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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE HUMANIDADES ARTES E CIÊNCIA PROFESSOR


MILTON SANTOS

LUCAS FIGUEIREDO LEAL ALMEIDA


MARIA JULIA BRUNELLI

THÉO TAVARES KLEIN

JUSTIÇA AMBIENTAL E SUAS DIFICULDADES

Trabalho de Conclusão de Disciplina apresentado ao


Instituto de Humanidades Artes e Ciência Professor
Milton Santos da Universidade Federal da Bahia.

Orientador: Prof. Ana Lúcia Lage

Salvador
2022
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo evidenciar o contexto atual acerca de pautas
socioambientais relevantes. Tal construção, parte tanto do uso de dados estatísticos sobre a
poluição e emissão de gases, quanto da recorrência a referências de trabalhos acadêmicos
pertinentes na temática. Através disso, buscamos reafirmar não apenas a necessidade de
abordar questões socioambientais, mas também como isso deve ocorrer visando de fato uma
melhora no atual cenário.

Palavras-chave: Justiça ambiental; desenvolvimento sustentável; emissões de carbono

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................4

2. A FINAL, QUEM É RESPONSÁVEL? ………………………………………………5

3. AS PROBLEMÁTICAS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL……………6

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................9

REFERÊNCIAS …………………………............................................................................10

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1. INTRODUÇÃO

O termo “justiça climática”, utilizado pela primeira vez em 1999 por Kenny Bruno,
Joshua Karliner e China Brotsky no documento “Greenhouse Gangsters vs. Climate Justice”,
nomeia o movimento sociopolítico que tem como fito explicitar os recortes de raça, de gênero
e de classe social existentes nos impactos das mudanças climáticas no mundo, e lutar pela
efetivação de políticas públicas que assegurem a integridade das populações mais afetadas por
essas mudanças. Rammê (2013, p.2) descreve o conceito como um “interesse pelo meio
ambiente como fonte de condição para subsistência humana”, que surge da demanda por
justiça social. Diferentemente de movimentos ativistas ambientais liderados por iniciativas
independentes, a justiça climática é amplamente debatida entre os principais líderes mundiais
e é abordada em diversas conferências climáticas e tratados internacionais, como o Acordo de
Paris de 2015, no qual 195 países signatários comprometeram-se em reduzir a emissão de
gases intensificadores do efeito estufa.
A justiça climática atribui às mudanças climáticas consequências para além da ordem
ambiental, mas também na esfera social, visto a desproporcionalidade dos impactos dessas
mudanças perante os indivíduos, em que algumas populações são majoritariamente mais
afetadas, quais são: a população negra, povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e
comunidades de pesca. O fenômeno que compreende-se como “injustiça ambiental” é
direcionado para compreender a dimensão dos impactos referentes às mudanças climáticas no
cotidiano das populações supramencionadas, que são mais injustiçadas com esses eventos e
necessitadas de políticas públicas afirmativas para atenuar esses efeitos. A existência de um
sistema capitalista e neoliberalista rege as relações econômicas globais, sustenta essa
desigualdade, de acordo com Soares (2010). A década de 1970, marcada por crises na esfera
econômica, intensificou a expansão desse sistema, o que, consequentemente, intensificou a
partir de então, movimentos por parte de grupos atuantes em prol da causa ambiental, que
passaram a denunciar a disparidade existente entre os impactos na esfera política e social. Os
países desenvolvidos, que mais contribuíam, e que permanecem sendo os que mais
contribuem com o aumento da destruição de ecossistemas, são os que menos sofrem com
essas mudanças, ao passo de que os países subdesenvolvidos, que têm pouca participação nas
mudanças ambientais e climáticas, são os mais afetados econômica e socialmente pelas ações
dos primeiros.
Desse modo, a ecologia política origina-se para atribuir dimensões políticas nas
dinâmicas entre a sociedade e o meio ambiente, de modo a criticar o sistema capitalista de
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globalização e mercantilização, atrelado à exploração dos recursos naturais. Dentro do
contexto da Crise do Petróleo na década de 1970, essa abordagem desdobrou-se em duas
vertentes, a Ecologia Política Normativa e a Ecologia Política Analítica. A primeira, de
acordo com LIPIETZ (2003) relaciona-se com o materialismo histórico e dialético de Karl
Marx, com o qual o autor compara as aspirações dos Verdes e dos marxistas e seus
mecanismos de criticidade à desordem da relação entre os indivíduos e a natureza para
denunciar sua insustentabilidade. A segunda, preocupa-se em analisar os conflitos oriundos
das mudanças climáticas, que atingem esferas ambientais, econômicas e sociais.
Escobar (2005) propõe um ambiente político que se expressa por meio de movimentos
sociais que defendem identidades, lugares e regiões. A construção desse pensamento é
embasada no confronto de forças nacionais e transnacionais, nos discursos sobre a extração
de minérios e madeiras e na promoção de agroindústrias, bem como nos discursos de
proteção, desintegração e recombinação do meio ambiente para identidades locais.
A relação entre a justiça climática e a ecologia política, é, portanto, essencial para a
compreensão do atravessamento etnográfico que perpassa as dinâmicas entre indivíduo e meio
ambiente, bem como na diplomacia internacional no que tange à participação das nações para
um maior comprometimento para com essas questões.

