A avaliação é um ato comum a tudo e todos independente da área em que se atua. A avaliação
da
aprendizagem é uma das modalidades da Avaliação e refere-se meios e não fins, em si
mesmas, estando
assim delimitadas pela teoria e pela prática que as circunstancializam. Desse modo, afirma o
autor que “a
avaliação não se dá nem se dará num vazio conceitual, mas sim dimensionada por um modelo
teórico de
mundo e de educação, traduzido em prática pedagógica”.
Reconhecer as diferentes trajetórias de vida dos educandos implica flexibilizar os objetivos, os
conteúdos, as
formas de ensinar e avaliar, ou seja, contextualizar e recriar o currículo. Segundo Luckesi, a
avaliação tem sua
origem na escola moderna com a prática de provas e exames que se sistematizou a partir do
século XVI e
XVII, com a cristalização da sociedade burguesa.
A prática de avaliação da aprendizagem que vem sendo desenvolvida nas nossas instituições
de ensino nos
remete a uma posição de poucos avanços. Não tem sido utilizada como elemento que auxilie
no processo
ensino aprendizagem, perdendo-se em mensurar e quantificar o saber, deixando de identificar
e estimular os
potenciais individuais e coletivos. A obra aponta alguns tópicos que nos auxiliam a
compreender estas
questões. O ato de avaliar tem sido utilizado como forma de classificação e não como meio de
diagnóstico,
sendo que isto é péssimo para a prática pedagógica. A avaliação deveria ser um momento de
“fôlego”, uma
pausa para pensar a prática e retornar a ela, como um meio de julgar a prática. Sendo utilizada
como uma
função diagnóstica, seria um momento dialético do processo para avançar no desenvolvimento
da ação, do
crescimento para a autonomia e competência. Como função classificatória, constitui-se num
instrumento
estático e freador do processo de crescimento, subtraindo do processo de avaliação aquilo que
lhe é
constitutivo, isto é, a tomada de decisão quanto à ação, quando ela está avaliando uma ação.
Desta forma, a avaliação desempenha um papel significativo para o modelo social liberal-
conservador, ou
seja, o papel disciplinador. Os “dados relevantes” que devem ser considerados para o
julgamento de valor,
tornam-se “irrelevantes”, sendo que o padrão de exigência fica ao livre arbítrio do professor.
Em geral, o
professor ao planejar suas atividades não estabelece metas a ser alcançadas da “média” de
notas, o que não
expressa a competência do aluno, não permitindo a sua reorientação. A média então, é
realizada a partir da
quantidade e não da qualidade, não garantindo o mínimo de conhecimento, como lembra o
autor. Esta
prática torna a avaliação nas mãos do professor um instrumento disciplinador de condutas
sociais,
utilizando-a como controle e critério para aprovação dos alunos, buscando controlar e
disciplinar, retirando
destes a espontaneidade, criticidade e criatividade, transformando-os reféns de um sistema
autoritário e
antipedagógico.
A aprendizagem neste contexto de Pedagogia Tradicional, deixa de ser algo prazeroso e
solidário, passando a
ser um processo solitário e desmotivador, contribuindo para a seletividade social,
principalmente para
atender as exigências do sistema econômico vigente. Quando a finalidade é seletiva, o
instrumento de
avaliação é constatativo, prova irrevogável. Mas as tarefas, na escola, deveriam ter o caráter
problematizador e dialógico, momentos de trocas de ideias entre educadores e educandos na
busca de um
conhecimento gradativamente aprofundado. O educador, ao lidar com a avaliação da
aprendizagem escolar,
deve ter em mente a necessidade de colocar em sua prática diária, novas propostas que visem
a melhoria do
ensino, pois a avaliação é parte de um processo e não um fim em si e deve ser utilizada como
um
instrumento para a melhoria da aprendizagem dos educandos.
