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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

Analise Comparativa do Crescimento Populacional do Distrito de Gurué.

Leonora Eugénio Paulino Dama – 708192216

Docente: Manuel Cassamo

Curso: Geografia

Disciplina: Geografia da População e Povoamento

Ano: 3º ano

Turma: C

Quelimane, junho

de 2021
Índice
1. Introdução ............................................................................................................................... 3

1.1. Objectivos do Estudo ........................................................................................................... 3

1.1.1. Objectivo geral ................................................................................................................. 3

1.1.2. Objectivos específicos ...................................................................................................... 3

1.2. Metodologias de investigação ............................................................................................. 3

1.2.1. Tipos de Pesquisa ............................................................................................................. 3

1.2.2. Quanto aos objectivos e procedimento ............................................................................. 3

2. Analise comparativa do crescimento populacional do distrito de Gurué ............................... 4

2.1. O Crescimento Populacional Nas Cidades Moçambicanas ................................................. 4

2.2. O Crescimento Natural ........................................................................................................ 4

2.3. Migração e Saldo migratório ............................................................................................... 5

2.4. Mortalidade e Esperança de Vida ao Nascer ....................................................................... 6

2.5. Mortalidade Infanto-Juvenil E Esperaça De Vida Ao Nascer ............................................. 7

3. Analise e discussão das literaturas ......................................................................................... 7

3.1. Distrito de Gurué ................................................................................................................. 7

3.1.1. Características gerais e fundiárias .................................................................................... 8

3.2. Tipos de conflitualidades e formas de resolução ................................................................. 9

3.2.1. Conflito intra-familiar....................................................................................................... 9

3.2.2. Conflito inter-familiar..................................................................................................... 10

3.2.3. Conflitos inter-comunitários ........................................................................................... 10

3.2.4. Conflitos Empresas Chazeiras vs comunidades ............................................................. 11

4. Conclusão ............................................................................................................................. 12

5. Referencias bibliográficas .................................................................................................... 13

Anexos e Apêndices ................................................................................................................. 14


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1. Introdução

O presente trabalho aqui apresentado, fala sobre analise comparativa do crescimento


populacional do distrito de Gurué. Portanto, O distrito de Gurué fica localizado no norte da
província da Zambézia e faz limite geográfico com o Distrito de Malema (pertencente à
província de Nampula) a norte, com o Distrito de Cuamba (pertencente à província do Niassa)
a noroeste, a Sudoeste faz limite com o Distrito de Milange, a Sul faz limite com os Distritos
de Namarroi e Ile e a Leste com o distrito de Alto Molócue.12 Esta localização geográfica
permite ao distrito estabelecer ligação com a EN1 em Mutuali, via distrito do Ile, percorridos
cerca de 100km. Com uma população de 420,869 habitantes (INE 2017) e uma superfície de
5606 km2, Gurué apresenta uma densidade populacional de 75,07 hab/km2. Estes valores
representam um crescimento populacional de cerca de 80% em 10 anos se considerarmos que
no censo de 2007 a população registada foi de 297 935 hab, perfazendo uma densidade de 53,15
hab/km2.

1.1. Objectivos do Estudo

1.1.1. Objectivo geral

 Analisar comparativamente o crescimento populacional do distrito de Gurué.

1.1.2. Objectivos específicos

 Fundamentação teórica do estudo do crescimento populacional do distrito de Gurué;


 Identificar e descrever as principais características do crescimento populacional do
distrito de Gurué;
 Explicar as principais características do crescimento populacional do distrito de Gurué.

1.2. Metodologias de investigação

1.2.1. Tipos de Pesquisa

O tema de pesquisa analise comparativa do crescimento populacional do distrito de Gurué,


evidenciara-se por meio de uma pesquisa bibliográfica.

