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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DR.

JORGE AUGUSTO CORREIA


Direcção de Serviços da Região do Algarve
ES/3EB Dr. Jorge Augusto Correia; EB 2,3 D. Paio Peres Correia; EB1 nº2 Tavira; EB1/JI Conceição; EB1
Cabanas

CURSO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS (2014/2015)


CLC- Cultura, Língua e Comunicação

Formando(a)-Olga Ilyina Nº 21 Data 13/02/2015

Formadora: Lígia M. S. F. B. Cerqueira

Área de Competência: Cultura, Língua e Comunicação


UFCD 4 – Gestão e Economia
RA 3: Contexto institucional. Tema: Sistemas Monetários e Financeiros.
Competências: Agir de acordo com a compreensão do funcionamento nos sistemas monetário e
financeiro.

Texto

O que é a moeda? A Moeda é todo o meio que serve para facilitar as trocas (…) que é a base
da economia. À primeira vista, a troca direta é o sistema mais simples para realizar
transacções: se uma pessoa tem algo que não quer, deve trocá-lo por aquilo que quer. Na
prática, porém, levantam-se grandes dificuldades, pois para que uma troca se realize é
preciso que quem tem algo para trocar encontre alguém que quer aquilo que este tem e
também tenha aquilo que este quer. Esta «dupla coincidência de vontades» é difícil: um
barbeiro que goste de couves tem (todos os dias) de encontrar um hortelão de cabelo
comprido. Há formas de aliviar este problema: uma delas é não fazer uma, mas muitas trocas.
O barbeiro pode cortar o cabelo ao carpinteiro; trocar a cadeira que recebeu com o
sapateiro, para conseguir as botas que o hortelão quer em troca das couves. Mas será que o
preço que pagou pelas couves é justo? E o tempo perdido (uma vez que tempo é dinheiro…)?
É claro que este sistema se pode complicar até ao infinito. O que sociedades faziam, antes de
existir moeda, era criar locais onde todos aqueles que tinham coisas para trocar se
encontravam, transaccionavam e definiam preços. Há formas de aliviar este problema: uma
delas é não fazer uma, mas muitas trocas. O barbeiro pode cortar o cabelo ao carpinteiro;
trocar a cadeira que recebeu com o sapateiro, para conseguir as botas que o hortelão quer
em troca das couves. Mas será que o preço que pagou pelas couves é justo? E o tempo
perdido (uma vez que tempo é dinheiro…)? É claro que este sistema se pode complicar até ao
infinito. O que sociedades faziam, antes de existir moeda, era criar locais onde todos aqueles
que tinham coisas para trocar se encontravam, transaccionavam e definiam preços.
intermediário na troca: a moeda. Vamos supor que esse bem é o pão, uma coisa que toda a
gente quer e precisa. Assim, o barbeiro receberia dos clientes pão, em vez dos produtos que
eles faziam, e depois, com esse pão, ia ter com as pessoas que produziam o que ele queria, por
exemplo, o hortelão, e trocava o pão pelas couves. Claro que há alguns inconvenientes: as
pessoas agora, além dos bens que produzem e consomem, têm de ter pão guardado para fazer
trocas e, além disso, é preciso sempre fazer duas trocas em vez de uma, direta. Algumas

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sociedades usavam bens que cumpriam alguma função social ou religiosa: grandes pedras
esculpidas, adornos de penas, etc. Mas o principal problema era a aceitabilidade, pois a ideia
era usar um bem que fosse considerado útil por todos, como garantia de que era sempre
aceite. Assim, utilizou-se como moeda: vacas, vinho, cerveja, cigarros. O problema de usar
um bem muito útil como moeda estava em que, exatamente porque esse bem era útil, tinha
outros usos para além das trocas. Por isso, às vezes, havia falta de moeda para as trocas
porque ele tinha sido usado. Por exemplo, o vinho ia-se gastando ao longo do ano; por esse
motivo, antes das vindimas, o pouco vinho que havia não chegava para beber, quanto mais
para trocar. Aqui aparecia o primeiro grande problema da moeda: para garantir que o bem
fosse aceite por todos, era preciso que o bem fosse útil e até muito útil.
Se fosse possível encontrar um bem que as pessoas desejassem, mas que quase não servisse
para mais nada a não ser para fazer trocas, o problema ficava resolvido. (…) Ficou resolvido
com a existência de um tipo especial de bens, a que podemos chamar «bens decorativos ou
de luxo», que pouco consumo tinham, mas que eram aceites por todos. As conchas, pérolas
e, sobretudo, os chamados «metais preciosos» podiam ser usados como moeda, por serem
aceites por todos, sem medo de que o seu montante total fosse alterado frequentemente de
forma significativa pelo consumo não monetário.
Mas nem todo o bem pode preencher correctamente as funções de moeda. Vejamos quais as
características mais importantes que um bem deve ter para ser uma boa moeda: 1)
Divisibilidade - importante por causa dos trocos;
2) Durabilidade - a degradação do bem altera-lhe o valor e dificulta o seu uso como padrão das
trocas;
3) Aceitabilidade geral - se não for reconhecida por todos, não cumpre a função de meio de
troca;
4) Ter reduzida procura não monetária - para evitar flutuações no montante disponível de
moeda;
5) Manter o valor - se o valor da moeda varia (o vinho antigo vale mais, mas a cerveja antiga
vale menos que a nova), torna-se difícil o seu uso;
6) Ser prática de movimentar - um bem muito pesado ou volumoso torna-se difícil de usar nas
trocas;
7) Dificilmente falsificável.
Como se disse, a maioria das sociedades a certa altura perceberam que os metais preciosos
eram boa moeda: divisíveis, duradouros, a procura não monetária era pequena (quase só
para jóias), mantêm o valor e, apesar de pesadas, valiam muito por grama, pelo que podia
levar-se muito valor em pouco peso, e era fácil distinguir o ouro verdadeiro do falso. Por essa
razão, durante muitos séculos usou-se a moeda pesada para transacções: em cada troca, em
cada loja, havia uma balança para pesar o ouro e a prata da transação.
Mas o método era pouco prático, devido ao esforço de pesagem, e aos erros que gerava. Por
isso, a seguir passou-se para a moeda contada: discos de ouro, com peso predeterminado
(uma libra, uma onça, um talento), eram mais fáceis de usar, pois bastava contar os discos
para ter o peso desejado.
Para evitar que se estivesse, dia a dia, a confirmar o peso de cada peça, passava a ser
necessário que uma autoridade se responsabilizasse pelo peso do disco ou que emitisse a
moeda: o rei, o nobre ou a autoridade local punham o seu selo no disco para garantir a sua
validade.
Desta forma, rapidamente se passou para a moeda cunhada, que tinha já a forma atual,
normalmente com a cara e o escudo do imperador, rei, etc. As moedas tinham o nome do
peso correspondente (libra, peso), o nome do senhor que as emitia (imperador romano, o
«luís de ouro») ou do desenho que ostentavam (escudo).
Nos períodos em que a paz permitia a realização dos contactos internacionais, sobretudo no
fim da Idade Média, as transacções entre regiões alargavam-se. Comerciantes de muitos sítios
encontravam-se nas grandes feiras que, em algumas cidades, permitiam a troca de produtos

