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PA U L O & R A I L C A

Construindo a verdadeira
Intimidade
Conjugal

1ª Edição
Setembro de 2019
PA U L O & R A I L C A

Construindo a verdadeira
Intimidade
Conjugal

1ª Edição
Setembro de 2019

www.sexosemcativeiro.com.br
Edição Especial
Copyright © by Editora Sexo sem Cativeiro. 2019
CONSTRUINDO A VERDADEIRA INTIMIDADE CONJUGAL - GN 2.25
Primeira Edição: setembro/2019
Diagramação e Capa: Raquel Serafim (@rakdesigner)
Revisão: 1. Ana Lia de Miranda e Martins – Procuradora de Justiça
Aposentada pelo Ministério Público do Estado de Rondônia
2. Marcos Filipe Coelho Scipioni – Psicólogo e Especializando
em Terapia Familiar Sistêmica.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte da edição deste livro deve ser reproduzida
de forma alguma sem a autorização por escrito do autor, exceto em casos de citações
curtas em artigos ou resenhas.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Paulo Adriano Muniz Gouvêa e Railca Freire Gouvêa


Construindo a verdadeira intimidade conjugal
Sousa, PB: Editora Sexo sem Cativeiro, 2019
136 Páginas, 23 cm
ISBN 978-85-923173-7-9
1. Vida Cristã, 2. Saúde Emocional, 3. Família, 4. Casamento, 5. Aconselhamento
I. Gouvêa, Paulo Adriano Muniz e Railca Freire Gouvêa
 CDD 306.81
 1 Edição

Índice para Catálogo Sistemático


1. Casamento - 306.81

Impressão e Acabamento
Gráfica Patras

Distribuição e Vendas
Editora Sexo sem Cativeiro
e-mail: pamgouvea@gmail.com
Fone: 85 99865 7308 (whatsapp)
“O casamento deve ser honrado por
todos; o leito conjugal, conservado
puro; pois Deus julgará os
imorais e os adúlteros”.
Hebreus 13:4.
Índice
Prefácio . . ......................................................................................................... 9

Introdução .. ................................................................................................... 11

Capítulo 1 – A verdadeira intimidade conjugal ................................................ 15

Capítulo 2 – Construindo a verdadeira intimidade conjugal ............................. 27

Capítulo 3 – O sexo integral ........................................................................... 39

Capítulo 4 – O desafio da comunicação na intimidade ....................................... 63

Capítulo 5 – Restaurando a confiança quebrada . . ........................................... 77

Capítulo 6 – O propósito do casamento ........................................................... 95

Capítulo 7 – O valor do renovo de um casamento .......................................... 115


Prefácio
Conhecemos este lindo casal em nossa casa há alguns anos
e, logo no primeiro contato, fomos impactados com o testemunho
familiar deles. Ficamos maravilhados em ver como uma família
pode ser transformada de maneira tão radical.
Nesta visita, eu e minha esposa fomos agraciados com os
livros “Sexo Sem Cativeiro: Manual de Aconselhamento ao Com-
pulsivo Sexual e Curando a Dor Da Traição no Casamento”. Ao
iniciar a leitura, pudemos perceber a qualidade e a riqueza do con-
teúdo encontrado apenas em livros de Psicologia especializados.
Este novo livro segue o mesmo trilho dos anteriores. Paulo e
Railca desenvolvem o tema através de dados científicos, relatos de
casos reais e muita sabedoria para que o leitor possa, de maneira
prática, aprender princípios. Da mesma forma, nota-se o testemu-
nho do que Deus é capaz de fazer em um casamento, isso quando
dois indivíduos se submetem a um processo de restauração.
Como psicólogo venho acompanhando casais e famílias
há quase 10 anos, me especializando em Atendimento Familiar.
Nesse tempo de atendimento e experiência tenho percebido que
grande parte das demandas do casal estão relacionadas à falha de
comunicação dentro da relação. Consequentemente, esses ruídos
na comunicação resultam na perda de intimidade do casal e pre-
judica a vida sexual.
Este livro apresenta uma visão ampla e lúcida a respeito do
que um casal necessita para um relacionamento não apenas satis-
fatório, mas que gere alegria e estrutura dentro do matrimônio,
10 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

como também para os filhos e para as futuras gerações. Traz prin-


cípios que vão auxiliar num processo de restauração e renovação.
Cada capítulo vai se desdobrando em casos reais, conceitos,
métodos e muita revelação da palavra de Deus. Com uma lingua-
gem agradável e envolvente, ajuda o leitor a fazer um raio-X de si
mesmo e da sua relação matrimonial. Ao mesmo tempo em que
traz um diagnóstico, o livro te conduz ao tratamento com passos
práticos.
Se você quiser aprender mais sobre o amor puro de Deus e
viver isso dentro do seu casamento, esta é uma leitura obrigatória.
Deleite-se nesta jornada onde tudo se fez novo. Veja o po-
der da transformação de Cristo na vida deste casal, seja inundado
pela esperança e aprenda que a vida é feita de novos começos.
Desfrute de uma leitura cativante que, com certeza, tocará fundo
em seu coração e transformará sua história e seu casamento.

Marcos1 e Kelly2
Casados há 10 anos

1
Marcos Filipe Coelho Scipioni, Psicólogo e Especializando em Terapia Familiar Sistêmica.
2
Kelly Regina Dias da Silva Scipioni, Terapeuta Ocupacional.
Introdução
“Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o
criou; homem e mulher os criou.” Gênesis 1.27

O tema intimidade conjugal é um dos mais controversos hoje em dia,


pois existem muitas “vozes” no mundo relacionando o sentido e
o significado de intimidade conjugal a sexo. Ao abrirmos as mais
populares páginas de conteúdo na internet, os principais canais
de televisão, as revistas mais lidas e as redes sociais mais comuns,
teremos centenas de ideias e conceitos sobre o tema, o que eviden-
cia a relevância do assunto e a latente necessidade de esclarecer e
discipular a sociedade acerca disso.
A maioria das informações produzidas vão evidenciar
ideias e conceitos equivocados sobre sexo e intimidade conjugal.
Os filmes produzidos, as notícias divulgadas e as séries e novelas
veiculados vão trazer Histórias de infidelidade conjugal, prosti-
tuição, promiscuidade, divórcios, relações sexuais antes e fora do
casamento, entre outras associações erradas ao que realmente sig-
nifica intimidade.
Uma forma de verificar se o conceito é correto ou não, é che-
car se, ao aplicar na vida íntima, os relacionamentos serão fortale-
cidos ou enfraquecidos. A maioria das “Fake News” sobre o tema,
levam o casal ao egoísmo e a uma conexão com o que é externo,
que por sua vez, enfraquece a relação e separa o casal.
Um dos equívocos cometidos por causa destes falsos con-
ceitos é quando se passa a acreditar que o centro ou objetivo da
intimidade conjugal é o sexo. A intimidade conjugal não é sexo.
12 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

O sexo deve ser apenas mais um dos frutos que podemos expe-
rimentar quando construímos dentro de nosso relacionamento a
verdadeira intimidade conjugal.
Sexo não é a melhor experiência que um casal pode viver
dentro de uma aliança de casamento. O que existe de melhor no
relacionamento conjugal é a certeza e a convicção de que somos
plenamente amados por alguém e que também o amamos sem
reservas. Não há segredos e os medos e receios dão lugar a um
ambiente de segurança e proteção, onde podemos nos entregar
e descansar.
Quando a bíblia diz: “Por esse motivo é que o homem deixa
a guarda de seu pai e sua mãe, para se unir à sua mulher, e eles se
tornam uma só carne.” Deus esta revelando sua vontade sobre o
casamento. O versículo revela a morte do EU e o nascimento do
NÓS. Tudo com equilíbrio, respeitando a individualidade e par-
ticularidade de cada um. Para que isso aconteça, é fundamental
que ambos estejam dispostos a mudar naquilo que for necessário,
deixando as coisas que atrapalham a união, tornando-se um novo
homem e uma nova mulher, cujas identidades agora são Marido
e Esposa. Uma nova cultura se instala na vida do casal. A vida
egoísta e auto suficiente de solteiro não se encaixa mais e a inter-
dependência precisa ser construída.
Como cristãos, precisamos aprender a ouvir a voz de Deus
em meio a tantas vozes falsas nesse mundo. Eu creio que a igreja,
corpo de Cristo na terra, deve levar a verdade sobre este tema
e influenciar as gerações neste caminho de vida em abundância
para os casamentos. Porém, um dos grandes obstáculos ao conhe-
cimento da verdade que liberta a área conjugal e sexual, são as
reservas que a própria igreja têm tido sobre o assunto.
A igreja é comissionada por Deus a ir e discipular a socie-
dade acerca do que é a verdadeira intimidade conjugal e o que
de fato é sexo. Não basta a igreja falar sobre as práticas que são
reprovadas pela palavra de Deus, ela precisa aprender e ensinar
de forma clara o que é a verdadeira intimidade conjugal.
Introdução • 13

Quando Deus formou o Homem à sua imagem e seme-


lhança, fez homem e mulher, ou seja, constituiu ali, também, o
casamento e a família. Deus é uma comunidade representada
pela Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo, portanto, o casamento
e a família também são imagem e semelhança de Deus. Ele insti-
tuiu esses relacionamentos para ser revelado através deles. Deus
se revela ou deixa de ser revelado para as gerações seguintes
através da maneira como nos expressamos no nosso casamento,
na nossa família.
Quando somos bem sucedidos em comunicar o caráter e
a natureza divina para o nosso cônjuge e filhos, eles facilmente
absorvem a personalidade e o caráter de Deus, com seus valores
que são importantíssimos para o fortalecimento de uma socieda-
de. Quando os pais, no seu relacionamento com seus filhos são
reflexo do amor de Deus na vida deles, facilmente os conduzirão
também a um relacionamento íntimo com Deus.
Agora, quando fracassamos em nos expressar dentro do
casamento e da família de acordo com a natureza divina, vamos
ferir uns aos outros e transmitir para a geração seguinte conceitos
deformados sobre relacionamento conjugal e sobre relacionamen-
to pais e filhos, sexualidade, identidade, sociedade e espirituali-
dade. A geração que cresce da falência de um casamento, da sua
família, têm uma menor probabilidade de se aproximar da natu-
reza divina e, assim, maior probabilidade de gerar o caos social e
as desigualdades. Essa falência fere o caráter dos cônjuges que se
apartam, mas, principalmente, fere o caráter dos seus filhos, ge-
rando pessoas crescidas, porém imaturas e adoecidas, governadas
por suas dores e feridas emocionais.
Para alcançarmos um nível satisfatório de fortalecimento
do casamento e da família, precisamos definir de forma equilibra-
da e dentro de um cosmovisão bíblica o que de fato é Intimidade
Conjugal. A verdadeira intimidade é o solo fértil para o relacio-
namento conjugal, fortalecendo o casamento e abrindo caminho
para uma corrente de influência social saudável e frutífera.
14 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

Um casamento forte, vai gerar uma família estruturada e


funcional, que vai produzir igrejas influentes e relevantes, que, por
sua vez, transformarão a sociedade com valores sólidos e justos.
O propósito deste material é fechar esta brecha, conscienti-
zando os casais sobre o papel do casamento, primeiramente, den-
tro do próprio lar e, depois, como Igreja do Senhor Jesus, no disci-
pulado da sociedade, levando informações que já estão reveladas
na palavra de Deus sobre sexo e intimidade conjugal. Convido
você a avaliar este material sobre do ponto de vista de Deus e se
você se sentir abençoado por ele, pratique dentro do seu casamen-
to e que esse ensino possa ser repassado de geração em geração.

1
Capítulo 1 – A verdadeira
intimidade conjugal
“O homem e sua mulher viviam nus, e não sentiam
vergonha”. Gênesis 2.25

Marcos e Ana disseram sim um ao outro há 25 anos. Eram jovens e


apaixonados e haviam jurado amar um ao outro até que a morte
os separasse. Passados todos esses anos, ambos não lembram em
nada mais aquele casal apaixonado de outrora. Hoje estão divor-
ciados, porém moram na mesma casa. Não trocam uma palavra
entre si e, mais do que dois estranhos, parecem não suportar um
ao outro. Ele têm seu trabalho, seu dinheiro e suas namoradas. Da
mesma forma, Ana aderiu ao estilo de vida independente e segue
pelo mesmo caminho.
O que faz casais apaixonados se tornarem como estranhos
depois de um tempo juntos e, em casos mais extremos, até mesmo
se agredirem fisicamente, quando não acontece algo pior? Não é
uma pergunta fácil de responder, pois cada caso tem sua particu-
laridade, mas existem princípios na bíblia que nos mostram o ca-
minho que os casais devem tomar para construírem a verdadeira
intimidade conjugal.
Muitos acreditam que intimidade esta ligada a apenas sexo,
mas isto não é verdade. O sexo é só um dos elementos da ver-
dadeira intimidade conjugal e não deve ser o centro dela. É um
fruto que brota e produz muito prazer e satisfação quando o casal
aprende a construir um ambiente de intimidade emocional ade-
quado e seguro. Quando entendemos o verdadeiro conceito da
16 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

intimidade que deve existir entre um casal, teremos um relaciona-


mento frutífero em várias áreas da nossa vida.
Quanto mais o casal se esforçar e se dedicar um ao outro em
áreas que não são relacionadas ao sexo, o vínculo emocional do
casal vai se tornar mais sólido, ambos estarão preenchidos de se-
gurança, confiança e amor de modo que o sexo tenderá a se tornar
cada vez melhor. Este é o ambiente que Deus planejou para que o
sexo seja praticado.
A bíblia revela um desafio para todo casal: UNIR-SE3. Esse,
na verdade, é o grande desafio que só pode ser vencido quando
o casal aprende e se permite construir a verdadeira intimidade
conjugal.

1. 1 A NUDEZ NA ALMA
Existem pelo menos dois tipos de nudez revelados em Gê-
nesis 2.25. O primeiro e mais óbvio é a nudez de corpos que o ca-
sal deve compartilhar após contrair os votos matrimoniais. O cor-
po do marido passa a pertencer a esposa e o da esposa a pertencer
ao marido4. Porém, para que esta nudez de corpos seja comparti-
lhada de forma contínua e plena durante toda a vida do casal, é
necessário que outra nudez tenha se tornado uma realidade antes
mesmo do casamento: a nudez da alma.
A nudez de alma deve ser construída desde o início do na-
moro, pois requer uma atitude de integridade entre o casal, sen-
do importante que ambos assumam um compromisso mútuo de
transparência, principalmente, naquelas áreas escuras do coração.
Nesses anos de aconselhamento, pude conhecer diversos casos de
pessoas que negligenciaram esse princípio e, após às núpcias, com

3
Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma
só carne. O homem e sua mulher viviam nus, e não sentiam vergonha. Gênesis 2:24,25
4
O marido deve cumprir os seus deveres conjugais para com a sua mulher, e da mesma forma
a mulher para com o seu marido. A mulher não tem autoridade sobre o seu próprio corpo,
mas sim o marido. Da mesma forma, o marido não tem autoridade sobre o seu próprio cor-
po, mas sim a mulher. 1 Co 7.2-3
Capítulo 1 – A verdadeira intimidade conjugal • 17

a convivência, se viram como verdadeiros estranhos. Alguns di-


ziam, inclusive, que era como se tivessem namorado uma pessoa
e se casado com outra.
Muitos casais tem falhado neste princípio. A maioria tem se
entregado à nudez de corpos antes do casamento, o que traz conse-
quências que atrapalham sua unidade plena depois de contraírem
matrimônio. No entanto, o que mais atrapalha, é a falta de nudez
de alma. Ao se envolver sexualmente antes do casamento, é comum
que o casal fique intoxicado pela superficialidade do prazer sexual
gerado, negligenciando os aspectos do caráter da pessoa com quem
esta se relacionando. Quando o casal se envolve sexualmente antes
de contraírem matrimônio, erroneamente, criam um vínculo com
o sexo e não com a pessoa. O relacionamento entrou em risco aí,
pois o sexo não sustenta relacionamentos, o que sustenta o casa-
mento é o caráter de cada um. O casal que centralizou a motivação
do seu relacionamento no sexo, construiu um ambiente vulnerável
e egoísta, de modo que, ao se casarem, tenderão a ter aversão um ao
outro diante dos desafios da vida em comum.
Os problemas de caráter que não foram evidenciados antes
do casamento porque o foco era apenas o prazer quando estavam
juntos, certamente aparecerão durante a convivência no casamen-
to. Como não houve uma ligação emocional entre o casal durante
o período do namoro e noivado fundamentada em amor e respei-
to, o relacionamento pode naufragar diante das tensões e tempes-
tades que irão surgir.
Outro ponto a se observar é que, mesmo aqueles casais que
escolhem sabiamente esperar o casamento para ter o ato sexual,
se não investirem na nudez de alma, também terão problemas na
convivência após se aliançarem, pois serão dois estranhos que não
se permitiram conhecer de verdade durante o namoro e o noivado.
Não falar sobre suas motivações e lutas pessoais no Pré casamento,
época apropriada para isso, vai gerar insegurança e desconfiança
quando questões conflitantes sobre o propósito e missão de vida
18 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

de cada um, aptidões e defeitos, o passado, questões relacionadas


à família e relacionamentos anteriores, vierem à tona.
O casal deve falar sobre esses pontos antes mesmo do pri-
meiro beijo, sem perder o romantismo, em um processo gradual
e contínuo à medida que ambos crescem em apego e vínculo emo-
cional um com o outro, pois o casamento é algo muito sério! O
casal precisa criar esse ambiente seguro para seguir adiante com
confiança. Ao contrário disso, muitos acabam mantendo uma re-
lação superficial durante o namoro, com beijos carícias e bajula-
ções mútuas que escondem quem realmente são, colocando em
risco o sucesso do casamento.
O que realmente é importante da nudez de alma, é conhecer
as necessidades do outro e revelar as suas, investir em conhecer
o namorado (a), noivo (a) ou cônjuge e se fazer conhecido por ele
(a), especialmente, naquelas áreas de trevas, de vergonha e de
dor. Saber expressar isso é uma grande dificuldade para muitos,
mas algo que sempre ajuda é manter uma atitude de humildade e
paciência. Demonstrar um real interesse em buscar essa nudez vai
produzir o cenário ideal para que o casal cresça em intimidade.
Ambos devem construir apego um ao outro, fortalecendo o rela-
cionamento, criando o caminho para que se tornem uma só carne,
pois não há intimidade sem nudez de alma.
A intimidade vai expor nossas virtudes e falhas.
O propósito da intimidade é revelar o que
precisa ser mantido e aperfeiçoado em nós e o
que precisa ser santificado.

1. 2 O PRINCÍPIO DO ANDAR NA LUZ


João 1.7 diz: “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está,
temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho
nos purifica de todo pecado”. Esse versículo não fala apenas de
confissão de pecado, mas, principalmente, de intimidade e do seu
real propósito: gerar verdadeira comunhão. O alvo da intimidade
Capítulo 1 – A verdadeira intimidade conjugal • 19

é a santificação diante da luz que recebemos em nosso ser integral.


Quando somos confrontados em nossas estruturas de orgulho e
egoísmo durante as tensões em nossos relacionamentos, temos
a oportunidade de nos arrepender e assumir uma nova posição
diante do comportamento errado. O mais fabuloso de tudo isso,
é que a santificação representa o processo de cura e libertação de
Deus em nossas vidas. Quando somos santificados, estamos ver-
dadeiramente livres para revelar a natureza de Deus aos outros e
tornar a prática do amor uma realidade. A santificação nos torna
parecidos com Jesus e ao imitá-lo, estaremos sendo um canal de
amor e vida onde estivermos.
No aconselhamento, conhecemos uma ferramenta muito
importante que têm tudo a ver com o princípio do andar na luz:
a janela de johari. Trata-se de uma ferramenta conceitual, criada
em 1955 por Joseph Luft e Harrington Ingham, para facilitar a ex-
plicação da comunicação interpessoal e nos relacionamentos com
o grupo.
O gráfico refere-se a uma pessoa em relação a outra quando
acabaram de se conhecer. Neste gráfico, que pode representar a
alma das pessoas, seu caráter e personalidade, é possível obser-
var que há áreas abertas reduzidas, áreas cegas e ocultas relativa-
mente grandes e áreas desconhecidas intactas. O desafio do casal
que pretende contrair matrimônio é tornar as áreas ocultas e cegas
cada vez mais abertas e livres, ajudando-se mutuamente, inclusi-
ve, a revelar a área desconhecida.
A intimidade é construída sobre o princípio da transparência
e da nudez de alma, do andar na luz. Num relacionamento, o casal
deve revelar não apenas o que esta do lado de fora, mas principal-
mente como cada um é internamente. Quando esse núcleo profun-
do e pessoal é revelado, o relacionamento pode construir a profun-
didade, largura, altura e comprimento que o amor vai ocupar5.

5
Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados
em amor, Poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o
comprimento, e a altura, e a profundidade, E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o
entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Efésios 3:17-19
20 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

DESCONHECEM

ÁREA ÁREA
OCULTA DESCONHECIDA
OU SECRETA
OUTROS
RECONHECEM

ÁREA ÁREA
ABERTA CEGA

RECONHEÇO DESCONHEÇO
EU
Figura 01 - Janela de Johari6

1. 3 DA INTEGRIDADE À FRUTIFICAÇÃO
Integridade é a qualidade daquilo que é completo, inteiro7.
Em um mundo corrompido como o nosso, é muito comum que
todos nós tenhamos passado por situações que feriram nossa in-
tegridade como indivíduo. As respostas que damos a essas situa-
ções é o que determina se permanecemos íntegros em nossas mo-
tivações e caráter ou se fomos corrompidos.
Pessoas feridas se escondem atrás da máscara da superfi-
cialidade nos relacionamentos, dando ênfase aos aspectos e atri-
butos externos em si e nos outros, a fim de esconder suas fragili-
dades, estruturas internas de orgulho e carater ferido. A maioria
dos relacionamentos tem iniciado sem o importante fundamento

6
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/administracao/a-janela-de-joha-
ri-o-que-e/35546
7
https://www.significados.com.br/integridade/
Capítulo 1 – A verdadeira intimidade conjugal • 21

da verdade, onde ambos tentam evidenciar o que têm, ou fingem


ter, para esconder quem de fato são. É preciso maturidade e cora-
gem, e quanto mais expomos nossas fragilidades num ambiente
seguro, mais geramos confiança no relacionamento e caminhamos
para uma mudança significativa nas nossas falhas de caráter, além
de nos permitir ser curados das feridas na nossa alma.
A maior crise da atualidade é a moral, pois ela esta dentro
das pessoas. Os relacionamentos se tornaram líquidos e o compro-
misso da atual geração tem sido com seus sentimentos e prazeres,
e não com Deus. Isso porque os seus relacionamentos familiares
não têm sido ambientes seguros na construção da verdadeira inti-
midade. A cultura hedonista do prazer pelo prazer gera um abis-
mo entre os indivíduos, aumentando, assim, o número de pessoas
feridas e que não se sujeitam a mudança no seu caráter distorcido
e afasta cada vez mais a próxima geração de Deus. A essência do
caráter de Deus é relacionamento. Quando falhamos nos nossos
relacionamentos com o nosso cônjuge e os nossos filhos, atrapa-
lhamos eles no seu relacionamento com Deus, pois a função pri-
mordial do marido, da esposa e dos pais, é refletir os aspectos do
caráter de Deus no seu relacionamento familiar: amor incondicio-
nal, perdão, misericórdia, graça, bondade, fidelidade, etc.
A melhor forma de lidar com a corrupção humana, é im-
plantarmos a cultura da cruz. Somente quando aprendemos a
priorizar a verdade libertadora revelada na palavra de Deus,
discernimos nossas falhas de personalidade e desenvolvemos
um caráter de obediência a Deus, é que podemos restaurar a in-
tegridade comprometida pelos traumas e abusos que passamos
ao longo da vida.
A integridade moral precisa ser restaurada para que a so-
ciedade possa experimentar de uma vida abundante dentro dos
relacionamentos. A INTEGRIDADE8 é o primeiro alicerce que

8
Estado ou característica daquilo que está inteiro, que não sofreu qualquer diminuição; ple-
nitude, inteireza. Caráter, qualidade de uma pessoa íntegra, honesta, incorruptível, cujos
atos e atitudes são irrepreensíveis; honestidade, retidão. https://www.significados.com.br/
integridade/
22 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

deve ser semeado pelo casal que deseja um casamento frutífero.


A integridade cria o ambiente onde os cônjuges podem descansar
e se entregar um ao outro, removendo as reservas pessoais, onde
ambos podem expor suas dificuldades e fragilidades, aceitando
correr riscos, até mesmo o de serem rejeitados. Mas todo risco se
torna investimento no casamento, pois a CONFIANÇA se tornou
o fruto da integridade semeada.
Dentro de uma relação onde existe integridade e confiança,
o casal terá um solo fértil para colher o fruto da INTIMIDADE. O
casal que chegou neste nível de colheita, terá um grande potencial
de frutificação em todas as áreas do relacionamento.
O Pastor Marcos de Sousa Borges | Coty nos ensina sobre 04
formas de se cultivar a integridade9:

1. Cuide das pequenas coisas - Seja fiel nas pequenas respon-


sabilidades, pois precisamos cuidar das pequenas coisas
em nosso relacionamento para produzir um ambiente de
confiança e segurança emocional. Se somos fiéis no pouco,
quando vierem os grandes desafios nosso caráter estará for-
jado no princípio da integridade. Nosso caráter é forjado na
integridade em nossa fidelidade no pouco.
Quando marido ou mulher negligenciam as mínimas
responsabilidades do dia a dia, o relacionamento é bom-
bardeado com sutis doses de aborrecimentos e decepções,
fazendo o frágil muro da confiança ser abalado. É possível
perceber essas características desde o namoro, muitos pro-
blemas de caráter se revelam em pequenas atitudes de falta
de integridade.
2. Diga não prontamente a tentação - Quanto mais rápido di-
zemos não a tentação, mais protegidos estaremos de nosso
mau desejo. Nossos instintos precisam ser treinados a fugir
de um mundo que realmente é cheio de tentações. Dizer não

9
Pastor Marcos de Sousa Borges | Coty, Ministração ‘Os quatro princípios para se cultivar a
integridade’.
Capítulo 1 – A verdadeira intimidade conjugal • 23

a tentação pode ser algo muito difícil ou muito fácil, depen-


dendo da rapidez de nossa resposta quando ela se apresen-
ta a nós. Dentro de um casamento isso é fundamental, pois
quando um dos cônjuges não caminha nesta verdade, o re-
sultado poderá ser um duro golpe na confiança do casal,
podendo até mesmo levar ao divórcio.
3. Não separe sua vida particular da vida pública - Desenvol-
ver transparência em sua vida particular é essencial. Não
faça nada que comprometa a sua integridade. Evite uma
fenda no seu caráter devido a um estilo de vida duplo.
Em nossos aconselhamentos, temos percebido que
muitos cônjuges têm negligenciado esse princípio. Esse
comportamento acaba vindo à tona cedo ou tarde, causan-
do um abalo no relacionamento conjugal. Ao separarmos
nossa vida particular da pública, estamos criando e vivendo
personagens que mascaram nossa verdadeira identidade.
Nenhum relacionamento pode permanecer diante dessa
manipulação e mentira.
4. Mantenha uma consciência limpa - O Apóstolo Paulo nos
recomenda isso biblicamente em Atos 24.16 Por esse moti-
vo, busco sempre manter minha consciência limpa na pre-
sença de Deus e dos homens. A nossa consciência é a parte
de nosso ser que se conecta diretamente à moral de Deus.
Precisamos manter nossa consciência em paz quanto às nos-
sas atitudes dentro do relacionamento, tendo a certeza de
que não fizemos nada que possa prejudicar o casamento.

Se um casal conseguir construir essas bases sólidas em sua


relação, o potencial para frutificação nas demais áreas será alto,
seja na criação dos filhos, nos projetos profissionais e ministeriais,
na vida sexual, no lazer ou nas finanças.
24 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

1. 4 A INTIMIDADE TORNA POSSÍVEL A PRÁTICA DO AMOR


O Pastor Marcos Granconato10 diz que é através da intimi-
dade conjugal que se torna possível e eficaz a prática do amor
dentro de um casamento. Ele cita 03 pontos sensíveis que a intimi-
dade conjugal revela na relação conjugal a medida que o casal vai
se descobrindo: Defeitos, Fragilidades e Anseios. Em todos estes
aspectos, o amor é a resposta bíblica para suprirmos essas áreas.

1. 4. 1 A intimidade revela os defeitos que o amor tentará corrigir


(Efésios 5.25-27)

O Amor sacrificial de cristo não está pautado nas falhas de


sua noiva, mas na certeza de que o seu amor é o caminho da santi-
ficação para sua igreja. Da mesma forma, dentro de um casamen-
to, o amor deve impulsionar tanto marido quanto esposa para ca-
minharem rumo à santificação. Os defeitos revelados dentro da
nudez da intimidade, devem ser corrigidos por ambos, a medida
que percebemos como eles afetam a relação e prejudicam a paz, a
unidade e a comunhão.

1. 4. 2 A intimidade revela as fragilidades que o amor tentará


compreender (Gênesis 18.12-15 cf. 22.2-3)
Deus não levou em conta a fragilidade da idade avançada de
Sara, esposa de Abraão, para cumprir sua promessa feita ao ma-
rido dela. Mesmo diante de Deus, Sara riu e até mesmo duvidou
de que aquilo pudesse se tornar verdade. Deus compreendeu isso
e mesmo assim executou seu plano e, conforme havia prometido,
Sara foi mãe do filho de Abraão. No casamento, as fragilidades de
ambos serão reveladas, mas isso não pode ser um impedimento
para que cada cônjuge cumpra a sua missão e propósito.

10
Pr Marcos Granconato - é graduado em Teologia pelo Seminário Bíblico Palavra
da Vida e em Direito pela Universidade São Francisco de Bragança Paulista. É
também Mestre em História Eclesiástica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Gra-
duação Andrew Jumper.
Capítulo 1 – A verdadeira intimidade conjugal • 25

1. 4. 3 A intimidade revela os anseios que o amor tentará suprir


(1 Samuel 1.1-8)

Elcana, marido de Ana, deixava claro seu amor por ela a


tratando com honra e dedicação. Mas isto não era suficiente para
Ana. Seu desejo era ter um filho e o fato de ser estéril lhe deixa-
va profundamente triste. Havia um desejo no seu coração de que
Deus pudesse ouvir sua oração e lhe conceder o que pedia, com
muita generosidade. Na vida conjugal, é muito importante estar-
mos atentos aos anseios de nosso cônjuge e sabermos comunicar
e ele o que também almejamos. Quando essa comunicação é bem
sucedida e da outra parte há um compromisso em tentar suprir
aquilo que de fato é uma necessidade do outro, o amor se tornou
uma prática do casal.

PARA FAZER JUNTOS


1. Como cada um de vocês entendeu a relação entre inti-
midade, transparência e andar na luz?
2. Como definir a INTEGRIDADE?
3. Neste capítulo, quais as formas sugeridas para cultivar
a integridade no relacionamento conjugal? Em quais
delas você e seu cônjuge precisam melhorar dentro do
seu relacionamento?
Capítulo 2 – Construindo a
verdadeira intimidade conjugal
Um estudo de 2011 mostrou que homens e mulheres envolvidos em
relacionamentos longos e duradouros, acima de 25 anos, expe-
rimentavam maior alegria dentro dos relacionamentos e maior
satisfação sexual. As mulheres relataram que ficaram mais satis-
feitas sexualmente somente após alguns anos de relacionamento,
depois que a intimidade e a comunicação do casal cresceu11.
Uma outra pesquisa, revelou que os casais que casaram vir-
gens, esperando a noite de núpcias para viver sua primeira expe-
riência sexual, são mais felizes e realizados do que aqueles que
anteciparam a recompensa sexual12. O Dr Weiss, psiquiatra e es-
critor, concluiu em sua pesquisa que aqueles que vivem uma vida
sexual consistente, dentro de um casamento, tem melhor satisfa-
ção sexual ao longo do tempo do que aqueles que vivem constan-
temente a trocar de parceiros, não gerando conexão espiritual e
intimidade emocional nesses relacionamentos.
Em meu livro O Impacto Pessoal e Social da Pornografia, faço
uma explanação sobre o quanto o uso de material pornográfico é
algo danoso para a construção da verdadeira intimidade conjugal.

11
JR Heiman, J.S. Long, S.N. Smith, W.A. Fisher, M.S. Sand, and R.C. Rosen, “Sexual satisfac-
tion and relationship happiness in midlife and older couples in five countries,” Archive of
Sexual Behavior 40 (August 2011), pgs. 741-753.
12
Bill Hendrick, Benefits of delaying sex until marriage, happier marriages, more satisfying
sex among perks, study finds,” WebMD, Dec. 28, 2010. http://www.webmd.com/sex-rela-
tionships/news/20101227/theres-benefits-in-delaying-sex-untilmarriage (accessed Feb. 26,
2013).
28 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

Os estímulos para uma pessoa que está conectada à pornografia


são visuais e virtuais, já aqueles que escolhem viver o sexo de for-
ma natural, vivenciam essas novidades nos toques, nas carícias,
nos beijos, no tom de voz, na temperatura da pele e na qualidade
do relacionamento13. O casal pode experimentar uma viagem ro-
mântica, novos perfumes, roupas novas e atividades prazerosas
antes, durante e depois do ato sexual. Há uma infinidade saudá-
vel de prazeres para um casal que se ama e que escolhe se prote-
ger da influência da pornografia ou das filías e parafilias sexuais.
O Dr Dan Erickson, autor e conselheiro de casais, diz: “Cada
pessoa carrega dentro de si uma área íntima. Quando esse núcleo profun-
do e vulnerável é compartilhado com outra pessoa, uma conexão profun-
da pode ser construída. Um casal pode fazer sexo sem intimidade e, isso
muitas vezes leva à insatisfação sexual dentro de um relacionamento,
mas quando o sexo se torna parte de expressões gerais de intimidade,
então a mágica acontece.”

2. 1 INTIMIDADE NÃO É SEXO


Aprendemos equivocadamente a associar estas duas pala-
vras devido à nossa cultura totalmente sexualizada e hedonista. O
Dr Dan Erickson define intimidade não apenas como “o que é?”,
mas “quem é?” Ele diz que “A intimidade é melhor escrita “para den-
tro de mim”. O ponto é olhar para outra pessoa e convidá-la a olhar para
você. A intimidade do casamento permite que marido e mulher abram
seus corações e mentes um para o outro. A intimidade é um dom gratuito
que você dá e recebe14.”
Por este motivo, a intimidade emocional deve vir antes da
intimidade sexual. Somente é possível viver a plenitude sexual
quando estamos conectados emocionalmente ao nosso cônjuge.

13
Robert Brooks, “The search for islands of competence: A metaphor of hope and
strength,” Monthly Articles, June 2005. http://www.drrobertbrooks.com/writ-
ings/articles/0506.html.
14
Luke Gilkerson - http://www.covenanteyes.com/2013/06/26/better-sex-true-in-
timacy/
Capítulo 2 – Construindo a verdadeira intimidade conjugal • 29

Desta forma, o sexo não é uma experiência apenas biológica, mas


algo que deve envolver o corpo, a alma e o espírito. Cathy Erick-
son, esposa de Dan, diz: “Homens, se você for íntimo, amoroso e cui-
dadoso com sua esposa, você terá todo o sexo que você precisa.”
Intimidade e unidade no casamento requerem esforço, exi-
gem tempo, renúncia e dedicação de ambas as partes que com-
põem este relacionamento, ou seja, para que as almas do marido
e da esposa estejam conectadas, devem se dedicar a conhecer pro-
fundamente um ao outro, cada um tendo uma real disposição de
mudar naquilo que afetar e ferir o seu relacionamento conjugal.
A união onde dois tornam-se um dentro de uma aliança de
casamento não é a festa de casamento em si ou o que acontece na
noite de núpcias. Estes eventos firmam a aliança, mas a unidade
verdadeiramente acontece quando se cumpre a palavra de Gênesis
2.25, em que ambos são ensinados por Deus a se desnudarem um
diante do outro, dia após dia, para atingirem a plenitude na intimi-
dade, inclusive, sexual, mas antes de tudo, na alma e no espírito.
O casamento tem o poder de trazer à luz coisas outrora
ocultas da nossa personalidade, desafiando o nosso caráter a se
moldar à imagem e semelhança do caráter de Deus na medida em
que decidimos amar o nosso cônjuge incondicionalmente.
A intimidade amedronta alguns porque nos torna vulnerá-
veis e expostos, mas é o melhor caminho para que sejamos aceitos
e amados incondicionalmente. Essa verdade está revelada em Gê-
nesis 2.25. É fundamental haver transparência nos relacionamen-
tos para que eles amadureçam, o que exige comunicação aberta,
disposição a se sacrificar pelo outro, ter a real intenção de agradar,
amar, honrar e respeitar o outro incondicionalmente.
Dr. Brad Miller, do Serviço de Aconselhamento de Restaura-
ção diz que “A verdadeira intimidade pode ser emocional, espiritual ou
física, mas raramente sexual”, disse ele. “A verdadeira intimidade procu-
30 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

ra responder: ‘Como posso conhecê-lo melhor?’, ‘Como posso satisfazer


suas necessidades?’ E ‘O que posso fazer por você15?’”
O Dr Dan Erickson recomenda 4 passos importantes para a
construção da intimidade conjugal16:

1. Afeto e Carinho - O casal deve investir em toques sem ape-


lo sexual, abraços e beijos, bem como palavras doces. No
dia a dia é muito importante o marido demonstrar para sua
esposa atitudes de amor e a esposa, por sua vez, investir em
responder ao marido com respeito (Efésios 5.21-33).
2. Comunicação Aberta - O casamento precisa ser o lugar onde
compartilhamos tudo em nossas vidas: nossas dores, trau-
mas, tentações, sonhos, frustrações e desejos. Deve ser um
ambiente sem julgamentos, um lugar seguro onde seremos
confortados e confrontados quando precisarmos. Não pode
haver críticas ou tentativas de consertar o outro. A melhor
forma de garantir isso é ouvindo ativamente aquele que es-
tiver compartilhando.
3. Desejo de Estar Juntos - É importante que ambos estejam
juntos desejando partilhar das experiências da vida um com
o outro. Normalmente, o individualismo de muitos homens
fere os relacionamentos. É certo que às vezes, precisaremos
de tempo para hobbies pessoais e alguns períodos de soli-
tude, mas isso deve ser muito equilibrado e o tempo com-
partilhado pelo casal deve ser priorizado por ambos. A qua-
lidade da intimidade muitas vezes vai estar relacionada ao
tempo que o casal investe em passar juntos, lembrando que
estar perto não significa estar junto. Estar junto é fazer o
outro sentir que é a sua presença que é importante naquele
lugar e momento .

15
O mesmo
16
Luke Gilkerson - http://www.covenanteyes.com/2013/06/26/better-sex-true-
-intimacy/
Capítulo 2 – Construindo a verdadeira intimidade conjugal • 31

4. Expressões de Amor e Afeto - A disposição em doar-se para


o cônjuge é muito poderosa na construção da intimidade.
Planejar datas especiais, ajudar nas tarefas diárias, fazer
surpresas, cumprir promessas, entre outras atividades, vão
ser atitudes recebidas com amor pelo parceiro. O Livro as 5
linguagens do Amor17, de Gary Chapman, pode ser muito
útil para entender como cada um dos cônjuges recebe e ofe-
rece amor.

Deus tem grande alegria na intimidade de um casal, por-


tanto, quanto maior a intimidade com Deus, mas estaremos com
o coração disposto a cumprir estes princípios de intimidade um
com o outro.

2. 2 A ARMADILHA DO ORGULHO
Em minha experiência com aconselhamento, entendo que
noventa por cento dos conflitos conjugais são provenientes de
uma guerra de orgulho entre marido e mulher, em que ambos ten-
tam provar um para o outro que o problema do casamento não
é culpa sua, mas do outro cônjuge, ou seja, ninguém assume sua
parcela de culpa ou responsabilidade no sentido de melhorar o
relacionamento. Acusar é sempre mais confortável do que admitir
que somos nós que precisamos mudar. Transferir a responsabili-
dade para o outro parece um bom caminho para o homem, mas
diante de Deus é um caminho de morte para o relacionamento.
Fomos feitos para ser o templo onde Deus habita e Ele dese-
ja que estejamos em constante transformação nas mãos dEle. Para
que essa transformação se torne efetiva e sustentável, Deus traba-
lha os nossos alicerces18. Ao longo dos anos, tenho aprendido que
as maiores mudanças que Deus deseja promover em nós come-

17
Palavra de Afirmação, Tempo de Qualidade, Presentes, Atitudes de Serviço e Toque físico.
18
Quando os fundamentos estão sendo destruídos, que pode fazer o justo? Salmos
11:3
32 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

çam do lado de dentro. As principais estruturas que nos afastam


dEle e que sustentam cadeias de pecados em nossas vidas estão
em nossas emoções, em nossas almas.
As desordens e descompensações internas, as estruturas
adoecidas em nossa personalidade e, principalmente, a nossa
incapacidade de nos sujeitar ao tratamento de Deus em nossas
vidas, são elementos de autossabotagem que precisamos discer-
nir e humildemente escolher o caminho da mudança ao aceitar a
correção de Deus.
Deus promove circunstâncias ou aproveita as que aconte-
cem conosco para derrubar essas estruturas e nos levar a firmar
nosso caráter, identidade e crenças na rocha que é sua palavra.
Quando uma tempestade acontece conosco, não devemos falar
“Porque isto esta acontecendo comigo?”, mas devemos dizer “o
que Deus está me ensinando com isso?”.
A estrutura interna que mais nos sabota e nos torna inimi-
gos de Deus19 é o orgulho. O orgulhoso é o maior opositor de sua
própria restauração e, por este motivo, o próprio Deus lhe resis-
te. Toda nossa justiça própria, motivações feridas, independência,
auto suficiência, soberba e tudo que é resultado do nosso orgulho
ferido será julgado por Deus. O orgulhoso vai se deparar com lu-
tas e desafios na família, casamento, emprego, finanças, ministério
que parecem uma forte investida de satanás, mas na verdade, são
circunstâncias permitidas pelo próprio Deus para que seu orgulho
seja confrontado e tratado.
Os humildes são honrados por Deus e recebem de sua gra-
ça e plenitude, mas os orgulhosos recebem a oposição direta de
Deus, pois sua graça não se mistura com o orgulho dos homens.
Justamente por pecar contra a humildade, o orgulho vai conectar
sua vítima a um crônico processo de esterilidade. A abundância
da graça e da generosidade de Deus estão ligados a um coração
purificado da arrogância pela humildade.

19
Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz a Escritura: “Deus se opõe aos orgu-
lhosos, mas concede graça aos humildes”. Tiago 4:6
Capítulo 2 – Construindo a verdadeira intimidade conjugal • 33

O orgulho é a algema do cativeiro humano e


a humildade é a chave que derrama a graça
de Deus e remove as correntes que nos
prendem ao pecado.
A fuga é a maior estratégia daquele que esta dominado pelo
orgulho. É a sua principal medida de autoproteção, manipulação
e rebelião. O orgulhoso pede o divórcio, abandona o casamento,
vai para fora do lar, volta para casa dos pais ou se esconde atrás de
ministério, do trabalho ou de outras atividades, pois tudo o que
ele deseja é fugir do confronto. Ele foge porque não quer ser con-
frontado e admitir que precisa mudar. Sempre esta se vitimizando
e seu “consolo” é acusar e culpar os outros por seus fracassos,
especialmente seu cônjuge, se escondendo, muitas vezes, atrás da
autopiedade e da autocomiseração.
O orgulho é o principal sintoma
de um caráter ferido.
A sutileza do orgulho é que aquele que é orgulhoso não
sabe que é. O orgulho ferido de alguém é a Jericó20 da nossa alma,
pois se torna para muitos uma fortaleza intransponível e, somente
quando nos sujeitamos à Deus através de um caráter de obediên-
cia forjado pela humildade, é que vamos conseguir derrubá-la e
avançar rumo a conquista de nossas almas.
Nossa vitória contra o orgulho consiste simplesmente em
aceitarmos ser vencidos por Deus. Discernir que somos orgulho-
sos, nos arrepender de nossa postura rebelde e, humildemente,
aceitar a correção de Deus, olhando para o argueiro que esta em
nossos olhos e escolhendo o caminho santificador da m
­ udança.
A chave da mudança do outro,
é a nossa mudança.
Dentro de uma aliança de casamento, quando aceitamos o
nosso cônjuge da maneira que ele é, e nos sujeitamos diante de

20
Jericó estava completamente fechada por causa dos israelitas. Ninguém saía nem
entrava. Josué 6:1
34 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

Deus à passarmos pelo processo de reforma em nosso próprio ca-


ráter e personalidade, independentemente da mudança do outro,
a nossa mudança será uma chave para que o outro mude também,
mais cedo ou mais tarde. Cada um é responsável apenas por sua
própria mudança.

2. 3 O PERIGO DO REPÚDIO
Quando um casal não constrói a intimidade como um ali-
cerce da vida conjugal, vai construir o oposto da intimidade, que
é o repúdio, à aversão pelo cônjuge. Muitos casamentos tem se-
guido o caminho escolhido por Marcos e Ana (casal do início do
capítulo 01), que é a total separação emocional e pessoal.
O repúdio é tudo o que vem da dureza do coração do ho-
mem . O repúdio acontece quando o relacionamento é inviabili-
21

zado no coração dos cônjuges. Isso normalmente acontece quando


negligenciamos os princípios que relatamos anteriormente. Pe-
quenas atitudes de falta de integridade vão produzindo descon-
fiança dentro do relacionamento, essa desconfiança vai eliminar
a intimidade conjugal, que por fim, vai acabar com esse relacio-
namento. O repúdio, muitas vezes, vai se traduzir em desonra,
rejeição, ódio, separação, divórcio, adultério, abandono do lar,
violência, entre outros males. Ele se torna uma barreira ou mu-
ralha emocional entre o casal que afasta os corpos e os desliga de
qualquer vínculo emocional.
O repúdio não permite que haja a confiança nem o descan-
so necessário dos cônjuges para que a entrega pessoal seja feita.
Marido e mulher passam a se relacionar com base em desonra e
desrespeito. O orgulho ferido de ambos governa as interações. Ao
invés de semearem amor na vida um do outro, ambos passam a se
atacar e argumentar de forma ineficiente sobre quem é o culpado
pela crise conjugal. O repúdio começa a crescer dentro do relacio-
namento conjugal justamente devido a falta de conhecimento e

21
Marcos de Sousa Borges | Coty, Pastoreamento Inteligente, Editora Jocum - Página 142
Capítulo 2 – Construindo a verdadeira intimidade conjugal • 35

negligência das necessidades pessoais e emocionais do cônjuge.


Quando nossas atitudes deixam de comunicar amor e afeto, pas-
samos a comunicar aversão e deslealdade.
O divórcio, no final, é apenas o dispositivo legal que oficia-
liza a separação de um casal, esta separação não foi instituída por
Deus, mas pelo homem, por causa da dureza do seu coração. O
Divórcio apenas formaliza diante da sociedade a dissolução de
um casamento. Ela é normativa e não autorizativa, Jesus deixa
claro que aquilo que Deus uniu, o homem não deve separar.
O pastor Marcos Granconato faz um paralelo bastante inte-
ligente entre o que pode destruir e o que vai ajudar a construir a
intimidade do casal. Ele compara sempre com o relacionamento
de Deus com a humanidade, mencionando que a ofensa e o pe-
cado do homem fizeram essa separação entre o homem e Deus22.
Geralmente, o repúdio, que é o caminho totalmente oposto à in-
timidade conjugal, vai se instalar dentro do relacionamento por
conta do pecado que um ou ambos cometem contra a aliança
matrimonial. A ofensa é o elemento que pode minar a confiança
e a intimidade deste relacionamento, levando-o a falência atra-
vés do repúdio.
Deus, no antigo testamento das escrituras, compara seu re-
lacionamento com o seu povo, Israel e Judá, como se fossem suas
esposas ou filhos. Mas, mesmo diante das ofensas do povo, Deus
sempre deu passos significativos para a nação de Israel continuar
fazendo parte de sua família e prosseguir no caminho de ter in-
timidade com Ele. Os homens que entenderam as ações de Deus
no sentido de restaurar essa intimidade com Ele, conseguiram vi-
ver ainda nesta vida a extraordinária experiência de ser um com
Deus. Hoje, com a nova Aliança, o novo testamento, a Igreja, é a
sua noiva. Disso podemos entender como o Casamento e Família

22
Isaías 59.1-3 - Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar;
nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem sepa-
ração entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que
não vos ouça. Porque as vossas mãos estão contaminadas de sangue, e os vossos dedos de
iniqüidade; os vossos lábios falam falsidade, a vossa língua pronuncia perversidade.
36 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

são importantes para Deus. Precisamos aprender a também valo-


rizar o casamento como Ele valoriza e nos comportar como sua
noiva até a chegada das bodas do Cordeiro.
O modo como Deus agiu para criar intimidade com o ho-
mem, pode ser adotado para promover a verdadeira intimidade
entre os cônjuges23. Quando Deus declara em Gênesis 1.26-27 que
fomos feitos à sua imagem e semelhança, ele esta deixando claro
que nosso principal chamado dentro do evangelho é imitarmos a
Cristo em todas as áreas de nossas vidas. Logo, não só PODEMOS
imitar a Deus para construir o nosso modelo de intimidade conju-
gal e entender o propósito do casamento, como DEVEMOS, com
toda a certeza, fazer isso. Para conhecer e crescer em intimidade,
PRECISAMOS OLHAR PARA DEUS E IMITÁ-LO dentro do casa-
mento e nas demais áreas de nossas vidas.
São pelo menos 04 passos dados por Deus para estabelecer
a intimidade com a humanidade24:

• DEUS SE REVELOU - Deus buscando essa intimidade co-


nosco, se revelou para que o conhecêssemos como ele é. Tra-
zer à luz o que estava oculto, tirou o véu, se mostrou, se fez
conhecido. Apenas aqueles que tem intimidade com Deus
podem compreender, viver e multiplicar essa verdade.
◦◦ Deus revelou sua vontade
◦◦ Deus revelou o seu caráter
◦◦ Deus revelou os seus mistérios e segredos
• DEUS BUSCOU INTIMIDADE - O homem estava distante
e Deus deu os primeiros passos para reconectar a humani-
dade com Ele (mesmo não sendo ele quem errou). Ele esta
tão comprometido em buscar intimidade, que após receber-

23
Pr Marcos Granconato - Crescendo na Intimidade Conjugal - Parte 02 (https://www.youtu-
be.com/watch?v=exiBz4kfZug)
24
Pr Marcos Granconato - Crescendo na Intimidade Conjugal - Parte 02 (https://www.youtu-
be.com/watch?v=exiBz4kfZug)
Capítulo 2 – Construindo a verdadeira intimidade conjugal • 37

mos a Cristo, Deus vem habitar em nós através do Espírito


Santo.
• DEUS PERDOOU - Deus decidiu perdoar em Cristo todas
as ofensas da humanidade. O caminho para a reconciliação
passa pelo perdão das ofensas e mágoas do passado. Oséias
talvez reflita mais claramente a maneira como Deus lidou
com as ofensas do povo. Várias vezes Israel o rejeitou, mas
ele sempre buscou essa aproximação com laços de amor.
Adotar um estilo de vida perdoador é fundamental para
construir a verdadeira intimidade.
• DEUS SE RESERVOU - Ele condicionou o crescimento da
intimidade com Ele ao temor do seu nome. “A intimidade do
Senhor é para os que o temem” Salmo 25.14. Significa que não
pode haver aproximação onde há pouco respeito. É impor-
tantíssimo que o casal respeite-se mutuamente por temor a
Deus. O temor a Deus é fundamental para que o casal cresça
em intimidade conjugal.

Nosso desafio como casal é caminhar para nos tornar uma


só carne, é ter um só pensamento e uma só conduta como casal.
Em Jeremias 32.39-41, Deus revela seu desejo para cada casal e
família, para o seu povo e Igreja: “Darei a eles um só pensamento
e uma só conduta, para que me temam durante toda a sua vida,
para o seu próprio bem e o de seus filhos e descendentes. Farei
com eles uma aliança permanente: Jamais deixarei de fazer o bem
a eles, e farei com que me temam de coração, para que jamais se
desviem de mim. Terei alegria em fazer-lhes o bem, e os plantarei
firmemente nesta terra de todo o meu coração e de toda a minha
alma. Sim, é o que farei”.
Nossa busca como casal precisa ser por agir de forma a es-
tarmos mais unidos em todas as esferas relacionais que existem
dentro de uma aliança de casamento. O repúdio faz com que o ca-
sal se distancie deste propósito divino para o matrimônio, família
e igreja, nós devemos dar e receber intimidade um ao outro, nos
38 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

dando a conhecer mutuamente. A medida que nos descobrimos


para o nosso cônjuge, estamos construindo um forte vínculo pes-
soal que proporciona essa união integral do casal. Desta forma,
o amor vai brotar nesta relação e o casal vai viver o que existe de
melhor dentro da proposta do matrimônio.
Viver o amor dentro de um relacionamento é uma das maio-
res dádivas que podemos experimentar nesta vida.

PARA FAZER JUNTOS


Você se sente íntimo do seu cônjuge? Pergunte a ele como me-
lhorar a intimidade do relacionamento e expresse o que en-
tende que pode melhorar a intimidade de vocês como casal.

1. Quais mágoas você tem do seu cônjuge?


2. Quais ofensas você entende que cometeu contra o seu
cônjuge?
3. Você conhece as linguagens de amor do seu cônjuge?
Escreva quais você imagina que são e depois pergunte
a ele(a) para ver se acertou. Depois peça para seu côn-
juge para fazer o mesmo.
4. Experimente por uma semana expressar mais afeto
e carinho para seu cônjuge. Abrace-o mais, elogie-o
mais, ajude-o mais em suas atividades e veja o resul-
tado.
5. O que você precisa perdoar do seu cônjuge e aceitar
como comportamento amoral que ele não precisa mu-
dar, mas que você precisará aprender a conviver com
estes comportamentos sem se sentir ofendido?
Capítulo 3 – O sexo integral
Pedro e Helena estão casados há apenas 05 anos e ele se queixa da
falta de desejo sexual de sua esposa. Pedro fala que é muito difícil
que ambos consigam ter mais do que três relações sexuais no mês
e tem se mostrado frustrado com a vida sexual dentro do seu casa-
mento. Ele confessou que muitas vezes procurava na pornografia
o “alívio” para seu desejo sexual.
Helena, por sua vez, reclama que o marido normalmente
a trata com grosseria e não tem cumprido com suas obrigações
dentro do lar. Ela se sente sobrecarregada por cuidar das crianças
sozinha e ter que fazer os serviços em casa sem a ajuda do marido.
Quando ela quer conversar sobre seus sentimentos e necessida-
des, ele sempre se mostra impaciente e desinteressado. Ela fala
chorando que o único momento em que ele a procura de forma ca-
rinhosa, é quando quer fazer sexo. Helena se sente usada e pensa
que ele não a ama, que só esta com ela para o ato sexual.
Quando Helena cede aos apelos do marido, se sente suja e
usada. Normalmente, ele é egoísta na hora do sexo e só pensa no
seu próprio prazer. Quando acabam de se relacionar sexualmen-
te, ele toma banho e, sem nenhuma demonstração de carinho por
ela, vira às costas e dorme. Algumas vezes, Helena chora depois
do ato sexual, em outras vezes, ela vai ao banheiro se “satisfazer”
sozinha, pois o marido lhe negava esse direito. Isso a deixava mais
triste e se sentindo culpada, pois ama a Deus e não quer fazer isso
para chegar ao prazer. Nos momentos mais tensos do seu dia, seu
marido a procura para ter relações sexuais, tornando o sexo entre
eles uma experiência ruim para ela.
40 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

Essa situação vivida por Pedro e Helena acontece em muitos


lares cristãos e não cristãos. Pensar que sexo é apenas o momento
em que o casal esta a sós em seu quarto, durante o ato conjugal, é
um grande equívoco. Existem elementos que precedem o momen-
to do ato sexual do casal mas que têm tudo a ver com sexo e tem
sido negligenciados. Em muitos casos, tal negligência tem provo-
cado o bloqueio na intimidade sexual dos cônjuges.
Sexo deve ser visto de uma forma integral na vida conju-
gal para que os cônjuges vivam a plenitude dessa dádiva criada
por Deus. Quando estamos focados apenas no ato sexual que é
compartilhado dentro do quarto do casal, corremos o risco de es-
tar nos relacionando sexualmente de uma maneira superficial e
insatisfatória. Pensando e agindo dessa forma, estaremos apenas
unindo nossos corpos biologicamente e perdendo a oportunidade
de experimentar uma realidade muito mais abrangente e profun-
da no que diz respeito a natureza sexual que temos.
O sexo criado por Deus foi feito para ser vivido em uma at-
mosfera mais completa pelos casados. Não é uma união de corpos
apenas, é uma união de dois seres integrais no âmbito do espírito,
alma e corpo. Dentro de cada uma dessas esferas, temos uma área
que compõe a dinâmica do sexo integral:

• Adoração (espírito) - Este âmbito vai envolver nosso temor


a Deus e aos seus mandamentos. Quando nosso relaciona-
mento sexual esta dentro da cobertura espiritual de Deus,
nossa aliança de casamento se valerá da proteção divina em
diversas esferas na vida conjugal e familiar. Uma das maio-
res proteções ao rendermos nossa vida sexual aos padrões
de Deus será a blindagem contra a imoralidade e a perver-
são sexual.
Ao praticarmos sexo dentro dos princípios de pu-
reza que foram criados por Deus, vamos experimentar a
real natureza do sexo em nosso casamento. O mesmo deve
ser uma expressão de generosidade e amor entre o casal e
Capítulo 3 – O sexo integral • 41

não apenas uma experiência biológica. Estaremos dando


e recebendo amor através do sexo e não tirando o nosso
prazer do outro, além disso, protegidos do abuso sexual
e emocional, pois com a proteção de Deus, o sexo será um
ato de amor e adoração.
Ao tomar a decisão de se relacionar espiritualmente,
emocionalmente e sexualmente dentro dos padrões divinos,
estamos construíndo um casamento próspero e frutífero. O
relacionamento vai exalar o perfume de Cristo e ambos vão
conhecer o real significado do que é vivenciar o sexo em
AMOR. Haverá menores riscos de bloqueios, o afeto e as
demais áreas deste casamento vão crescer e amadurecer. Ao
ver tudo isso, os filhos do casal receberão informações cor-
retas sobre sexualidade, estarão abertos a construir, em seu
devido tempo, suas famílias e a bondade desses pais será
visitada por Deus em muitas gerações.
• Vínculo (Alma) - Essa área vai estar ligada ao que podemos
experimentar a partir da intimidade emocional que deve ser
construída pelo casal antes da intimidade sexual como já
explicamos anteriormente.
Quanto maior a transparência, integridade, respon-
sabilidade e atitudes de afeto e carinho sem apelo sexual,
maior será o vínculo de amor e apego emocional neste re-
lacionamento. O caráter precisa ser o maior atrativo nesta
esfera dentro da visão do sexo integral.
O interesse em conhecer as necessidade do cônjuge e
se esforçar para supri-las, vai promover um fortalecimen-
to do vínculo afetivo do casal. Precisamos proporcionar a
saciedade das emoções através de uma postura de doação
incondicional de amor e afeto. Ao nos sentirmos saciados e
seguros do amor de nosso cônjuge, vamos ter essa impor-
tante área preparada para todas as demais áreas relevantes
do relacionamento, inclusive o ato sexual.
42 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

Cuidar das necessidades do outro é o dever de cada


um dos cônjuges. Os principais bloqueios sexuais que acon-
tecem em uma relação são motivados, principalmente, por-
que muitos casais, assim como no caso de Helena e Pedro,
têm negligenciado essa importante área da intimidade con-
jugal. Atitudes de deslealdade, egoísmo e brutalidade ferem
o vínculo emocional do casal, abrindo fendas no relaciona-
mento que, se não forem resolvidas, podem construir um
bloqueio emocional entre os cônjuges. Quanto maior o vín-
culo entre marido e mulher, maior será a atração sexual.
• Atração (corpo) - Geralmente ela vai estar ligada ao que ve-
mos exteriormente nas pessoas. Podemos considerar como
fatores externos o corpo, a condição financeira, o status, a
carreira e qualquer outro elemento exterior que possa pro-
duzir atração em si e no outro.
Não podemos viver e compreender o sexo apenas do
ponto de vista da atração, pois a bíblia diz que, como se-
res humanos, somos uma unidade em três: espírito, alma
e corpo25. Nossos corpos não são algo que temos, são uma
parte do que somos. Uma ligação sexual apenas no ambien-
te do corpo, não vai produzir saciedade plena e duradoura
para o casal, pois negligencia outros aspectos importantes
do nosso ser, na nossa alma e no nosso espírito. O ato sexual
precisa atingir todas as áreas para ser absoluto e realizador.
É justamente por restringirem o sexo a apenas a super-
ficialidade da atração que muitos casais estão naufragando
em sua vida sexual. Alguns estão seguindo conselhos de
“especialistas” que, diante do bloqueio sexual do casal ou
esfriamento do relacionamento, estão recomendando “api-
mentar” a relação com pornografia, brinquedos eróticos, re-
médios para a ereção e, até mesmo, a prática de perversões

25
E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo,
sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. 1
Tessalonicenses 5:23
Capítulo 3 – O sexo integral • 43

sexuais. Esses pseudo-conselhos só pioram a situação da


vida sexual do casal e podem levá-los ao divórcio.
Olhar para o sexo apenas do ponto de vista da atra-
ção pode produzir em nós um comportamento abusivo e
viciado. Não devemos estar apegados ao sexo, devemos nos
apegar ao nosso cônjuge.

3. 1 A VERDADEIRA LIBERDADE SEXUAL


Um estudo26 realizado por uma universidade de Toronto no
Canadá, reuniu os dados de mais de 30 mil americanos durante
mais de 40 anos, para estabelecer a relação ideal entre sexo e feli-
cidade. O estudo mostrou, que a felicidade dentro de um relacio-
namento não esta ligada à quantidade de vezes que um casal faz
sexo. Outra pesquisa27, realizada pela universidade americana de
Carnegie Mellon, concluiu que o ato sexual sozinho, não é respon-
sável pelo aumento da felicidade conjugal.
Para se viver a verdadeira liberdade sexual dentro do ca-
samento, o sexo deve ser praticado em um ambiente de afeição
e apego emocional com o cônjuge. Sexo deve ser feito quando
estamos cheios de amor e segurança emocional dentro do nosso
casamento e não para suprir carência ou desejos carnais. Desta
forma, nosso alvo será transbordar todo o amor que escolhemos
ter pelo nosso cônjuge e o sexo será muito mais prazeroso, al-
cançando toda a sua plenitude, como Deus planejou. Sexo têm
pouco a ver com técnicas, gritos e brinquedos eróticos. Sexo esta
relacionado a atitudes, palavras e ações que expressem afeto e
amor pelo nosso cônjuge.
Não devemos fazer sexo para conter os impulsos e desejos
sexuais, mas porque temos a convicção de que somos amados e
queremos exercitar esse amor pelo nosso cônjuge da maneira mais
profunda que Deus nos abençoou.

26
http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1948550615616462
27
https://www.cmu.edu/dietrich/sds/docs/loewenstein/IncreasedSexualFrequency.pdf
44 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

Alguns acreditam que o casal vive uma maior liberdade na


intimidade sexual quando consegue experimentar de toda sorte
de prática dentro do ato conjugal. “O sexo conjugal não foi cria-
do para que homens e mulheres realizem suas fantasias sexuais e
desejos eróticos nutridos na adolescência ou durante a vida pro-
míscua, ele tem a finalidade de PROTEGER, ALEGRAR E COM-
PLETAR a vida do casal28”.

• PROTEGER - O casal vai estar protegido e guardado emo-


cionalmente e sexualmente, quando viver o sexo com liber-
dade mas sem libertinagem, com o cuidado de estar vivendo
os princípios de pureza revelados nas Escrituras Sagradas,
livre de abusos e da construção de perversões sexuais;
• ALEGRAR - No relacionamento conjugal, ambos terão al-
guém comprometido com sua alegria e satisfação sexual, o
vínculo será entre marido e mulher e o ato sexual será um
ato de celebração e júbilo;
• COMPLETAR - O sexo não será uma experiência superficial
e física, será algo que alcançará o casal de maneira integral,
suprindo-os fisica, emocional e espiritualmente.

A maior intimidade conjugal é experimentada quando am-


bos se conhecem e se esforçam para atender as necessidades do
seu cônjuge29, principalmente, as afetivas e emocionais. Desta for-
ma, as carências serão curadas com amor e não com lascívia. É
importante ressaltar que o sexo não foi feito para suprir carência
emocional. Esse é um grande equívoco, pois expõe as pessoas à
crimes sexuais, seduções e toda sorte de abuso. Sexo não pode
suprir nossa necessidade de amor.
As carências são inerentes ao ser humano, mas podem ser
agravadas pelos relacionamentos abusivos, onde deixamos de re-

28
O mesmo
29
Pastor Marcos Granconato - https://www.youtube.com/watch?v=uiOrlv3q0rY
Capítulo 3 – O sexo integral • 45

ceber a nutrição emocional necessária ou sofremos traumas e se-


duções. Quanto mais importante é a pessoa para nós, maior pode
ser a ferida causada por ela. O comportamento viciado nasce da
tentativa de fugirmos da dor emocional com algum tipo de subs-
tância ou comportamento.

3. 2 O PERIGO DAS CARÊNCIAS EM RELAÇÃO AOS VÍCIOS


As substâncias viciantes acabam dando pequenas doses de
prazer, que logo se transformam em dolorosas crises de abstinên-
cia. O dor dos traumas ainda permanece no indivíduo e muitos,
não sabendo lidar com essa situação, se entregam cada vez mais
ao vício como forma de escapar daquele desconforto temporaria-
mente. Com a compulsão sexual é a mesma coisa. Não se trata de
uma substância química, mas têm o mesmo efeito viciante, com o
agravante de ferir profundamente a si mesmo e a outros30.
A melhor forma de lidar com tudo isso, é aceitar as perdas
que sofremos no passado devido a relacionamentos tóxicos, cruci-
ficando toda dor emocional através do perdão, rasgando a dívida
daqueles que nos feriram e falharam conosco, assumindo a nossa
responsabilidade de seguir em frente e construir uma vida nova.
Aquele que não perdoa, se coloca como juiz sobre seus ofen-
sores e tende a repetir o abuso que sofreu ou a ser vítima siste-
maticamente de abusos semelhantes. Quando, porém, decidimos
perdoar ao que nos ofenderam e nos arrepender das decisões erra-
das que tomamos a partir dessas ofensas, derrubamos as paredes
da rejeição e da rebelião, e podemos usar os escombros para cons-
truir degraus para o nosso crescimento pessoal em direção ao que
Deus tem para cada um de nós.

30
I Coríntios 6.18
46 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

3. 3 VÍNCULO E APEGO EMOCIONAL


Jesus resumiu a Lei, os mandamentos, em apenas dois: “Ame
o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo
o seu entendimento.” e “Ame o seu próximo como a si mesmo31”.
Estes mandamentos mostram em quem deve estar nosso apego e
vínculo emocional: no nosso relacionamento com Deus e com as
demais pessoas. Mas, o que é vínculo e apego emocional? Qual a
diferença entre eles?

• Vínculo Afetivo ou Emocional32, trata-se de um relaciona-


mento emocional e psicológico duradouro no qual o outro
é considerado importante. Pode ser desenvolvido nas rela-
ções com amigos, filhos, cônjuge, etc.
• Apego - É o comportamento emitido para ativar cuidados
dos responsáveis. De acordo com Jhon Bowlby33: “o papel
do apego se reflete nas ações de uma pessoa para alcançar
ou manter proximidade com outro indivíduo. A função
principal atribuída a esse comportamento é biológica, cor-
respondendo a uma necessidade de proteção e segurança.”

O conceito da Teoria do Apego surgiu a partir do estudo do


vínculo desenvolvido por recém-nascidos com as suas mães e ou-
tros cuidadores. Quem deu início a esses estudos foi o psiquiatra e
psicanalista John Bowlby, em contato com crianças órfãs e sem lar
que apresentavam dificuldades após a Segunda Guerra Mundial.
Ao procurar entender melhor como os vínculos entre mãe e filho
eram desenvolvidos, porque eles se importavam e como eles se
comportavam, Bowlby desenvolveu a Teoria do Apego. Essa teo-

31
Mateus 22:37-39
32
http://suelentomasi.blogspot.com/2015/01/apego-ou-vinculo-entenda-diferenca.html
33
Edward John Mostyn Bowlby - psicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico, notável por seu
interesse no desenvolvimento infantil e por seu trabalho pioneiro na teoria do apego.
Capítulo 3 – O sexo integral • 47

ria, posteriormente, foi enriquecida e esclarecida com os estudos


da psicanalista Mary Ainsworth34.
A teoria propõe que crianças se apegam instintivamente a
quem cuide delas, com a finalidade de sobreviver, incluindo o de-
senvolvimento físico, social e emocional. Já nos adultos, este re-
lacionamento torna-se mútuo, sendo responsabilidade de ambos
esse cuidado e atenção. Os psicanalistas Cindy Hazan e Phillip
Shaver aplicaram a teoria do apego a relacionamentos românti-
cos adultos a partir da década de 1980. Eles observaram que os
relacionamentos não são idênticos, mas que os princípios que per-
meiam são os mesmos ligados à teoria do apego.
Existem quatro tipos de apego nas relações pessoais:

• Apego Seguro - É o tipo de apego harmônico, construído


sobre as bases ideais. Neste tipo de apego, o casal experi-
menta de intimidade e interdependência devido a segu-
rança que ambos tem dentro de relacionamento. Sentem-se
amados e protegidos e suas necessidades, normalmente, es-
tão sendo bem comunicadas e atendidas dentro da relação.
As opiniões sobre o relacionamento e o parceiro são positi-
vas e demonstram satisfação.
• Apego Evitante - Neste tipo de apego há fortes ações e sen-
timentos de independência e auto suficiência. Essas pessoas
veem a si mesmos como auto-suficientes e evitam senti-
mentos associados com estar intimamente ligados a outros,
muitas vezes negando a necessidade de ter relacionamentos
mais íntimos. Geralmente, esse tipo de apego surge quando
alguém teve experiências negativas em relacionamentos an-
teriores e ainda guarda ressalvas e ressentimentos em seu
coração.
• Apego Ambivalente - Neste tipo de apego, as pessoas bus-
cam um alto grau de intimidade, aprovação e receptividade

34
http://actinstitute.org/blog/teoria-do-apego-entenda-o-que-e-conheca-os-4-tipos-de-vin-
culo/
48 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

de seus pares, tornando-se dependentes emocionais do par-


ceiro. Quando existe falta de reciprocidade da outra parte,
sentem-se inseguros e, normalmente, se culpam por isso,
pensam que a falta de resposta do outro é sua culpa.
• Apego Desorganizado - Este tipo de apego está presente em
pessoas que desejam e entendem que precisam de intimida-
de, mas têm várias reservas quanto a ela. Elas querem estar
envolvidas emocionalmente mas se sentem desconfortáveis
com a intimidade emocional. Estes sentimentos, por vezes,
estão combinados com opiniões negativas sobre si e sobre
seus parceiros, não havendo confiança nas intenções do ou-
tro ou, ainda, pode estar relacionados fortes sentimentos de
inferioridade, em uma pessoa se vê como não merecedora
do afeto do seu companheiro.

O apego é algo importante nos relacionamentos, assim como


o vínculo emocional. Precisamos estar apegados de forma segura
e vinculados emocionalmente às pessoas e não ao que podemos
usufruir a partir delas. Em nossos aconselhamentos, temos perce-
bido que vários casais não tem vivido essa verdade, pois muitos
homens estão apegados ao sexo, ao trabalho ou ao ministério, a
atividades externas com os amigos, a vídeo games, etc, enquanto
muitas mulheres estão apegadas aos filhos, ao conforto financeiro
que recebem de seus maridos, e até mesmo a suas carreiras profis-
sionais, entre outros, quando deveriam estar conectados através
do apego seguro um ao outro.
Estamos observando que muitos tem se ligado a coisas ou
atividades que deveriam ser periféricas dentro de sua relação con-
jugal. Normalmente, os aconselhamentos começam com um dos
cônjuges relatando uma série necessidades pessoais e emocionais
negligenciadas pelo outro. Geralmente, são as esposas que come-
çam falando. Quando chega a vez do marido, o mesmo segue a
atitude da esposa, relatando as negligências sofridas e os erros
Capítulo 3 – O sexo integral • 49

que ela cometeu, principalmente quando se sentem desrespeita-


dos por elas.
Quando o apego não é seguro, ou seja, quando ambos não
estão concentrados em comunicar e atender as necessidades um
do outro, isso vai prejudicar o vínculo emocional do casal. O abis-
mo relacional do casal será maior e muitos acabam se escondendo
no trabalho, em casos extra-conjugais, em bebidas e várias outras
formas de aliviar equivocadamente as tensões produzidas no re-
lacionamento. Tais escolhas vão afastar ainda mais o casal, gerar
conflitos e abusos diversos.
É no dia a dia, no desafio da convivência, que nossas neces-
sidades são reveladas. São nas pequenas tarefas diárias em que
somos negligenciados pelo outro que são geradas feridas. Quan-
do os cônjuges não conversam sobre isso e deixam acumular
suas queixas, essas pequenas necessidades não supridas podem
se tornar um problema enorme na vida conjugal. A parte ofendi-
da começa a se isolar, se tornar mais independente e até mesmo
negligenciar propositalmente as necessidades do outro também,
abrindo uma fenda cada vez maior no relacionamento. Esse tipo
de resposta é bastante imatura, mas temos percebido que essa si-
tuação é cada vez mais comum.
Muitos problemas conjugais poderiam ser evitados se o diá-
logo acontecesse, se aprendêssemos a comunicar nossos sentimen-
tos de forma clara e sem ferir o outro. O casal não deve acumular
essas situações ou adiar conversas que deveriam ser prioridade.
Alguns cônjuges vão acumulando esses sentimentos no porão de
suas almas, aumentando a distância devido às mágoas que estão
sendo geradas. É importante saber dialogar e, durante a conversa,
o foco precisa ser esgotar e resolver o assunto, falar dos sentimen-
tos, e não esgotar o outro e desgastar o relacionamento. Certas
maneiras de abordagem afastam ainda mais a possibilidade de re-
conciliação. Críticas e acusações afastam o outro. Nossa sugestão
é que a conversa sempre comece na primeira pessoa do singular
falando sobre como se sente diante de atitudes do cônjuge que fe-
50 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

rem sua confiança e afetam sua segurança no relacionamento. Não


acumulem conflitos. Trate-os pontualmente e procurem aprender
com eles, tornando-os oportunidades de crescer e amadurecer.
Cuidar das pequenas coisas no dia a dia protege o casal des-
sas mágoas. Atitudes simples como perguntar como o outro esta,
abraços sem apelo sexual, respostas positivas a pedidos e necessi-
dades comunicadas, perguntar, por exemplo, como o outro deseja
que seja feito algo que ele pediu para fazer e se esforçar para fazer
conforme solicitado, são gestos que afirmam amor e cuidado, o
desejo de agradar, que fortalecem os laços emocionais do casal35.
Construir e manter o vínculo emocional no casamento vai deman-
dar esforço e humildade dos cônjuges.

3. 4 OS VERBOS DO AMOR EROS


Estamos vendo neste capítulo o quanto atitudes que comu-
niquem o valor e a importância que damos ao nosso cônjuge e
suas necessidades podem criar uma atmosfera ideal para o sexo
ou criar bloqueios na relação. Viver uma vida plena só é possível
dentro de uma aliança de casamento que esta firmada nos alicer-
ces e princípios revelados nas Escrituras Sagradas.
Solteiros não podem construir um vínculo emocional pro-
fundo com outro, pois a própria natureza do relacionamento já
mostra que ambos estão separados. O solteiro esta comprometido
com seu prazer pessoal e seus sentimentos. Ele não tem a identi-
dade de pertencer a alguém.
Paulo nos ensina em 1 Coríntios 7.3-5 que os verbos do Sexo
são SER e PERTENCER: O Corpo do Marido (SER) PERTENCE
à esposa. o corpo da ESPOSA (SER) PERTENCE ao marido. Logo,
para que haja relação sexual, é necessário uma aliança conjugal
que dá uma nova identidade ao solteiro (sozinho): a identidade
de Marido ou de Esposa. A identidade confere a ambos, o direito
de propriedade de um sobre o outro. SER e PERTENCER são ver-

35
I Coríntios 7.32-34
Capítulo 3 – O sexo integral • 51

bos que fornecem ao casal um limite para sua atuação sexual que
proporciona um ambiente de segurança e de proteção para ambos
e para a sociedade.
Fui ensinado no passado que o verbo do sexo era FAZER,
mas esse verbo não comunica proteção e segurança, muito menos
sentido no ato sexual. Então, ao perceber os prejuízos sociais que a
prática sexual irresponsável causa, pude entender mais do caráter
protetor e cheio de amor de Deus ao criar este contexto de limites.
Deus planejou que o ato sexual aconteça apenas dentro de
uma aliança de casamento justamente porque não devemos pra-
ticar sexo com quem NÃO É nosso cônjuge, ou seja, cujo corpo
NÃO PERTENCE a nós. Se tomarmos este cuidado e usarmos os
verbos SER e PERTENCER quando pensarmos em sexo, ao invés
do verbo FAZER imposto pela vida mundana, evitaremos muitos
males sociais. O sexo fora da aliança só gera prejuízos pessoais
e sociais, como abusos, incestos, feridas emocionais, abandonos,
doenças venéreas, gravidez indesejadas, abortos ou geração de fi-
lhos bastardos, dentre outros tantos problemas.

