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A GLOBALIZAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA AO MEIO AMBIENTE E AS

MANIFESTAÇÕES DE CIDADANIA AMBIENTAL.

JEFERSON VALDIR DA SILVA1


Mestrando do curso de Pós-Graduação em Ciência Jurídica da Universidade
do Vale do Itajaí.

Introdução

O meio ambiente2 é um dos temas mais debatidos na sociedade


contemporânea, visto a sua importância e complexidade3. Em todos os
recantos do mundo a cada dia que passa deteriora-se a qualidade ambiental e
consequentemente a qualidade de vida.
Há poucas décadas atrás as discussões mundiais eram apenas focadas
em poluição local e a curta distância. Hoje este tema é deveras complexo,
transfronteiriço, e alcança até mesmo uma dimensão planetária. Exemplo disso
temos os efeitos globais4, como: o efeito estufa e as mudanças climáticas.
1
Formado em Segurança Pública pela UNIVALI, em Direito e Pós-Graduação “latu sensu” em Educação
Ambiental pela UNIDAVI, atua como Comandante da Polícia Ambiental do Alto Vale do Itajaí. Email:
jvsambiental@yahoo.com.br.
2
DEEBEIS citando José Afonso da Silva diz que: “O conceito de meio ambiente há de ser, pois,
globalizante, abrangente de toda natureza original e artificial, bem como os bens culturais correlatos,
compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico,
artístico, turístico, paisagístico e arqueológico.” DEEBEIS, Toufic Daher. Elementos de direito
ambiental brasileiro. São Paulo: Leud, 1999. p. 26.
3
“Os problemas com que as sociedades contemporâneas e o sistema mundial se confrontam no fim do
século são complexos e difíceis de resolver.” SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mão de Alice - O
social e o político na pós-modernidade. 3º ed. São Paulo: Cortez, 1997. p. 319.
4
Por Efeitos Globais ROCHA nos ensina que: “A Primeira consideração sobre o assunto é a temperatura
do sistema terra-atmosfera. A Terra ‘’e receptora da radiação termal do sol. A constante solar: 440
Btu/hr/ft² (equivalente a 2 cal/cm²/min) revela a caloria que é recebida na atmosfera terrestre. Estes fatos
são conhecidos, mas o que não esta elucidado é a função da atmosfera e dos oceanos na redistribuição
desta entrada de energia solar por todas as latitudes. Definem-se três efeitos globais que o ar poluído
provoca no homem e à natureza como um todo: a) Efeito Casa-Verde devido ao CO2; b) Efeito Mudança
Climática; c) Efeito Estufa. De 1840 até a década de 1940 a temperatura da atmosfera vem aquecendo
0,6º C e algumas vezes esfriando 0,3º C por ano. A presença do CO2 no ar reduz a perda de calor por
irradiação infravermelha. Isto pode causar um aumento da temperatura da orem de 1,1º C na temperatura
media do planeta. Origem do CO2: queima de combustíveis fosseis, processo de respiração, atividade
Como o passar dos anos, e devido ao aproveitamento dos recursos
naturais como fonte de rendimentos, aliado ao pensamento de fontes
inesgotáveis de recursos naturais, os problemas ambientais tornaram-se mais
graves.
Desta feita, o processo de globalização exerce influência nas questões
ambientais, já que retira do Estado o controle sobre estas questões; o território,
torna-se cada vez menos importante frente aos problemas ambientais, estes
que são transfronteiriços.
Com este processo, floresce a economia ecológica que faz
transformações significativas na estrutura produtiva das empresas, junto a
estas mudanças, nasce um novo sistema da gestão ambiental. Graças aos
avanços tecnológicos surge um novo sistema criado pela globalização.
A importância do meio ambiente para a qualidade de vida da população
é ponto central e comprovado, devido a essa importância começa a ser motivos
de discursos internacionais.
Os problemas ambientais, nesta direção, também são aclamados em
fóruns internacionais, já que estes não estão restritos a apenas alguns países,
são problemas transnacionais.
Para tanto, o meio ambiente é um bem econômico essencial às
atividades humanas, exigindo a necessidade de mudanças do atual
desenvolvimento, que é voltado apenas à exploração e utilização dos recursos
naturais. Utilização esta, que vêm ocasionando mudanças radicais no meio
ambiente global.

vulcânica, queimadas, decomposição de matéria orgânica. De um modo geral, admite-se que, por meio da
fotossíntese e da respiração, a produção de oxigênio e o consumo de CO2, pelas plantas, e o consumo de
O2 e produção de CO2 nos outros seres vivos, por serem processos antagônicos, estejam equilibrados. O
que põe em risco este balanceamento é a queima intensa dos combustíveis fósseis, bem como da própria
madeira e da vegetação em geral. A combustão substitui a decomposição ou a respiração orgânica: produz
calor com consumo de oxigênio e combustíveis (composto orgânico) com a liberação de gás carbônico. A
devastação das florestas (para queimada de madeira, bem como para outras aplicações) e a poluição das
águas podem comprometer a produção e a reserva de oxigênio na Terra. A energia perdida na queima de 1
Km² de floresta equivale à energia solar que pode ser aproveitada neste mesmo Km² (1 Km² de floresta
queimada corresponde a 1 Mega Cal). Os componentes mais importantes do sistema climático são, além
da atmosfera, os oceanos e as calotas de gelo com as usa enormes capacidades caloríficas, as quais
direcionam o comportamento da atmosfera, e também da vegetação, que pode armazenar a umidade do
solo e determinar a reflexão da luz solar. Em mais de 50%, as emissões de monóxido de carbono
representam, atualmente, a principal causa com efeitos sobre o clima. Devido à elevada concentração de
oligogases na atmosfera, a irradiação térmica procedente da Terra é absorvida, sendo assim deslocado o
equilíbrio radioativo com o solo no sentido de um aquecimento da troposfera, esfriando-se, ao mesmo
tempo, a estratosfera.” ROCHA, José Sales Mariano da. Educação Ambiental Técnica para os ensinos
Fundamental, Médio e Superior, 2º ed. Santa Maria: Imprensa Universitária. 1999. p. 24-5.
Também as questões sociais são intimamente ligadas às questões
ambientais, para tanto, a defesa do meio ambiente passa a ser um desfio a
sociedade global. Estes desafios e estas mudanças só poderão ocorrer com a
participação popular, através do exercício da cidadania ambiental.
A gestão dos bens ambientais clama pela participação social, mas isto
só ocorrerá se for proporcionado ao cidadão à informação, à participação e o
acesso à justiça, bem como os instrumentos condizentes ao Estado
Democrático e Ambiental de Direito.

A Globalização e as questões ambientais


A par dos problemas ambientais, o processo de globalização5 exerce
influência no meio ambiente, na medida em que os territórios deixam de serem
importantes para as políticas de expansão geográficas dos Estados-Nações,
bem como, a expansão dos mercados e das empresas.
O processo de globalização retira do Estado6 o controle de muitas
questões antes dominadas por este, o controle sobre os fluxos de capitais e da

