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INSTITUTO AGRONÔMICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

AGRICULTURA TROPICAL E SUBTROPICAL

MANEJO SUSTENTÁVEL DE PLANTAS DANINHAS


EM CITROS: IMPLICAÇÕES DO GLYPHOSATE NO
METABOLISMO DA CULTURA E ESTRATÉGIAS DE
CONTROLE

RODRIGO MARTINELLI

Orientador: Dr. Fernando Alves de Azevedo


Coorientadora: Profa. Dra. Patricia Andrea Monquero

Tese submetida como requisito parcial para


obtenção de grau de Doutor em Agricultura
Tropical e Subtropical, Área de Concentração
em Tecnologia da Produção Agrícola.

Campinas, SP
2021
ii
iii
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à Deus e minha família. À Ele e aos meus pais por terem me dado o
dom da vida, e o orgulho de ser vosso filho. À Jesus Cristo, que independentemente de qualquer
crença, conseguiu transformar nosso mundo num lugar melhor. À minha amada esposa pelo seu
amor incondicional. À minha família, de origem rural, humilde e que preza pelos valores mais
simples e verdadeiros.

iv
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meu Orientador, Dr. Fernando Alves de Azevedo, pesquisador


e amigo, por ter acreditado em mim desde a entrevista de seleção de estágio, pela paciência em
me orientar, pelo contínuo incentivo à nobre área de pesquisa científica, e pela oportunidade de
fazer parte do Centro de Citricultura Sylvio Moreira - Instituto Agronômico, ao qual também
agradeço, e a todos os seus funcionários, por todo suporte prestado.
À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela concessão
de bolsa durante o período de 2017 a 2018 do doutorado.
À minha coorientadora, Profª Drª Patrícia Andrea Monquero, pelo auxílio desde meus
trabalhos de iniciação científica durante minha graduação e durante o período de mestrado e
doutorado.
Aos meus colegas de profissão/amigos do Grupo GD-Citros, desde os estagiários até aos
pós-graduandos, pois sem vossa valiosa ajuda, a conclusão deste não seria possível. Em especial
ao estagiário Luiz Rufino-Jr, que sem a sua dedicação, grande parte deste trabalho não seria
possível.
Aos meus colegas de profissão por todas as suas valiosas orientações, os do Centro de
Citricultura: José Dagoberto de Negri, Dirceu de Mattos-Jr., Rodrigo Marcelli Boaretto, Franz
Hippler, Sérgio Alves de Carvalho, Mariângela Cristofani-Yaly, Marinês Bastianel, Jefferson
Rangel da Silva; e, aos colegas da UFSCar: Patrícia Marluci da Conceição, Evandro Schinor e
Ricardo Alcántara-de la Cruz.
Aos meus colegas de trabalho da Syngenta (2018-2021), principalmente ao meu ex-gestor
e amigo, Caio Prates, pela oportunidade de trabalhar em pesquisa, pelo apoio e confiança.
À todas as pessoas do programa de pós-graduação do IAC, às secretárias, aos colegas de
classe e professores – o tempo e a convivência junto a vós foram de grande valia.
À minha esposa, Lísia Carvalho Fior Martinelli, por acreditar em mim e em meu potencial
mais do que eu mesmo, pelo amor e contínuo incentivo à busca e realização de meus sonhos.
Por fim, agradeço à minha família, meus pais Carmen e Laércio, por serem a razão de meu
viver, assim como meus irmãos, Laércio (Jr.), Graziela e Rita de Cássia (in memoriam). Aos
meus avós, Adélia (in memoriam) e Onorpho (in memoriam), Deolinda e Victório (in
memoriam). Aos meus sogros, Elizabete e Oswaldo. Aos meus cunhados, Ana Claudia, Márcio,
Rafael e Anita. Aos meus sobrinhos, Valentina, Gustavo e Victor, e ao meu sobrinho e afilhado
Pedro. A todos estes, pelo amor, carinho e apoio incondicional à realização deste sonho.

v
SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS .....................................................................................................viii


LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ ix
RESUMO .......................................................................................................................... xv
ABSTRACT ..................................................................................................................... xvi
1. INTRODUÇÃO GERAL......................................................................................... 1
1.1 REVISÃO DE LITERATURA................................................................................ 3
1.1.1 Manejo de plantas daninhas em citros ........................................................................ 3
1.1.2 Uso do glyphosate na citricultura e suas implicações ................................................ 5
1.1.3 Manejo de plantas daninhas com sistemas conservacionistas em citros .................... 8
1.2 OBJETIVOS GERAIS .......................................................................................... 10
1.3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 11

2. CAPÍTULO I: IMPLICAÇÕES DO MANEJO DE GLYPHOSATE NAS


PLANTAS DE CITROS E SEUS MECANISMOS DE TOXICIDADE POR MEIO DOS
IMPACTOS NA FOTOSSÍNTESE .................................................................................. 17
RESUMO .......................................................................................................................... 17
ABSTRACT ...................................................................................................................... 18
2.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 19
2.2 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................... 21
2.2.1 Experimento I: Manejo de glyphosate em pomar jovem de citros com diferentes
doses e frequências de aplicação ....................................................................................... 21
2.2.1.1 Área experimental e instalação do ensaio .............................................................. 21
2.2.1.2 Controle de plantas daninhas ................................................................................. 23
2.2.1.3 Níveis de suscetibilidade ao glyphosate de biótipos de plantas daninhas da área
experimental ...................................................................................................................... 23
2.2.1.4 Sintomas visuais de intoxicação das plantas de citros por glyphosate .................. 24
2.2.1.5 Crescimento e produtividade das plantas de citros ................................................ 24
2.2.1.6 Análise econômica ................................................................................................. 24
2.2.2 Experimento II: Acúmulo de ácido chiquímico e parâmetros da fotossíntese em
plantas de laranja Valencia sob deriva simulada de glyphosate ........................................ 25
2.2.2.1 Quantificação da concentração de ácido chiquímico das folhas ........................... 25
2.2.2.2 Assimilação de CO2 e fluorescência da clorofila α ............................................... 26
2.2.2.3 Produção de frutos sob efeito da deriva simulada do glyphosate .......................... 26
2.2.2.4 Analise de dados .................................................................................................... 27
2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................... 27
2.3.1 Experimento I: Manejo de glyphosate em pomar jovem de citros com diferentes
doses e frequências de aplicação ....................................................................................... 27
2.3.1.1 Controle de plantas daninhas e níveis de suscetibilidade ao glyphosate de biótipos
de plantas daninhas da área experimental ......................................................................... 28
2.3.1.2 Intoxicação das plantas de citros pelo glyphosate ................................................. 31
2.3.1.3 Crescimento e produtividade das plantas de citros ................................................ 33
2.3.1.4 Principais efeitos no experimento I e suas relações............................................... 37

vi
2.3.1.5 Análise econômica ................................................................................................. 39
2.3.2 Experimento II: Acúmulo de ácido chiquímico e parâmetros da fotossíntese em
plantas de laranja Valência sob deriva simulada de glyphosate ........................................ 40
2.3.2.1 Acúmulo de ácido chiquímico sob efeito do glyphosate ....................................... 40
2.3.2.2 Trocas gasosas e fluorescência da clorofila α sob efeito do glyphosate ................ 42
2.3.2.3 Produção de frutos sob efeito da deriva simulada do glyphosate .......................... 51
2.3.2.4 Considerações finais .............................................................................................. 53
2.4 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 54
2.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 55

3. CAPÍTULO II: PROGRAMAS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS EM


INTERAÇÃO COM AS ROÇAGENS ECOLÓGICA E CONVENCIONAL ................. 64
RESUMO .......................................................................................................................... 64
ABSTRACT ...................................................................................................................... 65
3.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 66
3.2 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................... 67
3.2.1 Área experimental e instalação do ensaio .............................................................. 67
3.2.2 Deposição de biomassa .......................................................................................... 73
3.2.3 Infestação e controle de plantas daninhas .............................................................. 73
3.2.4 Banco de sementes de plantas daninhas ................................................................ 73
3.2.5 Crescimento e produtividade das plantas de citros ................................................ 74
3.2.6 Análise econômica ................................................................................................. 74
3.2.7 Análise de dados .................................................................................................... 74
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................... 75
3.3.1 Deposição de biomassa .......................................................................................... 75
3.3.2 Infestação e controle de plantas daninhas .............................................................. 77
3.3.3 Banco de sementes de plantas daninhas ................................................................ 88
3.3.4 Crescimento e produtividade das plantas de citros ................................................ 91
3.3.5 Análise econômica ................................................................................................. 93
3.3.6 Considerações Finais ............................................................................................. 95
3.4 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 96
3.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 97

4. CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................................. 104

vii
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Resumo da ANAVA para o experimento I, com valores do teste-F e de graus de


liberdade (GL), com a indicação de significância (P > F) para as variáveis: controle
de plantas daninhas, fitotoxicidade, volume de copa e produtividade do pomar de
laranja Pêra, durante cinco anos agrícolas. .............................................................. 28
Tabela 2. Parâmetros das equações das regressões exponenciais e lineares para taxa de
assimilação de CO2 (AN) das folhas de citros sob diferentes doses de glyphosate (g ea
ha-1) ao longo do tempo, após a primeira (A) e segunda (B) aplicação de glyphosate.
.................................................................................................................................. 43
Tabela 3. Principais correlações entre as variáveis ao longo do tempo. Eficiência quântica do
fotossistema II (FSII) (Fv’/Fm’); eficiência quântica do transporte de elétrons através
do fotossistema II (𝛷PSII); produtividade quântica com base na assimilação de CO2
(𝛷𝐶𝑂2); quenching não-fotoquímico (NPQ); quenching fotoquímico (qP);
condutância estomática (gs; mol m⁻² s⁻¹); concentração intercelular de CO2 (Ci; µmol
mol⁻¹); taxa de transpiração (E; mmol m-2 s-2); eficiência de carboxilação (AN/Ci);
concentração de ácido chiquímico (Shk); assimilação líquida de CO2 (AN). ........... 46
Tabela 4. Atributos avaliados em análise de solo da área experimental: pH, conteúdo de matéria
orgânica (MO), teores de fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg),
matéria orgânica (M.O.), acidez potencial (H + Al), soma de bases (SB), capacidade
de troca de cátions (CTC) e saturação por bases (V%). .......................................... 68
Tabela 5. Descrição dos tratamentos do programa de controle de plantas daninhas que dispõem
da utilização de herbicidas, com épocas de aplicação, ingrediente ativo, dose, volume
de calda e custo por aplicação. ................................................................................. 71
Tabela 6. Parâmetros físico-químicos dos herbicidas (ingrediente ativo) utilizados, como
Solubilidade em Água (S), Coeficiente de Partição Octanol-Água (KOW), Coeficiente
de Sorção (KOC), tempo de Meia-Vida (t50) e constante de dissociação eletrolítica
(pKa). Valores de pH são mostrados somente para parâmetros dependentes do
mesmo. Adaptado de Alister et al. (2008), Alonso et al. (2011), Jhala e Singh (2012),
Monaco (2002), Rodrigues e Almeida (2018) e Shaner (2014). .............................. 72

viii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Valores médios trimestrais de temperaturas mínimas (Temp. min.) e máximas (Temp.
máx.) e de precipitação pluvial acumulada, durante o período experimental
(2016/2021) (Cordeirópolis/SP)............................................................................... 22
Figura 2. Controle de plantas daninhas (relativo à testemunha) na linha de plantio dos citros sob
as diferentes doses (g ea ha-1) e frequências de aplicação de glyphosate (1 a 4AP ano-
1
) do primeiro (2016/2017) ao quinto ano agrícola (2020/2021) avaliados (A) e curvas
de dose-resposta ao glyphosate ao acúmulo de biomassa (relativo à testemunha) de
BIDPI (B), ERICA (C) e RAPRA (D) de biótipos coletados em 2018, B1: baixo
glyphosate; B2:alto glyphosate; e, B3:Olímpia-SP. Médias seguidas da mesma letra
dentro de cada ano agrícola não diferem entre si pela diferença honestamente
significativa do teste de Tukey (α = 0,05). Os dados representam a média de quatro
avaliações realizadas durante cada ano agrícola, realizadas sempre aos 30 dias após
cada aplicação de glyphosate. Os valores das equações logísticas se encontram no
Anexo II. .................................................................................................................. 29
Figura 3. Fitotoxicidade das plantas de citros (pela escala de tolerância do European Weed
Research Council - EWRC) sob as diferentes doses (g ea ha-1) e frequências de
aplicação (1 a 4AP ano-1) de glyphosate nos anos agrícolas de 2016/2017 e
2017/2018. Médias seguidas da mesma letra dentro de cada ano agrícola não diferem
entre si pela diferença honestamente significativa do teste de Tukey (α = 5%). Os
dados representam a média de quatro avaliações realizadas durante cada ano agrícola,
realizadas sempre aos 30 dias após cada aplicação de glyphosate. ......................... 31
Figura 4. Sintomas de fitotoxicidade ao herbicida glyphosate em plantas de laranja Pêra nos
diferentes tratamentos: doses de 0 a 2160 g ea ha-1 e número de aplicações de 1 a 4
aplicações ano-1. ....................................................................................................... 32
Figura 5. Volume de copa e produtividade das plantas de laranja Pêra sob as diferentes doses e
frequência de aplicação (1 a 4AP ano-1) de glyphosate do segundo do primeiro
(2016/2017) ao quinto ano agrícola (2020/2021) avaliados. Médias seguidas da
mesma letra dentro de cada ano agrícola não diferem entre si pela diferença
honestamente significativa do teste de Tukey (α = 5%). Para o ano de 2018/2019,
duas produções totalizaram os valores de produtividade. ........................................ 34

ix
Figura 6. Crescimento das plantas de laranja Pêra sob as diferentes doses de glyphosate do
primeiro (2016/2017) ao quinto ano agrícola (2020/2021) avaliados. * setas indicam
a altura de 2,0m. ....................................................................................................... 35
Figura 7. Biplot de análise de componentes principais (ACP) pela matriz de correlação, para
todas as variáveis avaliadas no experimento I nos cinco anos agrícolas; Fito:
fitotoxicidade; Ctrl_PD: controle de plantas daninhas; VC: volume de copa; Prod:
produtividade; a1 a a5: se referem as variáveis avaliadas em cada ano, do primeiro
(2016/2017) ao quinto ano agrícola (2020/2021) .................................................... 38
Figura 8. Investimento (custo) e lucro (retorno líquido do investimento) baseados na
produtividade acumulada de cinco anos das plantas de laranja Pêra sob a testemunha
(controle mecânico) e as diferentes doses (540-2160 g ea ha-1) e frequência de
aplicação anual (1-4 AP) de glyphosate. A somatória entre custo e retorno líquido
compõem o retorno bruto (total de cada coluna). .................................................... 40
Figura 9. Concentração de ácido chiquímico das folhas de citros sob as doses de glyphosate (g
ea ha-1) ao longo do tempo, após a primeira (A; DAAA) e segunda (B; DAAB)
aplicação de glyphosate. Médias seguidas da mesma letra em cada data não diferem
entre si pela diferença honestamente significativa do teste de Tukey (α = 5%). ¹A
data de 0 dias após aplicação B também se refere aos 240 DAAA. Valores de p > F,
***: P<0,001; **: P<0,01; *: P<0,05; ns: não significativo (P>0,05). .................... 41
Figura 10. Regressões exponenciais e lineares para taxa de assimilação de CO2 (AN) das folhas
de citros sob as doses de glyphosate (g ea ha-1) ao longo do tempo, após a primeira
(A) e segunda (B) aplicação de glyphosate. A data de 0 dias após aplicação B (0
DAAB) também se refere aos 240 dias após aplicação A. Os parâmetros das equações
são demonstrados na Tabela 2. ................................................................................ 42
Figura 11. Variáveis da fluorescência da clorofila sob as doses de glyphosate e (g ea ha-1): (A)
eficiência quântica do transporte de elétrons através do fotossistema II (𝛷PSII); (B)
transporte aparente de elétrons (ETR, µmol elétrons m-2 s-1); (C) produtividade
quântica com base na assimilação de CO2 (𝛷𝐶𝑂2); (D) razão entre 𝛷PSII e 𝛷𝐶𝑂2; (E)
eficiência quântica do fotossistema II (FSII) (Fv’/Fm’); (F) quenching não-
fotoquímico (NPQ). A e B tem suas variáveis compostas dos valores médios de todas
as avalições (n = 294), enquanto C, D, E e F demonstram a diferença em duas datas
*** **
cada (n = 42). Valores de P > F, : P<0,001; : P<0,01; *: P<0,05; ns
: não
significativo (P>0,05) .............................................................................................. 44

x
Figura 12. Variáveis das trocas gasosas sob as diferentes doses de glyphosate (g ea ha-1): (A)
condutância estomática (gs; mol m⁻² s⁻¹); (B) concentração intercelular de CO2 (Ci;
µmol mol⁻¹); (C) taxa de transpiração (E; mmol m-2 s-2); (D) eficiência do uso de
água (AN/E); (E) eficiência intrínseca do uso da água (AN/gs); (F) eficiência de
carboxilação (AN/Ci). As variáveis são compostas dos valores médios de todas as
avalições. Valores de p > F, ***: P<0,001; **: P<0,01; *: P<0,05; ns: não significativo
(P>0,05). .................................................................................................................. 48
Figura 13. Produção relativa de frutos das plantas de laranja Valencia (A) e suas correlações
com as variáveis: (B) Concentração de ácido chiquímico (Shk); (C) taxa de
assimilação líquida de CO2 (AN, μmol CO2 m-2 s-1). Todas as variáveis são compostas
dos valores médios de todas as avalições até a data de colheita de frutos das plantas
de laranja Valencia, aos 60 dias após aplicação B. Valores de P > F: ***: P<0,001; **:
P<0,01; *: P<0,05; ns: não significativo (P>0,05). ................................................... 51
Figura 14. Principais efeitos do glyphosate em plantas de citros nos processos fotossintéticos.
GLY: glyphosate; Shk: ácido chiquímico; AN: assimilação líquida de CO2; gs:
condutância estomática; Ci: concentração intercelular de CO2; AN/Ci: eficiência de
carboxilação; E: taxa de transpiração; 𝛷PSII: eficiência quântica do transporte de
elétrons através do fotossistema II; ETR: transporte aparente de elétrons;
𝛷𝐶𝑂2:produtividade quântica com base na assimilação de CO2; Fv’/Fm’: eficiência
quântica do fotossistema II (FSII). ........................................................................... 52
Figura 15. Valores médios trimestrais de temperatura e de precipitação pluvial acumulada
durante o período experimental (2017/2020) (Cordeirópolis/SP)............................ 68
Figura 16. Antes (A) e após (B) implantação da cultura de cobertura (Urochloa ruziziensis);
padronização da área com capina manual, antes e após (divididas por tracejado
vermelho) (C), e visão da faixa de projeção da copa dos citros (zona de competição
interespecífica com as plantas daninhas) após término de capina manual (D). ....... 70
Figura 17. Balanço hídrico da região de Limeira, Estado de São Paulo, Brasil (adaptado de
Sentelhas 2005). As setas mostram as datas de aplicação dos tratamentos PRE, PÓS,
PRÉ+PÓS e P/P de acordo com a (Tabela 5). ......................................................... 72
Figura 18. Deposição de biomassa entre plantas de citros (na linha de plantio) pela roçagem
ecológica (ECO) e convencional (CONV), nas roçagens e no total de cada ano
agrícola (A: 2017/2018; B: 2018/2019; C: 2019/2020). Médias seguidas da mesma
letra dentro de cada ano agrícola não diferem entre si pela diferença honestamente
significativa do teste de Tukey (α = 0,05). .............................................................. 76

xi
Figura 19. Deposição de biomassa na faixa da linha de plantio 30 dias após primeira roçagem
do primeiro ano agrícola do experimento (nov/2017) nas parcelas da roçagem
convencional - CONV (A) e roçagem ecológica - ECO (B); e, 30 dias após segunda
roçagem na parcela da ECO (C; fev/2018). ............................................................. 76
Figura 20. Interação tripla entre os tipos de roçagem de entrelinha, programas de controle e o
tempo na densidade de plantas daninhas (nº m-2) na primavera e verão de 2017/2018
(A e B), 2018/2019 (C e D) e 2019/2020 (E e F). ECO: roçagem ecológica; CONV:
roçagem convencional; TEST: testemunha; CM: controle mecânico com roçadora
costal; PRÉ: sulfentrazone (primavera), indaziflam (verão); PÓS: glyphosate
(primavera), saflufenacil (verão); PRÉ+PÓS: sulfentrazone + glyphosate
(primavera), indaziflam + saflufenacil (verão); P/P: flumioxazin (primavera), diuron
(verão). As diferenças significativas são representadas pela diferença honestamente
significativa do teste de Tukey (α = 0,05): as barras de erro representam a diferença
para comparações entre os tratamentos dentro de cada tipo de roçagem e data; as
diferentes letras representam a diferença entre os tipos de roçagens dentro de cada
tratamento na mesma data; e, * representa quando há diferença significativa ao longo
do tempo para cada tratamento. ............................................................................... 78
Figura 21. Interação dupla entre os tipos de roçagem de entrelinha e os programas de controle
na biomassa da parte aérea de plantas daninhas aos 60 dias após o controle de plantas
daninhas (roçagem entre plantas e aplicação de herbicidas) na primavera e verão de
2017/2018 (A e B), 2018/2019 (C e D) e 2019/2020 (E e F). ECO: roçagem
ecológica; CONV: roçagem convencional; TEST: testemunha; CM: controle
mecânico com roçadora costal; PRÉ: sulfentrazone (primavera), indaziflam (verão);
PÓS: glyphosate (primavera), saflufenacil (verão); PRÉ+PÓS: sulfentrazone +
glyphosate (primavera), indaziflam + saflufenacil (verão); P/P: flumioxazin
(primavera), diuron (verão). Médias seguidas da mesma letra, minúsculas para os
tipos de roçagem e maiúsculas para os programas de controle de plantas daninhas,
não diferem entre si pela diferença honestamente significativa do teste de Tukey (α
= 0,05). ..................................................................................................................... 79
Figura 22. Biplot da análise de componentes principais (ACP) por meio da matriz de
covariância, para as principais espécies de plantas daninhas observada em campo.
ALRTE (Althernanthera tenella), AMARE (Amaranthus retroflexus), BIDPI
(Bidens pilosa), BRADC (Urochloa decumbens), BRAUR (U. ruziziensis), CHRSS
(Chloris elata), COMBE (Commelina benghalensis), CYNDA (Cynodon dactylon),

xii
DIGIN (Digitaria insularis), DIGHO (D. horizontalis), ELEIN (Eleusine indica),
EPHHI (Chamaesyce hirta), EPHHL (Euphorbia heterophylla), ERICA (Conyza
canadensis), GASPA (Galinsoga parviflora), LEPVI (Lepidium virginicum),
PTNHY (Parthenium hysterophorus), RAPRA (Raphanus raphanistrum e RCHBR
(Richardia brasiliensis). ECO: roçagem ecológica; CONV: roçagem convencional;
TEST: testemunha; CM: controle mecânico; PRÉ: sulfentrazone (primavera),
indaziflam (verão); PÓS: glyphosate (primavera), saflufenacil (verão); PRÉ+PÓS:
sulfentrazone + glyphosate (primavera), indaziflam + saflufenacil (verão); P/P:
flumioxazin (primavera), diuron (verão). ................................................................ 81
Figura 23. Interação dupla entre os tipos de roçagem de entrelinha e os programas de controle
de plantas daninhas no banco de sementes de plantas daninhas (nº de plântulas
emergidas m-2 de solo na camada de 10 cm). ECO: roçagem ecológica; CONV:
roçagem convencional; TEST: testemunha; CM: controle mecânico com roçadora
costal; PRÉ: sulfentrazone (primavera), indaziflam (verão); PÓS: glyphosate
(primavera), saflufenacil (verão); PRÉ+PÓS: sulfentrazone + glyphosate
(primavera), indaziflam + saflufenacil (verão); P/P: flumioxazin (primavera), diuron
(verão). Médias seguidas da mesma letra, minúsculas para os tipos de roçagem e
maiúsculas para os programas de controle de plantas daninhas, não diferem entre si
pela diferença honestamente significativa do teste de Tukey (α = 0,05). ................ 89
Figura 24. Biplot de distância da análise de componentes principais (ACP) por meio da matriz
de covariância, para a as principais espécies de plantas daninhas do banco de
sementes. AMARE: Amaranthus retroflexus, BIDPI: Bidens pilosa, BRADC:
Urochloa decumbens, ELEIN: Eleusine indica, EPHHI: Chamaesyce hirta, ERICA:
Conyza canadensis, GASPA: Galinsoga parviflora, LEPVI: Lepidium virginicum,
RAPRA: Raphanus raphanistrum, RCHBR: Richardia brasiliensis. ECO: roçagem
ecológica; CONV: roçagem convencional; TEST: testemunha; CM: controle
mecânico com roçadora costal; PRÉ: sulfentrazone (primavera), indaziflam (verão);
PÓS: glyphosate (primavera), saflufenacil (verão); PRÉ+PÓS: sulfentrazone +
glyphosate (primavera), indaziflam + saflufenacil (verão); P/P: flumioxazin
(primavera), diuron (verão). ..................................................................................... 90
Figura 25. Crescimento e produtividade das plantas de laranja ‘Hamlin’ sob efeitos dos
programas de controle de plantas daninhas (2017/2018) (A e B), e interação entre os
tipos de roçagem de entrelinha (ecológica (ECO); convencional (CONV)) e os
programas de controle (2018/2019 e 2019/2020) (C-F). ECO: roçagem ecológica;

xiii
CONV: roçagem convencional; CTRL: testemunha; MECH: controle mecânico com
roçadora costal; PRE: sulfentrazone (primavera), indaziflam (verão); POST:
glyphosate (primavera), saflufenacil (verão); PRE+POST: sulfentrazone +
glyphosate (primavera), indaziflam + saflufenacil (verão); P/P: flumioxazin
(primavera), diuron (verão). Médias seguidas da mesma letra, minúsculas para os
tipos de roçagem e maiúsculas para os programas de controle de plantas daninhas,
não diferem entre si pela diferença honestamente significativa do teste de Tukey (α
= 0,05). ..................................................................................................................... 92
Figura 26. Custo dos programas de controle de plantas daninhas e lucro (retorno líquido do
investimento) baseados na produtividade acumulada de três anos para os dois tipos
de roçagem e programas de controle de plantas daninhas. A somatória entre custo e
retorno líquido compõem o retorno bruto (total de cada coluna). Estão inclusos
valores de herbicidas de manutenção (paraquat e glufosinate) para todos os
tratamentos com aplicação de herbicidas. ................................................................ 94

xiv
Manejo sustentável de plantas daninhas em citros: implicações do glyphosate no
metabolismo da cultura e estratégias de controle

RESUMO

As plantas daninhas são consideradas como o fator biótico mais limitante à produção agrícola
mundial, e nos citros, por ser uma cultura perene, há menos opções de controle, pois convivem
praticamente no mesmo tempo (em diversos estádios fenológicos) e espaço durante todo o
longo ciclo dessa cultura. Com isso, há relatos da excessiva utilização de glyphosate pelos
citricultores brasileiros, sendo justificada pelos próprios devido ao baixo nível de controle atual.
Além disto, existe muita especulação sobre as consequências bioquímicas e fisiológicas da
interação entre os citros e o glyphosate, e os trabalhos existentes não são conclusivos. Um
método adicional de controle, a roçagem ecológica, mostrou-se ser uma opção de manejo
integrado de plantas daninhas em citros, com incrementos de controle e produtividade, porém,
que carece de informações quanto a interação com outras modalidades de herbicidas. Assim
sendo, o objetivo geral deste estudo, foi de avaliar as implicações do uso de glyphosate,
elucidando desde os distúrbios na rota metabólica do ácido chiquímico até efeitos a longo prazo
nas plantas de citros, além de avaliar as diferentes modalidades de herbicidas com a roçagem
ecológica. Assim, este estudo foi dividido em dois capítulos: (cap. I) para avaliar as implicações
do uso de glyphosate em plantas de citros, subdividido em dois experimentos: (exp. I) à longo
prazo em campo, avaliando diferentes doses e frequências de aplicação de glyphosate ao longo
de cinco anos agrícolas em pomar de citros, determinando o controle de plantas daninhas, e nas
as plantas de citros, os níveis de fitotoxicidade ao glyphosate por sintomas visuais, o
crescimento, a produtividade e a viabilidade econômica; (exp. II) em casa-de-vegetação,
simulando deriva de glyphosate em plantas de citros, determinando a concentração do ácido
chiquímico e sua relação com os parâmetros da fotossíntese; e, (cap. II) para avaliar a interação
entre diferentes programas de controle com a roçagem ecológica, avaliando ao longo de três
anos agrícolas, dois tipos de roçagens de entrelinha e cinco programas de controle de plantas
daninhas em pomar jovem de citros, determinando a deposição de biomassa da cultura de
cobertura, o controle de plantas daninhas, e para as plantas de citros, o crescimento, a
produtividade e a viabilidade econômica dos manejos propostos. Para o capítulo I, conclui-se:
para condições de campo, doses acima de 1000 g ea ha-1 com frequências de aplicação a partir
de três vezes por ano de glyphosate não incrementam o controle de plantas daninhas,
diminuindo o crescimento e produtividade do pomar ao longo do tempo, pelo seu efeito tóxico
que é ocasionado por distúrbios na rota do ácido chiquímico e nos processos da fotossíntese.
Para o capítulo II, conclui-se: há interação positiva entre a roçagem ecológica com diferentes
modalidades de controle de plantas daninhas, física ou química, mas que a utilização de
herbicidas residuais em conjunto com pós-emergentes promove maior controle de plantas
daninhas ao longo do tempo, com maior crescimento e produtividade das plantas de laranja
Hamlin, garantindo maior rentabilidade financeira. Assim, os resultados deste estudo
contribuem para confirmação das possíveis implicações do glyphosate em citros, além de
prover informações de controle de plantas daninhas para a roçagem ecológica, promovendo um
manejo mais sustentável e integrado de plantas daninhas para os citros, com potencial benéfico
para toda a cadeia citrícola.

Palavras-chave: Citrus, ácido chiquímico, fotossíntese, roçagem ecológica, herbicidas


residuais.

