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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

ESTRATIGRAFIA DO PERMO-TRIÁSSICO
DO RIO GRANDE DO SUL:
ESTILOS DEPOSICIONAIS versus ESPAÇO DE ACOMODAÇÃO

Ubiratan Ferrucio Faccini

Volume 1

Orientador: Dr. Mário Costa Barberena


Comissão examinadora:
Dr. Hélio Jorge Severiano Ribeiro
Dr. Ernesto Luiz Corrêa Lavina
Dr. Luiz José Tomazelli

Tese de Doutoramento
2000
Agradecimentos

A execução deste projeto contou com a inestimável colaboração de


diversas pessoas e instituições às quais gostaria de expressar meus mais
sinceros agradecimentos.
À Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em especial às professoras Emi
Santini Saft, Pro-Reitora de Desenvolvimento e Silvia Dutra , Diretora do Centro
de Ciências Exatas e Tecnológicas e ao professor Cândido Fonseca da Silva,
Pro-Diretor Admnistrativo do Centro, agradeço pela compreensão e pelo apoio.
Aos meus colegas e amigos do Curso de Geologia e PPGEO da UNISINOS,
particularmente Carlos H. Nowatzki, Tânia Dutra, Renata G. Netto, Ernesto Lavina,
Paulo Paim e Antônio J. V. Garcia, pelo auxílio nos trabalhos de campo,
discussões, sugestões e solidariedade. Ao PPGEO da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, especialmente aos professores Margot Guerra Sommer e
Gerson Terra agradeço pela oportunidade, e aos amigos e colegas Edson Milani,
Cesar Schultz, Claiton Scherer e Michael Holz, pelo estimulante convívio e pelos
conhecimentos generosamente compartilhados. À Companhia Riograndense de
Saneamento, na pessoa do Geólogo Carlos Heine, pela gentil cedência de dados
de subsuperfície. Ao CNPq, à CAPES e, principalmente à FAPERGS, agradeço
pelo financiamento das etapas de campo do trabalho. Ao Department of Earth
Sciences da University of Western Ontario agradeço pela acolhida, especialmente
aos professores Guy Plint e Paul McCarthy pelo proveitoso trabalho conjunto
desenvolvido na Alberta Foreland Basin. Meus agradecimentos também à aluna
Julie Sanders, pelo auxílio nos trabalhos de campo no Canadá. Ao meu querido
amigo Donaldo Schüler, agradeço pela ajuda com os textos em Alemão, além das
inúmeras e esclarecedoras discussões filosóficas.
Quero ainda expressar minha especial gratidão ao professor e dileto amigo
Mário Costa Barberena, a quem devo grande parte da minha formação
profissional, para quem dedico sinceramente este trabalho.
Finalmente, reservo o melhor dos meu agradecimentos para a Lavínia, o
Gabriel, o Luciano e o Leonardo, todos Faccini, sem os quais nada disto teria a
menor graça.
A todos, o meu muito obrigado.
Resumo
O registro sedimentar do Permiano Superior e Mesozóico da região sudeste da Bacia do
Paraná é constituído por depósitos continentais que incluem o topo da Formação Rio do
Rasto, o Grupo Rosário do Sul e a Formação Botucatu Fm. O objetivo deste estudo foi
testar a aplicabilidade dos conceitos da estratigrafia de seqüências e a subdivisão do
intervalo em quatro seqüências deposicionais: (1) Rio do Rasto/Sanga do Cabral:
depósitos lacustres na base, sistema eólico com interdunas úmidas e planícies de canais
entrelaçados no topo; (2) Santa Maria/Caturrita: canais fluviais de baixa a moderada
sinuosidade na base e associação de fácies de planícies aluviais, incluindo litofácies finas
de planícies de inundação, depósitos de crevasse e fácies lacustres, contendo paleosolos
e vertebrados fósseis, associados a um sistema fluvial de canais estáveis a sinuosos,
mudando para canais meandrantes no topo; (3) Mata: canais fluviais de baixa a
moderada sinuosidade, contendo caules silicificados de coníferas e (4) Botucatu:
associação de fácies de sistema eólico seco, interdigitados no topo e recobertos pelas
rochas vulcânicas da Formação Serra Geral. A metodologia utilizou a análise de fácies
convencional, na escala regional, para diferenciação entre sistemas deposicionais,
alterações dos estilos aluviais e padrões de empilhamento. A hierarquização de
superfícies deposicionais e elementos arquiteturais foi utilizada em escala de afloramento,
com o objetivo foi produzir critérios sedimentológicos independentes, face a ausência de
indicadores precisos de linhas de tempo. A idade de cada seqüência individualizada,
duração e diferentes ordens de quebra do registro estratigráfico foram estimadas a partir
do conteúdo de macrofósseis, com o objetivo de identificar hiatos maiores,
correspondentes a desconformidades regionais que possibilitam a delimitação de
unidades aloestratigráficas mapeáveis. A tentativa de diferenciar processos autogênicos
de alogênicos baseou-se na aplicação combinada dos conceitos de perfil de equilíbrio e
nível de base estratigráfico (NB). Variações nas taxas de geração e consumo do espaço
de acomodação foram inferidas a partir das mudanças da arquitetura deposicional
identificadas. Estes procedimentos indicaram dois principais rebaixamentos do nível de
base, coincidentes com: (1) a implantação da seqüência Santa Maria/Caturrita e (2) o
estabelecimento do sistema eólico correspondente a seqüência Botucatu. O início da
sedimentação Santa Maria é assinalado por uma desconformidade de caráter regional e
mudança de estilo fluvial (Mb. Passo das tropas), em relação à fácies aluviais da
seqüência Rio do Rasto/Sanga do Cabral. Este episódio fluvial é interpretado como
devido a um rebaixamento do nível de base estratigráfico, estabelecimento de novo perfil
de equilíbrio e rejuvenescimento do padrão de drenagem, resultando na incisão de vales
fluviais (análogo ao lowstand system tract). A agradação fluvial, correspondente ao trato
de baixa taxa de acomodação, marca a subsequente elevação do NB (análogo ao
lowstand tardio e início do trato trasgressivo), e aumento do suprimento sedimentar, com
o ingresso de areias grossas na bacia, possivelmente relacionadas ao soerguimento das
áreas fontes a S-SW. A taxa máxima de geração de espaço é registrada pelo predomínio
de fácies finas de planícies aluviais, sedimentação lacustre associada (Mb. Alemoa),
correspondentes ao trato de alta taxa de acomodação (análogo ao trato transgressivo e
highstand inicial). A maior concentração de canais arenosos no topo da seqüência (Fm.
Caturrita) indica a progressiva diminuição do espaço de acomodação (análogo ao
highstand tardio). As direções de paleocorrentes fluviais persistentes para N-NE indicam
que a posição do principal depocentro da bacia não tenha se alterado significativamente.
Isto sugere que a reestruturação da bacia e as mudanças dos estilos deposicionais sejam
relacionadas a variações do nível de base estratigráfico e do espaço de acomodação. A
incisão fluvial representada pelos Arenitos Mata provavelmente corresponda a um evento
deposicional de mais alta freqüência, devido a sua pequena espessura e extensão areal.
A implantação do sistema desértico Botucatu, marca um novo e amplo episódio de
rebaixamento do nível de base estratigráfico, registrado pelo desenvolvimento de uma
extensiva superfície de erosão. As desconformidades relacionadas a cada uma destas
seqüências, assim como as mudanças das assinaturas deposicionais, são interpretadas
como geradas por processos alogênicos, controlados por eventos tectônicos e climáticos
ligados à coalescência final do Pangea e aos estágios iniciais de ruptura do Gondwana.
Abstract
The Upper Permian and Mesozoic sedimentary record of the SE edge of Paraná Basin is
constituted by nonmarine deposits including the top of the Rio do Rasto Fm., the Rosário
do Sul Group and the Botucatu Fm. The aim of this study was to test the applicability of
the sequence stratigraphy concepts supported by surface data as well as the subdivision
of the interval in the following sequences: (1) Rio do Rasto/Sanga do Cabral: eolian
system with humid interdunes facies association, braided rivers and braidplains; (2) Santa
Maria/Caturrita: fluvial channel facies of low to moderate sinuosity at bottom and alluvial
plain facies association including floodplains fines, crevasse deposits and lacustrine facies,
with paleosols and vertebrate fossils, associated to a fluvial system with sinuous to stable
channels, changing to a meandering pattern at the top; (3) Mata: low to moderate
sinuosity fluvial channels with silicified trunks and (4) Botucatu: facies association of dry
eolian system, which is interfingered at the top and overlaid by the volcanic rocks of Serra
Geral Formation. The methodology used the conventional facies analysis in a regional
scale to identify the depositional systems, alterations of alluvial styles and staking patterns.
The hierarchical classification of bounding surfaces and architectural elements, was used
in the outcrop scale. The purpose was to produce independent sedimentological criteria,
considering the absence of accurate indicators of time lines. The ranking of each
depositional unit was estimated through relative sedimentation rates of each element. The
age of each sequence, duration and different orders of breaks in the record was inferred
from macrofossil content. The objective was to identify major hiatus correspondents to
regional unconformities that leads to delimitation of mappable allostratigraphic units. The
attempt to differentiate autogenic from allogenic processes was made through the
combined application of the concepts of equilibrium profile (EP) and stratigraphic base-
level (BL). Variations of accommodation rates were inferred from the identified
architectural changes. The results indicated two major lowering of BL, coincident with: (1)
the onset of the Santa Maria/Caturrita sequence and (2) the development of the eolian
system Botucatu. The beggining of the Santa Maria Fm. is signed by regional
unconformity and abrupt change in fluvial style (Passo das Tropas Mb.). This was
interpreted as an episode of lowering of BL, development of a new EP, rejuvenation of the
drainage network and fluvial incision, corresponding to a low accommodation tract
(analogue to lowstand system tract). The fluvial aggradation marks the subsequent rise of
the BL and increase in sediment supply with incoming of coarse sands into the basin,
probably related to uplift of source area at S-SW. The maximum generation rate of
accommodation was recorded by the overlaid alluvial plain and lacustrine facies
association (Alemoa Mb.), corresponding to a high accommodation tract. The sandy
facies more frequent at the top (Caturrita Fm.) indicates the diminution in the rate of
accommodation (analogue to late highstand). Persistent fluvial paleocurrents to N-NE
indicated that there were no significant changes of the main depocenter position during
that interval. The restructuring of the basin was related to variations of accommodation.
The fluvial incision of the Mata sandstone probably represented an event of higher
frequency due to their smaller thickness and areal extent. Petrological data showed two
major inputs of first cycle sediments corresponding to the deposition of the lower portion
of the Santa Maria/Caturrita sequence and during the deposition of the Mata sequence.
The onset of the Botucatu desert, marks a new lowering of BL, signed by an extensive
surface of erosion. The unconformities related to those sequences and the changes of
depositional signatures were interpreted as being generated by allogenic processes,
driven by tectonic and climatic events, linked to the final coalescence of Pangea and initial
stages of break-up of Gondwana.
SUMÁRIO

Agradecimentos ................................................................................................... iii


Resumo .................................................................................................................. v
Abstract.................................................................................................................vii
Índice de Ilustrações........................................................................................... xiii
Capítulo 1
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1
1.1 Natureza do trabalho e delimitação do tema de estudo .......................... 1
1.2 Objetivos ..................................................................................................... 4
1.2.1 Objetivo geral ......................................................................................... 4
1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................. 5
1.3 Materiais e Métodos.................................................................................... 5
1.3.1 Trabalhos de campo............................................................................... 5
1.3.2 Trabalhos de gabinete e laboratório....................................................... 9

Capítulo 2
A ÁREA DE ESTUDO: CONTEXTO REGIONAL, EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS
ESTRATIGRÁFICOS E HIPÓTESE DE TRABALHO.......................................... 11
2.1 A Bacia do Paraná: aspectos gerais ....................................................... 11
2.1.1 A Bacia do Paraná no Rio Grande do Sul ............................................ 14
2.2 O Permo-Triássico da Bacia do Paraná: evolução dos conceitos
estratigráficos ................................................................................................. 17
2.2.1 Os trabalhos Pioneiros ......................................................................... 17
2.2.2 A década de Vinte ................................................................................ 22
2.2.3 Da década de quarenta ao anos setenta ............................................. 24
2.3 O Permo-Triássico do Rio Grande do Sul .............................................. 26
2.3.1 Litoestratigrafia do Triássico do Rio Grande do Sul ............................. 28
2.3.1.1 A Formação Rosário do Sul........................................................ 28
2.3.1.2 A Formação Rosário do Sul stricto sensu...................................... 30
2.3.1.3 O Grupo Rosário do Sul ................................................................ 32
2.4 Hipótese de Trabalho ............................................................................... 35

Capítulo 3
BASE CONCEITUAL: A ESTRATIGRAFIA DE SEQÜÊNCIAS APLICADA À
SUCESSÕES CONTINENTAIS ........................................................................... 44
3.1 Introdução ................................................................................................ 44
3.2 Ciclos Estratigráficos ............................................................................... 46
3.2.1 Ciclos de 1ª Ordem............................................................................... 49
3.2.2 Ciclos de 2ª Ordem............................................................................... 50
3.2.3 Ciclos de 3a. Ordem.............................................................................. 50
Possíveis controles da Ciclicidade de 3a. Ordem....................................... 52
3.2.4 Ciclos de 4a. e 5a. Ordens - Os Ciclos de Milankovitch........................ 53
3.3 Estratigrafia de Seqüências: Evolução dos Conceitos ......................... 55
3.3.1 As Seqüências Estratigráficas de Sloss (1963).................................... 55
3.3.2 As Seqüências Deposicionais de Vail et al. (1977) .............................. 60
3.3.3 Estratigrafia de Seqüências: SEPM Special Pub. 42 (1988) ................ 63
3.3.3.1 Conceitos Básicos ......................................................................... 64
3.3.3.2 Limites de seqüências e tipos de seqüências................................ 69
3.3.3.3 Tratos de Sistemas........................................................................ 70
3.3.3.4 Hierarquia das Unidades Estratais ................................................ 74
3.4 Estratigrafia de Seqüências em Estratos Continentais......................... 76
3.4.1 Conceitos e Controles da Arquitetura Estratigráfica............................. 76
3.4.1.1 Espaço de Acomodação e Nível de Base...................................... 77
3.4.2 Estratigrafia de Seqüências em Ambientes Costeiros.......................... 84
3.4.3 Bacias Interiores................................................................................... 86
3.4.3.1 Estratigrafia de Seqüências em Sistemas Lacustres..................... 87
3.4.3.2 Estratigrafia de Seqüências em Sistemas Aluviais ........................ 90
3.4.3.2.1 Limites de Seqüência.............................................................. 90
3.4.3.2.2 “Flooding Surfaces”................................................................ 94
3.4.3.2.3 Tratos de Sistemas e Modelos Estratigráficos ........................ 95
3.4.3.3. Estratigrafia de Seqüências em Sistemas Eólicos.......................107
3.4.3.3.1 Tipos básicos de estratificações em dunas eólicas................107
3.4.3.3.2 Formas de leito, conjuntos de estratos e hierarquia das
superfícies limitantes.............................................................................111
Conjuntos de Estratos .......................................................................113
“Bounding Surfaces”..........................................................................114
“Super Bounding Surfaces” ...............................................................116
3.4.3.3.3 Acumulação, Preservação e origem das Supersuperfícies....119
Deflação, Transporte e Acumulação .................................................120
Espaço de Acumulação e Espaço de Preservação ...........................121
Balanço Sedimentar ..........................................................................124
3.4.3.3.4 Sistemas Eólicos Secos ........................................................127
3.4.3.3.5 Sistemas Eólicos Úmidos......................................................131
3.4.3.3.6 Sistemas Eólicos Estabilizados.............................................135
3.4.3.3.7 Identificação das supersuperfícies ........................................135

Capítulo 4
A SUCESSÃO NEOPERMIANA-EOCRETÁCICA NA REGIÃO CENTRAL DO
RIO GRANDE DO SUL: FACIOLOGIA E ARQUITETURA DEPOSICIONAL....139
4.1 Introdução ................................................................................................139
4.2 Faciologia do Grupo Rosário do Sul......................................................145
4.2.1 A Formação Sanga do Cabral ............................................................145
Características Gerais..................................................................................145
4.2.1.1 Litofácies e Elementos Arquiteturais.............................................146
4.2.1.1.1 Associação de Fácies de Sistema Eólico...............................146
EA1. Dunas (DU)...............................................................................146
Interpretação..................................................................................153
EA2. Interdunas (IDU) .......................................................................157
Interpretação..................................................................................159
EA3. Draa (DR) e Interdraa (IDR) .....................................................162
EA4. Wadis (WD) ..............................................................................164
Wadis desconfinados WD(SB)......................................................166
Interpretação..................................................................................166
Canais de wadis WD(CH) .............................................................168
Interpretação..................................................................................170
Estratificações cruzadas deformadas ............................................171
Interpretação..................................................................................177
Sistema deposicional.........................................................................179
4.2.1.1.1 Associação de Fácies Aluviais ...............................................180
EA1. Lençóis de arenitos laminados – “sand sheets” (LS)................180
Interpretação..................................................................................180
EA2. Formas de leito arenosas (SB).................................................182
Interpretação..................................................................................183
EA3. Canais (CH)..............................................................................183
Interpretação..................................................................................185
EA4. Lobos de suspensão (LB) ........................................................186
Interpretação..................................................................................186
EA5. Litofácies subordinadas ............................................................188
EA5.1 Acumulações de conglomerados intraformacionais (Cgi) e
formas de leito conglomeráticas (GB)............................................188
EA5.2 Depósitos finos de planícies de inundação (FF) .................192
Interpretação..................................................................................192
Sistema deposicional.........................................................................194
4.2.2 A Formação Santa Maria ...................................................................199
Características Gerais..................................................................................199
4.2.2.1 Membro Passo das Tropas: litofácies e elementos arquiteturais..202
4.2.2.1.1 Associação de Fácies Fluviais ...............................................202
EA1. Depósitos de canal (CH) ..........................................................202
EA1.1 Formas de leito arenosas (SB) ..........................................204
Interpretação..................................................................................204
EA1.2 Acresções frontais (DA) e obliquas (LA/DA) .....................208
Interpretação..................................................................................210
EA2. Litofácies pelíticas (FF) ............................................................212
Interpretação..................................................................................213
Sistema deposicional.........................................................................215
4.2.2.2 Membro Alemoa: litofácies e elementos arquiteturais ..................217
4.2.2.2.1 Associação de Fácies de Planície Aluvial ..............................219
EA1. Depósitos finos de planícies de inundação (FF) e Paleosolos (P)
..........................................................................................................219
Interpretação..................................................................................219
Sistema deposicional.........................................................................224
4.2.3 A Formação Caturrita .........................................................................227
Características Gerais..................................................................................227
4.2.3.1 Litofácies e Elementos Arquiteturais.............................................229
4.4.3.1.1 Associação de Fácies de Canais Fluviais ..............................229
EA1. Canais (CH) - “Ribbons” .........................................................229
Interpretação..................................................................................231
EA2. Acresções laterais (LA) ............................................................233
Interpretação..................................................................................233
4.4.3.1.2 Associação de Fácies de Planície Aluvial ..............................235
EA1. “Crevasse splays” (CS) e canais de crevasse (CR) .................235
Interpretação..................................................................................235
EA2. Frentes deltaicas lacustres (FD)...............................................237
Interpretação..................................................................................237
EA3. Finos de planície de inundação (FF) e paleosolos (P) .............239
Interpretação..................................................................................240
4.2.3 1.2 Arenitos Mata: litofácies e elementos arquiteturais....................240
EA1. Depósitos de canal (CH) .........................................................240
EA1.1 Acresções frontais (DA) ......................................................240
Interpretação..................................................................................242
EA1.2 Formas de leito arenosas (SB) ...........................................242
Interpretação..................................................................................244
EA2. Litofácies subordinadas...........................................................244
EA2.1 Sedimentos gravitacionais (SG)..........................................244
Interpretação.......................................Erro! Indicador não definido.
EA2.2 Depósitos finos de planícies de inundação (FF) .................246
Interpretação..................................................................................246
Sistema deposicional.........................................................................246
4.3 Faciologia do Grupo São Bento .............................................................249
4.3.1 A Formação Botucatu..........................................................................249
Características Gerais..................................................................................249
4.3.1.1 Sistema Eólico: litofácies e elementos arquiteturais .....................251
EA1. Dunas (DU)...............................................................................251
EA2. Interdunas (IDU) .......................................................................253
Interpretação..................................................................................253
Sistema deposicional.........................................................................254

Capítulo 5
ESTRATIGRAFIA DE SEQÜÊNCIAS.................................................................256
5.1 Unidades litoestratigráficas e aloestratigrafia .....................................256
5.1.1 Eventos deposicionais e limites de seqüências ..................................258
5.1.1.1 O intervalo Neopermiano-Eotriássico ...........................................258
Seqüência Rio do Rasto/Sanga do Cabral ...............................................258
(1) Evento Pirambóia...........................................................................258
(2) Evento Sanga do Cabral................................................................261
5.1.1.2 O intervalo Meso-Neotriássico......................................................262
Seqüência Santa Maria/ Caturrita e o evento Mata ..................................262
(1) Seqüência Santa Maria/Caturrita.....................................................262
(2) Evento Mata ....................................................................................266
5.2 Tratos de sistemas e controles da arquitetura deposicional .............274
5.2.1 Contexto paleogeográfico e geotectônico ..............................................
5.2.2 Estilos deposicionais e variações do nível de base estratigráfico .......279
5.3 Considerações Finais..............................................................................290

Capítulo 6
CONCLUSÕES ...................................................................................................293
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................297

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Volume I
Capítulo 1
Figura 1.1 Mapa geológico esquemático da sucessão gondwânica no Rio Grande
do Sul e localização da área de estudo. ......................................................... 3
Figura 1.2 Mapa de localização das principais rodovias, referências geográficas e
índice das cartas topográficas utilizadas no estudo. ....................................... 6
Figura 1.3 Mapa de localização das seções estratigráficas (SE) regionais
levantadas durante o trabalho......................................................................... 8

Capítulo 2
Figura 2.1 Mapa de localização da área de estudo no contexto da Bacia do
Paraná........................................................................................................... 12
Figura 2.2 Divisão estratigráfica do intervalo Neopermiano-Eocretáceo da região
central do Rio Grande do Sul, baseada na correlação de seções colunares,
elaboradas a partir de seções estratigráficas regionais de superfícies. ........ 36
Figura 2.3 Mapa geológico simplificado e divisão estratigráfica da sucessão
gondwânica do Rio Grande do Sul em seqüências deposicionais, adotada
como referência para o desenvolvimento deste estudo.41Erro! Indicador
não definido.
Quadros e Tabelas
Quadro 2.1 Quadro estratigráfico da Bacia do Paraná: litoestratigrafia e
seqüências deposicionais relacionadas à variações relativas do nível do mar
(Milani, 1997). ............................................................................................... 15
Quadro 2.2 Evolução histórica das principais propostas de organização
litoestratigráfica do intervalo Permo-Triássico da Bacia do Paraná até o início
da década de oitenta, enfatizando os trabalhos relacionados à estratigrafia do
Rio Grande do Sul......................................................................................... 19
Quadro 2.3 Colunas representativas de três estágios evolutivos da estratigrafia
do Permo-Triássico da Bacia do Paraná, desde os primórdios até a década
de setenta. .................................................................................................... 20
Quadro 2.4 As contribuições de Gamermann (1973), Bortoluzzi (1974) e Andreis,
Bossi & Montardo (1980) à atual organização litoestratigráfica do Permo-
Triássico do Rio Grande do Sul. ................................................................... 29
Quadro 2.5 Faunas locais de tetrápodos do Permiano e Triássico da América do
Sul: localização, idades e correlações. Adaptado de Barberena et
al.(1985a,b). .................................................................................................. 38
Quadro 2.5 Quadro-síntese dos pressupostos estratigráficos a serem testados
neste trabalho: diagrama cronoestratigráfico esquemático, mostrando as
seqüências deposicionais do Permo-Triássico do Rio Grande do Sul e suas
equivalências litoestratigráficas..................................................................... 42
Capítulo 3
Figura 3.1 Variações eustáticas de 1a. e 2a. ordens durante o Fanerozóico......... 49
Figura 3.2 Ciclos de 3a. ordem de variações do onlap costeiro de parte do
Cretáceo da bacia de Alberta, Canadá, relacionados à ciclos de 2a. e 3a.
ordens derivados da curva de variação do “coastal onlap”. .......................... 51
Figura 3.3 As três causas dos Ciclos de Milankovitch. ....................................... 54
Figura 3.4 Seqüências estratigráficas de Sloss (1963) e suas relações com os
episódios orogênicos da América do Norte................................................... 57
Figura 3.5 Áreas de preservação e correlações entre as seqüências
estratigráficas de Sloss no oeste do Canadá e na plataforma Russa. .......... 58
Figura 3.6 Ciclos deposicionais e expressões geomórficas correspondentes aos
movimentos oscilatórios do embasamento, identificados nas três bacias
intracratônicas brasileiras e correlacionáveis com as seqüências de Sloss,
segundo Soares et al.(1974:1978). ............................................................... 59
Figura 3.7 Seções sísmicas mostrando padrões de reflexões estratais e
terminologia das terminações estratais definidas pela sismoestratigrafia.61
..........................................................................Erro! Indicador não definido.
Figura 3.8 Sumário dos principais tipos de padrões de refletores e terminologia
descritiva das terminações estratais dentro de uma seqüência sísmica
idealizada. .................................................................................................... 62
Figura 3.9 Procedimentos para construção de carta cronoestratigráfica e de
variação relativa do nível do mar com base em seções estratigráficas obtidas
a partir de a de seções sísmicas (Vail et al., 1977). ...................................... 64
Figura 3.10 Elementos da curva eustática. ........................................................ 65
Figura 3.11 Interações entre espaço de acomodação e suprimento sedimentar e
os padrões de empilhamento estratigráfico resultantes. ............................... 79
Figura 3.12 Elementos controladores do nível de base nos ambientes aluviais,
costeiros e de plataforma marinha. ............................................................... 83
Figura 3.13 Resposta dos sistemas fluviais ás variações do nível de base. ...... 86
Figura 3.14 Fatores de controle da sedimentação dos estratos continentais. ..... 87
Figura 3.15 Modelo generalizado de half-graben, mostrando componentes de
highstand e lowstand lacustrice system tracts. ............................................. 89
Figura 3.16 Escalas dos elementos deposicionais de um sistema fluvial............ 92
Figura 3.17 Diagrama ilustrando as relações entre arquiteturas fluviais e de
shoreface, em resposta às variações do nível de base (Shanley & McCabe,
1994). ............................................................................................................ 97
Figura 3.18 Seções esquemáticas de seqüências deposicionais aluviais,
baseadas em estudos do Mesozóico da Argentina. (Shanley & McCabe,
1994). ............................................................................................................ 98
Figura 3.19 Modelo de arquitetura e desenvolvimento de paleosolos para uma
seqüência fluvial de tipo 1, em resposta a um ciclo de 3ª. ordem de variação
de nível de base, segundo Wright & Marriot (1993). .................................... 99
Figura 3.20 Modelo de evolução da arquitetura fluvial em resposta à mudanças
no espaço de acomodação e terminologia dos tratos de sistemas, por Currie
(1997)...........................................................................................................101
Figura 3.21 Modelo de seqüência fluvial concebido por Miall (1996), composto a
partir da fusão dos conceitos de Wright & Marriot (1993), Shanley & McCabe
(1994) e Gibling & Bird (1994), contendo a terminologia da estratigrafia de
seqüências e da aloestratigrafia...................................................................103
Figura 3.22 Exemplo de análise estratigráfica através da relação entre geometrias
de corpos sedimentares e arquitetura aluvial em resposta às taxas de
avulsão/subsidência, segundo Blakey & Gubitosa (1984)............................104
Figura 3.23 Modelo estratigráfico genérico desenvolvido por Van Wagoner
(1996), enfatizando as variações dos padrões estratais e caraterísticas dos
sistemas fluviais em respostas à mudanças no nível de base. ....................106
Figura 3.24 Sumário dos conceitos da estratigrafia e seqüências e características
dos depósitos não-marinhos, em relação às variações do espaço de
acomodação produzidas por oscilações do nível de base estratigráfico......105
Figura 3.25 Características, distribuição e geometria dos tipos básicos de
estratos eólicos em dunas de pequeno porte, segundo Hunter (1977a, b) e
Kocurek & Dott (1981)..................................................................................108
Figura 3.26 Tipos de estruturas geradas por ondulações eólicas cavalgantes, em
função de diferentes ângulos de climbing. ...................................................111
Figura 3.27 Reconstituição esquemática de ambientes de draa, dunas e
interdunas, mostrando os conjuntos de estratificações cruzadas e as
superfícies limitantes correspondentes. .......................................................113
Figura 3.28 Definição dos conjuntos de estratos cruzados gerados pela migração
de dunas cavalgantes. .................................................................................114
Figura 3.29 Diagrama esquemático de três “superfícies de Stokes”, baseado no
estudo do Jufarah sand sea, Arábia Saudita................................................115
Figura 3.30 Hierarquias das superfícies limitantes em sistemas eólicos e modelos
de geração de superfícies de 1ª. Ordem. .....................................................116
Figura 3.31 Supersuperfícies, truncando superfícies de 1ª. ordem e seqüências
completas de ergs, compostos por dunas simples ou draas........................117
Figura 3.32 Classificação de supersuperfícies com base no balanço sedimentar e
na natureza do substrato..............................................................................118
Figura 3.33 Modelos de dinâmica de ergs, baseados nos padrões de fluxo de
areia, indicando áreas de deflação, transporte e acumulação eólica...........120
Figura 3.34 Distinções comparativas entre os conceitos de acumulação, espaço
de acumulação, espaço de preservação e espaço de acomodação, para
sistemas eólicos e marinhos, respectivamente. ...........................................122
Figura 3.35 Fatores controladores da preservação da acumulação eólica.123
..........................................................................Erro! Indicador não definido.
Figura 3.36 Diagrama ilustrando a geração do espaço de preservação devido à
subsidência e elevação do nível freático......................................................124
Figura 3.37 Seção bidimensional através de um sistema eólico ilustrando os
elementos relacionados ao controle do balanço sedimentar........................124
Figura 3.38 Acumulação eólica e exemplos de geração de supersuperfícies por
bypass e erosão, controladas pelo balanço sedimentar...............................126
Figura 3.39 Acumulação em sistemas eólicos úmidos, secos e estabilizados,
mostrando as variações dos estilos deposicionais, de sistemas úmidos a
secos, em função do aporte sedimentar e do efeito das variações do ângulo
de climbing em sistemas úmidos. ................................................................127
Figura 3.40 Modelos definindo espaço de acumulação em sistemas eólicos secos.
.....................................................................................................................129
Figura 3.41 Componentes do espaço de acumulação e preservação nos
sistemas eólicos secos.130..........................................................................130
Figura 3.42 (a) Campos de acumulação em ambientes subaquosos, sabkha e
sistemas eólicos úmidos e secos, em função do suprimento sedimentar
disponível, ao longo do tempo; (b) Campos de acumulação subaquosa e
eólica e geração de supersuperfícies de bypass e erosão, em função das
taxas de variação relativa do nível freático; (c) Espectro de transição de
sistemas úmidos à secos. ............................................................................132
Figura 3.43 Modelos de acumulação de interdunas dunas em sistemas eólicos
úmidos, relacionada à (a) subida do nível freático e (b) ao ângulo de
cavalgamento...............................................................................................133
Figura 3.44 Transição da acumulação de sistemas eólicos úmidos para secos.
.....................................................................................................................134
Figura 3.45 Componentes do espaço de acumulação e preservação nos sistemas
eólicos úmidos. ............................................................................................134
Figura 3.46 Feições associadas à supersuperfícies...........................................137
Quadros e Tabelas
Tabela 3.1 Ciclos globais de variações relativas do nível do mar........................ 48
Tabela 3.2 Ciclos estratigráficos e suas causas. ................................................. 48
Tabela 3.3 Características dos tratos de sistemas não-marinhos e terminologia
alternativa (degradational, transitional e aggradational systems tracts),
específica para sistemas continentais, proposta por Currie (1997)..............101
Tabela 3.4 Classificação e hierarquia das formas de leito eólicas, segundo suas
dimensões e relação com o regime de ventos, segundo Wilson (1972). .....112
Tabela 3.5 Classificação morfológica e morfodinâmica das dunas eólicas a partir
de imagens de satélite, adaptada de Allen (1997). ......................................112

Capítulo 4
Figura 4.1 Terminologia de Friend et al. (1979) e Friend (1979) para descrição da
geometria de corpos arenosos e critérios para classificação do
comportamento de canais. ...........................................................................141
Figura 4.2 Elementos arquiteturais básicos de sistemas fluviais........................143
Figura 4.3 Mapa geológico simplificado do Rio Grande do Sul, mostrando a faixa
de ocorrência da Formação Sanga do Cabral..............................................147
Figura 4.4 Fácies de arenitos finos a médios, com estratificações cruzadas
tangenciais de grande porte, principais constituintes do elemento de dunas
eólicas (DU) da Formação Sanga do Cabral no Rio Grande do Sul. ...........148
Figura 4.5 Exemplos de estratos eólicos produzidos por processos de fluxo de
grãos e queda livre de grãos........................................................................150
Figura 4.6 Estratificações formadas pela migração de ripples eólicas,
correspondentes à "wind ripple laminae" ou "climbing tranlatent strata". .....152
Figura 4.7 Gráfico relacionando espessuras de estratos individuais de grainflow e
altura das faces frontais de dunas eólicas recentes do Little Sahara Dune
Field (Kocurek & Dott, 1981). .......................................................................155
Figura 4.8 Dunas eólicas (DU) da Formação Sanga do Cabral com medidas de
paleocorrentes apresentando tendência à bimodalidade, padrão compatível
com dunas obliquas. ....................................................................................156
Figura 4.9 Afloramentos representativos das fácies constituintes do elemento de
interdunas (IDU)...........................................................................................158
Figura 4.10 Exemplares de traços fósseis pertencentes à icnofauna Scoyenia,
presente nas fácies de interdunas (IDU) da Formação Sanga do Cabral,
identificados por Netto (1989) e Netto et al (1992)......................................159
Figura 4.11 (a) Dunas eólicas (DU), constituídas por arenitos com estratificações
cruzadas de grande e médio portes, parcialmente homogeneizados por
liquefação, recobertos por arenitos com acamadamento plano e pelitos
laminados, correspondentes à planícies de interdunas (IDU); (b,c),
processadas (Photo Paint 8/Paint Shop Pro5) para facilitar a visualização das
superfícies e estruturas sedimentares; (c) hierarquia das superfícies limitantes e
os elementos de draa (DR) e interdraa (IDR) interpretados.........................163
Figura 4.12 Arenitos com estratificação cruzadas de grande porte (Sp,St)
recobertos por arenitos tabulares com estratificação plana (Sr, Sh, Sm),
correspondendo, respectivamente, a depósitos de dunas (DU) e planície de
interdunas eólicas (IDU). Superfície de 1ª ordem e elementos de draa (DR) e
interdraa (IDR) interpretados........................................................................164
Figura 4.13 Exemplos de afloramentos representativos do elemento de wadis
(WD), constituído pela superposição de dunas subaquosas 2D e 3D - “sandy
bedforms” (SB) - depósitos fluviais que ocorrem intercalados às fácies de
dunas (DU) e interdunas eólicas. .................................................................166
Figura 4. 14 Canal de wadi, WD(CH): (a) geometria do canal - ribbon –
implantado sobre arenitos com estratificações cruzadas acanaladas,
características do elemento de dunas eólicas (DU); (b, c) detalhes do estilo
multiepisódico de preenchimento do canal; (d) vista posterior do mesmo
afloramento, enfatizando os ciclos granodecrescentes com arenitos muito
finos/sílticos no topoe ilustrando a inserção dos depósitos de canal no
contexto dominante de campo de dunas eólicas (DU). ................................169
Figura 4.15 Estratificações eólicas deformadas por processos de fluidização,
liquefação (a, b, c, d) e colapso gravitacional de foresets em estado frágil (e).
.....................................................................................................................171
Figura 4.16 Tipos de deformação de estratos cruzados não litificados e suas
posições em relação a uma forma de leito hipotética. Produtos e processos.
Adaptado de Doe & Dott (1980). ..................................................................176
Figura 4.17 Mapa esquemático das áreas de predominância de ocorrência e
distribuição regional de paleocorrentes da associação de fácies eólicas da
Formação Sanga do Cabral no Rio Grande do Sul......................................179
Figura 4.18 Aspecto geométrico e litofácies características dos elementos LS e
SB, principais constituintes da associação de fácies aluviais da Formação
Sanga do Cabral. .........................................................................................181
Figura 4.19 Tipologia dos depósitos de canais fluviais (CH) identificados na
Formação Sanga do Cabral. ........................................................................184
Figura 4.20 Principais características geométricas e litofácies constituintes do
elemento de lobos de suspensão (LB) da Formação Sanga do Cabral. ......187
Figura 4.21Principais tipos de acumulações conglomeráticas da Formação Sanga
do Cabral e sua associação subordinada às litofácies constituintes dos
elementos LS e SB. .....................................................................................190
Figura 4.22 Exemplos de exposições de depósitos finos de planície de inundação
(FF) da Formação Sanga do Cabral. ...........................................................193
Figura 4.23 Mapa esquemático das áreas de predominância de ocorrência e
distribuição regional de paleocorrentes da associação de fácies aluviais da
Formação Sanga do Cabral no Rio Grande do Sul......................................196
Figura 4.24 Mapa esquemático da sucessão gondwânica (Permiano-Eocretáceo)
na borda sudeste da Bacia do Paraná, destacando a faixa de exposição da
Formação Santa Maria (Meso-Neotriássico), restrita à região central do
Estado do Rio Grande do Sul.......................................................................200
Figura 4.25 Exemplos de exposições do contato erosivo das fácies areno-
conglomeráticas de canais fluviais (CH) do Membro Passo das Tropas
(unidade basal da Fm. Santa Maria) sobre arenitos finos, avermelhados,
fluviais, da Fm. Sanga do Cabral. ................................................................204
Figura 4.26 Membro Passo das Tropas: exemplos de exposições das litofácies
de arenitos com estratificações cruzadas planares (Sp) e acanaladas (St), de
pequeno e médio portes, correspondentes a dunas 2D e 3D superpostas,
associadas a arenitos com laminação plano-paralela (Sh) ou suavemente
inclinadas (Sl), feições geradas por variações de regime de fluxo que, em
conjunto, caracterizam o elemento SB.........................................................205
Figura 4.27 Macroforma fluvial do Membro Passo das Tropas - unidade basal da
Formação Santa Maria - ilustrando os estágios de desenvolvimento de
padrão de acresção frontal (DA), relacionado a variações de descarga e nível
d'água. .........................................................................................................206
Figura 4.28 Afloramento do topo do Membro Passo das Tropas, em sua seção
tipo, mostrando litofácies de canal recobertas por depósitos finos (FF)
contendo elementos da flora Dicroidium. Análise de paleocorrentes
demonstrando o predominínio de acresções frontais (DA), e a ocorrência
subordinada de acresções laterais/obliquas (LA/DA)...................................209
Figura 4.29 Modelo de desenvolvimento de superfícies de reativação sobre
"linguoid bars" (dunas 2D de baixo relevo), relacionadas à variações de
descarga e nível d'água em canais fluviais, segundo Collinson (1970).
Consideradas as dimensões das formas de leito, as modificações de
estruturas internas previstas por este modelo são análogas às observadas
em exposições do Membro Passo das Tropas. ...........................................210
Figura 4.30 Diagramas exemplificando o desenvolvimento de acresções frontais
(elemento DA) e a morfologia de macroformas dominadas por este elemento,
ilustrando e a distribuição dos diferentes padrões de estruturas internas, em
relação às superfícies limitantes (Miall, 1996)..............................................211
Figura 4.31 Modelo genérico de macroformas caraterizadas pelo predomínio do
elemento arquitetural DA, mostrando a gradação de acresções frontais a
laterais (LA) dentro da mesma macroforma, em função de modificações
locais da direção do fluxo.............................................................................212
Figura 4.32 Afloramento de depósitos finos, correlacionáveis à litofácies de
planícies de inundação (FF) do Membro Passo das Tropas, incluindo detalhe,
mostrando o aspecto essencialmente maciço dos siltitos argilosos (Fsm), com
níveis de silcretes, litofácies dominantes deste elemento. ...........................214
Figura 4.33 Mapa esquemático da faixa de ocorrência da Formação Santa Maria
no Rio Grande do Sul, incluindo os Membros Passo das Tropas e Alemoa,
destacando a distribuição regional dos vetores médios de paelocorrentes das
litofácies fluviais da unidade.........................................................................216
Figura 4.34 Relações de contato entre os membros Passo das Tropas (PT) e
Alemoa (AL) em dois pontos extremos da faixa de afloramentos da unidade,
no sentido leste-oeste: (a) a oeste, nos arredores da cidade de São Pedro do
Sul e (b) na BR-471, a leste, no extremo sul da área urbana da cidade de
Santa Cruz do Sul. .......................................................................................218
Figura 4.35 Aspecto característico das exposições das litofácies de pelitos
maciços (Fsm) e ritmitos areno-pelíticos laminados (Sh,Fl) do Membro
Alemoa da Formação Santa Maria, caracterizando os elementos de planícies
de inundação (FF) e paleosolos (P) associados. .........................................220
Figura 4.36 Afloramento do Membro Alemoa mostrando o preenchimento de
depressão por ritmitos areno-pelíticos laminados (Sh,Fl), interpretados como
depósitos de preenchimento de corpos lacustres - FF(LC) - desenvolvidos no
contexto de planícies de inundação (elemento FF) do Membro Alemoa.221
..........................................................................Erro! Indicador não definido.
Figura 4.37 Afloramento típico dos “pelitos vermelhos fossilíferos” do Membro
Alemoa, ilustrando a presença freqüente de paleosolos imaturos (P)
associados. ..................................................................................................222
Figura 4.38 Seção de poços de água subterrânea da CORSAN na cidade de São
Pedro do Sul, mostrando a intercalação das litofácies pelíticas do Membro
Alemoa com depósitos de canais fluviais do Membro Passo das Tropas e da
Formação Caturrita. .....................................................................................225
Figura 4.39 Modelo de variação de maturidade dos solos desenvolvidos em
planícies de inundação, refletindo as relações entre pedofácies e sucessivos
eventos de avulsão (Allen & Wrigth, 1989). .................................................226
Figura 4.40 Mapa esquemático da faixa de ocorrência da Formação Caturrita no
Grande do Sul, incluindo os vetores médios de paelotransporte dos depósitos
fluviais da unidade. ......................................................................................228
Figura 4.41 Geometria característica (ribbons) dos canais fluviais (CH) da base
da Formação Caturrita em exposições representativas das relações de
contato com a Formação Santa Maria. ........................................................230
Figura 4.42 Exemplos de canais fluviais da Formação Caturrita preenchidos por
litofácies indicativas de carga mista (tração-suspensão), sem o
desenvolvimento de macroformas trativas. ..................................................232
Figura 4.43 Afloramentos de arenitos fluviais do topo da Formação Caturrita com
geometria sheet, indicativa de migração lateral dos canais. Litofácies e
análise de paleocorrentes indicativas da presença de padrão de acresção
lateral (LA) nos arenitos de topo da unidade................................................234
Figura 4.44 Aspecto geométrico e principais carcterísticas das litofácies
interpretadas como depósitos de crevasse splays (CS), associadas a
litofácies finas de planícies de inundação (FF). ...........................................236
Figura 4.45 Afloramento representativos dos depósitos de frentes deltaicas (FD)
lacustres da Formação Caturrita. (a) camadas tabulares e sigmoidais de
arenitos finos com climbing ripples (Sr) separados por pelitos laminados e
maciços (Fl, Fsm); (b) camadas lenticulares de arenitos finos (Sr), separados
e recobertos por ritmitos areno-pelíticos (Fl,Sh) e siltitos laminados (Fl); (c)
arenitos finos tabulares com laminações plano-paralelas (Sh) e climbing
ripples (Sr)....................................................................................................238
Figura 4.46 Exposição tipo dos Arenitos Mata na entrada da cidade de Mata.
Arenitos grossos a conglomeráticos, quartzosos, com estratificações
cruzadas planares (Sp) e tangenciais (St) superpostas em padrão de
acresção frontal (DA) a obliquo (LA/DA), contendo tronco silicificado no
interior da macroforma. ................................................................................241
Figura 4.47 Aspecto geral dos Arenitos Mata na região de São Pedro do Sul.
Superposição de arenitos médios com estratificações cruzadas tangenciais
(St), contendo troncos silicificados de coníferas no interior de formas de leito
arenosas 3D - elemento (SB) - depositadas em canais fluviais. ..................243
Figura 4.48 Acumulações de conglomerados intraformacionais matriz-suportados
(Gmm) dos Arenitos Mata associados a formas de leito arenosas (SB) de
canais fluviais. Fluxos gravitacionais (elemento SG), interpretados como
registro de episódios de colapso das margens dos canais, ocorridas em
períodos de diminuição da descarga fluvial. ................................................245
Figura 4.49 Mapa esquemático da faixa de ocorrência da Formação Botucatu no
Grande do Sul, incluindo a distribuição regional dos vetores médios de
paelocorrentes da unidade...........................................................................250
Figura 4.50 Afloramentos característicos da Formação Botucatu ilustrando os
elementos de dunas (DU) e interdunas (IDU) e as principais litofácies
litofácies constituintes da unidade................................................................252
Quadros e Tabelas
Quadro 4.1 Organização litoestratigráfica do intervalo Neopermiano-Eocretáceo
da Bacia do Paraná no Rio Grande do Sul. .................................................139
Quadro 4.2 Esquema de classificação de Formas de Leito recomendada pelo
SEPM Bedforms and Bedding Structures Research Simposium (Ashley,1990).
.....................................................................................................................140
Quadro 4.3 Classificação e códigos de litofácies de sistemas fluviais, segundo
Miall (1996). .................................................................................................142
Quadro 4.4 Escalas dos componentes da arquitetura eólica, segundo Chrintz &
Clemmensen (1993).....................................................................................144
Quadro 4.5 Elementos arquiteturais eólicos (Chrintz & Clemmensen, 1993). ...144
Quadro 4.6 Definições, características e critérios de identificação dos processos
de deformação de sedimentos não litificados, segundo Lowe (1975)..........176
Tabela 4.1 Feições diagnósticas dos estilos fluviais arenosos braided e maiores
similaridades observadas nas fácies aluviais da formação Sanga do Cabral.
.....................................................................................................................195
Quadro 4.7 Litoestratigrafia do intervalo Neopermiano-Eocretáceo da Bacia do
Paraná no Rio Grande do Sul, destacando a posição estratigráfica da
Formação Santa Maria no contexto do Grupo Rosário do Sul, conforme
definido por Andreis, Bossi & Montardo (1980)............................................199
Quadro 4.8 Posicionamento estratigráfico e idade da Formação Santa Maria, com
base nas associações de macrofósseis identificadas por Schultz (1985) para
as unidades litoestratigráficas que compõem o Triássico do Rio Grande do
Sul. ...............................................................................................................202

Capítulo 5

Figura 5.1 Coluna estratigráfica idealizada do intervalo Neopermiano-Eocretáceo


da Bacia do Paraná na região central do Rio Grande do Sul.......................257
Figura 5.2 Distribuição bioestratigráfica dos macrofósseis do Permiano Superior e
Triássico do Rio Grande do Sul. Quadro sintetizado a partir de diversas
fontes. ..........................................................................................................258
Figura 5.3 Distribuição bioestratigráfica das espécies de Dicroidium contidas nas
unidades Triássicas do Rio Grande do Sul, segundo Guerra-Sommer et al.
(1998, 1999). Quadro adaptado dos. ...........................................................263
Figura 5.4 Mapa geológico da região de Santa Maria, mostrando a extensão
geográfica das litofácies fluviais do Membro Passo das Tropas. .................264
Figura 5.5 Abundância relativa das megafloras do Gondwana ao longo do tempo,
destacando a Flora Dicroidium e o desenvolvimento da coníferas, a partir do
final do Triássico. Figura simplificada do quadro de distribuição global das
magafloras gondwânicas de Anderson et al. (1999). ...................................268
Figura 5.6 Mapa pré-drift mostrando a extensão do magmatismo Paraná-
Etendeka e a distribuição das idades 40Ar-39Ar, segundo Turner et al. 1994
(pontos) e Stewart et al. 1996 (estrelas) no setor sudeste da Bacia do Paraná
(Rio Grande do Sul e Uruguai) e na Namíbia, indicando o término do episódio
deposicional Botucatu, em torno de 132 Ma. ...............................................271
Figura 5.7 Diagrama cronoestratigráfico esquemático do intervalo Neo-Permiano-
Eotriássico na região central do Rio Grande do Sul, modificado de Faccini
(1989)...........................................................................................................273
Figura 5.8 Configuração paleogeográfica e localização aproximada da linha de
costa em relação à área de estudo durante o Triássico...............................274
Figura 5.9 Distribuição dos estratos permianos, relacionados à “Zona Orogênica
Samfrau” e contexto geotectônico da margem sul do Gondwana durante o
Fanerozóico. ................................................................................................276
Figura 5.10 Contexto distensional, reativação de falhamentos, implantação de
grabens e atividade magmática associada no setor sul-sudoeste do
Gondwana, durante o Mesozóico.................................................................277
Figura 5.11 Estratigrafia da Bacia do Karoo, África do Sul. Evolução estratigráfica
relacionada aos eventos tectônicos compressivos da margem sul do
Gondwana....................................................................................................278
Figura 5.12 Reconstrução tectono-estratigráfica das áreas deposicionais do
Gondwana na Namíbia.................................................................................279
Figura 5.13 Tratos de sistemas e mudanças de estilos deposicionais da área de
estudo, interpretados como resposta a variações do espaço de acomodação.
.....................................................................................................................282
Quadros e Tabelas
Tabela 5.1 Unidades litoestratigráficas do intervalo Neopermiano-Eocretáceo do
Rio Grande do Sul: Quadro sintético das principais características das
litofácies e elementos arquiteturais dominantes...........................................257
Tabela 5.2 Determinações radiométricas do vulcanismo Serra Geral no contexto
do sudoeste gondwânico..............................................................................272

Volume II
Quadro 1 Área de estudo: contexto regional e referências geográficas.
Quadro 2 Quadro síntese da estratigrafia do intervalo Neopermiano-Eocretáceo
na região central do Estado do Rio Grande do Sul.
Mapa Base (MB) Mapa geológico simplificado da região central do Rio Grande do
Sul, enfatizando a distribuição das unidades estudadas.

Fotomontagens (FM)
FM1 Formação Sanga do Cabral: exemplos de exposições da faciologia e
associações entre os elementos de dunas eólicas (DU) e interdunas (IDU)
úmidas.
FM2 Formação Sanga do Cabral: associação entre os elementos de dunas (DU) e
interdunas (IDU) eólicas. Camadas tabulares (IDU), interpretadas como
depósitos de planícies interdunares ("interdune flats"), recobrindo dunas
eólicas (DU) segundo superfícies de primeira ordem. Litofácies
tentativamente interpretadas como possíveis elementos de draa (DR) e
interdraa (IDR).
FM3 Icnofósseis, indicadores de umidade do substrato, ocorrentes nas fácies de
interdunas (IDU) da Formação Sanga do Cabral. Icnofácies Scoyenia,
determinante de substratos continentais úmidos ou encharcados, ou
depósitos subaquosos rasos, periodicamente expostos ao ar. A presença
desta icnofauna caracteriza estas fácies como depositadas em regiões de
interdunas úmidos.
FM4 Formação Sanga do Cabral: tipos básicos de depósitos aluviais que ocorrem
intercalados aos elementos de dunas (DU) e interdunas eólicas,
interpretados como produzidos por canais de wadis (WD).
FM5 Formação Sanga do Cabral: estratificações eólicas deformadas por
processos de liquefação e fluidização, interpretadas como evidências de
paleosismicidade (sismitos), contemporânea à sedimentação do sistema
eólico.
FM6 Contato discordante entre as formações Rio do Rasto e Teresina , na região
de Vista Alegre (Folha Tiaraju, demarcado pela sobreposição de dunas
eólicas (DU) deformadas sobre depósitos de plataforma marinho-rasa.
FM7 (FM7) Formação Sanga do Cabral: exemplo típico das exposições das fácies
aluviais da Formação, ilustrando o aspecto geométrico das camadas planas
de arenitos finos a médios, constituindo lençóis de areias, ou "sand sheets"
(LS) e formas de leito arenosas (SB), associações de litofácies mais
características da unidade.
FM8 Formação Sanga do Cabral: associação de litofácies constituintes dos
elementos de arenitos tabulares laminados (LS) e formas de leito arenosas
(SB), às quais se associam acumulações de conglomerados
intraformacionais (Cgi), litofácies onde são encontrados os fragmentos de
vertebrados fósseis, incluindo anfíbios e répteis (Procolophon e
Lystrosaurus), relacionados à Biozona de Lystrosaurus da África do Sul.
FM9 Formação Sanga do Cabral: aspecto geométrico das camadas
representantes do elemento de lobos de suspensão (LB).
FM10 Membro Passo das Tropas (unidade basal da Formação Santa Maria):
aspecto geral dos depósitos fluviais da unidade, nas regiões de Cachoeira
do Sul e Venâncio Aires, ressaltando as feições erosionais e o estilo "multi
storey" de preenchimento dos canais.
FM11 Membro Passo das Tropas (Formação Santa Maria): exemplo típico das
exposições correspondentes ao elemento SB, caracterizado pela
superposição de arenitos com estratificações cruzadas acanaladas (St) e,
mais raramente planares, correspondentes a dunas 3D e 2D,
respectivamente.
FM12 Membro Passo das Tropas (Formação Santa Maria): macroforma fluvial,
com padrão de acresção frontal (DA).
FM13 Afloramento tipo do Membro Passo das Tropas (Formação Santa Maria):
litofácies fácies arenosas de preenchimento de canal fluvial, relacionadas à
evolução morfológica das macroformas, evidenciando o predomínio do
padrão de acresções frontais (DA), associado à ocorrência de acresções
laterais a obliquas (LA/DA) subordinadas.
FM14 Canais fluviais (CH) da Formação Caturrita, com geometria ribbon,
encaixados nos pelitos do Membro Alemoa da Formação Santa Maria.
FM15 Afloramento fossilífero da Formação Caturrita na região de Faxinal do
Soturno, mostrando a associação de litofácies de canal fluvial (CH) com
depósitos de crevasse (CS, CR) e finos de planícies de inundação (FF).
FM16 Formação Caturrita: litofácies areno-pelíticas, predominantes na porção
intermediária unidade, interpretadas como depósitos de frentes deltaicas
lacustres (FD).
FM17 Formação Caturrita. Exemplo de exposição de macroforma fluvial
caracterizada pelo elemento de acresção lateral (LA).
FM18a Afloramento tipo dos Arenitos Mata na entrada da cidade de Mata,
contendo tronco silicificado no interior de macroforma fluvial com padrão de
acresção frontal (DA) dominante.
FM18b Croqui do afloramento tipo dos Arenitos Mata (FM18a), evidenciando a
estruturação dos arenitos e a análise de paleocorrentes das formas de leito.
FM19 Arenitos Mata, próximo à cidade de São Pedro do Sul. Arenitos finos a
médios com estratificações cruzadas acanaladas, contendo caules
silicificados de coníferas, correspondentes a formas leito arenosas 3D
(elemento SB), desenvolvidas no interior de canais fluviais. Conglomerados
intraformacionais desorganizados, indicando sedimentação gravitacional
(SG), interpretados como depósitos de colapso das margens dos canais.
FM20 Formação Botucatu. Exemplos das litofácies dominantes desta unidade
(DU e IDU) em pedreiras localizadas na região leste de sua faixa de
ocorrência no Rio Grande do Sul.

Seções Estratigráficas (SE)


SE1 Santana do Livramento-Dom Pedrito
SE2 Alegrete-Rosário do Sul
SE3 São Vicente do Sul-Jaguari
SE4 Santa maria
SE5 Cachoeira do Sul
SE6 Rio Pardo-Santa Cruz do Sul
SE7 Gravataí-Taquara
SE8 Seção E-W: Montenegro-São Vicente do Sul
SE9 Santana da Boa Vista
SE10 Corredor Internacional Basil-Uruguai
SE11 Uruguai - Ruta 5
SE12 Uruguai - Ruta 27
Capítulo 1
INTRODUÇÃO

1.1 Natureza do trabalho e delimitação do tema de estudo

O trabalho aqui apresentado é, essencialmente, um ensaio sobre análise


estratigráfica de sucessões continentais.
O objeto de estudo abrange o intervalo Neopermiano-Eocretáceo da Bacia
do Paraná no Rio Grande do Sul, analisado sob dois aspectos fundamentais: sua
organização litoestratigráfica e os correspondentes episódios deposicionais que
compõem cada unidade formal. Esta abordagem teve por objetivo produzir uma
análise comparada entre a nomenclatura litoestratigráfica estabelecida e a
estratigrafia de eventos, através de um estudo de caso sobre o potencial de
aplicação da estratigrafia de seqüências a depósitos não-marinhos, a partir de
dados de superfície e consideradas as particularidades da área estudada.
Nestes termos, o trabalho pretende traçar, para uma mesma seção, um
paralelo entre litoestratigrafia e estratigrafia de seqüências, enfatizando os
aspectos genéticos decorrentes da segunda abordagem.
O direcionamento do estudo para este enfoque tem por base trabalhos
preliminares já realizados pelo autor, os quais levam à duas constatações
objetivas: (1) a impossibilidade de representação do intervalo por uma coluna
estratigráfica única, representativa de toda a faixa aflorante, devido às variações
de estilos deposicionais e diversidade das relações de contato entre as unidades
litoestratigráficas formais e (2) a evidências de lacunas no registro estratigráfico,
apontadas tanto pela paleontologia como pelas datações absolutas disponíveis.
Tais elementos são indicativos de que as unidades litoestratigráficas formais,
embora bem estabelecidas e consagradas pelo uso, possam corresponder ou ser
subdivisíveis em uma ou mais unidades genéticas autônomas, da categoria de
seqüências deposicionais. Consideradas as limitações metodológicas discutidas
mais adiante, a divisão do registro em eventos deposicionais constitui o
pressuposto estratigráfico básico deste trabalho. Nos últimos anos, a bibliografia
internacional tem demonstrado que a estratigrafia de seqüências tem se
2

constituído na metodologia quase que hegemônica de análise estratigráfica.


Contudo, especialmente em bacias brasileiras, são ainda raros os exemplos de
sua aplicação à sistemas continentais. O teste da aplicabilidade destes conceitos
é um dos objetivos deste trabalho.
A estratigrafia de seqüências tem seus melhores resultados em ambientes
marinho-rasos, fartamente documentados na literatura especializada. Sua
aplicação à análise de depósitos continentais, por outro lado, é mais recente e
permanece em fase de desenvolvimento, tornando-se tanto mais imprecisa
quanto mais distantes, ou menos evidentes, forem os registros marinhos,
indicadores do posicionamento da linha de costa. Este trabalho discute esta
segunda situação, a partir de uma revisão histórica da evolução conceitual da
teoria e avaliando a adequação de seus princípios como instrumento de análise
da seção estudada.
A área de estudo constitui-se do registro sedimentar do intervalo
Neopermiano e Mesozóico da Bacia do Paraná em seu setor sul-sudeste,
enfocando particularmente a seção exposta na região central do Rio Grande do
Sul (Fig. 1.1) e, secundariamente, sua extensão em território uruguaio. Esta área
é de particular interesse, não só pela presença da Formação Santa Maria, de
grande importância cronoestratigráfica por sua rica fauna triássica, mas também
por conter os principais aqüíferos da sucessão gondwânica no Rio Grande do Sul.
Em termos litoestratigráficos, a sucessão estudada em maior profundidade
contempla integralmente o Grupo Rosário do Sul (formações Sanga do Cabral,
Santa Maria e Caturrita), incluindo o topo do Grupo Passa Dois (Formação Rio do
Rasto) e, em menor detalhe, os depósitos sedimentares do Grupo São Bento
(Formação Botucatu), que encerra a história deposicional da bacia na região.
A seção é inteiramente constituída por “red beds” continentais que, pela
natureza dos processos sedimentares envolvidos em sua geração –
especialmente os sistemas aluviais - caracterizam-se por estratos descontínuos e
múltiplas superfícies erosivas locais, de escalas variadas, resultando em sabida
dificuldade para a discriminação entre controles autogênicos e alogênicos. Os
dados paleontológicos disponíveis, embora fartos e bem estudados, ainda não
permitem a individualização de camadas ou “horizontes-guia”, com extensão
regional, que favoreçam o aumento de resolução e o refinamento estratigráfico do
intervalo (Barberena et al., 1993). Estas limitações devem-se não apenas às
580 560 540 520 500
56o

V V V V V V 0o
BRASIL

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0 50 10 0 200 km
M DO SUL Santa Maria
Triássico

I Sanga do Cabral
Figura 1.1 Mapa geológico esquemático da PASSA DOIS Rio do Rasto
Depósitos Continentais

sucessão gonwânica no Rio Grande do Sul, Permiano


enfatizando as unidades litoestratigráficas Passa Dois inferior,
Guatá e Itararé,
relevantes para este trabalho. O retângulo indi visos

tracejado indica a área principal de estudo (cf.


Embasamento e sedimentos Quaternarios indiferenc iados
Vol.II-MB).
580 560 540 520 500
3
4

características deposicionais da seção ou ao caráter descontínuo das


informações paleontológicas, mas também à atuação de falhas gravitacionais e,
principalmente, à descontinuidade das exposições. Na ausência de controle
bioestratigráfico mais preciso e escassez de dados de subsuperfície, a
identificação de superfícies-chave e padrões de empilhamento estratal, elementos
essenciais à estratigrafia de seqüências, torna-se igualmente problemática.
Face a estas particularidades da área, a metodologia adotada incluiu a
geração e compilação de dados cartográficos e a realização de diversas seções
estratigráficas strike e dip, ao longo da faixa aflorante, com o objetivo de obter
uma visão regionalizada das associações faciológicas dominantes, suas relações
de contato e posicionamento estratigráfico. Perfis sedimentológicos de detalhe e
análise de elementos arquiteturais de afloramentos significativos de cada
associação faciológica individualizada foram utilizados para identificar as
variações dos estilos deposicionais ao longo da seção. Os dados levantados
segundo estes procedimentos são a seguir confrontados com as informações
paleontológicas disponíveis, objetivando estimar a extensão do registro
estratigráfico e dos hiatos deposicionais envolvidos, bem como suas
correspondências com as unidades litoestratigráficas formais já definidas.
Finalmente, integrando dados litoestratigráficos, geocronológicos e
bioestratigráficos de outras regiões, o presente trabalho pretende contribuir para o
aprimoramento do conhecimento sobre a evolução geohistórica da área de
estudo, procurando também formular hipóteses testáveis quanto ao potencial de
correlação das unidades genéticas individualizadas, com outros setores da Bacia
do Paraná e, por extensão, com as demais bacias do sudoeste do Gondwana.

1.2 Objetivos
No contexto exposto, os objetivos do trabalho são hierarquizados em dois
níveis, explicitados a seguir.

1.2.1 Objetivo geral

Analisar a estruturação estratigráfica, evolução paleoambiental e controles da


sedimentação do Permo-Triássico do Rio Grande do Sul, com base nos
fundamentos teóricos da estratigrafia de seqüências, à luz dos dados
5

paleontológicos disponíveis, dentro do contexto evolutivo do Gondwana


meridional.

1.2.2 Objetivos específicos

(a) individualizar eventos estratigráficos, com base nos critérios de análise


faciológica, variações de estilos deposicionais, relações de contato e
conteúdo fossilífero, buscando identificar seu potencial de correlação e
possíveis correspondências com a nomenclatura litoestratigráfica formal;
(b) contribuir para a identificação e desenvolvimento de critérios
sedimentológicos independentes que possibilitem o reconhecimento de
rupturas do registro estratigráfico em sucessões continentais;
(c) produzir um estudo de caso sobre o potencial de aplicação da estratigrafia
de seqüências à depósitos continentais, em áreas sem referências de
sedimentação marinha, com insuficiente resolução bioestratigráfica e
carência de dados de subsuperfície.

1.3 Materiais e Métodos

Este trabalho, por ser principalmente centrado na análise sedimentológica


e estratigráfica de dados de superfície, teve como base principal os
levantamentos de campo. Informações provenientes de outras áreas de
conhecimento resultam de uma revisão histórica e conceitual dos temas
relacionados ao estudo e da compilação de dados de origens e escalas variadas,
motivo pelo qual suas fontes serão mencionadas oportunamente, ao longo do
texto. Em linhas gerais, os procedimentos metodológicos adotados podem ser
resumidos conforme os tópicos abaixo relacionados.

1.3.1 Trabalhos de campo

Em território brasileiro, os levantamentos de campo foram executados com


base nas cartas topográficas da Diretoria de Serviço Geográfico do Ministério do
Exército, escala 1:50.000 (Fig. 1.2). No Uruguai, foram utilizadas as Hojas del
Plan Cartográfico Nacional, escala 1:50.000, do Serviço Geográfico Militar
6

580 560 540 520 500 580 560 540 520 500
Bac ia do Paraná
70 o 50 o
A BORDA SUDESTE DA BACIA DO PARANÁ
0o
a. Principais rodovias b. Mapa índice
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Treinta Y Tres Treinta Y Tres

Sucessão sedimentar
Gondwânica

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Capital de Estado Rodovias Estaduais
Cidades
BUENOS AIRES 50 km 0 15 0 k m
BUENOS AIRES

MONTEVI DEO MONTEVIDEO


580 560 540 520 500 580 560 540 520 500

Figura 1.2 (a) Mapa de localização e principais referências geográficas; (b) Índice das cartas topográficas: 1Nova Esperança 2Jaguari 3Boa Esperança
4São Vicente do Sul 5Mata 6São pedro do Sul 7Santa Maria 8Camobi 9Faxinal do Soturno 10Agudo 11Candelária 12Vera Cruz 13Santa Cruz do Sul
14Venâncio Aires 15Estrela 16Paverama 17Montenegro 18Taquara 19Cacequi 20Coxilha do Pau Fincado 21Catuçaba 22Sanga Laranjeira 23Ferreira
24Rio Pardo 25Melos 26São Leopoldo 27Gravataí 28Cerro Samora 29Saicã 30Rosário do Sul-N 31Tiarajú 32Cachoeira do Sul 33Pantano Grande
34Guará 35Rosário do Sul 36Pampeiro 37Livramento 38Palomas 39Eng. Madureira 40Santana da Boa Vista 41Arroio Barracão 42Arroio da Bica.
7

da República Oriental del Uruguay 1 . A medição de seções e perfis


sedimentológicos de detalhe utilizou equipamentos de campo convencionais
(trena e bússola). Os afloramentos, amostras coletadas para análise petrológica e
os achados fossilíferos foram localizados com auxílio do GPS GARMIN
(UNISINOS). A aquisição de dados teve como objetivos a geração dos seguintes
produtos:

(a) Mapa base: elaboração de um Mapa Geológico Simplificado da Região


Central do Rio Grande do Sul, escala 1:500.00 (Vol. II-MB), enfatizando a
distribuição das unidades litoestratigráficas de interesse para este trabalho.
Este mapa foi produzido a partir da compilação de dados publicados e
inéditos preexistentes 2 , complementada pela análise de fotografias aéreas
e testes de campo, utilizando como base a versão preliminar do “Mapa
Geológico do Rio Grande do Sul”, do Departamento Nacional de Produção
Mineral – DNPM (1984).
Objetivos: reunir informações dispersas, de diversas escalas e
procedências, num mapa básico único, visando obter uma visão
regionalizada das unidades em questão.
(b) Seções estratigráficas regionais: foram levantadas um total de 12
seções estratigráficas (Fig. 1.3; Vol. II-SE), duas delas com orientação
paralela à faixa de afloramento e as demais transversais ao
acamadamento. Os dados foram obtidos a partir de exposições ao longo
dos cortes de rodovias e afloramentos isolados. O rebatimento vertical dos
dados obtidos por este procedimento dão origem às seções colunares,
representativas de cada seção regional.
Objetivos: identificar as associações faciológicas dominantes, diferenciadas
por seus atributos físicos, visando determinar suas extensões laterais,
posicionamento estratigráfico e relações de contato em escala regional,
independentemente das designações litoestratigráficas; produzir seções

1
Folhas de Rivera, Passo de Ataques, Cuchilla de Santa Ana, Ataques, La Calera, Puntas de Yaguari, Lapuente e
Cerrillada, utilizadas como base topográficas para as Seções Estratigráficas 2 e 3 (conferir Fig. 1.3).
2
Principais fontes: Tessari & Picada (1966); Bortoluzzi (1974); Eick et al. (1975); Jabur (1979); Andreis, Bossi & Montardo
(1980); Montardo (1982); Barberena (1984); DNPM (1984, 1989); DNPM/CPRM (1986); Gaspareto et al. (1988a,b); CPRM
(1984;1994); Zeltzer, Paula & Nowatzki (1991); Ribeiro et al. (1994); Lavina et al. (1994); Serviço Geológico do Brasil-
CPRM (em preparação).
8

580 56 0 54 0 520 500

Localização das Seções Estratigráficas


0o
BRASIL

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56o

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Seqüência
Gondwânica

Treinta Y Tres 1
Seções estratigr áficas (SE)

Observações pontuais

Cidades de referência 34 0
34 0 Capital de Estado

Capit ais Federais

BUENOS AIRES
50 km 0 150 km

MONTEVIDEO
580 560 540 520 500

Figura 1.3 Seções estratigráficas (SE) regionais (conferir Fig 1.2 e Vol. II-SE):
SE1 Santana do Livramento- Dom Pedrito SE7 Gravataí-Taquara
SE2 Alegretre-Rosário do Sul SE8 Seção E-W: Montenegro-São Vicente do Sul
SE3 São Vicente do Sul-Jaguari SE9 Santana da Boa Vista
SE4 Santa Maria SE10 Corredor Internacional Brasil-Uruguay
SE5 Cachoeira do Sul SE11 Ruta 27
SE6 Rio Pardo-Santa Cruz do Sul SE12 Ruta 5

colunares representativas de todo o pacote, em diversas áreas, para


servirem como instrumento de correlação regional;
9

(c) Perfis sedimentológicos de detalhe: nas sucessões mais bem expostas


e representativas foram realizadas medições e descrições detalhadas de
perfis sedimentológicos, graficados segundo o esquema contínuo, proposto
por Selley (1968), modificado. A descrição priorizou os aspectos
geométricos e texturais das camadas, suas estruturas sedimentares, tipos
de contato e paleocorrentes, medidas a partir dos mergulhos de planos de
estratos cruzados.
Objetivos: identificar e caracterizar variações nas sucessões de fácies,
visando a interpretação dos processos sedimentares relacionados aos
diferentes paleoambientes e reunir informações para detectar possíveis
modificações na configuração paleogeográfica da bacia, ao longo do
tempo.
(d) Análise de arquitetura deposicional em escala de afloramento: o
detalhamento das exposições mais representativos de cada associação
faciológica individualizada se fez com base na adaptação da metodologia
formulada por Miall (1985, 1988,1996) e Miall & Tyler (1991), através da
elaboração de seções laterais, restituições e representações gráficas dos
afloramentos, a partir de fotomontagens (Vol. II-FM).
Objetivos: identificar e caracterizar estilos e padrões deposicionais e suas
variações ao longo da seção, com vistas à hierarquização de formas e
superfícies e a interpretação de suas relações com mudanças nas taxas de
geração de espaço de acomodação.

1.3.2 Trabalhos de gabinete e laboratório

(a) Revisão bibliográfica: incluiu a (i) compilação dos mapas geológicos


disponíveis, (ii) revisão dos trabalhos anteriores sobre a litoestratigrafia,
paleontologia e geocronologia da área e sobre a evolução estratigráfica e
geotectônica da Bacia do Paraná e principais bacias correlatas do sudoeste
gondwânico; (iii) adicionalmente, foi produzida uma revisão sobre a
evolução dos conceitos da estratigrafia de seqüências, com ênfase em sua
aplicação a ambientes continentais.
Objetivos: (i) gerar um mapa base do Gondwana superior na região central
do Rio Grande do Sul (cf. item 1.2.1); (ii) situar o trabalho aqui
10

desenvolvido no panorama histórico da evolução dos conceitos


estratigráficos sobre o Permo-Triássico, nesta porção da bacia; (iii)
identificar o estágio atual da estratigrafia de seqüências, seus avanços e
limitações, como instrumento de análise de sucessões continentais, tendo
como exemplo a área de estudo.
(b) Correlação de poços e seções estratigráficas de controle: análise e
correlação seletiva de poços d’água cedidos pela Companhia
Riograndense de Saneamento (CORSAN). Por tratarem-se poços sem
perfilagem geofísica, foram selecionados aqueles com localização e cotas
de boca precisas, controlados estratigraficamente por seções de superfície.
Objetivos: produzir correlações estratigráficas em subsuperfície (seções de
controle), em áreas com disponibilidade de poços e boas exposições
contíguas, buscando visualizar a continuidade, geometria e arquitetura dos
corpos sedimentares.
(c) Análise Petrológica: análise realizada em amostras selecionadas de
arenitos, coletados em afloramentos representativos de cada unidade;
trabalho liderado pelo Prof. Dr. A.J.V. Garcia (UNISINOS), cujos resultados
preliminares já se encontram parcialmente publicados em Zerfass (1998),
Faccini, Zerfass & Garcia (1988) e Faccini et al. (1998;1999;2000).
Objetivos: obter informações sobre proveniência, história diagenética e de
soterramento das unidades genéticas individualizadas e cruzar a
abordagem petrológica com os dados obtidos em afloramento.
(d) Tratamento e graficação de dados: as medições de paleocorrentes
foram tratadas estatisticamente através do programa StereoNet 2.06
(University of Western Ontario); na graficação dos resultados, além dos
métodos convencionais, foram utilizados os software Photo Paint8, Paint
Shop Pro5, Autocad14 e Designer4.0 (UNISINOS).
Capítulo 2
A ÁREA DE ESTUDO: CONTEXTO REGIONAL, EVOLUÇÃO DOS
CONCEITOS ESTRATIGRÁFICOS E HIPÓTESE DE TRABALHO

2.1 A Bacia do Paraná: aspectos gerais

A Bacia do Paraná é uma extensa depressão deposicional desenvolvida


durante o Fanerozóico e geograficamente localizada na região centro-leste da
América do Sul (Fig. 2.1). O conjunto de rochas sedimentares e lavas basálticas
que a preenche atinge 8.000m de espessura em subsuperfície, contendo o
registro de mais de 350 Ma de história deposicional, transcorrida entre o final do
Ordoviciano e o Neocretáceo. A área total preservada da bacia recobre
aproximadamente 1.600.000 km2, dos quais cerca de 1.000.000 km2 ocupam
território brasileiro, sendo o restante distribuído entre Argentina (400.000 km2),
Paraguai (100.000 km2) e Uruguai (100.000 km2).
Implantada sobre crosta continental gerada ou rejuvenescida durante o
Proterozóico Superior-Eopaleozóico, como resultado dos episódios
tectonomagmáticos decorrentes do Ciclo Brasiliano/Pan-Africano, que levaram à
consolidação do Gondwana, a Bacia do Paraná é considerada uma entidade
caracteristicamente intraplataformal. A natureza de seu embasamento, seu
posicionamento geotectônico em domínio intraplaca, distante de margens ativas,
tem lhe conferido classicamente o status de exemplo típico de bacia
intracratônica. Autores como Asmus & Porto (1972), Asmus (1980) e Almeida
(1981) a classificam como uma bacia intracratônica estável (“Tipo 1” de Klemme,
1971), enquanto Fúlfaro et al. (1982) sugerem tratar-se de uma bacia
intracratônica instável (“Tipo 2A” de Klemme, 1980). Diversos outros estudos têm
relacionado o desenvolvimento estratigráfico da Bacia do Paraná a eventos
tectônicos de caráter mais amplo, que afetaram seu embasamento, controlando
sua sedimentação.
Os limites atuais da bacia são de natureza erosiva ou demarcados por
estruturas de origem tectônica correspondentes a grandes arqueamentos,
presumivelmente relacionados a reativação de antigas zonas de fraqueza crustal,
12

Cuiabá BRASIL
BRASIL

1000 km
Pantanal

São Paulo
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Superseqüências Litoestratigrafia
Bauru Grupo Bauru
Gondwana

III Grupo São Bento


II Grupo Rosário do Sul
I
URUGUAY Gr. Passa Dois, Guatá e Itararé
Paraná Grupo Paraná
Rio Ivaí Grupo Rio Ivaí

0 200km
borda da bacia

profundidade do embasamento (m)

Figura 2.1 Localização da área de estudo (retângulo tracejado) no contexto da Bacia do Paraná
Modificado de Milani (1997) e Azambuja Filho et al. (1998).

herdadas do Ciclo Brasiliano. A origem e natureza dos esforços geradores destes


13

arqueamentos, flexuras e lineamentos que limitam ou adentram a bacia têm sido


atribuídos a causas diversas, como movimentos epirogenéticos, sobrecarga de
sedimentos, eventos compressivos ocorridos nas margens da plataforma ou
reativações relacionadas ao rifteamento mesozóico. Vários autores (Sanford &
Lange, 1960; Northfleet et al., 1969; Soares, et al.,1974, 1978, 1991; Fúlfaro et al.,
1982; Cordani et al., 1984; Zalán et al.,1987a,b, 1990; Milani, 1992, 1997; Milani &
Zalán, 1998, entre outros) têm relacionado as reestruturações do embasamento
da bacia à eventos tectônicos de mais ampla escala, reconhecendo a influência
destas estruturas no controle da sedimentação, orientando o eixo deposicional da
bacia, modificando as taxas de subsidência e sedimentação, alterando a
geometria e posição de seu depocentro ou subdividindo-a em sítios deposicionais
diferenciados, ao longo do tempo.
Mais recentemente, em amplo estudo sobre o tema, Milani (199s7)
relaciona a origem e estruturação estratigráfica da Bacia do Paraná à evolução
tectônica do sudoeste gondwânico, demonstrando a estreita coincidência entre os
ciclos de subsidência da bacia e os episódios compressivos que afetaram a
margem sul-ocidental do paleocontinente, durante o Fanerozóico. A verificação do
registro da ação combinada destes processos durante a história da bacia torna o
conceito de “bacia intracratônica” - área submetida a subsidência (“sagging”),
isolada no interior do continente e independente dos fenômenos compressivos
que afetam as bordas das placas – inadequado para classificar a Bacia do
Paraná, que teve sua configuração original e todo o seu desenvolvimento
intimamente relacionados aos fenômenos geodinâmicos atuantes na bordas do
continente. Milani (op cit.) atribui a geração do espaço de acomodação para
acumulação das seqüências que preenchem a Bacia do Paraná a dois
mecanismos fundamentais: (1) subsidência flexural, produzida pela propagação
da flexura litosférica ocasionada por sobrecarga tectônica junto à margem
convergente do Gondwana sul-ocidental (Orogenias Oclóyca, Precordilherana,
Chánica e Gondwânica) e (2) reativação transtensiva de lineamentos SW-NE do
embasamento da bacia, produzidas pela dissipação intraplaca de esforços
compressionais, atuantes nos domínios de borda de placas. Assim, a Bacia do
Paraná, após sua implantação sobre grábens produzidos pela reativação
transtensional de suturas herdadas do Ciclo Brasiliano, teria se comportado, na
maior parte de sua história, como extensão mais continental de uma bacia de
14

antepaís, com a configuração de um golfo aberto para sul-sudoeste, submetida a


subsidência flexural resultante da propagação dos ciclos de subsidência
acelerada experimentados pelas bacias de foreland adjacentes, reflexos da
atuação dos sucessivos eventos orogênicos paleozóicos.
No final do Neopermiano, sucedendo ao ápice do ciclo de subsidência
relacionado à Orogenia Gondwânica, a Bacia do Paraná estaria finalmente
confinada ao interior continental, isolada do mar Panthalassa pelo Cinturão Cabo-
La Ventana, soerguido durante os processos de convergência que levaram à
consolidação final do Pangea.
Durante o Triássico, a porção sul-ocidental do Gondwana experimenta uma
significativa modificação no regime tectônico: de francamente compressivo,
durante praticamente todo o Paleozóico, para amplamente distensivo durante o
Triássico. Esta marcante modificação dos campos tensionais é atribuída ao
relaxamento dos esforços compressionais atuantes na margem meridional do
Gondwana, durante o Paleozóico, dando origem à diversas bacias distensivas na
Argentina e na Bolívia (López-Gamundi et. al., 1994; Milani,1997).
É neste cenário geotectônico neopermiano e triássico que se desenvolve a
sedimentação da Formação Rio do Rasto e todo o Grupo Rosário do Sul, temas
centrais do presente estudo. Esta discussão, por ser de particular importância
para este trabalho, especialmente no que se refere à tipologia dos depósitos e
controle da sedimentação, voltará a ser abordada em mais profundidade adiante,
em item apropriado.
O Quadro 2.1 mostra a estruturação estratigráfica da Bacia do Paraná
como um todo (Milani, op. cit.), já incluindo, para o intervalo Permo-Triássico, as
principais subdivisões estratigráficas defendidas nesta tese.

