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Manual de Curso de licenciatura em Ensino de Geografia


– 2o ano

Hidrogeografia
G0140
Universidade Católica de Moçambique
Centro de Ensino a Distância
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Direitos de autor (copyright)


Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à Distância
(CED) e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste manual, no
seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
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Moçambique - Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passível a
processos judiciais.
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Cel: 82 50 18 44 0
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E-mail: ced@ucm.ac.mz
Website: www.ucm.ac.mz

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Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à Distância e o autor do presente manual,
dr. Edson Feniche José Húo, gostariam de agradecer a colaboração dos seguintes indivíduos e
instituições na elaboração deste manual:
Pela maquetização e revisão final
Heitor Simão Mafanela Simão
Elaborado Por: dr. Edson Feniche José Húo
Licenciado em Ensino de Geografia pela Universidade Pedagógica – Beira
Colaborador do Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia no CED
Coordenação, Maquetização e Revisão Final: dr. Heitor Simão Mafanela Simão
Licenciado em Ensino de Geografia pela Universidade Pedagógica – Beira
Mestrando em Ciências e Sistemas de Informação Geográfica
Coordenador do Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia no CED
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Índice
Visão geral
1
Bem-vindo a Hidrogeografia ......................................................................................... 1
Objectivos do curso ....................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 2
Como está estruturado este módulo................................................................................ 2
Ícones de actividade ...................................................................................................... 3
Acerca dos ícones ........................................................................................ 3
Habilidades de estudo .................................................................................................... 3
Precisa de apoio? ........................................................................................................... 4
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 4
Avaliação ...................................................................................................................... 5
Unidade I
7
Introdução a Hidrogeografia .......................................................................................... 7
Introdução ............................................................................................................ 7
Sumário ....................................................................................................................... 12
Exercícios.................................................................................................................... 13
Unidade II
15
Regimes hídricos e processos de formação .................................................................. 15
Introdução .......................................................................................................... 15
Sumário ....................................................................................................................... 21
Exercícios.................................................................................................................... 22
Unidade III
23
Propriedades físicas das águas naturais ........................................................................ 23
Introdução .......................................................................................................... 23
Sumário ....................................................................................................................... 38
Exercícios.................................................................................................................... 39
Unidade IV
40
Propriedades químicas das águas naturais .................................................................... 40
Introdução .......................................................................................................... 40
Sumário ....................................................................................................................... 51
Exercícios.................................................................................................................... 52
Unidade V
53
As bases dos processos de formação dos reservatórios aquáticos ................................. 53
Introdução .......................................................................................................... 53

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ii
Sumário ....................................................................................................................... 56
Exercícios.................................................................................................................... 56
Unidade VI
57
As leis básicas dos movimentos das águas ................................................................... 57
Introdução .......................................................................................................... 57
Sumário ....................................................................................................................... 63
Exercícios.................................................................................................................... 64
Unidade VII
65
A circulação das águas na natureza .............................................................................. 65
Introdução .......................................................................................................... 65
Sumário ....................................................................................................................... 70
Exercícios.................................................................................................................... 71
Unidade VIII
72
A influência dos processos hídricos sobre as condições naturais .................................. 72
Introdução .......................................................................................................... 72
Sumário ....................................................................................................................... 77
Exercícios.................................................................................................................... 78
Unidade IX
79
Os recursos hídricos na terra ........................................................................................ 79
Introdução .......................................................................................................... 79
Sumário ....................................................................................................................... 81
Exercícios.................................................................................................................... 81
Unidade X
82
A hidrografia dos glaciares .......................................................................................... 82
Introdução .......................................................................................................... 82
Sumário ....................................................................................................................... 89
Exercícios.................................................................................................................... 90
Unidade XI
91
O balanço do gelo e da água nos glaciares ................................................................... 91
Introdução .......................................................................................................... 91
Sumário ....................................................................................................................... 97
Exercícios.................................................................................................................... 98
Unidade XII
99
Os reservatórios aquáticos especiais - águas subterrâneas ............................................ 99
Introdução .......................................................................................................... 99

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iii
Sumário ..................................................................................................................... 114
Exercícios.................................................................................................................. 115
Unidade XIII
116
Os movimentos das águas subterrâneas...................................................................... 116
Introdução ........................................................................................................ 116
Sumário ..................................................................................................................... 124
Exercícios.................................................................................................................. 125
Unidade XIV
126
A hidrografia dos rios ................................................................................................ 126
Introdução ........................................................................................................ 126
Sumário ..................................................................................................................... 136
Exercícios.................................................................................................................. 137
Unidade XV
138
Regime hídrico dos rios ............................................................................................. 138
Introdução ........................................................................................................ 138
Sumário ..................................................................................................................... 141
Exercícios.................................................................................................................. 142
Unidade XVI
143
A hidrografia dos lagos.............................................................................................. 143
Introdução ........................................................................................................ 143
Sumário ..................................................................................................................... 148
Exercícios.................................................................................................................. 149
Unidade XVII
150
A hidrografia dos pântanos ........................................................................................ 150
Introdução ........................................................................................................ 150
Sumário ..................................................................................................................... 153
Exercícios.................................................................................................................. 154
Unidade XVIII
155
Oceano mundial ........................................................................................................ 155
Introdução ........................................................................................................ 155
Sumário ..................................................................................................................... 157
Exercícios.................................................................................................................. 157
Unidade XIX
159
Os diferentes oceanos do mundo................................................................................ 159
Introdução ........................................................................................................ 159

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iv
Sumário ..................................................................................................................... 161
Exercícios.................................................................................................................. 162
Unidade XX
163
As propriedades físicas das águas oceânicas .............................................................. 163
Introdução ........................................................................................................ 163
Sumário ..................................................................................................................... 168
Exercícios.................................................................................................................. 169
Unidade XXI
170
Propriedades químicas das águas oceânicas ............................................................... 170
Introdução ........................................................................................................ 170
Sumário ..................................................................................................................... 172
Exercícios.................................................................................................................. 172
Unidade XXII
174
Os movimentos das águas oceânicas .......................................................................... 174
Introdução ........................................................................................................ 174
Sumário ..................................................................................................................... 178
Exercícios.................................................................................................................. 178
Unidade XXIII
179
Acção das águas marítimas e o aproveitamento económico do oceano mundial ......... 179
Introdução ........................................................................................................ 179
Sumário ..................................................................................................................... 185
Exercícios.................................................................................................................. 185
Unidade XIV
186
A poluição dos oceanos e mares ................................................................................ 186
Introdução ........................................................................................................ 186
Sumário ..................................................................................................................... 188
Exercícios.................................................................................................................. 188

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Visão geral
Bem-vindo a Hidrogeografia
O material apresenta-nos pressupostos que se relacionam com a
hidrosfera, no que se refere as águas superficiais (oceanos), as
águas subterrâneas e as águas consolidadas (glaciares). Sobre os
oceanos, nos proporcionara conhecimentos sobre os oceanos no seu
todo, isto é, o seu conceito, suas divisões, suas características e o
seu aproveitamento económico; sobre as aguas subterrâneas dar-
nos-á pressupostos relativo as suas características gerais; e
finalmente sobre os glaciares a bagagem será também em torno das
suas características e a importância destes na manutenção do
equilíbrio térmico da terra.
Objectivos do curso
Quando terminar o estudo de Hidrogeografia será capaz de:
Objectivos
▪ Conceitualizar a Hidrogeografia;
▪ Descrever as propriedades físicas e químicas das águas;
▪ Debruçar sobre a circulação da água na natureza;
▪ Caracterizar os oceanos;
▪ Demonstrar a importância económica dos oceanos;
▪ Descrever os mecanismos de poluição dos oceanos;
▪ Caracterizar o litoral moçambicano;
▪ Caracterizar as águas subterrâneas;
▪ Explicar o processo de contaminação das águas subterrâneas;
▪ Caracterizar os glaciares;
▪ Descrever a importância dos glaciares na manutenção do equilíbrio
térmico.

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Quem deveria estudar este


módulo
Este Módulo foi concebido para todos aqueles estudantes que queiram ser
professores da disciplina de Geografia, que estão a frequentar o curso de
Licenciatura em Ensino de Geografia, do Centro de Ensino a Distancia.
Estende-se a todos que queiram consolidar os seus conhecimentos sobre
a Hidrogeografia.

Como está estruturado este


módulo
Todos os módulos dos cursos produzidos pela Universidade Católica de
Moçambique - Centro de Ensino a Distância encontram-se estruturados
da seguinte maneira:
Páginas introdutórias
▪ Um índice completo.
▪ Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os
aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de
começar o seu estudo.
Conteúdo do curso / módulo
O curso está estruturado em unidades. Cada unidade ncluirá uma
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um summary da unidade e uma ou mais
actividades para auto-avaliação.
Outros recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista
de recursos adicionais para você explorer. Estes recursos podem incluir
livros, artigos ou sites na internet.
Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação
Tarefas de avaliação para este módulo encontram-seno final de cada
unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do modulo.
Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários
sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / modulo.

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Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.
Acerca dos ícones
Os ícones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por
adrinka. Estes símbolos têm origem no povo Ashante de África
Ocidental, datam do século 17 e ainda se usam hoje em dia.

Habilidades de estudo
Durante a formação, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores
resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os
bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficazes e por isso é
importante saber como estudar. Apresento algumas sugestões para que
possa maximizar o tempo dedicado aos estudos:
Antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente
de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em
casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de
tarde/fins de semana/ao longo da semana? Estudo melhor com
música/num sítio sossegado/num sítio barulhento? Preciso de um intervalo
de 30 em 30 minutos/de hora a hora/de duas em duas horas/sem
interrupção?
É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da
matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já
domina bem o anterior. É preferível saber bem algumas partes da matéria
do que saber pouco sobre muitas partes.
Deve evitar-se estudar muitas horas seguidas antes das avaliações, porque,
devido à falta de tempo e consequentes ansiedade e insegurança, começa a
ter-se dificuldades de concentração e de memorização para organizar toda
a informação estudada. Para isso torna-se necessário que: Organize na sua
agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar
durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o
utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e
a outras actividades.
É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma
necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A
colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de
modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode
escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode
também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados
com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a
seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;

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Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
desconhece;

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra situação, o
material impresso, lhe pode suscitar alguma duvida (falta de clareza,
alguns erros de natureza frásica, prováveis erros ortográficos, falta de
clareza conteudística, etc). Nestes casos, contacte o tutor, via telefone,
escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor,
contacte-o pessoalmente.
Os tutores têm por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o
estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor,
usando para o efeito os mecanismos apresentados acima.
Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interacção, em caso de
problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase
posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for de natureza
geral. Contacte a direcção do CED, pelo número 825018440.
Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de
expediente.
As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem
a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode
apresentar duvidas, tratar questões administrativas, entre outras.
O estudo em grupo com os colegas é uma forma a ter em conta, busque
apoio com os colegas, discutam juntos, apoiem-se mutuamente, reflictam
sobre estratégias de superação, mas produza de forma independente o seu
próprio saber e desenvolva suas competências.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e
auto-avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do
período presencial.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante.
Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser
dirigidos ao tutor\docentes.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os
mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do
autor.

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O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito)
palavras de um autor, sem o citar é considerado plagio. A honestidade,
humildade científica e o respeito pelos direitos autoriais devem marcar a
realização dos trabalhos.

Avaliação
Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o
período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com
base no chamado regulamento de avaliação.
Os trabalhos de campo por ti desenvolvidos, durante o estudo individual,
concorrem para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira.
Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões
presenciais, eles representam 60%, o que adicionado aos 40% da média de
frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a
cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar 3 (três) trabalhos, 2 (dois) testes
e 1 (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como
ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade,
a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das
referências utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual.
consulte-os.

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Unidade I
Introdução a Hidrogeografia
Introdução
Nesta unidade iremos discutir sobre a Hidrogeografia, seu conceito,
objecto de estudo, o percurso histórico e noções de hidrosfera no
cômputo geral.
É necessário que para o estudo de uma ciência iniciemos de
antemão com os conhecimentos de base de modo que o estudante
da disciplina saiba o que lhe espera.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
▪ Conceituar a Hidrogeografia;
▪ Identificar o seu objecto de estudo;
▪ Descrever o seu percurso histórico; e
▪ Descrever de modo geral a hidrosfera.
Conceito e objecto de estudo da Hidrogeografia
“Dentro das ciências fisico – geograficas, inclui-se a
Hidrogeografia que tem como objecto de estudo os fenomenos
que tem lugar na hidrosfera. […] a hidrosfera corresponde a
parte liquida da geosfera, vemos entao que os fenomenos
hidrogeograficos serao os correspondentes , tanto a aguas
continentais superficiais ou subterraneas, como aos do

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oceano”. (FACULDADE DE LETRAS DA UEM 1982, p. 61)
Hidrogeografia é a ciência que estuda as aguas e a sua descriçao (a
origem, ocorrência e distribuição dos fenómenos aquáticos na
superfície da terra).
O percurso histórico da Hidrogeografia
Os mais antigos trabalhos de drenagem e irrigação em larga
escala são atribuídos ao Faraó Menés, fundador da primeira
dinastia egípcia, que barrou o rio Nilo próximo a Mênphis,
com uma barragem de 15m e extensão de aproximadamente
500 metros, para alimentar o canal de irrigação.
Também no Egito encontram-se os primeiros registros
sistemáticos de níveis de enchentes. Estes registos datam de
3.500 a.C. e indicavam aos agricultores a época oportuna de
romper os diques para inundar e fertilizar as terras
agricultáveis. Nota-se que, aos egípcios, pouco importava o
estudo da Hidrologia como ciência e sim a sua utilização.
Muitos conceitos erróneos e falhas de compreensão
atravessaram o desenvolvimento da engenharia no seu sentido
actual. Os gregos foram os primeiros filósofos que estudaram
seriamente a Hidrologia, com Aristóteles sugerindo que os rios
eram alimentados pelas chuvas. Sua maior dificuldade era
explicar a origem da água subterrânea. Somente na época de
Leonardo da Vinci (por volta de 1.500 d.C.) a ideia da
alimentação dos rios pela precipitação começou a ser aceita.
No entanto, foi apenas no ano de 1694 que Perrault, através de
medidas pluviométricas na bacia do rio Sena, demonstrou,
quantitativamente, que o volume precipitado ao longo do ano
era suficiente para manter o volume escoado.
O astrónomo inglês Halley, em 1693, provou que a evaporação
da água do mar era suficiente para responder por todas as
nascentes e fluxos d’água. Mariotte, em 1686, mediu a
velocidade do rio Sena. Estes primeiros conhecimentos de
Hidrologia permitiram inúmeros avanços no Século XVIII,
incluindo o teorema de Bernoulli, o Tubo Pitot e a Fórmula de
Chèzy, que formam a base da Hidráulica e da Mecânica dos

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Fluidos.
Durante o Século XIX, foram feitos significantes avanços na
teoria da água subterrânea, incluindo a Lei de Darcy. No que se
refere à Hidrologia de águas superficiais, muitas fórmulas e
instrumentos de medição foram criados.
Chow (1954) chamou o período compreendido entre 1900 e
1930 ficou conhecido como o Período do Empirismo. O
período de 1930 a 1950 seria o Período da Racionalização.
Datam desta época o Hidrograma Unitário de Sherman (1932)
e a Teoria da Infiltração de Horton (1933). Entre 1940 a 1950
foram feitos significantes avanços no entendimento do
processo de evaporação. Em 1958, Gumbel llança as bases da
moderna hidrologia estocástica. A partir da década de 70, a
Hidrologia passa a contar com os avanços computacionais, o
que levaram ao desenvolvimento de muitos modelos de
simulação” (STUDART e CAMPOS s/d, p. 4 - 5)
Objectos aquaticos e noção da hidrosfera
O recurso aquático predominante na hidrosfera é o oceano se
seguindo restantes ambientes aquáticos, como rios, lagos, lagoas e
mares e todas as águas subterrâneas, bem como as águas marinhas,
águas glaciais e lençóis de gelo, vapor de água, as quais
correspondem a 71% de toda a superfície terrestre.
É pertinente que ao falarmos da hidrosfera nos restringíssemos em
primeira mão sobre as teorias que explicam a sua origem.
O surgimento da Hidrosfera é discutível. Existem várias hipóteses e
teorias que explicam este acontecimento e todas elas estão em
conexão com a origem da Terra. A primeira teoria de E. Zuss, a
evaporação do magma, defende que a hidrosfera resultou das
emanações do magma em fusão, no processo do vulcanismo, tendo
alimentado a atmosfera em vapor de água, gases e poeiras. As
poeiras teriam contribuído para a formação de núcleos de
condensação e consolidado a crusta terrestre, o que poderia ter

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facilitado a consolidação e a retenção da água; a segunda foi
defendida por Vinogradov por volta do ano 1959, onde segundo o
autor, a hidrosfera terá resultado da actividade vulcânica através do
qual foi emitido o magma e as substâncias voláteis e infusíveis
como amoníaco, cloro, oxigénio, hidrogénio, dióxido de carbono
que teriam se deslocado por convecções à superfície da Terra local
pelo qual processou-se a refrigeração e cristalização da massa
fundida.
A água teria se sintetizado a partir oxigénio e hidrogénio que se
deslocavam à atmosfera em forma de vapor de água. Tendo o vapor
de água se refrescado e condensado a elevadas altitudes da
atmosfera, as gotas de água submetidas à força de gravidade, caiam
em direcção à superfície da Terra que de novo evaporavam-se,
elevando-se às camadas superiores da atmosfera para transmitir o
calor terrestre ao espaço cósmico frio. Como resultado deste
mecanismo de troca de energia entre os espaços cósmico frio e
terrestre quente, as primeiras gotas de chuva teriam atingido a
superfície da Terra; e finalmente temos a teoria catastrófica que
defende que a hidrosfera teria se formado a partir dos fragmentos
resultantes da colisão de duas estrelas.
Os fragmentos dispersos pelo universo foram colidindo durante
longo período de tempo. A Terra foi recebendo os meteoritos e
planetóides que nela colidiam devido a sua maior força de atracção.
Estes meteoritos continham muita água.
Os meteoritos incandescentes ao colidirem com a Terra, tornaram-
se num oceano de magma. A contínua queda dos meteoritos sobre o
oceano de magma, fez com que os materiais mais pesados
(ferrosos) se afundassem e o vapor de água contido neles se
evaporasse para alta atmosfera, tendo-se condensado e criado aí
nuvens espessas.