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de muitas regiões. Para resolver esta questão apareceu a profissão de cambista. Os
cambistas eram pessoas que tinham como função comparar e trocar as moedas de uma zona
por outra. Esta profissão obrigava, naturalmente, a transportar grandes quantidades de
metais preciosos. Normalmente esses cambistas, que tinham também o ofício de ourives,
faziam outro negócio: alugavam os seus cofres para guardar em depósito a moeda dos
clientes. Cada depositante tinha, como prova e contrapartida do seu depósito, um recibo.
Esse recibo representava o ouro depositado. Quando queria usar o ouro para uma transacção,
em vez de ir levantar o ouro para o pagamento, podia entregar diretamente o recibo,
endossando-o. O papel não era ouro, mas valia ouro, porque representava o depósito. Esse
recibo representava o ouro depositado. E valia só porque tinha a assinatura do cambista, que
assegurava o levantamento. Quando estes recibos começaram a circular, apareceu a moeda
de papel. Nasciam assim os bancos. O cambista lançava-se no negócio do crédito, mas no
crédito com dinheiro que não era seu... Este negócio era muito rentável e permitia, em vez de
cobrar uma comissão aos depositantes pelo trabalho de guardar o dinheiro, pagar-lhes um
juro.
Este negócio era o negócio do crédito, e, ao fazer isto, os ourives transformaram-se em
bancos. A maneira de emprestar era emitir mais recibos do que ouro havia. Era uma forma
milagrosa de fazer dinheiro: o banqueiro podia comprar o que quisesse, bastando para tal
assinar um recibo sobre o ouro dos seus depositantes. Mas em breve se descobriu que havia
um risco: é que se as pessoas vissem muitos recibos em circulação, podiam desconfiar e ir
levantar o seu ouro.
E quando o Estado entrou no negócio, uma nova característica foi adquirida: era possível
lançar uma lei que obrigasse as pessoas a aceitar e a transaccionar em moeda de papel, sem
a poderem trocar por ouro: tornar o papel inconvertível em ouro. Primeiro esta medida era
tomada só em altura de crise, mas em breve se generalizou: não era preciso usar o ouro ou a
prata se o papel servia igualmente. A moeda passou a ser moeda fiduciária: passava-se da
moeda de papel para o papel-moeda.
Agora, o Estado podia escrever num papel que ele valia €1000 e obrigar-nos a aceitá-lo,
mesmo que não houvesse nenhum ouro representado por esse papel que «suportasse a
emissão». Isto tornou a moeda independente do ouro. A partir de então, efetivamente, o
papel passou a ser moeda, enquanto antes ele apenas representava moeda.
Assim se passou da «moeda-mercadoria» para o «papel-moeda». (…) Mas continuemos a
nossa história. A intervenção do Estado, monopolizando a emissão de moeda de papel,
impediu os bancos de participarem nesse negócio tão rentável. Mas os bancos não se
renderam e, resolveram o seu problema mantendo as suas operações(…) Os bancos com esta
operação convidaram-nos a depositar agora, não o nosso ouro, mas as nossas notas e
moedas estatais no banco. Eles guardam-nos os nossos valores, enquanto nós fazemos
transações, ordenando ao banco que movimente a nossa conta, assinando nós num cheque. O
negócio é o mesmo, mas agora a moeda que o banco emite é o cheque, chamado moeda
escritural. Continua a ser possível ao banco emprestar o dinheiro (notas e moedas) que fica
depositado nos seus cofres, concedendo crédito. A forma de operar esse crédito quase que se
manteve: o banco abre uma conta bancária em nome de quem lhe pede crédito, ou seja, em
nome de quem não depositou lá dinheiro, e permite-lhe emitir cheques sobre essa conta;
quando chega ao fim do prazo do empréstimo, o devedor devolve o dinheiro com juros.
Assim, os bancos continuam a poder ganhar dinheiro e ainda a pagar juros aos depositantes.
(…)Entretanto, apareceram outros tipos de dinheiro: a moeda de plástico. Os cartões de
crédito, gerais ou particulares, com os quais se compra agora e paga depois, ou paga agora e
compra depois (como no caso do passe da Carris ou as senhas de gasolina). Finalmente, há novo
tipo de moeda que está em grande desenvolvimento: a moeda electrónica. Cada vez mais
transacções são feitas através de terminais de computador, no qual a conta bancária é
movimentada diretamente. Quando se usa um cartão para pagar a conta do supermercado, do
hotel, da livraria ou da agência de viagens, não há qualquer movimentação de dinheiro, mas

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apenas uma movimentação na conta bancária. Trata-se de uma situação em que a
transferência financeira é feita no ponto de venda (eft-pos). Deste modo, o registo electrónico
substitui qualquer moeda. (…)
NEVES, João César das, Introdução à Economia, Lisboa, Verbo, 1996, pp. 249 a 255 - adaptado)

1. Descreva os problemas inerentes à troca directa.


2. Explique sumariamente o percurso da “troca direta” até à “moeda electrónica”.
3. Por que razão, o Estado interveio a partir de certa altura, em todo este
processo monetário? Concorda? Justifique

Cultura, Língua e Comunicação


Área de Competência: Cultura, Língua e Comunicação
UFCD 4 – Gestão e Economia
RA 4: Contexto macro-estrutural. Tema: Usos e Gestão do Tempo.
Competências: Identificar os impactos de evoluções técnicas na gestão do tempo, reconhecendo ainda
os seus efeitos nos modos de processar e transmitir informação.

A ) A febre da pressa: uma epidemia que alastra.


Conforme Larry Dossey, M.D., documentou pela primeira vez no seu livro Space, Time, and
Medicine, a febre da pressa é um fenómeno generalizado nos Estados Unidos. A febre da
pressa resulta do juízo falso de que conseguimos fazer tudo, se o fizermos mais depressa.
Este fenómeno não pára de crescer. Uma olhadela ao relógio ou à nossa agenda superlotada é
o suficiente para desencadear um ataque de pânico. Tal pode estar na origem de doenças
relacionadas com o stresse, como a tensão nervosa, as doenças cardíacas e úlceras. E torna-se
particularmente trágico quando não nos conseguimos libertar do stresse, mesmo depois de
sair do escritório, ou quando os serões e os fins-de-semana nos parecem insuficientes para
relaxarmos e gozarmos a vida em pleno. «Quando mais corro, mais fico para trás!». Ao fim do
dia está exausto, sem ter conseguido pegar numa única tarefa da lista de coisas a fazer - pelo
contrário ela ainda está maior! O seu caso não é único. Há muitas pessoas que padecem desta
tentativa de funcionar a uma velocidade ainda maior. A pressão exercida para a obtenção de
mais e melhores resultados, com equipas reduzidas e orçamentos diminutos, aumenta de dia
para dia.
Contudo, a febre da pressa não é apenas a sensação perturbadora e alucinante de andar
sempre a correr, a par da incapacidade de enfrentar as tarefas diárias. Abrange, ainda, a perda
de contacto com o seu ritmo pessoal próprio – um biorritmo definido pelo seu estado físico,
mental e emocional – e que é de extrema importância para o seu bem-estar e para uma vida
saudável. Qual é a desvantagem de andar a alta velocidade - tanto a nível profissional, como
pessoal? Não é fantástico ser o primeiro da fila? Nas Olimpíadas, por exemplo, o único atleta a
receber uma medalha de ouro é o que chega em primeiro lugar. O problema não está na
velocidade em si, mas quando a velocidade se transforma no único factor decisivo. Quando
somos afetados pela febre da pressa, corremos em todos os sentidos, sem qualquer ideia
concreta da direção certa a seguir. Conduzimos as reuniões de afogadilho, para as concluir em
tempo útil, acabando por descobrir que omitimos o ponto mais importante da agenda – se ao
menos lhe tivéssemos dedicado mais tempo! Ou telefonamos ao ente querido, fazendo outras

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três coisas ao mesmo tempo, e não lhe damos a devida atenção – fazendo-a sentir-se que
menos importante para nós.
Há pessoas que correm durante a vida inteira - pressionadas pela necessidade de serem a
esposa e a mãe perfeita, o executivo mais jovem a chegar ao topo ou a ganhar um milhão mais
depressa que qualquer outra pessoa - apenas para descobrir que nunca tiveram realmente
tempo para a família e amigos, ou que nunca conseguiram tirar partido dos momentos
magníficos que tornam a vida algo que merece ser vivido. A maior parte das vezes, só se
apercebem disso quando já é tarde demais ... Aproveite a oportunidade para mudar a sua vida
enquanto é tempo!
Mas como é que vamos mudar, depois de nos pressionarem a vida inteira a andar mais
depressa? Primeiro, tenha a coragem de reconhecer os sintomas de febre da pressa. E, a
seguir, comece a trabalhar na sua cura. Adquira um novo equilíbrio na sua vida, adoptando um
conjunto de velocidades diferentes, dando atenção à sua saúde e dedicando tempo a melhorar
o seu desempenho e o seu bem-estar a longo prazo. Faça um esforço permanente para incutir
uma harmonia inovadora no seio dos seus hábitos diários. Lembre-se: o prazer e a
descontracção não são algo de extravagante, a que apenas se deve dedicar quando terminar o
seu trabalho! Quem aprender a viver e a trabalhar com prazer, está em posição privilegiada
para tirar o melhor partido de todas as coisas. Os estudos sobre a saúde e a longevidade
demonstram que as pessoas que mantêm diariamente o equilíbrio entre o trabalho e o prazer,
não só vivem mais tempo, como têm também uma vida mais feliz e produtiva em todos os
aspectos. É importante compensar a necessidade de velocidade e eficiência com atividades
gratificantes e agradáveis do ponto de vista emocional. Por vezes, isso é tão simples como
manter objetivos a longo prazo, por exemplo, proporcionando uma licenciatura aos nossos
filhos, contribuindo para uma empresa amiga do ambiente, ou colaborando num clube que
beneficia a sociedade com os seus serviços. Estabelecer uma meta/objetivos precisos para a
nossa vida, abrandar para construir uma base de confiança, apreciar as diferenças ou
estabelecer sinergias com pessoas de capacidades complementares às nossas, aprender a
respeitar e a apreciar as nossas necessidades interiores e específicas, irão trazer-nos grandes
benefícios a nível do bem-estar e satisfação pessoais. E dar-nos-ão ainda mais energia para
concluir as tarefas diárias.
B) Da gestão do tempo à gestão da vida
Não podes dar mais dias à tua vida, mas podes dar mais vida aos teus dias.» Anónimo
Na verdade, a gestão do tempo é um paradoxo. Não temos capacidade para gerir o tempo,
mas apenas para nos gerirmos a nós próprios. Por outras palavras, a gestão do tempo não é
mais do que uma auto-gestão. O tempo corre de forma imparável, inevitável e imutável. Para
compreender isto, sente-se em silêncio durante uns momentos. O que aconteceu? O seu
'relógio de vida' aproximou-se mais uns escassos segundos da altura em que vai parar - para
sempre! Seja qual for o seu pensamento ou sentimentos em relação à questão, a verdade é
que é impossível atrasar este relógio. É essencial organizar o seu tempo de forma proactiva
para satisfazer os anseios - ou, pelo menos, é possível tentar! Os produtores de vinho alemães
adotaram o seguinte slogan publicitário: «A vida é demasiado curta para a passar a beber
vinho de má qualidade.» Por isso, lembre-se: Hoje é o primeiro dia do resto da sua nova vida -
aquela que começa com uma nova tomada de consciência do tempo.
Há cada vez mais pessoas a tentar dar um sentido à sua existência, centrando-se nas
capacidades de gestão do tempo e da vida. Nesse sentido, a gestão do tempo corresponde
hoje a muito mais do que hierarquizar as mensagens que recebem na caixa de correio
electrónico.
A gestão do tempo é a autogestão, e isso significa moldar a sua vida de forma dinâmica. Por
outras palavras, a verdadeira gestão do tempo é a liderança da vida - Life Leadership®.
Quer sejamos nós a determinar a utilização do nosso tempo, quer deleguemos esta tarefa em
alguém, o facto é que cabe a cada indivíduo a responsabilidade por tal decisão. É evidente que
nem sempre conseguimos influir no meio envolvente conforme gostaríamos, mas dispomos de