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Sustainable weed management in citrus: implications of glyphosate on culture
metabolism and control strategies

ABSTRACT

Weeds are considered the most limiting biotic factor to world agricultural production, and in
citrus, as it is a perennial crop, there are fewer control options as they coexist at practically the
same time (in different phenological stages) and space, throughout the long cycle of this culture.
Thus, there are reports of excessive and inadequate use of glyphosate by Brazilian citrus
growers, which is justified by themselves by the current low level of control. Furthermore, there
is much speculation about the biochemical and physiological consequences of the interaction
between citrus and glyphosate, and existing work is not conclusive. An additional method of
control, ecological mowing, proved to be an option for integrated weed management in citrus,
with increases in control and yield, however, it lacks information on the interaction with other
herbicide modalities. Therefore, the general objective of this study was to evaluate the
implications of the use of glyphosate, elucidating from disturbances in the metabolic route of
shikimic acid to long-term effects on citrus plants, in addition to evaluating the different
modalities of herbicides with mowing ecological. So, this work was divided into two chapters:
(Ch. I) to evaluate the implications of the use of glyphosate in citrus plants, subdivided into two
experiments: (Exp. I) long-term in the field, evaluating different doses and frequencies of
glyphosate application over five growing seasons in citrus orchards, determining weed control,
and in citrus plants, the levels of phytotoxicity to glyphosate by visual symptoms, growth, yield
and economic viability; (Exp. II) in a greenhouse, simulating glyphosate drift in citrus plants,
determining the shikimic acid concentration and its relationship with photosynthesis
parameters; and, (Ch. II) to assess the interaction between different control programs with
ecological clearing, evaluating over three growing seasons, two types of interrow mowing and
five weed control programs in a young citrus orchard, determining the deposition of cover crop
biomass, the weed control, and for citrus plants, the growth, yield and economic viability of the
proposed managements. For chapter I, it is concluded: in field conditions, dosages above 1000
g ae ha-1 with application frequencies from three times a year of glyphosate do not increase
weed control, decreasing orchard growth and yield over time, due to its toxic effect that is
caused by disturbances in the shikimic acid pathway and in the photosynthesis processes. For
chapter II, it is concluded: there is a positive interaction between ecological mowing with
different modalities of weed control, physical or chemical, but that the use of residual herbicides
in conjunction with post-emergence promotes greater weed control over time, with greater
growth and yield of the Hamlin orange plants, ensuring greater financial profitability. Thus, the
results of this study contribute to confirm the possible implications of glyphosate in citrus, in
addition to providing weed control information to be used with ecological mowing
management, promoting a more sustainable and integrated weed management for citrus, with
beneficial potential for the entire citrus chain.

Keywords: Citrus, shikimic acid, mulch in situ, ecological mowing, residual herbicides.

xvi
1. INTRODUÇÃO GERAL

Segundo dados da FAO para o ano de 2019 (FAO 2021a), o Brasil foi o segundo maior
produtor mundial de citros (19,6 milhões t), abaixo apenas da China, e o maior produtor de
laranja (17,1 milhões t), seguido por China, Índia, Estados Unidos da América e México; com
relação a tangerinas, foi o sétimo maior produtor mundial (0,98 milhão t), sendo a China,
Espanha e Turquia, os três maiores, respectivamente; e, quanto a limas e limões, o país ocupou
a quinta posição (1,5 milhão t), atrás de Índia, China, México e Argentina. No ranking mundial
de produtividade, segundo dados da FAO para o ano de 2019, dentre o top 10 dos maiores
produtores de citros, o Brasil é o 2º colocado em produtividade de laranja (28,9 t ha -1), 4º
colocado no grupo das tangerinas e tangores (18,7 t ha-1) e 3º colocado no grupo das limas e
limões (26,8 t ha-1).
Dentre os fatores bióticos mais limitantes à produção agrícola mundial, as plantas daninhas
são consideradas como o principal (FAO 2009). Estas, muitas vezes passam despercebidas pois
as doenças e pragas são mais impactantes, por ocasionarem danos diretamente nas plantas,
enquanto as plantas daninhas, de maneira geral, afetam o desenvolvimento das culturas pela
competição de recursos essenciais sem deixar sinais na cultura, e assim seu correto manejo é de
fundamental importância. Estudo da década de 1970 em pomar de laranja doce no Brasil
mostrou que a competição de plantas daninhas causou perdas de até 40% da produção (Blanco
e Oliveira, 1978). Recentemente, verificou-se que essa redução pode chegar até 52% em pomar
de lima ácida Tahiti em plantio convencional (Martinelli et al. 2017) e em 88% em plantio
adensado (Azevedo et al. 2020).
Em culturas perenes, como os citros, onde as plantas daninhas convivem praticamente ao
mesmo tempo e espaço que a planta cultivada, as opções de controle são mais escassas. Os
citricultores brasileiros têm a preferência pelo controle químico e grande parte utiliza somente
o herbicida glyphosate [N-(phosphonomethyl)glycine], o qual possui amplo espectro de
controle, ação não-seletiva e alta sistemicidade. O incremento de sua utilização, desde seu
lançamento, foi devido à alta eficiência de controle, facilidade de uso, gerando uma boa relação
custo/benefício. Porém, com seu uso intensivo, houve aumento de relatos de baixa eficácia de
controle e seleção de biótipos resistentes de plantas daninhas, o que fez com que a maioria dos
produtores de citros utilizassem o glyphosate de maneira indevida, sem rotacionar com outro
herbicida de diferente mecanismo de ação, com relatos de alta frequência de aplicação (até dez
vezes por ano agrícola) e/ou em altas doses aplicadas (> 2000 g de equivalente ácido ha-1).
Além disto, muitos produtores não levam em consideração e/ou não tem acesso à informação

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sobre questões importantes, como a possível intoxicação das plantas de citros pelo contato e
translocação deste herbicida.
Quanto às implicações da utilização de glyphosate em citros, existe muita especulação sobre
as consequências bioquímicas e fisiológicas, e os trabalhos existentes são incipientes e não-
conclusivos. O mecanismo de ação do glyphosate é o único a atuar na rota do ácido chiquímico,
inibindo precursores de três aminoácidos essenciais (triptofano, tirosina e fenilalanina), que por
sua vez são precursores de uma ampla variedade de produtos que tem papeis cruciais no
crescimento, desenvolvimento, reprodução e defesa das plantas (Haslam 1993; Herrman 1995).
Em plantas vasculares, essa rota metabólica é responsável por 30% do carbono fixado pela
fotossíntese (Maeda e Dudareva, 2012).
Portanto, o correto manejo de plantas daninhas deve ser realizado não somente a partir de
dosagens pré-definidas de um mesmo herbicida, e sim em função das espécies dominantes,
utilizando-se de herbicidas que não causem fitotoxicidade à cultura em suas dosagens
recomendadas, com a rotação de mecanismos de ação de herbicidas e da integração de métodos
de controle.
Em recente estudo, foi demonstrado que o manejo de braquiárias, principalmente a
braquiária-ruziziensis [Urochloa (syn. Brachiaria) ruziziensis (R. Germ. & C.M. Evrard)
Morrone & Zuloaga] como cultura de cobertura nas entrelinhas do pomar, em conjunto com a
roçadora ecológica do tipo ecológica (técnica de manejo denominada de “roçagem ecológica”),
consiste de uma opção de agricultura de conservação (AC), preconizada pela FAO para uma
agricultura mais sustentável, e de manejo integrado de plantas daninhas (MIPD) em pomares
de citros, por meio do incremento de controle das plantas daninhas pela camada de mulch
natural formada ao redor das plantas de citros (Martinelli et al. 2017). Porém, essa técnica
carece de informações quanto a interação com outras modalidades de herbicidas,
principalmente com os residuais.
Desta forma, este estudo visou prover informações para um manejo mais sustentável de
plantas daninhas em citros, primeiramente elucidando os efeitos do uso de glyphosate nesta
cultura, além de avaliar a viabilidade de outras modalidades de herbicidas com a roçagem
ecológica. Assim, essas informações podem trazer benefícios para toda cadeia citrícola,
podendo proporcionar maior sanidade dos pomares e maior sustentabilidade do setor.

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1.1 REVISÃO DE LITERATURA
1.1.1 Manejo de plantas daninhas em citros
As plantas daninhas, juntamente com as pragas e doenças, são responsáveis por importantes
perdas na citricultura. Tratando-se especificamente das plantas daninhas, muitas vezes estas
passam despercebidas pelo citricultor, uma vez que os impactos das doenças e pragas são mais
perceptíveis, porém seu manejo correto também é de fundamental importância.
Como fator biótico, as plantas daninhas podem interferir diretamente, no crescimento e na
produção das plantas de citros, pois competem por recursos essenciais ao seu crescimento, além
de liberarem substâncias alelopáticas (Blanco e Oliveira, 1978) e, indiretamente, atuando como
hospedeiras intermediárias de pragas e patógenos (Chiavegato 1986). No caso dos citros,
somente no Brasil, são conhecidas 47 espécies de plantas daninhas que hospedam o ácaro-da-
leprose-dos-citros (Brevipalpus phoenicis), sete espécies que hospedam o fungo causador da
podridão-floral-dos-citros (Colletothicum acutatum), entre outras (Nunes 2007; Frare 2011).
Porém, como existe uma grande biodiversidade de plantas daninhas, também há um grande
potencial benéfico, não sendo restritas somente a características danosas à agricultura
(Christoffoleti 2001), e assim, um manejo racional das plantas daninhas contribui para melhoria
da estrutura dos solos, prevenção da compactação, melhor ciclagem de nutrientes e redução de
custos no manejo integrado de pragas e doenças. Além disso, a competição entre as plantas
consideradas daninhas e a cultura não acontece durante o ano todo, mas em determinados
momentos ou períodos em que um dos fatores de produção seja escasso e no momento crítico
para a cultura (Carvalho et al. 2005). Para os citros, esse período podem ser os quadrimestres
de agosto a novembro ou dezembro a março (Blanco e Oliveira, 1978).
Nos citros, o controle de plantas daninhas é realizado basicamente pela roçagem na
entrelinha e aplicações de herbicidas dirigidas para a faixa da linha de plantio. Para o manejo
de entrelinhas em pomares de citros, utiliza-se principalmente de roçagens para se controlar o
desenvolvimento da vegetação, seja ela espontânea, de cobertura ou um cultivo em consórcio.
Para este manejo, existem dois tipos principais de roçadoras para pomares (Azevedo et al.
2012): que são, a roçadora convencional, que corta a biomassa e mantem seu resíduo na sua
trajetória de corte; e, a roçadora denominada como ecológica, a qual corta a biomassa e a projeta
em direção a linha de plantio dos pomares, sendo que o uso desta roçadora é uma prática que
consiste em manejar a entrelinha dos pomares, em benefício da cultura principal (Tersi 2001).
Para a linha de plantio, para o controle das plantas daninhas entre as plantas de citros,
comumente se utiliza de herbicidas aplicados em pré e pós emergência das plantas daninhas. A

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utilização de herbicidas (método de controle químico), pode ser associado com a roçadora
ecológica (método físico e cultural), para maior espectro de controle.
Entretanto, por ser uma cultura perene, que convive todo seu longo ciclo com as plantas
daninhas, os citros dispõem de um menor número de herbicidas e oportunidades de controle em
comparação às culturas anuais, nas quais muitas vezes o controle é feito nos intervalos de
cultivo e/ou pela utilização de cultivares resistentes. Apesar dos estudos e constatações
relacionados ao manejo conservacionista, em pomares cítricos o controle das plantas daninhas,
vem sendo realizado basicamente pelo uso de herbicidas – principalmente o glyphosate
(Martinelli et al. 2017). Isso se deve ao alto custo de mão-de-obra atual para possíveis controles
mecânicos se comparado ao custo v. benefício dos herbicidas (quando utilizados corretamente).
Entretanto, tem-se observado o aumento da seleção de populações de plantas daninhas a
partir de biótipos resistentes a herbicidas, pelo o uso repetitivo de um mesmo mecanismo de
ação, com espécies encontradas nos pomares de citros brasileiros já possuem relatos de
resistência à vários herbicidas no mundo, dentre elas: picão-preto [Bidens pilosa (L.)]
(Alcántara-de la Cruz et al. 2016); nabiça [Raphanus raphanistrum (L.)], buva [Conyza
canadensis (L.) Cronquist], capim-amargoso [Digitaria insularis (L.) Mez ex Ekman] (Heap
2021), dentre outras. Recentemente, houve confirmação de resistência ao glyphosate do caruru
[Amaranthus viridis (L.)] em pomares de citros no Brasil (Alcántara-de la Cruz et al. 2020) e
do amendoim-bravo [Euphorbia heterophylla (L.)] em áreas de soja (Adegas et al. 2020).
Porém, a preocupação com o controle químico em plantas perenes como os citros não é
somente relacionado às espécies resistentes, que são espécies que possuem a capacidade
hereditária para crescer e se reproduzir após o tratamento de um herbicida que teria sido fatal
para indivíduos progenitores em uma população antecedente (Vencill et al. 2012), mas também
às tolerantes, que diferentemente das resistentes, são espécies que possuem naturalmente a
capacidade de sobreviver à aplicação do herbicida desde sua primeira aplicação (Christoffoleti
et al. 2016). Assim sendo, além da seleção dos biótipos resistentes, há a possibilidade do
aumento da pressão de seleção de espécies tolerantes de plantas daninhas, como as tolerantes
ao glyphosate, como a trapoeraba (Commelina benghalensis), espécies de corda-de-viola
(Ipomoea spp.), poaia-branca (Richardia brasiliensis) (Monquero 2003), apaga-fogo
(Alternanthera tenella), amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla), erva-de-Santa-Luzia
(Chamaesyce hirta), guanxuma (Sida rhombifolia) e erva-de-touro (Tridax procumbens) (Lucio
et al. 2019), dentre outras. Essas são comumente encontradas em pomares de citros, e são
espécies que são controladas por doses mais altas de herbicidas – o que também põe em risco
os pomares, se o manejo de herbicidas não for corretamente realizado.

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Atualmente são 22 ingredientes ativos (i.a.) de herbicidas registrados para citros no Brasil
(MAPA 2021): ametryne, bromacil, carfentrazone-ethyl, clethodim, clorimuron- ethyl , diquat,
diuron, fluazifop-butyl, flumioxazin, glyphosate, glufosinate-ammonium, haloxyfop-methyl,
indaziflam, MCPA, metsulfuron-methyl, methyl bromide, MSMA, oxyfluorfen, quizalofop-
ethyl, saflufenacil, simazine, sulfentrazone e trifluralin. A disponibilidade é menor,
comparando com as culturas anuais como a soja (50 i.a.) e milho (49 i.a.), além da cana-de-
açúcar (52 i.a.).
Entretanto, o correto manejo de plantas daninhas deve ser realizado em função das espécies
dominantes num sistema de produção, através da integração de métodos de controle, e não
somente a partir de dosagens pré-definidas de herbicidas. Portanto, a primeira providência a ser
tomada em qualquer área é o levantamento da comunidade infestante, com sua composição
florística específica. Esses conhecimentos podem ser usados na predição da necessidade de
controle, adequando-se diferentes manejos de solo, da cultura e de herbicidas, racionalizando-
os, com base em considerações de custo/benefício na produção (Voll et al. 1995).
Além dos levantamentos realizados em campo, amostragens dos bancos de sementes do
solo também permitem a identificação e a quantificação da comunidade infestante, assim como
sua evolução (Monquero e Silva, 2007). O banco de sementes é definido como o montante de
sementes viáveis e outras estruturas de propagação presentes no solo (Carmona 1992), sendo o
responsável pela reposição de plantas mortas naturalmente ou devido a distúrbios impostos ao
ambiente (Baker 1989), e assim, o banco de sementes que caracteriza o potencial de novas
infestações por plantas daninhas.
E com o cenário atual de casos crescentes de resistência a herbicidas, um princípio
fundamental de seu manejo é o controle pela prevenção da produção de sementes de plantas
daninhas. O conhecimento do potencial de produção de sementes (fecundidade) associado aos
tratamentos com herbicidas pode orientar o desenvolvimento de programas de manejo mais
eficazes, que impactem na dinâmica da população de plantas daninhas a longo prazo e reduzam
o risco de resistência aos herbicidas (Norsworthy et al 2018).

1.1.2 Uso do glyphosate na citricultura e suas implicações


O glyphosate é o herbicida mais utilizado em citros, e suas aplicações geralmente são
direcionadas à linha de plantio, sob as copas das plantas, mas também podem ser realizadas em
toda a entrelinha do pomar. É um herbicida não-seletivo de que se transloca principalmente
para dreno metabólicos, que podem ser distantes do local de aplicação, e suas propriedades
móveis no floema e ação lenta permitem que o herbicida se mova por toda a planta para matar

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todos os meristemas, tornando-o eficaz inclusive para o controle de plantas daninhas perenes
(Duke 2020) – característica essa que pode dificultar e até inviabilizar seu uso em pomares.
Este herbicida foi lançado em 1974, sendo que o volume mundial aplicado de herbicidas à
base de glyphosate (Glyphosate-based herbicides - GBHs) aumentou de maneira muito
expressiva, em aproximadamente 100 vezes, relativo ao uso desde seu lançamento, devido
principalmente às taxas de aplicação cada vez maiores, em resposta ao surgimento de biótipos
de plantas daninhas resistentes, à ampla adoção de cultivares resistentes (tecnologia Round-up
Ready®), e à novos padrões de uso, como em pré-colheita, dessecação de áreas cultivadas ou
não-cultivadas, dentre outros (Myers et al. 2016).
Em levantamento realizado sobre o manejo de plantas daninhas com citricultores de diversas
regiões produtoras do Brasil, 98% responderam que utilizam glyphosate e 36% não utilizam
outros herbicidas, e dentre os que utilizam, 73% utilizam por aplicação doses acima de 1000 g
ea ha-1: 56% entre 1000 e 1500 g ea ha-1, 6% de 1500 a 2000 g ea ha-1 e 11% acima de 2000 g
ea ha-1; quanto a frequência de aplicação por ano agrícola: 11% aplicam uma vez, 47% aplicam
duas vezes, 22% três vezes, 9% quatro vezes e 11% aplicam de cinco ou mais vezes - houve
um relato de até 10 aplicações por ano agrícola (dados não publicados). Contudo, vale ressaltar
que nessa pesquisa, a grande maioria dos participantes entrevistados foram de médio a grandes
produtores, e a falta de informação tanto da implicação do uso excessivo deste herbicida quanto
das alternativas de controle, para pequenos produtores pode ser ainda mais agravante.
Quanto às implicações da utilização de glyphosate em citros, existe muita especulação sobre
as consequências bioquímicas e fisiológicas e os trabalhos existentes não são conclusivos. Seu
uso contínuo pode implicar em danos à cultura ao longo do tempo devido à fitotoxicidade
causada por este herbicida, caracterizada por clorose, queda de folhas pré-formadas, má
formação de brotações (Tucker 1977) e queda de frutos (Erickson 1996) com perdas
significativas para o citricultor, visto que os danos podem permanecer por até dois anos nas
plantas de citros (Toth e Morrison, 1977). Entretanto, não há estudos que avaliem o efeito do
uso de glyphosate à longo prazo em citros.
Os prejuízos causados pelo glyphosate podem ser ocasionados pelo mal-uso de
equipamentos de pulverização, pelo uso excessivo (doses e frequência de aplicação), pelo
contato da superfície das plantas daninhas com as folhas de citros e/ou por deriva acidental. A
deriva vem sendo considerada um importante problema na agricultura, visto que reduz a
eficiência da aplicação e também coloca em risco culturas vizinhas, sendo esta pode ser
ocasionada por diversos fatores, como o tamanho da gota, altura da ponta de pulverização,
velocidade de operação, condições ambientais (velocidade do vento, temperatura e umidade

6
relativa do ar), volume de aplicação e devido à formulação utilizada (Vanella et al. 2011).
Porém, podem haver outras vias de contato entre a planta alvo e a planta não-alvo (cultura),
como por exsudação de raízes interespecíficas em contato, resíduos de plantas tratadas em
decomposição e absorção radicular pela exposição direta de glyphosate em alguns tipos de solo
(Neumann et al. 2006; Tesfamariam et al. 2009), o que pode ser agravado no caso dos citros,
que convivem todo seu ciclo com as plantas daninhas.
O mecanismo de ação do glyphosate é bastante singular porque ele é o único herbicida capaz
de inibir a enzima 5-enolpiruvil-chiquimato-3-fosfato-sintase (EPSP), por competir com o sítio
de ligação do substrato fosfoenolpiruvato (PEP). Essa enzima catalisa a condensação do
chiquimato-3-fosfato e do PEP na rota do ácido chiquímico, inibindo assim a formação de
corismato, o qual é precursor do ácido salicílico (hormônio de defesa das plantas) e de três
aminoácidos aromáticos [fenilalanina (Phe), triptofano (Trp) e tirosina (Tyr)] que são essenciais
para a síntese de proteínas e divisão celular nas regiões meristemáticas da planta (Herrmann
1995). Phe, além de participar da biossíntese de proteínas, é também substrato para a via do
fenilpropanoide, que produz numerosos produtos secundários de plantas, tais como
antocianinas, lignina, promotores e inibidores de crescimento, e compostos fenólicos, sendo
que muitos destes, implicam na defesa da planta contra doenças e pragas, enquanto Trp é um
precursor do ácido indolilacético (AIA), hormônio vegetal necessário para expansão celular,
manutenção da dominância apical e muitos outros processos regulatórios, e por fim, Tyr que é
um precursor de alcaloides de isoquinolina, betalaínas de pigmento e quinonas (plastoquinona)
(Maeda e Dudareva, 2012).
Como o bloqueio dessa rota leva a um acúmulo de altos níveis de ácido chiquímico,
implicações fisiológicas podem ocorrer nas plantas, visto que em torno de 30% do carbono
fixado pelas plantas é derivado rota do ácido chiquímico (Haslam 1993; Maeda e Dudareva,
2012). Portanto, análises do acúmulo de ácido chiquímico podem ser utilizadas como
bioindicadores da injúria causada por este herbicida (Singh e Shaner, 1998). Porém, em citros,
somente um efeito transitório da concentração do ácido chiquímico fora relatado, em estudo
com a aplicação de glyphosate em mudas de limão Cravo (Gravena et al. 2009), enquanto que
em estudos em pomar adulto de laranja Pêra, as concentrações não se alteraram (Matallo et al.
2010), e em pomares recém-plantados de laranja Valência também não houve alterações
(Gravena et al., 2012). Porém, esses três estudos demonstram resultados num curto espaço de
tempo, sem avaliar os efeitos do glyphosate à longo prazo.

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1.1.3 Manejo de plantas daninhas com sistemas conservacionistas em citros
Em recente estudo, foi demonstrado que a técnica de manejo denominada de “roçagem
ecológica”, onde a associação da braquiária-ruziziensis (Urochloa ruziziensis) como cultura de
cobertura nas entrelinhas do pomar em conjunto com uma roçadora lateral do tipo ecológica,
consiste de uma opção de Agricultura de Conservação (AC) por promover a utilização de mulch
orgânico, que é produzido in situ, além de ser uma opção também para manejo integrado de
plantas daninhas (MIPD), por promover controles físicos, químicos e biológicos (Martinelli et
al. 2017).
O conceito de AC, a qual é preconizada pela FAO para uma agricultura mais sustentável, é
definida como o conjunto de práticas de manejo de agroecossistemas em que: (i) o revolvimento
do solo é mínimo; (ii) utiliza-se de coberturas vegetais orgânicas de forma permanente ou
temporária; e, (iii) utiliza-se da diversidade de espécies cultivadas, sejam em sequência (rotação
de culturas) e/ou em associação (culturas de cobertura/plantio consorciado) (FAO 2021b). E a
AC demonstra diversos benefícios (Hobbs et al. 2008): manutenção e/ou incremento dos teores
de matéria orgânica (MO), melhorando a disponibilidade de nutrientes, reduzindo a erosão do
solo, melhorando os atributos físicos e do armazenamento de água no solo e evitando ainda,
oscilações de temperaturas no solo; formação de barreira física que impede novas infestações
de plantas daninhas, e estimula os micro-organismos presentes no solo, acelerando o processo
de decomposição e mineralização dos resíduos vegetais. Assim, os sistemas de manejo
conservacionistas têm como princípio a manutenção da cobertura vegetal e de seus resíduos
sobre o solo, como uma das estratégias para aumentar a sustentabilidade dos sistemas agrícolas.
Dentre as diversas opções de coberturas vegetais para os citros, as espécies do gênero
Urochloa (syn. Brachiaria), da família Poaceae (gramíneas), popularmente conhecidas como
braquiárias, têm se destacado. As braquiárias têm ampla adaptação, podendo abranger desde
várzeas inundáveis até regiões semidesérticas; solos de baixa fertilidade e mal drenados; além
de seu sistema radicular possuir a capacidade de reestruturar o solo, aumentando sua porosidade
e melhorando a circulação de ar e água (Bogdan 1977). Além disso, possuem uma maior
estabilidade de seus resíduos, pois sua relação C:N é mais elevada quando comparada, por
exemplo, às leguminosas, que também são utilizadas em pomares de citros (Silva et al. 1999).
No Brasil, o plantio de braquiária nas entrelinhas de pomares é comumente utilizado como
uma prática conservacionista do solo, seja por meio de sua semeadura ou manutenção em áreas
que a planta já está inserida (Souza Filho et al. 2005). No caso de pomares em implantação,
semeia-se a cultura de cobertura em área total, e depois se faz o preparo das faixas de plantio,
enquanto em pomares já implantados, semeia-se na à lanço ou por plantio direto na entrelinha.

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No entanto, também são comuns os casos onde as pastagens são reformadas ou substituídas por
culturas anuais e perenes através do sistema de plantio direto, cultivo mínimo, ou até em sistema
convencional, pela incorporação da palhada de braquiária no solo (Souza et al. 2006).
Porém, na grande maioria dos casos, a braquiária-decumbens [Urochloa decumbens (Stapf)
R.D.Webster] é a espécie predominante, visto que é a gramínea mais abundante no Brasil
exatamente pela sua capacidade de competição (Martinelli et al. 2017; Villela et al. 2021). No
entanto, uma boa opção é a braquiária-ruziziensis, visto que essa espécie apresenta baixa
interferência quando comparada à outras desse gênero, pois, no período de baixa precipitação
pluviométrica a braquiária-ruziziensis se desidrata e seca, concorrendo menos por água e
nutrientes com as plantas de citros (Sanches 1998), o que foi confirmado posteriormente,
inclusive com reduções de produtividade em pomar de lima ácida Tahiti pela braquiária-
decumbens (Martinelli et al. 2017).
No entanto, nem sempre o citricultor consegue utilizar o potencial benéfico da cultura de
cobertura em favor de seu pomar, visto que em muitos casos os mesmos não possuem a roçadora
ecológica, ou a utilizam com vegetações espontâneas que produzem pouca biomassa, ou ainda,
quando a possuem, muitos cortam as braquiárias antes destas atingirem seu máximo potencial
produtivo, em termos de produção de biomassa (em pré-florescimento), e assim o efeito da
roçagem ecológica é subestimado.
Em recente estudo sobre diversos sistemas convencionais e conservacionistas de manejo
em citros durante cinco anos em quatro tratamentos distintos, onde foram comparados o sistema
sem plantio de cultura de cobertura e com utilização de revolvimento do solo por meio de
gradagens anuais na entrelinha e com a utilização de herbicidas na linha de plantio (i,
Convencional), com três sistemas conservacionistas, sem revolvimento do solo na entrelinha e
com a braquiária-ruziziensis como cultura de cobertura, utilizando da roçagem convencional na
entrelinha e herbicidas na linha de plantio (ii, Cultivo Mínimo) e, somente com a utilização da
roçagem ecológica anteriormente a implantação do pomar (iii, Plantio Direto sem Herbicidas),
ou aliado a utilização de herbicida na linha de plantio (iv, Plantio Direto com Herbicidas)
(Azevedo et al. 2020). Primeiramente, foi demonstrado que os sistemas que utilizavam somente
do controle químico por herbicidas não foram suficientes no controle de plantas daninhas, pois
houve necessidade da utilização de herbicidas em conjunto com o mulch proveniente da
roçagem ecológica para o melhor controle. Além disto, no sistema de plantio direto aliado ao
uso de herbicidas, devido aos benefícios do mulch de braquiária-ruziziensis e maior controle de
plantas daninhas, foram demonstrados maiores níveis de MO e de fertilidade do solo e da
nutrição das plantas de citros, menores níveis de resistência à compactação do solo, maiores

9
teores de umidade do solo e de estado hídrico das folhas de citros, além de maior crescimento
e produtividade (Azevedo et al. 2020).
Além deste, outros recentes estudos demonstram vários benefícios da roçagem ecológica
com a braquiária-ruziziensis como cultura de cobertura: (i) maior controle de plantas daninhas
proporcionado ao longo do tempo, ocasionalmente superior ao glyphosate (Martinelli et al.
2017); (ii) maior atividade e abundância microbiana do solo (Arantes et al. 2020); e, (iii)
potencial de controle de espécies de plantas daninhas de difícil controle, e de alta frequência
em pomares de citros, pela liberação de substâncias aleloquímicas, como: B. pilosa, C.
benghalensis, C. canadensis, Digitaria insularis e Chloris elata (Villela et al. 2021). Portanto,
a roçagem ecológica se mostra como uma importante ferramenta para o manejo de plantas
daninhas para pomares de citros, mas ainda carece de informações, principalmente quando
utilizada em conjunto com outros métodos de controle, como o mecânico, além de outras
modalidades de herbicidas, como os residuais.

1.2 OBJETIVOS GERAIS


O objetivo geral do trabalho é avaliar as implicações do uso de glyphosate à longo prazo
nas plantas de citros, determinando os mecanismos de sua toxicidade, além de determinar a
viabilidade da interação entre diferentes programas de controle com a roçagem ecológica. E
para isso, esse estudo será dividido em dois capítulos, com os seguintes objetivos:

I. determinar as implicações do uso de glyphosate em plantas de citros, em dois


experimentos: (exp. I) à longo prazo em campo, avaliando diferentes doses e
frequências de aplicação de glyphosate ao longo de cinco anos agrícolas em pomar
de citros, determinando o controle de plantas daninhas, e nas as plantas de citros, os
níveis de fitotoxicidade ao glyphosate por sintomas visuais, o crescimento, a
produtividade e a viabilidade econômica; (exp. II) em casa-de-vegetação, simulando
deriva de glyphosate em plantas de citros, determinando a concentração do ácido
chiquímico e sua relação com os parâmetros da fotossíntese;
II. determinar a viabilidade da interação entre diferentes programas de controle com a
roçagem ecológica avaliando ao longo de três anos agrícolas, dois tipos de roçagens
de entrelinha e cinco programas de controle de plantas daninhas em pomar jovem
de laranjeira Hamlin, determinando a deposição de biomassa da cultura de
cobertura, o controle de plantas daninhas, e para as plantas de citros, o crescimento,
a produtividade e a viabilidade econômica dos manejos propostos.