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A medida que a queda dos planetóides foi diminuindo, a
temperatura do oceano do magma foi baixando e consequentemente
a temperatura do ar, o que condicionou a descida das espessas
nuvens que provocaram chuvas intensas que reduziram cada vez
mais a temperatura da terra, o que favoreceu a que a água da chuva
atingisse a superfície da Terra e, assim, se formasse a Hidrosfera.
Actualmente, tem lugar a transferência de água a partir das rochas
em fusão, do manto para os oceanos – água juvenil (que se origina
nas altas profundidades e supõe-se estar relacionada com a
actividade magmática). Contudo, este acréscimo é compensado
pelo equilíbrio mantido através da perda de uma parte de água sob
efeito do bombardeamento de raios solares sobre as gotas de água
(vapor de água) o que concorre para que uma parte de hidrogénio
liberto escape do efeito gravitacional para o espaço cósmico.
A hidrosfera será neste caso a esfera que compõe todas as águas do
planeta, os quais formam uma camada descontínua sobre a
superfície da Terra.
O termo hidrosfera vem do grego: hidro + esfera = esfera da água
as quais correspondem a 71% de toda a superfície terrestre. Esta
esfera compreende todos os rios, lagos, lagoas, as águas
subterrâneas e as águas glaciais, bem como as águas marinhas onde
esta ultima perfaz cerca de 97%, ocupando o maior espaço.
Para cada um dos componentes da hidrosfera podemos encontrar
algumas ciências específicas que se dedicam a estudo de cada uma
delas, nomeadamente, a oceanografia, estuda os oceanos e mares
no que respeita as suas propriedades físicas e químicas, bacias
oceânicas entre outros aspectos; a potamologia, estuda o
comportamento dos cursos de água, tanto superficiais como
subterrâneas (rios e aguas subterrâneas), a sua localização e
utilização relacionado com o resto dos fenómenos físico –

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geográficos em especial com os climatológicos, geomorfológicos,
pedológicos, entre outros; e a limnologia, estuda os lagos e
pântanos.

Sumário
A Hidrogeografia é uma área da Geografia Física que se dedica ao
estudo da parte líquida da terra. Ela tem como objecto de estudo as
águas que correspondem a maior parte da terra relativamente a
parte continental. Para o seu estudo (que deve ser feito em partes)
ela subdivide-se em oceanografia, limnologia e potamologia.
A parte líquida na terra surge, segundo algumas teorias, pela
emanação vulcânica, donde durante a sua actividade libertou/liberta
gases, poeiras e vapor de água. Este último elemento condensou-se
a partir da poeira (núcleo de condensação) e daqui estava criada as
condições para que ocorresse a precipitação e se criasse os
primeiros cursos de água.
A outra teoria, que pelo teor, se baseia na primeira também alega
que a parte líquida surge por meio de actividades vulcânicas que
libertou para a terra gases como, o oxigénio, o hidrogénio, entre
outros, donde na fusão do oxigénio e hidrogénio criou-se condições
para a formação da água.
O historial sobre o estudo das águas surge, obviamente, depois do
processo da sua formação. No processo do percurso histórico das
águas, numa perspectiva mais científica, há que destacar o
contributo dos gregos que foram os primeiros filósofos que
estudaram seriamente a Hidrologia, com Aristóteles sugerindo que
os rios eram alimentados pelas chuvas.
Após esta descoberta várias e distintas ideias, de outros autores,
foram surgindo e continuam surgindo ate os dias presentes.

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Exercícios
1. De o conceito da Hidrogeografia.
2. Diga em que campo das ciências geográficas se enquadra.
3. Faça uma abordagem sobre a história da hidrologia desde o
passado ate em épocas actuais.
4. Estabeleça a distinção entre a teoria de Zuss e de
Vinogradov e explica, segundo o ultimo autor, de que forma
a terra baixou a temperatura uma vez que ela era um “lago
de magma”.
Entregar o exercício 2, 3 e 4 desta unidade.

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Unidade II
Regimes hídricos e processos de formação
Introdução
Esta unidade debruçar-se-á sobre o comportamento das águas na
terra, que é em função das condições que lhes são submetidas, isto
é, a variação do nível do caudal dos rios, por exemplo, varia em
função do clima, do terreno que percorre, do relevo, entre outros
factores.
Abordara também sobre os processos de formação dos recursos
hídricos, em que neste processo, de acordo com os componentes
dissolvidos da água e dos fenómenos decorrentes na natureza
(clima, evaporação, entre outros), elas/as águas naturais se
distinguem uma das outras.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
▪ Explicar o comportamento do caudal das águas em função das
condições que lhe são submetidas;
▪ Descrever o processo de formação dos recursos hídricos na
terra; e
▪ Distinguir as distintas águas existentes no globo terrestre.
Os regimes hídricos
Referem-se aos comportamentos das águas no que respeita ao seu
aumento ou redução ao longo do ano.

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Fazendo uma analise sobre o regime hídrico das águas dos oceanos
podemos notar que estas recebem constantemente a agua provinda
das rochas em fusão existentes no interior da terra. Esta emissão
contribuiria bastante para o aumento das águas marinhas mas
porque uma parte da água existente na atmosfera é dissolvida pela
luz solar e outras escapam a gravidade terrestre se perdendo no
espaço parece haver compensação entre a água ganha e perdida
fazendo com que os níveis das águas oceânicas se mantenham
quase constante. O apontamento apresentado pela Faculdade de
letras da UEM (1982, p. 65) subscreve este fenómeno:
“parece estar claro que a agua presente na terra tem
a sua origem nas rochas em fusão existentes sob a
crusta terrestre. Quando estas rochas, através das
erupções vulcânicas entram em contacto com o mar,
desprendem grandes quantidades de vapor de água.
No momento da formação da crusta terrestre terão
sido estas rochas que transportaram, desta forma, as
aguas que agora existe nos oceanos. Porque a crusta
terrestre existente situada sob os oceanos se renova
permanentemente a partir destas rochas em fusão,
verifica-se, por isso, um fornecimento contínuo de
água designada por água juvenil”.
O volume das águas oceânicas deveria pois
aumentar continuamente. Mas porque, em
contrapartida, uma fracção de água presente na
atmosfera é dissolvida pela luz solar nas altitudes
mais elevadas, e uma parte das moléculas assim
formadas, particularmente o H [hidrogénio],
escapam a atracção terrestre, esta perda de vapor de
água parece compensar rigorosamente o
fornecimento da água juvenil” (Faculdade de letras
da UEM 1982, p. 65).
Porem, a partir da acção do clima, por meio de aumento da
temperatura que se fez sentir em algumas épocas, o nível das aguas
dos oceanos tende a aumentar. Veja:
“As águas marinhas elevam os oceanos ate um nível
que nos serve de referencia para medir as altitudes e
as profundidades. Esse nível, a escala humana, não
parece variar. No entanto, o volume das águas

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marinhas varia em função da quantidade de gelo
depositado nos continentes. Durante os últimos 500
000 anos, os climas sofreram variações de grande
amplitude, ate ao ponto fazer variar esse volume de
tal modo que o nível dos mares se modificou em
uma centena de metros. Efectivamente, a superfície
ocupada pelos gelos, assim como a espessura da
capa de gelo aumenta ou diminui segundo o frio seja
mais ou menos intenso; uma quantidade de água
mais ou menos grande é assim retirada ou fornecida
aos oceanos. Devido a isso, no período das
glaciações o nível dos mares e oceanos desce, pondo
a descoberto por toda a parte a plataforma
continental, os rios vem-se então forçados a abrir o
seu curso sobre um terreno anteriormente ocupado
pelo mar. [Em períodos relativamente quente o nível
do mar é relativamente alto devido ao degelo]
Como ainda existe uma massa de gelo que é de cerca
de 2% da massa dos oceanos, o nível do mar pode
ainda elevar-se cerca de uma centena de metros. Isto
seria suficiente para que a maior parte das capitais
do mundo como o Tóquio, Londres, Nova York e
Paris se visem inundadas pelas águas.” (1982, 65).
Hoje vivemos um regime capitalista, uma economia baseada no
mercado em que o que transparece é o facto de o desenvolvimento
económico assumi a prioridade nos objectivos traçados em
diferentes regiões em detrimento dos cuidados a ter com a natureza.
Assim sendo, hoje devido as actividades industriais temos vivido
uma era das mudanças climáticas, manifesta por aumento da
temperatura mundial. Com isso nas zonas polares assiste-se um
crescente derretimento do gelo, facto que tem contribuído para o
aumento do nível médio das águas do mar.
Os rios podem apresentar-se com um caudal fraco (estiagem) ou
alto (cheia) em função da abundância ou não da chuva ou degelo.
O regime de um rio depende da alimentação (proveniente da chuva
ou degelo), do relevo (a forte inclinação do leito favorece o
escoamento rápido das aguas), do clima, da natureza das regiões
atravessadas (as rochas permeáveis retardam a escorrência e

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restituem lentamente as aguas infiltradas, regularizando assim o
regime do rio. Pelo contrario, a totalidade das aguas das chuvas
corre rapidamente sobre as rochas impermeáveis, determinando
grandes inundações) e da existência da vegetação e de lagos
reguladores.
De acordo com o seu regime os rios classificam-se de diferentes
formas. Deste modo podemos classificar os rios em regime
constante ou permanente, periódico ou cíclico, irregular ou
intermitente e torrencial.
Existem três tipos de lagos, nomeadamente, emissor, intermédio ou
de passagem e receptor. De acordo com o seu tipo o regime dos
lagos irá variar em função do comportamento do caudal dos rios.
Por exemplo os lagos intermédios e receptor não apenas recebem
directamente a agua provinda das chuvas ou degelo mas da
alimentação destes por parte dos rios.
Quanto o curso das águas subterrâneas, o comportamento do nível
das águas vária de acordo com a intensidade das precipitações,
estação do ano, grau de humidade da região, percurso dos cursos
de água (rios) e proximidade relativa ao mar. “Quanto maior for o
grau de humidade e pluviosidade, proximidade do mar e a
existência de rios, tanto mais alto será o nível da toalha. Pelo
contrário, será menor nas regiões de escassa humidade e durante a
estação seca”. (Faculdade de letras da UEM, p. 79)
Os processos de formação dos objectos aquáticos
“Parece estar claro que a água presente na terra tem a
sua origem nas rochas em fusão existentes sob a
crusta terrestre. Quando estas rochas, através de
erupções vulcânicas, entram em contacto com o mar,
desprendem grande quantidade de vapor de água. No
momento da formação da crusta terão sido estas
rochas que transportaram, desta forma, a água que
agora existe nos oceanos.” (Faculdade de letras da
UEM 1982, p. 65).

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Consultar apontamentos sobre a origem da
hidrosfera.
Durante o processo do surgimento da hidrosfera (esfera de agua)
foram simultaneamente criadas, para além dos oceanos, os rios,
lagos e águas subterrâneas. É preciso também entender-se que para
se ter essas componentes da hidrosfera foi necessário a existência
de depressões, alias, no conceito destas componentes o termo
referido é parte integrante. Dai que os movimentos naturais da terra
como os sismos (os efeitos de sismos sobre o terreno podem ser
muito notáveis “os grandes sismos estão em geral ligado a
deslocamento de falhas. Quando esta intercepta a superfície, a sua
rejeição origina desnivelamento verticais e deslizamentos
horizontais […] podem desviar rios, originar lagos […]” idem, p.
51, sublinhado do autor), os vulcões (responsável pela formação
dos lagos vulcânicos localizados em crateras) e a tectónica de
placas (ver teoria de translação de continentes de Alfred Wegener –
1912. Substanciando a ideia deste autor admite-se que “ao longo
das cristas oceânicas o material rochoso do interior do manto sobe
e espraia-se para cada lado. Assiste-se assim uma expansão
continua dos fundos dos oceanos para cada linha de crista, a
velocidade que varia de 1 a 9 cm por ano. Conclui-se portanto que
a crusta oceânica se esta formando continuamente ao longo das
grandes crista submarinas” (Idem, p. 44, sublinhado do autor))
desempenharam um papel fundamental na criação das tais
depressões.
As águas naturais
As águas naturais são aquelas que resultam da actividade natural da
terra (resultam da actividade vulcânica, das aguas contidas em
algumas rochas no interior da terra, da agua existente em meteorito,
de acordo com algumas teorias). A formação da hidrosfera ocorreu

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de forma natural e em períodos que antecedem o aparecimento do
Homem.
Na terra podemos encontrar a água em diferentes locais e sob
diversas formas de acordo com a sua composição química. Assim
de acordo como local de ocorrência a água pode se encontrar no
subsolo (em lençóis freático, provenientes das precipitações e rios
devido a permeabilidade do solo onde assentam os rios); agua
superficial doce (encontra-se a superfície, formando cursos de água
em quantidades e volumes diferentes. Em resultado da sua
ocorrência, surgem rios, lagos e pântanos); agua dos oceanos e
mares (são outra forma de ocorrência das águas superficiais,
porém, dada as suas características particulares apresenta um
elevado teor de sais, 30 a 35 g/l); e Glaciares (representam-se pelas
grandes superfícies geladas dos círculos polares, pelas neves das
regiões de latitudes e altitudes pronunciadas).
De acordo com a composição química as águas podem se
classificar em águas minerais (estão em contacto com as rochas e
dissolvem os minerais nelas existentes, é a água com grande teor de
minerais) e, podem ser águas salgadas (contém grande teor de sais);
águas duras (contêm maior percentagem de alguns sais e sobretudo
carbonato e magnésio. Estas particularizam-se pelo facto de não
reagirem com soda cáustica. Não se utiliza sabão, quando fervida
formam uma crosta no fundo); águas pesadas (contêm cerca de 4%
de sais, 96% água puramente dura); e água mineral potável (é a
água de circulação subterrânea, considerada bacteriologicamente
própria, com características físico - químicas estáveis na origem,
dentro da gama de flutuações naturais de que podem eventualmente
resultar efeitos favoráveis à saúde e que se distingue da água de
beber comum - a chamada agua potável) pela sua pureza original e
pela sua composição específica caracterizada pelo teor de
substâncias minerais ou outros constituintes.

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Avaliando as condições da qualidade para o uso, as águas naturais
podem ser potável (apresenta padrões mínimos óptimos para o
consumo humano e ou para outras actividades económicas) e água
insalubre (imprópria para o consumo humano)
Sumário
Concluímos que, o regime hídrico refere-se ao comportamento do
caudal em diferentes épocas do ano que reage a diversas situações
que a natureza lhe submete.
As águas do mar devido a constante emissão das águas juvenis,
provinda do interior da terra, deveria estar a aumentarem. Este
fenómeno não acontece porque parte da água evaporada é
dissolvida pela luz solar e a outra parte perde-se pelo espaço,
escapando do efeito da gravidade. Deste modo as águas oceânicas
mantêm-se no mesmo nível, digamos.
Atendendo apenas a abordagem supra citada ficamos convencidos
de que, há de facto uma estabilidade, porem, com o fenómeno
actual das mudanças climáticas, caracterizado por um aquecimento
global, protagonizada pela crescente actividade humana, o nível
médio das aguas do mar aumentou e/ou ira aumentar devido ao
derretimento do gelo.
Quanto ao nível do caudal dos rios, lagos e os aquíferos, salientar
que para além de outros factores, estes estão fundamentalmente
dependentes das condições climatéricas da região em que se
localizam.
A origem dos recursos hídricos esta relacionado, segundo teorias,
com as actividades vulcânicas e com os meteoros que atingiram a
terra. Estas teorias explicam o surgimento das águas, porem, é bom
associar estes fundamentos com os agentes da geodinâmica interna
(tectonismo, sismos e vulcanismo) que contribuíram/contribuem
para a modelação da crosta terrestre (aparecimento de depressões),
locais onde as aguas se instalam.

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As águas existentes na terra, de acordo com a sua localização e
composição, se distinguem entre si, classificando-se
respectivamente em águas superficiais, subterrâneas, glaciárias,
doce, salgadas e duras.
Exercícios
1.
Descreve a influência dos glaciares no aumento dos níveis
das águas oceânicas e faça uma análise das suas consequências sob
ponto de vista dos prejuízos dos ecossistemas das fozes dos rios
(tanto da flora como da fauna) e sob ponto de vista social e
económico, atendendo a invasão das águas nas zonas costeiras.
Entregar o exercício 1 desta unidade.

