitos críticos desse modelo,
ele protegeria a base natural necessária para a reprodução das condições de
existência de apenas 1/3 da população do Planeta (Ribeiro, 2001). Uma vantagem
disso é que a idéia de desenvolvimento sustentável estimula ao surgimento de
novas maneiras de produção e a discussão do devir da vida humana na Terra.
As bacias hidrográficas funcionam como unidade de gestão da água desde
que sejam assim compreendidos pelos órgãos gestores, e ao mesmo tempo,
consigam solucionar o problema de desigualdade existente no contexto das
sociedades que compõem o território representado em cada bacia hidrográfica. Uma
coisa é certa, não dá para estender os padrões de vida e consumo da maioria dos
países ricos para toda a população do planeta. Neste sentido, temos que repensar o
modo como entendemos a sociedade na atualidade. Ribeiro (2001) aponta o
descompasso entre o ritmo de reposição da natureza, de seus processos longos de
duração e o ritmo intenso da acumulação do capital, resultando numa aniquilação
das estruturas vigentes.
O que podemos pensar é que a água é um recurso escasso, um bem vital,
econômico e social (WWC, 1999 In: Petrella, 2004). Sendo assim, o gerenciamento
racional e eficiente dos recursos hídricos requer uma cultura e práticas econômicas
rigorosas, com metas de desempenho, satisfazendo as condições mínimas de

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

consumo humano, pois a água é um fator primário para a saúde, desta forma o
controle da água deve ser atribuído de forma solidária e democrática.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

PARTE II – O GEOPROCESSAMENTO NA ANALISE SOCIOAMBIENTAL

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

5. APLICAÇÃO DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS NA ANÁLISE


SÓCIO AMBIENTAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS.

O estudo em questão leva em conta os pressupostos teóricos aplicados no


estudo geoambiental, utilizando recursos do geoprocessamento. Neste caso tornou-
se necessário o levantamento bibliográfico sobre as técnicas adotadas para a
implantação do SIG (Sistema de Informações Geográficas), além da elaboração do
mapa base e da construção do banco de dados, associando-se às técnicas da
cartografia para a geração de mapas temáticos da área urbana e da bacia
hidrográfica analisada.
A análise dos problemas ambientais decorrentes do processo de urbanização
na cidade de Vitória da Conquista-Ba, e as conseqüências desse processo nas
nascentes e mananciais que estão localizados na bacia hidrográfica do Rio Verruga
abrangendo o espaço urbano da Cidade, é o ponto de partida para o
desenvolvimento dessa análise. Para isso, foi feito um zoneamento das atividades e
dos atores que atuam no entorno das nascentes e mananciais, expandindo essa
análise para todo o espaço urbano, aplicando as técnicas de geoprocessamento,
que auxiliam no estudo das questões pertinentes ao tema.
Para a realização do estudo que se segue, foram utilizados levantantamentos
sistemáticos da estrutura geoambiental da bacia hidrográfica que será abordada no
capitulo seguinte. No mapeamento, foram utilizados imagens de satélite Landsat -
TM5 de 1999, fotografias aéreas digitais do mesmo período e estudo de campo;
posteriormente, foi realizado o zoneamento utilizando o software MapViewer6 para a
produção dos mapas temáticos sobre a problemática geoambiental urbana e da
bacia do Rio Verruga, no sentido de questionar a atual situação sócioambiental da
área e gerar informações que subsidiem na formulação de ações do poder público
que viabilize uma cidade mais equilibrada do ponto de vista social e ambiental.

5.1. O Geoprocessamento na análise geoambiental.

68
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

O processo de geração de informações geográficas utilizando SIG supõe o


uso de técnicas cujo processo é complexo, envolve as diversas fases que
compreendem o geoprocessamento.
No plano conceitual o geoprocessamento é um conjunto e não apenas um
ramo específico das técnicas avançadas para registrar os fenômenos geográficos, o
tratamento e armazenamento dos dados para a confecção de um mapa. Neste caso,
o georreferenciamento das informações e seu processamento necessitam dessas
técnicas abordadas. A este conjunto de técnicas é denominado geotecnologias
(TEIXEIRA & CHRISTOFOLETTI 1999).
Brito&Rosa, (1996) chamam atenção para a diferença básica entre
geoprocessamento e o Sistema de Informações Geográficas observando que, o
software e sua aplicação fazem a diferença determinando a interface entre ambas.
Há que se considerar que essas tecnologias são interdependentes.

O geoprocessamento pode ser definido como sendo o conjunto de


tecnologias destinadas a coleta e tratamento de informações espaciais,
assim como o desenvolvimento de novos sistemas e aplicações, com
diferentes níveis de sofisticação. Em linhas gerais o termo
geoprocessamento pode ser aplicado a profissionais que trabalham com
processamento digital de imagens, cartografia digital e sistemas de
informação geográfica. (BRITO&ROSA 1996, p.7).

Assim diferem o geoprocessamento e SIG somente no trato do conceito, pois


geoprocessamento e SIG são interdependentes. Pelo fato de serem
interdependentes, o geoprocessamento envolve todas as etapas do processo de
desenvolvimento da informação desde o princípio, na geração da imagem e seu
processamento, tornando-se importante na confecção da base cartográfica, (dados
vetoriais) que permite confiabilidade e visualização da informação além de consulta
na própria imagem (dados raster). Assim, a entrada de dados espaciais e de seus
atributos tem como ponto de partida essas tecnologias.
Neste caso, destacam-se a fotografia convencional, produzida a partir de
levantamentos aerofotogramétricos, e o processamento de imagens orbitais obtidas
por satélite. É importante ressaltar que nenhum processo de geração de mapas a
partir de imagens orbitais e, ou fotografias aéreas exclui o trabalho de campo -

69
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Reambulação. Neste contexto, a cartografia digital é utilizada na produção da base


cartográfica onde serão implementadas as informações geográficas.
A aplicação do GPS (Global Positioning System) é muito importante para o
georreferenciamento dos dados. Para Teixeira&Christofoletti (1999),
georreferenciamento é a “Situação em que uma entidade geográfica é referenciada
espacialmente por meio de sua localização, utilizando para tal um sistema de
coordenadas conhecidas”.
E por último, o Sistema de Informações Geográficas propriamente dito,
compondo o bloco das geotecnologias. No entanto, cabe analisar o SIG no contexto
do geoprocessamento; para Brito&Rosa:

O Sistema de Informação Geográfica é um caso especifico do Sistema de


Informação. Seu desenvolvimento começou em meados da década de 60. O
primeiro sistema a reunir as características de um SIG foi implementado no
Canadá, em 1964, sendo chamado de “Canadian Geographic 1nformation
System”. Em seguida foram desenvolvidos outros sistemas. Dentre eles
podemos destacar os sistemas de New York Land use and Natural
Resources Information Systems (1967) e Minnesota Land Management
Information System (1969). Nas décadas posteriores ocorreram
consideráveis avanços em equipamentos e software. permitindo o
desenvolvimento de sistemas mais potentes e novas aplicações,
popularizando principalmente os CAD’s (Computer Aided Design). cujos
objetivos são diferentes dos SIG’s, No começo da década de 80. A evolução
da tecnologia foi afetada pelos avanços cm hardware e software, com o uso
mais efetivo na manipulação das informações geográficas, bem como a
ligação entre a base de dados gráfica e alfanumérica (BRITO&ROSA, 1996.
p.8).

Do ponto de vista conceitual, Teixeira&Christofoletti(199), consideram SIG um


Sistema baseado em computador, que permite ao usuário coletar, manusear e
analisar dados georreferenciados. Nessa direção, de forma mais abrangente, ROSA
ampliam o raio de ação do SIG incluindo a base cartográfica, para que seja dada a
referência espacial destacando, como parte de um sistema mais amplo. Destaca
ainda que a tecnologia do SIG automatiza tarefas que eram feitas manualmente
facilitando complexas análises, através da integração de dados de diversas fontes.
Assad&Sano,(1993) destacam a agilidade de manipular as informações,
considerando o geoprocessamento, e dentro dele o SIG, como sistema destinado
ao tratamento automatizado de dados georreferenciados que manipula dados de
diversas fontes e formatos dentro de um ambiente computacional ágil e capaz de

70
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

integrar as informações espaciais temáticas e gerar novos dados derivados dos


dados originais.
Para Lamparelli et all. (2001), ocorre uma divisão dentro do SIG formando um
sistema que engloba programas, procedimentos e módulos, ou subsistema integrado
e projetados para dar suporte ao armazenamento, processamento, análise,
modelagem e exibição de dados ou informações espacialmente referenciadas,
constituída numa única base de dados. Embora apareçam os subsistemas, estes
não são independentes, mas visam permitir a manipulação das camadas e ou layers
em módulos de acordo com o objetivo do SIG. Nesta perspectiva, pretende-se que
vários setores utilizem o mesmo sistema, ou parte dele, em rede, ou de forma
individual a partir de uma matriz única-a base cartográfica georrefenciada.
Hoje o Sistema de Informações Geográficas tem sua aplicação em vários
setores, desde o comércio, até nas mais avançadas empresas de telecomunicações.
Todavia é no serviço público que se nota a carência desse meio de informação. É
importante ressaltar que há outros tipos de informações conhecidas apenas como
informações gerenciais, cujo plano se assenta em uma base de dados sem
vinculação com a base cartográfica.
Nesta mesma linha, ASSAD & SANO (1993) ampliam o conceito de SIG
destacando suas principais características chamando atenção para a possibilidade
de:
- Integrar numa base de dados, as informações espaciais provenientes
de dados cartográficos, dados de censo e cadastro urbano e rural,
imagens de satélite, redes de MNTs ( modelos numéricos de terreno)
- Combinar várias informações através de algoritmos de manipulação,
para gerar mapeamentos derivados;
- Consultar, recuperar, visualizar e desenhar o conteúdo da base de
dados geocodificadas.
Dentro dessas características, temos um esboço da aplicação do SIG em
áreas específicas, tendo como produto final o desenho, aqui classificado como
mapa. O que se propõe, pois, com o sistema, é a associação da base cartográfica,
com as variáveis a serem operacionalizadas e, realizado o georreferenciamento;
associar ao banco de dados chegando ao objetivo que é a geração de documentos

71
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

relacionados à Cartografia Temática. Todo esse processo deve levar então à tomada
de decisões via consulta e visualização.
Hoje, com as avançadas técnicas de obtenção de fotografias aéreas digitais e
a evolução da aerofotogrametria é possível adquirir produtos de qualidade e
precisão. O avanço no imageamento por satélite também tem dado suporte ao
mapeamento. Consideramos, entretanto, algumas dificuldades que estão sendo
sanadas a partir do uso do Satélite Ikonos, que gera produtos em escala grande
para cadastro urbano.
Outro avanço a ser considerado é o georreferenciamento por parâmetros
orbitais que permite estabelecer coordenadas UTM e geodésicas com facilidade.
Seguem-se os avanços na área da geodésia com o surgimento do GPS de precisão
e das Estações Totais. O importante é a aquisição dos produtos que permitam
precisão e qualidade. Notamos que as dificuldades encontradas referem-se ao preço
destes produtos, o que muitas vezes o valor é alto para o poder público em
prefeituras de pequeno porte.
Diante das considerações sobre Geoprocessamento e SIG observa-se que a
Cartografia tem papel importante no processo de geração de uma base de dados, a
elaboração da base cartográfica deve requerer critérios rigorosos visando facilitar
problemas na alocação dos dados geográficos.
O conceito de cartografia tem sido objeto de discussão durante o processo de
evolução desta ciência. Assim, para chegar à sua conceituação passa-se,
necessariamente, por uma discussão inicial que diz respeito ao conceito da própria
Cartografia, tendo como base as definições apresentadas por diversos autores. Para
Oliveira, por exemplo, a cartografia é:

Vocábulo criado pelo historiador português Visconde de Santarém, em carta


de 8 de dezembro de 1839, escrita em Paris, e dirigida ao historiador
brasileiro Adolfo Varnhagem. Antes da divulgação e consagração do termo,
o vocábulo usado tradicionalmente era cosmografia. 2. Conjunto de estudos
e operações científicas, artísticas e técnicas, baseado nos resultados de
observações diretas ou de análise de documentação, visando a elaboração
e preparação de cartas, projetos e outras formas de expressão, bem como a
sua utilização (ACI). OLIVEIRA (1988:97).

Embora se limitasse à carta topográfica como conceito inicial e posteriormente


ao mapa, os conceitos vinculavam aos procedimentos apenas analógicos – mapa
impresso sobre papel. Estes procedimentos envolviam observação direta,

72
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

preparação de originais e produção final do mapa. Com a evolução da produção


cartográfica, da obtenção de fotografias aéreas e da geomática, o conceito evolui as
aplicações em meio digital.
Com os avanços da geomática e dos sistemas CAD, CAC e CAM e demais
aplicações em meio digital, o conceito modifica e, conforme Brito&Rosa (1996),
“Pode ser entendida como sendo a tecnologia destinada à captação, organização e
desenho de mapas”. Para ASSAD E SANO (1993) “Mapa é uma representação
gráfica dos fenômenos geográficos geralmente numa superfície plana e que num
ambiente computacional, a noção deve ser entendida para incluir diferentes tipos de
dados geográficos, como imagens de satélite e modelos numéricos de terreno”.
Conceitos mais recentes que levam em conta as novas técnicas dão conta
que a Cartografia é a Organização, apresentação, comunicação e utilização da
geoinformação nas formas visual, digital ou táctil que inclui todos os processos de
preparação de dados, no emprego e estudo de todo e qualquer tipo de mapa.
Nesse sentido, ocorre uma ligação direta do mapa com o Sistema de
Informações Geográficas, tanto em meio digital quanto analógico. Convém observar
que recentemente há uma definição do mapa como: Apresentação ou abstração da
realidade geográfica, ferramenta para apresentação da informação geográfica nas
modalidades visual, digital e tátil. No caso específico da base cartográfica, convém
observar sua função no Geoprocessamento, pois é essencial ao SIG, uma vez que
lhe é parte intrínseca. Assim, a base cartográfica é:

Um mapa que contém os elementos planialtimétricos fundamentais


necessários à apresentação de um determinado espaço geográfico. Um
conjunto de dados cartográficos arranjados em forma de mapa, propiciando
referencias para os dados do usuário. TEIXEIRA & CHRISTOFOLETTI
(1999p 55).

Sobre as diferentes formas de apresentação do mapa OLIVEIRA (1988)


estabelece as diferenças básicas entre a carta, o mapa e a planta. Neste caso,
interessa-nos os conceitos sobre carta a planta. É fato que o traçado urbano toma
várias formas, dependendo da topografia. Embora, ainda um pouco impreciso,
alguns autores, como OLIVEIRA, destaca que:

73
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Carta urbana é uma carta em escala grande das áreas de concentração


populacional incluindo os seus subúrbios, em geral com a representação
detalhada dos logradouros públicos e das informações inerentes às ruas;
dos edifícios mais importantes e outras características compatíveis com a
escala da carta. Sempre que houver importância, o relevo será
representado. O mesmo que planta da cidade. (OLIVEIRA 1988 p. 83).

No plano conceitual, a cartografia temática parte sempre de um mapa básico


ou mapa de fundo. Embora pareça menos rigoroso na precisão, é necessária uma
base segura para evitar erros de análise e tomada de decisões. Será neste mapa
que deve-se fazer a leitura e buscar informações para análise espacial. Portanto,
todas as informações contidas no mapa devem ser o mais próximo da realidade
evitando, no trato estatístico, intervalos longos, adotando escalas compatíveis e
simbologias adequadas. Estabelece-se assim que Cartografia Temática:

Trata da parte da Cartografia que diz respeito ao planejamento, execução e


impressão de mapas sobre um fundo básico, ao qual serão anexadas as
informações através da simbologia adequada, visando atender às
necessidades de um publico especifico (DUARTE, 1995, p.7)

Para Brito, a coerência é importante para a representação dos fenômenos ao


afirmar que “A Cartografia Temática é um ramo especifico da Cartografia, cujo maior
objetivo é apresentar a distribuição espacial de uma ou mais ocorrências ou
fenômenos sobre uma base cartográfica coerente ou precisa”. (BRITO, 2002, p.5). É
comum a concepção de que o mapa temático deve emitir uma informação ou
comunicar, observando que “Da mesma forma que a representação gráfica em geral,
a Cartografia Temática em seu âmbito especifico, tem uma tríplice função: registrar,
tratar de comunicar informações” (MARTINELLI, 1991, p.38). Neste caso, chamamos
atenção para o fato de manter os dados sempre atualizados através de registros
temporários. Martinelli (2002) destaca o processo de informatização na elaboração
de mapas temáticos. A substituição do mapa elaborado analogicamente por meio
digital pode ser encontrada hoje em softwares mais comuns para SIG que permitem
elaborar mapas temáticos a partir de bases disponíveis e ou adicionadas. Assim:

Hoje, grande parte da geração, tratamento e fornecimento de informações


estão automatizados. Diz-se da informática, a ciência que aplica à
informação um tratamento lógico e automático. É possível, assim, acelerar o
fluxo de informações solicitadas pela demanda, diminuindo sensivelmente o
tempo entre as observações de campo e a disponibilidade das informações
para os usuários (MARTINELLI, 1991, p. 43).

74
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Do ponto de vista dos que tratam com rigor o SIG, o mapa temático não se
constitui como tal, mesmo em meio digital, mas é produto do SIG. Os requisitos de
um SIG de maior envergadura podem ser notados no processo de mapeamento
temático digital, desde sua precisão até possibilidade de georreferenciamento. É
certo, também, que todo SIG gera mapas temáticos. Todavia, não é senso comum
que todo programa de mapeamento temático seja, por natureza um SIG.
MARTINELLLI (1991) propõe um sistema mais abrangente envolvendo a
realidade e resultando no mapa. Refere-se à realidade mapeável em contato com a
realidade reconhecida no espaço. Destaca o papel do mapeador como responsável
pela informação que permita que o leitor extraia a informação de forma mais fácil.
Tudo tem como início e final o mapa.
A leitura e análise do mapa requerem experiência acumulada e técnica, bem
como um procedimento coerente por parte do cartógrafo ou mapeador a fim de evitar
distorções no processo de extração de informações do mapa.

5.2. Geoprocessamento e planejamento ambiental em bacias hidrográficas

O planejamento nos moldes convencionais é destinado prioritariamente para


áreas de maior concentração humana, sem preocupar-se com as demais porções
territoriais. Com isso, os resultados são limitados e não resolvem os problemas
propostos. No entanto, o planejamento numa proposição dialética, implica a
compreensão do ambiente de forma ampla e holística, de modo que as ações sejam
visualizadas no todo, porém, detalhável ao nível necessário para enfrentar os
problemas diagnosticados.
As bacias hidrográficas facilitam essa proposição, na medida em que
consegue integrar diversas especificidades das relações sociedade-natureza. Uma
delas é o processo de urbanização, principalmente quando esse processo
concentra-se em bacias hidrográficas de grande relevância, neste caso, há um
grande confrontamento de problemas a serem analisados.

75
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Assim, o planejamento ambiental é fundamental para a elucidação dos


diversos problemas existentes, oriundos das relações sociedade-natureza e para
uma fluidez da análise proposta. Mas não somente isso, é preciso saber que o
planejamento nos moldes tradicionais, sempre priorizou e valorizou o econômico em
detrimento das demais questões, neste sentido, o planejamento ambiental deve ser
visto como um agente diferenciado e integrador, que promove a equidade social e as
práticas culturalmente adequadas e que privilegie a qualidade de vida. Para Franco
(2001), o planejamento ambiental passa pelo planejamento territorial estratégico,
econômico-ecológico, sociocultural e agrícola, acrescido do planejamento urbano,
hidrográfico, geomorfológico, hidrogeológico entre outros. Almeida (1999) fala a
respeito do planejamento ambiental baseado na superação de conflitos:

Sendo o planejamento ambiental um processo de tomada de decisões,


relativo a um conjunto de problemas interdependentes da produção social
do espaço, significa que este planejamento se dá num contexto em
constante mutação, caracterizado por um alto grau de incerteza [...] a
antecipação da definição de ações a serem realizadas implica o
estabelecimento de um equilíbrio dinâmico ente compromisso e flexibilidade.
(ALMEIDA, et al., 1999, p. 128).

Neste contexto, o Geoprocessamento entra como um dos recursos que


proporciona ao planejamento ambiental, o detalhamento necessário ao diagnóstico e
prognóstico de forma mais abrangente e ao mesmo tempo holístico. Dada a sua
flexibilização ou pelo grau de interdependência proporcionado no processo de
tomada de decisões.
No caso da analise sócio-ambiental em bacias hidrográficas, o
geoprocessamento, utilizado no planejamento, resulta no Geoplanejamento, que na
visão de VEIGA&XAVIER-DA-SILVA, (2004 p.194.) “pode ser entendido como um
processo gerador de conhecimento necessário para a análise de uma determinada
área geográfica, levando em consideração a territorialidade e a espacialidade dos
fenômenos envolvidos e suas características geoambientais”.
O geoplanejamento proporciona uma maior amplitude na analise sócio-
ambiental, uma vez que desenvolve-se com ele ações paralelas entre o diagnóstico
e o prognóstico dos problemas detectados no processo, conforme o esquema da
figura 6. Assim, os termos geoplanejamento e planejamento ambiental passam a ter

76
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

uma simultaneidade, embora o planejamento ambiental possua características


resultantes da atuação dos processos de produção e reprodução social do espaço.
O geoplanejamento resultaria de uma especificidade transversal das categorias de
análise da geografia.

Planejamento Ambiental e Geoplanejamento urbano em Bacias Hidrográficas

I- Inventário II- Formulação IV - Análise das


alternativas

Dados Cartográficos objetivos e Diagnóstico


e fisiográficos da bacia metas do plano, sócio-ambiental
problematização,
linhas de ação definição das
Dados hidrgeologicos
da drenagem da bacia
alterantivas
elaboração
coletiva do plano viabilização
Dados da ocupaçao das propostas
e uso do solo da bacia implementação
comparaçao e
e gestão do plano
Dados da qualidade análises
da água
III- Mapeamento V - Avaliação
digital

MAPAS DIGITAIS IDENTIFICAÇÃO


BÁSICOS CLASSIFICAÇÃO Prognóstico
CORRELAÇÃO
INFORMAÇÃO ZONEAMENTO
AVALIAÇÃO Monitoria e
MAPAS DIGITAIS PREVISÃO (re)avaliação
ANALÍTICOS SIMULAÇÃO

Fig. 6: Esquema interpretativo do Planejamento Ambiental e Geoplanejamento urbano


Em bacias hidrográficas. (adaptado de Canholi (2005); Xavier da Silva (2004)

Tanto o planejamento ambiental quanto o geoplanejamento, são vistos como


processos dinâmicos e interdependentes que podem ser visualizados por etapas: a
primeira delas é o inventário que consiste na compreensão da realidade da bacia
hidrográfica para a proposição do diagnóstico no qual permite avaliar os principais

77
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

problemas da bacia, inserindo-se neste contexto o geoprocessamento que, subsidia


o geoplanejamento.
Posteriormente, a etapa do prognóstico que configura como uma das mais
importantes do ponto de vista sócio-ambiental já que, propicia alternativas de
intervenção, mediante a adoção de cenários. Um outro ponto do planejamento
ambiental participativo, é a capacidade de gestão plena das proposições do plano de
ação, nesta etapa, requer uma flexibilidade maior e uma continua evolução do
processo, por meio da fiscalização, da avaliação e reavaliação, da revisão e da
administração dos problemas advindos.