5
Em recente livro, Octávio Ianni relaciona oito teorias de globalização. Dado a ausência de um consenso
terminológico em discussões sobre o tema, é oportuna uma rápida revisão das teorias apresentadas pelo
autor:
““economia-mundo” - as economias-mundo se submetem a um pólo dominante, que pode mudar de
acordo com os movimentos econômicos; os autores dessa vertente enfatizam os ciclos econômicos,
épocas e tendências das economias-mundo, que não deixam de ser Estados-nação com características
nacionais definidas;
“internacionalização do capital produtivo” - um incremento da internacionalização do capital produtivo
com a dispersão geográfica da produção leva a uma nova divisão internacional do trabalho; o mundo
transforma-se em uma “fábrica global” e as pessoas compram coisas de vários lugares como se
estivessem em um “shopping center global”; empresas e governos se “modernizam”, no sentido de
desregulamentar, privatizar, abrir as fronteiras, etc;
“interdependência das nações” - devido à maior ligação com empresas, conglomerados internacionais,
instituições mundiais (ONU, FMI, OMC10 e outras) e formação de blocos de países, os estados nacionais
são considerados atores importantes e, aparentemente, não perdem a autonomia; a interdependência é
considerada benefício mútuo; essa interpretação vê o mundo como um sistema;
“ocidentalização” - vista como modernização do mundo, é o emblema do desenvolvimento e do
progresso; a meta seria a modernização nos moldes ocidentais, a ser obtida através da desestatização,
desregulação, liberalização, consumismo, automação, informatização e das telecomunicações; a
modernização também se imporia na forma de organização social da vida e do trabalho e seria como uma
ante-sala para o paraíso;
“aldeia global” - no sentido cultural surge da, unificação aquilo que as pessoas pensam, seus símbolos e
idéias; o modo de ser das pessoas passaria a ser guiado pelos símbolos da globalização, como se as idéias
se transfigurassem pela magia da eletrônica; nos meios de comunicação de massa, igrejas e músicas, tudo
se transforma eletronicamente pela informática e levam os signos da cultura da mundialização;
predominam os estereótipos e os cidadãos transformam-se em consumidores;
“racionalidade capitalista” - o capitalismo caracteriza a “racionalidade” do mundo; as mais diversas
esferas da vida social e intelectual são organizados em termos de calculabilidade, eficiência e
lucratividade; o consumismo é outra esfera de dinamização das ações, tendo-se a confusão de liberdade e
igualdade de consumidores com os direitos dos cidadãos; há, também, um evidente incremento da
racionalidade individualista;
“dialética da globalização” - o capitalismo seria um modo de produção internacional que, ao longo da
história, já teve movimentos como o mercantilismo, colonialismo, imperialismo, multilateralismo e
globalismo; o capitalismo seria um processo complexo e contraditório, que estaria sempre em
movimento, se expandindo, entrando em crise e, depois, retomando a expansão; multiplicar-se-iam
empresas, conglomerados, monopólios, trustes, cartéis e multinacionais, com contínua concentração; aos
poucos, os princípios de mercado, produtividade, lucratividade, dinamismo das transnacionais passariam
a influenciar as mentes e corações das pessoas;
“modernidade-mundo” - tem a capacidade de modificar as pessoas de maneira filosófica, científica e
artística; desenvolve-se a sociedade global e as estruturas de poder econômico e político características da
globalização; a ruptura dos quadros sociais e mentais de referência logo provoca a onda da pós-
modernidade;
há um vasto mercado de coisas, gente e idéias, além de ilusões, homogeneidades e diversidades,
obsolescência e novidades; modificam-se modos de ser, pensar, agir e sentir.” IANNI, Octávio. Teorias
do Globalização. 1995.
6
Estado – Do latim statu, do verbo stare, estar de pé, manter-se. O vocábulo apresenta o radical st, de
origem indo-européia, que significa permanência, duração. No direito romano, status personarum
política monetária, bem como também reduziu a margem de manobra das
políticas macroeconômicas.
A globalização também, elimina a parcela geográfica do espaço
econômico, ou seja, distribui e deslocaliza a atividade produtiva, tanto dos
centros produtores de insumos quanto dos mercados consumidores, devido às
novas técnicas de organização e distribuição da produção.

(civitatis, lebertatis e familiae) eram estados que as pessoas podiam encarnar na sociedade romana,
conforme o ponto de vista dos direitos políticos, de sua liberdade ou de sua condição conjugal e
sucessória. No direito político, é a sociedade dotada de poder soberano e voltada para o bem comum.
Estado (Origens sociológicas) – No estudo do homem pré-histórico destacam-se duas ciências: a
Arqueologia, que se ocupa de vestígios humanos de qualquer natureza, como utensílios e pinturas
rupestres, e a Etnologia, que estuda a vida social dos chamados “primitivos atuais”, vale dizer, aqueles
que ainda hoje vivem nas mesmas condições dos mais remotos antepassados do homem contemporâneo.
Tais ciências, apoiadas pela Antropologia, conseguem lançar alguma luz sobre os obscuros primórdios das
sociedades primitivas e de seus organismos diferentes. Todas as sociedades humanas, incluídas as
selvagens, sempre se apresentaram dotadas de poder de mando rudimentar e, por mais que recuemos no
tempo, até onde alcancem os mais antigos vestígios deixados pelo homem, encontraremos, sempre, o
elemento humano vivendo em sociedade e uma autoridade dirigindo o grupo. Para situarmos-nos
naquelas épocas remotíssimas do passado humano, faremos um bosquejo referente à periodização de tais
fases da Pré-História. Se levarmos em conta a teoria que afirma ter o homem surgido na Terra por volta de
600.000 anos atrás, poderemos dividir a Pré-História em duas idades: a Idade da Pedra (600.000 a 3.500
a.C) e a Idade dos Metais (3.500 a 50 a.C), sendo a primeira subdividida em períodos – Paleolítica
Inferior (mais antigo), Paleolítico Médio e Paleolítico Superior (mais recente), Mesolítico e Neolítico – e,
a segunda, em duas idades: a do bronze e a do ferro. Que fazia o homem do Paleolítico Inferior para se
manter? Evidentemente não poderia viver sozinho; a obtenção de carne, mediante a matança de grandes e
perigos animais, a luta contra as adversidades impostas pelo meio ambiente, além da natural sociabilidade
humana (aquele apetite social que se referia Thomas Hobbes), determinaram a vida em sociedade. [...] Foi
a fixação do homem ao solo que ensejou a consolidação do Estado. [...], duas importantes teorias buscam
elucidar, definitivamente, o problema da origem da autoridade entre os antigos: a teoria patriarcal e a
teoria matriarcal. [...] A origem do próprio Estado encontrar-se-ia na união de famílias diversas, após
fases sucessivas de transformação: gens – tribo – nação – Estado. Nesta longa evolução, a família
patriarcal jamais deixou de persistir como núcleo interno e básico, afirmam Summer Maine, Mommesen e
Robert Filmer, alguns de seus principais expoentes. [...] Os principais seguidores da teoria matriarcalista
são Bachofen, Lewis Morgan, Friedrich Engels e Giraud Telon. Quanto à origem de cada Estado, de cada
sociedade política tomada individualmente, é problema dos mais sérios e intrincados.
Entre as teorias que buscam esclarecer a formação do Estado destacam-se algumas que, ainda hoje,
usufruem de grande prestigio. [...] Quando Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) desenvolveu a teoria do
contrato social em obra clássica, não estava sendo o primeiro a afirmar que o Estado surge de um acordo
de vontades. Antes dele, Thomas Hobbes (1588 – 1679) já desenvolvera teoria semelhante. Existe, porém,
um foco de divergência entre esses autores: se ambos consideram o homem primitivo vivendo num estado
selvagem, passando a vida em sociedade mediante um pacto comum a todos, exatamente como se cria
uma sociedade civil ou comercial, vale frisar que Rousseau imagina uma convivência individualista, mas
cordial, vivendo os homens pacificamente, sem atrito com seus semelhantes, ao contrario de Hobbes, para
quem, em celebre tirada, “o homem é o lobo do próprio homem” (homo homini lupus). Considera Hobbes
que o homem é um ser anti-social por natureza, e seu “apetite social” seria o fruto da necessidade da vida
comunitária, fiscalizada por um aparato gigantesco destinado a impor a ordem, o Estado, enfim. A esse
aparato Hobbes denomina “Leviatã”. [...].
Para Karl Marx (1818 – 1883) e seu parceiro Friedrich Engels (1820 – 1895), o surgimento do poder
político e do Estado nada mais é que o fruto da dominação econômica do homem pelo homem. O Estado
vem a ser uma ordem coativa, instrumento de dominação de uma classe sobre outra. Em seu celebre
manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels afirmam que a Historia da humanidade sempre foi a
historia da luta de classes: homens livres e escravos, patrícios e plebeus, nobres e servos, mestres e
artesãos, numa palavra, exploradores e explorados sempre mantiveram uma luta, às vezes oculta, às vezes
A globalização torna o território cada vez menos importante como
elemento fundamental da produção de bens, por causa das novas técnicas de
produção, deixando para o espaço geográfico apenas questões voltadas à
ordem interna e a função preservacionista do meio ambiente.
Significa desta forma, dizer que o Estado e o território perdem a
importância que até aqui mantiveram. O Estado, desta forma, modificou-se
profundamente para responder às exigências que a nova divisão internacional
do trabalho e, a nova organização do processo produtivo reclama.
Neste caminho acentua Pessoa7:

