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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

EFEITO DO TANINO NO DESEMPENHO E CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA


DE BOVINOS NÃO CASTRADOS TERMINADOS EM CONFINAMENTO

Kaique de Souza Nascimento


Orientador: Prof. Dr.Juliano Jose Resende Fernandes

GOIÂNIA-GO
2019
ii
iii

KAIQUE DE SOUZA NASCIMENTO

EFEITO DO TANINO NO DESEMPENHO E CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA


DE BOVINOS NÃO CASTRADOS TERMINADOS EM CONFINAMENTO

Dissertação apresentada ao programa de Pós-


graduação em Zootecnia da Escola de
Veterinária e Zootecnia da Universidade
Federal de Goiás, nível Mestrado.

Área de concentração:
Produção animal
Linha de pesquisa:
Nutrição e produção animal
Orientador:
Prof. Dr. Juliano Jose R. Fernandes EVZ/UFG
Comitê de orientação:
Prof. Dr. Victor Rezende M. Couto EVZ/UFG
Profa. Dra. Maurícia B. da Silva EVZ/UFG

GOIÂNIA-GO
2019
iv
v
vi

Dedico esse trabalho a minha mãe, Nailde Lacerda de Souza,


e a todos os meus familiares e amigos.
Obrigado!
vii

Agradecimentos
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, pelas muitas oportunidades que ele tem
me dado.
A minha mãe Nailde Lacerda de Souza que sem ela nada em minha vida seria
possível. Mesmo depois de tantas dificuldades de saúde fez de tudo para me dar tudo que
estava ao seu alcance, sozinha. Aos meus avós, Aristoteles Pereira de Souza e Neuza Lacerda
de Souza por toda ajuda e carinho prestados. Ao meu padrasto Marcelo, e a todos os meus
familiares que deram apoio a durante o mestrado.
A minha namorada e companheira de todas as horas Lorena, por estar comigo em
todos os momentos de alegria e dificuldades durante o mestrado.
Ao professor Juliano pela oportunidade de trabalhar com ele no confinamento e toda
ajuda e conhecimento passado durante o mestrado, e assim como ele, gostaria de agradecer
também a sua esposa Wal, por ter tratado todos do confinamento como filhos durante esse
período.
Gostaria de agradecer aos meus co-orientadores professores Maurícia e Victor por
toda ajuda prestada durante o desenvolvimento deste trabalho assim como todo conhecimento
passado durante o mestrado. Gostaria de agradecer também a professora Eliane por ser meu
primeiro contato na UFG e por toda ajuda prestada.
Gostaria de agradecer ao meu amigo Lucas (Picachu) por todo apoio prestado durante
o mestrado. Gostaria de agradecer também a toda equipe do confinamento experimental de
bovinos de corte (CEBC), que sem a ajuda de todos as nossas pesquisas se tornariam
inviáveis.
Ao Programa de Pós-graduação em Zootecnia e a todos os professores pelo
conhecimento passado.
A FAPEG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás, pela bolsa fornecida
durante o período de 18 meses.
viii

SUMÁRIO

RESUMO GERAL ................................................................................................................... 1

1. INTRODUÇÃO GERAL ................................................................................................. 3

2. CONFINAMENTOS ........................................................................................................ 4

3. PROTEÍNAS PARA RUMINANTES ............................................................................ 6

4. ADITIVOS ........................................................................................................................ 7

4.1.Monensina ........................................................................................................................ 7

4.2. Restrição ao uso de antibióticos ...................................................................................... 9

4.3. Taninos .......................................................................................................................... 10

4.3.1.Taninos hidrolisáveis ............................................................................................... 12

4.3.2. Taninos Condensados ............................................................................................. 12

4.3.3. Interação entre taninos e outras moléculas ............................................................. 13

4.3.4.Efeito dos taninos para os microrganismos ............................................................. 14

4.3.5. Metanogênese ......................................................................................................... 15

4.3.6. Consumo de matéria seca ....................................................................................... 16

4.3.7.Metabolismo de Nitrogênio ..................................................................................... 16

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA ...................................................................................... 17

CAPITULO 1 - EFEITO DO TANINO NO DESEMPENHO E CARACTERÍSTICAS


DE CARCAÇA DE BOVINOS NÃO CASTRADOS TERMINADOS EM
CONFINAMENTO ................................................................................................................ 22

RESUMO................................................................................................................................. 22

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 23

3.1 Local do experimento ..................................................................................................... 23

3.2 Animais........................................................................................................................... 24

3.3 Tratamentos, dietas e parâmetros avaliados ................................................................... 24

3.4 Amostragens, analises laboratoriais e delineamento experimental ................................ 26


ix

4. RESULTADOS ................................................................................................................... 26

5. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 28

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA ...................................................................................... 30


x

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. MORTALIDADE PARA CADA 100 MIL ANIMAIS POR COCCIDIOSE EM


CONFINAMENTOS NOS ESTADOS UNIDOS PRÉ E PÓS A UTILIZAÇÃO DE
MONENSINA. ADAPTADO: EDWARDS, 1984. .................................................................... 8
xi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1. INGREDIENTES UTILIZADOS NAS DIETAS FINAIS, ASSIM COMO A COMPOSIÇÃO


BROMATOLÓGICA DA DIETA DE TODOS OS TRATAMENTOS. ........................................ 25
TABELA 2. DESEMPENHO DOS ANIMAIS DENTRO DE CADA TRATAMENTO DURANTE OS 105
DIAS EXPERIMENTAIS, APRESENTANDO VALORES DE CMS (CONSUMO DE
MATÉRIA SECA), PESO INICIAL, PESO FINAL, GANHO MÉDIO TOTAL, GANHO MÉDIO
DIÁRIO, EA (EFICIÊNCIA ALIMENTAR) E CMS/PV (CONSUMO DE MATÉRIA SECA
POR PORCENTAGEM DE PESO VIVO). .................................................................................... 27
TABELA 3. CARACTERÍSTICA DE CARCAÇA DOS ANIMAIS, APRESENTANDO VALORES DE PESO
DE CARCAÇA INICIAL, PESO DE CARCAÇA FINAL, RENDIMENTO DE CARCAÇA E
GMD (GANHO MÉDIO DIÁRIO) DE CARCAÇA. ..................................................................... 27
TABELA 4. DADOS OBTIDOS POR ULTRASSONOGRAFIA DA ÁREA DE OLHO DE LOMBO (AOL),
ESPESSURA DE GORDURA SUBCUTÂNEA (EGS), ESPESSURA DE GORDURA DA
PICANHA (EGP) E PROFUNDIDADE DA PICANHA (ÁREA DE P). ...................................... 28
RESUMO GERAL

Com um intuito de aumentar a eficiência de utilização dos nutrientes fornecidos aos animais a
utilização de aditivos se torna uma opção, pois interfere diretamente na fermentação ruminal e
consequentemente pode melhorar o desempenho dos animais. Os antibióticos são os aditivos
mais utilizados em confinamento, porém ao longo dos anos a utilização de aditivos
alternativos aos antibióticos vem aumentando devido à restrição de alguns mercados a
utilização de antibióticos na produção animal. Neste intuito a utilização de taninos na nutrição
de bovinos de corte vem ganhando força como uma alternativa aos antibióticos. O objetivo
deste trabalho foi avaliar o desempenho e características de carcaça de novilhos em fase de
terminação, recebendo dietas com adição de um produto comercial a base de taninos ou
Monensina. Foram utilizados 160 animais das raças Nelore (64) e Angus (96) com idade
média de 20 meses. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados
(DBC) sendo considerado como blocos pesos e raças, a unidade experimental considerada foi
a baia composta por 8 animais e 5 repetições por tratamento, totalizando 20 unidades
experimentais. Os tratamentos avaliados foram: M14 – Dieta com 14% de PB e 25 ppm de
Monensina; MT14 – Dieta com 14% de PB, 25 ppm de Monensina e 0,15% da MS de
Taninos; T14 – Dieta com 14% de PB e 0,15% da MS de Taninos; MT13 – Dieta com 13% de
PB, 25 ppm de Monensina e 0,15% da MS de Taninos. A dieta de todos os tratamentos contou
com relação volumoso:concentrado 10:90, com base na matéria seca dos ingredientes. O
período experimental foi de 105 dias e contou com 14 dias de adaptação. Os tratamentos
MT14 e T14 apresentaram valores superiores aos demais para peso final (P=0,002), consumo
de matéria seca (P<0,001), consumo por porcentagem de peso vivo (P<0,001), ganho médio
total (P=0,005) e ganho médio diário (P=0,005). A Eficiência alimentar (P=0,157) foi
semelhante entre todos os tratamentos. Os parâmetros de AOL (P=0,332), EGS (0,848), EGP
(P=0,830) e Área de P. (P=0,141) obtidos por ultrassonografia não apresentaram diferença
entre os tratamentos. O peso de carcaça final (P=0,075) e GMD de carcaça (P=0,076) foram
superiores para os tratamentos MT14 e T14 em comparação aos demais. O rendimento de
carcaça não apresentou diferença entre os tratamentos (P=0,904). A utilização de uma mistura
de taninos condensados e hidrolisáveis se mostrou viável na terminação de bovinos de corte,
apresentando eficiência alimentar e características de carcaça semelhante ao aditivo
monensina em dietas com 14% e 13% de proteína bruta.

