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Maputo
2019
ii
O Supervisor:
Prof. Doutor Gustavo Sobrinho Dgedge
Índice
Lista de tabelas
Tabela 1. Índice de Oscilação Sul (IOS). .................................................................................................... 38
Tabela 2. Classificação do Índice de Anomalia de Chuva. ......................................................................... 66
Tabela 3. Valores das séries. ....................................................................................................................... 70
Tabela 4. Normais Climatológicos.............................................................................................................. 76
Tabela 5. Anomalias de Chuva. .................................................................................................................. 78
Tabela 6. Anomalia de Chuva 1991-2017. ................................................................................................. 82
Tabela 7. Eventos extremos ocorridos de ano 2000 a 2017 ........................................................................ 85
Tabela 8. Eventos extremos e sistemas atmosféricos actuantes. ................................................................. 86
Tabela 9. Anos Niños e Anos Niña e a respectiva intensidade (1951-2017). ............................................. 89
Lista de quadros
Quadro 1. Classificação dos eventos extremos. .......................................................................................... 24
Quadro 2. Parâmetros para caracterizar os eventos naturais. ...................................................................... 24
Quadro 3. Clima da Cidade de Xai-Xai. ..................................................................................................... 55
Lista de figuras
Figura 1. El Niño......................................................................................................................................... 36
Figura 2. La Niña. ....................................................................................................................................... 37
Figura 3. Impulsionadores de Impactos do Clima Para África. .................................................................. 40
Figura 4. Esquema de Integração dos Subsistemas Ambientais. ................................................................ 43
Figura 5. Circulação das massas de ar no Oceano Índico. .......................................................................... 49
Figura 6. Localização geográfica da Cidade de Xai-Xai. ........................................................................... 53
Figura 7. Evolução dos Anos Niño e Niña na zona sul oriental de África.................................................. 91
Figura 8. Alagamentos resultantes de chuvas intensas na Cidade de Xai-Xai. ........................................... 97
Figura 9. Alagamentos nos bairros residencias da Cidade de Xai-Xai. ...................................................... 97
Figura 10. Alagamentos nas estradas secundárias. ..................................................................................... 98
Lista de mapas
Mapa 1. Divisão Administrativa da Cidade de Xai-Xai. ............................................................................ 59
Mapa 2. Risco de Inundações. .................................................................................................................... 60
Mapa 3. Riscos de Erosão do solo. ............................................................................................................. 61
Lista de gráficos
Gráfico 1. Tendência de aumento global da Temperatura. ......................................................................... 18
Gráfico 2. Índice Oscilação Sul (IOS). ....................................................................................................... 38
Gráfico 3. Níveis de Riscos associados às mudanças Climáticas. .............................................................. 39
Gráfico 4. População da Cidade de Xai-Xai e Agregados Familiares. ....................................................... 58
Gráfico 5. Ocorrência de Precipitação 1951-2017 na Cidade de Xai-Xai. ................................................. 72
vii
Declaração
Declaro que esta Dissertação de Mestrado é resultado da minha investigação pessoal e das
orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas a fontes consultadas estão
devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para
obtenção de qualquer grau académico.
___________________________________________
Dedicatória
Agradecimentos
Ao meu Supervisor Prof. Doutor Gustavo Sobrinho Dgedge, pelo aconselhamento, pela sapiência
na orientação do trabalho e pelo exemplo na Profissão!
Aos meus Irmãos: Nonó, Quina, Olga, Cileste, Arlindo, Marito, Nhico, Júnior, Adelino, Tiochu e
Pupula que confiam em mim sempre!
Aos meus colegas do curso: Mira, Guimas, Rodriguinho, Carlinha, Haquirene (grupo radical-
PRACHA)
Resumo
A pesquisa fala sobre a ocorrência de eventos extremos de precipitação, pelo facto de, ter-se
constatado que na cidade de Xai-Xai, registam-se cenários climáticos adversos relacionados com
hidrometereologia (estiagem, inundações) que, em algumas vezes se traduzem em problemas
ambientais que mais assolam a cidade (erosão na cidade alta e inundações na cidade baixa). A
intensão foi a de estudar a variabilidade e ocorrência da precipitação na cidade de Xai-Xai e
procurar relacionar com episódios meteorológicos de El Niño e La Niña. Para o efeito, usou-se
os dados fornecidos pelo instituto nacional de meteorologia referentes aos anos de 1951 a 2017.
Com estes dados, determinou-se as normais climatológicas pelo método estatístico de
agrupamento de dados mensais de cada série climatológica; calculou-se o índice de anomalia de
chuva por forma a determinar os anos secos e chuvosos; aplicou-se a metodologia das máximas e
mínimas para determinar limiares de chuva e identificar cenários de chuvas extremas. Procurou-
se relacionar os índices de anomalia de chuva com a intensidade do ENSO. As ilações deste
estudo revelam que a precipitação em Xai-Xai é mais frequente nos anos de La Niña e neutros.
Os anos El Niño tendem apresentar a escassez de chuva (seca). O quadro climático de Xai-Xai,
mostra que a estação chuvosa começa relativamente tarde ou seja no mês de Novembro e termina
também em Maio ao invés do mês de Abril tal como é generalizado nos estudos anteriores. As
chuvas intensas e extremas não tem uma ligação forte com os fenómenos planetários de ENSO,
mas sim, ocorrem como resultados de outros factores principalmente a influência da zona
ciclónica do canal de Moçambique. A pesquisa apresenta quatro capítulos, anexos bem como as
respectivas referencias e notas devidamente mencionadas.
Palavras-chave: Eventos Extremos climáticos; El Niño; La Niña; Anomalia de Chuva; Cidade
de Xai-Xai.
xiv
Abstract
The research discusses the occurrence of extreme precipitation events, due to the fact that Xai-
Xai City has observed adverse climatic scenarios related to hydrometeorology (drought, floods),
which sometimes environmental problems that plague the city (erosion in the upper city and
floods in the lower city). The aim of this study was to study the variability and occurrence of
precipitation in the city of Xai-Xai and to investigate the relationship between El Niño and La
Niña meteorological episodes. For this purpose, the data provided by the National Institute of
Meteorology for the years 1951 to 2017 were used. With these data, the climatological norm was
determined by the statistical method of grouping monthly data of each climatological series; the
rainfall anomaly index was calculated in order to determine the dry and rainy years; the
maximum and minimum methodology was applied to determine rain thresholds and to identify
extreme rainfall scenarios. We searched the rainfall anomaly indices with the ENSO intensity.
The findings of this study reveal that Xai-Xai precipitation is more frequent in the La Niña years
and neutral. The El Niño years tend to show the scarcity of rain (dry). The Xai-Xai climatic
picture shows that the rainy season begins relatively late in November and also ends in May
rather than April as is common in previous studies. The intense and extreme rains do not have a
strong connection with the ENSO planetary phenomena, but rather, the results of other factors,
mainly the influence of the hurricane zone of the Mozambique Channel, occur as a result of other
factors. The research presents four chapters, annexes as well as the respective references and
notes duly mentioned.
Keywords: Extreme climatic events; El Niño; La Niña; Rain Anomaly; City of Xai-Xai.
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INTRODUÇÃO
Os eventos extremos climáticos são ocorrências naturais que têm essa designação por serem
incomuns ou invulgares para um determinado lugar e tempo. A pesquisa olha os eventos
extremos de precipitação e procura associar entre vários factores com às anomalias de
temperatura registadas em porções específicas do oceano Pacífico, provocando o aquecimento
superficial das águas do Pacífico Equatorial ou o resfriamento, respectivamente denominados El
Niño e La Niña ou ainda El Niño-Oscilação Sul (ENOS) na cidade Xai-Xai. A pesquisa parte do
pressuposto de que as alterações do comportamento climático na Cidade de Xai-Xai, assim como
em toda zona costeira do sudeste de Africa, (conforme os resultados das pesquisas de Tique
(2014), Macie (2016) e Coana (2015), bem como o relatório do Painel Intergovernamental sobre
as Mudanças Climáticas (IPCC, 2014)), revelam que a intensidade dos ventos (frequência de
ciclones), precipitação, secas, cheias, ondas de calor que atingem Moçambique e em quase toda
zona sul de África representam o cenário da influência do ENOS.
É importante considerar que as alterações climáticas sempre estiveram presentes no planeta terra,
sendo que antes da ascensão de instrumentos tecnológicos e produtivos desenvolvidos pelo
homem, estas alterações revelavam uma sazonalidade equilibrada. Todavia, com o advento da
industrialização, os processos produtivos tiveram a necessidade de utilizar cada vez mais fontes
energéticas, tais como, o petróleo, o carvão mineral e, actualmente, os biocombustíveis. A partir
disso, o processo de aquecimento global tem-se mantido constante e ao mesmo tempo intenso,
em quantidades crescentes. Porém, o presente estudo concentra-se nos factores naturais que
influenciam e/ou determinam a variabilidade da precipitação na Cidade de Xai-Xai. Olha-se o
estudo como relevante na medida em que os pensamentos actuais desenham cenários de um
futuro próximo, tendente a apresentar um clima mais extremo, com maiores ocorrências de
estiagens e inundações, como presumidamente pode ser verificado em Moçambique, onde é
possível, de forma relativamente frequente, termos cenários contrários, tais como, o sul com seca
resultante da precipitação abaixo da normal climatológica e o norte e o centro inundações severas
resultantes das precipitações acima da normal climatológica. Logo, é importante saber a
frequência e a intensidade com que os fenómenos meteorológicos vêm ocorrendo nos últimos
anos bem como a verificação do padrão climático da Cidade de Xai-Xai, de modo a desenhar
estratégias de resiliência e adaptação aos adventos ambientais.
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A pesquisa apresenta quatro capítulos, onde o primeiro traz uma discussão teórica sobre eventos
extremos, sua classificação e factores determinantes da sua ocorrência, os paradigmas ambientais
para a análise do clima, com vista a compreender a abordagem actual da análise dos sistemas
ambientais; O segundo é específico aos aspectos geofísicos e ambientais da cidade Xai-Xai, bem
como as particularidades edáficas e climáticas que ajudam a compreender a variabilidade
climática; O terceiro é referente a metodologia, onde descreve-se as principais estratégias e
formas de abordagens que dão a cientificidade aos resultados, o último capítulo trás os resultados
e as respectivas formas de categorização para perceber a variabilidade da precipitação na Cidade
de Xai-Xai e encerra-se o trabalho com as considerações finais e as principais referências.
Delimitação do estudo
O estudo sobre “a ocorrência dos eventos climáticos de precipitação na Cidade de Xai-Xai”,
enquadra-se no âmbito da conclusão de um programa de Mestrado em Gestão Ambiental na
Faculdade de Ciências da Terra e Ambiente da Universidade Pedagógica. Tem como grande
área: Avaliação e Gestão dos Riscos Ambientais e a pequena área presume-se em: riscos
climáticos, conforme o plano curricular do respectivo programa. A base de análise do presente
estudo estrutura-se da seguinte forma:
b). Período de estudo: 1951-2017- compreendem três séries históricas estabelecidas pela
Organização Mundial de Meteorologia (OMM), sendo apenas 10 anos da primeira série que vai
desde 1931-1960; toda a segunda série histórica de 1961-1990 e cerca de 27 anos da última serie
que vai fechar em 2020 a de 1991-2017 {}, portanto são no total 67 anos estudados.
Problema da Pesquisa
a). Contexto Global
1
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
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O gráfico um (1), mostra a tendência de aumento da temperatura por ano e por década, de forma
a perceber-se este elemento (temperatura) como influenciador na ocorrência de vários eventos
climáticos a nível planetário.
