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Goiânia - GO
2015
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Goiânia, GO
2015
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus genitores: Ruimar e Vilda, por terem me dado
a vida, a educação, a oportunidade, e principalmente o amor. Amo vocês.
Muito agradecido também me sinto por Janaina, minha eterna namorada,
companheira, e esposa, que me acompanha, me acalenta, me traz paz, e mesmo
inconscientemente, me deixa mais responsável, estando presente nas primeiras páginas desde
a primeira monografia, na graduação. Te amo!
Agradeço também o meu irmão Tiago e sua esposa Ana Cláudia, por fazerem
parte desta família que nunca abandona um ao outro, qualquer que seja a situação. Aos meus
primos, amigos, colegas, professores...
Em especial agradeço a Professora Katia kopp, que me deu uma nova
oportunidade no mestrado, e confiou no meu trabalho, me dando responsabilidades sempre
com apoio. Ao professor Rogério Almeida pelos conselhos de elevada importância e pelas
oportunidades me apresentadas. Ao professor Paulo Sérgio Scalize pelos momentos de
aprendizado na minha primeira passagem pelo mestrado, pela oportunidade de trabalho, e
principalmente, por ter sido decisivo no meu crescimento, tanto pessoal, quanto profissional.
Agradeço também ao PPGEMA e todos os profissionais que sustentaram este
trabalho, Guilherme, Nayara, Deuzélia, etc.
Um abraço especial para minha companheira de jornada Maria Alciony, que
durante todo este percurso, sempre esteve presente, não importando com as dificuldades, com
os percalços e sempre forte, alicerçada pelo seu companheiro (marido) Ricardo, o qual
também sou muito grato.
Agradeço do fundo do meu coração também às pessoas que me ajudaram muito,
tanto nas coletas quanto nas triagens: Arisa, Erika, Karine, Karina, Eslan, Denise, Uendel,
Joquebede, Maria Samaritana, Laurinda e outros.
Agradeço à Universidade Federal de Goiás, especialmente ao Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Engenharia do Meio Ambiente (PPGEMA), à Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de mestrado, ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) (Processo nº 201210267001192) pelo financiamento
do projeto.
vii
SUMÁRIO
RESUMO......................................................................................................................xi
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13
3. Resultados e discussão................................................................................................... 24
5. Referências Bibliograficas............................................................................................. 53
viii
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
°C Grau Celsius
μS/cm Microsiemens por centímetro
BIOESTAT Aplicações estatísticas nas áreas das Ciências Bio-Médicas
BMWP Biological Monitoring Working Party
BMWP-CETEC Biological Monitoring Working Party- Centro Tecnólogico de Minas Gerais
CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CHOL Chiromidae + Oligochaeta
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
EPT Ephemeroptera + Plecoptera + Trichoptera
FAPEG Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Goiás
H Índice de diversidade de Shannon-Wiener
IBM Índice Multimétrico Bentônico
INMET Instituto Nacional de Meteorologia
IMB Instituto Mauro Borges
J Índice de Equitabilidade de Pielow
km Quilômetro
mg/L Miligrama por litro
L/s Litros por segundo
OD Oxigênio dissolvido
pH Potencial hidrogeniônico
SANEAGO Saneamento de Goiás S/A.
SDT Sólidos Totais Dissolvidos
xi
RESUMO
A maior parte da água utilizada para abastecimento vem de fontes superficiais (rios, riachos,
córregos e lagos) que sofrem intensa pressão humana e, em consequência disso, vem sofrendo
grandes alterações em sua qualidade. As atividades antrópicas, dentre elas a retirada de áreas
de preservação permanente, como mata ciliares, tem facilitado o processo de assoreamento e
lixiviação de contaminantes, comprometendo a qualidade da água tanto para a manutenção de
comunidades aquáticas e seus processos ecológicos, quanto para o abastecimento humano.
Nesse sentido, o objetivo principal deste trabalho foi avaliar a qualidade da água de trechos de
quatro microbacias situadas na região sul metropolitana de Goiânia, nas cidades de Abadia de
Goiás, Aparecida de Goiânia, Aragoiânia e Senador Canedo, que são utilizadas para o
abastecimento público, por meio da comunidade de macroinvertebrados aquáticos. Foi
avaliada a integridade ambiental por meio de um protocolo de avaliação rápida da diversidade
de habitats, correlacionou-se os parâmetros físico-químicos da água com a comunidade de
macroinvertebrados aquáticos, utilizou-se um Índice Multimétrico Bentônico para a
classificação dos corpos d’água. Foi utilizado também métricas ecológicas dos
macroinvertebrados aquáticos amostrados tais como, índices de riqueza, abundância,
equitabilidade e diversidade, comparando os pontos de amostragem e os micro-habitats
existentes. Foi verificada também a influência da sazonalidade climática nestes índices, assim
como a estruturação trófica da comunidade. Os resultados da avaliação das condições
ecológicas realizadas por meio do protocolo de avaliação rápida da diversidade de hábitats
indicaram que todas as microbacias estudadas neste trabalho estão sofrendo ou já sofreram
com impactos antrópicos provenientes de atividades agropecuárias e os ambientes foram
considerados alterados. Em relação as comunidades de macroinvertebrados, os mananciais,
em geral, apresentaram valores de diversidade semelhantes e consideravelmente altos. As
cidades estudadas apresentam mananciais de abastecimento relativamente semelhantes, tanto
nos microhabitats quanto no uso do solo. Apesar dos problemas que existem nas regiões,
como a criação de gado em áreas inadequadas, o índice analisando macroinvertebrados
aquáticos, afirma que a qualidade da água é boa, tanto pela elevada presença de táxons
sensíveis a distrúrbio, quanto pela pouca abundância de táxons indicadores de baixa
qualidade. A vazão apresentou correlação positiva com a riqueza, na maioria dos mananciais
estudados, embora a sazonalidade não tenha sido um fator que tenha alterado
significativamente a diversidade e equitabilidade. A composição trófica em todos os rios
amostrados foi muito similar apresentando grande quantidade de indivíduos coletores-
catadores e predadores.