“A economia ecológica surge como resposta à demanda de


avanço as formas anteriores, tratando da problemática do uso dos
recursos naturais com as externalidades da cadeia produtiva,
trazendo a prática efetiva da sustentabilidade ambiental, associada à
capacidade de suporte do planeta, indicando como e quais os limites
desejáveis e máximos para o desenvolvimento econômico que não
degrade os ecossistemas. [...] A economia ecológica entende o
sistema econômico como um subsistema de um todo maior que o
contém, impondo uma restrição absoluta à sua expansão. O capital
construído e o capital natural são complementares. A doutrina atribui
à economia ecológica o conceito de sustentabilidade forte.”

patente. Marx afirma que todos os fenômenos históricos são produtos das relações econômicas entre os
homens, e que o marxismo foi a primeira ideologia a afirmar o estudo das leis objetivas do
desenvolvimento econômico da sociedade, em oposição aos ideais metafísicos. Segundo Engels, o Estado
vem a ser terrível maquina de coerção destinada à exploração econômica e, consequentemente, política,
de uma classe sobre outra.
Para alguns pensadores a origem do poder político e do Estado reside nas qualidades militares superiores
a media nos grupamentos primitivos. [...] O princípio de autoridade militar de base religiosa consolidar-
se-ia como princípio de autoridade civil de caráter permanente. O chefe de guerra converte-se em chefe
político, autoridade administrativa, juiz e legislador. Afirma o célebre Voltaire que “le premier qui fut roy
fut um soldat heureux!”.
A denominada teoria da força ou da violência na gênese do poder político é desenvolvida por
Gumplowicz. Diz ele que o poder político vem a ser, pura e simplesmente, o resultado da força bruta, da
violência imposta por alguns à maioria débil da sociedade. [...].
O pensamento de Miguel Elias Reclus não discrepa de Gumplowicz e de Marx e Engels, pois ele vê na
imposição violenta e espoliativa de impostos a verdadeira origem do Estado. [...]
Se, como pretende Émile Durkheim, o processo de centralização do poder político se desenvolve
paralelamente ao processo de centralização do poder religioso até então difuso no grupamento, a
imposição de tributos surge, nesse estagio, como uma instituição de caráter mágico, religioso. Ao clero
soa feitos donativos in natura, o qual, em contrapartida, deve proteger a comunidade contra os vizinhos
inimigos e os maus espíritos. [...] segundo Durkheim e seus seguidores, a divisão dos homens primitivos
em clãs é a primeira organização social conhecida. Mais que a família ou a consangüinidade, o que une os
seres humanos é a sua natureza mística religiosa. ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário jurídico
brasileiro Acquaviva. 11º ed. Ampl. Ver. e atual. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira. 2000. p. 601-6.
7
PESSOA, Geórgia Patrício. Economia e Meio Ambiente – Quanto vale a Biodiversidade? Congresso
Internacional de Direito Ambiental - Paisagem Natureza e Direito. 9º. 2v. São Paulo. 2005. p. 132-3.
Assim, o Estado tem que lidar com as mudanças ocorridas em nível
ambiental, a economia também sofre transformações. RIFKIN8 faz uma análise
da transformação das características do Estado-nação frente ao novo
paradigma:

"A transição de uma economia baseada em material, energia e mão-


de-obra para outra baseada na informação e na comunicação reduz
ainda mais a importância da nação-estado como participante
essencial de garantia dos destinos do mercado. Uma importante
função da moderna nação-estado é sua capacidade de usar a força
militar para tomar recursos vitais, captar e explorar mão-de-obra
local e até global. Agora que os recursos energéticos, minerais e
mão-de-obra estão tornando-se menos importantes do que
informação, comunicação e propriedade intelectual no mix da
produção, a necessidade da intervenção militar maciça é menos
aparente. Informação e comunicação, as matérias primas da
economia global de alta tecnologia, são impermeáveis a fronteiras
físicas. Elas invadem espaços físicos, cruzam linhas políticas e
penetram nas camadas mais profundas da vida nacional. Exércitos
inteiros não podem conter nem mesmo diminuir o fluxo acelerado da
informação e das comunicações através de fronteiras nacionais."

É a internacionalização da economia que estabelece estas


transformações, gerando assim, uma empresa globalizada, que permite em
tese ao sistema padronizar e exigir condutas similares com relação ao meio
ambiente, criando assim um sistema de gestão de melhor qualidade.
Essa transformação nos leva a uma gestão dos bens ambientais, como
descreve Almada9:

“Noutro passo, com o crescimento das atividades produtivas e


comerciais, há necessidade da correspondência entre tal fato e a
tutela de um dos bens jurídicos mais importantes que é o meio
ambiente, considerado um bem fundamental da pessoa humana.
Logo, a expansão dos mercados consumidores, em razão da
sociedade capitalista em que vivemos e da globalização que se
8
RIFKIN, J. O fim dos empregos. O declínio inevitável dos níveis de emprego e a redução da força
global de trabalho. São Paulo: Makron Books. 1995. p.260-1.
9
ALMADA, Diego Bisi. Norma NBR ISO 14.001: Concessão Mediante a Observância dos Instrumentos
Legais de Proteção do Meio Ambiente, presentes na Lei nº 6.938/81 (Lei de Política Nacional do Meio
Ambiente) Congresso Internacional de Direito Ambiental - Paisagem Natureza e Direito. 9º. 2v. São
Paulo. 2005. p. 533-4.
encontra, cada dia mais, presente em nossas vidas, empresas de
todo o mundo buscam um diferencial para alcançarem êxito no
mundo empresarial, que muitas vezes é dotado de uma concorrência
desleal. Desta forma, qual seria a melhor maneira de diferenciar um
empresa da outra, senão buscando pautar sua política empresarial
sob o prisma ambiental? Foi pensando desta forma que surgiu a NBR
ISO 14.001. [...] A norma NBR ISO 14.001, que possui cunho
internacional, foi publicada em setembro de 1996 e é responsável por
estruturar a implementação de um sistema de gestão ambiental.”

Todas estas mudanças no sistema internacional são possíveis graças


aos avanços tecnológicos na informática e nas telecomunicações, bem como
pelas mudanças no modelo de gestão empresarial.
D’lsep, afirma que “de fato, quem deve estar mais interessado na gestão
ambiental é o próprio empresário, no fito de assegurar os recursos naturais,
[...], além da imagem de sua empresa, [...].”10
Este novo sistema criado pela globalização torna obsoleto e incapaz de
competir aquele que não se adapta às exigências da nova divisão internacional
do trabalho, bem como às exigências ambientais esperadas pelo mercado
consumidor.
D’lsep11 afirma ainda que:

“A gestão ambiental é instrumento hábil a propiciar às empresas uma


melhoria de sua imagem. O marketing verde tem se revelado numa
forte arma contra a concorrência. Além da satisfação e maior
segurança aos próprios clientes, atinge o consumidor verde.
Consoante já disposto, constitui-se num público a mais a ser
alcançado. Ademais, afigura-nos ser esse perfil uma prospera
tendência.”