2.1.1 A Bacia do Paraná no Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul a sedimentação da Bacia do Paraná inicia-se no


Neocarbonífero-Eopermiano, com a deposição do sedimentos glacio-marinhos do
Grupo Itararé, portanto sem registros das sucessões ordovício-silurianas e
devonianas identificadas no norte da bacia. Estas últimas ocorrem somente no
Uruguay (Formações La Paloma, Cordobés e Cerrezuelo, cf. Bossi et al.,1975),
LITOESTRATIGRAFIA CICLOS DO NÍVEL CRONOESTRATIGRAFIA
RELATIVO DO MAR SUPER
SEQÜÊNCIA TEMPO
GRUPO FORMAÇÃO LITOLOGIA SÉRIE SISTEMA ERA
Baixo Alto (Ma)

Bauru NW SE
Caiuá BAU CAI Superior
B
Cretáceo
IU6 100
Inferior
Serra Geral SG
Botucatu BOT
São
GIII Superior

Bento
Médio Jurássi co
MESOZÓICO

IU5 Inferior

Unidades Continentais
200
Superior
GII Triássi co
Sta. Maria SM Médio
PIR RR SC
IU4 Inferior
Passa Dois
DRD PAL IRA MFS Superior
Paler mo
Guatá Rio Bonito RB
Taciba Inferior Permiano
Itararé Campo Mourão GI
Aqui- ITA Stephaniano
dauana L. Az ul AQ W es tphali ano 300
Namuriano
Carbonífero
IU3 Vi seano
Turnaisiano

Superior
Ponta Grossa PG
Paraná Médio
MFS Devoniano
Furnas
P
FUR Inferior
400
Pridoli/W enlock
PALEOZÓICO

Vila Maria
IU2 Silur iano
VM MFS Landov ery
Rio Ivaí Iapó Ashgil l
Alto Garças AG IAP RI Caradoc
Llandeilo
IU1 Arenig Ordoviciano

Tremadoc 500

Cambriano

Quadro 2.1 Estratigrafia da Bacia do Paraná, segundo Milani (1997), incluindo para o Permo-Triássico as subdivisões
adotadas aqui, neste trabalho. Intervalo de estudo representado pelas linhas tracejadas.
Superseqüências: RI Rio Ivaí P Paraná G Gondwana (I,II e III) B Bauru; MFS Maximum Flooding Surface IU Interregional unconformities
RR Formação Rio do Rasto PIR Formação Pirambóia SC Formação Sanga do Cabral SM Formação Santa Maria BOT Formação Botucatu
15
16

em relação de onlap com o embasamento a norte, indicando que o Escudo Sul-


rio-grandense comportou-se como um alto e não esteve submetido à
sedimentação até o Neocarbonífero.
A partir do do final do Carbonífero a sucessão gondwânica preservada no
setor sul-sudeste da bacia apresenta completa similaridade com o registro do
Paleozóico verificado no restante da bacia. O final do episódio glacial,
correspondente aos registros do Grupo Itararé, é marcado na região pela
deposição dos sedimentos da Formação Rio Bonito, contendo importante e bem
conhecidos jazimentos de carvão. Seguindo a tendência global, ao final do
Paleozóico, a continuada melhoria climática e o recuo das geleiras é registrada
pelo amplo ciclo transgressivo expresso em toda a bacia e representado pelas
formações Palermo e Irati, esta última contendo répteis mesosaurídeos. O final
deste ciclo inclui registros das formações Serra Alta e Teresina, aos quais se
segue o início do episódio regressivo e da completa continentalização que
marcará a história deposicional da bacia do Paraná desde então, até o seu
encerramento.
Neste quadro, o registro sedimentar do final do Permiano, e de todo o
Mesozóico no Rio Grande do Sul, coincide com o verificado no restante da bacia,
constituindo-se de uma sucessão de estratos de cores avermelhadas,
depositados em ambientes francamente continentais.
A seção mais completa deste intervalo ocorre ao longo de uma faixa
contínua, localizada na porção média do Estado, com direção geral leste-oeste.
Esta faixa de afloramentos, correspondente à borda sudeste da bacia, inicia-se a
leste nas proximidades do oceano Atlântico, infletindo para sul, na região centro
oeste do Estado, contornando o Escudo Sul-rio-grandense e prolongando-se no
sentido da República Oriental do Uruguai onde adquire a orientação geral
aproximada norte-sul (Fig. 1.2, pg.06).
Litoestratigraficamente, na porção brasileira da bacia, este pacote,
correspondente ao intervalo transcorrido entre o Neopermiano e o Eocretáceo,
compreende o topo do Grupo Passa Dois (Formação Rio do Rasto) e os grupos
Rosário do Sul (Formações Sanga do Cabral, Santa Maria e Caturrita) e São
Bento (Formações Botucatu e Serra Geral). Adicionalmente, depósitos relictos da
Bacia do Paraná, de diversas idades incluindo remanescentes Permo-Triássicos,
ocorrem sobre o Escudo Sul-rio-grandense como porções geograficamente
17

isoladas, as quais têm recebido classicamente a denominação genérica de


“Formação Caneleiras” (Fig. 1.1, pg.03).
No Rio Grande Sul, esta sucessão de “red beds” - especialmente as
“camadas de Santa Maria” - tem despertado grande interesse científico
internacional desde o início do século XX, devido ao seu expressivo conteúdo de
vertebrados fósseis de idade tríássica. Estes achados fossilíferos constituem-se
no único registro objetivo e indubitável de sedimentação ocorrida durante o
período Triássico na Bacia do Paraná. Em função deste caráter eminentemente
bioestratigráfico esta sucessão assume grande importância como elemento de
correlação, não apenas no âmbito da Bacia do Paraná, mas também no amplo
panorama de evolução do Gondwana meridional, durante o final do Paleozóico e
o início do Mesozóico.
A seção Permo-Triássica do Rio Grande do Sul, especialmente por
conteúdo fossílifero, ocupou, desde sempre, posição central na discussão
estratigráfica da Bacia do Paraná. Isto deveu-se, especialmente, às idades
indicadas pelos vertebrados das “camadas de Santa Maria”, de ocorrência restrita
ao Estado e sem correspondência faciológica ou cronoestratigráfica segura nas
demais regiões da bacia. As implicações destas características, por sua
importância na situação histórica do tema abordado neste estudo, passam a ser
discutidos a seguir.

2.2 O Permo-Triássico da Bacia do Paraná: evolução dos


conceitos estratigráficos

2.2.1. Os trabalhos Pioneiros

A história da organização estratigráfica da Bacia do Paraná tem como


marco fundamental o trabalho desenvolvido por I. C. White, em 1908, na forma de
Relatório Final para a “Comissão de Estudos das Minas de Carvão de Pedra do
Brasil”. Neste relatório White estabeleceu o “Sistema de Santa Catarina”, para
designar as exposições de rochas gondwânicas que ocorrem naquele estado, ao
longo da Estrada do Rio do Rasto, que liga as cidades de Lauro Müller e São
Joaquim da Serra. Desde então, a hoje clássica “Coluna White” passou a servir
como referência inicial obrigatória para os inúmeros estudos estratigráficos e
18

paleontológicos que vieram a se desenvolver nos estados do sul do Brasil, nas


décadas subsequentes. Naturalmente, em função de novas descobertas
paleontológicas e trabalhos estratigráficos realizados em outras regiões da bacia,
foram inúmeras as modificações introduzidas à concepção original de White,
especialmente no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Esta evolução dos
conhecimentos é registrada pela volumosa bibliografia hoje disponível sobre o
assunto 1 . As principais etapas desta evolução são esquematicamente
apresentadas no Quadro 2.2 que enfatiza, seletivamente, as propostas mais
significativas para a porção superior da seção gondwânica do Rio Grande do Sul.
Em sua proposta original, White (1908) cunhou o termo "Série São Bento"
para designar a sucessão de topo do Sistema de Santa Catarina, reunindo as
"camadas vermelhas do Rio do Rasto, a grés de São Bento 2 e as rochas
eruptivas da Serra Geral" (Quadro 2.3a). A Série Passa Dois - unidade inferior, de
mesma categoria - teve sua idade atribuída ao Permiano, pela ocorrência de
vegetais do gênero Licopodiopsis, contidos nos sedimentos acinzentados que a
compõem. A Série São Bento, por sua vez, foi posicionada no Triássico em
função da idade assumida por White para as camadas do Rio do Rasto, inferida
por sua correlação com os depósitos fossilíferos desta idade, ocorrentes na
região de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Isto vale dizer que White incluía sob
a denominação "Rio do Rasto" todo o conjunto sedimentar que, no Rio Grande do
Sul, viria mais tarde a ser denominado de Formação Santa Maria, Formação
Rosário do Sul e, mais recentemente, Grupo Rosário do Sul. Assim, a primeira
idade formulada para as camadas do Rio do Rasto deve-se ao conteúdo
fossilífero das camadas de Santa Maria.
Como observa Lavina (1991), é possível compreender os motivos da
correlação elaborada por White, visto que ele dispunha de dois bons marcadores
estratigráficos, presentes em toda a borda leste da Bacia do Paraná: os folhelhos
betuminosos com mesossaurídeos ("xisto preto Irati") e, no topo, os arenitos com
estratificações cruzadas da "grés de São Bento" (atual Formação Botucatu). Com

1
Revisões detalhadas sobre a evolução histórica dos conceitos lito e bioestratigráficos do Gondwana superior do Rio
Grande do Sul podem ser encontradas em Bortoluzzi (1971), Montardo (1982), Lavina (1991) e Zerfass (1997).
2
Equivalente à "Grés de Botucatu", termo originalmente introduzido por Gonzaga de Campos (1889), para denominar os
arenitos com estratificação cruzada de grande porte, subjacentes ou intercalados aos derrames de lavas basálticas, no
estado de São Paulo.
19

Quadro 2.2 Evolução histórica das principais propostas de organização litoestratigráfica do


intervalo Permo-Triássico da Bacia do Paraná até o início da década de oitenta, enfatizando os
trabalhos relacionados à estratigrafia do Rio Grande do Sul. As colunas assinaladas são
apresentadas em maior detalhe nos Quadros 2.3 e 2.4.
White (1908) Oliveira (1918) Oliveira (1927)
Eruptivas da Serra Geral Série
Série Eruptivas da Serra Geral Série Eruptivas da Serra Geral
Grés São Bento São
São Arenito Botucatu São Arenito Botucatu
Camadas vermelhas do Rio do Bento
Bento Bento Grupo Rio do Rasto
Rasto Série Rio do Rasto
Du Toit (1927) Morais Rego (1930) & Oliveira (1930) Huene & Stahlecker (1931)
Eruptivas Serra Geral Eruptivas Serra Geral
Série
Arenito Botucatu Série Arenito Botucatu Série Eruptivas da Serra Geral
São
Grupo Rio do Rasto São Grupo Cam. de Santa Maria São Grés São Bento
Bento
Grupo Estrada Nova Superior Bento Rio do Cam. da Serrinha Bento Camadas do Rio do Rasto
Série Passa Dois Rasto Cam. de Teresina
Carvalho (1932) Fiúza da Rocha & Scorza (1940) Gordon Jr. (1947)
Arenito Caiuá
Série Série
Eruptivas Serra Geral Formação Serra Geral
Eruptivas Serra Geral São São
Série Arenito Botucatu Formação Botucatu
Arenito Botucatu Bento Bento
São Formação Santa Maria
Grupo Rio do Rasto
Bento Série Série
Grupo Teresina Andar Santa Maria Formação Rio do Rasto
Rio do Passa
Andar Teresina Formação Estrada Nova
Rasto Dois
Beurlen (1953) Martins, Sena Sob. & Beurlen (1955) Beurlen, Martins & Sena Sob. (1955)
Arenitos Botucatu Derrames da Serra Geral
Série Arenito Pirambóia (em SP) Série Derrames da Serra Geral Série Arenito Botucatu
São equivalente às São Arenito Botucatu São Camadas de Santa Maria
Bento Camadas de Santa Maria Bento Camadas de Santa Maria Bento (equivalentes ao conglomerado
(no RS) Seival, Bacia do Camaquã)
Delaney & Goñi (1963) Bortoluzzi & Barberena (1967) Tommasi (1973)
Lavas da Serra Geral Grupo
Formação Serra Geral Formação Serra Geral
Formação Botucatu São
Formação Botucatu Formação Botucatu
Bento
Fm. Santa Maria Superior
Grupo
Formação. Mb. Superior Fm. Santa Maria
Fm. Santa Maria Inferior Rio do
Santa Maria Mb. Inferior Formação Rio Pardo
Formação Rio Pardo Rasto
Gamermann (1973) Bortoluzzi (1974) Schneider et alii (1974)
Formação Serra Geral Grupo
Formação Serra Geral Formação Serra Geral
Formação Botucatu s.s. São
Formação Botucatu Formação Botucatu
Grupo Botucatu Mb. Caturrita Bento
São fc. Alemoa Mb. Santa Maria
Formação Bento Formação
fc. Santa Maria fc. Passo das
Rosário do Santa Maria
fc. fluvial Tropas Formação Rosário do Sul
Sul
Formação Rosário do Sul s.s,
Soares (1975) Jabur (1979) Andreis, Bossi & Montardo (1980)
Grupo
Formação Serra Geral Formação Serra Geral Formação Serra Geral
São
Formação Botucatu Formação Botucatu Formação Botucatu
Bento
Série Série
Formação Caturrita Formação Caturrita
São São
Formação Grupo Formação Mb. Alemoa
Bento fc. Santa Maria Bento
Rosário do Formação Santa Maria Rosário Santa
fc. fluvial
Sul do Sul Maria Mb. P. Tropas
Formação Rosário do Sul Formação Sanga do Cabral

base na relativa homogeneidade dos sedimentos areno-pelíticos avermelhados,


contidos entre estes data e observáveis na faixa de afloramentos dos estados do
sul do Brasil, White concluiu que as "camadas vermelhas do Rio do Rasto" não
estariam restritas apenas à seção da Estrada Nova, em Santa Catarina, mas
teriam uma distribuição muito mais ampla, estendendo-se desde São Paulo até o
Rio Grande do Sul, onde eqüivaleriam aos sedimentos também vermelhos da
região de Santa Maria. Em virtude desta correlação, White (op cit.) posicionou as
20

Quadro 2.3 Colunas representativas de três estágios evolutivos da estratigrafia do Permo-


Triássico da Bacia do Paraná, dos primórdios até a década de setenta. Em negrito, unidades
litoestratigráficas introduzidas ou redefinidas pelos autores, de interesse a este estudo.
(a) Os pioneiros:
WHITE (1908) OLIVEIRA (1918)
Eruptivas da Serra Geral
Série São Bento

Série São Bento


TRIÁSSICO

Grés de São Bento Eruptivas Serra Geral


Sistema de Santa Catarina

Camadas vermelhas Arenito Botucatu


do Rio do Rasto (Gonzaga de Campos, 1889)
(atribuídas ao Triássico pela ocorrência de
Scaphonix fischery nas “camadas de Santa
Maria”, RS)
Série Passa Dois

Calcário Rocinha Série Rio do Rasto


PERMIANO

(posicionada no Permiano pela ocorrência de elementos da Flora


Glossópteris e moluscos no Paraná, estudados por Holdaus, 1918)
Xistos cinzentos da Calcário Rocinha
Estrada Nova

Passa
Série

Dois
Grupo Estrada Nova
Xisto Preto Irati
Grupo Irati
(b) A década de 20:
OLIVEIRA (1927) DU TOIT (1927) MORAIS REGO (1930)
Eruptivas Serra Geral Eruptivas Serra Geral
Eruptivas Serra Geral Arenito Botucatu
Série São
Série São Bento

Série São Bento


Bento

Arenito Botucatu
TRIÁSSICO

Arenito Botucatu Grupo Rio do Camadas de


Grupo Rio do Rasto Rasto Santa Maria
Grupo Rio do Rasto (incluindo as “camadas de Camadas de
(posicionado no Triássico, com Santa Maria”) Serrinha
base em moluscos do PR, (moluscos marinhos, PR)
reestudados por Cowper
Reed,1928) Grupo Estrada Nova Camadas
Série Passa Dois

Superior Teresina
Série Passa

Série Passa
PERMIANO

Calcário Rocinha Grupo Estrada Nova


Grupo Estrada Nova
Inferior
Dois

Dois

sensu stricto
Grupo Estrada Nova
Grupo Irati Grupo Irati
Grupo Irati (Mesosaurus)

(c) Da década de quarenta aos anos setenta:


GORDON JR. (1947) SCHNEIDER et alii (1974)
Arenito Caiuá (restrito ao PR)
São Bento

Formação Serra Geral


Série São

CRETÁCEO

Formação Serra Geral


TRIÁSSICO

Grupo
Bento

JURO-

Formação Botucatu
Formação Botucatu
Formação Santa Maria
(restrita ao RS)

Membro Santa Maria


TRIÁSSICO

Mb. Morro Pelado


Formação
Rio do Rasto
Série Passa Dois

Formação Rosário do Sul


Mb. Serrinha (sensu Gamermann, 1973)
PERMIANO

Formação Rio do Rasto


Grupo Passa

Mb. Teresina
PERMIANO

Formação Formação Teresina


Dois

Estrada Nova
Mb Serra Alta Formação Serra Alta

Formação Irati
Folhelho Irati
21

camadas do Rio do Rasto - e toda a Série São Bento - no Triássico, baseado na


identificação por Woodward (1907) do réptil Scaphonyx fisheri , elemento da
rica fauna fóssil de Santa Maria, conhecida desde o final do século XIX 1 .
Na década seguinte, a evolução dos estudos estratigráficos na Bacia do
Paraná é demarcada pelo trabalho de Euzébio Paulo de Oliveira, geólogo do
Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, que entre 1916 e 1918 apresenta a
primeira proposta significativa de modificação da coluna originalmente elaborada
por White, em 1908. De posse de novos elementos paleontológicos, Oliveira
(1918) reestrutura a Série São Bento, dela retirando as camadas do Rio do Rasto
que, elevadas à categoria de Série, passam a ser posicionadas no Permiano
Superior. Oliveira promove ainda uma alteração de nomenclatura, substituindo a
denominação "Grés de São Bento", pelo termo "Arenito Botucatu", priorizando a
definição original de Gonzaga de Campos (1889). A nova Série Rio do Rasto é
assim individualizada da Série São Bento, que permanece no Triássico, sendo
constituída apenas pelo Arenito Botucatu e pelas rochas eruptivas da Serra Geral
(Quadro 2.3a).
Ao posicionar a Série Rio do Rasto no Permiano Superior, Oliveira
apoiou-se na ocorrência de moluscos e plantas fósseis por ele encontradas nas
camadas vermelhas do Rio do Rasto no Paraná, relacionadas ao Paleozóico
Superior. As plantas foram estudadas por R. Zeiller (apud Lavina, 1992) e
identificadas como pertencentes à Flora Glossopteris, enquanto Holdhaus (1918)
identificou entre os moluscos várias espécies de lamelibrânquios, relacionando-os
também a formas do Paleozóico Superior. Com base neste dados, o Permiano
Superior passou a ser constituído pelos Grupos Irati e Estrada Nova (Série Passa
Dois) e pela Série Rio do Rasto. Oliveira, contudo, alertou para o fato de que no
futuro, caso as idades dos répteis encontrados na região de Santa Maria-RS
fossem confirmadas como triássicas, haveria a necessidade de uma subdivisão
da Série Rio do Rasto em dois grupos distintos: um Permiano, outro Triássico.
Desta forma sugeria que os "red beds" fossilíferos do Rio Grande do Sul (as
"camadas de Santa Maria") pudessem vir a ser separados como unidade
autônoma, subdivisão que veio efetivamente a ocorrer com o desenvolvimento
dos estudos subsequentes.

1
A história dos primeiros achados fossilíferos na região de Santa Maria-RS é reconstituída em detalhe por Beltrão (1965).
22

Sob o aspecto histórico, vale portanto salientar importância da


contribuição de Oliveira (1918). Apesar das diversas modificações posteriores,
sua coluna estratigráfica já continha as linhas gerais da organização do Permo-
Triássico da Bacia do Paraná, similar à concebida nos dias de hoje (Quadro 2.3).

2.2.2 A década de Vinte

No ano de 1928 Cowper Reed publica os resultados dos estudos que


vinha realizando, desde 1925, sobre os moluscos fósseis encontrados por
Oliveira, nas camadas superiores do Grupo Estrada Nova, no Paraná. Neste
trabalho, Cowper Reed (1928) descreve 52 espécies de lamilibrânquios,
relacionando-os à gêneros do Triássico Superior do Hemisfério Norte. Estas
determinações colocavam em dúvida, cerca de dez anos depois, a idade
permiana atribuída por Holdhaus (1918) para a mesma fauna. As interpretações
de Cowper Reed - para usar a expressão de Kuhn (1976) - adquiriram dimensões
paradigmáticas, passando a direcionar todos os estudos a partir de sua
divulgação, portanto antes mesmo de sua publicação formal no ano de 1928,
influenciando inclusive os trabalhos da década seguinte (Quadro 2.3b).
Oliveira (1927), assumindo a reinterpretação de Cowper Reed, retorna à
organização original de White (1908), recolocando as camadas do Rio do Rasto
no Triássico, agora na categoria de Grupo, dentro da Série São Bento.
Du Toit (1927), também apoiado nas determinações de Cowper Reed,
posiciona o Grupo Rio do Rasto na Série São Bento. Entretanto, a modificação
mais importante que promove na coluna da Bacia do Paraná, refere-se à Série
Passa Dois.
Baseado abundância de registros fósseis de Mesosaurus no Grupo Irati, e
por analogia com estudos por ele realizados na África do Sul, Du Toit (op cit.)
passa a considerar estas camadas como inequivocamente permianas,
estendendo tal idade à porção inferior do Grupo Estrada Nova, tendo em vista a
passagem gradacional entre as unidades. Admitindo a existência de uma
discordância que haveria na porção mediana do Grupo, propõe ainda o
desmembramento do Grupo Estrada Nova em duas sub-unidades: (1) Estrada
Nova Inferior, em contato gradacional com o Grupo Irati na base e superiormente
limitado pela suposta discordância; (2) Estrada Nova Superior, inferiormente
23

limitado pela superfície de discordância e gradando superiormente para o Grupo


Rio do Rasto. Considerando a base do Grupo Rio do Rasto como de idade
triássica, em função das determinações de Cowper Reed (1928), Du Toit (1927)
atribui a mesma idade para a porção superior do Grupo Estrada Nova que,
portanto, pertenceria parte ao Permiano, parte ao Triássico.
Em 1930, Morais Rego estabelece uma importante alteração formal na
Série São Bento, embora mantendo o Grupo Rio do Rasto no Triássico.
Morais Rego (1930) - antecipando conclusões também publicadas em
Oliveira (1930) - promove a divisão do Grupo Rio do Rasto em duas unidades,
propondo pela primeira vez a individualização das "Camadas de Santa Maria"
(RS) como unidade independente, sobreposta ao conjunto basal do Grupo, por
ele denominado "Camadas de Serrinha".
A distinção destas unidades dentro do Grupo Rio do Rasto é justificada
principalmente pelo conteúdo fossilífero específico de cada uma delas. O termo
"Camadas de Serrinha", foi utilizado por Morais Rego (op. cit.) para individualizar
o pacote sedimentar contendo representantes da Flora Glossopteris e os fósseis
encontrados por Oliveira e estudados por Cowper Reed (1928), a NW de
Marechal Mallet (PR). As "Camadas de Santa Maria", unidade areno-pelítica
superior do Grupo com seção tipo localizada nas proximidades da cidade
homônima (RS), são caracterizadas pela presença de vertebrados fósseis
(estudados por Woodward,1907) e madeiras petrificadas, com idades atribuídas
ao Triássico.
Com relação à Série Passa Dois, Morais Rego (op. cit.) sugere a
diferenciação das "Camadas Teresina", no topo do Grupo Estrada Nova "sensu
stricto". Embora negando a discordância proposta por Du Toit (1927), admite
como correta a idade triássica para as porções superiores do Grupo.
Durante a década de trinta Washburne (1930), Huene & Stahlecker
(1931), Carvalho (1932) e Fiúza da Rocha & Scorza (1940), também se ocuparam
do estudo das unidades que compõe o Permo-Triássico da Bacia do Paraná.
Entretanto, nenhum destes autores divergiu da colocação do Grupo Rio do Rasto
no Triássico, sendo portanto mantida a concepção gerada durante os anos vinte.
Os trabalhos mais representativos desta época são apresentados nos Quadros
2.2 e 2.3b.
24

2.2.3 Da década de quarenta ao anos setenta

Quase vinte anos após a publicação do trabalho de Cowper Reed (1928),


a história dos conhecimentos estratigráficos da Bacia do Paraná retoma seu
processo evolutivo através da publicação dos trabalhos de Josué Camargo
Mendes nos anos quarenta, cuja significação se faz sentir até os dias de hoje.
Mendes (1945) reabre a discussão acerca dos lamelibrânquios
encontrados nas camadas Teresina (PR), revisando a idade triássica a eles
atribuída por Cowper Reed (op. cit.). Tendo observado a presença da Flora
Glossopteris, de idade seguramente permiana, em camadas superiores aos
horizontes portadores de moluscos fósseis, Mendes (1945) concluiu que, em
decorrência, estes últimos teriam idade igualmente permiana, contrariando assim
a interpretação de Cowper Reed (op. cit.), e reafirmando as determinações por
Holdhaus (1918). Desde então o Grupo Estrada Nova passa a ser definitivamente
posicionado no Permiano.
A contribuição de Mendes (op. cit.) inaugurou uma nova era dos estudos
estratigráficos da Bacia do Paraná, fornecendo as bases para os trabalhos
desenvolvidos nos anos subsequentes.
Em 1947 Gordon Jr. apoiado nas determinações bioestratigráficas de
Mendes (op cit.), estabelece uma nova coluna estratigráfica que se tornaria uma
das mais importantes contribuições já legadas ao estudo do Gondwana brasileiro.
Tomando como suporte os trabalhos de White (1908), Holdhaus (1918) e Oliveira
(1918), além da então recente publicação de Mendes (1945), Gordon Jr. (op. cit.)
reorganiza as Séries Passa Dois e São Bento dando-lhes nova coerência, de tal
forma que, salvo algumas modificações, sua proposição permanece válida até
hoje.
A partir das novas determinações paleontológicas, Gordon Jr. (op. cit.)
reassume parcialmente a organização original de Oliveira (1918) posicionando as
camadas do Rio do Rasto - agora na categoria de Formação - no Permiano, como
parte do Grupo Passa Dois. Propõe ainda a subdivisão da Formação Rio do
Rasto em dois membros: Serrinha, inferior e Morro Pelado, superior. Em
substituição aos termos Grupo Estrada nova "sensu stricto" e Camadas Teresina
de Morais Rego (1930), adota para o conjunto a denominação de Formação
25

Estrada Nova, subdividida em dois membros: Serra Alta, inferior e Teresina,


superior.
Ao posicionar a Formação Rio do Rasto no Permiano, Gordon Jr.
desvincula definitivamente desta unidade as "Camadas de Santa Maria" (Morais
Rego, 1930), de idade comprovadamente triássica, pertencente à Série São
Bento. Pela primeira vez utiliza o termo "Formação Santa Maria" para designar os
sedimentitos de cor vermelha, contendo vertebrados fósseis, que ocorrem
exclusivamente no Rio Grande do Sul, limitados por discordância, entre as
Formações Estrada Nova e Botucatu.
Nos anos que se seguiram à publicação deste trabalho, inúmeros outros
estudos continuaram a ser desenvolvidos por diversos autores, como Maack
(1947), Mendes (1952), Beurlen (1953), Beurlen, Sena Sobrinho & Martins (1955),
Goñi & Delaney (1961), Delaney & Goñi (1963), Bortoluzzi & Barberena (1967),
entre outros (cf. Bortoluzzi, 1974; Montardo, 1982; Lavina, 1982). Contudo, às
proposições de Gordon Jr. (1947) mantiveram-se como referência, constituindo-se
num marco histórico relevante, mesmo nos dias atuais.
Já na década de setenta, uma nova e marcante contribuição é
acrescentada à história da estratigrafia da Bacia do Paraná, com a publicação da
importante revisão produzida por Schneider e colaboradores, no ano de 1974.
A "Coluna de Schneider et al. (1974)", é o resultado da integração de um
grande volume de informações, tanto de superfície quanto de subsuperfície,
gerado pelas equipes da Petrobrás, tendo por objetivo a localização de jazidas de
hidrocarbonetos na Bacia do Paraná. Os autores apresentam dados provenientes
de diversos pontos da bacia, levando em consideração as particularidades de
cada região. Apoiados em observações obtidas através de mapeamentos
geológicos, estudos bioestratigráficos e correlação de diversos poços compõem
um quadro geral da Bacia do Paraná, com base na elaboração de quatro seções
regionais (Paraná/Santa Catarina, São Paulo, Goiás/Mato Grosso e Rio Grande
do Sul), propondo a unificação de terminologias e o estabelecimento de uma
coluna litoestratigráfica padronizada. O coluna estabelecida neste trabalho passou
a ser referência desde sua publicação, mantendo-se importante até a atualidade.
É interessante observar as similaridades entre a coluna de Schneider et
al. (1974) e aquela proposta por Gordon Jr. (1947). Nota-se que a ordenação
estratigráfica é praticamente a mesma (Quadro 2.3c), exceto com relação ao
26

Triássico, onde Schneider et al. (1974) mantêm a "Formação Rosário do Sul"


como única unidade que registra este período, em toda a Bacia do Paraná.

2.3 O Permo-Triássico do Rio Grande do Sul

Como verifica-se nos itens anteriores, o estabelecimento do limite


Permo-Triássico da Bacia do Paraná, constitui-se, desde sempre, num dos pontos
mais controvertidos de sua estratigrafia. O registro deste intervalo no Rio Grande
do Sul, por seu conteúdo fossilífero, serviu sempre como referência
bioestratigráfica decisiva para o esclarecimento desta questão que pode ser
resumida em dois aspectos principais: (1) a extensão das “camadas de Santa
Maria” e suas correlações para além dos limites do Estado e (2) a ocorrência ou
não da Formação Rio do Rasto no Rio Grande do Sul.
Parte deste problema começa a ser solucionada já em Gordon Jr. (1947),
com a criação da “Formação Santa Maria”, que delimita o registro do Triássico a
uma unidade autônoma, restrita ao Rio Grande do Sul. A discussão sobre este
tema evoluiu consideravelmente nos anos seguintes e será retomada mais
adiante.
Contudo, o segundo ponto, relacionado à caracterização do Grupo Passa
Dois no Rio Grande do Sul, permaneceu controvertido até o início da década de
oitenta.
Beurlen, Martins & Sena Sobrinho (1955), por exemplo, admitem, para
este Estado, apenas a ocorrência dos Folhelhos Irati e dos sedimentos
equivalentes ao Membro Serra Alta da Formação Estrada Nova (sensu Gordon
Jr., 1947). Consideram, assim, ausentes as camadas Teresina e toda a Formação
Rio do Rasto. Esta opinião é compartilhada por Delaney & Goñi (1963) e Mendes
(1967).
Figueiredo Filho (1972), também estudando o Grupo Passa Dois,
considera que a Formação Estrada Nova, no Rio Grande do Sul, não apresenta
similaridade faciológica com sua seção tipo, no Paraná. Em vista disto, cria para o
Rio Grande do Sul duas fácies para aquela Formação: (1) fácies Caveira, inferior,
pelítica, com cores cinza e avermelhada; e (2) fácies Armada, superior,
constituída por intercalações arenosas, crescentes para o topo, nos pelitos
27

vermelhos. A exemplo de diversos outros autores (Beurlen, Martins & Sena


Sobrinho,1955; Delaney & Goñi, 1963; Mendes,1967), Figueiredo Filho (op. cit.),
conclui pela inexistência da Formação Rio do Rasto no Estado.
Schneider et alii (1974), contrariamente, admitem que ambas as
formações, tanto Rio do Rasto quanto Estrada Nova (embora não utilizem esta
última designação formal), ocorrem no Rio Grande do Sul, com características
similares às exposições do Paraná (cf. pg.20, Quadro 2.3c).
Este problema estratigráfico começa a ser esclarecido somente no início
da década de oitenta, com o aporte de novos dados paleontológicos
apresentados por Barberena et all. (1983). Neste trabalho os autores registram a
descoberta do réptil fóssil Pareiasaurus, em sedimentitos relacionáveis à fácies
Armada (sensu Figueiredo Filho, 1972), na estrada Bagé-Aceguá (RS), próximo à
fronteira com o Uruguai.
No Sistema Karoo da África do Sul, Série Beaufort Inferior, Pareiasaurus
ocorre junto com outro réptil, Endothiodon, sendo, estes fósseis, constituintes da
chamada zona de Cistecephalus, atribuída ao Permiano, Andar Tatariano.
Barberena & Daemon (1974), Barberena & Araújo (1975) e Barberena,
Correia & Aumond (1980), já haviam relatado a ocorrência do réptil Endothiodon,
juntamente com anfíbios rinessucóides, em camadas pertencentes a Formação
Rio do Rasto, na região da Serra do Cadeado, no Paraná. Com base nestes
dados, Barberena, Araújo & Lavina (1985) sugerem uma correlação temporal
entre as camadas contendo Pareiasaurus no Rio Grande do Sul e aquelas do
Paraná, portadoras de Endothiodon. Em função desta correlação paleontológica
passam a reconhecer as camadas fossilíferas de Aceguá (Fácies Armada de
Figueiredo Filho, 1973) como representantes da Formação Rio do Rasto no Rio
Grande do Sul, apontando ainda sua possível equivalência com o Membro Morro
Pelado daquela Formação.
Com a evolução destes estudos, Barberena et alii (1983 e 1985a,b) e
Barberena et all. (1991) não apenas reafirmam a existência da Formação Rio do
Rasto no Rio Grande do Sul mas refinam a correlação bioestratigráfica dentro da
unidade, posicionando apenas Endothiodon (PR) na Zona de Cistecephalus e
relacionando o réptil Pareiasaurus (RS) à Zona de Daptocephalus, que se
sobrepõe à primeira na África do Sul.
28

A ocorrência desta unidade no Estado tem sido posteriormente


demonstrada por correlações de subsuperfície, apresentadas em diversos
trabalhos mais recentes (e.g. Lavina, 1992; Milani, 1997), o que finalmente
restabelece a coerência entre a seção estratigráfica do Permiano Superior do Rio
Grande do Sul com o registro preservado nos estados de São Paulo, Paraná e
Santa Catarina.
Por outro lado, a sucessão triássica, por suas características particulares
em relação ao contexto da bacia, teve sua organização e nomenclatura
litoestratigráfica modificada e aprimorada de forma quase que independente,
desde a individualização das “camadas de Santa Maria” por Morais Rego (1930) e
sua posterior elevação à categoria de Formação por Gordon Jr. (1947).
A evolução dos conceitos pode ser retomada já nos anos setenta, com a
caracterização da Formação Rosário do Sul que, posteriormente elevada à
categoria de Grupo, passa a ser a designação formal do Triássico da Bacia do
Paraná. A ordenação estratigráfica do intervalo atinge seu estágio atual a partir
de três contribuições fundamentais: Gamermann (1973), Bortoluzzi (1974) e
Andreis, Bossi & Montardo (1980). Os diferentes significados atribuídos ao termo
"Rosário do Sul" desde sua origem (Quadro 2.4), sua ocorrência restrita ao Rio
Grande do Sul e a importância desta unidade na organização estratigráfica do
intervalo Permo-Triássico da Bacia do Paraná, constituem pontos centrais do
presente trabalho, motivo pelo qual passam a ser particularmente analisados a
seguir.

2.3.1 Litoestratigrafia do Triássico do Rio Grande do Sul

2.3.1.1 A Formação Rosário do Sul

O termo "Formação Rosário do Sul" foi originalmente proposto por


Gamermann (1973), em referência a cidade homônima, "para designar o pacote
de rochas sedimentares que ocorre entre as Formações Estrada Nova e Botucatu,
no Rio Grande do Sul " (Quadro 2.4a).
A exemplo de outros autores já mencionados, Gamermann (op.cit.)
considera a Formação Rio do Rasto inexistente no Estado.
29

Quadro 2.4 Três contribuições fundamentais à atual organização litoestratigráfica do Permo-


Triássico do Rio Grande do Sul.
a. A Formação Rosário do Sul
GAMERMANN, 1973
Idades Rio Grande do Sul São Paulo
CRETÁCEO
JURÁSSICO Formação Serra Geral Formação Serra Geral

JURÁSSICO Formação Botucatu Formação Botucatu

Fácies Santa Maria Fácies Santana


Formação Formação
TRIÁSSICO
Rosário do Sul Pirambóia
Fácies fluvial Fácies fluvial

PERMIANO Formação Estrada Nova Formação Estrada Nova

b. A Formação Rosário do Sul ss.


BORTOLUZZI ,1974
Idades Rio Grande do Sul Norte da Bacia do Paraná

CRETÁCEO Formação Serra Geral Formação Serra Geral


JURÁSSICO
Facies Santana
+
Botucatu s.s.
Facies eólica
Grupo São Bento

Formação
JURÁSSICO? Formação Botucatu
Botucatu
Membro
Facies fluvial
Caturrita
(Pirambóia)

Fácies Alemoa
Formação
TRIÁSSICO Santa Maria
Superior Fácies Passo H
das Tropas

Formação Rosário do Sul s.s.


PERMIANO Grupo Passa Dois
c. O Grupo Rosário do Sul
ANDREIS, BOSSI & MONTARDO,1980
Grupo São

Formação Serra Geral


Bento

JURO-CRETÁCEO
Formação Botucatu

Formação Caturrita
Grupo Rosário

Formação

Membro Alemoa
do Sul

Santa
Maria

TRIÁSSICO
Membro Passo das Tropas

Formação Sanga do Cabral


PERMIANO Grupo Passa Dois

Contatos: transicional plano/ondulado discordante H hiato deposicional


30

Gamermann (1973) concebe a Formação Rosário do Sul como um


sistema deposicional único, dividindo-o em duas fácies: uma basal,
dominantemente arenosa, de canais fluviais e planície de inundação; e outra, de
topo, pelítica, lacustre, depositada durante as fases finais do sistema. Esta última,
denominou “fácies Santa Maria” (sensu Morais Rego, 1930), correspondendo às
camadas vermelhas contendo a conhecida fauna triássica, que ocorrem
exclusivamente no Rio Grande do Sul, conforme já observara Gordon Jr. (1947).
As relações de contato da Formação Rosário do Sul são considera transicionais,
tanto o inferior, com a Formação Estrada Nova, quanto o superior, com o Arenito
Botucatu
A fácies de Santa Maria é definida por Gamermann (op. cit.) como uma
unidade "com características mais bio que litoestratigráficas”, diferenciada do
conjunto apenas pela existência de registro fossilífero, motivo pelo qual não a
considerou como uma Formação autônoma. Em seu modelo paleoambiental os
répteis estariam associados à corpos lacustres, descontínuos, correspondendo
portanto a uma fácies subordinada ao grande sistema fluvial Rosário do Sul.
Com base nestes argumentos, o autor reúne sob a denominação de Formação
Rosário do Sul todos os depósitos triássicos numa mesma unidade formal,
independente do Grupo São Bento.
Em termos de correlação regional, Gamermann (op. cit.) aponta os
Arenitos Pirambóia (Washburne, 1930), no Estado de São Paulo, como sendo
equivalentes à Formação Rosário do Sul. Esta correlação é posteriormente
admitida por diversos outros autores, incluindo Schneider et alii (1974) que
assumem quase que integralmente a proposta de Gamermann (1973) em sua
coluna, exceção feita às relações de contato que consideram discordantes (cf.
Quadro 2.3c).

2.3.1.2 A Formação Rosário do Sul stricto sensu

Uma importante evolução dos conhecimentos provém dos estudos


realizados por Bortoluzzi (1971, 1974), cujos resultados constituem uma
contribuição definitiva à estratigrafia do Triássico do Rio Grande do Sul (Quadro
2.4b).
31

Bortoluzzi (1974), estabelece a seção tipo da "fácies Santa Maria", nas


cercanias da cidade homônima, no Rio Grande do Sul, redefinindo suas relações
com a Formação Rosário do Sul, então recentemente introduzida por Gamermann
(1973).
Com base em mapeamento geológico por ele realizado na região,
Bortoluzzi (op.cit.) individualiza a "fácies Santa Maria" da Formação Rosário do
Sul, demonstrando tratar-se de uma unidade autônoma, restrita à coluna
gondwânica do Estado do Rio Grande do Sul, possuindo atributos lito e
paleontológicos próprios, com extensão regional mapeável na escala de 1:25.000.
Em vista disso, Bortoluzzi (1974) passa a utilizar o termo "Formação
Santa Maria" (como definido por Gordon Jr.,1947), restringindo a amplitude da
Formação Rosário do Sul às camadas essencialmente arenosas, que ocorrem na
base da unidade, em contato gradacional com a Formação Estrada Nova. As
duas fácies constituintes da Formação Rosário do Sul de Gamermann (1973)
são portanto elevadas à categoria de Formação: (1) Formação Rosário do Sul ss.
(sensu strictu) inferior, arenosa, depositada por processos fluviais
(correspondendo à porção basal da Formação Rosário do Sul original) e (2)
Formação Santa Maria, superior, lamítica, fossilífera, lacustre. O contato entre as
duas unidades é considerado gradacional.
Ao caracterizar a Formação Santa Maria, Bortoluzzi individualiza duas
fácies: (1) a fácies Passo das Tropas, basal, areno-conglomerática, de origem
fluvial contendo elementos da Flora Thinfeldia-Dicroidium; e (2) a fácies Alemoa,
lamítica, vermelho-tijolo, contendo vertebrados fósseis.
Em função do conteúdo fossilífero, atribui ao conjunto Rosário do Sul-
Santa Maria idades relacionadas ao Triássico Superior.
A Formação Botucatu, é também subdividida em duas fácies, com contato
gradacional entre si: (1) fácies fluvial arenosa, basal, contendo troncos
silicificados, para a qual Bortoluzzi propõe formalmente, pela primeira vez, a
designação de Membro Caturrita; (2) fácies eólica superior, correspondendo aos
arenitos característicos da Formação Botucatu, reconhecidos em toda bacia e por
ele denominada Botucatu ss. O Membro Caturrita constitui assim a fácies basal,
fluvial, da Formação Botucatu.
32

Atribuindo a este conjunto, tentativamente, idade jurássica, considera


discordantes os contatos da Formação Botucatu, tanto o basal com a Formação
Santa Maria quanto o superior, com a Formação Serra Geral.
Quanto ás correlações regionais, Bortoluzzi (1974) diverge de
Gamermann (1973), que considerou a Formação Rosário do Sul eqüivalente à
Formação Pirambóia, em São Paulo (cf. Quadro 6). Bortoluzzi não encontra
possibilidade de correspondência das Formações Rosário do Sul ss. e Santa
Maria com nenhuma outra unidade da Bacia do Paraná, em vista da inexistência
de qualquer registro de camadas portadoras de fósseis triássicos (répteis e
vegetais) nas regiões ao norte da bacia. Sugere que durante o Triássico Superior,
ao contrário do ocorrido no Rio Grande do Sul, aquelas regiões não tenham se
comportado como áreas de sedimentação, mas submetidas a soerguimento,
resultando numa interrupção do registro deposicional durante o intervalo.
Diferentemente de Gamermann (1973), Bortoluzzi (1974) correlaciona a
Formação Pirambóia nos estados do Paraná e São Paulo, exclusivamente com o
Membro Caturrita, base da Formação Botucatu no Rio Grande do Sul,
considerando a porção superior da unidade (Botucatu ss.) correspondentes aos
arenitos eólicos da Formação Botucatu, ao norte da bacia.

2.3.1.3 O Grupo Rosário do Sul

A estruturação litoestratigráfica atual do Triássico sul-rio-grandense,


resulta dos estudos produzidos e publicados por Andreis, Bossi & Montardo, em
1980 (Quadro 2.4c).
Neste trabalho, os autores propõem a reunião das unidades triássicas do
Rio Grande do Sul sob a denominação de Grupo Rosário do Sul, concepção que
viria a abranger, sem grandes alterações de nomenclatura, as propostas
litoestratigráficas de Gamermamn (1973) e, principalmente, de Bortoluzzi (1974).
Andreis, Bossi & Montardo (1980), reconhecendo na região de Rio Pardo-
RS as unidades individualizadas por Bortoluzzi (op.cit.) em Santa Maria, propõem
a reorganização do pacote Triássico numa única unidade litoestratigráfica da
categoria de Grupo, formada por três megaciclotemas superpostos, equivalentes
a formações.
33

Assim, a Formação Rosário do Sul, termo original de Gamermamn (op.


cit.), é elevada à categoria de Grupo, com suas subdivisões internas obedecendo
quase que integralmente a concepção de Bortoluzzi (1974): (1) Formação Sanga
do Cabral - única designação formal introduzida por Andreis, Bossi & Montardo
(1980) 1 , em substituição ao termo Formação Rosário do Sul ss. - correspondendo
aos arenitos fluviais da base do Grupo; (2) Formação Santa Maria, exatamente
conforme concebida por Bortoluzzi, inclusive subdividida internamente nos
Membros Passo das Tropas e Alemoa e (3) Formação Caturrita, apenas esta
diferindo do significado atribuído por Bortoluzzi, que a considerava como membro
fluvial, basal, da Formação Botucatu. Andreis, Bossi & Montardo elevam esta
unidade à categoria de Formação, adotando a proposição de Jabur (1979), que a
incluiu na seqüência triássica. Os autores justificam esta opção, argumentando
que a Formação Caturrita tenha afinidades genéticas com o Grupo Rosário do Sul
"por apresentar semelhanças paleoambientais, contatos definidos e conter,
essencialmente, uma fauna de répteis de idade triássica", o que a excluiria da
Formação Botucatu.
Quanto às idades das formações que compõem o Grupo Rosário do Sul,
Andreis, Bossi & Montardo apoiam-se nas determinações paleontológicas e suas
correlações com as idades-réptil obtidas na República Argentina (Bossi &
Bonaparte, 1980; apud Andreis, Bossi & Montardo op.cit.)).
A Formação Sanga do Cabral é posicionada entre o Permiano Superior e
o Triássico Médio Inferior, tendo em vista que esta unidade ocorre entre a
Formação Estrada Nova (Permiano) e o Membro Passo das Tropas, base da
Formação Santa Maria, cuja idade é inferida com base na presença da flora de
Dicroidium, cuja primeira aparição na Argentina é relacionada á idade-réptil
Chañarense Inferior (Triássico Médio Inferior).
A Formação Santa Maria, pela presença dos vertebrados fósseis
estudados por Barberena (1977), é considerada como pertencente ao intervalo
Chañarense Superior-Ischigualastense Inferior, Triássico Médio Superior
(Anisiano-Carniano).

1
A nova denominação "Sanga do Cabral" foi introduzida por Andreis, Bossi & Montardo (1980) para designar os arenitos
fluviais subjacentes à Formação Santa Maria, em substituição a "Formação Rio Pardo", proposta anteriormente por
Delaney & Goñi (1963) devido á existência prévia do termo Formação Rio Pardo, utilizada por Hartt (1970) para rochas do
Siluriano do Estado da Bahia (apud Montardo, 1982; Baptista, Braun & Campos,1984).
34

A Formação Caturrita, também por seu conteúdo fossilífero


(Proterochampsia, Exaeretodon e Jachaleria) relacionado à idade-réptil
Ischigualastense Superior-Coloradense, é incluída no Triássico Superior.
No conjunto, portanto, o Grupo Rosário do Sul representa quase que a
totalidade do Triássico, sendo limitado inferior e superiormente por superfícies de
discordância.
As interpretações paleoambientais feitas por Andreis, Bossi e Montardo
para este novo Grupo, em linhas gerais, coincidem com as conclusões de
Gamermamn (l973) e Bortoluzzi (l974), especialmente no que se refere às fácies
fluviais (Fm. Sanga do Cabral, Membro Passo das Tropas e Fm. Caturrita). Sob
este aspecto, a grande divergência é quanto ao Membro Alemoa da Formação
Santa Maria. Devido à ausência de estruturas primárias nestes pelitos, além da
ocorrência de níveis de calcretes, associados à rica fauna da répteis herbívoros,
os autores descartam a hipótese lacustre sugerida por diversos pesquisadores,
entre os quais incluem-se Gamermann (op. cit.) e Bortoluzzi (op. cit.). Consideram
que as características do Membro Alemoa são mais compatíveis com depósitos
loessicos, semelhantes aos existentes atualmente nos pampas da República
Argentina, interpretação coincidente com a formulada por Huene & Stahlecker
(1931).
Andreis, Bossi & Montardo admitem a correlação entre o Grupo Rosário
do Sul e a Formação Pirambóia dos Estados do Paraná e São Paulo,
principalmente por de seu posicionamento estratigráfico similar, entre o Grupo
Passa Dois e a Formação Botucatu, confirmando o observado por diversos outros
autores (Gamermann, 1973; Schneider et al., 1974; Soares, 1975).
No Uruguai, consideram que a extensão do Grupo Rosário do Sul é
representada pelas formações Yaguari e Buena Vista. A correlação entre as
formações Sanga do Cabral e Rio do Rasto em Santa Catarina e São Paulo, é
colocada em dúvida, face à ausência de fundamentação paleontológica.
O trabalho de Andreis, Bossi & Montardo (1980), além de formular uma
importante reestruturação estratigráfica dos depósitos triássicos do Rio Grande do
Sul, preenche a lacuna, da hierarquia de Grupo, observada nas colunas
estratigráficas entre os Grupos Passa Dois e São Bento. O Grupo Rosário do Sul,
conforme organizado, desde sua proposição, vem sendo adotado quase que
unanimemente para referir o Triássico da Bacia do Paraná.
35

2.4 Hipótese de Trabalho

Embora tendo como referência litoestratigráfica a coluna estabelecida por


Bortoluzzi (1974) e consolidada por Andreis, Bossi & Montardo (1980), este
estudo adota como hipótese de trabalho a subdivisão alternativa do intervalo
Neopermiano-Eocretáceo da Bacia do Paraná no Rio Grande do Sul baseada na
identificação de rupturas do registro estratigráfico e individualização de
seqüências deposicionais, delimitadas a partir da caracterização de variações
faciológicas e paleoambientais, relações de contato e conteúdo fossilífero, de
significação regional, conforme abordagem formulada por Faccini (1989).
Esta subdivisão, priorizando os aspectos genéticos do registro estratigráfico,
objetivou identificar os diversos eventos deposicionais que constituem as
unidades litoestratigráficas formais previamente estabelecidas. Sua elaboração
fundamentou-se na aplicação dos conceitos básicos da estratigrafia de
seqüências, a partir da correlação de seções estratigráficas regionais (Fig. 2.2),
compilação de informações preexistentes e nos dados paleontológicos então
disponíveis (Quadro 2.5).
Com base nesta metodologia, a ser detalhada nos capítulos seguintes, foram
reconhecidas quatro seqüências deposicionais, caracterizadas por constituírem
associações faciológicas distintas, geneticamente relacionadas, delimitadas por
superfícies erosivas regionais, com duração e hiatos deposicionais estimados por
seu conteúdo paleontológico particular. Esta divisão do intervalo em seqüências
deposicionais constitui o pressuposto estratigráfico básico deste trabalho,
podendo ser resumidamente enunciada nos seguintes termos:
O conjunto de rochas que compõem o registro sedimentar do Permiano
Superior e Mesozóico do Rio Grande do Sul é passível de subdivisão em quatro
(4) seqüências deposicionais continentais, separadas por inconformidades 1 , com
idades e hiatos deposicionais determinados paleontologicamente:
a) Seqüência I: correspondendo às Formações Rio do Rasto e Sanga do
Cabral.

1
Termo aqui utilizado como tradução de "unconformity", no sentido atribuído por Van Wagoner et al. (1988): "Superfície
que separa estratos novos de antigos, com evidências de truncamento erosional subaéreo ou exposição subaérea com
significativo hiato indicado". O uso do termo "discordância" - freqüente na literatura brasileira - por implicar relações
angulares entre os estratos, é aqui evitado e substituído por "desconformidade" ou "inconformidade erosiva",
correspondendo aos termos "disconformity", "erosional unconformity" ou ainda "stratic unconformity" (Schoch, 1989).
36

a. Correlação de seções estratigráficas


Santana do Rosário Jaguari Santa Cachoeira Santa Cruz Gravataí
Livramento do Sul Maria do Sul do Sul
1 2 3 4 5 6 7
S-SW N-NE W E

Cota(m)
320
300 300
300
280

IV
250 250
250

240
* ? III
2 20

200 200
200 200 200 200 2 00
200

II
1 50
150 15 0 1 50
150 150 150

130

100 100 100 1 00 1 00 100


100 I
80
m f f m g mg cg
argila
sil te areia 70
70

50 50 50 50
50

30 30

os fluviais correspondentes à Alof ormaç ão Guará, unidade proposta por Scherer &
* arenit
Lavina (1997), restrita à região oeste do Estado e atribuída ao Neojurássico, por correlação
com a Formação Tacuarembó, no Uruguai. Esta unidade, a ser brevemente formalizada pelos 0
autores, ocorre fora da área-alvo dest e estudo e será abordada apenas superficialmente.
b. Seções Estratigráficas c. Estratigrafia
560 540 520 500 Seqüências Associações faciológicas e
Deposicionais Litoestratigrafia
0o
BRASIL Sucessão Seqüências Litofácies Fácies dominantes Formação
Rio G rande
30 o do Sul (2) derrames vulcânicos, intercalados
2 Serra Geral
a arenitos eólicos, na base
56o
280 280 Botucatu IV 1 Botucatu

A
Rio Grande do Su (1) dunas e interdunas eólicas;

IN
sistema eólico seco

NT
RGE
1 (2) pelitos (arenitos subordinados) de

A
planície de inundação
Ja gua rí 2
San ta ( 1) sistema fluvial de canais
Ma ta Maria Candelária Sa nta Cruz Mata* III
3 entrelaçados a moderada
S ão V ic ente 8
do Sul Mo nte neg ro
1
4 6 7 sinuosidade; madeira silicificada Caturrita
C ac hoeira
5 Rio
300 do Sul Pardo Gra vataí 300
2 Ro sário Porto Alegre
do Sul 4 (4) frentes deltaicas lacustres/
3 crevasse; vertebrados triássicos
4
Livramen to 1 (3) canais fluvias isolados; sistema Fc . Alem oa

s
Sa ntana Santa

to
da Boa Vi sta

Pa
meandrante/anastomosado

s
do
Maria/ II 2 (2) pelitos lacustres e de planícies de

CO

na
TI
Santa

gu
inundação com paleosolos;

La
Caturrita

LÂN
vertebrados triássicos Maria

AT
UR ( 1) sistema fluvial de canais

O
U

N
Aceguá entrelaçados a moderada Fc. P asso

EA
GU
320 320 sinuosidade; flora de Dicroídium das Tropas

OC
AI
Unidades Gondwânicas:
(4) sistema aluvial de planície
"Red beds" cont ine ntais entrelaçada; Procolophonídeos
1
Eop ermiano s e Mesozóicos Seções es tratigráficas Sanga do
(Fms. Rio do Rasto, Sanga do Cabral, Santa Sanga do
Maria, Caturrita e Botuc atu, indiferenc iadas ) Loc alidades de referência Cabral/ 3 (3) dunas e interdunas eólicas; Cabral
Depósitos gla ciais, marinh os e Rio do I sistema eólico úmido
t ransicionais permianos
(Fms.Itararé, Rio Bonito, Palermo, Irati, 50 km 0 1 50 km Rasto
Serra Alta e T eresina, i ndiferenciadas) 2 (1) pelitos de pró-delta e (2) frentes Rio do
340 340 1 deltaicas lacustres; Pareiassauros
560 540 520 500 Rasto
Localização: (1)Santana do Livramento-Dom Pedrito (2)Alegretre-Rosário do Areni tos Pelitos Estratificações cruzadas
Intraclastos pelíticos
Sul-São Gabriel (3)São Vicente do Sul-Jaguari (4)São Sepé-Santa Maria maciços eólicas
(5)BR290-Cachoeira do Sul-BR287 (6)Rio Pardo-Santa Cruz do Sul laminados fluviais Vertebrados fósseis
(7)Gravataí-Taquara (8)São Vicente do Sul-Montenegro (Seção W-E). "climbing ripples" Madeira silicificada
O retângulo tracejado indica a principal área deste estudo. * "arenito Mat a":unidade informal, pertencente a Formação Caturrita. Ver discussão no texto.
Figura 2.2 Correlação de seções colunares compostas (a), elaboradas a partir de seções estratigráficas regionais de superfície (b). Divisão estratigráfica
do intervalo Neopermiano-Eocretáceo da região central do Rio Grande do Sul em seqüências deposicionais (c) e suas equivalências com as uidades
litoestratigráficas formais (topo do Grupo Passa Dois e Grupos Rosário do Sul e São Bento). Seqüências individualizadas com base em mudanças abruptas
37

de fácies, relações contato e modificações de conteúdo fossilífero (conferir Quadro 2.5). Modificado de Faccini (1989).
38

IDADES Zonas Unidades


Faunas Locais de tetrápodos do Permiano IDADES FAUNAS LOCAIS Cronoestratigrafia
RÉPTEIS Bioestratigráficas Litoestratigráficas
e Triássico da América do Sul
EUROPA ARGENTINA BRASIL ARGENTINA ÁFRICA DO SUL BRASIL ARGENTINA ÁFRICA DO SUL

RHAETICO Arenito Mata*

219
La Esquina
BRASIL NORIANO Coloradian ? Los Colorados Série

Superior
Stromberg
225 Botucaraí Caturrita

1 CARNIANO Ischigualastian Ischigualasto Ischigualasto


Faunas
2
Locais 3 231
da Alemoa Santa Maria
4
56 0 48 0 Los Rastros
ARGENTINA 1
28 0 LADINIANO

TRIÁSSICO
5 Cha ñarian Chiniquá
i Paraná
g ua Los Chañares
ra Pinheiros Los Chañares
Curitiba 238
Pa

Médio
a Santa Catarina
in ANISIANO
nt
rge
A Rio Grande do Sul
6 7 4 243
5 Sa nt a Maria Porto Alegre Puesto Viejo Cynognathus
3
SCYTHIAN Puesto Viejo Série Beaufort
Puestoviejan
Ur
0
Superior

Inferior
32 ug Catuçaba Agua de los Burros Lystrosaurus
ua 2
i 248 Sanga do Cabral
200 km
Aceguá Daptocephalus
Série Beaufort
Faunas Locais do sul do BRASIL TATARIANO Inferior
Serra do Cadeado Rio do Rasto
Cistecephalus

PERMIANO
* Unidade informal (arenitos da Fm. Caturrita co ntendo troncos silicificados) con tato discordante con tato gradacional
Quadro 2.5 Localização e correlações entre as paleofaunas de vertebrados da América do Sul e África (modificado de Barberena et alii 1985a,b).
Os mapas à esquerda indicam as principais áreas de ocorrência de tetrápodes terrestres neopermianos e triássicos na América do Sul:
ARGENTINA: (1) Ischigualasto (2) Cacheuta (3) San Rafael (4) Los Menucos (5) El Tranquilo;
BRASIL: (1) Serra do Cadeado (2) Aceguá (3) Catuçaba (4) Pinheiros (5) Chiniquá (6) Alemoa (7) Botucaraí.
39

Constituída por fácies lacustres, deltaicas, fluviais e eólicas, genética e


espacialmente associadas, com idades indicadas pela presença dos
vertebrados fósseis Pareiasaurus americanus (Araújo,1982;1985a) e
Procolophon pricei (Lavina,1983), o primeiro relacionado ao final do Permiano
(Tatariano, 253-258 m.a) e o segundo à base do Triássico (Scythiano: 248-
243 m.a.) 1 ;

b) Seqüência II: compreendendo a associação constituída pelos Membros


Passo das Tropas e Alemoa da Formação Santa Maria e parte da Formação
Caturrita (sensu Andreis Bossi e Montardo, 1980). Reunindo as fácies fluviais
(Membro Passo das Tropas e parte da Formação Caturrita) e a associação
de pelitos lacustres e arenitos finos e siltitos lenticulares, deltaicos, ricos em
vertebrados fósseis (Membro Alemoa da Formação Santa Maria e parte da
Formação Caturrita). As idades fósseis obtidas pelas ocorrências da Flora de
Dicroidium (Bortoluzzi, 1974; Bortoluzzi et al.,1983) e da paleofauna de
tetrapodos (Barberena et al., 1985a,b; 1993), situam esta unidade no
Triássico Médio-Superior (intervalo Ladiniano-Eonoriano (238~220 m.a.);

Seqüência III: unidade informalmente denominada "arenitos Mata" (Faccini,


1989), correspondendo à porção superior da Formação Caturrita (sensu
Andreis Bossi e Montardo, 1980). Constituída essencialmente por arenitos
fluviais, portadores de expressivas acumulações aloctones de caules silicifi-
cados de coníferas, que ocorrem predominantemente nos municípios de
Mata e São Pedro do Sul, com registros mais localizados em Santa Maria e
Faxinal do Soturno. Esta unidade informal (pertencente à Formação Caturrita,
sensu Bortoluzzi,1974), foi proposta para diferenciar os arenitos fluviais que
contém exclusivamente troncos silicificados “in situ” 2 - inclusos nos depósitos
de canais - daqueles portadores de vertebrados fósseis. Estes últimos,
incluindo não somente fácies fluviais, mas também depósitos de frentes
deltaicas lacustres e de crevasse splays, ocorrem a partir de Santa Maria em

1
Escala de tempo geológico segundo Harland et al. (1982)
2
Os termos "autóctone/alóctone" e "in situ/ex situ" são aqui utilizados segundo os conceitos de Martínez & Santoja
(1994):alóctone, conceito tafonômico (oposto a autóctone), significando que o fóssil sofreu transporte lateral, em relação à
sua posição original; in situ, conceito bioestratigráfico que se refere à relação entre fóssil e rocha, significando que o fóssil
encontra-se incluído no corpo da rocha. Em oposição, o termo ex situ refere-se a fósseis que se encontram rolados,
portanto não incluídos no corpo rochoso.
40

direção a leste, ao longo de toda a faixa de afloramento da Formação


Caturrita, sensu Andreis Bossi e Montardo, 1980 (p.e. Cerro Botucaraí-
Candelária e localidade Santuário-Santa-Cruz do Sul), sem registros
observados de madeiras silicificadas associadas à paleofauna reptiliana.
A associação de troncos permineralizados da Seqüência III constitui-se
predominantemente por formas gimnospérmicas de grande porte, vinculáveis
a Coniferopsida. Segundo Meyen (1987), estas formas dominam em
megafloras relacionadas ao final do Mesozóico, como registrado na Sibéria,
onde o amplo desenvolvimento de gimnospermas ocorre durante o Jurássico
e o Cretáceo Inferior a Médio. Por outro lado, Herbst & Lutz (1988), ao
identificarem um exemplar de madeira fóssil da região de Santa Maria como
Rhexoxylon, portanto relacionada à flora de Dicroidium, restringem a idade
do achado ao Triássico Superior. Em função destes referenciais - um global,
indicando o Mesozóico Superior (Meyen, op. cit.) como idade preferencial
para megafloras semelhantes às encontradas na Seqüência III, outro local
(Herbst & Lutz, op. cit.), indicando idade Neotriássica - esta unidade é atribuí-
da, como tentativa preliminar, ao final do Triássico (Rético: 219-213 m.a.);

d) Seqüência IV: correspondente aos depósitos eólicos da Formação


Botucatu, os quais se interdigitam no topo e são recobertos pelos derrames
de lavas vulcânicas da Formação Serra Geral, cujas datações radiométricas
(137 - 127 m.a.) indicam que o episódio desértico tenha se desenvolvido
durante o Neojurássico-Eocretáceo.

Esta divisão do registro Eopermiano-Neocretáceo da borda sudeste da Bacia


do Paraná (Fig. 2.3; Quadro 2.6) apoia-se, basicamente, na caracterização de
sistemas deposicionais distintos (conferir detalhes no Capítulo 4), nas substituições
de flora e fauna identificadas para intervalo e no conceito de seqüência
deposicional, formulado por Mitchum et al. (1977): "unidade estratigráfica composta
por uma sucessão relativamente concordante de estratos geneticamente
relacionados, limitados no topo e na base por inconformidades ou suas
conformidades correlativas". A identificação dos limites físicos destas unidades (no
caso, desconformidades), materializadas por superfícies de erosão e abruptas
modificações texturais, coincidentes com lacunas bem determinadas pela
41

580 560 540 520 500


56o

0o

BRASIL V V V V V V

V V V V V V V V V V V
30 o

28 0 28 0
V V V V V V V V V V V V V V

Rio Grande do Sul


V V V V V V V V V V V V V V V V
São Borja

V V V V V V V V V V V V V V V V V V

V V V V V V V V V V V V V V V V V
São Pedro
V V V V V Santa
Mata do Sul V V V
Candelária V V V V V V V V
Maria

V V V V V
Uruguaiana
Cachoeira 30 0
30 0 V V V V V do Sul
Rosário Porto Alegre
do Sul
V V V V

V V V

Santana
V V
Livramento da Boa Vista

Aceguá

32 0 32 0
Escala
0 50 100 200 km

Contato gradacional
Contato erosivo (disconformidade)

Estratigrafia:
Período Grupo Formação Seqüências Deposicionais
Cretáceo Serra Geral roch as vulcânicas
Infe rior V V Seqüência
SÃO
Superior
Juro-Cretácica
BENTO
Jurássico Botucatu IV Botucatu

S Caturrita III Mata


Triássico

Seqüência
ROSÁRIO Meso-Neotriássica
M DO SUL Santa Maria
II Santa Maria

I Sanga do Cabral Sanga do Cabral/


Seqüência
I Neopermiana-
PASSA DOIS Rio do Rasto Rio do Rasto Eotriássica
Permiano
Grupos Passa Dois inferior,
Guatá e Itararé indivisos

Embasamento pré-gondwânico e sedimentos quaternários indiferenciados


580 500

Figura 2.3 Mapa simplicado e estratigrafia do Gondwana superior do Rio Grande do Sul: unidades
litoestratigraficas e seqüencias deposicionais equivalentes (modificado de Faccini, 1989).
42

SEQÜÊNCIAS DEPOSICIONAIS LITOESTRATIGRAFIA


Idades (Ma) S-SW N-NE W E Gamermann Bortoluzzi Andreis, Bossi
Sucessão 1973 1974 & Montardo
1 2 3 4 5 6 7 1980

JURO-CRETÁCEO SEQ IV Botucatu Fm. Botucatu Botucatu s.s. Fm. Botucatu

213
RHAETICO Mata * Membro
SEQ III
219 Caturrita Fm. Caturrita

Fm. Botucatu
NORIANO
B
Fácies

Superior
225
Santa Santa
CARNIANO A
Maria/ Maria Fácies Alemoa Membro
231 SEQ II Caturrita Alemoa
C
LADINIANO P

TRIÁSSICO
238

Médio
Fácies Passo Membro Passo
ANISIANO
Fm. Santa Maria
das Tropas das Tropas
Fm. Santa Maria

Formação Rosário do Sul


243
GRUPO ROSÁRIO DO SUL

Cç Fácies Formaç ão Formaç ão


SCYTHIANO

Inf.
Sanga do fluvial Rosário do Sul s.s. Sanga do Cabral
248 Cabral/
PERMIANO Sup. SEQ I Rio do
(Tatariano) GRUPO PASSA DOIS - Formação Rio do Rasto
Ac Rasto

Sistemas eólicos Sistemas Fluviais Sistemas Lacustres


meandrante/ Pró-deltas, frentes deltaicas Madeira silicificada Vertebrados fósseis
seco
anastomosado e depósitos de planície
úmido canais entrelaçados de inundação
Faunas Locais: (Ac) Aceguá (Cç)Catuçaba (P)Pinheiros
Pró-deltas e
"braided plain" (C)Chiniquá (A)Alemoa (B)Botucaraí
frentes deltáicas

hiato deposicional contato concordante disconformidade ("erosional unconformity") * unidade informal


1
Seções Estratigráficas: (1) Santana do Livramento-Dom Pedrito; (2) Alegre-Rosário do Sul- São Gabriel; (3)São Vicente-Jaguari;(4) São Sepé-Santa Maria;
(5) BR290-Cachoeira do Sul-BR287 ; (6) Rio Pardo-Santa Cruz; (7) Gravataí-Taquara (conferir Figura2.2 para localização).

Quadro 2.6 Seqüências deposicionais do Permo-Triássico do Rio Grande do Sul e suas equivalências litoestratigráficas (Faccini, 1989; Faccini
et al.,1989). Diagrama cronoestratigráfico esquemático, baseado na correlação de seções estratigráficas (Fig. 2.2). Duração das seqüências e
hiatos deposicionais estimados a partir das idades das "faunas locais", estabelecidas por Barberena et alii, 1985a,b (conferir Quadro 2.5). Escala
de tempo geológico segundo Harland et al.(1982).
43

paleontologia, embora preencha o requisito fundamental para a individualização de


seqüências deposicionais, não contempla todos os aspectos da teoria da
estratigrafia de seqüências. A aplicação completa da teoria pressupõe não apenas
o reconhecimento de superfícies-chave, mas prevê também a identificação de
subdivisões internas (tratos de sistemas), caracterizadas por alterações na
arquitetura deposicional e nos padrões de empilhamento, que refletem variações do
espaço de acomodação, produzidas em resposta à oscilações do nível de base
estratigráfico. A previsão de aplicabilidade deste postulado às seqüências
continentais em questão constitui a hipótese de trabalho a ser testada por estudo.
Com este objetivo, o capítulo seguinte apresenta uma revisão histórica do
conceito de "seqüência deposicional" e as principais etapas de evolução conceitual,
até o estágio atual de aplicação dos fundamentos teóricos da estratigrafia de
seqüências na análise de sistemas continentais. Nos capítulos subsequentes são
apresentados os dados obtidos e analisados segundo esta base teórica e,
posteriormente, as interpretações e correlações decorrentes desta abordagem.
Capítulo 3
BASE CONCEITUAL: A ESTRATIGRAFIA DE SEQÜÊNCIAS
APLICADA À SUCESSÕES CONTINENTAIS

A estratigrafia é feita de subdivisões e indicadores de tempo.


A partição do registro geológico em unidades sedimentares autônomas -
seqüências - separadas por “quebras” na regularidade estratal ou na continuidade
litofaciológica, é tão antiga quanto a própria estratigrafia.
Identificadas as rupturas do registro, a questão seguinte diz respeito às
características e hierarquias das superfícies limitantes de cada intervalo identificado:
suas dimensões espaciais, lacuna de tempo que contêm e, por fim, o significado
geohistórico dos mecanismos que as geram.
Isto pressupõe, não só a compreensão dos fatores que produzem o espaço para
a sedimentação e dos processos atuantes no desenvolvimento de cada unidade,
mas principalmente o estabelecimento de linhas de tempo, que confiram aos
pacotes individualizados caráter cronoestratigráfico e, portanto, potencial de
correlação.
A estratigrafia de seqüências é a teoria que busca a compreensão unificada
destas variáveis. Este capítulo procurará abordar sucintamente cada um destes
tópicos, a evolução dos conceitos fundamentais e sua aplicação às sucessões
continentais, elementos que constituíram o substrato teórico para a aquisição e
análise dos dados a serem apresentados nos capítulos subsequentes.

3.1 Introdução

“Aplication of high-resolution sequence stratigraphic concepts to


nonmarine strata is in its infancy” (Shanley & McCabe, 1994).

