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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Instituto de Educação à Distância

Tema:

GESTÃO PARTICIPATIVA DOS RECURSOS FLORESTAIS E FAUNÍSTICOS

Getrude Checuda Tirivangana, Código nº 708194508

Curso: Licenciatura em Ensino de Geografia

Disciplina: Estudo Ambiental II

Ano de Frequência: 4º Ano

Docente: Eduardo Herculano Sebastião

Turma: D

Beira, Julho de 2022


Índice

Introdução...................................................................................................................................1

Objectivos...................................................................................................................................2

Objectivo geral............................................................................................................................2

Objectivos específicos................................................................................................................2

Metodologias...............................................................................................................................2

Justificativa.................................................................................................................................2

GESTÃO PARTICIPATIVA DOS RECURSOS FLORESTAIS E FAUNÍSTICOS................4

Conceitos Básicos.......................................................................................................................4

Maneio florestal..........................................................................................................................5

Maneio Comunitário em Moçambique.......................................................................................6

Conservação de recursos florestais.............................................................................................7

Modelos de gestão comunitária de recursos naturais em Moçambique......................................9

Áreas protegidas (parques nacionais, reservas florestais)...........................................................9

Áreas florestais comunitárias na zona de uso múltiplo.............................................................10

Conclusão..................................................................................................................................11

Referencias Bibliográficas........................................................................................................12
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Introdução

A gestão participativa dos recursos florestais e naturais é hoje uma área de referência
para o auto-sustento, combate à pobreza, uso racional e sua conservação incluindo a
biodiversidade em geral, devido ao reconhecimento crescente de que os diferentes
intervenientes, incluindo o Estado, o sector privado e as comunidades locais,
desempenham melhor papel, quando conjugam os seus esforços, em vez de cada um
destes actores separadamente (Macucule 2006; Teixeira 2009).

Neste contexto, é essencial considerar opções para promover o uso sustentável e a


conservação dos recursos florestais em Moçambique a médio e longo prazo. São várias
as intervenções ou estratégias possíveis para controlar o problema da desflorestação e
degradação das florestas (FAO 2010b, MEA 2005). Estas resumem-se desde reformas
legais e institucionais até a acções muito específicas, tais como a implementação de
projectos de Gestão Florestal Sustentável.

Para Coates 1971, Peattie 1967; Tilley & Car 1975 (1984) citados por Dias (2010),
torna-se imperativo que as pessoas participem na sua comunidade ao nível do
planeamento de programas ou nas actividades que as afectam, uma vez que essa
participação (de foro comunitário) transmite às pessoas o sentimento de controlo e
assim através desta medida, as suas necessidades e interesses são identificados e tidos
em consideração.

Os diferentes intervenientes complementam-se na identificação de acções necessárias


para a gestão sustentável de recursos. Sendo assim, os métodos participativos dão um
quadro para a determinação do que se quer e como alcançar melhores resultados através
de soluções correlatas e concretas (Macucule, 2006).

Nesta senda de ideias, o presente estudo ira descrever sobre a gestão participativa dos
recursos florestais e faunísticos.

O presente trabalho contempla três partes fundamentais, porem, não tecnicamente


detalhadas. Referimo-nos desta parte introdutória onde existe a ideia geral do trabalho,
do desenvolvimento onde a ideia geral foi nos detalhada e por fim o nosso ponto de
vista perante as questões, todavia, sem esquecermos da bibliografia que alberga as
fontes por nos consultadas e fim de produzirmos o presente trabalho.
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Objectivos

Objectivo geral

Analisar a gestão participativa dos recursos florestais e faunísticos.

Objectivos específicos

 Conceituar a gestão participativa dos recursos florestais e faunísticos;


 Descrever a gestão participativa dos recursos florestais e faunísticos
 Descrever a importância da conservação dos recursos faunísticos em
Moçambique

Metodologias

Para Gil (2002), método é o conjunto de etapas, ordenadamente dispostas, a serem


vencidas na investigação da verdade, no estudo de uma ciência ou para alcançar
determinado fim.

Este trabalho foi desenvolvido por meio de referências bibliográficas, consulta


bibliográfica em vigor e do levantamento de dados específicos das protecções em obras
actualmente em fase de construção. A consulta bibliográfica foi aplicada na definição
dos conceitos básicos do trabalho. Assim, para sustentar os conceitos e definições que
constituíram os pressupostos teóricos deste trabalho de pesquisa serão feitas várias
consultas as diversas obras que abordam o tema em estudo.

Problematização

Os problemas ambientais constituem agora uma das maiores preocupações do Homem,


figurando-se nas prioridades da agenda política mundial. A degradação do ambiente
pelo Homem, resultando em mudanças climáticas que por sua vez estão a originar
vários fenómenos tais como as inundações, ciclones, secas, doenças e insegurança
alimentar, que estão afectando a humanidade com mais frequência nos países
subdesenvolvidos, têm mobilizado a humanidade a reflectir de modo a encontrar
soluções Lei de conservação (Lei n.º 16/2014 de 20 de Junho de 2014).

Justificativa

Em Moçambique as florestas são de uma inestimável importância, pelos bens e serviços


que proporcionam a sociedade em geral e as comunidades locais em particular. Basta
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referir que a qualidade de vida da maioria dos moçambicanos depende, directa ou


directamente, dos bens extraídos a floresta. Por exemplo a Politica e Estratégia de
Desenvolvimento de Florestas e Fauna Bravia indica que: (i) maioria das habitações, no
campo e nas cidades, são construídos de materiais florestais; (ii) 80% da energia
doméstica, cerca de 16 milhões de metros cúbicos de madeira, o equivalente a 706
milhões de dólares americanos, são extraídos anualmente das florestas; (iii) a
produtividade da agricultura tradicional, vulgo agricultura itinerante, esta associada a
restauração da fertilidade natural dos solos pelas florestas durante o período de poisio;
(iv) 80% das necessidades em proteína animal no campo é satisfeita através da pesca em
águas interiores e abates de fauna bravia; (v) as florestas fornece uma gama de
medicamentos, frutos silvestres e hortícolas nativas importantes para a saúde, dieta e
segurança alimentar das comunidades locais, especialmente nos períodos de escassez
como durante as cheias e da seca e, por outro lado, (vi) a venda e o mercado de produtos
florestais madeireiros e não madeireiros constitui, para muitas famílias pobres
moçambicanas, as únicas fontes de receita e renda, no campo e nas cidades.

A gestão participativa dos recursos naturais, dos quais fazem parte as florestas, é hoje
uma via recorrente para o auto-sustento, combate à pobreza, uso racional e conservação
dos recursos naturais e ainda da biodiversidade em geral (CNUMAD 1992, IPCC 2007).
Tais factos devem-se ao reconhecimento crescente de que os diferentes intervenientes
incluindo o Estado, o sector privado e as comunidades locais, desempenham melhor o
seu papel quando vêm os seus esforços conjugados, comparando aos resultados obtidos
por cada um destes actores separadamente (Teixeira, 2009).
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GESTÃO PARTICIPATIVA DOS RECURSOS FLORESTAIS E FAUNÍSTICOS

Conceitos Básicos

Actualmente, Moçambique apresenta uma cobertura florestal ainda extensa, mas a área
de floresta tem registado uma diminuição a um ritmo acelerado. O mais recente
inventário florestal nacional indica uma perda anual de cerca de 217000 hectares, o que
equivale a um índice de desflorestação anual de 0,58 por cento (Serra, 2012). Tudo
indica, que esse valor tenha tendência a aumentar devido ao crescimento económico que
actualmente se regista no país, ao crescente interesse na exploração comercial da
madeira para exportação, à expansão da agricultura comercial, bem como ao
crescimento da população.

Acredita-se que a participação comunitária contribua para a boa gestão das florestas e
melhoria do bem-estar das populações locais através da sua capacitação e partilha de
benefícios resultantes da exploração das florestas (Mustalahti, 2011).

Acredita-se que a participação e o controlo das comunidades locais, sobre a gestão das
florestas, sejam factores importantes tanto para garantir legitimidade às políticas e
acções do Estado, como para garantir que sejam concebidas e executadas, para atender
os interesses da população (Sitoe et.al. 2007).

A participação comunitária na gestão das florestas pode acontecer através da agregação


do conhecimento tradicional ao conhecimento científico ou por meio do envolvimento
das comunidades locais em todas as etapas de execução das actividades, mas também,
na determinação de que a população autóctone tem prioridade na apropriação dos
recursos naturais (ou ao acesso a eles) e na partilha dos benefícios gerados pela
biodiversidade (Zanirato e Ribeiro 2007).

O conceito de comunidade no presente estudo é definido de acordo com a lei


moçambicana, nomeadamente a Lei nº 19/97, de 1 de Outubro (Lei de Terras) bem
como a Lei de Florestas e Fauna Bravia, como sendo “(...) o agrupamento de famílias e
indivíduos, vivendo numa circunscrição territorial de nível de localidade ou inferior,
que visa a salvaguarda de interesses comuns através da protecção de áreas habitacionais,
áreas agrícolas, sejam cultivadas ou em pousio, florestas, sítios de importância cultural,
pastagens, fontes de água, áreas de caça e de expansão (...)”.

A participação das comunidades locais pressupõe a redistribuição de benefícios


resultantes da co-gestão, a compatibilização na definição de objectivos (singulares
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versus múltiplos) e a clareza no processo de tomada de decisões relativas ao processo.


Os intervenientes complementam-se na identificação de acções necessárias para a
gestão sustentável dos recursos (Macucule, 2006).

Wandersman (1984) citado por Dias (2010) define a participação comunitária como um
processo através do qual, os indivíduos têm um papel activo nos processos de tomada de
decisão das instituições, programas e dos contextos que os envolvem, pelo que o poder e
a influência são elementos importantes na utilização do termo participação.

Ornelas (2002), citado por Dias (2010 pp.2), refere que “(…) a participação comunitária
não é simplesmente a oferta voluntária de tempo ou recursos, mas resulta da
participação dos cidadãos nos processos de decisão a favor da comunidade, implicando
um envolvimento efectivo nos processos de decisão nos grupos, organizações e
comunidades (…).”

Maneio florestal

Segundo Pereira (2000), para que os empreendimentos florestais se enquadrem nesse


contexto, devem evoluir em rentabilidade, prever segurança e sustentabilidade. Caso
contrário, não apresentarão viabilidade económica, social e ecológica e, portanto,
garantia de rendimento sustentado. Essas premissas permitem conceituar manejo
florestal em Regime de Rendimento Sustentado como sendo o planeamento, o controle
e o ordenamento do uso dos recursos florestais disponíveis, de modo a obter o máximo
de benefícios económicos e sociais, respeitando os mecanismos de auto-sustentação do
ecossistema objecto do maneio.

As actividades de maneio não degradam a floresta se correctamente conduzidas, porém,


podem alterar a qualidade do ecossistema por influir na distribuição e composição das
espécies e nos processos ambientais (Bruno, et al. 2005).

Segundo o Manual de Elaboração do Plano de Maneio de Amazónia (SD) o plano de


maneio pode ser organizado em três etapas. Na primeira, faz-se o zoneamento ou
divisão da propriedade florestal em áreas exploráveis; áreas de preservação permanente
e áreas inacessíveis à exploração. A segunda etapa consiste no planeamento das estradas
secundárias que conectam a área de exploração às estradas primárias. Na terceira etapa,
divide-se a área alocada para exploração em blocos ou talhões de exploração anual.

Para o Nacala (2002), o plano de manejo florestal deve conter informações sobre a área
e características da floresta (fauna, flora, topografia, solo); técnicas de exploração,
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regeneração e crescimento das espécies comerciais; medidas de protecção das espécies


não comerciais, nascentes e cursos de água; cronograma da exploração anual e uma
projecção dos custos e benefícios do empreendimento.

A importância do manejo florestal pode ser destacada mediante os seguintes benefícios:


a) redução das taxas de desmatamento; b) geração de postos de trabalho; c) redução das
taxas de emigração rural; d) diversificação e elevação da renda no meio rural; e) alcance
de mercados exigentes (referindo-se à aceitação de produtos florestais certificados com
“selo verde”); f) manutenção dos serviços ambientais da floresta (equilíbrio climático e
hídrico, conservação da biodiversidade e protecção ao solo); e g) legitimação da
indústria de base florestal (Araújo e Oliveira, 1996, citado por Michelliny (2006).

