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Módulo 3

Parte 1

1. MUDANÇAS CLIMÁTICAS E EMPRESAS

1.1. MUDANÇAS CLIMÁTICAS

As ações humanas na sociedade tiveram um pico danoso ao meio ambiente a


partir das últimas décadas. O crescimento econômico após a Segunda Guerra
Mundial acentuou-se de tal forma que os impactos ambientais negativos tornaram-
se ainda mais incidentes e evidentes.
Neste sentido, acompanhando o crescimento econômico e os danos ao meio
ambiente, temos a questão das emissões atmosféricas de poluentes e, mais
especificamente, de gases de efeito estufa, os quais são responsáveis pelo
agravamento da qualidade do ar e aumento da temperatura terrestre. Trazemos,
então, uma visão inicial geral sobre o tema de autoria. Segue1:

O debate sobre as mudanças do clima, promovido tanto pela comunidade


científica como por diversas outras instâncias político-ideológicas (governos
e ONGs de países desenvolvidos ou em desenvolvimento e a própria ONU),
é reproduzido diariamente com repercussões nacionais, regionais e locais
(MENDONÇA, 2007), cujo repertório traz perspectivas variadas,
discordantes e antagônicas sobre a origem, causas e consequências desse
fenômeno. Também os efeitos de um possível aquecimento global são
desconhecidos podendo, como sugerem Mendonça e Danni Oliveira (2007),

1 GRIMM, I. J. Impactos das mudanças climáticas no sistema turístico: o caso brasileiro. Instituto
Superior de Administração e Economia. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Caderno
Virtual de Turismo, vol. 19, núm. 1, 2019. Disponível em
<https://doi.org/10.18472/cvt.19n1.2019.1392> Acesso em: 25 de agosto de 2021.
“ter vários efeitos, tanto benéficos quanto nocivos para os seres humanos,
outras espécies e ecossistemas, dependendo, principalmente, do local e da
magnitude da mudança climática” (p. 59).

Manifestadas em diversas escalas de tempo e em parâmetros, como


precipitações e temperatura, as mudanças climáticas se devem a causas
naturais (CONTI, 2005). Entretanto, Mendonça (2006) destaca que no
centro do debate está o comportamento humano que, por meio de
diversas atividades, gera emissões crescentes de GEE, que provenientes
principalmente da industrialização contribuem para o aquecimento global.

Com perspectivas variadas, discordantes e antagônicas, há


predominantemente duas posições bem demarcadas sobre as mudanças
climáticas. Se de um lado, cientistas apontam que as mudanças seriam
resultantes do processo de industrialização ocorrido no último século, de
outro, encontram-se afirmações que as mudanças climáticas são
decorrentes de processos naturais, recorrentes ao longo da história do
planeta, sem que a participação humana seja significativa frente a esses
processos.

Em meio a divergentes argumentos científicos sobre o aquecimento global


antropogênico, pois a questão não goza de unanimidade na comunidade
científica, é possível constatar que a ciência das mudanças climáticas está
envolvida em inúmeras incertezas, além de estar sujeita a interesses
políticos aparentemente ocultos. Tudo parte da ideia de que os cientistas
congregados ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC) e os demais que concordam com o Painel possuem razão ao
defender a tese de que o aquecimento global existe, nos afeta e possui
origem nas práticas sociais (emissões antrópicas, desmatamento que
diminui a umidade do ar, impermeabilização do solo nas grandes cidades,
etc.). O discurso ganhou proporção à medida que tais suspeitas projetaram
dados pontuais para uma possível catástrofe global.
O Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, alicerçado na literatura científica,
fornece ponderações abrangentes da base da mudança climática e
apresenta um sumário para Formuladores de Políticas WGI AR5
reafirmando, a exemplo dos relatórios anteriores, que o aquecimento do
planeta é “inequívoco”, a influência humana no aumento da temperatura
global é “clara”, e limitar os efeitos das mudanças climáticas vai requerer
reduções “substanciais e sustentadas” das emissões de GEE (IPCC, 2014).

No último relatório do IPCC (2018), divulgado na reunião de cientistas e


pesquisadores do Painel que aconteceu em outubro de 2018 na Coreia do
Sul, reafirma-se a urgência da redução drástica na emissão de CO2 mundial.
Ainda de acordo com o relatório, o planeta está 1°C mais quente que os
níveis pré-industriais e destaca que o Acordo de Paris, que rege a redução
da emissão do CO2 a partir de 2020, estipulou como meta que a
temperatura média global não passe dos 2°C. Mas os cientistas presentes
no evento alertam que a temperatura não deveria superar 1,5°C, pois um
aumento de 2°C significa um risco muito grande para corais, para o Ártico e
para pequenos pescadores, e um risco moderado para o turismo e
mangues (IPCC, 2018).