2. A FINAL, QUEM É RESPONSÁVEL?

Não é de surpreender então que a parcela mais abonada da população acaba por ser
responsável pela maior parte das emissões de carbono, também é a parcela mais preparada
para lidar com as consequências climáticas que ocorrem em decorrência de suas ações.
Segundo um estudo feito pelo GCP (Global Carbon Project), apenas os 23 países mais ricos
são responsáveis por 50% de todas as emissões de carbono desde 1850, enquanto a grande
maioria de todos os outros países fica responsável pela outra metade.
Os Estados Unidos, a União Europeia e a China, não à toa os maiores blocos
econômicos do mundo, são os maiores responsáveis, com 24,6%, 21,8% e 13,9%
respectivamente. O Brasil fica responsável por apenas 1% de todas as emissões, sendo essas
em sua grande maioria por consequência do desmatamento, que é um problema relativamente
barato de se resolver, ainda mais quando se compara com as dificuldades de outras nações de
diminuírem suas emissões quando elas tem que mudar completamente as suas fontes de
energia e regular os níveis de eficiência de seus produtos.

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Em 2021, o GCP elencou os 15 países que mais emitiram gigatoneladas de carbono e
equivalentes ao longo do ano (Gráfico 1) e a China lidera a lista com folga, seguida pelos
Estados Unidos, Índia, Rússia e Japão. O Brasil se encontra na décima segunda posição,
empatado junto com Canadá e África do Sul com 0,5 gigatoneladas emitidas.

Gráfico 1

Fonte: Global Carbon Project

Apesar do problema das emissões de carbono serem de conhecimento geral e


promessas já terem sido feitas assim como metas a serem alcançadas, pouco se fez para
promover uma mudança real e imediata. As metas definidas pelo Brasil na cúpula dos líderes,
realizada em abril de 2021, foi de alcançar a neutralidade nas emissões até 2050, a mesma dos
Estados Unidos e da União Europeia, a China pretende zerar suas emissões até 2060. Mas
tudo indica que as emissões vão aumentar muito antes de começarem a diminuir, espera-se
que as emissões chinesas vão aumentar 30% antes do fim da década, em menor escala temos
Índia e Indonésia com previsões semelhantes. Países esses que hoje praticam as tais “práticas
ruins” citadas por Chang (2004).