5.3. Procedimentos metodológicos da pesquisa e os requisitos para o


mapeamento temático da bacia

A analise Geoambiental integrada e reflexiva, fornece um arcabouço teórico-


metodológico que permite uma investigação mais consistente para a compreensão
da complexidade ambiental, pois o ambiente não é a ecologia, mas a complexidade
de mundo. Sendo assim, a emergência dessa temática, possibilita dentro da escala
do trabalho, entender as potencialidades e limitações de cada espaço geográfico,
permitindo estabelecer perspectivas de utilização, planos de manejo e de
conservação dos recursos e restrições ao uso. Fornece também subsídios para
avaliação da qualidade dos ambientes e de sua capacidade assimilativa das
pressões decorrentes da ocupação e da exploração dos recursos. Este elenco de
correlações, análises e sínteses permitirão uma compreensão mais detalhada das
condições sociais e hidroecológicas da área para a conclusão da analise e
diagnóstico sócio-ambiental.
Inicialmente faz-se necessário o uso de abordagens temáticas com análise,
seleção e hierarquização dos atributos dos componentes naturais e sociais da bacia
hidrográfica. Posteriormente, uma analise do uso desses componentes pelo ser
humano. Para detectar o nível de degradação geoambiental da área e os possíveis
desequilíbrios ocorridos com os sistemas, principalmente no tocante à parte

78
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

hidrológica, revelando as contradições do processo de produção do espaço neste


contexto.
O mapeamento dos processos sócio-espaciais da área urbana, em escalas
temporais e espaciais, define uma analise da produção e reprodução das relações
sóioespaciais e das relações de produção desenvolvidas no lugar.
A análise das ações humanas seja de cunho urbano e ou rural, que propicia
as relações campo-cidade, possibilitará uma avaliação do nível de interferência
nas condições naturais do rio seja por assoreamento, por desmatamento da mata
ciliar, da poluição e contaminação das águas que consiste na degradação ambiental.
Os estudos da capacidade e potencialidade hídrica da bacia permitem
entender os processos atuantes na alteração da estrutura natural tanto da drenagem
quanto a composição fluvial de todo o percurso analisado para se estabelecer o
potencial e as limitações do Rio e de parte da bacia que o integra.
A avaliação climática viabiliza o entendimento da organização do clima e sua
relação com a distribuição fitoecológica e limitações do regime hídrico. A análise da
precipitação permite o entendimento do potencial erosivo, elemento essencial para
conhecimento da ecodinâmica.
O estudo de vegetação por meio de uma definição fitoecológica, aponta as
formações, subformações, vegetação secundária e antropismo. A análise da
distribuição florística quando relacionada com seu suporte ambiental (solo, relevo e
clima) condiciona o estabelecimento do arcabouço geoambiental que compõe o
trecho estudado.
A etapa posterior consiste em proceder interações temáticas através de
sucessivos níveis de síntese, de acordo com as reflexões acerca da complexidade
ambiental. Este mecanismo de correlação interdisciplinar conduz à identificação da
estrutura e da dinâmica dos espaços diferenciados para composição do Diagnóstico
sócio-ambiental.
Estão sendo efetivadas correlações entre as diversas ações humanas
praticadas no contexto do território da bacia hidrográfica e os atuais parâmetros das
condições de conservação da vegetação, da água e dos demais condicionantes
ambientais; correlações entre os atributos geomorfológicos e as estruturas
litológicas, resultando em unidades morfoestruturais; correlações entre o relevo e os

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

solos, na compartimentação morfopedológica e na geração de dados para obtenção


das relações pedogênese/morfogênese necessárias para análise da ecodinâmica.
Foi feito um levantamento de dados juntos aos órgãos competente tais como:
Ibama, CRA, SRH, seguido de entrevistas e questionamentos junto à população
local, que mantém relações utilitaristas com o Rio, seus mananciais e nascentes.
Além da observação direta das condições geoambientais da área
Na aplicação da metodologia e do programa escolhido para esta pesquisa
utilizou-se fotografias aéreas e imagens orbitais para o mapeamento. Para o
geoprocessamento e a análise cartográfica foi utilizada ferramentas tais como:
MAPVIEWER6, SPRING e outros softwares de CAD. Essa integração de softwares
permite um melhor aproveitamento dos dados e amplia a possibilidade de melhor
qualidade no produto final que são os mapas e cartas da área.

A base metodológica utilizada neste trabalho consiste na associação de diversas


técnicas de geoprocessamento, tais como sensoriamento remoto, com a utilização
de imagens orbitais e do uso do sistema de informações geográficas – SIG. Em face
da heterogeneidade dos dados e informações obtidas e manipuladas no presente
trabalho e devido ainda, a utilização de diferentes métodos de análise, os mesmos
estão sendo apresentados separadamente por tema desenvolvido.
A base cartográfica digital utilizada foi elaborada a partir do Mapa Oficial da
Cidade, desenvolvido pela CAR-PRODUR-BA, e atualizada por mim para a
realização desta pesquisa.
A base geopolítica e administrativa foi produzida com o uso de técnicas de
vetorização em autocad 14 e mapviewer6. Está referenciado com coordenadas
planas no sistema de projeção Universal Transversa de Mercator – UTM, e
organizado em camadas ou layers com diferentes informações. Existe uma base a
nível municipal da bacia hidrográfica e, uma outra da área urbana de Vitória da
Conquista – BA, contendo as nascentes e mananciais da bacia do Rio Verruga. A
fonte dos dados refere-se a diferentes órgãos tais como a arquivos municipais,
dados do IBGE e de órgãos Estaduais.
Foram elaborados mapas dos diversos temas que compõe o meio físico da
bacia hidrográfica. Os dados dos levantamentos da estrutura Geoambiental foram os
do projeto Radambrasil folha SD24 SALVADOR, de 1980. Com superposições de

80
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

imagens de satélite, de cartas topográficas e por visita em campo para checar as


informações.
Dentre os mapas elaborados destacam-se: o mapa fisiográfico da bacia
hidrográfica, mapa de geomorfologia, de geologia e mapa de solos mapa da
cobertura vegetal e mapa da distribuição da vegetação; mapa de uso do solo e
mapa do atual estágio da cobertura vegetal;. Além desses estão os mapas do
espaço urbano ocupação urbana; Carta imagem da área urbana; Cobertura Vegetal
urbana; Áreas de Preservação Ambiental – área urbana Uso do Solo urbano;
drenagem urbana.
Foi feito também uma avaliação do estado ambiental com um mapa que
demonstra as áreas de preservação da bacia. Bem como um mapeamento da
transposição de águas para o abastecimento humano em Vitória da Conquista, além
da analise dessa transposição, seguida de uma analise do sistema de tratamento de
águas residuais despejadas na bacia, por meio do mapeamento da estrutura e
funcionamento da estação de tratamento de água – ETE da EMBASA.

81
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

6. MAPEAMENTO DA ESTRUTURA GEOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO


VERRUGA

6.1. Apresentando a bacia do rio Verruga

A Bacia Hidrográfica do Rio Verruga drena a porção Centro-Sul do Município


de Vitória da Conquista - BA, parte da porção Sudoeste de Barra do Choça e parte
da porção norte do Município de Itambé. Suas águas correm de Noroeste para
Sudeste, indo desaguar no Rio Pardo, próximo à cidade de Itambé-BA. Ocupa uma
área de aproximadamente 918,01 km2. Ver mapas, (fig. 7 e 8).

FIG. 7: Carta imagem da bacia hidrográfica do Rio Verruga e seu posicionamento de


drenagem.

82
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Fig. 8: Mapa dos limites intermunicipais da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga.

O Rio Verruga nasce na Serra do Periperi – área urbana de Vitória da


Conquista, em uma reserva ecológica que preserva sua nascente, também
conhecida como nascente do Poço Escuro. Os afluentes mais importantes, da
margem direita, são: o riacho Santa Rita, Córrego Lagoa de Baixo e Rio Periquito,

83
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

enquanto que, da margem esquerda, são os Córregos Leão, Jeribá, Córrego do


Moreira e rios D’Água Fria, dos Canudos, Santa Maria, riacho José Jacinto, córrego
Riacho Seco e riacho da Areia.

6.2. Caracterização geoambiental da Bacia do Rio Verruga.

A bacia do Rio Verruga, drena uma área de 918 km2, seu padrão de
drenagem é o dendrítico e o subdentrítico, embora, localmente, ocorram trechos
subordinados a falhamentos. A rede de drenagem caracteriza-se por afluentes em
sua maioria perenes, enquanto o Rio Verruga flui comumente sobre um leito
pedregoso e chato, em certos locais formando rápidos. A maioria dos vales
apresenta-se em forma de “U”, medianamente abertos, com fundos chatos e
geralmente colmatados.
O mapeamento geológico da bacia evidenciou três unidades geológicas
distintas. Uma extensa faixa de cobertura detrítica com depósitos do Terciário
orientados no sentido sudoeste noroeste do território da bacia é margeada por uma
extensa camada do complexo Caraíba-Paramirim, que possui rochas do Pré-
Cambriano inferior, com mais de 3 bilhões de anos. Conforme o mapa da figura 9
observa-se outras formações menores que aparecem principalmente na porção
central próxima à calha do rio, destacando-se a formação de depósitos aluviais e
coluviais do quaternário.
As formações recentes compreendem aos depósitos aluvionais e coluvionais
de acumulação detrítica do quaternário, sendo que nesta unidade, as ocorrências,
ficam restritas à calha do rio principal e seus afluentes com espessura e extensão
muito pouco perceptíveis na escala de trabalho adotada. Entretanto, apesar da
pequena representatividade cartográfica, armazenam volume razoável de água
subterrânea - manancial de grande importância para a significativa parcela da
população rural que habita as áreas ribeirinhas.
As Coberturas Detríticas dizem respeito à unidade, relacionadas ao Plioceno-
Pleistoceno. Encontra-se amplamente distribuída na área da Bacia Hidrográfica do
rio Verruga, (ver o mapa, fig. 9). Apresenta-se disposta discordantemente sobre

84
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

unidades pré-cambrianas do Complexo Caraíba-Paramirim, e granitóides diversos,


com cotas altimétricas entre 700 e 1 100 m. Ocorre com maior representatividade no
Planalto de Conquista, segundo uma extensa faixa irregular que, centraliza toda a
malha urbana de Vitória da Conquista. Encontram-se, na maioria das vezes,
representadas por uma espessa capa de material detrítico amarelado, fino-médio,
areno-argiloso e conglomerático, mal consolidado.

Fig. 9: Mapa de Geologia da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga

85
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Segundo Lima et al. (1981), o material que forma os platôs elevados do


Planalto de Conquista - não pode ser designado com precisão como sedimento, pois
não apresenta quaisquer evidências dos mecanismos formadores, seja hidro ou
pneumodinâmicos. Para Lima, constitui, na maior parte, elúvios, isto é, material
proveniente do intemperismo das rochas subjacentes e não transportado ou
brevemente transportado aos sopés das encostas dos platôs (colúvios).
É comum ocorrer uma cobertura de material alterado, amarelo-avermelhado,
tratando-se, quase sempre, de material coluvial, freqüentemente com ocorrência de
linhas de seixo na base. A erosão superficial por escoamento difuso e concentrado
se faz notar nas bordas que limitam os topos desse planalto, através de ravinas e
sulcos que entalham escarpas de declividades variáveis.
O padrão de drenagem básico é dendrítico, tendendo, localmente, para o
angular, tendo os vales um espaçamento regular, numa rede de drenagem incipiente
e pouco ramificada, onde a maioria dos vales apresenta-se em forma de "U",
medianamente abertos, com fundos chatos.
A recarga do sistema ocorre, principalmente, através de infiltração direta da
pluviometria ou a partir dos cursos de água, durante o escoamento superficial no
período chuvoso, o que evidencia o controle topográfico nas condições estáticas da
água armazenada no aqüífero.
O escoamento subterrâneo deve indicar um fluxo comandado pela topografia
e pelos eixos de drenagem superficial (níveis de base), com as divisórias das linhas
de fluxo coincidindo grosseiramente com os limites dos pequenos sistemas
tributários do rio Verruga.
No que se refere aos exutórios do sistema, as fontes difusas nos sopés das
encostas, localizadas geralmente no contato dessas coberturas com a rocha sã,
fornecem um volume razoável de água, indo, algumas delas, constituir pequenos
riachos enquanto alguns sejam sazonais. A rede hidrográfica processa trocas
hidráulicas com esses sedimentos detríticos através das aluviões, recebendo, nos
períodos de estiagem, parcelas escoadas em direção aos níveis de base (rios e
riachos), como também realimenta esse domínio sedimentar nos períodos de
enchente, sendo o primeiro processo bem evidente no leito de alguns riachos

86
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

intermitentes, que, apesar de não apresentarem fluxo, conservam, a despeito dos


rigores do clima, águas empoçadas em seus leitos.
De certo modo, esses depósitos representam um sistema aqüífero que
constitui uma opção para exploração de água subterrânea na porção meso-ocidental
da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga. Além dessa franca suscetibilidade à
exploração hídrica em subsuperfície, esses sedimentos constituem uma importante
fonte indireta de realimentação das rochas cristalinas subjacentes, devido à sua
melhor poropermeabilidade.
O potencial hidrogeológico dessa área é baseado, sobretudo, nas condições
favoráveis do relevo, solos, litologia e vegetação, que são realçadas pela extensa
área de ocorrência. Ainda assim, a potencialidade do sistema afigura-se muito
variável, ficando mais condicionada às zonas de maior espessura, onde predominem
fáceis mais arenosas, capazes de proporcionar melhores condições de
permeabilidade e transmissividade.
O Complexo Caraíba-Paramirim representa uma seqüência Polimetamórfica e
polifásica, cuja evolução remonta desde o Pré-Cambriano Inferior. É uma das
unidades de maior distribuição geográfica na área da Bacia do rio Verruga, estando
bem exposta numa faixa orientada no sentido NO-SE, com cerca de 20 km de
largura e 30 km de comprimento, que ocorre entre a encosta oriental do Planalto de
Conquista e a Depressão Itambé-Itapetinga. Morfologicamente, se expressa em
áreas serranas bem encaixadas (serra do Marçal), com intensos processos de
dobras e dissecação.
Trata-se de formas de grande porte, onde a drenagem faz incisões profundas,
com vertentes íngremes de inclinação entre 30º e 45º, sendo comum a formação de
espessa camada de regolito. A drenagem é muito densa, em padrão dendrítico,
sendo os vales, em geral, profundos, em forma de "V" e com fundos, colmatados
pelo material coluvial das encostas. Alguns rios e riachos apresentam trechos
retilíneos, adaptando-se às estruturas.
Os interflúvios compõem-se de rampas de espraiamento e denudação. Os
limites dessa depressão são definidos a leste, em grande parte por falhas de direção
NNO-SSE, que se evidenciam por alinhamentos da rede de drenagem (vales
adaptados a estruturas) e do relevo. O escoamento superficial difuso e concentrado

87
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

entalha sulcos e ravinas em toda esta porção formando, às vezes, alvéolos de


cabeceira. Assinalam-se, também, nas vertentes, terracetes e outras marcas de
movimento de massa.
A capacidade de armazenamento hidrológico nesta unidade da bacia está
condicionada à tectônica ruptural, tendo as zonas de tensão, que conduzem à
existência de fraturamentos mais abertos, um condicionamento estrutural mais
favorável que áreas de esforços de compressão, sobretudo, se esses se
desenvolveram sobre rochas xistosas ou de competência similar.
Segundo o Projeto RADAMBRASIL Folha SD24 (1981), a região cristalina em
questão é cortada por um sistema de fraturas longitudinais, orientadas
aproximadamente para NO-SE. Entre estes falhamentos, ocorrem inúmeras
pequenas fraturas transversais, mais recentes, que controlaram em grande parte
trechos da rede hidrográfica.
Os trechos de sujeição dos riachos ao fendilhamento são vistos com
relevância por se tratar de "riachos-fenda" – dentro do conceito exposto por Siqueira
(1967) - que delimitam áreas onde a alimentação dos reservatórios-fenda é muito
efetiva.
De acordo com o projeto RADAMBRASIL folha SD24 (1981), as principais
contribuições ao armazenamento hídrico nesta unidade da bacia, parecem ocorrer
nas zonas de superposição fratura-drenagem, onde além de haver maiores
possibilidades de retenção das águas pluviais, os cursos de água podem assegurar
uma efetiva realimentação através das aluviões, durante os períodos de intensidade
pluviométrica. As perdas por capilaridade podem assumir grande importância,
conduzindo ao aceleramento da concentração salina, principalmente, onde as
condições de fluxo são precárias. As descargas através de pequenas fontes - muitas
delas difusas e sazonais -, existentes no sistema fraturado, ocorrem em função de
condições propícias de alimentação e circulação, bem como do controle topográfico,
que permite a intersecção dos níveis de água livres nas fraturas com a superfície do
terreno ou por contato entre o manto de intemperismo e o embasamento rochoso
impermeável.
A geomorfologia da bacia revela uma morfodinâmica (Tricart, 1977) que
compreende basicamente três unidades de relevo predominantes no território.

88
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Essas unidades podem ser constatadas conforme o perfil longitudinal do rio


principal. (ver fig.10), nele foi feita uma representação esquemática da topografia de
forma linear, demonstrando a ocupação urbana e as feições geológicas-
geomorfológicas da área da bacia do Rio Verruga.

RIO VERRUGA
Poço PERFIL LONGITUDINAL
m Escuro
1050 ÁREA URBANA
VITÓRIA DA CONQUISTA
950
850
COBERTURAS
N-NW 750 DETRITICAS-TERCIÁRIO S-SE
RI
O
650

550
450 VERRUGA
ESCUDO CRISTALINO
ITAMBÉ
350 COMPLEXO CARAIBAS PARAMIRIM RIO
PARDO
250
0 10 20 30 40 50 60 70 80 KM

ESBOÇO GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICO
PLANALTO DE CONQUISTA ESCUDO CRISTALINO- ENCOSTA ORIENTAL DO PLANALTO
COBERTURAS DETRITICAS- TERCIARIO COMPLEXO CARAIBAS PARAMIRIM
MACIÇO RESIDUAL DEPRESSÃO ITAMBÉ ITAPETINGA
SERRA DO PERIPERI COMPLEXO CARAIBAS PARAMIRIM

Fig. 10 – Perfil longitudinal e esboço geológico-geomorfológico do rio Verruga

A região do alto rio Verruga, conforme o mapa do relevo e perfil longitudinal


do rio (ver fig.10 e 11) possui altimetria entre 750 e 950m que corresponde ao
Planalto de Conquista, dos domínios dos planaltos dos geraizinhos. Possui um
relevo sem variações abruptas de nível, apresentando uma extensa faixa de terrenos
aplanados de topografia tabular - exceção a serra do Periperi, na área urbana de
Vitória da Conquista, onde encontra-se a sua principal nascente que está acima do
nível geral do planalto, com cotas entre 1.000 e 1.100m, esse detalhamento foi
contrastado no mapa 3D do relevo demonstrando os diversos níveis de terreno da
bacia hidrográfica do Rio Verruga.
Na porção do alto-médio Rio Verruga, a dissecação se intensifica com uma
media densidade de canais de drenagem e maior aprofundamento dos cursos de
água, descobrindo rochas pré-cambrianas do Complexo Caraíba-Paramirim, e
biotitas granitóides. Um segundo trecho do Rio entre Serra do Marçal e Itambé, as

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

cotas altimétricas decrescem para 500 - 800 m, com relevo muito movimentado e
intenso grau de dissecação variando consideravelmente em trechos reduzidos, o
que corresponde à Encosta Oriental do Planalto de Conquista.

Figura 11: Mapa do relevo sombreado.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A unidade de Piemonte representa a Encosta Oriental do Planalto de


Conquista, cuja estrutura e bastante dissecada, pertencentes ao escudo cristalino
representando altitudes médias de entre 600 e 900m. Logo após a encosta oriental
do Planalto de Conquista, situa-se a unidade pertencente aos domínios da
depressão Interplanáltica Ab’Sáber (2005) (unidade geomorfológica depressão
Itambé-Itapetinga). (ver mapa, fig. 12).

Fig. 12 Mapa geomorfológico da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A porção do médio-baixo curso do Rio Verruga corresponde a uma superfície


deprimida, com cotas altimétricas entre 300 e 600 m, cercada, em parte, por relevos
residuais (Serra do Olho D água em Itambé), geralmente dissecados em colinas e
morros, eventualmente rochosos. Esta porção encontra-se submetida a clima
subúmido a semi-árido, com precipitações médias anuais em torno de 950 mm,
sendo a cobertura vegetal constituída de Floresta Semidecidual, que está sendo
progressivamente devastada e transformada em pastagens.
Com relação aos tipos de solos, foram mapeados apenas os tipos de solos
predominantes numa determinada faixa territorial, destaca-se os solos do tipo
Latossolo Vermelho Amarelo Álico e Distróficos com mais de 60% do território, e os
solos do tipo Argissolo situados principalmente nas encostas do planalto de
Conquista. Veja o mapa da figura 13.

Fig. 13: Mapa de Solos da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga


92
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Há um predomínio dos Latossolos Vermelho-Amarelos de textura argilo-arenosa,


sendo comuns áreas de pastagens e de cultivo de café na faixa territorial
correspondente ao alto Rio Verruga, onde também assenta-se a área urbana de
Vitória da Conquista. Próximo à Itambé, no baixo Rio Verruga ocorrem, solos do tipo
Argissolo, associado com o Brunizém Avermelhado e solos Aluviais.
O clima da área da bacia possui uma variação que acompanha os diferentes
conjuntos topográficos conforme a sua dinâmica, temos uma predominância do clima
Úmido a Subúmido na faixa correspondente à Encosta Oriental do Planalto de
Conquista, com totais pluviométricos que variam entre 1000 a 1500 mm anuais. (ver
mapa da fig. 14.).

