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Disciplina de Pós-Graduação (AGM5832)

Mudanças Climáticas e suas interdisciplinaridades

Dimensões humanas e mudanças climáticas:


contribuições a partir de estudos em regiões e cidades brasileiras

Profa. Dra. Gabriela Marques Di Giulio


Departamento de Saúde Ambiental – FSP – USP
ggiulio@usp.br
Século 21 – crises sistêmicas
Perda de biodiversidade // Mudanças climáticas
• exploração predatória dos recursos naturais
• processos de sobrecarga ao Planeta Terra
• disputas sobre diferentes concepções de sociedade
e de relações ser-humano e natureza
Cartoon: Dalcio Machado • modelo de espoliação da natureza - modelo de
espoliação social (Marques, 2016)

Diferentes discursos e abordagens para a questão ambiental (Dryzek, 2005)


- aqueles mais focados na sobrevivência dos seres humanos e não humanos
- os que postulam a necessidade de resolução dos problemas ambientais
- os que enfocam a ideia de consciência e políticas verdes
- os afiliados à perspectiva de aliar crescimento econômico e proteção ambiental

Intersecções – complementações e tensões


Diferentes propostas para responder à proliferação dos riscos
Sustentabilidade - campo polissêmico em disputa
Relatório Nosso Futuro Comum (1987) à Agenda 2030
(Araujo, 2019; Loorbach et al., 2017; Ventura et al., 2020)
Mudanças climáticas
 mudanças no estado do clima
 identificadas por alterações na média e/ou na variabilidade de suas
propriedades
 persistindo por longo período
Causas: processos internos ou forças externas; mudanças antropogênicas
na composição da atmosfera/uso da terra (Climate and Development Knowledge Network, 2012)
Dimensão mais urgente, mais grave e mais
profunda da crise ambiental
(Beck, 2010)

 Urgente: resta pouco tempo para estabilizar a


concentração de gases de efeito estufa em níveis
aceitáveis na atmosfera
 Grave: porque aumenta significativamente a
desertificação, a crise de recursos hídricos e a crise
de biodiversidade; destrói infraestrutura existente,
traz prejuízos às atividades econômicas e afeta com
severidade as populações pobres do planeta
 Profunda: porque não existe solução apenas
tecnológica
processos
sociais
influências nas
vulnerabilidades
e respostas

Drivers:
Dimensões Interações
fatores culturais,
entre ciência,
econômicos, humanas
política,
geográficos, das comunicação
históricos,
mudanças e sociedade
políticos e
sócioestruturais climáticas
Construção da
agenda;
respostas;
enfrentamento

Necessidade de compreensão integrada sobre as mudanças do clima


 Ações preventivas e respostas devem ser éticas, justas e contribuírem para a
melhora do bem-estar social (Lemos et al., 2019; Bulkely, 2019)
Conformação da agenda pública e política sobre Mudanças Climáticas

• maior envolvimento da ONU nos debates ambientais - criação do


Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (United Nations
Environment Program), em 1972; publicação do relatório Nosso Futuro
Comum, em 1987; publicação dos ODS; dispositivos legais (Araujo, 2019)
• séries de eventos climáticos extremos registradas em diversos países,
como a onda de calor nos Estados Unidos durante os verões de
1987/1988, e outras mais recentes, como na Europa em 2003, 2018 e
2019 (Demski et al., 2017; Konisky et al., 2016)
• própria criação do IPCC e a divulgação de seus relatórios periódicos
(Artaxo Netto, 2013; Sundqvist et al., 2017)

• incentivos à realização de pesquisas nesta temática, por meio de editais


propostos pelas agências de fomento (Hannigan, 2006)
• compreensão da comunidade científica: longo processo de aprendizado
coletivo, com acúmulo de dados observados, construção de teorias e
modelos e estudos empíricos; avanço da climatologia (Leite, 2015; Weber e Stern,
2011)
Alguns importantes marcos – debate internacional

