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Universidade Lúrio

Faculdade de Engenharia

Departamento de Engenharia Civil

2º Semestre, 3º Ano

Hidrologia e Recursos Hídricos

Análise da bacia hidrográfica do Rio Mecubúri para implementação de uma barragem


para fins de abastecimento de água na vila do distrito de Mecubúri

Pemba, Março de 2022


Universidade Lúrio

Faculdade de Engenharia

Departamento de Engenharia Civil

Hidrologia e Recursos Hídricos

Análise da bacia hidrográfica do Rio Mecubúri para implementação de uma


barragem para fins de abastecimento de água na vila do distrito de Mecubúri

Projecto de carácter avaliativo da disciplina de


Discentes:
Hidrologia e Recursos Hídricos do curso de
Franque Moisés Macufa Licenciatura em Engenharia Civil 3º Ano, a ser
apresentado ao Professor da disciplina.
Pídeler Graciano
Eng.º Tomás de Jesus

Professor: Eng.º Tomás de Jesus

Pemba, Março de 2022


Índice
1. Introdução.................................................................................................................. 5
1.1. Contextualização ................................................................................................ 6
1.2. Problematização ................................................................................................. 6
1.3. Justificativa..................................................................................................... 7
1.4. Hipóteses ........................................................................................................ 7
1.5. Delimitações ...................................................................................................... 7
1.6. Objectivos .......................................................................................................... 8
1.6.1. Objectivo geral ........................................................................................... 8
1.6.2. Objectivos específicos ................................................................................ 8
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 9
2.1. Balanço hidrológico global ................................................................................ 9
2.1.1. Água Superficial ......................................................................................... 9
2.1.2. Água Subterrânea ..................................................................................... 10
2.2. Aquíferos ......................................................................................................... 11
2.2.1. Classificação de aquíferos Os aquíferos podem ser classificados de três
formas 11
3. Bacias hidrográficas ................................................................................................ 12
3.1. Os elementos que compõem uma bacia hidrográfica e suas características .... 13
3.2. Características fisiográficas da bacia hidrográfica .......................................... 13
3.3. Características geométricas .............................................................................. 14
3.4. Delimitação da bacia hidrográfica ................................................................... 16
4. O planejamento e a utilização dos recursos hídricos............................................... 18
4.1. Bacias Hidrográficas Urbanas ......................................................................... 21
4.1.1. Medidas não estruturais ............................................................................ 21
4.2. Bacias Hidrográficas Rurais ............................................................................ 22
5. DESCRIÇÃO DO DISTRITO ................................................................................ 23
5.1. Localização do distrito ..................................................................................... 23
5.2. Superfície e População ..................................................................................... 23
5.3. Clima e Hidrografia ......................................................................................... 23
5.4. Tipo de solo ..................................................................................................... 24
5.5. Infra-estruturas ................................................................................................. 25
5.6. Economia e Serviços ........................................................................................ 25
6. O direito a água, e a quantidade necessaria para o consume diario ........................ 26
7. ESTUDO DO CAMPO ........................................................................................... 26
7.1. Localização da Bacia Hidrográfica e sua Área ................................................ 26
7.2. Características da bacia .................................................................................... 27
7.2.1. Relevo ....................................................................................................... 27
7.2.2. Vegetação ................................................................................................. 27
7.3. Resultados e Discussões .................................................................................. 27
7.3.1. Análise quantitativa da água na bacia de Mecubúri (balanço hídrico) ..... 27
7.4. Cálculo do caudal de saída da bacia hidrográfica de Mecubúri....................... 28
7.5. Cálculo do armazenamento de água na albufeira ............................................ 29
7.6. Cálculo do volume de água necessário para o abastecimento do distrito ........ 30
8. Dimensionamento da barragem ............................................................................... 31
8.1. Cálculo de Borda Livre .................................................................................... 31
8.2. Cálculo de Orla de Segurança .......................................................................... 32
8.3. Dimensionamento de armaduras da barragem ................................................. 33
8.4. Local de execução do projecto de barragem .................................................... 34
9. Orçamento do projecto ............................................................................................ 35
10. Resultados obtidos ............................................................................................... 36
11. Conclusão ............................................................................................................ 37
12. Bibliografia .......................................................................................................... 38
1. Introdução
Segundo Rodrigues et al. (2011), por bacia hidrográfica de um curso de água, entende-se
a área de captação natural da água precipitada, cujo escoamento converge para uma
secção única de saída - secção de referência. A água é um líquido muito precioso e
fundamental na vida humana e as acções de conservação da água nos Sistemas de
Abastecimento de Água objectivam minimizar as perdas em tais sistemas.
Conceitualmente, estas perdas podem ser referentes as representadas pela parcela não
consumida de água, ou seja as físicas, e as perdas não físicas, aquelas que correspondem
à água consumida e não registrada.

A água, pela sua relação intrínseca com as necessidades básicas do ser humano, controlo
e prevenção de doenças e com o desenvolvimento das sociedades, assume posição de
relevo. O desenvolvimento e a modernização das cidades não pode por isso fugir desta
dependência, pelo contrário, a necessidade de água aumenta com o desenvolvimento e
complexidade do aparato habitacional e produtivo das cidades. Os sistemas e serviços de
abastecimento de água às cidades são, por conseguinte, continuamente pressionados a dar
resposta a essa demanda crescente, tanto em termos de quantidade como em termos de
qualidade e fiabilidade.

Uma bacia hidrográfica é sempre referida a uma secção qualquer de um curso de água.
Quando não se indica a secção em estudo, supõe-se que se trata da totalidade da bacia,
em relação à foz ou à confluência com outro curso de água mais importante

A água é fundamental para o desenvolvimento sustentável dos vários países, pelo que a
falta de água ou água sem qualidade diminuem a qualidade de vida das populações.
Calcula-se que cerca de 1000 milhões de pessoas não têm acesso á água
comprovadamente potável e 2400 milhões não dispõem de saneamento básico no mundo
(ROSC, 2013).

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1.1. Contextualização

O presente projecto visa analisar a bacia hidrográfica do Rio Mecubúri, enquadrando-se


no âmbito de elaboração de um trabalho de avaliação, no curso de licenciatura em
Engenharia Civil. O estudo de uma bacia hidrográfica ajuda a entender a natureza do
relevo e suas características fisiográficas e a capacidades para se implantar qualquer
projecto que possa gerir os recursos hídricos para fins económicos ou humanitário da
população de uma determinada cidade, vila ou ainda região.