Fig. 14: Tipologia climática da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga


93
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Verifica-se uma faixa de transição do tipo Subúmido nas extremidades da


Encosta Oriental do Planalto de Conquista, com totais pluviométricos que variam
entre 900 a 1200 mm anuais, tendo um déficit hídrico nos períodos de estiagem.
Apresenta estação chuvosa no outono-inverno e primavera-verão; há também uma
faixa mais seca com o clima predominante de Subúmido e Semi-árido no topo do
Planalto da Conquista e na Depressão Itambé-Itapetinga, com totais pluviométricos
que variam entre 700 a1000 mm anuais.
Para a faixa de clima subúmido a semi-árido da bacia, o Instituto de Nacional de
Meteorologia - INMET, 2008 elaborou um balanço hídrico baseada na classificação
de Thornthwaite (1948), Conforme essa composição climática evidencia-se um
balanço hídrico que representa um período chuvoso de reposição das águas no solo
entre outubro e março sendo uma estação definida das chuvas, com um
armazenamento máximo de 100 mm mensais e um longo período de estiagem que
representa um déficit hídrico no solo que vai de 0 a -40 mm conforme os gráficos da
fig. 15.

Fig. 15: Balanço hídrico e armazenamento d’água da Bacia Hidrográfica do Rio Verruga
trecho do Planalto da Conquista. Fonte: INMET-2008

A transição de áreas úmidas para áreas de menor umidade na Bacia do Rio


Verruga pode ser constatada através da vegetação com áreas de florestas densa
indo em direção a áreas de florestas de transição entre caatinga e mata bem como
pelos tipos de solos que possuem uma sucessão entre solos zonais álicos e
distróficos a medida que a disponibilidade hídrica torna-se menor. Toda essa

94
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

variação climática pode ser explicada pela compartimentação topográfica da Bacia


que é muito diversificada isto é vai dos 300 aos 1100 m de altitude.

6.3. Cobertura vegetal na área da Bacia do rio Verruga.

A cobertura vegetal nativa da Bacia hidrográfica do rio Verruga, comporta


basicamente três tipos de vegetação predominante, conforme mapeamento e, dados
da classificação do RadamBrasil (1981). Entre eles destacam-se a Floresta Ombófila
Densa Submontana, cobrindo 44,7% do território; a Floresta Estacional
Semidecidual com 24%, a Floresta Estacional decidual com 30,76% e, 0,54% do
território ocupado com uma vegetação endêmica na Serra do Periperi. (Ver fig. 16)

PERCENTUAL POR TIPO DE PERCENTUAL DESMATADO POR TIPO DE VEGETAÇÃO NATIVA


COBERTURA VEGETAL NATURAL
100%
0,6%
80%
30,7%
44,6%
60%

40%

20%

24,0% Fl. Est. Semidecidual 0%


Fl. Est. Decidual Fl. Est. Fl. Est. Decidual APA Fl. Ombrófila
APA Semidecidual Densa
Fl. Ombrófila Densa
DESMATAMENTO
FONTE: Mapa da cobertura vegetal natural- mapview er6/2007
FONTE: Mapeamento digital mapviewer6/2007 REMANESCENTES

Fig. 16: Gráficos do percentual de cobertura vegetal e do desmatamento

Com relação ao estágio atual da cobertura vegetal, pode-se perceber que os


maciços florestais nativos em estágios mais avançados de sucessão ecológica estão
confinados nos limites da Bacia do rio Verruga ao Sul e Sudeste, onde se observa
resquícios de áreas florestadas classificadas como: Floresta Ombrófila Densa e
Floresta estacional decidual e semidecidual, correspondendo a menos de 10% do
território, (gráfico 2, fig. 16). Estes remanescentes localizam-se principalmente em
áreas de intensa atividade agropecuária da Bacia, com grande concentração da
pecuária extensiva e do cultivo do café.

95
Análise Sócioespacial Urbana: do Mapeamento ao Planejamento Ambiental na
Bacia do Rio Verruga - Vitória da Conquista – BA.

Fig. 17: Mapa de Vegetação Nativa da Bacia


Hidrográfica do Rio Verruga. Fig. 18: Mapa do estágio atual da cobertura vegetal na
Bacia Hidrográfica do Rio Verruga.
96
Análise Sócioespacial Urbana:
do Mapeamento ao Planejamento Ambiental na Bacia do Rio Verruga - Vitória da Conquista – BA.

O mapa da distribuição da vegetação da bacia (fig. 17), evidencia tipos de


cobertura vegetal que segundo Ab’Sáber (2006), correspondem às matas atlânticas
transformadas em matas costeiras e orográficas pelo rebordo da encosta oriental do
planalto dos Geraizinhos onde também situa-se o planalto de Conquista que define a
drenagem da bacia do Rio Verruga. O mapa do estágio atual da cobertura vegetal,
figura 16, por outro lado, nos permite uma quantificação dos usos, segundo a
densidade de vegetação. Assim, pode-se verificar que excluindo a área urbana, 85%
do território da bacia apresentam-se carente em arborização e áreas verdes (áreas
Florestadas), As áreas mais carentes, segundo o mapeamento, situam-se nos
distritos sede e em áreas com intensa ocupação por pastagem.
De acordo com o mapeamento do estágio atual da vegetação e do uso (fig. 18),
fica evidenciado que a ausência da cobertura vegetal interfere diretamente na
hidrologia dos solos da bacia, provocando uma ação pedogenética em detrimento da
morfodinâmica em condições antes existentes. Com o desmatamento, o equilíbrio da
dinâmica da bacia é quebrado, afetando todo o ciclo hidrológico e, por conseguinte,
o volume de água na bacia.
As conseqüências dessa ação podem ser traduzidas pelo aumento do
escoamento superficial da água, principalmente no médio curso da bacia do rio
Verruga que possui um grau de dissecação do relevo muito forte. Com isso, a
redução da infiltração da água no solo e uma diminuição da evapotranspiração;
paralelo a isso ocorre o aumento da temperatura na área, aumentam a incidência de
vento sobre o solo, além da redução da fauna local e da flora mesoregional e local.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

PARTE III – ANALISE SOCIOAMBIENTAL NA BACIA DO RIO VERRUGA

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

7. A PROBEMÁTICA AMBIENTAL NA BACIA DO RIO VERRUGA

Os problemas ambientais dizem respeito às formas pelas quais se produz o


espaço geográfico, Rodrigues (1992 p. 14), mas não somente na produção espacial,
como também em sua reprodução, pois, na medida em que a sociedade amplia sua
ação sobre a natureza, há sempre uma produção e uma reprodução espacial. Essa
reprodução é manifestada, sobretudo pelas relações dominantes de produção que
como afirma Soja (1993 p.115), são reproduzidas numa espacialidade concretizada
e criada.
Assim, a problemática ambiental deve ser analisada no âmbito da produção e
reprodução espacial. No caso do estudo da bacia hidrográfica do rio Verruga, essa
problemática terá o seu prognóstico pela classificação do uso do solo e a análise da
qualidade da água, bem como uma análise da qualidade de vida dos moradores,
sobretudo da população urbana da cidade de Vitória da Conquista – BA, que
concentra a grande maioria da população urbana no território da referida bacia.

7.1. Uso do solo na bacia do rio Verruga uma base para o prognóstico
geoambiental.

A análise do espaço ocupado e produzido socialmente na bacia hidrográfica do


rio Verruga, teve como base, a interpretação de mosaicos de imagem de satélite
Landsat TM5 e 7 de 1999 a 2004, cruzando essas informações com imagens
CBERS- 2004. Assim, foi possível fazer um mapeamento do uso do solo em níveis e
escalas espaciais diferenciados.
A caracterização do uso do solo da bacia hidrográfica do rio Verruga, tem por
base o nível de ocupação humana no território, partindo do principio que a área da
bacia um dia possuiu uma cobertura vegetal preservada em seu estado natural.
Sendo assim, foi feito um mapeamento da cobertura Vegetal natural, com base na
classificação do RadamBrasil (1981), da qual detectou-se basicamente três tipos de
vegetação predominante na bacia hidrográfica, sendo a Floresta Ombófila Densa

99
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Submontana, cobrindo 44,7% do território, conforme já mencionado anteriormente; a


Floresta estacional Semidecidual com 24%, a Floresta Estacional decidual com
30,76% e uma pequena porção de vegetação endêmica no parque da Serra do
Periperi(ver mapa, fig. 19).

Fig. 19: Mapa de uso do Solo e Cobertura Vegetal na Bacia Hidrográfica do rio Verruga

100
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Com relação ao trecho de Floresta Ombrófila Densa, constatou-se que do


total mata nativa restam apenas alguns remanescentes florestais com pouco mais de
4% do total da cobertura vegetal, (ver gráfico fig. 20). Isso evidencia o intenso uso
com atividades que ocupam grandes extensões territoriais, como é o caso da
pecuária extensiva que corresponde a mais de 90% da ocupação efetiva nas áreas l
de ocorrência da Floresta Ombrófila Densa.

CLASSIFICAÇÃO POR POR TIPO DE USO E OCUPAÇAO DO SOLO

44,07%
cafeicultura
21,12%
agr+past
fl est. semi
fl omb
fl est. d
7,34% pastagem
0,41% past+veg.
agr+past+veg
2,48%
7,70% corpos d água
mancha urbana
4,10%
5,98%
1,21% 5,59%
FONTE: Mapa de uso do solo e pesquisa de Campo set de 2007

Fig. 20: Percentual por tipo de uso e ocupação do solo na bacia.

Nas áreas de Floresta Estacional, ocorre um processo semelhante sendo que


nessa porção da bacia há uma grande ocupação urbana com cerca de 200 km2, o
perímetro urbano de Vitória da Conquista, que possui mais de 70% de sua área
urbana posicionada na bacia do Rio Verruga. A atual cobertura vegetal das áreas de
Floresta Estacional, não passa de 4% do total da bacia, sendo uma das áreas mais
degradadas pela urbanização e pela agricultura tradicional.
O setor da escarpa Oriental do Planalto de Conquista apresenta-se com relevo
muito dissecado, com topos em patamares planos, verticalmente cortados pela
drenagem, gerando vales profundos em "V", com rampas muito íngremes e grotões

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

úmidos, onde se desenvolve a Floresta Ombrófila Densa. Nos setores com relevo
mais favorável para a ocupação humana, a vegetação natural foi substituída pela
cafeicultura, até onde permite a altitude. Abaixo dos 700m de altitude, observa-se
intenso desmatamento, para produção de lenha e carvão, com conseqüente
introdução da criação de gado. Nestas áreas a pastagem ocupa cerca de 70% do
territorial bacia.
Analisando as condições de uso e ocupação da bacia, constata-se uma
diversidade de usos com um alto grau de variação que evidencia um estágio de
degradação altamente comprometedor no ambiente da bacia, que pode refletir na
alteração da qualidade da água, pelo aumento da turbidez, da eutrofização e do
assoreamento dos corpos d’água; alteração do deflúvio, com enchentes nos
períodos de chuva e redução na vazão de base nas estiagens.
Outro fator importante a ser considerado na análise do uso e ocupação do solo
na bacia do rio Verruga é que o alto índice de desmatamento provoca nessa área
uma redução drástica da biodiversidade, em decorrência da supressão da flora e da
fauna local que representa diversos ecossistemas integrados da bacia.

7.2. Mapeamento da ocupação urbana, áreas de preservação e diferenças


sócio-espaciais na Bacia do Rio Verruga.

Neste item, foram estudados detalhes da área urbana de Vitória da Conquista,


com destaque para o mapeamento da cobertura vegetal. Verificam-se áreas com
pouca ou nenhuma vegetação correspondendo a 47% do perímetro urbano sendo
que existem grandes áreas não urbanizadas, mas, no entanto, sem cobertura
vegetal.
Pela análise dos dados obtidos no mapeamento, pode-se afirmar que na sua
maior parte, o território do Rio Verruga especificamente o espaço urbano de Vitória
da Conquista possui um sistema de áreas verdes deficitário, sobretudo nas áreas de
nascentes e mananciais que por lei deveriam estar protegidos, já que são áreas de
preservação permanente, definidas no Código Florestal Federal.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Fig. 21: Mapa da cobertura Vegetal urbana no Alto Rio Verruga.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

No mapa da cobertura vegetal do Alto Rio Verruga (fig. 21), a mancha urbana é
predominante em toda a porção central do mapa, indo à direção norte, onde
encontra-se a principal nascente do Rio. Conforme Lefebvre (2004), a formatação da
mancha urbana de uma cidade, revela uma morfologia que dá conta do que as
pessoas fazem no contexto urbano, os traços de mancha urbana, demonstra que
não houve uma preocupação no passado recente com a arborização da cidade na
medida em que poucas são as áreas verdes que intercalam o espaço ocupado pela
urbanização.
Foi elaborado também um detalhamento da área urbana com o trabalho de
sobreposição de imagens de satélite do relevo, do espectro da cobertura vegetal
resultando no mapa de uso e ocupação do solo urbano. (ver Fig. 22).
O uso do solo nas áreas próximas às nascentes e mananciais, com cobertura
detrítica da bacia do rio Verruga é diversificado. Nos fundos de vale planos e
argilosos, as culturas de olerícolas exercem um papel importante nos níveis de
degradação das nascentes da bacia. Ao lado destas, a criação de gado e a
fabricação de tijolos através de olarias rudimentares constituíam e ainda constituem
importantes atividades com alto grau de degradação ambiental. No entanto, a
maioria destas áreas já foi urbanizada e passou a ter um outro caráter quanto ao
uso, predominando neste caso, ocupações irregulares de moradias e atividades
econômicas rudimentares, com precariedade nas construções sejam de oficinas,
serrarias, carpintarias, fábrica de farinha, depósitos, etc.
Em outras áreas de fundo de vale e ou planície de inundação da bacia, ocorrem
o corte de terrenos e aterro, dando lugar a grandes galpões comerciais, como é o
caso da Baixa da Égua, Baixa do Jurema, Baixa do Sapo e toda extensão da
Avenida Bartolomeu de Gusmão que, sofreu aterro de mais de um metro para a sua
instalação.
Em direção à escarpa Oriental do Planalto de Conquista, principalmente na
faixa entre Barra do Choça e Vitória da Conquista, a cultura do café assume
relevância, principalmente nas áreas de relevo plano e suave ondulado, sobre solos
profundos, aliado à criação extensiva de gado.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Fig. 22: Mapa de uso e ocupação urbana no Alto Rio Verruga.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Com relação ao uso do solo urbano destaca-se ainda a criação da reserva do


poço escuro e posteriormente, a ampliação para o Parque da Serra do Periperi,
localizado na área urbana de Vitória da Conquista - BA, onde encontra-se a principal
nascente do Rio Verruga, (veja o mapa da fig. 23).

Fig. 23: Mapa de uso e ocupação na nascente do rio Verruga–Reserva


do Poço Escuro.

106
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

O Parque da Serra do Periperi foi criado pelo Decreto Municipal nº. 9.480/99,
com o objetivo de organizar o uso e a ocupação do solo, preservar áreas verdes e
remanescentes nas encostas e topo da Serra do Periperi, proteger as nascentes
existentes e recuperar as áreas degradadas pela atividade de mineração,
minimizando e corrigindo os processos erosivos decorrentes da degradação
ambiental.
Com a implantação do Parque, foram executadas obras de infra-estrutura,
consistindo na construção de Sede Administrativa (com Módulo de Educação
Ambiental e Núcleo de Apoio à Pesquisa), do Centro de Triagem de Animais
Silvestres, além de canal de drenagem, guarita, cercas e aquisição de veículos e
equipamentos necessários ao desenvolvimento das atividades de monitoramento,
fiscalização e educação ambiental.
De acordo com o mapeamento de uso e ocupação da área principal do parque
da Serra do Periperi, onde encontra-se a reserva do Poço Escuro, constata-se uma
grande pressão da urbanização sobre a cobertura vegetal e das demais estruturas
ambientais da reserva. Já que todo o parque está rodeado por bairros de intensa
ocupação residencial por metro quadrado, destacando-se residências de baixo
padrão o que evidencia uma grande concentração populacional de baixa renda.
Observe o mapa da figura 21. Nele, destaca-se toda essa dinâmica populacional que
mantém uma pressão constante sobre a preservação da reserva e de todo o Parque
da Serra.
Além das áreas já “protegidas” pela criação do parque da Serra do Periperi,
destaca-se, áreas que também necessitam de proteção ambiental permanente por
se tratarem de nascentes pertencentes a drenagem da bacia do Rio Verruga. Tais
como: Planície de inundação Baixa da Égua, planície de inundação Baixa do
Jurema, Planície de inundação do Lot. Leblon, Planície de inundação Lagoa das
Bateias, nascente do alto do Panorama Fazenda Periquito. Mata ciliar do Rio
Verruga trecho urbano, mata ciliar do riacho Santa Rita em direção aos Campinhos,
mata ciliar do Riacho Lagoa de Baixo Campinhos Jatobá; nascente no lot. Morada
dos Pássaros e outros riachos menores.
Em todas essas áreas, observa-se uma diminuição considerável do nível da
cobertura vegetal, até mesmo a vegetação arbustiva, herbácea e ou gramíneas

107
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

estão sendo suprimidas pelo processo de urbanização. Constata-se com isso, o


aumento do deflúvio em todos os canais localizados no espaço urbano, provocando
enchentes nos períodos de chuva, causando com isso transtornos aos moradores
dessas localidades.
Tucci (2001) analisa o processo de urbanização em bacias hidrográficas, nessa
analise constata-se que o aumento da densidade de construções e de cobertura
asfáltica, altera o sistema de drenagem natural, aumenta a área impermeabilizada
diminui a carga e recarga subterrânea, já Tundisi (2005, p.41), afirma que a rápida
urbanização altera todo o ciclo hidrológico e a qualidade da águas da bacia
hidrográfica. Esse fenômeno é observado em Vitória da Conquista em a rápida
urbanização da cidade na bacia hidrográfica do Rio Verruga alterou toda a sua
dinâmica natural.

7.3. A transposição de águas interbacias para o abastecimento humano em


Vitória da Conquista-BA

O abastecimento de água para a população urbana de Vitória da Conquista é


realizado por um sistema de transposição entre duas bacias hidrográficas distintas,
especificamente, entre a bacia do Riacho Água Fria situada na porção oriental do
Planalto da Conquista e a bacia do Rio Verruga (veja a Carta imagem da figura 24).
Isso porque a intensa ocupação da bacia do Rio Verruga pelo processo de
urbanização que consolidou a cidade de Vitória da Conquista como um centro
regional modificou a qualidade das águas do Rio Verruga, tornado a imprópria para
o consumo humano.
Para entender á lógica desse processo, é preciso saber como ocorre a
materialização da transposição. “O ato da transposição de águas em si é muito
simples de se entender: trata-se do transporte de um determinado volume de água
entre bacias distintas”, SUASSUNA (2000, p.6). Mas para que ocorra essa
transposição é preciso realizar um recalque-também chamado de adução que,
segundo Suassuna (2001) significa o simples transporte de água de um determinado

108
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

ponto a outro (geralmente para um local mais elevado) utilizando-se, para tanto, um
sistema de bombeamento d’água, também chamado de sistema adutor.

Figura 24. Carta imagem da transposição de águas interbacias

109
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

No caso do sistema de abastecimento de Vitória da Conquista-BA, o seu


funcionamento é pela transposição de águas da barragem Água Fria I e II com
recalque e adução até à estação de tratamento. Veja a ilustração da figura 25

estação de bombeamento (recalque das águas)

Estação de adutora
bombeamento
para os
reservatórios duto
Área urbana apoiados bomba
Vítoria da Conquista Estação de reservatório Rio
tratamento d'água Barragem Agua Fria I

Área urbana
Vítoria da Conquista

Manancial
Barragem
Agua Fria I e II

Figura 25. Esquema de ilustração do sistema de transferência de águas entre a


bacia do Rio Água Fria e a bacia do Rio Verruga.

O sistema de abastecimento de água de Vitória da Conquista é operado pela


EMBASA - Empresa Baiana de Água e Saneamento, implantado na década de
1960, com um pequeno reservatório (Barragem Água Fria). Com a expansão urbana
e o aumento da demanda pelo consumo de água, foi construída a Barragem Água
Fria II, logo abaixo do primeiro reservatório interligada por uma adutora de ferro
dúctil com captação flutuante. Observe a ilustração da figura 26.

110
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

W
M
1200 E-SE
Reservatório Apoiado
(RAP 4,5 e 6)
0 4 8 12
1100
km

1000

estação de tratamento
Reservatório Apoiado de água -EMBASA
900 Ri Aqueduto p/ água fria I
o (RAP 1) Reservatório com
Reservatório com estação elevatória Reservatório
Verrug

Reservatório
estação elevatória (REL) Sistema de Recalque Barragem
Barragem
800 (REL) VITÓRIA DA CONQUISTA Água Fria I
(elevação das águas) Água Fria II

Ág
a

Riacho

ua
BARRA DO CHOÇA
BACIA DO RIO VERRUGA

Fr
BACIA DO RIACHO AGUA FRIA

ia
700

Figura 26. Perfil longitudinal do sistema de transposição de águas para o


abastecimento humano em Vitória da Conquista-BA

A água captada na barragem de Água Fria II é encaminhada para o sistema


de recalque da barragem de Água Fria I, através de uma adutora em ferro dúctil,
com diâmetro de 700 mm e extensão de 3.200 metros. A partir do sistema de Água
Fria I, a água é conduzida para a estação de tratamento, também localizada em
terras do município de Barra do Choça, através de uma adutora de 11.900 metros de
extensão em aço carbono, com diâmetro de 700 mm, e mais uma outra linha de
mesma extensão, em ferro fundido cinzento, funcionando em paralelo à primeira.

A estação de tratamento da água é do tipo convencional e, segundo a


EMBASA (2006), possui a capacidade para tratar 1000 l/s sendo constituída das
seguintes unidades: Calha Parshall, floculadores, decantadores, filtros e sistema de
desinfecção. Após o tratamento, a água é bombeada para o reservatório apoiado
RAP 1, localizado na sede de Vitória da Conquista, de onde a água é encaminhada
para os demais reservatórios integrantes do sistema, além dos distritos de José
Gonçalves, Bate Pé, Pradoso, Iguá, e São Sebastião. O consumo de água em
Vitória da Conquista é de 600l/s no verão e 400 l/s no inverno. A embasa realiza
diariamente constantes bombeamentos de água para cotas mais elevadas, pois já
existem ocupações urbanas que atingem a cota de 1080m e, no entanto a estação
de tratamento encontra-se a 950m de altitude. Além disso, há déficit entre o

111
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

consumo e a capacidade de armazenamento já que diariamente há um consumo


médio de 45.000m3 de água e os reservatórios comportam apenas 23.000m3.