A título de introdução, a frase em epígrafe - publicada no relatório do grupo


de trabalho sobre seqüências continentais da AAPG-1991NUNA Conference on
High Resolution Sequence Stratigraphy, Banff, Canada - mesmo decorridos
alguns anos, pode ainda ser usada como a expressão resumida e consensual do
45

“estado da arte” da aplicação dos modernos conceitos estratigráficos para


depósitos continentais.
A partir do final da década de setenta o surgimento e evolução dos
conceitos da estratigrafia de seqüências fundamentaram o grande salto de
desenvolvimento da geologia sedimentar atual, constituindo-se numa poderosa
ferramenta de predição da ocorrência e geometria dos estratos sedimentares.
Embora tendo sua origem na indústria do petróleo - particularmente a partir
da aplicação da sismoestratigrafia em sistemas marinhos - portanto inicialmente
ligada à prospecção e exploração de reservas petrolíferas, a estratigrafia de
seqüências vem adquirindo importância crescente, não apenas no estudo de
ambientes continentais, mas na prospecção de carvão, aqüíferos e demais
depósitos minerais sedimentares. O previsível aprimoramento da aplicação da
moderna estratigrafia à sucessões continentais certamente resultará no
desenvolvimento de melhores técnicas de correlação e de modelos preditivos
mais precisos para localização e compreensão da natureza de jazimentos
minerais e reservatórios fluviais e eólicos.
Ainda que considerados em sua infância, os conceitos de estratigrafia de
seqüências vêm sendo amplamente aplicados nos últimos anos a diversos
contextos continentais, buscando explicar, especialmente, as variações na
arquitetura das fácies sedimentares. De interesse particular são os estudos que
buscam a vinculação entre a arquitetura fluvial de ambientes costeiros e as
variações relativas do nível do mar, indicadas pela faciologia do estratos marinhos
adjacentes. Igualmente, estudos em ambientes lacustres, os quais registram
marcantes variações de fácies entre os depósitos de highstand e lowstand,
evoluíram rapidamente nos últimos anos.
Nas sucessões continentais, relativamente delgadas, intercaladas com
espessas fácies marinhas, as relações estratais chave (como superfícies
erosionais regionais que sobrepõem estratos fluviais ou costeiros sobre
plataformas marinhas, superfícies transgressivas de erosão e relações anômalas
de fácies) são facilmente reconhecidas e freqüentemente servem como base para
novas interpretações sobre a estratigrafia e a arquitetura deposicional destas
unidades.
Este acentuado desenvolvimento verificado para sucessões litorâneas (e
lacustres), não é tão claramente visível para ambientes distantes do nível de base
46

eustático, indicando que as fronteiras do conhecimento se deslocam para o


interior dos continentes, para as “hinterland sequences” 1 , onde os sistemas
deposicionais respondem à complexa combinação entre fatores alocíclicos - como
clima e tectonismo - e processos autocíclicos, como a avulsão de canais fluviais.
O desafio atual no estudo de seqüências estratigráficas em estratos
continentais, além da adaptação dos conceitos e critérios originalmente
desenvolvidos para ambientes marinhos - “maritime sequences” 2 - é portanto
discriminar os padrões deposicionais que reflitam mudanças provocadas por
processos autocíclicos daqueles produzidos por fatores alocíclicos (Shanley &
MacCabe,1994).
Os conceitos da estratigrafia de seqüências, segundo Posamentier & Allen
(1994), podem ser aplicados de duas maneiras fundamentais: (1) na análise e
predição de litologias e padrões estratais, com base no estudo da ciclicidade do
registro geológico e (2) na construção de modelos de idade para uma dada
sucessão estratigráfica, baseada na correlação da estratigrafia local com a carta
de ciclos eustáticos globais (Haq et al., 1987).
A utilização do “sequence stratigraphic model” para predição litológica e de
arquitetura estratal envolve a análise das interações entre suprimento sedimentar
e espaço disponível para a sedimentação; pressupõe a compreensão e aplicação
de um conjunto de princípios básicos, cuja principal consideração refere-se às
variações do nível relativo do mar (independentemente da importância dos fatores
eustáticos ou tectônicos) que, operando em concerto com o fluxo sedimentar e a
fisiografia da bacia, atuam como controladores primários sobre as sucessões
estratigráficas.

3.2 Ciclos Estratigráficos


As seqüências deposicionais representam um ciclo de deposição, limitado
inferior e superiormente por superfícies de erosão ou não deposição
(unconformities). A duração destes ciclos deposicionais – seqüências – é
determinado pela extensão e periodicidade de atuação dos fatores que controlam

1
Seqüência deposicional (SD) constituída inteiramente por depósitos não marinhos, localizados em áreas interiores à
região costeira, onde os mecanismos deposicionais são controlados indiretamente, ou não completamente, pela posição do
nível do mar;
2
SD constituída por depósitos costeiros e/ou marinhos, controlados parcial ou diretamente pela posição do nível do mar,
que atua como nível de base (Vail et al.,1977a).
47

a criação ou destruição do espaço disponível para a sedimentação. Tectônica,


subsidência e eustasia são os elementos controladores das variações de espaço
disponível e podem atuar em diferentes períodos de tempo. Isto significa que as
seqüências podem ser classificadas segundo sua ordem de duração. Da mesma
forma, o preenchimento de uma bacia sedimentar pode ser dividido de acordo
com a hierarquia temporal das seqüências que o compõem, as quais representam
uma ordem específica do ciclo tectônico ou eustático, que atuou durante sua
deposição.
O conceito de mudanças do nível do mar tem sido utilizado para explicar
certos fenômenos geológicos, à longa data. Para propósitos estratigráficos, tem
sido proposto que as mudanças globais do nível do mar, potencialmente,
poderiam ser utilizadas no estabelecimento de correlações em grandes
distâncias. Atualmente as especulações sobre mudanças globais do nível do mar
(eustasia) permanecem como objeto de interesse geral. Curvas de mudanças do
nível do mar através do tempo geológico foram estimadas de várias maneiras.
Uma das abordagens utilizadas é a estimativa das extensões, ou área, de
inundações continentais, documentadas para diferentes intervalos de tempo
geológico, de cujas informações derivam estimativas de mudanças eustáticas
ocorridas no passado.
Outro método que utilizado parte das estimativas de mudanças
volumétricas das cadeias meso-oceânicas através do tempo e,
consequentemente, dos deslocamentos de água produzidos.
Uma terceira forma de abordar o assunto foi proposta por Vaill et al.
(1977a,b), utilizando o conceito de coastal onlap 1 , derivado da análise de seções
sismoestratigráficas. A metodologia desenvolvida, e sua terminologia
correspondente, tem por objetivo - embora sua larga aplicação em toda a
estratigrafia - descrever e reconstituir mudanças relativas do nível do mar em
escala regional e global. As mudanças relativas do nível (relative sea-level
change) do mar são definidas como qualquer subida ou queda do nível do mar em
relação à superfície terrestre local, produzidas por elevações do nível do mar
propriamente, por soerguimento tectônico do continente ou pela combinação

1
Deposição progressiva de sedimentos costeiros (litorâneos ou não-marinhos costeiros) em direção ao continente, dentro
de uma dada unidade deposicional (definição original de Mitchum, 1977). Informalmente pode-se traduzir as variações do
coastal onlap (subida ou queda do onlap costeiro) como a expansão ou diminuição da área deposicional de determinada
bacia.
48

destes dois fatores. As correlações destes ciclos, associadas a outros fatores


(subsidência, taxa de espalhamento do fundo oceânico, mudanças no volume das
meso-oceânicas), são utilizadas para reconstrução de curvas eustáticas, ou ciclos
globais de variação do nível do mar (Schoch,1989, p.248).
Independentemente das metodologias adotadas, cinco ordens hierárquicas
de ciclos de variação do nível do mar foram definidos, em função de suas distintas
periodicidades, que variam de dezenas de milhares a centenas de milhões de
anos. As durações destes ciclos são definidas com certo grau de subjetividade
(e.g. Vail et al.,1977b; Vail et al., 1991; Miall, 1990; cf. Tabelas 3.1 e 3.2),

Tabela 3.1 Ciclos Globais de variações relativas do Nível do Mar


Ordem Duração (Ma)
(a) (b) (c)
Vail et al. (1977a) Vail et al. (1991) Plint et al. (1992)*
1a. 200 –300 Ma >50 Ma 200-400 Ma
2a. 10 –80 Ma 3 – 50 Ma 10-100 Ma
3a. 1 –10 Ma 0,5 – 3 Ma 1-10 Ma
4a. 80 - 500 ka 200-500 ka
5a. 30 – 80 ka 10-200 ka
6a. 10 – 30 ka
*(c) tabela adotada nesta revisão

Tabela 3.2 Ciclos estratigráficos e suas causas


Tipo de Seqüência Duração (anos) Ordem
A. Ciclos dos supercontinentes, 200 - 500 1a.
ciclos eustáticos globais, causados pela milhões
formação e ruptura de supercontinentes
B. Ciclos termais do manto, 10 - 100 milhões 2a.
gerados por processos termais em escala
continental (topografia dinâmica) e
cinemática de placas, incluindo:
1. ciclos eustáticos induzidos por
mudanças no volume global das
cadeias mesoceânicas;
2. ciclos regionais de movimentos do
embasamento, induzidos por rotações
extensionais ou carga crustal
C. Ciclos de cinemática regional 1 - 10 milhões 3a.
de placas,
ciclos regionais a locais de movimentos
do embasamento, incluindo mudanças
de ”intraplate stress”
D. Ciclos de Milankovitch, 10 000 - 200 000 4a. e 5a.
ciclos globais gerados por variações
orbitais, incluindo glacio-eustasia, ciclos
de produtividade, etc.
(modificado de Miall, 1996)
49

especialmente os de 1ª, 2ª e 3ª ordem, que não apresentam uma periodicidade


regular; já os ciclos de 4ª e 5ª ordens, com durações de dezenas ou centenas de
milhares de anos, parecem refletir um controle cíclico regular (Plint et al., 1992).

FINAL
COALESCENCE
OF PANGEA

Figura 3.1 Variações eustáticas de 1a. e 2a. ordens durante o Fanerozóico. Ciclos de 1a. ordem
produzidos pelas variações na geração de crosta oceânica (km2/ano) de longo período,
relacionadas à formação e ruptura de supercontinentes. Ciclos de 2a. ordem refletem variações
menores na produção de crosta oceânica. Períodos de grandes glaciações são caraterizados
por mudanças glácio-eustáticas de curta duração no nível do mar (Plint et al., 1992).

3.2.1 Ciclos de 1ª Ordem

Dois ciclos de 1ª ordem são reconhecidos no Fanerozóico (Fig. 3.1), com


duração de 200-400 milhões de anos. A origem de ciclos desta ordem tem sido
relacionada – com ampla aceitação – à ciclos tectônicos globais de longa
duração que controlam as variações na geração de crosta oceânica e a formação
e ruptura de supercontinentes (Vail et al.,1977b; Worsley et al. 1984). Estes
ciclos controlam as transgressões e regressões globais da ordem de centenas
de milhões de anos.
Quando da consolidação final dos supercontinentes (como na formação do
Pangea, ao final do Permiano), ocorre uma diminuição da atividade e do volume
50

das cadeias meso-oceânicas e conseqüente maximização do volume da bacia


oceânica, devido a subsidência termal resultante do resfriamento da crosta
oceânica não renovada. Este processo, além de acentuadas repercussões
climáticas e ecológicas (Miall, 1990, cap.8), ocasiona um rebaixamento eustático
global do nível do mar (regressão global). Estas condições são revertidas durante
o breakup e dispersão do supercontinente, quando novos centros de expansão de
crosta oceânica são gerados, produzindo a diminuição do volume total das bacias
marinhas e ocasionando a subida eustática global do nível do mar e transgressão
generalizada sobre as margens continentais.

3.2.2 Ciclos de 2ª Ordem

Os ciclos desta hierarquia têm duração variável entre 10 e 100 milhões de


anos, sendo exemplificados pelas seqüências deposicionais definidas por
Sloss(1963), sobre o Cráton Norte-Americano. Como já mencionado
anteriormente, estas seqüências foram convincentemente correlacionadas em
quatro diferentes continentes (Soares et al., 1978), o que sugere que tenham sido
controladas por variações globais do nível do mar.
A explicação de Hallam (1963) para a geração dos ciclos de 2ª ordem é
hoje amplamente aceita. Segundo aquele autor, os ciclos de 2ª ordem refletem
variações no volume das cadeias meso-oceânicas, relacionadas à
modificações na taxa de geração de crosta oceânica (expansão do fundo
oceânico), dentro da escala da centena de milhões de anos (Figs. 3.1 e 3.2).

3.2.3 Ciclos de 3a. Ordem

Os ciclos de 3a. têm duração de 1-10 milhões de anos, embora, no


registro geológico, sejam mais comuns os inferiores a 3 milhões de (Fig. 3.2).
Ciclos desta magnitude são muito comuns no registro do Fanerozóico (Haq
et al.,1988; Miall, 1990), mas o entendimento dos seus processos de controle é
problemático e controvertido (Plint et al. 1992).
No centro desta discussão, além dos possíveis fatores controladores da
ciclicidade, está a controvérsia sobre o potencial de correlação destes ciclos, em
escala global. Muitos importantes estudiosos, como Vail et al. (1977a,b), Haq et
51

Figura 3.2 Ciclos de 3a. ordem de variações do onlap costeiro de parte do Cretáceo (à
direita), com referência à unidades estratigráficas da bacia de Alberta, Canadá. As curvas de
2a. e 3a. ordens derivam da curva de “coastal onlap” de Haq et al. 1988 (Plint et al., 1992).

al. (1988), sugerem que estes ciclos podem ser correlacionados globalmente.
Outros estudos (cf. Plint, 1992) apresentam também fortes evidências de que as
superfícies limitantes dos ciclos de 3a. ordem podem ser correlacionados tanto no
interior dos continentes quanto entre continentes.
Estudos estratigráficos detalhados, realizados no Cretáceo da Bacia de
Alberta - Canadá (e.g. Bhattacharya & Walker,1991; Walker & James, 1992; Plint,
1991, 1995), demonstram que a posição cronoestratigráfica da maioria dos limites
de seqüências e depósitos de lowstand daquela bacia (Fig. 3.2) apresentam
correspondência com a os ciclos de 3a. ordem previstos pela carta de variação
global do nível do mar de Haq et al. (1988).
52

Por outro lado, o tema é ainda controvertido (cf. discussão em Miall, 1991, cap. 8),
já que a grande maioria dos limites dos ciclos de 3a. ordem apresentam um
espaçamento temporal muito próximo ou mesmo abaixo dos limites de resolução
bioestratigráfica, o que impede a definição de suas idades com a precisão
suficiente para que seja comprovada a efetiva sincronicidade global destes ciclos.

Possíveis controles da Ciclicidade de 3a. Ordem

Embora Haq et al.(1988) e Vail et all.(1977a,b) apontem a glácio-eustasia


como controladora do ciclos de 3a. ordem, há fortes evidências de que o
crescimento e retração das massas de gelo continentais ocorram em períodos de
tempo bem mais reduzidos, da ordem das dezenas a centenas de milhares de
anos.
Estudos desenvolvidos em registros de transgressões marinhas cretácicas
do oeste dos Estados Unidos demonstraram correspondência com períodos de
atividade tectônica e vulcânica Cordillerana, enquanto que depósitos de lowstand
correspondem a períodos de relativa estabilidade vulcânica e tectônica.
Estas relações sugerem a ligação causal entre a aceleração na atividade
da cadeia mesoceânica - causando a subida do nível eustático - e a aceleração
da subducção - causando deformação e vulcanismo, ao longo da margem ativa.
Uma possível explicação alternativa à glácio-eustasia e ao processo de
espalhamento do fundo oceânico/subducção é apresentada por Cloetingh
(1988a,b; 1991), que defende a idéia de que mudanças episódicas no campo de
stress intra-placas podem produzir subsidência ou soerguimento de centenas de
metros na escala temporal de um milhão de anos. Este processo resultaria em
transgressões e regressões simultâneas em bacias individuais, podendo
influenciar a ciclicidade das seqüências de 3a. ordem. Esta hipótese explicaria a
geração de espaço de acomodação mas não a regularidade dos ciclos.
Outras teorias procuram explicar a origem destes ciclos: mudanças na
densidade litosférica provocadas por stress intraplacas; eustasia geoidal (baseada
na descoberta de variações topográficas na superfície do mar, com amplitude
superior a 180m) que refletiriam variações do campo gravitacional da Terra e
53

resultariam em variações diácronas do nível do mar; variações na força centrífuga


do planeta, causadas por migrações de longa duração do eixo da Terra,
provocadas por variações na estrutura e viscosidade do manto, que produziriam
flutuações eustáticas assíncronas de hemisfério para hemisfério.
Em função destas discussões, hoje está claro (Plint et al. 1992) que a
compreensão dos mecanismos responsáveis pelos ciclos de 3a. ordem dependem
de melhores modelos geofísicos do interior da Terra e do refinamento da
resolução temporal dos eventos de variações do nível do mar, em diferentes
regiões do mundo.
Segundo Miall (1990) - que também menciona a glácio-eustasia como um
dos controladores possíveis - a ciclicidade de 3a., fartamente registrada no
Fanerozóico, possivelmente represente efeitos regionais de rifteamento e
convergência de placas, superpostos a ciclos de variações globais, de 2a. ordem,
no volume da cadeias mesoceânicas.

3.2.4 Ciclos de 4a. e 5a. Ordens - Os Ciclos de Milankovitch

Os ciclos de 4a. (200.000 - 500.000 anos) e 5a. (10.000 - 200.000 anos)


ordens são amplamente documentados durante o registro do Fanerozóico, tanto
em depósitos marinho rasos quanto pelágicos.
Estes ciclos são explicados pelas mudanças climáticas produzidas por
diversas perturbações cíclicas do eixo e da órbita terrestres (Fig. 3.3). Estas
perturbações astronômicas, conhecidas como Ciclos de Milankovitch (matemático
Sérvio que primeiro calculou a periodicidade e os efeitos destes ciclos, em 1941),
são apontadas como responsáveis pelas flutuações sazonais na quantidade de
radiação solar que atinge a Terra, influenciando periodicamente os padrões de
circulação oceânica e o clima global do planeta (Schwarzacher, 1993).
Os efeitos climáticos e sedimentares astronomicamente induzidos, pelas
modificações de movimento do eixo e pelas variações orbitais da Terra
dependem das interações gravitacionais internas ao sistema Sol-Terra-Lua, e das
influências dos demais planetas do sistema solar.
As causas principais da ciclicidade de Milankovitch são as seguintes (Boer
& Smith, 1994a):
54

(1) mudanças na excentricidade da órbita (elíptica) da Terra ao redor do


Sol. O período médio destas variações é de 100.000 anos. Variações
regulares superpostas ocorrem a 400.000, 1.300.000 e 2.000.000 de anos:
influencia a distribuição das zonas climáticas, modulando os ciclos de
precessão;
(2) variações na obliqüidade (inclinação do eixo da terra em relação à
eclíptica), com período de 41.000 anos: modula a sazonalidade climática,
principalmente em altas latitudes;
(3) precessão, rotação do eixo da Terra (descrevendo um cone, devido aos
efeitos combinados de atração do Sol e da Lua sobre a região equatorial da
Terra), com os principais períodos entre 19.000 e 23.000 anos: atua sobre
os contrastes climáticos verão-inverno.

Excentricidade Precessão
("stretch": 95K) ("wobble":21K)

21.5 o
24.5 o

Obliqüidade
("tilt": 40k)

Figura 3.3 As três causas dos “Ciclos de Milankovitch”. Estas variáveis, atuando
em combinação, controlam as quantidades de entrada das radiações solares na
Terra influenciando o clima global. Estes fatores têm sido chamados de “marca-
passo” das glaciações do Quaternário (Plint et al. 1992).

A geração dos ciclos sedimentares de 4a. e 5a. ordens são, portanto,


atualmente relacionados à períodos alternados de acúmulo e retração de calotas
de gelo continentais (ciclos glacio-eustáticos), em resposta aos ciclos de
Milankovitch. As relações destes ciclos com as “eras glaciais”, inicialmente
apontadas por Milankovitch (Boer & Smith, 1994), são claramente demonstradas
55

para o Pleistoceno, através de análises baseadas nas mudanças das razões dos
isótopos de oxigênio (18O/16O) em foraminíferos bentônicos e planctônicos
preservados em sedimentos marinhos profundos (Plint et al., 1992).
A redescoberta da teoria de Milankovitch - a partir de meados da década
de cinqüenta - deu origem à cicloestratigrafia 1 que é hoje plenamente
estabelecida para o Pleistoceno, com crescente aplicação para sucessões mais
antigas (Olsen, 1986; cf. Schwarzacher, 1993; Boer & Smith, 1994a, b).

3.3 Estratigrafia de Seqüências : Evolução dos Conceitos

“The sequence concept is not new and was already old when it was
enunciated by the writer and his coleagues in 1948. The concept
and practice is as old as organized stratigraphy” (Sloss, 1963).

3.3.1 As Seqüências Estratigráficas de Sloss (1963)

A palavra seqüência significa “a continuação de uma coisa após outra, em


ordem cronológica, causal ou lógica”, como assinalam Posamentier & James
(1993), reproduzindo o verbete do Webster New World Dictionary.
Aplicando este conceito à estratigrafia, uma seqüência pode ser definida
como um continuum de deposição, significando a ausência de hiatos temporais
significativos no registro. Uma questão fundamental para a estratigrafia é,
portanto, a identificação dos pontos onde o continumm é rompido, isto é, onde as
seqüências começam e onde terminam.
A noção de descontinuidade do registro geológico certamente não é nova.
James Hutton, em 1778, foi o primeiro a perceber o significado das
inconformidades e das quebras temporais no registro estratigráfico ao observar o
Devonian Old Red Sandstone em discordância angular sobre depósitos
Silurianos, em Siccar Point, Escócia. Em 1859 Charles Darwin apontava pela
primeira vez para a magnitude destas quebras, observando que maior parte do

1
Um ciclo sedimentar é um grupo de diferentes litologias ou texturas que se repetem regularmente numa seqüência. Esta
é uma definição preliminar, segundo Schwarzacher (1993); este autor define Cicloestratigrafia como um ramo da geologia
que usa o conceito de ciclos, de qualquer descrição, na construção e melhoramento do arcabouço estratigráfico.
Schwarzacher (op.cit.) relata que a primeira utilização pública do termo Cicloestratigrafia ocorreu em 1988, num encontro
científico em Perugia (Itália).
56

tempo geológico é representado por hiatos estratigráficos e não pelas camadas


preservadas. Apesar da antigüidade destas observações e da sua importância na
análise estratigráfica desde os primórdios da Geologia, o desenvolvimento e
aplicação destes conceitos, nos moldes atualmente aceitos, teve sua
consolidação inicial nos meados deste século.
O termo “seqüência”, como unidade estratal limitada por inconformidades,
foi inicialmente proposto por Sloss em 1948 .
Em trabalho hoje clássico, Sloss(1963) identificou seis conjuntos de
estratos (Fig. 3.4), limitados por inconfomidades inter-regionais sobre o cráton
Norte Americano (com idades entre o pré-Cambriano superior e o Holoceno),
estabelecendo o conceito de Seqüências Estratigráficas:

• unidades litoestratigráficas de hierarquia superior a grupo,


megagrupo ou supergrupo, mapeáveis sobre grandes áreas de um
continente e limitada por inconformidades de caráter inter-regional”.

O reconhecimento e individualização destas unidades foram baseadas em


cuidadosas correlações lito e bioestratigráficas, em subsuperfície, a partir da
análise detalhada de mapas de isópacas e litofácies. A fonte de dados incluiu
inúmeros mapas de diversas áreas da Western Canada Basin e da Plataforma
Russa, os quais foram divididos em uma malha, com espaçamento de 60km,
sendo registradas as espessuras e litofácies de cada ponto de intersecção. A
partir destes dados puderam ser calculados e comparados o volume e a extensão
areal das unidades mapeadas. Contudo, esta abordagem está sujeita a possíveis
erros, devidos a alta probabilidade de existência de erosões inter ou mesmo intra-
seqüências, não detectadas pelo método. A presença de bacias isoladas ou
blocos falhados nas regiões de borda da bacia principal podem induzir a erros
sobre a extensão original da área mapeada, na ordem de centenas de
quilômetros quadrados. Apesar destas limitações metodológicas, as duas grandes
áreas mostraram marcada similaridade (Fig. 3.5). Detalhada documentação
estatística confirma que as seis seqüências de Sloss puderam ser reconhecidas
em dois continentes largamente separados, e com histórias geológicas bastante
distintas.
57

a. Quaternário

Terciário
TEJAS

Cretáceo ZUNI
Jurássico
Triássico
Permiano
Pennsylvaniano ABSAROKA
Mississippiano KASKASKIA
Devoniano
Siluriano TIPPECANOE
Ordoviciano

SAUK
Cambriano

Pré-Cambriano

Cordilleran não-deposição Appalachian


Basin Basin

b. Período Western Orogeny Epirogênese e Seqüências Eastern Orogeny

Cretáceo ZUNI
Nevadan
Jurássico
Triássico

Permiano Sonoma
Appalachian
ABSAROKA
Pennsylvaniano

Mississippiano
Antler KASKASKIA
Devoniano Acadian

Siluriano S
TIPPECANOE Taconic
Ordoviciano

Figura 3.4 (a) As seis seqüências estratigráficas de


Sloss (1963) e (b) suas relações com os episódios
orogênicos da América do Norte (segundo Jonhson, 1970
in (Maill, 1990).

Posteriormente, visando reduzir a possibilidade de erro inerente à análise


de delgados depósitos remanescentes nas bordas cratônicas, Sloss voltou a
estudar bacias cratônicas e pericratônicas, como representantes dos locais de
mais contínua subsidência, obtendo correlações confiáveis entre diversas bacias
do mundo, de idades variadas, utilizando o conceito de volume sedimento por
unidade de tempo.
Os melhores exemplos de correlações entre bacias, utilizando os conceitos
e metodologia empregados na definição das seqüências estratigráficas são
apresentados resumidamente por Miall (1990, cap. 8).
58

Seqüências Norte-Americanas
Sauk Tippecanoe Kaskaskia Absaroka Zuni Tejas

Plataforma Russa
Oeste do Canadá

Figura 3.5 Áreas de preservação e correlações entre as seqüências


estratigráficas de Sloss no oeste do Canadá e na plataforma Russa (in Miall,
1990).

As seis seqüências de escalas continentais, definidas por Sloss em rochas


do Fanerozóico na América do Norte, em trabalhos subseqüentes, foram
identificadas e correlacionadas na Plataforma Russa, e na África e inclusive no
Brasil - bacias do Amazonas, Parnaíba e Paraná - onde Soares et al. (1978)
reconheceram sete seqüências, fortemente correlacionáveis às unidades
propostas por Sloss (Fig. 3.6).
Uma relevante contribuição brasileira ao debate sobre os processos
geradores destas unidades, foi formulada por Soares et al. (1974,1978), que
explicaram a origem dos eventos estratigráficos identificados nas bacias
intracratônicas brasileiras descrevendo um ciclo epirogenético constituído por
cinco fases distintas:

(1) rápida subsidência da bacia com desenvolvimento de fácies


continentais e várias inconformidades locais;
(2) diminuição na subsidência da bacia, aprofundamento dos centros
deposicionais; transgressão marinha e diferenciação de fácies: marinhas
no centro , continentais nas bordas;
(3) desenvolvimento de soerguimentos intrabacinais, muitas variações
locais de fácies;
59

(4) nova subsidência da bacia, máxima transgressão, depósitos finos;


(5) amplo soerguimento cratônico, retorno da sedimentação continental.

a. 1000

900
BACIA DO PARANÁ
BACIA DO PARNAÍBA
BACIA AMAZÔNICA
DELTA

800

GAMA
700
BETA
Área em milhares de km2

600

500

400

300

200

100

0
600 500 400 300 200 100 0

SEQÜÊNCIAS Figura 3.6 (a) diagramas de


b. ALFA BETA
A- Bacia do Amazonas
GAMA DELTA EPSILON ZETA
expansão ou áreas máximas de
A.U. preservação dos diferentes ciclos
L.A.U.
D
deposicionais e (b) expressões
Dt
C.S. ? ? geomórficas correspondentes aos
C.M. ?
L
? movimentos oscilatórios do
N
A embasamento, identificados nas três
B- Bacia do Parnaíba bacias intracratônicas brasileiras,
Vulcanismo
A.U. correlacionáveis com as seqüências
L.A.U.
D de Sloss, segundo Soares et al.
Dt
C.S. (1974; 1978).
C.M.
L
N
A

C- Bacia do Paraná
A.U.
L.A.U.
D
Dt
C.S.
C.M.
L
N
A

A.U. - Angular unconformity L.A.U. - Low-angle unconformity D - Disconformity


C.S. - Continental sandy L - Litoral A - Abyssal
C.M. - Continental muddy N - Nerite Dt - Diastem

600 500 400 300 200 100


my C O S Dl D m Du C l Cu Pl Pm Pu Trl JlJm Ju Kl Ku T

Apesar das discussões quanto à origem, as correlações entre seqüências


estratigráficas cratônicas e pericratônicas, em vários continentes, testificam
claramente a existência de eventos estratigráficos ou ciclos globais (de 2a.ordem,
como discutido a seguir), durante o Fanerozóico.
60

3.3.2 As Seqüências Deposicionais de Vail et al. (1977)

O conceito de seqüência, que a partir da proposição de Sloss evoluiria para


a importante ferramenta de análise estratigráfica atual, é considerado como a
pedra fundamental da moderna estratigrafia de seqüências.
O grande passo subseqüente nesta evolução conceitual ocorre na década
de setenta com publicação do AAPG Memoir 26 (Payton, 1977), onde P.R.Vail.,
R. Mitchum e colaboradores, da Exxon, apresentam os conceitos da
Sismoestratigrafia 1 (Fig. 3.7) dando início à revolução científica que hoje é
conhecida como estratigrafia de seqüências. Nesta série de artigos os autores
apresentam os conceitos de eustasia e padrões estratais resultantes, limitados
por inconformidades, com base em dados de seções sísmicas. A estratigrafia de
seqüências, portanto, é um tratamento metodológico de análise estratigráfica e
faciológica que deriva basicamente da sismoestratigrafia (Della Fávera,1995).
As idéias de Sloss serviram como base para o trabalho de Vail e co-autores
da Exxon Production Research que a partir do reconhecimento de unidades
limitadas por discontinuidades desenvolveram técnicas de correlações inter-
regionais. Estas técnicas tiveram como base:(1) o reconhecimento, correlação e
datação das inconformidades, (2) os padrões de terminação dos estratos
refletores - onlap, downlap e toplap 2 (Figs. 3.7 e 3.8) - e (3) dados
bioestratigráficos de afloramentos e subsuperfície.

Vail & Mitchum (1977) e Mitchum et al. (1977) modificando o conceito de


Sloss, apresentaram a definição de Seqüência Deposicional:

• unidade estratigráfica composta por um sucessão relativamente


concordante de estratos geneticamente relacionados, limitados no topo e
na base por inconformidades ou suas conformidades correlativas.

1
Estudo da estratigrafia e das fácies deposicionais, a partir da interpretação de dados sísmicos (Mitchum,1977).
2
Terminações estratais em seções sísmicas:(1) onlap: relação discordante na base, na qual estratos horizontalizados
terminam progressivamente de encontro a uma superfície inicialmente inclinada;(2) downlap: relação discordante na base,
na qual estratos inicialmente inclinados terminam sobre uma superfície inicialmente horizontalizada; (3) toplap: terminação
superior de estratos contra uma superfície de não-deposição (bypassing sedimentar) ou erosão. Toplap ocorre ao longo
dos limites superiores de seqüências (Mitchum,1977).
61

a.

b.

c.

d.
Figura 3.7 Seções sísmicas mostrando padrões de reflexões estratais
de base discordante: a e b terminações estratais em onlap; c e d
terminações estratais em downlap. As segundas figuras de cada par
são interpretadas (Mitchum et al. 1977, p. 120).

Em relação às seqüências de Sloss nesta nova definição de seqüências


deposicionais os autores introduzem as seguintes modificações conceituais: (1)
uma seqüência deposicional é definida como uma unidade estratigráfica
operacional, individualizada a partir de dados sísmicos, perfis de poços ou
62

afloramentos; (2) as seqüências não são apenas limitadas por inconformidades


interregionais, mas também por suas conformidades equivalentes
(paraconformidades) ou correlativas, podendo ser traçadas em grandes áreas de
bacias continentais ou oceânicas; (3) são de ordem de magnitude inferior
(3a.ordem) às de Sloss; o agrupamento de seqüências de 3a. ordem é definido
como uma superseqüência, depositada durante um ciclo de 2a. ordem
(superciclo) de subida e queda relativa do nível do mar (as superseqüências
correspondem às seqüências estratigráficas de Sloss); (4) as seqüências
deposicionais, sua faciologia interna e as inconformidades inter-regionais são
geradas por ciclos de variações relativas do nível do mar (tectono ou glácio-
eustáticos), de escala global.

Limite de
Seqüência
Truncamento
Toplap Unconformity
Onlap erosional
(Marinho)

Offla
p Unconformity
Onlap
Onlap (Costeiro) Limite de
Convergência Seqüência
Downlap Interna

Figura 3.8 Sumário dos principais tipos de padrões de refletores e terminologia descritiva das
terminações estratais dentro de uma seqüência sísmica idealizada (Mitchum et al., 1977; Vail,
1987): Onlap: superfícies estratais horizontalizadas recobrindo progressivamente uma
superfície prévia, originalmente inclinada; Offlap: migração progressiva de estratos inclinados,
em direção a offshore, dentro de uma sucessão concordante; Toplap: terminação superior de
estratos inclinados (offlaping strata), como resultado de erosão ou não deposição; Downlap:
terminação inferior de estratos inclinados sobre uma superfície inicialmente horizontalizada. Os
refletores sísmicos são assumidos como linhas síncronas de tempo geológico, na escala de
resolução do método, o que constitui ponto central da sismoestratigrafia.

Portanto, a modificação conceitual e metodológica introduzida pela


sismoestratigrafia (base da “moderna estratigrafia de seqüências”), em relação as
concepções anteriores, foi não só apresentar novos critérios para a
individualização de sucessões sedimentares limitadas por interrupções no registro
(“seqüências”) mas introduzir um método de interpretação e predição faciológica e
estratigráfica “dentro das seqüências”. Além disso (e apesar das críticas; cf.
Sloss, 1988; Walker, 1990; Miall,1991), assumindo que a distribuição de fácies
63

deposicionais é controlada por variações globais do nível do mar, estabeleceu


uma base prática para correlações e formulação de um arcabouço
cronoestratigráfico, em escala regional ou global (Fig. 3.9).

Figura 3.9 Procedimentos para construção de carta cronoestratigráfica e


de variação relativa do nível do mar com base em seções estratigráficas
obtidas a partir de a de seções sísmicas (Vail et al., 1977).

3.3.3 Estratigrafia de Seqüências: SEPM Special Pub. 42 (1988)

Uma terceira fase de desenvolvimento conceitual da teoria da estratigrafia


de seqüências é marcada pela publicação da Special Publication no. 42 da
SEPM, inaugurando o atual estágio, que Della Fávera (1995) considera como a
64

"fase de arrumação" (mopping up) da teoria, após a revolução científica (usando a


expressão de Khunn, 1962) produzida pela publicação do AAPG Memoir 26, em
1977. Nesta fase os conceitos são permanentemente modificados ou ajustados,
sem alteração do paradigma principal, isto é, a divisão do registro sedimentar em
seqüências, produzidas por catástrofes periódicas.

A Estratigrafia de Seqüências, na sua forma mais atualizada (a partir de


Wilgus et al., 1988; Van Wagoner, 1990) tem sido definida como:

• o estudo das relações de rochas sedimentares dentro de um arcabouço


cronoestratigráfico, no qual a sucessão de rochas é cíclica e composta
por unidades estratais geneticamente relacionadas (seqüências e
“system tracts”) (Posamentier et al.1988).

3.3.3.1 Conceitos Básicos

Nesta nova etapa de refinamento da teoria novos conceitos foram


introduzidos ou modificados. A unidade básica da moderna estratigrafia continua
sendo a seqüência conforme definida por Vail et al. (1977), mas considerada
como sendo composta por uma sucessão de tratos de sistemas (“system tracts”)
e interpretada como tendo sido depositada entre os pontos de inflexão de queda
eustática. O “trend” de variação eustática é assumido como curvilinear - quase
sinusoidal - demarcado por pontos de inflexão. Os pontos de inflexão (F (fall) no
limbo descendente e R (rise) no ascendente) correspondem às máximas
inclinações da curva ou às taxas máximas de variação eustática (Fig. 3.10).
Os padrões estratais e a distribuição de fácies dentro das seqüências são
afetados pelas variações relativas do nível do mar, como efeito combinado da
eustasia e subsidência, dependendo em parte do (1) espaço disponível para
sedimentação e (2) da taxa de mudança do novo espaço adicionado. Esta
concepção contém o conceito de espaço de acomodação (accommodation),
certamente um dos mais importantes introduzidos durante esta fase de evolução
da teoria.
65

Tempo
Alto

Pontos de inflexão

F R

Baixo
Limbo descendente Limbo ascendente

Figura 3.10 Elementos da curva eustática (Posamentier et


al. 1988).

Este conceito assume que a sedimentação ocorre no espaço disponível


entre o fundo do mar e o nível de base (nível do mar, em ambientes marinhos e
perfil de equilíbrio, em ambientes não-marinhos).

Assim, o espaço de acomodação (accommodation) é definido como:

• o espaço tornado disponível para potencial acumulação de sedimentos,


o qual é função interativa das flutuações do nível do mar e da
subsidência (Jervey, 1988).

Neste sentido, o termo “accommodation” refere-se ao total do espaço


disponível para a sedimentação, incluindo aquele gerado anteriormente ao
preenchimento e o novo espaço adicionado, o qual refere-se unicamente ao
espaço gerado contemporaneamente à variação relativa do nível do mar.

Outra distinção conceitual importante a ser feita diz respeito à diferença


entre espaço de acomodação e paleobatimetria. A paleobatimetria reflete o grau
em que o espaço de acomodação disponível é preenchido pelo aporte
sedimentar.
66

Esta relação é importante na definição de padrões de fácies e arquitetura


estratal e, especialmente, para interpretação paleoambiental de dados
paleontológicos, uma vez que a biota responde apenas às mudanças na
profundidade da lâmina d’água e não às variações do nível do mar.
Se, por exemplo, a taxa de geração de espaço é equilibrada pelo
suprimento sedimentar, a paleobatimetria não sofrerá variações significativas,
embora o nível relativo do mar e o espaço de acomodação estejam aumentando.
De outra forma, se a taxa de incremento do espaço de acomodação é menor do
que a taxa de acumulação sedimentar, a paleobatimetria diminuirá, enquanto o
nível relativo do mar continuará subindo.
As sucessões de fácies, por outro lado, registram essencialmente a relação
entre a taxa de influxo sedimentar e a taxa de geração ou mudança do espaço de
acomodação.
Em ambientes marinhos os reflexos das variações do espaço de
acomodação sobre os padrões faciológicos e estratais podem ser estimados
através da análise da interação entre subsidência e eustasia, de cuja relação
resultarão transgressões, regressões ou a geração de inconformidades.
Durante um período de lenta subida relativa do nível do mar pouco espaço
de acomodação é adicionado. Em decorrência a sedimentação poderá preencher
o espaço disponível na plataforma produzindo rápida regressão e progradação
associada.
Inversamente, em períodos em que a subida eustática é somada à
subsidência, o espaço de acomodação aumenta rapidamente e o fluxo sedimentar
disponível pode ser sobrepujado pela taxa de novo espaço gerado, resultando
numa transgressão da linha de costa. Simultaneamente, em função da baixa taxa
de sedimentação, começará a se formar uma seção condensada 1 , a partir dos
ambientes mais profundos em direção à plataforma, culminando com a formação
de uma superfície de máxima inundação 2 , durante a expansão máxima do nível
do mar.
Numa terceira situação, quando a taxa de queda eustática excede a taxa
de subsidência, o nível relativo do mar cai. Dependendo das condições

1
Condensed section: fácies constituída por estratos marinhos pelágicos ou hemipelágicos, depositados com taxas de
sedimentação muito baixa.
2
Maximum Flooding Surface: superfície que corresponde ao tempo da curva eustática onde ocorre a taxa máxima de
subida do nível do mar, também chamada superfície de downlap; separa o trato transgressivo do trato de mar alto.
67

fisiográficas, a queda do nível do mar pode estar associada à significativas


variações nos sistemas deposicionais, marinhos e não-marinhos. Nesta situação
ocorre a incisão dos sistemas não-marinhos fluviais. Na plataforma poderão
ocorrer regressões forçadas, associadas à deposição de linhas de costa de mar
baixo. Em ambientes de água profunda - talude e bacia - começarão a dominar os
processos gravitacionais com a formação de cânions e sistemas turbidíticos de
água profunda.
Sobre a importância destas relações entre as taxas de subsidência e
variação eustática Posamentier e Allen (1994) enfatizam que o preenchimento
sedimentar não responde à eustasia, diretamente, mas sim à variação relativa do
nível do mar. Isto significa que, para efeitos práticos, o nível relativo do mar atua
como equivalente do espaço de acomodação, em ambientes marinhos e
costeiros.
Em termos gerais portanto, em resposta à um ciclo de variação do nível
relativo do mar (e portanto do espaço de acomodação), uma seqüência completa
forma um ciclo regressivo-transgressivo-regressivo, constituído por sucessões de
fácies características.
Uma seqüência, como já definida, é delimitada por inconformidades (limites
de seqüências) e constituída por uma sucessão de tratos de sistemas (systems
tracts), os quais são definidos como:

• uma associação de sistemas deposicionais contemporâneos, compostos


de parasseqüências ou conjuntos de parasseqüências, formando as
subdivisões das seqüências.

Os sistemas deposicionais, por sua vez, são definidos como:

• conjunto tridimensional de fácies geneticamente relacionadas, de um


determinado ambiente ( e.g. fluvial, deltaico ou lacustre).

O trato de sistemas fluvio-deltaico, por exemplo, compreenderia a associação de


todos os depósitos envolvidos nos dois sistemas (Della Fávera, 1995).
68

Cada trato de sistema é definido objetivamente pela geometria estratal


desenvolvida sobre a superfície limitante, pela posição dentro da seqüência e pelo
padrão interno de empilhamento das parasseqüências, definidas como:

• sucessão relativamente concordante de camadas ou conjunto de


camadas geneticamente relacionadas, limitadas por superfícies de
inundação e sua superfícies correlatas (Van Wagoner et al., 1990: Van
Wagoner, 1996).

Em posições especiais dentro de uma seqüência, as parasseqüências


podem ser limitadas, superior ou inferiormente, por limites de seqüências.
A parasseqüência, contudo, não deve ser considerada uma seqüência em
escala menor. Embora constituam os blocos fundamentais de construção das
seqüências, as parasseqüências referem-se a um termo puramente descritivo,
destituído de significado quanto à origem e significância de suas superfícies
limitantes e relações temporais ou espaciais, como advertem Posamentier &
James (1993); Posamentier & Allen (1994).
Um conjunto de parasseqüências é uma associação de parasseqüências
geneticamente relacionadas que formam um padrão de empilhamento
diferenciado, limitados muitas vezes por superfícies de inundação marinha 1 de
expressão maior, ou suas superfícies correlatas.
Os padrões de empilhamento dos conjuntos de parasseqüências são
progradacionais, retrogradacionais ou agradacionais, dependentes da razão entre
taxas deposicionais e taxa de acomodação.
Os tratos de sistemas, conforme originalmente definidos, eram
interpretados como sendo associados a um segmento específico da curva
eustática, correspondendo a padrões específicos de empilhamentos de
parasseqüências. Contudo, Van Wagoner (1996) enfatiza que o reconhecimento
dos tratos de sistemas é objetivo, baseado em características físicas e
geométricas dos estratos, padrões das parasseqüencias e tipo de suas
superfícies limitantes, não devendo, portanto, ser definidos com base nas relação
inferidas com ciclos de variação do nível do mar.

1
Superfície que separa estratos novos de antigos, com evidência de abrupto aumento na profundidade d’água (flooding
surface; Van Wagoner, 1996).
69

3.3.3.2 Limites de seqüências e tipos de seqüências

Dois tipos de seqüências são reconhecidas no registro geológico,


identificadas pelo tipos de limites inferiores.

• Limite de seqüência tipo 1: limite inferior de seqüência caracterizado


por inconformidade erosiva, produzida por considerável rebaixamento do
nível de base;
• ocorre exposição subaérea e erosão (“unconformity” 1 ) associada
ao rejuvenescimento dos vales fluviais, migração de fácies em
direção à bacia e rebaixamento do onlap costeiro, podendo formar
vales incisos e erosão submarina;
• ocorre quando a taxa de rebaixamento eustático é maior do que a
taxa de subsidência na quebra deposicional da linha de costa
(“depositional-shoreline break” 2 ), produzindo uma queda relativa
do nível do mar, naquela posição.
Um limite de seqüência tipo 1 caracteriza uma Seqüência tipo 1.

• Limite de seqüência tipo 2:limite inferior de seqüência caracterizado


apenas por exposição, sem erosão subaérea;
• ocorre quando a taxa de rebaixamento eustático é menor do que
a taxa de subsidência na quebra deposicional da linha de costa,
não ocorrendo nenhuma queda relativa do nível do mar naquela
posição, produzindo uma situação de mar estacionário.
Um limite de seqüência tipo 2 caracteriza uma Seqüência tipo 2.

O conceito de seqüência tipo 2, embora seja aqui descrito, tem sido


amplamente abandonado (Van Wagoner, 1996). Isto eqüivale dizer que o conceito
de seqüência, atualmente, tende a ser sinônimo de seqüência tipo 1, contendo os
tratos de lowstand, transgressive e highstand.

1
Superfície que separa estratos novos de antigos, com evidências de truncamento erosional subaéreo (e em algumas
áreas, erosões submarinas correlativas), ou exposição subaérea com significante hiato indicado.
2
Posição na plataforma, em direção ao continente, na qual a superfície deposicional coincide ou está próxima do nível de
base, normalmente o nível do mar. Em direção à bacia coincide com a posição na qual a superfície deposicional encontra-
se abaixo do nível de base (Posamentier, et al.,1988). Esta posição normalmente coincide com o final das barras de
desembocadura deltaicas ou com os depósitos de shoreface superior (Van Wagoner et al., 1988).
70

3.3.3.3 Tratos de Sistemas

Os tratos de sistemas, conforme mencionado anteriormente, são definidos


com base nas superfícies limitantes, na posição que ocupam dentro da seqüência
e nos padrões de empilhamento das parassequencias que o constituem. O
desenvolvimento de cada trato de sistema foi originalmente interpretado como
correspondente a trechos específicos da “curva eustática”. Conforme ressaltado
acima, seus critérios de identificação são físicos e independentes de sua relação
com a curva eustática. Esta alteração conceitual, ocorrida a partir do final dos
anos oitenta, desvincula a geração de seqüências da obrigatória relação com a
eustasia, priorizando a análise do registro, em detrimento às cartas de variações
globais do nível do mar.
A partir da definição original do termo, apresentada por Brown & Fischer
(1977) como “a linkage of contemporaneous depositional systems”, Plint (1996a,b)
discute os significados faciológico e geométrico dos tratos de sistemas. “Trato de
sistemas”, na sua primeira definição, foi o termo utilizado por Brown & Fischer
para designar todas as fácies depositadas simultaneamente, incluindo diversos
sistemas deposicionais, todos sujeitos ao mesmo regime de deposição, cujas
principais variáveis são as taxas de mudanças eustáticas, subsidência e
suprimento sedimentar. As mudança nestas condições controlariam o
desenvolvimento dos tratos de sistemas. Sistemas deposicionais costeiros e
marinho-rasos contemporâneos, por exemplo, numa situação regressiva,
desenvolverão uma variedade de fácies progradantes, segundo suas condições
deposicionais particulares e podendo ser relacionadas através da “lei de Walther”.
A mudança do regime sedimentar para condições de trangressivas provocará a
interrupção da agradação sedimentar e o posterior afogamento dos sistemas
deposicionais gerando uma sucessão regressiva, “shoaling-upward”, limitada
superiormente por uma superfície de inundação. Como aponta Plint (1996a,b),,
sucessões com estas características correspondem exatamente ao conceito de
parasseqüências de Van Wagoner et al. (1998), que neste sentido registram a
evolução de um determinado sistema deposicional, cuja vinculação com outros
sistemas contemporâneos constituirá um trato de sistemas deposicionais,,
conforme definido por Brown & Fisher (1977). Assim, de acordo com a definição
original – faciológica – um trato de sistemas deposicionais descreve uma
71

associação de fácies, correspondente à uma parasseqüência, que seria assim a


menor componente geométrica mapeável de uma seqüência.
Na amplamente utilizada definição de Vail (1987), por sua origem na
sismoestratigrafia, a identificação dos tratos de sistemas baseia-se no arranjo
geométrico dos refletores sísmicos, e não nas fácies sedimentares, como
originalmente definidos por Brown & Fischer (1977).
O termo trato de sistemas, no sentido Exxon (ou “Geometric Systems
Tract”, sensu Swift, Phillips & Thorn, 1991),é utilizado para designar as três
subdivisões que ocorrem dentro das seqüências: trato de sistemas de mar baixo,
trato transgressivo e trato de mar alto (lowstand, transgressive e highstand
systems tracts, respectivamente). Estes são os tratos característicos das
seqüências tipo 1.
• O trato de sistemas de mar baixo 1 (lowstand system tract – LTS), é
depositado numa bacia com quebra de margem continental, com deposição de
leques submarinos, no talude inferior ou no assoalho oceânico (basin-floor fan,
slope fan e lowstand wedge 2 ). A formação dos leques associa-se à erosão de
cânions no talude e a incisões de vales fluviais na plataforma. A base dos
leques submarinos (basin-floor fans) - coincidentes com a base do trato de mar
baixo - é o limite inferior da seqüência tipo 1. Esta superfície quando
prolongada em direção ao continente corresponderá à base dos vales incisos,
que recortam a plataforma em condições de nível de mar baixo.
Nas seqüências tipo 2, o trato de mar baixo é substituído pelo trato
sistema de margem de plataforma (shelf-margin system tract-SMST), que
corresponde a um conjunto de parasseqüências levemente progradacionais a
agradacionais (Van Wagoner et al., 1988).
O trato de sistema de margem de plataforma é o trato mais inferior da
seqüência tipo 2, depositado diretamente sobre o limite de seqüência. O topo
do shelf-margin system tract (ou do lowstand system tract) é a superfície
transgressiva, a qual também forma a base do trato transgressivo. Neste trato

1
A traduções brasileiras dos termos lowstand e highstand geralmente contêm a palavra “mar” (mar baixo, mar alto), o que
induz à relação do conceito de tratos de sistemas com trechos da curva eustática, tendência que tem sido abandonada,
especialmente para depósitos continentais. Os termos são aqui mantidos, apenas em fidelidade as suas definições
originais.
2
Basin-floor fan ou lowstand fan: leques submarinos na base do talude e assoalho da bacia; Slope fan: turbiditos e debris
flows, depositados na porção média e base do talude; Lowstand edge: vales incisos sobre a plataforma e sobre o talude;
composto por conjuntos de parasseqüências progradacionais a agradacionais. A deposição destes tratos de sistemas
ocorre durante o intervalo entre a queda rápida e a posterior subida lenta subida do nível relativo do mar.
72

o conjunto de paraseqüências tem terminação em onlap, sobre o limite de


seqüência, em direção ao litoral, e termina em downlap, em direção à bacia.
• O trato de sistemas transgressivo (transgressive system tract –TST) é o trato
da porção intermediária, tanto nas seqüências tipo 1 quanto tipo 2. è
caracterizado por um ou mais conjuntos de parasseqüências, limitados na base
por uma superfície transgressiva, sobre os tratos de mar baixo ou de margem
de plataforma. O trato transgressivo termina em onlap sobre o limite de
seqüência, em direção ao continente, e em downlap sobre a superfície
transgressiva, em direção à bacia.
O trato transgressivo é recoberto por uma superfície de inundação marinha,
sobre a qual depositam-se, em downlap, as cunhas progradantes do trato de
sistemas de mar alto, sobreposto. Esta superfície de downlap demarca o topo
do trato transgressivo.
A superfície de inundação marinha é caracterizada pela mudança de padrão de
empilhamento da parasseqüências, de retrogradacional para agradacional,
intervalo no qual se desenvolve a seção condensada, que ocorre dentro do
trato transgressivo e nas porções distais do trato de mar alto. As seções
condensadas são mais extensamente desenvolvidas durante as transgressões
regionais da linha de costa.

• O trato de sistemas de mar alto (highstahd system tract –HST) é o trato


superior, tanto das seqüências tipo 1 quanto tipo 2. Este trato normalmente
recobre extensivamente a plataforma, sendo constituído por conjuntos de
parasseqüências inicialmente agradacionais sucedidos por conjuntos
progradacionais, com terminação em downlap, sobre o topo do trato
transgressivo ou sobre o trato de mar baixo, em direção ao centro da bacia.
O limite inferior do trato de mar alto é portanto uma superfície de downlap,
sendo limitado superiormente por um limite de seqüências do tipo 1 ou do tipo
2.

Os tratos de sistemas, em Wilgus et al. (1998) são interpretados como


depositados durante incrementos específicos da curva eustática:
73

• Trato de Mar Baixo: (1) lowstand fan: depositado durante rápida queda
eustática; (2) slop fan/lowstand wedge: depositados durante o final da
queda eustática e o inicio da subida do nível do mar;
• Trato de Margem de plataforma: depositado durante a queda eustática,
sobre um limite de seqüência tipo 2
• Trato Transgressivo: depositado durante uma rápida subida eustática;
• Trato de Mar Alto: depositado durante o final de uma subida eustática
(“stillstand”), e durante o início de uma queda eustática.

A relação entre o desenvolvimento dos tratos de sistema e trechos


específicos da curva eustática, contudo, não aborda com clareza a possibilidade
de deposição durante o limbo descendente da curva, que corresponde ao período
de queda relativa do nível do mar. Esta porção da curva contem o ponto de
inflexão – taxa máxima de queda relativa do nível do mar - e prevê unicamente a
geração dos limites de seqüências. Posamentier et al. (1992) referem-se a este
intervalo como situado entre o “late highstand” e “ealy highstand” - dois tratos de
sistemas separados por um limite de seqüência - não havendo diferenciação de
um trato específico para este trecho da curva. Um modelo alternativo à esta
situação é o conceito de “forced regression”, introduzido por Plint (1996, 1997a,b),
com base em observações do Cretáceo da Bacia de Alberta–Canadá. O termo
“forced regression” é utilizado pelo autor para descrever o processo através do
qual, durante o rebaixamento do nível do mar, o espaço de acomodação é
reduzido na região de nearshore, “forçando” a migração da linha de costa em
direção ao interior da bacia, independentemente do influxo sedimentar. Nestas
condições, a deposição de fácies marinho-rasas e litorâneas sobre a plataforma
distal, em bacias de baixa declividade, do tipo rampa (sem quebra de plataforma),
é assim interpretada como desenvolvida durante a queda do nível do mar,
produzindo um trato de sistema específico, relacionado ao trecho descendente da
curva eustática (“falling stage system tract” -FSST ).
Limites de seqüências Tipo 3 e outras denominações para os tratos de
sistemas (e.g. Currie, 1997) tem sido propostas como adições à teoria original.
Contudo, as restrições ou modificações introduzidas aos conceitos e terminologia
da estratigrafia e seqüências - apontadas no texto - não invalidam a proposta
74

metodológica de subdivisão do registro estratigráfico, ao contrário, demarcam a


trajetória de evolução contínua da teoria.

3.3.3.4 Hierarquia das Unidades Estratais

A aplicação da estratigrafia de seqüências depende do reconhecimento de


superfícies-chave. Neste contexto, assume grande importância a hierarquia das
unidades estratais, incluindo desde lâminas até camadas, conjuntos de camadas,
parasseqüências, conjuntos de parasseqüências e, finalmente, seqüências
limitadas por superfícies de erosão, não deposição ou sua conformidades
relativas. O reconhecimento destas unidades estratais e seu uso na correlação
faciológica e temporal são a essência da estratigrafia de seqüências (Van
Wagoner et al.,1990).
Cada unidade estratal pode ser identificada, dentro de uma ordem
hierárquica, através da relação física dos estratos, incluindo a continuidade lateral
e geometria das superfícies limitantes das unidades, padrões de empilhamento
vertical e geometria lateral dos estratos no interior das unidades. A interpretação
das fácies, dos ambientes deposicionais e das superfícies limitantes são aspectos
críticos na identificação de parasseqüências, conjuntos de parasseqüências e
especialmente limites de seqüências.
Lâminas, conjutos de lâminas, camadas e conjuntos de camadas (lamina,
laminaset, bed e bedset, conforme definidos por Campbel (1967), são os
componentes de um corpo sedimentar e as unidades estratais reconhecidas pela
“escola da Exxon” como os blocos de construção das paraseqüências.
Estes quatro tipos de unidades estratais são geneticamente similares,
diferindo no intervalo de tempo de formação e na extensão areal de suas
superfícies limitantes.
As superfícies limitantes das unidades estratais são definidas por (1)
mudanças de textura (2) terminações estratais (onlap, downlap ou truncamentos
erosivos) e (3) paraconformidades marcadas por bioturbação, raízes ou
paleosolos.
75

Características das unidades estratais:


• Lamina: a menor das unidades megascópicas; textura uniforme;
extensão areal menor que a da camada; formada em episódios de
minutos ou horas;
• Laminaset: sucessão de lâminas geneticamente relacionadas,
relativamente concordantes, limitadas por superfícies de erosão ou não
deposição, formadas em episódios de minutos a dias; compõe o
conjunto de estruturas distinguíveis no interior das camadas;
• Bed: sucessão de laminae ou laminaset relativamente concordantes,
geneticamente relacionados (nem sempre contendo laminae ou
laminaset); limitados por superfícies de erosão ou não deposição
(superfícies de acamadamento, com extensão areal variáveis de metros
a quilômetros quadrados), formadas rapidamente, em episódios ou
períodos que variam de minutos a anos (podem representar intervalos
de tempo maiores do que os representados pelas camadas);
• Bedset: conjunto de camadas relativamente concordantes,
geneticamente relacionadas, limitadas por superfícies (bedset surfaces)
de erosão, não deposição ou suas conformidades relativas, formadas
em períodos de tempo superiores aos das camadas; bedsets são
formados em episódios ou períodos deposicionais (como as camadas) e
diferenciados das demais camadas ou bedsets pela composição, textura
ou estruturas sedimentares.

O reconhecimento das unidades estratais, principalmente em testemunhos


e afloramentos, é de grande importância para a aplicação da estratigrafia de
seqüências, por constituírem os elementos que compõem as parasseqüências, os
blocos de construção das seqüências.
76

3.4 Estratigrafia de Seqüências em Estratos Continentais

“... sequence stratigraphic principles and concepts can be fruitfully


applied to continental strata and new models will result in a deeper
understanding of the controls on large and medium-scale fácies
architecture” (Shanley & MacCabe, 1994).

Conforme apontado nos itens anteriores, a estratigrafia de seqüências tem


por objetivos (1) a predição de fácies e (2) a correlação de eventos globais. Além
disto, a teoria assume que os padrões de empilhamento de parasseqüências, os
tratos de sistemas e principalmente os limites de seqüências têm suas origens
sempre relacionadas à trechos específicos da curva eustática. Em função destes
conceitos a estratigrafia de seqüências tem sido muitas vezes tomada como
sinônimo de eustasia, o que tem motivado diversas e bem fundamentadas
críticas às cartas de variações globais do nível do mar (e.g. Miall,1991,1992).
Contudo, tais críticas não invalidam a estratigrafia de seqüências que, antes de
um gabarito ou modelo rígido, deve ser vista como uma ferramenta ou “approach”
para explicar a formação das seqüências e de seus limites, através da
compreensão de todos os fatores que controlam a deposição (Posamentier &
James, 1993; Posamentier & Allen, 1994; Shanley & MacCabe, 1994).

3.4.1 Conceitos e Controles da Arquitetura Estratigráfica

Em muitos casos os limites de seqüências são interpretados como um hiato


desenvolvido durante uma queda do nível relativo do mar, ou do nível de base
(tipo 1), ou ainda de variações na taxa de subida do nível de base (tipo 2). Em
sucessões continentais, entretanto, os limites de seqüências podem ser
controlados por processos climáticos e/ou tectônicos na área fonte.
O reconhecimento dos limites de seqüências é de importância crítica
porque invariavelmente separam rochas mais novas das mais antigas. Além disso
as seqüências são formadas em intervalos de tempo variados e passíveis de
hierarquização (cf. Item 3.2). Contudo, alguns cuidados devem ser tomados ao
assumir o nível de base como controlador de estratos depositados em curtos
77

intervalos de tempo, onde os processos alocíclicos podem ser indistinguíveis dos


autocíclicos.
Os blocos básicos de construção das seqüências, como já mencionado,
são as parasseqüências, que são claramente reconhecidas em estratos marinho-
rasos. Já em ambientes continentais seu reconhecimento e correlação são
consideravelmente mais difíceis. Os registros de agradação, progradação e
retrogradação de parasseqüências dentro das seqüências, em ambientes
plataformais, podem ser claramente reconhecidos e relacionados à variações do
nível relativo do mar, embora não necessariamente, porque o padrão de
empilhamento de parasseqüências pode ser significativamente afetado pelos
condições que controlam o suprimento sedimentar.
A arquitetura estratigráfica, ou geometria, pode ser estudada em várias
escalas. A descrição da geometria de fácies de uma barra em pontal, por
exemplo, pode demonstrar a continuidade específica de uma fácies
hidrodinamicamente definida ou o desenvolvimento de superfícies de acresção
lateral. Em larga escala, a abordagem via arquitetura de fácies conduz à análise
das variações dos processos que ocorrem na formação de uma seqüência e na
evolução dos ambientes deposicionais, tal como ocorre na transição de um
sistema braided para depósitos finos de rios meandrantes.
A evolução da arquitetura estratigráfica, na escala de seqüências
deposicionais, é governada pela taxas de geração e destruição de espaço de
acomodação (“accommodation”) e pelos processos atuantes nos sistemas
deposicionais.

3.4.1.1 Espaço de Acomodação e Nível de Base

O espaço de acomodação é o espaço disponível para o potencial acúmulo


de sedimentos. Para haver acúmulo e preservação da sedimentação o espaço
disponível deve estar localizado abaixo do nível de base, acima do qual ocorrerá
erosão (Jervey, 1988).
O espaço de acomodação é dinâmico. É um volume cuja forma é
continuamente modificada ao longo do tempo geológico. Em bacias marinhas o
espaço de acomodação pode ser pensado como equivalente ao nível relativo do
mar ou a interação entre subsidência tectônica e eustasia. Um fator tão
78

importante quanto a existência ou não de espaço é a taxa de mudança deste


espaço. Em geral, quando o espaço de acomodação é positivo, a arquitetura
estratigráfica é fortemente controlada pelos processos responsáveis pelo
suprimento sedimentar. A progradação ocorrerá quando a taxa de suprimento for
maior que a taxa de geração de espaço; a agradação será produzida quando
houver equilíbrio entre as duas variáveis; a retrogradação ocorrerá quando a taxa
de suprimento for menor do que a taxa de espaço gerado. Onde o espaço de
acomodação for nulo haverá repasse de sedimentos (bypass), onde for negativo
ocorrerá erosão e incisão de vales fluviais (Fig. 3.11).
O espaço de acomodação em ambientes fluviais (ou “subaerial
accommodation”), como definido acima, tem sido descrito com relação a uma
superfície conceitual, teórica, denominada superfície de equilíbrio, que separa
erosão de deposição. Trata-se de uma superfície idealizada onde todas as forças
atuantes no sistema encontram-se em equilíbrio, não ocorrendo nem erosão nem
deposição.
Esta superfície atua como controle fundamental da acumulação de
sedimentos fluviais e está diretamente vinculada ao conceito de nível de base,
que tem sido definido de várias formas e amplamente debatido ao longo do
tempo.
Schumm (1993), em revisão sobre o tema, esclarece muitos dos aspectos
controvertidos que cercam o conceito de nível de base, a mais de um século,
ressaltando não haver consenso sequer quanto a ortografia a ser adotada (na
literatura inglesa são comuns os termos “base-level”, “base level”, e “baselevel”).
Contudo, segundo Schumm, o ponto principal de confusão situa-se entre os
conceitos de “baselevel” e “graded river profile”.
“Baselevel”, na definição original - freqüentemente citada - de Powell
(1875), inclui três idéias básicas: (1) nível de base como o limite inferior de erosão
subaérea, isto é: o nível do mar, que atua como “general”, “grand” ou “ultimate
baselevel” ; (2) níveis de base locais ou temporários, devidos à resistências
litológicas ou estruturais; e (3) nível de base como “superfície imaginária” que se
inclina suavemente, em todas as suas partes, em direção ao nível do mar e é
determinada pelo gradiente dos principais cursos fluviais.
79

Paraseqüências
+ retrogradacionais

Aumento da Taxa de criação de Espaço de Acomodação

Suprimento Sedimentar Suprimento Sedimentar


Espaço de Acomodação Espaço de Acomodação

Paraseqüências
agradacionais

ã o
d aç
o
om
Ac
Paraseqüências
= progradacionais
r
ta
en
i m
s ed
to
en
im
pr
Su
"Bypass" sedimentar
Aumento da taxa
0
de suprimento
Perda de Espaço de Acomodação

sedimentar

Limite de Seqüência
Incisão Regional

Figura 3.11 Interações entre espaço de acomodação e suprimento sedimentar e os


padrões de empilhamento estratigráfico resultantes (Shanley & McCabe, 1994).

Na definição de Davis (1902), “grand baselevel” corresponde à “uma


superfície imaginária, sendo o nível base em relação ao qual funciona a erosão
subaérea normal”.
Shanley & McCabe (1994) consideram a definição de Battes & Jackson
(1987) como expressão resumida dos conceitos tradicionais, incluindo os emitidos
por Powell (1875): “baselevel é o limite teórico ou o nível mais baixo ao qual a
80

erosão da superfície da Terra busca atingir; é, especialmente, o nível abaixo do


qual os rios não conseguem erodir deus depósitos. O grande nível de base
(“general” ou “utimate baselevel”) para a superfície terrestre é o nível do mar, mas
níveis de base temporários podem existir, localmente”.
Para Blum (1993), na definição de nível de base (formulada por Powell ,
1875, Davis, 1902 e expressa em Battes & Jackson, 1987) o “ultimate baselevel”
melhor corresponderia à projeção – ou extensão - geoidal do nível médio do mar
sob a superfície da paisagem
Esta definição (geomorfológica) de nível de base é amplamente aceita e
utilizada pelos geomorfólogos, motivando Shanley & McCabe (1994) a usar a
expressão “geomorphic baselevel”, para diferencia-la do conceito de “stratigraphic
baselevel” (desenvolvido por Barrell (1917), Sloss (1962) e Wheeler, 1964), mais
utilizado pelos estratígrafos.
Barrell (1917) descreve nível de base num contexto estratigráfico mais
amplo, como correspondendo a uma “superfície” em direção a qual as forças
externas atuam, ou superfície na qual não ocorre erosão nem deposição. Tal
superfície é definida por Sloss (1962) como uma “superfície de equilíbrio”, acima
da qual nenhuma partícula atinge o repouso e abaixo da qual deposição e
soterramento não são possíveis. Na mesma linha, Wheeler (1964) considera o
nível de base como uma superfície acima da qual não ocorre erosão.
Em vista das diversas definições de nível de base, Blum (1993) aponta
pontos potencialmente problemáticos, na aplicação do conceito à estratigrafia de
seqüências. Dentre eles, destaca as diferenças geométricas entre os diversos
conceitos. Em algumas concepções (cf. Powell, 1875; Davis, 1902), nível de base
representa o limite inferior para a erosão; em outras, eqüivale ao limite superior da
deposição (cf. Barrell, 1917; Wheeler, 1964). Nas palavras de Shanley & McCabe
(1994) a primeira concepção corresponderia ao “geomorphic baselevel” e a
segunda ao “stratigrafic baselevel” 1 .
O segundo ponto importante nesta discussão, levantado por Schumm
(1993) é o conceito de “graded fluvial profile” ou “graded stream”.
A conceituação original do termo deve-se a Gilbert (1877) - posteriormente
desenvolvida por Davis (1902) e Barrell (1917) - e tem relação direta com a noção

1
Sob o aspecto geomorfológico, uma excelente revisão histórica e conceitual sobre os termos “grade”, perfil de equilíbrio e
nível de base pode ser encontrada em Cristofoletti (1981), Volume 1, Capítulo4.
81

de perfil longitudinal ou perfil de equilíbrio fluvial. O perfil longitudinal de um rio é a


expressão da sua declividade, ou gradiente, representada pela relação entre sua
altimetria e comprimento , para diversos pontos, situados entra a nascente e a
foz. Para a maioria dos rios, a curva representativa desta relação tem a forma
parabólica, perfil côncavo para o céu, com declividades maiores em direção às
nascentes e valores cada vez menores, mais suaves, em direção à foz
(Cristofoletti, 1981). Um rio em equilíbrio (ou graded) é aquele que encontra-se
em “condição de balanço essencial entre erosão e deposição, o que normalmente
ocorre com rios em seu estágio maturo de desenvolvimento, quando suas
declividades foram devidamente entalhadas ou edificadas em relação ao nível de
base da sua bacia”(Davis, 1902, citado em Cristofoletti, 1981).
Shanley & McCabe (1994) consideram a melhor articulação daquelas
concepções, e a mais citada na literatura estratigráfica, o conceito formulado por
Mackin (1948):
“ graded stream is one in which, over a period of years, slope is delicately
adjusted to provide, with available discharge and with prevailing channel
characteristics, just the velocity required for transportation of the load
supplied from drainage basin”.
Assim, o perfil de equilíbrio fluvial é tal que a energia requerida para
transportar os sedimentos disponíveis é exatamente balanceada pela energia
potencial liberada pelo fluxo, de tal forma que o rio não sofrerá nem agradação
nem degradação. O perfil “gradado” – ou ajustado – é um sistema em equilíbrio;
sua principal característica é a de que qualquer alteração em qualquer um dos
fatores controladores causará o deslocamento do equilíbrio na direção necessária
para absorver os efeitos causados pela mudança.
Segundo Schumm (1993), os conceitos de nível de base (causa) e perfil de
equilíbrio (efeito) são freqüentemente confundidos. Ressalta que o nível de base
é, por excelência, o nível do mar, até pela própria definição das palavras “base”,
que significa a porção mais inferior e “level”, que se refere a uma linha horizontal.
Portanto, qualifica de incorreta a utilização do termo “baselevel” para designar
uma superfície inclinada (p.e. superfície de equilíbrio). Como exemplo da
confusão de conceitos, Schumm cita a definição estratigráfica de Wheeler (1964)
para nível de base, a qual sugere que, independentemente do nível do mar, o
nível de base oscila acima e abaixo da superfície do terreno, de acordo com as
82

mudanças no suprimento sedimentar e condições de energia: “a um dado


momento a superfície lítica da terra é divisível em inúmeras áreas, cada uma das
quais caracterizada por um ou outro processo – erosão ou deposição. O limite
entre qualquer uma destas áreas coincide com nível de base”. Como assina Blum
(1993), na concepção de Wheller o nível de base não exerce controle sobre a
sedimentação aluvial, embora sejam sabidos os efeitos de variações do nível do
mar nas porções distais dos perfis fluviais. Além disto, a exemplo do perfil de
equilíbrio, também a rugosidade, padrões e formas dos canais fluviais podem se
ajustar para absorver às modificações do nível de base. Schumm (1993),
relaciona pelo menos 10 variáveis ligadas ao impacto das variações do grand
nível de base sobre os sistemas fluviais, agrupadas em três grandes itens: (1)
controle do nível de base, incluindo direção, magnitude, taxa e duração; (2)
controle geológico, incluindo litologia, estrutura e natureza dos sedimentos; (3)
controles geomorfológicos, incluindo inclinação da superfície exposta, morfologia
do vale e morfologia e ajustabilidade dos rios. O conceito estratigráfico de nível de
base (Barrell, 1917; Sloss, 1962; Wheeler, 1964) é, assim, uma variável
dependente, e coincide com o limite superior do espaço de acomodação de
Jervey (1998), o qual varia em resposta aos efeitos combinados de subsidência e
eustasia (ou “ultimate baselevel”, como originalmente definido).
Neste contexto, Shanley & McCabe (1994) concluem que a utilização
“moderna” do termo nível de base (ou stratigraphic baselevel) – desenvolvido a
partir das definições de Barrell, Sloss e Wheeler e posteriormente adotado nos
modelos produzidos pela “escola Exxon” - descreve uma superfície de equilíbrio,
ondulante, que intersecta a superfície da terra de formas variadas e que flutua em
resposta a variações de fatores controladores como tectônica, subsidência,
eustasia, gradiente, suprimento sedimentar, descarga, etc. As mudanças do nível
de base determinam a arquitetura estratigráfica na escala das seqüências
deposicionais.
A arquitetura deposicional é controlada, entre outros fatores, pela
magnitude do espaço de acomodação e pelas taxas de incremento e destruição
deste espaço, determinados pelo nível de base estratigráfico. Esta afirmativa é
plenamente aceita para depósitos marginais e marinho-rasos, mas sua
correspondência em ambientes continentais é ainda tema de discussão, em
virtude das complexas interações de variáveis que atuam nos sistemas aluviais.
83

O nível de base estratigráfico, nestes termos, é um datum que varia de


acordo com a sua situação deposicional (Fig. 3.12).

Nível do mar

Perfil de equilíbrio Fluvial


Perfil da plataforma

Carga sedimentar

Descarga Aumenta
Carga sedimentar Diminui
Gradiente Diminui

Figura 3.12 Elementos controladores do nível de base nos ambientes


aluviais, costeiros e de plataforma marinha (a partir de Emery &
Myers, 1998). Nos ambientes costeiros e plataformais o nível de base
é controlado diretamente pelo nível do mar. Nos ambientes aluviais o
controle é exercido pelo perfil de equilíbrio fluvial, que grada
distalmente para o nível do mar ou do lago adjacente. Conferir
discussão no texto.

Em sistemas deltaicos ou costeiros o nível de base é efetivamente o nível


do mar (“grand baselevel”), embora em ambientes marinho-rasos o nível de ação
das ondas possa atuar eventualmente como nível de base temporário, gerando
um perfil de equilíbrio da plataforma.
Em ambientes aluviais o nível de base estratigráfico – a par de toda a
discussão, já referida, sobre o conceito - tem sido assumido como determinado
pelo comportamento do perfil ou superfície de equilíbrio, a qual grada,
assintoticamente, para o nível do mar ou do lago, em seu extremo distal.
Movimentações verticais ou longitudinais desta superfície, ao longo do tempo,
exercerão controle sobre as taxas de geração e consumo do espaço de
acomodação, que , em conjunto com o suprimento sedimentar, serão refletidas no
padrão estratal e arquitetura dos corpos sedimentares.
84

3.4.2 Estratigrafia de Seqüências em Ambientes Costeiros

Os impactos das variações relativas do nível do mar em ambientes


continentais são ainda motivo de controvérsia, especialmente quando afastados
da linha de costa a partir da ordem das dezenas de quilômetros. Entretanto, nas
porções inferiores das planícies costeiras o conceito de perfil de equilíbrio fluvial
(“graded stream”), que se aproxima da superfície de equilíbrio, tem sido o mais
utilizado para explicar a arquitetura estratigráfica destes ambientes.
Conceitualmente, uma mudança relativa no nível do mar (“grand base
level) provoca modificações na inclinação, portanto na elevação e posição às
quais os sistemas fluviais passam a se ajustar, processo que controla a
agradação/degradação fluvial.
Os conceitos de ponto de equilíbrio (posição sobre o perfil fluvial onde a
taxa de mudança eustática é igual à taxa de subsidência), “bayline” (linha que
conecta os pontos aos quais os perfis fluviais se ajustam; em certas condições
eqüivale aproximadamente à linha de costa) e perfil fluvial são utilizados por
Posamentier et al. (1988) para relacionar as mudanças no espaço de
acomodação com as variações relativas do nível do mar. Na definição original a
bayline é localizada na junção entre o perfil fluvial e a planície costeira,
correspondendo à posição do onlap costeiro durante uma subida do nível do mar
e ao ponto de equilíbrio, durante a queda relativa do nível do mar. Em sistemas
estuarinos a bay line localiza-se no limite da ação das marés, sendo marcada por
abrupta mudança de fácies, de depósitos caracteristicamente fluviais
(cascalhosos e arenosos) e depósitos mais finos dominados pela ação das marés.
Estas mudanças faciológicas demarcam os limites paleogeográficos entre os
depósitos aluviais e parálicos. Durante uma subida rápida do nível do mar os
depósitos estuarinos “onlapam’” os depósitos aluviais sobre a bayline. Estudos a
respeito das interações faciológicas entre sistemas fluviais e ambientes costeiros
(estuários/vales incisos) têm demostrado perfeita adequação aos preceitos
teóricos da estratigrafia de sequências e vêm sendo fartamente documentados na
literatura.
Diversos estudos recentes têm demonstrado que a taxa de variação do
nível de base e, portanto do espaço de acomodação, controlam fortemente a
85

faciologia e a arquitetura estratigráfica, nas regiões costeiras (p.e. Dalrymple, Boy


& Zaitlin, 1994).
Durante uma subida rápida do nível de base estratigráfico não ocorre
agradação fluvial significativa, até que a taxa de subida diminua, quando o perfil
fluvial passa a se ajustar, se deslocando em direção ao continente. Em condições
de subida lenta do nível de base pode ocorrer agradação fluvial, dependendo da
taxa de sedimentação disponível.
A taxa de subida do nível de base pode também determinar o
desenvolvimento e estilo dos canais fluviais. Törnqvist (1993) e Törnqvist et al.
(1993), sugerem que subidas rápidas do nível de base (iguais ou maiores que
1,5mm/ano, no delta do Rhine-Meuse) desenvolvem sistemas anastomosados,
enquanto taxas de subidas mais lentas provocam o desenvolvimento de sistemas
fluviais meandrantes.
Embora os fatores fisiográficos e climáticos, o suprimento sedimentar e a
descarga fluvial influenciem os padrões estratigráficos e os efeitos das mudanças
do nível de base estratigráfico diminuam em direção ao continente, nas porções
inferiores das planícies costeiras, as mudanças no nível relativo do mar
(subsidência e eustasia) parecem ser o principal fator controlador do perfil de
equilíbrio fluvial, determinando as características de agradação destes sistemas e
da arquitetura estratigráfica nos ambientes costeiros.
Próximo à linha de costa, incisões devidas a rebaixamentos do nível de
base estratigráfico são influenciadas pela diferença de gradiente entre a planície
aluvial e a plataforma marinha rasa (Fig. 3.13).
Quando a plataforma tem um gradiente maior do que a planície aluvial
adjacente, o rebaixamento do nível relativo do mar produzirá incisão.
Em rampas de baixo relevo, quando o gradiente dos perfis fluviais próximos
à costa forem similares ao perfil batimétrico da plataforma, um rebaixamento do
nível de base resultará em incisões mínimas. O perfil fluvial nestas condições
poderá apenas ser prolongado, podendo ser reajustado através de mudanças no
padrão de canais.
Em situações onde o gradiente da plataforma for menor do que o do perfil
fluvial adjacente, um rebaixamento do nível de base poderá produzir uma
significativa deposição sedimentar sem nenhuma incisão.
86

a. Redução do Espaço de Acomo dação

Nível de Base 1
Nível de Base 2

Geração de Espaço de Acomodação

Nível de Base 2
Nível de Base 1

b.
(1) Incisão fluvial (2) Incisões mínimas

(3) Deposição

Figura 3.13 Resposta dos sistemas fluviais ás variações do nível de base.