ABSTRACT
Most of the water used to supply comes from surface sources (rivers, streams and lakes)
human suffering severe pressure and, in consequence, has undergone significant changes in its
quality. Human activities, among them the removal of permanent preservation areas, as
riparian forests, has facilitated the process of silting and leaching of contaminants,
jeopardizing water quality for both the maintenance of aquatic ecological processes and their
communities, and for the supply human. In this sense, the main objective of this study was to
evaluate the water quality of four watersheds stretches located in the metropolitan area south
of Goiania, in the cities of Abadia de Goiás, Aparecida de Goiania, Aragoiania and Senador
Canedo, which are used for public supply by means of macroinvertebrate community. The
environmental integrity was assessed by means of a rapid assessment protocol of the diversity
of habitats, the physicochemical parameters of the water to the community of aquatic
macroinvertebrates correlated, we used a Benthic Multimetric index for classification of water
bodies . It was also used ecological metrics of the sampled aquatic macroinvertebrates such as
wealth index, abundance, diversity and evenness, comparing the sampling points and existing
micro-habitats. It was also verified the influence of seasonality in these indices as well as the
trophic structure of the community. The results of the ecological conditions made through
rapid assessment protocol of habitat diversity indicated that all watersheds studied in this
work are suffering or have suffered from human impacts from agricultural activities and
environments were considered abnormal. Regarding the macroinvertebrate communities, the
sources generally showed diversity values similar and considerably high. The cities studied
have relatively similar supply sources in both microhabitats as in land use. Despite the
problems that exist in regions such as livestock in inappropriate areas, the index analyzing
aquatic macroinvertebrates, states that the water quality is good, both for the high presence of
sensitive taxa to distrúrbio, as the low abundance of taxa indicators low quality. The flow was
positively correlated with wealth, in most studied sources, although seasonality has not been a
factor that has significantly changed the diversity and evenness. The trophic composition in
all rivers sampled was very similar showing lot of collectors-individuals scavengers and
predators.
1. INTRODUÇÃO
(ANDREASEN et al., 2001). Toda ação de preservação e recuperação ambiental, deve ser
precedida de um diagnóstico, de preferência que tenha um baixo custo de aplicação e boa
qualidade, que caracterize o local a ser estudado (MINATTI-FERREIRA & BEAUMORD,
2006).
A área física terrestre de uma bacia hidrográfica é de suma importância na
qualidade dos mananciais como, por exemplo, o relevo, fator determinante na velocidade das
águas e consequentemente da concentração de oxigênio dissolvido, que pode determinar a
composição e estruturação da biota aquática (SOUZA, 2007). Os rios são caracterizados por
uma variabilidade de parâmetros bióticos e abióticos, sendo fundamentalmente estruturados
pelo regime climático e pelos ambientes físicos (luz, temperatura, correnteza, habitat) e
químicos (carbono, oxigênio, nutrientes), que interagem com as comunidades biológicas,
formando um sistema ecológico complexo (SILVEIRA, 2004).
Ao se analisar uma bacia hidrográfica, o uso do solo e a paisagem, relacionados
com indicadores de qualidade da água, pode-se ter o reflexo da intensidade das alterações
antrópicas naquele ambiente (GERGEL et al, 2002; HOULAHAN & FINDLAY, 2004). Hoje
um problema enfrentado na região central do Brasil é o crescimento desordenado do uso do
solo e a supressão de matas nativas.
O estado de Goiás teve, entre os anos de 1980 e 2004, uma taxa média de
desmatamento de 1,14% ao ano (ANTUNES, 2004), o que representou cerca de 11.590.000
hectares, equivalente a mais ou menos 34% do Estado (SANO et al, 2006). Até o ano de 2009
a taxa média anual foi de 0,47%, ou seja, 149,3 hectares ao ano, constituindo cerca de 10.454
km² do Estado (DA SILVA, COSTA & SILVA, 2013) e a estimatiava é de que até o ano de
2040 o desmatamento atinja 275.064,7 km² do Estado de Goiás (BROCHADO, 2014).
Além dos efeitos prejudiciais ao ser humano, alterações nos ambientes aquáticos e
seu entorno, representam uma queda acentuada da biodiversidade local, em função da
desestruturação do ambiente físico, químico e alterações na dinâmica e estrutura das
comunidades biológicas (CALLISTO et al., 2001). Algumas espécies aquáticas podem ser
bioindicadoras de qualidade do ambiente, devido ao seu comportamento ou simplesmente por
sua presença ou ausência naquele local, tudo influenciado por fatores químicos e físicos. O
estudo destas pode proporcionar uma boa estimativa das influências deletérias nestes
ambientes, possuindo um baixo custo, quando comparado a outros métodos, na detecção dos
efeitos da poluição em sistemas hídricos (THORNE & WILLIAMS, 1997).