Palavras-Chave: Antibióticos, bypro, extrato natural, monensina, proteína.


2

Abstract

In order to increase the efficiency of the use of the nutrients supplied to the animals, the use of
additives becomes an option because it directly interferes with the ruminal fermentation and
consequently can improve the performance of the animals. Antibiotics are the most commonly
used additives in feedlots, but over the years the use of antibiotic alternatives has been
increasing due to the restriction of some markets to the use of antibiotics in animal
production. In this sense, the use of tannins in the nutrition of beef cattle has been gaining
strength as an alternative to antibiotics. The objective of this study was to evaluate the
performance and carcass traits of steers in the finishing phase, receiving diets with the
addition of a commercial product based on tannins or Monensina. A total of 160 Nelore (64)
and Angus (96) with mean age of 20 months and initial weight of 342 ± 25 kg were used. The
experimental design used was a randomized complete block, being considered as weights and
breeds blocks, the experimental unit considered was the pen composed by 8 animals and 5
replicates per treatment, totaling 20 experimental units. The treatments evaluated were: M14 -
Diet with 14% of CP and 25 ppm of Monensin; MT14 - Diet with 14% of CP, 25 ppm of
Monensin and 0.15%/DM of Tannins; T14 - Diet with 14% of CP and 0.15%/DM of Tannins;
MT13 - Diet with 13% of CP, 25 ppm of Monensin and 0.15%/DM of Tannins. The
treatments provided the same diet for all animals (90 and 10%, for concentrate and forage,
respectively). The experimental period was 105 days with 14 days of adaptation. The
treatments MT14 and T14 presented values higher than the others for final weight (P =
0.002), dry matter intake (P <0.001), intake per live weight percentage (P <0.001), total mean
gain (P = 0.005) and average daily gain (P = 0.005). Food efficiency (P = 0.157) was similar
among all treatments. The parameters of ribeye area (P = 0.332), subcutaneous fat thickness
(0.848), gluteus medius fat thickness (P = 0.830) and gluteus medius area (P = 0.141)
obtained by ultrasonography showed no difference between the treatments. The final carcass
weight (P = 0.075) and carcass ADG (P = 0.076) were higher for the MT14 and T14
treatments compared to the others. Carcass yield did not differ between treatments (P =
0.904). The use of a mixture of condensed and hydrolyzable tannins was shown to be viable
in the finishing of beef cattle, presenting feed efficiency and carcass characteristics similar to
the monensin additive in diets with 14% and 13% crude protein.

Key words: Antibiotics, monensin, natural extract, protein.


3

1. INTRODUÇÃO GERAL

As características climáticas e territoriais do Brasil favorecem a criação de bovinos a


pasto, sendo esse sistema de produção responsável pela terminação de aproximadamente 90%
dos animais abatidos no país. Porém as mesmas características que podem favorecer a criação
de animais a pasto, podem favorecer também a produção de grãos e consequentemente
aumentando a viabilidade da utilização de sistemas de confinamento no Brasil.
Para dietas de confinamentos a utilização de grande quantidade de grãos é de suma
importância para aumentar a eficiência de ganho de peso dos animais, e isso é necessário
devido ao curto período de tempo que os animais permanecem no confinamento. A utilização
de dietas com elevados teores de concentrado com o intuito de aumentar o desempenho dos
animais pode gerar alguns problemas metabólicos como casos de acidoses devido a grande
quantidade de substratos rapidamente fermentáveis no rúmen, assim como a baixa quantidade
fibras que ajudariam a equilibrar o pH ruminal.
Uma forma de minimizar os efeitos gerados por dietas de confinamento é a utilização
de aditivos antimicrobianos com o objetivo de melhorar a eficiência dos animais, pois age
diretamente na fermentação ruminal e consequentemente pode melhorar os efeitos benéficos e
minimizar os processos ineficientes. Os antibióticos são os aditivos mais utilizados em
confinamento, porém ao longo dos anos a utilização de aditivos alternativos aos antibióticos
vem aumentando devido à restrição de alguns mercados à utilização desses aditivos na
nutrição animal. Neste intuito a utilização de taninos na nutrição de bovinos de corte vem
ganhando força como uma alternativa aos antibióticos.
Uma das alternativas aos antibióticos são extratos de plantas que podem exercer
funções semelhantes aos promotores de crescimento e dentre esses extratos podemos destacar
os taninos. Os taninos são compostos fenólicos presentes em todas as plantas e são divididos
basicamente em dois grandes grupos: taninos condensados e taninos hidrolisáveis.
Tradicionalmente conhecidos como fatores antinutricionais devido a seu sabor adstringente os
taninos, se fornecidos em quantidades inadequadas, podem causar efeitos negativos no
desempenho dos animais por inibirem o consumo de matéria seca. Podem reduzir o consumo
também devido a complexos formados por taninos que diminuem a digestibilidade de alguns
alimentos, fazendo com que o mesmo demore mais tempo a ser digerido e fique mais tempo
no trato digestivo do animal.
Quando utilizados na dosagem e fontes de taninos corretas os mesmos podem gerar
alguns benefícios para os animais, como inibição do desenvolvimento de alguns
4

microrganismos indesejáveis, inibição da ação de algumas enzimas, assim como a formação


de complexos entre taninos e proteínas ou enzimas proporcionando assim uma modulação na
fermentação ruminal. O complexo gerado por tanino seja com proteínas, ou com enzimas,
pode fazer com que ocorra aumento na eficiência de utilização do nitrogênio da dieta, reduzir
a emissão de nitrogênio no ambiente via urina, além de proporcionar aumento no saldo final
de proteína metabolizável.

2. CONFINAMENTOS

Ao longo dos anos a necessidade pelo aumento na produção de alimentos faz com que
produtores busquem novas tecnologias para intensificar seus sistemas de produção, com o
intuito de evitar abertura de novas áreas. Neste sentido a adoção de sistemas de confinamentos
vem aumentando nas propriedades brasileiras, sendo favorecida também pela elevada
produção de grãos no país, ficando clara a presença da maioria dos confinamentos nas regiões
de maior produção de grãos (Goiás e Mato Grosso), com o intuito de minimizar os custos de
produção.
De acordo com Associação Brasileira das Industrias Exportadoras de Carne (ABIEC,
2018), o número de animais em confinamentos no Brasil em 2017 ultrapassou 5 milhões de
cabeças, com uma representatividade de aproximadamente 14% do total de animais abatidos.
No ano de 2007 o total de animais abatidos provenientes de confinamentos era de
aproximadamente quatro milhões, com uma representatividade de apenas 7% do total, ou seja,
nos últimos 10 anos o numero de animais abatidos terminados em confinamento está
aumentando e, além disso, a representatividade do total de animais abatidos dobrou neste
mesmo período1.
A terminação de animais em confinamento é uma pratica que propicia um ganho de
peso elevado em um curto período, caso o sistema seja bem conduzido. O fornecimento de
dietas de alta qualidade, assim como a pouca movimentação dos animais faz com que a
eficiência desses sistemas possa ser superior aos sistemas de criação a pasto, sistema esse
predominante no país atualmente. Dentre as vantagens da utilização de confinamentos nas
propriedades podemos destacar o aumento de produtividade e qualidade de carne, programar
abates ao longo do ano, intensificar o giro de capital, alivio nas áreas de pastagens nos
períodos de baixa produtividade (seca). O fato de ser uma pratica muito intensiva trás
inúmeros benefícios, porém também existe a necessidade de intensificação no gerenciamento
das atividades devido ao maior risco de insucessos2.
5

