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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL E GESTÃO DO RISCO E


DESASTRES

(MEAGRD)

ANÁLISE DO PERÍODO DE RETORNO DAS CHEIAS AQUANDO DA PASSAGEM


DO CICLONE FREDDY NA BACIA DO LICUNGO

Docente: Prof. Doutor Agostinho Vilanculos

Discente: Gersen Luís Master Lázaro

Maputo, Julho de 2023

i
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL E GESTÃO DO RISCO E


DESASTRES

(MEAGRD)

ANÁLISE DO PERÍODO DE RETORNO DAS CHEIAS AQUANDO DA PASSAGEM


DO CICLONE FREDDY NA BACIA DO LICUNGO

Docente: Prof. Doutor Agostinho Vilanculos

Discente: Gersen Luís Master Lázaro

Maputo, Julho de 2023

ii
DEDICATÓRIA

A esse trabalho dedico a Deus pelo dom dado a vida, sabedoria e persistência.

Aos Meus Pais Master Lázaro e Telma Nhantumbo pela perpétua base da minha sustentação
e progresso.

Aos Meus irmãos Master Jr, Samuel Aires, Evans Master e Lincoln Da Telma pelo suporte,
entusiasmo e que me inspiram para uma forte busca de um futuro melhor.

iii
DECLARAÇÃO

Declaro por minha honra que este Trabalho de módulo é resultado da minha investigação
pessoal e o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final. Declaro ainda que este trabalho não
foi apresentado em nenhuma outra instituição para propósito semelhante ou obtenção de
qualquer grau académico.

Maputo, Julho de 2023

_______________________________

Gersen Luís Master Lázaro

iv
RESUMO

O presente relatório é o culminar de uma investigação no âmbito do Trabalho de Mestrado

em Engenharia Ambiental e Gestão de Riscos e Desastres pelo módulo Climatologia e

Hidrologia com tema "Análise Do Período De Retorno Das Cheias Aquando Da Passagem

Do Ciclone FREDDY Na Bacia Do Licungo", baseando nas estações de Mocuba e Gurué,

que drena uma área de 22 800 km2, com um comprimento aproximado de 343 km e seu

perímetro é de cerca de 798 km, Com base no estudo, a bacia tem um escoamento médio de

6 533,80 Mm3/ano e um consumo para as diversas utilizações de 2 775,90 Mm3/ano cerca de

42% do escoamento total da bacia o que significa que a mesma possui quantidade suficiente

de água. Através da investigação baseada registros históricos dos caudais máximos por

interacções e relações empíricas constatou-se na estação de Mocuba o caudal de 2023

representou um Período de Retorno de 6 anos e a sua probabilidade de igualar ou exceder é

de 16% (aquando da passagem do evento climático ciclone FREDDY) e para o caso de Gurué

apresentou um período de um Período de Retorno de 2 anos e a sua probabilidade de igualar

ou exceder é de 45% (aquando da passagem do evento climático ciclone FREDDY).

Palavras-chave: Ciclone FREDDY, Caudal, Escoamento, Evento Climático.

v
ÍNDICE

LISTA DE ABREVEATURA ............................................................................................... viii

LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. ix

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ x

I. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1

1.1. OBJECTIVOS.................................................................................................................. 2

1.1.1. Geral ............................................................................................................................ 2

1.1.2. Específicos .................................................................................................................. 2

1.2. PROBLEMA .................................................................................................................... 3

1.3. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 4

II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 5

2.1. A TEORIA DOS DESASTRES NATURAIS ................................................................. 5

2.1.1. DESASTRES NATURAIS ......................................................................................... 5

2.2. VULNERABILIDADE.................................................................................................... 6

2.3. EXPOSIÇÃO ................................................................................................................... 6

2.4. RISCO .............................................................................................................................. 6

2.5. CHEIAS E INUNDAÇÕES ............................................................................................. 6

2.5.1. CONDICIONANTES NO PROCESSO DE INUNDAÇÕES .................................... 9

2.5.2. MEDIDAS DE CONTROLO DAS INUNDAÇÕES E PREVENÇÃO ........................ 11

2.5.3. MAPAS DE RISCO .................................................................................................. 11

2.5.4. GRAU DE RISCO DE INUNDAÇÃO ..................................................................... 12

2.5.5. IMPACTOS DAS CHEIAS ...................................................................................... 12

2.5.6. MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DAS CHEIAS .......................................................... 14

2.6. SENSORIAMENTO REMOTO E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


16

2.7. ASPECTOS QUALITATIVOS E AMBIENTAIS DA BACIA DO RIO LICUNGO. . 17


vi
2.7.1. ASPECTOS AMBIENTAIS .......................................................................................... 17

2.7.2. QUALIDADE DE ÁGUA NO RIO LICUNGO ........................................................... 18

2.7.3. SANEAMENTO NAS CIDADES DE GURUÉ E MOCUBA ................................. 23

2.8. PRINCIPAIS PROBLEMAS DE GESTÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA .............. 24

III. MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................................... 26

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO ......................................................... 26

3.2. CLIMA ........................................................................................................................... 28

3.3. TOPOGRAFIA .............................................................................................................. 28

3.4. PRECIPITAÇÃO ........................................................................................................... 29

3.5. USO E COBERTURAS ................................................................................................. 31

3.6. SOLOS ........................................................................................................................... 32

3.7. ÁREAS DE RISCO Á INUNDAÇÃO NA BACIA DO LICUNGO ............................ 34

3.8. RECOLHA DE DADOS................................................................................................ 36

3.9. SELECÇÃO DO MÉTODO PROBABILÍSTICOS ...................................................... 36

3.9.1. VARIAVEIS A DETERMINAR .............................................................................. 36

 Probabilidade de igualar e exceder assim como o periodo de retorno das cheias a


quando da passagem do ciclone FREDDY na bacia de Licungo............................................. 36

4.4 Análise dos resultados .................................................................................................. 37

Os PRs obtidos para estacão de Mocuba foram comparados com os valores dos períodos de
retorno da estacão de Gurué a fim de melhorar a confiabilidade da análise da alteração dos
padrões de ocorrência a dos eventos ........................................................................................ 37

CAPÍTULO IV: RESULTADOS E DISCUSSÃO DE DADOS ............................................. 38

4.1. DETERMINAÇÃO DA PROBABILIDADE DO CAUDAL IGUALAR OU


EXCEDER AO PERÍODO DE RETORNO NA ESTACÃO DE MOCUBA ......................... 38

4.2. DETERMINAÇÃO DA PROBABILIDADE DO CAUDAL IGUALAR OU


EXCEDER AO PERÍODO DE RETORNO EM GURUÉ ...................................................... 40

5. CONCLUSÃO ............................................................................................................... 43
vii
5.1. RECOMENDAÇÕES. ................................................................................................... 45

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 46

LISTA DE ABREVEATURA

CNA- Conselho Nacional de Água


CPLP- Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
DGRH- Direcção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos
DNA- Direcção Nacional de Agua
DNGA- Direcção Nacional de Gestão Ambiental
EFD- European Flood Directive
FAO- Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
Fig- Figura
GIS/SIG- Sistemas de Informação Geográfica
MICOA- Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental
OMS- Organização Mundial da Saúde

TR- Tempo de Retorno


Q Vazão
P Probabilidade
S Sul

m3/s metro cubico por segundo

Mm Milímetro

viii
Km Quilómetro

°C Grau centígrado

M Metros

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Tipos de inundação e suas causas………………………………………………….8

Tabela 1- Tipos de inundação e suas causas………………………………………………….9

Tabela 2- Sumario das Principais medidas de gestão de bacias…………….……………….15

Tabela 3- Analise da Agua no estacão de captação em Mocuba e Gurué…………….…..…8

ix
Tabela 4- Resultados de Analises efectuadas na Bacia de Licungo em 2002…………..….21

Tabela 4- Resultados de Analises efectuadas na Bacia de Licungo em 2002…………..….22

Tabela 5- Período de retorno para estacão de Mocuba ..……………………………….…...36

Tabela 5- Período de retorno para estacão de Mocuba.……………………………….…….37

Tabela 6- Período de retorno para estacão de Gurué …………………………..……..…….38

Tabela 6- Período de retorno para estacão de Gurué …………………………..……..…….39

Tabela 6- Período de retorno para estacão de Gurué …………………………..……..…….40

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Esquema de enchentes e inundação……………………………………….……….7


Figura 2- Caudal médio mensal e anual……………….…………………………………….26
Figura 3- Área de Estudo…………………………………………………………………….27
Figura 4- Relevo e Declive…………………………………………………………………..27
Figura 5- Mapa Topográfico…………………………………………………………………29
Figura 6- Precipitação anual da Bacia……………………………………………….……….30
Figura 7- Uso e Cobertores………………………………………………………….……….32
Figura 8- Solos da Bacia do Licungo………………………………………………..……….33
Figura 9- Distribuição das áreas de risco a inundação ……………………………...……….34
Figura 10- Gráfico da curva de caudais para estacão de Mocuba………………..…………..38
Figura 10- Gráfico da curva de caudais para estacão de Gurué…………………….………..40

x
I. INTRODUÇÃO

Segundo FAO, CPLP e Ministério da Agricultura (2009), "A localização geográfica de


Moçambique nos trópicos e subtrópicos faz com que seja vulnerável a eventos extremos de
origem meteorológica tais como secas, cheias e ciclones tropicais e de origem geológica
como é o caso de sismos e tsunamis".

Em Moçambique, as cheias são causadas por um conjunto de factores, particularmente a


precipitação intensa localizada, localizada, actividade dos ciclones tropicais e a deficiente
gestão das barragens (DNGA, 2005, citado por MICOA, 2006). Também são provocadas por
problemas de gestão das bacias hidrográficas dos países vizinhos, incluindo as descargas das
barragens (MICOA, 2005:6). A vulnerabilidade (socioeconómica e geográfica) das
populações e a existência ou não de medidas preventivas é um dos factores que determina a
extensão dos impactos das cheias (MICOA, 2005:7).

O potencial de inundações causarem vítimas e danos tem aumentando em muitas regiões do


mundo devido ao desenvolvimento social e económico, o que implica a pressão sobre uso da
terra. Neste sentido, (Ouma & Tateishi, 2014) afirmam os mapas dos riscos de inundação
devem ser capazes de identificar as áreas que são mais vulneráveis a inundações e estimar o
número de pessoas que estarão afectadas por inundações em uma determinada área.