(a) ajuste do perfil de equilíbrio às variações do espaço de acomodação; (b)
comportamento dos sistemas fluviais em áreas costeiras, onde o nível de
base é o próprio nível do mar e as diferenças entre os gradientes aluvial e
da plataforma exercem significativo controle sobre a resposta fluvial à
quedas do nível de base: (1) gradiente da plataforma > gradiente fluvial:
aumento da velocidade do fluxo e da capacidade de transporte, levando à
erosão e incisão de vales fluviais, especialmente quando o nível de base
excede a quebra da plataforma, situação em que é gerado o limite de
seqüência tipo 1; (2) gradiente da plataforma = gradiente fluvial: neste caso
não ocorre ajuste significativo e o perfil de equilíbrio fluvial é apenas
prolongado sobre a plataforma, sem produzir incisões importantes; (3)
gradiente da plataforma < gradiente fluvial: neste caso, a redução do perfil
de equilíbrio fluvial pode levar à diminuição na vazão e na capacidade de
transporte, podendo ocorrer sedimentação nas porções distais do perfil.

Nas áreas de interflúvio os estudos detalhados de evolução de paleosolos


são de grande importância, na geração de critérios precisos para identificação
de limites de seqüências. Sua profundidade, desenvolvimento e maturidade
refletem o tempo de exposição e as taxas de sedimentação envolvidas
(MacCarthy, 1997 a,b; MacCarty et al., 1998).

3.4.3 Bacias Interiores

Nas bacias interiores, distantes da linha de costa, o espaço de


acomodação e o ajuste da superfície de equilíbrio são menos influenciados pelas
variações relativas do nível do mar e as correlações das geometrias estratais
tornam-se crescentemente mais problemáticas.
87

As bacias interiores são aquelas localizadas a considerável distância do


mar, ou as que tem padrões de drenagens internas ou ainda sistemas
deposicionais cujos processos sedimentares não são diretamente controlados por
ambientes marinhos, como é o caso dos “sand seas” da Arábia Saudita ou do
Saara e os lagos do leste africano. Nestes ambientes as mudanças relativas do
nível do mar são de pequena importância (Fig. 3.14).

Clima
Importância te
a Fon
a Á re
100%

Relativa d
en to
dos gu im
Elementos So er
Controladores
Eustasia

Limite de erosão ou deposição


controlada por mudanças relativas
Nível do Mar
Bacia
Intramontana
(ou Interior)
Planície Costeir a

*220 km
(distância máxima de incis ão fluvi al
do Mississippi, em resposta ao lo wstand
da gla cia ção Wiscosin (Emery &Myers, 1998)

Figura 3.14 Fatores de controle da sedimentação dos estratos


continentais. A importância da eustasia diminui significativamente em
direção ao continente. Em bacias interiores a arquitetura estratal é
função do clima, suprimento sedimentar e subsidência tectônica
(Shanley & MacCabe, 1994).

De qualquer maneira, os sistemas estratigráficos continuam respondendo


às mudanças no espaço de acomodação e aos ajustes da superfície de equilíbrio,
cujo comportamento define tanto o espaço quanto suas taxas de variação.
O espaço de acomodação nestas bacias interiores, ou em áreas distantes
do mar, é amplamente dominado pelos fatores locais e pelos ciclos climáticos e
tectônicos, sem nenhuma relação particular com as variações relativas do nível do
mar.

3.4.3.1 Estratigrafia de Seqüências em Sistemas Lacustres

Nos ambientes lacustres as variações do nível do lago afetam sua


estratigrafia, independentemente de o sistema ser aberto ou fechado. A primeira
88

resposta a estas variações do nível dos lagos tem relação com o espaço de
acomodação e a distribuição de energia física dentro do ambiente, atuando
diretamente sobre os processos de sedimentação. Desta forma a posição do nível
do lago afetará não só a faciologia lacustre como também o sistema fluvial
adjacente e sua estratigrafia, de forma similar à influência marinha nas regiões
costeiras. Períodos de incisão e agradação fluvial nas bordas dos lagos podem
apresentar clara e direta correspondência com as oscilações do nível dos lagos.
As possibilidades de correlação, contudo, diminuem progressivamente com o
aumento da distância em relação à linha de costa lacustre.
Diversos estudos têm demonstrado a resposta sedimentar às variações de
nível do lagos, atuando como nível de base, principalmente no sistema de lagos
do rifte leste africano (Johnson et al. 1987; Scholz & Rosentdahal, 1988, 1991;
Scholz et al. 1990).
Trabalhos detalhados em perfis sísmicos de alta resolução de vários destes
lagos sugerem que os níveis dos lagos podem ter estado a 200 metros abaixo do
nível atual, nos últimos 25.000 anos. Como resultado destas mudanças no nível
de base estratigráfico, extensos limites de seqüências têm sido reconhecidos,
truncando erosivamente depósitos lacustres de “highstand”. Mudanças e
deslocamentos bruscos (“shifts”) das fácies sedimentares , em direção ao centro
da bacia, têm sido reconhecidos e são associados à depósitos de “lowstand”,
cujas fácies variam a partir de depósitos de “highstand” (Fig. 3.15), sugerindo
que as maiores unidades sedimentares lacustres (e.g. lago Tanganika) refletem a
ação conjugada das variações do nível do lago, clima e proveniência.
Seqüências estratigráficas observadas em estratos lacustres, com base em
dados sísmicos de alta resolução, embora muitas vezes mais delgados que seus
equivalentes marinhos, apresentam estreita similaridade geométrica com estratos
observados ao longo de muitas bacias de margem passiva.
Olsen (1986, 1991) descreveu mudanças nas fácies lacustres mesozóicas
do supergrupo Newark do leste norte-americano, atribuindo as causas das
variações dos níveis do lago às variações dos parâmetros orbitais, e portanto aos
“ciclos de Milankovitch”. Algumas destas variações podem ter excedido os 100
metros em amplitude. Olsen (1991) reconheceu três conjuntos distintos de fácies,
relacionando-os com sucesso aos modelos da estratigrafia de seqüências, tendo
as variações dos níveis do lago como principal controlador da faciologia.
89

Highstand Systems Tract

Nível alto do lago

Lagoa
isolada
Slumps, Slides
e Debris Flow

Talus
Correntes de turbidez subaquosos

Levees Lamas hemipelágicas

Depósitos turbidíticos

Lowstand Systems Tract

Canai s fluviais
Lagoa
isolada
Cânions, ravinas e
cataratas
Landslides

Delta de Lowstand Nível baixo do lago


Canais
fluviais
Areias litorâneas
Evaporitos

Figura 3.15 Modelo generalizado de half-graben, mostrando


componentes de highstand e lowstand lacustrice system tracts
(Shanley & MacCabe, 1994).

Mudanças na linha de costa, desenvolvimento de canais incisos, presença de


turbiditos, evaporitos, foram todos relacionados à variações dos níveis do lago.
Diversos outros trabalhos em áreas e idades diferentes têm documentado
progradações e retrogradações de parasseqüências, e portanto das linhas de
costa, cujas geometrias são relacionadas à expansões dos lagos, pontuadas por
quedas no nível de base. Inter-relações entre estratos lacustres e fluviais sugerem
a ação combinada de fatores climáticos e tectônicos nas flutuações do nível de
base (Shanley & McCabe, 1994).
Durante a NUNA Conference, foram formulados modelos para tratos de
sistemas lacustres, a partir de exemplos do Cretáceo argentino.
Depósitos de lowstand de lagos dissecados são constituídos por cunhas
clásticas granocrescentes ou depósitos em lençol, recortados por canais, no topo.
O desenvolvimento de “deltas tipo Gilbert” é favorecido em condições de
lowstand.
A subida do nível do lago resulta em tratos de sistemas transgressivos,
caracterizados por parasseqüências retrogradacionais, constituídas por arenitos,
fácies de granulação fina de canais distributários e barras de desembocadura,
recobertos por depósitos oxidados, costeiros ou de offshore.
90

As condições lacustres de highstand são representadas pela ampla


deposição de folhelhos escuros, orgânicos, sedimentados em águas profundas,
em condição de anoxia.
Ciclos de variações climáticas podem induzir as oscilações dos níveis dos
lagos, influenciando a faciologia e os tratos de sistemas, como exemplificado em
seqüências permianas (Rotliegend Group) da Holanda (cf. Shanley & MacCabe,
1994). Nestes casos, segundo o exemplo citado, os limites de seqüências destes
estratos refletem rebaixamentos do nível de base como resposta ao aumento de
aridez do sistema.
Os tratos de sistemas de lowstand, nestas condições, serão representados
por sucessões evaporíticas no centro da bacia, com extensivos depósitos eólicos
nas áreas transicionais.
Os tratos de sistemas transgressivo serão constituídos por depósitos
lacustres e planícies de lama, no centro da bacia, lençóis de areia úmidos nas
áreas transicionais, com wadis e sand flats ao longo das margens da bacia. A
superfície de máxima inundação dentro destes estratos será representada pela
expansão da associação de fácies lacustres no centro da bacia e extensivos
depósitos de sabkhas interiores e fluviais nas bordas da bacia.
Os depósitos de highstand serão dominados por planícies de lama e
depósitos lacustres no interior da bacia e depósitos de lençóis de areia úmidos e
wadis, tanto nas regiões transicionais quanto nas bordas da bacia.
Diversas observações têm, portanto, demonstrado a aplicabilidade dos
conceitos da estratigrafia de seqüências à análise de ambientes lacustres
(incluindo experiências na Bacia do Paraná: cf. Ribeiro & Lavina,1994; Ribeiro et
al.,no prelo). A geometria e distribuição dos tratos de sistemas (ou “tratos de
fácies” ) são gerados como resposta às variações do nível do lago que, nestes
casos, atua como nível de base estratigráfico.

3.4.3.2 Estratigrafia de Seqüências em Sistemas Aluviais

3.4.3.2.1 Limites de Seqüência

Em delgadas sucessões de estratos aluviais, onde tenha ocorrido incisão


sobre estratos marinhos, o reconhecimento de superfícies significativas de
91

mudanças no nível de base podem ser facilmente reconhecidas. A justaposição


de sistemas fluviais braided sobre folhelhos marinhos ou a presença de raízes
subaéreas ou carvão sobre depósitos marinhos também não apresentam maiores
problemas de interpretação.
Entretanto, quando as espessuras estratais aumentam, a discriminação
entre superfícies erosivas de extensão regional produzidas por processos
alocíclicos e erosões provocadas por migração de canais é muito mais difícil,
principalmente porque as incisões são características fundamentais dos sistemas
canalizados.
A diferenciação e ordenação hierárquica destas superfícies tem seus
fundamentos nos trabalhos pioneiros de McKee & Weir (1953), Campbell (1967) e
Allen (1965,1966,1983), que demonstraram o significado cronoestratigráfico das
superfícies de acamadamento, assim como a importância das camadas e
conjuntos de camadas como unidades sedimentares fundamentais. A elaboração
destas idéias – hoje fundamentais, especialmente na análise de afloramentos -
resultou nos conceitos de elementos arquiteturais, unidades deposicionais e
hierarquização de superfícies limitantes em depósitos fluviais (Fig. 3.16),
desenvolvidos por Miall (1985, 1988a,b,1991,1992). Esta metodologia – embora
não originada da Estratigrafia de Seqüências, mas incorporada a ela - permite
uma diferenciação mais acurada dos estilos deposicionais de sistemas com
características arquiteturais distintas, possibilitando interpretações quanto aos
fatores controladores da deposição e as escalas relativas de tempo envolvidas na
geração das diversas unidades deposicionais.
Diversos casos já documentados têm indicado que os limites de
seqüências que reflitam controladores alocíclicos possam ser identificados pela
compreensão das geometrias estratais que signifiquem abruptas mudanças nas
taxas de geração do espaço de acomodação. Há poucos critérios seguros, mas
incisões regionais em escalas de profundidade e largura, maiores do que aquelas
associadas a canais, sugerem incisões aluviais, especialmente se vinculadas à
mudanças no tamanho e composição dos grãos.
Em estratos continentais a interpretação de vales incisos pode ser
dificultada, em função das variações intrínsecas aos sistemas que preenchem os
vales. Em alguns casos, é possível que a incisão de vales fluviais seja
acompanhada por formação de terraços em período de degradação. A
92

A Mb. D
Mb. C
M b. B
6 101-10 3m
M b. A
B
10 1-102km

C 5
B
10 1-10 3m

"sand flat"
CH
D
Barra em pontal
ou lateral

LA DA
C
4 4 5
10-3000m

3
4

D E

10-1000m
1
1-15m

6 hierarquia das superfícies limitantes 3

E 2

LA: acresção lateral (Lateral Accretion)


DA: acresção frontal (Downstream Acrettion)
CH: canal (Channel)

Figura 3.16 Escalas dos elementos deposicionais de um sistema fluvial. Os números


nos círculos indicam a hierarquia das superfícies limitantes. (LA) acresção lateral, (DA)
acresção frontal, (CH) canais (Miall, 1988).

estratigrafia interna destes terraços é muito complexa e pode tornar difícil a


individualização de um único limite de seqüências. Nestas situações, a
identificação de perfis de paleosolos anormalmente espessos e estudos
detalhados de sua micromorfologia, poderão revelar os processos de evolução
dos solos, sua relação com as variações do nível freático e o espaço de
93

acomodação, levando ao reconhecimento de interflúvios, que correspondem aos


limites de seqüência, nas regiões adjacentes aos canais (cf. McCarthy,1998).
Em outros casos, modificações faciológicas ou granulométricas abruptas,
ao invés de representarem modificações do gradiente, podem refletir mudanças
climáticas abruptas, que resultarão em variações de descarga e de suprimento
sedimentar ao sistema fluvial. Em áreas distantes de bacias marinhas ou
lacustres as complexas inter-relações entre nível de base, clima, fonte sedimentar
e erosão são difíceis de ser separadas.
Mudanças na taxa de geração de espaço de acomodação podem ser
indicadas pelas variações dos padrões de empilhamento dos arenitos de canais
fluviais. Posamentier & Vail (1988), Posamentier et al.(1988) e Posamentier e
Allen (1994) sugerem que a taxa de geração do espaço de acomodação controla
a “amalgamação” dos arenitos fluviais.
Unidades de canais, contendo múltiplos corpos arenosos, médios a
grossos, multilaterais, ocupando grande extensão areal, são interpretados como
representantes de baixas taxas de subida do nível de base, podendo recobrir uma
inconformidade, ou limite de seqüência, associada a fenômenos alocíclicos.
Arenitos fluviais amalgamados, com ampla continuidade lateral são
freqüentemente recobertos por corpos de areia mais isolados, associados a
sistemas meandrantes, com maior proporção de lama. Este padrão de geometria
fluvial pode ser interpretado como reflexo de um aumento na taxa de geração de
espaço de acomodação. Em bacias interiores o reconhecimento de limites de
seqüências são baseados quase que inteiramente em mudanças nos padrões de
empilhamento fluvial.
Embora a interpretação de limites de seqüências de extensão regional seja
freqüentemente feita com base em incisões aluviais - comuns no registro
geológico - sua identificação deve ser feita com a utilização de mais de um
critério. O reconhecimento objetivo (caracterização física) de limite de seqüências
implica na identificação de truncamento erosivo de unidades estratigráficas (da
ordem de quilômetros), mudanças granulométricas e composicionais abruptas,
mudança nos padrões de empilhamento, variações nos estilos dos canais fluviais
e no grau de amalgamação dos arenitos, bem como reconhecimento de
interflúvios, alterações diagenéticas e lacunas no registro bio ou
cronoestratigráfico.
94

3.4.3.2.2 “Flooding Surfaces”

Nos estratos marinhos a superfície de máxima inundação (“maximum


flooding surface”) marca o ponto em que a transgressão mais avançou em
direção ao continente. Normalmente é representada por fácies de água profunda,
refletindo uma rápida subida do nível relativo do mar, separando conjuntos de
parasseqüências retrogradacionais de conjuntos agradacionais e delimitando os
tratos transgressivo de highstand (cf. item 2.3.3).
Nos sistemas aluviais o período de máxima inundação não é representado
por condensação mas pela invasão de processos relacionados à marés sobre
áreas anteriormente dominadas por processos puramente fluviais. A máxima
incursão dos processos tidais é controlada pela interação da drenagem fluvial,
taxa de subida do nível relativo do mar, fisiografia e, em menor escala, pelo nível
de maré.
Estudos em estuários modernos e sistemas fluviais documentam a
influência de marés a dezenas de quilômetros da linha de costa (e.g. Allen &
Posamentier, 1994).
As superfícies-chave – e portanto os tratos de sistemas - são melhor
definidas nas regiões costeiras e transicionais. Nas regiões dominadas por
depósitos francamente aluviais superfícies correlatas a períodos de máxima
inundação tendem a ser descontínuas e localizadas nas proximidades dos canais
fluviais. Nestas situações, o reconhecimento e caracterização de interflúvios e
paleosolos, dentro de um controle estratigráfico mais amplo, podem ser a
ferramenta fundamental na identificação das superfícies de significado regional.
Em áreas de dimensões mais restritas, a identificação de superfícies de
inundação de caráter local pode ser obtida através da análise da arquitetura
estratigráfica, estilos aluviais, e da razão entre litofácies de canal e extra-canal.
Nestes casos, o intervalo de máxima acumulação de depósitos de floodplain,
incluindo crevasses, sedimentação lacustre, solos mal drenados e carvão, são
indicativos de aceleração na taxa de geração de espaço de acomodação,
portando relacionados a fases de máximo afogamento do sistemas aluviais. O
reconhecimento da extensão física e correlação deste intervalo em diversos
pontos da bacia – e da superfície de inundação nele contida - indicarão seu
95

caráter regional e significação para a interpretação dos tratos de sistemas


(Faccini, 1997a; McCarthy et al., 1999).
Em geral, e consideradas as alternativas e dificuldades discutidas acima,
os critérios documentados ou conceituais (cf. Shanley & McCabe, 1991; Miall,
1996; Emery & Myers, 1998) para reconhecimento de superfícies de inundação
máxima em sistemas aluviais buscam a identificação de depósitos de marés, o
desenvolvimento extensivo de depósitos lacustres (clásticos e carbonáticos),
solos pobremente drenados e camadas de carvão, que nestas situações podem
atingir espessuras consideráveis.
Um problema adicional no reconhecimento preciso da maximum flooding
surface (que delimita os tratos transgressivo e de highstand) é sua diferenciação
da “first” ou “initial flooding surface”, a qual recobre e individualiza o trato de
lowstand e constitui a base do trato transgressivo em sistemas aluviais. Em
conjunto com os limites de seqüências, o reconhecimento acurado destas
superfícies é que possibilitará a correta aplicação da terminologia dos tratos de
sistemas (conferir item seguinte). O uso de superfícies de inundação locais deve
ser feito criteriosamente, pois pode induzir a erros e confusões derivados da
indesejável aplicação da estratigrafia de seqüências na escala que Shanley &
McCabe denominam de “world that is visible at the area of investigation”. A
individualização das superfícies de inundação requer portanto um conhecimento
regional das relações estratais e sua significação como elemento de correlação
cronoestratigráfica.

3.4.3.2.3 Tratos de Sistemas e Modelos Estratigráficos

Tratos de sistemas são sistemas deposicionais contemporâneos, definidos


objetivamente com base em superfícies limitantes, posição dentro da seqüência e
pelos padrões de empilhamento (cf. item 3.3.3.3).
O reconhecimento de limites de seqüências e superfícies de inundação nos
estratos aluviais é condição necessária para a discussão dos tratos de sistemas.
A extensão do conceito de trato de sistemas para os depósitos aluviais é ainda
cercada de incertezas e necessita de mais estudos.
Os modelos estratigráficos de evolução de sistemas continentais e
respectivos tratos de sistemas, controlados por variações do nível de base
96

estratigráfico têm, em geral, como principal ponto de referência os modelos


conceituais desenvolvidos por Jervey (1988), Posamentier & Vail (1988) e
Posamentier et al.(1988). Estes autores empregaram os conceitos de espaço de
ponto de equilíbrio, “bayline” e perfil de equilíbrio para relacionar as mudanças
do espaço disponível para acomodação para estratos costeiros com variações
relativas do nível do mar. Nestes modelos a geração de espaço de acomodação
de estratos aluviais está condicionada à migração da “bayline” em direção ao ao
centro da bacia, durante fases de lento rebaixamento do nível de base. Embora
estas concepções tenham sofrido inúmeras críticas (conferir Miall, 1991;
Schumm,1993; Blum,1993, entre outros) permaneceram como referenciais para
os modelos formulados nos anos subsequentes.
Um modelo preditivo, amplamente aceito, foi apresentado por Shanley &
MacCabe (1994), no qual os autores descrevem estratos aluviais (Kaiparowits
Plateau – Cretáceo de Utah – U.S.A) relacionados a unidades marinhas,
identificando as arquiteturas deposicionais e os tratos de sistemas
correspondentes (Fig. 3.17).
Neste exemplo a sedimentação correspondente ao trato de mar baixo não
é reconhecida. O período de lowstand é representado unicamente pela incisão
dos vales fluviais, geração dos limites de seqüências e desenvolvimento de
terraços, sem agradação fluvial significativa. A deposição fluvial passa a ocorrer
principalmente a partir da elevação do nível de base, gerando os depósitos
correspondentes aos tratos transgressivo e de highstand.
Os tratos transgressivo e highstand são identificados com base em
características sedimentológicas e geométricas dos estratos.
Os limites de seqüências são recobertos por lençóis de areia fluviais,
lateralmente amalgamados contendo alta proporção relativa de arenitos grossos
de canais interconectados. Com base em correlações regionais e arquitetura de
fácies estes estratos foram interpretados como trato de sistemas transgressivo
aluvial. Estes depósitos gradam verticalmente para sedimentos de canais
isolados, associados a estratos de planície aluvial e depósitos heterolíticos de
preenchimento de canais influenciados por marés. Esta progressão de arenitos
amalgamados para depósitos isolados com influência tidal eqüivale a superfície
de máxima inundação dos estratos marinho-rasos, correspondendo à parte
superior do trato de sistemas transgressivo fluvial. Os estratos fluviais do trato de
97

Estratos Fluviais Nível de Base Estratos de Shoreface


Canais fluviais isolados, de alta sinuosidade Alto Baixo D

C
Depósitos fluviais influenciados por ma rés
Tempo

B
Depósitos de canais fluviais amalgamados

Incisão de vales e formação de terraços


Limite de Seqüência
A
Rios de alto gradiente e
1-10's m

b aixa sinuosidade

1-10's km

Figura 3.17 Diagrama ilustrando as relações entre arquiteturas fluviais e de shoreface, em


resposta às variações do nível de base: (A) queda do nível de base: highstand tardio e
lowstand, produzindo a incisão de vales e a geração de limite de seqüência; (B) still stand e
subida do nível de base: lowstand final e transgresssive sistems tract; (C) aumento da taxa de
subida do nível de base, highstand inicial; (D) highstand tardio, diminuição na taxa de subida
do nível de base, aproximadamente balanceada pela taxa de sedimentação (Shanley &
McCabe, 1994).

sistema de mar alto são caracterizados por depósitos finos de inundação, arenitos
fluviais isolados e finas e descontínuas camadas de carvão e folhelhos
carbonosos. Esta arquitetura é interpretada como reflexo de uma relativamente
rápida taxa de criação de espaço, em relação ao aporte sedimentar.
Um segundo exemplo apresentado por Shanley & MacCabe (1994),
baseia-se em depósitos triássicos e cretácicos de bacias da Argentina onde foram
individualizados tratos de sistema de mar baixo, transgressivo e mar alto, em
estratos aluviais (Fig. 3.18).
Neste modelo, o trato de lowstand ocorre em área restritas e é
caracterizado por depósitos de tração amalgamados, “multistory”,
correspondendo a uma seqüência de preenchimento de canais, grano e estrato
crescentes; o trato transgressivo é constituído pela mistura de depósitos de tração
e suspensão, arranjados em bedsets grano e estrato decrescentes. Estes estratos
têm maior extensão areal que os depósitos de lowstand e são interpretados como
produtos do aumento do espaço de acomodação, durante a subida do nível de
98

SB3
HST

TST
LST
SB2 Canais fluviais
HST
TST Sedimentos de "overbank"

LST Paleosolos
SB1 50-100m

5-10m

SB
Lamitos, siltitos e arenitos muito finos;
HST Laminação plano-paralela e climbing ripples;
Bioturbações e paleoso los

Arenitos finos a médios com estratificações cruzadas;


Arenitos finos a muito finos com laminação plano-paralela e climbing ripples;
TST Superfícies de acresção lateral (comuns);
Conglomerado s intraclásticos

Complexo de arenitos "Multistory";


Arenitos muito grossos e conglomerados com estratificações cruzadas;
LST Arenitos muito grossos com estratificações plano-paralelas e cruzadas

SB
5-20m

Figura 3.18 Seções esquemáticas de seqüências deposicionais aluviais, baseadas em estudos


do Mesozóico da Argentina. Tratos de sistemas e limites de seqüências indicados (Shanley &
McCabe, 1994).SB: limites de seqüências (sequence boundaries): LST, TST e HST: tratos de
sistemas (lowstand, trangressive e highstand systems tracts).

base estratigráfico; o trato de highstand é constituído por depósitos de suspensão


com ampla ocorrência de perfis de solos. Estas características sugerem limitado
espaço de acomodação e gradiente topográfico reduzido.
Modelo similar , e apresentado quase simultaneamente ao descrito acima,
foi proposto por Wright & Marriott (1993), relacionando variações do nível de
base e espaço de acomodação com a arquitetura aluvial e o desenvolvimento de
solos. Este modelo (Fig. 3.19) enfatiza fortemente o papel dos paleosolos -
características, taxas de desenvolvimento e preservação - na estruturação
estratigráfica de sistemas aluviais. O máximo de acumulação fluvial ocorre
durante as fases transgressiva e de highstand, diferentemente do previsto pelos
modelos de Posamentier & Vail,1988.
Também nesta concepção, durante o período de rebaixamento do nível de
base, ocorre a geração dos limites de seqüências, sendo os depósitos fluviais
99

IV
HST

III

TST

II

LST
" gullying"
I

Maturidade crescente Solos Depósitos Depósitos de


dos solos hidromórficos de canal planície de inundação

Figura 3.19 Modelo de arquitetura e desenvolvimento de paleosolos para uma seqüência


fluvial de tipo 1, em resposta a um ciclo de 3ª. ordem de variação de nível de base (Wright &
Marriot,1993). Tratos de sistemas: lowstand (LST); transgressive (TST); highstand(HST).

I. LST: erosão das áreas fonte, depósitos areno-conglomeráticos de canais fluviais de


baixa sinuosidade (braided), resultantes do aumento de gradiente. Deposição em
áreas restritas. Desenvolvimento de terraços, com paleosolos maturos, bem
drenados;
II. TST inicial: baixa taxa de geração de espaço de acomodação, resultando em corpos
de areia multistorey e retrabalhamento de planícies de inundação; o soerguimento do
nível de base favorece a formação de solos hidromórficos;
III. TST: aumento da taxa de acomodação, aumento de acumulação sedimentar nas
planícies de inundação, resultando em canais isolados e no desenvolvimento
incipiente de solos bem drenados.
IV. HST: redução na taxa de acomodação, diminuindo a agradação nas planícies de
inundação e favorecendo o melhor desenvolvimento de solos. Ao mesmo tempo, a
redução do espaço de acomodação produz também aumento da densidade de canais
e maior retrabalhamento das planícies de inundação, diminuindo o potencial de
preservação dos solos. A granulometria dos depósitos de canal pode ser fina,
comparada aos intervalos anteriores, devido à diminuição de erosão relacionada ao
baixo gradiente. Nesta situação, podem ocorrer inundação das planícies aluviais e a
formação de lagos.

restritos apenas às áreas marginais, próximas à linha de costa, constituídos por


depósitos de granulometria grossa, preenchendo canais de baixa sinuosidade
(braided). Durante estes eventos, nas áreas mais proximais, a deposição aluvial
tende a ser interrompida, passando a haver o retrabalhamento do sistema fluvial
principal. O período de lowstand favorece o desenvolvimento de interflúvios, com
solos maturos e bem drenados. O potencial de preservação destes solos
dependerá da extensão do retrabalhamento durante a fase lowstand e da taxa e
natureza da transgressão subsequente.
100

A deposição fluvial mais extensa é retomada a partir dos estágios iniciais


de desenvolvimento do trato transgressivo. A pequena da taxa de geração do
espaço de acomodação produzirá canais fluviais, preenchidos por arenitos
“mutistorey,” associados a depósitos de inundação, com condições favoráveis ao
desenvolvimento de solos hidromórficos.
Nos estágios finais do trato transgressivo o aumento da taxa de geração de
espaço propiciará o maior isolamento dos canais e a acumulação de maior
volume de sedimentos nas planícies de inundação. Os solos são pouco
desenvolvidos e bem drenados.
Durante a fase de highstand a taxa de geração de espaço de acomodação
é reduzida, diminuindo as taxas de acresção nas planícies de inundação,
favorecendo o melhor desenvolvimento de solos. Em função do baixo gradiente
as planícies estarão mais sujeitas a inundações e à conseqüente geração de
lagos. A redução do espaço de acomodação, por outro lado, tenderá a ocasionar
o retrabalhamento das planícies, diminuindo o potencial de preservação dos
solos.
Um terceiro modelo genérico (Fig. 3.20 e Tabela 3.3), também
considerando as mudanças do nível de base e espaço de acomodação como
controladores principais da arquitetura de depósitos não-marinhos, foi concebido
por Currie (1997). Além da proposição do modelo (baseado em exemplo do
Jurássico Superior-Cretáceo Inferior da Cordilleran Foreland Basin, Utah), este
trabalho apresenta uma discussão a cerca da impropriedade da aplicação da
terminologia “clássica” dos tratos de sistemas às sucessões continentais. Nos
modelos originais (Posamentier & Vail, 1988; Posamentier et al.,1988), o
desenvolvimento dos tratos de sistemas e suas denominações foram concebidos
como diretamente relacionados a trechos específicos da curva eustática. Este
ponto tem sido discutido por diversos autores (e.g. Schumm, 1993; Shanley &
McCabe, 1994; Miall, 1996,1997; Leeder, 1997), uma vez que a resposta dos
sistemas aluviais a variações do nível do mar restringe-se a poucas
dezenas/centenas de quilômetros da linha de costa. Nas regiões mais
interiorizadas, processos relacionados às caraterísticas da área fonte, descarga,
suprimento sedimentar, clima e tectônica passam a exercer controle
predominante sobre a sedimentação aluvial (cf. item 3.4.3, Fig. 3.14).
101

TEMPO 4: Trato de Sistemas Agradacional Tardio

TEMP O 3: Trato de Sistemas Agradacional

TEMPO 2: Trato de Sistemas Transicional


Figura 3.20 Modelo de
evolução da arquitetura fluvial
em resposta a mudanças no
TEMPO 1: Trato de Sistemas Degradacional espaço de acomodação e
terminologia dos tratos de
sistemas, por Currie (1997).

TEMPO 0: Arquitetura Fluvial inicial

~10-30m zona de alteração/


arenitos
formação de pal eosolos
~1-10km
conglomerado lamitos

Trato de Sistemas Granulometria Elementos arquiteturais Fácies


Degradacional Grossa Vales incisos Arenitos e conglomerado de
canais braided
Canais lateralmente Espessa zonação de paleosolos
contínuos adjacentes à margens dos vales
Transicional Grossa a fina Transição de canais Transição de arenitos de
lateralmente contínuos para canais braided para canais
canais isolados meandrantes
Aumento de preservação de
depósitos de overbank e
paleosolos delgados
Agradacional Dominantemente Canais lenticulares, isolados Abundância de fácies lacustres e
fina, com canais de planícies de inundação
fluviais No estágio tardio,
preenchidos por aumento na freqüência Conglomerados e arenitos de
sedimentos e amalgamação de canais canais anastomosados
grossos No estágio tardio, transição para
conglomerados e canais braided

Tabela 3.3 Características dos tratos de sistemas não-marinhos e terminologia alternativa,


específica para sistemas continentais proposta por Currie (1997), em substituição aos termos
análogos lowstand, transgressive e highstand, devido à vinculação destes últimos com
variações eustáticas ou flutuações relativas do nível do mar. Os termos degradational,
transitional e aggradational systems tracts (ver Fig. 3.20) são sugeridos pelo autor em função
de que a arquitetura e os sistemas deposicionais em bacias continentais não sejam,
necessariamente, controlados por oscilações do nível do mar, mas sim pelas variações das
taxas de geração do espaço de acomodação.
102

No modelo proposto por Currie (1997) – a exemplo dos anteriormente


descritos - é adotada a noção de oscilações verticais do perfil de equilíbrio como
geradoras de erosão, bypass ou espaço de acomodação para os sistemas
fluviais, que irão se reajustar às novas condições para manter ou restabelecer o
“graded profile”. O soerguimento do perfil, independentemente dos fatores de
controle (subida do nível do mar, subsidência da bacia, aumento no suprimento
ou diminuição da descarga) resultará na geração de espaço, cujas taxas de
variação irão produzir conjuntos de fácies específicas, passíveis de serem
descritas segundo as subdivisões da estratigrafia de seqüências (tratos de
sistemas).
Os termos propostos, contudo, diferem dos clássicos lowstand,
transgressive e highstand, devido à sua vinculação direta com variações
eustáticas ou relativas do nível do mar. Como equivalentes, Currie (1997) propõe
os termos degradacional, transicional e agradacional, em função da reconhecida
dificuldade em correlacionar os tratos de sistemas continentais com variações do
nível do mar, especialmente em áreas onde não ocorre sedimentação marinha
associada. O desenvolvimento, características geométricas e sedimentológicas de
cada trato de sistemas é bastante semelhante aos previstos pelos modelos de
Wrigth & Marriot (1993) e Shanley & McCabe (1994), como pode ser observado
na Fig. 3.20 e na Tabela 3.3. Quanto aos limites de seqüências, além do limites
tipo 1 e tipo 2, Currie (op. cit.) propõe um terceiro (o limite de seqüências tipo 3),
seguindo o modelo de Posamentier & Allen (1993), também descrito por Yoshida
& Miall (1997), para bacias de foreland. O limite de seqüências tipo 3 desenvolve-
se em resposta a mudanças da superfície de erosão aluvial, devido a
soerguimentos localizados no interior da bacia, associados a migrações da
posição do forebulge. A sensitividade dos sistemas fluviais a ajustes menores do
relevo da bacia produzirão o rápido abandono das seqüências pré-existentes,
erosão local das áreas soerguidas e conseqüente geração do limite de
seqüências tipo 3. A identificação do limite de seqüências tipo 3 segue, em tudo,
os critérios utilizados para os limites tipo 1 e 2: aumento abrupto da granulometria,
truncamento erosional das unidade estratigráficas, desenvolvimento de
pedogênese extensiva e hiatos bio ou cronoestratigráficos.
Como pode ser observado dos modelos estratigráficos descritos acima -
ainda que as propostas de Currie (1977) não sejam consensuais – todos
103

apresentam grandes similaridades entre si e servem com exemplos da tendência


dominante sobre a aplicação da estratigrafia de seqüências na análise de
ambientes não-marinhos. O modelo esquemático de Miall (1996), reflete esta
tendência e sintetiza as principais idéias desenvolvidas durante esta década,
reunindo os conceitos e terminologias da estratigrafia de seqüências, neste caso
destacando as superfícies-chave, os tratos de sistemas e suas arquiteturas
correspondentes, adaptados para ambientes continentais (Fig. 3.21). Neste
diagrama o autor inclui os termos correspondentes da aloestratigrafia, que é o
contexto mais amplo, formal, no qual se insere a estratigrafia de seqüências
deposicionais.

SB 6
Seqüência

HST 5 5
ou Alomembro
Aloformação

6 MFS

TST
4
LST
SB 5

6 Vale Inciso
preenchimento de canais fluviais

canais e barras de marés folhelhos marinhos

distributários deltaicos e barras de desembocadura calcários marinhos

planícies de inundação carvão

Figura 3.21 Modelo de seqüência fluvial concebido por Miall (1996), composto a partir da
fusão dos conceitos de Wright & Marriot (1993), Shanley & McCabe (1994) e Gibling &
Bird (1994), contendo a terminologia da estratigrafia de seqüências (Sequence
Boundaries-SB, Maximum Flooding Surfaces-MFS e System Tracts- LST, TST e HST) e
da aloestratigrafia; os números dentro dos círculos correspondem à hierarquia das
superfícies limitantes das unidades deposicionais. Note-se, também neste modelo, a
presença de sedimentação marinha – e carvão, como correspondente continental -
indicando o posicionamento da superfície de inundação e delimitando os tratos
transgressivo e de highstand.

O conceito de espaço de acomodação (desenvolvido por Jervey, 1988) e


sua importância na geração dos limites e da arquitetura interna das seqüências
deposicionais, constitui a base dos modelos originais de Posamentier & Vail
(1988), Posamentier et al. (1998) e dos principais modelos subsequentes.
O reconhecimento da relação entre geometrias estratais e taxas de
subsidência, contudo, não é nova. Um exemplo desta abordagem pode ser
verificada já em Blake & Gubitosa (1982), apenas para citar um exemplo (Fig.
3.22).
104

Litologia,
Geometria, Membros Controles
Arquitetura

Church Taxa Avulsão/Subsidência:


Rock Moderada

SW NE SW NE Upper
Owl Raros Kane Subsidência
Rock arenitos Springs Negligível
SW NE SW NE

Taxa Middle Subsidência


Petrified Avulsão/ Kane Moderada
Forest Subsidência: Springs
Baixa
Lower Subsidência
Kane
Negligível
Springs
Moss
Taxa Avulsão/Subsidência: Alta
Back
Monitor Taxa Avulsão/Subsidência:
Butte Baixa-Moderada
Shinarump Taxa Avulsão/Subsidência: Alta

Unidades Inferiores

Figura 3.22 Exemplo de análise estratigráfica através da relação entre


geometrias de corpos sedimentares e arquitetura aluvial em resposta às
taxas de avulsão/subsidência. Seção idealizada da Chinle Formation
(Triássico de Utah) mostrando a distribuição vertical de fácies em relação
às variações de subsidência. Adaptado de Blakey & Gubitosa (1984).

Este trabalho, entre outros, pode ser considerado como incluído entre os
precursores do estágio atual da estratigrafia de seqüências, o qual pode ser
exemplificado pelo modelo de Van Wagoner (1996), apresentado na Fig. 3.23.
As características deposicionais e os padrões dos estratos fluviais
correspondentes a cada trato de sistemas são relacionados a uma curva de
variação do nível de base, utilizando raciocínio similar ao desenvolvido para a
105

Geometrias dos Estratos Fluviais e Tratos de Sistemas

Arenitos
"Multistory"
30m
LST
SB

Arenitos
não-canalizados
30m
Late TST - HST

Max FS

Arenitos
50m "Single story"

TST

FS

Arenitos
"Multistory"
30m
LST
SB

Figura 3.23 Modelo estratigráfico genérico desenvolvido por Van Wagoner (1996), a partir de
estudo do Castlegate Sandstone e Desert Member (Cretáceo Superior de Utah-Colorado,
U.S.A.). Variações dos padrões estratais e caraterísticas dos sistemas fluviais em respostas a
mudanças no nível de base. As relações entre estilos deposicionais, tratos de sistemas e
variações do espaço de acomodação são detalhadas na Fig. 3.24.

geração dos modelos baseados nos segmentos da curva eustática. Entretanto, a


abordagem segundo um “accomodation cycle” (Fig. 3.24), representando
variações da posição da superfície de equilíbrio - portanto do espaço de
106

"Accommodation Cycle"
Estágios de um Ciclo de Variações Relativas do Nível de Base

Tempo
Figura 3.24 Sumário dos
conceitos da estratigrafia e
seqüências e características
Alto 4 dos depósitos não-marinhos,
em relação às variações do
Pontos de inflexão espaço de acomodação
F R produzidas por oscilações do
nível de base estratigráfico.
1 Conferir tratos de sistemas e
arquiteturas deposicionais
3 correspondentes a cada
2 trecho da curva na Fig.3.23.
(adaptado de Van Wagoner,
Baixo 1996).
Trecho descendente Trecho ascendente

(1) Queda relativa do nível de base (“early” LST e geração de limites de seqüências):
início da migração do “knickpoint” , incisão de vales aluviais coalescentes, formando amplos
vales incisos > 20km de largura; sistemas fluviais braided no interior dos vales, deposição de
barras de acresção frontal gerando arenitos multi-story; alta razão arenito/lamito dentro dos
vales; espaço de acomodação nulo nas planícies aluviais (nenhuma deposição fora dos
vales);
(2) Elevação acelerada do nível de base (“late” LST): continuação da migração do knickpoint
e deposição no interior dos vales; no caso de vales conectados ao mar: inundação inicial das
desembocaduras dos vales incisos e formação de depósitos estuarinos; razão moderada
arenito/lamito; início da deposição fora dos vales, nas planícies aluviais e costeiras;
(3) Rápida elevação relativa do nível de base (TST): transgressão; a plataforma é afogada e
ocorre ampla deposição nas planícies aluviais e costeiras; canais fluviais single-story,
preenchidos com sedimentos finos; deposição de barras em pontal; baixa a moderada razão
arenito/lamitos; desenvolvimento de carvões, horizontes de solos, “crevasse splays” e canais
abandonados; comum desenvolvimento de lagos;
(4) Elevação lenta a moderada do nível de base (HST): ampla deposição nas planícies
aluviais e costeiras; canais estreitos, com baixa razão largura/profundidade, preenchidos
com sedimentos muito finos; baixa razão arenito/lamito; presença comum de depósitos de
“overbank” e horizontes de solos bem desenvolvidos.

acomodação - em resposta a mudanças do nível de base estratigráfico, permite a


extensão adaptada dos preceitos da teoria original da estratigrafia de seqüências
para domínios continentais, onde o nível de base não necessariamente eqüivale
ao nível do mar.
107

3.4.3.3. Estratigrafia de Seqüências em Sistemas Eólicos

O posicionamento dos estratos eólicos dentro do arcabouço teórico da


estratigrafia de seqüências, a exemplo dos sistemas aluviais, é um dos temas
estratigráficos de grande atualidade. Os estudos mais detalhados sobre a
aplicação dos conceitos da moderna estratigrafia em estratos eólicos referem-se
principalmente às suas intercalações com depósitos marinhos, que têm sido
documentadas tanto para o Holoceno (Fryberger et al., 1983,1990) quanto para
sucessões antigas (Kocurek, 1981; Loope, 1985), mostrando a possibilidade de
relacionar as mudanças nos sistemas deposicionais marinhos e os estratos
eólicos adjacentes. À semelhança do que ocorre nos demais estratos
continentais não associados à depósitos marinhos ou lacustres, os conceitos de
nível de base e espaço de acomodação e o reconhecimento de superfícies-chave,
são igualmente essenciais à aplicação da estratigrafia de seqüências aos
sistemas eólicos.
Paralelamente à evolução da estratigrafia de seqüências, os conceitos
sobre a sedimentologia e a estratigrafia específica dos depósitos eólicos foram
grandemente desenvolvidos, a partir dos anos setenta 1 . Esta evolução é
demarcada, principalmente, pela afirmação de critérios para reconhecimento da
atuação de processos eólicos, a partir das estruturas sedimentares resultantes,
sua diferenciação de formas de leito similares, geradas por fluxos aquosos e a
hierarquização de unidades deposicionais discretas. A geração do espaço de
acomodação e as características das superfícies limitantes – especialmente as
supersuperfícies - são diretamente relacionadas à natureza de cada sistema
eólico. A análise e compreensão deste conjunto de variáveis constituem as bases
para a aplicação da estratigrafia de seqüências aos sistemas eólicos.

3.4.3.3.1 Tipos básicos de estratificações em dunas eólicas

A migração de dunas, tanto eólicas quanto subaquosas, produzem


estratificações cruzadas de aparências muito similares, ocasionando

1
Alguns dos principais trabalhos de referência sobres estruturas e fácies sedimentares dos sistemas eólicos, publicados a
partir da década de setenta: Glennie, 1970; Wilson, 1973; Hunter, 1977a,b; Rubin, 1987; Kocurek,1988, 1991; Kocurek &
Dott, 1981; Kocurek & Fielder, 1980; Ahlbrandt & Fryberger,1981,1982; Brookfield, 1977, 1992; Brookfield e Ahlbrandt,
1983, entre outros.
108

freqüentemente o problema de distinção entre ambas, especialmente em


unidades onde dois processos coexistem. Hunter (1977a,b) estabeleceu os
fundamentos para esta diferenciação, através da individualização dos elementos
componentes das estratificações eólicas, os quais são produzidos por processos
sedimentares particulares que atuam no transporte de areia sobre as dunas
eólicas.
O movimento de sedimentos sobre dunas eólicas é produzido
primariamente por três processos: avalanche nas superfícies frontais das dunas,
queda livre de grãos e migração de ripples. As estruturas correspondentes a
estes processos foram denominadas por Hunter (1977a,b), respectivamente:
“sandflow cross-strata” (ou “grainflow cross-strata”, nos termos de Kocurek & Dott,
1981), “grainfall laminae” e “climbing translatent strata” (Fig. 3.25).

a. b.
"climbing translatent strata"

"wind ripples"

"grainfall laminae"

"grainflow
cross-strata"

depósitos de "grainflow"
depósitos de "grainfall"
depósitos de "wind ripples"

c. Vento Ripples
Figura 3.25 Os três tipos
básicos de estratificações
"climbing translatent strata" eólicas, suas características e
Água
distribuição. Adaptado de
Hunter (1977a, b) e Kocurek &
Dott (1981):
(a) desenho esquemático mostrando a posição e geometria dos tipos básicos de estratos eólicos
em uma duna de pequeno porte (~1m de altura), a partir de Hunter (1977a); (b) distribuição dos
estratos em uma duna crescente simples (Kocurek & Dott, 1981); (c) desenho esquemático
detalhando as características distintivas entre os estratos transladantes subcríticos (ver Fig. 3.26)
gerados por ripples eólicas e seus equivalentes subaquosos. Conferir discussão no texto.

Os estratos de fluxo de grãos (grainflow cross-strata) são produzidos por


dois mecanismos principais, apontados por Hunter (1977a). O primeiro deles
(“slump degeneration”) ocorre por perda gradual de coesão próximo à crista da
duna (quando o acúmulo excede o ângulo de repouso da areia seca: ~340), e
posterior deslizamento de massa de areia com baixo teor de umidade. Este
109

processo de avalanche resulta na destruição progressiva das estratificações pré-


existentes e subsequente resedimentação da areia inconsolidada ao longo da
superfície frontal da duna (slipface). O segundo mecanismo (“scarp recession”)
tem sua origem na instabilização e escorregamento gerado a partir de um ponto
inicial, aleatoriamente localizado entre a base e o topo da slipface. Os grãos de
areia passam a fluir a partir desta primeira “escarpa”, resultando em sua
expansão lateral e recuo (recessão), através da propagação ascendente do
processo erosivo, em direção à crista da duna. Hunter (op. cit.) sugere que os
sanflows produzidos por recessão de escarpa tenham sua origem relacionada a
um terceiro possível mecanismo, no qual a perda de coesão ocorre
simultaneamente ao início do movimento (diferentemente do slumping
degeneration, onde a perda de coesão ocorre após o início do movimento).
Independentemente dos processos geradores, os produtos resultantes
apresentam grande similaridade geométrica e estrutural. Os depósitos de
grainflow são caracteristicamente lenticulares em corte - podendo atingir
espessuras de vários centímetros - e têm a forma de “línguas”, em planta. Em
geral, truncam os estratos subjacentes em ângulos próximos ou iguais ao ângulo
de repouso (~340). Internamente, apresentam empacotamento frouxo e ausência
de estruturas, exceto gradação inversa (segregação dos grãos mais grossos no
topo), produzida pela pressão dispersiva (choque de grãos) que ocorre durante o
fluxo gravitacional da areia seca. Avalanches de areia úmida, coesiva (slide e
slumping), por outro lado, são fluxos distintos e resultam em blocos arenosos
coesos, bem definidos, que deslizam ao longo da superfície frontal das dunas,
podendo gerar feições variadas (brechas, fraturas, deformações, etc.), facilmente
distinguíveis dos depósitos característicos de fluxo de grãos de areia seca.
As laminações de queda livre de grãos (grainfall laminae) são geradas
pela deposição de grãos que ocorre a partir da crista da duna, sobre sua face
frontal, onde o fluxo de ar separa-se da superfície, produzindo uma zona
protegida do vento, na qual o movimento do ar é praticamente nulo. A separação
do fluxo é promovida pela morfologia da duna – especialmente dunas altas, com
convexidade acentuada – e pelas altas velocidades do vento. Nestas zonas de
separação de fluxo os grãos transportados por saltação perdem momentum e
depositam-se por queda livre, recobrindo concordantemente a topografia prévia
da face frontal da duna. As pequenas variações de granulometria, que causam e
110

definem as laminações, são produzidas por processos de seleção que atuam


durante o transporte, relacionados à flutuações erráticas da velocidade do vento.
O topo da superfície dos depósitos de grainfall é marcadamente plana. As
laminações são milimétricas, essencialmente, tabulares, paralelas, contínuas e
texturalmente homogêneas. Embora os depósitos de queda livre possam se
desenvolver em superfícies com inclinações variáveis seu potencial de
preservação é menor em planos próximos ao ângulo de equilíbrio, onde dominam
os processos de fluxo de grãos, que destroem e resedimentam as laminações
produzidas por grainfall .
Os estratos cavalgantes transladantes (“climbing translatent
stratification”, de Hunter ,1977a; ou “climbing translatent strata”, de Kocurek &
Dott, 1981) são o terceiro tipo básico de estratificação eólica (Fig. 3.25c). Estas
estruturas são produzidas por “deposição tracional” (Hunter op.cit.), processo pelo
qual os grão transportados por saltação originam impacto e rastejamento das
partículas superficiais, até que estas atinjam o repouso, em posições
relativamente protegidas entre os grãos adjacentes. As superfícies expostas a
este processo desenvolvem ondulações (wind ripples), cuja migração ocorre por
cavalgamento (climbing) de umas sobre as outras. Os estratos gerados sob
estas condições (climbing translatent strata), constituem-se por laminações finas,
planas e contínuas, inversamente gradadas e com raros foresets visíveis,
resultantes da translação de cada uma das ripples cavalgantes. O ângulo de
cavalgamento das ondulações pode apresentar grandes variações, dependendo
da relação entre a taxa de migração das ripples e a taxa de sedimentação. Por
analogia às formas subaquosas, Hunter (1977a,b) individualizou três grupos de
estratos transladantes (Fig. 3.26)., dependendo da relação entre o ângulo de
cavalgamento das ripples (α) e o ângulo formado entre o stoss side da ondulação
e a superfície geral de deposição (β): subcríticas, quando α<β; críticas, quando
α=β; e supercríticas, quando α>β Os estratos transladantes subcríticos são,
significativamente, os mais freqüentes na natureza, constituindo a estrutura mais
útil e segura para diferenciar depósitos eólicos de estratos subaquosos (Kocurek
& Dott, 1981).
Um quarto tipo de estratificação, individualizada por Hunter (1977a) como
“planebed lamination” (laminação plana), é produzida por tração sobre superfícies
111

Ângulos Estratos transladantes Laminações cruzadas (foreset) e forma das ripples


Laminações Formas
α β
SD
Subcrítico truncadas incompletas
α β
α=β completas incompletas
(foreset
Crítico
α =β
compl eto)

α β
completas completas
Supercrítico
α β
α − ângulo de climbing β − ângulo do stoss side das ripples
SD − superfície deposicional

Figura 3.26 Tipos de estruturas geradas por ondulações eólicas cavalgantes, em função de
diferentes ângulos de climbing, conforme Hunter, 1977a (modificado).

planares. Ocorrem quando o vento atinge velocidades críticas, superiores às


condições de formação e estabilidade das “wind ripples”, de forma análoga à
laminação plano-paralela gerada por fluxos aquosos, em regime de fluxo superior.
Depósitos relacionados a planebed lamination são, contudo, raros em sistemas
eólicos. Portanto, os três primeiros depósitos (grainflow, grainfall e translatent
strata) são os tipos de estratificações amplamente dominantes nas dunas eólicas.

3.4.3.3.2 Formas de leito, conjuntos de estratos e hierarquia das


superfícies limitantes

O desenvolvimento de formas de leito eólicas, em ergs 1 onde ocorrem


acumulações de grandes volumes de areias, organiza-se em três escalas
distintas: ripples, dunas e draa (Tabela 3.4). Cada uma das formas pode ocorrer
isoladamente ou superpostas umas às outras, sendo a velocidade de migração
inversamente proporcional ao tamanho da forma. Na hierarquização proposta por
Wilson (1971, 1972), os draa constituem a maior entre as classes de formas de
leito eólicas. Atingem comprimentos da ordem de quilômetros e alturas de
dezenas a centenas de metros, e são caracterizados pela superposição de dunas
menores (Fig. 3.27).

1
O termo “erg” (ou ergh) é originário de uma região do Sahara, coberta por areias móveis e ocupada por dunas
complexas (draa). Corresponde a grandes extensões desérticas, cobertas por areia trabalhadas por processos eólicos –
deserto arenoso ou sand sea. Plural: areg ou ergs (Bates & Jackson, 1987).
112

Tabela 3.4 Classificação e hierarquia das formas de leito eólicas, segundo suas dimensões e
relação com o regime de ventos (adaptado de Wilson, 1972).
Ordem Comprimento Altura Orientação Origem Nome
de onda
1ª 300 - 5.500m 20 – 450m Longitudinal Instabilidade Draa
ou transversal aerodinâmica
primária
2ª 3 - 600m 0,1 – 100m Longitudinal Instabilidade Dunas
ou transversal aerodinâmica
primária
3ª 15 - 250cm 0,2 – 5cm Longitudinal Instabilidade Ripples
ou transversal aerodinâmica aerodinâmicas
primária
4ª 0,5 – 2.000cm 0,05 – 100cm Transversal Mecanismo de Ripples de
impacto impacto
1 – 3.000cm 0,05 – 100cm Longitudinal Vórtices Ripples
secundários secundárias
(Taylor-Görtler
vortices)

Embora reconhecendo a importância das classificações das dunas, com


base na morfologia, número e posição das faces de avalanche (Tabela 3.5),

Tabela 3.5 Classificação morfológicas das dunas eólicas a partir de imagens de satélite.
Adaptado de Allen (1997).
Nome Forma Tipo* Faces de avalanche Vento**
• Transversais:
Barcana Formas isoladas, curvas S, C 1 Transversal
(crescents) em planta
Barcanóide Dunas de cristas curvas S,C,CX 1 Transversal
(Aklé)1 (barcanas) conectadas
Transversal Forma alongada com crista S,C,CX 1 Transversal
(Aklé) sinuosa assimétrica
• Longitudinal Forma alongada com crista S,C,CX 2 Paralelo
(Seif) sinuosa simétrica
• Parabólica Forma de U, em planta S,C 1 ou mais Paralelo
• Dômica Circular ou elíptica, em C,CX nenhuma ou pobremente ---
planta definida
• Estrela Pico central com 3 ou mais S,C,CX 3 ou mais Múltiplo
ramificações
* S, simples;
C, composta: duas ou mais dunas do mesmo tipo combinadas por recobrimento ou superposição
(draa)1;
CX, complexa: dois diferentes tipos básicos de dunas ocorrendo juntos, superpostos (draa) ou
adjacentes1.
** orientação do eixo da duna em relação ao vetor do vento predominante.
(1)
definições segundo Brookfield, 1992.

Kocurek (1981) enfatiza a especial utilidade do conceito de draa (Fig. 3.27) na


análise de depósitos eólicos antigos, onde a distinção entre os diversos tipos de
dunas nem sempre é óbvio.
113

Direção dominante do vento

DRAA

IN TER
DU NA
DRA A

Dunas
Dunas Crescentes
Bar canas

estratificações
cruzadas de draa
estratificações
cruzadas de barcanas 200 m
depósitos de interdunas

Figura 3.27 Reconstituição esquemática de ambientes de draa, dunas


e interdunas, mostrando os conjuntos de estratificações cruzadas e as
superfícies limitantes correspondentes (adaptado de Clemmensen &
Abrahansen, 1983).

Nestes sistemas o termo draa é usado pelo autor para referir coletivamente
quaisquer dunas que não sejam do tipo simples, mas sim compostas ou
complexas, ou que apresentem múltiplas “slipfaces”. A distinção entre draa e
formas de leito mais simples é obtida a partir da individualização de conjuntos de
estratos e hierarquização da superfícies que os limitam. Estas superfícies
representam tanto variações internas ao sistema quanto a ação de fatores
externos, elementos que controlam a dinâmica e desenvolvimento dos campos
de dunas e a partição do registro estratigráfico.

Conjuntos de Estratos

O depósito básico de uma duna eólica é um conjunto de estratificações


cruzadas. São formadas por processos deposicionais que atuam sobre a duna
através do tempo. A deposição produzida pelas dunas é medida com referência a
uma superfície deposicional genérica. A migração das formas de leito e os
depósitos resultantes movem-se necessariamente para cima ou “cavalgam” sobre
esta superfície. Como resultado os conjuntos de estratificações cruzadas são
“estratos cavalgantes transladantes” (“climbing translatent strata”), os quais
cruzam diacronicamente a superfície deposicional (Fig. 3. 28).
O ângulo de cavalgamento, medido a partir da superfície de deposicional
em relação ao vetor de cavalgamento da forma de leito, determina as
características do conjunto. Quando o ângulo de “climbing” é crítico, significando
114

Direção de Migração

Superfície
deposicional Vetor de
Crista Ângulo de cavalgamento
cavalgamento
Lee
s
St o s

Topsets

es
Foresets nsladant
antes Tra
ruzado s Cavalg
tos C
de Estra
Conjunto

Figura 3.28 Definição dos conjuntos de estratos cruzados


gerados pela migração de dunas cavalgantes (Kocurek,
1991).

que o ângulo de cavalgamento é igual a porção mais inclinada do “stoss side” da


duna, o conjunto de estratificações representará essencialmente a forma de leito
inteira. Se o ângulo de climbing for supercrítico ocorrerá deposição tanto na face
de avalanche (foreset) quanto no stoss side (topset) e as laminações poderão ser
traçadas sem interrupção de conjunto a conjunto de estrato. Quando o angulo de
cavalgamento é subcrítico, somente porções dos foresets serão preservados e os
conjuntos de estratificações serão separados por superfícies erosionais distintas
(bounding surfaces). Exceto em casos incomuns, os depósitos de dunas eólicas
são representados no registro predominantemente por estratos cavalgantes
transladantes subcríticos e, tipicamente, somente pequenas partes das dunas
originais são preservadas (Kocurek, 1991). A grande maioria das dunas migram
sem deixar depósitos (ângulo de climbing igual a zero) ou até tendo um ângulo de
climbing negativo, produzindo apenas uma superfície de erosão.

“Bounding Surfaces”

As superfícies de erosão que ocorrem dentro ou entre os conjuntos de


estratos cruzados têm sido reconhecidas a longo tempo mas sua hierarquização,
origem e significado estratigráfico foram melhor compreendidas apenas a partir de
Brookfield (1977). Superfícies planas, subdividindo conjuntos de estratos eólicos,
eram classicamente atribuídas a superfícies de deflação, controladas pela posição
do nível freático (Fig. 3.29), seguindo o modelo proposto por Stokes (1968).
Posteriormente, McKee e Moyola (1975), formularam um modelo genético
115

Costa Interior
Dunas Evaporitos Sabkha arenoso Campo de dunas

Nível Freático
Campo de dunas novo

Campo de dunas antigo


Depósitos de Sabkha

Figura 3.29 Diagrama esquemático de três “superfícies de Stokes”, baseado no estudo do


Jufarah sand sea, Arábia Saudita (modificado de Fryberger et al., 1988)

alternativo às “superfícies de Stokes” 1 , relacionando tais superfícies planas à


depósitos de interdunas. A partir de então, conjuntos de estratos cruzados
delimitados por uma superfície erosiva e recobertos por estratos horizontais, têm
sido documentados (e.g. Kocurek, 1981) e sua origem relacionada à migração de
dunas e interdunas eólicas. Brookfield (1977) denominou “first-order bounding
surfaces”, à estas superfícies de grande extensão, expandindo o conceito para
incluir também superfícies subordinadas, atribuindo suas origens à migração e
hierarquia de formas de leito. Com base na extensão e relações de truncamento
das superfícies, estabeleceu três categorias de superfícies limitantes,
hierarquicamente arranjadas (Fig. 3.30):

• Superfícies de 3ª Ordem: são superfícies de reativação. Ocorrem


dentro dos conjuntos de estratos cruzados e são atribuídos à mudanças
na configuração das dunas, produzidas por erosão seguida por nova
deposição, devido a flutuações locais na direção e velocidade do vento
(Fig. 3.30a).

• Superfícies de 2ª Ordem: são produzidas pela superposição de dunas


menores sobre dunas maiores (Kocurek, 1991). Usualmente mergulham
no sentido do fluxo eólico, com inclinações variáveis. São delimitadas
por superfícies de 1ª ordem (Fig. 30b). Os estratos cruzados compostos
representam a migração individual e cavalgamento de formas de leito
menores sobre à superfície frontal do draa (Brookfield, 1992);

1
Superfícies aproximadamente horizontais ou horizontalizadas, originalmente individualizadas por Stokes (1968), que
representam planos de deflação eólica e são delimitadas pelo posicionamento do lençol freático, sobre a qual os depósitos
eólicos são removidos (cf. Fryberger, 1988; Kocurek, 1991).
116

• Superfícies de 1ª Ordem: são superfícies planas e representam o piso


de áreas de interdunas. Separam conjuntos de estratos de dunas
simples ou compostas-complexas (draas). Refletem a migração do draa
(formas de leito e regiões de interdunas) dentro de um erg;

Duna Simples Draa


a. b.
1 1

3 2
Depósitos de 3 Set Cosets
Interdunas
2
3

1 1

Superfícies Deposicionais

ângulo de cavalgamento ângulo de cavalgamento

Figura 3.30 Modelos de geração de superfícies de 1ª. ordem (1), segundo Kocurek
(1988), a partir da hierarquização estabelecida por Brookfield (1977): (a) superfícies
de 1ª. ordem geradas pela migração de dunas simples e interdunas e (b) pela
migração de draa e áreas de interdunas. Hierarquias das superfícies indicadas pelos
números (1, 2 e 3). Depósitos de interdunas indicados ou representados pelas linhas
espessas, relacionadas às superfícies de 1ª. ordem. Ângulo de cavalgamento
(climbing) medido em relação às superfícies deposicionais.

Kocurek (1981) ressalta que, embora determinadas porções ou tipos de


draa não sejam necessariamente constituídos por dunas complexas (cf. Fig.27), a
identificação das três ordens de superfícies hierarquizadas por Brookfield (1977),
refletem invariavelmente depósitos de draa.

“Super Bounding Surfaces”

As supersuperfícies (“regional ou super surfaces” de Talbot, 1985 ou


“super bounding surfaces” de Kocurek, 1988) são os limites de seqüências nos
sistemas eólicos. Estas superfícies de hierarquia superior truncam, não apenas as
demais superfícies limitantes mas depósitos inteiros de dunas, draa e interdunas,
representando hiatos deposicionais ou interrupções na acumulação do erg. São
identificadas por serem mais amplas – com expressão significativa em relação ao
erg - e mais planas do que as demais superfícies geradas pela migração de
117

formas de leito, truncando – idealmente, em discordância angular - as superfícies


de 1ª ordem (Fig. 3.31).

Supersuperfície
1 2
2
1
2
Depósitos de erg de 2
dunas compostas (draa) 1
2
2
1
1 Supersuperfície
Depósitos de erg de
dunas simples 1
1

Figura 3.31 Supersuperfícies, truncando superfícies de 1ª. ordem (1) e seqüências


completas de ergs, compostos por dunas simples ou draa. Hierarquias das superfícies
indicadas pelos números. Depósitos de interdunas representados pelas linhas
espessas, relacionadas às superfícies de 1ª. ordem (Kocurek,1988); Cf. Fig. 3.30.

Enquanto as superfícies de 1ª , 2ª e 3ª ordens têm suas origens e


dimensões relacionadas à processos internos ao erg, as supersuperfícies
representam truncamentos que abrangem toda a extensão ou porções
significativas do erg, em resposta à fatores externos, combinados com mudanças
na dinâmica interna do próprio erg. As supersuperfícies, representam a
cessação da deposição e o início de um período de não deposição e deflação
sobre uma larga área ou sobre o erg inteiro. Por significarem hiatos
deposicionais, produzidos por erosão e não-deposição, as supersuperfícies
separam pacotes eólicos geneticamente diferenciados, delimitando o final de um
evento de acumulação eólica. O conjunto de estratos delimitado por
supersuperfícies constituem-se nos blocos básicos de construção das sucessões
eólicas. Cada uma destas unidades básicas representam episódios distintos e
coerentes de sedimentação, lateralmente extensos, delimitados por
inconformidades - as supersuperfícies - correspondendo portanto à “unidades
genéticas” (sensu Galloway, 1989) ou “seqüências” (sensu Van Wagoner et al.,
1988).
As supersuperfícies podem ter origens diversas. Os ergs são sistemas
dinâmicos, cuja localização, desenvolvimento e término são função de inúmeros
fatores: variações climáticas, posição do nível mar, configuração da bacia,
suprimento sedimentar e padrões de transporte - este último determinado pelos
ventos regionais e locais, gradientes de pressão e topografia. As supersuperfícies
118

desenvolvem-se em resposta à modificações deste conjunto de fatores, quando a


mudança provoca a interrupção da acumulação no erg, dando início às condições
de deflação. Kocurek (1988) agrupa tais superfícies em três grandes categorias,
em função de sua origem: (1) superfícies geradas pela interrupção da
acumulação, provocada por causas climáticas; (2) superfícies geradas pela
contração do erg, devida a mudanças do nível do mar ou movimentos tectônicos;
e (3) superfícies formadas pela própria migração do erg.
O desenvolvimento e tipologia das supersuperfícies podem ser
classificados com base no balanço sedimentar (cf. item 3.4.3.3.3, Fig. 3.37,
pg.124), estando, em princípio, associados às características dos sistemas
eólicos e natureza do substrato sob o qual se desenvolvem: estabilizado ou
instabilizado e seco ou úmido (Fig. 3.32).

Erosional Bypass Deposicional


(mudança no ambiente)
Seco Úmido Seco Úmido
Instabilizado

rebaixamento do
freático

Sistema eólico Sistema eólico Sistema eólico Sistema eólico


seco úmido seco úmido

dunas com dunas com dunas com


ângulo de x x x x ângulo de ângulo de
cavalgamento nível freático/ cavalgamento cavalgamento
X X
negativo sabkha flat zero zero
Estabilizado

x x x
x
relictos de dunas vegetadas
dunas vegetadas ou c imentadas

x x x x
reg sabkha flat/
nível freático

erosão do substrato bypassing

Figura 3.32 Classificação das supersuperfícies baseada no


balanço sedimentar e na natureza do substrato (Kocurek &
Havholm, 1994).

A acumulação de dunas eólicas somente ocorre quando o ângulo de


gavalgamento é positivo (cf. Fig. 3.28). Quando o balanço sedimentar for neutro e
a migração das dunas ocorrer com ângulo de climb igual zero haverá o
desenvolvimento de uma superfície de bypass. Superfícies de bypass podem
ocorrer também sobre uma superfície previamente estabilizada ou seguir-se a um
período de erosão, até que a estabilização seja atingida. Nos sistemas eólicos
secos, o bypass pode ocorrer como superfícies planares a irregulares, secas e
instabilizadas. Nos sistemas úmidos, com nível freático estático, poderá produzir
uma “superfície de Stokes” (cf. Fig. 3.29). No caso de rebaixamento continuado
119

do freático, as acumulações desenvolvidas sobre a superfície úmida (dunas,


interdunas e planícies de sabkha) tendem a ser removidas, produzindo feições de
corrugamento e fraturas poligonais como registro da deflação. As superfícies de
bypass podem ocorrer em sistemas estabilizados, secos ou úmidos , na forma de
superfícies estáveis, registradas pela preservação da morfologia de dunas pela
vegetação e marcada pelo desenvolvimento de solos.
Quando o balanço sedimentar for negativo uma supersuperfície erosional
será produzida, ou pela própria migração das dunas (com ângulo de climb
negativo), ou pelo desenvolvimento de uma superfície planar de deflação,
relacionada ao rebaixamento do nível freático.
Embora as supersuperfícies sejam marcadores do final da acumulação em
determinada área e, em geral, representem hiatos deposicionais, em casos
especiais o término da acumulação pode ocorrer em função de mudanças
ambientais - de ambiente eólico para não eólico - não implicando em lacuna
significativa no registro estratigráfico. O afogamento do sistema eólico, ou casos
mais raros de recobrimento por fluxos de lava, têm sido documentados na
literatura e exemplificam esta situação.
Kocurek & Havholm (1994) destacam, contudo, que as supersuperfícies
podem evoluir de tal forma que sua configuração final no registro estratigráfico
não reflita as condições iniciais e intermediárias de seu desenvolvimento. Citam o
exemplo de superfícies de deflação inicialmente erosionais, secas e instabilizadas
que podem progredir até atingir o nível freático, sendo preservadas no registro
como superfícies de Stokes. Nestes casos, acumulações produzidas por sistemas
eólicos secos serão delimitas por superfícies úmidas, estabilizadas, contendo
feições de corrugamento e fraturas poligonais, eventualmente recobertas por
depósitos de sabkha. Devido ao fato de que as supersuperfícies serem o
resultado de mudanças externas impostas ao sistema, suas origens podem não
estar geneticamente relacionadas às condições dominantes durante a
acumulação, mas refletirem eventos posteriores.

3.4.3.3.3 Acumulação, Preservação e origem das Supersuperfícies


120

Deflação 1 , Transporte e Acumulação


Nos sistemas eólicos é importante a distinção entre os conceitos de
acumulação e deposição:
• acumulação é a deposição total de sedimentos que, ao longo do tempo,
gera corpos tridimensionais de estratos;
• deposição é a transferência instantânea de sedimentos em transporte
para o substrato (e.g. a sedimentação local em lee faces de dunas em
migração), não necessariamente resultando em acumulação.
A grande maioria das dunas e campos de dunas é caracterizada apenas
por deposição (migração de formas de leito), não produzindo qualquer
acumulação. No registro geológico, os depósitos de ergs representam áreas que
se comportaram como locais favoráveis à acumulação eólica, durante um
determinado período de tempo (Fig. 3.33).

Ponto de divergênci a
a. (saddle point) b.
E
Nódulo de
attachment

Nódulo de
separação

B
áreas de acumulação
A C

Figura 3.33 Modelos indicando (a) áreas de


deflação, transporte e acumulação eólica,
Deposição Transporte Deflação
baseado nos padrões de fluxo de areia e (b)
A
mostrando as áreas de acumulação dos
Superfície
depósitos de erg (adaptado de Kocurek, 1988):
(a) Deflação, transporte e acumulação: a areia é removida e transportada a partir de nódulos de
attachment e áreas de aceleração dos ventos, representadas pela diminuição do espaçamento das
linhas de fluxo. O transporte pode ocorrer por grandes distâncias até atingir áreas favoráveis à
acumulação. A acumulação ocorrerá em áreas de convergência e/ou desaceleração do fluxo
(nódulos de separação, depressões topográficas), e regiões de espaçamento das linhas de fluxo.
(b) Áreas de acumulação de erg: (A) bacias topográficas, onde ocorre desaceleração e expansão
vertical do fluxo; (B) áreas protegidas por elevações; (C) zonas frontais à áreas elevadas; (D)
bordas de corpos d’água e (E) zonas de confluência e oposição de padrões de ventos.

A areia é deflacionada e/ou transportada a partir e através de áreas onde


ocorrem aceleração ou divergência de ventos (Fig.3.33a). A aceleração ocorre
quando os ventos fluem sobre elevações topográficas ou através de áreas de

1
Remoção de material de praias, desertos ou outras superfícies, pela ação do vento: erosão eólica (Bates & Jackson,
121

confinamento do fluxo. Nestas situações o fluxo eólico tende a ser subsaturado,


aumentando a capacidade de transporte de areia e favorecendo a deflação.
Ventos divergentes, que ocorrem a partir de determinados pontos focais, assim
como as áreas de aceleração dos ventos, são responsáveis pelo transporte de
sedimentos, que poderão ser movimentados por longas distâncias até atingirem
áreas adequadas à acumulação. O transporte poderá ocorrer com ou sem a
geração de formas de leito. O deslocamento de lençóis de areia, dunas ou
campos de dunas (ergs) ocorrerá segundo os padrões regionais do fluxo de areia.
A acumulação ocorrerá em áreas onde o fluxo saturado em sedimentos sofra
desaceleração ou convergência (Fig. 3.33b). A atuação destes processos é
reconhecida especialmente em bacias topográficas, nas quais os limites dos ergs,
em geral, acompanham as linhas de contorno topográfico. Nestes casos a
acumulação ocorre devido à expansão vertical e conseqüente desaceleração do
fluxo sobre amplas regiões (Fig. 3.33b–A), resultando na acumulação de extensos
depósitos de ergs (Kocurek, 1988).
Devido ao fato de que as supersuperfícies são geradas pela migração do erg
ao longo da bacia ou pelo deslocamento das áreas de acumulação ao longo do
tempo, a dinâmica interna do erg exerce importante papel entre os fatores que
controlam o desenvolvimento de tais superfícies. As supersuperfícies podem
assim representar intervalos de tempo muito maiores do que os episódios de
acumulação eólica preservados no registro (Loope, 1985), constituindo-se
portanto em limites de seqüências.

Espaço de Acumulação e Espaço de Preservação


Um conceito central da estratigrafia de seqüências que necessita adaptação,
quando aplicado à análise de sistemas eólicos, é o de espaço de acomodação 1 .
Nos sistemas marinhos o espaço de acomodação é definido pelo nível relativo
do mar. Nestes sistemas o espaço disponível para acumulação (ou espaço de
acumulação) coincide com o espaço de preservação 1 , uma vez que o nível do
mar demarca também o nível base de erosão.
Nos sistemas eólicos isto não necessariamente ocorre (Fig. 3.34).

