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Percepção ambiental e
sociedade (paisagem,
sociedade e ambiente)

Introdução

A percepção ambiental da paisagem por meio de leituras biofísicas e socio-


culturais se processa a partir do espaço ocupado pelas pessoas, pois remete à sua
memória, à sua história, bem como à sua identificação, como espaço vivido e suas
problemáticas, evidenciando a “força do lugar”. Para uma leitura e percepção da
paisagem, cumpre-nos assinalar que também é sistêmica e é o resultado da com-
binação dos elementos naturais e materiais somados às obras humanas e grupos
culturais que viveram no espaço.

Dessa forma, em ações de gestão ambiental é imprescindível desenvolver proces-


sos cognitivos de percepção ambiental visando à integração do ser humano e natureza.
Portanto, nesta aula serão abordadas as principais questões e conceitos sobre percepção
ambiental e sociedade, seguido desta percepção com paisagens e, por último, as paisa-
gens como espaços educadores para as sociedades.

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1.1 Algumas questões sobre a percepção


do ambiente e sociedade

As questões ambientais e seus problemas têm acompanhado, em diferentes períodos


históricos, diversas sociedades que possuem por sua cultura percepções próprias da nature-
za. Esse fato traz à ciência um rico campo de estudos e pesquisas, para avaliar as percepções
e os efeitos da ação humana sobre o ambiente natural, social e cultural.
Rodaway (1995) citado por Hoeffel (2007) caracteriza percepção como um processo,
uma atividade que envolve organismo e ambiente, e que é influenciada pelos órgãos dos
sentidos – percepção como sensação –, e por concepções mentais – percepção como cogni-
ção. Dessa forma, ideias sobre o ambiente envolvem tanto respostas e reações a impressões,
estímulos e sentimentos, mediados pelos sentidos, quanto processos mentais relacionados
com experiências individuais, associações conceituais e condicionamentos culturais.
As pessoas constroem sistemas para manejar o mundo, ou seja, formulam hipóteses
segundo a sua experiência e predizem assim o futuro de acordo com estas hipóteses. Tais
construções mentais variam segundo as pessoas, que somente reagem aos estímulos que são
capazes de imaginar como atuantes, que, por sua vez, formam parte do espaço construído
e do espaço percebido.
Além disso, a atividade perceptiva enriquece continuamente a experiência individual
e por meio dela nos apegamos, cada vez mais, ao lugar e à sua paisagem, pois quando o
espaço nos é familiar torna-se lugar. De acordo com Leite (1994), a percepção do tempo, do
espaço e da natureza muda com a evolução cultural, o que exige a procura de novas formas
de organização do território que melhor expressem o universo contemporâneo, formas que
capturem o conhecimento, as crenças, os propósitos e os valores da sociedade.
É a partir da percepção do ambiente pelo ser humano que se pretende identificar como
homens e mulheres veem e classificam seus ambientes, como se colocam nos ambientes que
criam, e que referências usam para escolher tais ambientes. Nossa mente organiza e repre-
senta essa realidade percebida por meio de esquemas perceptivos e imagens mentais, com
atributos específicos (DEL RIO e OLIVEIRA, 1999) e que servem para avaliar a qualidade dos
ambientes (PILOTTO, 2003). Uma imagem é uma representação internalizada do ambiente,
por meio da experiência, e incorpora ideais, isto é, a avaliação da qualidade ambiental traz
a organização do meio ambiente como o resultado da aplicação de conjuntos de regras que
refletem de diferentes concepções de qualidade ambiental (OJEDA, 1995). Além disso, é pela
percepção que o ser humano estrutura sua representação cognitiva do ambiente.
De acordo com Del Rio e Oliveira (1999) a percepção consiste em trocas funcionais do
indivíduo com o meio exterior, as quais têm dois aspectos: cognitivo e o afetivo. O primeiro
ocorre paralelamente, quando o indivíduo conhece o mundo exterior e começa a ter senti-
mentos em relação a ele e o segundo é a energia do sistema. Para Ojeda (1995) é cada vez
mais necessário considerar os costumes cognitivos com a finalidade de entender a manei-
ra pela qual o meio ambiente é conhecido e estruturado pelos indivíduos e pela socieda-
de. As pessoas, como organismos ativos, adaptativos e procuradores de objetivos ou fins,

