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Manual de Curso de licenciatura em Ensino de

Geografia – 1o ano

Climatogeografia

G0134
24 Unidades

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino a Distância
Direitos de autor (copyright)
Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à Distância
(CED) e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste manual, no
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Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à Distância e o autor do presente manual,
dr. Alfredo Lapissone, gostariam de agradecer a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições
na elaboração deste manual:

Análise conteudista/Revisão dr. Sérgio Arnaldo Gove

Pela maquetização e revisão final dr. Heitor Simão Mafanela Simão


Elaborado Por: dr. Alfredo Lapissone

Licenciado em Ensino de Geografia pela Universidade Pedagógica – Beira


Colaborador do Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia no CED
Revisão: dr. Sérgio Arnaldo Gove
Licenciado em Ensino de Geografia pela Universidade Pedagógica – Beira
Colaborador do Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia no CED

Coordenação, Maquetização e Revisão Final: dr. Heitor Simão Mafanela Simão

Licenciado em Ensino de Geografia pela Universidade Pedagógica – Beira


Mestrando em Ciências e Sistemas de Informação Geográfica
Coordenador do Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia no CED
Climatogeografia i

Índice
Visão geral 1
Bem-vindo a Climatogeografia.........................................................................................1
Objectivos do curso...........................................................................................................1
Quem deveria estudar este módulo....................................................................................2
Como está estruturado este módulo...................................................................................2
Ícones de actividade...........................................................................................................3
Acerca dos ícones...........................................................................................3
Habilidades de estudo........................................................................................................3
Precisa de apoio?...............................................................................................................4
Tarefas (avaliação e auto-avaliação).................................................................................4
Avaliação...........................................................................................................................5

Unidade I 7
Introdução a Climatologia.................................................................................................7
Introdução................................................................................................................7
Sumário..............................................................................................................................9
Exercício..........................................................................................................................10

Unidade II 11
Natureza e campo da climatologia...................................................................................11
Introdução..............................................................................................................11
Sumário............................................................................................................................12
Exercícios........................................................................................................................12

Unidade III 13
Factores e elementos climáticos......................................................................................13
Introdução..............................................................................................................13
Sumário............................................................................................................................14
Exercícios........................................................................................................................14

Unidade IV 16
Observações meteorológicas...........................................................................................16
Introdução..............................................................................................................16
Sumário............................................................................................................................23
Exercícios........................................................................................................................23

Unidade V 24
Os Sistemas Climáticos...................................................................................................24
Introdução..............................................................................................................24
Climatogeografia ii

Sumário............................................................................................................................37
Exercícios........................................................................................................................37

Unidade VI 38
Efeitos de Enso em Moçambique....................................................................................38
Introdução..............................................................................................................38
Sumário............................................................................................................................44
Exercícios........................................................................................................................44

Unidade VII 45
Climas da terra.................................................................................................................45
Introdução..............................................................................................................45
Sumário............................................................................................................................52
Exercícios........................................................................................................................53

Unidade VIII 54
Classificação Climática de Koppen.................................................................................54
Introdução..............................................................................................................54
Sumário............................................................................................................................57
Exercícios........................................................................................................................57

Unidade IX 58
Atmosfera Terrestre.........................................................................................................58
Introdução..............................................................................................................58
Sumário............................................................................................................................64
Exercícios........................................................................................................................65

Unidade X 66
Camadas da Atmosfera....................................................................................................66
Introdução..............................................................................................................66
Sumário............................................................................................................................69
Exercícios........................................................................................................................69

Unidade XI 70
Equílibrio Térmico Na Atmosfera...................................................................................70
Introdução..............................................................................................................70
Sumário............................................................................................................................74
Exercícios........................................................................................................................75

Unidade XII 76
Efeitos da Radiação no Topo da Atmosfera....................................................................76
Introdução..............................................................................................................76
Climatogeografia iii

Sumário............................................................................................................................83
Exercícios........................................................................................................................83

Unidade XIII 84
Circulação Geral da Atmosfera.......................................................................................84
Introdução..............................................................................................................84
Sumário............................................................................................................................85
Exercícios........................................................................................................................85

Unidade XIV 86
Causas da Circulação Geral.............................................................................................86
Introdução..............................................................................................................86
Sumário............................................................................................................................92
Exercícios........................................................................................................................93

Unidade XV 94
Circulação média a superficie..........................................................................................94
Introdução..............................................................................................................94
Sumário............................................................................................................................96
Exercícios........................................................................................................................96

Unidade XVI 97
Circulações Regionais e Locais.......................................................................................97
Introdução..............................................................................................................97
Sumário..........................................................................................................................103
Exercícios......................................................................................................................103

Unidade XVII 104


Nuvens...........................................................................................................................104
Introdução............................................................................................................104
Sumário..........................................................................................................................108
Exercícios......................................................................................................................108

Unidade XVIII 109


Formação de Precipitação..............................................................................................109
Introdução............................................................................................................109
Climatogeografia iv

Sumário..........................................................................................................................111
Exercícios......................................................................................................................111

Unidade XIX 112


Processo de Bergeron....................................................................................................112
Sumário..........................................................................................................................118
Exercícios......................................................................................................................118

Unidade XX 119
Processo de Colisão - Coalescência...............................................................................119
Introdução............................................................................................................119
Sumário..........................................................................................................................122
Exercícios......................................................................................................................122

Unidade XXI 123


Medidas de Precipitação................................................................................................123
Introdução............................................................................................................123
Sumário..........................................................................................................................125
Exercícios......................................................................................................................125

Unidade XXII 126


Massas de Ar.................................................................................................................126
Introdução............................................................................................................126
Sumário..........................................................................................................................129
Exercícios......................................................................................................................129

Unidade XXIII 130


Correntes Maritimas......................................................................................................130
Introdução............................................................................................................130
Sumário..........................................................................................................................136
Exercícios......................................................................................................................137

Unidade XXIV 138


Análise e previsão do Tempo........................................................................................138
Introdução............................................................................................................138
Sumário..........................................................................................................................142
Exercícios......................................................................................................................142
Climatogeografia 1

Visão geral
Bem-vindo a Climatogeografia

Este módulo constitui um dos suportes do curso de Geografia, o


qual retrata especificamente conteúdos da climatologia.

Neste contexto, a cadeira climatologia no presente Módulo,


pretende contribuir para a promoção do conhecimento sobre o
processo, transformações e dinâmica do clima no sentido de,
proporcionar aos estudantes uma visão clara e abrangente da
importância do estudo da climatologia para o desenvolvimento em
todas as áreas da vida, consciencializá-los a acerca das alterações
climáticas provocadas pela acção do homem e incentiva-los a traçar
estratégias para sua mitigação ou solução.

Objectivos do curso
Quando terminar o estudo de Climatogeografia será capaz de:

 Definir os principais conceitos em climatogeografia.

 Caracterizar as principais camadas da atmosfera terrestre.

 Explicar os factores do fluxo energético.


Objectivos
 Descrever as leis fundamentais da radiação Solar e terrestre.

 Explicar o ciclo da água na atmosfera e os fenómenos com ele


relacionados.

 Distinguir estados de tempo, tipos de ventos e massas de ar.


Climatogeografia 2

Quem deveria estudar este módulo


Este Módulo foi concebido para todos aqueles estudantes que queiram ser
professores da disciplina de Geografia, que estão a frequentar o curso de
Licenciatura em Ensino de Geografia, do Centro de Ensino a Distância na
UCM. Estendese a todos que queiram consolidar os seus conhecimentos
sobre a Climatogeografia.

Como está estruturado este módulo


Todos os módulos dos cursos produzidos por Universidade Católica de
Moçambique - Centro de Ensino a Distância encontram-se estruturados
da seguinte maneira:

Páginas introdutórias
 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os
aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de
começar o seu estudo.

Conteúdo do curso / módulo


O curso está estruturado em unidades. Cada unidade ncluirá uma
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um summary da unidade e uma ou mais
actividades para auto-avaliação.

Outros recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista
de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos podem incluir
livros, artigos ou sites na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação


Tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de cada
unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do módulo.

Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários
sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / módulo.
Climatogeografia 3

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Acerca dos ícones


Os ícones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por
adrinka. Estes símbolos têm origem no povo Ashante de África
Ocidental, datam do século 17 e ainda se usam hoje em dia.

Habilidades de estudo
Durante a formação, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores
resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os
bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficazes e por isso é
importante saber como estudar. Apresento algumas sugestões para que
possa maximizar o tempo dedicado aos estudos:
Antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente
de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em
casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de
tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com
música/num sítio sossegado/num sítio barulhento? Preciso de um intervalo
de 30 em 30 minutos/de hora a hora/de duas em duas horas/sem
interrupção?
É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da
matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já
domina bem o anterior. É preferível saber bem algumas partes da matéria
do que saber pouco sobre muitas partes.
Deve evitar-se estudar muitas horas seguidas antes das avaliações, porque,
devido à falta de tempo e consequentes ansiedade e insegurança, começa a
ter-se dificuldades de concentração e de memorização para organizar toda
a informação estudada. Para isso torna-se necessário que: Organize na sua
agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar
durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o
utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo
e a outras actividades.
É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma
necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A
colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de
modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode
escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode
também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados
com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a
seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Climatogeografia 4

Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado


desconhece;

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra situação, o
material impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza,
alguns erros de natureza frásica, prováveis erros ortográficos, falta de
clareza conteudística, etc). Nestes casos, contacte o tutor, via telefone,
escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor,
contacteo pessoalmente.
Os tutores têm por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o
estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor,
usando para o efeito os mecanismos apresentados acima.
Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interacção, em caso de
problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase
posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for de natureza
geral. Contacte a direcção do CED, pelo número 825018440.
Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de
expediente.
As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem
a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode
apresentar duvidas, tratar questões administrativas, entre outras.
O estudo em grupo com os colegas é uma forma a ter em conta, busque
apoio com os colegas, discutam juntos, apoiemse mutuamente, reflictam
sobre estratégias de superação, mas produza de forma independente o seu
próprio saber e desenvolva suas competências.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)


O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e
autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do
período presencial.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante.
Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser
dirigidos ao tutor\docentes.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os
mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do
autor.
O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito)
palavras de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade,
humildade científica e o respeito pelos direitos autoriais devem marcar a
realização dos trabalhos.
Climatogeografia 5

Avaliação
Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o
período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com
base no chamado regulamento de avaliação.
Os trabalhos de campo por ti desenvolvidos, durante o estudo individual,
concorrem para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira.
Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões
presenciais, eles representam 60%, o que adicionado aos 40% da média de
frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a
cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar 3 (três) trabalhos, 2 (dois) testes
e 1 (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como
ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade,
a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das
referências utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual.
consulteos.
Climatogeografia 7

Unidade I
Introdução a Climatologia
Introdução
A climatologia é uma ciência muito mais recente do que o conceito
clima, mas mesmo a nova ciência tem tido diferentes objectivos e
métodos desde a sua existência.

Tal como muitos domínios das ciências, a climatologia sofreu


muitas modificações nas últimas décadas e continua actualmente a
evoluir com rapidez. O significado dos diferentes conceitos e
termos foi-se modificando, acompanhando a evolução desta
ciência.

Esta unidade temática apresenta as ideias chaves da climatologia


como ciência e como uma base para o desenvolvimento da
sociedade.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir a Climatologia;
 Identificar os diferentes tipos de Climatologia;
 Reconhecer a importância da Climatologia para o desenvolvimento da
Objectivos sociedade.
 Definir Meteorologia.

Generalidades

Na abordagem do conceito Climatologia, parece oportuno começar


por dizer os significados de cada um dos termos e conceitos
fundamentais da climatologia.
Climatogeografia 8

Os conceitos de tempo e clima

De acordo com o Vocabulário Meteorológico Internacional, define-


se Clima como “ o conjunto flutuante das condições atmosféricas,
caracterizado pelos estados e evoluções do tempo numa dada área”.

Assim, quando falamos do clima de um local estamos a referir-nos


a um conjunto de condições meteorológicas típico dessa local e que
podem sofrer certas modificações. Por “condições meteorológicas”
entende-se o conjunto dos valores de elementos meteorológicos, ou
outras variáveis, num dado período e local.

Por tempo (weather) entendemos o estado médio da atmosfera


numa dada porção de tempo e em determinado lugar. Por outro
lado, clima é a síntese e do tempo num dado lugar durante um
período de 30-35 anos.

A Climatologia

A climatologia significa o estudo dos climas, tanto no que se refere


aos aspectos da sua existência em diversos locais e períodos sobre
o globo, como no que se refere aos fenómenos que causaram esses
climas.

De acordo com o Vocabulário Meteorológico Internacional (VMI),


climatologia é “ o estudo das causas, variações, distribuições e
tipos dos climas”. Outra definição da climatologia sugere uma
razão pela qual as pessoas a estudam: climatologia é o estudo das
generalidades que se podem obter a partir de exemplos do
comportamento passado da atmosfera. Portanto, esta tem como
objecto de estudo as particularidades geográficas dos climas e a sua
distribuição.

J.O.Ayoade ( 1986 p.2 ) “ A meteorologia é geralmente definida


como ciência da atmosfera e está relacionada ao estado fisico,
Climatogeografia 9

dinamico e quimico da atmosfera e `as interacções entre eles e a


superficie terrestre subjacente. Climatologia é o estudo cientifico
do clima”.

Há uma considerável semelhança no conteúdo da climatologia e da


meteorologia. O meteorologista e o climatólogo, contudo, diferem
significativamente em sua metodologia. Enquanto o meteorologista
emprega as leis da física clássica e as técnicas matemáticas em seu
estudo de processos de atmosféricos. O climatólogo utiliza
principalmente técnica estatística quando retira informações a
respeito do clima a partir das informações disponíveis sobre o
tempo. Pode-se dizer, portanto, o meteorologista estuda o tempo,
enquanto o climatólogo estuda o clima. Entretanto, a climatologia
esta baseada na meteorologia que, por sua vez, esta baseado nos
princípios da física e da matemática. Portanto, há uma relação
estreita entre meteorologia climatologia. A meteorologia engloba
tanto tempo como clima, enquanto os elementos da meteorologia
devem necessariamente estar incorporados na climatologia para
torná-la significativa e científica. O tempo e o clima podem, juntos
ser considerados como consequência e uma demonstração da acção
dos processos complexos na atmosfera, nos oceanos e na terra.
Climatogeografia 10

Sumário
A definição da climatologia sugere uma razão pela qual as pessoas
a estudam, assim, faz-se climatologia para obter uma ideia geral do
que se pode esperar da atmosfera no futuro, com base em exemplos
da forma como a atmosfera se comportou no passado, para poder se
explorar os benefícios potenciais desta às actividades humanas,
como por exemplo de cada um dos seguintes grupos: actividade de
sobrevivência, de comércio, de organização social, de comodidade
social e de ciência.

Exercício

1. Diferencie o tempo do clima?


2. Faça uma análise crítica do conceito Climatologia?
3. Distinga Climatologia da Meteorologia quanto a
metodologia.
4. Indique cinco questões importantes para a sua vida, para as
quais a resposta dependa dos registos climatológicos.

NB: Entregar os exercícios: 3 e 4 desta unidade.


Climatogeografia 11

Unidade II
Natureza e campo da climatologia
Introdução
Conforme mencionamos anteriormente, a climatologia trata dos
padrões de comportamento da atmosfera, verificados durante um
longo período de tempo. Ela está mais preocupada com os
resultados dos processos autuantes na atmosfera do que com suas
operações instantâneas.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Mencionar os Campos da climatologia

 Reconhecer a importância da Climatologia para o


Objectivos desenvolvimento da sociedade.

O campo da climatologia é bastante amplo e pode-se fazer subdivisões,


com base nos tópicos enfatizados ou na escala dos fenómenos
atmosféricos que são ressaltados. Como subdivisões tópicas da
climatologia temos as seguintes, entre outras:

1. Climatologia regional: é a discrição dos climas em áreas seleccionadas


da terra.

2. Climatologia sinóptica: é o estudo do tempo e do clima em uma área


com relação ao padrão de circulação atmosférica predominante.

A climatologia sinóptica é, assim, essencialmente uma nova abordagem


para a climatologia regional.
Climatogeografia 12

3. Climatologia Física: envolve a investigação do comportamento dos


elementos do tempo ou processos atmosféricos em termos de princípios
físicos. Neste, dá –se ênfase à energia global e aos regimes de balanço
hídrico da terra e da atmosfera.

4. Climatologia Dinâmica: enfatiza os movimentos atmosféricos em


várias escalas, particularmente na circulação geral da atmosfera.

5. Climatologia Aplicada: enfatiza a aplicação do conhecimento


climatológico e dos princípios climatológicos nas soluções dos problemas
práticos que afectam a humanidade.

6. Climatologia Histórica: é o estudo do desenvolvimento dos climas


através dos tempos.

Diversas outras subdivisões são reconhecidas na literatura. Estas incluem,


por exemplo, climatologia agrícola, a bioclimatologia, a climatologia das
construções, a climatologia urbana, a climatologia estatística, etc. Estas
subdivisões podem ser enquadradas em uma das seis subdivisões
reconhecidas. A climatologia agrícola, a bioclimatologia, a climatologia
das construções são, por exemplo, aspectos da climatologia aplicada.

Sumário
O estudo dos vastos campos da climatologia não esgota. Das seis
subdivisões tópicas aqui apresentadas aparecem como guia do estudante
para melhor compreender os conteúdos.

Exercícios
1. Faça uma análise exaustiva sobre a importância do estudo
da Climatologia Aplicada para os tempos actuais.
2. Indica a importância da Climatologia agrícola para a
sociedade.
NB: Entregar o exercício: 2 desta unidade
Climatogeografia 13

Unidade III
Factores e elementos climáticos
Introdução
Nesta unidade abordaremos sobre os conceitos de elementos e
factores climáticos.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir elementos e factores climáticos;

 Identificar os instrumentos meteorológicos.


Objectivos

Elementos climáticos

Segundo o Vocabulário Meteorológico Internacional (VMI), um


elemento climático é “ qualquer das propriedades ou condições da
atmosfera que, em conjunto, determinam o estado físico do tempo
ou clima num dado local para um determinado momento ou
período “.

A temperatura do termómetro seco, a temperatura do termómetro


molhado, a velocidade vectorial do vento, a nebulosidade, as
rajadas do vento, a visibilidade, a humidade do solo, o índice do
conforto humano, etc, são todos elementos climáticos de acordo
com a definição dada no VMI.

Não são os valores assumidos pelas variáveis, mas sim elas


próprias, que constituem os elementos climáticos. A temperatura do
termómetro molhado, é uma variável e é um elemento climático;
mas 18˚c não é um elemento climático.
Climatogeografia 14

Factores climáticos

De acordo com o VMI, factores climáticos, são “ certas condições


físicas diferentes dos “elementos climáticos” que controlam o clima
(latitude, altitude distribuição de terras e mares, topografia,
correntes oceânicas, etc.) ”. Assim, factores climáticos são agentes
geradores ou influenciadores, que provocam as condições, ou os
valores dos elementos que constituem o clima.

Sumário
Os factores climáticos são agentes geradores ou influenciadores,
que provocam as condições, ou os valores dos elementos que
constituem o clima.

Factores climáticos, são certas condições físicas diferentes dos


elementos climáticos que controlam o clima. O elemento climático
é qualquer das propriedades ou condições da atmosfera que, em
conjunto, determinam o estado físico do tempo ou clima num dado
local.

Exercícios
1. Dos elementos que seguem diga quais são , os elementos
climáticos e factores climáticos?

a) Altura da estação acima do nível do mar, ou altitude da


estação

b) Direcção do vento

c) Latitude da estação

d) Temperatura do ponto de orvalho

e) Precipitação média mensal


Climatogeografia 15

f) Média anual do número de dias com temperatura


superior a 35°c.

2. O clima é a síntese dos factores e elementos do clima.


Argumente?

NB. Entregar o exercício: 2 desta unidade.


Climatogeografia 16

Unidade IV
Observações meteorológicas
Introdução
Nesta unidade abordaremos questões ligadas as observações
meteorológicas, a natureza das observações e sobre os diferentes
tipos de observações.

Falaremos ainda de instrumentos fundamentais em meteorologia


Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Caracterizar observações meteorológicas;


 Identificar os diferentes tipos de observações
meteorológicas;
Objectivos
 Identificar os instrumentos meteorológicos.

Observações Meteorológicas

Para realizar um estudo científico da atmosfera é necessário, em


primeiro lugar, recolher e organizar dados meteorológicos. Muitas
das observações podem ser executadas aplicando simplesmente os
órgãos dos sentidos, especialmente o da vista. Por exemplo, pode-
se observar a quantidade de nuvens presentes no céu. Essas
observações chamam-se observações sensoriais.

Frequentemente, no entanto, torna-se necessário recorrer a


instrumentos como prolongamento dos sentidos. Por exemplo,
podemos ler um termómetro para determinar a temperatura do ar.
As observações deste tipo chamam-se observações instrumentais.
Climatogeografia 17

As observações dos diversos elementos meteorológicos são


executadas nas estações de observação meteorológica.

Classificação das estações

As estações meteorológicas podem ser classificadas do seguinte


modo:
(a) Estações sinópticas
(b) Estações climatológicas
(c) Estações de meteorologia aeronáutica
(d) Estações de meteorologia agrícola
(e) Estações especiais

Estações sinópticas são aquelas que se executam observações


meteorológicas para efeitos de meteorologia sinóptica, que é o
ramo da meteorologia que se ocupa da descrição do tempo real,
baseada nas observações marcadas nas cartas geográficas. A
finalidade deste estudo é a previsão das futuras evoluções do estado
do tempo.

Estações climatológicas servem para obtenção de dados


meteorológicos de interesse para fins climatológicos. O clima
correspondente ás condições meteorológicas consideradas num
período de longa duração.