Bioindicadores são espécies, grupos de espécies ou comunidades biológicas cuja
presença, quantidade e distribuição indicam magnitude de impactos ambientais em um
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Índice Biótico Bentônico (IBB), que classifica os corpos d’água de acordo com os aspectos
ecológicos das comunidades de macroinvertebrados bentônicos e suas respostas aos impactos
no ambiente; Taniwaki & Smith (2011) utilizaram o BMWP em um reservatório na cidade de
São Paulo assim como Silva et al. (2011) no Paraná; Já Mugnai et al. (2011) avaliaram uma
adaptação do Índice Biótico Estendido (IBE-IOC) no Rio de Janeiro; e Ferreira & Flynn
(2012) no Rio Jaguari-Mirim em São Paulo.
Os macroinvertebrados que habitam os cursos de água apresentam adaptações a
determinadas condições ambientais e limites de tolerância às alterações das mesmas,
apresentando comportamentos indicadores (TANIWAKI & SMITH, 2011). Diante de
alterações ambientais alguns organismos não suportam as novas condições, podendo ter um
efeito letal, ou simplesmente o abandono daquela região alterada, abrindo espaço para
espécies tolerantes. Variações na composição e estrutura de comunidades de organismos
vivos de rios podem ser interpretadas como sinais de algum tipo de contaminação ou de sua
qualidade.
Segundo Rosenberg & Resh (1993) e Callisto et al. (2002), os macroinvertebrados
aquáticos bentônicos são excelentes indicadores de qualidade da água, por ter seu ciclo de
vida relativamente longo e metodologia bem desenvolvida. O tamanho de corpo relativamente
grande e de fácil amostragem, técnicas padronizadas e de custo relativamente baixo, alta
diversidade de espécies, também oferecem uma enorme gama de tolerância e amplo espectro
de respostas frente a diferentes níveis de contaminação (LENAT & BARBOUR, 1994;
ALBA-TECEDOR, 1996). Devido a estes fatores, Lazaridou-Dimitriadou (2002) considera-os
como os mais apropriados na avaliação da qualidade hídrica em ecossistemas aquáticos.
Os macroinvertebrados aquáticos são em sua maioria larvas de insetos e possuem
adaptações evolutivas e limites de tolerância a determinadas condições ambientais
(TANIWAKI & SMITH, 2011), variando de espécie para espécie, sendo algumas mais
tolerantes e outras intolerantes a impactos (ALBA-TECEDOR, 1996). Diante disso ganharam
importância em estudos de biomonitoramento, tanto pela oportunidade de compreender o seu
comportamento quanto à seleção de hábitats e a interação com outras espécies, quanto pela
flutuação de cada população às variações do ambiente, sendo elas físicas ou químicas
(TUNDISI, 2008).
Os macroinvertebrados aquáticos são considerados, neste ambiente, como o
segundo maior grupo de organismos existente (ALLAN, 1995) e são também o grupo
taxonômico mais utilizado nos programas de biomonitoramento, possuindo como ambientes
favoráveis à colonização as bordas de lagos e as seções de córregos e rios, podendo ser onde a
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água flui rapidamente ou em remansos, isso tudo por possuírem adaptações que lhes conferem
grandes vantagens de ocupação do ambiente (BAPTISTA, 2008), embora tenham uma
mobilidade limitada (BIEGER, 2009).
Um fator importante na variação populacional e na heterogeneidade biológica dos
macroinvertebrados é a alternância de habitats ao longo de uma bacia hidrográfica
(BARRELA et al., 2002) o que também os distingue: planctônicos, nectônicos e pleustônicos
quando associados à coluna de água ou ao filme superficial; e bentônicos quando associados
ao fundo e substratos adjacentes (MUGNAI, NESSIMIAN & BAPTISTA, 2010). Dentre os
micro-habitats bentônicos destacam-se os espaços intersticiais dos substratos no leito do rio,
como areias, folhas depositadas e pedras, e também na vegetação: as macrófitas e raízes de
plantas terrestres que margeiam os rios e lagos e também aquelas que estão fixadas no leito
(KIKUCHI & UIEDA, 1998; BUSS et al., 2004).
Os macroinvertebrados bentônicos são de suma importância neste ecossistema,
pois disponibilizam biomassa a outros organismos aquáticos através de suas atividades, como
raspagem e fragmentação de sedimentos, filtração e oxigenação do substrato, facilitando a
ciclagem de nutrientes (BIEGER, 2009). Isso tudo por estarem no meio da pirâmide trófica do
ambiente aquático, consumindo produtores primários e liberando energia para consumidores
terciários, como os peixes (SILVEIRA, 2004), atuando diretamente no metabolismo do
ecossistema e participando também da ciclagem de nutrientes, reduzindo o tamanho de
partículas orgânicas, para facilitar a ação de bactérias e fungos (CALLISTO & ESTEVES,
1998).
A biomassa de cada guilda trófica e os itens alimentares fornecem indícios para o
monitoramento de energia dentro do sistema (AGUIARO & CARAMASCHI, 1998) sendo
então necessária, não uma análise de táxons como entidades separadas, mas como uma
unidade funcional de uma cadeia alimentar (ODUM, 1988), onde cada guilda trófica permite
entender a distribuição da energia dentro de um todo, tanto do ponto de vista da complexidade
quanto da diversidade (SILVA et al., 2009).
As adaptações deste grupo possibilitaram Cummins (1969) e Cummins & Merritt
(1996) a classificá-los baseando-se em seus mecanismos de adaptação: (1) Fragmentadores –
considerados mastigadores e mineradores, que se alimentam de matéria vegetal –, (2)
Coletores – que podem ser herbívoros ou detritívoros –, (3) Raspadores – que podem raspar
em busca de alimento tanto materiais minerais quanto orgânicos -, e (4) Predadores – sendo
engolidores ou perfuradores.