Marengo (2014) esclarece que todos esses documentos são submetidos a


uma reunião com representantes de todos os países e todos estão cientes
da gravidade do tema. Para o climatologista, os documentos são bastante
balanceados e, apesar de uma posição sombria, considera que pode ser
melhorado com medidas de adaptação. Contudo, se nada for feito,
poderemos sofrer as consequências (MARENGO, 2014).

Neste momento do debate Ambrizzi e Artaxo (2014) apontam que:

[…] a possibilidade de haver uma mudança do clima de origem antrópica


deve ser fruto de intensa pesquisa, estudo e seriedade. É nossa
responsabilidade o legado que deixaremos para as futuras gerações e o
princípio da precaução deve ser utilizado, mesmo que haja incertezas sobre
o quanto o homem está contribuindo para o atual aquecimento e o quanto
é variabilidade natural (p. 1).

Entretanto, na comunidade científica internacional, emergem céticos ou


críticos colocando-se de forma alternativa ou contra-hegemônica em
relação à importância das mudanças climáticas, as previsões catastróficas
delas resultantes, as causas da intensidade e frequência dos eventos
climatológicos e a forma científica e política de como enfrentá-las
(MENDONÇA, 2007).

Opiniões divergem, e a persistência de inúmeras incertezas pauta o cenário


acerca da contribuição antropogênica no aumento da temperatura média
do planeta. A rigor, os argumentos expostos possibilitam reconhecer que o
aquecimento global é um processo natural no planeta, por razões de
grande magnitude, astronômicas principalmente, mas a ação antrópica
parece ter acelerado esse processo e, consequentemente, aumentado a
velocidade da elevação da temperatura que tinha um ritmo mais lento até
antes da Revolução Industrial.

Portanto, prever a mudança climática é uma prioridade, mas tais previsões


são notoriamente incertas. A grande dificuldade enfrentada, tentando
entender e prever o sistema climático, é a duração extremamente limitada
das observações, ou seja, a escala de tempo na qual as pesquisas e estudos
dos fenômenos físicos possam ter sido feitos excede tanto o campo
profissional como a expectativa de vida humana2.

Os impactos ambientais relacionados à atmosfera e ao clima são


transfronteiriços, não se sujeitando às fronteiras geográficas, políticas ou
econômicas criadas pelo homem. Desta forma, a efetividade de programas e ações

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Commons Atribuição 4.0. Mais definições sobre a modalidade podem ser acessadas em
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0.
para combater tais danos, seja de modo antecipado, seja para remediação, requer
ações amplas, envolvendo países, governos, etc.
Mas não são somente os governos no nível federal que são responsáveis. Os
governantes nos âmbitos estadual e municipal, além, claro, da comunidade em geral
também devem atuar em prol da prevenção a impactos ambientais e mudanças
climáticas.
As cidades são elementos importantíssimos neste cenário, seja do ponto de
vista da emissão de poluentes, seja do ponto de vista dos seres viventes sujeitados
aos impactos negativos das mudanças climáticas. Áreas urbanas apresentam altas
concentrações de pessoas, fazendo com que problemas ambientais nestas
localidades se tornem mais perceptíveis e danosos econômica e humanamente.
Quanto o assunto diz respeito às alterações e mudanças climáticas, os gases
de efeito estufa, conhecidos pela sigla GEEs, são cientificamente comprovados como
a principal causa. Neste sentido, extraímos excelente trecho no site da CETESB 3:

Os principais gases que contribuem para o aumento do efeito estufa e suas


respectivas fontes antropogênicas, são os seguintes:

CO2 – Responsável por cerca de 60% do efeito-estufa, cuja permanência na


atmosfera é de pelo menos centena de anos, o dióxido de carbono é
proveniente da queima de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo,
gás natural, turfa), queimadas e desmatamentos, que destroem
reservatórios naturais e sumidouros, que tem a propriedade de absorver o
CO2 do ar.

De acordo com o IPCC (1995), as emissões globais de CO2 hoje são da


ordem de 7,6Gt por ano. E a natureza não tem capacidade de absorção de

3 COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Gases do Efeito Estufa. Programa Estadual
de Mudanças Climáticas do Estado de São Paulo. Disponível em
<https://cetesb.sp.gov.br/proclima/gases-do-efeito-estufa/> Acesso em: 29 de agosto de 2021.
todo esse volume o que vem resultando em um aumento da concentração
atmosférica mundial desses gases.