De toda água consumida pela população de Vitória da conquista cerca de 85% dela
tem a destinação final diretamente nos canais de drenagem da bacia do Rio
Verruga. O que justifica o alto índice de poluição das águas no trecho urbano da
bacia. Tucci (2001) argumenta que o aumento da densidade populacional,
especificamente em área urbana aumenta a demanda por água e em paralelo,
aumenta o volume de águas residuárias que em sua maioria transformam-se em
esgoto in natura estando estes diretamente interligados bacia hidrográfica e espaço
urbano, acabam por deteriorar os rios a jusante da área urbana.

No caso de Vitória da Conquista, esse processo de deteriorização vem desde


a sua origem enquanto núcleo urbano que data dos finais do século XVIII e inicio do
século XX, forçando a busca por águas de outras bacias o que resultou na
transposição das águas da bacia do rio Água Fria para o Rio Verruga, mantendo de
certa forma a perenidade das águas e uma regularidade na vazão das águas com o
despejo de cerca de 45.000m3 de água e esgoto diários no leito Rio Verruga.

7.4. Os múltiplos usos e a qualidade da água na bacia do rio Verruga

A questão da qualidade das águas é uma preocupação mundial que ganhou


evidência com o acirramento do uso pela escassez da água potável. Segundo
Petrella (2004), existem alguns argumentos explicam essa preocupação entre eles
estão: a distribuição desigual de recursos hídricos; o desperdício pelo mau uso e
gerenciamento da água; o aumento da poluição e da contaminação pela indústria e
demais usos e o crescimento populacional. Tais questões aliadas à falta de políticas
públicas e má gestão política dos recursos hídricos, certamente, aumentam a
possibilidade de disputa pela água.
No Brasil, com a sanção da Lei Federal nº. 9.433, de 8 de janeiro de 1997 foi
instituída a Política Nacional de Recursos Hídricos, tendo como um dos fundamentos
gerir tais recursos, proporcionando múltiplos usos, em consonância com objetivos

112
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

que assegurem “à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água,


em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”.
A questão da água então, passou a ter uma preocupação maior não somente quanto
ao uso, mas também quanto à gestão política e o gerenciamento dos recursos
hídricos. Isso porque em todo o globo, surgem novas vertentes econômicas tais
como a privatização e concessão dos serviços de exploração e distribuição da água
para diversos fins, principalmente para abastecimento urbano.
Assim surge uma preocupação com a integração da gestão quanto aos
aspectos de qualidade e quantidade, destacando-se, também, a “integração da
gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental”.
Com essa Lei, surge o enquadramento dos corpos de água em classes,
importante instrumento de gerenciamento de recursos hídricos, que demanda um
conhecimento da qualidade das águas a serem geridas e das questões ambientais e
antrópicas capazes de alterá-la. Neste caso, a utilização das normas de qualidade
das águas, garantirá os padrões de qualidade tendo como base parâmetros para a
definição das normas e dos usos múltiplos desejados pela comunidade, preservando
os aspectos qualitativos para a vida aquática e demais usos.
Os parâmetros e respectivos padrões de qualidade da água são determinados
em função dos seus usos preponderantes atuais e futuros. Para garantir o
atendimento das necessidades, a vontade futura dos usuários da água e, a proteção
da vida aquática, os limites fixados devem ser respeitados para que não venha
prejudicar os usos prioritários.
A resolução CONAMA nº. 357 de 2005, dispõe sobre a classificação e
diretrizes ambientais para o enquadramento dos corpos de água superficiais, bem
como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. Já a portaria
518/04 do Ministério da Saúde - MS dispõe sobre a qualidade da água para o
consumo humano e normatiza os critérios para a definição do padrão de qualidade
da água. Para Branco (1991), a qualidade da água deve ser entendida de acordo
com o mérito, grau ou valor de uso e não somente pela condição de substância em
questão.
Sobre a qualidade da água, Sperling (2007), afirma que além do ciclo natural
da água, existe um ciclo de alteração de sua qualidade no interior da bacia

113
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

hidrográfica, relacionando-se com a intensidade do uso e ocupação do solo na área


da bacia.
Neste sentido, Com o objetivo de verificar o papel da cobertura vegetal na
diminuição dos índices de poluição das águas da bacia, foi realizada uma análise
microbiológica e outra físico-química com as amostras coletadas em diversos pontos
da bacia do Rio Verruga (ver carta imagem da fig. 27) seguindo a metodologia
recomendada pela portaria 518/2004-MS, que define os padrões de potabilidade da
água.

Figura 27: Carta imagem com os pontos de coleta de água par a análise
114
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

A escolha dos pontos de coleta foi de acordo com o padrão de drenagem da


bacia e pelo grau de intensidade de uso e ocupação da área, principalmente pelos
processos de urbanização.
Assim, foram coletadas amostras em pontos específicos de nascentes e
mananciais da área urbana de Vitória da Conquista - BA, partindo da nascente
principal do rio Verruga na reserva do Poço Escuro, (ver carta imagem da fig. 27),
seguindo para o segundo manancial, a Lagoa das Bateias daí para a jusante dos
canais originários da área urbana; ponto de coleta denominado encontro dos rios:
riacho Santa Rita que nasce na Lagoa das Bateias (amostra 2) com o Rio Verruga
cuja nascente principal é a do Poço Escuro (amostra 1). A quarta amostra foi na
parte intermediária da Bacia (Médio Rio Verruga) e a quinta amostra foi próximo a
cidade de Itambé no Baixo Rio Verruga. Todas as amostras foram coletadas no dia
26 de setembro de 2007, refrigeradas e entregues para analise no mesmo dia.
Os procedimentos para escolha dos pontos das amostras foram elaborados
de acordo com o potencial de uso da bacia e dos índices de conservação da
cobertura vegetal, mapeados e analisados no capitulo anterior, e da análise do
padrão dos corpos d’água e de lançamento de efluentes estabelecidos pela
resolução 375/2005 do CONAMA.
Dentro dos critérios estabelecidos para a analise da qualidade da água, foram
aplicados os Padrões de Potabilidade definidos pelo MS - Ministério da Saúde
através da Portaria nº. 518 de 26/03/2004. Esses padrões, de um modo geral, são
valores máximos permitidos (VMP) de concentração para uma série de substâncias
e componentes presentes na água. As análises foram realizadas no Laboratório de
Controle e Qualidade de água (LCA) da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia-UESB, de acordo com o “Standard Methods for the Examination of Water and
Wastewater” 19th Edition 1995.
As análises físico-químicas das amostras baseou-se em parâmetros para
medição do pH da água (4,0 a 10,0), da condutividade em (μS/cm à 25° C), da
determinação de cloretos (mg/L) e da dureza total (mg/L). Os padrões foram os de
aceitação para consumo humano da portaria nº. 518 de 26/03/2004(MS). Os
resultados físico-químicos tiveram o pH conduzindo para a alcalinidade com quase

115
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

todas as amostras acima de pH 7, com exceção da amostra do Poço Escuro que


teve o pH 6,3. Ver quadro da fig. 28.

ANÁLISE FISICO-QUIMICA-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO VERRUGA

242: Amostra 1: Poço Escuro


243: Amostra 2: Lagoa das Bateias
244: Amostra 3: Encontro dos Rios
247: Amostra 4: Rio Verruga – Fim do Marçal
248: Amostra 5: Rio Verruga - Itambé
Resultados2, 3
Padrões de Aceitação para
Parâmetros Amostras Número
consumo humano1
242 243 244 247 248
pH 6,3 7,7 7,5 7,3 7,4 4,0 a 10,0
Condutividade μS/cm à
84,0 699,0 921,0 420,0 275,0
25° C
Determinação de
38,0 49,0 48,0 30,0 24,0 mg/L Até 250 mg/L
Cloretos
Dureza total 42,0 39,0 32,0 37,0 33,0 mg/L Até 500 mg/L
Observações:
1
Valores Descritos na Portaria N° 518 de 25/03/2004 do Ministério da Saúde
2Os resultado desta análise tem significação restrita e refere-se somente a amostra analisada, não podendo ser utilizada em
qualquer tipo de propaganda.
3Análises realizadas de acordo com o “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater”
Fonte: Laboratório de Controle e Qualidade de Água – LCA-UESB set. 2007
Fig. 28 Análise físico-Química das águas da Bacia do Rio Verruga

Quanto a condutividade, que presume a concentração de sais dissolvidos na


água, verifica-se uma variação de índice conforme as amostras; a amostra
localizada na nascente do poço escuro possui baixa concentração sendo a menor
taxa encontrada com 84 micromhosS/cm, a taxa mais elevada com 921
micromhosS/cm foi encontrada a jusante dos canais da área urbana (amostra 3
encontro do Riacho Santa Rita com o Rio Verruga) nesse trecho culmina todos os
efluentes urbanos domésticos e industriais esses efluentes são carregados de sais,
principalmente o cloreto de potássio o que aumenta consideravelmente a
condutividade elétrica da água do Rio.
Já em relação as fácies química, feita pela determinação de cloretos, corre
com um percentual médio de 37 mg/l, sendo que o maior índice é o da amostra
coletada na nascente da Lagoa das Bateias com 49,0 mg/L, local onde despeja
cerca de 20% dos efluentes in natura da cidade de Vitória da Conquista. Segundo
Sperling, (2007), os efluentes domésticos possuem elevados índices de cloretos,

116
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

derivados da urina e outros produtos consumidos pela população urbana. O


segundo índice mais elevado foi justamente o ponto a jusante da área urbana, a
amostra coletada no encontro do Riacho Santa Rita com o Rio Verruga com 48,0
mg/L, nesse ponto converge todos os efluentes e dejetos urbanos residenciais e
industriais inclusive os que saem da Estação de Tratamento da Embasa - SA.
No quesito dureza total, as amostras evidenciam que no geral as águas são
doces e ou moles, isto é, não possuem altas taxas de concentração de minerais que
precipitam o sabão tais como o Cálcio, o Magnésio, o Ferro, o Alumínio o Manganês
e o Estrôncio TUNDISI, (2005), já que a maioria das nascentes da bacia é
proveniente de áreas com estrutura de coberturas detríticas, que possuem rochas
porosas das quais regulam o teor de salinidade dessas águas superficiais.
Do ponto de vista das características físico-químicas constata-se que as
águas da bacia Rio Verruga podem ser aproveitadas para múltiplos usos com
restrição ao abastecimento humano sem tratamento adequado já que há uma alta
concentração de microorganismos contaminantes dissolvidos nessas águas,
resultantes de águas residuárias da cidade de Vitória da Conquista.
Com relação a analise microbiológica das amostras o resultado foi o seguinte:
das cinco amostras analisadas todas tiveram o índice de coliformes totais, maior que
8 NMP/100ml. A determinação no NMP de coliformes foi feita a partir da técnica de
tubos múltiplos, na qual volumes decrescentes da amostra (diluições decimais
consecutivas) são inoculados em meio de cultura adequado, sendo que cada volume
é inoculado em série de 5 tubos. Através do decréscimo dos volumes inoculados
obtém-se uma determinada diluição em que todos os tubos, ou a maioria, fornecem
resultados negativos. A combinação dos resultados positivos e negativos é usada na
determinação do NMP.
Já com relação aos coliformes fecais, constata-se a água já sai de sua
nascente contaminada por fezes; a amostra da nascente do Poço Escuro obteve 1,1
NMP/100ml de coliformes fecais, lembrando que esta nascente encontra-se numa
área de floresta, reserva do Poço Escuro, rodeada por casas populares e invasões.
O índice mais elevado de coliformes fecais foi registrado na segunda amostra
que corresponde a nascente da Lagoa das Bateias. Nesse ponto índice foi maior
que 8 NPM/100ml, (ver quadro da fig. 29). A Lagoa das Bateias boa parte dos

117
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

efluentes urbanos in natura diretamente na sua lâmina d’água em seguida a água é


escoada para o Córrego Lagoa de Baixo, desaguando no Riacho Santa Rita e
posteriormente no Rio Verruga a jusante da área urbana. Desse ponto em diante,
foi detectado a ausência de coliformes fecais nas duas amostras seguintes, sendo
encontrado 1,1 NPM/100ml na amostra coletada próximo a Itambé, onde o rio
Verruga encontra com o rio Pardo.

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA
Resultados

Presença de Coliformes2, 3 Valor máximo


N° Amostra/Descrição permitido1
Coliforme fecal
914 Amostra 1: Poço Escuro > 1,1 NMP/100mL

915 Amostra 2: Lagoa das Bateias > 8,0 NMP/100mL


Ausência em
916 Amostra 3: Encontro dos Rios Ausente
100 ml
932 Amostra 4: Rio Verruga – Fim do Marçal Ausente

931 Amostra 5: Rio Verruga – Itambé > 1,1 NMP/100mL


Observações: NMP: Número Mais Provável; UFC: Unidade Formadora de Colônia.
1
Valores Descritos na Portaria N° 518 de 25/03/2004 do Ministério da Saúde
2
Os resultado desta análise tem significação restrita e refere-se somente a amostra analisada, não podendo ser utilizada em qualquer tipo
de propaganda.
3
Análises realizadas de acordo com o “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater”

Fonte: Laboratório de Controle e Qualidade de Água – LCA-UESB set. 2007


Fig. 29 Análise microbiológica das águas da Bacia do Rio Verruga

Cabe ressaltar que em um trecho de 20 km percorridos pelas águas nascidas


no espaço urbano de Vitória da Conquista - BA existe uma vegetação arbustiva,
entrelaçada por herbáceas que influenciam na limpeza tanto da poluição quanto da
contaminação dessas águas, formando uma zona de autodepuração. Sperling
(2007) define esse tipo de processo como o e autodepuração para Sperling (op.cit.),
a autodepuração refere-se à capacidade de assimilação dos rios. Ou seja, o quanto
um corpo d’água suporta poluentes sem apresentar problemas do ponto de vista
ambiental.
No caso do Rio Verruga, essa capacidade autodepurativa, é facilitada por
possuir um canal de drenagem sobreposto em terrenos planos e ou suavemente
ondulado, sobretudo no trecho que compreende o espaço urbanizado analisado.
Nesse trecho do rio, a água percorre com muito menos carga energética, ou seja,

118
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

demora mais tempo para chegar ao destino final, o que facilita o processo de
autodepuração pelo surgimento de uma vegetação em meio ao leito do rio e em
todas as suas margens, mas, segundo Sperling (op. cit), não é somente essa
cobertura vegetal que atua, os diversos tipos de movimento dos corpos d’água no
leito do rio, e o fenômeno de sucessão ecológica, que atua na expansão e
diminuição das bactérias resultantes do processo de poluição atuam na
autodepuração.
Uma outra situação pertinente é a diversificação das características
geoambientais da bacia, principalmente com relação aos aspectos geológicos e
geomorfológicos que comporta três unidades distintas além dos aspectos climáticos
que também variam de acordo com essas diferenciações e, por conseguinte os tipos
de vegetação nativa. Essa condição geoambiental, interfere no regime e
escoamento dos rios e na cobertura vegetal, que são importantes fatores para a
preservação da qualidade dos corpos d’água. Quanto menor a vazão dos rios menor
a capacidade de diluição de poluentes, e quanto menos cobertura vegetal em suas
margens, maior o risco de carreamento de sólidos para o corpo hídrico e
conseqüente aumento do assoreamento dos rios. Como menor também será a
capacidade de depuração dos efluentes ejetados em toda a bacia.
Existem algumas alternativas de controle da poluição por matéria orgânica em
um rio, ou em toda a bacia de drenagem, para isso, é necessário conhecer os tipos
de usos, (ver gráfico da fig. 30).

TIPOS DE USOS DA ÁGUA NA BACIA DO RIO


VERRUGA
10% 8%
6% Irrigação

Dessedentação animal
21% 14%
Lavagem de roupa

Recreação

Pesca

Abast. humano direto


23%
18%
Outros usos
FONTE: Pesquisa de Campo set/07

Figura 30: Principais tipos de uso da água na bacia do Rio Verruga

119
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Quanto ao uso das águas na bacia hidrográfica do Rio Verruga, constata-se


que há uma prevalência do uso para a dessedentação animal, seguido da irrigação
com pivô central, principalmente para a cafeicultura e pastagens, da coleta manual
irrigação de hortaliças, da recreação e do abastecimento humano de populações
rurais. Já que o abastecimento urbano de Vitória da Conquista é proveniente de
outra bacia.
Para a Agência Nacional das Águas – ANA, os usos das águas de uma bacia
podem ser do tipo consuntivo e não consuntivo. Os tipos não consuntivos são os
que mais poluem as águas, pois neste caso, enquadram o despejo de águas
residuárias provenientes de esgoto, o garimpo e a mineração e outros tipos de usos
poluentes.
Assim, em relação às fontes poluidoras das águas, constata-se que as fontes
com grandes riscos para os recursos hídricos da bacia hidrográfica do Rio Verruga,
variam de acordo com nível de usos não consuntivos dessas águas, sobretudo para
o despejo de águas residuárias oriundas do espaço urbano de Vitória da Conquista.
Já que em função do desenvolvimento urbano regional de Vitória da
Conquista, do número de habitantes elevado, das atividades econômicas, a cidade
produz muita água residuária e esgoto que converge para a bacia.
Outro fato é que a população urbana consome muito, principalmente produtos
industrializados com grande número de materiais ditos descartáveis que em sua
maioria não são coletados pelo serviço público e acabam indo para as nascentes,
mananciais e fundos de vale por onde correm as águas dos rios da bacia
hidrográfica. Além disso, a cidade de Vitória da Conquista concentra grande número
de indústrias e casas com serviços especializados que sempre produzem resíduos
altamente poluentes e contaminantes que certamente convergem para drenagem da
Bacia do Rio Verruga.
Conforme LONRANDI&CANÇADO(2005), a poluição hídrica é caracterizada
por qualquer alteração nas condições naturais de um corpo d’água. Evidencia-se na
Bacia do Rio Verruga, um cenário de degradação por diversos agentes de poluição
hídrica. Dentre eles destacam-se a decomposição de matérias orgânicas, o despejo
de águas residuárias, os resíduos sólidos e outros. Essas fontes potenciais de
poluição foram identificadas em grande parte no espaço urbano de Vitória da

120
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Conquista, principalmente aquelas relacionadas ao despejo de águas residuárias


nos trechos selecionados para obtenção das amostras de água, mostrando a
relação direta das atividades humanas, com o nível de poluição identificado na
amostragem e nos corpos d’água de toda a bacia hidrográfica.
Os efluentes líquidos urbanos e industriais associados com os resíduos
sólidos configuram as principais fontes potenciais de poluição e representam as
piores situações de risco para os mananciais de água superficial da bacia.
Dos trechos analisados, a maioria possui altos índices de poluição por
termotolerantes e situações de riscos de contaminação da população, principalmente
por coliformes fecais, devido às fontes de esgoto doméstico e dejetos de animais.
Os produtos químicos oriundos das indústrias, da lavagem de roupas e
utensílios domésticos é outra fonte de poluição e contaminação bastante peculiar
nos trechos analisados.
Assim, para o controle dessa poluição, é necessário uma estratégia que
associe o tratamento dos esgotos, o controle da poluição difusa, a regularização da
vazão do curso d’água, a aeração dos esgotos tratados, a alocação de outros usos
para o curso d’água, para estabilizar ou diminuir a quantidades de poluentes que
permanecem nos corpos d’água do rio.

121
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

8. AVALIAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DA BACIA DO RIO VERRUGA

O espaço geográfico da bacia hidrográfica do Rio Verruga comporta relações


sócio-espaciais advindas das estruturas espaciais estabelecidas pelo processo de
ocupação decorrente do modo de produção vigente e da relação direta entre
sociedade e natureza. As relações sócio-espaciais passam, sobretudo pelo viés do
capitalismo que se manifesta pela contradição e a tarefa da geografia e da teoria
espacial neste contexto, “consiste em elaborar representações dinâmicas de como
essa contradição se manifesta por meio das transformações” (Harvey, 2005, p.145).
A avaliação sócio-espacial pretendida neste capitulo, visa essencialmente,
trabalhar as contradições desenvolvidas no espaço compreendido pela bacia
hidrográfica, destacando principalmente as condições de uso e ocupação humana,
de saneamento, de moradias, e as condições socioeconômicas que formam a
qualidade de vida dos moradores da área, além das relações de produção
resultantes da ocupação territorial dadas pelas condições naturais e condições
desenvolvidas pela sociedade local.

8.1. Contradições sócio-espaciais e ocupação humana nas áreas de


nascentes, vales e fundos de vale da bacia do Rio Verruga.

As condições da ocupação humana na bacia do Rio verruga são definidas


basicamente pela expansão urbana da cidade de Vitória da Conquista – BA que
tiveram sua materialização do núcleo inicial da urbanização e toda a sua expansão
urbana nas margens do canal principal do Rio Verruga e de suas principais
nascentes e mananciais.
Desse modo, as condições geoambientais da bacia foram alteradas
significativamente, mesmo tendo garantido a perenidade de suas águas. O fato é
que toda essa ocupação humana decorrente do processo de urbanização
transformou significativamente a qualidade da água brotada nos mananciais da
Bacia. Veja as fotos da figura 31, nelas percebe-se o uso indiscriminado da água de

122
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

uma das nascentes do rio Verruga na Reserva do Poço Escuro em área urbana da
Cidade de Vitória da Conquista-BA.
Fotos: Altemar A. Rocha dez-07.

Fotos: Altemar A. Rocha dez-07.


Fig.31: Lavagem de roupas e utensílios domésticos, nascente do Rio Verruga
área urbana de Vitória da Conquista – BA. Fonte: Pesquisa de campo set –
07.

Segundo entrevista com os moradores do Bairro Guarani próximo a essa


nascente onde foi construída a fonte para a retirada de água, o uso desse local para
lavagem de roupas e utensílios domésticos nesse ponto é bastante antigo desde a
década de 1960, época de expansão urbana para o entrono da Serra do Periperi,
onde fica localizada a reserva ambiental e as nascentes do Rio Verruga, dando
origem ao bairro Guarani.
O que foi constatado na pesquisa de campo e comprovado em laboratório,
com analise química e biológica da água, é que desde a sua nascente as águas do
Rio Verruga já estão poluídas e contaminadas, mesmo sendo a nascente localizada
numa área de preservação permanente: a reserva do Poço Escuro, criada em 1981
e posteriormente, transformada em Parque da Serra do Periperi, criado pelo Decreto
Municipal nº. 9.480/99,

Eis aí uma das contradições ambientais na bacia já que o parque foi criado
com o objetivo de organizar o uso e a ocupação do solo, preservar áreas verdes
remanescentes nas encostas e topo da Serra do Periperi, proteger as nascentes
existentes e recuperar as áreas degradadas pela atividade de mineração,
minimizando e corrigindo os processos erosivos decorrentes da degradação
ambiental.