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estruturam o mundo a partir de três fatores: o organismo, o meio ambiente e o meio cultural,
os quais se relacionam para formar representações cognitivas.
Segundo este mesmo autor, existem dois significados diferentes do termo cognição am-
biental; um é psicológico, o outro antropológico, sendo que o primeiro ressalta o conheci-
mento do meio ambiente, enquanto que o antropológico afirma que os processos cognitivos
convertem o mundo em algo significativo. Decifrar e valorizar os costumes cognitivos das
paisagens deveria ser uma ferramenta indispensável na gestão dos espaços, sejam eles pú-
blicos ou privados, a partir do momento que identifica não somente os diferentes ideários
na busca da qualidade ambiental como também os saberes e significados socioambientais
específicos das inter-relações evolutivas entre natureza e populações locais.
Dentro dessa dinâmica insere-se a questão paisagística, incluindo-se a necessidade de
investigar o significado das diversas expressões do verde dentro das diferentes culturas. O
verde existe como objeto dado no mundo e como idealização. Por exemplo, ao se projetar
áreas verdes, como nas áreas protegidas, navega-se, portanto, na semiótica de significantes e
significados, não como elementos isolados, mas como partes de um todo em que, aquele que
habita, é indissociável do espaço onde exerce sua autopoiesis1 (MATURANA e VARELLA,
1980). A paisagem está presente em cada situação da história dos seres humanos, traçando
uma relação vital para ambos, em que as pessoas necessitam da paisagem que ordena os
serviços ambientais que a natureza oferece e esta depende das ações e percepções, ideias e
ações das pessoas (DEL RIO e OLIVEIRA, 1999).
Além disso, o ser humano, assim como os organismos, impõe uma ordem espacial, social
e temporal diferentes, porém relacionadas entre si, já que têm de coexistir na trama espa-
ço-temporal de um mesmo mundo, e porque todas as ordenações se apoiam nos mesmos
processos de aprendizagem, memória, identidade, localização e orientação (PILOTTO, 1997).
Este tipo de estudo de percepção ambiental tem se tornado uma ferramenta importante
para o desenvolvimento de processos educadores e participativos, pois, segundo Pilotto
(1997, p. 30),
a percepção ambiental é, pois, a experiência sensitiva mais direta e imediata do
meio ambiente, e, ainda que afetada pela memória e cognição, é muito indepen-
dente. A percepção sempre se relaciona com a ação, pelo que tem de envolvente,
participativa e relacionada com a motivação e o significado.
Para Del Rio (1999), nosso cotidiano se conforma e se realiza por meio da percepção de
paisagens, num amálgama entre realidade e imaginário. O ser humano age e reage de acor-
do com a maneira que percebe seu entorno, e que a percepção ambiental tem se mostrado
cada vez mais útil como instrumento de análise da atuação antrópica sobre a paisagem. A
partir do paradigma de que só percebemos o que conseguimos interpretar, a legibilidade

1 Autopoiese ou autopoiesis (do grego auto “próprio”, poiesis “criação”) é um termo criado na década
de 1970 pelos biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana para designar a ca-
pacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios. Segundo esta teoria, um ser vivo é um sistema
autopoiético, caracterizado como uma rede fechada de produções moleculares (processos) em que as
moléculas produzidas geram com suas interações a mesma rede de moléculas que as produziu.