10
1.3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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15
CAPÍTULO I

Implicações do manejo de glyphosate nas plantas de citros e seus


mecanismos de toxicidade por meio dos impactos na fotossíntese

16
2. CAPÍTULO I: IMPLICAÇÕES DO MANEJO DE GLYPHOSATE NAS PLANTAS
DE CITROS E SEUS MECANISMOS DE TOXICIDADE POR MEIO DOS
IMPACTOS NA FOTOSSÍNTESE

RESUMO

Há relatos da excessiva utilização de glyphosate pelos citricultores brasileiros, com aplicações


em altas dosagens e frequência de aplicação, sendo justificado pelos próprios produtores pelo
baixo nível de controle atual. A interação entre o glyphosate e as plantas de citros pode afetar
rotas bioquímicas e fisiológicas, no entanto, como esse herbicida afeta o metabolismo dos citros
não é compreendido em sua totalidade. Assim, o objetivo deste estudo é avaliar em plantas de
citros as implicações deste herbicida, avaliando seus efeitos em experimento de longo prazo no
campo, e elucidar as relações dos distúrbios na rota metabólica do ácido chiquímico com a
fotossíntese. Para tanto, o estudo foi dividido em dois experimentos que avaliaram: (I)
diferentes doses e frequências de aplicação de glyphosate ao longo de cinco anos agrícolas em
pomar de citros, determinando o controle de plantas daninhas, e o desenvolvimento do pomar;
(II) a resposta das plantas de citros ao glyphosate por meio de deriva simulada em plantas de
citros em casa-de-vegetação, determinando a concentração do ácido chiquímico e os parâmetros
da fotossíntese, e a relação entre ambos. Como resultados principais, o controle de plantas
daninhas foi maior com o aumento da frequência de aplicação do glyphosate, porém, nem
sempre com o aumento de dose. Algumas espécies predominaram e dificultaram o controle no
ano de 2017/2018, sendo algumas por terem baixa suscetibilidade a este herbicida, e outras por
serem prolíficas. Sintomas de fitotoxicidade foram demonstrados, com o aumento do uso do
glyphosate até o segundo ano avaliado, e a partir do terceiro, as plantas não externaram mais
esses sintomas, o que foi um destaque para o estudo, pois, a diminuição de crescimento e de
produtividade foram evidentes ao longo do tempo. Acúmulo de ácido chiquímico foi observado
nas plantas de citros, porém, nem sempre seguindo tendência de dose-resposta. Mesmo após
períodos de até seis meses após as aplicações de glyphosate, observou-se efeitos prejudiciais
em processos da fotossíntese. Assim, foi possível concluir que, em condições de campo doses
acima de 1000 g ea ha-1 com frequências de aplicação a partir de três vezes por ano de
glyphosate nem sempre incrementam o controle de plantas daninhas, mas diminuem o
crescimento e produtividade do pomar ao longo do tempo, pelo seu efeito tóxico que é
ocasionado por distúrbios na rota do ácido chiquímico e nos processos da fotossíntese.

Palavras-chave: Citrus, fitotoxicidade, herbicida, ácido chiquímico, deriva de herbicida.

17
ABSTRACT

There are reports of excessive use of glyphosate by Brazilian citrus growers, with applications
in high dosages and frequency of application, being justified by the producers themselves by
the low level of current control. The interaction between glyphosate and citrus plants can affect
biochemical and physiological pathways, however, how this herbicide affects citrus metabolism
is not fully understood. Thus, the aim of this study is to evaluate the implications of this
herbicide in citrus plants, evaluating its effects in a long-term field experiment, and to elucidate
the relationship of disturbances in the metabolic pathway of shikimic acid with photosynthesis.
Therefore, the study was divided into two experiments that evaluated: (I) different doses and
frequencies of glyphosate application over five growing seasons in citrus orchards, determining
weed control and orchard development; (II) the response of citrus plants to glyphosate through
simulated drift in citrus plants in a greenhouse, determining the shikimic acid concentration and
photosynthesis parameters, and the relationship between them. As major results, weed control
was greater with increasing frequency of glyphosate application, but not always with increasing
dosage. Some species predominated and made control difficult in the year 2017/2018, some
because they have low susceptibility to this herbicide, and others because they are prolific.
Phytotoxicity symptoms were demonstrated, with the increase in the use of glyphosate until the
second year evaluated, and from the third year onwards, the plants no longer expressed these
symptoms, which was a highlight for the study, since the decrease in growth and yield were
evident over time. Shikimic acid accumulation was observed in citrus plants, however, not
always following a dose-response trend. Even after periods of up to six months after glyphosate
applications, harmful effects on photosynthesis processes were observed. It was possible to
conclude that, in field conditions, dosages above 1000 g ae ha-1 with application frequencies
from three times a year of glyphosate do not always increase weed control, but decrease growth
and yield of the orchard over time, due to its toxic effect that is caused by disturbances in the
shikimic acid pathway and in the photosynthesis processes.

Keywords: Citrus, phytotoxicity, herbicide, shikimic acid, herbicide drift.

18
2.1 INTRODUÇÃO
Em culturas perenes, como os citros, onde as plantas daninhas convivem praticamente ao
mesmo tempo e espaço com a planta cultivada durante todo seu ciclo, as opções de controle são
mais escassas. Assim sendo, essas culturas dispõem de um menor número de herbicidas e
técnicas de controle em comparação às culturas anuais, onde muitas vezes o controle é feito nos
intervalos de cultivo e/ou pela utilização de cultivares resistentes.
Os citricultores brasileiros têm a preferência pelo controle químico e uma grande parte
utiliza somente o herbicida glyphosate [N-(phosphonomethyl)glycine]. Suas aplicações
geralmente são direcionadas à linha de plantio, sob as copas das plantas, mas também podem
ser realizadas em toda a entrelinha do pomar. O glyphosate é um herbicida não-seletivo que se
transloca principalmente para dreno metabólicos, que podem ser distantes do local de aplicação,
e suas propriedades móveis no floema e ação lenta permitem que o herbicida se mova por toda
a planta para matar todos os meristemas, tornando-o eficaz inclusive para o controle de plantas
daninhas perenes (Duke 2020) – o que pode dificultar e até inviabilizar seu uso em pomares.
Este foi lançado em 1974, sendo que o volume mundial aplicado de herbicidas à base de
glyphosate (Glyphosate-based herbicides - GBHs) aumentou de maneira muito expressiva
(mais de 100 vezes) (Myers et al. 2016), devido principalmente: (i) ao seu baixo custo; (ii) às
taxas de aplicação cada vez maiores em resposta ao surgimento de biótipos de plantas daninhas
resistentes à este herbicida; (iii) à ampla adoção de cultivares resistentes (tecnologia Round-up
Ready®); e, (iv) à novos padrões de uso, como em pré-colheita, dessecação de áreas cultivadas
ou não-cultivadas, dentre outros.
No caso dos citros, o incremento da utilização de glyphosate desde seu lançamento, foi
devido à eficiência de controle, facilidade de uso, gerando uma boa relação de custo e benefício.
Porém, com seu uso intensivo, houve aumento de relatos de baixa eficácia de controle,
relacionado à seleção de biótipos resistentes de espécies de plantas daninhas e do aumento da
pressão de seleção de espécies tolerantes. Isso fez com que a maioria dos produtores de citros
utilizassem o glyphosate de maneira indevida, aumentando seu uso, com aumentos de dosagem
e frequência de aplicação (Martinelli et al. 2017), sendo justificado pela dificuldade de controle,
o que os leva à um círculo vicioso.
Porém, muitos produtores não levam em consideração e/ou não tem acesso à informação
sobre duas questões importantes do glyphosate: (i) a possível intoxicação das plantas de citros
pelo contato, absorção e translocação deste herbicida; e, (ii) pela falta de rotação com outro
herbicida de diferente mecanismo de ação, e pela ausência de outros tipos de controle (como
no manejo integrado de plantas daninhas) há a crescente e contínua seleção de biótipos

19
resistentes e espécies tolerantes. Em levantamento realizado sobre o manejo de plantas daninhas
com citricultores de diversas regiões produtoras do Brasil, 98% responderam que utilizam
glyphosate, 36% não utilizam outros herbicidas e dentre os que utilizam, 73% utilizam por
aplicação doses acima de 1000 g ea ha-1: 56% entre 1000 e 1500 g ea ha-1, 6% de 1500 a 2000
g ea ha-1 e 11% acima de 2000 g ea ha-1; quanto a frequência de aplicação por ano agrícola:
11% aplicam uma vez, 47% aplicam duas vezes, 22% três vezes, 9% quatro vezes e 11%
aplicam de cinco ou mais vezes – houve um relato de até 10 aplicações por ano agrícola (dados
não publicados). Contudo, a grande maioria dos entrevistados foram de médio a grandes
produtores, e a falta de informação para pequenos produtores pode ser ainda mais agravante.
Ainda existe muita especulação quanto às consequências do uso do glyphosate e os estudos
publicados não são conclusivos. O mecanismo de ação do glyphosate é bastante singular, pois
é o único herbicida a atuar na rota do ácido chiquímico, sendo capaz de inibir a enzima EPSP
sintase (5-enolpiruvil-chiquimato-3-fosfato-sintase), por competir com o sítio de ligação do
substrato fosfoenolpiruvato (PEP), inibindo assim a formação de corismato, o qual é precursor
do ácido salicílico (hormônio de defesa das plantas) e de três aminoácidos aromáticos
[triptofano (Trp), tirosina (Tyr) e fenilalanina (Phe)], que servem como precursores de uma
ampla variedade de compostos aromáticos, que tem papeis cruciais no crescimento,
desenvolvimento, reprodução e defesa das plantas (Haslam 1993; Herrman 1995). Assim, há
um acúmulo do ácido chiquímico ocasionando dreno de carbono da rota do ácido chiquímico,
reduzindo o funcionamento geral de outras vias bioquímicas da planta, sendo que em plantas
vasculares essa rota é responsável até 30% do carbono fixado pela fotossíntese e até 30% do
peso seco da planta (Monaco 2002; Maeda e Dudareva, 2012).
Portanto, o uso contínuo de glyphosate pode implicar em danos à cultura ao longo do tempo
devido à fitotoxicidade causada por este herbicida, que é caracterizada por clorose, queda de
folhas pré-formadas, má formação de brotações (Tucker 1977) e queda de frutos (Erickson
1996) com perdas significativas para o citricultor, visto que os danos podem permanecer por
até dois anos nas plantas (Toth e Morrison, 1977). Entretanto, estudos anteriores demonstraram
pouca toxicidade do glyphosate às plantas de citros ou mesmo até um efeito transitório dessa
intoxicação pela avaliação da concentração do ácido chiquímico (Gravena et al., 2009; Matallo
et al., 2010; Gravena et al., 2012). Porém, nestes estudos as avaliações foram realizadas num
curto espaço de tempo, e assim, não há estudos que avaliem o efeito do manejo de glyphosate
à longo prazo em citros, além de ainda haver relatos de pomares com intoxicação. Portanto, há
necessidade de elucidação sobre o manejo deste importante herbicida para culturas perenes,
como os citros.

20
Como hipótese, tem-se que o aumento da dosagem e da frequência de aplicação de
glyphosate não incrementam o controle de plantas daninhas, além de prejudicar o crescimento
e a produção das plantas de citros pela intoxicação por este herbicida ao longo do tempo, que
por meio do acúmulo do ácido chiquímico tem sua fotossíntese afetada.
Assim, o objetivo do trabalho foi determinar as implicações do uso de glyphosate em plantas
de citros, em dois experimentos: (I) à longo prazo em campo, avaliando diferentes doses e
frequências de aplicação de glyphosate ao longo de cinco anos agrícolas em pomar de citros,
determinando o controle de plantas daninhas, e nas as plantas de citros, os níveis de
fitotoxicidade ao glyphosate por sintomas visuais, o crescimento, a produtividade e a
viabilidade econômica; (II) em casa-de-vegetação, simulando deriva de glyphosate em plantas
de citros, determinando a concentração do ácido chiquímico e sua relação com os parâmetros
da fotossíntese.

2.2 MATERIAL E MÉTODOS


2.2.1 Experimento I: Manejo de glyphosate em pomar jovem de citros com diferentes
doses e frequências de aplicação
2.2.1.1 Área experimental e instalação do ensaio
O experimento I foi conduzido em área experimental previamente instalada em 2015, no
município de Cordeirópolis, estado de São Paulo, Brasil (Centro de Citricultura ‘Sylvio
Moreira’, Instituto Agronômico - IAC), durante cinco anos agrícolas (2016/2017, 2017/2018,
2018/2019, 2019/2020 e 2020/2021). O local do estudo está localizado a uma latitude de
22°27′35” sul e uma longitude de 47°24′27” oeste, com uma altitude média de 712 m acima do
nível do mar. O clima no local é classificado como Cwa subtropical com invernos secos
(temperaturas abaixo de 18 ° C) e verões quentes (temperaturas acima de 22 ° C) e úmidos, de
acordo com o sistema de classificação climática de Köppen-Geiger (Alvares et al. 2013). Dados
médios anuais de temperatura e precipitação pluvial (agosto a julho), durante o período
experimental, foram obtidos a partir do monitoramento via estação meteorológica instalada à
100 m de distância do experimento (Figura 1). O solo foi classificado como solo Latossolo
Vermelho distrófico de textura predominantemente argilosa (64,6% argila; 21,3% areia; 14,1%
silte).
O delineamento utilizado foi de blocos casualisados, com treze tratamentos e quatro
repetições. Os tratamentos foram compostos por diferentes doses (540 a 2160 g ea ha-1) e
frequências de aplicação de glyphosate (1-4 AP; aplicações ano-1) (RoundUp Original®; 356 g
ea L-1): T1: testemunha, sem aplicação; T2: 540 g ea ha-1 (1AP); T3: 1080 g ea ha-1 (1AP); T4:

21
Figura 1. Valores médios trimestrais de temperaturas mínimas (Temp. min.) e máximas (Temp. máx.) e de
precipitação pluvial acumulada, durante o período experimental (2016/2021) (Cordeirópolis/SP).

2160 g ea ha-1 (1AP); T5: 540 g ea ha-1 (2AP); T6: 1080 g ea ha-1 (2AP); T7: 2160 g ea ha-1
(2AP); T8: 540 g ea ha-1 (3AP); T9: 1080 g ea ha-1 (3AP); T10: 2160 g ea ha-1 (3AP); T11: 540
g ea ha-1 (4AP); T12: 1080 g ea ha-1 (4AP); T13: 2160 g ea ha-1 (4AP). Os tratamentos com 1
aplicação ano-1 foram aplicados em outubro de cada ano agrícola; os com 2 aplicações ano-1,
em outubro e dezembro; os com 3 aplicações ano-1, em outubro, dezembro e fevereiro; e, os
com 4 aplicações ano-1, em outubro, dezembro, fevereiro e abril.
A área experimental possui 0,6 hectare e o pomar de laranjeira Pêra [Citrus sinensis (L.)
Osbeck] enxertado em tangerina Sunki [Citrus sunki (Hayata) hort. ex Tanaka] foram
distribuídas em seis linhas com 70 plantas cada, somando um total de 420 plantas espaçadas à
6,0 m (entrelinha) x 2,5 m (entre plantas). Cada unidade experimental foi constituída de quatro
plantas de laranja Pêra. O plantio do pomar foi realizado em fevereiro de 2015, com mudas de
12 meses de idade, em sistema de cultivo mínimo, com preparo (sulcagem e adubação de
plantio) apenas das linhas de plantio com a utilização de subsolador.
O glyphosate foi aplicado utilizando-se pulverizador costal de CO2, com pressão constante
de 2,0 bar, à 50 cm da superfície do solo. O volume de calda foi de 200 L ha-1 e a barra de
aplicação foi equipada com acessório antideriva (‘chapéu de Napoleão’) além de ponta de
pulverização Teejet® Air Induction Extended Range (AIXR) 11002 do tipo leque, com
tecnologia de indução de ar para diminuir o efeito de deriva. As aplicações foram realizadas via
jato dirigido na linha de plantio do pomar, na largura da copa das plantas de citros (também
conhecida como projeção da copa), a qual é a principal região de competição entre a cultura e
as plantas daninhas. A primeira aplicação de glyphosate foi realizada em out/2016, sendo que
o pomar tinha com um ano e oito meses de idade – com os caules totalmente lignificados.

22
Nas mesmas datas das aplicações, as parcelas da testemunha (0 g ea ha-1) tiveram o controle
de plantas daninhas realizado por controle mecânico, por meio de roçagens com roçadora costal
motorizada. Essa opção foi utilizada de modo a simular o controle não-químico que é utilizado
por sistemas de produção agrícola na citricultura, visto que a capina manual não tem viabilidade
econômica atualmente, e assim poder contrastar com o manejo de glyphosate.

2.2.1.2 Controle de plantas daninhas


Os níveis de infestação das plantas daninhas foram avaliados sempre 30 dias após aplicação
(DAA) de glyphosate. Para a amostragem, foi utilizado de gabarito (0,25m2), lançado oito vezes
por repetição, totalizando uma área amostral de 2,0 m², direcionando a amostragem para a área
de controle das plantas daninhas (linha de plantio dos citros), que foram identificadas e
quantificadas quanto à porcentagem de cobertura da área amostral. O controle foi calculado
utilizando-se dos valores de cobertura de cada tratamento relativo à testemunha.

2.2.1.3 Níveis de suscetibilidade ao glyphosate de biótipos de plantas daninhas da área


experimental
A fim de se caracterizar a suscetibilidade das plantas daninhas dominantes no ano agrícola
de 2017/2018: BIDPI [Bidens pilosa (L.)]; RAPRA [Raphanus raphanistrum (L.)] e ERICA
[Conyza canadensis (L.) Cronquist], bioensaios de aplicação de glyphosate foram realizados
em casa-de-vegetação. Primeiramente, foram coletadas sementes aos 30 dias após a última
aplicação de glyphosate (maio/18), sendo semeadas 20 sementes vaso-1, e após a emergência
foram desbastadas para obtenção de quatro plantas vaso-1. Quando atingiram quatro pares de
folha planta-1, o glyphosate foi aplicado com bomba manual, calibrado para volume de calda de
200 L ha-1. Aos 28 dias após aplicação, a massa da parte aérea e sistema radicular foi coletada
e seca em estufa à 60±3ºC, por 72 horas. Os valores de GR50 (dose efetiva para redução de 50%
da biomassa) foram obtidos por meio de regressão não-linear, por modelo logístico (Streibig et
al. 1993; Seefeldt et al. 1995).
O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado em esquema de parcelas fatorial
duplo, com quatro repetições. O primeiro fator foi constituído de três diferentes biótipos da
mesma espécie de planta daninha: biótipo 1 (B1) nas parcelas com baixa frequência e dosagem
de glyphosate (540 g ea ha-1 x 1 AP = 540 g ea ha-1 ano-1); B2: biótipos das parcelas com alta
frequência e dosagem de glyphosate (2160 g ea ha-1 x 4 AP = 8640 g ea ha-1 ano-1); e, B3:
biótipos possivelmente suscetíveis ao glyphosate de outra localidade (Olimpia, Estado de São
Paulo, Brasil). O segundo fator, foram as diferentes doses de glyphosate: 0D, ¼D, 1D, 4D e
8D; onde, D é o valor da dose comercial de glyphosate para cada espécie de planta daninha:

23
960 g ea ha-1 para BIDPI e ERICA, e 360 g ea ha-1 para RAPRA. A unidade experimental foi
constituída de vasos de 1L.

2.2.1.4 Sintomas visuais de intoxicação das plantas de citros por glyphosate


Estimativas visuais de fitotoxicidade nas plantas de citros pelas aplicações de glyphosate,
foram realizadas aos 30 dias após cada aplicação, utilizando-se de escala de notas de 1-9, para
tolerância de culturas à herbicidas do European Weed Research Council [EWRC - adaptado de
Dear et al. (2003)]: (1) sem efeito visível; (2) efeitos muito leves de nanismo e clorose; (3)
efeitos leves de nanismo e clorose – efeitos reversíveis; (4) efeito substancial de clorose e/ou
nanismo – maioria dos efeitos possivelmente reversíveis; (5) forte clorose e/ou nanismo; (6)
aumento da severidade dos danos; (7) aumento da severidade dos danos; (8) aumento da
severidade dos danos; e, (9) perda total de plantas e de produtividade. Essa avaliação foi
realizada somente para os dois primeiros anos agrícolas, sendo que a partir do terceiro ano
avaliado não foi possível observar os sintomas de intoxicação.

2.2.1.5 Crescimento e produtividade das plantas de citros


O crescimento vegetativo e produtividade das plantas de laranja Pêra sempre foram
avaliados entre julho e agosto de cada ano agrícola, na principal época de maturação para esta
variedade. Para o ano agrícola de 2017/2018, uma colheita adicional em dezembro/18 foi
realizada devido a produção de frutas temporãs, característica desta variedade de citros (Pio et
al. 2005). O crescimento foi avaliado por meio de medição com régua graduada, de altura e
diâmetro da copa, e com posterior cálculo dos volumes de copas determinados segundo Mendel
(1956): V = 2/3 π R2 H; onde, V é o volume de copa (m³); R: raio médio da copa da planta (m);
e, H: altura da planta (m). Para a avaliação de produtividade, os frutos foram colhidos e pesados,
e os dados foram extrapolados para valores em t ha-1.

2.2.1.6 Análise econômica


A viabilidade econômica dos tratamentos foi avaliada pelo retorno líquido do investimento
(lucro) ocasionado somente pelos valores variáveis entre os tratamentos, ou seja, pelos
diferentes valores da dose e frequência de aplicação do glyphosate pela cotação média dentre
os anos de 2016-2021 em R$. Para o cálculo do controle manual da testemunha, foi fixado o
tempo de 16 horas homem-1 por hectare (US$ 3,62 hora homem-1). Os valores fixos, que não
diferem entre os tratamentos não foram inclusos, como os valores de adubação e controle de
doenças e insetos. Para os valores de produtividade, foi fixado o preço do kg da fruta de
laranjeira Pêra pela cotação média de 2017 a 2021 (US$ 0,12 kg -1) na região produtora do

24
experimento (Limeira, Estado de São Paulo) (HFBRASIL 2021). Todos os valores foram
calculados em reais brasileiros (R$) e convertidos para dólares americanos (US$) segundo as
cotações de agosto de cada ano: 2017 (R$ 3,147 para US$ 1,00); 2018 (R$ 3,9134 para US$
1,00); 2019 (R$ 4,0188 para US$ 1,00); 2020 (R$ 5,4497 para US$ 1,00); e, 2021 (R$ 5,4573
para US$ 1,00).

2.2.2 Experimento II: Acúmulo de ácido chiquímico e parâmetros da fotossíntese em


plantas de laranja Valencia sob deriva simulada de glyphosate
De modo a se isolar o efeito da deriva de glyphosate, este experimento foi conduzido em
casa-de-vegetação, utilizando-se de delineamento experimental inteiramente casualizado,
composto por sete tratamentos (0, 45, 90, 360, 720, 1440, 2880 g ea ha-1 de glyphosate) e três
repetições. Cada unidade experimental foi constituída de um vaso de 40 L com uma planta de
citros.
Mudas de laranjeira Valência, enxertadas sobre limoeiro Cravo (Citrus limonia Osbeck),
foram produzidas no CCSM/IAC e transplantadas para os vasos com 24 meses de idade
(agosto/2018). No processo de transplantio, os vasos foram preenchidos com substrato (80% de
casca de pinheiro, 15% de vermiculita e 5% de materiais carbonizados). As plantas foram
mantidas irrigadas para manter a capacidade de campo em 70%, e a nutrição das plantas foi
mantida por adubações mensais com solução completa de macro e micronutrientes (Hippler et
al. 2015).
As mudas permaneceram por um período de 15 meses para adaptação, e as aplicações de
glyphosate foram realizadas em março/2019 (Ap. A) e novembro de 2020 (Ap. B). No momento
da aplicação as plantas possuíam 39 meses de idade, com um volume de copa de ~1,2m³. A
aplicação foi realizada utilizando de pulverizador de CO2, com pressão constante de 2,0 bar,
utilizando-se de bico Teejet® Extended Range (XR) 11002 VS, calibrado para volume de calda
de 200 L ha-1. A deriva foi simulada pela aplicação do valor fixo de 0,0075% do volume de
calda (15 mL planta-1). A aplicação foi dirigida ao terço inferior da copa das mudas (folhas-
fonte), com os terços médio e superior protegidos com plástico de polietileno de alta densidade,
e retirados uma hora após a aplicação.

2.2.2.1 Quantificação da concentração de ácido chiquímico das folhas


Para a quantificação da concentração de ácido chiquímico, aos 0, 1, 7, 15, 30, 60, 180 dias
após aplicação (DAA) A e B, foram coletadas seis folhas de mediana maturação, do terço
mediano da planta de laranjeira Valência (folhas-dreno). Sub-amostras de 50 mg de tecido foliar
fresco foram alocadas em eppendorfs com 1,5 mL de HCl 0,25 N, posteriormente congeladas

25
em nitrogênio líquido e armazenadas a -40°C para posterior análise. Os tubos foram
descongelados à temperatura ambiente e depois incubadas durante 45 min a 37°C. Alíquotas de
50 µL foram transferidas para novos tubos contendo 200 µL de ácido periódico 0,25% (p/v) e
metaperiodato de sódio 0,25% (p/v). As amostras foram novamente incubadas a 37°C por 30
min, e após foram adicionados 200 µL de hidróxido de sódio 0,6 N + sulfito de sódio 0,22 N e,
por fim, homogeneizadas. Volumes de 300 µL foram transferidos para cubetas
espectrofotométricas contendo 600 µL de água destilada. A absorbância foi medida no
comprimento de onda de 380 nm em um espectrofotômetro de arranjo de diodos (HP 8425A,
Palo Alto, CA, EUA). A concentração de ácido chiquímico foi expressa como µmol de ácido
chiquímico g-1 tecido fresco.

2.2.2.2 Assimilação de CO2 e fluorescência da clorofila α


Foram realizadas as medidas de trocas gasosas e fluorescência da clorofila α nas mesmas
datas que o item 2.2.2.1, por meio de um analisador de trocas gasosas integrado com câmara de
fluorescência e analisador de CO2 por radiação infravermelha e fonte de luz (IRGA, Li-6800
acoplado com câmara de fluorescência, Li-Cor, Inc. Lincoln, EUA). As medidas foram feitas
durante a parte da manhã (entre 8-9h) em folhas de mediana maturação do terço mediano da
planta (folhas-dreno), completamente expostas a luz. Foram fixados os parâmetros: densidade
de fluxo de fótons fotossinteticamente ativos (800 µmol m-2 s-1), 400 ppm CO2, umidade
relativa da câmara (50%), fluxo de ar (500 µmol s⁻¹) e temperatura do ar (30ºC).
Em relação às trocas gasosas as variáveis medidas foram: taxa de assimilação líquida de
CO2 (AN, μmol CO2 m-2 s-1), condutância estomática (gs, mol H2O m-2 s-1), taxa de transpiração
(E, mmol H2O m-2 s-1), a concentração intercelular de CO2 (Ci, μmol CO2 mol-1), eficiência de
carboxilação (AN/Ci), eficiência do uso de água (AN/E), e, eficiência intrínseca do uso da água
(AN/gs). Para fluorescência da clorofila α em folhas adaptadas a luz: eficiência quântica do
fotossistema II (FSII) (Fv’/Fm’), transporte aparente de elétrons (ETR, µmol elétrons m-2 s-1),
quenching não-fotoquímico (NPQ), produtividade quântica com base no transporte de elétrons
através do fotossistema II (𝛷PSII), produtividade quântica com base na assimilação de CO2
(𝛷𝐶𝑂2 ) e quenching fotoquímico (pela proporção de centros de reação do FSII abertos) (qP).

2.2.2.3 Produção de frutos sob efeito da deriva simulada do glyphosate


A produção das plantas de laranja Valência foi avaliada no mês de dezembro de 2021, na
principal época de maturação para esta variedade. Para cada planta, os frutos foram colhidos e
pesados, e os dados foram apresentados pela produção relativa à testemunha.

26
2.2.2.4 Analise de dados
Para atender a suposições da análise de variância, os dados de porcentagem de controle de
plantas daninhas foram transformados em raiz quadrada do arco-seno de χ, Dados de volume
de copa e produtividade de citros apresentaram normalidade e não foram transformados. Assim,
dados transformados foram apresentados quanto suas médias, e a separação estatística com base
nos dados transformados. Portanto, todos os dados foram submetidos à análise de normalidade,
análise de variância (ANOVA), e quando necessário, ao teste de comparação múltipla de
médias pelo teste da diferença honestamente significativa de Tukey (Honestly Significant
Difference - HSD; α = 0,05). Correlações entre variáveis foram submetidas pelo teste de
correlação linear de Pearson (α = 0,05).
Análises multivariadas, por meio da Análise de Componentes Principais (ACP), foram
utilizadas de modo a se identificar os principais efeitos observados e de facilitar a visualização
das correlações entre as variáveis, pois o cosseno do ângulo entre dois vetores (que representam
as variáveis) é o coeficiente de correlação entre ambos (Jolliffe 2002). Portanto, para a ACP,
os dados foram normalizados e demonstrados pelo biplot de correlação entre os componentes
principais (Zuur et al. 2007).
Para as regressões não-lineares, foi utilizado o modelo logístico (Streibig et al. 1993;
Seefeldt et al. 1995): y = c + { (d-c) / [1+(x/GR50)b], onde, c e d são os valores das assíntotas
inferior e superior da curva, respectivamente; x é a variável-resposta; GR50 é o valor que
representa 50% de redução do acúmulo de biomassa; e, b é a inclinação relativa da curva.
Enquanto o modelo de regressão exponencial: y = y0 +Ae (R0 x), onde y0 corresponde ao valor
da assíntota da curva, A ao valor inicial, e R0 à taxa de decréscimo.
Os testes de normalidade, de correlação de Pearson e os biplots da ACP foram realizados
pelo software Origin (v. 2019b) (OriginLab Corp 2020). As análises de variância e teste de
médias foram realizadas utilizando do pacote agricolae (De Mendiburu 2021), enquanto as
regressões foram realizadas utilizado o pacote drc (Ritz e Streibig, 2016), ambos pelo software
R (v 4.1.0) (R Development Core Team 2021).

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO


2.3.1 Experimento I: Manejo de glyphosate em pomar jovem de citros com diferentes
doses e frequências de aplicação
Em todos os anos agrícolas, todas as variáveis foram influenciadas pelos efeitos dos
tratamentos (Tabela 1).

27
Tabela 1. Resumo da ANAVA para o experimento I, com valores do teste-F e de graus de liberdade (GL), com a indicação
de significância (P > F) para as variáveis: controle de plantas daninhas, fitotoxicidade, volume de copa e produtividade do
pomar de laranja Pêra, durante cinco anos agrícolas.
Variáveis
Controle
Anos
de plantas Fitotoxicidade Volume de copa Produtividade
agrícolas
daninhas
GL teste-F GL teste-F GL teste-F GL teste-F
2016/2017 11 65,9*** 12 34,5*** 12 6,0*** 12 18,9***
2017/2018 11 27,9*** 12 43,9*** 12 8,6*** 12 26,4***
2018/2019 11 24,5*** - - 12 11,5*** 12 17,7***
2019/2020 11 45,5*** - - 12 3,8** 12 56,3***
2020/2021 11 17,2*** - - 12 7,9*** 12 7,1***
***: **: *: ns:
Valores de P > F, P<0,001; P<0,01; P<0,05; não significativo (P>0,05).