123
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

De acordo com a legislação ambiental no Brasil, essa realidade não deveria


acontecer. Principalmente a partir da Constituição Federal de 1988, que em seu
artigo 208, proíbe o lançamento de efluentes e esgotos sem o devido tratamento em
quaisquer corpo d’água.
Mas é com o Código Florestal que fica mais claro a questão do uso e
preservação para áreas que possuem cursos ou corpos d’água, sejam eles recursos
hídricos ou não localizados em áreas de preservação permanente. No artigo 2º do
Código Florestal Federal (Lei 4.771/65), estabelece-se a proteção das formas de
vegetação e limites de ocupação ao longo dos cursos d'água e em topos de morros
e vertentes com declividades acentuadas. Eis que surge no Brasil, a definição das
áreas de preservação permanente, protegidas do ponto de vista da intocabilidade da
cobertura vegetal e da ocupação territorial.
Sendo assim, consideram-se áreas de preservação permanente, as florestas
e demais tipos de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso
d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:

− De 30 metros para os cursos d’água com menos de 10 metros de


largura;
− De 50 metros para os cursos d’água que tenham entre 10 e 50
metros de largura;
− De 100 metros para os cursos d’água que tenham entre 50 e 200
metros de largura;
− De 200 metros para os cursos d’água que tenham entre 200 e
600 metros de largura;
− De 500 metros para os cursos d’água que tenham largura
superior a 600 metros.

Consideram-se ainda na atualização do Código Florestal, a mesma condição


para áreas ao redor das lagoas, lagos reservatórios d’água naturais ou construídos;
nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d’água”, qualquer
que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 metros de largura, nos
topos de morros, montes, montanhas e serras; nas encostas ou partes destas com
declividade superior a 45º, equivalente a 100% na linha de maior declive; nas
restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; nas bordas de
tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo faixa nunca inferior a
100 metros, qualquer que seja a vegetação.

124
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Já o artigo 3º da Resolução do CONAMA, n° 004 de 18 de setembro de 1985,


estabelece áreas de proteção legal nos seguintes casos:

− 30 metros ao redor de lagos que estão situados em áreas


urbanas;
− 100 metros ao redor das lagoas que estão situadas em áreas
rurais;
− 300 metros para restingas a contar da linha da preamar
máxima;
− Áreas com florestas naturais e demais formas de vegetação
natural situadas em classes de declividades superiores a
45%.

Conforme a analise dessa legislação ambiental percebe-se que a implantação


da Reserva do Poço Escuro onde encontra-se as principais nascentes do Rio
Verruga, ameniza a problemática ambiental decorrente da pressão urbana, mas não
impede a sua contaminação. Já que a proximidade das casas com os mananciais é
latente e o uso dessas águas tornou-se uma “tradição cultural” com mais de 40 anos,
pois, conforme a Embasa (2006), 98,9% dos domicílios localizados nos arredores da
Reserva do Poço Escuro possuem abastecimento de água.
Outra questão a ser considerada é que mesmo com a robustez da legislação
ambiental brasileira sobre o uso, com severas formas de punição aos infratores,
encontra-se nela uma fragilidade que permite a supressão da vegetação dessas
áreas com fragilidade ambiental, “em caso de utilidade pública ou de interesse
socioeconômico”, dependendo do poder municipal, a sua outorga para esses fins.
Vale ressaltar ainda do ponto de vista da legislação para com a questão
ambiental aqui abordada, a importância da Lei Federal n° 6.766 de 19 de dezembro
1979, que trata do parcelamento do solo urbano, restringindo o uso em terrenos com
declividade acima de 30% e definindo reservas para áreas públicas.
Deve-se considerar que essa Lei, foi alterada pela Lei Federal 9.785/99 que
transmitiu a competência de delegar sobre o parcelamento do solo urbano para os
municípios, tornando muito mais susceptíveis às pressões do Capitalismo e dos
setores mais localizados como é o caso da especulação imobiliária.
Em Vitória da Conquista - BA, a Lei Orgânica Municipal de 1990, no capítulo
VI, trata da questão ambiental de forma genérica: o artigo 141 dispõe sobre a
preservação ambiental, fala da recuperação de áreas degradadas sem direcionar as

125
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

categorias e ou os componentes naturais a serem preservados. Já em 2006 foi


aprovada a Lei Municipal nº. 1385, estabelecendo o Plano Diretor Urbano que define
as diretrizes de uso e ocupação do solo urbano. O PDU aponta cenários sobre a
questão ambiental de Vitória da Conquista - BA e define quatro unidades
geoambientais que carecem de atenção especial e preservação, ambas estão
situadas na Bacia do rio Verruga.
Atrelado ao plano diretor, foi aprovado o Plano de Saneamento Ambiental
com uma nova Lei Orgânica, sancionada em 23 de fevereiro de 2007, prevendo boa
parte da problemática ambiental urbana de Vitória da Conquista – BA e direciona
algumas ações para este propósito, mas muito pouco do que foi proposto está sendo
executado.
Em junho de 2007, foi aprovada a Lei Municipal nº. 1410, que cria o Código
Ambiental do Município, definindo entre outras funções a promoção e manutenção
de um inventário e mapeamento da cobertura vegetal nativa e dos rios e córregos
além da criação do Fundo Municipal para Recuperação Ambiental do qual receberá
os recursos advindos das penalidades administrativas relativas aos danos
ambientais flagrados no município de Vitória da Conquista e respectivamente na
bacia do Rio Verruga. O código ambiental ratifica a criação do Parque da Serra do
Periperi, da Reserva do Poço Escuro, cria a Reserva da Lagoa das Bateias, da
Baixa do Jurema e confirma outras áreas de preservação permanente de acordo
com a legislação ambiental brasileira em vigor.
A análise das contradições sócio-ambientais decorrentes das diferentes
formas de uso e ocupação das áreas de nascentes e vales e fundos de vales da
bacia do Rio Verruga, parte do pressuposto teórico abordado anteriormente,
relacionando-se com as normas da legislação ambiental vigente, para a proposição
de cenários ambientais e ou sócio-espaciais, de degradação ou não, definidores da
qualidade de vida da população em detrimento dos processos produtivos e das
relações espaciais que definem o uso e ocupações adequadas ou inadequadas para
o modo de vida da atual fase da sociedade contemporânea.
Do ponto de vista da ocupação e aglomeração humana por edificações,
destaca-se a expansão urbana no Alto Rio Verruga, com a crescente urbanização
irregular na Lagoa da Baixa do Jurema, no entorno da Lagoa das Bateias, da Baixa

126
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

da Lagoa do Sapo, no entorno da nascente do Córrego São Pedro, nos Campinhos


(planície de inundação, confluência entre o riacho Santa Rita, Lagoa de Baixo e
Córrego São Pedro), entorno da nascente no Bairro Morado dos Pássaros, entorno
da nascente na Urbis VI(Renato Magalhães); aterro por entulho e edificações nas
margens do canal principal do Rio Verruga, cerca 8 km em área urbana com a
supressão da vegetação e conseqüente processo de assoreamento e solapamento
da calha. Veja as fotos da figura 32.

Foto: Altemar A. Rocha dez-07.


Solapamento da margem direita do Rio Verruga – Visão sobre e sob a Ponte da Av. Luis E. Magalhães - área
urbana de Vitória da Conquista-BA : pesquisa de Campo dezembro de 2007.
Fotos\: Altemar A. Rocha dez-07.

Fotos\: Altemar A. Rocha dez-


07

Trechos com assoreamento ao longo do leito do Rio Verruga – área urbana de Vitória da Conquista-BA:
Pesquisa de Campo dezembro de 2007.
Fotos: Altemar A. Rocha dez-
Fotos: Altemar A. Rocha dez-
07

Áreas de nascentes e mananciais com ocupação urbana – lagoa das bateias e baixa da jurema
Figura 32: Fotos da problemática ambiental decorrente dos processos de uso e ocupação na
bacia do Rio Verruga: Fonte pesquisa de campo dez/07.

127
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Desse modo, fica evidenciado conforme a ilustração da figura 32, que existe
uma ineficácia no Planejamento Ambiental Municipal de Vitória da Conquista e na
execução das políticas e planos executivos que contribuam para a diminuição eficaz
da problemática ambiental da Bacia do Rio Verruga, sobretudo no trecho da malha
urbana, seja por problemas de micro e macrodrenagem, pela supressão da
cobertura vegetal, por acumulo de lixo e entulho, pela poluição e contaminação das
águas com efluentes domésticos e industriais, pela falta de saneamento básico em
mais de 50% da área urbana e, de um saneamento ambiental que contemple o
afastamento das águas residuárias do leito do rio Verruga e seus afluentes da área
urbana, a destinação do lixo industrial para um aterro sanitário industrial. Apesar de
existir uma legislação municipal bem direcionada para a solução dessa problemática.
O fato é que em área urbana os danos ambientais são bem maiores.
GUERRA et all (2002), afirma que o desmatamento associado às construções de
prédios e o surgimento de ruas e avenidas causam uma impermeabilização das
encostas e colúvios, fazendo com que as inundações e sejam cada vez maiores
nessas cidades (grifos meus).
Uma das várias contradições da ocupação humana em bacias hidrográficas é
o da preservação e conservação já que da ocupação humana precede a
urbanização e do crescimento das cidades precede a transformação da natureza
pela produção e reprodução das relações sócioespaciais, mesmo quando existe
uma legislação dizendo como e quando preservar.
Daí, que como ressalta Rodrigues (1996), ”trata-se, assim, de compreender
as contradições desse processo Sócioespacial”, é preciso considerar que a questão
ambiental é plural e universal dentro de uma complexidade que se materializa num
dado território do qual evidencia-se aqui, no estudo da bacia hidrográfica e do
espaço urbano, imbricado de contradições dados pela problemática ambiental
presente em sua espacialidade.
A problemática ambiental deixa claro, a necessidade da delimitação territorial
para analisar os pressupostos do desenvolvimento social e econômico em
detrimento da proposição dos objetivos para o vislumbramento de cenários
ambientais condizentes com a equidade social e manutenção da natureza.

128
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

8.2. Condições da ocupação territorial e geoambiental na Bacia do Rio Verruga

De acordo com as condições de uso e ocupação territorial da Bacia do Rio


Verruga, foi possível definir unidades ecodinâmicas da Bacia conforme o mapa da
figura 33, sobretudo o grau de fragilidade conforme o uso e ocupação do território,
aliado as condições geoambientais que estrutura a bacia.

Figura 33: Mapa de unidades ecodinâmicas e grau de fragilidade da Bacia do Rio Verruga

129
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Esse comportamento morfodinâmico da bacia foi mapeado com o cruzamento


de informações do relevo, da geologia, dos tipos de solos e da cobertura vegetal da
área, associando-se com os diferentes tipos de uso e ocupação, definindo-se assim
unidades geoambientais com estabilidade no comportamento morfodinâmico e
unidades com instabilidade que variam de intensidade de acordo com a estrutura,
localização na bacia e o tipo de uso. Do ponto de vista da ocupação territorial e da
variabilidade geoambiental, pode se considerar ainda o comportamento
morfodinâmico da Bacia que define áreas de estabilidade e áreas de instabilidade
morfodinâmica (Ross, 2006).
A avaliação do estado geoambiental também evidencia uma serie de outros
processos de degradação, conforme observação em campo, foram detectados
vários pontos de terracetes por pisoteio de gado em terrenos da encosta meridional
do planalto de Conquista que possui alta declividade e dissecação muito forte, foi
detectado também, o surgimento de sulcos e ravinas geradas pelas trilhas do gado
ou em caminhos de acesso às propriedades rurais, sendo que nessa área o
percentual de ocupação pela pecuária extensiva representa mais de 90% do
território ocupado.
Foi dado um destaque especial ao território da bacia ocupado pela
urbanização de Vitória da Conquista, (ver mapa da fig. 34). Nessas áreas o
detalhamento das informações, permite uma maior compreensão do comportamento
morfodinâmico apresentado pela bacia como um todo. Desse modo, conforme Ross
(2001), e com base no cruzamento de informações, o mapeamento do estado
geoambiental do Alto Rio Verruga, trecho urbanizado, apresenta zonas de equilíbrio
e zonas em desequilíbrio ambiental.
− As zonas em equilíbrio ou estabilidade morfodinâmica; são aquelas com
estabilidade natural – cobertura florestal natural Ex. reserva do Poço escuro e
matas ciliares do rio. Estabilidade por urbanização e impermeabilização do
solo em terrenos planos; estabilidade por urbanização de alto padrão.
− As zonas em desequilíbrio ambiental moderado a fraco; foram encontrados
em áreas com relevo suave e ocupação pouco densa; instabilidade forte
relevo de declividade entre 10 e 30%, com ocupação caótica, solos expostos

130
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

por retirada de material (areia e cascalho); ex. encosta meridional da Serra do


Periperi;
− As zonas de instabilidade morfodinâmica muito forte com o relevo de planície
de inundação e fundos de vales estrangulados por aterros, pontes,
tubulações, depósitos de lixo e entulho e construções irregulares; ex. Baixa
dos Campinhos, Baixa do São Pedro, Lagoa das Bateias, Baixa do Jurema,
Baixa do Sapo, Praça Vitor Brito Avenida Bartolomeu de Gusmão, Baixa da
Égua, Ponte sobre a Av. Luis Eduardo Magalhães, ambos próximos do leito
principal do Rio Verruga.

Figura 34: Mapa de unidades ecodinâmicas e grau de fragilidade do Alto Rio Verruga

131
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Assim, conforme os trabalhos de campo realizados na área da bacia do Rio


Verruga e com base no mapeamento da ecodinâmica da Bacia, a dinâmica de
apropriação territorial aponta para as seguintes tipologias de uso e ocupação:
− Os vales e fundo de vales da bacia estão sendo ocupados por pastagens,
agricultura, atividades de extração de argila e areia, condução de efluentes,
esgoto e moradias;
− As áreas de fundo de vale sofrem intervenções arbitrárias, incluindo
canalizações dos córregos e riachos, destacando-se a área urbana de Vitória
da Conquista-BA que ocupa fundos de vales do Riacho Santa Rita, Córrego
Lagoa de Baixo, Córrego São Pedro, Córrego das Bateias, Córrego do
Jurema e o Rio Verruga.
− As nascentes e mananciais da bacia estão desprovidas de cobertura vegetal
do entorno exceto a nascente principal do Rio Verruga localizada na Reserva
do Poço Escuro;
− As áreas de preservação permanente definidas pelo Código Ambiental do
município estão sendo destinadas ao lazer e em outras, foram ocupadas por
loteamentos e invasões para moradia;
− Em área urbana, os fundos de vale e nascentes, foram transformados em
depósito de lixo, entulho e receptáculos de efluentes domésticos e industriais;
contribuindo para a poluição e contaminação das águas da bacia,
− As nascentes e mananciais da bacia localizadas em área urbana, passam por
um processo de revitalização com a incorporação dessas áreas no plano de
saneamento ambiental da cidade, com a criação da reserva do poço escuro e
do parque da Serra do Periperi, com a construção da Lagoa das Bateias e
urbanização das invasões ali existentes; com a expansão do sistema de
macrodrenagem da cidade.
− As encostas da Serra do Periperi parte meridional, onde localiza-se boa parte
das nascentes da bacia, sofreram corte e aterro para a construção da BR 116
e do Anel Rodoviário, propiciando o intenso processo de ravinamento e
voçorocamento.

132
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Mas a grande quantidade de sulcos e ravinas foi detectada no perímetro


urbano com construção de estradas, corte e aterro, principalmente com a
implantação do anel rodoviário após 1999, vários trechos de ravinamento e
voçorocamento surgiram observe as fotos da figura 35.

Figura 35: fotos com processos erosivos nas margens do anel rodoviário, espaço urbano de Fotos: Altemar A. Rocha dez-07.
Vitória da Conquista-BA. Fonte: pesquisa de campo dez-07.

Os processos erosivos do Anel rodoviário ocorrem na drenagem da alça


oeste com canais entre 2 e 15 m de profundidade e cerca de 3 km de extensão
convergem para a baixa do Córrego São Pedro e da alça leste converge diretamente
para o canal principal do Rio Verruga, carreando milhares de toneladas de resíduos
sólidos para as nascentes e córregos da bacia.

Complementando a avaliação do estado geoambiental da bacia, pode se dizer


que os processos erosivos detectados projetam vários pontos críticos na parte
urbanizada da bacia, merecendo destaque além representados pelas fotos da figura
30, outros pontos como a baixa dos campinhos que alguns trechos recebem aterro

133
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

naturalmente pelas águas da chuva ou pelas obras de urbanização da prefeitura e


em outros sofrem a retirada de material.
Com relação à drenagem e sua distribuição pelo território da Bacia, constata-
se que com ausência da cobertura vegetal arbórea em quase toda a área da bacia,
ocorre um aumento do escoamento superficial no período das chuvas estrangulando
vários pontos do canal principal do Rio Verruga e diminuindo sensivelmente em
períodos de estiagem, quando o leito do rio fica com o volume mínimo de águas e
em muitos canais de córregos e riachos da bacia, chegam ocorrer a sua
intermitência.
Mas a drenagem que apresenta maiores problemas é justamente na parte do
Alto Rio Verruga, onde encontra-se a malha urbana da Cidade de Vitória da
Conquista-BA.
Nessa parte do Rio, foram verificados diversos processos de canalização,
corte e aterro dos córregos e riachos que formam a bacia, além da criação de canais
de micro e macrodrenagem urbana que convergem principalmente para as áreas de
nascentes e mananciais do Rio Verruga. Suertegaray (2002), afirma que os aterros
urbanos, são soluções técnicas para a criação de novas áreas ou para apropriação
de espaços frágeis. É o que se verifica na bacia do Rio Verruga, principalmente no
espaço urbano de Vitória da Conquista. (Fig. 36).
Entre os problemas detectados com relação à drenagem urbana na bacia do
Rio Verruga, destaca-se: a falta de planejamento para a expansão urbana,
despreocupando-se entre outras coisas com o arranjo do traçado urbano – como a
implantação de longas avenidas, sem rede de drenagem, que no período de chuvas
intensas se transformam em verdadeiros cursos d’água; implantação de vias
preferenciais nas encostas da Serra do Periperi, aumentando a velocidade de
escoamento;

134
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Fotos: Altemar A. Rocha dez-


Canais do alto da Serra do Periperi que convergem para a Lagoa das Bateias

Canal do Córrego Jurema e canal da Av. Luis Eduardo Magalhães ambos convergem para o
leito do Rio Verruga
Figura 36: Macrodrenagem urbana de Vitória da Conquista-BA com canalização aberta revestida
em pedra, convergindo para o Rio Verruga. Fonte: pesquisa de campo dez-07.

Outra questão são as ocupações arbitrárias das áreas de drenagem natural,


diminuindo o processo de infiltração e aumentando o escoamento superficial das
chuvas; impermeabilização do terreno com a pavimentação asfáltica e construção de
prédios, aumentando o volume das águas superficiais pluviais de forma exponencial
e todo o processo de degradação ambiental. Cunha (2003, p. 229), afirma que “nas
áreas urbanas, as estruturas de revestimento dos canais são utilizadas como
indicador da degradação”.
Ocorre também a retilinização dos canais de drenagem construídos,
aumentando a velocidade das águas pluviais e consequentemente o seu volume nas
partes mais baixas, causando estrangulamento do leito dos córregos e riachos
receptores, daí as constantes inundações em períodos chuvosos, é o caso da de

135
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

toda a porção central da cidade, que é cortada pelas galerias fechadas do leito do
Rio Verruga, da Praça Vitor Brito e da Avenida Bartolomeu de Gusmão.
Devido à inexistência de um sistema de esgotamento sanitário em cerca de
50% da cidade, os dispositivos de drenagem existentes, recebem efluentes
residenciais e industriais, sem nenhum tratamento, aumentando os índices de
poluição e contaminação das águas da Bacia do Rio Verruga. Outro fator é a
ineficiência do sistema de limpeza pública, aliado à falta de educação ambiental da
população, em locais em que a coleta é insatisfatória, o lixo é depositado nos canais
de drenagem. (fig.37)
Fotos: Altemar A. Rocha dez-07.

Figura 37. Acumulo de lixo na nascente do Rio Verruga-Reserva do Poço Escuro. Despejo de
esgoto in-natura na Lagoa das Bateias. Fonte: pesquisa de campo dez-07

No processo de avaliação sócioespacial da bacia do Rio Verruga, fica


evidente a necessidade de compreender as condições ambientais e os processos de
destruição e degradação da água. Petrella (2004) destaca alguns processos de
degradação da água tais como: a irrigação na agricultura intensiva e industrializada;
a poluição e contaminação causada por atividades industriais e pela falta de
gerenciamento do lixo urbano, entre outros.
Aqui será feito uma analise da degradação da água em detrimento das
condições de saneamento ambiental do espaço urbano de Vitória da Conquista-BA
produzido na bacia do Rio Verruga e que de certa forma, contribui para a
degradação da água da Bacia.

Atualmente o Sistema de Esgotamento Sanitário da cidade de Vitória da


Conquista, compreende duas sub-bacias, integrantes da bacia do Rio Verruga

136
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

denominadas pela empresa de saneamento de sub-bacia Oeste e sub-bacia Leste.


A parte oeste da cidade, não possui estação de tratamento de esgoto - ETE.

Neste caso, os bairros que possuem rede coletora, conduzem todo o efluente
in-natura para as nascentes e mananciais da Bacia do Rio Verruga. É o caso dos
bairros Zabelê, Bateias, Nossa Senhora Aparecida, parte do bairro Ibirapuera, Parte
do Bairro Brasil, que distribuem seus dejetos diretamente na Lagoa das Bateias. O
tornando as águas que nascem no local e converge para o Rio Verruga uma das
mais poluídas e mais contaminadas de toda a bacia. Já os Bairros São Pedro, Parte
do bairro Patagônia, Jatobá e Campinhos, destinam os efluentes diretamente nos
canais de córregos e riachos que cortam a sub-bacia oeste.

A parte leste da cidade é parcialmente coberta pela rede de esgotamento


que converge para a estação de tratamento da EMBASA - ETE, localizada nas
margens esquerda do Rio Verruga, próximo ao estádio de futebol Lomanto Junior no
bairro Candeias. No seu entorno existe uma área reflorestada com eucaliptos, mas
devido a proximidade das residências, mau cheiro incomoda bastante os moradores
da vizinhança que compreende um bairro de classe média a alta e uma invasão com
moradias de baixo padrão que segue em toda a faixa ocidental da margem direita do
Rio Verruga, paralelo ao reflorestamento de eucalipto. (Fig.38).

Figura 38. Mapa do entorno da estação de tratamento de esgoto da embasa e sua estrutura
de funcionamento.

137
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Segundo a EMBASA (2006), a ETE é composta por caixas de areia para


gradeamento e desarenagem dos resíduos e por quatro unidades de tratamento,
que compreende: uma lagoa aerada de mistura completa (LAMC), uma lagoa aerada
facultativa (LAF) e duas lagoas de maturação (M1, M2).