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Unidade III
Propriedades físicas das águas
naturais
Introdução
Esta unidade ira fornecer pressupostos sobre as propriedades físicas
das águas naturais, destacando, a transparência, a temperatura, a
densidade, a alteração do volume específico, a adesão, a tensão
superficial, a capilaridade, a cor e as propriedades térmicas e
eléctricas. Estas características reflectem as evidências
macroscópicas. Fornecer-nos-a também conhecimentos sobre a
estrutura molecular e os estados da agua.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
▪ Descrever as propriedades físicas da água;
▪ Identificar os componentes da estrutura molecular da agua; e
▪ Identificar os estados da água e explicar os processos de
transição.
As propriedades físicas das águas
Transparência
É a propriedade que tem os corpos de se deixar atravessar pela luz.
A transparência das águas varia de acordo com o tipo e quantidade

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de partículas inorgânicas e orgânicas dissolvidas e em suspensão,
contidas nas águas naturais. São estes elementos que reduzem a
penetração da luz, reduzindo a actividade fotossintética.
A transparência vária de alguns cm até 50m. Os instrumentos que
permitem determinar o grau de transparência é chamado de disco
de Secchi e o instrumento de “células fotoelectricas de celenio”.
Quanto maior a absorção da radiação, maior será a transparência
das águas e consequentemente maior será a produtividade de
plâncton.
A transparência das águas é determinada por alguns factores,
nomeadamente, as substâncias orgânicas e inorgânicas dissolvidas
e em suspensão, a profundidade, o estado de tempo (nebulosidade),
e a variação da intensidade luminosa (diurna e anual).
Temperatura
A água pode ser encontrada na natureza em diferentes estados em
função do clima vigente na região onde se encontra o recurso
hídrico. Uma pequena variação da temperatura atmosférica ou do
globo, pode alterar completamente as condições do ciclo
hidrológico, retardando-o, devido à congelação, ou acelerando-o,
intensificando a evaporação com o aumento da temperatura.
Densidade
À temperatura ambiente, a água líquida fica mais densa à medida
que diminui a temperatura, da mesma forma que as outras
substâncias. Mas a 4 °C (ou 3,98 °C mais precisamente), logo antes
de congelar, a água atinge sua densidade máxima e a partir do seu
congelamento a densidade começa a diminuir.

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Fonte: Google - Wikipédia, a enciclopédia livre
Em grandes massas de água, quando a temperatura nas camadas
superficiais diminui muito e aproxima-se daquele valor (4º C),
estabelecem-se correntes de subsidência que, por seu turno, são
compensadas pela ascensão da água menos densa (mais quente)
proveniente das camadas mais profundas. Esta característica é
importante para a ordem ecológica e é graças a ela que os seres
vivos de regiões glaciares ou sob efeito de invernos rigorosos,
conseguem sobreviver, durante largo tempo. Por outro lado, o
movimento daí resultante é responsável pelo equilíbrio térmico
entre as regiões ou superfícies congeladas e as regiões
Tabela 1 - Densidade da água em gramas por centímetro cúbico em várias
temperaturas
TEMPERATURA (°C)
DENSIDADE (g/cm³)
100
0,9584
80
0,9718
60
0,9832
40
0,9922
30
0,9956502
25
0,9970479
22
0,9977735
20
0,9982071
15
0,9991026
10
0,9997026
4
0,9999720
0
0,9998395
−10
0,998117
−20
0,993547
−30
0,983854

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relativamente mais quentes.
Alteração do volume específico
Esta associada às transições de fase da água, têm consequências
importantes em todo o ciclo. Sabe-se que a água é das poucas
substâncias em que o volume específico aumenta quando se dá a
solidificação, daqui resulta que o gelo pode flutuar nos oceanos, o
que obsta, portanto, a congelação progressiva a partir do fundo dos
oceanos para a superfície das águas, nas regiões polares, como
frequentemente acontece. Este facto é fundamental para a
sobrevivência dos seres vivos nas águas das camadas inferiores das
regiões polares e dos lagos em que se verifica a congelação.
Adesão
A água adere a si mesma por coesão, por ser polar. Pelo mesmo
motivo, também apresenta fortes propriedades de adesão. Numa
superfície de vidro muito limpa, a água ali depositada pode formar
uma fina camada, porque as forças moleculares entre o vidro e a
água (forças adesivas) são mais fortes que as coesivas.
Figura 1- Gotas de orvalho aderidas a uma teia de aranha
Fonte: Internet – Google
Tensão superficial
A água tem uma alta tensão superficial, causada pela forte coesão
entre as moléculas. Isso é perceptível quando se deposita uma

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pequena quantidade de água sobre uma superfície não solúvel como
a do polietileno; a água se mantém reunida em gotas.
O outro efeito da tensão superficial são as ondas capilares, que são
as ondulações que se formam ao redor do impacto de gotas na
superfície da água, e às vezes ocorrem quando sobem correntes
fortes de água sob a superfície. A aparente elasticidade causada
pela tensão superficial é o que move as ondas.
Figura 2 – O impacto de uma gota de água provoca uma
repercussão "para cima" circular rodeado por ondas capilares
Fonte: Internet – Google
Figura 3 - Exemplo da manifestação da tensão superficial: Uma
margarida abaixo do nível da água, que forma uma superfície curva
acima dela. É a tensão superficial que impede que a água submerja
a flor.
Fonte: Internet – Google

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Capilaridade
Refere-se a capacidade que a água tem de ascender à superfície por
capilaridade contra a força de gravidade, fazendo com que ela
mantenha os solos húmidos mesmo nos períodos secos; permite
também que as plantas absorvam a água dos lençóis freáticos.
Cor
Em óptica, a cor é uma sensasão fisiológica provocada pela acção
da luz incidente numa região da retina sobre os pigmentos dos
cones dessa região. Ela está relacionada com certa qualidade da
mesma luz que a produz, qualidade que pode ser rigorosamente
definida pela sua composição espectral. Para o caso particular das
águas naturais, esta varia de manancial para manancial.
A água do mar apresenta uma cor variável devido a nebulosidade,
natureza do fundo das regiões próximas do litoral. Mesmo assim, o
mar é tanto mais azul quanto mais límpida estiverem as suas águas.
A cor natural das águas do mar é azul porque as radiações azuis no
espectro solar são as menos absorvidas e que, por isso, sofrem
maior dispersão, penetram a maiores profundidades, ou seja, são
reflectidas como se dá na atmosfera.
Existem mares que não possuem a cor azul, este facto é devido às
infinidades de partículas que contém em suspensão (orgânicas e
inorgânicas), os inúmeros e pequeníssimos seres platónicos e os
detritos inorgânicos arrancados pelas águas do mar às costas e os
que os ventos e os rios estão constantemente a lançar no mar,
alteram a cor natural das águas do mar e tornam-nas esverdeadas e
diminui-lhes a transparência. Tais partículas possuem coloração
esverdeada e conclui-se que as águas azuis são pobres em plâncton.
Observe como a cor da água vária em função da latitude:
• Região equatorial e tropical – águas azuis.

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• Nas regiões de latitude média e altas, apresentam sempre
uma cor esverdeada devido a abundância das diatomácias
(algas microscópicas). A mesma latitude, nas zonas de
grandes desertos, as águas apresentam um tom azul vivo
devido a uma penúria da matéria orgânica e da vida. Diz-se
que o azul é a cor dos desertos nos oceanos.
• Perto da costa onde, finas partículas de lodo estão com
frequência em suspensão, a água é turva, de cor amarela-
esverdeada e, por vezes, vermelha conforme a cor dos
sedimentos. Por vezes na embocadura dos rios é nítido o
limite entre as águas costeiras e as águas dos rios, como
acontece na embocadura dos rios Púnguè e Búzi, na baía de
Mazanzane em Sofala.
As vezes as águas do mar apresentam na sua superfície cores como
branco (mar de leite) e vermelho (mar de sangue).
A cor branca deve-se a multiplicação de plâncton em quantidade, o
que faz com que a superfície tenha um aspecto de gelatina
esbranquiçada.
Se certos organismos de plâncton de cor vermelha adquirem um
certo desenvolvimento excessivo, as águas tomam uma cor
vermelha – mar vermelho; apresentam algumas vezes uma cor
avermelhada devido a abundância de algas denominadas
trichodesmium.
A cor das águas dos lagos vária consoante a nebulosidade, tipo de
nuvens e fundamentalmente, a existência de partículas orgânicas e
inorgânicas que lhes emprestam determinadas cores.
As diferentes tonalidades adquiridas pelas águas dos lagos são mais
notáveis nos períodos de chuvas, onde a actividade erosiva e de
transporte é bastante elevada.

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A cor das águas dos lagos pode variar, entre azul-marinho (quando
o céu estiver limpo e se não houver muitos organismos vivos), e um
esverdeado turvo para vermelho quando se regista predominância
de phitoplacton e quando o escoamento é excessivo.
A cor da água dos rios conhece variações locais e sazonais, isto é,
de acordo com o tipo de materiais detríticos dissolvidos ou em
suspensão que arrastam consigo, assim como com o regime das
chuvas. No tempo chuvoso, os rios apresentam cores que variam
entre vermelho e castanho sem deixarem de ser turva. Quando
transportam no seu leito quantidades consideráveis de material
detrítico de origem vegetal, podem apresentar uma cor esverdeada.
Está claro que se as condições atmosféricas forem calmas e o rio
apresentar uma boa profundidade, as suas águas tendem para o azul
que pode ter várias tonalidades.
A cor das águas sólidas (glaciares) tendem, quase sempre, a
apresentar uma cor esbranquiçada. Esta particularidade estará
relacionada com o seu albedo bastante elevado (80%) que são
superficiais e que fisicamente absorvem muito pouca energia solar,
aliás, elas devolvem-na para a atmosfera.
Condutibilidade eléctrica
A condutividade eléctrica de uma solução é uma medida da
quantidade de carga transportada pelos iões. Quando a fonte de iões
provém de impurezas a condutividade transforma-se numa medição
de pureza. Quando menor a condutividade, mais pura é a solução.
Água como matéria e sua estrutura molecular
O mundo em que vivemos apresenta uma grande variedade de
formas, cores, temperaturas, movimentos, entre outras propriedades
e através dos órgãos dos sentidos, percebemos que podemos tocar
uma pessoa, uma planta, a água e outras que apenas sentimos como
o ar e a humidade.

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A água e todas outras substancias supra citadas por mais diferente
que possam parecer todas ocupam um lugar no espaço, são feitas de
matéria.
Matéria é tudo aquilo que possui massa e ocupa um lugar no
espaço e a água como matéria apresenta estas características. A
matéria água é composta por moléculas e átomos.
É possível perceber que a matéria pode existir em três estados
físicos diferentes, o sólido, o líquido e o gasoso. É também possível
verificar que alguns corpos podem mudar de estado físico, ou seja,
deixar de ser sólido e passar para líquido e do líquido passar para o
estado gasoso. Um exemplo disso é a água, que pode existir no
estado sólido (como gelo), no estado líquido (como água), ou no
estado gasoso (como vapor).
Sobre a estrutura molecular salientar cada molécula de água é
composto por dois átomos de hidrogénio (H) ligado a um átomo de
oxigénio (O). A molécula de agua é a menor partícula que pode
existir na substancia química agua. Por exemplo: imagine uma gota
de agua que você divide em partes e uma dessas partes você
continua dividindo ate chegar na menor porção da substancia agua.
A essa menor porção se dá o nome de molécula da água.
A partir desse exemplo podemos extrair a própria definição de
molécula: “ […] é a menor porção de uma substancia, tendo a
mesma composição desta substancia”. (BARROS e PAULINO
2001, p. 106)
Assim, a substancia química agua é constituída por um conjunto de
moléculas de agua e esta substancia é insípida (sem gosto), inodoro
(sem cheiro) e incolor (sem cor, é transparente). As moléculas são
ainda constituídas por partículas menores, os átomos, neste caso a
molécula de água é composto por átomos de hidrogénio e oxigénio.

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O estado físico de toda substancia e em particular da água depende
da arrumação de suas moléculas e de seus átomos, isto é, depende
de como se organizam as suas minúsculas partes constituintes e
essa organização depende das condições a que determinada
substancia esta submetida.
A organização molecular da agua no estado sólido as moléculas de
agua encontram-se fortemente ligadas entre si, vibrando em torno
de posições fixas; no estado líquido as moléculas de água não ficam
tão próxima entre si como no estado sólido, vibram mais
intensamente, livremente e escorregam uma sobre as outras; e
finalmente no estado gasoso as moléculas de água apresenta grande
distancia umas das outras e em movimento totalmente desordenado,
chocando-se entre si.
Figura 4 – Estrutura molecular da água
Fonte: Internet – Google
O estado da água
Podemos encontrar a agua na natureza sob três estados, com
destaque para, o estado liquido, gasoso e sólido. A água no estado

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líquida encontramos em zonas de clima quente (zona intertropical)
e em algumas épocas do ano (de Julho a Dezembro a temperatura
aumenta no hemisfério sul e de Janeiro a Junho o mesmo fenómeno
acontece no hemisfério norte) em clima temperado (zona
temperada) estão distribuído nos oceanos, mares, rios, lagos, nos
seres vivos entre outros locais; a água no estado gasoso é aquelas
que encontramos em forma de vapor contido no ar. Esta água pode-
se encontrar distribuído em toda troposfera apenas diferenciando-se
em proporções nas diferentes regiões climáticas, sendo
predominante na região intertropical. O vapor de água que se forma
na terra e vai para o ar tem sua origem na evaporação da água dos
mares, rios, lagos e ate na transpiração dos seres vivos. A água
evaporada se condensa e se transforma em gotículas. Essas
gotículas vão se juntando formando as nuvens; e a água no estado
sólido é aquela que se encontra em forma de gelo. Podemos
localiza-las em regiões de clima frios e em algumas épocas do ano
(de Julho a Dezembro a temperatura diminui no hemisfério norte e
de Janeiro a Junho o mesmo fenómeno acontece no hemisfério sul)
no clima temperado. A água neste estado é encontrada em forma de
neve, granizo, geada e icebergs.
Para a passagem de um estado para o outro a água obedece certos
processos de acordo com a temperatura a ela submetida,
nomeadamente, a solidificação (passagem do estado liquido para o
sólido); a fusão (passagem de uma substancia do estado sólido para
o liquido); a vaporização (passagem da agua do estado liquido para
gasoso). Este processo pode ocorrer em forma de ebulição ou
evaporação; a liquefacção ou condensação (passagem da agua do
estado gasoso para o liquido); e sublimação (passagem da agua do
estado sólido para o gasoso ou vice - versa).

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Figura 5 – Estados e processos de transição da água
Fonte:
Internet
-
Google
Densidade
A densidade é a propriedade física da matéria que descreve o grau
de compactação das substâncias. Para conhecermos o grau de
compactação das substâncias e em particular da água devemos
partir da seguinte definição: “densidade de uma substancia é a
razão entre a massa e o seu volume […] D = m : V” (BARROS e
PAULINO 2001, p. 131). Para medirmos a massa de uma
substancia ou de um corpo devemos colocar a substancia numa
balança (a unidade de massa miligrama - mg, grama - g e
quilograma - kg) e para saber o volume podemos usar um copo ou
jarra graduada que apresentam marcas que indicam a unidade em
centímetros cúbicos (cm3) ou milímetros (ml): 1 cm3 = 1ml. Quanto
mais compactadas estiverem as suas partículas individuais, mais
densa é essa substância.
Diferentes substâncias têm diferentes densidades, o que é bastante
útil para a sua identificação. A densidade das substâncias é
determinada experimentalmente mas o valor obtido é variável

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porque o volume das substâncias vária com pressão e a
temperatura. Algumas substâncias como a madeira, o óleo, a
gasolina tem diferentes densidades, pois há diferentes substancia
destes tipos.
Portanto as substancias mais densas são mais pesadas que as menos
densas (“leves”) ou, as substancia mais densas apresentam maior
quantidade de matéria (massa) por unidade de volume (ser mais
pesado significa ter mais massa) e as substancias menos densas tem
menor quantidade de matéria por unidade de volume.
Em cada substancia a matéria pode estar mais concentrada ou
menos concentrada dependendo da proximidade entre os seus
átomos ou as suas moléculas. Por exemplo comparando a agua e o
óleo, notamos que as moléculas da agua estão mais
concentrada/próxima umas das outras que as do óleo.
Tabela 2 – Variação da densidade de acordo com o tipo de
substancia
SUBSTANCIA
DENSIDADE
Água doce
1 g/cm3
Água do mar
1,03 g/cm3
Gelo
0,91 g/cm3
Gasolina
0,7 g/cm3
Álcool
0,8 g/cm3
Petróleo
0,85 g/cm3
Óleo
0,9 g/cm3

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Ar
0,0013 g/cm3
Cortiça
0,24 g/cm3
Vidro
2,6 g/cm3
Madeira
0,5 g/cm3
Mercúrio
13,6 g/cm3
Alumínio
2,7 g/cm3
Ferro
7,8 g/cm3
Chumbo
11,3 g/cm3
Ouro
19,3 g/cm3
Fonte: extraído do livro: ciências: o meio ambiente
Propriedades térmicas e eléctricas
Os recursos hídricos apresentam grande capacidade de conservação
da temperatura, ela aquece e arrefece mais lentamente
relativamente a superfície terrestre.
A temperatura das águas resulta da troca de calor entre o oceano e a
atmosfera. Este calor é emitido pela radiação solar, onde o oceano
recebe a luz do sol e emite uma radiação infravermelha. Estas
trocas fazem-se igualmente por condução, como por exemplo
quando uma corrente quente circula sobre uma massa de ar frio,
como é o caso da corrente do golfo sobre as massas de ar polar de
Canadá. Por último essas trocas produzem-se em especial sobre
forma de calor latente (a evaporação da agua retira o calor da agua
e liberta-o para a atmosfera).
Nas zonas tropicais as águas absorvem um excesso de calor da
ordem dos 100W/m2 e nas latitudes elevadas restitui o calor a

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atmosfera. É sobretudo por este motivo que o clima é mais suave
no inverno nas zonas próximas ao oceano em particular (por se
constituírem grandes e contínuos reservatórios de agua
diferentemente dos rios, lagos e pântanos) do que nas zonas
continentais.
Quanto as propriedades eléctricas da água, salientar que este
apresenta fraca ou forte condução dependendo dos seus
componentes. A condução é fraca quando há grande concentração
de sais (sulfatos, sódio, cloreto, entre outros) e quando temos
grande concentração de metais a água passa a ser bom condutor de
electricidade (ver apontamentos sobre a condutividade eléctrica da
agua).
A condutividade eléctrica da água
Define-se como sendo a capacidade que a água tem em conduzir a
corrente eléctrica, que resulta da dissolução das moléculas que
compõe a água. As moléculas não dissociadas não tomam parte na
condução e a condutibilidade depende do número de iões presentes.
Portanto, a condutibilidade resulta do movimento de iões na água:
os catiões (+) deslocam-se para os cátodos (-) e os aniões (-) para
ânodos (+).
A água que se encontra na natureza nunca é pura por excelência,
ela contém sempre substâncias estranhas. A água dos mares,
oceanos, rios são fortes ou fracos condutores de acordo com a
quantidade de óxidos e bases e outras substâncias sólidas.
As águas subterrâneas são fortes condutores de acordo com a
quantidade de ácidos e sais e outras substâncias sólidas
concentradas. A impureza transforma a água num condutor
eléctrico.
A temperatura também é determinante na condutibilidade da água.
Por exemplo, o oceano mundial apresenta uma condutibilidade que

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é inversamente proporcional a latitude, isto é, há maior
condutibilidade em regiões de latitude baixa (zonas quentes) que
nas de altas latitudes (zonas frias). Acredita-se que há maior
salinidade nas região intertropical pelos níveis de evaporação
existente, e de acordo com Jessen (1998, p.16) “a uma dada
temperatura, quanto maior for a salinidade, maior será a
condutividade media […]”. Nas águas do mar a condutibilidade
eléctrica é largamente utilizada para a determinação da salinidade.

Sumário
Todo corpo apresenta particularidades que o identifica e com a
água não é diferente. Ela é caracterizada fisicamente por apresentar
em temperatura ambiente de 4º C uma maior densidade e abaixo
desta (no estado sólido) a densidade diminui, facto que é pouco
comum com outros corpos na natureza.
A água possui a capacidade de deixar passar a luz, designado por
transparência. Ela varia de acordo com os níveis de substâncias
nela dissolvidas; a sua temperatura vária em função da zona em que
a massa aquática se localiza, assim, nas regiões polares elas são
frias e nas equatoriais tornam-se quentes.
A água altera o seu volume específico também sob as condições
que estiver sujeito, deste modo, quando a temperatura ambiente é
inferior ao 4º C ela começa a congelar e o seu volume aumenta,
podendo flutuar na água no estado líquido.
A adesão é outra característica das águas. Elas tem a capacidade de
unirem-se quando espalhadas; a tensão superficial que resulta da
forte adesão entre as moléculas da água faz com que esta tenha uma
característica, a superfície, semelhante ao elástico.

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A água é também caracterizada por apresentar a cor, a capilaridade
e a condutividade eléctrica. A primeira varia em função das
substâncias existentes na água, por exemplo, quando as aguas
apresentarem uma cor esverdeada ou avermelhada ela tende a
adoptar estas cores; a segunda corresponde a capacidade da água
ascender a superfície por forças capilares, isto é, ascende a
superfície contrariando a lei gravitação universal; e a terceira
corresponde a capacidade que a agua tem de conduzir a corrente
eléctrica, sendo maior quanto maior quantidade de substancias
tanto orgânicas e inorgânicas dissolvida nela.
Na natureza a agua tem o seu lugar, facto que o faz ser considerada
uma matéria. Ela, em função da temperatura ambiente, comporta os
três estados (liquido, gasoso e sólido), caso raríssimo.

Exercícios
Entregar o exercício 1, 2 a) e 3 desta unidade.
1. Explica por palavras próprias e com mais subsídios a tensão
superficial, a adesão, a capilaridade e a capacidade térmica
da água.
2. Investigue o seguinte: defende-se que várias propriedades
peculiares da água, como, a flutuação do gelo, o elevado
calor de vaporização, a forte tensão superficial, o alto calor
específico e as propriedades solventes quase universais são
devidas às ligações de hidrogénio.
a) Explique porque.
3. Aborde com pormenores o porquê da maior condutividade
eléctrica no momento em que maior é o índice das
substâncias dissolvidas nas águas.

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Unidade IV
Propriedades químicas das águas
naturais
Introdução
Nesta unidade falaremos sobre as características químicas das
águas naturais, no que respeita, ao sabor, a dureza e ao cheiro.
Abordaremos ainda sobre a sua capacidade de dissolução, o ciclo
hidrológico e as impurezas existente nas águas e sua origem.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
▪ Descrever as características químicas das águas naturais;
▪ Explicar a capacidade de dissolução da água;
▪ Conhecer as origens das impurezas existentes nas águas; e
▪ Descrever o ciclo hidrológico.
As propriedades químicas das águas
Quimicamente a água nunca ocorre na natureza de forma pura
devido ao contacto que tem com outros elementos químicos que se
encontram nas rochas, solos e atmosfera. Os que passam por rochas
dissolvem minerais de silício, magnésio, cálcio e influenciam as
águas, tornando-as minerais.
Dentre as características químicas da água, destacam-se:

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Dureza
Define-se como a capacidade da água de reagir ao sabão. Quando a
água é dura requer grande quantidade deste produto para produzir
espuma. Esta característica é causada pelos iões metálicos
dissolvidos na água como o cálcio, magnésio, ferro e alguns outros.
De um modo geral, a dureza da água calcula-se em termos de
quantidade equivalente de carbonato de cálcio e segundo a variação
deste componente, a água classifica-se em branda, quando a
concentração for de 0-60 mg/l, medianamente dura quando for 60-
120 mg/, dura 120-180 mg/l e muito dura 180 mg/l ou mais.
Sabor e odor
Na forma pura a água é insípida e inodora, porém a interferência de
substâncias estranhas pode lhe proferir um sabor e um cheiro
particular.
Água como dissolvente
Dificilmente a água é encontrada em estado de pureza na natureza
isto porque a água é um solvente poderoso, ou seja, tem a
capacidade de dissolver inúmeras substâncias (gases, sais, etc).
As substâncias que se misturam bem e se dissolvem na água, como,
os sais (o sal é resultante da combinação de um acido e um
hidróxido; o exemplo mais conhecido é o cloreto de sódio, vulgo
sal da cozinha (NaCl); os sais tem sabor salgado e em alguns
momentos amargo (sulfato de magnésio – MgSO4)) são conhecidas
como substâncias hidrossoluveis, ao passo que as que não se
misturam bem em água, como por exemplo, gorduras e óleos são
chamadas hidrofóbicas. A capacidade de uma substância se
dissolver em água depende de ela poder ou não igualar ou superar
as grandes forças atractivas que as moléculas de água exercem
umas sobre as outras. Se uma substância tiver propriedades que a
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impeçam de superar essas grandes forças intermoleculares, suas
moléculas são “expulsas” da água, e não se dissolvem.
Quando um composto iónico ou polar entra em contacto com a
água, é rodeado por moléculas de água (hidratação). O tamanho
relativamente pequeno das moléculas de água tipicamente permite
que muitas delas rodeiem uma única molécula de soluto. As
extremidades parcialmente negativas do dipolo da água são atraídas
pelos componentes positivamente carregados do soluto, e vice-
versa com as extremidades positivas.
Em geral, substâncias iónicas e polares como ácidos (normalmente
tem sabor azedo, como, o limão e o vinagre; eles tem a capacidade
de alterar a cor de certas substancias e servem para testar alguns
metais), álcoois (OH) e sais são relativamente solúveis em água, e
substâncias apolares como gorduras e óleos, não. Moléculas
apolares permanecem juntas na água porque é energeticamente
mais favorável para as moléculas de água ligar-se umas às outras
por ligações de hidrogénio que se envolverem com as moléculas
apolares.
Um exemplo de soluto iónico é o sal de cozinha; o cloreto de sódio,
NaCl, se separa em catiões Na+ e aniões Cl−, cada um rodeado por
moléculas de água. Os iões são então facilmente separados de sua
rede cristalina. Um exemplo de soluto não iônico é o açúcar
comum. Os dipolos da água criam ligações de hidrogénio com as
regiões polares da molécula de açúcar (grupos OH) e lhe permitem
ser misturada na solução.
As dissoluções em que a água é dissolvente apresentam uma
extrema importância, pois, permitem a obtenção dos produtos
usados no nosso dia-a-dia. Por exemplo:
“formol (agua + aldeido fórmico) – usado principalmente em
laboratórios na conservação de animais ou fetos mortos, para serem

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estudados; limpa – forno (agua + hidróxido de sódio) – usado para
remover gorduras;” (BARROS e PAULINO 2001, p. 126). Para
destas substâncias temos o vinagre e a água sanitária.
As dissoluções em que a água participa também são fundamentais
para a manutenção da vida no organismo. Veja alguns exemplos:
“[…] as plantas absorvem sais minerais do solo […]. Os sais
minerais, porem, são absorvido pelas raízes apenas quando
estão dissolvidos em água; o sangue é, na verdade, uma mistura
heterogénea. Visto a olho nu, tem um aspecto uniforme, mas ao
microscópio revela uma parte líquida (plasma sanguíneo) em
que estão imersos inúmeros globos vermelhos, glóbulos
brancos e plaquetas. O plasma sanguíneo ‘e principalmente
constituído de água. Dissolvida nesta água, encontram-se
varias substancias: glicose, vitaminas, etc. essas substancias,
fundamentais para a nossa vida, são absorvido no intestino e
distribuídas para as varias partes do corpo. Assim, a água do
sangue actua como um veículo de transporte e distribuição de
substâncias úteis nela dissolvida”. (idem)
As impurezas da água e sua origem
A poluição da água compromete o seu uso e pode atingir o homem
de forma directa, pois ela é usada por ele para ser bebida, higiene
pessoal, lavagem de roupas e utensílios e, principalmente, para sua
alimentação e dos animais domésticos. Além disso, abastece as
cidades, sendo também utilizada nas indústrias e na irrigação
agrícola. Por isso, a água deve ter aspecto limpo, pureza de gosto e
estar isenta de microrganismos patogénicos, o que é conseguido
através do seu tratamento, desde da recolha nos rios até à chegada
nas residências urbanas ou rurais. A água é considerada de boa
qualidade quando apresenta menos de mil coliformes fecais e
menos de dez microrganismos patogénicos por litro (como aqueles
causadores de verminoses, cólera, esquistossomose, febre tifoide,
hepatite, leptospirose, poliomielite). Portanto, para a água se
manter nessas condições, deve evitar-se sua contaminação por
resíduos, sejam eles agrícolas (de natureza química ou orgânica),
esgotos, resíduos industriais ou sedimentos provenientes da erosão.

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Sobre a contaminação agrícola há a considerar os resíduos do uso
de agro tóxico (comum na agropecuária), que provêm de uma
prática muitas vezes intensiva nos campos, que envia grandes
quantidades de substâncias tóxicas para os rios através das chuvas,
o mesmo ocorrendo com a eliminação do esterco de animais
criados em pastagens. No primeiro caso, há o uso de adubos,
muitas vezes exagerado, que acabam por ser carregados pelas
chuvas aos rios, acarretando o aumento de nutrientes nestes pontos;
isso propicia a ocorrência de uma explosão de bactérias
decompositoras que consomem oxigénio, contribuindo para
diminuir a concentração do mesmo na água, produzindo sulfeto de
hidrogénio, um gás de cheiro muito forte que é tóxico quando a
concentração é elevada. Isso também afecta as formas superiores de
vida animal e vegetal, que utilizam o oxigénio na respiração, além
das bactérias aeróbicas, que são impedidas de decompor a matéria
orgânica sem deixar odores nocivos através do consumo de
oxigénio.
Os resíduos gerados pelas indústrias, cidades e actividades
agrícolas podem ser sólidos ou líquidos, tendo um potencial de
poluição muito grande. As impurezas geradas pelas cidades, como
resíduos, entulhos e produtos tóxicos são carregados para os rios
com a ajuda das chuvas. Os resíduos líquidos podem carregar
poluentes orgânicos que, em pequena quantidade, são mais fáceis
de ser controlados do que os inorgânicos. As indústrias produzem
grande quantidade de resíduos em seus processos, sendo uma parte
retida pelas instalações de tratamento da própria indústria, que
retêm tanto resíduos sólidos quanto líquidos, e a outra parte
despejada no ambiente. No processo de tratamento dos resíduos
também é produzido outro resíduo chamado chorume, um líquido
que requer segundo tratamento e controle. As cidades podem ser
ainda poluídas pelas enxurradas, pelos resíduos e pelo esgoto.

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Enfim, a poluição das águas pode aparecer de vários modos,
incluindo a poluição térmica (descarga de efluentes as altas
temperaturas), poluição física (descarga de material em suspensão),
poluição biológica (descarga de bactérias patogénicas e vírus), e
poluição química, que pode ocorrer por deficiência de oxigénio,
toxidez e eutrofização.
A eutrofização é causada por processos de decomposição que
fazem aumentar o conteúdo de nutrientes, aumentando a
produtividade biológica, permitindo proliferações periódicas de
algas, que tornam a água turva e com isso podem causar deficiência
de oxigénio pelo seu apodrecimento, aumentando sua toxicidade
para os organismos que nela vivem (como os peixes, que aparecem
mortos junto a espumas tóxicas).
A poluição de águas nos países ricos é resultado da forma como a
sociedade consumista está organizada para produzir e desfrutar de
sua riqueza, progresso material e bem-estar. Já nos países pobres, a
poluição é resultado da pobreza e da ausência de educação de seus
habitantes, que, assim, não têm base para exigir os seus direitos de
cidadãos, o que só tende a prejudicá-los, pois esta omissão na
reivindicação de seus direitos leva à impunidade às indústrias, que
poluem cada vez mais, e aos governantes, que também se
aproveitam da ausência da educação do povo e, em geral, fecham
os olhos para a questão, como se tal poluição não atingisse também
a eles. A Educação Ambiental vem justamente resgatar a cidadania
para que o povo tome consciência da necessidade da preservação
do meio ambiente, que influi directamente na manutenção da sua
qualidade de vida.
Quanto maior é a qualidade da água de um rio, ou seja, quanto mais
esforços forem feitos no sentido de que ela seja preservada (tendo
como instrumento principal de conscientização da população a
Educação Ambiental), melhor e mais barato será o tratamento desta

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e, com isso, a população só terá a ganhar. Novas técnicas vêm
sendo desenvolvidas para permitir a reutilização da água no
abastecimento público.
A água da distribuição pública em países desenvolvidos é tratada,
sendo por isso normalmente muito boa para consumo e até mais
controlada que a água engarrafada, sendo uma fonte mais ecológica
e muito mais barata. Por vezes nalguns países a própria água
engarrafada provém da torneira, sendo apenas filtrada. No entanto,
normalmente nalguns países com problemas de poluição ou sem
fácil acesso a água potável, pode suceder ser contaminada por
substâncias químicas tóxicas ou por microrganismos prejudiciais à
saúde pública. Mesmo algumas substâncias, consideradas
indispensáveis ao consumo, podem ser tóxicas se a sua
concentração for excessiva, como é o caso do flúor, que pode
causar a fluorose. Pode ocorrer excesso de concentração cloro,
flúor ou outras substâncias utilizadas no tratamento. No entanto,
devido às baixas dosagens utilizadas no tratamento e ao controle do
processo de tratamento esse tipo de ocorrência tende a ser pequeno.
As formas mais comuns de contaminação decorrem da presença de
poluentes ou de microrganismos despejados nos mananciais. Esse
tipo de contaminação é mais frequente em localidades que não
possuem tratamento de água, mas em alguns casos, podem ocorrer
mesmo em água tratada, devido a falhas no processo de
abastecimento ou pela presença de poluentes que não possam ser
removidos pelo processo de tratamento normal.
Em muitos casos os contaminantes podem estar presentes mesmo
em águas minerais engarrafadas — as fontes de água mineral
podem encontrar-se em regiões sujeitas à presença de poluentes
que se infiltram no lençol freático e, mesmo após a filtração das
rochas, podem ainda estar presentes no ponto de colecta.