 Rio 92 - estabelecida a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima


 Protocolo de Quioto (1997) - tratado internacional que propunha um calendário aos
países desenvolvidos signatários para a diminuição da emissão de GEE
 Crutzen e Stoemer (2000) - The "Anthropocene", publicado em newsletter do
International Geosphere-Biosphere Programme (IGBP)
 Nicolas Stern (2006) - The Economics of Climate Change
 Relatórios do IPCC - destaque para o quarto relatório (2007) - maior grau de
certeza e confiança que a principal causa das mudanças climáticas era a emissão
de GEE decorrente de atividades humanas; matriz energética renovável
 Rockström et al. (2009) - Planetary boundaries
 Acordo de Paris (2015) – compromissos dos países em reduzirem as emissões
 Agenda 2030 (ONU, 2015) - destaque para ODS 13 (necessidade de tomar
medidas urgentes para combater às alterações climáticas e seus impactos com
ênfase na necessidade de ampliar a capacidade adaptativa dos países)
 Relatório IPCC/2018 - impactos do aquecimento global acima de 1,5°C (aumento
de mortes e doenças, ampliação de populações expostas a riscos climáticos e à
extrema pobreza, ampliação da escassez de recursos hídricos, redução da
segurança alimentar e perda de biodiversidade)
 Human Right Council (2019) - apartheid climático
Mudanças climáticas - Condição da atualidade (Bulkeley, 2019)
Impactos interagem e agravam outras contradições das nossas sociedades
contemporâneas, aumentam vulnerabilidades, reforçam iniquidades,
ampliam abismos entre comunidades e grupos sociais

Emergência climática
palavra do ano de 2019 - Dicionário Oxford

Emergência sem precedentes (Human Rights Council, 2019)


Ameaça o futuro dos direitos humanos, colocando em risco os avanços em
relação ao desenvolvimento e à redução de pobreza alcançados nos últimos
50 anos

Sindemia global - desnutrição, obesidade, mudanças climáticas


(The Lancet, 2019)
pandemias que afetam a maioria das pessoas, conexões entre alimentos,
transporte, desenho urbano, sistemas de uso do solo, políticas, incentivos e
desincentivos econômicos, lentidão e inércia política para lidar e dar
respostas efetivas a elas
Mudanças climáticas: urgência x lentidão; preocupação x ação

Fotos: Marcos Akira Watanabe


Processo político dinâmico, dependente da convergência de variáveis

Problema Política
Para ser definido como Condições políticas
Uma questão é apenas
um problema, um coalizões de
entendida como
conjunto de alternativas interesses e
problema real quando
é necessário (viabilidade negociações políticas
os tomadores de
técnica, aceitação da são importantes para o
decisão acreditam que
comunidade e custos fluxo de políticas
algo deve ser feito
toleráveis)
Kingdon’s model (1984)

Janela de Oportunidade

 a mudança climática é reconhecida


como um problema global e local
urgente
 alternativas para enfrentá-lo estão
disponíveis
 existem condições políticas
amistosas para incorporar este
problema na agenda de decisão
Mintrom et al. 2017
Brasil – agenda política sobre mudanças climáticas

2000: Fórum Brasileiro de Mudança Climáticas


2006: proposta de incentivos para a redução de emissões de
desmatamento, durante a COP 12
2007: criação da Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade
Ambiental e alteração do Comitê Interministerial sobre Mudanças do
Clima
2009: Política Nacional sobre a Mudança do Clima (PNMC) - planos
setoriais de mitigação e adaptação nos âmbitos local, regional e nacional
2011: criação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (CEMADEN)
2012: Política Nacional de Proteção e Defesa Civil
2015: INDC-Acordo de Paris: redução de 37% de GEE em 2025 e 43%
de redução em 2030, em comparação com os valores de 2005
2016: Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA)
Brasil – perspectiva macro
 Papel conservador na questão climática (resistência atual) (Basso, Viola, 2017)
 Ações concretas são lentas e limitadas (Simões et al., 2017; Barbi, 2015)
 Aumento da dependência de combustíveis fósseis e investimentos
pesados nos campos de petróleo do Pré-Sal (Viglio et al., 2019; Araujo; Leite, 2016; Lucon et
al., 2015).

 Abandono das políticas de controle do desmatamento, apoio político às


práticas agrícolas predatórias (Rochedo et al., 2018)
 Veto da Presidência da República ao Plano Plurianual (2020-2023)
suprimiu os mecanismos de monitoramento e avaliação dos ODS – não à
Agenda 2030 (Turra, 2020 – Coalizão Ciência e Sociedade)

A grande ficha vai cair – Laerte


https://cienciaeclima.com.br/25-tiras-aquecimento-global/
Resultados - Pesquisas

Mídia e informação Respostas e Adaptação Ciência e Política


 Como questões relacionadas às mudanças climáticas e à
energia têm sido divulgadas pela mídia brasileira?