1984).
1
“Accomodation” (sensu Jervey, 1988): espaço tornado disponível para potencial acumulação de sedimentos, o qual é
função interativa das flutuações do nível do mar e da subsidência (cf. discussão sobre o conceito no item 4.3.3.1);
122

A acumulação pode ocorrer acima do espaço de preservação, portanto com


poucas possibilidades de ser totalmente incorporada ao registro estratigráfico.

Sistemas Eólicos

espaço de acumulação altura de eqüilíbrio

linha-base espaço de
de erosão
preservação
acumulação

Espaço de Espaço de
acumulação Preservação

Sistemas Marinhos

Nível do Mar

acumulação espaço de
acomodação

Espaço de acomodação

Espaço de Espaço de
acumulação Preservação

Figura 3.34 Distinções comparativas entre os conceitos de acumulação,


espaço de acumulação, espaço de preservação e espaço de
acomodação, para sistemas eólicos e marinhos, respectivamente
(Kocurek & Havholm, 1994).

Nos sistemas eólicos três principais fatores promovem a preservação (Fig.


3.35):
(1) subsidência da acumulação abaixo do nível base de erosão;
(2) incorporação da acumulação na zona saturada e
(3) desenvolvimento de superfícies de estabilização da acumulação, tais
como vegetação, pavimentos de reg ou outros fatores, que tornem a
acumulação resistente à erosão.

1
Preservação: incorporação da acumulação no registro estratigráfico; a preservação implica que a acumulação tenha
ocorrido, ou sido soterrada, abaixo do nível de base regional, posição na qual a probabilidade de erosão é reduzida.
123

Subida no Nível Relativo do Mar por Subsidência ou Eustasia


Supersuperfície

. . . . .. . . . . . novo
. . . . . . . . .. .... .. .. .. . . . novo nível
. .. ... .. . . .. .. .. . . espaç o de freático
.
. . . antigo preservação
nível
antigo freático
espaç o de
preservação

Subida Relativa do Nível Freático Continental


por Subsidência ou Elevação Absoluta do Nível Freático

antigo novo
nível nível
freático antigo novo freático
espaç o de espaç o de
preservação preservação

Subsidência da acumulação abaixo da Linha de Base da Erosão

antigo novo
nível de base antigo novo nível de base
espaço de espaço de
preservação preservação
Subsidência

Estabilização da superfície de Acumulação


acima da Linha de Base da Erosão
..
.. . . .... .. .. .. .. .
. . . . .. .... . . ... . .. . .. . ... ... . . . .. . ... .... .. .. ... ... .. . .. .. ... ... . .
. . . . .. .. ..

espaç o de nível de base


preservação

Figura 3.35 Preservação da acumulação eólica devida à


subida relativa do nível freático, à subsidência e à
estabilização da acumulação acima do nível de base de
erosão (Kocurek & Havholm, 1993).

A subsidência pode ser provocada por qualquer razão, incluindo tectonismo,


carga sedimentar ou compactação. A acumulação pode ser posicionada abaixo
do nível freático por subsidência, por mudanças do nível, devidas a causas
climáticas, ou ainda em respostas à elevações relativas do nível do mar. As
acumulações estabilizadas (por cobertura vegetal ou outros fatores), embora
resistentes à erosão, podem estar posicionadas bem acima do nível de base,
motivo pelo qual tendem a não se preservar no registro nas mesmas extensões
que aquelas protegidas pela subsidência, soterramento ou elevação do nível
freático (Fig. 3.36).
Onde a preservação não ocorrer haverá, necessariamente, o desenvolvimento
de uma inconformidade. Contudo, é importante enfatizar que nem toda
inconformidade corresponde a uma supersuperfície. As supersuperfícies, em
124

Controles do Espaço de Preservação em Sistemas Eólicos

movimento subsidência
Sistemas Secos

Sistemas Úmidos
Subsidência
não

Sem
Registro
de Rocha
uplift

Descendente Neutro Ascendente

Nível Freático

Figura 3.36 Diagrama ilustrando a geração do espaço de preservação


(em cinza) gerado por subsidência e elevação do nível freático
(Kocurek & Havholm, 1994).

geral, significam inconformidades (lacunas no registro estratigráfico), mas


demarcam, principalmente, o final de um episódio de acumulação eólica. Algumas
inconformidades podem, portanto, representar eventos erosionais (“erosional
unconformities”) muito posteriores ao término da acumulação, não se
constituindo, assim, em supersuperfícies.

Balanço Sedimentar
Os sistemas eólicos podem ser tratados como um “sistema controle de
volume” (Fig. 3.37). O fluxo de sedimento pode ser visto como a massa ou
volume total de sedimento que entra (Qi) e sai (Qo) do sistema durante
determinado período de tempo.

Qi Qo
Sedimento em transporte
+ h

h=0

Superfície
- h
Superfície
deposicional
Acumulação
Acumulação
Deposicional

Figura 3.37 Seção bidimensional através de um sistema


eólico. Qi = massa total de sedimento de entrada; Qo = massa
total de sedimento de saída; h = elevação da superfície
deposicional (Kocurek & Havholm, 1994).
125

A superfície deposicional é a superfície que interliga a base das dunas e


separa o sedimento em transporte do sedimento em acumulação. Pode ser
definida como um plano sobre o qual o sedimento encontra-se em transporte e
abaixo do qual não há transporte, ocorrendo a acumulação.
A um determinado tempo inicial (t) a elevação da superfície deposicional
(h) é zero. Quando Δh/Δt é positivo o sedimento em transporte passa a ser retido
como acumulação, colocado abaixo da superfície deposicional, que se eleva a
medida que cresce a acumulação. Contrariamente, quando Δh/Δt passa a ser
negativo, a superfície deposicional é rebaixada e a acumulação é erodida. Não
ocorrendo modificações na posição da superfície deposicional ao longo do tempo,
Δh/Δt será igual a zero, resultando numa superfície de bypass.
Portanto, somente haverá acumulação quando houver elevação da
superfície deposicional. Em ambos os outros casos, quando a superfície
deposicional se mantiver estável ou quando houver rebaixamento, haverá a
interrupção da acumulação e o desenvolvimento de uma supersuperfície.
O comportamento da superfície deposicional é função da taxa de
sedimento transportado e da concentração sedimentar ao longo do tempo, o que
pode ser estimado pela altura média das dunas. Quando o influxo sedimentar
excede a retirada de sedimentos, a resultante é preservada como acumulação.
A entrada de sedimentos no sistema é função do suprimento sedimentar e
da capacidade de transporte do fluxo. A retirada de sedimento é função das
variações espaciais e temporais que atuam dentro do sistema ( e.g. taxa de
transporte e concentração).
O “saldo” (“sediment budget”) do sistema é o balanço entre o influxo
sedimentar e a retirada de sedimentos (Fig. 3.38), podendo ser positivo (Qi > Qo),
neutro (Qi = Qo) ou negativo (Qi < Qo).
O balanço positivo é retido no sistema na forma de acumulação.
A mudança para um balanço neutro ou negativo determina o fim da
acumulação, resultando no desenvolvimento de uma superfície de bypass ou
erosão, respectivamente.
Ambas as superfícies correspondem à “super bounding surfaces” (definidas
por Kocurek, 1988) ou supersuperfícies, que demarcam o final de um episódio de
acumulação eólica em uma determinada área.
127

SISTEMAS EÓLICOS ÚMIDOS

aumento do suprimento sedimentar


Ângulo de "climbing" muito baixo:

Áreas de interdunas > Áreas de dunas Áreas de interdunas


planas
Delgadas acumulações de dunas e interdunas

Áreas de interdunas > Áreas de dunas Áreas de interdunas


côncavas
Acumulações de interdunas amalgamadas

Flutuação do ângulo
Áreas de interdunas < Áreas de dunas positivo
de cavalgamento
Acumulações lenticulares
SISTEMAS EÓLICOS SECOS

Ausência de planícies de interdunas

SISTEMAS EÓLICOS ESTABILIZADOS

Figura 3.39 Acumulação em sistemas eólicos úmidos, secos e estabilizados, segundo Kocurek
& Havholm (1994). Variações dos estilos deposicionais, de sistemas úmidos a secos, em função
do aporte sedimentar (esquerda) e do efeito das variações do ângulo de climb em sistemas
úmidos (direita). Notar as maiores acumulações de fácies de interdunas nos sistemas úmidos.

3.4.3.3.4 Sistemas Eólicos Secos

Os sistemas eólicos secos são aqueles nos quais o nível freático e sua
franja de capilaridade encontram-se abaixo da superfície deposicional, de tal
forma que não têm qualquer efeito sobre o substrato. Assim, todo o sedimento do
substrato estará potencialmente disponível para o transporte eólico. Na ausência
de qualquer outro fator significativo atuante sobre a sedimentação, os processos
de deposição, bypass e erosão são controlados unicamente pela configuração
aerodinâmica do fluxo.
Em um modelo de fluxo bidimensional simplificado (cf. Fig. 3.37), a
tendência geral é a compressão das linhas de fluxo sobre o “stoss side”,
resultando em aceleração e erosão, seguida por posterior desaceleração e
deposição na face frontal da duna. Na região de interdunas o fluxo sofre
reaceleração, até que uma nova duna seja alcançada. Por serem caracterizadas
126

BALANÇO SEDIMENTAR POSITIVO


Qi > Qo
Acumulação
Qi migração de dunas com
Qο
ângulo de climb positivo

Acumulação

BALANÇO SEDIMENTAR NEUTRO


Qi = Qo
Supersuperfície de Bypass
Qi migração de dunas com
Qο
ângulo de climb = zero

Supersuperfície Relicta Estabilizada


Qi Qο
vegetação

Supersuperfície Planar Estabilizada


Qi Qο
crosta evaporítica vegetação

x x x

reg

BALANÇO SEDIMENTAR NEGATIVO


Qi < Qo
Supersuperfície Deflacionária com Dunas
Qi Qο
migração de dunas com
ângulo de climb negativo

Supersuperfície Deflacionária Planar


Qi Qο

Nível freático
descendente

Figura 3.38 Acumulação eólica e exemplos de geração de


supersuperfícies por bypass e erosão, controladas pelo balanço
sedimentar (Kocurek & Havholm, 1994).

Kocurek & Havholm (1994) consideram os sistemas eólicos como


pertencentes a um espectro cujos termos extremos correspondem a três sistemas
básicos: sistemas secos, úmidos e estabilizados (Fig. 3.39).
Os fatores que controlam a acumulação, o espaço de acumulação, e a
geração de supersuperfícies são diretamente relacionados aos processos que
operam nestes diferentes sistemas.
128

pela aceleração do fluxo, as regiões de interdunas planas são potencialmente


erosivas. Toda areia disponível tende a ser removida, fornecendo o suprimento
para a construção de dunas. As interdunas planas tendem a ser completamente
erodidas, sendo preservadas apenas em depressões topográficas isoladas
(“interdune depressions”) ou em áreas onde não forem totalmente canibalizadas,
antes de serem recobertas pela migração das dunas. Assim, a efetiva
acumulação somente será iniciada a partir da eliminação dos depósitos de
planícies de interdunas. A decorrente expansão das formas de leito resultará na
diminuição do espaçamento entre as dunas, isto é, na proximidade entre a face
frontal de uma duna e o “stoss slope” da seguinte. Atuando sobre este substrato
arenoso, diferentemente do que ocorre em planícies de interdunas, o fluxo eólico
estará sempre próximo à saturação, diminuindo o seu potencial erosivo e
favorecendo a acumulação. Por este motivo, os depósitos preservados de dunas
são dominantes nos sistemas eólicos secos, sendo raros os estratos de
interdunas.
Exceções à eliminação de interdunas tabulares em sistemas eólicos secos
ocorrem onde processos deposicionais se sobrepõem à erosão, como é o caso da
intercalação de depósitos fluviais em áreas de interdunas, onde o volume de
influxo sedimentar pode ser maior do que a capacidade de erosão do sistema,
preservando parcialmente os depósitos de interdunas, por soterramento. Um
depósito comum em sistemas secos são as lâminas de wind-ripples, de baixo
ângulo, que representam as porções basais de dunas, que se prolongam por
pequenas distâncias, podendo ser eventualmente confundidas com acumulações
de interdunas.
Em geral, os sistemas eólicos secos são caracterizados pela ausência de
acumulações significativas de depósitos de interdunas, que tendem a ser
completamente eliminadas do registro, devido ao desenvolvimento dos campos
de dunas (cf. Fig. 3.39).
Para que ocorra acumulação nestes sistemas, além de um balanço
sedimentar positivo, é necessário que haja decréscimo na taxa de transporte e/ou
diminuição na concentração 1 do fluxo, ao longo do tempo. No caso mais simples
de sistemas secos, onde o influxo é constante e a maioria do sedimento é

1
Volume total de sedimentos em transporte (incluindo formas de leito e sedimentos movidos por suspensão e saltação)
sobre a superfície deposicional.
129

transportada pela migração de dunas, a desaceleração do fluxo é a principal


causa da diminuição da taxa de transporte e, consequentemente, da acumulação.
Como já discutido (cf. Fig. 3.33), a desaceleração ocorre pela expansão do fluxo
ao adentrar em bacias topográficas ou devido aos padrões de circulação ou
interferências topográficas.
O espaço de acumulação em sistemas eólicos secos tem seu limite inferior
definido pela subsidência. O limite superior é controlado pela configuração
aerodinâmica do fluxo (Fig. 3.40).

A. Zona de
Não-acumulação
Qi Zona de Qo
potencial Acumulação Espaço de Acumulação
Altura de
Equilíbrio

Acumulação

B. Zona de
Qi Não-acumulação Qo

Acumulação
Supersuperfície
de Bypass

C.
Qi Zona de Qo
Não-acumulação

Acumulação
Supersuperfície
de Bypass

Figura 3.40 Modelos definindo espaço de acumulação em sistemas eólicos


secos. (A) diagrama de definições; (B) espaço de acumulação preenchido
pela acumulação; (C) espaço de acumulação definido pela altura das dunas
(Kocurek & Havholm, 1994).

A subsidência gera o espaço de acumulação, criando depressões


topográficas onde ocorre a desaceleração do fluxo e a acumulação. A taxa de
geração de espaço pode ser equilibrada coma taxa de acumulação ou exceder o
preenchimento, produzindo um espaço potencial para acumulação posterior, no
qual podem se desenvolver espessas acumulações eólicas, sem interrupções ou
supersuperfícies.
130

O limite superior do espaço de acumulação é definido pela interferência da


própria acumulação eólica, que pode se desenvolver a ponto de modificar a
configuração do fluxo até uma determinada altura de equilíbrio, acima da qual a
desaceleração é insuficiente para permitir a acumulação (Wilson, 1971;Kocurek &
Havholm, 1994). Abaixo da altura de equilíbrio ocorre a desaceleração, resultando
em acumulação (Fig. 3.40A). Onde há desaceleração, devida à depressões
topográficas, a acumulação progride até que a depressão seja totalmente
preenchida (Fig. 3.40B). Alternativamente, o próprio crescimento das dunas pode
atingir altura suficiente para interferir no fluxo, causando a diminuição da
desaceleração e impedindo a acumulação (Fig. 3. 40C).
A preservação da acumulação (isto é, a incorporação dos depósitos no
registro estratigráfico) é controlada pela subsidência, pela subida do nível freático
durante a acumulação ou pela ação combinada de ambos os fatores (Fig. 3.41;
Fig. 3.42).

Sistemas Eólicos Secos

Acumulação acima do Espaço de Preservação

Nível Freático
Espaço de Acumulação e Preservação
controlado pela subsidência
Acumulação
Espaço de Preservação
controlado pelo Nível Freático

Espaço de Acumulação e Preservação Espaço de Preservação


controlado pela subsidência (Espaço de acumulação não preenchido)
controlado pela subsidência

Nível Freático

Espaço de Preservação
Acumulação controlado pelo Nível Freático

Figura 3.41 Componentes do espaço de acumulação e preservação nos sistemas eólicos


secos (Kocurek & Havholm, 1994).

Nos sistemas eólicos secos as supersuperfícies se formam quando (1)


cessa a desaceleração do fluxo ou (2) quando o influxo sedimentar diminui ao
ponto de que a desaceleração seja insuficiente para manter um balanço
131

sedimentar positivo. Nestes sistemas, as supersuperfícies desenvolvem-se pela


erosão atuante sobre superfícies secas e instáveis, provocada pela migração de
dunas com ângulo de “climbing” negativo, que canibalizam os sedimentos
previamente acumulados. Esta tendência só é interrompida quando cessam os
processos erosivos ou quando a deflação atinge um substrato resistente.

3.4.3.3.5 Sistemas Eólicos Úmidos

Sistemas eólicos úmidos são aqueles nos quais o nível freático ou sua
franja capilar (“front de umidade”) coincide ou localiza-se próximo à superfície
deposicional.
Diferentemente dos sistemas secos, pela posição rasa do nível freático,
nos sistemas úmidos a deposição, bypass, e erosão são controlados não somente
pela configuração aerodinâmica mas também pela umidade do substrato. Uma
conseqüência importante é que os depósitos de interdunas, nestes sistemas, são
mais preservados e menos passíveis de deflação pelas condições aerodinâmicas
(cf. Fig. 39).
Embora a sedimentação de depósitos de interdunas, inclusive eólica, possa
ser acumulada em alguma extensão devido à franja de umidade que ocorre sobre
o nível freático (zona de umidade potencial localizada sobre a zona saturada), a
acumulação de dunas e interdunas, por grandes períodos, somente poderá
ocorrer com a subida do nível freático. A subida pode ser absoluta, por mudança
climática ou por efeito de uma subida do nível do mar, ou relativa, provocada pela
subsidência da coluna sedimentar através do nível freático, que é estático em
termos absolutos. Portanto, diferentemente dos sistemas secos, onde os fatores
aerodinâmicos exercem o controle fundamental, nos sistemas eólicos úmidos o
controle hidrodinâmico é dominante. Ou seja, a acumulação é controlada,
essencialmente, pelo nível freático.
Conceitualmente, é possível delinear um continuum desde a acumulação
eminentemente subaquosa até sistemas eólicos secos, em função da relação
entre o suprimento sedimentar disponível e a taxa de subida do nível freático, ao
longo do tempo (Fig. 3.42).
Quando a franja de capilaridade do lençol freático atingir a superfície e
mantiver-se em ascensão, superando o influxo sedimentar, haverá a acumulação
132

a. b.
+ Acumulação Subaquosa
(Subida do Freático > Taxa de Acumulação Eólica)
Supersuperfície (Deposição)

Nível Freático Relativo


Acumulação Eólica
Sistema Eólico (Subida do Freático = Taxa de Acumulação Eólica)
Depósitos
Tempo

Seco
Subaquosos Sabkha 0 Supersuperfície (Bypass)

SUPERSUPERFÍCIE (Erosão)
Sistema
Eólico
Úmido tempo

(-) 0 (+)
-
Suprimento Sedimentar Disponível
c.
Figura 3.42 (a) Campos de acumulação
SISTEMAS EÓLICOS ÚMIDOS em ambientes subaquosos, sabkha e
sistemas eólicos úmidos e secos, em
aumento do suprimento sedimentar

função do suprimento sedimentar


disponível, ao longo do tempo; (b)
Áreas de interdunas > Áreas de dunas
Campos de acumulação subaquosa e
eólica e geração de supersuperfícies de
bypass e erosão, em função da taxa de
Áreas de interdunas > Áreas de dunas subida (+) ou queda (-) relativa do nível
freático. Taxas progressivamente maiores
a partir do zero; (c) Espectro de transição
de sistemas úmidos a secos e variações
Áreas de interdunas < Áreas de dunas nas proporções entre acumulações de
dunas e interdunas em função do aumento
SISTEMAS EÓLICOS SECOS do suprimento sedimentar (adaptado de
Kocurek & Havholm, 1994).

Ausência de planícies de interdunas

de depósitos subaquosos. Se, por outro lado, o aporte sedimentar for


aproximadamente equivalente à subida do nível freático, a superfície
permanecerá úmida (superfície de Stokes, cf. Fig. 3.29), reduzindo a
disponibilidade de areia seca para o crescimento de formas de leito. Neste caso
ocorrerá a acresção vertical de depósitos de sabkha ou de lençóis de areia úmida,
sem a acumulação significativa de depósitos de dunas. Quando o suprimento
sedimentar superar a subida do lençol freático ao longo do tempo, ocorrerá um
excedente de areia seca no sistema, propiciando o desenvolvimento de campos
de dunas e planícies de interdunas. A elevação continuada do nível freático e a
manutenção do suprimento sedimentar adequado favorecem a expansão das
planícies de interdunas, que se desenvolvem às expensas das dunas, as quais
tendem a diminuir de tamanho e tornarem-se proporcionalmente menos
significativas (Fig. 3.42c; 3.43).
133

a. b.
1 Interdunas
t0 NF planas
Intercalações de dunas e interdunas

2
t1 NF Interdunas
côncavas
Interdunas amalgamadas
t2 3 Flutuação do
NF ângulo de
"climb
Acumulações lenticulares positivo

Figura 3.43 Modelos de acumulação de interdunas dunas e em sistemas eólicos úmidos,


relacionada à (a) subida do nível freático e (b) ao ângulo de cavalgamento: (a) a acumulação de
interdunas ocorre ao mesmo tempo que a migração das dunas, quando a superfície
deposicional se eleva e o balanço sedimentar é positivo. As planícies de interdunas se
expandem em função da altura das dunas, medida em relação a superfície deposicional; (b)
relações geométricas e proporções entre as acumulações de dunas e interdunas, com baixo
ângulo de cavalgamento;(1) planícies de interdunas paralelas à superfície deposicional,
gerando delgadas intercalações de dunas e interdunas; (2) depressões interdunares, resultando
em exclusão das dunas e acumulações de interdunas amalgamadas; (3) oscilações do ângulo
de cavalgamento em torno de zero, produzindo acumulações de interdunas amalgamadas,
lenticulares e descontínuas, separadas por superfícies de erosão ou bypass (modificado de
Kocurek & Havholm, 1994).

As proporções e relações geométricas entre acumulações de dunas e


interdunas nos sistemas úmidos podem ser complexas e variadas, em função de
flutuações do ângulo de cavalgamento (Fig. 3.43b). Contudo, no registro
estratigráfico, os sistemas eólicos úmidos se caracterizam pela presença
significativa de depósitos de interdunas.
Devido à proximidade do lençol freático à superfície, os depósitos de
interdunas são caracterizados por feições indicativas de umidade. Em ambientes
quentes e áridos, são comuns as feições associadas a evaporitos, incluindo
depósitos de sais, superfícies fraturadas e corrugadas.
A transição de um sistema eólico úmido para o extremo seco do espectro
(Fig. 3.42c), ocorre quando o suprimento sedimentar permanece aumentando
continuamente, excedendo a taxa de subida do nível freático. Nestes casos, o
excedente é incorporado ao crescimento das dunas, invertendo a tendência e
ocasionando o desenvolvimento de um sistema eólico seco. Portanto, a
quantidade de areia seca disponível controla o espectro de variação contínua
entre sistemas eólicos úmidos e secos. Esta transição pode ocorrer com ou sem a
geração de uma supersuperfície (Fig. 3.44).
A posição do nível freático, nos sistemas úmidos, controla não apenas a
acumulação mas também o desenvolvimento das supersuperfícies.
134

a.

Supersuperfície
b.

Figura 3.44 Duas situações de transição da acumulação de sistemas


eólicos úmidos para secos: (a) geração de supersuperfície, marcando
um período de deflação devido ao rebaixamento do nível freático até o
desenvolvimento de dunas, eliminação das planícies de interdunas e
início da acumulação em sistema seco; (b) diminuição gradual das
planícies de interdunas com o crescimento de dunas, sem geração de
supersuperfície; a transição da acumulação do sistema úmido para o
seco é marcada apenas pelo adelgaçamento da acumulação de
interdunas (modificado deKocurek & Havholm, 1994).

Quando o nível freático permanece estabilizado a causa da acumulação é


removida, havendo o desenvolvimento de uma superfície de bypass; quando o
nível é rebaixado, desenvolve-se uma superfície erosiva. As supersuperfícies são
geradas no limite superior do espaço de acumulação que é determinado pela
posição do nível freático (Fig. 3.45).

Sistemas Eólicos Úmidos

Nível Freático

Espaço de Acumulação
e Preservação controlado
pela subsidência
Acumulação Espaço de Acumulação e Preservação
controlado pelo Nível Freático

Espaço de Preservação não preenchido


controlado pela subsidência

Nível Freático

Espaço de Acumulação e Preservação


Acumulação controlado pela subsidência
Espaço de Acumulação e Preservação
controlado pelo Nível Freático

Figura 3.45 Componentes do espaço de acumulação e preservação nos sistemas eólicos


úmidos. Nestes sistemas, o limite superior da acumulação é determinado pela posição do
nível freático que, por este motivo, controla também o desenvolvimento das supersuperfícies
(modificado de Kocurek & Havholm, 1994).
135

3.4.3.3.6 Sistemas Eólicos Estabilizados

Sistemas eólicos estabilizados são aqueles nos quais algum fator ou


fatores superficiais estabilizam periódica ou continuamente o substrato em algum
grau, enquanto o sistema continua ativo.
Estes sistemas são similares aos sistemas úmidos, nos quais a umidade
pode ser caracterizada como agente de estabilização, mas incluem um espectro
mais amplo de fatores estabilizadores, como vegetação, cimentação, superfícies
residuais, “drapes” de lama e outras feições (cf. Fig. 35 e 38).
Para que a acumulação seja efetiva, os processos de estabilização devem
ser contínuos ou repetitivos. Onde a vegetação, por exemplo, atua inibindo a
deflação a taxa de transporte pode ser progressivamente reduzida, nas regiões
distais. Onde a estabilização é periódica, como no caso de vegetação sazonal, a
superfície estabilizada torna-se equivalente à superfície deposicional,
preservando a acumulação abaixo dela. O tamanho médio das dunas pode ser
diminuído ou até chegar a zero.
Em função da natureza da acumulação, unidades irregulares,
amalgamadas, com numerosas superfícies erosionais, podem ser comuns nestes
sistemas. A acumulação se caracteriza pelas evidências de contemporaneidade
com a estabilização em sistemas ativos, diferentemente de supersuperfícies que
delimitam superiormente a acumulação.
As supersuperfícies em sistemas estabilizados podem desenvolver-se de
maneiras variadas, mas duas são as causas predominantes: (1) diminuição do
sedimento disponível para acumulação, de positivo para neutro ou negativo e (2)
ampliação dos efeitos dos fatores estabilizadores, como mudanças climáticas que
aumentem a cobertura vegetal ao ponto da estabilização completa das dunas,
tornando o sistema inativo.

3.4.3.3.7 Identificação das supersuperfícies

O reconhecimento de supersuperfícies nem sempre é óbvio. Sua


identificação é facilitada quando a deflação atinge o lençol freático, gerando
feições de corrugamento, fraturas poligonais, e demais feições relacionadas a
superfícies úmidas. A identificação é igualmente simplificada quando a superfície
136

é recoberta por depósitos não-eólicos, ou demarcada por depósitos residuais,


cimentação preferencial, horizontes de paleosolos ou outras evidências de
estabilização (Clemensen & Hegner,1991; Lancaster, 1992,1993; Havholm et al.,
1993). Por outro lado, na ausência destas evidências objetivas seu
reconhecimento torna-se problemático, especialmente sua distinção das
ª
superfícies de 1 ordem.
Kocurek & Havholm (1993) sugerem alguns critérios para sua identificação:
(1) diferentes estilos deposicionais, indicando sistemas eólicos distintos acima e
abaixo da superfície; (2) superfícies distintamente extensivas e planas; (3)
superfícies com feições diferentes das demais (estas poderiam ser confundidas
com as “supercoops” de Blakey, 1988); (4) superfícies limitantes do campo de
dunas inteiro ou erg; (5) superfícies correlacionáveis a eventos de escala de toda
a bacia, como transgressões marinhas; (6) superfícies horizontais truncando
superfícies inclinadas (superfícies de 1a ordem), geradas pela migração de formas
de leito.
Os tipos de supersuperfícies e as causas de sua geração podem ser
diferenciadas pelas feições associadas à superfície. Supersuperfícies geradas
por mudanças climáticas (para condições mais úmidas) são caracterizadas por
rápida estabilização das dunas pela vegetação, resultando na preservação da
topografia de dunas degradadas por ação de ventos locais ou fluxos d’água.
Estas superfícies são demarcadas por raízes, bioturbações e desenvolvimento de
solos. Supersuperfícies formadas pela contração ou migração do erg, na ausência
de vegetação, tendem a se reduzir a uma simples superfície erosiva, planar ou
com relevo suavizado.
Quando a deflação alcança o lençol freático, ocorre a geração de uma
superfície relativamente estável que, além das feições relacionadas à umidade e
ressecamento (traços de evaporitos, fraturas poligonais, cimentação preferencial),
pode ser colonizada por vegetação, desde que a água não seja excessivamente
salina. Nos casos em que a deflação progrida até um substrato resistente, ou
superfície recoberta por depósitos residuais, com granulometria que exceda à
capacidade de remoção do vento, a superfície resultante será mais estável do que
aquela controlada pelo lençol freático, as quais podem ser renovadas a cada
rebaixamento do nível d’água.
137

Outra possibilidade, apontada por Kocurek (1988), ocorre quando a


deflação não chega ao lençol freático nem gera uma superfície residual. Nestes
casos a supersuperfície será reconhecida por truncar superfícies de 1a ordem ou
ser recoberta por depósitos não-eólicos ou seqüências eólicas com características
genéticas distintas.
Kocurek (op cit.) relaciona as principais feições associadas aos diversos
tipos de supersuperfícies, as quais possibilitam o reconhecimento dos fatores de
controle do nível de deflação (Fig. 3.46).

Superfície
Superfície com depósitos
planar residuais
controlada pelo ("lag surface")
nível freático

Evaporitos, cimentação Truncamento


preferencial, fraturas de seqüência
poligonais de erg
1
1
IE
SUPERSUPERFÍC

1 1
1
1
Truncamento de
superfície de
1a. Ordem
paleosolos,
raízes,
bioturbação
Superfície irregular,
erosão da preenchimento
topografia de dunas por
depósitos eólicos,
fluviais ou
de sabkha

Figura 3.46 Feições associadas à supersuperfícies (Kocurek, 1988).


Superfícies de 1a. ordem indicadas com número 1.

A origem e tipologia das supersuperfícies é, portanto, diretamente


relacionada à natureza do substrato sobre o qual se desenvolvem. Em função
disto, Kocurek & Havholm (op. cit.) sugerem que sua identificação – e
conseqüente aplicação da estratigrafia de seqüências à sistemas eólicos - deve
138

ser feita na escala de bacia, visando identificar, integradamente, tanto as


características da superfície quanto as particularidades dos sistemas envolvidos.
Capítulo 4
A SUCESSÃO NEOPERMIANA-EOCRETÁCICA NA REGIÃO
CENTRAL DO RIO GRANDE DO SUL: FACIOLOGIA E
ARQUITETURA DEPOSICIONAL

4.1 Introdução

Este capítulo tem por objetivo descrever as associações faciológicas


dominantes e caracterizar as variações de arquitetura deposicional que ocorrem
ao longo da sucessão sedimentar que compõe o registro do intervalo de estudo,
de acordo com os objetivos e metodologia discutidos no Capítulo 1. Esta
abordagem adota como referência litoestratigráfica a coluna estabelecida por
Andreis, Bossi & Montardo (1980), analisando, da base para o topo, as
características faciológicas, paleoambientais e relações de contato de cada uma
das unidades litoestratigráficas que compõem principalmente o Grupo Rosário do
Sul e, em menor detalhe, o Grupo São Bento na área de estudo (Quadro 4.1).

Formação Serra Geral


Grupo

Bento

JURO-
São

CRETÁCEO
Formação Botucatu

Formação Caturrita
Grupo Rosário do

Formação

Membro Alemoa
Santa
Maria
Sul

TRIÁSSICO
Membro Passo das Tropas

Formação Sanga do Cabral

PERMIANO Grupo Passa Dois


Quadro 4.1 Organização litoestratigráfica do intervalo Neopermiano-Eocretáceo da Bacia do
Paraná no Rio Grande do Sul, segundo Andreis, Bossi & Montardo (1980). Para maiores
detalhes sobre a evolução dos conceitos estratigráficos, conferir Capítulo 2, item 2.2.
140

A descrição de formas de leito adota a nomenclatura e as dimensões


recomendadas pela SEPM, conforme Quadro 4.2.

Quadro 4.2 Classificação de Formas de Leito1


Dunas Subaqüosas
Pequeno Muito grande
Tamanho Ripples Médio porte Grande porte
porte porte

a 2 Espaçamento ----- 0,6 - 5m 5 - 10m 10 - 100m >100m


1 .Ordem
Altura3 < 7,5cm 7,5 - 40cm 40 - 75cm 75cm - 5m >5m

Bidimensional (2D)
Forma Tridimensional (3D)
a Características do sedimento (tamanho de grão e seleção)
2 .Ordem
Superposições: simples ou composta (tamanhos e orientações relativas)
Perfil da forma de leito (inclinação de stoss e lee, comprimentos e ângulos)
a História de comportamento e migração da duna (acresções verticais e horizontais)
3 .Ordem
Fração da camada coberta por formas de leito
Estrutura do fluxo
1
Esquema de classificação recomendado pelo SEPM Bedforms and Bedding Structures Research Simposium
(modificado de Ashley,1990, Tabela 6, pg.169);
2 a. a.
ordem decrescente de importância dos procedimentos descritivos: 1 ordem: necessária; 2 ordem: importante;
a.
3 ordem (incluindo parâmetros para descrições hidrológicas em formas atuais ou flume): útil;
3 0.8098
altura calculada usando a equação H=0.0677L

A terminologia para descrição de corpos arenosos e os critérios para


classificação do comportamento de canais fluviais baseia-se nos trabalhos de
Friend et al. (1979) e Friend (1983), resumidamente representados na Fig. 4.1.
As litofácies são descritas e classificadas de acordo com a metodologia
convencional de análise faciológica, baseada em atributos deposicionais
primários: geometria, tamanho de grão, textura, estruturas sedimentares e
biogênicas, conteúdo fossilífero e paleocorrentes. A medição de paleocorrentes
objetiva a aquisição de informações em duas escalas distintas: (1) escala
regional, visando identificar os principais trends locais e regionais de transporte
sedimentar e suas variações verticais; (2) escala de afloramento, buscando
caracterizar a arquitetura interna dos corpos sedimentares, como discutido a
seguir. Os diferentes tipos de litofácies são codificados com base no esquema
estabelecido por Miall (1978;1996), introduzidas modificações quando
necessárias (Quadro 4.3). Neste esquema, as letras maiúsculas referem-se à
granulometria dominante, enquanto as letras minúsculas indicam características
relacionadas à aspectos texturais ou estruturais da litofácies.
O conceito de elementos arquiteturais é aqui utilizado segundo a definição
de Miall (1985; 1988a, b;1992;1996), correspondendo às unidades deposicionais
componentes dos sistemas aluviais e caracterizadas por uma associação
141

a. Geometria de corpos arenosos:

"SHEET" L/H>15
L
H

"RIBBON" L/H<15
Simples Complexo

H "wings"
"storeys"
L
corpo
central

b. Esquema de classificação da dinâmica de canais:

Dimensões
superfície
Largura (L) erosiva
Profundidade (H) L&H
mínimas

Forma Razão L/H

Margens

íngreme suave
lama areia

Comportamento do canal

Canais estáveis Canal com migração lateral contínua

Canais fixos Sistema de canais móveis meandrante


"RIBBON" "SHEETS"

Canais com migração interna e avulsão

Sistema de canais móveis

Meandrantes ou entrelaçados
"SHEETS"

Figura 4.1 (a) Terminologia para descrição de corpos arenosos e (b) critérios para
classificação do comportamento de canais, segundo Friend et.al. (1979) e Friend
(1983).

específica de litofácies. A individualização e a descrição dos elementos


arquiteturais orienta-se pelo modelo básico formulado por Miall (op. cit.),
142

Quadro 4.3 Classificação de litofácies fluviais (Miall,1996)*.


Código Fácies Estruturas sedimentares Interpretação
Cascalho maciço Gradação incipiente Plastic Debris Flow, fluxo
Gmm matriz-suportado viscoso, alta coesão interna
Gmg Cascalho matriz-suportado Gradação inversa a normal Pseudoplastic Debris Flow,
fluxo viscoso, baixa coesão
interna
Gci Cascalho clasto-suportado Gradação inversa Debris Flow,
alta concentração de clastos
(alta coesão interna) ou
Pseudoplastic Debris Flow
(baixa coesão)
Gcm Cascalho maciço Pseudoplastic Debris Flow
clasto-suportado --- (inertial bedload, fluxo
turbulento)
Gh Cascalho clasto-suportado, Acamadamento horizontal, Formas de leito
acamadamento incipiente imbricamento longitudinais, depósitos
residuais(lags) e sieves.
Gt Cascalho estratificado Estratificações cruzadas Preenchimento de pequenos
acanaladas canais
Gp Cascalho estratificado Estratificações cruzadas Formas de leito transversais,
planares crescimento deltaico a partir
de barras remanescentes
St Areia fina a muito grossa Estratificações cruzadas Dunas (3D), cristas sinuosas
(podendo ser cascalhosa) acanaladas ou lingüóides
(solitárias ou agrupadas)
Sp Areia fina a muito grossa, Estratificações cruzadas Dunas Transversais (2D), e
(podendo ser cascalhosa) planares lingüóides
(solitárias ou agrupadas)
Sr Areia muito fina a grossa Ripple cross-lamination Ripples (Regime de Fluxo
Inferior)
Sh Areia muito fina a grossa Laminação horizontal, parting Camadas planas (Regime de
(podendo ser cascalhosa) lineation Fluxo Superior/Crítico)
Sl Areia muito fina a grossa Estratificações cruzadas de Preenchimentos de suaves
(podendo ser cascalhosa) baixo ângulo (<150) depressões (scour fills),
(podendo ser sigmoidais) “humpback dunes” ou dunas
atenuadas, antidunas
Ss Areia fina a muito grossa Amplas e suaves depressões Scour fill
(podendo ser cascalhosa) (scours)
Sm Areia fina a grossa Maciça ou laminação indistinta Depósitos de fluxo
gravitacional
Fl Areia, silte, lama Laminações finas, ripples de Overbank, canais
muito pequeno porte abandonados ou depósitos
de inundação
Fsm Silte, lama Maciço Backswamp ou canais
abandonados
Fm Lama, silte Maciço, gretas de contração Overbank, canais
abandonados, drapes
Fr Lama, silte Maciço, Solo incipiente
raízes, bioturbação
C Carvão, lama carbonosa Restos vegetais, filmes de Depósitos de pântanos
lama vegetados (swamps)
P Paleosolo carbonático Feições pedogênicas: Solo com precipitação
(calcita, siderita) nódulos, filamentos química
*Códigos das fácies e expressões específicas mantidas em inglês por serem termos de uso internacional. As demais
informações julgadas passíveis de tradução foram modificadas e adaptadas para o Português, a partir de Miall,1996
(Table 4.1, pg. 79). Este esquema é adotado como base para descrição das sucessões continentais analisadas no
presente trabalho. Seguindo a orientação do autor (op. cit.), códigos adicionais são eventualmente introduzidos para
especificar litofácies particulares da área de estudo.
143

diferenciados com base em suas dimensões, geometria, constituição


litofaciológica, superfícies limitantes e análise de paleocorrentes (Fig. 4.2; conferir
também Fig. 3.16).

Elementos Arquiteturais em Depósitos Fluviais

Sp
St
Sr
CH CH
Canal
Gm
Sh
Fl
Sl

LA Acresção La teral
de Macroformas
Gm
Gp

GB Barras e Formas de Leito


SG Sedimentos Gravitacionais Conglomeráticas
Sr
St

SB Formas de Leito Arenosas

Sh

DA Acresção Frontal LS Lençóis de Areias Laminadas


de Macroformas

Fl
0.2 - 2.0m FF Finos de Overbank

Figura 4.2 Elementos arquiteturais básicos dos depósitos fluviais.


Unidades deposicionais caracterizadas por associações específicas de
litofácies (Quadro 4.3), forma externa e geometria interna (Miall, 1996).

Nesta escala, as medições de paleocorrentes são direcionadas para a


identificação de padrões de fluxo relacionados à forma externa e à geometria
interna de cada elemento arquitetural, adicionando uma terceira dimensão à
análise bidimensional (fotomontagens) dos afloramentos.
As nomenclaturas e códigos, tanto das litofácies quanto dos elementos
arquiteturais individualizados, são aqui mantidos conforme sua proposição original
(em inglês), por tratarem-se de termos de uso internacional. Eventuais
modificações ou adaptações ao esquema original (e.g. Eberth & Miall, 1991), são
144

introduzidas para descrever particularidades da sucessão estudada, de acordo


com as recomendações do autor (Miall,1996).
A análise dos sistemas eólicos (faciologia e interpretações morfológicas e
morfodinâmicas das formas de leito) fundamenta-se na base teórica descrita no
Capítulo 3 (itens 3.4.3.3.1 e 3.4.3.3.2).
A nomenclatura dos elementos arquiteturais eólicos, com pequenas
modificações, segue a classificação proposta por Chrintz & Clemmensen (1993),
apresentada nos Quadros 4.4 e 4.5. Referências à hierarquia das superfícies
limitantes dos litosomas 1 eólicos adota o esquema elaborado por Brookfield
(1977;1992) e aperfeiçoado por Talbot (1985) e Kocurek (1981, 1988), ilustrado
nas Figs. 3.30 e 3.31 .

Quadro 4.4 Escalas dos componentes da arquitetura eólica (Chrintz & Clemmensen, 1993)
Escala Componentes Básicos Significado Genético
Microescala Elementos texturais Processos de seleção
Mesoescala Tipos de estratificação Processos eólicos
Macroescala Elementos Arquiteturais Dinâmica das formas de leito
Megaescala "Storeys" sedimentares Evolução do deserto

Quadro 4.5 Elementos arquiteturais eólicos (Chrintz & Clemmensen, 1993)


Hierarquia Ordem superior Ordem intermediária Ordem inferior
Erg
Draa
Inter-draa
Duna
Elementos*
Interduna
Estratificação
"Sand sheet"
Sabka
* Simbologia dos elementos arquiteturais, utilizada pelos autores: (DR) Draa, (IDR) Inter-draa, (DU) Duna, (IDU) Interduna,
(SS) sand sheet. e (ST) estratificação (modificação de formas de leito).

1
O termo litosoma é utilizado ao longo deste trabalho em sua significação estritamente descritiva (não-genética), para
referir genericamente quaisquer unidades deposicionais individuais, limitadas por superfícies de qualquer hierarquia.
Diferentemente, o uso do termo elemento arquitetural (conceito discutido nas páginas anteriores) é reservado para definir
componentes dos sistemas deposicionais, maiores do que unidades faciológicas individuais, caracterizados por sua forma
externa, geometria interna e associação particular de litofácies (cf. Miall 1996, p.89-91).
145

4.2 Faciologia do Grupo Rosário do Sul

4.2.1 A Formação Sanga do Cabral


Características Gerais
A Formação Sanga do Cabral, unidade basal do Grupo Rosário do Sul
(Quadro 4.1), é constituída essencialmente por arenitos médios a finos (cerca de
80% de sua totalidade) e proporções subordinadas de arenitos grossos, ruditos (5
a 10%) e pelitos (10 a 15%). A ocorrência de concreções carbonáticas com
dimensões centimétricas e formatos variados é comum nesta unidade,
especialmente associadas às litofácies de arenosas e aos conglomerados
intraformacionais.
Em geral, a unidade apresenta colorações avermelhadas, castanho
avermelhadas ou alaranjadas, podendo também, mais localizadamente, ocorrer
em tons acinzentados ou esbranquiçados. A composição dos arenitos varia de
litarenitos a arcósios (Andreis et al., 1980; Zerfass, 1998). Os ruditos são
principalmente brechas e conglomerados intraformacionais e, mais raramente,
acumulações de ortoconglomerados polimíticos, com arcabouço formado por
grânulos e seixos de rochas ígneas e metamórficas. As litologias pelíticas são
constituídas por siltitos e siltitos argilosos, com menor proporção de argilitos, nos
quais a ilita e a montmorilonita constituem-se nos argilominerais dominantes
(Ramos & Formoso, 1976).
A idade da Formação é atribuída ao final do Permiano, início do Triássico
(intervalo Tatariano-Eoscythiano), baseada na ocorrência de vertebrados fósseis
na base e no topo da unidade (Lavina, 1983; Barberena et al., 1985a,b;1993;
Silva,1999), respectivamente correlacionáveis às Zonas de Daptocephalus e
Lystrosaurus do Sistema Karoo, na África do Sul (conferir Quadro 2.5, pg.38).
O contato inferior da unidade é transicional com a Formação Rio do Rasto
(Vol.II-FM5). Superiormente, a Formação Sanga do Cabral é delimitada por
superfícies erosivas (disconformidades), sobre as quais se assentam os arenitos
fluviais da Formação Santa Maria (Vol.II-SE5 e 7) ou os depósitos eólicos da
Formação Botucatu (SE7).
A denominação Sanga do Cabral deriva de um curso d'água situado no
setor sudoeste da Folha de Rio Pardo, próximo à entrada leste da ferrovia Porto
146

Alegre-Santa Maria, região onde a Formação foi originalmente definida e


interpretada como produzida por canais fluviais meandrantes. Estudos
posteriores, desenvolvidos em outras regiões do Estado, ampliaram a
abrangência do termo, que passou a incluir, além dos sedimentitos fluviais,
depósitos de origem eólica.
A unidade apresenta ampla expressão areal e espessuras variáveis, ao
longo de sua faixa de ocorrência (Fig. 4.3). A espessura mínima de cerca de 60m
é registrada na região de Santa Maria, atingindo um máximo de 655m em
subsuperfície, no poço Alegrete-1 da Petrobrás (Lavina et al.,1993).

4.2.1.1 Litofácies e Elementos Arquiteturais (EA)

4.2.1.1.1 Associação de Fácies de Sistema Eólico


As fácies constituintes deste sistema podem ser reunidas, segundo suas
freqüências de exposições, em dois elementos arquiteturais (EA) dominantes:

EA1. Dunas (DU)


Este elemento predomina amplamente na faixa de afloramentos da
Formação Sanga do Cabral, sendo formado quase que exclusivamente por fácies
de arenitos com estratificações cruzadas acanaladas ou tangenciais (St) e, mais
raramente, planares (Sp) (Fig. 4.4). As estratificações são em geral de médio e
grande porte (chegando a atingir 5m), constituídas pela alternância dos três tipos
básicos de estratificações eólicas individualizadas por Hunter (1977a,b) e
produzidas pelos processos atuantes nas faces frontais das dunas: (1) queda livre
de grãos: lâminas delgadas (menos de 5mm de espessura), contínuas e
homogêneas de arenitos finos; (2) fluxo de grãos: estratos mais espessos (de 1 a
3cm), lenticulares ou tabulares, com aspecto maciço ou apresentando gradação
inversa, de areia fina a média; (3) migração de ondulações eólicas: laminações
inversamente gradadas e lateralmente contínuas, com espessuras milimétricas,
eventualmente associadas a laminações cruzadas de pequeno porte e a lentes
inversamente gradadas, com espaçamento variável, atingindo até 20cm de
extensão e espessuras inferiores a 1cm.
Os depósitos de queda livre de grãos (grainfall laminae de Hunter op.cit.)
são constituídos por laminações planas e contínuas de areia fina, essencialmente
147
148

d e

Figura 4.4 Fácies de arenitos finos a médios, com estratificações cruzadas tangenciais de grande
porte, principais constituintes do elemento de dunas eólicas (DU) da Formação Sanga do Cabral
no Rio Grande do Sul: a e b destacam os tons avermelhados dos depósitos, coloração
característica da unidade. Cores esbranquiçadas (c) também são observadas, especialmente nas
proximidades de falhamentos (d), particularmente no setor oeste de exposição da unidade e em
seu prolongamento para o Uruguai. Em e, detalhe das estratificações cruzadas e suas cores
dominantes.
149

tabulares, paralelas e texturalmente homogêneas, geradas pela separação do


fluxo eólico junto à crista de dunas de convexidade acentuada. A homogeneidade
textural das lâminas decorre da seleção granulométrica produzida durante o
transporte dos grãos por saltação no stoss side das dunas que, atingindo a zona
de separação de fluxo, depositam-se por queda livre, recobrindo amplamente a
face frontal da forma de leito, dando origem à continuidade observada das
laminações (Fig. 4.5).
Os estratos produzidos por fluxos de grãos (grainflow cross-strata de
Hunter 1977a), apresentam aspecto maciço ou gradação inversa de areia fina a
grossa. São gerados por avalanches, a partir do acúmulo de sedimento
(excedendo o ângulo de repouso) próximo à crista da duna ou perda de coesão
de estratificações prévias, resultando em posterior escorregamento de material ao
longo da face frontal das dunas. A gradação inversa é produzida pelo choque de
grãos (pressão dispersiva), que ocorre durante o processo de avalanche de
material granulometricamente heterogêneo, ocasionando a segregação
progressiva dos grão mais grossos, em direção ao topo do estrato. De outro lado,
fluxos de grãos envolvendo material bem selecionado, pertencente a uma única
classe textural, não desenvolverão gradação inversa. Neste caso, o mesmo
processo (operando sobre materiais distintos) dará origem a um produto diferente.
A gradação inversa não se materializa por ausência de contraste granulométrico e
os estratos resultantes serão homogêneos, com aspecto maciço (Fig. 4.5).
Independentemente de serem gradados ou maciços, os estratos gerados por
avalanche apresentam empacotamento mais frouxo e maior volume de poros em
relação aos depósitos produzidos por queda de grãos. Esta característica
observada serve como critério adicional para distinção entre os dois tipos de
estratificações.
Os estratos de fluxo de grãos são caracteristicamente lenticulares em corte
(Hunter op.cit.), aspecto geométrico registrado com freqüência na área de estudo
(Fig. 4.5d). Contudo, eventualmente, ocorrem também depósitos de avalanche
com geometria virtualmente tabular (Fig. 4.5a, b). No caso de exposições
verticais, paralelas à direção de migração da forma de leito, este aspecto é
explicado simplesmente pelo corte longitudinal de segmentos das lentes de
grainflow. Já em cortes transversais, a aparente tabularidade dos estratos - que
150

Gfl
Gfw

Gfl
Gfw

Wrl

Wrl
Gfw

Figura 4.5 Exemplos de estratos eólicos produzidos por processos de fluxo


de grãos e queda livre de grãos. Os estratos gerados por grainfall
correspondem às lâminas milimétricas e contínuas, indicadas em a, b e c
(Gfl). Laminações geradas por queda de grãos ocorrem freqüentemente
intercaladas à depósitos de grainflow (Gfw), representados por lentes
alongadas (a, b e c) ou cunhas (d) de arenitos maciços ou inversamente
gradados. A intercalação de cunhas de grainflow com laminações
produzidas pela migração de ripples eólicas - wind riplle laminae (Wrl) - é
ilustrada em d (conferir Fig. 4.6).
151

chegam a atingir mais de 5 metros de extensão - indica que, nestes casos, os


fluxos individuais recobriam grande área da face frontal das dunas.
Um tipo secundário de fluxo gravitacional, de ocorrência mais localizada, é
registrado pela presença de brechas intraformacionais, constituídas por
fragmentos centimétricos de arenitos, sem orientação preferencial, com laminação
preservada, imersos em matriz de mesma constituição e granulometria dos
estratos adjacentes. Estas brechas ocorrem intercaladas às estratificações
cruzadas ou associadas a fraturas ou falhamentos normais de pequenos rejeitos.
Os depósitos com estas características são interpretados como produto da
resedimentação gravitacional de blocos coesos de areia úmida (slides) na face
frontal das dunas.
A freqüente ocorrência de estratos de grainflow e grainfall (Fig. 4.5),
associados a brechas intraformacionais, é indicativa de que a migração das dunas
eólicas contou com significativa atuação de processos gravitacionais.
O terceiro tipo de estratificação observada tem sua origem relacionada à
migração de ondulações eólicas (Fig. 4.6). Este processo produz dois tipos de
depósitos dominantes, morfologicamente distintos. O primeiro deles, de
ocorrência amplamente dominante, é constituído por laminações milimétricas,
planas ou suavemente onduladas, lateralmente contínuas e inversamente
gradadas (wind-ripple laminae; Kocurek, 1996), localmente associadas a
eventuais foresets preservados. Tais laminações desenvolvem-se pela migração
de ondulações eólicas cavalgantes (climbing translatent stratification de Hunter
1977;conferir Fig. 3.26), onde cada lâmina representa o produto da translação de
uma única ripple. A sobreposição ou "cavalgamento" das ondulações ocorre
devido à condições relativamente uniformes de alta concentração de areia em
transporte pelos ventos. O segundo tipo, menos comum, consiste de lentes de
areia média a grossa, com baixo relevo, superfície basal plana e topo convexo,
configurando a forma de ondulações simétricas ou com leve assimetria (wind-
ripple forms), freqüentemente apresentando gradação inversa. Não desenvolvem
laminações contínuas. Ocorrem como formas isoladas ou regularmente
espaçadas sobre um mesmo plano, apresentando espessuras individuais
caracteristicamente inferiores a 1cm e dimensões laterais da ordem de
centímetros a poucos decímetros. São geradas pela migração individual de
152

a b

Wrl (Cts)

Wrf

Wrf

Wrl (Cts)

5cm

Gfw

Wrl (Cts)

Wrf

Figura 4.6 Estratificações formadas pela migração de ripples eólicas. As laminações planas,
contínuas e inversamente gradadas, associadas a raros foresets preservados (c),
correspondem à "wind ripple laminae" (Wrl) ou "climbing tranlatent strata" (Cts). Cada lâmina
registra a migração de uma única ripple, superpostas segundo ângulo de cavalgamento
subcrítico (cf. Figs. 3.25c e 3.26), em condições de alta concentração de areia em transporte.
As lentes isoladas, com base plana e topo convexo, representam formas preservadas de
ondulações eólicas, ou wind-ripples forms (Wrf), resultantes da migração de ripples de impacto
solitárias, produzidas por ventos subsaturados. Em d, laminações de ripples eólicas associadas
a estratos de grainflow (Gfw).
153

ripples de impacto solitárias, produzidas por ventos subsaturados em areia


(Kocurek, 1981).
Interpretação
Os tipos básicos de estratificações ocorrem em proporções bastante
variáveis, ao longo da faixa de afloramentos. Independentemente dos processos
dominantes, ocorrem freqüentemente como sets assintóticos na base, em
exposições verticais paralelas ao fluxo. Em cortes transversais ao fluxo ou em
planta, são comuns ocorrências de conjuntos coalescentes de estratificações
acanaladas. Estas feições são indicativas de dunas eólicas de cristas curvas ou
sinuosas, como será discutido a seguir.
Tamanho e forma das dunas - A estimativa do tamanho original de dunas
eólicas a partir das dimensões dos estratos cruzados e da espessura dos
depósitos preservados, aqui feita por analogia com dunas recentes, é tentativa e
sujeita a imprecisões. Dunas em migração tanto podem ser preservadas
integralmente como resultar em nenhum depósito acumulado. Esta variabilidade
de preservação da acumulação deve-se a diversos fatores inerentes à própria
dinâmica dos ambientes eólicos, tais como taxa de migração das formas de leito,
taxas de suprimento sedimentar e subsidência. Em geral, assume-se que a
espessura preservada de estratos cruzados eólicos no registro geológico
represente apenas parte da altura original das dunas.
A tipologia das estratificações cruzadas têm sido utilizadas por diversos
autores (e.g. Hunter, 1977a,b; Kocurek & Dott ,1981) como método qualitativo
para estimar a altura original das dunas. Observações em dunas recentes indicam
que depósitos de grainflow e grainfall predominam nas porções superiores de
dunas transversais de grande porte, raramente atingindo a base das dunas
(plinth), que são dominadas por translatent climbing ripples. Segundo Allen
(1997), em dunas com 5m de altura, as avalanches de grainflow atingem apenas
cerca de 2m a partir da crista, o que permite a interpretação de que a presença de
fluxo de grãos na base dos sets estaria indicando dunas de pequeno porte, como
as descritas por Hunter (1977a). Adicionalmente, a ocorrência de deformações
penecontemporâneas, associadas a processos gravitacionais em areias úmidas e
coesivas, tais como brechas, blocos rotacionados, slides e microfalhas que,
embora possam se desenvolver ao longo de toda a slipface, tendem a ocorrem
preferencialmente nas porções superiores das faces de avalanche, portanto com
154

baixo potencial de preservação. A identificação destas feições no registro indicaria


assim que o set preservado estaria representando as dimensões aproximadas do
tamanho original das dunas.
Outro fator utilizado para estimativa da altura de dunas antigas é a
espessura dos estratos individuais de grain flow, como sugerido por Hunter
(op.cit.). Medidas de estratos de fluxos de grãos e altura das faces de avalanche
em dunas modernas demonstram que as espessuras dos estratos tendem,
geralmente, a aumentar com a altura das dunas (Kocurek & Dott, 1981). Por este
critério, alturas mínimas da face de avalanche de dunas eólicas podem ser
estimadas a partir da medida das espessuras de estratos individuais de grainflow .
Uma análise das dunas da Formação Sanga do Cabral, utilizando os
critérios discutidos acima, sugere um sistema eólico com formas de leito de
tamanhos bastante variáveis. Embora seja observada a ocorrência de estratos de
grainflow e grainfall, com terminações sobre superfícies planas, contendo wind
ripples (Figs. 4.5d e 4.6d) podendo ser interpretadas como a base de dunas
relativamente pequenas (1-2m), no conjunto, as demais evidências sugerem a
coexistência destas com formas de leito de maiores dimensões. As ocorrências
de sets com 3 a 4m de altura, limitados por superfícies erosivas, são
relativamente comuns (Fig.4.4). Em alguns casos apresentando brechas de
colapso e microfalhas, indicando alturas originais iguais ou superiores à
exposição preservada. As espessuras dos estratos de grainflow são bastante
variáveis (1-4cm) ao longo da faixa de exposição da unidade, embora
praticamente constantes em sets individuais. Assumindo espessuras máximas
entre 2 e 3cm (Fig.4.5) como as mais freqüentemente observadas e comparando-
as com os valores obtidos por Kocurek & Dott (1981) em depósitos recentes (Fig.
4.7), é possível inferir que as maiores dunas simples da Formação Sanga do
Cabral possam ter atingido cerca de 10m, alturas originais que eqüivaleriam ao
dobro das maiores espessuras de estratos cruzados observadas na faixa de
afloramentos.
A forma das dunas eólicas é controlada, entre outros fatores, pela variabilidade do
regime de ventos (Brookfield 1984,1992). Sob o aspecto morfológico, em um
extremo desta relação, situam-se as dunas estrela, que ocorrem em regiões de
ventos altamente variáveis, enquanto dunas lineares (seif) resultam de ventos
com variação mais moderada. No outro extremo, dunas crescentes ou
155

m
20
10
5

Altura
1.0 SC
0.5

0.1 cm
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
Espessura máxima dos
estratos de grainflow
Figura 4.7 Relação entre espessuras de
estratos individuais de grainflow e altura das
faces frontais de dunas eólicas recentes (Little
Sahara Dune Field; Kocurek & Dott, 1981). O
retângulo destaca a faixa mais freqüente de
espessuras de fluxos de grãos observadas na
Formação Sanga do Cabral (SC), indicando,
por analogia, que as dunas simples maiores da
unidade possam ter originalmente atingido
alturas em torno de 10m.

barcanóides são características de áreas de baixa variabilidade da direção dos


ventos. Alternativamente, as dunas podem ainda ser classificadas segundo suas
características morfodinâmicas, considerando a orientação das linhas de crista
(longitudinais, oblíquas ou transversais) em relação ao vetor resultante de
transporte eólico. Em sistemas antigos, as características morfológicas e
morfodinâmicas das dunas eólicas podem ser inferidas a partir da análise das
inter-relações ou predominância dos tipos básicos de estratificações, que refletem
os processos atuantes nas faces frontais das formas de leito. Em linhas gerais, o
predomínio de processos gravitacionais (grainflow e grainfall) é indicador de
ventos transversais, enquanto a dominância de processos trativos (wind ripples) é
característica de ventos oblíquos ou longitudinais (Kocurek, 1996).
Na seção estudada, as proporções de ocorrências destes processos é
bastante variável ao longo da faixa de afloramentos, sugerindo que o erg continha
formas diversificadas. Contudo, nas melhores exposições da unidade (região
oeste do Estado: São Vicente do Sul, Cacequi, Rosário do Sul e Livramento), são
observadas a freqüentes intercalações de estratos de grainflow e grainfall,
indicativas da dominância de processos gravitacionais, associados
secundariamente a depósitos de tração (climbing translatent strata; Fig. 4.6). As
156

superfícies de 2a. ordem identificadas são subparalelas às estratificações


cruzadas das formas maiores e recobertas por cosets menores, com
paleocorrentes coincidentes com a migração da duna maior (cf. Fig. 4.11),
evidenciando a migração por acresção frontal. Adicionalmente, medições de
paleocorrentes em diversos outros afloramentos isolados, apresentam padrões
virtualmente unimodais. Estas evidências morfodinâmicas indicam a ocorrência
dominante de dunas transversais. A intercalação de wind-ripple laminae com
estratos gerados por processos gravitacionais (cf. Fig. 4.6) é interpretada como
decorrência da incidência de ventos oblíquos sobre as faces frontais de dunas
transversais de cristas curvas ou sinuosas. Neste contexto, o registro do
predomínio de estratos transladantes e a identificação de padrões bimodais de
paleocorrentes em alguns afloramentos (Fig. 4.8) pode estar indicando a
coexistência de dunas obliquas subordinadas a um sistema de formas
transversais dominantes.

N S

N S

3m

10m

Figura 4.8 Dunas eólicas (DU) da Formação Sanga do Cabral na RS532,


estrada de acesso à da cidade de Mata, próximo ao entroncamento com
a BR287. As medidas de paleocorrentes plotadas no diagrama ao lado
apresentam tendência à bimodalidade, padrão compatível com dunas
obliquas.
157

EA2. Interdunas (IDU)


O elemento de interdunas ocorre basicamente em duas formas distintas,
discriminadas por sua geometria e constituição faciológica: (1) fácies de pelitos
lenticulares laminados (Fl) ou maciços (Fm, Fr) e (2) fácies de arenitos tabulares
amalgamados, compostas por arenitos com laminação plana (Sh), maciços (Sm)
ou bioturbados.
As lentes pelíticas isoladas ocorrem intercaladas às fácies de dunas
eólicas, com distribuição vertical e lateral bastante esparsa ao longo da faixa de
exposições. Em geral, apresentam espessuras médias de 30 a 60cm e extensões
laterais variáveis entre de 5 e 15m (Fig. 4.9; Vol.II-FM1). As lentes são
constituídas essencialmente por siltitos e lamitos (Fl, Fm, Fr) mas eventualmente
ocorrem como alternâncias milimétricas de pelitos com arenitos sílticos,
laminados ou maciços (Sm, Fsm) (Fig. 4.9d). Em alguns casos menos freqüentes,
os depósitos de interdunas lenticulares ocorrem como camadas de até 70cm de
arenitos finos maciços, aspecto possivelmente relacionado a processos de
liquefação ou fluidização (Fig. 4.9c).
As fácies de arenitos tabulares, de ocorrência bem mais significativa (Fig.
4.9a,b; Vol.II-FM2), são constituídas pela superposição de camadas planas,
centimétricas, amalgamadas, que em conjunto chegam a cerca de 4m de
espessura. Devido à limitação das exposições, as máximas extensões laterais
observadas atingem cerca de 30m, em afloramentos individuais. Contudo, a
correlação entre afloramentos contíguos indica que estas dimensões possam ser
bem superiores. As camadas tabulares de arenitos amalgamados são compostas
principalmente por arenitos finos com estratificações plano-paralelas ou cruzadas
de baixo ângulo (Sh) ou muito pequeno porte (SR), associadas a horizontes de
arenitos finos e médios, maciços (Sm), bioturbados ou contendo laminações
contorcidas (Fig.4.9e,f,g). As camadas de arenitos laminados são muitas vezes
delimitadas por acumulações milimétricas ou centimétricas de pelitos maciços,
que se destacam nos afloramentos por seu relevo negativo, devido à erosão
diferencial (Fig. 4.9e).
Icnofácies - Estruturas sedimentares biogênicas, associadas à estas
litofácies, identificadas por Netto (1989) e Netto et al. (1994) como pertencentes à
icnofácies de Scoyenia (Icnogênero Anchorichnus), são importantes indicadores
158

a b

DU
IDU

IDU
DU
DU
BR293- Livramento BR287- S. Vicente do Sul

c Figura 4.9 Afloramentos


representativos das fácies do
elemento de interdunas (IDU).
Sm Aspecto geral das camadas de
IDU arenitos tabulares de interdunas
Sh, Sr (a, b, c, e) associadas às facies
do elemento de dunas eólicas
(DU). Interdunas com geometria
lenticular: (c) associação de
DU lente de arenitos maciços (Sm)
com laminações planas (Sh, Sr);
(d) arenitos muito finos (Sh)
Uruguai- Ruta26
associados à siltitos laminados
(Fl) e maciços (Fsm). Em e, f e
d g, detalhes das características
faciológicas do elemento de
IDU IDU, mostrando a coexistência
Sh 50cm de "wind ripple laminae" (Sr)
Fl, Fsm com arenitos e siltitos maciços,
bioturbados ou deformados (g),
indicativos de substratos
úmidos. As camadas planas e
DU contínuas são relacionadas à
planícies de interdunas As
lenticulares são interpretadas
BR293 - Livramento
como depressões interdunares.

e Sm f Sr,Sh
Sm
Sm,Fsm Sr,Sh
St,Sp
Sm
Sh
Sm,Fsm Icnofóssil
IDU
Fsm Sm
Corredor Internacional

g
Sh

DU

BR287 - Santiago Corredor Internacional


159

de condições de umidade nas fácies de interdunas da Formação Sanga do


Cabral.
A icnoespécie Anchorichnus coronus é registrada principalmente nas
fácies de interdunas tabulares (Fig. 4.10; Vol.II-FM3).

Figura 4.10 Exemplares de


a traços fósseis pertencentes à
icnofauna Scoyenia, presente
nas fácies de interdunas (IDU)
da Formação Sanga do Cabral,
identificados por Netto (1989) e
Netto et al (1992).

(a) Características diagnósticas


da icnoespécie Anchorichnus
coronus, principal constituinte
da icnofácies Scoyenia na área
de estudo: traços retilíneos à
sinuosos, de forma cilíndrica a
elíptica, horizontais ou
2cm suavemente inclinados, com
diâmetros uniformes (7-9mm) e
preenchimento meniscado.
b (b) Vista em planta de traços
de A. coronus (setas) em
posição horizontal, paralelos à
superfície de acamadamento.
(c) Traços sinuosos horizontais
e inclinados, ilustrando a
atividade de organismos em
dois planos distintos de
estratificação.
Os traços de A. coronus são
interpretados como escavações
temporárias de organismos
5cm invertebrados. Sua geração é
atribuída a atividade de
artrópodos.
c A icnofácies Scoyenia é
característica de substratos
continentais úmidos ou
encharcados ou corpos d'água
muito rasos. Adicionalmente,
em alguns afloramentos das
fácies de interdunas da
Formação Sanga do Cabral,
Anchorichnus ocorre em
associação com outras formas
(Skolithos e Arenicolites)
5cm também indicadoras de
ambientes subaquosos rasos.
Estas evidências icnológicas caracterizam os depósitos portadores de A. coronus como fácies de
interdunas úmidos (Netto, 1989).
160

Ocorre como tubos circulares a subelípticos em seção transversal, com


preenchimento meniscado e tendência retilínea a sinuosa, podendo ainda ser
ondulante. As espessuras variam desde 6 até 12 mm, permanecendo constantes ao
longo de um mesmo tubo. A orientação dos tubos é preferencialmente horizontal,
podendo ocorrer oblíqua ou verticalizada. A maioria dos espécimes se preserva
como formas de epirrelevo côncavo ou de relevo cheio. A.coronus caracteriza
escavações temporárias (traços de alimentação) de artrópodos é constitui-se em
um dos elementos definidores da Icnofácies Scoyenia.
Esta associação icnofossilífera ocorre em sedimentitos não marinhos, geral-
mente red beds. É caracterizada por baixa diversidade animal e conseqüente baixa
icnodiversidade, com abundância de indivíduos, indicando ambientes
ecologicamente estressados, provavelmente devido à constantes variações na
quantidade de água disponível no substrato. Tais oscilações produzem mudanças
nas taxas de oxigênio, nas relações físico-químicas entre o organismo e o substrato
e variações nas taxas de suprimento alimentar, diminuindo a icnodiversidade. A
presença da Icnofácies Scoyenia determina substratos continentais úmidos ou
encharcados, baixios esporádica ou periodicamente inundados por água ou ainda
períodos de exposição de depósitos aquáticos rasos ao ar atmosférico (Netto,
1989).
A associação de A.coronus com outras formas indicadoras de ambientes de
águas rasas (Skolithos e Arenicolites) identificada nos depósitos interdunares da
Formação Sanga do Cabral sugere portanto que a atividade orgânica desenvolveu-
se com a presença do nível freático na superfície ou em bordas de corpos efêmeros
de águas doces, caracterizando assim um ambiente úmido de interdunas.
Interpretação
As fácies descritas acima são interpretadas como correspondentes às duas
configurações geométricas básicas de depósitos de interdunas apontadas por
Kocurek (1996): depressões interdunares e planícies de interdunas.
Os depósitos de depressões interdunares, acumulações em espaços
restritos, confinados entre formas de leito em migração, são representadas pelas
fácies de pelitos lenticulares e por ocorrências subordinadas de lentes de arenitos
maciços. A constituição pelítica destas lentes indica sedimentação de finos por
decantação, em ambiente subquoso. Os arenitos lenticulares, com aspecto
maciço, são tentativamente interpretados como produzidos pela adesão de areias
161

secas sopradas pelo vento sobre superfícies úmidas (“adhesion processes”) ou


cobertas por delgada lâmina d’água (Hunter, 1980; Kocurek & Fielder, 1980). A
ocorrência associada de laminações contorcidas por processos de liquefação de
areias saturadas (Fig.4.9g), reforçam esta interpretação. As evidências
observadas tanto nas litofácies pelíticas quanto arenosas indicam portanto
episódios de inundações ou afloramento do nível freático nas superfícies
interdunares, na forma de lagos rasos temporários.
As acumulações interpretadas como planícies de interdunas são
representadas pelas fácies de arenitos tabulares, com base no virtual paralelismo
das superfícies de acamadamento e na continuidade lateral dos estratos. A
diversidade litofaciológica e de processos identificados nestes depósitos evidencia
marcadas variações nos teores de umidade das superfícies de interdunas.
As camadas centimétricas constituídas por estratos eólicos planos e
horizontalizados (Sh,Sr), são atribuídos à migração de ripples transladantes
subcríticas sobre superfícies planas (“wind ripple laminae”). Ventos com
velocidades superiores ao campo de estabilidade de ripples, embora raros, são
apontados por Kocurek & Dott (1981) como processo alternativo de formação de
laminações plano-paralelas (“planebeb lamination”). Ambos os processos são
característicos de áreas de interdunas sem umidade superficial, onde ocorre a
aceleração dos ventos e transporte por tração de areia seca. Sets isolados de
estratos cruzados (St, Sp), contidos entre laminações planas (fig. 4.9e), registram
a presença de dunas de pequeno porte, sem faces de avalanche, no contexto de
interdunas (“interdune dunes”). Diferentemente das laminações produzidas por
wind ripples, dunas de pequeno porte podem ser ativas sobre superfícies úmidas
(Kocurek & Dott, op.cit.), não sendo portanto boas indicadoras das condições de
umidade do substrato.
Os principais indicadores de umidade superficial nas fácies de interdunas
tabulares são os arenitos maciços ou contorcidos, freqüentemente recobertos por
lâminas de pelitos laminados ou maciços, associados à significativa ocorrência de
estruturas biogênicas. Acumulações de planícies de interdunas são, por si,
indicadoras de elevação e proximidade do nível freático na superfície (Kocurek &
Havholm, 1993; Kocurek, 1996). Em sistemas secos as superfícies instáveis das
planícies interdunares tendem a ser consumidas, transferindo sedimento para o
desenvolvimento das dunas e restringindo as áreas de interdunas a pequenas
162

depressões. Contrariamente, em presença de umidade, as interdunas tendem a


ser fixadas, inibindo o desenvolvimento das dunas por escassez de suprimento e
resultando em camadas tabulares e lateralmente contínuas, com características
faciológicas compatíveis com os processos descritos acima. Nas fácies de
interdunas aqui discutidas, embora a faciologia indique a alternância de períodos
secos e úmidos, tanto os depósitos lenticulares (depressões) quanto os tabulares
(planícies) apresentam claras evidências de sedimentação em presença de
umidade. Estas condições são enfatizadas pela freqüente presença de icnofácies
indicadoras de substratos saturados ou ambientes de águas rasas. Estes
elementos conduzem à interpretação de que as fácies interdunares da Formação
Sanga do Cabral correspondem a depósitos de interdunas úmidos.

EA3. Draa (DR) e Interdraa (IDR)


A diferenciação entre dunas simples (DU) e compostas ou complexas
(draas) pressupõe a distinção de sets e cosets, com base na identificação de
superfícies de 1ª, 2a e 3a ordens. Na sucessão estudada, a hierarquização destas
superfícies é dificultada pelas dimensões desfavoráveis das exposições,
especialmente para a diferenciação entre superfícies de 2a e 3a ordens. Por este
motivos, as referências a depósitos de draas e interdraas aqui apresentadas são
apenas interpretativas e baseadas na correlação de fácies e projeções de
superfícies observadas em afloramentos contíguos.
Embora relações hierárquicas entre superfícies limitantes possam ser
observadas em alguns poucos afloramentos (Fig. 4.11), o ponto central da
interpretação aqui discutida refere-se à identificação de superfícies de 1a ordem,
em função dos depósitos de extra-dunas que as recobrem. Por esta abordagem,
baseada em Clemmensen (1991), Chrintz & Clemmensen (1993) e Kocurek
(1996), o elemento de interdunas (IDU), em função de suas caraterísticas
geométricas e continuidade lateral, pode ser subdividido em duas categorias
distintas, mencionadas no item anterior: interdune depression e interdune flats. As
depressões de interdunas tendem a ser lenticulares ou em cunha, com
espessuras e extensões laterais relativamente reduzidas em cortes
perpendiculares ao fluxo, ocorrendo isoladas entre sets de estratos cruzados.
Estes depósitos arenosos são característicos de sistemas eólicos secos e se
formam pela progressiva eliminação das planícies de interdunas durante o
163

Fl N
IDU
Sh, Sl, Sr

St, Sp
DU
Sm

IDR

1a.Ordem
2a.Ordem
c 3a.Ordem

Paelocorrentes Figura 4.11 (a) Dunas eólicas (DU), constituídas por arenitos
com estratificações cruzadas de grande e médio portes
(St,Sp), parcialmente homogeneizados por liquefação (Sm),
recobertos por arenitos com acamadamento plano (Sh, Sl,
Sr) e pelitos laminados (Fl), correspondentes à planícies de
interdunas (IDU); (b,c) fotomontagens do mesmo
afloramento, processadas (Photo Paint 8/Paint Shop Pro5)
para facilitar a visualização das superfícies e estruturas
sedimentares; (c) hierarquia das superfícies limitantes e os
elementos de draa (DR) e interdraa (IDR) interpretados.
0 0
Localização GPS: 29 36' S - 54 41' W; BR287, entre as
n= 06 cidades de São Vicente do Sul e Jaguari.
164

cavalgamento das formas de leito, o que produz aproximação da face frontal de


uma duna em relação ao stoss da seguinte, resultando na redução das áreas de
interdunas. De outro lado, as planícies de interdunas têm como principal
característica a continuidade lateral. Desenvolvem-se em sistemas eólicos úmidos
pela redução da disponibilidade de sedimento para construção das dunas, em
função do nível elevado da franja de capilaridade do lençol freático, resultando em
extensas área de interdunas - sheets de arenitos com estratificações planas - que
delimitam dunas simples ou superpostas, com baixo ângulo de cavalgamento (cf.
Fig. 3.39). Camadas com estas características, interpretadas como depósitos de
interdraa, têm sido utilizadas por diversos autores para delimitar superfícies de 1ª
ordem (e.g. Kocurek, 1981; Carruthers, 1987; Clemmensen, 1989; Chrintz &
Clemmensen, 1993) ou mesmo supersuperfícies (Clemmensen & Hegner, 1991;
Crabaugh & Kocurek, 1993).
Na seção estudada, ao longo da BR293 (proximidades do Cerro Palomas)
e da BR287 (trecho entre São Vicente do Sul e Jaguari), depósitos tabulares de
interdunas (IDU), com espessuras de 3 a 4m, recobrindo conjuntos de estratos
cruzados eólicos (Fig. 4.12), ocorrem em exposições com cerca de 50m de
extensão lateral. Afloramentos esparsos com estas características são registrados
por distâncias superiores a 1km, sugerindo grande continuidade lateral dos

Sh, Sr, Sm
IDU(IDR)

(1)

Sp, St DU(IDU)

Figura 4.12 Arenitos com estratificação cruzadas de grande porte (Sp,St) recobertos por arenitos
tabulares com estratificação plana (Sr, Sh, Sm), correspondendo, respectivamente, a depósitos
de dunas (DU) e planície de interdunas eólicas (IDU). Entre parêntesis, superfície de 1ª ordem e
elementos de draa (DR) e interdraa (IDR) interpretados.
165

depósitos de interdunas, permitindo interpreta-los como relacionados a interdune


flats (Vol.II-FM2). Nos exemplos documentados na bibliografia acima referida,
planícies de interdunas, individuais ou amalgamadas, assentam-se sobre
superfícies de 1a ordem, as quais registram episódios de migração de draas. Por
analogia, e em função das observações descritas acima, na seção estudada, sets
e cosets de estratos cruzados recobertos por planícies de interdunas são
tentativamente interpretados, respectivamente, com elementos de draa (DR) e
interdraa (IDR).