1.2. Problematização

Apesar da existência de grandes bacias hidrográficas em Moçambique, há cidades ou vilas


que estão no interior das bacias e elas não aproveitam essas bacias para gerir os recursos
hídricos que a bacia oferece para melhorar as condições de vida da população na região.
A vila do distrito de Mecubúri encontra-se no interior da bacia hidrográfica de Mecubúri,
por falta de uma análise minuciosa da bacia hidrográfica de Mecubúri se tem as condições
necessárias para se implantar ou construi-se uma barragem do rio principal que a bacia
drena para gerir os recursos hídricos que a bacia oferece, a população da vila do distrito
de Mecubúri tem sido enfrentado sérios problemas do consumo de água potável,
consequentemente, existe enumeras doenças que assolam a população daquela vila, tais
como: Cólera, Febre tifóide, Giardíase, Amebiase, Diarreia aguda, Hepatite infecciosa,
etc., e causa muitas mortes naquela vila. A população está vivendo numa situação crítica,
isto é, num raio de 1200m só tem um único foro de água que alimenta a população, que é
muito preocupante, e por falta de água na vila, muitas pessoas recorrem as águas dos rios
para satisfazer as suas necessidades, sem o tratamento adequado desta água.

Nos serviços públicos enfrentam muitos problemas para aderir este líquido (água), tais
como: hospital, escolas, posto policial, etc., por falta de uma estrutura capaz de reter ou
acumular água para o abastecer o local.

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1.3. Justificativa

Para se implantar qualquer projecto, é necessário se fazer um estudo prévio do local onde
será implantada se dá ou não. A análise desta bacia hidrográfica do Rio Mecubúri, trará
as respostas se a bacia tem as condições mínimas de se implantar ou se construir uma
barragem sobre o rio principal que a bacia drena, para minimizar os problemas que a
população da vila do distrito de Mecubúri está enfrentar. Este rio recebe o nome do
mesmo distrito, chamado de Rio Mecubúri. E ainda a análise fornecera as respostas se o
caudal da bacia drenada no rio principal, com base a precipitação da bacia e evaporação
anual terá a capacidade de responder a demanda da população daquela vila por longo
período.

1.4. Hipóteses

Se for realizada uma análise sobre a bacia hidrográfica de Mecubúri, pode-se achar as
respostas, se o rio principal que a bacia drena terá a capacidade de sustentar a albufeira
que será erguida, com vista a atender a demanda da população daquela vila por um
período muito longo.

1.5. Delimitações

O presente projecto foca-se na análise da bacia hidrográfica de Mecubúri, para


implantação de uma barragem sobre o rio principal que a bacia drena, com vista a
responder a demanda da população por um longo período de tempo.

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1.6. Objectivos
1.6.1. Objectivo geral

 Analisar a bacia hidrográfica do Rio Mecubúri, com vista a implantar uma


barragem com fins de abastecimento da água na vila.

1.6.2. Objectivos específicos

 Apontar o tipo de revelo predominante na bacia;


 Descrever as características da bacia;
 Avaliar a precipitação, evaporação e evapotranspiração que ocorre anualmente na
bacia;
 Estimar o caudal médio que a bacia drena sobre o rio;
 Identificar o tipo de solo predominante na bacia;

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Balanço hidrológico global
Devido ao fato de que a quantidade total de água disponível na Terra é finita e
indestrutível, podemos olhar para o ciclo hidrológico global como sendo um sistema
fechado. Uma versão mais generalizada do balanço hídrico poderá explicar os vários
componentes de um ciclo hidrológico e fornecer uma visão de técnicas de resolução de
problemas em regiões hidrológicas complexas (Porto & Filho, 2005).

Anualmente é mobilizado um total (aproximado) de 624 000 km3 de água, promovido


pelo ciclo hidrológico.

Figura 01 - Ciclo hidrológico global anual (adaptado de WASA - GN).

2.1.1. Água Superficial


“As águas superficiais empregadas em sistemas de abastecimento geralmente são
originárias de um curso de água natural” (Silva, 2007). Estes cursos naturais podem ser
rios, lago ou albufeiras. Contudo água do mar também poderá ser equacionada como uma
origem para captação superficial, exigindo para tal a remoção total ou parcial dos sais
dissolvidos (dessalinização da água). Esta opção só é justificável em situações de extrema
escassez, ausência das origens tradicionais da água doce ou vantagens do ponto de vista
económico e operacional. Um desses casos verifica-se em Moçambique no distrito de

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Nacala-velha onde de acordo com a Vale (2020), em 2011 foi construída pela Vale, uma
infra-estrutura de dessalinização que funciona através da captação e tratamento da água
do mar e tem como objectivo a distribuição da água doce de boa qualidade para diversos
fins, sem causar impactos nas reservas da região que, além de raras, são utilizadas pela
população local.

Esta é uma solução utilizada em regiões onde não existem muitas reservas da água doce
mas onde há possibilidade de captar água do mar em quantidade adequada e transforma-
la em água doce de boa qualidade.

Lagos Lagoas Albufeira

Figura 02 : Origem de Águas superficiais adaptado de (Freitas et al, 2020).

Fonte:

2.1.2. Água Subterrânea


As águas subterrâneas são captadas em aquíferos que segundo Vilas-Boas (2008), são
formações geológicas com suficiente permeabilidade e capacidade de armazenamento. A
captação desta água pode ser efectuada a diferentes profundidades ou até á superfície, nos
casos em que se tem o afloramento superficial do aquífero (nascentes). Contudo, as obras
de captação de água subterrânea podem classificar-se em quatro tipos principais:

 Obras horizontais (drenos, galerias drenantes e galerias de mina);


 Obras verticais (poços e furos);

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 Obras mistas (poços com drenos radiais, poços com galerias drenantes e galerias
de mina com poço); e
 Câmaras de captação, que consistem em tomadas de água, mono ou multi-
compartimentadas, destinadas a captarem directamente nas nascentes ou
exsurgência

2.2. Aquíferos
2.2.1. Classificação de aquíferos Os aquíferos podem ser classificados de três
formas:
 Quanto à estrutura geológica: porosos, fissurados e cársicos;
 Quanto à localização geográfica: costeiros e interiores, basais e suspensos;
 Quanto à pressão a que está submetido: livres ou freáticos, confinados ou cativos.

Aquitardo (tardare = retardar) é uma formação geológica que armazena água mas que a
transmite lentamente, produzindo pequenas quantidades de água. Apresentam
permeabilidades médias/baixas - caso das areias argilosas e rochas vulcânicas alteradas.
São importantes para a recarga de aquíferos subjacentes.

Aquicludo (claudere = fechar) é uma formação geológica que pode armazenar água mas
não a transmite - a água não circula - caso das argilas e tufos (piroclastos consolidados).
Funcionam como camada confinante ou impermeável, (Sérgio & Rafael 2018).

Segundo (Sérgio & Rafael, 2018) O reservatório de água subterrânea também designado
por aquífero como foi acima citado, divide-se essencialmente em dois tipos, o aquífero
livre e o confinado:

 Aquífero livre: É designando aquífero livre a formação geológica permeável e


parcialmente saturada de água, que é limitado na base por uma camada
impermeável e, o nível da água no aquífero está à pressão atmosférica.
 Aquífero confinado: Quanto ao aquífero confinado, este refere-se a formação
geológica permeável e completamente saturada de água que é limitado no topo e
na base por camadas impermeáveis e a pressão da água no aquífero é superior à
pressão atmosférica.