3. AS PROBLEMÁTICAS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Atualmente, talvez não haja debate que ocorra sem em algum momento passar pelas
pautas socioambientais. Toda preocupação, como já afirmado, é sem dúvidas, merecida, uma
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vez que a importância e iminência da necessidade de abordar tais questões nunca esteve tão
explícita. Por conta disso, recentemente muitas medidas foram apresentadas, seja por agendas
das nações, organizações mundiais ou até mesmo grupos de indivíduos e, se há outro fator tão
evidente quanto as ações tomadas, são as problemáticas presentes nesse meio.
Para compreender esse fenômeno, é preciso tratar acerca do caráter quase imperialista
presente nas discussões sobre desenvolvimento sustentável quando pautadas através da visão
dos países desenvolvidos. Além disso, não é possível deixar de reconhecer como as mudanças
climáticas podem, num futuro próximo, afetar desproporcionalmente países pobres, ou em
desenvolvimento.
Nesse sentido, buscando afirmar essa realidade, é possível encontrar novamente na
produção do economista sul coreano Ha-Joon Chang o motivo e a forma de execução da
hipocrisia dos países ricos perpetuada em todas suas ações, desde o campo econômico às
questões socioambientais. Para tanto, em “Chutando a Escada” (2004), Chang argumenta
sobre como esses países ricos conseguiram acumular riqueza e influência no plano
internacional graças à práticas agressivas, protecionismo e coerção de outras nações, e
atualmente, intitulam essas medidas, como “práticas ruins”, afirmando que aqueles países que
buscam o desenvolvimento não devem adotá-las. Aproximando a realidade do Brasil, foram
diversas as ações tomadas por países desenvolvidos contra o governo brasileiro diante o
primeiro resquício de adotar uma suposta “prática ruim”. Nesse contexto, destacam-se o
contencioso das patentes farmacêuticas em 1987, a pressão sofrida para a fomentação de um
“livre mercado” e, mais recentemente, a dificuldade nas negociações bilaterais, supostamente
motivadas pela falha em cumprir com medidas sustentáveis. Contudo, fazendo uma análise
histórica dos países ricos, todos, sem exclusão, fizeram uso de tais “práticas ruins”,
direcionando para o questionamento central de Chang “Cabe indagar até que ponto os países
desenvolvidos não estão procurando esconder o segredo de seu sucesso” (2004).
A contradição intrínseca nessa ótica capitalista sobre desenvolvimento é óbvia, e não
é diferente quando esses mesmos países ricos propõem-se a tratar do desenvolvimento
“sustentável”. Principalmente, quando se considera que idealmente, a sustentabilidade não
deve ser apenas ligada ao meio ambiente, mas também necessita estar profundamente pautada
na promoção da melhoria da qualidade de vida. Apesar disso, quando agem em prol do seu
próprio conceito de desenvolvimento sustentável, os países ricos apenas contribuem para
formação de suas “bolhas de sustentabilidade” particulares, ignorando todo impacto histórico
causado pelos mesmos em todo planeta. Seja no Green New Deal estadunidense ou no

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suposto compromisso da Alemanha com a sustentabilidade, não há em momento algum busca
pela melhoria concreta das condições socioambientais inegavelmente causadas por esses
mesmos países graças à extensa adoção de práticas agressivas. Nesse sentido, torna-se mais
uma vez evidente, que o objetivo é apenas blindar-se do resto dos problemas e reduzir ao
máximo qualquer chance de interação com eles, como provado na triste fala de Joseph Borell,
líder de política externa na União Europeia, “A Europa é um jardim, o resto do mundo é uma
selva, e a selva pode invadir o jardim” (BORELL, 2022).
Partindo da noção desse problema, ressaltando a necessidade de abordar de fato
questões socioambientais parece gritante o quanto a agenda de desenvolvimento sustentável
aliada ao capitalismo é falha. A acumulação de riqueza não é sustentável, o incentivo ao
consumo não é sustentável, o liberalismo não é sustentável, o capitalismo jamais será
sustentável. Contudo, todas agendas apresentadas seguem incapazes de desprenderem-se
desse modelo, estando aí presente o aspecto imperialista da questão. Sempre ao aprofundar
em qualquer discussão, é necessário relembrar todo trabalho voltado à funcionalidade do
sistema atual. Jamais deve-se esquecer que para garantir sua existência, o capitalismo aplicou
o brutal e agressivo embargo econômico à Cuba, suas raízes cometeram genocidio ao redor do
mundo frente qualquer mísera ameaça aos seus valores. Historicamente, nunca houveram
limites sob o que pode ser feito para manutenção do capitalismo, e uma vez que se reforça o
quanto qualquer ideal de aliança entre sustentabilidade e capitalismo são impossíveis, não é
difícil compreender as problemáticas do suposto desenvolvimento sustentável, sendo preciso
tratá-las como realmente são, outra parte das extensivas medidas capitalistas buscando à
própria manutenção.
Ademais, segundo apontamento realizado pela OXFAM, confederação de
organizações de caridade britânicas com enfoque no estudo sobre alívio da pobreza, quando
consideram-se emissões individuais de carbono, 50% de todas essas emissões vem dos
indivíduos que figuram os 10% mais ricos. Além disso, apesar de serem os maiores
contribuidores para esta situação, são os que possuem maior facilidade para lidar com os
efeitos causados pela alta emissão de carbono. Nesse sentido, o maior impacto sofrido por
conta das mudanças climáticas não é o único motivo de preocupação, quando somado ao fato
que a parcela pobre da população mundial é historicamente negligenciada e invisibilizada
(Gore, 2015). Ainda assim, como já pautado, todas as propostas e vertentes do suposto
desenvolvimento sustentável ignoram essa triste realidade.