CH4 – Responsável por 15 a 20% do efeito estufa, é.componente primário


do gás natural, também produzido por bactérias no aparelho digestivo do
gado, aterros sanitários, plantações de arroz inundadas, mineração e
queima de biomassa.

N2O – Participando com cerca de 6% do Efeito-Estufa, o óxido nitroso é


liberado por microorganismos no solo (por um processo denominado
nitrificação, que libera igualmente nitrogênio – NO). A concentração deste
gás teve um enorme aumento devido ao uso de fertilizantes químicos, à
queima de biomassa, ao desmatamento e às emissões de combustíveis
fósseis.

CFCs – Responsáveis por até 20% do efeito estufa, os clorofluorcarbonos


são utilizados em geladeiras, aparelhos de ar condicionado, isolamento
térmico e espumas, como propelentes de aerossóis, além de outros usos
comerciais e industriais. Como se sabe, esses gases reagem com o ozônio
na estratosfera, decompondo-o e reduzindo, assim, a camada de ozônio
que protege a vida na Terra dos nocivos raios ultravioletas. Estudos
recentes sugerem que, as propriedades de reter calor, próprias do CFCs,
podem estar sendo compensadas pelo resfriamento estratosférico
resultante do seu papel na destruição do ozônio. Ao longo das últimas duas
décadas, um ligeiro resfriamento, de 0,3 a 0,5ºC, foi medido na baixa
estratosfera, onde a perda do ozônio é maior.

O3 – Contribuindo com 8% para o aquecimento global, o ozônio é um gás


formado na baixa atmosfera, sob estímulo do sol, a partir de óxidos de
nitrogênio (NOx) e hidrocarbonetos produzidos em usinas termoelétricas,
pelos veículos, pelo uso de solventes e pelas queimadas.
O vapor d’água presente na atmosfera também absorve parte da radiação
emanada pela Terra e é um dos maiores contribuintes para o aquecimento
natural do globo. Apesar de não ser produzido em quantidade significativa
por atividades antrópicas, considera-se que, com mais calor, haverá mais
evaporação d’água e, por conseguinte, um aumento de sua participação no
aumento do efeito estufa.

O Protocolo de Quioto também menciona os gases: hidrofluorocarbonos


(HFCs), perfluorocarbonos (PFCs) e hexafluorsulfúrico (SF6).

Dentre os diversos setores da economia, o consumo de energia é, de longe, o


maior emissor de gases de efeito estufa, correspondendo por quase 75% do total.
Na verdade, segundo dados da World Greenhouse Gas Emissions4, o valor exato é de
73%. O setor de energia incluí diversos subsetores e atividades, como transporte,
eletricidade e geração de calor, edifícios, fabricação e construção, emissões fugitivas
e outras queimas de combustível.
Segundo ainda os dados obtidos, outros setores com participação relevante
neste índice são agropecuária (12%); uso da terra, mudança no uso da terra e
silvicultura (6,5%); processos industriais de produtos químicos, cimento e outros
(5,6%); e resíduos, incluindo aterros e águas residuais (3,2%).
As alterações climáticas estão paralelamente associadas a outros eventos e
fenômenos, sejam de cunho econômico, sejam de cunho social. Um dos principais
fatores que merece atenção é o crescimento populacional e, consequentemente, o
aumento das emissões em decorrência da demanda por produtos e serviços gerados
por este aumento de pessoas no mundo.
A população urbana mundial cresce a cada dia. Pessoas estão deixando o
campo, a zona rural, e indo desenvolver suas atividades no meio urbano. Some-se a

4 GE, M; FRIEDRICH, J; VIGNA, L. 4 Charts Explain Greenhouse Gas Emissions by Countries and
Sectors. World Resources Institute, 2021. Disponível em <https://www.wri.org/insights/4-
charts-explain-greenhouse-gas-emissions-countries-and-sectors> Acesso em: 25 de agosto de
2021.
isso o abandono das pequenas atividades agrícolas, substituídas pelos gigantes
sistemas produtivos, criados para atender o constante aumento de demanda por
alimentos.
Atualmente, com dados fornecidos pela Organização das Nações Unidas –
ONU, aproximadamente 55% da população mundial reside em cidades, em centros
urbanos. E a expectativa é que este percentual somente cresça, chegando aos 70%
em 2050. E informa ainda5:

Entre os desafios enfrentados na vida das cidades no século 21 está a


mudança climática. O chefe da FAO destaca como este processo está
afetando a produção de alimentos ao redor do mundo, incluindo em
cidades brasileiras.

“Nós temos tido regiões sofrendo secas sucessivas, o El Niño tem se


repetido, ano atrás de ano, e os impactos que a gente vê de inundações e
os temporais. Rio de Janeiro e são Paulo é um bom exemplo por exemplo.
Nos últimos meses, no verão brasileiro, tem sido afetado por chuvas
torrenciais. Chove no dia. A chuva que normalmente deveria ser distribuída
ao longo do mês. Isso dificulta muito os circuitos de distribuição. A
população não pode ter acesso aos seus locais de compra. Muitas vezes os
locais de armazenamento são inundados e o produto destruído, o produto
perecível principalmente.”

Para a ONU, a maior parte dos desafios enfrentados pelas cidades em nível
local, incluindo a mudança climática e insegurança alimentar, são de
natureza global e exigem soluções multilaterais.

A título exemplificativo, a cidade de Tóquio possuí aproximadamente 37


milhões de habitantes em sua região metropolitana, sendo a cidade mais populosa

5 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. ONU prevê que cidades abriguem 70% da população
mundial até 2050. Clima e Meio Ambiente, 2019. Disponível em
<https://news.un.org/pt/story/2019/02/1660701> Acesso em: 28 de agosto de 2021.
do mundo. Países como Arábia Saudita, Chile, Malásia, Austrália, Portugal e Bélgica,
possuem menos habitantes que Tóquio.
Em nosso país, destacamos cidades como São Paulo, a maior delas, com
aproximadamente 20 milhões de habitantes em sua região metropolitana, seguida
por Rio de Janeiro e Belo Horizonte, com aproximadamente 12,5 e 6 milhões de
habitantes, respectivamente.
De acordo com dados mais recentes do Global Carbon Atlas 6 em 2019, a lista
das 20 economias que mais emitem carbono é apresentada a seguir:

POSIÇÃO PAÍS
1 China.
2 Estados Unidos da América.
3 Índia.
4 Rússia.
5 Japão.
6 Irã.
7 Alemanha.
8 Indonésia.
9 Coreia do Sul.
10 Arábia Saudita.
11 Canadá.
12 África do Sul.
13 Brasil.
14 México.
15 Austrália.
16 Turquia.
17 Reino Unido.
18 Itália.
19 França.
20 Polônia.

Tabela 1: As 20 economias que mais emitem carbono.


Fonte: INBS, 2021.

6 GLOBAL CARBON ATLAS. Territorial (MtCO₂). CO2 Emissions, 2019. Disponível em


<http://www.globalcarbonatlas.org/en/CO2-emissions> Acesso em: 21 de agosto de 2021.
As políticas urbanas devem buscar solucionar a realidade associada às
questões climáticas. Estas questões precisam ser incluídas de forma efetiva nas
políticas públicas urbanas, nos procedimentos diários adotados pelas cidades. A
importância das cidades na conjuntura climática é grande. Os centros urbanos
constantemente tem sido reconhecidos a nível global como pontos estratégicos no
combate às mudanças climáticas. Neste sentido7:

Pode-se dizer que o tema da adaptação às mudanças climáticas se


relaciona com governos locais de, pelo menos, quatro formas diferentes
(Bulkeley e Betsill, 2003; Alber e Kern, 2008). Primeiro, as cidades são
centros de alto consumo de energia e produzem grandes quantidades de
resíduos sólidos que são fonte de emissões de GEE (Lankao, 2007). Vale
notar que com ações de mitigação, diminui-se a necessidade de adaptação
no longo prazo. Segundo, muitos governos locais já estão envolvidos com
ações de desenvolvimento sustentável por meio de, por exemplo, a
implementação da Agenda 21. Além disso, os impactos da mudança
climática têm implicações diretas no contexto urbano e as cidades deverão
se adaptar à nova situação de mudança. Em terceiro lugar, governos locais
são, em geral, facilitadores de ação, pressionando governos nacionais e
estudais a desenvolver projetos na escala local que podem ter um efeito-
demonstração e serem replicados e disseminados para outras localidades e
esferas de governo. Quarto, as relações e sinergias entre políticas
relacionadas às mudanças climáticas, governança urbana e
desenvolvimento sustentável são, em geral, mais evidentes no nível local e
podem servir como uma oportunidade e um incentivo para a promoção de
inovações sociais, políticas, tecnológicas e administrativas que auxiliem nas
respostas ao problema (Lankao, 2007).