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algum grau de influência a cada momento. Controlar o tempo significa utilizar o tempo de que
dispõe e moldar a sua vida conforme o deseja - e, claro está, de acordo com as circunstâncias
da altura. Mas lembre-se: dispõe da possibilidade de alterar essas circunstâncias! Num mundo
acelerado, colocar em prática a gestão do tempo significa concentrar-se mais no ritmo que na
velocidade, enquanto se foca em si próprio e no que é realmente importante - tanto no seu
trabalho, como na sua casa. Significa equilibrar a sua vida profissional com a sua vida pessoal.
Em consequência, a gestão do tempo transforma-se de modo automático em liderança da
vida.
Do 'tempo é dinheiro' para o 'tempo é vida'
«Tempo é dinheiro»: este ditado é um dos mais utilizados. Façamos agora contrastar a atitude
materialista e centrada na quantidade, expressa anteriormente, com uma outra atitude
centrada na qualidade: o tempo é vida. Esta perspectiva defende que, sendo insubstituível, o
tempo é mais valioso que o dinheiro - é a própria vida.
Podemos sempre voltar a ter o dinheiro que perdermos não o tempo. Se alguém lhe quiser
roubar € 200, vai fazer tudo o que puder e recorrer a todas as suas energias para a dissuadir
No entanto, se alguém lhe tirar duas horas ao seu dia, é prova que lhe dê licença para isso. Tal
como Napoleão disse um dia: «Os únicos ladrões a quem a sociedade perdoa são os que nos
roubam o tempo».
Um problema central na gestão do tempo é dispersarmo-nos com frequência em urgências do
trabalho diário, esquecendo as verdadeiras prioridades e as metas de vida. Sofremos pressões
constantes de todos os lados para resolver os problemas pendentes, mas o que é de facto
importante vai sendo protelado para outras datas, na altura em que finalmente «tivermos
tempo» - mas tempo disponível é algo que nunca teremos em abundância. A gestão do tempo
do dia-a-dia tenta combater os sintomas, mas não vai à raiz do problema. Os planificadores
semanais, as agendas e algumas aplicações informáticas ajudam-nos a orientar os nossos dias
de trabalho. Sem dúvida que as listas de coisas a fazer, os mapas de planificação elaborados
com mestria e as ferramentas de trabalho para os projetos são de toda a utilidade - pois graças
a eles programamos várias fases de cada tarefa diária, estabelecemos as prioridades com
precisão e adotamos a melhor atitude para evitar distrações que nos tirem tempo. Aplicada
desta forma, a gestão do tempo dá-nos a conquistar progressos sustentáveis na nossa
eficiência, já que tudo o que fizermos será feito com correção. Contudo, se nos dedicarmos às
ações erradas, continuamos a ser pressionados pelo tempo - embora, à medida que isso
acontece, tenhamos a ideia de que somos muito mais profissionais! Por outras palavras,
«continuamos baralhados, mas a um nível mais elevado». Na presente semana, trabalhou 70
horas, percorreu cerca de 2.000 quilómetros de carro e visitou 37 clientes? Acha que isso
corresponde a um desempenho notável?
Na verdade, os objetivos atingidos com este tipo de esforço são questionáveis. Mais do que
eficiência, aquilo que importa na verdade é a eficácia. Na década de 1960, Peter Drucker, o
fundador da ciência de gestão, referia já que o importante não é fazer um pouco de tudo,
mas fazer as primeiras coisas em primeiro lugar. Refere-o em The Effective Executive: a
eficácia não resulta de andar às voltas, como um robô frenético, mas em concretizar as
tarefas certas. Imagine que vê na rua, à sua frente, algumas notas de banco levadas pelo
vento - uma nota de € 100 euros e outra de € 5. Qual é que tenta agarrar a correr, caso os
outros transeuntes se preparem para fazer o mesmo? A nota maior, claro! Isso é ser 'eficaz' e
corresponde ao que todos iriam fazer. Agora, pense no que fez ao seu tempo durante a
semana passada, no seu emprego. Concentrou-se nas tarefas de maior importância ou
afundou-se num pântano de pormenores de ínfima importância? Quem pense que vai dispor
de mais tempo depois de comprar uma agenda ou de participar num seminário de gestão do
tempo, deve pensar duas vezes. Estas ferramentas podem ajudá-lo a tornar-se mais eficiente,
mas não vão forçosamente aumentar a sua eficácia. A resposta está no tipo de tarefas às

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quais dedica o seu tempo - e a sua vida. Só quando atribuir um significado mais global às
suas ações é que irá transformar a gestão do tempo em gestão da vida. Existem muitos
passos entre o ponto de partida - recorrer a uma agenda para a organização do dia - e o nível
mais elevado - usar o tempo numa perspectiva holística, metas e autogestão, para
concretizar os seus objetivos profissionais e particulares. (…)

C) O tempo holístico e a gestão da vida: equilíbrio entre vida e trabalho.


«A diferença entre um veneno e um remédio está simplesmente na dosagem.» Hipócrates
«Peço desculpa, mas agora não tenho tempo!» Quantas vezes já ouviu esta desculpa ou até a
utilizou? Hoje em dia, há muitas pessoas com vidas profissionais ou privadas totalmente
instáveis. Uma vez, um amigo chegado contou-me um incidente que o levou a repensar a sua
própria situação:
Um amigo da escola telefonou-me há pouco tempo. Já não falava com ele há anos. Estava no
hospital, pois tinha sofrido um ataque cardíaco aos 43 anos. A mulher estava à beira de o
deixar, porque ele nunca tinha tempo para ela ou para os filhos. O trabalho vinha sempre em
primeiro lugar. O meu amigo confessou-me que estava finalmente a ponderar no que podia
fazer para reorganizar a sua vida. Uma ênfase exagerada e crónica sobre uma componente da
vida conduz a problemas nas outras áreas.
O tempo holístico e a gestão da vida não foram concebidos apenas para rentabilizar o tempo
em todas as áreas essenciais da vida - trabalho, família, saúde e objetivos de realização
pessoal -, mas também para a harmonização duradoura destas quatro áreas, ou seja, para
criar o equilíbrio entre o trabalho e a vida. Esta ideia baseia-se, em larga medida, no trabalho
de Nossrat Peseschkian (www.wiap.de). No âmbito da sua pesquisa intercultural, Seschkian
identificou quatro fatores influentes do equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada
do indivíduo. Cada área da vida funciona em correlação com as outras. Dedicar demasiado
tempo a atividades relacionadas com o trabalho implica, automaticamente, a negligência de
outras áreas. Se vive obcecado com o trabalho, não só dedica tempo insuficiente à família e
amigos, como está a afetar a sua saúde de forma negativa. Além disso, não dispõe da
oportunidade necessária para observar, de forma correta, os sentidos mais profundos da
vida ou para se concentrar nos seus valores individuais. Mais tarde ou mais cedo, a sua
atitude e motivação acabam por se tornar deficientes. Ao fim e ao cabo, o 'mais' irá dar lugar
ao 'menos'. Que avaliação faz do seu balanço de vida? Frequentemente, as pessoas afirmam
que dedicam 50, 60 ou 70 por cento do seu tempo - por vezes até mais - ao trabalho. Pelo
contrário, o propósito de vida é pontuado com 5 ou 15 por cento - se chegar a ser referido. O
mundo em que vivemos coloca uma ênfase maior sobre a produtividade e o desempenho,
em detrimento das questões mais significativas da vida.
A percentagem colocada na área do trabalho é um reflexo natural do fato de a maioria de nós
ter uma profissão que ocupa uma parte significativa do nosso tempo. A primeira vista, este
desequilíbrio puramente quantitativo parecerá normal e será impossível obter um resultado
numérico equilibrado, do tipo: «ao dividir os 100 por cento do meu tempo por quatro áreas
com a mesma dimensão, obtenho o resultado exacto de 25 por cento em cada». No entanto,
também é inevitável que a existência de um desequilíbrio mais acentuado em uma ou duas
áreas afete as outras. Deste modo, constamos o seguinte:
Demasiado tempo dedicado ao trabalho pode desencadear doenças psicossomáticas,
conflitos com a família e amigos e, inclusive, dúvidas básicas sobre se vale a pena viver.
Os efeitos da sobrevalorização do trabalho e das condições físicas verificam-se, por vezes, em
atletas de alta competição, que sofrem lesão após lesão, esquecem a vida pessoal e acabam
por encarar essa vida desequilibrada, com uma sensação de impotência e frustração.
Do mesmo modo, é provável que quem dedique o seu tempo a procurar o sentido da vida
e a fazer experiências sobre a expansão da consciência, acabe por não ser capaz de funcionar
numa base regular ou por aderir a qualquer seita de aspecto duvidoso.