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da paisagem evidencia-se quando fragmentos da realidade são retidos para a observação
atenta, permitindo a qualificação do ambiente e sua interpretação (PELLEGRINO, 1996).
Portanto, é do ponto de vista da percepção, da forma como o ser humano percebe e
interage com o meio ambiente, em função de influências históricas e culturais, que se pode
avaliar as necessidades e anseios da população e fornecer aos órgãos dirigentes orientações
mais adequadas para as decisões em nível político, socioeconômico e de desenvolvimento,
seja rural, urbano ou regional.

1.2 A paisagem no contexto da


percepção ambiental e sociedade

A paisagem é uma unidade heterogênea, composta por um complexo de unidades in-


terativas (ecossistemas, unidades de vegetação ou de uso e ocupação das terras), cuja estru-
tura pode ser definida pela área, forma e disposição espacial (por exemplo, uma paisagem
urbana de uma pequena cidade e de uma grande cidade) desta unidade. A estrutura da
paisagem interfere na dinâmica de populações, em suas culturas e representações sociais e
também as formas de como se deslocam e relacionam.
O renomado geógrafo Milton Santos (1985, p. 61), define que a paisagem é “tudo aquilo
que nós vemos, o que nossa visão alcança. Esta pode ser definida como o domínio do visível,
aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movi-
mentos, odores, sons etc.”.
Ainda o mesmo autor discorre que a dimensão da paisagem vai até onde as pessoas
conseguem perceber com seus ouvidos, seu cheiro, sua visão, e sensações, sendo, portanto,
até onde as sensações conseguem chegar e desenhar os limites da paisagem. Assim, a com-
preensão cognitiva possui relevância na formatação e definição dos limites da paisagem e
o que é a paisagem para o indivíduo conforme sua percepção. Desta forma, a história de
vida das pessoas, que são em grande parte formatadas pelos processos educativos, formais
e informais podem e devem gerar heterogeneidade entre si sob a visão para o mesmo fato.
Uma pessoa que mora no campo desde pequena e sua paisagem é diversificada com la-
vouras agrícolas, florestas, rios e outras pessoas também morando no campo e se relacionan-
do tanto em atividades de produção agrícola como de lazer, tem uma percepção diferente
de outra pessoa que mora na cidade desde pequena e tem a paisagem urbana como referen-
cial. Se pedirmos para a pessoa do campo andar pelo ambiente urbano e descrever as suas
percepções, ela vai apontar situações diferentes da pessoa que vive na cidade. Da mesma
forma, o contrário é verdadeiro. Talvez essa pessoa da cidade que observa o campo não verá
detalhes que o morador do campo verá como, por exemplo, uma revoada de andorinhas,
uma árvore frutífera em flores e que logo dará frutos, um pequeno riacho ou nascente etc.
A percepção é sempre um processo seletivo de apreensão. A realidade é uma só, mas
as pessoas de acordo com sua formação, ou seja, seu aprendizado na sua história de vida,
enxergam uma paisagem de diferentes formas.

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Inúmeros estudos e pesquisas sobre percepção ambiental revelam que as sociedades
estão compreendendo menos o meio ambiente, enquanto interação complexa de configura-
ções sociais, biofísicas, políticas, filosóficas e culturais. Neste sentido, conforme destacado
por Milton Santos (1985) existem múltiplas maneiras de representar o meio ambiente na
paisagem, e suas percepções, quando muito pequenas ou superficiais sobre algum fator que
ali ocorre ou mesmo o conjunto de fatores, podem gerar conflitos entre grupos sociais com
interesses e visões de mundo distintos.
A percepção ambiental da paisagem pelas sociedades tem tido grande importância
como estratégia de conservação e recuperação ambiental.
Hoeffel (2008), mencionando Hannigan (2006), aponta que o meio ambiente é um lugar
de interfaces e competição entre diferentes atores sociais e culturais. Segundo este autor, o
que está em disputa são os espaços naturais gerando graves ameaças ambientais, podendo
comprometer as suas dinâmicas. Ocorre uma prioridade de uma questão sobre a outra e as
formas adequadas para melhor gerir a paisagem estão vinculadas aos tomadores de deci-
sões, que de maneira geral são os legisladores e representantes do poder executivo, em se
conscientizarem sobre a diversidade de uma paisagem, além de realmente se responsabili-
zarem pela implementação de soluções de interesses coletivos.
Em uma sociedade que enfrenta dificuldades nos processos de formação e educação, a
construção cognitiva crítica de uma percepção ambiental será de grande importância para bus-
car o equilíbrio nas nações. Ressalta-se que a construção cognitiva crítica deve respeitar todas as
diversidades culturais, sabendo que o que unifica as sociedades mesmo com percepções diferen-
tes das paisagens é o interesse difuso da melhoria da qualidade de vida do coletivo.