Estações de meteorologia aeronáutica, estas localizam-se nos


aeroportos, criadas para responder às necessidades especiais da
aviação.

Estações de meteorologia agrícola ocupam-se da agricultura no


sentido mais lato, incluindo horticultura, criação de animais e
Climatogeografia 18

silvicultura. Estas estações executam observações especiais do


meio físico, assim como observações de natureza biológica.

Estações especiais são criadas para avaliar acontecimentos


meteorológicos particulares. Incluem estações para observação de
perturbações atmosféricas, detecção de hidrometeoros por meio de
radar, hidrologia, medição da radiação, etc.

Os diferentes tipos de observações

Os elementos meteorologicos observados nas estações


meteorologicas dependem dos fins a que se destinam as
observações. Os pormenores são os seguintes:
(a) Observações sinópticas
Em todas estações da rede sinóptica executam-se
observações dos seguintes elementos:
i. Tempo presente e tempo passado;
ii. Direcção e velocidade do vento;
iii. Quantidade, tipo ou tipos e altura das bases das
nuvens;
iv. Visibilidade;
v. Temperatura do ar;
vi. Humidade;
vii. Pressão atmosférica;
viii. Características e tendência da pressão atmosférica;
ix. Quantidade de precipitação;
x. Estado do solo;

(b) Observações Climatológicas


Nas estações climatológicas principais são executadas
observações de todos ou da maior parte dos seguintes
elementos:
Climatogeografia 19

i. Estado do tempo;
ii. Vento;
iii. Visibilidade;
iv. Temperatura do ar;
v. Humidade;
vi. Pressão atmosférica;
vii. Precipitação;
viii. Insolação;
ix. Temperatura do solo.

(c) Observações de meteorologia aeronáutica


As observações executadas nos aeródromos satisfazem as
necessidades especiais da aviação, as quais serão tratadas na
parte dedicada à meteorologia aeronáutica. As observações
sinópticas e climatológicas também podem ser executadas
nos aeródromos.

(d) Estações de meteorologia agrícola


O programa de observações numa estação meteorológica
agrícola inclui observações do meio físico, tais como:
i. Temperatura e humidade do ar a diferentes níveis;
ii. Temperatura do solo;
iii. Conteúdo de humidade do solo s diversas
profundidades;
iv. Turbulência e mistura de ar nas camadas baixas;
v. Hidrometeoros e outros factores de equilíbrio da
humidade;
vi. Insolação e radiação.

(e) Observações especiais


A natureza dos elementos meteorológicos observados em
estações especiais depende do fim para que foi criada a
estação. No entanto, as observações incluem:
Climatogeografia 20

i. Registo, com equipamento simples, da duração da


insolação;
ii. Medições da evaporação;
iii. Registo contínuo da radiação solar global e cósmica
numa superfície horizontal.

Horas das observações

Como regra geral, é preciso proceder tão rapidamente quanto


possível á estimativa dos elementos que constituem uma
observação sinóptica de superfície.

No caso de uma observação sinóptica de superfície, a hora real da


observação é a hora a que se procede a leitura do barómetro.

A hora da observação, é por acordo internacional, a hora indicada


nas resoluções da OMM (Organização Meteorologica Mundial).

A hora oficial da observação, é a hora oficial determinada pelo


serviço meteorológico competente. É conveniente que esta hora
seja o mais próximo possível da hora da observação.

Em meteorologia é conveniente utilizar o relógio de 24 horas. A


meia-noite é 0000 ou o começo de um novo dia. Portanto, 0600
serão 6 horas da manha e 1800 serão 6 horas da tarde. Note-se que,
para designar a meia-noite, não se usa 2400.

As observações sinópticas devem ser executadas em todo o mundo


de acordo com uma hora universal, que são 0000, 0600, 1200 e
1800 TMG, com observações intermédias às 0300, 0900, 1500, e
2100 TMG.

As horas das observações Climatológicas são 0900, 1500 e 2100


TMG.

Funções dos observadores


Climatogeografia 21

São as seguintes as funções dos observadores:


 Manter os instrumentos em bom estado,
 Mudar os gráficos dos instrumentos registadores,
 Executar as observações sinópticas e climatológicas com
devido rigor,
 Codificar e transmitir os resultados das observações,
 Elaborar os registos semanais e / ou mensais dos dados
climatológicos.

Instrumentos Meteorológicos

Localização e exposição dos instrumentos meteorológicos

A localização dos instrumentos meteorológicos deve ser tal que


permita que as condições do ambiente se encontrem bem
representadas. Assim, deve encontrar-se afastado da influencia
imediata das arvores e edifícios e tanto quanto possível, não deve
estar situado sobre vertentes inclinadas, cumes, penhascos ou
covas, nem na sua proximidade.

Esta regra não é aplicável aos instrumentos destinados a medir a


precipitação. Estes exigem uma distribuição conveniente de árvores
e arbustos ou seu equivalente, para servirem de protecção contra
vento. Por outro lado, estas obstruções não devem ser tais que
gerem turbulência, o que seria inconveniente para observações.

Em geral, as estações climatológicas devem estar situadas num


local e sob condições que permitam o funcionamento contínuo da
estação durante, pelo menos dez anos. A exposição deve
permanecer inalterada durante, um período de longa duração.

Nas estações de meteorologia aeronáutica é necessário ter cuidado


com a colocação dos instrumentos, a fim de assegurar que os
Climatogeografia 22

valores sejam, tanto quanto possível, representativos das condições


existentes no aeródromo ou perto dele.

De forma semelhante, as estações de meteorologia agrícola devem


estar situadas num local representativo das condições agrícolas e
naturais da região.

Características recomendáveis dos instrumentos


meteorológicos

As características mais importantes que os instrumentos


meteorológicos devem possuir são:
 A regularidade de funcionamento;
 A precisão;
 A simplicidade de concepção;
 A facilidade de utilização e de manutenção;
 A robustez de construção.

Os elementos observados com recurso a instrumento


meteorológico:
 Duração da insolação;
 Temperatura do ar, da água e do solo;
 Pressão atmosférica;
 Humidade;
 Direcção e velocidade do vento à superfície;
 Altura da base das nuvens;
 Evaporação.

Tipos fundamentais de instrumentos meteorológicos

Os instrumentos podem dividir-se em dois tipos fundamentais:


(a) Instrumentos de leitura directa;
(b) Instrumentos registadores.
Climatogeografia 23

Os instrumentos de leitura directa são mais rigorosos, mas as


medições dos elementos meteorológicos só podem ser executadas
durante a leitura. Quando se pretende obter medições a outras
horas, é necessário utilizar instrumentos registadores, que mantém
um registo contínuo das medições. Chama-se instrumentos
registadores. No entanto, estes devem estar o máximo possível livre
de atrito.

Sumário
Para realizar um estudo científico da atmosfera é necessário, em
primeiro lugar, recolher e organizar dados meteorológicos e fazer
as observações meteorológicas usando instrumentos adequado para
cada objectivo da observação

Exercícios
1. Estabeleça a distinção entre observações sensoriais e
instrumentais. Dê um exemplo de cada tipo de observações.

2. Descreva as características essenciais dos seguintes tipos de


estações meteorológicas:

a) Estações sinópticas.

b) Estações climatológicas

3. Estabeleça a distinção entre as seguintes horas de


observação meteorológica:

a) Hora real da observação

b) Hora da observação

c) Hora oficial da observação

NB. Entregar os exercícios: 3 desta unidade.


Climatogeografia 24

Unidade V
Os Sistemas Climáticos
Introdução
A melhor e a mais forte, e bem conhecida flutuação natural do clima, em
escalas interanuais, é o fenómeno ENSO. A Oscilação Sul é uma
flutuação atmosférica de grande escala centrada no Oceano Pacífico
equatorial.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Analisar os fenómenos climáticos;

 Caracterizar o fenómeno Enso;


Objectivos  Descrever os efeitos Enso em Moçambique.

Clima e análise climática

O tempo e o clima estão interligados. Uma ajuda a descrever e


explicar o outro. Enquanto o Tempo refere-se às condições
atmosféricas que existem num dado momento, ou por um período
de tempo relativamente curto, e Clima refere-se às condições de
longo termo descritas pelas médias e extremos do tempo a longo
termo. Clima, por isso, é mais do que uma simples média do tempo.
Descrições do clima devem reconhecer os extremos, frequências, e
a variabilidade dos elementos. Os elementos são os mesmos ambos
para o tempo e clima (temperatura, pressão do ar, vento, humidade,
precipitação, condições do céu, etc.).

Aos aspectos dos mecanismos e papel do controlo climático na


influência e explicação das condições do tempo foram
preliminarmente abordados na unidade anterior. Os mecanismos de
controlo da latitude (relações terra-sol e radiação solar), diferenças
Climatogeografia 25

de terra e água (zonas continentais e marítimas), elevação


(altitude), formações terrestres, correntes oceânicas, padrões
globais de pressão, e a circulação geral da atmosfera (ventos), todos
têm sido usados para descrever as condições do tempo. Este mesmo
mecanismo de controlo, quando suficientemente persistentes
durante anos para ser factor dominante para uma região, torna-se a
base para a descrição do clima duma região. Os termos comuns
para climas, tais como tropical, temperado, polar, árctico,
subtropical e, latitude média todos sugerem ao principal
mecanismo de controlo de latitude sobre um elemento importante -
a temperatura. Clima da montanha sugere o papel da elevação e
relevo. Continental e marítimo como termos para clima implicam
que as massas da terra e massas de água recebem e absorvem a
radiação solar diferentemente.

Uma vez que o tempo está relacionado com o clima, assim o clima
está relacionado com a vegetação. As condições climáticas da
temperatura, humidade, e o brilho do sol têm uma influência
esmagadora sobre a vegetação natural duma região. É importante
ver que muitos termos usados para descrever uma região climática
são nomes para uma região de vegetação também. Tais termos de
vegetação climática incluem savana, floresta tropical, estepe,
Mediterrâneo, deserto, pradaria, mata, taiga, boreal e tundra. As
definições usadas para determinar as fronteiras de alguns tipos de
clima são valores relacionados com a tolerância de vegetação.

Os padrões da precipitação estão também estreitamente


relacionados com os limites de vegetação. A isoiética para a
precipitação anual de 250 mm define claramente as regiões áridas
do mundo, e a isoiética para a precipitação anual de 500 mm é uma
ligeira aproximação de regiões semi-áridas.

Muitos factores podem influenciar as mudanças no clima durante


períodos de centenas a dezenas de milhares de anos. Os níveis de
mudança dos constituintes atmosféricos (dióxido de carbono,
Climatogeografia 26

ozono, matérias de partículas das actividades humanas e


actividades vulcânicas), os efeitos dos seres humanos e animais
sobre o solo e cobertura vegetal da terra (mudando os albedos da
superfície), mudanças na emissão solar (variações na actividade da
mancha solar), e mudanças nos movimentos e alinhamentos da
terra como um planeta no sistema solar (variações orbitais e
deambulações polares) são todas possíveis causas das mudanças
climáticas de longo termo. Alguns destes factores de longo termo
podem mesmo influenciar o tempo actual, embora os problemas na
justificação desta afirmação sejam formidáveis.

O FENÓMENO ENSO (El Niño e La Nña)

Caracterização do fenómeno

Através do Pacífico Tropical, a atmosfera e o oceano são


associados através da troca de calor, humidade e quantidade de
movimento na junção. Os Ventos Alíseos de leste conduzem a água
de superfície quente na direcção oeste e ambos intensificam o
“thermocline” e alimentam energia à convecção, elevando o ar
sobre a Ásia e as ilhas da Indonésia. O ar superior volta e a penetrar
no Pacífico oriental, completando deste modo um ciclo conhecido
como a Circulação de Walker. Durante um evento El Niño
(esquerda) os Ventos Alíseos enfraquecem, o foco da convecção e
da precipitação muda para direcção leste, as temperaturas da
superfície do mar tornam-se mais quente no Pacífico Leste
equatorial e o “thermocline” torna-se menos inclinado. Durante as
condições de La Niña (à direita) os Ventos Alíseos fortificam-se, a
convecção é firmamente ancor:ada sobre a Ásia e as ilhas da
Indonésia, as temperaturas da superfície do mar arrefecem pelo
Pacífico central e oriental. Os ventos Alíseos fortificados penetram
no termoclino no oeste mas causam a subida mais forte de água fria
profunda e um aumento do termoclina para a superfície no leste.
Climatogeografia 27

Condições normais (meio) representam a condição imediata entre


os estados El Niño e La Niña.

Mudanças dramáticas ocorrem de ano para ano além do limite das


estações. O verão ano seguinte é dificilmente o mesmo como o ano
anterior; em alguns locais um inverno terá uma seca e o seguinte
trará cheias. Dado que a estrutura geográfica da terra não muda de
ano para ano e o sol emite quase exactamente a mesma quantidade
de energia dentro e fora dum ano, estas flutuações podem parecer
estranhas. Muito do progresso durante os últimos 100 anos na
compreensão delas centrou-se sobre como a atmosfera e os oceanos
interagem no longo termo. O mais notável neste processo foi a
descoberta da Oscilação Sul atmosférica e mais tarde como ela
interage os oceanos tropicais.

O que são El Niño, La Niña e a Oscilação Sul?

A Oscilação Sul foi primeiro descrito e nomeado na parte inicial do


século 20 pelo Sir Gilbert Walker. Agora é normalmente definido
em outros termos das flutuações mensais e sazonais na diferença de
anomalia de pressão do ar entre Tahiti e Darwin (o Índice de
Oscilação Sul-SOI). O padrão de pressão do ar de superfície de
grande escala balança entre um extremo, com a pressão ao nível do
mar acima do normal sobre a Indonésia e norte da Austrália e
pressão abaixo do normal sobre maior parte do Pacífico oriental
(SOI negativo), e vice-versa.
Climatogeografia 28

Por séculos pescadores das comunidades costeiras do norte de Perú


e Equador têm usado o termo El Niño para descrever um
aquecimento anula das águas do largo do oceano durante
Dezembro (do Espanhol, o tempo de El Niño-o menino ou menino
Cristo). El Niño é agora usado para descrever o extenso
aquecimento da superfície do oceano pelo Pacífico oriental e
central durando três ou mais estações. Quando esta região muda de
temperaturas para baixo do normal, chama-se La Niña.

A Oscilação Sul e o El Niño estão estreitamente ligados um com


outro e são colectivamente chamados como o fenómeno El
Niño/Oscilação Sul. ENSO oscila entre condições quentes (El
Niño), com SOI negativo, e frias La Niña, com SOI positivo. No
século XX houve, usando uma definição para estes eventos, 23
eventos El Niño e 23 eventos La Niña.

O que causa ENSO?

Na primeira descrição da circulação do ar zonal de grande escala


pelo Pacífico (a Circulação de Walker), Walker notou em particular
os Ventos Alíseos Lestes a levantar a humidade pelo Pacífico para
alimentar as chuvas das monções da Austrália e Índia. Na alta
atmosfera, o ar que tiver levantado nas tempestades convectivas
volta para oeste e baixa sobre o Pacífico oriental, completando
assim esta circulação. Walker ligou a força de mudança da
circulação (A Oscilação Sul) com o comportamento das monções
indianas.

O pensamento moderno acerca do ENSO basea-se numa hipótese


primeiro posta em diante por Jacob Bjerknes nos meados da década
60. Ele notou que em condições normais, os persistentes Ventos
Alíseos tropicais ‘empurram’ a água de superfície do oceano para
oeste causando a subida da água fria da superfície ao largo da costa
do Perú. Durante um evento El Niño, o aparecimento da anomalia
Climatogeografia 29

das temperaturas de superfície do mar positiva no Oceano Pacífico


equatorial e oriental é acompanhada pela queda da pressão
atmosférica e uma redução do gradiente da pressão do nível do mar
normal que conduz os Ventos Alíseos. Os ventos Alíseos são
enfraquecidos e a subida da água fria ao largo da costa do Perú é
reduzida, reforçando assim a anomalia da temperatura positiva
inicial.

O efeito final destas interacções dá o aparecimento de grandes


quantidades de água quente despejando lentamente para trás e para
frente pelo Pacífico equatorial e uma grande oscilação leste-oeste
no fornecimento do calor à atmosfera a partir do Oceano Pacífico.
No pico dum evento El Niño, todo o Oceano Pacífico tropical fica
mais quente do que normal e a temperatura global do ar perto da
superfície aquece enquanto o oceano fornece calor à atmosfera. A
enorme capacidade de calor do oceano comparado com a atmosfera
torna-a lenta para responder à forçantes (estações por anos) das
mudanças rápidas do sistema atmosférico (dias a semanas). Esta
enorme diferença em tempos de resposta conduzem à oscilações
auto-sustentáveis no Pacífico tropical que atingem o ponto máximo
cada 2-7 anos produzindo o fenómeno El Niño/La Niña.

Implicações sobre clima no mundo

ENSO é a razão principal para anomalias climáticas que podem


durar uma estação ou mais em muitas partes do mundo. Sobre o
Pacífico Tropical, o enfraquecimento é até reverso do padrão
normal da elevação do ar sobre a Ásia e o ar penetrante no Pacífico
oriental durante um evento El Niño altera a circulação das regiões
tropicais circunvizinhas, especialmente pelo Oceano Índico para
África e sobre América do Sul ao Oceano Atlântico. A mudança na
convecção tropical, e deste modo os locais da atmosfera de
aquecimento dominante, provoca ondas ou impulsos longos nos
ventos oeste das latitudes altas e médias. Estas ondas e impulsos de
Climatogeografia 30

grande escala na atmosfera mudam os locais das correntes de jacto


e as trajectórias de tempestades, alterando padrões de tempo em
regiões muito distante.

Os efeitos do ENSO

Variabilidade climática nos trópicos

As regiões equatoriais recebem mais calor do sol do que as


latitudes médias e altas. Elas comportam-se bem, portanto, como a
máquina de calor para o sistema climático. Qualquer variabilidade
tropical é limitada portanto para ter repercussões fora nas latitudes
mais altas.

O El Niño/Oscilação Sul domina a variabilidade climática tropical


mas há evidências emergentes de associação atmosfera-oceano
similar algures nos trópicos. Pesquisas recentes sugerem a
possibilidade de ambos oceano Atlântico e Índico comportarem de
formas similares. Nenhuns padrões de temperatura de superfície do
mar (SST) tropical destes oceanos estão lado a lado com o ENSO
do Pacífico ou em força ou no alcance global. O Oceano Pacífico
tropical é duas vezes mais extenso do que qualquer um deles e há
maior alcance para áreas maiores de anomalia e maior
deslocamento geográfico. Por conseguinte, o Pacífico tem um
impacto maior, e os modos de variabilidade equatorial das outras
bacias oceânicas têm consequências menos dramáticas sobre o
clima global. Entretanto, eles são uma importante parte da história.

Padrões de Temperatura da Superfície do Mar (SST) do Oceano


Índico

Ao contrário do Oceano Pacífico, o vento de superfície que flui


sobre o Oceano Índico tropical não tem uma componente na
direcção leste persistente. A subida forte da água do mar costeira ao
largo do Corno de África durante as monções do verão fornecem
arrefecimento sazonal das temperaturas de superfície do mar e
Climatogeografia 31

reforça os padrões da pressão da superfície que conduzem os


ventos das monções da Índia. Análise recente de histórico do
oceano e dados atmosféricos sugerem que cada poucos anos ou
mais há uma oscilação Leste para Oeste de águas quentes similares
às dos eventos El Nlño e La Niña do Pacífico. Por exemplo, quando
a temperatura no Oceano Índico ocidental está muito acima do
normal, como foi em 1997, tende a produzir inesperadamente
chuva muito intensa na África Oriental, e condições mais secas na
Indonésia e norte de Austrália. Este comportamento envolve ambos
a mudança na precipitação de larga escala e os Padrões de
Temperatura da superfície do mar (SST). Estes padrões de
variabilidade estão ligados ao ENSO embora a associação ainda
não esteja bem compreendida. Eles podem, contudo, ajudar a
explicar porque a força das monções na Índia e a chuva na África
Oriental têm, por anos, respondido às vezes de forma inesperada
aos eventos El Niño e La Niña no Pacífico.

Padrões de Temperatura da Superfície do Mar (SST) do Oceano


Atlântico

O Oceano Atlântico tem as características de duas grandes bacias


oceânicas ligadas ao equador, além de ser uma simples grande
bacia. Esta diferença significa que é provável mostrar algo
diferente do comportamento interanual em relação aos Oceanos
Pacífico e Índico. Estudos sugerem que o modo dominante de
variabilidade interanual e mais longa no Atlântico tropical é um
padrão bipolar norte-sul de anomalias da temperatura da superfície
do mar e pressões de vento com foco nos paralelos 15° N e 15° S
sobre quais as SSTs oscilam em cada 10 a 20 anos. As variações
dos padrões de temperatura da superfície do mar estão em fase com
o reforço e enfraquecimento dos Ventos Alíseos. As ligações entre
estas flutuações e o ENSO e sua importância no clima dos trópicos
permanecem uma quebra-cabeça. Contudo, é reconhecido que as
Climatogeografia 32

anomalias de temperatura da superfície do mar no Golfo da Guiné


têm uma influência na queda de precipitação no Sahel.

Os efeitos do ENSO-El Niño e ENSO-La Niña em várias partes


do mundo

Às vezes as temperaturas da superfície do mar do Oceano Pacífico


equatorial, central e oriental estão mais quentes ou mais frias que
normal. Estes episódios de aquecimento e arrefecimento
normalmente referem-se respectivamente aos eventos El Niño e La
Niña. Embora o primeiro seja mais conhecido que o segundo,
ambos são aspectos bem conhecidos e parte essencial do EL
Niño/Oscilação Sul (ENSO). As suas ocorrências têm
consequências globais.