2.3.1.1 Controle de plantas daninhas e níveis de suscetibilidade ao glyphosate de biótipos


de plantas daninhas da área experimental
Na comunidade de plantas daninhas foram encontradas e identificadas 43 diferentes
espécies de 14 famílias botânicas, nos distintos tratamentos, durante os cinco anos agrícolas
avaliados (Anexo I). Como principais espécies da comunidade, destacam-se: BIDPI, com um
relato de resistência ao glyphosate em pomares de citros do Mexico (Alcántara-de la Cruz et al.
2016); RAPRA, espécie também com relatos de resistência ao glyphosate em áreas na Austrália
(Ashworth et al. 2014); e, ERICA, espécie essa com vários relatos de resistência ao glyphosate
no Brasil e no mundo (Heap 2020).
No primeiro ano agrícola avaliado (2016/2017), não ocorreram diferenças significativas no
controle de plantas daninhas pelas diferentes doses de glyphosate, e sim pela maior frequência
de aplicação anual (Figura 2A). Até 2AP de glyphosate, observa-se controle médio de 62%,
entretanto, maiores eficiências de controle foram observadas para 3AP e 4AP, com 79% e 98%,
respectivamente. Para o segundo ano agrícola (2017/2018), verificaram-se baixos níveis de
controle (21%) obtidos com 1AP, sem diferir entre as doses desta frequência de aplicação.
Contudo, diferenças entre as doses foram detectadas, sendo que a maior dose (2160 g ea ha-1)
implicou em decréscimos de controle em até 43, 35 e 28%, respectivamente para 2AP, 3AP e
4AP quando comparadas com a menor dose (540 g ea ha-1). Bons níveis de controle (84%)
foram observados, utilizando-se a menor dosagem, para 3AP e 4AP, enquanto níveis regulares
de controle foram observados somente para as doses até 1080 g ea ha-1 com 2AP (69%).

28
Figura 2. Controle de plantas daninhas (relativo à testemunha) na linha de plantio dos citros sob as diferentes
doses (g ea ha-1) e frequências de aplicação de glyphosate (1 a 4AP ano-1) do primeiro (2016/2017) ao quinto
ano agrícola (2020/2021) avaliados (A) e curvas de dose-resposta ao glyphosate ao acúmulo de biomassa
(relativo à testemunha) de BIDPI (B), ERICA (C) e RAPRA (D) de biótipos coletados em 2018, B1: baixo
glyphosate; B2:alto glyphosate; e, B3:Olímpia-SP. Médias seguidas da mesma letra dentro de cada ano
agrícola não diferem entre si pela diferença honestamente significativa do teste de Tukey (α = 0,05). Os dados
representam a média de quatro avaliações realizadas durante cada ano agrícola, realizadas sempre aos 30 dias
após cada aplicação de glyphosate. Os valores das equações logísticas se encontram no Anexo II.

Nesse ano (2017/2018), foi observado um aumento expressivo de BIDPI, ERICA e RAPRA
justamente nos tratamentos que proporcionaram menor controle. Diferenças entre a
suscetibilidade entre essas três espécies ao glyphosate foram observados. Primeiramente para a
BIDPI, a dose efetiva para redução de 50% da biomassa (GR50) diferiu entre os três biótipos
(Figura 2B), o que demonstra que os biótipos da área experimental possuem menor
suscetibilidade que o padrão considerado (GR50 B3: 50,7 g ea ha-1), em 10,1 (GR50 B1: 511,9 g ea
ha-1) e 2,3 (GR50 B2: 118,4 g ea ha-1) vezes seu valor. O mesmo foi observado para ERICA (GR50
B1: 2202 g ea ha-1; GR50 B2: 8950 g ea ha-1; GR50 B3: 1572 g ea ha-1) (Figura 2C), em até 5,7 vezes
(GR50 B2 v. GR50 B3), alcançando o valor de 9,3 vezes o recomendado em bula para controle
dessa planta daninha. Para RAPRA, todos os biótipos demonstraram suscetibilidade ao

29
glyphosate (GR50 B1: 140,9 g ea ha-1; GR50 B2: 95,5 g ea ha-1; GR50 B3: 120,9 g ea ha-1) (Figura
2D). Para a BIDPI, conforme estudo mencionado anteriormente (Alcántara-de la Cruz et al.
2016), a confirmação da resistência desta espécie de planta daninha, dentre outras variáveis
estudadas, demonstrou valores de GR50 em 51,7 g ea ha-1 para a população suscetível, enquanto
para outras duas populações resistentes, os valores foram de 1055,8 e 142,7 g ea ha-1. Enquanto
para ERICA, em pomares de citros do Brasil, foram encontradas populações resistentes, com
valores de GR50 em 435,85 e 471,47 g ea ha-1, sendo em média seis vezes maior que a população
suscetível (70,85 g ea ha-1) (Moreira et al. 2007).
Portanto, a diminuição de controle nas doses mais altas de glyphosate deste ano pode ser
devido ao aumento da pressão de seleção à possíveis biótipos resistentes e/ou espécies
tolerantes a este herbicida, conforme demonstrado para BIDPI e ERICA; e, também por este
herbicida não possuir efeito residual no solo, pode haver seleção de espécies de ciclo curto, se
desenvolvem nos intervalos de aplicação, predominando no banco de sementes (Monquero e
Christoffoleti, 2005), como pode ser o caso da RAPRA, que mesmo demonstrando
suscetibilidade ao glyphosate, é uma espécie de ciclo curto, prolífica e suas sementes
apresentam longo período de persistência no solo (Owen et al. 2015). Isto, também é válido
para a BIDPI, que pode produzir até 6000 mil sementes por indivíduo, também com
longevidade no solo, com relato de ~80% de germinação de sementes com cinco anos de idade
(Reddy e Singh, 1992), e ERICA, que pode produzir até 200 mil sementes por indivíduo, com
alta persistência principalmente em solos sem revolvimento (Bhowmik e Bekech, 1993).
Porém, para o terceiro ano agrícola (2018/2019), verificou-se crescente controle de plantas
daninhas com o aumento da frequência de aplicação, sendo que maiores diferenças foram
observadas a partir da dose de 1080 g ea ha-1 com 2AP (acima de 70% de controle), com
destaque para 1080 g ea ha-1 com 4AP (92% de controle) (Figura 2). No quarto ano agrícola
(2019/2020), evidencia-se o incremento de controle relacionado ao aumento da frequência de
aplicação, independentemente da dosagem, onde os tratamentos até 2AP proporcionaram
baixos níveis de controle (53%), e a partir de 3AP resultou em bons níveis de controle (88%
em média). Para o quinto e último ano (2020/2021), verifica-se que houve menor controle
comparado ao ano anterior e as diferenças foram significativas somente em doses menores e
com maior frequência de aplicação, quando se compara o tratamento 540 g ea ha-1 com 3AP,
que obteve um bom nível de controle (83%), com qualquer dosagem com 1AP e 2AP. Nesses
três últimos anos não foram observados escapes de controle de plantas daninhas que
ocasionaram em predominância como em 2017/2018.

30
No geral, a diferença ocasionada pelo aumento da frequência de aplicação era esperada,
visto que o glyphosate é um herbicida sem efeito residual no solo (Duke 2020) e qualquer
aumento em sua frequência de aplicação ocasiona o incremento de controle médio no ano
(maior período de controle). Em síntese, verifica-se que há incrementos de controle com até
3AP, sendo que somente no primeiro ano agrícola avaliado 4AP demonstrou maior controle.

2.3.1.2 Intoxicação das plantas de citros pelo glyphosate


Os efeitos fitotóxicos do glyphosate nas plantas de citros foram crescentes com o aumento
de sua dose e frequência de aplicação (Figuras 3 e 4). Essa tendência se manteve para os dois
anos avaliados, atingindo os valores máximos como nota 4 (efeitos substanciais de nanismo e
clorose, com a maioria dos efeitos avaliados como possivelmente reversíveis), na dose de 2160
g ea ha-1 a partir de 3AP, e em 1080 g ea ha-1 a partir de 4AP para 2016/2017, e para o
2017/2018, a partir de 1080 g ea ha-1 com 4AP. A partir do terceiro ano agrícola (2018/2019),
não foi possível observar sintomas visuais de fitotoxicidade nas folhas, com exceção dos efeitos
no crescimento das plantas. Isto, implica numa possível tolerância das plantas de citros ao longo
do tempo e/ou por não externarem os efeitos de toxicidade ao glyphosate a partir de uma
determinada idade das plantas.

Figura 3. Fitotoxicidade das plantas de citros (pela escala de tolerância do European Weed Research Council -
EWRC) sob as diferentes doses (g ea ha-1) e frequências de aplicação (1 a 4AP ano-1) de glyphosate nos anos
agrícolas de 2016/2017 e 2017/2018. Médias seguidas da mesma letra dentro de cada ano agrícola não diferem
entre si pela diferença honestamente significativa do teste de Tukey (α = 5%). Os dados representam a média de
quatro avaliações realizadas durante cada ano agrícola, realizadas sempre aos 30 dias após cada aplicação de
glyphosate.

31
Figura 4. Sintomas de fitotoxicidade ao herbicida glyphosate em plantas de laranja Pêra nos diferentes
tratamentos: doses de 0 a 2160 g ea ha-1 e número de aplicações de 1 a 4 aplicações ano-1.

Como caracterização dos sintomas de fitotoxicidade ao glyphosate observados, verificou-se


que para a dose de 540 g ea ha-1, somente leves sintomas de clorose nas folhas de citros foram
observados, independentemente do número de aplicações no ano (Figura 4). Para a dose de
1080 g ea ha-1 e 1 AP, além dos leves sintomas de clorose, algumas leves deformações foram
observadas nos ramos, com aparente encurtamento de entrenós e aumento do número de ramos
e folhas, porém sem deformações nestas, enquanto para 2-4 AP, estes sintomas de deformação
notados em ramos e folhas são intensificados, aliados a leves sintomas de nanismo; para a dose
de 2160 g ea ha-1, com 1 AP foi possível verificar cloroses mais acentuadas, com deformações
nas folhas, que se tornam mais lanceoladas e ramos com aumento de brotações.
É importante ressaltar que, esses resultados não foram esperados, visto que as aplicações
realizadas neste experimento foram de maneira manual, com baixa velocidade utilizada (1,0 km
h-1) e com utilização de acessórios antideriva, e assim sendo, possivelmente tenham diminuído
a deriva e consequentemente o contato do glyphosate com os citros. Em estudo sobre a deriva
com aplicação motorizada em citros, foi demonstrado que o principal fator é a velocidade de
aplicação, e que a redução de 6,0 para 3,0 km h-1 reduziu em média 35% a deriva, quando as
variáveis ambientais estiveram normalizadas (temperatura do ar < 30ºC, velocidade do vento
<10 km hora-1 e umidade relativa do ar > 60%) (Vanella et al. 2011). Porém, mesmo assim, no
presente estudo os efeitos fitotóxicos causados pelo glyphosate foram observados,

32
demonstrando que a deriva pode não ser o único problema da utilização deste herbicida em
citros, visto que a deriva foi controlada, ou no mínimo, reduzida de maneira significativa.
Portanto, podem haver vias de contato entre o herbicida e as plantas de citros, como
interações entre a planta alvo (planta daninha) e a não-alvo (cultura), como por exsudação de
raízes de plantas tratadas com o glyphosate e em contato com a cultura (Neumann et al. 2006);
por resíduos de plantas tratadas em decomposição e por absorção radicular de glyphosate em
alguns tipos de solo, como o arenoso (Tesfamariam et al. 2009).
Em estudo sobre o retorno à solução do solo do glyphosate absorvido por folhas de canola
(Brassica napus L.), por meio da degradação de resíduos de plantas tratadas, a aplicação de 540
g ea ha-1 somente no solo ou via foliar em linhagens resistentes e suscetíveis, foi demonstrado
que na linhagem resistente, a mineralização do glyphosate no solo foi quatro vezes mais lenta
e as suas concentrações triplicaram (Mamy et al. 2016). Isso foi explicado pela maior
capacidade da linhagem resistente em compartimentalizar o glyphosate em seus tecidos, o que
proporcionou uma proteção temporária contra sua degradação, mas que ao longo do tempo
liberou o glyphosate para a solução do solo (mesmo após 80 dias da aplicação), inclusive com
maiores níveis que a aplicação de glyphosate direta no solo. Assim, esse efeito pode ser
potencializado por altas dosagens utilizadas na citricultura e aqui discutido, visto que foram
demonstradas biótipos de plantas daninhas com alta tolerância a este herbicida (Figura 2 B e
C), como por exemplo a ERICA que demonstrou tolerância mesmo com dosagens extremas
(GR50 = 8950 g ea ha-1, ~25 L ha-1 do glyphosate utilizado), e que podem utilizar dessa estratégia
para sobreviver a sua aplicação, porém com a posterior degradação de seus resíduos vegetais
(inclusive das espécies suscetíveis), o glyphosate e seus metabólitos por possuírem alta
solubilidade (Duke 2020), podem ser lixiviados e absorvidos pelas raízes dos citros.

2.3.1.3 Crescimento e produtividade das plantas de citros


Observou-se redução do potencial de crescimento das plantas de citros em todos os anos
(Figuras 5 e 6). No primeiro ano agrícola avaliado (2016/2017) independentemente do número
de aplicações por ano, as plantas de laranja Pêra demonstraram redução de seu potencial de
crescimento quando utilizada a dose de 2160 g ea ha-1, apresentando volume de copa 2,2 m³
menores quando comparadas ao melhor tratamento (1080 g ea ha-1 com 2AP; 3,1 m³). Para
2017/2018, diferenças foram observadas somente na dose de 2160 g ea ha -1, a partir de 3AP,
novamente com redução média de 4,1 m³ no potencial de crescimento das plantas (v. 1080 g ea
ha-1 com 1AP). Em 2018/2019, foi possível observar reduções do potencial de crescimento
quando se utilizou a dose de 2160 g ea ha-1 de glyphosate a partir de 2AP (-4,8 m³; v. 1080 g ea

33
ha-1 com 2AP), sendo a mesma tendência mantida para os dois anos seguintes, com maiores
reduções na mesma dose a partir de 3AP (-5,3m³; v. 1080 g ea ha-1 com 1AP). para o ano de
2019/2020, e a partir de 2AP (-5,0 m³, v. 1080 g ea ha-1 com 1AP) para o ano de 2020/2021.

Figura 5. Volume de copa e produtividade das plantas de laranja Pêra sob as diferentes doses e frequência de
aplicação (1 a 4AP ano-1) de glyphosate do segundo do primeiro (2016/2017) ao quinto ano agrícola
(2020/2021) avaliados. Médias seguidas da mesma letra dentro de cada ano agrícola não diferem entre si pela
diferença honestamente significativa do teste de Tukey (α = 5%). Para o ano de 2018/2019, duas produções
totalizaram os valores de produtividade.

34
Figura 6. Crescimento das plantas de laranja Pêra sob as diferentes doses de glyphosate do primeiro
(2016/2017) ao quinto ano agrícola (2020/2021) avaliados. * setas indicam a altura de 2,0m.

35
Vale destacar que em 2019/2020, as plantas de citros demonstraram maior crescimento
relativo ao ano anterior, sendo o maior crescimento observado até então, onde alguns
tratamentos demonstraram crescimento de 28% (1080 g ea ha-1 com 2AP) a 83% (1080 g ea ha-
1
com 1AP) de volume de copa, o que não foi observado em 2020/2021, indicando que as plantas
podem ter atingido seu máximo de crescimento.
Também houve reduções do potencial de produtividade em todos os anos avaliados, sendo
as maiores reduções de maneira geral, na maior dose e maior frequência de aplicação (Figura
5). No primeiro ano agrícola (2016/2017), houve diminuição de 3,7 t ha-1 para os tratamentos
de 2160 g ea ha-1 com 2AP e para os tratamentos de 1080 e 2160 g ea ha-1 com 4AP, quando
comparados ao melhor tratamento nesse ano (540 g ea ha-1 com 3AP; 4,1 t ha-1). Vale ressaltar
que, no momento da colheita desse primeiro ano avaliado, o pomar estava com dois anos e meio
de idade (ago./18), e mesmo que não represente o potencial de produção de um pomar adulto,
os efeitos benéficos e/ou tóxicos do uso de glyphosate foram evidentes.
Para 2017/2018, reduções do potencial de produtividade em até 24,1 t ha-1 foram observados
nos tratamentos extremos (540 g ea ha-1 com 1AP e 2160 g ea ha-1 com 4AP) quando
comparados ao melhor tratamento (540 g ea ha-1 com 4AP e 1080 g ea ha-1 com 3AP; 31,8 t ha-
1
). Para 2018/2019, houve as maiores reduções do potencial de produtividade, em 36,3 t ha-1 na
dose de 2160 g ea ha-1 com 4AP quando comparadas ao melhor tratamento (540g ea ha-1 com
4AP; 53,8 t ha-1) (Figura 5). Em 2019/2020, houve a menor queda do potencial de produtividade
até então, em 9,3 t ha-1 para os tratamentos de 540 g ea ha-1 com até 2AP e 2160 g com 4AP,
quando comparados ao melhor tratamento (1080 g ea ha-1 com 3AP e 4AP; 30,8 t ha-1). E no
último ano avaliado (2020/2021), nova redução do potencial de produtividade, foi observada
na dose de 2160 g ea ha-1 com 4AP (16,7 t ha-1) quando comparadas ao melhor tratamento deste
ano (1080 g ea ha-1 com 3AP; 37,5 t ha-1). É importante destacar que a menor queda de
produtividade em 2019/2020 é evidenciada pela diminuição dos melhores tratamentos até então
(540 g ea ha-1 com 3AP e 4AP; 1080 g ea ha-1 com 3AP), visto que esses demonstraram as
maiores produtividades nos dois anos anteriores, o que evidencia a bianualidade de produção
característica dos citros.
A alta produção de 2017/2018, mesmo para um pomar de três anos e meio, foi devida a
produção adicional, com frutos temporões colhidos em dezembro/2018 – característica da
laranjeira Pêra (Pio et al. 2005). Para o ano de 2018/2019, a alta produção pode ser explicada
por este ano ter demonstrado a quinta maior safra de laranja dos últimos 30 anos, com condições
climáticas ideais que permitiram um excelente florescimento, pegamento e colheita de frutos

36
de laranja no cinturão citrícola brasileiro de frutos (FUNDECITRUS 2020), com os maiores
valores de precipitação pluvial dentre os anos agrícolas deste estudo (1413mm; Figura 1).
Enquanto para o ano de 2019/2020, a menor produção pode ser explicada pela quebra de
safra na produção do cinturão citrícola brasileiro, confirmada pela redução em 30,55% da
produção do ano anterior, sendo a maior dos últimos 33 anos, explicada pela associação do
ciclo bienal da cultura (alta produção 2018/2019) e o clima adverso ao longo da safra
(FUNDECITRUS 2021 a), com os menores valores de precipitação pluvial dentre os anos
agrícolas deste estudo (1096 mm; Figura 1). Além disto, neste ano houve o maior crescimento
das plantas de citros até então, o que pode ter diminuído as diferenças entre os tratamentos com
baixa e alta utilização de glyphosate (“diluição” do efeito tóxico).
Porém, para o último ano (2020/2021), reduções significativas pelos tratamentos foram mais
uma vez observadas, além de mais uma vez o clima adverso ao longo da safra ser evidenciado
pelo fenômeno climático da La Niña em 2020: com seca e temperaturas elevadas nos períodos
de fixação dos frutos recém-formados (FUNDECITRUS 2021 b). Ainda, é importante ressaltar
que para esse último ano, não houve a “diluição” do efeito tóxico do glyphosate observada em
2019/2020, visto que as plantas provavelmente atingiram o seu limite de crescimento.

2.3.1.4 Principais efeitos no experimento I e suas relações


Pela análise de componentes principais (ACP), foi possível identificar quatro componentes
principais que compuseram a maior parte da variância nesse estudo (78,01%), e assim, suas
relações compõem a maior parte dos efeitos (Figura 7). O componente Principal (CP1: 35,42%
da variância total) demonstrou forte correlação positiva com a fitotoxicidade e correlação
negativa com a produção dos anos 2016/2017, 2018/2019 e 2020/2021, e com o volume de
copa, principalmente de 2017/2018, e assim representa os efeitos do glyphosate na produção e
crescimento, principalmente atribuído aos efeitos de fitotoxicidade. O CP2 (29,04%)
apresentou correlação positiva com a produtividade do ano 2018/2019, onde houve as maiores
diferenças entre os tratamentos. O CP3 foi atribuído à produtividade do ano 2019/2020 (6,92%)
sem se correlacionar com a fitotoxicidade, enquanto a CP4 foi composta pela produtividade do
ano 2020/2021 (6,63%), correlacionando negativamente com a fitotoxicidade dos primeiros
anos.
A partir do biplot é possível observar a relação entre as variáveis e os tratamentos somente
com CP1 e CP2, no entanto, é possível observar a correlação entre todas as variáveis (Figura
7). Para os dois primeiros anos, relações inversamente proporcionais, evidenciadas pelas
correlações lineares negativas entre a fitotoxicidade e o volume de copa foram observadas, com

37
Figura 7. Biplot de análise de componentes principais (ACP) pela matriz de correlação, para todas as variáveis
avaliadas no experimento I nos cinco anos agrícolas; Fito: fitotoxicidade; Ctrl_PD: controle de plantas
daninhas; VC: volume de copa; Prod: produtividade; a1 a a5: se referem as variáveis avaliadas em cada ano,
do primeiro (2016/2017) ao quinto ano agrícola (2020/2021)

redução do crescimento das plantas de citros numa taxa de -0,55 m³ (r = 0,539; p <0,001) para
cada aumento unitário da nota da escala EWRC para o ano de 2016/2017, e em -0,82 m³ para
2017/2018 (r = 0,605; p <0,001). Correlações negativas entre fitotoxicidade e a produtividade
também foram observadas, com redução da produtividade das plantas de citros numa taxa de
0,81 t ha-1 (r = 0,691; p <0,001) para cada aumento unitário da nota da escala EWRC para o
ano de 2016/2017, e de 2,61 t ha-1 (r = 0,627; p <0,001) para o ano de 2017/2018. Vale destacar
que os efeitos de fitotoxicidade observados nos dois primeiros anos demonstraram efeito
remanescente nos anos subsequentes nas plantas de citros, resultando em correlações negativas
com o crescimento e a produtividade.
O crescimento das plantas de citros também influenciou positivamente a produtividade até
o ano de 2018/2019 (Figura 7): para cada aumento unitário de m³ das plantas de citros a
produtividade aumentou 0,182 t ha-1 para 2016/2017 (r = 0,399; p <0,01); em 0,732 t ha-1 para
2017/2018 (r = 0,3308; p <0,05), em 4,251 t ha-1 para 2018/2019 (r = 0,588; p <0,001) e em

38
0,96 t ha-1 para 2020/2021 (r = 0,339; p <0,05). Somente o ano de 2019/2020 não houve
correlação da produtividade com o crescimento das plantas, onde as plantas apresentaram alto
crescimento, porém sem aumento de produção, conforme já mencionado.
Por fim, não houve correlações do controle de plantas daninhas com o crescimento e com a
produtividade das plantas de citros nos cinco anos avaliados (Figura 7), o que corrobora mais
uma vez que o efeito tóxico à cultura é predominante, quando utilizado em excesso, diante dos
benefícios da diminuição de competição. Contudo, é importante ressaltar que houve ganhos de
crescimento e produção conforme demonstrados nesse estudo, geralmente quando se utilizou
até a dose 1080 g ea ha-1 até 3AP (Figura 5). Isso demonstra que o glyphosate pode ser utilizado
como uma importante ferramenta para o manejo de plantas daninhas em citros, desde que
utilizado com moderação, com doses e frequências anuais corretas, e preferencialmente num
programa de controle com rotação de mecanismos de ação.

2.3.1.5 Análise econômica


Primeiramente, é possível observar o maior custo do controle da testemunha, devido à maior
mão-de-obra, além do gradiente de custo pelo aumento da utilização de glyphosate (dose v.
aplicações ano-1) (Figura 8). No entanto, destacou-se o contraste entre prejuízos v. benefícios
conforme discutidos ao longo deste estudo, quanto ao manejo deste herbicida para os cinco anos
avaliados. Sua menor utilização (540 g ea ha-1 + 1AP) demonstrou maior retorno financeiro que
o manejo utilizado na testemunha, assim como para a maior utilização (2160 g ea ha-1 com
4AP). Porém, ficou evidente o prejuízo de se utilizar esse herbicida em excesso, podendo chegar
a -56% de produção acumulada em 5 anos, que totalizam perdas de US$ 8.611,00 ha-1 quando
se compara 1080 g ea ha-1 + 3 AP com 2160 g ea ha-1 + 4 AP. Visto que nem sempre a maior
utilização demonstrou maior controle de plantas daninhas, novamente se demonstra que os
efeitos prejudiciais por sua intoxicação superam os benefícios de sua excessiva utilização na
cultura dos citros.
Portanto, esse é o primeiro relato que demonstra que a diminuição da produtividade das
plantas de citros ao longo do tempo, o que é devido ao efeito tóxico do glyphosate quando
utilizado em excesso, inibindo seu crescimento e consequentemente diminuindo seu potencial
produtivo de maneira mais significativa que seus efeitos benéficos como herbicida, inclusive
no âmbito financeiro.

39
Figura 8. Investimento (custo) e lucro (retorno líquido do investimento) baseados na produtividade acumulada
de cinco anos das plantas de laranja Pêra sob a testemunha (controle mecânico) e as diferentes doses (540-
2160 g ea ha-1) e frequência de aplicação anual (1-4 AP) de glyphosate. A somatória entre custo e retorno
líquido compõem o retorno bruto (total de cada coluna).

2.3.2 Experimento II: Acúmulo de ácido chiquímico e parâmetros da fotossíntese em


plantas de laranja Valência sob deriva simulada de glyphosate
2.3.2.1 Acúmulo de ácido chiquímico sob efeito do glyphosate
O acúmulo de ácido chiquímico (Shk), entre as doses de glyphosate diferiu para as duas
aplicações realizadas, em todas as datas (Figura 9A). No entanto, o acúmulo nem sempre esteve
relacionado de maneira proporcional às doses glyphosate. Na primeira avaliação posterior a
primeira aplicação (1 DAAA) houve resposta do aumento de Shk com a dose de 720 g ea ha-1
demonstrando maior acúmulo que a testemunha (0 g ea ha-1) e as doses mais altas (1440 e 2880
g ea ha-1). Aos 15 DAAA o acúmulo de Shk foi proporcional ao aumento de dose, sendo essa a
resposta esperada para plantas suscetíveis a este herbicida (Singh e Shaner, 1998). Aos 30
DAAA, a dose de 1440 g ea ha-1 ocasionou o maior acúmulo, e a mesma tendência decrescente
entre as doses, ao longo do tempo, foi observada para as demais datas dessa aplicação. Aos 60
DAAA, o maior acúmulo foi observado na dose de 720 g ea ha-1, aos 180 DAAA na dose de 90
g ea ha-1, e para os 240 DAAA (0 DAAB), a menor dose (45 g ea ha-1) que demonstrou o maior
acúmulo.

40
Figura 9. Concentração de ácido chiquímico das folhas de citros sob as doses de glyphosate (g ea ha -1) ao longo
do tempo, após a primeira (A; DAAA) e segunda (B; DAAB) aplicação de glyphosate. Médias seguidas da
mesma letra em cada data não diferem entre si pela diferença honestamente significativa do teste de Tukey (α
= 5%). ¹A data de 0 dias após aplicação B também se refere aos 240 DAAA. Valores de p > F, ***: P<0,001;
**: P<0,01; *: P<0,05; ns: não significativo (P>0,05).

Logo após um dia da segunda aplicação (1DAAB), o maior acúmulo de Shk foi observado
para a maior dose somente (2880 g ea ha-1) (Figura 9B). Aos 7 DAAB, as doses intermediárias
(90 a 720 g ea ha-1) diferiram da maior dose, enquanto aos 15 DAAB a dose de 1440 g ea ha-1
foi a única a diferir da testemunha e da dosagem mais baixa (45 g ea ha-1), diferentemente aos
30 DAAB onde todas as doses diferem da testemunha. Para os 60 DAAB algumas doses diferem
da testemunha (90, 360 e 2880 g ea ha-1) e na última data, aos 180 DAAB, algumas doses
novamente diferem da testemunha (360, 720 e 1440 g ea ha-1).
Esse é o primeiro relato de tais diferenças de acúmulo de Shk para plantas de citros ao longo
do tempo. Três estudos anteriores demonstraram não haver resposta do acúmulo de Shk em
estudo com a aplicação de glyphosate: (i) em mudas de limão Cravo, com uma aplicação apenas
também por deriva simulada, porém avaliando a Shk somente até oito dias após aplicação, e
somente até a dosagem de 720 g ea ha-1 (Gravena et al. 2009); (ii) em pomar de 12 anos de
idade de laranja Pêra sem deriva simulada, com a primeira aplicação na dosagem de 1440 g ea
ha-1, e a segunda três meses e meio após a primeira, na dosagem de 1260 g ea ha-1, avaliando a

41
Shk até 35 dias após cada aplicação (Matallo et al. 2010); e, (iii) em pomares recém-plantados
de laranja Valência com dois tipos de porta-enxerto, limão cravo e citrumelo ‘Swingle’
[Poncirus trifoliata (L.) Raf x C. paradisi Macf], somente com uma aplicação via deriva
simulada foi realizada, no tronco (até 2160 g ea ha-1) ou na copa da planta (até 720 g ea ha-1),
avaliando a Shk somente aos oito e 15 dias após aplicação (Gravena et al. 2012), demonstrando
diferenças somente nos sintomas visuais de intoxicação e na diminuição do diâmetro do tronco
nas plantas que receberam a aplicação foliar de glyphosate com 360 e 720 g ea ha -1, mas que
foram relatadas como recuperadas após 12 meses.
É importante ressaltar que na metodologia utilizada, no presente estudo, avaliaram-se as
folhas-dreno, que não foram diretamente tratadas com o glyphosate, o que enfatiza a capacidade
de translocação deste herbicida em plantas de citros e sua grande influência nestas. Em estudo
com a planta daninha folha-de-veludo (Abutilon theophrasti Medik.), houve maior
concentração tanto de glyphosate quando de Shk nas folhas-dreno, do que nas folhas-fonte um
dia após sua aplicação, mesmo na menor dose testada (330 g ea ha-1) (Fuchs et al. 2002).

2.3.2.2 Trocas gasosas e fluorescência da clorofila α sob efeito do glyphosate


Para a assimilação líquida de CO2 (AN), observaram-se respostas negativas, por modelos
lineares e exponenciais com o aumento de glyphosate, ao longo do tempo e das aplicações
(Figura 10, Tabela 2). Na primeira aplicação, foram observadas quedas na AN aos 15 DAAA
em até 38%, sendo que esse máximo foi atingindo a partir de 400 g ea ha-1, enquanto aos 30

Figura 10. Regressões exponenciais e lineares para taxa de assimilação de CO2 (AN) das folhas de citros sob as
doses de glyphosate (g ea ha-1) ao longo do tempo, após a primeira (A) e segunda (B) aplicação de glyphosate.
A data de 0 dias após aplicação B (0 DAAB) também se refere aos 240 dias após aplicação A. Os parâmetros
das equações são demonstrados na Tabela 2.

