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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO


LICENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL

IMPACTO SOCIOAMBIENTAL DA EXPLORAÇÃO MINEIRA DO OURO


ATRAVÉS DO GARIMPO: Caso da Aldeia de Nassilapa - Namuno, 2019 -2021.

Julião Quisito

Pemba, 17 de Julho de 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED
FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO
LICENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL

IMPACTO SOCIOAMBIENTAL DA EXPLORAÇÃO MINEIRA DO OURO


ATRAVÉS DO GARIMPO: Caso da Aldeia de Nassilapa - Namuno, 2019 -2021.

Monografia científica entregue ao Centro de Recurso de Pemba, Faculdade/Departamento


de Economia e Gestão, como requisito para obtenção do grau académico de Licenciatura
em Gestão Ambiental.

O Candidato

Julião Quisito

Pemba, 17 de Julho de 2023


ÍNDICE

DECLARAÇÃO DE HONRA ...................................................................................................iii


AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. iv
DEDICATÓRIA ......................................................................................................................... v
LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................................. vi
LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. vii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS .............................................................................viii
RESUMO .................................................................................................................................. ix
ABSTRACT ............................................................................................................................... x
CAPÍTULO I ............................................................................................................................ 11
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11
1.1. Problematização............................................................................................................. 12
1.2. Objectivos ...................................................................................................................... 13
1.2.1. Objectivo geral:.......................................................................................................... 13
1.2.2. Objectivos Específicos:.............................................................................................. 13
1.3. Perguntas de pesquisa .................................................................................................... 13
1.4. Justificativa .................................................................................................................... 14
1.5. Delimitação.................................................................................................................... 14
1.6. Limitações do estudo ..................................................................................................... 15
CAPÍTULO II ........................................................................................................................... 16
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.......................................................................................... 16
2.1. Actividade Mineira ........................................................................................................ 16
2.2. Impactos Socioambientais da Mineração ...................................................................... 16
2.2.1. Impactos no Ar........................................................................................................... 18
2.2.2. Impactos na Água ...................................................................................................... 18
2.2.3. Impactos no solo ........................................................................................................ 19
2.2.4. Impactos na Biosfera ................................................................................................. 19
2.3. Mineração Artesanal do Ouro........................................................................................ 20
2.3.1. Importância do Ouro .................................................................................................. 20
2.4. Processos e Etapas da Extracção e Processamento do Ouro ......................................... 21
2.5. Mineração Artesanal de Ouro em Moçambique ............................................................ 22
2.6. Desafios e Perspectivas da Mineração Artesanal .......................................................... 23
CAPÍTULO III ......................................................................................................................... 25
3. METODOLOGIA ............................................................................................................. 25
3.1. Classificação da Pesquisa .............................................................................................. 25
3.1.1. Quanto aos Objectivos ............................................................................................... 25
3.1.2. Quanto a Abordagem ................................................................................................. 26
3.1.3. Quanto a Natureza...................................................................................................... 26
3.1.4. Quanto aos Procedimentos Técnicos ......................................................................... 26
3.1.5. Pesquisa Bibliográfica ............................................................................................... 27
3.1.6. Estudo de Caso........................................................................................................... 27
3.2. Método de Abordagem .................................................................................................. 28
3.2.1. Método Estatístico ..................................................................................................... 28
3.3. Técnicas de Recolha de Dados ...................................................................................... 29
3.3.1. Observação................................................................................................................. 29
3.3.2. Questionário ............................................................................................................... 30
3.3.3. Entrevista ................................................................................................................... 30
3.4. Técnicas de Análise de Dados ....................................................................................... 31
3.5. Universo e Amostra da Pesquisa ................................................................................... 32
CAPÍTULO IV ......................................................................................................................... 33
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 33
4.1. Caracterização da amostra ............................................................................................. 33
4.1.1. Género ........................................................................................................................ 33
4.1.2. Idade........................................................................................................................... 34
4.1.3. Profissão..................................................................................................................... 34
4.1.4. Nível de escolaridade ................................................................................................. 35
4.2. Questionário ao Chefe da Repartição do Licenciamento e Fiscalização das Actividades
Económicas............................................................................................................................... 35
4.3. Entrevista aos Garimpeiros............................................................................................ 38
4.4. Processo Mineração do Ouro......................................................................................... 41
4.5. Discussão dos Resultados .............................................................................................. 43
CAPÍTULO V .......................................................................................................................... 45
5. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 45
5.1. Recomendações ............................................................................................................. 46
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 47
APÊNDICES I: Questionário – Chefe da Repartição do Licenciamento e Fiscalização das
Actividades Económicas........................................................................................................... 49
APÊNDICE II: Guião de Entrevista aos Garimpeiros.............................................................. 52
APÊNDICE III: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido................................................ 54
DECLARAÇÃO DE HONRA

Eu, Julião Quisito, com identidade número 91180122, aluno do programa académico de
Licenciatura em Gestão Ambiental do Instituto Superior de Ciências e Educação a
Distância, declaro que o conteúdo do trabalho intitulado: Impacto Socioambiental da
Exploração Mineira do Ouro através do garimpo: Caso da Aldeia de Nassilapa –
Namuno, 2019 -2021, é reflexo de meu trabalho pessoal e manifesto que perante qualquer
notificação de plágio, cópia ou falta em relação à fonte original, sou directamente o
responsável legal, económica e administrativamente, isentando Orientador, a Universidade
e as instituições que colaboraram com o desenvolvimento deste trabalho, assumindo as
consequências derivadas de tais práticas.

Pemba, 17 de Julho de 2023

O Candidato

Julião Quisito

iii
AGRADECIMENTOS

Em primeiro a DEUS pela vida, saúde e força para a realização do presente trabalho;

Ao meu supervisor Mestre Anselmo Jorge Matimbe, pela compreensão, paciência e pelo
acompanhamento eficiente do presente trabalho;

A toda minha família, irmãos, primos, sobrinhos em especial vai para meus pais Quisito
Antônio e Laurinda Leonardo, e minhas esposas Anita Samuel e Delfina Feliciano por serem
pessoas que de forma directa suportaram as minhas ausências e aturaram em todo o memento
de tenção que passei durante o processo formativo.

Aos meus amigos, em especial ao Emílio Yulungue Adamo que sempre que eu precisei
de ajuda, deu seu contributo e esteve disponível para dar me força;

Aos meus colegas de trabalhos pelo apoio moral e pela compreensão;

Aos Professores e corpo técnico e Directivo da UnISCED, e ao corpo directivo da Faculdade


de Economia e Gestão;

Aos indivíduos envolvidos na pesquisa, para a escolha de amostras do presente trabalho.

iv
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus filhos Crispim Julião Quisito, Icleisio Julião Quisito, Quisito
Julião Quisito, Vanildo Julião Quisito, Laurinda Julião Quisito e Ilda Julião Quisito privados
de grandes momentos de carinho, afecto e acima de tudo de lazer, a favor dos estudos. À
minhas esposas Anita Samuel e Delfina Feliciano por me ter encorajado para continuar os
estudos e por me ter concedido todo apoio moral para que o meu programa de licenciatura se
tornasse possível. Aos meus pais que me ensinaram o caminho da escola e sempre me
apoiaram moralmente durante a minha formação

v
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Relação do género da amostra……………………………………………………33

Gráfico 2: Relação da faixa etária da amostra………………………………………..………34


Gráfico 3: Profissão ou actividade principal dos envolvidos…………………………..….….34
Gráfico 4: Relação do nível de escolaridade…………………………………………..….…..35
Gráfico 5: Tempo efectivo no exercício da actividade da mineração do ouro………………..38
Gráfico 6: Aspectos jurídicos e administrativos para o exercício da actividade………….......39
Gráfico 7: Motivações para o exercício da actividade………………………………………..39
Gráfico 8: Contributo económico da exploração mineira do ouro……………………………40
Gráfico 9: Percepção dos impactos socioambientais………………………………………….41

vi
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Limpeza da área seleccionada para extracção……………………………………..42


Figura 2: Extracção da camada ou da rocha…………………………………………………42
Figura 3: Britagem da rocha…………………………………………………………………43
Figura 4: Moageira da brita…………………………………………………………………..43

vii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CIP Centro de Integridade Pública


CO Monóxido do Carbono
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
MAPE Mineração Artesanal ou de Pequena Escala.
MMSD Mineração, Minerais e Desenvolvimento Sustentável
NOx Óxidos do Nitrogénio
SADC Comunidade do Desenvolvimento da África Austral
SIDAE Serviços Distritais das Actividades Económicas
SO2 Dióxido de enxofre

viii
RESUMO

A dependência do Homem na exploração e uso dos recursos naturais tem registos desde os
primeiros habitantes a ocupar o planeta terra. No contexto actual, a grande preocupação reside
na pressão e na alta procura dos recursos naturais para satisfazer as mais variadas necessidades
da humanidade, sendo o sector mineiro que ganha mais destaque. Para o caso particular da
aldeia de Nassipala – Distrito de Namuno, a preocupação reside no facto de não se conhecer o
real impacto da actividade da exploração do ouro através de práticas do garimpo para a
sociedade local, como também para a economia distrital e provincial. É neste contexto que o
desenho deste estudo teve por objectivo estudar os impactos socioambientais decorrentes da
exploração mineira do ouro através de práticas do garimpo na Aldeia de Nassipala no Distrito
de Namuno. Assim, para o alcance do objectivo definiu-se como métodos de pesquisa, o método
indutivo e método estatístico. A pesquisa é classificada como: qualitativa, aplicada,
exploratória, estudo de caso e bibliográfica. Para a recolha de dados recorreu-se a técnicas de
observação directa no local de estudo, ao questionário e a entrevista estruturada. Fizeram parte
da pesquisa 41 elementos, onde 1 é chefe da repartição do licenciamento e fiscalização das
actividades económicas e 40 são garimpeiros do ouro na mina da Aldeia de Nassilapa, cujos
foram seleccionados por amostragem probabilística do tipo casual simples. Os resultados
revelaram que a actividade da exploração do ouro através do garimpo apresenta por um lado
um contributo económico para os praticantes e seus dependentes, mas para o estado os ganhos
são praticamente inexistentes, por outro lado, a actividade exerce um impacto adverso
significativo sobre o ambiente afectado. Por fim, pode-se considerar que a actividade
desenvolvida tem característica rudimentar e com grandes impactos negativos sobre o
ambiente, tendo como indicadores a degradação dos solos e da biodiversidade.

Palavras Chaves: mineração, ouro, garimpo e impactos.

ix
ABSTRACT

Man's dependence on the exploration and use of natural resources has been recorded since the
first inhabitants to occupy planet earth. In the current context, the major concern lies in the pressure
and high demand for natural resources to satisfy the most varied needs of humanity, with the mining
sector gaining more prominence. For the particular case of the village of Nassilapa – District of
Namuno, the concern is that the real impact of the gold exploration activity through mining practices
for the local society, as well as for the district and provincial economy, is not known. It is in this
context that the design of this study aimed to study the socio-environmental impacts resulting from
the mining of gold through mining practices in the village of Nassilapa in the District of Namuno.
Thus, in order to reach the objective, the inductive method and the statistical method were defined as
research methods. The research is classified as: qualitative, applied, exploratory, case study and
bibliographic. For data collection, direct observation techniques were used at the study site, the
questionnaire and the structured interview. The total of 41 elements took part in the research, where
1 is head of the licensing and inspection department of economic activities and 40 are gold prospectors
at the village of Nassilapa mine, whose were selected by simple random probabilistic sampling. The
results revealed that the activity of exploring gold through mining presents, on the one hand, an
economic contribution to practitioners and their dependents, but for the state the gains are practically
non-existent, on the other hand, the activity has a significant adverse impact on the affected
environment. Finally, it can be considered that the activity carried out has a rudimentary character
and with great negative impacts on the environment, having as indicators the degradation of soils
and biodiversity.

Keywords: mining, gold, prospecting and impacts.

x
CAPÍTULO I

1. INTRODUÇÃO

A presente Monografia de pesquisa tem como tema: Impacto Socioambiental da Exploração


Mineira do Ouro através do garimpo: Caso da Aaldeia de Nassilapa – Namuno, 2019 -2021.
O mesmo, foi delineado com o propósito de estudar com grande exaustão os problemas sociais
e ambientais decorrentes da actividade do garimpo ilegal na Aldeia de Nassilapa.

Há que reconhecer que o homem vem desde a sua existência dependendo dos diversos recursos
existentes na natureza para a sua sobrevivência. Neste campo, os recursos minerais existentes
no subsolo representam cerca de 99 % dos recursos ao alcance do homem, onde pode-se
destacar: as reservas e/ou mananciais de água, reservas dos hidrocarbonetos, reservas de metais
preciosos, reservas de calcários, pedras preciosas, entre outras categorias.

O sector mineiro para o caso particular de Moçambique é vista de duas dimensões: a mineração
legal e a mineração ilegal. A mineração ilegal, é a que vem registando um crescimento
exponecial por quase todo o país, com grande incidência para as regiões do centro (províncias
de Manica, Sofala e Zambézia) e do norte (províncias de Nampula e Cabo Delgado). As
caracteristicas desta actividade tem repercursões negativas sobre a economia, onde o estado não
tem hipóteses de arrecadar receitas através da cobrança de impostos, por outro lado, não existe
qualquer preocupação com o ambiente físico explorado, deixando a mãe natureza que faça a
restauração natural que, em muitos casos torna-se irreversível devido ao grau do dano causado.

Para o caso específico do Distrito de Namuno, as características da actividade de exploração do


ouro através da mineração artesanal (garimpo) não se deferem com o que se passa por outras
regiões do país, sendo realizada sem o mínimo estudo da viabilidade económica e ambiental da
actividade. Sugere-se que a proliferação do garimpo tem como factores de impulso, a falta de
oportunidades e/ou incentivos para desenvolver outras actividades de rendimento, a pobreza
absoluta, mão-de-obra desqualificada para ocupar postos trabalhos, entre outros determinantes.

Entretanto, em termos de organização, o trabalho obedece uma estrutura composta por:


introdução, onde estão inseridos os vários tópicos como a delimitação da pesquisa, a
justificativa, a problematização, os objectivos, as hipóteses; a revisão da literatura, que faz
alusão ao referencial bibliográfico relativo ao tema; a metodologias, que traz o enquadramento
da pesquisa, o método de abordagem, os procedimentos e técnicas de recolha e análise de

11
dados, a amostra e técnica de amostragem; resultados e discussão, parte do trabalho que traz
os resultados da pesquisa e faz comparação entre as várias sensibilidades sobre o problema; e
considerações finais, aborda sobre as considerações finais que é o espaço que faz menção aos
aspectos conclusivos do trabalho.

1.1.Problematização

O ser humano é capaz de extrair da natureza diversos tipos de minérios, para fabricar inúmeros
produtos e equipamentos que atendem a crescente demanda populacional.

A exploração mineira vem sendo uma das grandes actividade responsáveis pela evolução
tecnológica e humana, através da extracção, assim como no domínio e aplicação dos diversos
tipos minerais, o homem vem conseguindo fabricar, construir e desenvolver carros, aviões,
máquinas; prédios e edifícios cada vez maiores e resistentes; equipamentos electrónicos como
computadores, celulares, televisores e outras diversidades de produtos.

É do reconhecimento comum que a mineração é uma actividade que contribuiu de forma


significativa para desenvolvimento socioeconómico de uma determinada região, mas encontra
partida, esta actividade tem um impacto ambiental de gradativo significativo, pois a mineração
possui uma alta capacidade de alterar o meio ambiente natural, podendo afectar a produtividade
e a qualidade ambiental da área abrangida.

Oliveira (2006), considera o Impacto ambiental é qualquer alteração física ou funcional de


componentes ambientais. Essa alteração pode ser classificada, podendo ser favorável ao
ecossistema ou à sociedade. Alguns estudos nesta temática, observaram impactos visuais, como
a ausência da flora e da fauna, emissão de poeira, vibrações devido à detonação com explosivos,
além do ruído gerado por todo o processo para a obtenção do produto final, biológicos (por
exemplo, agua, e doenças transmitidas pela agua, infecções sexualmente transmissíveis),
biomecânicos (por exemplo, traumas, esforço excessivo), físicos (por exemplo, ruído, baixos
níveis de oxigénio) e perigos psicossociais (por exemplo, abuso de drogas, stress, fadiga).

CIP (2010), cita que muitos problemas ambientais desencadeados a partir da exploração ou
extracção do ouro estão directamente relacionados às técnicas e materiais introduzidos na
actividade, o que interfere directamente na eficácia ambiental, isso porque na maioria das vezes
os locais escolhidos para executar as actividades são áreas sensíveis que abrangem uma variada
diversidade ambiental.

12
Numa visão global, a exploração de recursos minerais é sinónimo de riqueza para os
promotores. Mas, o cenário que caracteriza os praticantes da actividade na Aldeia de Nassilapa
é totalmente contraditório a essa hipótese, onde é visível o desequilíbrio nas condições
socioecnómicas dos praticantes da actividade, e por outro lado, o nível da degradação ambiental
provocados por actividades da exploração do ouro na Aldeia de Nassipala é bastante acentuado
quando comparado com as áreas adjacentes. Assim, surge a necessidade de fazer uma análise
profunda do real impacto da actividade sobre a vida dos praticantes, quanto também, sobre o
equilíbrio ecológico da região. Assim, urge-se a necessidade de questionar nos seguintes
termos: Qual é o real impacto da mineração artesanal (garimpo) sobre o ambiente e para a
vida socioeconómica da população da Aldeia de Nassipala e sobre a área?

1.2.Objectivos

1.2.1. Objectivo geral:


 Face ao problema proposto e com o propósito de dar um contributo para a avaliação do
problema, pretende-se com este trabalho estudar os impactos socioambientais
decorrentes da exploração mineira do ouro através de práticas do garimpo na Aldeia de
Nassipala no Distrito de Namuno.

1.2.2. Objectivos Específicos:


 Caracterizar a actividade de mineração artesanal no que refere, aos recursos humanos,
materiais e tecnológicos aplicados, como também, o meio ambiente afectado pela
actividade.
 Identificar o contributo económico e social da actividade no seio da população local e
do distrito em geral;
 Identificar os efeitos adversos da actividade da mineração artesanal sobre componentes
ambientais e sobre a saúde dos praticantes da actividade;

1.3.Perguntas de pesquisa

 Quais são os recursos necessários para a prospecção, exploração e processamento do


ouro na Aldeia de Nassilapa?
 Quais são os indicadores do contributo económico e social para a população da Aldeia
de Nassilapa da exploração do ouro através da mineração artesanal (garimpo)?
 Quais são os indicadores dos efeitos adversos da exploração do ouro através da
mineração artesanal (garimpo) na Aldeia de Nassilapa no período de 2019 a 2021?

13
1.4.Justificativa

A escolha deste tema, deveu-se de que muitas áreas de exploração mineira após a sua extracção
têm sido abandonadas sem se quer ter sido feito a requalificação, fazendo com que haja muitas
zonas que foram abandonadas sem que tenham sido requalificadas, sendo que os conteúdos
relacionados com o meio ambiente que o planeta tem enfrentado em particular das empresas
Mineradoras em particular no nosso país estejam causando vários danos ambientais.

Há ainda, através desta pesquisa, a intenção de aprofundar em torno do real impacto que a
actividade da exploração do ouro tem na melhoria das condições de vida dos praticantes e dos
seus dependentes, pois a princípio, a actividade de exploração de metais preciosos como é o
caso do ouro, é uma das mais lucrativas, o que implica melhoria das mais básicas condições de
vida. Por outro lado, vários estudos comprovaram que a actividade mineira tem impactos
adversos sobre o ambiente, sendo acentuado para o caso da Aldeia de Nassilapa por falta de
programas de gestão ambiental concernentes a restauração das áreas afectadas.

Os resultados deste estudo terão um grande impacto na comunidade científica, pois, irá acrescer
o acervo bibliográfico com teses relativo ao real impacto que actividade da exploração do ouro
tem na vida da população e sobre o ambiente, despertando deste modo, a necessidade de uma
análise exaustiva dos problemas associados e o desenho de estratégias que sejam sustentáveis
em todas as dimensões.

Por outro lado, o estudo considera-se relevante porque poderá ajudar aos praticantes a
compreender melhor os impactos ambientais adjacentes a actividade de exploração do ouro
através do garimpo, assim como, despertar a necessidade de adoptar novos técnicas e métodos
de exploração do ouro que aumentar os rendimentos sem prejudicar as componentes da mãe
natureza.

1.5.Delimitação

 Dimensão espacial: Os dados da pesquisa foram recolhidos na Aldeia de Nassilapa,


Distrito de Namuno;
 Dimensão temporal: A análise incidiu-se sobre os dados referentes ao período de 2019
a 2021;
 Objecto do estudo: Impacto Socioambiental da Exploração Mineira do Ouro;
 Linha de pesquisa: Problemas ambientais do século XXI.

14
1.6.Limitações do estudo

O desenho deste estudo encarrou grandes dificuldades relacionados com a recolha de dados,
tendo afectado o período previsto para a redação da monografia. Dentre os factores limitantes
encarrados destacamos os seguintes:

 Indisponibilidade em responder o questionário ou a entrevista, tendo prolongado o


período da recolha de dados;
 Frequência em respostas como “não sei”, “não me lembro” em relação ao período de
análise.

Entretanto, para ultrapassar estes constrangimentos, desenhou-se as seguintes estratégias:

 Substituição de alguns elementos da amostra por outros dispostos a fornecer a


informação;
 Envolvimento de líderes comunitários ou outros membros efluentes na comunidade para
garantir segurança no acto da recolha de dados.

15
CAPÍTULO II

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este capítulo objectiva explorar o acervo bibliográfico disponível em torno tema “impacto
socioambiental da exploração mineira do ouro”, onde são abordados os seguintes aspectos:

 Actividade mineira e seus impactos;


 Mineração do ouro e sua importância;
 Desafios e perspectivas da mineração artesanal;
 Impactos da actividade mineira;
 Mineração artesanal em Moçambique

2.1. Actividade Mineira

Os recursos minerais constituem concentrações naturais de materiais sólidos, líquidos ou


gasosos, na superfície ou no interior da crosta terrestre, que possibilitam a extracção económica
de substâncias úteis como, rochas, minerais, compostos químicos ou elementos químicos, para
atender necessidades do homem. Desta forma, o termo pode ser empregado a todas as
substâncias minerais ou fósseis com valor económico no presente ou no futuro.

O anexo A da Lei no 20/2014 de 18 de Agosto – Lei de Minas, define a actividade mineira como
“operações que consistem no desenvolvimento, de forma conjunta ou isolada, de acções de
prospecção e pesquisa, desenvolvimento e extracção, processamento mineiro e comercialização
de produtos minerais”.

2.2.Impactos Socioambientais da Mineração

O cenário econômico mundial durante décadas teve grande participação de empresas e


empreendimentos em busca da exploração e beneficiamento de minerais, o que trouxe aos
pesquisadores e cientistas preocupação com as alterações no equilíbrio ecológico. Este cenário
tem sido mantido pelo crescimento populacional e urbanização que tem demandado por
commodities minerais, avançando as atividades minerárias, provocando impactos no ambiente
em grandes proporções.

16
Por muito tempo, a exploração de minérios ocorreu de forma não legalizada e os impactos
ambientais só eram conhecidos quando começavam a ser visíveis através da degradação da
paisagem nas áreas onde as jazidas minerais eram exploradas. Com as leis ambientais e órgãos
fiscalizadores cada vez mais atuantes, as questões ambientais têm sido mais priorizadas
resultando na “impossibilidade” de implantação de projectos ou discussão de planeamento sem
considerar o impacto ao meio ambiente. Embora acção de fiscalização ainda são necessárias
principalmente no sector da mineração onde explorações clandestinas ainda existem.

Portanto, é importante sublinhar que as actividades desenvolvidas pelo homem exerce


determinados impactos sobre o ambiente e, estes podem desencadear efeitos benéficos para o
homem e sobre o ambiente, mas em contrapartida, encontramos os efeitos adversos.

O impacto ambiental é, de acordo com o anexo III do Decreto no 54/2015 de 31 de Dezembro


“qualquer mudança do ambiente para o melhor ou pior, especialmente com efeitos no ar, na
terra, na água e na saúde das pessoas, resultante das actividades humanas”.

Por outra, O artigo 1º da Resolução CONAMA Nº 01 de 23 de janeiro de 1986, descreve o


impacto ambiental como:

“Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas


do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou
energia resultante de atividades humanas que, direta ou
indiretamente afetem:

a) A saúde, a segurança e o bem-estar da população;


b) As atividades sociais e econômicas;
c) A biota;
d) As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
e) A qualidade dos recursos ambientais”.

Os impactos ambientais da mineração são diversos e apresentam-se em diversas escalas: desde


problemas locais específicos até alterações biológicas, geomorfológicas, hídricas e atmosféricas
de grandes proporções. Portanto, conhecer esses problemas causados e a minimização de seus
efeitos é de grande necessidade para garantir a preservação dos ambientes naturais.

17
2.2.1. Impactos no Ar

As operações de mineração mobilizam quantidades de materiais e pilhas de resíduos em que


pequenas partículas sólidas se desprendem, formando nuvens de poeiras, facilmente dispersas
pelo vento, que comprometem a qualidade do ar. As principais fontes de poluição atmosférica
são:

 Matriz de partículas – dispersas pelo vento durante escavações, explosões, jateamento,


transporte de material e rejeitos, erosão eólica (em mineração a céu aberto);
 Emissão de gases – gerados durante a combustão de combustíveis, explosões e
processamento mineral. Na atmosfera, os poluentes podem causar sérios danos à saúde.
Fallis (2010), considera que as actividades de extracção, processamento, manuseio e
transporte produzem poluentes atmosféricos perigosos como metais pesados, monóxido
de carbono (CO), dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NOx). Por outro
lado, Opoku-Ware (2010), referem que o dióxido de enxofre e o metano liberados pela
queima de combustíveis fosseis, produzem gases com efeito estufa que podem levar a
mudanças climáticas. Na mineração de carvão, por exemplo, há liberação de cinzas
voláteis carregadas de gases de efeito estufa e produtos tóxicos e metano que é cerca de
20 vezes mais potente que o dióxido de carbono.

2.2.2. Impactos na Água

Com relação aos recursos hídricos, os impactos da mineração ocorrem, pelo menos, em três
níveis. Primeiramente, existe o elevado consumo de água; em segundo lugar, há problemas
associados à extração mineral em si, que pode levar ao rebaixamento do lençol freático e ao
comprometimento da recarga dos aquíferos; por fim, existe o risco de contaminação dos corpos
de água.

Há um consumo elevado de água no processamento minerário para a recuperação de metais,


limpeza, bombeamento, transporte, resfriamento, controle de poeira e necessidades dos
trabalhadores.

As atividades minerárias afetam e deterioram a qualidade da água principalmente pela descarga


no sistema de drenagem em superfície. Os impactos na água são divididos em categorias:

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 Químicas que afetam o pH, alterando a concentração de metais dissolvidos e compostos
sintéticos;
 Físicas que aumenta a concentração de sólidos em suspensão, causando turbidez e
adsorção de metais;
 Biológicas quando ocorre migração e morte de espécies, além de perturbar solos,
vegetação e fauna;
 Ecológico, alterações do habitat, bioacumulação de metais na cadeia alimentar, extinção
de espécies e produtividade primária reduzida.

Água de má qualidade além de afetar a saúde humana, pode aumentar a solubilidade de metais
pesados tornando as águas tóxicas, tornando inviável muitas formas de vida aquática. Por
exemplo, segundo Silva (2007), a mineração do Ouro produz rejeitos ricos em Arsênio (As),
sendo um dos impactos mais expressivos na atividade deste mineral.

2.2.3. Impactos no solo

A mineração envolve extracção de materiais e minérios na superfície terrestre, sendo


considerada a actividade que mais degrada a qualidade do solo. As rotinas das actividades de
mineração modificam a paisagem, expondo os solos a erosão além da lixiviação de
contaminantes afectar os solos. A mineração superficial, por exemplo, é a que mais degrada o
solo devido supressão da vegetação e abertura de cavas e construção de vias de acesso. Mechi
e Sanches (2010), sublinham que quando a camada superficial do solo, o topsoil, é removida
para as actividades mineradoras, o que significa remoção da camada mais fértil do solo,
remoção da vegetação, expondo os solos a processos erosivos, podendo ocorrer assoreamento
dos corpos de água do entorno, além de expor ao solo a contaminantes químicos.

Áreas com produção agrícola nas proximidades de mineradoras podem ser afetadas. Os riscos
ambientais se dão pela contaminação do solo pela poeira soprada pelo vento e pelos derrames
químicos e de resíduos.

2.2.4. Impactos na Biosfera

Geralmente, o impacto relacionado com a mudança na paisagem é característico para mineração


que ocorre a céu aberto. Milanez (s/d), explica que o processo da instalação inicia com a
desflorestação é da retirada da cobertura do solo da região a ser explorado. Como esse solo

19
normalmente possui baixo teor de minério, ele é contraditoriamente chamado de “estéril” pelas
mineradoras. Esse estéril é, então, acumulado em grandes pilhas.

A perda da biodiversidade é uma das maiores consequências das actividades de mineração,


devido a degradação da vegetação a qual é destruída para que a exploração seja iniciada. A
remoção da vegetação impacta na redução de alimentos e de abrigo para a vida selvagem. É
importante que a vegetação da área seja cuidadosamente catalogada para que as espécies
possam ser utilizadas na recuperação da área. A fauna também deve ser catalogada, fazendo o
controle de refúgio das espécies após destruição do seu habitat.

2.3.Mineração Artesanal do Ouro

A extração de minerais do solo tem sido destacada nos últimos anos como sendo um dos
indicadores chaves de desenvolvimento social e económico de qualquer país, por este sector
proporcionar maiores valores das receitas fiscais. Em Moçambique, o distrito de Manica é de
referência na ocorrência e extração de ouro aluviar, que atualmente é extraído na escala
industrial ou artesanal, Raso et al. (2022). A extração artesanal de ouro é caracterizada como
actividade garimpo, sendo a que mais contribui para a degradação do solo.

A mineração é considerada uma das atividades humanas que mais contribui para a alteração da
superfície terrestre, provocando expressivos impactos sobre a água, o ar, o solo, o subsolo e a
paisagem como um todo. A degradação é um processo inerente à atividade de mineração e sua
intensidade depende do volume explorado, do tipo de mineração e dos rejeitos produzidos,
Griffith (1980). Esta degradação de solo vem nos últimos anos comprometendo a prática de
agricultura que é a base de sobrevivência das comunidades arredores das áreas de exploração
mineral, no concernente a produção de produtos agrícolas para alimentar as famílias.

2.3.1. Importância do Ouro

O ouro é um dos metais existentes na terra com maior caráter de utilidade e isto deve-se as
características únicas e diferenciadoras que ele apresenta. De acordo com Denis (2021), o ouro
é um excelente condutor de eletricidade, não oxida, é muito fácil de trabalhar por ser maleável,
pode ser prensado e usado na forma de tubos ou arame, pode ser martelado em finas folhas e
usado em decoração de objetos, pode ser usado como liga com diversos metais, pode ser usado

20
em joalharia, tem uma cor e um brilho deslumbrante e, além de tudo isto, ainda é usado como
reserva de valor económico, ajudando a impulsionar as economias.