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2. MATERIAIS E MÉTODOS
Quadro 1).
Figura 1. Cidades da região Metropolitana de Goiânia onde estão localizadas as microbacias amostradas durante
o estudo.
Quadro 1. Cidades, mananciais e micro-habitats amostrados com suas respectivas coordenadas UTM.
Coordenadas UTM – 22K
Cidades Manancial Micro-habitat
Ponto 1 Ponto 2
Recanto Areia, vegetação e
Abadia de Goiás 667610/8148408 667592/8148465
Dourado folhas
Ribeirão das Areia, vegetação,
Aparecida de Goiânia 685128/8136545 685216/8136592
Lajes pedras e folhas
Córrego Areia, vegetação e
Aragoiânia 667466/8129134 667467/8129218
Vereda folhas
Córrego Bom Areia, vegetação e
Senador Canedo 704576/8154800 704595/8154899
Sucesso folhas
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Córrego Bom Sucesso em Senador Canedo que passa por algumas fazendas
com presença de bovinos, tem um substrato com bastante argila e muita vegetação marginal
em um trecho anterior aos pontos de coleta, aproximadamente 12 hectares. Já nos locais onde
foram realizadas as amostragens, a vegetação diminui bastante e o curso d’água se divide,
26
tendo um de seus braços alagado para coleta de água de abastecimento e o outro fundo e
curto, com correnteza mais forte.
Para a criação de gado acontecer um pasto deve ser formado, e para isso a
vegetação tem de ser retirada. Com isso existe uma diminuição da diversidade vegetal e
animal, já que ocorre uma homogeneização das espécies (CARVALHO, SCHLITTLER &
TORNISIELO, 2000). A vegetação nativa é fator importante na regulação do regime natural
de chuvas, protegendo o solo de erosão e impedindo o assoreamento dos mananciais
(SANTOS 2014), além de que a supressão desta pode acarretar alterações de termperatura na
região (GOMES et al., 2009), alterando também o meio biótico.
Outro fator que também pode explicar o fato dos mananciais terem sido
classificados como alterados, é a proximidade das zonas urbanas. Segundo Finotti, Finkler &
Silva (2009) e Souza, Moraes & Borja (2013) as deficiências na drenagem urbana, a
impermeabilização dos solos e consequentemente o aumento do escoamento superficial,
aumentam consideravelmente a vazão nos mananciais próximos, implicando também numa
menor infiltração de água no solo gerando menor recarga do aquífero, reduzindo então a
capacidade deste absorver cargas poluidoras, elevando o risco à saúde da população.
A alta concentração populacional em áreas urbanas, na maioria das vezes sem
planejamento, resulta em grandes problemas, como o despejo de esgotos, aterramento de
nascentes, aumento de inundações e maior produção de sedimentos que são carreados aos
mananciais (SOARES, DOS SANTOS & CAVALCANTI, 2013). Crispim (2013) em seu
diagnóstico ambiental no Rio Piancó, próximo à cidade de Pombal-PB, apresentou várias
problemáticas devido à expansão urbana, como a elevada entrada de matéria orgânica, tanto
advindas de resíduos sólidos quanto liquídos, e principalmente pelas atividades ligadas à
recreação e práticas agropecuárias mal planejadas.
Situações semelhantes foram encontradas por Schneider (2011) no Rio Pirapó que
atravessa importantes cidades do Estado do Paraná, como Apucarana e Maringá, com a
grande presença de resíduos sólidos e liquídos, e alterações na estrutura física do manancial.
Nakamura (2012) em contrapartida, depois de analisar os impactos da expansão urbana em
mananciais e represas de abastecimento na região metropolitana de São Paulo, apresenta a
importância estratégica de intervenções que buscam reduzir os focos de poluição, e como
consequência apresentou uma melhoria significante na qualidade da água, com um
decréscimo nas cargas de fósforo total apresentados anteriormente ao estudo.
Muito se sabe sobre as alterações ocasionadas nas bacias hidrográficas pelo aporte
de material poluente advindo de zonas urbanas, e no presente trabalho, os cursos d’água
estudados além de sofrerem impactos com a agropecuária, são alvos diretos deste
crescimento, muitas vezes desordenado, das cidades.