Maneio Comunitário em Moçambique

António (2003), indica que, os habitantes das áreas rurais em Moçambique vivem e
dependem dos recursos naturais, sendo as florestas uma fonte importante de materiais
de construção, combustível, alimentos, produtos medicinais, abrigo, valores espirituais,
entre outros. Ao longo dos anos as pessoas foram desenvolvendo um conhecimento
individual e colectivo sobre a gestão e utilização destes recursos para suprir as suas
necessidades. No passado, o maneio florestal constituiu uma actividade totalmente
centralizada na figura do Estado que através de regulamentos e fiscais não só
estabeleciam as regras de utilização das florestas como eram responsáveis por policiar o
cumprimento das mesmas em todo o território nacional e a nível local.

As actividades de promoção de reflorestamento e de viveiros estatais e comunais foram


gradualmente sendo abandonadas com a liberalização da economia e com o final da
guerra os técnicos do sector concentraram a sua atenção sobre a gestão dos recursos
florestais naturais, reabilitação de parques e reservas, e a reforma da base legal do sector
(Nacala, 2002).

Segundo a Lei de Conservação (Lei16/14 de 20 de Junho de 2014), após os acordos de


paz dá-se o regresso gradual das pessoas aos seus locais de origem que estão
preocupadas com o futuro dos recursos naturais nestas áreas dos quais a sua vida está
intimamente ligada. Estas áreas favorecem a criação de projectos de maneio
comunitário, e a transformação do sistema de livre acesso para um sistema de acesso
controlado constitui um dos resultados imediatos destes projectos, tal como aconteceu
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em Licuati, Goba, Pindayanga e em tantas outras iniciativas de maneio comunitário,


onde o recurso florestal estava a ser utilizado de forma desregulada.

O acesso aos recursos naturais passou pois de um sistema acesso livre e descontrolado
para um sistema de acesso controlado aos recursos comuns. Aqui a propriedade comum
é vista como uma forma de utilização dos recursos sem ter que os dividir em parcelas
individuais e tal como na propriedade privada, a propriedade comum incentiva os
gestores, neste caso as populações locais, a cuidarem dos seus recursos, a melhorarem a
qualidade dos mesmos, a manejarem de forma sustentável e consequentemente da forma
mais eficiente a longo prazo (Ulicza, 2003).

O valor das florestas é alargado para um conjunto de bens (produtos madeireiros e não
madeireiros) e serviços (turismo, protecção de biodiversidade, regulação do ciclo
hidrológico, etc) e o maneio florestal passa a englobar a administração das florestas para
obtenção de múltiplos produtos, preservação das suas funções (aspectos ambientais) e
considerando os diferentes interesses dos utilizadores primários para garantir uma
gestão dos recursos que seja ambientalmente correcta, economicamente viável e
socialmente justa, isto é, o maneio florestal sustentável (Herrera, 2005).

De acordo com Roberto (2004,) citado por Mauvilo (2005), em Moçambique antes da
independência nacional, a conservação da diversidade biologia nas zonas rurais, era da
responsabilidade das autoridades tradicionais (regulados), entidades que definiam as
áreas florestais de uso e locais de conservação, bem como as florestas sagradas para
adoração de espíritos e realização de cultos, a colheita de frutos silvestres, plantas
medicinais, a caça e a pesca tinham que ser autorizadas e abençoadas pelas autoridades
tradicionais. A desobediência dessas regras, era motivo para acontecer qualquer
desgraça ao transgressor.

Conservação de recursos florestais

Segundo Merino (2006), a vida na terra é garantida por processos ecológicos


fundamentais que a Natureza dificilmente consegue duplicar, água, oxigénio, simbiose,
condições climatéricas apropriadas a uma diversidade devida na terra são processos e
elementos quase que únicos neste universo.

Existe relação directa entre abundância de recursos naturais e potencial económico


baseado no património de um país MICOA (2004). O desenvolvimento económico de
uma nação depende não só do seu capital científico-tecnológico e humano mais é
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suportado, se potencia na base da riqueza em recursos naturais, seu património natural.


No entanto o desenvolvimento é definido como a transformação da biosfera e o uso dos
recursos humanos, financeiros, recursos naturais vivos e não vivos para satisfazer as
necessidades humanas e melhorar a qualidade de vida.