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Entre os contaminantes, podem ser encontradas bactérias,
protozoários e fungos patogénicos, toxinas produzidas por algas ou
por decomposição de animais ou resíduos (chorume) como os
nitratos. Além disso, toda a espécie de compostos químicos que são
agressivos à vida, decorrentes de despejos industriais, podem
ocorrer, tais como fenóis, compostos clorados utilizado na indústria
papeleira, hidrocarbonetos presentes em solventes e tintas e muitos
outros. Enfim também podem ser encontrados Metais pesados
dissolvidos na água, formando iões como crómio (VI), que são
altamente cancerígenos e compostos de chumbo e de mercúrio, que
podem provocar diversos tipos de doenças.
O plástico tem como matéria-prima o petróleo e o gás natural, dois
recursos não renováveis. Para além disso, são usadas mais de 1,5
milhões de toneladas de plástico só para fabricar garrafas de água.
O plástico liberta algumas toxinas e, contrariamente ao que muitos
pensam, algumas substâncias podem ser mais difíceis de controlar
na garrafa do que na torneira, uma vez que estas se armazenam
durante períodos mais longos e a temperaturas mais altas,
aumentando até níveis tóxicos a concentração de microrganismos
que em pequenas concentrações não são prejudiciais à saúde.
Quando as garrafas de plástico não são recicladas, podem ir para
aterros sanitários. O mundo está cheio de aterros sanitários e, como
as garrafas de plástico se decompõem a uma velocidade muito
baixa, permanecerão nos aterros por muitas centenas de anos.
Actualmente o processo de reciclagem de resíduos movimenta uma
grande indústria, evitando que este problema se acentue. Há, no
entanto, deposição de garrafas de água em zonas mais inacessíveis
à sociedade ocidental, o que se revela um problema de poluição
grave.

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O ciclo hidrológico
Citando Studart e Campos (s/d p. 2 - 4):
“A água diferencia-se dos demais recursos naturais pela
notável propriedade de renovar-se continuamente, graças ao
ciclo hidrológico. Embora o movimento cíclico da água não
tenha princípio nem fim, costuma-se iniciar seu estudo
descritivo pela evaporação da água dos oceanos, seguida de
sua precipitação sobre a superfície que, colectada pelos cursos
d’ água, retorna ao local de partida. A descrição acima
simplifica sobremaneira o processo que realmente ocorre […]
uma vez que não estão computadas as eventuais interrupções
que podem ocorrer em vários estágios (Ex. precipitação sobre
o oceano) e a íntima dependência da intensidade e frequência
do ciclo hidrológico com a geografia e o clima local.
Alguns tópicos podem ser destacados:
1. O sol constitui-se na fonte de energia para a realização do
ciclo. O calor por ele liberado actua sobre a superfície dos
oceanos, rios e lagos estimulando a conversão da água do
estado líquido para gasoso.
2. A ascensão do vapor d’ água conduz à formação de
nuvens, que podem se deslocar, sob a acção do vento, para
regiões continentais.
3. Sob condições favoráveis a água condensada nas nuvens
precipita (sob forma de neve, granizo ou chuva) podendo
ser dispersada de várias formas:

Retenção temporária ao solo próximo de onde caiu;

Escoamento sobre a superfície do solo ou através do
solo para os rios;

Penetração no solo profundo.
4. Atingindo os veios d’ água, a água prossegue seu caminho
de volta ao oceano, completando o ciclo.
5. As depressões superficiais porventura existentes retêm a
água precipitada temporariamente. Essa água poderá retornar
para compor fases seguintes do ciclo pela evaporação e
transpiração das plantas.

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6. O escoamento superficial e subterrâneo decorrem da acção
da gravidade, podendo parte desta água ser evaporada ou
infiltrada antes de atingir o curso d’ água.
7. Atingindo os veios d’água, a água prossegue seu caminho de
volta ao oceano, completando o ciclo.
8. A evaporação acompanha o ciclo hidrológico em quase todas
as suas fases, seja durante a precipitação, seja durante o
escoamento superficial.
Dotado de certa aleatoriedade temporal e espacial, o ciclo
hidrológico configura processos bem mais complexos que os
acima descritos. Uma vez que as etapas precedentes à
precipitação estão dentro do escopo da meteorologia, compete
ao hidrólogo conhecer principalmente as fases do ciclo que se
processam sobre a superfície terrestre, quais sejam,
precipitação, evaporação e transpiração, escoamento superficial
e escoamento subterrâneo”.
Figura 6 – Ciclo Hidrológico
Fonte: DNAEE, citando Studart e Campos

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O ciclo hidrológico é uma sequência fechada de fenómenos em que
o globo cede a atmosfera a água em estado de vapor e que depois
esta é devolvida ao globo no estado líquido ou sólido, estando
parcialmente retida à superfície, infiltra-se ou escoa-se.
Tanto a água que fica parcialmente retida no solo, que se infiltra ou
que se escoa para os hidrometeoros (superfícies líquidas, lagos,
oceanos, etc), volta de novo a evaporar-se. Este ciclo é fechado e
constante.
Designa-se por pequeno ciclo ou marítimo, quando uma molécula
de água é evaporada do oceano e a ele retorna, precipitada pelas
chuvas, isto é, a água do oceano passa para a atmosfera por
evaporação, regressando ao oceano através das precipitações.
Neste processo evapora-se cerca de 334.000 Km³ de água por ano,
das quais 297.000 Km³ é a que realmente é precipitada
directamente para o mar e os restantes 37.000 Km³ estão ligado ao
balanço do grande ciclo continental.
No grande ciclo hidrológico (ou continental), a molécula de água é
evaporada do oceano, precipitada pelas chuvas, podendo se infiltrar
pelo solo adentro, ao cair no continente, ser absorvida pelas plantas
que em pouco tempo devolverão a mesma molécula à atmosfera,
podendo então, directa ou indirectamente, por meio dos regatos e
rios retornar ao oceano. Isto é, a água evaporada do mar move-se
através da atmosfera até aos continentes onde chega através das
precipitações. Significa que a água segue duas vias, sendo uma para
a atmosfera e a outra pela qual a água circula através de sistemas de
drenagem superficial e subterrâneo, alcançando os rios e o oceano.
No ramo continental ocorre uma forte interacção entre a hidrosfera
e a litosfera, interacção essa que ocorre sob forma de erosão,
transporte e acumulação de sedimentos.

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A precipitação anual sobre a terra firme (continentes e ilhas),
corresponde a mais de 110.000 Km³ de água, dos quais 65% são
devolvidas à atmosfera através da evapotranspiração, enquanto a
parte restante, correspondente a cerca de 39.000 Km³, se reparte
entre o escoamento superficial e subterrâneo na proporção de 70%
e 30%, respectivamente.

Sumário
Como vimos no decorrer da unidade, dentre as propriedades
químicas da água, destacam-se, a dureza, o cheiro e o sabor. A
dureza é manifesta pela existência, na água, teores de cálcio, ferro e
magnésio e é caracterizada pela dificuldade que estas águas têm de
reagir com o sabão; o cheiro e o sabor são resultados das
substâncias químicas dissolvidas nelas.
A água na natureza não se encontra no estado de pureza por ela ser
um forte dissolvente (capacidade de misturar com gases e líquidos).
Ela é capaz de se misturar com alguns elementos químicos
formando o vinagre, a água sanitária, por exemplo, é responsável
pela dissolução de sais minerais que as plantas consomem, para
além do nosso corpo ser composto em grande medida de água que
também dissolve várias substâncias que nos serve de manutenção.
Devido a acção humana, a água na natureza tem sofrido uma
crescente degradação, na medida em que são emitidos pelas
indústrias materiais sólidos e líquidos (com qualidades químicas
destrutivas) para os rios, lagos ou oceanos; no momento em que são
emitidos matérias agrotoxicos pelas actividades agrícolas; e na
medida em que nos centros urbanos são também produzidos muito
lixo e que em algum momento são transportado pelas chuvas para
os rios ou infiltrando-se, por intermédio da chuva, o material fluido
gerado pelo lixo.

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A água na natureza desenvolve um ciclo, podendo se dizer que a
água que hoje encontra-se no subsolo e na superfície, pode estar
num outro momento na atmosfera.
O ciclo hidrológico começa com a incidência da radiação solar
sobre as águas, gerando condições para a ocorrência da
evapotranpiração. Uma vez expandindo em forma de gás (vapor de
agua) para a atmosfera (troposfera em particular) condensam-se
através dos núcleos de condensação, donde atingindo o ponto de
saturação, precipita-se novamente para terra.

Exercícios
Entregar todos exercícios desta unidade.
1. Diga qual é o cheiro e cor da água no seu estado
puro e demonstre com exemplos claros como estas
propriedades podem variar.
2. Fale da importância da água para a sociedade, tendo
em conta a sua capacidade de dissolução. Explique dando
exemplos concretos.
3. Tome como base uma região do país e demonstre os
mecanismos da contaminação da água por via industrial,
agrícola e urbana.
4.
Explique como a água do subsolo participa no ciclo
hidrológicos, atendendo a sua localização no interior da
terra.
5. Investigue: toda a agua, incluindo as aguas
degradadas, localizada na terra em algum momento
participa no ciclo hidrológico.
a) Diga, com pormenores, como esta agua contaminada
se converte em água potável.

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Unidade V
As bases dos processos de
formação dos reservatórios
aquáticos
Introdução
Esta unidade pretende fornecer ideias sobre as bases dos processos
de formação dos reservatórios aquáticos e das leis físicas
fundamentais que determinam esta formação. Abordaremos
também a questão relacionada com o balanço da água e do balanço
térmico.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
▪ Descrever as leis físicas fundamentais que determinam a
formação dos reservatórios aquáticos; e
▪ Saber explicar o balanço hídrico e térmico.
As leis físicas fundamentais
Ver o conteúdo referente as leis físicas que determinam o
movimento da agua, pois, para além destas determinarem o
movimento das aguas são também a base dos processos de
formação dos reservatórios aquáticos. Por exemplo a lei da
gravitação universal determina a queda de água na terra no geral e
em depressões em particular, entre outros exemplos.

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O Balanço aquático ou hidrológico
“Designa-se balanço hidrológico […] o cômputo dos ganhos e
perdas de água que os processos hidrológicos, e eventualmente a
acção humana, provocam […]” (Direcção Geral dos Recursos e
aproveitamento Hidráulico 1984, p. 542)
Para o cálculo do balanço hidrológico de uma bacia hidrográfica
tem que se ter em conta a precipitação sobre a bacia; o
escoamento na sessão da jusante da bacia; a evapotranspiração na
bacia; variação da quantidade de água da intercepção, da
detenção, superficial e do armazenamento dos leitos; variação da
quantidade da humidade do solo; variação da quantidade de água
das reservas subterrâneas; quantidade de água extraída pela
acção do homem e quantidade de água lançada na bacia pela
acção humana.
No que respeita ao balanço dos oceanos salientar que a quantidade
de água, a temperatura e a salinidade média destes permanecem
constantes ao longo de intervalos de tempo suficientemente longos.
A invariabilidade destas grandezas permite estabelecer as equações
de conservação, que se traduzem normalmente numa igualdade
entre as entradas e saídas através das fronteiras.
Cerca de 97 % da água do globo encontra-se nos oceanos, 2 %
corresponde a água no estado sólido nos pólos, glaciares e icebergs
e menos de 1% corresponde ao somatório das águas subterrâneas,
águas de lagos e rios e água sob a forma de vapor na atmosfera.
A água entra nos oceanos através das descargas de rios e da
precipitação e sai através da evaporação.

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Tabela 3 - Balanço de água nos oceanos
Oceano
Precipitação
[mm/ano]
Evaporação
[mm/ano]
Precipitação -
Evaporação
[mm/ano]
Pacífico
1292
1202
90
Atlântico
761
1133
-372
Índico
1043
1294
-251
Árctico
97
53
44
Global
1066
1176
-110
Fonte: Studart e Campos in Formulação matemática da
hidrodinâmica e do transporte de escalares em zonas costeiras
O excesso de evaporação relativamente à precipitação nos oceanos
é compensado pelas descargas de água dos rios.
O balanço térmico
A terra emite tanta energia radiante, sob a forma de calor, como
aquela que recebe, pois caso contrario a sua temperatura não se
teria mantido constante ao longo dos tempos. Apesar do balanço
positivo da radiação nas baixas latitudes e negativo nas altas
latitudes, não há evidências que as baixas latitudes estejam a
aquecer e as altas a resfriar. Deve então existir um mecanismo de
transferência de energia interna, sob forma de fluxos de calor, entre
as baixas e as altas latitudes. Esses mecanismos correspondem ao
sistema de ventos da atmosfera e as correntes oceânicas. Acredita-
se que a contribuição dos oceanos para esse transporte de calor para

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os pólos é maior nas regiões tropicais enquanto a atmosfera
contribui mais nas regiões das altitudes altas.

Sumário
Uma das leis que determinam a formação dos reservatórios
aquáticos é a lei da gravitação universal, que determina que os
corpos sejam atraído (se precipitem) para a terra. Neste sentido a
agua na atmosfera é também atraído por esta força, determinando a
formação dos cursos de água.
Ao fazermos o balanço hídrico pretende-se tomar-se
conhecimentos sobre os índices de ganhos e perdas. Para o cálculo
do balanço é preciso ter em conta, a precipitação sobre a bacia; o
escoamento na sessão da jusante da bacia; a evapotranspiração na
bacia; a detenção, superficial e do armazenamento dos leitos;
variação da quantidade da humidade do solo; variação da
quantidade de água das reservas subterrâneas; e quantidade de água
extraída pela acção do homem.
O balanço hídrico das águas oceânicas é negativa, o que quer dizer
que há um excesso de evaporação relativamente a precipitação.
Sobre o balanço térmico da terra, salientar que, tende a ser positivo
nas zonas intertropicais e negativo em zonas polares mas em
nenhum momento nos deparamos com uma situação de extremo
calor e frio nestas duas zonas devido aos balaços existentes. Este
facto tem acontecido devido a acção dos ventos e das correntes
oceânicas que transportam o ar/água quente para as regiões
polares/frias e o ar/água fria para as regiões quentes.

Exercícios
Entregar o exercício 1 desta unidade.
1. De o conceito do balanço hidrológico e diga quais os fenómenos
se deve ter em conta para o seu calculo.

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Unidade VI
As leis básicas dos movimentos
das águas
Introdução
Nesta unidade falaremos sobre as leis básicas que determinam os
movimentos da água. Dentre as leis, destacam-se, 1ª Lei de Newton
(se nenhuma força actua um corpo ele não muda o seu estado de
movimento), 2ª Lei de Newton (a taxa de variação do movimento
de um corpo é directamente proporcional à resultante das forças
que actuam no corpo), 3ª Lei de Newton (uma força a actuar num
corpo há uma força igual e oposta a actuar noutro corpo) e Lei da
gravitação universal de Newton. Também abordaremos sobre as
forças da natureza que actuam na criação dos movimentos.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
▪ Descrever as leis básicas dos movimentos das águas naturais; e
▪ Explicar a acção das forças que actuam no movimento das águas
naturais.
As leis básicas dos movimentos das águas naturais
Para o estudo do movimento do oceano e suas causas, as seguintes
leis são tomadas em consideração:
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1ª Lei de Newton (se nenhuma força actua um corpo ele não muda
o seu estado de movimento): afirma que, na ausência de forças, um
corpo permanece em repouso ou em movimento uniforme ao longo
de uma linha recta. Se um corpo se encontra inicialmente em
repouso, ele continua em repouso. Se em movimento rectilíneo
uniforme, ele continua em movimento rectilíneo uniforme, para
sempre. Não existe um "parar naturalmente".
Muitas pessoas pensam que o repouso é o estado natural de um
corpo e o "parar naturalmente" o levará mais cedo ou mais tarde a
este estado. O parar ocorre por que vivemos num mundo cheio de
forças: atrito, resistência do ar, gravidade, enfim, forças da
natureza. É necessária uma força para que um corpo inicie,
aumente, diminua ou pare o seu movimento.
Imaginemos um passeio a cavalo, em que este assustado, trava
bruscamente. Acontecera que a pessoa que ia em cima do cavalo
cai. Este facto é explicado através da primeira lei de Newton, pois o
cavalo pára, e segundo a lei, um corpo só diminui a velocidade se
actuar sobre ele uma força; e como a força só actua no cavalo, a
pessoa continua o movimento que estava a ter, mas desta vez sem o
cavalo, segundo a primeira lei de Newton, um corpo contínua o seu
movimento constante rectilíneo caso não lhe seja aplicada nenhuma
força. A pessoa só pára o seu movimento, caindo no chão, porque
são aplicadas sobre ele duas forças, a força de atrito do ar, e a força
da gravidade.
2ª Lei de Newton (a taxa de variação do movimento de um corpo é
directamente proporcional à resultante das forças que actuam no
corpo). Esta lei diz que a aceleração adquirida por um corpo é
directamente proporcional à intensidade da resultante das forças
que actuam sobre o corpo, tem direcção e sentido dessa força
resultante e é inversamente proporcional à sua massa.