ENSO-El Niño

Características

Um evento de El Niño produz um padrão consistente de


temperaturas e precipitação acima e abaixo do normal em todo o
mundo que alteram com as estações. Nos estágios iniciais do seu
desenvolvimento (Junho-Agosto) os efeitos são mais fortes nos
trópicos e nos sistemas de tempo de inverno do hemisfério
sul.Perto do pico do desenvolvimento (Dezembro-Fevereiro) os
impactos mantêm-se dentro dos trópicos mas nas latitudes mais
altas, mudam para afectar os sistemas de tempo do inverno no
hemisfério norte.
Climatogeografia 33

Fig.2. A fase inicial e o pico do desenvolvimento do El Niño

Principais consequências

Durante os episódios de El Niño, os padrões normais de


precipitação e pressão atmosférica tropicais são perturbados. A
convicção e chuvas tropicais estendem-se para Leste pelo Oceano
Pacífico., atingindo as Américas em direcção ao fim do ano.
Enquanto o evento El Niño desenvolve-se de Junho a Setembro
chuva em partes do Sudeste da Austrália é muitas vezes bem
abaixo do normal. Condições mais secas que normal pode também
ser observadas na África Austral durante o inverno austral. A chuva
de monção de verão da Índia e China tende a ser mais errático e
muitas vezes não penetra no noroeste da Índia e norte da China.

Na América do sul, durante os eventos El Niño, actividade de


tempestade anormal traz chuva anormal para a costa central do
Chile, particularmente nos períodos de inverno e primavera austral.
Mais tarde, durante o verão austral, chuvas frequentes e muitas
vezes intensas inundam os subtrópicos leste das Andes
(particularmente nas áreas de captação dos sistema dos rios Paraná
e Paraguai). Durante o verão austral, as regiões costeira do sul de
equador e norte de Perú, normalmente secas, experimentam muitas
vezes chuvas torrenciais. Em contraste, maior parte da Bacia
Climatogeografia 34

Amazónica e a região nordeste do Brasil tornam-se atacadas pela


seca, e chuva é reduzida na Indonésia, Malásia, as Filipinas e norte
da Austrália. As práticas tradicionais de corte e queimadas no norte
da Amazónia e Indonésia têm sido catalisadoras para grandes
incêndios florestais e problemas sérios de saúde provocados pelo
fumo e nevoeiro.

Uma outra consequência dos eventos El Niño é a influência sobre o


desenvolvimento de Ciclones Tropicais em todo mundo. O declínio
da actividade dos furacões no Atlântico tropical e as Caraíbas é
mais óbvia. No oceano Pacífico Oeste, em ambos os lados do
equador, o número de tempestades tropicais não varia
apreciadamente com ENSO mas há uma tendência de eles
formarem-se e recurvarem para latitudes mais altas mais a leste do
que o normal durante os eventos EL Niño. Como resultado,
algumas regiões como as Filipinas e as ilhas do sudoeste do
Pacífico, que dependem da passagem de tempestades tropicais para
chuvas de verão sofrem deficiências durante eventos de El Niño.
Também a actividade de ciclones tropicais normalmente aumenta
no Pacífico oriental e no sudoeste do Pacífico a leste da linha
internacional de mudança de data, enquanto em volta da Austrália a
actividade declina.

O elevado calor da atmosfera tropical no Pacífico central e oriental


também afecta padrões da circulação atmosférica nas altas
latitudes. As correntes de jactos mudam seus locais as depressões
de latitudes médias são dirigidas ao longo de diferentes cursos e
tendências para serem mais vigorosas que normais no Pacífico
nordeste. Aquecimento anormal, humidade de ar é bombada no
oeste de Canadá, Alasca e o extremo norte dos EUA. Temporais
tendem a ser mais frequentes no norte do Golfo do México e ao
longo da costa sudeste dos EUA, resultando em condições mais
húmidas que normal ali.
Climatogeografia 35

ENSO-La Niña
Características
Um evento La Niña também produz um padrão consistente de
temperaturas e precipitação acima e abaixo do normal em todo o
mundo que altera com as estações. Nos estágios iniciais do
desenvolvimento (Junho-Agosto) os efeitos são as mais fortes nos
trópicos e nos sistemas de tempo de inverno do hemisfério sul.
Perto do pico do desenvolvimento (Dezembro-Fevereiro) os
impactos permanecem dentro dos trópicos mas nas latitudes mais
altas, mudam para afectar sistemas de tempo de inverno do
hemisfério norte.

Fig.3. A fase inicial e o pico do desenvolvimento do La Niña


Climatogeografia 36

Principais consequências
Quando o Pacífico muda para um modo La Niña, o efeito é para
suprimir nebulosidade e chuva no Pacífico equatorial, central e
oriental, especialmente nas estações de inverno e primavera do
hemisfério norte. Ao mesmo tempo a chuva é elevada na Indonésia,
Malásia e norte de Austrália durante o verão austral, e nas Filipinas
durante o verão do norte. Condições mais húmidas que a média são
também observadas na África Austral e o norte do Brasil durante a
estação de verão austral, enquanto o sul do Brasil e Argentina
central tendem a ser mais secas que o normal nas suas estações de
inverno. Durante o verão do norte, as Caraíbas e o norte da
América do Sul são normalmente mais frias e húmidas que o
normal.

Os eventos La Niña têm uma influência pronunciada durante o


inverno e primavera austral na maior parte da Austrália, produzindo
chuva bem acima da média, especialmente no leste do continente.
No verão nortenho, as monções na Índia tendem a ser mais fortes
que normal, especialmente no noroeste.

Em muitos locais, o impacto de eventos La Niña sobre a actividade


de tempestades tropicais em todo o mundo tende a ser o reverso de
eventos El Niño, com o número de tempestades aumentando no
Atlântico tropical e a região de génese no Pacífico noroeste
mudando para oeste. Ainda mais a norte, sistemas de baixas
pressões de latitudes médias tendem a ser mais fracas que normal
na região do Golfo de Alasca. Isto favorece o ar mais frio no
Alasca e o Canadá ocidental, que muitas vezes penetra no noroeste
dos EUA. O sudeste dos EUA, pelo contrário, torna-se mais quente
e mais frio que normal.
Climatogeografia 37

Sumário
El Niño é usado para descrever o extenso aquecimento da
superfície do oceano pelo Pacífico oriental e central durando três
ou mais estações. Quando esta região muda de temperaturas para
baixo do normal, chama-se La Niña.

Durante um evento El Niño, os Ventos Alíseos enfraquecem, o


foco da convecção e da precipitação muda para direcção leste, as
temperaturas da superfície do mar tornam-se mais quente no
Pacífico Leste equatorial e o “thermocline” torna-se menos
inclinado. Durante as condições de La Niña (à direita) os Ventos
Alíseos fortificam-se, a convecção é firmamente ancorada sobre a
Ásia e as ilhas da Indonésia, as temperaturas da superfície do mar
arrefecem pelo Pacífico central e oriental. Os ventos Alíseos
fortificados penetram no termoclino no oeste mas causam a subida
mais forte de água fria profunda e um aumento do termoclina para
a superfície no leste. Condições normais representam a condição
imediata entre os estados El Niño e La Niña.

Exercícios
1. Defina o fenómeno Enso?
2. Faça uma breve caracterização do fenómeno Enso?
3. Quais os factores que concorrem para o surgimento do
Enso?
4. Que consequências o Enso trazem para os climas do
mundo?

NB. Entregar os exercícios: 1 e 3 desta unidade.


Climatogeografia 38

Unidade VI
Efeitos de Enso em Moçambique
Introdução
Nesta unidade falaremos dos efeitos do ENSO em Moçambique.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar os efeitos negatives do Enso.

Objectivos

Os efeitos do ENSO em Moçambique

Vários estudos levados a cabo mostram que a variabilidade


interanual da precipitação é o factor determinante da variabilidade
de colheitas e produção agrícola nas regiões de clima tropical. Por
outro lado, há provas que maior parte da variabilidade interanual de
chuva em Moçambique está associada à eventos de ENSO.

A fase fria (La Niña) causa chuva acima da média climatológica,


enquanto a fase quente (El Niño) origina chuva abaixo da média e
consequentemente provoca temporadas de seca.
Climatogeografia 39

ENSO- El Niño em Moçambique

A influência do El Niño sobre os padrões de precipitação em


Moçambique está resumidamente ilustrada nas figuras a baixo. As
mesmas fornecem o espectro das anomalias observadas nas regiões
norte, centro e sul do país, como resultado do fenómeno, num
período e meses de estudo iguais.

Fig.4. anomalias de precipitação observadas na parte norte do país


A figura representa as anomalias de precipitação observadas na
parte norte do país, de Janeiro a Março, entre 1961 e 2002, em
relação aos valores normais durante os episódios El Niño. Pode ser
visto que os valores registados estão largamente a baixo da média
climatológica (590.6mm) nos anos de episódios de EL Niño.
Climatogeografia 40

A figura 2 mostra as anomalias de precipitação observadas na parte


central do país, de Janeiro a Março, entre 1961 e 2002, em relação
aos valores normais durante os episódios El Niño. Pode ser
observado que os valores de precipitação registados estão
largamente a baixo da média climatológica (631.1mm) nos anos
dos episódios El Niño. Nos 14 anos de El Niño, apenas três valores
de precipitação registados estão acima do normal.

Precipitação actual registada (%) com relação a precipitação


normal durante os eventos El Niño, na região central (JFM)

A figura 3 representa a anomalias observadas na parte sul do país,


de Janeiro a Março, entre 1961 e 2002, em relação aos valores
normais dos os episódios El Niño. Pode-se observar que os valores
registados estão grandemente a baixo da média climatológica
(631.1mm) nos anos dos eventos El Niño. Nos 14 anos de El Niño,
apenas três valores acima do normal foram registados.

Precipitação actual registada (%) com relação a precipitação


normal durante os eventos El Niño, na região sul (JFM)

Segundo o Boletim do Sistema Nacional de Aviso Prévio para a


Segurança alimentar, referenciado por um estudo (Benessene, M.;
2002), o efeito do fenómeno El Niño sobre a produção de cereais
em Moçambique pode ser dramático. Por exemplo, em 1989/90 as
estimativas de produção de produção de cereais no país foram de
Climatogeografia 41

691.000 toneladas, enquanto em 1991/2, como uma consequência


da seca que afectou o país naquela época da cultura, a produção de
cereais atingiu apenas 227.000 toneladas, representando menos que
um terço da produção do ano anterior. Durante a época 1994/5,
também afectada pelo eventos ENSO, estima-se que cerca de
200.000 toneladas foram perdidas como consequência das
temporadas de secas que afectaram as regiões sul e centro do país.

ENSO- La Niña em Moçambique

A influência do fenómeno La Niña sobre os padrões de


precipitação é bem conhecida. Sabe-se muito bem também que a
ocorrência do fenómeno La Niña está associado ao aumento da
frequência de ciclones tropicais que se formam no Oceano Índico,
atravessa o Madagáscar e atingem Moçambique. Um dos efeitos
imediatos dos tais ciclones são as cheias, que podem também ser
causadas pela actividade da ZCIT e pela chuva intensa além das
fronteiras do país (uma vez que maior parte dos rios de
Moçambique nascem em países à montante e fluem para o oceano
Índico depois de atravessar o território nacional).

Por exemplo, as cheias que tiveram lugar nos anos de 1965, 1971,
1974, 1984, 1989, e as mais recentes e devastadoras de 2000 e
2001, estavam associadas com La Niña. As cheias de Janeiro e
Fevereiro de 2000 danificaram e destruíram muitos hectares de
terra e culturas, causaram mortes e danos incontáveis,
principalmente nos rios Zambeze, Púnguè, Búzi, Save, Limpopo e
Incomáti, que inundaram vastas áreas das suas bacias e terras
baixas perto da costa.
Climatogeografia 42

Fig.4. As drámaticas e históricas cheias do ano 2000 foram uma consequência


dos eventos La Niña
A figura representa a anomalias observadas na parte norte do país,
de Janeiro a Março, entre 1961 e 2002, em relação aos valores
normais dos os episódios La Niña. Pode-se observar que os valores
registados estão grandemente a baixo da média climatológica
(590.6mm) nos anos dos eventos La Niña.

Precipitação actual registada (%) com relação a precipitação


normal durante os eventos La Niña, na região norte (JFM)

A figura 5 representa a anomalias observadas na região centro do


país, de Janeiro a Março, entre 1961 e 2002, em relação aos valores
normais durante os episódios La Niña. Pode-se observar que os
valores registados estão grandemente acima da média climatológica
(631.2mm) nos anos dos eventos La Niña.
Climatogeografia 43

Precipitação actual registada (%) com relação a precipitação


normal durante os eventos La Niña, na região centro (JFM)

A figura 6 representa a anomalias observadas na região sul do país,


de Janeiro a Março, entre 1961 e 2002, em relação aos valores
normais durante os episódios La Niña. Pode-se observar que os
valores registados estão largamente abaixo da média climatológica
(397.2mm) nos anos dos eventos La Niña.

Resumo dos efeitos do ENSO em Moçambique

Analisando resumidamente os dados representados nos gráfico


conclui-se que em Moçambique maior parte da variabilidade
interanual da precipitação está associada aos eventos El Niño e La
Niña. A fase fria (La Niña) produz precipitação acima da média e
Climatogeografia 44

eventualmente cheias, enquanto a fase quente (El Niño) produz


precipitação abaixo da média e consequentente secas.

El Niño e La Niña são oscilações normais, previsíveis a partir das


temperaturas da superfície do mar, em que o homem não pode
interferir. Eles são fenómenos naturais, variações normais do clima
da terra, que existem há milhares de anos e continuarão a existir.

Sumário
Analisando resumidamente os dados representados nos gráfico
conclui-se que em Moçambique maior parte da variabilidade
interanual da precipitação está associada aos eventos El Niño e La
Niña. A fase fria (La Niña) produz precipitação acima da média e
eventualmente cheias, enquanto a fase quente (El Niño) produz
precipitação abaixo da média e consequentes secas.

Exercícios
1. Faça uma análise sobre a influência do Enso em
Moçambique?

NB. Entregar o exercício: 1 desta unidade


Climatogeografia 45

Unidade VII
Climas da terra
Introdução
Até aqui têm sido descritos vários elementos do clima em
correlação com os diversos factores que os condicionam. Contudo,
na natureza não ocorrem fenómenos isolados. Todos eles agem em
inter-relações e interconexões muito complexas.
Da interacção dos vários elementos e factores do clima num
determinado lugar resulta um dado clima, cujas características
serão dadas por esses elementos do clima.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar os tipos de clima

 Caracterizar os tipos de clima;


Objectivos

Classificação dos tipos de clima


Geralmente, aos tipos de clima corresponde uma determinada zona
da terra com um determinado tipo de cobertura vegetal, tipo de
solo, comportamento dos cursos de água.

De modo a cobrir todos os tipos de clima existentes na terra, opta-


se por uma simplificação da classificação, na qual inclui os
seguintes tipos climáticos:
 Climas quentes
 Climas temperados
 Climas frios
 Climas de altitude
Climatogeografia 46

Estes tipos de clima apresentados acima, distribuem-se à superfície


atendendo a latitude e a continentalidade, ou, seja, eles estendem-se
do Equador aos pólos e do litoral ao interior dos continentes.

Características dos tipos de clima e a sua localização

Climas Quentes:

Clima equatorial

É um tipo de clima que se localiza numa faixa estreita ao longo do


equador, em média até 5˚, tanto a Norte como a sul.

Encontra-se principalmente na bacia do rio Congo, em África, nas


ilhas da insulíndia e ainda parte da costa oriental da América
Central, Brasil e Madagáscar.

A precipitação é abundante ao longo de todo o ano sobretudo no


período da tarde, após a passagem do sol pelo zénite, não existindo
desse modo um período tipicamente seco, com a média superior a
60 mm de chuva e é essencialmente do tipo convectivo.

A temperatura compreende as médias mensais superior a 20˚C, e,


como tal a amplitude térmica é baixa, em geral inferior a 5˚C.
Porém, o mesmo não se verifica com a amplitude diária, porque é
sensivelmente superior a 10˚C.

O vento é fraco e , por vezes, reina a calma absoluta. É assim uma


região pouco ventilada, o que o torna mais difícil suportar a
temperatura elevada e a forte humidade.

Clima tropical

Este tipo de clima localiza-se ao Norte e sul do clima equatorial,


ou, melhor, circunda-o, de um modo geral, entre os 5˚ e 25˚ de
latitude Norte e Sul.
Climatogeografia 47

As regiões do globo que possuem este tipo de clima são a


Venezuela, parte da Colômbia, todo o interior do Brasil, o Sudão, a
África Oriental e parte da África Austral e o Norte de Austrália. Na
Índia e Indochina, o clima é determinado pelas monções.

À medida que se afasta do Equador, diminui o período da estação


húmida e aumenta a estação seca, até alcançar o clima semi-
desértico e desértico.

Deste modo, considera-se o clima tropical como um clima de


transição entre o equatorial bastante húmido e o desértico bastante
seco.

De acordo com a duração do período seco, pode-se distinguir um


clima tropical húmido, aquele que apresenta uma estação húmida
mais longa que a seca, cerca de 7 meses ao ano, e um clima tropical
seco, aquele que apresenta uma estação húmida mais curta que a
seca, de cerca de 5 meses.

A temperatura mantêm-se igualmente elevada durante todo o ano,


porque o sol não está muito longe do zénite e os dias e as noites
não apresentam grande variação ao longo do ano. As médias
mensais mantêm-se sempre superiores a 18˚C.

A precipitação em média corresponde a 1000 mm do tipo


convectivo acompanhada de trovoadas violentas.

Clima desértico

Este tipo de clima, estendem-se entre os 15˚ e 30˚ de latitude, quer


Norte, quer sul, na zona de altas pressões tropicais e de subsidência
do ar. Regra geral não alcança a margem oriental dos continentes
devido aos ventos alísios e as correntes marítimas quentes.
Abrangendo essencialmente o Norte do México, e o Sueste dos
Estados unidos, todo o Norte de África e parte de África do Sul
(Calahari), a Arábia, o irão, o Paquistão, todo o interior da
Austrália, o litoral do Perú e do Chile.
Climatogeografia 48

Este clima é caracterizado por temperaturas elevadas e aridez


acentuadas. A amplitude térmica diurna pode alcançar 20˚C. Na
estação quente, durante o dia, a temperatura pode alcançar mais de
40˚C. À noite o arrefecimento é brusco, na ordem de 16˚C e na
estação fria a temperatura à noite desce até 0˚C.

A precipitação, em geral, é inferior a150 mm anuais e por vezes é


quase nula.

Climas temperados:

Clima subtropical húmido

Localiza-se entre os 25˚ e 35˚ de latitude Norte e Sul, do lado


oriental dos continentes. Abrange todo o sul dos Estados Unidos,
todo o Sul e Centro da China, o Norte da Argentina, o Uruguai, o
Sul do Paraguai e do Brasil, a Costa oriental da África do Sul e da
Austrália.

Este clima caracteriza-se por ter um verão quente e húmido e um


inverno muito suave, em geral também húmido.

A temperatura é elevada no verão e a média do mês mais quente


ultrapassa 22˚C. No inverno, a temperatura é muito suave, anda a
volta de 10˚C, não descendo abaixo de 0˚C, no mês mais frio.

A precipitação é abundante, superior a 750 mm, de origem


convectiva. Esta zona é bastante afectada por tufões e furacões que
assolam principalmente no princípio de Outono. No inverno é
essencialmente do tipo frontal.

Clima mediterrâneo

Também é conhecido por clima subtropical seco; estende-se entre


30˚ a 40˚ latitude, Norte e Sul de lado ocidental de continentes.
Abrange a bacia do Mediterrâneo, o centro e sul da Califórnia,
centro do Chile, extremo sul de África Austral e da Austrália.
Climatogeografia 49

Caracteriza-se por apresentar um verão quente e praticamente seco,


e um inverno húmido e suave.

A temperatura do mês mais quente é superior à 22˚C e a do mês


mais frio não alcança 0˚C.

A precipitação anda em média à volta dos 500 mm, concentrando-


se nos meses de inverno, devido à deslocação em latitudes das
faixas de altas pressões subtropicais no verão e os centros
depressionários que invadem esta região no inverno. Daí que a
precipitação seja do tipo frontal.

Clima temperado marítimo

Estende-se entre os 40˚ e 60˚ de latitude, Norte e Sul, do lado


ocidental dos continentes. Abrange a Europa Ocidental desde o
Norte da Espanha até ao sul da Escandinávia, o litoral noroeste dos
Estados Unidos e Sudoeste do Canada, o litoral do Chile, parte da
África do sul, a ponta Sueste da Austrália, a Tasmânia e a Nova
Zelândia.

Este tipo de clima apresenta as seguintes características: a


temperatura média do mês mais quente não ultrapassa 22˚C. O
inverno apresenta temperaturas não muito baixas, o que fica a
dever-se a influência da corrente marítima quente do golfo do
México e a Deriva do Atlântico Norte.

A precipitação vária de região para região, nas planícies, é apenas


de 750 mm e nas montanhas, de 3,500mm, essencialmente do tipo
frontal.

Clima Temperado Continental

Situa-se a norte dos climas subtropicais e a oriente do clima


marítimo. Estende-se entre 35˚ e 45˚ de latitude Norte. Encontra-se
no interior dos continentes, abrange o Norte, Leste e Centro dos
Climatogeografia 50

Estados Unidos, a Coreia, o Centro do Japão, o interior da Europa e


o interior Norte da Ásia.

Este clima apresenta o verão quente sendo a temperatura superior a


22˚C no mês mais quente e o inverno é bastante frio.

A precipitação só é abundante nas terras altas, onde pode


ultrapassar 750 mm e é de origem convectiva.

Climas Frios

Clima frio continental

Situa-se ao Norte do clima temperado continental, entre 45˚ e 60˚


de latitude Norte. Abrange a Europa Oriental, em particular a
Polónia, a Rússia, uma estreita faixa do interior da Sibéria a
latitude de 55˚, norte da Manchúria e do Japão, o norte dos Estados
Unidos, o sul do Canada.