Dentre os pontos que devemos ficar atentos quando falamos de confinamento, a


nutrição proporciona grande impacto financeiro, e pode estar diretamente ligada ao
desempenho dos animais, assim como possíveis distúrbios metabólicos. Com exceção do
custo de reposição dos animais a nutrição é responsável pelo maior custo de produção de um
confinamento, e dentro da nutrição dos animais devemos ficar atentos a alguns pontos como a
formulação das dietas, levando em consideração o tipo e a quantidade de alimento que será
utilizado, assim como os protocolos de adaptação que serão adotados2.
De acordo com levantamentos realizados por Millen3 e Pinto4 a quantidade de
concentrado utilizado nas dietas de confinamento vem aumentando ao longo dos anos, saindo
de uma média de 71,2% concentrado no ano de 2009 e chegando a 79,4% no ano de 2016. O
grão mais utilizado nas operações de confinamento é o milho, principal fonte de energia para
os animais, e também um dos principais grãos produzidos no país. De acordo com o
levantamento realizado em 2016 a inclusão de milho nas dietas de confinamento era em torno
de 66%, onde o processamento predominante era a moagem fina, de aproximadamente
3,3mm4. Esse valor de inclusão parece elevado, porém ainda é muito inferior a inclusão que
ocorre nos confinamentos dos Estados Unidos da América, que utilizam inclusões de milho
por volta de 70-85%5.
O aumento na utilização de dietas ricas em alimentos concentrados está atrelado ao
fato de que esses alimentos apresentam uma maior qualidade nutricional e consequentemente
de gerar maior eficiência alimentar, maior facilidade de manuseio, melhor acabamento de
carcaça e menores dias de confinamento. Porém outros cuidados devem ser tomados devido à
elevada utilização desses alimentos para evitar alguns distúrbios metabólicos. A principal
enfermidade que ocorrem em confinamentos brasileiros é a doença respiratória bovina,
seguida de acidose, distúrbio esse causado principalmente por formulações inadequadas das
dietas fornecidas4. Os manejos inadequados das dietas de confinamento podem estar
relacionados a protocolos de adaptação realizados inadequadamente e também a dietas
desbalanceadas. Dietas desbalanceadas podem causar problemas digestivos como acidose,
timpanismo e laminite2.
Os problemas digestivos causados por dietas desbalanceadas estão diretamente
relacionados com as grandes quantidades de carboidratos rapidamente fermentáveis nas
dietas, carboidratos esses ricos em amido como milho, sorgo e aveia. A rápida fermentação do
amido provoca queda excessiva do pHruminal (<5), e pode causar problemas como, variação
no consumo de matéria seca, anorexia, diarreia e consequentemente queda no desempenho
dos animais. Para evitar esses tipos de problemas alguns procedimentos devem ser
6

respeitados, uma prévia adaptação às dietas, fornecimento da dieta em horários fixos,


formação de lotes homogêneos, além da utilização de aditivos alimentares como antibióticos
ionóforos, antibióticos não ionóforos, leveduras, óleos essenciais e taninos, entre outros2.
Os aditivos mais utilizados nos confinamentos são os ionóforos, e diversas são as
vantagens na utilização dos aditivos, onde podemos destacar de maneira geral: Melhoria na
eficiência de utilização da energia dos alimentos devido a uma maior produção de propionato
em relação a produção de acetato, reduzindo assim a proporção acetato:propionato; Melhoria
na utilização de proteínas, por agirem na degradação ruminal da proteína através da inibição
de alguns microrganismos ou enzimas; Melhoria no ambiente ruminal devido ao controle
realizado pelos aditivos em alguns microrganismos ruminais, que poderiam favorecer a
ocorrência de distúrbios metabólicos6,7,8.

3. PROTEÍNAS PARA RUMINANTES

A nutrição proteica de animais ruminantes se diferencia dos animais monogástricos


principalmente pelo fornecimento de proteínas degradáveis e não degradáveis no rúmen. As
fontes de proteína que chegam ao intestino dos animais ruminantes são as proteínas
microbianas (Pmic), proteína não degradável no rúmen (PNDR) e em menor quantidade a
proteína endógena. Para o seu desenvolvimento os animais necessitam de aminoácidos
advindos das fontes proteicas que chegam no intestino, e essas fontes absorvidas pelo animal
levam nome de proteína metabolizável (PM)9.
A proteína microbiana é a principal fonte de proteína para os ruminantes quando
falamos dos sistemas de criação no Brasil, onde os animais em sua maioria são criados em
sistemas de pastagens, e nestes sistemas a Pmic pode representar mais de 65% da proteína
metabolizável da dieta destes animais. Quando falamos de animais confinados a representação
da Pmic é um pouco menor (55-64%) do total de PM, porém isso é muito variável e depende
muito do tipo de dieta que são utilizadas e principalmente a fonte proteica utilizada9.
O fato de a Pmic ser a principal fonte proteica nos sistemas de produção não é um
ponto negativo na nutrição, pois essa fonte é a que apresenta o melhor valor biológico dentre
as possíveis fontes proteicas e também por apresentar um bom valor de digestibilidade.
Sistemas de produção intensivos, que os animais apresentam altas exigências para expressar
seu potencial produtivo, a utilização de fontes de proteína não degradável no rúmen é
imprescindível, para completar a exigência de proteínas desse animal,e é importante que não
haja limitação para o desenvolvimento microbiano e consequentemente Pmic9.
7

Para aumentar o teor de proteína não degradável no rúmen de uma dieta que apresenta
teores ideais de PDR nós podemos fornecer alimentos que já possuem em sua composição
fontes proteicas de baixa degradação ruminal, como por exemplo grãos secos de destilarias
(DDG’s) e farelo do glúten de milho. Outra opção para aumentar o teor de PNDR de uma
dieta é a utilização de taninos, que possuem a capacidade de se complexar com proteínas ou
enzimas no rúmen impedindo assim a degradação proteica10.

4. ADITIVOS
No Brasil, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento através da normativa
15/2009 definem aditivos como: “Substância, microrganismo ou produto formulado,
adicionado intencionalmente aos produtos, que não é utilizada normalmente como
ingrediente, tenha ou não valor nutritivo e que melhore as características dos produtos
destinados à alimentação animal ou dos produtos animais, melhore o desempenho dos animais
sadios e atenda às necessidades nutricionais ou tenha efeito anticoccidiano”11.
Com um intuito de aumentar a eficiência de utilização dos nutrientes fornecidos aos
animais a utilização de aditivos se torna uma opção, pois interfere diretamente na fermentação
ruminal. Essa fermentação é de extrema importância quando estamos falando de ruminantes,
pois está relacionada com a taxa de digestão dos alimentos, assim como a disponibilidade de
energia e proteína para os animais. A utilização de aditivos pode interferir na fermentação
ruminal aumentando alguns efeitos benéficos como produção de ácidos graxos de cadeias
curtas e produção de proteína microbiana, e pode diminuir também alguns efeitos maléficos
como acidoses, produção de metano e perda de proteínas8.

4.1.Monensina

A monensina é um antibiótico ionóforo produzido por uma cepa de Streptomyces


cinnamonensis que no inicio da década de 1970 era utilizada inicialmente para controle de
coccidiose em aves e na mesma década foi aprovada como aditivo para bovinos12. A
diminuição na incidência de coccidiose nos bovinos nas principais regiões de confinamentos
nos Estados Unidos reduziu drasticamente a mortalidade nos primeiros anos de sua utilização,
passando de cerca de 55-60 mortes para cada 100 mil animais para menos de 5 mortes para
cada 100 mil animais, como podemos observar no figura a seguir13.
8

Figura 1.Mortalidade para cada 100 mil animais por coccidiose em confinamentos nos
Estados Unidos pré e pós a utilização de monensina. Adaptado: Edwards, 198413.

Considerando os microrganismos ruminais a maioria é representada por bactérias,


fungos e protozoários, onde as bactérias são os microrganismos presentes em maior
quantidade e maior capacidade metabólica14. A monensina é altamente eficiente no controle
de bactérias gram-positivas e apresentam pouca, ou até mesmo nenhuma atividade sobre as
bactérias gram-negativas e isso ocorre devido a presença de uma segunda membrana na
parede celular desses microrganismos que impedem a entrada desse antibiótico. Essa segunda
membrana de proteção presente nas bactérias gram-negativas possuem porinas (canais de
proteína) com tamanho limite de aproximadamente 600 Da e a maioria dos antibióticos
possuem um tamanho superior a isso, tornando as células impermeáveis, diferentemente das
gram-positivas que possuem apenas uma camada porosa e espessa de peptidioglicanos8.
Ao penetrar na célula o modo de ação do ionóforo está relacionado com um
mecanismo chamado de bomba iônica, responsável pelo balanço químico entre o meio interno
e o externo da célula15. Para realização da síntese de proteína e também como mecanismo que
ajuda a tamponar o pH intracelular as bactérias em condições normais mantem a concentração
de K+(Potássio) no interior da célula superior ao meio externo e liberam prótons e Na+(Sódio).
A utilização da monensina faz com que o transporte de cátions através da parede celular seja
facilitado, resultando em uma reduzida concentração intracelular de potássio, elevada
concentração de sódio e uma queda no pH devido a entrada de H+. Para realizar o controle do
pH as bactérias necessitam utilizar seus sistemas de transporte para retirar o excesso de
H+intracelular na tentativa de manter seu equilíbrio natural, porém esse processo faz com que
as reservas energéticas do microrganismo seja reduzida, ocasionando em uma menor
capacidade de divisão celular8.
9