De acordo com (DRR, 2015), as inundações na bacia Licungo são causadas por chuvas de
alta intensidade nas altas montanhas a montante (áreas de Gurué e Milange) que alimentam o
rio e seu principal afluente, o rio Lugela. Após a confluência, perto de Mocuba, o rio entra
em uma área de baixa altitude no distrito de Maganja da Costa.

O presente trabalho pretende fazer a previsão probabilística do período de retorno das cheias
aquando da passagem do ciclone Freddy na Bacia do Licungo, baseando nas estacções de
Mocuba e Gurue, sendo que baseou-se na base dados das estações e no cálculo da
probabilidade de igualar e exceder e do período de retorno.

1
1.1.OBJECTIVOS
1.1.1. Geral

 Analisar período período de retorno das Cheias aquando da passagem do ciclone


Freddy na Bacia do Licungo.

1.1.2. Específicos

 Caracterizar as áreas de risco de inundação na bacia do Licungo;


 Determinar o período de retorno de cheias para as estações de Mocuba e Gurué;
 Elaborar gráfico da curva de caudais do estacão de Mocuba e Gurué.

2
1.2.PROBLEMA

De acordo com o relatório da equipa do reino dos países baixos para a redução do risco
(DRR, 2015), as inundações e cheias de Janeiro 2015 foram mais extremas do que as de 2013
e de 2001 na bacial do Licungo, resultaram de quantidades extremas de precipitação em toda
a bacia relacionada a um evento de ciclone formado no Oceano Índico. E o evento Climático
Ciclone Freddy atingiu a costa da Zambézia no dia 12 de Março, com seu epicentro no
distrito de Namacurra, localidade de Macuze, com ventos de 148 Km/h e rajadas ate 213
Km/h, e chuvas fortes, de mais de 200mm, afectando as províncias de Zambézia, Sofala,
Nampula, Manica. Que conta com 70,502 casas parcialmente destruídas, 103,101 casas
totalmente destruídas, 24,889 casas inundadas 85 unidades sanitárias destruídas parcialmente
2,549 salas de aulas destruídas, 230,329 alunos afectados, 4,337 professores afectados, 1,017
escolas afectadas 5,059km de estradas afectadas 347,862 ha áreas afectados

A análise dá uma vazão de pico estimada em cerca de 19.000 m3 / seg. Isso para caso de
inundações de 2015 Foram rápidas, causaram vidas humanas e extensos danos a infra-
estruturas, inúmeras violações de diques e perdas agrícolas generalizados e isolando
comunidades e aldeias, sendo a maioria dos danos causados pelas cheias terem sido à estradas
e pontes.

A previsão do período de retorno das cheias na bacia do Licungo poderá ser uma estratégia
que visa áreas consoante o nível de risco. Neste sentido o trabalho procura responder:

Qual é a probabilidade do período de retorno em que o caudal pode igualar ou exceder


o do Ciclone Freddy?

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1.3.JUSTIFICATIVA

O propósito para escolha do tema surge no facto deste ser uma forma de aplicar os
conhecimentos adquiridos ao longo do modulo relacionados a eventos hidroclimatológicos
extremos de modo antever o risco a inundações e cheias, pois, essa previsão poderá ajudar
antecipar e destacar os locais com riscos maiores onde ocorreram ou pode vir a ocorrer
cheias, e podem ser utilizados para identificar vidas humanas, infra-estruturas sociais,
económicas, de transportes e comunicações e bens nos locais considerados de risco, e servir
de um meio para melhor planificar, agregando o fenómeno para evitar possíveis perdas e
destruições, respondendo de forma positiva ao fenómeno. A elaboração de uma cartografia de
áreas sob risco de cheias facilita num conjunto de informações que sejam vitais para as
acções de gestão e prevenção das cheias.

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II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1.A TEORIA DOS DESASTRES NATURAIS

Os desastres resultam da combinação do evento extremo, condições de vulnerabilidade e


insuficiente capacidade para reduzir o potencial negativo das condições de risco. A teoria dos
desastres tem em vista explicar a relação de interdependência que se estabelece quando um
evento um evento físico destrutivo de dimensão natural atinge um contexto social vulnerável
(Mattendi e Butzke, citado por (MICOA, 2006, p. 11).

2.1.1. DESASTRES NATURAIS

De acordo com (MICOA, 2006, p. 11) desastre é um evento surgido de um padrão específico
interacção entre um evento natural perigoso e uma comunidade ou organização social, e que
afecta a sociedade e o meio ambiente em geral.

(Tominaga, Santoro, & Amaral, 2009, p. 13), Citando UN-ISDR (2009); define desastre
como sendo uma grave perturbação do funcionamento de uma comunidade ou de uma
sociedade que envolve perdas humanas, materiais, económicas ou ambientais de grande
extensão, cujos impactos excedem a capacidade da comunidade afectada de arcar com seus
próprios recursos.

Para (Tominaga, Santoro, & Amaral, 2009, p. 13), As causas dos desastres naturais podem
ser fenómenos, tais como, enchentes, deslizamento de Terras, erosão, terremotos, tornados,
furacões, tempestades, estiagem, entre outros.

A Organização Meteorológica Mundial, 2013; citando UNISDR, 2009 define desastre como:
Um fenómeno, substância, actividade humana perigosa ou condição que pode causar perda de
vida, ferimentos ou outros impactos na saúde, danos materiais, perda de meios de
subsistência e serviços, ruptura social e económica ou danos ambientais.

O potencial para que um evento natural extremo se transforme em desastres depende da


vulnerabilidade as mudanças climáticas, que função de três componentes, nomeadamente a
exposição, sensibilidade e capacidade de adaptação (MICOA, 2006:12).

5
2.2.VULNERABILIDADE

Considera-se vulnerabilidade ao grau de susceptibilidade ou incapacidade de resposta de um


sistema face aos efeitos adversos das mudanças, climáticas, que incluí a variabilidade
climática e os eventos extremos (Broesrsma, et al.,2003,citado por MICOA, 2006:12).

As características e circunstâncias de uma comunidade, sistema ou activo que tornam


susceptíveis aos efeitos nocivos do perigo. Há muitos aspectos de vulnerabilidade,
decorrentes de vários factores físicos, sociais, económicos e ambientais. No uso comum o
termo "vulnerabilidade" inclui tanto, a exposição e susceptibilidade. Além disso, a
vulnerabilidade é muitas vezes misturado com aspectos de risco ou com o próprio risco
(OMM, 2013).

2.3.EXPOSIÇÃO

Para (OMM, 2013), a exposição compreende pessoas, bens, sistemas ou outros elementos
presentes em zonas de risco que estão sujeitos a perdas potenciais. Medidas de exposição
pode incluir o número de pessoas ou tipos de propriedade em uma área.

2.4.RISCO

Pode ser definido como uma combinação da probabilidade, ou frequência, da ocorrência de


um determinado perigo e a magnitude das consequências dessa ocorrência (Wallingford,
2005)

Risco pelas cheias é definido pela EFD (European Flood Directive) como sendo a
combinação da probabilidade de um evento de enchentes ocorrer e as consequências adversas
para a saúde humana, o meio ambiente e actividades económicas associadas de inundação
(EXCIMAP, 2007, p. 23). O risco de inundação é o resultado da combinação do perigo de
cheia e das consequências da cheia (Barbosa, 2006).

2.5.CHEIAS E INUNDAÇÕES

Segundo (Belo, 2012), citando por Zêzere, Pereira & Morgado, (2005), As cheias podem ser
definidas como sendo fenómenos naturais relativamente frequentes, de carácter extremo,
temporário e cíclico, e que são provocadas por precipitações excessivas, o que faz aumentar o
caudal dos cursos de caudal de águas, originadas o extravase do leitor menor.

6
Por outro lado, (ISDR 2002), citado por (Tominaga, Santoro, & Amaral, 2009), as cheias e
inundações são problemas geo-ambientais que derivam de desastres naturais de caráter
hidrometeorológico ou hidrológico, ou seja, aqueles de natureza atmosférica, hidrológica ou
oceanográfica.

A Inundação representa o transbordo das águas de um curso d’água, atingindo a planície de


inundação ou área de várzea, já as cheias são definidas pela elevação do nível d’água no
canal de drenagem devido ao aumento da vazão, atingindo a cota máxima do canal, porém,
sem trasbordar (Min. Das Cidades /IPT, 2007) citado por, (Tominaga, Santoro, & Amaral,
2009).

Figura 1: Esquema de enchentes e inundações

Fonte: Min. Cidades/IPT, 2007

De acordo (Tucci, 1999) este fenómeno pode ocorrer de duas maneiras, nomeadamente:

Enchentes em áreas ribeirinhas: os rios geralmente possuem dois leitos, o leito menor onde
a agua escoa na maioria do tempo e o leito maior, que e inundado em media a cada 2 anos. O
impacto devido a inundação ocorre quando a população ocupa o leito maior do rio, ficando
sujeita a inumação;

Este tipo de inundação e um processo natural, os prejuízos sobre a população ocorrem


principalmente devido a ocupação do vale e inundação em períodos de estiagem ou sequência
de anos secos.

Enchentes devido a urbanização: as enchentes aumentam a sua frequência e magnitude


devido a ocupação do solo com superfícies impermeáveis e rede de condutos de escoamentos.
O desenvolvimento pode também produzir obstruções ao escoamento como aterros e pontes,
drenagens inadequados e obstruções ao escoamento juntos a condutos e assoreamento, este

7
tipo de inundações ocorre principalmente devido a forma como a drenagem urbana é
projectada nas cidades e pela impermeabilização das superfícies que produzem aumento de
escoamento superficial em detrimento do escoamento subterrâneo.

Ainda (Tucci 2005), citado por (Prochmann, 2014) cita que a inundação ocorre quando a
precipitação é intensa e o solo não tem capacidade de infiltrar, grande parte do volume escoa
para o sistema de drenagem, superando a capacidade do leito menor. Este é um processo
natural do ciclo hidrológico devido à variabilidade climática de curto, médio e longo prazo.
Estes eventos chuvosos ocorrem de forma aleatória em função dos processos climáticos
locais e regionais.