3. 5 OS ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA O SEXO CONJUGAL


Angelo, de 55 anos, e Ofélia, de 49, são um casal de pastores
casados há quase 30 anos e alicerçados naquilo que a palavra de
Deus diz sobre aliança e casamento. Jamais passou pela cabeça
de nenhum deles a ideia de trair um ao outro. Segundo as pala-
vras do próprio casal, eles viviam uma boa relação conjugal, mas
a vida sexual deles era insatisfatória, principalmente para ela.
Durante anos, Ofélia ficou calada sobre isso e descobriu que
o tempo não resolve situações como essa. Ofélia chegou ao ponto
de não conseguir mais esconder sua frustração diante da passivi-
dade do marido. Ela, por vezes, o tratou com falta de respeito e
desonra devido a essa situação em seu coração, mas ela não con-
seguia se abrir para ele e falar de sua insatisfação sexual, princi-
palmente, por causa do comportamento egoísta do marido sobre
esse assunto.
52 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

Quando compartilharam comigo esta situação, pude expli-


car ao casal alguns dos elementos essenciais para um vida sexual
satisfatória para ambos. Essas informações trouxeram uma reno-
vação na mente deles, que aprenderam a se comunicar de forma
mais aberta sobre suas emoções e sentimentos, criando, assim,
um ambiente sem crítica ou julgamento, onde cada um pôde com-
preender o outro e ambos passaram a se empenhar para que os
anseios de cada um fossem atendidos.
Em nossas últimas conversas por telefone, ele relatou que
ambos estão indo bem, construindo uma vida conjugal realiza-
da, mesmo reconhecendo que ainda têm muito o que aprender
com o outro.
Neste capítulo, pretendemos abordar alguns princípios e
valores essenciais para uma vida sexual satisfatória. Não falare-
mos sobre posições sexuais, brinquedos eróticos, fantasias sexuais
e práticas inusitadas de sexo, POIS ESSAS PRÁTICAS OU COM-
PORTAMENTOS NÃO GARANTEM UMA VIDA SEXUAL SA-
TISFATÓRIA PARA O CASAL. No máximo, vão produzir euforia
artificial e passageira.
Sexo não têm a ver com o que esta do lado de fora, SEXO
TEM TUDO A VER COM O QUE ESTA DENTRO DE NÓS. O que
importa para a realização sexual é o cônjuge, e isso deve bastar. A
companhia e a presença do marido e da esposa é suficiente para
que o casal construa, através de elementos essenciais, uma vida
sexual satisfatória. Para isso, os seguintes elementos são impor-
tantes e devem refletir positivamente na vida sexual do casal que
as praticar.

3. 5. 1 Saúde
Existem doenças que podem interferir na qualidade da vida
sexual do casal. Cuidados com a alimentação, prática de exercí-
cios ou atividades físicas, não apenas garantem uma boa quali-
dade de vida, como também, pode proporcionar uma vida sexual
satisfatória.
Capítulo 3 – O sexo integral • 53

3. 5. 2 Comunicação e Diálogo Aberto


Para conhecermos as reais necessidades, anseios e até mes-
mo bloqueios e frustrações de nosso cônjuge, devemos adotar
a comunicação aberta, direta e sem críticas no casamento. Para
crescermos na intimidade sexual, é importante nos sentirmos li-
vres para falar e ouvir as considerações, pedidos e queixas um
do outro.
Não será imitando o que se vê na televisão, cinema ou ma-
teriais pornográficos que atingiremos o ápice do prazer sexual,
mas sim o diálogo, combinado à prática de dar e receber intimi-
dade conjugal. Cada pessoa é única e singular na sua intimida-
de, por isso, o foco do casal precisa ser o outro, e não o que esta
fora dele, mas o que esta dentro de cada pessoa em particular.
Quando o casal se conhece e se dá a conhecer, então essa des-
coberta do outro vai abrir o horizonte do casal para crescer na
liberdade e no prazer sexual.
Se o casal entendesse este princípio do diálogo dentro da
relação, não seriam necessárias horas de aconselhamento. Ambos
devem comunicar ao cônjuge suas zonas erógenas, seus descon-
fortos, posições sexuais que causam prazer ou dor.
O marido e a esposa devem ser especialistas apenas no cor-
po um do outro, e somente boas conversas sobre suas preferên-
cias, no que diz respeito a toques, carícias, posições, melhores ho-
rários, etc, os alinharão nestas questões. A paz deve ser o árbitro
entre os dois e o consenso precisa existir no que diz respeito à
conduta sexual do casal. A esposa e o marido precisam ser francos
um com o outro quando algo gerar desconforto, seja nas práticas
ou nas posições habituais durante o ato conjugal. O objetivo é que
seja prazeroso e divertido para ambos.
Cada um deve investir em conhecer o outro e em se dar a
conhecer, sem a necessidade de terem tido experiências sexuais
anteriores ou de interferências com materiais ou orientações ex-
ternas e estranhas. Envolvimentos sexuais anteriores podem atra-
palhar mais do que ajudar, pois o corpo e os gostos de cada pessoa
54 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

são particulares nestas questões sexuais, além disso, pode gerar


comparações ou expectativas que poderão ser frustradas. Todas
as experiências anteriores ou mesmo após o casamento, nos casos
de adultérios, precisarão ser redimidas para que o leito conjugal
não tenha interferências ou mácula36.
Nesses casos, a confissão, o arrependimento e o pedido ge-
nuíno de perdão são necessários neste processo de restauração da
pureza do leito conjugal, que deverá ser conservado puro.
Homem e mulher devem se guardar enquanto solteiros e
se descobrirem juntos quando se casarem. Os pais dos noivos
tem um papel importante em transmitir cuidados, orientações e
princípios, mas cabe ao casal a divertida tarefa de descobrirem-
-se mutuamente.
Outro ponto importante na comunicação, é quando não há
disposição para o sexo por uma das partes, isso deve ser bem
comunicado e compreendido. É preciso investigar o por quê do
desinteresse. Às vezes, um dos cônjuges passou por traumas que
o bloquearam na sua sexualidade. Nesses casos, a compreensão
e a disposição de falar sobre o que aconteceu são muito impor-
tantes. O cônjuge pode vir a se tornar instrumento de cura nestas
situações. Existem casos que podem estar relacionados à saúde
de um dos cônjuges, especialmente quando uma das queixas é
dor durante a relação sexual. Nesses casos será preciso, interven-
ção médica.

3. 5. 3 Disposição para Ouvir


Quando há uma verdadeira disposição em ouvir o cônjuge,
sem uma postura crítica, as chances de se conhecer e se compreen-
der aumenta.
Aurélio é casado com Claudia há 06 anos e eles têm dois
filhos. Em uma tarde de aconselhamento, combinamos de apenas
ouvirmos o que ela tinha a dizer e ele poderia falar com tranqui-

36
Hebreus 13.4
Capítulo 3 – O sexo integral • 55

lidade no dia seguinte. Claúdia levou duas horas e meia falando


sobre toda a sua frustração naquele relacionamento.
Sua maior queixa era a de que não podia falar nada ao ma-
rido, pois quando tentava procurá-lo para uma conversa pessoal,
desejando expressar suas necessidades pessoais e as dos filhos,
Aurélio sempre se mostrava indisposto e mandava que ela calasse
a boca. Cláudia repetiu várias vezes a cena dele colocando o dedo
indicador entre os lábios e mandando ela ficar calada. Naquele
dia ele se sentiu muito envergonhado e viu o quanto a sua indis-
posição em querer ouví-la a machucou. Pediu perdão e entendeu
o quanto precisava mudar de atitude. A conversa com ele no dia
seguinte nem mais se fez necessária.
Ao darmos ouvidos ao nosso cônjuge, demonstramos um
gesto de amor, interesse e responsabilidade. É significativo ter se-
renidade nessas horas e buscar sempre esgotar o assunto e não um
ao outro. Ao demonstrarmos interesse em ouvir nosso cônjuge,
estamos abençoando sua vida e investindo de uma maneira muito
positiva em nosso relacionamento.

3. 5. 4 Acordo
Os acordos ajudam a estabelecer limites saudáveis e permi-
tem que a vergonha seja removida do leito conjugal. É muito mais
comum os casais terem diferenças quanto a resposta sexual, prio-
ridades e outros elementos da vida do que concordarem entre si.
Chegar a um acordo sobre as diferenças, sempre ajuda a dirimir
tensões no casamento e permitem que o lar tenha mais harmonia.

3. 5. 5 Cuidado mútuo
O sexo é muito prazeroso, mas sem o devido cuidado, os
cônjuges podem se expor a situações de dor ou doenças. Cada
cônjuge deve estar concentrado em proteger e cuidar do prazer
do outro. Existem práticas sexuais que expõe o cônjuge a riscos e
56 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

devem ser evitadas ou vão exigir um maior cuidado e atenção no


momento da sua prática.

3. 5. 6 Disposição a Perdoar
O dia a dia do casal proporciona uma série de situações que
podem levar o casal a circunstâncias de comunhão mais intensa.
Como pessoas, somos falhos e desapontamentos e ofensas aca-
bam acontecendo no relacionamento. A prática do perdão dentro
do casamento é essencial para que o casal supere as tensões e se
proteja da armadilha da ofensa.
Quando endurecemos o nosso coração e resistimos a per-
doar, um bloqueio emocional começa a ser construído entre o ca-
sal e a vida sexual é afetada direta ou indiretamente. As ofensas
tem o poder de remover a admiração, a confiança e o descanso na
vida conjugal se não houver disposição para perdoar. Os cônjuges
que aprendem os benefícios terapêuticos do perdão terão sempre
condições de fazer uma limpeza em seus corações diante das ten-
sões do relacionamento, mantendo acesa a chama do amor, dei-
xando o caminho aberto para a reconciliação e evitando bloqueios
emocionais na área sexual.

3. 5. 7 Descanso
Para uma prática sexual saudável, é importante que o clima
entre o casal seja de relaxamento e descanso. Este estado pode ser
tanto físico quanto emocional. Quanto mais os cônjuges estive-
rem supridos emocionalmente e descansados fisicamente, mais a
qualidade do sexo pode ser potencializada, pois ambos podem se
entregar de forma integral.
Qualquer tensão emocional deve ser resolvida antes do ato
sexual. Se o clima entre ambos não é bom, então é melhor resolver
aquilo que esta causando tensão do que tentar relaxar com o sexo.
Forçar a relação sexual sem antes resolver as tensões pode causar
frustração no mínimo em um dos cônjuges. Quando o casal se aju-
Capítulo 3 – O sexo integral • 57

da na vida cotidiana do lar, dividindo as tarefas e o cuidado com


os filhos, há mais possibilidade de ambos estarem descansados
física e emocionalmente para o ato sexual.

3. 5. 8 Generosidade
Ambos devem ter disposição para se doar e abençoar no ato
sexual, pois não é um momento para egoísmo e individualismo.
Ao concentrar-se no prazer do outro, o casal abre caminho para
a satisfação sexual de ambos e, o melhor de tudo, sempre haverá
disposição das duas partes para o sexo.
O foco do sexo deve ser abençoar o cônjuge. Quando nosso
principal alvo é expressar ao cônjuge o amor que sentimos por ele,
como expressão de gratidão e generosidade37.

3. 5. 9 Exclusividade
Algo público jamais pode ser considerado íntimo. O senso
de pertencer esta na exclusividade e na fidelidade. Se quebrarmos
essa essência da identidade e do pertencimento, então não é sexo,
é lascívia. A exclusividade e fidelidade protegem o casamento e
permitem que o casal se entregue sem reservas. A falta de exclusi-
vidade e fidelidade são razões de haver na sociedade vários males
como a violência sexual e doenças sexualmente transmissíveis.

3. 5. 10 Celebração
O sexo pode ser comparado com a “santa ceia” do casal,
pois é um momento de renovação de aliança entre o marido e a
mulher. Não pode ser considerado algo banal ou comum, nem
feito de qualquer jeito. O casal deve celebrar o amor todas as ve-
zes em que se amam através do ato sexual. Ambos devem dar o

37
Deus os abençoou, e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subju-
guem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos
os animais que se movem pela terra”. Gênesis 1:28
58 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

máximo de si para alegrar o outro, mas sem ferir seus valores e


princípios. Deve ser um momento de alegria e júbilo e não um
fardo pesado.

3. 5. 11 Resumindo os elementos essenciais para o sexo


• O sexo exige uma preparação antes, para que o relaxamento
e a alegria necessários sejam construídos.
• O sexo exige cuidado durante o ato conjugal, para que am-
bos estejam realizados e saciados física, emocional e espiri-
tualmente;
• O sexo exige cuidado e atenção depois que o ato é consu-
mado, pois é importante valorizar e elogiar o cônjuge após
o sexo para comunicar que o interesse de ambos é celebrar o
amor entre eles e não usar e abusar do outro.

3. 6 O QUE NÃO É SEXO


Toda relação sexual onde não existe um vínculo emocio-
nal seguro de amor, a proteção de uma aliança e a disposição
de se doar e abençoar o outro, não é sexo, é ABUSO. O foco
do ABUSO é TIRAR e não doar, é fruto de carências e atitudes
egoístas de quem as pratica. Sexo não foi feito para suprir ca-
rências. Quando tentamos compensar nossos déficits de amor
com concupiscência, vamos abrir um abismo entre nosso rela-
cionamento e o amor.
Sexo não deve ser praticado quando estamos vazios por
nossas carências, mas quando estamos cheios de amor, supridos
emocionalmente ao ponto de transbordarmos esse amor na vida
um do outro. Sexo não tem nada a ver com performances, lugares
ou brinquedos eróticos, pois o sexo não deve ser movido pelo que
esta do lado de fora, mas sim pelo que esta dentro de nós.
Ao usarmos o sexo para tentar dirimir um déficit emocional,
não estaremos expressando amor para a outra pessoa, estaremos
apenas abusando dela para conseguirmos o prazer que queremos.
Capítulo 3 – O sexo integral • 59

Os relacionamentos sexuais sem vínculo emocional entre os prati-


cantes é um relacionamento abusivo, pois ambos apenas querem
suprir suas carências, tirando seu prazer, usando e abusando da
outra pessoa. Isso não é liberdade sexual, pois tal prática revela
que estamos prisioneiros de nossos déficits emocionais e vai pro-
duzir mais carências.
Quando nos apegamos a esses comportamentos, estaremos
agindo da mesma forma que aqueles que nos abusaram. Esse tipo
de apego nos torna insensíveis às necessidades das outras pes-
soas, desumaniza nossos relacionamentos porque se trata de um
comportamento viciado, cujo foco do dependente é apenas TIRAR
dos outros aquilo que ele não tem.
Quando abrimos mão da cosmovisão de Deus sobre o que é
sexo, e optamos por viver a libertinagem ao invés da verdadeira
liberdade sexual, estaremos expondo nossas vidas e a de outras
pessoas a doenças físicas, emocionais e a males sociais:

TIPOS DE RELAÇÕES CONSEQUÊNCIAS DO


SEXUAIS ABUSIVAS PECADO SEXUAL
• Sexo Consensual entre não • Gravidez indesejada;
casados; • Aborto;
• Sexo Virtual; • Orfandade;
• Prostituição; • DST´s;
• Zoofilia; • Crimes Passionais;
• Pedofilia; • Crimes Sexuais;
• Incesto; • Vício Sexual;
• Estupro; • Adultérios;
• Abuso Sexual e muitos outros; • Divórcios;
• Tráfico Humano, etc.

Figura 02 - Quadro indicativo de tipos de relações sexuais abusivas e algumas de suas


consequências.
60 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

3. 7 SEXO X ABUSO
Uma das maiores características do vício sexual, por exem-
plo, é a falta de vínculo emocional entre os que o praticam. O ape-
go esta no lugar errado e o sexo é a principal motivação daquele
homem ou mulher ao estar com alguém. O sexo esta no centro da
vida da pessoa e seus relacionamentos estão voltados para isso.
Nenhum relacionamento se sustenta quando nossa motivação é
o sexo. Geralmente, esse comportamento vai produzir aversão no
casal e abusos em diversas áreas podem acontecer.
Observe no quadro abaixo as principais diferenças no sexo
que Deus planejou e as relações abusivas, tão predominantes na
sociedade:

SEXO SEM CATIVEIRO ABUSO SEXUAL


• Vínculo com Cônjuge • Vínculo com o sexo
• Expressa o amor • Tenta suprir carência
• O foco é se doar • O foco é tirar
• Esta suprido emocionalmente • Esta vazio emocionalmente
• Se concentra e valoriza o que • Se concentra e valoriza o que
esta do lado de dentro esta do lado de fora
• Combina de forma equilibrada • Tem a dose errada de AFETO e
AFETO + LIMITES LIMITES
• ALTRUÍSTA • EGOÍSTA

Figura 03 - Quadro comparativo evidenciando as diferenças entre o sexo sem cativeiro e o


que não é sexo.

4
Capítulo 3 – O sexo integral • 61

PARA FAZER JUNTOS


1. Sondem o coração antes de terem relação sexual. Se
perceberem que a motivação de pelo menos um de
vocês para o sexo é errada, peçam para Deus condu-
zir esse momento que é uma dádiva para o casal se
­deleitar.
2. Pergunte ao cônjuge como ele deseja ser tratado nestes
momentos de intimidade sexual entre vocês e como
você pode satisfazê-lo, o que mais o agrada na relação
sexual e em que podem melhorar.
3. Como seu cônjuge se sente protegido?
4. Quais atitudes suas alegram seu cônjuge?
5. Quais são as suas carências e como tem buscado
preenchê-las?
6. Qual o seu tipo de apego com seu cônjuge: Seguro,
Evitante, Ambivalente ou Desorganizado?
7. Relatem quais necessidades pessoais e emocionais
têm sido negligenciadas um pelo outro.
Capítulo 4 – O desafio da
comunicação na intimidade
A comunicação é processo verbal ou não verbal de transmitir uma
informação a outra pessoa, de maneira que ela entenda o que está
sendo dito38. Comunicar-se efetivamente é um desafio a ser venci-
do dentro de nossos relacionamentos, especialmente, no casamen-
to. O casal que aprende a falar e ouvir as necessidades pessoais
um do outro, tem uma grande vantagem no processo de construir
um casamento frutífero e abençoado, a verdadeira intimidade
conjugal. Boa parte dos conflitos conjugais é resultado de um pro-
cesso de comunicação ineficiente e distorcido.
Saber comunicar seus anseios mais íntimos é desafiador.
Aqui reside o problema da maioria dos casais: há uma enorme di-
ficuldade em se conseguir comunicar as necessidades individuais
e, principalmente, de que o outro as perceba mesmo quando são
faladas. Geralmente, as mulheres se tornam críticas em relação a in-
sensibilidade dos maridos em perceber o que elas estão comunican-
do, já os maridos reclamam que as esposas não são claras em sua
comunicação e relatam não conseguir entender o que elas dizem.
Isso geralmente acontece porque a linguagem usada para
os homens é diferente da que as mulheres fazem uso. Uma pes-
quisa da Associação de Serviços Familiares da América constatou
que 86% dos casais sofre com a DIFICULDADE EM SE COMUNI-

38
Kemp, Jaime; Livro Antes de Dizer sim: um guia para noivos e seus conselheiros, Editora
Mundo Cristão, Página 62
64 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

CAR39. Crag e Jan Hill falam em seus seminários Veredas Antigas


da linguagem tópica e da relacional. Vamos explicar resumida-
mente aqui:

• Linguagem Tópica - Trata do assunto em questão, vai dire-


to ao ponto. O foco da comunicação é aquilo que esta sendo
tratado e não as pessoas que estão envolvidas na conversa.
O homem se comunica melhor através dessa linguagem.
• Linguagem Relacional - Trata da identidade de quem re-
cebe a mensagem. Neste tipo de comunicação, a maneira
como o outro fala, as mensagens subliminares e as pessoas
que estão comunicando são mais evidenciadas do que o
próprio assunto em si. As mulheres valorizam muito a lin-
guagem relacional.

Um exemplo que podemos utilizar é quando o marido, sa-


tisfeito, leva sua esposa para jantar fora. Ao ver o cardápio, porém,
ele comenta sobre o valor exorbitante do prato preferido da espo-
sa apenas como uma observação econômica. No entanto, a esposa
pode se sentir ofendida achando que ele está dizendo que ela não
merece aquele investimento. Uma situação como essa pode aca-
bar com o que deveria ser uma noite agradável para o casal.
Para dirimir conflitos e comunicar uma mensagem, é neces-
sário que nossa linguagem corporal, nossa entonação de voz e as
palavras que usamos não atinjam a identidade da outra pessoa.
Uma forma mais adequada de tratar a situação talvez seria ele
explicar para ela, antes de observar o valor do prato, que vale à
pena todo investimento no bom relacionamento dos dois como
casal e que ele gostaria de poder fazer isso com maior frequência,
mas o valor daquele prato não lhe permite isso na atual situação
econômica que estão vivendo.

39
http://doishemhum.blogspot.com/2016/05/comunicacao-topica-e-relacional.html
Capítulo 4 – O desafio da comunicação na intimidade • 65

Os homens, geralmente, se utilizam da linguagem tópica e


as mulheres, da linguagem relacional. Esse é um dos motivos para
a grande quantidade de ruídos na comunicação conjugal.
Algumas atitudes nos ajudam a comunicar de forma asser-
tiva nossas necessidades um ao outro. Vejamos:

• Ouvir Ativo - Mostrar interesse no que o outro fala, evitan-


do fazer outras atividades enquanto o cônjuge esta comuni-
cando uma necessidade, dando, assim, total atenção a ele.
Quando achar necessário, faça perguntas para que não fique
dúvidas acerca do que o outro esta tentando comunicar.
• Comunicar as necessidades sem atacar o outro - Muitos er-
ram neste ponto quando, ao se sentirem negligenciados, ao
invés de focarem em suas necessidades e sentimentos, citam
uma enorme lista dos erros do outro, que, por sua vez, se
sente atacado e ofendido, obstruindo o canal de comunica-
ção entre eles. É importante evitar as críticas e se concentrar
nas suas reais necessidades e sentimentos.
• Demonstrar empatia e que o outro é importante - Precisa-
mos assumir que nosso ponto de vista não é a verdade ab-
soluta e que a outra pessoa pode estar correta em sua forma
de agir e pensar. É muito importante saber comunicar sem
ferir o outro, mostrando que está disposto a ouvir o que a
outra pessoa tem a dizer e, até mesmo, se desculpar caso sua
opinião tenha mais coerência.

Trate um assunto por vez: Muitas brigas acabam aconte-


cendo quando iniciamos uma conversa com uma determinada
situação específica e acabamos misturando o assunto com várias
outras situações diferentes que aconteceram no passado. Quan-
do alguém se torna histórico e histérico ao mesmo tempo, causa
grande confusão na comunicação.
66 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

4. 1 QUAL O SEU NÍVEL DE COMUNICAÇÃO NO SEU CASAMENTO?40


O Pastor Jaime Kemp é fundador da Missão Vencedores
para Cristo e autor de mais de 70 livros. Ele deu importantes con-
tribuições para a igreja brasileira desde a década de 60. Quero
abordar algumas de suas contribuições aqui.
Há pelo menos cinco níveis de comunicação e convidamos
cada casal a avaliar em que nível estão se comunicando e a enten-
der os desafios que precisam ser vencidos para chegar ao nível
ideal de comunicação, que tem tudo a ver com intimidade41.

4. 1. 1 Nível Cinco – Conversa Superficial:


Esse nível esta acontecendo quando há entre o casal apenas
conversas curtas e superficiais, como saudações, respostas vazias
e nada de diálogo prolongado ou compartilhamento de ideias
ou sentimentos. O casal permanece afastado e conversa o míni-
mo possível, mesmo quando estão realizando tarefas e atividades
próximos um ao outro. Nesses casos, boa parte do dia é preen-
chida com o silêncio e com distrações. Às vezes, apenas um dos
cônjuges se comporta assim, o que machuca muito o outro.
A intimidade exige nudez completa, isso inclui sentimentos,
projetos, ideias, dificuldades, fragilidades e anseios. Nesse nível
de comunicação, o casamento é sabotado e acaba sendo marcado
por um profundo sentimento de engano, devido ao acontecimen-
to de alguns fatos sem que o outro tenha envolvimento ou tenha
dado o seu consentimento.
A conversa superficial, geralmente, é usada como mecanis-
mo de defesa, que deseja fugir de intimidade. Possivelmente, essa
pessoa quer esconder quem ela realmente é ou esta dominada
por fortes sentimentos de culpa e vergonha. Pessoas feridas na
infância ou que nunca experimentaram um nível de comunicação

40
KEMP, Jaime; Antes de Dizer Sim, Editora Mundo Cristão, Página 62
41
KEMP, Jaime; Antes de Dizer Sim, Editora Mundo Cristão, Página 62
Capítulo 4 – O desafio da comunicação na intimidade • 67

profunda dentro de casa com pais e irmãos, podem transferir esse


comportamento para o casamento.
A confiança não existe ou é baixa, de modo que o cônju-
ge que se comporta assim não consegue se entregar e descansar
para que a intimidade seja construída com o seu companheiro.
Geralmente, a solução para os problemas pessoais são buscadas e
encontradas fora do casamento. Esse nível de comunicação é pe-
rigoso e arriscado, pois torna o casal vulnerável a intervenções
externas em questões que deveriam ser íntimas do casal.
O perigo deste nível de comunicação é que, se ele não evo-
luir, possa contribuir para o fim do relacionamento, que é quando
os cônjuges já nem mais se comunicam.

4. 1. 2 Nível Quatro – Relato de Fatos:


Neste nível de comunicação, o casal ou um dos cônjuges
apenas reporta fatos que aconteceram com eles ou com outras
pessoas, não havendo comentários adicionais ou sentimentos en-
volvidos, de modo que a pessoa não permite que o cônjuge se
conecte com o que ela pensa e sente a respeito do que esta sendo
dito. Nesta fase, a pessoa consegue ir além das saudações e res-
postas vazias, relatando alguns acontecimentos do dia ou situa-
ções que lhe chamaram a atenção, ou seja, houve um desejo de
compartilhar, mas não o suficiente para que se abrisse para uma
conversa mais profunda e de intimidade pessoal um com o outro.
A comunicação para ele ainda é limitada e superficial, pois
não foi construído um ambiente de segurança e confiança no re-
lacionamento conjugal. A disposição daquele que conta os fatos
pode aumentar ou diminuir, à medida que a disposição do que
ouve demonstra interesse no que esta sendo relatado.
O perigo deste nível de comunicação é progressivamente
caminhar para o fim do relacionamento, que é quando os cônju-
ges ja não se comunicam mais, são dois estranhos e a comunicação
pode ser agressiva.
68 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

4. 1. 3 Nível Três – Verbalização das ideias e julgamentos


Neste nível de comunicação, há o início de uma real intera-
ção, em que o casal começa a relatar e a compartilhar ideias e pen-
samentos, assumindo o risco de se contrariarem. Mesmo assim,
conseguem expor suas ideias e sugestões. Sempre que nos abri-
mos para a intimidade, nos expomos para a rejeição ou críticas. É
por esse motivo que muitos preferem se manter “seguros” atrás
da barreira da autoproteção e da superficialidade. Aqueles que
se lançam em direção a intimidade, pagam o preço da exposição,
mas vão colher os frutos da transformação que cada um dos côn-
juges deve passar para experimentar uma vida abundante dentro
da relação.
Ao escolher sair da falsa sensação de segurança que a super-
ficialidade ocasiona, o casal começa a caminhar rumo a intimida-
de na comunicação, garantindo uma real proteção do casamento,
onde ambos começam a encontrar respostas para as questões pes-
soais e emocionais.