Com a redução nas reservas energéticas o funcionamento da bomba iônica fica


comprometido, fazendo com que ocorra um desiquilíbrio constante e isso pode fazer com que
o excesso de cátions presentes na célula aumente a pressão osmótica favorecendo a entrada de
água em grande quantidade na célula, podendo levar ao rompimento8.
Dentre os benefícios gerados pela monensina é possível destacar o aumento no
metabolismo energético e proteico do ruminante, redução nos riscos de timpanismo e acidose
devido a maior estabilidade ruminal gerada pelo aditivo, menor consumo de matéria seca,
diminuição na relação acetato:propionato devido ao aumento na produção de ácido propiônico
e redução nas proporções de acético e butírico16,17.
O controle microbiano realizado pela monensina favorece a produção de propionato
em detrimento de acetato e butirato, e quando falamos de animais de produção isso pode ser
benéfico. Existem diferenças na eficiência de utilização de hidrogênio metabólico no rúmen,
sendo esses utilizados para transformações de hexoses em acetato, propionato e butirato, e as
eficiências são de aproximadamente 62%, 109% e 78% respectivamente, porém isso não quer
dizer que a presença desses ácidos graxos de cadeia curta no rúmen seguem o mesmo padrão,
pois a concentração de acetato ruminal será sempre maior que os demais, independente do
tipo de dieta que poderá influenciar apenas na proporção entre eles18. Além do fato de ser
produzido de forma mais eficiente o propionato é considerado uma fonte de energia mais
eficiente que o acetato, pois além de ser utilizado diretamente após sua transformação em
glicose no fígado o propionato pode ser usado diretamente na gliconeogênse. Sua participação
direta na gliconeogêse pode gerar outros benefícios como o aumento na retenção de N, pois
poderá ocorrer uma preservação dos aminoácidos na gliconeogênese, já que os dois são
precursores de glicose19.
A redução no consumo de matéria seca quando animais em confinamento são
alimentos com dietas ricas em grãos e com a adição de monensina é bem documentado e esse
é um fenômeno de muita importância, pois pode influenciar diretamente na eficiência de
produção dos animais. A maior disponibilidade de propionato proporcionada pelo aditivo
pode fazer com que ocorra uma redução no consumo de alimento, pois o animal irá necessitar
de menos alimento para atingir seu pico de saciedade, que no caso de animais confinados é
geralmente por saciedade química16,8.

4.2. Restrição ao uso de antibióticos

Mesmo sendo os aditivos mais pesquisados mundialmente os antibióticos possuem


algumas restrições quanto a sua utilização em alguns países. A Dinamarca foi o primeiro país
10

a adotar tal medida na década de 1990 e a partir de um decreto de 22 de setembro de 2003 a


proibição da utilização de antibióticos na nutrição animal passou a valer na União Europeia
através do regulamento nº 1831/2003 do parlamento europeu20. Essa medida é muito discutida
até os dias atuais, pois alguns pesquisadores consideram essa restrição como correta, a partir
de que seu potencial antibiótico faz com que alguns microrganismos criem resistência,
podendo gerar efeitos a saúde humana21. Porém outros pesquisadores argumentam que o fato
de existir uma diferenciação no modo de ação desse tipo de antibiótico, quando comparado
com os antibióticos utilizados na saúde humana, faz com que sua utilização seja segura à
saúde humana12.
Os problemas gerados pelos antibióticos a população pode ocorrer quando animais que
recebem algum tipo de antibiótico possuam bactérias que venham a adquirir algum tipo de
resistência ao antibiótico e posteriormente causar problemas a saúde humana. Essa
transmissão pode ocorrer basicamente por questões ambientais, como por exemplo alimentos
contaminados, água contaminada, ou até mesmo pelo contato direto entre os animais e os
humanos. De acordo com uma meta-analise realizada por Tang23 a pedido da Organização
Mundial de Saúde que buscou avaliar os efeitos gerados pela restrição na utilização de
antibióticos em alguns países e foi observado que a incidência de bactérias resistentes
diminuiu quando ocorreu a limitação no uso de antibióticos.
Estudos que buscaram avaliar a concentração de ionóforos nos tecidos de animais de
laboratório e de produção observaram que, fornecidos oralmente, os mesmos são absorvidos,
metabolizados, excretados na bile e eliminados nas fezes pelas diferentes espécies avaliadas,
incluindo animais ruminantes23. Isso faz com que a utilização dos antibióticos em muitos
países seja permitida, sem levar em consideração os efeitos ambientais, inclusive sem
necessidade de um tempo de carência para animais que serão abatidos, ou para aqueles
animais da bovinocultura leiteira24.
Estudos vêm mostrando que a utilização desses aditivos alternativos como óleos
funcionais e taninos na nutrição de ruminantes podem apresentar efeitos semelhantes ao de
ionóforos, pois inibem o desenvolvimento de algumas bactérias, mudam o perfil de alguns
ácidos graxos ruminais e diminuem a produção de metano, consequentemente diminuindo
também as perdas metabólicas25,26.

4.3. Taninos

Inúmeros são os efeitos gerados pela utilização de taninos na dieta de ruminantes,


podendo gerar tanto efeitos positivos quanto negativos. Uma das limitações da utilização de
11

taninos nas dietas dos animais está na grande diversidade estrutural destes compostos que
pode depender do tipo (condensado e hidrolisável), como também a fonte utilizada, podendo
assim influenciar no seu modo de ação. A variedade de plantas que possuem taninos em sua
constituição é incalculável, assim como sua localização na planta, podendo estar presente em
todas as partes da mesma, porém algumas plantas apresentam concentrações superiores, sendo
essas plantas o foco de pesquisadores e empresas que buscam estudar seus efeitos na nutrição
animal. Mesmo com problemas apresentados por sua variação, algumas empresas já
trabalham com alguns produtos a base de taninos condensados e hidrolisáveis que apresentam
certo grau de padronização.
Os taninos são compostos fenólicos que estão presentes nas plantas e esses compostos
fenólicos são considerados como uma das principais classes dentro dos metabolitos
secundários das plantas, sendo, portanto, compostos responsáveis por dar pigmentação às
plantas, ou utilizados como mecanismos de defesa, assim como outras funções. Sendo
definidido como: “Todos os compostos fenólicos solúveis em água, com peso molecular
situado entre 500 e 3000 Da, cujo suas principais propriedades (para além das reações
características dos compostos fenólicos) são a de formar complexos insolúveis com os
alcaloides, gelatina e outras proteínas”27.
Os compostos fenólicos mais polimerizados (taninos) são os que apresentam maior
afinidade por enzimas digestivas inibindo seu efeito no processo digestivo. Os taninos
possuem a capacidade de inibir a atividade de enzimas relacionadas com a digestão de
carboidratos (α-amilase), lipídeos (lipase pancreática e gástrica) e de proteínas (tripsina e
diversas proteases)28.
Considerando a nutrição animal os taninos são tradicionalmente conhecidos como
fatores anti-nutricionais, possivelmente por inibir o desempenho dos animais devido ao efeito
gerado nas enzimas citadas anteriormente, assim como outro ponto muito discutido que é a
redução no consumo dos animais devido ao sabor adstringente provocado por eles. O sabor
adstringente é caracterizado como um ponto negativo, pois causa no paladar um aspecto de
aspereza, secura e de constrição e isso ocorre devido ao complexo formado por taninos e as
proteínas salivares reduzindo as propriedades lubrificantes da saliva29.
Na nutrição de ruminantes além das características negativas ao desempenho os
taninos podem trazer alguns benefícios, como a inibição do desenvolvimento de alguns
microrganismos, além dos benefícios gerados pelo complexo tanino-proteína que pode gerar
aumento no saldo final de proteína metabolizável devido a indisponibilidade de algumas
proteínas no rúmen e sua disponibilidade no intestino dos animais30. Os efeitos gerados por
12

esses complexos dependem de alguns fatores e dentre eles o tipo de tanino presente nas dietas,
que podem ser divididos em taninos hidrolisáveis e taninos condensados.

4.3.1.Taninos hidrolisáveis

Os taninos hidrolisáveis são aqueles passiveis de serem quebrados por hidrolise


química ou enzimática, e são constituídos basicamente por uma parte polialcoólica (acido
tânico) e por uma parte fenólica (ácido gálico). Após a hidrolise essa classe de taninos pode
liberar açucares e ácidos. Esse tipo de tanino está presente em abundância em plantas
dicotiledôneas (castanheiro (Bertholletia excelsa) e carvalho (Quercus spp.)) utilizados como
fontes mais comuns na indústria de taninos28.
Quando comparados com os taninos condensados, os hidrolisáveis apresentam maior
toxicidade para os animais ruminantes e isso está ligado diretamente com a maior capacidade
de se complexar com as proteínas, assim como sua maior hepatotoxicidade e
nefrotoxicidade31. O metabolismo microbiano possui a capacidade de converter os taninos
hidrolisáveis em metabólitos absorvíveis de baixo peso molelucar, podendo causar
gastroenterite hemorrágica, necroses no fígado e danos renais. Esse fato faz com que a
utilização de taninos hidrolisáveis na nutrição de ruminantes seja inferior aos taninos
condensados26. Sua utilização é inferior, porém alguns trabalhos mostram que sua utilização
em pequenas doses em associação com taninos condensados é viável10.

4.3.2. Taninos Condensados

Os taninos condensados recebem essa nomenclatura devido a sua composição química


condensada, podendo ser chamados também de proantocianidinas, possuem polímeros de 2 a
50 unidades de flavonoides unidas por ligações carbono-carbono. Comumente encontrados
em partes das plantas que estão constantemente em crescimento, ou seja, em partes novas da
planta, como folhas novas, flores e novos frutos, e são responsáveis também pela mudança de
cor das folhas na senescência das mesmas por apresentarem pigmentos nas cores marrom e
azul26.
São os taninos mais utilizados na nutrição de ruminantes devido a sua menor toxidez,
quando comparado aos taninos hidrolisáveis, assim como sua maior estabilidade em relação
aos complexos formados por tanino-proteína ou tanino-enzimas. Essa maior estabilidade nas
ligações está relacionada à resistência dos taninos condensados a hidrolise, mesmo podendo
ser solúveis em solventes orgânicos, enquanto os taninos hidrolisáveis são suscetíveis a
hidrolises de ácidos e bases fracas32.
13

4.3.3. Interação entre taninos e outras moléculas

Na nutrição de ruminantes é muito discutida a capacidade dos taninos de se complexar


com proteínas, porém os taninos possuem a capacidade de formar complexos com outras
moléculas como carboidratos, polissacarídeos, membranas celulares bacterianas, enzimas
digestivas, além da própria proteína. O grupo fenólico dos taninos são excelentes doadores de
hidrogênio formando fortes ligações de hidrogênio26.
Tanto o amido quanto a celulose podem ser complexados pelos taninos, e essas
interações podem ser aumentadas por carboidratos de elevado peso molecular, baixa
solubilidade e de flexibilidade conformacional. O amido tem a capacidade de se complexar
devido a formação de cavidades hidrofóbicas que facilitam as ligações de hidrogênio, já a
celulose apresenta interações diretas com os taninos26. Outro ponto que pode influenciar na
digestibilidade dos carboidratos é a interação entre taninos e enzimas, como a α-amilase, que
podem interferir na digestibilidade ruminal do amido33.
A capacidade dos taninos se complexarem com as proteínas são conhecidas há séculos
devido a pratica de curtimento de couro, além da presença do mesmo em vinhos. Os grupos
carboxilas presentes nas proteínas fazem com que as ligações de hidrogênio entre taninos e
proteínas sejam mais eficientes que as ligações entre taninos e amido. Ambos os tipos de
taninos (hidrolisáveis e condensados) possuem a capacidade de se complexar com as
proteínas, porém o fato dos taninos hidrolisáveis apresentarem ligações mais fracas pode
ocorrer a liberação das proteínas no ambiente ruminal. A interação entre os taninos e as
proteínas pode ocorrer através de complexos solúveis e complexos insolúveis. Os complexos
solúveis ocorrem quando a concentração de proteína é muito superior a quantidade de taninos,
fazendo com que exista menos locais de fixação com as moléculas de proteínas, já os
complexos insolúveis são formados quando os taninos estão em grande quantidade reforçando
as ligações e acabam formando uma camada hidrofóbica na superfície complexa26.
A eficiência entre os complexos taninos-proteínas são altamente variáveis, e
dependem de fatores como a dieta, pH do meio, características estruturais do tanino e da
proteína. Os taninos apresentam complexos estáveis com a proteína quando o pH do meio está
na faixa entre 4 e 734. Essa faixa de pH representa o pH do rúmen dos ruminantes alimentados
com diferentes tipos de dietas, sendo a dieta um fator que pouco afeta a formação dos
complexos, caso o ambiente ruminal esteja estável. Esse complexo é desfeito ao chegarem ao
abomaso (pH<3) e também em algumas partes do intestino delgado (pH>7), permitindo a
absorção dos aminoácidos35. Basicamente a utilização de taninos muda o local de
14

metabolismo e absorção de nitrogênio (N) diminuindo a degradação ruminal das proteínas


aumentando o fluxo de aminoácidos pós-rúmen31. O fato de aumentar o fluxo de aminoácidos
no intestino dos animais é corroborado por Kariuki e Norton36 que não só confirmaram o
aumento no fluxo de aminoácidos que chegavam ao intestino, como também a dissociação
destes complexos favorecendo a absorção pelo animal.
Existe também a capacidade dos taninos condensados em complexar minerais, sendo o
complexo tanino-ferro o mais eficiente e o complexo com Cu, Mn, Al, Zn e Co menos
eficiente. Sendo pouco estudada a formação desses complexos faz com que seja pouco
entendido o efeito desses complexos no desempenho dos animais, pois isso pode
indisponibilizar minerais a nível de rúmen e prejudicar a microbiota ruminal. A química por
traz dos complexos entre taninos e minerais é bem compreendida, diferente dos efeitos finais,
devido a capacidade dos taninos em quelar metais e isso também pode ser dependente do pH
do meio por influenciar na capacidade oxidativa do tanino31.

4.3.4.Efeito dos taninos para os microrganismos

A determinação da toxicidade dos taninos para com os microrganismos é geralmente


realizada através de experimentos in vitro onde são realizadas contagens e observações do
efeito dos taninos, que podem ser sobre bactérias, protozoários e fungos filamentosos. Alguns
parâmetros também são utilizados para essa determinação como parâmetros bioquímicos,
produção de metano, degradação de celulose entre outros37.
Os microrganismos não podem degradar os taninos, e os taninos podem ser tóxicos
para alguns microrganismos como Streptococcus bovis, Butyvibriofibro solvens, Fibrobacter
succinogenes, Prevotella ruminicolae Ruminobacter amylophilis38,37. O modo de ação dos
taninos para com os microrganismos não está tão documentado, quanto comparações entre
taninos e outros aditivos, ou até mesmo comparações entre tipos de taninos, porém o efeito
antimicrobiano pode ser atribuído a alguns fatores como: Inibição enzimática ou privação de
substrato; Ação dos taninos nas membranas dos microrganismos; Privação de alguns íons
metálicos37.
A inibição enzimática ou privação de substrato está diretamente ligada com os
mesmos princípios do tanino que geram a adstringência, pois como já foi falado esse efeito de
adstringência é gerado devido a complexos formados pelos taninos na boca do animal, já a
privação de substrato dos taninos é causada devido a esses complexos, porém neste caso são
complexos que não irão ocorrer somente na boca do animal e sim os efeitos gerados durante
todo o trato digestivo. A ação que os taninos podem exercer na membrana dos
15

microrganismos depende do tipo do microrganismo. Seguindo o mesmo principio do efeito


gerado por alguns antibióticos, a ação dos taninos irá ocorrer em maior intensidade em
microrganismos Gram-positivos devido à ausência de uma segunda membrana na sua parede
celular, diferentemente de microrganismos Gram-negativos37. Beauchemin39 observaram
também que os taninos podem influenciar na relação acetato:propionato, onde a utilização de
taninos condensados diminuiu essa relação e isso pode ser provocado com uma inibição de
bactérias indesejáveis, favorecendo as demais.
Os microrganismos são altamente dependentes da presença de íons metálicos no meio
em que eles vivem, e a utilização de taninos pode influenciar devido aos complexos e
consequentemente a indisponibilidade desses íons metálicos para os microrganismos. A
toxicidade gerada pelos taninos pode ser minimizada devido à capacidade dos
microrganismos de possuírem alguns mecanismos de defesa. Por exemplo, no caso da
privação dos íons metálicos os microrganismos possuem a capacidade de liberar sideróforos
que são moléculas capazes de captar o ferro presente no ambiente e depois disponibilizar o
mesmo para as bactérias40,37. Outros mecanismos de defesa podem ser a liberação de
polímeros e/ou enzimas que possuem alta afinidade por taninos, formando assim complexos
que impedirão os efeitos sobre os microrganismos37.

4.3.5. Metanogênese

Um dos efeitos da utilização de taninos para os animais é a redução na produção de


metano e isso pode ser benéfico, pois a produção de metano é responsável por uma perda de
energia consumida de 2-12%8. O metano é um importante gás causador do efeito estufa e o
mesmo é produzido durante a fermentação microbiana ruminal e liberado para o ambiente
através da eructação. A metanogênese é um processo complexo realizado pelos
microrganismos metanogênicos que podem utilizar os subprodutos gerados pelos
microrganismos de um modo geral para produção de metano, sendo os principais subprodutos
o H, CO2 e ácidos graxos voláteis (AGV). Para a produção dos AGV são utilizados He uma
parte deste é utilizada para a produção de metano, mostrando assim a importância na
diminuição de organismos metanogênicos, pois pode favorecer a produção de ácidos graxos
voláteis devido a maior disponibilidade de H e consequentemente o desempenho dos
animais31.
O efeito gerado pelos taninos sobre a produção de metano ainda não é bem
compreendido, porém Naumann31 e colaboradores apresentaram três possibilidades para essa
16

possível redução: A primeira é de que os taninos possuem a capacidade de inibirem o


desenvolvimento de bactérias metanogênicas; Outra hipótese é de que aconteça uma inibição
indireta ocasionada por uma menor disponibilidade de substratos no rúmen, devido a
complexos gerados pelos taninos; E a terceira e ultima hipótese é de que o próprio tanino irá
servir como deposito de hidrogênio, diminuindo a disponibilidade do mesmo para a produção
do metano. A produção de metano é um importante fator que deve ser considerado por
nutricionistas quando são utilizados aditivos que podem modificar a produção do mesmo, pois
pode influenciar diretamente no consumo de energia metabolizável, e consequentemente
alterando valores de predição de consumo.

4.3.6. Consumo de matéria seca

A utilização de taninos na nutrição animal é altamente discutida devido aos possíveis


problemas anti nutricionais provocados pelo mesmo, se utilizado de maneira e quantidades
incorretas. Quando utilizados em doses inferiores a 3% ao consumo total de matéria seca a
utilização de taninos pode não alterar o consumo de matéria seca dos animais ou até mesmo
aumentar o consumo, dependendo do tipo de dieta e fonte de tanino utilizado41. Koenig42 e
colaboradores observaram que a utilização de taninos em doses de 2,5% do total de matéria
seca não influenciou no consumo de matéria seca, diferentemente do que ocorreu quando
doses de 3,5% foram utilizadas, onde foi observada uma redução de aproximadamente 6% no
consumo de matéria seca.
Carulla41 e colaboradores observaram que a utilização de taninos fornecidos através de
leguminosas que continham uma elevada concentração de tanino elevou o consumo de
matéria seca e matéria orgânica em aproximadamente 4%, alterando também alguns outros
parâmetros metabólicos.

4.3.7.Metabolismo de Nitrogênio

A concentração de nitrogênio ureico pode ser influenciada por dietas que apresentem
um elevado teor de proteína degradável no rúmen ou não. Isso pode ocorrer porque dietas que
apresentam um excesso de proteína degradável no rúmen fazem com que a amônia não
utilizada pela microbiota ruminal seja absorvida pelo epitélio ruminal e dietas com elevado
teor de proteína não degradável no rúmen podem fazer com que esse excesso de aminoácidos
chegue até o fígado sendo convertido em ureia e podendo ser excretado ou não43. O fato de
ocorrer a formação de complexos pode fazer com que nem todo complexo se desfaça no
abomaso ou no intestino e isso pode influenciar na concentração de nitrogênio fecal,
17

aumentando o mesmo e consequentemente diminuindo a liberação de nitrogênio urinário. A


ureia urinaria é um problema quando é considerado o meio ambiente devido a sua rápida
volatilização, já o N fecal tem algumas vantagens como o fato de ser mais estável no meio
ambiente e também por proporcionar uma melhora na estabilidade de N no esterco, podendo
reduzir a volatilização da amônia em valores próximos a 20%41,42.
A utilização de taninos pode afetar o metabolismo de nitrogênio nos ruminantes como
já foi falado anteriormente, devido a mudanças provocadas pelo mesmo no local onde a
proteína será metabolizada. Koenig e Beauchemin35observaram que a utilização de taninos em
dietas com teores de tanino pode influenciar no metabolismo de nitrogênio alterando a
concentração de nitrogênio ureico e a excreção de nitrogênio nas fezes e urina. A utilização de
taninos naquele estudo alterou a proporção de proteína degradável no rúmen da dieta
aumentando a concentração de proteína não degradável no rúmen.

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CAPITULO 1 - EFEITO DO TANINO NO DESEMPENHO E CARACTERÍSTICAS
DE CARCAÇA DE BOVINOS NÃO CASTRADOS TERMINADOS EM
CONFINAMENTO

RESUMO
Tradicionalmente conhecido como um fator antinutricional devido ao seu sabor adstringente,
o tanino quando fornecido em quantidades e condições adequadas pode melhorar o
desempenho dos animais agindo na degradabilidade da proteína e na manipulação da
fermentação ruminal. O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho e características de
carcaça de novilhos em fase de terminação, recebendo dietas com adição de um produto
comercial a base de taninos ou monensina. Foram utilizados 160 animais, 64 Nelores e 96 F1
(Angus x Nelore) com idade média de 20 meses. O delineamento experimental utilizado foi o
de blocos casualizados sendo considerado como blocos peso e raça, a unidade experimental
considerada foi a baia composta por 8 animais e 5 repetições por tratamento, totalizando 20
unidades experimentais. Os tratamentos avaliados foram: M14 – Dieta com 14% de PB e 25
ppm de Monensina; MT14 – Dieta com 14% de PB, 25 ppm de Monensina e 0,15% da MS de
Taninos; T14 – Dieta com 14% de PB e 0,15% da MS de Taninos; MT13 – Dieta com 13% de
PB, 25 ppm de Monensina e 0,15% da MS de Taninos. A dieta de todos os tratamentos contou
com relação volumoso:concentrado 10:90, com base na matéria seca dos ingredientes. O
período experimental foi de 105 dias e contou com 14 dias de adaptação. Os tratamentos
MT14 e T14 apresentaram valores superiores aos demais para peso final (P=0,002), consumo
de matéria seca (P<0,001), consumo por porcentagem de peso vivo (P<0,001), ganho médio
total (P=0,005) e ganho médio diário (P=0,005). A Eficiência alimentar (P=0,157) foi
semelhantes estatisticamente entre todos os tratamentos. Os parâmetros de área e olho de
lombo (P=0,332), espessura de gordura subcutânea (0,848), espessura de gordura na picanha
(P=0,830) e Área de picanha (P=0,141) obtidos por ultrassonografia não apresentaram
diferença entre os tratamentos. O peso de carcaça final (P=0,075) e GMD de carcaça
(P=0,076) foram superiores para os tratamentos MT14 e T14 em comparação aos demais. O
rendimento de carcaça não apresentou diferença entre os tratamentos (P=0,904). A utilização
da mistura de taninos condensados e hidrolisáveis se mostrou viável na terminação de bovinos
de corte, apresentando eficiência alimentar e características de carcaça semelhante ao aditivo
monensina em dietas com 14% e 13% de proteína bruta.

Palavras-Chave: Angus, extrato natural, monensina, Nelore, proteína.


23

1. INTRODUÇÃO

Os taninos classificados em condensados (TC) e hidrolisáveis (TH) estão presentes em


todas as plantas, variando apenas na concentração e os locais na planta. A presença de taninos
na nutrição de ruminantes pode ser considerada como um fator anti-nutricional, pois quando
presentes em grande quantidade (acima de 2-3% de inclusão) nas dietas, inibem o consumo de
matéria seca1,2.
A utilização de taninos em doses ideais pode modular a fermentação ruminal, se
complexando com proteínas ou enzimas mudando o perfil de aminoácidos que vão chegar ao
intestino para absorção, além de alterar a metanogênese através do efeito antimicrobiano3.
Ambos os tipos de tanino (TC ou TH) possuem a capacidade de se complexar com as
proteínas através de ligações de hidrogênio e a modulação da fermentação ruminal irá
depender da intensidade destas ligações2.
A capacidade de se ligar à proteína faz com que os taninos melhorem o
aproveitamento de nitrogênio, reduzindo a quantidade de amônia no rúmen, além de aumentar
a quantidade de proteína não degradável4. A utilização de aditivos alternativos aos ionóforos
vem demostrando seu potencial, podendo apresentar resultados semelhantes ao modularem a
fermentação ruminal, apresentando efeitos sobre os microrganismos, mudando o perfil de
ácidos graxos, inibindo a produção de metano e consequentemente melhorando o desempenho
dos animais.
Devido ao efeito no metabolismo de proteínas e sua ação antimicrobiana os taninos
podem melhorar o desempenho dos animais ou até mesmo reduzir o teor de proteína da dieta,
neste sentido o objetivo foi avaliar o desempenho e características de carcaça de bovinos não
castrados em fase de terminação, recebendo um produto comercial a base de tanino, avaliando
sua associação ou não com monensina, assim como uma redução na proteína da dieta.