As inundações bruscas são provocadas por chuvas de alta intensidade e concentradas em


locais de relevo acidentado ou em áreas urbanas, caracterizadas pela elevação do nível de
água de forma rápida. Este fenómeno é resultado da associação de diversos processos
atmosféricos e terrestres, tais como: precipitação intensas, humidade do solo, forma as
encostas, relevos ingremes, superfícies impermeáveis que eleva o máximo o poder de
distribuição (Herman, 2014).

Tipos de inundações e suas causas

Para (RAMOS, 2009), As inundações podem ser devidas a várias causas e, consoante estas,
podem ser divididas em vários tipos (Como mostra o quadro seguinte), nomeadamente:
Inundações fluviais ou cheias, Inundações de depressões topográficas, inundações costeiras e
Inundações urbanas.

Tabela 1: Tipos de inundações e suas causas

Tipo Causa

- Chuvas abundantes e/ou intensas

- Fusão da neve ou do gelo

Cheia (inundação fluvial) - Efeito combinado chuva + efeito das marés


e/ou + storm surge

-Obstáculos ao escoamento fluvial ou


derrocada dos obstáculos

8
- Subida da toalha freática (natural ou
artificial)

- Retenção da água da precipitação por um


solo ou substrato
Inundação de depressões topográficas
Geológico de permeabilidade muito reduzida

- Cheias

- Storm surge

- Tsunami ou maremoto

Inundação costeira - Subida eustática do nível do mar

- Sismos com fenómenos de subsidência


tectónica

- Chuva intensa, sobrecarga dos sistemas de


drenagem artificiais

- Subida da toalha freática (natural ou


Inundação urbana
artificial)

- Cheias

Fonte: (RAMOS, 2009)

2.5.1. CONDICIONANTES NO PROCESSO DE INUNDAÇÕES

Tucci (2004) citado por Gomes et al (2004) descreve as principais condições naturais para a
ocorrência de enchentes que são: O relevo, o tipo de precipitação, a cobertura vegetal e a
capacidade de drenagem do solo. As principais condições artificiais são as obras hidráulicas,
a urbanização, o desmatamento e reflorestamento e uso agrícola.

“A causa principal das cheias é a precipitação intensa. Esta precipitação pode se apresentar de
modo diverso, tais como em frentes de grande dimensão ou como uma precipitação local.
Deste modo podem dividir-se os fenómenos da precipitação em dois grupos, lentos ou
frontais e locais ou rápidos” (Rocha, 1997?)

9
Para (Tominaga, Santoro, & Amaral, 2009), a ocorrência de inundação, enchente e de
alagamento são analisadas pela combinação entre os condicionantes naturais e antrópicos. As
condições naturais permitem compreender a dinâmica do escoamento da água nas bacias
hidrográficas (vazão), de acordo com o regime de chuvas conhecidos, onde podem destacar-
se os seguintes:

a) Formas do relevo;

b) Características da rede de drenagem da bacia hidrográfica;

c) Intensidade, quantidade, distribuição e frequência das chuvas;

d) Características do solo e o teor de umidade;

e) Presença ou ausência da cobertura vegetal.

Os vales em forma de “V” e vertentes com altas declividades fazem com que a águas atinjam
altas velocidades em pouco tempo, causando inundações bruscas e mais destrutivas. Ao
contraio, vales abertos, com extensas planícies e terraços fluviais, devido ao menor gradiente
de declividade das vertentes, favorecem a ocorrência de inundações mais lentas. Chuvas
intensas e/ou de longa duração favorecem a saturação dos solos, o que aumenta o escoamento
superficial e a concentração de água nessas regiões.

É de destacar a cobertura vegetal como factor relevante, visto que auxilia na retenção de água
no solo e diminui a velocidade do escoamento superficial, minimizando as taxas de erosão.

Entre os condicionantes antrópicos citam-se:

a) Uso e ocupação irregular nas planícies e margens de cursos d’água;

b) Disposição irregular de lixo nas proximidades dos cursos d’água;

c) Alterações nas características da bacia hidrográfica e dos cursos d’água (vazão, retificação
e canalização de cursos d’água, impermeabilização do solo, entre outras);

d) Intenso processo de erosão dos solos e de assoreamento dos cursos d’água.

10
2.5.2. MEDIDAS DE CONTROLO DAS INUNDAÇÕES E PREVENÇÃO

As medidas de para controle das inundações são classificados em dois, nomeadamente,


medidas estruturais e não estruturais, para (Barbosa, 2006), as estruturais, quando o homem
modifica o rio, através de obras hidráulicas como barragens, diques e canalização, entre
outros.

As medidas estruturais podem ser de dois tipos:

Medidas extensivas, aquelas que agem na bacia, procurando modificar as relações entre
precipitação e vazão, como modificação da cobertura vegetal no solo, que reduz e retarda os
picos de cheias e controla a erosão da bacia. Em geral, os diques e os reservatórios são mais
apropriados em planícies de inundação que são utilizadas de forma mais intensiva.

As medidas intensivas são aquelas que agem no rio e podem ser de três tipos:

(a) Medidas que aceleram o escoamento;

(b) Medidas que retardam o escoamento;

(c) Desvio do escoamento.

As não-estruturais, quando o homem convive com o rio, são medidas do tipo preventivas,
tais como zoneamento de áreas de inundação, sistema de alerta ligada a Defesa Civil e
seguros.

As medidas não podem controlar totalmente as inundações, nas sim minimizar as suas
consequências. A associação de medidas estruturais e não estruturais, de modo que garanta à
população o mínimo de prejuízo possível além de possibilitar uma convivência harmoniosa
com o rio. Para as populações ribeirinhas, essa convivência é fundamental para evitar perdas
materiais e até, em alguns casos, perdas humanas. A tomada de decisão é definida em função
das características do rio, do benefício da redução das enchentes, além dos aspectos sociais
do seu impacto (Barbosa, 2006).

2.5.3. MAPAS DE RISCO

De acordo com (Barbosa, 2006, p. 49), o mapeamento das áreas de risco de inundação é uma
ferramenta auxiliar importante no controle e prevenção de inundações, uma vez que estão
associados com o grau de risco da inundação e dos prejuízos que podem ser causados,
evidenciam a extensão das planícies de cheia e bens sob risco de inundação nestas áreas.

11
Os mapas das áreas de risco de cheias facultam um conjunto de informações de referência
que são absolutamente vitais para as acções a todos os níveis de gestão de cheias. Estes
mapas destacam os locais onde ocorreram ou podem ocorrer cheias, e podem ser utilizados
para identificar tudo aquilo que possa estar em risco.

2.5.4. GRAU DE RISCO DE INUNDAÇÃO

Para o mesmo autor (Barbosa, 2006), O grau de risco de inundação e do impacto social varia
de acordo com a dimensão da população que vive nas áreas de riscos ou depende delas para
sobrevivência. Uma análise de vulnerabilidade, que identifica a população sob maior risco de
inundação, pode ser utilizada para identificar as respostas dos serviços de emergência que
podem ser necessárias, incluindo a necessidade de criação dos centros de reassentamentos
temporários e meios de evacuação. A análise é importante para as decisões sobre o nível de
proteção contra as cheias

2.5.5. IMPACTOS DAS CHEIAS

Muitos estudos sobre cheias (Khalequzzaman, 1994; EMA, 2002; El Raey e Beoro, 2003;
Jinchi, 2005; Asante et al., 2007c) classificam os impactos das cheias em duas fases: durante
o evento das cheias (impactos negativos porque são destrutivos) e após o evento das cheias. O
último impacto pode incluir factores positivos que são, em última análise, produtivos para o
meio ambiente e para a sociedade.

Impactos negativos: as cheias são um dos desastres naturais mais disseminados e destrutivos.
Embora muitos dos seus efeitos possam ser atribuídos aos próprios eventos naturais, outros
efeitos estão associados à má gestão do uso da terra (Khalequzzaman, 1994; Asante et al.,
2005). As cheias ocorrem naturalmente ao longo da maioria dos sistemas fluviais e em áreas
baixas (Kundzewicz e Takeuch, 1999; Beilfuss e Dos Santos, 2001). As cheias, que ocorrem
em áreas densamente povoadas, têm a capacidade de causar uma grande quantidade de danos
à vida e à propriedade (EWC et al., 2003; Chiesa et al., 2012). Os danos causados por cheias
posuem efeitos primários e secundários (Murwira, 2006). Os efeitos primários incluem a
perda de vidas humanas e de animais; danos físicos à propriedades e infra-estruturas como
pontes, estradas e sistemas de esgoto; a erosão de terras agrícolas e a destruição de plantações
(El Raey e Beoro, 2003; Jinchi, 2005). Os efeitos secundários ocorrem depois que as cheias
diminuem e podem incluir falhas nas infra-estruturas de abastecimento de água e saneamento

12
ou a contaminação das fontes de água. Ambas as falhas podem levar a condições anti-
higiênicas e à propagação de doenças (Murwira, 2006; Moel et al., 2009).

Impactos positivos: As cheias também podem trazer muitos impactos positivos (Beilfuss e
Dos Santos, 2001; El Raey e Beoro, 2003; Jinchi, 2005), incluindo a restauração de ecos-
sistemas naturais; o fornecimento de água doce abundante para agricultura; a saúde e o
saneamento e a deposição de sedimentos ricos em nutrientes em várias áreas, aumentando,
assim, os rendimentos das culturas (Beilfuss e Dos Santos, 2001; El Raey e Beoro, 2003;
Jinchi, 2005). Por exemplo, após a cheia de 1999, na Bacia do Rio Amarelo, Jinchi (2005)
concluiu que a produção agrícola de algodão na China aumentou em 15 %. El Raey e Beoro
(2003) mostraram a importância das cheias anuais da bacia do rio Nilo como a principal fonte
de abastecimento de água para as actividades agrícolas no Egipto. A agricultura é responsável
por 70 % do emprego em tempo integral na África, 33 % do PIB total e 40 % do total das
receitas de exportação (FAO, 1999). Em muitos países, como Bangladesh, mais de 30 % da
população total depende da água subterrânea para obter água doce. Esses aquíferos, por sua
vez, dependem das águas das cheias para recarga e reposição (FAO et al., 2003). Em
Moçambique, após as cheias de 2000, novos estudos sobre previsão e gestão das cheias foram
conduzidos (USGS, 2000a; Artan et al., 2002; DHI, 2006) e novos métodos para previsão das
cheias foram postos em prática. Desde a cheia de 2000, o governo de Moçambique criou mais
de 200 novas áreas de reassentamento para mover a população das áreas de alto risco de
cheias para locais mais seguros (Arnall et al., 2013). No estudo sobre cheias, reassentamento
e mudança nos meios de subsistência, por Arnall et al. (2013), evidências da zona rural de
Moçambique demonstraram que as políticas desenvolvidas e implementadas pelo governo de
Moçambique, após as cheias de 2000, tiveram impacto positivo nas comunidades. Portanto, a
economia dessas comunidades mudou da agricultura de subsistência para a agricultura
comercial e actividades não agrícolas, melhorando, assim, as condições de vida dos membros
mais pobres e vulneráveis da sociedade (Pelling e Dill, 2010). As cheias também
desempenham um papel importante na reposição das zonas húmidas e equilibram a saúde e o
estado ecológico destas. Pântanos saudáveis promovem o abastecimento de água saudável
(Kunkel et al., 1994; Kolva, 1993; Walker e Kunkel, 1994). 40

As cheias igualmente podem reduzir a tensão política entre os países que compartilham
bacias hidrográficas, tornando a água disponível para diferentes usuários. As bacias hidro-
gráficas compartilhadas, como o Tigre e o Eufrates na Ásia Ocidental e o Nilo na África

13
Oriental, e outros rios importantes do mundo, são fontes potenciais de conflitos directamente
relacionados à escassez de água. No caso da bacia do Eufrates, compartilhada pelo Iraque,
Turquia, Síria, Irã, Arábia Saudita, Kuwait e Jordânia, as cheias sazonais são um dos
principais contribuintes para o aumento da disponibilidade de água na região. O rio Nilo é
compartilhado por onze países: Ruanda, Burundi, República Democrática do Congo (RDC),
Tanzânia, Quênia, Uganda, Etiópia, Eritreia, Sudão do Sul, Sudão e o Egito. Destes países, o
Egito depende fortemente da água do rio Nilo e afirmou seus direitos históricos naturais sobre
o rio. Os princípios de seus direitos adquiridos têm sido o ponto focal das negociações com
os estados a montante. O facto de que este direito existe significa que qualquer redução
percebida do abastecimento de água do Nilo para o Egito, seja por causa de uma redução das
cheias sazonais ou por meio de abstrações a montante, é considerado uma violação de sua
segurança nacional e, portanto, poderia potencialmente desencadear um conflito entre os
países (Chatteri, 2002). Outros impactos positivos das cheias incluem a melhoria de
navegação; a lavagem da água ácida; o fluxo transportando água salgada em direcção ao mar,
entre outros (Mays, 1996).

2.5.6. MEDIDAS DE MITIGAÇÃO DAS CHEIAS

As medidas preventivas de gestão das cheias são tipicamente descritas como estruturais e não
estruturais. As medidas estruturais buscam a redução do risco associado às cheias por meio
da modificação do sistema fluvial, controlando o fluxo da água em determinadas secções.
Essas medidas contemplam, entre outras acções, a implementação de obras de engenharia
como barragens, diques, reservatórios, etc. Já as medidas não-estruturais são aquelas em que
as comunidades reduzem o risco associado às cheias através da melhor convivência com os
seus impactos. Nessas medidas, estão incluídos o planeamento de uso e ocupação de solo,
zoneamento de áreas de risco, planos de contingência, sistemas de alerta e aviso prévio e
resiliência às comunidades, entre outros (Tucci, 2012; Vilanculos, 2015).

Medidas estruturais e não-estruturais não se opõem umas às outras e, em geral, as estratégias


de gestão bem-sucedidas integram os dois tipos, sendo necessário reconhecer, também, que
essas não poderão controlar totalmente o risco associado à ocorrência das cheias, bem como
os seus prejuízos. Tais medidas focalizam-se na minimização do risco, de modo a garantir à
sociedade o mínimo prejuízo possível e possibilitar uma convivência menos conflituosa com
o meio ambiente. Ademais, a não dissociação dessas formas de medidas de controlo das

14
cheias pode ser uma boa estratégia de gestão dos impactos causados pelo fenómeno, na busca
por soluções racionalmente integradas e compatibilizadas com o esperado desenvolvimento
urbano (JHA et al., 2012).

De acordo com Lezcano (2004), um dos maiores desafios para a implementação de medidas
não-estruturais é o de promover o engajamento e a concordância de todas as partes
envolvidas no processo de gestão, uma vez que, para a viabilização de tais medidas, se exige
credibilidade em seus resultados, seja por parte dos governos, dos técnicos, de sectores
organizados da sociedade, além, claro, da própria população, especialmente a que habita as
áreas mais vulneráveis. As medidas não-estruturais podem gerar conflitos de natureza
financeira ou económica na área de abrangência das acções planejadas, como os interesses
comerciais imobiliários, por exemplo. Além disso, geralmente exigem investimentos por
parte do poder público, tanto para a implementação quanto para a manutenção das acções
envolvidas na gestão das mesmas, podendo este ser, em alguns casos, o principal desafio,
uma vez que os resultados são comumente reflectidos em longo prazo.

Tabela 2: Sumário das principais medidas de gestão das cheias.

Medidas estruturais Medidas não-estruturais


 Construção de barragens  Restrições no planeamento de
 Desvio do rio desenvolvimento
 Construção de diques  Permeabilização
 Alargamento e aprofundamento do leito  Seguro contra cheias
do rio  Previsão das cheias e sistemas de
 Retenção de água da cheia em lagoas / alerta
lagos de mineração, barragens de
abastecimento de água, barragens
hidroelétricas, etc
Fonte: Vilanculos (2015).

As medidas estruturais estão associadas aos elevados custos de construção de novas infra-
estruturas hidráulicas e ou da manutenção das existentes. A maioria das estruturas existentes
foi projectada para um determinado período de retorno das cheias e, portanto, potencialmente
criam uma falsa sensação de segurança (Görgens, 2007a, NR2C, 2008). Se a faixa de cheia
prevista for excedida, o impacto da cheia pode ser ainda pior, enquanto as comunidades estão
menos preparadas. Viljoen (1999) mostrou que a barragem de Klipfontein falhou em mitigar
cheias no rio Mfolozi, em 1994.

15
Medidas não-estruturais podem ser uma alternativa menos onerosa em capital para países em
desenvolvimento, onde os recursos são escassos (Artan et al., 2002; Asante et al., 2008;
Vilanculos, 2015). Estas medidas não-estruturais são também necessárias para complementar
aquelas medidas estruturais que se revelam ineficazes para as cheias excessivas – níveis de
água que estão além da capacidade do projecto das estruturas. A aplicação de medidas não-
estruturais consiste em estabelecer um programa para disparar alertas de cheia e emitir aviso
prévio de que uma cheia pode ocorrer num futuro próximo, em um determinado ponto
geográfico (James e Korom, 2001). As medidas também precisariam incluir um plano de
acção para permitir que as comunidades respondam ao fenómeno de maneira apropriada
(Grigg et al., 1999; James e Korom, 2001).

2.6. SENSORIAMENTO REMOTO E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO


GEOGRÁFICA

O Sensoriamento Remoto (RS) é um processo de obtenção de informações sobre a terra e a


água sem contacto com eles, geralmente a partir de um satélite ou através de técnicas de
imagens aéreas. Pode ser usado para monitorar o progresso dos desastres naturais, em
particular os processos dinâmicos como, inundações, incêndios e fluxos de lava. Também
pode ser usado para fornecer actualizações regulares sobre inundação, o que podem ser úteis
para estimar áreas disponíveis para realocação. (UN-HABITAT, 2010).

Quando correlacionados com Sistemas de Informação Geográfica (GIS) podem contribuir


para fornecimento de relatórios sobre o ponto de situação e estimar os impactos dos desastres
(Inundações), bem como prevenir impactos advindos destes. Após um desastre, RS
combinado com dados GIS pode ser usado para calcular as perdas, e para prever o impacto de
futuros. SIG’s são um mecanismo para a gestão de dados geográficos, incluindo dados
relacionados com a água, transporte, cobertura do solo, a demografia e indicadores
socioeconómicos. Dados GIS pode ser combinada com a detecção remota para prever,
monitorizar e calcular os impactos de desastres. (UN-HABITAT, 2010).

16
2.7. ASPECTOS QUALITATIVOS E AMBIENTAIS DA BACIA DO RIO LICUNGO.
2.7.1. ASPECTOS AMBIENTAIS

Os cursos de água desempenham um papel fundamental na modelação da morfologia dos


continentes. Os processes de erosão, transporte s61ido e deposição de sedimentos são
frequentemente alterados pela intervenção humana, ou simplesmente, pela alteração da
cobertura vegetal das bacias hidrográficas, (Henriques; CEPGA/AIA; 1994:210, 211). A 32
destruição da floresta primhiva na bacia de um rio, a pratica de agricultura e a fixação das
populações nas margens dos rios assim como. a pratica de algumas actividades económicas
por exemplo a pesca e turismo são exemplos de acções que provocam alterações profundas
não dos processes erosivos nas bacias, mas em particular constituem focos de poluição das
aguas superficiais.

Em Mangoma no distrito de Guruè, Guleleno distrito de Namarroi, lasso-Lugela e Nigula no


distrito de He (Fotos 2 a 6), são exemplos bem visíveis destas actividades. A razão de acordo
com as populações e autoridades- locais, prende-se com a presença de solos aluviais. Estes
solos com caracteristicas de franco-argiloso-arenoso, castanhos avermelhados e profundos,
(INIA, 1995), são muito férteis e por se localizarem junto margens têm maior capacidade de
retensão da humidade. Estas actividades de uma maneira geral, podem provocar alterações
nos processem geomorfológicos de erosão e transporte de sedimentos, aumentando o seu
transporte e área de inundação, importantes para a fertilização das terras inundáveis e
fornecimento de nutrientes aos mangais costeiros, por um lado, e originam por outro um
eventual agravamento da ocorrência e da magnitude de cheias ou secas devido ao aumento na
deposição dos sedimentos a jusante. Por exemplo, ate finais da década 70, o nível de alerta
para inundações na região do Médio e Baixo Licungo estava fixado em 7.00 m na escala
hidrométrica da E-91 Mocuba, e nos últimos tempos por causa da intensidade de transporte
de sedimentos e sua deposição resultante das actividades da população, o nível de alerta
baixou para 6,50 m na mesma estação hidrométrica.

