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A intensificação dos desastres naturais, as

mudanças climáticas e o papel do Direito


Ambiental

Délton Winter de Carvalho e


Fernanda Dalla Libera Damacena

Sumário
1. Introdução. 2. Política climática nacio-
nal e internacional: aspectos genéricos. 2.1.
Caracterizando o fenômeno das mudanças
climáticas. 2.2. Mudanças climáticas e desastres
naturais. 3. Gerenciamento do risco como forma
de prevenção aos desastres. 3.1. A relevância
da atuação conjunta de vários setores. 3.1.1.
Político e econômico. 3.1.2. Jurídico. 4. Consi-
derações finais.

1. Introdução
Muitos problemas sociais têm um
elemento de irreversibilidade (SUSTEIN,
2010, p. 227). Desastres1 com consequên-
cias irreversíveis e prejuízos econômicos
incalculáveis causados pelos denominados
eventos da natureza já fazem parte do noti-
ciário cotidiano da sociedade contemporâ-
nea mundial. Em âmbito nacional, eventos
trágicos como os ocorridos no Estado do
Rio de Janeiro (Angra dos Reis2, Morro do
Bumba3 e, mais recentemente, porém não
Délton Winter de Carvalho é Doutor em
Direito UNISINOS. Mestre em Direito Público
UNISINOS. Advogado e consultor jurídico.
1
Os termos desastre e catástrofe serão utilizados
Professor PPGD Unisinos. como sinônimos.
2
Na noite que antecedeu o início de 2010, a pou-
Fernanda Dalla Libera Damacena é Gradu-
sada SANKAY foi soterrada por uma avalanche que
ada em Direito pela Universidade do Vale do matou 31 pessoas na Enseada do Bananal, em Ilha
Rio dos Sinos. Especialista em Direito Público Grande – Rio de Janeiro (BORTOLOTI, 2010).
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul 3
Em 7 de abril de 2010, após horas de chuva
(UFRGS). Mestranda – Universidade do Vale forte, 47 pessoas morreram em Niterói, após o desa-
do Rio dos Sinos (UNISINOS). Bolsista CAPES. bamento de casas construídas sobre um antigo lixão
Professora da Unisinos. (PELLEGRINI, 2010).

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menos preocupante, na Região Serrana4) suas metas e perspectivas. Na sequência,
comunicam a necessidade de atenção e, caracteriza-se o fenômeno “mudança climá-
no mínimo, prevenção. Situações como as tica”, objetivando situar o leitor a respeito
exemplificadas requerem uma mudança de de um dos problemas ambientais mais
postura política, econômica, social e jurídica. significativos já vivenciados pelo mundo
Certamente, há quem veja uma tempo- (GIDDENS, 2009), mas que vem ganhan-
rada de chuvas fortes ou a passagem de do destaque nos últimos tempos devido à
um fenômeno climático capaz de varrer sua relação com os desastres ditos “natu-
uma cidade como um evento corriqueiro rais”. Enfim, busca-se compreender qual
e natural, apesar de suas consequências. a relação entre as mudanças no clima e os
Logo, também considerará desmedida a desastres ou catástrofes ao redor do Plane-
preocupação de quem questiona a “nor- ta. Para tanto, destaca-se o que a doutrina
malidade” desses acontecimentos. De outro especializada entende por desastre, quais
lado, os inquietos, ao se depararem com a seriam as suas principais causas e quais as
realidade dos fatos, retratada em números soluções apontadas a respeito do gerencia-
e documentos, questionam-se a respeito da mento prévio desse tipo de situação.
sua mansa aceitabilidade, de suas efetivas
causas e possíveis responsabilidades. 2. A Política climática nacional e
Diante desse cenário, o presente artigo internacional – aspectos genéricos
pretende investigar em que medida as
denominadas catástrofes podem ser con- A preocupação com as alterações climá-
sideradas ou denominadas “naturais”? ticas e seus impactos na vida humana e no
Se não, qual seria a parcela de ação ou ambiente é assunto de política internacio-
omissão humana nesse contexto? De forma nal há algum tempo. Vários documentos
mais específica, objetiva-se destacar de que (protocolos, tratados e outros documentos
maneira alguns componentes como: atitude internacionais) retratam o reconhecimento
política, econômica e social, ausência de da gravidade e complexidade da situação
gestão do risco, entre outros, podem ser climática do Planeta. Entre os principais, me-
determinantes quando somados a abruptos recem destaque: a Convenção Quadro das
e violentos fenômenos naturais. Nações Unidas sobre o Clima; o Protocolo de
No intento de responder aos aponta- Quioto; o Protocolo de Cartagena5; Protocolo
mentos levantados, o estudo inicia enfa- de Montreal e Convenção de Viena6.
tizando, de forma genérica, a evolução da 5
Trata da biosegurança sob a Convenção sobre
política climática internacional e nacional, Diversidade Biológica. É um acordo internacional que
visa garantir a segurança no manuseio, transporte e
4
A sequência de fortes chuvas na Região Serrana uso de organismos vivos modificados como resultado
do Rio de Janeiro causou o que está se tornando uma de técnicas modernas de biotecnologia, que podem ter
das maiores tragédias brasileiras: três cidades prati- efeitos adversos sobre a diversidade biológica, levan-
camente em total destruição e outras três fortemente do em conta também os riscos à saúde humana. Foi
afetadas por deslizamentos de terra, desabamento adotado em 29 de janeiro de 2000 e entrou em vigor
de encostas, soterramento de bairros e alagamentos. em 11 de setembro de 2003.
Milhares de pessoas perderam as casas, centenas per- 6
Tratado internacional que trata da substituição
deram a vida e várias outras continuam desaparecidas. de substâncias que causam o buraco na camada de
Centenas de homens das forças de resgate do governo ozônio, como os CFCs. O tratado esteve aberto para
trabalham, muitas vezes com a ajuda de moradores, adesões a partir de 16 de setembro de 1987 e entrou
incansavelmente na busca de corpos e sobreviventes em vigor em 1o de Janeiro de 1989. Teve adesão de 150
nas cidades de Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, países e foi revisado em 1990, 1992, 1995, 1997 e 1999.
Areal, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto. O Brasil aderiu à Convenção de Viena Proteção da Ca-
A tragédia foi tamanha que hospitais e necrotérios mada de Ozônio e ao Protocolo de Montreal por meio
não dão conta de fazer todos os atendimentos e estão do Decreto 99.280/06/06/1990, comprometendo-se a
lotados (RUSSO, 2011). eliminar completamente os CFCs até janeiro de 2010,