1.2.2. Quanto aos objectivos e procedimento

Neste estudo pretende-se identificar, descrever e explicar as principais características do


crescimento populacional do distrito de Gurué. Quanto aos procedimentos, o método usado
nesta pesquisa é a análise bibliográfica.
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2. Analise comparativa do crescimento populacional do distrito de Gurué

2.1. O Crescimento Populacional Nas Cidades Moçambicanas

O crescimento da população é determinado por três factores: natalidade, mortalidade e


movimentos migratórios. Nesta secção, apresentamos e discutimos a tendência dos indicadores
demográficos associados ao crescimento demográfico urbano, nomeadamente a fecundidade, a
mortalidade e a migração. Os dados foram obtidos dos censos de 1997 e 2007 e dos resulta- dos
preliminares do Censo de 2017. De seguida, procedemos à análise das consequências do
crescimento demográfico urbano em Moçambique. (Agadjanian, 2001)

2.2. O Crescimento Natural

Cerca de 75 % do crescimento demográfico das cidades africanas é determinado pelo


crescimento natural, isto é, pela diferença entre a natalidade (fecundidade) e a mortalidade
(Ezeh et al., 2010). Em geral, a fecundidade nas áreas urbanas tem vindo a reduzir-se.2 Os
dados do Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS) mostram que, em 1997, as mulheres nas
áreas urbanas tinham uma fecundidade de 5,1 filhos. Em 2003, este valor baixou para 4,4 filhos,
tendo aumentado ligeiramente para 4,5 filhos em 2011 (INE & MISAU, 2011).

Os factores conducentes ao declínio da fecundidade nos espaços urbanos moçambicanos têm


sido associados ao aumento da prevalência de uso de contraceptivos modernos, dos níveis de
escolarização feminina e da inserção da mulher no mercado de emprego formal (Agadjanian,
2001; Arnaldo, 2013; Arnaldo & Muanamoha, 2013). Portanto, é plausível que haja uma
associação entre a urbanização e a redução da fecundidade em Moçambique e tal argumento é
consistente com as discussões sobre a transição demográfica (Bongaarts, 1978, 2015; Kingsley
& Blake, 1956), assim como com os recentes debates no campo da demografia evolutiva (Sear
et al. 2016).

No entanto, a tendência geral de declínio da fecundidade nos espaços urbanos oculta im-
portantes disparidades entre as cidades moçambicanas. Os dados dos censos de 1997 e 2007
mostram que os níveis de fecundidade variam significativamente entre as principais cidades de
Moçambique. Em 1997, entre as cidades com a taxa de fecundidade mais baixa, encontramos
as cidades de Maxixe e Beira, com quatro filhos por mulher, seguidas da cidade de Maputo e
Matola, com 4,2, e Inhambane, com 4,3 filhos por mulher. Em 1997, as taxas mais elevadas
foram observadas em Chimoio (7,1), Tete (6,9), Xai-Xai (6,6) e Nampula (6,5).
5

As estimativas do Censo de 2007 mostram que as taxas globais de fecundidade mais baixas nas
principais cidades de Moçambique registaram-se nas cidades de Maputo (3,2), Matola (3,4),
Maxixe (3,6), Inhambane (3,7) e Xai-Xai (3,7). Por seu turno, as taxas globais de fecundidade
mais elevadas foram observadas em Chimoio (5,7), Lichinga (5,6), Quelimane (5,2) e Tete
(4,9). Entre os dois censos, a fecundidade reduziu-se nas principais cidades moçambicanas, com
a excepção de Quelimane. Nesta cidade, a fecundidade aumentou ligeiramente, passando de 5
para 5,2 filhos por mulher. As maiores reduções da taxa de fecundidade foram observadas em
Xai-Xai, (3 filhos por mulher), seguida da cidade da Beira (2 filhos por mulher) e Nampula e
Chimoio (1,5 filhos cada). (Agadjanian, 2001)

2.3. Migração e Saldo migratório

Embora a migração para as cidades desempenhe um papel de relevo no crescimento urbano em


Moçambique (Raimundo, 2007; Raimundo & Muanamoha, 2013), a escassez e baixa qualidade
dos dados sobre dinâmica migratória constitui um sério entrave à análise sistemática sobre o
peso da migração no processo de crescimento urbano. Como discutido por Rodrigues (2019, p.
449), «existem, contudo, […] em Moçambique, grandes dificuldades em conhecer em detalhe
as dinâmicas da mobilidade, bem como a sua relação com o urbanismo».

Por outro lado, a noção de migração pode ser ambígua, tal como explicado por Todaro (1997),
ao afirmar que, embora migração constitua uma forma de mobilidade humana, nem sempre a
mobilidade humana constitui migração. Portanto ao estudar a dinâmica demográfica e a sua
relação com o urbanismo em Moçambique, deve-se antes ter em conta que os dados existentes
e a sua qualidade são problemáticos e é preciso delimitar o que entendemos por migração.