Nota-se no gráfico (1) um que, no século XX, a temperatura global aumentou em torno de 0,6ºC
e prevê-se que a mesma aumente em média 3ºC até ao final do século XXI. Esta tendência de
aumento da temperatura global, deve-se a vários factores que podem ser interpretados em
diferentes escalas (global, local e glocal) e âmbitos (factores humanos influenciadores e factores
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naturais que são determinantes). A leitura que se faz no gráfico em alusão justifica a ocorrência
de vários fenómenos extremos meteorológicos a nível do planeta, com maior destaque para as
inundações e secas em várias partes do mundo, tais como, as ondas de calor e de frio, os ciclones
e furacões, em que quase todos os dias em diferentes partes do planeta são registados e olha-se
para vaiáveis de precipitação e temperatura como sendo as que mais interferem na combinação
para dar lugar a um evento extremo e comportamento climático em diferentes lugares. No
entanto, a Cidade de Xai-Xai não é uma parte isolada do resto do planeta, daí que os factores
ambientais não apresentam fronteiras relevantes para a sua actuação, apenas obedecem padrões
geológicas e hidrometereológicas da sua formação, intensidade, magnitude, dispersão e duração,
facto que nos leva a estudar a Cidade-Xai-Xai como uma unidade isolada para pudermos
compreender de forma específica, mas interpretando factores de actuação global e local.
Moçambique regista, nos últimos anos, uma maior frequência de eventos climáticos extremos
que actuam de forma contrária nas diferentes regiões, sendo que o centro e norte tendem a
apresentar cenários semelhantes e o sul com fenómenos contrários, ou seja, tem sido frequente
que quando as zonas centro e norte apresentam inundações e chuvas frequentes, a zona sul
apresenta seca, escassez da precipitação. Não obstante, quando a zona sul regista precipitações
severas e consequentemente inundações a zona norte e centro registam estiagem ou precipitação
abaixo da normal. Ademais, a zona sul de Moçambique tende a apresentar apenas duas
características, sendo: ou seca ou inundações. Os anos com uma certa distribuição normal do
período seco e húmido são quase reduzidos. Este facto, remete a preocupação de estudar a
ocorrência dos eventos climáticos de precipitação e determinar através do IAC os anos chuvosos
e secos na cidade de Xai-Xai, como forma de potenciar a informação sobre a ocorrência dos
eventos climáticos e fortificarem-se as estratégias de resiliência e de familiarização das
comunidades para com os fenómenos.
A cidade de Xai-Xai é uma cidade costeira, que de certa maneira, mais do que o quadro
climático da região sul, merece uma análise dos aspectos particulares que determinam a
ocorrência da precipitação, por estar sob influência do factor oceânico e apresentar vários
eventos hidrometereologicos relacionados com o seu enquadramento na região tropical, como é o
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caso das depressões tropicais, precipitações extremas, estiagem e ondas de calor. Considerando
que os respectivos eventos ocorrem a um padrão irregular, a presente pesquisa perspectivou
estudar a variação, a tendência e o comportamento cíclico de eventos climáticos extremos na
Cidade de Xai-Xai e associar aos fenómenos de ENOS, baseando-se nas seguintes questões
científicas:
Objectivos:
Objectivo Geral:
Objectivos Específicos:
a). Área de educação: como fonte de informação para várias consultas e críticas e, por via disso,
suscitará novas pesquisas sobre eventos meteorológicos na Cidade de Xai-Xai e em diferentes
regiões que apresentam similaridades climáticas com as de Xai-Xai.
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b). Na meteorologia: servirá como mais-valia para a intensificação da aplicação do cálculo das
anomalias de chuva (IAC) e respectivo mapeamento dos cenários de seca e inundações para
ajudar os tomadores de decisão sobre estratégias de adaptação aos eventos climáticos extremos.
Motivações
Estudar os eventos extremos climáticos de precipitação na Cidade de Xai-Xai, justifica-se pela
necessidade de fazer uma produção científica relevante para terminar o curso de mestrado em
gestão ambiental na Universidade Pedagógica de Maputo. Estudar sobre Xai-Xai tem haver não
só com razoes de interesse científico ambiental, mas também por razoes culturais de identidade
com o local que, embora não seja de nascença, testemunhou o crescimento do autor e, por via
disso ter acompanhado ao longo dos anos vários cenários climáticos ‘estranhos’ que acontecem e
que são vivenciados pelos residentes, afectando grandemente as condições de vida da população.
O outro aspecto motivacional centra-se pelo facto de escassear informações e estudos sobre os
factores de ocorrência dos eventos extremos em Xai-Xai, sendo que maior parte dos
pesquisadores olham para os impactos, dai a necessidade de contribuir na compreensão da
ocorrência dos extremos de chuva na Cidade de Xai-Xai.
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Este Capítulo procura trazer fundamentos teóricos para a compreensão dos eventos extremos
relacionados com precipitação, considerando, de forma geral, os eventos extremos e sua
classificação e, de forma particular, os eventos extremos de chuva. Desta forma, o capítulo
apresenta a seguinte estrutura: (i) eventos extremos; (ii) eventos extremos climáticos; (iii)
eventos extremos de chuva; (iv). El Niño-Oscilação Sul como factor influenciador da
precipitação; (v). Determinação do Índice Oceânico; (vii). Pesquisas anteriores sobre eventos
extremos climáticos; (viii). Importância do Estudo dos Eventos Climáticos Extremos e por fim o
capítulo fecha com apresentação de principais paradigmas ambientais que sustentam a análise
feita neste estudo.
WHITE (1974) considera que cada parâmetro da biosfera sujeito à flutuação sazonal, anual ou
secular, constitui um “hazard”3 para o homem, na medida em que seu ajustamento à frequência, à
2
An occurrence that distances from the mean and presents a rarer incidence, and may have varying degrees of
magnitude and intensity.
3
Perigo.
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De modo geral, os eventos extremos apenas podem ser antevistos como probabilidades cujo
tempo de ocorrência é desconhecido. Para White, o termo ‘hazard’refere a “an interaction of
people and nature governed by the coexistent state of adjustment in the human use system and
the state of nature in the natural events system”4 . (Opcit: 4)
MONTEIRO (1991), após uma ampla discussão sobre a melhor tradução da palavra inglesa
hazard, adopta o termo acidente, considerando que este abrange um trauma maior para expressar
a ideia contida no vocábulo. Desta feita, no termo acidente seria necessário acrescer uma ideia de
um acontecimento infeliz (causal ou não) do qual resulta o dano, estrago, avaria, destruição,
perdas humanas, chegando até o desastre.
SMITH (1997) chama a atenção de que a palavra hazard muitas vezes é utilizada como sinónimo
de risco (risk), porém, possuem significados diferentes. Acidente (hazard) seria “a potential
threat to human and their welfare”5, e risco é tomado como “the probability of hazard
occurrence”6. O autor considera ainda que o desastre consistiria na realização do acidente.
Portanto, os eventos naturais podem ser classificados conforme o quadro abaixo:
4
Uma interacção de pessoas e natureza governada pelo estado coexistente de ajuste no sistema de uso humano e
o estado de natureza no sistema de eventos naturais.
5
Uma ameaça potencial ao ser humano e seu bem-estar.
6
A probabilidade de ocorrência de um acidente.
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Para a determinação dos eventos extremos consideram-se vários parâmetros, conforme ilustra o
quadro 2.
Parâmetros Caracterização
Magnitude Máxima energia liberada por um evento particular em uma dada localidade
Frequência Incidência média que um evento de uma dada magnitude ocorre em uma área
Duração Espaço de tempo no qual um evento perigoso persiste
Extensão da área Área geográfica coberta por um evento
Velocidade de Período de tempo entre o surgimento de um evento e seu pico
avanço
Padrão de Padrão de distribuição de um evento sobre uma área geográfica afectada.
dispersão
espacial
Regularidade Período de recorrência de um evento.
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O termo “evento extremo climático” tem vários significados em climatologia, mas procura
sempre trazer a ideia de ocorrência incomum, ou seja, aquilo que não é cenário normal no quadro
de um determinado clima. No entanto, chega-se à ideia de extremo, quando uma determinada
ocorrência é comparada e supera os cenários considerados normais e comuns. CARVALHO
(2008), considera um evento extremo climático quando uma determinada ocorrência apresenta
“valores de parâmetros meteorológicos, superiores ou inferiores a determinados limites,
associados a probabilidade de ocorrência, relativamente, baixa e com impacto significativo na
sociedade ou nos ecossistemas”. Por outro lado DIAS, (2011), define eventos extremos
climáticos, do ponto de vista social, como sendo “aqueles que provocam impactos extremos, ou
seja, que envolvem riscos como mortes e danos materiais”. O autor acrescenta ainda que “tem a
ver com a vulnerabilidade.
Segundo BRITO & LAZARRI (2016), de ponto de vista físico ambiental, eventos extremos
climáticos são “fenómenos climáticos que fogem do comportamento padrão.” Compreende-se
que o clima possui valores paramétricos fixos que variam em função do tempo, ao longo do qual,
há manifestações que se caracterizam por ocorrência de alguns extremos meteorológicos. Os
autores constataram que a maioria dos resultados baseados na temperatura do ar mostra um
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Com relação aos resultados baseados em precipitação, tem-se uma alternância entre mudanças
positivas (aumento no número de eventos de precipitação intensa no oeste da Rússia e partes da
Europa) e negativas (declínio na frequência de precipitação ao leste da Rússia e Sibéria). Os
pesquisadores notaram ainda o aumento em todos os índices de eventos de precipitação intensa
no Sul da África, Oeste da Rússia, partes da Europa e leste dos Estados Unidos.
Além disso, constata-se que alguns índices gerados a partir dos dados dos Modelos de Circulação
Geral (MCG) integrantes do Coupled Model Intercomparison Project Phase 5 (CMIP5)7
analisados por SILLMANN et al. (2013a; 2013b), postulam que para o fim do século XXI
(2071-2100) haverá uma tendência de diminuição no número de noites frias e dias frios e um
aumento na percentagem de noites quentes e dias quentes em todo o globo e em quase todos os
cenários utilizados. Os estudos feitos para fundamentar o conceito e a ocorrência de eventos
extremos são em si bastante complexos e controversos, uma vez que, vários autores colocam
também parâmetros diferentes para considerar uma determinada ocorrência climática como
extrema.
Os eventos extremos podem ser referidos como grandes desvios de um estado climático
moderado que possui um potencial de destruição: chuvas intensas, vendavais e furacões, grande
seca (MARENGO, 2009). Segundo o autor, estes eventos são caracterizados pela sua
intensidade, baixa frequência e dificuldade de gestão e planificação de medidas de adaptação ou
redução dos seus efeitos, devido à impossibilidade de prevê-los com exactidão.
Não obstante, perspectivando a consolidação dos esforços de forma a reduzir os efeitos dos
eventos climáticos extremos, vários estudos, tanto individuas como institucionais, são feitos com
vista a desenhar cenários futuros de mudança no clima global e no comportamento de variáveis
atmosféricas, tendo-se como grandes evidencias o Programa das Nações Unidas para o Ambiente
(PNUMA) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) que estabeleceram em 1988 o Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
7
Fase 5 do Projecto de Intercomparação de Modelos Acoplados.
27
O IPCC tem feito vários estudos no contexto de verificação de efeitos e causas das mudanças
climáticas, mas sobre tudo tem-se empenhado em desenho de cenários que mostram as
tendências de mudanças e, por via disso, alertar os países e entidades ambientais sobre as
projecções climáticas futuras. A presente pesquisa traz alguns fundamentos de acordo com
relatórios recentes de IPCC.
Segundo o Relatório Especial (IPCC, 2012), um evento extremo é definido como a ocorrência de
um valor de uma variável de condição meteorológica ou clima acima ou abaixo de um valor
limite, perto das extremidades superiores ou inferiores da faixa de valores da variável observada.
Consolidando essa definição, CAMERON et al. (2012), afirmam que um clima em mudança
provoca alterações na frequência, intensidade, extensão espacial e duração de extremos das
condições meteorológicas e climáticos, podendo resultar em eventos sem precedentes. Os
eventos climáticos podem ser classificados em eventos usuais e extremos. Por seu turno,
BARBOSA (2008), define eventos usuais como os episódios registados com maior frequência
possibilitando uma melhor absorção pelas sociedades e um planeamento de adaptação ao seu
ritmo natural. Tais eventos, também são definidos como aqueles que não se afastam
significativamente das médias, com uma frequência alta em qualquer escala temporal de
ocorrência.