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A Convenção do Clima, realizada na Objetivando discutir metas e verificar
Conferência das Nações Unidas para o o atendimento das mesmas, o que não é
Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de uma realidade para todos os países signa-
Janeiro, em 1992, chegou à conclusão de tários, inúmeras convenções vêm sendo
que “as mudança no clima da Terra e seus realizadas ao longo de anos. A última
efeitos adversos são uma preocupação Convenção do Clima (2011), ocorrida em
comum da humanidade”. Segundo o texto Durban, na África do Sul, teve como um
da Convenção, “impactos adversos” devem dos assuntos de sua pauta a renovação de
ser compreendidos “como as mudanças no Quioto. Realizada em meio a uma grave
ambiente físico ou biota resultantes do clima crise econômica global (União Europeia), a
que tenham efeitos deletérios significativos COP 17 foi, à moda das reuniões anteriores,
sobre a resiliência, composição ou a produti- palco de mais metas, poucos resultados e
vidade dos recursos naturais e ecossistemas muitas dúvidas. O principal compromisso
ou para a saúde e o bem-estar humano”. A firmado no evento foi a Plataforma de
convenção tem como objetivo a estabilização Durban, um roteiro para um acordo global
da concentração de gases do efeito estufa na de redução de gases de efeito estufa, que
atmosfera em níveis tais que evitem a inter- estabelece um calendário para se criar, até
ferência perigosa no sistema climático. Entre 2015, um instrumento legal vinculante. A
os princípios que a fundamentaram, desta- grande conquista do novo acordo é que
ca-se aquele da responsabilidade comum, todos os países membros da Convenção do
porém diferenciada. Como a concentração Clima terão metas obrigatórias a cumprir a
atual de gases do efeito estufa na atmosfera é partir de 2021. Entre os países signatários
consequência, em maior parte, das emissões da Plataforma está o Brasil, que aceitou
realizadas por países industrializados, cada ter metas obrigatórias de redução de suas
país tem uma responsabilidade diferente emissões (Nunes, 2012). Um dos pontos ne-
(UNITED NATIONS, 1992). gativos desse cenário é o tempo, pois 2021
Apesar de não ter fixado, inicialmente, está bastante longe e não há comprovação
limites obrigatórios para as emissões de científica de que o aquecimento da terra não
gases e não conter disposições coercitivas, venha a aumentar. Ademais, a plataforma
a convenção inclui disposições para atua- deixou algumas lacunas em aberto, como,
lizações (chamados “protocolos”) e criação por exemplo, o tamanho das metas, a na-
de limites obrigatórios de emissões. O mais tureza exata do caráter jurídico do futuro
importante acordo multilateral já firmado tratado, etc.
sobre mudanças climáticas é o Protocolo de Consoante mencionado anteriormente,
Quioto, que se tornou muito mais conheci- uma das expectativas da convenção era
do do que a própria Convenção e expira em Quioto, que foi renovado por mais cinco
2017. Pelo acordo, que entrou em vigor em anos. Assim, até 2017 o Protocolo estará
2005, os países industrializados deveriam em vigor, o que pode ser considerado mais
reduzir as emissões de GEE, durante o uma solução paliativa, uma vez que impor-
período de 2008 a 2012 (primeira fase), em tantes países e antigos poluidores como
uma média de 5,2% em relação aos níveis Estados Unidos, Rússia, Japão e Canadá
de 1990. Isso representaria conter 5 bilhões ficarão de fora dessa ampliação. Esse tipo
de toneladas de CO2. de acordo soa, no mínimo, contraditório,
pois aparece na contramão das proposições
entre outras medidas. Todas as emendas e alterações e princípios da Convenção Quadro. Parece
quanto a aspectos técnicos realizados no texto do
Protocolo, a partir de reuniões realizadas em Londres
bem compreensível que quem lança gases
(1990), Copenhagen (1992), Montreal (1997) e Beijing causadores do efeito estufa na atmosfera
(1999), foram prontamente ratificadas pelo Brasil. há mais tempo assuma metas mais arro-

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jadas. Essa é a lógica da responsabilidade sensatas, proporcionais e sustentáveis em
compartilhada; todavia, o que se verifica é âmbito global. Isso não desincumbe, pelo
exatamente o oposto. Certamente é melhor contrário, soma-se à necessidade de gestão
que nada, mas muito aquém do necessário. do risco local, das cidades, que acabam
Devido ao fato de os gases do efeito sendo palco de grandes desastres, porque
estufa continuarem na atmosfera por mui- são extremamente vulneráveis aos eventos
tas décadas após emitidos, não é possível climáticos.
interromper ou reverter a mudança climá- A questão climática é de difícil solução
tica e, por essa razão, as medidas a serem por suas características muito peculiares,
tomadas são mitigadoras, no sentido de mas também pelo fato de envolver com-
diminuir seus impactos, e adaptadoras, no plexas relações de interesses econômicos,
sentido de criar mecanismos de adaptação políticos, sociais e jurídicos. Na verdade,
às que virão. Atitudes voltadas para essa muito mais econômicos do que os demais.
lógica serão de grande valia também para a Talvez um acordo global, uma negociação
redução de grandes desastres, pois os even- entre os maiores emissores servisse de
tos climáticos extremos (principalmente base jurídica para que cada país adotas-
as enchentes e os ciclones) são muitas das se legislação própria mandatória para
vezes seu estopim. cumpri-lo – como, aliás, é feito com outros
A Política Nacional de Mudanças Cli- acordos internacionais. Isso não ocorreu em
máticas, positivada pela Lei 12.187/2009, Durban, mas poderá ocorrer na COP-18,
demonstra a sensibilização legislativa bra- quando será comemorado o 20o aniversário
sileira a uma preocupação mundial e, tam- da Convenção do Clima.
bém, a assunção de metas e compromissos É sabido que a redução de emissões de
objetivando sua mitigação. Para alcançar gases poluentes implica a mudança de há-
os objetivos da PNMC, o País adotou como bitos antigos e monetariamente rentáveis, o
compromisso nacional voluntário ações de que reflete no âmbito econômico e político
mitigação das emissões de gases de efeito dos países. Isso por si justifica a complexi-
estufa, com vistas a reduzir entre 36,1% dade dos interesses envolvidos. A questão
(trinta e seis inteiros e um décimo por que se coloca é se é possível esperar mais e
cento) e 38,9% (trinta e oito inteiros e nove quais as consequências dessa espera. Quan-
décimos por cento) suas emissões projeta- tas espécies e ecossistemas terão de desa-
das até 2020. A projeção das emissões para parecer, quantas enchentes e furacões terão
2020 assim como o detalhamento das ações as cidades que enfrentar, quantas cidades
para alcançar os objetivos expressos estão desaparecerão por conta da invasão do mar,
previstos no Decreto no 7.390 de 2010. entre outras, são perguntas que precisam de
A postura brasileira é, sem dúvidas, resposta e atitude governamental, privada
salutar, pois o fato de a mudança climática e do cidadão urgente. Dessa reação faz
estar ligada à incerteza, à irreversibilidade parte mais investimento em tecnologia e a
e à baixa probabilidade em nada diminui migração para matrizes energéticas mais
a necessidade de prevenção. Afinal, ela limpas, o que já é uma realidade em alguns
faz parte dos novos riscos, aqueles com países do mundo. Muitos países, todavia,
potencial catastrófico. Todavia, nesse caso se negam a colaborar e não percebem que
em específico, atitudes isoladas são pouco os efeitos das mudanças climáticas não
eficazes. A melhor maneira de se enfrentar são estanques e fronteiriços, até porque
as mudanças climáticas, e, por consequên- esse tipo de postura lhes é conveniente no
cia, contribuir para a redução dos desastres, momento. Muito pelo contrário, trata-se do
é através da articulação internacional, que que Beck (2010, p. 27) denominou “efeito
é geopolítica e requer a adoção de medidas bumerangue”. Para o autor, um dos traços

