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CURSO EVOLUÇÃO
Avaliação da Aprendizagem – componente do ato pedagógico
Cipriano Carlos Luckesi
Introdução:
O propósito básico deste livro é possibilitar tanto aos futuros como aos atuais
educadores a compreensão de que o ato de avaliar é um componente essencial do ato
pedagógico. A avaliação da aprendizagem, junto ao planejamento e à execução,
compõe o algoritmo do ato pedagógico.
O planejamento define onde se deseja chegar com a ação, assim como os meios para
chegar aos resultados desejados. Nesse contexto a prática pedagógica, necessita também
de uma concepção construtiva do ensino e aprendizagem. Aqui o autor afirma que não é
possível praticar uma avaliação de acompanhamento da aprendizagem na escola tendo
como pano de fundo uma Pedagogia tradicional calcada numa visão estática do ser
humano que sustenta a prática de exames cuja função é classificar o já dado, já
acontecido e não a prática da avaliação da aprendizagem que opera subsidiando-se o
que está por ser construído ou em construção.
O ponto de partida para atuar com avaliação é saber o que se quer com a ação
pedagógica. A concepção pedagógica guia todas as ações do educador. É preciso saber
onde desejamos chegar em termos da educação do educando. Afinal, que resultados
desejamos? Precisamos definir com clareza o que queremos para podermos
acompanhar, investigar e intervir, se necessário, para chegar a resultados almejados. O
projeto Político Pedagógico configura tanto a direção da prática educativa como os
critérios de avaliação, sendo direcionador da ação pedagógica e ao mesmo tempo guia e
critério para a avaliação.
Será que temos clareza da direção que conduzimos os resultados de nossa prática
educativa? Qual a direção que estamos conduzindo nossos educandos por meio das
nossas ações praticadas na escola? Temos consciência dos valores e crenças que
conduzem nossas ações? Afinal, para que educamos? A resposta a essas questões
definem o projeto de nossa ação educativa. Para o autor, o foco fundamental de uma
filosofia da educação deve partir do fato de que o ser humano está no centro de atenção
da prática educativa, e por meio dela deverá tornar-se “sujeito” e “cidadão”, tendo em
vista viver consigo mesmo e com os outros.
1- Formação do educando
É preciso compreender quem é o educando, como ele se expressa a fim de definir como
atuar com ele para auxiliá-lo em seu processo de autoconstrução. A meta é assegurar as
condições mais adequadas possíveis, seu acolhimento, e oferecer conteúdo e atividades
necessárias à aprendizagem e ao desenvolvimento, a efetiva avaliação da aprendizagem
e ao desenvolvimento para que possa desenvolver segundo suas possibilidades e
características.
A meta de todo ser humano é tornar-se “sujeito”, isto é, tomar posse de si mesmo a fim
de ser capaz de confrontar-se com as facilidades e dificuldades da vida e do mundo
administrando-as para seu bem-estar, o do outro e do meio ambiente formando assim,
um “eu” saudável. Será que nossa prática educativa tem favorecido essa formação de
sujeitos autônomos, independentes e senhores de si?
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O foco que devemos investir em nossa prática pedagógica tem a ver com a relação
consigo mesmo, isto é, investimento em sua educação emocional.
De fato, ser “sujeito” significa ser “cidadão”, porém, essas facetas só podem ser
identificadas separadas de forma didática. Formar o educando como sujeito-cidadão
deve ser o segundo foco de atenção em um projeto pedagógico escolar.
É importante lembrar que a formação do sujeito e formação do cidadão são duas facetas
do mesmo ato educativo, o que, em síntese, conduz ao sujeito-cidadão.
Podemos ajudar nossos educandos a formar-se eticamente tendo por base situações
comuns da vida cotidiana, tais como: relação respeitosa com os colegas evitando
apelidos, desqualificações , ajudar nos momentos necessários, incluir nas atividades
mantendo a sala de aula limpa e arrumada, respeitar professores e funcionários,
dialogando com eles quando necessário, manter a escola limpa e cuidada como espaço
de todos, atender a horários e tarefas escolares como responsabilidade individual e
social etc...