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O balanço ideal entre as quatro áreas varia de pessoa para pessoa, de modo considerável, e
resulta da nossa análise subjectiva sobre a qualidade do tempo que despendemos. Uma hora
passada a ouvir uma orquestra voa numa hora de puro encanto, enquanto o preenchimento
da declaração de impostos - uma ocupação raramente classificada como «muito desejada» -
parece levar uma eternidade. A chave do sucesso reside na obtenção de um equilíbrio
saudável entre as quatro áreas da vida - o que se designa por equilíbrio entre o trabalho e a
vida.
Na pesquisa que fez ao fenómeno psicossomático, isto é, às consequências no plano da
saúde resultantes da interacção entre a mente, o corpo e o meio social, Peseschkian sublinha
a necessidade de se dedicar o tempo e a atenção suficientes a cada uma das quatro áreas.
Na sua perspectiva, essa é a única forma de evitar doenças físicas ou mentais. Para
Peseschkian: 1º lugar: Trabalho A maior parte das pessoas dedica-se à execução do seu
trabalho, sente-se responsável pelas tarefas que lhe foram atribuídas e deseja evoluir na sua
profissão - o que conduz, logicamente, a uma ênfase maior na área do trabalho e da carreira.
Há uma série de fatores que podem provocar a incapacidade de descomprimir depois de
sairmos do escritório: um planeamento irrealista, a indefinição de prioridades, métodos de
trabalho ineficazes, a pressão dos prazos e os sentimentos de culpa resultantes dos trabalhos
por acabar. O resultado de tudo isto é a pressão de tempo. As pessoas que a sentem levam,
para casa, os projetos por concluir e os problemas relativos ao trabalho, o que torna quase
impossível apreciar o tempo passado fora do escritório. Em resultado disto, não é de admirar
que as outras três áreas sejam afetadas. 2º lugar: Saúde Muitos de nós esquecemos, por
completo, as questões do bem-estar físico. Só quando estamos doentes é que damos o
devido valor à saúde. Nesse sentido, há cada vez mais pessoas a dedicar uma quantidade
apreciável de tempo - muitas vezes contra a sua vontade - à manutenção da forma física ou à
recuperação da saúde. Mas, muitas vezes, fazem-no apenas para melhorar o seu desempenho
no trabalho. 3º lugar: Família e amigos A atenção especial que a sociedade coloca na carreira
profissional e no trabalho, leva-nos a dedicar um tempo demasiado curto aos nossos entes
queridos ou aos contactos com os amigos mais chegados. Reuniões ao fim do dia, o
computador no escritório de nossa casa e outras tentações do trabalho, roubam-nos um
tempo que, de outra forma, poderíamos dedicar às relações sociais. Assim, o risco do
isolamento social está cada vez mais em foco nos meios de comunicação social e muitas
pessoas começaram já a empenhar-se, de forma consciente, em desenvolver laços no seio
familiar ou fora dele.
4º lugar: Objetivos de vida Muitas pessoas sentem que a sociedade a que pertencem criou
muito pouco espaço para analisar os valores que conferem um sentido à vida, bem como a
refletir sobre as metas que passam tanto tempo a tentar atingir. Em consequência, há já quem
esteja a alargar o período de tempo dedicado a lidar com as questões do propósito de vida e
do futuro. Apesar disso, assiste-se a uma mudança de valores. Hoje em dia, para muita
gente, é mais importante ter uma vida com significado e dispor de tempo suficiente para si e
para a sua família. Em lugar de colocarem em destaque uma única área da vida, procuram
atingir um equilíbrio harmónico entre as quatro. Neste sentido, a gestão do tempo numa
perspectiva holística ajuda-o a utilizar melhor o seu tempo, para conservar o equilíbrio na
sua vida.
(Adaptação da obra de SEIWERT, Lothar J., Como Chegar Depressa, Indo Devagar,
V.N.Famalicão, Centro Atlântico, 2008, pp. 26 a 99)

1. Identifique algumas das doenças provenientes da tão conhecida:“febre da


pressa”.
2. Explique a importância do descanso e do prazer na vida.
3. Segundo Peseschkian, em que deve consistir a gestão do tempo? Justifique.

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https://sites.google.com/site/sabercomalma/4-gestao-economia

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Cultura, Língua e Comunicação Formadora: Marina Santos pp.1/10
Área de Competência: Cultura, Língua e Comunicação
UFCD 4 – Gestão e Economia
RA 4: Contexto macro-estrutural. Tema: Usos e Gestão do Tempo.
Competências: Identificar os impactos de evoluções técnicas na gestão do tempo, reconhecendo ainda
os seus efeitos nos modos de processar e transmitir informação.

A ) A febre da pressa: uma epidemia que alastra.