As inovações tecnológicas criadas possibilitaram ao sistema de


produção mundial a exigir menos recursos naturais do que as utilizadas
anteriormente, portanto, mais favoráveis ao meio ambiente.
Segundo WOODALL12 a Tecnologia da Informação promete modificar a
estrutura mundial:
10
D’LSEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito Ambiental Econômico e a ISO 14000: Análise jurídica
do modelo de gestão ambiental e certificação ISO 14001. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.
2004. p. 142.
11
D’LSEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito Ambiental Econômico e a ISO 14000: Análise jurídica
do modelo de gestão ambiental e certificação ISO 14001. p. 142.
12
WOODALL, P. As últimas das grandes ondas tecnológica. Gazeta Mercantil. São Paulo. 1996. p.12.
"enquanto os automóveis, ferrovias e motores a vapor usavam
matérias primas em grande escala, a tecnologia da informação (TI)
acelera a mudança para uma economia "sem peso", na qual uma
parcela crescente da produção toma a forma de bens intangíveis. A
TI oferece também enorme potencial para reduzir a poluição e os
congestionamentos, por meio do "teletrabalho" e das "telecompras",
que tornarão muitas viagens desnecessárias."

A evolução tecnológica mencionada anteriormente, dá perspectivas


positivas em relação às atividades humanas, reservando para o futuro um
melhor aproveitamento e proteção do meio ambiente.
Surge de antemão a idéia de um desenvolvimento sustentável13 onde o
conceito principal diz respeito ao princípio de uso múltiplo do território. Este uso
múltiplo do território, trás consigo a utilização plena dos recursos, porém
elimina o aspecto meramente produtivo e estratégico do território, incluindo a
proteção ambiental das áreas.
O meio ambiente torna-se também elemento de lazer, de qualidade de
vida e principalmente econômico, pois desenvolve em seu seio todas as
atividades humanas, adquiri assim, um “status” econômico, sendo desta forma,
valorizado como tal.
Pessoa14 citando Costanza apresenta uma estimativa da valoração dos
serviços de ecossistemas e do capital natural, representa:

“33 trilhões de dólares anuais, uma estimativa média entre um


mínimo de 16 e um máximo de 54 trilhões de dólares, aproximando-
se a quase duas vezes o PIB mundial. Acredita-se que no Brasil este
valor atinja 45% do PIB, considerando-se a atividade agroindustrial, a
extração de madeiras e a pesca, a partir dos recursos naturais
manejados no país.”

Assim, os inúmeros desastres ecológicos, e o surgimento de grupos


ambientalistas radicais despertaram a sociedade para a preservação do meio

13
“[…] entre a defesa do meio ambiente e o desenvolvimento econômico, há uma dicotomia, na verdade,
um antagonismo; criou-se, na Conferência de Estocolmo/72, nos princípios 5 e 8, a noção de
“desenvolvimento sustentável” (ou “sustentado”, ou ainda “ecodesenvolvimento”), que prosperou,
ecoando mais tarde em pólo menos onze dos vinte e sete Princípios da Declaração da Rio/92, em especial
nos princípios 3 e 4, assim como no setor privado, mediante a sua implementação nos modelos de
gerenciamento empresarial – a gestão ambiental.” D’LSEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito Ambiental
Econômico e a ISO 14000: Análise jurídica do modelo de gestão ambiental e certificação ISO 14001.
p. 35-6.
14
PESSOA, Geórgia Patrício. Economia e Meio Ambiente – Quanto vale a Biodiversidade? Congresso
Internacional de Direito Ambiental - Paisagem Natureza e Direito. p. 128-9.
ambiente, porém ele se tornou importante, na medida em que foi se
degradando, ficando escasso, e assim sendo, se convertendo num bem
econômico.
É desta feita, que o meio ambiente torna-se alvo da economia, e para
tal, gera oportunidades de novos empreendimentos. As atividades no meio rural
têm aumentado em grande escala, e o meio ambiente torna-se lucrativo aos
olhos dos investidores, sendo desta forma importante para a sociedade.

A Importância do Meio Ambiente para a Sociedade Global

Como bem sabemos a previsão legal por si só não assegura o direito a


um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Contudo os ditames legais, bem como os princípios15 do Direito
ambiental estabelecem as diretrizes para as condutas humanas, possibilitando
assim, exigir o seu cumprimento.
O direito ambiental16 está incumbido de regular às relações do homem
com o meio Ambiente como um todo (natural e artificial), este que deve ser
protegido, pois é essencial às atividades humanas, preceito equivalente ao
direito à vida.
Para tanto, SILVA17, assim nos afirma:

“O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante,


abrangente de toda a natureza, o artificial e original, bem como os
bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o
ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico,
turístico, paisagístico e arquitetônico. O meio ambiente é, assim, a
interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais
que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as
suas formas.” (grifo nosso)
15
“A expressão princípios significa “proposições diretoras de uma ciência, às quais todo o
desenvolvimento posterior dessa ciência deve estar subordinado.” DEEBEIS, Toufic Daher. Elementos
de direito ambiental brasileiro. p. 29.
16
O jurista Paulo Afonso Leme Machado, citando o Prof. Des. Tycho Brahe Fernades Neto, ensina que o
Direito Ambiental é “o conjunto de normas e princípios editados objetivando a manutenção de um
perfeito equilíbrio nas relações do homem com o meio ambiente. Acentua o referido jurista que a
expressão “Direito Ambiental” é mais ampla do que Direito Ecológico.” MACHADO, Paulo Affonso
Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12º ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Malheiros. 2004. p.138.
17
SILVA, José Afonso. Direito ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros, 1994. p.6.
A qualidade de vida é essencial à saúde humana. Todas as fontes
poluidoras causam uma deteriorização no bem estar humano, e
consequentemente na qualidade de vida da população.
Neste caminho, nos ensina Robert Bullard18 que:

“As comunidades mais poluídas são as comunidades com infra-


estrutura desintegrada, ausência de investimentos econômicos,
habitações precárias, escolas inadequadas, desemprego crônico,
alta pobreza e sistemas de atenção à saúde sobrecarregados.”

Dentro destas perspectivas observa-se que “as normas constitucionais


assumiram a consciência de que o direito à vida, como matriz de todos os
demais direitos fundamentais do homem é que há de orientar todas as formas
de atuação no campo da tutela do meio ambiente”.19

Neste diapasão Paulo Affonso Leme Machado20 nos ensina que:

“As Constituições escritas inseriram o “direito à vida” no cabeçalho


dos direitos individuais. No século XX deu-se um passo a mais ao se
formular o conceito do “direito à qualidade de vida”. A conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, na Declaração de
Estocolmo/72, salientou que o homem tem direito fundamental a “...
adequadas condições de vida, em um meio ambiente de
qualidade...” (Princípio 1). A conferencia das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, na Declaração Rio de Janeiro/92,
afirmou que os seres humanos “têm direito a uma vida saudável”
(Princípio 1).
O Instituto de Direito Internacional, na seção de Estrasburgo, em
4.9.97, afirmou que “todo ser humano tem o direito de viver em um
ambiente sadio”. [...]
Não basta viver ou conservar a vida. É justo buscar e conseguir a
“qualidade de vida”. [...]
O tribunal Europeu de Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo,
decidiu, em 9.12.94, no caso López Ostra, que “atentados graves
contra o meio ambiente podem afetar o bem-estar de uma pessoa e

18
BULLARD, Robert. Enfrentando o racismo ambiental. In: ACSELRAD, Henri. HERCULANO,
Selene. PÁDUA, José Augusto (orgs). Justiça ambiental e cidadania. Rio de Janeiro: Relume Dumará.
2004. p. 44.
19
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 1992, p.719.
20
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p.47-9.
privá-la do gozo de seu domicilio, prejudicando sua vida privada e
familiar”.