EA4. Wadis (WD)


O termo wadis é aqui utilizado genericamente para reunir os depósitos
produzidos por fluxos aquosos que ocorrem associados às facies de dunas e
interdunas da Formação Sanga do Cabral. Este elemento ocorre em duas
configurações geométricas e faciológicas distintas, justificando sua diferenciação
em dois subelementos: (1) WD(SB): constituído por depósitos em lençol ("sheets";
cf. Fig. 4.1a), compostos exclusivamente pela superposição de formas de leito
arenosas, sem evidências de acresções laterais ou frontais, correspondendo, na
classificação proposta por Miall (1996), ao elemento SB ("sandy bedforms
element"; cf. Fig. 4.2); (2) WD(CH): compreendendo depósitos confinados em
canais ("ribbons"; cf. Fig. 4.1a), com limites definidos e evidências de
preenchimento multi-episódico, características definidoras do elemento CH
("channel element", cf. Fig. 4.2).

Wadis desconfinados WD(SB)


Este subelemento é constituído unicamente pela associação de fácies de
arenitos com estratificações cruzadas de pequeno e médio porte (St, Sp,), que
ocorrem isoladamente ou como conjuntos de estratos sobrepostos, em camadas
tabulares ou lentes alongadas sem limites laterais evidentes, na forma de
"sheets", com espessuras que variam desde 30cm até cerca de 2m (Fig. 4.13).
As estratificações cruzadas podem ser planares (Sp) ou, mais
freqüentemente, acanaladas ou tangenciais (St), com sets individuais com 20 a
30cm de espessura, com ocorrências mais raras de cruzadas centimétricas (Sr).
Normalmente associadas a estas litofácies ocorrem intraclastos pelíticos e
arenosos, de dimensões milimétricas a centimétricas, dispersos ao longo dos
166

WD(SB)
St,Cgi,Sh
b

D
U

b
Sh

WD(SB)

St,Cgi

DU

Figura 4.13 Exemplos de afloramentos representativos do elemento de wadis


(WD), constituído pela superposição de dunas subaquosas 2D e 3D - “sandy
bedforms” (SB) - depósitos fluviais que ocorrem intercalados às fácies de
dunas (DU) e interdunas eólicas. (a) Contato erosivo do elemento de wadis -
WD(SB) - sobre arenitos com estratificações cruzadas (Sp, St) do elemento
de dunas eólicas (DU); (b) detalhe dos estratos cruzados (St) contendo
conglomerados intraformacionais (Cgi), localmente associados à arenitos
com laminações plano-paralelas (Sh), litofácies típicas do elemento WD(SB);
(c) aspecto geral da superposição e cavalgamento subcrítico de dunas
subaquosas 3D, principal característica do subelemento SB.
Localização: a,b - Corredor Internacional Brasil-Uruguai; c - BR290, entre as
cidades de São Gabriel e Rosário do Sul.
167

estratos ou agrupados na base dos foresets (Fig. 4.13b). Estas estratificações


correspondem à formas de leito transversais (dunas 2D e 3D) de pequeno e
médio portes, produzidas por correntes aquosas em regime de fluxo inferior.
Variações nas condições de fluxo são registradas pela eventual associação
destas fácies com camadas planas, contento laminações plano-paralelas (Sh),
características de regime de fluxo superior.
Interpretação
Os depósitos descritos acima são essencialmente constituídos por
superposições de formas de leito subaquosas e podem ser agrupados em duas
categorias, em função de suas dimensões: (1) lentes alongadas, com espessuras
inferiores a 1m e (2) acumulações mais espessas que chegam a atingir 2m. Em
ambos os casos, é marcante a similaridade textural entre as areias que
constituem estes depósitos e as fácies de dunas e interdunas com as quais se
interdigitam. Os intraclastos pelíticos dispersos na matriz arenosa representam a
erosão por fluxos aquosos e resedimentação das frações finas, originalmente
depositadas nas regiões de interdunas.
Acumulações verticais de diferentes tipos de formas de leito subaquosas
refletem variações do regime de fluxo, que podem ser de curta duração
(flutuações sazonais ou "flash floods") ou de períodos mais longos, da ordem de
dezenas a centenas de anos, relacionados ao incremento de macroformas.
(Miall,1996). Os processos de acresção frontal (DA) ou lateral (LA), característicos
das macroformas, são preservados como conjuntos de formas leito dispostos
sobre superfícies inclinadas. Os tipos de acresção das macroformas são
diferenciados pela direção de transporte das formas de leitos (longitudinal ou
transversal) em relação às superfícies de acresção.
No caso estudado, a superposição vertical de formas de leito de pequenas
e médias dimensões, ocorre segundo superfícies horizontalizadas (sem as feições
arquiteturais diagnósticas de DA ou LA), indicando o cavalgamento de dunas
subaquosas (principalmente 3D), em ângulo subcrítico, o que sugere que os
depósitos tenham se acumulado, predominantemente, por agradação vertical (Fig.
4.13c). Estas observações são válidas tanto para as acumulações mais espessas
(1-2m), quanto para as mais delgadas (<1m), indicando que ambas tenham se
formado por processos similares, sob condições variáveis de energia, duração e
freqüência. Em função das características geométricas e estruturais descritas,
168

estes depósitos são interpretados como produzidos pelo retrabalhamento de


dunas e interdunas eólicas por episódios de fluxos fluviais efêmeros,
desconfinados ou restritos a canais largos e rasos.

Canais de wadis WD(CH)


Este subelemento é individualizado por ocorrer na forma de “ribbons”, com
limites bem definidos, preenchidos por litofácies de origem fluvial (Fig. 4.14). A
configuração geométrica dos canais é exemplificada na Fig. 4.14a. Em corte
obliquo ao vetor médio de transporte, o canal, instalado sobre depósitos de dunas
eólicas (DU), apresenta dimensões aparentes de 10 metros de largura (L) por 4,5
metros de profundidade (H). Esta baixa razão L/H, assegurada pela delimitação
física dos canais, caracteriza a geometria “ribbon”, aspecto que diferencia este
subelemento de depósitos similares produzidos por fluxos fluviais desconfinados -
WD(SB).
O preenchimento dos canais é constituído por camadas lenticulares de
80cm a 2m de espessura, internamente organizadas em ciclos granodecrescentes
(Fig. 14b,c), com níveis de conglomerados intraformacionais (Cgi) de intraclastos
centimétricos e angulosos na base que gradam superiormente para arenitos finos
maciços (Sm) ou com incipientes estratificações cruzadas acanaladas (St). Estes
ciclos são por vezes encerrados por intercalações de camadas milimétricas e
horizontalizadas (Fig.4.14d) de arenitos muito finos/sílticos (Sh) e pelitos
laminados (Fl) ou maciços (Fsm).
Interpretação
Os depósitos descritos acima são interpretados como produzidos por fluxos
fluviais confinados, instalados sobre os campos de dunas (Fig.14d) e regiões de
interdunas, durante períodos de chuvas torrenciais. O preenchimento dos canais,
em ciclos granodecrescentes, iniciados por conglomerados intraclásticos basais
que passam a arenitos maciços sugerem deposição rápida, a partir de fluxos
hiperconcentrados, em regime de fluxo superior atuante durante as fases iniciais
de inundação, processo que inibe o desenvolvimento de formas de leito e, por
decorrência, a formação de estratos cruzados. A passagem indivisa para arenitos
com incipientes estratificações cruzadas no topo (eventualmente recobertos por
siltitos maciços ou laminados) estariam indicando variações na estrutura do fluxo
relacionadas ao final de cada ciclo deposicional, com a diminuição da
169

W E

DU
St WD(CH)

a
b c

Sm,St

St
Cgi
Sm,St
Cgi

St

NE SE

DU

Sh,Fl, Fsm

Sm,St

WD(CH)
d
Figura 4. 14 Canal de wadi, WD(CH): (a) geometria do canal - ribbon – implantado (setas) sobre
arenitos com estratificações cruzadas acanaladas (St), características do elemento de dunas
eólicas (DU); (b, c) detalhes do estilo multiepisódico de preenchimento interno do canal, indicado
pelas setas. Cada storey corresponde à um ciclo granodecrescente, constituído por
conglomerados intraformacionais (Cgi) na base e arenitos finos a muito finos, maciços (Sm) a
incipientemente estratificados (St) no topo; (d) vista posterior do mesmo afloramento, enfatizando
os ciclos granodecrescentes (setas) com arenitos muito finos/sílticos no topo (Sm, Fsm) e
ilustrando a inserção dos depósitos de canal no contexto dominante de campo de dunas eólicas
(DU).
Localização GPS: 300 14,55’ S - 540 48,33’; BR290, a leste da entrada da cidade de Rosário do
Sul, próximo à conexão com a estrada para Cacequi (RS640).
170

concentração de carga sedimentar, propiciando a separação vertical do fluxo e o


conseqüente desenvolvimento de formas de leito 2D e 3D, em regime de fluxo
inferior. A recorrência destes processos é atestada pela superposição de ciclos –
estilo “mutistorey” de preenchimento – que indica certa estabilidade dos canais ao
longo do tempo. Canais isolados, com geometria em “ribbon”, pressupõe baixas
taxas de migração lateral (canais fixos) e estabilidade do substrato (cf. Fig.4.1).
De outro lado, os canais de wadis são normalmente caracterizados como fluxos
fluviais efêmeros, que se extinguem rapidamente, por evaporação em clima árido
ou absorvidos pelo substrato arenoso (Glennie, 1978). No caso estudado, a
incisão dos canais pode ser relacionada à episódios de inundação em condições
de rebaixamento do nível de base local (nível freático). Já a preservação de
sucessivos episódios de preenchimento pode estar indicando que repetidas
oscilações do freático ou do nível de saturação do substrato, tenham agido como
fator de estabilidade dos canais e impedindo que os depósitos fluviais, após o
final de cada ciclo deposicional, fossem remobilizados pelos processos eólicos
dominantes no sistema.

Estratificações cruzadas deformadas


Uma característica importante das fácies eólicas da Formação Sanga do
Cabral é a freqüente presença de deformações de estratos cruzados, incluindo
brechas intraformacionais, microfalhas, pillars, arenitos maciços e dobramentos
de estilos e escalas variadas (Figs. 4.15; Vol. II-FM4 ) . Estas feições ocorrem em
geral associadas, esparsamente distribuídas em vários níveis estratigráficos ao
longo toda a faixa de afloramentos da unidade (cf. Fig.4.3). As microfalhas
cortam conjuntos de estratos cruzados e apresentam rejeitos normais da ordem
de milímetros a poucos centímetros, com contato brusco entre os blocos ou
eventuais evidências de remobilização ao longo dos planos. Estruturas do tipo
pillar chegam a tingir cerca de 5m de altura, cortando mais de um set de estratos
cruzados. Arenitos maciços, homogêneos, ocorrem na forma de "bolsões" de
dimensões variadas, associados a dobramentos ou contornados por estratos
indeformados (cf. Fig. 4.11a e 4.15a). Os dobramentos são caracterizados pela
ausência de padrões de vergência e pela variabilidade de dimensões e formas
(dobras desarmônicas, recumbentes ou parabólicas). Estratos dobrados
abrangendo pacotes de mais de 30m de extensão e acima de 4m de espessura
171

BR287 - S.Vicente do Sul

BR153 - Aceguá

c d

1m

BR153 - Cachoeira do Sul Vista Alegre - São Gabriel

Figura 4.15 Estratifica-


e ções eólicas deformadas
por processos de fluidiza-
ção, liquefação (a, b, c, d)
e colapso gravitacional de
foresets em estado frágil
(e). Estas feições ocorrem
em várias localidades e
níveis estratigráficos (cf.
Fig.4.3), sendo interpreta-
das como produzidas por
abalos sísmicos, contem-
porâneos à sedimentação
BR287 - S.Vicente do Sul
eólica da Formação
Sanga do Cabral.
172

são observados em afloramentos individuais (Fig. 4.15d; FM4a). A correlação de


exposições isoladas, em afloramentos contíguos, sugere a continuidade de tais
deformações por extensões superiores a 2km.
Processos - Feições com as características descritas acima têm sua
origem relacionada, por diversos autores, a processos de escape d'água em
sedimentos não litificados ("soft-sediment deformation" ou “water scape
structures”). São classificadas como estruturas diagenéticas, formadas durante e
imediatamente após a sedimentação ou ao longo do processo de consolidação
das camadas, pelo rearranjo dos grãos, em resposta direta ao escape de fluídos
contidos nos espaços porosos. Em camadas saturadas, a mistura água-
sedimento gera um fluído viscoso que, pela migração da água através dos poros
ou pela ação de esforços externos, produz a deformação dos sedimentos em
estado hidroplástico, fluidizado ou liqüefeito (Lowe 1975; Doe & Dott Jr 1980;
Allen 1994; Owen 1987).
Allen (1982,1994) diferencia dois principais mecanismos de deformação de
sedimentos não litificados: fluidização e liquefação. Através destes processos de
interação fluído-sedimento, camadas de silte ou areia, mudam de estado,
comportando-se como fluídos de alta viscosidade, passíveis de deformação.
O processo de fluidização é aquele pelo qual um fluído atravessa
verticalmente (de baixo para cima) um depósito de sedimentos inconsolidados,
ocasionando uma leve separação dos grãos que passam a ser temporariamente
sustendados pelo fluído. Durante o movimento ascendente, o fluído ocupa os
espaços porosos, contrabalançando verticalmente o peso individual das partículas
e ocasionando a separação dos grãos e expansão temporária da camada. O
estado de fluidização perdura apenas durante a migração vertical do fluído, que
atua como um fluxo turbulento, transportando consigo os grãos em suspensão,
geralmente através de condutos preferenciais. Este processo produz a destruição
parcial ou completa das estratificações originais, gerando estruturas secundárias
do tipo escape de fluídos (cf. Lowe, 1975). Com a redução ou interrompimento do
fluxo os grãos são resedimentados e a camada retorna a seu estado "sólido".
A liquefação, por sua vez, ocorre quando depósitos de sedimentos
inconsolidados ou com empacotamento metaestável experimentam a perda
brusca de coesão interna pelo aumento rápido da pressão nos poros, exercida
pelo fluído intergranular. O arcabouço sedimentar, originalmente grão-suportado,
173

passa a ser temporariamente fluído-suportado. Diferentemente da fluidização,


que demanda aporte externo de fluídos (e.g. liberação de água de camadas
subjacentes), a liquefação ocorre em sistemas fechados (e.g. depósitos
subaquosos ou camadas saturadas, abaixo do nível freático), nos quais a
participação do fluído intergranular é essencialmente passivo. O estado de
liquefação é induzido pela ação de esforços externos (e.g. abalos sísmicos, ondas
de tempestade, carga sedimentar) que aumentam a pressão de fluído nos poros,
ocasionando uma súbita perda de coesão interna do sedimento. A pressão
intergranular e a liberação vertical do fluído são rapidamente dissipadas,
restabelecendo o arcabouço clasto-suportado, normalmente com pequena
movimentação individual dos grãos em relação ao demais, especialmente em
condições de confinamento. Neste caso, as laminações primárias são em geral
preservadas, embora possam ser deformadas em graus variados, de acordo com
a intensidade e duração dos esforços externos e a viscosidade aparente do
sedimento liqüefeito (Allen, 1994). Isto deve-se ao fato de que a migração do
fluído, durante a liquefação, tende a ser homogênea e em velocidade inferior à
necessária para que ocorra a fluidização. Portanto, quando o deslocamento
vertical da água intergranular não ocorre uniformemente, o fluxo concentra-se em
canais preferenciais, aumentando a velocidade de escape do fluído e resultando
na completa destruição das estratificações, pelo processo de fluidização discutido
anteriormente (Leeder, 1982).
A mistura água-sedimento pode ainda assumir um estado chamado
hidroplástico (Lowe, 1975), comportamento característico de sedimentos grão-
suportados, com velocidades de migração de fluídos inferiores às requeridas para
a fluidização e elevada resistência coesiva ou friccional interna. A deformação sob
estas condições é tipicamente laminar, devido à alta viscosidade da mistura
hidroplástica. As laminações primárias, embora intensamente deformadas,
tendem a ser preservadas, sem evidências significativas de liquefação ou
fluidização. Em camadas pelíticas, são comuns deformações desta natureza,
provocadas por carga sedimentar. Já em areias limpas, devido à alta resistência
friccional interna, as deformações são em geral induzidas por fenômenos
tectônicos (Lowe 1975,1976). Além de fatores como viscosidade e taxa de escape
de fluídos, o estilo de deformação e o grau de preservação das estruturas
primárias são portanto diretamente influenciados pela granulometria envolvida. Os
174

processos de deformação em estado hidroplástico, liqüefeito ou fluidizado formam


em verdade um continuum, cujos termos nem sempre são claramente
distinguíveis (Lowe, 1975). Um sumário das principais características destes
processos é apresentado no Quadro 4.6.

Processo de
Deformação HIDROPLÁSTICO LIQUEFAÇÃO FLUIDIZAÇÃO
Definições
Coesão interna significativa negligível
do sedimento
Velocidade relativa <v >v
de fluído nos poros
Características
Tipo de fluxo laminar turbulento

% H2O
Viscosidade
Taxa de escape
d'água
Identificação
Estruturas preservadas
não preservadas
primárias deformadas

Elutriação de negligível significativa


grãos finos
Intrusões concordantes dicordantes

"dish structures"

Quadro 4.6 Definições, características e critérios de identificação dos processos de


deformação de sedimentos não litificados, segundo Lowe (1975).

Causas - Segundo Lowe (1978), a maioria das deformações geradas por escape
de fluídos desenvolvem-se durante os estágios finais ou logo após a deposição
das unidades individuais de sedimentação. Entre os principais mecanismos
geradores inclui: (1) carga sedimentar, (2) ação de correntes (“current drag”)
sobre as superfícies de camadas não consolidadas, (3) migração de formas de
leito, (4) ação de ondas de tempestades e (5) abalos sísmicos. Este último
mecanismo – vibrações cíclicas causadas por terremotos – é citado por diversos
autores como a principal causa de zonas extensivas de liquefação e fluidização
de sedimentos (Allen & Banks, 1972; Allen 1982,1984; Lowe 1975,1976; Doe &
Dott 1980, entre outros).
Em seqüências subaquosas (e.g. depósitos turbidíticos ou deltaicos),
caracterizadas pela interestratificação de areia e lama, o efeito da carga
sedimentar é especialmente importante. A abrupta deposição de camadas de
175

areia pode disparar o processo de escape d’água, mesmo em camadas


horizontalizadas (“espontaneous liquefation” de Lowe, 1976). Igualmente,
deformações induzidas pela ação de ondas são necessariamente relacionadas a
ambientes subaquosos.
De outro lado, em depósitos subaéreos, como é o caso da sucessão
estudada, os processos de fluidização e liquefação são mais adequadamente
explicados pelos mecanismos de carga sedimentar provocada pela migração de
formas de leito, cizalhamento produzido por correntes superficiais ou ação de
abalos sísmicos. Deformações análogas às ocorrentes nos estratos eólicos da
Formação Sanga do Cabral são descritas por Doe & Dott (1980), que analisam os
principais tipos de deformações em estratos cruzados relacionados à migração de
formas de leito, a partir de exemplos dos arenitos Navajo e Weber de Utah-USA,
(Fig. 4.16).
Desconsiderados os fluxos de avalanche, constituintes comuns das
estratificações eólicas (Fig. 4.16A), todas as demais deformações secundárias
apontadas por Doe & Dott (op.cit.) são observáveis na Formação Sanga do
Cabral (Figs. 4.15). Feições induzidas pela ação da gravidade, como falhas
normais de rejeitos centimétrico e brechas de colapso, são relativamente comuns.
Contudo, as feições de ocorrência mais extensiva, relacionadas à processos de
escape d’água, podem ser genericamente classificadas nos termos de Doe & Dott
como estratos cruzados contorcidos (dobras desarmônicas), diápiros (“flamelike
intrusions”) e acamadamento homogeneizado (Fig. 4.16G). Estas estruturas
ocorrem em geral associadas, evidenciando diferentes graus de deformação de
areias saturadas, com comportamentos variando entre o estado hidroplástico, a
liquefação e a fluidização (Quadro 4.6).
Interpretação
Brechas intraclásticas, constituídas por fragmentos de arenitos com
laminação preservada, interestratificados com estratos cruzados normais de
foresets eólicos, são descritas por diversos autores (e.g. Bigarella, 1971; Doe &
Dot, op. cit.) e interpretadas como produzidas pelo colapso de blocos coesos de
areia úmida ao longo da face de avalanche de dunas ativas (Fig. 4.16C). A
identificação destes depósitos é indicativa de que a superfície das dunas tenha
experimentado períodos de relativa umidade, devida a chuvas, fog ou orvalho.
Este processo pressupõe a existência de uma interface ar-água, evidenciando
176

Tipos de deformações em estratos cruzados


- Preservação das laminações
Movimento relativo de grãos de mesmo
diâmetro durante deformação de 45 0 .

comportamento coesivo
"Sandflow"
Lâmina

dos sedimentos
Parabólica/Recumbente

Lâmina

Contorcida

Brechada/Falhada +

Posição relativa dos diferentes tipos de deformações

B D
A
G E
F

Figura 4.16 Tipos de deformação de estratos cruzados não litificados e suas


posições em relação a uma forma de leito hipotética. Produtos e processo: A.
"sandflow" - avalanche de areia seca sobre a face frontal da duna (processo
relacionado à migração da forma de leito); B. brecha arenosa - colapso de
blocos coesos de areia úmida sobre a face frontal da duna; C. falhas -
comportamento rígido de areia coesa, próximo à face frontal da duna; D. dobras
intraduna - falhas por deslizamento das porções superiores da duna; E. dobras
parabólicas - cizalhamento gerado pela passagem de fluxos aquosos sobre
estratos previamente depositados; F. laminações contorcidas na base da duna -
carga sedimentar produzida pelo avanço da duna; G. estratos cruzados
contorcidos, diápiro, acamadamento homogeneizado - liquefação/fluidização
pós-recobrimento, abaixo do nível freático. Adaptado de Doe & Dott (1980).

sua origem subaérea e indicando que o ambiente de acumulação eólica não


tenha sido permanentemente árido, mas com marcadas variações de umidade
superficial.
Falhas gravitacionais, com pequenos rejeitos (Fig. 4.16C), são atribuídas a
deslizamentos (“slides”) de porções mais úmidas e coesivas das faces frontais
das formas de leito. Tais feições se devem ao comportamento frágil da areia
177

saturada. Este processo ocorre preferencialmente próximo à superfície das


dunas, podendo também ocorrer em profundidade. Doe & Dott (op.cit.) apontam
vibrações sísmicas ou variações nas condições físicas, tais como grau de
saturação ou rápidas flutuações do nível freático como os principais mecanismos
disparadores destes falhamentos.
Embora as deformações discutidas acima possam ser relacionadas à
processos gravitacionais, a origem de deformações plásticas em estratos eólicos,
especialmente extensas faixas de dobramentos, é bem mais controvertida (cf.
Jones & Preston, 1987). Deformações produzidas por carga sedimentar são
comuns em ambientes subaquosos, com alta taxa de sedimentação de estratos
heterolíticos. Tais situações não são caraterísticas dominantes na Formação
Sanga do Cabral. Evidências de carga diferencial são registradas especialmente
na porção basal da unidade, onde os arenitos eólicos ocorrem sobrepostos ou
intercalados a depósitos pelíticos. Contudo, a partir do terço médio e
particularmente em direção ao topo do pacote eólico, a unidade é essencialmente
constituída por camadas de arenitos amalgamados, com raras intercalações de
lentes pelíticas. Neste intervalo, os estratos eólicos deformados ocorrem
recobertos por lentes de pelitos interdunares ou intercalados a depósitos
arenosos de dunas e interdunas indeformadas (Vol.II-FM1), o que sugere que o
processo de carga sedimentar diferencial não tenha sido o mecanismo dominante
na geração das deformações observadas. Dobras associadas a arenitos
homogeneizados e canais de fluidização (“pillars”) evidenciam a ação combinada
de processos de liquefação (ou comportamento hidroplástico) e migração vertical
de fluídos. Este último processo, como discutido anteriormente, exige fonte
externa de fluídos e maiores velocidades de escape, induzidos por esforços
externos. Igualmente, estratos cruzados verticalizados (“overturned”) ou camadas
complexa e extensamente dobradas ocorrem devido à saturação em água e
elevada pressão nos poros. Sob tais condições, areias finas e médias, com
porosidade acima de 40% (características comuns em dunas eólicas),
posicionadas abaixo do nível freático, tornam-se particularmente suscetíveis à
liquefação, induzida por carga sedimentar, ondas de tempestade, correntes
fluviais ou sismicidade (Allen & Banks,1972; Doe & Dot, 1980; Allen, 1982; Owen,
1987). No caso dos arenitos eólicos da Formação Sanga do Cabral os
mecanismos de ação de ondas e correntes aquosas são improváveis, devido à
178

ausência de registros, tanto de intercalações com depósitos marinhos quanto com


sedimentos fluviais sobrepostos aos estratos deformados. Considerados estes
argumentos, somados à extensão das áreas afetadas, as deformações aqui
descritas são tentativamente interpretadas como produzidas por esforços cíclicos
("cyclic liquefaction"; Allen, 1982), causados por abalos sísmicos, correspondendo
assim a sismitos, na denominação proposta por Seilacher (1984). Como será
discutido adiante, a coincidência entre as idades fósseis atribuídas à Formação
Sanga do Cabral (intervalo Tatariano-Eoscythiano; cf. Quadros 2.5 e 2.6) e os
registros de instabilidade tectônica do sudoeste gondwânico, relacionada à
Orogenia do Cabo/La Ventana, reforçam esta interpretação.

Sistema Deposicional
A partir do conjunto de observações descritos acima, o sistema eólico da
base da Formação Sanga do Cabral na borda sudeste da Bacia do Paraná é
interpretado como constituído dominantemente por campos de dunas transversais
barcanóides, simples e compostas, com alturas máximas em torno de 10m e
direções de transporte de espectro variável entre os quadrantes nordeste e
sudeste (Fig. 4.17).
A presença de depósitos de depressões e planícies de interdunas contendo
lentes pelíticas, arenitos bioturbados ou maciços, associados à laminações
corrugadas, somada às evidências de fluxos aquosos na forma de sheets e
canais de wadis, indica a ocorrência de períodos de umidade e afloramento do
nível freático, alternados às condições de aridez dominante, durante a migração
das dunas eólicas. Episódios de umidade superficial temporária sobre o campo de
dunas são reforçados pela ocorrência de brechas intraclásticas de colapso,
intercaladas ao foresets de dunas. Evidências adicionais da proximidade do nível
freático com a superfície deposicional são atestadas por deformações
penecontemporâneas de arenitos saturados, relacionadas a processos de
liquefação e fluidização, manifestados por dobramentos desarmônicos, camadas
homogêneas e estruturas de escape d'água. Tal conjunto de evidências permite
interpretar esta associação de fácies como pertencente a um sistema eólico
úmido, especialmente registrado na base da unidade, onde os depósitos de dunas
eólicas da Formação Sangra do Cabral ocorrem intercalados aos pelitos lacustres
da Formação Rio do Rasto.
179
180

4.2.1.1.2 Associação de Fácies Aluviais


As litofácies constituintes desta associação, predominante no topo da
Formação Sanga do Cabral, podem ser agrupadas nos seguintes elementos
arquiteturais (EA) de mais freqüente ocorrência:

EA1. Lençóis de arenitos laminados - "sand sheets" - (LS)


Este elemento é caracterizado pela geometria tabular das camadas e pela
associação de litofácies, constituída principalmente por arenitos avermelhados, de
muito finos a médios, difusamente laminados a maciços (Sm) ou contendo
laminação plano-paralela (Sh), eventualmente associados a cruzadas de muito
baixo ângulo (Sl). As camadas individuais são em geral centimétricas (média de 5
a 30 cm), com base e topo planos ou suavemente ondulados. Lineações de
partição são feições comuns sobre superfícies de acamadamento de estratos com
laminação plano-paralela. As camadas podem ser texturalmente homogêneas ou
apresentar tendência granodecrescente. Neste caso, o limite inferior é demarcado
por intraclastos milimétricos a centimétricos, dispostos em linhas ou
concentrações esparsas de conglomerados intraformacionais (Cgi), gradando
para arenitos laminados (Sh, Sl) ou com aspecto maciço (Sm) no topo (Fig. 4.18).
A superposição de estratos com estas características - homogêneos ou gradados
- constituem conjuntos de camadas amalgamadas que ocorrem com espessuras
variáveis (geralmente inferiores a 1m) e extensões laterais superiores a 50m, em
afloramentos individuais, freqüentemente associados à fácies de arenitos com
estratificações cruzadas (elemento SB). Afloramentos contíguos, com estas
dimensões, são comuns, sugerindo que a continuidade lateral das camadas
tabulares seja bastante superior às dimensões máximas observadas em
exposições pontuais (Vol.II-FM7 e 8).
Interpretação
Camadas de arenitos finos a médios, com laminações plano-paralelas e
"parting lineation" sobre os planos de acamadamento (litofácies Sh), são
características diagnósticas de transporte de areia por tração, por correntes
d'água, em regime de fluxo superior. Camadas planas, neste intervalo
granulométrico, são estáveis em fluxos de pequenas profundidades (0,25 a 50cm)
com velocidades em torno de 1m/s, embora possam ocorrer a mais baixa
velocidades, em fluxo mais rasos. Laminações planas, suavemente inclinadas,
181

St,Cgi (SB)

Sh,Sl

Sh, Sm (LS)

Sh (LS)

Sm,Sh

Cgi

Sh,Sm

Cgi
St,Sl (SB)
Sh,Sm (LS)

Figura 4.18 Aspecto geométrico e associações faciológicas


características dos depósitos aluviais da Formação Sanga do
Cabral (cf. Vol.II- FM7 e 8). (a,b) Superposição de camadas
tabulares de arenitos com laminações plano-paralelas (Sh), ou
cruzadas de muito baixo ângulo (Sl), associadas a arenitos
incipientemente laminados a maciços (Sm), com gradação normal,
litofácies constituintes do elemento LS (lençóis de arenitos
laminados). O elemento LS ocorre associado a estruturas de corte
e preenchimento e à formas de leito arenosas (SB), caracterizadas
por arenitos com estratificações cruzadas acanaladas (St) ou de
baixo ângulo (Sl), com intraclastos pelíticos dispersos ao longo dos
estratos ou concentrados na base dos foresets (cf. Fig. 4.21)
constituindo lentes centimétricas de conglomerados
intraformacionais (Cgi). Caracteristicamente, os conglomerados
intraformacionais (litofácies Cgi) são os portadores dos fragmentos
de vertebrados fósseis (anfíbios e répteis), relacionados a Zona de
Lystrosaurus da África do Sul, que asseguram idade Neopermiana-
Eotriássica à unidade (cf. Quadro 2.5, p.38).
Localização: (a) BR-158, Folha de Catuçaba; (b) BR-392, próximo
ao Arroio Arenal, sul da cidade de Santa Maria.
182

com mergulhos normalmente inferiores a 100 (Sl), são atribuídas a processo


similar, depositando areia sobre superfícies onduladas, ou preenchendo
depressões prévias. Os intraclastos dispersos na matriz arenosa são originados
pelo retrabalhamento de depósitos finos, previamente sedimentados, que são
incorporados ao fluxo de tração predominantemente arenoso ("traction carpet";
Miall,1996). Camadas gradadas de arenitos finos a muito finos, incipientemente
laminados ou maciços (Sm), com concentrações de intraclastos (Cgi) na base,
têm sua gênese relacionada à ação de fluxos com alto percentual de carga em
suspensão, ou hiperconcentrados, nos quais não ocorre a separação de fluxo e a
geração de estratos cruzados é inibida. A ocorrência associada de laminações
indistintas ou plano-paralelas definidas é atribuída ao eventual predomínio de
processos trativos, em regime de fluxo superior, enquanto a desaceleração
crescente do fluxo explica a gradação normal das camadas.
Depósitos com estas características são freqüentemente gerados por fluxos
efêmeros de alta energia ("flash floods"). Acumulações superiores a 1m de
espessura podem ser produzidas durante um único evento dinâmico, quando as
condições de fluxo se mantêm essencialmente constantes por períodos de muitas
horas (Miall, op. cit).

EA2. Formas de leito arenosas (SB)


Este elemento ocorre normalmente intercalado às fácies de arenitos
tabulares (LS) (Fig. 4.18; Vol.II-FM7 e 8). Constitui-se principalmente de arenitos
com estratificações cruzadas acanaladas (St), mais raramente planares (Sp), de
pequeno e médio portes, arranjadas em conjuntos superpostos ou como sets
isolados. Os arenitos finos a médios constituem a granulometria dominante,
sendo mais raras as ocorrências de arenitos grossos ou conglomeráticos.
Caracteristicamente, estas litofácies contêm abundantes intraclastos pelíticos e
arenosos de 1 a 3 cm, alinhados segundo as estratificações cruzadas ou
agrupados na base dos sets (cf. Fig. 4.18), formando acumulações
conglomeráticas (Cgi) centimétricas (cf. discussão a seguir, item EA5.1), nas
quais são freqüentemente encontrados fragmentos de vertebrados fósseis (répteis
e anfíbios), incluindo elementos da Zona de Lystrosaurus (Lavina, 1993;
Silva,1999), particularmente relevantes para a determinação da idade
Neopermiana/Eotriássica da Formação Sanga do Cabral (cf. Quadro 2.5).
183

As espessuras dos conjuntos de estratos cruzados são variáveis, em geral


inferiores a 1m, sendo a média situada entre 30 e 50cm.
Interpretação
Arenitos com estratificações cruzadas planares (Sp) ou tangenciais (St) são
produzidos pela migração de dunas 2D e 3D, respectivamente. Estas formas de
leito são geradas pelo transporte por tração de areia, em regime de fluxo inferior.
As acumulações de conglomerados intraformacionais na base dos estratos
cruzados registra o acúmulo de intraclastos - incluindo fragmentos de
vertebrados - nas depressões frontais das dunas subaquosas. As depressões
são geradas pela erosão provocada pela separação de fluxo e diferença de stress
que ocorre na base do lee side, onde os clastos, transportados por tração sobre o
stoss side, rolam sobre a face frontal das dunas e se depositam na forma de lags,
ou depósitos residuais, que são posteriormente recobertos pela migração
continuada das formas de leito. Intraclastos dispersos na matriz arenosa, ao longo
das estratificações cruzadas, são produtos do mesmo processo de transporte
que, interrompido por perda de energia, resulta na deposição dos clastos sobre as
faces de avalanche, preservando-os incorporados ao conjunto de estratos
cruzados. As litofácies constituintes do elemento SB, incluindo suas frações
conglomeráticas, são portanto interpretadas como relacionadas a transporte por
tração e migração de formas de leito de regime de fluxo inferior. Embora
conjuntos de estratos cruzados, nitidamente delimitados, possam corresponder a
fases de predomínio de regime do fluxo inferior, o registro freqüente da relação
vertical e lateral destas litofácies com depósitos de regime de fluxo superior
(elemento LS) indicam, respectivamente: (1) diminuição de energia nas fases
finais de episódios de inundação e (2) coexistência de fácies, refletindo oscilações
locais de velocidade e estrutura de fluxo, no interior da planície aluvial.

EA3. Canais (CH)


Registros de depósitos inequivocamente canalizados - com geometria
característica e limites bem definidos - são relativamente raros na sucessão
estudada, possivelmente devido a limitações das exposições. Os canais
identificados apresentam duas configurações geométricas distintas (Fig. 4.19). A
geometria de ocorrência mais comum (Fig4.19a,b) compreende corpos
delimitados por margens com inclinação suave, recortadas sobre arenitos
184
185

laminados (elemento LS) ou conjuntos de estratificações cruzadas (elemento SB).


A espessura dos depósitos é em geral inferior a 3m, com extensões laterais
superiores a 30m. As dimensões observadas coincidem com os parâmetros de
classificação estabelecidos por Friend et al. (1983) para canais com a forma de
“sheets”, geometria definida por razões largura/profundidade caracteristicamente
superiores a 15 (cf. Fig.4.1, p.141). Um segundo tipo de canais, mais raro,
corresponde a ribbons, delimitados por margens íngremes, com profundidades de
1 a 2 m e poucos metros de largura, que ocorrem encaixados em litofácies de LS
e LB (Fig. 4.19c). Os canais são preenchidos principalmente por arenitos finos e
médios, mais raramente grossos a conglomeráticos, laminados ou maciços
(Sh,Sm), ou organizados em conjuntos superpostos de estratificações cruzadas
acanaladas (St), de pequeno e médio porte, com intraclastos angulosos ou
grânulos e pequenos seixos de quartzo acumulados na base dos sets ou
alinhados ao longo dos planos dos estratos cruzados. Os canais preenchidos pela
litofácies St são caracterizados pela repetição vertical de estruturas de corte e
preenchimento, manifestadas por ciclos granodecrescentes. No conjunto,
independentemente do aspecto geométrico, as litofácies de preenchimento dos
canais apresentam marcante similaridade textural com as litofácies encaixantes.
Interpretação
A superposição de arenitos com estratos cruzados, como litofácies
dominantes dos depósitos de canal, indicam que o preenchimento tenha ocorrido
pela acresção vertical de formas de leito 2D e 3D, a partir de carga transportada
por tração, em regime de fluxo inferior. As feições de corte e preenchimento
registram a ocorrência de sucessivos episódios de erosão, possivelmente devido
a variações de descarga e intensa mobilidade lateral das formas de leito no
interior dos canais. A geometria em sheets é explicada pela instabilidade do
substrato arenoso, fator que inibe a incisão de canais profundos e o
desenvolvimento de margens íngremes, resultando em canais rasos e largos. A
incisão destes canais é interpretada como relacionada à variações episódicas de
descarga e suprimento, associadas à oscilações de níveis de base locais.
Por outro lado, é possível que os canais com a forma de ribbons, por sua
configuração geométrica e contexto faciológico, possam corresponder ao
elemento HO (“hollows”), descrito por Miall (1996). Esta interpretação é, contudo,
186

apenas especulativa, uma vez que a geometria precisa deste corpos é


desconhecida, devido ausência de exposições tridimensionais.
Em termos gerais, as altas razões largura/profundidade freqüentemente
observadas sugerem que, embora os fluxos canalizados possam constituir
parcela significativa do sistema aluvial, a inferência destas proporções é de difícil
estabelecimento, uma vez que suas dimensões tenderiam a extrapolar a escala
de afloramento, o que explicaria a relativa raridade dos canais identificados.

EA4. Lobos de suspensão (LB)


Correspondem à camadas lenticulares ou sigmoidais de arenitos finos,
muito finos a sílticos, homogêneos a maciços (Sm) ou apresentando climbing
ripples (Sr), associadas a raras e mal definidas estratificações cruzadas (Sh). As
lentes têm espessuras médias entre 50cm e 1m, podendo ocorrer amalgamadas
ou separadas por camadas centimétricas de pelitos laminados (Fl), em conjuntos
com espessuras superiores a 2m (Fig. 4.20; Vol. II-FM9). Os arenitos podem
incluir intraclastos pelíticos milimétricos dispersos na matriz. As camadas de
arenitos homogêneos tem base plana ou onduladas, sem evidências de erosão,
ocorrendo geralmente conformadas sobre a paleotopografia das camadas
subjacentes ou, por vezes, apresentando marcas de carga, deformando os pelitos
sotopostos. As exposições destas litofácies são localizadas, como no caso da RS-
241, nas proximidades da cidade de São Vicente do Sul, onde ocorrem
associadas aos elementos LS e SB, dominantes na região.
Interpretação
Camadas de arenitos homogêneos ou contendo climbing ripples (Fig.
4.20b,c) tem sua origem relacionada a desaceleração rápida de fluxos fluídos com
alta carga de suspensão. A presença de ripples cavalgantes críticas e
supercríticas, indicando a coexistência de processos de tração e suspensão
associados, reforça esta interpretação. Por suas vez, arenitos homogeneizados,
sem estruturas primárias, podem estar indicando deposição rápida,
imediatamente seguida de liquefação, processo pelo qual a pressão nos poros é
aumentada, produzindo separação e ligeira rotação individual dos grãos, durante
as fases finais de sedimentação, apagando as estruturas preexistentes. Os
vestígios de estratificações cruzadas indicam predomínios temporários de
processos trativos, e progradação de formas de leito em regime de fluxo inferior.
187

b
Sr (Sm, St)

Fm, Fl

Sr (Sm, Sl)

Sr

Figura 4.20 Principais características das litofácies constituintes do elemento de lobos de


suspensão (LB). (a) Aspecto geral das exposições, mostrando camadas com geometria lenticular
ou sigmoidal, amalgamadas ou separadas por delgadas acumulações pelíticas; (b) detalhe das
camadas de arenitos finos-sílticos, maciços (Sm) a incipientemente estratificados (St, Sl) ou
contendo climbing ripples (Sr), separadas por camadas descontínuas de pelitos maciços (Fm) ou
laminados (Fl). Notar a base plana das camadas de arenitos, sem evidências de erosão sobre os
depósitos finos, que por vezes recobrem parcialmente as camadas arenosas, na forma de drapes
pelíticos, evidenciando a coexistência de ambos os tipos de depósitos; (c) detalhe das camadas
arenosas, ilustrando a freqüente presença de climbing ripples (Sr) como estrutura primária
dominante, feição que indica que a deposição ocorreu a partir da rápida desaceleração de fluxos
de carga mista - tração e suspensão - em regime de fluxo inferior.
188

A morfologia dos depósitos sugere o preenchimento de depressões ou pequenos


lagos residuais, rasos e temporários (“ponds”), retidos no interior da planície
aluvial, durante as fases finais das inundações. Nestas condições de diminuição
de energia, a carga mista remanescente no sistema, transportada por tração-
suspensão, é depositada como deltas de pequenas dimensões, dando origem às
camadas lenticulares ou sigmoidais (cf. Della Fávera, 1984), que caraterizam o
elemento LB.

EA5. Litofácies subordinadas


EA5.1 Acumulações de conglomerados intraformacionais (Cgi) e
formas de leito conglomeráticas (GB)
As acumulações conglomeráticas da Formação Sanga do Cabral, são
principalmente constituídas por intraclastos (Cgi), ocorrendo na forma de
depósitos residuais relacionadas à migração de formas de leito (cf. item EA2) ou
preenchendo pequenas depressões geradas por processos erosivos (Fig. 4.21c).
De ocorrência bastante localizada, um terceiro tipo de acumulações
rudíticas é representado por lentes alongadas, de 10 a 30cm de espessura e
extensões laterais variáveis, podendo atingir mais de 5m. Estas lentes –
relevantes por seu já mencionado conteúdo fossilífero - ocorrem minoritariamente
associadas aos elementos LS e, principalmente, SB (cf. item EA2), constituindo,
normalmente, a base de ciclos granodecrescentes, encerrados por arenitos
conglomeráticos com estratificações cruzadas tangenciais (St) no topo (Fig.
4.21d). As lentes têm base plana ou ondulada e topo convexo e são compostas,
principalmente, por conglomerados intraformacionais (Cgi). Acumulações de
ortoconglomerados polimíticos ou concentrações pontuais de extraclastos são
raras, ocorrendo apenas em alguns poucos locais, situados próximos à
exposições do embasamento, particularmente no setor oeste da faixa de
afloramentos da unidade (p.e. exposições a sul de Rio Pardo). As camadas
lenticulares de conglomerados intraformacionais (GB) apresentam arcabouço
clasto-suportado, composto por fragmentos pelíticos e arenosos angulosos, com
diâmetros médios entre 1 e 3cm, geralmente maciços (Gm) a incipientemente
estratificados (Gh), eventualmente imbricados, circundados por matriz arenosa de
granulometria variável, de fina a muito grossa.
189

Interpretação
Depósitos conglomeráticos, clasto-suportados, são gerados pela ação de
fluxos aquosos, turbulentos, de baixa concentração, nos quais os clastos são
transportados e depositados por tração, com muito pouca suspensão associada.
As variações texturais e estruturas dos depósitos, refletem a variabilidade das
condições do fluxo e da taxa de transporte. Os clastos maiores tendem a ser
transportados durante pulsos de maior energia, sendo inicialmente depositados
como lags clasto-suportados, com empacotamento aberto. Os clastos mais finos e
a matriz arenosa são posteriormente infiltrados nos espaços vazios do arcabouço,
durante as fases de diminuição da velocidade do fluxo. Mantido o suprimento, e
dependendo da velocidade do fluxo, estas acumulações iniciais podem evoluir por
acresção vertical ou longitudinal. A relação entre estes dois componentes definirá
a estruturação final do depósito. Em condições de rápido transporte, o acúmulo de
clastos tenderá a se alongar na direção do fluxo, inibindo a acresção vertical e o
desenvolvimento de faces de avalanche, cuja migração dará origem à
estratificações cruzadas. Nestas condições o depósito resultante terá a forma de
sheet, com baixo relevo, maciços (Gm) ou com incipientes estratificações planas
(Gh) a suavemente inclinadas na direção do fluxo. Estas formas têm sido,
classificadas, classicamente como “barras longitudinais” (e.g. Hein &
Walker,1977), em oposição às “barras transversais”, geradas por agradação
vertical, em velocidades mais baixas, resultando no desenvolvimento de foresets
conglomeráticos que as diferencia. Contudo, mais recentemente, o termo “barra”
é exclusivamente utilizado para macroformas, constituídas pela superposição de
mesoformas amalgamadas (Miall, 1996). Por suas dimensões e características
internas as lentes aqui descritas correspondem a unidades deposicionais da
hierarquia das mesoformas, ou “formas de leito conglomeráticas” (GB), na
terminologia de Miall (op. cit.).
A ocorrência destes depósitos em associação direta com litofácies de SB (e LS)
predominantes é atribuída à variações de suprimento e condições de fluxo atuantes na planície
aluvial. Episódios de alta energia e de maior aporte de clastos grosseiros, principalmente a partir
da erosão e resedimentação de litofácies pelíticas, favorece o desenvolvimento de mesoformas
conglomeráticas e eventual concentração de fragmentos de vertebrados fósseis. Estas
acumulações constituem núcleos rudíticos iniciais sobre os quais se estabelecem estratos
190

b
LS

SB

LS

Cgi
LS
191

c
Sm

Cgi

Cgi

Sh

Sh St

Cgi, Sp
SB(GB) Gm
Sh

Figura 4.21 Principais tipos de acumulações conglomeráticas e sua associação subordinada às


litofácies constituintes dos elementos LS e SB dominantes (a,b). (c) Detalhe (indicado em a e b)
destacando depósito de conglomerado intraformacional (Cgi), clasto-suportado, preenchendo
espaço produzido por erosão sobre arenitos laminados (Sh); (d) lentes de arenitos
conglomeráticos e conglomerados intraformacionais
192

cruzados areno-conglomeráticas, produzidos pela migração de formas de leitos


2D e 3D, em regime de fluxo inferior.

EA5.2. Depósitos finos de planícies de inundação (FF)


Depósitos finos, relacionáveis a acumulações lacustres ou de “overbank”,
são as fácies de menor expressão na Formação Sanga do Cabral. As litofácies
genericamente reunidas sob a denominação de depósitos finos de planície de
inundação (FF), podem ser diferenciadas em dois estilos deposicionais distintos, a
partir dos seguintes atributos: um primeiro tipo de depósito é constituído por
intercalações de camadas tabulares, com espessuras de milímetros a poucos
centímetros, de siltitos-arenitos muito finos e pelitos laminados (Fl), apresentando
um intervalo definido de deformações convolutas, delimitado inferior e
superiormente por conjuntos de camadas indeformadas (Fig. 4.22a,b); o segundo
tipo é composto por camadas tabulares, centimétricas, de arenitos médios e finos,
maciços ou com laminação plano-paralela (Sh) incipiente, intercalados a pelitos
laminados (Fl) ou maciços com gretas de contração (Fsm, Fm), da ordem de
centímetros, preenchidas por arenitos médios (Fig. 4.22c). Estes depósitos são
aqui tratados conjuntamente por serem reconhecidos em áreas bastante restritas,
em dois pontos principais: ao longo da BR-287, nas proximidades da cidade de
Jaguari e na cidade de Cachoeira do Sul, junto à BR-153, respectivamente.
Interpretação
Os ritmitos areno-pelíticos são interpretados como depósitos subaquosos,
produzidos pela alternância de transporte de areia muito fina por tração e
decantação de finos em suspensão, ocorridas em pequenos lagos ou áreas
deprimidas no interior da planície aluvial, temporariamente protegidas da ação de
fluxos ativos, de mais alta energia. As deformações convolutas, são geradas por
carga diferencial, em condições de liquefação. Diversos autores atribuem tais
deformações à atividade sísmica (cf. Rosseti, 1999), mecanismo também
sugerido como gerador das deformações observadas nas fácies eólicas da
Formação Sanga do Cabral (cf. discussão na pg. 170 e Quadro 4.6).
A segunda associação, contendo camadas pelíticas, com gretas de
contração e evidências de pedogênese incipiente, correspondem a porções
preservadas de áreas de extra-canais, que se comportaram como planícies de
inundação. A reduzida expressão dos depósitos finos, em relação ao amplo
193

a Fl
b

Fl

b
Fl

Fl

Sh
Fm

Fsm, Sm

Fm, Fr

Sh

Figura 4.22 Depósitos finos de inundação (FF), compreendendo litofácies de ocorrência bastante
localizada no contexto da Formação Sanga do Cabral. (a) Intercalação de camadas milimétricas e
contínuas de siltitos-arenitos muito finos com pelitos laminados (Fl), contendo horizonte bem
definido de deformações convolutas (b), possíveis indicadoras de paleosismicidade (cf. discussão
no texto); (c) intercalação de arenitos laminados (Sh) e maciços (Sm) com depósitos pelíticos,
maciços e com gretas de contração (Fm), associados a níveis com raízes (Fr), evidenciando
exposição subaérea e incipiente desenvolvimento de processos pedogenéticos.
194

predomínio das litofácies arenosas (LS e SB), indicam intenso retrabalhamento


da planície aluvial, conferindo baixo potencial de preservação às fácies de menor
energia, o que explicaria sua ocorrência apenas em pontos localizados, ao longo
da faixa de afloramentos da unidade. A migração lateral dos fluxos canalizados e
das formas de leito, devidas à variações de descarga do sistema aluvial,
promoveriam a erosão dos depósitos finos na forma de intraclastos que,
incorporados à carga trativa, seriam resedimentados como concentrações
rudíticas (Cgi ou GB) ou clastos dispersos em matriz arenosa (LS, SB).

Sistema Deposicional
Os depósitos aluviais da Formação Sanga do Cabral são constituídos
predominantemente por fácies arenosas, com ampla dominância de estruturas
sedimentares que evidenciam transporte e deposição por tração, a partir de fluxos
aquosos desconfinados e eventualmente canalizados. Estes processos resultam
na freqüente ocorrência de camadas planas, constituídas por litofácies
representativas dos elementos LS e SB. Evidências de fluxos confinados,
embora relativamente raras em escala de afloramento, são representadas por
canais rasos e largos, com margens de inclinação suave (sheets), que incidem
sobre depósitos aluviais e são preenchidos por arenitos laminados, pela
superposição de formas de leito 2D e 3D ou pela combinação destas litofácies.
Esta associação, somada à pequena expressão de depósitos finos,
correlacionáveis a planícies de inundação, é genericamente compatível com os
modelos de sistemas fluviais arenosos de canais entrelaçados (“sandy braided
rivers” ou “sand-dominated, low-sinuosity rivers”; ), descritos na literatura 1 .
Embora esta abordagem preliminar aponte similaridades de processos e
produtos com modelos fluviais "clássicos" (Tabela 4.1), a ampla distribuição
areal, a relativa homogeneidade faciológica e os padrões de paleotransporte dos
depósitos aluviais da Formação Sanga do Cabral (Fig. 4.23), ensejam uma
segunda discussão, relativa aos conceitos de "braided rivers" e "braidplains",
conforme distinção proposta por Rust & Koester (1984).

1
Os modelos básicos de sistemas fluviais arenosos de canais entrelaçados foram originalmente estabelecidos com base
no estudo de rios atuais, sumarizados em Miall (1985), que passaram a ser reconhecidos no registro geológico, servindo
como referência para análise de sistemas antigos: “Platte River” (Miall, 1977; Smith & Smith,1984); South “Saskatchewan
River” (Cant & Walker, 1976;1978; Cant, 1978) e “Bijou Creek” (McKee et al., 1967; Rust, 1978; Miall & Gibling, 1978). As
características destes modelos e dos estilos “low sinuosity braided” (McCabe, 1977; Crowley, 1983; Bridge et al., 1986),
“high-energy sand-bed braided” (Cowan, 1991; Miall, 1996) e “sheetflood distal braided” (Rust & Nanson,1989)) são
discutidas em profundidade em Miall (1996), sendo suas principais características sintetizadas na Tabela 4.1.
Principais estilos arquiteturais de sistemas fluviais arenosos com canais de baixa sinuosidade
Sedimento Elementos
Estilo Sinuosidade Características gerais
dominante característicos
Low sinuosity Baixa Areia DA-LA, SB, FF Estilo intermediário entre os padrões braided e meandrante. O elemento mais caraterístico é
braided-meandering rivers a "alternate bar", macroforma análoga às "point bars" mas diferenciada pelo migração através
("alternate bars" ) de acresção obliqua ou frontal e não apenas perpendicular ao fluxo (elemento LA), típica das
barras em pontal.
Shallow Baixa Areia SB A arquitetura dos depósitos é tipicamente representada por extensas camadas tabulares de
perennial, sand-bed a (FF) arenitos, constituídas pela superposição de formas de leito de regime de fluxo inferior (dunas
braided rivers intermediária 2D ou 3D), resultando no predomínio do elemento SB. Correspondem a campos de amplas
"Platte type" formas de leito de topo plano ("linguoid bars"), construídas principalmente por estratificações
cruzadas planares (Sp) ou acanaladas (St), limitadas por superfícies subparalelas, que
tendem a ocupar a toda a extensão lateral dos canais, durante os períodos de alta descarga.
Deep Baixa Areia, DA, LA, SB (FF) A feição mais distintiva deste estilo fluvial é a presença de macroformas (barras compostas,
perennial, sand-bed a finos "sandflats", "sand shoals"), construídas por acresção frontal (DA), lateral (LA) ou ambas,
braided rivers intermediária subordinados desenvolvidas em pontos diferentes da mesma barra. Os canais são perenes, com
"S. Saskatchewan type" acentuadas diferenças de topografia entre o leito do canal, as barras e topo das
macroformas, resultando em associações faciológicas complexas e diversificadas. A
geometria acrescional das macroformas, em oposição às camadas tabulares características
dos "shallow braided rivers" , é o principal critério de distinção entre os dois estilos.
High-Energy Baixa Areia, DA,SB, HO Estilo diagnosticado pela presença do elemento "hollow" (HO), com forma de canais ou
sand-bed braided rivers a finos (FF) depressões elípticas de fundo côncavo, preenchidas por arenitos com laminação plano-
intermediária subordinados paralela (Sh) ou de baixo ângulo (Sl) depositadas sobre as superfícies inclinadas que limitam
a cavidade. Feição formada pela ação erosiva de vórtices espirais durante eventos de
inundação de alta energia, por escavamento em regiões de confluência de canais ou por
convergência do fluxo em áreas de coalescência de macroformas.
Distal Sheetflood Baixa Areia, SB Sedimentação dominada por lençóis, lentes e cunhas de arenitos, constituídos pela
sand-bed braided rivers finos (FF) superposição de formas de leito, representadas pelas diversidade de litofácies (St, Sp, Sh)
subordinados que tipificam o elemento SB, predominante neste sistemas. Deposição característica de
"braidplains" distais, especialmente em regiões áridas, gerada pela ação de fluxos efêmeros
sobre amplas áreas, formando uma rede de canais rasos, entrelaçados e pouco definidos.
Depósitos finos raros ou ausentes.
Flashy, Baixa Areia, LS Depósitos dominados pelo elemento LS: sheets de arenitos com laminação plano-paralela
ephemeral sheetflood finos (FF) (Sh) e cruzadas de muito baixo ângulo (Sl), produzidos em regime de fluxo transicional a
sand-bed braided rivers subordinados superior, por descargas episódicas de alta velocidade e alta energia, que durante o pico de
"Bijou Creek type" inundação ocupam amplas áreas, dominadas por fluxos desconfinados. Durante as fases
finais de inundação ("wanning flow stage") os sheets são recortados, em regime de fluxo
inferior, originando formas de leito 2D e 3D (Sp,St). Os canais são pobremente definidos ou
ausentes. Os depósitos finos são raros.
Tabela 4.1 Estilos fluviais arenosos braided e suas feições diagnósticas( adaptado de Miall,1996). Em cinza, maiores similaridades observadas na Fm. Sanga do Cabral.
195
196
197

Em geral, os modelos de fácies para sistemas entrelaçados, tanto


modernos quanto antigos, vinculam geneticamente estes depósitos à coexistência
de leques aluviais alimentadores. Contudo, leques aluviais têm morfologia
característica de semi-cones, com rápidas mudanças de fácies e diminuição de
granulometria, segundo padrões radiais de transporte que se estendem por
menos de 10km, a partir de uma fonte única de suprimento, contendo comumente
depósitos de debris flows (Rust & Gibling,1989). Nenhuma destas caraterísticas é
observada na seção preservada da Formação Sanga do Cabral. A proximidade do
embasamento e a regularidade textural e faciológica observadas sugerem que o
suprimento sedimentar provinha da erosão de áreas amplas, e não através de
condutos preferenciais, que induziriam o fracionamento da carga e a dispersão
radial dos sedimentos, não havendo portanto evidências objetivas da contribuição
de leques aluviais na sedimentação.
De outro lado, braided rivers e braidplains são caracterizados por
mudanças granulométricas e faciológicas graduais e por um padrão de dispersão
sedimentar essencialmente paralelo, segundo superfícies sub-planares que se
estendem por dezenas a centenas de quilômetros. De acordo com Rust &
Koester e Rust & Gibling (op. cit.), as planícies de canais entrelaçados
(braidplains) diferenciam-se dos rios entrelaçados (braided rivers) por não
apresentarem evidências de confinamento em vales ou canais bem definidos,
embora o interior da planície possa abrigar fluxos ativos, temporariamente
confinados, que recortam os próprios depósitos aluviais. A arquitetura resultante
desta configuração tende a apresentar um predomínio de sheets, com relativa
homogeneidade faciológica e pequena dispersão de paleocorrentes, ocupando
extensas áreas, da ordem de dezenas a centenas de quilômetros. Em termos
gerais, os depósitos aluviais da Formação Sanga do Cabral coincidem com as
característica descritas acima: ampla distribuição, homogeneidade textural e
faciológica e relativa consistência nas direções de paleocorrentes 1 .

1
Os padrões de paleocorrentes da Formação Sanga do Cabral (Fig. 4.23) indicam transporte dominante para N-NE,
indicando que o depocentro da bacia, ao final do Permiano - início do Triássico, esteve posicionado a norte da faixa
aflorante, em coerência com os mapas de isópacas disponíveis para este intervalo (Milani et al., 1998). As direções
discrepantes, para sul, obtidas no setor oeste do Estado (cf. Faccini, 1989), sugerem tratar-se de um sistema distinto,
preliminarmente individualizado por Lavina & Scherer (1997) e Scherer & Lavina (1997), sob a denominação de
"Aloformação Guará". Esta nova unidade, a ser brevemente formalizada pelos autores, tem idade preliminarmente
atribuída ao Neojurássico, sendo aqui apenas mencionada, por ocorrer fora da área geográfica de enfoque principal deste
estudo.
198

Com base nestes elementos, as fácies aluviais da unidade são


genericamente interpretadas como representantes de uma extensa planície
arenosa entrelaçada ("braidplain"), caracterizada por litofácies produzidas por
inundações episódicas ou sheetfloods, que recobrem amplamente a planície
durante as fases de inundação, retrabalhando os depósitos aluviais prévios e
formando camadas planas, com laminações horizontalizadas (Sh, Sl), de regime
de fluxo superior, que caracterizam o elemento LS. Estas litofácies, indicadoras
de fluxos desconfinados, sugerem que, ao menos parcialmente, os depósitos
aluviais da Formação Sanga do Cabral sejam comparáveis à sistemas do tipo
"Bijou Creek" (cf. Tabela 4.1; Lavina, 1984). Por sua vez, o elemento SB constitui
a principal associação de litofácies de braidplains distais, caraterizadas por uma
rede de canais entrelaçados, rasos e pouco definidos, gerados por fluxos
efêmeros, de alta energia, que ocupam toda a planícies, durante a inundação
("sheetfloods"). Nas fases finais, a redução de energia do fluxo ("wanning flow
stage") possibilita o desenvolvimento de formas de leito, dando origem às
litofácies típicas de regime de fluxo inferior (St,Sp,Sr). Os depósitos canalizados
(CH), sem registro de preenchimento por macroformas (DA ou LA), são
interpretados com devidos à redução do nível d'água, após o pico de inundação,
com conseqüente incisão e confinamento do fluxo em canais preferenciais. Nas
fases finais, a carga mista de tração e suspensão é depositada por
desaceleração, como crevasses distais ou deltas de pequenas dimensões (LB),
que progradam sobre lagos efêmeros remanescentes na planície. Os depósitos
finos (FF) são transportados em suspensão e depositados em áreas alagadiças,
gerando litofácies compatíveis a depósitos de planície de inundação.
A dominância deste conjunto de litofácies, no topo da Formação Sanga do
Cabral, indica uma significativa mudança de padrão climático ocorrida durante o
desenvolvimento da unidade. As condições de maior aridez, demonstradas pela
deposição das fácies eólicas subjacentes, são substituídas por feições indicativas
de períodos de maior umidade no sistema, que passa a suportar uma biota
integrada por répteis e anfíbios, registrada pelos fragmentos ósseos encontrados
associados às fácies de conglomerados intraformacionais.
199

4.2.2 A Formação Santa Maria


Características Gerais
A Formação Santa Maria é, certamente, a unidade litoestratigráfica mais
citada na literatura geocientífica referente ao Triássico brasileiro, por seu
volumoso e variado conteúdo fossilífero, conhecido e estudado desde os
primórdios do século passado. Restrita ao Estado do Rio Grande do Sul, esta
unidade ocorre segundo uma faixa de aproximadamente 250km de extensão,
alongada no sentido leste-oeste, entre os município de Mata a Montenegro, com
extensões variáveis - máximo de cerca de 20km - no sentido norte-sul (Fig. 4.24).
Os limites leste e oeste da unidade são demarcados por dois sistemas de
falhamentos reativados: a oeste, pelo "Sistema de Falhamentos Jaguari-Mata"
(SFJM), e a leste pela "Zona de Cisalhamento Transcorrente Dorsal de Canguçu"
(ZCTDC; cf. Fernandes et al., 1993; 1995) (cf. Fig. 4.33 e Vol.lI-MB).
Litoestratigraficamente, a Formação Santa Maria corresponde à porção
intermediária do Grupo Rosário do Sul, posicionada entre as Formações Sanga
do Cabral e Caturrita (Quadro 4.7).
Grupo

Bento

Formação Serra Geral


São

JURO-
CRETÁCEO
Formação Botucatu

Formação Caturrita
Grupo Rosário do Sul

Santa Maria

Membro Alemoa
Formação

TRIÁSSICO

Membro Passo das Tropas

Formação Sanga do Cabral

PERMIANO Grupo Passa Dois


Quadro 4.7 Litoestratigrafia do intervalo Neopermiano-Eocretáceo da Bacia do Paraná
no Rio Grande do Sul, destacando a posição estratigráfica da Formação Santa Maria
no contexto do Grupo Rosário do Sul, conforme definido por Andreis, Bossi &
Montardo, 1980, a partir da organização original proposta por Bortoluzzi, 1974. Conferir
Capítulo 2, item 2.2, para maiores detalhes sobre a evolução dos conceitos
litoestratigráficos.
200

580 560 540 520 500

Bacia do Paraná
56o
Sa
nta
Ca
V V V V V V tar
0o i na
BRASIL V V V V V V V V V V V

280 V V V V V V V V V V V V V V
280

30o
Rio Grande do Sul
Porto Alegre V V V V V V V V V V V V V V V V
A
IN
NT

V V V V V V V V V V V V V V V V V V
GE

V V V V V V V V V V V V V V V V V
AR

V V V V V V Santa
V V V V V V V V V V V
ai

Maria
u gu
Ur

V
V V V V
o
Ri

Uruguaiana
300 V V V V V 300
Rosário Porto Alegre
do Sul
V V V V V V

V V V V V V
Santana

s
da Boa Vista

to

O
Pa
Livramento

IC
V V V V V V

T
s
do

N

na

AT
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V V V V V V

La

O
N
Tacuarembó

A
V V V V V

E
Ag eguá

C
URUGUAI Vichadero

O
Ansina
320 V V V V V V
320

Melo
V V V V V V 0 50 100 200 km

V V V V V V

V V V V T reinta y Tres
Legenda:
Vulcanitos das formações
V V V
Serra Geral e Arapey (Uruguai)
V V
Formação Santa Maria
V
Unidades sedimentares
gondwânicas, indiferenciadas
BUENOS AIRES
Embasamento pré-gondwânico e
coberturas indiferenciadas
MONTEVIDEO
580 560 540 520 500

Figura 4.24 Mapa esquemático da sucessão gondwânica (Permiano-Eocretáceo) na borda


sudeste da Bacia do Paraná (Brasil-Uruguai), destacando a faixa de exposição da Formação Santa
Maria (Meso-Neotriássico) restrita à região central Estado do Rio Grande do Sul (cf. Vol. II-MB).

Formalmente definida por Bortoluzzi, em 1974 (cf. item 2.2, p.17), a


unidade tem como área tipo a própria cidade de Santa Maria-RS (290 40’-290
45’S; 53045’- 530 50”W), e sua seção tipo localizada ao longo da BR-153, a partir
de Santa Maria, em direção à cidade de São Sepé.
Em sua seção tipo, a Formação Santa Maria, conforme definida por
Bortoluzzi (op. cit.), totaliza 80m de espessura, sendo dividida em dois membros,
201

da base para o topo: (1) Membro Passo das Tropas, predominantemente arenoso
(cerca de 70-80%), com camadas pelíticas subordinadas, portadoras de
elementos da Flora de Dicroidium, totalizando a espessura de 25-30m e (2)
Membro Alemoa, constituído por siltitos argilosos, vermelhos, com níveis de
paleosolos e portadores de vertebrados fósseis, com espessura de 50-55m.
As espessuras são bastante variáveis, ao longo da faixa de exposição,. As
máximas registradas chegam a 90-100m, sendo predominantes (60- 65%) as
fácies pelíticas correspondentes ao Membro Alemoa, cujas espessuras variam de
20 a 55m. As fácies arenosas do Membro Passo das Tropas - que constituem o
principal aqüífero da região central do Estado - afloram de forma mais
descontínua, com espessuras de 30 a 45m, compondo o restante da coluna.
O contato inferior da Formação Santa Maria é demarcado por uma
superfície erosional, que coincide com a incisão dos arenitos fluviais do Membro
Passo das Tropas sobre as fácies aluviais da Formação Sanga do Cabral. Esta
superfície corresponde a uma desconformidade regional, com hiato deposicional
paleontologicamente determinado (Faccini, 1989; Schultz, 1995; 1998, Quadro
4.8). As relações de contato superior são variáveis, ao longo da faixa de
afloramentos. Em geral, os pelitos vermelhos do topo de Membro Alemoa
interdigitam-se com arenitos lenticulares da base da Formação Caturrita,
caracterizando um contato gradacional com esta unidade litoestratigráfica. Em
alguns pontos, o Membro Alemoa é delimitado por superfícies de erosão,
significativas de omissão de registro estratigráfico, envolvendo extensões
temporais variáveis, sendo recoberto ora pelos “arenitos Mata”, portadores de
troncos silicificados e atribuídos ao Neotriássico (Rético), ora pelos arenitos
eólicos da Formação Botucatu, de idade Eocretacea (Faccini et al.1989;
Scherer,1998).
A idade da Formação Santa Maria (sensu Bortoluzzi, op. cit.) é
determinada com base em seu abundante conteúdo fossilífero, que inclui
fragmentos de plantas (cf. Guerra-Sommer et al., 1997) e, especialmente, sua rica
assembléia de vertebrados fósseis (Barberena, 1977; Barberena et al.
1985a,b;1991;1993; Schultz et al., op.cit.), que situam a unidade no Meso-
Neotriássico, intervalo Ladiniano-Eonoriano (Quadro 4.8; cf. também Quadro 2.5,
p.38).
202

Associações de Macrofósseis do Triássico do Rio Grande do Sul


(adaptado de Schultz, 1995)

Associação Unidade
Época
Tempo Estágio Ele mentos Constituintes
(Ma) Fossilífera Litoestratigráfica
2 05 .7

arenitos
RHAET ICO Associação 8 Flora de Coníferas Mata
209.6
210

Formação
215 NO RIANO
Caturrita
Superior

Dicinodonte Jachaleria (exclusivo deste intervalo)


Associação 7

Grupo Rosário do Sul


+ dentes de dinossauro (indeterminado)
220
220.7
TRIÁSSICO

Rincossauro (Scaphonix fischeri sulcognathus)


Associação 6 + cinodonte (Exaeretodon) + tecodonte (Pterochampsa)
exclusivos deste intervalo ?
CARNIANO Rincossauros (Scaphonix fischeri + Hyperodapedon)
225
Associação 5 + cinodontes (diferentes da Associação 3) + tecodontes
+ dinossauro (Staurikosaurus); sem dicinonontes

227.4 Associação 4 Flora Dicroidium + restos de peixes

230
LADINIANO
Dicinodontes (Dinodontossaurus + outros)
Associação 3
+ cinodontes + tecodontes; sem rincossauros
Formação
Santa Maria
Médio

234.3 Rincossauro primitivo ("Rincosauro de Mariante")


235 Associação 2 + dicinodonte (indeterminado)
Membros
ANISIANO
Alemoa
e
Passo das
240 Tropas
241.7
SCYTHIANO

O LENEKIANO
Inferior

245 244.8
Formação
INDUANO
Associação 1 Procolophon + anfíbios Sanga
do Cabral
24 8.2

Quadro 4.8 Posicionamento estratigráfico e idade da Formação Santa Maria, de acordo com as
associações de macrofósseis identificadas por Schultz,1995 (quadro adaptado do original), para as
unidades litoestratigráficas que compõem o Triássico do Rio Grande do Sul, conforme nomenclatura
formalizada por Andreis, Bossi & Montardo, 1980 (cf. Quadro 4.7). A Associação 8 refere-se aos
"arenitos Mata" (unidade informal individualizada por Faccini, 1989), que correspondem aos depósitos
fluviais do topo da Fm. Caturrita, que ocorrem entre as cidades de Faxinal do Soturno e Mata, portadores
de significativas acumulações de madeira silicificada. Tabela de tempo geológico segundo Ross, Baud &
Menning, 1994.

4.2.2.1 Membro Passo das Tropas: litofácies e elementos arquiteturais

4.2.2.1.1 Associação de Fácies Fluviais

EA1. Depósitos de canal (CH)


O Membro Passo das Tropas, unidade basal da Formação Santa Maria, é
constituído essencialmente por depósitos de preenchimento de canais fluviais
(Fig. 4.25), com contribuição subordinada de litofácies finas, de planície de
203

S N

a
SE NW

(CH)
Mb. Passo das Tropas

Fm. Sanga do Cabral

SE NW

(CH)
Mb. Passo das Tropas

Fm. Sanga do Cabral

c d
Figura 4.25 Contato erosivo das fácies areno-conglomeráticas de canais
fluviais (CH) do Membro Passo das Tropas - unidade basal da Fm. Santa
Maria - sobre arenitos finos, avermelhados, fluviais, da Fm. Sanga do
Cabral. Localização dos afloramentos: (a) BR-158, a norte de Cachoeira
do Sul (290 46,11’S; 520 25,25’W); (b,c) RS-244, entre a cidade de
General Câmara e as localidades de Vista Alegre-Melos (290 53,04’S;
510 59,32’W); (d) detalhe do afloramento c, mostrando a contribuição de
P P
204

inundação. Contudo, exceto em pontos isolados, os limites e geometria precisa


dos canais, assim como o contato inferior com a Formação Sanga do Cabral (Fig.
4.25b, c), não são diretamente observáveis. Nos afloramentos mais extensos é
possível observar as dimensões mínimas e o caráter mutiepisódico de
preenchimento dos canais (Vol.II-FM10), cujos principais elementos constituintes
são descritos a seguir.

EA1.1 Formas de leito arenosas (SB)


As litofácies relacionadas a este elemento são as de ocorrência mais
freqüente na faixa de afloramentos da unidade, possivelmente devido a limitação
das exposições, que, em geral, não permite a identificação de superfícies de
terceira ordem ou superiores. Constituem-se de arenitos médios a
conglomeráticos, contendo grânulos e seixos de quartzo, organizados em
conjuntos de estratificações cruzadas acanaladas (St) e planares (Sp) de
pequeno e médio portes, eventualmente associadas a níveis dominados por
ripples (Sr) e camadas centimétricas de arenitos com laminação plano-paralelas
(Sh) (Fig. 4.26; Vol.II-FM11).
Interpretação
Estas litofácies, correspondem, principalmente à superposição de dunas
3D, incluindo dunas 2D, com menor contribuição de ripples e camadas planas,
todas formas de leito geradas por variações de regime de fluxo.
A identificação desta associação de litofácies em diversos afloramentos
isolados parece indicar uma significativa contribuição deste elemento como
componente das facies de preenchimento dos canais fluviais do Membro Passo
das Tropas. Contudo, como já mencionado, estas proporções sugeridas pela
freqüência de registros destas fácies podem ser devidas às pequenas dimensões
de afloramentos e à raridade de exposições tridimensionais, o que dificulta o
reconhecimento de superfícies de reativação. É possível, portanto, que parte das
litofácies interpretadas como constituintes do elemento SB estejam relacionadas à
evolução de macroformas, observáveis em alguns poucos afloramentos de
dimensões adequadas, com discutido a seguir.
Paleocorrentes
W E

Sh
a Sp

St
n=25

W E
Sh, Sl

St
n=24

Figura 4.26 Exemplos de exposições das litofácies de arenitos com estratificações cruzadas planares (Sp) e acanaladas (St), de pequeno e médio portes,
correspondentes a dunas 2D e 3D superpostas, associadas a arenitos com laminação plano-paralela (Sh) ou suavemente inclinadas (Sl), feições geradas
por variações de regime de fluxo que, em conjunto, caracterizam o elemento SB (cf. Vol. II-FM11). Afloramentos situados ao longo da BR-287, entre a
cidade de São Pedro do Sul e a localidade de Chiniquá: (a) BR-287, km289, associação de cruzadas acanaladas (St) com sets de cruzadas planares (Sp),
205

separadas por superfícies subparalelas (estilo “Platte river”); (b) superposição de conjuntos de estratificações cruzadas acanaladas (St), BR-287, km294.
206
207
208

EA1.2 Acresções frontais (DA) e obliquas (LA/DA)


Litofácies correspondentes ao elemento DA são observáveis ao longo da
BR-287 (km286, a oeste da cidade de São Pedro do Sul; Fig. 2.27). São
representadas por arenitos quartzosos, grossos a conglomeráticos, estruturados
segundo dois estilos dominantes: (1) arenitos com estratificações cruzadas
planares (Sp) de médio a grande porte, constituindo sets com extensões laterais
superiores a 10 metros e (2) arenitos com estratificações cruzadas acanaladas
(St) de médio a pequeno porte (Sr), que superpostos chegam a atingir cerca de 1
metro de espessura. No total, o conjunto exposto atinge espessuras entre 3 e 4
metros. A litofácies de arenitos com estratificações planares apresenta
truncamentos e mudanças de ângulo na inclinação dos foresets, sendo
superiormente delimitada por superfícies onduladas, suavemente inclinadas e
subparalelas, sobre as quais conformam-se os conjuntos de estratos acanalados
de pequeno e médio portes (Vol. II-FM12). As paleocorrentes de ambas as
litofácies apresentam relativa consistência com o vetor médio de transporte, com
dispersão em torno de 400, e sentido geral para norte-nordeste (Fig. 4.27c).
Depósitos com características diagnósticas inequívocas de acresções
laterais (LA) não são significativos no Membro Passo das Tropas. Os raros
registros deste tipo de acresção ocorrem associados à litofácies compatíveis com
padrões gerados migração de formas de leito (SB) ou por acresções frontais (DA).
Exemplo desta relação é observável na seção tipo da unidade, nas proximidades
da cidade de Santa Maria (Fig. 4.28; Vol. II-FM13). Os depósitos relacionados a
acresções laterais correspondem a uma pequena porção do afloramento (Fig.
4.28a). São representados por arenitos médios a grossos, organizados em
conjuntos de estratos cruzados acanalados (St) de médio porte, contidos entre
superfícies inclinadas, paralelas a estratificações cruzadas de grande porte,
correlacionáveis ao elemento SB. A direção de transporte dos arenitos com
estratificações cruzadas acanaladas (St) guardam relações angulares variáveis
com relação à atitude das superfícies limitantes. Ângulos iguais ou superiores a
600 entre o vetor de transporte e a direção de mergulho das superfícies,
caracterizando acumulação por acresção lateral (LA), são observáveis apenas em
pontos isolados. Os estratos cruzados circundantes apresentam direções de
paleocorrentes de espectro variado, sendo freqüentemente subparalelos às
209
210

superfícies limitantes, tipificando sedimentação por acresção frontal (DA). A


coexistência destes dois padrões deposicionais (LA e DA), associada à ocorrência
de acresções obliquas indicadas pela análise das paleocorrentes, é aqui
genericamente referida pela sigla LA/DA
Interpretação
A associação de litofácies descritas acima é interpretada como produzida
pela variação de processos realcionados a diferentes estágios de migração de
macroformas. Os extensos foresets planares (Sp) preservados são produzidos
pela migração de formas de leito 2D de grandes dimensões (Fig. 4.27), geradas
em regime de fluxo inferior, sob condições de alta descarga e nível elevado
d'água. Os estratos cruzados acanalados (Sp, Sr) de pequeno e médio portes
representam a superposição de formas de leito de menor energia (dunas e ripples
3D), desenvolvidas durante os estágios de rebaixamento do nível d'água,
caracterizado por correntes de velocidade moderadas (Fig. 4.29).