Devido a muitos factores e variáveis que levam à identificação dos eventos extremos, bem como
os efeitos associados a estes, há inúmeras possibilidades de definição, do ponto de vista
conceitual, do que poderia ser designado como evento extremo. Assim, “não existe ainda uma
unanimidade na comunidade científica quanto à sua definição. No entanto, sabe-se que os
mesmos são eventos raros, de aparição extraordinária” (MONTEIRO, 2016) e que surpreendem
por sua magnitude ou, são caracterizados como eventos catastróficos, de difícil ocorrência e que
geram consequências graves quando ocorrem (CASTRO, 2009).
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Para o caso específico da precipitação, geralmente o termo é utilizado para designar fenómenos
provenientes de episódios pluviométricos, desde aqueles que consideram acumulados mínimos
de chuva (quando praticamente não ocorre a precipitação), até aqueles eventos máximos de
precipitação (chuvas extremas), os quais ganham maior notoriedade na média electrónica e
impressa, devido ao alto poder de deflagração de impactos diversos no meio em que ocorrem.
Visando a uma definição mais coerente e operacional para evento extremo de chuva, neste
estudo, faz-se necessário considerar o comportamento da chuva em uma determinada localidade
e em um determinado tempo (análise espácio-temporal), a qual permite uma melhor
interpretação dos eventos de chuva extrema.
Do ponto de vista físico geográfico, um evento extremo poder ser definido como um evento raro
em determinado/a lugar/época do ano, podendo variar de uma localidade para outra. As
definições de raro podem até variar, mas um evento climático extremo de chuva, normalmente, é
tão ou mais raro que a ocorrência de um valor acima do limite superior ou abaixo do limite
inferior da gama de valores da variável observada (IPCC, 2012).
Claro que, ao analisar um determinado período, utilizando-se, por exemplo, uma longa série
histórica (30 anos ou mais), os muitos valores “nulos” (dias em que não ocorre precipitação) ou
aqueles de pequena expressão (2 milímetros, 5 milímetros ou pouco mais) poderiam mascarar os
valores correspondentes aos eventos extremos superiores, os quais não desencadeariam,
necessariamente, danos de grandes proporções.
Por via disso, com vista a reduzir margens do erro na pesquisa, a determinação dos extremos
chuvosos usou dados diários, uma vez que, é possível num dia só precipitar uma quantidade de
chuva que supere uma época chuvosa e no mesmo dia, tal facto acontecer em apenas algumas
horas. Ademais, faz-se necessário estabelecer um limiar de chuva para que, a partir deste,
possam ser considerados valores de precipitação que, dependendo de algumas variáveis
(localização geográfica, intervalo de tempo em que ocorreu a precipitação, impermeabilização,
vulnerabilidade etc.), apresentariam uma grande probabilidade de desencadear algum tipo de
dano para a sociedade.
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Alguns autores como CONTI (2011) e TEIXEIRA (2004), ao procurarem definir de forma mais
operacional o que seria designado como um evento “superior” de chuva extrema, consideraram
acumulados de precipitação que ultrapassam 50 mm em 24 horas, acreditando que, a partir deste
limiar de chuva já pode ser verificado algum tipo de impacto em áreas densamente urbanizadas.
O limite inferior proposto pelos autores significa que 1mm equivale 1 m3 num espaço de 1 m2 e
os 50mm correspondem a 50 m3 num espaço de 1 m2, com toda certeza pode superar os factores
de escoamento e infiltração e provocar danos consideráveis, dependendo também de factores
geofísicos locais.
Por outro lado, acredita-se nesta perspectiva que, do ponto de vista operacional, o
estabelecimento do limite inferior apresenta um tratamento coerente no que diz respeito à
definição de determinados episódios de chuva como eventos máximos de precipitação, ora
vejamos, GAO, JEREMY e FILLIPO (2006), FRICH, ALEXANDRE, DELLAMARTA et al.
(2002) e SILVA (2012), respeitaram o limite inferior de 50 mm para definir eventos extremos de
chuva, além de estabelecer quatro intervalos de intensidade entre os próprios eventos extremos a
partir da adopção de uma metodologia estatística (metodologia dos máximos de precipitação).
A atmosfera é dinâmica por sua própria natureza, seguindo um ritmo composto por eventos
usuais e eventos extremos, anómalos ou excepcionais. Os eventos usuais são registados com
maior frequência, conforme referiu BARBOSA (2008) possibilitando a sua absorção pelas
sociedades que se adaptam ao seu ritmo natural, sendo que estes eventos não distanciam de
maneira significativa da média ou normal meteorológica.
Outro aspecto abordado por MONTEIRO et al. (2012) é que a chuva é uma “variável aleatória”
e o valor da sua altura acumulada (em milímetros) não poderá ser previsto com uma exactidão
determinística, mas na verdade ela será de natureza probabilística. Ou seja, pode-se atribuir uma
probabilidade para que a altura da chuva fique compreendida entre dois limites arbitrariamente
escolhidos. Diversos são os parâmetros e aspectos relacionados com a classificação desses
eventos, dentre eles, mencionam-se os atributos de quantidade de chuva, em um intervalo de
tempo e a abrangência espacial da mesma.
Sobre esta abordagem, XAVIER et al. (1999) afirmam que a técnica dos quantis (muito utilizada
em seus trabalhos) envolve o princípio da relativização estatística, no sentido de se buscar um
significado apropriado para altura pluviométrica registada para um determinado lugar.
Outra questão a ser colocada é o que se refere à análise de identificação de eventos extremos
numa escala diária. SOUZA et al. (2012) questionaram sobre a partir de quantos milímetros uma
chuva pode ser definida como um evento danoso. Em seus estudos sobre a ocorrência de eventos
extremos, utilizaram a técnica do quantil para dados de precipitação acumulada em 24 horas,
consideraram como limiares para definição dos eventos extremos, em escala diária, o quantil Q
(0,5) para um Dia Seco (apresentando chuva inferior a 2mm/dia) e o quantil Q (0,95) para uma
Chuva Muito Forte.
É importante ressaltar que a escolha do valor 2mm/dia para um Dia Seco, fundamenta-se na
determinação de limiares inferiores para regiões de clima quente, discutida pelos autores
ADEJUWON e ODEKUNLE (2006), após diversos estudos em que a precipitação total diária
menor que 2mm é de pouca importância para agricultura e abastecimento de água. Estes autores
justificam que valores inferiores a este limiar vão evaporar antes mesmo de infiltrar no solo, em
virtude das elevadas temperaturas e taxas de evaporação e evapotranspiração.
31
1.3.1.Medição da precipitação
Exprime-se a quantidade de chuva pela altura de água precipitada e acumulada sobre uma
superfície plana e impermeável. Ela é avaliada por meio de medidas executadas em pontos
previamente escolhidos, utilizando-se aparelhos chamados pluviómetros ou pluviógrafos que
podem ser manuais ou automáticos. Esses aparelhos colhem uma pequena amostra, pois têm uma
superfície horizontal de exposição de 500 cm2 para o pluviómetro e 200 cm2 para pluviógrafo, e
ambos são colocados a uma altura padrão de 1,50 m do solo (BUCHIR, 2013). As leituras são
feitas por um observador treinado em intervalos de 24 horas e anotadas em cadernetas próprias
(PINTO et al., 1976).
a) Chuvas Convectivas
São típicas de regiões tropicais como Cidade de Xai-Xai, ocorrem pelo aquecimento de massas
de ar, relativamente pequenas, que estão em contacto directo com a superfície quente dos
continentes e oceanos. O arrefecimento do ar resulta da sua subida para níveis mais altos da
atmosfera onde as baixas temperaturas condensam o vapor, formando nuvens. Este processo
32
pode ou não resultar em chuva. Normalmente, este tipo de chuva ocorre de forma concentrada
sobre áreas relativamente pequenas (PINTO etal., (1976); VILLELA e MATTOS, (1971);
COLLISCHONN e TASSI, (2008) citados por BUCHIR, (2013). Os processos convectivos
produzem precipitação de grande intensidade e duração relativamente curta.
b) Precipitação frontal
c) Precipitação orográfica
Esse tipo de precipitação ocorre em regiões em que um grande obstáculo do relevo, como uma
cordilheira ou montanha muito alta, impede a passagem de ventos quentes e húmidos, que
sopram do mar, obrigando o ar a ascender. Em maiores altitudes a humidade do ar condensa-se,
formando nuvens junto aos picos da elevação, onde chove com muita frequência (PINTO et al.,
1976; VILLELA e MATTOS, 1971; COLLISCHONN e TASSI, 2008 citados por BUCHIR,
2013).
Climatologia, constitui o estudo científico do clima. Ela trata dos padrões de comportamento da
atmosfera em suas interacções com as actividades humanas e com a superfície do Planeta durante
33
um longo período de tempo. Esse conceito, revela a ligação da Climatologia com a abordagem
geográfica do espaço terrestre, pois ela, caracteriza-se como um campo do conhecimento no qual
as relações entre a sociedade e a natureza configuram-se, como pressupostos básicos para a
compreensão das diferentes paisagens do Planeta e contribui para uma intervenção mais
consciente na organização do espaço (MENDONÇA, 2007).
FRANCISCO (1991), considera que uma série de dados, para expressar significativamente o
processo que ocorre em uma dada região, abrange um período mínimo de trinta a quarenta anos.
O fenómeno El Niño – Oscilação Sul (ENOS), também designado pela expressão inglesa ENSO
(El Niño – Southern Oscillation), constitui um fenómeno de dois componentes: um de natureza
oceânica, no caso o El Niño/La Niña e, o outro de natureza atmosférica, representado pela
Oscilação Sul. O “EL NIÑO” é um fenómeno oceânico-atmosférico que afecta o clima regional e
global, mudando a Circulação geral da atmosfera, também, é um dos fenómenos responsáveis
pelo registo de anos considerados secos ou muito secos.
A denominação El Niño remonta do século XVIII, e foi utilizada pela primeira vez por
pescadores peruanos para designar uma corrente de águas quentes que surgia no Oceano
Pacífico, na costa da América do Sul, no final do mês de Dezembro. Em alusão ao Natal e ao
"Menino Jesus", essa corrente de água quente foi chamada de El Niño, expressão espanhola que
significa "O Menino".
Quanto ao componente atmosférico, os estudos de Sir Gilbert Walker, no início do século XX,
demonstraram uma correlação inversa entre a pressão na superfície sobre os oceanos Pacífico e
Índico, denominada Oscilação Sul, ou seja, quando a pressão é alta no Oceano Pacífico ela tende
a ser baixa no Oceano Índico e vice-versa. Esses estudos tentavam correlacionar a Oscilação Sul
com as monções na Índia.
O El Niño é uma anomalia que, acontece no Oceano Pacífico Equatorial junto com o
enfraquecimento dos ventos alísios (que são ventos de leste para oeste em baixos níveis) na
região equatorial. Com essas mudanças, altera-se o padrão de circulação atmosférica, causando
em todo planeta, fenómenos como cheias, secas, e outros problemas sócio ambientais e
económicos. O termo La Niña, surge como o oposto do El Niño e significa “A Menina” em
espanhol ou episódio frio (OLIVEIRA, 2001). Pode também, ser chamado de El Viejo (O velho),
episódio frio, e anti- El Niño, mas esse último citado seria se referindo ao Diabo, pois se El Niño
significa Menino Jesus, anti-El Niño significaria o oposto, por isso esse termo é pouco utilizado.
35
Nos anos de La Niña, os ventos alísios se intensificam então há um represamento maior de águas
no oeste do Oceano Pacífico Equatorial e com ventos mais intensos a ressurgência irá aumentar,
deixando as águas mais frias na superfície. E as águas represadas mais no oeste geram
ascendência e formação de nuvens, alongando a célula de Walker.
O evento de El Niño está directamente ligado a IOS, pois, durante o El Niño observa-se uma
pressão abaixo da normal sobre o Pacífico leste tropical e a pressão acima do normal sobre a
Indonésia e norte da Austrália. Este padrão está associado ao enfraquecimento dos ventos alísios
na região equatorial, sendo característico da fase quente da OS, e geralmente designado como El
Nino/Oscilação Sul (ENOS).
Muitos estudos têm sido desenvolvidos para comprovar a influência da OS na África austral,
abrangendo a Cidade de Xai-Xai, como são os exemplos de LINDESAY (1988), TIQUE (2015),
MACIE (2016), QUEFACE que, em suas análises principalmente da chuva durante o verão
austral, no período da Oscilação Sul, confirmam a termodinâmica que liga as mudanças de fase
da Oscilação sul com as mudanças da circulação sobre a África austral. A oscilação Sul modula a
ocorrência e a preferência do local de fortes convecções que contribui com a maior parte da
chuva de verão sobre a África austral (HARRISON, 1984).
Figura 1. El Niño.
As figuras a) e b), mostram a fase de El niño (EN) na região sudeste de Africa que, geralmente,
representam os anos secos, onde a chuva que cai neste período tem sido abaixo de normais
climatológicos e proporcionando escassez de água. Nota-se que, mesmo na estação chuvosa que
geralmente, atinge o seu pico nos meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro, durante o EN a
região mantem-se apenas quente e seco, registando um balanco hídrico negativo, uma vez que as
taxas de evaporação mantem-se superiores as de precipitação em quase todo o Ano Niño.
37
Figura 2. La Niña.
Conforme se pode ver nas duas imagens a) e b) da figura 2, a La Niña é um fenómeno contrário
ao El Niño, ou seja, o resfriamento das águas superficiais no Pacífico Equatorial Central e Leste.
Durante os episódios La Niña, observa-se uma intensificação da circulação atmosférica
normalmente, observada no Pacífico Equatorial e gera frequência de chuvas na região sudeste de
Africa. No entanto, os maiores fluxos de chuva na parte sul de Africa e especificamente em Xai-
Xai registam-se durante os Anos Niña e neutros.
O Índice de Oscilação Sul (IOS) é o indicador mais antigo da evolução do ENOS. Representa a
diferença entre a pressão atmosférica ao nível do mar no Tahiti e em Darwin, Austrália. A
variação da pressão nesses locais reflecte a componente atmosférica do ENOS. Este índice foi
proposto pelo WALKER e BLISS (1932) conforme o gráfico 2. E para esta analise sobre a
38
cidade de Xai-Xai, serviu como indicativo da incidência dos fenómenos ENOS de forma a
possibilitar o estudo da ocorrência da precipitação.
O gráfico 2, pode ser melhor compreendido com dados numéricos apresentados a uma escala de
intensidade conforme a tabela 1 abaixo indicada e, varia de fraca, moderada a forte. No gráfico 2,
a cor azul indica os valores negativos de IOS que expressam a ocorrência de La Niña e a cor
vermelha, os valores positivos do IOS que indicam a ocorrência de El Niño.
Durante a La Niña, a pressão torna-se abaixo da média no Tahiti e acima da média em Darwin e
o IOS é negativo. Durante a EL Niño, a pressão comporta-se de forma contrária e o IOS torna-se
positivo, sendo que as consequências climáticas também manifestam se de formas opostas no
período de El Niño e La Niña.
39
A síntese do IPCC (2014), indica que, o risco de eventos extremos aumenta com o aumento da
temperatura média global nos cenários de mudanças climáticas. Acentua-se também, o risco de
eventos singulares de grande escala, ou seja, eventos ainda não conhecidos.
A referência aos eventos extremos, indica tanto eventos chuvosos e secos como quentes e frios.
Ou seja, uma variabilidade maior do que a conhecida actualmente com eventos contrastantes
ocorrendo sucessivamente. Esse panorama futuro sugere fortemente, uma planificação e uma
adequação das infra-estruturas, principalmente aquelas associadas aos recursos hídricos.
40
Olhando para a figura, nota-se nos últimos anos, a escala global que, há tendência de aumento do
nível de riscos associados as mudanças climáticas, conforme se discute que, as mudanças
climáticas resultam das alterações nos padrões de temperatura global, chamar este aspecto para
estudo, é importante na medida em que, a percepção dos eventos de precipitação extrema bem
como a variabilidade da precipitação em Xai-Xai, sofre influência de factores a escala planetária
como por exemplo o aumento da temperatura global e consequentemente a alteração de padrões
de chuva a nível planetário e local.
Em África por exemplo, devido aos factores relacionados com as condições geográficas bem
como factores meteorológicos, há tendência de ocorrência de eventos extremos relacionados com
temperaturas extremas e precipitação extrema, dando lugar a frequência de secas e inundações
conforme a figura 3.
Cada risco principal é caracterizado como “ muito baixo” a “muito alto” para três períodos: o
actual, a curto prazo (2030-2040) e a longo prazo (2080-2100. Como se pode verificar na figura,
assevera-se que, a longo prazo, haverá um aumento da temperatura aproximadamente, a 4º c até
2100 e aumento de precipitação extrema para o continente africano. No entanto, a figura, relata o
risco potencial alto de aumento do nível médio das aguas do mar assim como de chuvas extremas
que levam a inundações de forma localizável, e por outro lado, o risco potencial médio para as
ondas de calor, temperaturas extremas e que podem dar lugar as estiagens e secas.
De acordo com HOLLANDA FERREIRA (2004), paradigma é o “termo com o qual Thomas
Kuhn designou as realizações científicas que geram modelos que, por período mais ou menos
longo e de modo mais ou menos explícito, orientam o desenvolvimento posterior das pesquisas
exclusivamente, na busca da solução para os problemas por elas suscitados”.
Segundo SANT´ANNA NETO (1993), a abordagem sistémica tem-se revelado bastante eficiente
na análise ambiental à luz da Geografia Física moderna, onde, o conceito de geossistema tem
sido intensamente discutido, e a comunidade geográfica vem se empenhando em sua
sistematização e no aperfeiçoamento de sua fundamentação teórica.
sistema de forma a estuda-lo como uma unidade e perceber os seus preceitos mais sem descorar
que o seu entorno exerce influência.
O geossistema é classificado como aberto, uma vez que nele entra e sai determinada quantidade
de matéria e energia, fazendo dele um sistema dinâmico. É composto pelos subsistemas abiótico,
biótico e subsistema organizado pelo homem.
A categoria espacial caracterizada por uma relativa homogeneidade dos seus componentes, cuja
estrutura e dinâmica resulta da interacção entre o “potencial ecológico”, a exploração biológica e
a “acção antrópica”, e que se identifica por um mesmo tipo de evolução.
Assim sendo, o estudo, sobre os eventos extremos de precipitação busca este paradigma de forma
a segui-lo como modelo na abordagem sistémica referente ao clima da Cidade de Xai-Xai,
buscando compreender as particularidades dos factores que influenciam a ocorrência de
precipitação, não na perspectiva de isolar Xai-Xai como um sistema fechado, mas como um
sistema não isolado aberto que, é influenciado pelos factores glocais que justificam o
comportamento climático. Desta forma, a abordagem feita não procura trazer aspectos
relacionados com intervenções humanas por isso busca se BERTRAND (1971), que revela que
“a Geografia Física tenta entender os conjuntos naturais a partir de passos sectoriais
(geomorfologia, climatologia, hidrologia, biogeografia, etc.) ”. e apresenta um esquema
referente os sistemas ambientais:
43
Já para BERTALANFFY (1973) apud SANT´ANNA NETO (1991), “geossistemas são uma
classe peculiar de sistemas dinâmicos, abertos e hierarquicamente organizados” e que
representam um complexo interactivo de diferentes classes de sistemas com seus parâmetros
espaciais, temporais e funcionais. Dessa maneira, em conformidade com os estudos de
Sant´Anna Neto (1993), o espaço geográfico é onde se insere o geossistema e onde se realiza o
complexo.
A este mesmo entender sobre a ocorrência de precipitação na Cidade de Xai-Xai, deduz-se que é
preciso olhar aspectos relacionados com a sua localização geográfica (região tropical,
proximidade do mar e influência do canal de Moçambique, condições de relevo, influencia dos
ventos, as condições geomorfológicas que tornam a cidade exposta aos adventos
hidrometereológicos).
MONTEIRO (1971) argumenta que somente “a análise rítmica detalhada no nível de tempo,
revelando a génese dos fenómenos climáticos pela interacção dos elementos e factores dentro de
uma realidade regional, é capaz de oferecer parâmetros válidos à consideração dos diferentes e
variados problemas geográfico das regiões ou locais determinados”. Indubitavelmente, o ritmo
44
Para SILVA BATISTA (2005), o modelo de Ritmo climático está baseado na concepção
climática de SORRE (1951) e traz para o âmbito da Geografia o conceito dos tipos de tempo e do
ritmo climático. (SANT’ANNA NETO, 1990).
O autor, ainda cita que o desenvolvimento desta concepção somente, torna-se possível, com a
contribuição da escola norueguesa de meteorologia, que considerava a atmosfera como um corpo
dinâmico, superando as concepções tradicionais de clima formuladas por Hann (1839 – 1921),
que tratavam o clima como um conjunto de fenómenos meteorológicos que caracterizavam o
estado médio da atmosfera.
Para Sorre a teoria de Hann apresentava um carácter estático, sobretudo no desenvolvimento dos
fenómenos da atmosfera, caracterizando uma meteorologia descritiva que não mencionava a
noção de ritmo como um dos aspectos essências nos estudos do clima.
Além disso, esta mesma escola tradicional considerava que as médias aritméticas dos elementos
do clima seriam capazes de caracterizá-lo para um determinado local, ao contrário do paradigma
desenvolvido pela escola norueguesa de meteorologia, principalmente com ROSBY (1938 e
1947) BJERKNES (1921,1923 e 1934) e BERGERON (1928 e 1930) ao considerar a dinâmica
da atmosfera e a circulação das massas de ar, baseada nos princípios da termodinâmica e
revelando uma atmosfera pulsante e turbulenta como destacado por SANT’ANNA NETO
(1998).
45
Assim, ainda segundo SILVA BATISTA (2005), a fundamentação teórica trazida por Sorre está
baseada numa concepção que considera o clima como uma sucessão habitual dos estados da
atmosfera sobre um determinado lugar. Esta definição abrange três observações fundamentais,
como podem ser observadas nos tópicos abaixo:
Esta concepção Sorreana, deve ser considerada, ou até mesmo encarada, como a própria essência
geográfica do clima nos estudos desenvolvidos actualmente e que na abordagem deste estudo,
olha-se a variável de precipitação não apenas como a que caracteriza o estado médio da
atmosfera, mas a sua ocorrência dentro de series históricas e eventos excepcionais que tipificam
o clima de Xai-Xai, ou seja, é preciso perceber que dois lugares podem ter uma mesma
designação da tipologia climática mas apresentariam ritmos climáticos diferentes.
É ainda, sobre essa perspectiva de análise que Monteiro propõe uma “técnica” de análise
climática – dinâmica, introduzindo a noção de ritmo como essência geográfica do clima.
Monteiro ainda propõe uma análise que seja capaz de abranger todas as expressões quantitativas
dos elementos climáticos que possam estar indissoluvelmente ligados à génese ou à qualidade
dos mesmos, levando em conta sempre as suas repercussões no espaço geográfico.” (SILVA
BATISTA e SANT´ANNA NETO, 2005).
Para MONTEIRO (1971) apud SILVA BATISTA e SANT´ANNA NETO (2005) a técnica
desempenhada pela análise rítmica é capaz de detalhar, com relação ao tempo, a génese dos
fenómenos climáticos pela interacção dos elementos e factores dentro de uma realidade regional,
o que auxilia na compreensão dos mais variados e existentes “problemas geográficos”:
A partir desta concepção é importante destacar que todas as manifestações temporais do clima,
sejam elas, dentro dos tipos padrões ou excepcionais, estão ligadas a uma série de mecanismos
dinâmicos e articulados, presentes e pertencentes à própria circulação atmosférica, primária ou
secundária que desempenham ‘sucessões’ e ‘ritmos’. Desta forma, pode-se destacar que as
46
constantes ocorrências de eventos naturais extremos, desencadeados nos mais variados espaços
geográficos, devem ser estudados de forma minuciosa para que se possam desvendar alguns de
seus motivos, acções e desencadeamentos no conjunto da sociedade.
Portanto, o desencadeamento dos eventos extremos passa em sua maioria por uma visão negativa
(e até certo ponto errónea) dos episódios atmosféricos observados num determinado espaço
geográfico. Ainda seguindo a linha dos autores, deve-se destacar que um episódio catastrófico,
como a ocorrência de um evento pluvial de mais de 120 mm em 24 horas sobre uma área urbana
e outros episódios da mesma magnitude, faz parte da própria dinâmica da atmosfera de um
determinado lugar, e que algumas regiões, porem, apresentam diferentes índices pluviométricos e
consequentemente os valores considerados “catastróficos” variam entre as mesmas, de acordo
com seus aspectos sócio ambientais.
Ciclones tropicais, furacões ou tufões são a mesma denominação de sistemas de baixa pressão,
sem sistemas frontais associados, que ocorrem sobre águas tropicais ou subtropicais, com
temperaturas acima de 26,5 °C e fraco cisalhamento vertical dos ventos. Além disso, os ciclones
tropicais têm como características a forma organizada das tempestades (simetria), o diâmetro
47
típico da ordem de 300 a 800 km, e mínimo de pressão no centro, região que apresenta céu claro
e ventos fracos e é denominada de “olho do furacão”.
A ZCIT8 é responsável pela precipitação na região Norte (Cabo Delgado, Nampula e Niassa) e
no norte da província de Tete (MANHIQUE, 2008), este deslocamento equatorial marca sempre
o início da estação chuvosa, nos meses de Outubro a Abril.
O Regime das Monções é um fenómeno climatológico que, influencia cerca da metade da área
tropical do planeta (1/4 da superfície da Terra) (da palavra Árabe “mausim” que significa
“estações”). Essencialmente, é um sistema onde os ventos e a precipitação revertem de estação
para estação (verões chuvosos, invernos secos). Portanto, a parte costeira Moçambicana sofre
influências monçónicas na definição de estações chuvosa e seca, por isso que, toda ela, apresenta
um clima tropical húmido, com um a estação chuvosa significativa apesar de que nas regiões de
centro e norte acentua-se a influência da zona de convergência intertropical assim como o factor
relevo em àreias localizáveis de Lichinga. Essencialmente os ventos monçónicos resultam do
aquecimento/ resfriamento diferenciado entre os continentes e o Oceano. As consequências são
alterações nos regimes de vento e precipitação, principalmente. As alterações do regime de
ventos afectam a circulação oceânica.
8
Zona de Convergência Intertropical
48
Estudos como ROCHA e SIMMONDS (1997I, II) e BEHERA e YAMAGATA (2001) e Tique
(2015) são unânimes em afirmar que anomalias de TSM, sendo quentes (positivas) ou frias
(negativas), atuam como forçantes e têm sua influência sobre o padrão de circulação atmosférica
na região SA. O transporte de humidade das regiões com elevadas/reduzidas taxas de evaporação
para o continente constitui o maior foco das pesquisas por eles conduzidas. Sobre o oceano
Índico são observados padrões de TSM na forma de dipolo, um localizado na região do oceano
Índico Tropical (SAJI etal.,1999) e outro na região do oceano subtropical (BEHERA e
YAMAGATA, 2001). Além desses padrões, tem-se o ENOS que tem influência sobre o padrão
de circulação sobre a África e consequente no regime da precipitação (NICHOLSON e
KIM,1997).
A cidade Xai-Xai, por localizar-se na região SEA acredita-se que sofre influências no seu padrão
climático do factor oceânico (o Índico) por ser uma área costeira. Desta forma, foca-se aqui
sobre o padrão de TSM do oceano Índico, discutindo-se até que ponto existe uma relação com o
padrão de TSM do oceano Pacífico (Goddard e Graham,1999), pois nota-se que na maior parte
dos casos (anos) há coincidência entre anos de anomalias negativas e positivas nas regiões
tropicais dos dois oceanos (Índico e Pacífico) em períodos de ENSO. A interacção de vários
factores justifica o clima da Cidade de Xai-Xai como sendo o de Aw na classificação de Koppen,
com precipitação média anual de 887 mm e as temperaturas medias anuais ate 22.9º C.
fase negativa quando estas anomalias positivas ocorrem próximo à costa oeste da Ilha de
Sumatra, Indonésia.
África Oriental e Madagáscar, aproximadamente entre as latitudes 10º e 25º S. A sua origem e
desenvolvimento estão relacionados com vulcanismo extensivo ao longo das fronteiras entre a
África, Antárctica e Madagáscar que teve início no Jurássico Médio. A temperatura média da
água é relativamente elevada, com temperaturas nunca inferiores a 18ºC, sendo as mais elevadas
de 36ºC registadas em áreas com águas pouco profundas. A principal corrente do Canal de
Moçambique forma-se aproximadamente à latitude de 12º sul, no noroeste da Ilha de
Madagáscar, como ramo sul da corrente Equatorial sul. No seu percurso norte-sul, junto ao
paralelo de 26º sul, junta-se à corrente de Madagáscar oriental, formando a Corrente das
Agulhas. Por isso a principal corrente de Moçambique é também conhecida por Moçambique-
Agulhas.
d) A Monção asiática
É responsável pelo transporte de humidade do oceano Índico através de ventos de Nordeste para
o continente durante o verão, o que favorece a precipitação para Moçambique; é importante
referir que quase toda a faixa costeira de Moçambique sofre uma influencia embora não muito
significativa no contexto de ocorrência de eventos hidrometereologicos extremos, mas que de
certa forma influência no comportamento climático de Moçambique costeiro.
Tem-se verificado durante o verão e normalmente são considerados como baixas térmicas que
contribuem para precipitação; estas ocorrências propiciam alterações bruscas na direcção dos
ventos e por via disso condicionando o tempo em períodos relativamente curtos.
regista na parte sul de Moçambique durante o inverno marcando, segundo MICOA (2007), a
segunda época agrícola;
A manifestação dos fenómenos ENSO mereceu grande atenção nesta pesquisa, como forma de
procurar respostas em relação aos cenários actuais de ocorrem de forma simétrica entre o sul e o
centro/norte de Moçambique. Tem sido comuns registos de seca ou escassez da precipitação no
sul e no centro e norte manifestação adversa (muita precipitação e até inundações).
Do mesmo modo nos anos em que Moçambique sul sofre cenários de inundações, o centro e o
norte tem passado cenários de estiagem. No entanto, os elementos considerados comuns para
justificar de forma regionalizada e local a precipitação ou mesmo o clima, na presente pesquisa
apontam para os efeitos do aquecimento e/ou arrefecimento das aguas do pacifico (El Ñino e La
Ñina).
52
A Cidade de Xai-Xai, situa-se na parte sul da Província de Gaza em Moçambique, pais que é
integrante da região Austral de Africa, entre as Latitudes de 24º 10’ e 25º 00’ Sul e Longitudes
de 33º 30’ Este e 45º 29’ Este.
Chibuto Chongoen
Cidade de
Limpopo
Oceano Indico
A Cidade de Xai-Xai faz parte da zona costeira do sul de Moçambique, o clima é tropical
húmido (tropical chuvoso de savana) influenciado pela corrente quente do canal de Moçambique,
pelos anticiclones do oceano indico e atlântico, pela célula continental de alta pressão durante a
época fresca e pela depressão continental de origem térmica durante a época chuvosa ou quente.
A Cidade de Xai-Xai pela sua posição geográfica encontra-se na zona de influências de sistemas
frontais que transportam massas de ar polar marítimo que podem originar chuvas e aguaceiros na
época fresca, aguaceiros e trovoadas na época quente.
O clima caracteriza-se por uma distribuição pluviométrica irregular ao logo do ano, agravado
pelas temperaturas elevadas, tendo como consequências directas, as deficiências hídricas no
período seco, o maior pico da precipitação ocorre Janeiro e Fevereiro. A temperatura média
anual é de 24ºc e uma precipitação anual em média de 953mm. Os ventos predominantes são de
sul e de sudeste, enquanto a humidade relativa média anual é de 75mm.
O fluxo de leste no geral, é proveniente do oceano Índico, fluindo para o continente, sendo
originado pela divergência em superfície causada pelo ASI. Porém, por vezes varia de leste para
sudeste, de acordo com a posição do ASI9 (BEHERA e YAMAGATA, 2001; OHISHI et al.,
2014). BEHERA e YAMAGATA, (2001) e TIQUE (2015), explicam que o fluxo de sudeste
sobre o continente ocorre quando a ASI se posiciona mais a sul, em torno da latitude de 35ºS, e
tem relação com variações de TSM10 na região subtropical do Índico, o que explica o surgimento
do padrão de dipolo de TSM na região subtropical do oceano Índico.
Segundo OHISHI et al. (2014), variações do ASI, quer no posicionamento ou na sua intensidade,
implicam em variações do fluxo de leste sobre o continente, com implicações sobre as condições
atmosféricas. O fluxo de nordeste está associado à monção da Ásia, porém, somente ocorre no
período húmido sendo responsável pelo transporte de humidade para a região costeira da Cidade
9
Anticiclone Subtropical do oceano Índico
10
Temperatura da Superficie do Mar
56
A Zona Alta, conhecida como zona do “Tavene”, que actualmente acolhe o maior assentamento
humano do Município. Ela é geomorfologicamente bastante acidentada e constituída por
formações dunares fossilizadas que se estendem entre o vale do rio Limpopo e o mar. Constitui a
melhor zona com aptidão para expansão da cidade, não obstante, é entremeada por zonas
impróprias caracterizadas por pendentes acentuadas e por bolsas inundáveis que acabam levando
a cidade a piores ocorrências de erosão e a requerer altas tecnologias de drenagem de águas
pluviais. De um modo geral, o relevo do território municipal e da cidade apresenta altitudes que
variam do nível das águas do mar até 96,00m num Ponto Geodésico situado na zona alta de
Tavene.
A Cidade de Xai-Xai faz parte da área de inundação da bacia do Limpopo, sendo por esta forma
susceptível aos cenários de inundações periódicas do rio Limpopo. O rio Limpopo é a principal
57
fonte de água para a irrigação dos campos agrícolas, tanto a nível da agricultura familiar ao
longo do rio, quanto para uma recente agro-indústria, Wambao. Os serviços de abastecimento de
água são fundamentalmente através de exploração do Lençol freático por via de perfuração sob
tutela do Fundo do Investimento e património de Água (FIPAG).
Os solos da cidade alta são predominantemente, arenosos, grosseiros muito profundos de cores
alaranjada, acastanhada e esbranquiçada. São ainda moderadamente a mal drenados e salinos e
elevada capacidade de retenção de água. Os solos do bilene (zona baixa) são mal drenados e
salinos, com elevada capacidade de retenção de água, (ATLAS DE MOÇAMBIQUE,vol. 1)
A povoação foi fundada em 1897 com o nome de Chai-Chai, e elevada a vila em 1911. Em 1922
passou a designar-se como Vila Nova de Gaza e em 1928 mudou o nome para Vila de João Belo,
em homenagem a um antigo administrador colonial.