Portanto a sadia qualidade de vida só poderá existir se o meio ambiente


estiver ecologicamente equilibrado, para isso necessitamos de um meio
ambiente não poluído, sendo assim as atividades humanas devem ser
reguladas.
Necessitamos, ainda que, sejam tomadas certas medidas e políticas
públicas destinadas a tal fim, constituindo-se assim uma sociedade justa,
democrática e de direito.
Neste caminho, os assuntos internacionais antes debatidos, como à paz
e à guerra eram considerados essenciais, hoje ainda o são, porém os debates
enriqueceram-se consideravelmente. A discussão moderna engloba outros
setores de influência, e abordam todas as grandes problemáticas que dão
forma ao mundo, marcado agora por sua natureza global e pelas interações
entre fenômenos transnacionais.
Santos21 desta feita assinala que:

“De todos os problemas enfrentados pelo sistema mundial, a


degradação ambiental é talvez o mais intrinsecamente transnacional
e, portanto, aquele que, consoante o modo como for enfrentado, tanto
pode redundar num conflito global entre o Norte e o Sul, como pode
ser a plataforma para um exercício de solidariedade transnacional e
intergeracional.”

Os fenômenos transnacionais envolvem questões antes não discutidas,


como: as grandes pandemias; as catástrofes ambientais; as poluições
transfronteiriças; as chuvas ácidas e o problema do buraco na camada de
ozônio.
Sobre as questões ligadas ao ser humano e o meio ambiente escreve
STERN, YOUNG e DRUKMAN22:

“Os seres humanos não são mais vítimas inocentes compelidas a


adaptar-se, em alguns casos, rapidamente, a mudanças em grande

21
SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mão de Alice - O social e o político na pós-modernidade. p.
296.
22
STERN, Paul L., YOUNG Oraw R, DRUCKMAN, Daniel. Mudanças e Agressões ao Meio Ambiente.
(tradução de José Carlos B. Santos). São Paulo: Makron, 1993, p.11.
escala nos sistemas ambientais e resultantes de forças superiores
ao seu controle. Ao contrário, é o próprio comportamento humano
que deve ser controlado se é que pretendemos ter sucesso no
melhoramento ou no redirecionamento da mudança global.”

Aos antigos desafios, como o subdesenvolvimento, vêm se sobrepor a


novas ameaças, desafios muito maiores e que exigem a tomada de decisão da
comunidade mundial.
Hoje a preservação do meio ambiente é vista com maior importância
pela sociedade, por ser considerado um bem econômico e essencial às
atividades humanas. Desta forma, deve-se colocar em prática, em escala
mundial uma verdadeira estratégia de mudança do atual desenvolvimento.
Esses constituem desafios maiores à sociedade global.
Para Santos23:

“…, os problemas mais sérios com que se confronta o sistema


mundial são globais e como tal exigem soluções globais, marcadas
não só pela solidariedade dos ricos para com os pobres do sistema
mundial, como pela solidariedade das gerações presentes para com
as gerações futuras.”

A Mobilização da Sociedade Global em Prol do Meio Ambiente

As posturas adotadas até a presente data, em relação aos recursos


naturais, que pesam sobre nosso planeta, vêm ocasionando mudanças radicais
no globo terrestre, exigindo desta forma, a aceleração da mobilização
internacional.
Sobre estas questões ambientais Santos24 adverte que:

“... os factores da transnacionalização do empobrecimento, da fome e


da má nutrição tiveram entre muitas conseqüências adversas a da
degradação ambiental. A pressão para intensificação das culturas de
exploração combinada com técnicas deficientes de gestão de solos
23
SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mão de Alice - O social e o político na pós-modernidade. p.
299.
24
SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mão de Alice - O social e o político na pós-modernidade. p.
296.
levaram à desertificação, à salinização e à erosão. A destruição das
florestas tropicais, sobretudo no Brasil e na América Latina mas
também na Indonésia e nas Filipinas, é apenas o exemplo mais
dramático. Em cada década, desde 1950, perderam-se 30 milhões de
hectares de floresta na África tropical, 40 milhões na América Latina e
25 milhões na Ásia meridional (Pelizzon, 1992:2) [...] Mas a
degradação ambiental provocada por esta via é apenas um aspecto
muito parcial de um fenômeno muito mais amplo – a crise ecológica –
tão amplo que, em meu entender, constitui o terceiro vector,
juntamente com a explosão demográfica e a globalização da
economia, do espaço-tempo mundial.”

Trata-se desta forma, em um desafio central para a sociedade global,


que deseja integrar todas as dimensões da mundialização25 e contribuir para o
advento de um mundo mais justo, mais estável e mais seguro.
A defesa do meio ambiente não poderia ser deixada de lado, é por si só
um desafio, e uma prioridade para a sociedade global. Esta defesa situa-se
num patamar equivalente ao direito a vida, no centro de uma iniciativa
coerente, de uma nova maneira de conceber e construir o mundo.
Nesta direção nos ensina Paulo de Bessa Antunes26:

“A Qualidade de vida é um conceito que ultrapassa o da simples


sobrevivência humana. É uma expressão cuja definição jurídica
ainda está por ser construída. Pode-se dizer que a qualidade de vida
é um conceito que se encontra vinculado à noção de
sustentabilidade, isto é, a capacidade de promoção de uma estrutura
social e econômica que seja capaz de assegurar o equilíbrio entre as
condições ambientais adequadas e a distribuição de riquezas de
forma suficiente a assegurar que cada individuo possa encontrar o
seu bem-estar físico e espiritual. A sustentabilidade é a capacidade
do desenvolvimento de atividades sejam desenvolvidas sem a
destruição dos elementos ecológicos indispensáveis ao
prosseguimento da vida, em qualquer de suas formas. O conceito,
como é óbvio, não se limita ao aspecto material mas, ao contrário,

25
“Assim, a mundialização em curso no século XX, em especial depois da Segunda Guerra Mundial e
mais ainda em seguida ao término da Guerra Fria, pode ser vista como um novo surto de mundialização
da racionalidade própria da civilização capitalista ocidental. Mas com uma peculiaridade: nesta época a
racionalidade própria desse processo civilizatório já adquire categoria global.” IANNI, Octávio. Teorias
da Globalização. p. 119.
26
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p.754.
está permeado por elementos de natureza subjetiva que se
modificam a cada etapa concreta da vida em sociedade.”

A tarefa é imensa, e é compartilhada pela humanidade, todos nos


sabemos que várias espécies vivas estão gravemente ameaçadas de
extinção27, sabemos também que florestas estão sendo devastadas, que a
água de nosso planeta continua sendo contaminada, e isto tudo coloca em
perigo os seres humanos e todas as vidas deste planeta.
Sobre este perigo Franco28 nos adverte que:

“É de conhecimento geral, e mesmo hoje lugar comum, falar-se a


respeito da ínfima quantidade de água doce existente no planeta e do
problema previsto acerca da falta deste elemento diante do crescente
consumo, da interferência nos ciclos hidrológicos acarretando sua
diminuição e, principalmente, diante do descaso com que o ser
humano há muito vem poluindo-o. Não ignorando tal situação, deve-
se observar que tal crise afeta não apenas diretamente o ser humano,
mas também todas as demais espécies, por tratar-se de elemento
indispensável à sobrevivência de todos os seres vivos da biosfera.”

Desde o final dos anos setenta e em conseqüência de uma série de


catástrofes infelizmente bastante conhecidas, e pouco apreciadas, começamos
a pensar e discutir estes problemas ambientais. 29

A mudança de estratégia com relação ao meio ambiente deverá surgir


em conjunto com a participação popular, onde está mobilizará os outros
agentes sociais, ou seja, os Governantes, os Empresários, os Comerciantes e
aqueles ligados às atividades potencialmente poluidoras do meio ambiente.

