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A AVALIAÇÃO FORMATIVA NA ESCOLA CONTEMPORÃNEA


Josiane Gonçalves Santos

A construção do conhecimento é um processo que decorre das interações


do indivíduo com o meio social, assim podemos concluir, que é um processo
contínuo. Associado ao processo ensino-aprendizagem encontra-se a avaliação,
problemática do processo pedagógico, pois tradicionalmente era encarada como
instrumento de poder dos professores frente aos seus alunos evidenciado através do
registro, em notas, o desempenho do aluno em determinado período. Porém a
sociedade mudou, evoluiu e atualmente o aluno é encarado como o centro do
processo educativo, cabendo ao professor ser orientador desse processo, mediando
o conhecimento buscando efetivar a aprendizagem e, principalmente, despindo-se
de uma antiga prática centrada no autoritarismo. A transformação sócio-cultural
conscientizou a escola de que o educando é um ser em formação, cabendo ao
professor desenvolver sua prática consciente de que cada aluno é um ser único,
com características e ritmos de desenvolvimento diferentes que acarretarão avanços
diferenciados em sua aprendizagem, portanto exigindo uma nova concepção da
avaliação escolar. A avaliação formativa é uma proposta voltada para o progresso
individual de cada aluno, objetivando favorecer continuamente seu
desenvolvimento, identificando processos, avanços e dificuldades a serem
superadas. A avaliação deixa de ser o momento final do processo educativo e
passa a apresentar um caráter formador, propiciando que o próprio aluno monitore a
sua aprendizagem, permitindo a este identificar seus acertos, dificuldades e erros,
ultrapassando a simples memorização dos conteúdos. O professor passa a
conceber a avaliação como um processo contínuo, diagnóstico, que subsidia o
processo ensino-aprendizagem eficiente em uma perspectiva construtivista e
libertadora de educação. Enquanto elemento intrínseco da aprendizagem, só têm
sentido através da reflexão diante dos resultados obtidos e os caminhos percorridos,


Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação da Universidade Tuiuti do Paraná,
Pedagoga da Rede Municipal de Educação de Ensino, Curitiba, Paraná, Brasil, (josigonsantos@bol.com.br)

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reorganizando, quando necessário, a ação pedagógica, abordando os conteúdos de
forma diversificada, revendo conceitos e mudando atitudes na busca de auxiliar
efetivamente a construção do conhecimento pelo educando. É o momento de
entender que a avaliação é elo essencial no encadeamento que subsidia o processo
educativo.

Palavras-chave: avaliação, aprendizagem, professor, processo.

1. O PROCESSO EDUCATIVO NA CONTEMPORANEIDADE

O processo educativo na sociedade contemporânea visa, além da


construção do conhecimento, levar o educando a desenvolver sua criticidade frente
à realidade em que esteja inserido. É um processo contínuo que sofre as
interferências da época histórica, do meio cultural, da realidade sócio-econômica. A
concepção de educação, nesse contexto, avança e percebe que o aluno é fruto do
meio social e cultural em que está inserido, cujo efeitos refletem sobre sua
aprendizagem, passando a enxergar o educando com novos olhos, entendendo que
a educação deve ser instrumento de emancipação para o indivíduo. No entanto tal
constatação acarreta a quebra de paradigmas educacionais e pessoais.
A partir do século XX mudanças políticas, econômicas e culturais que vem
se operando tem determinado os rumos da educação, exigindo novas formas de
intervenção comprometidas com as reais demandas sociais. No Brasil com a
evolução dos tempos e com o aprimoramento da legislação universalizou-se em
todo o território nacional a obrigatoriedade do Ensino Fundamental, conscientizando
a sociedade em geral da importância da formação básica no desenvolvimento do
indivíduo e, garantindo assim, um direito social constitucional. Foi um momento de
democratização ao acesso e busca de melhoria na educação básica, demonstrando
o reconhecimento da importância de formar o cidadão com vistas à atender as
demandas sociais e econômicas.
O mundo globalizado na sociedade hodierna, vêm lentamente modificando
as relações sociais, minando as crenças e concepções de educadores
anteriormente seguros em suas condutas profissionais. Trata-se de um momento
histórico de desestabilização pessoal e profissional. Embora caótica esta