 Quais as percepções dos jornalistas sobre a cobertura


jornalística feita sobre estes temas?

Mídia:
 papel-chave na construção das percepções e agendas públicas sobre o fenômeno
 responsabilidade de tentar representar as questões complexas que cercam as
mudanças climáticas, relacionando-as às experiências da vida moderna
(Hannigan, 2006; Anderson, 2009; Loose, Carvalho, 2015; Bolin, Hamilton, 2018)

 Análise: Folha de S. Paulo (2000 – 2014)


Total: 405 textos

 Entrevistas com jornalistas

RODAS, C.A.; DI GIULIO, G.M. Mídia brasileira e mudanças climáticas: uma análise sobre tendências da cobertura jornalística, abordagens e
critérios de noticiabilidade. Desenvolvimento e Meio Ambiente. Vol. 40, abril 2017. DOI: 10.5380/dma.v40i0.49002
RODAS, C.A.; DI GIULIO, G.M. Mudanças climáticas na mídia brasileira: reflexões sobre a cobertura jornalística. In: Gabriela Di Giulio; Marko
Monteiro. (Org.). Comunicação, política e representação - interfaces com ciência, tecnologia e ambiente. 1ed. São Paulo: Hucitec, 2018.
Figura: Distribuição das notícias por ano

Fontes Fontes
Consultadas Governam ONG's Comunidade Especialistas Empresários Outros Total
n 250 62 7 207 45 44 615

% 40,7 10,1 1,1 33,7 7,3 7,2 100,0


Tabela: Fontes consultadas nas notícias divulgadas entre janeiro de 2000 e outubro de 2014

• Tendência de cobertura mais centrada em eventos e acontecimentos pontuais


• Adoção de critérios de noticiabilidade: oportunidade, interesse humano, controvérsia, conflito
• Tendência de mudança de enfoque: de uma abordagem de risco para uma abordagem mais
atenta às estratégias de enfrentamento e de caráter mais preventivo
• Dificuldade de aproximar o fenômeno do público
RODAS, C.A.; DI GIULIO, G.M. Mídia brasileira e mudanças climáticas: uma análise sobre tendências da cobertura jornalística, abordagens e
critérios de noticiabilidade. Desenvolvimento e Meio Ambiente. Vol. 40, abril 2017. DOI: 10.5380/dma.v40i0.49002
RODAS, C.A.; DI GIULIO, G.M. Mudanças climáticas na mídia brasileira: reflexões sobre a cobertura jornalística. In: Gabriela Di Giulio; Marko
Monteiro. (Org.). Comunicação, política e representação - interfaces com ciência, tecnologia e ambiente. 1ed. São Paulo: Hucitec, 2018.
Fotos: Marcos Akira Watanabe
Cidades brasileiras, eventos extremos,
mudanças do clima
Cidades e mudanças do clima
 responsáveis pelas altas fontes de emissão de gases de efeito estufa (IPCC,
2014; Giddens, 2009; Hallegatte, Corfee-Morlot, 2011)

 enfrentamento das crises contemporâneas (global – local) (Beck, 2002; Seto et al,
2010)

 impulso às mudanças de paradigmas em relação à construção de


territorialidades e aos processos de produção e gestão do espaço urbano
(Lefebvre, 1999; 2014; Carlos, 2007)

 lócus ideal de experimentações de novas tecnologias e soluções


direcionadas a diversas questões da atualidade (Bulkeley et al. 2016; Folke et al., 2005; Kemp
& Loorbach, 2006)

 importantes na elaboração e condução de estratégias de enfrentamento


associadas à mitigação e adaptação (Broto, 2017; Rosenzweig et al. 2015; Aylett, 2014; Leck,
Roberts, 2015; Ryan, 2015; Bulkeley, 2010)

 planejamento efetivo da adaptação depende de esforços municipais


(urbanismo competitivo, medidas de austeridade, grupos de interesse) (Chu et
al. 2017)

