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Paleontologia das Bacias do Parnaíba, Grajaú e São Luís

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INTRODUÇÃO
A s clássicas bacias sedimentares paleozói-
cas – Paraná, Amazonas e Parnaíba que constitu-
para uma área de cerca de 140 mil quilômetros
quadrados.
em importantes sítios naturais por seus conteúdos Nas bacias do Parnaíba e São Luís-Grajaú, as in-
geológicos e paleontológicos, ocupam cerca de fluências continentais e marinhas se alternaram ao
um quarto do território do Brasil e são repositórios longo da história fanerozóica. É uma característica
das manifestações pretéritas da vida durante o Fa- que possibilita que as análises estratigráficas se-
nerozóico. jam referenciadas às variações globais do nível do
A Bacia do Parnaíba, também denominada de mar. Os registros fósseis de diferentes idades geo-
Bacia do Maranhão e Bacia do Meio Norte, foi esta- lógicas são as evidências da presença de antigas
belecida para uma área de cerca de 600 mil quilô- faunas e floras, que subsidiam as inferências so-
metros quadrados, que recobre os estados do Ma- bre as sucessivas posições do continente em mo-
ranhão, Piauí e parte dos estados de Tocantins, vimento. Fornecem ainda, as indicações para as
Pará e Ceará, entre as coordenadas 02°00’- conseqüentes variações climáticas e correlações
12°00’S e 40°30’-52°00’W (Figura 1.1). Esta concei- entre a evolução geológica dos hemisférios norte
tuação foi recentemente modificada pelos traba- e sul e desta região da crosta terrestre. A História
lhos de Góes (1995) e Góes & Coimbra (1996). A Geológica é apresentada através da reconstituição
Bacia do Parnaíba foi dividida em quatro bacias de antigos ecossistemas.
menores, com gêneses distintas: Parnaíba (Siluria- A organização e o tratamento de dados foram
no-Triássico), Alpercatas (Jurássico-Eocretáceo), baseados em Paleobiologia, parte da Paleontolo-
Grajaú (Cretáceo) e Espigão Mestre (Cretáceo). gia que estuda a Biosfera em evolução. O estudo foi
As pesquisas na área atribuída à Bacia do Gra- efetuado por eventos biológicos, definidos como
jaú foram numerosas nas últimas décadas, por tra- mudanças nas faunas e floras, motivadas por pro-
balhos da CPRM, em projetos de pesquisa de car- cessos evolutivos de inovação, radiação, rápida
vão e mapeamento geológico. Resultados divul- distribuição geográfica e extinção.
gados em Rossetti et al. (2001) indicam que houve As informações reunidas compreendem as inte-
semelhança na evolução tectono-sedimentar das rações entre os fenômenos geológicos e biológi-
bacias de São Luís e Grajaú, e os autores adota- cos abrangidos nas disciplinas de Estratigrafia e
ram a denominação de Bacia de São Luís-Grajaú Paleontologia. O arcabouço estratigráfico, que foi