Denis (2021), sublinha que devido à significante importância do ouro e a sua extrema utilidade
na sociedade, como mostram os factos, nos mais diversos sectores e nas mais variadas áreas,
fez com que, o ouro desde sempre tenha desempenhado um papel de extrema importância no
sistema monetário mundial, que por sua vez, moldou o sistema social onde ele está inserido. As
moedas de ouro circulavam como meio de troca em muitos países, antes da introdução do
dinheiro atual, mantendo um vínculo explícito com o ouro.

2.4.Processos e Etapas da Extracção e Processamento do Ouro

O processamento mineral ou tratamento de minérios consiste de uma série de processos que


têm em vista a separação física dos minerais úteis da ganga (a parte do minério que não tem
interesse econômico e que é rejeitada) e a obtenção final de um concentrado, com um teor
elevado de minerais úteis. Os métodos utilizados podem ser físicos ou químicos e podem ser
divididos de forma aproximadamente sequencial em: Fragmentação primária, Granulação,
Moagem, Classificação (pode estar incluída entre os vários tipos de fragmentação e
concentração) e Concentração.

O produto obtido na fase final de concentração é o produto final da actividade de uma mina,
sendo vendido por um preço estabelecido de acordo, sobretudo mas não só, com o teor de metal
que contem.

Os minérios são indispensáveis para a manutenção da atividade industrial, tendo em vista que
produtos como automóveis, máquinas, tratores, cimento, entre outros, são fabricados a partir de
matérias-primas vindas dessa extração. De acordo com Damasceno (2017), o processo da a
extracção e processamento de minérios presentes no subsolo obedece as seguintes etapas:

 Lavra: a primeira etapa de mineração é a extracção propriamente dita, que pode ser
feita com escavadeiras, tratores que raspam a rocha ou explosivos, quando o minério se
encontra longe da superfície;
 Beneficiamento: etapa que consiste no transporte do material lavrado até a zona de
beneficiamento desse material, onde ocorre a primeira fase de separação do que é
economicamente viável do economicamente inviável;

21
 Estéril: durante a etapa de beneficiamento e separação do material alvo a ser
comercializado, o que sobra é denominado de estéril, que é a porção sem valor
econômico, geralmente empilhada/estocada nas proximidades da mina;
 Britagem: o minério bruto chega à usina em grandes blocos, que são quebrados em
máquinas de britagem. São várias as subetapas que envolvem a britagem; que esmagam
os pedaços de minério até eles ficarem com cerca de 2 centímetros de diâmetro, o
tamanho adequado para a separação;
 Separação: conforme o minério vai saindo da máquina de britagem, ele cai em uma
peneira (com telas de diferentes espessuras), que libera a passagem dos pedaços de até
2 centímetros e lança os maiores de volta à britadeira. O peneiramento é feito com jatos
de água, que ajudam a escoar e separar o que realmente interessa daquilo que não tem
valor econômico;
 Empilhadeira: depois de limpo, peneirado e separado por tamanho, o minério em grãos
segue para as empilhadeiras. Como o nome sugere, uma máquina com pás gigantes vai
descarregando o minério em pilhas, até formar uma verdadeira montanha de
armazenagem;
 Distribuição: etapa que consiste no transporte do minério da mina para outros pontos
de distribuição para serem comercializados.

2.5.Mineração Artesanal de Ouro em Moçambique

Como parte integrante do trabalho, pretende-se fazer uma abordagem sobre a Mineração
Artesanal ou de Pequena Escala (MAPE), não só no que diz respeito ao seu perfil, à legislação
mineira, mas também, no que diz respeito às características, impactos socioeconómicos e
ambientais.

Dos estudos preliminares que versam sobre a mineração artesanal em Moçambique, o maior
destaque vai para Dondeyne et. al. (2009) e Mauvilo (2011). Particularmente, ao segundo,
afirma-se que na região Austral de África, a MAPE está associada ao sector informal, isto é,
não regulada por Lei, descapitalizada e com operações menos equipadas, onde há falta de
capacidade técnica e de gestão, embora seja uma das actividades económicas alternativa da
agricultura e que emprega um número considerável de cidadãos.

Estima-se que, em muitos países da região da SADC, a MAPE contribui até 5% do PIB nos
respectivos países. No Zimbabwe e Tanzânia, por exemplo, os operadores mineiros artesanais

22
ou de pequena escala já chegaram a contribuir com cerca de 25% do total da produção de ouro
Drechsler (2001 apud Mauvilo, 2011).

Aliás, o epicentro e contextualização da mineração artesanal de ouro na África Austral, com


particular enfoque para Moçambique, ainda são controversos, pois para Dondeyne et. al (2009)
apud CIP (2010), são desconhecidas as datas exactas do começo da exploração e comércio de
ouro em Moçambique. Não obstante, sabe-se que aquela actividade socioeconómica é anterior
à chegada dos portugueses à Moçambique.

Partindo do pressuposto de que na era colonial a produção de ouro tinha atingido escalas
industriais, tendo baixado durante a [guerra civil] do pós-independência (1976-1992), pelo facto
de muitos garimpeiros se terem refugiado nos países vizinhos. Depois do seu regresso, com o
Acordo Geral de Paz (AGP), os garimpeiros retomaram o seu trabalho (Idem, 2010).

A este facto, Drechsler (2001) apud Mauvilo (2011) afirma categoricamente que, a procura de
ouro na parte arqueológica de Moçambique é reportada desde o tempo do Império de
Mwenemutapa (Século XIV), quando se extraía o ouro para comercialização com os árabes e
posteriormente com os portugueses.

Em Moçambique, estima-se que mais de cem mil pessoas, entre nacionais e estrangeiras,
estejam envolvidas no exercício de mineração artesanal, nalguns casos de forma ilegal e
clandestina, com maior incidência para as províncias de Manica, Tete, Zambézia, Niassa,
Nampula e Cabo Delgado, que apresentam alto potencial mineiro.3 Este facto constitui um
constrangimento para o aumento da contribuição da economia para o desenvolvimento
sustentável, o que significa que a existência desses operadores não é registada, ou as
quantidades da sua produção mineira e os seus negócios não estão registados.

2.6.Desafios e Perspectivas da Mineração Artesanal

Os governos, as elites e as empresas de mineração têm papel importantíssimo nesta inserção do


garimpeiro na economia formal. A coexistência entre empresas de mineração e garimpagem é
possível. De modo a desocupar a sua área de prospecção e evitar invasões, através de
treinamento, organização e investimento da empresa, os mineiros tiveram acesso às tecnologias
mais adequadas e limpas assim como às ideias de diversificação econômica como agricultura,
avicultura, etc, Davidson (1995).

23
O garimpo deve ser tratado, prioritariamente, utilizando conceitos de desenvolvimento
sustentável. Apesar da extração mineral não ser uma atividade sustentável pois o recurso natural
é exaurido, os conceitos de sustentabilidade aplicam-se perfeitamente na concepção e operação
mineral. Os aspectos econômicos, sociais e ambientais não podem ser divorciados. Os conceitos
de alto lucro em curto tempo e a qualquer preço devem dar lugar a métodos que gerem menos
efluentes e rejeitos, que desperdicem menos energia e que tragam benefícios econômicos que
possam gerar satisfação social aos trabalhadores e às comunidades envolvidas.

Em reunião em Londres (20.11.2001), promovida pelo projeto Mineração, Minerais e


Desenvolvimento Sustentável (MMSD), ficou evidenciado que o nível de produção de
conhecimento técnico dos mineiros artesanais da América Latina, África, Indonésia, China e
Filipinas são bastante diferentes e qualquer introdução de novas tecnologias deve ser embasada
em aspectos regionais. Também ficou claro pelo depoimento de 45 delegados de várias partes
do mundo que muito pouco tem sido feito para buscar soluções e novos métodos menos
poluentes para o setor de mineração artesanal. A maior parte das iniciativas são de
monitoramento humano e ambiental.

24
CAPÍTULO III

3. METODOLOGIA

É na metodologia onde procurou-se mostrar (como? onde? com que?) como foi executada a
pesquisa.

Assim, o presente capítulo tem por objectivo apresentar o percurso metodológico aplicado para
o alcance dos resultados esperados e, consequentemente os objectivos definidos. Portanto,
constam nesta secção, conteúdo relativo:
 A classificação da pesquisa;
 Método de abordagem da pesquisa;
 Técnicas e procedimentos de recolha de dados e de análise de dados;
 Técnicas de amostragem e definição da amostra;

3.1.Classificação da Pesquisa
3.1.1. Quanto aos Objectivos

A definição dos objectivos do presente trabalho foi na perspectiva de aprofundar e explorar ao


detalhe o estudo dos impactos socioambientais da actividade da exploração mineira do ouro na
Aldeia de Nassipala. Assim, a pesquisa do tipo exploratória é a que mais se adequa para o
alcance dos objectivos. Na perspectiva Gil (1991, p.127), a pesquisa exploratória é aquela que:

“Caracteriza-se pela imersão sistemática na literatura disponível


acerca do problema, na pesquisa acção, esta fase privilegia o
contacto directo com o campo em que está desenvolvida. Isto
implica reconhecimento visual do local, consulta de documentos e
sobretudo a discussão com representantes das categorias sociais
envolvidas na pesquisa”.

Gil, acrescenta ainda que, o carácter deste tipo de pesquisa objectiva proporcionar maior
familiaridade com o problema, com vista a torná-lo mais explícito. Podendo envolver
levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisa.

Em outra vertente, a pesquisa espelha carácter explicativa, porque, tem detém de directrizes que
procuram dar elucidar os procedimentos e processos em torno da actividade da exploração
mineira do ouro. Para Gil (2010 apud Prodanov, 2013, p. 63), a pesquisa explicativa procura
explicar os porquês das coisas e suas causas, por meio do registro, da análise, da classificação

25
e da interpretação dos fenômenos observados. Visa a identificar os fatores que determinam ou
contribuem para a ocorrência dos fenômenos; “aprofunda o conhecimento da realidade porque
explica a razão, o porquê das coisas.

3.1.2. Quanto a Abordagem

Quanto a abordagem é pesquisa qualitativa. A escolha desta abordagem deve-se ao facto de


estudar um problema que pode ter uma adversidade de opiniões na sua análise e, também, pelo
facto de permitir maior liberdade na discussão dos factos.

Prodanov (2013, p. 70), explica que na abordagem qualitativa, a pesquisa tem o ambiente como
fonte direta dos dados. O pesquisador mantém contato direto com o ambiente e o objeto de
estudo em questão, necessitando de um trabalho mais intensivo de campo. Nesse caso, as
questões são estudadas no ambiente em que elas se apresentam sem qualquer manipulação
intencional do pesquisador.