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Imaginemos que empurramos uma caixa sobre uma superfície lisa
(pode-se desprezar a influência de atrito). Quando se exerce uma
certa força horizontal F, a caixa adquire uma aceleração a. Se se
aplicar uma força 2 vezes superior, a aceleração da caixa também
será 2 vezes superior e assim por diante. Ou seja, a aceleração de
um corpo é directamente proporcional à força resultante que sobre
ele actua. Entretanto, a aceleração de um corpo também depende da
sua massa. Imagine, como no exemplo anterior, que se aplica a
mesma força F a um corpo com massa 2 vezes maior. A aceleração
produzida será, então, a/2. Se a massa triplicar, a mesma força
aplicada irá produzir uma aceleração a/3. E assim por diante. De
acordo com esta observação, conclui-se que: a aceleração de um
objecto é inversamente proporcional à sua massa.
3ª Lei de Newton (uma força a actuar num corpo há uma força
igual e oposta a actuar noutro corpo): a lei afirma que para cada
acção existe uma reacção igual e contrária. Newton sepulta
qualquer ideia de força individual. As forças manifestam-se em
pares. Se A exerce uma força sobre B, este, ao seu turno, reagirá
com outra força de mesmo modo, mesma direcção e sentido
contrário. Não existe acção sem reacção. Para exemplificar a
terceira lei, ao empurrar uma parede, tentámos provar que esta
exercia uma força de igual modo. Primeiro, a parede é empurrada
com uma força, e ela empurra a pessoa, fazendo com que a pessoa
recue um bocado. Depois, a pessoa empurra a parede com o dobro
da força, e consequentemente, recua quase o dobro daquilo que
recuou da primeira vez. Com esta experiência foi possível provar
que só existem forças aos pares, um vez que ao exercer uma força
sobre a parede, esta exerce uma força sobre nós; e também
podemos comprovar que essa força tem igual valor à que lhe foi
exercida, uma vez que quanto mais força aplicarmos sobre a
parede, mais esta exerce sobre nós e por isso, mais recuamos. Em
termos do quotidiano, esta lei pode observar-se nos comboios, estes

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contém uma mola, entre as carruagens nas estações terminais, em
ambas as molas existe uma igual compressão quando elas se
aproximam ao chocarem contra a parede.
O outro exemplo é de um avião: o avião a jacto ou o foguetão são
provavelmente é a mais espectacular aplicação moderna da 3ª lei de
Newton. Esquematicamente um avião a jacto funciona da seguinte
forma: o gás. Expandindo-se nas câmaras de combustão, é expelido
pelo avião, para trás: reage, de acordo com a 3ª lei de Newton,
exercendo sobre o avião uma força que o impele para a frente.
Lei da gravitação universal de Newton: esta lei defende que a terra
apresenta uma força que atrai os corpos a ela. A força é de cerca de
9,8 m/s2.
Portanto de acordo com a 1ª lei podemos concluir que as forças da
natureza são determinantes para estimular os movimentos de um
corpo. Por exemplo para a ocorrência das marés, a lua e o sol
jogam um papel gerador deste acontecimento; para a ocorrência das
correntes oceânicas e das ondas, a radiação solar e os ventos
também são determinantes para que tal ocorra; para a escorrência
das águas dos rios é a declividade (gravidade) que é a principal
geradora deste movimento.
As águas naturais estão em movimento constante, com escalas que
vão desde as grandes correntes até aos pequenos vórtices. Para a
explicação deste fenómeno a 2ª lei de Newton diz que a taxa de
variação do movimento de um corpo é directamente proporcional à
resultante das forças que actuam no corpo, isto é, a intensidade dos
movimentos depende do nível de força empregue no corpo. Por
exemplo quanto maior for a intensidade dos ventos maior será o
tamanho das ondas; quanto maior for a declividade maior é a
intensidade dos cursos de agua.

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A lei de acção reacção é bem visível quando vemos, em praias de
costas altas, as aguas embaterem as arribas e serem devolvidas com
igual intensidade justificando-se da seguinte maneira: as forças
manifestam-se em pares. Se A exerce uma força sobre B, este, ao
seu turno, reagirá com outra força de mesmo modo, mesma
direcção e sentido contrário.
E finalmente a lei da gravitação universal é comprovada na medida
em que vemos as águas das chuvas, neves, gelo a precipitarem em
direcção a superfície terrestre e as aguas dos oceanos, rios, lagos,
pântanos e glaciares fixas numa região determinada motivada pela
atracção que a terra exerce sobre os corpos.
As Forças que actuam na criação dos movimentos
De acordo com Barros e Paulino (1999, p. 49) “Força é toda
grandeza física capaz de variar a velocidade de um corpo”. Assim
um corpo em repouso para se mover precisa sofrer a acção de uma
força ou de um conjunto de forças.
As águas naturais sofrem efeitos de forças da natureza, elas podem
ser:
Forças directas
Gravitação (terrestre, incluindo forças do sol e da lua): ver o ultimo
paragrafo das leis básicas para o movimento das águas.
Energia radiante solar: O sol influência a circulação oceânica
através da circulação atmosférica, isto é, os ventos. A energia é
transferida dos ventos para as camadas superficiais do oceano
através do atrito entre a atmosfera e a superfície do mar. Esta é a
chamada circulação induzida pelo vento; o sol influencia a
circulação oceânica porque causa variações na temperatura e na
salinidade da água do mar, que por sua vez controlam a densidade
da água do mar. As variações de temperatura são causadas por
fluxos de calor através da interface ar - água. As variações de

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salinidade são causadas pela adição e remoção de água doce,
principalmente pela precipitação e evaporação, mas também pelas
transições gelo - água, nas regiões polares. Todos estes processos
estão directa ou indirectamente ligados ao efeito da energia
radiante solar. Se, por algum processo, a água superficial do oceano
se tornar mais densa que a água que se encontra por baixo, gera-se
uma situação de instabilidade e a água superficial afunda-se. Gera-
se assim uma circulação, governada pela densidade, que resulta de
um arrefecimento e/ou de um aumento da salinidade da água
superficial. À circulação induzida por variações espaciais da
densidade chama-se circulação termohalina.
Pressão atmosférica (1mb faz variar a superfície do oceano em
cerca de 1cm).
Actividades Sísmicas (resultam do movimento do fundo marinho):
consultar conteúdo sobre a actividade sísmica.
Forças indirectas
Força de Coriollis (aparece porque a Terra gira) Um projéctil
disparado para norte a partir do equador move-se para leste tal
como a Terra e para norte com a velocidade do disparo. À medida
que se desloca para norte, a velocidade com que a Terra se move
para leste é cada vez menor. Como resultado, relativamente à
Terra, o projéctil não se desloca só para norte, mas também para
leste, ou seja, para a sua direita. O mesmo raciocínio é válido no
caso de ser disparado de norte para sul, no hemisfério norte:
relativamente à Terra desloca-se não só para sul, mas também para
a sua direita, ou seja, oeste. O mesmo acontece com as massas de
água ou ar em movimento. É o efeito da força aparente: força de
Coriollis.

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Forças de atrito (actuando nas fronteiras opõem-se ao movimento
ou actuando internamente uniformizam o movimento. Fazem
dissipar energia mecânica convertendo-a em energia térmica).

Sumário
Devido as diversas forças que a natureza apresenta, os corpos não
se encontram estáticos, eles estão em constante movimento.
A 1ª lei de Newton defende que se nenhuma força actuar sobre um
corpo ele permanece em repouso para sempre, porem, se lhe é
submetido a forças ele movimenta-se também para sempre.
É difícil falar de um corpo, na natureza, que esteja em repouso
absoluto, elas estão quase sempre sujeitas a forças que por sua vez
determinam o seu movimento, e dependendo da intensidade destas
forças o seu movimento será lento ou acelerado (defende a 2ª lei de
Newton).
A 3ª lei de Newton, a lei da acção reacção, diz que com a mesma
força com que os corpos agem sobre o outro corpos estes últimos
reagem contrariamente e com igual força.
Todas estas leis físicas são funcionais para a água, atendendo ser
ela um corpo na terra.
Dentre as forças que actuam sobre os corpos na terra, em particular
da água, destacam-se, a força de gravidade (atrai os corpos para a
terra), a força gravitacional do sol e lua (atraem ligeiramente os
corpos para si, ocasionando as mares), a radiação solar (determinas
a circulação atmosférica e oceânicas), a força de atrito (fazem
dissipar energia mecânica, através de obstáculos, convertendo-a em
energia térmica) e a força de Curiollis (através da rotação da terra,

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desviam os corpos para a direita no hemisfério norte e para
esquerda no sul).

Exercícios
Entregar o exercício 1 e 2 desta unidade.
1. Usando suas palavras, interprete as três leis que determinam
os movimentos das águas e anuncie outros exemplos,
podendo não estar relacionado com a Hidrogeografia mas
com outras áreas da Geografia ou de outras ciências.
2. Explique com detalhes a forma o fenómeno Força de
Curiollis.

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Unidade VII
A circulação das águas na
natureza
Introdução
Esta unidade aborda sobre a distribuição da água no globo terrestre,
descreve os mecanismos que determinam a circulação das águas na
natureza e o seu papel na condução do calor.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
▪ Saber a forma que é distribuída os recursos hídricos no globo
terrestre, no que respeita a sua localização e os quantitativos; e
▪ Descrever a circulação das águas naturais na terra e pronunciar o
seu papel na condução do calor.
A água no globo terrestre
A água na Terra avalia-se em 1380 x 1015 m3, o que equivale a
ocupar o volume de uma esfera de 1380 km de diâmetro. Distribui-
se pelos três reservatórios principais já referidos, nas seguintes
percentagens aproximadas:
• Oceanos 96,6 %
• Continentes 3,4 %
• Atmosfera 0,013 %
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A quantidade de água salgada nos oceanos é cerca de trinta vezes a
quantidade de água doce dos continentes e da atmosfera.
A água dos continentes concentra-se praticamente nos glaciares e
nos subsolos, distribuindo-se a parcela restante, muito pequena, por
lagos, pântanos, rios, zonas superficial do solo e a biosfera.
Figura 7 – Reservatórios principais de água
1 – Oceano
2 – Continente
3 - Atmosfera
Figura 8 – Reservatório de água nos continentes
1 – Glaciares
2 – Subsolo
3 - Biosfera

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A água no subsolo representa cerca da metade da água doce dos
continentes, mas a sua quase totalidade situa-se a profundidade
superior a 800 m.
A biosfera contém uma fracção muito pequena da água dos
continentes que é cerca de 1/40 000.
A quase totalidade da agua doce dos continentes (contida nas
calotes polares, glaciares e reservas subterrâneas profundas)
apresenta, para alem de dificuldades de utilização, o inconveniente
de ser anualmente renovável numa fracção muto pequena, tendo se
acumulado ao longo de milhares de anos.
Deve ter-se presente que embora a quantidade total de água na terra
seja invariante, a sua distribuição por fases tem-se modificado ao
longo do tempo. Na época de máxima glaciação, o nível médio dos
oceanos situou-se cerca de 140 m abaixo do nível actual.
A água perdida pelos oceanos por evaporação excede a que é
recebida por precipitação, sendo a diferença compensada pelo
escoamento proveniente dos continentes.
A precipitação anual sobre os continentes é de 800mm e reparte-se
em escoamento (315 mm) e evapotranspiração (485 mm). A
precipitação anual média sobre os oceanos é de 1270mm,
resultando a precipitação anual média sobre o globo igual a cerca
de 1100mm.
Circulação do calor: o papel das águas naturais
Como sabemos a água não esta estática, ela move-se, e neste
processo ocorre troca de calor entre elas. Note:
“As transferências de calor das altas para as baixas latitudes
nos oceanos, dá-se através de fortes correntes, como é o caso
da Corrente Quente do Golfo, que se desloca das águas
tropicais quentes para as regiões polares. Todas as aguas
profundas (baixas dos 1500 m) tem a sua origem em latitudes

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elevadas e, por isso, são consideravelmente mais frias que as
aguas superficiais. […]. O processo de transferência de calor
faz-se verticalmente e horizontalmente. Esta transferência pode
se fazer por difusão molecular ou por remoinhos que
transportam as águas verticalmente, misturando, assim, tanto a
salinidade como a temperatura” (JESSEN 1998, p. 12 - 13).
Observemos como se processa a transferência de forma horizontal:
“A influência oceânica é, em grande parte, condicionada pelas
correntes marítimas, principalmente as que tem seu trajecto,
total ou parcial, nas proximidades da costa, constituindo
também importantes agentes moderadores da temperatura.
As correntes quentes promovem a transferência de enormes
quantidades de calor da zona intertropical para as regiões de
média e alta latitude, onde fazem elevar a temperatura. Por sua
vez as correntes frias deslocam grande quantidade de água fria
das altas latitudes para as zonas temperadas e tropicais, onde
provocam o decréscimo do valor da temperatura.
Mas a influencia das correntes marítimas não se manifesta
apenas pela transferência de calor dentro dos oceanos. Com
efeito, sobre as correntes quentes é grande a evaporação, donde
resulta uma forte humidade atmosférica que, transportada para
os continentes vizinhos, ali ameniza, por razoes já expostas, as
temperaturas invernais e provoca precipitações mais ou menos
abundantes, sobretudo nas faixas costeiras. Por exemplo, a
Corrente Quente do Golfo do México, uma das mais
importantes do mundo, desloca-se para o noroeste europeu,
onde torna os invernos bastante amenos e pluviosos.
Ao contrário, sobre as correntes frias a evaporação é fraca,
pelo que a atmosfera é mais seca. Ora, como o ar seco aquece e
arrefece mais depressa que o ar húmido, as zonas continentais
influenciadas por estas correntes são mais quentes no verão e
mais frias no inverno” (ANTUNES s/d, p. 80)
A descrição supra destaca os oceanos como o principal mentor da
troca de calor. Assim se descreve pelo facto deste se constituir o
maior reservatório de água na terra, daí o contributo mais saliente
neste processo. A inferência destas ideias para outros reservatórios
de água é valida.
Circulação das águas naturais
Sobre este tema, consulte os apontamentos sobre o ciclo
hidrológico e os movimentos das correntes oceânicas.

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Podemos adiantar alguns subsídios sobre a circulação das correntes
oceânicas. Elas são originadas pela impulsão do vento e pela
diferença da densidade das águas.
O vento é a causa mais importante e mais evidente, havendo no
oceano uma clara correspondência entre sistema de ventos e as
principais correntes marítimas. Neste caso compararemos a
imagem da circulação geral da atmosfera e com a ilustração das
correntes marítimas de modo a validar as premissas supra citadas.
Figura 9 - Circulação Atmosférica
Fonte: DNAEE, citando Studart e Campos

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Figura 10 – Circulação Geral dos Oceanos
Fonte: DNAEE, citando Studart e Campos
Por efeito da força de Curiollis, as águas não se deslocam de
acordo com a direcção dos ventos que a impulsiona, mas segundo
uma direcção oblíqua, correspondendo a um desvio para direita no
hemisfério norte e para esquerda no hemisfério Sul.
Sumário
A água no globo terrestre encontra-se distribuída de forma
irregular, tendo os oceanos a maior quantidade relativamente aos
continentes (ocupa o segundo lugar) e a atmosfera.
A água existente no globo não se encontra estática, ela esta em
movimento devido as forças que actuam sobre elas. Uma das forças
que actua na movimentação das águas é a energia radiante que é o
motor para a ocorrência do ciclo hidrológico.

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A energia radiante é também responsável pela circulação
atmosférica e oceânica. A circulação oceânica é por sua vez
responsável pela distribuição do calor das baixas para as altas
latitudes.

Exercícios
Entregar o exercício 1 e 2 desta unidade.
1. Explique a forma que esta distribuída as águas no globo
terrestre, tendo atenção de indicar a quantidade e a
localização.
2. Descreve o papel das correntes oceânicas e dos ventos na
circulação do calor na terra.
a) Explique também a forma que as correntes oceânicas e
os ventos influenciam nos climas moçambicanos.

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Unidade VIII
A influência dos processos
hídricos sobre as condições
naturais
Introdução
Esta unidade visa fornecer pressupostos sobre a influência dos
processos hídricos nas condições naturais. O especial destaque ira
para os climas, os recursos pedológicos e na vegetação. Iremos
também falar sobre os fenómenos que ocorrem no ciclo
hidrológico.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
▪ Descrever a influência dos processos hídricos nas condições
naturais; e
▪ Explicar o funcionamento dos fenómenos naturais do ciclo
hidrológico.
A influência dos processos hídricos nas condições naturais
Uma evidência clara da influência dos processos aquáticos nas
condições naturais é na modelação do clima. Buscaremos subsídios
de Antunes (s/d, p. 76-78) para tentarmos explicar este fenómeno:
“ - O calor mássico (ou calor especifico) da agua é quase duas
vezes do que o do solo, o que significa que, recebendo a
mesma quantidade de energia, a superfície dos continentes
aquece mais do que a dos oceanos. Pela mesma razão, quando

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há um défice de energia, os primeiros arrefecem também mais
do que os segundos;
- Os vários movimentos que agitam as camadas marítimas
superiores (vagas, correntes, movimentos verticais, etc) fazem
com que a energia recebida penetre ate varias dezenas de
metros de profundidade, o que permite os oceanos armazenar
enormes quantidades de calor. Mas como este se dispersa por
um volume muto grande, o aquecimento superficial é lento e
moderado, o mesmo acontece com as perdas de calor e, por
isso, com o arrefecimento.
Pelo contrário, a energia recebida pelas superfícies continentais
penetra no globo ate uns escassos centímetros, concentrando-se
assim numa camada muito estreita. Dai que aqueçam e
arrefeçam com relativa facilidade;
- Devido a forte evaporação, a atmosfera sobre os oceanos
torna-se mais húmidas e nebulosa e, consequentemente, mais
opacas as radiações caloríficas (de grande comprimento de
onda) emitidas pelas superfícies aquáticas, exercendo, deste
modo, um acentuado efeito de estufa.”
Vejamos como os recursos hídricos contribuem para a moderação
térmica em diferentes épocas do ano nas distintas latitudes:
“Em Janeiro [pelos menos um mês depois do solstício de
Dezembro]
No hemisfério norte, onde nesta altura decorre o inverno, as
temperaturas são mais altas sobre os oceanos do que sobre os
continentes. Por um lado, porque os primeiros acumulam,
principalmente no verão, grandes quantidades de calor que
depois vão libertando progressivamente para a atmosfera,
impedindo assim o seu rápido e demasiado arrefecimento. Por
outro, o acentuado efeito de estufa que grande parte do calor
irradiado se escape para a alta atmosfera. […].
No hemisfério sul (onde decorre então o verão), os
[acontecimentos] são inversos dos do hemisfério norte. As
médias e altas latitudes do hemisfério meridional, as
isotérmicas [linhas de igual temperatura] apresentam uma
maior regularidade, devido ao predomínio das grandes massas
oceânicas.
Em Julho [pelos menos um mês depois do solstício de Junho]
No hemisfério norte, onde nesta altura decorre o verão, as
temperaturas são mais altas sobre os continentes do que sobre
os oceanos, porque nos primeiros, sendo menor o calor
especifico, se regista um maior aquecimento. Alem disso a
radiação solar global é maior sobre as superfícies continentais,
porque é menor a humidade e nebulosidade, o que determina
uma menor absorção da energia solar pela atmosfera.

