Todos já devem estar cientes deste fato, pois o Dia do Meio Ambiente, 5 de junho - com merecido prolongamento por toda essa semana - tem atraído nos últimos anos grande atenção de empresas, governos, imprensa e sociedade, sendo motivo constante de eventos, palestras, comemorações e, inclusive, artigos.
O dia 5 de junho foi escolhido como Dia
Mundial do Meio Ambiente porque foi a data de abertura do primeiro encontro da Cúpula de Meio Ambiente realizado pela ONU em Estocolmo em 1972, sendo a primeira vez que os governos reconheceram a necessidade de tratar a poluição provocada pela indústria, agricultura, cidades, enfim, atividades humanas. A posição brasileira naquela Cúpula foi a de que éramos um país em desenvolvimento e, portanto, tínhamos que poluir para nos "desenvolver". A frase que marca muito bem esse posicionamento é "A pior poluição é a miséria".
A década de 70 em geral foi marcada por
um início da valorização dos direitos humanos e da consciência ecológica, em que se percebeu que a Terra é um único planeta com recursos naturais escassos e limite de absorção da poluição. Um movimento notável desta nova percepção foi o surgimento de ONGs como o Greenpeace, Anistia Internacional, The Nature Conservancy e, em âmbito nacional, da SOS Mata Atlântica, reconhecidos como importantes atores sociais por sua legitimidade. Um livro que marcou muito a época foi "Limits to Growth"(de 1972) - escrito por quatro importantes cientistas e encomendado pelo Clube de Roma - que trata, em suma, da finitude dos recursos naturais.
Em 1987 o mundo foi sensibilizado para a
urgência e a dimensão planetária da questão ambiental pela divulgação da primeira imagem de satélite do buraco da camada de ozônio na Antártica. Neste mesmo ano formou-se a Comissão de Brundtland, com o objetivo de avaliar os 15 anos de Estocolmo, na qual foi gerado o Relatório Nosso Futuro Comum, especialmente conhecido por aportar o conceito de desenvolvimento sustentável como aquele que permite o atendimento das necessidades das presentes gerações sem comprometer o atendimento das necessidades das futuras gerações.
No ano seguinte, foi estabelecido o IPCC -
Painel Intergovernamental de Mudanças Climática - para avaliar e compilar as informações científicas, técnicas e socioeconômicas sobre o tema, e logo em 1990 seu primeiro relatório sobre aquecimento global é publicado, enfatizando a necessidade de reduções de 60% das emissões de gases efeito estufa. Seu último relatório foi publicado em 2007 e, além de averiguar que as mudanças climáticas são conseqüências das ações antrópicas, lhe rendeu o Premio Nobel pela Paz 2007 juntamente com o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore.
A década de 90 foi o momento de
transformações tecnológicas radicais em que se viu de um lado o aumento da velocidade da informação e da comunicação e do outro o agravamento da crise ecológica. Foi palco também de grandes conferências das Nações Unidas, como a Rio 92, realizada no Rio de Janeiro.
Esta merece maiores esclarecimentos
não só pela intenção de efetivamente adotar o conceito de desenvolvimento sustentável, mas principalmente por mobilizar a mídia e a sociedade civil e juntá-las com governos e tomadores de decisão em um único espaço. Não menos importantes foram os produtos formais que originaram desta convenção: Agenda 21, Convenção da Diversidade Biológica, Convenção sobre Mudança do Clima, e Convenção do Combate a Desertificação. Cada qual com o seu tema, tais documentos têm sua importância no fato de representarem os esforços de diversas nações para resolução de problemas ambientais e globais.
Ainda, as convenções são um primeiro
passo para o desenvolvimento de políticas e regras concretas, a exemplo da Convenção sobre Mudança do Clima, na COP 3 em 1997, na qual foi criado o Protocolo de Kyoto, tratado este que estabelece para os países desenvolvidos signatários, pertencentes ao Anexo I, a meta de redução de 5,2% dos níveis de 1990 no período entre 2008 a 2012 - meta muito aquém dos 60% previstos pelo IPCC, porém metas.
No início deste século, no entanto, os
debates internacionais se focam contra a guerra anti-terrorismo e nas críticas à política externa norte-americana originada do atentado de 11 de setembro de 2001. Surge em 2000, por outro lado, a Cúpula do Milênio, na qual os chefes de Estado dos países-membros da ONU adotaram 8 metas para o desenvolvimento a serem compridas até 2015, entre elas acabar com a fome e com a miséria, educação básica de qualidade para todos e qualidade de vida e respeito ao meio ambiente.
De lá para cá são diversos os relatórios
com dados alarmantes quanto ao aquecimento global, refugiados ambientais, biodiversidade ameaçada, aumento do nível do mar, e inclusive dados econômicos como o relatório do economista Nicholas Stern. E quando se fala em aquecimento global, os dados atuais vêm se mostrando cada vez mais próximos dos cenários mais pessimistas levantados pelo IPCC.
Creio que a partir do segundo semestre
deste ano o tema meio ambiente será ainda mais presente com a questão das mudanças climáticas. Isto porque acontecerá em dezembro próximo, em Copenhague - Dinamarca, a Conferência da ONU sobre Mudanças do Clima (COP 15) que, na minha opinião, será tão importante quanto a Conferência de Kyoto, pelo fato de que nela serão estabelecidos os novos compromissos de redução de emissões de gases efeito estufa. Ela também tem sua importância comparável à Rio 92. Uma conferência de tal magnitude que certamente despertará mais uma vez a imprensa e o público para a questão do clima e do meio ambiente.
Esperamos que os acordos gerem
resultados positivos para a mitigação das emissões e adaptações para o aquecimento global. Mas muito anterior à acordos internacionais que envolvem números e cifras astronômicas devemos buscar esses resultados em nossas atitudes, fazendo desde agora uma nova história para o meio ambiente.
Fabio Feldmann é consultor, advogado,
administrador de empresas, secretário executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade e fundador da Fundação SOS Mata Atlântica. Foi deputado federal, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Dirige um escritório de consultoria, que trabalha com questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável.