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Pós-Graduação em

Economia e Meio Ambiente

Disciplina

Projetos Sustentáveis, Mudanças Climáticas


e Gestão Corporativa de Carbono

Prof. Dr. Carlos Roberto Sanquetta

Programa de Educação Continuada em


Ciências Agrárias (PECCA)
PREFÁCIO

Com o reconhecimento da importância e da gravidade das Mudanças


Climáticas Globais para a sociedade contemporânea, evidencia-se ainda mais a
necessidade de o homem promover o progresso econômico e social em harmonia com
o equilíbrio ambiental. O Aquecimento Global trouxe à tona uma maior preocupação
com o desenvolvimento de tecnologias que melhor utilizem os recursos naturais,
evitem desperdícios e resíduos e não impactem significativamente o ambiente.
Em que pese a existência de muita polêmica ainda sobre o tema Mudanças
Climáticas, não resta dúvidas que o planeta passa por um período de grandes
transformações e riscos. A população humana atingiu patamares inimagináveis em
momentos pretéritos, com projeção de atingir quase 10 bilhões de pessoas até o final
deste século (Atlas of Population and Environment, apud Gore, 2009).
Nesse contexto, as emissões de GEES são esperadas subir de forma ainda mais
aguda, haja vista que a população cresce, mas não é só isso: as demandas da
sociedade contemporânea por energia, alimentos e bem-estar crescem
desproporcionalmente. Crescente consumo de combustíveis fósseis, emissões de
metano nas cidades e no campo, destruição das florestas e outros recursos naturais
são causas de elevações da concentração de GEEs na atmosfera jamais vistas outrora.
Por outro lado, tecnologias vêm surgindo para enfrentar esses problemas. O
homem – com sua capacidade criativa – está agora de olhos abertos para superar mais
este desafio. São muitos os obstáculos, mas exemplos concretos de êxito nessa
empreitada são visíveis em todo o globo.
Novas tecnologias e outras já consagradas – mas por vezes pouco difundidas e
empregadas no dia-a-dia – começam a serem empregadas em maior escala no setor
energético, industrial, sanitário e agrário. A utilização de energias renováveis, a adoção
de sistemas de tratamentos de resíduos e efluentes com menor nível de emissão de
Gases de Efeito Estufa – GEEs, o desenvolvimento de processos industriais
ecoeficientes e o emprego de práticas agropecuárias menos impactantes são
necessários. A expansão da utilização da biomassa, da energia eólica e solar, a adoção
do cultivo mínimo e de outras práticas conservacionistas na agropecuária, o
aproveitamento do biogás e o tratamento de resíduos sólidos em aterros sanitários
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são bons exemplos de adoção dessas tecnologias e de como o homem pode atuar
proativamente nesse cenário.
Até pouco tempo atrás essa temática tinha um caráter exploratório, por vezes
especulativo. Hoje em dia entes públicos como privados estão em sintonia total com a
questão ambiental, e mais recentemente com ênfase nas questões afeitas às
Mudanças Climáticas. O assunto que perpassava apenas no âmbito das negociações
internacionais agora chega até os governos locais e – com toda força – no contexto das
corporações. A nova legislação, as metas assumidas pelo Brasil em nível nacional e
internacional, a quebra de outros paradigmas da sociedade organizada e a força do
mercado vêm impulsionando o setor empresarial a assumir de vez o seu papel nesse
contexto. O setor produtivo e os governos assumiram de vez a sua responsabilidade e
investem maciçamente no desenvolvimento de estratégias e ações para enfrentar a
nova Economia de Baixo Carbono, tanto nas cidades como no campo.
Esta disciplina apresenta uma visão introdutória sobre a temática “Mudanças
Climáticas, Acordos Internacionais sobre o Clima Global e Gestão Corporativa de
Carbono”. Três temas serão abordados com maior ênfase:
1. O Efeito Estufa, o Aquecimento Global e as Mudanças Climáticas;
2. Os Acordos Internacionais sobre o Clima Global, incluindo a Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas e o Protocolo de
Quioto;
3. Os Projetos Sustentáveis e a Gestão Corporativa de Carbono, tratando das
oportunidades profissionais que se vislumbram com essa temática.

Desejo a todos bom proveito nesta disciplina!

Prof. Dr. Carlos Roberto Sanquetta


Responsável pela Disciplina

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SUMÁRIO

1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS .........................................………… 06


1.1 EFEITO ESTUFA NATURAL ………………………………………………………………... 07
1.2 EFEITO ESTUFA ANTRÓPICO …………………………………………………………….. 09
1.3 O AQUECIMENTO GLOBAL E SEUS IMPACTOS ………………………………….. 11

2 ACORDOS INTERNACIONAIS SOBRE O CLIMA …………………… 16


2.1 A CONVENÇÃO-QUADRO DA ONU SOBRE AS MUDANÇAS DO CLIMA
GLOBAL …………………………………………………………………………………………... 16
2.2 AS CONFERÊNCIAS DAS PARTES – COPs …………………………………………… 17
2.3 O PROTOCOLO DE QUIOTO ……………………………………………………………… 21
2.4 EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA NO MUNDO E NO BRASIL …… 24

3 PROJETOS SUSTENTÁVEIS E GESTÃO CORPORATIVA DE 26


CARBONO............................................................................
3.1 GESTÃO CORPORATIVA DE CARBONO.........………………………………….. 27
3.2 INSERÇÃO DA GESTÃO DE CARBONO NA ESTRATÉGIA CORPORATIVA. 29
3.3 DIAGNÓSTICO SITUACIONAL ……………………………………………………….. 31
3.4 IMPLEMENTAÇÃO.............................................................................. 34
3.5 REDUÇÃO DAS EMISSÕES................................................................... 36
3.6 DIVULGAÇÃO DAS AÇÕES E ENGAJAMENTO....................................... 37

LITERATURA CITADA E INDICADA …………………………………….. 40

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1. MUDANÇAS CLIMÁTICAS

O fenômeno conhecido como Mudanças Climáticas é reconhecido atualmente


por toda a sociedade como uma real ameaça ao planeta Terra e à existência humana.
Até pouco tempo atrás essa preocupação era apenas uma hipótese científica e poucos
poderiam acreditar que iria se constituir, nos dias de hoje, em um dos principais
desafios dos governos, da comunidade científica e da sociedade em geral (Figura 1.1).

As Mudanças Climáticas se constituem em um fenômeno difundido


amplamente nos dias de hoje, embora ainda exista muita resistência e ceticismo a seu
respeito. Em que pese à existência de registros de estudos mais pretéritos, tudo
começou mais explicitamente quando cientistas do observatório de Mauna Loa, no
Avaí, partir da década de 1950, perceberam que os níveis de gás carbônico estavam
aumentando ano a ano.

Esse tema ficou latente durante algumas décadas, mas a partir do início dos
anos 1990 os cientistas de todo o mundo começaram a analisar mais detalhadamente
os fatos observados pelos pesquisadores no Avaí e ligar o aumento da concentração de
alguns gases da atmosfera com mudanças nos ciclos biogeoquímicos e com o
comportamento climático em várias porções do globo.

O assunto ainda é um complexo quebra-cabeça. Após quase três décadas de


discussão e evolução na tratativa deste tema muitos fatos puderam ser elucidados e
agora se tem a consciência da gravidade do Efeito Estufa e das Mudanças Climáticas.

Figura 1.1 – O Efeito Estufa: uma ameaça ao planeta Terra, à população humana e a
todos os seres vivos

Neste capítulo iremos tratar de alguns aspectos basilares concernentes ao


Efeito Estufa e às Mudanças Climáticas, dando fundamentação para outros assuntos
que serão abordados enfaticamente nesta disciplina e em todo o curso, como os
projetos sustentáveis e a gestão corporativa de carbono.

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1.1. EFEITO ESTUFA NATURAL

Nos primeiros 96 km, a atmosfera tem uma composição bastante homogênea,


sendo que os gases que a compõem, com suas respectivas porcentagens por volume,
são: nitrogênio (N2) com 78,09%; oxigênio (O2) com 20,95%; argônio (Ar) com 0,93%;
dióxido de carbono (CO2) com 0,03% e outros gases. Com essa concentração de gases
o planeta Terra possui condições favoráveis à vida evoluída, como a conhecemos hoje.

A Terra recebe radiação emanada do sol. Os raios solares penetram na


atmosfera, aquecendo a superfície terrestre e esta reflete radiação infravermelha
térmica em todas as direções. Esta, por sua vez, é absorvida pelo dióxido de carbono,
pelas moléculas de vapor d’água e outros gases. Parte destes raios é dirigida à
superfície da Terra provocando um aumento da temperatura em 43°C, resultando em
uma temperatura média de 15°C. Essa temperatura média é muito favorável à vida na
Terra, embora existam extremos, que podem variar de -90oC a 50oC em determinadas
regiões do globo. Esse aquecimento do planeta consiste no chamado Efeito Estufa
Natural, que é indispensável à existência humana e dos demais seres que habitam a
Terra (Figura 1.2).

Figura 1.2 – A importância do Efeito Estufa Natural para a manutenção da temperatura


e da vida na Terra
Portanto, a temperatura média da Terra é mantida por meio desse fenômeno
que ocorre na atmosfera, o chamado Efeito Estufa Natural ou simplesmente Efeito
Estufa. Na composição da atmosfera existem quantidades pequenas de certos gases,
conhecidos como Gases de Efeito Estufa (GEEs), que se concentram naturalmente
nesta camada, os quais representam menos de um milésimo da atmosfera total, mas
que têm papel fundamental na regulação climática em escala global.

Os principais gases de efeito estufa (GEE) direto são o vapor d’água, o dióxido
de carbono (CO2), os clorofluorcarbonos (CFCs), o metano (CH4) e o óxido de nitroso
(N2O). Esses e outros gases como o HFC, o PFC e o SF6 são considerados no chamado
Protocolo de Quioto, conforme veremos mais adiante. Eles têm diferentes
concentrações e ciclo de produção e destruição, bem como distintos potenciais de

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aquecer a Terra. Esses potenciais são expressos pelo chamado GWP – Global Warming
Potential (Potencial de Aquecimento Global). Esses valores são os seguintes:

 Dióxido de carbono: GPW = 1


 Metano: GWP = 21
 Óxido Nitroso: GWP = 296
 Os demais podem ser buscados na literatura e nos principais sites da
internet que tratam do tema, como por exemplo: www.unfccc.int

Sem os GEEs na atmosfera a radiação infravermelha absorvida pela Terra se


dissiparia no espaço e a superfície do planeta teria temperatura média de -18°C. Ou
seja, sem o Efeito Estufa Natural não haveria condições favoráveis à vida na Terra e o
planeta seria inóspito e gelado (Figura 1.3). Isto diferencia o Planeta Terra dos demais
do sistema solar e dos tantos outros que compõem as inúmeras galáxias. A Terra, a
vida e a humanidade são casos especiais nesse infinito universo.

Figura 1.3 – A Terra sem o Efeito Estufa Natural: a temperatura média seria de -18oC

1.2. EFEITO ESTUFA ANTRÓPICO

Os GEEs servem como um cobertor, mantendo o planeta aquecido, devido à


absorção dos raios infravermelhos térmicos. Se por um lado a presença desses gases é
vital, um desequilíbrio nas suas concentrações pode também representar um perigo. O
aumento da sua concentração pode bloquear a saída da radiação infravermelha
térmica causando aumento na temperatura média do planeta.

Historicamente os níveis de concentração de GEEs vêm se mantendo


aproximadamente constantes nos últimos séculos. As concentrações de dióxido de
carbono nos últimos 1.000 anos, por exemplo, é de cerca de 280 ppm (partes por
milhão), segundo informações derivadas de amostras de gelo. Isso tem ocorrido a
despeito de vários fenômenos naturais, como os vulcanismos, que periodicamente
ocorrem no globo (Figura 1.4). Segundo alguns autores, a ciência tem revelado que a
concentração de CO2 na atmosfera atualmente é a mais elevada dos últimos 400.000

7
anos e não mostra nenhuma tendência de se estabilizar. As concentrações
atmosféricas de dióxido de carbono, assim como metano e óxido nitroso, cresceram
significativamente desde os tempos pré-industriais.

Figura 1.4 – Concentração de CO2 na atmosfera no último milênio

O advento da Revolução Industrial, a partir da década de 1850, alterou a


concentração histórica de CO2 para 375 ppm nos anos 90 (Figura 1.5) e atualmente
estima-se que esteja em mais de 450 ppm. As medições diretas nos últimos tempos
apontam para valores ainda maiores. Projeções feitas com modelos desenvolvidos
pelos cientistas indicam que no próximo século as concentrações serão ainda maiores,
chegando a valores, de no mínimo, 550 ppm e, talvez possam chegar a 950 ppm. Os
outros GEEs importantes também seguem curso semelhante (Figura 1.6).

Com isso vivenciamos hoje uma era em que a atmosfera apresenta uma maior
concentração de GEEs e, em decorrência disso, está ocorrendo um aquecimento extra
do planeta, denominado Efeito Estufa Antrópico ou Antropogênico (Figura 1.7).

Os cientistas têm percebido que existe uma estreita correlação entre a


concentração de GEEs e a temperatura da Terra, embora outra corrente de
investigadores discorde dessa tese. Esse grupo cético de cientistas advoga que
estamos vivenciando agora uma era de Resfriamento Global, ao contrário dos que
defendem a tese do Aquecimento Global. Quem terá razão? Ainda não sabemos e
somente a ciência e o tempo nos esclarecerão isso. Entretanto, como o assunto é sério
e riscos existem advoguemos o princípio da precaução, até porque mesmo que não
caso a correlação entre concentração de GEEs e temperatura global ainda sim outros
efeitos são esperados. Uma coisa é inegável: a concentração de GEEs na atmosfera
está se elevando e a ação humana é o vetor principal disso.

A Figura 1.8 mostra variações na temperatura da superfície da Terra entre os


anos 1000 e 2100. Evidencia-se que, apesar das naturais oscilações, existe certa
estabilidade, pelo menos até meados dos anos 1850. Contudo, a partir dessa época, as
temperaturas passaram a seguir outro rumo. É evidente o acréscimo adicional na

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temperatura a partir de 1850, fato que liga diretamente um aquecimento adicional da
temperatura ao início do uso intensivo de combustíveis fósseis, como o carvão,
petróleo e gás natural, às concentrações humanas e a produção de dejetos e à
expansão da agricultura para suprir as demandas da sociedade moderna. Em
decorrência disso têm-se evidenciado que o Efeito Estufa Natural vem sofrendo
alterações, provocando desequilíbrios no ciclo do carbono e em outros ciclos
biogeoquímicos, bem como no clima de todo o planeta. Isso é o que chamam de Efeito
Estufa Antrópico.

Figura 1.5 – Concentração dos GEEs na década de 1990

A Figura 1.9 mostra ilustrativamente a correlação entre o aumento na


concentração de GEEs e a elevação da temperatura na superfície terrestre. É uma
representação esquemática que revela a estreita associação entre ambas as variáveis e
que se as emissões de GEEs continuarem crescendo, inevitavelmente as temperaturas
globais se elevarão trazendo graves consequências a toda a humanidade.

Fato concreto é que as atividades antrópicas, tanto pela indústria, pelos


veículos, urbanismos e pelas atividades agropecuárias se constituem no principal vetor
de aumento da concentração dos GEEs e acréscimo na temperatura da superfície
terrestre. A esse fenômeno se associa também o termo Aquecimento Global.

Apesar da polêmica, a maioria dos cientistas e políticos do mundo concorda


que existe um aquecimento da atmosfera em nível global, como consequência da
intensificação do Efeito Estufa Natural. Esta intensificação tem ocorrido devido a
alterações na biosfera resultando na quase duplicação da concentração dos GEEs,
provocada pelas atividades econômicas e industriais, principalmente após a Revolução
Industrial. As mudanças climáticas são processos naturais, consideradas as escalas do
tempo de milhares de anos de eras geológicas, entretanto, a velocidade e intensidade
com que as mudanças estão ocorrendo têm sido objeto de especial preocupação de
cientistas e líderes mundiais na atualidade (Figura 1.10).

1.3. O AQUECIMENTO GLOBAL E SEUS IMPACTOS

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Com o Aquecimento Global estão previstas várias modificações no clima da
Terra, como o derretimento de uma parte expressiva das calotas polares e picos e
montanhas cobertas com neve, a elevação do nível dos oceanos, a fragmentação de
habitats e impactos decorrentes sobre a biodiversidade, efeitos sobre a produtividade
na agropecuária, etc. Os cientistas do IPCC (International Panel on Climate Change)
têm elaborado estudos visando demonstrar a gravidade do problema e traçam
cenários que consideram várias situações para o planeta Terra diante do Aquecimento
Global. Em todos os cenários analisados pelos cientistas estão previstos problemas
ambientais sérios que precisarão ser enfrentados pela comunidade internacional.

O último relatório do IPCC, divulgado em fevereiro de 2007, evidenciou que as


mudanças climáticas decorrentes de atividades antrópicas já estão ocorrendo em uma
escala global e que as previsões para o século XXI são preocupantes. A temperatura
média do planeta é prevista para aumentar entre 1,8 a 4,0°C até 2100, com as
melhores estimativas entre 2 e 3°C (Figura 1.11), os níveis globais médios do mar
aumentariam entre 15 e 95 cm, inundando muitas áreas costeiras de baixa altitude e a
concentração de gases na atmosfera aumentou, principalmente de dióxido de carbono
que aumentou de um valor pré-industrial de cerca de 280 ppm para 379 ppm em 2005.

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Figura 1.6 – Aumento das concentrações dos principais GEEs (dióxido de carbono,
metano e óxido nitroso), no último milênio

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Figura 1.7 – A Terra sob Efeito Estufa Antrópico: a temperatura média aumentando

Figura 1.8 – Variações na temperatura da Terra no último milênio com base no


logaritmo neperiano da temperatura no ano de 1990

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∆oC

∆CO2
Figura 1.9 – Ilustração da correlação entre o aumento da concentração de CO2 com o
aumento de temperatura na Terra

Figura 1.10 – A Terra em condições de Efeito Estufa Natural x Efeito Estufa Antrópico

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Figura 1.11. Cenários do Aquecimento Global analisados pelo IPCC

Então, uma questão que surge é a seguinte: o quê fazer para combater o
Aquecimento Global? Segundo os estudiosos existem várias possibilidades, entre as
quais simplesmente esperar, tentar desenvolver tecnologias para controlar o clima e
nos adaptarmos a esse nova era. Entretanto, os mais lúcidos advogam que a única
maneira concreta de atacar o problema é envidar esforços para reduzir as emissões de
GEEs na atmosfera, especialmente aquelas advindas das atividades antrópicas, e
promover o sequestro biológico / a fixação de carbono, mediante reflorestamento,
práticas sustentáveis no meio rural e manejo dos nos oceanos (Figura 1.12).

Figura 1.12. Ações para combater o Aquecimento Global

2. ACORDOS INTERNACIONAIS SOBRE O CLIMA

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A crescente preocupação pública e política, assim como o aumento da pesquisa
científica referente à relação homem e planeta, com seus aspectos ambientais, tornou
a questão climática um assunto de relevância por volta da década de 80.
Reconhecendo a necessidade de informações científicas confiáveis e atualizadas para
os formuladores de políticas, a Organização Meteorológica Mundial (WMO) e o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) estabeleceram o IPCC em
1988.

No mesmo ano, seguindo uma proposta do Governo de Malta, a Assembleia


Geral das Nações Unidas abordou o tema da mudança do clima pela primeira vez e
adotou a resolução 43/53 sobre a "Proteção do clima global para as gerações
presentes e futuras da humanidade". Em 1990, o IPCC lançou o seu Primeiro Relatório
de Avaliação (AR1), confirmando que a mudança do clima era, de fato, uma ameaça e
incitando à negociação de um acordo global para tratar do problema. O Quinto
Relatório de Avaliação do IPCC, ainda em desenvolvimento, apresentará as
informações mais atualizadas sobre a ciência da mudança do clima, seus impactos e as
opções de resposta. O AR1 repercutiu na Declaração Ministerial da Segunda
Conferência Mundial do Clima, realizada em Genebra, em outubro/novembro do
mesmo ano. A Assembleia Geral das Nações Unidas respondeu a esses apelos no mês
de dezembro, lançando formalmente negociações relativas a uma convenção-quadro
sobre mudança do clima por meio da resolução 45/212 e estabelecendo um Comitê
Intergovernamental de Negociação (CIN) para conduzir essas negociações.

2.1. A CONVENÇÃO-QUADRO DA ONU SOBRE AS MUDANÇAS DO CLIMA GLOBAL

O CIN reuniu-se pela primeira vez em fevereiro de 1991. Depois de apenas 15


meses, no dia 2 de maio de 1992, adotou por consenso a Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Mudança do Clima. A Convenção foi aberta a assinaturas na
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), a
chamada "Cúpula da Terra", no Rio de Janeiro, em 4 de junho de 1992 e entrou em
vigor no dia 21 de março de 1994. Hoje, em torno de 200 países e a Comunidade
Europeia são Partes da Convenção. Para tornar-se Parte, o país deve ratificar aceitar e
aprovar a Convenção ou a ela aceder. As Partes anualmente reúnem-se regularmente
na Conferência das Partes (COP) para rever a implementação da Convenção e dar
continuidade às discussões sobre a melhor forma de tratar da mudança do clima. A
estabilização das concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa em níveis
seguros é o objetivo central da Convenção. Esses níveis devem ser atingidos num prazo
que permita, aos ecossistemas, adaptarem-se naturalmente à mudança do clima, que
assegure a produção de alimentos e que permita que o desenvolvimento econômico
prossiga de forma sustentável.

2.2. AS CONFERÊNCIAS DAS PARTES - COPs


Na primeira COP, realizada em Berlim, Alemanha, em 1995, as Partes decidiram
que os compromissos na Convenção específicos para as Partes do Anexo I não eram
adequados. Realizou-se, assim, uma nova rodada de discussões para decidir sobre

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compromissos mais fortes e detalhados para esses países. Para atingir esse objetivo,
todos os países têm o compromisso comum de tratar da mudança do clima, adaptar-se
aos seus efeitos e relatar as ações que estão sendo realizadas para implementar a
Convenção, sempre respeitando os princípios de equidade e de "responsabilidades
comuns diferenciadas" sustentados na Convenção, que essas Partes assumam a
liderança na modificação das tendências de mais longo prazo nas emissões sem que
haja países menos desenvolvidos, que historicamente contribuirão menos na poluição
mundial, tenham as mesmas metas para atingir que países industrializados. A
Convenção, então, divide os países em dois grupos: os listados no seu Anexo I
(conhecidos como "Partes do Anexo I") e os que não são listados nesse anexo (as
chamadas "Partes não-Anexo I").

As Partes do Anexo I são os países industrializados que mais contribuíram no


decorrer da história para a mudança do clima. Suas emissões per capita são mais
elevadas que as da maioria dos países em desenvolvimento e contam com maior
capacidade financeira e institucional para tratar do problema. Os princípios de
equidade e de "responsabilidades comuns, mas diferenciadas" sustentados na
Convenção requerem, portanto, que essas Partes assumam a liderança na modificação
das tendências de mais longo prazo nas emissões. Com esse fim, as Partes do Anexo I
comprometeram-se a adotar políticas e medidas nacionais com a meta, sem
vinculação legal, de retornar suas emissões de gases de efeito estufa aos níveis de
1990 até o ano 2000.

As Partes do Anexo I compreendem tanto os países relativamente ricos que


eram membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos
(OCDE) em 1992, como os países com "economias em transição" (conhecidos como
EITs), ou seja, a Federação Russa e vários outros países da Europa Central e Oriental. A
Convenção concede "um certo grau de flexibilidade" às EITs na implementação de seus
compromissos por causa dos grandes transtornos econômicos e políticos por que
passaram esses países. Várias EITs fizeram uso dessa condição para escolher uma linha
de base anterior a 1990, ou seja, antes das mudanças econômicas que provocaram
grandes reduções nas suas emissões. Os membros da OCDE que são Partes do Anexo I
também estão listados no Anexo II da Convenção. Esses países têm a obrigação
especial de fornecer "recursos financeiros novos e adicionais" aos países em
desenvolvimento para auxiliá-los a tratar da mudança do clima, bem como para
facilitar a transferência de tecnologias que não causem impactos adversos sobre o
clima tanto para os países em desenvolvimento quanto para as EITs.

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Os países não inclusos no Anexo I, basicamente os países em desenvolvimento,
formam o grupo das Partes não-Anexo I. Esses países devem relatar em termos
generalizados as suas ações para tratar da mudança do clima e adaptar-se aos seus
efeitos. O prazo para a submissão de suas Comunicações Nacionais iniciais, incluindo
os Inventários de Emissões, é menos rígido que para as Partes do Anexo I e está
condicionado ao recebimento de financiamento do mecanismo financeiro da
Convenção, operado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). Por causa disso,
as Partes não-Anexo I demoraram a começar a submeter suas Comunicações
Nacionais.
Quando as “Partes” adotaram a Convenção Quadro das Nações Unidas
Com o estabelecimento de um processo de revisão, discussão e troca de
em Mudanças Climáticas - CQNUMC (sigla em inglês UNFCCC), já se
informações permanentes, a Convenção permite a adoção de compromissos adicionais
esperava que a
em resposta fossem adotadas
avanços ações
científicos mais enérgicas
e disposições futuramente
políticas. para
Assim, em 1997, na cidade de
combater o problema do aquecimento global.
Quioto no Japão, contando com representantes de 159 nações, foi então realizada a
terceira Conferência das Partes – COP-3, que culminou na adoção, por consenso, do
Protocolo de Quioto, que ficou como um dos marcos mais importantes desde a criação
da Convenção no combate à mudança climática. A Convenção reconhece que a
assistência financeira e a transferência de tecnologia dos países desenvolvidos são
cruciais para que as Partes, não-Anexo I, possam tratar da mudança do clima e
adaptar-se aos seus efeitos, no contexto do seu desenvolvimento sustentável. A
assistência financeira é concedida pelas Partes do Anexo II e canalizada principalmente
pelo mecanismo financeiro da Convenção, operado pelo GEF. A questão da
transferência de tecnologia, que já vem de longa data, recebeu um novo impulso na
COP-4, quando as Partes estabeleceram um "processo consultivo" sob a direção do
Presidente do Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e Tecnológico (SBSTA)
com a finalidade de identificar ações significativas e eficazes para promover a
transferência de tecnologias que não causem impactos adversos sobre o clima.

Durante a COP-5 foi foram decididas questões relativas à implementação do


Plano de Ação de Buenos Aires, sendo que as Partes deveriam intensificar o trabalho
preparatório necessário para que fossem tomadas decisões com relação ao Plano na
COP 6. Foram também abordados aspectos relativos à questão do Uso da Terra,
Mudança de Uso da Terra e Florestas – LULUCF (Land Use, Land Use Change and
Forestry) capacitação dos países em desenvolvimento – países não-Anexo I e
atividades implementadas conjuntamente em fase piloto. A COP-6, realizada em Bonn,
Alemanha ficou conhecida como a salvação do protocolo de Quioto em virtude de um
acordo em que concessões foram feitas para agradar aos interesses dos países em
conflito, constante do Acordo de Bonn. Em 2001, em Marrakesh, durante a COP-7
foram definidas regras para operacionalizar o LULUCF, mecanismos de flexibilização –
MDL, Implementação Conjunta e Comércio de Emissões e Artigos 5, 7 e 8 que tratam
respectivamente do inventário nacional de emissões, das informações adicionais à
Convenção derivadas do Protocolo, e do processo de revisão das comunicações
nacionais.

Havia certa expectativa quanto à definição das modalidades e procedimentos


para as atividades de reflorestamento e florestamento, no âmbito do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL), o que não se concretizou. Durante a COP-8 foram

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discutidas as definições ainda pendentes do Acordo de Marrakesh sobre temas como
florestas, permanência, adicionalidade, linha de base, vazamentos, período de
creditação etc., mas não foi obtido nenhum resultado concreto e ficou acordado que
tais questões seriam concluídas durante a COP-9, que entre outros aspectos, teve
como ponto forte a discussão sobre as regras e procedimentos para projetos florestais
no MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Nesse sentido, o grande avanço
realizado foi o fechamento de um “pacote de regras” que define a maneira como os
projetos de florestamento e reflorestamento deverão ser conduzidos para
reconhecimento junto à Convenção do Clima e obtenção de créditos de carbono, no
escopo do MDL.

A décima sessão da Conferência das Partes reuniu representantes de 200 países


signatários da Convenção do Clima (cerca de 6.000 pessoas) em um momento em que
o regime internacional sobre mudança do clima sofreu positiva alteração com a adesão
russa ao Protocolo de Quioto. A COP-10 foi marcada pela certeza da entrada em vigor
do Protocolo, em fevereiro de 2005 e pela consequente revitalização de um regime
que muitos julgavam superado. Especial atenção foi dada à discussão sobre o segundo
período de cumprimento do Protocolo (2013 em diante). Para o Brasil, esta décima
Conferência foi de particular importância por três motivos: pela decisão brasileira de
divulgar sua Primeira Comunicação Nacional à Convenção do Clima, com o Inventário
Nacional de Emissões de Gases de Efeito Estufa; pelo fato dessa reunião ser realizada
na Argentina, destino de fácil acesso aos interessados no tema; pela perspectiva de
entrada em vigor do Protocolo de Quioto e seu Mecanismo de desenvolvimento
Limpo, o que eleva o perfil do assunto no âmbito nacional.

Em Montreal, Canadá, na realização da COP-11 as decisões principais foram:


diálogo sobre ações de cooperação de longo prazo para lidar com a mudança do clima
por meio da melhoria da implementação da Convenção; programa de trabalho de
cinco anos do Órgão Subsidiário de Assessoramento Científico e Tecnológico sobre
impactos, vulnerabilidade e adaptação à mudança do clima; orientação adicional à
entidade operacional do mecanismo financeiro (GEF); desenvolvimento e transferência
de tecnologias e submissão de segundas e, quando apropriado, terceiras
comunicações de Partes não incluídas no Anexo I da Convenção.

No período de 6 a 17 de novembro de 2006, foram realizadas em Nairóbi,


Quênia, a 12ª Conferência das Partes na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima (COP-12), a 25ª Sessão do Órgão Subsidiário de Assessoramento
Científico e Tecnológico (SBSTA), a 25ª Sessão do Órgão Subsidiário de Implementação
(SBI) e a 2ª Sessão do Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre Compromissos Adicionais para
as Partes no Anexo I no âmbito do Protocolo de Quioto (AWG-KP). Foi estabelecida
uma orientação adicional a uma entidade encarregada da operação do mecanismo
financeiro da Convenção, para a operação do Fundo Especial de Mudança do Clima,
elaborada nova revisão do mecanismo financeiro, assim como respectiva orientação,
desenvolvimento e transferência de tecnologias e outras questões administrativas,
financeiras e institucionais.

18
Em Bali, durante a Convenção das Partes (COP-13), as questões abordadas
foram o Plano de Ação de Bali, a redução das emissões do desflorestamento nos países
em desenvolvimento: abordagens de incentivo à ação, o desenvolvimento e
transferência de tecnologia no âmbito do Órgão Subsidiário de Assessoramento
Científico e Tecnológico e também no Órgão Subsidiário de Implementação,
apresentação do AR4 pelo IPCC, o Programa de Trabalho de Nova Déli sobre o artigo
sexto da Convenção emendado, a quarta revisão do mecanismo financeiro e
orientações adicionais ao Fundo Global para o Meio Ambiente.

Em Poznan, Polônia a pauta de discussões abordada foi sobre promoção do


Plano de Ação de Bali, novamente o desenvolvimento e transferência de tecnologias, a
quarta revisão do mecanismo financeiro da Convenção, orientação adicional ao Fundo
Global para o Meio Ambiente e a capacitação para os países em desenvolvimento no
âmbito da Convenção. Havia uma expectativa de uma resolução referente um acordo
climático global com metas quantitativas para os países ricos e compromissos de
redução de emissões que possam ser mensurados, reportados e verificados para os
países em desenvolvimento.

Negociado por 20 chefes de Estado e de Governo nas últimas horas da reunião


de cúpula de Copenhague em dezembro, o documento da COP-15 estabelece o
objetivo de limitar a dois graus o aumento da temperatura média do planeta, mas não
fixa os meios para alcançar a meta e ainda prevê uma ajuda aos países mais
vulneráveis de 30 bilhões de dólares em três anos (2010 a 2012) e um aumento
progressivo para alcançar os cem bilhões de dólares anuais em 2020. Isso foi
novamente discutido durante a COP-16, realizada na Cidade em Cancún, México, entre
29 de novembro e 10 de dezembro de 2010.

Após a frustração da COP-15 não se esperava muito da COP-16 de Cancún, no


México. Porém, graças a uma excelente articulação e diplomacia do México, eis que
nos momentos finais daquela conferência surge a perspectiva de se chegar a um
acordo. Várias decisões relacionadas à LULUCF - Land Use, Land Use Change and
Forestry) foram tomadas em Cancún, além das diretrizes para se chegar a um segundo
período de comprometimento para o Protocolo de Quioto.

Em Durban, na África do Sul, em dezembro de 2011 foram também tomadas


várias decisões importantes, dentre as quais a confirmação da existência de um
segundo período de comprometimento para o Protocolo de Quioto. Porém, uma
grande frustração foi a retirada do Canadá e o não estabelecimento de metas para
esse período pós-1º comprometimento de Quioto por parte de Japão e Rússia. Isso
significou um enfraquecimento do Protocolo de Quioto no seu período de
compromisso, que deve ser válido até 2017 ou 2020. Porém a grande notícia ficou por
conta do consenso sobre um novo acordo global sobre o clima, desta feita envolvendo
todos os países, sem distinção entre Anexo I e Não-Anexo I. Com isso, na prática, acaba
o chamado princípio de “Responsabilidades Comuns, porém Diferenciadas”. Durban
trouxe também decisões importantíssimas relacionadas a LULUCF. A íntegra dessas
decisões pode ser obtida no site da UNFCCC.

19
A COP-18 de Doha, no Qatar, foi realizada no período de 26 de novembro a 07
de dezembro de 2012. Confira os resultados da COP 18 (Fonte: Instituto Carbono
Brasil, 2013, em: http://www.institutocarbonobrasil.org.br/noticias2/noticia=732716)

Protocolo de Kyoto:

Trinta e seis países aderiram ao segundo período de compromisso do Protocolo


de Kyoto, que vai de janeiro de 2013 a dezembro de 2020. As metas de redução de
emissão de gases de efeito estufa do conjunto de países significa uma redução de 18%
de emissões de países desenvolvidos em relação às taxas de 1990, o que é muito
abaixo do mínimo definido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC, na sigla em inglês) como necessário para termos chances de evitar que o
aquecimento global ultrapasse os 2°C em relação a níveis pré-Revolução Industrial.
Além disso, países como Estados Unidos, Canadá, Japão, Rússia e Nova Zelândia não
estão participando deste segundo período, enfraquecendo a ferramenta.

Financiamento climático:

Permanece a previsão de arrecadação de US$ 100 bilhões anuais, que serão


revertidos para os países mais pobres para o combate às Mudanças Climáticas. Mas
não foi definido como este dinheiro será arrecadado, como serão financiadas as ações
de mitigação e adaptação de países em desenvolvimento e nem o que será feito para
aumentar este valor.

Novo acordo global:

Deve começar a ser negociado no ano que vem, para ser aprovado em 2015.
Ele deve gerar um novo instrumento com força de lei com compromissos entre todos
os países, de acordo com suas responsabilidades históricas e com uma distribuição
equitativa entre todos. Espera-se, portanto, que países que hoje estão fora do
Protocolo de Kyoto e as grandes economias assumam compromissos muito maiores do
que os países mais pobres.

A programação completa e as decisões desta conferência também podem ser


encontradas no site da UNFCCC (www.unfccc.int).

2.3. O PROTOCOLO DE QUIOTO

Durante a 3ª Conferência das Partes (COP-3) que aconteceu em Quioto


(Japão), em 1997, destacou-se a elaboração do Protocolo de Quioto. O protocolo
estabelece que os países industrializados devem reduzir suas emissões de GEEs em
5,2%, em média, abaixo dos níveis observados em 1990, para os anos de 2008-2012, o
chamado Primeiro Período de Comprometimento. O Protocolo de Quioto entrou em
vigor em fevereiro de 2005 e as regras e exigências para sua implementação foram
elaboradas em um conjunto de decisões chamadas de “Acordos de Marrakesh”. O
objetivo do Protocolo de Quioto é estabilizar as concentrações atmosféricas de gases

20
do Efeito Estufa a um nível que impeça uma interferência perigosa no sistema
climático.

Assim, objetivo é promover a redução das emissões de CO2, CH4, N2O, HFCs,
PFCs, SF6, contando com a responsabilidade dos 39 países industrializados (Anexo I),
cuja meta é a redução média de 5,2% das suas emissões em relação a 1990, para um
primeiro período de compromisso (2008-2012) (Figura 2.1).

15%

R e d u ç õ e s d e E m is s õ e s :
4 .5 9 0 0 m ilh õ e s tC
b ilh õ e s
tC 5%

1990 2008 2012

Figura 2.1 – Meta de redução de GEEs pelos países desenvolvidos, fixada pelo
Protocolo de Quioto – COP-3

Para valer como tratado internacional o Protocolo de Quioto deveria ser


ratificado. As condições para a ratificação do Protocolo de Quioto, desde seu início,
foram as seguintes:
 Meta Quantitativa: 55 partes (países);
 Meta Qualitativa: 55% das emissões de CO2 em 1990 dos países
desenvolvidos (Anexo I).

Até o ano de 2005 o Protocolo de Quioto não havia sido ratificado pelo não
atendimento da Meta Qualitativa, dado que os Estados Unidos se negavam a assiná-lo
definitivamente e assumir os compromissos de redução de suas emissões. Havia um
impasse e somente com a ratificação da Rússia ao final de 2004 é que o Protocolo de
Quioto é ratificado (Figura 2.2). Finalmente, o Protocolo de Quioto, então, entra em
vigor em 16 de fevereiro de 2005.

21
Figura 2.2 – Situação das metas quantitativas para ratificação do Protocolo de Quioto
antes de sua ratificação pela Federação Russa em 2004

O impacto das reduções de emissões previstas pelo Protocolo de Quioto nos


39 países signatários e com metas obrigatórias é imenso. Por isso, foram criados
mecanismos de flexibilização até que todos os países pudessem se adaptar e realizar
efetivamente suas reduções.

O Protocolo inclui três mecanismos de flexibilização a serem utilizados para


cumprimento dos compromissos da Convenção: Implementação Conjunta (JI - Joint
Implementation), Comércio de Emissões (Emissions Trading) e Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo – MDL (CDM – Clean Development Mecanism) que têm por
objetivo a mitigação de GEEs em países em desenvolvimento, na forma de sumidouros,
investimentos em tecnologias mais limpas, eficiência energética e fontes alternativas
de energia (Figura 2.3).

M e c a n is m o s
M e d id a s d o m é s tic a s
d e fle x ib ilid a d e

C o m é r c io d e E m is s õ e s ( E m is s io n T r a d in g – E T )

Im p le m e n ta ç ã o C o n ju n ta ( J o in t Im p le m e n ta tio n – J I)

M e c a n is m o s d e D e s e n v o lv im e n to L im p o
(C le a n D e v e lo p m e n t M e c h a n is m – C D M )
Figura 2.3 – Mecanismos de flexibilização previstos pelo Protocolo de Quioto

Os esquemas Emissions Trading (ET) + Joint Implementation (JI) são


mecanismos válidos apenas para os 39 países Anexo I (Figura 2.4). Já o Clean

22
Development Mecanism (CDM) ou MDL é válido para países dos dois blocos (Figura
2.5).

Figura 2.4 – Interação entre países parcipantes dos esquemas de fexibilização do


Protocolo de Quioto ET + JI

Figura 2.5 – Interação entre países parcipantes do mecanismo de fexibilização do


Protocolo de Quioto MDL (CDM)

2.4. EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA NO MUNDO E NO BRASIL

Este assunto será abordado mais enfaticamente em outra disciplina. Porém


alguns aspectos introdutórios serão apresentados aqui. Serão abordadas as emissões
mundiais, reportadas pelo WRI (World Resources Institute) e IPCC e do Brasil nas duas
Comunicações Nacionais apresentadas pelo país nas COPs.

CO2, CH4 e N2O contribuem com 85% das emissões de GEEs em nível mundial.
Em termos mundiais as maiores fontes de emissões são de origem industrial. Queima
de combustíveis fósseis (fontes estacionárias e móveis). O mapa publicado pelo WRI
(www.wri.org) mostra a contribuição de cada país nas emissões mundiais de GEEs
(Figura 2.6).

23
Figura 2.6 – Emissões mundiais acumuladas no último século

Segundo o IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas


(www.ipcc.org), tem havido crescimento das emissões mundiais, principalmente nos
países emergentes. Os países mais desenvolvidos da Europa vêm reduzindo suas
emissões, o mesmo ocorrendo com os países do antigo bloco comunista europeu. Já
Estados Unidos e China vêm aumentando, por demais, suas emissões. Brasil e
Indonésia são países tropicais com emissões muito altas devido ao uso da terra e
mudanças no uso da terra (LULUCF).

No Brasil as emissões de GEEs foram reportadas em dois documentos


apresentados respectivamente em 2004 e 2010, por ocasião das COPs. Esses
documentos intitulados “Primeira e Segunda Comunicação Nacional”,
respectivamente, estão disponíveis no site do MCT: www.mct.gov.br/clima.

De acordo com os inventários nacionais, as emissões brasileiras concentram-


se em atividades relacionados às mudanças no uso da terra e florestas. As emissões
por LULUCF compreendem quatro categorias:
• Mudança nos estoques de biomassa em floresta e outras formações
lenhosas;
• Conversão de Florestas para outros usos;
• Abandono de áreas manejadas;
• Emissão e remoção de CO2 pelos solos.

No primeiro relatório referente ao período 1990-1994 (publicado em 2004),


no setor de Mudança no Uso da Terra e Florestas as emissões líquidas de CO2 somaram
776 Tg, sendo que 96% decorrem de conversão de florestas em atividades de
agricultura, pecuária ou afins. Já a queima de biomassa nas áreas de conversão de
florestas para outros usos foi responsável por emissões de 1,8 Tg de CH4, além de
emissões de GEEs indiretas. Resíduos não queimados decompostos: emitem CH4
(potencial de aquecimento global 21 vezes maior que do CO2).

24
No segundo relatório as posições se mantiveram, ou seja, as atividades
LULUCF continuaram as mais relevantes no país. O segundo relatório demonstrou
ainda que houve um aumento de cerca de 60% nas emissões brasileiras de GEEs no
período 1990-2005, enquanto o PIB aumentou cerca de 47% e a população 24%.
Maiores detalhes serão abordados em outra disciplina que tratará detalhadamente
dos resultados dos dois inventários brasileiros de GEEs.

3. PROJETOS SUSTENTÁVEIS E GESTÃO CORPORATIVA DE CARBONO

O tema Mudanças Climáticas veio para ficar, embora modismos e panaceias


não sejam infrequentes em nossa sociedade. Confirmadas as hipóteses formuladas
pelos pesquisadores que defendem a tese do Aquecimento Global todo o globo estará
sujeito aos mais diversos impactos, notadamente em zonas de maior vulnerabilidade.
De certo modo todos nós estamos sujeitos a tal vulnerabilidade, embora isso tenha
tido inicialmente o reconhecimento dos cientistas e, posteriormente, dos governos e
do terceiro setor. As pessoas em geral só tomaram ciência do problema mais
recentemente, com a difusão pela mídia, pelas entidades sociais e pelas escolas. As
empresas definitivamente acordaram, embora reativamente num primeiro momento,
mas ainda existe muita reticência em assumir um papel mais relevante nas discussões
e decisões em um caráter estratégico. Ainda cabe às grandes corporações, aquelas
inseridas internacionalmente, o papel de levar adiante políticas e programas voltados a
uma economia de baixo carbono.

Embora a gestão corporativa de carbono ainda seja um tema novo no meio


empresarial o setor produtivo esteve sempre na vanguarda do desenvolvimento de
projetos sustentáveis, sobretudo devido ao seu interesse na questão energética e na
defesa de sua reputação e resolução de questões afeitas ao tratamento das questões
ambientais de forma mais ampla. Nos últimos anos houve forte engajamento das
corporações no que tange à formulação e consolidação de suas políticas e ações
endereçadas à sustentabilidade empresarial. Nos últimos anos muitas empresas
brasileiras se incorporaram ao mercado de carbono para alavancar seus projetos e se
beneficiar dessa oportunidade de pôr em prática seus projetos sustentáveis.

É certo que as empresas passaram a admitir que elas também estão


vulneráveis às mudanças climáticas e que precisam adotar ações de mitigação e
adaptação ao Aquecimento Global. Outras corporações e os governos estaduais e
municipais também vêm se associando à ideia de promover mais os projetos
sustentáveis, visando coparticipar nas ações de caráter global e nacional. A promoção
e a concreta execução de projetos sustentáveis atualmente permeiam todas as
camadas da sociedade e os mais diversos setores da economia.

Existe uma ampla gama de projetos sustentáveis que podem ser


desenvolvidos por governos, empresas, terceiro setor e outros agentes. Entre os de
maior destaque poderiam ser mencionados aqueles concernente à adoção de energias
renováveis e à eficiência energética; ao tratamento de resíduos, dejetos e efluentes;
alterações nos processos industriais e às atividades do meio rural, como a agricultura

25
de baixo carbono. Destaque nesse sentido merecem as atividades florestais, seja via
reflorestamento ou conservação florestal.

3.1. GESTÃO CORPORATIVA DE CARBONO

As corporações, entidades e governos necessitam se inserir nessa nova


ordem, a saber: a chamada “Economia de Baixo Carbono”, que poderíamos renomear
chamando-a de “Sociedade de Baixo Carbono”.

Nesse sentido, a CNI – Confederação Nacional da Indústria lançou em 2011


(CNI, 2011a) um documento de orientação ao empresariado para que desenvolvam
ações voltadas a esse tema. O documento intitulado “Estratégias Corporativas de Baixo
Carbono” é uma iniciativa pioneira e de grande alcance no meio do empresariado de
maior porte, que, por tabela, chega aos médios e aos pequenos empreendedores. Em
complemento a essa publicação a CNI também publicou, com suporte da FGV, um
documento sobre riscos e oportunidades das estratégias de baixo carbono (CNI,
2011b).

O documento reconhece a problemática das Mudanças Climáticas e que o


setor produtivo deve estar envolvido com essa questão. Nesse sentido, recomenda a
entidade que as corporações devam identificar as suas responsabilidades, detectar
quais são seus riscos, bem como evidenciar quais são os benefícios e oportunidades de
sua inserção na economia de baixo carbono. Nesse contexto, as corporações devem,
ao avaliar os riscos e oportunidades, devem associá-los com vistas a empreender ações
no sentido da defesa de sua reputação e, sobretudo, visando à melhoria de sua
competitividade em âmbito nacional e internacional.

Segundo a CNI (2011a), as empresas hoje reconhecem a necessidade de agir


em resposta ao desafio das Mudanças Climáticas. Mas, a pergunta que se faz é: qual
deve ser a medida de resposta a ser tomada? Sabe-se que medir as emissões de GEE,
criar mecanismos internos para lidar com esta nova variável, criar sinergia nas
unidades de negócios, educar a força de trabalho, envolver-se com governos e outras
entidades são processos morosos, trabalhosos e muitas vezes associados a um alto
custo de operação. De um modo geral, a identificação de possíveis projetos de redução
de GEE, o estabelecimento de prioridades com base em uma avaliação “custo x
benefício” e o financiamento dos projetos até a sua implementação e operação
demanda bastante tempo.

Segundo a entidade, não há como entender se um determinado modelo de


negócios será impactado sem:
I. Identificar a origem, os tipos e a magnitude das emissões de GEE que a
empresa gera;
II. Avaliar a vulnerabilidade das linhas de negócios a eventuais restrições
nos limites de emissão;
III. Avaliar as possibilidades de participação das empresas numa economia
de baixo carbono;
IV. Identificar as alternativas de gestão estratégica de carbono.

26
De acordo com o documento da CNI, é relevante que o empresariado tenha
conhecimento dos riscos e oportunidades sobre a variável clima para a elaboração de
sua estratégia corporativa global (ou seja: comercial, de sustentabilidade). Algumas
questões-chave devem ser avaliadas:

I. Qual é o grau de exposição da empresa ao risco carbono (ou seja: risco


mercadológico, institucional, regulatório)?
II. Deve ser tomada alguma atitude para reduzir a pegada de carbono da
empresa?
III. Devem ser buscadas oportunidades de crescimento em produtos e
serviços que resultem em baixa emissão de carbono?
IV. Como participar do processo de decisão das diversas esferas do Governo
pelo estabelecimento de regulamentações futuras (e.g. metas de
redução de emissão, definição da linha de base), de modo a conciliar
distintos interesses (ou seja: governo, consumidor, empresa)?

Essa avaliação prévia é o ponto de partida do processo de gestão de riscos e


da identificação de oportunidades na nova economia de baixo carbono, de acordo com
a estratégia de negócios e o mercado no qual a empresa atua. Nesse contexto, inserir a
variável clima nos negócios é uma maneira de também agregar valor à estratégia
corporativa, seja no desenvolvimento de novos produtos, seja na proteção à reputação
ou mesmo na melhoria da posição competitiva da empresa.

Ainda segundo a CNI (2011a), a crescente preocupação de governos e


empresas com as Mudanças Climáticas e os impactos socioambientais de suas
operações tem provocado incremento substancial nos investimentos em tecnologias
limpas. Apesar das difíceis condições do mercado financeiro em 2008, sobretudo no
segundo semestre, em 2009 foram investidos mundialmente US$155 bilhões em
projetos e companhias de energias limpas (sem incluir grandes hidrelétricas), segundo
o relatório Global Trends in Sustainable Energy Investment. Investiu-se US$13,5 bilhões
em novas tecnologias e US$117 bilhões em energias renováveis, e.g., em fontes
eólicas, solar, geotérmica e biocombustíveis. O valor foi quatro vezes maior do que o
de 2004 e 5% superior ao de 2007, em grande parte como resultado dos investimentos
no Brasil, China e outras economias emergentes (PNUMA/SEFI/New Energy Finance,
2009).

Considerando o acima exposto, constata-se que o momento é propício para


que o setor privado aja de maneira estratégica visando adequar-se da melhor forma
para inserir-se num ambiente de negócios sustentáveis voltados tanto para o mercado
interno como para mercados externos.

A CNI (2011b) ressalta ainda que o momento é propício e a hora é agora,


tendo em vista que as metas voluntárias de redução de emissões de gases de efeito
estufa assumidas pela Política Nacional sobre Mudança do Clima são ambiciosas, de
36,1% a 38,9% das emissões projetadas para 2020. Ainda que o desmatamento
responda por aproximadamente 60% das emissões brasileiras, a curva ascendente do

27
crescimento da economia do nacional torna o setor produtivo um agente de extrema
relevância neste tema.

Hoje uma parcela importante do empresariado tem consciência de que o


cumprimento das metas voluntárias estabelecidas pressupõe a firme disposição dos
diversos segmentos do setor produtivo. Os setores mencionados na Política Nacional
sobre Mudança do Clima devem se organizar e apresentar propostas concretas e
condizentes com as metas de crescimento econômico do País, de modo a garantir a
competitividade da indústria em âmbito global, minimizando os riscos e maximizando
as oportunidades que emergem com a economia de baixo carbono.

3.2. INSERÇÃO DA GESTÃO DE CARBONO NA ESTRATÉGIA CORPORATIVA

A estratégia para gestão de carbono de uma corporação deve considerar três


pilares básicos, a saber (Figura 3.1):

 Diagnóstico;
 Implementação;
 Divulgação e engajamento.

Figura 3.1 – Pilares básicos na estratégia de gestão corporativa de carbono


Nesse contexto, oito passos devem ser seguidos para que essa estratégia seja
implementada, ou seja, para que seja implantada a gestão de carbono em uma
corporação (Figura 3.2). Na fase de diagnóstico deve-se primeiramente quantificar as
emissões de GEEs, percebendo e avaliando os respectivos riscos, bem como as
eventuais oportunidades. Já na fase de implementação deve-se desenvolver a gestão
estratégica de carbono na corporação, promovendo distintas formas de reduzir as suas
emissões. Por sua vez, a fase de divulgação e engajamento, a final do processo, tem

28
como foco divulgar as ações e resultados alcançados com a gestão corporativa de
carbono implementada da corporação, bem como a promoção do engajamento dos
acionistas e stakeholders (afetados pelo empreendimento).

Figura 3.2 – Oito passos para uma corporação realizar sua gestão de carbono
3.3. DIAGNÓSTICO SITUACIONAL

O primeiro estágio nesse processo estratégico para gestão de carbono de uma


corporação é o diagnóstico situacional, pelo qual devem inicialmente ser identificadas
e quantificadas as emissões de gases de efeito estufa, detectados o avaliados os riscos
associados e identificadas as oportunidades do processo (Figura 3.3).

Figura 3.3 – Diagnóstico situacional na gestão corporativa de carbono

29
Na realização do diagnóstico situacional a corporação identificará e
quantificará as suas emissões de gases de efeito estufa de acordo com uma
metodologia adequada. A metodologia GHG Protocol vem sendo a mais praticada no
meio empresarial, pela qual são apontadas as emissões em três escopos, conforme
mostra a Figura 3.4. Maiores detalhes da aplicação dessa metodologia serão vistos em
outra disciplina do curso.

A CNI (2011a) apresenta algumas importantes fontes de emissão a serem


identificadas e computadas na quantificação que a corporação deve levar a cabo
(Figura 3.5).

Figura 3.4 – Aplicação de uma metodologia para identificação e quantificação das


emissões de gases de efeito estufa em uma corporação

Figura 3.5 – Algumas fontes de emissão importantes em um inventário de emissões de


gases de efeito estufa (Fonte: CNI, 2011a)

30
É imprescindível que sejam avaliados apropriadamente os riscos e as
oportunidades com a adoção de uma gestão corporativa de carbono. Na Figura 3.6 são
apresentados os riscos do processo segundo a visão da CNI.

Igualmente, deve-se atentar para as oportunidades que surgirão com a adoção


da gestão corporativa de carbono. Na Figura 3.7 são apresentadas algumas
oportunidades, conforme a CNI.

Figura 3.6 – Riscos na gestão corporativa de carbono (Fonte: CNI, 2011a)

Figura 3.7 – Oportunidades na gestão corporativa de carbono (Fonte: CNI, 2011a)

31
3.4. IMPLEMENTAÇÃO

Em seguida deve-se implementar na prática a gestão corporativa de carbono,


concebendo a estratégia para esse fim e, principalmente, adotando formas de reduzir
as emissões de GEEs dentro do empreendimento. Todos os esforços devem ser
envidados no sentido de reduzir as emissões de carbono na corporação, mas se
esgotando as possibilidades podem ser promovidas ações no sentido de compensar as
emissões não reduzidas mediante ações externas à corporação (Figura 3.8). Existem
várias formas de promover a compensação de carbono, as quais serão abordadas
oportunamente em outras disciplinas. A forma mais usual é a promoção de ações
conservacionistas florestais, como o reflorestamento assim como a preservação de
áreas com vegetação nativa. Entretanto, cabe aqui destacar que são muitas as
possibilidades de realizar compensação de emissões, inclusive a compra de créditos de
carbono no mercado voluntário.

Figura 3.8 – Implementação da gestão corporativa de carbono

Nos documentos publicados pela CNI (2011a) a entidade sugere uma sequência
de ações com a finalidade de conceber uma estratégia de gestão de carbono numa
corporação, conforme demonstrado na Figura 3.9. Segundo o esquema deve-se
primeiramente refletir com precisão sobre quais são as emissões da empresa na
atualidade, em seguida devem ser analisados os possíveis projetos de redução de
emissões a serem levados a cabo, tendo como enfoque a possibilidade do
desenvolvimento de ações relacionadas à eficiência energética, onde muitas vezes
podem ser obtidos importantes resultados ambientais e também econômicos na
corporação. Nesse contexto devem ser estabelecidas metas de redução de emissões e

32
verificar se as mesmas estão sendo alcançadas. Para colocar em prática a estratégia
corporativa de carbono os passos a serem seguidos são:

 Avaliar;
 Planejar;
 Implementar;
 Medir;
 Otimizar.

Figura 3.9 – Concepção da estratégia de gestão corporativa de carbono (Fonte CNI,


2011a)

Cada uma dessas etapas implica em ações concretas, como, por exemplo, na
etapa de avaliação deve-se dar ênfase à identificação da pegada de carbono da
corporação e o estabelecimento de uma linha de base, ou seja, a condição atual
existente em termos de emissão. Nessa mesma etapa podem ser empreendidas ações
de benchmarking para fazer uma avaliação comparativa da empresa em relação ao
outros empreendimentos análogos e promovendo visitas nas instalações para poder
ter referência e visão prática do problema. Na avaliação é importante reconhecer
como está posicionada a corporação e qual sua condição diante da concorrência.

Em todo o processo é importante realizar um bom planejamento, visando


vislumbrar quais projetos de redução de emissões são factíveis. Durante o
planejamento deve-se atentar para os possíveis melhoramentos a serem conduzidos,
bem como proceder a uma análise do custo-benefício. Nesta etapa é procedente
também desenvolver um roteiro de implantação da gestão corporativa de carbono.

33
Deve-se antecipar também quais são possíveis canais de divulgação dos resultados da
empreitada.

Ao implementar na prática a gestão corporativa de carbono deve-se buscar


opções viáveis e sem custos, de preferência, mas não havendo tal alternativa deve-se
buscar meios que sejam menos onerosos e impliquem em menores custos. É
fundamental analisar o grau de investimento necessário para levar a cabo a tarefa,
assim como contar com uma forma efetiva de participação dos colaborares. Pode ser
oportuno verificar se existem benefícios fiscais na redução de emissões de gases de
efeito estufa.

Para um acompanhamento fiel das ações desenvolvidas é fundamentação


realizar medições para acompanhar, analisar e divulga-las adequadamente. Sem uma
avaliação contínua do processo não se obtém resultados consistentes e
comprometidos com o longo prazo.

Ao longo do processo deve-se buscar a otimização das ações, de preferência


aportando recursos advindos de mecanismos de mercado de emissões, como aqueles
formalmente estabelecidos ou regulados, ou até mesmo por instrumentos do mercado
voluntário.

Cabe ressaltar também que a gestão corporativa de carbono deve contemplar


instrumentos de comunicação eficientes, contando para isso com uma gestão
competente de programas e projetos. As cabeças pensantes desse processo precisam
ser eleitas da melhor forma.

3.5. REDUÇÃO DAS EMISSÕES

Sem dúvida nenhuma o objetivo mais importante e efetivo de uma gestão de


carbono é a redução das emissões do empreendimento. Não há sentido em propor
uma estratégia que não tenha como foco esse propósito. A Figura 3.10 apresenta uma
visão sinótica das ações que devem ser realizadas nesse sentido.

34
Figura 3.10 – Ações para redução de emissões na gestão corporativa de carbono
(Fonte CNI, 2011a)

Nesse sentido, o primeiro aspecto a ser levando em conta é o estabelecimento


de quais projetos serão prioritários para com vistas a implementar a mitigação das
emissões. Deve-se também definir qual será o ponto de partida em termos temporais,
estabelecendo o ano para estabelecer a chamada linha de base, ou seja, a condição
status quo. A partir dessa referência é que serão comparadas as ações de redução
subsequentes.

Além de definir a linha de base é indispensável definir as metas der redução de


emissões, condizentes com a realidade e a capacidade do empreendimento, bem
como propor um plano de ação para alcançar os objetivos e metas e preconizadas.

Deve-se destacar que todos os esforços devem ser empreendidos no sentido de


realizar reais reduções nas emissões de gases de efeitos estufa. Somente após serem
esgotadas todas as alternativas de redução é que deve buscar outras formas de
mitigação, como a promoção da compensação de emissões ou a compra de créditos de
carbono no mercado, caso necessário.

3.6. DIVULGAÇÃO DAS AÇÕES E ENGAJAMENTO

Muitos programas e ações realizadas pelas corporações no sentido de


promover a realização de projetos sustentáveis não são exitosos devido à forma
imprópria que se trata a sua divulgação. Por isso, torna-se fundamental conceber e
executar uma estratégia de divulgação das ações que demonstre de forma honesta e
competente aquilo que se pratica.

As corporações maiores e/ou mais bem estruturadas vêm desenvolvendo suas


ações concernentes à gestão do carbono com vistas a atender diversas demandas,
como seus acionistas, clientes, fornecedores, a mídia, as entidades do terceiro setor,
os órgãos governamentais, entre outros, tanto na esfera nacional (regional e local)
como internacional.

35
Um dos canais empregados pelas corporações é o chamado Carbon Disclosure
Project (Figura 3.11).

Figura 3.11 – Carbon Disclosure Project (Fonte: CNI, 2011a)

Outro importante canal para divulgação das ações corporativas é o Global


Reporting Initiative (Figura 3.12)

Figura 3.12 – Global Reporting Initiative (Fonte: CNI, 2011a)

36
No Brasil existe um grupo de empresas que detêm a vanguarda na gestão
corporativa de carbono concentrado no chamado GHG Protocol, conforme se vê na
Figura 3.13.

Figura 3.13 – GHG Protocol no Brasil (Fonte: CNI, 2011a)

Para que a estratégia corporativa de carbono funcione na prática é vital o


comprometimento de todos, especialmente os colaboradores, conforme se vê na
Figura 3.14. Além destes deve-se ter também o engajamento dos consumidores, afinal
eles são também responsáveis pelo uso adequado dos produtos e em parte pela
disposição dos resíduos gerados. A Figura 3.15 apresenta algumas ações para engajar
os consumidores no processo.

Figura 3.14 – Engajamento dos colaboradores na gestão corporativa de carbono

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Figura 3.15 – Engajamento dos consumidores na gestão corporativa de carbono

Não menos importante é o engajamento dos fornecedores, afinal eles são


aqueles que produzem ou distribuem as matérias e insumos. A Figura 3.16 apresenta
alguns elementos chave para o envolvimento dos fornecedores na gestão estratégica
de carbono em uma corporação.

Figura 3.16 – Engajamento dos fornecedores na gestão corporativa de carbono (Fonte


CNI, 2011a)

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LITERATURA CITADA E INDICADA

Apresentaremos a seguir uma lista de literaturas, algumas das quais foram


citadas neste texto, além de outras que podem ser consultadas adicionalmente.

ALVES, A. R. Efeito estufa e mudanças climáticas. Revista Ação Ambiental, Viçosa, n.


18, ano IV, p. 7-15. 2001

CARDOSO, P. H. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. São Paulo: Conselho


Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, 2001. 31 p.

CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Manual de Capacitação: mudança


climática e projetos de mecanismo de desenvolvimento limpo. Brasília: CGEE, 2008.
276p.

CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável.


Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: MDL/Modelo de Documento de Concepção de
Projeto. http://www.cebds.org.br/cebds/modelo-concepcao-mdl-cebds.pdf (20 maio
2010).

CNI – Confederação Nacional da Indústria. Estratégias Corporativas de Baixo Carbono:


gestão de riscos e oportunidades. Brasília, 2011a. 76p.

CNI – Confederação Nacional da Indústria. Estratégias Corporativas de Baixo Carbono:


gestão de riscos e oportunidades. Guia de Referência: Brasília, 2011b. 76p.

FBMC - Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Sétima Conferência das Partes - Os


Acordos de Marraqueche, 2002, 1ª edição. 58 p.

GORE, A. A nossa escolha: um plano para resolver a crise climática. Lisboa: Esfera do
Caos, 2009. 414p.

HOUGHTON, R. A. As florestas e o ciclo de carbono global: armazenamento e emissões


atuais. In: EMISSÃO X SEQUESTRO DE CO2 – UMA NOVA OPORTUNIDADE DE
NEGÓCIOS PARA O BRASIL, 1994. Anais... Rio de Janeiro, 1994. p. 38-76.

INSTITUTO CARBONO BRASIL: www.institutocarbonobrasil.org, 2013.

IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change. Good Practice Guidance for Land
Use, Land Use Change and Forestry. 2003.

IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change a. Climate Change 2001 – The


Scientific Basis. Contribution of Working Group I to the Third Assessment Report of
the Intergovernmental Panel on Climate Change. Houghton, J.T.; Ding, Y.; Griggs, D.J.;
Noguer, m.; van der Linden, P.J.; Dai, X.; Maskell, K.; Johnson, C.A. (eds.) Cambridge
University Press, Cambridge, United Kingdom and New York. 2001.

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IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change b. Climate Change 2001 – Impacts,
Adaptation, and Vulnerability. Contribution of Working Group II to the Third
Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. McCarthy, J.J;
Canziani, O.F.; Leary, N.A.; Dokken, D.J.; White, K.S. (eds.) Cambridge University Press,
Cambridge, United Kingdom and New York. 2001.

LOPES, I. V. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL: guia de orientação,


Ignez Vidigal Lopes (Coord.), Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002. 90 p.

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA – MCT. Status da Ratificação do Protocolo de


Quioto. http://www.mct.gov.br/clima/quioto/signata.htm (28 maio 2010).

ROCHA, M.T. Aquecimento global e o mercado de carbono: uma aplicação do modelo


CERT. Tese (doutorado) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz Piracicaba,
2003. 196 p.

SANQUETTA, C.R.; WATZLAWICK, L.F.; BALBINOT, R.; ZILIOTTO, M.A.B.; GOMES, F.S. As
Florestas e o Carbono. Curitiba: 2002. 264p.

SANQUETTA, C.R.; BALBINOT, R.; ZILIOTTO, M.A.B. Fixação de carbono: atualidades,


projetos e pesquisas. Curitiba: 2004. 273p.

SANQUETTA, C.R.; ZILIOTTO, M.A.B. Carbono: ciência e mercado global. Curitiba:


2004. 420p.

SANQUETTA, C.R.; ZILIOTTO, M.A.B.; DALLA CORTE, A.P. Carbono: desenvolvimento


tecnológico, aplicação e mercado global. Curitiba: 2006. 474p.

UNFCCC - United Nations Framework Convention on Climate Change. Kyoto Protocol,


COP-7/ 1997.

UNFCCC - United Nations Framework Convention on Climate Change. Relatório da


Conferência das Partes sobre sua Sétima Sessão, Realizada em Marraqueche em
2001. Parte Dois: Ações tomadas pela Conferência das Partes (Vol. 2). 2002. 71 p.

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