De acordo com a EMBASA (2006), As lagoas funcionam em série, LAMC,


LAF, M1, M2, sendo o efluente final lançado no rio Verruga, (Fig. 39). O sistema
funciona da seguinte forma: A LAMC - lagoa aerada de mistura completa é a
primeira porta de entrada dos efluentes com 10 aeradores de 30cv cada, com tempo
de detenção de 1,5 dias; daí segue para a lagoa LAF, que funciona como lagoa
aerada facultativa com 10 aeradores de 7,5 cavalos cada, com tempo de detenção
de 2 dias; e posteriormente, as lagoas LM1 e 2 que funcionam como lagoas de
maturação, por alguns dias devolvendo os efluentes ao Rio Verruga.
Fotos: Altemar A. Rocha dez-07.

Figura 39: Fotos da estação de tratamento da embasa margem esquerda do Rio Verruga; ao
fundo barreira com eucaliptos contra o odor dos efluentes. Fonte: pesquisa de Campo dez-07.

Conforme o relatório estratégico para implantação do Plano Diretor Urbano -


PDU de Vitória da Conquista-BA, a fim de verificar as condições operacionais das
lagoas, foram analisados os valores da Densidade Bioquímica de Oxigênio - DBO de
entrada e saída dos esgotos e os valores de Densidade Química de Oxigênio - DQO.
Para o PDU (2006), “embora, de modo geral, haja eficiência em termos de remoção
de DBO, verifica-se que os valores atingidos pelos efluentes ainda são bem
elevados (30mg/l)”, provavelmente por conta dos resíduos industriais contidos nos
efluentes. Isso aumenta o índice de turbidez das águas do rio Verruga que chega
antes da estação relativamente límpida.

138
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

O sistema da ETE, atende parcialmente os bairros da sub-bacia leste,


representando cerca de 46% do total de residências do espaço urbano de Vitória da
Conquista, o que evidencia a ineficiência do sistema de coleta e tratamento dos
efluentes produzidos pela sociedade local. Desse modo, a qualidade das águas da
Bacia do Rio Verruga fica totalmente comprometida, inviabilizando o uso para fins de
dessedentação humana entre outros usos.

O processo de avaliação sócioespacial pautado na integração de fatores


transversais que emanam da questão ambiental, foram decisivos para a elucidação
da problemática ambiental da Bacia. Segundo Sperling (2007), uma bacia
hidrográfica possui naturalmente zonas de autodepuração das impurezas,
principalmente as que resultam do despejo de efluentes e esgoto. Para Sperling (Op.
Cit.), numa bacia hidrográfica existem quatro zonas de autodepuração: zona de
degradação, zona de decomposição ativa, zona de recuperação e zona de águas
limpas.

No caso do Rio Verruga, a Bacia está passando por um processo de


degradação ambiental acelerado, especialmente nas áreas de nascentes e próximas
aos vales e fundo de vales. Pois, há uma extensa ocorrência da zona de degradação
definida por SPERLING (op.cit), como zona de lançamento de águas residuárias,
seguida por uma zona de decomposição ativa com ambientes aeróbicos e
anaeróbicos. Na zona de recuperação há aspecto melhorado, mas não consegue
limpar toda a poluição despejada no rio, sendo assim, a zona de água limpa é muito
pequena ou quase inexistente, já que sua a nascente também está poluída e
contaminada por coliformes fecais. Mesmo sendo considerada uma zona de água
limpa por estar localizada numa reserva ambiental protegida por floresta.

Dessa problemática, o que mais sobressai, são os processos erosivos, com


sulcos, ravinas e voçorocas, principalmente nas cabeceiras das nascentes, seguidos
de solapamentos das margens fluviais dos canais de drenagem, acarretando o
assoreamento e muitas vezes a interrupção do leito natural do Rio.

No que diz respeito ao nível de proteção das margens fluviais com vegetação,
no trecho urbano da bacia, a mata ciliar é ausente, em alguns pontos restam pouca
vegetação muito alterada, que exerce a função natural de proteção.

139
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Na parte exutória da bacia, a degradação é agravada pela criação extensiva


de gado com cerca de 93% da ocupação do território, conforme o mapeamento de
uso e ocupação.

A degradação das águas da Bacia é agravada pela deposição irregular de


resíduos sólidos em área urbana, provenientes de entulho, lixo residencial e
industrial, além da entrada de efluentes in natura de cerca de 50% do total produzido
pela sociedade Conquistense.

8.3. Emergência de uma nova perspectiva sócioambiental para a Bacia do Rio


Verruga.

A interface sociedade-natureza está muito pouco definida do ponto de vista do


conhecimento na atualidade. Na analise sócioambiental deve-se trabalhar a
complexidade que permeia as relações sociedade-natureza de forma mais
consistente, rumo a uma participação maior da sociedade nas decisões sobre
intervenções em quaisquer que seja a problemática ambiental vivenciada.
Atualmente, segundo Leff (2006), “a crise ambiental vem questionar a
racionalidade econômica que induz a destruição da natureza e gera pobreza”. Daí a
emergência de uma democracia sócioambiental, participativa voltada para um
planejamento eqüitativo participativo e articulado, levando à revisão das políticas
sócioambientais autoritárias e centralizadas numa só esfera de poder. O principio de
gestão participativa dos recursos ambientais implica numa democracia ambiental
direta, ou seja, feita a partir das bases em que materializa a questão ambiental e não
somente diante do domínio dos “tomadores de decisão”.
Assim, conforme Almeida et. all. (1998), “No planejamento participativo, a
coletividade deve dispor de mecanismos eficazes para influenciar a condução da
máquina pública, ter acesso aos meios de comunicação e dispor de informações”. A
participação da coletividade torna-se assim, inerente ao planejamento,

140
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

principalmente no planejamento urbano ambiental, onde as instancias municipais


atuam com mais freqüência.
Neste sentido, sobremaneira, há que rever a concepção predatória da
sociedade dominada pelo paradigma atuante, na direção de uma condição
emancipatória das atuais formas de gestão da problemática ambiental.
Não cabe aqui, a elaboração de um planejamento efetivo de execução, pois
esse fato diz respeito ao processo político/administrativo, principalmente na esfera
municipal, sobre a questão sócioambiental urbana e pela temática tratar-se também
de uma bacia hidrográfica insere-se no planejamento da esfera Federal e ou
Estadual. O que se propõe é trabalhar na perspectiva de cenários temáticos
definidos por estágios da condição sócioambiental preestabelecida.
Trata-se de um exercício teórico-metodológico para visualizar situações de
recuperação, de conservação e preservação, além da perspectiva da participação
popular e de educação ambiental, tendo em vista a problemática sócioambiental,
decorrente da produção social do espaço.
Os estágios previstos nessa projeção referem-se às condições
sócioambientais em estágio avançado, estabilizado e de recuperação. No estágio
avançado, projeta-se um cenário de precariedade em que a problemática
sócioambiental da Bacia do Rio Verruga prosseguirá sem nenhuma intervenção para
mudar ou minimizar a degradação ambiental pertinente aos processos atuantes
detectados pela pesquisa de campo e pelo mapeamento.
− Expansão das áreas de pastagens e cafeicultura por todo o Território da
Bacia, diminuindo ainda mais as áreas florestadas;
− Expansão do parcelamento do solo urbano da cidade de Vitória da Conquista
que possui vetores de crescimento para a zona sul, em direção ao médio Rio
Verruga.
− Aumento da impermeabilização dos solos pela expansão urbana que
aumentará o escoamento superficial das águas pluviais, aumentando de
forma exponencial o volume das águas dos canais de drenagem da Bacia,
causando estrangulamento e inundações nas partes mais baixas do espaço
urbano;

141
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

− Aumento dos processos erosivos, assoreamento dos canais de drenagem da


bacia e solapamento das margens dos canais em área urbana, promovendo
aterramento e desvios da calha fluvial;
− Supressão da cobertura vegetal e das matas ciliares com redução das áreas
verdes do Espaço urbano pela concentração das edificações, incidindo maior
carga pluvial no Rio Verruga e declínio da qualidade ambiental da Bacia e da
cidade de Vitória da Conquista-BA;
− Aumento significativo das ocupações irregulares em áreas de nascentes e
fundos de vale da Bacia na parte urbana de Vitória da Conquista-BA.
O estágio estabilizado demonstra a permanência da problemática ambiental,
mas, contudo, sem progressão, ou seja, há uma tentativa de conter a evolução dos
problemas, sem uma solução definitiva. É o que contempla, por exemplo, o Código
Ambiental Municipal Lei nº. 1410/2007, que prevê:
− Implantação das proposições sócioambientais apontadas no Plano Diretor
Urbano Lei Municipal nº. 1385/06
− A manutenção de 30 metros para preservação permanente das margens dos
cursos d’água da Bacia do Verruga, principalmente os da área Urbana de
Vitória da Conquista-BA;
− Melhoria nos sistemas de micro e macrodrenagem urbana que canaliza para
o Rio Verruga;
− Exigência da legislação em vigor para implantação de novas indústrias com a
Exigência de EIA e RIMA para equipamentos e ou construções o estabelecido
na legislação;
Já o estágio de recuperação, trabalha com uma perspectiva das condições
ambientais em que os cenários de preservação e conservação ambiental, avançam
em direção a uma realidade sócioambiental menos comprometedora do espaço
urbano de Vitória da Conquista-BA e de toda a qualidade sócioambiental do território
da Bacia do Rio Verruga.
− Recuperação das áreas desmatadas que corresponde hoje a cerca de 90%
do total territorial da bacia, começando pelas partes mais elevadas como o
topo dos morros e serras,

142
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

− Recompor as matas ciliares, e recuperar a cobertura vegetal das áreas de


nascentes e mananciais da Bacia, obedecendo aos critérios estabelecidos na
legislação ambiental;
− Diminuir ao máximo os trechos canalizados do rio verruga para com isso,
diminuir a sua retilinização que aumenta o volume das águas em períodos de
chuva intensa, provocando estrangulamento dos canais e inundações em
área urbana;
− Recuperar a sinuosidade natural dos rios e córregos nas áreas retificadas por
processos de urbanização, marcando com setas o sentido da correnteza, para
evitar o aumento do volume exponencial das águas pluviais;
− Recuperar áreas degradadas por processos erosivos do tipo ravinas,
voçorocas e deslizamentos de encostas em áreas de risco ambiental, levando
em consideração o ambiente anteriormente existente.
− Redirecionar as atividades produtivas que causam o desmatamento e a
poluição das águas;
− Melhorar o nível de qualidade dos processos produtivos para não interferir
tanto no ambiente da Bacia;
− Implantação de Parques nas margens dos córregos e riachos que cortam o
espaço urbano para melhorar a preservação da cobertura vegetal e as matas
ciliares;
− Elaboração de um plano integrado para a contenção de enchentes na área
Urbana de Vitória da Conquista-BA, contendo os itens a seguir:
− Criação de locais específicos para destinação do entulho, sobretudo, sobras
das construções, para que não seja mais depositados nas margens dos
cursos d’água da Bacia;
− Expansão da macrodrenagem urbana com a implantação de galerias pluviais
transversais ao Rio Verruga no Espaço urbano de Vitória da Conquista-BA,
principalmente nas ruas e avenidas do Bairro Recreio, quebrando a
concentração da carga exutória pluvial num só ponto;
− Alargamento e aprofundamento da calha do Rio Verruga entre a Praça Vitor
Brito, e a Avenida Bartolomeu de Gusmão, seguindo até a ponte de acesso
ao Caminho do Parque, mantendo a sinuosidade do Canal principal do Rio.

143
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

− Construção de bacias e ou reservatórios de contenção das águas pluviais nos


diversos pontos críticos de estrangulamento de canais: bacia de contenção 1 -
canal da Av. Rosa Cruz Bairro Lot. Panorama próximo a Av. Presidente
Vargas; bacia de contenção 2 - canal da Serra Urbis IV próximo ao CAIC, Av.
Contorno; bacia de contenção 3 - Canal da Conquistinha fundos da biblioteca
municipal; bacia de contenção 4 - Final do canal da Av. Presidente Dutra na
Lagoa do Jurema bacia de contenção 5 – final do canal da Serra na lagoa das
Bateias, para impedir o rápido assoreamento da Lagoa.
− Alteração do Código Ambiental Municipal, incorporando outras Áreas de
Preservação Permanente, não contempladas na edição da Lei 1410/07. A
saber: a Área da Lagoa do Sapo, Área da Lagoa da Urbis VI, Área da Lagoa
do Morada dos Pássaros área da Lagoa do São Pedro;
− Implantação de dissipadores de energia nas margens do anel rodoviário na
encosta da Serra do Periperi, tanto na alça leste, entre a Serra e a saída para
a Barra do Choça, como na alça oeste, entre a Serra e a Lagoa do São Pedro
para impedir o aumento dos graves processos erosivos existentes nesses
trechos;

144
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

9. CONCLUSÕES

A diversidade da natureza estabelecida pelas relações sociedade-natureza, é


“processo e resultado” (Santos 2003). Como resultado tem-se a divisão territorial
comandada pelo trabalho. Como processo, uma nova conceituação que pode ser
entendida como o da biodiversidade. Essa natureza biodiversa, altera todo o
conjunto dos conceitos herdados do paradigma físico, levando a refazer a noção de
estrutura e movimentos da natureza e de recursos naturais a partir de uma nova
forma de percepção e atitude espacial, Moreira (2006).
Nos dizeres de Ruy Moreira, essa nova concepção do espaço geográfico
materializa-se com a nova feição técnica da produção que é a bioengenharia,
deslocando o foco da repetição mecânica promovida pela produção industrial, para a
lógica da diferenciação.
Mas ainda é na cidade que se percebe todo o processo mecânico da
produção industrial promovendo uma diversidade cada vez maior da natureza e da
relação sociedade-natureza. Não somente pelas contradições sócioespaciais
materializadas no espaço urbano, como pelo acirramento da problemática ambiental
decorrente dessas contradições, é o que foi preconizado pelo estudo da bacia do
Rio Verruga e todas as contradições evidenciadas no espaço urbano de Vitória da
Conquista-BA.
A conclusão dos trabalhos expostos aqui neste estudo, formaliza um
referencial destinado a fundamentar pesquisas que refletem investigações
geográficas e ou de cunho sócioambiental, cujas análises se concentram sob as
condições que se fizeram presentes na concepção de todo o arcabouço teórico e da
base epistemológica engendrada nessa produção.
Ressalte-se dessa base epistemológica, a compreensão do significado da
categoria de analise, o espaço e sua articulação com o estudo sócioambiental. Alem
de diversos temas relacionados com a categoria espaço geográfico, articulando no
desvendamento da relação sociedade-natureza, entendida como ponto de partida
para analise sócioespacial elaborada no escopo teórico do planejamento ambiental,
tanto para o espaço urbano como em bacias hidrográficas.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Buscou-se a elucidação de questões relativas ao estudo da natureza e da


sociedade, tais como a estrutura e a forma que definem a configuração territorial dos
lugares, tendo como ponto de partida, a analise das relações sócioespaciais da
relação sociedade-natureza e do imbricamento teórico-conceitual dos termos
espaço-tempo e ambiente além da analise da problemática sócioambiental.

Do ponto de vista do planejamento ambiental urbano e em bacias


hidrográficas, houve uma preocupação em evidenciar a participação da sociedade
como ferramenta essencial das políticas de gestão do território, das águas e do
espaço urbano, tendo em vistas a produção social do espaço geográfico. Outro fator
importante é salientar a robustez da legislação ambiental brasileira, mas sem essa
participação popular não teremos a efetivação das eventuais políticas ambientais.
Em escala local, entre 2006 e 2007, mesmo período do desenvolvimento
dessa pesquisa, foi sancionados importantes dispositivos legais referentes à
problemática ambiental materializada na bacia do Rio Verruga e no espaço urbano
de Vitória da Conquista-Ba, mas deve-se ressaltar que somente a legislação não
basta para a efetivação das medidas propostas é preciso um esforço político e uma
maior participação da sociedade na consolidação dessas ações.
O que foi constatado na pesquisa sobre a questão sócioambiental da Bacia
do Rio Verruga, evidenciando entre outras coisas: 1- A ocupação desordenada do
solo urbano; 2- Indústrias poluentes das águas da Bacia; 3- Problemas de
tratamento das águas e do lixo; 4- Problemas de esgotamento sanitário; 5- Baixo
nível de conservação das áreas de preservação permanente; 6- Desmatamento
erosão e perda de solos; 7- Poluição e assoreamento dos corpos hídricos da Bacia;
8- Alta concentração fundiária principalmente as áreas destinadas à criação de gado
de forma extensiva, com o predomínio de mais de 50% do território efetivo da Bacia,
entre outros.
Quanto ao meio físico e ocupação da Bacia, verificou-se que os principais
problemas de caráter estrutural que afetam a ocupação territorial, são os processos
erosivos na encosta da Serra do Periperi e inundações na base do Rio Verruga que
foram canalizados em quase toda a sua extensão urbana. Esses canais não
suportam o volume de água em períodos chuvosos e provocam inundações em

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

vários trechos da cidade, principalmente na parte central da cidade área de maior


concentração urbana.
A causa destes fenômenos está na conjugação de condicionantes
geoambientais tais como: tipos de rochas, de relevo, presença de descontinuidades
e outros, com as formas de ocupação urbana (supressão de vegetação, aterramento
das várzeas, modificação do perfil natural da encosta pela execução de corte-aterro
lançado, impermeabilização do solo, etc.).
Em relação ao perfil sócioespacial, constatou-se uma desigualdade social,
revelada pela diferenciação das moradias e de todo e desenho urbano materializado
na Bacia do Rio Verruga. No espaço urbano de Vitória da Conquista, verificou-se,
com o mapeamento de uso do solo, apenas dois ou três bairros com um médio a alto
padrão de vida, o que reforça os índices de desigualdades revelados na pesquisa.
Os demais Bairros, na medida em que se distanciam desta área, vão
progressivamente apresentando queda no padrão socioeconômico da população
residente, atingindo os piores índices nos Bairros limítrofes do perímetro urbano e
nas ocupações de vales e fundos de vales, que acabam por formar extensas
manchas de pobreza no espaço urbano da cidade pertencente ao território da Bacia,
justamente nessas áreas, onde concentra-se os maiores problemas sócioambientais.
É necessário apontar outros pontos importantes de análise da dinâmica
sócioespacial e da configuração territorial da Bacia do Rio Verruga que certamente
interfere diretamente no planejamento sócioambiental, entre eles estão: o processo
de urbanização que advinha da concentração de pessoas nesse território; a
consolidação da cidade de Vitória da Conquista como pólo regional, tendo como
base a especialização do comércio e serviços, e a integração da produção industrial
e da agropecuária como suporte para o desenvolvimento de relações de produção, o
que de certa forma intensifica a problemática ambiental da Bacia.
É preciso também considerar que, quando se aborda a questão da ocupação
sócioespacial em bacias hidrográfica e do planejamento ambiental, estes têm sido
dissociados do processo produtivo como se fossem circuitos fechados, sem
nenhuma relação entre os diversos mecanismos que atuam na produção
materializada no território sendo, portanto fragmentada. Essa fragmentação não
permite a compreensão da complexidade da problemática ambiental na atualidade.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

O gerenciamento integrado dos problemas sócioambientais da Bacia e a


maior participação da sociedade nos destinos da água e de sua qualidade,
promoverá o principio de compartilhamento, conservação e proteção da água. Pois,
o controle da água não pode ser entregue à lógica das finanças e do mercado, já
que a privatização da água restringe o uso e a distribuição, impedindo o acesso de
maior parte da população a água.
Em resumo, analisar a dinâmica sócioespacial, a configuração territorial e
problemática sócioambiental de Vitória da Conquista, cotejada na bacia do Rio
Verruga, não foi fácil, pode se dizer que as estruturas da base ambiental da bacia
são permanentes, mas as mudanças provocadas pelo uso e ocupação e pelo
processo de urbanização da cidade de estão presentes no seu espaço geográfico.
Constata-se que as maiores transformações diz respeito à supressão da cobertura
vegetal, ao alto índice de poluição das águas, o aumento dos processos erosivos
nas encostas entre outros.
Desse modo, a proposição de uma nova perspectiva sócioambiental para a
bacia do Rio Verruga, está pautada no rompimento do atual quadro sócioambiental
da bacia que é representado pela degradação e comprometimento das estruturas
ambientais, pela baixa incorporação da dimensão sócioambiental no pensamento da
sociedade organizada como um todo; pela baixa efetividade das questões
ambientais nas políticas executivas, e pela alta desigualdade socioeconômica que
legitima a pobreza e a idéia de desenvolvimento sem comprometimento ambiental.
Por fim, dizer a melhoria da qualidade ambiental na bacia do Rio Verruga e no
Espaço urbano de Vitória da Conquista passa, sobretudo pela adoção de um plano
de recuperação das áreas degradadas, por um plano de educação ambiental e de
um plano integrado e participativo na tentativa de recuperação e recomposição do
ambiente, pois, percebe-se que ações pontuais não têm surtido efeito, apenas tenta
estabilizar a degradação, mas não impede o processo como um todo. Além disso,
uma tentativa de redução das desigualdades sociais detectadas na pesquisa, pois o
que se verifica é que os maiores problemas ambientais da bacia do Rio Verruga,
estão nas áreas mais pobres da cidade de Vitória da Conquista.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

11. GLOSSÁRIO

Parte A

Contradição - Ato de afirmar e de negar, ao mesmo tempo, uma mesma coisa.