A vila foi elevada a cidade em 1961, para depois da independência nacional voltar ao nome
original, desta vez com a grafia Xai-Xai. A actual Cidade de Xai-Xai, apresenta uma população
maioritariamente jovem e com maiores índices para a população feminina, tal como é a
tendência a nível nacional. No total com base nos dados do censo geral da população de 2017, a
Cidade de Xai-Xai é habitada por cerca de 143.123 (cento quarenta e três mil e cento vinte e três)
58
habitantes dos quais 76.882 (setenta e seis mil oitocentos oitenta e dois) correspondentes a 53,7%
são mulheres conforme ilustra o gráfico 4.
A Cidade de Xai-Xai possui duas zonas distintas. Uma considerada zona alta com solos arenosos
e outra baixa com solos argilosos. Todas elas, enfrentam problemas de índole ambiental. Na zona
alta, a ocupação espontânea para a construção de habitação e abertura de machambas nas dunas
interiores acelera os processos de erosão pluvial e deslizamento de terras. Na zona baixa, onde os
solos têm fraca capacidade de absorção de águas devido a sua textura e proximidade do nível
freático e onde a altitude está ao nível das águas do Rio Limpopo as inundações são frequentes.
a) Riscos de Inundações
A Baixa da Cidade de Xai-Xai, por apresentar o relevo aplainado de até 200 metros e sendo
bacia de inundação do rio Limpopo aparenta-se mais exposta as inundações de origem fluviais
assim como pluviais. Este facto associa-se ao tipo do solos que são fluviais com baixa
permeabilidade e declividade quase a 0 graus que no entanto não facilita o escoamento
superficial, conforme pode se observar no mapa 2.
b) Risco de erosão
Ondas de Calor
Fora dos factores de vulnerabilidade é preciso perceber os factores de ocorrência dos eventos
extremos: a Influência do canal de moçambique e a CIT é considerada como um dos factores
mais importantes pela ocorrência de eventos extremos de precipitação em Xai-Xai e em toda a
região sul da África, sendo acompanhada pelo deslocamento da zona de convergência
intertropical (ZCIT), onde a maior parte da precipitação ocorre entre o período de Dezembro a
Março (TIQUE, 2015, TYSON e PRESTON-WHITE, 2000). A migração da região convectiva
tropical se estende até próximo à latitude 20º S o que origina a ocorrência de maiores valores de
precipitação nessa região (WASHINGTON e TOOD 1999).
Tique (2015), fez um estudo sobre a variabilidade da precipitação na Região Sudestes Africano
com maior ênfase para Moçambique de modo a analisar a variação interanual da precipitação
durante a estação chuvosa; os principais sistemas meteorológicos responsáveis pela variação da
precipitação e a relação entre padrões de anomalias de TSM dos oceanos indico e atlântico e
possíveis forçantes remotas.
63
CAPITULO 3. METODOLOGIA
A presente pesquisa, apesar de reconhecer que a ocorrência da precipitação extrema tem uma
estreita ligação com o comportamento da temperatura, humidade e acção do vento, prefere isolar
a análise dessas variáveis e considerar apenas a precipitação sem descorar a influência das outras
variáveis climatológicas. A pesquisa considera uma base de dados do Instituto Nacional de
Meteorologia contendo registos de precipitação diárias, mensais e anuais.
O período estudado compreende cerca de 67 anos divididos em duas séries históricas respeitando
a estruturação da organização meteorológica mundial (OMM). Com a seguinte organização: seria
I: 1961-1990. Serie II (incompleta) 1991-2017.
Os dados pluviométricos diários e anuais utilizados neste estudo foram obtidos no Instituto
Nacional de Meteorologia (INAM), Delegação de Gaza, situado na Estrada nº 1, Nhamponzoene
Distrito Chongoene, Caixa Postal: 233, referentes aos anos de 1951 a 2017, sendo que os dados
que apresentam a precipitação diária disponíveis datam, do ano 2000 a 2017.
Desta forma, a análise para a determinação dos anos chuvosos e secos através do cálculo do
Índice de anomalia de Chuva (IAC) foi feito pelos dados anuais de todo período em estudo. Os
dados mensais de precipitação foram agrupados em totais anuais para a obtenção dos IAC da
série. A determinação das precipitações extremas obedeceu os dados diários dos dias em que
registou se a precipitação (P˃0mm).
64
Para a tabulação, realização dos cálculos das séries históricas seleccionadas e a elaboração dos
gráficos representativos, foi utilizada uma planilha electrónica (Software Microsoft Office
Excel), sendo obtidas as médias mensais e anuais das séries.
a) Pesquisa Explicativa
As pesquisas explicativas têm como preocupação central identificar os factores que determinam
ou que contribuem para a ocorrência dos fenómenos (GIL, 2008). A principal importância da
pesquisa explicativa é aprofundar o conhecimento da realidade, por que explica a razão de ser
das coisas. No presente estudo, a preocupação é explicar a realidade climatológica tal como se
apresenta, por meio de observação, registo dos dados, o estabelecimento de relações entre
factores que determinam eventos extremos bem como perceber o ritmo climático de Xai-Xai a
partir da determinação de anomalias de chuvas. Esta forma de abordagem da pesquisa
possibilitou a obtenção de elementos que caracterizam o estágio actual da ocorrência de
precipitação e comportamento climatológico e associar estas ocorrências com os fenómenos
atmosféricos gerais de ENSO.
b) Abordagem Quali-quantitativa
c) Abordagem Indutiva
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) define “Normais” como sendo “valores médios
calculados para um período relativamente longo e uniforme, compreendendo no mínimo três
décadas consecutivas” e padrões climatológicos normais como “médias de dados climatológicos
calculadas para períodos consecutivos de 30 anos”. No caso de estações para as quais a mais
recente Normal Climatológica não esteja disponível, seja porque a estação não esteve em
operação durante o período de 30 anos ou por outra razão qualquer, Normais Provisórias podem
ser calculadas. Normais Provisórias são médias de curto período, baseadas em observações que
se estendam sobre um período mínimo de 10 anos.
No entanto, considerou-se nesta análise duas séries sendo uma completa (1961-1990) e outra
incompleta (1991-2017) que deu-nos um valor considerado provisório e por fim calculou-se a
média das duas normais para determinar o valor climatológico para a análise do período em
estudo que data de 1951 a 2017. É importante referir que a organização destas séries obedece os
critérios de Organização Mundial de Meteorologia.
66
O Índice de Anomalia de Chuva (IAC) visa avaliar a frequência com que ocorrem os anos secos
e chuvosos na Cidade de Xai-Xai, considerando a intensidade, a severidade e duração. Para a
determinação do índice de anomalia de chuva (IAC), utilizou-se a metodologia sugerida por
Rooy (1965) e adaptada por Freitas (2005), a qual utiliza duas equações: uma para as anomalias
positivas (1) e outra para as anomalias negativas (2).
𝑃−𝑃
IACpositivo= 3 (1) para anomalias positivas e
𝑀−𝑃̅
𝑃−𝑃̅
IACnegativo=−3 𝑚̅−𝑃̅ (2) para anomalias negativas
Onde P é a precipitação total (mm) do ano que será gerado o IAC; P̅, a média (anual) da série
histórica (mm); M̅ a média das dez maiores precipitações anuais da série histórica (mm) e, m̅
compreende a média das dez menores precipitações anuais da série histórica (mm). As anomalias
positivas são representadas por valores acima da normal climatológica e as negativas, abaixo da
normal climatológica. Seus graus de intensidade podem ser avaliados conforme a Tabela 2.
IAC Classificação
Acima de 4 Extremamente chuvoso
2a4 Muito chuvoso
0a2 Chuvoso
0 a -2 Seco
-2 a -4 Muito seco
Abaixo -4 Extremamente seco
Fonte: Freitas (2004).
67
que compõe o período em estudo. O valor médio é obtido através do somatório dos cumulativos
anuais e dividir pelo número dos anos observados, de acordo com a equação: Vm=∑P/n. Onde
Vm- valor médio; P- precipitação acumulada anual e n- número de observações ou anos que
compõe a série.
A preocupação deste cálculo deve se a necessidade de obter um número para a base comparativa
do comportamento da precipitação nos anos em análise. Entende-se que a determinação do valor
comparativo pode em algum momento transparecer uma irrealidade, mas aventa-se que sem
dúvidas será de forma aproximada um mecanismo de proceder a leitura da oscilação da
precipitação. Não visa este método obter ou determinar os anos secos e chuvosos mas ajudar a
interpretar a variação da precipitação ao longo do período em estudo.
69
Neste capítulo, discutiremos os resultados das análises realizadas para avaliar o comportamento
da chuva em varias dimensões, a saber: variação anual da precipitação com a determinação do
IAC, a relação dos eventos anuais de chuva com o El Niño e La Niña. A determinação das
normais meteorológicas para caracterizar de forma específica a estacão chuvosa e seca na Cidade
de Xai-Xai. A determinação dos valores extremos de chuva com a análise diária da precipitação
e por fim relacionar os eventos extremos de chuvas com potenciais factores de ocorrência.
NA CIDADE DE XAI-XAI
A Cidade de Xai-Xai, apresenta uma variação da precipitação típica das regiões tropicais, com
duas estações bem distintas, uma seca que se estende e conscide relativamente com o inverno no
meio do ano e outra chuvosa que geralmente caracteriza os meses de, Novembro, Dezembro,
Janeiro, Fevereiro, Março, Abril e Maio.
A Cidade de Xai-Xai, devido aos factores que ultrapassam a zonalidade tropical, apresenta
alguns valores consideráveis de precipitação mesmo na estação seca, devido a proximidade do
mar, a influência das dunas costeiras que em algum momento embora menos significante servem
de barreira e proporcionam pequenas chuvas e localizáveis que podem ter a atribuição de chuvas
de relevo. Nesta pesquisa e também olhando estudos anteriores como por exemplo de TIQUE
(2015), COANA (2015) sofre influência dos fenómenos atmosférico-oceânicos de ENSO (El
Niño-oscilaçao Sul), e por via disso os períodos naturalmente chuvosos e/ou secos acabam tendo
uma influência global, tanto na intensidade, assim como na duração da precipitação.
1º Passo: foram considerados as duas últimas séries climatológicas instituídas pela OMM.
A Determinação do valor médio, considera a fórmula: PNS=∑P/n, onde para a série de 1961-
1990, tem se como valor médio de precipitação 1410.2mm. e para a segunda série que logo A
priori é incompleta apenas considerou os valores de 1991-2017, dai que obteve-se como valor
médio 1137.8mm.
A aplicação desta metodologia deve-se ao facto de estudar um período que contempla as duas
series, ou seja é um período interior entre as series e que por via disso os parâmetros definidos
pela Organização Mundial de Meteorologia apresentam séries internacionalmente definidas tais
como: serie climatológica de 1931 a 1960; série climatológica de 1961 a 1990; serie
climatológica de 1991 e vai fechar em 2020.
Com base no gráfico (5) podemos observar os anos que apresentam a precipitação acima do
normal (PA˃ 1274mm) e abaixo de normal (PA˂1274mm). Onde PA é Precipitação Anual.
Axis Title
0.0
1000.0
1500.0
2000.0
2500.0
3000.0
500.0
1951
1952
1953
1954
1955
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Precipitacao na Cidade de Xai-Xai 1951-2017
2014
2015
2016
2017
PTA
Normal
Linear (PTA)
Linear (Normal )
72
73
A leitura que se pode fazer no gráfico acima apresentado é que muitos dos anos nas series
estudadas têm valores anuais acima dos 1274 mm de precipitação anual, facto que coloca a
Cidade de Xai-Xai na verdade no quadro do clima tropical húmido.
Nota-se no entanto alguns anos como é o caso do ano de 1970 que foi um ano típico com valores
cumulativos anuais de até 500mm e mais recente o ano de 2015 que sem dúvidas foi um ano
seco, com baixas quantidades de precipitação.