Conforme Larry Dossey, M.D., documentou pela primeira vez no seu livro Space, Time, and
Medicine, a febre da pressa é um fenómeno generalizado nos Estados Unidos. A febre da
pressa resulta do juízo falso de que conseguimos fazer tudo, se o fizermos mais depressa.
Este fenómeno não pára de crescer. Uma olhadela ao relógio ou à nossa agenda superlotada é
o suficiente para desencadear um ataque de pânico. Tal pode estar na origem de doenças
relacionadas com o stresse, como a tensão nervosa, as doenças cardíacas e úlceras. E torna-se
particularmente trágico quando não nos conseguimos libertar do stresse, mesmo depois de
sair do escritório, ou quando os serões e os fins-de-semana nos parecem insuficientes para
relaxarmos e gozarmos a vida em pleno. «Quando mais corro, mais fico para trás!». Ao fim do
dia está exausto, sem ter conseguido pegar numa única tarefa da lista de coisas a fazer - pelo
contrário ela ainda está maior! O seu caso não é único. Há muitas pessoas que padecem desta
tentativa de funcionar a uma velocidade ainda maior. A pressão exercida para a obtenção de
mais e melhores resultados, com equipas reduzidas e orçamentos diminutos, aumenta de dia
para dia.
Contudo, a febre da pressa não é apenas a sensação perturbadora e alucinante de andar
sempre a correr, a par da incapacidade de enfrentar as tarefas diárias. Abrange, ainda, a perda
de contacto com o seu ritmo pessoal próprio – um biorritmo definido pelo seu estado físico,
mental e emocional – e que é de extrema importância para o seu bem-estar e para uma vida
saudável. Qual é a desvantagem de andar a alta velocidade - tanto a nível profissional, como
pessoal? Não é fantástico ser o primeiro da fila? Nas Olimpíadas, por exemplo, o único atleta a
receber uma medalha de ouro é o que chega em primeiro lugar. O problema não está na
velocidade em si, mas quando a velocidade se transforma no único factor decisivo. Quando
somos afetados pela febre da pressa, corremos em todos os sentidos, sem qualquer ideia
concreta da direção certa a seguir. Conduzimos as reuniões de afogadilho, para as concluir em
tempo útil, acabando por descobrir que omitimos o ponto mais importante da agenda – se ao
menos lhe tivéssemos dedicado mais tempo! Ou telefonamos ao ente querido, fazendo outras
três coisas ao mesmo tempo, e não lhe damos a devida atenção – fazendo-a sentir-se que
menos importante para nós.
Há pessoas que correm durante a vida inteira - pressionadas pela necessidade de serem a
esposa e a mãe perfeita, o executivo mais jovem a chegar ao topo ou a ganhar um milhão mais
depressa que qualquer outra pessoa - apenas para descobrir que nunca tiveram realmente
tempo para a família e amigos, ou que nunca conseguiram tirar partido dos momentos
magníficos que tornam a vida algo que merece ser vivido. A maior parte das vezes, só se
apercebem disso quando já é tarde demais ... Aproveite a oportunidade para mudar a sua vida
enquanto é tempo!

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Mas como é que vamos mudar, depois de nos pressionarem a vida inteira a andar mais
depressa? Primeiro, tenha a coragem de reconhecer os sintomas de febre da pressa. E, a
seguir, comece a trabalhar na sua cura. Adquira um novo equilíbrio na sua vida, adoptando um
conjunto de velocidades diferentes, dando atenção à sua saúde e dedicando tempo a melhorar
o seu desempenho e o seu bem-estar a longo prazo. Faça um esforço permanente para incutir
uma harmonia inovadora no seio dos seus hábitos diários. Lembre-se: o prazer e a
descontracção não são algo de extravagante, a que apenas se deve dedicar quando terminar o
seu trabalho! Quem aprender a viver e a trabalhar com prazer, está em posição privilegiada
para tirar o melhor partido de todas as coisas. Os estudos sobre a saúde e a longevidade
demonstram que as pessoas que mantêm diariamente o equilíbrio entre o trabalho e o prazer,
não só vivem mais tempo, como têm também uma vida mais feliz e produtiva em todos os
aspectos. É importante compensar a necessidade de velocidade e eficiência com actividades
gratificantes e agradáveis do ponto de vista emocional. Por vezes, isso é tão simples como
manter objectivos a longo prazo, por exemplo, proporcionando uma licenciatura aos nossos
filhos, contribuindo para uma empresa amiga do ambiente, ou colaborando num clube que
beneficia a sociedade com os seus serviços. Estabelecer uma meta/objectivos precisos para a
nossa vida, abrandar para construir uma base de confiança, apreciar as diferenças ou
estabelecer sinergias com pessoas de capacidades complementares às nossas, aprender a
respeitar e a apreciar as nossas necessidades interiores e específicas, irão trazer-nos grandes
benefícios a nível do bem-estar e satisfação pessoais. E dar-nos-ão ainda mais energia para
concluir as tarefas diárias. B) Da gestão do tempo à gestão da vida
Não podes dar mais dias à tua vida, mas podes dar mais vida aos teus dias.» Anónimo
Na verdade, a gestão do tempo é um paradoxo. Não temos capacidade para gerir o tempo,
mas apenas para nos gerirmos a nós próprios. Por outras palavras, a gestão do tempo não é
mais do que uma auto-gestão. O tempo corre de forma imparável, inevitável e imutável. Para
compreender isto, sente-se em silêncio durante uns momentos. O que aconteceu? O seu
'relógio de vida' aproximou-se mais uns escassos segundos da altura em que vai parar - para
sempre! Seja qual for o seu pensamento ou sentimentos em relação à questão, a verdade é
que é impossível atrasar este relógio. É essencial organizar o seu tempo de forma proactiva
para satisfazer os anseios - ou, pelo menos, é possível tentar! Os produtores de vinho alemães
adoptaram o seguinte slogan publicitário: «A vida é demasiado curta para a passar a beber
vinho de má qualidade.» Por isso, lembre-se: Hoje é o primeiro dia do resto da sua nova vida -
aquela que começa com uma nova tomada de consciência do tempo.
Há cada vez mais pessoas a tentar dar um sentido à sua existência, centrando-se nas
capacidades de gestão do tempo e da vida. Nesse sentido, a gestão do tempo corresponde
hoje a muito mais do que hierarquizar as mensagens que recebe na caixa de correio
electrónico.
A gestão do tempo é a autogestão, e isso significa moldar a sua vida de forma dinâmica. Por
outras palavras, a verdadeira gestão do tempo é a liderança da vida - Life Leadership®.
Quer sejamos nós a determinar a utilização do nosso tempo, quer deleguemos esta tarefa em
alguém, o facto é que cabe a cada indivíduo a responsabilidade por tal decisão. É evidente que
nem sempre conseguimos influir no meio envolvente conforme gostaríamos, mas dispomos de
algum grau de influência a cada momento. Controlar o tempo significa utilizar o tempo de que
dispõe e moldar a sua vida conforme o deseja - e, claro está, de acordo com as circunstâncias
da altura. Mas lembre-se: dispõe da possibilidade de alterar essas circunstâncias! Num mundo
acelerado, colocar em prática a gestão do tempo significa concentrar-se mais no ritmo que na
velocidade, enquanto se foca em si próprio e no que é realmente importante - tanto no seu
trabalho, como na sua casa. Significa equilibrar a sua vida profissional com a sua vida pessoal.
Em consequência, a gestão do tempo transforma-se de modo automático em liderança da
vida.
Do 'tempo é dinheiro' para o 'tempo é vida'