27
Lista da fauna Silvestre brasileira ameaçada de extinção que foi publicada pelo Ministério do Meio
Ambiente no dia 22 de maio de 2003. Disponível em: www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/index.cfm Acesso
em 15.12.2005.
28
FRANCO, José Gustavo de Oliveira. Direito Ambiental Matas Ciliares. p.133.
29
“Desde a década de 70 diversas conferências foram proferidas no mundo inteiro e várias “cartas”foram
elaboradas, fazendo intenso chamamento à Educação Ambiental [...] A Conferencia de Estocolmo marcou
o início da Educação Ambiental no Mundo e a Carta de Belgrado consagrou-se como o marco da
Educação Ambiental. [...] As jornadas de Vezélay, que reuniram todos os países de língua francesa, a
Carta de Viena, o acordo de Montreal (PNUE: Programme dês Nations Unies pour I’Énvironnement), os
relatórios do “Center for Latin American Studies”(USA) e do “Center for Amazonian Studies” (Reino
Unido) e o famoso Relatório de Marcel Blanc, todos concluíram sobre os 4 (quatro) perigos básicos que
poderão destruir o planeta nas próximas décadas: a energia atômica, o efeito estufa, a camada de
ozônio e os produtos provenientes da biotecnologia [...]. Relatam esses relatórios que a Educação
Ambiental maciça e pratica, (Educação Ambiental Técnica) atingindo os grandes centros, poderia
ser uma esperança para evitar a destruição do planeta.” ROCHA, José Sales Mariano da. Educação
Ambiental Técnica para os ensinos Fundamental, Médio e Superior. p. 3-4.
MOTA30 em seu livro cita VARELLA e BORGES, apontando a
necessidade da Cidadania como elemento fundamental para uma sociedade
ética e mais justa, livre e feliz ressalta que:

“O exercício democrático da cidadania é fundamentalmente ético. É


uma opção valorativa no sentido de entendimento e pratica de
transformação em busca de uma sociedade mais justa, mais livre e
mais feliz. Essas pautas éticas são o inverso do conformismo e
estabelecem bases para a constituição de novos direitos. [...]
Hoje, a cidadania apresenta outra dimensão. A questão de seu
exercício transcende a internacionalização e invade a
planetarização. Isto se dá pelo fato da produção apresentar efeitos
destrutivos em todo o planeta, não mais se circunscrevendo aos
parâmetros geopolíticos do internacionalismo, mas avançando para
a questão da própria sobrevivência do planeta e da espécie humana.
O que leva à necessidade de o ser humano conceituar-se de modo
diferente. Não mais um cidadão que domina a natureza para criar um
mundo convivendo com ela. Esse cidadão planetário tem na questão
ambiental um dos problemas políticos e humanos mais sérios da
contemporaneidade. O ser humano chegou ao ponto de poder se
destruir enquanto espécie.”

Portanto há a necessidade de mobilizar-nos mais, ou seja, exigir uma


postura menos agressiva à natureza, buscando desta forma, um
aproveitamento consciente de seus recursos, aproveitando-o de forma
economicamente sustentável.
Os desafios da mundialização, entre os quais se encontra a gestão dos
bens públicos ambientais, exigem, de fato, uma política mais atuante, coerente
e ambiciosa, que tenha como base um trabalho de educação ambiental 31 e
mudança de comportamento mais eficaz.

30
MOTTA, Maude Nancy Joslin. O exercício da cidadania do direito ambiental. In: VARELLA,
Marcelo Dias, BORGES, Roxana Cardoso B. O novo em direito ambienta. Belo Horizonte: Del Rey,
1998. p.102.
31
Segundo ROCHA, “Educação Ambiental – É um processo de tomada de consciência política,
institucional e comunitária da realidade ambiental, do homem e da sociedade, para analisar, em conjunto
com a comunidade (através de mecanismos formais e não formais), as melhores alternativas de proteção
da natureza e do desenvolvimento sócio-econômico do homem e da sociedade.” ROCHA, José Sales
Mariano da. Educação Ambiental Técnica para os ensinos Fundamental, Médio e Superior. p. 7.
A natureza está a nossa disposição, porém devemos fomentar novas
formas de utilizá-la, de modo à sua preservação e conservação32, visando
assim, uma harmonia entre o homem e a natureza.
A Comunidade mundial deve buscar e almejar cada vez mais rápidas
ações em defesa do meio ambiente, fortalecendo os laços entre os países,
impondo-se responsabilidades mútuas, gerando assim, uma gestão duradoura
dos recursos naturais, bem como à criação de áreas protegidas que permitam
a preservação da biodiversidade33.
Os fenômenos ambientais de que falamos hoje não conhecem fronteiras,
desta forma é preciso abordá-los em escala mundial, privilegiando o diálogo
interno e internacional. Devemos também identificar ações precisas e
prioritárias. Assim, lutar contra a degradação ambiental, contribui,
simultaneamente para a melhoria dos meios de subsistência do homem e para
a redução de seus efeitos negativos.
Santos34 afirma que:

“Os problemas com que as sociedades contemporâneas e o sistema


mundial se confrontam no fim do século são complexos e difíceis de
resolver. São fundamentais, na designação de Fourier, a exigir
soluções fundamentais. [...] Emergiram ou agravaram-se nas duas
últimas décadas uma série de problemas transnacionais, alguns
transnacionais por natureza e outros transnacionais pela natureza do
seu impacto. São os problemas da degradação ambiental, do
aumento da população e do agravamento das disparidades de bem-
estar entre o centro e a periferia, tanto ao nível do sistema mundial,
como ao nível de cada um dos Estados que o compõem.”

32
ROCHA simplificadamente nos explica a diferença entre Preservação e Conservação: “O conceito de
Preservação caracteriza deixar a Ambiência como ela se encontra. Se poluída, devera permanecer como
tal. Já o conceito de Conservação atende ao Eco-Desenvolvimento. Usa-se a Ambiência visando a sua
melhoria constante e a sua perpetuidade.” ROCHA, José Sales Mariano da. Educação Ambiental
Técnica para os ensinos Fundamental, Médio e Superior. p. 9.
33
FRANCO em seu livro Direito Ambiental Matas Ciliares nos aponta o conceito de Biodiversidade:
“...através do Decreto 2.519/98 – conceitua, em seu art. 2º biodiversidade, ou diversidade biológica, como
“a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas
terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de quem fazem parte;
compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas”.” FRANCO,
José Gustavo de Oliveira. Direito Ambiental Matas Ciliares. p.30.
34
SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mão de Alice - O social e o político na pós-modernidade. p.
319.
Estas ações devem constituir, em primeiro lugar, uma responsabilidade
nacional, mas ela é também uma questão de âmbito internacional, e deve para
tanto ser discutida em foros internacionais.
Neste sentido Giddens35 ensina que:

“Até onde diz respeito às relações entre os estados parece evidente


que uma ordem política mundial mais coordenada tende a emergir.
Inclinações para uma globalização crescente mais ou menos forçam
os estados a colaborarem sobre questões com as quais eles
procuraram outrora lidar separadamente. [...] Finalmente, a crescente
interdependência global aumenta a gama de situações em que
interesses semelhantes são partilhados por todos os estados. [...] A
preocupação com os danos ao meio ambiente está agora difundida, e
é um foco de atenção para os governos em todo o mundo. [...] Na
medida em que a maior parte das questões ecológicas conseqüentes
é tão obviamente global, as formas de intervenção para minimizar os
riscos ambientais terão necessariamente uma base planetária.”