7 MARTINS, R. D. Governança Climática nas Cidades: Reduzindo Vulnerabilidades e Aumentando


Resiliência. Rev. Geogr. Acadêmica v.4, n.2 (xii. 2010). Disponível em
<https://www.researchgate.net/publication/236259468_Governanca_climatica_nas_cidades_r
eduzindo_vulnerabilidades_e_aumentando_resiliencia> Acesso em: 30 de agosto de 2021.
O autor em questão ainda traz importantes considerações sobre os eventos
climáticos que podemos ser submetidos nos próximos anos8:

Existe uma ampla literatura que ressalta os riscos associados a eventos


climáticos extremos, assim como a relação entre elevação do nível do mar,
disponibilidade de água potável e perturbações na produção local e
regional de alimentos (Dawson,2007; Tanner et al., 2009). Porém, não é
possível fazer generalizações sobre esses riscos, uma vez que a natureza e a
escala desses eventos variam consideravelmente de acordo com as
diferentes localidades e regiões do mundo, assim como dependem de
aspectos físicos e sociais específicos.

A capacidade das pessoas de evitar o perigo, de enfrentá-lo e ainda de


adaptar-se para evitar perdas e riscos futuros é influenciada por recursos
individuais e comunitários. Esses riscos também são interdependentes,
variando de acordo com a localidade, disponibilidade e qualidade da
infraestrutura, além da provisão de serviços públicos e a presença de redes
sociais e públicas de proteção (Satterthwaite et al., 2007; Tanner et al.,
2009). A falta de atenção a esses riscos enfrentados por grande parte dos
centros urbanos ameaça e expõem várias pessoas a possibilidade de sofrer
com os impactos da mudança climática (Hardoy ePandiella, 2009).

As cidades são importantes atores que impulsionam ações e reações com alto
poder de transformação e enfrentamento a desafios nos mais diversos setores do
cotidiano, como no caso de riscos climáticos e de desastres ambientais. Na verdade,
tratam-se de centros de onde partem a maioria das decisões e tomadas de decisões.
No ambiente urbano ocorrem as mais diversas formas diretas e indiretas de
interação com o meio ambiente. As decisões ali tomadas possuem grande poder de
impacto, seja positivo ou negativo, no meio ambiente. É a partir das cidades que a

8 Ibidem.
maioria das decisões de relacionamento com o meio ambiente são tomadas, sem
contar, claro, que o próprio meio urbano em si promove impactos diretos no meio
ambiente, seja por meio das ações relativas à vida cotidiana dos habitantes, seja por
meio das atividades industriais e produtivas, dentre outras, do meio econômico.
Assim, as cidades estão intimamente ligadas às questões climáticas. Devem,
portanto, saber responder, de forma efetiva, os desafios impostos pelas mudanças
climáticas, preferencialmente de forma preventiva e profilática, evitando a ação
remediativa. Esta relação deve-se levar em conta não somente os possíveis efeitos
diretos do clima na cidade em si, mas também ter em consideração a
interdependência global do clima e ter, como um dos pressupostos de ação, a ação
em benefício global.
Na tabela a seguir, são apresentados alguns impactos em que áreas urbanas
estarão suscetíveis em decorrências das mudanças climáticas.

Tabela 2 – Os impactos das mudanças climáticas em áreas urbanas.


Fonte: Elaboração própria, INBS 2020.
Como já mencionado anteriormente, mais da metade da população mundial
vive nos centros urbanos. Essa realidade demonstra o grande impacto que as
cidades imprimem no meio ambiente.
Estas cidades, esparramadas ao longo de todo o planeta, seguiram modelos
desenvolvimentistas semelhantes, estando sujeitas, em sua grande maioria, a
problemas e ameaças climáticas semelhantes, com sistemas de mobilidade urbana e
transportes alicerçados nas matrizes de combustíveis fósseis.

Em termos globais, 80% das cidades estão localizadas em zonas costeiras


ou em regiões próximas a rios, tornando-as suscetíveis à maior incidência
de tempestades, inundações e vulneráveis à elevação do nível do mar (…) 9

Neste cenário, como já dito anteriormente, o papel das cidades é essencial


para se enfrentar o desafio das mudanças climáticas. Porém, não somente as
cidades.
Questões ambientais e, por dedução, atinentes às questões climáticas são, por
determinação constitucional, dotadas de uma obrigação preventiva por parte do
Estado e da sociedade.
Sendo assim, a nível Federal e influenciando todos os demais entes da
Federação (Estados, Distrito Federal e Municípios), foi elaborada e promulgada a Lei
12.187 de 2009, a qual estabeleceu a Política Nacional sobre Mudança do Clima –
PNMC.

9 Ibidem.

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