Sep aração
do fluxo
Estágio
de alta descarga
e elevado
nível d'água St
Sr

St
Estágio Redução na
intermediário separação
Sp do fluxo

Emersão da barra e
retrabalhamento da face frontal
Estágio de Fluxo perpendicular à
face frontal da forma Sp
rebaixamento Sp
St, Sr

St, Sr

Nova elevação do Sp Sp 3 Sp
nível d'água Sp 3

Geração de St, Sr
superfícies com a preservação das estruturas sem a preservação das estruturas
de reativação geradas no estágio de rebaixamento geradas no estágio de rebaixamento

Figura 4.29 Desenvolvimento de superfícies de reativação (indicadas pelo número 3,


acrescentado à figura original) sobre "linguoid bars" (dunas 2D de baixo relevo), relacionadas à
variações de descarga e nível d'água em canais fluviais (Collinson,1970). Consideradas as
dimensões das formas de leito, as modificações de estruturas internas previstas por este modelo
são análogas às observadas em exposições do Membro Passo das Tropas (cf. Fig. 4.27).
211

Nestas condições, o topo da macroforma passa a ser retrabalhado,


modificando a morfologia original da barra, que eventualmente aflora como ilhas
temporárias no interior dos canais. O fluxo remanescente passa a contornar as
barras em ângulos variados, com relação à sua face frontal, relação angular que
determina o estilo de acresção (frontal, lateral ou obliqua) dominante em
diferentes pontos da macroforma.
As superfícies de reativação (3a. ordem) são geradas pelo evento seguinte
de inundação, que ocasiona o aumento da velocidade do fluxo e elevação do
nível d'água, resultando em novo episódio de progradação da macroforma como
um todo. Modelo análogo a esta interpretação - adaptado às diferentes dimensões
das formas de leito - é descrito por Collinson (1970), para a evolução de "barras
lingüoides" (cf. Fig. 4.29). Neste contexto, as estratificações planares (Sp)
correspondem ao "núcleo" das macroformas, enquanto as estratificações de
menor porte (St, Sr) registram os processos atuantes no topo e no entorno das
barras, durante fases de diminuição do nível d'água (Fig. 4.30).

a. Face frontal da macrofoma

Topo da
macroforma

Mesoformas

3
Canal
4

Topo da
b. Sr, Sp, St macroforma
pequ eno po rte
Sp, St médio a
grande porte

0 10

Figura 4.30 Modelo de acresções frontais (elemento DA) e morfologia de macroformas


dominadas por este elemento, ilustrando e a distribuição dos diferentes padrões de estruturas
internas, em relação às superfícies limitantes (Miall, 1996).

Esta alternância de processos explicaria a predominância de acresções


frontais (DA), associadas à ocorrência minoritária de acresções laterais (LA) e
212

obliquas (LA/DA), resultando em componentes arquiteturais coexistentes,


relacionados ao padrões de fluxo e à evolução morfológica da macroforma (Fig.
4.31).

3 3

60 0
LA
3
3 5

4
DA

5-15m

5-100m

Hierarquia das superfícies


5 1a. e 2a. ordens: conjuntos de estratos cruzados

3a. ordem: superfí cies de acresção 3


4a. ordem: topo da macroforma

direção local do fluxo 5a. orde m: base do canal

Figura 4.31 Modelo genérico de macroformas caraterizadas pelo predomínio do elemento


arquitetural DA, mostrando a gradação de acresções frontais (DA) a laterais (LA) dentro do
mesmo elemento, em função de modificações locais da direção do fluxo (Maill, 1994;1996).

Em termos gerais, consideradas as evidências de acumulações por


acresções frontais (DA) e obliquas (LA/DA) e enfatizada a pouca expressão de
depósitos relacionáveis a acresções laterais (LA), a associação de elementos
arquiteturais descrita acima é interpretada como correspondente a porções
preservadas de macroformas ou barras desenvolvidas no interior de canais
fluviais.

EA2. Litofácies pelíticas (FF)


As litofácies constituintes deste elemento afloram apenas em pontos
isolados, nas proximidades de sua área tipo, na região de Santa Maria. Ocorrem
em duas configurações geométricas distintas: camadas tabulares (FF) e
acumulações na forma de canais, referidas pela sigla FF(CH).
213

Independentemente da geometria, as litofácies dominantes são compostas


por arenitos muito finos e siltitos argilosos laminados (Fl) a maciços (Fsm) e, mais
raramente, argilitos laminados, portadores de elementos da Flora de Dicroidium
(cf. Fig. 4.28b), referência cronológica da unidade (cf. Quadro 4.8).
Os depósitos canalizados - FF(CH) - têm espessuras em torno de 1m e
extensões laterais superiores a 10m. O preenchimento é constituído por siltitos
argilosos com laminações inclinadas, em conformidade com as margens dos
canais, contendo intraclastos pelíticos angulosos, da ordem de centímetros,
dispersos entre os planos de estratificação ou concentrados na base dos canais,
formando acumulações localizadas de conglomerados intraformacionais (Cgi).
Delimitando a margem de canais (situação observada em um único ponto; Vol.II-
FM13), ocorrem depósitos subordinados de arenitos grossos a conglomeráticos,
formados por grânulos de quartzo e intraclastos pelíticos, com estratificações
cruzadas, inclinadas no sentido da borda do canal. Internamente aos canais, os
depósitos de preenchimento têm a geometria de lentes ou cunhas,
individualizadas por superfícies de erosão, evidenciando episódios múltiplos de
preenchimento. No conjunto, as fácies pelíticas canalizadas recobrem
erosivamente os depósitos fluviais arenosos, característicos do Membro Passo
das Tropas (cf. item EA.1), recortando também camadas tabulares de siltitos
argilosos a arenosos, laminados ou contendo climbing ripples (Fl), evidenciando a
coexistência de fluxos canalizados com depósitos desconfinados.
A par dos depósitos canalizados, as litofácies finas de maior expressão da
unidade (FF) são representadas por camadas de siltitos argilosos maciços (Fsm)
a pobremente laminados (Fl), de cores esbranquiçadas, que, embora de
ocorrência localizada, afloram por extensões superiores a 30m, com mais de 4m
de espessura. As camadas, essencialmente maciças, são demarcadas por níveis
descontínuos de silcretes, de 1 a 3 centímetros de espessura (Fig. 4.32).
Interpretação
A sedimentação de litofácies de granulação fina é interpretada como devida
aos processos combinados de suspensão e tração/suspensão, caracterizados
pela ocorrência de siltitos argilosos laminados ou contendo climbing ripples,
respectivamente. As relações observadas destas litofácies com depósitos de
canais fluviais permite interpreta-las como produzidas por episódios de inundação
214

E W

E W

c
Figura 4.32 Afloramento de depósitos finos, correlacionáveis à litofácies de planícies de
inundação (FF) do Membro Passo das Tropas, na BR-158, trecho Santa Maria-Rosário do Sul
(GPS: 290 42,43' S; 530 52,56' W). (a) Vista geral do afloramento: fotomontagem ilustrando a
extensão lateral e a espessura dos depósitos; (b) porção do mesmo afloramento, com níveis de
silcretes, indicados pelas setas. (c) Detalhe, mostrando o aspecto essencialmente maciço dos
siltitos argilosos (Fsm), litofácies dominante deste elemento.
215

de áreas adjacentes aos canais ativos, podendo ser genericamente classificadas


como fácies de "overbank". Contudo, as variações de geometria e estruturas
primárias sugerem condições deposicionais diferenciadas para estas litofácies. Os
depósitos finos, confinados em canais rasos - FF(CH) - que recortam o topo das
macroformas fluviais, contendo intraclastos e superfícies de reativação, são
interpretados como retrabalhamento do topo das macroformas por fluxos
erosivos, durante fases de inundação, em regiões proximais ao canais ativos.
Camadas tabulares, espessas e lateralmente contínuas de pelitos maciços, são
interpretadas como depósitos de baixa energia, formados em planícies de
inundação (FF), localizadas em áreas mais afastadas dos canais fluviais. O
aspecto maciço pode ser relacionado a solos argilosos expansivos, enquanto a
presença de níveis descontínuos de silcretes indica substrato submetido a
freqüentes oscilações do nível freático, condições compatíveis com áreas
periodicamente inundadas.

Sistema Deposicional
O elementos arquiteturais dominantes identificados do Membro Passo das
Tropas correspondem a depósitos de preenchimento de canais fluviais, com
menor contribuição de fácies finas de planície de inundação. Embora os dados de
superfície disponíveis não permitam a precisa delimitação das dimensões e
padrão geométrico dos canais, exposições isoladas indicam um estilo multistorey
de preenchimento (Vol.II-FM10), constituído principalmente pela superposição de
mesoformas de regime de fluxo inferior (elemento SB) e macroformas produzidas
por acresções frontais (elemento DA). Na escala de afloramento, os registos de
padrões de acresção lateral (LA), característicos de canais sinuosos, são raros e
restritos a áreas de coalescência de macroformas (Fig. 4.28). Análises detalhadas
de paleocorrentes nestes afloramentos indicam que, no contexto dominado pelos
elementos SB e DA, a ocorrência de padrões combinados (laterais/frontais) ou
acresções obliquas (LA/DA), são mais proeminentes do que acresções puramente
laterais (LA), características compatíveis com sistemas fluviais de canais
entrelaçados ou de baixa sinuosidade.
Nestes sistemas, depósitos finos de planícies de inundação (FF), são
preservados como acumulações descontínuas, podendo atingir espessuras
consideráveis em áreas morfologicamente protegidas da erosão ou ocupando
216
217

depressões abandonadas pela a migração lateral dos canais (Reinfeld & Nanson,
1993). As litofácies pelíticas, registradas em afloramentos isolados do Membro
Passo das Tropas, são interpretadas como representantes destas condições.
As espessuras superiores a 30m de arenitos organizados em padrão
multistorey, a presença dos elementos SB e DA como litofácies dominantes e a
ampla distribuição regional das exposições, permitem interpretar o Membro Passo
das Tropas como sistema de canais fluviais perenes, entrelaçados ou de baixa
sinuosidade, com padrão regional de paleocorrentes para norte-nordeste (Fig.
4.33). As direções de transporte e a mudança das características granulométricas
e composicionais dos arenitos em relação às unidades sedimentares subjacentes
indicam o Escudo Sul-rio-grandense como principal área-fonte do sistema.

4.2.2.2 Membro Alemoa: litofácies e elementos arquiteturais

O Membro Alemoa, segmento superior da Formação Santa Maria, constitui-


se na unidade historicamente mais representativa do Triássico da Bacia do
Paraná, devido a seu volumoso conteúdo de vertebrados fósseis (Barberena et
al., 1985a, b; 2000; Schultz, 1995; Schultz et al. 2000; cf. Quadro 4.8), conhecido
e estudado a mais de um século (Belrtão, 1965).
A unidade é constituída essencialmente por sedimentação pelítica de cores
avermelhadas e aflora exclusivamente na região central do Rio Grande do Sul, ao
longo de uma faixa disposta no sentido leste-oeste (Vol. II-SE8), delimitada por
dois sistemas de falhamentos (cf. Fig. 4.24 e 4.33). As litofácies pelíticas do
Membro Alemoa ocorrem com espessuras variáveis, entre 20 e 40 metros (Vol. II-
SE 4), com um máximo de cerca de 60 metros, registrado por Bortoluzzi (1974) e
Andreis et al. (1980), nas regiões de Santa Maria e Rio Pardo, respectivamente.
O contato inferior com os arenitos fluviais do Membro Passo das Tropas é
caracterizado pela brusca mudança de litofácies (Fig. 4.34). O contato superior,
com a Formação Caturrita, é transicional e manifestado pela ocorrência de
arenitos fluviais lenticulares intercalados aos pelitos vermelhos do Membro
Alemoa. Estas relações de contato evidenciam que o Membro Alemoa e a base
da Formação Caturrita tenham tido um desenvolvimento compartilhado, aspecto a
ser analisado nos itens subsequentes. As características litofaciológicas
218

AL

PT

b
Figura 4.34 Formação Santa Maria: relações de contato entre os membros
Passo das Tropas (PT) e Alemoa (AL) em dois pontos extremos da faixa de
afloramentos da unidade, no sentido leste-oeste: (a) a oeste, nos arredores da
cidade de São Pedro do Sul e (b) na BR-471, a leste, no extremo sul da área
urbana da cidade de Santa Cruz do Sul. Conferir Figura 4.33 para localização
regional.
219

dominantes na faixa de afloramentos do Membro Alemoa são descritas e


interpretadas a seguir.

4.2.2.2.1 Associação de Fácies de Planície Aluvial

EA1. Depósitos finos de planície de inundação (FF) e Paleosolos (P)


Os depósitos típicos do Membro Alemoa são constituídos por espessas
acumulações de siltitos argilosos vermelhos, fossilíferos, que compreendem
litofácies de pelitos maciços (Fsm) ou incipientemente laminados (Fl), portadoras
de concreções carbonáticas de formatos irregulares e septárias substituídas por
sílica, geralmente dispostas segundo planos sub-horizontais (Fig. 4.35).
As litofácies de pelitos laminados (Fl) são observadas em duas situações:
(1) como laminações incipientes, localmente preservadas em exposições
amplamente dominadas por pelitos maciços (Fsm) e (2) intercaladas a camadas
milimétricas de arenitos muito finos-sílticos, constituindo ritmitos areno-pelíticos
(Sh,Fl), preenchendo concavidades com profundidades métricas, dispostos
segundo terminações de onlap sobre as margens das superfícies
paleotopográficas subjacentes ( Fig. 4.35a e 4.36).
Subordinadamente associadas às facies pelíticas, ocorrem camadas
tabulares ou lentes descontínuas, com espessuras centimétricas, de siltitos-
arenosos maciços contendo raízes (Fr) (Fig. 4.37) e evidências de pedogênese
incipiente, tais como nódulos carbonáticos, silcretes e, mais raramente, níveis
centimétricos e descontínuos de calcita laminar. Contudo, a ausência de
horizontes definidos, associada à presença de raízes, é a característica mais
freqüente dos níveis de paleosolos observados, o que permite classifica-los na
ordem dos Entisols 1 .
Como já mencionado, as litofácies de pelitos maciços a incipientemente
laminados (Fsm, Fl) são portadoras do expressivo conteúdo de vertebrados
fósseis triássicos que caracterizam o Membro Alemoa da Formação Santa Maria.
Interpretação
As litofácies pelíticas do Membro Alemoa são genericamente interpretadas
como uma associação de depósitos acumulados sobre amplas planícies de

1
Entisol: ordem de solos sem horizontes pedogênicos definidos (Parker, 1997); caracterizada pela dominância de material
mineral e ausência ou pobre desenvolvimento de horizontes pedogênicos (Bates & Jackson, 1987).
220

Fm, Fr

Sh,Fl

Fsm

Fsm

Fsm

Figura 4.35 Aspecto característico das exposições dos "pelitos vermelhos fossilíferos" do
Membro Alemoa da Formação Santa Maria: (a) pelitos maciços (Fsm) e ritmitos areno-pelíticos
laminados (Sh,Fl), estes últimos assentado em onlap (setas) sobre depressão paleotopográfica
(cf. Fig. 4.36); no topo do afloramento, horizontes com evidências de pedogênese incipiente (cf.
Fig. 4.37), caracterizada por arenitos muito finos e siltitos maciços (Fm) contendo raízes (Fr); (b)
pelitos maciços (Fsm) associados a concreções carbonáticas irregulares. Estas de litofácies
ocorrem extensivamente ao longo da faixa de afloramentos da Formação Santa Maria e
caracteriza os elementos de planícies de inundação (FF) e paleosolos (P) associados.
221

Sh,Fl

Fsm

Figura 4.36 (a) Vista geral de afloramento do Membro Alemoa mostrando o preenchimento de
depressão, evidenciada pela concavidade da superfície basal e (b) pela relação de onlap de
siltito-arenitos muito finos, laminados (Sh,Fl), sobre depósitos de siltitos maciços (Fsm), na base.
Os ritmitos areno-pelíticos laminados são interpretados como depósitos de preenchimento de
corpos lacustres - FF(LC) - desenvolvidos no contexto de amplas planícies de inundação
(elemento FF), representadas pela associação de litofácies pelíticas do Membro Alemoa.
Afloramento localizado na BR287, a oeste de Candelária; GPS: 29o 44’ 43,54’’S; 53o 05’04,31’’W.
222

P
Fsm
Fr

FF

b
3 cm
Fsm

Fr

Figura 4.37 (a) Afloramento típico dos pelitos vermelhos fossilíferos do Membro Alemoa, unidade
superior da Formação Santa Maria, exemplificando a freqüente associação entre os elementos de
planícies de inundação (FF), representado pelos pelitos maciços (Fsm), e níveis de paleosolos (P)
intercalados. (b) Detalhe das camadas centimétricas de síltitos-arenosos (Fr), maciços, contendo
raízes, mas sem horizontes pedogênicos definidos, feições características de solos pobremente
desenvolvidos, e diagnósticas da ordem dos Entisols (cf.Bates & Jackson, 1987; Retallack, 1990).
223

inundação (FF), parcialmente ocupadas por corpos lacustres, FF(LC),


distribuídos sobre as áreas planas adjacentes a canais fluviais ativos.
Os depósitos de planícies de inundação são representados pelas litofácies
de pelitos maciços (Fsm) que ocorrem com expressiva continuidade lateral,
freqüentemente associados a delgadas camadas de siltitos arenosos
homogêneos (Fsm), com impressões de raízes (Fr). A alternância repetitiva de
camadas de pelitos maciços ou laminados e paleosolos (P) imaturos (cf. Fig.
4.37), é indicativa de períodos de transporte por suspensão e deposição
subaquosa, intercalados a fases de rebaixamento do nível freático e exposição
subaérea. A ação de fluxos aquosos é evidenciada pela eventual preservação de
laminações primárias nos pelitos, o que também indica que a extensa
homogeneização destas litofácies seja devida a processos pós-deposicionais,
relacionados principalmente à expansão de argilominerais. Esta interpretação é
suportada por diversos estudos sobre a fração argilosa do Membro Alemoa
(Montardo,1984; Silvério da Silva et al.,1990; Silvério da Silva & Menegotto, 1991;
Silvério da Silva,1997) que têm demonstrado o predomínio de argilas expansivas -
Ilitas e interestratificado Ilita/Esmectita (I/S) – sobre proporções menores de
caolinitas. Substratos com esta composição favorecem o desenvolvimento de
Vertisols 1 ,solos argilosos uniformes, que podem se formar em poucas centenas
de anos, em argilitos, folhelhos ou margas de composição esmectítica,
principalmente em terrenos planos ou suavemente inclinados, submetidos a
variações acentuadas de umidade (Retallack, 1990). Tais características são
compatíveis com as observadas na seção estudada. Preliminarmente, em vista de
que os conhecimentos sobre as paleoalterações da Formação Santa Maria sejam
ainda incipientes, é possível inferir que a ação de processos pedogênicos sobre
um substrato rico em argilas expansivas tenha contribuído diretamente para a
destruição das laminações primárias das fácies pelíticas do Membro Alemoa.
As litofácies de ritmitos areno-pelíticos (Sh, Fl), por sua vez, são
interpretadas como depósitos de preenchimento de corpos lacustres, instalados
sobre as planícies de inundação.

1
Vertisol: ordem de solos ricos em argilas, com baixo conteúdo de matéria orgânica, marcados por fendas de
ressecamento, devidas a variações sazonais nas condições de umidade (Parker, 1997); ordem de solos que contêm um
mínimo de 30% de argilas, usualmente esmectitas, gerados em áreas com rápidas alternâncias de período secos e úmidos
e caracterizados por gretas de contração, geradas por pronunciadas mudanças de volume, relacionadas a variações do
teor de umidade (Bates & Jackson, 1987).
224

Esta interpretação baseia-se nas relações geométricas do estratos, que


ocorrem como conjuntos de camadas planas finamente laminadas e lateralmente
contínuas, preenchendo depressões paleotopográficas, em onlap sobre
superfícies inclinadas ou côncavas que delimitam inferiormente os pacotes de
ritmitos areno-pelíticos. Estas litofácies ocorrem com espessuras variáveis,
podendo atingir mais de 3 metros (cf. Figs. 34a e 4.35). Acumulações delgadas,
associadas à níveis de paleosolos, sugerem a presença de corpos d’água
temporários, enquanto os depósitos de maior espessura são interpretados como o
registro de corpos lacustres mais estáveis, sujeitos à oscilações periódicas do
nível de base local.

Sistema Deposicional
As evidências indicativas de que as fácies pelíticas do Membro Alemoa
representem o registro de extensas ”floodplains” pressupõe a coexistência destes
depósitos com fácies de canais fluviais, configurando um amplo sistema aluvial
submetido a fases periódicas de inundação.
Em afloramentos, os contatos do Membro Alemoa com os arenitos fluviais
do Membro Passo das Tropas são bruscos (cf. Fig. 4.34), não sendo evidentes as
relações genéticas entre ambas as unidades. Contudo, seções de subsuperfície
demonstram que o Membro Alemoa associa-se lateral e verticalmente a depósitos
de canais fluviais, correlacionáveis tanto ao Membro Passo das Tropas quando a
Formação Caturrita (Fig. 4.38). A ocorrência de canais fluviais da Formação
Caturrita, encaixados nos pelitos do Membro Alemoa, são também observados
na faixa de exposições, relação que será abordada no item seguinte. Estas
observações indicam que as litofácies pelíticas do Membro Alemoa tenham se
desenvolvido em regiões adjacentes a canais fluviais, justificando sua
interpretação como depósitos finos de planícies de inundação (FF).
Como evidências adicionais, no contexto das fácies pelíticas, a presença
de siltitos arenosos contendo traços raízes (Fr) é feição diagnóstica de Entisols,
solos comuns em planícies de inundação, habitadas por vegetação de pequeno
porte (Retallack, 1990). Sua principal característica é o baixo grau de
desenvolvimento, devido ao pouco tempo de residência, relacionado a taxas
relativamente altas de aporte sedimentar, condição que inibe a maturação do
perfil pedogênico. Em planícies de inundação, o grau de maturidade de
225
226

paleosolos depende da proximidade dos canais fluviais (Fig. 4.39), fator


controlado por processos autogênicos, que condicionam as taxas de avulsão
(Allen, 1989).

Decrescente

1
2
Maturidade

3
Crescente

2 A vulsão
1

Figura 4.39 Variação de maturidade dos solos desenvolvidos em planícies


de inundação, refletindo as relações entre pedofácies e sucessivos eventos
de avulsão. Modelo análogo ao interpretado para os solos pobremente
desenvolvidos, observados no Membro Alemoa e relacionados aos canais
fluviais da Formação Caturrita (cf. Fig. 4.40). Os números 1, 2 e 3 indicam
maturidade crescente dos solos, relacionada ao relativo afastamento dos
canais fluviais. Devido às baixas taxas de sedimentação, as regiões distais
das planícies de inundação são mais favoráveis ao desenvolvimento de
solos maduros. Inversamente, as regiões proximais aos canais são
caracterizadas por solos imaturos (Allen & Wrigth, 1989).

Silvério da Silva (1997), estudando os processos de silicificação (silcretes),


associados às facies de siltitos-arenitos muito finos e calcificação (calcretes),
relacionados às fácies pelíticas do Membro Alemoa, conclui que estas feições são
originadas pela atuação combinada de processos pedogênicos e cimentação
passiva, eodiagenética, próxima a superfície do terreno. Análises geoquímicas
desenvolvidas pelo autor indicam que os calcretes tenham se formado por
episódios repetitivos de dissolução e precipitação, a partir de soluções
relacionadas a mistura entre águas doces, meteóricas e freáticas. Este processo
de formação indica variações na posição do nível freático e flutuações na
distribuição pluviométrica, condições compatíveis com climas com fases sazonais
áridas e/ou semi-áridas, alternadas a períodos de maior umidade. Estas
interpretações coincidem com evidências obtidas a partir de estudos sobre o estilo
tafonômico de preservação dos vertebrados fósseis (Holz, 1991, 1992b; Holz &
Barberena, 1994), que, igualmente, apontam oscilações do nível freático,
227

relacionadas a um regime climático predominantemente úmido a semi-úmido,


caracterizado pela alternância de períodos secos e estações de chuvas torrenciais e
amplo afogamento das superfícies deposicionais, com desenvolvimento de lagos
temporários, durante as fases de inundação.
Com base nas evidências expostas acima, o Membro Alemoa é portanto
interpretado com o registro de extensas planícies de inundação (FF), caracterizadas
pelo desenvolvimento de paleosolos imaturos (P) e contendo corpos d’água
lacustres de dimensões variadas - FF(CH) - tanto perenes quanto temporários,
desenvolvidos durante as fases de inundações periódicas, relacionadas a um
regime climático marcado pela alternância de estações úmidas e secas, com
eventos episódicos de intensa precipitação pluviométrica.

4.2.3 A Formação Caturrita


Características Gerais
A Formação Caturrita corresponde ao conjunto de camadas
predominantemente arenosas que ocorrem acima do Membro Alemoa da
Formação Santa Maria (Fig. 4.40; Vol. II- MB). Com seção tipo situada na região
de Santa Maria, a unidade foi originalmente definida por Bortoluzzi (1974) como
pertencente à Formação Botucatu, constituindo as fácies fluviais basais do Grupo
São Bento no Rio Grande do Sul. Reconhecida em áreas distantes de sua seção
tipo (Jabur, 1980; Medeiros, 1980), a designação Caturrita foi elevada à categoria
de Formação por Andreis, Bossi & Montardo (1980), passando a constituir o topo
do Grupo Rosário do Sul, designando os arenitos posicionados entre as
formações Santa Maria e Botucatu no Estado. O termo “arenitos Mata” foi
posteriormente introduzido por Faccini (1989) para diferenciar dentre os depósitos
do topo da Formação Caturrita, os arenitos fluviais portadores de expressivas
acumulações de troncos silicificados de coníferas - com idade tentativamente
atribuída ao Rético - que ocorrem a oeste de Faxinal do Soturno, especialmente
nas regiões de São Pedro do Sul e Mata. Com base em seu conteúdo de
vertebrados fósseis (Barberena et al. 1995, 2000; Schultz, 1995; Schultz et al.,
2000) a idade da Formação Caturrita é atribuída ao intervalo Carniano-Noriano,
Triássico Superior (cf. Quadro 4.8, p.202).
O contato inferior da Formação Caturrita com a Formação Santa Maria é
marcado pela intercalação de corpos lenticulares de arenitos fluviais (“ribbons”)
229

com as litofácies pelíticas do Membro Alemoa (Fig. 4.41). O contato superior é


delimitado por uma superfície de erosão, atribuída ao extenso período de
deflação, registrado em toda a Bacia do Paraná, que antecede a deposição da
Formação Botucatu.
Em termos gerais, os litotipos constituintes da Formação Caturrita incluem
conjuntos de camadas lenticulares, tabulares e sigmoidais de arenitos muito finos
a conglomeráticos, de espessuras métricas, que ocorrem intercaladas a pelitos
maciços ou laminados, associados a horizontes de paleosolos (Andreis e
Montardo, 1980). As espessuras totais são variáveis, podendo atingir entre 60 e
80 metros, registrados nas regiões de Rio Pardo e Santa Maria, respectivamente.

4.2.3.1 Litofácies e Elementos Arquiteturais (EA)


A Formação Caturrita inclui depósitos de canais fluviais (CH) do tipo
ribbons na base da unidade e corpos arenosos amalgamados com geometria de
sheets em direção ao topo da sucessão. Os depósitos de preenchimento de
canais associam-se lateralmente a litofácies de planície aluvial, as quais incluem
pelitos de floodplain (FF), paleosolos (P), canais de crevasse (CR), crevasse
splays (CS) e frentes deltaicas lacustres (FD).

4.2.3.1.1 Associação de Fácies de Canais Fluviais

EA1. Canais (CH) - Ribbons


A base da Formação Caturrita é caracterizada por depósitos com
geometria de canais de dimensões variáveis, que recortam as fácies pelíticas do
Membro Alemoa. Em afloramentos, os canais com margens definidas, atingem
profundidades superiores a 5 metros e 30 a 40 metros de largura (Fig. 4.41; Vol.
II-FM14). Esta baixa razão, profundidade/largura (< 15), tipifica canais do tipo
ribbons (cf. Fig. 4.1, p.141). O preenchimento do canais pode ser simples (single
storey) ou complexo (multistorey). Os canais com evidências de preenchimento
multiepisódico são caracterizados por lentes constituídas pela superposição de
camadas de 30 centímetros a 1 metro de espessura de arenitos finos com
estratificações cruzadas de pequeno porte (Sr, St) ou arenitos maciços (Sm),
associados a raras estratificações cruzadas de médio porte (St). Eventualmente
os storeys são delimitadas por conglomerados intraformacionais (Cgi) dispersos
230

Formação Caturrita
CH

FF Membro
Alemoa

b Formação Caturrita

Sr
CH

Membro
FF Alemoa
Fsm

Figura 4.41 Geometria característica dos canais fluviais (ribbons)


da base da Formação Caturrita em exposições representativas
das relações de contato com a Formação Santa Maria: (a,b)
fácies de arenitos de canais fluviais (CH) da Formação Caturrita
encaixados em pelitos fossilíferos (Fsm) de planícies de
inundação (FF) do Membro Alemoa; (b) detalhe do preenchimento
dos canais, mostrando arenitos finos a médios contendo climbing
ripples (Sr) como estrutura primária dominante, indicando a
desaceleração de fluxos com significativa carga transportada em
suspensão.
Localização dos afloramentos: (a) Rodovia Estadual, RS-348,
entre as cidades de Agudo e Dona Francisca; (b) cruzamento das
rodovias BR-487 e BR-158 ("Faixa Nova"), perímetro urbano da
cidade de Santa Maria.
231

na base dos estratos. Embora a litofácies de arenitos finos maciços (Sm) sejam
também identificadas em direção ao topo da unidade (Fig. 4.42b), a precisa
definição da geometria dos canais é impossibilitada pela limitação das
exposições. A definição inequívoca de canais com geometria ribbon é registrada
na base da unidade (cf. Fig. 4.40; Vol. II-FM14).
Interpretação
A configuração geométrica dos canais fluviais da base da Formação
Caturrita indica um sistema composto por canais fixos ou com baixa migração
lateral, preenchidos pela deposição de carga mista, rica em material em
suspensão. Canais com esta configuração (ribbons) desenvolvem-se devido à
estabilidade das margens, constituídas por sedimentação pelítica e presença de
vegetação, fatores que inibem a migração lateral dos canais. Estas características
são plenamente observadas na porção inferior da sucessão estudada, uma vez
que os depósitos canalizados ocorrem encaixados nas litofácies pelíticas da
Formação Santa Maria (cf. item 2.2.2.1). Em algumas exposições são observadas
evidências de preenchimento segundo superfícies inclinadas, sugerindo
acresções laterais pouco desenvolvidas, no interior dos ribbons, indicando que os
canais poderiam possuir certa sinuosidade (Vol.II-FM14). Contudo, as
características das litofácies – especialmente a ausência de meso e macroformas
trativas - sugerem que o preenchimento dos canais tenha ocorrido principalmente
por agradação, indicada pela superposição de camadas de arenitos finos maciços
(Sm) ou contendo climbing ripples (Sr), raramente associadas a estratificações
cruzadas tangenciais de médio porte (St). Embora mais comuns na base da
unidade, canais com estas características são observados e diferentes níveis
estratigráficos, indicando a recorrência de controles e processos (Fig. 4.42). A
presença de climbing ripples como estrutura primária dominante (Fig. 4.42a; cf.
também Fig. 4.40b) indica a desaceleração de fluxos mistos, caracterizados pela
interação tração-suspensão. Os arenitos maciços (Fig. 4.42b) são interpretados
como produto da deposição de fluxos hiperconcentrados, nos quais a separação
de fluxo é inibida, impedindo o desenvolvimento de formas de leito 2D e 3D. Em
ambos os casos, as evidências indicam rios de baixa energia e carga sedimentar
com expressiva contribuição de material em suspensão, recortando extensas
planícies aluviais dominadas por sedimentação pelítica, sugerindo um
paleorrelevo suavizado, de baixa declividade.
232

Formação CH
Caturrita

Sr

Fsm
FF

Membro Alemoa

(St)

Sm

Figura 4.42 (a) Exemplos de canais fluviais da Formação Caturrita preenchidos por litofácies
indicativas de carga mista, sem o desenvolvimento de macroformas puramente trativas: (a) ribbon
(base da Formação na localidade de "Alemoa", Santa Maria). preenchido por camadas de
arenitos finos contendo climbing ripples (Sr) como estrutura primária dominante, indicando a
desaceleração de fluxos com significativa carga transportada por suspensão; (b) porção superior
da unidade (BR-287, Cerro Botucaraí, Candelária), mostrando a superposição de camadas
(storeys) de arenitos finos a médios, maciços (Sm), com raros indícios de estratificações cruzadas
tangenciais (St).
233

EA2. Acresções laterais (LA) - Sheets


Evidências de acresções laterais (LA) são registradas principalmente na
porção superior da unidade, integrando camadas de arenitos fluviais, com
espessuras médias entre 5 e 30 metros (Medeiros, 1980) e extensões laterais de
centenas de metros. Os limites dos canais não são observáveis diretamente,
devido a limitação das exposições, mas a continuidade lateral dos estratos (e.g.
Vila Kennedy, Cerro da Caturrita) sugere uma geometria do tipo sheet-like.
Camadas com esta configuração são observados na região central da faixa de
exposições, entre as cidades de Agudo, Faxinal do Soturno (Fonseca, 1999) e
Santa Maria.
Os depósitos de acresção lateral (Fig. 4.43) são caracterizados pela
superposicão de camadas de arenitos finos a médios com estratificações
cruzadas acanaladas, de médio a pequeno portes (St, Sr), dispostas segundo
superfícies inclinadas (Fig. 4.43b,c) As camadas apresentam espessuras
variáveis entre 30 centímetros e 1 metro, podendo conter porções de arenitos
grossos a conglomeráticos e acumulações de intraclastos (Cgi) centimétricos na
base, sendo eventualmente separadas por delgadas acumulações de siltitos
arenosos maciços (Fsm, Sm) ou laminados (Fl, Sh). Camadas centimétricas de
arenitos tabulares, com laminações plano-paralelas (Sh), ocorrem associadas,
preferencialmente no topo de conjuntos dominados por estratos cruzados.
Em afloramentos que permitem uma descrição mais detalhada, a análise de
paleocorrentes evidencia um alto ângulo entre as direções predominantes de
transporte e o mergulho médio das superfícies de 3a ordem (Fig. 4.43c; Vol. II-
FM17), caracterizando um fluxo essencialmente paralelo à direção média das
superfícies de acresção.
Interpretação
As litofácies de arenitos com estratificações cruzadas de médio a pequeno
porte (St, Sr), associadas as camadas tabulares com laminações paralelas (Sh)
são caracteristicamente geradas por variações de regime de fluxos fluídos de
baixa viscosidade, correspondendo à dunas 3D e formas de leito planas,
respectivamente. A presença subordinada de drapes de siltitos (Fl, Fsm), arenitos
grossos a conglomeráticos e acumulações de intraclastos pelíticos (Cgi)
associados, é atribuída a variações de energia do sistema fluvial e
retrabalhamento de depósitos prévios.
234
235

As relações de alto ângulo entre as direções de transporte dos arenitos


com estratificações cruzadas e as superfícies de acamadamento demonstram a
ocorrência de macroformas com padrões de acresção lateral (LA) no topo da
Formação Caturrita. A presença deste elemento arquitetural, somada à geometria
sheet-like dos depósitos arenosos, sugere um sistema fluvial sinuoso, preenchido
por macroformas correlacionáveis a barras em pontal e caraterizado pela
migração lateral dos canais.

4.2.3.1.2 Associação de Fácies de Planície Aluvial

EA1. “Crevasse splays” (CS) e canais de crevasse (CR)


Estes elementos ocorrem preferencialmente a porção intermediária da
Formação Caturrita, com suas melhores exposições na região de São João do
Polêsine, Faxinal do Soturno e Agudo (cf. Fig. 4.40).
Os depósitos de crevasse splays são representados por camadas
centimétricas, tabulares ou lentes alongadas, com continuidade lateral de
dezenas a centenas de metros (Fig. 4.44), de arenitos finos a muito finos com
laminações plano-paralelas (Sh) ou cruzadas tangenciais e climbing ripples (St,
Sr) que ocorrem intercaladas a pelitos maciços (Fsm) ou laminados (Fl),
freqüentemente contendo raízes e gretas de contração (Fm).
As litofácies areno-pelíticas ocorrem associadas lateral e verticalmente ao
depósitos de preenchimento de canais fluviais (CH), da Formação Caturrita
(Vol.II-14 e 15). Canais de menores dimensões (1 a 3 metros de espessura e 5 a
15 metros de largura), preenchidos por arenitos finos maciços (Sm) ou arenitos
com estratificações cruzadas acanaladas (St) ocorrem associados lateralmente ou
recortando as camadas contínuas das fácies areno-pelíticas ( Vol.II-15 e 16c),
evidenciando a relação genética entre os depósitos de canal e extra-canal.
Interpretação
As camadas centimétricas, tabulares, de arenitos finos a médios (Sh, St,
Sr), que ocorrem intercaladas a fácies pelíticas são interpretadas como depósitos
de crevasse splays (CS), por sua continuidade lateral, evidências de exposições
subaéreas e relação direta com litofácies de preenchimento de canais fluviais (cf.
Vol.II-FM15). A geometria das camadas, associada à ausência de feições
erosivas pronunciadas, é característica de fluxos desconfinados e deposição
236

CS
FF

Fm
Fsm, Fl

b
St

Gretas de
Sh, Sr contração

Fm

Sr

o o
Localização: (a) São João Polêsine, GPS 29 39’ 12” S - 53
o o
27’39,8” W;(b) Faxinal do Soturno, GPS 29 33,4’ S - 53 26, 9’ W. Sh

Figura 4.44 (a) Afloramento representativo do aspecto geométrico das litofácies interpretadas
como depósitos de crevasse splays (CS). (b) Detalhe, ilustrando a associação de litofácies,
constituída por camadas tabulares de arenitos finos a médios, com estratificações cruzadas
tangenciais (St), laminações plano-paralelas (Sh) e climbing ripples (Sr) intercalados a siltitos
argilosos laminados (Fl) ou maciços (Fm), com gretas de contração (Fm), indicativas de repetidos
períodos de exposições subaéreas.
237

sobre superfícies relativamente planas, situadas em áreas adjacentes ao canais


fluviais. As estruturas internas das camadas evidenciam transporte por processos
de tração (Sh, St) e tração-suspensão (Sr), relacionados a eventos esporádicos
de deposição, indicados pela presença de raízes e gretas de contração no topo
das camadas individuais. Os canais de pequenas dimensões, que ocorrem
associados ou recortando as litofácies areno-pelíticas, são interpretados como
canais de crevasse (CR). No conjunto, estes depósitos são atribuídos a
extravasamento dos canais maiores e rompimento do diques marginais,
resultando na deposição episódica de camadas de arenitos, com geometria sheet-
like, sobre as áreas de planícies de inundação, durante as fases de cheias.

EA2. Frentes deltaicas lacustres (FD)


Este elemento é representado por camadas arenosas, separadas por
litofácies pelíticas. Os depósitos arenosos ocorrem em duas configurações
geométricas distintas: (1) camadas lenticulares ou sigmoidais (Fig. 4.45a,b) e (2)
camadas tabulares (Fig. 4.45c) de arenitos finos a médios maciços (Sm) ou com
laminações plano-paralelas (Sh) e climbing ripples (Sr). A base das camadas não
apresenta feições erosivas significativas. No caso dos estratos sigmoidais, é
comum o recobrimento das porções distais das camadas arenosas por pelitos
laminados (Fl) ou maciços (Fsm), ou ainda por ritmitos areno-pelíticos (Sh-Fl),
também sem evidências de processos erosivos associados (Fig. 4.45b). As
clinoformas podem apresenta terminações em downlap , sendo recobertas por
litofácies pelíticas e areno-pelíticas, em relação de onlap (Fig. 4.45a). Em alguns
pontos são observadas bioturbações cilíndricas, verticalizadas e, mais raramente,
impressões de raízes. A espessura das camadas varia desde pouco centímetros
até cerca de 1 metro, sendo comuns exposições com mais de 30 metros de
extensão lateral (conferir Vol.II-FM16). As camadas tabulares são caraterizadas
por uma tendência granodecrescente, portando eventualmente intraclastos
pelíticos dispersos junto à base, e pela presença de laminações plano-paralelas
(Sh) e climbing ripples (Sr). As camadas são, em geral, recobertas por drapes
contínuos de pelitos, com espessuras centimétricas (Fig. 4.45c).
Interpretação
As litofácies de arenitos lenticulares, finos a médios, com climbing ripples
(Sr) como estrutura dominante são interpretadas como produtos da
238

W E

Sh,Sr
Fl, Fsm
Sr
a

Fl,Sh

Sr

Sh, Sr 2m
Fl,Sh

b c
Figura 4.45 Afloramento representativos dos depósitos de frentes deltaicas (FD) lacustres da Formação Caturrita.(a) camadas tabulares e sigmoidais de
arenitos finos com climbing ripples (Sr) separados por pelitos laminados e maciços (Fl, Fsm); (b) camadas lenticulares de arenitos finos (Sr), separados e
recobertos por ritmitos areno-pelíticos (Fl,Sh) e siltitos laminados (Fl); (c) arenitos finos tabulares com laminações plano-paralelas (Sh) e climbing ripples
(Sr). Conferir Vol.II-FM16.
239

desaceleração de fluxos mistos (homopicnais) e deposição a partir de transporte


combinado de tração e suspensão, em meio subaquoso. As fácies maciças são
atribuídas a homogeneização por escape de fluídos, relacionadas a deformações
penecontemporâneas induzidas pela carga diferencial resultante da rápida
deposição das areias sobre substratos pelíticos. A presença de clinoformas
agrupadas em padrão progradacional (Fig. 4.45a) evidencia repetidos eventos de
aporte sedimentar e avanço das frentes deltaicas em direção ao centro dos
corpos dágua. O ambiente subaquoso é confirmado pelo recobrimento das
porções distais dos lobos sigmoidais por acumulações pelíticas(Fig. 4.45b),
registrando a alternância de períodos de progradação seguidos por interrupções
do suprimento arenoso e estagnação do fluxo, resultando na decantação das
frações finas. As acumulações mais espessas de ritmitos areno-pelíticos (Sh,Fl) e
siltitos argilosos (Fsm, Fl) associados são interpretados, respectivamente, como
porções distais das frentes deltaicas e depósitos de prodeltas, indicativos da
diminuição dos processos trativos em direção ao interior dos corpos lacustres.
De outro lado, as camadas tabulares, gradadas e lateralmente contínuas
(Fig. 4.45c), com laminações planas (Sh) e climbing ripples (Sr), são atribuídas a
fluxos hiperpicnais, que transportam as frações arenosas para as depressões
lacustres por de processos turbulentos (correntes de turbidez), produzidas por
episódios de aumento abrupto de descarga do sistema aluvial alimentador,
originando frentes deltaicas em sheets, sem o desenvolvimento de feições
progradacionais.

EA3. Finos de planície de inundação (FF) e paleosolos (P)


As acumulações pelíticas, genericamente atribuídas a planícies de
inundação (FF), ocorrem diretamente associadas a depósitos de canais fluviais
(CH), canais de crevasse (CR), crevasse splays (CS) e frentes deltaicas lacustres
(FD), intercaladas às litofácies arenosas que compõem estes elementos. As
litofácies características destes depósitos são constituídas por de siltitos argilosos
laminados (Fl) ou maciços (Fsm), e ritmitos areno-pelíticos laminados (Sh, Fl)
contendo por vezes raízes (Fr) e gretas de contração (Fm). As acumulação
ocorrem em espessuras variáveis, em geral inferiores a 1 metro, dispostas em
camadas lateralmente contínuas (conferir item EA1, Fig. 4.44). As evidências de
pedogênese incipiente (elemento P) são registradas pela presença de raízes, que
240

ocorrem preferencialmente no topo de camadas tabulares, centimétricas de


arenitos finos maciços (Sm) a incipientemente laminados (Sh, Sr), aos quais se
associam níveis com fendas de ressecamento. Paelosolos associados a canais
fluviais da Formação Caturrita, estudados em detalhe por Andreis & Montardo
(1980), foram classificados na categoria dos Entisols.
Interpretação
A ocorrência associada de paleosolos imaturos com depósitos de
rompimento de diques marginais, intercalados a siltitos argilosos laminados (Fl)
ou maciços (Fm) com gretas de contração (Fm) é indicativa de repetidos períodos
de exposições subaéreas (cf. Vol.II-FM15). Estes atributos evidenciam o caráter
episódico da sedimentação de overbank, registrando a alternância de períodos
úmidos e secos, interpretação corroborada por evidências tafonômicas (Holz &
Barberena, 1994).

4.2.3.2 Arenitos Mata: litofácies e elementos arquiteturais

EA1. Depósitos de canal (CH)


EA1.1 Acresções frontais (DA)
Este elemento é constituído por litofácies de arenitos grossos a
conglomeráticos, quartzosos, com estratificações cruzadas planares (Sp) e
tangenciais (St), eventualmente associados a estratos com laminações planas
(Sh). Os sets de estratos cruzados variam de 20 a 30 centímetros até cerca de 1
metro de espessura, ocorrendo superpostos segundo superfícies suavemente
inclinadas a sub-horizontais (Fig. 4.46). Os padrões de paleocorrentes, obtidas a
partir de medidas do sentido de mergulho do sets de estratos cruzados, aponta o
predomínio de estratificações com direções virtualmente coincidentes com o
sentido de inclinação das superfícies de acresção. Subordinadamente, são
registradas direções de paleocorrentes em altos ângulos com relação às
superfícies inclinadas (Vol.II-FM18a,b). Troncos silicificados de coníferas,
similares ao observado no interior dos foresets (Fig. 4.46b), atingidos diâmetros
de aproximadamente 1 metro e extensões de até 17 metros, ocorrem em grande
quantidade, dispersos sobre a superfície do terreno das áreas de exposição
destes arenitos, particularmente na cidade de Mata.
241

a
St, Sp

St
Superfície de
a
3 ordem
St, Sp

Figura 4.46 Exposição tipo dos Arenitos Mata na Paleocorrentes


RS-340, na entrada da cidade de Mata. (a)
Aspecto geral do afloramento de arenitos grossos
a conglomeráticos, quartzosos, com
estratificações cruzadas planares (Sp) e
tangenciais (St) superpostas em padrão de
acresção frontal (DA) a obliquo (LA/DA) (cf.
detalhes, Vol.II-FM18a,b), incluindo a presença de
tronco silicificado no interior da macroforma. (b)
Detalhe ilustrando as dimensões do caule fóssil,
conteúdo fossilífero característico dos Arenitos
n=29
Mata (cf. também Fig. 4.47).
242

Interpretação
As litofácies de arenitos com estratificações cruzadas de pequeno e médio
portes (St, Sp) registram a migração de formas de leito 3D e 2D, respectivamente,
que ocorrem associadas a camadas planas, com laminações plano paralelas (Sh),
produzidas por variações de regime de fluxo, no interior de canais fluviais. A
superposição destas formas de leito, segundo superfícies inclinadas (superfícies
de reativação), formando conjuntos com espessuras observáveis de 4 a 5 metros,
são interpretadas como o registro da migração de macroformas fluviais. A média
das direções de paleocorrentes, coincidindo com o sentido geral de mergulho das
superfícies de acresção, indicam que a migração das formas de leito menores
ocorreram, principalmente, ao longo do eixo de maior inclinação das superfícies
de reativação, o que caracteriza um padrão dominante de acresção frontal das
macroformas. A dispersão de paleocorrentes em altos ângulos (iguais ou
superiores a 60o) com relação ao sentido de mergulho das superfícies de
reativação, indicam períodos de ocorrência de processos de acresção lateral (LA)
a obliqua (LA/DA). No conjunto, esta associação de litofácies é interpretada como
o registro da migração de macroformas no interior de canais fluviais, evidenciada
pelo predomínio do padrão de acresção frontal. A ocorrência subordinada de
acresções laterais e obliquas é atribuída a evolução morfológica das macroformas
(conferir item 4.2.2.1.1, EA1.2; Fig. 4.31, p.223), registrando variações locais das
direções do fluxo, produzidas por oscilações do nível d’água, relacionadas a
variabilidade das condições de descarga do sistema fluvial.

EA1.2 Formas de leito arenosas (SB)


Este elemento ocorre de forma predominante na região de São Pedro Sul,
associado a importante ocorrência de caules silicificados de coníferas. As
litofácies mais características incluem camadas de arenitos finos a médios,
eventualmente grossos, com estratificações cruzadas tangenciais de pequeno e
médio portes, superpostos segundo superfícies horizontalizadas (Fig. 4.47) ou
como camadas lenticulares individualizadas, constituídas por sets isolados de
estratos cruzados (cf. Vol. II-FM19). Arenitos com laminações plano-paralelas
(Sh) e estratificações cruzadas da ordem de poucos centímetro (Sr) ocorrem de
forma subordinada. A par da extensiva ocorrência de madeira silicificada ex situ
observadas na região de São Pedro do Sul-Mata, ocorrem associadas a este
243

f
f

T SB
St

f - falhas gravitacionais T - troncos silicificados

o o
BR-287. GPS 29 39,1’ S- 54 11.7’W

d e Palocorrentes
N

n=75

Orientação dos troncos


> 1 metro
N
Figura 4.47 (a) Aspecto geral dos Arenitos Mata em São
Pedro do Sul. (b) Croqui do afloramento ilustrando a
superposição de arenitos médios com estratificações
cruzadas tangenciais (St), contendo troncos silicificados de
coníferas(cf. Vol.II-FM19). As setas indicam a direção das
paleocorrentes. (c,d,e) Madeira silicificada, atributo
característico desta unidade. As camadas de arenitos
estratificados (a,b) correspondem a formas de leito arenosas
3D - elemento (SB) - depositadas em canais fluviais. n=10
244

elemento importantes acumulações de caules alóctones, in situ, incluídos no


interior dos arenitos estratificados. A orientação média dos eixos maiores dos
caules de coníferas é praticamente ortogonal aos vetores médios de
paleocorrentes dos arenitos com estratos cruzados, que apontam um sentido
dominante de transporte para N-NE (cf. Fig.4.47; VolI-FM19).
Interpretação
As litofácies constituintes deste elemento são todas interpretadas como
produto da migração de formas de leito variadas, desenvolvidas no interior de
canais fluviais. Embora os limites e dimensões e dos canais não possam ser
observadas diretamente, devido à limitação das exposições, os dados de
subsuperfície disponíveis apontam canais com mais de 30 metros de espessura e
depósitos com extensão lateral da ordem de centenas de metros (cf. Fig. 4.38). O
predomínio de arenitos com estratificações cruzadas tangenciais e acanaladas
(St), indicam as dunas de cristas curvas ou sinuosas (3D) como formas de leito
dominantes no sistema. A presença localizada de camadas planas (Sh) é
atribuída a variações locais de velocidade de fluxo (regime de fluxo superior), que
ocorrem como litofácies subordinadas ao registro predominante de estruturas
geradas em regime de fluxo inferior. Neste contexto, a presença de caules de
madeira fóssil, inclusos nos depósitos arenosos, testifica a coexistência de
florestas de coníferas com o sistema fluvial ativo, uma vez que as dimensões e
densidade dos troncos silicificados é incompatível com as condições
hidrodinâmicas prevalecentes durante o transporte e deposição dos arenitos
estratificados.

EA2. Litofácies subordinadas


EA2.1 Sedimentos gravitacionais (SG)
Litofácies relacionadas a este elementos ocorrem localizadamente (Fig.
4.48), associadas aos arenitos com estratificações cruzadas tangenciais (St),
produzidos pela migração de formas de leito arenosas, no interior de canais
fluviais (elementoSB). Constituem-se de acumulações de conglomerados
intraformacionais matriz-suportados (Gmm), sem orientação preferencial dos
elementos do arcabouço. Os clastos são angulosos a subangulosos, de
tamanhos variáveis entre 2 e 20 centímetros, sendo a matriz constituída
principalmente pela fração areia.
245

2m

NE SW

T
Gmm SG b T
St

SB

T troncos silicificados

SG

Gmm

St (SB)

St (SB)
c
St (SB)

SG Gmm

SG
Gmm

Figura 4.48 (a) Acumulações de conglomerados intraformacionais matriz-suportados (Gmm) dos


Arenitos Mata (BR-287, São Pedro do Sul) que ocorrem subordinadas aos arenitos com
estratificações cruzadas tangenciais (St), relacionados à migração de formas de leito arenosas
(SB) de canais fluviais (cf. Vol.II-FM19). (b, c) Detalhes dos conglomerados (Gmm), produzidos
por fluxos gravitacionais (elemento SG), interpretados como registro de episódios de colapso das
margens dos canais, ocorridas em períodos de diminuição da descarga fluvial.
246

EA2.2 Depósitos finos de planícies de inundação (FF)


Este elemento é registrado apenas nas proximidades da cidade de Mata,
sendo representado por exposições localizadas de pelitos laminados (Fl), de
cores acinzentadas e tons de vinho, que ocorrem nas encostas das elevações
situadas a sudoeste da entrada da cidade. Apesar das exposições limitadas e dos
contatos encobertos, a ocorrência de uma camada de cerca de 3 metros de
espessura de arenitos contendo troncos silicificados, intercalada aos pelitos
laminados, evidencia a relação genética das litofácies pelíticas com os depósitos
de canais fluviais correspondentes aos Arenitos Mata.
Interpretação
A ocorrência da litofácies de conglomerados intraformacionais
desorganizados (Gmm) num contexto dominado por depósitos de dunas
subaquosas (Fig 4.48; Vol. II-FM19) indica que o elemento SG tenha sido
depositado no interior dos canais fluviais. Em função desta associação, tais
depósitos rudíticos são interpretados como registro de episódios de colapso das
margens dos canais, ocorridas em períodos de diminuição da descarga fluvial,
quando as margens ficam inteiramente expostas e submetidas a ação de
processos puramente gravitacionalis.
O registro de litofácies pelíticas (Fl) associadas aos depósitos de canais,
embora de ocorrência localizada, indicam a presença de planícies de inundação
no sistema. A reduzida preservação dos depósitos finos de inundação é
interpretada como devida, parcialmente, à resedimentação por fluxos
gravitacionais, originando as acumulações de conglomerados intraformacionais
(Gmm) matriz-suportados (elemento SG) e, principalmente, ao retrabalhamento
das planícies, em função da mobilidade lateral dos canais.
Sistema deposicional
A análise das associações de litofácies e elementos arquiteturais que
compõem a Formação Caturrita apontam importantes modificações de estilos
deposicionais, da base para o topo da unidade.
Resumidamente, esta unidade litoestratigráfica pode ser descrita como
uma sucessão grano e estratocrescente, caracterizada na base por canais fluviais
isolados (CH, ribbons), instalados sobre amplas planícies de inundação (FF, P),
com importantes registros de depósitos de crevasse (CS, CR) e frentes deltaicas
lacustres (FD) na porção intermediária, que passam superiormente para canais
247

lateralmente mais amplos (CH, sheets), com significativa redução das litofácies
finas de overbank em direção ao topo.
Os arenitos basais da unidade constituem depósitos de preenchimento de
canais isolados, com margens bem definidas, baixas razões largura/profundidade
e evidências de acresção vertical como processo dominante de preenchimento.
Os canais são separados por litofácies pelíticas contendo vertebrados fósseis,
calcretes e níveis de paleosolos imaturos, pertencentes ao Membro Alemoa da
Formação Santa Maria, evidenciando o contato gradacional entre o topo desta
unidade e a base da Formação Caturrita.
A agradação vertical nas áreas de extra-canal ocorre quando a migração
lateral do canais é inibida pela coesão dos depósitos marginais (cohesive
floodplains). Estas condições favorecem o desenvolvimento de canais fixos ou
com baixa mobilidade lateral, os quais tendem a ser preenchidos por agradação
vertical, resultando na elevação do leito dos canais acima do nível médio das
planícies de inundação. Esta diferença de elevação condiciona tanto o
desenvolvimento de depósitos de crevasse quanto a mudança episódica da
posição dos canais principais, pelo processo de avulsão (Smith et al., 1989;
Bristow et al., 1999). Durante os períodos de cheia, as áreas laterais aos canais
são inundadas ou convertidas em corpos d'água temporários, favorecendo a
deposição de crevasse splays (CS, CR) e frentes deltaicas lacustres (FD). Estes
depósitos geram litofácies muito similares (Miall, 1996). Na seção estudada a
distinção entre crevasses e deltas lacustres teve por base as evidências de
pedogênese e exposição subaérea dos primeiros. Estes elementos reforçam a
interpretação de sedimentação episódica das fácies de extra-canal, sugerindo
períodos de alta precipitação e descarga fluvial, responsáveis pelos extensos
depósitos de crevasse, e fases mais secas, possibilitando o desenvolvimento de
paleosolos, gretas de contração e níveis de caliche e silcretes (Silvério da Silva,
1997). Por outro lado, a identificação de frentes deltaicas lacustres, representadas
por clinoformas, recobertas pelo onlap de depósitos finos, sugere a existência de
corpos dágua mais permanentes, instalados sobre as planícies adjacentes ao
canais e sujeitos a variações periódicas do nível de base estratigráfico. Esta
associação é característica de sistemas fluviais de canais anastomosados 1 .

1
Inúmeros exemplos recentes e antigos têm sido relatados na bibliografia, e.g.: Cairncross, 1980; Smith & Smith, 1980;
Rust, 1981; Smith, 1983; Smith et al., 1989; Eberth & Miall, 1991; McCarthy et al., 1999, entre outros (cf. Nadon, 1993).
248

Segundo Nadon (1993), o desenvolvimento de sistemas anastomosados é


controlado por três fatores dominantes: domínio de carga por suspensão, baixo
gradiente e mudanças sazonais de precipitação. Os estratos basais da Formação
Caturrita parecem ajustar-se a este modelo fisiográfico 1 , pela presença de canais
isolados, encaixados em depósitos de planície de inundação, com importantes
registros de crevasse splays e depósitos lacustres associados.
Em direção ao topo da unidade, uma primeira modificação de estilo fluvial é
observada, pela ocorrência de arenitos de preenchimento de canais, com
geometria sheet like, constituídos por macroformas com evidências de acresções
laterais (LA) como elemento dominante. Estes depósitos correspondem a barras
em pontal, macroformas características de sistemas fluviais meandrantes. A
redução de depósitos finos e paleosolos preservados indica que as fácies de
planícies de inundação tenham sido removidas pela migração lateral dos canais.
A segunda modificação significativa de padrão fluvial observada
corresponde aos Arenitos Mata, caracterizados por seu abundante conteúdo de
madeira silicificada. Os elementos arquiteturais que compõe este segmento
estratigráfico indicam um sistema de canais fluviais (CH) dominado pela
associação de macroformas e formas de leito arenosas superpostas, relacionados
à ocorrência bastante restrita de litofácies finas de planícies de inundação (FF). A
migração das macroformas é marcada principalmente pelo padrão de acresções
frontais (DA), sendo subordinadas as evidências de acresções laterais e obliquas
(LA/DA), as quais podem ser explicadas por variações locais das direções do
fluxo fluvial, relacionadas à evolução da configuração morfológica das
macroformas. O padrão de acresção frontal é característico de barras de canal
(midchannel bars), comuns em sistemas braided. De outro lado, o registro apenas
localizado de acresções laterais - que pode dever-se à limitação das exposições
– também sugere que os canais não se caracterizavam por sinuosidade
acentuada, fisiografia na qual o elemento LA é dominante. Adicionalmente, a
extensiva ocorrência de formas de leito arenosas superpostas (elemento SB)
indica deposição em canais amplos, caracterizados por intensa mobilidade lateral.
A associação destes depósitos de preenchimento de canal com acumulações de
conglomerados intraformacionais matriz-suportados (elemento SG), sugere a

1
Esta interpretação, inicialmente formulada por Montardo (1980), é compartilhada por diversos autores: Faccini, 1997;
Faccini et al., 1998; Holz & Scherer,1998; Fonseca, 1999; Barberena et al., 2000.
249

estabilidade temporária de planícies de inundação (elemento FF), retrabalhadas e


ressedimentadas por colapso gravitacional, no interior dos canais.
A significativa ocorrência de caules silicificados, in situ, no interior de set de
estratos cruzados, que indica a existência de uma floresta de coníferas
contemporânea ao sistema fluvial, sugere marcadas variações das condições de
energia do sistema. Os episódios de maior energia (cheias) seriam responsáveis
pela retiradas das coníferas de sua posição original e incorporação ao fluxo
fluvial. A deposição dos caules ocorreria durante os períodos de redução de
energia, evidenciada pelas formas de leito de regime de fluxo inferior que contêm
os caules.
Este conjunto de evidências permite interpretar os Arenitos Mata como o
registro de um sistema fluvial arenoso, constituído por canais ou de baixa
(braided) a moderada sinuosidade, submetido a variações periódicas do regime
de descarga, provavelmente relacionadas a oscilações sazonais de precipitação
no interior da bacia de drenagem.
A Formação Caturrita corresponde portanto a uma superposição de
sistemas fluviais distintos, que evoluem a partir de canais isolados,
anastomosados, na base, passando superiormente para um sistema de canais
meandrante e culminando com canais entrelaçados ou com moderada
sinuosidade, no topo. Os fatores controladores destas variações são discutidos no
capítulo seguinte.

4.3 Faciologia do Grupo São Bento

4.3.1 A Formação Botucatu


Características Gerais
A Formação Botucatu corresponde a uma ampla área de deposição eólica
que recobre mais de 1.300.000 quilômetros quadrados na Bacia do Paraná. A
unidade registra parte da extensa desertificação experimentada pelo Gondwana
durante o Mesozóico e que inclui áreas de exposição no Brasil, Paraguai, Uruguai
e depósitos correlatos na África (Mountney et al., 1998,1999a,b; Stanistreet &
Stollhofen, 1999). Na borda sudeste da Bacia do Paraná (Fig. 4.49; Vol. II-FM20),
ocorre recobrindo as demais unidades gondwânicas no Rio Grande do Sul e
250
251

estende-se continuamente para o Uruguai sob a denominação de Formação


Rivera.
No Rio Grande do Sul, a Formação Botucatu, unidade basal do Grupo São
Bento (Cf. Quadro 1, pg.139), apresenta espessuras variáveis, desde poucos
metros na região oeste do estado até cerca de 150 metros na porção leste da
faixa de afloramentos. A Formação é constituída, essencialmente, por arenitos
bimodais, finos a médios, quartzosos, sendo as estratificações cruzadas de
grande porte as estruturas mais características da unidade.
O contato inferior da Formação Botucatu é demarcado por uma extensa
superfície erosiva que se estende por toda a Bacia do Paraná (Faccini et al.,
1989; Milani et al., 1998), configurando uma desconformidade de escala regional.
Superiormente, os arenitos Botucatu são recobertos pelas rochas vulcânicas da
Formação Serra. A ocorrência de intercalações de arenitos atribuídos à Formação
Botucatu com derrames basálticos da Formação Serra Geral têm sido
reconhecida por diversos autores (e.g. Almeida, 1954; Soares, 1975; Faccini et
al., 1989; Scherer, 1998), indicando a coexistência do sistema deposicional
Botucatu com as manifestações vulcânicas iniciais.
A idade da Formação Botucatu é ainda controvertida (cf. discussão no
Capítulo 5), sendo classicamente posicionada no intervalo Juro-Cretácico.
Contudo, as mencionadas relações de contato com a Formação Serra Geral
indicam que a deposição da Formação Botucatu tenha ocorrido inteiramente
durante o Eocretáceo.

4.3.1.1 Sistema Eólico: litofácies e elementos arquiteturais (EA)


EA1. Dunas (DU)
Este elemento é constituído por arenitos bimodais, finos a grossos com
estratificações cruzadas acanaladas e tangenciais (St) dominantes e planares
(Sp), mais raras. Os estratos cruzados são de médio a grande porte, com alturas
individuais médias de 2 a 5 metros podendo atingir até cerca de 30 metros (Fig.
4.50). Os sets de estratos cruzados de grande porte são constituídos por
significativos depósitos de grainflow, caracterizados por lentes de arenitos médios
a grossos, maciços a inversamente gradados, com espessuras variáveis, entre 1
e 5 centímetros. Também são comuns as ocorrências de wind ripples strata,
particularmente próximos às porções basais dos foresets. As proporções entre
252

DU

St

IDU
Sl (Sr)

DU

Sp

c d Fm. Botucatu

DU
St

Desconformidade
Fm. Santa Maria

Figura 4.50 Exposições características dos arenitos eólicos da Formação Botucatu, em


diferentes regiões de sua faixa de exposição no Rio Grande do Sul: (a,b) São
Leopoldo, pedreira do “Morro de Paula” (cf. Vol.II-FM20). (c) Santa Maria, saída da
cidade, BR-158; (d) Santa Cruz do Sul, pedreira a margem da BR-487. (a) Arenitos
com estratificações de grande porte (St), correspondentes ao elemento de dunas
eólicas (DU); (b) dunas eólicas associadas a arenitos tabulares, com laminações
planas (Sl), ondulações eólicas e translatent climbing ripples (Sr), litofácies
constituintes do elemento de interdunas (IDU) eólicas.(c) Afloramento ilustrativo das
dimensões dos estratos cruzados da unidade. (d) Contato brusco da Formação
Botucatu como os pelitos maciços da Formação Santa Maria (Membro Alemoa). Esta
superfície representa uma desconformidade de escala regional, reconhecida em toda a
Bacia do Paraná (Faccini et al., 1989; Milani et al, 1988; Scherer, 1998).
253

estratos produzidos por grainflow e pela migração de translatent climbing ripples


são variáveis, de acordo com a porção exposta ou nível de erosão dos foresets
originais. Os conjuntos de estratos cruzados unitários ou superpostos podem
atingir extensões laterais da ordem de centenas de metros, observados
principalmente em exposições artificiais e pedreiras nas quais o arenito Botucatu
é explorado como material de construção civil (Vol. II-FM20).
EA2. Interdunas (IDU)
Constituídas por camadas tabulares, horizontalizadas, de arenitos finos a
médios com estratificações cruzadas de baixo ângulo (Sl) ou laminações planas
(Sh), dominadas por translatent climbing ripples e ripples eólicas isoladas (Sr)
(Fig. 4.50b), com raros grânulos de quartzo ou intraclastos pelíticos dispersos na
matriz arenosa. Em algumas exposições observa-se que as camadas
horizontalizadas, ou com baixo ângulo de mergulho (<10o), assumem lateralmente
mergulhos mais elevados, sugerindo que, em alguns casos, esta litofácies
corresponda a porções distais de estratos cruzados tangenciais. Nestas litofácies
são comuns níveis portadores de moldes de cristais de gipsita, especialmente na
região leste da faixa de ocorrência da unidade (De Ros et al., 1998).
Interpretação
As estratificações cruzadas observadas, são interpretadas como
acumulações de dunas eólicas (DU) crescentes, simples e compostas (crescentic
dunes; cf. Tabela 3.5). Esta interpretação morfológica baseia-se na freqüente
ocorrência de conjuntos isolados ou superpostos de estratos cruzados
acanalados (St) ou planares (Sp), representando, respectivamente, a migração de
dunas de cristas curvas a sinuosas (3D) e retilíneas (2D), coexistindo no sistema.
A significativa ocorrência de graiflow cross-strata, sugere a presença de dunas
produzidas por ventos transversais dominantes, modificadas por ventos
secundários, oblíquos ou paralelos às faces de avalanche, registrados pela
intercalação de wind-ripples laminae na base dos sets (Kocurek, 1996). Análises
morfodinâmicas e morfológicas de detalhe, elaboradas por Scherer (1998, 2000),
indicam significativa ocorrência de dunas lineares complexas, associadas às
acumulações de dunas crescentes descritas acima, indicando que a Formação
Botucatu, no Rio Grande do Sul, é predominantemente constituída por esta
associação.
254

Os depósitos de arenitos tabulares, horizontalizados, com cruzadas de


muito baixo ângulo e laminações planas (Sl, Sh), constituídos quase que
exclusivamente por ondulações eólicas (climbing translatent strata; Hunter, 1977a;
Kocurek & Dott,1981), são genericamente classificados como depósitos de
interdunas (IDU) secas. As camadas planas, que passam lateralmente para
estratos cruzados, correspondem ao prolongamento distal de depósitos de faces
frontais das dunas maiores (plinth deposits; Kocurek, 1986; Clemmensen, 1989),
posição em que os baixos ângulos impedem os processos de avalanche,
favorecendo a migração e cavalgamento das ondulações eólicas que
caracterizam esta litofácies.
Sistema deposicional
O reconhecimento da Formação Botucatu como o registro de um extenso
sistema desértico do Mesozóico na Bacia do Paraná tem sido estudado a longo
tempo, por diversos autores (e.g. Almeida, 1954; Bigarella, 1973, Bigarella e
Salamuni, 1961;1967a,b). Trabalhos recentes e detalhados sobre a unidade no
Rio Grande do Sul são encontrados em Scherer (1998, 2000).
Nesta porção da bacia a Formação Botucatu é constituída
predominantemente por dunas crescentes simples e compostas, associadas a
dunas lineares complexas (Scherer, op. cit.), com registro subordinado de
depósitos de interdunas. Esta associação é característica de sistemas eólicos
secos, nos quais a preservação de interdunas é reduzida, em função do
permanente rebaixamento do lençol freático, que favorece a remoção da areia
seca e incorporação às acumulações de dunas eólicas (Kocurek & Havholm,
1993) 1 . A aridez do sistema é corroborada pela ausência de bioturbações,
superfícies de estabilização ou depósitos subaquosos associados (Faccini et
al.1989), além da presença de pseudomorfos de cristais de gipsita, que
evidenciam a intensa evaporação de águas subterrâneas, nas regiões
interdunares (De Ros et al., 1998).
As condições de aridez, prevalentes em toda a sucessão, é atribuída ao
posicionamento paleogeográfico da bacia e aos padrões de circulação imperantes
no sudoeste do Gondwana, durante o final do Jurássico, início do Cretáceo
(Parrish et al., 1982). Localizada no interior do supercontinente, distante das

1
Conferir discussão nos itens 3.4.3.3.4 e 3.4.3.3.5, páginas 127 e 131. Conferir também Figs.3.39, 3.42.
255

áreas litorâneas, a Bacia do Paraná foi submetida a uma drástica redução do


suprimento de umidade, resultando na ampla deposição eólica representada pela
Formação Botucatu e unidades correlatas.
O final abrupto da acumulação do sistema desértico Botucatu, recoberto
pelo derrames vulcânicos da Formação Serra Geral no início do Cretáceo,
precede a ruptura final do Gondwana, encerrando o registro sedimentar da Bacia
do Paraná, em seu setor sul-sudeste.
Capítulo 5
ESTRATIGRAFIA DE SEQÜÊNCIAS

5.1 Unidades litoestratigraficas e aloestratigrafia

A sucessão vertical de litofácies e elementos arquiteturais dos estratos


continentais descrita no capítulo anterior (Tabela 5.1), aponta significativas
mudanças no padrões deposicionais, neste setor da Bacia do Paraná, a partir do
final do Permiano e durante o Mesozóico. Neste capítulo, o empilhamento vertical
e as variações laterais de fácies das diferentes unidades litoestratigráficas são
focalizados sob a ótica da estratigrafia de seqüências, numa análise comparada
com os principais modelos e conceitos vigentes, discutidos no Capítulo 3. A partir
da hipótese de trabalho adotada (conferir Capítulos 1 e 2, Quadro 2.6), a análise
estratigráfica, tem como referência inicial e as seqüências deposicionais
individualizadas por Faccini (1989). Com base em sua significação
cronoestratigráfica, e visando enfatizar as variações de estilos deposicionais,
estas unidades são aqui tratadas como o registro estratigráfico de três intervalos
temporais distintos, materializados por seqüências de eventos 1 deposicionais
particulares:

(1) Intervalo Neopermiano-Eotriássico; registrado pela Seqüência I de


Faccini (op cit.) que inclui as formações Rio do Rasto e Sanga do
Cabral;
(2) Intervalo Meso-Neotriássico: compreendendo as Seqüências II e III. A
primeira correspondendo às formações Santa Maria e Caturrita e
segunda representada pelos Arenitos Mata;
(3) Intervalo Eocretáceo: representado pela Formação Botucatu,
equivalente à Seqüência IV de Faccini (op cit.).