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típicos dos riscos da modernização é que es- veis da denominada “sociedade de risco”
tes acabam alcançando “quem os produziu (BECK, 2010), e um dos mais graves fatores
ou com eles lucrou”. Como a distribuição desencadeadores de desastres ambientais
dos riscos possui forte tendência à globali- no mundo. Significa dizer que mudança
zação, a ameaça acaba se generalizando de climática, risco e desastres ambientais são
maneira que cedo ou tarde atingirá vítimas temas intrinsecamente relacionados. Inte-
e culpados. Nem os mais abastados esca- ressante observar nesse âmbito que, apesar
pam dos seus maus feitos. de a noção de risco ganhar destaque diante
Se a globalização da economia foi o tema dos processos de modernização, ela não é
dominante no final do século XX, os riscos uma invenção moderna, mas histórica. A
ambientais, ao lado dos riscos econômicos diferença é que a palavra risco ganha, na
e dos riscos sociopolíticos, são temas que atualidade, uma nova roupagem, ou seja,
se impõem neste século inicial do terceiro deixa de ser individual (como era na época
milênio. E esta não é simplesmente uma das grandes descobertas históricas) para ser
questão instigadora de opiniões, mas o uma ameaça global.
desafio a ser enfrentado solidariamente por Por essas e outras razões, é extrema-
todos os países. As mudanças climáticas mente difícil trabalhar com uma semântica
e a poluição não podem ser vistas isola- de segurança absoluta tanto em termos
damente, como fenômenos nacionais. As de mudança climática quanto de desastre
emissões de gases devassam fronteiras e ambiental. Daí a relevância da análise do
formam, em todo o planeta, uma cadeia de risco e das probabilidades. Nesse sentido,
propagação (MARCOVITCH, 2006, p. 4). parece pertinente a abordagem do conceito
de risco ou do binômio risco/perigo. Para
2.1. Caracterizando o fenômeno tanto, é importante destacar que risco e
das mudanças climáticas perigo não são sinônimos, embora assim
A mudança climática é um proble- sejam comumente abordados. O perigo é a
ma inerentemente intergeracional com possibilidade de, fora do controle humano,
implicações extremamente sérias para a coisas acontecerem de maneira indesejada
equidade entre nós e as futuras gerações como, por exemplo, um fenômeno da natu-
e entre as comunidades no presente e no reza. Trata-se de uma situação sobre a qual
futuro (WEISS, 2008, p. 616). não houve controle e, por isso, não houve a
Trata-se de um fenômeno verdadeira- tentativa de evitá-lo. Ao passo que o perigo
mente global e não linear. Isso explica por estaria fora do sistema, o risco relaciona-se
que é tão difícil prevê-lo, especialmente às situações em que haveria um grau de
por muito tempo. Regida por equações não previsibilidade atingível ainda que através
lineares, vários efeitos precisam ser compu- do binômio probabilidade/improbabili-
tados, o que complica e dificulta o acerto dade. Importa destacar, todavia, que para
das previsões. Essa limitação é o grande Luhmann (1992, p. 43-76) o risco é uma
embate das simulações feitas em compu- racionalidade limitada, motivo pelo qual
tadores para estudar o efeito estufa e suas o autor abandona a questão da segurança
consequências climáticas. Suas consequên- (causalidade). Para o autor alemão, não há
cias, além de imprevisíveis, não conhecem como afirmar, sem chance de erro, que algo
fronteiras, daí traço da globalidade. que hoje é de uma forma amanhã manterá
Além da globalização, outras carac- as mesmas características. Afinal, muita
terísticas como a interdisciplinariedade, coisa que era considerada perigo ontem
imprevisão (risco), incerteza, reflexividade hoje passa a ser risco, pois a sociedade criou
e complexidade fazem das mudanças cli- uma comunicação e aumentou a gama de
máticas uma das consequências mais visí- controle sobre tais situações (exemplo: ge-