Os recursos hídricos condicionam na generalidade as actividades socioeconómicas e


determinam a maior parte dos ecossistemas, pelo que a agua e um dos factores do ambiente
quase sempre presente nos estudos e avaliação de impacto ambiental. Os problemas
ambientais mais comuns no que se refere aos recursos hídricos superficiais prendem-se com a

17
mineração que se manifesta através da salinidade e condutividade eléctrica que regista
maiores índices nas bacias e particularmente nas de Mozambique.

A agua não só tem vindo a deixar por evaporação, sais minerais, como também a lixiviação
dos solos nos locais onde se pratica a irrigação de culturas devido a utilização, de agro-
químicos, (MICOA; 1996). Por exemplo, o uso de fertilizantes no Nante como ' N.P.K. 12-
24-12, Nitrogenio 46%, Rundup usado no tempo seco, Proponil e M.C.P.A. herbicidas não
selectiva e selectiva p6s emergente respectivamente, alteram apesar de ser ainda em pequena
escala, os padrões de qualidade de água da bacia na área do Nante. O desenvolvimento de
vias actividades ao longo da bacia do rio Licungo cria vias alterações do meio físico do rio.
Os impactes resultantes das actividades humanas nos recursos hídricos embora seja ainda em
menor intensidade são as modificações do uso do solo das bacias hidrográficas, originando a
formação de bancos de areia e meandros com maior incidência a jusante das pontes sobre o
rio Licungo em Mocuba e na região de Malei. Esta situação pode provocar um eventual
agravamento da ocorrência e da magnitude da s cheias e secas.

Alterações da qualidade da água (parâmetros físico-químicos e biológicos) dos meios


superficiais, são resultado de uso de agro-químicos e outros, case do Nante, e problemas
culturais que se prendem com a prática de fetalismo a céu aberto principalmente em áreas
onde a densidade populacional e maior.

Os bairros de Posto Agrícola, Marmanelo, Sacras na Cidade de Mocuba e Bairro de Lugela


que se localiza perto da estação de captação de agua da Empresa de Aguas de^ - - Mocuba,
são exemplos visíveis, porquanto, nestes bairros as populações foram se fixando nas margens
do rio tanto da margem esquerda como na margem direita aquando do ultimo conflito
armado, arrastando consigo todos os problemas que dai advém; Alteração nos processem
geomorfológicos de erosão, transporte solido e sedimentação, provocando modificações nos
cursos de água.

2.7.2. QUALIDADE DE ÁGUA NO RIO LICUNGO

Os critérios restritivos a poluição não podem constituir, ao mesmo tempo, critérios restritivos
a potabilização, tendo-se em vista, o facto de que a poluição nem sempre restringe o uso da
água. Em Mozambique, não existe um critério estabelecido ou que estabelece limites a
poluição dos corpos de água. Para o efeito, como forma de obter uma base para avaliar a
qualidade de água bruta, usam-se as Normas Internacionais editadas pela Organização

18
Mundial da Saúde em 1963. Atendendo que a listagem dos padrões e muito extensa, foram
seleccionados alguns padrões mais importantes que facilitarão fazer uma comparação dos
dados para determinar a qualidade de água para os diversos usos, como por exemplo o
abastecimento público, a agricultura e a indústria.

Os padrões de potabilidade de água ditam a qualidade que deve ser obtida do tratamento de
água, embora seja possível renovar águas de superfície altamente poluídas. Ate atingirem os
padrões de potabilidade, os processos envolvidos são complexos e dispendiosos,
(Hammer,1977:170-185), A tabela abaixo indica alguns dos principal padrões de qualidade
de água bruta que devem ser considerados segundo a OMS, 1963 na avaliação de agua.

Tabela 3: Normas Internacionais de qualidade de água bruta editadas pela Organização


Mundial da Saúde em 1963

Características Físicas Permissível Conveniente

Cor (unidade de cor) 75 10

Cheiro Descritivo Virtualmente ausente

Temperatura Variável Descritivo

Turbidez Variável Virtualmente ausente

Características Químicas

Nitrates +Nitritos (mg/1) iO (como N) Virtualmente ausente

Cloretos (mg/1) 250 25

P.H. 6.0-8.5 Descritivo

Am6nia (mg/1) 0.5 (como N) O.OI

Oxigénio dissolvido 4 (med. Mensal) Próximo de saturação


(mg/1)

Alcalinidade (mg/1) Descritivo Traces (mg/1)

19
Características
microbiológicas

Coliformes Totais 10 000/100 ml 100/100 ml


(NMP/1001)

Coliformes Fecais 2 000/100 ml 20/100 ml


(NMP/1001)

Fonte:Hanuner, Mark J.,1979

Tabela 3: Análise de água na estação de captação em Mocuba e Gurué

No ano de 1976 foram efectuadas algumas análises no Gurué na estação de captação e em


Mocuba -Ponte cuio resultados foram os seguintes

Designação Gurué-Captação Mocuba-Ponte

Caudal 0.65 m3/s

Temperatura 18.0 °C 29.0°C

P.H 6.4 7.7

Condutividade 16.0 ps/cm 260.0 ps/cm

Alcalinidade P.H = 8.3 0.0 mg CaCo3/l 0.0 mg CaCo3/l

Alcalinidade P.H = 4.5 7.0 mg CaCo3/I 63.0 mg CaCe3/l

Dureza 4.0 mg CaCo3/l 67.0 mg CaCo3/l

Cloreto 2.9 mg cl/1 42,9 mg cl/1

Sulfate 0.3 mg So4/1 8.4 mg So4/1

Nitrate 0.0 mgN/1 0.6 mgN/1

Bicarbonatos 8.5 mg Hco3/! 76.9 mg Hce3/1

20
Fonte: DNA/DGRH/Hidrologia

Para avaliar o estado actual da qualidade de água da bacia hidrográfica do rio Licungo foram
recolhidas amostras de água no distrito de Gurué, no distrito de Mocuba e na Localidade de
Nante entre os dias 20 a 22 de Fevereiro de 2002. Na escolha destes locais teve-se em conta
as diferentes utilizações que o rio esta sujeito ao longo do seu percurso, e não só, pelo facto
de existirem alguns dados embora poucos dos anos anteriores, que Possam facilitar a análise
em questão. Para o efeito, foi utilizado o Laboratório Provincial de Aguas da Zambézia do
Centro de Higiene Ambiental e Exames Médicos, cujos resultados foram os seguintes.

Tabela 4: Resultados das análises efectuadas no no Licungo em Fevereiro de 2002

Gurué Mocuba Nante

Características Físicas

Cheiro Inodoro Inodoro Inodoro

P.H 7.4 7.4 7.0

Condutividade 320.0 Ms 340 mS 248 mS

Turvação 100 NTV 300 NTV 30 NTV

Características Químicas

Nitratos 2.7 mg/I 4,4 mg/I 3.6 mg/I

Cloretos 7.09 mg/l 10.635 mg/1 14.18 mg/l

Amoníaco 0.65 mg/1 0.65 mg/1 0.65 mg/1

Características
Microbiológicas

Coliformes Totals M.C. 37 2I0NMP/100 240 150


®C 48 H NMP/100 NMP/100

Coliformes Fecais B.V.B 150NMP/100 240NMP/100 93 NMP/100

21
44®C 24 H

Fonte: DNA/DGRH/Hidrologia

A média de Condutividade Eléctrica na estação do Gurué situa-se em 37.0 qS/cm, o Ph em


6.3, o cloreto em 5.5 mg/1, os sólidos em suspensão em Ib.OmgZI e a dureza total em 7.0mg
CaCo3/I. As Normas Internacionais de Qualidade de agua superficial bruta da O.M.S indica
que a cor, o permissível e 75 e o conveniente 10. 0 Cheiro e a turbidez devem ser
virtualmente ausentes. Os nitratos o permissível e 10 (como N) e o conveniente e a sua
ausência total, enquanto os cloretos devem ser de 250 mg/1 e o conveniente 25 mg/I. A
amónia tem que ter como permissível 0.5 mg/1 (como N) e o conveniente.001 mg/I, enquanto
o oxigénio dissolvido a média mensal deve ser 4 mg/1 e o conveniente próximo da saturação.
No que se refere aos coliformes fecais, o permissível seria de 2000/100 ml e 0 conveniente
20/100 ml.

Os resultados de análises do ano de 1976 e em Fevereiro de 2002, Tabela 12, indicam haver
uma ligeira modificação de qualidade de água. Por exemplo, os nitrates em 1976 no Gurué
situaram-se em O.Omg/1 e em 2002 foi 2.7 mg/1. Em Mocuba, os resultados demonstram
que de 1976 a 2002, houve um aumento considerável dos valores dos padrões de qualidade.
O Ph em 1976 foi de 6.4 e em 2002 situa-se em 7.4, enquanto os nitratos foram de 0.6 mg/1 e
4.4 mg/1 respectivamente. No que concerne aos coliformes fecais, as Normas Internacionais
indicam que o conveniente e 20/100 ml NMP e os resultados em Fevereiro de 2002 e de
240/100 ml NMP.

Uma das razoes desta grande diferença, prende-se pelo facto de nos últimos anos devido a
escassez de chuvas aliado ao ultimo conflito armado, ter obrigado que grande parte das
populações se fixasse junto das margens do rio, onde consequentemente as populações
passaram a praticar a agricultura e como consequência as margens passaram a ser muito
vulneráveis a erosão pluvial, arrastando consigo todo o tipo de dejectos resultantes da pratica
do fetalismo a céu aberto e outros costumes. No que se refere aos cloretos houve também um
incremento na ordem de 4.19 mgcl/1 no mesmo período.

O juízo opinativo do Laboratório Provincial de Aguas da Zambézia do Centro de Higiene


Ambiental e Exames Médicos indica que a água da bacia do rio Licungo não reúne as
qualidades de potabilidade de acordo com os critérios estabelecidos, pelo que, para o
consume humano e necessário antes desinfectar a água.

22
De uma maneira geral, os resultados encontrados nas analises efectuadas, não fogem muito
da media e dos critérios estabelecidos pela O.M.S. com excepção dos coliformes fecais e a
condutividade eléctrica por razoes acima explicadas, se alendermos a dinâmica das
utilizações de agua. Porem, e preciso estabelecer medidas de mitigação da qualidade de água,
como forma de acompanhar o estado da evolução da degradação da qualidade de água.

2.7.3. SANEAMENTO NAS CIDADES DE GURUÉ E MOCUBA

Um rio que seja usado para a diluição de esgotos, depende da capacidade natural de auto
depuração para assimilar os efluentes e estabelecer sua própria qualidade original. A
capacidade de recuperação e determinada pelas características do rio incluindo as condições
climáticas. Um rio profundo, com meandros e piscinas natural, tern uma recção baixa e urn
período de recuperarão longo, enquanto rios rasos com boa declividade possuem boa reacção
e alta velocidade, (Hammer, 1977:170-185).

Contrariamente ao que acontece noutras cidades como por exemplo a de Quelimane, onde os
esgotos drenam para o no dos Bons Sinais, as cidade de Gurué e Mocuba não possuem
nenhum sistema de esgotos senão a drenagem das aguas pluviais para o rio sem grandes
prejuízos para a qualidade de agua e saúde publica. Os habitantes destas cidades tem
moradias que possuem fossas e drenos para as aguas negras, e as populações residentes nos
bairros circunvizinhos utilizam latrinas melhoradas havendo casos de muitas famílias que,
devido ao ultimo conflito armado foram se fixando nas margens do rio, em que a exiguidade
do espaço não permite construir as suas latrinas, subsistindo desta forma o fecalismo a céu
aberto situação que favorece para o aumento de coliformes fecais como pode se observar das
analises efectuadas.

Relativamente ao lixo toxico que geralmente e produzido pelas indústrias, ao longo da bacia
não foi observado nenhum foco deste tipo de lixo, isto devido a pouca ou quase inexistência
da indústria Os matadouros das duas cidades, apesar o de Mocuba situar-se junto ao rio e a
montante da ponte sobre o mesmo, não lançam os seus efluentes directamente ao rio,
depositando as aguas residuais em drenos construídos para o efeito. Como se pode
depreender, não existe possibilidades da contaminação das águas superficiais do rio Licungo
partir do saneamento destas cidades e outros serviços municipais.

23
2.8. PRINCIPAIS PROBLEMAS DE GESTÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA

A água e um recurso natural, elemento essencial a subsistência do homem e as suas


actividades, em especial as actividades económicas, tanto mais que, ao contrário do que
acontece com outros recursos, ela não pode ser substituída na maior parte das suas
utilizações. Assim, a água, não e somente um elemento imprescindível a vida, ela e
igualmente, tanto pela quantidade como pela qualidade, factor condicionante ao
desenvolvimento económico e do bem-estar social.

A sua distribuição, de forma sustentável e racional, requer uma gestão integrada de modo a
maximizar os benefícios da comunidade, quer no presente, quer no futuro. A participação dos
grandes utilizadores de agua e da população em geral na gestão dos recursos hídricos, e
necessária de forma a balancear os investimentos, os benefícios e a protecção do meio
ambiente e qualidade de agua.

A gestão dos recursos hídricos, sendo uma função integradora a nível nacional e regional,
exige instituições publica fortes, competentes e serias. Mozambique encontra-se num
processo em que o Governo e os organismos internacionais que apoiam os pais, pretendem
que o sector privado desempenhe um papel mais importante em todas as esferas da vida da
nação (Vaz, 1997:25). Foi com esta intensão que o governo de Mozambique aprovou a Lei de
Aguas e a Politica Nacional de Aguas em 1991 e em 1995 respectivamente.

A Lei de Aguas de 1991, define o enquadramento institucional e legal para o licenciamento e


atribuição de concessões de água. De acordo com esta Lei, o Conselho Nacional de Aguas
(CNA) e responsável pela coordenação intersectorial e pela definição de estratégias de
actuação enquanto, a Politica Nacional de Aguas contem os princípios gerais comuns a todos
os subsectores e politicas especificas para cada subsector, como as necessidades básicas em
termos de utilização de água, a participação dos benefício, o valor de agua, o papel do
Governo e a gestão integrada dos recursos hídricos.

O planeamento das necessidades de agua e de utilização das disponibilidades existentes, alem


de outros factores, tem tido repercussões negativas, quer quanto a degradação do ambiente
provocado por vários usos dos recursos hídricos como a prática de agricultura e fixação das
populações junto margens dos rios principalmente nos grandes aglomerados populacionais,
quer ainda o deficiente abastecimento de água aos centros urbanos como Mocuba, Gurue,

24
Errego (He), Malei, Mugeba e Nante, onde nalguns centros, nem sequer existe um sistema de
abastecimento de água no caso concreto na bacia hidrográfica do rio Licungo.

Um dos grandes problemas na gestão das bacias hidrográficas e a colecta dos dados
hidrológicos. Maior parte das vezes, os dados são recolhidos a escala nacional e se o fazem a
nível local, os funcionários tem enfrentado inúmeros problemas desde a falta de transporte
para as deslocações esta^des hidroclimatologicas, fundos para o pagamento de observadores
e outros equipamentos indispensáveis para um bom desempenho das suas actividades até a
articulação com as instituições locais de tutela.

Na bacia hidrográfica do rio Licungo existem dois Sectores de Hidrometria, o sector de


Mocuba e de Gurué que tem como função principal garantir a recolha, medições de caudal
liquido e solido, análises de qualidade de água, manutenção e expansão da rede
hidroclimatoldgica e monitorização dos diversos usos de água e questões ambientais. Porem,
estas actividades tem sido dificultado por razoes acima descritas, principalmente a falta de
incentives e fundos para o funcionamento dos serviços aliado a forte dependência a que estão
votados.

Um outro factor e a ausência de uma estrutura administrativa de água na região que possa
fazer um planeamento de utilização de água, e fazer um acompanhamento da variabilidade da
quantidade e qualidade de água disponível ao longo do ano que pode dificultar de uma
maneira ou de outra a gestão dos recursos hídricos.

A resolução dos problemas dos recursos hídricos só pode ser alcançada através da
implementação de uma adequada política de gestão dos recursos hídricos nacionais que vise
não só urn melhor aproveitamento da agua disponível, mas também um criterioso
planeamento da sua utiliza ao e um reconhecimento da importância da agua como factor de
produção nos diversos sectores de actividades económico e social. No entanto, apesar destes
constrangimentos todos, tem-se assistido nos últimos anos, uma crescente sensibilidade e
intervenção do Governo, organizações internacionais e a população em geral apesar de ser
ainda em número bastante reduzido, tomando em consideração o universo que vive ao longo
da bacia, na tomada de consciência aos problemas de agua e suas implicações no
desenvolvimento económico e social.

25
III. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1.CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO

A área em estudo corresponde a Bacia do Licungo, de acordo com (Muchangos, 1999), faz
parte das 25 principais bacias hidrográficas principais que drenam o país, localiza-se
totalmente em Moçambique, o seu caudal é determinado essencialmente peles relações entre
factores meteorológicos e não meteorológicos, nomeadamente a pluviosidade, a temperatura,
a evapotranspiração, o declive, a natureza dos solos e a intervenção humana.

Figura 2: Caudais médios mensais, anual e específicos

Caudal Médio Mesal e Anual


600
500
400
300
200
100
0
Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
Série1 23,1 37,4 167,7 370,4 480,5 514 383,9 182,4 114,6 94,6 59,4 35,7

Fonte: Autor 2023

3.1. ÁREA DE ESTUDO

O rio Licungo esta situado entre os paralelos 15° 18' 42’ Sul e os meridianos 35 45' e 37 33'
Este, na Província da Zambézia. Nasce nos Montes Namuli, perto da cidade de Gurué, a
altitude aproximada de 2000 metros e desagua no Oceano Indico próximo de Vila Valdez, 50
Km a Norte da Cidade de Quelimane. A sua bacia faz limite a Norte com as bacias dos rios
Raraga, Molocue e Melela, ao Sul com as bacias dos rios Zambeze e Namacurra, a Oeste com
Nalaua e Lurio e a Este pelo Oceano Indico. O seu eixo maior, que se desenvolve
sensivelmente na direcção NW - SE, tem aproximadamente 255 Km. O seu perímetro e de
cerca de 798 Km, verificando-se contudo, apos a confluência com o rio Lugela próximo da
Cidade de Mocuba, um estrangulamento progressiva da Bacia ate a foz. O rio Licungo teM
como principais afluentes na margem direita os rios Luo, Namacurra, Lugela e Mudi e na
margem esquerda os rios Muliquela, Mutuavi, Metuade e Mulemadi. O comprimento do rio e
de aproximadamente de 343 Km. O leito do rio Licungo e muito declivoso da nascente ate a
cota 700 (metros) próximo da cidade de Gurué, sendo a inclinação média de 44

26
metros/quilometro no curso superior. No curso médio, desde Gurué ate a cidade de Mocuba a
inclinarão média e de 7.8 m/Km, e de Mocuba ate a foz o rio tem uma inclinação média de
0.88 m/Km.

Figura 3: Área de estudo

Fonte: Autor 2023

Figura 4: Relevo e declive reclassificado

Fonte: Flavio Alberto 2022

27
O mapa do relevo (Fig A) mostra que na região sul da bacia se localizam as áreas de maior
risco devido a configuração do mesmo, onde a norte o relevo é maior que no sul. O mapa do
declive reclassificado (Fig A), mostra a distribuição do declive plano na maior parte da bacia,
áreas montanhosas caracterizam-se por um declive mais acentuado. O declive e o relevo
podem ter sido os factores determinantes para os resultados obtidos neste trabalho.

3.2.CLIMA

De acordo com a classificação de Koppen, o clima da bacia é tropical húmido, com


temperatura média de 25ºC. A precipitação média anual varia entre 1000 a 1400mm. Há
ocorrência de subclimas resultantes da altitude (Clima modificado pela altitude) nas regiões
de Gurué e Mulumbo no distrito de Milange onde predominam precipitações orográficas.
Tem temperaturas média de 25ºC ena região de Gurué, e de 18ºC a 20ºC e a precipitação
média anual nas regiões de maior altitude é de 1800 a 2400 mm. No geral, a região do alto
Licungo á montante chove mais que as regiões do médio e baixo Licungo devido as
características dos sub-climas. Como se pode compreender, as precipitações numa dada bacia
são muito importante, pois contribuem no aumento do escoamento superficial e na recarga
dos aquíferos, bem como a subida do nível freático das bacias hidrográficas. No caso vertente
da bacia do rio Licungo, a precipitação contribui em média com cerca de 2/3 para o
escoamento total da bacia (Langa, 2002).