42
Tabela 2. Parâmetros das equações das regressões exponenciais e lineares para taxa de assimilação de CO2 (AN)
das folhas de citros sob diferentes doses de glyphosate (g ea ha -1) ao longo do tempo, após a primeira (A) e
segunda (B) aplicação de glyphosate.
Parâmetros da equação exponencial (ou linear)
Modelo de
Aplicação Tempo
regressão y0 A (ou a) R0 (ou b) p>F R²

A Exponencial¹ 15 5,071 3,147 -0,010 < 0. 0001 0,767


Exponencial 30 3,775 3,782 -0,005 < 0. 0001 0,844
Linear² 60 - 5,738 -0,001 < 0. 0001 0,914
Exponencial 180 3,279 2,618 -0,006 < 0. 001 0,968

B Linear 0 - 5,502 -0,001 < 0. 0001 0,950


Exponencial 1 5,706 1,223 -0,002 0,011 0,796
Exponencial 7 5,183 1,590 -0,002 < 0.001 0,876
Exponencial 15 4,114 2,267 -0,002 < 0.0001 0,887
Exponencial 30 5,658 1,716 -0,002 0,027 0,715
Exponencial 60 3,201 3,465 -0,010 < 0.0001 0,944
¹ modelo de regressão exponencial: y = y0 +Ae(R0 x),
onde y0 corresponde ao valor da assíntota da curva, A ao
valor inicial , e R0 à taxa de decréscimo; ² modelo de regressão linear: y = a + bx, onde a corresponde ao
intercepto e b ao coeficiente angular.

DAAA a queda atingiu o máximo de 50% (>1000 g ea ha-1). Aos 60 DAAA a queda observada
foi de até 45% (aos 2880 g ea ha-1), enquanto aos 180 DAAA e aos 240 DAAA (0 DAAB),
foram observadas quedas de até 44% (>720 g ea ha-1) e 47% (>2500 g ea ha-1), respectivamente.
Para a segunda aplicação, aos 1, 7, 15 30 e 60 DAAB, foram observadas quedas respectivas na
AN em até 47% (aos 2880 g ea ha-1), 18% (>2500 g ea ha-1), 23% (>1600 g ea ha-1), 36% (>1800
g ea ha-1), 23% (>1800 g ea ha-1) e 52% (>500 g ea ha-1). Foi possível observar que para a
primeira aplicação, a dosagem necessária para atingir o máximo de decréscimo em AN foi menor
que para a segunda aplicação.
Assim, para elucidar os efeitos do acúmulo de Shk nos processos fotossintéticos,
primeiramente nos processos de fluorescência da clorofila α, para a produtividade quântica com
base no transporte de elétrons através do fotossistema II (𝛷PSII), observou-se redução linear com
o aumento de dose de glyphosate (Figura 11A). Como 𝛷PSII pode fornecer uma medida do
transporte linear de elétrons fotossintéticos (ETR) e a capacidade fotossintética in vivo (Genty
et al. 1989), observou-se uma redução média de 3,7 µmol elétrons m-2 s-1 para cada aumento de
1000 g ea ha-1 de glyphosate (Figura 11B), demonstrando uma queda de até 17% em ambos,
para todo o período experimental.

43
Figura 11. Variáveis da fluorescência da clorofila sob as doses de glyphosate e (g ea ha -1): (A) eficiência
quântica do transporte de elétrons através do fotossistema II (𝛷PSII); (B) transporte aparente de elétrons (ETR,
µmol elétrons m-2 s-1); (C) produtividade quântica com base na assimilação de CO2 (𝛷𝐶𝑂2 ); (D) razão entre
𝛷PSII e 𝛷𝐶𝑂2 ; (E) eficiência quântica do fotossistema II (FSII) (Fv’/Fm’); (F) quenching não-fotoquímico (NPQ).
A e B tem suas variáveis compostas dos valores médios de todas as avalições (n = 294), enquanto C, D, E e F
demonstram a diferença em duas datas cada (n = 42). Valores de P > F, ***: P<0,001; **: P<0,01; *: P<0,05; ns:
não significativo (P>0,05)

Para a produtividade quântica com base na assimilação de CO2 (𝛷𝐶𝑂2 ), logo no primeiro dia
após a primeira aplicação, houve diminuição pela metade do valor da testemunha somente para
as doses 45 e 2880 g ea ha-1, enquanto aos 30 DAAB o mesmo ocorreu para a menor dose,
porém, houve diminuição de 4,1 vezes o valor da testemunha para as doses 720 e 1440 g ea ha-
1
(Figura 11C), diminuições de 𝛷𝐶𝑂2 demostram que há maior demanda quântica (de fótons)
para assimilação de cada molécula de CO2. Além disto, foram observados aumentos na relação
𝛷PSII /𝛷𝐶𝑂2 , onde aos 15 DAAA chegaram a ser 2,4 e 3,2 vezes maiores que o valor da
testemunha, respectivamente às doses 45 e 90 g ea ha-1, enquanto aos 30 DAAB, houve aumento
de 6,2 e 3,6 vezes nas doses 720 e 1440 g ea ha-1, respectivamente, em comparação a testemunha
(Figura 11D). Assim sendo, é possível observar que a segunda aplicação de glyphosate
demonstrou resultados negativos, de maneira mais significativa tanto para 𝛷𝐶𝑂2 quanto para
𝛷PSII/𝛷𝐶𝑂2 .

44
Aumentos de 𝛷PSII sobre 𝛷𝐶𝑂2 demonstram que a maior parte da energia absorvida pelo
aparelho fotossintético não está sendo canalizada para a assimilação de CO2, o que pode indicar
o transporte de elétrons não-cíclicos, que podem ocasionar possíveis danos foto-oxidativos e
um aumento do processo de fotorrespiração (Guo et al. 2006; Baker 2008). Além disto, os
aumentos dessa relação são acompanhados por aumentos na atividade de enzimas antioxidantes
envolvidas na eliminação de espécies reativas de oxigênio (ERO), o que sugere que há um
aumento do fluxo de elétrons para o oxigênio (em relação à assimilação de CO2) por meio da
reação de Mehler (Baker 2008). Isso foi demonstrado em estudo com plantas de citros sob
estresse térmico, com AN e 𝛷𝐶𝑂2 sendo mais afetadas pelo aumento das razões entre a
fotorrespiração/AN, e também por 𝛷PSII /𝛷𝐶𝑂2 (Guo et al. 2006).
Para a eficiência quântica do fotossistema II (Fv’/Fm’) e o quenching não-fotoquímico
(NPQ), foram observadas influências do glyphosate nas mesmas datas: 0 DAAAB (ou 240
DAAA) e 180 DAAB (Figura 11 E e F), enquanto para o quenching fotoquímico (qP), não foi
observada influência direta de glyphosate (p > 0,05), demonstrando média de 0,387.
Para Fv’/Fm’, aos 0 DAAB, observou-se queda de 42% entre as doses 360 e 720 g ea ha-1,
enquanto aos 180 DAAB, para a dose de 720 g ea ha-1, houve queda de 30% relativa tanto à
testemunha quanto à dose mais alta (2880 g ea ha-1) (Figura 11E). Ainda, relações proporcionais
entre 𝛷PSII e Fv’/Fm’ foram observadas em metade das datas avaliadas (Tabela 3). Portanto, a
diminuição de ambos indica que a ação do glyphosate promoveu uma saturação mais rápida do
fotossistema II (FSII), o que demonstra que possivelmente houve uma perda de sua integridade,
diminuindo a produção de ATP e NADPH (Zobiole et al. 2010, Gomes et al. 2017). Enquanto
para o NPQ, aos 0 DAAB, primeiramente houve uma diminuição para a metade dos valores
entre a testemunha e a dose 360g ea ha-1, e um aumento de 2,6 vezes dessa dose para 720 g ea
ha-1, onde houve nova diminuição em 2,5 vezes até a dose mais alta (2880 g ea ha-1) (Figura
11F). Aos 180 DAAB, na última data avaliada, as plantas mostraram um comportamento
similar, onde houve um acréscimo de 2,8 vezes a NPQ da dose 90 g ea ha-1 para a dose 720 g
ea ha-1, sendo que a partir desta, novamente houve diminuição até 2880 g ea ha-1, em 2,3 vezes.
Dentre a testemunha e a maior dose testada, a relação é de diminuição pela metade para 0
DAAB, e de igualdade em 180 DAAB.
Além disso, foram observadas relações inversamente proporcionais de NPQ com Fv’/Fm’
em 10 das 14 datas avaliadas, demonstrando que as diminuições de Fv’/Fm’ aumentaram a
demanda por NPQ (Tabela 3). O mesmo ocorreu entre qP com 𝛷PSII / 𝛷𝐶𝑂2 , onde se observa
que somente na prévia da primeira aplicação de glyphosate (0DAA) essas duas variáveis

45
Tabela 3. Principais correlações entre as variáveis ao longo do tempo. Eficiência quântica do fotossistema II (FSII)
(Fv’/Fm’); eficiência quântica do transporte de elétrons através do fotossistema II (𝛷PSII); produtividade quântica
com base na assimilação de CO2 (𝛷𝐶𝑂2 ); quenching não-fotoquímico (NPQ); quenching fotoquímico (qP);
condutância estomática (gs; mol m⁻² s⁻¹); concentração intercelular de CO2 (Ci; µmol mol⁻¹); taxa de transpiração
(E; mmol m-2 s-2); eficiência de carboxilação (AN/Ci); concentração de ácido chiquímico (Shk); assimilação líquida
de CO2 (AN).
𝐹𝑣’/𝐹𝑚’ qP gs AN/Ci AN

DAA v. 𝛷PSII /
v. 𝛷PSII v. NPQ v. 𝛷𝐶𝑂2 v. Ci v. E v. Shk v. 𝛷PSII v. Shk v. AN/Ci
𝛷𝐶𝑂2

Ap. A

0 0,45 * -0,61 ** 0,58 ** 0,64 ** 0,78 *** 0,99 *** ns ns ns 0,79 ***

1 ns -0,56 ** ns 0,7 *** 0,61 ** 0,96 *** ns ns ns 0,85 ***

7 ns -0,7 *** ns 0,79 *** 0,81 *** 0,99 *** ns 0,91 *** ns 0,89 ***

15 ns -0,88 *** -0,51 * 0,56 ** ns ns -0,85 *** ns -0,74 *** 0,88 ***

30 0,55 ** ns ns 0,71 *** 0,74 *** 0,87 *** -0,72 *** ns -0,69 *** 0,96 ***

60 ns -0,52 * -0,45 * 0,63 ** ns ns -0,44 * ns ns 0,83 ***

180 ns -0,66 ** -0,58 ** 0,53 * ns 0,99 *** ns


ns ns 0,93 ***

Ap. B

0 0,54 * -0,71 *** ns ns ns 0,99 *** ns ns ns 0,94 ***

1 0,50 * ns ns ns ns ns ns 0,63 *** ns 0,94 ***

7 0,63 ** ns ns ns 0,49 * ns ns 0,73 *** ns 0,97 ***

15 0,44 * ns ns ns 0,49 * 0,52 * -0,57 ** 0,73 *** -0,46 * 0,95 ***

30 0,66 ** -0,52 * ns ns 0,66 ** ns -0,47 * ns -0,47 * 0,54 *

60 ns -0,79 *** -0,5 * 0,76 *** ns 0,78 *** ns 0,55 ** -0,5 * 0,94 ***

180 ns -0,93 *** ns ns 0,54 * ns ns ns ns 0,85 ***

ns
DAA: dias após aplicação; Ap.: aplicação; valores de P > F, ***: P<0,001; **: P<0,01; *: P<0,05; : não
significativo (P>0,05).

demonstraram uma relação proporcional, porém após aplicação e consequente aumento de 𝛷PSII
/ 𝛷𝐶𝑂2 pela ação do glyphosate (Figura 11A), a relação passou a ser inversamente proporcional,
com diminuições de qP. Também houve relações proporcionais entre qP e 𝛷𝐶𝑂2 em mais de
metade das datas avaliadas (Tabela 3), e assim, as diminuições impostas a 𝛷𝐶𝑂2 pelo glyphosate,
indicam que a absorção de luz excedeu os requisitos de assimilação de carbono, e que a
dissipação do excesso de energia pelos processos de quenching não foi efetiva (Gallé e Flexas,
2010), assim como foi demonstrado pela relação 𝛷PSII /𝛷𝐶𝑂2 .

46
O aumento da demanda tanto pelo NPQ quanto pelo qP é ocasionado pela diminuição da
eficiência do FSII. O estado quenched das clorofilas é um mecanismo que dissipa o excesso de
energia luminosa absorvida pelo FSII, para evitar a redução excessiva de seus aceptores (qP)
ou por dissipação térmica (NPQ), para proteger o aparato fotossintético e minimizar o estresse
oxidativo por EROs (Taiz et al. 2017). Portanto, a diminuição em Fv’/Fm’ resultou de um
aumento na NPQ à custo da 𝛷𝐶𝑂2 , o que indica que houve fotoinibição. O aumento NPQ é o
principal processo envolvido na fotoproteção, reduzindo a 𝛷 PSII propositalmente, para manter
um equilíbrio com a demanda do fluxo de elétrons para o metabolismo do carbono (Gallé e
Flexas, 2010; Taiz et al. 2017).
Em estudo com outras plantas tratadas com glyphosate, como o salgueiro (Salix miyabeana
Seemen), que é uma planta fitorremediadora por ser altamente tolerante a estresses,
primeiramente houve acúmulo de ácido chiquímico, e consequente diminuição de ETR, qP e
eficiência fotoquímica máxima do FSII (Fv/Fm), que promoveram a diminuição de teores de
clorofila, carotenoides e plastoquinona, e assim ocasionaram alterações no aparato
fotossintético, que resultaram no acúmulo de peróxido de hidrogênio (H2O2) e de prolina, além
de promover diminuições da atividade de enzimas antioxidantes e na concentração de ascorbato
(Gomes et al. 2017). Portanto, também se pode inferir que a menor atividade dos processos da
fluorescência neste estudo pode ter sido ocasionada pela produção de EROs, devido à excitação
excessiva das clorofilas, decorrentes do decréscimo de 𝛷PSII, ETR, Fv’/Fm’ e qP, e acréscimos
de NPQ observados (Figura 11).
Para as trocas gasosas, primeiramente para a condutância estomática (gs), observou-se queda
de 20% somente na dose de 360 g ea ha-1 (Figura 12A), com as demais doses sendo semelhantes
a testemunha; e para a eficiência intrínseca do uso da água (AN/gs), uma resposta exponencial
negativa sob o aumento de glyphosate foi observada, com queda de até 26%, sendo que esse
máximo foi atingindo a partir de 2880 g ea ha-1, porém, na dose de 360 g ea ha-1 somente foi
observado 8% de queda (Figura 12B). Isso demonstra que até esta dose, a maior resistência
estomática (pelos menores valores de gs; -20%) pouco influenciam na AN/gs (-8%), mas que a
partir dessa dose, mesmo com a inversão dos valores de gs (+20%) o decréscimo em AN/gs
continua, exponencialmente. A mesma relação observada em gs e AN/gs foi observada para a
taxa de transpiração (E) e a eficiência do uso de água (AN/E) (Figura 12 C e D), assim como
para a concentração intercelular de CO2 (Ci) e a eficiência de carboxilação instantânea (AN/Ci)
(Figura 12 E e F). Para E, observou-se diferenças somente na dose de 1440 g ea ha-1, com
aumento de 63%, enquanto para AN/E nesta dose foi observado 40% de queda – próximo a
queda máxima de AN/E (43%; >2200 g ea ha-1). Para Ci, observou-se queda de 8% somente na

47
Figura 12. Variáveis das trocas gasosas sob as diferentes doses de glyphosate (g ea ha -1): (A) condutância
estomática (gs; mol m⁻² s⁻¹); (B) concentração intercelular de CO2 (Ci; µmol mol⁻¹); (C) taxa de transpiração
(E; mmol m-2 s-2); (D) eficiência do uso de água (AN/E); (E) eficiência intrínseca do uso da água (AN/gs); (F)
eficiência de carboxilação (AN/Ci). As variáveis são compostas dos valores médios de todas as avalições.
Valores de p > F, ***: P<0,001; **: P<0,01; *: P<0,05; ns: não significativo (P>0,05).

dose de 360 g ea ha-1 e para AN/Ci, foi observada queda de até 27% (>2700 g ea ha-1), porém,
até a dose de 360 g ea ha-1, apenas 12% de queda foi observado.
Portanto, o aumento de gs acima da dose de 360 g ea ha-1 diminuiu a resistência estomática
(pelo aumento da condutância), que ao facilitar o maior influxo de CO2 (aumento de Ci) também
ocasionou perda substancial de água (aumento de E) em diversas datas (Tabela 3), porém sem
refletir em aumentos de seus processos relacionados a assimilação de CO2 (AN/gs, AN/E e AN/Ci)
(Figura 12). Isso demonstra que o glyphosate impediu as plantas de citros assimilar o CO2
mesmo quando essas tiveram maior influxo (> Ci), o que pode estar relacionado à perda de água
por transpiração, visto que até a dose de 360 g ea ha-1 os menores valores de E mantiveram os
valores de gs e Ci, resultando em maiores níveis de AN/gs e AN/Ci, e também de AN/E. Além
disto, essa perda significativa de água pode ter afetado todos os processos dependentes da
transferência de elétrons, visto que esses são provenientes da oxidação da água, assim como os
processos que demandam de ATP e NADPH (Taiz et al. 2017).
Em plantas de citros (sem aplicação de glyphosate) já foi demonstrado que gs e Ci têm uma
relação inversamente proporcional, onde quedas nos valores de Ci estimularam a abertura dos

48
estômatos, para promover influxo de CO2 para a cavidade subestomática e manter constantes
os níveis de Ci (Machado et al. 2005). Contudo, em estudo com plantas de citros tratadas com
glyphosate, foi demonstrado não haver alterações nas taxas de assimilação de CO2, porém
houve diminuições de gs e de E com o aumento da dose somente aos oito dias após aplicação
(sem demonstrar os resultados após essa data), também com níveis constantes de Ci (Gravena
et al. 2009). Além destes, em estudo com plantas sob estresse abiótico por elevações da
temperatura do ar e radiação solar, a mesma relação da diminuição de Ci e gs foi observada em
comparação a plantas sem estarem sob esse estresse, porém, que também não refletiram em
diferenças na fotossíntese líquida (Boaretto et al. 2020).
O glyphosate pode ter relações contrastantes com as trocas gasosas entre as diferentes
espécies. Em estudo com folha-de-veludo (A. theophrasti), as folhas-fonte tratadas com
glyphosate demonstram quedas em AN e gs 2h após a aplicação do herbicida, o que refletiu na
diminuição de Ci (7-19h após aplicação) e na elevação de AN/E (19h após aplicação), sendo a
mesma tendência observada até um dia antes de perderem totalmente sua função (5 dias após a
aplicação), e como a gs foi inibida mais rapidamente do que os processos bioquímicos da
fotossíntese (pelo aumento da resistência estomática), o aumento de AN/E permitiu que a fixação
de carbono esgotasse o Ci mais rápido do que poderia ser reposto (Fuchs et al. 2002).
Contrastando esses resultados, ainda no mesmo estudo, em plantas de beterraba (Beta vulgaris
L.) houve uma redução compensatória de gs em resposta ao bloqueio bioquímico do ciclo de
Calvin-Benson pelo glyphosate, mantendo Ci constante e inibindo mais AN do que o processo
de transpiração (E). Portanto, para a folha-de-veludo, o glyphosate inibiu mais os processos
bioquímicos do que os processos de troca gasosa pela maior drenagem de metabólitos da
fotossíntese como a Rubisco e 3-fosfoglicerato, ao contrário da beterraba, onde os processos de
troca gasosa foram os que mais afetaram a assimilação de CO2 (Fuchs et al. 2002) – o que se
assemelha com os resultados aqui obtidos.
A maioria das folhas das plantas regula seus valores de Ci mediante o controle da abertura
estomática, de modo que Ci permanece em concentrações intermediárias (e abaixo da
concentração do ambiente) entre os limites impostos pela capacidade de carboxilação e a
capacidade de regenerar a ribulose-1,5-bifosfato (RuP2), e assim, os movimentos estomáticos
fornecem à folha a oportunidade de alterar a taxa de transpiração e a pressão parcial de CO2
(Ci) nos locais de carboxilação (Farquhar e Sharkey, 1982). Portanto, a diminuição de AN/Ci
mesmo com o aumento de Ci acima da dose de 360 g ea ha-1 (Figura 12 E e F) demonstra que
houve um deslocamento do balanço do CO2 fixado pelo ciclo de Calvin-Benson, indicando um

49
dreno parcial para a fotorrespiração, que também foi influenciado pelo acúmulo de Shk em
diversas datas, evidenciado pelas relações inversamente proporcionais entre ambos (Tabela 3).
Além disto, visto que houve maior perda de água em doses acima de 360 g ea ha-1 (Figura 12C),
conforme mencionado anteriormente, a transpiração também exerceu efeito significativo na
fase de carboxilação do ciclo de Calvin-Benson, visto que há reação de CO2 e água com RuP2
na primeira etapa enzimática, além da demanda em etapas enzimáticas subsequentes na fase de
regeneração (Taiz et al. 2017).
Outra evidencia do aumento da fotorrespiração nas plantas tratadas com o glyphosate é que
a diminuição da eficiência do FSII (Figura 11) diminui a produção de ATP, NADPH e RuP2
para a Rubisco (ribulose-1,5-bisfosfato-carboxilase/oxigenase), que são necessários na fixação
de CO2 no ciclo de Calvin-Benson, o que aumenta a atividade oxigenase desta enzima, e
consequentemente diminui sua atividade carboxilase, diminuindo a utilização de Ci e
aumentando a fotorrespiração (Farquhar e Sharkey, 1982). Isso também é corroborado pelas
correlações proporcionais entre AN/Ci e 𝛷PSII em datas próximas das aplicações do glyphosate
(Tabela 3).
A atividade carboxilase da rubisco produz duas moléculas de 3-fosfoglicerato enquanto a
oxigenase da provoca a perda parcial do carbono fixado pelo ciclo de Calvin-Benson, por
produzir somente uma molécula de 3-fosfoglicerato e uma de 2-fosfoglicolato, o qual é um
inibidor de duas enzimas do cloroplasto (triose fosfato isomerase e fosfofrutoquinase), e para
evitar tanto o dreno de carbono do ciclo de Calvin-Benson quanto a inibição de enzimas, o 2-
fosfoglicolato é metabolizado pelo ciclo fotossintético oxidativo C2 do carbono, aumentando
também o consumo de ATP (Taiz et al. 2017). Isso ocorre em plantas C3 (como os citros), que
quando expostas a concentrações maiores de O2 tem a fotorrespiração maximizada, diminuindo
a 𝛷𝐶𝑂2 (Figura 11C), pois a demanda quântica para a fixação de CO2 em condições de
fotorrespiração (alta [O2] e baixa [CO2]) é maior do que em condições não-fotorrespiratórias
(baixa [O2] e alta [CO2]) (Farquhar e Sharkey, 1982; Taiz et al. 2017).
Porém, essa pode ser uma estratégia da planta para tentar mitigar os efeitos do glyphosate,
pois o aumento da fotorrespiração diminui a eficiência da fotossíntese por dissipar elétrons,
consumindo ATP e NADPH que são gerados pelas reações fotoquímicas e consequentemente
as protegendo da fotoinibição (Kozaki e Takeba, 1996; Foyer et al. 2009). No entanto, esse
efeito teve o custo de diminuir a fotossíntese líquida das plantas de citros pelo dreno energético
e de CO2, visto que AN/Ci demonstrou relações proporcionais em todas as datas com AN (Tabela
3), sendo o principal efeito correlacionado à diminuição de AN causada pelo glyphosate. Isto

50
também é corroborado pelas relações inversamente proporcionais entre Shk e AN/Ci, e
proporcionais entre ΦPSII e AN/Ci – somente após aplicação deste herbicida.
Portanto, nas doses mais altas do glyphosate nas plantas de citros, é possível inferir que
houve ineficiência de qualquer mecanismo protetor, seja por efeitos diretos do glyphosate e/ou
indiretos por meio da maior ativação da via fotorrespiratória, visto que essa é a principal fonte
de H2O2 em células fotossintéticas, além de influenciar várias vias de sinalização, como
respostas hormonais das plantas, controlando seu crescimento, além de respostas ambientais e
de defesa da planta, assim como da morte celular programada (Foyer et al. 2009).

2.3.2.3 Produção de frutos sob efeito da deriva simulada do glyphosate


Por fim, todos os efeitos do glyphosate em plantas de citros aqui demonstrados são
corroborados pela menor produção de frutos com o aumento da dose do glyphosate e aumento
da Shk (Figura 13), com perdas de produção de até 30% para a dose de 1000 g ea ha-1, 47% na
dose de 2000 g ea ha-1, podendo chegar até 57% de produção com a dose de 2880 g ea ha-1.
Essa queda de produção corrobora com as observadas no experimento de campo (experimento
I): a utilização da maior dose (2160 g ea ha-1), independentemente do número de aplicações,
reduziu o potencial produtivo em 70%, 59%, 46%, 23% e 34% (média de 46%),
consecutivamente para os cinco anos agrícolas avaliados (de 2016/2017 a 2020/2021) (Figura
5). Porém, vale destacar que neste experimento (exp. II) a deriva de glyphosate foi padronizada,

Figura 13. Produção relativa de frutos das plantas de laranja Valencia (A) e suas correlações com as variáveis:
(B) Concentração de ácido chiquímico (Shk); (C) taxa de assimilação líquida de CO2 (AN, μmol CO2 m-2 s-1).
Todas as variáveis são compostas dos valores médios de todas as avalições até a data de colheita de frutos das
plantas de laranja Valencia, aos 60 dias após aplicação B. Valores de P > F: ***: P<0,001; **: P<0,01; *: P<0,05;
ns
: não significativo (P>0,05).

51
enquanto no experimento de campo (exp. I), a deriva foi possivelmente minimizada, e outras
possíveis vias de contato entre o glyphosate e os citros foram mencionadas.
Ainda, a relação inversamente proporcional entre a produção de frutos com Shk e AN (Figura
11 B e C) demonstra que a queda de praticamente metade da produção foi afetada diretamente
pela variação do acúmulo de ácido chiquímico e da assimilação líquida de CO2 observados.
Portanto, o distúrbio na rota do ácido chiquímico causado pelo glyphosate em plantas de citros,
como observado pelo acúmulo de Shk em todas as datas, podem também ter impactado a
biossíntese de diversos compostos secundários (Maeda e Dudareva, 2012), assim como a
fotossíntese e todos os seus parâmetros aqui demonstrados, mesmo quando o acúmulo de Shk
não esteve correlacionado diretamente com alguns desses.
A síntese gráfica dos principais efeitos demonstrados é apresentada a seguir (Figura 14).

Figura 14. Principais efeitos do glyphosate em plantas de citros nos processos fotossintéticos. GLY: glyphosate;
Shk: ácido chiquímico; AN: assimilação líquida de CO2; gs: condutância estomática; Ci: concentração intercelular
de CO2; AN/Ci: eficiência de carboxilação; E: taxa de transpiração; 𝛷 PSII: eficiência quântica do transporte de
elétrons através do fotossistema II; ETR: transporte aparente de elétrons; 𝛷𝐶𝑂2 :produtividade quântica com base
na assimilação de CO2; Fv’/Fm’: eficiência quântica do fotossistema II (FSII).

Portanto, esse é o primeiro relato a demonstrar os efeitos do glyphosate no acúmulo de ácido


chiquímico na fotossíntese em citros e suas correlações, inclusive, com a produção de frutos.
Mesmo que esse estudo contraste com os resultados de Gravena et al. (2009), Matallo et al.
(2010) e Gravena et al. (2012), a inibição das plantas de citros foi explícita, sendo demonstrada

52
primeiramente em experimento a longo prazo em campo, e em experimento em casa-de-
vegetação, isolando-se o efeito do glyphosate com as plantas de citros via deriva simulada.
Além disto, esse estudo corrobora que uma das maneiras de se avaliar a injúria causada pelo
uso incorreto do herbicida glyphosate pode ser a partir de análises do acúmulo de ácido
chiquímico (Singh e Shaner, 1998), contudo, em citros a utilização de parâmetros da
fotossíntese é primordial para entender o impacto que esse acúmulo promove.

2.3.2.4 Considerações finais


No experimento I, ressalta-se que os sintomas visuais de fitotoxicidade causados pelo
glyphosate não foram detectados a partir terceiro ano avaliado; porém, houve inibição ao
desenvolvimento das plantas, com menor crescimento e produtividade. A partir dos resultados
obtidos do experimento II, pode-se inferir que a fotoinibição causada pelo uso excessivo de
glyphosate nas plantas de citros diminuem suas taxas fotossintéticas, a favor do aumento da
fotorrespiração e possivelmente da fotoproteção – possível causa de “fitotoxicidade oculta” do
glyphosate em plantas de citros, mesmo quando essas param de externar os sintomas, mas
apresentam menores produtividades.
Portanto, em sistemas de cultivo de plantas perenes em que há convivência com as plantas
daninhas durante todo o ano agrícola, como o caso dos citros, o controle químico deve ser
realizado com muita cautela. A tomada de decisão deve ser baseada, primeiramente, na possível
intoxicação da cultura, e em seguida, no controle das principais plantas daninhas, que deve ser
realizado por meio de um adequado programa de herbicidas, com produtos mais eficazes para
as espécies predominantes e mais seletivos à cultura, dentre os quais o glyphosate pode ser
inserido, se utilizado de maneira correta. Considerando que os sintomas de intoxicação causado
pelo glyphosate podem não se externar de maneira significativa, como visto durante este estudo,
muitos produtores podem ter problemas de intoxicação em seus pomares, sem conseguirem
diagnosticar, pois as plantas podem apresentar o mesmo padrão de crescimento e produção se
o produtor utiliza sempre de altas dosagens e/ou altas frequências de aplicação em seu manejo.
Entretanto, um outro problema a ser destacado é a incoerência das bulas de herbicidas
produzidas no Brasil. Como exemplo, o RoundUp Original® (MAPA, 2016) recomenda doses
de até 1780 g ea ha-1 para muitas espécies encontradas nos pomares de citros da região deste
estudo, o que em tese, pode controlar a planta daninha, mas pôr em risco o pomar do produtor.
Além deste, outros herbicidas a base de glyphosate também indicam somente a dosagem para
o controle de determinadas espécies, sem ao menos mencionar para qual cultura pode ser
utilizada.

53
Por fim, os herbicidas utilizados devem ser rotacionados com diferentes mecanismos de
ação – no qual o glyphosate pode ser inserido, desde que em dosagens em que o mesmo possa
não intoxicar a cultura – e com associação com outros métodos de controle, utilizando
princípios do manejo integrado de plantas daninhas (MIPD). Contudo, mais estudos devem ser
realizados, visando identificar as principais vias de intoxicação do glyphosate em citros, como
diferentes variedades de citros se comportam com a intoxicação por este herbicida e se/como a
planta de citros regula seus processos de fotossíntese para inibir a fotoinibição.

2.4 CONCLUSÃO
Com as condições desse estudo, é possível validar a hipótese e concluir que para condições
de campo, doses acima de 1000 g ea ha-1 com frequências de aplicação a partir de três vezes
por ano de glyphosate nem sempre incrementam o controle de plantas daninhas, mas diminuem
o crescimento e produtividade do pomar ao longo do tempo, pelo seu efeito tóxico que é
ocasionado por distúrbios na rota do ácido chiquímico e nos processos da fotossíntese.