A Cidadania como mecanismo de participação e manifestação social

As questões ambientais são complexas e demandam uma resposta da


sociedade global, assim, temos a cidadania como mecanismo de participação
social, que pode ser exercida por meio da participação do cidadão nas
decisões públicas, através de sua influência e fiscalização, agindo de forma
isolada ou associativamente, concretizando o Estado de Direito Ambiental.
A respeito do assunto, estes são os ensinamentos de José Rubens
Morato Leite36:

“Na prática, uma consecução do Estado de Direito Ambiental só será


possível a partir da tomada de consciência global da crise ambiental,
em face às exigências, sob pena de esgotamento irreversível dos
recursos ambientais, de uma cidadania moderna e participativa, [...].
De fato, a concretização do Estado de Direito Ambiental converge
obrigatoriamente para mudanças radicais nas estruturas existentes da
sociedade organizada. E não há como negar que a conscientização
global da crise ambiental exige uma cidadania participativa, que
35
GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. tradução Raul Fiker. São Paulo: Editora da
Universidade Estadual Paulista, 1991. p. 167-9.
36
LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial. 2º ed.
rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 32-4.
compreende uma ação conjunta do Estado e da coletividade na
proteção ambiental. Não se pode adotar uma visão individualista
sobre a proteção ambiental, sem solidariedade e desprovida de
responsabilidades difusas globais. Trata-se de um pensamento
equivocado dizer que os custos da degradação ambiental devem ser
repartidos por todos, em uma escala global que ninguém sabe
calcular. Esta visão é distorcida e leva ao esgotamento total dos
recursos ambientais e a previsões catastróficas. Portanto, somente
com a mudança para a responsabilidade solidária e participativa dos
Estados e dos cidadãos com os ideais de preservação ecológica é
que se achará uma luz no fim do túnel. [...] Saliente-se, entretanto,
que mudanças exigem tarefas fundamentais do Estado na proteção
ambiental e uma política ambiental intercomunitária, significando que
as transformações não abandonam por completo o Estado Social,
mas trazem um perfil modificado a este. [...] Desta forma, [...], caberá
ao Estado de Direito do Ambiente, indiscutivelmente, entre outras
funções, proteger e defender o meio ambiente, promover educação
ambiental, criar espaços de proteção ambiental, executar o
planejamento ambiental. [...] A introdução da visão democrática
ambiental proporcionará uma vertente de gestão participativa no
Estado, que estimulará o exercício da cidadania, com vistas ao
gerenciamento da problemática ambiental.”

Para tanto, as relações de cidadania no seio da sociedade não são tão


fáceis de serem incorporadas e assimiladas, porém, o princípio da comunidade
rousseauiana é o que tem mais virtualidades para fundar as novas energias
emancipatórias, segundo Santos37:

“Se é complexa a relação entre subjectividade e cidadania, é-o ainda


mais a relação entre qualquer delas e a emancipação. Porque a
constelação ideológica-cultural hegemônica do fim do século parece
apontar para a reafirmação da subjectividade em detrimento da
cidadania e para a reafirmação desigual de ambas em detrimento da
emancipação, torna-se urgente submeter a uma análise crítica as
relações entre estes três marcos da história da modernidade. Uma
tarefa particularmente urgente para aqueles que se identificam com o
que nesta constelação é afirmado sem contudo se poderem identificar
com o que nela é negado ou negligenciado. [...] O pilar da regulação é
constituído por três princípios: o princípio do Estado (Hobbes), o

37
SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mão de Alice - O social e o político na pós-modernidade. p.
235-63.
princípio de mercado (Locke) e o princípio da comunidade
(Rousseau). [...] Apesar de estar ele próprio muito colonizado pelo
princípio do Estado e pelo princípio do mercado, o princípio da
comunidade rousseauiana é o que tem mais virtualidades para fundar
as novas energias emancipatórias. A idéia da obrigação política
horizontal, entre cidadãos, e a idéia da participação e da
solidariedade concretas na formulação da vontade geral são as
únicas susceptíveis de fundar uma nova cultura política e, em última
instância, uma nova qualidade de vida pessoal e colectiva assentes
na autonomia e no autogoverno, na descentralização e na
democracia participativa, no cooperativismo e na produção
socialmente útil.”

A participação38 é necessária, e fundamental nas questões ambientais,


para isso devem ser encorajadas e facilitadas. É essencial que esta
participação envolva todos os setores da sociedade, sejam as empresas, os
comércios, as organizações não-governamentais, bem como a administração
pública, todos juntos em prol de um meio ambiente equilibrado.
Assim leciona José Rubens Morato Leite39:

“Não há como negar que, para se discutir, impor condutas,


buscar soluções e consensos que levem à proteção ambiental, é
necessária a participação dos mais diversos atores: grupos de
cidadãos, ONGs, cientistas, corporações industriais e muitos outros.
[...] Assim, para se edificar e estruturar um abstrato Estado
Ambiental, pressupõe-se uma democracia ambiental.”

Nesta direção, tem-se o Princípio democrático que é o elemento


constituinte do Estado Democrático social de direito, que busca a informação e
participação da sociedade nos temas ambientais.
Para Antunes “O princípio democrático materializa-se através dos
direitos à informação e à participação. [...] é aquele que assegura aos cidadãos
o direito pleno de participar na elaboração das políticas publicas ambientais.” 40
O exercício da democracia participativa fortalece a sociedade, pois da a
esta a possibilidade de informação, mudança de comportamento e consciência
necessária às questões ambientais.
38
“A participação dos indivíduos e das associações na formulação e na execução da política ambiental foi
uma nota marcante dos últimos vinte e cinco anos.” MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito
Ambiental Brasileiro. p. 81.
39
LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial. p. 34-5.
40
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 32-3.
A informação é o mecanismo essencial ao entendimento das questões
ambientais, este que é interligado com a liberdade de pensamento e de
expressão, fontes principais do direito de comunicação.
O homem vê a liberdade como um direito a ele inerente, e assim, o
busca de todas as formas, e nas questões ambientais o direito a informação é
fundamental para o exercício de suas liberdades.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela
Assembléia-Geral das Nações Unidas assegura o direito a liberdade de
expressão e a obter informações, em seu art. XIX. Assim descrito:

“Art. XIX – Todo homem tem direito à liberdade de opinião e


expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter
opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por
quaisquer meios independente de fronteiras.”41

Neste mesmo caminho temos a Convenção Americana sobre Direitos


Humanos, Pacto de São José da Costa Rica, em seu anexo Decreto nº 678 de
6/11/1992 que assim prescreve em seu art. 13:

“Art. 13: 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de


expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber
e difundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração
de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou
artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.”42