Esses valores em alguns casos apesar de serem na sua maior parte acima da base comparativa
estabelecida para as duas séries podem apresentar e terem uma influência negativa para o
desenvolvimento da actividade agrícola por exemplo, uma vez que determinando o balanco
hídrico de Xai-Xai, pode se ter algumas surpresas pelo índice elevado de evaporação. Mais
adiante coloca-se factores que podem de certa forma ajudar na interpretação da variabilidade da
precipitação ao longo dos anos.
a) Ciclones Tropicais
b) Anticiclones
São zonas de altas pressões, que caracterizam-se pela divergência e subsidência do ar. Estas
zonas são caracterizadas por grande actividade do regime térmico (depressões térmicas). As
depressões térmicas são acompanhadas de massas de ar quente e seco, e influenciam
negativamente na ocorrência da precipitação (PRESTON e TYSON, 2004).
São massas de ar frias que formam-se na superfície polar sul, possuindo uma migração periódica
anual em direcção ao equador. Na sua trajectória, estas massas de ar altamente frias convergem
com as massas de ar quentes, formando-se na zona de convergência grandes nuvens de
desenvolvimento vertical (nuvens convectivas) de onde provem a precipitação (ROJAS e
AMADE, 1996). Elas são mais frequentes no inverno e são responsáveis pela maioria das chuvas
que ocorrem no verão na parte sul de Moçambique, sobretudo na região do litoral (VAN e
HURRY, 1992 citado por CAMBULA, 2005).
e) Baixas Costeiras
São células de baixas pressões, localizadas na parte costeira da África Austral. Em Moçambique,
ocorrem geralmente no verão e são observadas com maior frequência na zona sul do rio Save
(VAN e HURRY, 1992 citado por CAMBULA, 2005). A sua passagem é caracterizada por céu
coberto localizado e chuvas de curta duração e fracas.
75
f) Orografia
A composição orográfica duma determinada região facilita o processo de ascensão das massas de
ar que com a diminuição da temperatura amassa de ar evolui até ao ponto de saturação onde a
água condensa-se e precipita (ROJAS e AMADE, 1996). Este fenómeno ocorre geralmente nas
regiões planálticas do país (LOBO, 1999). Para o caso do sul do Save, alguns estudos aventam a
possibilidade, mas é um cenário ainda duvidoso e carece de uma análise mais aprofundada,
principalmente para a Cidade de Xai-Xai em que as dunas apresentam uma altimetria menos
considerável.
A determinação das normais climatológicas tem a função de pudermos perceber juntamente com
o gráfico anterior das precipitações anuais a caracterização da ocorrência da precipitação na
Cidade de Xai-Xai. A normal meteorológica é tida como sendo valor médio dos cumulativos
mensais de cada série, ou seja o somatório dos dados de cada mês ao longo dos trinta anos e
dividir pelo total dos anos observados. Num estudo climático é preciso relembrar que cada mês
apresenta o seu valor médio designado por normal meteorológico. A tabela abaixo apresenta os
valores das normais nas duas últimas séries.
76
J 135.4 J 159.4
F 131.8 F 120.5
M 104.5 M 124
A 98.7 A 100.4
M 88.7 M 45
J 63.5 J 50
J 49.6 J 53.5
A 32.7 A 24.8
S 35.4 S 31
O 65.1 O 49.4
N 76.2 N 110.9
D 122.1 D 133.1
Fonte: Autor, 2018 (banco de dados INAM-Gaza)
Com base nos dados podemos aferir que para a Cidade de Xai-Xai, os meses potencialmente
chuvosos são necessariamente os de Novembro, Dezembro, Janeiro, Fevereiro, Março e Abril,
mostrando que a estação chuvosa começa relativamente tarde em relação ao comportamento
normal da estação chuvosa do clima tropical húmido descrito por vários autores incluindo os
Atlas escolares que aventam sempre de forma generalizada a estação chuvosa a começar em
Outubro. O outro aspecto que as normais meteorológicas revelam é a possibilidade de extensão
da época chuvosa, ao invés de terminar em Abril, prolonga-se até Maio. Ora vejamos os gráficos
abaixo:
77
A análise da precipitação foi realizada a partir das séries de 1961 a 1990 e de 1991 a 2017.
Na série de 1961 a 1990, a Cidade Xai-Xai (gráfico 6) apresenta meses potencialmente chuvosos
que começam de Novembro a Maio conforme se pode ver nas respectivas normais
meteorológicas.
160
140
120
100
P(mm)
80
60
40
20
0
J F M A M J J A S O N D
Cidade de Xai-Xai
Ano P P̅ ̅
M m̅ IAC- IAC+ Classificação ( IAC)
1961 1632.9 1719.8 2279.4 1198.4 -0.5 Seco
1962 1886.6 1719.8 2279.4 1198.4 0.9 Chuvoso
1963 1287.9 1719.8 2279.4 1198.4 -2.5 Muito seco
1964 1447.2 1719.8 2279.4 1198.4 -1.6 Seco
1965 1395.4 1719.8 2279.4 1198.4 -1.9 Seco
1966 1411.1 1719.8 2279.4 1198.4 -1.8 Seco
Extremamente
1967 2859.4 1719.8 2279.4 1198.4 6.1 Chuvoso
1968 1190.0 1719.8 2279.4 1198.4 -3.0 Muito Seco
1969 1872.0 1719.8 2279.4 1198.4 0.8 Chuvoso
1970 618.5 1719.8 2279.4 1198.4 -6.3 Extremamente Seco
1971 1634.9 1719.8 2279.4 1198.4 -0.5 Seco
Extremamente
1972 2705.6 1719.8 2279.4 1198.4 5.3 Chuvoso
1973 1957.1 1719.8 2279.4 1198.4 1.3 Chuvoso
1974 2148.7 1719.8 2279.4 1198.4 2.3 Muito Chuvoso
1975 1784.4 1719.8 2279.4 1198.4 0.3 Chuvoso
1976 2111.7 1719.8 2279.4 1198.4 2.1 Muito Chuvoso
1977 2114.0 1719.8 2279.4 1198.4 2.1 Muito Chuvoso
Extremamente
1978 2488.6 1719.8 2279.4 1198.4 4.1 Chuvoso
1979 1376.4 1719.8 2279.4 1198.4 -2.0 Seco
1980 1413.1 1719.8 2279.4 1198.4 -1.8 Seco
1981 2273.7 1719.8 2279.4 1198.4 3.0 Muito Chuvoso
1982 1012.5 1719.8 2279.4 1198.4 -4.1 Extremamente Seco
1983 1114.4 1719.8 2279.4 1198.4 -3.5 Muito Seco
1984 2044.5 1719.8 2279.4 1198.4 1.7 Chuvoso
79
4.0
2.0
IAC-
0.0
IAC+
1966
1972
1961
1962
1963
1964
1965
1967
1968
1969
1970
1971
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
190
-2.0
-4.0
-6.0
-8.0
A série histórica de 1961-1990 é marcada por dois grandes problemas económicos e sociais na
Cidade de Xai-Xai resultantes do comportamento climático e o IAC mostra de forma explícita o
percurso que leva a ocorrência dos referidos problemas, ora vejamos, as cheias e inundações de
1977 tiveram precedentes que justificam a sua ocorrência pelo facto de ter sido um momento
característico de cerca de sete (7) anos de chuvas conforme os dados a partir de 1972 que foi
extremamente chuvoso com IAC de 5.3; 1973 ano chuvoso com o índice de 1.3; 1974 muito
80
chuvoso índice de 2.3; 1975 chuvoso com índice de 0.3; 1976 ano muito chuvoso índice de 2.1;
ano de 1977 (ano das cheias históricas) muito chuvoso com o índice também de 2.1 e o ciclo
chuvoso fechou no ano de 1978 com um índice de extremamente chuvoso de 4.1. No entanto, o
ano de 1977 registou cheias não exactamente por ter apresentado maior índice de anomalia de
chuva, mas pela sequência histórica que do ponto de vista local e regional condicionou a
ocorrência de uma cheia, devido o efeito cumulativo na bacia do Limpopo no seu geral. Vale
aqui reforçar que o comportamento climático de Xai-Xai nesta perspectiva apesar de ter
particularidades locais tem alguns traços regiões, pelo que é possível com uma certa margem do
erro deduzir a probabilidade de ocorrência de um fenómeno como inundação de acordo com o
comportamento sequencial da ocorrência de chuvas ao longo dos anos. O marco mais importante
deste evento de cheias ficou marcado com o aparecimento de um Bairro de reassentamento das
populações que viviam na zona Baixa “Bilene” e formaram o actual bairro de Marien Guabi e o
bairro Patrice Lumumba.
O segundo cenário que caracteriza a série tem a ver com o ano histórico da fome conhecido
como “a fome de 83”. A fome de 83 na construção popular, relata um momento de seca extrema
que caracterizou os anos de 1982 e 1983, com maior impacto na agricultura, sabido que a baixa
do Limpopo registou uma redução de produção agrícola conforme os dados do Índice: 1982 ano
extremamente seco -4,1; 1983 muito seco com índice de -3.5.
Igualmente a serie anterior, a série incompleta de 1991 a 2017 (gráfico 7), apresenta
características similares em termos de meses potencialmente chuvoso, sendo que nas duas series
o mês de Janeiro acaba sendo o mais chuvoso e agosto o mais seco.
81
180
160
140
120
P(mm)
100
80
60
40
20
0
J F M A M J J A S O N D
Cidade de Xai-Xai
Os resultados em conformidade com as normais, nos levam a aferir que a generalização que se
coloca sobre os climas de Moçambique e a duração da estaçao chuvosa para o clima tropical
humido pode não satisfazer as realidades locais. A Cidade de Xai-Xai por exemplo e conforme o
estudo, a época chuvosa começa tarde, ou seja ao invés de iniciar no mês de Outubro conforme
varios estudos sobre o clima de Moçambique, vai começar no mês de Novembro e tem, seu pico
no mês de Janeiro e para alem de terminar no mês de Abril estende-se até ao mês de Maio.
Foi realizada a determinação do IAC da Série Climática incompleta de 1991-2017 (tabela 6).
82
4.0
2.0 IAC-
0.0 IAC+
2006
2014
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2015
2016
2017
-2.0
-4.0
-6.0
-8.0
fechou-se o ciclo chuvoso em 2001 com dados de ano muito chuvoso e o IAC de 2.7. As cheias
do ano 2000 marcaram a história dos residentes e fez surgir um Bairro, “Bairro Ndambine 2000”
que foi portanto, o reassentamento das populações afectadas.
A serie de 1991-2017 contrariamente a primeira, apresenta uma frequência que merece grande
atenção principalmente na possibilidade de haver uma inundação ou uma estiagem. E nesta série
é possível perceber que algumas inundações como é o caso do ano de 2013 resultaram da
precipitação local, apesar de o rio Limpopo ter registado também alguns excessos.
Chama atenção este ano também pelo de que os dados não mostram que seja um extremamente
chuvoso e nem muito chuvoso, mas sim apenas um ano chuvoso mas que registou dias de
precipitação extrema em poucos dias consecutivos cerca de seis dias de chuvas muito fortes e
extremas. O fenómeno de inundações do ano 2013, igualmente originou um bairro de
reassentamento, conhecido como Bairro 2013.
A determinação dos eventos extremos teve como base, o limite superior de precipitação normal
de cerca de 50mm em 24 horas conforme descreveu CONTI (2011) e TEIXEIRA (2004), GAO,
JEREMY e FILLIPO (2006), FRICH, ALEXANDRE, DELLAMARTA etal. (2002) e SILVA
(2012).
A tabela 7 apresenta a frequência mensal dos eventos extremos de chuva, considerando o período
de 17 anos, ou seja do ano 2000 a 2017, a partir dos dados diários de precipitação.