1.3 Percepção ambiental e paisagens educadoras

Percepção é o ato de conhecer, pela inteligência ou entendimento, independentemente


dos sentidos. No caso da percepção ambiental, é conhecer e ter preocupação com os proble-
mas ambientais (DICIONÁRIO DE LÍNGUA PORTUGUESA, 2016).
Processos perceptivos devem estar sempre inseridos dentro de processos participativos
e educadores para não se tornarem meros diagnósticos que têm apenas o objetivo de facilitar
a gestão centralizada dos dirigentes a partir do fornecimento passivo de dados sobre os ato-
res socioambientais envolvidos. Educar e participar para uma maior percepção ambiental
da paisagem tem sido um desafio mundial.
Por um lado, está ocorrendo uma verdadeira alienação de sensibilidades e percepções
ambientais e culturais por conta das facilidades tecnológicas, e, por outro, com a crescente
crise ambiental, há a necessidade do envolvimento de diferentes atores viventes na paisa-
gem a participarem e colaborarem com a resolução dos problemas socioambientais.
O que se percebe é que não tem sido uma tarefa fácil para as diferentes partes da so-
ciedade e que as pesquisas e projetos nessa área têm sido fundamentais para tornar essas
experiências cada vez mais adequadas às características ambientais e sociais específicas de
cada paisagem.

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Para que a preocupação ambiental chegue a um processo de sensibilização e percepção
ambiental, faz-se necessário que processos educativos estejam presentes dentro do ensino
formal e informal. A sensibilização e estímulo do cognitivo para a diversidade das paisa-
gens, não só dos educadores, mas de toda a comunidade de diferentes níveis econômicos,
são imprescindíveis para o processo, pois permitem a consolidação das responsabilidades
socioambientais, promovendo, quando necessário, mudanças de hábitos, ações e comporta-
mentos diários que impactam tanto o meio ambiente (GAZZONI et al., 2015).
A crise civilizatória enfrentada atualmente tem origem no paradigma da globalização
predatória, que coloca os interesses particulares e os ganhos financeiros acima da vida. Por
isso, não faria mais sentido restringir a noção de cidadania a um país. A construção de no-
vos paradigmas que visam o respeito à diversidade cultural, étnica, ambiental, entre outras,
f­ az-se necessário para a mudança dos padrões atuais de desenvolvimento e relações huma-
nas (CARVALHO, 2015).
Desta forma, o grande educador Paulo Freire (1996) argumenta sobre a necessidade de
uma educação libertadora que traz a conscientização da cidadania e da necessidade das pes-
soas participarem de processos de promoção de qualidade de vida em suas comunidades.
Neste sentido, o estímulo da percepção da paisagem pode ser um importante instrumento
de transformação social e construção de sociedades sustentáveis. Uma vez que o indivíduo
percebe mais o seu ambiente, que vão desde detalhes como um beija-flor fazendo a polini-
zação de uma planta até o planejamento territorial por meio de um plano diretor, podem
estar sendo construídos de forma cognitiva valores e sentimentos de pertencimento àquela
realidade/paisagem, fazendo com que ela seja melhor cuidada e respeitada.
É neste contexto que a Educação Ambiental se faz necessária como tema central para a
discussão de uma educação não subordinada à lógica e às práticas feitas a manutenção da
sociedade global, proporcionando criticidade e empoderamento das pessoas. Assim, deve
ser pensada uma construção coletiva das realidades das comunidades com pessoas engaja-
das e conscientes da necessidade de uma sociedade de caráter planetário, em que todos são
corresponsáveis pela qualidade de vida do presente e do futuro (CARVALHO, 2015).
A Educação Ambiental promovida de forma democrática é um valor estratégico perma-
nente para a conquista e consolidação de uma sociedade equilibrada. A pluralidade dos su-
jeitos políticos, a autonomia dos movimentos de massa, a liberdade de organização e tantas
outras conquistas das sociedades democráticas devem ter pleno valor na sociedade.
A mobilização e a articulação em torno de ações práticas de educação ambiental têm
possibilitado a população o acesso às informações sobre as questões socioambientais, e con-
sequentemente o aumento da sensibilização.
Inúmeras ações de educação ambiental têm contribuído para que os governantes te-
nham uma melhor percepção ambiental se posicionem com políticas públicas, e de maneira
efetiva, no sentido de fiscalizar e combater os crimes socioambientais.
O desenvolvimento de ações de educação ambiental que despertem a percepção do ser
humano em relação à dependência que o mesmo tem dos recursos naturais se faz urgente,
tanto para a sua sobrevivência, quanto para de seus descendentes, uma vez que os recursos