Por último, o ser humano constitui-se pela relação com o que é maior que ele, com o
sagrado, aprendendo a respeitar esse “maior que ele”. É a relação com o divino, cuja
expressão pode ser um Deus pessoal e único.
Essa dimensão do sagrado está presente nos povos e em suas vivências históricas e cabe
aos educadores saber se temos o desejo de estar presente nessa dimensão do ser humano
e caso tenhamos, como atuaremos com ela sem cairmos no dogmatismo ingênuo e/ou
autoritário que, em vez de formar um “eu” saudável, suprime essa possibilidade.
Nós nos constituímos em uma relação dialética com tudo o que nos cerca, expressando
aquilo que somos, o que nos permite constituir uma “visão de mundo” que dê
significado à ação educativa (ou outra ação) que desejamos praticar em nosso cotidiano.
Como oferecer condições educativas para que crianças, adolescentes e adultos com os
quais trabalhamos possam desenvolver-se como sujeitos e como cidadãos (envolvidos
por forças sutis que permeiam nossa experiência ( o sagrado)?
Para o autor o que precisamos instituir como norte de nossa ação, é atuar de tal modo
que nossos educandos possam formar-se com a melhor qualidade possível para
relacionar-se consigo mesmos, com o outro, com o meio ambiente e com o sagrado.
Esse ideário necessita ser traduzido em práticas cotidianas em sala de aula e fora dela.
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O que isso tem a ver com avaliação? Ocorre que o ato de avaliar é o ato de retratar a
qualidade de alguma coisa, de uma situação ou dos resultados de nossa ação. No caso a
avaliação está comprometida com a qualidade dos resultados da nossa ação educativa,
tendo por parâmetro a formação do educando em relação a si mesmo, ao outro e ao
sagrado. Mas como os conteúdos que trabalhamos podem dar conta disso? Como por
meio das atividades pedagógicas podemos, além do educando assimilar os conteúdos,
formá-los nas três áreas apontadas? Esta será a arte necessária de todo educador: dar
sustentação para que o educando, além de aprender os conteúdos, se forme como sujeito
e cidadão, o que inclui a perspectiva do eu, do outro e do sagrado.
Como se forma os sujeitos e com que recursos? Ele se forma por meio de aprendizagem
que promove seu desenvolvimento pela ampliação da consciência, como a capacidade
de compreender a si mesmo e ao mundo de forma ampliada e crítica o que o levará a
agir de forma consciente. A aprendizagem à medida que se efetiva, garante o
desenvolvimento, o qual, por sua vez, se manifesta com ampliação da consciência, um
entendimento cada vez mais rico e mais amplo, o que, em si, também possibilitará uma
ação cada vez mais adequada em relação a si mesmo, aos outros e ao sagrado.
recriá-lo de muitas formas, sendo que muitas experiências humanas podem ser criadas e
recriadas de muitas formas. O educador pode ensinar o ponderável, mas o educando
além de assimilar o ponderável poderá caminhar para o imponderável, aliás, como todos
nós. Como isso se dá? O conhecimento conceitual puro, livre de interações com os
outros componentes do ser humano (sentir pensar e agir) não existe. Eles interagem
entre si e o ideal é que aconteça equilibradamente. Por conseguinte, no processo de
ampliação da consciência, atuam, concomitantemente, corpo, sentimento e pensamento
(conhecimento). Nosso ser e nosso sistema nervoso são realidades complexas,
compostas de múltiplas variáveis intervenientes. No caso da aprendizagem, há de se
observar que muitas vezes, para não dizer sempre, o fator emocional toma a frente
domina a cena prejudicando a aprendizagem cognitiva. Ao educador cabe conhecer as
condutas disfuncionais para restabelecer a funcionalidade da aprendizagem.
Vale lembrar que os conteúdos devem ser da melhor qualidade possível envolvendo os
estudantes como um todo - sentimento, movimento e pensamento.
em sala de aula, com base nessa constatação, decidir e investir na busca daquilo que foi
almejado.