Neste trabalho, usamos os dados do INE e consideramos a migração de toda a vida conforme
recolhida nos censos moçambicanos. Raimundo & Muanamoha (2013), explicando as
vantagens e desvantagens em usar este indicador, afirmam que os censos moçambicanos
permitem capturar este indicador, comparando o lugar de nascimento com o lugar de residência,
porém esta comparação oculta as etapas do processo migratório, que é um aspecto fundamental
da dinâmica migratória.

A tendência da migração para as cidades moçambicanas mostra cenários diferentes. Os volumes


de entrada e saída da população nas cidades moçambicanas são diferentes e não apresentam
uma tendência padronizável. Entre as cidades que tiveram um saldo migratório positivo em
1997, destacam-se Maputo, Xai-Xai, Nampula e Lichinga. Entre aquelas que tiveram um saldo
migratório negativo, há a destacar Maxixe, Inhambane e Tete. Os dados sugerem que a principal
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distinção no que concerne à migração para as cidades entre 1997 e 2007 terá sido a redução do
volume de migrantes entrando e saindo das cidades. Tal pode ser explicado pelo clima de
estabilidade militar que caracterizou Moçambique nas décadas 1990 e 2000. Ou seja, enquanto
o Censo de 1997 registou a mobilidade forçada devido ao conflito armado dos anos 1980, o
Censo de 2007 poderá ter registado somente a mobilidade da população para as cidades
fundamentalmente por razões económicas, um número menor volume do que o das migrações
forçadas. (Agadjanian, 2001)

Por outro lado, os dados sobre a migração mostram que há uma grande diferença entre a
cidade de Maputo e o resto das cidades moçambicanas quanto ao peso da dinâmica migratória
no crescimento da população urbana.

2.4. Mortalidade e Esperança de Vida ao Nascer

A informação utilizada para estimar as taxas de mortalidade infantil, infanto-juvenil e as


esperanças de vida ao nascimento por distritos, provém do IIIRGPH de 2007. Este tipo de
informação apresenta limitações, por isso, foi difícil estimar indicadores de mortalidade por
distritos. Sendo assim, estes resultados devem ser interpretados com muita atenção.
(Agadjanian, 2001)

Estes cálculos foram efectruados para se ter uma ideia geral sobre o nível de mortalidade nos
diferentes distritos, recorrendo ao uso de técnicas indirectas para estimar as taxas de
mortalidade infantil, infanto-juvenil e a esperança de vida ao nascimento, utilizando os passos
descritos abaixo:

 A partir da informação do recenseamento geral de população de cada distrito, obteve-


se o número total de óbitos ocorridos nos últimos 12 meses à data do censo.
 Com a tábua de mortalidade de cada província produzida a partir de óbitos ocorridos
nos últimos 12 meses antes do Censo 2007, se obteve as taxas centrais de mortalidade.
Estas taxas, foram consideradas como representando o padrão de mortalidade da
província.
 Tendo o total de óbitos por sexo e a população do distrito por sexo e idade, e as taxas
centrais de mortalidade da província, estes dados foram introduzidos no programa
ADJMX do pacote PAS do Bureau de Census dos Estados Unidos. O programa ADJMX
permitiu construir uma tabela de mortalidade de cada distrito. (Agadjanian, 2001)
7

2.5. Mortalidade Infanto-Juvenil E Esperaça De Vida Ao Nascer

O principal objectivo da informação apresentada a seguir é mostrar aos usuários da informação


estatística, o nível e variação de mortalidade por distritos.

Em Zambézia, a mortalidade é maior nos distritos de Inhassunge (25) e Namarroi (24) óbitos
por cada 1000 habitantes. A menor Taxa Bruta de Mortalidade é registada em três distritos,
nomeadamente – Gilé, Milange, Gurué e Mocuba. Os dados sobre a mortalidade infantil
representam o número de crianças que morrem por 1000 nascidos vivos antes de completar 1
ano de vida. Os distritos de Chinde e Inhassunge registaram o maior número de óbitos por mil
nascidos vivos, respectivamente 164.2 e 151.7. Estes distritos coincidem com as mais altas
taxas de mortalidade infanto-juvenil.