A sustentabilidade desse desenvolvimento depende de factores ecológicos, sociais e


económicos, e ao longo termo também de vantagens e desvantagens que é necessário
prever e acautelar. (Cândida, 2010)

Tanto a conservação como o desenvolvimento estão ao serviço do homem, se este usa


os recursos naturais da biosfera para satisfazer suas necessidades (desenvolvimento), a
conservação quer garantir que a satisfação dessas necessidades seja efectuada de forma
sustentável (EPAMIG, 1995). Dromond (2004), no seu trabalho sobre a conservação
concluiu que a conservação e o desenvolvimento sustentável são interdependentes.
Entenda-se por conservação a gestão do uso pelo homem da biosfera para que as
gerações actuais tirem a máxima vantagem dos recursos vivos assegurando sua
existência para poder satisfazer as necessidades das gerações futuras. Nessa perspectiva
a conservação inclui a preservação, manutenção, a utilização sustentável, a restituição,
renovação e melhoramento do meio natural. Nesse sentido, a conservação, como
recomendado na Estratégia Mundial da Conservação (IUCN, 1980), envolve
especificamente a conservação de plantas, animais, micro-fauna mas também dos
elementos não vivos do meio natural em que se apoiam para sua sobrevivência.
Contrariamente aos não vivos, se preservados, os recursos naturais vivos, são
renováveis, no caso contrário sua natureza limitada conduz a sua destruição.

Segundo Livia (2009), a intenção de protecção de áreas naturais remonta a diferentes


épocas e culturas as quais estiveram imbuídas de diversos valores. Registos antigos
mostram que algumas áreas foram protegidas por possuírem animais sagrados, por
serem reservas de água pura, plantas medicinais, por possuírem certo valor religioso e
cultural para determinados grupos. Actualmente, as áreas naturais são definidas pela
União Internacional para a Conservação da Natureza, como uma porção da superfície
terrestre especialmente designada à protecção e preservação da diversidade biológica,
assim como dos recursos naturais e culturais associados e gerenciadas através de meios
legais (IUCN, 1999).

Sitoe et al. (2008), citando por Sitoe (2009), refere que os modelos de gestão
comunitária descritos como formas funcionais de maneio dos recursos naturais onde há
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participação das comunidades são dinâmicos. Elas acompanham a evolução das


políticas do sector de forma a incorporar elementos mínimos fundamentais para a
implementação efectiva da abordagem. Por exemplo, as reservas florestais no país estão
sob gestão directa do Estado, todavia, conforme indica a Lei de Floresta e Fauna Bravia,
existe a possibilidade de co-gestão com a participação das comunidades locais ou
delegação de autoridade para as comunidades locais.

As reservas florestais são áreas de conservação onde o Estado é proprietário e principal


gestor. Os recursos ai existentes podem ser utilizados nos termos a regulamentar, desde
que não se prejudique a finalidade específica que determinou a sua criação e estejam de
acordo com os respectivos planos de maneio; empresas privadas, ONGs e instituições
de investigação e ensino, bem como as comunidades locais são encorajados a participar
na co-gestão segundo termos a acordar entre as partes (Lei de Florestas e Fauna Bravia
nr. 10/99 de 7 de Julho).

A conservação em si não constitui uma solução, deve ser um processo, tarefa de todos
os sectores, ao nível das estruturas que gerem os recursos naturais (pesca, agricultura,
florestas). A conservação deve velar pelo uso sustentável dos recursos mas também
garantir a preservação dos processos ecológicos e património genético essenciais para a
política nacional ambiental) é o contexto da gestão que permite, de forma durável tirar o
melhor proveito dos recursos naturais básicos e escolher o lugar e natureza de
actividades que lhes assegurem sustentabilidade (MICOA, 2011).

Segundo o mesmo autor, a integração da conservação ao desenvolvimento é


estrategicamente importante, caso contrário será impossível satisfazer as necessidades
actuais sem o risco de não poder satisfazer as mesmas necessidades no futuro

Modelos de gestão comunitária de recursos naturais em Moçambique

De acordo com Sitoe et.al. (2007) é possível identificar cinco modelos de gestão
comunitária de recursos naturais em Moçambique, com base nas experiências de gestão
existentes e de acordo com o modo de participação da comunidade, arranjos
institucionais, regime de uso e propriedade florestal. Estes são resumidos a seguir.