Com que meios trabalharemos formando os estudantes como sujeitos e cidadãos? São
os “mediadores”. Aqui o termo é empregado para alertar que são os meios para alcançar
os resultados.
A expressão projeto pedagógico, hoje utilizada em nossas escolas, denota uma visão
filosófico-política a ser atingida via prática educativa. Nesta seção vamos falar sobre o
primeiro mediador- uma teoria pedagógica que oriente nosso agir no cotidiano escolar.
Assim sendo, vamos tratar: a compreensão teórica orientadora de nossas práticas e quais
as características que sustentam uma prática de avaliação da aprendizagem.
Em nossa prática cotidiana no Brasil, temos sido orientados pela chamada pedagogia
tradicional - isto é, crença de que o indivíduo nasce “pronto”. Nessa pedagogia, não há
possibilidade do uso da avaliação como recurso de construção de resultados bem-
sucedidos. Se o educando está pronto, não há o que se fazer com ele para seu
desenvolvimento. Nessa pedagogia nos resta classificá-lo em níveis de prontidão.
É comum o discurso nas escolas de que o aluno quando passa para outro ciclo deva
estar “pronto”. Hoje não podemos pensar assim, pois precisamos saber que o aluno
progride de forma sustentável, degrau por degrau em seu desenvolvimento.
Para que a avaliação da aprendizagem cumpra seu papel, deverá atuar a serviço de uma
concepção desenvolvimentista do ser humano, só assim será subsidiária da ação
pedagógica, realizando intervenções adequadas para melhores resultados.
Acolher significa assumir o outro como ele é; confrontar significa mostrar outras
possibilidades de ação, de vida, para além da já assumida. Esse confronto oferece ao
outro inovar oportunidades de aprendizagem.
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O ser humano se forma constituindo-se pelo movimento, pela ação. Em primeiro lugar o
ser humano é um ser em movimento permanente, ou seja, em “autoconstrução”. Cada
um de nós é o resultado de nossas heranças genéticas e de nossas interações. Somos
seres de ação e, por meio dela, constituímo-nos, num caminhar que vai de nossa
concepção até o final de nossos dias. Para a ação educativa, vale ressaltar que toda
aprendizagem significativa far-se-á por meio do movimento, que organiza a experiência,
constituindo uma forma; movimento que não é físico, mas pode ser afetivo, mental, de
raciocínio, de compreensão ou de ação. O ser humano aprende pela ação ou, por uma
cadeia de atos, intitulada “ação-reflexão-ação”. No nosso cotidiano pedagógico ao
praticar o ensino, proponhamos atividades aos estudantes onde exista movimento (ação)
que organize a experiência (exercitação) constituindo a forma (aquisição de hábito).
Esses três elementos são constitutivos e contínuos em todo processo de ensino
aprendizagem. A aprendizagem não ocorre por ex abrupto, ao contrário, são construídas
ao longo do tempo e no caso do ensino, implica múltiplas reorientações num processo
de investimento e acompanhamento do educando. No que se refere ao ato de avaliar, é
imprescindível entendermos que a compreensão de como o indivíduo se forma é
orientação para nossa ação pedagógica e avaliativa.
Conviver com os conteúdos socioculturais é o meio pelo qual cada um se torna membro
de sua comunidade, de seu lugar de origem, de sua cultura. O projeto político
pedagógico na escola tem nos conteúdos escolares seu ganho mediador. O ato de
ensinar e aprender dependem dos conteúdos que são ativados e utilizados. Eles são
recursos necessários para a realização do currículo e para a formação do educando.
Além de todas as disciplinas escolares o educando também se desenvolve na
convivência com colegas, mas sobretudo nas interações com os conteúdos
intencionalmente estabelecidos e trabalhados. Os conteúdos escolares articulam o
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O conhecimento tem a ver com a compreensão da realidade do mundo que nos cerca e
de nós mesmos, como sujeitos vivendo neste mundo. Estando no mundo temos duas
possibilidades: a primeira é viver em contiguidade com tudo o que existe, viver do jeito
que o mundo se apresenta e a segunda é viver elaborando compreensões e intervindo
de modo prático e crítico naquilo que nos cerca e proceder sua transformação. Assim
sendo, a escola deve ser um lugar por onde a cultura elaborada seja transmitida e
assimilada pelos estudantes, saindo do senso comum que não necessita da escola, pois
ela se dá no dia a dia das pessoas.