A temperatura é muito baixa no inverno, em média inferior a 0˚C,


e no verão não ultrapassa 22˚C, no mês mais quente.

A precipitação é reduzida, inferior a 750 mm, e tende a concentrar-


se no verão, a maior parte é do tipo frontal.

Clima Desértico frio

Localiza-se no interior dos grandes continentes e por vezes


originado pela barreira montanhosa que impede a entrada de ventos
marítimos, como é o caso da Mongólia e da Grande Bacia no Oeste
dos Estados Unidos.

Este tipo de clima é caracterizado por ter um verão quente e um


inverno bastante frio. A secura é enorme.

Apresenta temperaturas com grandes amplitudes anuais, uma vez


que o verão é bastante quente, e o inverno extremamente frio.
Climatogeografia 51

A precipitação é escassa, em média inferior a 150 mm, porque a


humidade é escassa e as chuvas são de origem convectiva.

Clima subárctico

Localiza-se entre as latitudes de 55˚ a 65˚ Norte. O seu limite norte


é determinado pela isotérmica de 10˚C para o mês mais quente.
Abrange a Suécia, Finlândia, o Norte da Rússia, o norte da Sibéria,
seguindo uma faixa que se vai alargando continuamente para
Oriente até ao pacífico, o Alasca e quase todo o Canadá.

As temperaturas são pouco elevadas, onde a média do mês mais


quente ultrapassa 10˚C, num período de apenas três meses. Nesse
período as temperaturas diurnas podem alcançar 20˚C e os dias são
muito longos.

A precipitação é escassa, inferior a 500 mm, que tende a


concentrar-se no verão, devido à humidade que é alta nessa estação
e são do tipo frontal, e concentram-se mais no verão do que no
inverno, porque nesse período dominam no interior dos
continentes, a estas latitudes, os anticiclones, que impedem as
precipitações.

Clima polar

Fica situado nas regiões de alta latitude, portanto na zona polar. É


limitado a sul pela isotérmica de 10˚C para o mês mais quente, o
mesmo que dizer que neste clima, nenhum mês possui temperaturas
médias superiores a 10˚C.

Abrange o extremo norte da Sibéria, do Alasca e Canada, toda Ilha


da Groenlândia e a maior parte da Islândia; no hemisfério Sul,
encontra-se na Antárctida.
Climatogeografia 52

Consideram-se dois tipos de clima polar: o clima tundra, e o clima


das regiões geladas, separadas pela isotérmica de 0˚C para o mês
mais quente.

No inverno permanente, as temperaturas são baixíssimas. A média


anual é de -32˚C, na Gronelândia, e de -35˚C, no interior da
Antárctida.

A precipitação é muito escassa, em geral, inferior a 250 mm,


devidos as temperaturas baixas, no verão, e altas pressões no
inverno, facto que favorece a evaporação. A precipitação é quase
toda sob a forma de neve.

Climas de altitude

Esta faz-se incidir quer em latitudes baixas ou altas quer em regiões


litorais ou interiores.

A temperatura diminui com altitude porque a quantidade de


dióxido de carbono, vapor de água, poeiras, diminui, logo, o calor
também como se regista a diminuição do calor libertado pela terra.

Em média o decréscimo é de 6˚C/1000 m.

A precipitação aumenta até os 3000 metros de altitude, a partir daí


começa a decrescer, pois a retenção do vapor de água diminui
porque as temperaturas diminuem e grande parte dele condensa-se
a baixa altitude.

Sumário
Geralmente, aos tipos de clima corresponde uma determinada zona
da terra com um determinado tipo de cobertura vegetal, tipo de
solo, comportamento dos cursos de água, na qual distribuem-se à
superfície atendendo a latitude e a continentalidade, ou, seja, eles
Climatogeografia 53

estendem-se do Equador aos pólos e do litoral ao interior dos


continentes.

Exercícios
1. Indique as principais regiões abrangidas pelo clima
Equatorial e Tropical.
2. Os desertos localizam-se entre os 15° e 30° de latitude.
Porque?
3. Explique o significado da isotérmica de 10°C para o mês
mais quente do ano?
4. Compare o clima tropical húmido com o clima tropical
seco?

NB. Entregar os exercícios: 1 e 3 desta unidade.


Climatogeografia 54

Unidade VIII
Classificação Climática de Koppen
Introdução
Nesta unidade falaremos classificação climática do Koppen.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Caracterizar os climas Segundo Koppen

 Conhecer a classificação climática de Koppen


Objectivos

Classificação climática de Koppen

Nesta classificação cada tipo de clima é representado por uma


combinação de letras, cada uma com o seu significado
climatológico.

A – Climas tropicais húmidos

B – Climas secos

C – Climas temperados Húmidos

D – Climas boreais

E – Climas polares

F – climas das regiões geladas

Portanto, Koppen levanta o significado de cada uma destas letras,


em que as letras maiúsculas significam:

A – Que o mês mais frio é superior a 18˚C, ou seja, nenhum mês


tem temperatura média inferior a 18˚C – são climas quentes.
Climatogeografia 55

B – A precipitação é inferior à evaporação – são climas secos.


Porém, ele se subdivide em

BS – Climas de estepe

BW – Climas desérticos

Os seus limites são dados por relações empíricas, com base na


temperatura e precipitação.

C – O mês mais frio é inferior a 18˚C, mas superior a 3˚C e que o


mês mais quente é superior a 3˚C e que o mês mais quente é
superior a 10˚C. São climas temperados.

D – O mês mais frio é inferior a 3˚C e o mais quente superior a


10˚C. São climas muito frios.

E – O mês mais quente é inferior a 0˚C, ou seja, nenhum mês a


temperatura média é superior a 0˚C. São climas extremamente
frios.

Para fácil compreensão dos critérios tomados para a definição dos


limites dos principais tipos climáticos, apresentam-se os seguintes:
 A isotérmica de 18˚C para o mês mais quente, corresponde
ao limite de certas plantas tropicais, que necessitam de
temperaturas altas durante todo ano;
 A isotérmica de 10˚C para o mês mais quente corresponde
precisamente ao limite polar das florestas;
 A isotérmica de -3˚C para o mês mais frio é o limite do
permafroste – solo permanentemente gelado em
profundidade.

Estes seis tipos climáticos são subdivididos, por sua vez, tomando
em consideração a precipitação e, depois, de acordo com a
temperatura. De igual modo, usam-se várias letras minúsculas, com
significado climatológico concreto.

Assim, tem-se para os climas do tipo A, C, e D.


Climatogeografia 56

w – estação seca no inverno (do winter)

s – estação seca no verão ( do summer)

f – nenhuma estação seca ( do fehlf – falta)

m – estação seca curta no inverno ( do monsim – Monção)

Mas, para os restantes tipos climáticos, C e D, usam-se as seguintes


letras:

a – temperatura do mês mais quente superior a 22˚C.

b – temperatura do mês mais quente inferior a 22˚C, mas pelo


menos com 4 meses superior a 10˚C.

c – apenas 1 a 4 meses superior a 10˚C, sendo o mês mais frio


superior a -38˚C.

No caso dos climas D tem-se:

h – tempertura anual superior a 18˚C (do heiss – quente)

k – temperatura anual inferior a 18˚C, mas o mês mais quente é


superior a 18˚C (do kalt – frio)

Na classificação de KOPPEN, cada clima é representado por um


conjunto de letras, cada uma com um significado muito preciso e
por sua vez com certo tipo de características.

Por exemplo, para Moçambique tem-se Awa, clima tropical


húmido no litoral, em que o mês mais frio é superior a 18˚C,
portanto, não há nenhum mês com temperaturas inferiores a 18˚C e
com a estação seca no inverno, ou seja, só chove na estação quente
(verão) e a temperatura do mês mais quente é superior a 22˚C.
Aparece também o tipo climático Csw, o clima de altitude, o Bsh –
clima semi-desértico, etc.
Climatogeografia 57

Sumário
Na classificação de KOPPEN, cada clima é representado por um
conjunto de letras, cada uma com um significado muito preciso e
por sua vez com certo tipo de características.

Exercícios
1. Enumere os critérios para a classificação de Koppen?
2. Indique os três tipos de clima de Moçambique na
classificação de Koppen?

NB. Entregar o exercício: 1 desta unidade.


Climatogeografia 58

Unidade IX
Atmosfera Terrestre
Introdução
A atmosfera é uma camada heterogénea, pois nela se verificam
variações térmicas quer, no tipo de gases que a compõe, quer nos
fenómenos físicos e outros.

Desse modo importa conhecer a atmosfera, bem assim os


fenómenos que nela se verificam, considerando-se a superfície
terrestre, os oceanos e os continentes e ilhas, como sendo o seu
limite inferior e é indeterminado o limite superior.

Nesta unidade trataremos assuntos relacionados com a composição


da atmosfera, o conceito e importância do estudo da atmosfera e
ainda falaremos sobre as características da camada da atmosfera.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir o conceito atmosfera;

 Conhecer a importância do estudo da atmosfera;


Objectivos  Identificar os componentes da atmosfera;

Atmosfera terrestre

Conceito e Importância do estudo da atmosfera

O globo terrestre encontra-se envolvido por uma camada de gases


que se designa atmosfera e que o acompanha nos seus movimentos
de rotação e de translação.

Portanto, importa definir a atmosfera como sendo a camada gasosa


que envolve a terra. Desse modo, é importante estudar a atmosfera
Climatogeografia 59

para perceber melhor as causas da distribuição do clima na


superfície do globo.

Composição da atmosfera

Para se compreender os processos físicos que ocorrem na atmosfera


é necessário estudar primeiro a sua composição.

A composição do ar seco

A composição do ar seco, considerada em função do volume, está


indicada no quadro 1. Este refere-se a locais afastados de cidades e
de fogos nas florestas.

Quadro 1 – A composição do ar seco

Gás Percentagem na atmosfera, em


volume

Nitogenio ou Azoto 78 ,084


Oxigénio 20 ,946
Árgon 0 ,934
Dióxido de carbono 0 ,033
Néon 0 ,00182
Hélio 0 ,00052
Crípton, Hidrogénio, 0, 00066
Xénon, Ozono, radão, etc.

Também podem ocorrer traços de outros gases, tais como o


monóxido de carbono (CO), o óxido nitroso ( N2O ), o metano
( CH4 ), etc.

A excepção do ozono (O3), do vapor de água ( H2O ) e do dióxido


de carbono (CO2), os principais gases naturais de concentração
variável da atmosfera, a proporção entre os outros gases que
Climatogeografia 60

figuram na tabela 1, mantêm-se praticamente constante até cerca de


80 Km de altitude e são designados por gases permanentes, embora
possam verificar-se variações muito pequenas no espaço e no
tempo.

Os gases de concentração variável mencionados são muito


importantes nos fenómenos físicos da atmosfera e apresentam as
seguintes características:

Ozono atmosférico

A concentração do ozono varia com a altitude, a latitude e o tempo.


A maior parte do ozono que forma na estratosfera superior resulta
de processos que incluem a absorção da radiação ultravioleta. As
moléculas de ozono tendem a descer na atmosfera e a acumular-se
na estratosfera inferior a altitudes compreendidas entre 15 e 25 km.

Também junto a superfície da terra se produzem pequenas


quantidades de ozono na atmosfera, sob a influência de descargas
eléctricas. No entanto, a concentração de ozone em qualquer
altitude determinada varia consideravelmente, devido á circulação
da atmosfera.

A presença de ozono na estratosfera é essencial para o nosso bem-


estar na terra. Porque absorve grandes quantidades da radiação
ultravioleta, mortífera proveniente do sol, o ozono torna possível a
vida humana a superfície da terra.

O vapor de água na atmosfera

A atmosfera nunca está completamente seca. Há sempre vapor de


água presente, mas em quantidade variável. Nas regiões costeiras
tropicais, quentes e húmidas, pode atingir uma concentração de
cerca de 3% da massa da amostra de ar. Pelo contrário, em certos
locais aparece uma percentagem tão pequena, que é difícil medi-lo.
Climatogeografia 61

É notável que quantidades relativamente pequenas de vapor de


água possam produzir tão grandes variações no estado do tempo.
Este facto deve-se em grande parte às alterações que ocorrem na
sua concentração na troposfera, particularmente nas camadas
abaixo dos 6 km, onde existe uma alta percentagem de humidade.
Entra, em primeiro lugar na atmosfera, a partir da superfície da
terra, por evaporação das superfícies da água e por transpiração das
plantas. O vapor de água passa mais tarde ao estado líquido ou
sólido e, finalmente, regressa a superfície da terra sob a forma de
orvalho, geada, chuvisco, chuva, neve ou saraiva.

Em média, a concentração de vapor de água na atmosfera decresce


com a altitude. Contudo, de tempos a tempo, esta distribuição pode
inverter-se em determinadas camadas da atmosfera.

O dióxido de carbono

Este entra na atmosfera por processos como a respiração humana e


dos animais, a decomposição e combustão de substâncias que
contem carbono e pela actividade vulcânica. Mas uma grande parte
do gás assim produzido é absorvida pelos vegetais.

Cerca de 99% do dióxido de carbono (CO2) existente na terra


encontram-se dissolvidos na água dos oceanos. No entanto, a
solubilidade varia com a temperatura. Assim, o CO2 entra e sai dos
oceanos devido às alterações da temperatura, o que afecta a
concentração de dióxido de carbono na atmosfera. A concentração
de CO2 junto ao solo é variável. Nas cidades junto ao solo, é alta.
Longe das áreas industriais e a poucos metros do solo, os desvios
são relativamente pequenos. Na atmosfera superior, contudo, a
distribuição do dióxido de carbono é ainda mal conhecida.
Climatogeografia 62

Partículas sólidas e líquidas

Os gases da atmosfera mantêm em suspensão um imenso número


de partículas sólidas e líquidas de várias naturezas, constituindo o
aerossol (dispersão de partículas coloidais no seio de um gás ), em
que a fase dispersa são partículas e a fase dispersante é o ar.

A sua concentração varia bastante no tempo e no espaço, assim, no


meio dos oceanos observa-se que o ar contem de 500 a 2000 dessas
partículas por Cm³, mas a sua concentração é muito maior no meio
dos continentes, principalmente nas vizinhanças das cidades
industriais.

Umas partículas, são visíveis e portanto de dimensões


relativamente grandes, mas outras são de dimensões pequenas
como sejam partículas de matéria orgânica (sementes, fungos,
esporos, pólen e bactérias). As poeiras são numerosas nas camadas
mais baixas da atmosfera e muitas delas tem origem em explosões
vulcânicas e outras resultam dos meteoritos nas camadas superiores
da atmosfera.

As poeiras actuam como absorvente da água e constituem núcleos


nos quais se inicia a condensação do vapor de água – núcleos de
condensação – como as partículas de cloreto de sódio e as de
sulfato de amónio. As poeiras são importantes também por
interceptarem, absorverem e desviarem a radiação solar afectando,
portanto, a transmissão da radiação solar através da atmosfera. Mas
o homem está introduzir na atmosfera enormes quantidades de
gases e partículas com efeitos altamente nocivos, provocando uma
poluição crescente, que assume aspectos extremamente
preocupantes.
Climatogeografia 63

Quando as condições meteorológicas se tornam favoráveis a uma


situação de nevoeiro persistente com estabilidade atmosférica, pode
dar-se uma rápida acumulação de elementos perigosos sob a forma
de “Smog” capazes de provocar mortes por infecções respiratórias
e cardíacas. Um dos poluentes mais perigosos lançado na atmosfera
é o dióxido de enxofre (SO2). Libertado no ar pela combustão do
carvão e hidrocarbonetos nas regiões industriais é disperso pela
circulação geral da atmosfera. E portanto a consequência é as
chuvas ácidas pela formação de ácido sulfúrico (H2SO4).

Estrutura vertical da atmosfera

As explorações da atmosfera vieram mostrar que ela é constituída


por uma série de camadas aproximadamente esféricas. Cada uma
destas camadas tem as suas próprias características e
comportamento no que diz respeito à sua composição química,
distribuição vertical da temperatura e existência de partículas
electricamente carregadas. Pode considerar-se, deste modo, a
divisão da atmosfera sob esses três aspectos.
Climatogeografia 64

Fi
g.5. Estrutura vertical da atmosfera

Sumário
O globo terrestre encontra-se envolvido por uma camada de gases
que se designa atmosfera e que o acompanha nos seus movimentos
de rotação e de traslação, desse modo importa conhecer a
atmosfera, bem assim os fenómenos que nela se verificam,
considerando-se a superfície terrestre, os oceanos e os continentes e
ilhas, como sendo o limite inferior do globo e é indeterminado o
limite superior.

Para se compreender os processos físicos que ocorrem na atmosfera


é necessário estudar primeiro a sua composição de gases que são
muito importantes nos fenómenos físicos da atmosfera.
Climatogeografia 65

Exercícios
1. Indique as condições que permitem a atmosfera dividir-se
em camadas.
2. Caracterize a dinâmica térmica da estrutura vertical da
atmosfera.
3. Identifique a camada de maior concentração de Ozono e
mencione a sua importância.
4. Mencione a importância da ionização e as razões que
explicam a sua presença só na alta atmosfera.
5. Indique a composição do ar na atmosfera.
6. Mencione a importância das impurezas, bem assim do
dióxido de carbono.
7. Os homens têm contribuído negativamente para a
instabilidade da atmosfera em seu prejuízo e de toda a vida
na terra. Justifique.

NB. Entregar os exercícios: 1; 2; 3; 5 desta unidade.


Climatogeografia 66

Unidade X
Camadas da Atmosfera
Introdução
Nesta unidade falaremos da estrutura vertical da atmosfera.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Caracterizar as camadas da atmosfera.

 Esquematizar a estrutura vertical da atmosfera.


Objectivos

Caracterização sob o aspecto térmico

a) Troposfera

É a região mais baixa da atmosfera. Geralmente a temperatura


decresce com a altitude, na troposfera. Em média, o gradiente
térmico é de cerca de 6 a 7˚C/km na metade inferior e de 7 a
8˚C/km na metade superior. A maior parte da radiação solar é
absorvida pela superfície da terra e, assim, a troposfera é aquecida
por baixo.

É na troposfera onde ocorrem os mais importantes fenómenos


meteorológicos que condicionam, caracterizam e determinam o
estado do tempo, devido a sua inconstância e dinamismo, também
se denomina de camada turbulenta, pois ela exerce influência e é
influenciada pela superfície terrestre.

Cerca de 75% de toda a massa atmosférica encontra-se na


troposfera, podendo-se classificar os seus constituintes em gases
permanentes, gases variáveis, impurezas e nuvens.
Climatogeografia 67

Em algumas partes da troposfera pode haver uma camada pouco


espessa em que a temperatura aumenta com a altitude. Essa camada
chama-se uma inversão de temperatura.

O limite superior da troposfera chama-se tropopausa.

A tropopausa não é contínua e a sua altitude varia conforme as


regiões da terra. Existe uma tropopausa tropical nas latitudes pouco
elevadas, a uma altitude de cerca de 18km. Nas latitudes elevadas
encontram-se geralmente uma tropopausa polar a cerca de 8km.
Entre estas duas regiões há uma tropopausa das latitudes médias,
cuja altitude vai gradualmente da tropopausa polar à tropical, com
quebras que se verificam na vizinhança das “ correntes de jacto”.

b) À estratosfera

É a região situada acima da troposfera. Estende-se desde a


tropopausa até altitudes entre 50 a 55km. Em qualquer localidade a
temperatura da estratosfera mantêm-se praticamente constante até
cerca de 20km e esta camada chama-se isotérmica. A partir desse
nível a temperatura sobe lentamente até cerca de 32 km,
aumentando depois rapidamente.

Na parte superior da estratosfera as temperaturas são quase tão


elevadas como as que se verificam junto à superfície da terra,
devido ao facto de a radiação ultravioleta proveniente do sol ser
absorvida pelo ozone nesta região. A baixa densidade da troposfera
a estas altitudes significa que a radiação solar é transferida para um
número relativamente pequeno de moléculas. Estas moléculas têm
por isso energia cinética elevada e a temperatura do ar aumenta.

A energia calorífica assim produzida é transferida para baixo por


subsistência e radiação. A estratosfera tem, portanto, uma fonte
calorífica nos seus níveis superiores.

A troposfera e a estratosfera têm condições meteorológicas muito


diferentes. Verifica-se menor convicção na estratosfera, porque esta
Climatogeografia 68

é quente na parte superior e fria na inferior. É praticamente isenta


de nuvens, embora se observem nuvens nacaradas ocasionalmente
nas latitudes elevadas e a altitude entre 20 e 30 km.

c) À mesosfera

A cerca de 50 km de altitude a temperatura deixa de subir. Este


nível é a estratopausa e marca o limite inferior da mesosfera.

Na mesosfera a temperatura decresce geralmente com a altura, até


atingir o valor de -95˚C, ou menos, a cerca de 80 km. Este nível é o
limite superior da mesosfera e chama-se mesopausa.

A mesopausa marca o fim do que pode considerar-se atmosfera


homogénea. Até este nível a composição gasosa da atmosfera é
quase constante, excepto no que se refere a quantidades variáveis
de vapor de água e ozone.

As temperaturas na mesopausa são mais baixas do que em qualquer


outro nível da atmosfera superior. Em latitudes elevadas,
observam-se ocasionalmente a este nível nuvens noctilucentes, com
o sol entre 5 e 13˚ abaixo do horizonte. É possível que estas nuvens
sejam constituídas por partículas de poeira coberta de gelo.

d) À termosfera

é a região acima da mesopausa e que é caracterizada por subida


regular da temperatura. Quando o sol está calmo, esta subida pode
estender-se a uma altitude de cerca de 400 km; durante os períodos
de actividade solar, pode estender-se ainda mais para cima, até
cerca de 500 km.