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Figura 03: Representação do aquífero livre e confinado adaptada de (Midões, Fernandes, 2020)

Fonte:

3. Bacias hidrográficas
Segundo Rodrigues et al. (2011), por bacia hidrográfica de um curso de água, entende-se
a área de captação natural da água precipitada, cujo escoamento converge para uma
secção única de saída - secção de referência. As bacias hidrográficas são compostas por
um conjunto de canais de escoamento de água. A quantidade de água que a bacia
hidrográfica vai receber depende do tamanho da área ocupada pela bacia hidrográfica e
por processos naturais que envolvem precipitação, evaporação, infiltração, escoamento,
etc. Também compreendida como rede hidrográfica, a mesma é uma unidade natural que
recebe a influência da região que drena, é um receptor de todas as interferências naturais
e antrópicas que ocorrem na sua área tais como: topografia, vegetação, clima, uso e
ocupação etc. Assim um corpo de água é o reflexo da contribuição das áreas no entorno,
que é a sua bacia hidrográfica.

A precipitação que cai sobre as vertentes, tende a infiltrar-se totalmente no solo até à sua
saturação superficial. A taxa de infiltração decresce e se a precipitação não cessar, começa
a ser cada vez maior o escoamento superficial em direção à rede hidrográfica. Esta, por
sua vez, encarregar-se-á de transportar a água até à secção de saída. Na secção de
referência o hidrograma resultante incorpora, para além do escoamento superficial, a

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contribuição subterrânea, em regra desfasada no tempo, relativamente à ocorrência da
precipitação (Rodrigues et al., 2011).

3.1. Os elementos que compõem uma bacia hidrográfica e suas características


Segundo (Leandro & Patrícia, 2010) os elementos que compõem uma bacia hidrográfica
e suas características são:

 A planície de inundação
 O interflúvio
 As encostas ou vertentes

A planície de inundação é aquela extensão do terreno geralmente plana, na posição


baixa, que normalmente se apresenta como extensões contíguas aos canais de drenagem.

O interflúvio é identificado como “terras altas” situadas entre duas planícies de


inundação e composto pelas encostas e pelo divisor, constituindo-se, desse modo, na
porção do terreno de maior expressão para o uso agrícola.

As encostas ou vertentes são os locais onde ocorre a máxima manifestação dos processos
hidrológicos. Na parte mais alta situa-se a área de maior valor florestal, e de acordo com
suas características ecológicas e hidrológicas é considerada como pertence à classe de uso
florestal.

3.2. Características fisiográficas da bacia hidrográfica


Consideram-se características fisiográficas de uma bacia hidrográfica, aqueles elementos
que podem ser retirados a partir de cartas, fotografias aéreas ou imagens de satélite.
Hidrologicamente interessa caracterizar a bacia em termos geométricos, relativamente ao
sistema de drenagem e ao relevo. Considera-se de igual importância os aspetos
condicionantes do comportamento hidrológico da bacia, como por exemplo, a sua
constituição geológica, o tipo de solos presentes e cobertura vegetal predominante. A
caracterização assim efetuada permite encontrar afinidades entre as diferentes bacias
hidrográficas e, consequentemente, regionalizar alguns dados e parâmetros hidrológicos
(Sérgio & Rafael 2018).

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3.3. Características geométricas
A principal característica geométrica a considerar é a área de drenagem (A). Esta deve
resultar da projeção horizontal da bacia uma vez definidos os respetivos contornos. A área
é normalmente expressa em km2 ou hectares. A caracterização da forma das bacias
hidrográficas prende-se com a sua maior ou menor propensão a concentrar o escoamento
superficial em resposta à ocorrência de precipitações intensas. A forma planimétrica da
bacia pode exercer grande influência no regime do curso de água, principalmente nos
caudais de cheia (Sérgio & Rafael 2018).

Uma bacia alongada ou longitudinal é constituída por uma única linha de água principal,
de grande desenvolvimento, mas de pequena largura, recebendo linhas tributárias de
pequena importância.

Figura 04 - Bacia alongada ou longitudinal

Fonte: Sérgio & Rafael

Uma bacia arredondada é formada por várias linhas de água de importância sensivelmente
igual que se reúnem concentricamente para dar origem a uma linha de água final,
relativamente curta.

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Figura - Bacia arredondada

Fonte: Sérgio & Rafael

Uma bacia radial ou ramificada apresenta várias bacias parciais alongadas que se reúnem
numa linha de água final (Figura 06).

Figura - Bacia radial ou ramificada

Fonte: Sérgio & Rafael

Verificando-se a igualdade de todas as outras condições, o caudal de cheia das bacias


mais alongadas será menor do que o das bacias mais arredondadas. Nas bacias
arredondadas a concentração das águas faz-se muito mais rapidamente, dando origem a
um caudal máximo de cheia maior, embora de menor duração. Numa bacia arredondada
a ocorrência de eventos de cheias é mais acentuada já que a forma favorece a maior
concentração do escoamento, em contraponto ao que se passa se a bacia for alongada.

Devido a estas características ganha relevância o manejo e conservação das redes


hidrográficas, principalmente aquelas que servem de abastecimento público, objetivando
a manutenção da qualidade, quantidade e regularidade da água para seus diversos usos
como geração de energia, abastecimento público, irrigação, uso industrial, lazer,
recreação, turismo entre outros.

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Algumas características provenientes da bacia hidrográfica a tornam uma unidade bem
definida, permitindo a integração multidisciplinar entre diferentes sistemas de
gerenciamento, estudo e atividade ambiental, além de permitir aplicação adequada de
tecnologias avançadasa bacia hidrográfica, como unidade de planejamento e
gerenciamento de recursos hídricos, representa um avanço conceitual muito importante e
integrado da ação.

São várias as características e situações que privilegiam a abordagem da bacia


hidrográfica para estudos interdisciplinares, gerenciamento dos usos múltiplos e
conservação, que podem ser definidas com as seguintes abordagens:

 A bacia hidrográfica é uma unidade física com fronteiras delimitadas, podendo


estender-se por várias escalas espaciais
 É um ecossistema hidrologicamente integrado, com componentes e subsistemas
interativos; Oferece oportunidade para o desenvolvimento de parcerias e a
resolução de conflitos
 Garante visão sistêmica adequada para o treinamento e gerenciamento de recursos
hídricos e para o controle da eutrofização
 É uma forma racional de organização do banco de dados; Garante alternativa para
o uso dos mananciais e de seus recursos; É uma abordagem adequada para
proporcionar a elaboração de um banco de dados sobre componentes
biogeofísicos, econômicos e sociais; Sendo uma unidade física, com limites bem
definidos, o manancial garante uma base de integração institucional
 A abordagem de manancial promove a integração de cientistas, gerentes e
tomadores de decisão com o público em geral, permitindo que eles trabalhem
juntos em uma unidade física com limites definidos. Promove a integração
institucional necessária para o gerenciamento do desenvolvimento sustentável.
(Leandro & Patrícia, 2010).