A informação para o doutrinador Paulo Affonso Leme Machado “serve


para o processo de educação de cada pessoa e da comunidade. Mas a
informação visa, também, a dar chance à pessoa informada de tomar posição
ou pronunciar-se sobre a matéria informada.”43
O direito a informação então é analisado de três formas, ou seja, o
direito de informar, o direito de se informar e o direito de ser informado, sendo
assim, fonte primordial para o exercício da cidadania.
A Convenção de Aarhus44 que foi aprovada na 4ª Conferencia Ministerial
da série “Meio Ambiente para a Europa”, realizada pela Organização das
41
ALVES, Marina de Lima Draib. A Lei de Acesso À Informação Ambiental e o Direito À Informação no
Brasil Direito Ambiental – Enfoques Variados. Bruno Campos Silva (org.). São Paulo: Lemos & Cruz,
2004. p. 41.
42
ALVES, Marina de Lima Draib. A Lei de Acesso À Informação Ambiental e o Direito À Informação no
Brasil Direito Ambiental – Enfoques Variados. p. 42.
43
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p.78.
44
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. p. 77.
Nações Unidas em 25 de junho de 1998, na Dinamarca, trata do Acesso à
Informação, à Participação Pública em Processos Decisórios, e à Justiça em
Matéria Ambiental.
A convenção é tida como uma das normas mais completas e atuais
sobre o tema da participação pública na gestão do meio ambiente, garantindo
aos cidadãos o acesso a informações sobre a qualidade ambiental, o acesso à
justiça para garantir seus direitos, e principalmente a um meio ambiente sadio.
A convenção de Aarhus propõe o acesso a informações contidas na
posse de autoridades públicas, propõe ainda a participação do público na
tomada de decisões a respeito do meio ambiente, e propõe também, o
alargamento das condições de acesso à justiça.
A convenção acima citada, disciplina que os países membros da
Comunidade Européia deverão observar o acesso à informação e à
participação pública em processos decisórios em matéria ambiental,
estabelecendo mecanismos para tal, servindo de exemplo para a comunidade
mundial.
Desta forma, a informação, a participação e o acesso à justiça,
proporcionam o verdadeiro envolvimento da comunidade com as questões
ambientais, mudando a forma de pensar, bem como influenciando nas tomadas
de decisão. Certo disso, um dos instrumentos capazes de mudanças e destas
possibilidades é a Educação Ambiental.
Um cidadão educado ambientalmente, será certamente, capaz de
compreender melhor os temas ambientais. Sendo assim, a educação ambiental
não é apenas um meio de exercício de cidadania ambiental, é o mecanismo de
abertura desta.
A cidadania ambiental, por sua peculiaridade, é uma nova concepção de
cidadania, conceito que é explicado por Leite e Ayala45:

“Não se pode deixar de ser observado que o caput do art. 225 da


CRB constitui no texto político fundamental brasileiro o punctum de
referência imediata do reconhecimento da abertura dogmática amiga
ao reconhecimento da cidadania ambiental, nos precisos termos em
que afirma a qualidade difusa do bem ambiental e estrutura um

45
LEITE, J.R.M, AYALA, P.A. Direito ambiental na sociedade de risco. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2002.
sistema de responsabilidades compartilhadas entre todos, em uma
orientação inclusiva, que inclui não só aqueles que não possam
exercer regularmente os direito políticos, mas também as futuras
gerações.”

A cidadania ambiental impõe uma nova postura da sociedade,


envolvendo a sociedade civil e o poder público na gestão do meio ambiente,
possibilitando a todos uma participação efetiva, e com a devida tomada de
decisão por parte da coletividade.
Assim sendo, Santos46 nos dá uma caracterização do que é esta nova
cidadania:

“A nova cidadania tanto se constitui na obrigação política vertical


entre os cidadãos e o Estado, como na obrigação política horizontal
entre cidadãos. Com isso, revaloriza-se o princípio da comunidade e,
com ele, a idéia da igualdade sem mesmidade, a idéia de autonomia
e a idéia de solidariedade. Entre o Estado e o mercado abre-se um
campo imenso – que o capitalismo só descobriu na medida em que o
pode utilizar para seu benefício – não estatal e não mercantil onde é
possível criar utilidade social através de trabalho auto-valorizado
(trabalho negativo, do ponto de vista da extracção da mais-valia):
uma sociedade-providencia transfigurada que, sem dispensar o
Estado das prestações sociais a que o obriga a reivindicação da
cidadania social, sabe abrir caminhos próprios de emancipação e
não se resigna à tarefa de colmatar as lacunas do Estado e, deste
modo, participar, de forma benévola, na ocultação da opressão e do
excesso de regulação. O cultivo desse campo imenso, que tem vindo
a ser tentado com êxito diferenciado pelos NMSs, será o produto-
produtor de uma nova cultura.”

Santos47 ainda completa dizendo que:

“[...] – e novas formas de cidadania – colectivas e não meramente


individuais; assentes em formas político-jurídicas que, ao contrário
dos direitos gerais e abstractos, incentivem a autonomia e combatam
a dependência burocrática, personalizem e localizem as
competências interpessoais e colectivas em vez de as sujeitar a
padrões abstractos; atentas às novas formas de exclusão social
46
SANTOS, Boaventura de Souza. Pela Mão de Alice - O social e o político na pós-modernidade. p.
277-8.
47
SANTOS, Boaventura de Souza. PELA MÃO DE ALICE O social e o político na pós-modernidade.
p. 263-4.
baseadas no sexo, na raça, na perda de qualidade de vida, no
consumo, na guerra, que ora ocultam ou legitimam, ora
complementam e aprofundam a exclusão baseada na classe social.”

A cidadania só poderá prosperar se o poder público criar os mecanismos


necessários a sua concretização, ou seja, tornando possível a inclusão da
sociedade civil, e de todos aqueles que desejem participar, abrindo os canais
de participação, para que as decisões sejam legitimas, coletivas e públicas.

Conclusão

Como podemos observar, os problemas ambientais enfrentados pela


sociedade não são mais problemas resolvidos no âmbito dos Estados, mas
sim, em fóruns internacionais e com a participação da sociedade mundial.
A processo de globalização demonstra perspectivas positivas em relação
ao meio ambiente, já que os meios de comunicação e a tecnologia estão
também voltados às questões ambientais, e neste processo a discussão
ambiental encontra respaldo também perante a economia e principalmente na
sociologia.
O processo produtivo, com essas mudanças e problemas ambientais,
requerem cada vez mais avanços e melhorias, estas que são aclamadas pela
sociedade, e consubstanciadas através da gestão ambiental.
A importância do meio ambiente torna-se constante nas discussões
internacionais, já que é essencial a sobrevivência da sociedade e para a sua
qualidade de vida. Assim sendo, os problemas ambientais antes vistos no
âmbito interno, hoje se tornam transfronteiriço, e suas conseqüências afetam a
todo o globo.
O meio ambiente é hoje visto como um bem econômico, e para tal é
valorizado, sendo essencial às atividades humanas. Neste sentido, sente-se a
necessidade de novas propostas de desenvolvimento e de sua melhor gestão.
As questões ambientais também são vistas como um grande desafio a
sociedade global, portanto, necessitam de outras vias de acesso à população.
A modificação do Estado posta pelo processo de globalização, é
necessária na medida em que estes têm que se adaptar aos novos rumos da
estrutura mundial, baseados principalmente, no sistema financeiro, na
comunicação e na informação.
Este processo é o diferencial nas atividades empresariais, e nos
modelos de gestão empresarial, pois ao empresário cabe preservar à sua
matéria-prima, à sua imagem perante o consumidor, e à sociedade, basta
exigir um meio ambiente de qualidade para a sua vida. Assim todos ganham, já
que as inovações tecnológicas , a gestão e o clamor da sociedade, tendem ao
melhor aproveitamento dos recursos naturais, ou seja, o desenvolvimento
sustentável.
A tutela do meio ambiente, nesta fase, é necessária e importante, temos
doutrinas e normas para essa questão, em âmbito nacional e internacional,
porém não bastam, pois ainda temos os problemas ambientais que afloram
nos dias atuais.
Esses problemas ambientais são por natureza problemas sociais,
ligados a todas as mazelas sociais, são apenas aspectos da crise ecológica.
A saída assim para essas questões trata-se de uma questão ética e de
participação social em busca de uma sociedade mais justa, livre e feliz. A
mobilização social por sua vez, é fundamental para as questões ambientais, já
que a participação social e a mudança de comportamento são essenciais à
melhoria do sistema.
Aliada a essa participação, a Educação Ambiental é o instrumento ideal
para tornar público os temas ambientais, já que o cidadão ambientalmente
educado, compreenderá melhor e estará melhor apto a opinar sobre as
questões ambientais.
Para isso, a consecução do Estado Democrático Ambiental só será
possível a partir da tomada de consciência global da crise ambiental que nos
assola, exigindo uma cidadania participativa.
A emancipação da cidadania ambiental está vinculada à participação de
todos os setores da sociedade, e mais ainda a uma obrigação política vertical
entre os cidadãos e entre os cidadãos e o Estado.

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