Áreas protegidas (parques nacionais, reservas florestais)

As áreas protegidas são constituídas, nos termos da Lei nº 10/99, a Lei Florestas e
Fauna Bravia, por formações vegetais localizadas nas zonas de protecção e sujeitas a um
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regime de utilização especial, incluindo parques nacionais; reservas nacionais, florestas


localizadas dentro das coutadas de caça e zonas de uso e valor históricocultural.

Nos termos da Lei de Florestas e Fauna Bravia, os recursos existentes nas áreas
protegidas podem ser utilizados, mediante licença, desde que não prejudiquem a
finalidade específica da sua criação e que estejam de acordo com os respectivos planos
de gestão.

Segundo Sitoe et.al. (2007), as Áreas Protegidas são estabelecidas por Decreto e têm o
objectivo de garantir a protecção de espécies e ecossistemas. O principal gestor destas
áreas é o Estado, embora empresas privadas, ONGs e instituições de investigação e
ensino, bem como as comunidades locais possam participar na cogestão segundo termos
a acordar entre as partes. Entre os exemplos de sucesso deste modelo, os autores
apontam o Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto, o Parque Nacional do
Limpopo, e a Reserva de Mecuburi.

Áreas florestais comunitárias na zona de uso múltiplo

De acordo com a Lei de Florestas e Fauna Bravia as Florestas de utilização múltipla são
constituídas por formações vegetais localizadas fora das zonas de protecção e com baixo
potencial florestal. As área fora das zonas de protecção são dedicada a variadas formas
de uso do solo, mediante a aplicação dos instrumentos de ordenamento territorial.

Para Sitoe et.al. (2007) o aspecto fundamental deste modelo é a legitimidade da


comunidade local, porque ela fornece um poder local aos verdadeiros “donos” do
recurso. Os autores consideram os exemplos das comunidades de Sanhôte e Niviria,
Pindanyanga e Mucombedzi como os que ilustram esta importância. Acrescanta-se que
é possível observar, no mesmo exemplo, a existência do plano de gestão, DUAT,
organização e funcionamento dos comités de gestão, a distribuição das actividades entre
os membros dos grupos de interesse como elementos essenciais para o sucesso da
actividade de gestão.
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Conclusão

A definição de maneio florestal tem sido conservada ao longo dos tempos apesar dos
objectivos e dos factores que influem no maneio florestal estarem em constante
evolução. O maneio florestal consiste num conjunto de medidas administrativas,
económicas, legais, sociais e técnicas relacionadas com a conservação e uso das
florestas naturais e plantações. Envolve vários graus de intervenção humana para
salvaguardar o ecossistema florestal, as suas funções, e o recurso com o objectivo de se
alcançar a produção sustentável de bens e serviços.

Nos seus primórdios, o maneio florestal era orientado sobretudo para os aspectos
biológicos e silviculturais da produção de madeira para o abastecimento de matéria
prima à industria florestal. A floresta era administrada para se obter a produção contínua
e optimização económica do abastecimento de matéria prima para a indústria, muitas
vezes em detrimento dos aspectos ambientais e sociais. Hoje em dia, o maneio florestal
para além dos aspectos técnicos (silvicultura, tecnologia, gestão) e dos aspectos
económicos tem de considerar também os aspectos ambientais, sociais e culturais
relacionados com a gestão dos recursos florestais e faunísticos.

Tanto a conservação como o desenvolvimento estão ao serviço do homem, se este usa


os recursos naturais da biosfera para satisfazer suas necessidades (desenvolvimento), a
conservação quer garantir que a satisfação dessas necessidades seja efectuada de forma
sustentável. Dromond (2004), no seu trabalho sobre a conservação concluiu que a
conservação e o desenvolvimento sustentável são interdependentes. Entenda-se por
conservação a gestão do uso pelo homem da biosfera para que as gerações actuais tirem
a máxima vantagem dos recursos vivos assegurando sua existência para poder satisfazer
as necessidades das gerações futuras. Nessa perspectiva a conservação inclui a
preservação, manutenção, a utilização sustentável, a restituição, renovação e
melhoramento do meio natural.
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Referencias Bibliográficas

FAO - Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Florestas (2015) - Global Forest
Resources Assessment - How are the world’s forests changing? (Rome, 2015).

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