Enfim, o currículo escolar como mediador de educação, não pode ser uma moldura à
qual se deva adequar o educando, mas um recurso que auxilie sua formação como
sujeito e como cidadão o que significa que os conteúdos estão a serviço da formação do
educando e não este a serviço do currículo. Esse olhar para o currículo deve servir de
parâmetro para a avaliação escolar.
A didática define o meio prático de como ensinar para que o educando aprenda. O
ensino aprendizagem para realizar-se de forma eficiente necessita de recursos técnicos-
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modo de fazer -que nos possibilitem oferecer condições para que os alunos aprendam.
No contexto do projeto político pedagógico da escola a didática é um mediador
fundamental para sua realização, sinalizando os recursos práticos básicos para que os
desejos embutidos no ato de ensinar e aprender sejam realizados.
Sendo inteligível e ativo temos um recurso que são os passos do processo de ensinar e
aprender. Eles seguem a direção na busca da autonomia por parte do educando. Para
isso, a prática pedagógica deve servir-se de recursos para lhe garantir a possibilidade de
trilhar essa experiência. São eles:
Então para que o educando aprenda é preciso: ter um conteúdo exposto, assimilar o que
foi exposto, exercitar o conteúdo, aplicar o conteúdo aprendido no mundo que o cerca,
recriar o conteúdo e por fim fazer sua criação própria. Trata-se de uma sequência lógica
e instigante onde o educador ofereça ao educando as condições para que ele vivencie
cada um desses passos. Essa sequência pode ter outras formas de trabalho de acordo
com as necessidades específicas dos educandos, como por exemplo a necessidade de
voltar `a exposição para melhor assimilação do conteúdo.
A criação deve ser estimulada pelo educador para levar os educandos a buscarem o
novo. A capacidade de criação articula-se com a intuição de cada um, mas também com
a posse de muitos conhecimentos e habilidades.
Educador e educando são dois sujeitos de uma relação, cada um com papel específico e
com nível de maturidade diferenciada. O educando aprende e o educador ensina e dá
suporte ao desenvolvimento do aluno. Do ponto de vista humano, como cidadãos,
ambos são sujeitos de iguais direitos e deveres com papéis diferenciados. O educador é
o líder, como tal é o “adulto da relação”.
5. Conclusão do Capítulo
avaliação oferecerá ao gestor de uma ação bases consistentes para suas decisões e o seu
agir. Sem conhecimento sobre o ato de avaliar a ação pedagógica e seus resultados serão
aleatórios e insatisfatórios. Existem dois tipos de avalição: a avaliação de certificação
que segue o ritual básico de qualificação do objeto de estudo (ex: certificação IMETRO,
ISSO, OAB, ABNT) e a avaliação de acompanhamento que é o centro de atenção deste
livro, sob a denominação avaliação operacional que investiga a qualidade dos
resultados em andamento sob o foco formativo e sob o foco final de uma ação.