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Tubellaria raspador 5 9 1
Oligochaeta coletor-catador 24 40 9 6
Hirundinida predador 1 1
Ampullariidae coletor-filtrador 1
Planorbidae raspador 2
Thiaridae raspador 1
Ancilidae raspador 1 2 44
Isopoda coletor-catador 1
Siphlonuridae coletor-catador 16
Baetidae coletor-catador 221 837 723 152
Oligoneuriidae coletor-catador 1
Leptophlebiidae coletor-catador 5 104 58 9
Polymitarcydae coletor-catador 1
Leptohyphidae coletor-catador 227 23 5 13
Caenidae coletor-catador 3 3
Calopterygidae predador 7 177 25 24
Coenagrionidae predador 7 46 29 34
Megapodagrionidae predador 7 52 18 6
Perilestidae predador 1 5 23 1
Gomphidae predador 15 110 45 38
Corduliidae predador 12 10 23 6
Libellulidae predador 26 87 57 31
Gripopterygidae predador 2
Perlidae predador 1 20
Ochteridae predador 6
Gelastocoridae predador 7 1
Corixidae raspador 7 7 112 8
Nepidae predador 3 2 4
Belostomatidae predador 8 15 17 6
Notonectidae predador 40 3 19 4
Helotrephidae predador 1
Naucoridae predador 11 178 47 4
Cerambycidae predador 1
29
Curculionidae fragmentador 2
Hidrophilidae predador 4
Girinidae predador 2
Hidroscaplidae predador 4 51 2 12
Haliplidae predador 2 5
Dytiscidae predador 1 6 82 6
Noteridae predador 1 5 3 10
Torridincolidae raspador 3
Scirtidae coletor-catador 1 1 1
Elmidae coletor-catador 2 10 14
Lutrochidae coletor-catador 1
Ptylodactilidae coletor-catador 1
Dryopidae fragmentador 1 1 1
Simulidae coletor-filtrador 201 7 108
Dixidae coletor-filtrador 8 2 23
Ceratopogonidae predador 2 1 3
Chironomidae coletor-catador 42 46 83 70
Blephariceridae coletor-catador 2
Culicidae coletor-catador 5 5
Psychodidae coletor-catador 1
Tabanidae predador 1 1 2 1
Empididae predador 2
Tipulidae predador 1 2 4 1
Limnephilidae coletor-catador 1 14 3
Hydrobiosidae coletor-catador 2
Polycentropodidae coletor-catador 5
Glossosomatidae coletor-catador 2
Hydropsychidae coletor-filtrador 63 29 32 26
Hydroptilidae coletor-filtrador 1
Helichopsychidae coletor-filtrador 3
Anomalopsychidae coletor-filtrador 1 5 3
Leptoceridae predador 1 14 4
Lepidoptera fragmentador 4 6 1
RIQUEZA 36 41 44 43
ABUNDÂNCIA 967 1902 1514 701
Figura 7. Análise Cluster de Bray-Curtis para avaliar a similaridade entre os mananciais que abastecem as
cidades estudadas.
31
Figura 8. Análise Cluster de Bray-Curtis para avaliar a similaridade entre os micro-habitats de areia e vegetação
nos mananciais que abastecem as cidades estudadas. Legenda: AR: Aragoiânia, AP: Aparecida de Goiânia, AB:
Abadia de Goiás e SC: Senador Canedo.
32
Aparecida de Goiânia
Quadro 7).
Aragoiânia
areia vegetação
Shannon H 1,202 0,830
Equitabilidade J 0,767 0,547
Figura 9. Composição trófica em Abadia de Goiás. Figura 10. Composição trófica em Aparecida de
Goiânia.
Figura 11. Composição trófica em Aragoiânia. Figura 12. Composição trófica em Senador Canedo.
famílias da ordem dos Odonatas, cerca de 16% do levantamento geral, foi outro fator que
colaborou no aumento desta guilda trófica.
Segundo Oliveira Junior et al. (2013) a dominância de Odonatas está relacionada
diretamente com alteração ambiental, como ausência de vegetação marginal. Este fato
também pode ter acarretado na baixa presença de fragmentadores como também foi verificado
por Santos (2014), além da particularidade de alimentação destes, que segundo Cummins et
al. (1989) e Silva et al. (2009) se utilizam basicamente de vegetais em decomposição e isso
leva semanas ou meses para acontecer. Como foi observado em campo, a presença de folhas
nestes estados foram relativamente baixas.
Segundo Shimano et al. (2012), os raspadores são encontrados em maior
abundância nos trechos intermediários dos rios e com condições apropriadas de luminosidade,
onde ocorre o crescimento de perifiton. Sendo assim a maior presença destes em Senador
Canedo e Aragoiânia, que apresentam uma maior mata ciliar à montante, no período chuvoso,
se deve por tais características, já que o arraste de de materiais propícios à raspagens é maior.
Os fragmentadores, que transformam a matéria orgânica grossa em fina
(ALMEIDA, 2015), foram encontrados em minoria absoluta em todos os mananciais
estudados. Este grupo é mais escasso em ecossitemas tropicais, chegando a ter duas vezes
menos biomassa do que em regiões de zonas temperadas (BOYERO et al., 2011).
Baseando-se na Teoria do Rio Continuo, os mananciais estudados estão mais
próximos da foz do que da nascente, já que apresentam uma quantidade de filtradores maior
do que de raspadores e fragmentadores, o que consequentemente sugere uma maior presença
de particulas menores.
Figura 13. Precipitação entre os meses de Julho de 2013 e Setembro de 2014 na região
metropolitana de Goiânia (INMET, 2015).
Pode-se notar que em todos os mananciais a riqueza foi menor durante o período
de seca. Obervando a abundância, esta foi maior durante a seca em Senador Canedo e
Aparecida de Goiânia. Quando a análise é feita com uma correlação usando o índice de
Pearson, apenas Abadia de Goiás teve uma correlação positiva significante (r= 0.02; p= 0,04)
entre a abundância e a vazão. Embora seja uma correlação pequena, quando a vazão aumenta
no manancial de Senador Canedo, a abundância de macroinvertebrados também aumenta. Os
demais mananciais não tiveram correlações significativas considerando o nível de p ≤ 0,05.
A manutenção da estrutura de comunidades também depende da estabilidade de
alguns outros fatores, como a fonte de energia, qualidade da água e do habitat, sazonalidade e
interações bióticas (MINATTI-FERREIRA & BEAUMORD, 2006). As variações na
diversidade de macroinvertebrados bentônicos estão relacionadas com a frequência das
perturbações e distúrbios no ambiente em que vivem (COPATTI, SCHIRMES &
MACHADO, 2010), e assim como em várias outras comunidades bióticas, as estações do
Cerrado, seca (maio a setembro) e chuva (outubro a março), influenciam na distribuição
destes.