Para redirecionar a prática de avaliação faz-se necessário assumir um posicionamento
pedagógico explícito,
com um redimensionamento global das práticas pedagógicas de modo a orientá-la, no
planejamento, na
execução e na avaliação. Nesta perspectiva, para que se dê um novo rumo à avaliação seria
necessário o
resgate da sua função diagnóstica, ou seja, deveria ser um instrumento dialético do avanço,
um instrumento
de identificação de novos rumos. “Enfim, terá de ser o instrumento do reconhecimento dos
caminhos
percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos”.
A partir desta análise, podemos dizer que a prática “dita” como avaliação da aprendizagem,
não passa de
uma verificação da aprendizagem. Como refere Luckesi (1995), este fato fica claro na escola
brasileira,
quando observamos que os resultados da aprendizagem têm tido a função de estabelecer uma
classificação
do educando que se expressa em aprovação ou reprovação.
Nas práticas pedagógicas preocupadas com a transformação, a avaliação é utilizada como um
mecanismo de
diagnóstico da situação enxergando o avanço e o crescimento e não a estagnação
disciplinadora. Sendo
assim, para romper com o modelo de sociedade devemos romper com a pedagogia que o
traduz. A partir
dessas observações, passa a haver uma questão: a avaliação da aprendizagem na prática
escolar tem sido um
mecanismo de conservação e reprodução da sociedade através do autoritarismo? A respeito
disso Luckesi
nos orienta que a avaliação constitui-se em um momento dialético de reflexão sobre teoria-
prática no
processo ensino aprendizagem. Nesta perspectiva, além dos aspectos cognitivos, os aspectos
de natureza
não cognitiva (afetividade, participação, compromisso, responsabilidade, interesse, habilidades
e
competências) têm que ser considerados.
Morin considera que há sete saberes fundamentais com os quais toda cultura e toda sociedade
deveriam
trabalhar, segundo suas especificidades. Esses saberes são respectivamente as Cegueiras
Paradigmáticas, o
Conhecimento Pertinente, o Ensino da Condição Humana, o Ensino das Incertezas, a
Identidade Terrena, o
Ensino da Compreensão Humana e a Ética do Gênero Humano.
Esses saberes são indispensáveis frente à racionalidade dos paradigmas dominantes que
deixam de lado
questões importantes para uma visão abrangente da realidade. Para Morin, é impressionante
como a
educação, que visa transmitir conhecimentos, seja cega em relação ao conhecimento humano.
Ao invés de
devem levar na bagagem componentes indispensáveis a orientá-los para uma novo rota em
prol da educação
verdadeira. Dentre eles citamos os seguintes:
Competência professional,
Respeito pelos saberes do educando e o reconhecimento da identidade cultural,
Rejeição de toda e qualquer forma de discriminação,
Reflexão crítica da prática pedagógica,
Corporeificação,
Saber dialogar e escutar,
Querer bem aos educandos,
Ter alegria e esperança,
Ter liberdade e autoridade,
Ter curiosidade,
Ter a consciência do inacabado.
Nesse último capítulo Paulo Freire mostra a necessidade de segurança, do conhecimento e da
generosidade
do educador para que tenha competência, autoridade e liberdade na condução de suas aulas.
Acredita que a
disciplina verdadeira não está “…no silêncio dos silenciados, mas no alvoroço dos
inquietos”(FREIRE, 1996,
p.93), na esperança que desperta o ensino dos conteúdos, implicando no testemunho ético do
professor-
isto seria a autoridade coerentemente democrática.
Ensinar exige comprometimento sendo necessário que nos aproximemos cada vez mais de
nossos discursos
de nossas ações. A Pedagogia da Autonomia deve estar centrada em experiências
estimuladoras da decisão,
da responsabilidade, ou seja, em experiências respeitosas da liberdade.
O educador como ser político, emotivo, pensante não pode ter atitudes neutras, deve sempre
mostrar o que
pensa, apontando diferentes caminhos sem conclusões predeterminadas.