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Local do experimento

O experimento foi realizado no Confinamento Experimental de Bovinos de Corte


(CEBC) da escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás
(UFG), localizada no município de Goiânia – GO. A realização do experimento contou com o
auxilio da equipe do CEBC e todos os procedimentos experimentais estavam de acordo com a
Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da UFG sob protocolo de número 056/18.
24

3.2 Animais

Foram utilizados cento e sessenta animais não castrados contemporâneos, sendo 64


Nelore e 96 animais cruzados F1 Nelore x Aberdeen Angus, com idade média de 20 meses e
peso inicial de 342 ± 25 kg que foram recriados em propriedade privada do Estado de Goiás.
Ao chegar no confinamento os animais foram divididos em lotes e alocados em 20 baias
coletivas medindo 77 m² (7,7 x 10m), distribuídos oito animais por baia totalizando 9,63m²
por animal. Os animais tiveram livre acesso à água, com bebedouros de 500 litros
compartilhados entre duas baias. A linha de cocho de 7,7 m por baia disponibilizava 96,25cm
por animal.

3.3 Tratamentos, dietas e parâmetros avaliados

Os tratamentos avaliados foram: Tratamento 1 (M14): dieta com 14% de PB e 25 ppm


de monensina; Tratamento 2 (MT14): dieta com 14% de PB, 25 ppm de monensina e 0,15%
da MS de taninos; Tratamento 3 (T14): dieta com 14% de PB e 0,15% da MS de taninos;
Tratamento 4 (MT13):dieta com 13% de PB, 25 ppm de monensina e 0,15% da MS de
taninos. Os aditivos utilizados foram monensina (Rumensin; Elanco Saúde Animal, São Paulo
– SP) e um blend de taninos (Bypro®; Silva Team Brasil, Estância Velha – RS) composto por
um terço de taninos hidrolisáveis de castanheiro (Castanea sativa) e dois terços de taninos
condensados de quebracho (Schinopsis lorentzii).
A dieta de todos os tratamentos contou com relação volumoso:concentrado 10:90, com
base na matéria seca dos ingredientes. As dietas contaram com os mesmo ingredientes básicos
(Tabela 1), variando apenas os teores de proteína ou aditivos utilizados. As dietas foram
fornecidas com teor médio de matéria seca de 65%, sendo esse ajuste realizado com a adição
de água durante a mistura dos ingredientes, essa adição de água ocorreu de acordo com a
variação do teor de matéria seca dos ingredientes sendo monitorada semanalmente.
Foram realizadas cinco pesagens durante o experimento experimental, a primeira após
o período de adaptação (14 dias) e as pesagens seguintes com intervalos médios de 28 dias.
Foi realizado jejum de sólido apenas na primeira e ultima pesagens. A partir dos dados
obtidos nas pesagens foi determinado ganho de peso médio diário (GMD), Consumo médio
diário de matéria seca (CMS), ganho de peso total (GPT), eficiência alimentar (EA), consumo
de matéria seca expresso em porcentagem de peso vivo (CPV).
25

Tabela1. Ingredientes utilizados nas dietas finais, assim como a composição bromatológica da
dieta dos tratamentos.
Tratamentos
Ingredientes (% MS) M14 MT14 T14 MT13
1
BIN 9,80 9,80 9,80 9,80
Milho 75,35 75,20 75,21 80,01
Farelo de soja 12,25 12,25 12,25 7,07
Ureia 0,71 0,71 0,71 1,08
2
Mineral 1,88 1,88 1,88 1,88
3
Monensina 0,01 0,01 - 0,01
4
Taninos - 0,15 0,15 0,15

Composição Bromatologica (% MS)


Matéria seca (MS) 65,14 64,19 63,34 64,14
Proteína bruta (PB) 14,67 14,29 14,87 13,33
Extrato etéreo (EE) 3,36 3,36 3,36 3,45
Fibra em detergente neutro (FDN) 17,71 16,62 15,59 17,27
Fibra em detergente ácido (FDA) 8,04 6,95 6,84 7,35
Matéria orgânica (MO) 95,75 96,12 96,71 96,03
Matéria mineral (MM) 4,25 3,88 3,29 3,97
Nutrientes digestíveis totais (NDT)5 73,71 74,18 74,22 74,01
¹ Bagaço de cana-de-açúcar in natura.
2
Mineral, Ganho 60; Ganho Nutrição animal, Goiânia – GO; Níveis de garantia do produto por kg: Cálcio:185g;
Fosforo:60g; Sódio:111g; Magnésio:10g; Enxofre:18g; Cobre:1000mg; Manganês:800mg; Zinco:3600mg;
Cobalto:75mg; Iodo:75mg; Selênio:11mg; Fluor:600mg.
3
Monensina (Rumensin); Elanco Saúde Animal, São Paulo – SP.
4
Taninos (Bypro®); SilvaTeam Brasil, Estância Velha – RS.
5
Valores de NDT calculados através da formula proposta por Cappelle et al., 20015.

Na ultima semana de avaliações foi realizado a ultrassonografia dos animais para


determinação da espessura de gordura subcutânea (EGS), espessura de gordura na picanha
(EGP), área de picanha (Área de P.) e área de olho de lombo (AOL) e após o abate a
determinação do peso de carcaça final, rendimento de carcaça (RC) e do ganho médio diário
de carcaça (GMDCarcaça). O Peso de carcaça inicial foi obtido através do peso inicial dos
animais com um rendimento médio estimado de 50%. Não foi realizado abate de referencia
desses animais para quantificar o rendimento médio inicial, portanto baseado em dados
bibliográficos para rendimento de carcaça de animais jovens foi determinado um valor inicial
médio de 50%6,7.
26

3.4 Amostragens, analises laboratoriais e delineamento experimental

O período experimental foi de 105 dias, destes, 14 dias foram para adaptação,
utilizando um protocolo de aumento gradativo dos níveis de concentrado. As dietas foram
ofertadas ad libitum, uma vez ao dia (8:00h) e a quantidade ajustada para que os valores de
sobras fossem de aproximadamente 5% do total de MS fornecido. As sobras foram pesadas
diariamente para determinação do consumo de matéria seca, sendo coletadas amostras de
sobras diariamente, e uma amostra por período da dieta oferecida. Após as coletas, as
amostras foram congeladas a -20ºC e armazenadas para futuras analises. As amostras foram
então descongeladas e encaminhadas para estufa de circulação forçada de ar (55ºC) por 72
horas, e posteriormente processadas em moinho tipo Willey a uma espessura de 1 mm, para
realização das análises bromatológicas (Método INCT-CA G-001/1)8.
Foram determinadas nas análises bromatológicas os valores de matéria seca (MS:
Método INCT-CA G-001/1), proteína bruta (PB: Método INCT-CA N-001/1), extrato etéreo
(EE: Método INCT-CA G-004/1), matéria mineral (MM: Método INCT-CA M-001/1),
matéria orgânica (MO)8, valores de fibra em detergente neutro (FDN: Método INCT-CA F-
002/1) e fibra em detergente acido (FDA: Método INCT-CA F-004/1)8.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados (DBC), onde os
animais foram separados em blocos por peso em cinco blocos, e por raça em dois blocos
sendo a unidade experimental considerada a baia composta por oito animais e cinco repetições
por tratamento totalizando 20 unidades experimentais. Os dados foram analisados
estatisticamente com a utilização do ProcMixed do SAS, para um delineamento em blocos
casualizados com níveis de significância de 10%.

4. RESULTADOS

O peso inicial, peso final, consumo de matéria seca (CMS), consumo de matéria seca
em porcentagem do peso vivo (CMSP), ganho médio diário, e eficiência alimentar (EA) são
apresentados na Tabela 2. Os tratamentos MT14 e T14 apresentaram valores de peso final
(P=0,002) e ganho médio diário (P=0,005) superiores aos demais tratamentos, apresentando
valores médios de peso final 3% superiores aos demais e ganho de peso 8% superior. O
tratamento com menor inclusão de proteína não apresentou diferença em relação ao
tratamento que utilizou apenas monensina nos parâmetros de peso final e ganho de peso
médio diário. O consumo de matéria seca (CMS e CMSP) foi superior no tratamento T14,
27

seguido do tratamento MT14 (P<0,001). Os tratamentos MT13 e M14 não apresentaram


diferença nos parâmetros de consumo avaliados. A eficiência alimentar foi semelhante entre
tratamentos (P=0,157).

Tabela 2. Peso médio inicial, final, ganho de peso médio diário (GMD), consumo médio
diário de matéria seca expresso em kg (CMS) e em percentagem de peso vivo
(CMSP) e eficiência alimentar (EA).
Variável Tratamento*
M14 MT14 T14 MT13 P-value EPM¹
Peso inicial (kg) 343,15 342,80 343,40 341,98 0,834 13,850
Peso final (kg) 526,16a 540,71b 545,33b 527,98a 0,002 30,327
CMS (kg/d) 9,76a 10,28b 10,92c 9,78 a <0,001 0,713
CMSP (%) 2,25a 2,34b 2,46c 2,26a < 0,001 0,073
Ganho médio diário (kg) 1,73a 1,88b 1,91b 1,76a 0,005 0,236
EA 0,1778 0,1825 0,1750 0,1802 0,157 0,011
Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem pelo teste de Tukey (p<0,10).
*M14 (Monensina – PB de 14%); MT14 (Monensina + Tanino – PB de 14%); T14 (Tanino – PB de 14%);
MT13 (Monensina + Tanino – PB de 13%).
¹ Erro padrão da média.