3. Analise e discussão das literaturas

3.1. Distrito de Gurué

O distrito de Gurué fica localizado no norte da província da Zambézia e faz limite geográfico
com o Distrito de Malema (pertencente à província de Nampula) a norte, com o Distrito de
Cuamba (pertencente à província do Niassa) a noroeste, a Sudoeste faz limite com o Distrito de
Milange, a Sul faz limite com os Distritos de Namarroi e Ile e a Leste com o distrito de Alto
Molócue.12 Esta localização geográfica permite ao distrito estabelecer ligação com a EN1 em
Mutuali, via distrito do Ile, percorridos cerca de 100km. (INE, 2013.11)

A partir do Distrito de Ile alcança a linha férrea do Corredor do Desenvolvimento do Norte


(CDN). Está em reabilitação a estrada que liga Gurué ao distrito de Cuamba, que facilitará a
ligação a Lichinga e ao Malawi (em construção a estrada Cuamba Lichinga).

Com uma população de 420,869 habitantes (INE 2017) e uma superfície de 5606 km2, Gurué
apresenta uma densidade populacional de 75,07 hab/km2. Estes valores representam um
crescimento populacional de cerca de 80% em 10 anos se considerarmos que no censo de 2007
a população registada foi de 297 935 hab, perfazendo uma densidade de 53,15 hab/km2.

O distrito possui 2 Postos Administrativos e 10 Localidades. O Posto Administrativo de Lioma


contempla as Localidades de Lioma, Magige, Mualijane, Nintulo e Tetete) e Posto
Administrativo de Mepuagiua as Localidades de Incize, Mepuagiua, Mugaveia, Nicoropale e
Nipive.
8

Trata-se de um distrito rural cuja economia depende da agricultura. Como consequência a


população tem como actividade principal a agricultura que articula agricultura familiar e
plantações privadas, com predominância para a cultura do chá, soja, milho, algodão e feijão.

3.1.1. Características gerais e fundiárias

Particularmente conhecido pelas suas vastas plantações de chá, o distrito de Gurué localiza-se
na região da alta Zambézia e faz limite a norte com o distrito de Malema (Nampula), a Sul com
o distrito de Namarroi, a Este com os distritos de Alto Molócué e Ile, e a Oeste com os distritos
de Milange (Zambézia) e de Cuamba (Niassa).

Administrativamente, o distrito do Gurué divide-se em dois postos administrativos: Lioma e


Mepuagina, por sua vez subdivididos em 10 localidades: Lioma sede, Magige, Mintulo,
Mualijane e Tetete, em Lioma, e Mepuagiua sede, Incize, Nicoropale, Nipive e Mugaveia em
Mepuagiua. Em 2013, a população do distrito estava estimada em 363,959 habitantes, na sua
maioria mulheres (50,8%), e de matriz rural (INE, 2013).

O degradado estado das vias de acesso secundárias e terciárias do distrito dificulta a


mobilidade, atrasa o escoamento dos produtos e reduz as oportunidades de mercado para os
produtores locais. Ainda assim, o distrito possui importantes ligações com Quelimane,
Nampula e Malawi através da EN1, via Ile, que também o ligam à linha férrea de Nacala, o
que tem servido para atrair o interesse de investidores.

As formas de acesso à terra mais frequentes no distrito são: normas consuetudinárias, ocupação
por boa-fé e pelo DUAT. À semelhança de Alto Molócué, Gurué situa-se na zona Agro-
ecológica 10 (R10), devido às características naturais das suas terras que favorecem o
desenvolvimento da actividade agrícola, principal actividade para 88% do total da população
economicamente activa, estimada em cerca de 88 mil pessoas, segundo dados do MAE (2005).

Existem no distrito cerca de 53.988 pequenas e médias explorações agro-pecuárias familiares,


com uma área média de 1 hectare. A produção é feita em condições de sequeiro, num regime
de consociação de produção, sobretudo de milho e feijão vulgar, principais culturas alimentares.
A batata-reno, o feijão-manteiga, o tabaco, e, com maior incidência nos últimos anos, a soja,
constituem as principais culturas de rendimento produzidas no distrito.
9

3.2. Tipos de conflitualidades e formas de resolução

As práticas e tradições societais locais constituem um dos primeiros focos de origem de


conflitos de terra, colocando em oposição membros de uma mesma família, bem como
indivíduos de famílias diferentes. As ocupações desordenadas de áreas pertencentes às várias
plantações de chá, que cobrem o cinturão verde do distrito, constituem o segundo epicentro
conflituoso em Gurué, envolvendo, por um lado, as populações em busca de áreas cultiváveis
e habitacionais próximas da cidade e, por outro lado, as empresas chazeiras cujas áreas são
agredidas pelas primeiras. O terceiro motivo de conflitualidade está ligado à febre da soja que,
com o crescente investimento no agro-negócio, à escala global (Mosca e Bruna, 2015), atraiu
um número considerável de projectos de investimento, de investidores nacionais e estrangeiros,
para as terras férteis de Gurué, alguns dos quais entraram em disputa com as comunidades
locais.