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nética, nanotecnologia, a própria mudança mínimo, uma nítida falta de comunicação
climática). Apesar de ser um dos elementos entre os diversos setores da sociedade en-
da sociedade contemporânea, o risco não volvidos, então constatar-se-á que a causa
é algo ou um objeto que se descreve, mas pode não ser meramente natural!
uma comunicação que tem uma dinâmica Historicamente as catástrofes tinham
de observação e, se preferência, de anteci- uma explicação sacra, de castigo (SHRADY,
pação do futuro. Não é algo objetivo, mas 2011). Explicavam-se como sendo a justiça
uma construção a partir de uma observação de Deus infligindo aos pecadores uma justa
de tempo e espaço. retribuição por seus erros. O grande Dilú-
Na verdade, o risco é uma forma de vio contado pela Bíblia Sagrada é, talvez,
observação daquilo que não é passível de o primeiro e maior exemplo de todos os
observação, o que em relação às mudanças tempos. Entretanto, com a dessacralização
climáticas é de suma relevância. Apesar das crenças e o empoderamento do homem
de não existir conduta livre de risco, de e de sua razão, as coisas foram tomando
não existir segurança absoluta, a preven- um caminho perigoso, guiado pela falta
ção pode ser utilizada tanto com relação de limites e da noção do risco. Os sábios
ao risco quanto com o perigo e deve ser que bradaram pelo respeito aos limites es-
compreendida como uma preparação con- tavam certos. As consequências da ação do
tra danos futuros não seguros, buscando homem e de sua técnica sobre a natureza,
diminuir sua dimensão. bem como seu empenho em transformá-
A primeira diferenciação moderna para -la, são boas elucidações de aonde se pode
o sentido de risco foi risco/segurança. chegar. Não se trata de “catastrofismo”,
Essa diferenciação foi suplantada a partir mas de uma realidade que está posta e que
da ideia de que se passa a ter que nada é precisa ser enfrentada, pelos Estados, pela
seguro na sociedade contemporânea. Dessa população e pela iniciativa privada, com
maneira, contemporaneamente o debate do medidas de gestão do risco e mitigação, por
risco só pode ser feito com o perigo. Logo, meio da conscientização e da exigência de
a distinção risco/segurança é superada por políticas públicas preventivas ou eficien-
risco/perigo e, a partir daí, o risco passa a temente compensatórias (DUPUY, 2006, p.
ser a parte mais controlável. Pode-se assim 1187). Tais medidas são também profícuas
dizer que o risco é de certa forma contro- no caso de ocorrência do desastre, conforme
lável, o perigo não (LUHMANN, 1992, p. verificar-se-á a seguir.
71). Risco é operacionalizável pelo sistema
mediante a ideia de decisão. E o perigo, 2.2. Mudanças climáticas
que vem de fora da racionalidade de quem e “desastres naturais”
observa, não é controlável. O choque de A expressão desastres naturais tem sido
um meteorito com a Terra é um exemplo. considerada imprópria para parte da dou-
Dentro desse contexto de risco/perigo, trina especializada (FARBER et al, 2010),
a mudança climática tem sido apontada porque quase todos os desastres apresen-
como a vilã na maioria dos casos de desas- tam alguma contribuição humana, por
tres “naturais”. Todavia, além das emissões ação ou omissão. Seja pela má-canalização
dos gases antropogênicos, causadores do de um rio, pela construção de um dique
efeito estufa, algumas questões como a falta de má qualidade ou pela indevida e incor-
de estrutura e planejamento das cidades, reta expansão populacional, a ingerência
bem como a ausência de gestão do risco humana nas atividades modernas acaba
pelos governos não podem passar desper- dificultando a distinção do que é natural
cebidas. Se considerarmos que cada um tem ou não. Dessa maneira, hoje se tornou ex-
sua parcela de contribuição e que há, no tremamente raro um acontecimento com

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características exclusivamente naturais a opção pelo uso de terras muitas vezes em
(ressalvadas algumas situações específicas áreas perigosas, assim como a falta de re-
como o impacto de um meteorito contra a conhecimento da importância de estruturas
Terra, por exemplo). verdes e de sua possibilidade de suavizar
Em função disso, a semântica dos de- e dissipar os efeitos advindos de desastres
sastres deve começar a ser racionalizada naturais (FARBER et al, 2010, p. 29-32).
como um impacto na vida, no ambiente Corroborando o entendimento de
e na propriedade das pessoas que não é Farber (2010), Bergh e Faure (2006, p. 29-31)
determinado apenas pela magnitude do consideram o termo “desastres naturais”
evento, mas também pela interação huma- um equívoco, uma vez que “reflete e reforça
na com a natureza e pelas escolhas de como a crença generalizada de que, infelizmente,
e onde viver. os desastres são atos de Deus, algo que
Nessa linha de raciocínio, Farber et al pouco pode ser feito a respeito”, o que é,
(2010, p. 3) define desastre em função das no mínimo, irracional.
respostas legais e governamentais deman- A intenção ao trazer tais pontos de vista
dadas. Para o autor, visto dessa forma, à colação é destacar que há um somatório
um desastre requer “um círculo de geren- de causas e concausas relacionadas aos de-
ciamento do risco”. Tal círculo abrange sastres ambientais, entre as quais está, sem
questões como: mitigação, respostas de dúvida, a mudança climática. Importante
emergência, compensação e reconstrução. ressaltar, no entanto, que desastres podem
Assim, uma construção já deve ser feita com ocorrer independentemente daquela ou,
olhos no futuro, a fim de mitigar os impac- ainda, serem potencializados como uma
tos de um próximo possível desastre. De- consequência do despreparo de toda ordem
sastres requerem, dessa forma, um conjunto (vulnerabilidade) para enfrentar situações
de várias ferramentas de gerenciamento de climáticas adversas e/ou desastres.
risco. Na opinião do autor, “nenhum de- Logo, as mudanças climáticas como
sastre é completamente natural” (FARBER fatores desencadeadores de desastres am-
et al, 2010, p. 9) e, apesar de considerar as bientais precisam ser compreendidas num
mudanças climáticas como um dos impor- contexto social e sob os olhares de uma
tantes fatores de risco de desastres, outros visão sistêmica, de maneira que as conse-
fatores como a exposição humana e a vul- quências advindas de um evento climático
nerabilidade ao risco engrossam uma lista extremo oriundo das mudanças climáticas
que se completaria por motivos como: as poderão variar de acordo com as condições
modernas condições econômicas (FARBER do ambiente no qual impactarem.
et al, 2010, p. 12)7, a privatização dos servi- Nessa senda, observa-se que o fato de os
ços públicos8, o crescimento populacional, riscos pós-industriais serem frequentemen-
te globais não significa homogeneidade na
7
Tais condições econômicas seriam caracterizadas
pelo conhecido “just in time” – privilegia-se uma
sua incidência sobre as diversas regiões do
cadeia de suprimentos mínima de produtos, a fim de Planeta. Bom exemplo dessa afirmação é o
reduzir os custos, o que coloca em risco o abastecimen- continente africano, um dos pontos mais
to de alimentos em caso, por exemplo, de um desastre. vulneráveis do Planeta ao aquecimento
Nesse contexto há ainda a variável “interdependência”
entre empresas que, no caso de um problema, piora
global, em razão de sua grande dificuldade
a situação, pois o problema ganha um efeito cascata estrutural de adaptação pré e pós-desastre
(FARBER et al, 2010, p. 12). de origem climática. Segundo o Human
8
Especialmente os serviços referentes à água têm
crescido muito. Nos EUA, 85% das empresas, hoje, têm perto o custo de uma comunidade em geral, no caso
donos privados. E apesar de o custo de um empresário de um desastre, a verdade é que, devido à ausência de
no investimento de precaução, mesmo no caso de incentivos, o empresariado não investe em medidas
não ocorrência de um desastre, não refletir sequer de de precaução (FARBER et al, 2010).