A composição da atmosfera altera-se consideravelmente na


termosfera. As moléculas de muitos dos gases separam-se em
átomos isolados por acção dos raios X e ultravioleta proveniente do
sol.
Climatogeografia 69

A medida que a altitude aumenta as moléculas de azoto, mais


pesadas, cedem o lugar aos átomos de oxigénio que, por sua vez,
são substituídos pelos átomos de hidrogénio, mais leves, ficando
estes a predominar a níveis muito elevados.

A ionização (processo pelo qual um átomo neutro ganha um


electrão e transforma-se num ião negativo) é importante na
termosfera, porque os iões e os electrões podem continuar livres
por um período suficientemente longo.

As regiões da termosfera e da mesosfera em que a ionização é mais


persistente formam a ionosfera. A importância da ionosfera reside
no facto de os electrões, em particular, serem capazes de reflectir
ondas de rádio.

Sumário
Para se compreender os processos físicos que ocorrem na atmosfera
é necessário estudar primeiro a sua composição de gases que são
muito importantes nos fenómenos físicos da atmosfera.

Exercícios
1. Mencione as principais camadas da atmosférica.

2. Indique a camada onde ocorrem os fenómenos meteorológicos


que condicionam, caracterizam e determinam o estado do tempo.

NB. Entregar os exercícios: 1 e 2 desta unidade.


Climatogeografia 70

Unidade XI
Equílibrio Térmico Na Atmosfera
Introdução
A principal fonte de energia do nosso planeta é a energia solar, que
atinge a superfície do globo Terrestre em quantidades
extraordinárias. Pode dizer-se que todos tipos de energia existente
na Terra são provenientes, directa ou indirectamente, do sol, à
excepção da energia nuclear. É o caso do carvão, do petróleo e do
gás natural, que não são mais do que reservatórios de energia solar
acumulada em épocas geológicas.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir o conceito Radiação;

 Identificar as leis da radiação;


Objectivos 

Radiação Solar

Radiação solar é a designação dada à energia radiante emitida pelo


Sol, em particular aquela que é transmitida sob a forma de radiação
electromagnética. Cerca de metade desta energia é emitida como
luz visível na parte de frequência mais alta do espectro
electromagnético e o restante na do infravermelho próximo e como
radiação ultravioleta. A radiação solar fornece anualmente para a
atmosfera terrestre 1,5 x 1018 kWh de energia, a qual, para além de
suportar a vasta maioria das cadeias tróficas, sendo assim o
verdadeiro sustentáculo da vida na Terra, é a principal responsável
pela dinâmica da atmosfera terrestre e pelas características
climáticas do planeta.
Climatogeografia 71

Espectro da Radiação

A radiação solar que atinge o topo da atmosfera terrestre provém da


região da fotosfera solar, uma camada ténue de plasma com
aproximadamente 300 km de espessura e com uma temperatura
superficial da ordem de 5800 K.

Dada a dependência entre a composição espectral e a temperatura,


traduzida na chamada lei de Planck, a composição espectral da luz
solar corresponde aproximadamente àquela que seria de esperar na
radiação de um corpo negro aquecido a cerca de 6000°C, embora
apresentando uma clara assimetria resultante da maior absorção da
radiação de comprimento de onda mais curto pelas camadas
exteriores do Sol.

Em termos de comprimentos de onda, a radiação solar ocupa a


faixa espectral de 100 nm a 3000 nm (3 μm), tendo uma máxima
densidade espectral em torno dos 550 nm, comprimento de onda
que corresponde sensivelmente à luz verde-amarelada.

Porém, a luz visível compreende, conforme o crescente


comprimento de onda, o violeta, o azul, o verde, o amarelo, o
laranja e o vermelho. Estas cores, são também conhecidas pelas
sete cores do arco-íris.
Climatogeografia 72

A parte mais alongada do espectro tem a sua máxima intensidade


na banda dos infravermelhos (têm efeitos caloríficos) próximos,
decaindo lentamente com a diminuição da frequência.

No que respeita à radiação mais energética, isto é de comprimento


de onde mais curto, apesar da maior parte ser absorvida pela
atmosfera, a radiação ultravioleta (têm efeitos químicos) que atinge a
superfície da Terra é ainda suficiente para provocar o bronzeado da
pele (e as queimaduras solares a quem se exponha excessivamente).
Portanto, ao conjunto das radiações solares dá-se o nome de
espectro solar.

As leis da Radiação

a) Lei do Kirchhoff: “ para um dado comprimento de onda, o


cociente do poder emissivo pela absorvidade de um corpo
negro é o mesmo para todos corpos dependendo somente da
temperatura do corpo”.
A equação que exprime esta lei é a seguinte: e λ ₌ Es (λ T) a λ
onde:
eλ – Poder emissivo
aλ – Absorvidade
Es – Emutânçia
λ – Comprimento de onda
T – Temperatura
Corpo negro chama-se corpo que absorve totalmente toda radiação
que nele incide seja como for os sentidos de propagação da
radiação incidente, a sua composição espectral, e a sua polarização
sem refractar nada.
Rigorosamente falando o corpo negro, não existe na natureza mais
a radiação proveniente da superfície terrestre, nuvens, por exemplo,
pode ser tratado como radiação do corpo negro.
Climatogeografia 73

Da lei de Kirchhoff conclui-se o seguinte:

1˚ - Para que um corpo real a uma dada temperatura emita energia


de determinado comprimento de onda é necessário que ( eλ≠0 ) o
corpo negro emita aquela temperatura (Eλ≠0) e que o corpo real
possa absorve-la ( aλ≠0 ).

2˚ - A quantidade da energia emitida por incandescência por um


corpo real aproxima-se tanto mais do que é emitido pelo corpo
negro tanto mais a absorvidade se aproxima da unidade à
temperatura considerada.

3˚ - A absorvidade tem um valor numérico igual a emissividade, e


se o corpo é um absorvente selectivo é também o emissivo
selectivo para mesma radiação.
Em resumo temos :
 aλ = 1 ― eλ = Eλ , corpo negro.
 Aλ = 0 ― eλ = 0, corpo branco ( não absorve nem emite nada).
 0 < a λ < 1 ― eλ = aλ, corpo cinzento.

b) Lei de Planck: “ O poder emissivo do corpo negro é tanto


maior quanto maior for a temperatura e o máximo do poder
emissivo desloca-se para menores comprimento de onda a
medida que a temperatura aumenta.
Sua equação: Eλdλ = C1.λ⁻⁵ - dλ
e‘²/λt -1
onde:
C1 e C2 ― constantes universais
Eλ ― emitência da radiação do corpo negro de
comprimento de onda por unidade de superfície do corpo
negro à temperatura T.
Climatogeografia 74

c) Lei de Stefen – Boltzman, enuncia que a emitância do corpo


negro vem sendo proporcional a 4ª potência da sua
temperatura absoluta.
Sua equação: E = δ.T⁴
Em que: δ é uma constante
Através desta lei é, no entanto, possível obter o poder
emissivo de um corpo real se soubermos a sua
emissividade, que é definida pelo quociente entre o seu
poder emissivo e o poder emissivo máximo correspondente
ao corpo negro.

Sumário
Pode dizer-se que todos tipos de energia existente na Terra são
provenientes, directa ou indirectamente, do sol, à excepção da
energia nuclear. É o caso do carvão, do petróleo e do gas natural,
que não são mais do que reservatórios de energia solar acumulada
em épocas geológicas.

A radiação solar fornece anualmente para a atmosfera terrestre 1,5


x 1018 kWh de energia, a qual, para além de suportar a vasta
maioria das cadeias tróficas, sendo assim o verdadeiro sustentáculo
da vida na Terra, é a principal responsável pela dinâmica da
atmosfera terrestre e pelas características climáticas do planeta.

Exercícios
1. Define radiação e espectro solar. Diga em que limites se
situa a luz visível?
2. Explique como se mantém o equilíbrio térmico no globo?
Climatogeografia 75

3. Se a nebulosidade à volta do globo terrestre aumenta-se


sensivelmente, qual seria o efeito sobre o equilíbrio
térmico?
4. Explique o efeito que o dióxido de carbono e as partículas
na atmosfera exercem sobre a radiação solar?
5. Explique a importância do balanço energético do sistema
terra-atmosfera para a vida na terra?

NB. Entregar os exercícios: 1, 2 e 4 desta unidade.

Unidade XII
Efeitos da Radiação no Topo da
Atmosfera
Introdução
Esta unidade temática apresenta as ideias chaves sobre o conteúdo
relacionado com a radiação e suas características, o espectro da
radiação, o equilíbrio energético da atmosfera e o balanço do
sistema terra – atmosfera.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


Climatogeografia 76

 Caracterizar os efeitos da radiação solar no topo da


atmosfera;

 Explicar o equilíbrio energético da atmosfera;

 Analisar o balanço energético do sistema terra-


atmosfera.

Efeitos da radiação no topo da Atmosfera

A energia solar incidente sobre a atmosfera e a superfície terrestre


Objectivos segue um de três destinos: ser reflectida, absorvida ou transmitida.

A energia reflectida e o albedo

Parte substancial da energia recebida sobre a superfície terrestre é


reenviada para o espaço sob a forma de energia reflectida. As
nuvens, as massas de gelo e neve e a própria superfície terrestre são
razoáveis reflectores, reenviando para o espaço entre 30 e 40% da
radiação recebida (enquanto a Lua reflecte sob a forma de luar
apenas 7 a 12% da radiação incidente). A esta razão entre a
radiação reflectida e incidente chama-se albedo, isto é, a proporção
entre a quantidade global de radiação solar e celeste reflectida pela
superfície e a que atinge essa superfície.

Absorção atmosférica

Existem diferenças substanciais resultantes da absorção


atmosférica. Esta é selectiva, atingindo o seu máximo em torno dos
pontos centrais dos espectros de absorção dos gases atmosféricos.

Repare-se a elevada absorção do ozónio (O3) atmosférica na banda


Climatogeografia 77

dos ultravioletas e no efeito do vapor de água (H 2O) e do dióxido


de carbono (CO2), estes actuando essencialmente sobre os
comprimentos de onda maiores.

Esta absorção selectiva está na origem do efeito de estufa, devido


ao facto da radiação terrestre, resultante do retorno para o espaço
da radiação solar por via do aquecimento da Terra, ser feita
essencialmente na banda dos infravermelhos longos, radiação para
a qual o CO2 tem grande capacidade de absorção.

A parcela absorvida dá origem, conforme o meio, aos processos de


fotoconversão e termoconversão. Na fotoconversão, a energia
absorvida é remetida, embora em geral com frequência diferente,
sendo os novos fotões em geral sujeitos a novas absorções, num
efeito em cascata que em geral termina numa termoconversão, a
qual consiste na captura da energia e a sua conversão em calor,
passando o material aquecido a emitir radiação com um espectro
correspondente à sua temperatura, o que, no caso da Terra,
corresponde à radiação infravermelha que forma o grosso da
radiação terrestre.

Transmissão

De toda a radiação solar que chega às camadas superiores da


atmosfera, apenas uma fracção atinge a superfície terrestre, devido
à reflexão e absorção dos raios solares pela atmosfera. Esta fracção
que atinge o solo é constituída por uma componente directa (ou de
feixe) e por uma componente difusa.

Para além das duas componentes atrás referidas, se a superfície


receptora estiver inclinada com relação à horizontal, haverá uma
terceira componente reflectida pelo ambiente circundante (nuvens,
solo, vegetação, obstáculos, terreno).
Climatogeografia 78

Antes de atingir o solo, as características da radiação solar


(intensidade, distribuição espectral e angular) são afectadas por
interacções com a atmosfera devido aos efeitos de absorção e
espalhamento. Essas modificações são dependentes da espessura da
camada atmosférica atravessada (a qual depende do ângulo de
incidência do Sol, sendo maior ao nascer e pôr-do-sol, daí a
diferente coloração do céu nesses momentos). Este efeito é em
geral medido por um coeficiente designado por Coeficiente de
Massa de Ar (AM), o qual é complementado por um factor que
reflete as condições atmosféricas e meteorológicas existente no
momento.

O equilíbrio energético da Atmosfera

Fig. 6. O equilíbrio energético da Atmosfera

Em média, da radiação solar incidente (sobre o sistema


Climatogeografia 79

Terra/atmosfera):

 19 % é perdida por absorção pelas moléculas de oxigénio


e ozónio da radiação ultravioleta (de alta energia) na
estratosfera (onde a temperatura cresce com a altitude);

 6% é perdida por difusão da luz solar de menor


comprimento de onda - azuis e violetas - (o que faz com que
o céu seja azul);

 24% é perdida por reflexão - 20% nas nuvens e 4% na


superfície. (O albedo do planeta é de 30% (6%
difusão+24% reflexão).

 51% é absorvida pela superfície. (Note que os valores


apresentados são valores médios. Por exemplo, nos pólos a
reflexão da radiação solar incidente é geralmente maior do
que 24% e nos oceanos menor do que 24%.)

A energia radiada pela superfície da Terra, na gama dos


infravermelhos, corresponde a cerca de 117% do total de radiação
solar incidente (sobre o sistema Terra/atmosfera). Dessa energia,
apenas 6% é emitida directamente para o espaço (emissão
terrestre) e 111% é absorvida pelos gases de estufa da atmosfera,
que reemite depois, de volta para a superfície, uma energia
correspondendo a 96% da radiação solar incidente. Finalmente,
uma energia correspondendo a 64% da radiação solar incidente é
emitida pela atmosfera para o espaço (emissão atmosférica).

Note que estes números traduzem um equilíbrio no sistema


Terra/atmosfera: a radiação emitida para o espaço é igual à
radiação solar incidente [24% (reflexão) + 6% (difusão) + 64%
(emissão atmosférica) + 6% (emissão terrestre) = 100%].
Climatogeografia 80

No entanto, em média, a superfície absorve mais radiação da que


emite e a atmosfera radia mais energia do que a que absorve. Em
ambos os casos, o excedente de energia é de cerca de 30% da
energia da radiação solar incidente no sistema Terra/atmosfera:

Superfície - energia absorvida: 147% (51% do Sol + 96% da


atmosfera); energia emitida: 117%
atmosfera - energia absorvida: 130% (19% ultravioletas. + 111%
emissão terrestre); emitida: 160% (64% para o espaço + 96% para a
superfície)

A partir desta constatação pareceria que a superfície deveria ir


aquecendo e a atmosfera arrefecendo. Isso não acontece porque
existem outros meios de transferência de energia da superfície para
a atmosfera que representam, no seu conjunto, uma transferência
líquida de 30% do total de radiação solar incidente que equilibra o
orçamento de energia no planeta.

O ar quente que se eleva na atmosfera a partir da superfície


transfere calor para a atmosfera. Essa transferência de calor (o
fluxo de calor sensível) corresponde a um valor de energia que é
7% do total de radiação solar incidente.

A evaporação da água na superfície do planeta corresponde a uma


extracção de calor que acaba por ser libertado durante o processo
de condensação na atmosfera (que dá origem à formação das
nuvens). Essa transferência de calor (o fluxo de calor latente)
corresponde a um valor de energia que é 23% do total de radiação
solar incidente.

Balanço energético do sistema terra – atmosfera

É um mecanismo de compensação que regula a quantidade de


Climatogeografia 81

radiação que chega à Terra e a quantidade de calor que a Terra


emite para o espaço.

fig.7. Balanço energético

Disse-se que a temperatura média nas vizinhanças da superfície do


globo tem permanecido sensivelmente constante (cerca de 15°c)
durante os últimos séculos. A terra está, portanto, em estado de
equilíbrio radioactivo, emitindo a mesma quantidade de energia que
recebe.

Em média, a percentagem de radiação solar recebida pela terra, que


é absorvida pelo globo e pela atmosfera, é de cerca de 65%. Esta
radiação absorvida converte-se em energia calorífica e a
temperatura da superfície terrestre e da atmosfera sobe.

A radiação solar fornece a energia necessária à circulação da


atmosfera e dos oceanos. Mas esta energia não está perdida:
transforma-se simplesmente em energia calorífica ou em energia
cinética das partículas em movimento. Na realidade, a energia solar
pode sofrer muitas transformações durante o processo de troca de
calor entre o globo e a atmosfera terrestre.

No entanto, a energia absorvida pelo sistema terra – atmosfera é


eventualmente retransmitida para o espaço. Emitindo a mesma
quantidade de energia que recebe, o sistema mantém o equilíbrio
radioactivo.

Este equilíbrio não se aplica a maior parte das latitudes. Entre as


latitudes 0° e 35° em cada hemisfério, é absorvida mais energia do
Climatogeografia 82

que a irradiação para o espaço e há um excesso de energia nessas


regiões. De modo análogo, verifica-se um défice de energia nas
regiões situadas entre a latitude 35° e os pólos.

O gradiente meridional médio que se observa, é muito menor,


devido ao facto de o calor ser efectivamente transportado das
latitudes mais baixas para mais elevadas, através dos círculos de
latitudes. Tanto a atmosfera como os oceanos estão envolvidos
neste transporte de energia.

Esta transferência meridional de energia é auxiliada pela acção de


remoinhos de grande escala (centros de altas e baixas pressões),
que se desenvolvem nas regiões em que se verificam acentuados
gradientes térmicos horizontais.

Também as correntes marítimas transportam alguma energia das


regiões tropicais para os pólos.

Sumário
A energia solar incidente sobre a atmosfera e a superfície terrestre
segue um de três destinos: ser reflectida, absorvida ou transmitida.

Exercícios
1. Explique a importância do balanço energético do sistema
terra-atmosfera para a vida na terra?
Climatogeografia 83
Climatogeografia 84

Unidade XIII
Circulação Geral da Atmosfera
Introdução
Nesta unidade temática apresentaremos temas sobre a pressão
atmosférica, ciclones e anticiclones, as nuvens e sua classificação e
ainda abordaremos temas relacionados com massas de ar e frentes.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir pressão atmosférica.


 Reconhecer as causas da distribuição desigual da energia.

Objectivos

O Sol aquece toda a Terra mas verifica-se uma distribuição


desigual de energia à superfície do globo: as regiões equatorial e
tropical recebem mais energia solar que as latitudes médias e as
regiões polares.

A energia radiante recebida nos trópicos é superior à que essa


região é capaz de emitir enquanto as regiões polares emitem mais
do que recebem. Se não se verificasse um transporte de energia dos
trópicos para as regiões polares, a temperatura da região tropical
aumentaria indefinidamente enquanto as regiões polares ficariam
com uma temperatura cada vez menor. É este desequilíbrio térmico
que induz a circulação da Atmosfera e dos Oceanos. A energia é
redistribuída pela circulação atmosférica (60%) e pelas correntes
oceânicas (40%) das regiões onde há excesso para aquelas em que
há deficit.
Climatogeografia 85

Sumário
O Sol aquece toda a Terra mas verifica-se uma distribuição
desigual de energia à superfície do globo: as regiões equatorial e
tropical recebem mais energia solar que as latitudes médias e as
regiões polares

Exercícios
1. A que se deve a transferencia da energia na atmosfera.
Climatogeografia 86

Unidade XIV
Causas da Circulação Geral
Introdução
Nesta unidade falaremos das causas da circulação geral da
atmosfera.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Reconhecer a circulação geral idealizada

 Identificar as causas da circulação geral


Objectivos

Causas da Circulação Geral

Aristóteles foi o primeiro a atribuir ao aquecimento do sol os


ventos globais, cerca de 2000 anos atrás, na sua “Meteorológica”.
O Sol aquece toda a Terra mas verifica-se uma distribuição
desigual de energia à superfície do globo: as regiões equatorial e
tropical recebem mais energia solar que as latitudes médias e as
regiões polares. A energia radiante recebida nos trópicos é superior
à que essa região é capaz de emitir enquanto as regiões polares
emitem mais do que recebem. Se não se verificasse um transporte
de energia dos trópicos para as regiões polares, a temperatura da
região tropical aumentaria indefinidamente enquanto as regiões
polares ficariam com uma temperatura cada vez menor. É este
desequilíbrio térmico que induz a circulação da Atmosfera e dos
Oceanos. A energia é redistribuída pela circulação atmosférica
(60%) e pelas correntes oceânicas (40%) das regiões onde há
excesso para aquelas em que há deficit.
Climatogeografia 87

Esta transferência de energia é efectuada de várias formas. Cada


uma delas varia em importância com a latitude:

- Trocas de calor sensível com a atmosfera pelo deslocamento de


massas de ar;
- Transferências de calor latente, libertado durante o processo de
condensação;
- Correntes oceânicas que transferem calor para os pólos.
A taxa de transferência máxima, da ordem de 5 10 kW 27
ocorre nas latitudes de 30º e 40º, e está associada à circulação
de grande escala ou circulação planetária, distinta das circulações
regionais (monções), das circulações características dos sistemas
sinópticos transientes (escala ~ 1.000 km) e das circulações locais.

Circulação Geral Idealizada


A estrutura média da circulação geral é de grande importância para
a necessária transferência meridional de energia. Um dos primeiros
modelos clássicos da circulação geral é devido a George Hadley,
que em 1735, sugeriu que sobre a Terra sem rotação, o movimento
do ar teria a forma de uma grande célula de convecção em cada
hemisfério, conforme esquematizado na fig. 1.

Figura - Circulação Geral numa terra sem rotação (Hadley, 1735)


Climatogeografia 88

A transferência de energia do equador para os pólos poderia, de


acordo com Hadley, ser efectuada por uma célula convectiva, com
movimento ascendente nos trópicos, movimento na direcção dos
pólos em altitude, movimento descendente sobre os pólos e em
direcção ao equador à superfície.

Como a Terra tem movimento de rotação em torno de si própria, o


eixo de rotação é inclinado sobre o plano da órbita, e a
percentagem da superfície coberta por continentes é maior no
hemisfério norte do que no hemisfério sul, o padrão de circulação é
muito mais complicado. Em 1856, o professor do ensino
secundário William Ferrel, aperfeiçoou o modelo de Hadley,
introduzindo o primeiro modelo tricelular, que foi melhorado por
Tor Bergeron em 1928 e por Carl-Gustav Rossby em 1941. No
modelo proposto por C.G.Rossby, admite-se que a pressão a
superfície do globo se distribui zonalmente, i.e. ao longo dos
paralelos, havendo faixas alternadas de baixas e altas pressões,
aproximadamente simétricas em relação ao equador térmico.