3.2.1. Conflito intra-familiar

Embora não muito frequentes, registam-se no distrito de Gurué conflitos entre membros de uma
mesma família relacionados, essencialmente, com questões de herança. Basicamente, as
disputas surgem quando a divisão das terras entre os filhos não é feita de maneira equitativa e
agravam-se quando a qualidade dos solos das áreas atribuídas a uns é considerada pelos outros
como sendo mais produtiva. Os conflitos acontecem, também, naqueles casos em que o homem,
por motivos de separação (pouco frequentes) ou morte da esposa, regressa à sua comunidade
de origem, onde não encontra espaço para construir a sua habitação e fazer a sua machamba,
pois o seu anterior espaço já foi ocupado pelas irmãs e seus maridos. (Mosca e Bruna, 2015)

A resolução deste tipo de conflitos é feita a nível interno das famílias, com ajuda de algumas
testemunhas locais que conhecem a família. Porque as testemunhas apresentadas pelos
membros em conflito, por vezes, têm procedência duvidosa, é comum solicitar-se a intervenção
dos régulos e secretários do bairro, para ajudar na mediação e possibilitar a resolução do
conflito. Os conflitos somente são reportados ao conhecimento dos tribunais comunitários e,
posteriormente, ao tribunal judicial, quando a disputa chega a envolver agressão física. A
deliberação mais frequente tem sido a partilha das terras, que consiste na divisão igualitária da
área em disputa entre os filhos da família. (Mosca e Bruna, 2015)
10

3.2.2. Conflito inter-familiar

Igualmente pouco reportado às autoridades, este tipo de conflito está essencialmente ligado à
não observância dos limites ou à invasão de áreas familiares não utilizadas. A falta de
delimitação, a existência de marcos baseados em suposições e na oralidade, a falta de registo
dos direitos de propriedade pelas famílias, aliados à pobreza e ao crescimento dos agregados
familiares, são elementos que concorrem para que as famílias expandam as suas áreas de
cultivo, mesmo para espaços alheios. Estes espaços tendem a ser áreas cujos proprietários nunca
cultivaram, ou deixaram de cultivar por um considerável período de tempo, que são desbravadas
e cultivadas pelos novos ocupantes. Quando a família se apercebe que as suas terras estão sendo
exploradas por terceiros, sem a sua autorização, surge o conflito. Os conflitos podem,
igualmente, acontecer porque os irmãos mais velhos podem resolver vender uma parte das terras
da família a outras pessoas, sem informar os irmãos mais novos. (Mosca e Bruna, 2015)

As autoridades comunitárias e os extensionistas locais jogam um papel importante na resolução


deste tipo de conflito, mobilizando as partes em conflito e identificando as pessoas mais antigas
da comunidade. Estas ajudam a perceber a qual das famílias pertence a área, se os limites
apresentados pela família ofendida coincidem, ou não, com os indicados por eles, e, em função
disso, delimita-se o espaço e colocam-se marcos para separar as áreas. À família ofendida é
feita uma compensação em culturas ou valores monetários pelas plantas ou árvores destruídas
durante o processo de ocupação da família agressora.

3.2.3. Conflitos inter-comunitários

O procedimento acima referido pode aplicar-se, igualmente, naqueles casos em que as famílias
em disputa pertencem a comunidades vizinhas. A diferença é que, neste caso, os conflitos são
resolvidos com o envolvimento das autoridades comunitárias das comunidades em conflito,
podendo, por vezes, recorrer-se à ajuda das autoridades administrativas, também das
comunidades envolvidas. (Arnaldo & Hansine, 2015)

Embora não muito frequentes, os conflitos inter-comunitários acontecem, sobretudo, nas zonas
limítrofes que separam o posto administrativo de Lioma dos outros postos administrativos, e
são resultado da procura por terras mais produtivas. Assim, por exemplo, foram registados
conflitos de terra envolvendo comunidades do Posto Administrativo de Molumbo (Milange,
Zambézia) e comunidades do Posto Administrativo de Lioma (Gurué), entre comunidades do
Posto Administrativo de Mutuali (Malema, Nampula) e do Posto Administrativo de Lioma
11