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No hemisfério sul, onde decorre então o inverno, a temperatura
é menor sobre os continentes por razoes já explicadas.
Também devido ao predomínio das grandes massas oceânicas,
os desvios térmicos são menores do que do hemisfério norte.
- [Concluindo] verifica-se, portanto, que os oceanos exercem
sobre as temperaturas uma importante acção moderadora, que
se estende as áreas continentais vizinhas e em maior ou menor
extensão, dependendo do vigor e da orientação geográfica do
relevo.
Os ventos marítimos transferem, por intermédio do vapor de
água que transportam, grandes quantidades de calor (calor
latente) para o interior dos continentes. Quando se dá a
condenação desse vapor, o calor que incorpora é então
libertado, fazendo elevar a temperatura em lugares mais ou
menos distantes do litoral, o que torna os invernos mais suaves,
principalmente nas zonas temperadas e frias [e mais quente em
zona intertropical].” (idem, p. 78-79, acréscimos do autor)
Notamos que os recursos aquáticos, com destaque para os
oceanos apresentam uma grande capacidade de armazenamento
de calor, facto que tem contribuído bastante para a atenuação
das temperaturas frias em algumas regiões (temperada e fria).
Por outro lado, elas contribuem bastante para intensificar o
calor em regiões intertropicais e principalmente em regiões
localizadas nas proximidades da costa.
Considerando uma maior intensidade da radiação solar, teremos
em zonas costeiras ou em zonas que se aproximam a estas um
maior índice de precipitação, devido a evaporação registada nos
oceanos.
É evidente a influência dos recursos hídricos na moderação do
clima. Os climas por sua vez são protagonistas de fenómenos
como, a pedogénese e a abundância ou não da vegetação.
Note:
“qual organismo vivo, o solo nasce e evolui, passando por
diversas fases ate atingir a maturidade.
Numa primeira fase, por acção dos agentes atmosféricos (agua,
humidade, gases, oscilações térmicas, vento, etc), a parte
superficial da rocha-mae sofre uma alteração química e uma
desagregação mecânica (meteorização), transformando-se em

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pequenos fragmentos e grânulos de dimensões e formas muito
variadas.” (idem, p. 199, itálico do autor)
“O clima constitui o factor fundamental da distribuição
geográfica da vegetação. Se analisarmos um planisfério que
represente a distribuição dos climas e dos grandes tipos de
vegetação, constata-se de imediato que aos diferentes domínios
climáticos correspondem outras tantas e diferentes formações
vegetais dominantes.
Dos elementos climáticos, os que maior influência exercem no
desenvolvimento e distribuição das espécies vegetais são,
indubitavelmente, a temperatura, as precipitações, a luz e o
vento.” (idem, p. 222, itálico do autor)
Fenómenos naturais do ciclo hídrico (Evapotranspiração,
Precipitação e Escoamento)
Pode admitir-se que a quantidade total de água existente na Terra,
nas suas três fases, sólida, líquida e gasosa, se tem mantido
constante, desde aparecimento do Homem. A água da Terra
(hidrosfera) distribui-se por três reservatórios principais, os
oceanos, os continentes e a atmosfera, entre os quais existe uma
circulação perpétua designada por ciclo da água ou ciclo
hidrológico. O movimento da água no ciclo hidrológico é mantido
pela energia radiante de origem solar e pela atracção gravítica.
Pode definir-se ciclo hidrológico como a sequência fechada de
fenómenos pelos quais a água passa do globo terrestre para a
atmosfera, na fase de vapor, e após regressa novamente a terra, nas
fases líquida e/ou sólida.
A transferência de água da superfície do Globo para a atmosfera,
sob a forma de vapor, dá-se por a evaporação directa, por
transpiração das plantas e dos animais e por sublimação (passagem
directa da água da fase sólida para a de vapor). A quantidade da
água mobilizada pela sublimação no ciclo hidrológico é
insignificante perante a que é envolvida na evaporação e na
transpiração de plantas e animais, cujo processo conjuntos é
designada por evapotranspiração. O vapor de água é transportado
pela circulação atmosférica e condensa-se após percursos muito

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variáveis, que podem ultrapassar 1000 km. A água condensada dá
lugar à formação de nevoeiros e nuvens e à precipitação a partir de
ambos.
Após a passagem da agua para o estado de vapor, ela condensa-se
formando nuvens, em que atingindo o seu ponto de saturação
precipita-se. A este fenómeno designamos por precipitação.
A precipitação pode ocorrer na fase líquida (chuva ou chuvisco) ou
na fase sólida (neve, granizo ou saraiva). As designações de chuva
ou de chuvisco aplicam-se consoante o diâmetro das gotas é
superior ou inferior a 0,5 mm. A água precipitada na fase sólida
apresenta-se com estrutura cristalina no caso da neve e com
estrutura granular, regular em camadas, no caso do granizo, e
irregular, por vezes em agregados de nódulos, que podem atingir a
dimensão de uma bola de ténis, no caso da saraiva. A precipitação
inclui também a água que passa da atmosfera para o globo terrestre
por condensação do vapor de água (orvalho) ou por congelação
daquele vapor (geada) e por intercepção das gotas de água dos
nevoeiros (nuvens que tocam no solo ou no mar).
A água que precipita nos continentes pode tomar vários destinos.
Uma parte é devolvida directamente à atmosfera por evaporação; a
outra origina escoamento à superfície do terreno, escoamento
superficial (origina-se quando a precipitação atingi uma zona
geológica com carácter impermeável), que se concentra em sulcos,
cuja reunião dá lugar aos cursos de água. A parte restante infiltra-
se, isto é, penetra no interior do solo, subdividindo-se numa parcela
que se acumula na sua parte superior e pode voltar à atmosfera por
evapotranspiração e noutra que caminha em profundidade até
atingir os lençóis aquíferos (ou simplesmente aquíferos) e vai
constituir o escoamento subterrâneo.

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Tanto o escoamento superficial como o escoamento subterrâneo
vão alimentar os cursos de água que desaguam nos lagos e nos
oceanos, ou vão alimentar directamente estes últimos.
O escoamento superficial constitui uma resposta rápida à
precipitação e cessa pouco tempo depois dela. Por seu turno, o
escoamento subterrâneo, em especial quando se dá através de
meios porosos, ocorre com grande lentidão e continua a alimentar
os cursos de água longo tempo após ter terminado a precipitação
que o originou.
Figura 11 – A precipitação e o processo de escoamento
Sumário
Como foi descrito, a evidência mais clara da influência das águas
nos fenómenos naturais é na modelação do clima e esta por sua vez
influencia nos recursos pedológicos e florísticos.

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É através da transferência de calor, por meio das correntes
oceânicas, das zonas intertropicais para as zonas polares que os
climas rigorosamente frios são atenuados com o calor vindo das
latitudes baixas e os climas quentes também são amortecidos
devido as massas de ar fria vinda das latitudes altas.
Em zonas costeiras pode-se notar uma intensa precipitação devido
a forte evaporação provindo dos oceanos, donde o vapor de água é
arrastado pelos ventos ate o interior dos continentes. Este fenómeno
determina a pedogénese e a abundância da vegetação nas áreas com
forte precipitação.
A evapotranspiraçao, a precipitação e o escoamento são fenómenos
que podemos claramente notar no ciclo hidrológico. O primeiro
corresponde ao processo da passagem da água contida nos solos,
plantas, animais e de toda hidrosfera para o estado de gás na
atmosfera; a seguir, depois deste vapor se condensar e saturar,
temos o processo de precipitação que pode ser em forma líquida e
sólida; e finalmente, depois de a água atingir a terra, devido as
forças existentes, ela escorre para diferentes pontos.

Exercícios
Entregar o exercício 2 e 3 desta unidade.
1. Explique de que maneira os recursos aquáticos influenciam nas
condições
climáticas,
pedológicas,
geomorfológicas,
biogeográfica e florística (vegetação).
2. De o conceito da evapotranspiração.

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Unidade IX
Os recursos hídricos na terra
Introdução
Nesta unidade abordaremos apenas sobre os recursos aquáticos na
terra, no que tange, ao seu volume e o percentual.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
▪ Descrever de forma genérica os conhecimentos sobre o
volume e o percentual da água no globo terrestre.
Os recursos aquáticos no globo terrestre
Figura 12 – Distribuição da água na Terra
Fonte: DNAEE, citando Studart e Campos

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A figura a esquerda mostra que cerca de 97% de toda a água
existente está nos oceanos e os restantes 3% são de água doce
(superficial, subterrânea, e na atmosfera).
A agua doce apresenta proporções inferiores relativamente as aguas
dos oceanos, e elas estão assim distribuídas: 77% está retida nos
glaciares e icebergs e 22% constituem a água subterrânea. A
distribuição do restante 1% está representada no bloco da direita.
Das águas a superfície, excluindo os glaciares, 61% corresponde a
lagos, 39% distribui-se pela atmosfera e solos e menos de 0,4% aos
rios.
Na tabela seguinte podes ver como se distribui a água no planeta
em termos de volume armazenado nos diferentes reservatórios:
Tabela 4 - Distribuição da água na Terra
Reservatórios
Volume aproximado
de
água,
em Km3 de água
Percentagem
aproximada
da água total
Oceanos
1 320 000 000
96.1
Glaciares
29 000 000
2.13
Água subterrânea
8 300 000
0.61
Lagos
125 000
0.009
Mares interiores
105 000
0.008
Humidade do Solo
67 000
0.005
Atmosfera
13 000
0.001

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Rios
1 250
0.0001
Volume de água total
1 360 000 000
100%
Fonte: Adaptado de Nace, U.S. Geological Survey, 1967
Se excluirmos as reservas de gelo das calotes polares e glaciares, a
água doce utilizável representa apenas 0.6% (8,5 milhões de Km 3)
da água do nosso planeta, que se reparte desigualmente pelas
diversas regiões continentais.
Destes 8,5 milhões de Km3 de água doce utilizável, 97%
correspondem a águas subterrâneas, representando os rios e os
lagos uma percentagem muito pequena.
Para conhecimentos complementares, consulte o apontamento
correspondente a água no globo terrestre.

Sumário
A água no globo terrestre encontra-se distribuída irregularmente. O
oceano apresenta maiores proporções relativamente aos outros
recursos aquáticos.
É preciso salientar também que a água potável apresenta
proporções bastante reduzidas.

Exercícios
Entregar o exercício 1 desta unidade.
1. Com base nos apontamentos sobre a água na terra,
demonstre como esta feita a distribuição da água na terra.

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Unidade X
A hidrografia dos glaciares
Introdução
Esta unidade objectiva fornecer pressupostos sobre os glaciares,
seu conceito, seus tipos e as grandes regiões glaciárias.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
▪ Conceituar glaciares;
▪ Tipificar os glaciares; e
▪ Indicar as principais regiões glaciárias.
Definição
Hidrologia dos glaciares será a descrição (origem, características e
distribuição) das águas que se encontram em zonas frias sob forma
de gelo (glaciares).
Os glaciares são grandes massas de gelo que encontram-se
localizadas nas regiões frias, se formam pela acumulação,
compactação e recristalização da neve. Quando a temperatura do ar
baixa até 0ºC, o vapor água condensa-se formando em cristais
sólidos. Estes cristais caem na superfície sob forma de neves.
A neve é composta por cristais de gelo agrupados em flocos de
tamanhos variáveis. A quantidade do ar entre os cristais dá aos

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flocos uma estrutura fofa, com diminuta consistência, porém
devido a pressão crescente que as camadas superiores exercem, a
neve vai se comprimindo e sofrendo constantes recristalizações até
adquirir numa estrutura granular designados nevado.
Continuando a acumulação, o nevado vai se comprimindo cada vez
mais até atingir uma dimensão de 50m, a pressão torna suficiente
para que se dê novas recristalizações, formando uma massa
compacta designada gelo.
Assim sendo, o gelo resulta de uma série de transformações, nas
quais além da pressão, contam-se as sucessivas recristalizações.
A dimensão dos glaciares depende de vários factores, que
determinam tanto a formação do gelo, como a sua fusão. Na zona
de alimentação (acima da linha da neve), a quantidade de neve
caída está relacionada com as condições climáticas, em especial a
temperatura e a precipitação; na zona de ablação (abaixo da linha
da Neve), a fusão do gelo está a mercê da temperatura.
A zona de alimentação localiza-se em regiões elevadas e a zona de
ablação em regiões altimetricamente inferiores a primeira.
O gelo vai deslocar-se de regiões altas para regiões baixas,
deslizando sobre a base rochosa mais ou menos inclinada.
Deste modo se a alimentação predominar sobre a fusão, os
glaciares tenderão a expandir-se, caso se verifique o contrário,
então os glaciares se reduzirão e caso haja um equilíbrio entre a
acumulação e a fusão, então os glaciares se manterão estáticos.
Tipos de glaciares
Os glaciares dividem-se em dois grandes grupos:

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Glaciares continentais
São enormes massas de gelos, também designa dos por Inlândsis,
que cobre vastas áreas continentais. Actualmente existem apenas
duas massas de gelos continentais, o glacial da Antárctida com
cerca de 13.4 milhões de Km2 e o glacial da Groenlândia com
cerca de 1.7 milhões de Km2.
De modo geral a espessura do gelo diminui do centro para a
periferia. O cume das montanhas constituem neste caso autênticas
ilhas no meio do vasto campo glaciário. A essas elevações dá-se o
nome de nunatakas.
Os glaciares continentais podem eventualmente cobrir alguma
extensão do mar. É no mar onde forma os Icebergs, destacando o
mar Antárctico. Os Icebergs são blocos de gelos flutuantes no mar.
Os glaciares ocupam actualmente 97% da superfície coberta por
glaciares e representam 99% de volume de gelo existente na
superfície da terra.
Glaciares de montanhas
Distingue-se dos glaciares continentais pela acumulação de massas
de gelo localizada nas altas montanhas, descendo pelos vales até
regiões baixas onde a fusão de gelo põe o termo o seu avanço.
Hoje os glaciares de montanhas localizam-se nos Andes, Alpes e
Montanhas Rochosas.
A neve acumulada em depressões em forma de anfiteatros, e por
isso designados circo, transformam-se pela pressão crescente do
nevado e gelo. Sendo a ablação suficientemente grande logo a saída
da depressão, o glaciar não chega a ocupar o vale que lhe fica em
frente. A estes glaciares suspendidos dá-se o nome de circo.