Segundo Bispo et al. (2001) e Ferreira, Moreira & Carvalho (2011) no período
chuvoso a abundância é menor que no período de seca. Porém esse resultado foi encontrado
apenas em Senador Canedo e Aparecida de Goiânia. Segundo Bispo et al. (2001), a chuva
provoca uma desestabilização no sistema devido o aumento de vazão e o aumento da
velocidade da água, ocasionando um carreamento de organismos, enquanto na seca o
ambiente se encontra mais estável, e Pamplin, Almeida & Rocha (2006) destacam a maior
40
entrada de matéria orgânica alóctone no ambiente. Porém Diniz-Filho et al., (1998) afirmam
que o fato da abundância ser maior na seca, se dá pelo aumento da densidade no ambiente,
atribuído à redução de disponibilidade de habitat e ao crescimento da agregação entre os
indivíduos, devido a redução do nível d’água.
Os mananciais estudados apresentam estruturas físicas parecidas, mas Aparecida
de Goiânia e Senador canedo visivelmente possuem um encaixe maior no leito, com margens
(barrancos) mais altos, o que provavelmente propiciou os resultados de abundância menor
durante o período chuvoso, pelo aumento da vazão ser mais impactante. Em Aragoiânia e
Abadia de Goiás a área de alagamento do curso d’água é maior, ocasionando um aumento de
espaço e consequentemente de micro-habitats durante o aumento de vazão, por mais que este
possa carrear indivíduos ocasionalmente durante o aumento brusco de volume d’água.
Bispo & Oliveira (1998), estudando os EPT do Parque Ecológico de Goiânia,
verificaram que alguns fatores, como a cobertura vegetal, a ação antrópica e a classificação
hidrológica influenciaram significativamente somente na estação de seca, já que na estação
chuvosa a homogeneização da fauna mascara os padrões ecológicos. Silva et al., (2009)
encontraram em seu trabalho realizado no estado de São Paulo uma maior abundância de
macroinvertebrados bentônicos no período de seca, assim como Fusari (2006), no mesmo
Estado.
Relacionado apenas ao habitat dos macroinvertebrados e analisando o IQA (Índice
de Qualidade da Água) de vários mananciais em Goiás, Bonnet et al. (2008) concluíram que a
qualidade da água na chuva é pior que no período de seca e sendo assim a sazonalidade é fator
determinante para a distribuição de macroinvertebrados aquáticos, que se encontram em mais
abundância nos períodos de estiagem e em menor nos períodos de chuva (BOON et al., 1986;
OLIVEIRA, 1997; FLECKER & FEIFAREK, 1994).
No entanto alguns autores têm encontrado padrões diferentes. Silva et al.,
(2009) encontraram em seu trabalho, realizado no estado de São Paulo, uma maior abundância
de macroinvertebrados bentônicos no período de seca, assim como Fusari (2006), no mesmo
Estado. Santos (2014) também encontrou resultados onde valores na seca foram maiores que
no período chuvoso na região metropolitana de Goiânia, em Goiás.
Segundo Saito & Mazão (2012) a riqueza total é positivamente relacionada com a
abundância e está diretamente relacionada com o nível de perturbação causado pelas chuvas e
pelo estado ambiental do trecho em estudo. Assim como apresentado por Santos (2014),
apesar de uma variação na abundância, os microhabitats permaneceram estáveis, já que os
índices de diversidade e equitabilidade não variaram muito com a sazonalidade e os resultados
41
não foram semelhantes a outros estudos no bioma Cerrado, onde afirmam que as chuvas
diminuem a abundância e a riqueza de organismos no período chuvoso (OLIVEIRA; BISPO
& SÁ, 1997; BISPO & OLIVEIRA, 1998; BISPO et al., 2004; SAITO e MAZÃO, 2012;
YOKOYAMA et al., 2012).
Alem disso, Bispo et al. (2004) abordaram mecanismos que reduzem o impacto
negativo das inundações, como a busca por abrigos, recolonização rápida e histórias de vida
flexíveis, sendo estas estratégidas que compensam a certo ponto a influência das chuvas sobre
os macroinvertebrados aquáticos. Ramíres & Pringle (2001) também afirmaram que as
comunidades de macroinvertebrados em riachos tropicais têm a reprodução contínua ao longo
do ano, o que pode diminuir os efeitos das chuvas, já que é constante a aparição de novos
indivíduos na população.
Quando usa-se a correlação de Pearson, apenas em Senador Canedo, a vazão foi
inversamente proporcional à riqueza de macroinvertebrados aquáticos de modo significativo.
Isso demonstra a importância de um teste estatístico como a correlação, que vai além da
simples observação de valores e analisa os padrões de variação dos valores. No trabalho de
Buss et al. (2004), a riqueza dos macroinvertebrados aquáticos não variou entre o período de
chuva e seca, pois as espécies daquela região estavam bem adaptadas às variações dos
regimes hidráulicos, porém a abundância teve uma correlação negativa significativa pelas
chuvas.
Melo e Froehlich (2001) também observaram que não houve diferença estatística
na abundância de macroinvertebrados aquáticos entre as estações de seca e chuva em um
trabalho no estado de São Paulo. Segundo eles a fauna aquática está adaptada às enchentes
previsíveis e que somente uma vazão e uma inundação catastrófica ou muito incomum
poderia alterar a estrutura da comunidade. Segundo Pamplin, Almeida & Rocha (2006), as
chuvas rompem a estabilidade nos habitats e consequentemente acarretam uma maior entrada
de matéria orgânica alóctone, sendo esta diretamente relacionada com a comunidade e
estruturação trófica do local.