54
2.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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59
ANEXO I. Espécies de plantas daninhas identificadas no experimento com a relação dos casos de resistência à
herbicidas já relatados.

Casos de Resistência
Família / Código EPPO1 / Nome científico Nome comum Ref.
(HRAC/WSSA MoA)b

Amaranthaceae
ALRTE Alternanthera tenella apaga-fogo
AMACH Amaranthus hybridus var. patulus caruru-branco 2 4 5 6 9 14 c
AMADE Amaranthus deflexus caruru-rasteiro
AMARE Amaranthus retroflexus caruru-gigante
AMAVI Amaranthus viridis caruru-de-mancha 2 5 6 7 14 c, d
CHEAL Chenopodium album ançarinha-branca 2 4 5 7 c
Asteraceae
AGECO Ageratum conyzoides mentrasto 2 c
BIDPI Bidens pilosa picão-preto 2 5 9 22 c, e
EMISO Emilia fosbergii falsa-serralha
ERICA Conyza canadensis buva 2 5 7 9 22 c
GASCI Galinsoga quadriradiata botão-de-ouro
GASPA Galinsoga parviflora picão-branco
GNASP Gnaphalium coarctatum macela
PTNHY Parthenium hysterophorus losna-branca 2 9
SONOL Sonchus oleraceus serralha 2 4 9 c
TRQPR Tridax procumbens erva-de-touro 9 c
Brassicaceae
RAPRA Raphanus raphanistrum nabiça 2 4 5 9 12 15 27
Commelinaceae
COMBE Commelina benghalensis trapoeraba
Convolvulaceae
IPOQU Ipomoea quamoclit corda-de-viola
IPOTR Ipomoea triloba corda-de-viola-miúda
PHBPU Ipomoea purpurea corda-de-viola-roxa
Cyperaceae
CYPIR Cyperus iria tiririca 2 c
Euphorbiaceae
EPHHI Chamaesyce hirta erva-de-santa-luzia
EPHHL Euphorbia heterophylla amendoim-bravo 2 7 9 14 c
Malvaceae
MAVCO Malvastrum coromandelianum guanxuma
SIDGZ Sida glaziovii guanxuma-branca
SIDRH Sida rhombifolia guanxuma
SIDSP Sida spinosa guanxuma 2 c
SIDSN Sida santaremnensis guanxuma-grande
Oxalidaceae
OXALA Oxalis latifolia trevo

60
Anexo I. ...... (Continuação)
Phyllanthaceae
PYLTE Phyllanthus tenellus quebra-pedra
Poaceae
BRADC Urochloa decumbens capim-braquiária
BRARU Urochloa ruziziensis capim-braquiária
CCHEC Cenchus echinatus capim-carrapicho
f
CHRSS Chloris elata capim-branco 9
DIGHO Digitaria horizontalis capim-colchão
DIGIN Digitatia insularis capim-amargoso 1 9 c
ELEIN Eleusine indica capim-pé-de-galinha 1 2 3 5 9 10 14 22 c
PANMA Panicum maximum capim-colonião
SETGE Setaria parviflora capim-rabo-de-raposa
Portulacaceae
POROL Portulaca oleracea beldroega 5 7 c
Rubiaceae
RCHBR Richardia brasiliensis poaia-branca
Solanaceae
SOLAM Solanum americanum maria-pretinha 22 c
a: Código EPPO: European and Mediterranean Plant Protection Organization (EPPO) (ex- ‘código Bayer’);
b: Classificação Global de Herbicidas por Modo de Ação pelo Comitê de Ação de Resistência a Herbicidas / Weed Science
Society of America; c: Heap 2020; d: Alcántara-de la Cruz et al. (2016); e: Alcántara-de la Cruz et al. (2020); f: Código para
Chloris sp., pois C. elata não possui código EPPO.

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61
Anexo II. Parâmetros da equação obtidos pelo modelo logístico para os dados de acúmulo de biomassa da BIDPI
(Bidens pilosa), ERICA (Conyza canadensis) e RAPRA (Raphanus raphanistrum), para os três biótipos
coletados. Os valores de GR50 representam a dose efetiva para redução de 50% da biomassa.
Parâmetro da equação
Espécie Biótipo
c d b GR50
BIDPI B1 -14,13 ±19,10 97,31 ±6,84 1,13 ±0,45 511,90 ±110,35
B2 12,40 ±5,88 100,02 ±6,73 1,63 ±0,65 118,41 ±28,16
B3 8,60 ±9,16 100,00 ±6,73 1,04 ±0,90 50,68 ±27,06

ERICA B1 -80,74 ±55,28 100,17 ±8,69 0,05 ±0,47 2201,50 ±293,90


B2 -153,02 ±134,63 99,87 ±8,83 0,48 ±0,51 8950,00 ±1516,01
B3 -39,63 ±26,14 99,87 ±8,78 0,36 ±0,33 1571,60 ±154,20

RAPRA B1 1,23 ±0,87 100,00 ±1,41 3,51 ±0,52 140,86 ±11,22


B2 1,95 ±1,18 100,00 ±1,41 1,65 ±0,67 95,49 ±34,19
B3 1,45 ±1,08 100,00 ±1,41 2,01 ±0,86 120,88 ±34,55

62
CAPÍTULO II

Programas de controle de plantas daninhas em interação com as


roçagens ecológica e convencional

63
3. CAPÍTULO II: PROGRAMAS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS EM
INTERAÇÃO COM AS ROÇAGENS ECOLÓGICA E CONVENCIONAL

RESUMO

As plantas daninhas são consideradas como o fator biótico mais limitante à produção agrícola
mundial, e nos citros, por ser uma cultura perene, convivem durante todo o seu ciclo, e assim
há menos opções de controle, com um menor número de herbicidas. A roçagem ecológica se
mostrou ser uma opção interessante para os citros, com incrementos de controle e
produtividade, porém, carece de informações quanto a interação com outros tipos de controle e
com herbicidas residuais. O objetivo deste estudo foi avaliar ao longo de três anos agrícolas
(2017-2020) em pomar jovem de laranja Hamlin (até 5 anos de idade), as roçagens ecológica
(ECO) e convencional (CONV) com cinco programas de controle de plantas daninhas:
mecânico (CM), herbicidas pré-emergentes [PRÉ: sulfentrazone (primavera), indaziflam
(verão)], pós-emergentes [PÓS: glyphosate (primavera), saflufenacil (verão)], a mistura entre
pré e pós [PRÉ+PÓS: sulfentrazone + glyphosate (primavera), indaziflam + saflufenacil
(verão)] e os de dualidade pré e pós [P/P: flumioxazin (primavera), diuron (verão)]. Foi
determinada a deposição de biomassa, o controle de plantas daninhas, o crescimento, a
produtividade do pomar e a viabilidade econômica. Como resultados principais, a ECO
promoveu maiores deposições de biomassa na linha de plantio (até 7,8 t ha-1 ano-1) e teve efeito
significativo no controle de plantas daninhas, no desenvolvimento das plantas de citros e no
retorno financeiro. O CM demonstrou baixo controle populacional, porém boa inibição do
acúmulo de biomassa. O PÓS demonstrou o segundo melhor retorno devido ao seu menor custo,
porém com escapes no controle e alto banco de sementes. Destacam-se os resultados quando a
ECO foi associada com herbicidas residuais, com maiores efeitos em todas as variáveis
analisadas, no gradiente: PRÉ+PÓS > PRÉ > P/P. Conclui-se que, há interação positiva entre a
roçagem ecológica com diferentes modalidades de controle de plantas daninhas, físico ou
químico, mas que a utilização de herbicidas residuais em conjunto com pós-emergentes
promove maior controle de plantas daninhas ao longo do tempo, com maior crescimento e
produtividade das plantas de laranja Hamlin, garantindo maior rentabilidade financeira.

Palavras-chave: Citrus, Urochloa ruziziensis, roçadora ecológica, controle mecânico,


herbicidas residuais.

64
ABSTRACT

Weeds are considered the most limiting biotic factor to agricultural production, and citrus, as it
is a perennial crop, coexists throughout its cycle, and thus there are fewer control options, with
a smaller number of herbicides. Ecological mowing proved to be an interesting option for citrus,
with increases in control and productivity, however, it lacks information on the interaction with
other types of control and with residual herbicides. The aim of this study was to evaluate, over
three growing seasons (2017-2020) in a young Hamlin orange orchard (up to 5 years of age),
ecological (ECO) and conventional (CONV) mowing’s with five weed control programs:
mechanical (CM), pre-emergence herbicides [PRE: sulfentrazone (spring), indaziflam
(summer)], post-emergence [POS: glyphosate (spring), saflufenacil (summer)], the mixture
between pre and post [PRE+POST: sulfentrazone + glyphosate (spring), indaziflam +
saflufenacil (summer)] and pre-post duality [P/P: flumioxazin (spring), diuron (summer)].
Biomass deposition, weed control, growth, orchard productivity and economic viability were
determined. As main results, ECO promoted greater biomass deposition in the planting line (up
to 7.8 t ha-1 yr-1) and had a significant effect on weed control, citrus plant development and
financial return. CM showed low population control, but good inhibition of biomass
accumulation. The POST showed the second-best return due to its lower cost, but with leaks in
control and high seed bank. The results stand out when ECO was associated with residual
herbicides, with greater effects on all analyzed variables, in the gradient: PRE+POST > PRE >
P/P. It is concluded that there is a positive interaction between ecological mowing with different
modalities of weed control, physical or chemical, but that the use of residual herbicides together
with post-emergence promotes greater weed control over time, with greater growth and yield
of the Hamlin orange plants, ensuring greater financial profitability.

Keywords: Citrus, Urochloa ruziziensis, ecological mower, mechanical control, residual


herbicides.

65
3.1 INTRODUÇÃO
Dentre os fatores bióticos mais limitantes à produção agrícola mundial, as plantas daninhas
são consideradas como o principal (FAO 2009). Estas, muitas vezes passam despercebidas pois
os danos de doenças e pragas são mais impactantes, porém seu correto manejo é de fundamental
importância. Estudo da década de 1970 em pomar de laranja doce no Brasil demonstrou que a
competição com plantas daninhas causa perdas de até 40% na produção (Blanco e Oliveira,
1978). Contudo, estudos mais atuais demonstram que essa redução pode chegar até 52% em
pomar de lima ácida Tahiti em espaçamento de plantio convencional (Martinelli et al. 2017) e
em 88% em plantio adensado (Azevedo et al. 2020).
O controle de plantas daninhas em citros, é realizado basicamente pela roçagem na
entrelinha e aplicações de herbicidas dirigidas para a faixa da linha de plantio. Por ser uma
cultura perene, as plantas daninhas convivem praticamente ao mesmo tempo e espaço que a
planta cultivada durante todo seu longo ciclo. Assim, as opções de controle são menores por
disporem de um menor número de herbicidas registrados no Brasil, com 22 ingrediente ativos
registrados para citros v. 50 ia para soja, 49 ia para milho e 52 ia para a cana-de-açúcar (MAPA
2021), além de menores técnicas de controle em comparação às culturas anuais, nas quais
também há mais oportunidades de controle em área total pelos menores intervalos de cultivo,
além da utilização de cultivares geneticamente modificadas, resistentes à herbicidas. Assim
sendo, por esse convívio contínuo com as plantas de citros, as plantas daninhas se mostram em
diversos estádios fenológicos ao mesmo tempo, sendo mais uma característica que dificulta o
controle.
Os citricultores brasileiros têm a preferência pelo controle químico e uma grande parte
utiliza somente o herbicida glyphosate [N-(phosphonomethyl)glycine], o qual possui amplo
espectro de controle, ação não-seletiva e alta sistemicidade. Porém, o aumento de relatos de
baixa eficácia de controle e seleção de biótipos resistentes de plantas daninhas e de espécies
tolerantes a este herbicida fez com que a maioria dos produtores de citros utilizassem o
glyphosate de maneira indevida, sem rotacionar com outros herbicidas de diferentes
mecanismos de ação, intensificando seu uso na tentativa de aumentar os níveis de controle.
Há relatos de alta frequência de aplicação (até dez vezes por ano agrícola) e/ou em altas
doses aplicadas (acima de 2000 g equivalente ácido ha-1), o que leva os produtores à um círculo
vicioso, que também pode levar à intoxicação dos pomares por este herbicida e
consequentemente à menores índices de produção. Em levantamento realizado sobre o manejo
de plantas daninhas com citricultores de diversas regiões produtoras do Brasil, 98%
responderam que utilizam glyphosate [1000-1500 g ea ha-1 (56%); 1500-2000 g ea ha-1 (6%),

66
>2000 g ea ha-1 (11%)] e 37% que não utilizam outros herbicidas (dados não publicados). Além
disto, muitos produtores não levam em consideração e/ou não tem acesso à informação da
possível intoxicação das plantas de citros pelo contato e translocação deste herbicida.
Em recente estudo, foi demonstrado que a técnica de manejo denominada de “roçagem
ecológica” consiste de uma opção de manejo integrado de plantas daninhas (MIPD) e de
agricultura de conservação (AC) em pomares de citros, principalmente com a braquiária-
ruziziensis [Urochloa (syn. Brachiaria) ruziziensis (R. Germ. & C.M. Evrard) Morrone &
Zuloaga] como cultura de cobertura nas entrelinhas do pomar, em conjunto com a roçadora
lateral do tipo ecológica (Martinelli et al. 2017). Essa técnica de manejo consiste na deposição
da biomassa cortada da braquiária ao redor das plantas de citros, formando um mulch natural,
que tem efeito no controle das plantas daninhas, com níveis superiores ou equivalentes ao uso
de glyphosate. Porém, que carece de informações quanto a interação com outras modalidades
de controle, como o controle mecânico na faixa de plantio dos citros e o uso de herbicidas
residuais, além de sua viabilidade técnica e econômica.
Desta forma, este estudo visou prover informações para um manejo mais sustentável de
plantas daninhas em citros, proporcionando a integração de métodos de controle com a roçagem
ecológica, o que pode trazer benefícios para toda cadeia citrícola pela maior sanidade dos
pomares e maior sustentabilidade do setor.
Como hipótese, têm-se que a interação entre a roçagem ecológica e diferentes modalidades
de controle, física com controle mecânico, ou química com herbicidas em pré e/ou pós
emergência das plantas daninhas, promove maior crescimento, produtividade e rentabilidade
financeira de pomar de citros, por meio de um maior controle de plantas daninhas ao longo do
tempo. Portanto, o objetivo do trabalho é determinar a viabilidade técnica e econômica da
interação entre diferentes programas de controle com a roçagem ecológica, avaliando ao longo
de três anos agrícolas, dois tipos de roçagens de entrelinha e cinco programas de controle de
plantas daninhas em pomar jovem de laranjeira Hamlin, determinando a deposição de biomassa
da cultura de cobertura, o controle de plantas daninhas, e para as plantas de citros, o
crescimento, a produtividade e a viabilidade econômica dos manejos propostos.

3.2 MATERIAL E MÉTODOS


3.2.1 Área experimental e instalação do ensaio
O experimento foi conduzido em área experimental durante três anos agrícolas (2017/2018,
2018/2019 e 2019/20), previamente instalada em Cordeirópolis-SP, estado de São Paulo, Brasil,
no Centro de Citricultura Sylvio Moreira (Instituto Agronômico-IAC), localizado na latitude de

67
22°27′35” sul e longitude de 47°24′28” oeste, com altitude média de 709 m acima do nível do
mar. O clima no local é classificado como CWA subtropical com invernos secos (temperaturas
abaixo de 18° C) e verões quentes (temperaturas acima de 22 ° C) e úmidos, de acordo com o
sistema de classificação climática de Köppen-Geiger (Alvares et al. 2013). Dados médios
anuais de temperatura e precipitação pluvial (agosto a julho), durante o período experimental,
foram obtidos a partir do monitoramento via estação meteorológica instalada à 100 m de
distância do experimento (Figura 15).

Figura 15. Valores médios trimestrais de temperatura e de precipitação pluvial acumulada durante o período
experimental (2017/2020) (Cordeirópolis/SP).

O solo foi classificado como solo Latossolo Vermelho distrófico de textura


predominantemente argilosa (64,6% argila; 21,3% areia; 14,1% silte), e os resultados médios
dos últimos quatro anos da análise química evidenciam teores adequados (Tabela 4).

Tabela 4. Atributos avaliados em análise de solo da área experimental: pH, conteúdo de matéria orgânica (MO),
teores de fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), matéria orgânica (M.O.), acidez potencial (H
+ Al), soma de bases (SB), capacidade de troca de cátions (CTC) e saturação por bases (V%).
pH M.O. P K Ca Mg H + Al SB CTC V
(CaCl2) (g dm-3) (mg dm-3) (mmolc dm-3) (%)
5,3 35,4 28,9 3,9 31,4 16,4 0,5 35,9 51,7 87,7
±0,4 ±8,0 ±13,7 ±0,8 ±4,2 ±3,4 ±0,0 ±9,2 ±8,1 ±9,0
± desvio padrão; n=4.

O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados em esquema de parcelas


subdivididas, com quatro repetições e medidas repetidas no tempo. O primeiro fator (parcela)
foi composto por dois manejos de roçagem de entrelinha: (i) ECO: roçagem com roçadora

68
lateral do tipo ‘ecológica’ (Kamaq® - Ninja Eco 230, com seis lâminas de corte, com largura de
corte = 2,60 m), esta que projeta a biomassa roçada lateralmente, direcionando-a para a linha
de plantio dos citros, proporcionando um mulch entre plantas; (ii) CONV: roçagem com a
roçadora lateral convencional (Kamaq® - modelo Ninja 230, com quatro lâminas de corte, com
largura de corte = 2,60 m), esta que projeta a biomassa roçada em sua trajetória de corte,
direcionando-a centralmente, proporcionando o mulch na entrelinha. O segundo fator
(subparcela), foi composto de seis tratamentos de controle de plantas daninhas: (i) testemunha
(TEST), (ii) controle mecânico (CM, roçagem manual entre as plantas de citros) e quatro
programas de herbicida: (iii) PRÉ, com herbicidas pré-emergentes; (iv) PÓS, herbicidas pós-
emergentes; (v) PRÉ+PÓS, mistura de herbicidas pré e pós-emergentes; e (vi) P/P, herbicidas
com a atividade de pré e pós-emergente.
A área experimental possui 1,0 hectare, e as plantas de laranja Hamlin [Citrus sinensis (L.)]
enxertadas em limão Cravo [Citrus limonia (Osbeck)], foram distribuídas em 12 linhas com 55
plantas cada, totalizando 660 plantas espaçadas à 6,0 m (entrelinha) x 2,5 m (entre plantas).
Cada unidade experimental foi composta por sete plantas. Os fatores e blocos foram
considerados como efeitos fixos. Cada parcela possui 4,950 m² e consiste de 330 plantas de
laranja Hamlin distribuídas em 6 linhas, e cada subparcela consiste em 110 plantas distribuídas
em três linhas, com uma área total de 825 m². O plantio do pomar foi realizado em novembro
de 2015 em sistema de cultivo mínimo, com preparo apenas das linhas de plantio com
subsolagem, sulcagem e adubação de plantio. A implantação de cultura de cobertura na
entrelinha foi realizada em janeiro de 2017 com semeadura de 10 kg ha-1 de braquiária-
ruziziensis (U. ruziziensis), via plantio direto na entrelinha do pomar (Figura 16 A e B).
De modo a se igualar a área para o início dos tratamentos, a área de competição
interespecífica (entre as plantas daninhas e os citros) de todas as parcelas foi capinada
manualmente 15 dias antes do início dos tratamentos, removendo todas as plantas daninhas
emergidas (Figura 16 C e D) – visto que a área experimental possui um alto nível de infestação
e histórico de utilização de glyphosate de maneira contínua por vários anos. Além disto, essa
limpeza viabilizou a primeira aplicação dos tratamentos com herbicidas residuais pela
exposição do solo.
O controle de plantas daninhas do tratamento CM foi realizado por meio de roçagem manual
com roçadora costal motorizada, nas mesmas datas das aplicações dos herbicidas. O programa
de herbicidas foi definido por meio de herbicidas registrados para a cultura dos citros até a data
de início do experimento (outubro/2017) (MAPA 2017), seguindo todas as recomendações das
bulas dos fabricantes, como dosagem, volume de calda e modo de aplicação (Rodrigues e

69
Figura 16. Antes (A) e após (B) implantação da cultura de cobertura (Urochloa ruziziensis); padronização da área
com capina manual, antes e após (divididas por tracejado vermelho) (C), e visão da faixa de projeção da copa dos
citros (zona de competição interespecífica com as plantas daninhas) após término de capina manual (D).

Almeida, 2018), e ainda, rotacionando os mecanismos de ação (Tabela 5). Vale ressaltar que
para algumas culturas o saflufenacil é considerado como um herbicida residual, porém a dose
recomendada do saflufenacil para citros o classifica somente como pós-emergente (BASF
AGRICULTURE 2017).
Os herbicidas residuais que foram definidos para os tratamentos (PRÉ, PRÉ+PÓS, P/P),
característicos às diferentes modalidades quanto à época de aplicação, foram posicionados no
tempo visando a máxima eficácia dos mesmos, levando-se em consideração suas características
físico-químicas, como: solubilidade (S), coeficiente de sorção de carbono orgânico do solo
(KOC), coeficiente de partição octanol-água (KOW), persistência no solo (tempo de meia-vida;
t50) e constante de dissociação eletrolítica (pKa) (Tabela 6).
Assim, as datas de aplicação dos herbicidas foram definidas priorizando a solubilidade dos
herbicidas com o balanço hídrico da região, que possui excedente hídrico médio de 388 mm
entre outubro e março, e deficiência hídrica média de 30 mm entre junho a setembro (Sentelhas
2005) Portanto, os herbicidas que possuem característica residual e de maior solubilidade foram
posicionados na época com menor disponibilidade de água no solo, e vice-versa (Figura 17).
Além disto, foram definidos para a época que compreende o período crítico de controle de

70
plantas daninhas da região do experimento, que podem ser os quadrimestres de agosto a
novembro ou dezembro a março (Blanco e Oliveira, 1978).

Tabela 5. Descrição dos tratamentos do programa de controle de plantas daninhas que dispõem da utilização de
herbicidas, com épocas de aplicação, ingrediente ativo, dose, volume de calda e custo por aplicação.
g ia ha-1 Custo por
Herbicida Datas de Vol. calda
MoA² Épocas de Aplicação ou aplicação
(ia) aplicação (L ha-1)
-1
g ae ha (US$)
Tratamentos
sulfentrazone 14 primavera out/17; out/18; out/19 650 200 44,8
PRÉ
indaziflam 29 verão jan/18; jan/19; jan/20 100 200 72,5
glyphosate 9 primavera out/17; out/18; out/19 720 200 9
PÓS
saflufenacil 14 verão jan/18; jan/19; jan/20 50 200 12,9
sulfentrazone 14 650
primavera out/17; out/18; out/19 200 53,8
+ glyphosate +9 + 720
PRÉ+PÓS
indaziflam 29 100
verão jan/18; jan/19; jan/20 200 85,3
+ saflufenacil + 14 + 50
flumioxazin 14 primavera out/17; out/18; out/19 100 200 24
P/P
diuron 7 verão jan/18; jan/19; jan/20 2400 600 21,7
Manutenção da área³
paraquat 22 outono abr/18; abr/19; abr/20 400 200 7,6
glufosinate 10 inverno ago/18; ago/19 400 350 20
¹ aplicações classificadas quanto à ordem de aplicação num ano agrícola para a cultura dos citros (agosto a julho); ² classificação
Weed Science Society of America (WSSA) quanto ao seu mecanismo de ação (MoA – Mechanism of Action): 7: Inibidores do
Fotossistema II; 9: Inibidores da EPSP sintase; 10: Inibição da glutamina sintetase; 14: Inibidores da Protox; 22: Inibidores do
Fotossistema I; 29: Inibidores da síntese de celulose; ³ somente para os tratamentos com herbicida: PRÉ, PÓS, PRÉ+PÓS e P/P.

Para as aplicações dos herbicidas, utilizou-se de pulverizador costal de CO2, com pressão
constante de 2,0 bar, utilizando-se de ponta de pulverização do tipo leque Teejet® Air Induction
Extended Range (AIXR) 11002, com barra de aplicação com equipamento antideriva (‘chapéu
de Napoleão’), dirigindo-se a aplicação para a área de competição interespecífica (faixa da linha
de plantio do pomar ou projeção da copa dos citros), mantendo a aplicação na altura de 50 cm
da superfície do solo, utilizando-se dos volumes de calda recomendados pelos fabricantes
(Tabela 5).
As roçagens da entrelinha do pomar foram realizadas sempre uma semana após a aplicação
dos tratamentos de controle de plantas daninhas, ou seja, sete dias após as roçagens entre plantas
(CM) e as aplicações para os tratamentos de herbicidas (PRÉ, PÓS, PRÉ+PÓS e P/P). Para
manter os níveis das populações de plantas daninhas além do período crítico de controle, foram
realizadas manutenções da área em abril e agosto de cada ano agrícola, com roçagens entre
plantas para o tratamento CM, aplicações de herbicidas pós-emergentes e não-seletivos para os

71
tratamentos com herbicidas (Tabela 5) e roçagens da entrelinha com os diferentes tipos de
roçagem (CONV e ECO).

Tabela 6. Parâmetros físico-químicos dos herbicidas (ingrediente ativo) utilizados, como Solubilidade em Água (S),
Coeficiente de Partição Octanol-Água (KOW), Coeficiente de Sorção (KOC), tempo de Meia-Vida (t50) e constante de
dissociação eletrolítica (pKa). Valores de pH são mostrados somente para parâmetros dependentes do mesmo.
Adaptado de Alister et al. (2008), Alonso et al. (2011), Jhala e Singh (2012), Monaco (2002), Rodrigues e Almeida
(2018) e Shaner (2014).
S KOC KOW t50
Herbicida pKa
-1 -1
(mg L ) (mL g ) (dias)
110~780 9,8
sulfentrazone 43 121~302 3 6,6
(pH 6; pH 7) (pH 7)
2,2~4,4 2,8
indaziflam <1000 200 3,5
(pH 7; pH 4) (pH 7)
15700
glyphosate 24000 0,0006~0,0017 47 2,6~10,3
(pH 7)
2100
saflufenacil 9~56 1 368 1~36 4,4
(pH 7)

flumioxazin 1,7 497~816 2 355 10~32 4 Não-ionizável

diuron 42 480 589 90~365 Não-ionizável


1
variação em seis tipos de solo; 2 valores para solos argilosos; 3
valores para solos arenosos e argilosos,
respectivamente; 4 valores para 5 tipos de solo.

Figura 17. Balanço hídrico da região de Limeira, Estado de São Paulo, Brasil (adaptado de Sentelhas 2005). As
setas mostram as datas de aplicação dos tratamentos PRE, PÓS, PRÉ+PÓS e P/P de acordo com a (Tabela 5).

72
3.2.2 Deposição de biomassa
As avaliações do experimento iniciaram na primeira data de roçagem da entrelinha (out/17)
para quantificar a biomassa depositada na linha de plantio do pomar pelos diferentes tipos de
roçagem, repetindo-se sempre sete dias após do manejo de controle de plantas daninhas:
roçagem entre plantas (CM) e aplicação dos herbicidas. A amostragem foi direcionada para a
faixa da linha de plantio dos citros (projeção da copa das plantas de citros), utilizando-se de
gabarito de 0,25m2, lançado aleatoriamente quatro vezes por parcela (área amostral de 1,0 m2).
Sub-amostras da biomassa foram coletadas, pesadas e secas em estufa à 60±3ºC, por 72 horas.
Os dados foram extrapolados para valores em t ha-1 de massa seca, considerando-se os valores
de área da faixa da linha de plantio para deposição de biomassa para cada ano agrícola.

3.2.3 Infestação e controle de plantas daninhas


Aos 15, 30 e 60 dias após controle de plantas daninhas (DAC; roçagem entre plantas e
aplicação de herbicidas) para as duas principais épocas de cada ano agrícola, no começo da
primavera (outubro) e verão (janeiro) (hemisfério sul) foram avaliados os níveis de infestação
de plantas daninhas. Essas foram identificadas e quantificadas individualmente em cada
amostragem, que foi realizada com gabarito (0,25m2), lançado de maneira aleatória para a faixa
da linha de plantio dos citros, oito vezes por repetição, totalizando uma área amostral de 2,0 m².
De modo a se avaliar o acúmulo de biomassa das plantas daninhas, aos 60 DAC a parte aérea
das plantas daninhas foram coletadas e levadas à secagem (72h; 60±3ºC), para obtenção dos
valores de massa seca (g m-2).

3.2.4 Banco de sementes de plantas daninhas


Para quantificar o potencial de novas infestações das plantas daninhas, no mês de março de
2021, foram coletadas amostras de solo com trado tipo holandês na profundidade de 0-10 cm.
As amostras foram compostas por dez sub-amostras, que foram pesadas, homogeneizadas,
condicionadas em bandejas de 25x40x10 cm e locadas em casa-de-vegetação. O solo foi
mantido úmido, por meio de irrigações periódicas (2,0 mm dia-1) para estimular aos processos
de germinação e emergência. Semanalmente, após cada fluxo de emergência, as plantas foram
contadas, identificadas e retiradas, e a cada 30 dias o solo foi revolvido para estimular novos
fluxos de emergência. Esse procedimento foi repetido até cessarem os fluxos de emergência,
geralmente aos 90 dias após a instalação. O cálculo do número do banco de sementes (nº de
sementes e propágulos viáveis em 1,0 m-2 em 10 cm de profundidade) foi realizado adaptando
metodologia proposta por Monquero e Silva (2007). O delineamento utilizado foi inteiramente
casualizado, com quatro repetições, e cada bandeja representou uma repetição. Vale ressaltar

73
que a área amostral para essa avaliação estava há mais de um ano sem aplicações de herbicidas
residuais: 16 meses para os tratamentos que contêm sulfentrazone (PRÉ) e flumioxazin (P/P),
e 14 meses para indaziflam (PRÉ) e diuron (P/P).

3.2.5 Crescimento e produtividade das plantas de citros


O crescimento vegetativo das plantas de laranja Hamlin foi sempre avaliado no mês de maio
de cada ano, na devida época de maturação para esta variedade. O crescimento foi avaliado por
meio de medição com régua graduada, de altura e diâmetro da copa, e com posterior cálculo
dos volumes de copas determinados segundo Mendel (1956): V = 2/3 π R2 H; onde, V é o
volume de copa (m³); R: raio médio da copa da planta (m); e, H: altura da planta (m). Para a
avaliação de produtividade, os frutos classificados como comercializáveis foram colhidos e
pesados, e os dados foram extrapolados para valores em t ha-1.

