Você está na página 1de 4

1

A UTILIZAÇÃO DE ABRIGOS ROCHOSOS NO LITORAL E SERRA DO MAR


NO ESTADO DO PARANÁ

Patrícia Norma Lasota Moro 1


Laercio Loiola Brochier 2
Antônio Carlos Mathias Cavalheiro 3
Eloi Bora 3

Introdução

Este trabalho aborda o uso pré-colonial e histórico de abrigos rochosos cristalinos


existentes em ambientes costeiros e serranos no litoral do Paraná. Observando os
processos geológicos e formativos associados e os tipos de ocorrências arqueológicas
identificadas até o momento.
Para este estudo, foram levantadas bibliografias arqueológicas, geomorfológicas e
espeleológicas destinada a compreensão da gênese das cavidades cristalinas e a formação
dos depósitos arqueológicos. Também foram realizados trabalhos de campo visando o
levantamento topográfico preliminar e estudos geoarqueológico dos abrigos e entorno.

A formação de abrigos cristalinos

A morfologia de cavernas cristalinas vincula-se a história geomorfológica regional e


a topografia montanhosa (MOCHIUTTI e TOMAZZOLI, 2019) podendo ser entendida a
partir de duas perspectivas. A primeira considera que abrigos e lapas são o resultado do
deslocamento e empilhamento de rochas em vertentes íngremes e sujeitas à processos de
rastejo e escorregamento. Geralmente associados a depósitos de tálus (matacões) ou
leques aluvionares e rampas de colúvios. Dependendo do tipo de tálus (TUPINAMBÁ et al.
2014), os blocos serão arredondados pela ação do intemperismo (esfoliação esferoidal),
erosão e transporte. As cavidades formam-se nos espaços entre os matacões e juntas,
evoluindo a partir do sistema de diaclases ou lineamentos composicionais. Uma segunda
proposta considera que os abrigos seriam gerados em seus lugares de origem a partir do

1
Programa de Pós Graduação em Antropologia e Arqueologia- Apoio CAPES.
2. Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas - Universidade Federal do Paraná, Departamento de Antropologia
3 EPPC – Estudos e Projetos em Patrimônio Cultural
2

intemperismo e erosão (ÁVILA et. al, 2019; GONÇALVES et al., 2011), incluindo fenômenos
de dissolução e intemperismo cavernoso (BIGARELLA, et al., 2007). Kuchenbecker (2019)
associa a geometria de abrigos contendo sítios arqueológicos, como reflexo da interação
entre processos superficiais, composição e estruturação litológica, dando origem às formas
de relevo adequadas à utilização antrópica.

Sítios sob abrigo no litoral paranaense

As encostas de interface costeira no litoral paranaense detêm potencial para a


formação de abrigos cristalinos, parte dos quais propícios ao uso humano. Processos
evolutivos costeiros contribuem para a gênese dos abrigos e a formação do registro
arqueológico. Mudanças eustáticas e geográficas trouxeram prováveis consequências para
a ocupação e mobilidade humanas no Holoceno. O abrigo Cubatão, um dos focos desta
pesquisa, se encontra em um provável corredor de circulação de populações
sambaquieiras, formado durante o máximo transgressivo (OLIVEIRA e HORN FILHO,
2001). A presença de um leque aluvionar sobreposto a antigos sedimentos
paleoestuarinos também indica mudanças geomórficas importantes (BESSA et al, 1997;
BROCHIER, 2009). Deste modo, a ocorrência de depósitos sedimentares retidos pela
diminuição da declividade neste abrigo sugere boas condições para a preservação de
sequências estratigráficas e culturais. Na superfície foram registradas cerâmicas pré-
coloniais e material lítico. Dois grandes matacões sobrepostos formam a área abrigada com
dimensões aproximadas de 12 x 5 metros e 1 a 5 metros de altura. Por sua vez, os abrigos
Ilha Gamelas I, II e III localizados na ilha homônima em Guaraqueçaba, apresentam
vestígios conchíferos, ósseos, líticos e cerâmicas históricas em superfície. Situam-se a
leste da ilha, entre 6 e 35 m da linha de costa, próximos a enseadas e costões de rochas
gnáissico-migmatiticas. Suas áreas internas variam de 3,7 x 3,5m a 13 x 6m, e altura de 1
a 6 metros. As cavidades são formadas por matacões de aspecto tabular empilhados e
próximos a nascentes.