Associadas a esta distribuição de pressão, existem três células


convectivas de circulação meridional em ambos os hemisférios
(fig. 2). Estas três células são a célula tropical (também
denominada de célula de Hadley), a célula de das latitudes médias
(célula de Ferrel) e a célula polar.
Climatogeografia 89

Figura 2 - Circulação Geral idealizada no modelo de três células

1. Célula Tropical (célula de Hadley) – Nas latitudes baixas, o


movimento do ar é, devido ao aquecimento, ascendente sobre o
Equador, dirigindo-se no sentido dos pólos nos níveis superiores da
atmosfera; sobre as latitudes subtropicais o ar arrefecido subside,
retornando para o Equador à superfície. Esta circulação forma a
célula convectiva que domina os climas tropical e subtropical. O
ramo descendente da célula de Hadley está associado aos grandes
centros permanentes de altas pressões subtropicais (anticiclones
subtropicais), de que são exemplo o anticiclone dos Açores e o
anticiclone do Pacífico. Nesta célula, a rotação do globo determina
ventos de oeste em altitude e ventos de leste à superfície (ventos
alísios).

2. Célula das latitudes médias (célula de Ferrel) – É uma célula


de circulação atmosférica média nas latitudes extratropicais,
reconhecida por Ferrel no século XIX. Nesta célula, o ar move-se
para os pólos e para leste junto à superfície, e no sentido do
Equador e para oeste em altitude, fechando-se a circulação por
subsidência nos subtrópicos.

3. Célula Polar - Nesta célula, o ar sobe, diverge, e desloca-se em


altitude para os pólos. Uma vez sobre os pólos, o ar arrefecido
desce, dando origem a altas pressões à superfície nas regiões
polares; nestas regiões, o ar diverge para fora dos centros de altas
pressões e retorna para sul, fechando a circulação celular. Na célula
polar, à superfície, os ventos estão dirigidos para Oeste e em
altitude para Leste.

O modelo de circulação tri-celular está associado ao seguinte


modelo de distribuição de pressão à superfície (fig. 3):
Climatogeografia 90

Figura 3 - Circulação Geral da Atmosfera

Depressões Equatoriais – Uma cintura de baixas pressões


associada à ascensão do ar na ZCIT. A ascensão do ar quente
aquecido no equador dá origem a uma região de baixas pressões
denominada de Vale Equatorial. À medida que o ar sobe formam-
se nuvens e ocorre precipitação.

Anticiclones Subtropicais – Uma cintura de altas pressões


associada à subsidência do ar nas latitudes do cavalo, i.e. nas zonas
de ventos muito fracos ou calmarias. Nas latitudes subtropicais o ar
arrefece e desce criando áreas de altas pressões com céu limpo e
pouca precipitação, denominadas de Anticiclones Subtropicais. A
Climatogeografia 91

subsidência do ar seco (após precipitação na ZCIT) e quente


(devido à própria subsidência, que provoca aquecimento
adiabático) está na origem dos desertos nestas latitudes.

Depressões Subpolares – Uma cintura de baixas pressões


associadas à frente polar. Anticiclones Polares – Sistemas de altas
pressões associados ao ar polar frio e denso. O modelo descrito de
três células é útil, mas é muito simplificado e idealizado, pois
descreve apenas a circulação atmosférica, simétrica em relação ao
eixo de rotação, ou axialmente simétrica, i.e. independente da
longitude. No entanto, o modelo fornece um bom ponto de partida
para descrever as características principais da circulação
atmosférica de larga escala.

Como acabado de referir, o modelo das três células é uma


idealização; na realidade os ventos não são estacionários, e as
regiões de altas/baixas pressões não são contínuas (Fig.4),
implicando variações importantes da circulação atmosférica com a
longitude.

Figura 4 - (a) Distribuição idealizada zonal da pressão; (b) "Quebra" desta


distribuição zonal causada pela distribuição dos continentes

A Terra real contém descontinuidades no padrão zonal dos


ventos/pressão causados pelas grandes massas continentais.
Climatogeografia 92

Estes condicionalismos rompem as cinturas de pressão em regiões


de baixas e altas pressões semi -permanentes.
Existem três razões fundamentais para a diferença entre a
distribuição "ideal" e a "real":

 A superfície da Terra não é uniforme, ou alisada. Verifica-


se um aquecimento diferenciado devido aos contrastes
solo/oceano (mar).
 A circulação pode desenvolver vórtices ou turbilhões.

 O Sol não "permanece sobre o Equador" mas move-se entre


23.5N e 23.5S ao longo do ano. Em vez da situação
idealizada observam-se sistemas de baixas e altas pressões
semi-permanentes. Classificam se de semi-permanentes
pois variam em intensidade e localização ao longo do ano
(i.e. no decurso do tempo).

No Inverno:
 Anticiclones Polares sobre a Sibéria e Canadá;
 Anticiclones no Pacífico e no Atlântico (Açores);
 Depressões sobre as Aleutas e a Islândia;

No Verão
 O anticiclone dos Açores intensifica-se sobre todo o
Atlântico Norte;
 O anticiclone do Pacífico também se intensifica sobre todo
o Pacífico Norte;

 Os anticiclones polares são substituídos por depressões;

Sumário
Existem três razões fundamentais para a diferença entre a
distribuição "ideal" e a "real":
Climatogeografia 93

 A superfície da Terra não é uniforme, ou alisada. Verifica-


se um aquecimento diferenciado devido aos contrastes
solo/oceano (mar).
 A circulação pode desenvolver vórtices ou turbilhões.

 O Sol não "permanece sobre o Equador" mas move-se entre


23.5N e 23.5S ao longo do ano. Em vez da situação
idealizada observam-se sistemas de baixas e altas pressões
semi-permanentes. Classificam se de semi-permanentes
pois variam em intensidade e localização ao longo do ano
(i.e. no decurso do tempo).

Exercícios
1. Defina circulação atmosférica.

2. Porque é o nome “ George Hadley” se relaçiona com a


circulação atmosférica? Que contributo este trouxe para esta
matéria?

3. Caracterize a circulação geral da atmosfera?

4. Diferencie centro de altas pressões do centro de baixas pressões?

5. Indique as causas da circulação geral da atmosfera.

NB. Entregar os exercícios: 1; 2; 5; desta unidade.


Climatogeografia 94

Unidade XV
Circulação média a superficie
Introdução
Esta unidade falará da circulação média a superfície.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Caracterizar os ventos polares de Este.

 Caracterizar os ventos predominantes de Oeste nas latitudes


Objectivos
médias.

 Caracterizar os ventos alísios nos Trópicos.


Devido ao efeito da força de Coriolis, que desvia o movimento para


direita (esquerda) no hemisfério Norte (hemisfério Sul), a
circulação meridional nas três células é alterada. Surgem então, três
ventos característicos à superfície:

 Os ventos alísios nos Trópicos


 Os ventos predominantes de Oeste nas latitudes médias
 Os ventos polares de Este.

Figura - Circulação Geral da Atmosfera e os grandes sistemas de vento


Climatogeografia 95

De acordo com este modelo (Fig.5), que incorpora o efeito da


rotação da Terra, para a zona equatorial de baixa pressão devem
convergir ventos provenientes das cinturas subtropicais de altas
pressões (em torno de 30ºN e 30ºS), impulsionados pela força de
gradiente de pressão (dirigida para as pressões mais baixas) e
deflectidos por efeito da rotação da Terra (força Coriolis). Os
ramos inferiores das células de Hadley justificam, portanto, a
existência dos ventos alísios de nordeste no Hemisfério Norte e dos
alísios de sudeste no Hemisfério Sul. Os ventos alísios (trade
winds) estendem-se entre as latitudes 10º-25ºN e 5º-20ºS, são
particularmente bem desenvolvidos nos meses de Inverno sobre o
lado oriental dos maiores oceanos.

A faixa de encontro dos alísios de nordeste (procedentes do H.N.)


com os de sudeste (procedentes do H.S.) é conhecida como Zona
de Convergência Intertropical ou ZCIT (ou Zona Intertropical de
Convergência, ZITC). A ZCIT é uma região de pressões
relativamente baixas, localizada entre 10ºN e 5ºS, caracterizada por
uma acentuada instabilidade atmosférica que favorece o
desenvolvimento de intensas correntes ascendentes, com formação
de grandes nuvens convectivas, geradoras de precipitação
abundante.

Os três grandes centros anticiclónicos subtropicais,


semipermanentes, que se situam sobre o oceano austral, em torno
de 30ºS (Fig.5), e no Hemisfério Norte sobre os oceanos e
continentes, formam a cintura subtropical de altas pressões que
praticamente circunda o planeta, seriam os ramos descendentes das
células de Hadley (e Ferrel) de cada hemisfério. A subsidência
neles observada provoca divergência a superfície gerando ventos
direccionados tanto para o equador (alísios) como para os pólos,
desviando-se estes últimos para leste, por acção da força de
Climatogeografia 96

Coriolis, atingindo latitudes próximas a 50º ou 60º, como ventos


predominantes de Oeste.

A circulação atmosférica nas latitudes elevadas é menos bem


definida. Acredita-se que a subsidência nas proximidades dos pólos
produz uma corrente superficial em direcção ao equador que é
desviada, formando os ventos polares de leste, em ambos
hemisférios. O ar frio proveniente da região circumpolar encontra-
se com o ar quente dos subtrópicos; como a rotação da Terra
impede a mistura das duas massas de ar, a região de encontro entre
as massas de ar polar de Este (frias) e as massas de ar provenientes
de Oeste (quentes) é uma região de descontinuidade, conhecida
como “Superfície Frontal Polar”; a intersecção desta “superfície”
(na realidade uma camada pouco espessa) com o globo é a “frente
polar”. No hemisfério Sul, sobre o Oceano Atlântico, a superfície
frontal polar é também conhecida como Zona de Convergência do
Atlântico Sul (ZCAS).

Sumário
Devido ao efeito da força de Coriolis, que desvia o movimento para
direita (esquerda) no hemisfério Norte (hemisfério Sul), a
circulação meridional nas três células é alterada. Surgem então, três
ventos característicos à superfície:

 Os ventos alísios nos Trópicos

 Os ventos predominantes de Oeste nas latitudes médias

 Os ventos polares de Este.


Climatogeografia 97

Exercícios
1. Como se justificam, portanto, a existência dos ventos alísios de
nordeste no Hemisfério Norte e dos alísios de sudeste no
Hemisfério Sul?

Unidade XVI
Circulações Regionais e Locais
Introdução
A presente unidade ira falar das circulações regionais e locais.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Mencionar os principais circulações regionais e locais.

 Caracterizar as brisas maritimas, terrester e lacustre.


Objectivos

Circulações Regionais e Locais

Os ventos são causados por diferenças de pressão atmosférica que


resultam do aquecimento desigual da superfície terrestre e da
atmosfera. O ar, aquecido na base quando se desloca sobre
superfícies quentes, torna se menos denso, implicando descida de
pressão e o estabelecimento de diferenças na distribuição da
pressão à superfície, i.e. de gradientes de pressão. Estes gradientes
constituem uma força, a força do gradiente de pressão, que põe o ar
em movimento. Assim, à superfície, o ar flui das pressões mais
altas para as pressões mais baixas, forçando convergência de ar e
movimento vertical ascendente nas regiões em que a pressão é mais
baixa e divergência, com movimento vertical descendente
(subsidência) nas regiões em que a pressão é mais alta. Gradientes
de pressão levam ao movimento do ar. Este movimento verifica-se
a diferentes escalas: à escala global (circulação global), à escala
Climatogeografia 98

regional (depressão térmica de Verão sobre a Península Ibérica) e à


escala local (tornados, ventos de vale e de montanha, brisas, etc.).

Ventos à escala global consistem nos movimentos ondulatórios de


grande comprimento de onda, nas correntes de jacto, enquanto os
ventos locais envolvem gradientes de escala local, afectando áreas
de pequena dimensão.

Brisas Marítima, Terrestre e Lacustre


Junto à costa, no fim da manhã, começa frequentemente a fazer-se
sentir, um vento vindo do mar, que atinge o máximo no princípio
da tarde e desaparece ao anoitecer. Este vento é mais forte nos dias
muito quentes, mas pode ser mais fraco quando o céu está nublado.
Chama-se brisa marítima (Fig.6).

A causa fundamental do movimento do ar é a diferença de


aquecimento entre as superfícies da terra e do mar, essencialmente
devido às diferentes capacidades caloríficas dos materiais à
superfície; com efeito, a água tem uma maior capacidade calorífica
que o solo, e aquece muito mais lentamente que este.

Figura 6 - Brisa Marítima


Climatogeografia 99

A brisa marítima desenvolve-se, num dia de Sol, quando a


temperatura do solo continental é mais elevada que a da superfície
do mar. À medida que o solo aquece, o ar na sua vizinhança
expande-se, torna-se menos denso e começa a subir. Para substituir
este ar em movimento ascendente surge o ar, inicialmente sobre a
superfície do mar, a temperatura mais baixa. Onde o ar mais frio e
mais quente se encontram, existe ascensão do ar quente devido à
diferença de densidades. Ao longo dessa linha de contacto,
frequentemente denominada de frente de brisa, podem desenvolver-
se nuvens convectivas e tempestades. Isto ocorre frequentemente
durante o dia nas regiões tropicais costeiras.

Durante a noite, a água não arrefece tanto como o continente e a


circulação inverte-se, verificando-se o deslocamento do ar à
superfície, dirigido do continente para o mar. Esta circulação
denomina-se de brisa terrestre ou continental (Fig.7). Uma linha de
nuvens convectivas (cumulus) poderá frequentemente formar-se ao
longo da frente de brisa, imediatamente fora da linha da costa.
Ventos locais à superfície são geralmente perpendiculares à linha
de nuvens. Esse fenómeno pode ser observado em muitas regiões
durante as primeiras horas da manhã, e pode provocar chuva fraca
nessa região, até que a brisa terrestre (que, nos trópicos, intensifica
os alísios) ganhe força.
Climatogeografia 100

Figura 7 - Brisa Terrestre

A brisa de lago (lacustre) também se desenvolve de forma similar,


em torno de massas de água, dentro do continente. Frentes de brisa
de lago ao longo das costas é também um fenómeno frequente. De
forma similar, o ar sobre o lago permanece sem nuvens, enquanto
uma área de nuvens cumuliformes é aparente sobre a terra,
indicando a brisa de lago. Para ambos os sistemas, lagos e mar, o
vento sopra em direcção a costa, em geral perpendicularmente a
esta.

Brisas de Vale e de Montanha


Nas regiões montanhosas verificam-se sistemas de vento
particulares. As encostas mais inclinadas e as partes mais estreitas
dos vales são aquecidas pelo Sol de forma mais intensa que as
vastas superfícies dos vales ou os picos. Estas condições conduzem
a brisas de vale durante o dia e brisas de montanha durante a noite.
O ar em movimento ascendente é substituído pelo ar dos vales ou
dos planaltos, com menor declive. Assim, o vento durante o dia
surge habitualmente das partes mais baixas e sem declive,
obrigando o ar a subir. Como a denominação do vento está
Climatogeografia 101

associada à sua origem, este denomina-se de BRISA DE VALE


(Fig.8).

Figura 8 - Brisa de Vale

Durante a noite, o ar frio desce sobre as encostas para o vale. A


brisa segue o percurso no sentido oposto. Vem das montanhas e
dirige-se para o vale. Assim, denomina-se de BRISA DE
MONTANHA (Fig.9). Tal como nas brisas marítimas e terrestres, o
ar que se move junto ao solo e ascende, em determinado período de
tempo, tem de retornar e descer novamente. Este movimento de
retorno ocorre a altitudes mais elevadas. Assim se geram
circulações locais. O esquema acima indicado pode ser um pouco
simplista, porque as montanhas são estruturadas e têm muitos vales
laterais. Mas representa os processos fundamentais.
Climatogeografia 102

Monções
Em certas regiões da Terra, particularmente no sul do continente
asiático e no norte da Austrália, há uma inversão sazonal, brusca,
da direcção do vento á superfície.

No Verão do Hemisfério Norte (Abril a Setembro), a terra aquece


consideravelmente na Ásia Central e origina um centro de baixas
pressões muito cavado, que se contrapõe aos núcleos de altas
pressões sobre os oceanos Índico e Pacífico, cuja temperatura da
superfície é relativamente menor, originando uma circulação típica,
com ventos soprando do oceano para o continente. No inverno, a
circulação inverte-se, pois a superfície do oceano mantém-se mais
aquecida que a do continente. Os ventos passam a soprar do
continente para o mar. Estes
ventos alternantes em sentido são chamados de Monção (do árabe,
mausin, que significa estação) e fazem-se sentir no Oceano Indico e
no Mar da China nos seguintes períodos:
 Monção de SW, de Verão ou marítima: de Abril a
Setembro
 Monção de NE, de inverno ou continental: de Outubro a
Março

Figura 10 - Monção Asiática


Climatogeografia 103

Ainda que a palavra monção seja especificamente utilizada para


designar os ventos sazonais do sul e sudeste da Ásia, existem
outros locais onde se desenvolvem sistemas de circulação análogos.
Nas latitudes baixas podem ser encontrados outros ventos, tipo
monção, tais como:

 Monção do Golfo da Guiné: devido ao sobreaquecimento


das planícies centrais de África, o alísio de SE do Atlântico
Sul é desviado para a direita no Golfo da Guiné, ao cruzar o
Equador, produzindo nesta região, um vento S ou SW
permanente, conhecido por monção Africana ou monção do
Golfo da Guiné;
 Monção do Mar Vermelho: o vento predominante do Mar
Vermelho é de NNW, porém de Outubro a Maio, prevalece
na parte sul a monção de SSE, causada pelo desvio, no
Golfo de Áden, da monção de NE vinda do Oceano Índico.
Na parte norte do Mar Vermelho mantém-se o vento NNW
e na parte central forma-se uma zona de calmaria ou de
ventos fracos;
 Monção do Brasil: durante o Verão, no Hemisfério sul,
forma-se na parte central do Brasil uma zona de baixas
pressões que origina, em Setembro e Março, a monção de
NE ao longo da costa, até ao Rio da Prata. Nos restantes
meses do ano, prevalece o vento do quadrante sul.

Outros Ventos Locais


 Bora – Sopra do Ártico em direcção à Europa – É um vento
frio e seco.
 Simum – Sopra do sul do Sahara em direcção ao norte – É
um vento quente e seco.
 Siroco – Do norte da África (Sahara) em direcção ao sul da
Europa – É um vento quente e seco.
Climatogeografia 104

 Minuano – Do deserto da Patagónia (Argentina), chegando


ao Uruguai e ao sul do Brasil. Na Argentina recebe o nome
de Pampero.

Sumário
Os ventos são causados por diferenças de pressão atmosférica que
resultam do aquecimento desigual da superfície terrestre e da
atmosfera. O ar, aquecido na base quando se desloca sobre
superfícies quentes, torna se menos denso, implicando descida de
pressão e o estabelecimento de diferenças na distribuição da
pressão à superfície, i.e. de gradientes de pressão. Estes gradientes
constituem uma força, a força do gradiente de pressão, que põe o ar
em movimento

Exercícios
1. Identifique os principais ventos regionais e locais por si estudados.

Unidade XVII
Nuvens
Introdução
Nesta unidade abordaremos matérias ligadas a todo processo de
formação de nuvens e sua classificação.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Classificar as nuvens segundo vários critérios.

 Explicar o processo de formação de nuvens.


Objectivos 
Climatogeografia 105

Classificação de Nuvens

Nuvens são classificadas com base em dois critérios: aparência e


altitude.

Com base na aparência, distinguem-se três tipos: cirrus, cumulus e


stratus. Cirrus são nuvens fibrosas, altas, brancas e finas. Stratus
são camadas que cobrem grande parte ou todo o céu. Cumulus são
massas individuais globulares de nuvens, com aparência de domos
salientes. Qualquer nuvem reflete uma destas formas básicas ou é
combinação delas.

Com base na altitude, as nuvens mais comum na troposfera são


agrupadas em quatro famílias: Nuvens altas, médias, baixas e
nuvens com desenvolvimento vertical. As nuvens das três primeiras
famílias são produzidas por levantamento brando sobre áreas
extensas. Estas nuvens se espalham lateralmente e são chamadas
estratiformes. Nuvens com desenvolvimento vertical geralmente
cobrem pequenas áreas e são associadas com levantamento bem
mais vigoroso. São chamadas nuvens cumuliformes. Nuvens altas
normalmente tem bases acima de 6000 m; nuvens médias
geralmente tem base entre 2000 a 6000 m ; nuvens baixas tem base
até 2000 m. Estes números não são fixos. Há variações sazonais e
latitudinais. Em altas latitudes ou durante o inverno em latitudes
médias as nuvens altas são geralmente encontradas em altitudes
menores.

Devido às baixas temperaturas e pequenas quantidades de vapor


d’água em altas altitudes, todas as nuvens altas são finas e
formadas de cristais de gelo. Como há mais vapor d’água
disponível em altitudes mais baixas, as nuvens médias e baixas são
mais densas.
Climatogeografia 106

Nuvens em camadas em qualquer dessas altitudes geralmente


indicam que o ar é estável. Não esperaríamos normalmente que
nuvens crescessem ou persistissem no ar estável. Todavia, o
desenvolvimento de nuvens desse tipo é comum quando o ar é
forçado a subir, como ao longo de uma frente ou próximo ao centro
de um ciclone, quando ventos convergentes provocam a subida do
ar. Tal subida forçada de ar estável leva à formação de uma camada
estratificada de nuvens que tem uma extensão horizontal grande
comparada com sua profundidade.