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naturais estão escassos como, por exemplo, a água, evidenciada por inúmeras crises hídricas
de abastecimento pública e em todas as regiões do Brasil.
A educação ambiental parte de princípios que se amarram a fins. Um deles é a for-
mação para a cidadania, ou seja, para a participação ativa na sociedade (FREIRE, 1979).
A educação para a participação é condição permanentemente conquistada por meio da
consciência crítica, que implica ação-reflexão sobre a realidade, baseada em referências
éticas e sociais que promovam mais vida em suas diversas dimensões. Neste sentido, a
educação ambiental compreende o meio ambiente em sua totalidade, ou seja, todos que
estão no mesmo espaço e na paisagem, vivenciando suas realidades sociais, econômicas,
culturais, políticas e ecológicas.
Uma questão importante é que, ao lidar com pessoas, os processos formativos devem
contar com uma equipe interdisciplinar buscando contemplar profissionais tanto das áreas
ambientais quanto humanas, visando assim à integração dos saberes biofísicos com os sabe-
res socioculturais, o que é de extrema relevância para a construção de processos cognitivos
de percepção ambiental de forma complexa e profunda.
O enfoque da percepção ambiental da paisagem é uma ótima oportunidade dos edu-
cadores se aprofundarem no tipo de bioma que ali ocorre, por exemplo, se é uma região de
Cerrado ou Mata Atlântica, quais são as espécies que vivem por ali, quais os rios que estão
presentes, qual a história do lugar e das pessoas que por ali moram ou passam etc.
Desta forma, é possível correlacionar todo um conhecimento presente em uma paisagem e
trazer para o dia a dia das pessoas de maneira educativa no sentido de sensibilizar e conscien-
tizar sobre a importância da diversidade biológica e cultural para a qualidade de vida das pes-
soas, seja na oferta de água, alimento, equilíbrio climático, lazer, espiritualidade etc.
Segundo Milton Santos (1985), o primeiro passo a ser quebrado é a concepção de “espa-
ço físico banalizado como mera concreção pragmática, algo sem alma e sem história, restrito
à unidade de medida física geometricamente definível, quando se sabe que os espaços con-
tam a história da civilização humana, são objetos informativos e formativos extrapolando
a mera materialidade”. A paisagem é percebida pela apreensão da sua relação com a so-
ciedade por meio das categorias analíticas: forma, função, processo e estrutura, sendo elas
socioambientais, históricas e culturais.
Esta percepção ambiental da paisagem teve ter o planejamento e a gestão ambiental
de maneira participativa, nos quais os diferentes grupos da sociedade se envolvem para o
planejamento das ações na paisagem. Neste sentido, a educação ambiental emerge como
instrumento de efetivação do resgate de saberes e construção de novas perspectivas de me-
lhoria da qualidade de vida do presente e futuro.
A educação ambiental que se deseja no fomento do planejamento e gestão participativa,
seja em diversas escalas como em seu bairro, sua escola, seu município, estado ou nação,
deve promover o entendimento, por meio da sensibilização socioambiental, de que nas pai-
sagens e espaços existe a diversidade e é deveras importante o respeito às diferentes formas
de pensamento, sabendo das complexidades das comunidades que são entrelaçadas em
suas culturas, por meio de um pensamento amplo e interdisciplinar.