4. 1. 4 Nível Dois – Verbalização de Sentimentos e Emoções


O casal que consegue chegar a esse nível de comunicação
está indo muito bem! Nesse nível, há disposição em compartilhar
sentimentos, ideias e pensamentos. O cônjuge que esta neste nível
de comunicação confia no outro para abrir suas áreas mais vulne-
ráveis e está pronto a convidar o seu cônjuge a fazer parte deste
núcleo profundo e ajudá-lo a encontrar as respostas que procura.
Aqui a comunicação é baseada na honestidade e na disposi-
ção completa de se abrir, assumindo o risco de ser rejeitado e cri-
ticado, mas disposto a ser humilde para estabelecer as mudanças
que se fizerem necessárias. Quando ambos estão neste nível de
comunicação, experimentam amizade e cumplicidade, bem como
admiração e respeito um pelo outro. A opinião do outro será sem-
pre mais importante e significativa que a opinião de qualquer ou-
tra pessoa, de modo que o acordo entre eles será imprescindível
Capítulo 4 – O desafio da comunicação na intimidade • 69

para tomada de decisões ou para se chegar a solução de questões


mais particulares de cada um.
Nesse nível de comunicação, o amor existe e é experimen-
tado por ambos, pois o casal entendeu o conceito e a importância
da transparência na proteção do casamento e da família. Há con-
fiança e descanso dentro deste casamento e os cônjuges estão, a
cada dia, mais confortáveis para compartilhar suas necessidades
e suprir um ao outro nestas necessidades.

4. 1. 5 Nível Um - Revelação das Necessidades Pessoais e Emocionais


Neste nível de comunicação entre cônjuges, o momento de
estarem juntos é desejado por ambos. Os braços do marido e da
esposa se tornaram lugares de conforto e compreensão. Ambos
estão nus na sua alma um para com o outro e não se envergo-
nham. Vivem num ambiente de confiança e descanso que per-
mite uma transparência pessoal curadora. Eles compartilham
mutuamente os defeitos, as fragilidades e os anseios de cada
um, de modo que, o amor que sentem um pelo outro vai tentar
compreender, corrigir e suprir.
Quanto mais íntimos um do outro, mais revelação de Deus
o casal receberá e mais sarados serão. Aprenderão a contar com
Deus e a orar um pelo outro. Nesse nível de comunicação, o casal
consegue viver dentro do seu casamento o caráter divino e se tor-
nam participantes da natureza de Deus.
70 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

4. 2 PRINCÍPIOS PARA UMA COMUNICAÇÃO EFICAZ42

4. 2. 1 É Sempre Uma Via De Duas Mãos43


Mais do que aprender a falar, precisamos aprender a ouvir
o outro com interesse, dar atenção completa (olhos e gestos), pois
isso gera identificação com emoções e sentimentos, sendo uma de-
monstração de amor e preocupação.
Parar o que está fazendo, olhar para o cônjuge e dar aten-
ção é uma poderosa demonstração de amor e cuidado. O cônjuge
precisa saber que está sendo ouvido e que está recebendo a devida
importância. Isso vai gerar o encorajamento necessário para que
ele (a) se sinta cada vez mais confortável para compartilhar de sua
intimidade.

4. 2. 2 Escolha O Tempo Certo Para Se Comunicar44


Conversas tensas em momentos de cansaço e desgaste físico
pode gerar resistência. É muito importante que o sol não se po-
nha sobre nossa ira, mas é uma questão de sabedoria discernir um
bom momento para tratar assuntos que envolvam tensão.
Por outro lado, quando um dos cônjuges percebe a inquie-
tação do outro, é muito importante se dispor a ouvir e ajuda-lo a
encontrar uma solução ou orar com ele.
Não discutir na frente dos filhos é uma questão de sabedo-
ria e proteção por parte dos pais, pois as grandes tensões no re-
lacionamento dos pais, os faz sentir medo e insegurança e pode
feri-los emocionalmente.
Também não discutam em público, procurem ter as conver-
sas mais tensas em um ambiente reservado. Evitar discutir ou tra-

42
KEMP, Jaime; Antes de Dizer Sim, Editora Mundo Cristão, Página 65 a 72.
43
Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar,
tardio para se irar. Tiago 1:19
44
Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Efésios 4.26
Capítulo 4 – O desafio da comunicação na intimidade • 71

tar assuntos sérios quando um dos dois está envolvido em uma


atividade importante ou significativa. Procurem sempre combinar
horários e locais para terem conversas mais significativas. Nestes
casos, deve haver uma disposição genuína para honrar o compro-
misso assumido e estarem dispostos a desgastar o assunto e não
um ao outro.

4. 2. 3 Fale Sempre A Verdade, Mas Fale Em Amor45


A verdade precisa ser um dos alicerces do relacionamento
desde o início. Infelizmente, a tendência natural do ser humano é
se esconder e manipular, principalmente se de fato existem pro-
blemas de caráter ou emocionais que prejudicariam a “conquista”
do outro. Tais eventos cedo ou tarde serão descobertos e o relacio-
namento será ferido profundamente, então é muito melhor tratá-
-los no início e dar ao outro o direito de ir embora, se quiser.
Ao falar a verdade, não precisamos ferir o outro. Quando
precisamos confrontar nosso cônjuge em uma determinada atitu-
de, precisamos fazer isso em amor. Podemos realizar essa tarefa
sem feri-lo. É muito importante compartilhar a verdade comuni-
cando nossos sentimentos e emoções relacionadas ao evento que
se deseja compartilhar, ao invés de ficar acusando o outro de nos
ferir propositalmente.
Quando minha esposa me procura e sua comunicação esta
direcionada a mim ou ao que eu fiz, normalmente eu recebo em
forma de crítica e me fecho ao seu conselho. Porém, quando ela se
comunica evidenciando a maneira como se sentiu em decorrência
de uma atitude minha, geralmente me quebranto e procuro corri-
gir aquele comportamento.

45
Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos mem-
bros uns dos outros. Efésios 4:25
72 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

4. 2. 4 Não Use O Silêncio Para Manipular Ou Ferir46


O silêncio pode representar indiferença, manipulação ou
uma tentativa de ferir. Geralmente, é uma atitude imatura, efetua-
da quando há intenção de atingir o outro ou conseguir dele o que
se espera. Ficar em silêncio numa conversa acaba se tornando algo
cruel e que afasta o casal do caminho da verdadeira intimidade.
O silêncio planejado e proposital é errado e vai afastar o casal de
uma solução definitiva e saudável de uma tensão
Um pastor amigo compartilhou que gostava de usar o si-
lêncio em seus relacionamentos quando se sentia contrariado ou
ofendido. Segundo ele, era sua arma secreta para ferir o outro e
obrigá-lo a pedir desculpas e “sair por cima” diante da situação.
Quando ele se casou, na primeira semana de casamento, a sua
esposa, que até então não havia conhecido sua arma secreta, fez
algo que ele reprovou. Então, na mesma hora, ele usou seu com-
portamento manipulador de ficar em silêncio.
O que ele não esperava é que sua esposa também permane-
cesse em silêncio e indiferente à atitude dele. Essa atitude dela o
deixou furioso e também curioso. Depois de sete dias sem troca-
rem uma palavra, ele resolveu procurar a esposa e questionar se
ela não iria procurá-lo para resolver aquela situação. Sua esposa
respondeu algo que o fez abandonar sua, até então, bem sucedida
tática de controle. “Eu achava que tinha casado com um homem,
mas na verdade eu vi que eu casei com um menino…” Naquele
momento, ele resolveu abandonar seu comportamento infantil e
assumir uma postura diferente diante das tensões conjugais.
Quando a motivação para o silêncio é boa e nossa hesitação
em responder é porque precisamos de mais tempo para pensar
sobre o assunto, devemos deixar isso claro ao nosso cônjuge para
que ele não se ofenda e entenda que estamos dando importância
para aquilo que ele falou.

46
A língua benigna é árvore de vida, mas a perversidade nela deprime o espírito. Provérbios
15:4
Capítulo 4 – O desafio da comunicação na intimidade • 73

4. 2. 5 Não Seja Precipitado No Falar47


Espere o outro terminar de falar para poder responder. Cor-
tar o outro, tentando adivinhar o que vai dizer, é falta de educa-
ção, respeito e consideração. Essa atitude é um grande inimigo
da boa comunicação, pois, geralmente, vai trazer para a conversa
tensão e irritação. O orgulho vai tomar o lugar que deveria ser
de humildade e a conversa pode terminar com o dois feridos e
afastados.
O casal precisa abandonar esse hábito o mais rápido possí-
vel e exercitar o ouvir ativo no dia a dia.

4. 2. 6 NÃO PROMOVA CONTENDAS48


É possível discordar sem causar uma contenda. Muitos aca-
bam perdendo a razão pela maneira como discordam do que o
outro falou. A palavra branda acalma o coração enfurecido, mas
a palavra áspera pode machucar emocionalmente e gerar repúdio
dentro do relacionamento.
Tenho observado que, a grande maioria dos casais, tem di-
ficuldade em expor e esgotar o assunto ao invés de se esgotarem
um ao outro, pois o assunto que deveria ser o centro da comunica-
ção é esquecido enquanto, num momento de tensão na conversa,
passam a se atacar.
“Uma das maiores feridas na comunicação acontece quan-
do a pessoa que esta comunicando não se sente compreendida.”
Defender apenas o próprio ponto de vista e não estar aberto
para uma vista de todos os pontos, pode promover contendas que
podem levar o casal a agressões verbais e físicas. É importante en-
tender que o outro pode ter uma perspectiva diferente sobre o que
você está compartilhando e nem sempre você estará com a razão.

47
O coração do Justo medita o que há de responder, mas a boca dos perversos transborda
maldades. Provérbios 15.28
48
Como o abrir-se da represa, assim é o começo da contenda; desiste pois, antes que haja rixas.
Provérbios 17.14
74 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

Como casal, precisamos aprender a nos comunicar de for-


ma a não atacarmos um ao outro. Em uma discussão, não culpe
ou critique o seu cônjuge, ao contrário disso, procure usar suas
palavras de forma a restaurar, edificar, encorajar, exortar ou forta-
lecer o marido ou a esposa. Vocês estão juntos em uma aliança de
casamento que visa o crescimento e maturidade de ambos. A boa
comunicação é uma poderosa ferramenta para que o casal cons-
trua a verdadeira intimidade.
Por fim, esteja sempre pronto a dizer três frases49:
◦◦ Eu estava errado;
◦◦ Por favor, me perdoe;
◦◦ Eu amo você!
Comunicar é uma arte que amplia nossa visão de mundo e
conhecimento. Aprender a ouvir o outro e mostrar interesse nos
torna mais sábios. É necessário humildade e quebrantamento para
dedicarmos a devida atenção ao outro. Uma atitude orgulhosa sa-
bota o casamento e a intimidade conjugal. É bom que tenhamos
sempre um espírito perdoador e uma disposição genuína à recon-
ciliação diante de ruídos na nossa comunicação como casal.

49
Jaime Kemp; Antes de Dizer Sim, Editora Mundo Cristão, Página 71
Capítulo 4 – O desafio da comunicação na intimidade • 75

PARA FAZER JUNTOS


Pratique nos próximos dias:

1. Ouvir Ativo
2. Comunique uma necessidade sua, sem atacar o côn-
juge,
3. Demonstrar empatia e que o outro é importante.

Sente com seu cônjuge a avaliem em qual nível de comuni-


cação se encontram:
Nível Cinco – Conversa superficial;
Nível Quatro – Relato de Fatos;
Nível Três – Verbalização das idéias e julgamentos;
Nível Dois – Verbalização de sentimentos e emoções;
Nível Um (ideal para ambos) – Revelação das necessidade
pessoais e emocionais.
Capítulo 5 – Restaurando a
confiança quebrada
“O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal,
conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os
adúlteros”. Hebreus 13:4.

A história do meu casamento esta marcada por um duro, porém ne-


cessário, processo de restauração e reconciliação por causa da
imoralidade sexual e de múltiplos adultérios cometidos por mim
(Paulo). Eu cometi erros graves que feriram um dos alicerces mais
importantes da vida conjugal: a confiança. Esse importante pilar
do relacionamento conjugal pode ser minado de várias maneiras,
mas o pecado sexual talvez seja uma das feridas mais sérias que
um casamento pode experimentar e a que mais afeta a confiança
no casamento. Quando há humildade e quebrantamento por par-
te de ambos os cônjuges, Deus é poderoso para restaurar qualquer
casamento e curar qualquer ferida, inclusive, aquelas geradas por
causa de pecados sexuais.
Meu relacionamento conjugal, pela graça de Deus, passou
de um cenário em que uma crise moral, da minha parte, feria mi-
nha aliança com minha esposa, colocando nossa família em risco,
para uma realidade de conhecimento e construção da verdadeira
intimidade conjugal.
78 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

5. 1 AS CONSEQUÊNCIAS DO ADULTÉRIO NA VIDA FAMILIAR


O adultério, geralmente, é um pecado que sai muito caro
para quem cometeu e para aqueles que sofreram o dano, a família
como um todo. Há danos emocionais, físicos e, principalmente,
espirituais decorrentes do pecado sexual. Lidar com aconselha-
mento neste cenário é algo que exige muita dependência de Deus
e muita habilidade como conselheiro, além de humildade e que-
brantamento por parte dos cônjuges envolvidos.
Durante os aconselhamentos que temos realizado com os
casais que sofreram esta ferida, pudemos avaliar uma série de
consequências presentes na vida conjugal, nos filhos e netos do
casal. Vamos citar as consequências mais marcantes presentes na
maioria dos casos em que nós abordamos e que outros amigos
conselheiros puderam perceber também.

5. 1. 1 Desproteção da vida sexual dos filhos:


Em todos os aconselhamentos que eu e minha esposa reali-
zamos, percebemos que o aconselhado abusado sexualmente na in-
fância ou adolescência, tinha invariavelmente, pelo menos um dos
pais envolvido com praticas de imoralidade sexual.
No processo de mapeamento, vimos que a pessoa que pas-
sou pelo abuso havia sido gerada fora de uma aliança de casa-
mento ou, na época em que nasceu ou em que ocorreu o abuso,
pelo menos um dos pais estava envolvido com imoralidade se-
xual, isso quando não eram os dois.
Um dos propósitos do sexo ter sido criado por Deus para ser
praticado somente dentro de uma aliança de casamento é justa-
mente proteger os filhos, os cônjuges e o próprio casamento emo-
cional, física e espiritualmente de questões relacionadas a imora-
lidade sexual.
Quando um casal vive dentro de uma aliança de casamen-
to, essa proteção se estende aos filhos e as demais gerações. Da
mesma forma, quando o casal não faz uso dessa proteção, acaba
Capítulo 5 – Restaurando a confiança quebrada • 79

abrindo uma fenda no teto espiritual de sua família e os seus fi-


lhos passam a viver uma desproteção nesta área.
Uma das histórias bíblicas mais emblemáticas sobre esse
tema, é a do grande Rei Davi. Ele adulterou e cometeu homicídio
contra Urias, homem leal de seu exército. Seu pecado escondido
gerou uma desproteção significativa em sua família e o profeta
Natã declarou a sentença contra ele vinda diretamente de Deus.

“Dei-lhe a casa e as mulheres do seu senhor. Dei-lhe a na-


ção de Israel e Judá. E, se tudo isso não fosse suficiente, eu lhe
teria dado mais ainda. Por que você desprezou a palavra do
Senhor, fazendo o que ele reprova? Você matou Urias, o hi-
tita, com a espada dos amonitas e ficou com a mulher dele.
Por isso, a espada nunca se afastará de sua família, pois você me
desprezou e tomou a mulher de Urias, o hitita, para ser sua mu-
lher’. “Assim diz o Senhor: ‘De sua própria família trarei
desgraça sobre você. Tomarei as suas mulheres diante dos
seus próprios olhos e as darei a outro; e ele se deitará com
elas em plena luz do dia. Você fez isso às escondidas, mas
eu o farei diante de todo o Israel, em plena luz do dia’ “.
2 Samuel 12:8-12

O adultério de Davi saiu caro, o que ele fez escondido o seu


filho Absalão fez na frente de toda a nação. O quebrantamento de
Davi ao ser confrontado por Natã o livrou da morte50, mas não o
livrou das consequências do seu pecado e nem da disciplina do
Senhor. “...Entretanto, uma vez que você insultou o Senhor, o me-
nino morrerá”51.
Quando entendi o quanto meu comportamento imoral in-
fluenciava espiritualmente meus filhos e os colocava numa condi-
ção de risco de serem abusados ou de se tornarem imorais como
eu, entendi o quanto era importante me arrepender da minha con-

50
2 Samuel 12:13
51
2 Samuel 12:14
80 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

duta, e mudar de atitude para ao invés de amaldiçoar, abençoar


as futuras gerações. Nossa vida sexual precisa estar na luz. Tanto
nosso posicionamento dentro do casamento quanto a uma vida
de pureza sexual protege o relacionamento conjugal, a família, a
descendência, que é a nossa verdadeira herança52.

5. 1. 2 Expõe o outro cônjuge à mesma situação de adultério


O adultério é um crédito de injustiça que cedo ou tarde será
cobrado. Algumas pessoas fazem pacto de silêncio e se entregam
a mordaças espirituais que aprisionam a pessoa ao ocultismo. No
entanto, o que esta oculto, em trevas, é jurisdição de satanás, prín-
cipe das trevas, que vai cobrar essa dívida do adúltero.
O Pastor Marcos de Sousa Borges | Coty conta uma situa-
ção que reflete bem esse tópico. Ele conta a história de um pastor
que cometeu adultério no primeiro mês de casamento, quando
ainda nem era convertido e que escondeu da esposa e de todos.
Pouco tempo depois do ocorrido, ele se converteu e se envolveu
com a igreja, seguindo passos para o ministério pastoral. Porém,
nunca confessou essa falha do seu passado.
Depois de 17 anos de casados, o crédito de injustiça foi
cobrado. Sua esposa, que casou virgem e nunca teve problemas
com imoralidade sexual, começou a ser assolada por pensamen-
tos de imoralidade sexual e adultério. Um dia, quando ele foi
para seu futebol semanal, acabou voltando mais cedo pra casa
devido ao cancelamento do jogo. Ao chegar em casa, surpreen-
deu sua esposa com outro homem se relacionando sexualmente
na cozinha. Ela engravidou deste relacionamento extraconjugal
e ele ficou desolado.
Ao buscar aconselhamento, ele discerniu que aquele crédito
de injustiça havia sido cobrado, decidindo perdoar a esposa e o
homem com quem ela se envolveu e assumir a criança. Ele ex-
pôs o seu pecado escondido e hoje vive livre da culpa e da vergo-

52
Salmos 127.3
Capítulo 5 – Restaurando a confiança quebrada • 81

nha do seu passado. Este é apenas um dos vários casos com este
mesmo tipo de situação que presenciamos nos aconselhamentos.
Um dos textos bíblicos que confirma essa situação é o que esta em
Oseias 4.14 “Eu não castigarei vossas filhas, quando se prosti-
tuem, nem vossas noras, quando adulteram; porque eles mesmos
com as prostitutas se desviam, e com as meretrizes sacrificam;
pois o povo que não tem entendimento será transtornado.”

5. 1. 3 Afeta, invariavelmente, a vida financeira do casal


Quando gastamos nosso dinheiro com material pornográ-
fico ou nos envolvendo com imoralidade sexual, prostituição ou
coisas dessa ordem, estamos consagrando nossas finanças em al-
tares de imoralidade sexual, financiando este tipo de negócio. Um
dos motivos mais comuns no aconselhamento de casais que os
leva a procurar ajuda, são crises financeiras. Quando realizamos
o mapeamento da situação, é comum vermos que aquilo que o
casal achava que era um problema, quando, na verdade, a crise
financeira era apenas um sintoma. A verdadeira raiz da “seca”
financeira do casal, por vezes, era o pecado sexual.
Deus mandou secas para Israel e permitiu que as suas co-
lheitas e seus recursos fossem saqueados por outros povos devido
a infidelidade da nação com outros deuses ou seu envolvimento
com imoralidade sexual. Ló foi um homem que colocou suas fi-
nanças em uma região de imoralidade sexual: Sodoma. Mesmo
ele sendo justo, como a bíblia declara, investiu seus recursos num
lugar de prostituição e decadência moral. Com a destruição de
Sodoma, ele perdeu tudo e, no fim, acabou sendo envolvido pelas
filhas em um pecado sexual, o incesto, gerando duas nações amal-
diçoadas por Deus: Amon e Moabe53.
Para redimir às finanças de um casal nestas circunstâncias
é necessário o arrependimento e pedido de perdão sinceros por
todo dinheiro gasto neste tipo de pecado.

53
Gênesis 19.37-38
82 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

5. 1. 4 Contamina espiritualmente o leito conjugal


Muitos casais criam uma aversão ao sexo conjugal quando
há um pecado oculto ou situações de impureza sexual mesmo an-
tes do casamento. Ainda que o cônjuge traído não saiba o que esta
acontecendo ou já aconteceu, um bloqueio começa a surgir e o
casal fica meses ou até anos sem conseguir manter uma relação se-
xual. É como se o prazer sexual migrasse para fora do casamento.
Essa situação também tem acontecido com casais que tive-
ram relação sexual antes do casamento, pois depois que se casam,
tendem a ter aversão ao sexo entre eles, o que também abre a porta
para o adultério. O vínculo construído pelo casal antes do casa-
mento foi com o sexo e não um com o outro. Um dos casos bíbli-
cos que confirmam isso é o de Amnom e Tamar, filhos de Davi.
Amnom chega a adoecer de paixão pela sua irmã, mas depois que
a estuprou, uma aversão, maior do que a paixão que sentira outro-
ra, o acometeu, então Amnom expulsou Tamar da casa dele com
desonra e desprezo.

Porém ele não quis dar ouvidos à sua voz; antes,


sendo mais forte do que ela, a forçou, e se deitou com ela.
Depois Amnom sentiu grande aversão por ela, pois maior
era o ódio que sentiu por ela do que o amor com que a ama-
ra. E disse-lhe Amnom: Levanta-te, e vai-te. Então ela lhe
disse: Não há razão de me despedires assim; maior seria
este mal do que o outro que já me tens feito. Porém não lhe
quis dar ouvidos. 2 Samuel 13:14-16

Para que haja a restauração da intimidade sexual do casal


quando a aversão se instalou, o leito conjugal precisará ser redimi-
do através do arrependimento sincero e da confissão54 de todo en-
volvimento sexual ocorrido antes do casamento, seja com outras

54
I João 1.9
Capítulo 5 – Restaurando a confiança quebrada • 83

pessoas ou com o próprio cônjuge antes de se casarem, também


quando houve adultério ou envolvimento com pornografia55.

5. 1. 5 Esfriamento espiritual
A pessoa que comete o adultério e o encobre, passa por um
processo de esfriamento espiritual. Ele começa a fugir das ora-
ções, do tempo devocional com Deus, na igreja e a perder o inte-
resse de ir ou de realizar qualquer trabalho ministerial. Quando
se trata de Líderes de ministério, a igreja começa a experimentar,
sem uma explicação aparente, um esvaziamento e sucessivas cri-
ses financeiras, até mesmo divisões no ministério.
Vemos situações semelhantes acontecerem com vários dos
reis de Israel. Quando os Reis eram infiéis a Deus e se entregavam
a idolatria de outros deuses, eles perdiam seus reinados e sofriam
a disciplina vinda da parte do Senhor. Eles perdiam não apenas
a proteção, como também a posição ministerial e a presença de
Deus sobre si.

5. 1. 6 Todo pecado sexual esta ligado a escândalo


Sempre que alguém se envolve em um pecado sexual, ele
esta expondo a sua vida, a do cônjuge e a de filhos a uma situação
de escândalo. Quanto maior for a autoridade e a responsabilidade
da pessoa envolvida com a imoralidade sexual, maior será a re-
percussão e o escândalo que vai causar.
O Rei Davi tem o escândalo do seu pecado comentado até
hoje. A disciplina que ele sofreu de Deus foi 10 vezes maior do que
o pecado que ele cometeu (seu filho Absalão deitou-se com 10 de
suas concubinas na frente de Israel). O escândalo foi tão grande,
que esta escrito na bíblia.
Os filhos também são feridos com a repercussão do pecado
dos pais. Aqueles que não conseguem perdoar e seguir em frente

55
Hebreus 13.4
84 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

suas vidas, muitas vezes vão repetir o pecado dos pais. Minha ex-
periência foi exatamente essa, ao saber que meu pai traiu minha
mãe quando eu tinha por volta dos meus 12 anos, eu não perdoei
e acabei repetindo uma história pior do que a dele.