Este capítulo esclarecerá as diferenças entre avaliar e examinar. Os dois atos podem ser
parecidos, porém, o que a maioria das escolas pratica é o ato de examinar e não
avaliação da aprendizagem. Eles têm apenas em comum o conhecimento da realidade
do desempenho do estudante, no mais são bem distintos. Vejamos:
São características básicas: 1) temporalidade - que nos indica que os exames estão
voltados ao passado e a avaliação para o futuro, onde cabe ao examinador apenas o
desempenho presente do educando diferente do ato de avaliar que está focado no
presente e voltado para o futuro; 2) Solução de problemas – uma vez que os exames
estão atrelados ao passado e a avaliação volta-se ao futuro e está em busca da solução
do problema. 3) expectativa dos resultados -os exames estão centrados no produto final,
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Várias pesquisas apontam para quatro fatores que dificultam a mudança do ato de
examinar para avaliar. Eles se dão num complexo de relações histórico-culturais
situados na modernidade e na contemporaneidade. Vejamos a seguir:
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4. Contexto histórico-social
Outro fator que apontamos como condicionamento de nossa resistência à mudança das
práticas de examinar encontra-se no modelo de sociedade em que vivemos. Dois fatores
da sociedade burguesa fazem-se presentes nas práticas de exames escolares e, dessa
forma, engessam nossas possibilidades de mudanças, tanto no âmbito da instituição
escolar como na relação pedagógica. A administração do poder na prática dos exames
assemelha-se ao modelo de administração do poder na sociedade burguesa:
centralizado, autoritário e hierarquizado. Aqui sinalizamos que nossa sociedade está
estruturada por um modelo que se caracteriza como livre, porém, sua estrutura é
hierarquizada com laivos de autoritarismo. Mas o que tem isso com a avaliação da
aprendizagem na escola? Qual a diferença entre a conduta de um presidente ou de um
primeiro-ministro de países democráticos que ameaça os cidadãos com a lei e a conduta
de um professor que ameaça seus alunos com as provas? Trabalhar com avaliação
implica aspirar a uma vida social igualitária e inclusiva, e não socialmente excludente.
5. Conclusão do Capítulo
A replicação psicológica por parte do educador do que ocorreu com ele em sua vida
pessoal e escolar 2) as relações de poder no espaço microssocial 3) os efeitos da herança
histórica 4) o modelo autoritário e excludente. Para a melhoria da educação e
consequentemente de uma sociedade mais igualitária precisamos nos apropriar que
depende de nós uma ação individual e coletiva de nossas práticas metodológicas com
vistas `as mudanças nas formas de avaliar.
Duas condições prévias são necessárias para todo avaliador: disposição psicológica de
acolher a realidade como ela é e escolha da teoria com a qual fará sua aventura de
investigar. Sem a primeira condição, recusamos a realidade e não agiremos eficazmente
sobre essa realidade e sem a segunda, não teremos um guia adequado na sua abordagem.
Para que o educador possa produzir uma adequada leitura da realidade como ele a
observa, ele precisa de uma “lente”. A avaliação da aprendizagem - como ato de
investigar e, se necessário intervir - está a serviço dos pressupostos teóricos do projeto
pedagógico ao qual está atrelada. Desse modo a segunda disposição prévia necessária de
todo ato avaliativo é o avaliador saber qual teoria dá contornos de seu agir, a fim de que
sua ação não se dê de forma alienada e descomprometida. A avaliação deve ser
praticada tendo como pano de fundo teórico a abordagem pedagógica do projeto ao qual
ela serve.
Esse é o núcleo central do ato de avaliar. Tendo por base os dados da realidade, a
qualificação. Quanto maior o critério mais satisfatório será a qualidade e o contrário
também é verdadeiro. Valor e qualidade têm a ver com a relação sujeito-objeto em
determinada circunstância. Nenhum valor é absoluto e válido por si mesmo, mas sempre
em determinada circunstância, visto que o critério é sempre cultural e, portanto, relativo.
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3. Conclusão do capítulo
Os instrumentos de coleta de dados, em si, não têm a ver com exames ou com a
avaliação. Tanto o ato de examinar como o ato de avaliar necessitam deles. O ato de
examinar e avaliar distinguem -se pelas concepções pedagógicas, ou seja, os dados
coletados através de instrumentos podem ser os mesmos, entretanto a avaliação os
utilizará como diagnóstico e os exames como classificação. Necessitamos de
instrumentos de coleta de dados, portanto, tanto nos exames como na avaliação eles
estão presentes. Se necessitamos de dados sobre memorização o instrumento não poderá
estar calcado em habilidades; porém se precisamos de dados sobre habilidades, ele não
poderá estar estruturado somente pra coletar dados sobre informações memorizadas
pelos educandos. Os objetivos determinam a escolha e a elaboração dos instrumentos.