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Impact Report (2009), dos vinte países mais risco e o estabelecimento de uma estratégia
vulneráveis, quinze ficam no continente para o seu enfrentamento. Nesse sentido, as
africano. Em países como esses, mesmo abordagens da redução de riscos e proteção
uma pequena perda econômica é signifi- civil podem ser desenvolvidas por diversos
cativa e pode retardar o desenvolvimento campos de atuação como: legislação, defi-
humano. Esse é um dos motivos pelos nição das responsabilidades institucionais
quais a redução do impacto dos desastres, e alocação de recursos financeiros, o que
que atinge de forma desproporcional à não dispensa as respostas locais e o envol-
população mais pobre, é um dos maiores vimento da comunidade.
desafios do milênio para a comunidade Basher (2008, p. 2), por sua vez, chama
internacional (O’BRIEN et al, 2006). atenção para o fato de que a natureza dos
Logo, prevenção, preparo e adaptação desastres é caracterizada por complexas in-
passam a ser essenciais para a gestão de tan- terações entre o mundo natural e o humano,
tos elementos complexos que compõem os o que envolve uma gama diversificada de
desastres ambientais. Mas como fazer isso? conhecimento, abrangendo o desenvolvi-
Como gestionar algo que se conhece pouco mento físico, ecológico, disciplinas sociais
e não se tem conhecimento das proporções e culturais, bem como engenharia, finan-
no futuro? A gestão do risco tem o objetivo ças e perspectivas políticas. Um grande
de evitar, antecipando-se de preferência à desafio, na opinião do autor, é unir esses
ocorrência de um desastre. Nos casos em diferentes tipos de conhecimentos para
que evitar não é possível, a gestão também dar respostas a questões específicas de um
engloba o planejamento de medidas de desastre. Outra característica mencionada
mitigação e reestruturação, da forma mais pelo autor é o lado multissetorial da tarefa
rápida e eficaz possível. de aplicar na prática a redução de desastres.
Todos os setores são afetados pelo risco de
desastres, e todos podem contribuir para
3. Gerenciamento do risco como
a redução dos riscos ou para o aumento
forma de prevenção aos desastres inadvertido de riscos. Isso significa que a
Quando o assunto é desastre ambiental, responsabilidade pela redução do risco não
a palavra “gerenciamento,” que está ligada pode ser atribuída a um setor ou ministério
aos atos de administração, de direciona- (Estado), mas deve ser sistematicamente
mento e de organização, ganha destaque. implementada em todos os setores, e em
Entretanto, essa não é uma atividade iso- particular no de ordenamento do territó-
lada, mas conformada pelas atuações con- rio, gestão ambiental, desenvolvimento
juntas da política, da economia, do direito de infraestrutura, construção, agricultura,
e demais sistemas sociais. Para funcionar recursos hídricos, saúde pública e política
com eficiência e para sobreviver, um siste- social (BASHER, 2008, p. 2-3).
ma precisa de boa estrutura e organização. O gerenciamento do risco é expressão
Com boa organização tem-se uma boa de ordem na atualidade da sociedade
comunicação, o que auxilia muito na hora contemporânea. No âmbito dos desastres
da tomada de uma decisão. Ou seja, todo naturais, a estruturação de critérios para
sistema bem organizado funciona melhor, poder antever a probabilidade de sua
observa com mais qualidade. ocorrência é cada vez mais necessária. O
O’Brien et al (2006, p. 3) consideram desastre ocorrido no Japão (2011), uma
que a gestão dos desastres visa a redução das catástrofes mais violentas da história
dos riscos reais e potenciais, de modo que desde Chernobyl, demonstra que mesmo
o principal foco no planejamento dos riscos uma nação tecnologicamente desenvolvi-
naturais e tecnológicos é a avaliação do da, uma potência econômica, industrial e

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estruturalmente organizada pode se tornar A redução do risco exige compromisso
refém de algum tipo de despreparo. No de longo prazo no processo e na tomada
caso em tela, essa realidade ficou demons- de decisão que impulsiona o desenvol-
trada pela falta de um plano de resiliência vimento das cidades, estados, países e
imediata pós-desastre. A dificuldade em comunidades internacionais. Há, sim,
resfriar os reatores e evitar a contaminação uma relação entre desastres, desenvolvi-
radioativa dos mesmos é típico exemplo de mento e risco (tomada de decisão). Dessa
que os criadores não estavam preparados forma, a gestão do risco passa a ser um
para lidar com as falhas nas expectativas de componente fundamental para se falar em
sua criação. É o que Beck (2008) denomina desenvolvimento sustentável e prevenção
“incertezas fabricadas”. de desastres, temas que, se não interessam
Apesar da gravidade da catástrofe diretamente, afetam diversos sistemas so-
Japonesa (2011) e de alguns outros casos, ciais como a política, a economia, o Direito,
como o furacão Katrina (EUA), a taxa de entre outros.
mortalidade em desastres ocorridos em
países mais desenvolvidos é menor. Além 3.1. A relevância da atuação
disso, a reconstrução e a recuperação tende conjunta de vários setores
a ser mais rápida, exatamente porque em
3.1.1. Político e econômico
países como Austrália, Japão, EUA, entre
outros, a preparação e mitigação de estra- Os fenômenos inerentes à Sociedade de
tégias, combinadas com alta capacidade de Risco, como os desastres ambientais, tra-
resposta (em função da renda, poupança e zem à luz a necessidade de estruturação de
seguros), asseguram que, embora os even- uma racionalidade jurídica para o controle
tos possam causar grandes danos, o retorno desse último. Tal estruturação se dá a partir
à normalidade tende a ser mais rápido e da formação de critérios para sua análise,
eficaz. A realidade nos países menos de- avaliação e gestão nos diversos sistemas so-
senvolvidos não é a mesma. Nestes a gestão ciais (Direito, Política, Economia, Ciência)
do risco existe muito mais no papel do que (CARVALHO, 2010a, p. 445).
na prática, de maneira que sua implemen- A elaboração de uma política de geren-
tação fica atrás de institucionalização e da ciamento de desastres requer a união de
planificação. Veja-se, por exemplo, o caso esforços de diversos subsistemas existentes
do Haiti, após o terremoto de 2010. na Sociedade. Do contrário, nasce fadada
A vulnerabilidade, capacidade de ao fracasso. Nesse aspecto, economia e
antecipar-se (para enfrentar e resistir) e política precisam convergir de maneira
a resiliência (meios para recuperar-se do ativa e fazer parte de um mesmo projeto.
impacto de um desastre) parecem ser os Uma das formas de tornar essa necessidade
principais fatores a distinguir os que sofrem uma realidade é o cultivo das relações com
as perdas e os que escapam delas. Uma empreendedores, que pode maximizar as
boa estratégia de adaptação parece ser a parcerias em políticas ambientais. Apesar
que atue previamente (preventivamente) de não ser uma tarefa fácil, o acordo com
e englobe a redução dos riscos naturais, grupos políticos não aliados para garantir
o desenvolvimento humano sustentável o seguimento de políticas climáticas é outra
e a adaptação às alterações climáticas. O boa estratégia. O trabalho com “políticas
problema é que o planejamento para im- climáticas positivas também é fundamen-
pactos atualmente não é preventivo e está tal. “O medo e a ansiedade não são bons
muito voltado à assistência humanitária em motivadores” (GIDDENS, 2009, p. 12),
conflitos e em situações pós ocorrência dos especialmente quando se trata de situações
fatos (O’BRIEN, 2006, p. 5-7). abstratas.