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Ampliando seus conhecimentos

As teorias de análise da paisagem e


percepção do meio ambiente e seus recursos
de aplicação
(PIPPI, 2008)

Baseados em teorias de análise visual e percepção do meio ambiente,


vamos buscar os recursos mais adequados para a representação da paisa-
gem, como forma de registro para posterior análise e compreensão. Dessa
forma estaremos garantindo que cada ambiente tenha suas características
levantadas e analisadas, servindo como base para propostas de projeto e
planejamento estratégico.

No que concerne ao urbanismo, em documentos do plano diretor, pla-


nejamento urbano ou projetos de revitalização urbanística, o diagnóstico
da paisagem deve ser um instrumento de ajuda para a intervenção e pla-
nejamento do território, fornecendo bases concretas para justificar suas
funções e negociar as intervenções das diversas partes envolvidas. Esse
diagnóstico da paisagem e do espaço urbano como um conjunto consiste
em evidenciar suas principais características, seus pontos fortes e seus
desequilíbrios. Trata-se de conhecer o potencial paisagístico do território
e compreender seu funcionamento.

Felippe (2003) demonstrou um método de análise da paisagem para ela-


boração de plano diretor dividido nas etapas de conhecer, compreender,
avaliar e propor. Conhecer a paisagem significa restituir a cidade em sua
paisagem natural, identificar suas características fundamentais, caracteri-
zar o conjunto do território da cidade e identificar as unidades paisagís-
ticas. A interação entre os enfoques subjetivos e objetivos, complemen-
tados pelo estudo da evolução da paisagem, permite a identificação de
unidades paisagísticas distintas no território de uma determinada região.
Compreender o funcionamento de cada unidade paisagística de maneira
objetiva e subjetiva, em que a caracterização das paisagens (ou unidades
paisagísticas) pode ser feita por texto escrito, fotos e croquis, permitindo
estudar a necessidade de conscientização da sociedade em relação à apa-
rição de componentes a serem preservados, revitalizados ou mesmo eli-
minados. Avaliar é colocar em evidência os fatores de evolução da paisa-
gem e identificar os pontos fortes e fracos. Propor é identificar os bairros,
ruas, monumentos, sítios e setores a serem protegidos ou valorizados

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por motivos de ordem estética, histórica ou ecológica e definir, eventual-
mente, as prescrições naturais para assegurar sua proteção.

“Quando se estuda a Paisagem e seus valores ambientais, precisa-se ade-


quar a abordagem conceitual e metodológica de análise das mesmas para
a realidade do local a ser analisado.” (MACEDO, 1993, p. 14; PIPPI, 2004).
O Brasil, pela grande dimensão territorial, apresenta as mais variadas pai-
sagens e ecossistemas constituintes, e é por isso que, para cada um deles,
existem diferentes formas de abordagem. A paisagem litorânea é geral-
mente composta por diversas unidades de paisagem, como, por exemplo:
os morros, as praias, as dunas, as lagoas, os rios, os manguezais e as ocu-
pações urbanas.