Nesse sentido podemos dizer que instrumentos de avaliação são os atos metodológicos
da prática de avaliação, e a expressão instrumentos de coleta de dados para a avaliação,
ou seja, coletar dados para a avaliação.
Todos os instrumentos que não captam os dados que deveriam captar são
inadequados. Um instrumento pode até estar bem elaborado, mas não consegue coletar
os dados relevantes e necessários sobre a realidade a ser descrita, como por exemplo um
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Nesse campo um dos desvios básicos tem a ver com a clareza das perguntas formuladas
para os estudantes. Muitas vezes as questões são elaboradas muito mais para confundir
os educandos em suas respostas do que para saber se eles aprenderam o que foi
ensinado. Qual é a razão de confundir o estudante? Para conduzi-lo a uma resposta
insatisfatória? Normalmente os educadores ensinam de forma simples, mas perguntam
de forma complexa. Analisando questões de avaliações podemos facilmente detectar
que o conteúdo foi exposto de uma forma simples, porém foi cobrado de uma forma
muito complexa onde o estudante não entende a relação do conteúdo com aquilo que
está sendo solicitado.
4 - Conclusão do capítulo
Na maior parte das vezes, os instrumentos de coleta de dados para a avaliação não
são elaborados de forma que solicitem aos estudantes, simples e diretamente, o que eles
deverão manifestar que aprenderam.
Então, em geral muitos estudantes têm suas aprendizagens desqualificadas por isso, o
difícil não é o conteúdo aprendido a ser respondido nos instrumentos, mas sim
compreender o que os professores solicitam. Esses elementos não detectam nada de
significativo na conduta do educando e servem apenas para justificar comentários como;
“eles não estudaram, portanto não sabem”. A atenção crítica voltada para os
instrumentos será recurso fundamental para mantermos o cuidado de coletar os dados
dos quais necessitamos. Importa ultrapassar os fatores que dificultam o trânsito do ato
de examinar para o ato de avaliar , se desejamos praticar efetivamente avaliação da
aprendizagem a serviço de nossos educandos, de nós educadores, e do sistema de ensino
em suas diversas instâncias.
Precisamos ter claro onde queremos chegar com nos instrumentos de coleta de
dados e avaliação. Isto deve estar claro no Projeto da escola. Ele é o pano de fundo de
ensino e consequentemente da avaliação. Se a escola tem em seu Projeto que o seu
trabalho educativo é a “emancipação do ser humano por meio do conhecimento” há de
se saber se o educando adquiriu habilidades e conhecimento para atingir esse objetivo.
Se isso não aconteceu importa ensiná-lo novamente. Se os conhecimentos ensinados
foram intencionalmente estabelecidos, o instrumento também deverá ser intencional e
sistematicamente construído.
devemos estar a seu lado para auxiliá-lo em seu processo de desenvolvimento. Nesse
contexto nosso instrumento será estruturado para captar o desempenho do educando
sem extrapolar ou minimizar os contornos definidos.
os conteúdos possibilita ao gestor por meio de uma leitura adequada aos dados obtidos,
a identificação das possíveis carências e suas consequentes correções. O contrário
também é verdadeiro. Ao planejar é importante saber o que é essencial para o educando
aprender, pois tanto o ensino, como a avaliação importa o que é essencial e necessário.
Sejam quais forem os instrumentos, devem ser usados criteriosamente. Lembrando que
todos tem por objetivo avaliar a aprendizagem dos estudantes e reorientá-los se for o
caso. Esses instrumentos não podem ser ameaças, geração de medo e de disciplinamento
e sim como constatação das aprendizagens dos educandos.
Recolher e corrigir, olhando-as como obra de arte. Precisamos ensinar aos alunos que a
avaliação é uma obra de arte exigindo deles cuidados na apresentação. Corrigir tudo
sem desqualificar e sim para orientar. O estudante vem para a escola para aprender, se
ele já tivesse os conhecimentos e as condutas satisfatórias adquiridas, não necessitaria
vir para a escola.