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«Tempo é dinheiro»: este ditado é um dos mais utilizados. Façamos agora contrastar a atitude
materialista e centrada na quantidade, expressa anteriormente, com uma outra atitude
centrada na qualidade: o tempo é vida. Esta perspectiva defende que, sendo insubstituível, o
tempo é mais valioso que o dinheiro - é a própria vida.
Podemos sempre voltar a ter o dinheiro que perdermos não o tempo. Se alguém lhe quiser
roubar € 200, vai fazer tudo o que puder e recorrer a todas as suas energias para a dissuadir
No entanto, se alguém lhe tirar duas horas ao seu dia, é prova que lhe dê licença para isso. Tal
como Napoleão disse um dia: «Os únicos ladrões a quem a sociedade perdoa são os que nos
roubam o tempo».
Um problema central na gestão do tempo é dispersarmo-nos com frequência em urgências do
trabalho diário, esquecendo as verdadeiras prioridades e as metas de vida. Sofremos pressões
constantes de todos os lados para resolver os problemas pendentes, mas o que é de facto
importante vai sendo protelado para outras datas, na altura em que finalmente «tivermos
tempo» - mas tempo disponível é algo que nunca teremos em abundância. Um problema
central na gestão do tempo é dispersarmo-nos com frequência em urgências do trabalho
diário, esquecendo as verdadeiras prioridades e as metas de vida. Sofremos pressões
constantes de todos os lados para resolver os problemas pendentes, mas o que é de facto
importante vai sendo protelado para outras datas, na altura em que finalmente «tivermos
tempo» - mas tempo disponível é algo que nunca teremos em abundância.
A gestão do tempo do dia-a-dia tenta combater os sintomas, mas não vai à raiz do problema.
Os planificadores semanais, as agendas e algumas aplicações informáticas ajudam-nos a
orientar os nossos dias de trabalho. Sem dúvida que as listas de coisas a fazer, os mapas de
planificação elaborados com mestria e as ferramentas de trabalho para os projectos são de
toda a utilidade - pois graças a eles programamos várias fases de cada tarefa diária,
estabelecemos as prioridades com precisão e adoptamos a melhor atitude para evitar
distracções que nos tirem tempo. Aplicada desta forma, a gestão do tempo dá-nos a
conquistar progressos sustentáveis na nossa eficiência, já que tudo o que fizermos será feito
com correcção. Contudo, se nos dedicarmos às acções erradas, continuamos a ser
pressionados pelo tempo - embora, à medida que isso acontece, tenhamos a ideia de que
somos muito mais profissionais! Por outras palavras, «continuamos baralhados, mas a um
nível mais elevado».Na presente semana, trabalhou 70 horas, percorreu cerca de 2.000
quilómetros de carro e visitou 37 clientes? Acha que isso corresponde a um desempenho
notável?
Na verdade, os objectivos atingidos com este tipo de esforço são questionáveis. Mais do que
eficiência, aquilo que importa na verdade é a eficácia. Na década de 1960, Peter Drucker, o
fundador da ciência de gestão, referia já que o importante não é fazer um pouco de tudo, mas
fazer as primeiras coisas em primeiro lugar. Refere-o em The Effective Executive: a eficácia não
resulta de andar às voltas, como um robô frenético, mas em concretizar as tarefas certas.
Imagine que vê na rua, à sua frente, algumas notas de banco levadas pelo vento - uma nota de
€ 100 euros e outra de € 5. Qual é que tenta agarrar a correr, caso os outros transeuntes se
preparem para fazer o mesmo? A nota maior, claro! Isso é ser 'eficaz' e corresponde ao que
todos iriam fazer. Agora, pense no que fez ao seu tempo durante a semana passada, no seu
emprego. Concentrou-se nas tarefas de maior importância ou afundou-se num pântano de
pormenores de ínfima importância? Quem pense que vai dispor de mais tempo depois de
comprar uma agenda ou de participar num seminário de gestão do tempo, deve pensar duas
vezes. Estas ferramentas podem ajudá-lo a tornar-se mais eficiente, mas não vão forçosamente
aumentar a sua eficácia. A resposta está no tipo de tarefas às quais dedica o seu tempo - e a
sua vida. Só quando atribuir um significado mais global às suas acções é que irá transformar a
gestão do tempo em gestão da vida. Existem muitos passos entre o ponto de partida - recorrer

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a uma agenda para a organização do dia - e o nível mais elevado - usar o tempo numa
perspectiva holística, metas e autogestão, para concretizar os seus objectivos profissionais e
particulares. Na figura seguinte, os patamares de 0 a 3 remetem para o nível em que as
pessoas se posicionam, no tocante às competências de gestão do tempo: anotam os seus
compromissos e fazem listas de tarefas com uma frequência regular, para os executar em
seguida, passo-a-passo. Por outro lado, os verdadeiros executivos recorrem a uma agenda
(patamar 4). Alguns, não muitos, chegam a traçar metas anuais (patamar 5) ou conseguem até
referir uma meta de vida (patamar 6). Mas são raros os indivíduos que têm a capacidade
interligar a sua actividade diária com objectivos a longo prazo (patamar 7). Os capítulos que se
seguem explicam-lhe os passos a dar até alcançar o patamar 7.

Figura1: A evolução entre um calendário e o tempo, numa perspectiva holística, com


metas e autogestão.

C) O tempo holístico e a gestão da vida: equilíbrio entre vida e trabalho.


«A diferença entre um veneno e um remédio está simplesmente na dosagem.» Hipócrates
«Peço desculpa, mas agora não tenho tempo!» Quantas vezes já ouviu esta desculpa ou até a
utilizou? Hoje em dia, há muitas pessoas com vidas profissionais ou privadas totalmente
instáveis. Uma vez, um amigo chegado contou-me um incidente que o levou a repensar a sua
própria situação:
Um amigo da escola telefonou-me há pouco tempo. Já não falava com ele há anos. Estava no
hospital, pois tinha sofrido um ataque cardíaco aos 43 anos. A mulher estava à beira de o
deixar, porque ele nunca tinha tempo para ela ou para os filhos. O trabalho vinha sempre em