Nuvens com desenvolvimento vertical

Estão relacionadas com ar instável. Correntes convectivas


associadas ao ar instável podem produzir nuvens cumulus, cumulus
congestus e cumulonimbus. Como a convecção é controlada pelo
aquecimento solar, o desenvolvimento de nuvens cumulus
freqüentemente segue a variação diurna da insolação. Num dia de
bom tempo as nuvens cumulus começam a formar-se do meio para
o final da manhã, após o sol ter aquecido o solo. A cobertura de
cumulus no céu é maior à tarde - usualmente o período mais quente
do dia. Se as nuvens cumulus apresentam algum crescimento
vertical, estas normalmente chamadas cumulus de "bom-tempo"
podem produzir leve chuva. Ao aproximar-se o pôr-do-sol a
convecção se enfraquece e as nuvens cumulus começam a dissipar-
se (elas evaporam).

Uma vez formados os cumulus, o perfil de estabilidade da


troposfera determina o seu crescimento. Se o ar ambiente é estável
mais para cima o crescimento vertical é inibido. Se é instável para
ar saturado, então o movimento vertical é aumentado e os topos das
nuvens cumulus sobem. Se o ar ambiente é instável até grandes
altitudes, a massa da nuvem toma a aparência de uma couve-flor,
Climatogeografia 107

enquanto se transforma em cumulus congestus e então em


cumulonimbus, que produz tempestades.

A tabela 6.1 lista os 10 tipos básicos de nuvens que são


reconhecidos internacionalmente. A figura 6.1 mostra um esquema
da forma destas nuvens.

Fig. 6.1 - Classificação de nuvens segundo altura e


forma.

TIPOS BÁSICOS DE NUVENS

FAMÍLIA DE TIPO DE CARACTERÍSTICAS


NUVENS E NUVEM
ALTURA

Nuvens altas Cirrus Nuvens finas, delicadas, fibrosas, formadas de cristais de gelo.
(acima de   (Ci)
6000 m)
Cirrocumulus Nuvens finas, brancas, de cristais de gelo, na forma de ondas ou massas
(Cc) globulares em linhas. É a menos comum das nuvens altas.

Cirrostratus Camada fina de nuvens brancas de cristais de gelo que podem dar ao céu um
(Cs) aspecto leitoso. As vezes produz halos em torno do sol ou da Lua

Nuvens médias Altocumulus Nuvens brancas a cinzas constituídas de glóbulos separados ou ondas.
(2000 - 6000 m) (Ac)
Climatogeografia 108

Altostratus Camada uniforme branca ou cinza, que pode produzir precipitação muito leve.
(As)

Nuvens baixas Stratocumulus Nuvens cinzas em rolos ou formas globulares, que formam uma camada.
(abaixo de (Sc)
2000 m)
Str atus Camada baixa, uniforme, cinza, parecida com nevoeiro, mas não baseada
(St) sobre o solo.
Pode produzir chuvisco.

Nimbostratus Camada amorfa de nuvens cinza escuro. Uma das mais associadas à
(Ns) precipitação.

Nuvens com Cumulus Nuvens densas, com contornos salientes, ondulados e bases freqüentemente
desenvolvimento (Cu) planas, com extensão vertical pequena ou moderada. Podem ocorrer
vertical isoladamente ou dispostas próximas umas das outras.

Cumulonimbus Nuvens altas, algumas vezes espalhadas no topo de modo a formar uma
(Cb) "bigorna". Associadas com chuvas fortes, raios, granizo e tornados.

Observação: Nimbostratus e Cumulonimbus são as nuvens responsáveis pela maior parte da


precipitação.

Tab. 6.1 - Tipos básicos de nuvens.

Sumário
Com base na aparência, distinguem-se três tipos: cirrus, cumulus e
stratus.

Com base na altitude, as nuvens mais comum na troposfera são


agrupadas em quatro famílias: Nuvens altas, médias, baixas e
nuvens com desenvolvimento vertical.

Exercícios
1. Orvalho e geada não são formas de precipitação.
Explique esta afirmação.
2. Faça a distinção entre nuvem e nevoeiro.
3. Como se forma o nevoeiro de vapor?
Climatogeografia 109

4. O que é uma nuvem?


5. Por que as nuvens tipicamente se formam sem condições
supersaturadas?
6. Qual é a importância dos núcleos de condensação?
7. Qual o significado de núcleo higroscópico?
8. Qual é o critério para a classificação de nuvens?
9. Se a temperatura no nível de condensação por
levantamento é 0 C e a temperatura na superfície é 20
C, determine a altitude aproximada da base da nuvem
cumulus acima do solo.
11. Explique porque as nuvens cumulus tendem a evaporar-
se quando se aproxima o pôr-do-sol.
12. Faça a distinção entre nuvens quentes e nuvens frias.
13. Por que nem todas as nuvens precipitam?
Como se forma o granizo?

NB. Entregar os exercícios 1, 6, 9 e 12 desta unidade.

Unidade XVIII
Formação de Precipitação.
Introdução
Nesta unidade trataremos assuntos relacionados com os diferentes
processos de formação de precipitação.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Descrever os processos de formação de precipitação.


Objectivos

Formação de Precipitação
Climatogeografia 110

Embora todas as nuvens contenham água, por que algumas


produzem precipitação e outras não? Primeiro, as gotículas de
nuvem são minúsculas, com diâmetro médio menor que 20 mm
(um fio de cabelo tem diâmetro em torno de 75mm). Devido ao
pequeno tamanho, sua velocidade de queda seria tão pequena,
como veremos a seguir, de modo que, mesmo na ausência de
correntes ascendentes, ela se evaporaria poucos metros abaixo da
base da nuvem. Segundo, as nuvens consistem de muitas destas
gotículas, todas competindo pela água disponível; assim, seu
crescimento via condensação é pequeno.

A velocidade de queda de uma gotícula de nuvem ou cristal de gelo


através do ar calmo depende de duas forças: a força da gravidade
(peso) e o atrito com o ar. Quando a partícula é acelerada para
baixo pela força da gravidade, sua velocidade cresce e a resistência
do ar cresce até eventualmente igualar a força da gravidade e então
a partícula cairá com velocidade constante, chamada velocidade
terminal. Considerando uma partícula esférica com raio r, a força
de atrito é dada pela lei de Stokes:
 

, (6.1)

 onde h é o coeficiente de viscosidade e v a velocidade da partícula.


No equilíbrio, quando a velocidade for constante:

Lembrando que a massa m é igual ao produto da densidade r pelo

volume  :

,
Climatogeografia 111

donde se obtém: (6.2)


.

(Para tomar em consideração a força de empuxo, r na realidade é a


diferença entre a densidade da partícula e a densidade do

ar:  . Ocorre que a densidade do ar é bem menor


que a da água.)

Da (6.2) vê-se que quanto maior o raio da gotícula, maior a


velocidade terminal. Gotículas com raio de 20mm têm velocidade
terminal em torno de 1,2 cm/s (levaria mais de 50 horas para cair
2200 m). Esta velocidade terminal é facilmente compensada pelas
correntes ascendentes dentro da nuvem, que são usualmente fortes
o suficiente para impedir as partículas de nuvem de deixar a base
da nuvem. Mesmo que elas descessem da nuvem, sua velocidade é
tão pequena que elas percorreriam apenas uma pequena distância
antes de se evaporarem no ar não saturado abaixo da nuvem.

Portanto, as gotículas de nuvem precisam crescer o suficiente para


vencer as correntes ascendentes nas nuvens e sobreviver como
gotas ou flocos de neve a uma descida até a superfície sem se
evaporar. Para isso, seria necessário juntar em torno de um milhão
de gotículas de nuvem numa gota de chuva. Dois importantes
mecanismos foram identificados para explicar a formação de gotas
de chuva: O processo de Bergeron e o processo de colisão -
coalescência.
Climatogeografia 112

Sumário
Dois importantes mecanismos foram identificados para explicar a
formação de gotas de chuva: O processo de Bergeron e o processo
de colisão - coalescência.

Exercícios
1. Em que consiste os processos de Bergeron e o processo de
colisão - coalescência.

Unidade XIX
Processo de Bergeron

Nesta unidade trataremos de processo de Bergeron.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Descrever o processo de Bergeron.


Objectivos
Climatogeografia 113

O Processo de Bergeron

O processo de Bergeron aplica-se a nuvens frias, que estão em


temperaturas abaixo de 0° C. Ele se baseia sobre duas propriedades
interessantes da água.

A primeira é a propriedade de que gotículas de nuvem não


congelam a 0° C como se esperaria. De fato, água pura suspensa no
ar não congela até atingir uma temperatura em torno de -40° C. A
situação é análoga à formação de uma gotícula de água pura a partir
da fase de vapor. Naquele caso era necessário haver supersaturação
para que moléculas na fase de vapor se juntassem, através de
colisões aleatórias para formar gotículas embriônicas de água
suficientemente grandes para subsistir. Neste caso de congelamento
deve haver baixa temperatura para que um embrião de gelo de
tamanho suficiente seja formado pela agregação aleatória de um
número suficiente de moléculas de água na gotícula. Água em
estado líquido abaixo de 0° C é geralmente denominada
superesfriada. O congelamento fica facilitado, podendo ocorrer em
temperaturas mais altas, quando as gotículas superesfriadas se
agruparem sobre a superfície de uma partícula sólida chamada
núcleo de congelamento. A necessidade de núcleos de
congelamento para iniciar o processo de congelamento é similar à
necessidade de núcleos de condensação no processo de
condensação. Ao contrário dos núcleos de condensação, contudo,
os núcleos de congelamento são menos abundantes na atmosfera e
geralmente não se tornam ativos até a temperatura de -10° C (ou
menos), conforme mencionamos anteriormente. Portanto, nuvens
com temperatura entre 0 e -10° C são tipicamente compostas de
gotículas de água superesfriada. Entre -10° C e -20° C gotículas
líquidas coexistem com cristais de gelo. Abaixo de -20° C, a
temperatura de ativação de muitos núcleos de deposição, as nuvens
usualmente consistem inteiramente de cristais de gelo.
Climatogeografia 114

A distribuição de gotículas superesfriadas e cristais de gelo pode


ser muito complicada em nuvens com grande desenvolvimento
vertical. Cumulonimbus, por exemplo, são compostos por cristais
de gelo na parte mais elevada, por uma mistura de gotículas
superesfriadas e cristais de gelo na parte média e gotículas de água
na parte inferior. Além disso, as fortes correntes de convecção
dentro do cumulonimbus transportam gotículas líquidas para cima,
onde elas congelam. Esta é uma fonte importante de cristais de gelo
em nuvens de tempestades.

Como os núcleos que formam gotículas de água são muito mais


abundantes que núcleos que formam cristais de gelo, nas nuvens
com temperaturas entre -10° C e -20° C gotículas de água
superesfriada são muito mais abundantes que cristais de gelo, ao
menos inicialmente. De fato, um só cristal de gelo pode estar
rodeado por centenas de milhares de gotículas de água
superesfriada.

Isso nos traz à segunda propriedade importante da água. A pressão


de vapor de saturação sobre cristais de gelo é muito menor que
sobre gotículas de água superesfriada (Tab. 6.2). Esta situação
ocorre porque cristais de gelo são sólidos, o que significa que
moléculas de água individuais no gelo são mantidas juntas mais
firmemente que aquelas formando uma gotícula líquida. Portanto, é
mais fácil para as moléculas de água escapar de gotículas líquidas
superesfriadas. Por isso, as pressões de vapor de saturação são
maiores sobre as gotículas líquidas superesfriadas que sobre os
cristais de gelo. Conseqüentemente, quando o ar está saturado
(UR=100%) em relação às gotículas líquidas, ele está
supersaturado em relação aos cristais de gelo. A tabela 6.3, por
exemplo, mostra que em -10° C, quando a umidade relativa é 100%
em relação à água, ela será de 110% em relação ao gelo.
 
Climatogeografia 115

VARIAÇÃO DA PRESSÃO DE VAPOR DE SATURAÇÃO


COM A TEMPERATURA

PRESSÃO DE VAPOR DE
TEMPERATURA SATURAÇÃO 
(mb)

SOBRE A SOBRE O
(°C) (°F)
ÁGUA GELO

50 122 123,40

40 104 73,78

30 86 42,43

20 68 23,37

10 50 12,27

0 32 6,11 6,11

-10 14 2,86 2,60

-20 -4 1,25 1,03

-30 -22 0,51 0,38

-40 -40 0,19 0,13

* Note que para temperaturas abaixo do congelamento


são dados dois valores, um sobre a água superesfriada
e outro sobre o gelo.

Tab. 6.2 - Variação da pressão de vapor de saturação com a temperatura.

UMIDADE RELATIVA EM RELAÇÃO AO GELO QUANDO


A UMIDADE RELATIVA EM RELAÇÃO À ÁGUA É 100%

UMIDADE RELATIVA EM RELAÇÃO Á:


Climatogeografia 116

TEMPERATURA
ÁGUA (%) GELO (%)
(°C)

0 100 100

-5 100 105

-10 100 110

-15 100 115

-20 100 121

Tab. 6.3 - UR em relação ao gelo quando a UR em relação à água é 100%.

O processo de Bergeron depende da diferença entre a pressão de


saturação do vapor sobre a água e sobre o gelo. Consideremos uma
nuvem na temperatura de -10 C, onde cada cristal de gelo está
rodeado por muitos milhares de gotículas líquidas. Se o ar está
inicialmente saturado em relação à água líquida, ele está
supersaturado em relação aos recém-formados cristais de gelo.
Como resultado desta supersaturação, os cristais de gelo coletam
mais moléculas de água que perdem por sublimação. A deposição
remove vapor d’água da nuvem e por isso cai a umidade relativa
abaixo de 100%, e as gotículas se evaporam. Assim a evaporação
contínua das gotículas fornece uma fonte de vapor e os cristais de
gelo crescem às custas das gotículas de água superesfriada (Fig.
6.2).
Climatogeografia 117

Fig. 6.2 - O processo de Bergeron

Como o nível de supersaturação em relação ao gelo pode ser


grande, o crescimento de cristais de gelo é geralmente rápido o
suficiente para gerar cristais suficientemente grandes para cair.
Durante sua descida estes cristais de gelo aumentam à medida que
interceptam gotículas superesfriadas de nuvem que congelam sobre
eles. É o processo de acreção, que leva a estruturas com orlas de
gotículas congeladas. O granizo é um caso extremo de crescimento
de partículas de gelo por acreção. Ele consiste de uma série de
camadas quase concêntricas. É produzido somente em
cumulonimbus, onde as correntes ascendentes são fortes e há
suprimento abundante de água superesfriada. Granizo começa
como pequenos embriões de gelo que crescem coletando gotículas
superesfriadas enquanto caem através das nuvens. Se encontram
uma forte corrente ascendente, eles podem ser levantados
Climatogeografia 118

novamente e recomeçar a jornada para baixo. Cada viagem através


da região de água superesfriada da nuvem pode representar uma
camada adicional de gelo.

Os cristais de gelo podem crescer também colidindo e aderindo uns


aos outros, formando cristais maiores, que são os flocos de neve.
Este é o processo de agregação. Quando a temperatura da
superfície está acima de 4o C, os flocos de neve geralmente
derretem antes de atingir o solo e continuam caindo como chuva.

A semeadura de nuvens usa o processo de Bergeron. Adicionando


núcleos de congelamento (comumente iodeto de prata) a nuvens
com água superesfriada pode-se mudar a evolução destas nuvens.
Climatogeografia 119

Sumário
O processo de Bergeron depende da diferença entre a pressão de
saturação do vapor sobre a água e sobre o gelo. Consideremos uma
nuvem na temperatura de -10o C, onde cada cristal de gelo está
rodeado por muitos milhares de gotículas líquidas. Se o ar está
inicialmente saturado em relação à água líquida, ele está
supersaturado em relação aos recém-formados cristais de gelo.

Exercícios
1. Explique em que consiste o processo de Bergeron.

2. Descreva as etapas na formação de precipitação de acordo com o


processo de Bergeron. Não esqueça de incluir (a) a importância das
gotículas de nuvem superesfriadas, (b) o papel dos núcleos de
congelamento e (c) a diferença na pressão de vapor de saturação
entre a água líquida e o gelo.
Climatogeografia 120

Unidade XX
Processo de Colisão - Coalescência
Introdução
Nesta unidade trataremos de processo de colisão – coalescência.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Descrever o processo de colisão - coalescência.


Objectivos

Processo de Colisão - Coalescência

O processo de colisão-coalescência ocorre em algumas nuvens


quentes, isto é, nuvens com temperatura acima do ponto de
congelamento da água (0o C).
Climatogeografia 121

Fig. 6.3 - O processo de colisão - coalescência

Essas nuvens são inteiramente compostas de gotículas de água


líquida e precisam conter gotículas com diâmetros maiores que
20m para que se forme precipitação. Estas gotículas maiores se
formam quando núcleos de condensação "gigantes" estão presentes
e quando partículas higroscópicas, como sal marinho, existem.
Estas partículas higroscópicas começam a remover vapor d’água do
Climatogeografia 122

ar em umidades relativas abaixo de 100% e podem crescer muito.


Como essas gotículas gigantes caem rapidamente, elas colidem
com as gotículas menores e mais lentas e coalescem (combinam)
com elas, tornando-se cada vez maiores. Tornando-se maiores, elas
caem mais rapidamente e aumentam suas chances de colisão e
crescimento. Após um milhão de colisões, elas estão
suficientemente grandes para cair até a superfície sem se evaporar.
Gotículas em nuvens com grande profundidade e umidade
abundante têm mais chance de atingir o tamanho necessário.
Correntes ascendentes também ajudam, porque permitem que as
gotículas atravessem a nuvem várias vezes. As gotas de chuva
podem crescer até 6 mm de diâmetro, quando sua velocidade
terminal é de 30km/h. Neste tamanho e velocidade, a tensão
superficial da água, que a mantém inteira, é superada pela
resistência imposta pelo ar, que acaba "quebrando" a gota. As
pequenas gotas resultantes recomeçam a tarefa de anexar gotículas
de nuvem. Gotas menores que 0,5 mm ao atingir o solo, são
denominadas chuvisco e requerem em torno de dez minutos para
cair de uma nuvem com base em 1000 m.

Gotas de chuva produzidas em nuvens quentes são usualmente


menores que aquelas de nuvens frias. De fato, raramente as gotas
de chuva de nuvens quentes excedem 2 mm de diâmetro. O
crescimento das gotas através de uma combinação do processo de
Bergeron mais colisão-coalescência (em nuvens frias) produz gotas
maiores que o processo de colisão-coalescência sozinho (em
nuvens quentes).
Climatogeografia 123

Sumário
O processo de colisão-coalescência ocorre em algumas nuvens
quentes, isto é, nuvens com temperatura acima do ponto de
congelamento da água (0o C).

Exercícios
1. Explique em que consiste o processo de colisão-coalescência.

2. Descreva o processo de formação de precipitação por colisão-


coalescência. No que este processo difere do processo de
Bergeron?
Climatogeografia 124

Unidade XXI
Medidas de Precipitação.
Introdução
Nesta unidade trataremos de instrumentos de medição da
precipitação atmosférica.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer os instrumentos de medição da precipitação


atmosférica.
Objectivos  Identificar os diferentes tipos instrumentos de medição.

Medidas de Precipitação

A forma mais comum de precipitação, a chuva, é provavelmente a


mais fácil de medir. Entretanto, dispositivos sofisticados são usados
para medir pequenas quantidades de chuva mais precisamente,
assim como para reduzir perdas por evaporação. O pluviómetro
padrão tem um diâmetro em torno de 20 cm no topo. Quando a
água é recolhida, um funil a conduz a uma pequena abertura num
tubo de medida cilíndrico que tem área de secção recta de somente
um décimo da área do colector. Consequentemente, a espessura da
chuva precipitada é aumentada 10 vezes, o que permite medidas
com precisão de até 0,025 cm, enquanto a abertura estreita
minimiza a evaporação. Quando a quantidade de chuva é menor
que 0,025 cm, é considerada um traço de precipitação.

Além do pluviómetro padrão, há vários tipos de pluviógrafos, que


não apenas registaram a quantidade de chuva, mas também seu
instante de ocorrência e intensidade (quantidade por unidade de
tempo). Os mais comuns são abaixo descritos.
Climatogeografia 125

Um deles é constituído por dois compartimentos, cada qual com


capacidade de 0,025 cm de chuva, situados na base de um funil de
25 cm. Quando um dos compartimentos está cheio, ele entorna e se
esvazia. Durante este intervalo o outro compartimento toma seu
lugar na base do funil. Cada vez que um compartimento entorna,
um circuito eléctrico é fechado e a quantidade de precipitação é
automaticamente registada num gráfico.

O outro é o pluviógrafo de pesagem, no qual a precipitação é


recolhida num cilindro que está sobre uma balança. À medida que o
cilindro se enche, um registador regista o peso da água acumulada,
calibrado em espessura de precipitação.

Fig. 6.4 - Pluviômetro padrão

A exposição correcta do pluviómetro é crítica. Para assegurar


medidas representativas, deve haver protecção contra ventos fortes
mas também distância de obstáculos que impeçam chuva oblíqua
Climatogeografia 126

de cair no pluviómetro. Em geral os obstáculos deveriam estar a


uma distância do pluviómetro igual a quatro vezes a sua altura.

Sumário
Além do pluviómetro padrão, há vários tipos de pluviógrafos, que
não apenas registaram a quantidade de chuva, mas também seu
instante de ocorrência e intensidade (quantidade por unidade de
tempo). Os mais comuns são abaixo descritos

Exercícios
1. Indique os principais instrumentos de medição da precipitação.

2. Como funciona o pluviômetro padrão?


Climatogeografia 127

Unidade XXII
Massas de Ar
Introdução
Nesta unidade falaremos das massas de ar, sua formação e
classificação.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir massas de ar.