Na Tabela 3 constam os resultados de peso de carcaça inicial estimado, peso de


carcaça quente final, rendimento de carcaça e ganho médio diário de carcaça. Para peso de
carcaça final (P=0,075) e ganho de peso diário de carcaça (P=0,076) os tratamentos MT14 e
T14 apresentaram valores superiores aos demais tratamentos. Para rendimento de carcaça não
foram observadas diferenças entre os tratamentos (P=0,904).

Tabela3. Característica de carcaça dos animais, apresentando valores de peso de carcaça


inicial, peso de carcaça final, rendimento de carcaça e GMD (ganho médio diário)
de carcaça.
Tratamento*
Variável
M14 MT14 T14 MT13 P-value EPM¹

Peso de carcaça inicial (kg) 171,58 171,40 171,70 170,99 0,833 6,925
Peso de carcaça final (kg) 291,87b 300,68a 300,74a 292,76b 0,075 14,868
Rendimento de carcaça (%) 55,42 55,60 55,21 55,42 0,904 0,524
GMD de carcaça (kg) 1,14b 1,22a 1,22a 1,16b 0,076 0,115
Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem pelo teste de Tukey (p<0,10).
*M14 (Monensina – PB de 14%); MT14 (Monensina + Tanino – PB de 14%); T14 (Tanino – PB de 14%);
MT13 (Monensina + Tanino – PB de 13%).
¹ Erro padrão da média.
28

Na Tabela 4 estão apresentados os valores obtidos por ultrassonografia não ocorrendo


diferença entre os tratamentos para os valores de área de olho de lombo (P=0,332), espessura
de gordura (P=0,848), espessura de gordura na picanha (P=0,830) e profundidade de picanha
(P=0,141).

Tabela 4. Dados obtidos por ultrassonografia da área de olho de lombo (AOL), espessura de
gordura subcutânea (EGS), espessura de gordura da picanha (EGP) e profundidade
da picanha (Área de P).
Tratamento*
Variável
M14 MT14 T14 MT13 P-value EPM¹

AOL (cm²) 87,20 92,34 88,77 89,58 0,332 4,380


EGS (mm) 5,09 5,43 5,18 5,22 0,848 0,907
EGP (mm) 5,76 5,81 5,62 5,55 0,830 0,865
Área de P. (cm²) 92,79 98,88 99,47 97,75 0,141 6,911
*M14 (Monensina – PB de 14%); MT14 (Monensina + ByPro® – PB de 14%); T14 (ByPro® – PB de 14%);
MT13 (Monensina + ByPro® – PB de 13%).
¹ Erro padrão da média.

5. DISCUSSÃO

O consumo de matéria seca foi maior para os animais do tratamento T14 em relação
aos animais do MT14, causado pela inclusão de monensina na dieta. A capacidade da
monensina em reduzir o consumo de matéria seca está bem documentada na literatura
conforme meta-analise de Duffild9 que relataram redução de 3% no consumo de matéria seca.
Comparando os tratamentos que incluíam o mesmo teor de proteína nas dietas, os animais do
tratamento T14 apresentaram consumo de matéria seca 6,2% superior ao MT14 e
aproximadamente 12% superior ao tratamento M14 que recebeu apenas monensina.
Os animais do tratamento MT14 consumiram 5,3% mais matéria seca que os animais
do tratamento M14. Rivera-Méndez10 avaliando o efeito dos taninos para animais em
terminação observaram que a utilização de fontes de taninos condensados (Schinopsis
lorentzii) e hidrolisáveis (Castanea sativa) na proporção de 50:50 aumentou o consumo de
matéria seca em 7,1% na dosagem de 0,6% da matéria seca, superior a utilizada neste trabalho
que foi de 0,15%. Barajas11observaram que o fornecimento de 30g de taninos (Blend de
taninos composto por um terço de taninos hidrolisáveis (Castanea sativa) e dois terços de
29

taninos condensados (Schinopsis lorentzii)) para novilhas Angus com peso médio de 207 kg
não afetou o consumo de matéria seca.
O menor consumo de matéria seca dos tratamentos M14 e MT13 pode ser explicado,
respectivamente, pela inclusão de monensina e redução de proteína bruta na dieta. O teor
médio de proteína utilizado neste trabalho (14% de PB) foi determinado com base em um
levantamento realizado por Pinto12 onde foi mostrado que os teores médios de PB nas dietas
de confinamento no Brasil ficam próximos a 14%. De acordo com o Br-Corte13para animais
da mesma categoria aos utilizados neste estudo, a limitação de desempenho devido ao teor
proteico da dieta só ocorre quando a PB for inferior a 12%, porém Santos e Pedroso14 citam
que teores inferiores a 13-14% de PB podem reduzir o desempenho dos animais, dependendo
do nível de produção do sistema e tipo de dieta utilizado.
A utilização do aditivos a base de taninos aumentou o ganho de peso dos animais em
comparação ao controle (M14), porém isso ocorreu somente nos tratamentos MT14 e T14 que
possuíam em sua formulação teor de PB superior a 14%, diferentemente do tratamento MT13
que foi semelhante ao controle mesmo apresentando teor de PB inferior. Barajas15
comparando o fornecimento de Blend de taninos na dosagem de 0,3% da matéria seca e dietas
sem aditivos para bovinos cruzados (Bos Taurus × Bos indicus) em terminação observaram
que a utilização de taninos aumentou 11,8% o ganho de peso dos animais. Avaliando animais
cruzados de raças Britânicas com Continentais, Tabke16 não observaram diferenças no ganho
de peso ao utilizar aditivos a base de tanino (Blend de taninos composto por um terço de
taninos hidrolisáveis (Castanea sativa) e dois terços de taninos condensados (Shinopsis
lorentzii)) na dosagem de 30g e 60g por animal. Essa variação de resultados pode ser
atribuída pela diferença dos ingredientes utilizados nas dietas, pois neste trabalho foi utilizada
dieta a base de milho moído fino e soja, já no trabalho de Tabke16 foi utilizado basicamente
milho floculado e farelo de glúten de milho.
A eficiência alimentar (EA) dos tratamentos não apresentaram diferenças, pois os
tratamentos com maior consumo de matéria seca apresentaram também maior ganho de peso.
O fato de não ocorrer diferenças entre os tratamentos, favorece a utilização de taninos nas
dietas de ruminantes, pois mesmo provocando um aumento no consumo de matéria seca, isso
é compensado por um aumento proporcional no ganho de peso dos animais. A monensina
comprovadamente aumenta a eficiência dos animais, conforme observado neste trabalho em
que a eficiência dos taninos foi semelhante, assim como encontrada por Tabke16nas dosagem
de 30g e 60g. Cabral17 utilizando doses de taninos (Blend de taninos composto por um terço
de taninos hidrolisáveis (Castanea sativa) e dois terços de taninos condensados
30

(Schinopsislorentzii)) de 30g por animais Angus em terminação, também não observaram


diferenças entre os tratamentos.
O efeito dos taninos para os parâmetros de carcaça encontrados na literatura são ainda
menos consistentes que os dados de desempenho. Os parâmetros de carcaça obtidos por
ultrassonografia e o rendimento de carcaça, obtidos neste trabalho não apresentaram
diferenças entre os tratamentos, corroborando com os dados encontrados por Tabke16, onde os
animais apresentaram peso de carcaça quente superior ao obtido neste trabalho com médias
próximas a 390 kg. Camacho18 avaliando o fornecimento de 0,3%/MS de taninos (Blend de
taninos composto por um terço de taninos hidrolisáveis (Castanea sativa) e dois terços de
taninos condensados (Schinopsis lorentzii) para animais cruzados (Bos Taurus × Bos indicus)
em terminação observaram que o peso de carcaça foi aumentado pela utilização dos taninos.
Em contrapartida Krueger19observaram que a utilização de taninos condensados (taninos
extraído da acácia negra e fornecidos na dosagem de 0,15% por kg de MS) diminuiu o peso
de carcaça quente de animais em terminação recebendo uma dieta a base de milho e caroço de
algodão.

6. CONCLUSÃO

A utilização de uma mistura de taninos condensados e hidrolisáveis se mostrou viável


na terminação de bovinos de corte, apresentando eficiência alimentar e características de
carcaça semelhante ao aditivo monensina em dietas com 14% e 13% de proteína bruta.

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