Foi possível observar uma alta riqueza taxonômica com a presença de organismos
sensíveis a distúrbios ambientais como larvas das ordens Ephemeroptera, Plecoptera e
Tricoptera (EPT), que são muito utilizadas no biomonitoramento (ROSENBERG & RESH,
1993), pois são elementos comuns em ambientes lóticos de baixas e médias ordens, sendo
muito sensíveis às interferências ambientais (ROSEMBERG & RESH, 1993). Na região do
Brasil Central, os EPTs vêm sendo estudados desde o início dos anos 1990 (OLIVEIRA, et al.
1997; BISPO & OLIVEIRA, 1998), e para Marchant et al. (1995) os estudos de invertebrados
aquáticos deveriam se concentrar mais nestas ordens, já que elas representam os padrões
ecológicos de toda a comunidade e geralmente ocorrem associadas a ambientes bem
conservados.
Indivíduos destas famílias representaram 55% de todo o levantamento. A
metodologia utilizada pode estar diretamente ligada à elevada representatividade destes
grupos, já que no peneiramento e triagem ali mesmo no campo, a visibilidade e a
movimentação dos macroinvertebrados na malha são importantes na detecção e na captura
destes. Uma família que é muito utilizada em biomonitoramentos e também muito
representativa é a Chironomidae, porém a visualização em campo deste grupo é mais difícil,
pela baixa mobilidade e camuflagem destes no substrato, ficando então menos representada
neste trabalho.
A família Chironomidae pode viver em condições de anoxia por várias horas e
seus representantes são detritívoros, vivendo em ambientes com muita matéria orgânica
(GOULART e CALLISTO, 2003). Em água doce, as larvas desta família são consideradas
uma essencial ferramenta em estudos ecológicos (EPLER, 2001; ROQUE et al., 2007;
SIQUEIRA et al., 2008), por apresentarem elevada riqueza de espécies (EPLER, 2001;
43
argumenta que raramente espécies de uma comunidade estão em equilíbrio, tendo assim altas
riquezas quando existem distúrbios intermediários em escala de frequência e intensidade,
sendo, portanto beneficiadas por uma maior variedade de recursos alimentares.
O mesmo fato aconteceu com Siegloch et al. (2008) que verificaram a influência
positiva de distúrbios intermediários sobre a riqueza de ninfas de famílias de Ephemeroptera
no Sudeste do Brasil. As cidades estudadas neste trabalho podem apresentar distúrbios
ambientais intermediários, como a presença de gado e o aporte de substâncias alóctones pela
baixa presença de mata favorecendo o predomínio de matéria orgânica particulada, porém
somente um estudo mais aprofundado, utilizado outras metodologias, pode concluir isso.
Estes distúrbios podem ter favorecido positivamente a população de organismos
da família Ephemeroptera, em especial a Baetidae, já que estes são organismos coletores-
catadores e, segundo Souza et al. (2011), apresentam tanto espécies indicadoras de ambientes
preservados quanto espécies de ambientes alterados. Como neste trabalho não houve o
objetivo de se chegar a uma identificação em menor grau, como no nível de gênero e espécie,
não se pode afirmar que os táxons registrados sejam indicadores de ambientes preservados
nem de alterados. Um trabalho utilizando um nível taxônommico mais específico se faz
necesário para uma conclusão mais precisa.
O uso de solo nas regiões estudadas é composto basicamente por agropecuária e
embora a presença de animais nos locais seja grande, foi baixa a presença de indivíduos da
família Chironomidae e da ordem dos Oligochaetas (6,29%), que são detritívoros e indicam
um ambiente rico em matéria orgânica (GOULART e CALLISTO, 2003). O manancial com
maior representatividade destes indivíduos foi Senador Canedo com 10,8%, seguido de
Abadia de Goiás (6,8%) e Aparecida de Goiânia (6,0%). Aragoiânia com 4,5% aparece com o
menor número de indivíduos de Chironomidae e Oligochaetas.
Com a grande presença de famílias das ordens EPT em comparação com
indivíduos da família Chironomidae e da ordem dos Oligochaeta a conclusão que podia-se
chegar era de que a qualidade ambiental dos locais de estudo é íntegra. No entanto, é
importante resaltar que a grande abundância de EPT se deu muito pela elevada quantidade de
indivíduos da família Baetidae, que não necessariamente é um bom indicador de ambiente
preservado (SOUZA et al., 2011), possuindo espécies menos sensíveis.
Outra questão a se levantar é a de que o índice utilizado neste estudo não foi
satisfatório. A explicação para tal fato pode ser o fato deste utilizar apenas o nível de família
em suas análises, enquanto algumas espécies, dentro de famílias indicadoras de ambientes
integros, são encontradas também em ambientes degradados, como já citado anteriormente.
45
As caracterizações ambientais dos usos do solo nas regiões dos pontos de coleta
foram refletidas nas análises físico-químicas que estão apresentadas, por período de coleta
(chuva e seca) e por cidade estudada (Figura 16).
Figura 16. Resultados dos valores médios e desvio padrão para os parâmetros abióticos dos mananciais de
abastecimento das cidades de Senador Canedo, Aparecida de Goiânia, Aragoiânia e Abadia de Goiás nos
períodos chuvoso e de seca.