3.1.3. Quanto a Natureza

Quanto a natureza dos resultados desta pesquisa, classifica-se como aplicada, pois, perspectiva-
se que a mesma possa ter um contributo na clarificação dos impactos associados a actividade
da exploração mineira do ouro, como também, a sua empregabilidade na análise crítica e
desenho de estratégias do desenvolvimento da actividade com atenção especial à
sustentabilidade socioambiental.

A modalidade da pesquisa aplicada é caracterizada por Gerhardt & Silveira (2009, p.35), como
a modalidade que objectiva produzir conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução
de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais.

3.1.4. Quanto aos Procedimentos Técnicos

De acordo com Gil (2008, p.15), os procedimentos técnicos têm por objectivo proporcionar ao
investigador os meios técnicos, para garantir a objectividade e a precisão no estudo dos fatos
sociais. Mais especificamente, visam a fornecer a orientação necessária à realização da pesquisa
social, em especial no que diz respeito à obtenção, ao processamento e à validação dos dados
pertinentes à problemática objecto da investigação realizada.

26
3.1.5. Pesquisa Bibliográfica

Durante a pesquisa foi necessário explorar uma vasta gama de acervo bibliográfico, com
objectivo de tornar explícito a temática em questão, é por isso, que a pesquisa tem a
particularidade bibliográfica. Entretanto, o processo consistiu na consulta de manuais, obras
para procurar uma orientação, por outro lado, a consulta de manuais, obras bibliográficas e
outras fontes escrita visava confrontar a teoria e a realidade no campo.

O método bibliográfico nesta pesquisa foi o primeiro a ser implementado antes dos outros
métodos na medida em que este nos deu as bases do que já está escrito sobre o tema e encontra-
se patente no índice do marco teórico. Isto não para por aqui porque sempre durante a pesquisa
apoiou-se em obras bibliográficas para satisfazer a necessidade o que for preciso na hora para
enriquecer ainda a pesquisa de informações.

Para Chiara & Kaimen, et al. (2008):

"A pesquisa bibliográfica é então feita com o intuito de levantar um


conhecimento disponível sobre teorias, a fim de analisar, produzir
ou explicar um objecto sendo investigado. A pesquisa bibliográfica
visa então analisar as principais teorias de um tema, e pode ser
realizada com diferentes finalidades." (p.210).

3.1.6. Estudo de Caso

Este método foi exactamente o estudo de campo, por este ter consistido em aprofundar os
problemas que estão relacionados com o tema em causa, que é em torno do “Impacto
Socioambiental da Exploração Mineira do Ouro no Distrito de Namuno: Caso do Garimpo
na Aldeia de Nassilapa – Namuno”, recorrendo a observação directa das actividades da
mineração e os problemas gerados, onde é acompanhado com diário de notas e formulários para
entrevistas assim como questionário para colher de forma exaustiva as informações.

De acordo com Gil (2007, cit. por Gerhardt & Silveira, 2009), o estudo de caso é amplamente
usada nas ciências biomédicas e sociais, onde explica que:

“Um estudo de caso pode ser caracterizado como um estudo de uma


entidade bem definida como um programa, uma instituição, um
sistema educativo, uma pessoa, ou uma unidade social. Visa
conhecer em profundidade o como e o porquê de uma determinada
situação que se supõe ser única em muitos aspectos, procurando

27
descobrir o que há nela de mais essencial e característico. O
pesquisador não pretende intervir sobre o objeto a ser estudado, mas
revelá-lo tal como ele o percebe”. (p.39)

3.2.Método de Abordagem

O método de abordagem usado é indutivo, por este permitir uma análise mais aberta dos factos
e podendo relaciona-las com causas locais. Este método facilita o trabalho na medida em que a
área abrangida é maior pelo facto foram abrangidas as áreas que já foram recuperadas assim
como áreas baldios e depois os resultados serão generalizados.

É um método responsável pela generalização, isto é, partimos de algo particular para uma
questão mais ampla, mais geral. Para Lakatos e Marconi (2007), a indução é:

“Um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados


particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade
geral ou universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o
objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo
conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se
basearam”. (p. 86).

O método é recomendado para estudos que procuram generalizar os factos, onde Lakatos &
Marconi (1982 apud Richardson, 2017, p.28), sugerem do método com observância a três fases,
como forma de evitar inconformidades durante o processo da condução da pesquisa:

1. Certificar-se de que é essencial a relação que se pretende generalizar;


2. Assegurar-se de que sejam idênticos os fenômenos ou factos dos quais se pretende
generalizar uma relação;
3. Não perder de vista o aspecto quantitativo dos factos, impõe-se essa regra, já que a
ciência é essencialmente quantitativa.

Assim, para o aprofundamento do objecto do estudo “impactos socioambientais da exploração


mineira do ouro”, foi necessário formular o problema, definir questões de pesquisa, explorar o
referencial teórico e, por fim, possibilitar a avaliação crítica generalizada.

3.2.1. Método Estatístico

O papel do método estatístico é, essencialmente, possibilitar uma descrição quantitativa da


sociedade, considerada como um todo organizado.

28
Conforme Gil (2008, p. 17), “este método se fundamenta na aplicação da teoria estatística da
probabilidade e constitui importante auxílio para a investigação em ciências sociais”. Devemos
considerar, no entanto, que as explicações obtidas mediante a utilização do método estatístico
não devem ser consideradas absolutamente verdadeiras, mas portadoras de boa probabilidade
de serem verdadeiras.

3.3. Técnicas de Recolha de Dados

Para a realização desta monografia o autor apoiou-se de várias técnicas e instrumentos para a
realização desta pesquisa tendo usado as seguintes: A observação, entrevista e inquérito foram
usadas para apurar a veracidade dos factos assim como na recolha e dados.

3.3.1. Observação

Observar é, conforme Cervo & Bervian (2002):

Aplicar atentamente os sentidos físicos a um amplo objeto, para dele


adquirir um conhecimento claro e preciso”. Para esses autores, a
observação é vital para o estudo da realidade e de suas leis. Sem ela,
o estudo seria reduzido a “[...] à simples conjetura e simples
adivinhação”. (p. 27).

Para facilitar a recolha de dados foram usadas várias técnicas e cada um deles foi aplicado de
acordo com a situação, isto permitiu a recolha de dados com facilidades e segura. Esta técnica
permitiu que o pesquisador se familiarize com a situação do local, podendo assim viver de perto
a situação em questão a degradação pela acção mineira. Com ajuda ao diário de campo e a
câmara fotográfica, foi possível recolher e registar todo o itinerário técnico da exploração do
ouro na Aldeia de Nassilapa.

Dentre das várias modalidades da observação disponíveis, a observação directa foi a mais
apropriada por garantir melhor interação com o ambiente estudado. A observação directa.

É descrita por Chizzoti (2001), como a modalidade que ocorre por meio de contacto directo
de investigador com o fenómeno observado para detectar as acções dos actores no seu
contexto natural, considerando sua perspectiva e seus pontos de vista.

29
3.3.2. Questionário

O questionário foi aplicado a direcção do SIDAE do distrito de Namuno, cujo objectivo foi de
perceber o tratamento da temática ou do problema ao nível das autoridades distritais, como
sendo esta entidade que regula e acompanha o desenvolvimento das actividades económicas.
Assim, foi sujeito a entrevista, o chefe da repartição do licenciamento e fiscalização das
actividades económicas.

O questionário é, de acordo Gerhardt & Silveira, (2009, p.69), um instrumento de recolha de


dados constituído por uma série sequenciada de perguntas que devem ser respondidas por
escrito pelo informante, sem a presença do pesquisador. Objectiva levantar opiniões, crenças,
sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas.

A escolha do método deveu-se seguintes vantagens:


 Economiza tempo e viagens e obtém grande número de dados.
 Economiza pessoal, tanto em treinamento quanto em trabalho de campo.
 Obtém respostas mais rápidas e mais precisas.
 Propicia maior liberdade nas respostas, em razão do anonimato.
 Dá mais segurança, pelo facto de suas respostas não serem identificadas.
 Expõe a menos riscos de distorções, pela não influência do pesquisador.
 Dá mais tempo para responder, e em hora mais favorável.
 Obtém respostas que materialmente seriam inacessíveis.

3.3.3. Entrevista

Esta técnica foi direccionada aos exploradores da mineração do ouro na Aldeia de Nassilapa. A
escolha desta técnica foi por motivo da mesma permitir a recolha de dados a qualquer indivíduo,
independentemente do seu nível académico ou do nível de conhecimento e/ou informação
relativo ao tema estudado. Forneceram por via deste critério técnico, 40 garimpeiros actuantes
na mina de Nassilapa.

A entrevista é descrita por Gerhardt & Silveira, (2009), como:

“Técnica alternativa para se colecta de dados não documentados


sobre determinado tema. É uma técnica de interação social, uma
forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca obter
dados, e a outra se apresenta como fonte de informação. A entrevista

30
pode ter carácter exploratório ou ser uma colecta de informações. A
de caráter exploratório é relativamente estruturada; já a de colecta
de informações é altamente estruturada”. (p.72).

Para o caso particular deste estudo, a entrevista estruturada permitiu maior enquadramento na
natureza dos dados pretendidos. Gerhardt & Silveira, (2009), sublinha que a entrevista segue-
se um roteiro previamente estabelecido, as perguntas são predeterminadas, sendo que o
objectivo é obter diferentes respostas à mesma pergunta, possibilitando que sejam comparadas.
O entrevistador não tem liberdade.

Portanto, a escolha da técnica foi por motivo desta, não permitir maiores desvios na temática
em causa, isto é, enquadrar as questões e as respostas dentro do problema estudado,
perspectivando o alcance dos resultados previamente estabelecidos.

3.4. Técnicas de Análise de Dados

Quanto ao tratamento dos dados ou informação empregou-se a técnica de análise de conteúdo


que é uma técnica usualmente adoptado nas ciências sociais, cujo permite adoptar um
mecanismo científico de interpretação do conteúdo de muitas comunicações, enriquecendo a
leitura e realçando aspectos importantes, através da desmontagem de um discurso e da produção
de um novo discurso.

Bardin (1977, p. 42) conceitua análise de conteúdo como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a


obter, por procedimentos, sistemáticos e objectivos de descrição do
conteúdo de mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que
permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.

Para auxiliar a análise de conteúdo foi usado o método estatístico, cujo permitiu ou ajudou a
fazer análise e interpretação dos dados recolhidos e representar em tabelas e gráficos, e tomada
de decisões ou generalização das características tiradas na amostra, para todo o conjunto das
unidades. Marconi & Lakatos (2011, p.93), consideram que os processos estatísticos permitem
obter, de conjuntos complexos, representações simples e constatar, se essas verificações
simplificadas têm relações entre si.

31
3.5. Universo e Amostra da Pesquisa

O universo desta pesquisa é constituído por cerca de aproximadamente 3000 garimpeiros e três
funcionários afectos na repartição de do licenciamento e fiscalização das actividades
económicas.

Do universo, foram selecionados 41 indivíduos para constituir a amostra da pesquisa, onde 1


(um) é o chefe da repartição do licenciamento e fiscalização das actividades económicas, e, 40
(quarenta) são garimpeiros do ouro na mina da Aldeia de Nassilapa.

Para este estudo, o tipo de amostragem aplicado é a probabilística casual simples, pelo facto
dos elementos pesquisados serem a partir da selecção do universo com a perspectiva de todos
participarem o estudo, salienta Lakatos & Marconi (2003, p:223) e pelo facto desta “ser
eficiente e pratico na sua aplicação devido a possibilidade de compensar os erros amostrais”.

32
CAPÍTULO IV

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente capítulo traz informação relativo aos dados recolhidos no campo do estudo, seguida
da sua interpretação e discussão. Portanto, são abordados neste capítulo informações seguintes:

 Caracterização da população amostral;


 Apresentação de dados relativos a técnica de observação;
 Apresentação e interpretação dos resultados da entrevista;
 Apresentação e interpretação dos resultados do questionário;
 Discussão dos resultados.

4.1.Caracterização da amostra

A caracterização da amostra visa trazer os mais básicos atributos da população estudado, cujos
podem ter uma influência no fornecimento da informação e na sua análise. Assim, fazem parte
da caracterização aspectos relativos, ao género, a idade, ao nível de escolaridade e a profissão.

4.1.1. Género

Historicamente, a actividade da mineração esteve encarregue simplesmente aos homens, mas


com o despertar da emancipação da mulher, esta vem ganhando espaço na actividade. Para a
presente pesquisa, observou-se a questão do género, com objectivo de ampliar o campo de
análise.

Gráfico 1: Relação do género da amostra

Relação do género

Mulheres
Mulheres
41% Homens
Homens
59%

Fonte: Autor (2022)

33
Em relação ao critério do género, não foi possível obter a questão da paridade, pois as mulheres
não participam em toda cadeia da mineração do ouro e, por estarem em minoria em torno dos
20% na contagem geral.

4.1.2. Idade

Para garantir a qualidade no fornecimento da informação na entrevista e questionário,


estabeleceu-se uma margem no critério idade, sendo de 18 a 50 anos, o intervalo escolhido.

Gráfico 2: Relação da faixa etária da amostra.

Relação da faixa etária


20

15

10

0
Relação da faixa etária 7 13 17 4

Fonte: Autor (2022)

O gráfico mostra claramente que há forte domínio do intervalo dos 26 a 45 anos de idade, que
pode ser motivado por ser uma faixa etária com uma acrescida capacidade de produção e
responsabilidade.

4.1.3. Profissão

Gráfico 3: Profissão ou actividade principal dos envolvidos.

Profissão ou actividade principal

7%

17% 3%

7%

66%

Fonte: Autor (2022)

34
Do gráfico acima pode-se perceber que há forte dependência na actividade da exploração
mineira do ouro através do garimpo. A consideração das outras actividades como agricultura
não tem forte concorrência em detrimento da mineração.

4.1.4. Nível de escolaridade

Gráfico 4: Relação do nível de escolaridade


Secundário
do 2o
Nível de escolaridade
Ciclo/Médi
o Superior
profissional 2%
12% Sem
formação
acadêmica
34%
Secundário/
Profissional
20% Primário
32%

Fonte: Autor (2022)

Da amostra estudada, pode-se considerar que o nível de escolaridade dos participantes na


actividade do garimpo não é satisfatório para perceber algumas dinâmicas da vida social, como
pode-se ver que cerca de 34% não têm um nível acadêmico, seguido uma margem larga dos
que tem o nível primário. Sublinhar que, os 2% do nível superior é referente a participação do
chefe da repartição do licenciamento e fiscalização das actividades económicas.

4.2.Questionário ao Chefe da Repartição do Licenciamento e Fiscalização das Actividades


Económicas.

Pergunta 1: Reconhece a existência da actividade da exploração mineira do ouro na aldeia de


Nassipala?

Reagindo a pergunta, o visado fez referência que é do conhecimento do sector que dirige e do
governo distrital a existência da actividade da exploração mineira do ouro na aldeia de
Nassipala, A actividade tem merecido a devida atenção na agenda de governação pelo impacto
que exerce sobre o ambiente, como também, a forte dependência das comunidades nos recursos
existente.

35
Pergunta 2: Há legalidade para o exercício da actividade da exploração mineira do ouro
naquela aldeia?

Ao nível do Governo do Distrito de Namuno não existe algum registo do processo jurídico e/ou
administrativo para exercício da actividade de mineração por garimpo na aldeia Nassipala,
sendo considerada como actividade ilegal. Acrescenta ainda, que não existe algum
enquadramento legal para a actividade.

Assim, o cenário da exploração mineira do ouro na Aldeia de Nassipala – Namuno pode-se


considerar diferente das actividades mineiras de médio e grande porte em termos dos requisitos
legais. Portanto, a actividade em causa não se encontra licenciada em termos jurídicos e legais,
isto é, os dispositivos básicos como, o DUAT, o alvará, a licença ambiental, o projecto ou plano
de exploração não existem para o exercício da actividade.

Pergunta 3: Existem ao nível do governo distrital, planos, programas ou outros mecanismos


previstos na lei que regulam e/ou controlam as diferentes actividades desenvolvidas tendo em
conta o alcance da sustentabilidade socioambiental na mina da aldeia Nassipala?

O governo distrital através dos Serviços Distritais das Actividades Económicas, promove a
implementação do programa da Unidade do Processo de Kimberley, cujo objectivo é
estabelecer o controlo e/ou fiscalização do processo produtivo e comercialização dos minérios
extraídos. São desenvolvidas ainda, programas para promover a exploração mineira através das
associações de forma a permitir melhor gestão do processo produtivo e da comercialização do
produto extraído. São desenvolvidas também, actividades de orientação das comunidades para
criação das acções para posterior obter senhas mineiras através dos serviços provinciais.

Pergunta 4: Qual é o contributo económico da actividade de exploração mineira do ouro para


o estado e/ou governo distrital e a população local?

Dos cerca de 3 mil garimpeiros que exercem a actividade da mineração do ouro na Aldeia de
Nassipala, apenas 20 encontram-se filiados na Associação Mineira de Ntive, os quais
contribuem com a taxa de 66.00 MT (sessenta e seis meticais) por cada membro da associação
por mês canalizando para os cofres do estado.

36
Para a população local existe um contributo na sua vida social, embora não haja números
específicos sobre o real contributo para a população local, há sinais da existência de um impacto
significativo nas mais básicas condições de vida da população local, onde pode-se destacar:
 Melhoria nas condições de habitação, onde há tendência de existência de moradias
convencionais;
 Aquisição de meios de transporte, onde destaca-se motorizadas e bicicletas;
 Assistência alimentícia dos seus dependentes;
 Garantia de despesas médicas.

Está claro na vertente económica, que o estado praticamente não arrecada grandes tributos pelo
facto de a maioria dos garimpeiros serem ilegais ou não estarem filiados em associações. Por
outro, o governo local não é capaz de controlar o processo da venda e compra do ouro extraído.

Pergunta 5: Quais são os impactos (efeitos) negativos da actividade de exploração mineira do


ouro para a vertente socioambiental?

Em relação a questão, o entrevistado referenciou a existência de impactos adversos nas


dimensões sociais e ambientais. Com relação a primeira, sublinhar a ocorrência de doenças
respiratórias e fraco interesse na ingressão ou progressão no sistema de ensino e aprendizagem,
conflitos de terras, descriminação no desenvolvimento de outras actividades de rendimento,
como é o caso da agricultura. Para a segunda categoria, relatou-se:
 Solo: degradação da paisagem natural, destruição da flora e fauna, erosão acentuada dos
solos;
 Água: consumo excessivo de água, poluição das águas rio Ntive pela lama e pelo
mercúrio usado na segregação do ouro;
 Ar atmosférico: poluição do ar durante as escavações;

Pergunta 6: Existe algum trabalho desencadeado ao nível distrital para garantir a


sustentabilidade da actividade do garimpo ao nível da aldeia de Nassipala?

O entrevistado, clarificou o problema da mineração do ouro através do garimpo é reconhecido


e dado especial atenção e tratamento das autoridades distritais, pelo que várias acções são
desenvolvidas em prol da sustentabilidade da actividade, com destaque para:

37
Educação ambiental: os serviços distritais têm desenvolvido trabalho de formação e
sensibilização dos garimpeiros em práticas sustentáveis da mineração sem prejuízo ao meio
ambiente. Há que destacar o apoio da organização Médicos Mundiais, no alerta dos perigos da
actividade sobre a saúde dos garimpeiros e sobre os ecossistemas em volta.

Promoção das associações: trata-se de um grande desafio para o governo local, pois olha-se
para as associações como a forma mais próxima da legalidade de desenvolver a actividade de
mineração de pequena escala.

4.3.Entrevista aos Garimpeiros

Pergunta 1: Há quanto tempo é praticante da actividade do garimpo do ouro na aldeia de


Nassipala?

A relação do tempo do desenvolvimento da actividade da mineração do ouro através do garimpo


pode ser remir no gráfico 5.

Gráfico 5: Tempo efectivo no exercício da actividade da mineração do ouro

Tempo efectivo na actividade do garimpo


Mais de 12
anos
15%
Menos de 3 Menos de 3 anos
anos
9 - 12 anos 32% 4 - 8 anos
28% 9 - 12 anos
Mais de 12 anos

4 - 8 anos
25%

Fonte: Autor (2022)

Partindo do pressuposto de que a actividade da mineração do ouro através do garimpo teve o


seu início entre os anos de 2009 e 2010, pode-se perceber a partir dos dados do gráfico a
tendência crescente do exercício da actividade, isto porque, a maior parte dos envolvidos têm
menor tempo praticando esta actividade.

Pergunta 2: Quais foram os procedimentos legais (jurídicos) e administrativos necessários para


o exercício da actividade?

38
A percepção das questões jurídicas e administrativas para o exercício da actividade por parte
dos garimpeiros é resumida no gráfico 6.

Gráfico 6: Aspectos jurídicos e administrativos para o exercício da actividade

Procedimentos legais para a actividade


Não
necessidade -
Filiação na
a terra é nossa
associação
23%
para obtenção
de senhas
5%
Não tenho
dispositivo
legal para
actividade
72%

Fonte: Autor (2022)

Percebe-se que as questões legais para exercício da actividade não está nos planos da maioria
que exerce a actividade do garimpo de ouro, com um cumulativo de 95%. O cenário mostra
claramente o fraco estabelecimento das estratégias para motivar o licenciamento da actividade
por parte das entidades competentes.

Pergunta 3: Que motivações o/a levaram para desenvolver esta actividade em detrimento das
outras?

O gráfico 7 descreve as motivações da população a aderir no desenvolvimento da actividade do


garimpo.

Gráfico 7: Motivações para o exercício da actividade

Motivações para abraçar a actividade


Outras Retornos
motivações monetários
Erguer
habitação 13% rápidos
condigna 20%
18%
Necessidad O ouro tem
e de muito valor
adquirir 22%
meio de
transporte
27%
Fonte: Autor (2022)

39
Da informação constante no gráfico 7, pode-se apurar que o alto envolvimento da população na
exploração mineira do ouro através do garimpo tem haver com as motivações sociais, onde
nota-se que a intenção dos praticantes da actividade do garimpo é resolver as mais básicas
condições de vida, com realce para habitação e meios de transporte.

Pergunta 4: Durante os últimos 3 anos, quais são os ganhos socioeconómicos oriundos da


actividade do garimpo do ouro?
Com relação a parte económica, a reacção pode ser descrita no gráfico 8.

Gráfico 8: Contributo económico da exploração mineira do ouro

Ganhos económicos em 3 anos de actividade


Mais de 300 Menos de
mil MT 100 mil MT
18% 10%
200 mil - 300
100 mil - 200
mil MT
mil MT
27%
45%

Fonte: Autor (2022)

Analisando atentamente os dados do gráfico, entende-se que os ganhos médios da actividade


do garimpo rondam em 65 mil meticais por ano, o que corresponde aproximadamente a uma
média de 194 mil MT no período de 3 anos.

Na vertente das condições sociais, há focos de melhoria das condições de vida, onde se destaca:

 A construção de moradias condignas ou melhoradas;


 Assistência médica tradicional ou convencional;
 Aquisição de meios de transportes (viaturas, motociclos e pedeciclos);
 Aquisição de bens alimentícios;

Pergunta 5: Conhece ou ouviu falar sobre os impactos socioambientais (efeitos) negativos do


garimpo do ouro na aldeia de Nassipala?

Pretendia-se com a questão apurar o nível de conhecimento dos impactos no seio dos
garimpeiros, conforme o gráfico 9.

40
Gráfico 9: Percepção dos impactos socioambientais.

Percepção dos impactos socioambientais


Indiferentes
com a
pergunta
20%

Não conheço
os impactos
Tenho noção
47%
dos impactos
33%

Fonte: Autor (2022)

Do gráfico 9 pode-se apurar que a percepção da existência dos impactos socioambientais ao


nível dos garimpeiros é relativamente baixa, onde um cumulativo de 67% dos entrevistados,
estão entre os que desconhecem ou são indiferentes perante a pergunta.

Dos cerca de 33% que reagiram de forma positiva a questão, destacaram a existência dos
seguintes impactos negativos:

 Sociais: ocorrência de doenças respiratórias, dores musculares pelas longas jornadas de


trabalho e grande esforço físico, disputa de terra entre garimpeiros, desvalorização da
prática de outras actividades económicas;
 Ambientais: de forma geral, sublinhou-se a ocorrência da alteração da paisagem
natural, poluição ambiental e erosão dos solos.

Pergunta 6: Que formas ou estratégias a implementar para maximizar os benefícios e


minimizar os efeitos negativos da actividade de mineração do ouro através do garimpo?

Em relação a esta pergunta, muitos informantes (89.3%) revelaram o não conhecimento de


práticas adaptativas ou estratégias que possam minimizar os efeitos nefastos da mineração do
ouro através do garimpo. O outro grupo, embora em minoria (10.7%), destacou a existência de
orientações técnicas através com vista a minimizar efeitos da mineração.

4.4.Processo Mineração do Ouro

Da observação realizada in situ foi possível descrever os processos e procedimentos usados na


cadeia da exploração do ouro na aldeia de Nassilapa. De referir que o processo da extracção do

41
ouro na parcela em referência tem carácter rudimentar, isto é, a força humana é o mecanismo
chave para as operações da extracção, recorrendo a instrumentos manuais como, as picaretas,
pás, enxadas, carinhas de mão, sacos, entre outros. As etapas da mineração resumem-se em:

Limpeza da área: trata-se das actividades que visam a limpeza da área, que consistem na
retirada da vegetação presente na área seleccionada para exploração. Por outro lado, a limpeza
inclui a remoção do solo superficial até ao alcance da camada ou rocha desejada.

Figura 1: Limpeza da área seleccionada para extracção

Extracção do solo ou rocha: é o processo da retirada da camada do solo ou da camada rochosa


a partir do solo. Esta actividade é especificamente encarregue aos homens, recorrendo a
instrumentos manuais como, as picaretas, pás, enxadas, carinhas de mão e sacos.

Figura 2: Extracção da camada ou da rocha

Britagem da pedra: A britagem da pedra visa reduzir o tamanho e facilitar a moagem da


mesma, que geralmente dura 45 minutos na moageira.

42
Figura 3: Britagem da rocha

Moagem da pedra: é o processo da redução da brita ou do solo para dimensões ínfimas


equiparado ao pó. Este processo é facilitado por uma moageira manual.

Figura 4: Moageira da brita

Processo de lavagem: Procedimento que retira o pó presente na rocha moída com base na
água, onde a mistura é posteriormente filtrada através de panos de algodão ou sacos de sisal.

Segregação do ouro: trata-se de mecanismo de concentração do ouro, onde geralmente o


mercúrio é usado como o agente e aglutinador.

4.5.Discussão dos Resultados

Os resultados do estudo revelaram que os recursos e práticas envolvidas na pesquisa,


prospecção, exploração do ouro na Aldeia de Nassilapa são as mais tradicionais, isto é,
os conhecimentos e práticas desenvolvidas passam de geração para geração. Portanto, está
evidente que os praticantes não adoptam iniciativas de inovação ou do desenvolvimento

43
tecnológico actual. O desenvolvimento da actividade com as características acima arroladas,
pode-se justificar por um rol de factores relacionados com as características da amostra já
apresentadas nos capítulos anteriores, como: o baixo nível de escolaridade, o qual impacta
directamente na compreensão da dinâmica da mineração ao nível do mundo; a fraca
capacidade financeira e técnica, tendo uma influência maior sobre a produtividade e
rentabilidade da actividade, conforme descreveram Dondeyne et. al. (2009) e Mauvilo (2011).

Em relação aos indicadores do contributo económico da actividade de mineração do ouro


através da actividade do garimpo pode-se considerar nulo para o estado, isto porque, a falta
da regulamentação do sector em relação aos aspectos jurídicos e administrativos não
favorecem a arrecadação dos diversos impostos previstos na legislação moçambicana. Por
outro lado, a fraca capacidade administrativa das entidades competentes em estabelecer duras
medidas para os promotores da mineração ilegal. Portanto, assiste-se a tendência crescente do
desenvolvimento do garimpo ilegal por falta incentivos e oportunidades para desenvolvimento
de outras actividades de rendimento. Dondeyne et. al. (2009) e Mauvilo (2011), sublinham
que a falta da organização do sector da mineração de pequena escala é o grande impasse
para que tenha um contributo relevante no PIB de Moçambique.

No que toca ao contributo na vida social para a população da aldeia de Nassilapa, há que destacar
a melhoria das mais básicas condições de vida, sendo o factor motivador para maior aderência
e concorrência da população residente e provindos de outros cantos do país e da região.
Entretanto, as possibilidades que os intervenientes têm para suprir as despesas com a
construção de habitações, assistência alimentícia e médicas dos seus dependentes, aquisição
de meios de circulação e/ou de transporte de pessoas e bens, perfilam como indicadores da
melhoria da vida social dos intervenientes e, como factores determinantes para descriminação
do desenvolvimento de variadas actividades de rendimento na região.

Embora não haja uma valoração dos impactos adversos da actividade do garimpo na Aldeia
de Nassilapa, vale sublimar os visíveis a olho nú, como: destruição da flora e fauna local
da área afectada, pela erosão acentuada dos solos e das margens do rio, desvalorização da área
explorada pela ausência de práticas de recuperação das áreas degradadas ou de planos de
gestão ambiental. Em relação a este cenário, não previsão da reversão, pois, ao nível das
entidades governamentais não há indicadores a médio e longo prazo que possam tornar a
actividade do garimpo legal e mais organizada, permitindo deste modo, o desenvolvimento e
estabelecimento de estratégias de minimização dos impactos adversos da actividade.

44
CAPÍTULO V

5. CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como pano do fundo a análise dos pressupostos em torno do real
impacto que a actividade da exploração mineira do ouro através do garimpo na aldeia de
Nassilapa. Portanto, o propósito partiu do pressuposto de não existirem evidências
documentadas do real impacto que a actividade do garimpo incide na vida socioeconómica dos
praticantes e seus dependentes.

A actividade da exploração mineira do ouro através das práticas do garimpo tem característica
rudimentar, ou seja, as práticas e/ou técnicas desenvolvidas para extracção do ouro são as mais
tradicionais e não acompanham a evolução tecnológica. A actividade é desenvolvida por
homens e mulheres, embora o último grupo esteja em minoria e desempenhando actividades
que ligeiramente leves quando comparado as dos homens. Actividade da extracção do ouro
envolve como processos: a limpeza da área com potencial, envolvendo essencialmente a
retirada da vegetação e da camada superficial do solo, a extracção da camada ou rocha, britagem
da rocha, moagem da brita, lavagem da porção rochosa e, por fim aplicação do mercúrio para
segregação e sedimentação. De salientar que no processo de extracção são geralmente
instrumentos como, as pás, as enxadas e picaretas, as bacias, as carinhas de mão, sacos, entre
outros.

A actividade da exploração mineira do ouro através do garimpo tem um impacto importante na


vida socioeconómica da maioria dos garimpeiros e seus dependentes, mas em outra faceta, não
existe um impacto directo considerável para a economia do distrito e da provincial em geral
como acontece com as actividades de mineração no geral. Assim, ao nível social há registo da
melhoria das mais básicas condições de vida da população local, como o desenvolvimento de
moradias minimamente condignas, aquisição de meios de transporte e assistência alimentar e
médica.

Os impactos adversos da actividade da exploração mineira do ouro através do garimpo podem


ser categorizados em três dimensões: a económica, social e ambiental. No que diz respeito a
primeira, há que referir ausência de mecanismos de arrecadação de receitas e os demais
impostos, o que acaba lesando o estado. Em relação a segunda dimensão, destaca-se a fraca
concorrência no desenvolvimento das actividades como a agricultura, avicultura e pecuária,

45
consideradas peculiares para a sobrevivência do homem, podendo deste modo, desencadear
especulação de preços pela pouca oferta e alta demanda dos principais produtos. Há ainda,
conflitos entre os garimpeiros na exploração de áreas com maior potencial da ocorrência do
ouro. E, por fim, quanto a dimensão ambiental, sublinha-se a degradação da configuração
paisagística da área explorada ou em exploração, isto porque, o único interesse para os
garimpeiros é a retirada da matéria com potencial de conter quantidades significativas do ouro.
Os impactos visíveis e significativos são a erosão dos solos, degradação da flora e fauna local
e, para os garimpeiros há focos de doenças respiratórios.

5.1. Recomendações

Diante dos resultados apresentados desta pesquisa, ficou evidente que a extracção de ouro na
aldeia Nassilapa exige uma intervenção imediata para inverter o actual cenário, contudo,
recomenda – se que:

 Deve-se trabalhar para mobilizar e organizar os garimpeiros em associações para


facilitar todo o trabalho de fiscalização com o objectivo de reduzir os impactos
negativos identificados neste estudo;
 Desenvolver actividades alternativas de geração de renda nas quais mulheres e crianças
possam participar para reduzir sua participação na extração de ouro;
 Que os garimpeiros respeitem as normas ambientais;
 Que os garimpeiros da aldeia Nassilapa estejam cientes dos impactos negativos
provocados pela extracção de ouro;
 Que a comunidade da aldeia Nassilapa não aposte apenas no trabalho de extracção de
ouro, mas também da agricultura para garantir alimentação saudável das suas famílias.

46
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARDIN, L (1999). Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70.

CIP. (2006). Governação e Integridade em Moçambique.

CONAMA nº 01 de 23 de Janeiro de 1986.

DAMASCENO, G. C. (2017). Geologia, mineração e meio ambiente. UFRB. Cruz das Almas
– BA.

DONDEYNE, S. E. (2009). “Artisanal Mining in Central Mozambique: Policy and


Environmental Issues of Concern”. Resources Policy. Vol. 34.

DRECHSLER, B. (2001). Small-ScaleMining and Sustainable Development within the SADC


Region. Final Report. Practical Answers to Poverty. MMSD-SA Research Topic.

GERHARDT, T. E & SILVEIRA, D. T. (2009). Métodos de pesquisa. Universidade Aberta do


Brasil – UAB/UFRGS. Porto Alegre: Editora da UFRGS.

GIL, A. C. (2007). Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas. GIL, A. C.
(2008). Metodologia do ensino superior. 4. ed. São Paulo: Atlas.

GRIFFITH, J. J. (1980). Recuperação conservacionista da superfície de áreas mineradas: uma


revisão de literatura. Viçosa: Sociedade de Investigações Florestais, UFV.

LAKATOS, E, M. & MARCONI. M. A. (2003). Metodologia Científica. Atlas. São Paulo. Lei
no 20/2014 de 18 de Agosto – Lei de Minas

MAUVILO A.F. (2011). Impactos da Organização e Formalização da Mineração Artesanal e


de Pequena Escala no Desenvolvimento Local: O Caso do Posto Administrativo de Nguzene,
Distrito de Mandlakaze. Tese, Mestrado, MAPUTO, UEM.

MECHI, A.; SANCHES, D. L. (2010). Impactos ambientais da mineração no Estado de São


Paulo. Estudos Avançados, v. 24, n. 68.

OLIVEIRA, Carmelita. (2006). Impactos ambientais derivados de actividades industriais: o


caso do cilo iv. Londrina.

OPOKU-WARE, J. (2010). The social and environmental impacts of mining activities on


indigenious communities the case of newmont gold (gh) limited (kenyasi).

47
PRODANOV, C. C. & FREITAS, E. C. (2013). Metodologia do trabalho científico: Métodos
e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Académico. 2. ed. – Novo Hamburgo: Feevale.

RASO, E. F.; SAVAIO, S.S.; MULIMA, E. P. (2022). Impacto da mineração artesanal de ouro
nos solos agrícolas: Caso do distrito de Manica, Moçambique. Revista Verde.

RICHARDSON, R. J. (2017). Pesquisa Social: Métodos e técnicas. 4 ed. Atlas.

SILVA, J. P. S. (2007). Impactos ambientais causados por mineração. Revista Espaço da


Sofhia.

48
APÊNDICES I: Questionário – Chefe da Repartição do Licenciamento e Fiscalização
das Actividades Económicas

Caro Chefe da repartição do licenciamento e fiscalização das actividades económicas, estou


realizando uma pesquisa sobre impactos ambientais advindos da actividade exploração mineira
do ouro (garimpo) na aldeia de Nassipala e gostaria de contar com a sua colaboração. Para isso
é necessário que você responda a este questionário.

Parte I
Responda sobre os dados pessoais
1. Qual é o seu Sexo?
Masculino _______ Feminino ________
2. Idade
18 - 25 Anos ____ 26 – 35 anos____ 36 – 45 anos____ 46 - 55 anos _____
3. Qual é sua profissão e/ou actividade que desempenha?
_________________________________________________
4. Qual foi o último nível de escolaridade que concluiu.
Elementar ____
Primário _____
Secundário/Profissional ____
Secundário do 2o Ciclo/Médio profissional _____
Superior ____

PARTE II

1. Reconhece a existência da actividade da exploração mineira do ouro na aldeia de Nassipala?


Sim _____. Qual é a atenção dada a actividade
Não _____
2. Há legalidade para o exercício da actividade da exploração mineira do ouro naquela aldeia?
a) Se sim, assinale os requisitos legais existentes para o exercício da actividade:
i. DUAT___
ii. Alvará____
iii. Licença ambiental____

49
iv. Plano de exploração ou projecto___
v. Outros dispositivos_____
b) Se não, qual é o enquadramento legal para o exercício da actividade?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
3. Existem ao nível do governo distrital planos, programas ou outros mecanismos previstos na
lei que regulam e/ou controlam as diferentes actividades desenvolvidas tendo em conta o
alcance da sustentabilidade socioambiental na mina da aldeia Nassipala?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

a) Se não existem, qual é o tratamento que o governo local concede a actividade da


exploração mineira do ouro através do garimpo?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

4. Qual é o contributo económico da actividade de exploração mineira do ouro para o estado


e/ou governo distrital?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

5. Quais são os impactos (efeitos) negativos da actividade de exploração mineira do ouro para
a vertente socioambiental?

Impactos na vida social ________________________________________________________


___________________________________________________________________________
Impactos sobre componentes ambientais:
Solo_______________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Água_______________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

50
Ar_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6. Existe algum trabalho desencadeado ao nível distrital para garantir a sustentabilidade da
actividade do garimpo ao nível da aldeia de Nassipala?
a) Se sim, quais são as estratégias são levadas a cabo para garantir a tal sustentabilidade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Se não

MUITO OBRIGADA PELA SUA COLABORAÇÃO!

51
APÊNDICE II: Guião de Entrevista aos Garimpeiros

Caro (a) Mineiro, estou realizando uma pesquisa sobre impactos ambientais advindos da
actividade exploração mineira do ouro (garimpo) na aldeia de Nassipala e gostaria de contar
com a sua colaboração. Para isso é necessário que você responda a esta entrevista

Parte I
Responda sobre os dados pessoais
5. Qual é o seu Sexo?
Masculino _______ Feminino ________
6. Idade
7. 18 - 25 Anos ____ 26 – 35 anos____ 36 – 45 anos____ 46 - 55 anos _____
8. Qual é sua profissão e/ou actividade que desempenha?___________________________
9. Qual foi o último nível de escolaridade que concluiu.
Elementar ____
Primário _____
Secundário/Profissional ____
Secundário do 2o Ciclo/Médio profissional _____
Superior ____

PARTE II
1. A quanto tempo é praticante da actividade do garimpo do ouro na aldeia de Nassipala?
___________________________________________________________________________

2. Quais foram os procedimentos jurídicos e administrativos necessários para o exercício da


actividade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

3. Que motivações o/a levaram para desenvolver esta actividade em detrimento das outras?

___________________________________________________________________________

4. Durante os últimos 3 anos, quais são os ganhos socioeconómicos oriundos da actividade do


garimpo do ouro?

52
Ganhos económicos: __________________________________________________________
___________________________________________________________________________

Ganhos sociais: ______________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5. Conhece ou ouviu falar sobre os impactos socioambientais (efeitos) negativos do garimpo do


ouro na aldeia de Nassipala? ___________________________________________________
Sociais ____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Ambientais _________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
7. Que formas ou estratégias a implementar para maximizar os benefícios e minimizar os
efeitos negativos da actividade de mineração do ouro através do garimpo?

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

MUITO OBRIGADA PELA SUA COLABORAÇÃO!

53
APÊNDICE III: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado e/ou participar na pesquisa
de campo referente ao trabalho de monografia intitulado “Impacto Socioambiental da
Exploração Mineira do Ouro através do garimpo: Caso da Aldeia de Nassilapa –
Namuno, 2019 -2021”, desenvolvido por Julião Quisito. Fui informado, ainda, de que
a pesquisa é orientada por Anselmo Jorge Matimbe, a quem poderei contactar ou consultar
a qualquer momento que julgar necessário através da Coordenação do Curso ou Centro de
Recursos.

Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer incentivo
financeiro ou ter qualquer bónus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso
da pesquisa. Fui informado do objectivo estritamente académico do estudo, que, em linhas gerais
é Estudar os impactos socioambientais decorrentes da exploração mineira do ouro através de
práticas do garimpo na Aldeia de Nassipala no Distrito de Namuno

Fui também esclarecido de que os usos das informações por mim oferecidas estão submetidos
às normas éticas destinadas à pesquisa envolvendo seres humanos.

A minha colaboração far-se-á de forma anónima, por meio da entrevista estruturada ou


questionário a partir da assinatura ou da aceitação desta autorização. O acesso e a análise
dos dados recolhidos far-se-ão apenas pelo pesquisador e/ou seu orientador ou coordenador.

Fui ainda informado de que posso-me retirar desse estudo ou pesquisa a qualquer momento,
sem prejuízo para o meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanções ou constrangimentos.

Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
conforme recomendações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

Namuno , de de 2022

Assinatura do (a) participante: _________________________


Assinatura do pesquisador:

Assinatura do testemunha:

54

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