Você está na página 1de 7

Que história é essa de Meio

Ambiente?
Fabio Feldmann

Estamos na Semana do Meio Ambiente.


Todos já devem estar cientes deste fato,
pois o Dia do Meio Ambiente, 5 de junho -
com merecido prolongamento por toda
essa semana - tem atraído nos últimos
anos grande atenção de empresas,
governos, imprensa e sociedade, sendo
motivo constante de eventos, palestras,
comemorações e, inclusive, artigos.

O dia 5 de junho foi escolhido como Dia


Mundial do Meio Ambiente porque foi a
data de abertura do primeiro encontro da
Cúpula de Meio Ambiente realizado pela
ONU em Estocolmo em 1972, sendo a
primeira vez que os governos
reconheceram a necessidade de tratar a
poluição provocada pela indústria,
agricultura, cidades, enfim, atividades
humanas. A posição brasileira naquela
Cúpula foi a de que éramos um país em
desenvolvimento e, portanto, tínhamos
que poluir para nos "desenvolver". A frase
que marca muito bem esse
posicionamento é "A pior poluição é a
miséria".

A década de 70 em geral foi marcada por


um início da valorização dos direitos
humanos e da consciência ecológica, em
que se percebeu que a Terra é um único
planeta com recursos naturais escassos
e limite de absorção da poluição. Um
movimento notável desta nova percepção
foi o surgimento de ONGs como o
Greenpeace, Anistia Internacional, The
Nature Conservancy e, em âmbito
nacional, da SOS Mata Atlântica,
reconhecidos como importantes atores
sociais por sua legitimidade. Um livro que
marcou muito a época foi "Limits to
Growth"(de 1972) - escrito por quatro
importantes cientistas e encomendado
pelo Clube de Roma - que trata, em suma,
da finitude dos recursos naturais.

Em 1987 o mundo foi sensibilizado para a


urgência e a dimensão planetária da
questão ambiental pela divulgação da
primeira imagem de satélite do buraco da
camada de ozônio na Antártica. Neste
mesmo ano formou-se a Comissão de
Brundtland, com o objetivo de avaliar os
15 anos de Estocolmo, na qual foi gerado
o Relatório Nosso Futuro Comum,
especialmente conhecido por aportar o
conceito de desenvolvimento sustentável
como aquele que permite o atendimento
das necessidades das presentes
gerações sem comprometer o
atendimento das necessidades das
futuras gerações.

No ano seguinte, foi estabelecido o IPCC -


Painel Intergovernamental de Mudanças
Climática - para avaliar e compilar as
informações científicas, técnicas e
socioeconômicas sobre o tema, e logo
em 1990 seu primeiro relatório sobre
aquecimento global é publicado,
enfatizando a necessidade de reduções
de 60% das emissões de gases efeito
estufa. Seu último relatório foi publicado
em 2007 e, além de averiguar que as
mudanças climáticas são conseqüências
das ações antrópicas, lhe rendeu o
Premio Nobel pela Paz 2007 juntamente
com o ex-vice-presidente dos EUA Al
Gore.

A década de 90 foi o momento de


transformações tecnológicas radicais em
que se viu de um lado o aumento da
velocidade da informação e da
comunicação e do outro o agravamento
da crise ecológica. Foi palco também de
grandes conferências das Nações Unidas,
como a Rio 92, realizada no Rio de
Janeiro.

Esta merece maiores esclarecimentos


não só pela intenção de efetivamente
adotar o conceito de desenvolvimento
sustentável, mas principalmente por
mobilizar a mídia e a sociedade civil e
juntá-las com governos e tomadores de
decisão em um único espaço. Não menos
importantes foram os produtos formais
que originaram desta convenção: Agenda
21, Convenção da Diversidade Biológica,
Convenção sobre Mudança do Clima, e
Convenção do Combate a Desertificação.
Cada qual com o seu tema, tais
documentos têm sua importância no fato
de representarem os esforços de diversas
nações para resolução de problemas
ambientais e globais.

Ainda, as convenções são um primeiro


passo para o desenvolvimento de
políticas e regras concretas, a exemplo
da Convenção sobre Mudança do Clima,
na COP 3 em 1997, na qual foi criado o
Protocolo de Kyoto, tratado este que
estabelece para os países desenvolvidos
signatários, pertencentes ao Anexo I, a
meta de redução de 5,2% dos níveis de
1990 no período entre 2008 a 2012 - meta
muito aquém dos 60% previstos pelo
IPCC, porém metas.

No início deste século, no entanto, os


debates internacionais se focam contra a
guerra anti-terrorismo e nas críticas à
política externa norte-americana
originada do atentado de 11 de setembro
de 2001. Surge em 2000, por outro lado, a
Cúpula do Milênio, na qual os chefes de
Estado dos países-membros da ONU
adotaram 8 metas para o
desenvolvimento a serem compridas até
2015, entre elas acabar com a fome e
com a miséria, educação básica de
qualidade para todos e qualidade de vida
e respeito ao meio ambiente.

De lá para cá são diversos os relatórios


com dados alarmantes quanto ao
aquecimento global, refugiados
ambientais, biodiversidade ameaçada,
aumento do nível do mar, e inclusive
dados econômicos como o relatório do
economista Nicholas Stern. E quando se
fala em aquecimento global, os dados
atuais vêm se mostrando cada vez mais
próximos dos cenários mais pessimistas
levantados pelo IPCC.

Creio que a partir do segundo semestre


deste ano o tema meio ambiente será
ainda mais presente com a questão das
mudanças climáticas. Isto porque
acontecerá em dezembro próximo, em
Copenhague - Dinamarca, a Conferência
da ONU sobre Mudanças do Clima (COP
15) que, na minha opinião, será tão
importante quanto a Conferência de
Kyoto, pelo fato de que nela serão
estabelecidos os novos compromissos de
redução de emissões de gases efeito
estufa. Ela também tem sua importância
comparável à Rio 92. Uma conferência de
tal magnitude que certamente despertará
mais uma vez a imprensa e o público para
a questão do clima e do meio ambiente.

Esperamos que os acordos gerem


resultados positivos para a mitigação das
emissões e adaptações para o
aquecimento global. Mas muito anterior à
acordos internacionais que envolvem
números e cifras astronômicas devemos
buscar esses resultados em nossas
atitudes, fazendo desde agora uma nova
história para o meio ambiente.

Fabio Feldmann é consultor, advogado,


administrador de empresas, secretário
executivo do Fórum Paulista de
Mudanças Climáticas Globais e de
Biodiversidade e fundador da Fundação
SOS Mata Atlântica. Foi deputado
federal, secretário do Meio Ambiente do
Estado de São Paulo. Dirige um escritório
de consultoria, que trabalha com
questões relacionadas ao
desenvolvimento sustentável.

Você também pode gostar