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

organizado inicialmente para a Bacia do Parnaíba, reuniões foram relatadas por Dimas Dias-Brito, em
sofreu alterações no decorrer das pesquisas, com conferência na Sociedade Brasileira de Paleontolo-
incorporação dos novos conhecimentos divulga- gia (março de 1998).
dos. Entre as temáticas consideradas de conheci-
Para os antigos ecossistemas, na análise por Pa- mento ainda insuficiente, em nível internacional e
leoecologia Evolutiva foi considerado o conceito de identificadas, também, nas bacias do Parnaíba e
região geográfica (como nos estudos de Ecologia), São Luís-Grajaú, podem ser citadas: infra-estrutu-
e é fundamental a seleção de intervalo de tempo. A ra, datações cronoestratigráficas, classificações
evolução das comunidades é correlacionada aos sistemáticas, ecossistemas e processos evoluti-
processos geológicos que modificaram os ecossis- vos.
temas. Como recursos tecnológicos de infra-estrutura
Na Bacia paleozóica do Parnaíba, as comunida- necessários ao desenvolvimento científico, foi enfa-
des fósseis que habitaram o antigo bloco do Gon- tizada a maciça informatização dos dados paleon-
duana, mostram afinidades com províncias paleo- tológicos. No Brasil, entretanto, além deles, a pre-
biogeográficas com conexões da margem pacífica servação dos sítios geológicos e paleontológicos,
de antigos continentes, assim como com a África, deve ser colocado como um requisito fundamental
que estava então unida à América do Sul. da infra-estrutura da Paleontologia. A preservação
Na Bacia cretácea de São Luís-Grajaú originada dos sítios fossilíferos é básica para que haja garan-
pela abertura do oceano Atlântico, as faunas de in- tia da realização de pesquisas futuras.
vertebrados marinhos são as precursoras da atual Os trabalhos sobre datações cronoestratigráfi-
província tropical do Caribe. No Eocretáceo, os pei- cas, classificações sistemáticas, ecossistemas e
xes deixaram registros de um limitado intervalo de processos evolutivos são ainda insuficientes, consi-
tempo com intensiva macroevolução, presença de derando a grande área coberta pelas bacias. Maior
ecossistemas e processos tafonômicos favoráveis, número de análises palinológicas é requerido para
abrangendo uma região geográfica ampla, que ul- solução de problemas antigos, que permanecem
trapassava os limites geológicos das bacias. No pendentes como as idades dos sedimentos e dos
Neocretáceo, os vertebrados mostram ampla cor- fósseis das unidades estratigráficas Corda e Pas-
relação com as faunas conhecidas do norte da Áfri- tos Bons.
ca. Nas bacias do Parnaíba e São Luís-Grajaú estão
Após o encerramento no Cretáceo, dos ciclos impressos os registros de eventos biológicos úni-
sedimentares da Bacia de São Luís-Grajaú, ecos- cos e singulares. Entretanto, um maior volume de
sistemas terrestres foram preservados na área geo- pesquisas, principalmente de classificação siste-
gráfica da Bacia do Parnaíba. Ocorreram deposi- mática é imprescindível para esclarecer a organi-
ções em pequenas bacias terciárias, com floras zação da vida.
que são indicadoras paleoclimáticas e os terrenos Os nomes atribuídos às unidades estratigráficas
foram percorridos pelos grandes mamíferos do que correspondem às formações são peculiares,
Pleistoceno. No Holoceno, as rochas da bacia for- correspondendo não só à definição litoestratigráfi-
neceram abrigo para o homem primitivo que, nos ca, como também aos aspectos dados pelos fósseis
seus paredões, deixou impressa uma bela arte ru- e ambientes. Corresponde a um conjunto de infor-
pestre. mações maior do que o definido pelo Código de No-
A Paleobiologia, como ciência, foi reativada a cer- menclatura Estratigráfica (introduzido após os anos
ca de três décadas e propiciou a ampliação das pes- 60), pois guarda a conceituação da antiga escola
quisas de Paleontologia para incluir todos os aspec- européia, de grande influência na época dos primei-
tos da vida no planeta. Representa um movimento ros mapeamentos feitos na área, pela Petrobras.
bem definido, com os conhecimentos divulgados em Os ecossistemas apresentados no presente tra-
reuniões periódicas de sociedades paleontológicas. balho estão no início de debates teóricos possíveis
O intercâmbio de conhecimentos é muito dinâmi- com o atual nível das pesquisas existentes. As ba-
co. Estas sociedades promoveram uma reunião in- cias do Parnaíba e São Luís-Grajaú apresentam im-
ternacional de paleontólogos, em 1997, em Frank- portantes características em termos de Paleobiolo-
furt, Alemanha, com o objetivo de discutir e selecio- gia Evolutiva. Ao longo do tempo geológico, foram
nar os tópicos da Paleontologia que, no presente os áreas de localização de constante incidência de
século, irão requerer maiores esforços no aprimo- processos macroevolutivos, principalmente nos
ramento de conhecimentos. As conclusões destas elementos terrestres.

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Paleontologia das Bacias do Parnaíba, Grajaú e São Luís

Figura. 1.1 – Mapa de Localização das bacias sedimentares do Parnaíba, Grajaú e São Luís.

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