3.2.6 Análise econômica


A viabilidade econômica dos tratamentos foi avaliada pelo retorno líquido do investimento
(lucro) ocasionado somente pelos valores variáveis entre os tratamentos, ou seja, pelos
diferentes valores dos herbicidas utilizados e da roçagem manual entre plantas do controle
mecânico (CM). Os valores fixos, que não diferem entre os tratamentos não foram inclusos,
como os valores de adubação, controle de doenças e insetos assim como a semeadura da cultura
de cobertura (U. ruziziensis). Além desses, os diferentes tipos de roçadora devem ser
contabilizados como investimentos à longo prazo, visto que esse é um equipamento inerente a
qualquer produtor de citros. Todos os valores foram calculados em reais brasileiros (R$) e
convertidos para dólares americanos (US$) segundo a cotação de maio de: 2018 (R$ 3,5424
para US$ 1,00); 2019 (R$ 3,9650 para US$ 1,00); e, de 2020 (R$ 5,5208 para US$ 1,00). Para
o cálculo do tratamento CM, foi determinado que foram necessárias 16 horas-homem por
hectare, onde a hora-homem foi precificada em US$ 3,62, e para os valores dos herbicidas
utilizados, foram utilizados pela cotação média dentre os anos de 2017-2020 em R$ e
convertidos para US$ (Tabela 5). Por fim, para os valores de produtividade, foi fixado o preço
do kg da fruta de laranjeira Hamlin pela cotação de 2018 a 2020 (média de US$ 0,09 kg-1) na
região produtora do experimento (Limeira, Estado de São Paulo) (HFBRASIL 2020).

3.2.7 Análise de dados


Para atender a suposições da análise de variância, os dados de densidade e biomassa de
plantas daninhas foram transformados em raiz quadrada de χ + 0,5. Dados de volume de copa
e produtividade de citros apresentaram normalidade e não foram transformados. Assim, dados

74
não transformados foram apresentados quanto as suas médias, e a separação estatística com
base nos dados transformados. Portanto, todos os dados foram submetidos à análise de
normalidade, análise de variância (ANAVA) e teste de comparação múltipla de médias pelo
teste da diferença honestamente significativa de Tukey (Honestly Significant Difference - HSD;
α = 5%). Essas análises foram realizadas utilizando do pacote agricolae (De Mendiburu 2021)
pelo software R (v 4.1.0) (R Development Core Team 2021). Análises multivariadas, por meio
da Análise de Componentes Principais (ACP) via matriz de covariância, foram utilizadas de
modo a se identificar as principais espécies de plantas daninhas observadas e suas correlações.
Esses dados foram normalizados e demonstrados pelo biplot de entre os componentes principais
(Jolliffe 2002; Zuur et al. 2007), pelo software Origin (v. 2019b) (OriginLab Corp 2020).

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO


A deposição de biomassa sofreu influência em todas as datas somente pelos tipos de
roçagem (p < 0,001), enquanto para os dados de densidade de plantas daninhas houve interação
tripla entre as roçagens, programas de controle de plantas daninhas e o tempo (p < 0,001). Os
dados de biomassa e banco de sementes de plantas daninhas, volume de copa e produtividade
das plantas de citros foram influenciados pela interação dupla entre os tipos de roçagem e os
programas de controle de plantas daninhas (p < 0,01).

3.3.1 Deposição de biomassa


Para o primeiro ano agrícola (2017/2018), três roçagens foram realizadas, sendo que a
roçagem ecológica (ECO) proporcionou maior deposição de biomassa na faixa de plantio dos
citros nas quatro roçagens realizadas, totalizando 7,8 t ha-1, enquanto a roçagem convencional
(CONV) proporcionou 0,6 t ha-1 (Figuras 18 e 19). A partir do segundo ano agrícola
(2018/2019), quatro roçagens por ano foram realizadas e a mesma tendência foi mantida entre
os tipos de roçagem, com a ECO depositando valores superiores a CONV.
Esses resultados eram esperados, pois a CONV mantém centralmente a maior parte da
biomassa cortada ao longo de sua trajetória de corte, ou seja, depositando a biomassa na
entrelinha do pomar (Figura 19A), enquanto a ECO projeta lateralmente a biomassa cortada, e
no caso da utilização desta em pomares, o corte da biomassa da entrelinha é depositada na faixa
da linha de plantio, também conhecida como faixa da projeção da copa dos citros. Assim, a
ECO promove uma camada de mulch que se incrementa com sucessivas roçagens (Figura 19B
e C). Contudo, vale ressaltar que a quantidade de biomassa depositada pela ECO somente são
alcançados pelos altos níveis de biomassa produzidos na entrelinha dos citros pela Urochloa
ruziziensis, o que já fora relatado em pomares de lima ácida Tahiti em espaçamento de plantio

75
comum (até 8,7 t ha-1 ano-1) (Martinelli et al. 2017) e adensado (até 7,4 t ha-1 ano-1) (Azevedo
et al. 2020).

Figura 18. Deposição de biomassa entre plantas de citros (na linha de plantio) pela roçagem ecológica
(ECO) e convencional (CONV), nas roçagens e no total de cada ano agrícola (A: 2017/2018; B: 2018/2019;
C: 2019/2020). Médias seguidas da mesma letra dentro de cada ano agrícola não diferem entre si pela
diferença honestamente significativa do teste de Tukey (α = 0,05).

Figura 19. Deposição de biomassa na faixa da linha de plantio 30 dias após primeira roçagem do primeiro ano
agrícola do experimento (nov/2017) nas parcelas da roçagem convencional - CONV (A) e roçagem ecológica -
ECO (B); e, 30 dias após segunda roçagem na parcela da ECO (C; fev/2018).

76
3.3.2 Infestação e controle de plantas daninhas
Foram identificadas 49 espécies de 17 famílias botânicas na comunidade de plantas
daninhas durante os três anos agrícolas avaliados, sendo que várias dessas espécies possuem
relatos de resistência à herbicidas (Anexo III). As principais espécies foram: ALRTE
[Althernanthera tenella Colla], AMARE [Amaranthus retroflexus (L.)], BIDPI [Bidens pilosa
(L.)], BRADC [Urochloa decumbens (Stapf) R.D. Webster], BRAUR (U. ruziziensis), CHRSS
[Chloris elata (Desv.)], COMBE [Commelina benghalensis (L.)], CYNDA [Cynodon dactylon
(L.) Pers.], DIGIN [Digitaria insularis (L.)], DIGHO [D. horizontalis Willd], ELEIN [Eleusine
indica (L.) Gaertn.], EPHHI [Chamaesyce hirta (L.) Millsp.], EPHHL [Euphorbia heterophylla
(L.) Klotzsch & Garcke], ERICA [Conyza canadensis (L.) Cronq], GASPA [Galinsoga
parviflora Cav.], LEPVI [Lepidium virginicum (L.)], PTNHY [Parthenium hysterophorus (L.)],
RAPRA [Raphanus raphanistrum (L.)] e RCHBR [Richardia brasiliensis Gomes].
Para os resultados do manejo da primavera do primeiro ano agrícola (2017/2018), verifica-
se primeiramente, que todos os tratamentos demonstraram controle populacional em relação a
testemunha (TEST + CONV), inclusive o tratamento TEST em associação com a ECO a partir
dos 30 DAC (Figura 20A), este que dispõe somente da projeção de biomassa como efeito de
controle. Quanto ao controle mecânico (CM), verificou-se que este demonstrou menor controle
populacional quando associado a ECO, em relação ao TEST a partir dos 30 DAC. Quanto aos
tratamentos com herbicidas, verificou-se que todos proporcionaram controle e quando
associados a ECO, houve incremento a partir dos 15 DAC para o PRÉ (+27%), e partir dos 30
DAC para o PÓS (+14%) e P/P (+38%). Somente o PRÉ+PÓS não foi influenciado pelo efeito
das roçadoras nesta primeira aplicação, demonstrando o maior controle populacional
comparado aos outros tratamentos associados à CONV, e o segundo maior controle com a ECO.
O efeito da ECO como método de controle de plantas daninhas é devido ao mulch criado
pela projeção da biomassa produzida na entrelinha do pomar, que tem efeito supressor às
plantas daninhas. Esses efeitos podem ser físicos e/ou químicos e/ou biológicos, sendo
dependentes da espécie da cultura de cobertura utilizada e da quantidade de biomassa
previamente produzida e posteriormente depositada sobre o solo pela roçadora ecológica
(Martinelli et al. 2017). Em recente estudo, destacou-se o potencial aleloquímico do mulch de
U. ruziziensis com espécies de difícil controle e de alta frequência em pomares de citros, como:
BIDPI, COMBE, ERICA, DIGIN e CHRSS (Villela et al. 2021).
É interessante destacar que, mesmo para uma primeira deposição de biomassa da ECO é
possível observar que os tratamentos com herbicidas residuais (PRÉ e P/P) foram os mais
beneficiados (Figura 20B). Com isso, há uma indicação de que o resíduo de U. ruziziensis pode

77
Figura 20. Interação tripla entre os tipos de roçagem de entrelinha, programas de controle e o tempo na densidade
de plantas daninhas (nº m-2) na primavera e verão de 2017/2018 (A e B), 2018/2019 (C e D) e 2019/2020 (E e F).
ECO: roçagem ecológica; CONV: roçagem convencional; TEST: testemunha; CM: controle mecânico com
roçadora costal; PRÉ: sulfentrazone (primavera), indaziflam (verão); PÓS: glyphosate (primavera), saflufenacil
(verão); PRÉ+PÓS: sulfentrazone + glyphosate (primavera), indaziflam + saflufenacil (verão); P/P: flumioxazin
(primavera), diuron (verão). As diferenças significativas são representadas pela diferença honestamente
significativa do teste de Tukey (α = 0,05): as barras de erro representam a diferença para comparações entre os
tratamentos dentro de cada tipo de roçagem e data; as diferentes letras representam a diferença entre os tipos de
roçagens dentro de cada tratamento na mesma data; e, * representa quando há diferença significativa ao longo do
tempo para cada tratamento.

ser uma barreira física que pode momentaneamente melhorar as condições microclimáticas para
o aumento do efeito dos herbicidas, possivelmente por proteger a entrada de água, diminuindo
os efeitos de lixiviação de herbicidas residuais no perfil do solo e pela proteção aos processos

78
de volatilização e fotodegradação. Dentre os herbicidas utilizados nessa data, o flumioxazin é
classificado como suscetível à fotodegradação (Rodrigues e Almeida, 2018).
Para os dados de biomassa da comunidade de plantas daninhas, é possível observar que
houve menor inibição de seu acúmulo pela ECO em alguns tratamentos, como na testemunha
(TEST; -55%), CM (-55%), PRÉ (-16%) e PRÉ+PÓS (-36%) (Figura 21A). Isso foi
proporcionado pela baixa deposição de biomassa de U. ruziziensis ao redor das plantas de citros
proveniente da ECO (1,4 t ha-1), por esta ter sido a primeira roçagem de entrelinha do
experimento (Figura 18). É de conhecimento que baixos níveis de mulch podem aumentar a
disponibilidade de nutrientes e umidade no solo sem afetar significativamente a disponibilidade

Figura 21. Interação dupla entre os tipos de roçagem de entrelinha e os programas de controle na biomassa da parte
aérea de plantas daninhas aos 60 dias após o controle de plantas daninhas (roçagem entre plantas e aplicação de
herbicidas) na primavera e verão de 2017/2018 (A e B), 2018/2019 (C e D) e 2019/2020 (E e F). ECO: roçagem
ecológica; CONV: roçagem convencional; TEST: testemunha; CM: controle mecânico com roçadora costal; PRÉ:
sulfentrazone (primavera), indaziflam (verão); PÓS: glyphosate (primavera), saflufenacil (verão); PRÉ+PÓS:
sulfentrazone + glyphosate (primavera), indaziflam + saflufenacil (verão); P/P: flumioxazin (primavera), diuron
(verão). Médias seguidas da mesma letra, minúsculas para os tipos de roçagem e maiúsculas para os programas de
controle de plantas daninhas, não diferem entre si pela diferença honestamente significativa do teste de Tukey (α
= 0,05).

79
de luz sobre o solo, o que pode beneficiar o desenvolvimento das plantas daninhas que
germinaram e emergiram sob essa camada (Liebman e Davis, 2000). Os benefícios do mulch
de U. ruziziensis já foram relatados, pelo aumento dos níveis de umidade do solo e de sua
manutenção com o tempo, além de diminuir a compactação do solo, aumentar teores de matéria
orgânica (MO) e a disponibilidade de K, Ca e Mg do solo (Azevedo et al. 2020). Aliado a isto,
essa primeira deposição de mulch pode não prover todo seu potencial supressivo, com
estimativas da necessidade de 3,7 t ha-1 para diminuir na metade os processos de germinação
e/ou emergência de uma comunidade de plantas daninhas de ocorrência em pomares de citros
da mesma região deste estudo (Martinelli 2017).
Pela análise de componentes principais (ACP) das plantas daninhas, foi possível observar
que BIDPI e RAPRA foram as espécies que predominaram nesse primeiro manejo, pois
compuseram a maior parte da variância (97,44%), sendo o aumento de BIDPI observado em
ambas as testemunhas principalmente, mas também ao CM + ECO, enquanto o aumento de
RAPRA foi mais influenciado por PRE + CONV, e também ambas as testemunhas e ao CM +
CONV (Figura 22A). Ainda, é possível observar que a maioria dos tratamentos com herbicidas
residuais PRÉ e PRÉ+PÓS, se agrupam opostamente às principais plantas daninhas,
demonstrando que nestes tratamentos nenhuma espécie se destacou, ou seja, não houve escapes
significativos de plantas daninhas, demonstrando o bom controle geral.
Para o manejo de verão de 2017/2018, destacou-se novamente a ECO, que dentre os tipos
de roçagens foi responsável por incrementar os níveis de controle populacional das plantas
daninhas quando em associação a todos os programas de controle e em todas as datas avaliadas,
em +46% para o TEST, +33% do CM, +18% do PRÉ, +21% do PÓS e +28% do P/P (Figura
20B). O que mais se destacou foi o PRÉ+PÓS, com o maior controle nos dois tipos de roçagem
(CONV: 87% v. ECO: 93%). Assim, a mistura desses herbicidas demonstrou maior espectro de
controle, visto que os tratamentos isolados tiveram menores níveis controles. A eficácia da
mistura entre os herbicidas indaziflam e saflufenacil já havia sido relatada, com altos valores
de controle de diversas plantas daninhas importantes na Florida (EUA) em trabalho tanto em
casa-de-vegetação quanto em pomares de citros, porém, com o glufosinate como um terceiro
herbicida na mistura (Jhala et al. 2013). Além disto, vale destacar que houve o auxílio de
controle da aplicação realizada anteriormente (sulfentrazone + glyphosate).
Quanto a inibição do acúmulo da biomassa pelas plantas daninhas, os tratamentos com
herbicidas residuais (PRÉ, PRÉ+PÓS e P/P) demonstraram os melhores resultados, seguidos
do PÓS e CM, e pela primeira vez foi observado aumento da inibição quando associados a
ECO: TEST (+28%), PÓS (+12%) e PRÉ+PÓS (+9%) (Figura 21B). Vale ressaltar que para

80
Figura 22. Biplot da análise de componentes principais (ACP) por meio da matriz de covariância, para as
principais espécies de plantas daninhas observada em campo. ALRTE (Althernanthera tenella), AMARE
(Amaranthus retroflexus), BIDPI (Bidens pilosa), BRADC (Urochloa decumbens), BRAUR (U. ruziziensis),
CHRSS (Chloris elata), COMBE (Commelina benghalensis), CYNDA (Cynodon dactylon), DIGIN (Digitaria
insularis), DIGHO (D. horizontalis), ELEIN (Eleusine indica), EPHHI (Chamaesyce hirta), EPHHL
(Euphorbia heterophylla), ERICA (Conyza canadensis), GASPA (Galinsoga parviflora), LEPVI (Lepidium
virginicum), PTNHY (Parthenium hysterophorus), RAPRA (Raphanus raphanistrum e RCHBR (Richardia
brasiliensis). ECO: roçagem ecológica; CONV: roçagem convencional; TEST: testemunha; CM: controle
mecânico; PRÉ: sulfentrazone (primavera), indaziflam (verão); PÓS: glyphosate (primavera), saflufenacil
(verão); PRÉ+PÓS: sulfentrazone + glyphosate (primavera), indaziflam + saflufenacil (verão); P/P:
flumioxazin (primavera), diuron (verão).

essa data (verão), os valores de biomassa na testemunha foram cinco vezes maiores que do
manejo passado (primavera), chegando a quase 1,0 kg m-2 de biomassa seca das plantas

81
daninhas, o que demonstra o maior nível de competição nesta época, que se caracteriza por altas
temperaturas e período chuvoso.
Quanto a comunidade infestante nessa data, foi possível observar que a principal espécie foi
novamente a BIDPI, com seu aumento sendo relacionado às testemunhas e ao CM, enquanto o
aumento de RAPRA e COMBE foram mais influenciadas por CM+ECO e ao PÓS. Além
dessas, PTNHY, DIGHO e CHRSS foram mais influenciadas pela CONV, nos tratamentos
PRÉ, CM e PRÉ+PÓS (Figura 22B).
Assim, o maior controle nesse segundo manejo, evidencia o acréscimo do efeito supressor
do mulch da ECO com o aumento da biomassa depositada: mais 3,3 t ha-1 de biomassa foram
acrescentados nesta data (Figura 18). É possível observar que a utilização de herbicidas
residuais (PRÉ, PRÉ+PÓS, P/P) e em associação com a ECO demonstraram maior inibição do
acúmulo de biomassa quando comparados ao PÓS e CM. Portanto, esses resultados
demonstram que até então os baixos níveis de mulch no momento das aplicações não foram um
impeditivo aos herbicidas residuais para atingirem o solo, pela possível interceptação pela
palhada de U. ruziziensis (0 t ha-1 na primeira aplicação e 1,4 t ha-1 quase dois meses antes da
segunda aplicação). Contudo, outro motivo da alta eficácia de controle pode estar relacionada
com o melhor posicionamento dos herbicidas residuais quanto às épocas de aplicação deste
trabalho (Tabelas 1 e 2), visto que herbicidas de alta solubilidade utilizados em períodos de alta
precipitação (e/ou com alto armazenamento de água no solo) podem ser mais facilmente
lixiviados, reduzindo seu efeito pela falta de posicionamento no perfil do solo.
Para o segundo ano agrícola (2018/2019), no manejo primavera, novamente se destaca o
PRÉ+PÓS que, independentemente do tipo de roçagem, demonstrou maior controle
populacional (97%) (Figura 20C) e de inibição do acúmulo de biomassa (76%) (Figura 21C).
Dentre os demais tratamentos, também se destaca o auxílio da ECO com os demais herbicidas
residuais: PRÉ, com o segundo melhor controle geral, demonstrou ganhos de 11% no controle
populacional e de 21% na inibição de acúmulo de biomassa (= PRÉ+PÓS), e o P/P demonstrou
ganhos de 27% no controle populacional e de 29% de inibição da biomassa.
BIDPI, GASPA, RAPRA, ALRTE e EPHHL foram as principais espécies desta data, com
o aumento de densidade sendo relacionado principalmente ao PÓS + ECO, mas também ao CM
+ CONV para GASPA e RAPRA (Figura 22C).
Portanto, é possível inferir que os maiores níveis de controle da ECO neste segundo ano são
devidos à associação dos efeitos de controle do mulch de U. ruziziensis com os herbicidas
residuais desta aplicação e ao controle das aplicações passadas. É importante destacar que, na
primeira aplicação deste segundo ano, os herbicidas foram aplicados sobre uma grande

82
quantidade de mulch (somente na ECO), com deposições totalizando 7,8 t ha-1 ao longo de três
roçagens no primeiro ano (Figura 18).
Porém, com o aumento da deposição de biomassa ao longo do tempo pelo manejo da
roçagem ecológica podendo aumentar também os níveis de MO do solo (Azevedo et al. 2020),
pode haver uma maior retenção dos herbicidas residuais aplicados sobre o mulch. Assim, é
importante enfatizar que dentre os herbicidas residuais desta aplicação, o sulfentrazone (PRÉ)
possui baixo KOC e KOW, e de média a alta solubilidade em água (Tabela 6), o que o configura
como um herbicida de menor afinidade a MO (mulch e solo) além de um maior potencial de
lixiviação, podendo assim, transpassar o mulch e atingir o solo por posteriores precipitações
pluviais (Whalen et al. 2020). Isso ocorre, pois o sulfentrazone é um herbicida derivado de
ácido fraco, que por ter seu pKa > pH do solo nesse estudo (Tabelas 4 e 6), tem sua forma
molecular como predominante no solo (ao invés de sua forma aniônica), e assim não
competindo com as cargas líquidas do solo (e do mulch), se comportando como um herbicida
não-ionizante, tal como o flumioxazin (P/P), que possui um alto valor de KOW, mediano valor
de KOC e um baixo valor de solubilidade. Portanto, como o flumioxazin é menos polar que o
sulfentrazone (< KOW) e tem menor solubilidade, para esses herbicidas a MO vem a ser o
sorvente mais importante, com suas interações hidrofóbicas sendo as forças predominantes
(Wauchope et. al. 2002), sorvendo assim esse herbicida. Isso é corroborado pelo nível de
controle de plantas daninhas do P/P sendo menor que o do PRÉ, tanto na densidade quanto no
acúmulo de biomassa (Figuras 20C e 21C).
No entanto, é de extrema importância destacar que, os efeitos benéficos da ECO superaram
qualquer possível impeditivo para os herbicidas residuais, e mesmo que exista diferença dentre
os níveis de controle desses, como por exemplo o P/P que foi o de menor controle dentre os
herbicidas residuais, mas que em associação a ECO, demonstrou controle populacional médio
37% superior ao PÓS (dos 30 aos 60 DAC) (Figura 20C), além de demonstrar maior inibição
no acúmulo de biomassa, 7% superior ao PÓS com a CONV (Figura 21C).
Essa boa interação com os herbicidas residuais, que além de uma possível proteção às
moléculas, também pode ser explicada pelo microclima mais úmido proporcionado pela ECO
(Azevedo et al. 2020), o que pode facilitar também o processo de dessorção dos herbicidas,
deixando-o novamente disponível na solução do solo. Assim, é importante destacar, no que diz
respeito à lixiviação de pesticidas em geral, que ao longo do tempo o processo de dessorção
pode ser até mais importante que a sorção, pois precipitações podem reidratar o solo e a MO,
promovendo uma alteração no equilíbrio entre as fases sorvidas e não-sorvidas, podendo assim
lixiviar ou dessorver moléculas (Walker 1986). Esse processo já foi relatado para todos os

83
herbicidas residuais utilizados nesse estudo: sulfentrazone (Passos et al. 2013) flumioxazin
(Ferrel et al. 2005), indaziflam (Alonso et al. 2011) e diuron (Inoue et al. 2006).
Para o PÓS, foi observado um aumento expressivo na densidade quando em associação com
a ECO, principalmente dos 15 aos 30 DAC, com aumentos de até 7,1 vezes a densidade em
comparação ao PÓS + CONV, além da diminuição em 28% da inibição de acúmulo de biomassa
(Figuras 20C e 21C). Esse aumento expressivo não era esperado, visto que a ECO até então
para os outros tratamentos incrementou os níveis de controle. Porém, mesmo que a BIDPI,
RAPRA e EPHHL que tiveram aumento de sua população influenciados pela ECO e PÓS, e
por terem relatos de resistência ao glyphosate (Alcántara-de la Cruz et al. (2016); Heap 2020),
além da ALRTE ser considerada como tolerante a esse herbicida (Lucio et al. 2019), o efeito
da ECO é predominante, comparando-se os resultados com o PÓS + CONV (Figura 22C).
Além disto, visto que novas adições de mulch foram feitas, isso pode ter exercido efeito nos
processos de germinação e/ou emergência de plantas daninhas, por três fatores: (i) aumento da
pressão de seleção por espécies adaptadas; e/ou, (ii) níveis de mulch abaixo de limiares podem
estimular os processos de germinação e emergência de plantas daninhas (conforme já
mencionado); e/ou, (iii) pode haver deslocamento no tempo do principal fluxo de germinação
e emergência, por atrasos ou estímulos desses processos.
Sobre a pressão de seleção de espécies adaptadas ao manejo de resíduos vegetais pela ECO,
algumas das plantas daninhas predominantes neste estudo como a RAPRA, necessita de
sombreamento para iniciar seu processo de germinação (espécie fotoblástica negativa) (Górski
et al. 2013); a ALRTE, pode ter sido influenciada pela falta de luminosidade causada pelo
mulch, visto que há relato que a ausência de luz é responsável por maiores níveis de germinação
total e de velocidade de germinação desta espécie (Vivian et al. 2008); e, a BIDPI, que
apresentou maior predominância quando associado ao glyphosate, comparado a sua ausência
Martinelli (2017), além de ter demonstrado indícios de tolerância à efeitos alelopáticos de U.
ruziziensis e U. decumbens (Villela et al. 2021).
Quanto aos estímulos de germinação/emergência, há relato de que baixos níveis dos
resíduos de ervilhaca (Vicia villosa Roth) estimularam a emergência de plantas daninhas e seu
crescimento (Mohler e Teasdale, 1993). Além disto, baixas concentrações de extratos dos
resíduos desta leguminosa estimularam em até 87% na germinação de um lote de sementes
dormentes de AMARE, o que foi explicado pela liberação de NH4+ (Teasdale e Pillai, 2005).
Para resíduos de U. ruziziensis, estudos demonstram aumento na densidade de Amaranthus
viridis ao nível de 3,0 t ha-1 de mulch em comparação à sua ausência (Oliveira Jr et al. 2014) e
aumento da velocidade de emergência em 3,6 vezes para Ageratum conyzoides e em quase duas

84
vezes para LEPVI no nível de 1,5 t ha-1 de mulch comparados à ausência (Martinelli 2017).
Além desses, extratos foliares de U. ruziziensis diminuíram a velocidade de germinação em 19
dias de ERICA comparando com U. decumbens e também à ausência de ambos, enquanto
exsudados de raízes destas espécies de Urochloa tiveram efeito de atraso na emergência de
COMBE em até 8 dias (Villela et al. 2021).
Porém, também foi observado que o PÓS em associação com a ECO, foi capaz de reduzir a
população de DIGIN (CONV: 14 plantas m-2; ECO: 1 planta m-2), mesmo essa sendo uma
espécie de difícil controle e com diversos relatos de resistência ao glyphosate, demonstra alta
suscetibilidade aos efeitos alelopáticos de U. ruziziensis (Villela et al. 2021) e também a
manejos com resíduos vegetais que diminuam a incidência de luz e que reduzam flutuações
térmicas do solo (Oreja et al. 2017) – comprovando mais uma vez a eficácia da ECO para essa
planta daninha.
Para o manejo do verão de 2018/2019, mais uma vez, novamente o tratamento PRÉ+PÓS,
que independentemente do tipo de roçagem, obteve controles quase que absolutos (98%), tanto
na densidade (Figura 20D) quanto na inibição do acúmulo de biomassa (Figura 21D). Esse alto
controle de plantas daninhas é devido á dois anos utilizando esse programa de controle, que
aliado à utilização de glufosinate e o paraquat aplicados para manutenção da área, combina
cinco modos de ação aplicados durante o ano agrícola, podendo também reduzir o risco de
seleção de biótipos resistentes. Para os demais tratamentos, novamente, a ECO (comparando-
se a CONV) foi responsável por aumentar o controle populacional de inibição do acúmulo de
biomassa, respectivamente, para o PRÉ em +34% e +71%, e para o P/P em +30% e +24%.
Dentre as espécies dominantes desta data: BIDPI, PTNHY, RAPRA, ALRTE, BRADC e
DIGHO (Figura 22D). Para BIDPI e PTNHY o aumento de densidade foi relacionado
principalmente ao CM, independentemente do tipo de roçagem, para ALRTE, DIGHO e
RAPRA, o aumento de densidade foi mais relacionado ao CM e ao PÓS + ECO, enquanto para
BRADC, seu aumento foi relacionado a TEST + CONV e ao CM + ECO.
Para o CM, mesmo que tenha ocasionado um controle superior quando associado a ECO,
pela primeira vez foi observado que este programa demonstrou menor controle populacional
que TEST para ambos os tipos de roçagem (Figura 20D), mas que demonstrou a segunda maior
inibição do acúmulo de biomassa (+71%), independentemente do tipo de roçagem associado
(Figura 21D). Isso demonstra que o controle físico pelo corte das plantas reduz drasticamente
o acúmulo de biomassa, porém, também pode favorecer certas espécies de plantas daninhas,
por ser capaz de dispersar e disseminar sementes das plantas daninhas, assim como as que
produzem propágulos vegetativos [e.g., ALRTE, COMBE; Lorenzi (2014)], além de poder

85
quebrar a dominância apical de espécies que possuem rizomas (e.g., DIGHO), aumentando a
densidade dessas espécies (Chicouene 2007). Novas diminuições também foram observadas
nos níveis de controle para o PÓS quando associado a ECO e em comparação à CONV, de -
25% do controle populacional e de -12% na inibição de acúmulo de biomassa. Porém, também
foi observado novo controle de DIGIN (CONV: 10 plantas m-2; ECO: 1 planta m-2).
Para os herbicidas residuais desta aplicação [indaziflam (PRÉ) e diuron(P/P)], vale destacar
que os efeitos benéficos da ECO superaram qualquer possível impeditivo, visto que as
aplicações foram realizadas sobre uma grande quantidade de mulch, com deposições
totalizando 7,8 t ha-1 após três roçagens no ano anterior, além de mais 1,8 + 2,0 t ha-1 das duas
primeiras roçagens deste ano agrícola (Figura 18 A e B). O indaziflam possui valores muito
baixos de solubilidade e de KOW, e medianos valores de KOC, enquanto o diuron possui baixos
valores de solubilidade, medianos valores de KOC e altos valores de KOW (Tabela 6), o que os
configuram como herbicidas de baixo potencial de lixiviação, porém que diferem quanto a
afinidade com MO. O indaziflam é considerado mais móvel que o diuron no perfil do solo
quando influenciados pela precipitação pluvial (Jhala e Singh, 2012), o que pode evidenciar os
maiores níveis de controle, mesmo sendo um herbicida com baixa solubilidade. Isso ocorre pelo
indaziflam ser um herbicida derivado de ácido fraco, e como seu pKa < pH do solo (Tabelas 4
e 6) este é altamente ionizado, com a maior parte do herbicida ficando disponível na forma
dissociada (aniônica), competindo com a carga líquida negativa da superfície do solo e da MO
(solo e mulch), e assim tem sua capacidade de sorção diminuída, ficando mais disponível na
solução do solo, i.e., exercendo sua ação herbicida; enquanto o diuron é um herbicida não-
iônico e que possui menor polaridade (< KOW), e assim sendo, como a MO vem a ser o sorvente
mais importante, com suas interações hidrofóbicas sendo as predominantes, o diuron fica mais
sorvido nesta (assim como para o flumioxazin) e menos disponível na solução do solo
(Wauchope et al. 2002).
Contudo, a ECO ainda pode ter exercido efeito de proteção ao diuron, pois mesmo com
menor mobilidade na camada de mulch, esse herbicida é suscetível a fotodegradação quando
exposto por vários dias, e por volatilização também quando em condições de exposição, além
de alta temperatura e baixa umidade (Rodrigues e Almeida, 2018).
Para o último ano agrícola avaliado (2019/2020), os manejos da primavera e do verão
demonstraram resultados semelhantes. O PRÉ+PÓS demonstrou novamente níveis de controle
populacional (Figura 20 E e F) e de acúmulo de biomassa (Figura 21 E e F) quase que absolutos
(>96%), independentemente do efeito das roçagens. Dentre os demais tratamentos, para o
manejo da primavera de 2019, a ECO foi responsável por aumentos nos controles populacionais