3.4. Delimitação da bacia hidrográfica


Com base em Rodrigues et al. (2011), em terrenos impermeáveis ou impermeabilizados
pela ação do Homem, os limites das bacias hidrográficas coincidem com as linhas de
cumeada (de festo ou de separação de águas). Em solos permeáveis, a existência de
escoamentos subterrâneos torna a delimitação das bacias menos linear. Nas situações em

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que se verifique a existência no subsolo de formações cársicas ou de origem vulcânica, a
linha de contorno topograficamente definida - linha de separação de águas superficial -
pode diferir consideravelmente da linha de separação de águas subterrânea.

Figura 07- Limites dos escoamentos superficial e subterrâneo

Fonte: (Rodrigues et al., 2011).

Em bacias de reduzida dimensão, o acréscimo para escoamento das bacias adjacentes em


resultado da não coincidência entre as linhas de separação de águas superficial e
subterrânea, pode ser percentualmente significativo.

Nas grandes bacias, a importância dos acréscimos ou decréscimos de escoamento


resultantes desta forma é geralmente pequena. Em termos práticos, por uma questão de
facilidade, a delimitação das bacias hidrográficas faz-se com recurso apenas à topografia
dos terrenos. Nesse processo há que respeitar um conjunto de regras, a saber:

 Escolher uma escala adequada - como ordem de grandeza, pode admitir-se que
para uma bacia com 1000 km2 de área, a escala 1:25000 será adequada, para
bacias menores, a escala 1:10000 e maiores, a escala 1:50000;
 A linha de contorno (ou divisória) deve cortar perpendicularmente as curvas de
nível;

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 Na passagem de uma curva de nível para outra, se a altitude aumenta, então a linha
de contorno corta a curva de nível pela sua parte convexa; se a altitude diminui,
as curvas de nível são cortadas pela sua parte côncava;
 A linha divisória não pode cruzar os cursos de água, salvo no local da secção de
referência da bacia.

4. O planejamento e a utilização dos recursos hídricos


Planejamento é o conjunto de ações integradas, coordenadas e orientadas empregadas
para diagnosticar a realidade, avaliar as perspectivas e estruturar medidas a serem
executadas considerando prazos e espaços. O ato de planejar sempre esteve associado à
evolução da cultura humana, de enfrentar seus problemas, procurando sempre a melhor
alternativa para a sua resolução (Raquel Finkler, sd)

Além disso, Maglio e Philippi Jr. (2005, p.663) citado em (Raquel Finkler, sd) afirmam
que o planejamento é um processo e uma ferramenta utilizada para pensar e projetar o
futuro, ela contribui para que as decisões sobre ações humanas não se baseiem na
improvisação, Dessa forma, o planejamento coloca-se como uma tentativa do homem de
viabilizar a sua intenção de governar o próprio futuro e se impor às circunstâncias a força
e o peso da razão humana.

Para o planejamento de bacias hidrográficas é necessária uma visão integrada da ação


antrópica sobre os recursos hídricos, ou seja, numa mesma bacia hidrográfica pode haver
uma pressão urbana e rural concomitantemente, para as quais se dispõe de técnicas e
práticas específicas (mas não isoladas conceitualmente e espacialmente) visando à
conservação e/ou a preservação dos recursos hídricos.

O manejo integrado de bacias hidrográficas tem o objetivo de tornar compatível produção


com preservação/conservação ambiental, buscando adequar a interferência antrópica às
características biofísicas dessas unidades naturais (ordenamento do uso/ocupação da
paisagem, observadas as aptidões de cada segmento e sua distribuição espacial na
respectiva bacia hidrográfica), sob gestão integrativa e participativa, de forma que sejam
minimizados impactos negativos e se garanta o desenvolvimento sustentado (SOUZA e
FERNANDES, 2000) citado em (Raquel Finkler, sd)

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Os princípios básicos da gestão integrada de bacias hidrográficas consistem em (Raquel
Finkler, sd)

 Conhecimento do ambiente reinante na bacia;


 Planejamento das intervenções na bacia, considerando o uso do solo;
 Participação dos usuários e
 Implementação de mecanismos de financiamento das intervenções, baseadas no
princípio usuário-pagador.

E no entanto para planejar e utilizar os recursos hídricos é necessário que haja práticas
eficazes de implementação e de viabilização de políticas públicas. Deve se determinar os
objetivos de utilização dos recursos naturais, principalmente da água, dentro de uma
unidade que é a bacia hidrográfica, pois nessa área deve ser zoneada em escalas de
prioridade, o uso e ocupação da terra, agricultura, pesca, conservação, recreação, usos
domésticos e industriais da água (Leandro & Patrícia, 2010)

A adoção da bacia hidrográfica, como unidade de planejamento e gerenciamento, enfatiza


a integração econômica e social em processos conceituais. A utilização de tecnologias de
proteção, conservação, recuperação e tratamento envolvem processos tecnológicos. Os
processos institucionais determinam a integração dos setores públicos e privados em uma
unidade fisiográfica, neste caso à bacia hidrográfica, sendo fundamental concretizar a
otimização de usos múltiplos e o desenvolvimento sustentável. A bacia hidrográfica é um
exemplo para se concretizar um estudo integrado, além de funcionar como importante
instrumento para gerenciamento de recursos, decisões políticas relevantes em meio
ambiente e ética ambiental (Leandro & Patrícia, 2010).

Ressalta-se, no entanto, que o gerenciamento e planejamento numa bacia hidrográfica


ultrapassam as barreiras políticas entre municípios, estados e países, concretizando uma
unidade física de gestão e análise sistêmica, possibilitando o desenvolvimento econômico
e social. Utilizar a bacia hidrográfica como unidade de planejamento propicia um
conjunto de indicadores, fornecedores de índices de qualidade, que podem representar um
passo importante na consolidação e da descentralização e do gerenciamento, favorecendo
a conservação e preservação ambiental, estimulando a integração da comunidade e de
instituições. O grande desafio no gerenciamento de recursos hídricos em nível municipal
é a conservação dos mananciais e a preservação das fontes de abastecimentos superficiais
e/ou subterrâneas.
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A conservação deve ser efetivada através dos usos da terra, otimizando o reflorestamento
e a proteção da vegetação, principalmente das matas ciliares, gerando inúmeras
oportunidades de desenvolvimento econômico e social, com o replantio das áreas
degradadas, bem como da proteção das áreas preservadas.

Ao longo da análise sobre o que é planejamento de bacias hidrográficas dois termos foram
enfatizados: preservação e conservação. Antes de darmos continuidade aos estudos sobre
as técnicas e as práticas de gestão é importante diferenciar preservação e conservação.

Segundo a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema, 1990), citado


em (Raquel Finkler, sd) preservação é compreendida como: “ação de proteger, contra a
destruição e qualquer forma de dano ou degradação, um ecossistema, uma área geográfica
definida ou espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção, adotando-se as medidas
preventivas legalmente necessárias e as medidas de vigilância adequadas.”

A conservação da natureza é conceituada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE, 2004), citado em (Raquel Finkler, sd) em seu Vocabulário básico de
recursos naturais e de meio ambiente como utilização racional dos recursos naturais
renováveis e obtenção de rendimento máximo dos não renováveis, de modo a produzir o
maior beneficio sustentado para as gerações futuras e atuais. Mantendo suas
potencialidades para satisfazer as necessidades das gerações futuras.

O IBGE continua afirmando que a conservação não é sinônimo de preservação, porque


está voltada para o uso sustentável da natureza pelo homem, enquanto que preservação
visa a proteção das espécies, habitats e ecossistemas a longo prazo.

Em resumo, o termo preservação esta relacionado a manter intacto um sistema, já a


conservação refere-se ao uso sustentável de um sistema através de práticas de manejo.

Sendo a bacia hidrográfica uma unidade de planejamento devemos considerar, na sua


gestão, a conservação dos recursos hídricos, o controle do escoamento superficial e o
disciplinamento do uso do solo. A proteção dos recursos hídricos deve ser realizada
considerando os aspectos qualitativo e quantitativos desses. (Raquel Finkler, sd)

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4.1. Bacias Hidrográficas Urbanas
Na zona urbana os problemas decorrentes da impermeabilização do solo, aterramento
e/ou canalização de cursos d’água, desmatamento e deficiências com saneamento
resultam em alterações na drenagem das águas pluviais.

4.1.1. Medidas não estruturais


As medidas não estruturais são aquelas que permitem a minimização dos efeitos de cheia,
entre essas medidas podemos destacar:

 Zoneamento de áreas inundáveis: descritos no Plano Diretor de Drenagem


Urbana;
 Sistemas de previsão de cheias;
 Seguro contra enchentes;
 Educação ambiental

A definição dos usos e ocupação do solo é um mecanismo legal de importância para


drenagem de águas. Na regulamentação deve estar definido que em áreas sujeitas a
inundações, a ocupação deve ser controlada.

As relações entre as características ambientais e os aspectos sociais, econômicos,


culturais e políticos. Como um dos resultados das definições de uma política de usos e
ocupação dos solos, temos o zoneamento da cidade, que é dividida em zonas: industrial,
residencial, comercial, institucional e/ou mistas.

Atualmente o manejo de águas pluviais urbanas, o controle e a minimização dos efeitos


adversos das enchentes urbanas não se limitam ao princípio dominante no meio técnico
tradicional, como o de se propiciar o afastamento e o escoamento das águas pluviais dos
pontos críticos, mas da agregação de um conjunto de ações e soluções de caráter estrutural
(trataremos a seguir) e não estrutural. As medidas estruturais envolvem a execução de
grandes e pequenas obras e de planejamento e gestão de ocupação do espaço urbano, com
legislações e fiscalizações eficientes quanto à geração dos deflúvios superficiais advinda
do uso e da ocupação do solo.

21
4.2. Bacias Hidrográficas Rurais
Segundo Attanasio (2004) citado em (Raquel Finkler, sd), para conservação de uma
microbacia hidrográfica submetida à produção agrícola, deve-se considerar o papel
exercido pelas zonas ripárias (encontradas tanto ao longo das margens da rede de
drenagem e nas áreas de preservação permanente em áreas com declividade superior a
100% - 45° de inclinação), as quais exercem importante papel do ponto de vista
hidrológico, ecológico e geomorfológico.

Neste sentido, o disciplinamento do uso e ocupação do solo constitui um importante


instrumento para ordenar o desenvolvimento de uma bacia hidrográfica e, assim, se obter
a proteção dos recursos naturais, entre eles os recursos hídricos (Mota, 2008, p.189) citado
em (Raquel Finkler, sd).

Assim, a definição dos usos e da ocupação do solo em bacias hidrográficas rurais deve
considerar aspectos naturais que possam ter influência sobre os recursos hídricos. As
alterações nas características do solo refletem-se nos recursos hídricos, em termos de
qualidade e da quantidade da água, sendo que o controle da erosão, do escoamento e da
infiltração são importantes para seu manejo do solo.

De acordo com Attanasio (2004, p.58) citado em (Raquel Finkler, sd): a susceptibilidade
à erosão de um solo depende de diversos fatores climatológicos (intensidade e
distribuição das chuvas), da topografia e comprimento do declive, da profundidade do
perfil, da permeabilidade e capacidade de retenção de umidade, entre outros. Destes
fatores, muitos resultam das propriedades físicas do solo, como textura, estrutura, etc.

22
5. DESCRIÇÃO DO DISTRITO
5.1. Localização do distrito

Mecubúri é um distrito da província de Nampula, em Moçambique, com sede na


localidade de Mecubúri. O distrito de Mecubúri tem como limites, a Norte com o distrito
de Namuno da província de Cabo Delgado que faz fronteira com o rio Lúrio, a Este os
distritos de Erati-Namapa e Muecate, a Sul o distrito de Nampula e a Oeste os distritos
de Lalaua e Ribaué.

Mapa de localização do distrito de Mecubúri encontra-se no anexo A

5.2. Superfície e População

O distrito de Mecubúri é localizado a 75 km da cidade de Nampula com uma área de 7252


km2 e uma população registada com base a INE, como mostra a tabela abaixo:

Dados demográficos
Ano 2005 2007 2009 2011 2013 2017
Habitantes 142 687 159 488 166 096 172 639 178 957 283 984
Área da superfície do distrito de Mecubúri: 7252 Km2
Densidade populacional: 26,18 habitante/km2

Tabela1: Dados demográficos do distrito do Mecubúri

Fonte: INE

5.3. Clima e Hidrografia

Climaticamente a região é denominada por climas do tipo semi-árido e sub-húmido seco.


A precipitação média anual vária de 800 a 1200 mm, enquanto a evapotranspiração
potencial de referência (ETo) está entre os 1300 e 1500 mm. (Ministério de
Administração Estatal, 2005)

A precipitação média do local pode contudo, localmente, por vezes exceder os 1500 mm,
tornando-se o clima do tipo sub-húmido chuvoso. Em termos da temperatura média
durante o período de crescimento das culturas, variam entre 20 a 250C, algumas zonas
podendo exceder essa temperatura.

23
O distrito de Mecubúri é rico em rios e lagos, inserindo na Bacia Hidrográfica de
Mecubúri. O distrito é atravessado pelos rios Lúrio, Mecubúri, Monapo e Muite. Os
cursos de água seguem na direcção Oeste-Este seguindo a orientação do relevo que se
inclina em direcção ao Oceano Indico. Os rios são de regime periódica e de navegação
reduzida.

Corresponde às terras de altitude compreendido entre os 200 e 500 metros, de relevo


ondulado, interrompido de quando pelas formações rochosas do «inselbergs».
Fisiograficamente a área é constituída por uma zona planáltica baixa que, gradualmente
passa para um relevo mais dissecado com encostas mais de clivosas intermédias, da zona
subplanáltico de transição para a zona litoral.

O escoamento superficial é lento e difuso para além de poder ainda beneficiar da


contribuição do fluxo de água subterrâneo, principalmente nas zonas cujos depósitos
apresentam texturas grosseiras e arenosa.

5.4. Tipo de solo

Por uma experiência vivida no local, os vales dos rios são dominados por solos
aluvionares, escuros, profundos, de textura pesada a média, moderadamente a mal
drenados, sujeitos a inundação regular. Nos dombos encontram-se solos hidromórficos
de textura variada, desde arenosos de cores cinzentas, arenosos sobre argila a solos
argilosos estratificados, de cor escuros.

A maioria dos solos apresentam texturas media a pesada, sendo profundos, bem a
moderadamente bem drenados. Nas encostas intermédias dos interflúvios os solos variam
de cor, desde solos com cores pardo-acastanhada a acastanho-amareladas,
moderadamente bem drenados, com textura argilosa.

Os topos e encosta superior dos interfluvios são dominados por complexo de solos
vermelhos e alaranjados, e amarelos.

24
5.5. Infra-estruturas

O distrito de Mecubúri é servido por transporte rodoviário e ferroviário. O distrito está


ligado a Nampula, a capital provincial, que lhe dá acesso directo ao corredor de Nacala e
os distritos vizinhos.

O distrito comunica-se por rádio e telefone. A maior parte das comunidades não acesso a
um poço coberto ou um furo de água. Apenas a localidade de Mecubúri no bairro de
Molipiha tem poços precários sem protecção adequada. Todos outros bairros como,
Nacuacuali e Reonaca, dependem dos rios como fonte de abastecimento de água, alguns
bairros as populações têm que percorrer até 9 km até à fonte de água mais próxima.

Apesar dos esforços realizados, importa reter que o estado geral de conservação e
manutenção das infra-estruturas não é suficiente, sendo de realçar a rede de bombas de
água a necessitar de manutenção, bem como a rede de estrada e pontos que, na época das
chuvas, tem problemas de transibilidade.

5.6. Economia e Serviços

O distrito de Mecubúri é predominantemente rural, sobrevivendo maioritariamente da


agricultura de rendimento, com culturas como o algodão, amendoim, feijão e oleaginosas
(gergelim).

A produção agrícola é feita predominantemente em condições de sequeiro, nem sempre


bem-sucedida, uma vez que o risco de perda das colheitas é alto, dada a baixa capacidade
de armazenamento de humidade no solo durante o período de crescimentos das culturas.

O fomente pecuário do distrito tem sido fraco. Porém, dada a tradição na criação de gado
e algumas infra-estruturas existentes, verificou-se algum crescimento do efectivo
pecuário.

A caça e a pesca constituem um suplemento dietético para as famílias. As animais mais


caçadas são o javali (porco do mato), a gazela, a galinha-do-mato e a impala. O peixe de
rio também é parte integrante da dieta dos agregados familiares.

Actualmente existe duas instituições bancárias a operar no distrito, há sistema formal de


crédito em condições acessíveis aos operadores locais.

25
6. O direito a água, e a quantidade necessaria para o consume diario

A água é um direito humano e seu acesso à população deve considerar aspectos físicos,
quantitativos, qualitativos, humanos e econômicos (ONU, 1966; ONU, 2003; ONU,
2010) citado em (Fernanda S.M de jesus). Em relação aos aspectos econômicos, os custos
no acesso à água podem gerar desigualdades sociais.

Sob esta perspectiva, a pesquisa objetiva analisar a contribuição dos gastos decorridos do
consumo de água na renda média dos domicílios. A fim de subsidiar essa análise, buscou-
se também obter a distribuição no território da demanda de água da rede de abastecimento
através de estimativas dos volumes de água consumidos considerando-se tipo de
edificação (ex. casa, apartamento), quantidade média de banheiros e moradores e renda
média domiciliar

Segundo o Comitê das Nações Unidas para os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
(ONU, 2003) citado em (Fernanda S.M de jesus,sd). A água limpa e segura e o
saneamento são direitos humanos essenciais para gozar plenamente a vida e todos os
outros direitos humanos. A quantidade de água deva ser suficiente e contínua para o uso
pessoal e doméstico de maneira a garantir atendimento das necessidades básicas, que
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2003) é de 50 e 100 litros de água por
pessoa por dia.

7. ESTUDO DO CAMPO
7.1. Localização da Bacia Hidrográfica e sua Área

A bacia hidrográfica de Mecubúri ocupa uma área de cerca de 8900 km2. Tem como
limites as bacias do Lúrio a Norte e as bacias de Monapo e Meluli a Sul. Esta bacia tem
forma de um losango, e um factor de forma de 0.14, indicando que a bacia tem muito
pouca propensão das cheias.

Esta bacia abrange 7 sedes de Postos Administrativos, onde os mais importantes são os
de Namina, Nacaroa, Memba e Mecubúri.

A localização da bacia esta no anexo B

26
7.2. Características da bacia
7.2.1. Relevo

Por uma experiencia vivida pelo um dos autores (Graciano), no campo em estudo, a Bacia
hidrográfica de Mecubúri, é constituída por altitudes compreendido entre 100 a 500
metros, de relevo ondulados, mas menos acentuado. Esta bacia apresenta zonas menos
acentuada, isto é, tem uma inclinação constante ao longo do percurso do rio principal e
podendo ser mais de clivoso ao longo do percurso.

Ela nasce a uma altitude de cerca de 1100 m a partir do nível do mar, próximo do Posto
Administrativo de Namina. O comprimento do rio é de cerca de 270km. A bacia não
apresenta uma morfologia de realce, tendo uma inclinação constante.

7.2.2. Vegetação

A bacia hidrográfica de Mecubúri, esta inserida por vegetação, esta bacia contribui uma
pequena parte dos recursos florestais para o desenvolvimento da província de Nampula,
sendo ela que sustenta a madeira a província de Nampula e contem uma reserva, onde se
encontra diferentes tipos de espécie de animais tais como, leão, elefante, gazela, javali,
etc., que constitui maior problema no que diz respeito ao balanço hidrológico da bacia,
uma vez que quanto maior for a vegetação na bacia maior é a evapotranspiração que será
causada pela vegetação.

7.3. Resultados e Discussões


7.3.1. Análise quantitativa da água na bacia de Mecubúri (balanço hídrico)

Referente ao projecto, agora vamos a quantidade de água que população de Mecubúri


ira precisar durante um período tempo baseado nos dados acima citados que concerne
na precipitação da região, evaporação da região, evapotranspiração da região, o caudal
afluente do rio de Mecubúri entre outros. A finalidade desses cálculos são de analisar se
a quantidade de água armazenada na albufeira de Mecubúri será maior que a quantidade
de água que a população ira usufluir ao longo dos tempos, pós isto, veremos se realmente
a bacia de Mecubúri é viável para construção de uma barragem ou não.

27
Dados do distrito de Mecubúri para o cálculo do caudal da bacia:

Infiltração media anual = 200 mm

Precipitação média anual = 800 mm

Evapotranspiração média anual = 1500 mm

Habitantes do distrito de Mecubúri = 283 984

Área da bacia = 8900 km2

Quantidade média de água que uma pessoa precisa por dia = 100 litros por dia segundo
a ONU, citado em (Fernanda S.M de jesus, sd).

Unidades de conversão:

1km-------------------------------103 m

1km2-------------------------------106 m2

1m3------------------------------1000 litros

7.4. Cálculo do caudal de saída da bacia hidrográfica de Mecubúri

P + Q1 + G1 – (Q2 + G2 + ET) = ΔS

P – Q2 = 0

0,8m × 8900 × 106 m2 − Q2 = 0

Q2 = 0,8m × 8900 × 106 m2

m3
Q2 = 7120000000
ano

m3
Q2 = 225.77
segundo

28
Cálculo do volume de infiltração média anual na bacia

Vinfiltr. = I × A , onde: 𝐈 é infiltração e 𝐀 é a área da bacia em estudo

200mm
Vinfiltr. = × 8900 × 106 m2
1000m

Vinfiltr. = 0,2 × 8900 × 106 m2

Vinfiltr. = 178 × 107 m3 por ano

Logo o caudal de saída da bacia é dada por:

𝑄 = 𝑄2 − 𝑉𝑖𝑛𝑓𝑖𝑙𝑡𝑟𝑎.

m3
𝑄 = 7120000000 − 178 × 107 m3 por ano
ano

m3
𝑄 = 7120000000 − 178 × 107 m3 por ano
ano

m3 𝑚3
𝑄 = 5340000000 = 169,33
ano 𝑠

Logo o caudal de saída da bacia hidrográfica é de 𝑄 = 5340000000𝑚3 por ano

NB: O caudal de saida da bacia hidrografica é igual ao caudal de entrada da albufeira


( caudal afluente).

7.5. Cálculo do armazenamento de água na albufeira

P + Q1 + G1 – (Q2 + G2 + E) = ΔS

Q = ∆S

m3 𝑚3
∆s = 169,33 = 5340000000
segundo 𝑎𝑛𝑜

29
7.6. Cálculo do volume de água necessário para o abastecimento do distrito

Dados:

Número de habitantes do distrito = 283 984

Quantidade média de água que uma pessoa precisa por dia = 100 litros por dia segundo
a ONU, citado em (Fernanda S.M de jesus, sd).

1m3------------------------------1000 litros

X m3---------------------------------100 litros

1000 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑋 = 1𝑚3 × 100 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜𝑠

1𝑚3 × 100 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜𝑠


𝑋=
1000 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜𝑠

𝑋 = 0,1 𝑚3 𝑝𝑜𝑟 𝑑𝑖𝑎

Logo o volume necessário de água por pessoa em um dia é de 0,1 m3

Então, o volume necessário para todos habitantes do distrito por dia, teremos:

1 Pessoa ------------------------------ 0,1 m3 por dia

283984 Pessoas---------------------X m3

283984 Pessoas × 0,1 m3 por dia


X=
1 Pessoa

X = 28398.4 m3 por dia

1 Ano -----------------------365 dias

X = 28398.4 m3 × 365 ↔ X = 10365416 m3 por ano

𝑉ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡. = 10365416𝑚3 𝑝𝑜𝑟 𝑎𝑛𝑜

30
Logo o volume necessário para abastecer o distrito durante um ano é de
10365416 m3 por ano, Com base o número de habitantes.

Verificação de segurança do volume de armazenamento na albufeira com o volume


necessitado pelos habitantes por um período de um ano.

∆SVolume de armaz. ≥ Vvol. nec. no distrito

𝑚3
5340000000 > 10365416𝑚3 por ano, 𝐎𝐊!
𝑎𝑛𝑜

8. Dimensionamento da barragem

8.1. Cálculo de Borda Livre

É a diferença entre o nível do coroamento e o nível máximo estipulado do reservatório.


Para tal, utilizou-se a fórmula empírica criada por Stivenson-Molitor para determinação
da altura “h” da camada do projeto, fazendo relações com a velocidade do vento que
atinge a lâmina de água bem como a onda que este impacto gera.

Logo considerando uma velocidade de vento máximo de 50km/h da província de


Nampula e a máxima distancia F= 0,3km, a altura de onda teremos:

1 1
ℎ𝑜 = 0,032 × (50 × 0,3)2 + 0,75 − 0,27 × (0,3)4

ℎ𝑜 = 0,97𝑚 ≈ 1𝑚

31
Com a altura da onda encontrada, pode-se verificar a altura necessária de borda livre,
então, teremos:

ℎ = 1,4 × 1 ↔ ℎ = 1,4𝑚

Logo a borda livre é de 1,4m

8.2. Cálculo de Orla de Segurança

É a diferença entre o nível de coroamento do reservatório e o nível normal do mesmo.


Para o cálculo deste parâmetro, leva-se em conta a altura da lâmina de água no vertedouro,
pois este deve estar alinhado ao nível normal do reservatório, bem como a borda livre
calculada.

Onde: R = borda livre (m); hv = altura da lâmina de água no vertedouro (m)

Como a lâmina de água no vertedouro não devera passar 1/3 da borda livre então, adota-
se hv= 0,4 m

𝐎𝐒 = 𝐑 + 𝐡𝐯

𝐎𝐒 = 𝟏, 𝟒 + 𝟎, 𝟒 = 𝟏, 𝟖𝐦

3.1.1.1. Cálculo da largura de crista

Tal valor leva em referência à altura total da “taipa” da barragem, ou seja, a altura máxima
em que o maciço construído de solo atinge. Para efeito de dimensionamento a fórmula
analisada foi estudada por Preece, e está representada na seguinte Equação:

32
Considerando que a barragem tem 15m de altura, a largura de crista teremos:

𝟏
𝒃 = 𝟏, 𝟏 × (𝑯)𝟐 + 𝟏

𝟏
𝒃 = 𝟏, 𝟏 × (𝟏𝟓)𝟐 + 𝟏

𝒃 = 𝟓, 𝟐𝟔, 𝒂𝒅𝒐𝒕𝒂 − 𝒔𝒆 𝒅𝒆 𝟓𝒎 𝒅𝒆 𝒍𝒂𝒈𝒖𝒓𝒂 𝒅𝒆 𝒄𝒓𝒊𝒔𝒕𝒂

8.3. Dimensionamento de armaduras da barragem

Depois de ser determinado os locais que recebem os esforços de tração e compressão é


necessário saber as armaduras nelas necessárias.