46
Figura 17. Vazões médias nos mananciais de abastecimento das cidades de Senador
Canedo, Aparecida de Goiânia, Aragoiânia e Abadia de Goiás, durante as coletas
nos períodos de chuva e seca.
A vazão, como era de se esperar, foi maior no período chuvoso. O manancial que
apresentou menores variações na vazão com a chegada das chuvas foi o de Senador Canedo
por apresentar uma mata ciliar maior e mais conservada à montante dos pontos de coleta. Já
em Aparecida de Goiânia a diferença de vazão foi muito grande entre o período seco e
chuvoso, demonstrando que a baixa presença de vegetação marginal e a profundidade do
encaixe do curso d’água influenciam diretamente neste quesito. Outro fator influente na vazão
é a declividade da bacia. Sendo assim foi verificado, em um trecho de cerca de 2,0 Km até os
49
pontos de amostragem, que Senador Canedo possui a menor declividade média, com 1,5%,
seguido por Abadia de Goiás com uma declividade média de 1,8%, Aragoiânia (2,0%), e
Aparecida de Goiânia (2,3%).
O Estado de Goiás e, consequentemente a região onde foi realizado o estudo,
possui uma sazonalidade definida, estando no Cerrado, com chuvas que começam em meados
de setembro, tem seu pico em dezembro e diminui nos meses de março e abril, sendo um
verão chuvoso e um inverno seco (YOKOYAMA et al., 2012). Os dados de precipitação
mensal (Figura 18) para o período amostrado corroboram essa sazonalidade e demonstram
que o regime de distribuição das chuvas durante o período de estudo pode ser considerado
típico para a região.
Figura 18. Precipitação entre os meses de Julho de 2013 e Setembro de 2014 na região
metropolitana de Goiânia (INMET, 2015).
0,154; p=0,001), enquanto a riqueza apresentou correlação negativa com o pH (r= -0,06;
p=0,02).
Em Aragoiânia a abundância teve correlação negativa significativa com os sólidos
totais (r= -0,21; p=0,01) enquanto a riqueza teve correlação negativa significativa com a
temperatura (r= -0,27; p= 0,03). Abadia de Goiás teve a abundância influenciada
negativamente pelo pH (r= -0,18; p= 0,01), pelos sólidos totais (r= -0,06; p= 0,02), pelo
nitrogênio total (r= -0,23; p= 0,02) e positivamente pela condutividade (r= 0,037; p= 0,039),
enquanto a riqueza apresentou correlação negativa significativa com os sólidos totais (r= -
0,06; p= 0,02).
Segundo Couceiro et al. (2007) variações de pH na água determinam diferentes
composições na população de macroinvertebrados e em Senador Canedo, Aparecida de
Goiânia e Abadia de goiás, esta influenciou negativamente a abundância de índivíduos. Os
valores foram significativos (p<0,05) porém as correlações foram baixas, não ultrapassando -
0,27. O pH é alterado pela temperatura que foi um fator de influência negativa apenas para a
riqueza em Aragoiânia. Segundo Haidekker & Hering (2008) estes parâmetro são fatores
determinantes no ciclo de vida dos macroinvertebrados (desenvolvimento embrionário,
crescimento de ninfas e metabolismo) além de ser alterada e refletir os impactos sobre os usos
do solo as margens dos corpos hídricos.
O nitrogênio total teve relação negativa significativa com a abundância de Abadia
de Goiás e Aparecida de Goiânia. Este composto pode influenciar consideravelmente a
estrutura e composição das comunidades de macroinvertebrados aquáticos (SMITH, BODE E
KLEPPEL, 2007). Já o oxigênio dissolvido, que é fundamental para toda a biota (FULAN,
HENRY & DAVANSO, 2012), afetando as densidades dos macroinvertebrados (SATO &
RIDDIFORD, 2007; TULLOS & NEUMANN, 2006), teve correlação negativa com a riqueza
nestes mesmos mananciais. Segundo Corbet (1999), estudando Odonatas, o oxigênio
dissolvido exerce um papel fundamental na distribuição de larvas de macroinvertebrados
bentônicos.
Como já citado anteriormente, Aparecida de Goiânia e Abadia de Goiás
apresentam os dois mananciais com menores matas ciliares, em grande parte da área de
estudo, tendo então uma entrada de matéria alóctone maior, tornando assim estes dois
parâmetros bastante influentes na caracterização da comunidade já que alguns organismos são
sensíveis à poluição, e o nitrogênio é tóxico para diversos organismos, enquanto o oxigênio é
fator decisivo na manutenção de táxons sensíveis. Senador Canedo e Aragoiânia não
51
4. CONCLUSÕES
uma das análises já que, o protocolo pode ser um pouco subjetivo em alguns aspectos e o
índice é mais específico em relação as métricas ecológicas da comunidade.
Outro fato que deve ser levado em consideração é que houve uma grande
proporção de indivíduos da família Baetidae nesse trabalho o que pode ter colaborado para os
altos valores encontrados no índice, mas não necessariamente pode refletir o grau de
preservação dos mananciais. Como nesse trabalho, os indivíduos não foram identificados em
nível específico, não se pode afirmar que esse taxon reflita boas condições ambientais na área.
Dessa forma, sugere-se o estudo futuro desses mananciais identificando-se os indíviduos em
níveis taxonômicos mais refinados para poderem ser feitas correlações mais finas entre a
composição da comunidade de macroinvertebrados e os parâmetros físico-químicos e
ambientais das áreas amostradas.
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