86
e na inibição de acúmulo de biomassa, respectivamente em +43% e + 39% para TEST, +25%
e +26% para o CM e +39% e +19% para o PRÉ (igualando os resultados do PRÉ+PÓS); e, para
o P/P, somente ganho de controle populacional foi observado (+19%).
DIGHO, BIDPI, EPHHI, RAPRA, BRADC e ALRTE foram as principais espécies desta
data (Figura 22E). Para a DIGHO e ALRTE foi observado que seus aumentos populacionais se
relacionaram principalmente ao PÓS + ECO, enquanto BIDPI, EPHHI e RAPRA foram mais
relacionadas principalmente ao PÓS + ECO, mas ao CM + ECO também, e para BRADC seu
aumento foi relacionado principalmente ao CM + ECO.
Contudo, após os aumentos de biomassa para o tratamento PÓS em associação a ECO
durante o ano anterior, foi observado maior inibição de acúmulo de biomassa (+19% em relação
ao PÓS+CONV), porém, mais uma vez foi observado perda de controle populacional (-28%)
(Figura 20E e Figura 21E). No entanto, também foi observado novo controle de DIGIN (CONV:
9 plantas m-2; ECO: 1 planta m-2).
E para os demais tratamentos, no manejo de verão de 2020, a associação com a ECO
aumentou o controle populacional dos tratamentos para o TEST (+23%), CM (+26%), PRÉ
(+34%) e P/P (+17%) (Figura 20F). Quanto ao acúmulo de biomassa, a ECO proporcionou um
aumento da inibição para TEST (+42%), PRÉ (+37%) e P/P (+64%) (Figura 21F). Nessa data,
as principais espécies da comunidade infestante foram DIGHO, RAPRA, BIDPI, BRADC,
ALRTE e ELEIN (Figura 22F). Novamente para a DIGHO e ALRTE foi observado que seus
aumentos populacionais se relacionaram principalmente ao PÓS + ECO, o mesmo sendo para
a ELEIN, porém, somente nessa data; enquanto BIDPI, RAPRA e BRADC foram mais
relacionadas principalmente ao CM (independentemente do tipo de roçagem) e também à
TEST+ECO.
Assim, novamente o PÓS em associação a ECO se destacou por ser o único a aumentar a
densidade ao longo do tempo, com diminuição do controle populacional em -34%, ocasionado
por novos aumentos da densidade (Figura 20F), mas com novo controle de DIGIN pela ECO
com o PÓS (CONV: 7 plantas m-2; ECO: 0 planta m-2).
Neste último ano agrícola, ficou evidente como o acréscimo do efeito da ECO, assim como
a vantagem de seu uso com herbicidas residuais, visto que esses demonstraram de maneira
geral, o maior controle de plantas daninhas desde o primeiro ano agrícola. E isso,
principalmente por se tratar de uma cultura perene, onde há o convívio com as plantas daninhas
em diversos estádios fenológicos, a mistura entre herbicidas pré e pós-emergentes aqui testados
se mostra mais eficaz por aliar o efeito de controle da parte aérea (queima e/ou dessecação) das
plantas daninhas emergidas (PÓS) com o efeito de controle na germinação e emergência do

87
banco de sementes de plantas daninhas (PRÉ), concomitantemente ao desenvolvimento da
cultura. O efeito do PÓS possivelmente auxilia os herbicidas residuais, que num primeiro
momento podem não atingir o solo, sendo interceptados pela área foliar das plantas daninhas
emergidas, e assim com a ação desses herbicidas pós-emergentes as moléculas de herbicidas
pré-emergentes podem ser liberadas via degradação foliar e/ou lixiviação para o solo, por
posteriores precipitações pluviais, conforme já discutido.
Esse duplo espectro de ação, de controlar as plantas daninhas emergidas e as emergentes,
era esperado para o P/P, mas os resultados foram inferiores aos outros herbicidas residuais.
Porém, esses resultados eram esperados, por serem aplicados herbicidas isolados e devido às
características de ambos, por terem translocação via xilema e baixo movimento pelo simplasto
(Rodrigues e Almeida, 2018) – condição esta que pode ser limitante quando as plantas daninhas
se mostram em diversos estádios fenológicos. No entanto, o P/P quando associado a ECO
demonstrou controles regulares (~70%), e na maioria das vezes sendo superior ao PÓS + ECO
(Figuras 20 e 21). Outro ponto interessante, que por meio das análises de ACP da comunidade
infestante (Figura 22), não houve espécies que se destacaram neste tratamento.

3.3.3 Banco de sementes de plantas daninhas


Para o número de sementes viáveis no perfil superficial do solo, verifica-se que houve
diminuição do mesmo para quase todos os tratamentos, tanto na comparação com a testemunha
(CONV + TEST), que não teve nenhum tipo de controle de plantas daninhas, quanto na
comparação dos programas de controle associados com os dois tipos de roçagens (Figura 23).
Primeiramente, observam-se diminuições de 47% do banco de sementes tanto no TEST quanto
no CM em associação com a ECO (comparados a CONV). Isto confirma que o efeito isolado
da ECO é capaz de suprimir as plantas daninhas, conforme descrito ao longo deste estudo, e
que este efeito perdura de modo a diminuir o banco de sementes – resultado mais desejado para
controle de plantas daninhas. Assim, verifica-se que o CM como único método de controle de
plantas daninhas pode ser uma alternativa inviável tecnicamente.
Dentre o manejo com os herbicidas, observa-se que o PÓS + CONV foi eficaz na redução
do banco de sementes, com 69% de redução comparando com TEST, porém, menos eficiente
quando associado com a ECO (Figura 23). Isto é devido aos acréscimos da densidade
populacional deste tratamento ao longo do estudo, principalmente nos dois últimos anos
agrícolas avaliados, conforme demonstrado anteriormente (Figura 20). Porém, com a adição de
herbicidas pré-emergentes com a ECO, a eficácia de controle que foi demonstrada durante todo
o estudo, é corroborada pelos maiores níveis de depleção do banco de sementes. O PRÉ e o

88
Figura 23. Interação dupla entre os tipos de roçagem de entrelinha e os programas de controle de plantas daninhas
no banco de sementes de plantas daninhas (nº de plântulas emergidas m -2 de solo na camada de 10 cm). ECO:
roçagem ecológica; CONV: roçagem convencional; TEST: testemunha; CM: controle mecânico com roçadora
costal; PRÉ: sulfentrazone (primavera), indaziflam (verão); PÓS: glyphosate (primavera), saflufenacil (verão);
PRÉ+PÓS: sulfentrazone + glyphosate (primavera), indaziflam + saflufenacil (verão); P/P: flumioxazin
(primavera), diuron (verão). Médias seguidas da mesma letra, minúsculas para os tipos de roçagem e maiúsculas
para os programas de controle de plantas daninhas, não diferem entre si pela diferença honestamente significativa
do teste de Tukey (α = 0,05).

PRÉ+PÓS, independentemente do tipo de roçagem, foram responsáveis pela diminuição em


79% e 97% do banco de sementes, respectivamente. O P/P, quando comparados com a
testemunha (CONV + TEST), foi responsável pela diminuição de 41% do banco de sementes,
e quando associado a ECO essa diminuição chegou a 55%.
No entanto, o sistema de cultivo em que o manejo da roçagem ecológica em citros se propõe,
pelos princípios da agricultura de conservação, não utiliza de revolvimento do solo (Martinelli
et al. 2017, Azevedo et al. 2020), e dessa forma há um aumento da concentração o banco de
sementes na superfície do solo ao longo do tempo. É de conhecimento que, resíduos de culturas
de cobertura (mulch orgânico) podem contribuir para o controle de plantas daninhas, porém,
sem a utilização de herbicidas com efeitos residuais não há como prevenir que a população de
plantas daninhas alcance altos níveis de infestação (Teasdale et al. 1991).
Contudo, nesse estudo, além dos herbicidas residuais terem a maior influência na depleção
do banco de sementes, a roçagem ecológica demonstrou um grande efeito num curto espaço de
tempo, e associação entre ambos demonstrou que o programa de controle proposto é viável
tecnicamente. Isso é de extrema importância, pois o impacto que um determinado programa de

89
controle exerce na dinâmica da população de plantas daninhas está diretamente relacionado à
redução de seu potencial de produção de sementes, pois o aumento do banco de sementes do
solo ao longo do tempo afeta a sustentabilidade de qualquer estratégia de controle, e mesmo
que por vezes mínimo, pode garantir a persistência de uma determinada espécie (Norsworthy
et al. 2018).
Quanto as espécies que compuseram o banco de sementes, foi possível identificar dois
componentes principais que compõem a maior parte da variância (75,74%), ou seja, as
principais plantas daninhas do banco de sementes (Figura 24). O Componente Principal 1 (CP1;
49,93% da variância) demonstrou correlação positiva de maneira decrescente com BIDPI >
AMARE > ELEIN, e assim esse componente representou as espécies predominantes do banco
de sementes, enquanto para o CP2 (25,81% da variância) demonstrou correlação positiva com
RAPRA > GASPA e negativa com BIDPI > ELEIN, e assim esse componente representou que
estas espécies não são concomitantes e competem entre si.
Também é possível observar que o aumento de BIDPI e ELEIN foram mais influenciados,
de maneira decrescente, ao PÓS+ECO > TEST+ECO > CM+ECO, enquanto AMARE foi mais
influenciada pelo PÓS+ECO, RAPRA à TEST+CONV e GASPA ao CM + CONV e P/P +
CONV (Figura 24). De maneira geral, assim como para a comunidade infestante, avaliada em

Figura 24. Biplot de distância da análise de componentes principais (ACP) por meio da matriz de covariância,
para a as principais espécies de plantas daninhas do banco de sementes. AMARE: Amaranthus retroflexus,
BIDPI: Bidens pilosa, BRADC: Urochloa decumbens, ELEIN: Eleusine indica, EPHHI: Chamaesyce hirta,
ERICA: Conyza canadensis, GASPA: Galinsoga parviflora, LEPVI: Lepidium virginicum, RAPRA:
Raphanus raphanistrum, RCHBR: Richardia brasiliensis. ECO: roçagem ecológica; CONV: roçagem
convencional; TEST: testemunha; CM: controle mecânico com roçadora costal; PRÉ: sulfentrazone
(primavera), indaziflam (verão); PÓS: glyphosate (primavera), saflufenacil (verão); PRÉ+PÓS: sulfentrazone
+ glyphosate (primavera), indaziflam + saflufenacil (verão); P/P: flumioxazin (primavera), diuron (verão).

90
campo, também é possível observar que os tratamentos com herbicidas residuais PRÉ e
PRÉ+PÓS, se agrupam opostamente às principais plantas daninhas, demonstrando o bom
controle geral. Além disso, verifica-se a ausência de espécies que foram importantes nos três
anos de observação em campo dentre as espécies mais importantes do banco de sementes, como
ALRTE, COMBE e DIGHO, e o contrário também sendo observado para a AMARE. Isso pode
indicar que devido ao efeito dos tratamentos, espécies com alta taxa de produção de sementes
têm sua emergência comprometida e por isso permanecem com alto número de sementes no
solo, e espécies como ALRTE, COMBE e DIGHO que tem outros meios de propagação
(Lorenzi 2014), têm altas taxas populacionais em campo, porém sem demonstrar no banco de
sementes.

3.3.4 Crescimento e produtividade das plantas de citros


No primeiro ano agrícola (2017/2018), não houve efeito dos tratamentos no volume de copa
das plantas (média de 3,2 m³) (Figura 25A). Os níveis de produtividade das plantas de citros
foram em média 89% maiores que a testemunha (TEST) para todos os programas de controle
de plantas daninhas, independentemente do tipo de roçagem que não demonstrou interação com
os programas de controle esse ano, e como destaque o PRÉ e o PRÉ+PÓS demonstraram o
dobro de produção (Figura 25B). Portanto, mesmo sendo o primeiro ano de produção do pomar,
que ainda não representa seu potencial produtivo, é evidente a importância do potencial de
redução de produtividade ocasionado pelas plantas daninhas.
A partir do segundo ano agrícola (2018/2019), verifica-se que houve interação entre as
roçagens e os programas de controle de plantas daninhas tanto para o crescimento quanto para
a produtividade das plantas de citros (Figura 25 C e D). Para 2018/2019, verifica-se que todos
os tratamentos quando associados a ECO (em comparação à CONV) proporcionaram
crescimentos significativos comparados ao TEST, contudo, dentre os programas de controle
somente o P/P proporcionou acréscimo de volume de copa (+27%) neste ano. Dentre os
tratamentos associados a CONV, somente o CM proporcionou maior crescimento que TEST
(+43%). Ainda, para a produtividade, maiores diferenças foram observadas quanto às roçagens
e aos programas de controle, com destaque para o tratamento PRÉ+PÓS com a ECO, que obteve
a maior produtividade dentre todos os tratamentos (54 t ha-1), sendo 71% maior que o tratamento
com pós-emergentes (CONV + PÓS). Dentre os demais tratamentos com herbicidas associados
a ECO, todos demonstraram maiores produtividades quando comparados à CONV: PRÉ
(+27%), PÓS (+36%), PRÉ+PÓS (+39%) e P/P (+41%). Para o CM, é possível observar maior
produtividade que TEST (+82%), independentemente do tipo de roçagem.

91
Figura 25. Crescimento e produtividade das plantas de laranja ‘Hamlin’ sob efeitos dos programas de
controle de plantas daninhas (2017/2018) (A e B), e interação entre os tipos de roçagem de entrelinha
(ecológica (ECO); convencional (CONV)) e os programas de controle (2018/2019 e 2019/2020) (C-F).
ECO: roçagem ecológica; CONV: roçagem convencional; CTRL: testemunha; MECH: controle mecânico
com roçadora costal; PRE: sulfentrazone (primavera), indaziflam (verão); POST: glyphosate (primavera),
saflufenacil (verão); PRE+POST: sulfentrazone + glyphosate (primavera), indaziflam + saflufenacil
(verão); P/P: flumioxazin (primavera), diuron (verão). Médias seguidas da mesma letra, minúsculas para
os tipos de roçagem e maiúsculas para os programas de controle de plantas daninhas, não diferem entre si
pela diferença honestamente significativa do teste de Tukey (α = 0,05).

Para o ano agrícola de 2019/2020, foram observadas as maiores diferenças entre os


tratamentos, sendo que a ECO proporcionou aumentos no volume de copa: TEST (+47%), PÓS
(+20%) e PRÉ+PÓS (+30%) (Figura 25E); e, novos incrementos de produtividade: CM
(+23%), PRÉ (+20%), PÓS (+67%), e PRÉ+PÓS (+55%) (Figura 25F). Vale destacar para este
último ano, que o tratamento PRÉ+PÓS associado a ECO proporcionou maiores valores de
crescimento (+37%) e produtividade (+128%) que o PÓS + CONV, e novamente obteve a maior
produtividade dentre todos os tratamentos (56 t ha-1).
Todavia, é importante ressaltar que os herbicidas utilizados não ocasionaram sintomas de
fitotoxicidade nas plantas de citros, o que é demonstrado pelos altos ganhos de crescimento e
produtividade, mesmo com a possibilidade de dessorção de herbicidas residuais serem

92
absorvidos pelas raízes da cultura. Isso ocorre especialmente após chuvas intensas, pois os
herbicidas residuais podem ser prontamente dessorvidos, geralmente de solos com baixa
capacidade de sorção (baixos níveis de MO; alto teor areia), após um aumento no conteúdo de
água do solo (Walker 1986; Ferrel et al. 2005; Alister et al. 2008).
Assim, o maior crescimento e produtividade das plantas de laranjeira Hamlin é devido
principalmente à três fatores: (i) maior controle de plantas daninhas proporcionado pelos
programas de controle ao longo do tempo; (ii) ausência de fitotoxicidade proporcionada pelos
programas de herbicidas aqui propostos; e, (iii) benefícios adicionais que a roçagem ecológica
com U. ruziziensis é capaz de proporcionar para os citros.
Os dois primeiros fatores foram demonstrados ao longo deste estudo, e quanto aos
benefícios adicionais da ECO, destacam-se: maiores níveis de fertilidade do solo e da nutrição
das plantas, menores níveis de resistência à compactação do solo, maiores teores de umidade
do solo e de estado hídrico das folhas de citros (Azevedo et al. 2020) e melhor qualidade
microbiológica do solo (Arantes et al. 2020). Esses benefícios são destacados no programa
PRÉ+PÓS associado a ECO: nos dois últimos anos agrícolas, os resultados de controle de
plantas daninhas foram praticamente absolutos independentemente do tipo de roçagem (ECO
ou CONV), porém, somente quando associado a ECO, houve maior crescimento e
produtividade. Ou seja, esses ganhos foram obtidos pelos outros benefícios que a roçagem
ecológica é capaz de prover, o que corrobora para validação da viabilidade técnica do programa
aqui proposto.

3.3.5 Análise econômica


Por fim, o gradiente de custo pelos tratamentos no acumulado de três anos agrícolas foi de:
CM > PRÉ+PÓS > PRÉ > P/P > PÓS, enquanto o gradiente de retorno líquido para a CONV
foi: PRÉ+PÓS > PRÉ > PÓS > CM > P/P; e, para a ECO: PRÉ+PÓS > PÓS > PRÉ > P/P >
CM (Figura 26). Assim sendo, primeiramente verifica-se que o retorno líquido da ECO,
independentemente do tratamento é superior ao da CONV.
Quando se analisa os programas separadamente, primeiramente quanto ao CM, mesmo este
demonstrando altas densidades populacionais ao longo deste trabalho, quando em conjunto com
a ECO, mostra-se uma opção viável no âmbito econômico, pois demonstrou um retorno líquido
(lucro) superior a todos tratamentos com a CONV (exceto ao PRÉ+PÓS) (Figura 26). Este
retorno é devido principalmente pela inibição do acúmulo de biomassa das plantas daninhas,
onde o CM demonstrou reduções do acúmulo de biomassa em praticamente todas as datas, com
a única exceção sendo o primeiro manejo do primeiro ano. Por fim, uma vez que o CM não

93
Figura 26. Custo dos programas de controle de plantas daninhas e lucro (retorno líquido do investimento) baseados
na produtividade acumulada de três anos para os dois tipos de roçagem e programas de controle de plantas
daninhas. A somatória entre custo e retorno líquido compõem o retorno bruto (total de cada coluna). Estão inclusos
valores de herbicidas de manutenção (paraquat e glufosinate) para todos os tratamentos com aplicação de
herbicidas.

utiliza de herbicidas, em associação com a ECO, pode ser utilizado e refinado quanto aos
intervalos de roçagens e assim constituir como uma opção de controle ainda mais viável.
Quanto aos tratamentos com herbicidas, fica evidente o maior lucro na associação entre a
ECO e PRÉ+PÓS, sendo o tratamento com maior viabilidade técnica e econômica, mesmo
apresentando o maior custo (Figura 26). Contudo, quando analisados o PRÉ e o PÓS
isoladamente, ambos tiveram um retorno líquido próximo quando associados a ECO, porém,
quando associados a CONV, o PRÉ demonstrou maior retorno que o PÓS.
Um ponto interessante é que, mesmo com os problemas que o PÓS demonstrou com ECO,
com o aumento da população de plantas daninhas ao longo do tempo, o mesmo demonstrou o
segundo melhor retorno devido ao seu menor custo (Figura 26). Porém, esses são dados que
demonstram o retorno durante três anos agrícolas somente, e a longo prazo é alta a
probabilidade do PÓS se tornar um tratamento inviável tanto do ponto de vista técnico, quanto
econômico. Isso, devido a todo o prejuízo que as plantas daninhas podem acarretar, com
maiores densidades populacionais incrementando o banco de sementes e dificultando o controle
ao longo do tempo, conforme demonstrado. Além do mais, os modelos atuais de simulação de
resistência a herbicidas demonstram que a probabilidade de resistência é proporcional ao
aumento do banco de sementes do solo, e assim os programas de controle devem visar a

94
diminuição do potencial de produção de sementes, principalmente em sistemas vulneráveis à
evolução da resistência a herbicidas (Norsworthy et al. 2018), como é o caso dos citros.
Tradicionalmente os programas de controle de plantas daninhas contam com o período crítico
de competição, mas a meta do manejo de “zero chuva-de-sementes” é cada vez mais
recomendada para várias espécies resistentes a herbicidas, principalmente em sistemas sem
revolvimento do solo (Norsworthy et al. 2012), como nesse estudo.
Portanto, a pouca diferença de retorno não justifica a utilização de herbicidas pós-
emergentes de maneira isolada, visto os problemas que o mesmo pode ocasionar futuramente,
e assim o melhor manejo demonstrado foi da associação da roçagem ecológica com os
herbicidas residuais em conjunto com os pós-emergentes, que além de demonstrar o melhor
retorno econômico mesmo com o maior investimento, também proporcionou os melhores
indicadores de controle de plantas daninhas: baixas densidades populacionais e maior depleção
do banco de sementes. E além disso, vale pontuar que, nesse manejo proposto o glyphosate foi
inserido de maneira benéfica às plantas de citros, provavelmente devido a sua utilização de
maneira ponderada, frente às implicações que seu uso excessivo, como visto no Capítulo I.

3.3.6 Considerações Finais


Assim, os resultados deste estudo indicam pela primeira vez na literatura a boa interação da
roçagem ecológica com herbicidas residuais, demonstrando sua viabilidade técnica e
econômica. Além disto, como a roçagem ecológica melhora atividade e abundância microbiana
do solo (Arantes et al. 2020), também pode acelerar o processo de biodegradação dos
herbicidas, e visto que dentre os herbicidas residuais utilizados, todos tem a degradação
microbiana como a principal forma de dissipação do herbicida no ambiente (Rodrigues e
Almeida, 2018), e assim pode indicar mais um benefício deste manejo.
Como a atual situação econômica da citricultura brasileira é crítica e requer alta
produtividade para o produtor manter a rentabilidade (Azevedo et al. 2020), esse trabalho pode
indicar melhores posicionamentos de programas de controle de plantas daninhas em conjunto
com a roçagem ecológica: a cultura de cobertura é cultivada no próprio pomar não necessitando
da importação de resíduos orgânicos ou sintéticos para os pomares, promove o manejo
integrado de plantas daninhas (MIPD) além de ser uma opção de agricultura de conservação
(Martinelli et al. 2017), e que torna o pomar mais produtivo, garantindo assim um manejo mais
sustentável de plantas daninhas.

95
3.4 CONCLUSÃO
Com as condições deste estudo de três anos, valida-se a hipótese inicial, concluindo-se que
há interação positiva entre a roçagem ecológica com diferentes modalidades de controle de
plantas daninhas, física ou química, mas que a utilização de herbicidas residuais em conjunto
com pós-emergentes promove maior controle de plantas daninhas ao longo do tempo, com
maior crescimento e produtividade das plantas de laranja Hamlin, garantindo maior
rentabilidade financeira.

96
3.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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101
ANEXO III. Espécies de plantas daninhas identificadas no experimento com a relação dos casos de resistência à
herbicidas já relatados.
Casos de Resistência
Família / Código EPPOa / Nome científico Nome comum Ref.
(HRAC/WSSA MoA)b

Amaranthaceae
ALRTE Alternanthera tenella apaga-fogo
AMACH Amaranthus hybridus var. patulus caruru-branco 2 4 5 6 9 14 c
AMADE Amaranthus deflexus caruru-rasteiro
AMARE Amaranthus retroflexus caruru-gigante
AMAVI Amaranthus viridis caruru-de-mancha 2 5 6 7 9 14 c, d
CHEAL Chenopodium album ançarinha-branca 2 4 5 7 c
Asteraceae
AGECO Ageratum conyzoides mentrasto 2 c
BIDPI Bidens pilosa picão-preto 2 5 9 22 c, e
EMISO Emilia fosbergii falsa-serralha
ERICA Conyza canadensis buva 2 5 7 9 22 c
GASCI Galinsoga quadriradiata botão-de-ouro
GASPA Galinsoga parviflora picão-branco
GNASP Gnaphalium coarctatum macela
PTNHY Parthenium hysterophorus losna-branca 2 9
SONOL Sonchus oleraceus serralha 2 4 9 c
TRQPR Tridax procumbens erva-de-touro 9 c
Brassicaceae
LEPVI Lepidium virginicum mentruz 22 c
RAPRA Raphanus raphanistrum nabiça 2 4 5 9 12 15 27
Caryophyllaceae
STEME Stellaria media 2 4 5 c
Commelinaceae
COMBE Commelina benghalensis trapoeraba
Convolvulaceae
IPOQU Ipomoea quamoclit corda-de-viola
corda-de-viola-
IPOTR Ipomoea triloba
miúda
corda-de-viola-
PHBPU Ipomoea purpurea
roxa
Cucurbitaceae
Melão-de-São-
MOMCH Momordica charantia
Caetano
Cyperaceae
CYPIR Cyperus iria tiririca 2 c
CYPRO Cyperus rotundus tiririca
Euphorbiaceae
EPHHI Chamaesyce hirta erva-de-santa-luzia
EPHHL Euphorbia heterophylla amendoim-bravo 2 7 9 14 c

102
Anexo II. ...... (Continuação)
Lamiaceae
MAXCH Marsypianthes chamaedrys hortelã-do-campo
Malvaceae
SIDRH Sida rhombifolia guanxuma
SIDSP Sida spinosa guanxuma-branca 2 c
MAVCO Malvastrum coromandelianum guanxuma
SIDGZ Sida glaziovii guanxuma
SIDSP Sida santaremnensis guanxuma-grande
Oxalidaceae
OXALA Oxalis latifolia trevo
Phyllanthaceae
PYLTE Phyllanthus tenellus quebra-pedra
Poaceae
BRADC Urochloa decumbens capim-braquiária
BRARU Urochloa ruziziensis capim-braquiária
CCHEC Cenchus echinatus capim-carrapicho
CHRSS f Chloris elata capim-branco 9
CYNDA Cynodon dactylon grama-seda
DIGHO Digitaria horizontalis capim-colchão
DIGIN Digitatia insularis capim-amargoso 1 9 c
capim-pé-de-
ELEIN Eleusine indica 1 2 3 5 9 10 14 22 c
galinha
PANMA Panicum maximum capim-colonião
capim-rabo-de-
SETGE Setaria parviflora
raposa
Portulacaceae
POROL Portulaca oleracea beldroega 5 7 c
Rubiaceae
RCHBR Richardia brasiliensis poaia-branca
Solanaceae
SOLAM Solanum americanum maria-pretinha 22 c
a: Código EPPO: European and Mediterranean Plant Protection Organization (EPPO) (ex- ‘código Bayer’);
b: Classificação Global de Herbicidas por Modo de Ação pelo Comitê de Ação de Resistência a Herbicidas / Weed
Science Society of America; c: Heap (2021); d: Alcántara-de la Cruz et al. (2016); e:Alcántara-de la Cruz et al.
(2020); f:Código para Chloris sp., pois C. elata não possui código EPPO.

Alcántara-de la Cruz, R., Amaral, G. S., Oliveira, G. M., Rufino, L. R. e Azevedo, F. A., Carvalho, L. B.,
Silva, M. F. G. F. (2020). "Glyphosate Resistance in Amaranthus viridis in Brazilian Citrus
Orchards". Agriculture 10(7): 304.

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4. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Os resultados deste estudo contribuem para confirmação das possíveis implicações do


glyphosate em citros, além de prover informações de controle de plantas daninhas para se
utilizar com o manejo da roçagem ecológica, com potencial benéfico para toda a cadeia
citrícola.
Primeiramente, sobre as implicações do manejo de glyphosate em citros, esse é o primeiro
relato a demonstrar os efeitos significativos do acúmulo de ácido chiquímico para essa cultura
na fotossíntese, e suas correlações, inclusive com a produção de frutos – contrastando estudos
anteriores. Porém, aqui a inibição das plantas de citros foi explícita, sendo demonstrada
primeiramente em experimento a longo prazo em campo, e em experimento em casa-de-
vegetação. Além disto, esse estudo corrobora que uma das maneiras de se avaliar a injúria
causada pelo uso incorreto do herbicida glyphosate pode ser a partir de análises do acúmulo de
ácido chiquímico, contudo, em citros a utilização de parâmetros da fotossíntese é primordial
para entender o impacto que esse acúmulo promove.
Assim, para sistemas de cultivo de plantas perenes em que há convivência com as plantas
daninhas durante todo o ano agrícola, como o caso dos citros no Brasil, o controle químico deve
ser realizado com muita cautela. A tomada de decisão deve ser baseada, primeiramente, na
possível intoxicação da cultura, e em seguida, no controle das principais plantas daninhas, que
deve ser realizado por meio de um adequado programa de herbicidas, com produtos mais
eficazes para as plantas daninhas predominantes e mais seletivos à cultura. É importante
destacar também que, a partir de uma certa idade da planta os sintomas de intoxicação a este
herbicida não foram mais visíveis, porém ainda foram observadas diminuições de crescimento
e produção. Portanto, muitos produtores podem ter problemas de intoxicação em seus pomares
sem conseguirem diagnosticar, pois suas plantas podem demonstrar o mesmo padrão de
crescimento e produção se o produtor utiliza sempre de altas dosagens e/ou altas frequências de
aplicação de glifosato em seu manejo de herbicidas.
Por fim, os herbicidas utilizados devem ser rotacionados com diferentes mecanismos de
ação e com associação com outros métodos de controle, utilizando princípios do manejo
integrado de plantas daninhas. Isto foi demonstrado pelo capítulo II, onde os resultados indicam
pela primeira vez na literatura a interação e viabilidade técnica e econômica da roçagem
ecológica com diferentes modalidades de controle, físico ou químico, e também com herbicidas
residuais. Os programas propostos promoveram maior controle de plantas daninhas ao longo
do tempo, com maior crescimento e produtividade das plantas de citros, garantindo maior

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rentabilidade financeira. Ainda, nesse manejo proposto, o glyphosate foi inserido de maneira
benéfica às plantas de citros, devido a sua utilização de maneira ponderada, frente às
implicações que seu uso excessivo pode ocasionar, como visto no Capítulo I.
Assim sendo, a roçagem ecológica com a braquiária-ruziziensis (Urochloa ruziziensis)
como cultura de cobertura nos citros, tem se mostrado uma importante ferramenta por promover
o manejo integrado de plantas daninhas pelo efeito benéfico da camada de mulch formada
(palhada), que favorece as plantas de citros e promove a agricultura de conservação, que é
preconizada pela FAO. E como a atual situação econômica da citricultura brasileira é crítica e
requer alta produtividade para o produtor manter a rentabilidade, melhores posicionamentos de
programas de controle de plantas daninhas são necessários para garantir um manejo mais
sustentável, tanto para o produtor quanto para o meio ambiente.

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