3.3.TOPOGRAFIA

A topografia influencia o movimento do ar, tendo assim um efeito sobre o clima, por
exemplo as cadeias de montanhas, que são barreiras que alteram os padrões de vento e
precipitação (Funhen, 2015,pág.39). De acordo com Carvalho e Assad (2005,pág.205), os
maiores valores de precipitação tendem a se concentrar nas maiores altitudes, devido aos
ventos úmidos orográficos que porventura se estabelecem em cadeia de montanhas, as quais
servem de barreiras naturais. Essa precipitação adicional (em relação a uma área plana)
depende das dimensões e alinhamentos dessas elevações em relação aos ventos orográficos,
bem como da umidade da parcela de ar e das condições atmosféricas. Ademais, as vertentes a
barlavento recebem mais precipitação do que as vertentes a sota-vento, devido aos efeitos de
expansão e compreensão adiabática dos ventos úmidos (Ayoade, 1996; Barry e Chorley,
2010).

28
Figura 5: Mapa Topografico

Fonte: Autor 2023

3.4.PRECIPITAÇÃO

A precipitação consiste em qualquer partícula de água, sólida ou líquida, que cai da atmosfera
e atinge o solo, proveniente das nuvens, e pode ocorrer sempre que as gotas das nuvens
crescem até atingirem dimensões suficientes para caírem por efeito da gravidade. A
precipitação constitui um vector fundamental do ciclo hidrológico, unindo a atmosfera aos
restantes subsistemas do sistema climático. Tem uma grande variedade de formas (chuvisco,
chuva, neve, neve molhada, granizo, saraiva, aguaceiros, neve gelada) e a sua classificação
depende, em geral, do mecanismo envolvido no arrefecimento adiabático que conduziu à
formação da nuvem (convectiva, orográfica, de convergência, frontal).

A precipitação exprime-se pela altura pluviométrica, pela duração, frequência e intensidade


da precipitação. A quantidade de precipitação caída num dado intervalo de tempo (altura
pluviométrica) é a grandeza R= v/s em que v é o volume de água recolhida proveniente de
hidrometeoros, num recipiente de boca horizontal e de área s (udómetro ou pluviómetro).

29
Exprime-se em milímetros (= litros por metro quadrado). A duração da precipitação é o
período de tempo contado entre o início e o fim da chuvada (mede-se em horas, minutos ou
dias). Frequência é o número de ocorrências por ano para uma determinada chuvada ou, o
número de anos necessários para a ocorrência de uma determinada chuvada. A intensidade da
precipitação avalia-se pela variação da quantidade da precipitação ( R) relativamente ao
intervalo de tempo ( t) em que caiu.

A precipitação é um elemento climático (ou meteorológico) central na variação do estado do


tempo e na caracterização do clima de um dado local. Ocorre em consequência da evolução
dos sistemas sinópticos e, juntamente com a temperatura, é elemento central das
classificações climáticas empíricas.

A precipitação é mais intensa no norte da bacia, que coincide com as áreas de elevadas
altitudes, sendo que estas áreas não coincide com as áreas de alto risco, o que justifica-se pelo
facto de estas áreas abundarem muitos cursos de água, ou seja, a área tem uma maior
densidade de rede de drenagem, e as áreas á sul da bacia, com relevo mais baixo, a
precipitação é menos intensa, sendo que estas áreas, no resultado das áreas de risco estas
coincidem com as áreas de alto risco porque toda água drenada a partir das áreas mais
elevadas vai acumular-se nestas áreas, causando inundações.

Figura 6: Precipitação anual da Bacia

Fonte: Flavio Alberto 2022

30
3.5.USO E COBERTURAS

As áreas com formações herbáceas inundadas e inundáveis, solos expostos bem como aquelas
modificadas por actividades humanas, foram atribuídas mais pesos, visto que influenciam de
forma significativa no processo de escoamento, já áreas com cobertura vegetal são áreas com
menos risco de inundações. Para os solos, áreas com solos argilosos são as áreas com maior
risco, pois estas permitem a retensão da água na superfície do solo impossibilitando o
processo de infiltração da água no solo.

A evapotranspiração depende do albedo da vegetação, pois é tanto maior quanto menor o seu
valor. O albedo varia em função da espécie vegetal, e dentro da mesma espécie, varia com o
estado de desenvolvimento vegetativo. Dum modo geral, as culturas têm um albedo de 0.25,
em verde, mas o seu valor tende a baixar à medida que as culturas se desenvolvem. Em geral
as florestas transpiram mais do que as culturas arvenses, havendo ainda diferenças entre as
várias espécies arbóreas. Devido a diferenças na resistência dos estomas à difusão do vapor
de água, há também diferenças importantes nas intensidades de evapotranspiração potencial
entre espécies com o mesmo albedo e a mesma altura, quando expostas ao mesmo estado de
tempo. Por outro lado, na mesma espécie a abertura dos estomas funciona como reguladora
da evapotranspiração, reduzindo-se quer em condições de excessiva evapotranspiração
potencial, quer em condições de limitação da humidade do solo. Quando a camada superior
do solo está seca, as plantas com raízes pouco profundas reduzem a transpiração, no entanto
as plantas com raízes muito profundas continuam a transpirar normalmente. Esta é uma razão
pela qual as árvores transpiram mais do que as herbáceas. A densidade de raízes das plantas
pode também ser importante neste aspecto, na medida em que está relacionada com a
facilidade de captarem água para manterem a evapotranspiração. As resinosas ao
interceptarem mais água do que as folhosas fazem aumentar a evaporação. Além disso
transpiram mais porque têm um albedo mais baixo, e as folhas têm duração mais longa

31
Figura 7: Uso e Cobertura da terra

Fonte: Autor 2023

3.6.SOLOS

O solo influencia a evapotranspiração quer pelo seu albedo, quer pela sua capacidade de reter
e armazenar água, a qual depende da sua textura. Solos de características arenosas acabem
acabam por limitar a perda de água porque, uma vez secos á superfície, é mais facilmente
quebrada a continuidade da água ao nível dos poros e consequentemente reduzida a perda de
água por evaporação já que, a ascensão capilar é eliminada.

A maior quantidade de água armazenada pelos solos argilosos acaba por favorecer o
desenvolvimento vegetal e a evapotranspiração, bem como a perda por evaporação directa a
Partir do solo.

32
Figura 8: Solos da bacia do Licungo

Fonte: Autor 2023

33
3.7.ÁREAS DE RISCO Á INUNDAÇÃO NA BACIA DO LICUNGO

Figura 9: Distribuição das áreas de risco a inundações

Fonte: Autor 2023

Com o mapa 8, pode ver-se o resultado do mapeamento das áreas de risco a inundações na
bacia do Licungo, onde destacam-se 5 classes de risco, nomeadamente: Risco muito alto,
Alto risco, Risco moderado, risco baixo e risco muito baixo; distribuídas ao longo da bacia.
As áreas de risco muito alto se concentram em áreas planas da bacia, com declive menor que
2%, e altitude entre os 0 – 50 metros, afectando o sul da bacia, sendo o posto administrativo
de Nate o mais afectado, Maganja da Costa e distrito de Namacurra.

As áreas de risco Alto expandem-se tal como as áreas de risco muito alto em altitudes até 50
metros, mas estas afectam também áreas com altitude a variar de 50 – 70 metros, seguindo a
configuração do rio principal (Licungo) até a fronteira entre os distritos de Mocuba e maganja
da costa. Mais a norte, na confluência entre os riscos Licungo e Lugela perto de mocuba
verificam-se áreas de alto risco onde a (DRR, 2015) justifica por ser nesta áreas onde se
concentra as aguas drenadas resultantes das precipitações intensas que se registam nas altas
montanhas de Gurué e Milange, a partir daí o rio entra numa em baixa altitude até ao distrito
de maganja da costa. Registam-se ainda áreas de alto risco nas áreas junto ao rio Licungo
com declive a variar de 1 – 2%.

34
As áreas de risco moderado, ocupam maior percentagem na bacia do Licungo, nestas áreas as
inundações registam de forma insolada, estão distribuídas em áreas com altitude que variam
de 50 metros podendo atingir ares de até 600 metros, com declive que varia de 2 – 4%.

O risco baixo, varia em altitude de 750 – 1000 metros de altitude, com declive maior que 2%
e menor que 8%. As inundações nestas áreas são menos prováveis de acontecer tanto pelas
condições de declive e altitude, bem como a as condições de uso e cobertura, abundando
florestas de baixa altitude, e características dos solos, por serem bem drenadas, não obstante o
facto de abundar maior precipitação.

Finalmente para as áreas de risco muito baixo, que se encontram em áreas de declive muito
acentuado, variando de 8 – 27% e altitude s elevadas que partem de 1500 metros até acima de
2000 metros.

A distribuicao dos Niveis de risco de inundacao são inflenciados por cinco factrores
principais na área em estudo sendo o relevo e o declive os que mais inflenciam com 39.42% e
38.23% respectiamente, o que faz com que as áreas de muito alto risco e de alto risco se
localizem nas baixas altitude e com declive plano, e as areas de muito baixo e baixo risco
estejam localizados em areas de relevo muito acentuado e com declive mais ondulado

Conforme apresentado por Garcez e Alvarez (2002), as pesquisas hidrológicas referenciam-se


em séries históricas, ou seja, observações sistemáticas no decorrer de um determinado
intervalo de tempo. Enfatiza que os dados dos níveis atingidos por inundações são elementos
de natureza histórica e não experimentais, portanto não podem ser comprovados por repetição
de experimentos, sendo assim são imprescindíveis observações continuadas para que se tenha
sucesso em análises, comparações e verificações realizadas.
As séries históricas relativos aos caudais da Bacia do Licungo das estações de Mocuba e
Gurué foram elaboradas com base nos registros cedidos pela Direcção Nacional de Água.
Essa Bacia foi selecionada em virtude de suas características climáticas específicas e também
devido à consistência e disponibilidade das informações.
Os dados dos caudais utilizados neste trabalho são referentes aos anos de 1993 à 2023,
excepto o ano de 2020. Esses, por sua vez, foram submetidos a análise na base do Excel,
tendo em vista a obter resultados científicos mais aprimorados. O Método de probabelistico e

35
estatistico foi a ferramenta utilizada a fim de verificar a probabilidade do evento de cheias ser
igualado ou superado.