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i.exe
desestabilização gera a necessidade de reaprender a trabalhar, rever a prática,
embasar-se em novas teorias, questionar suas certezas, propiciando um inovador
crescimento ao educador, pois as dúvidas se espalham, ocasionando debates e
legitimando novas formas de fazer e de encarar a educação e a vida. É um
momento histórico fecundo, que desencadeia processos que exigem reflexão e
trabalho coletivo, possibilitando trocas de experiências enriquecedoras. Entretanto
mexer na estrutura da organização escolar causa alterações nas relações
estabelecidas no interior da escola, provocando mudanças no relacionamento entre
colegas e, principalmente com os alunos, relações estas já deturpadas com o clima
de violência que impera na ampla sociedade mundializada e fruto de uma
globalização econômica exclusiva excludente. Atualmente o comportamento dos
indivíduos reflete os valores da ideologia consumista dominante que se infiltra em
cada sujeito que passa a agir conforme os “padrões” ideológicos vigentes que
penetram nas mentes “lavando cérebros” rumo ao consumismo, à competição e ao
individualismo exacerbado. Este novo cenário vem ocasionando profundas
alterações nas relações interpessoais que se tornaram, cada vez mais individualistas
e por conseqüência, competitivas, interferindo nas relações entre professores e
alunos. O cidadão do mundo globalizado encontra-se perdido, inseguro,
demonstrando a atual crise de paradigmas que vivemos.
A atual realidade mundial exige um educador capaz de lidar diferentes
ritmos de aprendizagem e diferentes culturas, despertando para o fato de que
ensinar, agora, requer habilidades que extrapolam o planejamento escolar,
consciente de que o processo de aquisição da aprendizagem sofre interferência de
fatores cognitivos, neurológicos, emocionais, afetivos, sociais, políticos. É preciso
que o professor se considere em contínuo processo de aprendizagem – tanto
quanto seus alunos – despindo-se da postura autoritária e arrogante, tão comum
em muitos docentes, pois ainda é possível encontrarmos educadores
desenvolvendo sua prática como se nada tivesse mudado, caminhando na
contramão da modernidade, demonstrando serem incapazes de adaptar-se às
exigências de um novo tempo.
Várias foram as inovações pedagógicas desenvolvidas nas escolas, fruto
das transformações sociais, no entanto se a prática mudou a avaliação permaneceu
sempre a mesma. Tradicionalmente a avaliação sempre foi utilizada como forma de

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poder e coerção dos professores sobre as condutas de seus alunos, modificá-la
exige uma nova visão do docente diante do processo pedagógico.
A utilização de novas metodologias, novos recursos, novas tecnologias,
favoreceu o desenvolvimento de um novo “olhar” dos educadores , tornando a
aprendizagem mais significativa. Em documento publicado pela Secretaria Municipal
de Ensino do município de Curitiba sobre a Organização do Conhecimento no
Cotidiano Escolar (2001) essa questão é apresentada com a seguinte visão

A aprendizagem significativa está relacionada à possibilidade de os alunos


aprenderem por múltiplos caminhos e formas, usando diversos meios e modos de
expressão.

Para isso, é necessário dar condições ao aluno de: construir uma nova maneira
de compreender a realidade da qual faz parte, ajudando-o a relacionar as
experiências anteriores e as vivências pessoais; formular e resolver problemas,
provocando dessa forma modificações de comportamento e utilizar os
conhecimentos apreendidos em outras situações

Na aprendizagem significativa, todas as noções e conceitos que os alunos


aprendem, desenvolvem novas formas de compreender e interpretar a realidade,
questionar, discordar, propor soluções e refletir sobre o mundo que o rodeia.
Pressupõe um caráter dinâmico, que exige ações direcionadas, para que os
alunos aprofundem e ampliem os conhecimentos a partir da realidade imediata. O
conhecimento deve ser visto como uma rede de significados em permanente
processo de transformação, contrapondo-se com a idéia de conhecimento
encadeado, linear, seriado