“Um Sistema de Paisagem pode, então, ser ordenado tanto por predomi-
nâncias físicas sob forma cristalizada ou por fluxos, presentes na natu-
reza e criados pela ação antrópica, tais como: conjuntos de serras, morros,
colinas; correntes climáticas; correntes hídricas de superfície, doces ou
salgadas (bacias e mares), ou subterrâneas (lençóis); metrópoles, cidades
e vilas, articuladas por vias, redes de infraestrutura e comunicações, auto-
estradas e obras de engenharia como pontes, barragens, etc. A Unidade
de Paisagem é, portanto, uma subdivisão do sistema de paisagem e está
muito mais ligada à escala de percepção humana comum. (...) o conceito
de Unidade de Paisagem já facilita em muito a criação de cenários no pro-
cesso de Planejamento e Desenho Ambiental.” (FRANCO, 1997, p. 137)
São atribuídos valores às unidades de paisagem pela comunidade e seus
visitantes. Esses locais justificam sua classificação como unidades de pai-
sagens devido ao seu marco paisagístico e ambiental, expresso nos valo-
res: naturais, sociais, simbólicos, históricos e culturais.

Essas são delimitadas conforme o tipo de organização do uso do solo


urbano, sendo importante relacionar-se o valor ecológico como estratégia
de ação para organizar, de maneira integrada, o uso do solo, levando-se
em consideração os aspectos ambientais e paisagísticos no planejamento
urbano. No topo dos morros ou pelos voos aéreos podemos obter uma
visão abrangente das diferentes paisagens e sua dinâmica, em que pode-
mos perceber os elementos físicos, as intervenções antrópicas sobre os ele-
mentos naturais e, assim, identificar um sistema de paisagem composto
por diversas unidades de paisagens (PIPPI, 2004).

As Unidades de Paisagem – UPs, divisões morfológicas definidas de acordo


com as características físicas de uma determinada região, são analisadas
conforme o uso do solo e pelos valores paisagísticos e ambientais. A partir

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dessas análises é possível identificar as áreas mais significativas da paisa-


gem, bem como as áreas mais sensíveis, visando estabelecer todas as dire-
trizes ambientais e paisagísticas para o planejamento urbano (PIPPI, 2004).

A partir do diagnóstico paisagístico e da proposta de planejamento ou


intervenção, uma série de objetivos são traçados, identificados e repre-
sentados por plantas ou mapas de zoneamentos com espaços definidos:
a manter, a urbanizar ou a requalificar, por exemplo, determinando as
orientações principais por tipos de espaço e localização.

A proposta também deve ser explicitada com relatório de apresentação


(texto) contendo a descrição e a análise da estrutura paisagística da cidade
(do espaço, do ambiente), englobando os espaços naturais e os construídos.

Atividades
1. Esta atividade de percepção ambiental se chama mapa mental e envolverá as três
partes desta aula. Para começar é necessário escolher o tema principal no centro de
uma folha grande. O tema pode ser, por exemplo, arborização urbana, saneamento
básico, paisagem rural etc.

– Elaboração de ramos e representações da paisagem

Depois de definir o elemento principal você puxa elementos que se ligam direta-
mente com ele através de perguntas norteadoras (A cidade coleta esgoto? Onde?
Como é feito o tratamento?) sobre o tema, e cria os ramos principais do seu mapa
mental. Depois de criar um ramo principal, você liga outro ramo a ele, que se torna
o subtópico do ramo principal e com isso você vai aprofundando cada vez mais sua
percepção. Nos ramos é sugerido que se faça desenho também e utilize diferentes
cores para fazer representações.

Como apoio, é interessante que se tenha materiais diversos de desenhos como, por
exemplo, papeis de diferentes tamanhos e cores e lápis de cor ou giz de cera, além de ou-
tros objetos que possam ser representativos da percepção ambiental dos participantes.

Referências
CARVALHO, J. S. Educação cidadã a distância: Uma perspectiva emancipatória a partir de Paulo
Freire. 2015. 211 p. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: <teses.usp.br/teses/disponiveis/48/...11052015.../JACIARA_
CARVALHO_rev.pdf>. Acesso em: 15 out. 2016.

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