5. 2 LIDANDO COM A FERIDA DO ADULTÉRIO56


O contexto do livro do Profeta Oséias era o adultério da na-
ção de Israel. A infidelidade de Israel era tão grande, que Deus
tomou uma atitude extrema para comunicar como ele se sentia em
relação a esse pecado da nação. Ele convocou o profeta a se casar
com uma mulher de prostituições.
O pecado do adultério é uma ferida profunda e quase mor-
tal dentro do casamento. O processo terapêutico descrito por Deus
no livro de Oséias para lidar com o adultério é uma cirurgia, é um
caminho de cruz, de matar o falso amor para que o verdadeiro
possa nascer. “Venham, voltemos para o Senhor. Ele nos despeda-
çou, mas nos trará cura; ele nos feriu, mas sarará nossas feridas.
Depois de dois dias ele nos dará vida novamente; ao terceiro dia
nos restaurará, para que vivamos em sua presença”. Oséias 6.1,2
A confissão do adultério e do pecado sexual é o único cami-
nho para a restauração. Será a abertura de uma ferida cirúrgica no
sentido de restaurar o casamento. É um processo doloroso, espe-
cialmente, para o cônjuge traído, que precisará entrar num outro
processo de perdão e de restauração da confiança e da admiração
e, porque não dizer, do amor pelo cônjuge adúltero. Ninguém está
preparado para esse tipo de confissão, em que toda dor escondida
do adultério vem a luz e os alicerces da confiança e intimidade são
abalados. Uma tempestade se instala e a luta daquele que recebeu
a confissão será contra o seu orgulho ferido, contra a dureza do
coração, que vai tentar impedir que o perdão seja liberado.
O perdão é a crucificação da dor emocional. A ferida do
adultério não é sarada com o tempo, ela só é curada quando há

56
Marcos de Sousa Borges | Coty, Lidando com a ferida do adultério, Editora Jocum
Capítulo 5 – Restaurando a confiança quebrada • 85

uma genuína disposição daquele que confessou o seu pecado em


se arrepender e daquele que foi traído em perdoar o ofensor. A hu-
mildade de ambos é o ponto chave para destronar as estruturas de
orgulho que vão se manifestar neste momento. Seremos tentados
a desistir do casamento e da reconciliação por conta do orgulho,
mas se resolvermos nos sujeitar a Deus e imitar sua conduta de
misericórdia e perdão, o relacionamento pode ser restaurado e se
tornar um ambiente de intimidade e descanso.
Levei 8 anos depois de casado para confessar os meus peca-
dos contra a minha aliança de casamento, pecados estes cometidos
mesmo antes de me aliançar à minha esposa. Sentia muita culpa
e vergonha em mim, devido ao meu passado. Minha esposa, por
sua vez, levou 4 anos desde a primeira confissão para restabelecer
sua confiança em mim. Demorei mais de 2 anos para confessar
toda a minha miséria que começou ainda na minha infância. Ter-
minados aqueles 2 anos, minha esposa levou mais 2 para conse-
guir processar toda a sua dor e frustração. Nós não nos apartamos
em momento algum durante este processo de restauração.
A cirurgia da confissão gera um trauma, uma ferida aberta
que vai exigir cuidado e atenção para que possa cicatrizar. Quanto
maior a humildade, mais rápido será a recuperação. A nossa dis-
posição em nos rendermos a Deus e à sua Palavra é à única coisa
que pode acelerar o processo de restauração.
Uma cirurgia não é realizada para matar uma pessoa, mas é
feita para remover de dentro do paciente aquilo que o está matan-
do. Apesar de toda a cirurgia apresentar um risco de morte, sua
finalidade é sempre salvar o paciente. Então, é importante saber
que, quando o pecado sexual é confessado ou descoberto, ele tem
por finalidade a cura e a restauração do casamento e não a destrui-
ção do mesmo, mas existe o risco do casamento acabar diante de
uma confissão como essa quando não houver disposição do côn-
juge traído em perdoar. Mas a confissão voluntária sempre trará
mais esperança do que a descoberta involuntária, e não há nada
encoberto que não venha a ser revelado.
86 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

Quando o meu pecado foi voluntariamente confessado por


mim, fui liberto de cadeias e mordaças espirituais que me rou-
bavam a paz e a comunhão com Deus. Ao manifestar esse fruto
do verdadeiro arrependimento, confessando voluntariamente os
meus pecados, tornou-se muito mais fácil para a minha esposa me
perdoar. A confissão cirúrgica salvou a mim e ao meu casamento.

5. 3 CONSELHEIRO EXPERIENTE E HÁBIL


O ideal, nesses casos, é encontrar um conselheiro ou líder
experiente para intermediar esse processo de confissão e reconci-
liação do casal. O processo terapêutico cristão também poderá ser
necessário. Assim como uma cirurgia requer profissionais com-
petentes e bem treinados, esse aconselhamento vai exigir pessoas
com habilidades para conduzir, na dependência de Deus, a difícil
e dolorosa caminhada de reconciliação do casal.
Na maioria dos casos, o casal requer várias sessões de te-
rapia, aconselhamento e intercessão para que consigam superar
toda a dor e decepção da traição. Deus esta sempre disposto a
investir seus recursos na restauração de uma aliança, mas o casal
precisa fazer a sua parte. O conselheiro que sabe manejar a Pala-
vra de Deus, pode ajudar muito nesse processo “pós cirúrgico”.

5. 4 POSICIONAMENTO CONTRA O PECADO


Esse processo de confissão deve ser acompanhado de um
posicionamento contra o pecado sexual. Homens e mulheres que
viveram a experiência do pecado sexual sofrem consequências
por longos períodos na maioria dos casos. Pessoas que foram vi-
ciadas em pornografia, que foi o meu caso, precisarão passar por
um processo de recuperação do vício sexual e um período difícil
de abstinência, etc, pois as imagens pornográficas levam muitos
meses ou anos para desaparecer da mente do compulsivo sexual.
As tentações continuarão durante toda a vida e o que vai
proteger a pessoa que cometeu o adultério para que não tenha
Capítulo 5 – Restaurando a confiança quebrada • 87

recaídas e dificulte a restauração do casamento, será o seu posi-


cionamento diante do pecado sexual e das tentações que irá so-
frer. Com a tentação não se brinca. Será preciso fugir e dizer NÃO
prontamente quando elas surgirem. Costumo dizer que a tentação
sempre começa pequena, mas à medida que flertamos com ela,
irá se tornar um polvo gigante cheio de tentáculos, dificultando
muito mais o processo de resistência ao pecado. José do Egito nos
ensinou em sua história, quando correu da tentativa de sedução
da esposa de Potifar, que o princípio bíblico para lidar com a ten-
tação é a velocidade. Quanto mais rápido fugirmos da tentação,
maior será nosso sucesso na luta contra o pecado.

5. 5 O PROCESSO DE PERDÃO
O cônjuge traído precisará lidar com a dor da traição, des-
prezar a vergonha e se valer do benefício terapêutico que o per-
dão oferece a si e ao seu cônjuge. O que traiu, também estará
lidando com o auto perdão. O perdão do cônjuge traído poderá
ajudar ao que traiu entender a graça e a misericórdia de Deus ao
oferecer o seu perdão. Não é tarefa fácil. É uma grande respon-
sabilidade e desafio.
A maioria das pessoas que moram nas ruas sem que preci-
sem disso, estão lá porque não foram perdoadas e não se perdoa-
ram por algo que fizeram. Muitas delas, são pessoas bem instruí-
das ou que até já tiveram uma experiência com Cristo, mas que
não conseguiram lidar com a dor emocional e à autocomiseração,
que os levou à tristeza extrema. Isso quando a culpa não os leva a
atentarem contra a própria vida.
O maior beneficiado com o perdão é a própria pessoa que
perdoa. Muitas doenças sérias do mundo moderno estão associa-
das a dor emocional e à falta de perdão.
Depois da confissão, o cônjuge traído leva tempo para pro-
cessar o que aconteceu, enfrentar todo orgulho e vergonha de ter
sido traído. Será preciso crucificar a dor através do perdão. Esse
88 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

processo é diferente para cada pessoa. Cada um responde de uma


maneira particular e diferente.
O cônjuge que ofendeu, deve manter uma postura de pa-
ciência, humildade e quebrantamento em relação às crises que a
parte ofendida vai manifestar. O processo de restauração do meu
casamento e do coração ferido de minha esposa levou quatro
anos. Conhecemos casais que levaram 3 dias e outros que levaram
12 anos. O grande segredo do processo rápido é nos sujeitarmos a
Deus, vencendo as nossas estruturas de orgulho.

5. 6 OS AGRAVANTES NO PROCESSO DE RESTAURAÇÃO


Há casos onde o adultério possui circunstâncias agravan-
tes e que aumentam a dor, a vergonha e a decepção da parte que
foi traída. Nestas situações, o nível de crucificação é mais intenso
e vai exigir doses ainda maiores de quebrantamento e renúncia
de direitos.
Segue alguns exemplos:

• O OFENSOR SE DESCOBRIU OU FOI DESCOBERTO?-


Uma atitude voluntária de confissão pode indicar um
processo genuíno de arrependimento e uma disposição ge-
nuína de mudança, pois é um fruto do verdadeiro arrepen-
dimento. Os casos em que o cônjuge que traiu confessou
voluntariamente o seu pecado, tem tido um índice de rapi-
dez na restauração muito maior do que nos casos em que o
adultério do cônjuge foi descoberto.

• HÁ UMA ATITUDE CRÔNICA DE NEGAÇÃO?


Quando ao ser confrontado, o cônjuge que traiu as-
sume uma postura crônica de negar os fatos, mesmo com
provas concretas, revela um coração obstinado e sem uma
disposição ao arrependimento. Esse tipo de atitude impede
o processo de restauração do casamento de sequer começar.
Capítulo 5 – Restaurando a confiança quebrada • 89

• EXISTEM PESSOAS DA FAMÍLIA OU AMIGOS ENVOL-


VIDOS?
Nesses casos, a traição é dupla, pois não só o cônjuge,
mas um familiar ou amigo próximo também está envolvido.
Situações como estas geram um escândalo maior e conse-
quências ainda mais significativas. Esse processo de restau-
ração é muito mais difícil, mas não é impossível.

• HÁ CONCEPÇÃO DE FILHOS OU ABORTO?


Quando o adultério envolve concepção de filhos bas-
tardos ou casos de aborto, os efeitos espirituais, emocionais e
físicos são ainda mais sérios no processo de restauração. As
crianças são inocentes diante de toda irresponsabilidade da-
queles que estão envolvidos no adultério. Elas precisarão ser
protegidas e amadas independente de qualquer situação. É
uma crueldade privar uma criança da convivência com o seu
pai, a não ser em circunstâncias muito particulares.
Em meu caso, no ano de 2008, engravidei uma mulher
também casada. Logo que a gravidez foi constatada, dei-
xei claro que não assumiria a criança e aconselhei a mulher
com quem eu estava envolvido a não deixar que seu marido
soubesse que não era dele a criança, porque se ela trouxesse
nosso caso à tona, eu não ficaria com ela, mas lutaria pelo
meu casamento. Assim ela fez. Somente 5 anos depois do
episódio, quando confessei todas as minhas culpas à minha
esposa, é que precisei fazer o caminho de volta e os conser-
tos necessários.
Ao trazermos à luz toda aquela situação para o mari-
do daquela mulher, ele já criava a menina desde que nasceu
como sua filha e ele decidiu que era o pai dela. Ele me pediu
para continuar distante da minha filha e tenho respeitado
isso entendendo que seu pai efetiva e afetivamente é ele.
Ela é minha filha e eu a considero como tal, incluindo-a na
lista dos meus filhos quando intercedo por eles. Estou me
90 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

preparando para lidar novamente com essa situação no dia


em que talvez tenha que falar com ela.

• AS PESSOAS ENVOLVIDAS ERAM CASADAS?


Existe um caminho de volta a ser feito não só com o
cônjuge, mas também com o outro cônjuge que foi traído.
Em meu caso, também precisei pedir perdão àquele
homem que hoje, até mesmo, cria a minha filha. Sempre
recomendamos aos casais que aconselhamos a orarem e à
buscarem a direção de Deus quanto ao melhor momento e
forma de fazer essa reparação. Mas a melhor maneira que
vimos até hoje, é quando o próprio cônjuge que traiu con-
fessa ao seu marido ou a sua esposa sobre o ocorrido.

5. 7 A RESTAURAÇÃO DA CONFIANÇA
Esta é a etapa mais difícil de todas. Por incrível que pareça,
perdoar um adultério não é tão difícil quanto restaurar a confian-
ça e restabelecer aliança. A restauração da confiança e o estabele-
cimento da intimidade conjugal novamente é que são os grandes
desafios do casal.
A confiança pode ser comparada à uma árvore que demora
anos para crescer e, de repente, é arrancada pela raiz. Somente
com a dedicação do cônjuge que traiu a confiança e com a ajuda
do Espírito Santo será possível restaurar a confiança perdida57.
No casamento, ambos os cônjuges vão precisar investir nos
princípios da verdadeira intimidade conjugal que compartilha-
mos no primeiro capítulo deste livro. Quanto mais transparência
e integridade de ambos, mais rápido a confiança pode ser re-
construída dentro do casamento. O casal precisará investir todos
os recursos disponíveis para que a intimidade seja o solo fértil
deste casamento.

57
Jó 14.7-9
Capítulo 5 – Restaurando a confiança quebrada • 91

5. 8 AS QUATRO PROVAS DE DAVI58


Davi foi chamado por Deus como um homem segundo o
seu coração, porém, mesmo diante desse reconhecimento tão no-
bre, ele cometeu erros terríveis. Talvez Davi tenha sido chamado
por Deus como um homem segundo o seu coração59 justamente
por causa da rápida disposição de Davi para reconhecer quando
errava e se arrepender. Ele declarava amar a lei e a instrução do
Senhor, a sua correção.
Por ser uma autoridade, seus erros geraram consequências
em muitos inocentes. Ele foi submetido a quatro provas para que
seu caráter fosse restaurado. E o próprio rei Davi discerniu que
estas provas vinham de Deus e não dos homens.

5. 8. 1 Primeira Prova - Abrir mão da reputação:


Quando o profeta Natã, com muita sabedoria, confrontou
Davi acerca do seu pecado, este imediatamente reconheceu o seu
pecado diante de todos. Davi rasgou as vestes e se curvou diante
de Deus. “Então disse Davi a Natã: Pequei contra o Senhor. E dis-
se Natã a Davi: Também o Senhor perdoou o teu pecado; não morrerás”.
2 Samuel 12:13.
Em minha história, quando conheci minha esposa, quis ‘prote-
ger’ minha reputação e, por 10 anos, somando os 2 de namoro e noi-
vado com os 8 de casamento, só colecionei mais desgostos e prejuí-
zos, pois acumulei mais pecados e feri a minha aliança de casamento.
Se lá atrás, ao conhecer minha esposa, antes mesmo de noi-
varmos, eu tivesse sido honesto com ela acerca da minha compul-
são sexual, eu já teria vencido o pecado. No entanto, só pude de
fato vencer o pecado sexual e a vergonha a partir do momento em
que decidi andar na luz com minha esposa, sendo transparente
com ela, e confessei toda a minha culpa já muito agravada pelos

58
Pr Marcos de Sousa Borges | Coty, Diretor da Jocum Almirante Tamandaré, Lidando com a
ferida do adultério.
59
I Samuel 13.14
92 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

10 anos que convivemos. “O que encobre as suas transgressões


nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará mi-
sericórdia”. Pv 28.13. Minha confissão abriu a porta para minha
restauração e encontrei a ajuda, mas , principalmente, o confronto
que eu precisava.

5. 8. 2 Segunda Prova - Abrir mão da Posição:


Diante da rebelião de seu filho Absalão, Davi discerniu
que tudo aquilo era consequência do seu pecado. Então, imedia-
tamente, ele se submeteu aquele tratamento de Deus e escolheu
abandonar o palácio a pé e com as poucas pessoas que ainda eram
leais a ele60.
Davi abriu mão da posição de rei e se submeteu ao trata-
mento de Deus. Sua humildade e sujeição o fizeram retornar vito-
rioso ao trono que lhe pertencia. Quando uma autoridade comete
um pecado sexual, é muito importante que essa autoridade deixe
sua posição e se submeta a um tratamento na área em que seu
caráter ainda é ferido.
Conheço alguns casos de líderes que se submeteram a esse
tratamento, cumprindo o tempo de tratamento determinado por
Deus, e que hoje têm ministérios maiores do que os de antes. A
glória da segunda casa é maior do que a da primeira. Também
conheço a história de homens que resistiram a essa prova e tive-
ram quedas absurdas, sendo o seu segundo estado, pior do que
o primeiro.

5. 8. 3 Terceira Prova - Apedrejamento


Davi, ao sair do palácio, passou por um vale onde, no meio
do caminho, Simei lançou pedras e proferiu maldições contra o rei
Davi. Abisai, um dos soldados do rei, se manifestou contra aquele
insulto, pedindo autorização ao rei para matar Simei. Davi sabia

60
2 Samuel 15
Capítulo 5 – Restaurando a confiança quebrada • 93

que aquilo era, mais uma vez, consequência do seu pecado. Mas
o rei disse: “Que é que vocês têm com isso, filhos de Zeruia? Ele
me amaldiçoa porque o Senhor lhe disse que amaldiçoasse Davi.
Portanto, quem poderá questioná-lo? “ 2 Samuel 16:10
Em muitos aconselhamentos que fiz, pude perceber o ape-
drejamento na vida daqueles que estavam sendo restaurados do
seu pecado sexual. Há homens que até hoje são rejeitados e tra-
tados com desprezo por familiares ou antigos amigos. O apedre-
jamento se manifesta através de críticas, acusações, agressões e
rejeição. Se adotarmos a postura humilde de Davi, nos sujeitando
a Deus, receberemos restauração e honra. Quando o Rei voltou
da sua prova, aquele que o apedrejava voltou e lhe pediu perdão.

5. 8. 4 Quarta Prova - Traição


Aqueles que semeiam traição, serão provados com traição.
Davi traiu seu soldado leal e foi traído pelo seu filho. Da casa de
Davi a espada se levantou contra ele. Quando ele discerniu a pro-
va, pôde garantir sua aprovação e o seu retorno ao trono.
Uma das provas de sua aprovação, foi interceder por aquele
que o havia traído. O rei pediu aos seus soldados que não matas-
sem ao seu filho Absalão. Ele se tornou intercessor daquele que
o havia traído. Ele perdoou assim como foi perdoado. Seus sol-
dados não deram ouvidos ao seu pedido e o seu general matou
seu filho. Davi lamentou a morte do mancebo e mostrou que seu
coração estava livre da amargura e do ressentimento.
Davi passou pelas quatro provas e teve seu reino restituído,
seu filho Salomão veio a se tornar rei após ele. Davi teve seu cará-
ter provado e aprovado por Deus.
Em meu caso (Paulo), fui traído em meu trabalho. Em
2010, fui perseguido por parte de minha equipe e por meu ges-
tor. Fizeram falsas acusações que foram submetidas a auditoria
do banco, que constatou que nenhuma das acusações era verda-
deira. Fui humilde e não reagi, igual aconteceu com o rei Davi.
94 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

No final, todos os que me acusaram foram desligados e perma-


neci no banco até meu desligamento em 2013, para me dedicar
ao serviço missionário.

PARA FAZER JUNTOS


Caso você tenha algum pecado oculto na área sexual, vincu-
lado a imoralidade sexual, adultério, filhos fora do casamen-
to, procure seu pastor ou líder para confessar a ele(a) e bus-
car orientação de como fazer a confissão para seu cônjuge.
Em relação às AS QUATRO PROVAS DE DAVI,
busque identificar em qual fase você está e qual atitude você
precisa ter para ser um homem e/ou uma mulher segun-
do o coração de Deus: humilde e pronto para se arrepender,
como Davi.

1. Primeira Prova - Abrir mão da reputação


2. Segunda Prova - Abrir mão da Posição
3. Terceira Prova – Apedrejamento
4. Quarta Prova – Estar sendo traído também por alguém
(pelo cônjuge, por alguém da família, como foi o caso
de Davi, ou por amigos e colegas de trabalho)
Capítulo 6 – O propósito
do casamento
“Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há
liberdade.” II Coríntios 3.17

O casamento tem um lugar importante no plano original de Deus


para a humanidade, porém, a sociedade moderna perdeu muito
da essência, do significado e do propósito do matrimônio como
um alicerce para a construção de uma sociedade equilibrada e
justa. Meu objetivo neste capítulo é resgatar o que foi perdido e
recolocar o casamento no seu lugar de honra dentro da cultura
moderna, trazendo conceitos de forma simples, para que os casais
consigam exercitar os princípios e ensinos mencionados aqui de
forma prática.
Nos tempos de Moisés, Deus resumiu toda a sua lei moral
em dez mandamentos. Nos tempos de Jesus, foi mais longe ainda,
resumindo em apenas dois61. Quanto mais simples algo é defini-
do, mais prático ele se torna.
Hoje, entendo que o relacionamento mais importante que a
humanidade deve exercitar é o relacionamento pessoal com Deus.
Não há relacionamento que deva ser maior do que este para nós.
Mas, aprendi com as Escrituras que, o segundo relacionamento
mais significativo para uma sociedade, deve ser o casamento, pois
o matrimônio nos proporciona, não apenas conhecer mais a Deus
através daquilo que o nosso cônjuge semeia em nossas vidas, mas

61
Mateus 22.36-40
96 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

também nos torna participantes da natureza de Deus, proporcio-


nando que Ele seja transmitido geracionalmente.
Foi exatamente dentro do meu casamento que mais recebi
revelação e tenho revelado quem Deus é. O exercício diário do
caráter divino no meu casamento tem fortalecido nossa fé e nos le-
vado a um nível mais profundo no nosso relacionamento pessoal
com Deus e, cada vez mais, um com o outro. O conceito de intimi-
dade conjugal que tenho praticado com minha esposa me levou
a compreender o quanto eu preciso mergulhar, cada vez mais, na
minha comunhão com o Pai.

6. 1 A ESSÊNCIA DO AMOR DENTRO DO CASAMENTO


As escrituras apresentam o homem como criado à imagem
de Deus. Ele nos criou para a liberdade e, no ato de nos criar, en-
tregou-se a nós. Deus não nos criou para que ele pudesse obter
algo de nós. Ele nos criou, principalmente, para nos dar da sua
própria plenitude e amor. O ato de criação de Deus é um ato de
completo altruísmo, liberdade e generosidade. Deus é o amor que
se doa e busca o que é bom para aqueles que o amam62.
O casamento representa o HAJA de Deus na vida dos noi-
vos, pois ali, um novo universo se apresenta para ambos, que pre-
cisarão ter o mesmo empenho e dedicação de Deus, ao criar todas
as coisas, para criarem no seu casamento um ambiente de plena
comunhão e liberdade. Assim como em Gênesis 1 Deus criou pri-
meiro o habitat em que os animais e a humanidade viveria, o casal
deve ter o mesmo amor e cuidado na construção de um relacio-
namento sólido e maduro, devendo investir primeiro no “habitat”
emocional do lar para, depois, construir todos os seus projetos fu-
turos com a sua “casa” alicerçada na rocha.
Com a queda da humanidade, o homem perdeu a essência
doadora do amor de Deus. Eles tinham liberdade no jardim para

62
https://www.catholiceducation.org/en/marriage-and-family/sexuality/conjugal-intima-
cy.html
Capítulo 6 – O propósito do casamento • 97

usufruir de tudo o que havia lá, exceto do fruto de uma única ár-
vore, que levaria o homem a morte. Isso é amor doador, o mesmo
que Deus espera que a humanidade exerça em seus relacionamen-
tos. Porém, a partir do momento, em que o homem desejou “tirar”
seu prazer daquilo que Deus ordenou que não mexesse, dando
vazão à sua cobiça, então a humanidade se afastou do propósito
original para o qual foi criada.
Ao tomar a decisão de duvidar do que Deus havia dito e
desobedecer à sua orientação, o Homem perdeu o contato direto
que tinha com Deus e com a essência do seu amor doador. Seus
relacionamentos passaram a ser governados por egoísmo e indi-
vidualidade.
Ao perder a proximidade com Deus, perdemos a essência
de quem somos e do caráter doador que o amor têm. Por isso,
entendo que o oposto do amor é o EGOÍSMO.
O Egoísmo é o princípio do Abuso, do trauma e da violên-
cia. Ao quebrar o mandamento divino em Gênesis 3, o homem e
a sua mulher quebraram o princípio da intimidade, que é o amor
doador. Um dos principais resultados disso foi a perda da intimi-
dade com Deus. O jardim de Deus para a humanidade é vivermos
dentro de nossos relacionamentos a sua natureza doadora.
A intimidade existe dentro de um ambiente de: generosi-
dade, honestidade, fidelidade, respeito, integridade, confian-
ça, segurança e proteção. O egoísmo “TIRA” das pessoas o que
um quer para si em detrimento do outro, enquanto que o amor
“PREENCHE E TRANSBORDA” na vida do outro.
A redenção em Cristo JESUS visou, exatamente, não só res-
gatar o nosso relacionamento com Deus, mas também revelar no-
vamente a sua natureza doadora63 e o seu caráter na pessoa de
Jesus. Ele resgatou para cada um de nós a essência doadora e ge-
nerosa do amor verdadeiro.

63
João 3.16
98 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

O apóstolo Paulo revela que não devemos dever nada a nin-


guém, senão o amor64. Portanto, somos devedores de amor e não
credores. Assim como a natureza criada revela o coração doador
e generoso de nosso Deus, da mesma forma, só conquistaremos a
verdadeira realização quando assumirmos essa postura de gene-
rosidade e ofertarmos o verdadeiro amor. O amor é doador.

6. 2 O HABITAT DO AMOR
O habitat criado por Deus para que tivéssemos o nosso pri-
meiro contato com a natureza doadora dele foi o casamento dos
nossos pais, a nossa família. O relacionamento homem e mulher,
dentro do casamento, deve revelar o caráter e a natureza de Deus,
um para com o outro e, depois, para com os seus filhos quando
estes vierem.
O plano original de Deus sempre foi o de que, homem e
mulher, aprendam os conceitos de uma vida abundante através
de um relacionamento pessoal com Ele, em liberdade. Exatamente
por isso, Deus só deu Eva a Adão depois que ele havia estabeleci-
do um relacionamento com Deus.
Somente quando recebemos essa verdade sobre o amor de
Deus em nosso relacionamento íntimo com Ele, estaremos pron-
tos para o casamento. Da mesma forma, é através dos relaciona-
mentos que nós expressamos a real essência deste amor doador e
que nos deixa livres.
A Bíblia é um livro que fala, do início ao fim, sobre relacio-
namentos, especialmente, sobre o casamento. Deus usa diversas
pessoas, famílias e nações para nos ensinar sobre a sua natureza, o
seu caráter e a sua vontade. São vários os exemplos de homens e
mulheres que, na sua imperfeição, buscavam submeter sua ações
à vontade de Deus ou não.