O desenvolvimento do trabalho pedagógico centrado no indivíduo,


promoveu novas experiências e ações enriquecedoras que propiciarão, no futuro, o
crescimento pessoal e profissional dos indivíduos. A gestão democrática tornou a
família mais participativa, os alunos passaram a demonstrar sua criticidade diante da
realidade, questionando os fatos, opinando sobre os acontecimentos e discordando
muitas vezes das posturas docentes. E o professor? Pobre professor! Entrou em
crise e percebeu ser preciso uma quebra de paradigmas, era chegado o momento
da transformação!

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2. O CARÁTER FORMATIVO DA AVALIAÇÃO NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA

Diariamente o indivíduo desenvolve posturas críticas frente às suas


próprias condutas e daqueles que o cercam. A avaliação é um processo inerente à
atividade humana.
A atual realidade social mundial repleta de violência, desespero e miséria,
demonstra a necessidade de desenvolver nos indivíduos valores voltados à
disseminação da solidariedade e justiça entre os homens. Desse modo a avaliação
requer uma nova concepção, deixando de ser classificatória e, provocando a
competição e a exclusão entre os educandos, caracterizando o processo avaliativo
como arbitrário, propiciando a segmentação do conhecimento.
Se a prática docente mudou, a avaliação da aprendizagem ainda
permanecia da mesma forma, classificatória, através da realização de provas,
caracterizadas como simples devolução dos conhecimentos e utilizada como
instrumento de poder, como verdade absoluta, servindo para classificar e acentuar
as diferenças entre os alunos, demonstrando, nesse contexto, a sua face
excludente.
Com a chegada do novo milênio a sociedade, em especial os educadores,
passaram a compreender o caráter político e social da avaliação escolar,
percebendo a íntima relação com uma educação verdadeiramente democrática,
afinal é parte do processo de formação do aluno.
A avaliação deve estar centrada na evolução da aprendizagem, assim, sua
função principal deve visar a melhoria da ação pedagógica, procurando desenvolver
moral e intelectualmente os alunos, através de ações que favoreçam a construção
do conhecimento. Ela deve ser contínua, processual, utilizada como instrumento na
definição de princípios e intervenções necessárias à efetiva aprendizagem.
Procurando superar os efeitos perversos e conseqüências sociais da
avaliação puramente quantitativa na vida do educando, inovações pedagógicas vêm
sendo instituídas, entre elas destacamos a implantação dos Ciclos de Aprendizagem
pela Prefeitura Municipal de Curitiba. É uma concepção de ensino onde a avaliação
possui função maior do que apenas “subsidiar a decisão quanto à aprovação ou
reprovação dos alunos, caracterizando-se por um processo que mais tem
contribuído para a seletividade social que ocorre via escola...” (PMC, p.37)