Nosso argumento:
Cidades - executoras de políticas e geradoras de soluções para problemas
globais e locais (Di Giulio et al., 2017, 2018, 2019)
 Brasil: 86% da população vive em cidades

 grandes centros urbanos


• alta densidade populacional e carências de modernização de infraestrutura
e logística urbana;
• dispersão urbana não planejada e não regulada;
• negligenciamento da infraestrutura verde e azul;
• impactos do fenômeno da ilha de calor;
• forma de reprodução do espaço - interesses e necessidades da reprodução
do capital

 impulso à adaptação é altamente dependente dos esforços municipais


Fotos: Marcos Akira Watanabe
Adaptação: processos de ajustamentos para antecipar impactos adversos das
mudanças climáticas que resultam na redução da vulnerabilidade (IPCC, 2007)

Capacidade adaptativa: potencial de mudar para um estado mais desejável frente


aos impactos e riscos às mudanças climáticas (Engle, 2011; Eakin; Lemos, 2006; Eakin et al., 2014)

Brasil - Sinergias:
adaptação climática - redução de pobreza - questões de desenvolvimento

Di Giulio, G.M. Bedran-Martins, A.; Lemos, M.C. Adaptação climática: Fronteiras do conhecimento para
pensar o contexto brasileiro. Estud. av. [online]. 2016, vol.30, n.88, pp.25-41.
(http://dx.doi.org/10.1590/s0103-40142016.30880004)
Como a cidade de São Paulo avança na agenda climática?

Que fatores contextuais interferem nas respostas que emergem?

Quais as potencialidades da cidade?

Quais são os desafios?

Fotos: Maria da Penha Vasconcellos, Marcos Akira Watanabe


Megacidade de São Paulo
• mais de 12 milhões de habitantes
Projeções climáticas:
• 10º PIB mundial
significativos impactos de
• 11% do PIB e 63% das
aquecimento na América do Sul
multinacionais do Brasil
como um todo, com reflexos na
• 36% da produção de bens e
região Sudeste brasileira e em São
serviços do Estado de São Paulo
(IBGE, 2018) Paulo
(Sillmann et al., 2013; Ambrizzi et al., 2012)

 problemas urbanos e ambientais, • aumento de dias secos


decorrentes do adensamento de consecutivos
edificações e ocupação do solo com
• redução do número de dias
grande limitação de áreas verdes
úmidos
 15% dos moradores - em • concentração de chuvas intensas
assentamentos precários (CEM/FUNDAP, em períodos curtos
2013) • diminuição do número de noites
frias
 ~ 25 mil moradores em situação de
rua (Censo – PMSP) • aumento do número de noites
quentes, com temperaturas
 episódios de alagamentos e efeitos mínimas
da ilha de calor - redução de áreas • aumento do índice de desconforto
verdes, expansão das áreas térmico
urbanizadas
Mudanças climáticas, respostas e arranjos
Fatores contextuais importantes:
 percepções dos riscos associados a esse fenômeno;
 impactos dos eventos climáticos extremos e o aumento da vulnerabilidade

Necessidade de buscar sinergias com políticas, recursos e outras medidas


existentes - sustentabilidade, qualidade de vida e infraestrutura

• política habitacional
• saneamento
• planos diretores
• política e gestão de recursos hídricos
• revisão de formas de mobilidade urbana
investimentos em medidas “no-regrets” (sem arrependimentos)

(Lemos et al., 2007; Uittenbroek et al., 2014; Barclay et al. 2013; Ryan, 2015 ; Aylett, 2014;
Bulkeley, Broto, 2013; Eakin et al., 2014)
Megacidade de São Paulo
 Fatores contextuais:
• Percepções - olhar míope da opinião pública para a questão climática
• Impactos - crise hídrica - disparador de maior atenção
 Experimentação de políticas públicas
Intervenções mais ajustadas às questões ambientais e climáticas, sem
adotar esses termos para justificar proposições
Di Giulio, G.M. et al. 2017. Mudanças climáticas, riscos e adaptação na megacidade de São Paulo,
Brasil. Sustentabilidade em Debate. (https://doi.org/10.18472/SustDeb.v8n2.2017.19868 )

gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br
Possibility of creating
charges for the
environmental
Creating rural services provided by Encouraging denser
areas in the city protected areas land occupation in
within a regions where there
sustainable are more jobs
development plan

Providing incentives
for public places that
will become Special Supporting compact
Environmental cities
Protection Zones
(ZEPAM)