Dialética - Arte de discutir; tensão entre os opostos. Materialismo Dialético - O
materialismo dialético é a união do materialismo clássico com a dialética de Hegel, e
representa o núcleo filosófico do marxismo.
Epistemologia - (episteme, “ciência”): estudo do conhecimento científico do ponto
de vista crítico, isto é, do seu valor; crítica da ciência; teoria do conhecimento.
Estudo da natureza e dos fundamentos do saber, particularmente de sua validade,
de seus limites, de suas condições de produção. As questões relativas à
possibilidade e à validade do conhecimento, cruciais na filosofia de todos os tempos,
ganharam renovado interesse na sociedade moderna, voltada para o saber científico
e tecnológico. Quanto maior a importância da ciência, maior a necessidade de dotá-
la de sólidos fundamentos teóricos e critérios de verdade.
Epistemologia, gnosiologia ou teoria do conhecimento é a parte da filosofia cujo
objeto é o estudo reflexivo e crítico da origem, natureza, limites e validade do
conhecimento humano. A reflexão epistemológica incide, pois, sobre duas áreas
principais: a natureza ou essência do conhecimento e a questão de suas
possibilidades ou seu valor.
Espaço
O conceito filosófico de espaço tem raízes na antiguidade clássica, quando os
filósofos gregos estabeleceram o contraste entre o pleno e o vazio. Platão concebeu
o espaço como o receptáculo de tudo o que existe, e Aristóteles como o lugar em
que se localizam os objetos. A teoria da relatividade de Albert Einstein criou o
conceito de espaço-tempo: o espaço tridimensional com uma dimensão, de caráter
temporal.
Espaço e tempo - Espaço é meio de coexistência, enquanto tempo é o meio da
sucessão. (SANTOS, M.).A idéia de tempo depois de Einstein. No século XX, o
físico Albert Einstein contribuiu para afastar a idéia de um tempo absoluto ao
formular a teoria da relatividade. No lugar do fluxo contínuo e imutável, Einstein

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Análise Socioambiental da
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introduziu o conceito de espaço-tempo, segundo o qual o espaço e o tempo são dois


sistemas de relações inseparáveis, embora à percepção humana se apresentem de
forma independente. Não há um tempo nem um espaço absoluto independente do
que acontece com a consciência que o observa, assim como não há um ponto de
referência que permita comparações absolutas. O que se chama de tempo é apenas
a ordem de sucessão das coisas, umas depois das outras. Assim relacionado ao
espaço, o tempo passa a constituir mais uma dimensão deste, ao lado das três
dimensões já concebidas, assumindo assim uma concepção tetradimensional do
cosmo.
Essência
À simplicidade da definição de essência não corresponde uma similar unanimidade
nas maneiras de interpretar o conceito, que é dos mais debatidos em filosofia. O
termo essência designa o ser, a consistência ou qüididade de um ente, considerado
independentemente da sua existência. Dizer o que é uma coisa é declarar a sua
essência. Aquilo que a coisa é ou que faz dela aquilo que ela é.
Insights - Compreensão repentina, em geral intuitiva, de suas próprias atitudes e
comportamentos, de um problema, de uma situação.
Metafísica - Transcendente: & Difícil de compreender; sutil, nebuloso. Termo
caracterizado pela adjetivação espirituosa ou filosoficamente profunda. Parte da
filosofia, que com ela muitas vezes se confunde, e que, em perspectivas e com
finalidades diversas, apresenta as seguintes características gerais, ou algumas
delas: é um corpo de conhecimentos racionais (e não de conhecimentos revelados
ou empíricos) em que se procura determinar as regras fundamentais do pensamento
(aquelas de que devem decorrer o conjunto de princípios de qualquer outra ciência,
e a certeza e evidência que neles reconhecemos), e que nos dá a chave do
conhecimento do real, tal como este verdadeiramente é (em oposição à aparência).
[Cf. ontologia.]
Metempírico - Diz-se de conhecimento que provém, sob perspectivas diversas, da
experiência e que transcende o próprio empirismo.
Método - Derivado do grego methodos, formado por meta, "para", e hodos,
"caminho". Poder-se-ia, então, traduzir a palavra por "caminho para" ou, então,
"prosseguimento", "pesquisa".

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Ontologia - Ao afirmar a necessidade de uma ciência que estudasse o ser enquanto


ser, voltada para os primeiros princípios e as causas mais elevadas, Aristóteles
distinguiu-a como filosofia primeira e deu, assim, o primeiro passo para o advento da
reflexão ontológica, dois mil anos antes da entrada do termo "ontologia" no
vocabulário filosófico.
Ontologia (do grego ontos, "ser", "ente"; e logos, "saber", "doutrina") é, em sentido
estrito, o "estudo do ser" e, desse modo, pode equivaler à metafísica. Uma vez que
esta, com o tempo, passou a incluir outros tipos de pesquisa e reflexão
(cosmológicos e psicológicos por exemplo), desde o século XVII, e sobretudo na
filosofia moderna, o termo ontologia passou a designar o estudo do ser enquanto tal.
Totalidade - O conjunto das partes que constituem um todo, mas não a soma das
partes. A soma das partes não é o todo isso porque, a divisão do todo em partes
para uma análise, após sua conclusão não se consegue chegar na totalidade.

PARTE B
Adutora - Tubulação normalmente sem derivações que liga a captação ao
tratamento da água, ou o tratamento à rede de distribuição.
Aeração - Reoxigenação da água com ajuda do ar. A taxa de oxigênio dissolvido,
expressa em % de saturação, é uma característica representativa de certa massa de
água e de seu grau de poluição. Para restituir a uma água poluída a taxa de oxigênio
dissolvido ou para alimentar o processo de biodegradação das matérias orgânicas
consumidoras de oxigênio, é preciso favorecer o contato da água e do ar. A aeração
pode também ter por fim a eliminação de um gás dissolvido na água: ácido
carbônico, hidrogênio sulfurado.
Afluente ou Tributário - Qualquer curso d'água que deságua em outro maior, ou
num lago, ou lagoa.
Água - Forma líquida do composto químico H2O. A água é essencial para a vida.
Água capilar - Umidade líquida presa entre grãos de solo, seja por atração
eletrostática entre as moléculas minerais e da água, seja por forças osmóticas.
Água de captação - Qualquer rio, lago ou oceano em que a água servida tratada ou
não-tratada é finalmente descarregada.

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Análise Socioambiental da
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Água de esgoto - Corrente de água servida que é drenada de um pátio de fazenda,


de um monte de escória ou de uma rua.
Água de reposição - água requerida para substituir a usada num sistema ou
perdida por ele. A água de reposição inclui a usada para substituir a água que escoa
de um sistema de irrigação e, mais comumente, aquela perdida numa torre de
refrigeração usada na geração de energia.
Água doce - água que contém muito pouco sal (menos de 0,05 por cento), em
comparação com a água salobra (que tem entre 0,05 e 3 por cento), como a dos
rios, lagos e lagoas.
Água dura - água subterrânea com sais minerais dissolvidos, geralmente carbonato
de cálcio (ou uma combinação de cálcio e magnésio). A água dura não espuma bem
com sabão, forma depósitos (escama, CaC03 ou MgCO) em chaleiras e tanques de
água quente, e, em casos mais extremos, pode entupir as tubulações, formando
depósitos de cálcio nos canos de água. O tratamento com amaciantes de água
remove grande parte do cálcio e do magnésio por meio da troca de íons.
Comumente, a água dura é misturada com cloreto de sódio (sal de mesa); o sódio
"amacia" a água, substituindo grande parte do cálcio durante o processo de troca de
íons.
Água subsuperficial - Termo que se aplica a toda água abaixo da superfície da
terra, nas formas sólida, líquida ou gasosa. A água subsuperficial inclui a do solo, do
fundo de rocha e da litosfera. Cf. ÁGUA DE SUPERFÍCIE.
Alcalinidade da água - Qualidade da água em neutralizar compostos ácidos, em
virtude da presença de bicarbonatos, hidróxidos, boratos, silicatos e fosfatos.
Esgotos são alcalinos, por receberem materiais de uso doméstico com estas
características.
Ambiente - A totalidade dos fatores fisiográficos (solo, água, floresta, relevo,
geologia, paisagem, e fatores meteoroclimáticos) mais os fatores psicossociais
inerentes à natureza humana (comportamento, bem-estar, estado de espírito,
trabalho, saúde, alimentação, etc.) somados aos fatores sociológicos, como cultura,
civilidade, convivência, o respeito, a paz, etc.;
Anaeróbico - Organismo que não necessita de oxigênio

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Análise Socioambiental da
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Aqüífero - Formação porosa (camada ou estrato) de rocha permeável, areia ou


cascalho, capaz de armazenar e fornecer quantidades significativas de água. Toda
formação geológica em que a água pode ser armazenada e que possua
permeabilidade suficiente para permitir que esta se movimente. Vê-se, portanto, que
para ser um aquífero uma rocha ou sedimento, tem que ter porosidade suficiente
para armazenar água, e que estes poros ou espaços vazios tenham dimensões
suficientes para permitir que a água possa passar de um lugar a outro, sob a ação
de um diferencial de pressão hidrostática.
Áreas naturais de proteção - Essas áreas são protegidas para fins de manutenção
de biodiversidade, pesquisas científicas e conservação de ecossistemas. No Brasil,
são divididas em Unidades de Conservação, todas protegidas por leis, algumas
delas são:
• áreas de proteção ambiental - áreas voltadas para a conservação da vida
silvestre, os recursos naturais e a manutenção de bancos genéticos, além da
preservação da qualidade de vida dos habitantes da área. A ocupação
acontece por meio de zoneamento ambiental pelo poder político, juntamente
com universidades e ONGs. Podem ser federais ou estaduais.
• Estações ecológicas - áreas representativas de ecossistemas naturais
destinadas a pesquisas ecológicas, proteção do meio ambiente e
desenvolvimento de uma educação voltada para o preservacionismo.
Precisam Ter no mínimo 90% de sua área destinada à conservação integral
do ecossistema. Podem ser criadas pela União, estados ou municípios.
• Parques - áreas de extensão considerável, pertencentes ao poder público,
com grande variedade de espécies e habitats de interesse científico,
educacional ou recreativo. Devem estar abertos à visitação pública. Podem
ser criados pelo governo federal ou pelos estados.
• Reservas biológicas - áreas de tamanhos variados cuja característica básica
é conter ecossistemas ou comunidades frágeis, em terras de domínio público
e fechadas à visitação pública. Podem ser declaradas pela União ou pelos
estados.
• Reservas florestais - áreas de grande extensão territorial, inabitadas, de
difícil acesso e ainda em estado natural. Devem ser protegidas até que se

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Análise Socioambiental da
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estabeleça seu status e se proceda a sua inclusão em outra categoria de


Unidade de Conservação.
Área degradada - área onde há a ocorrência de alterações negativas das suas
propriedades físicas, tais como sua estrutura ou grau de compacidade, a perda de
matéria devido à erosão e a alteração de características químicas, devido a
processos como a salinização, lixiviação, deposição ácida e a introdução de
poluentes.
Área de proteção ambiental (APA) - Categoria de unidade de conservação cujo
objetivo é conservar a diversidade de ambientes, de espécies, de processos naturais
e do patrimônio natural, visando a melhoria da qualidade de vida, através da
manutenção das atividades sócio-econômicas da região. Esta proposta deve
envolver, necessariamente, um trabalho de gestão integrada com participação do
Poder Público e dos diversos setores da comunidade. Pública ou privada, é
determinada por decreto federal, estadual ou municipal, para que nela seja
discriminado o uso do solo e evitada a degradação dos ecossistemas sob
interferência humana.
Assoreamento - Processo em que lagos, rios, baías e estuários vão sendo
aterrados pelos solos e outros sedimentos neles depositados pelas águas das
enxurradas, ou por outros processos. Obstrução do leito de um canal, estuário ou rio
por sedimentos; isso geralmente ocorre devido à erosão das margens ou redução da
correnteza. A mineração é um dos agentes diretos ou indiretos desse processo.
Autodepuração da água - Processo natural de purificação da água, que reduz a
poluição orgânica. Por exemplo, há espécies de plantas aquáticas que absorvem
poluentes.
Bacia hidrográfica - Conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus
afluentes. A noção de bacias hidrográfica inclui naturalmente a existência de
cabeceiras ou nascentes, divisores d'água, cursos d'água principais, afluentes,
subafluentes, etc. Em todas as bacias hidrográficas deve existir uma hierarquização
na rede hídrica e a água se escoa normalmente dos pontos mais altos para os mais
baixos. O conceito de bacia hidrográfica deve incluir também noção de dinamismo,
por causa das modificações que ocorrem nas linhas divisórias de água sob o efeito
dos agentes erosivos, alargando ou diminuindo a área da bacia.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Bacia de Captação - Mais de que o rio, lago ou reservatório de onde se retira a


água para consumo, compreende também toda a região onde ocorre o escoamento
e a captação dessas águas na natureza.
Bacia de Drenagem - área de captação que recolhe e drena toda a água da chuva
e a conduz para um corpo d'água (por exemplo, um rio), que depois leva ao mar ou
um lago.
Bacia Hidrográfica ou Bacia Fluvial - Conjunto de terras, rios e seus afluentes, que
forma uma unidade territorial.
Bactérias - Espécies vivas microscópicas, caracterizadas por uma estrutura celular
sem núcleo definido, que existem no ar, água, animais e plantas. Há as que ajudam
na decomposição de matéria orgânica.
Banhado - Setor de uma planície de inundação em que habitualmente acontece o
transbordamento de águas pluviais/fluviais, durante a estação chuvosa; várzea,
vazante.
Barragem - Construção para regular o curso de rios, usada para prevenir enchentes,
aproveitar a força das águas como fonte de energia ou para fins turísticos. Sua
construção pode trazer problemas ambientais, como no caso de grandes
hidrelétricas, por submergir terras férteis, muitas vezes cobertas por importantes
florestas, e/ou por desalojar populações que vivem na área.
Biota - Conjunto de fauna e flora, de água ou de terra, de qualquer área ou região,
que não considera os elementos do meio ambiente.
Cabeceira ou Nascente - Local onde nasce o rio, ou curso d'água. Nem sempre é
um ponto bem definido, constituindo às vezes toda uma área. Isso se nota, por
exemplo, na dificuldade em determinar onde nasce o rio principal, como é o caso da
definição das cabeceiras do Rio Amazonas.
Calha - Vales ou sulcos por onde correm as águas de um rio.
Captação da água - Conjunto de estruturas montadas para retirar água dos
mananciais, para abastecimento público ou outros fins.
Carga poluidora - Quando se fala de recursos hídricos, é a quantidade de poluentes
que atingem os corpos d'água, prejudicando seu uso. Medida em DBO e DBQ.
Chorume - Líquido venenoso que se forma na decomposição do lixo, podendo
contaminar o ambiente, se não houver cuidados especiais.

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Análise Socioambiental da
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Ciclo Hidrológico - Movimento da água através do ecossistema. O ciclo depende


da capacidade de a água estar presente nas formas líquida e gasosa. O ciclo tem
quatro fases: evaporação, condensação, precipitação e deflúvio.
Classe de águas - Classificação da qualidade da água dos rios, mares e outros
corpos d'água. No Brasil, a Resolução 20/86, do CONAMA - Conselho Nacional do
Meio Ambiente, define cinco classes para as águas doces, e determina que tipo de
uso possa fazer da água, em cada caso (de consumo humano à navegação). No
caso de águas salobras (com 0,5 a 30% de salinidade) e salinas (salinidade acima
de 30% de salinidade) a Resolução estabelece duas classes para cada uma.
Corpo d'água - Rio, lago, ou reservatório.
Córrego - Pequeno riacho, ou afluente de um rio maior.
Coliforme Fecal - Organismo humano trato intestinal humano (e de outros animais),
cuja ocorrência serve como índice de poluição.
Colmatado – lugar preenchido por um determinado agente natural. é um termo
utilizado pela geologia para definir depósitos ou sobreposição de terras.
Coluvial – material derivado de colúvios ou Solo de vertentes, parcialmente alóctone
de muito pequeno transporte, misturado com solos e fragmentos de rochas trazidos
das zonas mais altas, geralmente mal classificado e mal selecionado. A gravidade,
enxurradas e avalanches com deslizamentos de solos e rochas, trazem material que
se mistura com o solo local da encosta para formar o coluvião.
CONAMA - Sigla de Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Contaminação da água - Contaminação de águas correntes devido às crescentes
descargas de resíduos procedentes de indústrias e de águas residuárias; poluição
da água. A água contaminada nem sempre perde as características naturais, ou
seja, ela pode ser insípida, inodora e incolor, no entanto ser contaminada.
Controle Ambiental - Ação pública, oficial ou privada, destinada a orientar, corrigir e
fiscalizar atividades que afetam ou possam afetar o meio ambiente; gestão
ambiental.
Deflúvio - Escoamento superficial da água. Aproximadamente um sexto da
precipitação numa determinada área escoa como deflúvio. O restante evapora ou
penetra no solo. Os deflúvios agrícolas, das estradas e de outras atividades
humanas podem ser uma importante fonte de poluição da água.

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Análise Socioambiental da
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Degradação Ambiental - Alteração poluidora, degradante do meio ambiente.


Demanda bioquímica de oxigênio (DBO) - A DBO de uma amostra de água é a
quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica por decomposição
microbiana aeróbia para uma forma inorgânica estável. A DBO é normalmente
considerada como a quantidade de oxigênio consumido durante um determinado
período de tempo, numa temperatura de incubação específica. Um período de
tempo de 5 dias numa temperatura de incubação de 20º C é freqüentemente usado
e referido como DBO 5,20. Os maiores acréscimos em termos de DBO, num corpo
d'água, são provocados por despejos de origem predominantemente orgânica. A
presença de um alto teor de matéria orgânica pode induzir à completa extinção do
oxigênio na água, provocando o desaparecimento de peixes e outras formas de vida
aquática. Um elevado valor da DBO pode indicar um incremento da micro-flora
presente e interferir no equilíbrio da vida aquática, além de produzir sabores e
odores desagradáveis e ainda, pode obstruir os filtros de areia utilizadas nas
estações de tratamento de água. Pelo fato da DBO somente medir a quantidade de
oxigênio consumido num teste padronizado, não indica a presença de matéria não
biodegradável, nem leva em consideração o efeito tóxico ou inibidor de materiais
sobre a atividade microbiana.
Demanda química de oxigênio (DQO) - É a quantidade de oxigênio necessária
para oxidação da matéria orgânica através de um agente químico. Os valores da
DQO normalmente são maiores que os da DBO, sendo o teste realizado num prazo
menor e em primeiro lugar, servindo os resultados de orientação para o teste da
DBO. O aumento da concentração de DQO num corpo d'água se deve
principalmente a despejos de origem industrial.
Dendrítico - Padrão de drenagem: Também conhecido como rede de drenagem, é o
formato ou o aspecto que apresenta o traçado do conjunto dos talvegues de uma
bacia hidrográfica. Este padrão ou desenho está intimamente relacionado a
características geológicas e geotectônicas da área, sendo portanto importante
elemento diagnóstico e interpretativo.
Dissecação,s.f. Geomorf. - Escavação de vales numa região ou superfície pela ação
de processos erosivos. Uma região dissecada é aquela onde a superfície real
coberta pelas vertentes dos vales é muito significativa em relação à área topográfica

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Análise Socioambiental da
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medida em um mapa. O grau de dissecação mede a exposição de uma superfície a


eventos erosivos. Superfícies pouco dissecadas são em geral aplainadas ou
levemente onduladas, como é o caso das planícies e planaltos.
Divisor de águas - Linha que separa a direção para onde correm as águas pluviais,
ou bacias.
Efluente - Substância líquida, com predominância de água, contendo moléculas
orgânicas e inorgânicas das substâncias que não se precipitam por gravidade.
EIA/RIMA - Estudos de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto ambiental:
Regulamentado através da Resolução CONAMA 001/86, que estabelece a
obrigatoriedade da elaboração e apresentação de EIA/RIMA para licenciamento de
empreendimentos que possam modificar o meio ambiente.
Enquadramento dos corpos de água - Previsto na Lei de Recursos Hídricos (Lei
Federal 9433/97) para assegurar a qualidade da água e reduzir o custo de combate
à poluição, através de ações preventivas. É a qualificação do corpo d'água, segundo
seus usos preponderantes e a classificação (classes de corpos de água)
estabelecida pela legislação ambiental. (Fonte: Lei Federal 9433/97).
Erosão - Desgaste do solo devido ao vento, à chuva, ou a outras forças da
natureza. A erosão pode ser acelerada pela agricultura, excesso de pastagem,
atividade madeireira e construção de estradas.
Erosão remontante:
Erosão que ocorre quando o lençol freático é interceptado pela superfície do terreno.
O fluxo de água subterrânea, na forma de uma fonte ou nascente, inicia a retirada
das partículas do solo dando surgimento a pequenos túneis que progridem a
montante do fluxo subterrâneo. Com o passar do tempo o solo que recobre este
túnel, ou buraco horizontal, sofre colapso gravitacional e todo o material é carregado
pelo contínuo fluxo de água da nascente. Nas épocas chuvosas a infiltração de mais
água no solo aumenta o fluxo subterrâneo, reforçando a ação da erosão remontante,
mesmo que o fluxo de água superficial não atinja diretamente a ravina. Desta forma
a ravina vai progredindo e se aprofundando a montante do fluxo subterrâneo. Este
processo pode atingir grandes extensões e profundidades, sendo responsável pelo
surgimento de uma feição geomorfológica característica, conhecida como boçoroca
ou voçoroca.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Necessário se faz separar claramente as ravinas formadas por erosão pluvial


(superficial) das formadas por erosão remontante. A ação da erosão pluvial aumenta
à medida que mais água da chuva se acumula no terreno, isto é, a retirada do solo
se dá de cima para baixo. Na erosão remontante acontece exatamente o contrário: a
retirada do material se dá de baixo para cima, como é o caso das boçorocas. Uma
ravina de origem pluvial pode progredir em direção a uma boçoroca, mas não
necessariamente. Da mesma forma podemos ter a progressão de boçorocas
independente da erosão pluvial, pois esta depende do fluxo subterrâneo e não do
fluxo superficial.
Esgotos - Resíduos líquidos, divididos, pelos técnicos, em quatro tipos:
1- esgotos domésticos, que contém matéria fecal e águas servidas, resultantes de
banho, lavagem de roupa e louças, 2- despejos ou efluentes industriais, que
compreendem resíduos orgânicos (por exemplo, de indústrias alimentícias ou
matadouros), ou inorgânicas, podendo conter materiais tóxico; 3- águas pluviais (da
chuva); 4- águas do subsolo, que se infiltram no sistema de esgotos.
Estrutura Polimetamórfica – geologia estrutura rochosa que sofreu diversos tipos
de metamorfismo. O Metamorfismo: corresponde ao processo que leva a mudança,
no estado sólido, na mineralogia e/ou textura de uma rocha. Estas mudanças
acontecem devido à variação das condições de pressão e temperatura atuantes
sobre a rocha. Os principais agentes promotores de metamorfismo são: a
temperatura e a pressão. Existem várias maneiras de ocorrência do metamorfismo,
entres destaca-se o metamorfismo de contato.
Eutroficação - Processo de alterações físicas, químicas e biológicas de águas
paradas ou represadas, associado ao enriquecimento de nutrientes, matéria
orgânica e minerais; é o envelhecimento precoce da água de lagos e reservatórios,
que afeta a transparência da água, o nível de clorofila, a concentração de fósforo, a
quantidade de vegetais flutuantes, o oxigênio dissolvido, e leva à alteração do
equilíbrio das espécies animais e vegetais. [O mesmo que eutrifização e trofização
nítrica].
Eutrofização - Aumento de nutrientes (como fosfatos) nos corpos d'água, resultando
na proliferação de algas podendo levar a um desequilíbrio ambiental a ponto de
provocar à morte lenta do meio aquático. A eutrofização acelerada é problemática,

166
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

porque resulta na retirada de oxigênio da água, matando os peixes ou outras formas


de vida aquática não-vegetais.
Exutório: ponto de um curso d'água onde se dá todo o escoamento superficial
gerado no interior da bacia hidrográfica banhada por este curso. O exutório é um
elemento importante na análise do regime de uma bacia, pois a quantidade de água
que passa por ele é conseqüência do regime pluviométrico e da capacidade de
retenção de água desta bacia.
Falha - Geol. São fraturas planares em rochas onde houve deslocamento de um
bloco em relação ao outro. Estes deslocamentos podem ser de poucos centímetros
a dezenas de quilômetros. São deformações que estão quase sempre associadas a
ambientes tectonicamente ativos. Algumas falhas podem se originar de
acomodações do terreno a esforços de carga superficiais ou devidos ã diminuição da
pressão interna, como é o caso de subsidências do terreno causadas por extração
de grandes quantidades de água subterrânea.
Fendilhamento – processo que origina fendas e ou falhas em rochas ou estruturas
rochosas.
Flotação - Processo de elevação de partículas existentes na água, por meio de
aeração, insuflação, produtos químicos, eletrólise, calor ou decomposição
bacteriana, e respectiva remoção.
Fonte - Lugar onde brotam ou nascem águas. A fonte é um manancial de água, que
resulta da infiltração das águas nas camadas permeáveis, havendo diversos tipos
como: artesianas, termais etc...
Fossa séptica - Câmara subterrânea de cimento ou alvenaria, onde são
acumulados os esgotos de um ou vários prédios e onde os mesmos são digeridos
por bactérias aeróbias e anaeróbias. Processada essa digestão, resulta o líquido
efluente que deve ser dirigido a uma rede ou sumidouro. "Unidade de sedimentação
e digestão de fluxo horizontal e funcionamento contínuo, destinado ao tratamento
primário dos esgotos sanitários" (Decreto nº. 533, de 16.01.76).
Foz - Ponto mais baixo no limite de um sistema de drenagem (desembocadura).
Extremidade onde o rio descarrega suas águas no mar. "Boca de descarga de um
rio. Este desaguamento pode ser feito num lago, numa lagoa, no mar ou mesmo
num outro rio. A forma da foz pode ser classificada em dois tipos: estuário e delta".