Brasília a. 49 n. 193 jan./mar. 2012 91


Apesar de importante, o Estado há realidade. Com a ocorrência do furacão
muito tempo já não é o centro da socieda- Katrina, o pior desastre natural da história
de. Paralelamente à perda de força estatal, da América, a estrutura americana para o
observa-se o crescimento e a inclusão do enfrentamento desse tipo de situação foi
terceiro setor, das organizações privadas severamente testada. Segundo Farber er
e da participação democrática. Para Rocha al (2010, p. 132), “o sistema não teve um
e Carvalho (2006, p. 9-29), é a atuação aco- desempenho de sistema e a performance
plada desses setores que, juntamente com do sistema federal, com notáveis exceções
o Estado, fará a diferença na tomada de como a Guarda Costeira, não foi boa”.
decisões, permitindo o melhor gerencia- Nos Estados Unidos, a Agência Federal
mento dos riscos. de Gerenciamento de Emergências (FEMA)
A decisão de política ambiental é extre- foi criada como agência independente pelo
mamente séria e complexa. Em que pese governo Carter para formar um sistema
a complexidade que envolve a tomada de de gerenciamento de emergências. Diante
decisão, uma atitude inconsequente, des- desse propósito, a FEMA assumiu funções
comprometida ou omissa é, no mínimo, in- que previamente eram de outras agências
constitucional, pois afeta tanto as presentes federais, como o departamento de defesa,
quanto as futuras gerações, o que suscita que tinha a responsabilidade de proteger
responsabilidade perante os prejudicados. civis, e do Departamento de Habitação e
Defensor desse ponto de vista, Milaré (2009, Administração para o desenvolvimento
p. 129) enfatiza que “o Poder Público assu- urbano de assistência federal de desastre.
me as funções de gestor qualificado: legisla, Com o governo Bush, houve uma rees-
executa, julga, vigia, impõe sanções, enfim, truturação, uma reformulação da FEMA,
pratica todos os atos que são necessários focando suas atenções na ameaça do ter-
para atingir os objetivos sociais, no escopo rorismo. Após o ataque às torres gêmeas,
e nos limites de um Estado de Direito”. em 11 de setembro, o governo criou o
Dissertando acerca das esferas com- Departamento de Segurança Interna, com
petentes para o gerenciamento do risco funções de defesa a ataques terroristas e
ambiental, Carvalho (2009, p. 10) apregoa de planejamento e resposta a desastres
que as organizações administrativas têm naturais e causados pelo homem, o que
grande relevância na gestão preliminar acabou tornando a FEMA subordinada do
dos riscos ambientais, uma vez que se departamento. Em virtude da burocracia e
apresentam como esferas de decisão mais do maior preparo para o enfrentamento e
sensíveis às questões multidisciplinares resposta a ataques terroristas, a atuação da
que envolvem os riscos ambientais. Por isso FEMA no evento Katrina foi muito critica-
mesmo, juntamente com o autor pode-se da, de maneira que o Post-Katrina Act ele-
afirmar que, em regra, a primeira esfera vou a FEMA à categoria de departamento,
para gerenciamento dos riscos ambientais conferindo-lhe poderes diferenciados e as
consiste na Administração Pública, que o funções de “reduzir a perda de vidas e de
faz por meio dos seus órgãos ambientais propriedades, proteger a nação de todas
componentes. as ameaças, incluindo preparo para emer-
Todavia, uma política proativa e pre- gências, proteção, resposta, recuperação e
parada para enfrentar situações extremas mitigação, diante de ataques terroristas e
precisa ser organizada e bem estruturada. desastres naturais”. Atualmente a FEMA
A experiência de países que já enfrenta- conta com uma boa gama de funcionários
ram grandes desastres naturais deve ser disponíveis para assistência pós-desastres,
observada, pois uma observação bem feita sendo que sua atuação se dá por regiões
permite a construção de um novo tipo de afetadas. Além disso, muitas vezes a FEMA