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Porém se a alimentação compensa as perdas por fusão, a massa de
gelo desce pelo vale originando uma língua glaciária, podendo
atingir algumas dezenas de quilómetros de comprimento. A este
glaciar designa-se por glaciares de vale. A superfície dos glaciares
não é uniforme, ela apresenta numerosas fracturas, devidos as
irregularidade do seu fundo e das vertentes do vale, constituindo-se
as denominadas crevasses (fendas), que podem atingir dezenas de
metros, chegando a alcançar a massa plástica de gelo que se
encontram a partir de 50 m de profundidade.
As massas de gelo que chegam a alcançar as áreas mais baixas da
montanha designam-se por glaciares de Sopé.
As grandes regiões glaciárias
As massas glaciárias podem ser encontradas um pouco em todo
lugar ate em zonas intertropicais. Todos os glaciares situados nos
trópicos encontram-se em picos montanhosos isolados e elevados.
De um modo geral, os glaciares tropicais são mais pequenos que os
encontrados nas outras regiões e são os que mais facilmente
mostram uma resposta rápida a padrões climáticos em mudança.
Um pequeno aumento de temperatura, de apenas alguns graus,
pode ter um impacto quase imediato e adverso nos glaciares
tropicais.
As maiores porções de gelo estão localizadas em regiões polares
onde é caracterizado por apresentar climas frios. Iremos destacar a
seguir as principais:
Islândia
Nesta ilha do Atlântico Norte encontra-se Vatnajökull, a maior
calota de gelo da Europa. O Breiðamerkurjökull é um dos glaciares
de descarga de Vatnajökul, tendo recuado 3 km desde 1973 à 2004.
No início do século XX o Breiðamerkurjökull estendia-se até 250

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m do oceano, mas em 2004 o seu ponto terminal havia recuado 3
km em direcção ao interior da ilha. Este recuo do glaciar expôs
uma lagoa. Ela tem 110 m de profundidade e quase duplicou o seu
tamanho entre 1994 e 2004. Apenas um dos glaciares de descarga
de Vatnajökull (num total de aproximadamente 40 glaciares
designados por nomes próprios) não se encontrava em recuo em
2000. Na Islândia, entre 34 glaciares estudados entre 1995 e 2000,
28 encontravam-se em recuo, quatro encontravam-se estáveis e
dois encontravam-se em avanço.
Canadá
As ilhas canadenses do Árctico têm várias calotas geladas de
grande dimensão, incluindo as calotas de Penny e Barnes na ilha
Baffin, a calota de Bylot na ilha Bylot e a calota de Devon na ilha
de Devon. Todas estas calotas encontram-se em recuo lento. A
calotas de Penny e Barnes têm perdido espessura à razão de cerca
de 1 m/ano nos seus pontos de menor elevação entre 1995 e 2000.
Em termos globais, entre 1995 e 2000, as calotas geladas no Ártico
canadiano perderam 25 km³ por ano. Entre 1960 e 1999, a calota de
Devon perdeu 67 km³ de gelo, sobretudo devido à perda de
espessura. Todos os principais glaciares de descarga ao longo da
margem oriental da calota de Devon recuaram 1 km desde 1960.
No planalto de Hazen da ilha Ellesmere, a calota de Simmon
perdeu cerca de 47% da sua área desde 1959. Se as condições
climáticas actuais se mantiverem, o restante gelo glaciar do
planalto de Hazen terá desaparecido por volta de 2050. Em 13 de
Agosto de 2005 a plataforma de gelo Ayles com 66 km² de
extensão separou-se da costa norte da ilha de Ellesmere, flutuando
em direcção ao Oceano Ártico.Esta separação seguiu-se à partição
da plataforma de gelo Ward Hunt em 2002. A plataforma de gelo
de Ward Hunt perdeu 90% da sua extensão no último século.

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Europa do Norte
As ilhas árcticas ao norte da Noruega, Finlândia e Rússia mostram,
todas elas, evidências de recuo dos glaciares. No arquipélago de
Svalbard, a ilha de Spitsbergen possui numerosos glaciares.
Estudos indicam que o glaciar Hansbreen em Spitsbergen recuou
1.4 km entre 1936 e 1982 e outros 400 m no período entre 1982 e
1999. O Blomstrandbreen, um outro glaciar de Spitsbergen, recuou
aproximadamente 2 km nos últimos 80 anos. Desde 1960 o recuo
anual médio do Blomstrandbreen foi igual a 35 m, e esta média foi
influenciada pela aceleração do recuo desde 1995. No arquipélago
de Novaya Zemlya, a norte da Rússia, os estudos efectuados
indicam que em 1952 existiam 208 km de linha de costa gelada.
Em 1993 este valor havia diminuído 8% para 198 km.
Gronelândia
Na Gronelândia, o recuo dos glaciares tem sido observado nos
glaciares de descarga, resultando num aumento da velocidade do
gelo e desestabilização do balanço de massa do manto de gelo que
lhes dá origem. O período desde 2000 viu aparecer o recuo em
alguns grandes glaciares que há muito se encontravam estáveis.
Três dos glaciares estudados - Helheim, Kangerdlugssuaq e
Jakobshavn Isbræs - drenam conjuntamente mais de 16% da manto
de gelo da Gronelândia. No caso do glaciar Helheim, os
investigadores utilizaram imagens de satélite para determinar o
movimento e recuo do glaciar. Imagens de satélite e fotografias
áreas das décadas de 1950 e 1970 mostram que a frente do glaciar
se havia mantido imóvel durante décadas. Em 2001 o glaciar entrou
em recuo rápido, e em 2005 havia recuado um total de 7.5 km,
acelerando de 21.33 m/dia para 33.5 m/dia durante aquele período.
Jakobshavn Isbra no oeste da Gronelândia, é um dos principais
glaciares de descarga do manto de gelo da Gronelândia, bem como
o glaciar mais rápido do mundo ao longo do último meio século.

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Pelo menos desde 1950 que se move a velocidades superiores a 24
m/dia com um ponto terminal estável. Em 2002, a sua ponta
terminal flutuante com 12 km de extensão entrou em recuo
acelerado, com a frente de gelo e ponta terminal a desintegrarem-
se, acelerando para uma velocidade de recuo superior a 30 m/dia.
Numa escala temporal mais curta, porções do tronco principal do
glaciar Kangerdlugssuaq que se moviam a 15 m/dia entre 1998 e
2001, foram observadas a mover-se 40 m/dia no verão de 2005.
Este glaciar não só recuou, como perdeu mais de 100 m da sua
espessura.
Antárctica
A plataforma de gelo Larsen B na antárctica tinha uma área
equivalente à do estado americano de Rhode Island.
O clima da Antárctica é caracterizado pelo frio intenso e grande
aridez. A maior parte do gelo de água doce existente no mundo está
contida nos grandes mantos de gelo que cobrem o continente
antárctico. O exemplo mais dramático de recuo glaciar neste
continente é a perda de grandes secções da plataforma de gelo
Larsen. As plataformas de gelo não são estáveis quando ocorre
derretimento superficial, e o colapso da plataforma de gelo Larsen
foi causado por temperaturas mais altas durante a época de fusão,
que conduziram à ocorrência de derretimento superficial e
consequente formação de lagos pouco profundos sobre a
plataforma de gelo. A plataforma de gelo Larsen perdeu 2500 km²
entre 1995 e 2001. Num período de 35 dias, com início em 31 de
Janeiro de 2002, cerca de 3250 km² da área da plataforma
desintegraram-se. A plataforma apresenta actualmente 40% da sua
extensão estável mínima anterior. Estudos recentes do British
Antarctic Survey prevêem a potencial fragmentação da plataforma
de gelo George VI devida ao aquecimento das correntes oceânicas
resultante do aquecimento global.

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O glaciar de Pine Island, um glaciar de descarga antárctico que flui
para o Mar de Amundsen, recuou cerca de 5 km em 3 anos. O
ponto terminal do glaciar de Pine Island é uma plataforma de gelo
flutuante, e o ponto em que se encontra emersa está a recuar 1.2 km
por ano. Este glaciar drena uma porção substancial do manto de
gelo da Antárctica Ocidental e tem sido descrito como o ponto
fraco deste manto de gelo. Idêntico padrão de adelgaçamento e
recuo acelerado é observável no vizinho glaciar Thwaites.
Adicionalmente o glaciar Dakshin Gangotri, um pequeno glaciar de
descarga do manto de gelo antárctico, recuou a uma velocidade
média de 0.7 m/ano entre 1983 e 2002. Na Península Antárctica,
que é a única secção da Antárctica que se estende bem para norte
do círculo polar antárctico, existem centenas de glaciares em recuo.
Num estudo de 244 glaciares da península, 212 recuaram em média
600 m desde as primeiras observações efectuadas em 1953. O
maior recuo deu-se no glaciar Sjogren, que se encontra agora 13
km mais distante da costa do que na sua posição de 1953. Existem
32 glaciares que se observou terem avançado; no entanto este
avanço foi modesto, em média 300 m por glaciar, o que é
significativamente menor que o recuo maciço observado.

Sumário
Hidrologia dos glaciares é a descrição (origem, características e
distribuição) das águas que se encontram em zonas frias sob forma
de gelo (glaciares). Os glaciares são grandes massas de gelo que
encontram-se localizadas nas regiões frias, se formam pela
acumulação, compactação e recristalização da neve. Quando a
temperatura do ar baixa até 0ºC, o vapor água condensa-se
formando em cristais sólidos. Estes cristais caem na superfície sob
forma de neves.
Os glaciares subdividem-se em: glaciares continentais, também
chamados Inlandsis, que correspondem a aqueles que se

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desenvolvem nos continentes a dentro e glaciares de montanha, que
equivale a aqueles que se localizam nas altitudes elevadas.
Dentre as principais regiões glaciárias destacam-se, a Antárctica, a
Gronelândia, a Europa do norte, o Canada, e a Islândia.

Exercícios
Entregar o exercício 1 e 2 desta unidade.
1. Faça a distinção entre a hidrologia dos glaciares e os
glaciares.
2. Descreva com ligeira profundidade sobre os possíveis
factores que estão por detrás da formação de gelo nas
grandes regiões glaciárias.

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Unidade XI
O balanço do gelo e da água nos
glaciares
Introdução
Nesta unidade iremos incidir o nosso estudo no balanço do gelo e
da água nos glaciares, do regime e movimentos dos glaciares e do
trabalho dos glaciares.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
▪ Explicar o balanço de gelo e das águas nos glaciares;
▪ Descrever o regime e os movimentos dos glaciares; e
▪ Explicar o trabalho dos glaciares.
O balanço do gelo e da água nos glaciares
O balanço de gelo será a diferença entre a acumulação e a ablação
de um glaciar expressa, habitualmente, em volume de água
equivalente por unidade de superfície ou por outra o balanço do
gelo esta baseado no princípio de que durante um certo intervalo de
tempo as afluências totais de neve numa bacia deve ser igual ao
total das saídas. Mas normalmente tem havido variação, positiva ou
negativa, do volume de neves armazenado nessa bacia.

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Podemos dizer que o balanço do gelo tem sido negativo, pois,
estamos numa era em que temos registado um aumento gradual da
temperatura global. Note: estudos feitos pelos glaciólogos mostram
uma coincidência temporal do recuo dos glaciares com o aumento
medido da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera que
resultam um aquecimento global. As cordilheiras montanhosas das
zonas temperadas como os Himalaias, Alpes, Montanhas Rochosas,
Cordilheira das Cascatas e os Andes meridionais, bem como cumes
tropicais isolados como o Monte Kilimanjaro na África,
apresentam, proporcionalmente, a maior diminuição da extensão
dos glaciares.
A Pequena Idade do Gelo foi um período, que se estendeu
aproximadamente de 1550 a 1850, em que o mundo esteve sob
temperaturas relativamente baixas quando comparadas com as
actuais. Subsequentemente, até 1940 os glaciares um pouco por
todo o mundo retrocederam à medida que o clima se tornava mais
quente. O recuo glaciar abrandou, e em muitos casos foi mesmo
revertido, entre 1950 e 1980 em resultado de um ligeiro
arrefecimento global. Porém, desde 1980 um significativo
aquecimento global tem conduzido ao recuo cada vez mais rápido e
generalizado, de tal forma que muitos glaciares desapareceram e a
existência de grande parte dos que restam no mundo está
ameaçada. Em regiões como os Andes na América do Sul e
Himalaias na Ásia, o desaparecimento dos glaciares aí existentes
poderá afectar significativamente os recursos hídricos disponíveis.
A regressão dos glaciares de montanha, especialmente na América
do Norte ocidental, Ásia, Alpes, Indonésia e África e ainda nas
regiões tropicais e subtropicais da América do Sul, tem sido
utilizada como evidência qualitativa do aumento da temperatura ao
nível planetário desde o final do século XIX. Os recentes recuo
substancial e aumento da velocidade de recuo verificados desde
1995 em certos glaciares dos mantos de gelo da Gronelândia e da

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Antárctida Ocidental, podem ser o prenúncio de uma subida do
nível do mar, com efeitos potencialmente dramáticos nas regiões
costeiras de todo o mundo.
Quanto ao balanço das águas nos glaciares podemos dizer que, na
actualidade com as alterações climáticas verificadas a nível global
as zonas polares tem recebido mais água do que retira. Ora
vejamos:
“Desde o início da década de 1960 os glaciares de montanha,
em todo o Mundo, sofreram uma perda de volume estimada em
mais de 4000 quilómetros cúbicos de água – superior à
descarga anual dos rios Orinoco, Congo, Yang tse e Mississípi
todos juntos. Esta perda foi duas vezes mais rápida durante a
década de 1990 do que nas décadas anteriores.
A medida mais rigorosa da alteração dos glaciares é o balanço
de massa, a diferença entre a acumulação (a massa acrescida
sob a forma de neve) e a ablação (a perda de massa devida à
fusão ou ao desprendimento de grandes blocos de gelo).
Mesmo que a precipitação aumente, o balanço de massa pode
reduzir-se se temperaturas mais elevadas fizerem com que a
precipitação caia sob a forma de chuva em vez de neve.
Uma vez que as mudanças de massa são difíceis de medir, o
recuo dos glaciares é mais frequentemente descrito como uma
perda de área do glaciar, ou como a distância que a frente (o
término) do glaciar retrocedeu” (http://www.revista-
temas.com)
Concluímos, diante desta afirmação que o balanço das águas nos
glaciares é positivo na medida em que, nas regiões polares, devido
ao aumento da temperatura, há um degelo contínuo e associado a
este as precipitações são em forma de chuva (no estado liquido).
Regime e movimento de glaciares
“Uma das variáveis que diferenciam o comportamento de um
rio [podendo ser glacial] do de outro é o seu regime, que é a
relação das variações de caudal [nível] durante um ano. Temos
assim, que um rio [glacial] alcança o seu nível mínimo em
certas épocas em que as aguas [neves] estão baixas, isto é, o
caudal [nível] é fraco ou nulo.
Pelo contrário, quando as chuvas [neves] são abundantes, ou o
degelo é considerável, o caudal do rio [glacial] cresce
rapidamente e termina lentamente” (FACULDADE DE
LETRAS DA UEM 1982, p. 74).

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Podemos afirmar que o aumento ou a diminuição do nível do
glacial depende da estação do ano predominante.
Enquanto na região intertropical é caracterizado por apresentar um
verão intenso, as regiões polares são caracterizadas por terem
invernos rigorosos, onde as temperaturas são extremamente baixas
que reduzem a capacidade do ar em conter o vapor de água. Assim,
apresentam fraca precipitação, que é predominantemente de neve,
concentrada em época menos fria. Estas zonas apresentam um
verão muito curto e pouco quente, com temperatura do mês mais
quente superior a 10 ºC.
Podemos então dizer que é no período de inverno, que é extremo,
onde a neve precipitada em épocas menos fria compacta-se e
aumenta o nível das geleiras.
O aumento dos gelos também esta associado as
“fases glaciárias, a última glaciação que foi a de Wurm,
começou a cerca de 70 000 anos e terminou a cerca de 10 000
anos. Actualmente vivemos numa fase pós – glaciária. Pode-se
admitir que esta seja apenas uma fase interglaciária, estando
assim para vir dentro de algumas dezenas de milhares de anos
outra fase glaciária. Nada permite apoiar ou refutar esta
hipótese.
É evidente que glaciações tão extensas não puderam deixar de
ter enormes repercussões em todo o mundo. O clima alterou-se
profundamente, em especial nas latitudes médias. A
temperatura baixou de modo sensível, e nas regiões vizinhas
dos glaciares o clima tornou-se siberiano.
Nas regiões temperadas, as florestas cederam lugar a tundra. O
limite setentrional das florestas desceram ate ao sul da França.
Em Portugal, as condições deviam então assemelhar-se as que
existem actualmente na Escandinávia. A fauna modificou-se
quase por completo. […].
O nível do mar sofreu grandes oscilações durante o
quaternário. Nas fases glaciárias, deu-se uma descida, devido a
acumulação da massa de gelo nas latitudes elevadas. Para a
glaciação de Wurm, admite-se uma descida de pelo menos 100
m em relação ao nível actual. Nas fases interglaciárias, deu-se
de novo uma subida do mar, em consequência do degelo.”
(KNAPIC s/d, p. 91 - 93)

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Figura 13 – Recuo do gelo
Fonte: Internet – Google
Após a formação do glacial, que resulta da compressão do nevado
(resulta da pressão crescente que as camadas superiores exercem
sobre a neve, que vai se comprimindo e sofrendo sucessivas
recristalizações, ate atingir a estrutura granular bem visível),
“sob a acção de gravidade, o gelo vai se deslocando das
regiões mais elevadas para as regiões mais baixas. O modo
como o movimento, mais lento ou mais rápido, se realiza é
bastante complexo.
Por um lado, toda a massa de gelo desliza sob a base rochosa
mais ou menos inclinada. Neste deslocamento intervêm o
efeito lubrificador da água de fusão resultante de um aumento
local de pressão.
Por outro lado, a massa de gelo, abaixo de 50 m, comporta-se
como um material plástico em resultado da estrutura do gelo.
As várias camadas sobrepostas tendem a deslizar umas sobre
as outras. Este movimento interno diminui com a
profundidade, devido ao crescente atrito exercido pela base
rochosa.” (idem, p. 84)
Trabalhos dos glaciares
A acção do gelo modifica bastante o aspecto de uma região. As
altas montanhas estão sujeito a erosão e as regiões baixas a
deposição.
Os glaciares exercem uma acção de erosão, transporte e deposição.
A erosão glacial realiza-se por dois processos:
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1. A abrasão, esta erosão é feita por fragmentos de rochas
contidos no glaciar sobre as rochas do fundo, resultante da
pressão directa que os gelos exercem sobre as rochas e
através do qual consegue desalojar os blocos, mais ou
menos soltos devido a água que congelou nas diáclases
(fissuras);
2. Um aumento da pressão em um determinado local pode
provocar a fusão de gelo e posteriormente a água derretida,
penetra nas fendas das rochas e nelas voltam a congelar,
desde que a pressão baixe. Assim

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