167
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Fratura - Geologia estrutural - Ruptura da crosta terrestre ou de corpos rochosos


sem que haja deslocamento dos blocos resultantes.
Geoprocessamento – É uma ciência que trabalha com a integração do
processamento de dados digitais com uma topologia espacial digital,
georreferênciada e geocodificada, obtida por sensoreamento ou por meio de dados
vetorizados em um software especifico para tal finalidade. surgindo daí o Sistema de
Informações Geográficas- SIG, que atua na geração de mapas de base e mapas
temáticos.
Gestão integrada - É a combinação de processos, procedimentos e práticas
adotadas por uma organização para implementar suas políticas e atingir seus
objetivos de forma mais eficiente do que através de múltiplos sistemas de gestão. Na
integração de elementos de sistemas de gestão, considerando-se as dimensões
qualidade, meio ambiente, saúde e segurança no trabalho, temos a congregação
das normas ISO 9001, ISO 14001, e OSHAS 18001.
Gradeamento - Remoção de sólidos relativamente grosseiros em suspensão ou
flutuação, retidos por meio de grades ou telas.
Intemperismo - Processo pelos quais, as rochas ao sofrerem a ação da chuva, do
sol, do vento e de organismos vivos, vão se transformando, até chegarem a
minúsculas partículas, invisíveis a olho nu e que formam as argilas.
Interflúvio (s.m. Geog.) - Terreno ou área mais elevada situada entre dois vales.
Apesar de às vezes este termo ser usado como sinônimo de divisor de águas, o
interflúvio se caracteriza mais por ser toda a região ou área compreendida entre dois
talvegues, ou entre dois cursos de maior importância de uma mesma bacia
hidrográfica ou mesmo de bacias distintas, ao passo que o termo divisor de águas
melhor se adequar a ser usado para designar não uma área, mas uma linha, como
por exemplo, linha de cumeada.
Inundação - É o efeito de fenômenos meteorológicos, tais como chuvas, ciclones e
degelo, que causam acumulações temporárias de água, em terrenos que se
caracterizam por deficiência de drenagem, o que impede o deságüe acelerado
desses volumes.
Jusante - Uma área ou um ponto que fica abaixo de outro ao se considerar uma
corrente fluvial ou tubulação na direção da foz, do final. O contrario de montante.

168
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Lago - Depressões do solo produzidas por causas diversas e cheias de águas


confinadas, mais ou menos tranqüilas, pois dependem da área ocupada pelas
mesmas. As formas, as profundidades e as extensões dos lagos são muito variáveis.
Geralmente, são alimentados por um ou mais 'rios afluentes'. Possuem também 'rios
emissários', o que evita seu transbordamento.
Lagoa - Depressão de formas variadas, principalmente tendente a circulares, de
profundidades pequenas e cheias de água salgada ou doce. As lagoas podem ser
definidas como lagos de pequena extensão e profundidade (...) Muito comum é
reservarmos a denominação 'lagoa' para as lagunas situadas nas bordas litorâneas
que possuem ligação com o oceano.
Lagoa aerada - Lagoa de tratamento de água residuária artificial ou natural, em que
a aeração mecânica ou por ar difuso é usada para suprir a maior parte de oxigênio
necessário.
Lagoa aeróbica - Lagoa de oxidação em que o processo biológico de tratamento é
predominantemente aeróbio. Estas lagoas têm sua atividade baseada na simbiose
entre algas e bactérias. Estas decompõem a matéria orgânica produzindo gás
carbônico, nitratos e fosfatos que nutrem as algas, que pela ação da luz solar
transformam o gás carbônico em hidratos de carbono, libertando oxigênio que é
utilizado de novo pelas bactérias e assim por diante.
Lagoa anaeróbica - Lagoa de oxidação em que o processo biológico é
predominantemente anaeróbio. Nestas lagoas, a estabilização não conta com o
curso do oxigênio dissolvido, de maneira que os organismos existentes têm de
remover o oxigênio dos compostos das águas residuárias, a fim de retirar a energia
para sobreviverem. É um processo que a rigor não se pode distinguir daquele que
tem lugar nos tanques sépticos.
Lagoa de maturação - Lagoa usada como refinamento do tratamento prévio
efetuado em lagoas ou outro processo biológico, reduzindo bactérias, sólidos em
suspensão, nutrientes, porém uma parcela negligenciável de DBO.
Lagoa de estabilização - Um lago artificial no qual dejetos orgânicos são reduzidos
pela ação das bactérias. As vezes, introduz-se oxigênio na lagoa para acelerar o
processo.

169
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Lagoa contendo água residuária bruta ou tratada em que ocorre estabilização


anaeróbia e/ou aeróbia.
Licença Ambiental - Certificado expedido pela CECA ou por delegação desta, pela
FEEMA, a requerimento do interessado, atestatório de que, do ponto de vista da
proteção do meio ambiente, o empreendimento ou atividade está em condições de
ter prosseguimento. Tem sua vigência subordinada ao estrito cumprimento das
condições de sua expedição. São tipos de licença: Licença Prévia (LP), Licença de
Instalação (LI) e Licença de Operação (LO)" (Del. CECA nº. 03, de 28.12.77).
Lençol freático - É um lençol d'água subterrâneo que se encontra em pressão
normal e que se formou em profundidade relativamente pequena.
Limnologia - Termo criado em 1892 pelo suíço F.A. Forel, para designar a aplicação
dos métodos de oceanografia ou da oceanologia às águas estagnadas continentais
(lagos). À limnologia interessam, portanto, todos esses fatores da vida nas águas
estagnadas. Entretanto, o I Congresso Internacional de Limnologia, realizado em
Kiel, em 1922, propôs designar sob o termo limnologia a ciência da água doce,
aplicando-se ela ao conjunto de águas continentais ou interiores, separadas do
mundo oceânico.
Lixiviação - Processo que sofrem as rochas e solos, ao serem lavados pela água
das chuvas (...) Nas regiões intepropicais de clima úmido os solos tornam-se
estéreis com poucos anos de uso, devido, em grande parte, aos efeitos da lixiviação.
A lixiviação também ocorre em vazadouros e aterros de resíduos, quando são
dissolvidos e carreados certos poluentes ali presentes para os corpos d'água
superficiais e subterrâneos.
Manancial - Qualquer corpo d'água, superficial ou subterrâneo, utilizado para
abastecimento humano, industrial, animal ou irrigação.
Matéria em suspensão - Em sentido estrito, matéria sólida que flutua na água (ou
em outro meio) por ter peso específico similar ao do meio, sendo arrastada por ele.
No caso em que a matéria sólida seja mais leve que a água, e por isso fluente sobre
ela, é chamada matéria flutuante, se trata de matéria sólida que, após certo período
de flutuação, acaba fundindo-se ao solo, chama-se matéria submergida.
Mata ciliar - É o conjunto da flora existente à beira de um rio, córrego ou espelho
d'água. Também conhecido como floresta ciliar.

170
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Metais pesados - Grupo de metais de peso atômico relativamente alto. Alguns -


como zinco e ferro - são necessários ao corpo humano, em pequeníssimas
concentrações. Outros - como chumbo, mercúrio, cromo e cádmio - são, em geral,
tóxicos aos animais e às plantas, mesmo em baixas concentrações.
Montante - Um lugar situado acima de outro, tomando-se em consideração a
corrente fluvial que passa na região. O relevo de montante é, por conseguinte,
aquele que está mais próximo das cabeceiras de um curso d'água, enquanto o de
jusante está mais próximo da foz.
Nível da água subterrânea - Limite superior da zona saturada, do solo ou aqüífero.
Olho d'água, nascente - Local onde se verifica o aparecimento de água por
afloramento do lençol freático (Resolução nº. 04, de 18.09.85, do CONAMA).
Piemonte - Geol. Região situada entre a montanha e a planície. Depósito
sedimentar que, formado no sopé das montanhas, passa gradualmente aos
depósitos aluviais, e se constitui, em geral, de blocos não arredondados e mal
selecionados, de mistura com partículas mais finas.
Poluente - Substância. meio ou agente que provoque, direta ou indiretamente
qualquer forma de poluição.
Poluição - É qualquer interferência danosa nos processos de transmissão de
energia em um ecossistema. Pode ser também definida como um conjunto de
fatores limitantes de interesse especial para o Homem, constituídos de substâncias
nocivas (poluentes) que, uma vez introduzidas no ambiente, especificamente na
água podem ser efetiva ou potencialmente prejudiciais ao ambiente e ao Homem ou
ao uso que ele faz de seu habitat; Efeito produzido por um agente poluidor num
ecossistema. Especificamente num corpo d’água.
Poço cacimba - Construído manualmente e revestido de tijolos, também conhecido
como "poço caipira". Capta água de lençol freático em pequenas profundidades, de
até 20 metros. Pouco comum no Estado de São Paulo, esse poço ainda existe em
regiões rurais do Nordeste e do Norte do País.
Qualidade da água - Características químicas, físicas e biológicas, relacionadas
com o seu uso para um determinado fim. A mesma água pode ser de boa qualidade
para um determinado fim e de má qualidade para outro, dependendo de suas
características e das exigências requeridas pelo uso específico.

171
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Recarga artificial - Processo de aumentar o fornecimento natural de água a um


aqüífero bombeando água para dentro dele através de perfurações ou para dentro
de bacias de captação que drenam a água para dentro do aqüífero.
Rede de drenagem - Sistemas de canais numa bacia de drenagem.
Rede de esgoto - Termo coletivo para o sistema de coleta e usina de tratamento de
esgoto num determinado bairro ou região.
Regolito - [Sin.manto de intemperismo] Capeamento natural das rochas (manto de
intemperismo), inconsolidado, composto por fragmentos de rocha e solo, incluindo
solo transportado, solo autóctone, depósitos residuais.
Reservatório - Corpo artificial de água de superfície que é retido por uma represa.
Rio - Canal natural de drenagem de superfície que tem uma descarga anual
relativamente grande. Um rio geralmente termina oceano.
Saneamento - Realização de disposições municipais direcionados à renovação de
bairros, melhoria do traçado das ruas, colocação de esgotos e água encanada,
drenagem de pântanos. Limpeza de rios e valas, etc.; saneamento básico.
Salinidade - Medida de concentração de sais minerais dissolvidos na água.
Salinização - Degradação de terras férteis causada pelo sal. A salinização das
terras agrícolas é comum em áreas que dependem de irrigação: a evaporação
superficial retira sais do solo e das pedras do subsolo, sendo que a redução das
águas subterrâneas aumenta o percentual de minerais e sais na água armazenada.
Sedimentação - Acúmulo de solo e/ou partículas minerais no leito de um corpo
d'água. Em geral, esse acúmulo é causado pela erosão de solos próximos, ou pelo
movimento vagaroso de um corpo d'água, como ocorre quando um rio é
representado para formar um reservatório.
SIG: Sistema de Informação Geográfica, também conhecido por sua sigla em Inglês:
GIS-Geographic Information System. É um conjunto de processos que através da
representação digital de objetos e processos situados num espaço geográfico,
permite seu armazenamento em banco de dados, facilitando sua recuperação, a
análise de suas interrelações e suas variações no tempo. Através do SIG, um mapa
passa a existir com um banco de dados de informações georreferenciadas, e que
pode, a qualquer momento, ser modificado, acrescido ou corrigido. Sua
apresentação como um elemento impresso, o mapa propriamente dito, passa a ser

172
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

uma versão impressa, naquela data e hora, das informações existentes na base de
dado. Desta forma, o mapa, historicamente um produto estático, passa a ser um
produto dinâmico, obtido a cada momento, que conterá, num espaço bidimensional,
e na escala desejada, as informações solicitadas por quem o imprimiu e que refletirá
a forma e a acuidade com que os dados foram armazenados no banco. Como os
dados referentes a um "locus" geográfico, são armazenados em camadas
independentes, separadas segundo seus atributos temáticos, podemos fazer um
sem número de relacionamentos ou cruzamentos das informações, gerando um
poderoso instrumento de análise e gerenciamento.
Solo aluvial - Solo resultante do depósito de material por correnteza, como ocorre
quando a enchente de um rio ultrapassa suas margens naturais e cobre as terras
adjacentes.
Sumidouro - Em hidrologia - Cavidade, em forma de funil, na superfície do solo, que
se comunica com o sistema de drenagem subterrânea, em regiões calcárias,
causada pela dissolução da rocha. Em engenharia sanitária - Poço destinado a
receber o efluente da fossa séptica e permitir sua infiltração subterrânea.
Talvegue - Linha que segue a parte mais baixa do leito de um rio, de um canal ou
de um vale. Perfil longitudinal de um rio; linha que une os pontos de menor cota ao
longo de um vale.
terracete- Geol. Superfície plana ou levemente inclinada, em geral com frente
escarpada, que margeia um rio, um lago ou o mar, e atesta, por meio de
testemunhos geológicos e geomorfológicos, as variações do nível das águas fluviais,
lacustres e marítimas através dos tempos.

Transferência de bacia - transposição - É o processo de transferência de água


que consiste em conduzir o fluxo de um rio através de obras de engenharia, a fim de
ser incorporado às reservas subterrâneas ou a rios pobres de outra bacia. Ou para
abastecimento humano.
Tratamento Aeróbico - O mesmo que tratamento por oxidação biológica, em
presença de oxigênio.

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Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

Tratamento de água - É o conjunto de ações destinadas a alterar as características


físicas e/ou químicas e/ou biológicas da água, de modo a satisfazer o padrão de
potabilidade.
Tratamento anaeróbico - Estabilização de resíduos feita pela ação de
microorganismos, na ausência de ar ou oxigênio elementar. Refere-se normalmente
ao tratamento por fermentação mecânica.
Tratamento químico - Qualquer processo envolvendo a adição de reagentes
químicos para a obtenção de um determinado resultado.
Turbidez - Medida da transparência de uma amostra ou corpo d'água, em termos da
redução de penetração da luz, devido à presença de matéria em suspensão ou
substâncias coloidais. Mede a não propagação da luz na água.
Usos múltiplos - Nos processos de planejamento e gestão ambiental, a expressão
usos múltiplos refere-se à utilização simultânea de um ou mais recursos ambientais
por várias atividades humanas. Por exemplo, na gestão de bacias hidrográficas, os
usos múltiplos da água (geração de energia, irrigação, abastecimento público,
pesca, recreação e outros) devem ser considerados, com vistas à conservação da
qualidade deste recurso, de modo a atender às diferentes demandas de utilização.
Vazão - Volume fluído que passa, na unidade de tempo, através de uma superfície
(como exemplo, a seção transversal de um curso d'água).
Voçoroca - Processo erosivo subterrâneo causado por infiltração de águas pluviais,
através de desmoronamento e que se manifesta por grandes fendas na superfície do
terreno afetado, especialmente quando este é de encosta e carece de cobertura
vegetal.

174
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

12. APÊNDICE

175
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA-UFPB
CENTRO DE CIENCIAS EXATAS E DA NATUREZA-CCEN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – PPGG

PESQUISA PARA ELABORAÇÃO DE DISSERTAÇÃO:


“ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA BACIA DO RIO VERRUGA E OS PROCESSOS DA
URBANIZAÇÃO DE VITÓRIA DA CONQUISTA – BA”

QUESTIONÁRIO DE CAMPO: PARA MORADORES DA ÁREA

LOCALIDADE:_______________________________________________ DATA: _______


NOME DO ENTEVISTADO (A): ______________________________________________
PROFISSÃO: _________________________________________
1- Há quanto tempo que reside no local?
( ) menos de 1ano ( ) 10 a 20 anos
( )1-5 anos ( ) acima de 20 anos
( ) 5-10 anos ( ) sempre morou nesta localidade
2- Tipo de moradia?
( ) dom. part permanente, próprio ( ) dom. part. Alugado
( ) dom. part. permanente, cedido ( ) outros

3- Renda familiar:
( ) Até 1 sal/min. ( ) 5-8 sal/min
( )1-2 sal/min. ( ) de 8-10 sal/mim
( )3-4 sal/min. ( ) acima de 10 sal/min
4- Qual a procedência da água?
Para beber:
( ) poço ( ) água encanada ( ) rio ( ) outro
Atividades doméstica/trabalho
( ) poço ( ) água encanada ( ) rio ( ) outro
5- A sua casa possui saneamento básico?
( ) sim ( ) não para onde vai o esgoto? _________________________________________
6- Qual o destino do lixo?
( ) coletado pelo serviço de limpeza ( ) enterrado
( ) jogado em terreno baldio ( ) queimado na propriedade
( ) jogado em rios e lagos ( ) outro
7- Já observou diferença no nível do rio e ou na qualidade da água do rio?
( ) sim ( ) não.
Caso sim, por quê?___________________________________________________________
8- Qual o tipo de uso da água do rio.
( ) Agricultura (irrigação) ( ) consumo humano ( ) lazer
( ) lavar roupa ( ) comércio ( ) outros
9 Que tipo de uso é feito na terra? O que cultiva?
R.:________________________________________________________________
10- Usa agrotóxico ou algum tipo de fertilizante na agricultura?
( ) sim ( ) não. Quais?_________________________________________________________
11- Acha que existem problemas ambientais neste local?
( ) sim ( ) não
Especifique _____________________________________
12- Para o Sr. (a), quem mais utiliza a água dos rios na região?
R.:_______________________________________________________________
Análise Socioambiental da
bacia do Rio Verruga e os processos da urbanização de Vitória da Conquista – BA.

13. ANEXOS

177
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB
Departamento de Engenharia Agrícola e Solos - DEAS

Laboratório de Controle e Qualidade de Água – LCA


Fone: 77 3424 8642 / 8650
Vitória da Conquista, 15 de outubro de 2007.

ANÁLISE FISICO-QUMICA

Altemar Amaral Rocha


Cliente:
Departamento de Geografia
Forma da Coleta: Realizada pelo solicitante
Data da Coleta: 26/09/2007

Data/Entrega no Laboratório: 26/09/2007

N° Amostra / Descrição
242: Amostra 1: Poço Escuro
243: Amostra 2: Lagoa das Bateias
244: Amostra 3: Encontro dos Rios
247: Amostra 4: Rio Verruga – Fim do Marçal
248: Amostra 5: Rio Verruga - Itambé

Resultados2,3
Padrões de Aceitação para
Parâmetros Amostras Número
consumo humano1
242 243 244 247 248

pH 6,3 7,7 7,5 7,3 7,4 4,0 a 10,0

Condutividade 84,0 699,0 921,0 420,0 275,0 µS/cm à 25° C

Determinação de Cloretos 38,0 49,0 48,0 30,0 24,0 mg/L Até 250 mg/L

Dureza total 42,0 39,0 32,0 37,0 33,0 mg/L Até 500 mg/L
Observações:
Valores Descritos na Portaria N° 518 de 25/03/2004 do Ministério da Saúde
1

2Os resultado desta análise tem significação restrita e refere-se somente a amostra analisada, não podendo ser utilizada em qualquer tipo de
propaganda.
3Análises realizadas de acordo com o “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater”

Responsável Técnico: _____________________________________

Estrada do Bem-Querer, km 4 CEP 45083-900 – Vitória da Conquista – BA Tel: 424-8642/8650


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB
Departamento de Engenharia Agrícola e Solos - DEAS

Laboratório de Controle e Qualidade de Água – LCA

Vitória da Conquista, 15 de outubro de 2007.

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

Amostra n° 914 915 916 931 932


Altemar Amaral Rocha
Cliente:
Departamento de Geografia
Forma da Coleta: Realizada pelo solicitante
Data da Coleta: 26/09/2007

Data/Entrega no Laboratório: 26/09/2007

Resultados

Presença de Coliformes2,3 Valor máximo


N° Amostra/Descrição
Coliforme total Coliforme fecal permitido1

914 Amostra 1: Poço Escuro > 8,0 NMP/100mL > 1,1 NMP/100mL

915 Amostra 2: Lagoa das Bateias > 8,0 NMP/100mL > 8,0 NMP/100mL
Ausência em
916 Amostra 3: Encontro dos Rios > 8,0 NMP/100mL Ausente
100 mL
932 Amostra 4: Rio Verruga – Fim do Marçal > 8,0 NMP/100mL Ausente

931 Amostra 5: Rio Verruga - Itambé > 8,0 NMP/100mL > 1,1 NMP/100mL
Observações: NMP: Número Mais Provável; UFC: Unidade Formadora de Colônia.
Valores Descritos na Portaria N° 518 de 25/03/2004 do Ministério da Saúde
1

Os resultado desta análise tem significação restrita e refere-se somente a amostra analisada, não podendo ser utilizada em qualquer tipo
2

de propaganda.
Análises realizadas de acordo com o “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater”
3

Responsável Técnico: _____________________________________

Estrada do Bem-Querer, km 4, CEP 45.083-900 – Vitória da Conquista – Ba

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