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Após devolver a cada aluno sua produção, comentar o que ocorreu de positivo ou
negativo sem desqualificar, perguntando em que precisam de ajuda para melhorar o
conhecimento. Essas condutas podem melhorar o vínculo entre educador e educando.
A ética será possível, uma vez que, na relação com os outros e com nossos educandos,
no caso específico da avaliação da aprendizagem, agirmos com consciência de nossa
ação, suas dimensões e seus efeitos.
O termo catado significa que tomei temas que não foram tratados no livro e merecem
explicitação.
1. Notas da escola
O termo nota tem vínculo com anotação e com registros. Sabemos que algumas formas
de registros da aprendizagem são necessárias na escola. O registro é o testemunho dado
aos pais, às instituições sociais e à sociedade da frequência do estudante na escola. Todo
registro deverá representar a qualidade da aprendizagem, não importando se é numérico
ou em sob outra forma.
Para avaliar por competência é preciso saber qual é a forma metodológica adequada
para definir os conteúdos por meio dessa orientação teórica. Competência significa a
capacidade de fazer alguma coisa de modo adequado, servindo-se de várias habilidades.
Proceder um ensino por competências não muda em nada os procedimentos avaliativos,
pois esta segue os parâmetros do projeto pedagógico.
4. A cola
Fico tentado a acreditar que a cola tem a ver com o contexto escolar: sua história, seu
modo de ser e de comportar-se ao longo da modernidade. Além de estar na base de uma
sociedade moderna, capitalista, a cola pode estar presente nos processos psicológicos do
estudante, sendo uma reação ostensiva ao professor ou ainda a possibilidade do
estudante em querer levar vantagem. A melhor conduta educativa é acolher o aluno e
confrontá-lo para que mude a direção de sua vida.
Não existe avaliação quantitativa e apenas qualitativa pelo fato de que, a qualidade é
atribuída tendo por base uma quantidade. O ato de avaliar implica um juízo de
qualidade. A depender do desempenho em determinada aprendizagem, nós atribuímos
essa ou aquela qualidade. Em síntese, o ato de avaliar é um ato de atribuir qualidade,
tendo por base uma quantidade, o que implica ser a avaliação constitutivamente
qualitativa.
6. Avaliação e seleção
classificação que por si, seleciona, não a certificação. Os instrumentos de coleta podem
ser os mesmos, a diferença está na finalidade da leitura dos dados de cada um deles.
O ato de avaliar é mais exigente do que o ato de examinar para o professor e para o
estudante. O ato de avaliar exige do professor: a) elaboração do instrumento; b)
aplicação do instrumento; c) a reorientação dos estudantes; d) a reavaliação. Atuar com
a avaliação é atuar de forma inclusiva, o que significa reagir ao modo burguês de ser. E
isso dá muito trabalho. Para caminhar nessa direção, é preciso transformar nossas
crenças e conceitos sobre o estudante e nossa relação educativa com ele.
9. Reprovação
Do ponto de vista pedagógico, não há nenhuma razão para a reprovação. Ela constitui
um fenômeno que historicamente tem a ver com a ideologia segundo a qual, se o
estudante não aprende, seu insucesso é responsabilidade sua ou é decorrência de seu
estudo ou má vontade. A reprovação não existe em sistemas de ensino que investem em
qualidade do ensino aprendizagem. Oferecer ensino aos estudantes e reprová-los são
atos contraditórios.
uma decisão administrativa do sistema de avaliação. Há dúvidas de que essa ação seja
eficiente.
11. ENEM
O ENEN merece uma atenção especial, pois ele se tornou um meio de seleção ao ensino
superior. Vale fazer um estudo pormenorizado de seus objetivos e observar que ele tem
foco nas competências dos educandos. O ENEM poderá trazer em poucos anos nova e
mais significativa configuração da educação no Ensino Médio. Nossa crítica consiste no
fato de ele ser utilizado como um recurso de ranqueamento das escolas de Ensino
Médio. Uma prática avaliativa, em si, somente configura a qualidade do seu objeto de
estudo; o ranqueamento é uma decisão política e, portanto, externa à avaliação.