Exploring the
interface between
PDE’s actions linked
mobility and land use Reducing waste
by increasing to climate change generation through
population density selective waste
along exclusive collection, recycling
access routes for and composting
buses

Promoting the
Establishing new
construction of
economic
buildings which
development centers
contribute to the
in residential areas
reduction of GHG
Creating a system emissions
Prioritizing
of protected areas,
public and non-
green areas and
motorized transport
open spaces to the
as well as a bus fleet
protection of Atlantic
fueled by clean
Rainforests
energy sources

Di Giulio, G.M. et al. 2018. Mainstreaming climate adaptation in the megacity of São Paulo, Brazil. Cities.
(https://doi.org/10.1016/j.cities.2017.09.001)
Desafios para a cidade - especificidades e complexidades
Planos econômico, político e social

Acessos e usos das informações científicas nas decisões tomadas


 distância entre academia e gestão pública, reverberada inclusive em
relações de desconfiança e de não colaboração entre os grupos
 divulgação das informações geradas pelos estudos científicos ainda
apresenta lacunas, dificultando o entendimento e a apropriação do
conhecimento

Processos de governança
Recursos (econômicos e tecnológicos) participativos
aprimorar e ampliar as
 investimentos para reduzir a
instâncias participativas x
vulnerabilidade a eventos extremos e estar
“via tecnocrática” – como
melhor preparado para enfrentá-los
reduzir resistências a
 realização de estudos de clima urbano, políticas que justamente em
com amplas séries temporais e espaciais função de seu caráter
de dados, e análises climatológicas inovador não estavam
incorporadas ao senso
comum dos cidadãos
Di Giulio, G.M. et al. 2018. Mainstreaming climate adaptation in the megacity of São Paulo, Brazil. Cities.
(https://doi.org/10.1016/j.cities.2017.09.001)
Análise da capacidade adaptativa específica de São Paulo:
 Habilidades específicas para identificar, antecipar e responder às ameaças climáticas

Atores institucionais – Prefeitura Municipal de São Paulo (entrevistas e grupos focais):


• percebem mudanças nos padrões climáticos e ocorrência de extremos mais frequentes
• estão cientes dos riscos associados às mudanças climáticas
• reconhecem a dificuldade de internalização das projeções climáticas futuras nas
estratégias de planejamento e execução das ferramentas analisadas
 Planos de contingência (baixa temperatura, chuvas de verão e baixa umidade):
possuem períodos de vigência ainda preestabelecidos de acordo com a sazonalidade
desconsideram a perspectiva de aumento na frequência de eventos extremos e na
irregularidade de distribuição anual da precipitação
atores da ponta, que possuem melhor entendimento de quais medidas são mais eficazes
ou não na prática, não são envolvidos no processo de planejamento
 Mapeamento das áreas de risco:
não inclui mapeamento dos riscos hidrológicos e tecnológicos
não contempla a participação das próprias comunidades em risco
 Sistema de alerta:
ferramenta não é regulamentada por portarias ou decretos que determinem seus
procedimentos e parâmetros
MORAIS, N. L. ; MOREIRA, F. A. ; DI GIULIO, G.M. . Análise de
instrumentos e ações relacionados à capacidade de adaptação específica
da cidade de São Paulo. In: IX ENANPPAS, 2019, Brasília.
Infraestrutura verde - adaptação climática
AbE, SbN
Soluções de esverdeamento devem combinar a
concentração de árvores em locais específicos,
para atenuar os extremos de calor, vento e
radiação solar, com a perspectiva de
espraiamento de outras estruturas de IV em
todo o território (Duarte et al., 2015; Duarte, 2015)
Serviços ecossistêmicos: regulação
(temperatura do ar, qualidade do ar,
Fotos: Marcos Akira Watanabe
enchentes), cultural (estético, inspiracional)

Desafios (atores institucionais):


• implementação das políticas públicas
• dificuldades de fiscalização dos projetos
• garantia de recursos
• propostas - preservação permanente de
algumas áreas - problemas de
vulnerabilidade socioambiental
• fortalecimento de instâncias participativas
(fazer frente às pressões sobre uso e
ocupação do solo)
• fortalecimento de parcerias com
Wadt, M.F. et al. Infraestrutura verde como via promissora para sustentabilidade e universidades e instituições de pesquisa
capacidade adaptativa na cidade de São Paulo. Under review.
Quais são as principais barreiras para o avanço da adaptação
climática nas cidades brasileiras?

• Análise de documentos

• Revisão de dados
climáticos

• Pesquisas de campo

• 40 entrevistas

• Workshops interativos

Di Giulio, G.M., Torres, R.R., Lapola, D.M. et al. Bridging the gap between will and action on climate
change adaptation in large cities in Brazil. Reg Environ Change, Nov. 2019
(https://doi.org/10.1007/s10113-019-01570-z)
Summary of project climate change in the six cities studied: São Paulo (SPO), Vitória
(VIT), Porto Alegre (POA), Curitiba (CUR), Natal (NAT) and Manaus (MAN)

Climate Cities Trend Confidence Level* Main Reference


Change
Event
Near SPO, VIT, increase high IPCC (2013)
Surface Air POA, CUR,
Temperature NAT, MAN
Annual CUR, POA increase low IPCC (2013)
Precipitation NAT, MAN decrease low IPCC (2013)
Consecutive SPO, VIT, increase low IPCC (2012)
Dry Days NAT, MAN
Very Wet CUR, POA increase medium Sillmann et al. (2013)
Days
Cold Nights SPO, VIT, decrease medium Sillmann et al. (2013)
and Days POA, CUR,
NAT, MAN
Hot Nights SPO, VIT, increase medium Sillmann et al. (2013)
and Days POA, CUR,
NAT, MAN
* Confidence level is based on the references mentioned in the table and on authors’ own evaluation

Di Giulio, G.M., Torres, R.R., Lapola, D.M. et al. Bridging the gap between will and action on climate
change adaptation in large cities in Brazil. Reg Environ Change, Nov. 2019
(https://doi.org/10.1007/s10113-019-01570-z)
Framework Adaptação Urbana – aplicado em seis capitais brasileiras

Di Giulio, G.M., Torres, R.R., Lapola, D.M. et al. Bridging the gap between will and action on climate
change adaptation in large cities in Brazil. Reg Environ Change, Nov. 2019
(https://doi.org/10.1007/s10113-019-01570-z)
Framework Assessing constraints for adaptation across
the municipal level
Dimensions that affect the Main elements SPO VIT POA CUR NAT MAN
ability of local government to
advance in adaptation
Dimension 1 - Cognitive factors risk perception + + + + + +

(to motivate climate adaptation) level of awareness + + + + + +


Dimension 2 - Resources staff +++ +++ ++ +++ ++ ++

(to advance the adaptation information +++ ++ ++ ++ +++ ++


agenda)
funding ++ ++ +++ ++ ++ ++
Dimension 3 - Organizational participation in climate networks + + + + + +
factors
climate regulatoryentraves:
Principais frameworks + (-) (-) (-) (-) +
(to deploy resources and
integrate adaptation as a central vontade
administrative política, comprometimento
routines/practices +++ +++ político,
+++ práticas
+++ +++ +++
theme) administrativas, descompasso entre a escala das questões
Dimension 4 - Political aspects urbanas
political will e a extensão da autoridade
+++ +++ do +++
governo+++ local,
+++ +++

(to implement climate initiatives) pressões do setor privado +++


level of commitment e fiscalização
+++ +++inadequada
+++ +++ +++
Dimension 5 - Local dynamics of mismatch between the scale of +++ +++ +++ +++ +++ +++
urban planning urban issues and the extent of local
Embora estes elementos não sejam barreiras específicas das
government authority
(to consolidate adaptation mudanças climáticas, sendo identificados em outras arenas
interventions) pressures from private +++
sector combinados +++ +++ +++ +++ +++
ambientais, quando eles produzem e pioram os
entraves
inspection para o avanço da+++ adaptação
+++ urbana
+++ em nível
+++ +++ local
+++
+ low impact; ++ moderate impact; +++ high impact; (-) no existence

Di Giulio, G.M., Torres, R.R., Lapola, D.M. et al. Bridging the gap between will and action on climate change
adaptation in large cities in Brazil. Reg Environ Change, Nov. 2019 (https://doi.org/10.1007/s10113-019-01570-z)
Mudanças climáticas e eventos extremos no estado de SP
Como o maior estado brasileiro, em termos de
Análise de dados secundários
população e de desenvolvimento econômico,
provenientes do preenchimento
avança na adaptação e mitigação às
de questionários sobre
mudanças do clima.
mudanças climáticas e
adaptação por agentes
Quais entraves dificultam o processo de
municipais – Estado de SP
adaptação das cidades paulistas?
PMVA - 2015

332 munícipios (51,5%)

Questionário:
 perfil do respondente
 informações sobre o município
 percepção dos eventos
climáticos (frequências e
impactos)
 ações de enfrentamento
 respostas às mudanças
climáticas
Di Giulio, G.M. et al. (2019). Eventos extremos, mudanças climáticas e  informações sobre o
adaptação no Estado de São Paulo. Ambiente & Sociedade fenômeno em si
(https://doi.org/10.1590/1809-4422asoc0277r1vu19l4ao )
Principais resultados
88% - fenômeno das mudanças climáticas está presente nos seus municípios
81,9% - é um problema a ser enfrentado nos seus municípios
 alto percentual de ausências de respostas para diversas perguntas
ocorrência de eventos climáticos / impactos em diferentes setores / escalas de
responsabilidade na sua prevenção
Ausências de respostas:
• limitações - organização, sistematização e compartilhamento de informações
• dificuldades dos técnicos em conhecer e mensurar os impactos
• dificuldades em estabelecer responsabilidades para lidar com os eventos

Ações adotadas nos municípios e compreendidas como prioritárias:


 educação ambiental
 preservação da mata ciliar e dos mananciais
 plantio de árvores

Ações associadas diretamente às questões climáticas:


 preservação da mata ciliar, plantio de árvores e preservação dos mananciais
 educação ambiental
 fontes renováveis de energia
Di Giulio, G.M. et al. (2019). Eventos extremos, mudanças climáticas e adaptação no Estado de São Paulo.
Ambiente & Sociedade (https://doi.org/10.1590/1809-4422asoc0277r1vu19l4ao )
 Dos 332 municípios, pouco mais de um terço – 113 (34%) – contam com algum
plano específico para prevenção e resposta às situações de risco e emergência

 expressiva porcentagem de municípios que apresentam Planos Diretores que não


contemplam ações de prevenção/resposta às mudanças climáticas e extremos

 15,1% dos municípios participam de alguma associação, entidade ou rede


relacionada às mudanças climáticas; mas 42,8% dos respondentes não
responderam à pergunta

 Escala de responsabilidade (Governos federal, estadual e municipal,


universidades, setor produtivo privado, individual e comunidade para prevenir
problemas associados a enchentes, deslizamentos e seca): governo, em seus
três níveis, sai na frente

Barreiras importantes para o processo adaptativo das cidades paulistas:


 dificuldades em atrelar gestão e política urbana com ações adaptativas
 ausência ou ineficiência quanto a planos específicos para prevenção e
respostas aos riscos climáticos
 participação limitada ou inexistente dos municípios em redes climáticas

Di Giulio, G.M. et al. (2019). Eventos extremos, mudanças climáticas e adaptação no Estado de São Paulo.
Ambiente & Sociedade (https://doi.org/10.1590/1809-4422asoc0277r1vu19l4ao )
Índice de Adaptação Urbana (Urban Adaptation Index - UAI)

 Objetivos
• sistematizar informações municipais sobre a existência (ou não) de políticas,
ações e intervenções, direta ou indiretamente relacionadas com a questão
climática
• avaliar o potencial atual das cidades para lidar com os efeitos e riscos das
mudanças climáticas
• estimular o debate e incentivar os governos locais a proporem políticas públicas
para criar efeitos sinérgicos entre adaptação e sustentabilidade urbana

 Proposição do UAI
revisão de literatura + disponibilidade de dados + contexto brasileiro
5 dimensões e 26 indicadores