92 Revista de Informação Legislativa


trabalha em parceria com outras organiza- de risco e de ações de prevenção de desas-
ções que fazem parte do sistema de gestão tres naturais dependem da existência de
de emergência. Esses parceiros incluem as sistemas e de tecnologias de observação e
agências locais e estaduais de gestão de monitoramento em tempo real. Todavia,
emergências e a Cruz Vermelha Americana muito pode ser feito com pequenas ações
(FEDERAL..., 2008). dos governos e, principalmente, depende
No Brasil, segundo balanço de ativida- da boa comunicação entre os entes fede-
des estruturantes – 2011, o Ministério da rativos. Parece inadmissível que uma das
Ciência e Tecnologia está desenvolvendo, justificativas para não repasse de verbas
em articulação com outras instituições federais destinadas à prevenção de desas-
federais, estaduais, municipais, orgãos de tres seja o não encaminhamento de projetos
defesa civil e as Forcas Armadas, um Siste- ou da documentação correta aos órgãos
ma Nacional de Monitoramento e Alertas competentes. O poder público precisa parar
de Desastres Naturais. O resultado desse de agir depois da contingência, que é eco-
projeto deverá aumentar a capacidade da nomicamente muito mais custosa em todos
sociedade brasileira para fazer frente às ca- os sentidos. No cenário atual, a atuação
tástrofes naturais, com redução de vítimas e de acordo com os princípios da boa admi-
de prejuízos sociais e econômicos decorren- nistração também envolve investimento,
tes. Como primeiro passo para a construção prevenção e eficiência na antecipação a
do Sistema, foi criado um Grupo de Tra- tragédias.
balho Interministerial, formado pela Casa
Civil, Secretaria de Relações Institucionais 3.1.2. Jurídico
e Gabinete de Segurança Institucional, da Os desastres ambientais produzem con-
Presidência da República, Ministério da Ci- sideráveis ressonâncias no sistema jurídico,
ência e Tecnologia, Integração, das Cidades, que claramente ainda se adapta às mesmas.
das Minas e Energia, do Meio Ambiente, do Todavia, observa-se que essa adaptação
Planejamento, Orçamento e Gestão, para enfrenta grandes dificuldades de absorção
definir os objetivos a serem alcançados e e de sensibilização ao que Luhmann (1989)
propor ações para o desenvolvimento e denomina “comunicação ecológica”. Uma
implementação do Sistema. Uma das ações das explicações para essa constatação é
estabelecidas pelo grupo foi a criação do que a extrema complexidade das relações
Centro Nacional de Monitoramento de que envolvem questões ambientais acaba
Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), encontrando grande dificuldade de comu-
responsável pela parte operacional do Sis- nicação com o Direito clássico, estruturado
tema. Inicialmente, foi criado um módulo sob os pilares do rigor normativo, da certe-
temporário com uma Sala de Situação, em za e da ideia de que o Direito é monopólio
instalações cedidas pelo Instituto Nacional do Estado. Trata-se de uma nova conflitu-
de Pesquisas Espaciais (INPE), em Cacho- osidade jurídica à qual Carvalho (2010a,
eira Paulista-SP. O Cemaden terá, nesse p. 433) denomina eco-complexidade9. Dessa
primeiro momento, como linha de ação forma, a atuação do Direito Ambiental
prioritária fornecer dados confiáveis sobre diante dos desastres exige novas formas
áreas de risco relacionadas a escorregamen-
to de encostas, enxurradas e inundações em 9
Para o autor, ecocomplexidade seria “uma
municípios com áreas de risco nas regiões complexidade potencializada proveniente das re-
sul e sudeste do País (BRASIL, 2012, p. 106). lações tidas entre sistema e ambiente que operam
em unidades de referência diversos (complexidade
A previsão é de que em quatro anos o caótica proveniente das relações entre sistema social
sistema brasileiro esteja em condições de e ambiente extra-comunicacional)” (CARVALHO,
funcionamento. Sem dúvidas, os alertas 2010a, p. 4).