 Caracterizar massa de ar.


Objectivos
 Classificar massas de ar.

Massas de Ar 

Massa de ar é um grande volume da atmosfera com características


termodinâmicas uniformes. Como as condições de temperatura e
humidade de uma massa de ar são uniformes, o tempo associado
também o é. Assim, as variações que se verificam são devidas às
modificações que a massa de ar sofre no seu trajecto. Cada massa
de ar apresenta as suas características próprias pelo que as
condições de tempo variam consideravelmente de massa de ar para
massa de ar.

Formação de uma massa de ar - Regiões de origem.

Para que uma massa de ar se forme é necessário que o ar fique


estacionado durante algum tempo sobre uma região que tenha uma
distribuição uniforme de temperatura, de modo a adquirir as suas
características. A estas regiões chamam-se regiões de origem das
Climatogeografia 128

massas de ar. As massas de ar que afectam Portugal têm origem em


diversas regiões como sejam: A Sibéria, o Norte do Canadá, o Pólo
Norte, o Norte de África e a região dos Açores. Assim, quando um
anticiclone estaciona sobre uma destas regiões, e devido aos seus
ventos fracos e à sua subsidência (movimento vertical
descendente), o ar vai lentamente absorvendo as características
termodinâmicas dessa região. Esse processo faz com que o ar fique
com uma distribuição uniforme da temperatura e da humidade, quer
na horizontal quer na vertical.

 Uma massa de ar pode ser identificado por diversos factores, como


sejam:

- A temperatura,

- O gradiente térmico vertical. (decréscimo da temperatura com a


altitude - "Standard" 6ºC/Km)

- A humidade.
- A visibilidade,
- As nuvens e a precipitação.

Classificação das massas de ar

As massas de ar são classificadas tendo em atenção três factores: a


sua região de origem, as influências sofridas e o seu
comportamento termodinâmico.

Quanto à sua região de origem as massas de ar podem ser Árcticas


(A), Polares (P), Tropicais (T) e Equatoriais (E).

Quanto às influências sofridas podem ser continentais (c) e


marítimas (m).
Climatogeografia 129

Quanto ao seu comportamento termodinâmico podem ser quentes


(w) ou frias (k).

Para caracterizar as massas de ar utiliza-se uma letra de cada um


destes três grupos, dispostas pela ordem com que foram
apresentadas. Assim, temos massas da ar árcticas  continentais frias
(Ack); tropicais marítimas quentes (Tm); polares continentais
quentes (Pcw), etc.

Modificação das massas de ar

Quando as massas de ar se deslocam das suas regiões de origem


para as de destino, vão sofrer a influência das regiões sobre as
quais circulam e vão, por isso, modificar as suas características.
Este processo vai depender de diversos factores, como sejam a
velocidade de deslocamento, a diferença de características entre as
duas regiões, o tipo de circulação (ciclónica ou anticiclónica) da
massa de ar, etc.

Quando as massas de ar frias se deslocam sobre regiões mais


quentes vão aumentar a sua instabilidade por aquecimento da base.
Se a região por onde se deslocam for continental, a sua humidade
não aumenta. Se, ao contrário, essa região for marítima, há
aumento da humidade e formam-se nuvens do tipo cumuliforme. Se
a massa de ar for transportada por uma depressão, o movimento
vertical ascendente desta, vai aumentar a instabilidade da massa de
ar. Uma circulação anticiclónica diminui estas condições de
instabilidade.

Massas de ar quentes que se deslocam sobre regiões frias vão


diminuir a sua instabilidade por arrefecimento da base. Essa
estabilização, da massa de ar, vai provocar a formação de nuvens
baixas e nevoeiros e é mais acentuada quando a circulação é
Climatogeografia 130

anticiclónica pois, nesse caso, a juntar ao arrefecimento da massa


de ar, temos a subsidência ( movimento vertical descendente) do
anticiclone.

Sumário
As massas de ar instáveis (massas de ar frias que se deslocam
sobre superfícies quentes) provocam:

- Nuvens cumuliformes;
- Precipitação tipo aguaceiros;
- Vento moderado a forte com rajadas;
- Visibilidade boa;
- É possível a ocorrência de trovoadas;

Massas de ar estáveis (massas de ar quente que se deslocam


sobre superfícies frias) provocam:

- Nuvens estratiformes e nevoeiro;


- Precipitação do tipo chuva ou chuvisco;
- Vento fraco a moderado;
-Visibilidade fraca;
 

Exercícios
1. Como se classificam as massas de ar quanto ao a sua região de
origem, as influências sofridas e o seu comportamento
termodinâmico.

NB. Entregar o exercício 1 desta unidade.


Climatogeografia 131

Unidade XXIII
Correntes Maritimas
Introdução
Os marinheiros e navegadores desde há muito que conheciam o
efeito das correntes marinhas nas rotas dos navios, caracterizando-
as como «grandes rios dentro dos oceanos», houve contudo, alguns
investigadores que se interessaram pelo assunto, estudando-o por
conta própria, tal foi o caso de B. Franklin, ao qual se deve a
primeira carta da corrente do Golfo). M. Maury, foi um dos
primeiros investigadores a preocupar-se com o estudo dessas
correntes de uma forma mais aprofundada, pelo que em 1832,
começou a reunir e a classificar uma série de informações. No
entanto, estes estudos não passavam de descrições com pouco valor
científico.

Foi W. Ekman em 1905, o primeiro a edificar uma teoria das


correntes de deriva tendo em conta a rotação da Terra e uma
«viscosidade turbulenta» vertical. Em 1936, C. G. Rossby
introduziu um coeficiente de turbulência lateral, depois foram
feitos progressos com os trabalhos de H. V. Sverdrup (1947) e R.
O. Reid (1948) sobre a corrente equatorial do oceano Pacifico, que
mostram que o vento é o principal motor das correntes marinhas.
Por outro lado, M. Stommel, num estudo do modelo de oceano
fechado rectangular, mostrou que a intensificação oeste das
correntes é derivada à variação da aceleração de Coriolis com a
latitude.
Climatogeografia 132

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir correntes marítimas.

 Identificar os tipos de correntes marítimas


Objectivos
 Caracterizar as correntes marítimas

 Reconhecer a importância das correntes marítimas.

Correntes Marítimas

 - Correntes marítimas são deslocamentos de massas de água


oceânicas geradas pela inércia de rotação do planeta e pelos ventos.
As correntes movimentam-se por todos os oceanos do mundo,
transportando calor e, por isso apresentam uma grande influência
na pesca, vida marinha e no clima.

- As principais correntes marítimas da Terra são conhecidas como,


a Corrente do Golfo, Corrente do Brasil, Correntes de Humbolt,
entre outras. Devido a essas massas de água estarem em
deslocação, carregam consigo energia cinética.

- Estima-se que a potência total das correntes oceânicas de todo


mundo esteja por volta de 5 mil gigawatts, ou seja, com uma
densidade de potência por volta de 15 Kw/m2.

- Apesar das correntes marítimas se moverem apenas com 2% da


velocidade dos ventos que as influenciam, a diferença de densidade
entre o ar e a água do mar é muito grande.

Causas das Correntes Marinhas

A massa oceânica é constantemente deslocada e misturada por


movimentos mais ou menos rápidos, provocados pela interferência
Climatogeografia 133

de dois mecanismos fundamentais: os ventos e as diferenças de


densidade, cuja origem se encontra na superfície de contacto entre
a atmosfera e o mar.

Os especialistas estão longe de um acordo sobre a importância


relativa de cada uma dessas causas. Evidentemente, os antigos
autores deixaram-nos opiniões bastante fantasistas. Muitos, mesmo
ainda actualmente, atribuem uma influência preponderante ao
movimento de rotação da Terra. É um erro grave, a força centrífuga
complementar que representa a sua acção, sendo nula para um
corpo em repouso, não podendo produzir uma deslocação, mas
antes, tem um papel importante na perturbação do movimento
devido a outras causas. O vento foi durante muito tempo
considerado como a única causa (correntes de impulsão); sem
negar a sua influência, acrescenta-se também a importância das
diferenças de densidade (correntes de descarga). Enfim, há a
considerar todas as numerosas influências perturbadoras, pois estão
todas relacionadas umas com as outras.

Influência das correntes marítimas no clima

A circulação superficial dos oceanos corre segundo os padrões de


ventos globais. A cada lado do equador, em todas as bacias
oceânicas, existem duas correntes circulando para oeste, a norte e a
sul.   A água transportada deste modo aquece, e quando embate na
Climatogeografia 134

costa oriental dos continentes, flui para as latitudes mais elevadas,


onde arrefece por contacto com as águas polares. Estas águas
voltam a descer para o equador seguindo a costa ocidental dos
continentes para sul, completando o ciclo. Estas correntes
circulares transportam calor dos trópicos para os pólos,
contribuindo para a amenização do clima global.

 Correntes quentes: formam-se na zona


intertropical, próxima à Linha do Equador, e
movimentam-se em direcção às zonas polares.

 Correntes frias: formam-se nas zonas polares e


movimentam-se em direcção à região equatorial.
Climatogeografia 135

A influência das correntes oceânicas nos Descobrimentos


Portugueses.

 As correntes oceânicas influenciam certas actividades humanas


como a navegação.

Um exemplo é a descoberta do caminho marítimo para a Índia. No


Sul e Este de África os marinheiros portugueses tiveram de
confrontar uma perigosa corrente: a corrente das Agulhas.

-O perigo destas correntes (Agulhas) deve-se a nesta zona haver


ventos superiores a 180 km/h no sentido Sul – Norte confrontados
com correntes, também elas fortíssimas em sentido oposto, o que
provoca ondas gigantes.

-Foram necessárias mais três viagens depois da de Bartolomeu Dias


para cartografar estas correntes, antes que Vasco da Gama as
pudesse navegar.

-Estas ondas, principais causadoras de naufrágios nesta região,


eram a base para a criação de mitos relacionados com monstros
marinhos.
Climatogeografia 136

Mensuradores de Correntes

Aqueles procedimentos não permitem mais do que determinações


aproximadas das correntes superficiais. Têm-se procurado construir
aparelhos que permitam uma medida da direcção e velocidade da
corrente a uma certa profundidade. O aparelho de Ekman, o
correntómetro, possui um leme que lhe permite orientar-se
seguindo a direcção da corrente; no interior encontra-se uma agulha
magnética de direcção fixa, uma hélice posta em movimento pela
corrente e munida de um conta-rotações. O envio de um precursor
desbloca esta hélice e permite ao mesmo tempo a queda de uma
bola no centro da agulha magnética. Esta bola segue uma goteira ao
longo da agulha e vai alojar-se numa das trinta e seis casas
dispostas sobre o contorno da caixa que contém a agulha. Um
segundo precursor permite bloquear de novo a hélice. Logo que o
aparelho é elevado, o exame do compartimento alcançado pela bola
dá-nos a direcção da corrente com 10º de aproximação, e o número
de voltas dadas pela hélice dá-nos a sua velocidade.

O aparelho de Idrac (construído em 1928) contém igualmente um


leme, uma agulha magnética e uma hélice, mas a direcção é
registada duma maneira continua pela fotografia sobre um filme
desenrolando-se um movimento uniforme da imagem duma fonte
luminosa através de uma placa circular contida na agulha
magnética e portanto duas circunferências e uma espiral
transparente (Fig. 4). A cada momento o valor CA/CB dá a
direcção da agulha magnética em relação ao aparelho, o filme
obtém dois lugares das imagens A e B e uma curva sinuosa local da
imagem de C. O registo da velocidade é obtido pela inflamação de
uma lâmpada produzindo uma marca no filme ao fim de um certo
número de voltas da hélice. São contudo aparelhos complicados e
delicados. Mas um aparelho mais robusto foi proposto por
Climatogeografia 137

Makaroff, medindo a velocidade da corrente pelo choque dum


martelo sobre uma placa metálica ao fim de um certo número de
voltas da hélice., o som podia ser ouvido a 500 metros de
profundidade.

Contudo as dificuldades surgidas pela necessidade de subtrair a


agulha magnética a todas as causas perturbadoras, o grande
inconveniente de todos estes aparelhos é de exigir uma fixação do
instrumento, quer dizer do navio, ora a largada de uma âncora em
grandes profundidades apresenta grandes dificuldades técnicas
(tem-se todavia chegado a fazer em locais com 5000 metros de
profundidade), além disso, o navio oscila sempre em volta do seu
ponto de amarragem. Propuseram-se várias soluções para este
problema (medida da corrente estando o navio a navegar à mesma
velocidade em várias direcções, medida simultânea da corrente à
profundidade encontrada e a uma grande profundidade onde se
pode considerar como bastante fraca, etc.). De qualquer maneira
não se pode esperar uma grande precisão.

Sumário
As correntes marinhas não têm um significado tão preponderante
como muitas vezes lhe atribuem. Sob o aspecto morfológico, foram
muitos os que se deixaram levar por ideias fantasiadas no que se
refere ao efeito mecânico da água corrente dos oceanos,
acreditando que estas águas poderiam criar estreitos marítimos
completos, como os de Gibraltar, Mancha ou das Antilhas. Isto é
falso, embora não se possa negar o efeito modelador e erosivo das
águas correntes, pois ao longo dos séculos e com a ajuda das vagas
e torrentes fluviais, efectuaram uma imensa actividade
modificadora do litoral.
Climatogeografia 138

As correntes marinhas exercem a sua actividade no sentido de


transportar os materiais mais ou menos finos que as vagas
arrancaram, repartem esse material por outros lugares, depositando-
o depois de certo tempo, segundo o tamanho das partículas. Trata-
se geralmente de pequenas regiões, mas às vezes são vastas as
regiões abarcadas. A região pouco profunda que se estende em
frente à costa da Guiana, supõe-se devida em grande parte aos
sedimentos do Amazonas, cujas águas são levadas para NW pela
rápida corrente equatorial do Sul. Os materiais de aluvião que o
Amazonas transporta numa hora, estimam-se em 80 milhões de Kg.

Incomparavelmente mais importante é a influência das correntes


marinhas no clima. Parece tão natural que uma corrente, quente ou
fria, exerça uma influência correspondente no clima da terra firme
por ela banhada, e particularmente na zona costeira, que poucas
vezes se obtém uma resposta exacta à pergunta de como se exerce
esta influência.

Exercícios
1. Indique o significado das correntes marítimas.

2. Qual é a influência das correntes marítimas no clima?

NB. Entregar os exercícios: 1 e 2 desta unidade.


Climatogeografia 139

Unidade XXIV
Análise e previsão do Tempo

Introdução
A pesquisa científica da atmosfera e as aplicações que dela
decorrem definem o universo e a abrangência da meteorologia. Um
dos principais objectivos operacionais da meteorologia é a previsão
do tempo, entendida aqui como a previsão dos fenómenos
atmosféricos que ocorrerão em um período futuro de até 15 dias.
Além da previsão do tempo há a determinação da tendência das
flutuações climáticas, em geral referida simplesmente como
tendência climática. Nesse caso, a tendência procura estabelecer as
condições das flutuações climáticas do próximo ano ou da próxima
estação, se a temperatura, humidade do solo, precipitação etc estará
acima, abaixo ou próxima do valor esperado. Assim, a previsão do
tempo é definida para diferentes escalas temporais e espaciais.
Muitos dos sistemas atmosféricos apresentam uma combinação
complexa de fenómenos de escalas diferentes.

Nesta unidade estudaremos os conceitos importantes relacionados


com a previsão do tempo e daremos uma visão geral do processo de
análise e previsão do tempo.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de :


Climatogeografia 140

 Caracterizar a previsão do tempo;

 Conhecer o processo de análise da previsão do tempo.


Objectivos

Definições importantes

Tempo – Estado da atmosfera num dado momento no que diz


respeito à temperatura, humidade, nebulosidade, precipitação ou
qualquer outro fenómeno atmosférico. (Condições
atmosféricas/condições de tempo).

Prognóstico – Julgamento do previsor do desenvolvimento futuro


da situação do tempo estimado baseado numa análise.

Previsão de tempo (Previsão ou Previsão Meteorológica) –


Exposição das condições meteorológicas previstas para um período
definido e para uma zona determinada. É o prognóstico das futuras
condições atmosféricas.

O Mapa de tempo

Mapa de uma grande região no qual o meteorologista anota para


cada posto ou estação meteorológica os dados, representando as
condições e elementos meteorológicos, de lá provenientes; depois
disso ele está habilitado a traçar ou localizar nesse mesmo mapa as
massas de ar, as frentes, etc.

O mapa do tempo é o instrumento mais fundamental para a


compreensão e previsão do tempo. Um grande número de mapas e
cartas de tempo são produzidos, em várias horas do dia e em muitas
formas, incluindo um grande número de produtos transmitidos por
vários meios (telefone, fax, internet, via rádio e outras).

Os mapas de tempo recebidos incluem numerosas cartas de análise,


uma grande variedade de cartas de prognósticos, e muitas outras
cartas incluindo fotografias de satélite, descrições do tempo, cartas
Climatogeografia 141

de alturas de ondas, estudos de nuvens, resumos de radar, cartas de


temperatura do mar e informação sobre gelo. Entre os vários tipos
mais comuns de produtos e outras cartas são:

Cartas de Análise – Mapas que mostram as condições de tempo


existentes num dado momento. Elas mostram o padrão da pressão,
especialmente os centros de alta e baixas pressões. Elas também
podem mostrar as frentes de tempo e outros dados observacionais
de cada estação de observação.

Cartas de Prognóstico ou Previsão – Estas cartas de previsão. Elas


mostram as condições esperadas ou previstas para uma área num
tempo futura especificada. Mostram os padrões de pressão
esperados e podem incluir informação de previsão adicional.

Cartas Sinópticas – Este é um termo que se refere às observações


do estado do tempo que são tanto em forma de sumário geral e
feitas simultaneamente em muitos pontos de observação. Assim, a
carta de análise é essencialmente uma carta sinóptica e é
frequentemente referida como tal.

Cartas de tempo significativo – Estas são cartas que focalizam


sobre apenas os principais padrões de tempo, tais como sistemas
frontais, padrões de nuvens, regiões de precipitação, e áreas de
nevoeiro/neblina. Tais cartas podem ser ou de análise (mostrando
condições recentes) ou de prognóstico (mostrando condições
previstas).

Cartas Nefoscópicas ou de Nuvens – Estas são cartas que


apresentam a análise de fotografias satélites de nuvens (nefo-
indica “nuvens”. Uma carta de gelo de satélite é incluída nesta
categoria.

Carta de condições do mar – Uma variedade de cartas, de análise e


prognóstico, que descrevem as condições do mar. Algumas
mostram as temperaturas da superfície do mar, algumas mostram
Climatogeografia 142

alturas do mar significativas e outras mostram os limites do gelo


marinho.

Cartas de ventos em altura – Este são um termo para uma grande


variedade de cartas, de análise e prognóstico, do vento, pressão, e
camadas superiores, vorticidade, e tempo significativo. Tais cartas
de ventos superiores são apresentadas para uma variedade de
superfícies de pressão superiores (alturas).

Cartas de previsão prolongada – Estas são cartas que apresentam


previsão (prognóstico) com três ou mais dias de avanço.

Visão geral do processo de análise e previsão de tempo

A ciência meteorológica é complexa e complicada, e a previsão de


tempo é um dos seus aspectos mais implicado e delicado.

Os pontos anteriores sugerem que uma vasta quantidade de


informação sinóptica e outros dados de tempo recolhidos é
reportada diariamente ao Serviço Nacional de Tempo, que prepara
uma vasta série de mapas de tempo e cartas a partir desta
informação. Juntamente, uma vasta gama de modelos matemáticos
e físico (modelos numéricos) da atmosfera são usados para
comparar e assimilar estes dados para orientação numérica e
previsão.

Várias relações preditivas fundamentais devem ser profundamente


conhecidas e bem compreendidas antes, para que faça uma boa
previsão. Mudanças sazonais na pressão, vento, temperatura
resultantes das mudanças na relação terra-sol são ciclicamente
previsíveis. Mudanças de pressão (conforme a medição por
barómetros) ajudam a prever condições de tempo tanto de curto
como de longo termo. Campos de pressão estão relacionados com
os padrões de fluxo de vento, e o vento e o movimento do ar
ajudam a indicar o tempo futuro.
Climatogeografia 143

As Previsões dos movimentos de massa de ar mais quente, mais


fria, mais seca, ou mais húmida para dentro ou para fora duma dada
região são fundamentais para uma previsão de tempo básica.
Padrões de convergência e divergência do fluxo o ar, a quantidade
de água perceptível no ar, condições de estabilidade ou
instabilidade atmosférica, a direcção e velocidade de movimento de
frentes de tempo são todos preditores de mudanças de tempo
fundamentais assim como factores explicadores de condições
existentes.

Estas condições básicas devem primeiro ser analisadas para que se


compreenda as condições do tempo actual. Somente depois tais
factores podem ser usados para prever as mudanças no tempo que
pode ocorrer, a magnitude e duração destas mudanças. Tais
análises e previsões são em seguida categorizadas.

Sumário
A ciência meteorológica é complexa e complicada, e a previsão de
tempo é um dos seus aspectos mais implicado e delicado. É
importante prever o desenvolvimento futuro da situação do tempo
estimado baseado numa análise com vista a expor as condições
meteorológicas previstas para um período definido e para uma zona
determinada. E prognosticar as futuras condições atmosféricas.

Várias relações preditivas fundamentais devem ser profundamente


conhecidas e bem compreendidas antes, para que faça uma boa
previsão. Mudanças sazonais na pressão, vento, temperatura
resultantes das mudanças na relação terra-sol são ciclicamente
previsíveis.
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Exercícios
1. Que relação existe entre previsão do tempo e cartas sinópticas?

2. Qual a importância da carta do tempo para a meteorologia?

3. Explique a importância da previsão do tempo para as actividades


humanas?

NB. Entregar os exercícios: 2 e 3 desta unidade.

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