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Como muito bem colocado pelo Presidente da Colômbia Gustavo Petro (2022) na
Assembleia Geral da ONU, é preciso tratar sobre os verdadeiros venenos que são promovidos
pelos países ricos, o carvão e o petróleo. Consequentemente, terá de se tratar sobre redução do
consumo, a redução das emissões individuais dos mais ricos, ultimamente, o fator central que
há de receber maior esforço na busca pelas melhorias socioambientais, deverá ser a extinção
do capitalismo.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, faz-se necessário mais uma vez reiterar a dimensão de todo contexto envolto
a sustentabilidade atualmente. Como tratado, qualquer noção de associar o tema
exclusivamente aos fatores ambientais é extremamente falho, hoje a verdadeira
sustentabilidade deve ser pautada através de produções, mudanças e melhorias
socioambientais. Nesse sentido, torna-se explícita novamente a responsabilidade para que tais
mudanças tenham partida. Não é mais admissível que os países ricos permaneçam como
isentos frente ao cenário causado deliberadamente por eles mesmos, ainda assim, entende-se
que quando tal processo ocorrer, este precisa ser pensado com finalidade de atender à
população mais vulnerável.

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REFERÊNCIAS

BORELL, Joseph. EU Ambassadors conference 10/10/2022


CHANG, Ha-Joon. Chutando a escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva
histórica. Unesp, 2004.
GCP, The Global Carbon Project, 2021, página inicial. Disponível em:
https://www.globalcarbonproject.org/index.htm
GORE, Timothy. Extreme Carbon Inequality: Why the Paris climate deal must put the
poorest, lowest emitting and most vulnerable people first. 2015.
LEFF, Enrique. POWER-KNOWLEDGE RELATIONS IN THE FIELD OF POLITICAL
ECOLOGY1. Ambiente & Sociedade, v. 20, p. 225-256, 2017. Acesso em: 29/11/2022

PETRO, Gustavo. Assembleia Geral das Nações Unidas 20/09/2022


PODER 360. Cobrado por metas climáticas, Brasil só responde por 3% das emissões de
CO2. 2021 Disponível em: https: //www.poder360.
.br/brasil/cobrado-por-metas-climaticas-brasil-so-responde-por-3-das-emissoes-de-co2/
Acesso em: 25/11/2022
RAMMÊ, Rogério Santos. A Justiça Ambiental e sua contribuição para uma abordagem
ecológica dos Direitos Humanos. Revista de Direito Ambiental, v. 69, p. 85, 2013. Acesso
em: 29/11/2022
SCHULZ, Karsten A. Decolonizing political ecology: ontology, technology
and'critical'enchantment. Journal of Political Ecology, v. 24, n. 1, p. 125-143, 2017. Acesso
em: 29/11/2022
VIGEVANI, Tullo; Gabriel Cepaluni. A política externa brasileira: a busca da autonomia, de
Sarney a Lula. SciELO-Editora UNESP, 2018.

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