Brasília a. 49 n. 193 jan./mar. 2012 93


de observação e de operacionalização dos los diversos fatores de contribuição para o
sentidos pela sociedade. aquecimento global (atividades de emissão
Nessa linha, propõe-se uma nova teoria de gases do efeito estufa, atividades de des-
do Direito que parte da redefinição do papel matamento, etc); (ii) a uma análise cientifi-
do Estado como ator global, voltado para a camente fundada sobre a tolerabilidade dos
função ecológica, para um Estado Ambien- padrões de emissão permitidos em razão
tal. Entretanto, essa proposta requer “uma de possíveis contextos de saturação; (iii) a
revisão da postura que centraliza a organi- um processo de redução da tolerabilidade
zação do poder somente no Estado e que, no que tange aos riscos e danos conexos às
por essa razão, subestima o pluralismo das causas e aos efeitos do aquecimento global;
fontes de poder que constituem a incerteza (iv) a uma maior intensidade na fiscalização
e o risco” (ROCHA; CARVALHO, 2006, p. e imposição de restrições no que diz respei-
10-11). Há que se reconhecer que, em busca to aos processos de intervenção humana
de certezas, o Direito perde em profundi- em áreas especialmente vulneráveis ao
dade, em reflexividade e em complexidade. fenômeno das mudanças climáticas, isto
O enfrentamento das consequências de é, Zonas Costeiras, Áreas de Preservação
um desastre gera uma série de irritações no Permanente – APP, encostas de morros,
sistema jurídico, que conta com estruturas áreas alagadas, etc; (v) a diminuição, ainda
tradicionais para responder novíssimas de- mais intensa, da tolerabilidade referente à
mandas sociais. Para atender às expectati- produção de riscos e danos em áreas es-
vas das demandas geradas pelos desastres, pecialmente vulnerabilizadas pelo aqueci-
o Direito Ambiental precisa ser reflexivo mento global (Carvalho, 2010a, p. 445-446).
(ROCHA; CARVALHO, 2006, p. 10), menos Essa mudança de postura é extrema-
atrelado às amarras da certeza e do passado mente difícil, pois a tradição jurídica tem
e mais aberto ao futuro e à probabilidade uma autocompreensão do direito como
de antevê-lo, atitude que pode prevenir as instrumento social de caráter post factum.
frustrações de muitas expectativas. Trata-se de uma forma de decidir a partir
Tais irritações são demonstradas pelo de eventos já consumados, utilizando-se
fato de que o Direito, a fim de atender às do modelo condicional (se..., então), o
expectativas sociais, precisa gerir situações que restringe o desenvolvimento de uma
novas, mesmo diante da incerteza e do comunicação que instrumentalize deci-
desconhecido. Exemplo recente foi o das sões que incluam o horizonte do futuro
cidades de Nova Friburgo, Petrópolis e (CARVALHO, 2008, p. 31). Ocorre que
Teresópolis, no estado do Rio de Janeiro, essa vinculação ao paradigma do passado é
onde os juízes tiveram que trabalhar na extremamente paradoxal quando confron-
identificação visual de corpos, requisitar tada com as questões de natureza ambiental
bens particulares, solucionar problemas (como, por exemplo, é o caso dos desastres
das crianças órfãs e de crianças perdidas. ambientais), em que o aspecto da prevenção
Determinaram, ainda, a exumação de cor- e não da reparação é o mais eficaz.
pos para abrir vagas nos cemitérios, parti- Tendo em vista a irreversibilidade dos
ciparam de forma ativa, juntamente com danos ambientais, o Direito integra ao
outras instituições, na administração da paradigma vigente uma dimensão trans-
calamidade, ainda que desaparelhados para temporal, concebido como instrumento de
o enfrentamento de demandas desse tipo. prevenção (programação finalística), e não
No contexto de Sociedade de Risco Glo- apenas de reparação e recuperação (pro-
bal, o Direito Ambiental passa a ter que se gramação condicional). A essa evolução
mostrar mais afeto (i) à análise contextual no Direito Carvalho (2008, p. 32) denomina
(efeitos combinados) e multidisciplinar da “transposição do direito dos danos para um
hipercomplexidade causal apresentada pe- direito de risco” ou, indo um pouco mais
94 Revista de Informação Legislativa
longe, um direito dos desastres/catástrofes efetiva em âmbito mundial, com nações
preventivo. ativas, trabalhando juntas por um objetivo
Daí a relevância da assimilação e neces- comum. Essa atuação requer coragem e
sidade de uma teoria do direito reorganiza- atitude. Coragem para se opor aos países
da, fortalecida em suas estruturas internas, que privilegiam seus interesses e descon-
aberta ao acoplamento de sua epistemolo- sideram o resto do mundo e as futuras
gia com outras áreas do conhecimento e, em gerações. Atitude para construir um futuro
última análise, à ecocomplexidade. Assim, com investimentos em energias renováveis,
o enfrentamento dos desastres naturais e em que petróleo perca sua capacidade de
suas causas requer um direito preventivo, determinar a forma da política mundial.
bem estruturado, sensível às irritações do Ação do Poder Público para identificar,
meio, dos demais sistemas e, sobretudo, mapear e agir diante das áreas de riscos
ecologizável. com ocupação humana, o que pode ser
feito por meio do zoneamento ambiental,
4. Considerações finais instrumento previsto pela Política Nacional
do Meio Ambiente, salvaguardando vidas
Após esses breves apontamentos, e fortalecendo o sistema de defesa civil, etc.
chega-se à conclusão de que complexidade, Esses, entre outros, parecem ser ca-
planejamento, incerteza, gestão, decisão, minhos para mudar as regras do jogo em
risco, atuação entre setores, interdisciplina- termos de política e economia mundial
ridade, responsabilidade, entre outros, são ambiental. Entretanto, conforme já pre-
termos muito presentes quando o assunto nunciado, nada se faz sozinho. Somente
em questão é mudança climática e desastre a atuação acoplada de todos os setores
ambiental. envolvidos da sociedade (cidadão) e do
Com relação a ambos os fenômenos, governo tem chance de sucesso. A ciência
sejam isoladamente considerados ou não, já alertou que talvez seja tarde para reverter
pode-se dizer que possuem diversas carac- os danos detectados e que não há certeza
terísticas em comum. Entre elas destaca-se sobre o futuro pelo fato de pouco se saber
o fato de que, tanto em relação à primeira a respeito do fenômeno mudança climática.
quanto em relação aos desastres, há o re- Há, portanto, risco de engano e de ineficá-
conhecimento (mundial e cientificamente cia? Sim, mas o risco é inerente à tomada de
ancorado no caso do primeiro) de que o decisão e nem por isso deixa-se ou pode-se
comportamento humano em relação à natu- deixar de decidir diariamente.
reza tem forte influência tanto sobre o agra- Um olhar sobre o que foi feito abre o
vamento das mudanças climáticas quanto horizonte para uma reflexão do futuro. Os
nos desastres supostamente naturais. erros e acertos do passado são importan-
Dessa forma, diante do estado da arte no tes para ações futuras. A gestão do risco
que concerne à política climática mundial e acumula essa entre outras características
também à estratégia de atuação diante dos e parece ser uma das melhores formas de
desastres, o ideal, talvez, não seja falar em diminuição da vulnerabilidade que tão
avanço nem em retrocesso, mas em falta de duramente afeta mais necessitados diante
atitude, em reorganização, em reformula- da ocorrência de desastres, decorrentes das
ção de visão e de ação, em âmbito nacional mudanças climáticas ou não.
e internacional. Importante referendar que a gestão do
O mundo está mais consciente ou, pelo risco aqui defendida é a preventiva, pla-
menos, ciente de que a questão climática nejada, não a ajuda humanitária posterior
não é um fenômeno qualquer e de que, ao ocorrido. Ter estratégica de mitigação
por sua seriedade, além dos esforços in- e de adaptação é importante, mas não é
ternos de um estado, requer uma atuação suficiente e não interfere no essencial: as
Brasília a. 49 n. 193 jan./mar. 2012 95
causas. Os conceitos de resiliência, vul- Disponível em: <http://veja.abril.com.br/130110/
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climática e gestão de desastres. out. 2011.
Por fim, conforme já mencionado, a ex-
______. Ministério da Ciência Tecnologia e Informa-
pressão “desastre natural” não é a correta,
ção. Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação
pois não reflete a realidade da maioria das 2012 – 2015: balanço das atividades estruturantes 2011.
ocorrências de desastres. A atuação huma- Brasília: MCTI, 2012.
na ou sua falta, no caso de ausência de po- CARVALHO, Délton Winter de. Aspectos epistemo-
líticas públicas, tem grande participação na lógicos da Ecologização do Direito: reflexões sobre a
ocorrência e no agravamento de tragédias, formação de critérios para análise da prova científica.
o que faz com que a maioria deixe de ser Scientia Ivridica, n. 324, p. 433.457, 2010a.
natural. E exatamente por não ser somente ______. Dano ambiental futuro: a responsabilização
obra da natureza, responsabilidades podem civil pelo risco ambiental. Rio de Janeiro: Forense
ser apuradas. Nesse aspecto, para além Universitária, 2008.
das atuações política e econômica, o papel ______. Mudanças climáticas e as implicações
do Direito parece fundamental. Medidas jurídico-principiológicas para a gestão dos danos
preventivas, tutelas inibitórias e inadmissi- ambientais futuros numa sociedade de risco global.
In: LAVRATTI, Paula; PRESTES, Vanêsca Buzelato
bilidade ao ilícito ambiental (especialmente (Org.). Responsabilidade civil e mudanças climáticas.
quando concebido como intolerável) é o São Paulo: Instituto o Direito por um Planeta Verde,
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