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Ao todo, 175 países mandaram delegações para a 2ª Conferência. Durante o encontro, realizado no
Rio de Janeiro dos dias 3 a 14 de junho de 1992, o então presidente Fernando Collor transferiu a
capital do Brasil para aquela cidade, que voltou a ser a capital, função que deixou de exercer desde a
fundação de Brasília, no início da década de 1960. A 1ª Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente ocorreu em Estocolmo, na Suécia, em 1972. Contudo, como observa Washington
Novaes, tal evento não teve o impacto de colocar a questão ambiental no cotidiano dos cidadãos,
aspecto que se processou com a 2ª Conferência realizada no Rio de Janeiro, incorporando o meio
ambiente no jogo democrático.
Em outras áreas existem acordos, mas lacunas são observáveis, como a área das mudanças
climáticas, ou seja, a questão do meio ambiente dentro da ONU encontra dificuldade de ser mais
bem tratada porque esbarra em frentes detentoras de poder, que manifestaram desde o início das
discussões suas posições contrárias às medidas de resolução dos problemas ambientais. Em muitos
aspectos, a questão ambiental se subordinou ao capital, se adequou às engrenagens, assumindo
características que tendem a legitimar o prolongamento da estrutura capitalista, atualizando o atraso,
os mecanismos de devastação. Com efeito, dentro da realidade econômica atual a saída é difícil,
sendo necessário superar as arcaicas estruturas de produção que prolongam um passado de
degradação ambiental, pobreza e desigualdade social, que grassa sem cessar. Propostas foram
lançadas, porém, ao girar na dinâmica da economia global, tais propostas perdem o efeito. Se, em
outros tempos, o medo era do fim dos tempos, da ameaça nuclear, dos comunistas, hoje o medo é
das catástrofes ambientais, das pandemias. Parafraseando Mike Davis, a catástrofe bate à nossa
porta.
Em recente artigo, o professor e ex-ministro da Cultura da Argentina, José Nun, tratou do tema
ambiental colocando-o como questão maior por trás da pandemia, já que a destruição do meio
ambiente segue em continuidade e abrindo espaço para novos vírus. Nesse sentido, a pandemia de
2020 pode ser compreendida dentro dos limites do universo de discussão ambiental. Tal relação
entre a devastação do meio ambiente e o aparecimento de novos vírus é indicada por Jared
Diamond, que destacou que atualmente as novas doenças advêm de patógenos vindos de animais
silvestres, por meio do contato gerado pela devastação dos hábitats naturais de animais. Com a onda
crescente de desmatamento, abre-se caminhos para novos contatos com novos patógenos.
O historiador francês Pierre Rosanvallon ao tratar do método do historiador indica que “a história
objetiva entender como em uma época, um país, ou um grupo social tenta construir respostas para
aquilo que, com maior ou menor precisão elas percebem como um problema”. Assim, seguindo a
proposta de Rosanvallon, se olharmos atentamente para a realidade é possível notar a ausência de
soluções efetivas para o grave problema que é a questão do meio ambiente. No calor das discussões
sobre o meio ambiente em 1992, observou o professor Umberto Cordani:
Nesse sentido consideramos 1992 como o primeiro ano do século XXI porque marcou o
aparecimento de alterações importantes nas relações entre os indivíduos e destes com o meio
ambiente. Entretanto, os interesses econômicos do capitalismo não cederam lugar aos interesses
ambientais, e os países mais desenvolvidos continuam a poluir mais que os países em
desenvolvimento. Enquanto os países do centro do sistema ditam as regras da destruição, os países
da periferia serão os primeiros a sofrerem com as consequências desastrosas das alterações
climáticas. O fomento de um projeto de superação das estruturas econômicas arcaicas,
incompatíveis com o novo futuro, urge, sobretudo no momento em a humanidade se encontra
defronte às catástrofes advindas da natureza como reação da ação devastadora da humanidade sobre
a Terra.
Fenômenos climáticos pouco descritos passam a se repetir com constância, incêndios incontroláveis,
secas prolongadas, chuvas intensas, temperaturas acima da média, frio extremo, poluição dos
recursos naturais, acúmulo de lixo, devastação de florestas e a abertura para novas categorias de
vírus até então ocultos em seu hábitat passam a preencher o cotidiano do cidadão. Não há mais
tempo e espaço para a humanidade se adequar à realidade das alterações climáticas. O homem
construiu a sociedade utilizando o máximo dos recursos naturais, é preciso superar a etapa da
destruição e chegar a uma nova etapa de desenvolvimento sustentável social e científico via
transformação profunda, ou melhor, superação das estruturas arcaicas do capitalismo.
Em 1992 começou, agora o que resta é fazer deste século o século onde as soluções foram
encontradas e possibilitar que o século XXII tenha um início. Isto é, não se apresenta no horizonte o
fim do século XXI.