64
Romanos 13.8
Capítulo 6 – O propósito do casamento • 99

Adão e Eva, antes mesmo da queda65, demonstraram uma


fragilidade no seu relacionamento, tanto com Deus, quanto um
com o outro. No momento em que a serpente aborda Eva, não há
relato bíblico de nenhuma intervenção de Adão, o que dá a en-
tender que ele a deixou sozinha ou se omitiu enquanto ela estava
sendo seduzida pela serpente. O mais complicado ali foi quando
ela preferiu ouvir ao que a serpente falava do que ao que Deus e o
seu marido lhe haviam dito. Adão também cometeu este mesmo
erro quando preferiu ouvir a sua esposa, duvidando também do
que Deus lhe tinha dito. Isso tudo aconteceu porque o habitat do
amor é a liberdade. Deus lhes deu liberdade66 para escolherem
confiar ou não nEle.
A verdade do evangelho é transferida geracionalmente de
forma relacional, mas a escolha é de cada um, assim como foi para
Adão e Eva, decidir acreditar e confiar ou não no amor de Deus
revelado nas Escrituras Sagradas.
Os atributos do caráter de Deus são aprendidos de forma
mais efetiva quando vão além do discurso, sendo manifestos na
prática nos relacionamentos, especialmente, no relacionamento
conjugal e familiar ao dar e receber dentro destes relacionamentos
o Amor Incondicional, a Misericórdia, a Compaixão, a Graça, a
Lealdade, a Fidelidade e todos os demais elementos do caráter de
Deus.
Precisamos aprender a olhar para os nossos relacionamen-
tos do ponto de vista de Deus, vendo-os com seriedade e como
oportunidades de revelarmos estes atributos do caráter dEle na
vida uns dos outros, especialmente, nos relacionamentos familia-
res em que, no caso do casamento, é uma aliança que deve durar
até que a morte separe.
É preciso lembrar também que um ambiente de liberdade67,
não de libertinagem, precisa ser construído em nossos relaciona-

65
Gênesis 3.1-6
66
Salmos 119.45
67
Gálatas 5.13
100 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

mentos para que o amor possa se manifestar de uma maneira po-


derosa e voluntária. Deus não impôs a Adão e a Eva a obediência
e a confiança nEle, antes, os deixou livres para decidirem confiar
e se sujeitar ou não a Ele em confiança no que Ele lhes disse sobre
a árvore do conhecimento do bem e do mal, assim como sobre as
consequências que sofreriam se comessem do seu fruto. Da mes-
ma forma, na parábola do Filho Pródigo68, aquele pai o deixou
livre para ir e também para decidir voltar ou não para casa, para
um relacionamento com ele. O nosso relacionamento com Jesus
também é uma escolha de livre e espontânea vontade, de receber
ou não sua justificação, pela fé no seu sacrifício vivo na cruz, e de
nos tornar participante ou não da família de Deus69, fazendo parte
da sua Igreja (a Noiva do Cordeiro), sendo por Ele salvos.

6. 3 DEFININDO O AMOR DE FORMA PRÁTICA


Mas o que é o amor? Entendo que, mais do que uma escolha,
mais do que um estilo de vida, o amor é uma “PESSOA”. O nome
dele é JESUS CRISTO, que é a imagem perfeita de Deus Pai. Para
entendermos o amor, precisamos olhar para Ele e compreender-
mos a forma como ele expressa esse amor. Existem duas colunas
marcantes na manifestação do amor de Deus em relação ao seu
povo: AFETO E LIMITES. Podemos definir o amor a partir do
momento em que inserimos essas duas colunas em uma equação:

Afeto + Limite = Amor


Quando equilibramos nossas atitudes dentro de nossos re-
lacionamentos, fazendo o uso de afeto e limites, teremos um bom
índice de sucesso na prática daquilo que se entende por amor bi-
blicamente. Deus, em sua grande misericórdia e graça, manifes-

68
Lucas 15.11-32
69
João 1.12
Capítulo 6 – O propósito do casamento • 101

tou seu amor leal ao povo de Israel fazendo o uso equilibrado


destes dois ingredientes.
Ora Ele usava o Afeto através de suas bênçãos e generosida-
de, ora Ele usava limites claros indicando até onde o povo podia
caminhar e o que poderiam fazer para andar debaixo de sua pro-
teção. Quando o povo quebrava os limites estabelecidos por Deus,
Ele os corrigia. A dose errada de afeto ou limites, vai produzir
efeitos negativos nos relacionamentos e um possível adoecimento
no caráter do casal e dos filhos.

Afeto - Limite = Libertinagem


Quando a dose é muito afeto e pouco ou nenhum limite,
teremos pessoas acostumadas com seu prazer e profundamente
egoístas, que tenderão a achar que todas as suas vontades pre-
cisam ser atendidas e imediatamente. O caráter delas será fraco
moralmente e, constantemente, o casal e os filhos estarão negli-
genciando as necessidades dos outros em favor dos seus maus
desejos. Pessoas acostumadas a apenas afeto, sem limites, terão
muita dificuldade de ouvir um “ESPERE”, mas, principalmente,
de ouvir um “NÃO”.

Limites – Afeto = Legalismo


Por outro lado, pessoas que receberam muito limite e pou-
co ou nenhum afeto, podem se tornar pessoas legalistas e rígidas
dentro dos seus relacionamentos. Elas darão ênfase maior à per-
formance das pessoas do que em quem elas são.
O Centro de um relacionamento deve ser o amor, que são
afeto e limites trabalhando juntos. Todas as demais áreas que
compõem os relacionamentos são periféricas e dependem desse
alicerce para frutificar e permanecer.
102 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

SEXO

MINISTÉRIO TRABALHO

PROPOSITO AMOR DINHEIRO

BENS FILHOS

LAZER

Figura 04 - O amor deve ser o centro de um casamento ou qualquer outro relacionamento.

Veja a figura acima. Ela traz uma série de esferas que fazem
parte do dia a dia de um casal. Se o casamento esta alicerçado
em amor um pelo outro, o exercício e cumprimento dessas esferas
será mais suave e o casal estará pronto para enfrentar qualquer
tempestade sem que o seu lar desabe.
Muitos casamentos tem sido abalados, justamente porque
os cônjuges tem colocado aquilo que deveria ser periférico dentro
do casamento como algo central. Ao colocar, por exemplo, o ser-
viço ministerial como a maior prioridade na vida conjugal, essa
aliança vai se enfraquecer, promovendo um efeito negativo nas
demais áreas deste relacionamento. A casa estará fundamentada
na areia e não na rocha.
Capítulo 6 – O propósito do casamento • 103

SEXO

TRABALHO

PROPOSITO MINISTÉRIO DINHEIRO

BENS FILHOS

LAZER

Figura 05 - Ao centralizarmos algo periférico, excluímos o amor do relacionamento.

Ao removermos o amor do centro do relacionamento, o


casal vai excluí-lo da relação, pois ele não se encaixa periferica-
mente. Nossas ações devem ser uma expressão de amor e não
um pedido de amor. Nós deveríamos nos relacionar com a pers-
pectiva de dar aquilo que recebemos de Deus e não tirar das
pessoas o que precisamos.

6. 4 DISCERNINDO O FALSO AMOR


A manipulação é um perfil maligno da personalidade, pois
sua configuração é desonesta, fingindo amar de forma aparente,
mas a sua real motivação é controlar a outra pessoa ou circuns-
tâncias, apenas para conseguir o que quer. A manipulação blo-
queia a prática do amor verdadeiro, pois ela é traiçoeira, sedu-
104 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

tora e sutil70. A manipulação produz a desintegração familiar e


destrói o ­casamento.
Boa parte dos relacionamentos esta pautado em uma mani-
pulação bilateral, em que ambos buscam o bem estar um do outro,
mas para satisfação individual na verdade. A motivação é exigir
que seus próprios anseios sejam satisfeitos e o manipulador usa o
que conhece do outro para conseguir o que deseja. O caminho do
amor ensinado por Jesus não é cobrando, mas amando.
Vimos que o caráter do amor é a doação e a generosidade, já
a raiz da manipulação é o egoísmo. O Livro a Dinâmica da Perso-
nalidade, escrito pelo pastor Marcos de Sousa Borges | Coty traz
um quadro comparativo entre o amor e a manipulação. Veja:

MANIPULAÇÃO AMOR
Age com desonestidade Age com sinceridade
Distorcido pelo interesse Aberta e Sensível
Mantém o Controle Liberdade responsável
Age com desconfiança Livre para confiar
A essência é receber A essência é dar

Figura 06 – Manipulação X Amor

6. 4. 1 Desonestidade x Sinceridade
O manipulador é desonesto porque esconde sua real inten-
ção e motivação. Usa truques, encenações e manobras encobrindo
sua identidade, fazendo a outra pessoa dar a ele o que quer sem
que perceba. A pessoa que ama esta em paz consigo, é honesta so-
bre quem é e transparente quanto às suas intenções e motivações,
pois consegue lidar com quem ela de fato é confortavelmente.

70
Marcos de Sousa Borges | Coty, A Dinâmica da Personalidade, Editora Jocum, Página 89
Capítulo 6 – O propósito do casamento • 105

6. 4. 2 Distorção do Interesse x Aberta e Sensível


O manipulador só ouve e vê o que quer e usa os fatos e
eventos ao seu favor, de modo que sua atitude é fechada e limita-
da pelos seus interesses. Todo seu pensamento, argumento e atitu-
des serão voltados para tirar proveito do que ele quer ganhar. Não
é sensível, pois está concentrado em si mesmo e não está aberto
aos interesses e necessidades do outro.
Já a pessoa que ama, está aberta e sensível às necessidades
do outro, mesmo que esteja enfrentando problemas pessoais. Re-
cebe impressões e informações de muitas fontes e é capaz de mu-
dar de opinião e atitude quando percebe que esta errado.

6. 4. 3 Controle x Liberdade
O manipulador está sempre tenso e preocupado com o que
vai fazer à frente para que a outra pessoa siga enredada em sa-
tisfazer seus interesses. Qualquer pessoa que tenta controlar, na
verdade, está sendo controlada por desejos egoístas. O medo de
perder, de ser abandonado, traído ou rejeitado acaba controlando
aquele que vive tentando controlar.
Aquele que vive a liberdade do amor, se expressa sem reser-
vas ou tensão. Essa liberdade é revelada pelas atitudes de confian-
ça e descanso que ela toma, e não corre para a amargura e justiça
própria quando é rejeitada. É flexível e não se condiciona à atitude
dos outros, não se condena indevidamente, pois sua identidade
esta alinhada com o caráter do Pai.

Pessoas curadas são livres para amar, enquanto


pessoas feridas manipulam para tentar controlar.
106 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

6. 4. 4 Desconfiança x Confiança
O manipulador perdeu a fé no amor e nas pessoas, por isso
sua confiança em si mesmo foi abalada . Ele é controlado por suas
carências e acaba transferindo sua infidelidade para os outros, ex-
pressada pela sua desconfiança. Acaba julgando os outros pelas
conclusões de seu próprio coração. Sua crítica sobre o outro, na
verdade, esta revelando muito mais sobre ele mesmo.
A pessoa que ama, confia e aceita correr riscos, pois vê es-
tas ações como investimento no relacionamento e não como algo
que pode lhe gerar perda. Pessoas que amam têm um poderoso
remédio curador para os casos em que seu investimento nos re-
lacionamentos não geram frutos, que é o PERDÃO. Sua atitude
perdoadora é, na verdade, o maior escudo contra as frustrações.

6. 4. 5 Dar x Receber
O egoísta vê o “amor” como uma forma de receber ou re-
tirar aquilo que ele deseja. O manipulador cria um vínculo com
seus sentimentos e desejos e não com o cônjuge. Essa atitude sem-
pre o deixa sozinho, porque ele esta na contramão do amor. Seu
foco em si o impede de se tornar uma só carne com o outro.
O amor é o desenvolvimento de um vínculo com a atitude
de dar. Quando nossa disposição é abençoar o outro e ser gene-
roso, estamos fazendo um favor muito mais a nós mesmo, pois,
desta forma, estamos semeando generosidade e doação. Pessoas
curadas são disseminadores de amor e de cura na vida dos outros.
A essência da vida são os relacionamentos, por isso nossas
maiores dores vem dos nossos relacionamento que foram quebra-
dos. O amor incondicional é a arma mais poderosa de Deus na
cura da humanidade. A prática do amor nos relacionamentos gera
o efeito curador na vida daqueles que foram feridos em seus rela-
cionamentos.
Capítulo 6 – O propósito do casamento • 107

6. 5 DEFININDO O CASAMENTO E O SEU PROPÓSITO


Deus exerce seu governo através de princípios e leis que são
reveladas aos homens através de sua Palavra. Devemos atingir a
maturidade a ponto de sermos pastoreados por essas leis e prin-
cípios divinos, pois estes são alicerces sólidos de uma vida com
Deus. Precisamos entender que não fazemos a obra de Deus, mas
nós é que somos a sua obra. A mensagem que devemos pregar
como cartas vivas é o testemunho de transformação que Ele pro-
moveu em cada um de nós, pois assim seremos a mensagem do
evangelho.
O pastor Marcos de Souza Borges | Coty, diretor da base
da JOCUM em Almirante Tamandaré/PR e líder da EIFOL (Es-
cola Integral de Libertadores), fala que antes de promovermos
uma TRANSFORMAÇÃO na nação (mudar a forma), devemos
promover uma TRANSFUNDAÇÃO (mudar os alicerces, os fun-
damentos). A maneira como uma sociedade define o casamento e
a família faz toda a diferença entre o sucesso ou colapso de uma
comunidade.
Se pararmos para promover um mapeamento dos princi-
pais problemas sociais de uma comunidade, invariavelmente, va-
mos descobrir que nas raízes desses problemas estão a formação
de pessoas com um caráter corrompido e marginalizado, em ca-
samentos conturbados dos pais e fora de uma visão divina para
esse relacionamento e para o relacionamento entre pais e filhos.
Ao compreendermos e ajustarmos os conceitos que usamos para
definir um casamento e uma família, partindo do ponto de vis-
ta de Deus, estaremos criando o ambiente adequado para que o
indivíduo cresça de forma madura e responsável socialmente e
emocionalmente.
Vejamos alguns pontos relacionados ao casamento do ponto
de vista da palavra de Deus:
108 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

6. 5. 1 O Casamento é a principal ferramenta divina para produzir


maturidade
A proposta do casamento é que um homem e uma mulher,
dois seres completamente distintos em suas motivações, pers­
pectivas, emoções, anseios e formas de agir, se unam em uma
aliança até que a morte os separe. Essa convivência vai trazer à luz
o que há de melhor e pior em cada um de nós. Propositalmente,
Deus une dois seres de características distintas os desafiando a se
tornar uma só carne.
“O CASAMENTO NÃO É PARA COVARDES,
É PARA QUEM QUER TRABALHAR
SEU CARÁTER”71

Para cumprir esse objetivo, será necessária muita humilda-


de e quebrantamento de ambos. A unidade conjugal vai custar
caro, pois não há espaço dentro de um casamento à maneira de
Deus para o egoísmo, deslealdade, infidelidade, arrogância, fal-
ta de perdão ou justiça própria. Precisamos aprender a lidar com
nossas infantilidades e dar respostas maduras para os conflitos
e tempestades que vão atingir o relacionamento durante toda a
vida do casal. As crises dentro de um casamento são geradas jus-
tamente por falta de maturidade e por problemas de caráter.

6. 5. 2 O Casamento é uma ferramenta de santificação


Nosso caráter é provado dentro dessa aliança, pois deve-
mos oferecer ao nosso cônjuge amor, fidelidade, honra, respeito,
responsabilidade, renúncia de direitos, entrega total um ao outro
de forma INCONDICIONAL. Ao vivenciarmos isso em nosso ca-
samento, não só estamos imitando a Deus como O fazendo conhe-
cido para nosso cônjuge.

71
Pr Marcos de Sousa Borges | Coty, Diretor da Jocum Almirante Tamandaré, Escritor e Con-
ferencista.
Capítulo 6 – O propósito do casamento • 109

“O CASAMENTO NÃO É PARA NOS FAZER


FELIZES, É PARA NOS FAZER SANTOS.”72

6. 5. 3 O Casamento é a maior ferramenta de evangelismo e discipulado


dos nossos filhos.
Sabemos que o homem e a mulher possuem uma natureza
muito diferente. Podemos dizer que são quase opostos na forma
de pensar, agir e nas emoções, então como podem ser, ambos, ima-
gem e semelhança de Deus?
Um dia, meditando sobre isso, fui muito ministrado em
meu espírito de que o homem carrega de uma forma mais mar-
cante alguns elementos da natureza e do caráter de Deus que na
mulher não são tão marcantes. Da mesma forma, também pude
entender que a mulher carrega em si elementos e atributos mais
marcantes da natureza e do caráter de Deus do que o homem. É
justamente quando ambos se unem em uma aliança de casamen-
to, que os atributos do caráter de Deus se tornam completos, ou
seja, quando um homem e uma mulher se casam, como casal, se
tornam participantes da natureza completa de Deus dentro dos
papéis que cada um exerce no relacionamento conjugal e na cria-
ção dos seus filhos.
Os filhos gerados dentro de uma dinâmica familiar em que
pai e mãe revelam os elementos da natureza de Deus no relaciona-
mento conjugal, vão crescer recebendo, dia após dia, através do re-
lacionamento dos pais entre si e com eles, a natureza e o caráter de
Deus em sua plenitude. Desta forma, vai se cumprir o que esta es-
crito em Provérbios 22.6 que diz “Ensina a criança no Caminho em
que deve andar, e mesmo quando for idoso não se desviará dele!”.
Misericórdia, perdão, compaixão, amor, fidelidade e todos
os demais elementos do caráter e da natureza de Deus não se
aprendem de púlpito. Nós recebemos todas essas coisas em nosso

72
Pr Marcos de Sousa Borges, Diretor da Jocum Almirante Tamandaré, Escritor e Conferencista.
110 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

caráter quando damos e recebemos essas práticas, principalmen-


te, no seio familiar, mas, também, nos demais relacionamentos.
O casamento dos pais protege ou deixa de proteger os filhos
em pelo menos três áreas:

a - Sexualidade (Amor Eros)


• A pureza dos pais protege a sexualidade dos filhos;
• Quando Pai e Mãe se relacionam de forma saudável numa
perspectiva sexual, os filhos vão se beneficiar das seguintes
formas:
◦◦ Identificam-se corretamente com o sexo biológico com
mais facilidade;
◦◦ O casamento se torna algo desejável para eles;
◦◦ Compreendem sua identidade sexual e o papel dentro
dessa identidade;
◦◦ Aprendem que o lugar do sexo é dentro do relaciona-
mento conjugal.
• A imoralidade sexual dos pais desprotege os filhos sexual-
mente, pois pode ocasionar:
◦◦ O Jugo da Bastardia no filho (filhos gerados fora de
uma aliança de casamento);
◦◦ Vicio no egoísmo e na egolatria;
◦◦ Vulnerabilidade e desproteção espiritual;
◦◦ Concepção do sexo de uma forma totalmente equivo-
cada;
◦◦ Situações de aversão ao seu sexo biológico (homosse-
xualidade, lesbianismo; transexualidade, etc)
◦◦ Aversão a ideia de um dia se casarem.

b - Afetividade (Amor Ágape)


• Escolher honrar a aliança e não idolatrar os sentimentos;
Capítulo 6 – O propósito do casamento • 111

• Ter atitudes de amor porque amar é um mandamento;


• Compreender que o amor ao cônjuge deve ser incondicional
e sacrificial;
• Manifestar o amor em atitudes e palavras no dia a dia do
casal e do relacionamento com os filhos;
• Manter o amor no centro do relacionamento conjugal, en-
tendendo que todas os demais elementos do casamento são
periféricos;

c - Companheirismo (Amor Phileo)


• Entrosamento físico, emocional, espiritual e financeiro;
• Capacidade de liderar e apoiar um aos outro;
• Estar sensível e atuante às necessidades um dos outro;
• Priorizar e honrar o cônjuge;
• Aprender a praticar a sinergia na vida comum do lar;
• Ensinar os filhos a trabalharem em equipe e a exercerem
funções de liderança e de submissão.

6. 5. 4 O Casamento é o relacionamento que representa a relação


de Deus com o seu povo, na Antiga Aliança, e de Cristo e sua Noiva (a
Igreja), na Nova Aliança
Em Gênesis 2.18, Deus declara que não é bom que o homem
esteja só. Naquele momento, Ele também determina que é hora
de revelar ao homem a sua ajudadora idônea. Adão entra no des-
canso de Deus, onde sua costela é ferida e, a partir dela, Deus for-
mou a sua companheira. Da mesma forma, quando Jesus estava
na Cruz, ao entregar o seu Espírito a Deus, entrou neste mesmo
descanso. Em seguida, sua lateral foi ferida pela lança dos que o
mataram e, naquele momento, ao derramar sangue e água, a NOI-
VA de Cristo foi formada, a sua igreja.
112 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

Cristo lança luz sobre o mistério do casamento73. Cristo de-


seja nos ensinar o mistério do casamento quando chama a Igreja
de sua noiva . Ele trouxe de volta ao lugar de honra que o casa-
mento, originalmente, foi destinado a ter. Fez do casamento um
alvo, a união entre ele e sua Igreja nas bodas do Cordeiro. O amor
que marido e mulher demonstram um ao outro precisa ser uma
participação do amor que Cristo demonstra à sua Igreja74 e sua
igreja deve demonstrar por Ele.
O amor do marido pela esposa deve se assemelhar ao amor
com o qual Cristo ama sua noiva e se entregou por ela. Esse amor
está intimamente ligado a dar e a se sacrificar. O amor sempre
custa para quem ama. Por participar do amor sacrificial de Cristo,
o amor dentro do casamento é essencialmente sacrificial. A vida
de casado requer mortificação e rendição.

6. 5. 5 O Casamento se assemelha ao batismo


Ao se batizar, há um significado profundo de renovo em
que o velho homem é sepultado nas águas batismais e o novo ho-
mem nasce espiritualmente, porém, os desejos, impulsos e o velho
caráter ainda estão lá quando aquele homem sai das águas. Ou
seja, a verdadeira santificação e mortificação do velho homem é
um processo que envolve discipulado, posicionamento, depen-
dência de Deus, entre outros elementos importantes na vida cris-
tã. Mas veja, ao assumirmos um compromisso com Cristo, preci-
samos estar decididos a abandonar velhos hábitos egoístas, com
a ajuda do Espírito Santo, nos despindo assim do velho homem,
que antes dominava as nossas vidas, no revestindo do novo75, pois
os comportamentos de outrora prejudicam nosso relacionamento
e intimidade com Deus, consequentemente, com os outros, espe-
cialmente, o relacionamento conjugal e familiar.

73
Efésios 5.32
74
Efésios 5.28-33
75
Efésios 5.22-24
Capítulo 6 – O propósito do casamento • 113

Da mesma forma, ao nos aliançarmos com o nosso cônjuge,


os velhos hábitos de solteiro ainda estarão presentes. Assim como
no batismo, a cerimônia de casamento não elimina nossas imper-
feições e nosso estilo de vida de solteiro como se fosse um passe
de mágica. Após o sim ao nosso agora cônjuge, vamos precisar nos
esforçar para agir com uma natureza totalmente adequada para a
nova vida de casado. Para ocorrer unidade com o nosso cônjuge,
será necessário posicionamento e interdependência conjugal. Só
assim, o novo caráter de uma só carne poderá ser construído em
nós. Assim como o quebrantamento e a humildade são essenciais
para se construir um caráter cristão em nós, o casamento vai exigir
a mesma postura para que sejamos um com aquele que chama-
mos de “o amor de nossas vidas”.
Nas duas cerimônias, tanto o batismo como no casamento,
declaramos um compromisso de mudar a nossa natureza e fazer
novas escolhas, não mais pelos nossos próprios desejos ou bus-
cando benefícios apenas para nós mesmos, fazemos uma aliança
no intuito de honrar a Cristo, no caso do batismo, e ao nosso côn-
juge, no caso da cerimônia de casamento. Esses compromissos são
assumidos diante de Deus e de outras testemunhas.
Um bom exemplo disso é que, antes do casamento, o ho-
mem solteiro, ao caminhar por uma loja e se interessar por um
relógio, decide pela compra sozinho, sem qualquer outro tipo de
intervenção. Após o casamento, ele perde essa autonomia, pois
suas finanças passaram a ser compartilhada com outra pessoa,
cuja opinião é muito importante para a tomada de qualquer de-
cisão. Decisões simples como esta podem impactar diretamente a
harmonia e o planejamento financeiro do casal.
Quando éramos do mundo, nossos desejos nos governa-
vam e nos impeliam a fazer escolhas focadas em nos dar prazer
e realização pessoal. Ao assumirmos um compromisso genuíno
com Jesus, nossas escolhas não serão mais por aquilo que pen-
samos ou sentimos e sim pelo que a sua Palavra nos ensina e
orienta a fazer.
114 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

Ainda que os maus desejos estejam lá, nossas escolhas e


decisões devem ser fundamentadas na verdadeira liberdade
conquistada por Cristo para nela vivermos. Um homem verda-
deiramente livre é aquele que consegue dizer NÃO para o seu
mau desejo.