1
Termo aqui utilizado no sentido atribuído por Miall (1990) para referir eventos dinâmicos de curta duração (furacões,
flashfloods) e de longa duração (10.000 -10.000.000 anos). Os eventos de grande duração incluem mudanças climáticas,
tectônicas e variações globais do nível do mar. Nesta escala de eventos (long-term events) incluem-se as seqüências, de
diversas ordens de magnitude. Este termo foi introduzido por Frazier (1974, apud Miall op cit.) para descrever seqüências
de eventos ocorridos durante a evolução do Delta do Mississipi, resultando no desenvolvimento de pacotes estratigráficos
separados por descontinuidades (hiatos deposicionais). Uma seqüência de eventos deposicionais relacionados constitui
um episódio deposicional.
Tabela 5.1 Unidades litoestratigráficas do intervalo Neopermiano-Eocretáceo do Rio Grande do Sul: Quadro sintético das principais características das
litofácies e elementos arquiteturais dominantes, descritas em detalhe no Capítulo 4. Os elementos de ocorrência subordinada aparecem entre parêntesis.
Formação Elementos Litofácies Principais características Interpretação Sistema deposicional
DU St, Sp Arenitos médio a grossos com estratificações Dunas eólicas 3D e 2D,
cruzadas de grande porte; simples e compostas;
Botucatu Interdunas secas e plinth Sistema eólico seco
IDU Sl, Sh, Sr Arenitos tabulares, dominados por ondulações deposits
eólicas, com moldes de cristais de gipsita
DA, SB Sp, St, Arenitos grossos a conglomeráticos com Canais fluviais, dominados Sistema fluvial arenoso;
(Sh, Sr) estratificações cruzadas e abundantes por macroformas com canais de baixa
Arenitos
Mata
acumulações de caules de coníferas; acresções frontais moderada sinuosidade
(SG, FF) (Gmm,Fl) Raras acumulações de conglomerados
intraformacionais e pelitos laminados
LA St, Sr Arenitos finos a grossos com geometria sheet-like Canais fluviais, dominados Sistema fluvial
por macroformas com meandrante
acresções laterais
FF, P Fsm, Fl, Fr Pelitos maciços ou laminados com marcas de Planícies de inundação Sistema fluvial de canais
Caturrita raízes com paleosolos fixos, sinuosos a
CS, CR, Sh, Sr, St, Arenitos muito finos a finos, tabulares ou em ou Crevasse splays e canais anastomosados,
(Sh) em forma de canais; de crevasse; associados a depósitos
FD Sm, Sh, Sr Arenitos finos a médios, tabulares ou sigmoidais Frentes deltaicas lacustres de planícies de
CH St, Sm (Cgi) Arenitos finos a médios lenticulares (ribbons), Canais fluviais isolados inundação e corpos
lacustres
FF Fsm, Fl, Sh Pelitos maciços a laminados e ritmitos areno- Planícies de inundação
Membro Planícies de inundação e
Alemoa
pelíticos;
corpos lacustres
P Fr (Sh,Fl) Impressões de raízes, calcretes e silcretes Paleosolos imaturos
Santa
SB, DA St, Sp Arenitos grossos a conglomeráticos com Canais fluviais, dominados
Maria Membro Sistema fluvial perene;
Passo (LA/DA) (Sr, Sh) estratificações cruzadas de pequeno e médio por macroformas com
das
canais de baixa (braided)
(Fl, Fsm) portes; padrão multistorey e acresções frontais; acresções frontais;
Tropas (FF) a moderada sinuosidade
Acumulações de pelitos laminados subordinadas Planícies de inundação
DU, St Arenitos finos a médios com estratificações Dunas eólicas crescentes,
Sanga Sl, Sh, Sr cruzadas de grande porte simples e compostas Sistema eólico úmido
do IDU (WD) Arenitos finos a médios, tabulares, bioturbados Interdunas úmidos
LS, SB Sh, St Arenitos finos a médios, tabulares, com Lençóis de areias Planícies de canais
Cabral
(LB,CH, HO, (Cgi, Gm, Sm, estratificações cruzadas e laminações planas laminadas, com canais entrelaçados (braidplains)
FF, GB) Fl, Fsm,Fm) subordinados fluxos efêmeros
257
258

As unidades deposicionais correspondentes ao registro estratigráfico destes


intervalos temporais são individualizadas com base em critérios sedimentológicos
e estratigráficos (Capítulo 4) e delimitadas por descontinuidades físicas de caráter
regional ou local, seguindo a abordagem prevista pela aloestratigrafia (Fig. 5.1).
As idades e duração dos diferentes eventos deposicionais, assim como as
omissões de registro estratigráfico, são inferidas com base nas informações
paleontológicas e datações radiométricas disponíveis (Fig. 5.2). A divisão do
registro em unidades aloestratigráficas informais tem como referência a
subdivisão estabelecida por Faccini (1989), conforme discutido nos Capítulos1 e
2, Quadro2.6. Contudo, ainda que a denominação originalmente formulada por
Faccini (op cit.) permaneça operacional (Seqüências I, II, III e IV), a terminologia
litoestratigráfica formal, consagrada pelo uso, é aqui utilizada adicionalmente para
designar os diferentes eventos deposicionais, com o objetivo de evitar a
introdução de novos termos e facilitar a comunicação entre os estudiosos do
assunto.

5.1.1 Eventos deposicionais e limites de seqüências

5.1.1.1 O Intervalo Neopermiano-Eotriássico


Seqüência Rio do Rasto/Sanga do Cabral
O registro deste intervalo temporal corresponde à Seqüência I de Faccini
(op cit.), que inclui as Formações Rio do Rasto e Sanga do Cabral. Esta
seqüência compreende dois eventos deposicionais de menor hierarquia, aqui
denominados (1) Evento Pirambóia/Rio do Rasto e (2) Evento Sanga do Cabral.
(1) Evento Pirambóia/Rio do Rasto
Reúne os depósitos de deltas e prodeltas lacustres da Formação Rio do
Rasto no Rio grande do Sul e Uruguai e os arenitos eólicos da base da Formação
Sanga do Cabral, aqui mencionados como equivalentes à Formação Pirambóia no
norte da Bacia do Paraná. A passagem gradacional de um sistema para o outro,
materializada pela intercalação de arenitos eólicos com os depósitos lacustres,
evidencia a coexistência dos dois sistemas, ao final da sedimentação Rio do
Rasto e início do evento de desertificação Pirambóia (Sanga do Cabral eólico; cf.
item 4.2.1.1.1). O predomínio crescente dos depósitos eólicos em relação às
litofácies lacustres, para o topo da seqüência, indica uma transição
259

Fig. 5.1
Coluna Síntese
p.259

Fig. 5.1
Coluna Síntese
p.259
260

Tempo Macrofósseis Litoestratigrafia Seqüências


(Ma)
137-127Ma*

GRUPO SÃO BENTO


CRETÁCEO Fm. Serra
133-132Ma** Fm. Serra Geral
Inferior
Geral Botucatu
144

JURÁSSICO Fm. Botucatu

205
RHAETICO Flora de
conífera s Arenitos Mata

GRUPO ROSÁRIO DO SUL


209 Mata
Superior

NORIANO
Fm. Caturrita ?
Nível de Jachaleria
TRIÁSSICO

220
Cenozonas

CARNIANO

Fm. Santa Maria


Rhynchosauria
Membro Santa Maria/
221
Alemoa Caturrita
LADINIANO Therapsida
Médio

234
ANISIANO
Membro Passo
das Tropas
241
Formação
Inf.

SCYTHIANO
Sanga do Cabral
Z. Lystrosaurus S. do Cabral
248
Z. Daptocepha lus Formação Rio do Rasto ?
PERMIANO Pirambóia/
Superior GRUPO PASSA DOIS Rio do Rasto

registro sedimentar hi atos

Figura 5.2 Distribuição bioestratigráfica dos macrofósseis do Permiano Superior


e Triássico do Rio Grande do Sul. Quadro sintetizado a partir de Barberena et al.
(1985a,b;1991;1993; 2000), Schultz (1985) e Schultz et al. (2000). Nomenclatura
das unidades litoestratigráficas baseadas em Andreis et al. (1980) e seqüências
deposicionais modificadas de Faccini (1989). Conferir discussão no Capítulo 2.
Geocronologia da Formação Serra Geral (Ar/Ar), segundo *Turner et al. (1994) e
**Renne et al. (1996).

paleoambiental aparentemente contínua, sem evidências de maiores interrupções


do registro, o que dá coerência a unidade. O limite inferior da seqüência é
marcado por uma pronunciada mudança faciológica no contato de arenitos de
plataforma marinho-rasa, com evidências de ação de ondas (Formação Teresina),
sobrepostos por sedimentos lacustres e eólicos (cf. Vol. II-FM6). Presentemente,
não existem ainda elementos que indiquem precisamente o tempo contido nesta
superfície. Contudo, as discordâncias observadas são possivelmente de caráter
local, restrita às bordas da bacia, como indicam as correlações de subsuperfície
(Lavina, 1992). O limite superior da seqüência é marcado por uma notável
mudança paleoambiental, com o encerramento do episódio eólico e instalação
dos depósitos aluviais característicos da Formação Sanga do Cabral. A
denominação Pirambóia, é aqui utilizada para diferenciar o episódio eólico do final
261

do Permiano, por correlação com a sedimentação equivalente que ocorre ao norte


da bacia (Lavina 1989; Lavina et al., 1993). O uso do termo Sanga do Cabral é
reservado aos depósitos fluviais, que definem a unidade em sua seção tipo. Os
vertebrados fósseis pertencentes à Zona de Daptocephalus, presentes em
camadas da Formação Rio do Rasto no Rio Grande do Sul (cf. Quadro 2.5),
indicam que esta seqüência constitua o registro estratigráfico do intervalo
transcorrido entre o final do Permiano (Tatariano) e início do Triássico
(Scythiano?).
(2) Evento Sanga do Cabral
Corresponde a depósitos aluviais, constituídos pela associação de
litofácies de planícies entrelaçadas (braidplain) e canais fluviais associados. A
instalação deste sistema determina o final do episódio eólico Pirambóia,
correspondendo a uma supersuperfície (sensu Kocurek, 1988) de extensão
regional, que constitui o limite inferior desta seqüência. Superiormente, a unidade
é limitada por uma superfície erosiva de extensão regional, sobre a qual se
depositam os arenitos fluviais da base da Formação Santa Maria (Membro Passo
das Tropas). Os registros fossilíferos pertencentes à Zona de Lystrosaurus (cf.
Fig. 5.2; Quadro 2.5), indicam que este evento deposicional tenha ocorrido
durante o início do Triássico (Scythiano).
Sob o ponto de vista da aloestratigrafia, a superfície que delimita os
eventos eólico (Pirambóia) e aluvial da Formação Sanga do Cabral no Rio Grande
do Sul merece uma discussão adicional. Esta superfície pode ser classificada
como uma supersuperfície do tipo deposicional (Fig 3.32), de acordo com a
Kocurek & Havholm (1993). Supersuperfícies desta natureza, caracterizadas por
uma abrupta modificação de estilos deposicionais, embora demarquem o final de
um episódio eólico, não necessariamente representam lacunas significativas no
registro (cf. itens 3.4.3.3.2 e 3.4.3.3.7). Nestes casos, tais superfícies não
correspondem integralmente ao conceito de unconformity, sensu Mitchum (1977)
e Van Wagoner et al. (1988), não configurando, portanto, limites de seqüências
(cf. item 3.4.3.2.1). Por estes motivos, o termo "seqüência" é aqui utilizado com
reservas para definir estas unidades deposicionais, uma vez que a resolução
bioestratigráfica disponível é insuficiente para estimar o possível hiato contido
nesta superfície. A par desta discussão, a referida superfície demarca uma
mudança paleoambiental significativa, configurando uma descontinuidade física,
262

elemento que fundamenta a definição das unidades aloestratigráficas 1 . Portanto,


a utilização do termo evento, para designação destes pacotes geneticamente
distintos, parece o mais adequado, sob o aspecto da evolução paleoambiental da
área.
Em escala de bacia, a seqüência deposicional de maior hierarquia
(Seqüência I de Faccini,1989), constituída pelos eventos Pirambóia/Rio do Rasto
e Sanga do Cabral, registra eventos estratigráficos de mais alta freqüência (3a ou
4a ordem), que compõem as fases finais de evolução da superseqüência
Neopaleozóica Gondwana 1, unidade de 2a ordem, individualizada por Milani
(1997; cf. Quadro 2.1).

5.1.1.2 O Intervalo Meso-Neotriássico


Seqüência Santa Maria/Caturrita e o evento Mata
O registro deste intervalo temporal corresponde às Seqüências II e III de
Faccini (op cit.). Em termos litoestratigráficos, compreende as formações Santa
Maria e Caturrita que, pela variação vertical de seus atributos litofaciológicos e
características deposicionais diferenciados, são subdivididas em segmentos
aloestratigráficos distintos: (1) Seqüência Santa Maria/Caturrita e (2) Seqüência
Mata, esta última tratada aqui como um evento deposicional particular, ocorrido
ao final do Triássico.
(1) Seqüência Santa Maria/Caturrita
Este conjunto de estratos contém importantes variações de estilos
deposicionais e constituem o principal registro do período Triássico na Bacia do
Paraná, atestado por seu conhecido conteúdo fossilífero (cf. Capítulo 2; Quadros
2.6 e 4.8; Fig. 5.2).
Esta seqüência inclui os Membro Passo das Tropas e Alemoa da
Formação Santa Maria e parte da Formação Caturrita, que embora constituam
entidades litoestratigráficas distintas, não apresentam hiatos deposicionais
significativos que, embora possam existir, não foram detectados pela análise
faciológica regional e de detalhe, principais ferramentas utilizadas neste estudo.

1
Unidades aloestratigráficas (Allostratigraphic units) são definidas como corpos mapeáveis de rochas sedimentares
estratificadas, definidos e identificados com base em descontinuidades limitantes, traçáveis lateralmente (NACSN, 1983;
Article 58). Interpretações genéticas, duração temporal e inferências geo-históricas não são levadas em consideração na
definição de unidades aloestratigráficas. Segundo Miall (1990), as unidades aloestratigráficas podem ser consideradas
como uma variedade de um tipo mais geral unidades estratigráficas pertencentes à "Estratigrafia de Eventos" (Event
Stratigraphy), categoria ainda não formalizada nos códigos estratigráficos.
263

Em relação ao depósitos subjacentes, além das referidas substituições


faunísticas, a implantação da Seqüência Santa Maria/Caturrita coincide com o
aparecimento e dominância da Flora Dicroidium, característica do Triássico, o que
reforça a idade Meso-Neotriássicas destes estratos (Fig. 5.3).
ÉPOCA

TEMPO
(Ma)
ESTÁGIO Espécies de Dicroidium no Rio Grande do Sul
2 05. 7

RHAETICO
209.6
210

215 1 D. zuberi var. papillatum


NORIANO
Superior

2 D. zuberi var. feistmantelli


3 D. aff. narrabeenense
4 D. dubium
220
D. zuberi var. zuberi
TRIÁSSICO

220.7 5
6 D. lancifolium
CARNIANO 7 D. (Xilopteris) elongatum
225
8 D. odontopterigoides
227.4
var. remotun
9 D. odontopterigoides var.
230 odontopterigoides
LADINIANO 10 D. (Johnstoni a) stelzneriana
11 D. (Xilopteris) argentinium
Méd io

235
234.3 12 D. odontopterigoides var.
m oltenense
ANISIANO 8 9 10 11 12
240

241.7
7
SCYTHIANO

OLENEKIANO
Inf erior

245 244.8
1 2 3 4 5 6
INDUANO

2 4 8 .2

Figura 5.3 Distribuição bioestratigráfica das espécies de Dicroidium contidas nas


unidades Triássicas do Rio Grande do Sul, segundo Guerra-Sommer et al. (1998,
1999). Quadro adaptado dos originais para indicar o intervalo de ocorrência da Flora de
Dicroidium apontado pelos autores e incluir as idades numéricas da tabela de tempo do
Triássico, segundo Ross, Baud & Menning (1994).

A base da seqüência é materializada pela incisão e preenchimento dos


canais fluviais do sistema Passo das Tropas, sobre uma superfície erosional que
satisfaz aos principais critérios requeridos para o estabelecimento objetivo de um
limite de seqüências: (1) truncamento erosivo da ordem de quilômetros (Fig. 5.4);
(2) mudança granulométrica e composicional abrupta; (3) modificação dos estilos
deposicionais e (4) registro de significativa lacuna bioestratigráfica (cf. item
3.4.3.2.1).
O sistema Passo das Tropas (cf. item 4.2.2.1), inclui litofácies arenosas de
granulação fina a muito grossa até frações conglomeráticas, quartzosas e
quartzo-feldspáticas, depositadas por canais fluviais multiepisódicos (multistorey),
dominados por macroformas com padrões de acresções frontais e obliquas
(elementos DA e LA/DA). Este sistema difere significativamente do depósitos de
264
265
266

planícies de canais entrelaçados (braidplain), com geometria em lençol ou


pobremente canalizados, produzidas por fluxos efêmeros, que caracterizam as
fácies aluviais da Formação Sanga do Cabral subjacente (cf. Tabelas 4.1 e 5.1).
O Membro Alemoa, por sua vez, pela caraterizado pela dominância das
litofácies pelíticas, fossilíferas, associadas a freqüentes horizontes de caliche e
paleosolos que recobrem os depósitos fluviais do Membro Passo das Tropas. As
fácies finas do membro Alemoa são recortadas por canais isolados (ribbons) da
base da Formação Caturrita, evidenciando a relação genética entre estas
unidades litoestratigráficas que, por estas evidências, compõem um mesmo
sistema deposicional, nesta porção da seção. Os possíveis hiatos deposicionais
do sistema são provavelmente da categoria de diastemas, relacionados aos
processos de avulsão (Smith et al., 1989) dos canais Caturrita sobre a planície de
inundação Alemoa. A partir da porção intermediária, em direção ao topo da seção,
depósitos arenosos de crevasse splays, canais de crevasse e frentes deltaicas
lacustres, também pertencente à Formação Caturrita, completam a associação de
fácies de extra-canal, levando a interpretação de que o sistema deposicional
Alemoa/Caturrita corresponda a um sistema de canais fixos ou anastomosados,
sujeito a inundações periódicas (cf. item 4.2.3).
O aumento da concentração de arenitos, em direção ao topo da Formação
Caturrita, coincide com uma mudança de padrão fluvial, que passa a ser
caracterizado pela geometria sheet-like e por macroformas com evidências de
acresções laterais (LA). A presença deste elemento, típico de barras em pontal,
indica o aumento da mobilidade lateral dos canais, sugerindo um sistema fluvial
meandrante, com reduzida preservação das fácies de planícies de inundação.
(2) Evento Mata
Os Arenitos Mata (cf. item 4.2.3.2) são diferenciados como um evento
deposicional particular, dentro da "Seqüência Meso-Neotriássica" 1 com base nas
seguintes evidências, distintas das demais litofácies da Formação Caturrita: (1)
ocorrência restrita ao setor oeste da faixa de afloramentos da unidade (cf. Fig.
4.40; Vol. II-MB); (2) mudança granulométrica e composicional, manifestada por
arenitos grossos a conglomeráticos, com importante contribuição quartzo-

1
O termo "seqüência", embora formalmente inadequado para referir intervalos temporais, é aqui usado com certa liberdade,
entre parênteses (Figs. 5.1 e 5.7), como jargão técnico usualmente utilizado para mencionar tempo e registro estratigráfico
da área de estudo.
267

feldspática, indicando contribuição direta do embasamento cristalino


(Zerfass,1989; Garcia, 1999); (3) mudança de estilo deposicional, caraterizado por
canais de baixa a moderada sinuosidade, com reduzidos depósitos de inundação
preservados; (4) grande concentração de caules de coníferas "in situ",
constituindo um conteúdo fossilífero diferenciado em relação aos demais
depósitos da Formação Caturrita 1 .
A presença de folhas de coníferas associadas a elementos da Flora de
Dicroidium (cf. Fig. 5.3) na região de Faxinal do Soturno (informação verbal da
Dra. Tânia Dutra) confirma a coexistência destas floras no Neotriássico, porém
localizadas em áreas distintas do mesmo paleoambiente (Guerra-Sommer, et al.
1998;1999). A raridade destes achados, até o momento, deve-se possivelmente à
baixa energia do sistema aluvial registrado nas porções inferiores da Formação
Caturrita, evidenciado pela presença de canais isolados, associados a amplas
planícies de inundação e depósitos de crevasse. Contudo, a significativa
concentração de caules verificado nos Arenitos Mata, coincide com uma
importante mudança de padrão fluvial caracterizado por macroformas de canais
de baixa sinuosidade, indicando o significativo aumento de energia do sistema.
Adicionalmente, a preservação de grandes quantidades de caules pressupõe
rápida imersão, após a retirada das árvores de sua posição original, sugerindo
que sua retirada e incorporação ao fluxo fluvial esteja relacionada à eventos de
aumento abrupto de descarga do sistema.
A idade deste sistema, permanece incerta, uma vez que os dados disponíveis
são ainda inconclusivos e sujeitos ao terreno da interpretação. Embora os
registros da associação de madeira silicificada com elementos da Flora
Dicroidium (Herbst & Lutz, 1988; Bolzon, 1993; Guerra-Sommer et al., op cit.)
apontem idades referidas ao Triássico Superior (Carniano-Noriano), de acordo
com Anderson et al. (1999), em termos globais, o desenvolvimento das florestas
de coníferas, embora se inicie ao final do Triássico (Rhaetico), atinge seu ápice
somente durante o Jurássico (Fig. 5.5). Estas considerações sugerem o Triássico
mais superior como idade provável dos Arenitos Mata, embora não possa ser
descartada uma idade ainda mais jovem para a associação de coníferas (Guerra-
Sommer, op cit.). Esta questão permanece aberta e para além da especialidade e

1
Alguns estudos sobre este tema, além dos mencionados no texto: Bortoluzzi et al., 1983; Andreis et al., 1982; Guerra-
Sommer & Gamermann, 1985; Minelo, 1994a,b,c; Bolzon & Guerra-Sommer, 1994; Bolzon 1995a,b, entre outros.
268

PERM. TRIÁSSICO JURÁSSICO CRETÁCEO CENOZÓICO


Eo M Neo Eo Meso Neo Eo Meso Neo

Glossopteris

Dicroídium

100%
da
Coníferas megaflora
50%
5% 1%
Ladiniano
Carniano
Rhaetico
Scytiano

Anisiano

Noriano

Figura 5.5 Abundância relativa das megafloras do Gondwana ao longo do tempo,


destacando a Flora Dicroidium e o desenvolvimento da coníferas, a partir do final do
Triássico. Figura simplificada do quadro de distribuição global das magafloras gondwânicas
de Anderson et al. (1999).

objetivos do presente estudo. Seu esclarecimento continua na dependência de


trabalhos futuros. Contudo, independentemente da idade e com base em
elementos estritamente faciológicos e estratigráficos, os Arenitos Mata são
interpretados como correspondendo a uma "tapho-unidade" ou evento tafonômico
diferenciado do contexto geral da Formação Caturrita, constituindo uma unidade
aloestratigráfica informal autônoma, com idade tentativamente atribuída ao topo
do Triássico (Rhaetico?).
No contexto geral de evolução da Bacia do Paraná, a sedimentação fluvial
Mata corresponde a um evento de alta freqüência (Faccini et al., 1998), ocorrido
ao final da seqüência deposicional Santa Maria/Caturrita, equivalente à
superseqüência Gondwana II (cf. Quadro 2.1), unidade de 2a ordem
individualizada por Milani (1997), de ocorrência restrita ao Estado do Rio Grande
do Sul.

5.1.1.3 O Intervalo Eocretácico


Seqüência Botucatu
O registro deste intervalo é representado exclusivamente pelos arenitos
eólicos da Formação Botucatu, correspondentes à Seqüência IV de Faccini
(1989). Em conjunto com a Formação Serra Geral a Formação Botucatu compõe
269

a superseqüência Gondwana III de Milani (op cit.), de ocorrência generalizada em


toda a Bacia do Paraná.
O limite inferior da seqüência corresponde a uma ampla superfície de
deflação eólica reconhecida por inúmeros autores (e.g. Almeida , 1953; Northfleet
et al., 1969; Schnneider et al., 1974; Faccini, 1989; Faccini et al., 1989; Lavina,
1992; Milani ;1997; Scherer ,1998), tanto na faixa de afloramentos como em
correlações de subsuperfície. Em escala de bacia, esta extensa superfície de
erosão é manifestada pelo contato direto da Formação Botucatu com o
embasamento ou com unidades subjacentes de idades diversas (formações
Furnas, Ponta Grossa, Aquidauana, Corumbataí, Rio do Rasto e Santa Maria),
constituindo-se na mais pronunciada lacuna estratigráfica da história da Bacia do
Paraná (cf. Milani, op. cit.).
No Rio Grande do Sul, esta lacuna é manifestada pelas seguintes
características: (1) contato é brusco, entre os arenitos da Formação Botucatu e
unidades subjacentes de diferentes idades (Vol. II-MB). Os arenitos Botucatu
ocorrem na forma de escarpas, diferenciando-se morfologicamente das colinas
suavizadas que caracterizam as demais unidades. Sob o aspecto aplicado, a
Formação Botucatu é a única unidade sedimentar, entre os red beds do Rio
Grande do Sul, explorada para extração de material de construção (cf. Vol.II-
FM20), o que denota suas características faciológicas e diagenéticas particulares;
(2) mudança faciológica e paleoambiental abrupta entre os depósitos subaquosos
das formações Rio do Rasto e Santa Maria e a sedimentação caracteristicamente
eólica da Formação Botucatu. Diferentemente do descrito para o norte da bacia
(Arenito Santana; Almeida, 1954), não são observados depósitos aluviais
significativos na base da unidade, exceto raros fluxos torrenciais; (3) mudança
dos padrões deposicionais e direções de transporte entre o sistema eólico seco
Botucatu e os depósitos eólicos de dunas e interdunas úmidas da Formação
Sanga do Cabral; (4) em alguns pontos a superfície basal é marcada por
polígonos de ressecamento (Corredor Internacional, Livramento) ou linhas de
ventifactos (estrada para Silveira Martins, Folha de Camobi), mencionados por
diversos autores (Gamermann, 1973; Medeiros, 1980; Jabur, 1980).
Estas evidências demonstram que a Formação Botucatu, no Rio Grande do
Sul, assenta-se sobre uma marcada desconformidade, relação de contato
coerente com o observado no restante da bacia.
270

O limite superior, por sua vez, tem sido motivo discussão ao longo do
tempo. Rocha Campos et al. (1988), analisando em profundidade esta questão,
mencionam diversas referências à intercalação de derrames basálticos com
arenitos eólicos atribuídos a Formação Botucatu (Almeida, 1946, 1952, 1953;
Gordon Jr., 1947; Leinz, 1949, entre outros). Por outro lado, referem restrições à
generalização destas relações, pelo reconhecimento de corpos intrusivos
concordantes (sills), no estado de São Paulo, originalmente identificados como
fluxos basálticos. No Rio Grande do Sul, Gordon Jr. (1947), Eick et al. (1973) e
Carraro et al. (1974) interpretam uma “erosão pré-Serra Geral”, em função do
reconhecimento de derrames basálticos escavando ou preenchendo cavidades na
Formação Botucatu ou mesmo em contato direto com a Formação Santa Maria.
Entretanto, a reconhecida intercalação entre os arenitos eólicos e os
derrames basálticos, observada em diversos pontos da bacia (e.g. Almeira, 1954;
Soares, 1975), indicando a contemporaneidade entre a duas litologias, produziu
inclusive a discussão sobre o uso dos termos Botucatu e Serra Geral.
Historicamente, o nome Botucatu tem sido utilizado, tanto para designar
exclusivamente o pacote de arenitos eólicos que ocorrem abaixo do primeiro fluxo
basáltico, quanto para a intercalação de arenitos e basaltos que precede o
predomínio das lavas na porção superior. O reconhecimento desta intercalação
propiciou até mesmo a proposta de uma única denominação litoestratigráfica que
reunisse ambas as litologias. Tal unidade, segundo diversos autores citados em
Rocha Campos (op cit.) 1 , deveria preservar o nome “Botucatu” (Gonzaga de
Campos, 1889), na categoria de Formação ou Grupo, em função de sua
prioridade histórica sobre o termo “Serra Geral” (White, 1908).
Estas relações de contato, as datações isotópicas da Formação Serra
Geral (Fig. 5.6) e a natureza do sistema eólico constituem os principais elementos
para inferências sobre a idade da seqüência Botucatu, uma vez que o conteúdo
fossilífero da unidade (Leonardi, 1981, 1984; Bertini, 1993; Bonaparte, 1996) não
favorece o estabelecimento de conclusões precisas sobre início e duração do
episódio eólico.
Observações mais recentes (Faccini et al., 1989; Milani, et al. 1998; Scherer,
1998, 2000) confirmam a coexistência parcial entre o sistema desértico

1
Mendes & Fúlfaro, 1966; Rocha Campos e Farjallat, 1966; Bigarella & Salamuni, 1967; Cordani & Vandoros, 1967.
271

Limite da
Legenda:
Bac ia do Paraná rochas sedimentares mais jovens
Basaltos
Gramado, Ubirici
e Esmeralda Riolitos
Ribeira
Paranapanema Diques
55 W
0

Pitanga

600 W
0S
15

136.9 +
- 1. 3

450 W 0
AMÉRICA 20 S

DO SUL
Rio de
0 Amostra
20 S de poço Janeiro
137.4 +
- 0. 7 1506m
128.7 +
- 0. 8 133.3 - 129. 4
131.7 + - 0. 8
133.9 +
- 2. 5
134.1 +
- 1. 3
130.4 +- 2. 9
131.2 +
- 0. 5 Arco de
Ponta Grossa

131.8 + +-
Assunç ão - 1. 4
25 S
0

133.2 + - 4. 7 129.4 + 1. 3
131.2 +
- 1. 1 127.7 -
137.2 + +- 4. 6
- 1. 4 132.3 +
- 0. 8

132.9 +2.8
132.4 +1.4
Etendeka
Porto Alegre
Rio Grande
do Sul 130.3 + 1.2
132.8 +1.8
Escarpa da 129.1 +1.4
126.8 +2.0
Serra Geral 127.2 + 1.2
127.6 + 1.2
URUGUAI

127.0 -131.8
131.4 -133.1
Montevideo ÁFRICA
Buenos Aires

Figura 5.6 Mapa pré-drift mostrando a extensão do magmatismo Paraná-Etendeka e a


distribuição das idades 40Ar-39Ar, segundo Turner et al. 1994 (pontos) e Stewart et al. 1996
(estrelas). Os retângulos destacam as idades obtidas no setor sudeste da Bacia do Paraná
(Rio Grande do Sul e Uruguai) e na Namíbia, indicando o término do episódio deposicional
Botucatu, em torno de 132 Ma. Conferir Tabela 5.2.

Botucatu e o episódio vulcânico Serra Geral, também no setor sul da bacia.


indicada pela presença de arenitos “intertraps”, posicionados na base da pilha
vulcânica. Scherer (op. cit.) reconhece inclusive, na região de Santa Cruz do Sul
(RS), a preservação da morfologia de dunas eólicas recobertas por fluxos
basálticos, demonstrando claramente a contemporaneidade entre o topo dos
272

depósitos desérticos e as manifestações vulcânicas iniciais. Relações de contato


similares são descritas por Stanistreet & Stollhofen (1999) na bacia de Huab, na
Namíbia, onde regiões de interdunas e formas de leito preservadas dos arenitos
eólicos da Formação Twyfelfontein são recobertos pelos derrames vulcânicos do
Grupo Etendeka, de idade atribuída ao Cretáceo Inferior (Tabela 5.2; cf. Fig. 5.6).

Tabela 5.2 Quadro comparativo das determinações radiométricas do vulcanismo Serra


Geral no contexto do sudoeste gondwânico.
Duração estimada do
Unidade Idades Método/Fonte
magmatismo

132.9 + 06 a 40
Ar/39Ar
~ 1 Ma (131-132Ma)
132.4 + 0.7 (Renne et al.,1992, 1993)

Serra Geral 137.8 + 0.7 a 40


Ar/39Ar ~10Ma (127-137Ma)
(Brasil) 126.8 + 2.0 (Turner et al. 1994)
40
136.6 + 1.5 a Ar/39Ar
(Onstott et al.,1993 apud ~10Ma (127-137Ma)
130.8 + 0.6 Milani,1997)
+ 40
Arapey 127.6 1.2 a Ar/39Ar
~1Ma (127-128Ma)
(Uruguai) 126.8 + 2.0 (Turner et al. 1994)
Etendeka 131.7 + 0.7 a 40
Ar/39Ar
~1 - 2Ma (131-132Ma)
(Namíbia) 132.3 + 0.7 (Renne et al. 1996)
40
Karoo Ar/39Ar
~190 a ~175 ~1 - 2Ma (183 + 2Ma)
(África do Sul) (Hargraves et al.1997)
Doleritos Ferrar U-Pb
~184 ~1 - 2Ma (~184Ma)
(Antártica) (Encarnacion et al.1996)
Basaltos 40
Ar/39Ar
Kirwan 183.7 + 0.6 ~1 – 2Ma (~183Ma)
(Duncan et al.1997)
(Antártica)

Considerando a ausência de supersuperfícies internas ao sistema Botucatu


no setor sul-sudeste da bacia (Scherer, 2000), é possível interpretar estes
depósitos como produto de um único e relativamente rápido evento de
acumulação eólica. A curta duração do evento desértico e as relações de contato
com as lavas, indicam que a seqüência Botucatu tenha virtualmente a mesma
idade dos manifestações iniciais do vulcanismo Serra Geral, o que sugere que,
nesta região da bacia, a acumulação eólica tenha se desenvolvido inteiramente
durante o início do Cretáceo.
A continuidade da atividade vulcânica, culminando com o recobrimento
completo da acumulação eólica e configurando uma supersuperfície, determina o
final o evento desértico e encerra da história sedimentar da bacia nesta região
(Fig. 5.7).
273

Fig. 5-7
Quadro Crono
P273

Fig. 5-7
Quadro Crono
P273
274

5.2 Tratos de sistemas e controle da arquitetura deposicional

5.2.1 Contexto paleogeográfico e geotectônico


As reconstituições paleogeográficas disponíveis para o final do Permiano e
início do Triássico posicionam o setor sul-sudeste da Bacia do Paraná a
considerável distância de qualquer área litorânea, ao tempo da deposição das
litofácies analisadas (Fig. 5.8).

Triássico Triássico
Inferior Superior
220 Ma 200 Ma
90 0 N
60 0

30 0

90 0 N
Equador

30 0

60 0
90 0 S

Localização aproximada da área de estudo

~1000km

Figura 5.8 Configuração paleogeográfica e localização aproximada da linha de costa


em relação à área de estudo (retângulo no interior do círculo) durante o Triássico,
segundo Tucker & Benton (1982). Notar a posição da área deposicional a mais de
1000 km (círculo) dos litorais, indicando que evolução estratigráfica da região não
tenha sofrido influência direta das variações do nível do mar. Conferir Tabela 5.3.

Esta primeira observação é de relevância crítica por indicar que as


variações do nível do mar, ocorridas durante este intervalo temporal (Haq et al.,
1988), não exerceram qualquer influência sobre a sedimentação continental desta
região. Diversos estudos, incluindo modelos matemáticos (e.g. Leader & Stwart,
1996) e observações empíricas (e.g. Plint, 2001) conduzem a esta conclusão,
demonstrando a drástica redução da influência marinha sobre a deposição aluvial,
com o aumento da distância em relação a linhas de costa contemporâneas
(Tabela 5. 3).
275

Tabela 5.3 Distâncias da influência marinha sobre sistemas fluviais contemporâneos.


Distância Duração/Ordem Idade/Unidade Fonte
ª
< 4 km 4 ordem Eoceno Médio Burns et al., 1997
(Mt. Serrat Conglomerate)
Ebro Basin-Espanha
60 km Cretáceo Superior Shanley & McCabe, 1993
---
Utah - USA
90 km 20ka Quaternário Blum,1993; Blum &
Colorado River Valastro, 1994
Texas - USA
95-127 km 200-300ka Cretáceo Superior Van Wagoner, 1996
Castlegate Sandstone
Book Cliffs-Utah - USA
115 km Holoceno Allen & Posamentier,
--- Girond Estuary 1993
França
150 km Pleistoceno Thomas & Anderson,
--- Trinity/Sabine Rivers 1993
Texas-Usa
220 km Pleistoceno Shanley & McCabe, 1994
Mississippi River Leeder & Stewart, 1996.
~350 km --- Van Wagoner, 1996

370 km
Influencia marés
105 km Holoceno- Recente Scott et al.1996
94 km micromarés Lake Calcasieu
Louisiana-USA
65 km Recente Smith,1987
micro-mesomarés Rios Daule e Babahovo-
Equador

Ainda que considerando grandes magnitudes e altas taxas de


rebaixamento como fatores que prolongam continente adentro as influências
marinhas sobre a arquitetura aluvial, todos os registros disponíveis indicam que
tal influência atinge no máximo a ordem de poucas centenas de quilômetros.
Desta discussão depreende-se que a evolução estratigráfica dos depósitos
continentais do setor sul-sudeste da Bacia do Paraná (posicionados a mais de
1000 quilômetros da linha de costa contemporânea) tenha sido controlada
exclusivamente pela ação combinada de fatores tectônicos e climáticos que
afetaram o sudoeste do Gondwana, durante os estágios finais do Permiano e ao
longo do Mesozóico.
O final do Paleozóico na Bacia do Paraná é marcado por um processo
progressivo de continentalização, decorrente do isolamento da bacia no interior
continental e perda de conexão com os oceanos circundantes, como resultado
dos sucessivos eventos orogênicos que afetaram as margens sul-sudoeste do
Gondwana durante o Fanerozóico (Ramos, 1988a,b), levando a consolidação final
do Pangea (Fig. 5.9).
276

b BP Bacia do Paraná
K Bacia do Karoo
H Huab

CFB Cape Fold Belt


LV Sierra de la Ventana

ndwana área de estudo


Go

BP
H

LV K
CFB
G o
n d w
a n i d e s

Litosfera oceânica
Panthalassa

Figura 5.9 (a) Figura original de Du Toit (1937), mostrando a


distribuição dos estratos permianos do Gondwana,
relacionados à “Zona Orogênica Samfrau”. (b) Contexto
geotectônico da margem sul do paleocontinente durante o
Fanerozóico, a partir de Milani & Ramos (1998) e Powell et
al. (1994). As siglas indicam áreas de referência
mencionadas no texto.

No início do Mesozóico, o regime dominantemente compressional do final


do Paleozóico sofre importante modificação, manifestada por significativa
atividade magmática (Mpdozis & Kay, 1992) e pelo o amplo desenvolvimento de
bacias extensionais, relacionadas à reativação de lineamentos crustais
preexistentes, herdados dos sucessivos episódios colisionais paleozóicos (Uliana
et al., 1989; Fig. 5.10). Este processo se prolonga durante o Meso-Neotriássico,
seguindo-se ao paroxismo final da orogenia Cabo-La Ventana, (230-215 ma),
cujos esforços compressivos, propagados em direção ao interior cratônico,
resultam em soerguimentos e reativações direcionais de falhamentos. A
instabilidade crustal que decorre do relaxamento regional destes esforços, dá
277

Neotriássico-Eojurássico
220-200 Ma
Sinc
lin a
l de T
o rre
s

Arc
o de Huab
Rio
Gr a
nde

1000 km

Magmatismo Área de estudo

Grabens

Figura 5.10 Contexto distensional, reativação de


falhamentos, implantação de grabens e atividade
magmática associada no setor sul-sudoeste do
Gondwana, durante o Mesozóico (Uliana et al.
1995).

origem a novos pulsos distensivos e instalação de grabens (Uliana et al., op cit.;


Milani et al., 1998), seguindo a tendência dominante durante o Mesozóico nesta
região do supercontinente, que culmina com a abertura do Atlântico Sul, no
Cretáceo.
Os efeitos intracratônicos dos pulsos orogênicos do Paleozóico e os
esforços distensivos posteriores, relacionados aos estágios inicias de ruptura do
supercontinente durante o Mesozóico, afetaram diretamente a arquitetura
estratigráfica das bacias do sudoeste gondwânico, condicionando o
desenvolvimento de unidades tectono-sedimentares, reconhecidas por diversos
autores, tanto na Bacia do Paraná e áreas correlatas (Zalan et al., 1987,1990;
278

Lavina, 1992; Milani et al, 1998; Milani & Ramos, 1998) quanto na escala do
presente estudo (Faccini, 1989; Faccini et al., 1989). Com relação ao intervalo
alvo deste trabalho, os principais eventos deposicionais e lacunas do registro
estratigráfico são identificadas também na África, na Bacia do Karoo (Veevers,
1988; Veevers et al., 1994, Visser, 1995; Smith, 1995; Fig. 5.11) e principalmente

Figura 5.11 Estratigrafia da Bacia do Karoo, África do Sul (Smith, 1995).


Evolução estratigráfica relacionada aos eventos tectônicos compressivos da
margem sul do Gondwana (Cape Fold Belt). Notar as similaridades com a seção
estudada na borda sul sudeste da Bacia do Paraná (cf. Figura 5.7), exceto pelo
vulcanismo Drakesberg, que encerra a deposição na bacia no Jurássico (Tabela
5.2), enquanto os episódios vulcânicos Serra Geral no Brasil e Etendeka na
Namíbia têm seu maior desenvolvimento durante o Cretáceo Inferior (cf. Fig.
5.6).

na Namíbia (Fig. 5.12), onde as unidades encontram estreita correlação


faciológica e temporal com as verificadas no setor sul-sudeste da bacia do Paraná
(Groenewald, 1990; Stollhofen et al., 1998; 2000; Stanistreet & Stollhofen, 1999).
Tais similaridades revelam uma evolução estratigráfica compartilhada entre estas
áreas deposicionais, refletindo o controle tectônico da sedimentação, relacionado
à evolução do setor sul-sudoeste do Gondwana durante o final do Permiano e ao
longo o Mesozóico.
279

Brasil NW Namíbia S Namíbia África do Sul


B. Paraná

Cretáceo
Open-marine

Closed- deep
Grupo Bauru marine Uitenhage Gr

Serra Geral Tafelkop Fm.

Botucatu Krone unit RB


Jurássico

Rundu Kudu Reservoir

Karoo
Etjo
Clarens
Clarens
Elliot RB
Elliot
Mata Upper
Triássico

Omingonde

Caturrita

Supergrupo
Middle
Santa Omingonde Molteno

Beaufort
Maria
Burgersdorp
RB Katberg
I Doros
Gai-as
Teresina
Permiano

Serra Alta
Irati Huab
Tsarabis
Auob
Rio Bonito Verbrandeberg Nossob Prince Albert

Dwyka
Itararé

Conglomerados Siltitos Calcários Vulcânicas Traços de vertebrados Paleosolos


Arenitos Argilitos Carvão RB redbeds Hiatos Bivalves continentais Vertebrados Fósseis
Flora Dicroidium

Figura 5.12 Reconstrução tectono-estratigráfica das áreas de posicionais do Gondwana na


Namíbia (África), segundo Stanistreet & Stollhofen (1999). Notar a coincidência dos
principais hiatos estratigráficos com os observados na área de estudo (cf. Figs. 5.7 e 5.11),
especialmente no limite Permo-Triássico e antecedendo a sedimentação eólica das
formação Botucatu e Twyfelfontein, na região de Huab.

5.2.2 Estilos deposicionais e variações do nível de base estratigráfico


A evolução estratigráfica da seção estudada é interpretada a seguir,
considerando o contexto da bacia mencionado no item anterior e os fundamentos
teóricos e modelos deposicionais discutidos no Capitulo 3.
Mudanças bruscas de fácies, relacionadas à superposição de distintos
sistemas deposicionais e delimitadas por superfícies erosionais de extensão
regional, tem sido usualmente atribuídas a ação de fatores alogênicos, que
incluem mudanças climáticas, atividade tectônica e variações do nível do mar.
Contudo, conforme já discutido, a influências de oscilações relativas ou globais do
nível do mar, elemento teórico central para a estratigrafia de seqüências, depende
diretamente da posição da área deposicional em relação a linha de costa
contemporânea (Fig. 5.8; Tabela 5.3; cf. Fig.3.14;Capítulo 3, item 3.4.3.2).
Em sucessões francamente continentais, distantes da linha de costa e sem
conexão física ou evidências perceptíveis da atuação de processos marinhos
280

(como é o caso da área de estudo), a identificação das superfícies-chave,


essenciais à terminologia de tratos de sistemas, torna-se problemática. Com
exceção dos limites de seqüências, todas as demais superfícies convencionais da
estratigrafia de seqüências são produzidas por processos exclusivamente
marinhos, que não atuam em ambientes continentais. Por este raciocínio, a
nomenclatura tradicional dos tratos de sistemas (LST, TST e HST) só poderia ser
utilizada com segurança em áreas onde sejam comprovadas as correlações entre
depósitos marinhos e não-marinhos, situação em que as superfícies-chave e a
arquitetura estratigráfica podem ser inequivocamente relacionadas a oscilações
do nível do mar. Em regiões interiores, onde a influência marinha seja
imperceptível ou nula e os fatores tectônicos e climáticos exerçam papel
preponderante na geração de espaço e suprimento sedimentar, os limites de
seqüências e as variações de estilos deposicionais podem, nestes casos, ser
interpretados com resultantes de modificações do nível de base estratigráfico e,
portanto, do espaço de acomodação.
Fundamentados nestes argumentos, Martinsen et al. (1999) propõem uma
subdivisão simplificada para seqüências aluviais, baseada no reconhecimento de
mudanças nos estilos fluviais e na identificação de superfícies de significação
estratigráfica regional. A divisão proposta prevê apenas dois tratos de sistemas:
low-accommodation system tract (trato de baixa taxa de acomodação) e high-
accommodation system tract (trato de alta taxa de acomodação). Os tratos são
delimitados pelos limites de seqüências e por uma zona ou superfície de
expansão (expansion surface) intermediária, caracterizada pelo predomínio de
litofácies pelíticas. A geração das superfícies limitantes e os estilos deposicionais
distintos de cada trato, são interpretados como devidos a variações do nível de
base estratigráfico, expresso pela relação entre espaço de acomodação (A) e
suprimento sedimentar (S). Os limites de seqüências, são gerados durante as
fases de abrupta redução do espaço de acomodação, quando a razão A/S passa
a ser zero ou negativa, condições que provocam a ocorrência de bypass
sedimentar e a formação de extensivas superfícies de erosão. O trato de baixa
taxa de acomodação é representado pelos depósitos lateralmente contínuos de
canais fluviais amalgamados (sheets), multiepisódicos e multilaterais, gerados
quando a razão A/S é positiva mas inferior à unidade, resultando no
preenchimento de todo o espaço disponível e eventual bypass sedimentar.
281

Quando a razão A/S aumenta abruptamente, atingindo a unidade, ocorre o


desenvolvimento de depósitos finos, regionalmente expressivos (superfícies de
expansão) que delimitam superiormente o trato de baixa taxa de acomodação,
demarcando mudanças significativas nos estilos fluviais. Quando o aumento da
razão A/S atinge valores superiores à unidade, significando que o espaço
disponível é sempre maior que aporte sedimentar, ocorre o desenvolvimento do
trato de alta taxa de acomodação, caracterizado pela presença de canais fluviais
isolados, single story, associados a significativos registros de depósitos finos de
inter-canais.
Analisadas as variações de estilos deposicionais da área estudada sob
esta ótica, e considerando o contexto da bacia discutido no item anterior, a
evolução estratigráfica dos estratos continentais do intervalo pode ser interpretada
como resultante de variações da razão acomodação/suprimento sedimentar,
controladas predominantemente por fatores tectônicos e climáticos (Fig. 5.13).
(1) A Seqüência Rio do Rasto/Sanga do Cabral
As fases finais da deposição lacustre da Formação Rio do Rasto,
demarcada pelo progressivo domínio das fácies eólicas em direção ao topo da
seqüência, reflete um rebaixamento do nível de base estratigráfico coincidente
com uma pronunciada mudança das condições climáticas que possibilitam o
desenvolvimento do evento eólico Pirambóia (Sanga do Cabral eólico). Neste
caso, o rebaixamento do nível de base está possivelmente relacionado à
oscilações do lençol freático que, permanentemente elevado durante a fase
lacustre, sofre um rebaixamento regional, disponibilizando areia seca em volume
suficiente para que a ação de ventos saturados promovam a construção de
extensos ergs. De outro lado, a presença significativa de interdunas úmidas e
depósitos de wadis, caracterizando esta associação como um "sistema eólico
úmido", indica repetidas flutuações do lençol freático, inibindo a remoção de areia
das áreas de interdunas e favorecendo sua preservação ou eventualmente
aflorando, como sugerem as associações de icnofósseis identificadas (cf.
Fig.4.10; Vol. II-FM3).
A espessa acumulação eólica preservada (>500m; Poço Petrobrás AL-1)
sugere que a geração do espaço de preservação se deva a subsidência regional,
possivelmente induzida por fenômenos tectônicos externos à bacia. A ocorrência
de instabilidade tectônica ao tempo da acumulação eólica é evidenciada pela
282

Fig.5.13a
Accommodation
283

Fig 5-13b
Accommodation
Fotos
284

presença de estratos deformados e processos de escape de fluídos


contemporâneos à migração dos campos de dunas e interpretados como sismitos
(cf. pg.170; Fig. 4.15).
Em direção ao topo da seqüência, a implantação do sistema aluvial Sanga
do Cabral, corresponde a uma importante modificação paleoambiental, que
interrompe definitivamente a acumulação eólica, configurando uma
supersuperfície. A ausência de feições erosivas pronunciadas e a raridade de
depósitos canalizados sugerem que o gradiente da bacia não tenha se acentuado
significativamente e que o sistema aluvial tenha se instalado devido ao aumento
de descarga, a partir das áreas de captação da bacia. O estilo deposicional
dominante, caracterizado por lençóis de areias, indica a atuação de fluxos
efêmeros desconfinados, sugerindo um regime de chuvas torrenciais (flash
floods), em oposição às condições de maior aridez que propiciaram o
desenvolvimento da acumulação eólica subjacente.
A superposição de camadas planas e a freqüente ocorrência de
acumulações de conglomerados intraformacionais, indicando o retrabalhamento
das planícies aluviais, sugerem que a agradação tenha ocorrido em relativo
equilíbrio com o soerguimento do nível de base estratigráfico. Teoricamente,
quando a taxa de geração de espaço acomodação é balanceada pelo suprimento
sedimentar (razão A/S positiva, próxima à unidade), pequenas oscilações no nível
de base estratigráfico definirão os limites entre agradação e bypass. Durante as
inundações, a energia do sistema aluvial desenvolvido sobre substrato arenoso,
dominado por carga de tração e com espaço reduzido para agradação, tenderá se
dispersar lateralmente, através de fluxos desconfinados, dando origem a camadas
planas (sand sheets), lateralmente contínuas. O evento aluvial Sanga do Cabral é
interpretado como desenvolvido nestas condições. Embora no conjunto a
acumulação se deva a um soerguimento prolongado do nível de base
estratigráfico, em mais alta freqüência, a geometria das camadas e os processos
deposicionais indicam que a sedimentação tenha ocorrido entre as condições de
agradação e bypass, correspondendo a um trato de baixa taxa de acomodação
(cf. Fig. 5.13b), exceto em direção ao topo da seqüência, onde a ocorrência de
deltas lacustres e planícies de inundação residuais sugerem um aumento do
espaço de acomodação em relação ao suprimento sedimentar.
285

Num contexto mais amplo, embora a escala e a metodologia de trabalho


não permitam observações conclusivas, a geração do espaço de preservação da
acumulação eólica e a acomodação do evento aluvial subsequente são
tentativamente atribuídos a um período de subsidência moderada, relacionado às
fases finais "Orogenia Sanrafaélica", durante o Neopermiano, conforme
documentado por Milani & Ramos (1998).
(2) Seqüência Santa Maria/Caturrita
Iniciada pela incisão dos canais fluviais arenosos do Membro Passo das
Tropas, esta unidade aloestratigráfica apresenta grandes similaridades com as
características deposicionais previstas pelos principais modelos de evolução
estratigráfica de sucessões continentais (cf. Capítulo 3, item 3.4.3.2).
O sistema fluvial da base da seqüência é caracterizado por depósitos de
canais preenchidos por arenitos médios a conglomeráticos, quartzo-feldspáticos,
sedimentados em padrão multiepisódico e dominados por macroformas com
acresções frontais e obliquas (cf. item 4.2.2.1; Figs. 4.25 a 4.28), interpretado
como um sistema de canais de baixa sinuosidade. Embora os padrões de
paleocorrentes não evidenciem mudanças significativas na posição do depocentro
da bacia em relação à seqüência subjacente (comparar Figs. 4.23 e 4.33), a
alteração de estilo fluvial é notável, tanto pelo aspecto granulométrico como de
arquitetura deposicional. O rejuvenescimento do padrão de drenagem, com a
incisão de vales fluviais com dezenas de quilômetros de extensão e
profundidades de 25 a 40 metros, é indicativo de um pronunciado rebaixamento
do nível de base estratigráfico, enquanto que a modificação do estilo fluvial
corresponde ao reajuste do sistema ao novo do perfil de equilíbrio (Schumm,
1981, 1993, 1994). A geração extensas superfícies de erosão provocadas pelo
abrupto rebaixamento do nível de base e conseqüente redução do espaço de
acomodação, quando a razão acomodação/suprimento passa ser nula ou
negativa, a agradação aluvial no interior dos vales fluviais, prevalecendo o bypass
sedimentar e a erosão. Esta situação é análoga a prevista para o trato de
sistemas de lowstand (LST) e geração de limites de seqüências tipo 1, em
sistemas controlados pelo nível relativo do mar. A agradação fluvial passa a
ocorrer ao final do lowstand e início do trato transgressivo (TST), com o aumento
do espaço disponível para a acumulação (cf. McCarthy, 1999). No interior
continental, sem evidências de influências marinhas, os períodos de incisão e
286

reajuste dos padrões fluviais são mais adequadamente referidos como


constituindo um trato de baixa taxa de acomodação. Este trato corresponde ao
período posterior à geração do limite de seqüências, quando a razão
acomodação/suprimento (A/S) passa gradualmente de negativa ou nula para
valores positivos, permitindo o início da agradação fluvial. Esta elevação do nível
de base estratigráfico, resultando em razão A/S positiva mas inferior a unidade,
dá origem a depósitos fluviais amalgamados, lateralmente contínuos resultantes
do preenchimento completo do espaço disponível, com eventuais períodos de
bypass e erosão provocados por oscilações menores da razão A/S, que resultam
no caráter multistorey de acresção dos canais. Estas características
correspondem integralmente ao estilo deposicional do Membro Passo das Tropas,
que pode portanto ser interpretado como correspondente ao trato de baixa taxa
de acomodação (Fig. 5.13).
O início da deposição das litofácies pelíticas do Membro Alemoa, de
grande continuidade lateral, que recobrem abruptamente os arenitos Passo das
Tropas, é interpretado com um período de acentuada elevação do nível de base
estratigráfico, manifestado pela modificação de estilo da deposição aluvial. A
instalação deste novo sistema corresponde às características de uma superfície
ou zona de expansão, conforme descritas por Martinsen et al.,1999. Este termo é
utilizado para referir a situação posterior ao preenchimento completo dos vales
fluviais, quando a área de sedimentação se expande, ocupando áreas mais
amplas da bacia e recobrindo os depósitos de arenitos amalgamados que
caracterizam o trato de baixa taxa acomodação.
A elevação do nível de base estratigráfico em taxas superiores ao aporte
sedimentar, situação que pode ser expressa pela razão A/S igual ou maior do que
a unidade, reduz as possibilidades de incisões fluviais (CH), favorecendo o
predomínio de depósitos finos de planícies de inundação (FF), que recebem
aporte sedimentar apenas durante as fases de cheias, sendo a sedimentação
arenosa confinada aos canais remanescentes, encaixados na planície aluvial
pelítica. Este modelo conceitual aplica-se à associação de litofácies que
constituem o topo do Membro Alemoa e a base da Formação Caturrita,
caracterizada por canais isolados (ribbons), fixos ou com baixa mobilidade lateral,
encaixados em depósitos finos de planícies de inundação, associados a níveis de
paleosolos imaturos (cf. Fig. 4.41; Vol. II-FM14).
287

O desenvolvimento de sistemas fluviais com canais estáveis, isolados ou


múltiplos (anastomosados), tende a ocorrer em áreas com baixo gradiente,
precipitação sazonal e alto de percentual de carga em suspensão (Smith & Smith,
1980; Rust, 1981;Nadon, 1994). A redução de gradiente, assim como a
agradação aluvial, é condicionada principalmente pela elevação continuada do
nível de base estratigráfico (Tornbjörn & Törnqvist, 1993). A estabilidade das
litofácies pelíticas que compõem as planícies de inundação restringem a
mobilidade dos canais ocasionando a geração de depósitos laterais de crevasse,
precursores de mudanças bruscas de posição dos canais sobre a planície, pelo
processo de avulsão (Smith et al., 1989). Em áreas com arquitetura deposicional
similar (e.g. Formação Dunvegan, Cretáceo do Canadá), as mais altas taxas de
acomodação são representadas pelo predomínio de depósitos lacustres (Faccini
et al., 1997; McCarthy et al., 1999), situação atribuída, comparativamente, aos
corpos d'água identificados na porção intermediária da seqüência Santa
Maria/Caturrita.
Em direção ao topo da seqüência, os canais isolados característicos do
trato de alta taxa de acomodação, dão lugar a arenitos amalgamados, resultantes
de uma maior concentração e aumento da mobilidade lateral dos canais, que
passam a predominar amplamente sobre as litofácies pelíticas. Esta mudança de
estilo deposicional, materializada pelo aumento da concentração de arenitos no
topo da Formação Caturrita, é interpretada como resultante da progressiva
diminuição do espaço de acomodação, a exemplo do previsto para o trato de
highstand tardio (HSST). De acordo com a abordagem aqui adotada, este
intervalo registra uma diminuição progressiva da razão A/S, provocada pela
redução das taxas de subida do nível de base estratigráfico, representando os
estágios finais do trato de alta taxa de acomodação (cf. Fig. 5.13).
Tomando a seqüência como um todo e considerando os dados
bioestratigráficos disponíveis, é possível deduzir que a superfície erosional que
limita inferiormente a unidade (cf. Fig. 5.4) representa uma ruptura do registro
correlacionável temporalmente à lacuna estratigráfica verificada em diversas
outras áreas deposicionais do Gondwana (Veevers, 1988). Esta coincidência
sugere que a incisão dos vales fluviais iniciais e o desenvolvimento da seqüência
por inteiro tenha sido controlada principalmente por fatores alogênicos. A
implantação desta seqüência coincide com importantes atividades tectônicas e
288

magmáticos relacionados a orogenia Cabo-La Ventana (cf. Fig. 5.9), ao final do


Permiano e início do Triássico, resultando em reativação de falhamentos e
soerguimentos regionais 1 . A geração do limite de seqüência, com o rebaixamento
do nível de base e remoção do registro estratigráfico de parte do Triássico inferior,
é possivelmente devido a estes processos de soerguimento, registrados pelo
ingresso na bacia dos arenitos Passo das Tropas, com significativa contribuição
do embasamento (Zerfass, 1998). De outro lado, o processo de subsidência que
origina o trato de alta taxa de acomodação é contemporâneo a fase de tectônica
distensiva que passa a predominar no setor sudoeste do Gondwana, a partir do
início do Mesozóico (cf. Fig. 5. 10), até a ruptura final do continente no Cretáceo.
A provável origem distensiva da bacia Santa Maria/Caturrita é reforçada pela
ocorrência localizada desta seqüência, restrita à faixa central do Rio Grande do
Sul e apenas residualmente preservada sobre o escudo Sul-rio-grandense
(Faccini, 1989, Milani et al. 1998)).
(3) O evento Mata
No contexto descrito acima, a incisão do sistema fluvial Mata constitui uma
unidade tafonômica diferenciada, não apenas por conter significativas
acumulações de caules silicificados de coníferas, mas também pela mudança do
estilo fluvial, em relação às unidades subjacentes. Os arenitos Mata praticamente
repetem os padrões observados no Membro Passo das Tropas, exceto pelo
conteúdo fossilífero e posição estratigráfica. A similaridade dos produtos sugere a
repetição dos processos em tempos diferentes. Distintamente dos demais
arenitos fluviais da Formação Caturrita, relacionados a sistemas de canais
isolados e estáveis passando para um padrão meandrante, o sistema Mata é
constituído por depósitos de macroformas com acresções frontais (DA) e pela
superposição de formas de leito de regime de fluxo (SB), com reduzidos registros
de litofácies de planícies de inundação. Estes depósitos, compatíveis com
sistemas fluviais arenosos de canais entrelaçados ou de baixa sinuosidade,
erodem os depósitos da Formação Santa Maria, indicando um rebaixamento do
nível de base estratigráfico e posterior reativação do sistema fluvial, com estilo
deposicional diferenciado. Os arenitos amalgamados, multiepisódicos,

1
Este tema é tratado por diversos autores: e.g. Kilmurray, 1975; López-Gamundi et al., 1990, 1995; Zalán et al., 1990;
Cobbold et al., 1991; Milani et al., 1998.
289

lateralmente contínuos são característicos do trato de sistema de baixa taxa de


acomodação.
Análises petrológicas de amostras dos arenitos grossos a conglomeráticos
do sistema fluvial Mata indicam um novo pulso de material provindo do escudo
cristalino (Zerfass, 1998; Zerfass et al., 1998; Garcia et al.1999) , área-fonte
situada a sul-sudoeste, como indicam as medições de pleocorrentes. Estas
informações sugerem soerguimento e exposição do embasamento como principal
fator de controle do rebaixamento do nível de base., o que implicaria a influência
de reativações tectônicas relacionadas aos esforços distensivos do Mesozóico
(Veevers, 1988). Por outro lado, modificações relativamente rápidas de padrões
fluviais podem se dever a variações de descarga e suprimento nas áreas fonte,
condicionadas por variações climáticas (Blum & Törnqvist, 2000), as quais
poderiam estar relacionadas ao desenvolvimento de florestas e à ampla
ocorrência de caules de coníferas. Contudo, estas elaborações são apenas
conjecturais, sendo ainda impossível a distinção objetiva dos fatores
controladores da sedimentação. Ainda assim, esta acumulação é atribuída,
apenas tentativamente, a ação combinada de fatores tectônicos e climáticos, com
base no estilo deposicional, na composição dos arenitos e no conteúdo fossilífero
da unidade. Consideradas as referidas incertezas sobre controle e idade da
sedimentação, os Arenitos Mata são interpretados como resultantes de um
rebaixamento do nível de base estratigráfico e o rejuvenescimento da drenagem
durante o final do Triássico, constituindo um evento deposicional de mais alta
freqüência, no contexto mais amplo da seqüência Santa Maria/Caturrita.
(4) Seqüência Botucatu
Esta unidade aloestratigráfica corresponde a mais extensa acumulação
eólica conhecida (Almeida, 1954; Salamuni & Bigarella, 19676). Ocorre em
praticamente toda a Bacia do Paraná, com equivalentes registrados também no
continente africano (Mountney, 1998, 1999; Stanistreet & Stollhofen, 1999). O
limite inferior da unidade corresponde ao maior hiato estratigráfico da história da
Bacia do Paraná (Milani et al., 1998), configurando uma desconformidade
interregional (Faccini et al., 1989), ao estilo das seqüências estratigráficas de
Sloss (1963). Como ja discutido, as relações de contato superior e as datações
radiométicas da Formação Serra Geral (cf. Fig. 5.6; Tabela 5.2), considerada a
natureza do sistema eólico estudado em detalhe por Scherer (1998, 2000),
290

indicam que a sedimentação desértica tenha virtualmente a mesma idade dos


derrames iniciais. O término da acumulação e desenvolvimento de uma
supersuperfície diácrona, é materializada pelo recobrimento progressivo dos
depósitos eólicos pelos derrames basálticos Serra Geral. A preservação da
morfologia de dunas pelos derrames basálticos (Scherer op cit.) indica que o
vulcanismo definiu o limite superior do espaço de preservação (cf. item 3.4.3.3.2;
Figs. 3.34 e 3.35), estabilizando a acumulação eólica e finalizando a história
estratigráfica da bacia nesta região

5.3 Considerações finais

"Sequence stratigraphy is a rich man's game" (Guy Plint, 1996b).

A estratigrafia de seqüências, inicialmente concebida para análise de


depósitos produzidos ou influenciados por processos marinhos, é um exercício de
riqueza de dados: excelentes exposições, controle bioestratigráfico e informações
de subsuperfície, de preferência poços com perfilagem geofísica e linhas sísmicas
de alta resolução. Sua aplicação completa pressupõe a identificação e
mapeamento de superfícies-chave (limites de seqüências, superfícies de
ravinamento, transgressiva, de inundação, de máxima inundação), as quais
possibilitam a delimitação geométrica conjuntos de estratos, permitindo a divisão
do registro em tratos de sistemas (cf. Capítulo 3).
Em áreas de depósitos continentais, com poucas informações de
subsuperfície, agravadas pela natureza erosiva da maioria dos processos aluviais,
a identificação destas superfícies, e portanto a utilização da terminologia original
da estratigrafia de seqüências, é sabidamente problemática, senão impossível.
Esta condição explica o significativo desenvolvimento da análise de sistemas
fluviais distais, associados a sucessões marinhas (ou lacustres), onde as
superfícies-chave, relacionadas a oscilações do nível relativo do mar, podem ser
identificadas com acuidade, possibilitando a individualização de tratos de
sistemas marinhos e a identificação de depósitos correlatos, no interior continental
(e.g. Faccini et al. 1997; McCarthy et al.,1999; Plint et al., 2001). Contudo, mesmo
nestas situações, a nomenclatura usual dos tratos de sistemas (lowstand,
transgressive, highstand) soa inadequada para designar segmentos
291

estratigráficos de sucessões francamente continentais, por seu conteúdo


genético, adquirido pela já histórica associação a trechos da curva eustática. Em
língua portuguesa a inadequação parece mais evidente, pelas habituais traduções
dos termos lowstand e highstand (mar baixo e mar alto), além do trato
transgressivo, todos referentes à posição relativa ou absoluta do nível do mar.
Esta observação justifica a adoção de terminologia alternativa para tratos de
sistemas ou "tratos de fácies", específica para depósitos continentais.
Em sistemas eólicos, a identificação de "unidades genéticas", separadas
por supersuperfícies, identificadas pela hierarquização de superfícies e natureza
do substrato, é o procedimento consensual para a individualização de unidades
deposicionais distintas, em correspondência com o os fundamentos da
estratigrafia de seqüências.
Com relação a depósitos lacustres, são muitos os exemplos de aplicação
da estratigrafia de seqüências disponíveis na bibliografia internacional, incluindo
exemplos brasileiros (e.g. Severiano Ribeiro, 1991; Silveira, 2000). O mesmo
pode ser dito para os depósitos eólicos (e.g. Scherer, 2000). Já em sistemas
aluviais, desvinculados de sedimentação marinha adjacente, os exemplos são
mais raros, o que em parte motivou o desenvolvimento do presente trabalho.
A análise da evolução dos conceitos e modelos estratigráficos
desenvolvidos nos últimos anos (Capítulo 3) mostra a crescente importância das
noções de espaço de acomodação, perfil de equilíbrio e nível de base
estratigráfico como tendência dominante para a aplicação da estratigrafia de
seqüências em ambientes não-marinhos. A interpretação de mudanças de estilos
deposicionais em reposta a variações do espaço de acomodação constitui a
principal linha de desenvolvimento da análise estratigráfica de sistemas aluviais
antigos, especialmente em áreas onde a influência de processos tectônicos,
climático e variações do suprimento sedimentar exerçam o controle dominante
sobre a arquitetura estratigráfica. Esta abordagem, embora desenvolvida para o
contexto de bacias tipo foreland, por desvincular a evolução das seqüência
deposicionais continentais do conceito de variações relativas do nível do mar,
aponta um caminho alternativo para a análise de outras sucessões aluviais sem
correlação com depósitos marinhos contemporâneos.
A experiência deste estudo constatou a operacionalidade desta abordagem
a par das limitações impostas pela carência de dados de subsuperfície e controle
292

bioestratigráfico mais preciso. O ponto de partida é a aplicação dos conceitos


oriundos da aloestratigrafia, abordagem mais ampla que inclui os fundamentos da
estratigrafia de seqüências, abstraindo a influência do nível do mar (nível de base
geral) e a rigidez da terminologia dos tratos de sistemas convencionais. Sob este
enfoque, é possível individualizar objetivamente unidades sedimentares limitadas
por descontinuidades físicas (seqüências), subdivididas em conjuntos de estratos
com estilos deposicionais definidos e delimitados por superfícies de significação
regional (tratos de sistemas), os quais são interpretados como produzidos por
variações do nível de base estratigráfico (nível de base local), expresso pela
razão entre espaço de acomodação e suprimento sedimentar. Este procedimento,
apoiado na análise detalhada de associações de litofácies e elementos
arquiteturais, torna possível a divisão do registro sedimentar em unidades
autônomas, diferenciadas por parâmetros físicos, contribuindo para a
compreensão da evolução estratigráfica da área de estudo e projetando a
possibilidade de aplicação adaptada desta metodologia a outras áreas com
características e limitações similares, motivação que constituiu a finalidade última
deste trabalho.
293

Capítulo 6
CONCLUSÕES

(1) A verificação dos principais pressupostos da hipótese de trabalho adotada


neste estudo confirma a aplicabilidade dos conceitos da estratigrafia de
seqüências na área estudada, consideradas as necessárias adaptações
metodológicas decorrentes das particularidades dos sistemas deposicionais
envolvidos e da carência de informações de subsuperfície;
(2) Os depósitos eólicos, pela diferença entre os conceitos de acumulação,
acomodação e preservação, devem ser subdivididos em unidades genéticas,
com base na tipologia da acumulação e na hierarquização de superfícies,
visando à identificação de supersuperfícies, que equivalem aos limites das
seqüências em sistemas eólicos.
(3) Os depósitos aluviais devem ser analisados a partir da identificação de
mudanças regionais nos padrões deposicionais, o que permite a definição de
limites de seqüências e inferências sobre oscilações do nível de base
estratigráfico e taxas de geração e consumo de espaço de acomodação,
possibilitando a divisão do registro em tratos de sistemas.
(4) O uso da nomenclatura tradicional dos tratos de sistemas deve se restringir a
áreas fisicamente conectadas a depósitos marinhos contemporâneos ou com
evidências inequívocas da ação de processos marinhos. Para seqüências
aluviais, distantes de qualquer linha de costa contemporânea, mostrou-se
mais adequada a terminologia simplificada em tratos de sistemas de baixa e
alta taxa de acomodação;
(5) Os estratos continentais que compõem o registro Neopermiano-Eocretáceo do
Gondwana na região central do Rio Grande do Sul podem ser reunidos em
três intervalos temporais, com base nas informações paleontólogas e
radiométricas ora disponíveis: (a) Intervalo Neopermiano-Eotriássico, (b)
Intervalo Meso-Neotriássico e (c) Intervalo Eocretácico, representados,
respectivamente, pelas seguintes unidades litoestratigráficas formais: (a)
Formações Rio do Rasto e Sanga do Cabral, (b) Formações Santa Maria e
Caturrita, incluindo os Arenitos Mata e (c) Formação Botucatu;
294

(6) O registro estratigráfico de cada intervalo corresponde a unidades


aloestratigráficas informais (seqüências), limitadas por desconformidade
regionais ou locais e compostas por eventos deposicionais de menor
hierarquia;
(a) Seqüência Rio do Rasto/Sanga do Cabral (Neopermiano-Eotriássico):
compreende depósitos lacustres, na base (Formação Rio do Rasto) e
acumulações eólicas e aluviais, no topo (Formação Sanga do Cabral). A
sedimentação eólica basal da Formação Sanga do Cabral ocorre intercalada,
na base, com as fácies lacustres Rio do Rasto, dominando em direção ao
topo da seqüência, sendo delimitada por uma supersuperfície diácrona, sobre
a qual se assentam as litofácies produzidas pelo evento de sedimentação
aluvial superior. A identificação destes dois eventos deposicionais distintos,
compondo esta seqüência justifica o uso dos nomes Pirambóia para a
acumulação eólica e Sanga do Cabral para o evento aluvial. O primeiro por
coerência com a nomenclatura utilizada no norte da bacia, o segundo por
referir especificamente os depósitos fluviais que caracterizam a unidade em
sua seção tipo;
(b) Seqüência Santa Maria/Caturrita (Meso-Neotriássico): iniciada pela incisão de
canais fluviais de baixa sinuosidade, multiepisódicos e multilaterais (Membro
Passo das Tropas) que passam superiormente para depósitos de planícies de
inundação e canais isolados (Membro Alemoa e base da Formação Caturrita),
culminando com a concentração de arenitos fluviais, lateralmente contínuos,
depositados por canais meandrantes.
O registro do intervalo Meso-Neotriássico se encerra com um evento fluvial de
canais de baixa sinuosidade, correspondente aos Arenitos Mata, seqüência
de mais alta freqüência, ocorrida ao final do Triássico;
(c) Seqüência Botucatu (Eocretáceo): corresponde integralmente aos depósitos
eólicos da Formação Botucatu, limitados na base pela mais extensiva
superfície de deflação da bacia e, no topo, por um supersuperfície diácrona,
materializada pela intercalação e posterior recobrimento completo da
acumulação eólica pelas lavas basálticas da Formação Serra Geral;
(7) A Seqüência Rio do Rasto/Sanga do Cabral é acumulada durante a fase final
de atenuação do ciclo de subsidência prolongada que afetou a Bacia do
Paraná com um todo, durante o final do Paleozóico. O primeiro rebaixamento
295

significativo do nível de base estratigráfico coincide com a implantação do


sistema eólico Pirambóia. O evento aluvial Sanga do Cabral é depositado em
condições de aproximado equilíbrio entre as taxas de geração de espaço de
acomodação e suprimento sedimentar, resultando em lençóis de arenitos
superpostos, lateralmente contínuos, depositados em planícies entrelaçadas,
com eventuais fluxos confinados, em canais rasos e largos, arquitetura
compatível com a prevista para um trato de baixa taxa de acomodação.
A Seqüência Santa Maria/Caturrita, apresenta grandes similaridades com os
principais modelos de evolução estratigráfica vigentes. Inicia-se pelo
significativo rebaixamento do nível de base estratigráfico (análogo ao trato de
lowstand), representado pelo desenvolvimento de uma superfície de erosão
regional, rejuvenescimento e modificação do estilo fluvial, manifestados pelo
aumento de granulometria dos arenitos, e contribuição direta do
embasamento. A acumulação sistema Passo das Tropas ocorre como canais
fluviais multiepisódicos e multilaterais, de baixa a moderada sinuosidade, a
partir do início da elevação do nível de base estratigráfico (análogo ao
lowstand tardio e início do trato transgressivo), correspondendo a um trato de
baixa taxa de acomodação.
A elevação acelerada do nível de base estratigráfico (análogo ao trato
transgressivo e highstand inicial), produz a expansão da sedimentação, que
passa a ocupar as áreas de extra-canal, dando origem ao predomínio das
litofácies pelíticas (Membro Alemoa). A elevação das taxas de geração do
espaço de acomodação, suplantando o suprimento sedimentar, resultam na
ocorrência subordinada de canais fluviais isolados e com baixa mobilidade
lateral (base da formação Caturrita), encaixados nas litofácies de planícies de
inundação, arquitetura característica de um trato de alta taxa de acomodação.
A concentração de depósitos de canais fluviais no topo da Formação Caturrita
é interpretada com resultante da desaceleração da taxa de geração de espaço
de acomodação (análogo ao highstand tardio) e conseqüente diminuição da
razão acomodação/suprimento sedimentar, dando origem aos sheets de
arenitos que caracterizam este nível estratigráfico.
Um novo trato de baixa taxa de acomodação é representado pelos Arenitos
Mata. Sob o aspecto estritamente deposicional, a exemplo da sedimentação
Passo das Tropas, este evento fluvial registra mudança no estilo dos canais
296

(baixa a moderada sinuosidade), aumento de granulometria dos arenitos e


novo ingresso na bacia de material proveniente do embasamento. A
sedimentação de arenitos amalgamados, restrita quase que exclusivamente
ao interior dos canais fluviais, indica a baixa razão entre espaço de
acumulação e suprimento sedimentar. Devido a seu significativo conteúdo de
caules silicificados de coníferas, os Arenitos Mata correspondem a uma
unidade tafonômica diferenciada.
A última redução do espaço de acomodação registrada coincide com
rebaixamento generalizado do nível de base, responsável pelo prolongado
período de deflação que antecede a acumulação eólica Botucatu. Nesta região
da Bacia, a seqüência Botucatu corresponde a uma unidade genética, de curta
duração, encerrada com o recobrimento pelos derrames Serra Geral;
(8) O posicionamento paleogeográfico da área de estudo, distante mais de mil
quilômetros de qualquer região litorânea, indica que variações do nível do mar
não tenham influenciado sua evolução estratigráfica. Neste contexto, o
controle da sedimentação é atribuído à ação combinada de fenômenos
tectônicos e climáticos, relacionados às fases finais de coalescência do
Pangea e início de ruptura do supercontinente, sendo os fatores tectônicos
responsáveis pela geração e consumo do espaço de acomodação e as
variações climáticas exercendo a principal influência sobre o suprimento
sedimentar e os estilos deposicionais;
(9) A atual organização litoestratigráfica do intervalo, no geral, permanece válida.
Entretanto, a necessidade de novo mapeamento com base na aloestratigrafia,
deverá resultar em uma nova hierarquização e redefinição das unidades,
tarefa futura, além dos objetivos deste estudo.
(10) O refinamento da estratigrafia da região depende de futuros achados,
fossilíferos e datações radiométricas, mas principalmente da aquisição dados
de subsuperfície e mapeamento geológico. Este último, baseado nos preceitos
da aloestratigrafia e da estratigrafia de seqüências, priorizando o aspecto
preditivo e o caráter aplicado desta abordagem. Estes procedimentos
contribuirão a melhoria das reconstituições paleogeográficas e geo-histórica
da região, mas também para a individualização e caracterização de unidades
de interesse econômico (no caso, aqüíferos), aspecto socialmente mais
importante da estratigrafia de seqüências.
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