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Nessa forma de organização do tempo escolar a avaliação não é um ato
pedagógico isolado, mas parte integrante de um processo educativo, devendo ser
encarada como elemento intrínseco da aprendizagem e servindo de orientação para
a efetivação da aprendizagem através da reelaboração contínua. LUCKESI (2000, p.
09) afirma que a aprendizagem do educando exige que o educador considere-o
“como ser humano, na sua totalidade e não só na aprendizagem específica”. Em
síntese, avaliar o aluno a partir de seu desenvolvimento e dos avanços ocorridos em
sua aprendizagem, compreendendo a sua individualidade enquanto ser humano.
A avaliação, elemento fundamental e constitutivo do processo ensino-
aprendizagem, deve servir para conscientizar o professor dos avanços e
dificuldades do educando, propiciando a reflexão frente à aprendizagem de seus
alunos, instrumentalizando-o na tomada de decisões que intervirão positivamente na
construção efetiva do conhecimento. É um processo que deve acompanhar a ação
pedagógica, portanto deve favorecer a investigação, acompanhando continuamente
a construção do conhecimento pelo educando, adquirindo uma dimensão formativa e
processual, que percebe o indivíduo globalmente, de modo diferenciado.
A avaliação formativa exige que o professor esteja atento às
individualidades de seus alunos, compreendendo seus avanços e identificando suas
dificuldades, favorecendo seu desenvolvimento contínuo. HOFFMANN (2001, p. 19)
afirma “nessa dimensão educativa, os erros, as dúvidas dos alunos, são
considerados como episódios altamente significativos e impulsionadores da ação
educativa.” É um processo pedagógico que oportuniza a reflexão-ação frente os
resultados obtidos tanto para professor quanto para o aluno. Para tanto é preciso
registrar o desempenho dos alunos, de modo a construir uma visão global de sua
aprendizagem em todos os momentos do processo, modificando a concepção
docente que anteriormente orientava-se pelos resultados quantitativos obtidos
através da realização de provas.
A sociedade mudou, as relações sociais mudaram, as pessoas mudaram,
assim, a escola necessita adequar-se à essa nova realidade servindo de instrumento
à formação humana, identificando avanços e dificuldades, essenciais no
desenvolvimento global do educando.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O principal avanço nessa nova concepção de avaliação escolar está no


novo olhar que o aluno direciona à sua aprendizagem, percebendo que a construção
de seu conhecimento ocorre dentro e fora da sala de aula, conscientizando-o de
modo significativo sobre sua responsabilidade frente aos seus estudos.
A avaliação deixa de ser encarada como instrumento de poder, coercitivo,
desempenhando função seletiva e discriminatória, passando a ser compreendida
com elemento construtivo e essencial do processo pedagógico. A avaliação efetiva e
diagnóstica, que possui caráter indagador e favorece a reflexão docente.
Devemos, no entanto, saber que nada transforma-se imediatamente, que a
mudança da postura docente dentro do processo ensino-aprendizagem,
especificamente diante da avaliação, está fundamentada em uma formação –
pessoal e profissional – que controlam e interferem em sua forma de pensar e agir. A
avaliação deve ser concebida dentro de uma concepção de modifique a imagem até
então vigente, em que HOFFMANN (2001, p. 08) define como “o mais agudo e
prejudicial sintoma desta loucura que é o sistema de ensino confirmador das
injustiças sociais e ineficaz em quase todos os aspectos que se analisem.”
A avaliação formativa propicia a quebra de paradigma do modelo
tradicional, deixa de ser encarada como finalizador do processo educativo para
transformar-se como elemento constitutivo da construção do conhecimento. É a
conscientização gradual do significado da avaliação e suas conseqüências na
formação do educando. NOSELLA (1998, p.181) fazendo um balanço sobre a
avaliação na escola brasileira no final do século, afirma

Por isso, a avaliação do aluno na escola obrigatória não pode se pautar num
referencial conteudista de qualidade genérica. O critério de avaliação no 1.º grau
é o próprio aluno, seu esforço para adquirir os hábitos essenciais necessários a
todo cidadão moderno.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HOFFMANN, J. Avaliação: mito e desafio – uma perspectiva construtivista. Porto Alegre:


Mediação, 2001, 30.ª ed revista.

LUCKESI, C. C. Que é mesmo o ato de avaliar a aprendizagem na escola? In: Páteo:


revista pedagógica, ano 04, n.º 12, Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 2000.

____________ Avaliação de aprendizagem escolar. In: Curitiba, IV Jornada Curitibana de


Educação Escolar e Pré-escolar, curso n.º 05, maio, 1998.

NOSELLA, P. A escola brasileira no final de século: um balanço. In: FRIGOTTO, G.


Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de século. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998,
5.ª ed.

PMC. Projeto de implantação – A escola municipal e os ciclos de aprendizagem. Secretaria


Municipal de Educação de Curitiba, 1999.

PMC. Organização do conhecimento no cotidiano escolar. Secretaria Municipal de


Educação de Curitiba / Gerência de Ensino Fundamental, Curitiba, 2001.

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