PARA FAZER JUNTOS


1. Leiam juntos I Coríntios 13 e conversem sobre em que
áreas cada um de vocês ainda precisa ser aperfeiçoado
no amor.
2. Em que áreas dentro do casamento de vocês cada um
ainda precisa crescer?
3. Pratiquem aqui a transparência, a verdadeira intimi-
dade que estão aprendendo a construir, sendo hones-
tos consigo mesmos e um com o outro.
4. Confessem, peçam perdão e ajuda naquilo que precisa
ser aperfeiçoado em cada um. Sejam, também, miseri-
cordiosos e estejam dispostos a se ajudar mutuamente
nas suas dificuldades individuais.
5. Aprendam a respeitar a individualidade de cada, en-
tendendo que são diferentes com um propósito: se
complementar como casal. É importante, porém, que
cada um seja inteiro no seu relacionamento com o
Amor Ágape, com o amor do Pai.
Capítulo 7 – O valor do renovo
de um casamento
“O Senhor, o seu Deus, está em seu meio, poderoso para
salvar. Ele se regozijará em você, com o seu amor a
renovará, ele se regozijará em você com brados de alegria”.
Sofonias 3:17

Eu (Railca) e meu esposo Paulo acreditamos que há grande alegria


e regozijo no coração de Deus quando um Casamento é Res-
taurado, especialmente porque a alegria dos cônjuges pode ser
­Renovada nEle.
O primeiro milagre público realizado por Jesus ocorreu em
uma celebração de casamento, em Caná da Galiléia76. Acredita-
mos que há uma poderosa mensagem nisso. A história conta que
Jesus transformou água em vinho, que representa alegria77 e con-
tentamento, porque o vinho da festa havia acabado. É interessante
notar que o vinho novo que Jesus criou a partir daquela água, que
representa o Espírito Santo, foi de maior qualidade, ou seja, um
vinho muito melhor do que o que havia acabado.
Em meu casamento, experimentei essa triste realidade de
acabar a alegria e o contentamento. Eu e Paulo, infelizmente,
construímos nosso relacionamento conjugal, durante muito tem-
po, em cima de alicerces errados. O principal motivo foi a falta de
conhecimento78 da verdade de Deus revelada em sua Palavra so-

76
João 2.1-11
77
Salmo 104.15
78
Oséias 4.6a
116 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

bre o Casamento. Por isso, temos um anseio de compartilhar o que


temos aprendido sobre este assunto desde que nos permitimos ser
restaurados por Ele. Ao decidirmos aceitar o convite de Deus para
conhecer mais dEle79, passamos a experimentar, dia após dia, uma
nova estação em nosso relacionamento.
O nosso desejo para cada casal que teve acesso a este livro
e chegou até aqui na sua leitura, é que busquem crescer no co-
nhecimento de Deus e um do outro. Somente assim, poderão ter
um relacionamento pessoal com Deus e construírem a verdadeira
intimidade conjugal.
Talvez a história de vocês seja parecida com a nossa. A ale-
gria e o contentamento no casamento tenha acabado e, também,
no que diz respeito a terem feito tudo errado desde o começo. Em
nosso caso, foi preciso desconstruir muitos dos conceitos errados
que tínhamos sobre casamento, sexualidade, e sobre os escombros
de muitas mentiras e falsas crenças que foram derrubadas, temos
construído uma nova história em nossa vida conjugal.
Durante muito tempo, duvidei que poderia ser feliz nova-
mente neste casamento porque me sentia a mais decepcionada
dentro da relação. Isso tudo devido aos graves problemas de ca-
ráter e às distorções na sexualidade que meu marido enfrentava e
me confessou após dez anos de convivência, sendo dois anos de
namoro e noivado, e oito anos de casamento. Somente quando
compreendi que não fui a mais prejudicada, a restauração se tor-
nou mais clara e fácil para mim.
Desde a nossa primeira conversa, em 2002, com a perspec-
tiva de nos relacionar, fui muito transparente com meu esposo e
mantive sempre essa conduta de andar na luz em nosso relacio-
namento. Isso garantiu que, durante o nosso namoro e noivado,
e até aqueles oito anos de matrimônio, eu usufruísse de paz e de
alegria, apesar de todas as adversidades que enfrentamos até ali
em nosso relacionamento como família, pois eu havia escolhido

79
Oséias 6.3,6
Capítulo 7 – O valor do renovo de um casamento • 117

confiar e dar total liberdade e motivos para meu marido também


confiar em mim.
Meu esposo, por sua vez, costuma dizer que, enquanto não
trouxe a luz todas as suas lutas e pecados ocultos, viveu um in-
ferno no nosso casamento. Isso porque vivia cheio de culpa e de
vergonha, de fome e de sede por uma verdadeira liberdade, con-
siderando o casamento uma prisão.
Ele teve seu primeiro contato com o evangelho salvífico de
Jesus quando nos conhecemos. Infelizmente, consumido por cul-
pa e vergonha, além do medo de ser rejeitado se trouxesse toda a
verdade sobre quem ele realmente era e sobre tudo o que já havia
feito, demorou todos esses 10 anos para descobrir que o casamen-
to é o único lugar em que podemos experimentar da verdadeira
liberdade e da plenitude na nossa sexualidade. Até então, meu
esposo só conhecia o sexo com cativeiro.
Como casal, desde o começo, quebramos princípios que
seriam alicerces para um casamento bem-sucedido. O primeiro
princípio quebrado foi não ter submetido o nosso relacionamento
à benção de nossos pais80 e, tampouco, nos emancipar deles, emo-
cional e financeiramente. Isso trouxe consequência difíceis e, até
hoje, sofremos sequelas, pois minha mãe ainda tem dificuldade de
ver o meu marido como um novo homem. Infelizmente, pessoas
com dificuldades de perdoar, não acreditam no arrependimento
genuíno e na obra completa que Deus pode fazer na restauração
de um pecador.
Outro princípio que quebramos, foi o de não submeter
nosso relacionamento a uma autoridade espiritual e eclesiástica,
antes de começarmos a nos conhecer. Isso aconteceu porque não
estávamos devidamente engajados numa igreja em que pudésse-
mos submeter nosso namoro aos cuidados de um pastor ou um
discipulador. Além disso, meu marido tinha acabado de ter conta-
to com o evangelho e eu já tinha um tempo razoável de caminha-
da com Deus. Essa falta de cobertura espiritual nos impediu de

80
Genesis 2.24
118 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

experimentar de sábias orientações de pessoas preparadas para o


discipulado de casais.
Outro princípio quebrado foi o da pureza sexual. Além de
ter tido experiências sexuais com outras pessoas antes de nos co-
nhecer, tivemos relações sexuais antes do casamento.
Todas essas decisões erradas acarretaram muito sofrimento,
tornando necessário tomar atitudes no sentido de fazer os conser-
tos necessários.
Ainda hoje, sofremos consequências de erros que comete-
mos por não ter observado os princípios da Palavra, porém, desde
que entendemos os benefícios de caminharmos em obediência a
Deus, seguimos de fé em fé, no sentido de experimentar de um
relacionamento cada vez mais íntimo e pessoal com o Pai, um com
o outro, e, de forma frutífera, em todos os nossos outros relaciona-
mentos, especialmente, com os nossos filhos.
Voltando a história do milagre que Jesus fez naquele casa-
mento em Caná da Galiléia, a água só foi transformada por Ele
em vinho após ser colocada em talhas de pedra. Essas talhas po-
dem representar cada um de nós como pessoas. Para uma pedra
ser transformada numa talha ao ponto de poder armazenar água,
ela precisa ser trabalhada por inteiro. Cada cônjuge, se desejar ser
cheio pelo Espírito Santo e ter sua alegria no casamento totalmen-
te restaurada, precisará se permitir ser talhado por Deus até que
esteja pronto para receber este renovo.
A confissão de meu marido foi voluntária. Ele conta que
Deus trabalhou nele durante, pelo menos, quatro anos depois do
seu último caso extraconjugal até que tivesse a coragem necessá-
ria para trazer à luz todos os seus pecados contra a nossa alian-
ça casamento, se permitindo desnudar na alma, finalmente, para
mim. Depois disso, foram mais dois anos para ele conseguir me
contar tudo o que havia passado e feito, desde antes mesmo de
me conhecer, que feriram e distorceram a sua cosmovisão sobre o
sexo e o casamento, sobre a verdadeira intimidade conjugal.
Capítulo 7 – O valor do renovo de um casamento • 119

Durante esse tempo em que meu marido se permitiu ser


trabalhado por Deus, ele não mais esteve com outra mulher, no
entanto, por não conseguir me confessar e pedir perdão, não se
desvencilhava do desejo sexual desenfreado, do vício em porno-
grafia e de todo sentimento de culpa, de vergonha e de medo de
ser descoberto. Isso o atormentava dia e noite, sendo este o prin-
cipal motivo pelo qual considerava nosso casamento um inferno.
Por vezes, ele me contou que desejava morrer diante de
tanta perturbação em seu espírito, pois já conhecia a verdade de
Deus, mas não conseguia confessar suas lutas. Deus o estava ta-
lhando, preparando-o para que pudesse remover toda a sua im-
pureza e derramar sobre ele o seu Espírito Santo.
Quanto a mim, também demorei, anos para ser trabalhada
por Deus desde o começo da confissão do meu marido. No meu
caso, endureci o coração de tal forma que adoeci em meu corpo.
A dificuldade de quebrar a minha justiça própria e de derrubar as
fortes estruturas de orgulho ferido, me fizeram sofrer ainda mais
nesse processo de preparo de Deus para derramar novamente so-
bre mim da sua alegria no Espírito Santo e me renovar por inteiro.
Ao nos talhar como a pedras, Deus pretende tratar, em cada
um de nós, todas as nossa feridas. Ele quer derrubar as muralhas
e mentiras que construímos ao longo de nossas vidas a partir das
experiência ruins que experimentamos em nossos relacionamen-
tos, desde a infância, especialmente, em nossa família de origem.
Em muitas situações, o casamento dos nossos pais não cumpriu o
propósito de nos ensinar sobre o caráter de Deus e isso foi o que
mais nos feriu.
Somente depois de talhados, lapidados e preparados por
Deus, poderemos receber do seu renovo. Isso pode levar tempo
e vai exigir de nós plena confiança nEle e obediência ao que Ele
nos diz para fazer. O processo sempre envolverá arrependimento
genuíno de tudo que fizemos de errado em nossos relacionamen-
tos desde a nossa infância, incluindo a desonra aos nossos pais, e
120 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

a liberação de perdão a todos que um dia nos feriram em nossa


caminhada, especialmente, nossos pais.
Deus me fez experimentar, em meu próprio corpo, o proces-
so cirúrgico que estava fazendo em meu casamento para que eu
pudesse compreender a profundidade do seu amor e compromis-
so em nos restaurar.
Exatamente quatro anos depois que eu entrei no meu pro-
cesso de perdão, fui operada de urgência por causa de um cisto
roto. Os sintomas apareceram bem antes, mas nenhum médico
que procurei conseguiu diagnosticar o meu problema. Quando fui
hospitalizada, ainda demorou dois dias para que eu fosse opera-
da, pois a equipe médica insistia em obter um diagnóstico preciso
sem ter que me operar, mas quando constataram, através de uma
tomografia computadorizada, que meu abdômen estava tomado
de pus, me encaminharam para uma cirurgia de urgência. Somen-
te quando abriram uma ferida cirúrgica, puderam averiguar o que
realmente estava acontecendo comigo e remover aquele mal que
estava ameaçando a minha vida.
Oséias 6.1-2 diz o seguinte: “Venham, voltemos para o Se-
nhor. Ele nos despedaçou, mas nos trará cura; ele nos feriu, mas
sarará nossas feridas. Depois de dois dias ele nos dará vida no-
vamente; ao terceiro dia nos restaurará, para que vivamos em sua
presença”. Deus havia me dado esta Palavra no começo do meu
processo de perdão e, até aquele momento, eu não tinha tido a
revelação completa do que significava. Eu costumava dizer para
Deus que tudo o que estava acontecendo em meu casamento era
culpa dEle, justamente, por causa do que está escrito nessa Pala-
vra (‘Ele nos despedaçou...’). Porém, ao acordar no hospital depois
daquela cirurgia, e verificar a enorme incisão em meu abdômen,
Deus me fez lembrar dessa Palavra e me perguntou, docemente,
em meu espírito, se o médico que havia feito aquela ferida em
mim, tinha feito isso para me destruir ou para me salvar... ali eu
entendi o que Deus estava querendo me dizer com aquela palavra.
Capítulo 7 – O valor do renovo de um casamento • 121

Assim como aquele médico precisou abrir uma ferida cirúr-


gica em mim para retirar o mal que havia em meu corpo, Deus
precisou que tudo o que contaminava o meu casamento e amea-
çava a nossa intimidade conjugal fosse exposto através da ferida
cirúrgica que ele abriu, representada pelas confissões do meu ma-
rido. Eu, finalmente, entendi que o confessar do meu esposo não
era para nos destruir, mas para que pudéssemos ser sarados em
nosso relacionamento conjugal.
Aquela cirurgia colocou em risco a minha vida. A equipe mé-
dica precisou lavar os meus órgãos abdominais que haviam sido
atingidos por aquela secreção, e também precisou remover a mi-
nha trompa e ovário esquerdos, que era onde o cisto que rompeu
se encontrava, além do apêndice que corria o risco de ­infeccionar.
Durante o processo de restauração do meu casamento, e
talvez isso também seja necessário no seu, Deus precisou lavar o
que havia sido afetado por todo pecado em nosso meio e remo-
ver o que poderia continuar adoecendo o nosso relacionamento,
para que, então, pudéssemos experimentar de uma cura e res-
tauração completas.
O período de convalescência e recuperação daquela cirurgia
foi necessário, além de requerer alguns cuidados. Mas havia uma
promessa de cura e de renovo! (“...Ele nos despedaçou, mas nos trará
cura; ele nos feriu, mas sarará nossas feridas.) É muito importante que
casais em processo de restauração de seus casamentos tenham
acompanhamento de pessoas de confiança e preparadas para aju-
dá-las em intercessão e orientação.
Quando ainda estava me recuperando daquela cirurgia em
meu corpo, Deus me convidou a escrever minha experiencia de
cura da ferida da traição no meu casamento. Foi então que come-
cei a escrever o meu primeiro livro81, onde conto, com ainda mais
detalhes, sobre todo o nosso processo de restauração e o caminho
que Deus nos convidou a trilharmos para que alcançássemos o
renovo em nosso relacionamento. Somente um ano depois que co-

81
Curando a Dor da Traição no Casamento – Edição Ampliada 2018 – Railca Freire Gouvêa
122 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

mecei a escrever é que Deus me revelou, mais uma vez de forma


literal, que aquela ferida havia sido cicatrizada.
Em 2017, quando estávamos fazendo 13 anos de casados e
1 ano daquele episódio hospitalar, eu e meu marido fomos a uma
praia que havíamos visto em um filme. Meu marido me levou aque-
le lugar para celebrarmos o renovo de Deus em nosso casamento.
Deus havia colocado no coração do meu esposo o desejo de
encontrar uma pérola naquela praia para me dar de presente pela
ocasião do nosso Aniversário de Casamento. O Paulo não me con-
tou nada sobre isso até que o questionei sobre o porquê de estar
coletando tantas conchas e sempre olhando para o chão enquanto
poderia aproveitar mais comigo da paisagem. Foi então que ele
me revelou o motivo.
Não pude deixar de rir de sua intenção. Comecei a lhe falar
que seria impossível ele encontrar uma pérola ali, uma vez que
são encontradas em altas profundidades. Tentei lhe fazer desistir
dizendo que, só o fato de desejar isso e de ter me levado naquele
lugar, naquela ocasião tão especial para nós, já era o bastante e que
eu estava contente e satisfeita com isso. Assim, o convidei para ir
embora dali e procurar o lugar exato em que o filme que assisti-
mos havia sido gravado. Ele, não muito contente com minha falta
de fé, concordou em irmos embora dali, afinal, o local era todo
praia e ele poderia continuar procurando a pérola depois.
Ao sair daquela praia, decidimos caminhar por cima de uns
entulhos do mar quando estávamos indo em direção ao estaciona-
mento. Foi então que eu vi, no meio daqueles entulhos, uma boli-
nha extremamente branquinha e brinquei com ele dizendo meio
incrédula: “Olha ali a tua pérola!”, achando, na verdade, que se
tratava de uma naftalina.
Para nossa alegria e grande surpresa, era mesmo uma
­ érola!
p
Na ocasião, não sabíamos se ríamos ou se chorávamos! Foi,
então, que decidi pesquisar na internet sobre como constatar a ve-
racidade de uma pérola. Para minha surpresa, ali mesmo descobri
Capítulo 7 – O valor do renovo de um casamento • 123

que pérolas são feridas cicatrizadas! Uma ostra que não foi ferida,
não produz pérolas! Imediatamente entendi Deus me dizer que,
finalmente, ele havia atado a minha ferida como prometido!
Ao chegar em nossa cidade de origem, procuramos um la-
boratório de biologia marinha para examinar a nossa pérola. A
bióloga que a examinou ficou extasiada com o nosso achado. Ela
disse que nossa pérola foi produzida por um molusco cujo nome
científico é Eustrombus Gigas, mas o nome popular desse animal
é Concha Rainha. Deus, então, nos fez entender o quanto somos
preciosos e importantes para Ele, fazendo-nos lembrar que Ele
nos fez Reis82 e Sacerdotes, e nos trata como tal. Ele deseja que
sejamos sarados e trabalhará sempre em nós para isso!
A bióloga continuou examinando a nossa pérola e nos dis-
se que, o fato de ser perfeitamente redonda era muito raro, e de
ser tão branca, tendo sido produzida por aquele animal, também
era raríssimo, uma vez que este animal costuma produzir pérolas
com coloração rosada, conforme a cor do interior de sua carca-
ça. Assim, Deus continuava nos falando muitas coisas através de
cada detalhe da nossa pérola:

• A pérola, como uma ferida cicatrizada, significava, em si


mesma, a cicatrização da ferida cirúrgica que havia sido fei-
ta por Ele em nós e no processo de restauração do nosso
casamento;
• O fato de ela ser redonda fala de algo totalmente simétri-
co, ou seja, perfeito, nos fazendo entender que Deus estava
nos dizendo que fizera obra completa e perfeita em nós e no
nosso casamento;
• O fato de a nossa pérola ser branca nos fala que Ele purifi-
cou o nosso leito83 e estabeleceu a paz em nosso relaciona-
mento conjugal;

82
Apocalipse 1.6
83
Hebreus 13.4
124 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

• Nossa pérola é fosca, não possuindo brilho próprio. A bió-


loga nos explicou que isso era porque a Concha Rainha pro-
duz pérolas não nacaradas. Ela reveste o que a feriu com
concreto calcário, formando assim, uma pérola, que não tem
brilho próprio. Nossa pérola depende de iluminação exte-
rior, de preferência sob ela, para mostrar toda sua beleza e
detalhes. Nisso, entendemos que nossa história só tem bele-
za e significado porque Jesus, a luz do mundo, é quem fez
tudo em nós, para sua glória e louvor!
• Como se não bastasse, a nossa pérola tem exatos 13mm de
diâmetro e nós fizemos 13 anos de casamento no dia em que
a encontramos!

Jesus, certa vez, comparou o Reino dos Céus a uma pérola.


Mateus 13.45-46 diz: “O Reino dos céus também é como um nego-
ciante que procura pérolas preciosas. Encontrando uma pérola de
grande valor, foi, vendeu tudo o que tinha e a comprou”.
Desde 1916, pérolas naturalmente produzidas como a nos-
sa não são mais procuradas, porque um japonês desenvolveu uma
técnica para cultivar pérolas, promovendo uma produção em larga
escala. Essa forma de cultivo utiliza ostras saudáveis e as fere, pro-
positalmente, para que produzam pérolas em quantidade. Muitas
ostras são sacrificadas nesse processo. Por esse motivo, pérola são
gemas preciosas bem mais comuns em nossa época e não mais tão
valorizadas como antigamente. O fato de nossa pérola ter sido pro-
duzida naturalmente a torna muito rara. É 1 em 1 milhão de ostras
ou conchas que produz uma pérola sem ser cultivada. Além dis-
so, ter encontrado nossa pérola da forma em que a encontramos
e, diante de todas essas características intrínsecas que ela possui,
podemos dizer que a nossa é um milagre e não tem preço.
Assim é quando um casamento se permite e é restaurado
por Deus. É preciso que os cônjuges decidam se sujeitar a restau-
ração que o Pai deseja fazer, transformando suas histórias em tes-
Capítulo 7 – O valor do renovo de um casamento • 125

temunhos vivos de restauração, com o objetivo de levar a outros


casais esperança de também alcançarem restauração.
O fato de nossa pérola não ser nacarada faz com que ela
não tenha valor comercial, mas a sua beleza e riqueza de detalhes
a torna, para um colecionador ou comerciante de pérolas, uma
gema de grande valor como disse Jesus sobre o Reino de Deus.
Para nós, ela tem um valor imensurável, pois representa o que
Deus fez em nós, deseja e é capaz de fazer em todo casamento que
se submeter ao seu tratamento e restauração.
Jesus também disse que o Reino de Deus está dentro de
nós , ou ainda, entre nós, como diz algumas traduções. Entende-
84

mos, assim, que é somente quando estamos sarados dentro de nós


e quando também estamos sarados nos nossos relacionamentos
mais íntimos, como é o caso do casamento, é que poderemos ex-
perimentar o Reino de Deus em nossas vidas.
Voltando a parábola da pérola, Jesus diz que aquele comer-
ciante que a encontrou fez de tudo para adquiri-la. Ele é o Médico
dos médicos, não há ferida que não possa curar! O impossível é
invenção do homem. Não há nada impossível para Deus85!
Não estamos dizendo que será fácil e sem dor o processo de
restauração de um casamento, mas podemos garantir que valerá a
pena. Hoje, eu posso dizer que sou infinitamente mais feliz do que
antes de saber de tudo maculava meu relacionamento conjugal.
Meu esposo, também, é hoje um homem livre de tudo que um dia
o atormentou e, finalmente, conheceu o SEXO SEM CATIVEIRO.
Não desistam da caminhada de vocês!

84
Lucas 17.20-21
85
Lucas 18.27
126 • Construindo a Verdadeir Intimidade Conjugal | Paulo & Railca

PARA FAZER JUNTOS


Leia os princípios abaixo e, caso reconheça que quebrou al-
gum deles, converse com seu cônjuge, traga a luz de Cristo
orando, confessando e pedindo perdão a Deus sobre esta
quebra de princípio, além de promover entre vocês atitudes
para restaurar esse importante alicerce.

1. Benção dos Pais – Sujeição do relacionamento à ben-


ção dos pais.
a) Em muitos casos, se faz necessário ir até os pais de
cada cônjuge pedir perdão por toda desonra a eles
no início do relacionamento do casal. Será preciso
muita humildade e desejo de honrar os pais e so-
gros, não renovando a ofensa, mas promovendo o
perdão e a reconciliação.
b) Ouvimos muitos testemunhos de casais que, de-
pois de restaurar este importante alicerce em seus
casamentos, experimentaram de uma prosperidade
sobrenatural em todos os seus projetos e negócios
dali em diante.
2. Benção Sacerdotal – Sujeição do relacionamento ao
acompanhamento de uma liderança pastoral ou ecle-
siástica.
a) Isso pode significar realizar o casamento religioso
quando já não ocorreu.
b) É importante sujeitar o casal a um discipulado,
como forma de ajudá-los a lidar melhor com os
conflitos do dia-a-dia, ensinando-os a enxergar os
conflitos como oportunidades de amadurecerem
no relacionamento ao invés de enfraquecê-lo.
Capítulo 7 – O valor do renovo de um casamento • 127

3. Benção Estatal ou Governamental – Sujeição do rela-


cionamento às leis vigentes do seu país acerca do ca-
samento.
a) Isso pode significar realizar o casamento civil quan-
do isso já não ocorreu.
b) É preciso garantir que a sociedade os reconheça
como marido e mulher de fato e de direito, perten-
centes um ao outro e garantido seus direitos como
cônjuges.
4. Benção da Pureza Sexual – Ter a vida sexual de ambos
na luz.
a) Isso pode significar contar um para o outro todo
envolvimento sexual ocorrido antes mesmo de se
conhecerem, com pedidos de perdão um ao outro
por não terem se guardado para o casamento. Em
muitos casos, essa defraudação poderá ter ocorrido
apenas entre os dois, mas, mesmo neste caso, é pre-
ciso se perdoarem mutuamente por não terem es-
perado para terem essa experiência apenas depois
de contraírem matrimônio.
b) É preciso que venha a luz todo envolvimento ex-
traconjugal no sentido de purificar o leito conjugal,
assim como se faz necessário cessar a prática de
todo tipo de imoralidade entre o casal ou da parte
de apenas um dos cônjuges, como o consumo de
material pornográfico, por exemplo. O comporta-
mento que fere o relacionamento precisa parar para
que a restauração da confiança, o perdão e a recon-
ciliação seja estabelecida.
Semeando no Reino
“Aquele que supre a semente ao que semeia e o pão ao que
come, também lhes suprirá e aumentará a semente e fará
crescer os frutos da sua justiça. Vocês serão enriquecidos de
todas as formas, para que possam ser generosos em qualquer
ocasião e, por nosso intermédio, a sua generosidade resulte
em ação de graças a Deus”. — II Coríntios 9.10-11

Eu e minha esposa, Railca, somos chamados especificamente para dedicar


nosso tempo integral à Missão. Nosso trabalho está voltado para cura e
restauração de relacionamentos feridos, casamentos e famílias, princi-
palmente aqueles afetados por distorções na sexualidade. Fomos cha-
mados a reconstruir velhas ruínas e a restaurar alicerces antigos, a repa-
rar muros, restaurar ruas e moradias (Isaías 58.12).
Você pode se tornar um parceiro deste ministério ficando na
retaguarda, suprindo as necessidades daqueles que estão no campo
de batalha através de sua contribuição com o nosso chamado.

Opções de contribuição:
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ACONSELHAMENTO AO COMPULSIVO SEXUAL


Autor: Paulo Adriano Muniz Gouvêa
Páginas: 192

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O IMPACTO PESSOAL E SOCIAL DA PORNOGRAFIA


Autor: Paulo Adriano Muniz Gouvêa
Páginas: 192

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CURANDO A DOR DA TRAIÇÃO NO CASAMENTO


Autora: Railca Freire Gouvêa
Páginas: 192

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DEUS É BOM?
Autor: Tales Cabele Freire Gouvêa
Colaboração: Railca Freire Gouvêa
Páginas: 24

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“Jesus disse a Pedro que daria a ele as chaves do Reino dos céus e tudo
o que fosse ligado na terra seria ligado nos céus”. Sem duvida nenhuma
temos um livro que é a chave de Deus para destrancar a vida conjugal
de milhares de familias ao redor do mundo, direcionando-as nesta área a
viverem o pleno propósito do céu.
Josué e Keisse (7 anos de casados)

“Este livro apresenta uma visão ampla e lúcida a respeito do que um


casal necessita para um relacionamento não apenas satisfatório, mas que
gere alegria e estrutura dentro do matrimônio, como também para os fi-
lhos e para as futuras gerações. Traz princípios que vão auxiliar num pro-
cesso de restauração e renovação.”
Marcos e Kelly (10 anos de casados)

“Construindo a Verdadeira Intimidade Conjugal nos coloca em face da


verdade bíblica sobre a natureza do matrimônio. Paulo e Railca tratam a
fundo sobre o propósito de Deus quando instituiu o casamento. Este livro
nos concede elementos para uma vida conjugal saudável.”
Geremias e Telma (38 anos de casados)

“Sexo não é a melhor experiência que um casal pode viver dentro de


uma aliança de casamento. O que existe de melhor no relacionamento
conjugal é a certeza e a convicção de que somos plenamente amados por
alguém e que também o amamos sem reservas. Não há segredos e os me-
dos e receios dão lugar a um ambiente de segurança e proteção, onde
podemos nos entregar e descansar.”
Os autores (15 anos de casados)

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