85
Ano J F M A M J J A S O N D TEA
2000 2 5 7
2001 4 1 1 2 8
2002 2 1 1 4
2003 1 1 1 3
2004 1 1 1 3
2005 1 1
2006 1 1 1 1 4
2007 1 1 1 2 1 6
2008 1 1
2009 1 1
2010 1 1 1 1 1 5
2011 4 1 5
2012 1 1 1 3
2013 6 6
2014 3 3
2015 1 1
2016 2 2
2017 1 1 1 1 4
TEM 13 12 6 7 2 2 1 2 1 8 13
Meses com maior incidência de extremos (J, F, M, A,M, N e
D)
TEM,-total de extremos por meses
TEA- Totais de Extremos Anuais
Fonte: Autor, 2018 com base nos dados do INAM-Gaza
86
A tabela 7 mostra que os meses de Janeiro e Fevereiro apesentam maior frequência de ocorrência
de extremos e por via disso são meses susceptíveis a ocorrência de inundações localizadas, o
exemplo específico vai para o ano de 2013 que o mês de Janeiro registou 6 (seis) dias
consecutivas com uma precipitação extrema e resultou em inundações nas zonas baixas assim
como de forma localizada em vários bairros da cidade. A tabela 8 procura de forma detalhada
mostrar os dias e as quantidades de precipitação e aventa o sistema atmosférico actuante.
Sistema Sistema
Precipitaçã Atmosferico Precipitaçã Atmoférico
Ano o Data Atuante Ano o Data actuante
68.3 20/09 Ano Niña Ano Niña.
55.2 21/09 Outros Canal de
55.6 3/11 factores: Moçambiqu
103.2 4/11 formação de 2008 77.5 16/12 e
Para tal cálculo foi considerado o período entre agosto de um ano até Julho do ano seguinte.
Anos onde a intensidade do fenómeno foi considerada forte são aqueles em que a anomalia de
temperatura da superfície do mar (TSM) foi superior a 1,5°C em algum dos meses pertencentes à
série, enquanto os episódios de intensidade moderada tiveram valores inferiores à 1,5°C mas
superiores à 1,0°C, e por fim, os episódios de intensidade fraca são aqueles com valores
inferiores à 1,0oC mas superiores à 0,5°C. Os dados de TSM são provenientes do conjunto de
dados ERSST-v5 (SMITH e REYNOLDS, 2003)
Anos onde a intensidade do fenómeno foi considerada forte são aqueles em que a anomalia de
temperatura da superfície do mar (TSM) foi inferior a -1,5°C em algum dos meses pertencentes à
série, enquanto os episódios de intensidade moderada tiveram valores superiores à -1,5°C mas
inferiores à -1,0°C, e por fim, os episódios de intensidade fraca são aqueles com valores
superiores à -1,0°C mas inferiores à -0,5°C, conforme pode-se observar através de tabela 9.
11
Base de Dados de IOS. Acessado no dia 13/11/2018.
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Figura 7. Evolução dos Anos Niño e Niña na zona sul oriental de África.
Os dados da determinação do IAC assim como a imagem acima sustentam que a Cidade de Xai-
Xai, a zona sul de africa sofrem influência significativa no que diz respeito a variabilidade das
chuvas nos Anos Niñas e neutros.
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Intensidade ENSO
2
El Nino
1.5
0.5
Intensidade
0 Linear (Intensidade)
1951-1952
1953-1954
1954-1955
1955-1956
1957-1958
1963-1964
1965-1966
1967-1968
1969-1970
1970-1971
1972-1973
1973-1974
1975-1976
1976-1977
1979-1980
1982-1983
1986-1987
1987-1988
1988-1989
1991-1992
1992-1993
1997-1998
1999-2000
2002-2003
2006-2007
2007-2008
2009-2010
2010-2011
2015-2016
2017-2018
-0.5
La Nina
-1
-1.5
Fenomenos El Nino e La Nina 1951-2018
Fica evidente a partir deste gráfico há mais registo de EL Ni Niño do que La Niña, no entanto sob ponto de vista de quantidades
pluviométricas os anos Niño tem sido de fraca precipitação e relação aos anos Niña. Os anos com maior pico de Niño ou seja evento
forte também são raros no entanto destacam se os anos de Niño fraco a moderado. O mesmo acontece com os anos Niña regista-se
maior domínio dos anos fracos a moderados da escala de -1 a -0.5. no entanto mais adiante o gráfico apresenta uma relação entre os
valores cumulativos da precipitação anual em os fenómenos ENSO.
Cidade de Xai-Xai
500
0
1000
1500
2000
2500
3000
3500
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1994
1995
1996
Gráfico 11. Relação Precipitação Anual na Cidade de Xai-Xai e fenómenos de ENSO.
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
0
1
2
-1
0.5
1.5
-1.5
-0.5
)
ENSO
PPT(mm
93
94
O gráfico 11 mostra de formais mais explicita a relação entre os valores anuais da precipitação
com a intensidade dos fenómenos ENSO, onde verifica-se em o comportamento inverso dos
índices com valores da chuva. As maiores quantidades de chuva registam se nos anos em que a
parábola do ENSO esta virada para cima, ou seja há maiores cumulativos de chuva nos Anos
Niña.
0.0 IAC
1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 0
-2.0 ENSO
-4.0 -0.5
-6.0 -1
-8.0 -1.5
5.0 1
ENSO
IAC
0.0 0 IAC
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
ENSO
-5.0 -1
-10.0 -2
Os gráficos (12 e 13) mostram de forma especifica a influencia dos fenómenos ENSO nas
anomalias de chuva a escala anual na Cidade de Xai-Xai, nota-se que as parábolas tendem a ter
um comportamento simétrico na medida em que as anomalias positivas (IAC +) que se traduzem
em anos chuvosos, muito chuvoso e extremamente chuvoso, caracteriza as fases dos anos neutros
e de La Niña ou seja quando os índices do IOS são negativos o que significa o resfriamento das
aguas do pacifico, a costa sul de Moçambique e em especial a Cidade de Xai-Xai, apresenta
características do tempo fresco e húmido e a predominância das chuvas. E no período do
aquecimento das águas do pacífico marcando o El Niño, as anomalias de chuva na Cidade de
Xai-Xai dão lugar aos índices de escassez de chuva, variando no quadro de anomalias negativas
(IAC) os anos seco, muito seco a extremamente seco.
As chuvas intensas, ou precipitações máximas, são aquelas responsáveis por gerar volumes de
água significativos em pequenos intervalos de tempo. Devido aos grandes volumes precipitados.
A ocorrência de tais eventos costuma gerar danos socioeconómicos, prejuízos ambientais, além
de riscos a vida humana (FARIAS; SILVA; COELHO, 2013; QAMAR etal., 2017). Conforme
vê-se na figura 8.
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A figura 8 mostra o alagamento ao longo da Estrada Nacional Numero 1. Este facto agrava-se
também devido às deficiências de drenagens das águas pluviais ao longo da via.
A figura 9 ilustra o alagamento na área residência que é frequente nos dias de chuvas intensas
para os bairros A e B da cidade.
CONCLUSÃO
Os resultados de estudo mostram que os eventos extremos de chuva acontecem com ou sem
ENSO, mas nota-se uma frequência nos anos La Niña e neutros, ressalta-se que os padrões da
oscilação da temperatura no oceano Indico tem uma influência significativa na formação de
ciclones na zona costeira de Moçambique e, no entanto, muitos eventos extremos acontecem
associados a ocorrência de ciclones.
Os factores mais evidentes na ocorrência dos eventos extremos de chuva na cidade Xai-Xai
associam-se ao período ciclónico que compreende três meses (JFM). O canal de Moçambique
tem influência considerável na formação de chuvas de curta duração e em algum momento de
maior intensidade, devido a oscilação da pressão entre o continente e o oceano.
A determinação dos extremos de chuva só é possível com aplicação dos dados diários, uma vez
que os cumulativos mensais assim como anuais podem ofuscar ocorrências de maior importância
no quadro do ritmo climático.
No que diz respeito às anomalias de chuva, ficou evidente que a sua determinação é crucial para
o acompanhamento do comportamento de precipitação num determinado tipo de clima.
Com o cálculo do IAC foi possível determinar os anos chuvosos e secos e por via disso
interpretar ocorrências de secas e de inundações na Cidade de Xai-Xai. Ademais, a anomalia de
100
A histórica fome de 1983 teve também seus antecedentes de anos sucessivos de seca e seca
extrema. As cheias do ano 2000 tiveram antecedentes de sequências de anos chuvosos a
extremamente chuvosos que datam desde 1998 e só fecharam o ciclo no ano de 2001. As cheias
de 2013 foram de forma particular resultantes de eventos extremos de chuva que de forma
sucessiva caíram no mês de Janeiro durante 6 (seis) dias de chuvas extremas.
Por fim, a relação que se estabeleceu entre o IAC e ENSO, espelha a razão inversa dos
respectivos índices na medida em que quando registam se anomalias oceânicas positivas (IOS+)
as anomalias de chuva na Cidade de Xai-Xai apresentam se negativas (IAC-). Quando as
anomalias oceânicas são negativas (IOS-), a Cidade de Xai-Xai apresenta anomalias de chuva
positivas (IAC+). Está análise ajuda a relacionar o comportamento da variável precipitação no
clima de Xai-Xai tendo em conta a influência do sistema Oceano-Atmosfera na perspectiva
global. Entende-se que apesar de factores de ordem regional e locais que Justificam a
precipitação a precipitação a que considerar os factores de ordem global como a circulação das
células de Walker no Oceano Pacifico.
Notou-se nesta pesquisa, que a estação chuvosa começa tardiamente relativamente ao que os
estudos anteriores mostram, ao invés de começar em Outubro, na Cidade de Xai-Xai começa em
Novembro e terminam também tarde, ao invés de terminar no mês de Abril, estende-se até ao
mês de Março, facto que pode ser confirmado analisando os gráficos da climatologia de Xai-Xai
do presente trabalho, calculados com base nos dados do INAM-Gaza através da determinação de
normais meteorológicos de cada mês nas duas séries históricas em análise. Chamou atenção
neste estudo que os anos Niña são maioritariamente chuvosos e o comportamento das chuvas no
que diz respeito a frequência apresenta maior regularidade climática descrita no próprio tipo de
clima, ou seja a estação chuvosa não sofre grandes alterações sendo que começa em Novembro e
101
termina em Maio. Nos anos Niño verifica-se o tempo quente e seco, facto que faz com que haja
escassez de chuva mesmo no período considerado chuvoso de Novembro a Maio.
SUGESTÕES
Que se estude de forma particular os climas de Moçambique olhando não só os aspectos comuns
mas também aspectos particulares que podem influenciar de forma significativa na previsão de
desastres relacionados com o clima.
Que o INAM seja não apenas uma instituição que se encarrega pela previsão e informação do
estado do tempo, mas também uma instituição de pesquisa para aventar com maior exactidão e
espacializar os riscos ambientais de natureza climática que ocorrem em Moçambique.
Que se aprofunde a aplicação do Método de Anomalias de chuva para várias regiões que com
maior frequência sofrem cenários climáticos adversos. Com este método pode se compreender o
comportamento quase simétrico entre o sul e o centro-norte.
Ora vejamos, quando o sul regista anos de muita chuva e ocorrência de inundações, o centro e o
norte de Moçambique registam anos secos com escassez de água impactando nas diversas
actividades com especial atenção para a agricultura. Quando o sul de moçambique apresentar
uma estiagem ou anos secos o centro e norte registam chuvas intensas ou até sequência de anos
chuvosos que se traduzem em inundações.
Da mesma maneira que os efeitos cumulativos de anos secos resultam em seca agrícola e bolsas
de fome bem como défice do abastecimento de água a determinação de anomalias de chuva em
102
especial as anomalias negativas podem ajudar na previsibilidade dos anos de estiagem nas mais
variadas cidades e distritos vulneráveis.
A compreensão dos climas de Moçambique a luz dos paradigmas ambientais: Teoria Geral dos
sistemas e o paradigma do Ritmo climático de forma a perceber os eventos e ocorrências de
desastres não apenas como problemas, mas também como características do próprio clima.
BIBLIOGRAFIA
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Site usado para baixar vários livros electrónicos:
https://www.amigosdanatureza.org.br/biblioteca/livros/categoria/cod/27
108
Estr ada nº 1, Nham po nzo ene D istr ito C ho ngo ene, C aixa P o stal: 233
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