𝑵𝒔𝒅 − 𝟎, 𝟖𝟓 × 𝑭𝒄𝒅 × 𝑨𝒄
𝑨𝒔 =
𝑭𝒔𝒚𝒅

𝑵𝒔𝒅
𝑨𝒄 =
(𝟎, 𝟖𝟓 × 𝑭𝒄𝒅 + 𝑭𝒔𝒚𝒅 × 𝝆)

Onde:

Nsd: é a tensão que a barragem sofrera no seu estado de utilização, ou seja é o esforço de
tração ou compressão.

Fcd: é Tensão resistente, depende da classe de betão adotado no projecto.

Ac: Área da secção transversal do betão;

Fsyd: Tensão de calculo;

ρ: Percentagem geométrica das armaduras.

As armaduras presentes são de características A400NR, com as seguintes dimensões:

Armaduras Principais Ø35@.20 Ø32@.20 Ø30@.17,5 Ø25@.20


Armaduras Secundárias Ø16@.25 Ø16@.20 Ø20@.15 Ø16@.15

33
Algumas armadura s presentes nesse projecto serão pré-fabricada, podendo se fazer a
exportação dos mesmos.

Os aços com alto teor de carbono, que possuem normalmente teores de carbono entre
0,60 e 1,40%, são os mais duros, mais resistentes, porém, os menos dúcteis dentre todos
os aços carbono. Eles são quase sempre utilizados em uma condição endurecida e
revenida e, como tal, são especialmente resistentes ao desgaste e à abrasão.

8.4. Local de execução do projecto de barragem

O projecto de barragem será construída a uma distância de 11 km da vila do distrito,


devido a procura de um lugar estratégico para a sua construção, como mostra a figura a
baixo.

Figura: Local de execução da barragem

Fonte: autor (a partir do Google Earth pro)

34
9. Orçamento do projecto

Os valores dos trabalhos estão apresentados na tabela a seguir a empresa responsável para
construir a barragem de abastecimento de água no distrito de Mecubúri, com 90% dos
trabalhadores.

Tabela de orçamento de recursos humanos

Recursos Humanos
Equipe técnica Carga horaria Meses Valor Valor total
semanal Unitário
3 Engenheiros Civis 56h 24 230 000,00MZ 5520 000,00MZ
2 Engenheiros Elétricos 35h 24 180 000,00MZ 4320 000,00MZ
1 Engenheiros Ambiental 28h 24 75 800,00MZ 1440 000,00MZ
58 Mestres de obra 100h 19 700 000,MZ 16800 000,00MZ
2 Topógrafos 16h 24 90 500,00MZ 1810 000,00MZ
2 Engenheiros Mecânicos 30h 24 191 000,00MZ 4584 000,00MZ
2 Engenheiros Geotécnicos 12h 20 120 000,00MZ 1800 000,00MZ
2 Arquitetos 10h 24 150 000,MZ 1800 000,00MZ
2 Técnicos da Informática 12h 15 160 000,mz 2560 000,00MZ
5 Operadores de máquina 42h 12 250 000,00mz 6000 000,00MZ
Encargos 30% do valor Total (30%X Subtotal)
Impostos 17% do valor total (17% X(Subtotal + Engr )

Total 1987300,00MZ 46634000,00MZ

35
10. Resultados obtidos

Com base nos cálculos mostrados acima, pode-se afirmar que a bacia hidrográfica de
Mecubúri tem o potencial de ser erguida uma barragem, capaz de responder a demanda
dos habitantes naquela região, para minimizar os riscos que o povo se encontra naquela
vila. Com tudo vimos que o armazenamento da água na albufeira é muito maior em
relação ao volume que a população precisa num período de um ano, com isso a água pode
ser aproveitados para outros fins como irrigação de campos e muito mais.

Com tudo o estudo foi um sucesso, portanto a bacia tem as condições de receber uma
infraestrutura para barrar a água que a bacia oferece para alimentar a população
desemparedas atras deste líquido precioso.

36
11. Conclusão

A análise de uma bacia é muito importante para conhecer suas características e seu
potencial que oferece para gerir os recursos hídricos do local.

Durante a análise da bacia concluímos que a bacia hidrográfica de Mecubúri tem o


potencial de ser erguida uma barragem, capaz de responder a demanda dos habitantes
naquela região, para minimizar os riscos que o povo se encontra naquela vila. Com tudo
vimos que o armazenamento da água na albufeira é muito maior em relação ao volume
que a população precisa num período de um ano.

Sob esta perspectiva, a pesquisa objetiva analisar a contribuição dos gastos decorridos do
consumo de água na renda média dos domicílios. A fim de subsidiar essa análise, buscou-
se também obter a distribuição no território da demanda de água da rede de abastecimento
através de estimativas dos volumes de água consumidos considerando-se tipo de
edificação (ex. casa, apartamento), quantidade média de banheiros e moradores e renda
média domiciliar

E concluímos que a barragem deve ser erguida com base as recomendações citadas a cima
e obedecer os critérios de dimensionamento ilustrado nas folhas anteriores.

Como recomendações do projetos futuros, deve-se fazer os estudos aprofundados sobre


o solo da bacia e infiltração anual media do local e se melhorar as estruturas para poder
responder a demanda das futuras população, visto que o crescimento populacional esta
cada vez mais a crescer ao longo do tempo.

37
12. Bibliografia
Camacho, S. A. (2018). Hidrologia, Recursos Hídricos e Ambiente: aulas teóricas.
Madeira : Universidade da Madeira.

Cazula, L. P., & Patrícia Helena Mirandola. (s.d.). Bacia hidrografia- conceito e
importancia como unidade de planejamento. seçao tres lagoas .

Andreoli, C. V., Andreoli, F. d., Donha, A., & Kotinha, A. C.(2014), A relação da
qualidade e quantidade da água no ambiente urbano e rural. Colecção Agrinho.
Disponível em: https://www.agrinho.com.br/site/wp-content/uploads/2014/09/30_A-
relacao-da-qualidade-e quantidade.pdf

MISAU- Ministério da Saúde (2006). Manual do curso de controlo e análise de água


potável. Maputo.

Ministério da Administração Estatal- perfil do distrito de Mecubúri. 2005

38

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