Considerações finais

No presente estudo foram realizados levantamentos que vêm permitindo


compreender os processos formadores das cavidades cristalinas no litoral paranaense,
suas ocorrências e potencial arqueológico associado. Embora em fase inicial, a pesquisa
3

aponta para a existência de dois contextos promissores: 1) no sistema de ilhas e morros,


geralmente associados a costões rochosos; 2) nas encostas da Serra do Mar, junto a
depósitos de tálus e leques aluvionares. Por fim, este estudo aponta para a importância dos
abrigos cristalinos na compreensão das dinâmicas ocupacionais e de mobilidade de grupos
humanos na costa, representando formas de uso diferenciadas daquelas já amplamente
reconhecidas no litoral paranaense.

Agradecemos a CAPES pela bolsa de mestrado concedida a pesquisadora.

BIBLIOGRAFIA

ÁVILA, Arlo Nóbrega; FERNANDES, Henrique Albuquerque.; MORITA, Tom Dias Motta.
Levantamento de cavernas graníticas da Serra dos Cocais - Valinhos (SP). In: ZAMPAULO,
Robson Almeida. (org.) CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA, 35, 2019. Bonito.
Anais... Campinas: SBE, 2019. p.190-200.

BESSA, Jr. Oduvaldo; SUGUIO, Kenitiro.; ANGULO, Rodolfo José. Leques aluviais
quaternários do litoral paranaense. In: Cong. Assoc. Bras. Est. Quart., 6, Curitiba.
Resumos Expandidos... ABEQUA, Curitiba, PR. 1997.

BIGARELLA, João José.; BECKER, Rosemarie Dora.; SANTOS, Gilberto Friedenreich.


Estrutura e origem das paisagens Tropicais e subtropicais. Vol. 1. 2. ed. Florianópolis:
Editora da UFSC, 2007.

BROCHIER, Laércio Loiola. Controles geoarqueológicos e modelos


morfoestratégicos: implicações para o estudo das ocupações pré-históricas na
costa sul do Brasil. Tese (Doutorado em Arqueologia) –Museu de Arqueologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. 147 p.

GONÇALVES, Frederico; RODET. Joel; OLIVEIRA, Dan Christian; MAGALHÃES Jr.,


Antônio Pereira. Cavidades em granito no município de Santa Maria Madalena- RJ.
(Brazil). Anais do 31º Congresso Brasileiro de Espeleologia Ponta Grossa-PR. Sociedade
Brasileira de Espeleologia, 2011, p. 87- 93.

KUCHENBECKER, Matheus. Os processos geológicos por trás dos sítios


arqueológicos da Serra do Espinhaço Meridional. Revista Espinhaço, 2019, 8 (2): 1-12.

MOCHIUTTI, Nair Fernanda.; TOMAZZOLI, Edson Ramos. Cavernas em Granito.


Precisamos falar sobre elas. In: 35 Congresso Brasileiro de Espeleologia, 2019, Bonito
(MS). Anais. Campinas (SP): SBE - Sociedade Brasileira de Espeleologia, 2019. p. 18-29.

OLIVEIRA, Mário Sérgio Celski de; HORN FILHO, Norberto Olmiro. De Guaratuba a
Babitonga: uma contribuição geológico-evolutiva ao estudo da espacialidade dos
sambaquianos no litoral norte catarinense. Revista do Museu de Arqueologia e
4

Etnologia, [S. l.], n. 11, p. 55-75, 2001. DOI: 10.11606/issn.2448-


1750.revmae.2001.109410

TOMAZZOLI, Edson Ramos; ALMEIDA, Luciana Cristina; SILVA, Marinês da; MOCHIUTTI,
Nair Fernanda.; ALENCAR, Roberta. Espeleologia na Ilha de Santa Catarina: um estudo
preliminar das cavernas da ilha. SBE – Campinas, SP. Espeleo-Tema. v.23, n.2. 2012.

TUPINAMBÁ Miguel; MONLEVADE Audrey A.; BRITO, Joyce V.P.; WALDHERR, Felipe R.;
TUPINAMBÁ, Ana. Proveniência do material rochoso utilizado no calçamento do Caminho
velho da estrada real entre Parati (RJ) e Cunha (SP). Geonomos, 22(1), 58-65, 2014.

Como citar esse artigo.


MORO, P.N.L. et all. A UTILIZAÇÃO DE ABRIGOS ROCHOSOS NO LITORAL E SERRA
DO MAR NO ESTADO DO PARANÁ: POTENCIAL ARQUEOLÓGICO E PROCESSOS
FORMATIVOS. CADERNO DE RESUMOS DO CONGRESSO DA SAB.2024

Você também pode gostar