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primeiro lugar. O meu amigo confessou-me que estava finalmente a ponderar no que podia
fazer para reorganizar a sua vida. Uma ênfase exagerada e crónica sobre uma componente da
vida conduz a problemas nas outras áreas.
O tempo holístico e a gestão da vida não foram concebidos apenas para rentabilizar o tempo
em todas as áreas essenciais da vida - trabalho, família, saúde e objectivos de realização
pessoal -, mas também para a harmonização duradoura destas quatro áreas, ou seja, para criar
o equilíbrio entre o trabalho e a vida. Esta ideia baseia-se, em larga medida, no trabalho de
Nossrat Peseschkian (www.wiap.de). No âmbito da sua pesquisa intercultural, Seschkian
identificou quatro factores influentes do equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada do
indivíduo. Cada área da vida funciona em correlação com as outras. Dedicar demasiado tempo
a actividades relacionadas com o trabalho implica, automaticamente, a negligência de outras
áreas. Se vive obcecado com o trabalho, não só dedica tempo insuficiente à família e amigos,
como está a afectar a sua saúde de forma negativa. Além disso, não dispõe da oportunidade
necessária para observar, de forma correcta, os sentidos mais profundos da vida ou para se
concentrar nos seus valores individuais. Mais tarde ou mais cedo, a sua atitude e motivação
acabam por se tornar deficientes. Ao fim e ao cabo, o 'mais' irá dar lugar ao 'menos'. Que
avaliação faz do seu balanço de vida? Frequentemente, as pessoas afirmam que dedicam 50,
60 ou 70 por cento do seu tempo - por vezes até mais - ao trabalho. Pelo contrário, o propósito
de vida é pontuado com 5 ou 15 por cento - se chegar a ser referido. O mundo em que
vivemos coloca uma ênfase maior sobre a produtividade e o desempenho, em detrimento das
questões mais significativas da vida.
A percentagem colocada na área do trabalho é um reflexo natural do facto de a maioria de nós
ter uma profissão que ocupa uma parte significativa do nosso tempo. A primeira vista, este
desequilíbrio puramente quantitativo parecerá normal e será impossível obter um resultado
numérico equilibrado, do tipo: «ao dividir os 100 por cento do meu tempo por quatro áreas
com a mesma dimensão, obtenho o resultado exacto de 25 por cento em cada». No entanto,
também é inevitável que a existência de um desequilíbrio mais acentuado em uma ou duas
áreas afecte as outras. Deste modo, constamos o seguinte:
Demasiado tempo dedicado ao trabalho pode desencadear doenças psicossomáticas,
conflitos com a família e amigos e, inclusive, dúvidas básicas sobre se vale a pena viver.
Os efeitos da sobrevalorização do trabalho e das condições físicas verificam-se, por vezes, em
atletas de alta competição, que sofrem lesão após lesão, esquecem a vida pessoal e acabam
por encarar essa vida desequilibrada, com uma sensação de impotência e frustração.
Do mesmo modo, é provável que quem dedique o seu tempo a procurar o sentido da vida e a
fazer experiências sobre a expansão da consciência, acabe por não ser capaz de funcionar
numa base regular ou por aderir a qualquer seita de aspecto duvidoso.
O balanço ideal entre as quatro áreas varia de pessoa para pessoa, de modo considerável, e
resulta da nossa análise subjectiva sobre a qualidade do tempo que despendemos. Uma hora
passada a ouvir uma orquestra voa numa hora de puro encanto, enquanto o preenchimento
da declaração de impostos - uma ocupação raramente classificada como «muito desejada» -
parece levar uma eternidade. A chave do sucesso reside na obtenção de um equilíbrio
saudável entre as quatro áreas da vida - o que se designa por equilíbrio entre o trabalho e a
vida.
Na pesquisa que fez ao fenómeno psicossomático, isto é, às consequências no plano
da saúde resultantes da interacção entre a mente, o corpo e o meio social, Peseschkian
sublinha a necessidade de se dedicar o tempo e a atenção suficientes a cada uma das
quatro áreas. Na sua perspectiva, essa é a única forma de evitar doenças físicas ou
mentais. Para Peseschkian, estas quatroimportância, de forma objectiva, pelo menos
no mundo ocidental: 1º lugar: Trabalho A maior parte das pessoas dedica-se à
execução do seu trabalho, sente-se responsável pelas tarefas que lhe foram atribuídas
e deseja evoluir na sua profissão - o que conduz, logicamente, a uma ênfase maior na

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área do trabalho e da carreira. Há uma série de factores que podem provocar a
incapacidade de descomprimir depois de sairmos do escritório: um planeamento
irrealista, a indefinição de prioridades, métodos de trabalho ineficazes, a pressão dos
prazos e os sentimentos de culpa resultantes dos trabalhos por acabar. O resultado de
tudo isto é a pressão de tempo. As pessoas que a sentem levam, para casa, os
projectos por concluir e os problemas relativos ao trabalho, o que torna quase
impossível apreciar o tempo passado fora do escritório. Em resultado disto, não é de
admirar que as outras três áreas sejam afectadas. 2º lugar: Saúde Muitos de nós
esquecemos, por completo, as questões do bem-estar físico. Só quando estamos
doentes é que damos o devido valor à saúde. Nesse sentido, há cada vez mais pessoas
a dedicar uma quantidade apreciável de tempo - muitas vezes contra a sua vontade - à
manutenção da forma física ou à recuperação da saúde. Mas, muitas vezes, fazem-no
apenas para melhorar o seu desempenho no trabalho. 3º lugar: Família e amigos A
atenção especial que a sociedade coloca na carreira profissional e no trabalho, leva-
nos a dedicar um tempo demasiado curto aos nossos entes queridos ou aos contactos
com os amigos mais chegados. Reuniões ao fim do dia, o computador no escritório de
nossa casa e outras tentações do trabalho, roubam-nos um tempo que, de outra
forma, poderíamos dedicar às relações sociais. Assim, o risco do isolamento social está
cada vez mais em foco nos meios de comunicação social e muitas pessoas começaram
já a empenhar-se, de forma consciente, em desenvolver laços no seio familiar ou fora
dele.
4º lugar: Objectivos de vida Muitas pessoas sentem que a sociedade a que pertencem
criou muito pouco espaço para analisar os valores que conferem um sentido à vida,
bem como a reflectir sobre as metas que passam tanto tempo a tentar atingir. Em
consequência, há já quem esteja a alargar o período de tempo dedicado a lidar com as
questões do propósito de vida e do futuro. Apesar disso, assiste-se a uma mudança de
valores. Hoje em dia, para muita gente, é mais importante ter uma vida com
significado e dispor de tempo suficiente para si e para a sua família. Em lugar de
colocarem em destaque uma única área da vida, procuram atingir um equilíbrio
harmónico entre as quatro. Neste sentido, a gestão do tempo numa perspectiva
holística ajuda-o a utilizar melhor o seu tempo, para conservar o equilíbrio na sua
vida.
(Adaptação da obra de SEIWERT, Lothar J., Como Chegar Depressa, Indo Devagar,
V.N.Famalicão, Centro Atlântico, 2008, pp. 26 a 99)

Descreva o que pode ser realizado para curar alguém da “febre da pressa”.

d) Explique a importância do descanso e do prazer na vida.

Actualmente, «a ideia de que tempo é dinheiro» deverá ser valorizada?


Justifique.

Segundo Peseschkian, em que deve consistir a gestão do tempo? Justifique.

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