(Gurué), e comunidades do Posto Administrativo de Etatara (Cuamba, Niassa) vs comunidade


de Ruace, no Posto Administrativo de Lioma. (Arnaldo & Hansine, 2015)

Este interesse pelas terras de Gurué, em particular de Lioma, está ligado às boas condições que
aquelas oferecem para a produção de culturas de rendimento como o tabaco, o gergelim e,
sobretudo a soja, esta última que, “para além de ter um mercado garantido pelas empresas de
produção de ração para frangos oferece maiores rendimentos aos produtores quando
comparados com o algodão, o amendoim e o milho produzidos nas terras de Cuamba, em
Niassa, por exemplo”. (Arnaldo & Hansine, 2015)

3.2.4. Conflitos Empresas Chazeiras vs comunidades

Os conflitos entre as empresas de produção de chá e a população instalada nas áreas de cultivo
daquela cultura não são recentes. Estes existem antes mesmo da introdução das políticas de
privatização das várias unidades de produção de chá existentes no distrito, que culminaram com
a redução da intervenção estatal nos assuntos ligados à produção e comercialização do chá.
Eduardo D., antigo trabalhador da Unidade de Direcção do Chá (UDC), conta a história da
produção do chá em Gurué: (Raimundo & Muanamoha 2013)

Depois da nacionalização da terra, em 1975, o Estado moçambicano decidiu intervencionar


na cultura do chá, formando, para o efeito, as chamadas Comissões Administrativas de gestão
de produção. Esta intervenção do Estado teve como causa o abandono por parte dos
proprietários das empresas de produção de chá, quase todos de origem portuguesa. Este
abandono levou o Estado a formar uma nova comissão de gestão, que culminou com a formação
de várias Unidades de Produção (UP). Existiram, no distrito de Gurué, doze unidades de
produção, sob responsabilidade da Unidade de Direcção do Chá (UDC).

A UDC tinha como principal tarefa inventariar todos os problemas relacionados com a cultura
do chá. A UDC concluiu que, embora existissem vários campos de produção de chá
subutilizados que podiam ser reabilitados, havia um problema maior relacionado com a
incapacidade técnica instalada nas fábricas, que dificultava que as empresas tivessem bons
resultados. Esta inventariação culminou com o desenho de um novo projecto chamado Tea
Rehabilitation Program (TRP), implementado em três fases. O objectivo deste novo programa
era de montar maquinaria tecnologicamente moderna, para assegurar que cada uma das três
zonas em que estavam divididas as unidades de produção funcionasse plenamente e melhorasse
a sua capacidade de produção, e construir mais uma nova unidade de produção, isto é, a UP 13.
(Raimundo & Muanamoha 2013)
12

4. Conclusão

Depois da realização do presente trabalho, chegamos a constatar que na Zambézia, a


mortalidade é maior nos distritos de Inhassunge (25) e Namarroi (24) óbitos por cada 1000
habitantes. A menor Taxa Bruta de Mortalidade é registada em três distritos, nomeadamente –
Gilé, Milange, Gurué e Mocuba. Os dados sobre a mortalidade infantil representam o número
de crianças que morrem por 1000 nascidos vivos antes de completar 1 ano de vida. Os distritos
de Chinde e Inhassunge registaram o maior número de óbitos por mil nascidos vivos,
respectivamente 164.2 e 151.7. Estes distritos coincidem com as mais altas taxas de mortalidade
infanto-juvenil.

Por fim concluímos que existem no distrito de Gurué cerca de 53.988 pequenas e médias
explorações agro-pecuárias familiares, com uma área média de 1 hectare. A produção é feita
em condições de sequeiro, num regime de consociação de produção, sobretudo de milho e
feijão vulgar, principais culturas alimentares. A batata-reno, o feijão-manteiga, o tabaco, e,
com maior incidência nos últimos anos, a soja, constituem as principais culturas de rendimento
produzidas no distrito
13

5. Referencias bibliográficas

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Todaro, M. P. (1997). Urbanization, Unemployment, and Migration in Africa: Theory and


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Anexos e Apêndices

Imagem de Plantação de Chá no distrito de Gurué

Localização geográfica do Distrito de Gurué

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