 Aplicação do UAI
645 municípios paulistas
 Potencial uso pelos governos locais
Neder, E.A.; Di Giulio, G.M.; Torres, R.R. et al. Urban Adaptation Index: Assessing cities
readiness to deal with climate change. Under review
Dimensions Indicators
Housing  municipal housing plan
 municipal council
 municipal funding
Urban mobility  municipal mobility plan
 cycle lane
We used a rating scale (0 –
 bicycle racks
non-existence to 1 –
 intermunicipal public transport
indicating existence) in order
 intramunicipal public transport to score cities’ capacity to
Sustainable  organic agriculture
agriculture align public policies to urban-
 family farming
climate adaptation
 community gardens
 climate program for agriculture
 program for associativism
Environmental  municipal environmental funding
Management  sanitation
 environmental protection
 air pollution
 biodiversity protection
 climate adaptation and mitigation
 integrated solid waste management plan
 environmental services payment
Climate risk  law of land use and occupation related to flood prevention
responses  law of land use and occupation related to landslide prevention
Neder, E.A.; Di Giulio, G.M.; Torres, R.R.
 municipal plan risk reduction
et al. Urban Adaptation Index:
 geotechnical chart of suitability for urbanization Assessing cities readiness to deal with
climate change. Under review
 municipal civil defense
Como ampliar a usabilidade da informação climática nos processos decisórios?

Como facilitar a interação entre ciência e política nas questões climáticas?

 Complexidade do fenômeno, múltiplas causas e consequências

 Diferentes enquadramentos - estrategicamente empregados por diferentes atores


na tentativa de moldar a opinião pública e os processos decisórios

 Limitações do modelo de déficit de conhecimento

 Limitações do modelo unidirecional ou de transferência

 Relação entre ciência e política não é linear; inter-relação multifacetada de


coprodução
SERRAO-NEUMANN, .; DI GIULIO, G.; LOW CHOY, D. When salient science is not enough to
advance climate change adaptation: Lessons from Brazil and Australia. ENVIRONMENTAL
SCIENCE & POLICY, v. 109, p. 73-82, 2020. (https://doi.org/10.1016/j.envsci.2020.04.004)
 Potencialidades das redes de fronteiras (boundary organizations)
redes de interação entre produtores, usuários e mediadores da informação científica
• promover maior interação, relações de confiança e respeito
• facilitar comunicação
• fazer mediação entre os diferentes interesses para obter mútuos benefícios
• impulsionar esforços de coprodução de conhecimento

Coprodução: modo de interação entre


pesquisadores e interessados, visando Importância das interações
aprendizagem coletiva e produção de contínuas
conhecimentos (Meadow et al., 2015; Di Giulio et al., 2014;
Serrao-Neumann et a., 2013) Necessidade de mudanças
sistêmicas a longo prazo:
Transdisciplinaridade: interações mais
próximas entre cientistas e não cientistas a fim
• processo de produção de
de promover um processo de aprendizado
conhecimento
mútuo, conferindo legitimidade a outras
narrativas, representações e saberes para além
• cultura política
dos científicos, na elaboração de políticas e
implementação de ações (Steiner e Posch, 2006)

SERRAO-NEUMANN, .; DI GIULIO, G.; LOW CHOY, D. When salient science is not enough to
advance climate change adaptation: Lessons from Brazil and Australia. ENVIRONMENTAL
SCIENCE & POLICY, v. 109, p. 73-82, 2020. (https://doi.org/10.1016/j.envsci.2020.04.004)
Agradecimentos Orientação/Supervisão:

PPG Ambiente, Saúde e Sustentabilidade (USP)


Roger Rodrigues Torres (Unifei) Eduardo Neder
David Lapola (Unicamp) Natália Leite
Maria da Penha Vasconcellos (USP) Carolina Macedo Pinto
Ana Maria Bedran-Martins (USP) Rubens Filho
Maria Carmen Lemos (University of Michigan)
Wagner Costa Ribeiro (USP) PPG Saúde Global e Sustentabilidade (USP)
Humberto Ribeiro da Rocha (USP) Juliana Giaretta
Tiago Jacaúna (UFAM) Adriano Araujo
Marcelo Fetz (UFES) Maria Fernanda Wadt
Marcos Paulo Fuck (UFPR)
Zoraide Pessoa (UFRN) Iniciação Científica
Adriano Premebida (UFRGS) Inamara Viana (Pibic)
Diego Braga (bolsista CNPq – CiAdapta) Caroline Rodas (Pibic)
Veruska Nogueira (bolsista CNPq – CiAdapta)
Ana Carolina Penna (bolsista CNPq – CiAdapta) Pós-doutorandos - bolsistas Fapesp
Yohanna Juk (doutoranda - UFPR) Fabiano Araujo Moreira
Rylanneive Pontes (doutorando - UFRN) Michele Dalla Fontana
Marize Schons (doutoranda - UFRGS) Adalberto Back

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