3.8.RECOLHA DE DADOS

Os dados dos caudais da bacia hidrográfica de Licungo para a determinação dos objectivos do
trabalho investigativo foram obtidos na Direcção Nacional de Água.

3.9.SELECÇÃO DO MÉTODO PROBABILÍSTICOS

Há uma grande variedade de modelos usados para estimar o pico de caudais dentro de uma
bacia hidrográfica, a escolha deste método deve se pelo facto dos métodos probabilísticos
serem por conseguinte, métodos de previsões de cheias futuras, associadas a um período de
recorrência, baseados nos registos de série histórica. O enfoque estatístico para se determinar
a magnitude das vazões máximas consiste em definir uma relação entre descargas máximas e
as correspondentes frequências de ocorrência, a partir do estudo de uma série de dados
observados. A suposição básica desses métodos é de que as cheias verificadas durante um
determinado período possam ocorrer em um período futuro de características hidrológicas
similares, isto é, com uma expectativa de repetição.

3.9.1. VARIAVEIS A DETERMINAR


 Probabilidade de igualar e exceder assim como o periodo de retorno das cheias a
quando da passagem do ciclone FREDDY na bacia de Licungo.

Para a determinação da probabilidade de igualar e exceder assim como o período de retorno


das cheias a quando da passagem do ciclone FREDDY na Bacia de Licungo (estacão de
Mocuba e Gurué):

- Gerou-se duas tabelas, uma para cada estacão (Mocuba e Gurué), apresentando caudais
máximos registadas durante 30 anos (1993 – 2023) excluindo o ano de 2020, na Bacia de
Licungo, utilizando as probabilidades, para determinar o período de retorno.
- A série é colocada em ordem decrescente de caudais máximos correspondente aos 30 anos e
cada um dos anos recebe um índice de ordem (i).
- A cada ordem está associada uma probabilidade empírica dada por:

36
𝒊
𝑷 = (𝑵+𝟏) (1)

Onde:
P – é a probabilidade que indica a chance do caudal ser igualado ou superado em um ano
qualquer;
i - índice de ordem
N – é o número total de anos;

 O período de retorno (PR) é o inverso da probabilidade:

1
𝑇𝑅 𝑒 𝑃𝑅 =
𝑃

(2)

O PR foi calculado para todos os níveis, a partir do nível de cheias de cada estação,
utilizando-se uma série de dados temporais parciais, ou seja, os caudais máximos registrados
dentro de um contexto histórico, excluídos os eventos associados, para melhor avaliar a
frequência das cheias.

4.4 Análise dos resultados

Os resultados obtidos foram analisados de forma quantitativa, visando identificar o


comportamento de ocorrência das cheias nas duas estacoes da Bacia de Licungo,
principalmente, quanto aos valores da probabilidade de ocorrência e do PR (Período de
retorno) de cada nível de inundação.

Os PRs obtidos para estacão de Mocuba foram comparados com os valores dos períodos de
retorno da estacão de Gurué a fim de melhorar a confiabilidade da análise da alteração dos
padrões de ocorrência a dos eventos

37
CAPÍTULO IV: RESULTADOS E DISCUSSÃO DE DADOS
4.1.DETERMINAÇÃO DA PROBABILIDADE DO CAUDAL IGUALAR OU
EXCEDER AO PERÍODO DE RETORNO NA ESTACÃO DE MOCUBA

Tabela 5: Tempo de retorno estacão de Mocuba (1993-2023)

Localização temporal Probabilidade Tempo de Retorno Caudal Maximo

2015 3% 31 21650

2022 6% 15.5 4924.11

2014 10% 10.33 4688

1997 13% 7.75 4279.8

2023 16% 6.2 3897.87

1996 19% 5.17 3613.3

2009 23% 4.43 3607.1

2013 26% 3.88 3009.4

1998 29% 3.44 2930.9

2001 32% 3.1 2695

2008 35% 2.82 2600.7

2003 39% 2.58 2477.4

2012 42% 2.38 2327.8

2002 45% 2.21 2279.7

2006 48% 2.07 2111.1

2019 52% 1.94 2043.3

38
1999 55% 1.82 2033.6

1993 58% 1.72 1785.3

2010 61% 1.63 1759.3

2018 65% 1.55 1433

2000 68% 1.48 1116.3

2007 71% 1.41 1105.9

2011 74% 1.35 1078.6

2017 77% 1.29 963.94

2005 81% 1.24 905.93

1995 84% 1.19 833.79

1994 87% 1.15 805.71

2016 90% 1.11 717.36

2004 94% 1.07 527.9

2021 97% 1.03 63.32

Fonte: Autor 2023

Segundo a tabela percebe-se que observa-se que o caudal de 2023 (3897,87m3/s) representa
um Período de Retorno de 6 anos e a sua probabilidade de igualar ou exceder é de 16%
(aquando da passagem do evento climático ciclone FREDDY).

39
5.1.2 Gráfico da curva de caudais da estação de Mocuba (Bacia de Licungo)

Fonte: Autor 2023

Segundo ao gráfico percebe-se que a maior parte dos caudais estão acima de 16% sendo que
o período de retorno de evento similar é inferior a 6 anos.

4.2.DETERMINAÇÃO DA PROBABILIDADE DO CAUDAL IGUALAR OU


EXCEDER AO PERÍODO DE RETORNO EM GURUÉ

Tabela 6: Periodode retorno para estacão de Gurué (1993-2023)

Localização Temporal Probabilidade Tempo de Retorno Caudal Maximo

1995 3% 31.0 86.048

1993 6% 15.5 82.893

2022 10% 10.3 73.79

2015 13% 7.8 71.443

1999 16% 6.2 68.062

2001 19% 5.2 67.614

2009 23% 4.4 66.03

40
2014 26% 3.9 65.122

2002 29% 3.4 61.755

2018 32% 3.1 61.374

1998 35% 2.8 58.826

2013 39% 2.6 58.289

2016 42% 2.4 54.601

2023 45% 2.2 53.17

2003 48% 2.1 51.143

2012 52% 1.9 50.935

2019 55% 1.8 49.686

2010 58% 1.7 49.091

2011 61% 1.6 48.697

2006 65% 1.6 48.239

2000 68% 1.5 48.162

1996 71% 1.4 45.607

2017 74% 1.3 44.903

1994 77% 1.3 44.811

2008 81% 1.2 43.284

2007 84% 1.2 41.222

2005 87% 1.1 35.258

41
1997 90% 1.1 32.131

2004 94% 1.1 28.732

2021 97% 1.0 12.73

Fonte: Autor 2023

Segundo a tabela percebe-se que observa-se que o caudal de 2023 (53,17m3/ano) representa
um Período de Retorno de 2 anos e a sua probabilidade de igualar ou exceder é de 45%
(aquando da passagem do evento climático ciclone FREDDY).

5.1.4 Gráfico de caudais da estacão de Gurué (Bacia de Licungo)

Fonte: Autor 2013

Segundo ao gráfico percebe-se que a maior parte dos caudais estão acima de 45% sendo que
o período de retorno de evento similar é inferior a 2 anos.

42
5. CONCLUSÃO

Findo trabalho, sobre a previsão probabilística do período de retorno das cheias aquando da
passagem do ciclone Freddy na Bacia do Licungo, baseando nas estacções de Mocuba e
Gurué, pode concluir-se o caudal de 2023 da estação de Mocuba (3897,87m3/s) representa
um Período de Retorno de 6 anos e a sua probabilidade de igualar ou exceder é de 16%
(aquando da passagem do evento climático ciclone FREDDY) e para o caso de Gurue
conclui-se que o caudal de 2023 (53,17m3/ano) representa um Período de Retorno de 2 anos e
a sua probabilidade de igualar ou exceder é de 45% (aquando da passagem do evento
climático ciclone FREDDY).

Também é importante referir que as áreas de maior risco na bacia do Licungo estão
localizadas em áreas de baixa altitude, com declive plano no sul da bacia, sendo que as de
risco muito alto podem afectar os distritos de maganja da costa mais precisamente, o posto
administrativo de Nate.

As áreas com maior risco à inundação na bacia do Licungo estão localizadas no sul da bacia,
em áreas com declive plano, baixa altitude, afectando principalmente o distrito de Maganja
de Costa, sendo que o nível de risco nestas áreas variando de Alto a Muito alto. Ainda, as
classes de risco Alto, podem se expandir ao longo do rio Licungo, seguindo a sua
configuração até Mocuba na confluência entre os rios Licungo e seu afluente, o Lugela. Que
resulta do aumento do caudal, resultante das altas precipitações que se registam nas altas
montanhas de Gurué e Milange. As áreas de risco moderado, representam maior percentagem
na bacia, com 52% do total da bacia, estas áreas as inundações podem ser causadas por
precipitação intensa e localizadas, sobre as áreas planas, estão localizadas no centro da área
em estudo, sendo que estas, compõem maior parte dos serviços, infra-estruturas e população
da área de estudo.

As áreas de risco baixo e muito baixo, se encontram mais a a norte da bacia, caracterizadas
por relevo acentuado e declive também moderado a acentuado; a precipitação incide mais
sobre estas áreas, mais devido a configuração do relevo, torna estas menos susceptíveis ao
risco de inundação, devido ao efeito da gravidade que tende em escoar o volume de
precipitação que incide sobre estas para as áreas a sul da bacia com relevo menos assentado e
declive plano. Param além disso, estas áreas apresentam um tipo de uso e cobertura

43
caracterizadas, por formações de florestas de baixa altitude aberta a fechada o que reduz o
risco.

44
5.1.RECOMENDAÇÕES.

Para a prevenção e controle das inundações, recomenda-se a aplicação das medidas


estruturais através de construção de obras hidráulicas como barragens, diques e canalização,
bem como a reabilitação dos infraestruturas hidráulicas existentes na área de estudo.

Recomenda-se também a aplicação das medidas não estruturais, tais como fazer previsões de
eventos climáticos extremos bem como o mapeamento de áreas de risco de inundação,
sistema de alerta ligada e seguros.

A aplicação destas medidas tal como (Barbosa, 2006) afirma, garante à população o mínimo
de prejuízo possível além de possibilitar uma convivência harmoniosa com o rio. Para as
populações ribeirinhas, essa convivência é fundamental para evitar perdas materiais e até, em
alguns casos, perdas humanas.

45
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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change in livelihoods: evidence from rural Mozambique, Published by Blackwell Publishing,
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